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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO LUIZ ORLANDO FARIAS DE SOUZA ABANDONO DO SISTEMA PRISIONAL NA PARAÍBA JOÃO PESSOA- PB 2014

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

LUIZ ORLANDO FARIAS DE SOUZA

ABANDONO DO SISTEMA PRISIONAL NA PARAÍBA

JOÃO PESSOA- PB 2014

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LUIZ ORLANDO FARIAS DE SOUZA

ABANDONO DO SISTEMA PRISIONAL NA PARAÍBA

Trabalho de conclusão do Curso de Direito, em forma de Artigo científico apresentado à Coordenação do Curso de Bacharelado em Direito, pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Área: Direito Penal

Orientador: Prof. Especialista Ricardo Sérvulo Fonseca da Costa

JOÃO PESSOA 2014

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LUIZ ORLANDO FARIAS DE SOUZA

ABANDONO DO SISTEMA PRISIONAL NA PARAÍBA

Artigo Científico apresentado à Banca Examinadora de Artigos Científicos da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP, como exigência para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

APROVADO EM _____/_________ DE 2014

BANCA EXAMINADORA

Prof. Especialista Ricardo Sérvulo Fonseca da Costa ORIENTADOR -FESP

Prof. MEMBRO - FESP

______________________________________________________________ Prof.

MEMBRO -FESP

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AGRADECIMENTOS

A Deus, o que seria de mim sem a fé que eu tenho nele.

Aos meus pais, irmãos e a toda minha família que, com muito carinho e apoio,

não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa da minha vida.

Ao professor Ricardo Sérvulo pela paciência na orientação e incentivo que

tornaram possível a conclusão deste artigo.

A professora Socorro Meneses que com generosidade e dedicação me

auxiliou no desenvolver do artigo.

A todos os professores do curso, que foram tão importantes na minha vida

acadêmica. Aos bons amigos pela excelente convivência durante o período do

curso.

A todos que caminharam comigo e me ajudaram a vencer essa batalha,

obrigado!

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A minha formação como profissional não poderia ter sido concretizada sem a ajuda de meus pais Orlando e Sônia, que no decorrer da minha vida, proporcionaram-me, os conhecimentos da integridade, da perseverança e de procurar sempre em Deus à força maior para o meu desenvolvimento como ser humano. A minha namorada Ângela, pela dedicação e confiança depositada em mim. A todos vocês, meu muito obrigada

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“A lei não deve ser observada simplesmente por ser lei, mas por aquilo que ela realiza de justiça. Cumprir a lei fielmente não significa subdividi-la em observâncias minuciosas, criando uma burocracia escravizante; significa, isto sim, buscar nela inspirações para a justiça e a misericórdia, a fim de que o homem tenha vida e relações mais fraternas ”

(MATEU 5:17-20)

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SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇOES INICIAIS...................................................................................7

2 DIREITOS RECONHECIDOS AOS PRESOS PELO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO............................................................................................8

2.1 LEI DE EXECUÇÕES PENAIS (LEI nº 7.210/84)..................................................8

2.2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL.................................................................................11

3 PENITENCIÁRIA FLÓSCULO DA NOBREGA (ROGER)......................................13

4 INEFICÁCIA DO SISTEMA PRISIONAL................................................................16

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................20

REFERÊNCIAS..........................................................................................................21

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ABANDONO DO SISTEMA PRISIONAL NA PARAÍBA

LUIZ ORLANDO FARIAS DE SOUZA * RICARDO SÉRVULO FONSECA DA COSTA**

RESUMO

O princípio da dignidade da pessoa humana é a base fundamental da República Federativa do Brasil, princípio esse assegurado no ordenamento jurídico pela lei de execução penal e pela própria Constituição Federal. O indivíduo que é condenado deve pagar pelos seus erros, perder sua liberdade, mas nunca poderá perder seus direitos fundamentais nem o direito de ter uma nova chance, deverá ser tratado com dignidade, tendo as mínimas condições de vida, um ambiente saudável e de desenvolvimento. Na Lei de Execução Penal estão prescritos os direitos dos presos, onde estão inclusos o direito a educação e ao trabalho, a integridade física e mental, para que possa ser alcançado o objetivo maior da pena de prisão que é a ressocialização do homem. Na realidade o que acontece é bem diferente, o sistema prisional é o destruidor de todo e qualquer futuro digno para os apenados, retira deles não apenas a liberdade, mas a dignidade, coloca-os em situações degradantes. O sistema penitenciário da Paraíba apresenta vários problemas graves, podendo ser citados como principais a superlotação, a ociosidade, a falta de estrutura física e a violência física e sexual, formando uma escola da criminalidade.

PALAVRAS-CHAVE: Ressocialização. Direitos Humanos. Ineficácia.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Atualmente o direito penal é definido como um grupo de regras e normas

jurídicas que o Estado utiliza para impedir atos que afrontem a segurança e ordem

social, delimitando as infrações e impondo as responsabilidades, com as penas.

Na tentativa de ter um termo que equilibre a existência e a convivência em

harmônica do indivíduo perante a sociedade. Desde o começo das civilizações, tem-

se orientado para elaboração de normas e condutas as quais realizem, moderada e

sensatamente, a direção que tomará a vida em sociedade.

Considera-se o sistema penitenciário, sendo um sistema falido, sem objetivo

de ressocializar, extremamente perigoso socialmente, seja pela superlotação, pela

falta de ensino e cursos profissionalizantes para que o apenado tenha visão de um

* Funcionário Público, aluno concluinte do Curso de Bacharelado em Direito da Fesp Faculdades,

semestre 2014.2. e-mail: [email protected] ** Especialista em Direito, Advogado, Professor da Fesp Faculdades, atuou como orientador desse

TCC. E-mail: [email protected]

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futuro diferente longe da criminalidade e até mesmo pelas péssimas condições de

trabalho dos agentes penitenciários.

Contudo, fica a pergunta onde está à dignidade da pessoa humana diante do

total desamparo tanto da sociedade como do Governo para com os apenados? O

sistema penitenciário tem alguma saída ou realmente é um sistema arruinado?

Partindo dessas indagações e da gritante contradição entre os preceitos legais e o

efetivo sistema penitenciário vergonhoso, é que se obteve o incentivo para definir o

tema do corrente trabalho.

Assim, ante o exposto o presente trabalho tem como objetivo demonstrar os

problemas existentes nas penitenciárias brasileiras, principalmente nas

penitenciárias do Estado da Paraíba, expondo o total abandono do sistema

penitenciário, a completa violação a todos os direitos da pessoa humana, a

situações degradantes em que se encontram os presidiários nesse sistema e o

descaso do Governo com essa condição.

2 DIREITOS RECONHECIDOS AOS PRESOS PELO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

2.1 DA LEI DE EXECUÇÕES PENAIS (Lei 7.210/84)

A lei de execução penal trata das garantias e deveres atribuídos aos presos,

assim como dos regimes existentes. A execução penal possui como objetivo geral

efetivar as disposições da sentença ou decisão criminal, mas proporciona outras

condições tais como a reintegração do apenado ou daquele submetido à medida de

segurança.

Existe duas correntes quanto à natureza jurídica da execução penal a

primeira considera a execução penal como jurisdicional defendida por Frederico

Marques, Salo de Carvalho, José Eduardo Goulart e Maria Juliana Moraes de Araújo

e a segunda corrente afirma que é puramente administrativa como defende Adhemar

Raymundo da Silva, pois nela estão presentes os preceitos do Direito Penal e do

Direito Administrativo, com relação às providencias no âmbito penitenciário.

No Brasil, em sua maior parte, a execução é jurisdicional, uma vez que,

mesmo em momentos administrativos, em tempo integral é garantido o acesso ao

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Poder Judiciário e todas as garantias que lhe são inerentes, o que acontece é uma

agregação das duas correntes, dando caráter misto a execução penal.

Na execução penal todas as garantias constitucionais incidentes ao Direito

Penal e Processual Penal devem ser observadas para assegurar o respeito aos

direitos individuais do preso.

O princípio do devido processo, uma das garantias, implica – como se

enuncia – em um processo que seja o devido, isto é, adequado e legitimado ao

Estado ao qual se refere, que no caso brasileiro, é um Estado Democrático e de

Direito. A exigência constitucional de que também o processo no âmbito penal seja o

devido implica na conjugação desse princípio com diversos outros, igualmente

valorados em nível constitucional.

Constitui direito da pessoa que está sendo processada, ter um processo que

obedeça aos tramites legais, no qual esteja presente os princípios pertinentes e as

garantias cabíveis.

Nesta visão estabelece o artigo 5° inciso LIV da Constituição Federal de 1988

(CF/88) que ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido

processo legal.

O princípio da legalidade constitui garantia constitucional, não decorre apenas

do devido processo legal, mas tem fonte autônoma conforme art. 5°, XXXIX da

CF/88 que estabelece que não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena

sem previa cominação legal. O art. 3 da Lei de Execução Penal diz que ao

condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela

sentença ou pela lei.

Do princípio da legalidade decorre o princípio da irretroatividade da lei, no

intuito de garantir efetividade à garantia da legalidade dos meios executivos, trata-se

de segurança jurídica. Conforme o art. 5º, XL da CF/88, a lei não retroagirá, salvo

para beneficiar o réu.

Característica importante do processo acusatório é o princípio do

contraditório que é um procedimento que permite a verificação e comparação das

argumentações e das provas em busca da comprovação da verdade, já o princípio

da ampla defesa, de igual forma, assegurado pela Constituição Federal, garante aos

indiciados em geral, bem como aos apenados o direito à autodefesa (positiva ou

negativa) e à defesa técnica.

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A análise da prova é de essencial relevância para o entendimento dos fatos,

pois o direito é facilmente achado em doutrinas e legislações, diverso do que

acontece com os fatos que dependem, unicamente, da capacidade das partes de

tentar explicar o que lhes cabe como justo. É direito da parte a produção de provas,

sendo proibida a apresentação de provas ilícitas.

Constitui também direito do indivíduo ser julgado por um juiz de direito, juiz

natural e que seja competente para a causa. Compete ao juiz indicado na lei de

organização judiciária conduzir a execução penal. Na falta de haver previsão

específica a competência será do juiz da sentença, conforme artigo 65 da lei de

execução penal.

Além disso, é assegurada a individualização da pena, estabelecida no art. 5º

XLVI da CF, também denominada como princípio da Intranscendência, onde

estabelece que a pena não pode passar da pessoa do apenado, salvo nos casos em

que haja uma obrigação de reparar o dano, como também a decretação do

perdimento de bens que poderá ser estendida aos sucessores e contra eles

executadas até o limite do patrimônio transferido

Com a Individualização da Pena, o condenado recebe uma justa e adequada

sanção Penal, com relação ou seu perfil e aos efeitos pendentes sobre o mesmo,

tornando-o único e o diferenciando dos demais infratores, ainda que estes sejam co-

autores ou co-réus. Nota-se que a individualização da Pena na Execução Penal,

deve acontecer, pois com a classificação dos condenados cada um será destinado

aos programas de execução adequados, conforme suas condições pessoais.

Conforme o artigo 5º, da LEP, a Execução Penal, a individualização da Pena, não

pode ser igual para todos os presos, pois cada um, por si só, é diferente.

A ideologia da lei de execução penal é educativa. A execução penal é

designada à realização da pena consubstanciando o propósito da execução penal

com o seu desenvolvimento.

A finalidade reeducativa pode ser depreendida não apenas pela característica

preventiva da pena, mas pela prevenção de direito do preso e daquele que está

sujeito à medida de segurança, à assistência educacional, social e etc, de acordo

com a lei (art. 41, VII da lei de execução penal).

E conforme estabelecido no art. 93, IX da CF/88 a execução penal é pública,

podendo a legislação reduzir em casos específicos, apenas às partes e a seus

representantes, nos quais a preservação do direito a intimidade do interessado no

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segredo não afete o interesse público a informação. Também deverão ser motivados

os atos em que tiverem conteúdo decisório, sob pena de nulidade. Isso na verdade é

uma garantia ao cidadão propiciando-lhe segurança jurídica e protegendo-o de

arbitrariedades.

2.2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL

A Constituição Federal de 1988 é a norma maior do ordenamento brasileiro. É

nela que estão as políticas, os objetivos, os princípios e as regras que norteiam o

Brasil, e também, é na Constituição que está definida a estrutura organizacional do

nosso país.

O artigo 5º da Constituição Federal de 1988 traz diversos direitos e garantias

individuais que são asseguradas a todos os cidadãos. Como por exemplo o Direito à

integridade física e moral que possui previsão no artigo 5º, inciso III e XLIX, os quais

rezam:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; (...) XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; (...) (BRASIL, 1988)

O artigo 38 do Código Penal também assegura o direito à integridade física e

moral do preso, rezando que: “O preso conserva todos os direitos não atingidos pela

perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade

física e moral” (BRASIL, 1940).

O direito à integridade física e moral foi assegurado a partir do momento em

que o legislador constituinte baniu e condenou a tortura e o tratamento desumano ou

degradante, colocando, com isso, o Brasil como um dos pioneiros na proteção dos

direitos humanos do preso.

Contudo, se faz necessário que o país adote políticas públicas para

resguardar os direitos dos seres humanos fazendo com que estas normas

constitucionais tenham eficácia.

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Há também o direito à assistência religiosa que não contradiz a essência do

Estado Laico. Por ser uma norma de eficácia limitada, o direito à assistência

religiosa está regulado pela Lei de Execuções Penais em seu artigo 24:

Art. 24 - A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos presos e aos internados, permitindo-se-lhes a participação nos serviços organizados no estabelecimento penal, bem como a posse de livros de instrução religiosa. § 1º - No estabelecimento haverá local apropriado para os cultos religiosos. § 2º - Nenhum preso ou internado poderá ser obrigado a participar de atividade religiosa (BRASIL, 1984).

Esse direito não é obrigatório ao preso, a ele é dada a opção de participar ou

não de cultos e atos religiosos, porém é dever do Estado prestar assistência

religiosa para aqueles que estão sob sua custodia.

O preso tem igualmente o Direito de Petição com fundamento jurídico no

artigo 41, inciso XIV da Lei de Execução penal, o qual reza que: “Constituem direitos

do preso: XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito”

(BRASIL, 1984).

É garantido a qualquer pessoa o direito de petição, já que apresenta validade

constitucional e, por isso, quando endereçadas às autoridades, estas estarão

obrigadas a considerar, examinar e responder a reclamação feita, e se assim não

fizer, estará violando um direito líquido e certo do peticionário. Este, se não for

atendida sua reclamação ou, ao menos, ter recebido alguma resposta, poderá

interpor mandado de segurança, caso seu direito tenha sido violado. É necessário

salientar que é através desse direito de petição, direito constitucional, que os

detentos denunciam casos de tortura ou abusos cometidos dentro do meio

carcerário.

O Direito à assessoria jurídica integral e gratuita também é uma garantia

Constitucional que encontra-se no artigo 5º, inciso LXXIV e no artigo 134 da CF:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; Art. 134. A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV) (BRASIL, 1988).

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Bem como nos artigos 15 e 16 da Lei de Execução Penal e 261 e 263 do

Código de Processo Penal, os quais rezam que:

Art. 15. A assistência jurídica é destinada aos presos e aos internados sem recursos financeiros para constituir advogado. Art. 16. As Unidades da Federação deverão ter serviços de assistência jurídica nos estabelecimentos penais. Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor. Art. 263. Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor pelo juiz, ressalvado o seu direito de, a todo tempo, nomear outro de sua confiança, ou a si mesmo defender-se, caso tenha habilitação (BRASIL, 1984).

A maioria dos presidiários não possui condições financeiras suficientes para

arcar com os honorários dos advogados para que seja feita sua defesa, sendo

vedada pela Carta Maior a autotutela. Cabendo assim ao Estado o dever de fornecer

defensor público para informar os presidiários sua situação judicial, bem como

auxiliar no que couber em relação a sua defesa.

Contudo, há uma lei específica, Lei 1.060 de 1950, que estabelece normas

para a concessão de assistência judiciária gratuita àqueles que não possuem

condições suficientes para arcar com despesas com advogados contratados. E logo

em seu artigo 1º, que foi modificado pela Lei 7.510 de 1986, afirma: “Os poderes

públicos, federal e estadual, independente da colaboração que possam receber dos

municípios e da Ordem dos Advogados do Brasil, - OAB, concederão assistência

judiciária aos necessitados nos termos da presente Lei”.

E, ainda, especifica no parágrafo segundo do artigo 2º as pessoas que fazem

“jus” aos benefícios da lei, ou seja, “considera-se necessitado, para os fins legais,

todo aquele cuja situação econômica não lhe permita pagar às custas do processo e

os honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família”. Porém

os honorários contratuais que porventura tenham sido fixados entre parte e

advogado particular contratado não estão inseridos neste contexto.

3 PENITENCIÁRIA FLÓSCULO DA NÓBREGA (Roger)

As informações a seguir expostas estão de acordo com o relatório de visitas a

estabelecimentos penais e a autoridades da Execução Penal do Estado da Paraíba,

realizado pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciários com os

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conselheiros do Conselho Estadual de Direitos Humanos – CEDH/PB em março de

2012.

A Penitenciária Flósculo da Nóbrega é mais conhecida como presídio do

Roger, pois está localizado no bairro do Roger na cidade de João Pessoa, encontra-

se hoje em verdadeiro estado de abandono, onde impera a violação de todos os

direitos dos presidiários que lá se encontram. Possui um total de 500 vagas, mas

atualmente abriga quase 1159 presos (CEDH/PB, 2012).

Segundo informações do Conselho Estadual dos direitos humanos– CEDH-

PB (citado no relatório de visita as penitenciárias) as edificações do presídio do

Roger são bastante antigas, foram construídas por volta da década de 40. A unidade

é formada por um prédio que é a parte administrativa e outros seis pavilhões. Na

área central ainda contém a capela ecumênica e as celas de punição, que são bem

pequenas, escuras e sem ventilação.

As celas estão em estado de decadência, sem condições adequadas de

higiene, úmidas, com forte odor de urina, sem camas ou colchões suficientes para

todos os detentos, onde muitos dormem no chão ou em jornais, verdadeiro caso de

insalubridade e desrespeito ao ser humano, que convivem aglomerados com

insetos. No pavilhão 3, uma cela de apenas 13m x 4m abrigava cerca de 95

apenados, dentre eles pessoas doentes (CEDH/PB, 2012).

Os isolamentos, que são as celas de punição, encontram-se em uma situação

de extrema violação aos direitos humanos, tem aproximadamente 3x3 de tamanho e

abrigam mais de 40 pessoas, sem direito a banho de sol e visita. Isso torna uma

convivência humilhante, sem privacidade e sem higiene. É um absurdo, já que viola

a dignidade da pessoa humana.

Nesse presídio encontram-se detentos com doenças contagiosas e

deficiências físicas, doentes sem qualquer acompanhamento médico, sem

medicamentos, muitos reclamam de maus tratos, agressões e uso de armas por

parte dos agentes. Nota-se que em alguns lugares ainda permanecem marcas de

sangue que os detentos afirmam ser de agressões sofridas por eles.

O Conselheiro presidente do CEDH, João Bosco Francisco do Nascimento,

em seu relatório fez algumas recomendações em relação à situação atual do

presídio, entre elas a de suspender de imediato o ingresso de presos nessa unidade

prisional; que o Estado implante uma Comissão Técnica de Classificação dos

detentos da Penitenciária Flósculo da Nóbrega, integrando um psicólogo e um

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assistente social; que o Estado regularize o Programa de Saúde Penitenciário, para

funcionar todos os dias, com médicos, dentistas e enfermeiros para que o detentos

tenham um atendimento imediato e para que possam ter o acompanhamento

necessário para sua recuperação. Outra recomendação é que sejam apurados os

usos e abusos dos agentes, utilizando armas letais.

Nos termos do relatório, ficou demonstrado também o descumprimento à Lei

estadual nº 6.081/2000 que veda a revista íntima indiscriminada no interior das

penitenciárias, consta que a inspeção é feita de forma desonrosa onde às mulheres

são obrigadas a se despirem e agachar, todas juntas sem nenhuma privacidade.

Essa lei permite esse tipo de inspeção apenas em casos de suspeitas

fundamentadas e com autorização do diretor do presídio de forma escrita.

Ao final, o relatório conclui que "o Presídio Modelo Desembargador Flósculo

da Nóbrega na verdade nada tem de modelo. A não ser modelo negativo, modelo do

que não deve ser feito, modelo a ser evitado, modelo de desumanidade e

degradação". O relatório propõe a desativação do Roger e implantação de outro

presídio, com maior capacidade, afastado do centro urbano. Propõe ainda

oferecimento de trabalho e educação para os presos, reforma dos pavilhões,

proibição de envio de presos provisórios ao Roger e investigação das alegações de

tortura, dentre outras providências.

O relatório já foi entregue ao Conselho Nacional de Justiça e encaminhado à

Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, Secretaria Especial de Direitos

Humanos da Presidência da República, Conselho Nacional de Defesa dos Direitos

da Pessoa Humana, Congresso Nacional, governador do estado da Paraíba e

procuradora-geral de Justiça do estado da Paraíba, para que adotem providências

quanto ao descumprimento da lei estadual da revista íntima.

Por tudo isso que foi exposto os Direitos Humanos do Estado da Paraíba

(CEDHPB) deu entrada em uma petição na Vara das Execuções Penais de João

Pessoa solicitando a interdição total da Penitenciária Flósculo da Nóbrega, o

presídio do Roger.

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4 INEFICÁCIA DO SISTEMA PRISIONAL

Agora apresentar-se-á uma análise crítica, acerca do sistema penitenciário,

que é considerado escola do crime e serão apontadas algumas soluções para que

sejam abolidas as violações aos direitos humanos dos detentos.

Atualmente no Brasil adota-se o sistema progressivo de execução da pena

privativa de liberdade, que tem como objetivo principal a ressocialização do

condenado, para que possa voltar ao convívio familiar e social. A progressão nesse

sistema acontece em razão do merecimento do apenado. Essa gradação de regime

está prevista no Código Penal (art. 33, §2º) e na Lei de Execução Penal, Lei 7.210,

de 11 de julho de 1984 (art. 112).

Utiliza-se o Estado do seu direito de punir, buscando sempre o bem estar da

coletividade, punindo e castigando o indivíduo que exerce um comportamento

condenável que agrida os valores fundamentais da vida em sociedade. A pena vem

com o objetivo de prevenir e reprimir os atos danosos à essência e preservação da

sociedade. A partir do século XIX a pena de prisão foi utilizada como sendo o

instrumento mais conveniente para regenerar o malfeitor.

No decorrer de anos predominou uma ideia otimista onde a prisão era o modo

legítimo e padrão para o condenado se redimir dos atos realizados e poder retornar

a vida social. Hoje se tem inúmeros questionamentos relacionados às penas

privativas de liberdade, pois no que concerne a reabilitação do preso, não está

obtendo êxito.

Como afirma Bitencourt (2004, p. 471):

[...] atualmente predomina uma atitude pessimista, que já não tem muitas esperanças sobre os resultados que se possa conseguir com a prisão tradicional. A crítica tem sido tão persistente que se pode afirmar, sem exagero, que a prisão está em crise. Essa crise abrange também o objetivo ressocializador da pena privativa de liberdade, visto que grande parte das críticas e questionamentos que se fazem à prisão refere-se à impossibilidade – absoluta ou relativa – de obter algum efeito positivo sobre o apenado.

É inevitável admitir que o sistema prisional no Brasil encontra-se em profunda

dificuldade, sem ter condições de disponibilizar qualidade, adequação e muito

menos a reabilitação do presidiário. Pelo que é notado funciona de modo oposto,

constituindo violência e opressão, reforçando valores negativos, já que as

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penitenciárias são vistas como absoluto resguardo da violação dos direitos

humanos.

Vários são as adversidades identificadas nas penitenciárias, como por

exemplo, a violação aos direitos humanos, a superlotação das celas, falta de

ocupação profissional, escolaridade, gerando apenas a improdutividade, consumo

de drogas, abusos sexuais, aglomerações e brigas entre vários outros prejuízos.

Com todos esses transtornos fica bastante difícil a reabilitação humana dos

detentos, muitas vezes aprendendo coisas maléficas e se aprimorando nas condutas

criminosa.

O problema da superpopulação nas penitenciárias é o mais conhecido e

habitual que aflige o sistema penitenciário brasileiro, a disparidade no número de

presos e de vagas nas celas colabora para a situação humilhante em que se

encontram os apenados.

A realidade que se encontra as penitenciárias é degradante, não fornecem a

mínima condição de dignidade, onde presos dormem no chão, dividem uma cela

mínima com o dobro ou até o triplo da capacidade permitida e as providências que

são tomadas não chegam a alcançar resultados significativos, pois o problema é

estrutural, existem muitos presos para alojar em um pequeno espaço, os presídios

encontram-se depredados, com falta de espaço e estrutura física, como está

imposta na Lei, não respeitando os direitos fundamentais da pessoa humana.

Pegando como referência os dados estatísticos da Paraíba extraídos do

Infopen (In: MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2008), programa criado pelo Depen

(Departamento Penitenciário Nacional), confirmam através de números o problema

da superlotação: em dezembro de 2012 a capacidade do sistema era de 5,394

(cinco mil, trezentos e noventa e quatro) vagas, enquanto o total de presos (dentre

presos provisórios e condenados cumprindo pena nos regimes fechados, semi-

aberto e aberto) no sistema era de 8,723 (oito mil setecentos e vinte três).

Como é de conhecimento geral da população brasileira, os presídios se

encontram superlotados, o que acarreta situações extremamente inseguras,

aumentando a apreensão entre os presos, favorecendo a ocorrência de motins,

rebeliões, fugas, abusos sexuais, transmissão de doenças entre outras coisas,

colocando a vida dos próprios presos e dos agentes e policiais que trabalham no

presídio em risco, aumentando também o risco para a sociedade.

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A reincidência penitenciária estabelece estreita relação com o funcionamento

e eficácia do sistema prisional, o que já nos traz uma grande preocupação, pois

vemos a realidade do sistema.

Entende-se que, elevados índices de reincidência prisional, reflete um sistema

penitenciário com baixas condições de produzir um regime humanitário aos seus

apenados, deixando em segundo plano a defesa dos direitos humanos.

Trata-se de um dos problemas mais complexos dos apenados ao saírem dos

presídios, deixando perceptível que o tempo de reclusão não alterou seu caráter

criminoso, não lhe ofereceu nenhuma evolução, nenhuma condição de sustento

próprio e de sua família, como uma atividade profissional ou até uma formação

acadêmica, fazendo com que o mesmo retorne a vida em sociedade sem qualquer

perspectiva de um futuro digno e honesto, voltando a praticar delitos e como

consequência retornando ao presídio.

Nota-se que além de toda a falta de estrutura profissional encontrada nos

presídios, o ex detento ainda sofre com o preconceito da sociedade, onde sempre

será visto como um criminoso, sem qualquer apoio por parte do Governo, por meio

de incentivos para a contratação dos ex-detentos. O que mais uma vez tem como

consequência o retorno do indivíduo a criminalidade e mais tarde a prisão.

Uma questão que também dificulta a reabilitação do criminoso é que mais da

metade dos apenados do Estado estão relacionados às drogas, o que torna ainda

mais complexo seu tratamento nas prisões, já que as penitenciárias Paraibanas não

possuem meios adequados para que um viciado seja reabilitado, assim ele entra na

prisão viciado em droga, cumpre sua pena, não faz nenhum tipo de tratamento para

seu problema de saúde e após passarem os anos de cumprimento de pena são

colocados em liberdade, fica claro que terá os mesmo problemas aumentando muito

o percentual de reincidência.

As instituições carcerárias atuais, passam longe de ser um local de

recuperação dos valores humanos para se tornarem um precipício entre os

apenados e a sociedade, trazendo com ela o sentimento de revolta e injustiça com o

tratamento dado aos apenados, as condições toleradas, convertem as prisões em

uma escola para novos crimes, o que só faz aumentar o índice de reincidência.

A construção de prisões em locais impróprios gera uma dificuldade de

ampliação estrutural, logo colocando em crise, gerando uma ineficácia do sistema

penitenciário. Será válido um custo mais elevado para a construção das

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penitenciárias, cumprindo depois com seus objetivos, dando uma condição digna

aos presos e trazendo tranquilidade para a sociedade.

Geralmente as alas em que vivem os apenados são altamente insalubres,

com infiltrações, rachaduras e insetos, possibilitando a transmissão de doenças

infecto contagiosas, a parte de saneamento básico é precária, existindo esgotos a

céu aberto. As condições de segurança contra incêndio se encontram em péssimas

situações e não são garantidas pelo Corpo de Bombeiros, não há inspeção nos

extintores e outros mecanismos contra incêndio.

Entretanto, mesmo com todos esses problemas e falência do sistema

prisional quanto ao seu objetivo que é o da ressocialização, não é possível a

extinção dos estabelecimentos prisionais. Devem ser feitas, no entanto, melhorias

profundas tanto sociais como estruturais, capacitação e humanização dos agentes e

todos os que de alguma maneira contribuem para o desenvolvimento das

penitenciárias. Não menos importante é a divisão dos apenados, sendo classificados

pela idade, periculosidade e condições sexuais, para que diminua o aprendizado

criminal e as violências sexuais, sendo as penas mais humanitárias e justas.

Outra mudança drástica que precisa ocorrer urgentemente é acabar com a

ociosidade dos apenados nas penitenciárias, através de cursos profissionalizantes,

trabalho e ensino regular fundamental, médio e superior, não de forma facultativa,

mas obrigatória para todos.

As penitenciárias de todo o Brasil se transformaram em um lugar de

aprendizado do crime, favorável para a formação e procriação da violência, onde os

presos violam sexualmente seus companheiros de cela, se agridem, muitas vezes

causando a morte do outro, sem falar nas violações cometidas aos seus direitos

pelos agentes carcerários, que por muitas vezes usam da sua autoridade para

torturarem os presos, por culpa do seu despreparo profissional, descontrole

emocional, más condições de trabalho, exaustivas jornadas e um péssimo salário.

Diariamente são constatadas violações aos direitos humanos dos indivíduos

presos, podemos citar os maus tratos, torturas, as péssimas condições em que

vivem a má alimentação entre outras. Tudo isso gera uma revolta nos apenados e

seus familiares, acarretando um ambiente de tensão e que a qualquer momento

pode virar uma rebelião ou pior uma carnificina.

Outro importante ponto que desencadeia a violência nos presídios é a falta de

divisão entre os presos, classificando-os pelos crimes cometidos e pela

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periculosidade, atualmente nos presídios pode-se encontrar presos que cometeram

homicídios, latrocínios, estupros, juntos com presos que roubaram uma galinha, uma

lata de leite ou algo assim, não querendo aqui defender esses apenados que

praticam crime de bagatela, pois são também infratores da lei, mas será mesmo

justo estarem juntos com presos de alta periculosidade? Isso não contribuiria para o

aprendizado criminoso? Gerando com isso pessoas cada vez mais violentas.

As rebeliões nas penitenciarias paraibanas são costumeiras, muitas

motivadas pela péssima condição de vida dos presos, onde quase sempre acabam

com presos feridos e mortos, que reivindicam apenas uma situação íntegra para que

possam pagar pelos delitos cometidos.

Não é possível negar que nas situações de violência, tanto as físicas como as

sexuais, o Estado por omissão passa a figurar como coautor, é extrema a

desconformidade entre o crime cometido e a resposta imposta pela situação

carcerária. A condenação além de privar sua liberdade, expõe o apenado à

degradação da personalidade e princípios.

Na atualidade a quantidade de vagas ofertadas nas penitenciárias são

exíguas, por isso à maioria está com a capacidade bem maior do que é permitida, é

necessária a construção de novos presídios, com estrutura adequada quanto ao

tamanho das celas, áreas para as atividades, com higiene e condições de

convivência, áreas para desenvolvimento de atividades profissionais, artesanatos,

escolas sem esquecer a segurança, tanto externa como internamente.

Portanto para sanar o caos em que se encontram as penitenciárias

brasileiras, requer-se uma serie de novas medidas e a aplicação efetiva em conjunto

das normas da Lei de Execução Penal, da Constituição Federal, dos Direitos

Humanos e do Código Penal Brasileiro, assim a ressocialização dos apenados será

eficiente e verdadeira.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ficou bem evidente que o ordenamento jurídico brasileiro reconhece o direito

dos presidiários e defendem sua personalidade e dignidade, tanto com a Declaração

dos Direitos Humanos proclamada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em

1948 após a 2ª Guerra Mundial, como reação às barbaridades cometidas no

decorrer da guerra, como também com a Lei de Execução Penal e a Constituição

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Federal, o que falta para que haja um sistema penitenciário decente é a efetiva

aplicação dessas normas.

Os problemas encontrados nos presídios brasileiros são sempre os mesmos,

graves e habituais. As penitenciárias do Brasil encontram-se em verdadeiro estado

de abandono, possuem estruturas antigas e precárias, falta higiene, assistência

médica, assistência religiosa, atividades profissionais e qualquer tipo de formação

educacional. Ferem o princípio mais importante o da dignidade da pessoa humana,

desrespeitando a vida. No geral não possuem a mínima condição para que ocorra

uma convivência digna, muito menos a ressocialização dos apenados, que é a

finalidade da pena. Assim o sistema prisional se torna inútil ou pior ainda, se torna

uma espécie de escola do crime, se nada for feito.

ABANDONMENT OF THE PRISON SYSTEM IN PARAÍBA

ABSTRACT

The Principle of Human Dignity is the fundamental basis of the Federative Republic of Brazil, this principle guaranteed in law by the Criminal Sentencing Act and the Federal Constitution. The individual who is convicted should pay for their mistakes, lose your freedom, but you can never lose their fundamental rights or the right to have another chance, should be treated with dignity, taking the minimum conditions of life, a healthy environment and development . In the Penal Execution Law the rights of prisoners, where are included the right to education and work, are prescribed to physical and mental integrity, so that it can be achieved the ultimate goal of imprisonment which is the rehabilitation of man. In reality what happens is quite different, the prison system is the destroyer of any worthy for the convicts, the future takes them not only freedom but dignity, puts them in degrading situations. The prison system of Paraíba has several serious problems and may be cited as major overcrowding, idleness, lack of physical structure and physical and sexual violence, forming a school of crime. However, how to resolve the issue if the Government does not offer relevant solutions so there is a real recovery of criminal who dies slowly by the inability to dream of an honest and decent life. Keywords: Resocialization. Human Rights. Ineffectivenes.

REFERÊNCIAS

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S725a Souza, Luiz Orlando Farias de.

Abandono do sistema prisional da Paraíba. / Luiz Orlando

Farias de Souza. – Joao Pessoa, 2014.

24f

Orientador: Profº Esp. Ricardo Sérvulo Fonseca da Costa.

Artigo Científico (Graduação em Direito) Faculdade de Ensino

Superior da Paraíba.

1. Ressocialização. 2. Direitos Humanos. 3.Ineficácia. I.Título.

BC/Fesp CDU:343(043)