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FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO ALEXANDRE TOMAZ PANTA DA SILVA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL CABEDELO-PB 2017

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FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

ALEXANDRE TOMAZ PANTA DA SILVA

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

CABEDELO-PB

2017

2

ALEXANDRE TOMAZ PANTA DA SILVA

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

Trabalho de Conclusão de Curso em forma de Artigo Científico apresentado à Coordenação do Curso de Bacharelado em Direito, pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito.

Área: Direito Penal

Orientador: Profº. Esp. Ricardo Sérvulo Fonsêca

da Costa

CABEDELO-PB

2017

2

ALEXANDRE TOMAZ PANTA DA SILVA

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

Artigo Científico apresentado à Banca Examinadora de Artigos Científicos da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP, como exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.

APROVADO EM /_ _/2017

BANCA EXAMINADORA

Profº. Esp. Ricardo Sérvulo Fonsêca da Costa Orientador - FESP

Profº. Ms. Eduardo de Araújo Cavalcanti Membro - FESP

Profº. Dr. Antônio Germano Ramalho Membro - FESP

SUMÁRIO

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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................... 05

2 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ..................................... 07

2.1 DO ATO INFRACIONAL ................................................................................... 07

2.2 MEDIDAS DE PROTEÇÃO .............................................................................. 09

2.3 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS ...................................................................... 09

2.4 DA REMISSÃO ................................................................................................. 11

3 O ATUAL SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO ..................................... 12

4 PRÓS E CONTRA DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL ........................ 16

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 22

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 24

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REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

Alexandre Tomaz Panta da Silva* Ricardo Sérvulo Fonsêca da Costa**

RESUMO O presente trabalho de conclusão de curso tem o intuito de avaliar até que ponto a redução da idade penal para os 16 (dezesseis) anos de idade contribuirá como medida eficaz na diminuição dos índices de violência no âmbito social do país. Um tema polêmico e objeto de debate entre os operadores de direito e pelos legisladores. Ficam cada vez mais visíveis as divergências que existem no ordenamento jurídico penal referente ao tema, uma vez que não mais se enquadra com a realidade dos dias atuais. O menor de 18 (dezoito) anos vem praticando crimes de diversos tipos porque não se sente intimidado com as medidas previstas na Legislação a eles atribuída, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), levando-se, assim, à prática reiterada de atividades ilícitas, pela certeza de impunidade. Diante dessa situação, tramitam no Congresso Nacional diversos projetos que objetivam a redução da idade penal, com o objetivo de combater os crimes praticados por menores. É importante ressaltar que somente a diminuição da maioridade penal não é suficiente para combater os delitos praticados por adolescentes, é preciso que o Estado também cumpra com a sua obrigação.

PALAVRAS-CHAVE: Maioridade Penal. Ato Infracional. Estatuto da Criança e do Adolescente. Sistema Penitenciário Brasileiro.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Atualmente a prática de crimes bárbaros cometidos por menores de 18

(dezoito) anos vem tornando-se algo frequente, insurgindo na população debates e

discussões cada vez maiores, quanto a possível redução da maioridade penal como

método de reduzir a criminalidade.

Considerando a inserção de menores cada vez mais cedo no mundo do crime,

muitas vezes utilizados como meio de execução por maiores de idade, pois sabem de

* Graduando em direito, aluno concluinte do Curso de Bacharelado em Direito da Fesp Faculdades,

semestre 2017.1. E-mail: [email protected]

** Advogado - com 23 anos de experiência, atuando nas áreas do Direito eleitoral, criminal e civil. Jornalista; Apresentador de TV (Programa "Justiça Ideal" - TV MASTER); Membro da APLJ - Academia Paraibana de Letras Jurídicas. Pós-Graduado em Direito Processual Civil, pela Universidade Potiguar

- Natal/RN; Doutorando em Direito Eleitoral pela UMSA - UNIVERSIDAD DEL MUSEO SOCIAL ARGENTINO, Buenos Aires – AR; Professor Universitário; Professor de Pós Graduação. E-mail: [email protected]

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que o menor possui condição de inimputável, gera para a população a certeza da

impunidade.

O sentido do termo “impune”, segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua

Portuguesa (2004, p. 1082), implica em: “Que escapa ou escapou à punição; que não

é ou não foi castigado; impunido. ” São inimputáveis os menores de 18 (dezoito) anos

por expressa disposição do artigo 27 do Código Penal: “Os menores de dezoito anos

são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação

especial”.

Consequentemente, para alcançar um maior ideal de segurança, parte-se à

defesa da redução da idade penal para os 16 (dezesseis) anos de idade. Nos dias de

hoje há um crescente envolvimento de menores em atos infracionais em alguns casos

apresentando condutas em muito semelhantes à de criminosos violentos, e em sua

maioria, estes menores são reincidentes.

Atualmente um menor é julgado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente

através de penalidades chamadas de medidas socioeducativas, proibindo o menor de

idade a ficar mais de três anos internado em instituição de reeducação. Esta é uma

das questões mais polemicas a respeito da maioridade penal. O menor infrator entre

12 (doze) anos e menor de 18 (dezoito) anos de idade, será levado a julgamento numa

Vara da Infância e da Juventude e poderá receber punições como advertência,

obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade

assistida, inserção em regime de semiliberdade ou internação em estabelecimento

educacional. Não podendo ser encaminhado ao sistema penitenciário.

Países como Inglaterra e Estados Unidos, leva-se em conta a índole do

criminoso, pois não existe idade mínima para a aplicação de pena. Em Portugal e na

Argentina, atinge-se a maioridade penal aos 16 (dezesseis) anos, na Alemanha essa

idade é 14 (quatorze) anos. Aos que defendem a redução da maioridade penal,

acredita-se que os menores infratores não recebem a punição devida, para eles, o

Estatuto da Criança e do Adolescente é muito tolerante e não intimida os que

pretendem transgredir a norma.

Outra argumentação é que se a legislação eleitoral considera o jovem de 16

(dezesseis) anos próprio para votar, consequentemente o mesmo possui idade

suficiente para discernimento de seus atos e para responder diante da justiça pelos

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seus crimes. Diante destas considerações, espera-se expor motivos pertinentes e

condições necessárias para um debate acerca da redução da maioridade penal.

2 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

2.1 DO ATO INFRACIONAL

O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Federal nº 8.069/90, foi criado

para suprir o Código do Menor, uma vez que esse estava ultrapassado e não surtia

mais efeitos. Foi aprovado pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o

objetivo de garantir proteção aos menores infratores.

Através do Estatuto da Criança e do Adolescente o constituinte incorporou

como obrigação da família, da sociedade e do Estado garantir os direitos da criança e

do adolescente. Sendo assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente, parte da

concepção doutrinária de direitos humanos, tratando, sem discriminação, todas as

crianças e adolescentes.

O ato infracional é o ato condenável, de desrespeito às leis, à ordem pública,

aos direitos dos cidadãos ou ao patrimônio, cometido por crianças ou adolescentes.

O ato infracional se configura apenas se àquela conduta corresponder a uma hipótese

legal que determine sanções a quem praticou.

No caso de ato infracional cometido por crianças de até 12 (doze) anos,

aplicam-se as medidas de proteção. Neste caso o órgão responsável pelo

atendimento é o Conselho Tutelar. O ato infracional cometido por adolescente entre

12 (doze) anos e menores de 18 (dezoito) anos, deve ser apurado pela Delegacia da

Criança e do Adolescente a quem cabe encaminhar o caso ao Promotor de Justiça

que poderá aplicar uma das medidas socioeducativas previstas no Estatuto da

Criança e do Adolescente.

De acordo com o artigo 103 do ECA, o ato infracional é conduta da criança e

do adolescente que pode ser descrita como crime ou contravenção penal. Se o infrator

for pessoa com mais de 18 (dezoito) anos, o termo adotado é crime, delito ou

contravenção penal.

A doutrina se divide segundo qual teoria o ECA teria adotado. A teoria tripartida

do direito penal aponta como elementos do delito a tipicidade, a antijuridicidade e a

culpabilidade. E a teoria finalista onde o delito é fato típico e antijurídico.

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Independentemente da posição acolhida pelo Estatuto, verificamos que o artigo está

de acordo com a Constituição Federal quando dispõe em seu artigo 5º, inciso XXXIX

que:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (BRASIL, 1988).

Embora a prática do ato seja descrita como criminosa, o fato de não existir a

culpa, em razão da imputabilidade penal, a qual somente tem início aos 18 (dezoito)

anos, não lhe será aplicado pena. Vale ressaltar que a contravenção penal é ato ilícito

de menor importância que o crime, e que só acarreta ao seu autor a pena de multa ou

prisão simples. O menor de dezoito anos é inimputável, porém capaz inclusive a

criança, de cometer ato infracional, passíveis então de aplicação de medidas de

proteção e medidas socioeducativas.

Percebe-se assim que os menores de idade no Brasil podem praticar crime ou

contravenção, desde que observada a data do fato. O que se modifica é o nome

legalmente utilizado, pois tal infração é chamada de ato infracional. Portanto o

adolescente entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos que praticar um ato infracional estará

sujeito a processo contraditório, com ampla defesa. Após o devido processo legal,

receberá ou não das medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do

Adolescente.

O ato cometido pelo menor infrator é visto como diferente daquele praticado

pelos demais, haja vista o seu desenvolvimento mental encontra-se em evolução e

não pode ser igualado ao de uma pessoa adulta, munida de capacidade mental e

física totalmente desenvolvida. Assim, todos os atos infracionais perpetrados por

adolescente são igualados aos delitos previstos no Código Penal e nas leis

extravagantes, bem como na Lei de Contravenções Penais.

Em relação os atos infracionais praticados por menores, precisamos verificar

quais os motivos que levam os adolescentes a praticar tais atos. Alguns desses

motivos podem variar desde a ausência de uma estrutura familiar até a falta de

atuação do Estado nas áreas de educação, lazer, habitação, entre outras dificuldades

encontradas no seio social.

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2.2 MEDIDAS DE PROTEÇÃO

O Estatuto da Criança e do Adolescente traz nos seus dispositivos as medidas

protetivas e socioeducativas de maneira diferenciada, de modo que as medidas

protetivas devem ser aplicadas conforme o disposto no art. 98 do Estatuto da Criança

e do Adolescente, as medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis

sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados.

As medidas previstas nesse artigo dão ampla proteção às crianças e aos

adolescentes e rompe com a situação irregular aplicando a proteção integral. Na

atribuição das medidas protetivas, deve ser respeitado o que está contido no art. 100

do ECA: ”na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades

pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos

familiares e comunitários.

As medidas de proteção sempre serão aplicáveis aos menores de 12 (doze)

anos, no entanto, poderá o adolescente passar pelas medidas protetivas e pelas

medidas socioeducativas. Assim, tais medidas podem ser imputadas pela autoridade

judiciária, como também pelo Conselho Tutelar, tudo em respeito ao art. 136, inciso I

do ECA atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e

105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII (BRASIL, 1988).

As medidas de proteção visam reinserir o jovem no ambiente familiar, não

possuem caráter punitivo, pois sempre devem prevalecer, na aplicação dessas

medidas, a necessidade pedagógica e o retorno ao convívio social. Portanto possui

caráter educativo, pois visam o cumprimento dos direitos da criança e do adolescente

pelas próprias pessoas que os estão violando.

2.3 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

As medidas socioeducativas constituem na resposta do Estado, aplicado pela

autoridade judicial, ao adolescente que cometeu ato infracional. Embora possuam

aspectos sancionatórios e coercitivos, não se trata de penas ou castigos, mas de

oportunidades de inserção em processos educativos.

As medidas socioeducativas podem ser aplicadas tanto de forma isolada como

cumulativamente, bem como podendo ser substituídas a qualquer momento.

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A advertência é uma repreensão verbal feita pelo Juiz e poderá ser aplicada

sempre que houver prova da materialidade e indícios suficientes da autoria. Seu

propósito é de alertar o adolescente e seus familiares aos riscos do envolvimento com

o ato infracional.

A obrigação de reparação ao dano é quando o ato infracional tratar de danos

ao patrimônio, sendo assim o Juiz pode determinar que o adolescente restitua a coisa,

promova o ressarcimento do dano, ou por outra forma compense o prejuízo da vítima.

Caso a medida esteja impossibilidade de ocorrer, poderá ser substituída por outra

para evitar que os pais ou responsáveis sejam os verdadeiros culpados pelo ato.

Prestação de serviços à comunidade consiste na realização de tarefas em

institutos assistências, hospitais, escolas ou outros estabelecimentos congêneres,

bem como em programas comunitários ou governamentais e não governamentais. As

tarefas devem compreender no máximo 08 (oito) horas semanais, nao podendo

prejudicar a frequência à escola e/ou a jornada de trabalho, e não podem ultrapassar

o período de 06 (seis) meses. O prazo desta medida deve ser proporcional à gravidade

do ato praticado.

Liberdade assistida é uma forma de o adolescente ser responsabilizado pelo

delito que cometeu sem a necessidade de se afastar de casa, da escola ou do

trabalho. Destina-se a acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. Durante esse

período o menor será supervisionado por um orientador capacitado, designado pela

autoridade competente. O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece um prazo

mínimo de 06 (seis) meses, com a possibilidade de ser prorrogada, renovada ou

substituída por outra medida.

A semiliberdade é normalmente admissível como início ou como forma de

progressão para o meio aberto, uma forma que beneficia aqueles que já se encontram

privados de liberdade e que obtém o direito a uma medida mais favorável. Para esta

medida é obrigatória à escolarização e a profissionalização. Não comporta prazo

determinado, e deverá ser revista a cada 06 (seis) meses.

A internação é medida privativa de liberdade, sujeito ao princípio da brevidade,

excepcionalidade e respeito à condição em particular de pessoas em

desenvolvimento. É a mais severa das medidas socioeducativas, pois priva o menor

de sua liberdade, portanto é aplicada apenas em casos mais graves, em caráter

excepcional e obedecendo ao devido processo legal. O menor deverá permanecer

privado de sua liberdade o menor tempo possível, e este tempo não poderá

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ultrapassar 03 (três) anos. Atingindo o limite de 03 (três) anos, o adolescente deverá

ser posto em liberdade, e dependendo do caso, sujeitar-se à medida de semiliberdade

ou liberdade assistida. Deve levar em consideração que tal medida não possui

natureza de pena, e sim de medida socioeducativa.

As medidas socioeducativas têm o intuito de fazer com que o menor infrator se

coíba da prática de novos delitos, e o aplicador deve levar em consideração a

capacidade deste menor em cumprir determinada medida, além da personalidade do

adolescente, referências familiares e condições sociais, políticas e econômicas. Na

aplicação das medidas deve haver proporcionalidade entre a infração cometida e a

penalidade imposta, de modo que o menor seja punido de maneira justa para que

possa ser ressocializando.

2.4 DA REMISSÃO

O instituto da remissão, ensejador da extinção ou suspensão do procedimento

para apuração de ato infracional cometido por adolescente, é previsto no Estatuto da

Criança e do Adolescente, é uma espécie de perdão concedido pelo Promotor de

Justiça ou pelo Juiz de Direito. Trata-se de ato bilateral, onde o adolescente,

juntamente com os seus pais ou responsáveis troca o processo por uma medida

antecipada.

Existem duas formas de remissão, a remissão ministerial, também conhecida

como remissão pre processual, que é concedida pelo Promotor de Justiça como forma

de exclusão do processo, que deverá ocorrer antes de iniciar o processo

socioeducativo, já a remissão judicial, chamada também de remissão judicial, é

concedida por um Juiz após o início do processo, podendo ser suspenso ou

extinguido. A hipótese para a aplicação da remissão dependerá das consequências

do ilícito perpetrado, além da sua situação social e a sua colaboração para o ato.

O artigo 126 do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a remissão como

forma de exclusão do processo, podendo ainda ser suspenso ou extinto para

averiguação do delito praticado.

Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, o representante do Ministério Público poderá conceder a remissão, como forma de exclusão do processo, atendendo às circunstâncias e conseqüências do fato, ao contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou menor participação no ato infracional. Parágrafo

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único. Iniciado o procedimento, a concessão da remissão pela autoridade judiciária importará na suspensão ou extinção do processo (BRASIL, 1988).

Além disso, de acordo com o artigo 127 do ECA, a remissão poderá ser

aplicada cumulativamente com alguma outra medida socioeducativa, desde que não

seja privada a liberdade do agente, como no caso do regime de semiliberdade e da

internação. Vejamos:

Art. 127. A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a internação (BRASIL, 1988).

Também poderá ser revisto pela autoridade judicial a qualquer tempo, a pedido

do adolescente ou de seu representante legal, ou do Ministério Público. Portanto a

remissão poderá ocorrer sempre que atender às circunstâncias e consequências do

fato, ao contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou

menor participação no ato infracional. Como já observado, a remissão não implica

necessariamente o reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem

prevalece para efeito de antecedentes. Todavia, só poderá incluir a aplicação de uma

das medidas socioeducativas em meio aberto.

3 O ATUAL SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

O conceito de prisão como pena teve seu início na Idade Média, conforme

explica Mirabete (2013, p. 249):

A pena de prisão teve a sua origem nos mosteiros da Idade Média, como “punição imposta aos monges faltosos, fazendo com que se recolhessem às suas celas para se dedicarem, em silêncio, à meditação e se arrependerem da falta cometida, reconciliando-se assim com Deus”. Essa idéia inspirou a construção da primeira prisão destinada ao recolhimento de criminosos, a House of Corretion, construída em Londres em 1550 e 1552, difundindo-se de modo marcante no século XVIII.

No início do século XIX começaram a surgir às prisões com celas individuais e

oficinas de trabalho do Brasil. O antigo Código Penal de 1890 permitiu o

estabelecimento de novas modalidades de prisão, considerando que não mais haveria

penas perpétuas ou coletivas, limitando-se às penas restritivas de liberdade individual,

com penalidade máxima de trinta anos.

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Em nosso país existem três tipos de pena e estas estão presentes no artigo 32

do Código Penal. São privativas de liberdade, restritivas de direitos e de multa.

Com a reforma do Código Penal, pela Lei n. 7.209/84, foi abandonada a

distinção entre penas principais e acessórias. Dessa forma, com a nova lei existem

somente as penas comuns (privativas de liberdade), as alternativas (restritivas de

direitos) e a multa.

É muito comum vermos a imprensa noticiar a falta de vagas nos presídios e o

estado precário dos estabelecimentos prisionais já existentes, fatos que com certeza

nos levam refletir quanto à possibilidade de recuperação do detento.

Sabemos que o sistema carcerário no Brasil é muito precário. A precariedade

e as terríveis condições ao que os detentos são submetidos atualmente são

desumanas. Os presídios e penitenciárias se tornaram depósitos de pessoas, onde a

superlotação acarreta violência sexual entre presos, faz com que doenças graves se

proliferem, as drogas cada vez mais são apreendidas dentro dos presídios, e o mais

forte, subordina o mais fraco.

O atrasado sistema penal do país não colabora e junta, em cadeias

superlotadas, criminosos primários e homicidas, sequestradores, estupradores e

outros. O resultado é que, ao invés de ser um espaço para reeducar o preso, o sistema

carcerário do Brasil se tornou uma espécie de “pós-graduação” no mundo do crime.

Outro fator que deve ser debatido diz respeito ao alto custo para criação e

manutenção dos estabelecimentos carcerários, fazendo com que as autoridades

competentes, no caso os Governadores estaduais, esqueçam-se de suas

responsabilidades. De outra banda, também temos o problema com relação à

capacidade do Poder Judiciário de processar, analisar e julgar os diversos pedidos

que são feitos durante a execução penal em prazos exíguos.

O Brasil administra um dos seis maiores sistemas penais do mundo, ainda

assim há um déficit com relação ao número de presos e o número de presídios. A Lei

de Execução Penal (LEP) evidencia detalhes a respeito das normas prisionais

brasileiras, ou pelo menos o que almeja para o sistema prisional. Tem como objetivo,

não a punição, más ao invés disso a ressocialização das pessoas condenadas.

A população carcerária do nosso país atualmente gira em torno de 512 mil

detentos, segundo informações do Departamento Penitenciário Nacional. O número

de vagas que existem no sistema e a quantidade de presos no país tem uma diferença

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de aproximadamente 200 mil. Por isso é que o Ministério da Justiça defende a posição

de aplicação de penas alternativas ao encarceramento.

Além disso, também é preciso uma mudança extrema no sistema, pois as

penitenciárias se transformaram em verdadeiras “fábricas de revolta humana”. O uso

indiscriminado e descarado de celulares dentro dos presídios é outro fator que

confirma a falência. Através desses aparelhos os grandes traficantes conseguem

contato com aliados fora do estabelecimento prisional e continuam a comandar o

tráfico nos morros e nas favelas. Na grande maioria das vezes os próprios agentes

penitenciários são coniventes com tal situação e deixam de tomar alguma providência,

pois temem algum tipo de represália por parte do apenado.

A sociedade somente se sentirá protegida quando o preso for recuperado. A

prisão existe por castigo e não para castigar, jamais devemos nos esquecer disso. O

Estado não se julga responsável pela obrigação no que diz respeito ao condenado. A

superlotação é inevitável, pois além da falta de novos estabelecimentos, muitos ali se

encontram já com penas cumpridas e são esquecidos. A falta de capacitação dos

agentes, a corrupção, a falta de higiene e assistência ao condenado também são

fatores que contribuem para a falência. Na verdade, o Estado tenta dar oportunidade

aos encarcerados quando eles já estão reclusos, quando o melhor seria dispor de

recursos para que eles sequer chegassem a cometer crimes.

O problema com os sistemas prisionais vem perdurado há séculos sem uma

solução, não tiveram início há pouco tempo. Para tentar resolver o problema dos

estabelecimentos prisionais brasileiros, a primeira tarefa seria mudar o sistema penal,

separando os acoimados pela graduação de seus crimes, e punindo com

encarceramento somente aqueles crimes que realmente fizerem jus à pena,

entretanto, é preciso estabelecer as regras de penas alternativas.

No entanto, para isso acontecer, é imprescindível que o poder judiciário seja

célere, o que não acontece nos dias atuais. Mesmo com a chegada da Lei de

Execução Penal, com a jurisdicionalização da execução da pena, quando também

foram inseridas algumas inovações com a reforma do Código Penal Brasileiro, a

situação carcerária continuou a mesma, ainda que tenham sido construídos vários

presídios, que aos poucos foi se degradando e tornando-se locais impróprios para

seres humanos e que não se alinham com o conceito moderno de prisão, salvo

algumas exceções.

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Também é necessário nos presídios e penitenciárias que os funcionários que

estão no convívio diário com os presos sejam capacitados, de modo que possa

reintegrar o apenado à sociedade. Além do mais, também é preciso que se melhore a

alimentação, disponibilidade de tratamento médico, odontológico, assistência jurídica,

criação de novas vagas e especialmente a agilidade dos pedidos e decisões judiciais.

O sistema carcerário não possui controle sobre seus apenados, as frequentes

rebeliões, motins, fugas em massa, espancamento, entre outros fatores, deixam claro

a situação de total descontrole. Notoriamente convivemos com o desentrosamento e

falta de vontade política que se distância do Poder Judiciário da realidade carcerária.

A fim de buscar soluções para estes problemas, o Ministério da Justiça formou

uma comissão ao Departamento Penitenciário Nacional, cuja função é percorrer

cadeias de todo o país com o objetivo de elaborar um Plano Diretor do Sistema

Penitenciário. Existe também o estudo da liberação de presos cujos crimes são

considerados de menor potencial gravoso. É claro que isso demandaria

acompanhamento e fiscalização desses detentos. Ocorre que não existem

funcionários suficientes para esse serviço. A solução então seriam pulseiras

eletrônicas para fiscalizar esses detentos enquanto estiverem libertos.

No Estado de Minas Gerais já se faz a utilização do monitorando eletrônico

através de tornozeleiras nos presos que cumprem regime semiaberto, permitindo a

localização desses por ondas de rádio quando estiverem fora das unidades. A

previsão é de que até o final do ano de 2015, o número de presos monitorados através

das tornozeleiras chegue a quatro mil. Existem outros Estados que optaram pela

privatização dos presídios, como por exemplo, o Maranhão, com a iniciativa privada

da construção da Central de Custódia de Presos da Justiça, que ficará responsável

pela administração do presídio. Na Bahia existem cinco prisões que são administradas

em parceria com a iniciativa privada.

Essa privatização funciona com o Estado fazendo um contrato com a empresa

particular que passa a ser responsável pela construção e administração da cadeia,

fornecendo aos detentos alimentação, educação, trabalho e saúde. Todos os

funcionários que trabalham no presídio são contratados por essa empresa. O Governo

permanece com a função de supervisionar e fiscalizar o setor privado. A Ordem dos

Advogados do Brasil tem sua posição contrária à privatização do sistema prisional.

Para a OAB o problema da segurança pública é do Estado, não podendo ser tratado

pela iniciativa privada.

16

4 PRÓS E CONTRA DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

A questão da redução da maioridade penal está sendo cada vez mais debatida

na sociedade. A prática de atos infracionais violentos cometidos por menores de 18

(dezoito) anos vem amedrontando as pessoas, tendo elas cada vez mais desejado a

diminuição da faixa etária penal. Tal assunto tem os seus lados positivos e negativos.

O principal argumento para quem defende a redução da idade penal é a sensação

de impunidade que ecoa pela sociedade, a população se vê refém de

criminosos juvenis, que praticam crimes porque não temem qualquer tipo de

represália. Portanto, a sensação de impunidade, percorre tanto em meio aos

criminosos, como em meio à sociedade refém, que se agrupa em vítimas e vítimas

em potencial, pois mesmo os que não tenham sido alvos dos infratores, vivem em

constante medo, pressentindo que se algo acontecer, nada poderão fazer.

Tramita no Congresso Nacional o projeto de emenda constitucional nº 171/93

que foi apresentado via Câmara dos Deputados, pelo Deputado Benedito Domingos,

do PP do Distrito Federal, com o intuito de modificar o art. 228, da Constituição

Federal, que fala sobre a inimputabilidade penal do menor de 18 (dezoito) anos,

reduzindo-a para 16 (dezesseis) anos de idade.

De acordo com o artigo 228 da Constituição Federal, são penalmente

inimputáveis os menores de 18 anos, sujeitos às normas da legislação especial.

A Câmara dos Deputados aprovou em primeiro turno a PEC para reduzir a

maioridade penal, em setembro de 2015, reduzindo de 18 anos para 16 anos

maioridade em crimes hediondos (estupro, sequestro, homicídio qualificado e outros),

latrocínio, homicídio doloso e lesão corporal seguida de morte. Foram 323 votos a

favor, e 155 contrários a redução, houve apenas 2 abstenções. A proposta precisa

passar por mais um turno na Câmara dos Deputados para seguir para avaliação no

Senado Federal.

O autor do projeto, o Sr. Benedito Domingos, usou como base para sua

argumentação o conceito de imputabilidade, ou seja, na capacidade de entendimento

do ato delituoso como pressuposto da culpabilidade, justifica a redução da maioridade

penal na crença que a idade cronológica não corresponde à idade mental, sobretudo

nos dias de hoje, em que a liberdade de imprensa, ausência de censura, liberação

sexual, independência prematura dos filhos, consciência política, acabam por

capacitar o jovem do entendimento do que é correto ou não em matéria penal.

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Para entender melhor, podemos imaginar que duas pessoas cometam um

homicídio com meios cruéis. Porém um possui mais de 18 (dezoito) anos, e o outro

menos de 18 (dezoito) anos. O primeiro poderá ser condenado a um mínimo de 12

anos, e a um máximo de 30 anos de reclusão. O segundo, que é considerado

inimputável, arcará com as consequências do Estatuto da Criança e do Adolescente,

a mais grave sendo a internação em estabelecimento educacional, por um período

máximo de três anos.

Portanto ambos cometeram cruelmente um assassinato, porém, o menor, não

passará na pior hipótese, mais do que três anos internado num estabelecimento

educacional. Não parece justo, além do que, tal possibilidade de internação é de rara

ocorrência, pois é uma medida excepcional, usada em casos de extrema necessidade,

o Estado procurará a todo custa evitá-la.

A simples advertência é o meio repressivo mais utilizado. Quando muito, terá

que prestar serviços à comunidade, que na prática consiste comparecer, vez ou outra,

a reuniões educativas e auxiliar em programas assistenciais, como os realizados em

hospitais e escolas. E deve-se levar em consideração o fato os estabelecimentos

educacionais estão sempre com sua capacidade cheia, e todos os dias aparecem

novas ocorrências que, obviamente os estabelecimentos não possuem, nem de longe,

espaço para a demanda de jovens.

Não há grande mistério em entender, porque a sociedade protesta contra a

impunidade. Ela de fato existe. O infrator que não conta com 18 (dezoito) anos possui

o alvará para praticar os ilícitos que bem lhe convém, consciente de que,

provavelmente, será apenas advertido e logo estará livre para praticar os mesmos

atos.

Por tais motivos, não poderíamos comparar o jovem dos dias atuais com o

jovem dos anos de 1940 ou 1950, não sendo mais considerados inimputáveis, ou

melhor, incapazes de entender o caráter ilícito do ato, em face de presunção absoluta

de desenvolvimento mental incompleto, como era em 1940, quando foi instituído o

Código Penal que delimitou a idade penal para 18 (dezoito) anos. E diga-se de

passagem, o mesmo encontra-se ultrapassado.

Além disso, traz como alicerce desta redução, supostas oposições legais, que

seriam: a faculdade de casar-se aos 16 (dezesseis) anos, a possibilidade do voto

também aos 16 (dezesseis) anos e a capacidade para empregar-se aos 14 (quatorze)

anos.

18

O nobre doutrinador Mirabete (2013, p.210) analisa a inimputabilidade de tal

forma:

De acordo com a teoria da imputabilidade moral (livre-arbítrio), o homem é um ser inteligente e livre, podendo escolher entre o bem o mal, entre o certo e o errado, e por isso a ele se pode atribuir à responsabilidade pelos atos ilícitos que praticou. Essa atribuição é chamada imputação, de onde provém o termo imputabilidade, elemento (ou pressuposto) da culpabilidade. Imputabilidade é, assim, a aptidão para ser culpável.

Partindo desse ponto, podemos dizer que ele condensa a problemática plena,

quando se debate sobre a redução da maioridade penal. Assim podemos efetuar

diversos questionamentos, quais sejam: como verificar se uma pessoa tem aptidão

para ser culpável? Como aferir se o agente tem a capacidade de discernir entre o que

é certo e o que é errado?

Para solucionarmos esse conflito, devemos transcrever o conceito de

imputabilidade penal nos dizeres de Mirabete (2013, p. 210):

Há imputabilidade quando o sujeito é capaz de compreender a ilicitude de sua conduta e de agir de acordo com esse entendimento. Só é reprovável a conduta se o sujeito tem certo grau de capacidade psíquica que lhe permita compreender a antijuridicidade do fato e também a de adequar essa conduta a sua consciência. Quem não tem essa capacidade de entendimento e de determinação é inimputável, eliminando-se a culpabilidade.

As opiniões da sociedade quanto à redução, ou não, da maioridade penal são

diversas. Os que são contra à redução argumentam que, tomando essa atitude,

haveria a inclusão das crianças e adolescentes infratores no sistema penitenciário,

porém, essa não seria uma medida viável pois a cadeia não é atualmente, suficiente

para ressocializar os adultos, portanto seria praticamente improvável haver uma

ressocialização dos menores infratores.

Um dos fatores principais que nos levam a pensar sobre a redução da

maioridade penal é o fato das constantes práticas abusivas e ações criminosas com

atuação ou participação de menores. Dentre as opiniões dos que defendem a

redução, encontram-se todos aqueles citados pelo Deputado Benedito Domingos,

autor do projeto exposto anteriormente.

Para os que defendem essa corrente, os menores infratores não recebem a

punição devida. Para eles, o Estatuto da Criança e do Adolescente é muito

complacente com os infratores e não intimida os que pretendem infringir a lei. Se a

legislação eleitoral diz que o adolescente de dezesseis anos tem capacidade para

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votar, ele também tem idade suficiente para responder perante a Justiça pelos crimes

cometidos. Por esse e outros motivos, não podemos comparar o jovem de dezesseis

anos de hoje, com os de sessenta ou setenta anos atrás.

Reale (2011, p.161) ao se posicionar à favor da redução da maioridade penal,

argumenta ainda que:

No Brasil, especialmente, há um outro motivo determinante, que é a extensão do direito ao voto, embora facultativo aos menores entre dezesseis e dezoito anos, como decidiu a Assembleia Nacional Constituinte para gáudio de ilustre senador que sempre cultiva o seu “progressismo”[...]. Aliás, não se compreende que possa exercer o direito de voto quem, nos termos da lei vigente, não seria imputável pela prática de delito eleitoral.

Tal posicionamento é acompanhado por outros juristas e doutrinadores como

Nucci (2009, p. 294), que também defende a possibilidade de Emenda à Constituição

para reduzir a maioridade penal:

Não é admissível acreditar que menores entre 16 anos ou 17 anos, não tenham condições de compreender o caráter ilícito do que praticam, tendo em vista que o desenvolvimento mental acompanha, como é natural, a evolução dos tempos.

Do mesmo modo entendemos que se um jovem pode ter capacidade para

votar, ele também terá discernimento ao praticar crimes, ainda que hediondos.

Evidencia-se também que, ao completar dezesseis anos de idade, o adolescente já

pode contrair matrimônio, desde que autorizados pelos pais ou tutores, passando,

dessa forma, a ser chefe de família, ter a responsabilidade da mantença de um lar e

educação e criação dos filhos, inclusive podendo ser proprietário de empresa e

gerenciá-la.

Portanto, os que são a favor da redução acreditam que ficaria mais viável para

os dias de hoje, a redução da maioridade penal dos dezoito para os dezesseis anos

de idade, sem a obrigação de exame de desenvolvimento psíquico-emocional do

menor. Assim, ao atingir os 16 (dezesseis) anos de idade, o agente irá se submeter

às normas do Código Penal.

Novamente percebemos a comparação dos jovens de hoje com os jovens de

décadas atrás, de modo que podemos concluir que hoje em dia eles não mais se

equiparam, tendo em vista o acesso aos meios de comunicação de massa, influências

poderosas tanto da televisão, como da internet, e que o jovem tem conhecimento

amplo do mundo.

20

Nesse contexto, qualquer jovem de 16 (dezesseis) anos já sabe o que é ou não

permitido pela lei, sendo ele um ser livre, de direitos e obrigações, e que possui

condições de escolher entre o que é certo, e o que é errado. De acordo com Porto

(2013, p. 35), o marco de 18 anos não está em conformidade com o padrão de nossa

sociedade, vejamos:

A legislação penal adotou o critério puramente biológico ao estabelecer o marco etário a partir do qual a pessoa passa a ser responsável pelos atos que pratica. Trata-se de sistema que obedeceu a parâmetros de desenvolvimento física, mas que não deixa de ser aleatório, pois poderia ter sido fixada a idade de 17 ou de 19 anos. Assim, mesmo que o adolescente tenha pela capacidade de entender o caráter ilícito de sua conduta, a idade inferior a 18 anos o torna irresponsável por presunção legal. O sistema está, por óbvio, inadequado.

O discurso de que os infratores são apenas crianças indefesas está, há muito,

ultrapassado. Esses jovens têm total consciência de seus atos. A reforma penal é

observada por alguns operadores do direito, como uma medida eficaz para que se

possa combater os delitos praticados por menores, já que, para a grande maioria dos

juristas, o Estatuto da Criança e do Adolescente é apresentado como proteção dos

delinquentes, não sendo capaz de cessar a violência juvenil.

Tendo isso em mente, surge a corrente pró-redução, indignada pela

impunidade e exigindo que se reduza a maioridade penal para 16 (dezesseis) anos,

com a boa intenção de reduzir a criminalidade, consolar as vítimas e, desse modo,

amenizar a impunidade do Brasil, que ficou conhecido com o “país da impunidade”.

A corrente que se formou em sentido antagônico à redução da maioridade

penal costuma alegar que não podemos tratar como adulto aquele que ainda é

criança. O ponto importante é da possível inconstitucionalidade da PEC,

impossibilitando a alteração de um item que está compreendido como um direito e

uma garantia individual, tendo em vista que o art. 27 do Código Penal está envolvido

pela Constituição Federal, em seu artigo 228, bem como o art. 104 do ECA, que

estabelecem a idade de dezoito anos como limite para imputabilidade do jovem.

Segundo Silva (1996. p. 188), garantia individual é o direito que reconhece

autonomia ao particular em relação aos demais membros da sociedade e face ao

próprio Estado. Deste modo, ao avaliarmos o texto do artigo 228, da Constituição,

percebemos que a natureza da norma se amolda com a liberdade negativa, no sentido

de não deixar que o Estado puna o menor de dezoito anos. Nesse compasso, antes

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de qualquer modificação a respeito do tema é necessário que se cumpra o

determinado no art. 4º, do ECA:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 1988).

Evidenciamos claramente que o disposto no artigo citado não está sendo

cumprido, ou até está, todavia, de forma parcial por parte do Estado. Quando o ECA

foi criado o objetivo era garantir uma legislação justa às crianças e aos adolescentes.

Para os que adotam essa corrente, como o ex-presidente da Ordem dos

Advogados do Brasil, defendem que: “a redução da maioridade penal não diminuirá a

onda de violência que assola o País, pois, se o Código Penal, válido para os maiores

de idade, impedisse crimes, ninguém iria cometê-los depois do 18º aniversário”

(BRITTO).

Muito se tem discutido a questão da ressocialização do preso. O maior desafio

da ciência criminal-social é desvendar caminhos para retirar o infrator do mundo do

crime e reinseri-lo na sociedade. Visa-se assim dar aos encarcerados, condições para

que possam ter uma nova vida. A pena privativa de liberdade, na teoria, baseia-se na

ideia de afastar o indivíduo da sociedade por determinado tempo, e durante esse

período, prepará-lo para voltar a viver no corpo social. Porém, o sistema prisional

brasileiro encontra-se em falência. Portanto quem defende a corrente contra a

redução, entende que o cárcere não consegue cumprir a missão ressocializadora do

infrator.

Os que são contrários a redução da maioridade penal, afirmam que com a

redução da idade penal, os maiores que usam crianças e adolescentes para cometer

delitos, recrutariam crianças ou adolescentes com idade ainda mais precoce,

conduzindo ao mundo do crime um grupo cada vez mais jovem, o que não resolve o

problema da violência.

A Ex-Ministra do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie Northfleet, também

se posicionou contra a redução, criticando da seguinte forma:

O que ocorre é que geralmente se discute a legislação e mudanças na legislação sobre um clima de tensão, de emoção. E isso não é necessariamente a melhor forma de discutir a legislação. A questão da criminalidade é bem mais ampla, vai além do estabelecimento de penas, do

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endurecimento dos regimes prisionais, deveria ser tratada de formas mais amplas (NORTHFLEET).

Não se trata apenas de reduzir ou não a maioridade penal, mas sim, debater o

processo de execução das medidas impostas aos jovens, que não se mostra eficaz,

de modo que nos leva a concluir que é o Estado que não cumpre com suas políticas

sociais básicas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante desse perigoso desafio de ser a favor ou contra a redução da maioridade

penal, parece mais sensato propor ideias e sugestões que procurem mitigar a

violência e que também devolva para a população a confiança na Justiça.

Antes de qualquer atitude, deve-se fazer uma reforma penitenciária. O Brasil

possui um dos piores sistemas prisionais do mundo, sem dúvida, precisa ser

imediatamente reformado. Nenhuma medida será realmente eficaz se não houver

uma mudança na postura hesitante em que as autoridades estão mantendo perante a

falência do sistema.

A redução da maioridade penal, no entanto, só surtira um efeito de alivio

momentâneo para a população, pois ao colocar menores de idade no atual sistema

prisional do país, a chance de ressocialização será mínima. É como varrer a sujeira

para debaixo do tapete. A reforma prisional deve ocorrer de maneira a aumentar a

quantidade de presídios pelo país.

No Brasil, não há diferença entre cadeira, prisão e penitenciaria. Existe uma

mistura de réus que aguardam julgamento e os que já estão condenados. Deve haver

essa separação. A cadeia deve ser o local em que o indivíduo que acaba de ser preso

é levado, uma estadia eminentemente provisória, somente enquanto durar a

comunicação entre a autoridade policial e o juiz. A prisão é o local para onde vão

aqueles que aguardam julgamento sem liberdade, também em caráter provisório.

Também o destino daqueles que já foram julgados, porem aguardam liberação de

vaga em penitenciaria.

Penitenciaria é finalmente o local onde os que já foram condenados ficarão. É

o local definitivo para se cumprir a pena. Porem no Brasil essa distinção não existe,

pelo fato de que não temos uma estrutura decente para distinguir tais locais. O que

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possuímos são estabelecimentos precários que, são ao mesmo tempo, cadeia, prisão

e penitenciaria.

Portanto deve haver imediatamente uma reforma que tenha um dos objetivos

expandir, em progressão geométrica, a quantidade de vagas em estabelecimentos

prisionais. Isso não ocorre pelo fato de desinteresse político em tal reforma. A

desculpa usada pelo governo é de que o custo para essa expansão será alto, porém

a verdade é que não surtiria efeito imediato, causando assim o desinteresse para tal

ação, pois muito provavelmente o resultado demorará mais do que um mandato para

começar a surtir efeito.

Além dessa expansão, deve haver uma melhoria na condição dos presídios,

dar ao detento uma condição digna. O mesmo não deverá nem ser tratado como um

animal, pois cedo ou tarde o mesmo retornará ao convívio social cheio de ódio e

rancor, porém o mesmo não pode ser tratado com tudo de bom e do melhor. O ideal

é que o sistema penitenciário distribua seu orçamento de tal modo que os

encarcerados não sejam submetidos a tratamento humilhante. É imprescindível que

tenham uma alimentação suficiente para que não passem fome, o lazer deve ser

mínimo, com incentivo ao esporte. Trabalhos com alguma contraprestação pecuniária,

e que permitam remição.

Deve haver um meio termo, nem punição excessiva, nem tratamento

demasiadamente brando. Nós, cidadãos, transferimos parcelas de nossa liberdade

para que o Estado, unificando-se, administre e garanta a liberdade geral da nação,

nosso conceito de pacto social. Portanto não poderá deixar de punir aquele que

quebrou o pacto. Caso o Estado se omita em punir quem rompeu o pacto social, a

vítima, ou família da vítima, sente-se na necessidade de fazer justiça com as próprias

mãos, já que o governo não objetivou o fazimento da mesma.

Além dessas medidas para o progresso do quadro brasileiro, deve-se instruir

todos aqueles que estão à volta da tutela prisional, em especial agentes penitenciários

e os juízes da execução penal. Portanto a primeira ação a ser tomada pelo Estado,

deve ser a tão ignorada reforma penitenciaria. As correntes pró-redução e contra

redução continuam na insistência de apoio a medidas que, se feitas agora, serão

nulas. Não se esta rejeitando as ideias, mas é evidente que somente após o início da

reforma penitenciária, que as medidas planejadas poderão começar a funcionar.

Uma vez em andamento a reforma, é hora de tomar medidas objetivas

direcionadas à questão da maioridade penal. É claro que atualmente os menores de

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18 anos possuem plena capacidade fática de responsabilidade pelos seus atos, é

inadmissível que fiquem impunes caso transgridam a ordem penal.

Portanto, defendemos no presente trabalho, a redução da idade penal para 16

anos de idade, porem só terá qualquer eficácia se feito posteriormente à reforma

penitenciaria, que deve ser a exigência emergencial do Estado, antes dela nada

poderá ter ampla eficiência.

REDUCTION OF CRIMINAL MAJORITY

ABSTRACT This course conclusion work aims to assess to what extent the reduction of legal age to sixteen (16) years of age will contribute as an effective measure in reducing the rates of violence in the social sphere of the country. A controversial issue and subject of debate among legal professionals and legislators. It is increasingly visible differences that exist in criminal law concerning the issue as it no longer fits with the reality of today. The smallest of eighteen (18) years has been practicing crimes of various types because they do not feel intimidated by the measures provided for in the legislation attributed to them, the Statute of Children and Adolescents (ECA), taking thus the repeated practice illegal activities, by the certainty of impunity. Faced with this situation, in the National Congress several projects aimed at reducing the penal age, in order to fight crime by minors. In short, it is important that only the reduction of criminal responsibility is not enough to combat the crimes committed by teenagers, it is necessary that the State also comply with its obligation.

Keywords: Majority Criminal. Infraction. Child and Adolescent Statute. Brazilian Prison System.

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