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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A ANÁLISE DA FLEXIBILIZAÇÃO DAS LEIS TRABALHISTAS AUTOR KARLA KANE DE SOUSA ORIENTADOR PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO RIO DE JANEIRO 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A ANÁLISE DA FLEXIBILIZAÇÃO DAS LEIS TRABALHISTAS

AUTOR

KARLA KANE DE SOUSA

ORIENTADOR

PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO

RIO DE JANEIRO 2010

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2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A ANÁLISE DA FLEXIBILIZAÇÃO DAS LEIS TRABALHISTAS Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes – Instituto a Vez do Mestre, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito e Processo do Trabalho. Por: Karla Kane de Sousa.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, que em toda a minha Caminhada de vida, me iluminou, dando-me força, coragem e amor para que conseguisse bons resultados em minhas atividades realizadas. À minha mãe, a quem dedico este trabalho, que em sua luta de vida sempre se esforçou ao máximo para que tivéssemos o melhor, mostrando que o estudo é o caminho certo a se seguir, ao meu pai que mesmo sem deixar transparecer, através de seu amor sempre me ensinou que devemos seguir o melhor caminho com caráter e respeito ao próximo, ao meu marido e filhos que entenderam minha ausência todos os sábados e me deram força para que eu finalizasse minha pós-graduação .

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4 RESUMO

É mister que se faça a distinção entre desregulamentação e flexibilização, pois na primeira, o Estado deixa de intervir, não havendo limites na lei para questões trabalhistas, que ficam a cargo da negociação individual ou coletiva. Já na flexibilização, são alteradas as regras existentes, diminuindo a intervenção do Estado, porém garantindo um mínimo indispensável de proteção ao empregado, para que este possa sobreviver. Observa-se o início da flexibilização no sistema trabalhista pátrio com a criação das Juntas de Conciliação e com as Convenções e Acordos Coletivas de Trabalho. Em seguida surgem diversas tentativas de tornar mais maleável a legislação, como se pode observar através dos exemplos a seguir citados: a criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), a subempreitada ou merchandage; o trabalho temporário; o estágio; o contrato por prazo determinado; a terceirização da mão-de-obra, para fins de atendimento de atividade meio; a arbitragem, a comissão de conciliação prévia, o regime previdenciário e trabalhista das microempresas; a Lei 10.243, de 19.06.01, que deu nova redação aos artigos 58 e 458 da CLT, estabelecendo os benefícios que não integram o salário e cria o regime de tempo parcial e por último, a própria Constituição Federal de 1988 que expressamente flexibilizou a redução salarial e adequação da jornada de trabalho, como se deflui da leitura do disposto no artigo 7º , incisos VI , XIII e XIV, da CF vigente. Verifica-se que a competência para julgar os limites da flexibilização é da Justiça do Trabalho. Entretanto, o Tribunal Superior do Trabalho, como órgão de cúpula do Judiciário Trabalhista e uniformizador da jurisprudência laboral, não tem sinalizado univocamente a respeito da matéria, por não oferecer parâmetros claros e seguros capazes de diferenciar o que seja flexibilização e o que seja precarização de direitos trabalhistas. Daí o tumulto da jurisprudência, que, ora aprova, ora cassa cláusula de acordo ou convenção coletiva que adota parâmetros diversos dos legais para disciplinar as condições de trabalho no âmbito de uma determinada empresa ou categoria profissional.

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METODOLOGIA

O presente trabalho inicia-se dissertando sobre o surgimento do Direito

do Trabalho, Direito Coletivo e Liberdade Sindical. Em seguida, conceitua

flexibilização, diferencia flexibilização de desregulamentação, elenca as hipóteses

verificadas de flexibilização no nosso ordenamento jurídico e faz um panorama

da função do Judiciário Trabalhista.

A fonte utilizada nesta monografia foi basicamente a pesquisa

bibliográfica, através da leitura dos mais diversos autores que redigem sobre do

tema em questão.

Os principais autores utilizados na realização deste trabalho foram,

Amauri Mascaro do Nascimento, Arnaldo Sussekind, Maurício Godinho Delgado,

Sérgio Pinto Martins e Vólia Bonfim.

Para obter julgados do Tribunal Superior do Trabalho, Jurisprudência e

Súmulas, foi acessado o site oficial do Tribunal Superior do Trabalho.

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6 SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................7 CAPÍTULO I O SURGIMENTO DO DIREITO DO TRABALHO ....................................................9 CAPÍTULO II FLEXIBILIZAÇÃO E O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO ............................................ 13 CAPÍTULO III FLEXIBILIZAÇÃO NO SISTEMA LEGAL .............................................................. 17 CAPÍTULO IV FUNÇÃO DO JUDICIÁRIO TRABALHISTA .......................................................... 32 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 43 BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 45

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7 INTRODUÇÃO

A presente monografia é um estudo sobre a flexibilização das leis

trabalhistas.

Preliminarmente, o trabalho dá uma breve noção sobre o surgimento

do Direito do Trabalho, descrevendo a sua finalidade precípua que é alcançar

uma igualdade substancial entre empregado e empregador, indica a origem,

motivações e conceito do Direito Coletivo e Direito Sindical no Brasil.

Em seguida conceitua flexibilização, apesar do conceito da mesma

ainda não ser unânime entre os doutrinadores, sendo um conceito jurídico

indeterminado e que traz controvérsia e polêmica.

Distingue flexibilização de desregulamentação e cita três correntes que

se posicionam a respeito da flexibilização, quais sejam: flexibilistas,

antiflexibilistas e semiflexibilistas.

Dedica-se, ainda, a demonstrar como as transformações das

realidades brasileira e mundial, com o agravamento da crise econômica mundial,

a decadência do direito do trabalho clássico e à superação do Estado social,

geram a necessidade de se flexibilizar as normas trabalhistas, tornando-as o mais

ajustável a situações fáticas e menos rígidas.

O trabalho em sua questão central tipifica as hipóteses

regulamentadoras no Direito do Trabalho pátrio.

A monografia, em tela, pretende analisar a regulamentação da

flexibilização no Direito Pátrio, exemplificando-as e demonstrando qual é a

tendência de nossa legislação frente à flexibilização das normas de proteção ao

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8 trabalho, fazendo um panorama de como o Judiciário vem se manifestando diante

dos casos concretos que vêm surgindo.

São, portanto, objetivos desta monografia elencar as flexibilizações já

permitidas em nosso ordenamento jurídico, demonstrar estudos de casos através

da Jurisprudência, Súmulas e julgados dos TRT´s e TST que versem sobre o

assunto e mencionar as leis que tentaram flexibilizar a Consolidação das Leis

Trabalhistas.

O tema escolhido para esta monografia é de relevância social, pois

atinge duas categorias distintas, ou seja, empregado/empregador, interessando

desta forma a sociedade de uma forma geral.

O tema flexibilização das leis trabalhistas é de suma importância por

ser polêmico e tem sido objeto de pesquisa por parte dos estudiosos do Direito do

Trabalho.

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9 CAPÍTULO I

O SURGIMENTO DO DIREITO DO TRABALHO

A presente monografia incia-se dando um breve panorama das

circunstâncias que contribuíram para o surgimento do Direito do Trabalho em

nosso país.

Segundo os ensinamentos de Amauri Mascaro Nascimento (2005), a

partir de 1930, com a política trabalhista de Getúlio Vargas, associada a ação dos

trabalhadores e os movimentos sociais, surgiram as condições ideais para

aparecimento de uma nova modalidade, ou melhor, uma nova forma de tratar e

pensar o direito dos trabalhadores e a relação existente nas relações de trabalho,

o Direito do Trabalho.

Tido pela maioria dos doutrinadores, Amauri Mascaro Nascimento,

Sussekind, Maurício Godinho Delgado, Vólia Bomfim, dentre outros, como o

principal Princípio do Direito do Trabalho, o Princípio da Proteção se caracteriza

pela interferência básica do Estado nas relações de trabalho, por meio de normas

de ordem pública, com o fim especial de compensar a desigualdade econômica

desfavorável ao trabalhador com uma proteção jurídica a ele favorável.

Verifica-se um protecionismo ao empregado desde o surgimento da

legislação trabalhista no Brasil, inserida no então Código Civil de 1919, depois,

com a CLT, de 1943, no governo Getúlio Vargas. Sempre foi assim, porque

sempre se acreditou que o empregado era um desfavorecido, hipossuficiente,

perante a sociedade.

Daí decorre a interferência do Estado, estabelecendo o princípio da

proteção, visando equilibrar a relação capital x trabalho a qual perdura até hoje.

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10 O Direito do Trabalho toma conta das relações de emprego, de

trabalho, orientando e protegendo não só os trabalhadores permanentes como

também todos e quaisquer outros trabalhadores que necessitam de proteção por

parte do Estado.

Essa proteção do Estado tem como finalidade garantir aos

trabalhadores a dignidade e sempre defendendo seus direitos, visto que é a parte

economicamente mais fraca da relação de emprego, evitando injustiças.

Com base nessa proteção ao hipossuficiente, o Direito do trabalho tem

feito inúmeras restrições quanto ao princípio da liberdade contratual, visto que na

negociação, aos olhos do Estado a parte que sempre sai em desvantagem é o

trabalhador, principalmente quando se trata de contratação individual.

O Direito coletivo surgiu como meio de luta às desigualdades sociais

dentro da celebração de um contrato de trabalho, configurando assim, uma

mudança dentro do Direito do Trabalho, já que possibilitou a igualdade entre as

partes.

Segundo Vólia Bonfim, (2001), Direito Coletivo é o segmento do Direito

do Trabalho que trata da organização sindical, da negociação coletiva, dos

acordos e convenções coletivas, dos conflitos coletivos e dos mecanismos de

solução destes.

O Direito Coletivo é uma forma de organização autônoma dos vários

grupos sociais com personalidade jurídica própria e autonomia perante os

empresários e o Estado, podendo formar qualquer órgão coletivo como,

conselhos de empresas, sindicatos, etc.

O Direito coletivo do trabalho, também é conhecido como Direito

Sindical.

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11 Procura-se, portanto, um Direito do Trabalho mais coletivo do que

individual, para se resolver de uma forma mais livre e coletiva as questões entre

capital e trabalho, liberdade e autonomia sindical.

De acordo com essa liberdade sindical, torna-se possível resolver os

conflitos no próprio local de trabalho, onde eles surgem através de uma

negociação entre o sindicato e a empresa, sem a necessidade de intervenção do

Estado. Diversas experiências já demonstraram que essa negociação é mais

eficiente e menos dispendiosa que pela via judicial.

A negociação coletiva também tem como finalidade manter a paz social

para melhorar o bem estar social de todos, sem a necessidade de conflitos

sociais.

As duas primeiras normas jurídicas sobre sindicatos foram o Decreto,

nº 979, de 1903, e Decreto Legislativo nº 1637, de 1907, o primeiro sobre

sindicatos rurais e o segundo sobre sindicatos urbanos.

Quanto mais o sindicato fortalece a sua representatividade mais os

direitos sociais dos trabalhadores resultam menos de uma imposição legislativa, e

consequentemente propiciam o desenvolvimento da negociação coletiva.

A liberdade sindical vem disciplina na Constituição Federal de 1988,

em seu art. 8º.

Atualmente, através da mídia, o Governo Federal vem se pronunciando

no sentido de que não vai intervir, deixando a flexibilização para os interessados,

que as negociarão com ou sem os respectivos sindicatos.

Segundo Maurício Godinho Delgado (2007), os sindicatos são

entidades associativas permanentes, que representam trabalhadores unidos por

interesses profissionais comuns, com o objetivo de solucionar problemas coletivos

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12 das respectivas bases representadas, defendendo seus interesses trabalhistas e

visando melhores condições de trabalho e de vida.

Os sindicatos têm como objetivo forçar acordos que garantam por um

tempo uma espécie de “estabilidade no emprego” e o “não-cancelamento do

posto de trabalho”, em caso de suspensão do contrato de trabalho ou mesmo de

demissão, visando à readmissão.

Assim, a organização Sindical nada mais é do que uma ramificação do

Direito Coletivo do Trabalho que surgiu com o reconhecimento do direito de

associação dos trabalhadores ocorrido após a Revolução Industrial do século

XVIII.

A negociação coletiva é o meio mais eficiente de solução, pois as

partes, de comum acordo, estabelecem as regras que melhor atendam às suas

necessidades.

É imprescindível o respeito aos princípios do contraditório (entre os

sujeitos), cooperação (das vontades), igualdade e boa fé (dos negociadores e

dirigentes sindicais), razoabilidade (das pretensões) para que a negociação

coletiva tenha êxito.

Quanto aos limites da negociação coletiva, a própria lei deve traçar um

núcleo mínimo de direitos individuais que não poderão ser objeto de negociação e

nem de renúncia por parte dos trabalhadores ou sindicatos, para que as entidades

sindicais possam ter maior liberdade de estabelecer as normas que irão reger os

contratos de trabalho.

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13 CAPÍTULO II

FLEXIBILIZAÇÃO E O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO

O conceito de flexibilização traz controvérsia e é polêmico, sendo por

esse motivo, utilizado em diversos sentidos.

O conceito de flexibilização ainda não é unânime entre os

doutrinadores, sendo um conceito jurídico indeterminado. Sobre o tema,

necessário transcrever a esclarecedora lição de Arnaldo Süssekind:

Desregulamentação retira a

proteção do Estado ao trabalhador,

permitindo que a autonomia privada,

individual ou coletiva, regule as

condições de trabalho. Já a flexibilização

pressupõe a intervenção estatal, ainda

que básica, com normas gerais, abaixo

das quais não se pode conceber a vida

do trabalhador com dignidade.

(SUSSEKIND, 2003, p.52)

Desta forma, flexibilização, pressupõe a existência de intervenção

estatal. Ou, melhor dizendo, implica a possibilidade de intervenção estatal, na

hipótese de proteção de direitos fundamentais dos empregados e empregadores.

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14 A própria doutrina se encarrega de ensinar que flexibilização e

desregulamentação são conceitos totalmente diferentes, como ensina o

renomado Autor Sérgio Pinto Martins (2002) quando esclarece que na

desregulamentação o Estado não intervém nas questões trabalhistas, que são

resolvidos da negociação individual ou coletiva, não há normas a serem seguidas,

enquanto na flexibilização, há diminuição da interferência do Estado, porém

garantindo um mínimo indispensável de proteção ao empregado, para que este

possa sobreviver.

Flexibilização não se confunde com desregulamentação. Nesta, o

Estado se omite tanto quanto possível, a fim de que as condições de emprego

sejam ditadas, de maneira preponderante, pela autonomia privada, segundo as

leis do mercado; na flexibilização, o Estado impõe algumas normas de ordem

pública, admitindo, em relação a diversas regras gerais, sua adaptação ou

complementação pela autonomia privada, especialmente por meio da negociação

coletiva.

Assim, conceituada a flexibilização, é necessário classificá-la para um

melhor entendimento das formas de adaptação das normas do trabalho aos novos

modelos de trabalho inerente desta modificação social.

Segundo o Autor Amauri Mascaro Nascimento (2005), o termo

flexibilização pode se distingüir por três correntes que se posicionam a respeito

dessa questão, quais sejam: flexibilistas, antiflexibilistas e semiflexibilistas.

Corrente Flexibilista: de acordo com esta corrente o direito do trabalho

passa pela fase da conquista, pela fase promocional e a de adaptação à realidade

atual. Para os defensores desta corrente, é necessário fazer exatamente a

diferenciação dessas fases por que passa o Direito do Trabalho, sem deixar de

observar as garantias trabalhistas constitucionais, tida como as conquistas dos

trabalhadores, depois se tem o momento promocional do direito do trabalho, onde

ele se encontra no ápice dos direitos e garantias dos trabalhadores, e por último

tem-se a adaptação desses direitos a época em que se vive condizendo com a

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15 realidade dos fatos, observando até mesmo se a situação é in pejus. Assim,

podemos ver que os adeptos desta corrente entendem que a lei deverá ser

aplicada num momento em que a economia estiver equilibrada, no contrário, faz-

se a flexibilização das regras trabalhistas tanto in melius como in pejus.

Corrente antiflexibista: Ela entende que a flexibilização serve apenas

para diminuir os direitos dos trabalhadores, pois trata-se de uma considerável

redução dos direitos trabalhistas e agravamento das condições do hipossuficiente

e sem nenhuma contribuição benéfica para as relações de trabalho, acabando

com as conquistas que levaram anos de lutas dos trabalhadores para

conseguirem.

Corrente semiflexibilista: Neste entendimento, a flexibilização deveria

ser feita pela forma da negociação coletiva, devendo esta possuir uma autonomia

própria, havendo uma desregulamentação do direito coletivo do trabalho por meio

de convenções ou acordos coletivos, possuindo apenas uma norma legal mínima.

Atualmente, vivencia-se um período de grandes transformações das

realidades brasileira e mundial com o agravamento da crise econômica mundial e

verificamos a decadência do direito do trabalho clássico e o à superação do

Estado social.

Um dos assuntos de que muito se ouve falar é a flexibilização das

normas que regulam as relações de trabalho principalmente pelos instrumentos

de negociação.

Flexibilizar as normas trabalhistas significa torná-las o mais ajustável a

situações fáticas, menos rígidas. É a predominância da convenção coletiva sobre

a lei; da autonomia dos grupos privados sobre o intervencionismo estatal.

A flexibilização do Direito do Trabalho denota um processo de

adaptação das normas trabalhistas à realidade latente.

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16 Pressupõe a intervenção estatal por meio de normas de caráter geral,

que consubstanciam em seus preceitos valores, direitos e garantias - sem as

quais o trabalhador não poderia viver dignamente - aplicadas caso a caso, de

maneira razoável e proporcional, dando espaço à composição que melhor atenda

aos anseios das partes, sem, no entanto, privilegiar uma delas em detrimento da

outra.

Os fundamentos justificadores de tais mudanças no âmbito do Direito

do Trabalho são os seguintes: a necessidade de reformar e rever conceitos que

hoje são considerados superados; o excessivo "engessamento" das relações de

trabalho pela indevida intromissão estatal; o extraordinário avanço da tecnologia,

que torna incompatível as modernas formas de produção com os atuais modelos

de relação de trabalho; o excesso de proteção, que resulta em diminuição dos

postos de trabalho, aumento do subemprego e do trabalho informal e a obstrução

das varas trabalhistas com infindáveis processos, fazendo com que a celeridade

da Justiça Trabalhista seja brutalmente comprometida.

Apesar de alguns doutrinadores entenderem que os impulsos

tecnológicos da automação, somados à tese da flexibilização das normas laborais

são elementos indutores de desemprego e precarização do trabalho, e que a

flexibilização seria um meio de retrocesso, pondo fim a tudo que fora arduamente

conquistado pelos trabalhadores no decorrer dos séculos de reivindicação, tal

procedimento traz maior celeridade aos processos trabalhistas e uma justiça mais

equilibrada.

O princípio protetor é compatível com a teoria da flexibilização. A

própria manutenção do princípio clássico de proteção se obtém por meios outros

que não apenas pela de norma de origem estatal. É nesse ponto que os

interesses e os direitos dos trabalhadores podem ser defendidos, ampliados ou

até mesmo restringidos por meio de uma atuação efetiva dos entes coletivos,

conforme a necessidade dos maiores interessados, ou seja, os sujeitos das

relações de trabalho.

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17 CAPÍTULO III

FLEXIBILIZAÇÃO NO SISTEMA LEGAL

A presente monografia elenca as hipóteses que surgiram ao longo do

tempo, na tentativa de flexibilização.

Sobre o tema, a legislação brasileira se distingue em: Constituição

Federal (CF), CLT e leis ordinárias, conforme pode-se verificar a seguir :

Inicialmente foram criadas as Juntas de Conciliação e Julgamento

por Getúlio Vargas através do Decreto-Lei nº 22.132/1932, voltadas para os

dissídios individuais e que tinham como função pacificar os conflitos trabalhistas e

aplicar a recém criada legislação trabalhista brasileira (que daria origem à CLT de

1943) embora não tenham inicialmente formado parte do Poder Judiciário do

Brasil.

As Juntas tinham competência para conhecer e dirimir dissídios

individuais trabalhistas, mas, por não formarem parte do Judiciário, não

executavam suas decisões, que apenas serviam como fundamento para processo

de execução a ser protocolado na Justiça Comum.

Faltavam às Juntas também a competência absoluta para analisar os

dissídios, podendo o Ministério do Trabalho, por meio de carta avocatória subtrair

um processo da Junta para que fosse julgado pelo próprio Ministério.

As Juntas de Conciliação e Julgamento eram compostas de forma

paritária, havendo em cada Junta dois representantes classistas - um julgador

indicado pelos sindicatos laborais e um pelos sindicatos patronais - chamados de

"vogais" e um Juiz Presidente, de livre nomeação pelo Governo.

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18 Com a autonomia da Justiça do Trabalho, a interferência do Poder

Executivo foi eliminada, e o Juiz Presidente passou a ter todas as garantias da

magistratura, sendo admitido por concurso público.

As Convenções Coletivas de Trabalho também foram criadas no

mesmo ano, pelo Decreto-Lei nº 21.690/1932.

Conforme definição de Vólia Bomfim :

Convenção coletiva é o negócio

jurídico(extrajudicial) efetuado ente o

sindicato representativo de uma ou mais

categorias profissionais e o sindicato

representativo de uma ou mais categorias

econômicas, através do qual (indiretamente)

empregados e empregadores ajustam

condições de trabalho que devem ser

respeitadas nas relações individuais de

trabalho constituídas ou em curso na

vigência da norma. ( Bomfim, 2001, p.217 )

Os Acordos coletivos são as negociações em nível de empresa,

cujo âmbito de aplicação é entre a empresa ou empresas que participaram da

negociação, isto é, são os acordos entre uma ou mais empresas com o sindicato

da categoria profissional, em que são estabelecidas condições de trabalho,

aplicáveis a essas empresas.

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19 Na nossa legislação, portanto, convenção e acordo coletivo são

distintos. A primeira tem o âmbito mais amplo e os sujeitos são obrigatoriamente

entidades sindicais. Já o segundo é mais restrito, na medida em que abrange, de

um lado, o sindicato representativo da categoria dos trabalhadores e, de outro,

uma ou mais empresas individualmente consideradas. Ambos, porém, como

autênticos contratos normativos.

Vólia Bonfim (2001), complementa, esclarecendo que a diferença

básica entre as duas é quanto aos sujeitos envolvidos, sendo o acordo realizado

entre uma ou mais empresas e o sindicato da categoria profissional e a

convenção coletiva realizada entre sindicato da categoria profissional, de um lado,

e sindicato da categoria econômica, de outro.

A Criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), Lei

nº. 5.107 de 13 de setembro de 1966.

Até 13 de Setembro de 1966, data da criação do FGTS, todo

empregado que cumprisse 10 anos de trabalho em uma empresa tornava-se

estável, tendo o direito a apenas ter seu contrato de trabalho encerrado caso

incorresse em justa causa.

Nesse sistema anterior, aos empregados com mais de um ano de

tempo de serviço e que fossem dispensados antes de completarem o decênio era

devida uma indenização, correspondente ao valor de um mês de salário para ano

laborado. Ultrapassados os 10 anos de serviço, para dar conteúdo à garantia da

estabilidade, essa indenização tinha seu valor dobrado.

Como essa indenização acabava representando um valor muito

elevado, para o qual os empregadores não se preparavam, na prática, muitos

trabalhadores eram demitidos pouco antes de completarem o decênio ou não

recebiam a indenização que lhes era devida e eram obrigados a reclamarem seu

direito na justiça. Apontada como encargo que onerava as empresas, não

agregava valor para a sociedade como um todo, e não favorecia os empregados,

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20 uma vez que não se permitia cumprir o decênio necessário, a saída adotada foi a

criação do FGTS pela lei nº 5.107/1966, em alternativa à estabilidade, como um

fundo de recursos que os empregadores constituíam ao longo da vigência do

contrato e pelo qual os empregados poderiam optar ou não. Independentemente

da opção do empregado, o empregador tinha obrigação de depositar o valor do

FGTS em conta específica, em nome do trabalhador como “não optante”.

Com a Constituição Federal de 1988, foi extinta a estabilidade no

emprego para empregados regidos pela CLT (Consolidação das Leis

Trabalhistas), permanecendo estáveis apenas aqueles que já possuíam 10 anos

de trabalho na mesmo empresa. A partir daí, todos os trabalhadores celetistas

passaram a ser obrigatoriamente optantes pelo FGTS.

Todo trabalhador regido pela Consolidação das Leis do Trabalho deve

possuir uma conta de FGTS na Caixa Econômica Federal para cada vínculo

empregatício existente, onde o empregador deve depositar o valor referente a 8%

do salário bruto desse trabalhador, a exceção do menor aprendiz cujo

recolhimento deve importar em 2% da sua remuneração.

A Subempreitada ou merchandage, onde se usa a subcontratação de

outras pessoas, mas não pelo dono da obra e sim pelo empreiteiro principal,

encontrado no art.455 da CLT.

A terceirização, apresenta-se, como uma técnica administrativa, que

provoca o enxugamento da grande empresa, transferindo parte de seus serviços

para outras empresas.

Argumenta-se que a terceirização permite à empresa preocupar-se

mais intensamente com as atividades que se constituem o objetivo central de seu

empreendimento.

Para conferir um padrão jurídico ao fenômeno da descentralização do

trabalho, o Egrégio TST editou o Enunciado 331, pelo qual se passou a

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21 considerar lícita a terceirização, com a limitação de que esta não atinja a

atividade-fim da empresa, preservando, ainda, uma responsabilidade “subsidiária”

da empresa tomadora dos serviços.

Dentro do modelo jurídico brasileiro atual, ditado pelo Enunciado 331,

do TST, portanto, uma empresa pode oferecer mão-de-obra a outra empresa,

para executar serviços no âmbito da primeira, desde que estes serviços não se

vinculem à atividade-fim da empresa que contrata a empresa que lhe fornece a

mão-de-obra e desde que não haja subordinação direta dos trabalhadores à

empresa tomadora. Além disso, no caso de não pagamento dos créditos

trabalhistas desses trabalhadores, por parte da empresa prestadora, a tomadora

será considerada responsável, subsidiariamente, na obrigação de adimplir tais

créditos.

O trabalho temporário, criado pela lei nº. 6.019 de 1974, considera

temporário o serviço prestado por pessoa física a uma determinada empresa,

para atender a necessidade transitória de substituição de seu pessoal, regular e

permanente, ou motivado pelo acréscimo extraordinário de serviços.

Nesse sentido, o doutrinador Maurício Godinho Delgado (2007),

conceitua trabalhador temporário aquele juridicamente vinculado a uma empresa

de trabalho temporário, de quem recebe suas parcelas contratuais, presta

serviços a outra empresa, para atender a necessidade transitória de substituição

do pessoal regular e permanente ou a acréscimo extraordinário dos serviços da

empresa tomadora.

São requisitos para a caracterização do trabalho temporário a

necessidade transitória de substituição de pessoal regular e permanente. Em

casos de férias; licença-maternidade, outras licenças previdenciárias; acréscimo

extraordinário de serviços. A ausência de tais requisitos autoriza a formação do

vínculo empregatício diretamente com o tomador dos serviços (Súmula 331,1,

TST).

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22

Segundo o artigo 9º, o contrato trabalho temporário deverá ser feito por

escrito e constar expressamente um motivo que justifica a demanda do trabalho

temporário.

O artigo 10º estabelece que o contrato de trabalho temporário não

poderá exceder três meses, salvo prorrogação, por igual período, autorizada pelo

Ministério do Trabalho . Essa autorização relativa a prorrogação do contrato

temporário, foi estabelecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego através da

portaria 574, de 22 de novembro de 2007, em seu artigo 2°, parágrafo único. É

possível somente uma única prorrogação, por igual período ,ou seja, mais três

meses, desde que haja prévia informação e justificativa de que a necessidade

transitória de substituição de pessoal regular e permanente, pela o qual excedeu

ao prazo inicialmente previsto; e as circunstâncias que geraram o acréscimo

extraordinário dos serviços e que ensejaram que o contrato de trabalho

temporário fossem renovados para a manutenção das necessidades da empresa

tomadora ou cliente o estágio, tido como forma de relação atípica da relação de

trabalho e criado pela lei nº. 6.494 de 07 de dezembro de 1977 e regulamentada

pelo Decreto nº. 87. 497 de 18 de agosto de 1982.

O contrato por prazo determinado é encontrado como regra no

art.443 § 2º da CLT.

A peculiaridade dessa lei é estabelecer que as convenções e acordos

coletivos de Trabalho poderão criar contratos de trabalho por prazo determinado,

tratados no art. 443, da CLT, sem obediência à lei, desde que se trate de

acréscimo no número de empregados.

As convenções coletivas de trabalho podem expressamente:

desconsiderar o §2° do art. 443, isto é: limites ao contrato de trabalho por prazo

determinado, que é de dois anos: estabelecer indenização antecipada para

rompimento desses contratos por parte do empregador ou do empregado, não se

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23 aplicando o disposto no art. 479: indenização por parte do empregador e art.480:

indenização por parte do empregado; multas por descumprimento de cláusulas

também serão desconsideradas; descumprimento do art. 451, que diz: “... se

prorrogado o contrato de prazo determinado mais de uma vez, ele se torna por

prazo indeterminado”.

A referida lei dispõe, ainda, sobre horas extras quando modificou o art.

59 da CLT.

O contrato de estágio foi instituído pela Lei 6.464 de 1977 e

regulamentado pelo decreto 87.497, de 1982, tendo ambas normas sofrido

diversas modificações posteriormente. De qualquer modo, tal legislação regula o

estágio em geral, havendo também alguns estágios relativos a certas profissões

regulados por outras normas.

O estágio, quando remunerado, é um dos institutos que mais se

aproxima da relação de emprego, uma vez que reúne os cinco requisitos

caracterizadores desta – trabalho por pessoa física, com pessoalidade, não-

eventualidade, onerosidade e sob subordinação ao tomador dos serviços – sem

que a legislação autorize, porém, sua tipificação como tal.

A justificativa para adoção desta conduta seria a valoração do ensino e

preparação do estagiário para o mercado de trabalho, em detrimento de garantias

trabalhistas pela não formação do vínculo empregatício, com a finalidade de

aumentar as ofertas de estágio no mercado de trabalho.

A Lei, de nº 4.923/1982, institui o cadastro permanente de admissões

e demissões de empregados, estabelece medidas contra o desemprego e dá

outras providências.

No Art.2º vislumbra-se a possibilidade de redução da jornada dos dias

trabalhados, do soldo, com redução proporcional dos salários dos empregados,

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24 gerentes e diretores, em face de conjuntura econômica, devidamente

comprovada, .

A empresa que, em face de conjuntura econômica, devidamente

comprovada, se encontrar em condições que recomendem, transitoriamente, a

redução da jornada normal ou do número de dias do trabalho, poderá fazê-lo,

mediante prévio acordo com a entidade sindical representativa dos seus

empregados, homologado pela Delegacia Regional do Trabalho, por prazo certo,

não excedente de três meses, prorrogável, nas mesmas condições, se ainda

dispensável, e sempre de modo que a redução do salário mensal resultante não

seja superior a 25% do salário contratual, respeitado o salário-mínimo regional e

reduzidas proporcionalmente a remuneração e as gratificações de gerentes e

diretores.

A Lei 9608, de 18.02.98, que trata do trabalho voluntário.

Considera-se serviço voluntário, para fins desta Lei, a atividade não

remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza

ou instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais,

educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive

mutualidade. Parágrafo único: O serviço voluntário não gera vínculo empregatício

nem obrigação de natureza trabalhista, previdenciária ou afim.

O serviço voluntário será exercido mediante a celebração de termo de

adesão entre a entidade, pública ou privada, e o prestador do serviço voluntário,

dele devendo constar o objeto e as condições do seu serviço.

O prestador do serviço voluntário poderá ser ressarcido pelas

despesas que comprovadamente realizar no desempenho das atividades

voluntárias. Parágrafo único: As despesas a serem ressarcidas deverão estar

expressamente autorizadas pela entidade a que for prestado o serviço voluntário

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25 A Lei 9841, de 05.10.99, que trata do regime previdenciário e

trabalhista das microempresas e em seu art. 10, estabelece procedimentos

simplificados, para o cumprimento da legislação previdenciária e trabalhista por

parte das microempresas e das empresas de pequeno porte, bem como para

eliminar exigências burocráticas e obrigações acessórias que sejam incompatíveis

com o tratamento simplificado e favorecido previsto nesta Lei e no art. 11 dispõe

que a microempresa e a empresa de pequeno porte são dispensadas do

cumprimento das obrigações acessórias a que se referem os arts. 74; 135, § 2o;

360; 429 e 628, § 1o, da Consolidação das Leis do Trabalho

A Lei nº 10.101/00, trata da participação dos trabalhadores nos lucros

ou resultados da empresa e dá outras providências. Esta lei, inicialmente, registra

que a citada participação será objeto de negociação entre a empresa e seus

empregados, mediante: uma comissão mista, incluindo um representante do

sindicato; ou por convenção; ou acordo coletivo.

Os instrumentos terão claramente dispostos: os direitos substantivos e

regras adjetivas, mecanismos de aferição, periodicidade, prazo de vigência e

prazos de revisão. Tudo com utilização de vários critérios, como produtividade,

qualidade, lucratividade, programas de metas, de resultados e de prazos, entre

outros. A lei autoriza o trabalho aos domingos e feriados nas atividades do

comércio em geral, desde que autorizado em convenção coletiva de trabalho,

observada a legislação municipal, nos termos do Art. 30 da CF.

A Comissão de Conciliação Prévia foi criada pela Lei 9.958, de 12

de janeiro de 2000, com o objetivo de solucionar de uma forma mais ágil, através

da conciliação, os conflitos trabalhistas individuais existentes entre os

empregados e seus empregadores, sendo considerada um meio alternativo

privado para a solução desses conflitos.

Assim, através das Comissões de Conciliação Prévia, empregados e

empregadores poderão chegar a um acordo, rápido, com um menor custo e

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26 terminativo para ambas as partes, a respeito do conflito individual de trabalho

surgido, sem a necessidade da intervenção ou da homologação do Poder

Judiciário Trabalhista

As Comissões de Conciliação Prévia têm a função de tentar conciliar

os conflitos individuais trabalhistas, conciliada as partes e formalizado o acordo

esse tem força executória, podendo ser executado na Justiça do Trabalho.

Em virtude do princípio de ordem pública que rege o Direito do

Trabalho, não podem ser submetidos à conciliação extrajudicial, por exemplo,

questão que envolva discussão sobre a relação de emprego, salvo se for para

reconhecer o vínculo empregatício, da mesma forma, não podem ser negociados

os direitos trabalhistas fundamentais, indisponíveis e irrenunciáveis pelo

trabalhador.

A Medida Provisória nº 2.164-41, de 24.08.2001, que inovou o

regime de trabalho de tempo parcial. Sucintamente, essa medida cria o art. 59-A

na CLT, que contempla um regime de trabalho para o empregado, que não

ultrapasse 25 horas semanais.

O salário será proporcional à sua jornada, e os que não cumprem essa

jornada especial, e sim a jornada normal, receberão o salário integral, diz-nos o

parágrafo 1°.

O parágrafo 2º aventa a possibilidade de havendo horas trabalhadas,

em excesso em um dia, por força de acordo ou convenção, serão compensadas

num outro dia, serão diminuídas ou acrescidas, de maneira que no período de 1

ano a soma das jornadas semanais de trabalho previstas não exceda o limite de

10 horas diárias, se esta variável estiver disposta em acordo ou convenção

coletiva de trabalho.

Não serão permitidas horas extras para quem optar livremente por

esse regime de tempo de trabalho parcial.

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27

A admissão ou dispensa de empregados para trabalhar nesse regime

especial de 25 horas semanais, obriga o empregador a comunicar tais fatos à

Superintendência Regional do Trabalho (SRT). Os empregados desse regime

especial têm direito a todos os benefícios, como alimentação subsidiada ou vale-

refeição, vale-transporte, depósito da parcela do FGTS, e outros.

Essa medida cria no Art. 8º, a Bolsa de Qualificação Profissional, a ser

custeada pelo FAT, para o trabalhador que estiver com o contrato suspenso em

virtude de participação em curso ou programa de qualificação profissional

oferecido pelo empregador, diretamente, ou com a participação do Sistema “S”,

em razão de acordo ou convenção coletiva celebrada para esse fim.

A Lei 10.243, de 19.06.01, que acrescentou parágrafos ao artigo 58 e

deu nova redação ao art. 458 da CLT, estabelecendo os benefícios que não

integram o salário e cria o regime de tempo.

Não serão descontadas nem computadas como jornada extraordinária

as variações de horário no registro de ponto não excedentes de cinco minutos,

observado o limite máximo de dez minutos diários e tempo despendido pelo

empregado até o local de trabalho e para o seu retorno, por qualquer meio de

transporte, não será computado na jornada de trabalho, salvo quando, tratando-se

de local de difícil acesso ou não servido por transporte público, o empregador

fornecer a condução .

Não serão consideradas como salário as seguintes utilidades

concedidas pelo empregador: vestuários, equipamentos e outros acessórios

fornecidos aos empregados e utilizados no local de trabalho, para a prestação do

serviço; educação, em estabelecimento de ensino próprio ou de terceiros,

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compreendendo os valores relativos a matrícula, mensalidade, anuidade, livros e

material didático; transporte destinado ao deslocamento para o trabalho e retorno,

em percurso servido ou não por transporte público; assistência médica, hospitalar

e odontológica, prestada diretamente ou mediante seguro-saúde; seguros de vida

e de acidentes pessoais; previdência privada.

A Constituição Federal promulgada em 1988 legitimou,

expressamente, a flexibilização de alguns direitos trabalhistas, quais sejam, a

redução salarial e adequação da jornada de trabalho, como se deflui da leitura do

disposto no artigo7º, incisos VI, XIII e XIV, da CF vigente.

Essas normas advindas de acordos e convenções coletivas de trabalho

são compatíveis com o ordenamento jurídico brasileiro vigente , tendo em vista

que foram consagrados no artigo7º, inciso XXVI, da CF ).

Deve-se salientar que a lei laboral é extremamente flexível, desde que

para garantir ainda mais direitos a classe trabalhadora, isso ao tratar meramente

da lei, outrossim, quando da prática, as leis trabalhistas tornam-se ainda mais

flexíveis, só que neste momento não mais só para garantir mais direitos ao

trabalhador, mas sim para satisfazer as necessidades das empresas e salva-

guardar a estrutura econômica e política pertinentes ao próprio capitalismo.

Estão expressamente contidas no artigo 7º da Constituição Federal, a

flexibilização salarial ou duração da jornada de trabalho desde que determinados

em convenção coletiva, que são as seguintes:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores

urbanos e rurais, além de outros que visem

à melhoria de sua condição social:

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29

[...]

VI – irredutibilidade do salário, salvo o

disposto em convenção ou acordo coletivo;

[...]

XIII – duração do trabalho normal não

superior a oito horas diárias e quarenta e

quatro semanais, facultada a compensação

de horários e a redução da jornada,

mediante acordo ou convenção coletiva de

trabalho

XIV – jornada de seis horas para o trabalho

realizado em turnos ininterruptos de

revezamento, salvo negociação coletiva.

Já foi sustentado que, se os dois principais direitos trabalhistas são

passíveis de flexibilização, todos aqueles que deles decorrem, ou seja, parcelas

de natureza salarial ou decorrentes da conformação da jornada de trabalho,

também podem ser flexibilizados por acordos e convenções coletivas. Os incisos

do art.7ºda Constituição , não são cláusulas pétreas, uma vez que o art.60, §4º,

IV, da Constituição, ao restringir o poder de emenda aos direitos e garantias

individuais, não abrangeu nem os direitos coletivos do art 5º, nem os direitos

sociais do art. 7º, limitando a sua proteção a parte dos incisos do art. 5ºda

Constituição. Ademais, aquilo que é passível de flexibilização pelas partes, por

meio de negociação coletiva, não pode ficar à margem de alteração pelo

legislador.

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30 No Governo FHC, houve uma tentativa de aprovar o Projeto 5483/01

por meio do qual se pretendia flexibilizar o artigo 618 da CLT, cujo foco principal

era a prevalência do negociado em relação ao legislado. A defesa política da

idéia, ainda que contasse com razões plausíveis, não despertou simpatia da

sociedade e dos parlamentares.

A resistência de parlamentares e sindicalistas à preponderância do

negociado sobre o legislado foi de tal ordem, que muitos distúrbios se verificaram

no Congresso Nacional e nas ruas, com passeatas em defesa da CLT em sua

integralidade.

Com efeito, no dia 4 de dezembro de 2001, foi aprovado pela Câmara

dos Deputados o referido Projeto de Lei nº 5.483 /01.

Os opositores ao projeto argumentavam que a flexibilização constituía

verdadeira derrocada de conquistas trabalhistas obtidas através de muita luta e

que enfraqueceria o sistema protetivo da CLT . Além disso, num país de

sindicalismo fraco, onde apenas algumas categorias melhor organizadas

poderiam fazer frente à pressão econômica do setor patronal, seria uma

temeridade abandonar os trabalhadores nas mãos de entidades sindicais que não

têm condições de defender seus interesses de forma satisfatória.

Entretanto os defensores do projeto tinham como alicerce que o

princípio da flexibilização já tinha sede constitucional (CF, art. 7º, VI, XIII e XIV),

limitando-se a alteração a permitir a flexibilização de normas infra-constitucionais,

sem deixar de respeitar as conquistas obtidas com a Constituição de 1988, mas

possibilitando que em contexto econômico de desemprego crescente e de

competitividade maior entre economias globalizadas possam ser preservados

postos de trabalho, em benefício do próprio trabalhador, a par de trazer de volta à

economia formal os quase 50% da força de trabalho brasileira, que se encontram

atualmente na informalidade. Além disso, a reforma buscaria a prestigiar a

negociação coletiva, dando cumprimento à Convenção n. 154 da OIT e seguindo

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31 na esteira da Reforma do Judiciário, que está reduzindo o Poder Normativo da

Justiça do Trabalho (PEC 29 /00, que altera a CF , art. 115 , §§ 2º e 4º ), para

estimular a negociação direta das partes. (Revista LTr n. 65, p. 12/1413)."

Com a eleição do Presidente Lula, o PLC 134 /01 (número que recebeu

o PL 5.481 /01 no Senado Federal) foi retirado e arquivado pelo novo governo, na

esperança de que se conseguisse, com o "Fórum Nacional do Trabalho", um

consenso quanto à reforma tópica da CLT.

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32 CAPÍTULO IV

FUNÇÃO DO JUDICIÁRIO TRABALHISTA

É a Justiça do Trabalho a responsável pela questão da flexibilização e

de seus limites, devendo a jurisprudência superar os impasses decorrentes do

fracasso na reforma trabalhista.

Entretanto, o Tribunal Superior do Trabalho , não tem decidido de

forma unânime a respeito da matéria, por não oferecer critérios definidos capazes

de diferenciar o que seja flexibilização e o que seja precarização de direitos

trabalhistas. Daí o tumulto da jurisprudência, que, ora aprova, ora cassa cláusula

de acordo ou convenção coletiva que adota parâmetros diversos dos legais para

disciplinar as condições de trabalho no âmbito de uma determinada empresa ou

categoria profissional.

Assim, as hipóteses em que se tem admitido a flexibilização dos

direitos trabalhistas mediante negociação coletiva são:

a) pagamento proporcional do adicional de periculosidade ao tempo de

exposição ao agente de risco (Súmula nº 364, II, do TST);

b) redução do intervalo intrajornada para a categoria dos motoristas

(conforme precedente jurisprudencial da SDC-TST);

c) limitação do pagamento de horas in itinere a uma diária,

independentemente do tempo efetivamente gasto pelo empregado em condução

fornecida pelo empregador (precedentes da Corte);

d) no que diz respeito aos minutos residuais, tolerância de 15 minutos

antes e 15 minutos depois da jornada de trabalho sem o pagamento de horas

extras (precedentes da Corte).

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33 No entanto, tem sido rejeitada a flexibilização nas hipóteses de:

a) turnos ininterruptos de revezamento, quando não demonstrada a

compensação com vantagem substitutiva (a matéria se encontra aguardando

definição do Pleno do TST em Incidente de Uniformização de Jurisprudência em

torno da Orientação Jurisprudencial nº 169 da SBDI-1 do TST);

b) regime 12x36 horas, determinando-se o pagamento como horas

extras das 11ª e 12ª horas (precedentes da Corte);

c) não redução do intervalo intrajornada fora da hipótese de motoristas

(Orientação Jurisprudencial n. 342 da SBDI-1 do TST);

d) redução do período de estabilidade da gestante (precedentes da

SDC-TST).

Observa-se que não se vem admitindo a flexibilização matéria de

medicina e segurança do trabalho, legislação tributária e previdenciária.

Pode-se concluir que a negociação coletiva vem sendo prestigiada pela

jurisprudência.

Há decisões dos Tribunais Regionais do Trabalho dando validade aos

turnos ininterruptos de revezamento, instituindo jornada de seis dias de trabalho

por dois de descanso (6X2), mediante concessões recíprocas em negociação

coletiva, não se havendo falar em pagamento de adicional sobre as sétimas e

oitava horas diárias (TRT/15ª Região, 1.105/01-094- Acórdão 12ª Câmara

31.225/05-PATR. Relatora Olga Aida Joaquim Gomieri, DOE 08/07/2005, p.5)

Há também julgados admitindo a validade de a convenção coletiva de

trabalho estabelecer o pagamento de maneira proporcional do adicional de

periculosidade, invocando o art.7º, inciso XXVI, da CF, como fundamento para a

validade do acordo (TRT/SP 26102200290202000 – RO – Acórdão.7ª

T.20030636021 – Relatora Anélia Lichum - DOE 05.12.03).

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34 Têm sido admitido, em alguns julgados, a redução do intervalo intra-

jornada através da pactuação coletiva, enfatizando que as hipóteses de

flexibilização tratadas pela Constituição Federal não estão restritas à redução de

salário e jornada, à compensação de horas e à estipulação de jornada diversa da

de seis horas para o labor em turnos ininterruptos de revezamento (TRT – 15ª

Região – Acórdão: 015678/2000- decisão: 02.05.2000 - 5ª Turma – DOE

02.05.2000 – Relatora Eliana Felippe Toledo).

Destacam-se os seguintes julgados do TST:

Adicional de insalubridade - base de cálculo - acordo – validade.

Se a Constituição federal admite a flexibilização das normas laborais

mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho, tornando viável a redução

dos salários, a diminuição da jornada de trabalho e a adoção de turnos de

revezamento superiores a seis horas, conforme se vê nos incisos seis, treze e

quatorze, do seu artigo sétimo, deve o judiciário admitir que, na negociação

coletiva, as partes façam concessões mútuas, desde que através de instrumento

coletivo. Embargos conhecidos parcialmente e providos para excluir da

condenação o pagamento das diferenças do adicional de insalubridade. (TST –

Subseção I Especializada em Dissídios Individuais - Acórdão: 210517- decisão

29.06.1998- Proc.E-RR210517 – 1995 – 3ª Região/MG – DJ-14.08.1998 –

p.00145 - Rel: Ministro Rider Nogueira de Brito). Fonte: Jurisprudência Trabalhista

Unificada – www.tst.gov.br

Adicional – Proporcionalidade – Acordo Coletivo de Trabalho –

Validade.

Adicional de periculosidade – Proporcionalidade – Acordo Coletivo de

Trabalho – Validade

A Constituição Federal apesar de assegurar condições mínimas de

trabalho, protege as convenções e acordos coletivos de trabalho, especialmente

permitindo a negociação coletiva para reduzir salários e fixar jornada de trabalho.

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35 Proporciona, assim, uma relativa flexibilização de tais cláusulas do

contrato de trabalho, privilegiando, no particular, a desejável autonomia privada

coletiva do Sindicato.

A jurisprudência dominante do TST, consubstanciada no Precedente

n.258 da SBDI-1, considera que a Justiça do Trabalho não pode exacerbar o

intervencionismo estatal na relação de emprego, revelando-se mais realista que a

Constituição da República e que os próprios interlocutores sociais, que decerto

têm razões sérias quando ultimam, com êxito, uma negociação coletiva.

É válida, à luz do art.896 da CLT, cláusula de acordo coletivo de

trabalho estipulando adicional de periculosidade proporcional ao tempo de

exposição ao risco. Embargos conhecidos, por violação aos artigos 896 da CLT e

7º., inciso XXVI, da Constituição Federal, e providos para, nos termos do artigo

143 do RITST, julgar improcedente o pedido principal relativo ao pagamento de

adicional de periculosidade integral. (TST-E-RR-655.246/00.4 – Ac. SBDI-1 – 3ª

Reg. – Rel. Min.João Oreste Dalazen, DJU 14.3.03, p.383). Fonte: Suplemento de

Jurisprudência LTR – 23/2003 – p.181.

A Seção de Dissídios Coletivos do TST, em acórdão publicado em

11.11.2005, nos autos do Proc.TST-ROAA-242/2002-000-08-00.0, assegurou

validade de cláusula de convenção coletiva que previu a dispensa do aviso prévio

e o pagamento proporcional da multa dos 40% do FGTS (demissão sem justa

causa), aduzindo que a possibilidade de flexibilização possui respaldo

constitucional.

No referido julgado, o relator, Ministro Carlos Alberto Reis de Paula,

enfatizou que “a experiência jurídica tem demonstrado que as normas coletivas

consensuais encerram possibilidades experimentais, em que se desenvolvem e

prestam alternativas de soluções criativas para os problemas da atualidade, entre

os quais se destaca, acentuada rotatividade de contratos civis de prestação de

serviços”.Na citada decisão, o TST, de modo apropriado com a realidade atual

que cerca as relações trabalhistas, escolhe a seguinte tese:

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36 Recurso ordinário em ação anulatória. Contratos sucessivos de

prestação de serviços para o mesmo tomador. Aviso prévio e multa rescisória.

Transação.

O regional anulou cláusula de Convenção Coletiva que dispõe sobre

garantias de direitos expressamente previstas na Constituição, quanto a multa por

despedida arbitrária, bem como o preceito mínimo do aviso prévio previsto no

art.7º, inciso XXI, da Carta Política. O Recorrente reitera a tese, segundo a qual

não se trata, na hipótese, de mera renúncia, mas de transação, com vistas a

assegurar a trabalhador a continuidade do trabalho, após a rescisão do contrato

civil de prestação de serviços. Ante a ampla faculdade atribuída na Carta Política

às representações coletivas, para negociarem, dentro dos limites objetivos fixados

no ordenamento jurídico, existe a possibilidade de negociação lícita envolvendo o

aviso prévio e a proporcionalidade da multa do FGTS, de um lado, e absorção do

empregado pela outra empresa, que celebraria um contrato de experiência pelo

prazo mínimo de 90 (noventa) dias. Recurso a que se dá provimento.” (TST –

ROAA – 242/2002-000-08-00 – DJ 11.11.2005 – Rel.Min.Carlos Alberto Reis de

Paula).

O direito às horas extras decorrentes do critério de contagem minuto a

minuto (OJs 23 e 326 da SBDI-1 do TST) é conseqüência de construção

jurisprudencial e, embora recentemente transformado em dispositivo consolidado

(art. 58, § 1º), não se insere dentre os direitos trabalhistas irrenunciáveis, de modo

que não há óbice para que o referido direito seja objeto de negociação coletiva.

Com efeito, a previsão em norma coletiva, no sentido de desconsiderar os quinze

minutos que antecedem e sucedem a jornada laboral, constitui hipótese típica de

prevalência do negociado sobre o legislado, em flexibilização autorizada pela

própria Constituição Federal. Isso porque a possibilidade de inserir período de

tolerância para a marcação dos cartões de ponto encontra respaldo no princípio

da razoabilidade e nas hipóteses de flexibilização autorizadas pela Constituição

Federal, pois, se a Carta Magna admite a redução dos dois principais direitos

trabalhistas, que são o salário ( CF , art. 7º, VI) e a jornada de trabalho ( CF,

art.7º, XIII e XIV), todos aqueles que deles decorrem também são passíveis de

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37 flexibilização. Nesse contexto, a decisão recorrida, ao desconsiderar a norma

coletiva em comento, vulnerou o disposto no art. 7º, XXVI, da Constituição

Federal , que determina o reconhecimento das convenções e acordos coletivos de

trabalho, razão pela qual deve ser reformada para que seja aplicada a norma que

instituiu a cláusula de tolerância de quinze minutos no tempo que antecede e

sucede a jornada de trabalho" (TST-RR-126.174/2004-900-04-00.1. Rel. Min. Ives

Gandra Martins Filho, 4ª Turma, "in" DJ de 11/02/05).

Embora já pacificado no TST o entendimento de que é válida a jornada

especial de 12X36 horas, quando prevista em acordo ou convenção coletiva de

trabalho, consoante art. 7º XXVI, da CF, a Corte explanou que não se pode

reputar como lícito o ajuste que suprime ou prevê a não-concessão de intervalo

para repouso e alimentação. Sem prejuízo do instrumento negocial, prevalecem

os dispositivos das Seções III e IV do Capítulo II do Título II da CLT , em que se

inserem os artigos 71, §2º e 73 da CLT e cuidam dos períodos de descanso e da

hora noturna reduzida, preceitos esses de ordem pública e, portanto, de natureza

cogente, que visam resguardar a saúde e a integridade física do trabalhador, no

ambiente do trabalho. E, como normas de ordem pública, estão excluídas da

disponibilidade das partes, que sobre elas não podem transigir. À luz dos

princípios que regem a hierarquia das fontes de Direito do Trabalho, as normas

coletivas, salvo os casos constitucionalmente previstos, não podem dispor de

forma contrária às garantias mínimas de proteção ao trabalhador previstas na

legislação, que funcionam como um elemento limitador da autonomia da vontade

das partes no âmbito da negociação coletiva. A negociação coletiva encontra

limites nos direitos indisponíveis do trabalhador, assegurados na Carta Magna, e,

assim, a higidez física e mental do empregado, ou seja, a preservação da saúde

no local de trabalho, é princípio constitucional que se impõe sobre a negociação

coletiva. Recurso de revista provido" (TST-RR-785.721/2001.1, Rel. Min. Milton de

Moura França, 4ª Turma, "in" DJ de 25/06/04). Acordo de compensação. Regime

de 12x36. Horas extras além da 10ª diária. O empregado submetido ao regime de

compensação de 12 por 36 horas previsto em acordo ou convenção coletiva faz

jus ao pagamento do adicional por trabalho extraordinário sobre as horas

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38 trabalhadas além da 10ª diária (TST-E-RR-666.554/2000.1, Red. Designado Min.

João Oreste Dalazen, SBDI-1, julgado em 27/03/06).

O TST em Dissídio Coletivo que versava sobre estabilidade da

gestante decidiu que por se tratar de norma cogente e de caráter

eminentemente social, que visa à proteção da maternidade e do nascituro, não há

como se concluir pela validade de transação que reduza a mencionada garantia.

Normas relacionadas à proteção da maternidade (e do nascituro), estão fora da

esfera negocial dos sindicatos, por serem de ordem pública, inderrogáveis pela

vontade das partes e revestirem-se de caráter imperativo para a proteção do

hipossuficiente, em oposição ao princípio da autonomia. Recurso Ordinário

conhecido e provido" (TST-RODC-796.714/01, Rel. Min. Rider Nogueira de Brito,

SDC, "in" DJ de 07/06/02).

A seguir seguem Súmulas do TST pertinentes a matéria:

SUM-85 COMPENSAÇÃO DE JORNADA (incorporadas as

Orientações Juris-prudenciais nºs 182, 220 e 223 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ

20, 22 e 25.04.2005

I.A compensação de jornada de trabalho deve ser ajustada por acordo

individual escrito, acordo coletivo ou convenção coletiva. (ex-Súmula nº 85 -

primeira parte - alterada pela Res. 121/2003, DJ 21.11.2003) Súmulas A-25

II.II. O acordo individual para compensação de horas é válido, salvo se

houver norma coletiva em sentido contrário. (ex-OJ nº 182 da SBDI-1 - inserida

em 08.11.2000)

III. O mero não-atendimento das exigências legais para a

compensação de jorna-da, inclusive quando encetada mediante acordo tácito, não

implica a repetição do pagamento das horas excedentes à jornada normal diária,

se não dilatada a jorna-da máxima semanal, sendo devido apenas o respectivo

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39 adicional. (ex-Súmula nº 85 - segunda parte - alterada pela Res. 121/2003, DJ

21.11.2003)

IV. A prestação de horas extras habituais descaracteriza o acordo de

compensa-ção de jornada. Nesta hipótese, as horas que ultrapassarem a jornada

semanal normal deverão ser pagas como horas extraordinárias e, quanto àquelas

destina-das à compensação, deverá ser pago a mais apenas o adicional por

trabalho extraordinário. (ex-OJ nº 220 da SBDI-1 - inserida em 20.06.2001)

Histórico: Súmula alterada - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003

SUM-190 PODER NORMATIVO DO TST. CONDIÇÕES DE

TRABALHO. IN-CONSTITUCIONALIDADE. DECISÕES CONTRÁRIAS AO STF

(mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003

Ao julgar ou homologar ação coletiva ou acordo nela havido, o Tribunal

Superior do Trabalho exerce o poder normativo constitucional, não podendo criar

ou homologar condições de trabalho que o Supremo Tribunal Federal julgue

iterativamente inconstitucionais.

SUM-241 SALÁRIO-UTILIDADE. ALIMENTAÇÃO (mantida) - Res.

121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003

O vale para refeição, fornecido por força do contrato de trabalho, tem

caráter salarial, integrando a remuneração do empregado, para todos os efeitos

legais.

Histórico: Redação original - Res. 15/1985, DJ 05, 06 e 09.12.1985

SUM-277 SENTENÇA NORMATIVA. CONVENÇÃO OU ACORDO

COLETI-VOS. VIGÊNCIA. REPERCUSSÃO NOS CONTRATOS DE TRABALHO

(redação alterada na sessão do Tribunal Pleno em 16.11.2009) - Res. 161/2009,

DJe divulgado em 23, 24 e 25.11.2009

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40 I - As condições de trabalho alcançadas por força de sentença

normativa, convenção ou acordos coletivos vigoram no prazo assinado, não

integrando, de forma definitiva, os contratos individuais de trabalho.

II – Ressalva-se da regra enunciada no item I o período compreendido

entre 23.12.1992 e 28.07.1995, em que vigorou a Lei nº 8.542, revogada pela

Medida Provisória nº 1.709, convertida na Lei nº 10.192, de 14.02.2001

SUM-331 CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS.

LEGALIDADE (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003

I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o

vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho

temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974).

II - A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa

interposta, não gera vínculo de emprego com os órgãos da administração pública

direta, indireta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988).

III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de

vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a

de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que

inexistente a pessoalidade e a subordinação direta.

IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do

empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços,

quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos órgãos da administração direta,

das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades

de economia mista, desde que hajam participado da relação processual e

constem também do título executivo judicial (art. 71 da Lei nº 8.666, de

21.06.1993).

Histórico: Súmula alterada (Inciso IV) - Res. 96/2000, DJ 18, 19 e

20.09.2000

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41 Redação original (revisão da Súmula nº 256) - Res. 23/1993, DJ 21, 28.12.1993 e

04.01.199 Nº331 (f)

II - A contratação irregular de trabalhador, através de empresa

interposta, não gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração Pública

Direta, Indireta ou Fundacional (art. 37, II, da Constituição da República).

(...)

IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do

empregador, implica na responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços,

quanto àquelas obrigações, desde que hajam participado da relação processual e

constem também do título executivo judicial.

SUM-349 ACORDO DE COMPENSAÇÃO DE HORÁRIO EM

ATIVIDADE IN-SALUBRE, CELEBRADO POR ACORDO COLETIVO. VALIDADE

(mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003

A validade de acordo coletivo ou convenção coletiva de compensação

de jornada de trabalho em atividade insalubre prescinde da inspeção prévia da

autoridade competente em matéria de higiene do trabalho (art. 7º, XIII, da

CF/1988; art. 60 da CLT).

Histórico: Redação original - Res. 60/1996, DJ 08, 09 e 10.07.1996

SUM-374 NORMA COLETIVA. CATEGORIA DIFERENCIADA.

ABRANGÊNCIA (conversão da Orientação Jurisprudencial nº 55 da SBDI-1) -

Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005

Empregado integrante de categoria profissional diferenciada não tem o

direito de haver de seu empregador vantagens previstas em instrumento coletivo

no qual a empresa não foi representada por órgão de classe de sua categoria.

(ex-OJ nº 55 da SBDI-1 - inserida em 25.11.1996)

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42 SUM- 423 TURNO ININTERRUPTO DE REVEZAMENTO. FIXAÇÃO

DE JOR-NADA DE TRABALHO MEDIANTE NEGOCIAÇÃO COLETIVA. VA-

LIDADE. (conversão da Orientação Jurisprudencial nº 169 da SBDI-1) Res.

139/2006 – DJ 10, 11 e 13.10.2006

Estabelecida jornada superior a seis horas e limitada a oito horas por

meio de regular negociação coletiva, os empregados submetidos a turnos

ininterruptos de revezamento não tem direito ao pagamento da 7ª e 8ª horas

como extras.

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43 CONCLUSÃO

Verifica-se na monografia que há alguns preconceitos acerca da

flexibilização das leis trabalhistas e da negociação coletiva. Entender que a

convenção e o acordo coletivo de trabalho somente podem acrescentar direitos,

nunca reduzi-los é ignorar o fato de que a negociação coletiva é um processo

dialético, onde as partes fazem concessões reciprocas para chegar num

consenso.

Desta forma, a redução de um determinado direito pode e deve ser

compensada com a concessão de outro que trará benefícios a toda a categoria,

partindo evidentemente do pressuposto de que o processo negocial tenha sido

conduzido com legitimidade, representatividade, boa fé e razoabilidade, de sorte a

ser amparado pelo artigo 7º, incisos VI, XIV e XXVI da Constituição Federal.

Esta pesquisa notou que as entidades sindicais patronais estão mais

atuantes nas negociações coletivas, partindo de uma postura de defensiva para

pró-ativa, visando melhor relação com os associados, aumentando a eficiência de

suas convenções, formulando pautas patronais, conseguindo inserir nos

instrumentos coletivos cláusulas que flexibilizam a legislação trabalhista em troca

de outros benefícios com encargos sociais mais reduzidos.

Neste contexto, verifica-se que têm havido uma sensível redução do

número de dissídios coletivos nos tribunais, o que demonstra uma maior

maturidade do relacionamento intersindical.

A negociação coletiva é o modo mais eficaz de solução, pois as

partes, de comum acordo, estabelecem as regras que melhor atendam às suas

necessidades.

Quanto aos limites da negociação coletiva, a própria lei deve traçar um

núcleo mínimo de direitos individuais que não poderão ser objeto de negociação e

nem de renúncia por parte dos trabalhadores ou sindicatos, para que as entidades

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44 sindicais possam ter maior liberdade de estabelecer as normas que irão reger os

contratos de trabalho.

Diante da morosidade do legislador em adequar a legislação trabalhista

à realidade atual, a negociação coletiva têm sido importante mecanismo de

prevenção de conflitos, além de propiciar que os empregados/empregadores

estabeleçam diretamente as normas e condições de trabalho específicas para as

suas categorias.

A flexibilização das normas trabalhistas não é só uma tendência, mas

uma perspectiva de escala mundial. Os reflexos dos mecanismos flexibilizadores

sobre os princípios do Direito do Trabalho, especialmente no princípio protetor, já

é um fato. Com efeito, o que se faz necessário, é a utilização da flexibilização de

normas jurídicas assistida por entes coletivos devidamente estruturados,

mediante o pleno incentivo à autonomia privada coletiva, desde que observados,

por óbvio, os padrões mínimos de proteção.

O Direito do Trabalho reclama por reformas profundas, como meio de

remoção dos entraves, propiciando a sua vocação maior, que é a

instrumentalidade das formas; a flexibilização do caráter protecionista excessivo

em relação ao trabalhador; e a promoção de uma maior celeridade e justiça

social, desobstruindo, inclusive, as varas trabalhistas, além de procurar minimizar

e suprir as deficiências do sistema, adequando-o à realidade.

Finalizando, este trabalho concluiu que é positiva a realização de

acordos e convenções coletivas de trabalho, mas dentro da lei, da flexibilização e

da ética, obedecendo a todos os princípios inerentes às negociações trabalhistas,

mormente os da dignidade humana, esculpidos na CF, da proteção ao

hipossuficiente, mas de acordo com as atuais necessidades do empregador.

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45 BIBLIOGRAFIA

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DELGADO, Maurício Godinho. Curso do Direito do Trabalho. 6ª ed. São Paulo:

LTr, 2007.

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SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito constitucional do trabalho. Rio de Janeiro: Renovar,

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SÜSSEKIND, Arnaldo e outros. Instituições de Direito do Trabalho. 19ª ed. São

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BRASIL, Decreto-Lei nº 22.132/1932, Dispõe sobre a criação das Juntas de

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BRASIL, Decreto-Lei nº 21.690/1932, Dispõe sobre as Convenções Coletivas de

Trabalho.

BRASIL, Lei nº 5.107 de 1966, Dispõe sobre a Criação do Fundo de Garantia por

Tempo de Serviço.

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46 BRASIL, Lei nº 6.019 de 1974, Dispõe sobre o trabalho temporário.

BRASIL, Lei nº 6.464 de 1977, Dispõe sobre contrato de estágio.

BRASIL, Lei nº 4.923 de 1982, institui o cadastro permanente de admissões e

demissões de empregados, estabelece medidas contra o desemprego e dá outras

providências.

BRASIL, Lei nº 9841 de 199, Dispõe sobre regime previdenciário e trabalhista

das microempresas

BRASIL, Lei nº 10.101 de 2000, Dispõe sobre participação dos trabalhadores

nos lucros ou resultados da empresa e dá outras providências.

BRASIL, Lei nº 9.958 de 2000, Dispõe sobre a Comissão de Conciliação Prévia

BRASIL, Lei nº 10.243 de 2001, que acrescentou parágrafos ao artigo 58 e deu

nova redação ao art. 458 da CLT, estabelecendo os benefícios que não integram

o salário e cria o regime de tempo.

BRASIL, Medida Provisória nº 2.164-41, de 2001, Dispõe sobre regime de

trabalho de tempo parcial.