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FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO MAGNO FERREIRA DA COSTA COMPLEXIDADE DA TRANSMISSÃO SUCESSÓRIA NA REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA “POST MORTEM” CABEDELO PB 2017

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FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

MAGNO FERREIRA DA COSTA

COMPLEXIDADE DA TRANSMISSÃO SUCESSÓRIA NA REPRODUÇÃO

HUMANA ASSISTIDA “POST MORTEM”

CABEDELO – PB

2017

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MAGNO FERREIRA DA COSTA

COMPLEXIDADE DA TRANSMISSÃO SUCESSÓRIA NA REPRODUÇÃO

HUMANA ASSISTIDA “POST MORTEM”

Trabalho de Conclusão de Curso em forma de Artigo

Científico apresentado a Coordenação do curso de

Direito da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba –

FESP Faculdades, como requisito parcial para a

obtenção do Título de Bacharel em Direito.

Área: Direito Civil.

Orientadora: Profa. Ms. Herleide Herculano Delgado

CABEDELO-PB

2017

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MAGNO FERREIRA DA COSTA

C837c Costa, Magno Ferreira.

Complexidade da transmissão sucessória na reprodução humana assistida Post Mortem / Magno Ferreira Costa. – Cabedelo, 2017.

30f Orientador: Profª Me. Herleide Herculano Delgado. Artigo Científico (Graduação em Direito) Faculdade de Ensino

Superior da Paraiba. 1. Nascituro. 2. Reprodução Humana. 3. Dignidade da Pessoa

Humana. 4. Direito das Sucessões. 5. Responsabilidade Parental. I. Título.

BC/Fesp CDU: 344.7

A reprodução total ou parcial deste documento só será permitida exclusivamente para fins acadêmicos e científicos desde que seja referenciado, autor, titulo instituição, e ano de sua

publicação.

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COMPLEXIDADE DA TRANSMISSÃO SUCESSÓRIA NA REPRODUÇÃO

HUMANA ASSISTIDA “POST MORTEM”

Artigo Científico apresentado a Banca Examinadora de

Artigos Científicos da Faculdade de Ensino Superior da

Paraíba – FESP Faculdades, como exigência para a

obtenção do Título de Bacharel em Direito.

APROVADO EM ____ / ____ / ______.

BANCA EXAMINADORA:

__________________________________________

Profa. Ms. Herleide Herculano Delgado

ORIENTADORA FESP

___________________________________________

Prof. Dr. Gustavo Guimarães Lima

MEMBRO FESP

___________________________________________

Prof. Dr. Jaldemiro Rodrigues de Ataíde Júnior

MEMBRO FESP

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Primeiramente а Deus, por ser essencial em

minha vida, autor de meu destino, meu guia, socorro

presente na hora de angústia e a toda minha família

que, com muito carinho е apoio, não mediram

esforços para que eu chegasse até esta etapa de

minha vida.

DEDICO

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por me conceder foco, paciência, força e sabedoria para conquista do

conhecimento até aqui adquirida.

Aos meus pais Miguel Gonçalo e Maria Ferreira, que sempre me apoiaram nos meus

desafios e vibram com minhas conquistas e superações, a quem devoto amor, carinho e

respeito.

Aos irmãos Simone Costa, Miguel Ângelo e Douglas da Silva, pela parceria e

harmonia sempre vivida, e em especial, meu companheiro Marcelo André, por também, me

sustentar tanto em cuidados como em orações, sendo um sustentáculo em horas felizes como

também em momentos difíceis.

Aos amigos, parte essencial de nossas vidas, em especial as minhas queridas amigas

Carla Patrícia e Elis Regina pelo longo caminhar desta jornada de estudos.

Agradecimento ímpar, a minha orientadora, professora e mestre Herleide Herculano

Delgado, pela confiança e disponibilidade na construção deste trabalho, que se mostrou tão

solicita e paciente.

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SUMÁRIO

RESUMO ...................................................................................................................... 08

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .................................................................................. 08

2 ASPECTOS RELEVANTES DA REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA ........ 10

2.1 ASPECTOS CONCEITUAIS E DIFERENCIAIS SOBRE AS TÉCNICAS DE

REPRODUÇÃO HUMANA ......................................................................................... 11

3 ANÁLISE JURÍDICA BRASILEIRA E A REPRODUÇÃO HUMANA

ASSISTIDA .................................................................................................................. 12

3.1 ABORDAGEM JURÍDICO CONSTITUCIONAL ...................................................... 12

3.2 ABORDAGEM JURÍDICO CIVIL............................................................................... 13

4 O DIREITO SUCESSÓRIO E A REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA POST

MORTEM ..................................................................................................................... 14

4.1 ABORDAGEM GERAL ................................................................................................ 15

4.2 SUCESSÃO E LEGITIMIDADE DO FILHO HAVIDO DA IA POST MORTEM ...... 16

4.3 APROFUNDAMENTO AO ART. 1.798 DO CÓDIGO CIVIL .................................... 17

4.4 A ABERTURA DA SUCESSÃO E O PRAZO PARA IMPLANTAÇÃO DO

EMBRIÃO IN NIDO ...................................................................................................... 19

4.5 GARANTIAS HEREDITÁRIAS ................................................................................... 21

4.5.1 Sucessão Testamentária ............................................................................................... 21

4.5.2 Sucessão Legítima ......................................................................................................... 24

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 27

ABSTRACT .................................................................................................................. 28

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 28

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COMPLEXIDADE DA TRANSMISSÃO SUCESSÓRIA NA REPRODUÇÃO

HUMANA ASSISTIDA “POST MORTEM”

MAGNO FERREIRA DA COSTA1*

HERLEIDE HERCULANO DELGADO**

RESUMO

O presente trabalho em estudo parte da problemática existente entre os direitos já havidos

com a abertura do inventário e os direitos do novo ser que irá surgir, uma dualidade que se

choca tanto pelo fato da permissão dada pelo código civil e constituição federal e os direitos

já havidos após o falecimento do cônjuge, permeando em várias esferas conceituais como o da

dignidade da pessoa humana, a segurança jurídica e o sonho de gerar um filho. Temos a

ciência de que os princípios gerais da família são protegidos dentro das normas

constitucionais, porém o futuro nascituro do caso em análise não possui de forma concreta

nenhum tipo de tutela em face à esta matéria dúbia e indefinida dentro do direito sucessório,

que de forma implícita traz conflitos tanto nas normas quanto nas doutrinas jurídicas, pois os

avanços biotecnológicos em nossa sociedade, nos faz lançar a novos estudos a respeito de tão

nova área, visto que, o momento da decisão de gerar um filho de um genitor já falecido,

através da reprodução humana assistida, pode gerar diversos conflitos no que diz respeito a

este aspecto, momento este que as ciências jurídicas devem buscar inovar-se para manter um

equilíbrio a possíveis conflitos que venham a surgir. Tem-se uma questão lacunosa ao se tratar

de relevante assunto, principalmente dentro do código civil brasileiro, pois não apresenta de

forma concisa quais são os direitos relativos aos filhos havidos dentro deste processo

germinativo, necessitando assim de um maior esclarecimento no caso em análise.

PALAVRAS CHAVE: Nascituro. Reprodução Humana. Dignidade da Pessoa Humana.

Direito das Sucessões. Responsabilidade Parental.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente artigo parte da realidade deficiente que há entre a norma do Código Civil

e sua aplicação na íntegra ao se tratar do direito sucessório e de sua aplicação aos filhos ainda

não havidos em sua aplicação post mortem, levantando várias contradições entre as referidas

normas e suas aplicações. A inseminação artificial e sua aplicação post mortem no direito

sucessório é um problema que vem tomando proporções relevantes pelo motivo da procura

1 * Concluinte do Curso de Bacharel em Direito pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP

Faculdades, semestre 2017.2. E-mail: [email protected]. ** Advogada. Mestre em Direito Econômico pela Universidade Federal da paraíba. Especialista em Direito

Tributário pela Universidade Anhanguera. Professora e Pesquisadora da FESP Faculdades e da UEPB Campina

Grande. Membro do Grupo NUPOD – Núcleo para Pesquisa dos Observadores de Direito (DGP/CCJ/UEPB).

Membro da Comissão de Estudos Tributários da OAB-PB. Atuou como orientadora desse TCC. E-mail:

[email protected].

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por determinado serviço perante as clínicas de inseminação artificial, dentre os quais,

exemplos viáveis já vêm ocorrendo em nossa sociedade atual, devendo ser mais bem

analisada sob o prisma jurídico do direito civil e constitucional.

Contemplou-se neste estudo, a pesquisa bibliográfica que é utilizada quando elaborada

a partir de material já publicado, constituído principalmente de: livros, revistas, publicações

em periódicos e artigos científicos, jornais, boletins, monografias, dissertações, teses, material

cartográfico, internet, com o objetivo de colocar o pesquisador em contato direto com todo

material já escrito sobre o assunto da pesquisa, como também será utilizada a pesquisa

documental, mediante consulta à legislação que trata da matéria.

Consequentemente, trata-se de um problema crucial da vida não apenas do nascituro,

mas também da manifestação de desejo dos genitores em ter um filho de uma relação não

consumada reflexo de seus direitos mediante ao falecimento do de cujus, sua dignidade como

pessoa humana e seu retrato social dentro de um contexto tão complexo que nos faz remeter, a

busca de uma idealização crítica desta real conjuntura, trazendo com isso uma luz a tutela de

tais direitos.

Nos dias atuais a ciência jurídica tem uma preocupação maior no que tange a área da

bioética e do biodireito, justamente porque o direito contemporâneo é multifacetário,

tornando-se desta forma uma área bastante complexa, por se preocupar com elementos de

diversos setores de uma sociedade que vem evoluindo em uma velocidade em que as ciências

jurídicas precisam acompanhar, principalmente devido as suas conexões e inter-relações com

as diversas áreas do comportamento humano.

O direito civil apresenta uma aparente lacuna no que diz respeito a reprodução

humana assistida, principalmente em sua aplicação post mortem, sendo esta a que causa um

maior impacto no que tange especificamente ao direito de família e das sucessões, para tanto

este trabalho busca desenvolver um estudo reavaliando a necessidade de construções teóricas

a respeito das novas técnicas de reprodução que afetam diretamente as relações de filiação e

parentesco, até então solidificadas pelo ordenamento jurídico.

Almeja-se neste trabalho apontar aspectos gerais relevantes as técnicas de

reprodução humana assistida, principalmente nos abalos trazidos as relações familiares e

sucessórias, sendo analisadas desta forma as implicações de filiação no ordenamento jurídico

brasileiro, a necessidade de documentação de consentimento do de cujus e a questão da

igualdade entre os filhos.

Portanto a principal questão a ser estudada é a reprodução assistida post mortem e o

direito sucessório depois de aberta a sucessão com o nascimento de um novo filho, no dever

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de buscar novas diretrizes a serem tomadas devido permissão dada pelo Código Civil de

2002, mais precisamente em seu artigo 1.597, compatibilizada com direitos previstos na

constituição, resguardando assim os direitos de um novo descendente em contrapartida com

primórdios necessários na segurança jurídica, havendo desta forma pontos controversos nas

mais variadas doutrinas.

2 ASPECTOS RELEVANTES DA REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA

A sociedade desde os seus primórdios tende a evoluir, porém assistimos em meados

da revolução industrial uma mudança significativa no comportamento humano, a exemplo

disso na formação da sociedade, no conceito de família, nas culturas, dentre outros ramos aqui

não identificados no momento, mudanças estas que trazem a sociedade o medo do novo, ou

seja, do desconhecido, causando de certa forma um impacto negativo bloqueando e tornando

mais lento o aspecto evolutivo das ciências humanas e sociais.

A ciência já avançou muito em matéria de fertilização assistida, em prol dos casais

que padecem de infertilidade. [...] Vários são os métodos científicos para essa

finalidade cujo estudo pertence à ciência biomédica. A inseminação artificial

também é conhecida como concepção artificial, fertilização artificial, semeadura

artificial, fecundação ou fertilização assistida (Scarparo, 1991:6). No Brasil, são

utilizados todos os métodos proporcionados pela ciência biomédica internacional.

Toda essa nova problemática levanta questões de ordem ética e moral que devem ser

repensadas. Esse, talvez, o desafio mais crucial (VENOSA, 2013, p. 243).

Ao falarmos em fertilização in vitro, não só podemos nos ater aos acontecimentos

atuais, como também nos reportar aos escritos antigos, ressaltamos aqui a primeira realizada

no Brasil pelo médico brasileiro Milton Nakamura, que descreve que o progresso da

biotecnologia passou por três fases, sendo a primeira ocorrida no século XVIII realizada por

L. Jacobi com experimentos em peixes, em seguida, a fase dois, meados de 1953, onde os

geneticistas James B. Watson e Francis H. C. Crick vieram a descobrir as estruturas em élice

do DNA, marco inicial da engenharia genética, e por fim a terceira fase, ocorrida em 1978,

quando nasceu Louise Brown, o primeiro “bebê de proveta”, significando desta forma o

marco inicial da fertilização assistida (SAWEN; HRYNIEWICZ, 2008)1.

1 Embora não seja uma publicação recente, conforme exigência para elaboração do TCC, essa obra foi citada em

razão de seu modo objetivo de situar a questão, estando dessa forma mantendo um nexo com a argumentação

desenvolvida nesse estudo. Além do mais não foi encontrada publicação sobre essa temática atualizada do citado

autor.

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Porém, é de se observar que toda transformação ocorrida na sociedade traz impactos

de grandes significâncias dentro da sociedade, transmitindo-a assim um certo temor, trazendo

tanto reações negativas como positivas, pois esses novos caminhos tendem levar o homem ao

melhor entendimento do “eu”, e é quando se apresenta a bioética e o biodireito, trazendo uma

melhor compreensão dos impactos causados pelas referidas descobertas no campo das

ciências da saúde, como em qualquer outra área, correlatando esclarecimentos profundos por

ela produzidos.

2.1 ASPECTOS CONCEITUAIS E DIFERENCIAIS SOBRE AS TÉCNICAS DE

REPRODUÇÃO HUMANA

Ao se definir a reprodução humana assistida podemos enxergar como um conjunto

de técnicas desenvolvidas que manipulam e desenvolvem a inseminação e fecundação não só

humana, como a realizada in vitro, através do manejo dos gametas masculino e feminino,

vindo tais experimentos quebrar paradigmas nunca antes vivido pela sociedade,

principalmente no que tange ao direito de família.

As técnicas reprodutivas alteraram as representações tradicionais nos modos de

concepção e das estruturas de parentesco, a ponto de a fecundação in vitro haver

inovado a história da maternidade, pois pela primeira vez foi possível que a

concepção não tivesse lugar no corpo da mulher geradora (LEITE, apud

BERALDO, 2012, p.9).

Podemos observar nas palavras dos autores supracitados, que são várias as técnicas

de reprodução humana assistida e que não é preciso um corpo humano para que a mesma

aconteça, sendo esta uma forte causa nas mudanças sociais até então vividas no âmbito

familiar, porém é importante destacar que tais técnicas não curam a infertilidade sofrida pela

mulher ou pelo homem, destaca-se também como importante a não dependência da relação

sexual para gerar um filho, o local onde deve ser feito a referida técnica e por último a

inclusão de um terceiro para efetivar a técnica de reprodução humana.

Os métodos de reprodução assistida podem se dar de diferentes formas, porém aqui

destacaremos dois grandes grupos2: a fecundação in vivo, que precisa do corpo da mulher

para que seja efetivada a concepção (exemplo da inseminação artificial) e a fecundação in

2 Os tópicos aqui apresentados se relacionam as principais técnicas de reprodução humana assistida, porém vale

destacar que outras formas existem como exemplo a transferência intratubária de gametas (GIFT), a

transferência intratubária de zigotos (ZIFT) e a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), aqui não

sendo objeto de estudo (BERALDO, 2012).

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vitro, fecundação esta ocorrida em laboratório, não necessitando inicialmente do corpo

humano para que a mesma seja efetivada.

Quando tratamos do material genético a ser manipulado nas referidas técnicas de

reprodução humana assistida, é importante ressaltar que são duas as técnicas, quais são a

homóloga, quando o material genético a ser manipulado é do próprio casal e a heterologa,

quando usado o material genético de um terceiro, seja masculino ou feminino (doador).

3 ANÁLISE JURIDICO BRASILEIRA E A REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA

Como falado anteriormente, vários foram os avanços tecnológicos ocorridos em

nossa sociedade, fazendo nascer com isso a reivindicação de alguns direitos sociais, levando o

Estado a formalizar diretrizes através de normas e leis com o intuito de equilibrar o quadro

social vigente, e através da Constituição de 1988, um novo sistema foi implantado,

formalizando uma releitura de todo ordenamento jurídico pelos princípios e cláusulas gerais

nela implantados, retirando do Código Civil o seu ar centralizador da resolução dos conflitos,

que passou a ser priorizado desde então valores existenciais em detrimento dos patrimoniais.

3.1 ABORDAGEM JURÍDICO CONSTITUCIONAL

Verificamos que a partir da transformação da sociedade e em contrapartida da

formalização da atual constituição, uma valorização maior do direito de família, tornando-a

assim um dos princípios da referida Carta Magna, trazendo com isso proteções relacionadas à

reprodução humana assistida.

A perspectiva de interpretação civil-constitucional permite que sejam revigorados os

institutos de direito civil, muitos deles defasados da realidade contemporânea e por

isso mesmo relegados ao esquecimento e à ineficácia, repotencializando-os, de

molde a torna-los compatíveis com as demandas sociais e econômicas da sociedade

atual. (TEPEDINO, 2004, apud BERALDO, 2012)

Destacamos desde já um importante princípio descrito no art. 226, caput, da

Constituição, que é o princípio da tutela especial da família, dando a ela papel significante

dentro do âmbito social, pois entende-se que este instituto é um espaço fortalecedor da

dignidade de seus integrantes. Seguindo no mesmo artigo podemos destacar os §§ 3º e 4º que

dá destaque ao pluralismo das famílias (BRASIL, 1988).

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Há responsabilidade individual e social das pessoas do homem e da mulher que vêm

a gerar, no exercício das liberdades inerentes à sexualidade e à procriação, uma nova

vida humana, cuja pessoa – a criança – deve ser priorizando o seu bem-estar físico,

psíquico e espiritual, com todos os direitos fundamentais reconhecidos em seu favor

(CALMON, p. 78, apud BERALDO, 2012, p. 47).

Trata os autores acima mencionados da responsabilidade da família, dentre outros

princípios de grandes valores, principalmente com relação ao tema deste trabalho que são o

princípio da igualdade entre os filhos, o princípio da liberdade de planejamento familiar e o

princípio da paternidade responsável ambos dispostos no art. 226, § 7º da CF/88 (BRASIL,

1988).

3.2 ABORDAGEM JURÍDICO CIVIL

As inovações geradas no Código Civil trouxeram consigo um importante tema, o da

reprodução humana assistida, que está descrito em seu artigo 1.597, porém, é sabido que o

mesmo é idealizado a partir de um Projeto de Lei que data do ano de 1975 (PL no 634/75), sua

idealização datava desde o ano de 1960, época em que não se tratava a respeito das técnicas

de reprodução humana assistida (BRASIL, 2002).

Com tantas falhas no referido projeto, o atual Código Civil conseguiu ser aprovado,

mesmo estando ultrapassado, não conseguindo desta forma, caminhar em paralelo com a

rapidez dos avanços tecnológicos, ficando desta forma questões pertinentes no que diz

respeito ao assunto em pauta com relação ao ordenamento jurídico, lacunas específicas a

respeito da reprodução humana assistida.

É de se observar que as inovações trazidas pelo referido artigo, principalmente ao

que concerne os incisos III a V, pois os incisos I e II são reproduções do antigo artigo 338 do

Código Civil de 1916, e os demais vem a ser uma inovação trazida ao Código de 2002,

presumindo assim a paternidade nas referidas técnicas de reprodução assistida, mesmo que as

denominações neles utilizadas sejam diferentes, pois o enunciado número 105 do Conselho de

Justiça Federal propôs que assim devem ser interpretada, mesmo elas sendo in vitro ou in

vivo. (BRASIL, 2002)

Nesta mesma linha de pensamento, o Projeto de Lei nº 115 de 2015 (BRASIL, 2015)

que institui o Estatuto da Reprodução Humana Assistida, vem dispor em seu art. 35 que é

permitido a qualquer pessoa o uso do seu material genético, seja ele óvulo, espermatozoide ou

embrião, desde que a manifestação da pessoa seja dada em vida, para o uso do mesmo,

ratificando e ajudando desta forma, a direcionar o que aduz o art. 1597 do Código Civil,

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ressaltando que a presunção de paternidade não será um problema para a inseminação

artificial post mortem, visto que, os gametas utilizados para a referida fecundação será de

ambos os pais, configurando desta forma uma relação biológica.

Portanto vale pontuar aqui o tempo ao qual se dará essa concepção, pois o aporte

legislativo estabelece um prazo de 300 dias após a dissolução do casamento, levando o

legislador a uma interpretação extensiva do inciso III, pois, caso a criança venha a nascer após

o prazo estabelecido, o que se deve levar em conta é a época em que foi concebida. Mesmo

tratamento deve-se dar ao inciso IV, pois nos dois, podemos verificar um caso de ficção

jurídica, pois houve a dissolução do casamento antes da concepção.

4 O DIREITO SUCESSÓRIO E A REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA POST

MORTEM

Ínfimo debate se observa quanto a presunção do consentimento do marido,

simplesmente pelo fato de o falecido deixar material genético a disposição das clínicas de

fertilização, levando a consideração de alguns doutrinadores divergirem e questionarem

quanto a referida matéria. Dias (2007, apud BERALDO, 2012) entende que, mesmo venha o

marido a fornecer o seu sêmen, não há razão para presumir o consentimento, mesma linha de

raciocínio vem ter Lobo (2003, apud BERALDO 2012), confirmando através do princípio da

autonomia dos sujeitos, sendo este um dos fundamentos expostos no biodireito.

Em contraposição ao pensamento dos doutrinadores acima elencados, Barbosa (1993,

apud BERALDO, 2012), em sua obra intitulada “A filiação em face da inseminação artificial e da

fertilização in vitro”, defende que a manifestação de vontade por parte do falecido não se faz

necessária, posto que, já se faz presumir o próprio ato de deixar seu material genético na

clínica de fertilização, como bem explicitado em suas palavras:

Parece-nos de lege ferenda, em qualquer caso, que a manifestação de vontade do

autor da herança constitui elemento decisivo para a aquisição de direitos do filho

póstumo. Há de restar inequívoco que depositou seu sêmen para esse tipo de

inseminação, prevenindo-se qualquer manobra maliciosa de aproveitamento do

material fecundante do falecido marido, até mesmo sua retirada após sua morte.

Além disso, deve ser inequívoca sua vontade de transmitir a herança ao filho não

gerado (BARBOSA, 1993, apud BERALDO, 2012, p. 93 e 93).

Importante se faz verificar que, a paternidade nunca deve ser imposta e sim

voluntária, pois, difícil se faz saber a respeito do desejo do falecido sem mesmo deixar

consentimento expresso quanto a manifestação de ser pai, e neste diapasão, expõe tanto a

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resolução no 1.957 de 2010 do Conselho Federal de Medicina, quanto o PL. nº 115 de 2015

em seu art. 37 e seguintes, informando que “Para todo e qualquer procedimento de reprodução

assistida é necessária assinatura de todos os envolvidos no termo de consentimento informado

que será apresentado pelo médico responsável pelo tratamento”.

Com esse artigo podemos observar a necessidade da obrigação de haver o

consentimento expresso de ambos os cônjuges quanto ao uso das referidas técnicas de

reprodução humana assistida, não necessitando do envolvimento do judiciário em questões

simples, visto que é de responsabilidade das clínicas que manipulam as referidas técnicas a de

tomar todas as medidas cabíveis e recolhimentos de todas as informações pertinentes junto ao

casal.

4.1 ABORDAGEM GERAL

No contexto atual podemos verificar, como falamos nos itens anteriores do referido

trabalho, uma evolução na chamada biotecnologia, principalmente no que se refere as técnicas

de reprodução humana, anteriormente não conhecidas a época do Código Civil de 1916, como

também na época em que se estava estudando as novas mudanças do atual Código Civil que

se iniciou em meados do ano de 1960.

Advirta-se, de plano, que o Código de2002 não autoriza nem regulamenta a

reprodução assistida, mas apenas constata lacunosamente a existência da

problemática e procura dar solução ao aspecto da paternidade. Toda essa matéria,

que é cada vez mais ampla e complexa, deve ser regulada por lei específica, por um

estatuto ou microssistema. [...]. Relegar temas tão importantes aos tribunais acarreta

desnecessária instabilidade social (VENOSA, 2013, p. 240).

Dessa forma, quando nos remetemos a data da modificação do atual Código Civil

nos deparamos com uma questão tão complexa que mesmo com as devidas atualizações não

veio no referido código menção para a solução prática dos problemas decorrentes dessa

natureza, visto que podemos destacar que o mesmo autoriza a presunção de paternidade como

dos filhos decorridos da técnica da reprodução assistida, lançando-nos a estudar uma melhor

solução para a possibilidade de uma vocação hereditária.

Sabido é que a transmissão da herança ocorre com a morte através do processo de

inventário no momento da abertura da sucessão, onde podemos legitimar de forma concisa

quem são os herdeiros para receber seu quinhão por direito, mas o Código Civil de 2002, além

de trazer bastante inovação dentro de suas leis, uma em especial que chama a atenção é o art.

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1798 determinando de forma precisa que podem “legitimar-se a suceder as pessoas nascidas

ou já concebidas no momento da abertura da sucessão” (BRASIL, 2002).

Embora não mais sejam feitas distinções acerca da origem da filiação, não fosse

pelas repercussões patrimoniais, a condição de filiação legítima possui elevado

conteúdo de ordem moral. Daí porque sempre persistirá o interesse de sua

conceituação e definição jurídica. O presente Código coloca essa ação na

titularidade do filho, para provar sua filiação, sem mais se reportar à filiação

legítima. Qualquer que seja a situação da filiação, o filho terá legitimidade para

buscar sua certeza, por via judicial (art. 1.606). (VENOSA, 2013, p. 248)

Portanto, como ressaltamos inicialmente, o atual Código Civil começou a ser

elaborado em 1960, período este que não se imaginava a possibilidade da reprodução

medicamente assistida in vitro, fazendo com que o planejamento familiar se modifique a certo

modo que os prazos tornem-se indefinidos para a gestação de uma futura criança, gerando

com isso complicações no âmbito do direito sucessório devido a possíveis incertezas quanto a

inclusão de filhos póstumos gerados através do embrião ou sêmen do falecido.

4.2 SUCESSÃO E LEGITIMIDADE DO FILHO HAVIDO DA IA POST MORTEM

Diversas são as opiniões doutrinárias a respeito do assunto a respeito da questão de

quem é legitimado a sucessão quando se trata de um filho havido da inseminação artificial

post mortem, valendo aqui destacar alguns autores como, Albuquerque Filho (2006), Venosa

(2013), Diniz (2006, apud BERALDO, 2012), como tantos outros, e nas palavras de Venosa

(2006, apud BERALDO 2012), para os filhos havidos neste tipo de reprodução devem ser

regidos através de normas específicas para que confusão não haja no momento da sucessão:

Os filhos concebidos post mortem, sob qualquer técnica, não serão herdeiros. O

Atual Código abre uma válvula restrita para essa hipótese, permitindo que

unicamente na sucessão testamentária possam ser chamados a suceder o filho

esperado de pessoa indicada, mas não concebido, aguardando-se até dois anos sua

concepção e nascimento após a abertura da sucessão, com a reserva de bens da

herança (arts. 1799, I e 1.800) (VENOSA, 2006, apud BERALDO, 2012, p. 115).

Vem nesta mesma vertente a opinião de Diniz (2014), pois por ainda não possuir

legitimidade para entrar na sucessão, visto que não se encontra concebido e já foi dado o óbito

de um dos genitores, afastando assim a sucessão legítima, ou seja, para que o futuro nascituro

possa vir a receber os bens através da sucessão, o mesmo já precisa estar implantado no ventre

feminino.

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Não há como aplicar a presunção de paternidade, uma vez que o casamento se

extingue com a morte, nem como conferir direitos sucessórios ao que nascer por

inseminação post mortem, já que não estava gerado por ocasião da morte de seu pai

genético (DINIZ, 2014, p. 558).

Podemos verificar inicialmente que, para muitos doutrinadores, para que o futuro

nascituro venha a ter direito na partilha dos bens, que o futuro sucessor já esteja concebido no

ventre materno, até mesmo embrião in vitro, mesmo que excedentário, antes da abertura do

mesmo, visto que o mesmo já estaria concebido.

Ao se falar em embriões excedentários, mesmo que o mesmo não esteja implantado

no útero feminino, in nido, verifica-se que o mesmo já pode ser qualificado como embrião

pois o mesmo já se encontra concebido, fazendo jus ao direito de entrar na partilha da

herança, porém este mesmo fator acarreta outros problemas que serão vistos posteriormente,

como a exemplo do tempo que levará a gestação com a abertura da sucessão e partilha dos

bens, como podemos verificar no art. 1.597 do Código Civil (BRASIL, 2002).

Esses dispositivos, únicos no Código, cuidam dos filhos nascidos do que se

convencionou denominar fertilização assistida. O Código enfoca, portanto, a

possibilidade de nascimento de filho ainda após a morte do pai ou da mãe, no caso

de fecundação homóloga e de embriões excedentários como veremos. (...). Advirta-

se, de plano, que o Código de 2002 não autoriza nem regulamenta a reprodução

assistida, mas apenas constata lacunosamente a existência da problemática e procura

dar solução ao aspecto da paternidade (VENOSA, 2013, p. 240).

Sabe-se que é proibida a diferenciação entre os filhos no âmbito civil-constitucional

o que vem reforçar o Enunciado de no 267 do Conselho da Justiça Federal, elaborado na III

Jornada de Direito Civil, estatuindo que a regra do art. 1798 do Código Civil deve ser

estendida aos embriões formados mediante o uso das técnicas de reprodução assistida,

abrangendo, assim, a vocação hereditária da pessoa humana a nascer cujos efeitos

patrimoniais se submetem às regras previstas para a petição de herança.

4.3 APROFUNDAMENTO AO ART. 1.798 DO CÓDIGO CIVIL

Ao se verificar o item anterior, podemos verificar que podem ser legitimados a

suceder a pessoa já concebida (nascituro) ou nascida no ato da abertura da sucessão, porém

problema se fará conquanto a questão do direito de se fazer parte da herança visto que já não

mais existe o vínculo conjugal, pois com a morte tudo encerra, a não ser quando nos

deparemos em um cenário de sucessão testamentária e fideicomisso, que serão estudados

oportunamente.

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Porém ao analisar o artigo 1.798 do Código Civil que afirma que “legitima-se a

suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão”, este não

deve ser compreendido de forma isolada mais sim em conjunto com o art. 1.597 do Código

Civil, visto que, a presunção de paternidade poderá existir, mesmo que falecido o cônjuge,

pois a mulher poderá utilizar o sêmen do marido, quando esta possuir autorização por todos os

meios legais (BRASIL, 2002).

Melhor entendimento encontramos nas explicações de Barbosa (2004, apud

BERALDO 2012, p. 123) que aduz que “a presunção consiste, pois, em considerar como

concebido nas constância do casamento mesmo o filho que se sabe concebido quando já

extinto o vínculo conjugal, em razão da morte do marido”.

Art. 58. Todas as pessoas nascidas com a utilização de técnicas de reprodução

humana assistida terão os mesmos direitos e deveres garantidos ao filho concebido

naturalmente, nos termos do artigo 227, § 6.º da Constituição Federal de 1988, sendo

vedada qualquer forma de discriminação (BRASIL, 2015).

Portanto, o disposto no PL nº 115 de 2015 analisando a possível questão no âmbito

Constitucional, verificamos que os seus princípios devem ser observados juntamente com as

regras do Código Civil, pois as garantias hereditárias são dispostas no art. 5o , XXX, da

Constituição Federal (BRASIL, 1988), constituindo assim uma ordem civil-constitucional

jurídica com o escopo de definir parâmetros interpretativos que harmonizem as referidas

questões, pois a época da construção do Código Civil de 2002 ainda não se falava com tanta

profundidade as transformações biotecnológicas ocorridas atualmente.

Muito se fala da questão da diferenciação do sêmen e do embrião, visto que o art. 1798

do Código Civil prevê que já deve existir a concepção há época da morte, dirimindo desta

feita qualquer dúvida, visto que analisando bem o referido artigo temos que o sêmen é apenas,

seja ele feminino ou masculino, o material genético não concebido, contanto não

vislumbramos ai a concepção de fato, já os embriões excedentários já encontram-se

concebidos, mesmo que in vitro, podendo assim fazer parte das questões de partilha e

sucessão se assim o de cujus solicitou obedecendo todos as meios legais para que as técnicas

ocorressem (BRASIL, 2002).

Portanto quando vem o referido artigo falar que legitimam-se a suceder pessoas já

concebidas no momento da abertura da sucessão, data vênia, estender o prazo do inventário

para que a mãe, num processo de orientação e racionalização mais profundo, venha a decidir

se realmente vai querer continuar com o planejamento familiar, questão essa que deve ser

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dirimida quanto ao tempo que se deve definir para que tal decisão seja tomada, visto que não

se adiante e se eternize as questões sucessórias e cujos herdeiros possam garantir a segurança

jurídica na referida sucessão.

4.4 A ABERTURA DA SUCESSÃO E O PRAZO PARA IMPLANTAÇÃO DO EMBRIÃO

IN NIDO

Como reportado acima, a grande problemática é a questão da sucessão no que diz

respeito ao tempo que levará para findar o prazo da sucessão nas questões da reprodução

humana assistida post mortem, visto que a legitimidade do futuro nascituro apenas poderá ser

definida se o mesmo nascer com vida e dentro do prazo, que seria o ideal o de três anos como

dispõe a Lei de Biossegurança, Lei no 11.105/05, tendo sua constitucionalidade firmada pelo

Supremo Tribunal Federal – STF (BRASIL, 2005).

Quando nos reportamos ao tempo para que o embrião excedentário in vitro possa ser

implantado não vislumbramos no direito civil normas que venham regular tais medidas,

trazendo desta feita dificuldades impares quanto a questões de ordem prática, pois, devido ao

avanço biotecnológico, o embrião poderá passar anos congelado, onde encontramos exemplos

e embriões preservados de 8, 15 e até 22 anos (FOLHA, 2009).

Esse tempo tornaria a sucessão um martírio eterno para pessoas legitimadas a

suceder, posto que a expectativa por uma provável prole pode ser maléfica no que diz respeito

a ordem jurídica, já que o embrião pode ficar preservado por muito tempo. Leite (2004)

afirma que questões duvidosas existem quanto ao inciso III do art. 1.597 do Código Civil,

pois prazo viável deveria ser fixado para que a genitora viesse a tomar sua definitiva sugestão.

Assim como no parágrafo 4o do art. 1.800 o legislador tomou a cautela de

estabelecer um prazo, a partir do qual os bens reservados (a legítima) retornarão aos

herdeiros legítimos, de forma a evitar a duração perigosa de um estado condominal

não desejado pelo legislador, igualmente, a matéria das inseminações artificiais

homólogas precisa se submeter a lapso temporal definido, sob o risco de se

fomentarem situações indesejadas de indefinição (LEITE, 2004, apud BERALDO

2012, p. 128).

Embora não haja um prazo específico para o implante do embrião no útero feminino,

enxergamos desde já a necessidade da aprovação de uma norma mais específica sobre o

referido tema, visto que o intuito é não prolongar por anos as questões sucessórias, razão pela

qual não é de se acreditar que um projeto familiar possa perdurar longos anos após a morte do

cônjuge, visto que, se houver a possibilidade de um interesse em dar continuidade ao referido

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projeto, e se todas as diretrizes legais foram tomadas, nada mais prudente em que seja tomada

de imediato logo a decisão em dar a luz a esta criança já planejada, sendo assim mais coerente

estipular um prazo para o devido projeto parental.

Podemos observar nas palavras do autor descrito abaixo, que na hora em que o casal

decide deixar seu material genético em uma clínica de reprodução, nada mais viável do que

apresentar também sua vontade em querer ou não dar continuidade ao projeto familiar,

fixando desde já um prazo para que a genitora possa usar seu embrião, ou seja:

Caberia ao autor da sucessão quando manifestou a sua vontade por documento

autêntico ou por testamento fixar o prazo de espera do nascimento dos filhos, o qual

não deve ultrapassar os dois anos previstos para a concepção da prole eventual de

terceiro, ou, não havendo prazo previamente estabelecido aplicar-se, por analogia, o

prazo constante do art. 1.800, § 4o, do Código Civil, ou seja, de dois anos a contar da

abertura da sucessão (ALBUQUERQUE FILHO, 2006, p. 21)3.

Muitas são as opiniões ofertadas na questão do tempo no que diz respeito a questão

da referida tomada de decisão por parte da futura genitora onde uns defendem o prazo de dois

anos, que é o caso de Barbosa (1993, apud BERALDO 2012), outros já defendem o prazo de

três anos, como Scalquete (2010, p. 214-215), devido a Lei da Biossegurança, citado também

acima, porém, certo é que o prazo de dois ou três anos já é tempo suficiente para que os

genitores possam refletir e tomar suma decisão.

Como relata Beraldo (2012) Temos o exemplo de países como a Espanha e a

Bélgica, sendo neste o prazo a partir dos seis meses até dois anos da morte do de cujus para

que esta decisão seja tomada e naquele o prazo de estende até doze meses após o falecimento

do cônjuge ou companheiro, em ambos os países deve haver prévio consentimento expresso

do marido, ou seja, o referido lapso temporal deveria mais acertadamente ser regido por uma

lei específica, que também venha a dar um direcionamento maior quanto ao referido tema,

visto que os projetos de lei aqui existentes não tomaram ainda seu devido rumo, quais são o

PL no 7701/2010, que trata das sanções e o PL nº 115 de 2015, que estabelece um período de

tempo para a implantação do embrião in nido:

A deliberação do casal sobre a criopreservação de gametas está prevista na

Resolução n. 1.358/92, do Conselho Federal de Medicina, onde no item V.1. consta

que as clínicas, centros ou serviços podem criopreservar espermatozóides, óvulos e

pré-embriões, além disso no momento da criopreservação, ou cônjuges ou

3 Embora não seja uma publicação recente, conforme exigência para elaboração do TCC, essa obra foi citada em

razão de seu modo objetivo de situar a questão, estando dessa forma mantendo um nexo com a argumentação

desenvolvida nesse estudo. Além do mais não foi encontrada publicação sobre essa temática atualizada do citado

autor.

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companheiros devem expressar sua vontade, por escrito, quanto ao destino que será

dado aos pré-embriões criopreservados, em caso de divórcio, doenças graves ou de

falecimento de um deles ou de ambos, e quando desejam doá-los.(ALBUQUERQUE

FILHO, 2006, p. 8)

Como já mencionado por diversos doutrinadores, mais prudente seria, pelos

legisladores, a implantação de uma norma que viesse a regular a referida matéria, dirimindo

problemas controversos na ordem jurídica, estipulando desde então um prazo razoável para

que esta decisão fosse tomada, e que não viesse a prejudicar os direitos da futuro filho,

impedindo desta feita o prolongamento da situação quanto a sucessão dos bens deixado pelo

de cujos, evitando assim o desamparo legal e patrimonial perante o nascituro e seus irmãos.

4.5 GARANTIAS HEREDITÁRIAS

Observando o dispositivo Constitucional, sendo mais preciso o art. 5o, inciso XXX,

que diz respeito ao direito fundamental à herança, em conjunto com o art. 227, § 6o, do

mesmo diploma legal, que dispõe a respeito da igualdade entre os filhos, é de se observar que

a questão da sucessão em relação aos filhos póstumos gerados através das técnicas de IA logo

após o falecimento de um dos cônjuges, continua e continuará a ser bastante discutida devido

a sua complexidade, portanto, mesmo que este filho venha a nascer, várias são as maneiras de

garantir sua quota parte quanto a sucessão dos bens, nos remetendo neste momento a uma

breve análise quanto a sucessão testamentária e a sucessão legítima (BRASIL, 1988).

4.5.1 Sucessão Testamentária

Quando ouvimos falar em testamento, vem logo em nossa mente um documento

formal escrito, dispondo dos últimos desejos do testador da herança, podendo ele decidir

sobre qual direcionamento se dará aos seus bens, podendo, se assim for o seu desejo, dispor

de parte de seus bens para qualquer pessoa, usando dois institutos dispostos no Código Civil

que é o da prole eventual e da substituição fideicomissária.

Quando da morte verifica-se quais são as pessoas que têm capacidade para suceder

naquela herança. Tal capacidade é um direito concreto que pressupõe capacidade

geral, para todos os direitos e obrigações. Segundo o art. 1. 798 do Código de 2002,

[...]. No caso de herdeiros ainda não concebidos, os bens da herança serão confiados,

após a partilha, a curador nomeado pelo juiz (art. 1.800). Se, após dois anos

contados da abertura da sucessão, não nascer o herdeiro esperado, os bens

reservados caberão aos herdeiros legítimos, salvo disposição em sentido diverso

feita pelo testador (an. 1.800, § 4°). Nesse caso, resolve-se a disposição

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testamentária. Essa questão prende-se diretamente às inseminações artificiais e

fertilização assistida em geral, quando seres humanos podem ser gerados após a

morte dos pais. [...] (VENOSA, 2013, p. 52).

Ao observar o que dispões o autor supracitado acima, analisamos que nenhuma

dúvida nos faz pensar quanto à disposição da indicação da prole eventual em seu testamento,

seguindo assim a vertente majoritária no que se refere a determinado assunto, como é o caso

de Albuquerque Filho (2006) que afirma que possível se faz a indicação de prole eventual

própria.

Entendemos que os efeitos sucessórios da inseminação post mortem são amplos não

se restringindo à sucessão testamentária, pois se é certo que o falecido poderá

chamar a suceder, por testamento, a prole eventual de terceiros, nos termos do artigo

1.799, inciso I, do Código Civil, poderá, igualmente, beneficiar a sua própria prole

eventual, inclusive estabelecendo se a deixa testamentária saíra da sua parte

disponível ou se constitui adiantamento da legítima, com necessidade de colação”

(ALBUQUERQUE FILHO, 2006, p. 20).

Portanto, para se garantir o direito a sucessão na herança dos filhos que serão

concebidos através da inseminação artificial post mortem, vem ser o testamento o melhor

meio de se garantir e proteger tal direito, dispondo assim o de cujus em prol de sua prole

futura, como elencado no artigo acima citado, estabelecendo uma condição ao que aduz a

respeito ao direito sucessório, sendo este um evento futuro e incerto.

Ao nos depararmos com o art. 1.814 e 1.962, ambos do Código Civil, é observado

que não existe motivo de afastamento dos herdeiros da prole eventual em caso de não

cumprimento do prazo bienal, restando caduco o referido testamento, porém nada impede que

o mesmo venha a ter seu direito à sucessão legítima, caso que será avaliado mais adiante

(Brasil, 2002).

Portanto mesmo que o art. 1.798 do Código Civil, apenas tenha mencionado a

questão da sucessão testamentária, não incluindo uma excessão ao não cumprimento do prazo,

o futuro concepturo pode vir a fazer parte da sucessão legítima e até mesmo nomear

substituto, havendo assim a eficácia da disposição testamentária, procedendo-se assim a

nomeação de um curador, nomeado pelo juiz de acordo com o que aduz o art. 1.800, caput, do

Código Civil, quando na falta de curador específico indicado pelo testador, obedecendo as

regras elencadas no art. 1.775 do Código Civil, quanto a nomeação para curatela de incapaz

(BRASIL, 2002).

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A prole eventual nos casos da inseminação artificial homologa post mortem não

deixa de ser uma regra válida para a segurança sucessória e patrimonial do futuro concepturo,

não esgotando ainda os recursos para adquirir tal direito, donde ainda pode ser usado o

instituto da substituição fideicomissária e a petição de herança, que, aduzindo Beraldo (2012,

p. 149) que, fideicomisso nada mais é do que “um recurso para o autor da herança beneficiar

pessoa ainda não nascida ao tempo da abertura da sucessão, protegendo desde já a reserva

patrimonial do filho póstumo”, sendo este recurso um dos meios de segurança que torna a

vontade do testador válida, sendo regulado pelo art. 1.591 a 1.960 do Código Civil.

Art. 1.951. Pode o testador instituir herdeiros ou legatários, estabelecendo que, por

ocasião de sua morte, a herança ou o legado se transmita ao fiduciário, resolvendo-

se o direito deste, por sua morte, a certo tempo ou sob certa condição, em favor de

outrem, que se qualifica de fideicomissário (BRASIL, 2002).

Para que seja melhor entendia a questão do fideicomisso, vamos aqui destacar breves

palavras acerca deste instituto, destacando que fiduciário (gravado) é o denominado primeiro

herdeiro ou legatário, que apenas na sua morte terá seu legado resolvido através da

transmissão de sua herança a outra pessoa instituída, ou seja o fideicomissário, entendendo

desta feita que a referida instituição deverá obedecer a alguns modos de transmissão, quais

são a causa mortis, que deve ser em um determinado tempo e sob uma condição imposta.

No fideicomisso, não há propriamente uma substituição. Existe uma disposição

testamentária complexa por meio da qual o testador institui alguém, por certo tempo

ou condição, ou até sua morte, seu herdeiro ou legatário, o qual recebe bens em

propriedade resolúvel, denominado fiduciário, para que, com o implemento da

condição, advento do termo ou de sua morte, passe os bens a outro nomeado, o

fideicomissário (VENOSA, 2013, p. 304).

Necessário faz destacar aqui a regra instituída no art. 1.952 e seu parágrafo único do

referido código aduz que a regra da instituição fideicomissária apenas será instituída em favor

dos não concebidos ao tempo da morte do testador ou fiduciário, destacando ainda em seu

parágrafo único que se já nascido o fideicomissário ao tempo da morte do testador, aquele

tornando-se usufrutuário (BRASIL, 2002).

Vale aqui salientar que o instituto do fideicomisso não estabelece também o prazo

para que o embrião seja implantado no ventre feminino, restando aqui ressaltar a importância

de impor através de normas específicas prazos para que os embriões venham a ser

implantados nos casos em que a genitora utilize os procedimentos da reprodução humana

assistida post mortem, enfatizando assim a não eternização das situação sucessórias.

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Como mencionamos, o Código de 2002 mantém o instituto (arts. 1.951 a 1. 960),

com restrição de seu alcance. A substituição fideicomissária ficou circunscrita tão

somente aos fideicomissários ainda não concebidos à época da morte do testador.

Se, quando da morte do de cujus, já houver nascido o fideicomissário, este adquire a

nua-propriedade dos bens fideicomitidos, enquanto o direito do fiduciário converter-

se-á em usufruto (VENOSA, 2013, p.306).

Como a questão ainda é muito controversa e polêmica em relação aos doutrinadores,

se faz necessário pontuar que o fideicomisso torna-se mais um instituto viável de se garantir a

os bens ao futuro filho gerado por meio da inseminação artificial homologa post mortem, que

deve ter como regra basilar para adquirir a garantia na sucessão dos bens através do

fideicomisso, o seu nascimento com vida, para que as regras aqui estabelecidas tomem

validade.

Assim, para que não reste dúvida, no instituto da prole eventual, o prazo estipulado

para que a venha a ser concebida a criança é de dois anos contados do início da abertura da

sucessão, onde não havendo obediência ocorrerá a caducidade do testamento, tornando-se

assim herdeiro legatário, fazendo jus a herança através da sucessão legítima. Ao que

corresponde a substituição fideicomissária, entendemos que as regras a ele utilizadas devem

ser as mesma ou similar as da prole eventual, porém devendo sempre ser observado o que

vem ressaltar o testador quanto ao tempo, condição ou falecimento do fiduciário.

Portanto, esclarecido fica que nos dois institutos, tanto o da prole eventual como o da

substituição fideicomissária, e caso não sejam atendidas as suas condições impostas pelo

testador, deixa o filho, havido por inseminação artificial na situação post mortem, de ser um

herdeiro testamentário passando a vigorar como herdeiro legítimo, adquirindo assim os

mesmos direitos dos seus irmãos, enfatizando ainda que esses institutos não são os únicos

meios de se dar garantia ao direito sucessório dos filhos havidos por inseminação artificial

homologa post mortem, posto que verificaremos adiante mais algumas formas protetivas de

garantias hereditárias.

4.5.2 Sucessão Legítima

Temos por capacidade sucessória daquele filho póstumo havido após o falecimento

do genitor através das técnicas de reprodução assistida o direito de participar da legítima em

caso de não obediência as regras estabelecidas na sucessão testamentária, como disposto no

item anterior, chegando aqui a um ponto crucial, onde determinaremos as questões da

sucessão legítima e da petição de herança. Certo é que, para que o futuro concepturo venha a

ter direitos perante o legado deixado pelo de cujus, condições determinantes se fazem estar

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presentes, como já estar concebido no momento da abertura da sucessão e ao tempo da morte

do testador, e principalmente, que este venha a nascer com vida.

Podemos fazer aqui desde já a uma analogia daqueles herdeiros não reconhecidos em

vida por seu genitor, o mesmo poderá entrar com uma petição de herança, como previsto no

art. 1.824 do Código Civil, cumulada com investigação de paternidade para que suas garantias

hereditárias e patrimoniais se façam valer, e de forma similar podemos igualar aos filhos

nascidos após a partilha dos bens, visto que, mais sensato seria partilhar os bens com os

herdeiros existentes no momento da abertura da sucessão, e caso haja nascimento de algum

filho póstumo que fora concebido no momento da partilha o mesmo poderá usar do instituto

aqui citado.

Observamos que o artigo acima é bem taxativo, no que tange ao direito do herdeiro

quanto a utilização do instituto da petição de herança, pois sendo reconhecido o vínculo entre

os mesmos, deve ele ingressar com a devida ação para ter seus direitos garantidos, obtendo

assim a qualidade de herdeiro perante os demais herdeiros e até mesmo perante aqueles que

nesta qualidade não se inclua, que no caso da inseminação artificial post mortem, técnica cada

vez mais usual no Brasil, o Enunciado 267 do Conselho Federal de Justiça (BRASIL, 2016).

Pode ocorrer, que herdeiros não sejam relacionados e não sejam trazidos ao

inventário e à partilha por uma série de razões. Na situação, não se reconhece a

pessoa sua condição jurídica de herdeiro. Um filho do autor da herança, por

exemplo, que não tenha sido reconhecido, (...) ocorrendo resistência dos

interessados em admiti-los como herdeiro. Da mesma forma pode ser descoberto um

testamento do qual não se tinha notícia, instituindo herdeiro até então desconhecido.

Ao obstado dessa forma de concorrer à herança, portanto, cabe recorrer à contenda

judicial para a definição de sua condição de herdeiro e, consequentemente, obter a

parcela que lhe cabe na universalidade (VENOSA, 2013, p. 112).

Desta feita, mais importante é garantir a igualdade dos direitos dos filhos do mesmo

genitor, mesmo que na constância do casamento ou fora dele, independente de vínculo civil,

sejam eles por adoção, por inseminação heteróloga, ou até mesmo natural, devendo desde

então que o filho venha a comprovar o status de filho.

Ocorrendo o reconhecimento da paternidade e o transito em julgado da ação em

sentido positivo ao autor da mesma, ocorrera de imediato a nulidade da partilha já ocorrida

anteriormente, tendo esta ação como efeito a restituição por parte do(s) réu(s) os bens ou parte

dos bens a ele(s) partilhado(s), que de acordo com Venosa (2011, p. 113), “o conhecimento

pelo possuidor da condição de herdeiro do reinvidicante será o divisor de águas da boa ou má-

fé”, com isto podemos verificar que, a partir do momento em que se tem noção de herdeiro e

houve negação a restituição da parte da herança, estabelecerá desde então a má-fé do

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possuidor, e que responderá a todos os encargos e moras que a lei disporá caindo por ele a

responsabilidade civil.

Tema importante nos faz necessário esclarecer quanto ao prazo prescricional para

que seja intentada a devida ação, sendo ele bastante polêmico entre os doutrinadores, porém

posições perante o Supremo Tribunal Federal já foram reconhecidas, no que estabelece a

Súmula no 149 do STF que diz ser imprescritível a ação de investigação de paternidade porém

não o é a ação de petição de herança.

Como estamos falando aqui de direitos de natureza patrimonial referente a filiação, e

para que seja dado maior segurança jurídica quanto aos herdeiros legítimos, tomou-se como

regra o disposto no art. 205 do Código Civil, que é considerada como uma cláusula geral

sobre a prescrição pelo fato de fato específico não conter prazo pré-definido, prevendo desta

feita o prazo de 10 anos para intentar com a devida ação a partir do momento da abertura da

sucessão, entendimento este da doutrina majoritária, como bem esclarece Fria ( 2007, p. 45,

apud BERALDO, 2012, p. 182):

Em razão do princípio da transmissão imediata ou princípio de Saisine (art. 1.784,

CC), aberta a sucessão, com a morte do titular, transfere-se o patrimônio desde logo,

opso iure, para os seus herdeiros, independente de qualquer manifestação de volitiva

deles, formando um condomínio que somente será dissolvido com o trânsito em

julgado da partilha. É a chamada devolução hereditária.

Ponto conflituoso na doutrina, que evidencia que somente quando ocorrer o

nascimento com vida do futuro herdeiro é que podemos constatar sua qualidade como

herdeiro e futuro sucessor do inventário, motivo este de fator negativo no que se refere a

questão da inseminação artificial post mortem, pelo fato de que como não há legislação

específica determinado um intervalo temporal para que o embrião seja implantado na

genitora, esta situação poderá se prolongar por anos.

Portanto, várias serão as dificuldade encontradas quanto a realização da distribuição

dos bens na prática, principalmente pelo motivo do princípio da igualdade entre os filhos,

pontuando alguns doutrinadores que a forma mais específica e mais acessível de se garantir os

direitos patrimoniais do futuro concepturo e que atende as orientações constitucionais seria a

intenção da ação de petição de herança, sendo este instituto a via mais comum, porém em

consequência poderá causar alguns transtornos.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A importância do referido tema vem trazer fatos relevantes ao direito atual, pois não

é observado no Brasil, matéria que regularize tal situação, visto que a legislação não proíbe e

em contrapartida não dá diretrizes concretas a efetivação de tal prática, dirigindo-se apenas, as

Clinicas de Reprodução, as normas que o Conselho Federal de Medicina orientou, onde a

elaboração de tais preceitos jurídicos, para que não haja incessantes debates entre a Ética,

Moralidade e Legislação no Brasil, pois, como não há uma matéria delimitando tais preceitos,

e apenas normas esparsas de conteúdo não esclarecedor, ficam as clínicas de inseminação

coibidas de delinearem sobre assunto de importantíssima relevância através de sua resolução.

A realidade aqui desenvolvida neste estudo não servirá apenas para orientar os

parâmetros éticos dentro da inseminação póstuma, mas também tentar trazer esclarecimentos

importantes quanto ao direito sucessório, visto que a legislação brasileira é paupérrima quanto

ao estudo desta matéria, pois, quando se fala em herança, é preciso que haja um limite

temporal, visto que o desejo de conceber um filho tanto pela mãe, como também pelo pai,

pode vir a ser concretizado após a finalização do inventário, situação esta, que traria uma

gama de consequências que levariam anos no judiciário para serem resolvidas.

A realidade quanto a busca das referidas técnicas de reprodução humana assistida

nos faz remeter a problemas emergenciais de ordem prática na busca da segurança jurídica

para os herdeiros legítimos e na busca de qualificação de herdeiro como a guarda de sua

diginidade como pessoa humana e tomador igualitário dos bens patrimoniais por direito, em

via de regra não haver regras ou normas que venham a orientar e direcionar as referidas

técnicas de reprodução, principalmente no que concerne a sua aplicação post mortem, torna o

direito inseguro e incerto, levando a ordem do judiciário a tomada de decisões.

Tem o direito civil o dever de regular tal matéria, pois é o que regulamenta como se

dá a transmissão do patrimônio após a morte, porém como observado, não veio o Código

Civil a evoluir juntamente com as revoluções biotecnológicas, encontrando assim permissões

e conflitos entre normas, mesmo com as decisões ocorridas no judiciário quanto a referida

matéria, onde observamos maior preocupação deste poder quanto aos filhos havidos por

inseminação artificial post mortem, pois seus julgados são regidos por princípios

constitucionais que devem ser seguidos, quais são o da dignidade da pessoa humana e da

igualdade entre os filhos, todos bem explícitos na Constituição Federal de 1988.

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COMPLEXITY OF SUCCESSIVE TRANSMISSION IN HUMAN REPRODUCTION

ASSISTED "POST MORTEM"

ABSTRACT

The present study is based on the problematic between the rights already existing with the

opening of the inventory and the rights of the new being that will arise, a duality that is

shocked both by the fact given by the civil code and federal constitution and the rights already

after the death of the spouse, permeating in several conceptual spheres such as the dignity of

the human person, legal security and the dream of raising a child. We have the knowledge that

the general principles of the family are protected within the constitutional norms, but the

future unborn child of the case in question does not have in concrete form any type of tutelage

in the face of this dubious and indefinite matter within the inheritance law, implies conflicts in

both norms and legal doctrines, because the biotechnological advances in our society, makes

us launch new studies about such a new area, since, the moment of the decision to generate a

child of a deceased parent, through of assisted human reproduction, can generate several

conflicts with respect to this aspect, a moment that the legal sciences must seek to innovate to

maintain a balance to possible conflicts that arise. There is a lacunar issue when dealing with

a relevant issue, mainly within the Brazilian civil code, since it does not present in a concise

manner what are the rights related to the children born within this germinative process, thus

requiring a greater clarification in the case under analysis.

KEYWORDS: Unborn. Affection. Dignity of human person. Succession Law. Parental

Responsibility.

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fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e

seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, reestrutura a Comissão

Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional de

Biossegurança – PNB, revoga a Lei no 8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a Medida Provisória

no 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os arts. 5o, 6o, 7o, 8o, 9o, 10 e 16 da Lei no10.814, de 15

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