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IBMEC FACULDADES IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA LUCIA MARIA BITTENCOURT OGURI A INFLUÊNCIA DO CONSUMIDOR NA PRODUÇÃO DE TELENOVELAS Rio de Janeiro 2004

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IBMEC – FACULDADES IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM

ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

LUCIA MARIA BITTENCOURT OGURI

A INFLUÊNCIA DO CONSUMIDOR NA

PRODUÇÃO DE TELENOVELAS

Rio de Janeiro 2004

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IBMEC – FACULDADES IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM

ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

A INFLUÊNCIA DO CONSUMIDOR NA PRODUÇÃO DE TELENOVELAS

Por

LUCIA MARIA BITTENCOURT OGURI

Orientadora: Professora Dra. Marie Agnes Chauvel Dissertação de Mestrado Profissionalizante apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração e Economia das Faculdades Ibmec, como requisito parcial necessário para obtenção do título de Mestre em Administração.

Rio de Janeiro 2004

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LUCIA MARIA BITTENCOURT OGURI

A INFLUÊNCIA DO CONSUMIDOR NA

PRODUÇÃO DE TELENOVELAS

Dissertação de Mestrado Profissionalizante apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Administração e Economia das Faculdades Ibmec, como

requisito parcial necessário para obtenção do título de Mestre em Administração.

Área de concentração: Marketing.

APROVADO EM _____/____/2004

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________ PROFESSORA DRA. MARIE AGNES CHAUVEL

Orientadora - Faculdades Ibmec

_______________________________________________

PROFESSORA DRA. SIMONE BACELLAR Faculdades Ibmec

_______________________________________________

PROFESSORA DRA. ANGELA DA ROCHA Coppead

Rio de Janeiro 2004

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Oguri, Lucia Maria Bittencourt.

A influência do consumidor na Produção de telenovelas/Lucia Maria Bittencourt Oguri. – Rio de Janeiro: Faculdades Ibmec, 2004.

Dissertação de Mestrado Profissionalizante apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração das Faculdades Ibmec, como requisito parcial necessário para a obtenção do título de Mestre em Administração.

Área de concentração: Marketing.

1. Consumidor. 2. Telenovela. 3. Pesquisa de audiência. I. Título

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Dedico aos meus filhos Maria Anita e Pedro.

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Agradecimentos:

À orientadora, Professora Dra. Marie Agnes Chauvel, pela sua colaboração e amizade. Ao meu irmão Fernando por todo o incentivo que deu a este estudo, pelo apoio a minha formação profissional, pelo seu exemplo de disciplina, dedicação ao trabalho e pelo seu carinho. À TV Globo, ao seu Projeto Globo e Universidade, à Central Globo de Criação, à Central Globo de Produções, à Divisão de Pesquisa, ao CAT, à Central Globo de Engenharia, aos autores que colaboraram e a todos os profissionais da empresa que se empenharam em contribuir para este estudo. Ao meu pai pelo incentivo que vem dando, ao longo da vida aos meus estudos, pela sua bondade, dedicação e por todo o seu afeto. Ao meu sogro Nobuo Oguri pelo constante apoio aos meus estudos, pelo seu exemplo de disciplina, pela sua atenção e amizade. A todos professores que contribuíram para o meu aperfeiçoamento como profissional. Aos meus amigos de mestrado, especialmente Sandra Dantas e Vinícius Provenzano, pela convivência e troca de experiências.

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Resumo

Oguri, Lucia Maria Bittencourt. A Influência do Consumidor na Produção de Telenovelas. Rio de Janeiro, 2004. 140p. Dissertação de Mestrado Profissionalizante - Administração - Faculdades IBMEC

A presente investigação tem por objetivo apresentar um estudo de caso

onde informações coletadas sobre o consumidor são gerenciadas de forma rara.

As pesquisas de mercado, recurso fundamental dessa dinâmica, são de especial

uso nas empresas de televisão. A TV Globo foi escolhida por ser pioneira nessa

utilização e o produto telenovela por integrar de forma expressiva esse

processo. Foram realizados estudos sobre conceitos, estruturas, fases de

produção do produto, entrevistas aos autores e outros profissionais da empresa.

Os resultados descrevem, em relação à telenovela, o processo de coleta,

registro e análise dos dados sobre o telespectador e, fundamentalmente, discute

a implementação promovida pelos autores dos resultados obtidos com o

tratamento desses dados na empresa.

Palavras-chave

Marketing; pesquisa de mercado; pesquisa de audiência; consumidor;

televisão; telenovela.

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Abstract

Oguri, Lucia Maria Bittencourt. A Influência do Consumidor na Produção de Telenovelas. Rio de Janeiro, 2004. 140p. Dissertação de Mestrado Profissionalizante - Administração - Faculdades IBMEC

The objective of the present investigation is the exposure of a case study

where consumer gathered information is exceptionally managed. The essential

resources of this dynamic are market researches, for they are of special use in

television networks. “TV Globo” was selected for its innovative use of this method

and soap operas because they expressively integrate this process. Studies on

concepts, structures, product production phase, interviews with writers and other

employees were elaborated. The results describe the gathering process,

registration and dada analysis on the views concerning soap operas and

especially discuss the implementation of the obtained results by the authors.

Keywords

Marketing; market research; marketing research; audience ratings;

audience research; consumer; television network; soap opera.

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SUMÁRIO

Lista de figuras......................................................................................... xi

Lista de tabelas........................................................................................ xi

Lista de abreviaturas e siglas

Resumo.................................................................................................... vii

Abstract................................................................................................... vii

1. Introdução.............................................................................................. 1

2. Problema

2.1.Contextualização do problema.............................................................. 2

2.2. Pergunta de Pesquisa.......................................................................... 3

2.3. Objetivos...............................................................................................3

2.4. Relevância do Estudo...........................................................................4

2.5. Delimitação do Estudo..........................................................................5

3. Referencial Teórico

3.1. A empresa orientada para o cliente......................................................6

3.2. O papel da pesquisa de marketing..................................................... 13

3.2.1.Pesquisa de marketing em TV......................................................... 18

3.3. O produto telenovela.......................................................................... 24

3.3.1. Evolução do negócio telenovela...................................................... 25

3.3.2. A construção da telenovela............................................................. 28

4. Metodologia

4.1. Tipo de pesquisa................................................................................ 35

4.2. Método de pesquisa........................................................................... 36

4.3. Coleta de dados.................................................................................36

5. Estudo de Caso

5.1. Introdução...........................................................................................40

5.2. As telenovelas da Globo.....................................................................40

5.2.1. As pesquisas e a industrialização da telenovela............................. 45

5.3. Consolidação das pesquisas na Globo.............................................. 47

5.4. Painel Nacional de Televisão - PNT.............................................49

5.5. Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística - IBOPE ............ 51

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5.6. A posição estratégica da telenovela na empresa..............................56

5.7. Departamento de Pesquisa da Globo................................................59

5.8. Central de Atendimento ao Telespectador – CAT........................... 62

5.9. Assessoria de Imprensa.................................................................. 67

5.10. Projetos Sociais.............................................................................. 68

5.11. Os roteiros da Globo....................................................................... 69

5.12. A Central Globo de Produção ..........................................................71

5.13. Levantamento das alterações em telenovelas.................................79

5.14. Opinião dos autores e diretores ......................................................85

6. Análise

6.1. As Pesquisas e o Referencial Teórico..............................................103

6.2. Autores e alterações em telenovelas ..............................................106

6.3. Análise do levantamento das Alterações.........................................116

7. Conclusão......................................................................................... 120

8. Sugestão............................................................................................ 129

9. Bibliografia......................................................................................... 130

10. Anexos..............................................................................................139

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LISTA DE FIGURAS

1. Cena de um capítulo ..................................................................... 32

2. Índices de audiência.......................................................................53

3. Função do Departamento de Pesquisa..........................................59

4. Áreas da Produção (CGP) ............................................................73

TABELAS

1. Baixa audiência ou insatisfação do público.................................. 117

2. Mudança em busca de audiência................................................. 118

xi

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1. Introdução

A participação do telespectador no rumo das histórias para telenovelas é

assunto que se tornou popular. Não apenas o público e jornalistas discutem a

questão, ela também é formulada por autores, estudiosos e críticos em

telenovelas que falam da participação do consumidor neste tipo de negócio.

Segue uma seleção de alguns trechos onde a questão pode ser

observada: "A telenovela é obra aberta..." (Dias Gomes); "o público é co-autor..."

(Aguinaldo Silva); "público aprova gay, mas reprova beijo..." (Folha de São

Paulo); "conclusão de pesquisas realizadas com grupos de telespectadores na

semana passada pelo jornal..." (O Globo); "o destino de Rafaela começa a ser

decidido daqui a duas semanas, quando a emissora promoverá pesquisas..."

(Folha de São Paulo); "A diretora da Retrato Consultoria, que promove

discussões de grupo, afirma que as mulheres em especial, estão maravilhadas

com os temas..." (Revista Época); "A novela se sujeita ao julgamento do público

e da crítica, modifica-se, se for necessário..." (Pallottini).

A Rede Globo também descreve em seu site:

redeglobo3.globo.com/institucional, "(...) a empresa procura conhecer mais

intimamente o perfil do telespectador, saber de suas expectativas e em razão

disso motivá-lo. O gosto do público é tão levado em conta que, de certa maneira

o telespectador é co-autor da novela."

Os autores e profissionais de marketing observam sobre a importância de

obter informações sobre consumidor para o planejamento dos negócios da

empresa. Apontam as pesquisas de mercado como um recurso de vasta

aplicação para obtenção deste conhecimento.

A influência do consumidor nas telenovelas, assunto de difusão, sinaliza

para uma prática de marketing. O estudo se propõe a esmiuçar esta prática, ou

seja, a participação do consumidor no rumo ou aperfeiçoamento do negócio; visa

tratar dessa dinâmica de gerenciamento das informações sobre o consumidor

numa empresa de televisão com seu produto de destaque: a telenovela;

investiga, sob a visão do marketing e da administração, como acontece o

processo de influência do telespectador, freqüentemente comentado pelos meios

de comunicação, autores de novela e pela própria empresa.

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2. Problema

2.1. Contextualização do problema

As empresas hoje têm reconhecido a importância de entender às

necessidades e desejos do cliente como uma forma de obter vantagem

competitiva. O conceito de marketing ou orientação para o cliente sustenta que

a satisfação do cliente deve ser uma missão das empresas.

A pesquisa de marketing surge como um veículo central para compreender

as expectativas e percepções que os clientes possuem sobre os serviços. As

pesquisas quantitativas e qualitativas, feitas com periodicidade, são úteis no

processo de acompanhamento das informações, identificação de tendências e

qualificação da satisfação do cliente. O chamado feedback do mercado, ou a

resposta do consumidor, auxilia as organizações na obtenção de parâmetros

para o planejamento e a verificação da sua estratégia de marketing.

Uma organização orientada para o consumidor, por outro lado, além de

descobrir o que os consumidores desejam, concentra-se também em atingir

seus próprios objetivos. A estratégia de marketing começa com uma análise

detalhada das condições da organização.

As empresas de televisão possuem a característica rara de tratar de um

negócio com necessidade contínua de pesquisa. As pesquisas de audiência são

feitas para que o veículo de comunicação disponibilize indicadores para

agências e anunciantes e possa planejar a venda do seu espaço publicitário; isto

é, a pesquisa é parte integrante do planejamento do negócio das emissoras de

televisão. Essa dinâmica possibilita um considerável conhecimento do público

telespectador. A televisão surge então como exemplo de negócio que para sua

própria sobrevivência tem que conhecer o consumidor de forma mais profunda e

detalhada.

A telenovela, o programa mais popular e lucrativo da televisão brasileira,

parece ser um exemplo característico da dinâmica do uso das informações sobre

o consumidor ou público telespectador.

O tema A influência do consumidor nas telenovelas foi interpretado no

presente estudo como o processo de busca, tratamento e implementação das

informações sobre o consumidor. A proposta é investigar como se dá esse

processo que possui características próprias no gerenciamento de dados sobre o

consumidor na empresa.

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2.2. Pergunta da pesquisa

A presente investigação diz respeito ao estudo de um processo constituído

basicamente de três etapas: a busca de dados sobre o consumidor de

telenovelas, o tratamento, análise desses dados e a implementação dos

resultados obtidos com essas informações. Para orientar esta pesquisa, a

pergunta formulada pode ser resumida da seguinte maneira: De que forma e em

que medida a estrutura de produção de telenovelas utiliza, durante o seu

processo de feitura, informações sobre o consumidor? Trata-se de uma pergunta

dividida em duas questões:

1. De que forma a estrutura de produção de telenovela utiliza informações sobre

o consumidor?

2. Em que medida são utilizadas essas informações?

O que se deseja saber é como o consumidor pode alterar a produção de

telenovelas. A questão 1 dará um suporte imprescindível à resposta final da

pergunta da pesquisa. Trata-se de descrever e entender como setores

competentes da empresa estudada gerenciam informações sobre o consumidor,

de modo a tornar essas informações úteis no processo de possíveis ajustes no

produto telenovela.

A questão 2, "Em que medida são utilizadas...", tem por objetivo descrever

e delimitar o uso desses resultados, na construção da telenovela, apresentando

os diferentes fatores envolvidos em todo processo de gerenciamento dessas

informações. A indagação: Afinal, o consumidor influi na telenovela? Está

relacionada a esta questão.

2.3. Objetivos

2.3.1. Objetivo final

O objetivo final deste estudo é identificar e descrever o processo de

gerenciamento das informações sobre o consumidor, referente ao produto

telenovela. Investigar como são coletadas, analisadas as informações sobre o

consumidor e implementados os resultados obtidos através dessas informações,

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dentro da empresa. Entender o limite no uso dessas informações, apresentando

os diferentes fatores envolvidos nesse processo.

2.3.2. Objetivos intermediários

Para alcançar o objetivo final, foram estabelecidos os seguintes objetivos

intermediários:

1. Descrever aspectos sobre o processo de desenvolvimento de um roteiro de

telenovela e sua relação com a produção e setores administrativos da

empresa - o roteiro.

2. Descrever aspectos sobre estruturas e processos de produção de uma

telenovela e sua relação com a feitura de um roteiro e setores administrativos

da empresa - a produção.

3. Levantar e descrever os diferentes setores que registram informações sobre

o telespectador; identificar como essas informações registradas contribuem

no processo de produção. Em resumo - os setores que tratam

informações sobre o telespectador.

4. Levantar e descrever os diferentes tipos de pesquisas realizadas durante o

processo de produção e identificar sua contribuição - as pesquisas.

5. Levantar e descrever as alterações já ocorridas em telenovelas - as

alterações em telenovelas.

6. Levantar e descrever as opiniões de autores, diretores e outros profissionais

da empresa sobre alterações nas telenovelas - os autores e diretores.

2.4. Relevância do Estudo

As empresas de televisão têm a característica rara de fazer uso de

pesquisas diárias. Os dados fornecidos sobre o consumidor, de forma contínua,

através das pesquisas, possibilitam que a empresa possua uma dinâmica própria

no aproveitamento e gerenciamento dos dados para o planejamento do seu

negócio.

A peculiaridade do negócio das redes de televisão permite que a influência

do consumidor aconteça de forma especial, pelas próprias características do

negócio. Essa dinâmica, ou processo, fornece um exemplo raro de uso das

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informações sobre o consumidor, possibilitando o gerenciamento e

aperfeiçoamento contínuo do produto e a manutenção constante da satisfação

do cliente; prática que vem ao encontro do conceito de marketing ou orientação

para o cliente.

O estudo de caso que será apresentado visa mostrar esta dinâmica de

coleta, tratamento, análise e implementação de resultados de informações sobre

o consumidor telespectador em relação às telenovelas.

O produto de maior lucratividade da televisão brasileira, as telenovelas da

Globo, exportado para diversos países do mundo, foi escolhido por integrar de

forma significativa todo esse processo de uso das informações sobre o

consumidor para a estratégia de negócio. Não se tem notícia de que a empresa,

pioneira desse processo no Brasil, tenha sido investigada na forma aqui

apresentada.

2.5. Delimitação do estudo

O tema desenvolvido no presente estudo considera somente a Rede

Globo de Televisão. Foi realizado um estudo de caso sobre o processo de

gerenciamento das informações do público telespectador da empresa - seu

consumidor. Os resultados então serão válidos apenas para a empresa em

questão.

Embora diferentes setores da empresa como marketing, programação e

comercial utilizem, de forma sistemática, dados e resultados de pesquisas sobre

o público telespectador, o presente estudo destacou a Central Globo de Criação

e a Central Globo de Qualidade para investigar e descrever os processos de

gerenciamento proposto.

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3. Referencial Teórico

3.1. A empresa orientada para o cliente

Empresas de todo o mundo estão reconhecendo a importância de

entender o comportamento do cliente como um segredo para seu sucesso.

(Sheth; Mittal; Newman; 2001, p.32). Entender e adaptar-se à motivação e ao

comportamento do consumidor, nos tempos atuais, não é uma opção e sim uma

necessidade absoluta para a sobrevivência competitiva. Motivação e

comportamento do consumidor podem ser entendidos com precisão suficiente

para reduzir consideravelmente o risco de fracasso de marketing. (Engel;

Blackwell; Miniard; 1995, p.8).

Dados sobre os consumidores auxiliam as organizações a definir o

mercado e a identificar ameaças e oportunidades, podendo assegurar a posição

do produto neste mercado. A resposta do consumidor é o teste decisivo para

verificar se a estratégia de marketing será bem sucedida. E esse conhecimento

deve ser incorporado em cada etapa de um plano de marketing na empresa

(Solomon, 2002, p.25).

A orientação para o cliente, ou orientação para o mercado, significa pleno

entendimento dos desejos e necessidades dos clientes, do ambiente competitivo

e da natureza do mercado, objetivando formular planos e ações da empresa a

fim de criar clientes satisfeitos (Sheth; Mittal; Newman; 2001, p.39).

Seguir uma orientação para o cliente possibilita à empresa vantagens

competitivas que levam ao aumento da lucratividade e ao crescimento da

receita. A lucratividade é gerada pela eficiência de custo em virtude de clientes

que compram repetidamente, pelas chances de preços mais altos e pela

lealdade do cliente em tempos de crise. Os custos do atendimento a clientes

estabelecidos são consideravelmente menores do que os custos de atender

novos clientes. O crescimento de receita é gerado pelo aumento da propaganda

boca a boca, pela fidelidade e pelas inovações em produtos. As empresas

orientadas para o cliente estão constantemente inovando e melhorando o

desempenho de seus produtos, aperfeiçoando seus níveis de atendimento para

corresponder melhor às necessidades de seus clientes (Sheth et.al. 2001, p.41,

43).

Engel, Blackwell e Miniard observam que, nas últimas décadas,

profissionais de marketing americanos e europeus aprenderam com os

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japoneses, que é muito mais difícil ganhar um novo cliente do que manter um

cliente já existente. Os autores falam sobre o sucesso da Toyota nos Estados

Unidos, e dizem que a sustentação da participação de mercado vem, em

primeiro lugar, por meio de um enfoque contínuo na satisfação e retenção do

cliente, liderança na qualidade e serviço (Engel; Blackwell; Miniard; 1995, p.19).

Segundo Ferrel (2000), uma organização orientada para o consumidor tem

os seguintes conceitos: se concentra em descobrir o que os compradores

desejam e atende a esses de maneira que atinja também seus próprios

objetivos; utiliza marketing de relacionamento para construir negócios

mutuamente benéficos a longo prazo; desenvolve uma orientação de mercado

pela geração e difusão da inteligência de mercado em toda a organização;

descentraliza a autoridade de tomada de decisão para facilitar o feedback do

consumidor; considera marketing como uma função criticamente importante na

empresa; e, finalmente, usa o processo de planejamento estratégico para

construir relacionamentos e criar valor (Ferrel, 2000, p.29).

Com o objetivo de atingir suas metas de maneira eficiente, as empresas

adotam, além da orientação para o consumidor, orientação de metas e a

orientação de sistemas que Mac Daniel e Gates (2003) chamam de doutrinas. A

orientação do consumidor identifica e enfoca o consumidor mais propenso a

comprar um produto, e produz assim, aquilo que atenda as suas necessidades

de maneira mais eficiente. A orientação de metas se preocupa em atingir as

metas empresariais ao mesmo tempo que continua orientada para o consumidor.

E a orientação de sistemas procura integrar diversas unidades da empresa,

monitorar o ambiente externo, e transmitir o mix de marketing para seus

consumidores (Mc Daniel; Gates; 2003, p.6).

A estratégia de marketing começa com uma análise do mercado e da

organização. Isso requer uma análise detalhada das capacidades da

organização, forças e fraquezas dos competidores, forças econômicas e

tecnológicas que afetam o mercado e o atual e potencial consumidor no

mercado. A organização, fundamentada nessa pequena análise sobre o

consumidor, identifica grupos e indivíduos, famílias ou empresas com

necessidades similares. Esses segmentos de mercado identificados são

descritos em termos demográficos, preferências médias, localização geográfica,

etc. Um ou mais desses segmentos são selecionados como mercado alvo

considerando a capacidade da empresa em relação aos seus competidores,

condições tecnológicas, econômicas, etc. (Hawkins; Best; Coney; 1998, p.11).

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A estratégia de marketing procura fornecer ao consumidor mais valor do

que o competidor, ao mesmo tempo que produz lucros para a empresa. A

estratégia de marketing é formulada no composto de marketing. Isso envolve

determinar características do produto, preço, comunicação, distribuição e serviço

que fornecerão ao consumidor valor superior. O conjunto todo de características,

denominado produto total, é apresentado ao mercado alvo. Inicia-se então um

processo de informação e decisões designadas para manter ou intervir no estilo

de vida de indivíduos, famílias, negócios, e outras organizações (Hawkins, 1998,

p.11).

Estratégias de marketing são baseadas, explicitamente ou implicitamente,

em crenças sobre o comportamento do consumidor. As decisões por pesquisas

deverão prevalecer sobre as decisões por intuição. O conhecimento sobre o

comportamento do consumidor pode ser uma vantagem competitiva para a

empresa. Para sobreviver num ambiente competitivo, uma organização deve

fornecer ao seu público alvo mais valor do que seu concorrente. Valor ao

consumidor é a diferença entre todos os benefícios derivados de um produto

total e todos os custos de aquisição desses benefícios (Hawkins, 1998, p. 9).

Para oferecer valor e satisfação ao consumidor, uma organização foca a

análise do consumidor, a análise da concorrência e a integração de seus

recursos, tendo em vista o lucro a longo prazo. O planejamento estratégico de

mercado deve ser visto como um processo de construção de relacionamentos a

longo prazo com os consumidores, e como forma de atingir os objetivos

organizacionais (Ferrel, 2000, p.26).

Para que a organização possa fornecer ao consumidor valor superior, ela

deve se antecipar em certas decisões estratégicas. Deve conhecer as

necessidades do consumidor melhor do que seu concorrente. O conhecimento

pode determinar o sucesso ou insucesso da estratégia de marketing (Hawkins,

1998, p.11).

A falta de sucesso no lançamento de novos produtos ocorre, muitas vezes,

pela ausência de avaliações de mercado. Deve existir uma orientação para o

cliente ao longo de todo o processo de desenvolvimento de novos produtos. A

empresa deve ser orientada pelas preferências e reações dos clientes, desde a

geração de idéias até os testes comerciais de produtos. Os recursos devem ser

dedicados para a geração de idéias que seja orientada para o mercado; as

pesquisas de marketing são importantes neste processo. A orientação para o

cliente não deve ser considerada apenas após o produto ter sido desenvolvido

(Sheth, et. al. 2001, p.46).

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Hawkins (1998) observa que o processo de consumo do consumidor em

potencial deve fazer parte da análise de mercado da empresa, tanto quanto a

capacidade da organização, a capacidade de atuais e futuros competidores, o

ambiente físico, econômico, e tecnológico no qual esses elementos deverão

interagir (Hawkins, 1998, p.13).

As necessidades do consumidor e suas expectativas são constantemente

afetadas pela situação econômica, o ambiente físico, as leis e o desenvolvimento

tecnológico. A capacidade das empresas também é afetada por essas mesmas

variáveis. A deterioração do ambiente físico, por exemplo, tem produzido

demanda por produtos mais sadios, afetando a indústria e o desenho dos

produtos (Hawkins, 1998, p.15).

Um sucesso de vendas ocorre porque a demanda já existe, ou está

latente, esperando ativação pela oferta de marketing adequada. Para isso, é

preciso um contato ativo com os consumidores (Engel; Blackwell; Miniard; 1995,

p.8).

Kotler (1995) diz que as organizações conduzem suas atividades de

marketing baseadas em cinco conceitos: de marketing, venda, produção, produto

e marketing societário. Enquanto o conceito de produção sustenta que os

consumidores preferem os produtos acessíveis e baratos e o conceito de

produto sustenta que o consumidor prefere os produtos de melhor qualidade,

desempenho e aspectos inovadores, o conceito de marketing sustenta que é

preciso determinar as necessidades e desejos dos mercados-alvo e proporcionar

a satisfação desejada.

Ao contrário do conceito de marketing, o conceito de venda concentra-se

no produto, e enfatiza a venda e a promoção para obter vendas lucrativas e a

curto prazo, sem se preocupar com quem compra seu produto e por quê (Kotler,

1995, p.10).

Segundo Kotler (1995), para vencer as atuais competições de mercado, as

empresas terão que mudar da filosofia de produto e venda para a filosofia de

cliente e marketing. O autor distingue os mercados que se caracterizam por

monopólios, observando que nestes casos as empresas não precisam fazer

grande esforço para agradar seus clientes. (Kotler, 1995, p.391).

Sheth et.al. (2001) se referem ao termo cultura do cliente como um

conceito adotado pelas empresas no sentido de ter a satisfação do cliente como

parte da missão da empresa, e um entendimento do comportamento do cliente

como matéria prima para todos os seus planos e decisões de marketing (Sheth

et.al., 2001, p.35).

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A satisfação do cliente depende do quanto o desempenho do produto

atende às expectativas do comprador, diz Kotler (1995); é o que se chama em

marketing de valor percebido. E clientes satisfeitos repetem sua compra, e falam

aos outros sobre suas boas experiências com o produto. O segredo, no fim, diz

ele, é um equilíbrio entre as expectativas do cliente e o desempenho da empresa

(Kotler, 1995, p.6).

Kotler (1995) observa que se o desempenho ficar abaixo da expectativa o

cliente ficará insatisfeito. As expectativas se baseiam em compras anteriores do

cliente, na opinião de amigos, e nas informações e promessas da empresa. A

empresa deve ser cuidadosa ao estabelecer o nível correto das expectativas das

suas ofertas. (Kotler, 1995, p.394).

Para Bateson (2001), a perspectiva de superar expectativas deve ser

ponderada. Nenhuma empresa superaria expectativa vendendo um produto com

preço tão baixo a ponto de não ser lucrativo para a empresa. O autor diz que a

maior parte das empresas não consegue ser tudo para todo mundo. Seus

diferentes produtos são para segmentos diferentes de consumidores, e algum

estará na temperatura certa (Bateson, 2001, p.404).

Os clientes satisfeitos trazem diversos benefícios à empresa: são menos

suscetíveis a preço, e permanecem clientes por muito tempo; compram produtos

adicionais, à medida que a empresa lança produtos vinculados, ou acrescenta

melhoramentos e falam de modo favorável da empresa de seus produtos para

outras pessoas (Kotler, 1995, p. 395, p.6).

A década de 90 surgiu como a era de satisfação do cliente no setor de

serviços, diz Bateson (2001). O autor observa que a avaliação que um cliente faz

de uma compra determina a probabilidade de uma nova compra, o que afeta as

avaliações do resultado final do sucesso empresarial (Bateson, Hoffman, 2001,

p.403).

Bateson (2001) observa que uma empresa deve prestar contas a vários

conjuntos de clientes, inclusive acionistas, e muitas vezes estes objetivos podem

ser conflitantes. A flexibilidade no sentido de grande variedade e personalização

de produtos, muitas vezes, pode não ser aceitável do ponto de vista financeiro.

(Bateson, 2001, p.404).

Sheth (2001) observa que nem sempre a pessoa que utiliza o produto é a

pessoa que compra. Segundo o autor, um cliente pode ser um comprador, um

pagante ou um usuário. O usuário é a pessoa que utiliza o produto, ou recebe os

benefícios do serviço. O pagante é a pessoa que financia a compra, e o

comprador é aquele que obtém o produto no mercado. Qualquer um dos três

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papéis do cliente - usuário, pagante e comprador, faz da pessoa um cliente

(Sheth, 2001, p.50).

Hawkins (1998) refere-se à análise sobre o consumidor como parte da

estratégia de marketing da organização, onde há que se identificar o conjunto de

consumidores com necessidades similares. Uma vez identificado, deve haver

uma descrição destes consumidores em termos demográficos, de estilo de vida,

média de uso do produto, etc. Não se pode fazer uma efetiva comunicação se

não há entendimento do contexto no qual o produto é comprado e consumido,

como ele é percebido pelo consumidor, e a linguagem que ele usa para

descrevê-lo (Hawkins, 1998, p.16).

A segmentação de mercado é a divisão do mercado consumidor em

grupos com necessidades diferentes ou particulares. A empresa que desenvolve

um produto total focado apenas em um segmento poderá encontrar os desejos

destes segmentos melhor do que as empresas que produzem produtos e

serviços para necessidades de múltiplos segmentos. Historicamente, servir

pequenos segmentos envolve relativamente mais custos. Hawkins (1998)

exemplifica: "Um terno produzido sob medida custa mais caro do que produzido

para massa" (Hawkins, 1998, p.15).

Escolher um segmento de mercado envolve quatro etapas: Identificar o

produto relativo para o conjunto de necessidades, agrupar os consumidores com

necessidades similares, descrever cada grupo, selecionar um segmento atrativo

para servir (Hawkins, 1998, p.15).

Uma das formas de identificar o conjunto das diversas necessidades que o

produto atual e potencial da empresa pode satisfazer é a realização de

pesquisas ao consumidor, particularmente focus group e pesquisa em

profundidade, além também da lógica e da intuição. O conjunto de necessidades

está freqüentemente associado a outras variáveis, tais como idade, função

familiar, sexo, classe social, grupo étnico, estilo de vida, etc. Muitas empresas

começam o processo de segmentação focando primeiro em um ou mais grupos

definidos por uma dessas variáveis (Hawkins, 1998, p.16).

Embora as pessoas da mesma faixa etária sejam diferentes em vários

aspectos, elas têm uma tendência a compartilhar de valores e experiências

culturais comuns ao longo da vida, diz Solomon (2002, p. 27).

O termo conjunto de necessidades é usado para refletir o fato de que a

maioria dos produtos é desenvolvida para satisfazer mais do que uma

necessidade. Um automóvel pode satisfazer mais necessidades do que o

transporte básico. Algumas pessoas compram carros para satisfazer transporte e

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necessidade de status. Outros compram para transporte e lazer. Outros

compram para lazer, status e transporte. As necessidades do consumo não

estão restritas às características do produto (Hawkins, 1998, p.16).

As necessidades dos consumidores também incluem tipos e fontes de

informações sobre o produto, onde o produto está disponível, preço do produto,

serviço associado ao produto, imagem do produto ou empresa e mesmo onde e

como o produto é produzido (Hawkins, 1998, p.16).

Hoje, as empresas passam a se preocupar com a construção de um

relacionamento mais efetivo com seus clientes. A filosofia chamada de marketing

de relacionamento introduz o conceito de interação regular com o cliente, de

modo a conhecer melhor suas escolhas. Com essa filosofia, os profissionais de

marketing têm a oportunidade de segmentar seus clientes de forma mais segura.

Esse modo de pensar levou à criação do chamado data base marketing, que são

sistemas informatizados que têm como objetivo: "Acompanhar de perto os

hábitos de compra dos consumidores e elaborar produtos e mensagens

adaptados com precisão aos desejos e necessidades das pessoas" (Solomon,

2002, p.28).

Hawkins (1998) observa: "O produto é alguma coisa que o consumidor

adquire para satisfazer uma necessidade percebida. O que os consumidores

compram geralmente são satisfação de necessidades e não atributos físicos do

produto" (Hawkins, 1998, p.18)

Zeithaml e Bitner (2003) observam que descobrir o que os clientes

esperam é essencial para proporcionar qualidade em serviços, e a pesquisa de

marketing é um veículo central para compreender as expectativas e as

percepções que os clientes possuem sobre os serviços (Zeithaml, Bitner, 2003,

p.115).

As empresas tentam interpretar, por meio de pesquisas, o que os

consumidores querem. O que eles pensam sobre seus produtos, possibilidades

de melhoras, como eles os usam, quais suas atitudes, como eles se sentem em

relação a eles, quais as suas crenças e sonhos (Hawkins, 1998, p.7).

Muitos dos conceitos fundamentais de marketing são baseados na

compreensão sobre o comportamento do consumidor. Na medida em que se

entende por que as pessoas se comportam de certo modo, pode-se formular

estratégias que atendam às necessidades do consumidor (Solomon, 2002, p.

23).

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O estudo do comportamento do cliente oferece os conhecimentos básicos

necessários para decisões empresariais de sucesso (Sheth; Mittal; Newman;

2001, p.32).

O campo de estudo sobre o comportamento do consumidor diz respeito ao

estudo de indivíduos, grupos ou organizações, processos inseridos na escolha,

segurança, uso e disposição de produtos, serviços, experiências e idéias que

satisfaçam a necessidades, e o impacto desses processos sobre o consumidor e

a sociedade. Essa visão faz com que seja examinada indiretamente as decisões

de consumo e suas conseqüências. Hawkins (1998) diz que o comportamento do

consumidor é complexo, desorganizado, não consciente, orgânico, circular - um

processo multidimensional, embora tenha que ser apresentado nos textos de

forma simplificada e linear. O autor (1998) descreve da seguinte forma a

natureza do comportamento do consumidor:

Nossa visão de nós mesmos e o modo que nós tentamos viver são determinados por fatore internos, tais como nossa personalidade, valores emoção e memória; e

fatores externos, tais como nossa cultura, idade, amigos, família e subculturas. (...) Vamos às compras. Algumas decisões de compra poderão afetar esses fatores

internos e externos que mudarão ou reforçarão nosso atual conceito de nós mesmos e dos nossos estilos de vida. (Hawkins, 1998, p.26).

O sucesso das aplicações dos princípios ou modelos conceituais sobre o

comportamento do consumidor depende da qualidade do julgamento das

questões e situações envolvidas. Estratégias de marketing de sucesso requerem

talento, esforço, tempo certo para sua implementação e também um pouco de

sorte (Hawkins, 1998, p. 26).

Há três bases para as decisões de marketing: experiência, intuição e

pesquisa. Nenhuma estará completa sem a outra (Engel; Blackwell; Miniard;

1995, p.17).

3.2. O papel da pesquisa de marketing

Entender quem são os consumidores, como se comportam, por que se

comportam dessa ou daquela maneira e quais sua possíveis reações no futuro é

a essência da pesquisa de marketing, diz Aaker (2001). A pesquisa de marketing

pode também oferecer informações que ajudem a detectar problemas; por

exemplo, problemas de insatisfação com produtos ou serviços, podendo

determinar assim quantas pessoas estão insatisfeitas e descobrir o grau e a

natureza da insatisfação (Aaker, 2001,p.28).

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As pesquisas mais comuns em serviços são: insatisfação de cliente,

acompanhamento da qualidade do serviço, desempenho geral da empresa, e

mudanças na execução dos serviços ( Zeithaml, 2003, p.116).

Malhotra (2001) observa que o ambiente se transforma em alta velocidade,

fazendo com que as organizações precisem de informações cada vez mais

atualizadas. À medida que os consumidores se tornam mais sofisticados, os

gerentes de marketing precisam de informações mais complexas a respeito de

suas reações a novas ofertas de produtos ou serviços (Malhotra, 2001, p.44).

A pesquisa de marketing ajuda o gerente de marketing a ligar as variáveis

de marketing, produto, preço, promoção e distribuição, ao ambiente e aos grupos

de clientes. Os fatores ambientais são as condições econômicas gerais, o

ambiente político, a concorrência e as alterações sociais. Os vários tipos de

clientes são os consumidores, funcionários, acionistas e fornecedores. Variáveis

de marketing, ambiente e clientes se relacionam entre si tornando complexa a

tomada de decisão estratégica dos gerentes de marketing, que devem tomar

decisão a respeito de oportunidades em potencial, seleção de mercado alvo,

segmentação de mercado, etc. (Malhotra, 2001, p.45).

Aaker (2001) observa que a superioridade competitiva de uma empresa

revela-se pela diferenciação de atributos importantes para os consumidores alvo.

Nesse sentido, a pesquisa de marketing é essencial para investigar questões

sobre os atributos do produto ou serviço que agregam valor para o consumidor,

e investigar questões sobre a empresa diante da concorrência (Aaker, 2001,

p.31).

A Pesquisa quantitativa é essencial para a quantificação da satisfação do

cliente, a fim de determinar a importância dos atributos dos serviços e poder

dimensionar a extensão da lacuna da qualidade dos serviços e as percepções de

valor. Fornece pontos de referência aos executivos no sentido de avaliação e

acompanhamento do desempenho da qualidade dos serviços, mostrando como

a empresa se situa em comparação aos seus concorrentes (Zeithaml,2003, 117).

Na década de 80, a ênfase, no gerenciamento de marketing, se

relacionava à melhoria do produto, observam Mc Daniel e Gates (2003),

resumindo-se a um exercício mecânico voltado para a produção. Muitas vezes,

isso significava um desperdício de esforço e dinheiro. Hoje o novo mantra, dizem

os autores (2003), é retorno sobre a qualidade. Isso quer dizer: A qualidade

entregue, a desejada pelo mercado e a qualidade agregada deve causar um

impacto positivo na lucratividade. A pesquisa de marketing é o recurso certo

para obter o retorno sobre a qualidade (Mc Daniel; Gates; 2003, p. 10).

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Para Aaker (2001), toda organização de pesquisa deve ajudar a empresa a

atingir o objetivo de entender as necessidades e satisfações dos clientes de

forma eficaz. A pesquisa de marketing pode auxiliar na melhoraria das decisões

empresariais, proporcionando informações relevantes, precisas e em tempo

hábil. Estratégias relevantes podem ser elaboradas tendo por base as

informações colhidas pela pesquisa de marketing (Aaker, 2001, p.25).

Malhotra (2001) observa que boas decisões não se baseiam em pura

intuição. A ausência de informações corretas pode resultar numa decisão

gerencial errada. A tarefa da pesquisa de marketing é avaliar as necessidades

de novas informações, e fornecer à gerência informações relevantes, precisas,

confiáveis, válidas e atuais (Malhotra, 2001, p. 44).

Malhotra (2001) diz que, de maneira informal, pode se definir a Pesquisa

de marketing como a identificação, coleta, análise e disseminação de

informações de forma sistemática, a fim de melhorar a tomada de decisões em

relação à identificação e à solução de problemas em marketing (Malhotra, 2001,

p.45).

A definição oficial, citada por Aaker (2001), da pesquisa de marketing da

American Marketing Association é a seguinte:

A pesquisa de marketing é a função que integra o consumidor, o cliente e o

público ao profissional de marketing por meio de informação - informação usada para identificar e definir as oportunidades e os problemas de marketing, gerar,

aperfeiçoar e avaliar as ações de marketing, monitorar o desempenho de marketing e facilitar o entendimento do marketing como um processo. A pesquisa

de marketing especifica as informações necessárias para o atingimento desses aspectos, define os métodos para a coleta das informações, gerencia e implementa o processo de coleta, analisa e comunica as respostas e suas

implicações (Aaker, 2001, p.27).

Aaker (2001) observa que apenas a pesquisa de marketing não é garantia

de sucesso; o segredo para realizar bons negócios é o uso inteligente da

pesquisa. A forma como as informações são usadas é mais importante que

propriamente possuir essas informações (Aaker, 2001, p.27).

Embora as empresas tenham um real interesse em atender às

expectativas dos clientes, muitas não alcançam esse objetivo (Zeithaml, Bitner,

2003, p.115).

Mc Daniel e Gates (2003) observam que uma coisa é a empresa dizer que

é orientada para o consumidor, e outra é ela efetivamente sê-lo. Sem feedback

do mercado, a empresa não pode ser realmente orientada para o consumidor

(Mc Daniel; Gates, 2003, p.7).

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Numa organização onde a abordagem é orientada para o consumidor, a

tomada de decisão é descentralizada, para facilitar o feedeback dos

consumidores, diz Ferrel (2000). Setores diferentes da empresa devem ter esse

foco. Criar uma cultura orientada para o consumidor, numa organização, leva

tempo. Assim diz o autor: "Não se pode, simplesmente, declarar oficialmente que

a empresa segue essa orientação" (Ferrel, 2000, p.28).

Mc Daniel e Gates (2003) dizem que existe um forte elo entre satisfação e

lealdade do cliente pois relacionamentos de longo prazo não acontecem por

acaso. Os clientes se tornam fiéis porque são compreendidos em suas

necessidades, e o conhecimento de suas necessidades provém basicamente da

pesquisa de marketing (Mc Daniel; Gates, 2003, p.11).

Malhotra (2001) chama atenção para o aspecto da informação sistemática

levando à necessidade de um planejamento sistemático em todos os estágios do

processo de pesquisa de marketing. Deve ser executada de forma imparcial,

isenta das inclinações pessoais ou políticas. A pesquisa de marketing usa o

método científico, portanto, procura informações que possam refletir uma

situação verdadeira (Malhotra, 2001, p. 45).

Aaker (2001) cita o sociólogo e pesquisador de marketing Joseph Helfgot

que orienta os executivos dos estúdios de cinema em Hollywood a venderem

seus filmes e programarem seus lançamentos. Helfgot utiliza a pesquisa para

saber a trama a que o espectador quer assistir. No filme O silêncio dos

inocentes, Helfgot pesquisou qual a temática principal do filme, sob o ponto de

vista do espectador. O resultado se tornou o foco da campanha publicitária, e o

filme acabou sendo campeão de bilheteria. Os custos de marketing chegaram a

um terço do orçamento do filme (Aaker, 2001, p.31).

Solomon (2002) também se refere ao uso da pesquisa de mercado para

testar as reações do público aos conceitos de filmes; ela pode determinar se os

temas básicos atingem o público alvo. Algumas vezes, diz o autor, o conteúdo do

filme é influenciado pela pesquisa. Grupos são selecionados para participar de

discussão de grupo e responder a algumas perguntas sobre o filme. Embora as

reações do grupo, em geral, resultem apenas em algumas alterações de edição,

em alguns casos, podem resultar em efeitos maiores. Solomon cita a nova

versão para o final do filme Atração Fatal elaborada em razão da reação

negativa nas pesquisas; a Paramont Pictures gastou 1,3 milhão de dólares a

mais para produzir a nova versão (Solomon, 2002, p. 397).

A pesquisa de marketing exerce três tipos de função, dizem Mc Daniel e

Gates (2003): descritiva, diagnóstica e prognóstica. A função descritiva constitui

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a coleta e a apresentação de fatos. A função diagnóstica consiste em

explicações sobre dados e ações - como alterar as ofertas de produtos para

melhor servir os clientes. E a função prognóstica especifica o modo de usar as

pesquisas para prever os resultados de uma decisão de marketing (Mc Daniel;

Gates, 2003, p.9).

Para Gates (2003), uma administração pode ser proativa em vez de

reativa. A pesquisa de marketing desempenha um importante papel na

administração proativa, antecipando as mudanças no mercado nos desejos dos

consumidores, e em seguida desenvolvendo bens e serviços para atender a

essas necessidades. A administração proativa altera o composto de marketing

para se encaixar nos novos padrões econômicos, sociais e competitivos; a

administração reativa espera a mudança causar um grande impacto na empresa

para depois agir (Mc Daniel et al, 2003, p.13).

Mc Daniel e Gates (2003) citam exemplos de novos clientes que chegam e

passam a ser uma nova oportunidade no mercado; é o caso dos segmentos de

jovens e dos emigrantes nos Estados Unidos. As empresas terão a chance de

acompanhar esses grupos em suas escolhas de produtos e serviços durante

décadas. São grupos particularmente importantes para uma diversidade ampla

de produtos (Mc Daniel; Gates, 2003, p.13).

Mc Daniel e Gates (2003) citam também como exemplo as adolescentes

no Japão, que têm uma habilidade significativa de antecipar quais produtos

entrarão na moda, e dizem que essas meninas são levadas muito a sério. A

Asahi Broadcasting Corporation realiza pesquisas com as estudante para

encontrar temas que possam gerar mais audiência para as suas novelas do

horário nobre (Mc Daniel; Gates, 2003, p.13).

Há casos em que a pesquisa de marketing não deve ser conduzida. São

citados por Mc Daniel e Gates (2003) os seguintes casos: quando não há

recursos suficientes para conduzir a pesquisa de maneira apropriada ou

implementar decisões; quando não há utilidades em seus resultados, ou as

mudanças não poderão ser implementados; quando a organização já perdeu a

oportunidade para entrada bem sucedida no mercado; quando quem

encomendou a pesquisa já possui uma posição independente do resultado da

pesquisa; quando os gerentes estão confusos quanto aos objetivos da pesquisa,

correndo o risco de ser estudado o fenômeno errado; quando informações para

a tomada de decisão já existem; quando os custos para a realização da

pesquisa superam os benefícios (Mc Daniel; Gates, 2003, p.16).

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Zeithaml (2003) observa que as empresas devem instituir um processo de

pesquisa da qualidade de serviços não fazendo apenas pesquisas isoladas -

uma fotografia instantânea, uma vez que as expectativas e percepções dos

clientes são dinâmicas. Para uma compreensão completa da aceitação do

mercado dos serviços de uma empresa, é preciso pesquisa de marketing

constante. Sem um padrão de estudos executados com freqüência, os

executivos não podem dizer se a empresa está melhorando, e quais iniciativas

de qualificação de serviços estão funcionando. Essa freqüência depende do tipo

de serviço e do propósito e método de cada tipo de serviço que a empresa

venha a necessitar (Zeithaml, 2003, p.118).

As necessidades de serviços e expectativas dos clientes mudam. As

pesquisas, portanto, nunca podem oferecer um quadro preciso. É necessário

fazer uma checagem periódica para medir o progresso, e identificar tendências e

mudanças que estejam ocorrendo (Walker, 1991, p.11).

3.2.1. Pesquisas de mercado em televisão

Os tópicos a seguir têm o objetivo de apresentar o que são as pesquisas

de audiência, como funcionam, sua importância, os tipos de informação que elas

possibilitam, sua classificação conceitual e os métodos qualitativos com seu

aspecto complementar.

3.2.1.1. Índices de audiência

O índice de audiência influencia todos os aspectos da mídia eletrônica. É

difícil imaginar um sistema bem sucedido da rede comercial sem esse importante

feedback. Esses indicadores refletem a composição e o tamanho da audiência

que um dado programa ou anúncio comercial alcança. Esses dados são cruciais

para as atividades de gerenciamento de redes, produtores de programas,

anunciantes, agências, escritores e artistas (Beville, 1988, XI).

O índice de audiência é o principal componente de decisão da rede ou

estação para a sobrevivência dos programas, quando e onde eles deverão estar

na grade de programação. Os índices produzem expectativa nos planejadores;

são uma força poderosa das rádios difusoras e telecomunicações. Determinam

os preços a serem pagos pelos programas, e o que os artistas receberão.

Determinam a taxa que os anunciantes pagarão pelos 60 segundos, 30

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segundos ou outra unidade comercial em torno de cada programa (Beville, 1988,

XIII).

Os índices determinam: a audiência de cada estação, a ordem de

classificação do seu mercado, a rentabilidade da estação e o seu valor de

mercado. O salário e bônus de compensação das redes são determinados, em

parte, pelos indicadores dos índices de audiência (Beville, 1988, XIV).

Beville define cinco grandes fatores para que a metodologia de aferição

dos índices de audiência tenha sido desenvolvida ao longo dos tempos: a

produção de serviços intangíveis pelas redes, impossibilitando a medição da

aquisição do consumidor pelo serviço; a facilidade da troca de canais com as

opções de diversos programas, tornando vulnerável a escolha do telespectador;

a produção, no passado, pelos anunciantes e produtores de seus próprios

programas; a facilidade, relativa, de medir a audiência das redes, pelas

aceitáveis técnicas de amostragem; a incerteza sobre o alcance das redes, nas

suas primeiras décadas de existência (Beville, 1988, XV).

Medidas quantitativas são relativamente simples e claras. Os números,

quer sejam sobre a família, demográficos ou relativos à participação da

audiência, usam padrões de entendimento facilitados, desenvolvidos pelas

agências de pesquisas. Porém, os índices quantitativos se limitam a informar um

conjunto binário de informação: sim ou não; trocar ou não de canal; escolher ou

não escolher cada um dos muitos programas disponíveis. As informações

desses índices podem ser suficientes para os anunciantes, mas é difícil, com

base apenas nessas informações, formar uma boa grade de programação. O

tamanho da audiência somente não permite uma avaliação suficientemente

detalhada para que possa haver uma adequação dos objetivos de uma dada

programação para seu público exato (Beville, 1988, p.131,133).

Fundações, acadêmicos e críticos de mídia e muitos públicos de televisão

acreditam que o serviço quantitativo usado na TV comercial é seriamente

deficiente na definição sobre a reação da audiência. Assim, tem surgido

interesse para que as empresas compartilhem de índices qualitativos (Beville,

1988, p. 133)

Os índices qualitativos são importantes porque podem fornecer

informações detalhadas sobre o telespectador: dados demográficos como

ocupação, renda e educação; padrões de compra de produtos como carros,

produtos esportivos etc; dados sobre como o telespectador assiste ao comercial,

quantas exposições ele recebe e por que ele compra; classificação dos

telespectadores quanto ao estilo de vida e necessidades psicológicas. São

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coletados dados qualitativos também através de realização de discussões sobre

os programas, para medir o impacto da recepção sobre o telespectador, como

sua atitude e seu comportamento podem ser afetados (Beville, 1988, 133).

Há vários elementos complexos no conceito de índices qualitativos que

não acontecem na medição de audiência convencional. Não existe um padrão de

entendimento universalmente aceito sobre qualidade de audiência. Uma vez que

o pesquisador opte pelo campo qualitativo, passa a depender da verbalização

sobre a atitude e opinião das pessoas, isto é, ingressa num tipo de entendimento

mais subjetivo (Beville, 1988, p.132).

O estudo qualitativo procura avaliar os padrões de consumo, estilo de vida

e fatores psicográficos de uma forma geral. Esses tipos de medida são um

pouco mais sofisticados na descrição demográfica da audiência, descrevendo a

audiência em termos considerados relevantes para o alvo do anunciante.

Avaliam fatores atrativos de cada programa. Fazem um aprofundamento das

questões sobre a experiência do telespectador com os programas (Beville, 1988,

p.134).

3.2.1.2. Aspectos conceituais da pesquisa de audiência

O sistema que produz o índice de audiência televisiva, desenvolvido para

medir a exposição do consumidor aos meios de comunicação, é denominado em

pesquisa de mercado de painel de mídia. Segundo Malhotra (2001) os painéis

podem ser classificados em painéis de compra e painéis de mídia.

O painel de mídia é um tipo de pesquisa que envolve uma amostra fixa de

elementos da população, a qual é medida repetidamente, isto é, as mesmas

pessoas são estudadas ao longo do tempo. A amostra permanece a mesma, ao

longo do tempo, fornecendo uma série de quadros que vistos em conjunto

oferecem uma ilustração clara da situação e das mudanças que estão ocorrendo

(Malhotra, p. 2001, 110).

Um painel, ou um estudo longitudinal, constitui-se geralmente de famílias

que concordam em fornecer informações a intervalos especificados ao longo de

um período. Os dados obtidos com os painéis não só fornecem informações

sobre participações de mercado neste período, mas também permitem ao

pesquisador examinar as mudanças em participação de mercado ao longo do

tempo (Malhotra, 2001, p.112).

Os painéis funcionam como se fossem fontes de dados secundários,

coletados e disponibilizados por um fornecedor - as agências de pesquisa. Esses

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são uma alternativa ideal quando a necessidade das informações se dá a

intervalos freqüentes, quando dois ou mais usuários compartilham da mesma

necessidade de informação; também são úteis quando o custo da informação é

alto para uma pesquisa individualizada. As agências que fornecem os dados

podem, neste caso, estabelecer uma relação com seu cliente a longo prazo

(Aaker, 2001, p. 99, 152).

Os painéis de mídia são realizados por meio de dispositivos eletrônicos

que registram automaticamente o comportamento de audiência de TV. Os

domicílios selecionados dispõem de um dispositivo eletrônico ligado aos seus

televisores. Este dispositivo monitora continuamente o comportamento de

audiência de televisão, em que horário o aparelho é ligado, quais canais são

vistos e por quanto tempo. Os dados são armazenados e transmitidos via linhas

telefônicas a um computador central. Os dados coletados são registrados. Esses

registros contêm informações sobre quem estava assistindo a cada programa,

de forma que a audiência e as características demográficas possam ser

calculadas. Desta forma, as emissoras estimam o número e a porcentagem de

todos os domicílios que estão assistindo a um determinado programa. Com

essas informações, os planejadores podem fazer uma seleção mais adequada

de programações, e ter uma definição dos perfis de subgrupos de

telespectadores ou ouvintes (Malhotra, 2001, p. 140,141).

Aaker (2001) faz uma analogia dos dados de painel com a continuidade de

um filme, onde os dados podem ser analisados como uma série de instantâneos.

Os dados fornecem informações sobre as atividades de vendas, participação das

marcas e mudanças nas características dos compradores e nos tipos de lojas

freqüentadas. A vantagem do painel é a capacidade de medir as mudanças no

comportamento do indivíduo (Aaker, 2001, p.156).

Segundo Aaker (2001) o uso das fontes de dados padronizados produziu

uma revolução. O fato de haver um acompanhamento de dados, provindos

sempre das mesmas casas sobre aquisição de um produto, permite que se

estude relação entre fatores, e assim se descubra variáveis causais, como por

exemplo: exposição na mídia, influência da promoção, características dos

consumidores (Aaker, 2001, p.152).

O painel de mídia mais conhecido nos EUA é o Nielsen Television Index

(NTI). Desde 1987, a Nielsen utiliza o chamado people meter para obter

informações sobre o público telespectador. O people meter, acoplado ao

aparelho de TV, monitora e registra continuamente o que acontece, quando o

aparelho fica ligado, quais canais são sintonizados, por quanto tempo e quem no

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domicílio estava assistindo à programação do canal. Os dados ficam

armazenados no medidor, e são posteriormente enviados por linhas telefônicas

para a central de processamento. Segundo Aaker (2001), o NTI baseia-se numa

amostragem nacional; os dados fornecidos pela Nielsen são usados pelos

planejadores de mídia para analisar alternativas de programação nas redes de

televisão (Aaker, 2001, p.164).

Segundo a classificação de Malhotra (2001), os painéis de mídia, ou

estudos longitudinais, é um tipo de pesquisa conclusiva. Para o autor, as

pesquisas podem ser exploratórias ou conclusivas. As conclusivas são aquelas

onde os dados se baseiam em amostras representativas, sujeitas a uma análise

quantitativa. As exploratórias são utilizadas para identificar caminhos (Malhotra,

2003, p.105).

As pesquisas diferem entre si em relação aos seus propósitos, à questão

da pesquisa, à precisão das hipóteses desenvolvidas e aos métodos da coleta

de dados. Cada uma delas tem um papel diferente e complementar (Aaker,

2001, p. 98).

3.2.1.3. Pesquisa qualitativa

Um outro tipo de pesquisa bastante utilizado pelas emissoras de televisão

é a pesquisa qualitativa.

Os métodos qualitativos são usados nos casos em que não é possível

obter informações pelos métodos formais ou estruturados. O propósito da

pesquisa qualitativa é descobrir o que o consumidor tem em mente. Os dados

são coletados para se conhecer melhor, aspectos que não podem ser

observados e medidos diretamente. Pensamentos, sentimentos, intenções e

comportamentos são exemplos de elementos que só podem ser conhecidos por

meio de dados qualitativos (Aaker, 2001, p.206).

Segundo Mac Daniel e Gates, estão se tornando cada vez mais comum

combinar as pesquisas qualitativas e quantitativas em estudos de pesquisa de

mercado. As pesquisas qualitativas podem ser usadas antes ou depois da

pesquisa quantitativa, dependendo do caso. Os dados qualitativos podem

enriquecer a pesquisa quantitativa com informações sobre motivações dos

consumidores. Ao se juntarem com os resultados da pesquisa quantitativa

oferecem uma maior compreensão das necessidades dos consumidores.

Permitem detectar problemas que, às vezes, não são percebidos em um estudo

quantitativo (Mac Daniel, Gates, 2003, p. 122).

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Bauer e Gaskell (2003) observam que não há quantificação sem

qualificação. É necessário ter uma noção das distinções qualitativas antes que

se possa medir o número dos que pertencem a uma ou outra categoria. Os

autores fazem a seguinte analogia à questão: se o que se deseja saber é a

distribuição de cores num jardim de flores, deve-se primeiro identificar o conjunto

de cores que existem no jardim; depois disto, pode-se começar a contar as flores

de determinada cor (Bauer; Gaskell; 2003, p. 24).

Para Bauer, não é correto assumir que a pesquisa qualitativa tem o

monopólio da interpretação. O autor observa que, da mesma forma, não há

análise estatística sem interpretação; a pesquisa quantitativa não chega a

conclusões automaticamente. Os dados não falam por si mesmos, ainda que

haja todos os cuidados e sofisticação; quanto mais complexo o modelo mais

difícil é a interpretação dos resultados ( Bauer; Gaskell; 2003, p. 24).

Uma das limitações mais importantes dos estudos qualitativos é que eles

não representam necessariamente a população estudada pelo pesquisador.

Grupos reduzidos para discussões livres ou entrevistas individuais podem

conduzir o projeto de pesquisa para muitos caminhos. Enfim, o resultado

dependerá das pessoas que forem selecionadas para a pesquisa e da habilidade

do pesquisador (Mac Daniel, Gates, 2003, p. 123).

Muitas respostas sobre questões de consumo como, por exemplo, a razão

por que alguém comprou algo, podem estar disfarçadas por trás de mecanismos

de defesa do ego. Informações desse tipo podem ser obtidas mais facilmente por

meio de métodos qualitativos, tais como as discussões de grupo (Aaker, 2001, p.

207).

As pesquisas de discussão em grupo ou grupo de foco constituem o

processo mais importante de pesquisa qualitativa. É tão popular que muitas

pessoas consideram esta técnica um sinônimo de pesquisa qualitativa (Malhotra,

2001, p. 156).

Um grupo de foco, de especial interesse para o presente estudo, consiste

numa reunião de 8 a 12 participantes, liderados por um moderador, que passam

um período de tempo discutindo profundamente um determinado assunto. A

meta da pesquisa de grupo de foco é compreender certas idéias dos indivíduos

do grupo. A ênfase está em fazer com que essas pessoas falem detalhadamente

sobre o assunto escolhido. A intenção é descobrir o que elas sentem em relação

a um produto, um conceito, uma idéia, ou uma organização, como tudo isso se

encaixa na vida delas e seu envolvimento emocional com essas coisas (Mac

Daniel; Gates, 2003, p.123).

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Um grupo de foco deve ser homogêneo, em termos de características

demográficas e sócio-econômicas. O fato dos participantes pertencerem a um

mesmo segmento evita certos conflitos. Portanto, os grupos homogêneos devem

ser do tipo: mulheres donas de casa, mulheres jovens e solteiras, mais idosas,

divorciadas ou viúvas, porque seus estilos de vida são semelhantes (Malhotra,

2001, p.157).

Os grupos de foco são muito mais do que entrevistas de perguntas e

respostas. O uso das técnicas da dinâmica de grupo permite que haja uma forte

interação entre as pessoas, o que é essencial para o sucesso da pesquisa. O

aspecto interessante da dinâmica de grupo é a idéia de que a resposta de uma

pessoa pode se tornar um estímulo para outra, gerando desta maneira uma

interação de respostas, e fornecendo mais resultados do que diversas respostas

individuais (Mac Daniel, Gates, 2003, p.124).

A psicologia social indica que as pessoas são capazes de falar mais sobre

um tópico, e em maior profundidade, se estimuladas em grupo do que quando

questionadas individualmente. Nas discussões em grupo, são feitas perguntas

indiretas, que estimulam a discussão livre e espontânea (Mac Daniel, Gates,

2003, p.124).

O tempo médio de discussão é de uma hora e meia. O segredo para o

sucesso da pesquisa é a qualificação do moderador e do grupo selecionado. O

moderador precisa conduzir bem o grupo e ter bons conhecimentos sobre o

negócio do cliente e os objetivos da pesquisa. Um grupo de foco requer um guia

de discussão bem planejado; isto é, um esboço dos tópicos que devem ser

abordados durante a reunião. O guia é desenvolvido pelo moderador com base

nos objetivos da pesquisa (Mac Daniel, Gates, 2003, p. 127, 129).

O moderador encoraja ativamente todos os participantes a falar e a

responder aos comentários e observações dos outros membros do grupo. O

objetivo é avançar para uma discussão onde os participantes reajam entre si

(Bauer; Gaskell; 2003, p.79).

3.3. O produto telenovela

Os tópicos seguintes têm por objetivo oferecer uma visão da telenovela

sob o ponto de vista do seu negócio e da sua construção.

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3.3.1. A evolução do negócio telenovelas

Durante toda a década de 60, a maior parte das novelas foram

patrocinadas pelas firmas de sabão e dentifrício, como a Colgate-Palmolive, a

Gessy- Lever, Kolynos, etc. A indústria televisiva brasileira não tinha capital

suficiente para produção, as agências eram donas dos programas, e elas é que

decidiam a novela, negociavam com a direção da emissora a escolha do diretor,

do elenco, etc (Ortiz et al., 1991, p. 60).

Alvaro Moya, citado por Ortiz et al., (1991), observa que aos poucos o

público se habituava a fixar os horários, organizados e administrados pelas

grandes redes. Com o surgimento do vídeo tape, permitiu-se a produção da

telenovela diária e sua veiculação dentro de um esquema de horizontalidade

(todos os dias, o mesmo horário de exibição) dos programas. Com o VT passou

a ser possível montar o cenário num só dia, gravar todo o capítulo da novela, e

depois passar horizontalmente durante toda a semana. A dona de casa passou a

ter expectativa da exibição da novela todo dia às 8 horas; como todo dia ter que

fazer almoço e levar a criança para a escola. Entrou no cotidiano. (Ortiz et al.,

1991, p. 61).

Essa nova mania nacional foi descrita pelo cronista da revista do Rádio

Borelli Filho (1964) citado por Ortiz et al. (1991):

(...) Famílias inteiras se postam diante do televisor e acompanham do neto ao avô,

aqueles episódios de folhetim eletrônico. Em conseqüência alteram-se os hábitos seculares das famílias quatrocentonas. O jantar servido antigamente as 20h,

desce para as 17, porque pouco depois começam os romances seriados na TV. (Ortiz et al., 1991, p. 62).

De 1963 a 69 não havia um modelo de produção que se preocupasse com

a relação entre custo e número de capítulos das novelas. Da mesma forma,

não havia um planejamento sustentável em relação ao número adequado de

capítulos; uma racionalização que permitisse determinar qual o número de

capítulos que uma história deveria ter para ser rentável. Em que horário uma

certa trama deveria ser transmitida para se ter audiência. Qual o público que se

pretendia atingir, com uma novela diurna ou noturna. Essas questões só seriam

melhor equacionadas um pouco mais tarde, com a consolidação de uma

indústria televisiva (Ortiz et al., 1991, p. 68).

A nova fase de evolução do negócio com telenovelas será descrita na

seção intitulada estudo de caso, referente à TV Globo e as produções de

telenovelas.

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3.3.1.1. A influência do público

As estéticas de Joaquim Manuel de Macedo e José de Alencar podem ser

encaradas como dois modelos fundamentais para a produção televisiva. É na

obra de José de Alencar e Macedo que se encontram a estrutura dramática, a

rede intrigas, os momentos de clímax necessários para a forma de

teledramaturgia moderna (Alencar, 2002, p. 47).

Segundo Mauro Alencar, o escritor José de Alencar tinha por hábito ouvir a

opinião dos seus leitores. Na obra O Guarani, a idéia inicial do autor era matar

no último capítulo Ceci e Peri. Mas, ao ler o capítulo para seus amigos e

familiares, estes se opuseram à idéia. Então, José de Alencar opta por um final

indefinido ao critério da imaginação do leitor. José de Alencar passou a se guiar,

de certa forma pelo que o público lhe pedia nas cartas. Inicia-se uma era dos

chamados escritores de consumo (Alencar, 2002, p. 43).

Mauro Alencar observa que Joaquim Manuel Macedo também, já na sua

época, fazia enquete na Rua do Ouvidor, a fim de detectar os anseios do público

a respeito do destino dos seus personagens. Macedo, com sua habilidade de

intricar histórias e com suas pesquisas de opinião ampliando as possibilidades

de narrativa, afigurava-se como um dos pilares da construção das estéticas da

teledramaturgia nacional (Alencar, 2002, p.47).

3.3.1.2. A audiência e o alongamento das histórias

Em maio de 1966, a TV Excelsior de São Paulo passou a transmitir

Redenção, uma novela adaptada de uma radionovela de Raimundo Lopes. A

transmissão se estendeu até maio de 1968. Alencar (2002) observa que este é

um exemplo histórico de uma obra de teledramaturgia alongada até o exagero.

Uma novela que marcou época na história das telenovelas por essa e por outras

razões também. Para gravá-la, ergueu-se uma cidade cenográfica, em São

Bernardo do Campo. O horário de Redenção foi comprado para promover os

produtos da Gessy Lever durante 100 capítulos. Mas esse limite foi

absolutamente excedido para 596 capítulos (Alencar, 2002, p. 23).

Alencar (2002) lembra que Redenção agradou tanto, provocando tão fortes

emoções num público já cansado dos dramalhões, que pôde ser esticada para

596 capítulos além da centena prevista inicialmente. Num dado momento da

história, o público reclamou e exigiu a volta de um personagem que havia tido

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um enfarte. O autor, com a utilização de recursos, fez com que o personagem

revivesse e sobrevivesse até o fim (Alencar, 2002, p.24).

3.3.1.3. Estruturas dramáticas e interesses comerciais

Os anos 60 se caracterizaram pelo melodrama. As emissoras eram

dependentes dos patrocinadores e estes definiam o tipo de narrativa a ser

apresentado, influindo na tendência das histórias a serem escritas pelos autores

brasileiros, que no início tinham preferência pelo folhetim melodramático.

Existiam, porém, tentativas que buscavam reformular a temática e a linguagem

do modelo folhetim. (Ortiz et al., 1991, p.69).

A novela Antônio Maria ilustra esse processo de transformação do

melodrama no Brasil. Origem desconhecida do herói, relações amorosas

triangulares, polarização entre riqueza e pobreza, um modelo que procurou se

adaptar ao panorama da vida urbana: "Os personagens do antigo folhetim, que

reforçavam um imaginário herdado da aristocracia (carruagem, reis, rainhas,

duques e condes) passavam a circular pelas ruas de São Paulo, de ônibus e

automóvel, vestindo terno e gravata." Esse novo personagem passou a

representar uma ponte entre o herói folhetinesco e o das novelas mais

contemporâneas, expressando uma preocupação com enredos realistas,

identificação dos espectadores com os personagens e apresentação de

problemas mais próximos (Ortiz et al., 1991, p.74).

Ivani Ribeiro citada por Ortiz et al. (1991), explica como relaciona o

sucesso de suas novelas a nova abordagem temática:

O que importa é uma história que corresponda, de certa forma, ao que acontece

na vida real. Uma novela como Redenção, é uma história bem brasileira, com toda a ação desenvolvida no cotidiano de uma típica cidade do interior paulista. (...) seus personagens se movimentam em espaços familiares ao espectador, numa

tentativa de se aproximar, pelo menos em nível de cenário, da realidade nacional (...). (Ortiz et al., 1991, p.74).

As novas abordagens não eram uma preocupação exclusiva dos autores,

os patrocinadores tinham interesse nela numa preocupação com o público

nacional e com os objetivos comerciais. (Ortiz, 1991, p.76). Em 1968, além de

Antônio Maria, Beto Rockefeller iniciou a renovação da telenovela brasileira

(Alencar, 2002, p.51).

A novela Beto Rockefeller rompeu com os diálogos formais. Sua narrativa

teve um tom coloquial, gírias e expressões populares; um novo marco no

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gênero. O enredo procurou reproduzir fatos e interesse da época no interior da

própria narrativa. A novela Beto Rockefeller esteve conectada com o momento

cultural da época. Ortiz et al. (1991) observam: "anti-heróis, cotidiano urbano,

músicas de sucesso direcionadas para o público jovem (...). Beto Rockefeller é

uma catalização bem sucedida, uma sintonia com a sociedade que se

moderniza". (Ortiz et al., 1991, p. 78,80, 81).

Segundo Mauro Alencar (2002), Beto Rockefeller foi um divisor de águas

na história da teledramaturgia no Brasil. Surgiu na Tupi ao mesmo momento em

que havia queda dos índices de audiência da Rede Globo, que permanecia com

o mesmo estilo teledramatúrgico. Os jornais da época deram um espaço

considerável a Beto Rockefeller da TV Tupi, e seus altos índices de audiência

passaram preocupar a concorrente TV Globo. A emissora, então, percebeu a

oportunidade de fatia de mercado e passou a investir desde então numa total

modificação de sua estrutura de trabalho no que diz respeito à telenovela

(Alencar, 2002, p.52).

Enquanto a Tupi revolucionava o gênero, a Rede Globo consolidava e

industrializava o novo gênero. Segundo Alencar, a Globo foi responsável pela

forma brasileira da telenovela e a sua transformação em produto de consumo em

território nacional e internacional, e pelo início da moderna telenovela brasileira

(Alencar, 2002, P.53).

3.3.2. A construção do produto telenovela - o roteiro

O roteiro é a primeira etapa do processo de criação e de produção de uma

telenovela. Qualquer alteração que se pretenda fazer, neste produto de

teledramaturgia, recai diretamente na estrutura de sua criação, por isso a

importância do seu entendimento.

A elaboração do roteiro de uma novela inicia-se com uma sinopse, que é

um resumo da história onde se apresentam já estruturadas a trama principal e as

histórias paralelas. A caracterização das situações é ampla e aberta, e tem por

objetivo apresentar os personagens e fornecer uma base sustentável a uma

história que será contada por vários meses. O autor terá a tarefa de desenvolver

os diálogos e o quadro dramático, ao longo deste tempo, em diversos capítulos.

A sinopse permite determinar o número de personagens, o tipo de cenografia e

de figurino a serem utilizados, proporcionando a primeira estimativa dos custos.

Permite prever todos os elementos organizacionais que compõem a infra-

estrutura material e artística da produção. É um processo bastante planejado,

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em diferentes etapas, utilizando diversos recursos e profissionais especializados.

(Alencar, 2002, p.71).

Mesmo que seu enredo possa sofrer alterações, sugeridas pelo público,

sugerido pela empresa ou pelo próprio autor, a sinopse serve como protótipo

inicial, onde a estrutura de toda a história já se encontra definida. A aprovação

da sinopse tem, então, uma importância dramática e organizacional. Em posse

dela, é possível fazer uma primeira avaliação real dos custos do projeto (Alencar,

2002, p.71).

Para a roteirista Rose Calza (1996), não basta que o argumento de uma

telenovela se baseie em uma idéia brilhante. Antes de tudo, essa brilhante idéia

deve ser avaliada em suas possibilidades de produção, em sua capacidade de

impacto mercadológico. Uma emissora quando pretende lançar um produto no

mercado, não deixa de estar atenta às pesquisas de comportamento que

indicam tendências, modismos, que podem ser aproveitados e explorados junto

ao público receptor (Calza, 1996, p. 37).

A autora de telenovela Renata Pallottini (1998) diz que o roteirista, ou

alguém da equipe de criação da empresa, percebe ou investiga a necessidade

emergente do público; que tipo de história ou que tipo de formato. Estando isso

definido, dentro da visão comercial do veículo, os autores são convidados a

escrever a história correspondente: "O público quer uma telenovela rural? Ou

precisa de uma história de época? Pede um enredo contemporâneo, urbano,

violento?" O autor pode também, como criador, adiantar-se ao público e propor-

lhe novas idéias. (Pallottini, 1998, p. 18).

A palavra novela remonta ao italiano novella, do latim novellus, novella,

novellum, adjetivo, diminutivo, originário de novus. A palavra derivou para

enredado, substantivando-se e adquirindo denotação especial. Acabou

significando enredo, entrecho, vindo daí narrativa enovelada, trançada.

(Pallottini, 1998, p.33).

Há várias maneiras de se definir um roteiro; de uma forma direta, seria a

forma escrita de qualquer projeto audiovisual, como o teatro, o cinema, o vídeo,

a televisão, o rádio. O roteirista está muito mais perto de diretor de imagem do

que do escritor. (Comparato, 1995, p. 20).

O roteiro é um tipo de construção que obedece a uma estrutura lógica.

Esse processo teria basicamente seis etapas: idéia, conflito, personagens, ação

dramática, tempo dramático e unidade dramática. Haverá um conflito essencial,

que o autor chama de conflito matriz; esse deve ser concretizado em termos de

palavras. (Comparato, 1995, p.111).

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Os elementos que Pallottini (1998) considera importantes na confecção de

um roteiro são: o andamento, as histórias paralelas, o alongamento, a

redundância, a alternância das crises e a criação dos personagens. A autora

indica que esses devem ser, além do desenvolvimento de uma temática de

interesse, elementos cuidadosamente estudados, a fim de obter uma expectativa

cada vez maior do telespectador (Pallottini, 1998, p.33).

Para Calza (1996), o roteiro é apenas um dos elementos que contribuem

na estruturação do produto. Uma telenovela, do ponto de vista da sua montagem

e produção, é um trabalho que depende de muitas cabeças, com idéias e

sensibilidades diferentes. Assim, o produto é resultado do esforço criativo de

muitos elementos atuando juntos para sua realização: autor, elenco, diretor,

câmera, maquiador, editor de imagem etc. (Calza, 1996, p.18).

Pallotini (1998) diz que o traço distintivo da telenovela, em relação à mini-

séries ou seriados, é que ela é escrita à medida que se produz, além de ter uma

quantidade maior de tramas e sub-tramas tendendo a ser de maior duração.

Sua gravação pode começar com vinte, trinta, ou cinqüenta capítulos já escritos

e prontos para a produção. (Pallottini, 1998, p.33, 35). A autora define a

telenovela de modelo brasileiro ou latino-americano da seguinte forma:

(...) é uma história contada por meio de imagens televisivas, com diálogo e ação,

uma trama principal e muitas subtramas que se desenvolvem, se complicam e se resolvem no decurso da apresentação. Naturalmente, a trama planejada como principal é a que leva o enredo básico, a fábula mais importante, do começo ao fim

da ação, e a que justifica todo o projeto, dando-lhe unidade (...). (Pallottini, 1998, p. 53).

Segundo a autora (1998), a telenovela se baseia em diversos grupos de

personagens e lugares de ação - sets ou núcleos; que se relacionam

internamente. Os problemas dos protagonistas assumem a primazia no enredo e

conduzem a trama. (Pallottini, 1998, p.54).

A estrutura de uma telenovela deve ser vista em termos de macro e micro

estrutura. A macro-estrutura tem muito a ver com as dimensões gerais da

telenovela, com a sua extensão e tratamento de tempo. Como citado, a

telenovela brasileira atual tem por volta de 160 capítulos, e cada capítulo tem,

em média, 45 minutos de história. A imagem gravada da telenovela padrão

possui hoje, em média, 120 horas de duração. Um capítulo, segundo a autora, é

escrito aproximadamente em trinta páginas; portanto, a telenovela consome

4.800 páginas de texto, "uma pilha de papel de um metro e meio de altura".

(Pallottini, 1998, p.62). Pallottini observa que a telenovela brasileira é produzida

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antes de estar totalmente escrita: "se sujeita ao julgamento do público e da

crítica, modifica-se, se for necessário, pelo menos nos detalhes mais ou menos

importantes, quando não no caminho principal que havia sido previsto pela

sinopse" (Pallottini, 1998, p. 35).

A roteirista Rose Calza (1996) confirma essa prática. O texto de uma

telenovela, diz a autora, tem a característica, peculiar, de ser construído e

realizado ao mesmo tempo; e mesmo se partindo de uma pré-sinopse aprovada

pode sofre inúmeras modificações: ser alterado, suprimido e, muitas vezes, ter

seu caminho distanciado da idéia do enredo original. Às vezes, uma história

paralela torna-se mais importante do que a principal. Podem desaparecer

núcleos inteiros, personagens podem ser afastados, e outros podem se revelar

um verdadeiro sucesso. (Calza, 1996, p.20, 39)

Para Pallottini (1998), não é verdade que a audiência determina a novela.

Existem vários fatores a pesar sobre essa produção: o moralismo e interesses

de todo tipo; a vontade do autor, dos criadores, o desejo de experimentação e

desenvolvimento, a tendência a melhorar e progredir determinam a mobilidade e

o dinamismo da telenovela. Segundo a autora, existe uma preocupação de

caráter artístico, estético, a influir sobre sua criação (Pallottini, 1998, p. 36).

Calza (1996) diz que tudo pode mudar se os índices de audiência

apontarem para um desastre em termos de investimento de uma novela. Ela

pode ter seu enredo totalmente transformado antes do fracasso final.

Personagens podem ser totalmente descaracterizados, etc. A autora observa

que contar uma história é uma façanha, e que os roteiristas têm que contar

sempre com um antagonista - o telespectador, seu crítico implacável. Se ele não

se satisfizer muda de canal (Calza, 1996, p. 55).

Segundo Pallottini (1998), os elementos que podem influir sobre as

modificações na novela, podem ser de vários tipos:

Sucesso ou insucesso de público, afetando atores, histórias, tramas, famílias ou sets. Acontecimentos marcantes ou circunstanciais da vida real: advento de festas

nacionais ou populares (Natal, Carnaval), de eventos políticos, mortes, catástrofes, etc. Incidentes que afetam participantes da feiura da telenovela em suas vidas

particulares: enfermidades, mortes, afastamentos, litígios trabalhistas, etc. Fatos sociais que solicitam o autor (...) as greves (...). (Pallottini, 1998, p. 73).

Segundo a autora, o fato da novela ir ao ar enquanto está sendo escrita faz

com que o autor tenha a possibilidade de escolher entre vários fios narrativos e

assim possa desenvolver os que tenham maior aceitação junto ao público.

Afirma ela:

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Mas excepcionalmente pode acontecer que uma subtrama seja introduzida

durante o desenrolar da criação da telenovela; caso haja um refluxo de audiência, um esmorecimento de êxito, imediatamente o autor inventa uma nova história,

lança um novo personagem e o põe no ar em pleno andamento normal da história principal. Inova-se, assim, sobre a sinopse original, que é aberta o bastante para receber esse novo material, pensado e escrito depois (Pallottini, 1998, p. 75).

Calza (1996) observa que a emissora cuida do produto e tenta reparar, de

todas as formas, possibilidades de erro, desde o início do projeto que se põe em

execução. A discussão em grupo é um termômetro que dá à emissora e aos

autores índices de satisfação ou do desagrado que uma novela pode provocar

junto ao público. Os telespectadores se manifestam enviando cartas, dando sua

contribuição, na tentativa de ajudar os autores, indicando quem deve ficar com

quem: "Uma espécie de TV interativa espontânea ocorre, assim, nos bastidores

da produção da novela" (Calza, 1996, p. 64).

3.3.2.1. Os capítulos

A micro-estrutura da novela são os capítulos. Esses podem ser

formalizados em cerca de trinta páginas escritas e aproximadamente quarenta e

cinco minutos de imagem. Para que se tenha noção de como se apresenta a

cena de um capítulo, a figura seguinte mostra um trecho de capítulo com diálogo

e descrição de imagem. O exemplo retrata dois caminhoneiros querendo se livrar

da polícia:

CAP. 19. RUA DO RIO DE JANEIRO, PRÓXIMA À PRAIA. EXTERIOR - DIA

Figura 1

IMAGEM

DIÁLOGO

Bino e Pedro caminham, cada um

Segurando um dos braços do menino, que tenta, de quando e quando, soltar-se.

PEDRO — Deixa de ser orgulhoso, Tição.

Não fosse nóis tu tava moído de pancada!... MENINO — Pedi nada. Dê seu jeito! BINO — Vontade que dá é arrebentá esse

fucinho... cara malagradecido! PEDRO — Escuta aqui, ô revoltado! Não

pense que foi por bondade que te tirei dessa fria, tá me ouvindo? É que não gosto de

covardia e muito menos de polícia.

Dramaturgia em Televisão (Pallottini, 1998, p. 103).

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A micro estrutura ou os capítulos são divididos em blocos, e cada bloco

divididos em número de cenas que variam em tamanho e peso conforme o estilo

da novela e do seu autor. Segundo Pallottini (1998) para alguns autores uma

cena longa e tranqüila pode durar até cinco minutos. Normalmente, há, em cada

bloco, de cinco a dez cenas. É necessário a redundância e ondulações, para

escrever os capítulos, diz Pallottini. O autor não pode dar uma informação

importante num único capítulo, numa cena, ou num estágio da novela. Assim, diz

ela:

Essa informação tem de ser periodicamente reapresentada, resumida, ou acrescida de novos detalhes. (...) A cada vinte, trinta ou quarenta capítulos, a

novela deve introduzir elementos novos para chamar a atenção; ela nunca mostra todas as suas armas nos primeiros momentos (...) Essa ondulação, é

obrigatória e se destina a renovar no telespectador, a curiosidade e a empatia (Pallottini, 1998, p.61-64).

Pallottini (1998) diz que um dos elementos fundamentais da telenovela

brasileira é a existência obrigatória de uma trama principal e muitas sub-tramas.

As sub-tramas são histórias paralelas, de vários tipos, que correm ao lado da

trama principal, ligando-se de alguma forma a ela. A apresentação de muitas

tramas secundárias é a garantia da possibilidade de extensão e complicação da

história (Pallottini, 1998, p.74,75).

O conjunto de personagens e histórias - os núcleos, os sets, as famílias -

são utilizados paralelamente e ao mesmo tempo. Segundo a autora (1998), a

telenovela precisa e se vale da multiplicidade de enredos. As tramas paralelas

de tons mais leves são feitas para amenizar o teor dramático de certos enredos.

Dentre tantas tramas e sub-tramas, é indispensável saber dosar a evolução de

cada história, para não se esgotar o enredo.

Existe uma técnica especial para implantação do primeiro capítulo, segundo

Pallottini (1998). O início deve ser cheio de impacto, rico em conteúdo, e

movimentação. Os primeiros vinte capítulos devem ser atraentes, e depois o

nível de tensão tende a cair. O capítulo de uma novela deve ter, segundo a

autora, algumas características básicas: a) Um personagem ou um fato deve

mover os acontecimentos. b) Os acontecimentos devem envolver algum

protagonista. c) O capítulo deve tratar, além da história principal, de uma ou mais

subtramas. d) O gancho deve envolver algum protagonista. e) As cenas devem

ser curtas (um a três minutos). f) O capítulo deve desenvolver alguma

subtramas ligeiras e suaves. g) O capítulo deve respirar, ou seja, dever ter

alguma cena em exterior. h) O capítulo deve começar alto, baixar e voltar a subir

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no final. i) O gancho nunca deve propor uma expectativa falsa. j) Deve haver

uma efetiva mudança em cada capítulo (Pallottini, 1998, p.86).

A autora (1998) lembra também que para um capítulo de telenovela gere

interesse e motive a audiência, é indispensável que tenha ação. E que não se

deve entender a ação como um simples movimento exterior. (Pallottini, 1998,

p.87).

Calza diz que o capítulo deve ter uma distribuição equilibrada das

emoções contidas nas cenas de todos os segmentos da história. Os capítulos

são construídos em segmentos, intercalados por pausas para comerciais (Calza,

1996, p.43).

Para Pallotini (1998) o público deve ter a oportunidade de respirar porque

as constantes cenas em estúdio provocam sensação de claustrofobia. A autora

chama atenção também para o que ela chama de modulação ou ondulação, que

são os altos e baixos ou o ritmo da narrativa. Se, no capítulo vinte, terminou num

momento especial, com o telespectador esperando por uma resposta importante,

o capítulo terminou alto, e o capítulo seguinte vai começar alto. A autora faz um

gráfico, e diz que o intervalo comercial é sempre uma ameaça de troca de canal

pelo telespectador, momentaneamente desinteressado (Pallottini, 1998, p.98).

Segundo Pallottini, cada capítulo de novela deve sofrer pelo menos uma

mudança. Isso garantirá a evolução das situações dramáticas, o dinamismo do

capítulo e do conjunto de capítulos que constitui a telenovela. (Pallottini, 1998,

p.99). É comum que se termine cada capítulo com uma situação de expectativa

que motive a audiência. Esse momento chama-se gancho. Segundo Pallottini, a

finalidade do gancho é sempre criar expectativa. Trata-se de inventar um meio

de fazer com que o espectador volte a procurar o capítulo do dia seguinte. E

isso se consegue quando se estabelece a promessa de uma revelação, o fim de

uma dúvida, a resolução de um dilema:

Alguém bateu à porta e o protagonista vai abrir. O que será? Uma carta, um telegrama, uma notícia: qual é o conteúdo dessas mensagens? O público não

conhece o conteúdo da notícia, a identidade do visitante, as palavras do interlocutor ao telefone. Cabe ao produtor da ficção dar a resposta (Pallottini, 1998, p. 55,122).

É preciso que a audiência acredite no amanhã da novela, diz Pallottini

(1998) e volte a ligar o seu receptor. É para isso que se cria o gancho, é para

isso que se criam todas as técnicas que despertam suspense e expectativa

(Pallottini, 1998, p.123).

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4. Metodologia

Como visto anteriormente, a pergunta formulada para investigar a

influência do consumidor na produção de telenovelas é: De que forma e em que

medida a estrutura de produção de telenovelas utiliza, durante o seu processo

de feitura, informações sobre o consumidor?

4.1. Tipo de pesquisa

Para investigar o tema foi realizado um estudo de caso. Este consiste em

investigar um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real

(Yin, 2001, p.32). O fenômeno contemporâneo de marketing aqui presente é o

gerenciamento das informações sobre o consumidor servindo como guia para a

estratégia de negócio. O contexto da vida real é o referido processo numa

empresa de televisão - TV Globo e o tratamento de dados com o seu consumidor

de telenovela - o público telespectador.

Segundo Yin (2001) o tipo de questão fornece uma chave importante para

se estabelecer a estratégia de pesquisa mais apropriada. A natureza da

pergunta do presente estudo, de que forma acontece o processo de informação

sobre o consumidor dentro da empresa, é do tipo como. Segundo o autor

questões do tipo como um determinado fenômeno acontece, sugerem um estudo

de caso. O foco pode ser uma organização, um indivíduo, um programa, um

processo, etc. O presente estudo de caso, chamado por Yin de unidade de

análise, constitui-se de um processo.

A Influência do consumidor, objeto desta pesquisa foi interpretado como

um processo. Este é constituído por coleta, tratamento e análise de dados sobre

o consumidor de telenovelas, e implementação dos resultados obtidos com

essas informações (Yin 2001, p. 27, 28, 31, 42).

Um estudo de caso, em algumas circunstâncias, pode ser a única forma de

compreender uma situação complexa (Aaker, 2001, p.220).

A Organização investigada foi a Rede Globo de televisão, a maior

produtora de telenovela do Brasil e da América Latina, escolhida por ser pioneira

no processo que diz respeito a este estudo.

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4.2. Método de pesquisa

Entrevistar o maior número de autores de telenovela, e questioná-los sobre

as modificações já propostas pelo telespectador, parece o recurso mais direto

para alcançar a resposta da pergunta desta pesquisa, pois são os autores os

responsáveis pela criação do produto e qualquer ajuste no mesmo. Porém, há

dificuldades em relação à disponibilidade desse recurso. Os autores de

telenovela não executam seu trabalho dentro da empresa, suas residências

podem ser em outros estados; viajam, e se ausentam por um ano ou mais.

Essas razões interferem nas possibilidades de serem entrevistados.

De qualquer forma, tanto para entrevistá-los quanto para chegar à resposta

da pergunta desse estudo, é preciso conhecer o contexto da questão. É

necessário conhecer o negócio, a empresa, os processos de uso das

informações sobre o consumidor que nela acontecem. Não se pode entender a

abordagem feita pelos profissionais de criação, autores, diretores, profissionais

de produção e administração, na ausência de uma gama de informações. Por

essa razão, este estudo descreve um pouco mais sobre conceitos do produto e

também sobre sua produção.

Além de alguns autores, diversos outros profissionais que trabalham em

produção ou em áreas administrativas relacionadas à telenovelas foram

entrevistados para compreensão das questões deste estudo. Foram

entrevistados: cenógrafo, figurinista, produtor de arte, diretor de produção,

engenheiros, profissionais de recursos humanos e pesquisa para o entendimento

do negócio e da construção do produto.

Para atingir os objetivos intermediários desse estudo, foi necessário

conhecer a Central Globo de Produção - CGP, conhecida como Projac, onde são

produzidas as telenovelas; assistir a capítulos de novelas; identificar, estudar

documentos e arquivos; fazer entrevistas com diversos profissionais da empresa.

4.3. Coleta de dados

Seguem, de forma mais detalhada, as fontes de evidência em que se

baseia o estudo de caso, seguindo o princípio de coleta de dados, proposto por

Yin (2001):

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a) Observação direta

O ponto de partida deste trabalho iniciou-se com visitas à Central Globo

de Produções - CGP, com o objetivo de conhecer o processo de produção das

telenovelas, obter informações sobre a empresa e o negócio telenovelas. As

observações feitas na Produtora ajudaram a direcionar as questões relevante ao

projeto de pesquisa. A mobilidade e a oportunidade de entrevistas acontecem

com mais facilidade, embora tenha um ritmo de trabalho intenso.

Existe uma natural limitação de acesso aos setores administrativos da TV

Globo no Jardim Botânico, onde circulam informações específicas sobre o

telespectador. O conhecimento in loco da Produtora, fornece uma visualização

da dinâmica do negócio, uma maior intimidade com o assunto, prazer e

motivação. A visita à Produtora constará de participação em palestras,

seminários e observação de algumas gravações de novelas.

b) Artefatos físicos

Foram realizadas visitas as cidades cenográficas, estúdios de gravação,

cenários de novelas e visita ao laboratório Memória da Criação.

c) Recepção de telenovelas

Faz parte também da coleta de dados a observação de novelas. Foram

feitas recepção das novelas Mulheres Apaixonadas e Celebridade para

identificação de elementos deste estudo e obtenção de conhecimento para

entrevistas e conversas com profissionais da empresa.

d) Documentos

Foram realizados estudos de textos e documentos da empresa disponíveis

a consultas, recortes de jornais, artigos publicados na mídia e revistas

especializadas.

Foram feitas consultas ao Centro de Documentação da Globo - CEDOC e

pesquisas a sites.

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e) Entrevistas

As entrevistas feitas foram do tipo semi-estruturada. Em cada uma delas

foram abordadas questões gerais – o negócio telenovelas e o papel de alguns

setores da empresa e, outras específicas - relacionadas à pergunta do presente

estudo.

1) Entrevistas pessoais na TV Globo:

Alexandre Ishikawa - Produções em telenovelas (Outubro/2003).

Fernando Lima de Araújo - Produções em telenovelas (Outubro/2003).

Beth Felipeke - Produções em telenovelas (Agosto/2003).

Luciana Nick - Produções em telenovelas (Setembro/2003).

Keller - Produções em telenovelas (Setembro/2003).

Marcelo Rosa - Produções (Agosto/2003).

Duda Pereira - Recursos Humanos (Outubro/2003).

Iracema Padrenosso - Recursos Humanos (Outubro/2003).

Eliana de Pinho - Recursos Humanos (Outubro/2003).

Eneida Nogueira - Pesquisa de Mercado (Setembro/2003).

Marcia Clark - Central de Atendimento ao Telespectador (Novembro/2003).

Lacy Barca - Projetos sociais (Março/2004).

Mônica Albuquerque - Assessoria de Imprensa (Julho/2004).

Manoel Carlos - Telenovelas (Novembro/2003).

Lucia Abreu - Telenovelas (Fevereiro/2004).

Jorge Fernando - Telenovela e Produções em telenovelas (Julho/2004).

Mário Lúcio Vaz - Administração (Julho/2004).

Fernando Bittencourt - Administração (Agosto/2003).

Edson Pimentel - Administração (Julho/2004).

Mauro Franco - Administração (Março/2004).

João Marcos - Administração (Agosto/2003).

Roberto Barreira - Administração (Fevereiro/2004).

2) Entrevista por e-mail:

Ricardo Linhares - Telenovelas (Setembro/2004).

Edmara Barbosa - Telenovelas (setembro/2004).

Edilene Barbosa - Telenovelas (Setembro/2004).

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Gilberto Braga - Telenovelas (Setembro/2004).

Sidney Fernandes - Pesquisa de audiência (IBOPE - Novembro/2004).

4.4. Limitações do método

Aaker (2001) observa que num estudo de caso, é preciso que o

pesquisador esteja relativamente informado sobre o assunto que está sendo

pesquisado para que possa se relacionar com o respondente em seus próprios

termos (Aaker, 2001, p.209). A pesquisa presente requer considerável

entendimento do negócio e essa possibilidade é relativamente parcial ao

pesquisador externo à empresa.

A análise das informações sobre o mercado consumidor é de uma forma

geral, assunto confidencial da empresa e dos setores competentes. Desta forma,

o processo de gerenciamento das informações sobre o consumidor, tema desse

estudo, tem limites em sua investigação. Assim, este estudo adota uma

abordagem possível e faz adequações de modo que o tema possa ser

investigado.

Os resultados da presente investigação irão considerar a opinião dos

profissionais entrevistados, isto é, suas visões particulares dos processos da

empresa. Ainda que tenha havido um número significativo de profissionais

entrevistados, existirão diversos outros profissionais na empresa (que não foram

entrevistados) com visões diferentes sobre as questões investigadas. Espera-se

que esse tipo de limitação possa ser minimizado pela qualidade de interpretação

das entrevistas e também pela adequada seleção dos documentos investigados.

Finalmente há na presente investigação, uma interpretação particular,

expressa na apresentação de seus objetivos, final e intermediários. Essa visão e

seleção de objetivos fazem com que o estudo, traga em si, limitações nos seus

resultados. Outras interpretações poderão ser dadas ao tema, com a escolha de

caminhos alternativos para sua abordagem.

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5. Estudo de Caso

5.1. Introdução

As descrições seguintes, evolução do negócio das telenovelas, aspectos

sobre roteiro e produção, contextualizam a pergunta desta pesquisa. Embora

não se refiram diretamente ao processo da influência do consumidor, e pareçam

às vezes, um pouco mais extensos e distantes da resposta à questão de

interesse deste estudo, todos visam fornecer uma base para sua compreensão.

As alterações no produto telenovela, que é a questão que se pretende

investigar, estão de uma forma ou de outra relacionadas ao seu significado

mercadológico, cultural e às técnicas de sua fabricação em termos de roteiro e

produção. Embora as novelas tenham um grande consumo, seu significado em

termos de negócio para a empresa, a técnica de confecção do roteiro, produção

e toda a sua indústria são elementos poucos conhecidos.

A participação do consumidor na produção de telenovelas é assunto que

requer uma base de conhecimento para discussão. Os tópicos desenvolvidos

nesta seção têm o objetivo de oferecer os conhecimentos necessários para

avaliação da questão. A compreensão do processo de captação e uso das

informações sobre o consumidor de telenovelas demanda o entendimento do

ambiente em que esse produto é fabricado. A descrição desse ambiente

possibilita situar a dimensão da participação do telespectador, sua extensão ou

sua própria limitação.

5.2. As telenovelas da Globo

Em 1965, A Rede Globo, canal 4 (RJ) começou a operar. A partir de 69,

firmou sua posição no espaço audiovisual brasileiro. Com a implantação do

sistema de telecomunicações da Embratel, sua rede televisiva se ampliou,

passando a cobrir parcelas significativas do território nacional. Ortiz et al. (1991)

observam que a empresa criaria as bases para uma perfeita produção de cultura

industrializada, unindo planejamento e estrutura organizacional vertical e

centralizada e comentam: "a emissora incorpora, como nenhuma outra, a

necessidade de montar uma indústria cultural adequada a nova fase de

desenvolvimento" (Ortiz et al., 1991, p.82).

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Segundo Ortiz et al. (1991), no final dos anos 60 e início dos anos 70, a

televisão brasileira e sua indústria se consolidaram definitivamente. Cresceu

muito o número de aparelhos, e o investimento publicitário priorizou o novo meio

de comunicação. Houve uma modernização na estrutura organizacional no

campo tecnológico, gerencial e de produção. Os autores observam que a TV

Globo emergiu neste contexto como uma emissora exemplar: “A época será de

busca de padrões de excelência no campo empresarial, de estabilização da

programação, e também de qualificação da ficção televisiva (centrada na

telenovela)” (Ortiz et al., 1991, p.80,81).

Depois de 1972, houve uma aceleração para afiliar estações. Para contar

com os anunciantes, as emissoras deviam ter amplitude nacional. Em 1980, a

TV Globo contabilizou 36 emissoras afiliadas, número que cresceu para 48 em

1986, cobrindo 98% dos municípios brasileiros, com uma audiência estimada em

80 milhões de espectadores. A TV Tupi, com problemas na sua organização,

não se modernizou tecnicamente, deixando de fixar uma programação

padronizada e de qualidade, entrou em crise e suspendeu as atividades em 80.

Nesse contexto, as telenovelas desempenharam um papel importante na disputa

entre as duas Redes, Tupi e Globo (Ibid, p. 84).

Entre 1970 e 1975, as emissoras, Tupi e Globo concorreram pela

ocupação dos horários noturnos. A TV Globo, mais regular, mostrando maior

racionalização de planejamento, manteve suas três novelas, das l9, 20 e 22

horas, extinguindo depois o horário das 22h e fixando o das 18 horas. A Tupi

teve maiores irregularidades, oscilando entre 2 e 3 novelas simultâneas. Essas

flutuações nas ocupações dos horários revelaram, além da concorrência,

dificuldades organizacionais de produção (Ibid, p.91).

Nesse período, a Globo, segundo Ortiz et al. (1991), encontrava um

padrão para o número ideal de capítulos de cada novela. No início da década,

havia uma variação de 6 a 9 meses de duração para as novelas das 19, 20 e

22h, estabilizando no final da década em torno de 6 meses, o que correspondia

a uma média de 155 capítulos. Ocorriam também mudanças na duração diária

das novelas que passavam de meia hora para 40, 45 minutos, e posteriormente

50, 60 minutos. Outras emissoras, como a Tupi, não conseguiam encontrar essa

padronização (Ibid, p.91).

A novela passou a dominar a programação nacional. Tornou-se um gênero

fundamental para as emissoras, superando a audiência dos shows de auditório e

noticiários, e teve importância na disputa entre as redes. A Globo, sem

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concorrente do seu nível, passou a ter domínio do espaço ficcional da televisão

brasileira. (ibid, p.91)

A novela, a partir da década de 70, começou a ser administrada como um

produto industrial, havendo segmentação do público-alvo de acordo com faixas

etárias, temas, duração, gêneros e horários, com interesses inclusive da venda

de anúncios. O horário das 20 horas, por exemplo, se consolidava como o de

reunião da família. Alencar (2002) comenta: “Reunida para jantar e assistir o

jornal Nacional, a família estava pronta para as tramas urbanas e rurais e para

as discussões dos assuntos mais palpitantes do dia-a-dia”. Com essa nova

forma de segmentação e gerência, a Rede Globo elevava consideravelmente

sua audiência e atingia o monopólio da produção de telenovelas durante os anos

70 (Alencar, 2002, p. 56, 58).

A partir desse período, os temas se tornaram mais nacionais, restringindo

as adaptações, aos romances nacionais e estrangeiros, em vez dos textos

melodramáticos importados. Os autores brasileiros passavam de adaptadores a

autores de suas próprias novelas. É o caso de autores como Durst, Benedito Rui

Barbosa, Dias Gomes, autores com experiência no teatro e no cinema (Ortiz et

al.,1991, p.93).

Nesse período, os autores tendiam a retratar, discutir e criticar a realidade

brasileira, tendência verificada em várias sinopses apresentadas pela TV Globo,

e citadas por Ortiz et al. (1991): "A vida de São Paulo, nas suas 24 horas de

correria poluição, gente se esbarrando e nem sentindo, solidão, superpopulação

(...)" (Andrade apud Ortiz, 1991, 95). Assim, surgia uma nova temática. Eram

contradições da metrópole, conflitos políticos e cultura popular. Os autores

relatam um depoimento de Muniz Sodré: “Acho que a novela Saramandaia está

fundada no realismo fantástico (...) e isto é uma forma mercadológica de

narrativa que não pode ser desprezada” (Ortiz et al., 1991, p.95).

Ortiz et al. (1991) observam que essa nova linguagem surgiu num

momento de modernização da sociedade brasileira que demandava por uma

reformulação da própria narrativa televisiva. Segundo ele, a descoberta do

cotidiano, do real respondia por fatias maiores de público, além de refletir as

preocupações de um grupo de escritores, marcados por um projeto nacionalista,

mais à esquerda, cuja concepção estética tinha influência do realismo literário e

teatral (Ibid, p.95).

Nos anos 70, verificou-se uma grande virada, temática e técnica (aspectos

que se relacionam). A novela Pigmaleão 70 ilustrou uma mudança temática,

além de uma nova posição da empresa; uma novela com uma linguagem

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moderna, coloquial e com uma qualidade técnica muito superior a tudo que já

fora visto. Sem certas condições técnicas, diz Alencar (2002), seriam inviáveis

determinadas modificações como cenas de velocidade, cortes e closes mais

sofisticados. Nenhum desses recursos seria necessário para fazer uma

telenovela no estilo dos anos 60, com seus diálogos lentos e arrastados

(Alencar, 2002, p. 59).

Enquanto ocorria um desenvolvimento do padrão de qualidade técnica e

visual da telenovela, havia nesse mesmo período, uma tendência para o

realismo que se consolidava cada vez mais. O aumento das cenas externas

aumentava o realismo e tendia a descrever o real de uma forma mais fotográfica.

Existia uma filosofia ou política que colocava o telespectador mais perto do real e

isso permeava os diversos setores da fabricação da telenovela (Ortiz, et

al.,1991, p.140).

A partir de 1975, diz Alencar (2002), a telenovela passou ser o produto

televisivo de maior sucesso. Estava formada a grade de programação televisiva:

novela - jornal nacional - novela - programa humorístico/show/documentário -

novela (Alencar, 2002, p.60).

Alencar (2002) observa que a visão empresarial em relação ao público-

alvo resultou basicamente em duas mudanças: divisão do estilo da telenovela

por horário, complexidade e o aumento dos núcleos dramáticos em cada uma

delas. Deixou-se de utilizar apenas um núcleo básico, centrado nos conflitos

amorosos do casal principal. Diversos núcleos passaram a se interligar, para

gerar maior empatia com as diversas faixas do público consumidor; estratégia

que permaneceu até os dias de hoje. Autores e diretores de novela tinham

liberdade para adaptar a história, aumentando ou diminuindo a importância de

personagens e núcleos dramáticos em função de sua maior ou menor aceitação

por parte dos telespectadores (Alencar, 2002, p.60).

Segundo Alencar (2002), existia uma íntima relação entre as

transformações ocorridas na sociedade brasileira na época e a mudança

temática e estrutural da telenovela. Uma dessas mudanças sociais nos anos 70

era o crescimento maciço da população urbana. A massa do público consumidor

de telenovela passava então a se concentrar nas grandes cidades,

especialmente no eixo Rio - São Paulo. O foco das novelas passava ser temas

urbanos, uma preocupação da emissora em aproximar a temática à realidade

cotidiana mais imediata deste público (Alencar, 2002, p. 61).

Na década de 80, novelas como Roque Santeiro ou Roda de Fogo não

foram somente grandes sucessos de audiência, elas procuraram se apresentar,

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para o público ou para a sociedade, como narrativas legitimadas pelos temas

políticos que abordavam. Lauro César Muniz (1986), citado por Ortiz et al.

(1991), observa que Roda de Fogo foi uma novidade como novela. O

personagem principal era um personagem poderoso e mau caráter. Uma novela

com conteúdo político e que tratava do poder. Calcada numa linha de ação onde

o personagem principal era negativo, anti-herói, na verdade a tradição de Beto

Rockefeller (Ortiz et al., 1991, p.96).

No início de 80, a SBT produzia o melodrama tradicional, na crença de que

o gênero ainda pudesse reaquecer a indústria televisiva. De 82 a 85, a SBT

produziu 15 novelas, a maioria dramalhões da escritora mexicana Marisa

Garrido. Em 84, a SBT ocupava 23% de sua programação com novelas contra

20% da Globo. Entretanto, essa estratégia do estilo popular mostrou-se

inadequada, diante da modernização por que passou a telenovela brasileira, não

resultando na audiência desejada. (Ortiz et al., 1991, p.107)

Ortiz et al. (1991) observam que a produção que se vê hoje industrializada

foi construída ao longo dos anos 60 e 70, combinando o aparato tecnológico e as

aptidões dos autores, diretores e atores. Algumas mudanças foram

revolucionárias, como no campo da tecnologia. A introdução do vídeo tape

permitindo a correção dos erros, transistores, circuitos integrados, melhorando o

sinal de vídeo, emenda eletrônica de VT, gravador de vídeo em disco, permitindo

sofisticação da imagem, câmara lenta, equipamentos para transmissão em

cores, câmaras, gravadores de video-teipe com dimensões reduzidas, facilitando

as gravações externas, são exemplos dessas mudanças (Ibid, p. 123).

Diferentes setores acompanharam esse processo de modernização, como

por exemplo, a técnica de construção e utilização dos cenários. A novela

colorida passou a causar preocupações com maquiagem, figurino, pois as

imperfeições eram notadas com facilidades. A iluminação também assumia uma

maior importância. Assim, comentam os autores: “Todo um know-how vai sendo

absorvido na feitura da telenovela nos anos 70 e um novo padrão tecnológico vai

se cristalizando” (Ibid, p. 123).

Segundo Ortiz et al. (1991) observa-se, ao longo dos anos, uma

preocupação constante com a excelência do produto. A Globo sedimentava um

processo em que os resquícios de artesanato desapareciam, e a novela tornava-

se um produto científico: “(...) desde a escolha da sinopse e dos autores,

passando pelo elenco, composto pelo melhores elementos (...)” (Ibid, p.126).

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5.2.1. As pesquisas e a industrialização da telenovela

Dulce Ribeiro (1986), do setor de pesquisa da Globo, citada por Ortiz at al.

(1991), diz em entrevista que, a partir de Irmãos Coragem, o público masculino

começou a se interessar por novela. A relação nesse período era de 60% de

público feminino e 40% de público masculino. A novela trouxe temáticas como,

futebol, garimpo, trazendo um clima de western hollywoodiano. Durante toda a

década, a Globo acompanhou as pesquisas de preferência quanto ao gênero

(Ortiz et al., 1991, p.100). Como as pesquisas apontavam preferência dos

homens, por novelas realistas e fortes, a tendência desse gênero acabou sendo

responsável pelo aumento da audiência neste segmento (Alencar, 2002, p.61).

De qualquer forma, segundo Ortiz et al. (1991), a temática feminina ainda

prevalecia. Nos anos 70, a tradição melodramática foi bastante comum, como

revelam os levantamentos do autor, por gêneros, emissoras e períodos. Os

diálogos e os conflitos do interesse feminino foram constantes (Ortiz et al., 1991,

p. 104).

As temáticas consideradas femininas, porém, sofreram adaptações em

conseqüência da modernização do mundo e do papel da mulher dentro da

sociedade. Gilberto Braga, citado por Ortiz et al.(1991), comenta sobre sua

novela: “Dancing Day, uma história sobre a posição confusa da mulher nos dias

de hoje. Um mundo diverso do folhetim tradicional. O que há agora é uma

mulher que se adequa aos valores do seu tempo. Um folhetim modernizado”.

Esse é o caso de novelas como Selva de Pedra, Plumas e Paetes, Baila

Comigo. Temas considerados folhetinescos readaptados à realidade brasileira

(Ortiz et al., 1991, p.126).

Porém, na lista de novelas descritas neste período, continuou também uma

série de novelas com conteúdo melodramático tradicional. Começou-se a pensar

num controle racionalizado da produção para lançamento dos produtos da Globo

no mercado. Com isso, a empresa passou a se preocupar com a quantificação

de dados sobre o telespectador, como também com elementos qualitativos da

recepção. Ortiz et al. (1991) citam o depoimento do diretor da Rede Manchete

que se ressentia, naquela época, da falta de um departamento de pesquisa que

fosse além da análise de dados de audiência. O diretor se referia a um maior

aprofundamento sobre o telespectador, para um melhor direcionamento e para

maior destaque dos personagens de preferência do público telespectador (Ibid).

Nos anos 70 e 80, a Globo incrementou as pesquisas mais detalhadas por

meio de Homero Sanches. A empresa passou a acompanhar o produto desde a

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análise da sinopse até sua exibição final. A preocupação era com o interesse

pela novela durante todo o tempo. Sanches, citado por Ortiz et al. (1991), diz que

tinha autores que iam muito bem no início, mas depois caíam. Nessa época, ele

criou o que se chamava de trilho. Era como se fosse um padrão de marcação de

audiência. Se a novela saísse do trilho 3 vezes numa semana, alguma coisa

estava errada, e era convocada uma reunião com o autor (Ibid, p.127).

As pesquisas foram decisivas nos anos de modernização e de

industrialização da telenovelas. As análises de caráter quantitativo feitas pelo

Ibope - Instituto Brasileiro de Opinião Pública, davam a possibilidade de calcular

a audiência minuto a minuto. Nessa época, desenvolveu-se o mecanismo do

“group discussion, técnica utilizada nas pesquisas qualitativas que se tornou

freqüente e de conhecimento popular nas telenovelas” (Ibid., p.128).

Ortiz et al. (1991) discutem as particularidades desse tipo de indústria,

onde as tarefas são bem distintas e independentes. Citam genericamente

profissionais do setor que faziam analogia entre a fabricação de novela e a

produção industrial em geral. “Fazer novela é como produzir panela em fábrica

(...)”. Os autores observam que o produto final é um mosaico de práticas,

montado por setores de forma independente. A função de diretor é fragmentada,

para se ajustar ao ritmo industrial. Há pouca comunicação entre autores e

atores, entre direção, edição, sonoplastia. O ator Othon Bastos citado Ortiz et al.

(1991), faz o seguinte comentário sobre esse seccionamento do trabalho:

Você tem sete capítulos por semana para gravar e tem que dar vazão a esses sete capítulos. Se você estiver agradando, seu personagem melhora, se não

estiver agradando, seu personagem vai diminuindo. O autor vai mandando cortar, a emissora vai mandando cortar, o diretor vai mandando cortar. Você não é senhor

do seu personagem (Ortiz et al., 1991, p. 150,151).

O ator Claudio Marzo, também citado pelos autores, observa: “Você faz

mas não sabe o que vai acontecer depois (...) cada um faz o seu, chega e faz o

seu pedaço”. (Ibid, p. 151). A discussão sobre a indústria, cultura de massa e

arte sempre esteve presente. Aguinaldo Silva (apud Ortiz et al.) reage contra os

críticos dos jornais e revistas sobre cobrar da televisão uma postura de

vanguarda e justifica:

A TV é um negócio explorado por capitais privados, que depende de anunciante. Para ter anunciante, ela depende de altos índices de audiência. E para ter

audiência, ela tem que ser média, mediana mesmo. Não pode ser de vanguarda, porque a emissora vai à falência. Isso é elementar. Então os parâmetros de

qualidade em relação a uma indústria como a TV devem ser diferentes. O que uma novela precisa é ser popular (...) (Ortiz et al., 1991, p.159).

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Glória Magadan, autora de novela, citada por Ortiz et al. (1991), diz no seu

depoimento: “(...) A telenovela é um produto a ser vendido comercialmente.

Como uma geladeira, um tipo de tecido ou um par de sapatos. Não é literatura

nem subliteratura. É um produto industrial” (Ortiz et al., 1991, p. 160).

5.3. A consolidação das pesquisas na Globo

Homero Sanches (1980), criador da Divisão de Análise e Pesquisa da TV

Globo, na década de 70, diz em entrevista à revista Briefing não ser possível

atender o mercado de televisão, jornal, rádio, revista ou qualquer outro meio de

comunicação de massa, sem pesquisa. Observou que a TV é o único meio que

tem pesquisas diárias. Diz ele:

A pesquisa sobre a TV é fundamental. A TV é feita para uma audiência que só se

pode conhecer através da pesquisa. Pesquisa que é feita com dois objetivos: conhecer o mercado constituído pela audiência e saber o que esse público pensa

e espera da televisão. É a forma de saber quem se atinge com a TV, quando e de que forma, quais os efeitos sobre esta audiência. É a maneira de saber se a

programação está de acordo com a expectativa dos espectadores. Saber o que a comunidade espera da TV, em termos de informação, entretenimento, cultura e serviços (...). É preciso descobrir as expectativas da audiência, suas necessidades

não preenchidas, a nível consciente e inconsciente (Briefing 1980, p.80).

Até 1971, tinha-se apenas a mensuração da audiência, que é uma

pesquisa de confirmação. Não se conhecia o perfil do telespectador. Mais tarde

é que se criou uma estrutura apropriada para este tipo de levantamento,

pensando na qualificação e no comportamento da audiência (Ibid, p.81).

Entre 70 e 80 a Globo passou a ter maior interesse em conhecer melhor os

hábitos dos telespectadores e entender de forma adequada os relatórios

entregues pelo Ibope. A emissora iniciou as pesquisas mais detalhadas em

relação às telenovelas. Sanches (2000), em depoimento ao livro 50 Anos de TV

no Brasil, diz que até então os critérios para manutenção de um programa na

grade de programação eram simples e imediatos: deu audiência se repete ou se

imita. A partir de Sanches, a emissora começou então a análise de pesquisas

para a audiência de televisão. A Divisão de Análise e Pesquisa se consolidou e

iniciou-se então a busca no sentido de conhecer a composição do público e sua

maneira de reagir perante a televisão. Passou-se a contar com o uso de

estatística e alguns fundamentos da sociologia e psicologia social, para apoio de

análises (Boni, 2000, p.112).

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Sanches diz em depoimento ao livro de Boni (2000) que a empresa então

iniciou levantamentos sobre as classes sócio-econômicas, nas cidades onde a

empresa tinha estação de televisão, utilizando, critérios usados em outras partes

do mundo sobre definição de classe econômica. Definida a classe, eram feitas

pesquisas sobre hábitos e tendência para saber a que horas o telespectador

ligava e desligava a televisão e a que programa assistia. Diz Sanches:

“Queríamos descobrir exatamente que programa levar ao ar” (Boni, 2000, p.113).

Sanches (2000) observa que, com o crescimento da Divisão de Pesquisa,

o departamento passava, além de analisar a programação, a opinar sobre as

novelas antes até de serem aprovadas. Eram enviadas ao seu departamento

sinopses de futuras novelas, acompanhadas da descrição de personagens para

que se opinasse por escrito, embora não houvesse participação dos

telespectadores na versão final (Ibid.)

Além do levantamento sócio-econômico, a Divisão de Pesquisa, para

melhor composição dos dados, passou a fazer um levantamento sócio-cultural,

criando 36 categorias de classes, usadas então, para descrever a audiência de

novela. Diz Sanches: “Depois de alguns meses, começávamos a identificar o

gosto cultural da audiência em determinados horários e a examinar a

programação, em busca de maior repercussão” (Ibid., p.114).

Sanches (2000) relata que fundou nesta época, com sua esposa, uma

empresa de pesquisa de discussão de grupo (group discussion) onde organizava

grupos de duzentas mulheres, de diferentes classes sócio-econômicas, para

tecer apreciações sobre as novelas em determinadas fases. Diz Sanches:

No capítulo 18, perguntava-se sobre a compreensão da trama, o personagem, os casos amorosos, os aspectos morais e estéticos da história; perguntas simples,

que permitiam avaliar o começo da novela. No capítulo 36, discutia-se se o artista tinha se adequado bem ao personagem e se a trama da novela continuava sendo

bem compreendida, se as duplas amorosas já estavam bem definidas, se havia qualquer tipo de rejeição a personagens, além dos aspectos formais de uma obra, como cenários, iluminação, figurinos, etc. (...) No capítulo 54, era feita a última

discussão, quem vai casar com quem, como vai acabar a história. Esse estudo foi utilíssimo para a Rede Globo e é feito até hoje (Ibid.).

Sanches (2000) explica sobre o que se denominou trilho da novela, um

conceito utilizado durante quatro décadas pela emissora:

O trilho da novela consiste em examinar a audiência dos trinta primeiros capítulos e prever, aproximadamente, a audiência dos próximos. Assim, podíamos saber se

uma novela oscilaria entre 53 e 63, ou entre 62 e 72 pontos de audiência. Se numa semana ela se afasta três vezes desse trilho – fato grave, tínhamos de

descobrir se isso se devia ao texto, à direção ou ao concorrente e ficar seguros de que a novela voltaria ao trilho original (Ibid.).

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Sanches (1980) diz em entrevista a Revista Briefing que a pesquisa pode

ser um guide-line para o criador, produtor e o programador; que estes podem

usar muito a pesquisa como fonte de consulta. Com bases nos resultados das

pesquisas dos group discussion, que são realizados antes, no inicio e durante a

novela são preparados relatórios e definido o trilho para orientar os seus

criadores. Sanches observou: “Isso tem sido muito útil para eles” (Briefing, 1980,

p.81).

Sanches (2000) explica também que o trilho não é um parâmetro fixo, isto

é, não é uma meta, de audiência, pois é preciso considerar as características do

horário. Em relação à novela, a previsão só funciona até um certo capítulo, pois

nos últimos vinte capítulos começam a surgir as soluções das tramas

desenvolvidas e, consequentemente, há um aumento de 10% em toda a

audiência (Ibid., p.114-115).

5.4. Painel Nacional de Televisão no Brasil - PNT

O objetivo principal do Painel Nacional de Televisão - PNT é oferecer ao

mercado uma descrição extensiva e abrangente do consumo de TV no mercado

brasileiro traduzida em informações de estado de sintonia, audiência domiciliar e

individual, penetração, perfil, alcance e freqüência de exposição ao meio para a

população residente nos centros urbanos mais importantes do país (Mercado

Global, 1996, p.59).

O sistema é um instrumental disponível para determinar a alocação das

verbas publicitárias, graças ao rigor técnico e precisões, garantidos pela aferição

eletrônica da audiência minuto a minuto (Mercado Global, 1996, p.59).

A operação do PNT baseia-se na instalação de people meters em uma

amostra fixa (painel), determinada estatisticamente segundo parâmetros sócio

demográficos, balizados pelo Censo do IBGE e pelo LSE - Levantamento Sócio

Econômico do Ibope. (Mercado Global, 1996, p.60).

A implementação do serviço de medição de audiência começou em 1995,

pelo Ibope, com a instalação do people meter em sete capitais brasileiras: Porto

Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife, Fortaleza

completando o processo, já em funcionamento no Rio de Janeiro e São Paulo. O

projeto se desenvolveu em etapas com a inclusão gradual das principais cidades

brasileiras das regiões Sudeste, Sul, Centro-Oeste, Nordeste e Norte. O

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processo, segundo informações do site da empresa, finalizou em 2004 com a

implantação do sistema em Fortaleza (site Ibope, dezembro de 2004).

Considerando os 1050 aparelhos já existentes (Rio de Janeiro e São Paulo),

passou-se a uma amostra de 1550 aparelhos instalados (inclusão das capitais)

(Mercado Global, 1996, p.60).

Numa etapa seguinte, o PNT incorporou 22 municípios ou aglomerações

urbanas com mais de 200 mil habitantes. De uma amostra de 1550 domicílios

passou-se a uma amostra de 2556 domicílios (similar às existentes na Itália e na

França), representando 40% da população e 56% do potencial de consumo

nacional (Mercado Global, 1996, p.60).

Segundo Sidney Fernandes, gerente do Controle de Qualidade e Dados

do Ibope Mídia, o processo de ampliação da amostra foi gradativo na medida em

que foram incluídos novos municípios. As novas regiões passaram também a

possibilitar resultados isolados.

Houve uma estruturação apropriada para informar audiência das

emissoras de TV por assinaturas a partir de 2001/2002, ocasionando aumento

da amostra de São Paulo e Rio (área metropolitana). Hoje, a amostra total é de

3200 domicílios, diz Sidney (Entrevista 11/12/2004).

As amostras são calculadas de forma a permitir a análise nacional de

segmentos da classe AB que, embora pouco expressivos quantitativamente, são

os mais importantes do ponto de vista do consumo. O people meter pode avaliar,

além do volume total da audiência, a qualificação do público de cada programa e

identificar a relação dos programas com um determinado perfil de público

(Mercado Global, 1996, p. 60).

Os registros de audiência são gravados e coletados por diferentes meios.

Os people meters são dotados de uma unidade de processamento, cujas rotinas

residentes cumprem as funções de leitura, registro e transmissão das

informações. A transferência dos dados para a central de computação dos dados

do sistema ocorre de maneira distinta para cada região. Pode ser feita em real

time, transmitidos diretamente para a central de processamento, por

radiofreqüência, por sistema misto de coleta composto por transmissão

telefônica e coleta por radiofreqüência remota. Nas demais regiões usa-se a

transmissão telefônica durante a madrugada com instalação de modems

celulares nos domicílios sem telefone. (Mercado Global, 1996, p.61)

O PNT oferece aos usuários a possibilidade de obter as informações

minuto a minuto, faixas horárias e programas, apresentando estimativas em

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percentuais ou números absolutos. São disponibilizados os seguintes dados

(Mercado Global, 1996, p. 61):

a) Total de domicílios ligados.

b) Audiência domiciliares por emissora.

c) Participação de cada emissora no total de domicílios ligados.

d) A audiência média, com periodicidade diversa, combinando as variáveis:

sexo, idade e classe social por total de ligados e por emissora.

5.5. Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística - IBOPE

O Ibope Mídia é a empresa do Grupo Ibope responsável pelas pesquisas

de comunicação, mídia, consumo e audiência. A empresa é conhecida por suas

pesquisas na área de audiência. Atua também na área de investimento

publicitário e em pesquisas quantitativas em todos os tipos de veículos,

televisão, rádio, mídia impressa e mídia alternativa. É líder no Brasil e na

América do Sul na aferição de audiência de TV e rádio e foi a primeira empresa

especializada em pesquisas de mídia a surgir no continente. (www.ibope.com.br,

dezembro de 2004).

As pesquisas do Ibope têm por objetivo ajudar os clientes a montar suas

estratégias de mídia fornecendo dados sobre a segmentação da população,

hábitos de consumo e audiência de mídia. Os programas mais assistidos da TV,

as rádios com maior audiência e número de ouvintes, o número de pessoas que

lêem jornal, os meios de comunicação que recebem mais investimentos são

exemplos de dados fornecidos pela empresa. (www.ibope.com.br, dezembro de

2004).

Em entrevista ao presente estudo, Sidney Fernandes diz que o que torna

o Ibope pioneiro no mundo nas pesquisas de audiência é a aferição e liberação

dos dados em tempo real. O profissional explica que, nos países com tecnologia

mais avançada, os dados são coletados via linha telefônica convencional na

madrugada e liberados no dia seguinte, o que é chamado relatório overnight.

(Entrevista 11/12/2004).

No Brasil, a presença de telefones nos domicílios era muito baixa na

década de 80. A maior parte da população pertencia às classes C e DE,

tornando o problema da carência ainda mais acentuado para a coleta de dados.

Para suprir essas características, o Ibope optou por instalar o sistema Linha

Privada - LP nos domicílios. (Entrevista11/12/2004).

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Sidney (Entrevista 11/12/2004) explica sobre a evolução na aferição dos

índices de audiência ao longo dos anos (1952 - 1990): de 1954 a 1984 a

empresa utilizava o método flagrante ou coincidental call onde os entrevistadores

batiam de porta em porta, perguntando se havia alguma TV no domicílio, que

canal estava sendo assistido, quantas pessoas estavam assistindo, qual era a

idade e sexo dessas pessoas. Em 1985, o Ibope começou a utilizar o Audi TV

incorporando os aparelhos denominados tevêmetros e posteriormente teletron

capazes de registrar as sintonias dos televisores. Ainda eram utilizados, porém,

diários para completar a informação. A coleta era semanal. Em 1988 começou a

ser utilizado o aparelho DIB2, um tipo mais moderno de people meter e

posteriormente o DIB4, aparelho capaz de sintonizar também as emissoras de

TV por assinatura.

Todas essas mudanças foram permitindo uma análise mais complexa dos

índices e dos hábitos de audiência, possibilitando também uma significativa

redução de tempo na entrega de dados mais completos aos clientes (Entrevista).

Segundo Sidney (Entrevista11/12/2004), para os usuários assinantes do

Terminal Cliente Ibope - TCI, os dados diários são disponibilizados via internet,

Linha privada - LP (instalada pela companhia telefônica, ponto a ponto) ou Rádio

Freqüência - RF (popular em celulares). Os dados de audiência são fornecidos,

minuto a minuto na hora em que o programa de TV está ocorrendo. O TCI é uma

maneira rápida de acesso aos dados de audiência. Por meio do TCI, o usuário

pode verificar on-line, indicadores de audiência dos programas e emissoras.

Para usuários regulares, os dados são disponibilizados, diariamente,

semanalmente, mensalmente via internet e em alguns casos pelo envio de

disquetes e cds, dependendo do tamanho do banco de dados.

A tabela a seguir mostra exemplo de dados de audiência liberados pelo

Ibope, em tempo real, via internet (Ibope, dezembro de 2005).

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Figura 2

Dados de audiência em tempo real - vide anexo (Ibope, dezembro de 2005)

Sidney (Entrevista11/12/2004) explica que o perfil da audiência e muitos

outros índices são processados pelos próprios usuários a partir dos bancos de

dados que são enviados pela empresa e dos softwares específicos instalados

para os clientes.

Um exemplo de software para análise de audiência é o Telereport, uma

ferramenta que permite que diversos tipos de estudos sejam praticados pelas

empresas. O programa possibilita analisar vários aspectos do comportamento da

audiência, fazer cruzamento de dados e interpretar de forma mais completa e

detalhada os padrões de audiência (www.ibope.com.br, dezembro de 2004).

É possível fazer análise por emissora ou faixa horária, se quiser

comparar os programas. Pode-se identificar um conjunto de telespectadores com

características semelhantes. Essas características podem ser definidas a partir

da idade, sexo ou classe social. Agrupa-se, por exemplo, homens e mulheres

acima de certa idade ou qualquer outro tipo de característica.

(www.ibope.com.br, dezembro de 2004).

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Além da definição de um público, esse tipo de ferramenta permite realizar

análises separadas de audiência a partir de agrupamentos dos programas em

um determinado gênero. O usuário do programa pode, por exemplo, comparar

todos os programas humorísticos ou esportivos. (www.ibope.com.br, dezembro

de 2004).

Também é possível a comparação de audiência dentro da programação

de horários e dias definidos. Assim, pode-se avaliar a audiência de programas

veiculados nos mesmos dias e horários e definir uma emissora específica como

destaque de seu estudo de audiência, analisando todos os programas

veiculados por ela. (www.ibope.com.br, dezembro de 2004).

Esse tipo de ferramenta possibilita também análises a partir da

combinação de diversos elementos. Pode-se destacar a variável de interesse,

público-alvo, gênero de programa, horário, programa ou emissora para que se

tenha uma visão específica do comportamento da audiência. Pode-se também

fazer uma combinação dessas variáveis para obter outro tipo de enfoque.

(www.ibope.com.br, dezembro de 2004).

Há outros tipos de estudo a partir desses softwares. Pode-se investigar,

por exemplo: o total de pessoas que assistiram ao programa pelo menos um

minuto, a quantidade média de vezes que o telespectador teve contato com o

programa, a quantidade de telespectadores que assistem a dois programas

concomitantemente, a audiência média de determinado programa em um público

alvo definido, o número de indivíduos que assistem a apenas um programa, etc.

(www.ibope.com.br, dezembro de 2004).

Pelo recurso chamado de análise individual, pode-se pesquisar todo o

fluxo da audiência dos programas, com informações sobre o padrão de troca de

canais pelo telespectador. Esse tipo de recursos permite um estudo completo

com os dados de audiência minuto a minuto. Os usuários têm a possibilidade de

ter uma radiografia detalhada da audiência e verificar, as passagens (cenas,

capítulos, quadros) que mais obtiveram audiência, auxiliando assim na definição

de estratégias de veiculação dos programas de suas emissoras.

(www.ibope.com.br, dezembro de 2004).

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5.5.1. Avaliação segundo os índices de audiência

Para Mattelart (1998), a aferição de audiência marca as atividades da

produção televisiva no Brasil de tal forma que os roteiristas e os programas são

avaliados segundo os pontos que recebem do Ibope. O autor observa que o

neologismo dá ibope, foi criado para apontar os autores e programas que melhor

preenchem as exigências calculadas pelas análises do Instituto segundo critérios

de classe, idade, sexo, ocupação e nível de escolaridade. Nas entrevistas que

dão à imprensa os roteiristas manifestam a tendência de se auto avaliarem em

relação a seus horários na programação, em função do índice obtido pelo

Instituto de pesquisa (Mattelart, 1998, p.58).

Mattelart (1998) observa que os índices de audiência exercem poder sobre

a extinção ou sobrevivência de certo programa, quando se refere à " tirania que

o Ibope exerce sobre a programação (..)”. Uma telenovela que não obtém,

depois de certo número de capítulos, um índice satisfatório será concluída antes

do tempo previsto; em contrapartida, aquela cujo sucesso é revelado pelos seus

índices se mantém, e será prolongada pela emissora (Ibid, p.58).

A Globo foi a primeira emissora de tevê a atribuir importância aos índices

de audiência, tornando-se uma cliente assídua dos dados desse Instituto que

presta serviços a toda a mídia nacional. A emissora criou seus próprios

departamentos de pesquisa e análise, sistematizando o tratamento de dados

coletados pelo Instituto de pesquisa, desenvolvendo assim todo um

planejamento para sua grade de programação; apoiando sempre suas

estratégias em uma análise dos diferentes segmentos (Ibid., p.58-59).

Mattelart (1998) observa que o empirismo foi abandonado, e que a

inclusão desses departamentos de pesquisa mostra a preocupação, desde o

início, com o desejo de ampliar a audiência. O autor diz que a fórmula passa ser,

além de descobrir as necessidades presentes, criar novas necessidades e

influenciar no sentido da aceitação de inovados padrões de produções (Ibid.,

p.60).

A lei do ibope é a lei da concorrência, diz Mattelart (1998) referindo-se ao

papel dos índices de audiência como monitor da concorrência. Os índices

comandam as alterações na programação; isto é, os diversos gêneros e

formatos devem ser flexíveis o suficiente para serem modificados.

Mattelart (1998) comenta sobre os diversos tipos de feedback que intervêm

na produção do texto de teledramaturgia: “(...) aí reside sem dúvida a profunda

singularidade desta forma de criação dramática.” (Mattelart, 1998, 63)

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O primeiro tipo de feedback vem dos Institutos de pesquisa e da Divisão de

Análise e Pesquisa da Globo. Outras respostas do público vêm de grupos de

discussão, correspondências enviadas à emissora e ao autor. O autor possui

também seu próprio sistema de análise do feedback, muito mais artesanal,

pessoal e cotidiano (Mattelart, 1998, p.68).

5.6. A posição estratégica da Telenovela na Empresa

A roteirista Rose Calza (1996) observa que a telenovela se tornou um

produto de alto retorno financeiro que se firmou no mercado brasileiro como um

dos maiores fenômenos da indústria cultural do nosso tempo. (Calza, 1996, p. 9).

Para Ortiz et al. (1991), é impossível entender o fenômeno telenovela sem levar

em consideração o seu significado econômico. O autor diz que a Globo, com as

novelas, atinge lucros de 22%, bem mais altos do que as indústrias

automobilísticas. (Ortiz et al., 1991, p.111).

As telenovelas desempenham um papel fundamental como captadora de

recursos das verbas publicitárias para as emissoras de TV e possuem uma

posição estratégica no ranking de programas produzidos. (Borelli et al., 2000,

p.28). Lopes et al. (2002) cita a entrevista de Marcelo Paranhos diretor da

Central Globo de Produções - CGP onde ele observa que a telenovela tem a

maior importância no faturamento ou na composição da receita da emissora.

(Lopes et al., 2002, p. 316).

Na década de 90, a Rede Globo de Televisão continuou a manter a

hegemonia em termos de produção, exibição e exportação de telenovelas no

Brasil (exportando para mais de 150 países). Ainda que as concorrentes

investissem na produção de ficção televisiva seriada, continuavam tendo

dificuldades em se consolidar como grandes produtoras deste formato de

programa. O grande diferencial mercadológico da Rede Globo em relação aos

seus concorrentes está na produção de teledramaturgias. Os principais

concorrentes da empresa são: SBT, Rede Record, Rede Bandeirante, Rede TV,

além das empresas de TV a cabo. (Lopes et al., 2002, p. 315).

Para ilustrar a importância da telenovela para as emissoras, vale citar um

relato de Mario Lúcio Vaz (2000), diretor da Central Globo de Criação da Globo,

no livro 50 anos de TV no Brasil. O diretor conta, na entrevista, que entrou

subitamente numa reunião na Rede Manchete para tentar impedir a renovação

do contrato de Benedito Ruy Barbosa (autor consagrado de telenovelas) com

aquela emissora. O contrato estava sendo renovado tendo em vista o recente e

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inesperado sucesso do autor com a novela O Pantanal (1990) naquela Rede.

Mário Lúcio lembra com orgulho o êxito do feito e da sua comoção junto a José

Bonifácio sobrinho - Boni. (Boni, 2000, p. 179).

A Rede Globo cobre (2004) em torno de 99,84% dos municípios

brasileiros, ou seja, 5043, atingindo mais de 40 milhões de domicílios com TV,

com 113 emissoras entre geradoras e afiliadas, com 74% de share no horário

nobre, 56% no matutino, 59% no vespertino e 69% de share no horário noturno.

A participação da emissora no mercado publicitário corresponde a 75% do total

de verbas destinada à mídia televisão, detentora majoritária de cerca de 56%

dos investimentos em publicidade (site redeglobo3.globo.com/institucional).

Edson Pimentel (2004) diz ao presente estudo que o sucesso da empresa

está na grade (conjunto) da programação. A Globo vem conseguindo um

equilíbrio na composição de uma programação que atende ao telespectador. A

empresa criou uma ampla faixa de dramaturgia: vale a pena ver de novo,

Malhação, a novela das 18h, das 19h, das 20h com sucesso de audiência. O

público tem a segurança da estabilidade desses horários, isto é, da continuidade

do gênero. Essa segurança faz a fidelidade do telespectador. Se o conteúdo de

uma das novelas não estiver dando certo, a empresa não muda; não exibe

futebol ou outro programa, insere outra novela com outro conteúdo, com outra

proposta recuperando a audiência e dando uma certeza de continuidade. O

sucesso da empresa está fundamentalmente na criação do padrão de

programação horizontal - todos os dias no mesmo horário a mesma

programação, criado por Walter Clarck e Boni. (Entrevista, julho de 2004).

Todas as emissoras tentam criar núcleos de teledramaturgia - mas são

raras as vezes que se consegue sucesso, diz Valadares. Desde que a Tupi

deixou de produzir telenovelas, as demais emissoras só as produzem

esporadicamente. Segundo Valadares, a SBT teve muito prejuízo em 1994,

quando tentou produzir três novelas simultâneas na expectativa que cada um

atingisse pelo menos dois dígitos de audiência. Segundo Valadares, foi um

prejuízo de 20 milhões de dólares. A melhor opção tem sido, para a SBT, colocar

no ar novelas mexicanas que saem por 8000 dólares o capítulo. (Veja,

21/01/1998).

Valladares (1998) diz em artigo a revista Veja, que uma novela da Globo

custa em média 25 milhões de reais, o preço de uma produção de médio porte

em Hollywood. No intuito de mostrar que o esforço vale a pena, o autor faz

alguns cálculos: em cada uma das três novelas inéditas da Globo, há 24

inserções comerciais por dia, o que resulta em 576 inserções por mês. Uma

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novela que custou 25 milhões pode render em média 40 milhões. Esse valor

representa metade do faturamento total da Record em 1997 (Veja, 21/01/1998).

A Globo não faz uma avaliação da rentabilidade pontual de seus

produtos. Enquanto as novelas são muito longas e de rentabilidade garantida

pelo seu tamanho, a mini-série de grande custo trazem prestígio à grade como

um todo e conseqüentemente aumentam seu valor de negociação. Segundo o

diretor da Divisão Internacional da empresa, embora a Globo venda seus

programas para mais de 120 países, a sua maior vantagem é política e não

econômica. Sem dar números precisos e levantando um percentual apenas para

ilustrar essa idéia, não mais de 3% do faturamento anual da empresa vem de

venda de produtos para o exterior (Silva, 1999).

Borelli et al. (2000) observam que embora as telenovelas e mini-séries

sejam de produção caríssima se comparados ao outros gêneros de programação

televisiva, seu retorno é bastante compensado pelas verbas publicitárias e

merchandising. Essa relação torna o produto o mais rentável da história da

televisão brasileira. (Borelli et al., 2000, p. 22)

As ações de merchandising crescem para os anunciantes no interior da

obra de ficção. A inserção é para o anunciante uma garantia mais segura de que

o telespectador irá assistir ao marketing do produto. O mechandising custa bem

mais do que 30 segundos de comercial. (Lopes et al. 2002, p.316).

Segundo Borelli et al. (2000) a novela A Indomada, produzida pela Rede

Globo em 1997, teve previsão orçamentária total computada entre US$ 15 e 18

milhões, com um custo por capítulo variando de US$ 50 a 60 mil. Segundo

dados do Ibope (1999), o preço de 30 segundos de veiculação comercial no

horário nobre está calculado ao redor de US$24 mil. Cada um dos quatros

intervalos, que compõe um capítulo, pode resultar um conjunto de até oito

inserções comerciais, de 30 segundos cada um. (Borelli et al., 2000, p.22, 23).

Para Borelli et al. (2000), a afirmação corrente de que uma telenovela fica

devidamente paga após o segundo ou terceiro mês de veiculação faz sentido.

Quanto maior o número de capítulos, maior será a diluição do custo total da

obra. É importante conseguir viabilizar uma narrativa que seja de interesse e

prenda a atenção do público receptor, de forma a garantir, com o passar do

tempo, a diluição dos custos e a extensão de recursos que a viabilizem. Isso

interfere em seu formato e na relação que se estabelece com o público receptor.

(Borelli, et al p.25).

Embora os dados acima citados não sejam capazes de definir um quadro

exato sobre custos e rentabilidade do produto, eles são sugestivos.

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Valladares (1998) observa que a Globo vai mantendo aceso um negócio

que fatura cerca de 540 milhões de dólares por ano. (Veja, 21/01/1998).

5.7. Departamento de pesquisa da TV Globo

Segundo Eneida Nogueira, diretora da Divisão de Assessoria de

Pesquisa da Globo o papel do setor é subsidiar as áreas na avaliação dos

produtos que são exibidos com elementos para criação de programas. Sua

função é levar, para as áreas produtoras dos programas, informações sobre o

telespectador, ajudando no processo de avaliação do conteúdo ou no processo

de criação do produto. (Entrevista, setembro 2003).

Figura 3

As diferentes áreas apresentadas acima, se abastecem de resultados de

pesquisas assim como de outros dados complementares às necessidades dos

seus setores. A área de programação, que administra o tempo dos programas e

intervalos comerciais, utiliza os dados das pesquisas para o seu planejamento e

controle. A área de marketing, que fornece informações ao mercado publicitário,

necessita também de dados, de fontes primárias e secundárias, para suas

determinações. A área marketing, por exemplo, auxilia o setor comercial na

venda do espaço publicitário dentro do perfil da audiência (SBPM, 1997, p.17).

Audiência Qualitativa

Pesquisa

Diretor

MarketingProgramaçãoArtística

Controle de Qualidade

Autor

Produção

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Segundo a diretora (Entrevista, setembro 2003), as informações sobre

consumidor podem vir de várias formas. Pelas pesquisas de audiência ou

pesquisas complementares feitas para determinados assuntos ou programas.

Ela observa que a pesquisa de audiência é a base do trabalho do setor para

avaliar o que está no ar. Se o programa atinge o público desejado, como é a

concentração do público, se cresce e que tipo de variação ocorre com este

público. Da mesma forma, quando ele não está indo bem, que tipo de pessoas

não está assistindo ao programa e assim por diante. A forma de aferição da

audiência permite que se conheça o público por sexo, idade e classe social, isto

é, as variáveis básicas, sócio-demográficas.

Eneida (Entrevista, setembro 2003) observa que duas novelas, por

exemplo, podem ter o mesmo índice de audiência e serem assistidas por

públicos diferentes, isto é, diferente qualificação (conjunto das variáveis, sexo,

idade e classe social). A empresa espera atingir todos os tipos de telespectador.

Se um produto está atingindo muito um determinado grupo, considera-se que

este produto tem um problema. O produto não pode estar focado num

determinado grupo; tem que estar em todas as classes sociais. Assim diz a

diretora: "Se você faz para uma parte, a sua audiência será uma parte. Se você

quer ter uma audiência alta, você tem por princípio que atingir todos os

públicos."

Segundo a Divisão de Assessoria de Pesquisa (Entrevista, setembro

2003), as pesquisas de audiência são feitas pelo Ibope, pois só ele tem estrutura

para fazê-las no Brasil. Outras pesquisas, quantitativas ou qualitativas, podem

ser feitas com outros institutos, inclusive com o Ibope. As pesquisas qualitativas

são necessárias, pois a aferição do Ibope mostra, em termos quantitativos, o que

está acontecendo, mas não demonstra a razão.

Quanto à periodicidade do uso das pesquisas de caráter complementar

(quantitativa ou qualitativa), dependerá da natureza do programa e de sua

performance. Todos os programas são periodicamente avaliados. Se o programa

estiver com problema serão feitas pesquisas para identificação destes

problemas. E mesmo que não existam, são feitas pesquisas, como forma de

verificação ou manutenção (Entrevista, setembro 2003).

Para novelas, são feitas pelo menos duas pesquisas qualitativas. As

pesquisas qualitativas são muito importantes para as telenovelas, porque são um

produto que exige aprofundamento ou uma conversa mais detalhada. Eneida

observa que esse é um produto que precisa detalhar profundamente as

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características de cada personagem, de cada história, de cada núcleo.

(Entrevista, setembro 2003).

O início da pesquisa, isto é, os primeiros resultados, dependerá de

quanto tempo o autor levará para apresentar a novela; isto é, contar toda a

história, todos os personagens. Se a novela estiver indo bem (dentro do trilho),

pode se esperar um pouco mais, até se consolidar toda a história. Mas se a

novela estiver indo mal, deve-se tentar logo identificar as razões - realização das

pesquisas (Entrevista, setembro 2003).

O autor e o diretor são chamados para assistir às discussões de grupo.

Dias depois, há uma reunião onde se discute os resultados consolidadamente.

A diretora observa que eles assistem, mas não têm a mesma capacidade que

um especialista de fazer uma síntese. Para eles, as informações são dispersas.

O papel da divisão e do Instituto é fazer isso por eles. A diretora comenta:

Alguns autores falam: "_Para mim é importante o subsídio do telespectador." Outros autores dizem: "_Para mim não é importante." Alguns dizem: "_ Isso tudo

eu já ouvi." Alguns dizem: "_ Não é porque o telespectador quer que eu tenho que fazer o que ele quer, eu tenho que surpreendê-lo." Outros dizem que não: "_ Eu quero fazer aquilo que ele está esperando de mim." Então depende de cada

autor (Entrevista, novembro/2003).

Quanto ao fato dos autores acreditarem ou não na validade das

pesquisas qualitativas, a diretora comenta que muitas vezes eles acham que a

sua capacidade criadora é mais importante do que qualquer referência. E isso é

natural, diz ela. Eles acreditam naquilo que estão fazendo. E podem dizer: "A

novela é minha, a capacidade criativa é minha eu vou fazer do jeito que eu

quero." Poderão usar mais ou menos informações de resultados de pesquisa em

função do seu estilo criativo. Assim, diz a diretora:

Eles usam sim. Mas esse uso não é tão direto assim. Por exemplo, quando tem um vilão... é obvio que elas odeiam o vilão, mas ele não pode matar o vilão se

não ele acaba com o conflito dentro da novela. Então a gente é que tem que saber quando o personagem tem que ser mudado ou não. Autores têm saber quais são os elementos do personagem que instigam este ódio, podem aumentar

ou diminuir porque estão passando do ponto; não é tirar o personagem, não é assim, por causa disto, ou daquilo. O uso maior é na construção dos

sentimentos, das histórias, um uso mais indireto, mas eles usam sim (Entrevista/set/2003).

A grande dificuldade das pesquisas qualitativas é a interpretação. O autor

ou o diretor devem perceber, por exemplo, se a rejeição ao personagem é

problema exatamente do personagem ou do ator, ou se há algum outro tipo de

problema (Entrevista, setembro 2003).

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A emissora considera que o processo de criação do autor é primordial,

ainda que possam ser feitas ao autor, todo o tipo de sugestões: temática,

questões sociais, merchandising comercial, etc. A diretora observa: "O autor aqui

é rei. Isso que faz a diferença da qualidade da Globo, o processo de criação.

Quanto menos amarras você der para o criador, melhor. Quando você amarra a

criação, você faz um produto burocrático." A Divisão de Pesquisa (Entrevista,

setembro 2003) diz o que acontece quando as novelas estão dando problema de

audiência:

Se não tiver dando audiência, ou tiver algum outro tipo de problema, a gente fala,

olha, então você encurta... Ah, você não quer mudar? — Não, não quero mudar, por que se eu mudar, vou descaracterizar o meu produto. Tá bom. Então você

encurta um pouco? — Ah, encurto. Então, você negocia. Você não obriga o cara mudar, se ele não quiser mudar, você diz, a gente não pode manter esse patamar (...). Então vamos negociar, você encurta um pouco? — Encurto.

A novela As filhas da mãe foi um exemplo de novela bem encurtada. A

diretora observa que foi um formato diferente e que talvez o público não tenha

entendido a idéia do autor. O autor da referida novela, Silvio de Abreu, disse:

"Não vou mudar porque vai descaracterizar a minha história. Este é o produto

que eu criei, é uma chanchada." A empresa considerou o fato das pessoas não

estarem gostando, mas o autor se posicionou: "Se as pessoas não estão

achando engraçado eu não posso fazer nada. Então eu vou encurtar." Encurtou

a novela em aproximadamente dois meses (Entrevista, setembro 2003).

Quando uma novela tem elevada audiência, existe o recurso de

alongamento da mesma. A diretora observa que este não é um processo

simples e não é uma decisão fácil para a empresa tomar. É um processo muito

cansativo para o autor alongar muito uma história. A própria história pode não se

sustentar. Existe um limite para este alongamento. Diz a diretora: "É bom, todo

mundo sai ganhando, mas todo mundo sai perdendo também, porque o autor

fica muito cansado. E muitas vezes, as histórias não têm estofo para agüentar

um mês a mais." (Entrevista, setembro 2003).

5.8. Central de Atendimento ao Telespectador – CAT

A Central de Atendimento ao Telespectador - CAT é para a TV Globo

uma referência constante sobre o feeling do telespectador. O setor é bastante

citado, tanto por profissionais da área de produção, como por profissionais de

outras áreas da empresa. Dessa forma o setor mereceu ser investigado.

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A Central de Atendimento ao Telespectador da TV Globo é há 22 anos,

um meio de comunicação entre o público e a emissora. Em 1999, a Central

Globo de Comunicação decidiu criar uma área de relação com o telespectador, e

iniciar parceria com empresas de call center, pois as telefonistas não

conseguiam mais atender ao volume de informações pedidas pelos

telespectadores.

As matérias mostradas em telejornais locais e regionais, os programas

como Globo Repórter, Fantástico e os programas de teledramaturgia, mobilizam

o telespectador a realizar suas ligações. De uma forma geral, ligam para obter

informações sobre assuntos apresentados nos programas, fazer sugestões ou

denunciar sobre assuntos da comunidade. Os telespectadores ligam até para

bater papo, dizem os profissionais do setor.

Mônica Albuquerque, diretora de Relações Externas (assessoria de

imprensa), conta que alguns telespectadores ligam para o CAT para ter

companhia. A atendente diz: “Olá seu Fulano ou dona Fulana, tudo bem?” (...).

A diretora observa que a relação do telespectador com a emissora é muito

próxima. O Call Center é uma extensão da relação com o telespectador

(Entrevistas julho de 2004). Há pedidos, por exemplo, de informação sobre

como se tornar ator da TV Globo, como participar de programas de auditório, ou

como enviar correspondência para o elenco.

Os assuntos que envolvem a teledramaturgia elevam o volume de

trabalho do CAT, mostrando um especial interesse dos telespectadores. São

elogios, críticas e solicitações das mais variadas; pedidos de informações sobre

vestuário dos atores (roupas, cabelos, óculos, esmaltes), mobiliário da

cenografia, músicas, etc.

Em novembro de 2003, quando foi feita visita ao CAT para coleta de

dados para o presente estudo, existiam 26 operadoras, e o relatório do mês de

novembro apresentava 48.254 ligações telefônicas e 29.078 mensagens

eletrônicas (relatório de novembro do CAT).

Em 2004, os números do CAT sofreram alterações substanciais. Tanto

em relação aos operadores que realizam o atendimento, passando de 26 para

38, quanto aos números de ligações telefônicas e mensagens eletrônicas. Em

2003, a média mensal de telefonemas esteve em torno de 30 mil ligações, em

2004 subiu para 50 mil. Esses dados foram atualizados pela coordenadora da

Central, Márcia Clark, que acrescentou que o maior salto aconteceu nas

mensagens recebidas por email. (Entrevista email, agosto de 2004).

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Muitas respostas solicitadas pelos telespectadores se encontram em

banco de dados, atualizados diariamente. As mensagens são respondidas pelo

setor em 48 horas e os telefonemas em 24 horas. As informações para

atendimento ao telespectador buscam junto às produções, às redações e à

Internet, os contatos com médicos, hospitais, pesquisadores, organizações,

lojas, nomes de música, de salões de beleza e outros (Aldeão, 2003).

Embora, as cartas recebidas pelo CAT sejam em número bastante

inferior, comparadas ao número de telefonemas e mensagens eletrônicas, estas

já mobilizaram bastante o setor de atendimento. A promoção Leve a sua paixão

para telenovela das Oito, promovida de março a setembro de 2003, fez com que

o setor recebesse 100 mil envelopes com fotos de telespectador que gostariam

de ver sua imagem na abertura da novela Mulheres Apaixonadas. A abertura da

novela de Manoel Carlos foi feita com essas fotos (relacionadas ao tema

mulheres apaixonadas) enviadas à emissora, idéia que partiu da equipe de vídeo

grafismo, do setor do artista gráfico, Hans Donner (Entrevista, novembro de

2003). A coordenadora do CAT (Entrevista, novembro de 2003), fala ao presente

estudo sobre a promoção, que obteve esta expressiva participação do

telespectador:

Recebemos 100.000 cartas, isso tudo veio para gente Tudo aberto aqui. Você

nem entrava na sala. Eram trazidas aquelas caixas amarelas, enormes, chegavam vinte de uma vez, a gente não andava aqui dentro. Nós abríamos todas, e olhávamos todas as fotografias e checávamos se tinha termo de

responsabilidade, seção de direito de imagem, se estava assinado por todo mundo. A gente chegou a contar estava em 75.000 mil, e ainda chegava,

chegava... Eu fazia o resumo de algumas histórias e enviava para o autor que citou dois ou três casos durante a novela.

Marcia (Entrevista, novembro de 2003) diz ao presente estudo que o

objetivo do CAT é atender ao telespectador independente do que ele tenha para

dizer. Ele vai ser ouvido de uma forma ou de outra; se é uma sugestão, uma

crítica, ou um elogio, ela vai ser encaminhada. Se ele quer uma resposta

receberá uma resposta.

Em entrevista, em novembro de 2003, ao presente estudo a

coordenadora foi questionada sobre qual a atitude da Central quando os

telespectadores criticam algum assunto numa obra de teledramaturgia. Márcia

observa que quando há uma freqüência de mensagens eletrônicas, ou muitos

telefonemas repetindo o mesmo assunto, o setor procede da seguinte forma:

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A gente dá um alerta. Mais de 5 ligações, ou mensagens, já é motivo de alerta. Eu, funciono quase como um ouvidor, um ombusman. Eu não preciso me

reportar a minha direção pra dizer que tem um problema X. Eu posso mandar direto para a Central com cópia para a direção, eu tenho essa liberdade. A

diferença de um ombusman é que ele se reporta direto à presidência da empresa. A gente tem a liberdade de fazer esse direcionamento.

Segundo Marcia (Entrevista, novembro de 2003), o CAT tem tido uma

boa divulgação, e muitos telespectadores passaram a utilizar o serviço. Ela diz

que o setor desenvolveu, em 2000, o sistema de cadastro Data 10; um banco de

dados de telespectadores. A telefonista pergunta se ele quer fazer parte do

cadastro, registra o seu perfil e o convida para participar de alguns eventos. Para

o lançamento, em janeiro, da minisérie Um só Coração, por exemplo, em

homenagem aos 450 anos de São Paulo, o CAT escolheu telespectadores

paulistas das etnias que formaram a cidade para participar desses eventos, diz a

coordenadora da Central.

Quanto à participação do público na criação ou na produção, Marcia

(Entrevista, novembro de 2003) observa que quando chega uma sugestão de

encaminhamento para a trama de uma novela, um personagem, etc, o critério é

do diretor, se vai usar isso ou não. Diz a coordenadora: "Tem autores que não

querem ouvir falar em sugestão, outros gostam de receber opinião do

telespectador." Márcia diz que existem muitos pedidos para certas modificações

na trama. Lembra do caso da personagem Fernanda de Mulheres Apaixonadas

quando houve uma grande campanha do público para o personagem não

morrer. A coordenadora comenta: "(...) Mas não adiantou... O público pode até

participar mas se a vontade do autor for uma, não há nada que o faça mudar!"

A Central passa para o autor tudo que o telespectador está falando, tudo

que está acontecendo, diz Marcia (Entrevista, novembro de 2003): "Eu não

acredito que o telespectador possa mudar algum conteúdo."

Não faz parte do CAT informar à empresa sobre o telespectador, observa

Márcia (Entrevista, novembro de 2003) e explica: "A gente informa ao

telespectador, registras as críticas e sugestões, os elogios, mas o objetivo não é

fazer uma pesquisa, mesmo que informal. O objetivo do CAT é registrar a

opinião do telespectador e responder para eles."

Os relatórios da Central são apresentados de forma detalhada; elogios,

críticas, sugestões e solicitações para cada programa de jornalismo, programas

humorísticos, programas de auditório, infantis, telenovelas, etc.

A coordenadora (Entrevista, novembro de 2003) diz que os resultados

apresentados nos relatórios desenvolvidos pelo setor são muitas vezes

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aproveitados nas produções. Os telespectadores observam e dão dicas, por

exemplo, de erros sobre a coerência da ambientação (cenário, figurino, produção

de arte, música, etc.) em relação ao período histórico correspondente.

Em Esperança, uma novela que retratou a sociedade no final do século

XIX, início do século XX, tocava uma música da Billy Holliday nas primeiras

cenas, e a cantora tinha gravado a música em 1923. Neste caso, pôde-se

eliminar a trilha sonora, explica Márcia. São elementos como, a forma de pensar

da época, roupas, coisas que podem não estar corretas. Não são observações

sobre a trama ou o destino de um personagem; são apenas fatos.

A coordenadora oferece outro exemplo: "Em Terra Nostra, aquele tipo de

carroça, não era da época (...). Terra Nostra era início do século XX e o modelo

da carroça já era da década de 20." Às vezes, uma informação do telespectador

é suficiente para haver a necessidade de conferir.

Mônica Albuquerque (Entrevista julho de 2004) explica também sobre o

erro factual: "por exemplo, ligou a associação de enfermeiras do Brasil, porque

na novela X a figura da enfermeira estava mal retratada." A diretora diz que esse

feedback é importante. É uma questão ouvida e respeitada. A entidade

efetivamente representa a classe enfermeira, portanto ela pode falar sobre o

assunto. O erro factual, apontado por instituições, é considerado pela emissora.

Marcia (Entrevista, novembro de 2003) lembra de poucos exemplos onde

opiniões de telespectador, através do CAT, tenham sido aproveitados em

telenovela. A única situação que a opinião do telespectador é sem restrição é

para o jornalismo, diz Marcia: O CAT capta todos os pedidos de reportagens,

sugestão de pauta, para plantões de alguns jornais. Para o jornalismo, existe o

papel de captar. Diz a coordenadora: "O telespectador liga em geral porque tem

um problema na rua ou na região dele, brigas de camelô (...), sinal de trânsito

que não funciona, etc."

Márcia (Entrevista, novembro de 2003) lembrou, porém, do caso de uma

novela de Manoel Carlos, Mulheres Apaixonadas, e os personagens idosos Flora

e Leopoldo. A coordenadora disse que os telespectadores ligavam para o CAT

para falar dos problemas dos idosos, sensibilizados pelos personagens, durante

sua exibição. Ligavam para comentar sobre a forma que os idosos eram tratados

quando queriam tomar o ônibus; que tinham que pedir aos jovens para fazer

sinal, para poderem entrar no ônibus, e às vezes eram quase expulsos, e tal. Diz

a coordenadora: "Então eu passei para o Maneco. Ele aproveitou, e fez uma

cena na novela com os personagens idosos Flora e Leopoldo passando por essa

situação. É um dos únicos exemplos que eu lembro.".

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Márcia (Entrevista, novembro de 2003) fala da sua visão sobre o autor:

"O autor é tudo. Senhor de todas as tramas. Onipresente, onipotente, onisciente,

é tudo. Ele dá a vida ou tira a vida do personagem."

5.9. Assessoria de Imprensa

Duda Pereira e Iracema, Relações Públicas da empresa, contam em

entrevista ao presente estudo, que há uma prática na empresa de envio aos

autores e diretores, sobre tudo que sai na imprensa, em relação a todos os

programas veiculados pela emissora. Esse resumo é chamado de clipping.

Levantou-se, na referida entrevista, a hipótese da imprensa ser um termômetro

do feedback do telespectador para os autores e diretores. Surgiu então o

interesse em entrevistar o Setor de Comunicação da empresa com a imprensa

para investigar esta questão. (Entrevista, outubro de 2003).

Um dos papéis da Assessoria de Imprensa da Globo é monitorar as

notícias que são publicadas, buscando saber como seu produto está sendo

divulgado. Mônica Albuquerque (Entrevista, julho de 2004) explica a relação da

empresa com a imprensa:

A televisão, por ser um meio que fala com todos os públicos, fornece um volume de informação à imprensa, inserções por espaço, comparável somente ao volume do governo. Não há outro assunto que tenha um volume tão grande, uma

exposição ou um interesse dessa natureza. Isso é uma característica da própria televisão, pela atração que exerce e uma característica específica da TV Globo,

pela sua dimensão e abrangência. (Entrevista, julho de 2004).

A diretora (Entrevista, julho de 2004) comenta sobre a questão da

imprensa ser ou não catalisadora da reação do público. "Ou a imprensa reflete

uma polêmica existente ou ela provoca uma polêmica a respeito de um

determinado assunto." Mônica observa que não acredita que a imprensa catalise

de forma significativa a reação do público. Ela afirma que a imprensa catalisa

quando é um movimento factual, refletindo como imprensa um movimento da

sociedade, mas muitas vezes não acontece desta forma.

Questionada a respeito da influência de opiniões da imprensa sobre as

telenovelas, a diretora (Entrevista, julho de 2004) diz que a informação do

telespectador influencia no produto à medida que essas informações

efetivamente têm uma conformação de desenho de massa. Observa ela: "O

telespectador é todo mundo: é o jornalista, é o professor, é a instituição, é a

dona de casa, é o universo da população brasileira."

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Para a diretora (Entrevista, julho de 2004) a imprensa nunca está na

frente. E nem sempre trabalha com todas as informações, podendo utilizar, às

vezes, informações apenas pontuais, que não têm representatividade, em geral.

A imprensa tem uma visão parcial, diz ela.

5.10. Projetos sociais

Lacy Barca, Gerente de Projetos Sociais (julho/2004) da TV Globo,

explica para o presente estudo, que o merchandising social é a inserção

sistemática com propósitos educativos definidos com temáticas sociais e

mensagens educativas nas obras de ficção; isto é, significa inserir na fantasia,

isto é, na obra ficcional, questões do cotidiano do público. As questões sociais

escolhidas tornam-se parte integrante do enredo das novelas, e devem estar

associadas aos personagens e aos conflitos. Os atores se tornam porta-vozes

de certos conceitos, atitudes ou comportamentos, e os autores criam situações

propícias em suas histórias para aceitação e adoção destes conceitos

(Entrevista, março de 2004).

Lacy (Entrevista, março de 2004) explica que muitos autores escolhem as

questões sociais que vão mesclar dentro das temáticas das novelas. Outras

poderão ser sugeridas pelo Setor de Projetos Sociais, que recebem pedidos de

Instituições como a Igreja e os seleciona de acordo com certas situações da

novela. Essa área tem contato com ONGs ou instituições da sociedade civil. Por

exemplo, se uma ONG estiver querendo trabalhar a questão da preservação do

meio ambiente, o setor de Projetos Sociais da empresa sugerirá ao autor colocar

um elemento que se relacione à questão na próxima novela.

É possível que ocorram inserções durante a produção de uma novela,

segundo interesse do autor ou da empresa. Os exemplos que se seguem valem

ser registrados para que se conheça do que tratam essas temáticas, como fator

a ser inserido e ajustado dentro de uma obra de teledramaturgia (Entrevista,

março de 2004).

Manoel Carlos desenvolveu, para a novela Mulheres Apaixonadas, temas

do tipo: preconceito contra os velhos, grupo de apoio à mulher compulsiva, o

MADA, prevenção do câncer de mama, e denúncia da violência no Rio, que

culminou com o episódio da personagem Fernanda (Vanessa Gerbelli),

fulminada por uma bala perdida.

Seguem exemplos de novelas com inserções de merchandising social

descritas no Dicionário da TV Globo: programas de Dramaturgia &

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Entretenimento (2003): Explode Coração, Final Feliz (1982); Vamp (1991); Zazá

(1997); Laços de Família (2000); O Clone (2001); Coração de Estudante (2002);

De Corpo e Alma (1993), e outras. Essas novelas trataram de temas como

crianças desaparecidas, antitabagismo, proteção à natureza, aids, doação de

sangue, importância da leitura, dependência química. síndrome de down, justiça

e outros temas.

5.11. Os roteiros de telenovelas da Globo

Como já citado, o roteiro é a primeira etapa do processo de criação e de

produção de uma novela. Seguem referências sobre os roteiros de telenovela da

Globo para ilustrar o presente estudo.

Todas as sinopse de um roteiro escritas por um autor da Rede Globo

devem ser submetidas ao julgamento de uma equipe de analistas da Central

Globo de Criação. Em caso de aprovação, então, elas são enviadas à Central

Globo de Produção.

Embora a empresa tenha um número grande de autores e colaboradores,

ela mantém como principais uma equipe de autores consagrados, com diversos

sucessos como uma garantia de audiência (Alencar, 2002, p.75).

Manoel Carlos disse ao presente estudo, que o autor de telenovela é a

figura máxima em todo o processo de feitura de telenovela. Exemplifica: “Eu

posso chegar na empresa e sugerir outro diretor para minha novela, mas o

inverso não acontece.” Afirmou que alguns autores administram mais e outros

menos, o processo como um todo. Ele, em particular, se preocupa com a

produção, escolhendo todo o elenco que representará o seu roteiro. (Entrevista,

novembro de 2003).

A emissora produz e exibe diferentes gêneros de novela em horários

diversos: 17h, 18h, 19h e 20 horas. A adequação do gênero ao horário é um

resultado de alguns anos de experiência da empresa. Cada gênero se refere às

temáticas e estilo diferente de novela. Estas se adaptam ao ritmo do cotidiano e

parecem que acompanham a seqüência das atividades familiares do público

telespectador. Comparato (1995), roteirista de novela, faz a seguinte

observação:

A novela das 18h concerne principalmente a um público doméstico, de mulheres e crianças. Às das 19h, um público inclui as pessoas que retornam do trabalho: a novela é mais radiofônica que visual, mas leve, para permitir que se dediquem a suas ocupações. Às 20h, é o drama, a novela dramática (Comparato, 1995, p.60, 61).

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Lucia Abreu (Entrevista, fevereiro de 2004) comenta que, é usual que os

autores façam pesquisas sobre certas temáticas de interesse do público. Da

mesma forma, a empresa pode investigar questões sobre hábitos e atitudes nos

diversos segmentos da população para identificar como podem ser abordados

alguns temas. São pesquisas para saber como são os jovens, o que eles

pensam, como é a relação com os pais, o que as donas de casa pensam a

respeito da vida, etc.

Segundo a Divisão de Pesquisa (Entrevista/setembro/2003), a novela

Malhação incorporou esse conceito e expressa resultados de pesquisas feitas

com jovens.

Manoel Carlos, roteirista da novela Mulheres Apaixonadas, considerado

campeão de audiência da TV Globo em 2003, falou em entrevista à revista Veja

(2003) sobre como nasce sua inspiração.

Muitos personagens nascem da minha observação e lembranças da vida real. No caso de Mulheres Apaixonadas, a mulher da classe média que tem caso com o

motorista de táxi baseia-se numa história que ocorreu no bairro em que eu morava em São Paulo. O padre Pedro, que balança o coração da personagem de Lavínia Vlasak, é baseado num religioso espanhol que havia no meu colégio. Ele

despertava verdadeiras paixões (Veja, 2003, p.68).

O autor disse ao presente estudo que domingo recebe jornais do Brasil

todo. Pega a parte que se refere à própria cidade. Ali encontra coisas do tipo:

“Na cidade tal a mulher teve um filho, fazendeiro, tal, e depois (...).” Se ele acha

interessante, ele corta e põe a origem. Guarda tudo num livrão que chama de

lixo. Quando vai fazer uma novela, passa os olhos naquilo e pensa: "Essa

história é boa, vou fazer isso aqui." (Entrevista novembro de 2003).

Ele diz que sua inspiração vem do puramente popular, do cotidiano e

exemplifica: “Coisas que minha mãe me contou que ficaram na minha cabeça.

Minha vó me contou, uma história que minha irmã, quando eu vou a São Paulo

(...)”. Em entrevista a este estudo, comenta sobre o assunto:

Eu posso estar conversando com você aqui agora, você me conta um caso, fala

sobre um assunto. Eu penso: Que bom isso aqui... quando você sair, vou lá, anoto. A professora do meu filho, quando soube que a minha novela teria uma

escola me mandou por escrito sobre uma aluna, que tinha vergonha do pai porque o pai era porteiro da escola, tal, tal...Então criei a Paulinha na novela Mulheres Apaixonadas. Foi um sucesso enorme (Entrevista/nov/2003).

O escritor observa que suas novelas têm elementos absolutamente do

cotidiano, do dia-a-dia, enfim uma novela de assuntos corriqueiros. E explica sua

novela para este estudo, da seguinte maneira: “Ela é sua vizinha. Ela está na

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cozinha da casa dela, quer tomar café falta café, não tem café, então ela bate na

sua porta (...)”. Prossegue Manoel Carlos (Entrevista novembro de 2003):

Oi, tudo bem, você está boa, tal, tal (...), você me arruma um pouquinho de café?

Arrumo sim, vou buscar. E aí como é que vai seu marido?

Ah, está bem, graças a Deus. E aquele seu filho? Meu filho está passando as férias na casa de não sei o que (...)

Ele diz que o sucesso de suas novelas está nisso que sabe fazer muito

bem: "(...) essa conversa do dia-a-dia, de pai com mãe, de mãe com filho..."

Manuel Carlos é considerado um autor do tipo realista, porque constrói

seus enredos com base em assuntos polêmicos do cotidiano psicossocial. Os

temas do autor são para conversas de bar e mesa de jantar. O realismo de

Manoel Carlos, segundo o artigo, não está voltado para grandes questões

sociais, e sim para o realismo familiar. As famílias são de classe média, classe

média alta e, tudo acontece num ambiente bem familiar (Veja, 2003, p. 70).

A novela Mulheres Apaixonadas atingiu média de 59 pontos na grande São

Paulo, share de 71% dos televisores ligados. (Veja, 2003, p. 68). Os assuntos de

Mulheres Apaixonadas foram: agressão contra a mulher, comportamento

obsessivo do amor, preconceito contra os velhos, alcoolismo, lesbianismo, etc.

As pesquisadoras de Manoel Carlos assistiram a aulas em colégio para observar

comportamentos juvenis e fizeram visitas a vários tipos de apoio psicológico para

ver como essas situações acontecem (Veja, 20003).

5.12. A Central Globo de Produção

O texto a seguir visa descrever como funciona a Central Globo de

Produção, no que diz respeito à produção de telenovela. A descrição tem o

intuito de mostrar os processos operacionais de produção, as fases desses

processos, os conceitos envolvidos, seus setores, as preocupações técnicas

com o produto e os fatores humanos que mobilizam uma produção. A proposta

da descrição é entender que o produto final - uma telenovela, depende não só de

um roteiro, mas de uma extensa etapa industrial - a produção - com uma

diversidade de setores como direção, fotografia, cenografia, figurino, atores e

todo um planejamento. Somente com essas informações, pode-se compreender

o uso das informações sobre o telespectador nessa cadeia de criação e

produção.

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Vale aqui uma analogia útil: para saber o que acontece quando se colocam

peças novas e diferentes numa grande engrenagem fabril, é necessário que se

entenda o que é esta grande engrenagem e como ela funciona. A engrenagem é

a produtora e as peças novas são os elementos novos que se pretende

introduzir no produto, quer seja por influência do telespectador quer seja por

qualquer outro agente.

A maior parte das produções da Globo e todas as telenovelas são

realizadas na Central Globo de Produções - CGP, conhecida como Projac. Os

estúdios de São Paulo e Rio produzem aproximadamente 2500 horas de

programa por ano, equivalente a mais de 1200 longa-metragem. Localizada em

Jacarepaguá, zona Oeste do Rio, o Projac foi construído sob as premissas

básicas de alcançar maior produtividade, custos de produção mais baixos,

melhoria em tecnologia e mais qualidade em ambiente de trabalho. A CGP é

considerada o maior e o mais moderno Centro de Produção da América Latina e

comparada às maiores produtoras do mundo em termos de capacidade

(Mercado Global, setembro de 2000).

A CGP está dividida em setores, industrial, administrativo, produção e

cidades cenográficas, onde trabalham mais de 3700 profissionais. Suas

atividades são ininterruptas durante as 24 horas do dia e os 7 dias da semana. O

setor de produções abriga 10 estúdios para shows, novelas, mini-séries e outros

programas. (Mercado Global, setembro de 2000).

Uma novela exige pelo menos 4 mil metros quadrados de cenário; um

volume de trabalho em escala industrial. A fábrica de figurino tem capacidade

para fabricar 1.500 unidades por mês. (Mercado Global, setembro de 2000).

A produção de telenovelas mobiliza grande parte dos recursos humanos e

técnicos do Projac, e é uma das operações mais complexas da indústria

televisiva nacional. Em cada novela, trabalham cerca de 300 pessoas, entre

elenco, pessoal técnico, cenógrafos dentre outros; sem contar figurantes e

prestadores de serviço. Cada telenovela tem a sua própria equipe. São

simultaneamente produzidas quatro novelas, além de gêneros similares como

casos especiais, mini-séries e outros.

A CGP é usualmente denominada de indústria, por seus processos

análogos às sistemáticas industriais; isto é, processos racionais e elevado

volume de produção. O ritmo também caracteriza a dimensão industrial da

novela. O número de horas/textos produzidos é um indicador essencial dentro do

seu planejamento e a telenovela consome grande parte das horas de produção.

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Eliana, do Setor de RH, define em entrevista, outubro de 2003, sobre

produção de telenovela: "o autor escreve e nós contamos a história escrita por

ele; fazemos a mentira parecer ser verdade, este é o nosso papel." Marcelo 28

anos trabalhando na produtora completa: "O roteirista diz: Explode!...Então a

produção deve cuidar de todos os recursos para essa realização."

A matéria-prima da indústria são histórias. A produtora de sonhos, como é

concebida por seus funcionários, produz histórias ou adaptações de romances

criadas pelos autores. Os recursos de produção e os recursos humanos

(profissionais de produção), também compõe a matéria prima desta indústria.

Os profissionais da Central Globo de Produções são distribuídos,

basicamente, em três grandes áreas: produção, criação e engenharia. Isso

significa: setor de planejamento, responsável por toda parte de infra-estrutura

necessária à gravação; setor de ambientação, composta de direção, elenco,

produção de arte, cenografia e figurino, que conceituam o programa em termos

estéticos e filosóficos; e engenharia responsável pela captação de imagem,

funcionamento dos equipamentos, qualidade técnica da imagem e som. (vide

figura 4 nas página seguinte).

Segue abaixo uma representação do conjunto de áreas que compõem a

Central Globo de Produções - CGP

Figura 4

Diagrama baseado em entrevistas e visitas à CGP (2004)

Produção

AutorAutor

SonoplastiaSonoplastia

FigurinoFigurino

Produção de arteProdução de arte

EdiçãoEdição

IluminaçãoIluminação

Diretor

ImagemImagem

CenárioCenário

AtoresAtores

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Duda, relações públicas da CGP, diz que a estrutura de produção hoje é

de tal forma que qualquer alteração ou ajuste, que se faça necessário numa

produção, se realiza com muito mais agilidade, possibilitando muito mais

proximidade com o telespectador: “Se o público não gostou, em dois tempos

você consegue mudar (...). Essa agilidade que a gente não tinha antes; e

agilidade interfere na qualidade”. O último capítulo de uma novela, por exemplo,

pode ser gravado e transmitido no mesmo dia, assim como fatos que acontecem

na cidade (Entrevista, outubro de 2003).

O artigo TV Globo põe notícia do dia em novela das 8, do Jornal A Folha

de São Paulo, 27/02/2003, faz menção sobre à cena que foi gravada menos de

três horas antes de ir ao ar. A introdução do fato foi passada por telefone pelo

autor Manoel Carlos, que disse neste mesmo artigo que, por ser a novela mais

realista do que outros programas torna-se interessante reproduzir

acontecimentos do dia.

5.12.1. O processo de produção na CGP

Alexandre Ishikawa, diretor da área de Produção da CGP, disse em

entrevista (outubro/2003) ao presente estudo que a definição da novela que

deverá ir ao ar é feita pelo comitê estratégico da empresa, composto pelo diretor

de criação, divisão de pesquisa e autores. O autor fornece uma sinopse, que é

um resumo da história a ser contada, e duas ferramentas fundamentais à

produção, que são a descrição do elenco, personagens e a descrição de cenário

e locação. A sinopse e suas descrições proporcionam a primeira estimativa dos

custos; o que permite prevê todos os elementos organizacionais que compõem a

infra-estrutura material e artística da produção de uma novela. Esse é um

processo cuidadosamente planejado, em etapas distintas, prevendo recursos

diversos e profissionais especializados, diz o diretor de produção. Ele explica

nesta entrevista que todo o processo é composto de três fases distintas de

trabalho. Essas fases podem ser divididas em pré-produção, produção e pós-

produção.

Depois de definida a sinopse, é escalado o diretor de núcleo e então vem a

fase de pré-produção propriamente dita; isto é, todo o planejamento de produção

da novela.

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Ishikawa (Entrevista, outubro de 2003) explica que, neste início, existe

apenas um universo imaginário, que está somente na mente do autor, que

conversa com o diretor, que se comunica com o responsável de cada área e,

então, este universo começa a tomar forma. A fase de pré-produção constitui

todo o planejamento orçamentário, operacional e técnico para viabilização da

novela. O diretor de núcleo e o gerente de produção convocam as equipes de

criação e produção para planejar ambiente, locação, figurino e outros itens

importantes que compõem o anteprojeto. Nesse primeiro momento, são

discutidos características principais dos personagens, modos de viver, vestir e se

comportar, que são elementos que influem diretamente na criação de ambiente,

confecção de cenários e figurinos. Mauro Alencar resume a importância desta

fase de planejamento:

É quando se determinam a credibilidade da história e sua capacidade de tocar as

pessoas, de emocioná-las. A partir deste instante, da busca de detalhes e de sua correta execução, é que as pessoas vão gostar da história ou não, acreditar nela

ou não. É da empatia que vai nascer disso tudo, da criação deste universo dramatúrgico, que o espectador vai se emocionar ou rejeitar uma obra (Alencar 2002, p. 75).

Terminado o planejamento, começa a fase de produção propriamente dita.

A elaboração de desenhos, maquetes e a execução dos projetos fundamentais.

Reuniões diárias acontecem entre direção de arte, iluminação e outros setores,

para que tudo seja confeccionado, como cenários, ambientação e roupas,

pesquisas sobre personagens e seleção de atores. Os cenários e figurinos são

preparados. Os capítulos são encaminhados para os vários profissionais, dentre

eles: diretor, assistente de direção, produtor, produtor de arte, cenógrafo,

figurinista, etc., para a decupagem.

Decupar é uma etapa importante dentro do processo na indústria

televisiva. Ishikawa (Entrevista, outubro de 2003) explica como é este processo:

Entregue o roteiro, faz-se necessário destacar todos os recursos necessários para aquele capítulo acontecer. Cada área deverá se preocupar com a sua lista

de recursos. A continuísta decupa o capítulo pensando na cronologia dos fatos; a produtora de arte no álbum de fotografia que aparece dentro do quarto do

personagem ou no café da manhã da casa da Malu; o figurinista decupa pensando nas roupas; se o roteiro indica uma festa, onde fulana chega deslumbrante e todo mundo a observa, ele destaca na sua decupagem, essa

roupa especial; o cenógrafo vai ler pensando no cenário, como criar um cofre por exemplo que aparece no roteiro. Cada área se preocupa com sua lista de

providências, sempre com troca de informações (Entrevista/out/2003).

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Quando Alexandre Ishikawa (Entrevista, outubro de 2003) deu entrevista

ao presente estudo, sua equipe se encontrava na fase de produção da novela

Celebridade. Ele ilustrou bem o que é o processo de execução daquilo que foi

planejado:

O caso da próxima novela do Gilberto Braga, a Maria Clara é um personagem que tem por volta de seus 30 e poucos anos, uma profissional bem-sucedida na área de entretenimento, uma produtora de shows musicais e assim por diante...

Com este conceito, a figurinista começa a montar o guarda roupa da Malu que não existe, mas está no imaginário de todo mundo. A produtora de arte vai

providenciar todos os acessórios, tudo que faz parte do personagem da Malu. O cenógrafo vai começar a desenhar a casa da Malu, onde ela mora e como deve ser a casa dela. Ela pode ser uma rica fútil, pode ser uma rica desapegada, e

isto determinará como será a sua casa.

Enquanto isso continua Ishikawa (Entrevista, outubro de 2003), a equipe

de produção está procurando as locações, para que o cenógrafo possa desenhar

uma casa correspondente à que vai se gravar. A cada casa no estúdio

corresponde uma casa na externa. O personagem da Malu Mader, por exemplo,

tem uma casa no alto da Boa Vista, quando ela entra dentro desta casa, deve

ser dentro do estúdio, diz o diretor. Assim todos têm que trabalhar muito junto,

ao mesmo tempo que todo mundo tem que correr na sua própria direção; o

figurinista providencia a roupa, o cenógrafo o cenário, o diretor de fotografia a

luz.... e todos tendo que interagir constantemente. Observa ele:

O que catalisa isso tudo é que o personagem, é uma pessoa só; o jeito dele se vestir está ligado a forma dela morar ou viver. Por isso deve haver muita troca de

informação. Todos profissionais aqui têm que ter uma boa visão das outras áreas. Os setores de infra-estrutura e operacionais devem ter uma visão

artística, e os setores artísticos devem ter uma visão operacional do processo. Não adianta achar uma locação maravilhosa se é inviável realizar uma gravação; por exemplo, uma rua, onde não se pode parar um gerador ou o caminhão de

luz. Também não adianta achar uma locação que atende em tudo a produção, mas é feia e não atende ao artístico. (Entrevista, outubro de 2003).

O diretor de produção (Entrevista, outubro de 2003) diz que a novela

estréia com 12 a 18 capítulos gravados. Depois da estréia, recebe-se 6 capítulos

por semana, grava-se 6 capítulos por semana e exibi-se 6 capítulos por semana.

Deve-se gravar todos os dias um número de cenas correspondente a um

capítulo. Alexandre diz que se pode realmente fazer uma analogia da produção

de telenovelas, com uma produção industrial, no sentido do ritmo de produção:

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Todos os dias fabrica-se um capítulo novo, e transmite-se um novo, aconteça o que acontecer, com todas as rotinas de organização de uma indústria. Porém há

duas diferenças básicas: Primeiro não sai sempre a mesma coisa, segundo, nossa matéria-prima é o ser humano. Uma chapa feita numa fábrica de

automóvel, independentemente de quem quer que faça, resulta sempre na mesma chapa, e sai no final, o mesmo carro. Aqui só existe um Toni Ramos. Se ele ficar rouco ou doente, tem que esperar ele ficar bom ou encontrar alguma

solução (Entrevista, outubro de 2003).

Se um ator ficar doente, isso resultará numa alteração na ordem de

gravação e consequentemente na ordem de feitura da edição, sonorização etc.

O que pode ser gravado sem ele será gravado, e tudo deverá ser reorganizado

até que se equilibre novamente o ritmo das gravações. Os processos de trabalho

buscam ser o mais organizados possíveis, para o melhor aproveitamento do

espaço e da estrutura, com o ritmo de funcionamento industrial: preparativos

pela manhã para gravações tarde e noite; montagem, desmontagem e

transportes diários de cenário; montagem e desmontagem repetidamente, todos

os dias, dia e noite.

Enquanto alguns capítulos estão prontos, outros sendo gravados,

editados e sonorizados. O ritmo considerado ideal é manter certo número de

capítulos adiantados e prontos para serem exibidos. Em seu relatório Métodos e

Tempos para Produção o autor (1999) observa que, por maior que seja a

organização na CGP, é muito difícil não ocorrer imprevistos e não raro, perde-se

frente, tornando o tempo mais curto para correção de erros, o que traz muitas

vezes tensão para os profissionais. Frente é um termo que faz parte da rotina em

produção. A frente é a diferença entre o capítulo que está sendo produzido e o

capítulo que está indo ao ar. É uma vantagem de tempo, necessário à produção.

Ishikawa (Entrevista, outubro de 2003) explica sobre as limitações

logísticas de produção. Segundo o diretor, é preciso verificar a capacidade da

produção para produzir o que o autor escreve. Os estúdios têm 1000 metros

quadrados de área, mas apenas 600 metros quadrados de área são disponíveis

para montagem. Esse espaço possibilita a criação de 3 a 4 cenários por dia, isso

dá 18 a 24 cenários por semana. O autor não poderá escrever mais do que isso.

Existe também uma otimização na utilização desses cenários. Tudo que for sala

de Lucia, diz Ishikawa, deve ser gravado de uma só vez, do capítulo 1 ao 6;

esses cenários deverão ser desmontados e montados na outra semana. A

seqüência das gravações segue uma lógica operacional. As questões

observadas pelo diretor são relevantes porque mostram uma ordem de

operação industrial, invertendo todo o sentido estético visto pelo telespectador.

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Em entrevista ao presente estudo, o diretor explicou também sobre as

limitações de produção:

O autor tem que sonhar e, a produção tem que ter os pés no chão (...). A gente pega o mundo ideal do autor e dá uma enquadrada nele. Por outro lado, não fazer o que o autor quer pode ser uma frustração. Não existe sucesso financeiro, se a

novela for aquém do que se esperava...isso seria um mal negócio. É possível negociar um pouco com o autor; este tipo de coisa, sonho versos custos, é comum

ser tratado. Por ser uma obra aberta, às vezes o autor resolve entrar com um personagem novo; isto significa figurino novo, cenário novo, então a produção tenta negociar isto dentro do próprio orçamento. (...) Vamos deixar de fazer aquela

outra coisa para colocar este personagem. Isso pode acontecer (...) (Entrevista/out/2003).

No relatório referido anteriormente sobre a CGP, o autor (1999) observa

que o processo de produção é artístico e industrial ao mesmo tempo. Artístico no

que diz respeito a causar emoção na feitura do roteiro, direção de cena,

interpretação de atores, etc. Industrial porque deve manter alta produtividade,

índice elevado de audiência com vista no anunciante e preocupação com

duração e custos. Essa relação dialética intensa entre o artístico e o industrial se

manifesta em todas as suas etapas, e deve ser gerida no dia-a-dia (Pinto, 1999,

p.49).

Daniel Filho (2001), considerado um dos maiores diretores da televisão

brasileira, lembra que o telespectador não costuma ter noção do tamanho da

equipe envolvida na feitura de um programa de televisão. Para ele, não há

diretor, produtor, ninguém vestiu os atores, escolheu os locais de gravação.

Assim, diz o diretor Daniel Filho:

Nada está numa cena por acaso, tudo foi planejado e pensado; cada figurante,

roupa, acessório, sapato, o tipo de maquiagem, corte de cabelo, tudo aquilo foi discutido e aprofundado. Uma equipe de filmagem é formada por diversos

profissionais: diretor de fotografia, produtor de arte, continuísta, cenógrafo, figurinista, assistente de direção, assistente de estúdio, diretor musical, diretor de imagem, e outros. (..)Todas essas pessoas juntas vão pintar quadro em

movimento (...); é preciso que todos estejam harmonizados falando a mesma língua, devendo se guiar pela mesma idéia, a história a ser contada (Daniel Filho,

2001, p.240, 241).

Uma das características do processo de produção de uma novela é a

multiplicidade de funções, as diversas etapas e a interferência de vários agentes.

O que o público assiste é o resultado de muitos elementos: o foco do diretor, a

energia do ator, a interação dos personagens, etc. O roteirista só vai sentir o

resultado depois que ela vai ao ar, diz o autor do relatório. Ele vai ter que

interagir com a sua própria criação, por causa da metamorfose que seu universo

sofreu no processo produtivo. E vai ter que agir também em função das

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avaliações e sugestões da direção artística e das reações da audiência (Pinto,

1999, p.33).

5.13. Levantamento das alterações em telenovelas (1966-2003)

O livro Dicionário da TV Globo: programas de dramaturgia e

entretenimento (2003) traz a descrição das sinopses das novelas já produzidas

pela TV Globo desde 1966, com comentários sobre suas histórias e

considerações sobre suas produções. Em algumas dessas novelas são

observadas alterações em seus roteiros ou produções. O presente levantamento

tem por objetivo fornecer uma visão do conjunto de alterações já registradas em

telenovelas para auxiliar na compreensão deste estudo. Esses dados serão

devidamente tratados na seção de análise. As telenovelas de interesse são:

Anastácia a mulher sem destino (1967); escrita por Emiliano Queiroz e

Janete Clair, com direção de Henrique Martins. A novela tinha muitos

personagens, o que dificultava o ritmo da trama e a compreensão do público.

Janete Clair foi chamada para dar um desfecho à trama. A autora decidiu criar

um terremoto na ilha, eliminando mais de 100 pessoas do elenco (Dicionário da

TV Globo, 2003, p.14).

A grande mentira (1968); escrita por Hedy Maya, com direção de Fábio

Sabag. O público reagiu ao fato dos atores principais, Myrian Pérsia e Cláudio

Marzo, terem sido substituídos. Estes tiveram de retornar à novela (Ibid., p. 15).

Passo dos ventos (1968); escrita por Janete Clair, com direção de Regis

Cardoso. A troca dos pares famosos (Tarcísio Meira e Glória Menezes; Carlos

Alberto e Yoná Magalhães) foi malsucedida. Outra novela era exibida

simultaneamente (A Gata de Vision), com par romântico invertido, provocando

uma reação negativa do público (Ibid., p.16).

A Gata de Vison (1968); escrita por Glória Magadan, com direção de

Daniel Filho. A troca dos pares famosos (Tarcísio Meira e Glória Menezes;

Carlos Alberto e Yoná Magalhães) com a exibição simultânea da novela Passo

dos Ventos, estrelada por Glória Menezes e Carlos Alberto, não foi bem recebida

pelo público (Ibid., p.16).

Rosa Rebelde (1969); escrita por Janete Clair, com direção de Regis

Cardoso. (...) fracasso de público, sobretudo pela concorrência da inovadora

Beto Rockfeller, exibida pela TV Tupi, no mesmo horário (Ibid., p. 17).

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Véu de Noiva (1969); escrita por Janete Clair, com direção de Daniel

Filho. Por volta do capítulo 30, o ator Geraldo Del Rey pediu licença para sair da

novela. A solução encontrada por Janete Clair para justificar a ausência do ator

foi um assassinato, que acabou sendo um recurso de audiência: Quem matou

Luciano? (Ibid., p.19).

Irmãos Coragem (1970); escrita por Janete Clair, com direção de Daniel

Filho. O personagem Juca Cipó, secundário na trama, ganhou espaço e acabou

como um dos pontos altos da novela. O diretor Daniel Filho lembra que os

telespectadores torciam para (...) (Ibid., p. 22).

Assim na Terra como no Céu (1970); escrita por Dias Gomes, com

direção de Walter Campos. (...) quando se lançava no ar a pergunta: Quem

matou? A novidade não agradou aos telespectadores (...) (Ibid., p. 24).

O Primeiro Amor (1972); escrita por Walter Negrão, com direção de

Walter Campos. O autor tentou usar em O primeiro amor ingredientes da novela

anterior Minha Doce Namorada (1971); com ajuda de Homero Icaza Sanchez

(responsável pela pesquisa de audiência) tentaram determinar os pontos altos

de enredo, personagens e elenco (Ibid., p. 34).

O Bofe (1972); escrita por Bráulio Pedroso, com direção de Daniel Filho

(posteriormente substituídos). Problemas de saúde de Bráulio Pedroso,

acrescidos de uma audiência aquém da esperada, levaram à sua substituição.

Lauro César Muniz, que estreava em novelas na TV Globo, fez algumas

modificações na trama (Ibid., p.37).

O Bem-Amado (1973); escrita por Dias Gomes e dirigida por Régis

Cardoso. O personagem cresceu em importância e acabou ficando até o final.

(Ibid., p. 39).

Carinhoso (1973); escrita por Lauro César Muniz, com direção de Walter

Campos. A novela poderia ter tido mais do que os 174 capítulos, mas a trama

teve de ser encerrada, porque Regina Duarte estava grávida (Ibid., p. 41).

Duas Vidas (1976); escrita por Janete Clair, com direção de Daniel Filho

(posteriormente substituídos). Ao assumir a direção, Gonzaga Blota fez várias

mudanças na sua trama, tentando superar dois problemas: a baixa aceitação do

público e as imposições da censura (Ibid., p. 72).

Dancing Days (1979); escrita por Gilberto Braga, com direção de Daniel

Filho (posteriormente substituído). O autor mudou os ambientes onde se

passava a história e mexeu na trama de diversas personagens: Yolanda separa-

se do marido (...) (Ibid., p. 83).

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Pai Herói (1979); escrita por Janete Clair, com direção de Walter

Avancine (posteriormente substituídos). Em torno do capítulo 70, Janete Clair

decidiu dar uma virada na novela, que tinha tramas paralelas muito complexas, o

que vinha provocando queda da audiência. Para atrair a atenção do público, a

solução encontrada foi matar um dos personagens. (Ibid., p.92).

A Cabocla (1979); escrita por Benedito Ruy Barbosa, com direção de

Herval Rossano. Glória Pires adoeceu e teve de ser substituída por Christiane

Grossi, que era focalizada somente de perfil (Ibid, p. 95).

Os Gigantes (1979); escrita por Lauro César Muniz, com direção de

Regis Cardoso (posteriormente substituídos). A trama abordava temas

polêmicos, como a eutanásia e o poder das multinacionais, além de insinuar o

interesse homossexual entre as personagens vividas por Dina Sfat e Lídia

Brondi. Isso não foi bem aceito pelo público, que considerava as temáticas, em

especial, a eutanásia, inadequadas para uma novela (Ibid., p.96).

As Três Marias (1980); escrita por Wilson Rocha, com direção de Herval

Rossano (posterirmente substituídos). Solicitada para modificar os rumos da

novela, que não havia despertado a atenção do público, Walter Negrão

transformou a novela em uma trama policial. No decorrer da narrativa, os

personagens Teresa, Antônio (Dênis Derkian) e Macedo (Roberto de Cleto) são

assassinados (Ibid., p.103).

O Amor é Nosso (1981); escrita por Roberto Freire e Wilson Aguiar Filho

(posteriormente substituídos). A quantidade de tramas paralelas acabou

confundindo o público. Na tentativa de elevar a audiência, Walter Negrão

assumiu a autoria da trama e provocou diversas mudanças. (Ibid., p. 110).

Brilhante (1981); escrita por Gilberto Braga, com direção de Daniel Filho.

Problemas com a audiência e pressões com a censura levaram Gilberto Braga a

reformular a trama da novela. O romance entre Luísa e Paulo César não

agradou o público (...) (Ibid., p. 111).

Sol de Verão (1983); escrita por Manoel Carlos, com direção de Roberto

Talma, Jorge Fernando e Guel Arraes. A censura cortou diálogos e cenas que

considerou forte, prejudicando a compreensão da trama da novela, que não

atingiu bons índices de audiência. A decisão da personagem Rachel de deixar

um casamento (...) não contentou o público, cuja insatisfação foi expressa em

cartas e enviadas à Rede Globo. O ator Jardel Filho morreu durante as

gravações da novela; o personagem vivido por ele teve uma viagem repentina.

Após a morte do ator Jardel Filho, a direção da Rede Globo encomendou uma

pesquisa junto ao público para saber se deveria dar continuidade ou não à

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produção. Dos entrevistados, 55% acharam que a novela deveria prosseguir (..).

Lauro César substituiu Manoel Carlos que se sentiu impossibilitado de continuar

(Ibid., p.120).

De Quina pra Lua (1986); escrita por Alcides Nogueira, com direção de

Atílio Riccó. Havia seqüências que sugeriam lesbianismo entre as personagens

Fernanda e Cíntia (Beth Goulart), o que provocou reações negativas nos

telespectadores, fazendo com que a emissora e os autores da novela

reformulassem as cenas (Ibid., p. 150).

Roda de Fogo (1987); escrita por Lauro Cézar Muniz, com direção de

Dennis Carvalho. Os autores passaram a dar maior espaço para o núcleo que

continha os personagens que faziam sucesso na trama. O vilão Renato Villar foi

conquistando a simpatia do público. A morte do personagem Renato, provocou

polêmica. Muitos telespectadores escreveram para o Boni (então vice-presidente

de Rede Globo), pedindo que o personagem continuasse vivo (Ibid., p.154).

Direito de Amar (1987); escrita por Walter Negrão, com direção de

Jayme Monjardin. Carlos Vereza compôs um vilão tão sedutor, que o público

passou a torcer por ele. E isso obrigou o autor a exagerar as maldades de

Monserrati (...) (Ibid., p. 157).

Vale Tudo (1988); escrita por Gilberto Braga, com direção de Dennis

Carvalho. Os índices de audiência foram altos no último capítulo. Houve muita

curiosidade dos telespectadores para saber Quem matou Odete Roitman? Os

autores ajudaram a criar o clima de suspense, escrevendo 5 finais diferentes

para o último capítulo, ao qual os atores só tiveram acesso durante a gravação

(Ibid., p.164).

O Salvador da Pátria (1989); escrita por Lauro César Muniz e dirigido

por Paulo Ubiratan. O autor decidiu mudar o perfil de um personagem porque

houve reclamação de partido político em relação ao personagem. (ibid., p. 172).

Rainha da Sucata (1990); escrita por Silvio de Abreu, com direção de

Jorge Fernando. O autor usou elementos da realidade política e econômica do

país para escrever a trama. Rainha da Sucata estreou em pleno confisco da

poupança pelo Governo de Fernando Collor de Mello. Silvio de Abreu incluía

fatos do cotidiano do país na vida dos personagens da novela (...) (Ibid., p. 180).

O Sexo dos Anjos (1990); escrita por Ivani Ribeiro, com direção de

Roberto Talma. O ator Lutero Luiz morreu durante a novela. Seu personagem

saiu de cena (Ibid., p. 180).

O Dono do Mundo (1992); escrita por Gilberto Braga, com direção de

Dennis Carvalho. A discussão sobre o problema da virgindade não fez mesmo

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sucesso entre os telespectadores. Com índices de audiência considerados

insatisfatórios, a trama foi modificada. Silvio de Abreu foi convidado para

substituir o autor, e deu maior agilidade e ação, além de introduzir mudanças

substanciais no perfil de alguns personagens. Aos poucos, a telenovela

recuperou o público (Ibid., p. 193).

Perigosas Peruas (1992); escrita por Carlos Lombardi, com direção de

Roberto Talma. Duas mudanças foram feitas no texto original: a tentativa de

suicídio da menina Tuca, de 13 anos, cortada por decisão da direção da

emissora, e o final escrito para Belo, que deveria morrer por volta do capítulo

100. Como tinha grande popularidade entre os telespectadores, o autor manteve

o personagem vivo (Ibid., p. 201).

De Corpo e Alma (1993); escrita por Glória Perez e dirigida por Roberto

Talma. A atriz Daniela Perez, filha da autora Gloria Perez, que interpretava a

personagem Yasmim, foi assassinada pelo ator que fazia com ela na novela par

romântico. Gilberto Braga assumiu a responsabilidade de escrever alguns

capítulos subseqüentes e dar uma solução para o desaparecimento dos dois

personagens. A saída de Yasmin da novela foi explicada com uma viagem de

estudos (Ibid., p. 204).

O Mapa da Mina (1993); escrita por Cassiano Gabus Mendes, com

direção de Paulo Ubiratan. Os baixos índices de audiência da novela, transmitida

no mesmo horário que o programa Aqui Agora, do SBT, levaram ao afastamento

da diretora-geral Denise Saraceni 10 dias depois da estréia. Contudo, poucas

alterações se fizeram no enredo. No elenco, a atriz Fernanda Montenegro

(Madalena Moraes) teve a participação antecipada, e o ator Maurício Mattar

(Bakur Shariff) foi convocado para atrair o público feminino (Ibid., p. 215).

Pátria Minha (1995); escrita por Gilberto Braga, com direção de Dennis

Carvalho. As brigas e os freqüentes atrasos de Vera Fisher e Felipe Camargo

levaram a direção da emissora a afastá-los do elenco. Os personagens que eles

representavam morrem num incêndio (Ibid., p. 223).

Explode Coração (1995); escrita por Glória Perez direção de Dennis

Carvalho. Uma advogada de origem cigana considerou depreciativa a

abordagem feita sobre o povo cigano. Levou a questão à justiça. Num dado

momento da trama, modificou-se o figurino, considerado exagerado e

estereotipado. (ibid., p. 235).

A Próxima Vítima (1995); escrita por Silvio de Abreu e dirigida por Jorge

Fernando. Silvio de Abreu, com a intenção de elevar a audiência, criou um clima

de maior de suspense. Diante da repercussão da novela, foi obrigado a fazer

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algumas alterações no desfecho da história policial. Chegou-se a cogitar na

exibição ao vivo do último capítulo para evitar que se descobrisse o final da

novela antes da transmissão. O autor conta que ele e Jorge Fernando

resolveram gravar 3 desfechos (Ibid., p.231).

História de Amor (1996); escrita por Manoel Carlos com direção de

Ricardo Waddington. Por determinação do Ministério da Justiça, a sinopse de

História de Amor foi alterada (Ibid., p. 233).

Por Amor (1997); escrita por Manoel Carlos, com direção de Paulo

Ubiratan. A personagem Maria Eduarda não agradou aos telespectadores. Um

grupo de internautas criou o site: Eu odeio a Eduarda. Nele, havia uma votação

sobre o destino a ser dado à personagem na novela. Pedia-se a morte de Maria

Eduarda. As pessoas podiam manifestar sua opinião, e mandar mensagens para

Manoel Carlos (Ibid., p. 254).

Corpo Dourado (1998); escrita por Antônio Calmon, com direção de

Paulo Ubiratan (posteriormente substituídos). Apesar de não ter alcançado os

índices de audiência esperados para o horário em que era exibida (...). Houve

algumas mudanças na trama (Ibid., p. 255).

Suave Veneno (1999); escrita por Aguinaldo Silva, com direção de

Daniel Filho. A novela não alcançou os índices de audiência esperados pela

Rede Globo e, depois de pesquisas realizadas pela emissora entre os

telespectadores, o autor Aguinaldo Silva fez algumas alterações na trama. A

partir do assassinado de Clarice, fato que não fazia parte da história original, a

trajetória de diversos personagens foi modificada (Ibid., p. 262).

Torre de Babel (1999); escrita por Silvio de Abreu com direção de

Denise Saraceni e outros. Houve reação da igreja e de grupo de telespectadores

em relação à cenas de violência, homossexualismo, drogas, infidelidade,

vingança. O autor eliminou os personagens que não tinham aceitação do público

para refazer a trama, aproveitando a explosão de um Shopping Center, já

prevista na sinopse. (Ibid., p. 257).

Uga Uga (2000); escrita por Carlos Lombardi, com direção de Wolf Maya.

A Rede Globo foi advertida pelo Ministério da Justiça sobre o excesso de cenas

de violência para o horário das 19h. Dois capítulos da novela tiveram que ser

reeditados. A produção enfrentou dificuldade com o Ministério Público, que

tentou impedir a participação de atores mirins na trama. A comissão da

Conferência e Marcha dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil enviaram

uma carta em sinal de protesto à Comissão dos Direitos Humanos da Câmara

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dos Deputados, criticando cenas que, segundo a organização, estereotipavam a

cultura indígena (Ibid., p.274).

Laços de Família (2000); escrita por Manoel Carlos com direção geral de

Ricardo Waddington. A novela sofreu resistência por parte da igreja, do juizado

de menores e do Ministério da Justiça. O elenco menor de 18 anos, foi

temporariamente afastados das gravações. (Ibid., p.277).

As Filhas da Mãe (2002); escrita por Silvio de Abreu, com direção de

Jorge Fernando. A novela não atingiu o índice de audiência esperado pela

emissora, e o final foi antecipado em 10 semanas. As vendas internacionais

também foram prejudicadas pelos raps que costuravam a trama. (Ibid., p. 288).

Coração de Estudante (2002); escrita por Emanuel Jacobina e direção

de Ricardo Waddington. A entrada de Carlos Lombardi como consultor da novela

provocou algumas mudanças em Coração de Estudante. Além de modificações

no perfil de alguns personagens, o humor passou a dominar a narrativa, que

ganhou agilidade (Ibid., p. 293).

Esperança (2003); escrita por Benedito Ruy Barbosa com direção de

Luiz Fernando Carvalho ( posteriormente substituídos). Esperança não atingiu os

índices de audiência esperados pela emissora, e Walcyr Carrasco acabou

assumindo a autoria da novela em dezembro de 2002. A trama sofreu

alterações, e novos personagens foram introduzidos na história (Ibid., p. 295).

5.14. Opinião dos autores e diretores sobre a influência do público

Os Autores Manoel Carlos, Lucia Abreu, o diretor de núcleo Jorge

Fernando, e os diretores Mario Lucio Vaz e Edson Pimentel deram entrevistas

pessoais a este estudo sobre a importância do público no processo de criação.

Os autores Ricardo Linhares, Edmara Barbosa, Edilene Barbosa e Gilberto

Braga deram entrevistas por email. Outras opiniões sobre o tema foram

extraídas da imprensa.

5.14.1. Manoel Carlos

Os índices de audiência estão relacionados ao alcance que a emissora

está atingindo, à satisfação do público, ao sucesso dos programas, à receita da

emissora, ao valor do espaço publicitário e outros. Eles são para a emissora

mais do que um indicador, eles são uma referência constante.

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Manoel Carlos foi questionado sobre a importância dos índices de

audiência para os autores de telenovelas. O autor responde que cada um dá aos

índices de audiência uma importância diferente, e faz a seguinte observação:

"Isso não pode ser uma coisa tão neurótica, sôfrega, doentia... " Observa que

quem tem mesmo que se preocupar com os índices é a direção da empresa,

porque controla as várias programações. Pode acontecer de um programa

registrar quedas consecutivas, e neste caso deve se saber a razão. Ele acredita

ser natural que os índices mobilizem a emissora, pois estas sobrevivem com

esses indicadores (Entrevista, novembro de 2003).

O autor diz não ser tão difícil descobrir se uma novela está fazendo

sucesso ou não, basta sair, e observar: "Você vê a reação nas ruas, o

comportamento das pessoas (...) a não ser que você queira os números exatos

da audiência." Ele afirma não ficar preocupado com as variações do índice de

um dia para o outro. A menos que fossem quedas extremamente acentuadas.

De qualquer forma afirma estar ligado na audiência. Possui o aparelho específico

dentro de casa para saber o índice de audiência a cada minuto. Se preocupa

quando tem uma cena muito longa, se a cena está no tamanho certo ou não, se

cansou o público, se é muito violenta, etc. Mas afirma que essa preocupação

toda, é mais no começo. O autor oferece o seguinte depoimento ao presente

estudo:

Eu não vou me preocupar se o índice subiu um ponto ou desceu dois pontos (...).

Se por exemplo, a audiência caísse muito, eu me preocuparia em saber o que estaria acontecendo, o que podem ou não estar gostando (...) para isso, existem as reuniões de grupo. Na verdade, eu nunca participei de nenhuma. Se eu

tivesse uma crise numa novela, por exemplo, eu pediria imediatamente a TV Globo para fazer uma reunião de grupo. Mas eu, tenho uma aferição muito

instantânea. Eu ando na rua, sei o que a minha novela agrada e o não agrada (...). Fiz onze novelas com a TV Globo, e até hoje, a minha opinião coincidiu com

a opinião pública (...).(Entrevista, novembro de 2003).

Manoel Carlos observa que os resultados das reuniões de grupo,

denominado focus group, demoram muito para chegar em suas mãos. Na

ocasião da reunião, ele manda um colaborador seu fazer o acompanhamento. O

autor comenta que quando são apresentados problemas com algum

personagem, ele apenas escuta e reflete. Ele revela que nunca lê os relatórios

porque acredita que normalmente estes não apresentam resultados importantes:

"Essas reuniões de grupo são absolutamente furadas! Eu já pedi a TV Globo

para não fazer; são mulheres que levantam de manhã, para dar opinião sobre a

novela. Não sabem nada de novela (..). O que vale, diz o roteirista, é a opinião

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dos telespectadores com os quais ele convive: a opinião da sua mulher, dos

seus filhos, das empregadas que trabalham em sua casa, do porteiro do edifício,

das pessoas da livraria onde ele vai todos os dias, etc. (Entrevista, novembro de

2003).

O roteirista admite que, se estivesse diante de uma crise com uma

novela, se serviria de tudo ao seu alcance. Afirma nunca ter se encontrado numa

situação dessas. O autor tem poucas lembranças de mudanças que promoveu e

diz que estas em geral são apenas pontuais. Ele recorda de algumas:

Quando eu fiz Sol de Verão, eu fiz o Toni Ramos, que fazia o papel de um surdo-mudo, homem muito bom (...). Ele começou a flertar com uma aeromoça (...). Quando terminou o capítulo, eu desci para jantar com a minha mulher e

encontrei o síndico que disse: "Acabei de ver sua novela, você não vai fazer o Toni gostar daquela moça? ...menino tão puro, meigo, e ela uma aeromoça

vivida, faz viagens internacionais, acho que não tem muito a ver." (Entrevista, novembro de 2003).

O autor conta que esse telespectador lançou uma semente e que no dia

seguinte, foi fazer uma compra com sua mulher, e o gerente de uma loja falou a

mesma coisa, e outra pessoa também. Ele acha significativo quando 5 em 6

pessoas falam a mesma coisa. No caso citado, houve uma rejeição em relação à

união de um personagem muito puro, muito bonito com uma menina viva,

acredita ele. E os telespectadores receavam de que a aeromoça fizesse o rapaz

sofrer; por essa razão, ele afastou o casal, isto é, mudou o rumo da história,

porque sentiu a rejeição do público. (Entrevista, novembro de 2003).

Manoel Carlos (Entrevista, novembro de 2003) observa que se as

opiniões começam a coincidir: sua mulher, a empregada, o porteiro, a moça da

livraria, etc., que isso pode ser um indicador. Ele diz que pode não seguir, mas

afirma: "Isso é Ibope, é estatística." O autor lembra da novela Mulheres

Apaixonadas:

a) Quando começou a novela Mulheres Apaixonadas as pessoas odiavam o Fred,

aí eu dizia: "— Calma que vocês vão gostar dele; vão gostar, por que eu sei o

que eu vou fazer com ele ...deixa comigo! ... Depois amaram o rapaz! Por que eu tinha um caminho para ele, que era conquistar o público, conquistar a audiência.

b) Em compensação eu matei o Fred, contra os apelos de todo mundo! Minha irmã,

querida, que mora em São Paulo dizia pra mim no telefone: "Meu irmão, não mate o Fred." E eu dizia: "Vou matar sim!" Eu queria que aquele infeliz daquele Marcos carregasse um inocente com ele na morte, para que ele ficasse mais

perigoso. ... porque não tem lei no Brasil que penalize o espancador de mulheres (...).

c) No caso da personagem Fernanda da novela Mulheres Apaixonada: Eu ia matar

a Fernanda no capítulo trinta e poucos, 40, sei lá... Mas a verdade que por um problema meu de dramaturgia eu vi que se eu matasse a Fernanda, a menina

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ficava vazia, ficava sem apoio. (...) Então eu pensei em dar uma sobrevida a ela. Tanto é que logo depois que ela morreu, a menina caiu no vazio, a menina ficou

com menos densidade dramática, a densidade dramática dela era a mãe. Eu pensei: "Se eu matar essa moça no capítulo 50, como é que eu faço pra ficar 150

capítulos sem ela?" Então eu fui dando uma sobrevida. Depois decidi matar a moça num determinado capítulo. Não matei porque era feriado no Brasil. Eu falei, não vou matar no feriado porque a audiência cai muito no feriado. As

pessoas viajam.(...) Mas não foi influência do público não. O público, não queria que ela morresse por que era um personagem extremamente carismático. Mas é

assim que é bom matar.

d) Em Baila Comigo eu mudei a história toda. Lílian Lemmertz que fazia Helena era casada com Fernando Torres, eles tinham um filho que era o Tony Ramos. (...). Na minha sinopse o Fernando Torres morre no capítulo 30 ...O Fernando Torres

fez um sucesso tão grande que foi até o fim e não morreu, eu não matei. (...) Naquela época era diferente. Eu recebia cartas. Tinha gente que escrevia

dizendo que se o Fernando Torres morresse ia se sentir órfão. Por que ele era o pai que todo mundo queria ter. Então eu comecei a ver... Fui ao Boni e falei: "Pô,

não vou matar o Fernando não ...o público adora ele...."

Manoel Carlos fez a seguinte observação sobre a Central de Atendimento

ao Telespectador - CAT: "Quando existe uma insistência muito grande em

determinado assunto, a Marcia Clark que faz isso, me passa por email. (...)

Considero tudo. Não significa que eu vou mexer, mas eu ouço." (Entrevista,

novembro de 2003).

O autor observa que algumas vezes há boatos sobre a existência de

pesquisas, quando se tratam apenas de enquetes. Muitas vezes, elas nem são

promovidas pela emissora. Este foi o caso de uma enquete com as ouvintes na

Rádio Globo, no programa de Antônio Carlos. As ouvintes foram questionadas

sobre suas impressões a respeito das personagens homossexuais da novela. O

conteúdo da discussão foi para os jornais, e passou-se a dizer que havia uma

pesquisa da Globo sobre as personagens. Manoel Carlos, que deu entrevista no

mesmo programa sobre a questão das personagens, afirma nunca ter existido tal

pesquisa (Entrevista, novembro de 2003).

Para Manoel Carlos existe um grande equívoco quando pensam que os

autores são pressionados pela TV Globo: “Não tem pressão nenhuma!” Diz ele.

Quem exerce a pressão é o próprio autor. Ele diz que não se permite não fazer

sucesso, e costuma dizer que ganha um salário muito bom, não apenas para

escrever novela, mas para escrever novela que dê certo. Observa também que

existe um compromisso do autor com a audiência ou com o sucesso da novela.

A novela só tem sentido vista por uma multidão de pessoas, porque é um

produto cultural popular, afirma ele. O autor faz uma comparação com um circo

que chega a uma cidadezinha: se ninguém vai, como é que fica, pergunta ele.

Uma novela é para ser vista por 60, 70 milhões de pessoas todas as noites:

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"Escravizar a pessoa, a pessoa não vai ao cinema, a pessoa marca o jantar

depois da novela..." (Entrevista, novembro de 2003).

Manoel Carlos observa que a novela tem um autor, e esse autor é

absolutamente dono dela. Ele afirma que a emissora nunca ligou para ele para

propor modificações. Comenta da seguinte forma sobre a sua autonomia: "...eu

ouço opiniões, eu vejo na rua, eu leio no jornal alguém dizer alguma coisa, eu

peso, e sigo ou não as coisas que eu ouço. Tenho liberdade total para

concordar, ou discordar daquilo que eu ouço." (Entrevista, novembro de 2003).

5.14.2. Lucia Abreu

Segundo a colaboradora e autora de telenovela Lucia Abreu, a percepção

comercial dos autores de novela começou na década de 90, quando estes

começaram a perceber que podiam ter salários mais elevados. A empresa antes

não oferecia percentual nenhum em cima da audiência, e hoje oferecem, e

comenta: "Alguns autores tem seu contrato fechado, e tem uma parte de x% dos

patrocinadores. Não é a maioria, alguns privilegiados. Por exemplo, se derem

acima de 20 pontos no Ibope, cada ponto tem direito a tantos porcento." Sobre

como relacionar os índices de audiência com a satisfação do público em

momentos da novela, ela comenta (Entrevista, fevereiro de 2004):

Os índices são dados cena a cena. Por exemplo, se uma novela tiver hoje

atingindo 52 pontos de audiência e quando chega à cena de amor da Maria Clara e Fernando cai para 45, significa que 5% muda de canal ou desliga. Se isso se repetir, é porque aquela cena não está funcionando na novela.

Lucia diz que quando um autor percebe que um personagem está dando

certo, ou tem uma empatia com o público, ele toma mais espaço e, neste caso, o

autor pode fazer mais cenas com este personagem. Nesse sentido, é que o

público interfere na obra. Pode ser uma simples iniciativa do autor independente

de pesquisas, ou pode ser por causa de resultados de pesquisas. Observa:

O autor não pode se prender tanto a essa coisa do público. Ele tem uma história

na cabeça a contar. Ele sabe até aonde vai a trama. Aonde ele vai colocar a morte, colocar isso ou aquilo (...). Se ele for seguir cada modificação que o

telespectador quer, ele não escreve a história toda, ele vai se perder. Porque aí, não é a história dele, é a que o público está querendo. Se ele não tiver uma

lógica, ele se perde. O público não tem nenhuma lógica. Uns dias eles querem isso, outro dia eles querem aquilo outro. O autor não pode seguir tudo o que o público quer. "Estão chegando cartas dizendo que preferem fulano com ciclano".

Mas na cabeça do autor a história não é esta. Os personagens já têm o seu destino. Se ele muda o destino ele não faz o desfecho. (Entrevista, fevereiro de

2004).

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Segundo Lucia, quando o autor cria uma história, esta deve ter um

princípio, meio e fim. Com isso, quando a sinopse é apresentada, o desenrolar

principal já está predestinado. No decorrer da trama, porém, alguns elementos

podem ser criados. Mas o autor tem suas metas. Dessa forma, diz ela: "Do

capítulo 1 ao 20, ele vai criar situações ou cenas que vão ter ligações com outras

na trama. Do 20 ao 40, ele vai esqueletar outras." Tudo já está na sua cabeça,

até o capítulo 150, que é o desfecho." Assim, Lucia quer dizer que o autor deve

estruturar uma seqüência de situações que devem acontecer durante a novela

toda, até chegar ao desfecho. Se ele não tiver tudo bem organizado na sua

mente, ele não consegue escrever as 40 cenas intermediárias. Cada período da

novela levanta a trama de um personagem ou núcleo. O autor deve ir expondo

em cada período uma situação para o público atingir o ápice. E quando o autor

juntar todas as tramas chegará aonde ele quer. Diz ela: "Tudo para o autor tem

uma ligação." (Entrevista, fevereiro de 2004):

A importância de uma cena é tão grande que se um determinado capítulo

tiver que diminuir 4 minutos por alguma razão, nem o diretor nem o editor

poderão retirar uma cena sem falar com o autor. O autor tem sempre que ser

consultado, pois o editor não sabe se uma cena tem relação com outra cena

adiante. Lucia observa: "Ninguém pode cortar nada da novela, só o autor. Só ele

sabe por que escreveu aquilo." (Entrevista, fevereiro de 2004):

Lucia Abreu foi colaboradora da autora Glória Perez na novela Explode

Coração. A novela não sofreu nenhum tipo de modificação, embora o público

tenha pedido por um final diferente. Assim conta a colaboradora (Entrevista,

fevereiro de 2004):

Em Explode Coração, todo mundo queria casar a Dara com o Igor, e a Glória por

insistência, por teimosia, fez a Dara terminar com o Júlio. Dois anos depois ela falou: "Lucia, você estava certa, a Dara tinha que terminar com o Igor. Eu por

teimosia... agora vou pensar melhor. " Na cabeça dela, ela já tinha pensado na Dara terminar com o Julio. Seguiu a coerência dela.

Para Lucia, quando se fala em público se quer dizer: o público que se

manifesta por cartas, pela imprensa, telefonemas para o CAT, pesquisas

qualitativas, índices de audiência, etc. (Entrevista, fevereiro de 2004):

Quanto à interferência do público telespectador nas teledramaturgias, a

colaboradora diz que depende de autor para autor e também do seu momento.

Há momentos em que o autor está mais aberto para mudança, afirma. Também

há autores que, em cada novela, agem de uma maneira. Mas, segundo ela um

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autor não é capaz de mudar o rumo total, e afirma: "Isso não! Nem pode!"

Explica a autora (Entrevista, fevereiro de 2004):

O que ele pode é aumentar o papel de um personagem, ele pode diminuir, pode

matar o personagem, se o público achar que ele está muito antipático; pode deixar de matar algum personagem que já está predeterminado na sinopse, o

fulano que morreria no capítulo tal, só que o público começa a pedir (...). Foi o caso da Maria Eduarda de Por Amor. Pela sinopse, a Maria Eduarda era para morrer de parto. Só que o público começou a não querer que ela morresse. E aí

o autor não matou.

Lucia Abreu explica que no início não há preocupação do autor com o

público (imprensa, cartas, etc.). Para ela, existe um tempo para o telespectador

introjetar o personagem. O autor deve se preocupar com o que ele próprio está

sentindo sobre a obra: se criou um personagem para um ator que não está bem

e quais são as possíveis razões, se os diálogos não estão de acordo com o

personagem, se é o ator que não entrou no personagem, assim por diante. "...

Se o autor for se preocupar com outras coisas não escreve." diz Lucia. A autora

afirma não lembrar de uma novela muito modificada pelo público (Entrevista,

fevereiro de 2004):

Nenhuma novela é muito modificada pelo público. O público interfere, mas não a ponto da novela ser muito modificada. Quando eu falei que um personagem

pode morrer ou não, significa que o autor modifica um personagem, mas o que é isso, se existem 30 personagens? Se ele modifica 1, então ela não é muito

modificada. Então nunca nenhuma novela chega a ser muito modificada a ponto de ficar distante da sua história original. O público nunca conseguiu isso, nem vai

conseguir. Esse não é o papel do público.

Sobre a novela Torre de Babel, de Silvio de Abreu, onde houve uma forte

rejeição do público com as personagens que faziam papel de homossexuais,

Lucia conta sobre a alteração por causa da rejeição que se tornou popular

(Entrevista, fevereiro de 2004):

Ali, não foi nem o público, foi a Igreja. As instituições têm o poder, o público não.

É essa diferença. Aí já começa a ser uma coisa de cima para baixo. Aí a direção é que vai dizer: "Vamos parar com isso, já está começando a dar problema, muda essa linha!" Por exemplo, se a novela tem um personagem que é uma

empregada, de repente o autor erra na mão, e coloca ela sendo escurraçada, alguma coisa assim (...) o sindicato das empregadas pode interferir e começar a

causar problema, mas neste caso é a Instituição.

Questionada sobre a razão do formato, obra aberta, Lucia observa que a

obra é aberta não exatamente por causa do público, mas porque essa forma de

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construção do produto é conveniente para a empresa, em termos do processo

como um todo (Entrevista, fevereiro de 2004):

5.14.3. Jorge Fernando

Jorge Fernando fala da importância da interação entre o autor e o diretor:

"Como o autor trabalha sozinho geralmente, no computador, pode se perder na

fantasia e esquecer que aquilo vai ser feito por algum ser humano (...)."

(Entrevista, julho de 2004).

O diretor diz que o maior espectador é o autor. Ele é quem vai poder

assistir ao primeiro capítulo primeiro que todos e poder avaliar aquilo que ele

imaginou. O autor assiste aos 18 capítulos antes de todos, e pode mudar.

Jorge observa que só depois de um tempo, os personagens tomam vida

O ator, com sua interpretação, vai tentar transmitir o que o autor quer. Muitas

vezes, o autor, não precisa colocar em muitas palavras o que ele deseja. Isso,

ele só vai tomar conhecimento depois que a cena estiver produzida. Quando o

autor escreve os primeiros capítulos da obra, pensa apenas em fortalecer a sua

própria idéia. Porém, depois que ele avalia os primeiros capítulos é que ele

pode começar a mudar a forma de escrever: "(...) aquele personagem não era

bem aquilo, mas eu estou gostando (...)" O autor vai adequando o personagem

ao ator. Se o ator não fala tão bem, mas é bonito, faz a cena dele trabalhando ao

invés de falando. Contudo, nos papéis centrais, não se pode errar, diz Jorge

(Entrevista, julho de 2004).

O diretor comenta dos seus sucessos e insucessos como Chocolate com

Pimenta e As Filhas da Mãe (Entrevista, julho de 2004):

Eu tenho um maior sucesso, que foi a Chocolate e tenho um maior fracasso que

foi a anterior As Filhas da Mãe. A gente botou o melhor do elenco, a gente queria mudar a história da novela, descentralizar (...) seriam vários sitcoms, cada sitcom

tinha duas ou três estrelas (...) só que o que aconteceu: estreou bem mas o público rejeitou um pouco o formato.

Jorge Fernando conta que quando foram modificar o formato, para

novela, com ganchos e outras características de novela, o público começou a ter

outros interesses: A filha do Silvio Santos foi seqüestrada, o Silvio Santos foi

seqüestrado, aconteceu o episódio de 11 de setembro, a guerra, e o horário de

verão: "A gente concorria com os programas de realidade, com o 11 de

setembro e ninguém mais via novela. Estava no capítulo 30 e quando as

pessoas viam, não entendiam nada. Mudávamos a história, os raps.(...)". Ele

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acha que, por mais que mudassem, tinha uma correnteza contra que não

deixava chegar a lugar nenhum. Ele acredita que As Filhas da Mãe foi um

exemplo de novela que passou por um processo de mudanças onde não se

chegou a lugar nenhum. A novela terminou no capítulo 130, quando estava

programada para terminar com 180 capítulos (Entrevista, julho de 2004).

O diretor diz que procura ouvir a Central de Atendimento ao

Telespectador - CAT, mas não se conforma muito com certas reclamações do

público. Conta que, na novela Chocolate com Pimenta surgiu um número

elevadíssimo de reclamações: "Num país onde está sendo feita uma campanha

contra a fome, desperdiçar tanto bolo em cenas de jogar bolo na cara dos outros

(...)" Ele disse que a produção tentou explicar que existia uma verba especial

para isso... que a espuma não era bolo, era espuma de barba, mas não

adiantou. Então escreveram a seguinte cena, por causa de tantas reclamações:

"Prepara-se tudo para ver o bolo jogado na cara, até que alguém fala: Não,

chega de desperdício! Não vai ter casamento, vamos chamar todas as crianças

pobres (...)." E assim fizeram, reuniram algumas crianças pobres, e distribuíram

bolo (Entrevista, julho de 2004).

O diretor falou também de uma pequena mudança que fizeram na novela

Chocolate com Pimenta (Entrevista, julho de 2004):

A gente ia segurar a volta da Mariana e do Murílo só no último capítulo. Aí quando ela disse não para ele um mês antes de terminar a novela, a gente

achou que ia ser uma alavancada para preparar o final, mas o público rejeitou. O público ficou p... com a mocinha por ela ter dito não, apesar de saber que ela

tinha motivos, que ela se vingou (...) mas como ela premeditou entrar na igreja e na hora dizer não, o público se virou contra a mocinha. A gente teve que imediatamente, uma semana depois, fazer ela contar que o outro era pai etc. A

gente teve que, para salvar a heroína, juntar os dois antes de terminar a novela. O público pediu isso. A gente estava errado na condução. O que a gente achou

que ia ser interessante para o público ficar torcendo para eles se juntarem, provocou raiva em vê-los separados.

O caso dos personagens Mariana e do Murilo não foi resultado da

pesquisa de discussão em grupo, foi termômetro, diz Jorge. Conta que esteve

em São Paulo, conversou com algumas pessoas, e num dia dez pessoas

reclamaram. Não achou normal. Na época, a novela estava com um índice de 43

pontos, e logo depois caiu. Ele afirma que o público rejeitou: "Caiu uns três

pontos de um dia para o outro e manteve a queda, e isso é sinal de uma

rejeição. Assim que ela falou que o filho era dele blá blá blá, imediatamente

voltou a audiência. A gente terminou lá em cima." Jorge diz que a novela

estendeu até 214 capítulos; estava sendo produzida para terminar com 170

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capítulos. Houve dois group discussion: "Um foi ótimo, eles gostaram de tudo, de

música, de roupa, dos bombonzinhos (...), entendiam a história, sabiam que

tinha humor, tinha drama. A gente nunca teve pressão de nada para mudar."

(Entrevista, julho de 2004).

Jorge diz que o termômetro é a sua própria intuição: "Quando você

começa achar que aquilo está esquisito, alguma coisa tem. Além disso, existe a

família, a empregada." O diretor dá valor ao que a família fala; comenta que isso

é o público: "Chocolate era um sucesso com a empregada, com o porteiro,

chofer de taxi, atendente do aeroporto, executivo que viaja no avião (...) "

(Entrevista, julho de 2004).

Para Jorge, a novela tem que começar como se fosse uma obra fechada,

deve haver uma história de partida com princípio, meio e fim : "A forma e o tempo

é que são abertos" explica o diretor (Entrevista, julho de 2004):

Uma coisa que autor prevê que vai acontecer no capítulo 80, acontece no 40, caso aquelas histórias que ele tinha programando até 80 não estão dando. Então

ele abre mão de um efeito futuro e antecipa. Ou deu muito certo, uma coisa que ia dar uma semana, levou três. No início de Chocolate, era uma semana e passava o tempo, a gente acabou ficando três semanas. A gente viu que estava

dando certo, entendeu? A entrada do Caco Cióque estava prevista no 60, ele entrou no cento e pouco, porque a história não precisou daquele novo elemento.

Ou precisa mais de uma mulher, ficou muito sem mulher, aí entra uma personagem no 30 e fica até o final da novela. Ou ela entra, cumpre a função

dela de fazer aquela fofoca e sai.

A obra não é aberta por causa do feedback do telespectador. Este tem

uma parcela, mas ele não é soberano, diz Jorge (Entrevista, julho de 2004).

5.14.4. Mário Lucio Vaz

O diretor Mario Lucio Vaz da Central Globo de Criação é também diretor

da Central Globo de Qualidade. O papel dessa Central é fazer uma avaliação

periódica e contínua dos programas que compõem a grade de programação da

emissora. Para isso, a empresa conta com um grupo de analistas: sociólogos,

psicólogos, representantes de telespectadores e outros profissionais. Todos os

dias, diversas questões são discutidas, como ética e outras questões

relacionadas a esses programas (Entrevista, julho de 2004).

O diretor comenta sobre o êxito das novelas. Diz que não existe uma

receita para uma história ter sucesso e que tudo depende da escolha inicial: uma

sinopse, o autor, o diretor e o resto é conseqüência. Ele observa que os critérios

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na escolha de uma sinopse não são critérios tão bem definidos (Entrevista, julho

de 2004):

Se consigo ler uma sinopse até o final sem parar, sem ter dúvidas sobre quem é quem, ou qual é exatamente a trama, é um bom sinal. Se paro, releio novamente, releio é um mal sinal. De qualquer forma não tem receita. É sensibilidade, intuição

e experiência.

A próxima etapa para o sucesso é a produção. Explica que definido o autor

e o diretor, a produção da novela passa a ser uma conseqüência desta escolha.

E a experiência faz com que eles tenham o insight na escolha da equipe de

produção. (Entrevista, julho de 2004).

O autor e o diretor são os que decidem tudo sobre a novela. O ideal é eles

trabalharem juntos, isto é, decidirem tudo juntos. Mário Lucio diz que procura

intensificar a relação entre eles, pois ela é muito importante. O sucesso está na

mão deles, talvez metade com o autor e metade com o diretor da novela, diz o

diretor da Central. (Entrevista, julho de 2004).

Para Mário Lucio, é natural que os autores se preocupem com os índices

de audiência, mas em geral não gostam muito de admitir. Ele mesmo acredita

não se importar com a audiência; diz perceber quando uma coisa não está indo

bem; sabe quando uma novela está ou não seguindo o caminho desejado,

mesmo não tendo conhecimento dos índices de audiência; admite ter sempre

uma idéia dos elementos que possam está surtindo sentimento negativo.

Quando isso acontece, ele mesmo reflete: "Isso assim, assim, tem que mudar."

(Entrevista, julho de 2004).

O diretor observa que o setor trabalha com o conceito de trilho. Se a

novela estiver caminhando dentre de certo intervalo de audiência, não haverá o

que se preocupar. É comum os índices de uma novela oscilarem. A

concorrência, o trânsito, chuva e outros acontecimentos da cidade alteram os

índices de audiência. O parâmetro a ser seguido é a média de audiência

nacional das 10 maiores capitais brasileiras. (Entrevista, julho de 2004).

Para Mário Lucio as pesquisas de discussão em grupo, feitas com

periodicidade, como avaliação de diversos elementos da novela, são de muita

valia e podem sinalizar alguns problemas. Muitas vezes os resultados dessas

pesquisas coincidem com o que ele sente e pensa. (Entrevista, julho de 2004).

São feitas, para cada telenovela, de uma a três pesquisas; uma pelo

menos, está prevista no contrato com o Instituto de Pesquisa. Devem ser

realizadas próximas aos capítulos 18, 36 e 54.

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Se uma novela chegar ao capítulo 50 com problema de audiência, torna-se

difícil reverter, e se tiver com bons índices dificilmente estes cairão. (Entrevista,

julho de 2004).

Os autores não lêem os relatórios das pesquisas. Mário Lucio prefere ler,

discutir e apresentar os resultados no seu setor. Ele diz que se não for dessa

forma, os autores podem se concentrar em detalhes de depoimentos dos

integrantes da pesquisa (grupo de discussão), e podem não captar o todo da

questão.

Em relação a mudanças nas telenovelas, o diretor diz que não existem

propriamente grandes mudanças nas obras de teledramaturgias. As sinopses

sofrem pouquíssimas alterações. Mário Lucio afirma que as sinopses originais

não são alteradas em 95% dos casos. O que existe são alguns ajustes.

(Entrevista, julho de 2004).

As mudanças nas teledramaturgias não podem ser aleatórias, explica o

diretor. É preciso que se pense na coerência da história como um todo, pois o

autor tem um destino para seus personagens e sua trama. Isto é, as alterações

estão relacionadas a muitos outros fatores além do feedback do telespectador.

As alterações têm que fazer um sentido exato para o autor. Na verdade, são

alguns elementos que podem ser mudados: um personagem que aumenta ou

diminui, o número de capítulos a serem exibidos, etc. Quaisquer alterações que

se realize estão relacionadas a questões do tipo: se o ator está bem ou não no

papel, química entre os casais românticos da novela e outros elementos. O que

muda são algumas de suas características. "A sinopse original não muda.

Inventaram isso. Isso é um mito", diz o diretor da Central. (Entrevista, julho de

2004).

Alguns autores são mais suscetíveis a mudanças, outros não, diz Mário

Lucio: "O autor Manoel Carlos, por exemplo, não muda a novela dele. Não muda

mesmo. Se for preciso ele encurta a novela."

Em relação à novela As Filhas da Mãe (novela que apresentou problemas

de audiência), o diretor disse que não teve jeito. Foi pedido para que o autor

mudasse, mas ele não quis. A novela foi mal desde o início. Até que a empresa

teve que tomar uma decisão. (Entrevista, julho de 2004).

Questionado sobre a novela Torre de Babel, novela que se tornou

exemplo de mudança de rumo da história, Mário Lucio afirma que não estava na

Central na época em que a novela foi exibida, mas sabe que o público rejeitou

alguns elementos da novela: as personagens homossexuais, um assassinato

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que aconteceu logo no início (...). Enfim, o autor foi forçado a mudar mesmo.

(Entrevista, julho de 2004).

O diretor comenta que Chocolate com Pimenta foi um exemplo de novela

que estava indo tão bem, que depois de um dado momento nem havia muita

preocupação com os resultados das pesquisas.

Ele cita a novela Celebridade onde houve mudanças. O personagem que

fazia papel da mãe da Maria Clara (Malu Mader) era para ser outro tipo de

personagem. Era um personagem vilão que tinha preferência pela filha Maria

Clara, mas as discussões em grupo revelaram rejeição pelo personagem, e o

autor Gilberto Braga achou por bem transformá-lo. (Entrevista, julho de 2004).

No início da novela Celebridade, o romance entre a Laura e seu namorado

teve sinais de absoluta rejeição nas discussões em grupo (uma espécie de

relação sadomasoquista). O autor mudou o tipo de relação, conta o diretor.

Mário Lucio comenta sobre outras mudanças na mesma novela. Uma foi

com o personagem da atriz Claudia Abreu. Ela tomou conta do papel de tal

forma que o personagem cresceu muito mais do que estava previsto

inicialmente. Gilberto Braga começou a escrever muito para o personagem sem

se dar conta. Quase como um processo inconsciente. Assim também para o

namorado dela. A dupla criou coisas novas para seus papéis que acabaram

sendo incorporadas e aceitas. Até apelidos eles inventaram, tendo sido

incorporados no texto. O personagem cresceu tanto que o personagem principal,

acabou ficando em segundo plano. (Entrevista, julho de 2004).

O diretor da Central observa que a obra é aberta por interesse da própria

emissora em relação à criação e à produção. Também em relação ao feedback

do telespectador. Mas na verdade, é produzida neste formato porque os autores,

diretores e a produção vão podendo ajustar, inclusive atualizar a obra com

inserções de fatos novos, observando em tempo real o resultado da sua criação.

No caso de uma mini-série, que é uma obra fechada, os riscos são bem

maiores. A avaliação da produção deve ser muito mais cuidadosa, não pode

haver erro. Além disso, a produção é muito mais cara e seu retorno é menor por

causa do tempo de exibição. (Entrevista, julho de 2004).

Além das pesquisas que dão feedback sobre o público, o diretor comenta

sobre a Central de Atendimento ao Telespectador - CAT. O resultado do CAT

também é importante, diz ele, e esses chegam muito mais rápido do que os

resultados das pesquisas. (Entrevista, julho de 2004).

Outras fontes sobre o sentimento do público em relação às telenovelas

podem surgir por associações, organizações e instituições como a igreja. Mas

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segundo o diretor, essas opiniões não são tão importantes para sua Central. Ele

comenta também que a Central não se importa muito com o que as notícias dos

programas na imprensa, pois essas realmente chegam atrasadas. (Entrevista,

julho de 2004).

5.14.5. Edson Pimentel

Edson Pimentel, uns dos diretores da Central Globo de Produções, diz

que por melhor que seja a obra criada pelo o autor se ela não tiver com uma

tecnologia capaz de atender o telespectador em casa, ele não vai assisti-la. O

produto tem que ser bem criado, bem produzido e bem programado. A produtora

tem que produzir algo que o encante.

Depois da escolha do produto e das temáticas, a produção tem que se

preocupar com a qualidade de áudio e vídeo, com os recursos de produção,

qualidade do cenário, a qualidade do figurino, produção de arte, iluminação e

todo um padrão de qualidade. Cada unidade de produção tem que ser

catalisadora das tendências. O mesmo na criação. A empresa tem dois autores

com visões diferentes da sociedade, como Manoel Carlos e Gilberto Braga e

todos dois conseguem arrebatar 60, 70 pontos de audiência.

Segundo o diretor, o telespectador influencia tanto na criação quanto na

produção. Ele influencia desde do momento que a empresa toma conhecimento

dos dados de audiência. Pimentel diz: "Eu diria que a influência do consumidor é

total. Porém esta influência não é direta, tem que passar por um processo de

percepção da empresa". O segredo é entender de que forma e de que maneira

a empresa vai atendê-lo e descobrir como ela pode catalisar o desejo do

consumidor.

Segundo Pimentel, a obra é aberta para permitir caminhos alternativos

para o autor, para a produção e para a exibição. Ela pode sofrer alteração no

momento em que ela começa a não atender os padrões de qualidade e também

de audiência. Se a obra apresentar algum tipo de resultado não satisfatório, os

instrumentos de aferição darão os sintomas do que não está dando certo; estes

instrumentos não vão propriamente dar respostas. Os profissionais, tanto de

criação quanto de produção e programação deverão entender o que estará

acontecendo, em vista disto, deverão ir ajustando. O autor procurará entender o

que esses indicadores estão dizendo. Ele tem que escrever não propriamente o

que o público diz, mas sim o que ele percebe que o telespectador deseja em

termos mais inconscientes.

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5.14. 6. Ricardo Linhares

Ricardo Linhares diz que é fundamental ouvir o telespectador a partir do

momento em que a novela estréia. Observa que o escritor precisa saber ouvir,

não só o espectador, mas ouvir o ser humano. Ele lembra que não escreve

novela para si, mas sim para o público; deseja agradá-lo, e quer que ele se

emocione, se divirta.

Sobre alterações produzidas nas obras de teledramaturgias comenta

(Entrevista, setembro de 2004):

Toda novela necessita de certas correções de rumo ao longo de seu curso, em maior ou menor grau. Todas, sem exceção. Algumas mudanças são mais radicais, outras mais sutis. A partir do momento em que a novela estréia é que o

autor sente a pulsação daquela história, como ela está repercutindo junto ao público, que trama pegou, que trama não pegou, que personagem está

agradando mais ou menos, que núcleo não está saindo como planejado, em que cenários vale a pena investir e o que é melhor deixar de lado porque não vai

funcionar. A partir dessa análise que faço baseado na minha intuição, vou redirecionando a novela, tentando ao máximo me manter fiel à minha sinopse, mas também sem nenhum pudor em mudar tudo o que tiver que ser mudado

para que a história agrade mais ainda.

Ricardo afirma ser um autor favorável a mudanças aproveitando o

diferencial da telenovela ser uma obra aberta. Observa que se um personagem

está agradando o público além da expectativa, deve investir nessa trama, mudar

a história e dar mais destaque ao personagem. Acredita que o público

responderá positivamente. O autor diz que essa troca é estimulante e que esse é

o grande barato de se escrever uma novela. (Entrevista, setembro de 2004).

Para ele, há diversas maneiras de ouvir o público: "Eu gosto de saber da

opinião de todo mundo. Familiares, amigos, vizinhos, porteiros, desconhecidos

na rua, nos restaurantes." Observa que não segue fielmente os comentários que

ouve, e que é preciso saber ouvir e separar as opiniões, ficando com as mais

úteis para o encaminhamento do trabalho. E é preciso também ter a noção de

que não se pode agradar a todos ao mesmo tempo. (Entrevista, setembro de

2004).

Segundo o autor, é preciso que se acredite no rumo que está dando à

história. Ele não pode escrever nada que não concorde porque senão fica sem

verdade. Observa que o equilíbrio está em fazer com que o seu gosto e a

expectativa do público caminhem juntos.

Ricardo deu um exemplo da sua última novela Agora é que são Elas. O

autor disse que, na época da estréia da novela, houve algumas matérias nos

jornais criticando o casal formado por Vera Fischer (Antônia) e Miguel Falabella

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(Juca Tigre), alegando que não teria química para formar a dupla romântica. O

autor acompanhou a pesquisa de grupo de discussão encomendada pela

emissora (Entrevista, setembro de 2004):

No grupo de discussão o que eu ouvi foi o oposto: as donas de casa adoravam o casal e torciam para que os personagens superassem os problemas e vivessem

logo um grande amor. Algumas participantes chegaram a pedir textualmente que queriam ver muito beijo na boca entre os dois. A partir disso, eu acelerei a trama. Na sinopse, tinha previsto que o casal ficaria junto a partir do capítulo 80. Mas

resolvi juntar logo os protagonistas, por volta do capítulo 40, dando ao público o que ele queria ver. A repercussão foi ótima e a audiência da novela ficou

excelente.

Esse mesmo grupo de discussão mudou o destino de outro personagem:

Joaquim, interpretado por Paulo Gorgulho, marido de Antônia (Vera Fischer):

Na sinopse, eu tinha previsto a morte do personagem para que Antônia ficasse

livre para casar com Juca Tigre. Mas as espectadoras adoravam o personagem, um homem íntegro, bom pai, bom marido e gostavam do trabalho do Gorgulho. E

pediram que ele não morresse. Eu não o matei. Com isso, a novela ganhou em densidade. Em vez de ir pelo caminho mais fácil, fazendo Antônia ficar viúva, eu optei por discutir a separação do casal depois de vinte anos de união. Essa nova

trama agradou em cheio o público. Ou seja, ouvir as espectadoras foi fundamental para conduzir a novela. (Entrevista, setembro de 2004).

5.14.7. Gilberto Braga

Gilberto Braga diz que é sempre importante ouvir a opinião do

telespectador, pois é para ele que se escreve. Observa que nem sempre é

possível fazer-lhes as vontades e só se pode aceitar as sugestões quando se

concorda com elas. Lembra da novela O Dono do Mundo quando teve

necessidade de pesquisas logo na primeira semana. (Entrevista, setembro de

2004). Conta o autor:

A audiência ia mal. Pedi uma pesquisa. O resultado, bem inesperado, de que rejeitavam a heroína e gostavam do vilão machista, permitiu que subíssemos a audiência pouco a pouco. Tornando a novela bem menos interessante, é

verdade. Mas ninguém está ali para perder pontos para Carrossel, é a vida (Entrevista por email).

Em entrevista à revista Veja (2003), Gilberto Braga afirma que na novela

O Dono do Mundo o fato do personagem cirurgião plástico Felipe Barreto ser um

exemplo de ‘canalhice’ (...), monstruoso e também o protagonista da trama,

acabou ficando pesado demais, e o público não aceitou. A rejeição ao

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personagem foi tão grande que o obrigou a promover extensas alterações na

história. (Veja, novembro de 2003).

Em entrevista a revista Uma, o autor conta que na novela Vale Tudo, boa

parte do público queria que a personagem Raquel errasse, porque era certinha

demais. Porém, ele e o diretor acharam que não deveriam atender ao pedido

porque desequilibrariam a espinha dorsal da história. (Uma, outubro de 2003, p.

43).

Em entrevista à Revista Contigo (outubro de 2003), durante sua última

novela Celebridade, revela que acata muitos palpites na rua. Como sai muito

pouco quando escreve novela, recebe os palpite de empregadas, porteiros, irmã

e co-autores. Também de Dennis Carvalho que dirige suas novelas e dos atores

que mandam recado por ele. (Entrevista, setembro de 2004).

5.14.8. Autoras Edmara Barbosa e Edilene Barbosa

As autoras Edmara Barbosa e Edilene Barbosa observam que é sempre

importante ouvir a opinião do telespectador a fim de verificar se a novela está

produzindo o objetivo proposto pelo autor. Elas dizem que ouvir a opinião do

telespectador não significa modificar o rumo da história, embora algumas vezes

isso possa acontecer. Lembram do fato curioso que aconteceu com seu pai

Benedito Ruy Barbosa (Entrevista, setembro de 2004):

Na novela Pantanal, que meu pai escreveu na Manchete, o protagonista, José Leôncio (Cláudio Marzo) morria no final. Recebemos diversos pedidos para não matar o personagem, um, inclusive do próprio dono da Manchete, o falecido

senhor Adolfo Bloch. Meu pai optou em manter o final, e isso lhe rendeu, depois, muitos elogios, inclusive do próprio senhor Adolfo (entrevista por email).

Edmara Barbosa e Edilena Barbosa contam outro fato que ocorreu na

novela Cabocla, um remake: "Muitas pessoas que se lembravam da primeira

versão, começaram a me pedir que não matasse o filho do Coronel Boanerges

com a Emerenciana." As autoras disseram que também não puderam atender,

pois a situação era importante para o desfecho da novela (Entrevista, setembro

de 2004).

5.14.9. Dias Gomes

Dias Gomes apud Mattelart diz que o interessante da novela brasileira é

ser aberta, isto é, poder ser alterada durante sua realização. Assim diz ele:

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A originalidade dessa maneira de escrever consiste portanto no fato de que o autor produz seu texto enquanto este está no ar, e pode incorporar personagens.

A criatividade dos autores pode levá-los a modificar a linha inicial às reações do público, alterar, corrigir, etc. Nesta realidade temporal própria da telenovela, o

autor conta com a duração para desenvolver seus personagens. A criatividade dos autores pode le-los a modificar a linha inicial de certos papéis que, enquanto interagem, lhe revelam novas dimensões (Mattelart, 1998, p.68).

5.14.10. Silvio de Abreu

Silvio de Abreu explica em entrevista (site) ao jornalista Amorim que a

pesquisa é feita para saber se o público está entendendo o personagem e, se o

que o autor está querendo transmitir está chegando ao público. Ele lembra que

na novela Jogo da Vida, uma das pesquisas revelou que um personagem não

estava sendo compreendido pelo telespectador que não entendia se ele era

mocinho ou bandido. O autor diz que nesse caso, o erro foi seu porque não

tinha comunicado adequadamente qual a função daquele personagem dentro da

trama. Ele observa que a pesquisa ajuda nesse sentido.

O autor diz ter percebido que o público é diferente em cada horário. Esse

conceito o levou a promover mudanças em personagens na novela Rainha da

Sucata. Diferentes gêneros e horários de novela têm dinâmicas próprias.

Segundo o autor, a idéia de que a novela é feita à base de pesquisas e

que muda segundo o gosto do público, está equivocada.

Silvio de abreu afirma que não pode negar que dá importância aos

índices de audiência fornecidos pelo Ibope: "se eu dissesse que não tem

importância estaria mentindo. Numa emissora comercial a audiência é

fundamental." Ele diz que se aceitou esse esquema por contrato, é obrigado a

buscar o sucesso, isto é, a audiência. Explica que se a audiência não está boa,

alguma coisa na trama não está comunicando. (sampa3.prodam.sp.gov.br

10/01/2005).

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103

6. Análise

O objetivo da presente seção é apresentar parte do resultado desta

pesquisa e organizar algumas idéias para conclusão. O tópico inicial apresenta

uma síntese do que já foi descrito no Estudo de Caso, porém nesta seção, à luz

do referencial teórico. O segundo tópico discute a implementação, pelos autores,

dos resultados das informações sobre o telespectador na questão das

telenovelas e o terceiro analisa e organiza os dados do levantamento sobre as

alterações em telenovelas apresentados na seção anterior.

6.1. As Pesquisas da Globo e o Referencial Teórico

A Globo foi a primeira emissora de televisão a atribuir importância aos

índices de audiência, criando seus departamentos de pesquisa e análise,

sistematizando o tratamento de dados coletados por Instituto de pesquisa,

desenvolvendo um planejamento para sua grade de programação e apoiando

suas estratégias em uma análise dos diferentes segmentos.

Aaker (2001) observa que a pesquisa de marketing pode auxiliar na

melhorara das decisões empresariais, proporcionando informações relevantes,

precisas e em tempo hábil. Estratégias relevantes podem ser elaboradas tendo

por base as informações colhidas pela pesquisa de marketing.

Segundo Beville, os índices de audiência determinam o alcance de cada

emissora, a ordem de classificação do seu mercado, a rentabilidade e o seu

valor de mercado. Este permite que se conheça a composição e o tamanho da

audiência que um dado programa ou anúncio comercial alcança. É o principal

componente de decisão das redes de televisão no sentido da sobrevivência dos

programas, quando e onde eles deverão estar na grade de programação. Os

dados de audiência são cruciais para as atividades de gerenciamento de redes,

produtores de programas, anunciantes, agências, escritores e artistas.

Segue um breve histórico. Em 1970 e 80, a empresa cria uma estrutura

apropriada para conhecer o perfil do telespectador pensando na qualificação e

no comportamento da audiência. A Divisão de Análise e Pesquisa se consolida e

inicia-se então a busca a fim de conhecer a composição do público e sua

maneira de reagir diante dos programas de televisão. Passa-se a contar com o

uso de estatística e alguns fundamentos da sociologia e psicologia social para

apoio de análises.

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Beville (1988) observa que o estudo qualitativo procura avaliar os

padrões de consumo, estilo de vida e fatores psicográficos de uma forma geral.

Esses tipos de medidas são um pouco mais sofisticados na descrição

demográfica da audiência, descrevendo a audiência em termos considerados

relevantes para o alvo do anunciante.

Iniciam-se nesse período, pesquisas mais detalhadas com os programas

de teledramaturgias. As denominadas pesquisas de focus group ou pesquisas de

discussão em grupo são feitas em determinadas fases para tecer apreciações

sobre as novelas. No capítulo 18, 36 e 54, pergunta-se sobre a compreensão da

trama, o personagem, os casos amorosos, os aspectos morais e estéticos da

história, dramaticidade, rejeição ao personagem, aspectos de produção e

conclusão da história. Um estudo que é desenvolvido até hoje.

O Ibope - Instituto Brasileiro de Opinião Pública, empresa que faz a

aferição dos índices de audiência, marca as atividades de produção televisiva no

Brasil. Os índices passam a ser um indicador para o planejamento da grade de

programação, alterações, extinção ou sobrevivência de programas e também um

monitor da concorrência. Os diversos gêneros e formatos devem ser flexíveis o

suficiente para sofrerem alterações.

Fica estabelecido o trilho para as telenovelas, que é um intervalo

considerado razoável de oscilação dos índices de audiência; conceito utilizado

até os tempos atuais. Não é uma meta, nem um parâmetro fixo. É um indicador

que considera as características do horário e outros fatores. Se a novela se

afasta do trilho deve se descobrir a razão.

A pesquisa passa, a partir de então, a ser um guia para os autores,

diretores, produtores e outros setores da empresa como o setor comercial e o de

programação, que usam as pesquisas como fonte de consulta.

Com bases no resultados das pesquisas de discussão em grupo, são

preparados relatórios e definido o trilho para orientar os seus criadores. Uma

telenovela que não obtém, depois de um certo número de capítulos, um índice

satisfatório poderá ser concluída antes do tempo previsto. Por outro lado, aquela

cujo sucesso é revelado pelos seus índices, se mantém e pode ser prolongada

pela emissora.

As teledramaturgias são especiais na questão dos diversos tipos de

feedback do telespectador. O primeiro tipo de feedback vem dos Institutos de

Pesquisa e da Divisão de Análise e Pesquisa da Globo. Outras respostas do

público vêm de grupos de discussão, correspondências enviadas a emissora e

ao autor. Este possui também seu próprio sistema de análise do feedback.

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105

Segundo a diretora da Divisão de Pesquisa da Globo, o papel do setor é

levar para as áreas produtoras dos programas informações sobre o

telespectador, ajudando essas áreas no processo de avaliação do conteúdo ou

no processo de criação do produto.

A pesquisa de audiência é a base do trabalho do setor para avaliar o que

está no ar permitindo que se conheça o público em relação as variáveis básicas

sócio demográficas. As pesquisas qualitativa, complementares, são realizadas

como forma de controle, verificação ou manutenção dos programas.

Para Beville (1988), o tamanho da audiência somente não permite uma

avaliação suficientemente detalhada para que seja feita uma adequação dos

objetivos de uma dada programação para seu público exato.

Zeithaml (2003) observa que as empresas devem instituir um processo de

pesquisa da qualidade de serviços, não fazendo apenas pesquisas isoladas,

uma vez que as expectativas e percepções dos clientes são dinâmicas. Para

uma compreensão completa da aceitação do mercado dos serviços de uma

empresa, é preciso pesquisa de marketing constante. Sem estudos freqüentes,

os executivos não podem dizer se a empresa está melhorando e quais iniciativas

de qualificação de serviços estão funcionando.

A empresa faz pelo menos duas pesquisas para cada novela investigando:

características de cada personagem, de cada história, de cada núcleo e outros.

O papel da Divisão de Pesquisa é, junto com os Institutos de Pesquisas

que realizam as discussões em grupo, interpretar e ajudar o autor na

compreensão dos resultados. O autor deverá formular suas hipóteses: se a há

rejeição a personagens, quais são as razões dessas rejeições, e outros

problemas relacionados à aceitação do produto.

Segundo Aaker (2001), os métodos qualitativos são usados para o melhor

conhecimento dos aspectos que não podem ser observados e medidos

diretamente como pensamentos, sentimentos, intenções e comportamentos.

O autor ou roteirista deve entender que um determinado patamar de

audiência pode não ser compatível para a empresa, considerando os aspectos

pertinentes a sua estratégia de negócio, custos, preço dos horários, etc. O

esperado é que o autor se preocupe em ajustar o produto, encurtar, no caso de

baixa audiência, ou mesmo alongar no caso de uma audiência além da

esperada.

A empresa possui um setor denominado Central Globo de Qualidade, que

tem o objetivo de fazer a análise dos produtos, verificar e manter o controle dos

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níveis de audiência, ajustar o produto de acordo com critérios preestabelecidos e

decidir sobre sua permanência na programação.

As necessidades de serviços e expectativas dos clientes mudam. As

pesquisas, portanto, nunca podem oferecer um quadro preciso. É necessário

fazer uma checagem periódica para medir o progresso e identificar tendências e

mudanças que estejam ocorrendo (Walker, 1991, p.11).

6.2. Autores e alterações nas telenovelas

Para fazer o resumo que se segue, foram interpretadas aproximadamente

200 páginas de entrevistas com autores, diretores artísticos e administrativos,

profissionais de produção e outros profissionais da empresa. A análise das

entrevistas constitui-se na organização das principais questões, procurando

fazer uma síntese dos temas mais importantes discutidos.

a) Importância da opinião do público para os autores

Sheth (2001) refere-se ao termo cultura do cliente como um conceito

adotado pelas empresas no sentido de ter a satisfação do cliente como parte da

missão da empresa e o entendimento do comportamento do cliente como

matéria prima para todos os seus planos e decisões de marketing.

Ricardo Linhares diz que é fundamental ouvir o telespectador a partir do

momento em que a novela estréia. Toda novela necessita de certas correções

de rumo ao longo de seu curso, em maior ou menor grau. Algumas mudanças

são mais radicais, outras mais sutis. Segundo o autor, ele deve acreditar no

rumo que está dando à história, isto é, ele não pode escrever nada que não

concorde. Linhares observa que o equilíbrio está em fazer com que o seu gosto

e a expectativa do público caminhem juntos.

Gilberto Braga diz que é sempre importante ouvir a opinião do

telespectador, pois é para ele que se escreve. Ele observa que nem sempre é

possível fazer-lhe as vontades, pois só se aceita suas sugestões quando se

concorda com elas.

Segundo Lucia Abreu, a intensidade da interferência do público nas

teledramaturgias depende de autor para autor e do momento que essa

interferência acontece. Os autores poderão agir de forma diferente em cada

telenovela. A autora observa que o fato dos índices de audiência serem

disponibilizados minuto a minuto faz com que os autores os relacione às

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sequências de cenas de sua novela, isto é, o autor relaciona as oscilações dos

índices ao ligue, desligue e à troca de canal pelo telespectador. Se sempre que

aparecer uma cena, cai o índice, é porque a cena não está funcionando na

novela.

O autor Manoel Carlos comenta que o conhecimento dos índices de

audiência a cada minuto é, logo no início do lançamento da novela, um bom

recurso para um monitoramento da sua qualidade. Ele pode então fazer um

acompanhamento: se uma cena é muito longa, se está no tamanho certo, se

cansou o público, se é muito violenta, etc.

b) Início da produção

Alencar (2002) observa que a elaboração do roteiro de uma novela inicia-

se com uma sinopse, que é um resumo da história onde se apresentam já

estruturadas a trama principal e as histórias paralelas. A caracterização das

situações é ampla e aberta e tem por objetivo apresentar os personagens e

fornecer uma base da história. O autor terá a tarefa de desenvolver os capítulos

ao longo deste tempo. Mesmo que seu enredo sofra alterações, influenciado

pelo público, sugerido pela empresa ou pelo próprio autor, a sinopse serve como

protótipo inicial, onde a estrutura de toda a história já se encontra definida. A

aprovação da sinopse tem, então, uma importância organizacional.

Segundo Lucia Abreu, no início, o autor deve se preocupar mais com o seu

sentimento sobre a obra e nem tanto com o público. O autor deve estar atento

se os diálogos estão de acordo com o personagem, se o ator incorporou ou não

o personagem, etc. Existe também um tempo para o telespectador introjetar o

personagem. Quando o autor percebe que um personagem está dando certo ou

tem uma empatia com o público, este ganha mais espaço, e o autor poderá

escrever mais cenas para este personagem. E é neste sentido que o público

interfere na obra.

Jorge Fernando diz que o fato do autor observar os primeiros capítulos

antes do público faz com que ele tenha possibilidade de verificar aquilo que

imaginou. Só depois de um tempo os personagens tomam vida, observa o

diretor. A interpretação do ator transmitirá, em menor ou maior grau, aquilo que o

autor quer. Em alguns casos, o autor não precisa construir muito diálogo para

certo personagem. Esse fato, ele só vai saber depois que a cena estiver

produzida. Depois dos primeiros capítulos produzidos, o autor poderá fazer uma

avaliação e mudar a forma de escrever: Começa a adequar, o personagem ao

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ator; se o ator faz mais sucesso pela sua beleza, não precisa escrever tanto

diálogo para ele.

Foi citado na seção de Estudo de Caso que todo o processo de produção

envolve uma multiplicidade de funções. Os profissionais de produção, dos

diversos setores, têm como conceito básico que o telespectador percebe o

conjunto que forma o produto ao mesmo tempo que percebe a qualidade de

cada um dos elementos que compõem a produção de uma novela: atuação dos

atores, direção, técnica, cenografia, etc. Os profissionais acreditam que cada um

desses elementos cria interatividade com o telespectador. Observa-se que o

público assiste ao resultado de diversos fatores, e o roteirista só percebe o

resultado da sua criação depois que a novela é exibida.

Ricardo Linhares diz que no início, é preciso fazer uma análise para

redirecionar a novela, tentando ao máximo ser fiel à sinopse. Muda o que tiver

que ser mudado. Ele observa que somente a partir da estréia, é que o autor

sente a pulsação da história, como ela está repercutindo junto ao público, qual

trama e personagem agradaram mais ou menos, qual núcleo não está saindo

como planejado, em quais cenários vale a pena investir, e o que é melhor deixar

de lado.

c) Mudanças em telenovelas

Calza observa que o texto da uma telenovela tem a característica de ser

construído e realizado ao mesmo tempo. Mesmo partindo de sinopse aprovada,

o texto pode sofrer inúmeras modificações: ser alterado, suprimido e, muitas

vezes, ter seu caminho distanciado da idéia do enredo original. Às vezes, uma

história paralela torna-se mais importante do que a principal. Podem

desaparecer núcleos inteiros, personagens podem ser descaracterizados,

afastados, e outros podem se revelar um sucesso.

Mario Lucio conta que na novela Celebridade a personagem que fazia

papel da mãe da Maria Clara era um personagem vilão, tinha preferência pela

filha, mas as pesquisas revelaram rejeição ao personagem, e o autor Gilberto

Braga achou melhor transformá-lo. Segundo o diretor, no início da novela a

relação sadomasoquista entre o casal de vilões teve sinais de absoluta rejeição

nas pesquisas de discussão em grupo. O autor decidiu mudar o tipo de relação.

O diretor comenta que, na mesma novela, a atriz Claudia Abreu tomou

conta do papel de tal forma que seu personagem cresceu muito mais do que

estava previsto. O personagem da Malu Mader, personagem principal, acabou

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ficando em segundo plano. A dupla de vilões também criou elementos novos

para seus papéis.

Manoel Carlos observa que promoveu poucas mudanças em novelas, e

nos casos em que promoveu, estas foram apenas pontuais. Em Sol de Verão,

ele mudou o par romântico porque sentiu rejeição do público (opinião de pessoas

na rua). Em Baila Comigo, o autor mudou o destino do personagem interpretado

por Fernando Torres por causa do seu sucesso junto ao público; ele morreria

mas isso não ocorreu. O autor disse que, na época, recebeu cartas, pedidos, etc.

Ele refletiu, e decidiu conversar com Boni, diretor geral na época, sobre sua

decisão de mudar (teria que alterar a sinopse).

Silvio de Abreu lembra que na novela Jogo da Vida, uma das pesquisas,

revelou que um personagem não estava sendo compreendido pelo

telespectador, que não entendia se ele era mocinho ou bandido. Ele não tinha

comunicado adequadamente o personagem dentro da trama. O autor conta ter

percebido que o público é diferente em cada horário e isso o levou a promover

mudanças em personagens na novela Rainha da Sucata. Observa que

diferentes gêneros e horários de novela parecem ter dinâmicas próprias.

d) A interferência dos Índices de Audiência

Mário Lucio Vaz, diretor da Central Globo de Qualidade, comenta sobre o

conceito de trilho. Ele observa que se a novela estiver caminhando dentre de

certo intervalo de audiência, não haverá com que se preocupar. É comum os

índices de uma novela oscilarem. A concorrência, o trânsito, chuva e

acontecimentos da cidade alteram os índices de audiência.

Jorge conta que Chocolate com Pimenta estava indo muito bem, mas

numa dada semana, apresentou quedas de audiência. O autor havia separado o

casal romântico para criar expectativa para o último capítulo, mas o público

rejeitou. Autor e diretor acreditam ter se enganado na condução da novela

naquele momento. O autor decidiu juntar o casal antes do previsto.

Gilberto Braga diz que na novela O dono do mundo sentiu necessidade

de pesquisas logo na primeira semana por causa das quedas audiência. Conta

que a rejeição ao personagem vilão foi tão grande que o obrigou a promover

extensas alterações na história. Depois de algumas mudanças, a audiência

subiu pouco a pouco.

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Jorge Fernando diz que a novela As Filhas da Mãe teve problemas de

baixa audiência, foi um exemplo de novela que passou por um processo de

mudanças onde não se chegou a lugar nenhum. O público rejeitou o formato e a

novela terminou no capítulo 130, quando estava programada para terminar com

180 capítulos. O diretor Mario Lucio Vaz conta que a novela foi mal desde o

início, mas o autor não quis mudar. A empresa tomou a decisão de finalizar a

novela antes do tempo.

Manoel Carlos diz que existe um grande equívoco quando pensam que

os autores são pressionados pela emissora quando a novela não atinge a

audiência desejada. Ele observa que quem exerce a pressão é o próprio autor e

que existe um compromisso do autor com a audiência ou com o sucesso da

novela. Comenta que a emissora nunca telefonou para ele para pedir que

mudasse nada na novela.

Silvio de Abreu diz que não nega que dá importância aos índices de

audiência. Observa que se aceitou esse esquema por contrato, é obrigado a

buscar o sucesso, isto é, audiência. Explica que se a audiência não está boa,

alguma coisa na trama não está comunicando.

e) As Pesquisas de Discussão em Grupo

Segundo Malhotra, as discussões em grupo constituem o processo mais

importante de pesquisa qualitativa. Aaker observa que o propósito da pesquisa

qualitativa é conhecer melhor, aspectos que não podem ser observados e

medidos diretamente, como pensamentos, sentimentos e intenções.

Para Mac Daniel & Gates, os dados qualitativos podem enriquecer a

pesquisa quantitativa com informações sobre motivações dos consumidores.

Porém, observa Bauer (2003), não é correto assumir que a pesquisa qualitativa

tenha o monopólio da interpretação.

Uma das limitações mais importantes dos estudos qualitativos, dizem Mac

Daniel & Gates, é que eles não representam necessariamente a população

estudada pelo pesquisador. O resultado dependerá das pessoas que forem

selecionadas para a pesquisa e da habilidade do pesquisador.

Mário Lucio Vaz, diretor da Central Globo de Qualidade, observa que as

discussões em grupo, feitas com periodicidade, são muito importantes para a

empresa como avaliação de diversos elementos da novela. Segundo ele essas

pesquisas realmente sinalizam alguns problemas. A empresa poderá realizar de

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uma a três pesquisas dependendo do que demonstram os índices ao longo da

novela. O diretor explica também que ele mesmo prefere apresentar os

resultados para os autores e discutir no seu setor, para que estes resultados

possam ser melhor interpretados.

Calza (1996) observa que a emissora cuida do produto e tenta reparar, de

todas as formas, possibilidades de erro desde o início do projeto que se põe em

execução. A discussão em grupo é um termômetro que dá à emissora e aos

autores índices de satisfação ou de desagrado que uma novela pode provocar

junto ao público.

Mario Lucio acredita que quando a novela vai bem, não há muito com que

se preocupar. Comenta que Chocolate com Pimenta foi um exemplo de novela

que depois de um determinado momento (audiência estabilizada) não havia

muita preocupação com os resultados de pesquisas.

Ricardo Linhares disse que a discussão em grupo tira algumas dúvidas. O

autor acompanhou a pesquisa de grupo de discussão encomendada pela

emissora para sua novela Agora é que são elas. O resultado das pesquisas

indicou o oposto que diziam as matérias de jornal sobre o sentimento do público.

Acelerou a trama a partir dos resultados das pesquisas e juntou os protagonistas

bem antes do que previa a sinopse. O autor afirma em entrevista que a

repercussão foi ótima e a audiência ficou excelente.

Ricardo também mudou o destino do personagem Joaquim, da mesma

novela, por causa dos resultados das pesquisas. Os telespectadores gostavam

do personagem e pediram que ele não morresse. O autor decidiu então não

eliminar o personagem. Acredita que a nova trama agradou o público e que a

novela ganhou densidade. Observou que ouvir as espectadoras foi fundamental

para conduzir a novela.

Manoel Carlos diz que os resultados das reuniões de grupo demoram

muito para chegar em suas mãos. Quando são apresentados problemas com

algum personagem, ele apenas escuta e reflete. Se a audiência caísse muito, ele

se preocuparia em saber o que estaria acontecendo. Concorda que é para isso

que existem as reuniões de grupo. Se tivesse uma crise numa novela, afirma

que pediria imediatamente a emissora para fazer pesquisas. O autor acredita

que pode ter uma aferição muito instantânea; o fato de caminhar nas ruas,

enquanto escreve os capítulos, o faz perceber o que sua novela agrada e não

agrada. Ele não concorda que deva se preocupar com as variações do índice de

um dia para o outro, a não ser no caso de queda extremamente acentuada.

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Observa que algumas vezes há boatos sobre a existência de pesquisas quando

tratam-se apenas de enquetes que nem são promovidas pela emissora.

Lucia Abreu observa que as mudanças podem ou não estar relacionadas

a resultados de pesquisas. O autor, como conhecedor da trama, sabe quando é

que cada coisa deve acontecer, como a morte de um personagem e outros

acontecimentos. Tem uma história para contar e seus personagens têm o seu

destino. Se autor começar a mudar o destino dos personagens, não conseguirá

fazer o desfecho da história. Deve haver uma lógica, senão o autor se perde. Ele

não pode seguir cada modificação que o telespectador quer, senão ele não

escreve a história toda. Segundo a autora, o público não conhece a lógica

intrínseca da história, além disso, muda de opinião no decorrer da novela.

Silvio de Abreu explica que a pesquisa é feita para saber se o público

está entendendo o personagem e, se o que o autor está querendo transmitir,

está chegando ao público; a pesquisa é um recurso que ajuda nesse sentido.

Segundo o autor a idéia de que a novela é feita à base de pesquisas e que muda

segundo o gosto do público, está equivocada.

f) Pedidos do Público não atendidos

Manoel Carlos conta que, em Mulheres Apaixonadas, não pôde mudar o

destino de Fred, pois tinha um destino pré-definido para o personagem. Ele teve

que morrer contra os apelos do público, pois o autor tinha uma mensagem para

transmitir ao telespectador. Ele observou que deu sobrevida por muitos capítulos

à personagem Fernanda de Mulheres Apaixonadas por um problema de

dramaturgia (se ela morresse, sua filha ficava sem densidade dramática) e não

por influência do público.

Segundo Lucia Abreu, conta que a novela Explode Coração não sofreu

nenhum tipo de modificação, embora o público tenha pedido muito por uma

inversão do par romântico. Mas a autora não atendeu aos pedidos do público.

Edmara Barbosa e Edilena Barbosa lembraram da novela Pantanal de

Benedito Ruy Barbosa onde o protagonista morre no final. Os autores receberam

diversos pedidos para não matar o personagem, inclusive do próprio Adolfo

Bloch (diretor da emissora). Mas o autor optou em manter o final. Contam

também que na novela Cabocla, o público, que se lembrava da primeira versão,

começou a pedir que não matasse o filho do Coronel, mas não puderam atender,

pois a situação era importante para o desfecho da novela.

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g) Opinião do Público e intuição dos autores

Há três bases para as decisões de marketing: experiência, intuição e

pesquisa. Nenhuma estará completa sem a outra. (Engel; Blackwell; Miniard;

1995, p.17).

Jorge diz que o termômetro é a sua própria intuição. Ele lembra de quando

esteve em São Paulo, e Chocolate com Pimenta apresentava quedas de

audiência. O diretor conversou com algumas pessoas, e num dia, dez pessoas

reclamaram. Depois que realizaram as mudanças que acharam necessárias, os

índices voltaram a subir. Ele diz que não foi resultado de discussão em grupo, foi

termômetro deles, autor e diretor. Observa que se o índice de audiência cair de

um dia para o outro e mantiver a queda, será um sinal de rejeição do público.

Esse foi um exemplo de novela onde não houve necessidade de mais de dois

grupos de discussão, pelo sucesso, e que e se prolongou; estendeu 44

capítulos.

Manoel Carlos acha que o que vale é a opinião da sua mulher, dos seus

filhos, das empregadas que trabalham em sua casa, do porteiro do edifício, das

pessoas da livraria a que ele vai todos os dias, etc. Pode achar significativo

quando 5 ou 6 pessoas falam a mesma coisa. Se as opiniões começam a

coincidir: sua mulher, a empregada, o porteiro, a moça da livraria, ele acredita

que pode ser um indicador. Ele pode não se guiar pela indicação, mas acredita

que isso é estatística.

Para Lucia, quando se fala em público se quer dizer: o público que se

manifesta por cartas, pela imprensa, telefonemas para o CAT, pesquisas

qualitativas ou índices de audiência.

Ricardo Linhares acredita que há diversas maneiras de ouvir o público.

Gosta também de saber a opinião de familiares, amigos, vizinhos, porteiros,

desconhecidos na rua, nos restaurantes. Observa que é preciso saber ouvir e

separar as opiniões, ficando com as mais úteis para o encaminhamento do

trabalho.

Gilberto Braga revela que acata muitos palpites na rua. Como sai muito

pouco quando escreve novela, recebe os palpite de empregadas, porteiros, irmã

e co-autores. Ele recebe também opinião do diretor e dos atores que mandam

recados por este.

As autoras Edmara Barbosa e Edilene Barbosa observam que é sempre

importante ouvir a opinião do telespectador a fim de verificar se a novela está

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produzindo o objetivo proposto pelo autor. Todavia, isso não significa modificar o

rumo da história, embora algumas vezes isso possa acontecer.

Lucia conta que no caso da novela Torre de Babel, o boato de que o

público teve uma interferência determinante não procede. A autora diz que

houve interferência da Igreja. Ela acredita que instituições como a Igreja

interfiram mais do que o próprio público. No caso de problemas deste tipo, a

emissora pode pedir para mudar a linha da obra. Se o autor, ao retratar uma

determinada categoria, cometer um erro de ordem ética, poderá causar

problemas.

h) Uma obra aberta

Como citado no referencial teórico, Pallottini (1998) observa que o roteiro é

um tipo de construção que obedece a uma estrutura lógica. E o envolvimento do

telespectador está intimamente relacionado com as técnicas de construção do

produto. Diversos elementos devem ser observados para que se possa obter

uma expectativa cada vez maior do telespectador: o andamento, as histórias

paralelas, o alongamento e redundância, a alternância das crises, a criação dos

personagens. A telenovela se baseia em diferentes grupos de personagens,

lugares de ação - núcleos, que se relacionam internamente. Os núcleos, o

conjunto de personagens e histórias, são utilizados paralelamente. A telenovela

precisa e se vale da multiplicidade de enredos. Dentre tantas tramas e sub-

tramas, é indispensável saber dosar a evolução de cada história para não

esgotar o enredo.

Pallottini ainda explica, em seu livro de dramaturgia, que o autor tem a

possibilidade de escolher entre vários fios narrativos, e desenvolver os que

tenham maior aceitação junto ao público. Pode acontecer de uma sub-trama ser

introduzida durante o desenrolar da criação da telenovela. Caso haja uma queda

de audiência, o autor tem a possibilidade de reelaborar a história, lançar um

novo personagem e colocar no ar em pleno andamento normal da história

principal. Inova-se, assim, sobre a sinopse original, que é aberta o bastante para

receber esse novo material, pensado e escrito depois.

Ricardo Linhares diz ser um autor favorável a mudanças. Se um

personagem estiver agradando o público além da expectativa, ele investe nessa

trama, muda a história e possibilita mais destaque ao personagem. Ele acredita

que a troca com o público é estimulante, e essa é a grande motivação de se

escrever uma novela.

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Lucia Abreu observa que embora na sinopse já esteja apresentada a

trama principal, alguns elementos podem ser criados no decorrer da novela. Mas

o autor não poderá esquecer que tem suas metas; de tantos em tantos capítulos

ele deve criar situações ou cenas que vão ter ligações com outras. Deve

estruturar uma seqüência de situações que acontecerão durante a novela toda,

até chegar ao desfecho. Se não tiver tudo bem organizado, não conseguirá

escrever as diversas cenas intermediárias. Cada etapa da novela levanta a

trama de um personagem, ou núcleo, alternando as situações e buscando o

momento certo para alcançar o clímax. A autora observa que, para o autor, todos

os acontecimentos têm uma ligação.

Jorge diz que a novela tem que começar como se fosse uma obra

fechada. A forma e o tempo é que são abertos. Por algum motivo, o autor pode

antecipar um fato ou estender o tempo em relação a algo que esteja dando muito

certo. A entrada de um personagem que estava prevista para certo capítulo fica

para depois, porque a história não precisou daquele novo elemento. É possível

que a obra necessite de mais de um personagem. Segundo ele, a obra não é

aberta por causa do feedback do telespectador que tem uma parcela, mas não é

soberano.

Lucia concorda que a obra é aberta não exatamente por causa do

público, mas porque essa forma de construção do produto é conveniente para a

empresa em termos do processo como um todo. O público interfere, mas não a

ponto da obra ser muito modificada. Modificar um personagem não representa

muito diante do total de personagens. Nenhuma novela é tão modificada a ponto

de ficar distante da sua história original.

Dias Gomes diz que o interessante da novela brasileira é ser aberta, isto é,

poder ser alterada durante sua realização. O autor com sua criatividade pode

modificar ou corrigir a linha inicial da obra, tendo conhecimento da reação do

público. Ele denomina essa dinâmica de realidade temporal própria da

telenovela. O autor conta com a duração para desenvolver seus personagens. A

interação dos personagens revela novas dimensões e isso faz com que os

autores possam modificar a linha inicial de certos papéis.

O diretor da Central Globo de Qualidade, que decide sobre os ajustes nos

programas, explica que as mudanças nas teledramaturgias não são aleatórias. É

preciso que se obedeça à coerência da história como um todo, pois o autor tem

um destino para seus personagens e sua trama. As alterações devem fazer um

sentido exato para o autor. Alguns elementos podem ser mudados: um

personagem que aumenta ou diminui, o número de capítulos a serem exibidos, e

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outros. Qualquer alteração que se faça, dependerá de vários fatores. Se o ator

estiver bem ou não no papel, química entre os casais românticos da novela e

outros elementos. O diretor observa que a sinopse original não muda; que essa

idéia é uma invenção ou um mito. Não existe propriamente grande mudanças

nas obras de teledramaturgias. As sinopses sofrem pouquíssimas alterações. As

sinopses originais não são alteradas em 95% dos casos. O que existe são

alguns ajustes, diz Mario Lucio.

Para o diretor da Central, a obra é aberta por interesse da própria

emissora em relação à criação e à produção. Há também interesse em relação

ao feedback do telespectador. Porém, é produzida neste formato porque os

autores, diretores e a produção vão podendo ajustar, inclusive atualizar a obra,

com inserções de fatos novos, observando em tempo real o resultado da sua

criação.

6.3. Análise das alterações em telenovelas (levantamento 1966-2003)

Com o intuito de organizar os dados provenientes do levantamento -

Dicionário da TV Globo: programas de dramaturgia e entretenimento (2003),

apresentado na seção anterior foram construídas tabelas e agrupamentos,

segundo critérios que auxiliam na análise desse estudo.

Os comentários: "reação do público, fracasso de público, audiência

aquém do esperado, baixa aceitação de público, queda de audiência, etc...

descritos na tabela 1, não constam no texto do dicionário pesquisado,

relacionados à pesquisas de audiência, pesquisas de focus group ou enquetes.

As novelas listadas, nas tabelas seguintes, nem sempre vêm acompanhadas de

razões para a implementação de alterações. Ainda que não se tenha

conhecimento dessas informações, é de utilidade para esse estudo o registro

das alterações já implementadas e sua relação com o fator de baixa audiência

ou insatisfação do público.

Seguem as tabelas citadas:

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TABELA 1 – Baixa audiência ou insatisfação do público

Novelas

Ocorrências Comentários

Anastácia a mulher sem

destino

Eliminação 100

personagens

"...Janete Clair foi chamada

para retomar o roteiro".

A grande mentira Substituição de atores

"...o público reagiu..."

Passos dos ventos Mudança do par românico

"...reação negativa do público..."

A Gata de Vision Mudança do par romântico

"...não foi bem recebida pelo

público..."

Rosa Rebelde Concorrência com a novela

Beto Rockfeller

"...fracasso de público..."

Assim na Terra como no

Céu

__________ "...não agradou o público..."

O Bofe

Modificações na trama

"...audiência aquém da

esperada..."

Duas Vidas Modificações na trama

"... baixa aceitação do

público..."

Pai Herói Tramas complexas,

Eliminação de personagem (morte)

"...queda de audiência..."

Os Gigantes Temas polêmicos

"...não foi bem aceito pelo público..."

As Três Marias Transformação do formato e Eliminação de personagens

"...não havia despertado a atenção do público..."

Brilhante Reformulação da trama "...não agradou o público..."

Sol de Verão Morte de ator

Problemas c/ personagem

"...baixos índices de

audiência...corte de censura..."

Roda de Fogo

Sucesso de personagem

Importância para o núcleo

"...conquistou a simpatia do

público..."

O Dono do Mundo Trama modificada Maior agilidade e ação

Mudança nos personagens

"...não fez sucesso entre os telespectadores..."

O Mapa da Mina

Afastamento da diretora

Concorrência

"...baixos índices de

audiência..."

Por Amor Reação do público ao personagem principal

"...não agradou aos telespectadores..."

Corpo Dourado

Mudanças na trama "...não alcançou os índices de audiência esperados..."

Suave Veneno Alterações na trama Eliminação de personagem

Mudança nos personagens

"...não alcançou os índices de audiência esperados..."

As Filhas da Mãe

Diversas mudanças "...não atingiu os índices de

audiência esperados..."

Esperança Alterações na trama

Introduzidos personagens

"...não atingiu os índices de

audiência esperados..."

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118

TABELA 2 - Mudanças em busca de audiência

Novelas

Ocorrências Observações

Irmãos Coragem

Personagem secundário ganhou espaço ________

O Primeiro Amor

Pesquisas para descobrir os pontos altos

da novela

_______

O Bem-Amado

Crescimento do personagem _______

Dancing Days Alteração da trama Mudança no perfil dos personagens

Mudança no ambiente da história

_______

O Amor é Nosso Muitas tramas paralelas confundindo o

público Mudanças na trama

________

Vale Tudo

Incompreensão da trama Suspense – 5 finais diferentes

________

Perigosas Peruas Mudança de rumo no personagem

________

A Próxima Vítima Alterações no desfecho Criação de 3 finais diferentes

________

Coração de Estudante Modificação de personagens Introdução de humor

Agilidade

________

a) Baixa audiência e Mudanças em busca de audiência (Tabela 1 e 2)

As novelas da tabela 1 registram, no dicionário pesquisado, indicações do

tipo: reação do público, fracasso de público, audiência aquém do esperado,

baixa aceitação de público, queda de audiência, não agradou o público, não

atingiu os índices esperados, não fez sucesso entre os telespectadores, assim

por diante. Estão descritos para algumas dessas novelas as alterações

implementadas. São elas: modificações da trama, eliminação de personagem,

transformação do formato, reformulação de cenas, expansão de personagem e

núcleo, mudança no ritmo, mudança no perfil do personagem, convocação de

ator para atrair público feminino, mudança no rumo de personagem e introdução

de novos personagens.

Embora não haja menção a problemas de audiência, são observadas

também nas novelas da tabela 2, mudanças em certos elementos: Os tipos

registrados são: aumento de personagem, Alterações na trama, mudança no

perfil do personagem, mudanças no ambiente da história, criação de suspense

com vários finais, mudanças no personagem para a conclusão da história,

mudança no formato para humor e aumento de ritmo (agilidade).

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b) Protestos, Imprevistos e Censura

Observa-se no levantamento sobre alterações em telenovelas,

apresentado na seção anterior, casos de instituições, organizações ou grupos

que se opuseram contra a abordagem de assuntos específicos de algumas

novelas, realizando protestos. Foram organizações como: moradores de bairro,

alunos de colégio, grupos políticos, conselhos regionais, comissões, movimentos

anti-racial, igreja e outros. Algumas novelas sofreram mudanças em função

desses protestos e é possível que outras tenham provocado discussões

causando alterações. São elas: Assim na Terra como no Céu, O Grito, Pecado

Capital, O Salvador da Pátria, Meu Bem Meu mal, A Viagem, Explode Coração,

Vira-Lata, Por Amor, Torre de Babel, Uga Uga, Laços de Família, Porto dos

Milagres.

As novelas seguintes tiveram imprevistos durante sua produção: Véu de

Noiva, Carinhoso, A Cabocla, O Sexo dos Anjos, Pátria Minha e De Corpo e

Alma. Houve imprevistos do tipo: Pedido de licença de ator, gravidez de atriz,

doença de ator, afastamento e falecimento de atores alterando o rumo da

história.

As novelas Bandeira 2, Cavalo de Aço, O Bem-Amado, Fogo Sobre

Terra, Escalada, Escrava Isaura, Duas Vidas, Brilhante, O Jogo da Vida, Terras

do Sem Fim, O Homem Proibido, Sétimo Sentido, Elas por elas, Sol de Verão,

Guerra dos Sexos, Champagne, Partido Alto, Um Sonho a Mais, De Quina pra

Lua, Roda de Fogo, História de Amor, Uga Uga e As Filhas da Mãe sofreram

modificações por determinação do Ministério Público. Embora os critérios sobre

censura tenham alterado significativamente ao longo dos anos, os exemplos

citados mostram as diferentes possibilidades de ajustes que podem ser

produzidas nas obras de teledramaturgias. São elas: Eliminação de personagem,

cortes de termos, mudanças no enredo, cortes de cenas, criação de novos

personagens, corte em diálogos, mudanças no perfil de personagens, mudanças

no rumo da história, alteração da sinopse.

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120

7. Conclusão

A história das telenovelas se confunde com o próprio crescimento da

Rede Globo de Televisão. Os programas de teledramaturgias passam, pouco a

pouco, a serem administrados como um produto industrial e cuidado em todos os

seus aspectos comerciais: segmentação do público, temáticas, duração, gêneros

e horários. Com uma organização apropriada e uma evolução crescente no seu

planejamento, o gênero passa a ser o programa principal dentro da grade de

programação da empresa.

As pesquisas são decisivas nesse processo de modernização e

industrialização da telenovela. A empresa passa a se preocupar com a

quantificação dos dados sobre o telespectador como também com os elementos

qualitativos da recepção. As pesquisas e suas análises tornam-se cada vez mais

detalhadas e de uso sistemático possibilitando assim um maior conhecimento

sobre a composição do público telespectador e seus sentimentos em relação ao

conteúdo dos programas. A prática tem sido de fundamental importância no

planejamento e na estratégia de gerenciamento dos produtos de teledramaturgia

da empresa.

Considerando as limitações a que está sujeito este estudo, segue a

descrição, de forma mais completa, do processo de coleta, análise das

informações sobre o telespectador na empresa e a implementação dos

resultados dessas análises no que refere às alterações do produto telenovela.

a) De que forma são utilizadas as informações sobre o público de

telespectador nas alteraçãos de telenovelas?

A utilização das informações sobre o público telespectador no processo

de gerenciamento das telenovelas da Globo acontece basicamente através de

dois mecanismos básicos: as pesquisas de audiência e as pesquisas qualitativas

- discussão em grupo. As enquetes ou opiniões feitas de forma ligeira são

também muitas vezes, promovidas pelos autores. Ainda que não tenham

consistência em termos técnicos de pesquisa, os autores consideram essas

opiniões como representativas. A Central de Atendimento ao Telespectador

possui também uma importância nessa coleta de informações sobre o público

telespectador.

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Os índices de audiência - dados secundários fornecidos pelo Instituto

Brasileiro de Opinião Pública e Estatística - Ibope, formam à base de todo esse

processo. Os dados de audiência coletados pelo referido instituto, em tempo

real e de forma contínua, possibilitam que a emissora possa ter conhecimento do

alcance de seus programas.

O Ibope Mídia tem por objetivo fornecer dados sobre a segmentação da

população, hábitos de consumo e audiência de mídia. O PNT, sistema utilizado

pela empresa, para aferição eletrônica da audiência minuto a minuto, baseia-se

na instalação de people meters em uma amostra fixa determinada

estatisticamente segundo parâmetros sócio demográficos. O objetivo principal do

PNT é oferecer ao mercado uma descrição do consumo de TV no mercado

brasileiro traduzida em informações de estado de sintonia, audiência domiciliar e

individual, penetração, perfil, alcance e freqüência de exposição ao meio.

O people meter pode avaliar, além do volume total da audiência, a

qualificação do público de cada programa e identificar a relação dos programas

com um determinado perfil de público. Além de oferecer aos usuários a

possibilidade de obter as informações minuto a minuto, oferece informações por

faixas horárias e programas, apresentando estimativas em percentuais ou

números absolutos.

O perfil da audiência e muitos outros índices são processados pelos

próprios usuários, a partir dos bancos de dados que são enviados pela empresa

e dos softwares específicos instalados para os clientes. Os programas permitem

que diversos tipos de estudos sejam praticados pelas empresas. Possibilitam

analisar vários aspectos do comportamento da audiência, fazer cruzamento de

dados e interpretar de forma mais completa e detalhada os padrões de

audiência.

É possível fazer análise por emissora ou faixa horária, se quiser

comparar os programas. Pode-se identificar um conjunto de telespectadores com

características semelhantes e realizar análises separadas de audiência a partir

de agrupamentos dos programas em um determinado gênero. É possível

também a comparação de audiência dentro da programação de horários e dias

definidos, entre outros.

A TV Globo, através de seu departamento de pesquisa, realiza de forma

constante e periódica, análises desses dados sobre o público telespectador de

todos os seus programas de teledramaturgias.

As análises realizadas visam obter basicamente conhecimento sobre a

quantificação, qualificação da audiência e sua variação. Os dados de audiência

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consideram as variáveis demográficas básicas: sexo, idade e classe social.

Realizando assim, estudos de séries históricas em intervalos periódicos, para

cada um dos seus gêneros de novela, a empresa pode refinar o conhecimento

sobre o seu público telespectador de novelas. Acompanhando elevações e

quedas de audiência, ela pode formular hipóteses sobre aceitação de seus

produtos, sobre os fatores que influenciam suas oscilações e discutir sobre

questões de ajustes passíveis de serem realizados.

A Central Globo de Qualidade - CGQ é o setor competente para fazer a

avaliação dos produtos em relação ao seu conteúdo e seu nível de audiência.

Deverá decidir sobre seu ajuste ou sobre sua permanência na programação.

É comum que os índices de audiência oscilem. A satisfação do público

com os programas de dramaturgia é apenas um dos fatores que provocam as

oscilações desses índices. Dependendo do tipo de oscilação os canais

competentes da empresa e os autores formulam hipóteses sobre o fator que

pode estar interferindo na audiência.

Enquanto os autores escrevem suas novelas, acompanham os dados de

audiência liberados minuto a minuto pelo Instituto de Pesquisa. No início, esse

acompanhamento é considerado por eles e pela empresa de muita importância.

É comum que os autores relacionem quedas e elevações da audiência a cenas e

capítulos de suas novelas. Essa é uma das formas utilizadas pelos autores para

formularem hipóteses sobre o que pode estar agradando o telespectador. Podem

alterar aspectos da novela usando esse tipo de referência.

Se uma novela cai por três dias consecutivos, por exemplo, é possível

que o autor associe a algum tipo de insatisfação do público, embora essa

relação de causa e efeito não seja segura. O inverso também pode ocorrer:

associar a elevação dos índices à satisfação com alguns elementos da novela

como: temáticas, personagens, núcleos ou o capítulo como um todo.

É normal que ocorram oscilações com os índices de audiência. Existem

diversas razões para essas oscilações. A concorrência, fatos de relevância sócio

cultural, trânsito, chuva são ocorrências que fazem com que haja oscilações

nesses dados. Fatos como Onze de Setembro, Copa de Mundo, Horário de

Verão alteram os índices de audiência.

Uma forma de descobrir a razão para a não-satisfação do telespectador

com uma dada novela são as pesquisas de discussão em grupo. Essas têm

como objetivo investigar questões sobre sentimentos do público com o programa

e alguns de seus elementos. Nessas reuniões, são estimuladas discussões

como: compreensão da trama, personagens, casos amorosos, elementos

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estéticos da história, dramaticidade, rejeição ao personagem, aspecto de

produção e conclusão da história.

A empresa encomenda aos Institutos especializados, para cada

telenovela, de uma a três pesquisas de focus group em intervalos periódicos.

Estas devem acontecer próximo aos capítulos 18, 36, 54 de cada novela em

exibição; dependendo de quanto tempo o autor leva para apresentar a história e

os elementos importantes para discussão. Considera-se que até o capítulo 18 o

autor já tenha apresentado a história e os personagens, e o público tenha

adquirido um sentimento sobre a obra.

Duas pesquisas, por exemplo, podem ser suficientes para uma dada

novela. O número de pesquisas encomendado depende dos resultados da

audiência no decorrer da exibição da novela, ou se seu patamar de audiência é

satisfatório, isto é, qual a posição do produto em relação ao trilho - parâmetro da

empresa para o seu controle de qualidade. O trilho funciona como um guia. A

definição deste intervalo considera diversos aspectos como, horário, tipo de

programa, etc. Para defini-lo é necessário que se conheça o comportamento da

audiência em relação ao gênero ao longo dos anos.

Quando a novela vai bem - dentro do trilho é normal que os autores não

se preocupem tanto com os índices e com as pesquisas de discussão em grupo.

Quando ocorrem quedas consecutivas com os índices, a encomenda por

pesquisas e os resultados de discussão de grupo têm uma relevância bem mais

significativa para o autor e para a empresa.

Algumas novelas podem ter seu conteúdo bastante alterado se os seus

índices tiverem um patamar aquém das expectativas. Nesses casos, diversos

elementos poderão ser mudados. Os elementos que deverão ser inseridos

nessas alterações poderão ter origem na própria criação do autor ou através de

resultados das pesquisas de discussão em grupo. Embora as pesquisas de

discussão em grupo possam trazer indicações relevantes para o autor, conforme

visto no referencial teórico, essas pesquisas não são determinísticas. Não existe

portanto garantia de sucesso nas mudanças implementadas pelo autor com

esses resultados. Esta questão será apresentada mais adiante.

A empresa e ou autores acham que existe um número de capítulo ideal

para que o público sinta empatia com uma dada novela. Existe um tempo,

considerado razoável pela empresa, para estabilização do índice ou do intervalo

de audiência de um determinado produto. Segundo dado do presente estudo, se

uma novela chega bem até o capítulo 50 ela decola (termo usado na empresa).

Se isso não acontece, até o capítulo citado, reverter a audiência pode se tornar

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uma tarefa difícil. De qualquer forma, há que se esperar um tempo para uma

avaliação mais definitiva do produto.

Além dessas formas de representações do público, há ainda, a Central de

Atendimento ao Telespectador - CAT. A função do setor é atender o

telespectador, registrar sua opinião e responder-lhe. Embora a Central não tenha

o papel de realizar pesquisas, nem fazer nenhum tipo de investigação similar,

envia para CGQ e outros departamentos, relatórios com conteúdo organizado de

todas as ligações de telespectadores. O volume de comunicados, 50.000

ligações telefônicas/mensais (aproximadamente), além de um volume

significativo de emails, faz com que o setor tenha destaque na empresa. É citado

por autores, profissionais de produção e outros, como uma referência sobre o

público telespectador.

Dentre tantos pedidos, sugestões, reclamações em relações a todos os

produtos, as teledramaturgias parecem provocar no telespectador que se

comunica um interesse especial. Quando há um número de ligações

consideradas expressivas, insistindo ou desaprovando um determinado assunto,

o setor faz um envio especial para a CGQ denominado pela coordenadora de

alerta. A indicação funciona como um aviso de que pode estar ocorrendo algo

que deva ser observado pela empresa; tem a vantagem de ser um indicador

rápido.

Dentre tantas sugestões apresentadas, feitas pelo telespectador,

encontram-se os chamados erros factuais. Os erros factuais são erros cometidos

no produto (roteiro ou produção) como coerência da ambientação em relação a

cenário, figurino e a produção de uma forma geral. Pode ocorrer também

inadequação na abordagem de temas relacionados a associações ou entidades.

Os erros factuais são verificados e corrigidos de forma imediata pelos

profissionais da Central Globo de Produções.

Embora o setor obtenha um volume considerável de registros de

observações dos telespectadores sobre todo o tipo de questão relativa à

telenovela (trama, personagens, etc), não há evidências que as opiniões dos

telespectadores sejam, em geral, consideradas nas alterações de telenovelas,

exceto os erros factuais e as abordagens mencionadas de forma inadequada.

Nesse contexto de como ocorre o processo da busca, tratamento e

implementação das informações sobre o telespectador, se insere também o

questionamento complementar descrito a seguir.

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b) Em que medida as informações sobre o telespectador podem alterar a

teledramaturgia?

Este questionamento leva a investigar outros fatores que contribuem na

construção e alteração do produto. Diante desses, pode-se situar a importância

das informações sobre o telespectador.

Baseado em conceitos já referenciado no presente estudo, a telenovela

não é uma pura e simples criação de histórias. Além da missão de impacto

mercadológico, ela é construída a partir de uma multiplicidade de técnicas e

criação em duas extensas etapas de construção: roteiro e produção.

A primeira etapa da novela é a criação da sinopse que é o resumo da

história onde se apresentam já estruturadas a trama principal e as histórias

paralelas. A discussão sobre as alterações em telenovelas começa com a

definição do gênero - obra aberta - construído e realizado ao mesmo tempo. O

fato das situações serem caracterizadas, nas sinopses, de forma ampla e aberta

permite que o autor possa criar em seus capítulos (exibidos durante meses),

inúmeros fatos que irão sustentar a história. Esses acontecimentos que

permeiam ou recheiam a história é que, em geral, são passíveis de mudanças.

Conforme já referenciado no presente estudo, a construção de um roteiro

obedece a uma estrutura lógica. O envolvimento do telespectador está

intimamente relacionado com as técnicas de construção do produto. Portanto, as

alterações que nele se insiram deverão estar submetida a essa estrutura de

construção.

Depois de aprovada a sinopse a novela vai para a produção onde ela

entra numa segunda fase de construção. Inicia-se assim a organização dos

elementos que compõem a infra-estrutura material, artística e execução dos

projetos considerados fundamentais para produção. Formam-se as equipes de

apoio operacional, elenco e construção de cenários, figurino, ambientação e

outros. Inicia-se o processo de industrialização do produto. A sinopse do autor

vai se materializar em imagem - sua produção. É preciso observar, nessa etapa,

a otimização na utilização dos recursos, produtividade nas diversas atividades,

ritmo e uma lógica operacional dos processos de produção.

As alterações em telenovelas estão submetidas por um lado, às técnicas

de construção do roteiro e por outro, às etapas, ritmos, logísticas de suas

produções.

Os primeiros capítulos produzidos (aproximadamente 18) irão dar ao

autor e diretor os primeiros resultados visíveis da construção do produto;

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resultados que dependerão das escolhas iniciais como elenco, ambientação,

direção e outros. Só será possível uma avaliação mais precisa do produto depois

que o autor observar o resultado dos primeiros capítulos produzidos. Feita a

avaliação inicial, é muito comum que ocorram alterações de toda ordem na

reconstrução no produto. Os autores e os diretores implementarão os primeiros

ajustes que consideram necessários para adequar roteiro e produção. Adequar

uma história (criação e visão do autor) a uma produção (visão do diretor, ator,

equipe e recursos de produção).

O autor deverá observar a qualidade dos elementos que considera

importante: os núcleos, a trama principal, as tramas paralelas, os diálogos e sua

adequação aos personagens, a empatia desses, os cenários que valem a pena

investir e outros. A partir dessa avaliação, o autor deverá criar situações que irão

sustentar a sinopse original.

Segundo levantamentos de dados sobre as alterações já ocorridas em

telenovelas e entrevistas feitas aos autores para o presente estudo, os

elementos mais comuns apresentados sujeitos a alterações são relativos à

importância de núcleos e suas histórias, importância dos personagens e

definição dos seus perfis, antecipação e extensão de situações ou fatos,

introdução de novos personagens e novas situações na trama.

Como mencionado em parágrafos anteriores, se a novela apresenta

problemas de audiência, as mudanças poderão ser mais extremas, com

introdução de novos elementos, por iniciativa do próprio autor (sem interferência

de agentes externos) ou sugeridos por pesquisas de discussão de grupo ou

enquetes. Nesses casos poderão ocorrer: modificação no destino dos

personagens com suas possíveis eliminações, mudança no par romântico e

alterações mais significativas na trama principal ou nas histórias paralelas.

Um fato curioso é que todos os autores entrevistados dizem se

sensibilizar com enquetes ou opiniões coletadas de forma avulsa de conhecidos,

vizinhos, amigos, empregados, familiares e outros. Isso parece ser para eles tão

importantes quanto as pesquisas. Não parece fazer diferença para os autores se

as opiniões avulsas ou enquetes não tenham propriamente confiabilidade dentro

dos conceitos da pesquisa de mercado. A opinião desse público avulso funciona

para os autores como uma referência, confirmando ou desconfirmando idéias,

como um apoio que acontece de forma rápida e direta. O autor utiliza essas

opiniões para tirar dúvidas, possuindo porém, idéias previamente formuladas

sobre o que deve ou não estar indo bem e quais as possibilidades em termos de

alteração.

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127

As alterações que ocorrem com maior freqüência não necessariamente

influem no desfecho da novela.

Qualquer alteração que o autor possa fazer deverá obedecer, por um

lado, a um sentido artístico ou estético e por outro, a uma ordem de fabricação.

Só deverá haver alterações nos elementos que o autor e a produção acreditem

que tenham razão de existir e que farão sentido no corpo total da história.

Inserções não previsíveis no produto, de qualquer tipo, poderão alterar

substancialmente o ritmo de produção.

O autor espera que os novos elementos, que possam ser introduzidos,

obedeçam à coerência da história e ao destino dos personagens criados por ele

na sinopse. Não espera colocar em risco toda a construção psicológica da obra.

Espera também surpreender o público com a narrativa, portanto, não pode

simplesmente realizar o que o público pede. Ele se preocupa em saber, através

das pesquisas, o que o público deseja em termos mais profundos, suas

identificações, etc. Isso não significa fazer o que ele diz.

Embora o formato permita alterações, as técnicas de construção do

roteiro e a produção já fornecem em si limites para essas alterações, quer sejam

alterações sugeridas pelos telespectadores, através das pesquisas ou enquetes

isolados, quer sejam por qualquer outro agente influenciador.

Os autores parecem ter uma autonomia bastante expressiva na empresa

em relação ao processo criativo ou rumo da obra, independente da diversidade

de fatores que contribuem na dinâmica de mudanças. Ele decide o destino da

sua obra enquanto ela está sendo exibida.

É freqüente a inserção de temáticas sociais, sugeridas pelo setor de

Projetos Sociais ou, incluídas pelo próprio autor, nas temáticas da novela. Assim

como fatos do cotidiano são inseridos constantemente na obra.

Imprevistos com atores ou diretores, doenças, falecimento ou

afastamento, podem fornecer desenho um pouco diferente à história.

Dependendo do tipo de imprevisto, o produto poderá ser alterado em maior ou

menor escala.

Há especulações sobre interferências de instituições, organizações ou

associações relacionadas a alterações em telenovelas. Embora existam essas

especulações e indicações de algumas novelas que sofreram esse tipo de

interferências (dados do levantamento), não há evidências que essas tenham

uma significativa força.

Todos os elementos acima mencionados fazem parte do conjunto de

fatores que contribuem na construção e reconstrução das novelas. As

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128

informações sobre o público telespectador é tão somente mais um desses

fatores. Para entender sua medida e sua importância deve-se considerar todos

os fatores inseridos nesse contexto.

Não há evidências que as informações sobre o telespectador ou sua

opinião tenham, sobre um produto específico de teledramaturgia, uma influência

que escape a uma avaliação bastante cuidadosa ou a um conjunto de interesses

organizacionais, comerciais e políticos da empresa. Os autores observam que

informações sobre o telespectador constituem apenas parte no processo de

ajustes do produto. As histórias finais nunca ficam tão distantes das histórias

originais, na maior parte dos casos. Segundo os dados colhidos para o presente

estudo, 95% das sinopses de novelas não são modificadas.

Alguns autores e profissionais da empresa observam que a obra é aberta

não por causa do público, mas sim porque essa forma de construção é

conveniente para a empresa (autor e produção) em termos de criação e

produção do produto, embora o feedback do telespectador seja um agente

importante nesse processo.

Contudo, a história das telenovelas, a evolução das pesquisas e suas

análises, sugerem que as informações sobre o telespectador, no seu conjunto ao

longo de anos, vêm fornecendo à empresa um conhecimento cada vez mais

refinado sobre o telespectador. Esse conhecimento se traduz hoje na evolução

do produto de teledramaturgia, com novas temáticas de interesse e uma

contínua adequação dos gêneros, horários e público telespectador. Os anos de

pesquisas têm deixado para a empresa um legado sobre seu público de novelas.

A organização considera esse conhecimento um patrimônio da empresa. Esta

visão traz uma dimensão mais ampla sobre a importância das informações sobre

o telespectador e extrapola a questão restrita das informações direcionadas a

um produto específico de teledramaturgia.

Observando desta forma, as informações sobre o público telespectador e

os resultados de suas análises, vêm fornecendo à empresa conhecimentos

fundamentais na organização e no planejamento do seu programa de maior

destaque: a teledramaturgia.

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8. Sugestão

A televisão parece ser um vasto campo para pesquisa na área de

administração e marketing. O Projeto Globo Universidade da TV Globo da qual o

presente estudo obteve a cooperação é um canal disponível e de interesse para

estudantes e pesquisadores para o desenvolvimento de artigos, teses e

monografias sobre televisão. Essa é uma idéia que surge de uma forma mais

imediata a partir deste trabalho.

A Central de Atendimento ao Telespectador, na empresa, é um bom

exemplo de setor que possui características próprias que valem a pena ser

investigadas, no campo de marketing, pelo volume expressivo de informações

gerenciadas sobre o consumidor ou público telespectador.

Em relação ao tema presente também poderão ser realizadas outras

pesquisas. Como esta teve caráter exploratório, há espaço significativo para

pesquisas futuras, utilizando outros métodos de investigação.

A descrição a que se propôs este estudo priorizou a última fase do

processo de gerenciamento das informações sobre o telespectador: a

implementação dos resultados. Desta forma poderão ser realizadas outras

pesquisas mais detalhadas sobre as duas primeiras fases do processo: coleta e

análise; podendo considerar essas duas etapas de forma simultânea ou

independente.

Outros temas em televisão, telenovela e pesquisa de audiência, poderão ser

desenvolvidos em monografias ou dissertações, sob o ponto de vista de

marketing:

a) Pesquisas de audiência e planejamento em televisão;

b) Pesquisas de audiência e segmentação de mercado em televisão;

c) Pesquisas de audiência e o perfil do público telespectador;

d) Pesquisas qualitativas em televisão;

e) Telenovela e posicionamento em marketing;

f) Razões da audiência da telenovela - um ponto de vista de marketing;

g) Construção do produto telenovela - um ponto de vista de marketing;

h) A indústria de um bem simbólico - uma pesquisa etnográfica.

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ANEXOS