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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A INCONSTITUCIONALIDADE DA SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA
Por: Rafael Cesar Nunes Sales
Orientador
Prof. Luciana Madeira
Rio de Janeiro
2014
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A INCONSTITUCIONALIDADE DA SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como
requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Gestão
e Planejamento Tributário.
Por: Rafael Cesar Nunes Sales
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AGRADECIMENTOS
À minha família pelo incentivo, aos professores
pelos ensinamentos e a Deus pela inspiração.
Em especial à minha namorada Cris pela ajuda
e apoio.
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DEDICATÓRIA
Dedico o presente trabalho à minha namorada,
companheira, amiga e parceira. Sem ela não
teria chegado até aqui.
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RESUMO
É através da tributação que o Estado retira uma grande parte dos
recursos para manter-se e se consagrar às suas principais funções, os tributos
estão presentes na quase totalidade das atividades diárias dos cidadãos.
Diferentes governos tentaram realizar a reforma tributária, porém, os
conflitos de interesses, as mudanças de governos e a complexidade dos temas
abordados impediram a votação dos projetos de reforma.
O presente estudo tem a finalidade de analisar o princípio da legalidade,
previsto no art. 150, I, CF/88, e outros princípios afrontados pela substituição
tributária, pois se não há fato gerador previsto em lei que possa dar origem à
obrigação tributária, e o subsequente crédito tributário, momento pelo qual o
tributo passa a ser exigível, não pode haver cobrança de qualquer tributo.
O que veremos aqui será um estudo sobre os fatores que levam essa
tributação à inconstitucionalidade e ilegalidade.
Palavras – chave: Substituição tributária, princípios, ilegalidade,
inconstitucionalidade.
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METODOLOGIA
O estudo será realizado através de pesquisa explicativa fundamentada no
levantamento bibliográfico, sendo usado para isso, livros, revistas, jornais e
sites dos últimos 10 anos.
Para isso, as principais fontes usadas serão:
- Luciano Amaro: Direito Tributário Brasileiro
- Obra Coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Lívia Céspedes e Juliana Nicoletti
- Eduardo Sabbag – Manual do Direito Tributário
- Fabio Brun Goldschmidt – O Princípio do Não Confisco
- Folha de São Paulo de 27 de Abril de 2008
- Constituição Federal Brasileira
- Antonio Roque Carraza – ICMS
- Artigo Revista Ética e Filosofia Política
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SUMÁRIO
Introdução---------------------------------------------------------09
Capítulo I – O FATO GERADOR-----------------------------11
1.1 – Operações com mercadorias------------------------11
1.2 - Prestação de Serviços de Transporte-------------13
1.3 - Prestação de Serviço de Comunicação----------13
1.4 - Outros------------------------------------------------------13
1.5 - Fato Gerador Presumido-----------------------------14
Capítulo II – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
TRIBUTÁRIOS---------------------------------------------------16
2.1 – Princípio da legalidade tributária-------------------16
2.2 – Princípio do não confisco-----------------------------17
Capítulo III – REPETIÇÃO DO INDÉBITO
TRIBUTÁRIO-----------------------------------------------------19
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Capítulo IV – A INCONSTITUCIONALIDDAE DAS
TAXAS------------------------------------------------------------22
4.1 – rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo------23
4.2 – Cálculo do Imposto------------------------------------31
Capitulo V – TRIBUTAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS
NO BRASIL-----------------------------------------------------32
Conclusão------------------------------------------------------35
Bibliografia-----------------------------------------------------38
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INTRODUÇÃO
Segundo Amaro (2009), Substituição Tributária é um mecanismo de
arrecadação de tributos utilizado pelos governos federais e estaduais. Ele
atribui ao contribuinte a responsabilidade pelo pagamento do imposto devido
pelo seu cliente. A substituição será recolhida pelo contribuinte e
posteriormente repassada ao governo.
Esse procedimento é notadamente utilizado na cobrança do ICMS (sendo
conhecido como ICMS/ST), embora também esteja previsto na regulamentação
do IPI. A incidência da substituição tributária é definida a depender do produto.
A substituição tributária é utilizada para facilitar a fiscalização dos tributos
"plurifásicos", ou seja, os tributos que incidem várias vezes no decorrer da
cadeia de circulação de uma determinada mercadoria ou serviço.
Objeto de ADIn’s (4.785/DF, 4.786/DF e 4.787/DF), e sob relatoria dos
ministros Ricardo Lewandowski, Celso de Mello e Luiz Fux, tem-se falado muito
sobre a inconstitucionalidade das taxas, e mais ainda sobre o efeito cascata
que produzem.
Pela presente apresentação poderemos ver que, além de inconstitucional, a
pretensão de instituição desses tributos não atenta para as reais necessidades
da economia brasileira, que necessita desenvolvimento e crescimento com
investimentos em infraestrutura e reforma tributária.
A alíquota prevista tem nítido caráter arrecadatório, o que não condiz com a
natureza jurídica das taxas. Perde-se sua finalidade. É o mesmo que fraudar a
Constituição, ou seja, utilizar um instrumento lícito, mas inadequado, para se
alcançar um fim lícito. É o mesmo que expropriar por instrumento, em tese,
correto, mas destiná-lo a fim ilegítimo. É tredestinar, o que, em Direito
Administrativo, daria ensejo à retrocessão, e em Direito Tributário, à repetição
do indébito.
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Analisando a produção de petróleo e gás do estado do Rio de Janeiro, por
exemplo, que por dia, gira em torno de 1,6 milhões de barris e 28 milhões de
m³ respectivamente, teria o estado, só com a arrecadação decorrente da venda
ou transferência de petróleo, uma receita de R$ 5,6 bilhões a título de taxa pelo
efetivo ou potencial exercício do poder de polícia.
Dessa forma ferindo o princípio do não confisco, capitaneado no artigo 150,
inciso IV, da Constituição Federal, bem assim à própria regra-matriz de criação
das taxas (artigo 145, inciso II, da Constituição Federal).
Reforça essa argumentação, o artigo 13, parágrafo 3º, da Lei Complementar
140/2011
“Art. 13. Os empreendimentos e atividades são licenciados ou autorizados,
ambientalmente, por um único ente federativo, em conformidade com as
atribuições estabelecidas nos termos desta Lei Complementar.
Considerando os exemplos citados e outros que usaremos no decorrer do
trabalho, o objetivo do estudo é pesquisar quais os fatores que justificariam a
legalidade e constitucionalidade da substituição tributária, como o Fato Gerador
que estudaremos no Capítulo I, os Princípios Constitucionais Tributários, como
o da Legalidade e o Não Confisco no Capítulo II. No capítulo III estudaremos a
Repetição do indébito tributário. No IV a inconstitucionalidade das taxas e no
Capítulo V a tributação e as políticas públicas no Brasil.
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CAPÍTULO I
O FATO GERADOR
A obrigação tributária consiste no pagamento do tributo ou penalidade
pecuniária e surge com o fato gerador, definido no artigo 113 do Código
Tributário Nacional.
O fato gerador é definido por lei como necessário e suficiente à obrigação de
pagar o tributo.
Com base no artigo 5º da Lei Estadual nº 11.580/1996 e no artigo 5º do
Regulamento do ICMS, aprovado pelo Decreto nº 5141/01-RICMS, será
estabelecido o vínculo jurídico entre o contribuinte e o Fisco.
A Constituição Federal de 1988 outorgou aos Estados e ao Distrito Federal o
direito de instituir o imposto sobre as operações de circulação de mercadorias,
sobre as prestações de serviços de comunicação a título oneroso, e, ainda,
sobre os serviços de transporte intermunicipais e interestaduais por qualquer
via.
1.1 – Operações com Mercadorias
Mercadoria é "toda coisa móvel apreciável e permutável, suscetível de ser
contada, pesada ou medida, e de constituir objeto de comércio ou de
especulação" (Dicionário de Tecnologia Jurídica, Freitas Bastos, Rio de
Janeiro/São Paulo, 1974).
Independente da natureza jurídica da operação, o fato gerador do ICMS ocorre
nos seguintes momentos:
a) na saída de mercadoria de estabelecimento de contribuinte, ainda que para
outro estabelecimento do mesmo titular;
b) no fornecimento de alimentações, bebidas e outras mercadorias por
qualquer estabelecimento, incluindo-lhe os serviços inerentes;
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c) no desembaraço aduaneiro das mercadorias importadas do Exterior;
d) na transmissão a terceiro de mercadoria depositada em armazém-geral ou
em depósito fechado, na unidade federada do transmitente;
e) na transmissão de propriedade de mercadoria, ou de título que a represente,
quando a mercadoria não tiver transitado fisicamente pelo estabelecimento
transmitente;
f) na aquisição em licitação pública de bens ou mercadorias importados do
Exterior apreendidos ou abandonados;
g) na entrada no território do Estado do Paraná de petróleo e seus derivados,
inclusive lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos, oriundos de outro
Estado, quando não destinados à industrialização ou comercialização
subseqüente;
h) na entrada no território do Estado do Paraná de energia elétrica remetida de
outro Estado, quando não destinados à industrialização ou comercialização
subseqüente;
i) no fornecimento de mercadoria com prestação de serviços não
compreendidos na competência tributária dos Municípios;
j) no fornecimento de mercadoria com prestação de serviços tributados pelo
ISS e com indicação expressa de incidência do ICMS, como definido na Lei
Complementar nº 56/1987.
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1.2 – Prestação de Serviço de Transporte
O fato gerador de ICMS ocorre nos seguintes momentos, independente da
natureza jurídica da prestação:
a) no início da prestação de serviços de transporte intermunicipal e
interestadual;
b) no ato final do transporte iniciado no Exterior;
c) no recebimento, pelo destinatário, de serviço prestado no Exterior;
d) na utilização, por contribuinte, de serviço cuja prestação se tenha iniciado
em outro Estado e não esteja vinculada a operação ou prestação subsequente,
alcançada pela incidência do imposto.
1.3 – Prestação de Serviço de Comunicação
O fato gerador do ICMS ocorre também nas prestações onerosas de serviços
de comunicação, feitas por qualquer meio, inclusive a geração, a emissão, a
recepção, a transmissão, a retransmissão, a repetição e a ampliação de
comunicação de qualquer natureza.
1.4– Outros casos
IMPORTAÇÃO – A entrega da mercadoria importada do exterior somente será
entregue após o desembaraço aduaneiro e deverá ser autorizada pelo órgão
responsável pelo desembaraço que só o fará mediante exibição do
comprovante de pagamento do imposto incidente na hora do despacho, ou
apresentação da "Guia para Liberação de Mercadoria Estrangeira sem
Comprovação de Recolhimento do ICMS", no caso de importação de
mercadoria isenta, diferida ou não tributada pelo imposto.
RECOLHIMENTO ANTES DA OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR: A
fiscalização exige o pagamento antecipado do imposto nos casos de venda
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ambulante quando da entrada de mercadoria no território do Estado para
revenda sem destinatário certo, onde o imposto é calculado conforme o
disposto no artigo 270 do RICMS.
Também ocorre o pagamento do imposto antes do correspondente fato gerador
nas hipóteses de substituição tributária.
1.5 – FATO GERADOR PRESUMIDO
O fato gerador do imposto ocorrerá quando, através de processo de
fiscalização, for constatado:
a) o suprimento de caixa sem comprovação da origem do numerário, quer
esteja escriturado ou não;
b) a existência de título de crédito quitado ou despesas pagas e não
escrituradas, bem como bens do ativo permanente não contabilizados;
c) a diferença entre o valor apurado em levantamento fiscal que tomou por
base índice técnico de produção e o valor registrado na escrita fiscal;
d) a falta de registro de documento fiscal referente à entrada de mercadoria;
e) a existência de contas no passivo exigível que apareçam oneradas por
valores documentalmente inexistentes;
f) a existência de valores que se encontrem registrados em sistema de
processamento de dados, equipamento emissor de cupom fiscal ou outro
equipamento similar, utilizados sem prévia autorização ou de forma irregular,
que serão apurados mediante a leitura dos dados neles constantes;
g) a falta de registro de Notas Fiscais de bens adquiridos para consumo ou
para ativo fixo;
h) a superavaliação do estoque inventariado.
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No próximo capítulo, o tema abordado será os princípios constitucionais
tributários, mais especificamente, os princípios da Legalidade Tributária e o
princípio do Não-Confisco, juntamente com as definições de tributo por autores
diferentes.
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CAPÍTULO II
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS
“Art. 3.º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo
valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída
em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”
(BRASIL. Vade Mecum. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Livia Céspedes e Juliana Nicoletti. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p.687.)
O professor Luciano Amaro define tributo como sendo “a prestação pecuniária
não sancionatória de ato ilícito, instituída em lei e devida ao Estado ou a
entidades não estatais de fins de interesse público”
(AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 25.)
Considerando esta análise e conceituação acerca dos princípios constitucionais
tributários, torna-se possível perceber as limitações ao poder de tributar, que se
encontram direta e explicitamente relacionadas aos princípios citados, que
estão explícitos na Constituição Federal.
2.1 – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE TRIBUTÁRIA
Conhecido também como princípio da estrita legalidade ou da reserva legal e é
considerado o princípio mais importante dentre os relacionados ao aspecto
tributário. Sua previsão legal consta do Art. 150, inciso I, da Constituição
Federal, que diz “ser vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça”
(BRASIL. Vade Mecum. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz
Roberto Curia, Livia Céspedes e Juliana Nicoletti. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 53)
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Segundo esse princípio, o tributo não pode ser cobrado nem aumentado sem
lei que estabeleça. Ele limita a atuação do ente tributante, fornecendo maior
segurança jurídica ao contribuinte.
Segundo o professor Sacha Calmon Navarro Coelho, o significado do princípio
da legalidade tributária tem a seguinte forma: “[...] o princípio da legalidade
significa que a tributação deve ser decidida não pelo chefe de governo, mas
pelos representantes do povo, livremente eleitos para fazer leis claras”.
A legalidade tributária impõe limite ao poder de tributar, pois somente em
virtude de lei pode-se criar ou majorar tributos.
2.2 – PRINCÍPIO DO NÃO CONFISCO
Esse princípio está previsto no Art. 150, inciso IV, da Constituição Federal, que
diz que é vedado às pessoas políticas “utilizar tributo com efeito de confisco”.
Essa limitação ao poder de tributar visa garantir o direito à propriedade
individual, e ela não possui parâmetros objetivos, é analisado caso a caso,
tributo a tributo.
Segundo Eduardo Sabbag, o conceito de confisco pode ser visto da seguinte
forma: “de modo geral, o conceito de confisco tem sido apresentado como a
absorção da propriedade particular pelo Estado, sem justa indenização. No
momento em que isso ocorre, no plano tributário, exsurge o confisco em
matéria tributária, revestindo-se de roupagem de tributo inconstitucional”
(SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário – Ideal para concursos públicos. São Paulo:
Saraiva, 2009. p. 191.)
Pode-se dizer que essa vedação constitucional do confisco tributário
representa a coibição, pela Lex Legum, de qualquer aspiração estatal que
possa levar à injusta apropriação pelo Estado, no todo ou em parte, do
patrimônio ou das rendas dos contribuintes, de forma a comprometer, em razão
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da insuportabilidade da carga tributária, o exercício do direito a uma existência
digna, ou, também, a prática de atividade profissional lícita ou, ainda, a regular
satisfação de suas necessidades vitais básicas.
Goldschmidt ainda assevera:
O princípio inserto no art. 150, IV, da Carta [...] tem a precípua função de
estabelecer um marco às limitações ao direito de propriedade através da
tributação, para indicar (e barrar) o momento em que a tributação deixar de
lubrificar e construir o direito de propriedade (viabilizando a sua
manutenção), para inviabilizá-lo. Graficamente, poderíamos dizer que a
limitação via tributação termina onde começa a privação, o efeito de
confisco.
( GOLDSCHMIDT, Fabio Brun. O princípio do não-confisco no direito
tributário. São Paulo: RT, 2003, p.39)
Afere-se o efeito confiscatório do tributo em função da carga tributária em
conjunto, com a verificação da capacidade do contribuinte – considerando a
totalidade de sua riqueza – para suportar a incidência de todos os tributos que
deverá pagar, dentro de determinado período.
A seguir será apresentado um tema de suma importância para o nosso estudo,
que é a Repetição do Indébito Tributário, que é o que reforça a tese de que a
substituição tributária é inconstitucional.
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CAPÍTULO III
REPETIÇÃO DO INDÉBITO TRIBUTÁRIO
Repetição de indébito tributário refere-se à possibilidade do direito do
contribuinte pleitear, junto às autoridades fazendárias, a devolução de tributo
pago indevidamente ou nas demais hipóteses listadas pela Lei.
Conforme o artigo 165 do CTN, os contribuintes têm o direito de solicitar, junto
ao ente tributante, a restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a
modalidade do seu pagamento, nos seguintes casos:
— cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior que o
devido em face da legislação tributária aplicável, ou da natureza ou
circunstâncias materiais do fato gerador efetivamente ocorrido;
— erro na identificação do sujeito passivo, na determinação da alíquota
aplicável, no cálculo do montante do débito ou na elaboração ou conferência de
qualquer documento relativo ao pagamento;
— reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória, seja
esta administrativa ou judicial.
O STF editou o enunciado 564: cabe a restituição do tributo pago
indevidamente, quando reconhecido por decisão que o contribuinte de jure não
recuperou do contribuinte de facto o quantum respectivo. Ou seja, o
contribuinte de direito do ICMS (empresário) também será o contribuinte de
fato, arcando com o ônus financeiro e assim podendo pleitear a restituição.
O pagamento indevido é a extinção do crédito tributário, sendo que, no
pagamento indevido, não há obrigação nem crédito. Geralmente é a prática de
um ato administrativo irregular de lançamento, seguido de pagamento pelo
suposto devedor, ou o pagamento, sem prévio lançamento, por iniciativa
exclusiva do suposto sujeito passivo. No caso do sujeito passivo, a prática de
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ato da autoridade administrativa não terá existido e, por isso, não caberia a
referência a crédito tributário nem mesmo no sentido de entidade constituída
pelo lançamento, com abstração da obrigação tributária.
Segundo o CTN, a restituição pode ser total ou parcial. Mas a restituição do
indébito há de ser sempre total. O que pode ocorrer é que, num pagamento,
por exemplo, de R$ 1.000,00. só R$ 800,00 fossem devidos, e, portanto, teria
ocorrido um recolhimento indevido de R$ 200,00. O indébito é de R$ 200,00, e
esse valor desse ser totalmente devolvido. Portanto, a restituição deve ser
total e não parcial do indébito. A parcela de certa quantia paga que não é
restituível pois representa tributo devido.
Nesse sentido, LUÍS CESAR SOUZA DE QUEIROZ observa com propriedade:
No plano da linguagem da Ciência do Direito, só há um contribuinte, o
redundantemente denominado contribuinte de direito. A outra pretensa
espécie (contribuinte de fato) não tem espaço em termos jurídicos. É figura
inteiramente estranha ao Direito, que para ser utilizada demandaria o
seguinte (e estranho) esclarecimento: o conceito de contribuinte de fato é
conceito que nada tem que ver com o conceito jurídico (utilizado na
linguagem da Ciência do Direito) de contribuinte (contribuinte de direito).
(SOUZA DE QUEIROZ (1999, p.181)
Contudo, a expressão “contribuinte de fato” tem sido questionada há muito
tempo. Como os tributos indiretos, ele também é um conceito econômico que
interessa para Ciência das Finanças, e não um conceito jurídico. Talvez a
maior dificuldade encontrada na questão dos “tributos indiretos” regulada pelo
art.166 do CTN, e sua devida restituição, é o fato daquela ciência unir as
expressões “de fato” e “de direito” num mesmo conceito.
Dentro da Ciência Econômica é contribuinte tanto o “econômico” como o
“jurídico”, já para o Direito Tributário inexiste identidade relevante, pois o
contribuinte de fato não é contribuinte, visto que, este possui uma
conotação legal. Não possui, deste modo, relevância jurídica tributária no
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campo da repetição do indébito, tendo no máximo paralelamente a este tema,
relevância jurídica no direito privado.
Concluímos assim que o direito subjetivo do contribuinte à repetição do indébito
tributário tem fundamento constitucional e, por isso, o art. 166 do CTN, assim
como qualquer outra norma legal que tende suprimir esse direito será
inconstitucional; e que a relação jurídico tributária que dá origem ao direito de
repetir o indébito se estabelece apenas entre o contribuinte legal e o fisco,
restando sem qualquer consequência jurídica a figura do contribuinte de fato.
No próximo capítulo será estudado a inconstitucionalidade das taxas e veremos
alguns exemplos dos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo,
estados que tentam instituir taxa de controle.
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CAPÍTULO IV
A INCONSTITUCIONALIDADE DAS TAXAS
Taxa é um tributo cujo fato gerador é aplicado pela Administração Pública, ou
seja, é um tributo vinculado a uma atividade estatal.
As taxas são tributos cujo fato gerador é configurado por uma atuação
estatal específica, referível ao contribuinte, que pode consistir: a) no
exercício regular do poder de polícia; ou b) na prestação ao contribuinte, ou
colocação à disposição deste, de serviço público específico e
divisível.Como se vê, o fato gerador da taxa não é um fato do contribuinte,
mas um fato do Estado. O Estado exerce determinada atividade e, por isso,
cobra a taxa da pessoa a quem aproveita aquela atividade.
. (AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 15. ed. São Paulo: Saraiva,
2009. p. 30-31).
O conceito legal de taxa, consta do texto Constitucional, em seu art. 145, II, e
vem discriminado no art. 77 do Código Tributário Nacional, que tem a seguinte
redação:
Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito FederaL
ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como
fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva
ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao
contribuinte ou posto à sua disposição. Parágrafo único. A taxa não pode ter
base de cálculo ou fato gerador idênticos aos que correspondam a imposto,
nem ser calculada em função do capital das empresas.
(BRASIL. Vade Mecum. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a
colaboração de Luiz Roberto Curia)
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4.1 – Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo
Os estados do Rio de Janeiro (Projeto de Lei 1.877/2012), Espírito Santo
(Projeto de Lei 1/2013) e São Paulo (Projeto de Lei 4/2013) tentam instituir uma
taxa de controle, monitoramento e fiscalização da exploração do petróleo e
gás, porém sem sucesso, já que para a primeira, houve o veto do projeto pelo
governador do estado do Rio de Janeiro. Na justificativa desses projetos faz-se
referência àquelas “taxas” instituídas pelos estados de Minas Gerais, Pará e
Amapá, como modelo de juridicidade.
Veremos aqui que, além de inconstitucional, a pretensão de instituição desses
novos tributos não atenta para as reais necessidades da economia brasileira,
que tanto necessita desenvolvimento e crescimento com investimentos em
infraestrutura e reforma tributária.
Os estados do Rio de Janeiro e São Paulo justificam-se da mesma forma:.
“Diante do risco da perda dos royalties decorrentes da exploração do
petróleo, o estado de São Paulo [Rio de Janeiro] será o maior
prejudicado com considerável redução de receita a partir do ano de
2013. Muito embora o governo federal tenha vetado a proposta de
redistribuição, o Congresso Nacional ameaça derrubar o veto.
Medidas compensatórias vem sendo estudadas pelos representantes
das unidades federativas prejudicadas, bem como, pela presidência
da república.
O presente Projeto vem ao encontro das medidas adotadas para
evitar lesão irreparável aos cofres públicos do Estado. Nesse sentido,
o Estado de Minas e Pará, já possuem taxa semelhante com o
objetivo de controlar e fiscalizar seus recursos minerais e proteger o
seu meio ambiente.”
Já o Espírito Santo justificou sua pretensão da seguinte forma:
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“É certo que eventos dessa natureza impõem a reparação dos
prejuízos ambientais e econômicos pelas empresas exploradoras.
Mas até que isso ocorra, o município, com o apoio do estado,
precisará lançar mão de vultosos recursos financeiros previamente
alocados para outro fim para, de alguma forma, minimizar o
sofrimento daqueles que tiveram seu meio de vida prejudicado.”
Nas duas justificativas, o intuito é arrecadatório e compensador, tanto em razão
da possível perda com os royalties do petróleo, como pela necessidade de
“minimizar o sofrimento daqueles que tiveram seu meio de vida prejudicado”
como reparação financeira decorrente de danos ambientais.
A questão é que não se justifica a instituição desses novos tributos. Sabemos
do impacto financeiro que a perda da arrecadação dos royalties irá gerar aos
estados produtores de petróleo. Mas sustentamos que tentar encontrar abrigo
na perda da arrecadação dos royalties para onerar ainda mais a indústria
regional do petróleo é dizer: todas as vezes que o estado for prejudicado em
razão da forma de estado (federação/pacto federativo), quem pagará a conta
serão os agentes econômicos, a indústria, que é quem gera emprego, renda e
movimenta o Estado a partir dos impostos já pagos. E por isso é uma
contradição. Quem luta, dia a dia, para melhorar os fatores de produção,
contribuinte para o aumento da renda per capita do país, tem que sofrer,
ainda, com as surpresas, em contramão, do próprio Estado.
O propósito arrecadatório, nesses casos, para além de desvirtuar o sistema
econômico, desnatura, por completo, a natureza jurídica de taxa desse novo
tributo. Também fere o artigo 145, inciso II, da Constituição Federal.
Vemos aqui as semelhanças entre as “taxas” do RJ, ES e SP com as de MG,
PA e AP, destacando a relação jurídico-tributária:
I) a hipótese de incidência (artigo 1°) é o exercício regular do poder de polícia
conferido ao Estado sobre a atividade de pesquisa, lavra, exploração ou
aproveitamento de petróleo e gás; e das atividades potencialmente geradoras
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de degradação ao meio ambiente local, relacionadas à exploração e
aproveitamento dos recursos naturais de petróleo e gás.
II) o fato gerador (artigo 4°) considera-se ocorrido no momento da venda ou da
transferência entre estabelecimentos pertencentes ao mesmo titular de petróleo
e gás extraído.
III) o contribuinte (artigo 3°) da TFRM/TFIA é a pessoa, física ou jurídica, que
esteja, a qualquer título, autorizada a realizar pesquisa, lavra, exploração ou
aproveitamento de recursos de petróleo e gás no estado do Rio de Janeiro.
IV) alíquota é específica, sendo 4 (quatro) UFIR-RJ[3] (R$ 9,6264), para o Rio
de Janeiro; 2 (duas) VRTE´s (R$ 4,764), para o Espírito Santo; e 4 (quatro)
UFIR-SP [4] (R$ 77,48), para São Pualo; tudo por barril ou unidade equivalente
de petróleo ou gás extraído (base de cálculo), sendo que, para fins de
determinação da quantidade de petróleo ou gás extraído, será considerada a
quantidade indicada no documento fiscal relativo à venda ou a transferência
Posto isto, os estados acima citados andarão mal se forem sancionadas as leis
tal como redigidos os projetos, tendo em vista os vários vícios de
inconstitucionalidade material. São eles: ferimento aos princípios do não-
confisco, da igualdade tributária e do “no bis in idem”, além das regras
previstas no artigo 145, inciso II e parágrafo 2º, da Constituição Federal, entre
outras.
A alíquota prevista tem nítido caráter arrecadatório, o que não condiz com a
natureza jurídica das taxas. Desvirtua-se sua finalidade. É o mesmo que
fraudar a Constituição, ou seja, utilizar um instrumento lícito, mas inadequado,
para se alcançar uma fim lícito. É o mesmo que expropriar por instrumento, em
tese, correto, mas destiná-lo a fim ilegítimo. É tredestinar, o que, em Direito
Administrativo, daria ensejo à retrocessão, e em Direito Tributário, à repetição
do indébito.
Analisando a produção de petróleo e gás do estado do Rio de Janeiro, que por
dia, gira em torno de 1,6 milhões de barris e 28 milhões de m³
26
respectivamente, teria o estado, só com a arrecadação decorrente da venda ou
transferência de petróleo, uma receita de R$ 5,6 bilhões a título de taxa pelo
efetivo ou potencial exercício do poder de polícia.
E se analisarmos uma empresa que tenha uma produção de 3 mil barris de
óleo por dia. No ano, a produção giraria em torno de 1,1 milhões de barris. A
venda destes daria ensejo à arrecadação de R$ 10,5 milhões para o Estado.
Sendo indiscutível que nenhum poder de polícia requer custeio tão elevado
para apenas uma empresa.
E sendo que o orçamento das despesas para as Secretaria de Estado do
Ambiente e da Fazenda do Rio de Janeiro, para o ano de 2012, foi de R$
1.034.458.086,00 e R$ 759.548.049,00, respectivamente. Para o ano de 2013,
o anteprojeto de Lei Orçamentária Anual prevê despesas para estas mesmas
Secretarias na ordem de R$ 1.108.551.215,00 e R$ 845.635.948,00,
respectivamente. O próprio Poder Executivo já reconhece, portanto, que o
custo da fiscalização que lhe cabe está orçado dentro destes parâmetros,
sendo desnecessária qualquer verba extra.
Dessa forma ferindo o princípio do não-confisco, capitaneado no artigo 150,
inciso IV, da Constituição Federal, bem assim à própria regra-matriz de criação
das taxas (artigo 145, inciso II, da Constituição Federal).
Reforça essa argumentação, o artigo 13, parágrafo 3º, da Lei Complementar
140/2011
“Art. 13. Os empreendimentos e atividades são licenciados ou autorizados,
ambientalmente, por um único ente federativo, em conformidade com as
atribuições estabelecidas nos termos desta Lei Complementar.
§ 3o “Os valores alusivos às taxas de licenciamento ambiental e outros serviços
afins devem guardar relação de proporcionalidade com o custo e a
complexidade do serviço prestado pelo ente federativo.”
O entendimento do Supremo Tribunal Federal é que:
27
“Ação direta de inconstitucionalidade sobre a taxa de expediente do Estado de
Minas Gerais — DPVAT. A incidência da referida taxa de expediente sobre as
sociedades seguradoras sob alegação de ilegitimidade ativa das entidades
sindicais que fizeram instaurar o processo de fiscalização normativa abstrata.
Alegada utilização do controle normativo abstrato para a defesa de interesses
individuais e concretos. O relator da causa reconhece a não-caracterização de
que se reveste de densidade jurídica a pretensão de inconstitucionalidade
deduzida pelos litisconsorte ativos e inobservância, na espécie, da relação de
razoável equivalência que necessariamente deve haver entre o valor da taxa e
o custo do serviço prestado ou posto à disposição do contribuinte. É uma
ofensa aos princípios constitucionais da não-confiscatoriedade (CF, ART. 150,
IV) e da proporcionalidade (CF, ART. 5º, LIV). O relator entende que, não
obstante configurado o requisito pertinente à plausibilidade jurídica, não se
revela presente, no caso, o pressuposto do “PERICULUM IN MORA". A
decisão do plenário, no entanto, que reconheceu configurada, na espécie, a
situação caracterizadora do "PERICULUM IN MORA", o que levou a não
referendar, por tal razão, a decisão do relator. Consequente deferimento da
medida cautelar. Inadequação do controle normativo abstrato para a defesa de
interesses individuais e concretos: situação inocorrente na espécie.
Consequente idoneidade jurídica do meio processual utilizado.
A GARANTIA CONSTITUCIONAL DA NÃO-CONFISCATORIEDADE
— O ordenamento constitucional brasileiro, ao definir o estatuto dos
contribuintes, instituiu, em favor dos sujeitos passivos que sofrem a ação fiscal
dos entes estatais, expressiva garantia de ordem jurídica que limita, de modo
significativo, o poder de tributar de que o Estado se acha investido. Dentre as
garantias constitucionais que protegem o contribuinte, destaca-se, em face de
seu caráter eminente, aquela que proíbe a utilização do tributo — de qualquer
tributo — com efeito confiscatório (CF, art. 150, IV). — A Constituição da
28
República, ao consagrar o postulado da não-confiscatoriedade, vedou qualquer
medida, que, adotada pelo Estado, possa conduzir, no campo da fiscalidade, à
injusta apropriação estatal do patrimônio ou dos rendimentos dos contribuintes,
comprometendo-lhes, em função da insuportabilidade da carga tributária, o
exercício a uma existência digna, ou a prática de atividade profissional lícita,
ou, ainda, a regular satisfação de suas necessidades vitais (educação, saúde e
habitação, p. ex.).— Conceito de tributação confiscatória: jurisprudência
constitucional do Supremo Tribunal Federal (ADI2.010-MC/DF, Rel. Min.
CELSO DE MELLO, v.g.) e o magistério da doutrina. A questão da
insuportabilidade da carga tributária.
TAXA: CORRESPONDÊNCIA ENTRE O VALOR EXIGIDO E O CUSTO DA
ATIVIDADE ESTATAL.
— A taxa, enquanto contraprestação a uma atividade do Poder Público, não
pode superar a relação de razoável equivalência que deve existir entre o custo
real da atuação estatal referida ao contribuinte e o valor que o Estado pode
exigir de cada contribuinte, considerados, para esse efeito, os elementos
pertinentes às alíquotas e à base de cálculo fixadas em lei. — Se o valor da
taxa, no entanto, ultrapassar o custo do serviço prestado ou posto à disposição
do contribuinte, dando causa, assim, a uma situação de onerosidade
excessiva, que descaracterize essa relação de equivalência entre os fatores
referidos (o custo real do serviço, de um lado, e o valor exigido do contribuinte,
de outro), configurar-se-á, então, quanto a essa modalidade de tributo, hipótese
de ofensa à cláusula vedatória inscrita no artigo 150, IV, da Constituição da
República. Jurisprudência. Doutrina.
TRIBUTAÇÃO E OFENSA AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE.
— O Poder Público, especialmente em sede de tributação, não pode agir
imoderadamente, pois a atividade estatal acha-se essencialmente
condicionada pelo princípio da razoabilidade, que traduz limitação material à
ação normativa do Poder Legislativo.
29
— O Estado não pode legislar abusivamente. A atividade legislativa está
necessariamente sujeita à rígida observância de diretriz fundamental, que,
encontrando suporte teórico no princípio da proporcionalidade, veda os
excessos normativos e as prescrições irrazoáveis do Poder Público. O princípio
da proporcionalidade, nesse contexto, acha-se vocacionado a inibir e a
neutralizar os abusos do Poder Público no exercício de suas funções,
qualificando-se como parâmetro de aferição da própria constitucionalidade
material dos atos estatais.
— A prerrogativa institucional de tributar, que o ordenamento positivo
reconhece ao Estado, não lhe outorga o poder de suprimir (ou de inviabilizar)
direitos de caráter fundamental constitucionalmente assegurados ao
contribuinte. É que este dispõe, nos termos da própria Carta Política, de um
sistema de proteção destinado a ampará-lo contra eventuais excessos
cometidos pelo poder tributante ou, ainda, contra exigências irrazoáveis
veiculadas em diplomas normativos editados pelo Estado. ”
Os projetos preveem produção de efeitos a partir da data de publicação da
respectiva lei, o que afronta diretamente a regra da anterioridade e da
anterioridade nonagesimal (artigo 150, III, “b” e “c”, da Constituição Federal).
Com efeito, só poderia o tributo ser cobrado — fosse ele constitucional — no
exercício financeiro seguinte à sua instituição e noventa dias após a publicação
da Lei que o criou.
A “base de cálculo” da “TFPG/TFIA” se aproxima muito da base de cálculo do
ICMS, levando em consideração a quantidade de mercadoria saída do
estabelecimento, por venda ou transferência.
Pode-se destacar, ainda, a insustentabilidade do argumento de querer se
fundamentar a constitucionalidade da exação pautando-se nos artigos 23,
incisos VI e XI, e 24, inciso VI, todos da Constituição Federal.
Porque se faz uma completa confusão entre poder fiscalizador de bens da
União — como é o caso dos recursos naturais da plataforma continental e da
zona econômica exclusiva e dos recursos minerais, inclusive os do subsolo,
contemplados no artigo 20, incisos V e IX, da Constituição Federal — e poder
30
fiscalizador do meio ambiente e também se faz confusão com relação ao poder
fiscalizador das concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos
minerais, pois esta concerne à verificação da regularidade dessas, sem contar
que conforme o artigo 24 da CF é suplementar, sendo que já há norma federal
prevendo que “Os valores alusivos às taxas de licenciamento ambiental e
outros serviços afins devem guardar relação de proporcionalidade com o custo
e a complexidade do serviço prestado pelo ente federativo” (artigo 13,
parágrafo 3º, da Lei Complementar 140/2011).
Nesse contexto, é manifesta a inconstitucionalidade formal dos referidos
projetos, a teor da jurisprudência do E. Supremo Tribunal Federal.
Após considerações, entendemos que são bastante questionáveis as novas
exações em destaque, tendo em vista inconstitucionalidades formais e
materiais aos referidos projetos.
Deve-se atentar também que “considera-se ocorrido o fato gerador da TFPG no
momento da venda ou da transferência” do petróleo ou gás. O fato gerador da
taxa não pode ser a venda ou transferência de bem. Estas são hipóteses que
se amoldam ao fato gerador de tributos da espécie “imposto”, que pressupõem
atividades dos contribuintes (CTN, art. 16). Já o tributo da espécie “taxa” tem
por pressuposto uma atuação do Poder Público, específica e divisível, voltada
ao contribuinte. São hipóteses inconciliáveis.
Importante destacar, por fim, que a destinação de 25% da TFGP aos
municípios não se coaduna com a natureza jurídica do tributo ora instituído,
pois não há como justificar o repasse de parcela do valor para outros entes que
não arcariam com os gastos relativos às atividades estatais fiscalizatórias.
Mesmo que, por hipótese, os municípios delegassem ao Estado do Rio de
Janeiro, a competência fiscalizatória de que são constitucionalmente titulares,
quanto à proteção ambiental e concessões relativas à exploração de recursos
minerais, não seria cabível tal partilha, pois na pressuposição aventada, todo o
encargo da atividade fiscalizatória ainda seria suportado pelo estado
fluminense.
31
4.2 - Do Cálculo do Imposto
Art. 3º A base de cálculo do imposto, para os fins de substituição tributária,
será o valor correspondente ao preço único ou máximo de venda a varejo
fixado pelo órgão público competente.
§ 1º Inexistindo o valor de que trata o caput, a base de cálculo corresponderá
ao montante formado pelo preço praticado pelo remetente, incluídos os valores
correspondentes a frete, seguro, impostos, contribuições, e outros encargos
transferíveis ou cobrados do destinatário, ainda que por terceiros, adicionado
da parcela resultante da aplicação, sobre o referido montante, do percentual de
margem de valor agregado ajustada (“MVA Ajustada”), calculada segundo a
fórmula:
MVA = [(1+ MVA ST original)x (1 - ALQ inter) / (1- ALQ intra)] -1, onde:
I – “MVA ST original” é a margem de valor agregado ;
II – “ALQ inter” é o coeficiente correspondente à alíquota interestadual aplicável
à operação; e
III – “ALQ intra” é o coefi ciente correspondente à alíquota interna ou ao
percentual de carga tributária efetiva, quando este for inferior à alíquota interna,
praticada pelo contribuinte substituto da unidade federada de destino.
No próximo capítulo abordaremos um assunto muito polêmico que é a
tributação e políticas públicas Brasileiras, que gera muitas discussões com
várias opiniões diferentes de como deveria ser aplicado o valor arrecadado
com a tributação.
32
CAPÍTULO V
TRIBUTAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL
Dois movimentos podem ser citados como grandes contribuintes na
elevação da carga tributária na América Latina nos últimos 20 anos: retorno à
democracia e o neoliberalismo. Os efeitos políticos e sociais combinado com os
movimentos afetou muito o contexto democrático e gerou várias consequências
para o sistema tributário e para as finanças públicas de vários países,
principalmente para o Brasil.
Diferentes governos tentaram realizar a reforma tributária, porém, os conflitos
de interesses, as mudanças de governos e a complexidade dos temas
abordados impediram a votação dos projetos de reforma. A mais recente
tentativa de reforma foi apresentada pelo poder executivo ao Parlamento em
fevereiro de 2008, sob o nome de PEC 233/2008 e está em debate na Câmara
dos Deputados.
Muitas discussões, mobilizações e coalizões sobre o tema formara-se na
sociedade brasileira, cada uma com suas crenças, idéias, interesses e
estratégias específicas e muito distintas entre si, procurando dominar o debate
e influenciar o poder público, que é representado pelo Executivo e Legislativo,
a tomar decisões favoráveis às suas reivindicações.
Pode-se dizer que uma coalizão de causa é formada por pessoas procedentes
de várias posições que compartilham um sistema de crença específico,
formado por conjunto de valores básicos, pretensões causais e percepções do
problema. Sendo assim, a política pública é o resultado da disputa constante
entre as coalizões que à sua volta procuram impor a sua visão, preferências e
os princípios de ação relativos ao seu próprio sistema de crenças.
Durante as duas últimas décadas a tributação no Brasil pode ser caracterizada
como um campo marcado pela participação de duas coalizões em disputa
33
tentando impor suas defesas de causas distintas: uma ligada a aspectos
econômicos e outra às reivindicações sociais ou coalizão econômico-
competitiva e coalizão sócio distributiva, que propõem projetos diferentes de
sociedade através de uma justificação da existência e da função do imposto.
De acordo com os atores da “coalizão econômico-competitiva”, o estado não
pode intervir no domínio da economia e qualquer intervenção é considerada
como um obstáculo ao bom funcionamento desta , defendendo-se ao mesmo
tempo a diminuição da carga fiscal e das despesas públicas.
Seus principais atores são:
A Ação Empresarial e todos os seus membros (confederações, Federações,
Associações e Sindicatos de empresas e indústrias), como confederações
Nacionais da indústria, comércio, agricultura, financeira, etc, grupos Gerdau,
Votorantin, entre outras. E seus objetivos anunciados são identificar e defender
os interesses comuns das empresas. Este ator teve uma participação
importante principalmente no momento das discussões em torno das reformas
propostas durante os Governos Collor e Cardoso e seu representante e
presidente é Jorge Gerdau Johannpeter. Mas também fazem parte presidentes
e chefes de grandes empresas e indústrias como Vale, Pão de açúcar,
Magazine Luiza, Embraer e etc, partidos políticos e personagens políticos,
juristas, especialistas e experts.
Sr. Jorge Gerdau afirmou que: “O país com uma carga tributária próxima a 40%
e zero de investimentos não pode competir”. (Folha de São Paulo, 27 de Abril
de 2008)
Já a coalizão sócio distributiva defende que recursos do Estado (principalmente
os procedentes de tributação) devem ser gastos em políticas públicas para
beneficiar a maioria da população, principalmente a mais pobre, tendo
obrigação de intervir e retificar a ordem social, a fim de remover as mais
profundas e perturbadoras injustiças sociais. Investindo principalmente em
saúde educação, como determina a Constituição.
34
Seus principais atores são:
INESC (Instituto de Estudos Socioeconômicos), Programa Justiça Econômica
(parceria entre as entidades Comissão Brasileira Justiça e Paz, pastorais
Sociais da CNBB, Grito Continental dos excluídos e outras entidades ligadas à
Igreja católica da Inglaterra de apoio ao desenvolvimento social no mundo),
Sindicatos e organizações de trabalhadores, alguns partidos de esquerda, o
MST, setores da Igreja Evangélica e Católica.
Analisando as últimas decisões, o que se observa é a diminuição da carga
fiscal, uma isenção da produção e, por conseguinte, efeitos positivos em prol
do setor empresarial. E somado a isso, está sendo votado na Câmara dos
Deputados o projeto que apoia o fim de algumas contribuições responsáveis
pelo financiamento de certas políticas sociais, principalmente no domínio da
assistência social, educação e emprego, como a COFINS, CSLL e PIS que
financiam importantes programas como o fundo de amparo ao trabalhador e o
salário educação que terão sua manutenção ameaçada.
O que pode-se ver até aqui é a análise dos desafios da tributação enquanto
problema público e como um campo de mobilização de atores em conflito. Mas
podemos perceber também, que levando em consideração as últimas decisões
sobre a tributação, tudo caminha para a direção exclusivamente do ajuste das
contas públicas paralelamente à desoneração e o aumento dos privilégios do
setor empresarial e não de uma justiça social.
Provavelmente essa discussão ainda perdure por muito tempo.
(Artigo: Revista Ética e Filosofia Política – N 15 – Volume 1 de maio de 2013)
35
CONCLUSÃO
Após o estudo realizado, levando em consideração todos os fatores
pesquisados, pode-se concluir que a substituição tributária é inconstitucional e
que sua cobrança gera enormes prejuízos às empresas.
O princípio da legalidade, previsto no art. 150, I, CF/88, é afrontado pela
substituição tributária, pois se não há fato gerador, também pesquisado pelo
presente estudo, previsto em lei que possa dar origem à obrigação tributária, e
o subsequente crédito tributário, momento pelo qual o tributo passa a ser
exigível, não pode haver cobrança de qualquer tributo. Sem contar que também
ocorre o pagamento do imposto antes do correspondente fato gerador.
O fato gerador do ICMS é a circulação econômica da mercadoria vendida, que
ocorre quando da saída do estabelecimento comercial ou industrial, ou também
nos casos de prestação de serviços de transportes interestaduais,
intermunicipais ou de comunicação.
No caso deste imposto, o sujeito passivo da obrigação tributária que surge com
a ocorrência do fato gerador é o contribuinte direto, ou seja, o vendedor da
mercadoria ou o prestador de serviços, responsável direto pelo cumprimento da
obrigação tributária.
Nos artigos 121 a 128 do Código Tributário Nacional são definidas hipóteses de
responsabilização tributárias a terceiras pessoas, o terceiro diretamente ligado
à situação que constitua o fato gerador; ou um terceiro responsável
diretamente apontado pela lei.
Dentre esses responsáveis os mais comuns são: o industrial, o produtor, o
comerciante e o prestador de serviços, que não necessita ser pessoa jurídica
regularmente inscrita no Registro competente nem nos órgãos tributantes,
36
porque o exercício de fato da atividade de comercio habitual é suficiente para
atribuir responsabilidade tributária.
A natureza jurídica da substituição tributária é uma espécie de antecipação de
tributos, onde o substituto é uma terceira pessoa que se torna responsável pelo
recolhimento do imposto, referente a um fato gerador futuro. Diferente da
substituição tributária do ICMS para trás, aquela que o fato gerador ocorreu
anteriormente, e consequentemente responsabiliza o substituto pelo imposto
quando da ocorrência da operação seguinte, onde a maioria dos doutrinadores
entendem ser constitucional. Como também nos casos de substituição
tributária concomitante, comum nos casos comunicação, serviços de
transportes interestaduais e intermunicipais e outros.
Mas a polêmica é gerada na substituição tributária subsequente, ou para frente,
porque o responsável tributário é uma terceira pessoa que não tem relação
jurídica com o fato gerador. Essa substituição tributária para frente faz incidir
tributação sobre um “fato gerador” que ainda não ocorreu ou que ocorrerá
supostamente no futuro, com o argumento de haver necessidade de o Fisco
combater a evasão fiscal e é nesse ponto que entendemos a
inconstitucionalidade da substituição tributária “para frente”.
Observando as disposições da emenda à Constituição, percebe-se que, para
perfeita aplicação da substituição tributária “para frente”, é obrigatório que esta
seja aplicada a “fatos geradores” já ocorridos e não sobre os que não
ocorreram ou que poderão ocorrer no futuro. Ou haveria ofensa aos direitos
fundamentais do Contribuinte.
O que o jurista Roque Antônio Carrazza entende é que:
“Para que o mecanismo da substituição venha adequadamente utilizado é
preciso que se estribe em fatos concretamente ocorridos; nunca em fatos
futuros, de ocorrência incerta. Esta é uma barreira constitucional inafastável,
pois integra o conjunto de direitos e garantias fundamentais que a Lei Maior
confere ao Contribuinte”.
37
(CARRAZZA, Antônio Roque. ICMS. 15ª Ed. São Paulo, Malheiros. 2011, p.
355)
Já a Emenda Constitucional acrescentou o §7º ao art. 150, da Constituição a
seguir:
§ 7.º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição
de responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato
gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada a imediata e preferencial
restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido.
Até pode-se compreender o disposto acima como uma autorização da
tributação antecipada, ressalvando o direito do contribuinte de repetir o
indébito, nos casos que não ocorrerem concretamente o “fato gerador”. Porém,
com uma leitura mais atenciosa, e uma interpretação mais sistemática não só
do enunciado acima, mas de todos os princípios da Constituição, é possível
afirmar que a Emenda Constitucional de nº 03/1993 está destoante do
ordenamento jurídico, ou seja, é inconstitucional.
Conclui-se com isso que existem fundamentos jurídicos para o reconhecimento
da inconstitucionalidade e ilegalidade da substituição tributária “para frente”,
que por sua vez está respaldada na Emenda Constitucional de nº 03/1993, a
qual também pode ser considerada inconstitucional.
38
BIBLIOGRAFIA
Artigo: Revista Ética e Filosofia Política – N 15 – Volume 1 de maio de 2013.
Constituição Federal
Livro: AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 15. ed. São Paulo:
Saraiva, 2009
Livro: CARRAZZA, Antônio Roque. ICMS. 15ª Ed. São Paulo, Malheiros. 2011
Site: http://www.dpnet.com.br/anteriores/1999/08/20/urbana12_0.html - Inconstitucionalidade da substituição tributária - Marcelo Ferraz Ferreira Advogado tributarista. Em 28/05/2014.
Site: http://www.fisconet.com.br/icms/icms_pr/materias/fato_gerador.htm. Em 27/09/2014
Site: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=fa84632d742f2729. Em
28/09/2014