faculdades de ensino superior da paraÍba fesp...

59
FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO PENAL E SEGURANÇA PÚBLICA JOSÉ VALE DA SILVA NETO REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO UM MAL NECESSÁRIO? CABEDELO/PB 2017

Upload: dobao

Post on 28-Jan-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL,

PROCESSO PENAL E SEGURANÇA PÚBLICA

JOSÉ VALE DA SILVA NETO

REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO UM MAL NECESSÁRIO?

CABEDELO/PB 2017

Page 2: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

1

JOSÉ VALE DA SILVA NETO

REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO UM MAL NECESSÁRIO?

Monografia apresentada ao Departamento de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão, como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Especialista em Direito Penal Orientador: Prof. Markus Samuel Leite Norat Área: Direito Penal, Processo Penal e Segurança Pública

CABEDELO/PB

2017

Page 3: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

2

S586r Silva Neto, José Vale da. Regime disciplinar diferenciado: um mal necessário?. / José Vale da

Silva Neto. – Cabedelo, 2016.

58f. Orientador: Profº. Ms. Markus Samuel Leite Norat. Monografia Científica (Curso de Especialização em Direito Penal,

Processo Penal e Segurança Pública) Fesp Faculdades. 1. Pessoa Humana. 2. Ressocialização. 3. Regime Disciplinar

Diferenciado. I. Título

Fesp /Biblioteca CDU: 343 (043)

Page 4: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

3

TERMO DE RESPONSABILIDADE

Eu, José Vale da Silva Neto, responsabilizo-me integralmente pelo

conteúdo deste trabalho monográfico, sob o título “Regime

Disciplinar Diferenciado: um mal necessário?”, apresentado ao

Departamento de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da FESP

Faculdades, como parte dos requisitos exigidos para a conclusão

do Curso de Pós-graduação em Direito Penal, Processo Penal e

Segurança Pública, eximindo terceiros de eventuais

responsabilidades sobre o que nela está escrito.

Cabedelo, 16 janeiro de 2017

____________________________________

José Vale da Silva Neto

RG 3.475.463 SSP/PB

Page 5: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

4

JOSÉ VALE DA SILVA NETO

REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO UM MAL NECESSÁRIO?

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Professor Dr. Markus Samuel Leite Norat

Orientador

________________________________________ Membro da Banca Examinadora

________________________________________

Membro da Banca Examinadora

Atribuição de nota: ______________________

Cabedelo, _____ / _______________ / ______

CABEDELO/PB

2016

Page 6: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

5

Dedico a Deus, por sempre ter me

guiado e me fortalecido.

Dedico a meus pais (Marcelino e

Lidia), aos quais sempre me

apoiaram e pelo incentivo dado.

Page 7: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

6

AGRADECIMENTOS

Primeiramente e anterior a tudo, agradeço a Deus, que sempre recorri nos priores momentos desta árdua jornada de eterno estudante. Aos meus pais Lídia e Marcelino que diante de todas as dificuldades quaisquer que fossem sempre estavam ao meu lado, embora distantes fisicamente, mas presente sempre em meu coração! A minha eterna mãe Lucinda (in memoriam), que embora não tenha acompanhado todo o meu crescimento, jamais sua imagem saiu dos meus pensamentos e das minhas orações, sou o que sou graças aos seus ensinamentos. Ao meu orientador ao qual tenho grande admiração e estima, que foi de grande valia para a conclusão desta especialização, concomitantemente do meu aprendizado e crescimento profissional.

Page 8: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

7

“A justiça pode irritar-se porque é precária. A verdade não se impacienta, porque é eterna.” Ruy Barbosa

Page 9: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

8

RESUMO

Este trabalho de cunho cientifico tem por objetivo enfatizar o Regime Disciplinar Diferenciado constante na Lei n° 10. 792/2003 que alterou a Lei n° 7.210/84 - Lei de Execuções Penais – sendo este considerado como controvérsia doutrinária no tocante a sua constitucionalidade. Discorrendo sobre o tema, da sua origem, modo de execução, local de cumprimento desta medida, os procedimentos de inclusão do apenado, discorrendo sobre o Princípio da dignidade da pessoa humana- principalmente quanto à constitucionalidade da aplicação de tal regime, como por objeto central que é a ressocialização do apenado, requisitos para inclusão ao regime mais gravoso - e tendo uma visão ampla sobre a temática e a gama de fatores que influenciam na finalidade da inserção neste regime(combate ao crime organizado), sem deixar de seguir os princípios elencados na Constituição Federal, concluindo a favor da precisão de se estabelecer um regime diferenciado e voltado aos chefes das facções criminosas, mas não ferindo a Carta Magna. Devendo-se nesse processo, citar pontos necessários a uma maior crítica no tocante ao cumprimento da pena, podendo então, concretizar total aplicação da lei penal, sem afastar-se do Princípio da legalidade ou dando permissão a qualquer afronta ao Princípio da dignidade da pessoa humana entre outros princípios basilares do ordenamento jurídico brasileiro. Palavras-chaves: Pessoa Humana. Ressocialização. Regime Disciplinar

Diferenciado.

Page 10: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................... 11

CAPÍTULO I REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO .................... 13

1.1 Origem histórica e conceito do regime disciplinar diferenciado ................13

1.2 Relação com o Direito Penal do Inimigo .......................................................16

CAPÍTULO II LEI DE EXECUÇÃO PENAL .................................................19

2.1 Histórico ...........................................................................................................19

CAPÍTULO III PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA .. 21

3.1 Da Relação com o RDD ...................................................................................21

3.2 Desrespeito a dignidade da pessoa humana ................................................23

3.2.1 Princípio da Intranscendência da Pena ....................................................23

3.2.2 Princípio da Proporcionalidade ................................................................27

3.2.3 Princípio da Humanidade .........................................................................28

CAPÍTULO IV CABIMENTO PARA O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO ............................................................................ 30

4.1 Hipóteses .........................................................................................................30

CAPÍTULO V CARACTERÍSTICAS .................................................... 33

5.1 ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS ...............................................................35

5.1.1 Duração da pena ......................................................................................38

5.1.2 Recolhimento em cela especial ................................................................39

5.1.3 Banhos de sol ..........................................................................................39

5.2 Visitas ...............................................................................................................40

CAPÍTULO VI REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO COMO MEDIDA PREVENTIVA..............................................................................42

6.1 Procedimento para inclusão preventiva no RDD...........................................44

CAPÍTULO VII PROGESSÃO DE REGIME ESTANDO NO REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO .................................................... 46

CAPÍTULO VIII A INCONSTITUCIONALIDADE DO REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO .................................................... 48

Page 11: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

10

CAPÍTULO IX VERTENTE QUE DEFENDE A INCONSTTUCIONALIDADE ............................................................... 50

CAPÍTULO X VERTENTE QUE DEFENDE A CONSTITUCIONALIDADE DO REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO ............................................................................ 52

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 54

REFERÊNCIAS ................................................................................... 56

Page 12: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

11

INTRODUÇÃO

No sistema penitenciário brasileiro não é de se espantar que o Estado não

tenha a menor eficiência que seja dentro dos presídios, para que os criminosos de

alta periculosidade deixem de comandar as suas organizações criminosas dentro e

fora dos estabelecimentos penais.

O Regime Disciplinar Diferenciado foi criado para tentar dar uma resposta à

criminalização dentro dos presídios, onde estavam sendo feridos direito

fundamentais de outras pessoas, por terem um sistema maleável (no sentido de

ineficaz), onde os apenados que eram condenados e remetidos aos

estabelecimentos prisionais, aos quais não estavam tendo direito reprimidos com o

uso de aparelhos telefônico, onde repassavam diretrizes para a pratica de ilícitos

fora dos presídios.

Deste modo de dentro das penitenciárias, os chefes de facções comandam

rebeliões dentro dos presídios e comandando dentro delas a pratica de atos delitivos

também fora delas, onde por tais motivos e/ou disciplina interna do estabelecimento

prisional, a qual esteja sendo necessitada a medida, ou seja, a inclusão do apenado

a este “regime” mais rigoroso, podendo assim ser chamado.

Para a inclusão do apenado neste regime é necessário que este reeducando

preencha alguns requisitos que estudaremos o momento oportuno.

Com o advento da Lei nº 10.792/03 (BRASIL, 2003), alterando assim o artigo

52 da Lei nº 7.210/84 a Lei de Execuções Penais – LEP (BRASIL, 1984), com a

finalidade de estabelecer a ordem nas penitenciarias isolando assim os presos com

alta periculosidade, introduzindo em nosso ordenamento jurídico um novo regime de

disciplina carcerária especial, o Regime Disciplinar Diferenciado.

O mencionado regime é caracterizado por um maior e mais severo grau de

isolamento do preso e restrições ao contato com o mundo exterior do que as já

dispostas na Lei de Execuções Penais, podendo ser submetidos a tal regime os

condenados e os presos provisórios, com prazo máximo de 360 (trezentos e

sessenta) dias, podendo ser uma medida preventiva e acautelatória nas hipóteses

daqueles presos que sobre eles recaiam fundadas suspeitas no envolvimento ou

participação de organizações criminosas, ou que representem alto risco para a

ordem e segurança do estabelecimento penal ou ainda para a sociedade, não tendo

Page 13: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

12

prejuízo da repetição da sanção por falta grave de mesma espécie, sendo limitada a

um sexto da pena.

O Regime Disciplina Diferenciado, por ser um regime de disciplina carcerária

especial, chamado ainda por alguns doutrinadores de regime “Fechadissimo”, tendo

sua “sanção” mais rígida do que as outras, existem varias criticas ao referido regime,

tendo como alegações a sua inconstitucionalidade por ferir os princípios

constitucionais; da dignidade da pessoa humana, legalidade, transcendência da

pena, proporcionalidade e ainda a ofensa à vedação pela constituição à tortura e da

aplicação de penas cruéis.

Ainda assim sendo colocado como solução do problema ora declinado, uma

mudança na Lei de Execução Penal, para que seja mais voltada para o cumprimento

de forma legal no tocante a forma, quanto ao tratamento dos enclausurados,

honrando assim tais princípios previstos na Constituição Federal.

No tocante aos princípios que tal regime viola elencamos o da Dignidade da

Pessoa Humana, Princípio da Humanidade, Proporcionalidade, Intanscendência da

Pena e da Legalidade.

Diante do exposto é o que será analisado. dentre varias visões diferentes.

Page 14: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

13

CAPÍTULO I

REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO

1.1 Origem histórica e conceito do regime disciplinar diferenciado

É rotineiro ao brasileiro ver manchetes em jornais acerca de rebeliões em

presídios, que acontecem praticamente em todos os estados do nosso país. Advoga-

se que isto ocorra por vários fatores como, por exemplo: a superlotação dos

estabelecimentos penais; as condições precárias para o convívio em grupo e o

tratamento cruel a que são submetidos os apenados. Ainda se pode destacar que as

rebeliões são instigadas quando algum líder de facções criminosas é transferido

para outro estabelecimento penal.

De tais rebeliões, na maioria das vezes, redunda a destruição de alguma área

do presídio, de celas, dos corredores, do pavilhão do estabelecimento ou até de todo

o presídio.

Além do mais, os chefes das facções – que na maioria das vezes comandam

essas rebeliões – têm por propósito chamar a atenção da mídia e tentar intimidar as

autoridades; e o fazem visando a que suas exigências sejam acatadas, chegando a

matar os próprios detentos que ali estão enclausurados para demonstrar que não

estão se importando com as consequências que advierem de tais atos, com o único

objetivo de obter o deferimento dos pedidos formulados em face do sistema

carcerário.

Essas dificuldades, decorrentes de rebeliões, são comuns nos presídios em

que há superlotação, e, apesar de ocorrerem em todo o Brasil, são ainda mais

corriqueiras nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo; neste estado passou a

viger a Resolução Estadual nº 26, da Secretária da Administração Penitenciária, na

data de 05.05.2001; segundo ela, foi estabelecido um tratamento carcerário distinto

para determinadas ocasiões, de modo que tal iniciativa legal foi posteriormente

expandida para todas as prisões do país. Apesar disto, vem crescendo a

criminalidade de uma forma mais rápida, como relatado por Silva (2009).

Como podemos elencar Renato Marcão:

Page 15: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

14

Regime Disciplinar Diferenciado, estipulando a possibilidade de isolar o detento por até trezentos e sessenta dias, mormente os líderes e integrantes de facções criminosas e todos quantos o comportamento carcerário exigisse um, tratamento específico. E claro que tão lago foi editada a Resolução 26 a arguição da sua inconstitucionalidade foi premente. Não faltaram juristas para enfatizar: a Resolução viola a Constituição porque tratando-se de falta grave a matéria está afeta, exclusivamente, a lei ordinária, ademais é a Lei de Execução Penal quem cuida de regulamentá-la. Porém, chamado a intervir, o Tribunal de [justiça de São Paulo optou por sua constitucionalidade, ao argumento de que os Estados-membros tem autorização constitucional para legislarem sobre Direito Penitenciário, o que é urna verdade (art. 24, I, CF /88). Sabe-se, por isso, que o Regime Disciplinar Diferenciado vem sendo regularmente aplicada aos detentos de São Paulo que se enquadrem na resolução, embora, reconheça-se, a matéria bem que poderia ter sido regulamentada pela Assembleia Legislativa daquele Estado, desde que não se tratasse de acrescentar nova forma de falta grave, pois, como se sabe, haveria necessidade de alterar o art. 50 da LEP. (MARCÃO, 2015, p 72)

Com a grande criminalidade crescendo nesses dois estados de forma

exorbitante, com as praticas de crimes crescendo dentro das prisões, com as citadas

rebeliões que com o passar do tempo se tornaram mais organizadas, havendo

rebeliões em massa em vários presídios das capitais citadas e ainda se alastrando

por todo o Brasil.

Não obstante, fora das penitenciárias com as facções praticando crimes

hediondos por ordem e insatisfações do lideres dentro dos sistemas prisionais, com

o passar do tempo às ações foram ficando cada vez mais violentas e organizadas,

chegando a tal ponto de atacar autoridades, como juízes, por exemplo, do juiz

Odilon de Oliveira, juiz federal do estado do Mato Grosso do Sul, que condenou mais

de 200 traficantes, incluindo o considerado maior traficante do Brasil, vulgo

‘’Fernandinho beira mar’’, e hoje este Juiz vive sob proteção da Policia Federal 24

horas por dia por ameaças e já ter sido colocado sua vida a prêmio pelas

organizações criminosas, entre outros juízes que atuavam nas Varas Execuções

Penais que no estado de São Paulo e no Espírito Santo no ano de 2003, este são

aqueles que podemos citar, sem contar de quantos juízes são ameaçados

hodiernamente no nosso país (OLIVEIRA, 2012).

Não obstante, tal pratica é corriqueira, o cometimento de crimes contra os

integrantes do judiciário, do sistema carcerário e do Ministério Público, esta pratica

geram aos apenados as inclusões no Regime Disciplinar Diferenciado como podem

observar no julgado do TJ-RO do Agravo de Execução Penal EP (TJ-RO), para

apenas fixa este entendimento com a prática criminal;

Page 16: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

15

TJ-RO - Agravo de Execução Penal EP 00074793620158220000 RO 0007479-36.2015.822.0000 (TJ-RO) Data de publicação: 16/10/2015 Ementa: Agravo de execução penal. Falta grave. Apenado integrante de facção criminosa. Prática de diversos crimes dentro e fora dos presídios. Inclusão no regime disciplinar diferenciado. Possibilidade. Duração do regime fixada em seu patamar máximo. Gravidade concreta dos fatos devidamente fundamentada. Viabilidade. Agravo não provido. 1. Constatado que o apenado é membro de organização criminosa e que comete vários crimes dentro e fora da unidade prisional, é legítima sua inserção no Regime Disciplinar Diferenciado? RDD, nos termos do art. 52 , § 2º , da LEP . 2. Estando devidamente fundamentada nos autos a gravidade concreta dos fatos, é possível a fixação do prazo máximo de duração do Regime Disciplinar Diferenciado? RDD. 3. Agravo não provido. (RONDÔNIA, 2015)

Corroborando com tal posicionamento ora declinado, no que tange a sua

inclusão para o Regime disciplinar diferenciado, ao qual será desmiuçado mais a

frente sobre as peculiaridade e discrepâncias do tema abordado.

O legislador não tendo outra saída para tomar alguma atitude com a situação,

tendo estes atos violentos por partes das organizações criminosas se alastrando por

todo o país, viu como única medida de diminuir tais atos criminosos a criação de

uma nova forma de ‘’cumprimento de pena’’, o Regime Disciplinar Diferenciado, ao

qual é de grande valia, se este tivesse sido criado e aperfeiçoado com o intuito de

reprimir os atentados, as comunicações entre os apenados com as suas

organizações criminosas fora dos estabelecimentos prisionais, como relatam o

Távora e Alencar (2013, p.1.313): “A lei nº 10.792/ 2003 instituiu o regime disciplinar

diferenciado (RDD), alterando a Lei nº 7.210/1984 para conferir nova redação ao seu

art. 52, Trata-se de uma forma de cumprimento de pena fixada em regime fechado”.

Ainda na conceituação do Regime Disciplinar Diferenciado, Távora e Rosmar

(2013) dizem que é: “Uma subdivisão do regime fechado, mais rigoroso e exigente,

caracterizando verdadeira sanção disciplinar. Não se trata, pois de um quarto regime

de cumprimento de pena. Continuamos a ter somente três: fechado, semiaberto e

aberto”.

Ainda nesse posicionamento, Mirabete e Fabbrini (2011, p.243) quando asseveram:

Não é um novo regime de cumprimento de pena, em acréscimo aos regimes fechado semiaberto e aberto. Constitui-se em um regime de disciplina carcerária especial, caracterizado por um maior grau de isolamento do preso e de restrições ao contato com o mundo exterior.

Por fim as palavras do Ilustre doutrinador Marcão:

Page 17: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

16

Nos precisos termos do art. 52 da Lei de Execução Penal, "a prática de fato previsto como crime doloso constituí falta grave e, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado". O regime disciplinar diferenciado é modalidade de sanção disciplinar (art. 53, V, da LEP), e para sua aplicação basta a prática do fato regulado. (MARCÃO, 2015, p.71).

Com o embasamento dos Doutrinadores supracitados, podemos concluir que o

RDD não é uma nova forma de cumprimento de pena e sim um enrijecimento dentro

do regime fechado, ou seja, mais rigoroso, sendo chamado por Marcão (2015) de

Regime “Fechadíssimo’’.

1.2 Relação com o Direito Penal do Inimigo

O Direito Penal do inimigo é uma teoria que foi proposta pelo alemão Günther

(2010), penalista muito bem graduado pela Universidade do Bonn, Alemanha, em

1967, sendo levantada uma nova forma de combater a criminalidade, mas tal

pensamento tem a peculiaridade que é diferenciar o cidadão do inimigo.

Jakobs, desenvolveu esta teoria chamada de Direito penal do Inimigo, sendo

discutido sobre a atual aplicabilidade e efetivação do Direito Penal atual, sendo

nesta teoria flexibilizadas garantias que atualmente não são consideradas flexíveis,

podendo ser usada para defender as sociedades de indivíduos ao quais não se

submetam ao rigor da lei.

Deste modo o cidadão, é aquele que mantem a norma penal sem se valer do

direito penal, usado o direito penal do cidadão, já o “inimigo”, chamado pelo autor, o

direito penal é usado de forma preventiva, combatendo desta forma os atos

praticados por estes indivíduos, seriam o Direito Penal do Inimigo, aos quais as suas

atitudes para que seja mantida a ordem constitucionalmente fixada, seria

considerada um mal necessário, para obter a proteção da sociedade organizada.

Podendo ser dito ainda que o “cidadão” é aquele que se submete a soberania

do estado, podendo vir a ferir a lei penal, mais não é rotineiro, então este terá um

Código Penal do Cidadão, no entanto, por outro lado o inimigo é aquele grupo de

indivíduos que se recusam a viver em harmonia nos padrões do Estado Democrático

de Direito, sendo considerado inimigo do estado, tendo este um código penal mais

rígido, o Código Penal do Inimigo.

Page 18: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

17

Este direito penal do inimigo hoje é encontrado no que o autor chama de

terceira velocidade do direito penal, ainda neste contexto podemos encontrar três

velocidades, três abordagens diferentes, podendo serem idealizados ao Direito

Penal, sendo feita por Sanches as velocidades.

A primeira velocidade seria aquela que tem por intuito no Direito Penal,

ultimar a aplicação de uma pena privativa de liberdade.

A segunda velocidade pode entender que por não se tratar de prisão senão

da privação de direitos ou pagamento pecuniário, podendo assim ser flexibilizado

proporcionadamente a menor intensidade da sanção, podemos exemplificar a Lei

dos Juizados Especiais Criminais, permitindo a utilização de uma transposição de

uma pena por outra, sendo da pena não privativa de liberdade, quando o suposto

autor aceita transação penal imposta pelo douto julgador, podendo ser suspensão

condicional do processo, sursis e etc.

A terceira velocidade seria uma velocidade mestiça, com intenção de aplicar

penas privativas de liberdade, com uma minimização das garantias imprescindíveis

a tal fim.

Podemos dizer ainda que o código citado tem algumas características que o

tornam ainda mais severo; a antecipação da punibilidade, relativização de garantias

do réu e ainda penas desproporcionalmente elevadas, sendo desta forma que se

aproxima do Regime Disciplinar Diferenciado, ao qual este posicionamento podemos

apenas por amor ao direito citar três premissas basilares desta teoria elencada em

Leite (2016):

a) a necessidade de antecipação da punição do inimigo -, não importa o cometimento fático de qualquer crime -, sendo puníveis inclusive os atos preparatórios mesmo que não signifiquem crimes autônomos, em modelo oposto ao que vige atualmente no Brasil; b) desproporcionalidade das penas e relativização e/ou supressão de certas garantias processuais. Para Jakobs, as penas são eficazes quando puderem extirpar da sociedade o indivíduo perigoso, ou seja, o inimigo; c) a criação de leis mais severas direcionadas diretamente aos inimigos. Portanto, ter-se-ia dois direitos penais materiais e diametralmente opostos, um referente ao cidadão comum (Bürgerstrafrecht) onde prevalecem todos os direitos processuais e a integralidade do princípio do devido processo legal e um direito penal aplicável ao inimigo (Feindstrafrecht) com pesadas penas dirigidas aos que atentam contra o Estado, indo desde a coação física até o estado de guerra, objetivando o restabelecimento da norma, apartando o inimigo do seio da sociedade, bem como servindo de intimação para outras pessoas.

Page 19: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

18

A antecipação da punibilidade como característica ora vista no tema

anteriormente abordado, também é vista no Regime Disciplinar Diferenciado de

forma maquiada, quando existe a possibilidade de um individuo que recaia sobre ele

um suposto envolvimento ou participação em alguma facção criminosa já dará o

direito do estado de submeter o agente ao regime de cumprimento de pena mais

rigoroso, ferindo também o Princípio da ampla defesa e do contraditório.

Essa relação entre os temas pode ser levantada tendo em vista que ambos

ferem um Princípio fundamental assegurado pela Constituição de 1988, o da

dignidade da pessoa humana, tal posicionamento feito por Jakobs é de total

incompatibilidade com o ordenamento jurídico brasileiro.

Nos últimos estudos do penalista, tentando aprimorar e adaptar o código

penal do inimigo ao presente, ainda é assim é afirmado por ele que o Código Penal

do Inimigo é inevitável na sociedade moderna.

Diante dos argumentos anteriormente narrados, podemos afirmar que existe

uma grande aproximação do Regime Disciplinar Diferenciado com a teoria do

escritor Günther Jakobs, no tocante ao Direito Penal do Inimigo. Tal liame entre os

dois temas é consolidado na forma de submeter os agentes ao cumprimento de

pena característico de ambos, não sendo analisadas as condutas exteriorizadas e

sim as características inerentes a pessoa do condenado.

Existe ainda sobre tal teoria uma indagação, se tal teoria seria compatível,

com os princípios elencados na Constituição Federal/88, com os Direito Humanos e

com o Pacto São José da Costa Rica.

Page 20: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

19

CAPÍTULO II

LEI DE EXECUÇÃO PENAL

2.1 Histórico

A Lei 7.210 de 1984- Lei de Execuções Penais, ao qual é o principal objeto de

estudo do presente trabalho.

Estabelece o efetivo cumprimento das decisões e sentenças criminais,

disciplinando ao apenado seus direitos, comumente nas penitenciarias do Brasil,

como objetivando a ressocialização e a reinserção do custodiado à sociedade, ao

qual esta constante no artigo 1º desta lei.

Como é possível observar que a criação desta lei, fora com o intuito de seguir

os princípios norteadores do ordenamento pátrio vigente, no tocante aos direito e

garantias dos presos. Como o Princípio da legalidade, de forma a reduzir excessos,

ou até mesmo que estes não existam quanto a forma de execução das medidas

penais impostas, para que estas não venham a ferir o Princípio da dignidade da

pessoa humana, na pessoa do preso, tendo assim, como medida suprema a

ressocialização do apenado.

Como podemos observar a Lei de Execuções Penais, em seu artigo 3º e 4º:

Art. 3º Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei. Parágrafo único. Não haverá qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou política. (LEP, 2013, p.984) Art. 4º O Estado deverá recorrer à cooperação da comunidade nas atividades de execução da pena e da medida de segurança. (MARCÃO, 2015)

Para uma analise gramatical da lei, o direito a ser atingido é apenas a

liberdade, sendo está privada por força de uma decisão judicial, por um ato ilícito

anteriormente praticado, não obstante, o estado como detentor do direito de punir,

deve também resguardas as condições dignas de cumprimento de tal medida

imposta, vinda a pensar sobre o ato praticado, o dano gerado com a sua ação ou

omissão, para que este venha a valorizar o seu direito a liberdade.

Principalmente para que o direito penal não se torne para este individuo um

clichê na sociedade, sendo corriqueiras suas atitudes criminosas, sendo assim, o

Page 21: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

20

direito penal não tenha mais efeito sobre tal individuo. De forma a evitar o regresso

deste a praticar atos delitivos.

Este é o dever do estado, de garantir que a pena não seja apenas para punir,

mas também seja, a lei está fortemente ligada ao Princípio da legalidade para que

esta atuação estatal não seja feita por excessos ou desvios de execução na pena,

que venham a comprometer a dignidade da pessoa humana do apenado, Princípio

este que será abordado a posteriori, sendo envolvida pelo caráter ressocializador da

medida.

Podemos observar os artigos 25 e 17 da Lei de Execuções Penais:

Art. 25. A assistência ao egresso consiste: I - na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade; II - na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação, em estabelecimento adequado, pelo prazo de 2 (dois) meses. Parágrafo único. O prazo estabelecido no inciso II poderá ser prorrogado uma única vez, comprovado, por declaração do assistente social, o empenho na obtenção de emprego. (...), Art. 27. O serviço de assistência social colaborará com o egresso para a obtenção de trabalho.

Neste mesmo sentido assevera a Lei de Execuções, estabelecendo e

normatizando a execução da pena no sistema carcerário, ao qual prioriza o Princípio

basilar contido na Constituição Federal, o da dignidade da pessoa humana.

Onde podemos retirar o seguinte entendimento que a Lei em comento,

embora eficaz em partes, no tocante as propostas, mas ineficiente e imperfeita no

que tange a sua aplicabilidade ou execução, ou seja, na sua pratica.

Page 22: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

21

CAPÍTULO III

Princípio DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

3.1 Da Relação com o RDD

O presente estudo tem relação com o Princípio da dignidade da pessoa

humana, de forma subsidiaria, não menos importante, haja vista que está

intimamente relacionado com todas áreas de conhecimento, tratando de um tema

bastante rotineiro, sendo um tema bastante debatido principalmente nessa seara, a

qual é objeto de estudo.

Tal Princípio, da Dignidade da Pessoa Humana, consiste em ter um valor

superior destinado a garantir a plenitude dos direito individuais e sociais, como

podemos conceituar dignidade que é a possibilidade de poder adquirir direitos e

contrair deveres.

Principalmente deve ser observado a fundo, pois este é um termo limitador do

poder punitivo do estado, entretanto, não vem sendo satisfatório quando temos

como referencia a integridade moral e física dos apenados. Quando uma infração

penal é cometida, existirá o direito de punir por parte do estado, o jus puniendi.

Ocorrendo porque o estado tem se preocupado apenas com as medidas punitivas,

sem levar em consideração os motivos que levam a ressocialização e/ou o caráter

reeducador, para quem cometeu o delito.

A finalidade da pena é a reeducação para aqueles que cometem fatos

criminosos, tendo o estado a obrigação de readapta-lo a vida em sociedade, para

que o apenado não venham a cometer outra vez infrações penais. Podendo

destacar de forma indispensável, a lei de execuções penais, como reza o artigo 1º:

“A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão

criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado

e do internado”.

Desta forma, é observado que o objetivo seria a punição, não se preocupando

com os direitos assegurados aos apenados, sendo esquecido que estes também

são seres humanos, e que tais garantias estão fixadas na Constituição.

O status previsto na Constituição Federal, revelando que o Princípio da

dignidade da pessoa humana tem uma posição de destaque, pois existe relação

Page 23: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

22

com os demais princípios elencados pela Carta Magna. (CARVALHO; GAVAZA,

2010)

É sabido que a Constituição Federal foi promulgada em 5 de outubro de 1988,

considerada como o ápice da legislação brasileira, tendo como fundamento supremo

as diversas espécies normativas. Neste sentido temos as palavras de Alexandre de

Moraes:

A dignidade humana da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente a pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que apenas excepcionalmente possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos. (MORAES, 2014)

Sendo desta forma entendido que o Princípio da dignidade da pessoa

humana, é uma direito individual, regendo todo o ordenamento jurídico, causando a

igualdade de todos as pessoas, de forma ampla resguardando a dignidade da

pessoa humana.

Partindo da base fundamental que é consagrado pela CF/88, da dignidade da

pessoa humana, sendo apresentado com dupla concepção, ao qualpode ser

relacionado ao direitos inerentes a pessoa humana, estando esta cumprindo pena

em algum estabelecimento penal ou não. Prevendo primeiramente um direito

individual protetivo, sendo em relação ao próprio estado, ou quer seja em relação

aos indivíduos, sendo assegurado tratamento igualitário dos próprios semelhantes.

Destacando desta forma que tal princípio é fundamental na vida dos

indivíduos, quanto pessoal como na proteção exercida pelo estado, sem qualquer

distinção de condições que este indivíduos se enquadre.

Sendo assim, relacionando tal Princípio com o Direito Penal, esta dignidade

estudada ainda e mais importante, sendo esta valor explicito de cada ser humano,

dependendo assim, da atuação do estado para que sejam cumpridas os objetivos

das medidas penais impostas, que é a ressocialização e a reinserção do individuo

na sociedade.

Page 24: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

23

3.2 Desrespeito a dignidade da pessoa humana

Este Princípio dignidade da pessoa humana, promove igualdade a todos os

seres humanos no sentido mais amplo da palavra, resguardando o direito a

dignidade, ao qual envolve setores da sociedade para a integração de tal Princípio.

Sendo observado que o desrespeito a esse princípio está constante no

relatório do Conselho Estadual de Direitos Humanos da Paraíba relatada em 2012,

também no Conselho Nacional do Ministério Publico em 2013, nos estabelecimentos

prisionais do Estado da Paraíba, estes relatórios foram feitos com base

especificamente no Presidio Desembargador Flósculo da Nobrega e no Presidio

PB1e PB2.

Sendo unificado a problemática constante nestes estabelecimentos prisionais

em analise das inspeções realizadas, sendo um problema que assona o Pais inteiro,

que é a superlotação dos presídios, condições desumanas de convivência

carcerária, chegando a ser considerado tratamento desumano e/ou degradante

imposto ao apenado. Sendo visto pela sociedade como uma medida necessária para

reeducação do detento, ao qual não ajuda na reeducação do apenado.

Como podemos observar nas palavras de Cunha:

A ninguém pode ser imposta pena ofensiva à dignidade da pessoa humana, vedando-se reprimenda indigna, cruel, desumana ou degradante. Este mandamento guia o Estado na criação, aplicação e execução das leis

penais. (CUNHA, 2015, p.97)

Sendo considerado o Regime Disciplinar Diferenciado, como uma afronta a

tais princípios constitucionais, ferindo assim a Constituição Federal.

3.2.1 Princípio da Intranscendência da Pena

O Princípio da instrancendência da pena esta intimamente ligada ao Princípio

da dignidade da pessoa humana, ao qual dependendo da medida imposta poderá

afetas pessoas externas, que não cometeram nenhum delito, ferindo o Princípio

supracitado, ao qual regula que a pena não pode ultrapassar da pessoa do

condenado

O princípio da individualização da pena está previsto no artigo 5º, XLVI, da

CF/88:

Page 25: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

24

[...] a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos. (Grifos nossos). (BRASIL, 1988)

Nas palavras de Sanches:

[...] a resposta estatal ao autor de fato punível deve ser observada em três momentos: a) na definição, pelo legislador do crime e sua pena; b) na imposição da pena pelo juiz; c) e na fase de execução da pena, momento em que os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal. (CUNHA, 2015, p.98).

Ainda no tocante a individualização da pena, podemos citar as palavras de

Rodrigo Duque:

O PRINCÍPIO da individualização parte do pressuposto de que a vagueza presente no art. 59 do CP e nas demais normas de aplicação de pena é atentatória ao princípio da legalidade, urna vez que não pode haver pena, nem seu incremento, sem lei estrita. Essa constatação, atrelada ao dever constitucional de minimização da afetação individual, conduz a conclusão de que a individualização da pena, especialmente veiculada através do art. 59 do CP, somente se mostra constitucional quando operada em sentido redutor. De forma mais objetiva, é possível afirmar que a individualização da pena representa urna excepcionalidade do princípio da legalidade, e como tal não pode ser empregada de modo contrário ao acusado, seja pelo aplicador ou pelo intérprete da norma. (ROIG, 2015, p.109)

Podemos ainda destacar que o Princípio da instrancendência é chamado de

Princípio da pessoalidade, por Rogério Sanches, sendo um dos princípios basilares

do Direito Penal, de forma explícita, entre outros na Carta Magna estando esculpido

no artigo 5º, XLLV da Constituição Federal:

[...] nenhuma pena passará da pessoa do condenado podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido. (BRASIL, 1988).

Significando tal Princípio que a pena imposta aquele que tenha praticado ato

ilícito e esteja cumprindo uma medida imposta por parte do estado, impossibilitando

que esta pena seja estendida a terceiro que não tenham participação como o crime

praticado.

Por amor ao direito, e gosto a lide, apenas para exemplificar, uma medida

tomada por parte do estado, de forma mais pratica, que é o Auxilio Reclusão,

Page 26: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

25

assegurado ao apenado que esteja sob a custodia do estado, existe grande

controvérsia sobre este beneficio, desde preencha tais requisitos impostos por lei.

Podemos entender que a forma de individualização da pena, é um método

mais eficaz no tocante o seu maior redução de danos, chega-se a conclusão que

quantos menores forem os danos causados pela medida penal, qualquer que seja

ela, irá minimizar a afetação do apenado na sua reeducação.

Sendo este poder conferido ao juiz, que deverá analisar o caso concreto

aplicando de forma proporcional, tendo por objetivo, a sua responsabilidade de fazer

valer o poder estatal combinado com o poder redutor da agencia judicial de forma

audaz, exercido pelo seu dever jurídico-constitucional.

Nesse sentido pode ser indagado sobre a relação deste Princípio com o

Princípio da individualização da pena, ao qual friso no tocante a execução penal,

sendo relatado por Greco (2015, p.120):

Com os estudos referentes à matéria, chegou-se paulatinamente a o ponto de vista d e q u e a execução penal não pode ser igual para todos os presos - justamente porque nem todos são iguais, massumamente diferentes - e que tampouco a execução pode ser homogênea durante todo o período de seu cumprimento. Não h á mais dúvida d e que n e m t o d o preso deve ser submetido ao mesmo pr grama d e execução e que, durante a fase executória da p e n a, se exige um ajustamento desse programa conforme a reação observada no condenado, só assim se podendo falar em verdadeira individualização no momento executivo. Individualizar a pena, n a execução, consiste em dar a cada preso as oportunidades e os elementos necessários para lograr a sua reinserção social, posto que é pessoa, ser distinto. A individualização, portanto, deve aflorar técnica e científica, nunca improvisada, iniciando-se com a indispensável classificação dos condenador a fim de serem destinados aos programas de execução mais adequados, conforme as condições pessoais de cada um. (GRECO, 2015, p.120).

Tal entendimento se enquadra perfeitamente ao presente trabalho, haja vista

que, devendo cada apenado ser observado de forma individualizada, onde se forem

tomadas decisões que prejudiquem, como a inclusão em algum regime mais severo,

possa ser que exista um dano irreparável ou de difícil reparação.

Como ainda podemos observar nos casos, de forma pratica, que as

apenadas, que se encontrem em estado de gestação, e estes filhos venham a

nascer ainda quando estejam no cumprimento da pena, até que ultrapassem o

período de amamentação, conforme esta esculpido no artigo 5º, L, da Constituição

Federal:

Page 27: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

26

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...] L – às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação. (BRASIL, 1988)

Ainda por cautela o artigo 6º, CFRB/88:

Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

No artigo 83, §2º e 89 da Lei de execução Penal, é resguardado tal direito de

cuidar e amamentar seus filhos , por um período mínimo de 6 meses, ainda que nas

penitenciárias devem conter ambiente condigno ao amparo das gestantes ou

parturientes.

Art. 83. §2º. Os estabelecimentos penais destinados a mulheres serão dotados de berçário, onde as condenadas possam cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo, até 6 (seis) meses de idade.

Contudo se próxima ao máximo da vedação ao Princípio da instanscendência

da pena, ao qual se o recém-nascido fosse amamentado longe da sua mãe, sem a

devida proteção do leite materno nesses primeiros meses de vida, poderão ser

irreparáveis os danos causados a este terceiro, onde fora criado uma proteção para

que a pena imposta a sua genitora, não fosse exacerbada e atingisse seu

descendente, sendo da maior forma possível minimizados os efeitos da condenação.

Tal medida é para seja conservado os direito inerente a gestante,

independentemente da estrutura do estabelecimento prisional, ao qual a gestante

não pode ser prejudicada por falta de estrutura por parte do estado.

Devendo assim embasado neste Princípio, o legislador procurar alcançar a

tão almejada proporcionalidade, não sendo tão fácil assim, pois com o montante de

infrações penais existentes em nosso ordenamento jurídico penal, se afasta cada

vez mais da ideia de proporcionalidade.

Page 28: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

27

3.2.2 Princípio da Proporcionalidade

Sobre tal Princípio pode ser dito que uma obra que explica tal Princípio é o

Livro dos delitos e das penas (Beccaria, 2006) No qual assevera que a pena deve

ser, essencial, publica, pronta, necessária, a menor das penas aplicável nas

circunstancias referidas, proporcionalidade ao delito [...] (GRECO, 2015, p.125).

Sempre remetendo ao que consta sobre o Regime Disciplinar Diferenciado,

se ao remeter o apenado neste regime a medida ensejadora é realmente

proporcional à “pena imposta”. Desta forma é entendo como tal Princípio somo

significação de intensidade da pena, eficácia, guardando relação com o bem jurídico

por ela resguardado, havendo proporcionalidade quando segue tal parâmetro.

Como podemos citar as palavras do ilustre autor Roig (2015, p.100).

Uma visão preventivo-especial da pena entenderá que o beneficio imposto pela norma será a reforma moral ou recuperação do apenado (mote positivo) ou sua neutralização (mote negativo), senda o ónus a dar infligida ao condenado pela privação de sua liberdade. Já urna visão preventivo-geral perceberá o benefício imposto pela norma de aplicação penal como o reforce da fidelidade ao direito (mote positivo) ou a dissuasão da coletividade quanto à prática delitiva (mote negativo), compreendendo o ónus também como a necessidade de privar um indivíduo de sua liberdade. (ROIG, 2015, p.100).

Sendo este entendimento subvertido ao correto significado de ônus e

beneficio da aplicação da pena sobre a norma penal, consequentemente

desvirtuando o próprio conceito de proporcionalidade, sendo dito ainda por Roig

(2015, p.100) que tal Princípio é democraticamente insustentável, no tocante a

proibição do excesso e a proibição da insuficiência da reprimenda quando verificado

um crime (ROIG, 2015, p.102).

Contudo, a conexão entre a proibição de excesso e a proibição de insuficiência não se mostra congruente. A proibição de excesso tem o condão - e assim deve permanecer - de impedir que o legislador fixe limites penais máximos incompatíveis com o postulado da própria humanização das penas, tornando judicialmente sindicável seu descomedimento. Visa também a coibir excessos por parte do próprio Poder Judiciário, no momento da medição da reprimenda. (ROIG, 2015, p.103)

Este entendimento do autor pode ser dito que tem relação direta com a pena

latu sensu, no entanto é trazido para esta abordagem a qual é mais prejudicial ao

Page 29: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

28

reeducando, devendo ser observado a espécie de pena aplicada capaz de reprovar

e prevenir o crime.

Sendo este Princípio usado como forma subsidiária quando a penalidade é

aplicada, sendo primordialmente o caráter punitivo e ressocializador, em segundo

plano, sendo assim complementado com a proporcionalidade da medida para que a

ideia que uma pena de maior intensidade é proporcional por reprovar de forma mais

eficaz o ato delitivo caia por terra. Ferindo como foi dito o Princípio da dignidade da

pessoa humana, sendo este Princípio considerado como vetor minimizador de danos

(ROIG, 2015, p.104).

3.2.3 Princípio da Humanidade

Este Princípio é a base maior do Estado Democrático de Direito, servindo

como alicerce do Princípio da dignidade da pessoa humana, tentando buscar a

contenção da ingerência desmesurada do poder que é conferido ao estado punir os

indivíduos que devem ser submetidos a tal regulamentação estatal, objetivando uma

sociedade livre e justa, conforme também é visto no artigo 3º, III, da Constituição

federal, na erradicação da marginalização e redução das desigualdades sociais

(ROIG, 2015, p.60).

Demandando tal Princípio que toda pessoa que for privada de sua liberdade

deve ser tratada como respeito devido a dignidade inerente ao ser humano.(ROIG,

2015).

Na essência, o princípio demanda que "toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o respeito devido a dignidade inerente ao ser humano" (art. 52, item 2, da Convenção Americana de Direitos Humanos). Com base nessas premissas, chega-se a basilar conclusão de que o PRINCÍPIO da humanidade constitui o fundamento penal maior do dever jurídico-constitucional de minimização da intensidade da afetação do indivíduo, possuindo grande relevo na tarefa de determinação da pena, já que capitaneia a condução de urna política criminal redutora de danos. (ROIG, 2015, p.61)

Enquanto tal Princípio norteador da politica-criminal de respeito a pessoa

humana, ao qual os direito fundamentais formam parte essencial de um plano

constitucional, com o intuito de lograr êxito no tocante a sua relação com a dignidade

da pessoa humana, sendo base para o autorrespeito e da conservação da vida

como sociedade (ROIG, 2015, p.62).

Page 30: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

29

Desta feita, o Princípio em estudo, que prioriza as atitudes tomas que por

ventura venham a trazer algum dano irreparável com esta decisão, pois tal decisão

condicionará o destino daquele apenado, devendo ser avaliado com um semelhante

tendo a consciência dos efeitos desta determinação.

Exigindo do magistrado, sem falar da fundamentação para a inclusão que é

inerente a qualquer decisão sendo obrigatória, não obstante devendo o despacho do

magistrado conter como foi dito a fundamentação especifica para a inclusão, que

fora solicitada pelo diretor do estabelecimento, o magistrado deve também ter um

senso de responsabilidade no reconhecimento do outro.

Fazendo relação com a Constituição Federal quando elenca a minimização da

afetação do individuo, a qual é vedado por clausula pétrea a afetação de direitos e

garantias individuais e sendo atribuído a máxima efetivação da legislação vigente

que não fira a Carta Magna.

Page 31: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

30

CAPÍTULO IV

CABIMENTO PARA O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO

4.1 Hipóteses

Nos termos do art. 52, da Lei de Execuções Penais, o Regime Disciplinar

Diferenciado poderá ser aplicado quando:

A) (artigo 52, caput) o preso, provisório ou condenado, praticar fato previsto

como crime doloso que ocasione subversão da ordem ou disciplina interna (caput).

Como podemos observar nas palavras de Marcão (2015, p 74):

Não basta, como se vê, a pratica de falta grave consistente em fato previsto como crime doloso. É imprescindível que tal agir decorra subversão da ordem ou disciplina interna” Subversão é o mesmo que tumulto. Assim, ocasionar subversão é o , mesmo que tumultuar. E o "ato ou efeito de transtornar o funcionamento normal ou o considerado bom (de alguma coisa)"19• Ordem lembra organização, e, no léxico, significa "regulamento sobre a conduta de membros de urna coletividade, imposto ou aceito democraticamente, que objetiva o bem-estar dos indivíduos e o bom andamento dos trabalhos.

Podendo ser destacado que é uma ampliação na forma de punir o individuo, o

crime doloso apenas não cauterizará a inclusão no RDD, terá que causar a

subversão da ordem ou disciplina internas, podendo ser caracterizado também nos

métodos utilizados pelo Jakobs (2010) na sua obra Código Penal do Inimigo.

B) (artigo 52, §1º da LEP) presos provisórios ou condenados, nacionais ou

estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do

estabelecimento penal ou da sociedade, sendo discorrido na 2ª hipóteses elencada

por Marcão (2015, p.75)

Os presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade. Ao contrário do que reclama o caput do art. 52, para a inclusão do preso provisório ou condenado, nacional ou estrangeiro, no regime disciplinar diferenciado, o § 12 do mesmo artigo não exige que tenham eles praticado crime doloso durante o período de permanência no estabelecimento prisional. Para a inclusão no RDD basta que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade.

Page 32: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

31

Sendo entendido que o problema cruciforme está em discriminar caso a caso,

como considerar como alto ou baixo risco para ordem e segurança do

estabelecimento prisional.

c) (artigo 52 §2º da LEP) o preso provisório ou o condenado sob o qual

recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em

organizações criminosas, quadrilha ou bando (§ 2°)., como reza Marcão (2015, p.75)

A primeira observação a ser feita é no sentido de que não se fez, por aqui, como de resto também não se fez no caput, qualquer menção expressa ao estrangeiro, preso ou condenado, como constou no§ 12, restando excluí- da, sob tal fundamento, a possibilidade de sua inclusão no regime disciplinar diferenciado, já que as normas que impõem limitações a direitos devem ser interpretadas restritivamente.

Neste sentido são inúmeros os casos de excessos cometidos, em virtude da

vasta aplicabilidade da interpretação da norma, do que venha a ser possível

consideração do que venha a ser fundadas suspeitas de envolvimento ou

participação, a qualquer título, em organizações ou associações criminosas.

Tal característica fortalece ainda mais a tese levantada que o agente sem que

se quer tenha praticado algum delito expondo-o a arbitrariedade e subjetividade do

estado no dever de punir, assim fazendo sem que tenha exteriorizado qualquer

conduta que o autorize a inserção na medida mais áspera, aproximando-se com a

obra do penalista Jakobs.

Neste sentido é valido ressaltar o artigo 1º, §1º, da Lei n. 12.850/13:

Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.

Atualmente neste sentido, o delito de quadrilha ou bando, atualmente

denominado de “associação criminosa”, inserido no artigo 288 do Código Penal

Brasileiro. Ainda neste mesmo ponto a lei 11.343/06- Lei de Tóxicos, ao qual se

refere as organizações criminosas, onde ainda fala sobre grupo, acredito que seja

referente a grupo criminoso, não recebeu até o momento definição legal, esta que

não se enquadra ao artigo 52 da Lei de execuções Penais, não sendo tipificado

Page 33: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

32

gramaticalmente no artigo citado, ao qual não poderá ser feita analogia para incluir

tal denominação ao rol do artigo 52 da LEP.

Destas três hipóteses na aplicação do RDD é a única que recebe uma pratica

delituosa e especifica, podendo ser provada a caracterização da falta que resulte no

enquadramento no caput deste artigo para a inclusão do indivíduo em tal regime

Neste sentido também nas palavras de Marcão:

Segundo o disposto no § 12 do art. 52, o regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade. Por fim, dispõe o § 22 do mesmo dispositivo que estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando. Cabe aqui observar que o crime de quadrilha ou bando, tipificado no art. 288 do CP, como advento da Lei n, 12.850 /2013 recebeu novo nomen juris e a partir de então passou a ser denominado "associação criminosa".(MARCÃO, 2015, p.74)

Já as outras hipóteses de cabimento que elencam o artigo supracitado em

seus §1 e §2, são completamente confusas, dando um aval a Administração para

aplicar tais sanções sem nenhum parâmetro para embasar as decisões impostas

aos condenados, ferindo assim o Estado Democrático de Direito.

Page 34: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

33

CAPÍTULO V

CARACTERÍSTICAS

A lei de Execuções Penais em seu artigo 52 e incisos elencam as

características do Regime Disciplinar Diferenciado que são: duração máxima de 360

dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie,

até o limite de um sexto da pena aplicada, recolhimento em cela individual, visitas

semanais de duas pessoas sem contar as crianças, com duração de duas horas, e

terá direito a banho de sol por duas horas diárias.

Art. 52. A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasione subversão da ordem ou disciplina internas, sujeita o preso provisório, ou condenado, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado, com as seguintes características: I - duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada; II - recolhimento em cela individual; III - visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas; IV - o preso terá direito à saída da cela por 2 horas diárias para banho de sol. § 1

o O regime disciplinar diferenciado também poderá abrigar presos

provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros, que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade. § 2

o Estará igualmente sujeito ao regime disciplinar diferenciado o preso

provisório ou o condenado sob o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações criminosas, quadrilha ou bando.

Como também podemos observar nas palavras de Mirabete e Fabbrini (2011,

p. 242):

Ao qual poderão ser submetidos os condenados ou presos provisórios, por deliberação judicial, como sanção disciplinar, pelo prazo máximo de 360 (trezentos e sessenta) dias ou como medida preventiva e acautelatória nas hipóteses de presos sobre os quais recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação em organizações criminosas ou que representem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou para a sociedade.

Ou seja, poderão ser incluídos no mesmo regime todos os presos

estrangeiros, nacionais ou provisórios desde que de forma fundamentada por parte

da autoridade sejam considerados de alto risco ou que comprometam a ordem e a

segurança do estabelecimento prisional ou da sociedade.

Page 35: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

34

Nestes termos podemos observar uma fragilidade neste dispositivo, onde tal

fundamentação é feita pela autoridade prisional, haja vista, que não existe uma

medida para se ao menos seja tomada como parâmetro de sua fundamentação,

deixando uma lacuna para este ato, comprometendo a integridade do individuo

encarcerado.

Neste sentido podemos citar inúmeros julgados de agravo em execução aos

quais elencam que fora imposta a medida mais gravosa, quer seja o Regime

Disciplinar Diferenciado, onde não fora provado os requisitos do artigo 52 da Lei de

Execuções Penais, no tocante aos requisitos subjetivos para a sua inclusão:

TJ-SP - Agravo de Execução Penal : EP 00416590420148260000 SP 0041659-04.2014.8.26.0000 AGRAVO EM EXECUÇÃO – REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO (RDD) – ALEGAÇÃO DE QUE O AGRAVADO ERA INTEGRANTE DO PRIMEIRO COMANDO DA CAPITAL (PCC) - Desnecessidade: Ausentes as hipóteses previstas no art. 52 da LEP bem como o periculum in mora no caso concreto, impossível o deferimento do regime disciplinar diferenciado. Agravo não provido. (SÃO PAULO, 2014)

Ainda neste sentido:

STJ - HABEAS CORPUS HC 66174 SP 2006/0198785-9 (STJ): PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. NÃO CONHECIMENTO DO WRIT. EXECUÇÃO PENAL. REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO - RDD, ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO. SUPERVENIÊNCIA DO TRÂNSITO EM JULGADO. PREJUDICIALIDADE. TESES DE NULIDADE DA SINDICÂNCIA, DE FRAGILIDADE DA PROVA E DE INCONSTITUCIONALIDADE DO RDD. QUESTÕES NÃO ARGUIDAS OU APRECIADAS NA ORIGEM. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. 1. Ressalvada pessoal compreensão diversa, uniformizou o Superior Tribunal de Justiça ser inadequado o writ em substituição a recursos especial e ordinário, ou de revisão criminal, admitindo-se, de ofício, a concessão da ordem ante a constatação de ilegalidade flagrante, abuso de poder ou teratologia. 2. Já tendo sido julgados os embargos declaratórios, bem como os recursos que se seguiram, resultando no trânsito em julgado do decreto condenatório, perde interesse a discussão de validade acerca da incidência do RDD a preso provisório. 3. Questões relativas à nulidade da sindicância, de fragilidade da prova colhida nos autos da sindicância e de inconstitucionalidade do Regime Disciplinar Diferenciado, que não foram objeto do recurso interposto, nem tampouco foram examinadas pelo Tribunal a quo, não podem ser apreciadas por esta Corte Superior, sob pena de indevida supressão de instância. Precedente. 4. Habeas corpus não conhecido. (BRASIL, 2006)

Como foi possível observar dois posicionamentos a respeito do RDD, ao qual

deixar soltos vários pontos estudar em momento oportuno sobre a sua aplicação e

Page 36: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

35

eficácia constitucional, como foi visto o grau de subjetividade na inclusão do

apenado. Como o regime estabelece que seja o apenado envolvido com

organizações criminosas, apenas é necessário fundadas suspeitas desse

envolvimento, como reza o artigo 52, §2º da Lei de Execuções Penais, apenas para

esclarecer temos o julgado:

TRF-1 - AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL AGEPN 86166120134014100 RO 0008616-61.2013.4.01.4100 (TRF-1) Data de publicação: 17/01/2014 Ementa: PENAL. PROCESSUAL PENAL. AGRAVO EM EXECUÇÃO. INCLUSÃO EM REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO - RDD. ART. 52 DA LEI 7.210 /1984 (EXECUÇÕES PENAIS). INCONSTITUCIONALIDADE. AFASTADA. ALTO RISCO. 1. O Superior Tribunal de Justiça já decidiu pela constitucionalidade do art. 52 da Lei 7.210 /1984, com redação dada pela Lei 10.792 /2003, que prevê o Regime Disciplinar Diferenciado - RDD. Precedentes do STJ. 3. O RDD é medida extrema, destinada exatamente aos presos de elevado potencial de criminalidade. 4. A medida não é um processo judicial à parte, mas tem natureza cautelar e, por isso, prescinde da existência de provas robustas. 5. Na hipótese, a decisão obedeceu ao determinado pelo art. 59 da Lei 7.210 /1984 e na alta periculosidade do agravante, o qual, mesmo em ambiente carcerário de segurança máxima, comete indisciplinas e ameaça de morte Agente Penitenciário, trazendo o risco para o estabelecimento penal, o meio social, a segurança e a ordem pública. 6. Agravo em execução a que se nega provimento. (BRASIL, 2014)

Como é visto apenas por ser integrante, como fora fundamentado, “prescinde”

a existência de provas robustas, não tendo o conhecido lastro probatório mínimo

para a inclusão do apenado neste regime, não precisa de se quer uma

fundamentação idônea, mais apenas um suposto envolvimento deste reeducando

para que seja suficiente a sua inclusão no Regime Disciplinar Diferenciado, ferindo

assim inúmeras garantias constitucionais, como ampla defesa e contraditório, que

nesta hipótese não é anterior, e caso ocorra será a posteriori, ao qual já estará

submetido ao regime “fechadíssimo”.

5.1 ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS

No decorrer deste trabalho, foi visto varias vezes sinônimos deste instituto

penal, como prisão, estabelecimento penal, estabelecimento prisional entre outros,

no entanto, não podemos nos afastar da explicação por mais sucinta que seja dos

presídios, haja vista, que de forma mascarada será um elemento muito importante

para uma maior abrangência do Regime Disciplinar Diferenciado, entretanto, vale

destacar que o local para o cumprimento da pena nos regimes fechado, semiaberto

Page 37: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

36

e aberto, bem como as medidas de segurança são os lugares mais apropriados para

este cumprimento, ou seja, os estabelecimentos penais.

Nestes, ainda servem para abrigar os presos provisórios, mulheres e maiores

de sessenta anos tendo locais exclusivos, resguardando desta forma a devida

separação entre os encarcerados anteriormente elencados. Como podemos

observar o artigo 82, §1º, da Lei de Execuções Penais:

Art. 82. Os estabelecimentos penais destinam-se ao condenado, ao

submetido à medida de segurança, ao preso provisório e ao egresso. § 1° A mulher e o maior de sessenta anos, separadamente, serão recolhidos a estabelecimento próprio e adequado à sua condição pessoal. (BRASIL, 1984)

Como é notório, o local do cumprimento da pena deve seguir vários critérios

exigidos pela Lei de Execuções Penais, é importante destacar a destinação do

estabelecimento, que deve contar com local adequado com áreas para serviços

voltados para a educação, trabalho, recreação, e esportes dos presos.

Existindo assim uma determinação legal que os presos provisórios sejam

separados dos condenados definitivos, dentre estes, havendo a distinção entre

primários e reincidentes. Havendo ainda a distinção daqueles condenados que na

época do cometimento da infração penal, era funcionário da administração da

justiça, estes sempre ficarão separados dos demais, como reza o art.84 da Lei de

Execuções Penais.

Não obstante, devemos entender que existem várias espécies de

estabelecimentos penais, como as penitenciárias, haja vista, para que seja incluído

no Regime Disciplinar Diferenciado é necessária que o indivíduo esteja cumprindo

uma pena de reclusão, semiaberto ou aberto, sendo ainda desta forma de

estabelecimento penal a colônia agrícola, industrial ou similar, sendo esta para

cumprimento de pena em regime semiaberto, e ainda a casa de albergado, sendo

objeto de pena para o regime aberto, ou seja, poderá ser incluído no Regime

Disciplinar Diferenciado qualquer condenado ele estando em algum dos regimes

fechado, semiaberto ou aberto, não existe a necessidade de estar em um regime

especifico para ser incluído, haja vista, que um condenado que esteja submetido ao

regime semiaberto ou aberto, mesmo nestas condições esteja liderando de forma

maléfica o trafico de drogas ou outros crimes por uma facção criminosa, nestes

Page 38: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

37

termos o estado seria forçado a impor o RDD a tais condenados e limitando assim

direitos e evitando que estes continuem a praticar estes atos.

Essas duas espécies de estabelecimento penais sendo explicadas de forma

rápida e sucinta, sendo feita dessa forma para elucidar ainda mais o tema abordado,

mesmo não sendo de forma direta objeto de estudo.

No tocante ao RDD com a importância devida as penitenciárias, no que diz

respeito à forma que os apenados são tratados e a quantidade de enclausurados por

cela como podemos observar nas palavras de Nucci (2014, p.971):

A lotação do presídio deve ser compatível com sua estrutura e finalidade havendo o controle por parte do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Esse é outro ponto extremamente falho no sistema carcerário brasileiro. Se não houver investimentos efetivo para o aumento do número de vagas, respeitadas as condições estabelecidas na Lei de Execução Penal para os regimes fechados, semiaberto e aberto, nada de útil se poderá esperar do processo de recuperação do condenado.

Podemos dizer que quando um presídio está superlotado a ressocialização

torna-se extremamente mais fácil, dependente quase que exclusivamente da boa

vontade de cada sentenciado, como é um grande problema na atualidade no nosso

país, os estabelecimentos penais como relata o Jornal Folha de São Paulo, escrito

por Juiliana Coissi e Dhiego Maia, publicado no dia 14/03/2014: “Superlotação em

presídios aumenta em 17 estados e no Distrito Federal”, não é de espantar com

quantidade de rebeliões acontecendo em todo o território nacional com mortes de

detentos.

O pior ainda esta por vir, além de estarem com superlotação, é desencadeado

uma onda de danos, sejam estes aos princípios da dignidade da pessoa humana,

haja vista, que com as palavras de Nucci, que a reabilitação é mais difícil com a

quantidade de apenados acima do permitido, quiçá ferindo princípios fundamentais,

assim nos faz indagar, se para um regime disciplinar mais rigoroso como a exemplo

o tema abordado, se o sistema penitenciário terá uma efetivação garantida de

direitos e deveres daqueles que se submetem a tal, ou apenas serão submetidos a

esta forma de cumprimento mais rígida, para apenas de certa forma ser torturado

física e psicologicamente pelo Estado.

Page 39: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

38

5.1.1 Duração da pena

Ao se falar da duração da pena que o preso deve ser submetido, temos que

ter um cuidado especial ao dizer que a duração é de um ano, o que não é correto tal

afirmação, uma vez que a lei é categórica quando diz que será de 360 dias e não um

ano, podendo ainda ser aplicada outras vezes, desde que seja cometida nova falta

grave de mesma espécie, não sendo superior a um sexto da pena aplicada.

Nesse sentido assevera Marcão (2015, p. 73):

Conforme disciplinado, o RDD - regime disciplinar diferenciado - possui as seguintes características: 1) duração máxima de 360 dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada. Em se tratando de preso provisório, sem pena aplicada, na falta de expressa previsão legal, leva-se em conta a pena mínima cominada; 2) recolhimento em cela individual; 3) visitas semanais de duas pessoas, sem contar as crianças, com duração de duas horas; 4!) o preso terá direito a saída da cela por duas horas diárias para banho de sol.

No entanto, existe um questionamento pertinente ao Artigo 52, I e o art 54 da

mesma Lei de Execução Penal:

Art. 52, I:que duração máxima de trezentos e sessenta dias, sem prejuízo de repetição da sanção por nova falta grave de mesma espécie, até o limite de um sexto da pena aplicada; quando o legislador diz Art. 54. As sanções dos incisos I a IV do art. 53 serão aplicadas por ato motivado do diretor do estabelecimento e a do inciso V, por prévio e fundamentado despacho do juiz competente.

O legislador ao criar este dispositivo, deixou uma lacuna que autorize a

Administração impor pormenorizado que seja, qualquer motivo e quantidade de

vezes possível ao sentenciado idealizando faltas, mesmo depois do cumprimento

completo do Regime citado, haja vista que não existe um parâmetro que sirva como

embasamento da autoridade administrativa para lavrar o ato dentro do

estabelecimento penal, ainda assim devendo este ser imparcial nas suas alegações,

o que é quase impossível ter certeza disso.

Não podemos deixar de fazer um questionamento pertinente, que se o artigo

52 da LEP não houvesse mencionado limite temporal para o cumprimento, nesta

forma de execução mais rigorosa o RDD, ele deixaria de ser uma sanção mais rígida

passando a ser um regime de cumprimento de pena, sendo colocado ao lado do

Page 40: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

39

regime fechado, semiaberto e aberto, podendo o condenado cumprir na

integralidade no Regime Disciplinar Diferenciado.

Nestes termos podemos exemplificar que desde o século XVIII, segundo

Beccaria (2006), que existe uma proporcionalidade entre as penalidades e o modo

de aplica-las, sendo necessário fazer a escolha dos ambientes ao mesmo tempo

eficientes que perdurassem mais, sendo assim menos cruel ao indivíduo condenado.

5.1.2 Recolhimento em cela especial

Como assevera o artigo 52, II, da LEP, o condenado que fora submetido ao

Regime estudado precisará ser submetido ao encarceramento a uma cela individual

sem a companhia de ninguém. Esta cela podemos afirmar que é conhecida como a

“Solitária”, muitas vezes sem nenhuma luz que nela entre, que também é vedado

pelo artigo 45, §2 da LEP, que nenhum condenado poderá ser colocado em cela

escura.

Como foi verificado em todo o trabalho, que esta medida é completamente

rodeada de inconstitucionalidades, ferindo princípios fundamentais, tendo normas

com um duplo entendimento, dificultando desta forma a ressocialização do

condenado, haja vista, que não esta sendo cumprida de forma a incentivar a

inserção do prisioneiro à sociedade, corroborando assim como a única hipótese de

ser considerada eficaz esta medida, que seria uma mudança rígida na sua

normatividade, uma maior fiscalização por parte do estado, por parte dos juízes das

execuções penais que impuseram o individuo ao regime.

No entanto, como uma solução a ser dada ao tema para que tais princípios

não sejam mais infringidos pelo próprio estado, haja vista, que este deveria ter

suporte para o cumprimento de forma legal e enérgica.

5.1.3 Banhos de sol

O preso terá direito a saída da cela por duas horas diárias para banho de sol,

disposto no inciso IV, do artigo 52 da LEP, podendo ser entendido a violação do

Artigo 5º, incisos III e XLVII, alínea “e”, da CF, que é assegurado ao condenado o

respeito a integridade física e psíquica, não podendo serem submetidos a tortura,

Page 41: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

40

tratamento desumano ou degradante, sendo vedado também pela constituição a

aplicação de penas cruéis.

Art. 5º, III - “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. Art. 5º, XLVII – Não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis.

A reclusão por esse período de tempo, trancafiado sem convivência com

ninguém é considerada uma tortura psicológica, chegando a ser desumano.

Como podemos observar o isolamento em cela individual sem a convivência

com nenhum outro ser humano, se é que podemos chamar estes prisioneiros de

seres humanos, haja vista, que não são tratados como tal, dando a entender que o

motivo primordial da pena aplicada que é a ressocialização perde sua força, tendo

seu lugar ocupado pela vontade de torturar, maltratar, que é o que acontece neste

regime.

5.2 Visitas

No caso das visitas, são semanais de duas pessoas, sem contar as crianças

e tendo duração máxima de duas horas, como podemos observar o inciso III do

Artigo 52 da Lei de Execuções Penais.

Neste inciso existe uma ambiguidade quanto a visita das crianças, quando o

legislador diz: “ sem contar as crianças “, o que realmente ele quis dizer, a dúvida

seria se elas não poderiam visitar ou se não seriam computados a entrada de

crianças por quantidade, haja vista que são permitidas apenas duas pessoas por

visita ao apenado que esta sujeito ao Regime Disciplinar.

O que podemos entender sobre a letra da lei é que não será computada a

quantidade de crianças quando fosse visitar o indivíduo submetido ao regime, isto

posto, que uma das formas de que seja garantido a finalidade do cumprimento

penal, sendo oferecido a interação social com a visita dos filhos mesmo estando

submetido ao Regime Disciplinar Diferenciado.

Page 42: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

41

Podemos frisar também que se tal letra de lei fosse entendida que os filhos

não poderiam visitar seu pai ou mãe que esteja em tal regime, estaria cegamente

ferindo um Princípio previsto no Artigo 5º, XLV da Constituição Federal, que seria o

da intranscendência ou da pessoalidade da pena, ou seja, que a pena não poderá

passar da pessoa do condenado, e incluindo os filhos no rol das pessoas que não

podem visitar, estaria estendendo a pena para os filhos, haja vista que os filhos

necessitam para a formação social da interação com os seus pais, sem falar dos

danos causados aos filhos por não entenderem os motivos impostos pelo estado

para separação familiar.

Vale ressaltar que o preso sujeito ao regime não terá direito à visita íntima ou

de certa forma será reduzida, tema este que fere o Princípio da dignidade da pessoa

humana e o da igualdade, haja vista, que a pena não é de castidade, privando o

individuo deste exercício o estado estará incentivando a praticas de atos sexuais

com seus próprios parceiros ou parceiras.

Como trazemos as palavras do renomado Nucci (2014, p.948):

È indiscutível haver pontos negativos levantados por parcela da doutrina: a) o direito visita intima retira o controle integral do estado em relação aos contatos entre presos e pessoas de fora do estabelecimento penal; b) permite-se, dessa forma, o ingresso de instrumentos e aparelhos celulares, pois não se consegue fazer a revista pessoal no visitante de maneira completa, até por ser uma questão de invasão de privacidade; c) pode-se incentivar a prostituição uma vez que o preso solteiro, pretendendo fazer valer o direito, tende a servir-se desse tipo de atendimento; d) se a prisão não deixa de ser um castigo, a possibilidade de acesso ao relacionamento sexual periódico torna a vida no estabelecimento prisional muito próxima do cotidiano de quem está solto; e)o ambiente prisional não é adequado, nem há instalações próprias para tal ato para tal ato de intimidade, podendo gerar promiscuidade; f) há presos que são obrigados a vender suas mulheres a outros, para que prestem favores sexuais em virtude de dívidas ou outros aspectos.

Ainda assim, é inadmissível essa restrição, haja vista, que podemos dizer que

seria um mal menor, ainda assim incentiva a ressocialização fortalecendo as

relações familiares do preso, como da mesma forma impedir a violação sexual entre

presos.

Page 43: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

42

CAPÍTULO VI

REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO COMO MEDIDA PREVENTIVA

Artigo 60 da Lei de Execuções Penais:

Art. 60. A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo do faltoso pelo prazo de até dez dias. A inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado, no interesse da disciplina e da averiguação do fato, dependerá de despacho do juiz competente. Parágrafo único. O tempo de isolamento ou inclusão preventiva no regime disciplinar diferenciado será computado no período de cumprimento da sanção disciplinar.

Como podemos observar para que o indivíduo seja isolado no Regime é

necessário que seja decretada pela autoridade administrativa que neste caso é o

diretor do estabelecimento prisional onde esteja o faltoso, para tal ato administrativo

sendo este dependente de um despacho do juiz competente, no prazo de 15

(quinze) dias, sendo que este despacho deve conter uma fundamentação detalhada

da decisão e abrindo vista para o Ministério Publico tomar ciência do fato, sendo

esta necessária para a inclusão, que seja averiguado o fato no interesse da

disciplina interna e motivando a inclusão, como podemos trazer a letra de lei do

Artigo 59 da LEP:

Art.59- Praticada a falta disciplinar, deverá ser instaurado o procedimento para sua apuração, conforme regulamento assegurado o direito a ampla defesa. Parágrafo único. A decisão será motivada.

Nesse sentido temos as palavras do ilustre autor Marcão (2015, p.79).

A legitimidade para postular a inclusão no regime disciplinar diferenciado é do diretor do estabelecimento penal em que se encontre o preso provisório ou condenado alvo, ou de outra autoridade administrativa, incluindo-se aqui autoridades como o Secretário da Segurança Pública e o Secretário da Administração Penitenciária. O requerimento deverá ser sempre circunstanciado, entenda-se, fundamentado (art. 54, § 12, da LEP). Apresentado o pedido de inclusão, sobre ele deverão manifestar-se o Ministério Público e a Defesa. Em seguida caberá ao juiz da execução prolatar sua decisão no prazo de quinze dias (art. 54, § 22, da LEP).

Podendo recair na inclusão o condenado sob essas duas hipóteses que trata

o Art. 60 da LEP.

Page 44: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

43

Podendo estas medidas ser aplicadas aos presos provisórios ou definitivos,

nacional ou estrangeiro, ressalvando o prazo de 10 (dez) dias, sendo improrrogável,

sendo resguardado a não decretação do mesmo fato.

Sendo observados dois requisitos essenciais para a sua decretação fumus

boni júris e periculum in mora, que se tal ato for tomado sem as devidas precauções

serão impostos ao condenado dano que não possa ser reparado ou difícil reparação.

Como podemos observar nas palavras de Marcão (2015, p.77).

A inclusão preventiva no Regime Disciplinar Diferenciado é medida cautelar a ser decretada pelo juiz da execução, no interesse da disciplina e da averiguação do fato, não se constituindo em distinta quarta hipótese de inclusão, apesar da confusa redação que foi dada ao dispositivo em comento. Sua decretação reclama a constatação e demonstração, em despacho judicial fundamentado, de dois requisitos básicos: fumus boni juris

e periculum in mora.

Podemos ainda ressaltar que o indivíduo que de forma preventiva seja

submetido ao RDD, mais que depois ele seja incluído definitivamente, terá que haver

a detração penal, haja vista, que o determinado tempo que o preso foi submetido de

forma preventiva no regime deverá ser computado como forma de cumprimento da

sanção disciplinar, ou seja, quando for decretado por 10 (dez) dias o afastamento de

forma preventiva, havendo a inclusão definitiva no Regime caso seja para o

cumprimento de forma integral no prazo máximo que é de 360 (trezentos e sessenta)

dias, deverão ser subtraídos os 10 (dez) dias em que o preso passou no isolamento

preventivo, tendo apenas que cumprir 350 (trezentos e cinquenta) dias no Regime

Disciplinar Diferenciado.

Apenas para elucidar a subjetividade para a inclusão do apenado por ter uma

suposta alegação de envolvimento com organizações criminosas, onde esta inclusão

é feita como anteriormente visto por parte do direto administrativo do

estabelecimento prisional, ao qual estes motivos não estão lúcidos para todas as

partes envolvidas tão pouco para o magistrado que dará o despacho da inclusão,

como exemplo cito o julgado TJ-SP - Agravo de Execução Penal EP

00383186720148260000 SP 0038318-67.2014.8.26.0000 (TJ-SP):

TJ-SP - Agravo de Execução Penal EP 00383186720148260000 SP 0038318-67.2014.8.26.0000 (TJ-SP): Data de publicação: 06/03/2015 Ementa: AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL Pedido de inclusão de sentenciado em regime disciplinar diferenciado (RDD) Alegação de

Page 45: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

44

envolvimento daquele com facção criminosa Não demonstração de conduta atual que justifique a excepcional providência Ausência de configuração inequívoca, no momento presente, das hipóteses previstas no artigo 52 da LEP, com efetiva comprovação da necessidade da medida Indeferimento mantido Recurso não provido. (SÃO PAULO, 2015)

6.1 Procedimento para inclusão preventiva no RDD

Para que seja concretizada a inclusão definitiva é necessário que seja

deferida por um juiz de Execuções Penais como já foi mencionado anteriormente, e

esta não poderá ser feita ex officio, e o Ministério Publico não tem legitimidade para

ostular a inclusão neste Regime.

Neste posicionamento temos o doutrinador Nucci (2014, p. 959) em sua

afirmação que:

O regime disciplinar diferenciado somente poderá ser decretado pelo juiz de execução penal, desde que proposto, em requerimento pormenorizado, pelo diretor do estabelecimento penal ou por outra autoridade administrativa ( por exemplo, o Secretário de Segurança Pública ou da Administração Penitenciária), ouvido previamente o membro do Ministério Público e a defesa (art. 54 e parágrafos, LEP). Embora o juiz tenha o prazo de 15 dias para decidir a respeito, a autoridade administrativa, em caso de urgência, pode isolar o preso preventivamente, por até 10(dez) dias aguardando a decisão judicial (BRASIL, 2014).

Ainda nesse sentido apenas para exemplificar, citamos Marcão (2015, p.77):

Consideradas a urgência e as demais peculiaridades que a envolvem, a inclusão preventiva pode ser decretada pelo juiz sem a prévia oitiva do Ministério Público e da Defesa, não havendo que se falar, por aqui, em violação de garantias constitucionais como contraditório, ampla defesa, devido processo legal etc. Com efeito, por certo a operacionalização das oitivas prévias, no mais das vezes, poderia desatender a finalidade emergencial da medida extrema. Ademais, nada impede que após a decisão que determinar a inclusão sobre ela se manifestem o Ministério Público e Defesa, apresentando as ponderações que entenderem pertinentes.

Corroborando assim, que apenas o juiz competente, sendo este de

execuções penais poderá ordenar a inserção do preso no Regime Disciplinar

Diferenciado. Podendo ainda, de acordo com situações peculiares, como a

regressão cautelar, previsto no artigo 118, da LEP, entendo vários tribunais que para

a medida benéfica ao apenado não necessidade prévia da oitiva do Ministério

Público.

Page 46: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

45

Como já foi mencionado anteriormente, este mesmo juiz que por ventura

submeta o individuo ao regime, este também poderia ser o instrumento do estado

para a fiscalização da forma que é submetido o apenado, haja vista, que foi o

mesmo que o inseriu a tal regime, tendo indícios por menores que sejam da doutrina

majoritária que esta medida é cruel e torturante para quem é submetido a ele.

Seria por parte do estado uma comprovação de preocupação com os

apenados que estão submetidos a medida imposta, se este não estivesse apenas se

importando com a inclusão, mas também com o Princípio da dignidade da pessoa

humana.

O que terminantemente é vedado, e sob pena de nulidade absoluta, que seja

decretada de forma definitiva a inclusão ao Regime Disciplinar Diferenciado, sem a

previa manifestação do Ministério Público e da Defensoria Pública (MARCÃO, 2015,

p.78).

Page 47: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

46

CAPÍTULO VII

PROGESSÃO DE REGIME ESTANDO NO REGIME DISCIPLINAR

DIFERENCIADO

Essa questão é divergente se existe a possibilidade da progressão de regime

estando o apenado em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD).

Neste sentido tenho por base os ensinamento de Marcão (2015, p.189).

Muito embora a primeira impressão seja no sentido da negação, da impossibilidade de conceder o beneficio estando o sentenciado a cumprir pena no "regime fechadíssimo", que decorre da sanção disciplinar em questão, uma análise mais cuidadosa do tema impõe afirmar que, em tese, é possível a concessão de progressão. A questão, todavia, deverá ser analisada com serenidade, cuidadosamente, caso a caso. A afirmação genérica no sentido da negativa é temerária tanto quanto precipitada, e o raciocínio simplista que a fundamenta não resiste aos efeitos de uma reflexão mais profunda e abalizada. O que pode parecer óbvio ao que concluí apressadamente não o é ao que deita reflexões jurídicas e equilibradas sobre o tema.

Tal regime é espécie da sanção penal disciplinar, a qual é imposto ao preso

provisório ou condenado definitivo, que se enquadrar no artigo 53, V, da Lei de

Execução Penal, ou seja, praticar falta grave. Os requisitos para a progressão do

regime são: cumprimento de 1/6 da pena no regime em que se encontrar o preso;

apresentação de atestado de boa conduta carcerária, firmado pelo diretor do

estabelecimento prisional (MARCÃO, 2015, p.189).

Sendo tais requisitos cumpridos, estará o apenado em condições de obter a

progressão de regime para o regime menos severo, sendo assim vedada a

progressão por saltos sendo: fechado; semiaberto; aberto.

Marcão (2015) indaga no seguinte ponto:

A questão que agora se impõe reside em saber se, encontrando-se o preso provisório ou definitivo submetido a Regime Disciplinar Diferenciado, e tendo cumprido fração suficiente de sua pena, bem como apresentado pedido de progressão de regime aparelhado com atestado de boa conduta carcerária, estará em condições de obter ou não a progressão pleiteada. Quanto ao requisito objetivo (cumprimento de 1/6, 2/5 ou 3/5 da pena), nao há nada a despertar preocupação, Cumprida a fração percentual, estará satisfeito, O problema surge em relação a avaliação do requisito subjetivo, que agora está restrito ao teor do atestado firmado pelo diretor do estabelecimento prisional. (MARCÃO, 2015, p.190)

Page 48: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

47

Como foi possível observar durante o trajeto linear do presente, a

preocupação que é possível observar nas palavras do autor, onde demonstra seu

sobre como será feito a avaliação do requisito subjetivo, ao qual o apenado é

submetido por parte da autoridade penitenciária, sendo certo que uma visão menos

cautelosa enxergará a impossibilidade da progressão, sendo mais difícil conseguir

este atestado de boa conduta, haja vista que o apenado por estar neste Regime

presume-se que não tenha bom comportamento carcerário.

Sabe-se que não podemos ter penas de caráter perpetuo, os seus efeitos é

que podem se prolongar, podendo a progressão de regime estando o apenado em

Regime Disciplinar Diferenciado, se cumpridos os requisitos do artigo 112 da Lei de

Execuções Penais.

O que podemos observar que a Lei de Execuções Penais não estabelece o

período de tempo, aos quais as faltas graves disciplinares durariam para efeitos de

computo para incluir o apenado em RDD.

Neste sentido assevera Marcão (2015):

Não é o fato de ter sido submetido em certa data ao "regime fechadíssimo" , em razão de apresentar, naquele tempo, alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou da sociedade, que estará afastada de plano a hipótese de progressão. Poderá, também aqui, tempos depois e ainda sob Regime Disciplinar Diferenciado, atender aos requisitos do art. 112 da Lei de Execução Penal e fazer jus a passagem para regime mais brando. Diga-se o mesmo em relação ao preso provisório ou condenado sobre o qual recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a qualquer título, em organizações ou associações criminosas, e que sob tal fundamento tenha sido submetido ao Regime Disciplinar Diferenciado. (MARCÃO, 2015, p .191)

Nestes casos é primordial reconhecer o limite temporal das causas indicadas

a inclusão do apenado em tal regime, entende o autor, que não sofrendo limitações

temporais no tocante a progressão de regime, é dar um atestado aos Diretores das

penitenciárias, que a qualquer momento podem incluir o mesmo apenado varais

vezes ao RDD, sob a mesma alegação anteriormente declarada, o que fere

diretamente a o Princípio Non Bis in Idem, sendo punido varias vezes pelo mesmo

fato anteriormente praticado.

Page 49: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

48

CAPÍTULO VIII

A INCONSTITUCIONALIDADE DO REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO

No transcorrer do presente trabalho já foi dito que o regime disciplinar foi

instituído pela Lei 10.792, podemos dizer que é advindo do Estado de São Paulo

através de uma resolução do ano de 2001, logo no inicio da sua criação foram feitos

questionamentos a respeito da sua constitucionalidade, levantando a hipótese de

que só a Lei de Execução Penal poderá regulamentar no caso de falta grave.

Irei discorrer sobre alguns aspectos que relacionam a respeito da sua

inconstitucionalidade.

Ainda assim, Gomes (201-]) elenca em um de seus trabalhos que jamais uma

Medida Provisória poderá criar delitos ou impor penas ou mesmo cuidar de qualquer

agravamento na execução das penas, como a fez no tema abordado.

Podemos observar o Princípio constitucional da humanidade, não admitindo

ter penas cruéis no nosso país, sendo assim inviável, debatendo desta forma a

admissibilidade do Regime Disciplinar Diferenciado. (NUCCI, 2014, p. 960)

Perante das características do referido tema, podemos destacar em especial

o isolamento imposto ao prisioneiro por 22 horas diárias, circunstância esta que

pode persistir por 360 dias, posicionamento este que é tido por vários doutrinadores

no tocante a essa medida imposta sendo esta considerada como cruel.

Sendo assim uma modificação feita por essa resolução que foi muito bem

debatida por parlamentares, além de varias audiências promovidas pela Constituição

de Comissão de Justiça, haja vista, que é pacifica a doutrina a respeito de que não

existe vicio formal e sim material.

Podemos citar as palavras do ilustre doutrinador Nucci (2014, p.960):

Se todos os dispositivos do Código Penal e a Lei de Execuções Penais fossem fielmente cumpridos, há muitos anos, pelo Poder Executivo, encarregado de construir, sustentar e administrar os estabelecimentos penais, certamente o crime não estaria, hoje, organizado, de modo que não haveria necessidades de regimes como o estabelecido no pelo art. 52 da Lei de Execuções Penais.

Com essas palavras do doutrinador podemos corroborar dizendo que a

realidade se distanciou da lei, dando uma grande margem para a estruturação das

organizações criminosas, ainda assim em todos os níveis, aumentando a

Page 50: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

49

marginalidade dentro do cárcere e ainda pior de forma organizada, o que não

podemos ao menos imaginar um indivíduo isolado em uma cela a noite e sozinho

onde poderia estar interagindo com outros encarcerados, bem como o dia

trabalhando ou fazendo qualquer outra atividade imposta pelo estabelecimento

prisional.

Concluímos assim este pensamento que diante desta mórbida realidade que

onde foi criado o RDD diante de tais fatos ocorridos anos atrás, como assevera o

doutrinador Nucci, que a pena privativa de liberdade, é denominado um mal

necessário, ao qual, os apenados são obrigados a obedecerem caso se enquadrem

nos casos que necessitem a inserção em tal regime mais rigoroso de cumprimento

de pena.

Page 51: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

50

CAPÍTULO IX

VERTENTE QUE DEFENDE A INCONSTTUCIONALIDADE

Como podemos observar que durante todo o trabalho fora se inclinando para

a inconstitucionalidade do cumprimento de pena abordado, levantando varias

hipóteses corroborando com as aduzidas do doutrinador Gomes ([201-]).

O Presidente da República, depois da EC 32/01 (art. 62, § 1º, I, b, da CF), definitivamente não pode adotar medidas provisórias (contra o réu) sobre Direito penal ou processo penal. Medidas que restringem a liberdade devem emanar diretamente do Congresso Nacional.

Nestes termos que é considerada inadmissível esta existência, haja vista, que

como uma medida que é transitória poderá agravar uma sanção por esse

determinado tempo de 360 dias.

No entanto não podemos nos afastar das garantias constitucionais rasgadas

por este dispositivo, dignidade da pessoa humana, proporcionalidade, integridade

física e moral, e ainda que ninguém será submetido a tratamento desumano ou

degradante entre outros que não poderão ser instituídas penas cruéis ao

condenado.

Sobre o prisma estudado no tocante ao ferimento feito aos princípios

constitucionais, seja explícitos ou implícitos pela doutrina majoritária, foi estudado

cada princípios individualmente no momento oportuno.

Resta esclarecer que tal regime é uma media necessária, desde que seja

feita, executada, imposta aos apenados dentro da legalidade; seguindo a

proporcionalidade da medida; sem que fira outras pessoas além da pessoa do

condenado, não seja imposta de forma cruel, sem se importar com os riscos e que

venham a gerar com a má prestação por parte do estabelecimento prisional de forma

subsidiária, mais em primeiro lugar por parte do Estado, que tem o poder/dever de

fiscalizar a imposição do Regime Disciplinar Diferenciado, para que seja realizado da

melhor forma possível no tocante aos danos que possam gerar ao apenados

submetido a esse regime.

Deste modo, se a aplicação deste regime for feito contrariando tais princípios

supra citados, desde que seja feito um estudo de caso para verificar a realidade dos

Page 52: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

51

apenados que estão submetido a este regime, e se estes estão nas condições que é

assegurada pela Constituição Federal em seu artigo 5º.

Page 53: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

52

CAPÍTULO X

VERTENTE QUE DEFENDE A CONSTITUCIONALIDADE DO REGIME

DISCIPLINAR DIFERENCIADO

Corroborando com a constitucionalidade que é encabeçada pelo renomado

jurista Guilherme de Souza em sua obra não sendo apenas um adepto a

constitucionalidade mais também ao direito propriamente dito, com afinco de

legalidade, ainda em sua obra afirmando que o Regime Disciplinar Diferenciado não

é uma prática cruel, pode citar suas indagações.

Nucci (2014, p.960) ensina que:

Proclamar a inconstitucionalidade desse regime, fechando aos imundos cárceres aos quais estão lançados muitos presos no Brasil é, com a devida vênia, uma imensa contradição. Constitui situação muito pior ser inserido em uma cela coletiva, repleta de condenados perigosos, com penas elevadas, muitos deles misturados aos presos provisórios, sem qualquer regramento e completamente insalubre, do que ser colocado em cela individual, longe da violência de qualquer espécie, com mais higiene e asseio, além de não se submeter a nenhum tipo de assédio de outros criminosos.

No entanto dá a entender que para o autor supracitado, o regime em estudo,

por ser um mal necessário, palavras do autor, ele pode ser um regime muito

rigoroso, em virtude de que o sistema prisional não tenha suporte o suficiente para

atender todas as exigências da Constituição Federal de seguir Princípio garantidores

e inerentes a pessoa humana, se faz então uma bola de neve, um problema sobre

outro.

Entendendo ainda que os criminosos que são submetidos a este regime não

poderiam ser tratados de forma igualitária aos criminosos comuns, não sendo eficaz

utilizar as mesmas ferramentas aos criminosos de alta periculosidade.

Assegurando em sua obra que o mal necessário é uma nomenclatura apenas

dar ênfase a um procedimento imprescindível para tal situação, evidenciando que o

crime organizado ficou ainda mais organizado dentro dos estabelecimentos

prisionais, advogando o autor que o RDD é uma forma mais segura de se tomar

para que no mínimo seja diminuída esta pratica.

Page 54: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

53

Como foi dito o intuito do RDD é a contenção do avanço da criminalidade e o

comando por parte das facções criminosas dentro dos presídios, podemos ainda

citar as breves palavras do doutrinador supracitado.

Nucci (2014, p.961):

Por isso, o RDD tornou-se uma alternativa viável para conter o avanço da criminalidade incontrolada, constituindo meio adequado para o momento vivido pela sociedade brasileira. Em lugar de combater, idealmente, o regime disciplinar diferenciado, pensamos ser mais ajustado defender, por todas as formas possíveis, o fiel cumprimento das leis penais e de aberto, que, em muitos lugares, constituem simples quimeras. A jurisprudência encontra-se dividida, porem, a maioria dos julgados tem admitido a constitucionalidade do regime disciplinar diferenciado.

Mais existe uma fragilidade em sua sustentação, haja vista, que o regime em

foco foi criado em 2001, no Estado de São Paulo, com tamanha rigidez, com essa

forma mais “cruel” de tratar os encarcerados, mesmo assim desde então a

criminalidade tem aumentado consideravelmente, em todos os estados do Brasil.

Um ponto relevante ao tema, se o modo de execução é tão eficaz com

assegura o ilustre doutrinador, porque ainda assim continuam comandando e

executando ordens dentro e fora das penitenciárias?

É apenas uma forma de observar a esta aplicação de Regime, pois se da

mesma forma que eram cometidos atos ilícitos por comando vindo de dentro das

penitenciárias, qual seria a eficácia deste regime se após a aplicação deste ainda

continuam as mesmas praticas, resta saber se esta medida mais gravosa não foi

criada apenas para punir de forma cruel aqueles que poderiam ser submetidos às

regras carcerárias, não se preocupando com a ressocialização e a reinserção do

apenado na sociedade entre outras finalidades da pena, as quais devem ser

observadas se estão sendo seguidas.

É uma forma de se sustentar a constitucionalidade do regime, argumento este

que cai por terra, que é única forma de combater o crime organizado, comprovando

assim que é ineficaz, sendo provado na prática.

Afirmando ainda que o conflito é superficial, ponderando os direitos

constitucionais do direito à vida e a segurança da sociedade deve sempre se

sobrepor ao Princípio da dignidade do preso, deste modo é que não encontramos

doutrinas aprofundando em tal tema, pois é algo muito “subjetivo”, como foi dito

pode ser relativizado para ambos os lados que ora divergem sobre o tema.

Page 55: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

54

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante todo o exposto, resta fazermos uma breve explanação do tema

supracitado.

Como já foi visto em todo o trabalho, abordando os principais pontos

relevantes no tocante ao Regime Disciplinar Diferenciado, uma nova forma de

cumprimento de pena trazida pela Lei 10.792/03.

Contudo, algo de grande relevância, seria a constitucionalidade do Regime,

como já observado por alguns doutrinadores que esta pena não seria desarrazoada

na sua proporção e execução, tendo alguns direito supridos, haja vista, que seria um

dos objetivos da pena criada, privar determinados apenados para que não

continuem as suas praticas, tendo este um fim maior, para que a sociedade sinta-se

protegida por parte do Estado, dando efetividade para a sua criação, sendo a

segurança nos estabelecimentos penais, bem como resguardando a ordem pública,

que vem sendo ameaçada por delinquentes dentro dos sistemas prisionais, aos

meus olhos entendo que esta tese não seja considerada, diante de todos os fatos

narrados no transcorrer da explanação, sob os argumentos anteriormente

declinados.

Uma problemática a respeito do tema seria a forma de tratamento dos

apenados que são submetidos a esse regime, ferindo assim princípios

constitucionais, como o da dignidade da pessoa humana, proporcionalidade da

pena, individualização da pena, humanidade entre outros, haja vista, que não são no

caso em foco seguidos, as penas são desproporcionais, os indivíduos que são

inseridos a esse regime não são tratados como deveriam, se é que alguem merece

ficar nesta situação cruel, sem nenhum objetivo final, que seria a ressocialização,

reinserção na sociedade, este regime da forma que ele foi introduzido no

ordenamento jurídico, podemos dizer que o único objetivo da pena é o simples “punir

por punir”, sendo enclausurados para mostrar a imposição do estado ou seja, a

opinião publica sobre aqueles apenados, com o objetivo de ensinar fazendo sofrer,

aqueles que são submetidos, por supostamente terem cometido algum delito, essa é

a relação com o Direito Penal do Inimigo trazida por Jakobs, onde este configura

uma forma mais rígida de cumprimento de pena, é analisada não sua conduta

exteriorizada, mais sim suas características pessoais.

Page 56: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

55

Sendo observada, e não menos importante, a fragilidade com que essa norma

é imposta, haja vista, que são utilizados procedimentos vagos e imprecisos para a

inserção do agente ao regime, ferindo ainda o Princípio da legalidade, dando

margem para ser submetido ao regime por algo que fora cometido muito antes da

condenação.

Mais essa problemática não é única, podendo ser dito que é uma cadeia de

imperfeições, um fator importante que influencia na de forma considerável do

cumprimento deste regime é o local onde são colocados, ou seja, os

estabelecimentos penais sem o aparato necessário para que haja uma maior

eficácia na sua execução, fazendo assim um efeito reverso do pretendido, que seria

uma pena totalmente desnecessária e cruel.

Assim entendendo que seja necessária uma reforma na Lei de Execuções

Penais, modificando os dispositivos que ensejem a erro na sua aplicação, seja por

dolo ou culpa, da autoridade administrativa, para que assim seja feita de forma

correta, fazendo ser criada uma norma que não infrinja nenhum Princípio ou direito

fundamental, em outras palavras, rígida na dentro da legalidade, não esquecendo

que o direito anda pari passu com a justiça.

No entanto, as normas precisam de aperfeiçoamento para se engajar com os

novos tempos, desta forma fazendo com que o direito trace um rumo indo a encontro

com a justiça.

Contudo, este é meu entendimento, que o Regime Disciplinar Diferenciado é

uma medida imposta pelo estado, que a sua aplicação é feita de tal forma para

apenas punir aqueles que cometeram algum crime, e como forma de punir de uma

forma mais drástica, este apenado é inserido no Regime citado, sendo esta medida

para apenas castigas de uma forma cruel, se afastando do real motivo da pena, que

seria a ressocialização, a reinserção do apenados a convivência da sociedade,

entendo que esta não é seguida, ferindo assim tais princípios elencados no decorrer

do trabalho, isto posto, inclinando para a corrente que defende a

inconstitucionalidade do Cumprimento de pena ora estudado, o Regime Disciplinar

Diferenciado.

Page 57: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

56

REFERÊNCIAS

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. São Paulo: Martin Claret, 2006.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. de 05 de outubro de 1988. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil03/constituição. Acessado em 24/09/2016.

BRASIL. Lei 7.210/1984. Institui a Lei de Execução Penal. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/L7210.htm>. Acesso em: 15 Ago. 2016.

BRASIL. Lei nº 10.792/03. Altera a Lei no 7.210, de 11 de junho de 1984 - Lei de Execução Penal e o Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal e dá outras providências. (2003). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/l eis/2003/L10.792.htm>. Acesso em: 12 set. 2016.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus Hc n° 66174 Sp 2006/0198785-9 (STJ). Disponível em <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/153677697/habeas-corpus-hc-66174-sp-2006-0198785-9/relatorio-e-voto-153677711>. Acesso em: 25 Set. 2016.

BRASIL. Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Agravo em Execução Penal – AGEPN 86166120134014100 RO 0008616-61.2013.4.01.4100. <http://trf-1.jusbrasil.com.br/jurisprud mencia/24812990/agravo-em-execucao-penal-agepn-86166120134014100-ro-0008616-6120134014100-trf1. Acesso em 09 out. 2016

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 16ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

CERQUEIRA, Thales Tácito, CUNHA, Rogério Sanches, GOMES, Luiz Flávio, O Regime Disciplinar Diferenciado é constitucional? O Legislador, o judiciário e a caixa de pandora. Disponível. em: http://www.bu.ufsc.br/ConstitRegimeDisciplinarDifer.pdf, Acesso em: 21/09/2016.

CONSELHO ESTADUAL DE DIREITOS HUMANOS – CEDHP/PB. Relatório de visita do Conselho Estadual de Direitos humanos da Paraíba. De 28/08/2012. Disponível em http://www.carceraria.org.br/ /wp-content/uploads/2012/09/relatorio_carceraria.pdf acesso em 25/09/2016

CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Relatório de visita e fiscalização - Paraíba. De 27/08/2013. Disponível em http://www.cnmp.mp.br/portal/images/stories/Noticias/2013/Arquivos/Relat%C3%B3rio_Para%C3%ADba.pdf. Acesso em 25/09/2016

CUNHA, Rogério Sanches. Direito Penal – Parte Geral. Vol. Único, 3ª Ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2015.

DELMANTO, Roberto. Artigo publicado no Boletim do IBCCRIM, janeiro de 2004. Disponível em :

Page 58: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

57

http://www.delmanto.com/Conteudo/artigos/2004/Roberto/regime_discipl. Acessado em: 20/09/2016.

GOMES, Luiz Flávio Gomes, Rogério Sanches Cunha; Luiz Flávio Gomes e Antonio García - Pablos de Molina; Código Penal: Parte Geral; 2ª Edição, revista, atualizada e ampliada, Revista dos Tribunais Ed., 2007.

GOMES, Luiz Flávio; CUNHA, Rogério Sanches; CERQUEIRA, Thales Tácito Pontes Luz de Pádua. O regime disciplinar diferenciado é constitucional? [201-].O legislador, o judiciário e a caixa de pandora. Disponível em: <http://www.bu.ufsc.br/ConstitRegimeDisciplinarDifer.pdf>. Acesso em: 09 Out. 2016.

GRECO, Rogério, Curso de Direito Penal; Parte Geral, 17ª Edição, Revista, ampliada e atualizada. Editora Impetus, 2015.

JAKOBS, Günther, , Manuel Cancio Meliá, Direito Penal do Inimigo: noções e críticas; org. e trad. André Luís Callegari, Nereu José Giacomolli, 2ª Edição – Porto Alegre, Livraria do Advogado Ed., 2010.

JESUS, Damásio, Código Penal anotado, 22ª. ed. – São Paulo : Saraiva, 2014

LEITE, Gisele. Breves considerações sobre o Direito Penal do inimigo. Disponível em: <http://giseleleite2.jusbrasil.com.br/artigos/221022092/breves-con sideracoes-sobre-o-direito-penal-do-inimigo>. Acesso em: 10 out. 2016.

MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal, 13ª Ed, [S.l.]: Saraiva, 2015.

MIRABETE, Júlio Fabbrini; FABBRINI, Renato N.. Manual de Direito Penal. 27ª Ed Rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2011.

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 30ª Edição. Atéa EC nº 76/13, São Paulo: Editora Atlas S.A, 2014.

NUCCI, Guilherme de Sousa, Manual de Processo Penal e Execução Penal. São Paulo: Saraiva, 11ª Edição, 2014.

OLIVEIRA, Odilon de. Odilon de Oliveira: Depoimento [out. 2012]. Entrevistador: Roberto Cabrini. [S.l].Disponível em: <http://www.sbt.com.br/conexaoreporter/noticia s/10965/Roberto-Cabrini-entrevista-Odilon-Oliveira-o-juiz-mais-perseguido-do-Brasil-html#.VDxaZfldUrl>. Acesso em 25 de setembro de 2016.

PIZAIA, Ana Carolina Marnieri, Considerações sobreo direito à dignidade da pessoa humana, Setembro/2015, Disponível em: jus.com.br/artigos/42798/consideracoes-sobre-o-direito-a-dignidade-da-pessoa-humana. Acesso em 19/09/2016

ROIG, Rodrigo Duque Estrada. Aplicação da pena: limites, princípios e novos parâmetros – 2ª. ed. rev. e Ampl. São Paulo: Saraiva, 2015.

RONDÔNIA. Tribunal de Justiça de Rondônia. Agravo de Execução Penal EP n° 00074793620158220000; RO 0007479-36.2015.822.0000. Disponível em: < http://tj-

Page 59: FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP …fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/Monografia%20de%20... · DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL, PROCESSO

58

ro.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/295468867/agravo-de-execucao-penal-ep-74793620158220000-ro-0007479-3620158220000>. Acesso em: 15 set. 2017.

SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo. Agravo de Execução Penal EP n° 00383186720148260000 SP 0038318-67.2014.8.26.0000. Disponível em: <http://tj-sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/172149739/agravo-de-execucao-penal-ep-383186720148260000-sp-0038318-6720148260000/inteiro-teor-172149748>. Acesso em 09 Out. 2016.

SÃO PAULO. Tribunal de justiça de São Paulo. Agravo de Execução Penal: EP n° 00416590420148260000 SP 0041659-04.2014.8.26.0000. Disponível em: <https://tj-sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/197009366/agravo-de-execucao-penal-ep-416590420148260000-sp-0041659-0420148260000/inteiro-teor-197009376>. Acesso em: 25 Set. 2016.

SILVA, Fernanda Cintra Lauriano. Análise da In(Constitucionalidade) do Regime Disciplinar Diferenciado. Disponível em http://www.lfg.com.br. 21 de junho de 2009. Acessado em 28/09/2016.

TÁVORA, Nestor e Rosmar Rodrigues Alencar. Curso de Direito Processual Penal. [S.l. s.n.]: 8ª ed, 2013.