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FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP CURSO DE DIREITO ANDERSON GOMES DE ARAÚJO PEREIRA EXCLUSÃO SOCIAL FOMENTADORA DA CRIMINALIDADE PRECOCE

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FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP

CURSO DE DIREITO

ANDERSON GOMES DE ARAÚJO PEREIRA

EXCLUSÃO SOCIAL FOMENTADORA DA CRIMINALIDADE PRECOCE

JOÃO PESSOA

2012

ANDERSON GOMES DE ARAÚJO PEREIRA

EXCLUSÃO SOCIAL FOMENTADORA DA CRIMINALIDADE PRECOCE

Artigo científico apresentado ao Curso de Direito, da Faculdades de Ensino Superior da Paraíba, como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Ms. Gabriela Nóbrega

JOÃO PESSOA

2012

P436e Pereira, Anderson Gomes de Araújo

Exclusão social fomentadora da criminalidade precoce / Anderson Gomes de Araújo. João Pessoa, 2012.

23f.

Artigo (Graduação em Direito) Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP.

1. Criminalidade precoce. 2 Crime. 3 Exclusão social. 4 Ausência de Estado. I.Título.

BC/FESP CDU: 347(043)

ANDERSON GOMES DE ARAÚJO PEREIRA

EXCLUSÃO SOCIAL FOMENTADORA DA CRIMINALIDADE PRECOCE

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de bacharelado, no Curso de Direito da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba, com Linha de Pesquisa em Direito Penal.

Aprovada em: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

____________________________Profa. Gabriella Nóbrega

Orientadora

_________________________________Examinador

_________________________________Examinador

EXCLUSÃO SOCIAL FOMENTADORA DA CRIMINALIDADE PRECOCE

ANDERSON GOMES DE ARAÚJO PEREIRA*

RESUMO

A criminalidade precoce no Brasil é fruto das mazelas sociais vividas pela nossa sociedade, fruto do sistema capitalista imposto ao nosso país, que gera uma desigualdade social gritante que tanto nos aflige; é fruto também de um Estado ausente e de uma sociedade omissa, que por sua vez só impulsiona a entrada das crianças e dos adolescentes ao crime, pois aos mesmos não são oferecidos o direito de escolher entre o bem e o mal, e a eles são negados todos os dias os seus direitos e suas garantias fundamentais, previstos na Constituição Federal e no ECA (Estatuto da Criança e dos Adolescente), levando assim facilmente estas crianças e estes adolescentes que consideramos vulneráveis ao crime, entrarem precocemente na criminalidade. O presente artigo tem como finalidade discutir a criminalidade precoce, buscando mostrar o quem levado às crianças e os adolescentes para o mundo do crime, levando em consideração as problemáticas sociais existente no nosso país desde sua formação, pois este trabalho também menciona os aspectos históricos e socioeconômicos, para termos uma melhor compreensão dos fatos sociais ocorridos atualmente. Através de uma pesquisa bibliográfica procuramos conceituar o crime; entender e mostrar como os jovens têm entrado no crime, de forma que pudéssemos entender qual a raiz dessa sequela que as mazelas sociais têm trazido a nossa sociedade. Consequentemente discutimos em nosso estudo a revolução industrial como fato social, que mudou a vida da sociedade no Brasil e no mundo, e o sistema capitalista como regente de toda essa exclusão social que aflige o nosso país. Procuramos definir a nossa faixa etária que consideramos precoce de acordo com o ECA(Estatuto da Criança e do Adolescente). Mostramos os direitos e as garantias fundamentais das crianças e dos adolescentes na Constituição Federal do Brasil, como também no ECA(Estatuto da Criança e do Adolescente).

Palavras-chave: Criminalidade precoce. Crime. Exclusão social. Ausência de Estado.

* Graduado em Direito pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP. E-mail: [email protected]

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho trata da criminalidade precoce, a entrada de crianças e

adolescentes no mundo do crime, e os motivos pelos quais a cada dia tem aumentado à

entrada desses menores na criminalidade. Mencionamos neste estudo os aspectos históricos e

socioeconômicos que vão nos ajudar a compreender esse fato social que tem marcado a nossa

sociedade.

O tema nasceu através do interesse juntamente com desejo de discutirmos e

analisarmos de forma científica a criminalidade precoce, visando nos aproximarmos da raiz

do problema para entendermos quais seriam os possíveis males que levam a problemática da

criminalidade, que tanto tem gerado a insegurança pública em nosso país.

O presente trabalho tem como objetivo compreender e examinar o que tem levado as

crianças e os adolescentes a se envolverem com a criminalidade, e como o Estado e a

sociedade tem se posicionado em relação ao aumento de crimes praticados pelos menores.

O estudo dos fatos sociais não será desprezado no nosso trabalho, pois entendemos

que um fato social só será explicado ou comparado por outro que o antecedeu, nessa linha de

pensamento buscaremos uma análise mais profunda de como teria começado esse

desencadeamento na criminalidade pelos menores.

Iremos buscar no contexto histórico do nosso país uma explicação socioeconômica

para tanta desigualdade e marginalização inevitável do sistema capitalista do qual vivemos.

Dessa forma faremos uma análise em relação à intervenção do Estado na criação de políticas

públicas nas áreas sociais da sociedade com objetivo de combater a entrada das crianças e dos

adolescentes no crime.

2 A HISTÓRIA DA DESIGUALDADE SOCIAL

A sociedade viveu seu momento comunitário no tempo, tempo este vivido sem classes

sociais; as comunidades pré-históricas baseavam-se nas relações de parentescos, no íntimo

dos seus usos e costumes, cooperando uns com os outros com os alimentos, com a

propriedade e com os rebanhos. O modo de vida nômade era comum neste tempo, de forma

que este modo de vida aos poucos vai entrando em transição para o modo de vida sedentário,

surgindo a idéia de propriedade privada, não sendo mais esta comum a todos.

Ao longo do tempo essas comunidades começam a necessitar de uma organização

conforme nos mostra Cotrim (1995, p.24):

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Nas sociedades civilizadas quase todos esses elementos se modificam. Em vez de da cooperação, desenvolve-se cada vez mais o espírito de competição social. Surge a propriedades privada da terra, dos rebanhos etc. Aqueles que acumulam propriedade privada tornam-se ricos, e os que nada acumulam tornam-se pobres. Surgem explorados e os exploradores. Surge o Estado governado minoria, cuja força provém da combinação dos poderes econômico (riqueza), político (força) e ideológico (saber).

Nascendo assim as primeiras civilizações, com um modo de vida totalmente diferente

das comunidades pré-históricas, observa-se um fato bastante claro da vida sedentária, que foi

o surgimento da propriedade privada, não havendo mais o uso comum da terra. Foi o que

ocorreu na Mesopotâmia no berço das civilizações segundo Cotrim (1995, p.29):

A princípio não existia a propriedade privada da terra, e os camponeses dele usufruíam trabalhando como membros da comunidade aldeã. Posteriormente, a terra tornou-se propriedade nominal do governante, um rei divinizado que personificava os interesses da comunidade.

Nessa transformação social Mesopotâmia foi uma das primeiras regiões do mundo

aonde nasceu duas classes que até hoje lutam pelos seus espaços, muitas das vezes de forma

injusta, por haver uma disparidade social muito grande, entre pessoas que começam a esbanjar

riquezas e outras que começam a mostrar pobreza e exploração por consequência do

surgimento dessas classes.

Senão vejamos o que nos mostra Cotrim (1995, p.29):

A mesopotâmia foi uma das primeiras regiões do mundo em que ocorreu a passagem da sociedade comunitária (sem classes) para a sociedade dividia em ricos e pobres, exploradores e explorados. Assim, o nascimento da civilização na Mesopotâmia marcaria, também o inicio da desigualdade e da exploração social entre os homens.

No século XVIII, em meados de 1750 na Inglaterra, ocorreu outro fato histórico que

mostra explicitamente como a desigualdade social funciona, a chamada primeira revolução

industrial, onde a população da zona rural passa a migrar para as cidades em formação,

momento em que a exploração e a miséria tomam conta deste contexto, sendo este contexto

resistido pelos movimentos sociais que buscava uma sociedade mais justa, com a busca de

melhores condições de vida e de trabalho.

Como nos ensina Cotrim (1995, p.261):

Os salários pagos eram tão reduzidos que mal davam para assegurar a alimentação mínima de uma única pessoa. Para sobreviver, toda família proletária era obrigada a trabalhar, inclusive mulheres e crianças de até seis anos.

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É ai que nasce o socialismo utópico, o socialismo científico, o anarquismo e o

socialismo cristão, dentro dessas doutrinas é de serem lembrados dois socialistas bastante

conhecidos que são: Karl Marx e Friedrich Engels.

O processo de industrialização gera o deslocamento de um grande contingente de

pessoas da zona rural para a zona urbana com o sonho e o desejo de melhorar suas condições

de vida, desta forma acelerou o crescimento demográfico nas grandes cidades, de tal modo

que surgiram graves problemas sociais nas áreas básicas da sociedade como saúde,

alimentação e habitação.

Dessa forma, como bem ensina Miranda (2011):

Isto se deve ao fato de que, por um lado, o deslocamento de amplas massas humanas, que são expelidas do meio rural e vêm à cidade a procura de melhores condições de vida e, por outro lado, à aceleração do crescimento demográfico que resulta da queda dos índices de mortalidade, fenômeno que se observa em toda a sociedade em processo de industrialização e modernidade.

Diante do fato da industrialização o Estado não acompanhou esta transformação

socioeconômica, como também não interviu de tal forma que combatesse as mazelas sociais

trazidas pelo crescimento econômico. O modelo econômico chamado capitalismo “gera para

uns poucos uma cumulação crescente de riqueza e a renda fica desigualmente distribuída”.

(MIRANDA, 2011).

3 DESIGUALDADE SOCIAL NO BRASIL

Desde que os Portugueses adentraram em nosso território que somos explorados

economicamente, a necessidade de expandir comércio da Europa levou os portugueses a

procurarem outras terras, no início para eles não era tão interessante o nosso pau-brasil como

as especiarias das índias, porém na chegada dos portugueses o pau-brasil foi bastante

explorado pelos mesmos e em seguida a produção de cana de açúcar foi realizada e

consequentemente a construção de engenhos no nosso país, legado deixado para nós pelos

portugueses.

A colonização toma espaço no nosso território com aspecto de empresa, destinada a

explorar os recursos naturais aqui existentes, para suprir as necessidades comerciária da

Europa, conforme diz Prado Júnior (1984, p.23):

A colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial, mais complexa do que a antiga feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela, destinado a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do

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comércio europeu. É este o verdadeiro sentido da colonização tropical, de que o Brasil é uma das resultantes, ele explicará os elementos fundamentais, tanto no social como no econômico, da formação e evolução histórica dos trópicos americanos.

O Brasil desde sua formação é explorado na sua essência, a colonização que nós

passamos foi a de exploração, para atender os desejos e as necessidades do mercado europeu,

de modo que acelerasse esse comércio com a intenção de desenvolver economicamente a

Europa, sem se preocupar quais seriam as consequências trazidas por essa exploração ao

nosso país.

As colônias eram exploradas para atenderem as demandas das metrópoles, essa

exploração no Brasil serviu para alavancar o crescimento econômico da produção mercantil

na Europa, segundo o pensamento de Oliveira (1985, p.97):

A conformação do antigo sistema colonial aparece como momento essencial para o avanço do capitalismo na Europa. A valorização do capital comercial é dinamizada pela nova malha de circuitos entre colônias e metrópoles, ao mesmo tempo que a entrada de produtos coloniais estimulava o comércio entre as próprias nações européias. O mercado colonial servia de alavanca para o desenvolvimento da produção mercantil das metrópoles, particularmente da produção manufatureira. Finalmente, a entrada maciça de metais preciosos da América vinha permitir a superação da "depressão monetária" que dificultava a circulação mercantil na Europa na fase de crise do feudalismo.

O Brasil também passou pelo processo de revolução industrial como aconteceu na

Inglaterra em 1750, o Brasil passava por momentos de crise, a produção agrícola foi perdendo

espaço para as indústrias fruto de uma nova política interna gerada pelo Presidente da época

Getúlio Vargas, a mão de obra utilizada vinha da zona rural como também do povo nordestino

que viaja em busca de uma vida melhor na cidade grande movimento este conhecido como

êxodo rural. O Brasil reagiu dessa forma os efeitos da crise de 1930 justamente com a

revolução industrial no país, Romanelli (2002, p.48) relata esse momento na sociedade

brasileira,

A Economia brasileira reagia de forma dinâmica aos efeitos da crise: o crescimento do mercado interno e a queda das exportações implicaram a transferência da renda de um para outro setor. Essa transferência se fez do setor tradicional para o moderno, ou seja, da área agrícola para a industrial. Tudo isso trouxe consequências benéficas para o setor industrial, que, graças à crise, passou a contar com a disponibilidade do mercado interno, então não mais dominado pelo capital estrangeiro, e com a possibilidade de um aproveitamento mais intenso de sua capacidade já instalada e que, até então, vinha operando em regime de subaproveitamento, por causa da concorrência das importações.

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Nesse momento começamos a viver em nosso país mudanças de costumes tanto na

sociedade como na economia, começamos a passar por uma transição de produção agrícola

para industrial gerando uma mudança nas relações socioeconômicas do Brasil, da mesma

forma como aconteceu na Inglaterra no século XVIII, esse movimento industrial acelerou e

impulsionou a urbanização como também o crescimento demográfico das cidades a onde

estavam em vapor as indústrias. Santos (1993, p. 27) afirma que:

O termo industrialização não pode ser tomado aqui, em seu sentido estrito, isto é, como criação de atividades industriais nos lugares, mas em sua ampla significação, como processo social complexo, que tanto inclui a formação de um mercado nacional, quanto os esforços de equipamento do território para torná-lo integrado, como a expansão do consumo em formas diversas, o que impulsiona a vida de relações (leia-se terciarização) e ativa o próprio processo de urbanização. Essa nova base econômica ultrapassa o nível regional, para situar-se na escala do País; por isso a partir daí uma urbanização cada vez mais envolvente e mais presente no território dá-se com o crescimento demográfico sustentado das cidades médias e maiores, incluídas; naturalmente, as capitais de Estados.

É nesse cenário que surgem todas as mazelas sociais geradas pelo capitalismo e pela

ausência de Estado, no que diz respeito ao acompanhamento de crescimento urbano e

demográfico, foi então que começou a surgir construção de favelas, aumentou a dificuldade

de suprir as necessidades nas áreas de saúde, educação, moradia, lazer, segurança. O Estado

começa a não acompanhar este crescimento, pois nesse momento a sociedade ela passa a

crescer e não se desenvolver, para o capitalismo só quem se desenvolve economicamente são

aqueles que detêm o poder aquisitivo e a maioria sofre com as consequências desse sistema.

É nesse sistema que as classes dos proletariados e dos burgueses se confrontam,

naturalmente os conflitos aparecem e não demora o aparecimento das mazelas sociais, nesse

conflito em meio de toda uma revolução os burgueses se tornam a classe governante e

dominante, enquanto os proletariados se tornam os governados e dominados pelos burgueses e

também pelo sistema capitalista que induz comandando ambas as partes. Os pensadores Marx

e Engels (1998. p.74) ensinam:

Apesar do fato de que o proletariado é compelido pela força das circunstância a organizar-se como classe durante sua luta contra a burguesia; apesar do fato que, por meio de uma revolução, ele se torna a classe governante, como tal, varre pela força, as velhas condições de produção; apesar desse fatos, ele varrerá, juntamente com essas condições, também as condições de existência de qualquer antagonismo de classe e de quaisquer classes.

As classes elas são natural desde que o homem entendeu que era necessário o

sedentarismo para sua subsistência, surgindo dentro das classes sociais aqueles que tinham as

terras e aqueles que passaram a servir os proprietários de terras. O fato é que nunca haveria

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uma única classe na sociedade porque mesmo que os proletariados ganhasse a luta contra os

burgueses naturalmente dentro dos proletariados nascia outra classe, é o que nos ensina

Popper,

Do fato de que, de duas classes só uma permaneça, não se segue que haverá uma sociedade sem classes. As classes não são como os indivíduos (...). Não há razão terrena para que os indivíduos que formam o proletariado mantenham sua unidade de classe uma vez cessada a pressão da luta contra a classe inimiga comum. Qualquer conflito latente de interesses é agora capaz de dividir o proletariado, antes unido, em novas classes desenvolvendo uma nova luta de classes”. (POPPER, 1987, p.144).

O Brasil passou por todo esse processo de colonização e industrialização, este

processo que explicita dois fatos sociais capazes de nos explicar porque o nosso país colhe

tantas mazelas sociais ainda hoje. Atualmente o Brasil ocupa 6º posição na economia

mundial, no entanto quando se trata de IDH (Índice de desenvolvimento humano) caímos

drasticamente para 84º posição no ranking mundial demonstrando um crescimento

econômico, mas não um desenvolvimento social. O Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento nos prova esses dados:

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil avançou de 0,715 em 2010 para 0,718 em 2011, e fez o país subir uma posição no ranking global do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH)deste ano. Com isso, o Brasil saiu da 85ª para a 84ª posição, permanecendo no grupo dos países de alto desenvolvimento humano. (PNUD, 2011)

Mesmo o Brasil subindo uma posição no ranking como nos mostra o Programa das

Nações Unidas para o Desenvolvimento, a desigualdade social ainda é gritante no nosso país,

uma grande parte da população vive com dificuldades e uma minoria vive usufruindo uma

grande parte da economia do país, ou seja, o fato de nós sermos a 6ª economia do mundo não

tem mudado a vida da maioria dos brasileiros que vivem sofrendo com os reflexos da

desigualdade social.

A desigualdade social é fruto do sistema capitalista que vivemos, fruto de uma

exploração por parte de uma minoria sobre a maioria, a má distribuição de renda no nosso

país é um dos pontos preponderantes para a desigualdade social, não podemos deixar também

de destacar a falta de investimentos na área da educação, saúde, moradia, lazer, enfim, em

todas as áreas sociais em que o Estado necessita investir para oferecer aos cidadãos uma vida

digna de se viver.

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Segundo Camargo ( 2012):

Todavia, a desigualdade social no Brasil tem sido percebida nas últimas décadas, não como herança pré-moderna, mas sim como decorrência do efetivo processo de modernização que tomou o país a partir do início do século XIX. Junto com o próprio desenvolvimento econômico, cresceu também a miséria, as disparidades sociais – educação, renda, saúde, etc. – a flagrante concentração de renda, o desemprego, a fome que atinge milhões de brasileiros, a desnutrição, a mortalidade infantil, a baixa escolaridade, a violência. Essas são expressões do grau a que chegaram as desigualdades sociais no Brasil.

O fruto dessa desigualdade social é a miséria, a violência, a formação de um Estado

paralelo, a corrupção de agente públicos, ou seja, é uma gama de consequência relacionada às

questões econômicas e porque não dizer a distribuição de renda.

No Brasil tudo o que queremos ter de bom temos que comprar, porque o Estado não

fornece, como por exemplo: saúde, educação, moradia, e segurança. O fornecimento desses

serviços que o Estado deveria ter não é realizado com a devida eficiência e qualidade que

merecíamos.

Não é difícil ver no Brasil agente da área de segurança pública envolvidos com a

corrupção, ou melhor, com crime propriamente dito por que muitas das vezes os salários

pagos a esses agentes não são dignos ao trabalho arriscado que os mesmos executam no nosso

país, não trato isso como uma “explicação” para favorecer o crime, mas para mostrar como a

questão econômica e social está bastante relacionada com o mesmo.

O Estado paralelo tem mostrado pra que veio e que são organizados, o crime favorece

as pessoas um poder aquisitivo que a economia do Estado não pode favorecer, numa

sociedade como a nossa que tem uma desigualdade social gritante é de se esperar que as

pessoas encontrem no crime uma “solução” para seus problemas socioeconômicos como do

tipo uma boa moradia, uma boa roupa para se vestir, um bom tênis para se calçar, um status

social que não se tem. Os mesmo antes de se tornarem “marginais” eles já são marginalizados

pela sociedade e pelo o Estado na sua explícita ausência.

O crime tem atraído e verdadeiramente atraí quem nunca teve nada na vida, e quem

nem tampouco tem perspectiva de vida que muitas das vezes nascem em lares totalmente

destruídos socialmente como também emocionalmente, então perguntamos o que fazer diante

de uma situação como esta? É aí que o Estado paralelo entra em cena para decidir o futuro de

muitos, é neste momento em que a sociedade e o Estado têm perdido as crianças e os

adolescentes para o crime e em muitos dos casos para a morte.

O Estado na sua explícita ausência e a sociedade na sua omissão, são responsáveis por

esta catástrofe social e nada fazem para mudar esta situação, é difícil ver um político lutando

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pelas questões sociais no nosso país como também ver a sociedade cobrando de nossas

autoridades uma providência, a sociedade também erra por escolher pessoas não qualificadas

para assumirem cargos que não condiz com a capacidade dos mesmos.

O jurista Beccaria relata que as vantagens da sociedade devem ser distribuídas a todos

os membros equitativamente, porém o jurista viveu justamente no período da revolução

industrial no momento em que a burguesia vivia sua fase de ostentação, enquanto ela tinha os

meios de produção a classe proletária tinha somente a força e o trabalho para fornecer ao

capitalismo, algo não muito diferente nos dias atuais a onde os homens como no tempo de

Beccaria só se reúnem para discutir a concentração de privilégios a uma pequena parte da

população, restando a grande maioria a miséria e a debilidade.

Veja o que nos diz no século XVIII o filósofo e jurista Beccaria (2003, p.13):

As vantagens da sociedade devem ser distribuídas equitativamente entre todos os seus membros. Entretanto, numa reunião de homens, percebe-se a tendência contínua para concentrar no menor número os privilégios, o poder e a ventura, e restando à maioria miséria e debilidade.

No contexto social um dos pais da sociologia chamado Émile Durkheim não errou em

dizer que “a comparação e a explicação de um fato social só podem ser feita por outro fato

social”, é visível essa realidade em nosso país mesmo depois de séculos em que esses homens

notaram essa realidade sociológica que as sociedades viviam.

A verdadeira situação vivida no nosso país é retratada por Marcola numa entrevista a

Rede Globo, ele mostra o medo da sociedade, explica que os criminosos são uma nova

linhagem de pessoa, ou seja, outra espécie que surge no nosso meio, uma espécie de pós-

miséria, vejamos:

[...] Você não têm medo de morrer?"   - Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar... mas eu posso mandar matar vocês lá fora.... Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba... Estamos no centro do Insolúvel, mesmo... Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração... A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala... Vocês, intelectuais, não falavam em luta de classes, em "seja marginal, seja herói"? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha... Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante... mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país. Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem. Vocês não ouvem as gravações feitas "com autorização da Justiça"? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria...]   (Grifo Nosso)

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Entrevista atribuída à Marcola, do PCC (Publicada em 23 de maio de 2006, no Jornal O GLOBO - Segundo Caderno - Edição 1 - Página 8 - Coluna do Arnaldo Jabor) em 23/05/2006.

O Estado e a sociedade em suas ausências no lugar de formarem as crianças e os

adolescentes para sociedade, tem formado os mesmos para o crime através do processo de

marginalização pratico pela própria sociedade. No lugar de formarem médicos, advogados,

professores, psicólogos, outras profissões, estão formando traficantes, ladrões, psicopatas,

estelionatários, o que tem gerado essa realidade tão triste no nosso país que não dar mais

esconder as nossas fragilidades e as nossas dificuldades como sociedade “organizada” que

somos.

Chegamos então a perguntar a onde está dignidade da pessoa humana?! Algo previsto

na Constituição Federal como um dos princípios fundamentais no art. 1º inciso III como

também na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Este princípio está relacionado à

liberdade, ao respeito, a igualdade entre os seres humanos, sendo homem responsável pelos

seus atos, pela sua vida e pelas suas escolhas. Moraes (2006) a conceitua da seguinte maneira:

A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que apenas excepcionalmente possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos.

Segundo Augusto Zimmermann (2004, p. 234-235):

A dignidade da pessoa humana valoriza o homem como ser único, sujeito autônomo de decisão moral. Ele proporciona que o bem comum possa se realizar através da livre opção dos membros da coletividade, da sua única e exclusiva decisão responsável em face do bem e do mal.

A dignidade no nosso país não existe para nossas crianças e nossos adolescentes, eles

não tem tido a escolha entre o crime e uma vida digna, tem se encontrado muitas das vezes

num beco sem saída e sem oportunidade alguma de poder ter o direito de escolher entre o bem

e o mal, é esta oportunidade que a sociedade e o Estado não têm ofertado para os mesmos.

4 CRIMINALIDADE PRECOCE

Crime é toda conduta típica prevista por lei, antijurídica, ilícita praticada por qualquer

pessoa. Damásio nos ensina que “o crime, em primeiro lugar, é um fato. Dentre os fatos,

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constitui um fato jurídico, pois produz efeitos jurídicos, não sendo, assim, indiferente ao

Direito. Como fato jurídico é uma ação (ou omissão) humana de efeitos jurídicos

involuntários.” (JESUS, 2005, p.164) Para o Assis Toledo o conceito analítico de crime seria,

“um fato humano que lesa ou expõe a perigo bens jurídicos (jurídico-penais) protegidos. O

crime, nessa concepção que adotamos, é pois, ação típica, ilícita e culpável.” (TOLEDO,

1984, p.80)

Segundo a conceituação de Zaffaroni (1996, p.324):

delito é uma conduta humana individualizada mediante um dispositivo legal (tipo) que revela sua proibição (típica), que por não estar permitida por nenhum preceito jurídico (causa de justificação) é contrária ao ordenamento jurídico (antijurídica) e que, por ser exigível do autor que atuasse de outra maneira nessa circunstâcia, lhe é reprovável (culpável).

Diante destas definições podemos dizer que o crime é um fato humano que pode ser

uma ação ou omissão, caracterizando um fato atípico, antijurídico e sendo este culpável.

É nessa linha de conduta que muitos jovens em nosso país têm praticado diariamente,

a criminalidade tem se enraizado ao longo dos anos em todo país. É tão visível isto que até em

lugares que se diziam tranquilos para se viver a insegurança tem tomado espaço de forma

acelerada, contínua e muitas das vezes organizada.

O crime tem sido organizado e nada melhor para exemplificar essa afirmação do que o

tráfico de drogas em nosso país, crianças e adolescentes são a cada dia são recrutados para

fazer parte dessa organização criminosa que além de praticarem o tráfico de drogas são

levados à prática de outros delitos para manter de pé as facções.

O art. 228 da Constituição Federal nos mostra que “São penalmente inimputáveis os

menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.” É de suma importância

ser ressaltado que este artigo acima mencionado é considerado Cláusula Pétrea, ou seja, as

Cláusulas Pétreas não pode ser mudadas de acordo com art. 60, § 4º Inciso IV da Constituição

Federal, observe: § 4º - “Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a

abolir: IV - os direitos e garantias individuais”.

De acordo com o art. 27 do Código Penal Brasileiro, o menor de 18 anos de idade é

considerado inimputável e se cometer algum delito ficará sujeito às normas estabelecidas pela

legislação especial. Vejamos o art. 27 do Decreto-Lei Nº 2.848, de 7 de Dezembro de 1940:

“Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas

estabelecidas na legislação especial.”

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A legislação especial que cuida dos menores em conflito com a lei é a Lei Nº 8.069, de

13 de Julho de 1990, conhecida como Estatuto da criança e do adolescente. No art. 2º do ECA

(Estatuto da criança e do adolescente) se define o que pra ele é considerado criança e

adolescente, tratando da seguinte forma: “Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a

pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade.”

Sendo assim justamente aonde consideramos a faixa etária de idade que precocemente

tem entrado no crime de forma devastadora e muitas das vezes sem volta, o que nos preocupa

de fato é que não se trabalha para tirar quem está dentro e enraizado no crime nem muito

menos para prevenir a entrada de diversos menores diariamente no submundo do crime.

É dever do Estado e da família garantir e assegurar as crianças e os adolescentes os

seus direitos como, por exemplo, a saúde, a educação, a alimentação, ao lazer, enfim a toda

uma vida digna para que esses tenham um futuro sadio e sem maiores problemas tanto para

eles como também para a sociedade. O que temos visto é totalmente diferente, os direitos

fundamentais para eles não tem sido oferecido pelo Estado e nem pelas famílias que

geralmente são desestruturadas. Vejamos o que a Constituição assegura aos menores no art.

227: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 2011, Artigo 227)

O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) no art.4º diz:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (ECA, 2012, Artigo 4º)

Para o crime as crianças e os adolescentes são a mão de obra necessária para a

produção de crimes, usados como “bode expiatório” encontram neles uma forma de encobrir

os autores dos crimes, tendo em vista que os menores são tratados pelo ECA (Estatuto da

Criança e do Adolescente) e não pelo Código Penal Brasileiro. Os menores são por sua vez

uma presa fácil para o crime organizado, tendo em vista a vulnerabilidade que a desigualdade

social impõe sobre eles, passando ter o crime como um “trabalho” de boas recompensas e de

facilidades.

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Os traficantes por sua vez mostram interesse com esses menores como também com a

comunidade, procurando resolver os problemas sociais da comunidade nem que seja de forma

paliativa, uma estratégia para conseguir a confiança e a liberdade de praticar seus atos ilícitos

dentro da comunidade em que eles vivem.

Se as leis referentes às crianças e os adolescentes fossem efetivamente praticadas não

teríamos tanto problemas como temos hoje, se os direitos e as garantias fundamentais deles

fossem cumpridos pelo Estado, pela sociedade e pela família, não teríamos tantas crianças e

adolescentes entrando no crime e teríamos muita chance de retira-los. Não precisamos de

mais leis, precisamos de um Estado e de uma sociedade eficiente que cumpra seus deveres e

que não sejam omissos, mas que sejam maduros para discutir e buscarem uma solução para

toda essa problemática social que tem levado nossas crianças e nossos adolescentes para o

mundo do crime.

5 EXLCUSÃO SOCIAL

Primeiro vamos procurar definir fato social de acordo com um dos maiores sociólogos

de todos os tempos Durkheim (2007, p.40), conceitua o fato social da seguinte forma:

Fato social é toda a maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior: ou então, que é geral no âmbito de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das suas manifestações individuais.

O fato social é uma coerção exterior exercida sobre o indivíduo e sendo esta linha de

pensamento que seguimos é também viável sabermos que a comparação e a explicação de um

fato social só podem ser feita por outro fato social (Émile Durkheim), essa teoria nos dar uma

grande fundamentação quando afirmamos que a insegurança pública está bastante relacionada

com as mazelas sociais vividas pelo nosso país, e que as nossas crianças e nossos adolescentes

têm sido vítimas deste sistema econômico injusto e por este Estado de injustiça, não podemos

deixar de afirmar que também são vítimas de uma sociedade de consumo desumana e muitas

das vezes cruéis que deu espaço para a urbanização e o capitalismo, gerando o descaso das

crianças abandonadas no nosso país. No entender de Trindade (1999, p.23):

A criança fora da família, abandonada ou na rua, ganhou, no início do século XX, um grande destaque na sociedade brasileira. É evidente que ela já existia, mas o vigor da urbanização e do capitalismo industrial jogou sobre ela um olhar de preocupação. Na passagem do século, a preocupação com a infância vai tomando um outro rumo, firmando-se a convicção da necessidade de "salvar o menor". Fica

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cada vez mais evidente nos discursos - sobretudo jurídico e filantrópico - a dicotomia entre infância moralmente abandonada e menores delinqüentes.

No entanto é fato que em primeiro momento o que passa em nossas cabeças são

posições imediatistas como criações de leis que traga mais rigor, quando na verdade estamos

pensando de forma paliativa e imediatista, pensamentos estes influenciados de pré-conceitos

em relação à criminalidade vivida por todos nós sem nenhum compromisso de buscar a

verdadeira raiz do problema, para muitos segurança pública é sinônimo de polícia e que a

responsabilidade é inteiramente da mesma. A crença de que segurança pública é sinônimo de polícia, e de que polícia é sinônimo de força bruta, da mesma forma que afeta o Governo Federal, impede o enfoque correto da questão nos Estados, que, responsáveis perante os cidadãos pela sua segurança, pretendem resolver o problema tão somente com ações policiais. (SILVA, 2008, p.79)

A força bruta do Estado realmente impede a concentração correta nas questões

primordiais para se revolver a insegurança, pois são questões como a marginalização da

sociedade que é inevitável com tanta desigualdade social que deve ser tratada, mas não só se

concentrar na polícia como única e exclusiva solução para a criminalidade. Um grande

número de pessoas não integrado no sistema produtivo esta nas ruas sem oportunidades e

quando integrados são explorados como mão-de-obra barata, pois são muitos para poucas

vagas de trabalho. Não podemos esquecer que em pleno século XXI não vivemos mais uma

revolução industrial, mas sim uma revolução tecnológica no qual a mesma vem retirando o

emprego de muitos.

O Estado por sua vez com sua ausência não procura combater de forma séria e

acelerada a desigualdade social como também a erradicação da pobreza. Isso lembra o art. 3º,

inciso III da Constituição Federal quando diz que os objetivos fundamentais da República

Federativa do Brasil são: erradicação a pobreza e a marginalização e também redução das

desigualdades sociais e regionais.

O fato é que na prática essa teoria está longe demais, pois o sistema econômico não

perdoa sendo esta desigualdade social a consequência do mesmo. A intervenção do Estado

seria de suma importância para combater as mazelas sociais geradas pelo crescimento

econômico.

Os direitos sociais são Constitucionais, por isso é dever do Estado assegurar a

sociedade brasileira estes direitos previstos na Constituição Federal, porém o que na verdade

temos visto é um grande descaso do Estado em relação à sociedade com suas ações paliativas

e sem solução alguma.

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A constituição Federal no seu art. 6º diz:

São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desempregados, na forma desta Constituição. (BRASIL, 2011, Artigo 6º)

O Estado por sua vez na mais explicita ausência tem fechado os olhos para a

verdadeira a raiz desse grande mal vivido pela sociedade brasileira, problema este que não

tem sido diretamente combatido como deveriam ser.

O fato é que não se analisa o que tem gerado esse desencadeamento da insegurança

pública em nosso país e se é analisado não tem sido levado a sério, tendo em vista que o

trabalho para solucionar esta insegurança é árduo e não tem sido realizado. A sensação que

nós temos é que esta situação está sendo levada ao banho Maria como se diz na expressão

popular.

No Brasil a violência tem crescido assustadoramente, diariamente nós estamos

assistindo na mídia a quantidade de crimes praticados todos os dias sendo eles diretamente

enquadrados numa diversidade de delitos previstos no Código Penal Brasileiro, gerando assim

a insegurança pública.

Como podemos cobrar das crianças e dos adolescentes seus deveres se seus direitos

não estão sendo mantidos? Como podemos cobrar uma sociedade justa se não damos os meios

da mesma ser justa? É uma grande hipocrisia nos discursos sobre moralidade, legalidade, se

na maioria dos casos esses menores infratores não tem a oportunidade de trilhar caminhos

justos e dignos.

Falta de saúde, a falta de educação, a falta de lazer, a falta de oportunidade de

emprego, é que tem levado nossas crianças a não terem perspectiva alguma em para um futuro

melhor, não existe uma possibilidade de um mundo melhor se os direitos fundamentais para

formamos futuros cidadãos não são oferecidos.

Observe o que trata o art. 3 do Estatuto da Criança e dos Adolescentes,

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

É interessante questionarmos se é necessário criarmos mais leis quando nos deparamos

com um estatuto como este que trata dos direitos fundamentais das crianças e dos

adolescentes, o fato é que se verdadeiramente os direitos dessas crianças fossem realmente

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vivenciados por elas, estaríamos com certeza prevenindo a entrada dos menores no crime

como também retirando aqueles que já tivessem envolvido com o mesmo, pois estaríamos

passando para esses menores a oportunidade deles escolherem entre o bem e mal.

O crime tem sido oportuno para esses menores pela renda muitas das vezes oferecidas

e automaticamente o poder de compra nem que seja por um curto prazo, é desta forma que

perdemos todos os dias essa nova sociedade em formação para o crime organizado pelo fato

que não somos organizados o suficiente ao ponto de discutirmos e darmos soluções para os

nossos problemas sociais.

Nossas crianças são marcadas pela dominação de classe e profundas desigualdades

todos os dias segundo Azevedo e Guerra (1989. p. 26):

[...] violência estrutural, característica de sociedades como a nossa marcadas pela denominação de classes e profundas desigualdades na distribuição da riqueza social. São as que denominamos de menor, enquanto categoria designativa da infância em situação irregular, a reclamar, portanto, intervenção e proteção do Estado.

As crianças e os adolescentes têm sido vítimas do sistema capitalista, da ausência do

Estado, e da omissão por parte da sociedade, uma grande maioria tem sido explorada todos os

dias por uma minoria sendo esta maioria marcada pelas profundas desigualdades sociais e

pelas mazelas sociais que tanto aflige o povo brasileiro, os menores faz parte dessa sociedade

sofrida e vitimizada por todo este contexto vivido nos dias atuais, fruto de uma história de

exploração econômica.

Quem sabe um dia aconteça como Beccaria (2003, p.13) observou na sua época que:Além do mais, apenas depois de terem pervagados por muito tempo em meio aos erros mais prejudiciais, após terem, por milhares de vezes, expostos a própria liberdade e a mesma existência, é que, cansados de penar, reduzidos aos últimos extremos, os homens resolvem dar remédio aos males que os atormentam.

Quem sabe depois de tanto a sociedade sofrer possa tomar uma atitude em relação as

nossas crianças e nossos adolescentes que tanto tem entrado de corpo e alma no mundo do

crime.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A história nos mostra que a desigualdade social no mundo surge com o aparecimento

dos primeiros grupos sedentários nascendo assim as classes sociais, ou seja, os dominantes e

os dominados.

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Nosso país não tem uma história muito diferente a do mundo, pois desde a sua

colonização que somos explorados economicamente e um dos fatos sociais muito importantes

para entendermos a exploração e o capitalismo é a revolução industrial que surgiu na

Inglaterra e tomou espaço no mundo todo inclusive no Brasil, gerando grandes desigualdades

sociais.

A desigualdade social é o alimento para formação de classes e a uma grande

contribuidora para entrada das nossas crianças e adolescentes no mundo do crime. Por sua vez

temos um Estado ausente e uma sociedade omissa, que não tem maturidade suficiente para

discutir seus problemas sociais e buscar soluções efetivas capazes de bloquear a entrada

desses menores no mundo do crime como também paralelamente retirar aqueles que já se

encontram envolvidos na criminalidade. Se houvesse esta preocupação no combate a entrada

precoce desses menores a criminalidade teríamos certamente uma sociedade organizada e

mais justa neste sentido.

Entendemos também que se os diretos e as garantias fundamentais previstos tanto na

Constituição Federal como na legislação especial para os menores, que neste caso seria o

ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), fossem concretizados por parte do Estado, das

famílias e de toda sociedade não estaríamos sofrendo com tanta criminalidade praticada por

esses menores.

O que precisamos é levar a sério a futura sociedade que está sendo formada a cada dia,

para que amanhã possamos colher bons frutos de uma sociedade mais justa e igualitária e não

os frutos da criminalidade de uma sociedade omissa e de um Estado ausente que não oferece

meios para gerarmos uma sociedade organizada.

SOCIAL EXCLUSION stimulator of Crime Early

ABSTRACT

The early crime in Brazil is the result of social ills experienced by our society as a result of the capitalist system imposed on our country, that generates a glaring social inequality that so afflicts us, it is also the result of an absent and a silent society, which turn only drives the input of children and adolescents to crime because they are not offered to the right to choose between good and evil, and they are denied all the days of their rights and their fundamental guarantees contained in the Federal Constitution and the ECA (Statute of the Child and adolescent), thus easily leading these children and adolescents who believe they are vulnerable to crime, come early in the crime. This article aims to discuss the crime early,

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trying to show who brought the children and teenagers to the world of crime, taking into account the social problems existing in our country since its formation, because this work also mentions the historical and socioeconomic, to have a better understanding of social facts that occurred today. Through a literature search looking for conceptualizing crime; understand and show how young people have entered the crime, so that we could understand what the root of this sequel to the social ills that have brought our society. Consequently we discussed in our study the industrial revolution as a social fact, that changed the life of society in Brazil and abroad, and the capitalist system as a conductor of this whole social exclusion that afflicts our country. We seek to define our age we consider early according to the ECA (Statute of Children and Adolescents). We show the fundamental rights and guarantees of children and adolescents in the Federal Constitution of Brazil, as well as in the ECA (Statute of Children and Adolescents).

Keywords: Crime early. Crime. Social exclusion. Absence of state.

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