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2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA CONTEÚDO E APLICABILIDADE DE DISCIPLINAS SOBRE HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA INSERIDAS NO CURRÍCULO DE GRADUAÇÃO DO CURSO DE PEDAGOGIA. Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Docência do Ensino Superior. Por: Luciana Ribeiro de Oliveira DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

CONTEÚDO E APLICABILIDADE DE DISCIPLINAS SOBRE HISTÓRIA E

CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA INSERIDAS NO CURRÍCULO DE

GRADUAÇÃO DO CURSO DE PEDAGOGIA.

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Docência do Ensino Superior.

Por: Luciana Ribeiro de Oliveira

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO A

UTORAL

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

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EITO AUTORAL

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AGRADECIMENTOS

a minha filha, companheira de todas

as horas, ao meu marido que esteve sempre

ao meu lado e aos meus professores que me

ajudaram nessa caminhada.

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a todos os

professores e educadores que trabalham para

que uma educação antiracista, baseada na

diversidade e multiculturalidade, seja enfim,

uma realidade dentro de sala de aula

colaborando para que a identidade negra seja

valorizada e reconhecida como formadora do

berço civilizatório desse país.

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RESUMO

O trabalho a seguir trará uma análise sobre as disciplinas que ensinam a

história da cultura afro-brasileira e africana na formação inicial de professores que

estão hoje inseridas na grade curricular do curso superior de pedagogia em uma

universidade privada de ensino e se elas são suficientes para buscar dar conta das

diversidades e complexidades étnicas que aparecem em sala de aula. A inclusão ou

não de apenas uma disciplina que ensina a história da cultura africana e afro

brasileira na grade curricular dos cursos de graduação em pedagogia não são

suficientes para que o futuro profissional de educação consiga incluir em sua

disciplina ou no Projeto Político Pedagógico da escola a história da África, dos

negros brasileiros e do seu protagonismo no processo civilizatório desse país. Neste

contexto reconhecer a importância da formação do professor / pedagogo nessa

temática é necessário para que esses futuros profissionais da educação possam

contribuir para a valorização e reconhecimento da identidade negra dentro da escola

sendo necessário que para isso, tenham uma formação ampla na temática prevista

na grade curricular do curso de graduação. Apesar de já existir há doze anos uma lei

federal que institui o ensino obrigatório na educação básica do ensino da história e

cultura africana e afro brasileira em sala de aula a sua implementação ainda é frágil

na rede de ensino e parte desta fragilidade encontra-se na formação inicial de

professores sobre o tema. Assim, cabe ao leitor com base nas abordagens

apresentadas nesta monografia, refletir sobre a importância da participação de toda a

sociedade na luta contra o racismo reconhecendo a educação como peça

fundamental para essa construção.

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METODOLOGIA

Para realizar o projeto foram analisados, livros, artigos e trabalhos científicos

de autores e pesquisadores sobre o assunto em conjunto como depoimento de uma

ex aluno do curso de graduação de pedagogia da Universidade Estácio de Sá como

o objetivo de analisar a inclusão de uma ou mais disciplinas que ensinem sobre o

ensino da história e cultura africana e afro brasileira na grade curricular do curso

superior de pedagogia.

Como método de pesquisa, entrevista com uma aluna já graduada em

pedagogia e que exerce a função de educadora foi realizada no período

compreendido entre final de Janeiro e Fevereiro de 2015, o que possibilitou uma

reflexão de como a falta de uma disciplina que trate das questões de educação

étnico racial na formação inicial de professores é importante para atuação do mesmo

em sala de aula.

Somando isso foram consultados também livros e artigos científicos de

autores consagrados e especialistas nos temas identidade negra, racismo, raça,

movimento negro, história do negro no Brasil, desigualdades raciais relacionadas à

educação, relações raciais e escolaridade e currículo de professores.

A proposta desta monografia é apresentar como este trabalho pode

contribuir para a discussão da importância de inclusão de mais de uma disciplina que

ensina a história da cultura africana e afro brasileira no contexto de um curso

superior de licenciatura em pedagogia para que professores possam dar conta de

suas práticas pedagógicas em sala de aula, conforme demanda a Lei 10639/03.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - Histórias e conceitos sobre racismo no Brasil 10

CAPÍTULO II - A educação como direito 38

CAPÍTULO III - Currículo e formação de professores 47

CONCLUSÃO 57

BIBLIOGRAFIA 58

ANEXOS

ÍNDICE 61

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INTRODUÇÃO

Numa sociedade onde o mito da democracia racial ainda é tido como uma

verdade mas que claramente não se sustenta como ideal imaginário a ser seguido

uma vez que o racismo ainda está presente e aparece diariamente nas diversas

esferas sociais, tais como: educação, política, cultural e antropológica, se faz urgente

que o estudo das relações étnico raciais seja efetivamente trabalhado em sala de

aula, conforme prevê a Lei 10639, que torna obrigatório o ensino da História e

Cultura Africana e afrobrasileira em escolas de ensino fundamental e médio. Neste

contexto reconhecer a importância da formação do professor / pedagogo nessa

temática é necessário para que esses futuros profissionais da educação possam

contribuir para a valorização e reconhecimento da identidade negra dentro da escola.

Neste sentido, esse estudo pretende mostrar se as disciplinas estudadas no curso de

graduação de pedagogia podem dar conta de formarem professores / pedagogos

nesse conteúdo. Não é objetivo deste trabalho mostrar a fragilidade ou não da grade

curricular do curso de graduação proposto mas sim a qualidade e aplicabilidade de

uma ou mais disciplinas inseridas nesse contexto.

Será que as disciplinas que ensinam a história da cultura afro-brasileira e

africana que estão hoje inseridas na grade curricular do curso superior de pedagogia

em uma Universidade privada de ensino são suficientes para buscar dar conta das

diversidades e complexidades étnicas que aparecem em sala de aula? Essa é

justamente a hipótese a ser apresentada nesse trabalho de que diante das

desigualdades raciais e de escolaridade que atualmente se faz presente nesse país,

construir uma grade curricular multidisciplinar com disciplinas que tratem do ensino

da história e da cultura afrobrasileira na formação inicial de professores assim como

ações pedagógicas que despertem o interesse e motivação nesses profissionais seja

efetivamente consolidado como um dos parâmetros educacionais.

O primeiro capítulo tratará sobre a história dos negros no Brasil desde a

diáspora até a abolição da escravidão no país abordando conceitos com o raça e

racismo considerados por autores sobre o assunto, fundamentais para o

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embasamento da pesquisa e importante para o leitor sobre o entendimento do

protagonismo do negro na construção desse país. Tendo como base o conceito de

autores como Kabenguele Munanga, Antonio Sergio Guimarães, Amilcar Araújo

Pereira, Petrônio Domingues, entre outros especialistas sobre o assunto, percebe-se

o quanto a história e cultura dos negros foi invisibilizada pela sociedade em todas as

suas esferas durante séculos de existência. Um breve histórico da atuação e

importância do movimento negro para o fortalecimento da população negra e para a

construção de uma sociedade anti racista, serão discutidos também neste capítulo

tendo como base de pesquisa os vários artigos, livros e dissertações sobre o assunto.

No segundo capítulo deste trabalho apresentar-se-á dados sobre

desigualdades raciais e escolaridade assim como a importância da implementação

da lei 10639/03 no ambiente escolar uma vez que entende-se a formação da escola

baseada nos valores sociais representados pela sociedade. Esses conceitos foram

essenciais para que o leitor possa perceber o quanto a escola precisa ser mais

dialógica e mais próxima da realidade social e racial brasileira. Para isso foram

estudados diversos artigos científicos sobre o assunto, além de autores como

Marcelo Paixão que aborda de maneira didática através de dados numéricos a

condição desigual na qual encontra-se a população negra brasileira num estudo

preciso realizado durante dez anos.

No terceiro e último capítulo desta monografia será apresentada a

importância do currículo na formação inicial de professores além de uma entrevista

pontual com uma ex aluna do curso superior de pedagogia da Universidade Estácio

de Sá que trouxe para este trabalho importantes contribuições sobre a inclusão de

uma disciplina destinada ao ensino da história e cultura africana e afrobrasileira na

grade curricular do curso superior de pedagogia e nas licenciaturas.

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CAPÍTULO I

HISTÓRIAS E CONCEITOS SOBRE O RACISMO NO BRASIL

Este primeiro capítulo é uma analise histórica da diáspora africana,

da relação da mão de obra escrava com a economia brasileira e do

impacto da escravidão no Brasil e nas relações de desigualdades raciais

que vivenciamos atualmente. Entende-se que essas contextualizações

são necessárias para que possamos discutir a importância da inclusão

obrigatória na grade curricular de nível superior de um número significativo

de disciplinas que trate das questões de educação étnicas raciais e

historia da Cultura africana e afrobrasileira na formação inicial de

professores, que futuramente, por conta da lei 10639/03, terão que lidar

pedagogicamente com as exigências da temática relacionada ao ensino

étnico racial em sala de aula. Neste sentido, faz-se necessário

compreender como se deu o processo da diáspora africana para o Brasil,

a escravidão subsequente ao tráfico negreiro e as consequências da

abolição da escravatura. Para isso, foram pesquisados alguns dos autores

mais significativos que estudam essa temática, como Kabenguele

Munanga, Antônio Sergio Guimarães, Carlos Moore entre outros. Busca-

se através de pesquisa bibliográfica contextualizar e refletir sobre o mito

da democracia racial e as consequencias ideológicas sobre conceitos os

conceito de raça e racismo e seus impactos no ideário social acerca da

imagem do negro no Brasil, assim como mostrar a importância da

identidade na formação do individuo enquanto sujeito de direito. Por fim,

fez se necessário apresentar um breve histórico do movimento negro no

Brasil em suas varias formas de atuação e sua importância para

mudanças políticas e sociais significativas para a população negra.

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1.1. Da diáspora a escravidão no Brasil

Estima-se que foram trazidos para o Brasil mais ou menos dez

milhões de africanos (GALEANO, 1981) escravizados entre 1550 e 1870

oriundos de países como Angola, Congo, Gana, Togo, Nigéria,

Moçambique, Zaire e Luanda, em um dos processos que permitiu que por

mais de quatro séculos em nome de uma doutrina da supremacia

branca,milhões de seres humanos de pele negra tenham sido mortos,

assassinados, sequestrados, brutalizados e animalizados em diversos

cantos do mundo. Segundo Caio Prado Junior apud Galeano “até o

princípio do século XIX haviam chegado ao Brasil entre cinco e seis

milhões de africanos"

Esses milhões de negros escravizados foram sequestrados de seus

países para serem vendidos pelos continentes asiático, americano e

europeu como "coisas" e animais sem direito a nenhum vestígio de

humanidade, uma vez que nesse processo, famílias, tradições, religiões e

culturas foram retiradas desses homens, mulheres e crianças com o claro

intuito de esvaziar suas forças deixando-os sem qualquer indicio de

civilização que neles existiam. Essa história eurocêntrica de negros

escravos sem cultura e civilização é a historia de uma África e de seus

descendentes sem pátria, nação e identidade que as universidades e

escolas insistem em ensinar.

Aqui, os negros quando chegavam eram tratados como objetos nas

mãos dos brancos europeus colonizadores, "os escravos se chamavam

"peças da índia" quando eram medidos pesados e embarcados em

Luanda; os que sobreviviam à travessia do oceano se convertiam já no

Brasil, em mãos e pés do amo branco". Essa descrição de Galeano retrata

um país altamente escravocrata, principalmente na época do ciclo do ouro

e que segundo o autor determinou um momento do qual o país era

sedento e dependia única e exclusivamente da mão de obra escrava. A

esse processo histórico de disseminação mundial escravizada dos negros

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oriundos do continente africano, os historiadores chamam de diáspora,

que segundo Munanga significa:

A palavra diáspora foi originalmente utilizada para designar o estabelecimento de judeus fora de sua pátria, a qual se achava vinculados por laços históricos, culturais e religiosos. Este conceito também è usado por extensão, para designar os negros de origem africana deportados para outros continentes e seus descendentes - os filhos de escravos da América. (MUNANGA, 1999, p.82)

Nesta perspectiva, tratar a África como um lugar homogêneo e

monocultural não faz sentido uma vez que vários foram os grupos étnicos

espalhados forçadamente pelo mundo contribuindo para a construção do

processo civilizatório da humanidade. Munanga classifica a diáspora

africana em três momentos históricos: o primeiro chamado de África

"berço da humanidade", que caracteriza a saída voluntaria de africanos

para os demais continentes com o objetivo de povoar lugares, o segundo

seria o resultante do trafico negreiro que transportou em condições

insalubres e desumanas milhões de africanos para os continentes asiático,

americano e para Europa:

E nessa segunda diáspora os africanos não saíram voluntariamente, foram sequestrados, amarrados, transportados e deportados, não podemos considerá-los como imigrantes porque eles não sabiam nem por aonde iam, nem para onde estavam sendo levados, nem por que motivo. Foi por meio dessa grande diáspora que as Américas se desenvolveram que a Europa se desenvolveu, com a mão de obra africana, num mundo em que a tecnologia estava no ponto em que estamos hoje, onde a produção e o desenvolvimento precisam do trabalho humano. (MUNANGA, SALTO PRO FUTURO)

A terceira diáspora segundo o antropólogo aconteceu recentemente,

antes das independências africanas, momento em que os africanos se

viram obrigados a saírem de seu continente por conta das condições

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precárias que os colonizadores deixaram seus países, rodeados de

guerras, fome, exploração de recursos humanos, etc.

Neste sentido compreender que os negros africanos fizeram parte

do processo civilizatório da humanidade é fundamental para discutirmos a

influencia da etnia em cada canto do mundo. No caso do Brasil que hoje é

considerado o segundo país mais negro do mundo ficando atrás apenas

da África, a contribuição negra teve seu marco zero quando milhões de

africanos aportaram nas lavouras de cana de açúcar, nos engenhos de

café, nas casas grandes, nas cozinhas, nas senzalas e no chão deste país,

trazendo seus conhecimentos adquiridos sobre agricultura, marcenaria,

ferraria entre outros. Desembarcavam aqui aos milhares após uma viagem

que chegava a durar ate três meses dentro de porões imundos, fétidos

dos navios negreiros que traficaram durante séculos carne humana negra,

que alimentava o sistema econômico mundial. Muitos morriam no caminho,

vitimas de epidemias e doenças de todos os tipos outros, não resistiam à

fome e sede e alguns, por saudade da família e desespero de se verem

naquele lugar suicidavam-se com as correntes que os prendiam. A tática

em separar familiares, povos e civilizações fazia parte da estratégia dos

traficantes / colonizadores que temiam uma revolução negra entre os

escravizados que integravam a maior parte da população na época.

Durante séculos o medo das rebeliões que poderiam surgir nas senzalas

das fazendas de café e açúcar tendia a consolidar o sentimento racial, ou

seja, quanto mais medo os brancos colonizadores sentiam dos escravos,

mais força e crueldade eles utilizavam. Alguns registros históricos de

donos de escravos comprovavam esse medo e muitos diziam serem os

negros "inimigos naturais dos seus senhores e que deveriam sempre ser

contidos pela força e violência" (laurentino Gomes, 250). A razão para esse

temor além do numero de negros ultrapassarem a de brancos na

sociedade, foi em parte causada pela rebelião ocorrida em 1754 no Haiti e

a Revolta dos alfaiates em 1798 em Salvador. Ambos os acontecimentos

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tiravam o sono e inquietavam a classe social rica do país ocasionando, por

conseguinte atrocidades no trato com os negros.

Os que conseguiam completar a cruel travessia chegavam aos

farrapos em pele e osso e destroçados pela separação de suas famílias e

países de origem e aqui eram vendidos como animais aos brancos

colonizadores que dominavam a sociedade na época e enriqueciam com a

venda de carne humana viva:

A ressurreição da escravatura greco-romana no novo mundo teve propriedades milagrosas: multiplicou as naves, as fabricas as ferrovias e os bancos de países que não estavam na origem e nem, com exceção dos Estados Unidos, no destino dos escravos que cruzavam o atlântico. Entre os albores do século XVI e a agonia do século XIX, vários milhões de africanos não se sabem quantos atravessaram o oceano. (Galeano, 56.)

Ser negro no Brasil na época da escravidão, portanto, significava

pertencer à classe mais inferior e renegada da sociedade uma vez que o

negro era apenas o servil do amo branco e estavam socialmente mortos.

Guimarães (artigo racismo e antirracismo no Brasil, pagina 35) nos mostra que no

século XIX a condição de pobreza e inferioridade dos negros escravizados

era uma relação legitima e permitida na sociedade por conta da

exterminação da cultura negra e na vilipendiação dos direitos políticos e

sociais dos quais eram excluídos a totalidade desses negros que aqui

viviam, "a condição de pobreza dos pretos e mestiços, assim como

anteriormente a condição servil dos escravos, era tomada como marca de

inferioridade". A economia brasileira conforme nos mostram importantes

apontamentos históricos dependia da mão de obra escrava e do trafico

negreiro que enriquecia muitos dos portugueses que acumulavam as

funções de fazendeiros, comerciantes e traficantes de negros

escravizados demonstrando o quanto a elite brasileira era prisioneira

dessa lógica de desigualdades (Galeano, artigo pagina 35). A economia brasileira

era tão dependente da mão de obra escrava que mesmo apos a

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assinatura com a Inglaterra em 1826 de um documento do qual o Brasil

dava garantias para o fim do trafico negreiro e escravidão no país ate

1830 o trafico de escravos prosseguiu sem maiores alterações, como nos

mostra Laurentino Gomes, "entre 1830 a 1839 entrariam no Brasil mais de

400 mil negros africanos. O motivo foi o crescimento das lavouras de café.

As novas fazendas precisavam de braços e o trafico era a solução."

(Laurentino Gomes, 1822, pág. 257).

Apesar da mão de obra escrava ser essencial para a economia

brasileira como vimos anteriormente, existia no Brasil uma classe da

sociedade, chamada de abolicionistas, composta por alguns políticos

influentes no governo, como Jose Bonifácio, além de outros intelectuais,

que a luz de países mais desenvolvidos como França e Inglaterra pensava

a escravidão e o tráfico negreiro como sendo um horror para o futuro da

nação. Segundo Gomes, Jose Bonifácio, assim como a maioria dos

abolicionistas, achavam que o Brasil não estava preparado para um

regime como a republica por conta da maioria de escravos analfabetos e

miseráveis que pertenciam à sociedade brasileira. Bonifácio, um

abolicionista convicto, assegurava que já era tempo do Brasil acabar com

a escravidão no país para que as gerações vindouras pudessem se formar

em uma nação harmoniosa. Mas acabar com a escravidão nos país não

seria fácil uma vez que por mais de 300 anos o trafico humano e a mão de

obra escrava era à base da economia vigente onde o lucro estava nas

mãos dos negros que trabalhavam horas a fio durante o dia em troca às

vezes de um prato de comida. Dialogando ainda com Gomes sobre as

ideias abolicionistas de Jose Bonifácio, vale a pena destacar a

preocupação dele com a pós-libertação dos escravos. Para ele não

bastava liberta-los somente, era preciso incorporá-los a sociedade dando-

lhes todos os direitos civis que lhes foram arrancados, "como poderá

haver uma constituição liberal e duradoura num país continuamente

habitado por uma multidão imensa de escravos brutos e inimigos?”,

perguntava-se Bonifácio. (Gomes, 152 e 153).

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Assim, viciada no trafico negreiro e sem saber andar sem os

pés e mãos escravizadas em suas fazendas de açúcar e café, a

sociedade brasileira aumentava cada vez mais a população negra no país.

Para se ter uma ideia da dimensão da população negra brasileira no Brasil,

no ano de 1822, segundo o historiador Laurentino Gomes (1822, pág.

73),foram registrados mais de dois milhões de escravos entre negros,

mestiços, pardos e caboclos, "resultado de três séculos de miscigenação

racial entre portugueses, negros e índios livres" e, apesar do próprio

imperador declarar-se abolicionista o fim da escravidão e do trafico

negreiro ainda estavam longe de serem alcançados. A mistura de raças

àquela época já era uma realidade na sociedade brasileira deixando

muitos destes intelectuais preocupados com o futuro da nação que estava

sendo formada com base na miscigenação entre três raças, sendo uma

delas considerada a mais inferior: a raça negra. Muitos dos viajantes

europeus que em sua maioria era composta por cientistas e escritores que

vinham ao Brasil estudar e conhecer um pouco mais dessa nação “nova”

que crescia misturada etnicamente, não viam com bons olhos a presença

do sangue negro na maioria da população e previa como consequência

dessa mistura um atraso na formação da nação brasileira. Assim, temendo

que o país fosse formado com sangue negro e tendo como base teorias

como evolucionismo social, darwinismo social ou teoria das raças, entre

outras, clarear o país com sangue branco europeu começou a tomar forma

como projeto social sendo fortemente incentivado pelas classes

dominantes no final do século XIX.

A ideologia do embranquecimento que previa a mistura do mulato

com o branco com o claro objetivo de tentar melhorar o aspecto da pele

negra que tomava conta da sociedade brasileira na época colonial, assim

como todas as consequências nas relações raciais existentes até hoje no

Brasil, mais conhecido entre os historiadores como o mito da democracia

racial, é o assunto do próximo tópico.

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1.2 - Mito da democracia racial

A preocupação com o grande número de negros no país, alguns

livres, mas em sua maioria escravizados, era assunto de varias reuniões

politicas entre governo e intelectuais brasileiros de onde saiam projetos

pensados para repensar o lugar do negro fora da sociedade brasileira,

afastar os mestiços do convívio social e embranquecer cada vez mais a

população brasileira. Um desses projetos idealizados para levar o país a

condição de uma nação civilizada foi o incentivo do governo a imigração

europeia no Brasil, que tinha o claro objetivo de branquear a população

que se mostrava cada vez mais enegrecida:

Uma novidade tinha sido a chegada dos suíços a Nova Friburgo na serra fluminense, em 1818, dando inicio a imigração estrangeira no Brasil. Dos primeiros 2.000 imigrantes, 531 morreram de fome, doenças e maus-tratos - 26,5% do total -, mas a colônia vingou e hoje é um destino turístico bem conhecido. Era parte de um projeto antigo, de "branqueamento" da população, defendido por diferentes ministros e conselheiros da coroa, em Portugal e no Brasil. (1822 pagina 73).

Registros do censo populacional da época mostram que a

quantidade dos imigrantes europeus que entraram no Brasil no final do

século XIX e inicio do século XX em menos de 50 anos foi

proporcionalmente igual à quantidade de negros que foram trazidos em

350 anos de escravidão. Para alguns historiadores isso demonstra

objetivamente a intenção das classes dominantes em clarear a população

brasileira uma vez que a vinda desses imigrantes foi incentivada e

subsidiada com dinheiro brasileiro. Domingues nos mostra que no estado

de São Paulo entre 1890 e 1929 entraram no país 1.817.261 imigrantes

brancos reforçando cada vez mais a intenção de branquear a população,

principalmente misturando o mestiço ao europeu.

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Paralelo ao estimulo da imigração europeia a população negra,

abandonada a sua própria sorte após a abolição da escravatura, sem

terras para plantar, emprego, comida e ajuda do governo, definhava no

país morrendo de doenças contagiosas, de fome e sede ocasionando

assim, segundo o autor o crescimento da desigualdade racial no Brasil do

qual a população negra era a maior vítima. A condição servil e de pobreza

dos ex-escravos após a abolição já era considerada para a sociedade

intelectual da época uma marca de inferioridade social relacionada

obviamente à cor da pele.Sem dúvida,a associação do negro a escravidão

foi tão significativa no imaginário social e levada tão a serio que persistem

até hoje nas construções raciais, segundo nos aponta os estudos do

antropólogo Oracy Nogueira (marca e origem, artigo Oracy Nogueira).

Para os abolicionistas o fim da escravidão representava antes de

tudo a imagem de um país preocupado com a evolução social e aberto às

ideias progressistas que vinham de países europeus dominantes. Mas o

que eles não pensaram foi em como se daria e qual seria a consequência

nas relações sociais entre negros escravos, brancos e mestiços num

Brasil "livre" da escravidão. A partir daí todos se deram conta de que os

negros não sumiriam do país como num passe de mágica e que toda a

sociedade branca que antes explorava cruelmente a mão de obra negra

deveria de algum modo arcar com o ônus da escravidão. Assim, "livres"

das correntes que por séculos os amarravam as fazendas e senzalas,

milhares de escravos foram abandonados e jogados fora como objetos

velhos pelas ruas e fazendas da cidade, pelas mãos de seus antigos

donos brancas que enriqueceram à custa do trabalho negro e que agora

só pensavam no lucro e investimento da imigração de colonos europeus.

Antes, as terras que eram semeadas pelas mãos negras passaram a ser

cultivadas por mãos brancas europeias e, ao negro que por séculos havia

sido negado tudo, desde a sua historia, cultura, identidade, civilidade e

educação restava a fome, o descaso e abandono. (Guimaraes, artigo racismo e

antirracismo no Brasil).

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O processo de branqueamento promovido para consolidação da

hegemonia branca teve o propósito de incutir na cabeça do negro

brasileiro que seria necessário uma negação de si mesmo e de sua

origem africana para que no mundo dos brancos - idealizado como

perfeito no imaginário da maioria da população, eles pudessem ao menos

ser aceitos (Domingues, 592). Neste sentido, as tensões geradas nas relações

entre negros e brancos ao longo de séculos provocou na população

branca o complexo de superioridade e na população negra o complexo de

inferioridade onde a construção da identidade negroide assim como os

traços físicos, culturais, religiosos era tratada negativamente tanto pelo

branco quanto pelo negro. Nesta perspectiva a ideologia racial brasileira já

estava praticamente consolidada tendo como base a superioridade da

raça branca onde ser negro significava não ter humanidade e ser branco

significava ser respeitado e ter privilégios sociais considerados padrões a

serem seguidos.

Diante do exposto entende-se que o processo de mistura entre

negros e brancos proporcionava aos mestiços quase brancos a

possibilidade de sofrerem menos preconceitos dos que os que possuíam a

pele mais negra, o que lhes garantia alguns privilégios sociais no tocante

ao tratamento, como nos lembra Guimaraes, “aqueles que apresentavam

graus variados de mestiçagem podem usufruir, de acordo com seu grau

de brancura (tanto cromática quanto cultural, dado que "branco" é um

símbolo de "europeidade"), alguns dos privilégios reservados aos

brancos." Neste sentido, branquear a população foi um projeto pensado

para garantir à superioridade do sangue branco, exterminando de alguma

forma as origens da influencia do negro, considerado impuro e indigno,

proporcionando ao mestiço quase branco a possibilidade de alcançar um

patamar mais civilizado e fazendo com que o Brasil saísse de uma

condição de atraso para uma evolução racial:

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A ideia de "embranquecimento” foi elaborada por um orgulho nacional ferido, assaltado por duvidas e desconfianças a respeito do seu gênio industrial, econômico, e civilizatório. Foi, antes de tudo, uma maneira de racializar os sentimentos de inferioridade racial e cultural instalados pelo racismo cientifico e pelo determinismo geográfico do século XIX (Guimaraes, artigo pagina 38).

A mistura de raças não deixaria o país livre de sua herança negra

ou indígena como pretendiam as classes dominantes.O mestiço, mulato,

caboclo ou, pardo crescia a olhos vistos e não se poderia mais negar a

presença deles na formação da nação brasileira uma vez que os traços

negroides e indígenas eram visíveis na textura dos cabelos crespos ou

muito lisos e pretos, na grossura dos lábios, no tamanho dos narizes etc.

Era o Brasil sendo formando sob a crença da mistura "permitida" das

trêsraças onde esses novos brasileiros muitos deles oriundos dos

casamentos entre colonos europeus e ex-escravos apresentavam uma

formação mais parecida com a educação de classe branca do que a

geração mestiça anterior,além, de nascerem com uma sensação de

pertença nacional mais naturalizada, ocasionando muitas vezes

estranhamento entre os brancos que não estavam acostumados a

conviver tão de perto com esses brasileiros misturados e que agora

estavam mudando sua condição social de lugar. Silvio Romero um

conceituado intelectual brasileiro em 1888, segundo nos lembra Lilian S,

costumava falar que "o Brasil é um povo mestiçado pouco adianta discutir

se isto é um bem ou um mal; é isto e basta", essa frase sem duvida já

representava o fato de que o pais era mestiço e que diante de tais

evidencias não caberia novas discussões, uma vez que a mistura entre

raças foi incentivada pelo governo brasileiro através da imigração europeia

sem que a intenção fosse a de criar outra raça mas sim de apagar a

influencia negra como civilizatória deste pais. Para Romero apud Lilian,

“todo brasileiro é um mestiço, se não no sangue, nas ideias.". Assim,

Romero e outros intelectuais e cientistas brasileiros começavam a

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disseminar a ideia de que "o mestiço era o produto final de uma raça em

formação." (espetáculo das raças pagina 154).

A partir dessas breves contextualizações históricas acerca da

origem da nação brasileira ter sido formada a partir da mistura “consentida”

entre as três raças e que diante disso todo brasileiro teria um sangue

mestiço, a ideia da democracia racial começa a fazer parte do imaginário

coletivo social dos brasileiros que introjetaram erroneamente o mito de

que se a mestiçagem aconteceu de fato e se todos possuem um sangue

negro não haveria o porquê de existir racismo no Brasil.

Alguns historiadores apontam que o mito da democracia racial (rodapé com

explicação sobre o que eh o mito da democracia racial, artigo Guimaraes)apareceu como

expressão e conceito a partir do livro do antropólogo Gilberto Freyre, Casa

grande & senzala, escrito em 1933, onde ele aborda questões sobre a

origem da sociedade brasileira reforçando o mito da harmonia da

miscigenação. No livro, a crença de que a sociedade brasileira resulta da

fusão harmônica das três raças formando a partir daí o cidadão brasileiro

mestiço que já nasce habituado ao clima e a vida do lugar, passa a ser o

“modus operantes” de agir da população brasileira quando o assunto é

invisibilizar o racismo. A mestiçagem para o autor passa a ser tratada não

como uma maneira de clarear os traços negros da população, melhorando

a qualidade racial da nação, como vimos no inicio deste tópico, para

Freyre a miscigenação ao invés de ter cunho racista passa a ser

considerada como constituinte do processo civilizatório onde a

superioridade racial branca não faz sentido uma vez que somos todos

frutos desta mistura. É dele a teoria de que todo brasileiro gosta de contar

que nasceu da mistura das raças, mas sem que fique claro em seu

discurso que enaltecer a miscigenação é sinônimo de invisibilizar toda a

importância do povo negro ou indígena nessa formação civilizatória, uma

vez que a mestiçagem foi fruto da junção do mestiço com o branco e que

ser mestiço é melhor do que ser negro. Assim, naturalizando as relações

entre brancos e mestiços, o autor romantiza e ameniza em sua obra as

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tensões, crueldades e preconceitos raciais que existiam no trato dos

brancos e escravos negros, dando a entender o quanto essas relações

raciais eram harmoniosas e que a partir delas a sociedade brasileira seria

formada sem discriminação e preconceito racial, ou seja, ser brasileiro não

era ser negro, branco ou indígena era ser o mestiço, junção complexa das

três raças. Freyre foi um autor que harmonizou em sua obra a relações

raciais existentes no Brasil e em algumas partes de seu livro nos leva a

crer que a formação inicial do país teve como berço os portugueses que

souberam adaptar-se a terra tropical, ao cheiro das negras e índias,

desconsiderando, portanto a participação do negro na formação dessa

nação, "a singular predisposição do português para a colonização hibrida

e escravocrata dos trópicos, explica-a em grande parte o seu passado

étnico, ou antes, cultural, de povo indefinido entre Europa e África" (Freyre,

1980, pagina cinco).

Neste sentido e mais uma vez o autor nos leva a invisibilizar o

negro enquanto formador dessa sociedade considerando como berço da

nação o branco português e o mestiço brasileiro. Mata e Gomes ao

pesquisarem o livro de Freyre fazem uma análise bastante clara das

considerações do autor e seu entendimento sobre democracia racial

Freyriana:

Retomando mais uma vez o exemplo de indivíduos que se pensam descendentes das três raças formadoras independente de sua biografia racial: este pode prenunciar uma igualdade construída em bases pseudo-democraticas. Esta igualdade na morenidade, com efeito, apenas nos distancia do exercício de percepção da diversidade real entre os indivíduos. Cria-se uma raça morena, também idealizada. Confunde-se miscigenação com democracia. Relações sexuais inter-raciais ganham uma dimensão ideológica que mascara as diferenças sociais (artigo Gilberto Freyre, vera Lúcia e Gomes 2001, paginam 118).

Neste sentido as relações sociais entre brancos, negros e mestiços

não se dava de forma harmônica como a descrita por Freyre uma vez que

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durante séculos a escravidão, o preconceito de cor e classe, em relação

aos negros estava profundamente arraigado na sociedade. Por mais que a

mistura de raças estivesse se naturalizando na sociedade, a imagem

negativa do negro e do que ele representava culturalmente, religiosamente,

socialmente e politicamente já estava idealizada no imaginário brasileiro

formando assim uma identidade nacional negativa da população negra ou

ate mesmo uma não identidade negra.

No próximo tópico faremos uma breve abordagem sobre os

conceitos de raça, identidade e racismo e o impacto do entendimento ou

da falta deles na sociedade.

1.3 - Raça, racismo e identidade.

Para legitimar a superioridade do branco em relação ao negro

durante os séculos de escravidão e os anos que se seguiram apos

abolição dos escravizados no Brasil, diversas teorias raciais apareceram

para justificar a dominação cruel a que eram submetidos os negros

oriundos da África. O conceito de cidadania europeu/colonizador

disseminado durante a colonização, de que os negros não eram

civilizados, que não tinham alma, não tinham país, cultura e muito menos

identidade, fazia com que essas teorias raciais tomassem força numa

sociedade cada vez mais discriminatória e racista demonstrando

claramente a influencia da hegemonia europeia na sociedade brasileira

privilegiando a hierarquização das raças.

As teorias raciais (Lilian S.) apesar de chegarem tardiamente ao Brasil

foram muito bem acolhidas pelos intelectuais da época, divididos segundo

a autora, entre homens da "sciência" e homens das letras, que

frequentavam locais como estabelecimentos de ensino e pesquisa onde

se concentrava a elite pensante e rica brasileira. Neste sentido essas

teorias eram criadas à moda europeia tendo como referencia de

sociedade a superioridade da cor branca como raça dominante, sendo que

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esses modelos europeus nada serviriam para o Brasil. O que se via por

aqui na época era a reprodução de conceitos de teorias raciais europeias

sem o mínimo de adaptação ao modelo de nação brasileira que existia: a

mestiça. Nesta perspectiva o modelo racial da qual a reduzida elite

brasileira impunha como o ideal a ser seguido não levava em

consideração as fragilidades determinantes de um país completamente

miscigenado. Lilian S. nos lembra de uma publicação de Dante Moreira

datada em 1954 sobre essa reprodução, "as teorias raciais aqui

empregadas seriam um reflexo das doutrinas utilizadas pelos ideológicos

do imperialismo, justificando o domínio europeu sobre os demais povos" (o

espetáculo das raças pagina 15). Isso demonstra claramente o ideário europeu e

branco sobre a construção do conceito racial brasileiro que vemos ser

repetido ate hoje nas relações sociais e institucionais, "o que aqui se

consome são modelos evolucionistas e social-darwinistas originalmente

popularizados enquanto justificativas teóricas de praticas imperialistas de

dominação" (Lilian, pág. 30).

Como já mencionamos no tópico anterior a partir do século XVIII

vários europeus, entre escritores e cientistas viajaram ao Brasil a fim de

estudarem esse novo país que continha frutíferas terras, muitos escravos

e ex-escravos, um clima tropical intenso e constituído de muitas raças,

concluindo, portanto ao final de suas pesquisas de que se tratava de um

país atrasado, quente, sujo e miscigenado por demais, impedindo assim a

composição de uma nação civilizada aos moldes dos países europeus. No

século XVIII, mais conhecido como o século das luzes ou da racionalidade,

época em que filósofos iluministas contestam o monopólio do

conhecimento da igreja que girava em torno da teologia e cristianismo

predominantes nos séculos XVI e XVII, os estudos tinham o objetivo de

buscar uma explicação baseada na racionalidade:

Eles se recusam a aceitar uma explicação cíclica da história da humanidade fundamentada na idade do “ouro”,

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para buscar uma explicação baseada na razão transparente e universal e na história cumulativa e linear. Eles recolocam em debate a questão de saber quem eram esses outros, recém-descobertos. Assim lançam mão do conceito de raça já existente nas ciências naturais para nomear esses outros que se integram à antiga humanidade como raças diferentes. (artigo, KM abordagem conceitual...).

Neste sentido e com a urgência em classificar os novos seres descobertos

que apresentavam características físicas distintas, principalmente em

relação ao tom da pele, dos homens de cor branca, o conceito racial e

suas classificações, que neste século teve a cor da pele como critério de

diferenciação entre as raças, “servem de ferramentas para operacionalizar

o pensamento. É neste sentido que o conceito de raça e a classificação da

diversidade humana em raças teriam servido” (Kabenguele Munanga, inclusão

social, artigo). Os modelos raciais seguidos por volta dos oitocentos eram o

Darwinismo social que discutia as diferenças entre raças e sua natural

hierarquia, sem que as questões negativas associadas à mestiçagem

fossem levadas em consideração (Lilian, 18) e, o positivismo social em que a

ideia predominante era a constante evolução da raça humana e a mesma

não poderiam ser considerados estática/una sendo esta, portanto

chamada de teoria humanista. Assim, o termo raça começa a tomar forma

e é introduzido na literatura especializada sobre o assunto a partir do

século XIX tendo como outro critério aliado ao da cor da pele, a morfologia

como a forma do nariz, da boca, do crânio, lábios, etc.:

O discurso racial surgia dessa maneira, como variante do debate sobre cidadania, já que no interior desses novos modelos discorria-se mais sobre as determinações do grupo biológico do que sobre o arbítrio do individuo entendido como "resultado, uma reificação dos atributos específicos da sua raça" (Lilian pagina 47 apud galton).

Nesta perspectiva entende-se que todas as teorias e estudos da qual os

cientistas se baseavam para classificar a raça humana consistia, portanto,

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na diferenciação física e estrutural que separava uma raça da outra tendo

como referencia positivo, o fenótipo branco e, associado a ele uma escala

de valores estabelecida pelos naturalistas dos séculos XVIII e XIX.

A partir do século XX e com o advento da biologia e da medicina

associadas aos estudos genéticos várias pesquisas analíticas e

comparativas em amostras de sangue de homens de diversos fenótipos e

origens foram realizadas. Após as pesquisas os cientistas chegaram à

conclusão de que o ser humano não poderia ser diferenciado por raça

porque as anomalias genéticas que apareceram durante as pesquisas

mostraram que algumas doenças ou má formação genética se deram de

forma igual em homens de “raças” diferentes descaracterizando, portanto,

que algumas doenças genéticas poderiam aparecer somente em um

grupo de pessoas com a mesma característica fenótipa:

Os estudiosos desse campo de conhecimento chegaram à conclusão de que a raça não é uma realidade biológica, mas sim apenas um conceito, aliás, cientificamente inoperante para explicar a diversidade humana e para dividi-la em raças estancas. Ou seja, biológica e cientificamente, as raças não existem. (MUNANGA, abordagem conceitual).

Neste sentido se biologicamente e cientificamente o conceito de

raça está invalidado e que não é possível classificarmos as populações e

indivíduos em caixas geneticamente iguais entende-se que o termo raça

pode estar associado muito mais a uma construção social e

hierarquização de valores imputados pelos naturalistas ao longo dos

séculos do que relacionado a uma questão de ciência. Essas diferenças

de valores morais, psíquicos, intelectuais e religiosos foram legitimadas no

inconsciente coletivo da nação brasileira por homens de grande

importância nas áreas do direito, filosofia, ciência e religião tornando

verdadeiro o discurso racista. Alguns estudiosos como Stuart Hall

entendem que raça é uma categoria discursiva e não uma categoria

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biológica reforçando a já comprovada hipótese de que não existe

diferenciação de raça pela genética sendo este um conceito de ordem

socialmente ideológica:

Ela é uma categoria organizadora daquelas formas de falar, daqueles sistemas de representação e práticas sociais (discursos) que utilizam um conjunto frouxo, frequentemente pouco específico, de diferenças em termos de características físicas – cor de pele, textura de cabelo, características físicas e corporais, etc., - como marcas simbólicas a fim de diferenciar socialmente um grupo de outro.(HALL, pág. 63)

Essa diferenciação social da qual se refere o autor advém, portanto,

de toda aculturação a que o negro sofreu e vem sofrendo ao longo de sua

existência em nome da hegemonia branca e da suposta superioridade

criada desde os tempos de colonização europeia com objetivo de impor

uma ideologia tida como superior em relação ao negro. Assim como Hall,

Munanga também relaciona o conceito de raça à ideologia que representa

nada mais nada menos do que uma relação de poder e dominação entre o

colonizado e o colonizador (Frantz fanon) sendo esta relação social

comandada sempre pela estrutura de poder governante, estabelecendo a

partir de então os racismos populares. Para Munanga estes racismos

sociais ainda acontecem porque o conceito raça apesar de não poder ser

associado à genética ele é reproduzido, uma vez que "raça è uma

construção sociológica e uma categoria social de dominação e de

exclusão". Durante muitos anos os negros que aqui chegaram já

aportaram no país com suas classificações sociais pré-determinadas pelos

seus exploradores que os diferenciavam pela cor da pele, mais escura do

que a minoria que os escravizava, e pela condição coisificada de escravos

que os determinava a serem conhecidos por duas identidades: a de negro

e escravo (Guimaraes, cor, raça. pág. 70), ambas consideradas inferiores na

sociedade.

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E é assim no compasso dessa construção social acerca do pseudo-

conceito do que é raça e da hierarquização de valores introjetada a partir

dela, que percebemos o racismo determinando a qualidade das relações

entre negros e brancos ao longo dos tempos. Sempre volto ao diálogo

com Munanga por considerá-lo um antropólogo de referência nessas

questões de racismo/raça e identidade, principalmente quando nos

referimos ao preconceito racial existente no Brasil, por isso não me furto

de suas citações. Para Munanga o racismo só existe porque o conceito de

raça ainda faz muito sentido enquanto ideologia social no imaginário

popular determinando, portanto, o local que o negro ocupa socialmente

nesse imaginário.

O racismo é uma crença na existência das raças naturalmente hierarquizadas pela relação intrínseca entre o físico e o moral, o físico e o intelecto, o físico e o cultural. O racista cria a raça no sentido sociológico, ou seja, a raça no imaginário do racista não é exclusivamente um grupo definido pelos traços físicos. A raça na cabeça dele é um grupo social com traços culturais, linguísticos, religiosos, etc. que ele considera naturalmente inferiores ao grupo a qual ele pertence. (Munanga, abordagem conceitual).

Neste sentido entendemos que o racismo é uma consequência da

hierarquização de valores sociais estipulados pela crença na existência de

raças e serve para segregar lugares, espaços e convivências entre

pessoas que apresentam fenótipos diferentes do padrão europeu em

todas as sociedades no mundo. Alguns autores, como Guimarães

percebem que o racismo no Brasil ainda é considerado um tabu pelo

simples fato dos brasileiros acreditarem que vivem em um país onde todos

fazem parte da mistura de três raças mas sempre tendo como objeto de

referencia o mestiço como origem dessa mistura e não o negro como

parte do berço civilizatório desse país. Segundo o sociólogo, essa maneira

de agir do brasileiro em relação ao racismo, ou seja, de entender que ele

não existe por aqui, confere ao Brasil um “status de povo civilizado”.

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(racismo e antirracismo no Brasil, Guimarães). Em seu artigo Racismo e antirracismo

no Brasil, Guimarães nos mostra que no Brasil o que é praticado

socialmente quando falamos em discriminação racial no lugar o racismo,

tratado como tabu, é o chamado preconceito de cor, onde os que

possuem a cor mais escura de pele são os mais racialmente discriminados,

ou seja, são os que sofrem o racismo velado a moda brasileira, enquanto

os que possuem a gota de sangue negra determinando sua origem mas

que apresentam uma cor mais clara de pele, acreditam não passar por

situações racistas, afirmando assim a invisibilidade do racismo. Para o

autor quando as pessoas são classificadas em negros, amarelos, brancos

ou pardos, ou seja, pela cor de sua pele essa classificação é baseada

numa categoria racial orientada pela ideia de raça:

É justamente desse modo que a “cor” no Brasil funciona como uma imagem figurada de “raça”. Quando os estudiosos incorporam ao seu discurso a cor como critério para referir-se a grupos “objetivos”, eles estão se recusando a perceber o racismo brasileiro. (racismo e antirracismo no Brasil, Guimarães, pagina 33).

Para além dessa contextualização, Guimarães é categórico ao afirmar que

o entendimento sobre conceito racial e o racismo são baseados numa

construção histórica e social, uma vez que só é possível classificar a

importância ou o status de determinada pessoa através da cor da pele ou

pelos traços físicos, se essa relação não estiver inserida numa “ideologia

preexistente” em que cor das pessoas possui um determinado significado,

seja ele ruim ou não. Para o sociólogo essa construção social é criada a

partir de discursos construídos pela sociedade sobre a história de suas

origens onde o termo raça está ligado diretamente ao campo da cultura e

este relacionado à identidade social.

Assim, voltemos ao diálogo com Hall que nos mostra a importância da

construção de uma identidade nacional e cultural para o sujeito e que

segundo o autor essas identidades não nascem junto com o individuo elas

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são formadas e construídas no “interior da representação” (pagina 48).Essa

representação descrita pelo autor é constituída a partir de um conjunto de

significados que determinam o que é pertencer a uma nacionalidade.

Nesta perspectiva e diante de tudo que vimos até aqui podemos perceber

que a identidade negra brasileira é frágil no sentido de oferecer aos seus

sujeitos um sentimento de empoderamento de lugar e pertencimento de

nacionalidade. Vimos que durante séculos o negro brasileiro passou por

vários processos de aculturação e invisibilização de seus valores que

entendemos como civilizatórios, tais como a religião, memória, oralidade,

musicalidade, entre outros em prol da superioridade branca europeia que

impôs durante anos sua cultura como padrão, portanto, identificar-se

negro brasileiro pode não ser uma tarefa simples.

Hall entende a cultura nacional como um discurso construído a partir das

"historias que são contadas sobre a nação, memórias que conectam seu

presente ao seu passado e imagens que dela são construídas" (pagina 51),

a esse elemento Hall denomina de "narrativa da nação". Neste sentido

perceber o quanto é importante o reconhecimento e valorização das

historias e cultura de uma nação faz-se necessário para entendermos

como pode ser difícil o processo de construção de uma identidade racial

que teve ao longo da historia sua cultura, memória e herança

invisibilizadas, fruto de uma única historia: a historia contada pelos

brancos colonizadores. Para Hall, "devemos ter em mente esses três

conceitos, ressonantes daquilo que constitui uma cultura nacional como

uma "comunidade imaginada": as memórias do passado; o desejo por

viver em conjunto; a perpetuação da herança", constituindo assim uma

identidade unificadora. Nesse caso o autor ressalta a dificuldade de

unificar identidades nacionais em torno de raça, uma vez como já

mencionado nesse tópico, Hall entende o conceito raça enquanto

categoria discursiva projetada e construída a partir das histórias e

memórias sociais contadas numa sociedade. (pág 63)

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Se entendermos a cultura nacional como sendo uma comunidade

imaginada a partir das histórias socialmente contadas na sociedade

podemos compreender o quanto é difícil o negro fazer-se reconhecido

dentro de uma nação onde sua cultura e humanidade foram roubadas e

invisibilizadas durante séculos, onde a cor passou a ser associada

diretamente a sua condição de inferior, categoria imposta pela classe

dominante branca, tida como a superior. Para Munanga (pagina 14, rediscutindo a

mestiçagem) recuperar essa negritude física e culturalmente e construir uma

identidade negra a partir das histórias de seus herdeiros escravizados

pertencentes a um grupo estigmatizado, ainda é uma tarefa bastante

complexa, pois, o autor considera toda essa aniquilação da qual passaram

os negros e suas diversas culturas um grande obstáculo para a

construção de uma única identidade negra. Além de toda essa

exterminação cultural e humanitária da qual os negros viveram, o

sociólogo considera, porém, que um dos piores obstáculos enfrentados,

inclusive pelo movimento negro, para reunir todos os mestiços em torno

de uma única e sólida identidade negra, seria o processo de

branqueamento físico da sociedade que formou e consolidou no

imaginário popular a romântica mistura de raças da qual o Brasil foi

formado:

O fato de aceitar o branqueamento, o que é uma maneira de dizer que o mulato tem lugar especial na sociedade, tem como consequência a redução do descontentamento entre raças. Assim, no Brasil, o negro pode esperar que seus filhos sejam capazes de furar as barreiras que o mantiveram para trás, caso eles se casem com gente mais clara. (página, 81)

A partir desse pensamento brasileiro em que o mestiço/mulato era

considerado a raça brasileira formada a partir da permissiva mistura entre

negros e mulatos e onde o sonho de ingressar na identidade branca tida

superior, assunto discutido nos tópicos anteriores desta pesquisa,

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podemos perceber o quanto é frágil o pertencimento e construção de uma

identidade negra brasileira. Aliás, a importância de formação de uma única

identidade negra que unificasse nessa voz, os pardos e negros em torno

de uma ideologia hegemônica com força suficiente para desconstruir o

imaginário social do branqueamento é um dos maiores desafios dos

movimentos negros desde o seu início na politica social brasileira. (Rediscutindo mestiçagem, Munanga, 95)

No próximo tópico veremos um pouco sobre a história do

movimento negro no país e sua contribuição social no tocante ao resgate

da cultura negra, de sua história e de sua importância enquanto

responsável pela construção civilizatória do Brasil.

1.4 - Breve histórico do movimento negro no Brasil e sua

contribuição social.

A história do movimento negro e sua atuação politica e social no

Brasil teve seu início na época da república, principalmente após a

abolição da escravidão, momento em que os negros foram totalmente

excluídos e colocados à margem da sociedade brasileira da época,

conforme pesquisa de estudiosos sobre o assunto como Amílcar Pereira,

Abdias Nascimento, Kabenguele Munanga, Joel Rufino dos Santos,

Petrônio Domingues entre outros. Petrônio Domingues nos mostra que

diversas agremiações, clubes e associações foram criadas por ex-

escravos, libertos e seus descendentes com o objetivo de reverter esse

quadro de marginalização em que viviam (artigo Petrônio Domingues).

Entende-se como movimento negro, um grupo de pessoas que se

organizam em torno de ideais de luta contra o racismo, por melhores

condições de vida da população negra, no sentido de elaborar estratégias

e práticas junto ao poder publico, sejam elas voltadas para arte, educação

ou de cunho social com o objetivo de valorizar a identidade e cultura afro-

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brasileira. Assim, nas palavras de Petrônio Domingues, compreende-se

movimento negro como:

Movimento negro é a luta dos negros na perspectiva de resolver seus problemas na sociedade abrangente, em particular os provenientes dos preconceitos e das discriminações raciais, que os marginalizam no mercado de trabalho, no sistema educacional, político, social e cultural. (artigo, movimento negro alguns apontamentos históricos – Petronio Domingues)

Talvez um dos movimentos negros contemporâneos mais

conhecidos do público em geral tenha sido a Frente Negra Brasileira,

criada em setembro de 1931 na capital paulista por José Correia Leite e

outros nomes importantes da luta contra o racismo brasileiro. A FNB

conforme apontado em diversos estudos foi um diferencial para a vida em

sociedade dos negros brasileiros da época pertencentes a diferentes

esferas sociais como operários, estudantes, escritores que enxergavam

nas ações do movimento a possibilidade de auto valorização da identidade

negra e o despertar político. Dois anos após sua criação a FNB com intuito

de que as reivindicações e lutas da população negra chegassem a um

maior numero de pessoas, criou o jornal “A Voz da Raça” que tinha uma

ampla circulação nacional. Um dos principais objetivos do jornal era a

conscientização da sociedade em prol dos direitos e lugar da população

negra e também o despertar pra vida social de direito da qual eles faziam

parte. Amílcar Pereira em um de seus artigos sobre o tema aponta que foi

nas paginas e sessões do jornal que a expressão movimento negro foi

utilizada pela primeira vez sendo a partir de então recorrente entre os

militantes. Segundo Petrônio Domingues a FNB "desenvolveu um

considerável nível de organização, mantendo escola, grupo musical e

teatral, time de futebol, departamento jurídico, além de oferecer serviço

medico e odontológico, cursos e formação política de artes e oficio." (mov.

negro brasileiro alguns apontamentos históricos).

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Assim, vivendo em uma sociedade que descartava o negro de sua

convivência social e não era muito receptiva as causas dessa população,

que representava grande numero no pais no século XX, muitos grupos de

movimento de negro se formaram com o intuito de juntar mais vozes

nessa auto valorização da identidade racial negra. Dentre alguns dos

movimentos contemporâneos formados apos a criação da FNB, podemos

citar o Teatro Experimental do Negro, TEN criado no Rio de Janeiro em

1944 por Abdias do Nascimento que ate hoje é um pesquisador, escritor e

artista militante negro. A principio a intenção em criar um teatro

experimental era formar um grupo teatral constituído por atores negros,

mas devido sua forte adesão política e sua repercussão na opinião publica,

o TEN formou uma atuação mais ampla oferecendo desde cursos de

alfabetização, criação de um jornal chamado "Quilombo", concursos de

beleza que privilegiavam a raça negra, até a fundação do I Museu do

Negro. Para Petrônio Domingues, o TEN não só promovia iniciativas

voltadas para valorização da cultura negra como também "defendia os

direitos civis dos negros na qualidade de direitos humanos, o TEN

propugnava a criação de uma legislação anti-discriminatória para o país.”.

Essas duas organizações citadas nesse tópico logicamente não

foram as únicas que militavam ativamente na luta ante racista e de

igualdade de direitos, mas foram nesta época, as que tiveram maior

visibilidade e impulsionaram outros movimentos negros contemporâneos a

serem criados. Vale destacar que de 1930 a meados dos anos 60 os

grupos de movimento negro contemporâneos foram bastante ativos e

conseguiram com que muitas reivindicações fossem inseridas em

discussões politicas importante para valorização da população negra, uma

delas a lei Afonso Arinos primeira lei anti-discriminatória do país, aprovada

em 1951 pelo Congresso Nacional. O golpe militar de 64 segundo nos

mostra Petrônio Domingues desarticulou muitas organizações colocando

seus militantes em situações constrangedoras perante a sociedade

acusando os muitas vezes e criarem problemas de racismo que não

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existia na sociedade brasileira, “a discussão publica da questão racial foi

praticamente banida". Ainda segundo estudos do mesmo autor a negação

do racismo era tão massificada nos discursos militares que o mito da

democracia racial viveu seu maior apogeu. Mesmo com as dificuldades

políticas apresentadas na época e a desarticulação de grupos importantes

que contribuíram substancialmente para manter viva a discussão e luta

contra o racismo brasileiro, o movimento negro continuou mesmo na

clandestinidade, a pensar e articular a valorização da identidade negra no

pais. Prova disso foram as atividades e articulações de varias

organizações que continuaram firmes no propósito da luta anti racial

apesar de todas as dificuldades políticas e sociais. Em 1971 no Rio

Grande do Sul, foi criado o Grupo Palmares, e no ano seguinte o Centro

de cultura e Arte Negra (CECAN) em São Paulo; o Bloco afro Ilê Aiyê foi

criado em 1974 em Salvador e em 1976 o Núcleo Cultural Afrobrasileiro, o

Instituto de Pesquisas das culturas Negras (IPCN) e a Sociedade de

Intercambio Brasil-África (SINBA). No Rio de Janeiro em 1975 foi criado o

Grupo de trabalho André Rebouças e o Centro de Estudos Brasil-África

(CEBA). (Amilcar Araújo Pereira).

Em meio a este cenário de desestabilização política vivida na época

do domínio militar é fundado em São Paulo o Movimento Negro Unificado

(MNU) que marca a volta política do movimento negro no país e tinha

como um de seus principais objetivos "denunciar, permanentemente, todo

tipo de racismo e organizar a comunidade negra." ( site revista de historia /orgulho

da cor). Para além da luta antirracista o MNU significou um marco na

historia dos protestos negros no pais com a proposta de unificar a luta da

população negra a nível nacional e de fortalecer o poder político negro.

Suas manifestações ajudaram a ressignificar a importância do povo negro

na edificação histórica e nacional do país sempre liderando diversos e

importantes atos públicos com adesão de um percentual considerável da

sociedade favorável às reivindicações do povo negro. Um dos mais

importantes atos relacionados a luta contra o racismo talvez tenha sido o

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ocorrido em 07 de julho de 1978 nas escadarias do Teatro Municipal em

São Paulo que reuniu mais ou menos 2 mil pessoas com adesão de

organizações nacionais de vários movimentos negros do Pais. O evento

foi organizado com o objetivo de mostrar a população o descaso de

instituições e do próprio governo no trato a população negra do país

mostrando casos concretos de racismo e de marginalização da população

negra. O MNU seguiu assim em toda sua trajetória levando para vida

política e social, as necessidades da população negra em forma de

protestos, passeatas e comícios estabelecendo programas e projetos com

objetivos específicos de melhoria na garantia de direitos do cidadão negro

como o Programa de Ação em 1982:

No programa de ação, de 1982, o MNU defendia as seguintes reivindicações "mínimas": desmistificação da democracia racial brasileira; organização politica da população negra; transformação do Movimento Negro em movimento de massas; formação de um amplo leque de alianças na luta contra o racismo e a exploração do trabalhador; organização pra enfrentar a violência policial; organização dos sindicatos e partidos políticos; luta pela introdução da Historia da África e do Negro do Brasil nos currículos escolares; bem como a busca pelo apoio internacional contra o racismo no país.(PETRONIO DOMINGUES)

Neste sentido e já com o claro objetivo de lutar para que a

população negra assumisse sua condição racial, cultural contra e

hegemonia branca idealizada pela sociedade, as organizações de

movimento negro, já naquele período de inicio dos anos 80, começaram a

intervir fortemente na área educacional através de propostas de revisão de

conteúdos pedagógicos e didáticos, principalmente nos livros de historia,

que ensinavam e ensinam ate hoje conteúdos invisíveis a historia e cultura

africana e afra brasileira. As reivindicações dos movimentos negros iam

além da revisão de materiais didáticos e incluía também a capacitação de

professores numa pedagogia Inter étnica, e a inclusão na grade curricular

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do ensino permanente de disciplinas que tratassem do ensino da historia e

cultura africana e afrobrasileira nas escolas, lugar onde as desigualdades

raciais devem ser discutidas. No próximo capitulo pretende-se mostrar

uma breve abordagem das desigualdades raciais e seu impacto na

escolaridade.

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CAPÍTULO II

A EDUCAÇÃO COMO DIREITO

Neste capitulo pretende-se abordar as questões que envolvem as

desigualdades raciais no ambiente escolar e seu impacto no acesso e

permanência na escola, através de dados de instituições e autores de

referencia no assunto. Vamos falar um pouco sobre a Lei Nacional de

Diretrizes Básicas com foco na educação de nível superior e por ultimo

propor uma reflexão sobre a Lei 10639/03 e a importância de sua

aplicabilidade no ambiente escolar no sentido de educar para as questões

étnico-raciais na escola.

2.1 - Desigualdades raciais e escolaridade

A história da população negra na sociedade brasileira foi

amplamente baseada na condição de escravos e ex-escravos que

permaneciam em posições submissas ao domínio branco, sendo após a

abolição renegados a margem da sociedade permanecendo em sua

maioria fora do acesso ao trabalho, educação e condições de vida que

deixavam claro que nesses lugares onde os negros estavam postos os

direitos humanos não eram respeitados. Por muitos anos a literatura

mostrou o negro apenas como mão de obra servil ao homem branco e

invisibilizados no tocante a valorização de sua cultura e sua importância

enquanto sujeitos de direitos e protagonistas do berço civilizatório desse

país.

Apesar dos inúmeros esforços das organizações de movimento

negro, que foram criadas com o objetivo de extinguir a desigualdade racial

e acabar com o racismo no país, os negros continuavam atrás da

população branca no acesso ao trabalho formal e principalmente a

educação, uma vez que no Brasil a relação de classe e raça andam

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praticamente juntas. O acesso a educação sempre foi restrito à população

negra uma vez que a localização geográfica e condição sócio econômica

em que a maioria se encontrava, refletia a situação inferior da qual foram

colocados na sociedade desde a abolição. Neste sentido o acesso a

educação básica sempre foi uma bandeira a ser defendida pelo

movimento negro que entre outras questões reivindicava a mudança da

forma como era ensinada a historia do negro na sociedade brasileira, de

forma a colocar o estado como protagonista de mudanças através de

políticas publica. (contribuições UNESCO seppir)

O acesso à educação básica e a elevação nos índices de

alfabetização foram melhorando ao longo do século XX principalmente no

que diz respeito à diminuição do analfabetismo tanto em números na

população branca quanto na população negra, no entanto, quando se faz

um recorte para avaliar os índices comparativos desta redução entre a

raça branca e a negra nos deparamos com resultados de analfabetismo

muito maior entre os negros. É o que nos mostra Marcelo Paixão em sua

pesquisa sobre desigualdades raciais e escolaridade publicada em 2008:

Em 2000, dos 15,3 milhões de analfabetos brasileiros acima de 15 anos, 9,7 milhões eram formados por negros. Entre os 32,7 milhões de analfabetos funcionais, os negros totalizavam 18,8 milhões de pessoas. Assim, segundo os indicadores do censo demográfico daquele ano, a taxa de analfabetismo dos negros maiores de 15 anos, em todo o Brasil, era de 18,7% e a taxa de analfabetismo funcional da população negra maior de 15 anos era de 36,1%. Esses percentuais eram substancialmente maiores do que o verificado entre a população branca, cujos percentuais de analfabetismo e de analfabetismo funcional eram de, respectivamente, 8,3% e de 20,8%%. 1. (dialética do bom aluno, 19).

Neste sentido observa-se que o acesso à escolaridade sempre se

deu em maior número entre a população branca, uma vez que vários

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fatores contribuem para que a população afro descendente esteja sempre

em situação inferior aos brancos, como moradia em lugares de difícil

acesso, inserção precoce no mercado de trabalho, analfabetismo e etc.

Mesmo depois dos anos 90 onde a universalização da educação e

expansão de redes de ensino para a população entre 07 a 14 anos

começou a fazer parte das metas do estado para melhoria na qualidade

da educação e tentativa de erradicação do analfabetismo. (dialética do bom

aluno, 30-33). Desde então o governo reconhece a necessidade de reparar

através de políticas publicas as desigualdades de raça e classe no acesso

a educação básica tanto que em 2009 a União reajustou a Lei de

Diretrizes Básicas instituindo como obrigatória a matricula de crianças na

faixa etária de 04 a 05 que formam a educação infantil e de jovens de 15 a

17 no ensino médio.

Mas as desigualdades raciais na escolaridade não são percebidas

somente nos índices da educação básica, elas aparecem também e em

maior numero nas instituições de ensino superior, uma vez que para ter

acesso a um 3° grau de qualidade o jovem negro precisa passar por uma

peneira árdua de situações onde a cor da sua pele o destina para uma

vida fora da academia, uma vida de trabalho precoce e mal remunerado,

como nos mostra estudo da UNICEF, Enfrentamento da Exclusão Escolar

no Brasil de 2013, "653,1 mil adolescentes brancos de 15 a 17 anos

estavam fora da escola ante a 1 milhão de negros da mesma faixa etária",

dados do mesmo estudo apontam que:

uma das principais barreiras socioculturais enfrentadas por crianças e jovens brasileiros é a discriminação racial. Em todas as faixas etárias, crianças e adolescentes negros estão em desvantagem em relação aos mesmos grupos da população branca no acesso, mas principalmente na permanência na escola.

Assim percebe-se que a maioria dos adolescentes não se

enxerga dentro da escola, um espaço onde as tensões da sociedade são

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replicadas e, importantes relações interpessoais são construídas,

legitimando assim, esse lugar como um espaço formador da cidadania de

cada criança e jovem. A educação é um direito de todos, dever do Estado

e da Família e seu acesso gratuito esta previsto na Constituição

Federal/1988 art. 205º e na Lei de Diretrizes Básicas de 1996 art. 3º,

portanto, o acesso e principalmente a permanência da criança e do jovem

na escola deve ser preservada. No âmbito do ensino superior, uma vez

que a educação por direito está pautada também na qualificação da

pessoa para o mercado de trabalho, as desigualdades raciais e de acesso

são percebidas, mesmo após várias tentativas do governo em garantir o

aumento de acesso as IES através de ações afirmativas (rodapé definição de

ações) como a criação de cotas publica para negros e afro descendentes, o

Prouni, o Reuni e o Fies. No censo demográfico do IBGE de 2010 mais

da metade da população brasileira se auto declarou, negra, preta ou parda,

sendo que o acesso aos bancos universitários é de apenas 26 alunos

negros dos 100 em média que frequentam universidades brasileiras,

segundo dados do infográfico Retrato dos Negros no Brasil. Neste sentido

podemos perceber que as desigualdades raciais estão presentes em

todas as esferas de representações sociais no país, principalmente

quando falamos de acesso aos direitos básicos como saúde, moradia e

educação, mesmo apesar do Brasil não assumir o racismo em sua

sociedade e de garantir que vivemos em uma democracia racial. Como

nos lembra, Marcelo Paixão as desigualdades raciais percebidas não

somente na educação estão associadas diretamente as condições sócio

econômicas que se encontram a maioria dos negros, a falta de acesso a

boas escolas, a herança familiar de falta de estudo, gerando por

conseguinte a falta de oportunidades a boas remunerações, tornando o

acesso da população negra aos direitos básicos considerados essenciais

um ciclo vicioso e pernicioso de viver a vida (pagina 45).

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Vivemos em uma mudança de época onde as relações sociais

estão deixando de ser somente uma questão de estado e passando a ser

uma questão de toda a sociedade uma vez que a dinâmica social de

família, religião, sexo e política se encontram em transformação.

Boaventura de Souza Santos aponta para a necessidade de

ressignificação dos Direitos Humanos, no sentido de que os indivíduos

não são iguais em sua totalidade e que devem se respeitados em suas

diferenças, assim olhando nesta perspectiva, a escola deve ser repensada.

Alguns pesquisadores e sociólogos associam a essa mudança de

comportamento a globalização e os impactos tecnológicos que as

sociedades pós-modernas estão expostas, refletindo assim na maneira de

viver em sociedade. Neste sentido, faz-se necessário que a educação seja

influenciada pelas novas dinâmicas sociais, considerando que numa

sociedade pós-moderna não cabe mais nenhum ato de racismo,

preconceito e discriminação racial pelo menos dentro do âmbito escolar,

espaço onde as diversidades e diferenças devem ser respeitadas fazendo

valer a LDB/1996 em toda a sua totalidade, que prevê uma educação ética

e de qualidade e, que pensa a educação étnico-racial como importante

para a formação do sujeito cidadão conforme disposto na Lei 10639/03.

No próximo tópico pretende-se abordar a Lei 10639/03 sua

importância no ambiente escolar.

2.2 - Lei 10639/03 e sua importância pedagógica no

ambiente escolar

No inicio dos anos 2000 uma importante conferência organizada

pela ONU com o objetivo de combater o racismo mundial e lutar contra

qualquer tipo de preconceito, seja ele de raça, religioso ou sexual, através

de políticas públicas, educação e outras iniciativas governamentais em

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todo o mundo, acontecia na África do Sul. Era a III Conferência Mundial de

combate ao Racismo, discriminação racial, Xenofobia e Intolerância

Correlata que tinha o objetivo claro de fazer com que mundialmente o

racismo fosse reconhecido como existente e que suas várias formas de

atuação eram nocivas ao povo negro. Para o Brasil participar de uma

conferência desta grandeza que discutiu durante vários dias o racismo e

preconceito em todas as suas infinitas formas foi bastante significativo,

uma vez que historicamente o país foi viciado na escravidão durante

séculos. Após a conferência e já sofrendo pressões por parte dos

Movimentos Negros organizados que há muito já lutavam pela garantia e

melhoria dos direitos da população negra no país, o governo decidiu

pensar em ações estratégicas de políticas públicas para atender em parte

algumas exigências mundiais, colocadas em Durban quanto as pressões

políticas dos movimentos negros no âmbito nacional.

Assim nascia a Lei 10639/03 sancionada no ano de 2003, por

Luís Inácio Lula da Silva, presidente eleito na época, que estabelece a

obrigatoriedade do ensino da cultura Africana e Afro brasileira nos

estabelecimentos de ensino fundamental e médio tanto público quanto

privado em âmbito nacional, incluindo no currículo escolar conteúdos

referentes ao estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos

negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da

sociedade nacional como objetivo de educar para o resgate e a

contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política

pertinentes a História do Brasil. Além desses objetivos a Lei 10639/03 em

seu Art.79B inclui no calendário escolar a data do dia 20 de novembro

como o Dia Nacional da Consciência Negra. Para Kabenguele Munanga a

educação é um instrumento importante de mudança de mentalidade nos

cidadãos e a lei neste sentido vem com o objetivo de assegurar o respeito

a diversidade cultural que está no DNA desse país:

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A lei 10639/03 ajuda na construção dessa identidade negra, no conhecimento de sua própria história. A implementação da lei garante que os alunos negros e não negros saibam que os negros foram protagonistas na história desse país. (Kabenguele Munanga)

Nesta perspectiva a lei garante aos estudantes e também aos

professores, o direito de todo e qualquer cidadão em conhecer a história

da formação do seu país promovendo através de práticas pedagógicas

uma formação baseada no conhecimento das diversidades culturais,

religiosas, étnico raciais das quais esse país foi constituído deveria ser um

compromisso de toda a sociedade brasileira. Somos um país diverso.

Diverso em artes e culturas, em religiões, em raças, em classes e é nessa

diversidade que devemos repensar e pensar práticas educacionais, nas

quais os professores podem ser incentivados a procurar ferramentas que

os ajudem em suas práticas de ensino a trabalhar essas questões dentro

de sala de aula, principalmente a questão étnico-racial, fazendo valer a

efetivação da lei 10639/03. Maria Elena V. Sousa no diz que:

a escola, precisa então, se tornar mais do que um espaço de transmissão de conteúdos e perpetuação de valores científicos existentes: um espaço de exercício de solidariedade coletiva onde as múltiplas culturas poderão mais do que simplesmente constatadas, mutuamente respeitadas e valorizadas.

Quando uma educação é baseada na equidade racial, entende-se

quem ela pode contribuir para a construção de uma sociedade onde todos

os cidadãos valorizem a identidade negra como ideário social e ético.

Tendo em vista os argumentos aqui expostos, podemos entender a escola

como a instituição inicial onde as conquistas das liberdades, os

questionamentos, a valorização e reconhecimento do sujeito enquanto

protagonista desta sociedade aparece de forma latente no dia a dia

escolar, onde gestores e professores possuem o instigante desafio de

contribuir para formação de sujeitos sociais. O sistema educacional tem o

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papel de desconstruir os estereótipos da sociedade, valorizar a igualdade

de tratamento e trabalhar as questões da diversidade que devem começar

na sala de aula. É necessário que a escola se transforme num espaço de

educação para todos, principalmente pra criança e jovem negro que não

se enxerga dentro de uma escola branca de referências, histórias e

saberes. Valorizar a importância do negro na cultura brasileira e seu

protagonismo nessa história se faz urgente numa sociedade em que mais

de cinquenta milhões de brasileiros se declararam pretos e pardos,

segundo o último censo do IBGE de 2011. Nelson Mandela nos disse uma

vez que “a única solução para se acabar com o racismo é a educação”, o

mesmo sugere Kabenguele Munanga: “só a educação é capaz de fazer

esse trabalho de construção de uma nova cidadania”. É nesta perspectiva

que a lei 10639/03 é uma importante ferramenta educacional para ajudar

na desconstrução dos estereótipos e a repensar de que forma a

valorização da identidade negra e da história e cultura afro-brasileira vem

sendo e pode ser trabalhada dentro da sala de aula com crianças de todas

as idades, uma vez que a lei oferece autonomia aos gestores e

professores para pensar percursos pedagógicos multidisciplinares

capazes de dar conta da lei dentro da escola.

Neste sentido, a escola enquanto espaço importante na

construção de identidades ou na formação do sujeito sociológico (HALL,

2006) tem o dever de incentivar não somente que os professores

busquem ampliar seus conhecimentos e compreensão sobre a valorização

da identidade negra contribuindo para os objetivos previstos na lei, quanto

na implementação de projetos pedagógicos dentro da escola. Nilma Lino

Gomes nos diz que:

a escola tem papel importante a cumprir nesse debate sendo um dever democrático da educação escolar e das instituições publicas e privadas de ensino a execução de ações, projetos, praticas, novos desenhos curriculares e novas posturas pedagógicas que atendam ao preceito

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legal da educação como um direito social, no qual deve estar incluído o direito a diferença.

Tendo em vista a importância da educação na formação da

cidadania e um direito de todo e qualquer cidadão, conforme previsto na

Constituição Federal e na LDB, a escola tem papel fundamental para

abordar essa temática e um professor munido de vasto conteúdo e com

formação adequada, é o profissional imprescindível para que esse

trabalho aconteça. Falar da importância do professor dentro de sala de

aula pode parecer um pouco óbvio diante de várias pesquisas e estudos

existentes sobre o papel do docente no espaço acadêmico, mas suponho

que qualquer ação que incentive e valorize a formação do professor seja

necessária, porque um professor informado é instrumento facilitador de

qualquer temática. Neste sentido, oferecer ao professor um conteúdo

vasto, lúdico, informativo e que dialoga com as diversas temáticas que

abordam as questões da diversidade racial visando à construção de

relações mais humanizadas pode ser um caminho possível.

Assim, no próximo capitulo pretende-se abordar um pouco mais

sobre o currículo na formação do curso de pedagogia de uma

Universidade privada do Rio de Janeiro, como atualmente está estruturada

a formação inicial de professores que estão sendo formados para ensinar

conteúdos formais, diversos e multidisciplinares em sala de aula algumas

percepções sobre estudantes de pedagogia sobre o entendimento deles

acerca da importância ou não de disciplinas que abordem a temática

étnico racial e a história da cultura africana e afro brasileira na grade

curricular obrigatória do curso de pedagogia.

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CAPÍTULO III

CURRICULO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES

No terceiro e ultimo capítulo deste trabalho monográfico tem-se a

intenção de falar um pouco sobre a importância do currículo na educação

de forma ampla fazendo um recorte de contextualização na formação

inicial de professores principalmente na grade curricular do curso de

pedagogia, curso de nível superior que forma futuros profissionais de

educação. Neste capitulo foram recolhidas algumas entrevistas de uma

aluna que se formou nesta universidade e é professora de educação

básica da rede municipal de ensino e de uma professora deste curso de

graduação. A entrevista deu-se por base de depoimento via internet

podendo assim levantar a hipótese de que as disciplinas que tratam da

história e cultura africana e afro brasileira atualmente exigidas no curso de

graduação de pedagogia desta universidade, podem não ser suficientes

para que esses futuros professores consigam dar conta da aplicabilidade

da lei 10639/03 em sala de aula conforme previsto na LDB/1996.

3.1- Formação inicial de professores

De acordo com a Constituição Brasileira/88 art. 205 a educação, é

um direito de todos e dever do Estado e da família que deve ser mantida e

garantida com a colaboração de toda a sociedade incentivando e

promovendo o acesso e permanência ao espaço escolar, visando o pleno

desenvolvimento do individuo para o exercício da cidadania e qualificação

para o trabalho. Entende-se, portanto, que a educação está no campo do

Direito fundamental, social, humano, subjetivo e até mesmo de

personalidade sendo o exercício deste direito uma garantia futura de

formação de uma sociedade multicultural e construída com base no

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reconhecimento as diversidades de todos os tipos das quais o Brasil é

formado. A pesquisa que aqui está sugerida percebe a importância de se

trabalhar com as diferentes culturas e valorização da identidade negra, em

sala de aula a partir da implementação da lei 10639/03, que busca levar

para dentro da escola uma educação baseada em cima de propostas

pedagógicas multidisciplinares que dialoguem com o currículo formal a ser

trabalhado obrigatoriamente dentro de sala de aula onde o professor e a

escola são os personagens principais para essa condução.

Por isso, considera-se fundamental discutir e refletir sobre a

importância de um currículo múltiplo na formação inicial de professores e

profissionais de educação que contemple disciplinas que tratem questões

importantes como a existência do racismo no Brasil em suas varias formas

de desigualdades e desperte o futuro professor para o reconhecimento da

valorização da identidade negra e sua influência na construção desse país.

O professor tem papel fundamental para desconstrução de estereótipos e

preconceitos que acontecem diariamente no chão da escola mas para que

ele consiga conduzir essas questões será preciso que este profissional

tenha ao menos uma capacitação consistente no assunto, afinal como nos

lembra Cavalleiro (2001) todo e qualquer investimento e iniciativa na

formação inicial e continuada de professores tem um objetivo claro que é o

da compreensão do professorado sobre a condição racial dos alunos e

alunas promovendo a partir de praticas pedagógicas a oportunidade de se

trabalhar a igualdade. A lei 10639/03 é uma política educacional que

reconhece a diversidade étnico-racial na qual o Brasil é formado e

segundo Maria Elena Souza, proporciona uma educação voltada para que

os negros tenham orgulho de seu pertencimento racial sugerindo que:

O direito dos negros de se reconhecerem na cultura nacional e poderem manifestar seus pensamentos com autonomia é uma das metas do parecer. Uma outra, diz respeito ao direito dos negros e de todos os cidadãos brasileiros em cursarem todos os níveis de ensino, em instituições bem equipadas, com professores qualificados

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para lidar com diversas situações decorrentes do racismo entre os diferentes grupos. Essa qualificação passa pela formação dos professores para trabalhar com os mais variados saberes que vão permitir o entendimento e a sensibilidade indispensáveis para trabalhar a questão. (Souza, 2009, p.78)

Observa-se que desde o inicio da implementação da lei existe

uma preocupação dos pesquisadores e do governo em qualificar a

formação inicial e continuada de professores para trabalhar os conteúdos

de valorização da historia e cultura africana e afro-brasileira. Em 2006 o

MEC publicou um manual com Orientações para educação das relações

étnico-raciais com o objetivo de transmitir aos professores e gestores

informações sobre a temática abrangendo todos os níveis da educação

inclusive a de ensino superior. O manual foi concebido a luz dos objetivos

da lei seguindo as diretrizes do Conselho Nacional de Educação que

Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações

Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e

Africana onde se lê no art.1°§ 1°:

As Instituições de Ensino Superior incluirão nos conteúdos de disciplinas e atividades curriculares dos cursos que ministram a Educação das Relações Étnico-Raciais, bem como o tratamento de questões e temáticas que dizem respeito aos afro descendentes, nos termos explicitados no Parecer CNE/CP 3/2004.

Neste sentido oferecer aos professores desde sua formação

inicial formas e saberes de compreender a situação racial brasileira, assim

como todo seu histórico de contribuição na formação deste país, é um

fator que deve ser levado a serio pelo governo, gestores, professores e

toda a sociedade porque quanto mais informação e formação o

profissional de educação tiver mais ele vai poder agir e transformar

atitudes em sala de aula e, será com base nessa transformação que

poderemos alcançar uma sociedade multicultural onde a diferenças são

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tratadas na igualdade, pois como diria Paulo Freire, "a educação sozinha

não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda".

No caso deste trabalho de pesquisa a preocupação é com a

inclusão de disciplinas na grade curricular do curso de pedagogia que

abordem a temática da historia e cultura africana e afro-brasileira para os

futuros profissionais que vão fazer valer dentro de sala de aula ou na

elaboração de projetos pedagógicos a aplicabilidade da lei 10639/03. Mas

ainda existem barreiras para que a implementação da lei aconteça à luz

do que está proposto no texto e como nos lembra Souza (2009) a

promulgação da lei por si só não é suficiente para que se trabalhe o

reconhecimento e a valorização da população negra e para que se

promova com base numa educação antirracista a igualdade de direitos tão

amplamente discutida em todas as sociedades pós-modernas, é preciso

um esforço conjunto do poder publico inclusive para a reformulação na

dinâmica curricular de futuros profissionais de educação, além, claro de

outras iniciativas de ordem política.

No próximo tópico pretende-se contextualizar a importância do

currículo como peça chave na estrutura educacional do ensino de forma

ampla e, refletir sobre o currículo no curso superior de pedagogia.

3.2 - O Currículo no nível superior de pedagogia

Para Apple o currículo “é produzido pelos conflitos, tensões e

compromissos culturais, políticos e econômicos que organizam e

desorganizam um povo” (pag.53), neste sentido entende-se o currículo

muito mais do que a simples junção de disciplinas que abordem questões

importantes acerca de um determinado conteúdo com o objetivo singular

de ensinar sobre o que ali estiver posto. Ele na verdade, parte, inclusive,

de uma necessidade social, política e cultural que advém do momento

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histórico no qual a sociedade está inserida o que nos leva a refletir nos

muitos desafios que existem pela frente quando fala-se de formação de

professores, uma vez que vivemos em uma sociedade cada vez mais

influenciada pelas novas tecnologias e pela globalização. Diante do

exposto, tratar da (re)construção de uma grade curricular na formação de

professores do curso de pedagogia que dialogue com a lei 10639/03 faz

parte desse desafio uma vez que a referida lei já está promulgada há mais

de dez anos e sua dificuldade de implementação em sala de aula é uma

realidade no dia a dia escolar e essa dificuldade passa necessariamente

pela formação inicial de professores. Assim para Silva (1996, p. 23):

O currículo é um dos locais privilegiados onde se entrecruzam saber e poder, representação e domínio, discurso e regulação. É também no currículo que se condensam relações de poder que são cruciais para o processo de formação de subjetividades sociais. Em suma, currículo, poder e identidades sociais estão mutuamente implicados. O currículo corporifica relações sociais

Nesta perspectiva o currículo no contexto da educação de forma

ampla reflete o ideário social, cultural e político do qual se encontram a

maioria dos indivíduos brasileiros que não percebem a existência das

desigualdades raciais e do racismo existente no país. Trazendo a questão

do currículo para o cenário da formação inicial de professores/pedagogos

percebe-se que a grade curricular do curso de pedagogia não dialoga com

a realidade social de desigualdades raciais na qual o Brasil está inserido e

nem com as exigências da lei 10639/03 uma vez que a maioria das

disciplinas obrigatórias na grade curricular de pedagogia não tratam das

questões raciais, história e valorização da identidade africana e afro

brasileira deixando o futuro professor carente de informação e formação

de conteúdos importantes para que ele trate dessas reflexões em sala de

aula de maneira multidisciplinar como propõe a LDB/1996 e o Parecer da

lei. A disciplina que trata do conteúdo da historia de cultura africana e afro

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brasileira na grade curricular da universidade pesquisada está inserida

como obrigatória no 3º período do curso: “História dos povos indígenas e

afro descendentes”, com uma carga horária de 36h, não se vê mais

nenhuma disciplina nem mesmo eletiva, aquelas que não são obrigatórias,

sendo oferecidas na grade curricular deste curso. A preocupação com o

currículo de formação aqui proposto é mais dirigido para as questões de

gestão, teoria e conhecimento sobre o oficio de educar do que

propriamente uma formação voltada para o multiculturalismo e o despertar

de um pensamento critico sobre diversidade cultural do qual esse país é

formado. Assim, percebe-se que o currículo assim como a escola não

dialoga com as questões e tensões vividas no cotidiano social e não

reflete as necessidades e exigências percebidas pela própria sociedade

como nos mostra Candau citando as questões que apareceram no

Relatório de Desenvolvimento Humano 2004 (PNUD) onde as percepções

sociais dialogam com as questões de diversidade, igualdade e diferença

das quais a sociedade pós moderna está inserida e é constantemente

impactada pela globalização e novas tecnologias:

O que é novo, hoje, é a ascensão de políticas de identidade. Em contextos muito diferentes e de modos muito diversos – desde os povos indígenas da América Latina às minorias religiosas na Ásia do Sul e às minorias étnicas nos Bálcãs e em África, até os imigrantes na Europa Ocidental– as pessoas estão se mobilizando de novo em torno de velhas injustiças segundo linhas étnicas, religiosas, raciais e culturais, exigindo que sua identidade seja reconhecida, apreciada e aceite pela sociedade mais ampla. Sofrendo de discriminação e marginalização em relação a oportunidades sociais, econômicas e políticas, também exigem justiça social. (PNUD, 2004, p. 1)

Nesta perspectiva a sociedade percebe o quanto as tensões entre

as relações desiguais impactam no cotidiano dos indivíduos e o quanto é

necessário que a educação comece a dialogar mais de perto com essas

questões e é neste contexto que trazer a lei 10639/03 como um projeto de

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formação de professores mais consistente, significa possibilitar que esses

profissionais tenham capacitação e sensibilidade suficiente para construir

mecanismos pedagógicos para possibilitar o aprendizado dos

conhecimentos da história e cultura do negro no Brasil.

Assim, a proposta de levar para a grade curricular mais disciplinas

que dialoguem com a temática étnico racial na formação de professores,

está prevista inclusive na LDB de 1996 no art.43º que dentre as sete

premissas consideradas importantes para a finalidade da educação de

nível superior existem três delas que possuem identificação com a

proposta deste capitulo:

II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação;(Lei de diretrizes e bases da educação nacional – lei n 9394, 20/12/1996)

Nesta perspectiva entende-se que a formação de professores,

assim como a educação, deve estar em consonância com as

percepções e mudanças vividas pela sociedade uma vez que assim

como está disposto na LDB art.52º.,“as universidades são instituições

pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível

superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber

humano.”

A seguir, no último tópico desta pesquisa, pretende-se trazer

algumas impressões de alunos graduados e não graduados acerca da

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grade curricular do curso de pedagogia da Universidade Estácio de Sá

relacionada com a demanda da lei 10639/03.

3.3 - Entrevista

No último tópico deste trabalho tem-se a intenção de mostrar a

opinião de uma professora graduada em pedagogia pela universidade

Estácio de Sá / UNESA para conhecer sua opinião sobre a lei 10639/03 e

a importância do futuro profissional de educação conhecer conteúdos

sobre a temática ainda em sua formação inicial e neste sentido levantar a

hipótese de que a carência de disciplinas sobre o tema pode influenciar na

implementação da referida lei em sala de aula. A entrevista foi realizada

através de troca de emails entre a autora e a depoente durante o mês de

fevereiro.

Jasmine dos Santos se formou em pedagogia no ano de 2011

pela Universidade Estácio de Sá / UNESA é pós graduada em Direitos

Humanos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro / UFRJ e,

atualmente é educadora da Fundação Roberto Marinho, atuando com

turma de EJA (séries finais), no Pólo PROJAC. O curso superior de

pedagogia oferecido pela universidade em questão tem uma duração

mínima de quatro anos e, no caso da Jasmine, ele compreendeu o

período de 2007 a 2011. Durante o curso, a grade curricular não continha

disciplinas especificas sobre a temática da história e cultura africana e afro

brasileira nem como disciplina obrigatória e nem como eletiva, sendo este

conteúdo trabalhado no currículo de outras disciplinas, conforme nos

relata Jasmine, “na grade curricular do meu curso de pedagogia não havia

nenhuma disciplina específica para tratar sobre a temática afro-brasileira.

Este assunto era difundido entre as disciplinas de sociologia, filosofia e

história da educação”. Para ela a falta de uma disciplina que trate

especificamente de um conteúdo sobre o que está explicito na lei

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10639/03 dificulta a atuação do professor em sala de aula para lidar com a

temática, “não tive em meu curso uma disciplina voltada para a história

afro-brasileira, o que penso ser uma lacuna, uma vez que, os professores

de uma maneira geral, ainda esbarram em dificuldades várias para

desenvolver este tema em sala de aula”. No caso de Jasmine tratar dessa

temática em outra disciplina não deixou de ter importância para ela e para

o seu conhecimento mas considera que “os alunos das licenciaturas em

geral, necessitam deste conhecimento mais aprofundado, uma lei existir

somente não basta, é preciso que haja a prática desta lei através da

aplicação disso nas universidades, especialmente nos cursos de

pedagogia e demais licenciaturas”. Assim, como já foi mostrado nos

tópicos anteriores desta pesquisa, através de pesquisas bibliográficas

sobre a importância da implementação da lei 10639/03 em sala de aula e

sobre a necessidade de levar para a escola conteúdos que colaborem

com uma educação anti racista, Jasmine que já é professora graduada

com experiência e vivencia em sala de aula, nos traz a seguinte reflexão

sobre a inclusão de disciplinas que tratem especificamente do assunto:

“sem dúvidas, é primordial trabalhar as questões étnicos raciais na

educação básica, pois, conceitos equivocados precisam ser desfeitos e

isso deve começar sim na educação básica. Conceitos equivocados levam

ao preconceito e o preconceito a exclusão ignorante por parte daqueles

que não sabem lidar com suas raízes, independente da cor de sua pele.

Todos temos raízes negras, pensar o contrário disso, é acreditar na teoria

da purificação disseminada no nazismo e fascismo. Portanto, é papel da

escola abrir caminhos para mudança e para o entendimento desta cultura

que também nos constitui enquanto povo brasileiro. Devido ao fato de não

ter um tempo exclusivo na graduação para a temática afro-brasileira,

reconheço a falta de uma base que deveria ter sido proporcionada

anteriormente, mas, sempre busco leituras, cursos e afins para entender

cada vez mais sobre a questão em voga”.

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Com base nessa entrevista conclui-se que a proposta da inclusão

de disciplinas específicas na grade curricular do curso de nível superior de

pedagogia, que tem com objetivo formar futuros professores, se faz

urgente numa sociedade que se diz pós moderna, uma vez que o governo

através de iniciativas de políticas publicas reconhece a necessidade de se

trabalhar no espaço escolar a valorização da identidade negra e da cultura

afro brasileira a partir da institucionalização da Lei 10639/03 em vigor há

doze anos.

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CONCLUSÃO

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Histórias e conceitos sobre racismo no Brasil 10

1.1 - Da diáspora a escravidão no Brasil 11

1.2 - Mito da democracia racial 17

1.3 - Raça, racismo e identidade 23

1.4 – Breve histórico do movimento negro no Brasil e

sua contribuição social 32

CAPÍTULO II

A educação como direito 38

2.1 - Desigualdades raciais e escolaridade 38

2.2 - Lei 10639/03 e sua importância pedagógica

no ambiente escolar 42

CAPÍTULO III

Currículo e formação de professores 47

3.1 - Formação inicial de professores 47

3.2 - O currículo no nível superior de pedagogia 50

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3.3 – Entrevista 54

CONCLUSÃO 57

BIBLIOGRAFIA 58

ÍNDICE 63