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FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
BRUNO DIAS DE ARAUJO SOUZA
A PREVALÊNCIA DO NEGOCIADO SOBRE O LEGISLADO NO PROJETO DE LEI
Nº 6.787/16
CABEDELO - PB 2017
BRUNO DIAS DE ARAUJO SOUZA
A PREVALÊNCIA DO NEGOCIADO SOBRE O LEGISLADO NO PROJETO DE LEI
Nº 6.787/16
Trabalho de Conclusão de Curso em forma de artigo científico apresentado à Coordenação do Curso de Bacharelado em Direito, pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP, como requisito parcial para a obtenção de título de bacharel em direito. Área: Direito do Trabalho Orientadora: Profª Ms. Karina Pinto Brasileiro
CABEDELO - PB 2017
BRUNO DIAS DE ARAUJO SOUZA A PREVALÊNCIA DO NEGOCIADO SOBRE O LEGISLADO NO PROJETO DE LEI
Nº 6.787/16
Artigo Científico apresentado à banca examinadora da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP, como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.
APROVADO EM ____/_______2017
BANCA EXAMINADORA
________________________________ Profª Ms. Karina Pinto Brasileiro
ORIENTADORA – FESP
________________________________ Prof. Esp. Ricardo Berilo Bezerra Borba
MEMBRO – FESP
________________________________ Prof. Ms. Rafael Pontes Vital
MEMBRO - FESP
Ao meu Deus e à minha família, pelo apoio e fortalecimento no decorrer da jornada.
Dedico
AGRADECIMENTOS
Ao nosso Deus, pela força e garra que Ele me concedeu nessa dura jornada
rumo ao sucesso.
Aos meus pais, Dayse e William, que foram essenciais para a minha
formação profissional e moral.
A minha esposa Maria, que sempre me apoiou e com paciência me ajudou a
chegar até o fim.
A minha orientadora, Profª Karina Brasileiro, pela paciência, dedicação e
interesse, efetuando o melhor desempenho nesse trabalho.
Ao meu avô, Ribamar, que muito contribuiu para minha formação e instrução
acadêmica.
A todos os professores da FESP Faculdade, que se esforçaram
compartilhando seu conhecimento, ajudando no crescimento dos meus
conhecimentos.
Enfim, a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização
desse sonho que ora se concretiza com a construção deste TCC.
A justiça tem numa das mãos a balança em que pesa o direito, e na outra a espada de que se serve para o defender. A espada sem a balança é a força brutal, a balança sem a espada é a impotência do direito.
Ihering (1818 a 1892
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL............. 11
3 A PREVALÊNCIA DO NEGOCIADO SOBRE O LEGISLADO E AS
JUSTIFICATIVAS DO GOVERNO. ........................................................................... 13
4 DA VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO ................... 15
4.1 DA VEDAÇÃO AO RETROCESSO SOCIAL ...................................................... 15
4.2 DA PROTEÇÃO AO TRABALHADOR ............................................................... 16
4.3 DA NORMA MAIS FAVORÁVEL ........................................................................ 17
4.4 DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ........................................................... 18
5 DA INTERVENÇÃO MÍNIMA NA AUTONOMIA DA VONTADE COLETIVA .... 19
6 DA INADMISSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DO ARTIGO 611-A .......................... 21
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 22
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 24
9
*Graduando em direito pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba (FESP), semestre 2017.1, e-mail: [email protected]. ** Mestre em Direito e Desenvolvimento Sustentável pelo Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ) Especialista em Direito Público pela Universidade Anhanguera – Uniderp. Advogada. Professora de Sociologia Geral e Antropologia e de Direito Processual do Trabalho da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba (FESP). Professora de Pós-graduação de Direito Administrativo e Gestão Pública das Faculdades Integradas de Patos (FIP).
A PREVALÊNCIA DO NEGOCIADO SOBRE O LEGISLADO NO PROJETO DE LEI
Nº 6.787/16
BRUNO DIAS DE ARAUJO SOUZA* KARINA PINTO BRASILEIRO**
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo geral analisar os motivos que levaram o atual governo de Michel Temer a propor o Projeto de Lei nº 6.787/16, sobretudo no que tange à possibilidade de o negociado se sobrepor ao legislado, destrinchando a constitucionalidade dessa medida e observando ainda os princípios que regem o direito do trabalho. Trata-se de um estudo de natureza teórica, elaborado com base na metodologia aplicada à pesquisa bibliográfica, doutrinária e histórica, buscando esclarecer que a proposta apresentada não produz benefícios à classe trabalhadora, apenas permitindo a redução de direitos dos obreiros por via negocial, cujo real propósito beneficia tão somente a classe patronal, já que permite a redução dos gastos com os encargos trabalhistas. Este estudo objetiva também esclarecer que a medida se trata de um grande retrocesso social, pois, caso sancionada, abrirá um forte precedente para que outros direitos sociais garantidos aos trabalhadores venham a ser derrubados em um futuro não muito distante, prevalecendo mais uma vez o capital sobre os valores humanos. PALAVRAS CHAVE: Reforma Trabalhista. Projeto de Lei nº 6.787/16. Negociado sobre o Legislado. Supressão e Redução de Direitos Trabalhistas.
1 INTRODUÇÃO
No decorrer da história, os trabalhadores vêm exercendo um papel
significativo na evolução econômica da nação. O operário é a base do
desenvolvimento e deles provém a produção e o crescimento da indústria. A classe
patronal, em sua busca incessante pelo lucro, muitas vezes, exigia do trabalhador
jornadas excessivas de trabalho, com salários bem inferiores ao que seria justo.
Adaptar-se às mudanças decorrentes da revolução industrial de forma a aumentar
seus ganhos, era uma ideia interessante ao empregador. Foi então que o
trabalhador passou a ser visto como mera ferramenta da empresa, sendo utilizado
sempre da maneira que fosse mais conveniente ao empregador, sem haver qualquer
preocupação com o operário, devendo este se submeter aos ditames do capital por
temer perder a fonte de seu sustento. Com a crescente transformação do quadro de
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trabalhadores no país, tornou-se necessário que medidas fossem tomadas para
proteção do trabalhador.
Felizmente, com o passar dos anos, as normas trabalhistas se tornaram
fortes o suficiente para oferecer, ao menos, condições dignas de trabalho aos
trabalhadores, embora, na prática, ainda há muito a se alcançar com relação à
proteção dessa classe.
Hoje, vive-se em uma época de crise, na qual o índice de desemprego é
altíssimo, e, como uma bola de neve, o comércio também não está em seus
melhores dias. O governo, por sua vez, tem sido pressionado pelos grandes
empresários, os quais estão sofrendo com seus estabelecimentos e empresas nos
mais variados ramos. A crise atinge a todos e os empresários esperam uma
resposta do governo para que suas respectivas empresas possam passar por essa
fase de crise com o menor prejuízo possível.
Em resposta à pressão exercida pela classe empresária sobre o governo
surge o Projeto de Lei nº 6.787/16 que, em meio a tantas alterações, propõe que
acordos e convenções coletivas deverão se sobrepor à lei quando versarem sobre
alguns pontos que estão elencados nos incisos do artigo 611 – A, o qual será
inserido na CLT caso o projeto seja aprovado.
O problema dessa proposta, no que tange à flexibilização dos direitos
trabalhistas, é que em nada beneficiará o trabalhador, pelo contrário, apenas
causará mais insegurança jurídica e uma discrepância de forças ainda maior na
relação entre patrão e empregado. O governo justifica a medida afirmando que
haverá benefícios para a classe trabalhadora, alegando o surgimento de novos
empregos caso haja flexibilização de algumas normas que protegem direitos dos
trabalhadores, quando na verdade, a maioria delas, ao serem alteradas/suprimidas,
apenas causarão um impacto benéfico no bolso do patrão.
No decorrer desse artigo, demonstrar-se-á que tal economia não visa gerar
empregos, e sim poupar gastos para a classe patronal, visto que o fato gerador do
emprego é a necessidade de suprir demandas, não fazendo sentido afirmar que, em
um país capitalista, um empregador contrataria alguém apenas por ter dinheiro
sobrando.
O governo também tenta pautar a justificativa do intuito de suprimir direitos
dos trabalhadores por via negocial na atual situação de crise econômica do Brasil.
Ora, se em cada crise econômica que o país enfrentar os empresários passarem os
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riscos do negócio para os trabalhadores, logo se estará retornando à década de 30,
na qual o capital se banqueteava da mão de obra sem uma contraprestação
equivalente e justa. Dessa maneira, busca-se, nesse estudo, mostrar a real intenção
do governo com a proposta e as bases, tanto jurídicas como doutrinárias, que a
torna inconstitucional e contrária aos princípios fundamentais do direito do trabalho.
Por fim, para conferir um maior grau de cientificidade à pesquisa, apresenta-
se a sua metodologia: o método de abordagem será o dedutivo e a técnica de
pesquisa será por documentação indireta, sendo sua metodologia bibliográfica,
pesquisada entre diversos autores conceituados, abordando os aspectos prejudiciais
da presente proposta, no que tange à prevalência do negociado sobre o legislado.
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL
O direito do trabalho surgiu em um momento de crise, devido aos dogmas
sociais apresentados pelo capitalismo liberal. Era uma forma de resposta às grandes
opressões que ocorriam em todo o mundo. Em um contexto mundial, seu marco
ocorreu no século XIX, com o fato social que impulsionou o seu surgimento, a
Revolução Industrial.
O desenvolvimento das máquinas, o trabalho exercido em locais escuros,
insalubres, com altas temperaturas, as longas jornadas de trabalho, entre outras
situações foi o que influenciou a necessidade de se proteger o trabalhador, pois,
sendo ele visto como uma simples ferramenta para servir o capital, era totalmente
dominado pelos detentores deste, uma vez que a necessidade de arcar com as
despesas da vida, superava, em muitos casos, a falta de dignidade em seu trabalho
(CASTRO, 2016).
O Brasil, desde o século XIX, enfrentava muitas dificuldades nas relações
patrão-empregado. Nessa época, havia apenas um pequeno vislumbre sobre a
edição de uma legislação protetora do trabalhador. As longas e pesadas jornadas de
trabalho, o desgaste físico e emocional, os acidentes e os baixos salários, levaram
ao surgimento do Ministério do Trabalho, em 1930, sendo este o marco para o
surgimento do direito do trabalho no Brasil, e, em 1943, a positivação da
Consolidação das Leis Trabalhistas (SARAIVA, 2016).
A Constituição de 1934 foi a primeira a tratar da ordem econômica e social,
estabelecendo que a lei iria dispor sobre condições de trabalho, dentre as quais a
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livre associação de profissionais, a criação de sindicatos etc. Mas foi apenas com a
Constituição Federal de 1988, em seu artigo 7º, que foram consagrados os direitos
sociais dos empregados urbanos e rurais, de forma concreta e substancial.
Do século XIX até os dias de hoje, uma batalha vem sendo travada entre o
capital e o proletariado, ou pode-se dizer, trabalhadores. Os empresários atribuem a
falta de emprego para os operários e a falta de bons rendimentos em suas
respectivas empresas aos encargos e às normas imperativas criadas como medidas
protetivas do trabalhador em detrimento do capital.
É mister observar que foi sob um prisma político que o Estado se filiou ao
proletariado para a conjectura de uma legislação protetiva. O povo, por muito tempo,
trabalhava nas lavouras e os cidadãos brasileiros eram em boa parte rurais, e com o
crescimento da indústria, era interessante para o Estado que o povo saísse do
campo para a cidade. De início, não se visualizava muito lucro nessa migração.
Entretanto, com a generosa proteção que viria a ser implantada pela CLT, seria
tentador ao povo. Portanto, com a legislação da época, ficou evidente que o Estado
teria a intenção de deslocar a proteção do trabalhador das mãos dos sindicatos para
as suas próprias mãos (CISNEIROS, 2016).
Com efeito, várias razões impulsionaram a criação de medidas protetivas
para o trabalhador, mas nenhuma delas faria justificar ao empregador o aumento
substancial de custos para a manutenção de seus operários. Foi aí que a batalha
começou, com o grande propósito de flexibilizar as normas trabalhistas.
Observando-se as razões que levaram à criação da legislação trabalhista,
tais como: crescimento da indústria, proteção contra a fadiga e a saúde do
trabalhador, proteção à entidade familiar, proteção contra o trabalho escravo, a
busca de dignidade na execução do trabalho e tantos outros motivos, todos esses
considerados quase por unanimidade entre os povos, direitos essenciais à vida,
chega a ser absurda a ideia de subtrai-los ou aboli-los, vez que estaria conectado a
um gigante retrocesso social, em que apenas uma pequena porção de indivíduos
seria beneficiada com tal medida. Esses são os elementos da luta sobre flexibilizar
as normas trabalhistas, a qual se perfaz entre os direitos adquiridos do trabalhador e
o crescimento desnecessário do capital daqueles que já possuem um exacerbado
volume de riquezas (CASTRO, 2016).
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3 A PREVALÊNCIA DO NEGOCIADO SOBRE O LEGISLADO E AS
JUSTIFICATIVAS DO GOVERNO.
Como explicado anteriormente, a tentativa do capital de sobrepor os direitos
adquiridos dos trabalhadores é histórica. Atualmente, com a crise que assola o
Brasil, o quadro não poderia ser diferente. Havendo uma acirrada briga no mercado,
seja na linha do comércio, no turismo, lazer ou em outras áreas, torna-se um método
de sobrevivência do empresário reduzir custos de seu comércio, buscando, assim,
medidas que lhe permitam manter seu lucro estável mesmo com o comércio em
crise. E qual seria a melhor maneira de reduzir custos sem perder a produção?
Reduzindo-se as despesas com o empregado.
Com o Projeto de Lei nº 6.787/16, e o acréscimo do artigo 611- A, o governo
Temer pretende deixar os direitos adquiridos pelos trabalhadores a mercê de
negociações entre sindicatos e empregadores. Essas negociações poderão versar
sobre jornada de trabalho, intervalo intrajornada, remuneração, registro de jornada,
trabalho em áreas insalubres e outros aspectos. Segue seu teor completo:
Art. 611-A. A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, dispuserem sobre: I – pacto quanto à jornada de trabalho, observados os limites constitucionais. II – banco de horas individual; III – intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de trinta minutos para jornadas superiores a seis horas; IV – adesão ao Programa Seguro-Emprego, de que trata a Lei no 13.189, de 19 de novembro de 2015; V – plano de cargos, salários e funções compatíveis com a condição pessoal do empregado, bem como identificação dos cargos que se enquadram como funções de confiança; VI – regulamento empresarial; VII – representante dos trabalhadores no local de trabalho; VIII – teletrabalho, regime de sobreaviso, e trabalho intermitente; IX – remuneração por produtividade, incluídas as gorjetas percebidas pelo empregado, e remuneração por desempenho individual; X – modalidade de registro de jornada de trabalho; XI – troca do dia de feriado; XII - identificação dos cargos que demandam a fixação da cota de aprendiz; XIII – enquadramento do grau de insalubridade; XIV - prorrogação de jornada em ambientes insalubres, sem licença prévia das autoridades competentes do Ministério do Trabalho; XV – prêmios de incentivo em bens ou serviços, eventualmente concedidos em programas de incentivo; XVI – participação nos lucros ou resultados da empresa. § 1º No exame da convenção coletiva ou do acordo coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalho observará o disposto no § 3o do art. 8o desta Consolidação.
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§ 2º A inexistência de expressa indicação de contrapartidas recíprocas em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho não ensejará sua nulidade por não caracterizar um vício do negócio jurídico. § 3º Sendo pactuada cláusula que reduza o salário ou a jornada, a convenção coletiva ou o acordo coletivo de trabalho deverão prever a proteção dos empregados contra dispensa imotivada durante o prazo de vigência do instrumento coletivo. § 4º Na hipótese de procedência de ação anulatória de cláusula de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, quando houver a cláusula compensatória, esta deverá ser igualmente anulada, sem repetição do indébito. § 5º Os sindicatos subscritores de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho deverão participar, como litisconsortes necessários, em ação individual ou coletiva, que tenha como objeto a anulação de cláusulas desses instrumentos (BRASIL, 2016).
Muitos poderão defender que os sindicatos são legitimados para tais
negociações, entretanto, deve-se analisar que os sindicatos no Brasil não possuem
a força e proteção necessária para uma atuação de impacto em favor do
trabalhador, vez que, embora signatários da Convenção nº 87 e 98 da OIT, que trata
da liberdade sindical e da proteção ao direito de sindicalização, o Brasil não possui,
atualmente, uma legislação que proteja os sindicatos dos atos antisíndicais
(CASSAR, 2017).
Tais atos são vivenciados diariamente em todo o Brasil. Muitas vezes,
quando o trabalhador está associado a um determinado sindicato, ele nem mesmo é
contratado pela empresa, ou o patrão, ao saber da intenção do obreiro em se
candidatar para dirigente sindical, o demite arbitrariamente, ou até mesmo já nas
funções de dirigente sindical, este é sutilmente intimidado pelo empregador, com
insinuações que, ao fim da garantia de emprego, o obreiro estará na rua. São várias
as formas de atos antisíndicais, e até que o Brasil venha possuir uma legislação
mais eficaz e protetiva aos sindicatos, não há o que se falar em negociação ou
acordo coletivo com força de lei que venha a suprimir direitos dos trabalhadores.
O governo se esquiva das críticas alegando ser a medida benéfica ao
trabalhador. O Presidente Michel Temer insiste em afirmar que a medida trará mais
empregos para todos, mas isso não se traduz em verdade. Os empresários em
momentos de crise sentem em seus bolsos o peso dos volumosos tributos cobrados
pelos Municípios, Estados e a União. Não podendo brigar abertamente com o
governo, acabam por pressionar os congressistas a resolverem de alguma maneira
a situação, buscando amenizar sua carga fiscal e tributária, e, mais uma vez, é o
povo que é colocado em pauta. A pergunta é: qual direito poderia ser retirado ou
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diminuído, sem que haja uma revolta popular, ao mesmo tempo em que se mantém
a carga tributária sem prejudicar a Fazenda Pública? Essa é a pergunta crucial, e
que direciona uma histórica conquista de direitos e garantias fundamentais dos
trabalhadores em direção a um enorme precipício.
De acordo com o artigo 7º, XXVI da CF, os acordos e convenções coletivas
já possuem força de lei, desde que sejam mais benéficos ao trabalhador. Em outras
palavras, com esse projeto de lei, a convenção e o acordo coletivo poderiam,
através de via negocial, reduzir direitos trabalhistas, o que hoje é vedado no
ordenamento jurídico pátrio, com fulcro no princípio da proteção ao trabalhador. Com
efeito, o benefício que o governo alega alcançar com a proposta não passa de uma
infundada desculpa para beneficiar os detentores do capital a reduzirem seus
custos, tornando o trabalhador novamente vulnerável aos ditames do capital
(TONASSI, 2016).
4 DA VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO DIREITO DO TRABALHO
Quando se fala em princípios, esses estão intrinsecamente ligados aos
valores que são almejados pelo Direito. Nas palavras de Resende (2016, p. 76-77):
Servem como fundamento e são responsáveis pela gênese de grande parte das regras que, por consequência, deverão ter sua interpretação e aplicação condicionadas por aqueles princípios, dos quais se originaram.
Os princípios que norteiam o direito do trabalho são sempre protetivos ao
trabalhador: essa é a essência do direito laboral. Logo, é clarividente que tudo aquilo
que venha a ser discutido para o obreiro deverá trazer-lhe algum benefício, razão
pela qual se faz imperiosa a análise de alguns princípios que norteiam este ramo do
direito.
4.1 DA VEDAÇÃO AO RETROCESSO SOCIAL
Após a promulgação da Constituição de 1988, com os direitos e garantias
fundamentais concretamente estabelecidos, surgiu um caloroso debate no mundo
jurídico acerca dos direitos sociais e as mudanças que ocorriam na sociedade com a
sua instituição. Foi na década de 90 que a Carta Magna começou a sofrer diversos
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ataques contra os direitos sociais, através de emendas constitucionais e medidas
provisórias. Com o intuito de proteger as conquistas sociais e defender os direitos
constitucionais adquiridos, surge então o princípio do não retrocesso social
(CORDEIRO, 2012).
O princípio significa que o núcleo dos direitos sociais normatizados no
ordenamento jurídico deve considerar-se constitucionalmente garantido, pois trata-
se de elementos essenciais à vida e à dignidade, não podendo serem eles
suprimidos ou modificados sob a justificativa de dificuldades econômicas
momentâneas (BARROS, 2016).
No caso em tela, o presente PL não possui qualquer razão para restringir
esses direitos. Como já elencado, a dificuldade do empresário se encontra na carga
tributária e não nos encargos trabalhistas, não podendo, assim, usar a crise
financeira como desculpa para o ataque a esses direitos. Se a justificativa se basear
na ideia de compensação sob os direitos suprimidos, ainda assim, não são todos os
itens elencados que podem ser modificados. Note-se, por exemplo, o item contido
no inciso III do art. 611- A, que trata sobre a redução do intervalo intrajornada de
uma hora para trinta minutos. Essa é uma violação aberta às normas de medicina e
segurança do trabalho, vez que esse intervalo de uma hora é para repouso e
alimentação e busca evitar fadigas e acidentes de trabalho. Por meio dessa norma é
que se garante a proteção do trabalhador e a dignidade do trabalho.
Outrossim, a presente proposta viola o princípio do retrocesso social, pois
com a possibilidade de o negociado se sobrepor ao legislado, haverá prejuízo para o
trabalhador, uma vez que direitos como limites de jornadas laborais, limites de
trabalho sobre áreas insalubres, natureza salarial das parcelas pagas pelo
trabalhador, poderão ser alteradas, retroagindo, assim, direitos que foram adquiridos
através de muitos anos de lutas e sofrimento da parte obreira.
4.2 DA PROTEÇÃO AO TRABALHADOR
De acordo com Barros (2016, p.122), os princípios do direito do trabalho têm
“como função, [...] orientar o juiz na sua atividade interpretativa”. O princípio da
proteção ao trabalhador é “consubstanciado na norma e na condição mais favorável
[...]. Seu propósito consiste em tentar corrigir desigualdades, criando uma
superioridade jurídica em favor do empregado” (BARROS, 2016, p.122).
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Para Cisneiros (2016, p.28), o princípio da proteção é o mais importante do
direito do trabalho, e dele derivam todos os outros. O direito do trabalho surgiu em
uma época em que o capital usufruía da mão de obra sem qualquer preocupação
com a saúde ou até mesmo com a dignidade do obreiro. Sendo assim, surgiu como
uma ferramenta protetora, em que o elo mais fraco da relação de trabalho seria
protegido, não só por uma legislação específica, mas também por qualquer fonte
admitida em direito que viesse a ser mais benéfica ao trabalhador, seja através dos
costumes, de convenções coletivas, da doutrina ou até mesmo da interpretação
literal da norma (CISENEIROS, 2016).
O princípio da proteção se baseia no caput do artigo 7º da CF/88, segundo o
qual “são direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social [...]” (BRASIL, 1988). Analisando o artigo supra,
percebe-se que ele alude serem direitos dos trabalhadores todos aqueles incisos
que se seguem no próprio artigo, e ainda outros que visem à sua melhoria. Deste
modo, fica evidente que qualquer norma, preceito, convenção, costume etc, deverão
ser adotados quando visarem à melhoria da condição social do trabalhador, o que
não é o caso do PL 6.787/16, que será analisado adiante.
O princípio da proteção ao trabalhador está sendo notavelmente violado com
a aprovação do projeto, posto que essa medida apenas permite que direitos
adquiridos, já protegidos pela Constituição Federal de 1988, venham a ser
negociados de maneira a suprimi-los em beneficio do empregador, quando o caput
do artigo 7º da CF/88 é claro ao mencionar “[...] além de outros que visem a melhoria
de sua condição social [...]”. Sem ele, não há, para todos os efeitos, um real direto
ou garantia ao trabalhador (BRASIL, 2016).
4.3 DA NORMA MAIS FAVORÁVEL
O princípio da norma mais favorável, além de fundamentado no caput do
artigo 7º da CF/88, pode ser facilmente vislumbrado através do artigo 620 da CLT. O
artigo menciona que, sendo as condições estabelecidas em convenção coletiva mais
vantajosas que as dispostas no acordo coletivo, deverá ser aplicada a norma mais
favorável ao contrato de trabalho, que, neste caso, é a convenção coletiva
(SARAIVA, 2016).
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O princípio revela novamente a importância da proteção ao trabalhador.
Neste sentido, a doutrina destaca a teoria do conglobamento, segundo a qual,
quando dois instrumentos jurídicos versem sobre mesmo assunto, deverá ser
utilizado o mais benéfico ao trabalhador. Indo além, parte da doutrina elenca a teoria
do conglobamento mitigado, defendendo que a norma mais favorável deve ser
buscada mediante a comparação das diversas regras sobre cada instituto ou
matéria.
A proposta de reforma em comento vai totalmente de encontro a este
princípio, posto que destaca que a justiça do trabalho deverá balizar a análise das
convenções exclusivamente em conformidade com o princípio da intervenção
mínima na autonomia coletiva, ou, em outras palavras, não deverá se envolver, a
não ser em casos extremos. Assim, o negociado prevalecerá sobre o legislado
mesmo que seu teor não seja mais benéfico ao trabalhador, indo contra o princípio
da norma mais favorável.
4.4 DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Em junho de 1993, em Viena, foi realizada a Conferência Mundial dos
Direitos Humanos. Nessa conferência, concluiu-se que todos os direitos humanos
têm sua origem na dignidade e no valor da pessoa humana.
Conforme o inciso III do artigo 1º da Constituição Federal de 1988, a
dignidade da pessoa humana é o fundamento do República Federativa do Brasil,
deve ser seguida e protegida como um princípio basilar do ordenamento jurídico.
A proposta do PL 6.787/16 não ataca diretamente este princípio. Entretanto,
como bem definido na Conferência de Viena, todos os direitos adquiridos pelos
homens têm fundamento na dignidade da pessoa humana. Portanto, mesmo que
indiretamente, esse princípio também é violado. Essa violação é constatada no
momento em que é permitido que esses direitos conquistados pelos trabalhadores,
possam ser suprimidos sem que haja compensação ou um justo motivo para tal
supressão (CASSAR, 2017).
A proposta, nos incisos XIII e XIV, do artigo 611-A, trata da possibilidade de
enquadramento do grau de insalubridade por meio de convenção ou acordo coletivo,
como também a prorrogação de jornadas em ambientes insalubres, sem a licença
prévia das autoridades competentes do Ministério do Trabalho. Na verdade, esses
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dois pontos jamais deveriam ser abordados de forma negocial, pois trata-se de
medicina do trabalho, estando enraizada no artigo 7º, XXII da CF/88, assegurando a
existência de normas de proteção a saúde, higiene e segurança do trabalho capazes
de garantir a máxima redução dos riscos inerentes à atividade laboral.
Por essa razão, normas de acordo ou convenção coletiva não podem
simplesmente eliminar ou reduzir percentuais do grau referente à agressividade do
agente insalubre, ou mesmo aumentar a jornada de trabalho sem a consulta de um
perito capaz de identificar essa possibilidade sem que prejudique a saúde do
empregado. Sendo aprovado, esse projeto deixará de lado o princípio da dignidade
da pessoa humana, vez que boas condições de trabalho atingem a dignidade do
trabalho do obreiro e sua saúde, ambas derivadas do princípio da dignidade da
pessoa humana (MARTINEZ, 2016).
Outrossim, há artigos da CLT e leis específicas que versam sobre segurança
e medicina do trabalho regulando a aplicação de medidas que visem à melhoria da
condição do trabalho do obreiro. Obviamente, não será possível reduzir ou aumentar
o número de agentes nocivos à saúde, taxativos da NR 15, ou mesmo afirmar não
ser necessário o descanso semanal, ou considerar desnecessário o repouso
intrajornada. No entanto, as normas que regulamentam a aplicação da prevenção da
fadiga relacionadas a esses casos ou normas infraconstitucionais que têm por
escopo complementar as normas constitucionais, poderão ser modificadas através
de acordos ou convenções coletivas, causando, assim, a violação ao princípio da
dignidade da pessoa humana. Mais uma vez, percebe-se que o projeto infringe
princípios basilares do Direito do Trabalho.
5 DA INTERVENÇÃO MÍNIMA NA AUTONOMIA DA VONTADE COLETIVA
O parágrafo 1º do artigo 611-A do PL 6.787/16 esclarece que a Justiça do
Trabalho deverá balizar sua atuação pelo princípio da intervenção mínima na
autonomia da vontade coletiva e que os pontos a serem abordados, quanto à
validade da convenção ou acordo que venha a ser firmado, serão os critérios
mencionados no artigo 104 do Código Civil de 2002, quais sejam: serem as partes
agentes capazes, ser o objeto lícito, possível e determinado ou determinável e a
forma ser prescrita ou não defesa em lei (BRASIL, 2002).
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Com efeito, o supracitado artigo trata dos negócios jurídicos firmados entre
partes, a priori, iguais entre si. Parte da premissa de que não há elo mais fraco que
haja necessidade de ser protegido, surgindo, assim, no direito dos contratos, com a
denominação de “autonomia da vontade das partes”.
Ocorre que proteger o trabalhador de um acordo prejudicial, baseando-se
apenas em sua capacidade, ou de seu representante e na licitude do ato, em nada o
protege. O detentor do capital possui poder suficiente para oprimir o trabalhador e
levar a efeito sua vontade por intermédio dos atos antisindicais ainda tão presentes
no cotidiano dos sindicalistas. Não se pode afirmar estarem eles preparados para
lutar com paridade de armas contra um agressivo e opressor capital dominante da
economia.
Em relação à presente proposta, esta visa abrir uma ponte para a
perseguição aos direitos trabalhistas, subtraindo estes por via negocial, com a
mínima intervenção do Estado. O inciso VIII do artigo 611-A, por exemplo, que trata
do trabalho intermitente, traz uma nova modalidade de trabalho ainda não prevista
no ordenamento pátrio, no qual pessoas poderão ser contratadas por períodos
fragmentados no ano e receber apenas pelos períodos trabalhados.
Fica fácil observar, no caso dos professores, por exemplo, que esses
poderão ser contratados em regime intermitente para trabalhar em março, abril, maio
e junho, ficando julho e agosto sem necessidade por se tratar de férias escolares.
Depois, em setembro, outubro, novembro e parte de dezembro irão trabalhar,
ficando janeiro e fevereiro novamente sem necessidade de trabalho. Com esse PL,
será possível que o professor receba apenas pelos meses efetivamente trabalhados,
o que significa dizer que nos meses de janeiro, fevereiro, julho e agosto, não
receberão nada. Isso poderá ser feito com relação a meses, dias ou semanas,
englobando ainda mais classes de profissionais, como os trabalhadores rurais que
trabalham com colheita, o que, indubitavelmente, lhes prejudica sobremaneira
(TONASSI, 2016).
Com efeito, se a justiça do trabalho ficar engessada para frear as
convenções ou acordos coletivos, será um massacre contra os profissionais das
diversas categorias, estando eles presos a tais contratos, sem poder se filiarem a
outra empresa, ficando a mercê da convocação do patrão, além do que parcelas
como descanso semanal remunerado, décimo terceiro salário, férias, dentre outros,
serão atingidos pelo inciso VIII.
21
Frise-se, por oportuno, que o inciso VIII do artigo 611-A ainda menciona o
teletrabalho, deixando extremamente vaga a sua pretensão. Com a intervenção
mínima da justiça do trabalho, seria possível, por exemplo, estabelecer que algumas
classes trabalhadoras se enquadrem na modalidade com o intuito de exclui-las do
controle da jornada de trabalho. Um bom exemplo seria os profissionais de
Tecnologia da Informação, que, na maioria dos casos, podem trabalhar em suas
próprias casas, e serem enquadrados no teletrabalho, ficando excluídos do capítulo
jornada de trabalho, perdendo o direito a horas extras que muito provavelmente
virão a fazer.
Com os exemplos supracitados, fica claro que engessar a justiça do
trabalho, restringindo sua intervenção nos acordos e convenções coletivas, será
prejudicial em demasia ao trabalhador e em nada o beneficiará, razão pela qual não
deve o projeto de lei ser aprovado.
6 DA INADMISSIBILIDADE DA CRIAÇÃO DO ARTIGO 611-A
Além das violações aos princípios fundamentais do direito do trabalho, há de
se destacar alguns pontos que tornam a proposta inconstitucional, no que tange a
permitir que o acordado se sobreponha ao legislado. É mister observar que boa
parte da proposta trata de direitos constitucionais defesos em lei, direitos de
medicina e segurança do trabalho e, na questão histórica, aqueles assim
considerados “direitos adquiridos”.
Como já mencionado, a justificativa atual do governo sobre a criação de
novos empregos com a aprovação do projeto, não se sustenta sob qualquer
argumento, visto que apenas irá poupar o bolso do empregador em detrimento de
direitos dos trabalhadores. Assim, cumpre sair um pouco da visão principiológica e
observar de maneira objetiva o tema em epígrafe, passando-se a analisar alguns
aspectos constitucionais (MARTINEZ, 2016).
Com o artigo 7º da Constituição de 1988, o mínimo constitucional foi
estabelecido, tratando dos direitos mais básicos inerentes ao trabalhador. Esse
mínimo é claramente violado na presente proposta, tendo em vista que nem mesmo
uma emenda constitucional teria poder para alterar o texto dos incisos do artigo 7º
da CF/88.
22
O artigo 60, parágrafo 4º da CF/88, alude sobre a não aplicabilidade das
emendas constitucionais e, em seu inciso IV, menciona não ser objeto de
deliberação a emenda que tende a abolir direitos e garantias fundamentais. Ainda há
muitos que entendem por direitos e garantias fundamentais apenas aqueles
descritos no artigo 5º da CF/88, o que é um gritante equívoco, pois os direitos e
garantias fundamentais a que se refere o artigo 60, § 4º da CF/88, são todos aqueles
elencados no título II da Carta Magna, mais especificamente do artigo 5º ao artigo
17, englobando assim todo o artigo 7º da CF.
Insta ressaltar ainda que o artigo 7º da CF/88 não poderá ser alterado por
emenda, descrevendo serem direitos dos trabalhadores urbanos e rurais aqueles
descritos em seus incisos e ainda outros que visem à melhoria de sua condição
social, o que significa dizer que, no momento em que há a criação de uma lei, que
no caso da presente proposta é infraconstitucional, que permite serem suprimidos os
direitos dos trabalhadores, ou em outras palavras, piorada a condição social do
trabalho, a proposta se mostra totalmente inconstitucional.
Para deixar ainda mais evidente o quão inconstitucional o é e como vai de
encontro aos alicerces da nação construídos com a Constituição de 1988, o artigo
1º, IV da Carta Magna, objetivamente afirma constituírem-se os fundamentos da
República dos valores sociais do trabalho (BRASIL, 1988).
Ora, se os valores sociais do trabalho são tão importantes a ponto de serem
colocados como fundamentos do Estado Democrático de Direito, como podem ser
descartados tão facilmente pelos representantes do governo, a ponto de
abertamente ignorarem os princípios contidos na Constituição Federal? (CASSAR,
2017).
Apenas pode-se chegar à conclusão que, mais uma vez, o capital exerce
uma influência incomparavelmente mais agressiva do que a dos trabalhadores sobre
o governo, o que só evidencia a necessidade de proteção e segurança dos direitos
trabalhistas e não de supressão ou redução das medidas protetivas já existentes.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo buscou de maneira sucinta e objetiva esclarecer o real propósito
do governo em lançar a presente proposta, considerando ser ela motivada pela
pressão exercida pelos detentores do capital sobre o governo, visando unicamente a
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redução de seus gastos, passando parte do risco do negócio para ser suportado
pelo empregado.
Também foram elencados princípios basilares do direito do trabalho, que
serão agressivamente violados com o PL nº 6.787/2016, desprotegendo o
trabalhador, que, por sua vez, é parte hipossuficiente na relação contratual de
trabalho, ficando ele muitas vezes a mercê do patrão por temer a perda de seu
emprego.
Por último, analisou-se a inconstitucionalidade da medida, visto serem os
direitos que poderão ser negociados por convenções ou acordos coletivos, direitos e
garantias fundamentais, os quais não podem ser sequer alterados por emenda
constitucional, muito menos serem retirados ou suprimidos por acordos e
convenções coletivas.
Pelo exposto, pode-se concluir que o PL nº 6.787/2016 é extremamente
prejudicial ao trabalhador, no que tange a permitir que o negociado se sobreponha
ao legislado, tendo como exclusivo intento suprimir, por via negocial, direitos
adquiridos dos trabalhadores para satisfação financeira dos empregadores.
THE PREVALENCE OF THE NEGOTIATION ON LEGISLATION IN LAW
PROJECT Nº 6.787 / 16
ABSTRACT
The objective of this article is to comprehend the reasons that led the current government of Michel Temer to begin the project of law 6.787/16, the possibility of the agreement overcoming the legislation, unraveling the constitutionality of this action and observing the principles that govern the labor laws. It is a study of theoretical nature, based on the methodology applied to the bibliographic research, doctrinal and historical, seeking to clarify that the proposal presented does not produce benefits to the working class, but merely permits the reduction of labor rights by negotiation, with the real purpose of benefitting the employers, permitting the reduction of labor charge expenses. This study also aims to clarify that the measure is a major social retrogression, because, if sanctioned, it will open a strong precedent so that other social rights guaranteed to workers, will be overturned in the not too distant future, once again prevailing the capital over human values. KEY WORDS: Labor Reform. Labor Law Bill. Agreement Overcoming the Legislation. Suppression of Labor Rights. Reduction of Labor Rights.
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