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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA- FESP
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
FELIPE ANDRÉ LYRA COUSSEIRO
REFLEXOS JURÍDICOS DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL ATUAL E TRABALHO
ANÁLOGO AO DE ESCRAVO
CABEDELO-PB
2017
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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA- FESP
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
FELIPE ANDRÉ LYRA COUSSEIRO
REFLEXOS JURÍDICOS DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL ATUAL E TRABALHO
ANÁLOGO AO DE ESCRAVO
Trabalho de Conclusão de Curso em forma de Artigo científico
apresentado à Coordenação do Curso de Bacharelado em Direito, pela
Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP, como requisito
parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito.
Área: Direito do Trabalho
Orientador: Profª Ms. Rafael Pontes
CABEDELO-PB
2017
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Cousseiro, Felipe André Lyra Cousseiro.
REFLEXOS JURÍDICOS DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL
ATUAL E TRABALHO ANÁLOGO AO DE
ESCRAVO/Felipe André Lyra Cousseiro. – Cabedelo, 2017.
30f.
Orientadora: Prof. Ms. Felipe André Lyra Cousseiro.
Artigo Ciêntifico (Bacharelado em Direito) Faculdade de Ensino Superior da Paraiba. 1.Trabalho. 2. Escravidão. 3. Sociedade Moderna. 4. Direito
Trabalhista. 5. Reflexos Jurídicos.
BC/FESP CDU:
A reprodução total ou parcial deste documento só será permitida exclusivamente para fins
acadêmicos e científicos desde que seja referenciado, autor, titulo instituição, e ano de sua
publicação.
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FELIPE ANDRÉ LYRA COUSSEIRO
REFLEXOS JURÍDICOS DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL ATUAL E TRABALHO
ANÁLOGO AO DE ESCRAVO
Artigo Científico apresentado à Banca Examinadora de Artigos
Científicos da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP, como
exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.
APROVADO EM _____/_______2014
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________
Profª Ms. Colocar nome completo
ORIENTADOR- FESP
___________________________________________
Profº Dr. Colocar nome completo
MEMBRO- FESP
___________________________________________
Profº Esp. Colocar nome completo
MEMBRO- FESP
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À Meu Deus e amados pais, pelos desafios que travamos unidos.
Dedico.
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AGRADECIMENTOS
Ao meu Deus, que me sustentou em Fé por meio de sua gloriosa palavra, me fazendo
acreditar que ele estava no controle de todas as coisas.
Aos meus Pais que sempre em todos os momentos me ajudaram e me apoiaram
financeiramente em meio as dificuldades, também emocionalmente e assim foram um pilar de
sustentação de amor e vida.
À minha namorada Maria de Lourdes Candido da Silva, que me encorajou a voltar ao
curso de Direito e terminar de realizar o meu sonho, mesmo quando eu já tinha desistido, ela
fez eu ter novos ideais e novas motivações.
Aos meus professores do curso de Direito da FESP que são professores maravilhosos,
inspirações para seguir.
À meu orientador Professor Rafael Pontes que me acolheu em seus braços e fez com
que eu fosse guiado por essa jornada que é o direito e da qual hoje apaixonado vivo.
Aos Funcionários da FESP que sempre foram cordiais e educados, que foram sempre
cuidadosos em cada um de seus passos e que com dom solícito de graça transmitiram
gentileza e auxílio cada um em suas respectivas áreas.
Pelas correções do TCC segundo as regras da ABNT ao meu orientador e também a
professora Socorro que é um exemplo de integridade e capacidade acadêmica.
Aos que me fizeram mal e aos que duvidaram, pois me fizeram alguém mais forte, oro
para que encontrem paz.
À todos que direta e indiretamente contribuíram com minha formação acadêmica e
para a realização desse TCC, desde sonho que se concretiza.
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SUMÁRIO
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS............................................................................................1
2. BREVE COMENTÁRIO SOBRE A ORIGEM DO TRABALHO ESCRAVO NO
MUNDO.....................................................................................................................................2
2.1 TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL..............................................................................4
2.2 TRABALHO ANÁLOGO AO DE ESCRAVO NO BRASIL ATUAL..............................7
CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO TRABALHO ESCRAVO......................................10
3.1. REFLEXOS NOS DIREITO CONSTITUCIONAL.........................................................11
3.2. REFLEXOS NO DIREITO TRABALHISTA...................................................................13
3.3. REFLEXOS NO DIREITO PENAL..................................................................................14
4. MÉTODOS ESTATAIS DE COMBATE A SITUAÇÃO ANÁLOGA A DE
ESCRAVO...............................................................................................................................16
4.1. COMBATE AO TRABALHO ANÁLOGO AO DE ESCRAVO NO BRASIL...............16
4.2. A POLÊMICA PORTARIA Nº 1.129 DE 13 DE OUTUBRO DE 2017..........................18
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................19
REFERÊNCIAS
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REFLEXOS JURÍDICOS DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL ATUAL E TRABALHO
ANÁLOGO AO DE ESCRAVO
Felipe André Lyra Cousseiro*
Rafael Pontes **
RESUMO
O objetivo do presente trabalho é avaliar de forma mais objetiva e cuidadosa os reflexos
jurídicos da escravidão no Brasil, tanto no período colonial quanto na idade contemporânea,
pois, é vital para sociedade moderna compreender os motivos e a realidade que justifica o
assunto. É importante apontar as mudanças e o que já é feito, como o direito trabalhista opera
constitucionalmente, e penalmente em conjunto sobre o referente tema. É um trabalho de
pesquisa que utiliza a metodologia bibliográfica de natureza teórica. É de suma importância
que se compreenda a ideia de uma conjuntura atual, onde ainda resíduos da escravidão vivem
e coexistem na mente das pessoas nos dias de hoje, observar também as mudanças que já
ocorreram que trouxeram benefícios ao povo do mundo. O trabalho pretende dar clareza aos
reflexos jurídicos que influenciam e ao mesmo tempo acompanham as mudanças sociais e
protegem os direitos da sociedade. Em uma sociedade moderna como a que nós vivemos,
onde certos conceitos foram montados com base na estrutura de um tempo onde não existiam
benefícios de trabalho ao escravo, a mudança nos termos, na integração, na visão da sociedade
em relação a escravidão muda a passos largos apesar de sua já significativa mudança, com
base nessa premissa pode se afirmar que a sociedade vive entre a filosofia e a realidade. Em
linhas gerais, é possível compreender o objetivo claro do trabalho em promover a precisão
ideológica e jurídica, contra o trabalho escravo contemporâneo e cientificamente estudar com
propriedade seus problemáticos alicerces.
PALAVRAS-CHAVE: Trabalho. Escravidão. Sociedade Moderna. Direito Trabalhista.
Reflexos Jurídicos.
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Na história do Brasil alguns momentos marcaram profundamente o teor da cultura, da
economia, da ciência, do direito e a escravidão veio para ser um dos grandes fatos de terror e
mudança para o desenvolvimento jurídico voltado para o ser humano que vive em uma
sociedade, é por tanto, que não se pode abandonar o estudo da escravidão no que diz respeito
às leis, ao sistema jurídico, a organização do governo, a consciência do povo do território
brasileiro em relação a outros seres humanos.
Neste sentido, o presente artigo se propõe a discutir esses memoráveis assuntos, e
abordar os diferentes aspectos da escravidão, bem como as formas pelas quais ela se perpetua
* Felipe André Lyra Cousseiro, aluno concluinte do Curso de Bacharelado em Direito da Fesp Faculdades,
semestre 2014.2. e-mail: [email protected]/[email protected]. **
Rafael Pontes, Mestre em direito, Especialista em Direito do Trabalho, Advogado, Professor da Fesp
Faculdades, atuou como orientadora desse TCC. e-mail: [email protected]
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sobe outras faces, sobre outros moldes, e como a lei se comporta diante desta realidade atual,
que é de sobremodo corriqueira e cotidiana para muitos que vivem no mundo e no Brasil.
Apesar do Brasil ter abolido a escravidão, a consciência do povo brasileiro ainda
manteve em seu escopo mais íntimo a utilização do outro, a exploração do outro em
detrimento de ganhos pessoais de qualquer ordem, a escravidão não foi abolida na mente do
brasileiro, que ainda no século XXI se utiliza de uma mão de obra humana, e as coloca em
situação análoga a de um escravo, ou seja, ainda que o código não contenha em sua liturgia o
crime de escravidão, situações parecidas, idênticas, fidedignas a de escravo perduram em
alguns lugares do Brasil ainda nos dias de hoje, pessoas que saem de suas casas para buscar
uma vida melhor, pessoas que vão enganadas, pessoas que são traficadas, pessoas que são
sequestradas, pessoas que são humilhadas e reduzidas em sua humanidade para que se
obtenha ganho, esta situação ainda ocorre nos dias atuais.
Em um mundo que aparentemente evoluiu em tantos sentidos, onde a lei que segue o
caminho trilhado pelos costumes sociais também evoluiu, as atitudes de algumas pessoas
ainda parecem retroceder, é neste sentido que o trabalho se compromete a compreender esse
fenômeno, o que a lei e o que o governo está fazendo para combater essa atitude, e a sua
projeção econômica social, por tanto, é importante estudar um tema tão complexo, e humano
por natureza.
2 BREVE COMENTÁRIO SOBRE A ORIGEM DO TRABALHO ESCRAVO NO
MUNDO
Desde as primeiras civilizações o ser humano passou desenvolver métodos de
produção e de dominação pelo mundo, as pessoas passaram a ser escravizadas como forma de
conseguir mão de obra para construção de templos, cidades e para servidão de muitos
considerados nobres, era um modelo de sistema escravista não pautado na cor, mas, na perca
das batalhas em campo, das guerras, grande parte do mundo se desenvolveu por meio das
guerras e as lutas efetuava vitória para uns e derrota para outros e assim, os que eram
derrotados muitas vezes quando em condições aceitáveis eram levados para as terras inimigas
para trabalhar escravizados pelos povos dominantes, alguns faziam serviços pesados e isso era
um grande problema pois os serviços eram muitas vezes degradantes, mas, não havia uma
legislação que os assegurasse uma vida tranquila de trabalho, boas condições, ou simples
dignidade de um ser humano, geralmente humilhados, trabalhavam duro dia e noite para o
enriquecimento de outrem, para permanecerem vivos, para não sofrer agressões e não ficar
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com fome, os escravos sofreram, mas, foram responsáveis pelas construções das antigas
civilizações e tem participação fundamental na estrutura que foi montada hoje no século XXI
e que surgiu a centenas de anos, AQUINO (2013) diz que:
A escravidão é tão antiga quanto o ser humano. Em principio, estava associada às
guerras em quase todos os povos; os vencidos eram feitos escravos, na Grécia, em
Roma, mas também entre os incas e astecas do México antigo. O guerreiro vencido
ser tornava propriedade do vencedor. Entre muitos povos também se tornava escravo
do credor quem não pudesse pagar as suas dívidas, vendia a sua pessoa ou os seus
filhos e familiares ao credor. Na Grécia praticava-se o rapto, especialmente de
crianças, e as crianças abandonadas pelos pais podiam ser recolhidas como escravos.
No período áureo de Atenas, havia na Grécia 15% de homens livres e 85% de
escravos. Na Mesopotâmia havia escravos de certo nível cultural, eram prisioneiros
de guerra, como muitos judeus deportados para a Babilônia no ano 570 a.C.. No
Império Romano, os escravos faziam trabalhos domésticos, e podiam ter funções
administrativas e burocráticas e até em altos cargos.Em alguns lugares os escravos
podiam trabalhar por conta própria, pagando ao patrão uma parte do que ganhavam e
juntar algum dinheiro para comprar a sua liberdade.
Aponta também SILVA (2012) que:
Na Roma e na Grécia existiam as primeiras relações de trabalho, a estratificação
social é composta por homens livres e escravos. O trabalho escravo predominava. A
prática escravagista surgiu das guerras. Nas lutas contra grupos ou tribos rivais, os
adversários feridos eram mortos. Posteriormente, ao invés de matá-los, percebeu-se
que era mais útil escravizar o derrotado na guerra, aproveitando os seus serviços. A
escravidão foi um fenômeno universal no mundo antigo. Calcula-se que na Itália do
final do século I a.C. os escravos chegaram a dois milhões numa população total de
seis milhões. No período imperial, entre 50 a.C. e 150 d.C., os escravos nos
territórios romanos chegaram a dez milhões numa população total de 50 milhões.
TURCI (2010) diz:
Um indivíduo pode se transformar em um escravo de diversas maneiras: por ser um
prisioneiro de guerra; por contrair uma dívida, que seria paga com seu trabalho (por
um tempo determinado ou pela vida toda); por ter cometido um crime e sendo,
portanto, punido com a escravidão; por se oferecer como escravo em troca de
alimento ou bens para salvação de sua família ou comunidade em grande
dificuldade; por pertencer a povos inimigos ou ser considerado culturalmente
inferior. Desta forma, o escravo, sendo uma propriedade, pode ser vendido,
emprestado, alugado e até morto, segundo as necessidades do seu senhor. A
escravidão foi praticada por diversos povos durante toda a história, de modos
diferentes e específicos. Em algumas civilizações como no Egito Antigo, por
exemplo, o escravo não era a base da produção, sendo o camponês livre obrigado a
prestar serviços ao Estado da forma de corveia (trabalho temporário sem
remuneração). Aos escravos cabia o trabalho doméstico e militar. Ao contrario, na
Roma Antiga, toda produção das grandes fazendas, todo serviço nas obras públicas
(incluindo as diversões nas arenas de gladiadores) recaia sobre a massa de escravos e
por isso chamados a civilização romana de civilização escravista. Em vários haréns,
no Oriente, as concubinas do grande sultão, xeque ou xá, eram escravas e muitas
delas eram negociadas ou capturadas na região do Cáucaso (entre a Rússia e o
Oriente Médio). Por tanto, nem sempre a escravidão foi baseada numa diferença
étnica: as vezes um parente distante precisava de ajuda e se submetia a uma
escravidão temporária. Ou seja, quando queremos refletir sobre a escravidão,
precisamos compreender como ela se desenvolveu para aquele povo específico.
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Havia por tanto essa grande diferença, nem sempre por cor, por etnia, mas por outras
formas, alguém que não era necessariamente escravo se tornava escravo mediante a contração
de dívidas, ou de uma necessidade alimentar, uma derrota em guerra, e mais, em quanto no
Egito muitos dos escravos faziam trabalhos domésticos, na Roma antiga muitos trabalhavam
pesado, em serviços de mão de obra pesada, além de serem lançados no coliseu para diversão
da época, muitas escravas eram também tratadas como concubinas e eram levadas para o
deleite dos governantes, ou seja, a escravidão sempre esteve presente na história da
humanidade, sempre sendo a expressão de um povo que se sente superior ao outro.
É importante compreender que já na Roma e na Grécia e bem antes que isso haviam
pessoas que eram usadas como escravas, ou seja, em uma situação de servidão, subserviência
exagerada que os fazia perder a sua própria humanidade, e que não se restringia a questões de
cor, mas de guerra, de poder, de dinheiro, de dívida e que não era necessariamente uma
questão de cor de pele, ou seja, escravidão é algo antigo, é algo enraizado na mentalidade de
quem governava, e que aparentemente é cultural, era eminentemente uma cultura a ostentação
da escravidão, era um sinal de vitória e por isso, a escravidão era algo evidente e claro que
permeava toda a cultura social, que movimentava a economia e que era descrita em lei, uma
vez que a lei é o reflexo da vida social, a escravidão era presente nos ordenamentos jurídicos,
como algo costumeiro, era algo consuetudinário escravizar.
A Grécia, o Egito, os povos Babilônicos, os assírios, todos já praticavam os atos de
escravidão para trabalhos forçados e degradantes, é uma prática antiga que não é carregada de
técnica mas de moralidade, a legislação na época não definia direitos a uma dignidade aos
escravos pelo fato de serem seres humanos, mas, como acima em manifesto, havia um direito
protecionista ao dominador e propício ao trabalho escravo, restrito a regulamentar o regime
trabalhista escravo, assim dar-se-á origem ao trabalho escravo, nos calores da guerra, na
dívida, nas necessidades, em um tempo onde o trabalhador era um objeto, uma coisa capaz de
ser vendida, comprada, onde o ser humano era considerado sem alma pela sua condição, onde
os direitos voltados para os menos favorecidos.
2.1 TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL
Palco de Grandes problemas do século XVI a XIX, o Brasil enfrentou na época
colonial um grande período de formação de conceito escravo na mente da sociedade que ali
vivia e que fora repassada com o tempo, pois se instituiu a o modelo de escravidão que tem
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como objeto de parâmetro para auferir classe e superioridade, servidão entre outras formas de
preconceito, a cor da pele, negros a maioria africanos, eram trazidos para as terras brasileiras
para trabalhar sobe condições horríveis, enganados, humilhados, eram acorrentados tendo seu
direito de liberdade, tolhidos pela ganância da coroa Portuguesa, que lucrava com a venda,
com a troca, com a mão de obra passiva e barata dos escravos negros africanos, assim aponta
CARVALHO (2016):
Entre os séculos XVI e XVII, os engenhos de cana-de-açúcar se constituíram como
principal atividade econômica no período colonial, contudo muitos escravos
trabalhavam (principalmente no Rio de Janeiro, Pernambuco e em outras cidades
litorâneas) como estivadores, barqueiros, vendedores, aprendizes, mestres em
artesanato e serviços domésticos. A partir dos séculos XVIII e XIX, com a ascensão
da mineração em Minas Gerais e Goiás, milhares de escravos foram trabalhar nas
minas e demais atividades (como a agropecuária) que movimentavam a economia
nas regiões auríferas. Outras formas de trabalho escravo foram: a criação de gado no
nordeste brasileiro; os trabalhos desempenhados no tropeirismo (conhecidos como
tropeiros, exerciam atividades comerciais de uma região à outra); e o trabalho de
zelar e tratar dos animais carregadores de mercadorias. Nas cidades, as formas de
trabalho escravo variavam bastante.
Eram trazidos nos navios negreiros, muitos pela ausência de iluminação morriam no
meio do caminho, eram separados de suas famílias, quando doentes eram lançados à morte
sem nenhum pudor ou preocupação. Não trabalhavam os escravos no Brasil colonial apenas
para os senhores de engenho nas fazendas, eles trabalhavam nos diversos setores da
sociedade, é por tanto importante analisar essa questão, para compreender como métodos e
modos de trabalho tão arcaicos ainda podem perdurar nos dias atuais. A igreja também teve
um papel importante na condução da conduta dos escravos e da população, a sociedade era
racista e acreditava que o trabalho era necessariamente algo que fora feito para o negro e por
tanto o negro era inferiorizado, tratado como objeto, muitos até faziam outras atividades, mas,
ainda sim como negro era tratado como sendo inferior, uma coisa. A igreja foi responsável
pelo catecismo dos índios e dos negros afim de que a ideologia Cristã fosse implantada aqui e
isso facilitava de certa forma a entrada de Portugal a um ambiente mais propício a moradia, ao
convívio, um lugar mais civilizado, com as ideias de religiosidade compatíveis com de seu
lugar de origem, bem como acalmava os escravos que passavam a trabalhar com mais
eficiência, não só nos engenhos como fora dito mas, também em outros trabalhos, eram os
escravos de ganho, estes tinham tantas outras atividades, segundo SOUSA (2016), até a
libertação dos escravos, momento pelo qual estes não poderiam mais ser escravizados, dia em
que legalmente os direitos e seus protegidos seriam de fato livres ocorreram muitas lutas,
muitos movimentos, pois não foi a libertação algo instantâneo, demandou tempo e insistência
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tanto do governo exterior, quanto internamente, revoltas, formação de quilombos como
protesto a forma de vida humilhante, já não era tão facilmente aceitável o trabalho escravo
como ensina MACHADO (2016):
A abolição da escravidão foi o desfecho de um processo longo, que por razões
políticas, econômicas e sociais, levou ao desmantelamento da escravidão no Brasil.
Antes da promulgação da Lei Áurea, outras três leis começaram a dificultar e
encarecer a manutenção do trabalho escravo no país. Em 1850, foi promulgada uma
lei que extinguia o tráfico internacional de escravos para o Brasil. Assim, a
quantidade de escravos disponíveis diminuía e a então considerada “mercadoria”
ficava mais cara. É importante lembrar que estes primeiros passos para a libertação
escravocrata no país tiveram forte pressão da Inglaterra, não por questões
humanitárias, mas por motivações econômicas. Aquele país, potência industrial no
final do século XIX, tinha interesse em expandir o mercado consumidor brasileiro e,
para isso, era interessante converter os escravos em mão de obra assalariada. Vinte e
um anos mais tarde, em 1871, foi promulgada a Lei do Ventre-Livre, que tornava
livre os filhos de escravos que nascessem a partir daquela data. Já em 1885, a lei
Saraiva - Cotegipe, também conhecida como Lei dos Sexagenários, levou à
liberdade os negros com mais de 65 anos de idade.
Diz também GOBMG (2016) que:
Lei Áurea, oficialmente Lei Imperial n.º 3.353, sancionada em 13 de maio de 1888,
foi o diploma legal que extinguiu a escravidão no Brasil. Foi precedida pela lei n.º
2.040 (Lei do Ventre Livre), de 28 de setembro de 1871, que libertou todas as
crianças nascidas de pais escravos, e pela lei n.º 3.270 (Lei Saraiva-Cotegipe), de 28
de setembro de 1885, que regulava "a extinção gradual do elemento servil". O
processo de abolição da escravatura no Brasil foi gradual e começou com aLei
Eusébio de Queirós de 1850, seguida pela Lei do Ventre Livre de 1871, aLei dos
Sexagenários de 1885 e finalizada pela Lei Áurea em 1888. O projeto de lei que
extinguia a escravidão no Brasil foi apresentado à Câmara Geral, atual Câmara do
Deputados, pelo ministro da Agricultura da época,Rodrigo Augusto da Silva, em 8
de maio de 1888. Foi votado e aprovada nos dias 9 e 10 de maio, na Câmara Geral.
A Lei Áurea foi apresentada formalmente ao Senado Imperial por Rodrigo Augusto
da Silva em 11 de maio. Foi debatida nas sessões dos dias 11, 12 e 13 daquele mês.
Foi votada e aprovada, em primeira votação em 12 de maio. Foi votada e aprovada
em definitivo, um pouco antes das treze horas, no dia 13 de maio de 1888, e, no
mesmo dia, levada à sanção da princesa regente do Brasil Dona Isabel. No domingo
de 13 de maio, dia comemorativo do nascimento de D.João VI, foi assinada por sua
bisneta Dona Isabel, e Rodrigo Augusto da Silva a lei que aboliu a escravatura no
Brasil.
Apesar da libertação dos escravos, os negros continuaram a ser tratados da pior forma
possível, passaram a ter de trabalhar para obter sustento, assalariados muitas vezes por preços
que não eram honestos, marginalizando o negro e o tornando novamente escravo, muitos
desejavam continuar nas fazendas onde viviam, pois nada mais sabiam fazer, não tinham
aonde ir e dificilmente o aceitavam, o negro ideologicamente permanecia escravo, eles
mesmos se comportavam como escravos, pois nunca haviam sido livres, passando a enfrentar
muitos outros problemas como aponta TEIXEIRA (2012) quando diz que:
15
A lei de 13 de maio de 1888 acabou com a escravidão no Brasil. Mas o que iria
acontecer com os ex-escravos? Para as elites brasileiras, que estavam impregnadas
de indiferenças e preconceitos, o problema era como fazer dos antigos escravos
trabalhadores pacíficos e ordeiros. O jornalista fluminense Carlos Lacerda, por
exemplo, que em 1935 publicou um livreto contando a história do quilombo do
Manoel Congo, criticava ferozmente os ex-escravos por não entenderem significado
da liberdade e não se esforçarem para trabalhar direito. Nas cidades eram
discriminados pelas elites e pelos trabalhadores brancos, tinham os piores empregos,
moravam nos cortiços e suas manifestações culturais continuavam a serem vistas
como bárbaras.
A escravidão no Brasil Colonial era um misto de preconceito e de situações
conflitantes, entre pessoas que eram iguais, mas, que se tratavam como se fossem uma
dominante, outra dominada, um período que trouxe uma dívida histórica e moral com o negro
do Brasil atual, uma época onde a lei era a do mais forte, os negros escravos trabalhavam
muito, eram humilhados e expostos ao pior, a lei só melhorou e em relação ao trabalho muitos
mecanismos sociais se desenvolveram, o direito passou a se tornar mais humano e por tanto
olhar mais para o menos favorecido, o direito se molda ao tempo e por tanto o direito fez o
seu papel ao longo da história, o sofrimento por causa das jornadas exaustivas, por causa da
violência e pela ausência de leis palpáveis que os defendesse em sua humanidade, em sua
integridade marcou o trabalho escravo no Brasil colonial. O Brasil precisou passar por um
grande processo de mudança de pensamento, de ideologias políticas e de conceitos históricos
calçados na ideia de supremacia de uma classe sobre a outra, de uma divisão de classe, o que
é muito perigoso não só para aquela sociedade, naquele tempo específico, como é perigoso
para os dias atuais, eles compreendiam o negro, como algo que é diferente deles, uma coisa,
algo separado deles, seres que não eram seus pares, seus iguais e por tanto se comportavam
como tal, essa compreensão ainda que breve, propedêutica da escravidão no Brasil, nos dá um
panorama de como o Brasil deve ser depois de ter vivido situações como essas de tanta
desumanidade. O Brasil que em tese deveria diante de seu teor histórico no caso, abolir
completamente qualquer forma de escravidão, chega ao século XXI com todos os
instrumentos de atuação de escravatura, onde ela se desenvolve e onde se cria novas formas
de exploração do ser humano, novas formas de escravidão.
2.2 TRABALHO ANÁLOGO AO DE ESCRAVO NO BRASIL ATUAL
No Brasil atualmente existem muitos conflitos, era desejável, era ao menos de se
esperar que as pessoas que foram libertadas no passado, que viveram em um período
turbulento da história referente a escravizar pessoas, seres humanos com vida, no entanto,
apesar das conquistas trabalhistas e dos processos jurídicos e democráticos que envolveram o
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Brasil e o fez desenvolver-se, nos dias atuais ainda hoje existe os que ignoram completamente
não só as leis mas, o sentimento moral que a questão demanda. Só na Paraíba desde 2011
mais 4 mil denúncias forma feitas e algumas empresas já foram processadas, mas ainda
existem as que estão ativas segundo a revista PROTEÇAO (2016) que escreveu:
Desde 1995, mais de 50 mil pessoas foram resgatadas de condições análogas às de
escravo em operações de fiscalização do Estado brasileiro. Um levantamento
realizado pelo Ministério Público do Trabalho em 19 Procuradorias Regionais
revelou que o número de ações civis públicas relacionadas ao tema mais que dobrou
nos últimos quatro anos: em 2015, 83 empresas foram processadas. No ano de 2012,
foram acionadas 41. Na Paraíba, desde 2011, foram 36 processos envolvendo
trabalho análogo ao de escravo. Entre eles, cinco ainda estão ativos. O levantamento
do MPT também mostrou que foram recebidas cerca de 4 mil denúncias nos últimos
quatro anos. Os trabalhadores normalmente são encontrados nos setores da
construção civil, agropecuária, extrativismo, confecção de roupas e comércio.
Em todo País foi realizado uma pesquisa que revelou dados assustadores referente ao
caso segundo o site da revista proteção a realidade brasileira está de fato comprometida
quando o assunto é trabalho análogo ao de escravo, em quase todos os estados brasileiros o
problema foi percebido, pois não só com Brasileiros como no caso dos Paraibanos que
trabalham em serviços agropecuários, e construções civis e outros, mas é um problema que
assola todo o país como aponta o site G1 que divulgou a informação do Ministério Público
do Trabalho: ´´ Dados do Ministério do Trabalho tabulados pelo G1 mostram que, nos últimos
cinco anos, Minas Gerais lidera a lista de estados com resgates (2.000), seguido por Pará
(1.808), Goiás (1.315), São Paulo (916) e Tocantins (913).´´ (COSTA, 2014). O problema
não está centralizado em um local específico do país mas, em toda extensão geográfica, uma
vez que os resgates não revelam só o combate, mas a necessidade do combate e por tanto a
existência do problema pelo qual se faz necessário a luta, é então notório que esses dados se
tornem visíveis para as investigações, pois é uma realidade da qual não se pode fugir, e que é
necessário maior monitoramento afim de que problemas como esses não venham mais assolar
o Brasil e o mundo.
A fundação Australiana Walk Free, estima que mais de 161 mil pessoas estejam
vivendo em uma escravidão moderna, sobe condições desumanas, em trabalhos pesados, o
problema da escravidão moderna, que fora abolida a muitos anos é que além de persistir no
tempo sua prática, ela é corriqueiramente utilizada por grandes empresas por todo país,
Paraíba, Acre, entre outros estados possuem pessoas humildes que iniciam com um sonho em
comum, a melhor condição de vida para si e para família, e por tanto, saindo já em dívida, se
aventuram perigosamente sobe promessas fingidas de boas oportunidades, lá chegando, se
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encontram com a realidade, pessoas que são usadas geralmente não só na área rural com
plantação de cana, milho, café, com minério, agropecuária, mas, também na área urbana com
calçados, vendas, costuras, é um fato social danoso aos direitos trabalhistas que a tanto foram
conquistados, é danoso também ao trabalhador que vive sobe o medo, sobe ameaças, sobe
situações de dificuldade, trabalhando em jornadas excessivas de trabalho, não tem liberdade
de ir e vir, pessoas que pela necessidade encontram nesses trabalhos a única oportunidade e
assim são tristemente enganadas, diz a (BBC, 2016) que mais de 45, 8 milhões de pessoas no
mundo vivem em situação de trabalho análogo ao de escravo, ou seja, apesar do trabalho
escravo ter sido banido em quase todos os países do mundo, as condições ainda são as
mesmas nos dias atuais.
O número de imigrantes no Brasil cresce a cada ano, motivo pelo qual deve ser
analisado com mais cuidados os casos desses imigrantes, entram no país e sonham, tem
esperanças, deixam suas famílias com certeza não tinham uma vida abastarda em seu país,
chegando no Brasil, deparam-se com a vergonhosa situação análoga a de escravidão, é uma
escravidão moderna, pois os privam de liberdade, entre outras características que são
atribuídas aos trabalhos escravos, os que podem ser computados são, mas, existem os que não
podem ser computados, esses são alarmantes, a Polícia Federal levantou dados que foram
divulgados no site G1 por meio de VALESCO, MANTOVANI, (2016) que informam:
Em 2015, os haitianos lideraram o ranking de chegada ao país pelo segundo ano
consecutivo, de acordo com os dados da Polícia Federal. Foram 14.535 haitianos
registrados pela PF. A nacionalidade é a que mais se destaca pelo crescimento nos
últimos cinco anos. Em 2011, segundo a PF, apenas 481 haitianos deram entrada no
país – ou seja, houve um aumento de mais de 30 vezes. Os bolivianos também
mantiveram a posição de 2014 para 2015: o segundo lugar. Foram 8.407 registros no
país no ano passado, o que representa uma queda de 32% em relação aos dados de
2011, quando 12.465 bolivianos entraram no Brasil. Em 2015, eles são seguidos
pelos colombianos (7.653), argentinos (6.147), chineses (5.798), portugueses (4.861)
paraguaios (4.841) e norte-americanos (4.747).
São pessoas vindas de todos os lugares do mundo, pessoas que migram em busca de
melhores condições e chegando no Brasil não encontram se não o laço do trabalho em
condições análogas a do escravo, e isso é assustador, assustador que esse número tenha
crescido tanto em tão pouco tempo, mas, era notório que isso viesse ocorrer visto que o
elemento essencial do homem não acompanhou o pensamento abolicionista, os bolivianos,
haitianos muitas vezes já chegam no Brasil carregando dívidas, são 481 haitianos e 7.653
colombianos segundo o G1 acima citado, a entrada dessas pessoas ocorre pelo trabalho.
Trabalham em costura, venda de roupas, área agrícola, apicultura, em todas as áreas do
18
trabalho de renda ínfima, se aguentando para mandar dinheiro para família e ainda se manter
vivos os imigrantes bolivianos, haitianos, chineses, portugueses, paraguaios e norte-
americanos lutam para entrar no Brasil e aguentar o que der, para sobreviver e muitas vezes
são colocados em lugares degradantes, vivendo muito pouco e sobe ameaças, são compelidos
a permanecer no trabalho, e isso é muito perigoso para o país e para a vida dessas pessoas que
vieram para trabalho. Deste modo, o que podemos perceber é que apesar do crime ´´
escravidão ´´ ter se tornado crime, depois, ter sido abolida essa forma de trabalho, apesar de o
direito ter evoluído e a sociedade viver no século XXI, apesar de muitos tratados, muitas
convenções, reuniões, mecanismos de pesquisa, métodos de prevenção tenham sido criados
para reduzir, extinguir e inibir tais crimes, a escravidão toma uma outra face, um outro nome e
continua se perpetuando em muitos dos estados brasileiros, esses estados passam a comportar
pessoas de vários tipos de lugares, de dentro do Brasil e de fora do Brasil, pessoas, que vem
para trabalhar e acabam por se situarem na condição de escravos do mundo moderno, ou seja,
numa situação que não é a de escravo apenas porque o termo não está mais em uso, ou na
letra da lei, no entanto, encontram-se na condição análoga a de escravo, e há de se perceber
também que é muito atual e que ocorre com frequência, é necessário por tanto compreender o
que a lei tem a dizer sobre isso, como ela se posiciona a respeito de tal situação.
3 CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO TRABALHO ESCRAVO
O direito evolui com a mudança social e os crescimentos econômicos, a sociedade é
unificada pelas práticas de forma mais efetiva quando leis as regulam e as definem de modo
claro e objetivo, muito ao longo do tempo já se fez em favor da luta contra o trabalho escravo,
no Brasil colonial não havia muito definido os papeis do escravo, a constituição de 1824 não
falava de forma clara sobre a pessoa do escravo, apenas, apontava a figura do ingênuo, que
eram considerados os cidadãos brasileiros que nasceram no país e os libertos, pessoas que não
eram livres, mas, vieram adquirir o status de liberdade, como mostra a constituição federal de
1824, Artigo 6º, I que diz:´´ Art. 6. São Cidadãos Brasileiros: I. Os que no Brasil tiverem
nascido, quer sejam ingênuos, ou libertos, ainda que o pai seja estrangeiro, uma vez que este
não resida por serviço de sua Nação.´´ havia uma diferença constitucional não explicita e
também alguns dispositivos normativos que não eram constitucionais regulamentando
procedimentos e atitudes no cotidiano, com o passar dos anos, a lei nº 3.353 em 13 de maio de
1888 passou a tratar como livres todos os escravos deixando obsoleta algumas disposições
sobre o escravo, agora qualquer tipo de escravidão passava a ser não constitucional e crime,
19
contrabando de escravos, maus tratos, e tudo que caracterizasse a escravidão passou a ser
crime mediante a mudança jurídica sobre o assunto, não só constitucional e penal, mas no
direito civil em questões de dívida e no direito trabalhista também houve mudanças
significativas a respeito, que passou junto com as outras áreas do direito, o direito do trabalho
passou a militar contra a escravidão e lutar por melhores condições de trabalho da parte que é
indefesa na sociedade como ensina AFONSO (2013):
Há pouco mais de cento e vinte anos, a Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1.888,
conhecida como Lei Áurea, aboliu a escravidão no Brasil. Em seguida, durante o
século XX, o Brasil ratificou normas internacionais que definem e proíbem tanto a
escravidão quanto o trabalho forçado. Com efeito, através do Decreto nº 41.721, de
1957, o Brasil promulgou a Convenção nº 29, da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), comprometendo-se a abolir o trabalho forçado ou obrigatório em
todas as suas formas [...] A Constituição Federal, no mesmo sentido, veda o trabalho
análogo ao de escravo, ao elencar, dentre os princípios fundamentais da República
Federativa do Brasil, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho
(art. 1º, III e IV); ao garantir a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade e à
igualdade; ao asseverar que ninguém será submetido à tortura nem a tratamento
desumano ou degradante; ao estatuir que é livre a locomoção no território nacional;
ao assegurar que não haverá penas de trabalhos forçados e cruéis; ao preconizar que
ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; e
ao garantir que não haverá prisão por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário
infiel (art. 5º, caput, e incisos III, XV, XLVII, c e e, LIV e LXVII).
O que nos mostra acima uma revolução citada sobe a ótica pura da história, pois o
direito em sua inteireza passou a resistir à escravidão e tomar novos rumos influenciados pela
mudança social, e ao mesmo tempo uma nova conjuntura social e jurídica, onde em todos os
ramos do direito é impossível a sociedade coexistir com o trabalho escravo, e depois da
criação de tantos dispositivos sobre o trabalho escravo e sobre o instituto da escravidão que
prejudicou os direitos das pessoas durante tanto tempo, o ordenamento jurídico passou a
evoluir no sentido de prevenir ao longo do tempo essa atividade, agindo com rigor e punindo
os que são merecedores do ato, também houve mudança significativa na constituição que por
sua vez passou a se estender por todo sistema jurídico, as normas jurídicas então passaram a
evoluir e essa evolução é o reflexo, a consequência jurídica do trabalho escravo e de sua
abolição, a evolução é essa soma, o resultado desses acontecimentos.
3.1 REFLEXOS NOS DIREITO CONSTITUCIONAL
As mudanças foram realizadas em todas as áreas do direito e por tanto é cristalina a
necessidade de se analisar e de se perceber que mudanças foram essas. Um dos fatores
importantíssimos para a evolução dos direitos trabalhistas além da lei áurea que aboliu a
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escravidão, foi o fato dos trabalhos agora serem assalariados e por volta do século XVIII e
XIX a situação se intensificou, pois muitos trabalhadores imigrantes trouxeram suas ideias
para o País criando focos de discussão sobre os direitos trabalhistas e movimentos passaram a
ser criados para falar sobre melhores condições, para uma regulamentação plausível de
jornada de trabalho, acidentes, um salário fixo padrão, a criação de sindicatos entre outros
direitos, passaram a ser desejados e explicitados, isso de fato mudou o cenário brasileiro com
relação ao direito do trabalho e forçou os trabalhadores terem uma postura e os empregadores
também PORTAL (2011) revela que:
O trabalho livre e assalariado ganhou espaço após a abolição da escravidão no Brasil
em 1888 e com a vinda dos imigrantes europeus para o País. Mas as condições
impostas eram ruins, gerando no País as primeiras discussões sobre leis trabalhistas.
O atraso da sociedade brasileira em relação a esses direitos impulsionou a
organização dos trabalhadores, formando o que viriam a ser os primeiros sindicatos
brasileiros. As primeiras normas trabalhistas surgiram no País a partir da última
década do século XIX, caso do Decreto nº 1.313, de 1891, que regulamentou o
trabalho dos menores de 12 a 18 anos. Em 1912 foi fundada a Confederação
Brasileira do Trabalho (CBT), durante o 4º Congresso Operário Brasileiro. A CTB
tinha o objetivo de reunir as reivindicações operárias, tais como: jornada de trabalho
de oito horas, fixação do salário mínimo, indenização para acidentes, contratos
coletivos ao invés de individuais, dentre outros [...] Depois de anos sofrendo
cassações, prisões, torturas e assassinatos, em 1970 a classe trabalhadora vê surgir
um novo sindicalismo, concentrado no ABCD paulista. Com uma grande greve em
1978, os operários de São Bernardo do Campo (SP) desafiaram o regime militar e
iniciaram uma resistência que se estendeu por todo o País. Após o fim da ditadura
em 1985, as conquistas dos trabalhadores foram restabelecidas. A Constituição de
1988 instituiu, por exemplo, a Lei nº 7.783/89, que restabelecia o direito de greve e a
livre associação sindical e profissional.
A mudança brusca ainda não tinha chegado no seu ápice, a mudança implicou em um
desenvolvimento jurídico importante para o país em termos únicos, pois apesar de haver
mudanças em outros seguimentos do direito, no direito do trabalho o caso era ainda mais
urgente, a criação da das consolidações da lei do trabalho, e as reformas trabalhistas depois da
revolução de 30 foram significativas para o país isso fez com que o Brasil viesse rever alguns
de seus conceitos e de seu modo de agir juridicamente. Getulho Vargas criou o Ministério do
Trabalho, Indústria e Comércio afim de que a sociedade mude para um patamar mais alto no
que se refere a direitos trabalhistas, e na constituição de 1934 os direitos então foram
consagrados nas páginas da constituição, salário, jornada de oito horas diárias, liberdade
sindical, direitos que eram negados e só discutidos passaram a ser realizados.
Com essas mudanças importantes que foram apresentadas muito se acrescentou no
país e as ideias passeavam livremente, as oportunidades eram grandes no que tange ao direito
do trabalho, diversificação de empregos em massa, e sindicatos se formando na constituição
21
área urbana e rural passaram a se tornar frequentes, as portas passaram a se abrir, até a de
1964 onde direitos que foram conquistados foram suprimidos e houve então uma regressão de
muitos direitos trabalhistas e sociais no geral, apenas em 1988 com a constituição atual, é que
esses direitos foram novamente preconizados e trouxe a sociedade novamente a um novo
patamar, possuindo muitos direitos dos quais foram negados abruptamente na época do
governo militar.
O que é muito interessante mencionar que, quando um acontecimento social incorre
em modificações econômicas, sociais filosóficas, quando a sociedade passa a ver e a perceber,
a escravidão como sendo um crime, a lei abraça esse sentimento popular e a transforma em
uma constituição, quando a constituição se torna guardiã de preceitos sociais como esses, a
constituição abre portas para a mudança também em vários outros âmbitos jurídicos e sociais
do ordenamento jurídico brasileiro.
3.2 REFLEXOS NO DIREITO TRABALHISTA
Ainda sim é importante observar que a constituição de 1988 devolveu para o país a
possibilidade de obter novamente esses direitos de forma melhorada, o 13º, o FGTS, o direito
a greve, a carga horária de jornada de trabalho menos pesada para os trabalhadores, e entre
muitos outros direitos trabalhistas que foram entregues nas mãos do trabalhador por meio da
constituição de 1988. O processo de mudança brutal de um povo que vivia de maneira escrava
e que tinha seu regime trabalhista pautado na escravidão e no trabalho de pessoas trazidas de
um lugar para viver de forma escrava sobe péssimas formas de trabalho e durante longas
horas sem nada a receber podia ser notado, o reflexo constitucional é claro a iniciar do artigo
1º da Constituição Federal que passa a definir todos os Homens como sendo pessoas iguais e
assim, é possível definir que uma das primeiras mudanças, reflexos constitucionais foi
equipara todos os cidadãos como iguais. A constituição federal de 1988 em seu artigo 1º fala
que a república federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos estados e municípios
e do distrito federal, constitui-se em estado democrático de direito e tem como fundamento a
soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa, o pluralismo político e em seu parágrafo único diz que todo o poder emana do
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos da
constituição e está dessa forma para que possamos compreender que a constituição adotou
princípios que humanizam o ser humano e, por conseguinte, tem como objetivo humanizar
todo o ordenamento jurídico.
22
Ainda nos artigos do 7º ao 11º a constituição federal passou a olhar os direitos do
trabalhador como direitos sociais para humanizar esses direitos, humanizar e
constitucionalizar o trabalhador como um ser humano que merece viver de uma forma digna e
isso é um reflexo da abolição, do fim do trabalho escravo, é importante que se observe essas
mudanças, pois, fazem parte de todo um conjunto que passou a se tornar mais ativo para
favorecer o trabalhador como diz PESSOA (2011), esse foi então, o reflexo constitucional do
trabalho, a modificação, a unificação dos direitos, a integração social dos trabalhadores a
busca pela melhoria e a conquista de direitos que foram implantados na constituição, o
trabalhador constitucionalmente segundo o direito do trabalho não é mais uma coisa, não é
mais um ser que serve apenas para ser vendido, ou como escravo afim de obter ganho sem
nenhum direito e em condições degradantes, mas, é um ser humano que passou a ter
notoriedade e respeito, a constituição passou a socializar, humanizar e tornar a vida dos
trabalhadores mais digna e outras evoluções ocorreram ensejando o alcance em outras áreas
do direito, não só no direito do trabalho e na constituição mas, no direito penal e em outros
ramos.
3.3 REFLEXOS NO DIREITO PENAL
Não há sombras de dúvida que o trabalho escravo como no tempo da colônia não
existe mais, que o que existe é um trabalho remunerado, mas, que as condições de trabalho,
condições desse novo regime são semelhantes ao de um escravo no tempo da colônia, o que
ocorre é que como reflexo dessa mudança social, no direito penal, tipificou-se o crime de
trabalho análogo ao de escravo. A lei nº 10.803 de 11 de dezembro de 2003 vem para trazer
clareza quanto ao artigo 149 da lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940, até dizia que era crime
fazer com alguém fosse submetido a trabalho análogo a de escravo, mas havia uma lacuna
quanto as formas em que isso aconteça, segundo JUCÁ (2016):
Como é expresso no Código Penal Brasileiro atual no artigo 149, o trabalho escravo
é proibido por lei. Contudo, a redação do texto legal nem sempre foi a mesma,
sendo editada pela Lei nº 10.803 em 11 de dezembro de 2003, a qual trouxe ao
texto uma redução ao princípio da liberdade, que encontrava forte ligação à redação
anterior, devido ao laconismo do dispositivo. [...] Mesmo que implícito no texto
legal, essa relação de trabalho encontra-se como base para todos os outros
elementos, ou seja, sem ela não poderia haver nenhum dos outros elementos, já que
é pela relação trabalhista entre o empregador e o individuo sujeito à condição
análoga a de escravo que surgem os elementos característicos do tipo penal.
Ademais, além da doutrina, há o entendimento do Supremo Tribunal Federal de que
o crime previsto pelo artigo 149 do Código Penal deve ser visto como crime contra
a organização do trabalho, já que a relação de trabalho é fulcral para haver a
tipicidade do fato.
23
É interessante falar sobre essa mudança porque, quando a lei nº 10.803 de 11 de
dezembro de 2003 falou com clareza em que casos o crime de fato acontece, ele acabou com
o problema que existia, pois, antes, não havia como identificar no código esse problema,
porque quando a lei deixa uma lacuna, quando ela não especifica em que casos o crime
acontece, identificar o tipo se torna um trabalho complexo, neste caso, com a clareza da lei,
isso se tornou bem mais fácil, primeiro, a base da característica desse crime pelo artigo 149 do
código penal é que deve haver uma relação de trabalho, deve haver uma redução do ser
humano em qualquer forma, o trabalhador é colocado para trabalhar em péssimas condições,
sobe horas e condições exaustivas, sem nenhum cuidado e nenhum direito, ganhando mal ou
nada, tendo sua liberdade de ir e vir tolhida pelo empregador, deixar claro essas características
facilitou o trabalho do estado no combate a esse crime. Ainda que o tempo tenha passado e as
formas de trabalho evoluindo conforme a sociedade, alavancando a sociedade e o
desenvolvimento e o mundo se informando mais e se importando mais, mesmo a lei tendo
criado tantos mecanismos de ligação e de conexão com a ideia de liberdade e de igualdade
para todos no quadro constitucional, nos dias atuais ainda existem pessoas vivendo nessas
condições e isso é um fato, por tanto, a lei do código penal demonstra a realidade que é
evidente, crueldade, descaso, maus tratos, cerceamento da liberdade é um fato que ainda
existe e fator que descreve o trabalho análogo a condição de escravidão, segundo LEITE
(2015):
Assim, vemos que o trabalho forçado não pode simplesmente ser equiparado a
baixos salários ou a más condições de trabalho, mas inclui também uma situação de
cerceamento da liberdade dos trabalhadores, e para a punição do responsável pela
pratica do delito, verifica-se que tão somente, a presença de um de seus fatores é
suficiente para caracterização do crime. Ressalta-se portanto, que a proteção da
liberdade é um fator primordial, mas não o principal, pois o tipo penal exige, para
sua caracterização, a partir de quaisquer das condutas nele descritas, uma relação de
sujeição que, direta ou indiretamente, atinge, fere, a liberdade da pessoa e direitos
trabalhistas fundamentais. Nota-se que primeiro princípio violado é o da dignidade
da pessoa humana, pois é inaceitável caracterizar um ser humano como mercadoria,
tratando-o como objeto.
É possível então caracterização penal para o ato de tratar um trabalhador como um
escravo submetendo ele a uma vida de trabalho em constante ameaça, sem liberdade de ir e
vir, entre outras situações desagradáveis, existe uma penalidade para o que acontece com o
trabalhador, existe um dispositivo, mais que isso, um ordenamento jurídico capaz de proteger
o trabalhador.
24
4 MÉTODOS ESTATAIS DE COMBATE A SITUAÇÃO ANÁLOGA A DE
ESCRAVO
Muitos meios e métodos foram ao longo da história foram criados para erradicar o
trabalho escravo, a convenção nº29 da Organização Internacional do Trabalho para o trabalho
forçado e compulsório, no ano de 1929, a convenção suplementar das nações unidas para
abolição da escravidão, trafico de pessoas e instituições e trabalho análogo ao de escravo do
ano de 1956, que incluiu na convenção n°29 essas formas que existem na idade moderna de
escravidão, tem também o pacto internacional sobre os direitos civis e políticos, em 1990 teve
a Convenção Internacional das Nações Unidas para a Proteção dos Direitos de todos os
Migrantes Trabalhadores e suas Famílias, e no ano 2000, o Protocolo das Nações Unidas para
Prevenir, Suprimir e Punir Traficantes de Pessoas, Especialmente de Mulheres e Crianças, do
ano de 2000 como aponta MOUTINHO, SERNÉGIO (2016):
A Convenção n° 29 da Organização Internacional do Trabalho para o Trabalho
Forçado e Compulsório, de 1929, foi de suma importância para definir algumas
formas da escravidão moderna, especialmente no que se trata do trabalho forçado.
Nessa também são postuladas algumas ações que esse Organismo Internacional
considera relevantes para solucionar esse problema [...] A OIT tratou sobre as piores
formas desse trabalho, e pontuou maneiras de melhorar a situação nos países que
possuem tais problemas. Por fim, o Protocolo das Nações Unidas para Prevenir,
Suprimir e Punir Traficantes de Pessoas, Especialmente de Mulheres e Crianças, do
ano de 2000, adicionado resolução do Conselho de Segurança 53/111, trata sobre
questões de segurança relativas ao tráfico de pessoas. O Conselho de Segurança
tomou diversas decisões, bem específicas, para acabar com o tráfico de pessoas e as
outras formas de escravidão moderna associadas.
Muito tem se desenvolvido e feito para melhorar o combate na luta contra o trabalho
análogo a de escravo, o que tem sido muito bom, pois isso faz com que os países que fazem
parte dos tratados e convenções tenham a responsabilidade em âmbito internacional de
combater o crime, e assim criar mecanismos internacionais e internos para inibir, reprimir,
para erradicar qualquer forma de escravidão.
4.1 COMBATE AO TRABALHO ANÁLOGO AO DE ESCRAVO NO BRASIL
O Brasil demorou a lutar sobre o assunto, no entanto, o Brasil desenvolveu métodos
eficazes de combate ao crime de trabalho análogo ao de escravo, é importante compreender
esse desenvolvimento em um país que foi marcado pelo trabalho escravo, pelo trabalho em
condições sub-humanas, em condições totalmente degradantes, sem saúde, por horas de
trabalho longas, exaustivas, tanto para homens quanto para mulheres, que viveu tantos casos
25
de trabalho escravo possua um mecanismo de combate para os casos que ainda no século XXI
se apresenta, o site do SENADO (2011) aponta que:
O Estado brasileiro só se moveu para combater o trabalho escravo empurrado pela
sociedade civil. Entre as primeiras denúncias feitas por dom Pedro Casaldáliga,
então bispo de São Félix do Araguaia (MT) – em meio à ditadura militar, no início
da década de 1970 – e o compromisso com a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) – em que o país
reconheceu a existência da escravidão no seu território, em meados dos anos 1990 –,
passaram-se quase 25 anos de silêncio e omissão por parte de governos e poderes
públicos. Na iminência de receber uma sanção internacional por conta do caso Zé
Pereira, o Estado finalmente acordou para o combate ao trabalho escravo. Em 1995,
o então presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu oficialmente o problema
e tomou as providências para a criação de uma estrutura que, com ajustes e avanços
alcançados no governo Lula, se mantém na linha de frente no combate à
escravização da mão de obra. Para planejar as ações de combate ao trabalho escravo,
Fernando Henrique criou o Grupo Executivo de Repressão ao Trabalho Forçado
(Gertraf), substituído em 2003 pela Comissão Nacional para a Erradicação do
Trabalho Escravo (Conatrae). Também instituiu o Grupo Especial de Fiscalização
Móvel (GEFM), que se transformou no mais importante instrumento de repressão
aos escravagistas. Hoje, o país chega a ser referência para o mundo nesse combate.
Jamais a sociedade civil esteve longe desse processo. Por meio de entidades como a
Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a ONG Repórter Brasil, colaborou ativamente
para os resultados que o país começou a colher. E como ficou claro na audiência
pública no Senado, continua sendo fundamental para cobrar iniciativas do governo
de combate ao trabalho escravo. Afinal, para eliminar o trabalho escravo, o Brasil
ainda tem muito o que fazer.
O Brasil reconheceu em meados de 1990 que existia de fato trabalho análogo ao de
escravo em seu território, devido às primeiras denúncias realizadas ainda na década de 1970,
então firmou compromisso com a comissão interamericana de direitos humanos (CIDH) da
organização dos estados americanos (OEA), foi criado em 1995 o Grupo Executivo de
Repressão ao Trabalho Forçado (Gertraf), em 2003 passou as ser a Comissão Nacional para a
Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae), bem como o Grupo Especial de Fiscalização
Móvel (GEFM), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a ONG Repórter Brasil foi muito
importante para o desenvolvimento do combate contra o trabalho análogo ao de escravo,
fazendo com que o Brasil seja visto como um exemplo para o mundo no combate ao trabalho
escravo no mundo atual.
As empresas também entenderam seu papel decisivo no combate ao trabalho
escravo. O Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, lançado em 2005,
é uma prova dessa mobilização empresarial. Além de restringir economicamente os
empregadores que cometem este crime ao não negociar com quem explora o
trabalho escravo, o Pacto visa apoiar ações de promoção do trabalho decente na
cadeia produtiva, de reintegração social dos trabalhadores em situação de
vulnerabilidade e de campanhas de informações sobre o assunto. O Pacto surge após
a divulgação de uma pesquisa realizada pela ONG Repórter Brasil a pedido da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), que visava demonstrar o grau de
26
inserção de mercadorias produzidas com trabalho escravo na economia brasileira e
global. Foram identificados problemas em várias cadeias produtivas, como pecuária,
carvão vegetal, soja, madeira, cana e arroz, entre outras. Com a pesquisa pronta, as
empresas brasileiras e multinacionais pertencentes a essas redes foram convidadas a
discutir o que fazer, num processo coordenado pelo Instituto Ethos. A proposta era
criar um conjunto de compromissos assumidos voluntariamente pelas empresas para
criar mecanismos e metodologias que barrassem fornecedores flagrados no uso do
trabalho escravo, entre outras medidas. Desses diálogos, nasceu o Pacto Nacional
pela Erradicação do Trabalho Escravo, que hoje conta com mais de 400 signatárias,
entre empresas, associações comerciais e entidades da sociedade civil, representando
cerca de 30% do PIB brasileiro.
O que basicamente é explicito, é a negativa de grande parte dos brasileiros ao se
deparar com uma situação como essa a de escravizar pessoas, ou de fazer com que pessoas
trabalhem nas mesmas condições que um escravo, a iniciativa de luta não só partiu do Estado,
mas, das empresas que atendendo sua função social, se uniram para falar sobre o que fazer
nesses casos, estimular condições, e regularização legal do empregador e do trabalhador, e
inibir qualquer ação neste sentido, empresas importantes que formaram o pacto nacional pela
erradicação do trabalho escravo, pacto este que conta com mais de 400 signatárias, as mesmas
representando grande parte do PIB brasileiro, neste sentido, o importante a se dizer é que
existe um combate intensivo neste sentido e que o Brasil se preocupa com a questão. Há de se
falar também no atendimento que é feito as pessoas que estão sofrendo por meio desse crime,
depois de libertos, eles são atendidos e devidamente recebem o atendimento jurídico cabível,
e toda assistência social necessária.
4.2 A POLÊMICA PORTARIA Nº 1.129 DE 13 DE OUTUBRO DE 2017
No dia 13 de outubro de 2017 foi editada a portaria nº1.129 que trouxe uma
conceituação para a questão referente a escravidão contemporânea, os parâmetros para
definição do que é ou não, foram pela portaria reduzidos, o que trouxe uma grande
inconformidade por grande parte da população, dos juristas e das comunidades que lidam com
as questões de trabalho escravo e análogo ao de escravo
O Ministério Público do Trabalho (MPT) e o Ministério Público Federal (MPF)
recomendaram ao Ministério do Trabalho que revogue a Portaria 1.129, publicada
ontem (16), no Diário Oficial da União, que estabelece novas regras para a
caracterização de trabalho análogo ao escravo e para atualização do cadastro de
empregadores que tenham submetido pessoas a essa condição, a chamada lista suja
do trabalho escravo [...] Eles lembram que, ao responsabilizar o Estado brasileiro
por não prevenir a prática de trabalho escravo moderno e o tráfico de pessoas por
causa de um caso ocorrido no sul do Pará, entre 1997 e 2000, a Corte Interamericana
de Direitos Humanos estabeleceu que não poderia haver retrocessos na política
brasileira de combate e erradicação do trabalho escravo, deixando claro que a
caracterização de trabalho análogo à escravidão prescinde da limitação da liberdade
de locomoção. A iniciativa do Ministério do Trabalho também gerou reações por
27
parte de organizações sociais. Entre os aspectos mais criticados por diferentes
entidades está a determinação de que, a partir de agora, apenas o ministro do
Trabalho deve incluir empregadores na Lista Suja do Trabalho Escravo, esvaziando
o poder da área técnica [...] Procurado, o Ministério do Trabalho alegou que a
publicação da Portaria 1.129 vai “aprimorar e dar segurança jurídica à atuação do
Estado”. Segundo a pasta, as disposições sobre os conceitos de trabalho forçado,
jornada exaustiva e condições análogas a de escravo servem à concessão de seguro-
desemprego para quem vier a ser resgatado em fiscalização promovida por auditores
fiscais do trabalho. Segundo o ministério, a portaria prevê a possibilidade de que
sejam aplicadas multas cujos valores podem superar em até 500% os atuais. “O
combate ao trabalho escravo é uma política pública permanente de Estado, que vem
recebendo todo o apoio administrativo desta pasta, com resultados positivos
concretos relativamente ao número de resgatados, e na inibição de práticas
delituosas dessa natureza, que ofendem os mais básicos princípios da dignidade da
pessoa humana.”
Uns alegam que é um absurdo e ilegal que a portaria venha reduzir conceitos criando
lacunas e dificultando as atividades fiscalizadoras do Estado, uma vez que já haviam essas
questões bem definidas e que foram de modo singular um exemplo de luta e que tornou o
Brasil reconhecido na batalha conta o crime, no entanto, há quem acredite que a portaria foi
benéfica para o trabalhador pelas multas em alto valor e que com relação as jornadas
exaustivas de trabalho em condições análogas de escravo vão dar direito ao seguro-
desemprego que será eventualmente resgatado por meio da representação dos auditores fiscais
do trabalho, logo, é importante que possamos perceber a divergência no caso, o que para um
lado é algo ilegal e que reduz os direitos, reduz a capacidade de identificação do crime para os
fiscais, que é tido como ilegal por reduzir a extensão conceitual do artigo 149 do código
penal, e que viola os direitos humanos bem como os pactos realizados neste sentido, para o
representante do Ministério do Trabalho aparentemente é algo bom para o trabalhador
resgatado. No dia 24 de outubro de 2017 (AQUINO, PONTES, 2017), a Ministra Rosa
Weber, do Supremo Tribunal Federal por meio de uma liminar suspendeu os efeitos da
portaria, pois entende que ela deve ser discutida com mais profundidade e que ela abre a
oportunidade para que haja quebra dos preceitos de direitos humanos e outras reduções que
são inerentes do mínimo de direito do ser humano.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Brasil tem se desenvolvido e o tempo tem passado, a tecnologia, a globalização, os
métodos e meios de evolução cultural, mudanças nas áreas de economia, sociologia, direito, a
cultura brasileira sendo formada a partir das diferenças sociais que vão além da cor da pele, e
a mentalidade das pessoas ainda se encontra estacionada no Brasil colonial, que tratava uns
como superiores e outros como inferiores.
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É por tanto que por esse motivo, o presente trabalho de pesquisa se propõe a entender
o fenômeno da escravidão no mundo moderno, nos dias atuais, seus reflexos e por isso é
importante falar sobre a sua história e seu desenvolvimento, e como nós vamos nos comportar
diante dessa realidade social que se apresenta.
O trabalho escravo foi abolido, no entanto, ainda nos dias atuais existem os que
trabalham nas mesmas condições de um escravo, é por esse motivo que a pesquisa se coloca
na posição de estudar as mudanças no direito, as transformações sociais, as mudanças no tipo
penal, as formações de instrumentos e os meios, e métodos de combate ao trabalho análogo ao
de escravo.
Infelizmente no mundo atual, em pleno século XXI, o mundo e o Brasil têm
enfrentado tais problemas, que ainda perduram aos dias atuais, a boa notícia, se é que pode
existir uma boa notícia, é que o Brasil tem se mostrado muito forte no combate a esse crime,
tem desenvolvido métodos eficazes que fazem toda a diferença no combate ao crime de
escravidão moderna.
REFLECTIONS ON LEGAL SLAVERY IN THE BRAZIL CURRENT AND WORK
ANALOGOUS TO THAT OF SLAVE
ABSTRACT
The aim of this work is to evaluate in a more objective way, and careful reflections of legal
slavery in Brazil, both in the colonial period and in the modern age, therefore, it is vital for
modern society to understand the reasons and the reality that justifies the subject. It is
important to point out the changes and what is already done, as the labor law operates
constitutionally, and to criminal on set about the regarding the subject. It is a research work
that uses the methodology of the literature of theoretical nature. It is of the utmost importance
to understand the idea of a current situation, where also residues of slavery live and coexist in
the mind of the people in the days of today, please also note the changes that have already
occurred that have brought benefits to the people of the world. The work seeks to give clarity
to the reflections legal influence and at the same time accompany the social change and
protect the rights of society. In a modern society as which we live, where certain concepts
have been assembled based on the structure of a time where there were no benefits of work to
the slave, the change to the terms in the integration in the vision of the society in relation to
slavery changes by leaps and bounds despite its already significant changes, on the basis of
this premise we can say that the society lives between the philosophy and the reality. In
general lines, it is possible to understand the clear goal of the work in promoting the accuracy
of the ideological and legal, against the slave labour of contemporary and scientifically
studying the property of their problematic foundations.
KEYWORDS: Work. Slavery. Modern Society. Labor Law. Reflections On Legal. Slave
Labor And Contemporary
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