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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A LEGISLAÇÃO ANTIDOPING BRASILEIRA – SUFICIÊNCIA OU INSUFICIÊNCIA? Por: JULIANA NÄVEKE Orientador Professor Marcelo Saldanha Rio de Janeiro Julho/2010

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A LEGISLAÇÃO ANTIDOPING BRASILEIRA –

SUFICIÊNCIA OU INSUFICIÊNCIA?

Por: JULIANA NÄVEKE

Orientador

Professor Marcelo Saldanha

Rio de Janeiro

Julho/2010

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A LEGISLAÇÃO ANTIDOPING BRASILEIRA -

SUFICIÊNCIA OU INSUFICIÊNCIA?

Apresentação de monografia ao Instituto A vez do

Mestre – Universidade Cândido Mendes como

requisito parcial para a obtenção do grau de

especialista em Direito Desportivo.

Por: Juliana Näveke

3

RESUMO

Considerando que o Brasil será sede de grandes eventos esportivos nos

próximos anos, é importante aferir se o país está preparado para recebê-los, o que

inclui, a toda evidência, a análise da legislação antidoping.

Portanto, cumpre determinar se as normas nacionais estão em sintonia com

a legislação internacional desportiva e com isso concluir se ela facilita ou dificulta

aos profissionais da área a identificação das infrações e a aplicabilidade das

penalidades.

4

METODOLOGIA

Pesquisa bibliográfica em livros, revistas acadêmicas, sítios da internet e

jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça Desportiva.

5

ÍNDICE

INTRODUÇÃO 6

CAPÍTULO I – A CONVENÇÃO INTERNACIONAL CONTRA O DOPING NO

ESPORTE 10

CAPÍTULO II - O CÓDIGO MUNDIAL ANTIDOPING 13

CAPÍTULO III – A LEGISLAÇÃO NACIONAL 16

III.1. A Portaria nº. 101, de 29 de julho de 2003, Ministério do Esporte 16

III.2. A Resolução nº. 02, de 05 de maio de 2004, Conselho Nacional do Esporte 17

III.3. O Código Brasileiro de Justiça Desportiva vigente à época 18

CAPÍTULO IV - O CÓDIGO BRASILEIRO DE JUSTIÇA DESPORTIVA, ALTERADO

PELA RESOLUÇÃO Nº. 29, DE 10 DE DEZEMBRO DE 2009 20

CAPÍTULO V - A APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA A CASOS

CONCRETOS 21

CAPÍTULO VI - A SUFICIÊNCIA OU INSUFICIÊNCIA DA LEGISLAÇÃO

BRASILEIRA ANTIDOPING 28

CONCLUSÃO 31

BIBLIOGRAFIA 35

ANEXO 36

ÍNDICE 42

FOLHA DE AVALIAÇÃO 43

6

INTRODUÇÃO

A partir do momento em que o homem organizou-se para viver em

sociedade e a sujeitar-se a regras, passou a burlá-las e isso não foi diferente na

seara desportiva.

Assim é que o esporte, responsável por histórias de aproximação entre

povos, entre as pessoas de um país1, de superação pessoal e de inclusão social,

também sucumbiu ao incessante anseio humano de obtenção de vitórias por meios

escusos, o que fez com que atletas de todos os níveis recorressem ao uso de

substâncias não permitidas. Como consequência, recordes foram quebrados e

medalhas obtidas.

Tal prática passou a ser mundialmente conhecida como doping, palavra cuja

origem não é unanimidade entre os estudiosos. Sustentam uns que o termo teria

nascido na Holanda, em 1865, por ocasião da construção do Canal do Norte,

quando operários utilizavam drogas para melhorar o seu desempenho. Outros,

entretanto, dizem que o termo é de origem inglesa, para designar a busca pela

elevação do desempenho dos cavalos de corrida2.

Com efeito, não se pode olvidar que o doping pode ser positivo, que é

aquele que se realiza para o efeito de acordar, no paciente, maior vivacidade, mais

resistência e mobilidade, ou negativo, que é caracterizado pelo emprego de

tranquilizantes3.

Ocorre que, associado à questão da violação da igualdade que deve presidir

qualquer campeonato, há o problema relativo a atletas usuários ou viciados em

substâncias entorpecentes.

Não por outras razões que não sejam a necessidade de assegurar a

1 Recentemente, o filme Invictus mostrou como Nelson Mandela utilizou o esporte para a aproximação entre as pessoas na África do Sul. 2 Neves, SERRANO. Doping – Homicídio e Lesões no Desporto. Ed. Alba, p. 11. 3 Neves, SERRANO. Ob. cit., p. 12 e 18.

7

paridade nas competições, a higidez da saúde dos atletas e a preservação da

influência benéfica que estes exercem sobre as pessoas, notadamente as crianças,

que organismos internacionais, seguidos internamente, trataram de normatizar o

tema, criando diversos regramentos e suas respectivas sanções, bem como metas a

serem atingidas não apenas para erradicar o doping, mas para preveni-lo de forma

eficaz.

Em última análise, busca-se a conservação e o respeito à função social do

desporto e ao princípio do jogo leal (fair play), o que passa, necessariamente, pela

elaboração de normas sobre doping.

Sobre o início do regramento da matéria, discorreu DIRCEU PEREIRA DE

SANTA ROSA4, que transcreveu a segunda parte de artigo de ALBERTO PUGA,

verbis:

No ano de 1967, é constituída a Comissão Médica do COI, que organizou o Regulamento Antidopagem do COI, cuja primeira aplicação deu-se na III Competição Desportiva Internacional - Cidade do México, 1967 - e posteriormente, nos Jogos Olímpicos de Verão e Inverno - Cidade do México e Glenoble, 1968. As Federações Internacionais (FIs), no período de 1968 a 1972, a FINA (natação) e IAAF (atletismo) são as primeiras federações internacionais a adotarem o Regulamento Antidopagem do COI, seguindo-se a FIBA (basquetebol), UCI (ciclismo), embora esta última já utilizasse testes antidoping, desde 1966. Em 1974, a FIFA (futebol) passou a adotar o Regulamento Antidopagem do COI.

No Brasil, a Constituição da República de 1988, em seu artigo 217 enuncia

que é dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, sendo

certo que o parágrafo primeiro do artigo em comento prevê que “o Poder Judiciário

só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após

esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, reguladas em lei”5.

4 http://justicadesportiva.uol.com.br/artigo.asp?id=1334. 5 Nesse sentido leciona Guilherme Peña de Moraes, verbis: “O direito ao desporto é externado por práticas desportivas não formais e formais, eis que aquelas são contempladas pelo princípio da liberdade lúdica dos praticantes, ao passo que estas são consubstanciadas pelas regras, nacionais e internacionais, de cada modalidade de desporto de educação, participação ou rendimento. O primeiro é dedicado ao desenvolvimento integral da personalidade humana, assim como à formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer. O segundo é destinado à integração dos praticantes na plenitude da vida social, bem como à promoção da saúde e educação e à preservação do meio ambiente.

8

Nesse diapasão, a legislação desportiva brasileira6, de competência dos

entes enunciados no artigo 24 da Constituição da República, prevê a existência do

Superior Tribunal de Justiça Desportiva e de Tribunais de Justiça Desportiva, aos

quais incumbe o julgamento das infrações cometidas por dopagem especificadas no

Código Mundial Antidoping e em diplomas legislativos internos.

De outro lado, é patente a disseminação das mais variadas modalidades

esportivas no Brasil, seja pelo incessante incentivo da sociedade civil albergada por

projetos tendentes a minimizar a pobreza e as desigualdades que nos assolam, os

quais também são realizados pelo Poder Público, seja pelo fato de o Brasil ser a

sede da Copa do Mundo de 2014 e o Rio de Janeiro das Olimpíadas de 2016.

Desta forma, não obstante tais eventos sejam regrados e fiscalizados

internacionalmente, revela-se necessário avaliar como o Brasil trata a questão do

doping, isto é, se há similitude entre a normatização internacional e a interna e se há

excesso de normas regulando os mesmos fatos.

Para tanto, com vistas a possibilitar a compreensão do tema, o estudo

partirá da legislação internacional para a interna e, desta forma, no primeiro capítulo

analisa-se a Convenção Internacional contra o Doping no Esporte, que traça

diretrizes a serem seguidas pelos Estados-Parte.

No segundo capítulo traz-se a lume o Código Mundial Antidoping, com a

exposição de seus dispositivos que tratam de questões materiais e formais.

O terceiro é devotado à obtenção de resultados, de modo amador ou profissional, sendo a competência para processamento e julgamento das transgressões relativas à disciplina e competições de desportos outorgada às instâncias da Justiça Desportiva, em que pese a possibilidade jurídica de interposição de recurso ao Poder Judiciário, tendo sido observados os pressupostos processuais do art. 217, §§1º e 2º, da CRFB, como também dos arts. 50, caput, e 52, §§1º e 2º, da Lei nº. 9.615/98, razão pela qual “versando o conflito de interesses acerca da disciplina e competições de desportos, o interessado deve provocar a Justiça Desportiva antes de adentrar o Poder Judiciário”. Curso de Direito Constitucional. 3. Ed. Rio de Janeiro:Atlas, 2010. p. 570. 6 Destaca Alcirio Dardeau de Carvalho que “O desporto nacional, realmente, é regido por leis formais e leis materiais. Diretamente, a legislação desportiva brasileira emana do Poder Legislativo da União; indiretamente, emana do Conselho Nacional de Desportos (CND), sob forma de Deliberações, e do Ministério da Educação e Cultura (MEC), sob a forma de Portarias.” O processo disciplinar do Futebol – livro I do CBDF. P. 19. Atualmente, trata-se do Conselho Nacional do Esporte e do Ministério do Esporte, de acordo com a Lei nº. 9.615/98.

9

O terceiro capítulo cuida das normas internas, quais sejam, a Portaria nº.

101, de 29 de julho de 2003, do Ministério do Esporte e a Resolução nº. 02, de 05 de

maio de 2004, do Conselho Nacional do Esporte, com abordagem, ainda que

sucinta, do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, vigente àquela época.

No capítulo subsequente passa-se ao enfoque do atual Código Brasileiro de

Justiça Desportiva, alterado pela Resolução nº. 29, de 10 de dezembro de 2009, do

Conselho Nacional do Esporte.

A partir das constatações havidas nos capítulos precedentes, no quinto

aborda-se a aplicação da legislação a casos concretos e a modalidades desportivas

distintas.

No sexto capítulo avalia-se se há excesso de normas sobre doping no Brasil,

com a apresentação de sugestões para melhor tratamento da matéria.

Fechando o estudo da legislação antidoping brasileira, conclui-se com a

constatação da importância da produção normativa internacional e da imperiosa

atuação não apenas do Poder Legislativo, mas, sim, do Executivo, na questão

preventiva e do próprio Judiciário, específico para cada modalidade desportiva, na

aplicação de sanções uniformes para os mesmos casos postos à sua apreciação, o

que possibilitará, através dessa ação conjunta, o cerco e a erradicação dessa prática

nociva ao esporte.

10

CAPÍTULO I

A CONVENÇÃO INTERNACIONAL CONTRA

O DOPING NO ESPORTE

Observa-se que a Convenção Internacional contra o Doping no Esporte, de

19 de outubro de 2005, advinda da Conferência Geral da Organização das Nações

Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura – UNESCO, é um tratado internacional

e como tal ingressa no ordenamento jurídico pátrio com força de lei ordinária, na

medida em que a matéria nela versada não diz respeito exclusiva ou diretamente a

direitos humanos, o que significa estar excluída do campo de incidência do artigo 5º,

§3º da Constituição da República.

Além disso, diz-se que no Brasil a Convenção tem força de lei ordinária, haja

vista que o país passou a dela ser signatário após a sua aprovação pelo Congresso

Nacional por meio do Decreto Legislativo nº. 306, de 26 de outubro de 2007 e

promulgação pelo Decreto nº. 6.653, de 18 de novembro de 2008.

Por ser uma Convenção, em seu texto não se encontram descritas condutas

reputadas infrações desportivas, tampouco sanções. Vale dizer, a Convenção não

ostenta caráter punitivo. Ao revés, percebe-se em seu conteúdo uma gama de

normas conceituais e, sobretudo, metas a serem atingidas na prevenção ao doping.

Nesse sentido, o artigo 2º, intitulado “Definições”, descreve quais condutas

caracterizam violação das normas antidoping. São elas:

(a) a presença de uma substância proibida, de seus metabolitos ou marcadores na amostra corporal de um atleta; (b) uso ou tentativa de uso de uma substância proibida ou de um método proibido; (c) recusa de se submeter, sem justificativa válida, ou evitar por qualquer outro expediente, a coleta de amostra após notificação conforme autorizado pelas regras antidoping vigentes; (d) violação das exigências de disponibilidade do atleta em relação aos controles fora de competição incluindo o não-cumprimento da obrigação de indicar o lugar em que se encontra, assim como o não-comparecimento a controles obrigatórios a partir de normas razoáveis;

11

(e) falsificação, ou tentativa de falsificar, qualquer parte do processo de controle de doping; (f) posse de substâncias ou métodos proibidos; (g) tráfego de qualquer substância proibida ou método proibido; (h) administração ou tentativa de administração de uma substância proibida ou de um método proibido em qualquer atleta, ou assistência, incitamento, auxílio, instigação, ocultação ou qualquer outra forma de cumplicidade que acarrete uma infração ou tentativa de infração das normas antidoping.

O texto da Convenção prossegue com a descrição de medidas a serem

adotadas pelos Estados-Parte para a restrição da disponibilidade e do uso de

substância e métodos proibidos no esporte, indicando o norte a ser seguido também

no que diz respeito ao pessoal de apoio a atletas, a necessidade de incentivo

financeiro para a erradicação do doping, bem como a adoção de medidas para

facilitação do controle antidoping.

Ato contínuo, o texto em apreço trata da cooperação internacional,

notadamente entre organizações antidoping e organizações esportivas, priorizando o

apoio à missão da Agência Mundial Antidoping, esta criada em 10 de novembro de

1999, em Lausanne.

Em sua quarta parte, a Convenção apresenta os princípios gerais de

educação e treinamento sobre ações antidoping e, na parte seguinte do texto, a

inafastável necessidade de realização de pesquisas antidoping pelos Estados-Parte.

Ao final, há previsão da possibilidade de qualquer Estado-Parte apresentar

proposta de emenda ao texto da Convenção e o procedimento a ser seguido para tal

desiderato.

De outro lado, malgrado não apresente preceitos e sanções, as suas

disposições têm prevalência sobre o Código Mundial Antidoping, como prevê o

artigo 2º. Isso não significa, entretanto, que eventual sanção imposta por Estado-

Parte em determinado caso concreto possa ser afastada pela aplicabilidade da

Convenção, mas, apenas que, havendo conflito entre as finalidades por ela

preconizadas e as implementadas pelo Estado-Parte, prevalecerão aquelas.

12

Na realidade, dada a gravidade do doping no mundo, a Convenção traça

diretrizes a serem seguidas pelos Estados-Parte e isso se dá em todos os aspectos,

envolvendo não apenas os atletas, mas o pessoal de apoio e as entidades

encarregadas de gerir e fiscalizar a prática desportiva.

Como se vê, a Convenção Internacional contra o Doping no Esporte adveio

da necessidade de atuação conjunta de todos os países que preconizam o desporto

como atividade essencial ao desenvolvimento social, estatuindo diretrizes a serem

seguidas internamente não apenas no âmbito legislativo, mas, também, no que toca

às medidas preventivas, educacionais, financeiras e de fiscalização acerca da

matéria.

13

CAPÍTULO II

O CÓDIGO MUNDIAL ANTIDOPING

A edição do Código Mundial Antidoping lhe alçou ao status de pilar

legislativo para o esporte olímpico, sendo certo que sua definição e objetivo estão

nele expostos, no seguinte trecho:

é o documento fundamental e universal no qual se baseia o Programa Mundial Antidoping nos esportes. O objetivo do Código é promover o avanço do esforço antidoping através da harmonização universal dos principais elementos do programa antidoping. Ele pretende ser específico o suficiente para fornecer a completa harmonização de questões que requerem uniformidade, e amplo o suficiente em outras áreas para permitir flexibilidade no modo como os princípios antidoping acordados serão implantados.

A introdução do Código é clara ao dispor que as suas regras e princípios

deverão ser seguidos por todas as Organizações Antidoping, genericamente

englobadas sob tal rubrica, em cujo conceito inclui-se, por exemplo, o Comitê

Olímpico Internacional. A propósito, o Código dispõe na Introdução, em sua primeira

parte que:

A Parte Um do Código não substitui, ou elimina a necessidade da adoção de amplas regras antidoping por cada uma das Organizações Antidoping. Embora algumas provisões da Parte Um do Código devam ser incorporadas essencialmente em sua versão integral por cada Organização Antidoping em suas próprias regras antidoping, outras provisões da Parte Um estabelecem princípios diretores obrigatórios que permitem flexibilidade na formulação de regras por cada Organização Antidoping ou estabelecem requisitos que devem ser seguidos por cada Organização Antidoping que, porém, não precisam ser repetidas em suas próprias regras antidoping. Os seguintes Artigos, conforme sejam aplicáveis ao escopo da atividade antidoping que a Organização Antidoping desenvolve, devem ser incorporados às regras de cada Organização Antidoping sem nenhuma mudança substantiva (permitindo as necessárias mudanças não-substantivas de edição de linguagem de modo a indicar o nome da organização, a prática esportiva, os números de sessões, etc.): Artigos 1 (Definição de Doping), 2 (Violações da Regra Antidoping), 3 (Comprovação de Doping), 9 (Desqualificação Automática de Resultados Individuais), 10 (Sanções Contra Indivíduos), 11 (Conseqüências para as Equipes), 13 (Recursos) com a exceção de 13.2.2, 17 (Estatuto das Limitações) e Definições.

Também é de capital importância transcrever o seguinte comentário ao

14

Código, constante do anexo ao Decreto nº. 6.653/98, verbis:

Comentário: Por exemplo, é fundamental para a harmonização que todos os Signatários baseiem suas decisões na mesma lista de violações da regra antidoping, nos mesmos ônus de comprovação e imponham as mesmas Conseqüências para as mesmas violações da regra antidoping. Essas regras substantivas devem ser as mesmas ocorra uma audiência junto à uma Federação Internacional, em nível nacional ou junto à CAE. Por outro lado, não é necessário, para a eficaz harmonização, forçar todos os Signatários a usarem um único processo de gestão e audiência de resultados. No momento, há muitos processos diferentes, embora igualmente eficazes para a gestão de resultados e audiências nas diferentes Federações Internacionais e nas diferentes entidades nacionais. O Código não requer uniformidade absoluta nos procedimentos de gestão de resultados e de audiências; ele realmente requer, no entanto, que as diversas abordagens dos Signatários satisfaçam os princípios estabelecidos pelo Código.

Nesse contexto, conclui-se, numa escala decrescente, considerando-se a

abstração das disposições legais, que a Convenção apresenta-se mais aberta, ao

passo que o Código se reveste de maior concretude, dispondo sobre o mínimo que

os países devem adotar para o combate ao doping, mínimo este que restou definido

após discussão entre as partes envolvidas, o que significa que um atleta ou quem de

qualquer forma participe de evento esportivo a ele submetido deve conhecer os seus

ditames e respeitá-los.

Outrossim, ao contrário da Convenção Internacional contra o Doping no

Esporte, o Código Mundial Antidoping apresenta a listagem das substâncias

proibidas, que pode sofrer modificações, seja para acréscimo, seja para supressão,

havendo substâncias proibidas dentro e fora da competição, como, por exemplo,

agentes anabólicos, ou proibidas apenas em competição, tais como, estimulantes e

narcóticos. Oportuna a leitura do artigo 4.1., verbis:

4.1 Publicação e Revisão da Lista Proibida. A WADA deverá, tão freqüentemente quanto for necessário e não menos que anualmente, publicar a Lista Proibida como um Padrão Internacional. O conteúdo proposto da Lista Proibida e de todas as revisões deverá ser fornecido por escrito e de imediato para todos os Signatários e governos para comentários e consultas. Cada versão anual da Lista Proibida e de todas as revisões deverá ser distribuída imediatamente pela WADA para cada Signatário e para cada governo e deverá ser publicada no endereço de Internet da WADA, e cada Signatário deverá tomar as medidas adequadas para distribuir a Lista Proibida a seus membros e entidades constituintes. As regras de cada

15

Organização Antidoping deverão especificar que, a menos que estabelecido de outro modo na Lista Proibida ou em sua revisão, a Lista Proibida e suas revisões deverão entrar em vigor, de acordo com as regras da Organização Antidoping, três meses após a publicação da Lista Proibida pela WADA sem que isso requeira qualquer outra ação por parte da Organização Antidoping. Comentário: A Lista Proibida será revisada e publicada de forma pontual sempre que surgir alguma necessidade. No entanto, para os fins de previsibilidade, uma nova lista será publicada todos os anos, sejam feitas mudanças ou não. A virtude da prática do COI de publicar uma nova lista todo mês de janeiro é que isto evita confusão sobre qual lista é a mais atual. Para atender a tal exigência, a WADA sempre fará com que a Lista Proibida mais atualizada seja publicada em sua página de Internet.

Em síntese, o artigo 2º do Código Mundial Antidoping descreve condutas

caracterizadoras de violação das regras antidoping, citando-se, a título de ilustração,

“a presença de uma Substância Proibida ou de seus Metabolitos ou de Marcadores

na Amostra corporal de um Atleta” – o que também é previsto na Convenção – e,

além disso, estipula as sanções no artigo 10, que variam entre a desqualificação de

resultados, a imposição de inelegibilidade, advertência, eliminação, bem como

sanções para as equipes ou contra as entidades esportivas (artigos 11 e 12).

16

CAPÍTULO III

A LEGISLAÇÃO NACIONAL

III.1. A Portaria nº. 101, de 29 de julho de 2003, do Ministério do Esporte

O Ministério do Esporte, criado pela Lei nº. 10.672, de 15 de maio de 2003,

que alterou a Lei nº. 9.615, de 24 de março de 1998, não passou ao largo da

gravidade do problema do doping e da necessidade de descentralização para maior

eficácia das medidas, o que se afirma pela edição da Portaria nº. 101, de 29 de julho

de 2003, que criou a Comissão de Combate ao Doping, composta de vários

representantes, sendo eles integrantes da Secretaria Executiva do Ministério dos

Esportes, da Secretaria Nacional do Esporte de Alto Rendimento, da Comissão

Nacional de Atletas, do Comitê Olímpico Brasileiro, do Comitê Paraolímpico

Brasileiro, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, do Conselho Nacional

Antidrogas, da Associação Brasileira de Estudos e Combate ao Doping, do Conselho

Federal de Farmácia, da Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva, do Laboratório

de Controle de Dopagem do Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico

do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Conselho

Federal de Educação Física e de três membros de livre nomeação do Presidente do

Conselho Nacional do Esporte.

As funções de tal Comissão estão previstas no artigo 5º e, em síntese,

constituem um conjunto de ações tendentes à prevenção e maior eficácia no

combate ao doping, em sintonia com a Agência Mundial Antidoping e demais

organismos internacionais, como sintetizado no inciso IX, que apresenta a seguinte

redação:

IX – promover e coordenar a luta contra o doping, dentro e fora das competições, cooperando com as entidades desportivas nacionais e internacionais, públicas e privadas, buscando a obtenção de um pacto de apoio moral e político para o cumprimento e supervisão das recomendações no enfrentamento contra o doping;

Conquanto tal Portaria não contenha normas de direito material, pois, a rigor

17

não seria a espécie normativa adequada7, em seu bojo há previsão de ser da

competência da Comissão de Combate ao Doping não apenas estabelecer, adaptar,

modificar, atualizar e divulgar a lista de substâncias e métodos proibidos na prática

do esporte, observadas as regras internacionais, como também estabelecer regras,

procedimentos disciplinares, sanções e outros meios para o combate ao doping,

observadas as regras internacionais de cada modalidade esportiva, bem como as

disposições do Código Mundial Antidoping (artigo 5º, X e XI).

É possível perceber, destarte, que o ato administrativo em apreço é mais

uma medida do Poder Público para erradicar o doping, que se revela necessária

diante do inconteste fato de que as fraudes desportivas estão cada vez mais

elaboradas, dificultando a sua detecção8.

III.2. A Resolução nº. 02, de 05 de maio de 2004, do Conselho Nacional do

Esporte

A Resolução9 em comento apresenta conceitos, tais como a distinção entre

doping, que é a “substância, agente ou método capaz de alterar o desempenho do

atleta, a sua saúde ou espírito do jogo, por ocasião de competição desportiva ou fora

dela”, e dopagem, que é a “administração ao atleta, ou o uso por parte deste, de

substância, agente ou método capaz de alterar o desempenho do atleta, prejudicar a

sua saúde ou comprometer o espírito do jogo, por ocasião de competição desportiva

ou fora dela”, sendo a infração por dopagem o “uso de substância proibida, ou a

presença de seus metabólitos ou marcadores na urina ou sangue do atleta, o uso ou

a tentativa de uso de substância ou método proibido, a adulteração ou tentativa de

7 Nos dizeres de José dos Santos Carvalho Filho: “Apesar de auxiliarem a Administração a definir melhor sua organização interna, a verdade é que, na prática, encontramos muitos deles ostentando caráter normativo, fato que provoca a imposição de regras gerais e abstratas”. Manual de Direito Administrativo. 18. Ed. Rio de Janeiro:Lúmen Juris. p. 124. 8 “Na recente obra coordenada por Alberto Palomar, El deportista en el mundo, o competente e reconhecido professor Miguel Cardenal , ao abordar a luta contra a dopagem, alerta que o combate ter-se-á que fazê-lo no campo científico, usando-se armas pelo o que ele chama de medicina de vanguarda, desde a sua gênese e sua persecução. Enfim, já se está quase diante do doping produzido por manipulação genética”. http://justicadesportiva.uol.com.br/artigo.asp?id=1334. 9 “Resoluções são atos, normativos ou individuais, emanados de autoridades de elevado escalão administrativo, como, por exemplo, Ministros e Secretários de Estado ou Município, ou de algumas pessoas administrativas ligadas ao Governo. Constituem matéria das resoluções todas as que se inserem na competência específica dos agentes ou pessoas jurídicas responsáveis por sua expedição”. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ob. cit. p. 124.

18

adulterar qualquer parte do controle de dopagem, a posse ilegal e o tráfico ilícito de

qualquer substância ou método proibido”, conforme artigos 1º, 2º e 3º,

respectivamente.

Consta, ainda, que as infrações por dopagem serão penalizadas de acordo

com a previsão desta Resolução e do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (artigo

6º), este inaplicável, como adiante será demonstrado.

Além disso, a Resolução pormenoriza o procedimento de apuração das

infrações por dopagem, a contraprova e o procedimento disciplinar (Capítulos III, IV,

V e VI).

Por fim, descreve as infrações, com as respectivas penalidades (artigos 32 a

35) e enumera, em seu anexo, as substâncias proibidas, ressalvando o uso para fins

terapêuticos, bem como os métodos proibidos.

III.3. O Código Brasileiro de Justiça Desportiva vigente à época

É de bom alvitre aduzir que o vetusto Código Brasileiro de Justiça Desportiva

em seu artigo Capítulo III definia as infrações por dopagem, prevendo o artigo 244

que “ser flagrado, comprovadamente dopado, dentro ou fora da partida, prova ou

equivalente”, acarretaria a sanção de suspensão de 120 (cento e vinte) e 360

(trezentos e sessenta) dias e eliminação na reincidência, havendo previsão de

punição também para a entidade desportiva e para membro(s) de comissão técnica.

Os artigos posteriores descreviam outras infrações, estas consistentes na

violação da embalagem, frasco ou recipiente em que estivessem contidas as

amostras destinadas a exame; na negligência ou imprudência na guarda, transporte

ou conservação de amostra, de modo a torná-la imprestável para o fim a que se

destinava; na falsificação do resultado da análise fornecida pelo laboratório ou na

inserção de declaração falsa; no não cumprimento, no que se referia à dopagem, na

forma ou nos prazos estabelecidos, as determinações do Código, legislação federal,

normas nacionais e internacionais e regras de cada modalidade, se da omissão

resultasse prejuízo para o controle da dopagem, e no ato de ministrar ou prescrever

19

ao atleta substância ou método proibido (artigos 245 a 249).

Percebe-se, pois, que em poucos artigos o Código Brasileiro de Justiça

Desportiva tratava do tema e, especificamente no que diz respeito ao artigo 244, o

seu texto apresentava norma de conceito indefinido, na medida em que a infração

era caracterizada pelo flagrante do atleta comprovadamente dopado, conceito que

implicava busca da definição na Resolução nº. 02/2004–CNE.

20

CAPÍTULO IV

O CÓDIGO BRASILEIRO DE JUSTIÇA DESPORTIVA,

ALTERADO PELA RESOLUÇÃO Nº. 29, DE 10 DE

DEZEMBRO DE 2009

O Código Brasileiro de Justiça Desportiva, aplicável indistintamente a

qualquer modalidade esportiva, foi alterado pela Resolução nº. 29, de 10 de

dezembro de 2009, do Conselho Nacional do Esporte, e estatui a organização da

Justiça Desportiva, em conformidade com o artigo 4º da Lei nº. 9.615/98, e o

processo desportivo, o que engloba, entre outros, o procedimento a ser seguido em

casos de infrações por dopagem, caso a legislação da respectiva modalidade não

estabeleça regras procedimentais próprias para tais infrações.

Embora o artigo 170 estabeleça o rol de penalidades para as infrações que

enumera (advertência, multa, suspensão por partida, suspensão por prazo, perda de

pontos, interdição de praça de desportos, perda de mando de campo, indenização,

eliminação, perda de renda, exclusão de campeonato ou torneio), não descreve

nenhuma conduta específica acerca do doping, haja vista que na parte concernente

às infrações em espécie não se vislumbra qualquer dicção neste sentido.

A esse respeito, não obstante o artigo 243-A preveja como infração “atuar,

de forma contrária à ética desportiva, com o fim de influenciar o resultado de partida,

prova ou equivalente”, esta não deve ser aplicada em casos de dopagem, pois a

atual redação do artigo 244-A dispõe que “as infrações por dopagem são reguladas

pela lei, pelas normas internacionais pertinentes e, de forma complementar, pela

legislação internacional referente à respectiva modalidade esportiva”.

Vale dizer, o regramento das infrações por dopagem ficou a cargo de cada

entidade responsável pela modalidade desportiva, e pela legislação internacional

atinente, o que é um indicativo da busca pela unificação do assunto.

21

CAPÍTULO V

A APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA A CASOS

CONCRETOS

Como já mencionado na introdução do presente estudo, o doping não é

tema recente e aqui no Brasil há muito dele se tem conhecimento, como se verifica

em notícia veiculada no extinto jornal Última Hora, em 1967, reproduzindo noticiário

de São Paulo, transcrito por SERRANO NEVES10, nos seguintes termos:

numerosos jogadores de futebol, da 1ª divisão daquela e desta capital, admitiram, em programa público de televisão, que usavam “bolinhas” antes das competições desportivas. Um dêles sublinhou, sob espanto geral, que consentira no uso dessas “bolinhas” porque, se a elas opusesse resistência, não receberia o “bicho” (gratificação) correspondente ao resultado do jogo. Prestou depoimento – espantoso – também um ex-jogador, hoje técnico de futebol, confirmando os rumores e acrescentando que nunca conseguiu saber a composição farmacêutica de tais “bolinhas”. É, portanto, hora de ação. (1. III-1967, última página do 1º caderno)

Por essa razão, os casos inicialmente comentados ocorreram no âmbito do

futebol profissional, sendo de conhecimento público e notório.

O primeiro envolveu o ex-atleta Romário de Souza Farias, à época jogador

de futebol do Clube de Regatas Vasco da Gama, o segundo o jogador conhecido

como Dodô, à época atleta do Botafogo de Futebol e Regatas e o último, mais

recente, o jogador conhecido pelo prenome Jobson, do mesmo clube carioca.

O caso de Romário teve início ao ser detectada, em exame antidoping

realizado em 28 de outubro de 2007, substância utilizada para o tratamento de

calvície (finasterida), mas que tem o uso proibido pelo Regulamento de Controle de

Dopagem da Confederação Brasileira de Futebol, amparado na lista de substâncias

proibidas definida anualmente pela Agência Mundial Antidoping, o que o levou a ser

denunciado por violação ao revogado artigo 244 do Código Brasileiro de Justiça

Desportiva e apenado com 120 (cento e vinte) dias de suspensão.

10 Ob. cit., p. 51.

22

Interposto o recurso competente, foi proferido o seguinte voto, que o

conduziu à absolvição:

O recurso é tempestivo, e está preparado, por isso que o conheço. Deixo de apreciar a preliminar de prescrição apresentada pelo atleta em sua defesa, já que a mesma não foi reiterada quando da propositura do seu recurso voluntário. Conhecido o embate teórico entre as teses da responsabilidade objetiva e da responsabilidade subjetiva. A primeira, como se sabe, defende o entendimento de que o atleta é responsável por tudo o que ingere e, caso seja detectada a presença de substância proibida em seu organismo, necessariamente estará caracterizada a conduta típica do doping. A segunda teoria, por outro lado, sustenta que o atleta pode se eximir da responsabilidade caso fique comprovado que não agiu com dolo ou culpa na ingestão da substância. Ambos os lados justificam suas posições em argumentos sólidos norteados por valores de igual importância. Os defensores da responsabilidade subjetiva possuem uma preocupação maior com o indivíduo, suposto autor do doping, e valorizam o seu direito individual à ampla defesa, à presunção de inocência; acreditam na sua boa-fé, desde que se prove o contrário. Os partidários da responsabilidade objetiva, por outro lado, dão maior importância à credibilidade do desporto, já que pode ser difícil constatar-se a presença do elemento subjetivo (culpa ou dolo); esta ala tem como valor prioritário resguardar a lisura e integridade desportivas. Ainda que para tanto, em um dado caso concreto, isso seja feito mediante o sacrifício de um direito individual, o que se justificaria pela proteção de um valor considerado mais importante. Verifica-se, assim, que ambas as teses são amparadas em valores positivos e possuem justificativas plausíveis. Nos últimos julgamentos realizados aqui neste Tribunal relacionados a casos de doping de atletas parece ter ficado claro que há uma tendência entre os auditores pela filiação à tese da responsabilidade subjetiva. Essa tendência tem estimulado, não sem razão, mas talvez de forma precipitada, a que os advogados de defesa espertamente sustentem que a posição do Tribunal Pleno já seria definida e pacificada nesse sentido. Entretanto, não é necessariamente verdade que este Tribunal tenha pacificado o entendimento sobre o assunto. Já houve casos em que, por conta de mudança pontual na composição do Pleno (por vezes causadas pela ausência de apenas um auditor em determinada sessão) alterou-se o resultado de um julgamento semelhante ao ocorrido em sessão imediatamente anterior. Tampouco tem sido incomum a mudança de opinião de determinado auditor, seja pela constatação no caso concreto de algum elemento capaz de alterar seu convencimento, seja mesmo pelo amadurecimento de sua opinião a respeito de um tema específico. A solução mais adequada ao referido embate teórico foi aquela encontrada pelo Código Mundial Antidopagem, já mencionada pelo ilustre Auditor Franscisco Mussnich, em voto-vencedor quando do julgamento do caso do atleta Dodô. Pelas normas daquele diploma,

23

editado pela WADA, entidade especializada a que a FIFA é filiada, para a caracterização do doping não é necessária fazer prova da intenção, culpa, negligência ou do uso consciente (art. 2.1.1), mas possibilita a anulação da pena nas hipóteses do atleta acusado provar que não teve culpa ou negligência no cometimento da infração, ou comprovar a forma na qual a substância ingressou em seu organismo (art. 10.5.1). Feitas essas ponderações iniciais, passo a apreciar ponto que considero crucial para a resolução do litígio. O atleta recorrente, em nenhum momento, contestou o laudo laboratorial ou negou a ingestão da substância Finasterida. Portanto, é certo que na amostra coletada havia a presença daquela substância, e que ela foi ingerida por ele espontaneamente. Referida substância, é enquadrada nas relações de substâncias proibidas da WADA. Referida lista é o paradigma mundial em referência às substâncias dopantes, que regem todas as demais listas do gênero mundo afora. Como se sabe, a Finasterida não é incluída naquele rol por possuir efeito dopante, no sentido de potencializar o desempenho atlético, mas está inserida na categoria de substâncias bloqueadoras, ou mascarantes, proibidas por que são capazes de comprometer a detecção de outras substâncias, no caso da Finasterida, especificamente os esteróides androgênicos. Referidas substâncias mascarantes ou bloqueadores, são consideradas pela própria WADA como menos graves do que as outras, aquelas catalisadoras da performance desportiva. Na própria lista de 2008 emitida por aquela entidade, é feita especial ressalva a determinadas substâncias especificadas, dentre as quais as alfa-reductases, gênero no qual se enquadra a FINASTERIDA. Diz a mencionada observação, em tradução livre deste relator: A presente lista pode identificar substâncias especificadas que são particularmente suscetíveis ao descumprimento não intencional de norma antidopagem seja porque são disponíveis de forma geral em produtos médicos, seja porque são menos passíves de serem utilizadas com sucesso como agentes dopantes. Uma violação às normas de doping envolvendo referidas substâncias pode resultar em uma sanção reduzida, desde que o atleta possa estabelecer que o uso de referida substância especificada não teve a intenção de incrementar a performance desportiva. Além disso, merece destaque que, entre as modificações procedidas entre a lista de 2007 e 2008, conforme se verifica do Sumário de principais modificações (fl. 43) da WADA, consta a observação de que as substâncias especificadas, dentre as quais a Finasterida, embora possam ser usadas como agentes mascarantes de esteróides anabolizantes, investigações recentes demonstraram que existem processos laboratoriais que permitem determinar se foram utilizadas em associação com esteróides anabolizantes através da análise detalhada do perfil dos esteróides androgênicos. Notem que o Sumário de Principais Modificações da WADA data de 22 de setembro de 2007, portanto antes mesmo da data do fato. O atleta, em sua defesa, amparado nessa nova norma, pediu a realização de prova pericial para que fosse realizado na amostra do atleta esses novos procedimentos laboratoriais, reconhecidos publicamente pela WADA desde 22 de setembro de 2007. Entretanto, não há nos autos nenhuma deliberação acerca do pedido de prova pericial formulado. Dessa forma, reconheço por evidente que houve cerceamento do

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direito de defesa do atleta recorrente, tendo em vista que a prova pericial é prova admissível na justiça desportiva, conforme art. 68 do CBJD. E, pelas circunstâncias especiais dos autos, essa prova pericial seria de importância crucial para o deslinde da questão, pois caso realizados os novos procedimentos de exames laboratoriais mencionados pela WADA em suas diretrizes mais atualizadas, poderíamos ter a certeza se a substância foi ou não utilizada para mascarar a presença de algum outro esteróide. Entretanto, deixo de acolher referida preliminar, pois entendo que o caso permite ir mais além. A norma da WADA é clara: durante o ano de 2007, foi constatado que há novos meios de exame laboratoriais que possibilitam a verificação se determinado atleta consumiu substâncias alpha-reductoras (dentre as quais consta a Finasterida) em conjunto com algum esteróide anabolizante. Então, a partir desse momento, a substância Finasterida, apesar de ainda constar da lista de substâncias proibidas, recebeu uma classificação mais específica, deixou de ser meramente proibida, passando a ser substância especificada, a respeito das quais há meios tecnológicos novos de exame para saber quando forem utilizadas em conjunto com alguma outra substância proibida, capaz de aumentar o desempenho desportivo. Dessa forma, entendo que não cabe ao atleta providenciar a realização do referido exame, até porque não tem como dispor da mesma amostra fornecida no dia da partida, que deve estar na posse do Laboratório responsável. Na verdade, é o órgão fiscalizador que deveria proceder todos os exames laboratoriais necessários para constatar a presença de substâncias dopantes. Se o laboratório contratado pela CBF para realizar tais exames não procedeu a essa verificação, ou se não sabia da existência dessa nova diretriz da WADA, que deve ser acatada por todas as entidades congêneres nacionais, não pode ser o atleta o responsabilizado por isso. O argumento de que as alterações das diretrizes da WADA ainda não teriam sido acatadas pela entidade nacional, a meu ver, é um argumento simplório, que, data vênia, não se sustenta. É que tais normas são típicas do direito internacional. A WADA é a instituição mais avançada e credenciada de todas as entidades de controle de dopagem do mundo. Suas diretrizes são, cedo ou tarde, seguidas por todas as entidades de controle de doping do cenário global. Certamente, se suas diretrizes ainda não foram acolhidas pela entidade nacional, ou se ainda não chegaram ao conhecimento da CBF, por exemplo, não é motivo para ignorá-las. Caso fossem ignoradas, poder-se-ia imaginar a situação inversa: se uma nova substância dopante fosse criada e inserida na relação da WADA, certamente não seria necessária a confirmação da entidade nacional para que o uso de hipotética substância fosse caracterizado como dopagem. Não se pode submeter um assunto sério como o doping, aos impasses advindos da burocracia das entidades nacionais. Até porque, como já julgamos anteriormente, e um caso exemplar foi o do técnico Dunga, o futebol é um esporte mundial, cujas regras são definidas em última instância pela FIFA, entidade maior, que, no quesito doping, adota as diretrizes da WADA. No julgamento do caso Dodô, mencionado pela Procuradoria, não foram aplicadas as regras nacionais. Pelo contrário, as normas nacionais foram interpretadas em harmonia e consonância com o

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Código Mundial Antidopagem, que foi detalhadamente dissecado, interpretado e explicado no magistral voto-vencedor do ilustre Auditor Francisco Mussnich. Quanto à possibilidade de reavaliação do caso, não pela FIFIA, mas pelo Tribunal de Arbitragem Esportiva - TAS, considero-a, em todos os casos, extremamente salutar. Tal revisão nos permitirá ter certeza da boa distribuição da jurisdição desportiva, caso confirmatórias de nossas decisões, ou aprimorar nossos conhecimentos, em caso de reforma. Não se poderia nunca falar em doping no presente caso. O que houve, na verdade, foi um laudo feito sem a observância das novas diretrizes da WADA, que atesta, repito, a existência de exames para verificar a presença de esteróides em casos similares. A substância Finasterida não deixou de ser proibida, como anunciado especialmente pela imprensa no decorrer deste processo. Na verdade, ela passou a ser qualificada em categoria especial, junto com as substâncias ditas especificadas, pois seu uso pode significar doping, caso seja verificada em conjunto com outros elementos esteróides. Em outras palavras, a partir do momento que a WADA admite existirem exames capazes de constatar se a Finasterida foi utilizada em conjunto com outros esteróides, ela só terá potencial dopante se tais exames forem realizados e tiverem resultados positivos. No caso dos autos, a amostra do atleta não foi submetida a esses novos exames, apesar do requerido por ele, razão pela qual não há como afirmar se a substância foi utilizada como bloqueador de algum elemento dopante. Sendo assim, por tais fundamentos, voto pelo provimento integral do presente Recurso Voluntário, a fim de absolver o atleta da imputação do art. 244 do CBJD. Rio de Janeiro, 14 de fevereiro de 2008. Caio Cesar Vieira Rocha - Auditor do STJD

Assim como ocorreu com Romário, a substância encontrada no exame de

urina ao qual foi submetido o atleta Dodô, qual seja, femproporex, não é destinada à

melhora do rendimento do atleta. Trata-se, in casu, de moderador de apetite.

O diferencial deste caso é que o seu julgamento chamou a atenção da

Federação Internacional de Futebol – FIFA, em virtude da absolvição inicial. Leia-se,

a propósito, a seguinte notícia a respeito:

O atleta, que chegou a ser absolvido pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva em 2008 pela acusação de doping (foi encontrada na urina do atleta a substância Femproporex, um moderador de apetite), viu a FIFA e Agência Mundial Anti-Doping (WADA) encaminharem Recurso a Corte Arbitral do Esporte (CAS). Dodô foi suspenso do futebol por dois anos e teve seu Recurso negado na última quinta-feira, dia 29 de janeiro, no Tribunal Federal da Suíça. O caso Dodô, apesar de ter prejudicado a carreira do atleta, serviu como base para reorganizar a estrutura da justiça desportiva

26

brasileira e mundial e para levantar alguns questionamentos. Aconteceram mudanças na competência e na jurisdição do esporte. A Corte Arbitral do Esporte (CAS) passou a ser a entidade máxima da justiça do desporto no mundo. O STJD não é mais como muitos achavam, a última, e sim a segunda instância do desporto brasileiro. “Pela fundamentação da Corte Suíça, a priori, a CAS teria competência também não vinculada ao doping. Hoje é possível a revisão de qualquer processo disciplinar do desporto na Corte Arbitral do Esporte”, falou Dr. Marcos Mota, o advogado que defendeu Dodô no caso. Outro fato que surpreendeu foi a postura da FIFA, diante do caso. O Presidente da entidade, Joseph Blatter, afirmou que a condenação do atleta na esfera simbolizava a luta contra o doping no mundo. Apesar da bandeira defendida pela entidade, jogadores como Athirson e Romário também foram flagrados no mesmo exame, respectivamente, em 2000 e no final de 2007. A FIFA não se pronunciou no primeiro caso. Sobre Romário, a entidade chegou a requerer a cópia do processo, mas desistiu de entrar com a ação na Corte Arbitral do Esporte (CAS). Romário era embaixador da candidatura brasileira a Copa de 2014. Outro detalhe importante, é que no mesmo ano em que Dodô foi suspenso, em 2007, outros dez jogadores foram pegos no exame antidoping no Brasil, mas em nenhum desses casos a FIFA recorreu da decisão do STJD11.

Diferentemente, Jobson foi flagrado duas vezes pelo uso de cocaína, em

partidas distintas do Campeonato Brasileiro de Futebol de 2009, o que poderia lhe

impor até mesmo a pena de banimento.

A princípio, este atleta negou, vindo posteriormente a confessar o uso de

crack, desde 2008.

Estipulado inicialmente o afastamento de Jobson por 02 (dois) anos, a

penalidade foi drasticamente reduzida para 06 (seis) meses pelo Superior Tribunal

de Justiça Desportiva, o que se deu pela desconsideração do primeiro resultado

positivo, cujo resultado não teria sido comunicado ao atleta, como preconizado pelo

artigo 7.2 do Código Mundial Antidoping.

Destarte, deduz-se, especificamente no que tange ao futebol, que a

possibilidade de adoção de manobras jurídicas ou mesmo de manipulação de

resultados é maior do que em outras modalidades desportivas, talvez por ser o

esporte mais popular do país, envolvendo cifras milionárias, o que se conclui pelo

11 http://justicadesportiva.uol.com.br/7303-CASO-DODO-REVOLUCIONA-JUSTICA.html.

27

que aconteceu com o atleta Dodô e pela diminuta pena aplicada a Jobson, esta

albergada pelo problema de saúde pública que se tornou o consumo de crack.

Na natação há outro caso emblemático e extremamente noticiado, da

nadadora Rebeca Gusmão, em quem foi encontrada, em dois exames distintos (o

primeiro, no Troféu Brasil de 2006 e o segundo no exame realizado nos Jogos

Panamericanos de 2007), testosterona exógena, o que lhe causou a pena inicial de

dois anos de suspensão, decisão tomada pela Federação Internacional de Natação

– FINA, posteriormente modificada para banimento, pela Corte Arbitral do Esporte.

A pena de banimento, ao contrário do que ocorreu com Jobson, decorreu do

reconhecimento da reincidência de Rebeca Gusmão, sendo certo, ainda, que a

substância era destinada à obtenção de melhores resultados.

Os casos expostos demonstram que, ainda que ocorridos em campeonatos

internos, algumas situações despertam o interesse das entidades internacionais da

modalidade esportiva envolvida, o que não suprime o direito do atleta, em

determinadas hipóteses, de recorrer aos tribunais internacionais para a modificação

das decisões locais.

28

CAPÍTULO VI

A SUFICIÊNCIA OU INSUFICIÊNCIA DA LEGISLAÇÃO

BRASILEIRA ANTIDOPING

O fomento ao desporto, previsto constitucionalmente, corre paralelamente à

imperiosa necessidade de erradicação do doping, o que implica similitude entre a

normatização interna e a inernacional, escopo para o qual o Brasil parece estar se

esmerando.

Cite-se, como exemplo, a revogação do artigo 101 do Código Brasileiro de

Justiça Desportiva, que previa a intenção de alteração do resultado do desempenho

do atleta pelo uso de substância proibida (responsabilidade subjetiva), pautada pelo

reconhecimento de que o Código Mundial Antidoping prevê a responsabilidade

objetiva, ou seja, sem dolo ou culpa (artigo 2.1.1).

Logo, com os diplomas legais apresentados verifica-se que o Brasil avançou

em matéria antidoping ao priorizar a estrutura adotada internacionalmente e já

consolidada no âmbito desportivo de alto rendimento.

Não obstante, é de se observar que ainda é possível evoluir no

disciplinamento do tema, pois em alguns pontos específicos percebe-se

insuficiência.

Nesse sentido, considerando-se que o doping pode ser caracterizado pelo

uso de substâncias proibidas para o aumento do desempenho ou rendimento, pelo

simples uso de substância proibida ou pelo uso de entorpecentes, tais hipóteses

deveriam receber tratamento legislativo diferenciado.

Explica-se. Se o caso for de violação à isonomia entre os competidores, não

há margem para interpretações dúbias, cabendo apenas a aplicação da penalidade

legalmente prevista.

Contudo, se a infração não tiver sido cometida com a finalidade supracitada,

29

embora hodiernamente impere a responsabilidade objetiva, deveria haver

regramento estrito e pormenorizado acerca da conduta de cada um dos envolvidos.

Assim, se a substância for tendente a, indiretamente, gerar benefícios ao

atleta na sua condição de competidor, como um moderador de apetite, dever-se-ia

perquirir se o uso adveio de determinação de terceira pessoa, profissional do clube

ao qual o atleta é vinculado, médico ou não, situação em que a penalidade somente

a este deveria ser aplicada. Lado outro, se o uso tiver decorrido de conduta

exclusiva do atleta, somente nesta hipótese haveria penalidade para ele.

Isso porque, é cediço que muitas vezes são prescritos medicamentos aos

atletas dentro dos próprios clubes, os quais sequer por ele são conhecidos.

Além disso, seria razoável distinguir o uso de substâncias proibidas sem

qualquer relação com o esporte, como acontece com a finasterida, que poderia

mascarar o uso de anabolizantes. Nesses casos, o melhor seria aferir o grau de

culpabilidade do atleta, para que fosse possível até mesmo absolvê-lo.

Por fim, o consumo de entorpecentes clama por tratamento diferenciado

para possibilitar a recuperação definitiva não apenas do atleta, mas do cidadão,

como bem avaliou CARLOS PORTINHO12

A legislação desportiva arrola as drogas sociais como maconha e cocaína dentre as substâncias proibidas pelo mal que fazem a saúde e não por proporcionar ao atleta ganho de rendimento, naturalmente porque os seus efeitos são completamente opostos. Contudo, a mesma preocupação com a saúde que faz incluir essas substâncias no rol das proibidas, por outro lado não manifesta a legislação desportiva quanto a necessidade de tratamento e recuperação da saúde desses atletas, o que parece deveras incoerente e mesmo ultrapassado.

Insta salientar que a proposta apresentada tem por fim evitar a disparidade

entre os julgamentos, bem como que casos de baixa complexidade sejam levados

aos foros internacionais, para o que seria necessário, repita-se, a elaboração de

dispositivos legais pontuais para cada uma das situações sinalizadas.

12 http://justicadesportiva.uol.com.br/artigo.asp?id=1800.

30

Em síntese, é evidente a evolução da legislação brasileira antidoping, a

existência de espaços a serem preenchidos e a imprescindibilidade de que a luta

contra o doping no esporte seja uma constante, para que à velocidade em que as

“regras do jogo” sejam quebradas, as entidades responsáveis disponham de

medidas eficazes para combatê-las.

De todo modo, é possível asseverar que, no cenário mundial hodierno, a

legislação brasileira apresenta-se suficiente para o combate ao doping, notadamente

se sopesarmos a recente alteração do Código Brasileiro de Justiça Desportiva.

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CONCLUSÃO

Ao longo da presente exposição foi possível perceber que o mundo não tem

ignorado a questão do doping, tanto que a UNESCO elaborou a Convenção

Internacional contra o Doping no Esporte, sendo o tema tratado por federações,

confederações e demais organismos esportivos.

Acerca da importância do combate ao doping no esporte, destaca-se o

seguinte texto:

A dopagem tem sido um dos principais desafios e seu combate pelos atores do mundus sportivus, no sentido de manter íntegros os princípios, os valores e o significado simbólico do verdadeiro esporte. O atleta deixa de ser o protagonista para dividir a responsabilidade com os organizadores de competições, a exemplo de clubes, ligas, federações, confederações e, em especial, os integrantes de Comissão Técnica, bem como o Governo de seus países. Em 10 de novembro de 1999, cria-se a Agência Mundial Antidoping (WADA-AMA). Em Copenhague, no dia 5 de março de 2003, na Conferência Mundial sobre Doping no Esporte, aprova-se o Código Mundial Antidoping (CMAD), tendo aos Signatários o dever de aceitar e implementar o referido diploma em no máximo até a data de abertura (13 de agosto de 2004) dos Jogos Olímpicos de Atenas (CMAD, 23.3.1). O Brasil, ao ser considerado Signatário, por meio do Ministério do Esporte, adotou as seguintes providências: a) criou a Comissão de Combate ao Doping no âmbito do Conselho Nacional de Esporte - CNE (Portaria ME nº. 101, de 29 de julho de 2003); b) inseriu a Dopagem no Código Brasileiro de Justiça Desportiva – CBJD, Resolução CNE nº. 1, de 23 de dezembro de 2003; c) instituiu normas básicas de controle de dopagem nas partidas, provas ou equivalentes do desporto de rendimento de prática profissional e não-profissional (Resolução CNE, Resolução nº. 2, de 5 de maio de 2004), contendo três ANEXOS operacionais; d) aprovou a lista de substâncias proibidas e métodos proibidos na prática desportiva para o ano de 2005 (Resolução CNE nº. 3, de 9 de dezembro de 2004) e ano de 2006 (Resolução CNE nº. 8, de 11 de dezembro de 2005). Definiu-se como objetivo o de apresentar a trajetória da legislação desportiva brasileira produzida no período de 2003 a 2005. Empregou-se a análise documental e o método dialético na perspectiva hermenêutica, para identificar a iniciativa do Estado brasileiro na edição da legislação pertinente. Como estratégia de discussão nas dimensões ontológica e teleológica, apresenta-se a dopagem: a) como infração disciplinar de natureza desportiva, com ênfase na prevenção via procedimento educacional; b) como passível de uma conduta em processo progressivo de criminalização, a exemplo dos Jogos Olímpicos Invernais de Turim (2006). Conclui-se, por destacar as boas práticas pela evidenciação dos aspectos educacionais e pesquisa (investigação) com a participação dos

32

órgãos de governo e integrantes do sistema brasileiro do esporte13.

O doping, além de ser infração disciplinar, atenta contra princípios

desportivos, tais como o da moralidade, o da igualdade e o da transparência, seja

porque são burladas as possibilidades de participação equânime entre os

envolvidos, seja porque, ainda que não tendente à melhora do rendimento, podem

afrontar normas penais, de apuração independente da Justiça Desportiva, e pôr em

xeque a salutar questão da representatividade do esporte e daqueles que o

corporificam, no sentido de serem modelo de vida saudável.

Portanto, o doping pode vir a ser questão de saúde pública. A propósito:

Não podemos admitir que a promoção da saúde seja um princípio do esporte, mas que por outro lado o esporte não manifeste a mesma preocupação com a saúde dos seus atletas, abrindo-lhes os olhos e o caminho para a recuperação quando debilitados. Atletas flagrados num exame de doping podem estar manifestando os primeiros sinais de uma dependência química. Nesses casos a pena de suspensão por si só não contribui para a sua abstinência - muito ao contrário, pode se transformar num trampolim jogando-o ao fundo do poço e sem volta. Necessário que o episódio sirva como advertência e qualquer punição por mais rigorosa que seja acompanhe medidas sociais e educativas que objetivem a recuperação da saúde do atleta. A conscientização de que a dependência química é uma doença que carece de tratamento e que há exemplos eficazes, é imprescindível. Dever que se comece essa conscientização até alcançar os dirigentes, juristas, auditores dos tribunais desportivos e também os médicos, sobretudo aqueles especializados em medicina desportiva e que integram o departamento médico dos clubes, pois mesmo entre esses não há essa percepção, ou muitas vezes habilidade em lidar com a dependência e orientar no tratamento. O esporte é instrumento dos mais eficazes para afastar jovens do convívio e do uso de substâncias químicas, não só por ocupar o tempo com uma atividade sadia, mas por desenvolver e incutir nesses princípios morais, contribuindo para elevar a auto-estima de jovens muitas vezes marginalizados, construindo ídolos e carreiras. Mas é também o Esporte, esse mesmo instrumento, o único capaz de recuperar a saúde das suas crias: os próprios atletas. Vejo muitas vezes clubes apostarem na recuperação de um atleta enfermo ou fraturado. Mas o mesmo cuidado e atenção não vejo dos clubes quando o caso é outra enfermidade: a dependência química. Na sua grande maioria, clubes, dirigentes e auditores dos Tribunais preferem abandonar esses atletas que carecem também de cuidados, agindo como se esses fossem leprosos no passado. Não se pode admitir essa visão turva da realidade. A lei penal hoje enfrenta essa realidade de forma bem mais humana e condizente

13 http://justicadesportiva.uol.com.br/artigo.asp?id=1334.

33

com os princípios da medicina do que a legislação desportiva no trato dos usuários de drogas14.

Assim, o doping pode transcender ao âmbito do esporte. Todavia, esta

faceta não tem recebido a devida atenção.

Isso porque as normas sobre violação às regras antidoping descrevem

condutas e sanções, sem distinção, como já mencionado no capítulo antecedente,

quanto à finalidade do uso da substância reputada proibida, face à aplicação da

teoria da responsabilidade objetiva.

Malgrado a exegese da legislação permita que em casos determinados

encontre-se brecha para a aplicação de penalidade mais branda, absolvição ou

apenas anulação do resultado obtido, contentar-se com esta possibilidade não

parece o mais adequado, pois para isso dever-se-á sopesar o fator sorte, na medida

em que há, ou pelo menos havia, divergência entre o efetivo reconhecimento da

responsabilidade objetiva e a distribuição do ônus da prova.

Na realidade, o Judiciário como um todo vem passando por um processo de

busca da uniformização das decisões proferidas em casos similares, o que deve ser

seguido na Justiça Desportiva.

Nesse sentido, no que diz respeito ao doping, as normas não deveriam dar

margem à disparidade, sendo imprescindível que as normas se adéquem aos fatos

de maior incidência.

Saliente-se que a criação de procedimentos próprios, não obstante

imprescindível para a eficácia da apuração das infrações e das penalidades, deve

estar associada a uma atividade legislativa que impeça a disparidade de

interpretações; a uma atividade educacional, que incuta em todos os praticantes de

esporte, seja ele formal ou não-formal, a intolerância ao uso de substâncias

proibidas e que o recurso a elas implicará severas reprimendas e comprometerá não

só a carreira do atleta, mas a sua própria saúde; a uma atividade investigativa de 14 http://justicadesportiva.uol.com.br/artigo.asp?id=1800.

34

ponta, o que demanda maciços investimentos.

É possível reparar, pois, que o paralelismo com a legislação internacional –

o que se revela absolutamente coerente – não impede que, internamente,

avancemos no combate ao doping.

Por conseguinte, reitere-se, se cotejada com o cenário internacional, a

legislação antidoping brasileira não discrepa. Contudo, não se deve ficar vinculado à

evolução internacional. Ao revés, a realidade brasileira apresenta peculiaridades que

somente por nós, brasileiros, poderão ser mensuradas a ponto de determinar o

absoluto sucesso nacional na prevenção e erradicação ao doping.

35

BILBLIOGRAFIA

CARVALHO, Alcirio Dardeau de. O Processo Disciplinar do Futebol – Livro I do

CBDF.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 18ª Ed.

Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.

DECAT, Scheyla Althoff Decat. Direito Processual Desportivo. Belo Horizonte: Del

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MELO FILHO, Álvaro. Direito Desportivo - Novos Rumos. Belo Horizonte: Del Rey,

2004.

MORAES, Guilherme Peña de. Curso de Direito Constitucional. 3ª ed. Rio de

Janeiro: Atlas, 2010.

REZENDE, José Ricardo. Código Brasileiro de Justiça Desportiva Anotado e

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SCHMITT, Paulo Marcos. Novo Código Brasileiro de Justiça Desportiva Alterado

pela Resolução 29 de 10/12/2009 do CNE. São Paulo: Quartier Latin, 2010.

SERRANO, Neves. Doping, Homicídio e Lesões no Desporto. Alba Ltda., 1967.

36

ANEXO

INTERNET

http://justicadesportiva.uol.com.br/artigo.asp?id=1800

Doping e Dependência"

Carlos Portinho

A

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O Esporte como Instrumento de Recuperação de Jovens e dos Próprios Atletas O ano de 2007 tem se mostrado atípico ante aos numerosos casos de doping no País. Até 07.09.07 dos 14 casos de doping só no futebol 7 dizem respeito a contaminação por sibutramina; 1 por femproporex; 3 pelo uso das chamadas drogas sociais (maconha/cocaína); 2 pelo uso das substâncias mascarantes finasterida e hidroclorotiazida; e 1 pela substância isometepteno presente na fórmula de um simples remédio para dor de cabeça. Destes, os 8 primeiros tiveram origem no que o CDC chama de vício do produto, e os 3 últimos da mesma forma na conduta inconsciente dos atletas. Apenas em outros 3 casos permite-se apontar a origem numa conduta consciente, embora há de se discernir até que ponto vai a consciência e a dependência. Em comum aos 8 primeiros casos listados, o fato dessas substâncias causarem dependência. Se por um lado é lamentável e preocupante o grande número de casos de doping neste ano, por outro justifica a necessidade de debater o assunto.Permito-me dizer que em 98% dos casos de doping em geral a condenação é inevitável, pois haverá senão uma conduta dolosa, ao menos culposa do atleta. Para isso, buscando um melhor discernimento ouso classificar os diversos tipos de doping, embora não haja na doutrina ou na legislação qualquer classificação do tipo e para muitos juristas sequer há diferença entre as substâncias. DOPING DOLOSO É o que chamo de Doping de ambição, na maioria dos casos. Aquele em que o atleta faz uso de substância proibida visando a obter ganho de performance. O caso dos anabolizantes e substâncias afins, por exemplo. Nessas hipóteses o atleta viola conscientemente os princípios fundamentais do esporte, cabendo por isso uma punição exemplar. Outra espécie de doping consciente são os casos de uso de drogas sociais, mas a meu juízo a consciência no uso pode ser mitigada nos casos de dependência química que de certo modo muitas vezes é coercitiva como será abordado. DOPING CULPOSO Esses ocorrem com mais frequência. Geralmente nesses casos o atleta flagrado age de modo irresponsável, assumindo riscos com uma conduta no mínimo negligente e por isso passível de punição. Ocorrem por culpa do atleta que recorre a auto-medicação ou a médicos particulares sem lhes participar sobre a sua atividade esportiva (caso da atleta Maureen Maggi). Também se identifica a negligência do atleta por não identificar antes da ingestão na bula do remédio a presença de substância proibida na sua fórmula (caso do tenista Guilhermo Canas). A regra que todo o atleta não deve se submeter a medicamento algum sem o abono do médico do seu clube ou associação. Quando o faz assume o risco da sua conduta negligente, por isso. É também dever do atleta conhecer todo o rol das substâncias proibidas, por mais que na prática seja impossível a ele memorizar todo o rol, quanto mais em se tratando de atletas com pouca instrução a exemplo da maioria dos jogadores brasileiros. SUBSTÂNCIAS MASCARANTES (DOLO OU CULPA) Cabe nesta classificação que ouso fazer destaque para as substâncias mascarantes, pois podem ser usadas de modo culposo ou doloso. São consideradas proibidas por pretender esconder o uso de uma substância nociva aos princípios do esporte. é o caso dos diuréticos que auxiliam na rápida eliminação de outras substâncias. A sua contaminação pode ocorrer mesmo por negligência, mas entendo que em todos os casos a punição deve ser aplicada ao atleta, salvo hipóteses raras de vício do produto e sabotagem. DOPING POR DROGAS SOCIAIS/DEPENDÊNCIA Justificam-se tantos casos de doping por drogas sociais se considerarmos que a grande maioria dos atletas advém das classes mais baixas da nossa sociedade, onde desde a infância convivem com o uso e o comércio de drogas. Esses casos na verdade são poucos perto da quantidade de atletas usuários de drogas sociais, sobretudo nas categorias de base, não sujeitos ao controle de doping neste país. Observa-se que quanto ao uso de drogas sociais a legislação desportiva é menos humana que a legislação penal em vigor. Usuários e atletas são tratados de modo distinto. A legislação penal reconhece nos usuários de drogas sociais o risco de pré-disposição a uma dependência química que exige tratamento médico, daí a pena é substituída por medidas sócio-educativas e de interesse social. A legislação desportiva arrola as drogas sociais como maconha e cocaína dentre as substâncias proibidas pelo mal que fazem a saúde e não por proporcionar ao atleta ganho de rendimento, naturalmente porque os seus efeitos são completamente opostos. Contudo, a mesma preocupação com a saúde que faz incluir essas substâncias no rol das proibidas, por outro lado não manifesta a legislação desportiva quanto a necessidade de tratamento e recuperação da saúde desses atletas, o que parece deveras incoerente e mesmo ultrapassado. A esses atletas serão aplicadas penas que podem alcançar segundo a legislação brasileira até um ano de suspensão. Ou seja, de um atleta que pelo resultado adverso pode manifestar uma inclinação à dependência química, subtrai-se a sua última tábua de salvação que é o exercício da sua profissão, justo o esporte que ocupa a sua mente, garante o sustento da sua família e que tanto é invocado como alternativa para fuga de muitos jovens do consumo de drogas pelo bem que faz a saúde. A legislação esportiva e muitas autoridades não possuem consciência alguma sobre dependência química, desconhecendo que a moderna medicina trata o caso como uma doença que exige cuidado e tratamento. Inclusive muitos dos auditores dos tribunais desportivos não acreditam na possibilidade de recuperação desses atletas, alguns mais radicais propensos a exclusão desses em definitivo. Lançam numa breve canetada ao fundo do poço um atleta propenso a dependência, acreditando que a pena de suspensão seja suficiente para inibir a reincidência. Ledo engano! Além de praticamente condenar a carreira do atleta, não bastasse estigmatiza-lo, a suspensão nunca lhe proporcionará a abstinência se o caso é de dependência química. Suspende-lo ou bani-lo de sua profissão não parece coerente com a promoção da saúde que, aliás, é constitucionalmente um dever de todos, e do ponto de vista desportivo é princípio do esporte. É varrer o problema para debaixo do tapete ao invés de enfrentá-lo, não admitindo que atletas são pessoas humanas, por óbvio sujeitos como qualquer de nós a desenvolver uma doença que carece de tratamento. Somente o tratamento será capaz de levá-lo a abstinência, para isso não servindo qualquer suspensão que por si só não se mostra em nada exemplar. Há nela intrínseco um descaso com a saúde dos atletas, muitos desses que sequer tem consciência do que é dependência química e como a moderna medicina enfrenta a questão. Acredito, por isso, que o doping de drogas sociais deveria ter outro tratamento. Mais importante do que qualquer pena de suspensão é que seja o atleta submetido a medidas de interesse social, educativas, e, sobretudo, a um tratamento psiquiátrico e psicológico com a realização de exames de dopagem

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regulares. Cumpre observar que não sendo possível essas substâncias serem utilizadas com sucesso como agentes dopantes, a pena mínima no caso de uma primeira infração segundo autoriza o Art.10.3 do Código Mundial Antidoping é a advertência, o que sustento nesses casos seja o caminho, ao invés da pena de suspensão que em nada contribui para a abstinência do atleta, muito ao contrário, dá causa a recaída em função de deixá-lo com a cabeça vazia. E cabeça vazia é a oficina do diabo. Nesses casos, entendo que a advertência ou outra punição deve necessariamente acompanhar medidas de interesse social e educativas, porque sendo a promoção da saúde um dever de todos e principalmente princípio do esporte não se pode admitir qualquer descaso com a saúde dos nossos atletas. É importante seja sempre perseguida a recuperação, até mesmo porque, além de contribuir na reversão da imagem do atleta, servirá de importante exemplo a sociedade pelo destaque que dá a opinião pública a casos de sucessos. Vejamos alguns casos exemplares (para o bem e para o mau). RECUPERAÇÃO/CASOS O Maradona serve de exemplo - ou mau exemplo. A pena de suspensão que lhe foi aplicada após a Copa do Mundo pelo uso de cocaína não lhe proporcionou a abstinência. Além de decretar o fim da sua carreira, ainda hoje esse ídolo não se conscientizou da sua dependência.Caso exemplar é de outro atleta que aqui preservo o nome. Flagrado pelo uso de maconha, esse notável jogador com passagem pela seleção brasileira sub-20, tendo se mantido abstêmio por mais de ano quanto ao uso de álcool, por uma única vez recorreu a outra substância, a maconha, pensando que substituindo a substância estaria evitando a sua recaída. Na verdade, o que com este seu ato efetivamente manifestou foi o traço de distúrbio/transtorno no uso de substâncias químicas e a sua propensão a dependência. Tomou conhecimento com esse lamentável evento do que é a dependência química, algo que por completo desconhecia e poderia admitir, tendo buscado de imediato o tratamento. Condenado a 120 dias de suspensão pela Justiça Desportiva, teve a sua pena reduzida a 60 dias, justo porque, além da doação de cestas básicas, se dispôs a prestar serviços sociais, além de exercer atividades sócio-educativas, e, principalmente, se submeter a tratamento psiquiátrico, psicológico e a frequência em grupos de auto-ajuda (AA; NA), ao que se dedica diariamente. Hoje já sente os efeitos em campo. Além de domar a sua abstinência a cada 24horas, com esse acompanhamento sente-se mais confiante, comunicativo, o que certamente refletirá positivamente na sua performance. Pode-se considerar esse sem dúvida um caso de sucesso!E o que dizer de outro caso da mesma forma exemplar, aquele que ocorreu com o brilhante atleta GIBA? Hoje reverteu por completo a sua imagem, é ídolo e exemplo a milhares de crianças, atletas, e inclusive àqueles que vivenciaram o mesmo drama. CONCLUSÃO – O ESPORTE COMO INSTRUMENTO DE PROMOÇÃO DA SAÚDE O que a sociedade precisa são casos como esses que mostram como é possível a recuperação da saúde dos nossos atletas. Não podemos admitir que a promoção da saúde seja um princípio do esporte, mas que por outro lado o esporte não manifeste a mesma preocupação com a saúde dos seus atletas, abrindo-lhes os olhos e o caminho para a recuperação quando debilitados. Atletas flagrados num exame de doping podem estar manifestando os primeiros sinais de uma dependência química. Nesses casos a pena de suspensão por si só não contribui para a sua abstinência - muito ao contrário, pode se transformar num trampolim jogando-o ao fundo do poço e sem volta. É necessário que o episódio sirva como advertência e qualquer punição por mais rigorosa que seja acompanhe medidas sociais e educativas que objetivem a recuperação da saúde do atleta. A conscientização de que a dependência química é uma doença que carece de tratamento e que há exemplos eficazes, é imprescindível. É dever que se comece essa conscientização até alcançar os dirigentes, juristas, auditores dos tribunais desportivos e também os médicos, sobretudo aqueles especializados em medicina desportiva e que integram o departamento médico dos clubes, pois mesmo entre esses não há essa percepção, ou muitas vezes habilidade em lidar com a dependência e orientar no tratamento. O esporte é instrumento dos mais eficazes para afastar jovens do convívio e do uso de substâncias químicas, não só por ocupar o tempo com uma atividade sadia, mas por desenvolver e incutir nesses princípios morais, contribuindo para elevar a auto-estima de jovens muitas vezes marginalizados, construindo ídolos e carreiras. Mas é também o Esporte, esse mesmo instrumento, o único capaz de recuperar a saúde das suas crias: os próprios atletas. Vejo muitas vezes clubes apostarem na recuperação de um atleta enfermo ou fraturado. Mas o mesmo cuidado e atenção não vejo dos clubes quando o caso é outra enfermidade: a dependência química. Na sua grande maioria, clubes, dirigentes e auditores dos Tribunais preferem abandonar esses atletas que carecem também de cuidados, agindo como se esses fossem leprosos no passado. Não se pode admitir essa visão turva da realidade. A lei penal hoje enfrenta essa realidade de forma bem mais humana e condizente com os princípios da medicina do que a legislação desportiva no trato dos usuários de drogas. Afinal, é dever do esporte promover a saúde, e não relegar ídolos ao abandono dos seus vícios. É responsabilidade do Esporte preservar e se preocupar com a saúde também desses atletas, único caminho para a recuperação dos nossos ídolos, sujeitos como todos nós a desenvolver essa doença, a dependência química.Quanto mais jogariam Garrinha, Paul Gascoigne e Maradona se conscientizados da dependência química e se orientados ao tratamento? Quanto perdeu a história do esporte com a abreviação da carreira de tantos ídolos por isso? A pena de suspensão basta? Certamente não. Carlos Portinho é sócio da C.E Chermont de Britto Advogados. Especializado em Direito Esportivo pela UniverCidade. Professor na Universidade Carioca. Vice-presidente Jurídico do Clube de Regatas do Flamengo (2002). Assessor Parlamentar do Deputado Federal -Índio da Costa. Advogado de clubes e atletas.

http://justicadesportiva.uol.com.br/artigo.asp?id=1334

A Legislação Nacional e Internacional e o Conceito do Doping - Parte II

Dirceu Pereira de Santa Rosa A

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SEGUNDA PARTE DO ARTIGO DE ALBERTO PUGA, CONFIRA: LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL DE NATUREZA DESPORTIVA Dois esportes serão utilizados para a apresentação da legislação internacional: o Atletismo e o Futebol, representados por suas FIs. A IAAF, fundada em 17 de julho de 1912 e contando com 211 (duzentos e onze) filiados; e a FIFA, fundada em 21 de maio de 1904 e contando com 207 (duzentos e sete) associações filiadas. Números comparativamente superiores à Organização das Nações Unidas (ONU) que conta com 192 (cento noventa dois) Estados Membros. O Quadro 1. Apresenta a Infração por Dopagem contida nas Regras de Competição, e sua distribuição em 15 (quinze) artigos: Quadro 1. Infração do Dopagem nas Regras de Competição da IAAF* (atletismo) Título/Capítulo Regra Assunto Capítulo 3 Antidopagem Introdução 30 Alcance das regras antidopagem 31 Organização antidopagem da IAAF 32 Violações da regra antidopagem 33 Padrões da prova de dopagem 34 A lista proibida 35 Teste 36 Análise das amostras 37 Gerenciamento dos resultados 38 Procedimentos disciplinares 39 Desqualificação de resultados 40 Sanções contra indivíduos 41 Obrigações das Federações Filiadas 42 Sanções contra filiadas 43 Reconhecimento 44 Estatuto de limitações 45 Interpretação(*) Regras de Competição 2006-2007, versão oficial da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt)O Quadro 2. apresenta a Dopagem no Código Disciplinar da FIFA e sua distribuição em 10 (dez) artigos: Quadro 2: Dopagem na Código Disciplinar da FIFA (futebol) * , **Título/Capítulo Artigo Assunto TITULO PRIMEIRO Direito Material Capítulo II Parte Especial Seção 7Dopagem 60 Conceito 61 Exceção de Uso Terapêutico 62 Sanções 63 Perturbação no controle de dopagem 64 Conivência na dopagem 65 Dopagem generalizada 66 Tráfico de substâncias proibidas TITULO SEGUNDO Organização e Procedimento Capítulo II Procedimento Seção 5 Procedimentos Especiais Subseção 4Procedimentos na Luta Contra a Dopagem 148 Controles 149 Obrigações dos jogadores 150 Sanções por dopagem aplicadas por autoridades estatais 151 Sanções por dopagem aplicadas por outras federações desportivas internacionais(*) Texto aprovado pelo Comitê Executivo da FIFA em 29 de junho de 2005 e em vigor desde 1º de setembro de 2005.(**) A FIFA adota além do CDF o Regulamento de Controle de Dopagem para suas competições e fora de competições, aprovado pelo Comitê Executivo e em vigor desde janeiro de 2006.

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ASPECTOS DESPORTIVOS E PENAIS A dopagem como procedimento especial e penalidades no CBJD Preâmbulo O doping e a dopagem tem sido os principais desafios e combate do mundus sportivus, no sentido de manter íntegros os princípios, os valores e, significado simbólico do verdadeiro desporto. As consequências negativas ou a forma perversa com os casos que são detectados e divulgados pela mídia colocam em dúvida a fidedignidade dos resultados obtidos pelos (as) atletas. Os danos e prejuízos atingem de plano duas dimensões: a) interfere de forma violenta na estrutura e organização da competição; e b) promove injustiça aos atletas, que por merecimento lícito alcançam e conquistam resultados, mas, que são, ainda que provisoriamente desconsiderados, em razão dos efeitos da vitória alcançada de forma fraudulenta pelos falsos vencedores. Os conceitos construídos na relação Ética/Desporto, logo a Ética Desportiva, são incompatíveis com o doping/dopagem, enfim, com a verdade no desporto O Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) ao tratar da matéria, o fez de forma a impedir a inversão dos valores positivos decorrentes do verdadeiro desporto tratando-o como REGRA, e, jamais adotando uma postura genuflexa diante de tão grave problema que é o doping/dopagem - EXCEÇÃO. Procedimento Especial A inserção da Dopagem como Procedimento Especial, teve como fundamento, assim entendimento pela Comissão Especial: a) resgatar ao texto de matéria codificada, uma vez que a Portaria MEC nº. 702, de 11 de dezembro de 1981, que aprovou o Código Brasileiro Disciplinar de Futebol (CBDF) a viger a partir de 1º de janeiro de 1982, assim o fez nos arts. 81,82, 125 a 130 e 291 a 296; b) aproveitar, na especialidade, os termos da Portaria MEC nº. 531, de 10 de julho de 1985, que baixou normas sobre o controle da dopagem nas partidas de futebol e autorizava às demais entidades de administração de outros desportos a adotarem as normas contidas naquele diploma legal. O Código Brasileiro de Justiça e Disciplina Desportivas (CBJDD) - Portaria MEC nº. 629, de 2 de setembro de 1986 e nº. 877, de 23 de dezembro de 1986 û silenciava por completo sobre a matéria doping/dopagem.Ao abordar o Processo Desportivo (Título III) nas Disposições Gerais (Capítulo I), o caput 34 declara a existência de dois procedimentos: a) o sumário; e b) o especial. Neste, o §2º, inciso V, insere a dopagem matéria a adotar aquele procedimento. Por questão taxionômica, o CBJD apresenta no Livro I - Da Justiça Desportiva, Título IV Do Processo Disciplinar no Capítulo II - Do Procedimento Especial, fazendo inserir na Seção VI - Da Dopagem arts. 101 a 106. O Conceito-de-Partida edificado no art. 101 visou buscar referências às normas nacionais e internacionais, a exemplo das referenciadas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e da World Anti-Doping Agency (WADA) , traduzindo-se pela ação de dopagem, seja pela utilização de substância proibida (forma clássica), seja pelo emprego de método proibido (forma requintada), ou ainda por qualquer outro meio proibido (forma aberta), que tenham por escopo a obtenção de forma artificializada de rendimento (performance, resultado) mental ou físico do atleta, com o destaque da inserção feita pelo Doutor Eduardo Henrique De Rose , na reunião do Conselho Nacional de Esporte (CNE), Brasília, 23 de dezembro de 2003, agressão à saúde e ao espírito de jogo,e, nesse passo, integrando desporto e saúde, bem como destacando uma das valências que é o jogo.A consumação (ou tentativa) da infração pode ser: a) pelo próprio atleta; b) ou por intermédio de outra pessoa, aumentando nesse caso a responsabilidade de todos àqueles profissionais da área de saúde atores do desporto como : médicos, profissionais de educação física, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas e outros.Submetido o atleta ao controle de dopagem, segundo as normas nacionais e internacionais, regras de prática da modalidade e demais determinações regulamentares, definido o laudo do resultado da contraprova, sendo este, anormal, o Presidente da Entidade de Administração do Desporto (Confederação, Federação, Liga ou Análoga), fará remessa dos documentos em 24 (vinte e quatro) horas ao Presidente do Órgão da Justiça Desportiva (STJD ou TJD), que decretará no prazo de 24 (vinte e quatro) horas o afastamento preventivo do atleta pelo prazo máximo de 30 (trinta) dias. O afastamento preventivo não se confunde com a suspensão por prazo, uma vez que a primeira, visa, diante da materialidade da infração (considerada de natureza gravíssima) proteger o mundus sportivus e seus atores de todo o desvalor, desconsideração, desrespeito, suspeita com que podem ser objeto em razão de tal fato negativo e perverso. A intimação nos termos do art. 46 ao atleta, sua entidade de prática (clube, associação ou sociedade empresária) ou entidade de administração do desporto (confederação, federação, liga ou análoga), bem como outras pessoas investidas de responsabilidade de exercício de profissão regulamentada ou não, tem como fito o exercício dos princípios do contraditório e princípio de ampla defesa, declarando o CBJD o prazo comum de 5 (cinco) dias, para o oferecimento da defesa escrita e indicar as provas que pretende produzir.Num continuum jurídico-desportivo, com ou sem a defesa escrita, o mandatário do Órgão da Justiça Desportiva competente, remeterá à Procuradoria, para que esta exerça a competência fixada no inciso I do art. 21 CBJD. Oferecida a Denúncia e recebida pelo Presidente do Órgão da Justiça Desportiva competente, este, nas 24 (vinte e quatro) horas seguintes, designará o auditor relator e marcará o dia da sessão de julgamento, que deverá acontecer no prazo máximo de 10 (dez) dias. Na sessão de julgamento não será permitida a produção de novas provas, devendo a mesma efetivar-se, no que couber, conforme o definido nos artigos 120 e seguintes do CBJD.Com a proclamação do resultado da sessão de julgamento, a decisão terá a sua eficácia a partir do dia seguinte, tenham as partes ou seus procuradores, estado presentes ou não, bastando a regularidade de suas intimações para o devido ato. Ao tornar a penalidade definitiva, o Presidente do Órgão de Justiça Desportiva, levará em conta o período de afastamento preventivo, operando-se a denominada detração. Incide sobre a decisão o chamado recurso voluntário - art. 138, por interposição pelo punido, pela parte vencida, por terceiro interessado e pela Procuradoria (CBJD, art. 137). Nessa hipótese, não poderá ser concedido o efeito da suspensividade ao recurso, fato que afetaria os valores morais do desporto e, por certo, afrontaria a sociedade desportiva, estimulando a denominada impunidade. Ressalte-se, nesse procedimento especial de dopagem: a) a importância do princípio da ampla defesa (seja pela defesa escrita, seja na produção de provas); b) o exercício do princípio da celeridade, com a duração aproximada de até 21 (vinte e um) dias na 1ª. Instância e duração aproximada de até 17 (dezessete) dias na 2ª. Instância; c) o princípio do contraditório, pela dialética entre a procuradoria e a parte denunciada; d) a previsibilidade do recurso voluntário destacando o papel decisório da 2ª. Instância, garantindo a eficácia e exequibilidade da decisão. Penalidades O CBJD recepcionou a responsabilidade objetiva (strict liability), ou seja, a responsabilidade que independe de culpa, elegendo como agentes o atleta ou qualquer outra pessoa imputável desportivamente. A flagrância de dopagem indicada no art. 244 exige: a) comprovação seja pelo uso de substância, método ou qualquer outro meio, obtida pela PROVA (1º. Exame de Controle de Dopagem) ou CONTRAPROVA (2º. Exame de Controle de Dopagem); b) detecção na competição (In-Competition) ou fora da competição (Out-of-Competition).As penalidades aplicáveis são: a) a suspensão por prazo; e b) a eliminação no caso de reincidência.Registre-se, por oportuno, que as entidades de administração do desporto (confederação, federação, liga ou análoga) poderão adotar penalidades mais graves, quando as normas fixadas pelas Federações Internacionais (FI) da modalidade estabelecerem a aplicação de penas superiores às previstas no CBJD. A responsabilidade objetiva pode alcançar a entidade desportiva (clube, associação ou sociedade empresária) a que pertença o atleta, e, nesse caso, mediante comprovação, poderão ser aplicadas as penas de perda de pontos, eventualmente obtidos na partida, prova ou equivalente, além da pena de multa, no caso de desporto de atividade profissionalizada, que variará entre R$50.000,00 (cinquenta mil reais) a R$500.000,00 (quinhentos mil reais) e perda de sua parte na renda em favor do adversário, se houver. A reincidência de infração por dopagem nos termos do art. 244 comprovadamente praticada pela entidade desportiva, determinará a imposição da pena de exclusão da competição, partida, prova ou equivalente. As organizações desportivas nacionais de natureza olímpica - Comitê Olímpico brasileiro (COB) e Comitê Paraolímpico brasileiro (CPOB) - serão comunicadas da aplicação de pena a atleta ou organização desportiva que tenha por objeto modalidade olímpica ou paraolímpica. Uma inovação que em bom momento trouxe o CBJD: Não há prazo para a caracterização da reincidência nas infrações por dopagem (§4º art. 244). O lapso temporal entre o cometimento da 1ª infração por dopagem e a 2ª infração por dopagem não é alcançado pela regra insculpida no §2º do art. 179 CBJD, ou seja, ainda que transcorrido o período de tempo superior a 02 (dois) anos entre a 1ª e a 2ª infração por dopagem, o estado de reincidência fica mantido. Percebe-se que tal regra visa proteger o desporto sem-doping, especialmente com os valores da lealdade e honestidade, daqueles do desporto com-doping, onde a deslealdade e desonestidade consolidam esse negativo cenário. A presunção da consumação de infração por dopagem é a priori configurada, quando o atleta regularmente notificado, se escusa ou não se submete ao procedimento de controle de dopagem (exames, testes, etc). Da mesma forma, nos controles fora-de-competição (Out-of-Competition), quando o atleta adota idêntico procedimento evasivo ou dificulta na coleta do material para análise toxicológica. O denominado pessoal de apoio ao atleta, especialmente, médicos, profissionais de educação física, técnicos desportivos, fisioterapeutas, fisiologistas, nutricionistas ou outros, que participam da coleta da urina, sangue ou outra substância, são passíveis de responsabilização após o devido processo legal junto ao Órgão da Justiça Desportiva. Por exemplo, a violação da embalagem que contêm amostras para exame implicará na imposição da pena de suspensão de 120 (cento e vinte) a 180 (cento e oitenta) dias e eliminação na reincidência. Se ocorre a inutilização da amostra, a pena de suspensão variará entre 180 (cento e oitenta) a 360 (trezentos e sessenta) dias. No caso da verificação de negligência ou imprudência na guarda, transporte ou conservação da amostra, constatada a imprestabilidade da mesma ao fim a que se destina, a pena será de suspensão de 90 (noventa) a 120 (cento e vinte) dias e eliminação na reincidência. Um tipo de falsidade documental (total ou parcial) pode ser perpetrada no resultado da análise (laudo) fornecida pelo laboratório credenciado, configurando-se a infração de falsificação de documento particular de natureza desportiva (vide art. 298 do Código Penal - Falsificação de documento particular), ou ainda, nele inserir ou fazer inserir declaração falsa, configuração a falsidade ideológica de natureza desportiva (vide art. 299 do Código Penal - Falsidade ideológica). A pena, inevitavelmente, é a eliminação. Nas mesmas penas incorrerá quem fizer uso do resultado falsificado (uso), desde que conheça antecipadamente a sua falsidade. A omissão em observar procedimentos e prazos de controle de dopagem, por qualquer ator do desporto, especialmente àqueles que por dever funcional não podem alegar desconhecimento das determinações do CBJD, Legislação Federal, Normas Nacionais e Internacionais e Regras de cada modalidade, implicará na imposição

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da pena de suspensão de 30 (trinta) a 90 (noventa) dias e eliminação na reincidência. O ato de ministrar ou prescrever ao atleta substância ou método proibido é reprimido com a pena de eliminação. Nesse caso, todos os profissionais envolvidos com o atleta, e, desportivamente imputáveis, podem cometer a infração indicada. O concurso direto ou indireto de qualquer pessoa (outras pessoas) impõe a mesma aplicação de pena. Em sendo o profissional ligado a área da saúde (médico, profissional de educação física, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas ou outros), após o trânsito em julgado da decisão na órbita desportiva, o órgão disciplinar de classe - Comissão de Ética do Conselho Profissional - será comunicado para as devidas providências, e, em havendo indícios de crime, contravenção ou outro, a autoridade competente será devidamente comunicada, assim como o órgão do Ministério Público. A AGÊNCIA MUNDIAL ANTIDOPING (WADA)/A AGÊNCIA MUNDIAL ANTIDOPAGEM (AMA) Breve leitura mundial e o aparecimento da WADA/AMA No ano de 1967, é constituída a Comissão Médica do COI, que organizou o Regulamento Antidopagem do COI, cuja primeira aplicação deu-se na III Competição Desportiva Internacional - Cidade do México, 1967 - e posteriormente, nos Jogos Olímpicos de Verão e Inverno - Cidade do México e Glenoble, 1968. As Federações Internacionais (FIs), no período de 1968 a 1972 - FINA (natação) e IAAF (atletismo) são as primeiras federações internacionais a adotarem o Regulamento Antidopagem do COI, seguindo-se a FIBA (basquetebol), UCI (ciclismo), embora esta última já utilizasse testes antidoping, desde 1966. Em 1974, a FIFA (futebol) passou a adotar o Regulamento Antidopagem do COI. A década de 70 e 80 registra a preocupação por parte da Federações Internacionais quanto à repressão ao doping, mas, o fato marcante deu-se na Olimpíadas de Seul, 1988, com a desqualificação de Ben Johnson (Canadá) na prova de 100m do Atletismo, flagrado que foi pelo uso do esteróide anabólico stanozolol. Não mais apenas a coleta de urina, mas, agora, também a de sangue, ou de ambos, como assim ocorreu nos Jogos Olímpicos de Sidney, 2000. As autoridades do desporto à partir do COI e as autoridades públicas, com a realização em Lausanne, fevereiro, 1999 da Conferência Mundial do Doping no Desporto, projeta como resultado concreto também, em Lausanne, em 10 de novembro de 1999 a criação da Agência Mundial Antidoping (WADA). Em Copenhague, no dia 5 de março de 2003, na Conferência Mundial sobre Doping no Esporte, aprova o Código Mundial Antidoping (CMAD) a ser aceito e implementado por seus signatários até o dia da abertura dos Jogos Olímpicos de Atenas, 2004, ou seja, dia 13 de agosto de 2004. Esta posto um desafio sem tréguas. A aplicação do CMAD é o grande desafio. Enquanto isso, em outubro de 2003, uma notícia abala o mundo do desporto: a TETRAHIDROGESTRINONA, a nova droga da classe dos esteróides anabólicos!O COI e a WADA determinam a sua inclusão na Lista de substâncias proibidas!A FIFA diz que não realizará exames antidoping nas amostras ainda a sua disposição em caráter retroativo, por entender inexistência de fundamento legal. A IAAF, após o recente Mundial de Paris, entende que deve realizar os exames. Enquanto isso, a WADA faz acordo com a FIFA, aceitando as regras de penalizações (aparentemente mais brandas) praticadas por aquela FI, ferindo de morte o texto do CMAD. As demais FIs, em alguns casos, com penalizações mais rigorosas que as do CMAD, a contrario sensu, submetem seus pleitos à WADA. Enfim, é o Esporte Contra o Homem no saber de Robert Badeker (2003).Esse é o cenário de partida na luta contra o(a) doping/dopagem! O Código Mundial Antidoping/ O Código Mundial Antidopagem (CMAD) O CMAD passa a ser o instrumento de referência internacional para o esporte de natureza olímpica. O documento contém uma Introdução, onde destaca: o objetivo, o âmbito e a organização do Programa Mundial Antidopagem e do Código. Os fundamentos do Código destacam: a) a ética, o fair play e a honestidade; b) a saúde; c) a excelência no rendimento; d) a personalidade e a educação; e) o divertimento e a satisfação; f) o trabalho de equipe; g) a dedicação e o empenho; h) o respeito às regras e às leis; i) o respeito individual e aos outros participantes; j) a coragem; l) o espírito de grupo e solidariedade. Sendo o espírito desportivo a essência do Olimpismo, não se pode aceitar o (a) doping/dopagem. De uma forma descritiva, o documento é dividido em 4 (quatro) partes: PRIMEIRA PARTE (Introdução; art.1 - definição de dopagem; art. 2 - violação das normas antidopagem; art. 3 - prova da dopagem; art. 4 - lista de substâncias e métodos proibidos; art. 5 - controles; art. 6 - análise das amostras; art. 7 - gestão dos resultados; art. 8 - direito a uma audiência justa; art. 9 û invalidação automática dos resultados individuais; art. 10 û sanções aplicáveis aos praticantes individuais; art. 11 - consequências paras as equipes; art. 12 - sanções contra entidades desportivas; art. 13 û recursos; art. 14 - confidencialidade e comunicações; art. 15 - definição de responsabilidades em matéria de controle de dopagem; art. 16 - controle de dopagem de animais que participem em competições desportivas; art. 17 - prazo de prescrição. SEGUNDA PARTE (art. 18 - educação; art. 19 - Pesquisa (Investigação). TERCEIRA PARTE (art. 20 - funções e responsabilidades adicionais dos signatários; art. 21 - funções e responsabilidades dos participantes). QUARTA PARTE (art. 23 - aceitação, observância e modificações; art. 24 - interpretação do Código). ANEXO 1. Contendo definições, segmento considerado como parte integrante do Código.Destaque-se do artigo 4 a Lista de Substâncias e Métodos proibidos, de publicação anual, com força de norma internacional, inclusive com a divulgação no website. A Lista é composta de 4 (quatro) seções: a) substâncias e métodos proibidos em competição:S1. Estimulantes S2. Narcóticos S3. Canabinóides S4. Agentes anabólicos S5. Hormônios peptídicos S6. Beta-2 agonistas S7. Agentes com atividades anti-estrogênica S8. Agentes mascarantes S9. GlicocorticóidesM1. Incremento na transferência de oxigênio M2. Manipulação farmacológica, química e física M3. Dopagem genética b) substâncias e métodos proibidos em competição e fora de competiçãoS4. Agentes anabólicos S5. Hormônios peptídicos S6. Beta-2 agonistas S7. Agentes com atividades anti-estrogênica S8. Agentes mascarantes M1. Incremento na transferência de oxigênio M2. Manipulação farmacológica, química e física M3. Dopagem genética c) substâncias proibidas em esportes em particular P1. Álcool P2. Beta bloqueadores P3. Diuréticos d) substâncias específicas No Quadro 3. são apresentadas as violações das normas de dopagem e a indicação da aplicação de sanções disciplinares (CMAD, artigo 2 2.1 a 2.8) Quadro 3. Violações das normas antidopagem X aplicação de sanções disciplinares, conforme o CMAD. Violações das normas antidopagem Aplicação de sanções disciplinares 2.1 PRESENÇA de uma substância proibida, dos seus metabólitos ou marcadores; 1ª. INFRAÇÃO: Dois (2) anos de suspensão 2ª. INFRAÇÃO: Suspensão por toda a vida (vitalícia) 2.2 UTILIZAÇÃO OU TENTATIVA de utilização de uma substância proibida ou de um método proibido; 1ª. INFRAÇÃO: Dois (2) anos de suspensão 2ª. INFRAÇÃO: Suspensão por toda a vida (vitalícia) EXCEÇÃO: SUBSTÂNCIAS ESPECÍFICAS. INFRAÇÃO: Mínimo: um aviso e uma advertência; Máximo: um (1) ano de suspensão; 2ª. INFRAÇÃO: Dois (2) anos de suspensão; 3ª. INFRAÇÃO: Suspensão por toda vida (vitalícia) 2.3 RECUSA OU UMA FALTA SEM JUSTIFICAÇÃO VÁLIDA a uma recolha de amostras após notificação ...;1ª. INFRAÇÃO: Dois (2) anos de suspensão 2ª. INFRAÇÃO: Suspensão por toda a vida (vitalícia) EXCEÇÃO: SUBSTÂNCIAS ESPECÍFICAS 1ª INFRAÇÃO: Mínimo: um aviso e uma advertência; Máximo: um (1) ano de suspensão; 2ª. INFRAÇÃO: Dois (2) anos de suspensão; 3ª. INFRAÇÃO: Suspensão por toda vida (vitalícia) 2.4 DISPONIBILIDADE do praticante nos controles fora-de-competição; PENA: Mínimo - Três (3) meses e no máximo dois (2) anos 2. 5 FALSIFICAÇÃO OU TENTATIVA de falsificação de qualquer elemento integrante do controle de dopagem;1ª. INFRAÇÃO: Dois (2) anos de suspensão 2ª INFRAÇÃO: Suspensão por toda a vida (vitalícia) EXCEÇÃO: SUBSTÂNCIAS ESPECÍFICAS 1ª. INFRAÇÃO: Mínimo - um aviso e uma advertência; Máximo: um (1) ano de suspensão; 2ª. INFRAÇÃO: Dois (2) anos de suspensão; 3ª. INFRAÇÃO: Suspensão por toda vida (vitalícia) 2.6 POSSE de substâncias e métodos proibidos; 1ª. INFRAÇÃO: Dois (2) anos de suspensão; 2ª. INFRAÇÃO: Suspensão por toda a vida (vitalícia) 2.7 TRÁFICO de qualquer substância proibida ou método proibido; PENA: Mínimo de 4 (quatro) anos de suspensão e máximo de suspensão por toda a vida (vitalícia) 2.8 ADMINISTRAÇÃO OU TENTATIVA de administração de uma substância proibida ou método proibido a qualquer praticante desportivo PENA: Mínimo de 4 (quatro) anos de suspensão e máximo de suspensão por toda a vida (vitalícia) Código Mundial Antidoping: Ética e Fair Play no esporte olímpico No IV Fórum Olímpico, Estudos Olímpicos: Desafios para 2004 e além Curitiba, Paraná, 15 a 18 de outubro de 2003, com a comunicação de título Código Mundial Antidoping: Ética e Fair Play no esporte olímpico, Álvaro Ribeiro e Alberto Puga, assim se pronunciaram: A nova ordem internacional no combate e prevenção à dopagem, com o advento do Código Mundial Antidoping (CMAD), é reflexo da evolução experimentada pelo homem no domínio de novas tecnologias e da crescente tomada de consciência ética para o respeito aos Princípios Fundamentais da Carta Olímpica. A dopagem é a antítese do esforço próprio, do bom exemplo, do respeito aos princípios éticos, do espírito de amizade, do fair play e do próprio Espírito Olímpico. É precisamente a distorção do ideário do esporte que dá origem à utilização de substâncias ou métodos proibidos. Este trabalho tem por objetivo abordar a ética e o fair play à luz do CMAD, da Agência Mundial Antidopagem (/WADA/AMA) do Comitê Olímpico Internacional (COI), e sua relação com a equidade e os princípios fundamentais da Carta Olímpica a partir da premissa de que é a atitude ética, antes de tudo, um dever-ser no mundus sportivus, sem necessitar exacerbar distinções, diferenciações ou discriminações (Puga, 2002). Sendo o doping fundamentalmente contrário ao espírito esportivo, pois não leva em conta os interesses de todos os que

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forem por ele afetados (Singer, 1994), sua ocorrência gera desigualdade. Destarte, o CMAD visa a proteção do direito fundamental dos esportistas de participar de atividades esportivas isentas de doping e garantir a equidade e a igualdade no esporte. Com o escopo de consolidar o exercício do direito ao Esporte Olímpico sob esta ótica e considerando-se que sua razão de existir somente é respeitada quando todos os atores do esporte são responsavelmente solidários pelo fair play, o que pressupõe a consciência desta realidade, utilizou-se o método dialético, em sua perspectiva hermenêutica. Conclui-se, exortando que a formação de todos os atores do esporte olímpico deve fundamentalmente compreender e projetar os aspectos educacionais, fulcrados na tecnologia da ética esportiva. Dopagem: questão de Estado no esporte No XI Congresso de Ciências do Desporto e Educação Física Países de Língua Portuguesa, realizado em São Paulo, 6 a 9 de setembro de 2006, Puga, Netto e Liberato (2006) , na seção Doping e Educação Física/Ciências do Esporte, fazem a seguinte intervenção: A dopagem tem sido um dos principais desafios e seu combate pelos atores do mundus sportivus, no sentido de manter íntegros os princípios, os valores e o significado simbólico do verdadeiro esporte. O atleta deixa de ser o protagonista para dividir a responsabilidade com os organizadores de competições, a exemplo de clubes, ligas, federações, confederações e, em especial, os integrantes de Comissão Técnica, bem como o Governo de seus países. Em 10 de novembro de 1999, cria-se a Agência Mundial Antidoping (WADA-AMA). Em Copenhague, no dia 5 de março de 2003, na Conferência Mundial sobre Doping no Esporte, aprova-se o Código Mundial Antidoping (CMAD), tendo aos Signatários o dever de aceitar e implementar o referido diploma em no máximo até a data de abertura (13 de agosto de 2004) dos Jogos Olímpicos de Atenas (CMAD, 23.3.1). O Brasil, ao ser considerado Signatário, por meio do Ministério do Esporte, adotou as seguintes providências: a) criou a Comissão de Combate ao Doping no âmbito do Conselho Nacional de Esporte - CNE (Portaria ME Nº. 101, de 29 de julho de 2003); b) inseriu a Dopagem no Código Brasileiro de Justiça Desportiva – CBJD. Resolução CNE Nº. 1, de 23 de dezembro de 2003; c) instituiu normas básicas de controle de dopagem nas partidas, provas ou equivalentes do desporto de rendimento de prática profissional e não-profissional (Resolução CNE, Resolução Nº. 2, de 5 de maio de 2004), contendo três ANEXOS operacionais; d) aprovou a lista de substâncias proibidas e métodos proibidos na prática desportiva para o ano de 2005 (Resolução CNE Nº. 3, de 9 de dezembro de 2004) e ano de 2006 (Resolução CNE Nº. 8, de 11 de dezembro de 2005). Definiu-se como objetivo o de apresentar a trajetória da legislação desportiva brasileira produzida no período de 2003 a 2005. Empregou-se a análise documental e o método dialético na perspectiva hermenêutica, para identificar a iniciativa do Estado brasileiro na edição da legislação pertinente. Como estratégia de discussão nas dimensões ontológica e teleológica, apresenta-se a dopagem: a) como infração disciplinar de natureza desportiva, com ênfase na prevenção via procedimento educacional; b) como passível de uma conduta em processo progressivo de criminalização, a exemplo dos Jogos Olímpicos Invernais de Turim (2006). Conclui-se, por destacar as boas práticas pela evidenciação dos aspectos educacionais e pesquisa (investigação) com a participação dos órgãos de governo e integrantes do sistema brasileiro do esporte. REFLEXÕES FINAIS A discussão sobre o doping, ganha a cada dia contornos mundiais, e, a existência de normas internacionais, a exemplo das produzidas pela WADA/AMA, já não se fazem suficientes e eficazes. Já não basta o Play true!, Franc jeu!, Juego limpio! ou Jogo limpo!, o mundo do desporto clama pela verdade e pela ética.O doping é a negação dos valores intrínsecos e implícitos do desporto, como, por exemplo: a ética, o fair play, a honestidade e porque não dizer a própria saúde segundo o Código.Na recente obra coordenada por Alberto Palomar, El deportista en el mundo, o competente e reconhecido professor Miguel Cardenal , ao abordar a luta contra a dopagem , alerta que o combate ter-se-á que fazê-lo no campo científico, usando-se armas pelo o que ele chama de medicina de vanguarda, desde a sua gênese e sua persecução. Enfim, já se está quase diante do doping produzido por manipulação genética.A cada dia a interface doping/drogas, ganha limiar de preocupação de políticas públicas voltadas para a saúde, passando-se a incluir, não mais o usuário de drogas consideradas ilícitas, mas, àqueles que consomem substâncias consideradas proibidas no desporto de competição ... a exemplo dos anabolizantes ...O presidente da WADA, senhor Dick Pound, em entrevista concedida à Revista VEJA, assim respondeu a pergunta: Veja - Quais os maiores desafios da luta antidoping? Dick Pound - O primeiro é que muitas federações internacionais parecem não insistir para que os países afiliados tenham programas antidoping efetivos. O segundo é que levará muito tempo até que o público compreenda os perigos éticos e físicos do doping. A Interpol dispõe de uma estatística segundo a qual o mercado de substâncias dopantes, como os anabolizantes, é maior que o tráfico de maconha, o de cocaína e o de heroína combinados. Deduz-se, pois, que a luta contra o doping, se traduz pelo permanente combate, onde as armas são os princípios e os valores do verdadeiro (d)esporte(o)! REFERÊNCIAS BADEKER, Robert Lo sport contro l¦uomo. Roma, Città Aperta, 2003.BRASIL. Decreto nº. 4.201, de 18 de abril de 2002. BRASIL. Lei nº. 8.672, de 6 de julho de 1993. BRASIL. Lei nº. 9.615, de 24 de março de 1998. BRASIL. Lei nº. 9.965, de 27 de abril de 2000. BRASIL. Lei nº. 9.981, de 14 de julho de 2000. BRASIL. Lei nº. 10.672, de 15 de maio de 2003. BRASIL. Medida Provisória nº. 2.193/6, de 28 de julho de 2000. CARDENAL CARRO, Miguel El deportista en el mundo; una visión panorámica. In PALOMAR, Alberto (Coord.) El deportista en el mundo. Madrid, Editorial Dyckinson, 2006. CÓDIGO ANTIDOPING DO MOVIMENTO OLÍMPICO. Lausanne, 1999. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ATLETISMO. ANAD, 2006. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL. Regulamento de Controle de Dopagem, 2005. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL. Regulamento de Controle de Dopagem, 2006. CONSELHO NACIONAL DO ESPORTE. Resolução nº. 1, de 22 de dezembro de 2003. CONSELHO NACIONAL DO ESPORTE. Resolução nº. 2, de 5 de maio de 2004. CONSELHO NACIONAL DO ESPORTE. Resolução nº. 3, de 9 de dezembro de 2004. CONSELHO NACIONAL DO ESPORTE. Resolução nº. 9, de 11 de novembro de 2005. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais nº. 1/92 a nº. 52/2006 e pelas Emendas Constitucionais de Revisão nº. 1 a nº. 6/94. Brasília, Senado Federal, 2006. DE ROSE, Eduardo Henrique As novas perspectivas para a luta antidoping no ano 2000. In Estudos Olímpicos 2001: Coletânea de textos. Editores Marcio Turini e Lamartine DaCosta. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2001. DE ROSE, Eduardo Henrique O Controle Antidopagem no Brasil. I Congresso Internacional sobre o uso de tóxicos pela juventude universitária. São Paulo, 1974. 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Portaria nº. 101, de 29 de julho de 2003. MINISTÉRIO DO ESPORTE. Portaria nº. 146, de 6 de novembro de 2003. MINISTÉRIO EXTRAORDINÁRIO DOS ESPORTES. INDESP. Portaria nº. 23, de 28 de março de 2000.

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http://justicadesportiva.uol.com.br/7303-CASO-DODO-REVOLUCIONA-JUSTICA.html

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Caso Dodô revoluciona Justiça No ano em que foi flagrado, mais dez casos aconteceram e não tiveram o mesmo desfecho. O atacante dos gols bonitos, Dodô, foi obrigado a adiar na semana que passou, mais uma vez, o seu retorno aos gramados. O atleta, que chegou a ser absolvido pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva em 2008 pela acusação de doping (foi encontrada na urina do atleta a substância Femproporex, um moderador de apetite), viu a FIFA e Agência Mundial Anti-Doping (WADA) encaminharem Recurso a Corte Arbitral do Esporte (CAS). Dodô foi suspenso do futebol por dois anos e teve seu Recurso negado na última quinta-feira, dia 29 de janeiro, no Tribunal Federal da Suíça.

O caso Dodô, apesar de ter prejudicado a carreira do atleta, serviu como base para reorganizar a estrutura da justiça desportiva brasileira e mundial e para levantar alguns questionamentos. Aconteceram mudanças na competência e na jurisdição do esporte. A Corte Arbitral do Esporte (CAS) passou a ser a entidade máxima da justiça do desporto no mundo. O STJD não é mais como muitos achavam, a última, e sim a segunda instância do desporto brasileiro.

“Pela fundamentação da Corte Suíça, a priori, a CAS teria competência também não vinculada ao doping. Hoje é possível a revisão de qualquer processo disciplinar do desporto na Corte Arbitral do Esporte”, falou Dr. Marcos Mota, o advogado que defendeu Dodô no caso.

Outro fato que surpreendeu foi a postura da FIFA, diante do caso. O Presidente da entidade, Joseph Blatter, afirmou que a condenação do atleta na esfera simbolizava a luta contra o doping no mundo. Apesar da bandeira defendida pela entidade, jogadores como Athirson e Romário também foram flagrados no mesmo exame, respectivamente, em 2000 e no final de 2007. A FIFA não se pronunciou no primeiro caso. Sobre Romário, a entidade chegou a requerer a cópia do processo, mas desistiu de entrar com a ação na Corte Arbitral do Esporte (CAS).

Romário era embaixador da candidatura brasileira a Copa de 2014. Outro detalhe importante, é que no mesmo ano em que Dodô foi suspenso, em 2007, outros dez jogadores foram pegos no exame antidoping no Brasil, mas em nenhum desses casos a FIFA recorreu da decisão do STJD.

ÍNDICE

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FOLHA DE ROSTO 2 RESUMO 3

METODOLOGIA 4

SUMÁRIO 5

INTRODUÇÃO 6

CAPÍTULO I

A CONVENÇÃO INTERNACIONAL CONTRA O DOPING NO ESPORTE 10

CAPÍTULO II

O CÓDIGO MUNDIAL ANTIDOPING 13

CAPÍTULO III

A LEGISLAÇÃO NACIONAL 16

3.1 – A Portaria nº. 101, de 29 de julho de 2003, do Ministério do Esporte 16

3.2 – A Resolução nº. 02, de 05 de maio de 2004, do Conselho Nacional de Esporte

17

3.3 – O Código Brasileiro de Justiça Desportiva vigente à época 18

CAPÍTULO IV

O CÓDIGO BRASILEIRO DE JUSTIÇA DESPORTIVA, ALTERADO PELA

RESOLUÇÃO Nº. 29, DE 10 DE DEZEMBRO DE 2009 DO CONSELHO NACIONAL

DO ESPORTE 20

CAPÍTULO V

A APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA A CASOS CONCRETOS 21

CAPÍTULO VI – A SUFICIÊNCIA OU INSUFICIÊNCIA DA LEGISLAÇÃO

BRASILEIRA ANTIDOPING 28

CONCLUSÃO 31

BIBLIOGRAFIA 35

ANEXO 36

ÍNDICE 42

FOLHA DE AVALIAÇÃO 46

FOLHA DE AVALIAÇÃO

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Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

Título da Monografia: A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ANTIDOPING –

SUFICIÊNCIA OU INSUFICIÊNCIA?

Autora: JULIANA NÄVEKE

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: