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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAIBA-FESP CURSO DE EPECIALIZAÇÃO EM MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM CÉSAR XAVIER BEZERRA DE MENEZES A CONCILIAÇÃO E A INEFICIÊNCIA DE ACORDOS ENVOLVENDO BANCOS E SEGURADORAS NO CEJUSC DO FÓRUM CÍVEL DE JOÃO PESSOA/PB JOÃO PESSOA 2017

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAIBA-FESP

CURSO DE EPECIALIZAÇÃO EM MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM

CÉSAR XAVIER BEZERRA DE MENEZES

A CONCILIAÇÃO E A INEFICIÊNCIA DE ACORDOS ENVOLVENDO BANCOS E

SEGURADORAS NO CEJUSC DO FÓRUM CÍVEL DE JOÃO PESSOA/PB

JOÃO PESSOA

2017

CÉSAR XAVIER BEZERRA DE MENEZES

A CONCILIAÇÃO E A INEFICIÊNCIA DE ACORDOS ENVOLVENDO BANCOS E

SEGURADORAS NO CEJUSC DO FÓRUM CÍVEL DE JOÃO PESSOA/PB

Trabalho de Conclusão de Curso em forma de

Monografia apresentado à Coordenação do Curso de

Especialização em MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E

ARBITRAGEM, pela Faculdade de Ensino Superior da

Paraíba - FESP, como requisito parcial para a obtenção

do título de Especialista.

Área: Mediação, conciliação e arbitragem.

Orientadora: Gabriella Henriques da Nóbrega.

JOÃO PESSOA

2017

A reprodução total ou parcial deste documento só será permitida exclusivamente para fins acadêmicos e científicos desde que seja referenciado, autor, titulo,

instituição, e ano de sua publicação.

M541c Menezes, César Xavier Bezerra de.

A conciliação e a ineficiência de acordos envolvendo entidades financeiras e seguradoras no CEJUSC do fórum cível de João Pessoa/PB. / César Xavier Bezerra de Menezes. – Cabedelo, 2018.

42f Orientador: Profª Esp. Gabriella Henriques da Nóbrega. Monografia (Especialização em Conciliação, Mediação e

Arbitragem) Faculdade de Ensino Superior da Paraiba. 1. Conciliação. 2. CEJUSC. 3. Bancos.. I. Título.

BC/Fesp CDU: 347.981

CÉSAR XAVIER BEZERRA DE MENEZES

A CONCILIAÇÃO E A INEFICIÊNCIA DE ACORDOS ENVOLVENDO

ENTIDADES FINANCEIRAS E SEGURADORAS NO CEJUSC DO FÓRUM CÍVEL

DE JOÃO PESSOA/PB

Trabalho de Conclusão de Curso em forma de

Monografia apresentado à Banca examinadora da

Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP, como exigência para obtenção de grau de Especialista em

MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO E ARBITRAGEM.

APROVADO EM ___/___/ 2018

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Profa. Gabriella Henriques da Nóbrega

ORIENTADORA - FESP

_________________________________________

Profa. Maria de Fátima Nóbrega de Sousa

MEMBRO - FESP

_________________________________________

Prof. Pablo Juan Nóbrega de Sousa da Silveira

MEMBRO - FESP

Ao meu pai e minha mãe pela dedicação,

companheirismo e amizade, DEDICO.

AGRADECIMENTOS

À Pablo Juan Nóbrega, coordenador do curso de Especialização, por seu

empenho.

À professora Gabriella Henriques da Nóbrega pela dedicação e atenção

na orientação desse trabalho.

Aos meus pais João César e Ana, ao meu irmão Lucas, a minha avó

materna Helena e a minha avó paterna Letícia por todo apoio, dedicação e

paciência.

Aos meus amigos Ciro Suassuna, Diego Montenegro, Fernando Aquino,

Mateus Chaves e Matheus Montenegro pelo apoio de sempre.

Aos professores do Curso de Especialização da FESP, que contribuíram

ao longo desses trinta meses, por meio das disciplinas e debates, para o

desenvolvimento desta pesquisa.

Aos funcionários da FESP, pela presteza e atendimento quando nos foi

necessário.

À querida professora Fátima que sempre buscou me auxiliar e divertir a

nossa turma.

Aos colegas de classe pelos momentos de amizade e apoio.

“Um único minuto de reconciliação vale mais do que toda uma vida de amizade.” (Gabriel García Marquez)

RESUMO

A conciliação busca aproximar os interesses das partes opostas, orientando-as na formação de um acordo que promoverá a resolução da ação jurídica, sendo uma ferramenta de grande importância para a redução da gigantesca quantidade de processos no meio jurídico. Dessa forma, deve- se tentar criar um ambiente propício ao entendimento mútuo com a aproximação dos interesses. A rapidez e eficiência são registradas como características fundamentais que orientam as diretrizes e o funcionamento deste tipo de audiência judicial, além destas características podem ser citadas outras como, por exemplo: informalidade, economia processual e oralidade. Este trabalho teve como principal objetivo analisar as características da Conciliação e a ineficiência de acordos conciliatórios que envolvem entidades financeiras e seguradoras, através do estudo de obras literárias e pesquisa no CEJUSC (Centro Judicial de Solução de Conflitos e Cidadania) do Fórum Cível de João Pessoa. Essa análise foi feita através de dois caminhos, foram eles: a investigação das características fundamentais da Conciliação (celeridade, oralidade, economia processual e simplicidade), e depois evoluiu para a identificação e a especificação da análise sobre a ineficiência no desenvolvimento de acordos conciliatórios que envolvem entidades financeiras e seguradoras, através do estudo de obras literárias e pesquisa no CEJUSC (Centro Judicial de Solução de Conflitos e Cidadania) do Fórum Cível de João Pessoa.

Palavras-Chave: Conciliação. CEJUSC. Bancos. Seguradoras. Ineficiência. Acordos conciliatórios.

ABSTRACT

The conciliation seeks to approximate the interests of the opposing parties, guiding them in the formation of an agreement that will promote the resolution of legal action, being a tool of great importance for the reduction of the huge amount of legal proceedings. In this way, one must try to create an environment conducive to mutual understanding with the approximation of interests. The speed and efficiency are registered as fundamental characteristics that guide the guidelines and the functioning of this type of judicial hearing, besides these characteristics can be cited others as, for example: informality, procedural economy and orality. This work has as main objective to analyze the characteristics of the Conciliation and the inefficiency of conciliatory agreements involving financial and insurance entities, through the study of literary works and research in the Judicial Center for Conflict Resolution and Citizenship of the Civil Forum of João Pessoa. This analysis will be done in two ways: the investigation of the fundamental characteristics of Conciliation (celerity, orality, procedural economy and simplicity) and then it will evolve to the identification and specification of the analysis on the inefficiency in the development of conciliatory agreements involving financial and insurance entities, through the study of literary works and research in the Judicial Center for Conflict Resolution and Citizenship (CEJUSC) of the Civil Forum of João Pessoa.

Keywords: Conciliation. CEJUSC. Word. Banks. Insurance entities. Inefficiency. Conciliatory agreements

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – CEJUSC, Fórum Cível- João Pessoa PB ................................................ 22

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Audiências envolvendo Bancos, Outubro- Dezembro 2016 ............... 16 Tabela 2 – Audiências envolvendo Bancos, Fevereiro- Agosto 2017................... 17 Tabela 3 – Audiências envolvendo Seguradoras, Outubro- Dezembro 2016....... 17 Tabela 4 – Audiências envolvendo Seguradoras, Fevereiro- Agosto 2017.......... 38 Tabela 4 – Audiências envolvendo Bancos e Seguradoras, Outubro 2016- Agosto 2017..........38

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. – Artigo CEJUSC – Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania CNJ – Conselho Nacional de Justiça TJPB – Tribunal de Justiça da Paraíba

LISTA DE SÍMBOLOS

% Porcentagem

Termo de Autorização de Depósito e Publicação Eletrônica no Repositório

Institucional FESP Faculdades

Eu, CÉSAR XAVIER BEZERRA DE MENEZES, BRASILEIRO, SOLTEIRO, residente e domiciliado na Rua MARIETA STEIMBACH SILVA, 320, na cidade de JOÃO PESSOA, PB, portador do documento de Identidade: 3289805 – SSP/PB, CPF: 072.939.854-44, na qualidade de titular dos direitos morais e patrimoniais de autora da obra sob o título: “A CONCILIAÇÃO E A INEFICIÊNCIA DE ACORDOS

ENVOLVENDO ENTIDADES FINANCEIRAS E SEGURADORAS NO CEJUSC DO

FÓRUM CÍVEL DE JOÃO PESSOA/PB”, sob a forma de MONOGRAFIA, apresentada na FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP, em DD/MM/AAAA, com base no disposto na Lei Federal n. 9.160, de 19 de Fevereiro de 1998: AUTORIZO, a Biblioteca da FESP Faculdades a disponibilizar gratuitamente sem

ressarcimento dos direitos autorais, a obra acima citada em meio eletrônico, no

Repositório Institucional que fica situado no portal da FESP situado na Rede

Mundial de Computadores, em formato PDF, para fins de leitura, impressão e/ou

download, a título de divulgação da produção científica gerada pela aqui na

instituição.

Cabedelo, PB, 02 de abril de 2018

_____________________________________ César Xavier Bezerra de Menezes

Matrícula: 2016225

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 13 2 CONCILIAÇÃO ......................................................................................... 16 2.1 BREVE HISTÓRICO DA CONCILIAÇÃO NO BRASIL ............................. 17 2.2 PRINCÍPIOS DA CONCILIAÇÃO .............................................................. 19 2.2.1 Princípio da Confidencialidade .............................................................. 19 2.2.2 Princípio da Independência ................................................................... 20 2.2.3 Princípio da Imparcialidade ................................................................... 21 2.2.4 Princípio da Autonomia da Vontade...................................................... 21 2.2.5 Princípio da Oralidade ............................................................................ 22 2.2.6 Princípio da Informalidade ..................................................................... 22 2.2.7 Princípio da Decisão Informada ............................................................ 22 3 CEJUSC (CENTRO JUDICIAL DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS E

CIDADANIA) ............................................................................................. 23 4 BANCOS .................................................................................................. 26 5 SEGURADORAS ...................................................................................... 28 6 A INEFICIÊNCIA DE ACORDOS ENVOLVENDO BANCOS E

SEGURADORAS NO CEJUSC DO FÓRUM CÍVEL DE JOÃO PESSOA/PB ............................................................................................. 31

6.1 AUDIÊNCIAS ENVOLVENDO BANCOS .................................................. 31 6.2 AUDIÊNCIAS ENVOLVENDO SEGURADORAS ...................................... 33 7 METODOLOGIA ....................................................................................... 36 8 CONCLUSÃO ........................................................................................... 38

REFERÊNCIAS ........................................................................................ 41

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1 INTRODUÇÃO

O Novo Código de Processo Civil trouxe diversas inovações ao sistema

processual brasileiro e uma das que mais chamam a atenção é a audiência de

conciliação presente no artigo 334 do Novo CPC.

Na conciliação, busca- se aproximar os interesses das partes opostas,

orientando-as na formação de um acordo que promoverá a resolução da ação

jurídica, sendo uma ferramenta de grande importância para a redução da gigantesca

quantidade de processos no meio jurídico. Dessa forma, deve- se tentar criar

um ambiente propício ao entendimento mútuo com a aproximação dos interesses.

A rapidez e eficiência são registradas como características fundamentais

que orientam as diretrizes e o funcionamento deste tipo de audiência judicial, além

destas características podem ser citadas outras como, por exemplo: informalidade,

economia processual e oralidade.

Todavia, existe uma ineficiência de acordos perante entidades financeiras

e seguradoras no CEJUSC (Centro Judicial de Solução de Conflitos e Cidadania) do

Fórum Cível de João Pessoa. Sendo assim, esse trabalho de conclusão de curso

será de fundamental importância prática e científica ao analisar essa problemática

que envolve as audiências de conciliação no CEJUSC (Centro Judicial de Solução

de Conflitos e Cidadania) do Fórum Cível de João Pessoa e entidades financeiras e

seguradoras.

O objetivo geral é analisar a conciliação e a ineficiência de acordos

perante entidades financeiras e seguradoras no CEJUSC (Centro Judicial de

Solução de Conflitos e Cidadania) do Fórum Cível de João Pessoa.

Além disso, existem ainda os objetivos específicos que foram: conceituar

as características fundamentais dessa ferramenta de resolução de conflitos que é a

conciliação; fazer um breve histórico da conciliação; definir entidades bancárias e

seguradoras e demonstrar uma ineficiência do envolvimento dessas entidades

financeiras e seguradoras em acordos firmados perante o CEJUSC (Centro Judicial

de Solução de Conflitos e Cidadania) do Fórum Cível de João Pessoa.

A partir destes objetivos específicos desenvolveram- se outros como, por

exemplo, discorrer sobre a criação do CEJUSC (Centro Judicial de Solução de

14

Conflitos e Cidadania) do Fórum Cível de João Pessoa, e seu objetivo perante a

Justiça da Paraíba.

A literatura abordada foi baseada em livros, artigos e monografias de

alunos da FESP, baseados na temática da conciliação, além de análise documental

dos dados de audiências de conciliação no CEJUSC (Centro Judicial de Solução de

Conflitos e Cidadania) do Fórum Cível de João Pessoa.

A conciliação é uma das bases desse trabalho monográfico, dessa

maneira, os autores Luciano Souto Dias e Kamila Cardoso Farias (CARDOSO

FARIA; SOUTO DIAS, 2015, p. 20) fundamentam esse processo de resolução

amigável com o seguinte conceito:

O processo autocompositivo da conciliação almeja a pacificação entre os

litigantes diante de um conflito, em procedimento dialético no qual os

próprios contendores atuam em conjunto, em busca de soluções e decisões

conjuntas, com o auxílio de um terceiro, o conciliador, que incentiva e

conduz o diálogo, sem imposições, apenas sugerindo alternativas, cabendo

somente aos envolvidos a decisão final.

Nesse conceito observa- se elementos chaves da conciliação como, por

exemplo: a busca pela solução em conjunto, o auxílio de um terceiro e a decisão

final sendo firmada apenas pelos envolvidos no litigio.

Diante do exposto anterior sobre o conceito de conciliação, o autor

Nykson Mendes Lacerda Cavalcante (CAVALCANTE, 2013) apresenta o objetivo

central do legislador brasileiro quando implementou a conciliação na legislação

brasileira:

Percebe-se que ao implementar a política conciliatória, o legislador tem

buscado inculcar no âmbito do judiciário e na mente da sociedade brasileira,

a cultura do diálogo e da paz, a fim de viabilizar a solução de conflitos por

via mais simplória, célere, acessível, barata e acima de tudo consensual,

objetivando atingir com maestria a tão sonhada cultura da pacificação

social, prevista no artigo 3º, inciso I, da CF/88, evitando com isso, a

interposição desnecessária de ações e reduzindo as que se encontram

emperradas.

15

Essa fundamentação demonstra o foco do processo conciliatório em reduzir

a quantidade de processos que sufocam o Poder Judiciário brasileiro, de uma forma

informal e simples.

Outro fato que é de importância ímpar para se destacar aqui na

fundamentação teórica e que foi bem demonstrada pela autora Trícia Navarro Xavier

Cabral (CABRAL, 2017, p. 355) é a diferenciação entre conciliação e mediação:

Com efeito, a conciliação tem aspectos diferentes da mediação, e esta

última exige muito mais cuidado do legislador e de seus atores. Isso porque

a mediação possui finalidades e formalidades próprias, que visam

restabelecer vínculos afetivos ou de convivência. Na conciliação o conflito é

tratado de modo mais superficial e busca- se, primordialmente, a auto-

composição, com o encerramento da disputa, Já na mediação é tratado o

pano de fundo do conflito e, além de objetivar a resolução de controvérsia,

tenta restaurar as relações sociais entre os envolvidos e, por isso, carece da

intervenção de um terceiro mais capacitado para solucionar a desavença.

Dessa forma, a autora deixa claro que a mediação possui um aspecto de

laços de amizade ou até de família entre as partes que formam o conflito, enquanto

que na conciliação não existe laços pessoais unindo os litigantes, como deve ser

observado nos casos apresentados nessa monografia, onde as partes são empresas

e pessoas físicas, sendo assim, não possuem nenhuma ligação afetiva.

A partir da conciliação e de seus elementos, serão detalhados outros tópicos

nas páginas seguintes que serão responsáveis por construir a parte principal da

monografia que é a ineficiência de acordos envolvendo bancos e seguradoras no

CEJUSC do Fórum Cível de João Pessoa, Paraíba.

16

2 CONCILIAÇÃO

A conciliação de acordo com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) é um

meio opcional para resolução de conflitos cujas partes confiam a um terceiro

(conciliador), a função ou tarefa de aproximá-las e orientá-las na construção de um

acordo1.

Na condição de métodos de solução consensual de conflitos, a conciliação

representa vigoroso instrumento para a pacificação e solução de conflitos, buscando

estimular, valorizar, favorecer, fortalecer e sistematizar, em âmbito nacional, os

mecanismos visando à autocomposição e a pacificação dos litigantes (CARDOSO

FARIA; SOUTO DIAS, 2015, p. 20).

Isso acontece devido ao fato de que o Poder Judiciário encontra-se

abarrotado de demandas, já que a excessiva duração dos processos, o alto custo, a

lentidão na movimentação dos autos, e a burocracia procedimental fazem com que a

solução dos litígios exceda ao limite de tempo tolerável pelas partes. Então, a busca

por uma melhor forma de resolução dos litígios encaminhados ao judiciário conduziu

a uma maior valorização e tentativa de aplicação de técnicas alternativas para a

solução de conflitos, como a conciliação, a mediação e a arbitragem. A adoção de

mecanismos alternativos ao provimento jurisdicional incentiva a autocomposição.

Partindo dessa premissa anteriormente apresentada, a autocomposição é um

relevante instrumento de desenvolvimento da cidadania, pois os interessados se

tornam protagonistas durante a elaboração da solução que servirá de base para as

suas relações. Sendo assim, o estímulo dessa prática reforça a participação das

pessoas no exercício do poder de tratamento de seus conflitos, revelando forte

caráter democrático (DIDIER, 2016, p.271). Proporcionando, dessa forma, um

sistema com múltiplas faces e caminhos, gerando uma livre escolha para os

conflitantes, de acordo com a natureza do conflito e dos indivíduos neles envolvidos

(CALMON, 2015, p.144).

1 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução n. 125, de 29 de novembro de 2010. Política Judiciária de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário, Brasília, DF. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/atos-administrativos/atos-da-presidencia/323-resolucoes/>.

17

Para ampliar a importância do mecanismo da autocomposição o autor

Conrado Paulino da Rosa (2012, p. 260) descreve o objetivo dessa ferramenta:

Dessa forma, a autonomização dos indivíduos visa tratar o conflito sem que o

mesmo seja decidido com base em “modelos ou mediante ideias clonadas”, logo,

uma decisão autônoma mostra-se democrática.

Observa- se então, que a conciliação é uma alternativa de autocomposição

com um caráter mais informal, buscando um acordo entre as partes formadoras do

processo judicial através da figura do conciliador. Sendo um caminho diferente para

resolver conflitos jurídicos que estão sempre presentes na sociedade.

Seguindo essa ideia de alternativas para resoluções de conflitos na Justiça, o

autor Cândido Rangel Dinamarco (Dinamarco, 2005, p. 138) tece as seguintes

palavras:

Melhor seria se não fosse necessária tutela alguma às pessoas se todos

cumprissem suas obrigações e ninguém causasse danos nem se

aventurasse em pretensões contrárias ao direito. Como esse ideal é

utópico, faz-se necessário pacificar as pessoas de alguma forma eficiente,

eliminando os conflitos que as envolvem e fazendo justiça. O processo

estatal é um caminho possível, mas outros existem que, se bem ativados,

podem ser de muita utilidade.

Para compreender melhor os elementos norteadores da conciliação, o tópico

seguinte irá retratar os princípios básicos desta ferramenta utilizada para a resolução

de litígios.

2.1 BREVE HISTÓRICO DA CONCILIAÇÃO NO BRASIL

No Brasil a conciliação remonta a época imperial (século XVI e XVII),

precisamente nas Ordenações Manuelinas (1514) e Filipinas (1603) que trazia em

seu livro o preceito de que, já naquela época, os juízes das demandas deveriam

aconselhar as partes a buscarem um acordo antes de realmente iniciar a audiência

(CAVALCANTE, 2013).

A conciliação foi marcada ao longo da história por ser um instrumento

presente no ordenamento jurídico brasileiro, todavia, em outros momentos era

18

simplesmente esquecida pelos legisladores. Foi no período do século XIX, através

da primeira Constituição Imperial Brasileira datada em 1924, que a conciliação

ganhou um aspecto constitucional, trazendo em um de seus artigos a sugestão dos

litigantes buscarem um acordo (CAVALCANTE, 2013).

No ano de 1943, entrou em vigor a Consolidação das Leis do Trabalho

(Decreto-Lei n. 5.452, de 1/5/1943), colocando em alguns de seus artigos e

parágrafos, a necessidade de se buscar sempre nos dissídios trabalhistas, a

conciliação entre os litigantes, colocando a decisão do Juízo em segundo plano, ou

seja, somente utilizando uma decisão direta do Juiz nos casos em que não ocorre o

acordo. Mesmo após a fase de instrução processual, o Juiz tem a obrigação de

renovar a proposta de conciliação antes de proferir a sua decisão (CAVALCANTE,

2013).

Tendo em vista o acúmulo de processos no Poder Judiciário, a conciliação

começou a ganhar espaço na área cível através do Novo Código de Processo Civil

de 1973, que vigora até os dias atuais (CAVALCANTE, 2013).

Na área constitucional, a Constituição Brasileira de 1988 priorizou dentre seus

objetivos fundamentais, a implementação das denominadas alternativas adequadas

e céleres para resolução de conflitos, dentre elas, a conciliação (CAVALCANTE,

2013).

Durante a década de 90, entrou em vigor o Código de Defesa do Consumidor

(Lei n. 8.078/90), que priorizou dentre as Políticas Nacionais de Relações de

Consumo a criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas

Especializadas para a solução de litígios de consumo, buscando trazer a conciliação

entre as partes de uma maneira mais simples e rápida (CAVALCANTE, 2013).

Com a entrada em vigor da Lei n. 9.099/95, que regulamentou os

procedimentos dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, a conciliação ganhou

papel importante, dispondo em um de seus artigos a orientação de que o processo

deve se orientar pelos princípios da simplicidade, oralidade, informalidade, economia

processual e da celeridade, buscando sempre a conciliação. A partir da entrada em

vigor dessa orientação, a conciliação realmente começou a ganhar espaço na

prática do cenário jurídico brasileiro (CAVALCANTE, 2013).

Em 2006 o Conselho Nacional de Justiça, lançou a campanha “Movimento

pela Conciliação” e vem desde então, em parceria com órgãos do Poder Judiciário,

OAB, Conselho Nacional do Ministério Publico, Defensoria Publica, Entidades e

19

Universidades, lançando campanhas em favor da utilização do instituto da

conciliação na resolução de conflitos (CAVALCANTE, 2013).

Em 2010, o Conselho Nacional de Justiça lançou a resolução de número 125,

regulamentando a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos

de interesses no âmbito do Poder Judiciário, visando apoiar a prática da conciliação,

declarando esse instituto como um verdadeiro instrumento de pacificação social. A

referida resolução serviu de base ao Anteprojeto do Novo Código de Processo Civil

(PL 8046/10) que traz os procedimentos legais para a escolha e o desenvolvimento

dos trabalhos dos conciliadores judiciais, promovendo um reforço para a importância

da conciliação (CAVALCANTE, 2013).

Depois de um breve relato sobre o desenvolvimento histórico da conciliação

dentro do Brasil, é necessário que se demonstre os princípios que regem esse

instituto jurídico.

2.2 PRINCÍPIOS DA CONCILIAÇÃO

No novo Código de Processo Civil de 2015, os princípios norteadores da

conciliação estão descritos de maneira expressa no artigo 166 que descreve os

seguintes princípios da conciliação: princípio da confidencialidade, princípio da

independência, princípio da imparcialidade, princípio da autonomia da vontade,

princípio da oralidade, princípio da informalidade e princípio da decisão informada2

(BRASIL, Lei nº 13.105 de 2015).

Nos próximos tópicos serão feitas explanações de cada um desses princípios

que integram a conciliação.

2.2.1 Princípio da Confidencialidade

O princípio da confidencialidade está presente no primeiro parágrafo do artigo

166 do Novo Código de Processo Civil que foi citado anteriormente. Nesse parágrafo

é dito que a confidencialidade abrange todas as informações que surgem durante

2 Art. 166 CPC/2105. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada.

20

todo o procedimento, e o seu conteúdo não poderá ser utilizado para fim diverso

daquele previsto por expressa autorização das partes3 (BRASIL, Lei nº 13.105 de

2015).

Essa confidencialidade também é reafirmada pelo segundo parágrafo desse

mesmo artigo 166 que descreve a obrigação do conciliador de não divulgar ou depor

acerca de fatos ou elementos oriundos da conciliação4 (BRASIL, Lei nº 13.105 de

2015).

Dessa forma, as informações e as temáticas retratadas durante a audiência

de conciliação devem permanecer guardadas dentro da sala onde ocorre esse

procedimento jurídico, tendo o conhecimento delas apenas o conciliador e as partes

envolvidas no processo.

2.2.2 Princípio da Independência

O princípio da independência está presente no parágrafo quarto do artigo 166,

nesse parágrafo consta- se que o processo conciliatório deve ser ordenado

conforme a livre autonomia dos interessados, incluindo até no que diz respeito à

definição das regras de procedimentos 5 (BRASIL, Lei nº 13.105 de 2015).

Sendo assim, o princípio da independência na conciliação estabelece que

para se buscar solução da lide entre as partes, deve prevalecer um ambiente onde

se privilegie a autonomia. A colaboração do agente conciliador deve ser no sentido

de facilitar o entendimento do problema e das possíveis soluções. Nenhuma das

partes pode se sentir obrigada ou coagida a fazer um acordo, visando simplesmente

colocar um fim ao processo (CARDOSO FARIA; SOUTO DIAS, 2015, p.32).

3 Art. 166- § 1º CPC/2015. A confidencialidade estende-se a todas as informações produzidas no curso do procedimento, cujo teor não poderá ser utilizado para fim diverso daquele previsto por expressa deliberação das partes. 4 Art. 166- § 2º CPC/2015. Em razão do dever de sigilo, inerente às suas funções, o conciliador e o mediador, assim como os membros de suas equipes, não poderão divulgar ou depor acerca de fatos ou elementos oriundos da conciliação ou da mediação. 5 Art. 166- § 2º CPC/2015. A mediação e a conciliação serão regidas conforme a livre autonomia dos interessados, inclusive no que diz respeito à definição das regras procedimentais.

21

2.2.3 Princípio da Imparcialidade

A imparcialidade consta como princípio fundamental na atuação dos

conciliadores e mediadores judiciais. Por esse motivo, está disposta Conforme no

art. 1º, inciso IV do Código de Ética de Conciliadores e Mediadores Judiciais,

constante do anexo da Resolução 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça:

Artigo 1º [...] IV – Imparcialidade – dever de agir com ausência de

favoritismo, preferência ou preconceito, assegurando que valores e

conceitos pessoais não interfiram no resultado do trabalho, compreendendo

a realidade do envolvidos no conflito e jamais aceitando qualquer espécie

de favor ou presente.

Após a leitura desse artigo do ordenamento jurídico, conclui- se que devido ao

princípio da imparcialidade, o conciliador deve agir de forma neutra, nunca

favorecendo ou desfavorecendo uma parte em detrimento da outra parte presente

no processo jurídico.

2.2.4 Princípio da Autonomia da Vontade

O princípio da autonomia da vontade invoca o preceito de que os

interessados devem compor a fase de conciliação através de suas livres e

espontâneas vontades, tendo a oportunidade de abrir mão de parte dos seus

direitos, culminando em uma solução que deve ser construída pelos próprios

litigantes, os quais possuem a autonomia para deliberar dialeticamente sobre esta

solução (CARDOSO FARIA; SOUTO DIAS, 2015, p.33).

As partes que formam o processo jurídico possuem a autonomia de buscar ou

não o acordo na audiência de conciliação, e, sendo feito o acordo, os litigantes serão

os responsáveis pela criação de todos os termos e condições presentes no

documento do acordo.

22

2.2.5 Princípio da Oralidade

O legislador buscou privilegiar o princípio da oralidade na conciliação, de

forma a facilitar a atuação do conciliador na condução do diálogo entre os envolvidos

(CARDOSO FARIA; SOUTO DIAS, 2015, p.33). Dessa maneira, o rito da audiência

de conciliação é feita de forma totalmente oral, apenas ao fim da audiência é

reduzida a termo o acordo que foi feito ou a declaração de que não houve acordo

entre os litigantes, e se ocorreu à ausência de alguma das partes.

2.2.6 Princípio da Informalidade

O princípio da informalidade é uma ferramenta que agiliza a audiência de

conciliação, demonstrando que o excesso de formalismo iria ampliar a duração de

cada audiência, deturpando o foco da conciliação, que é agilizar os processos

jurídicos (CARDOSO FARIA; SOUTO DIAS, 2015, p.34).

2.2.7 Princípio da Decisão Informada

As partes são sempre informadas sobre as consequências da solução

escolhida para o conflito, seja diante de um acordo ou não, para que não sejam

surpreendidas por algo que desconheciam.

É dever do conciliador informar sobre as medidas que devem ser tomadas e

sobre o que irá acontecer caso sejam cumpridas tais medidas ou no caso delas

serem ignoradas.

Após um apanhado sobre a Conciliação, seus elementos históricos e os

princípios que regem essa ferramenta de resolução de conflitos, inicia- se um maior

aprofundamento nos objetos que integram diretamente a temática dessa monografia,

são eles: o CEJUSC (Centro Judicial de Solução de Conflitos e Cidadania), os

Bancos e as Seguradoras.

23

3 CEJUSC (CENTRO JUDICIAL DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS E CIDADANIA)

O CEJUSC é uma unidade do Poder Judiciário a qual compete,

preferencialmente, a realização das sessões e audiências de conciliação e de

mediação a cargo de conciliadores e mediadores, bem como o atendimento e a

orientação aos cidadãos que possuem dúvidas e questões jurídicas.

Essa unidade do Poder Judiciário está regulamentada no artigo 8º

da Resolução CNJ de número 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça (BRASIL,

2010) que relata o seguinte aspecto sobre a criação do CEJUSC:

Art. 8º Os tribunais deverão criar os Centros Judiciários de Solução de

Conflitos e Cidadania (Centros ou Cejuscs), unidades do Poder Judiciário,

preferencialmente, responsáveis pela realização ou gestão das sessões e

audiências de conciliação e mediação que estejam a cargo de conciliadores

e mediadores, bem como pelo atendimento e orientação ao cidadão.

O CEJUSC foi originado de experiências anteriores da aplicação de

ferramentas para a resolução pacífica de conflitos, entre elas a Lei dos Juizados de

Pequenas Causas (Lei n. 7.244/1984), a qual foi posteriormente aprimorada pela Lei

dos Juizados Especiais (Lei n. 9.099/1995). Essas experiências, além de trazerem a

conciliação para o processo judicial, permitiram a utilização desse método na fase

anterior à propositura da ação, evitando a entrada de mais conflitos na Justiça

brasileira.

Além disso, a criação desse centro foi baseada no Fórum de Múltiplas Portas

ou Tribunal Multiportas do direito norte-americano. A política pública do Fórum

Múltiplas Portas surgiu nos Estados Unidos como mecanismo de tratamento dos

conflitos que objetiva encaminhar a demanda para o procedimento mais adequado,

ante suas peculiaridades (OLIVEIRA; SPENGLER, 2013, p. 65). Essa política

pública originou- se da ideia proposta pelo professor emérito Frank Sander, da

Universidade de Harvard, em uma conferência no ano de 1976, quando ele

24

defendeu a ideia de introduzir no âmbito do Poder Judiciário americano mecanismos

alternativos de resolução e tratamento do conflito, antes do ajuizamento da ação, ou

ainda no curso da lide (NUNES; SALES, 2010, p. 217).

O Centro Judicial de Solução de Conflitos e Cidadania deve,

necessariamente, abranger três setores: setor pré-processual, setor processual e

setor de cidadania.6 Essa forma de abrangência está regulamentada no artigo 10

da Resolução CNJ n. 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça, exposto a seguir:

“Art. 10. Cada unidade dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania

deverá obrigatoriamente abranger setor de solução de conflitos pré- processual, de

solução de conflitos processual e de cidadania” (BRASIL, 2010).

No que tange ao funcionamento, o CEJUSC deve contar, em sua estrutura,

com um juiz coordenador e, eventualmente, com um adjunto, que sejam

devidamente capacitados. Esse juiz e o seu adjunto devem administrar os três

setores e fiscalizar o serviço de conciliadores. Devem possuir pelo menos um

servidor com dedicação exclusiva, o qual seja capacitado em métodos consensuais

de solução de conflitos, sendo capaz de fazer a triagem e encaminhamento

adequado dos casos7, é o que informa o artigo 9º da Resolução do CNJ de número

125/2010, visto a seguir:

Art. 9º Os Centros contarão com 1 (um) juiz coordenador e, se necessário,

com 1 (um) adjunto, aos quais caberão a sua administração e a

homologação de acordos, bem como a supervisão do serviço de

conciliadores e mediadores. Salvo disposição diversa em regramento local,

os magistrados da Justiça Estadual e da Justiça Federal serão designados

pelo Presidente de cada tribunal dentre aqueles que realizaram treinamento

segundo o modelo estabelecido pelo CNJ, conforme Anexo I desta

Resolução.

Sobre o procedimento de utilização do CEJUSC deve ser informado que

qualquer pessoa pode procurar o setor pré-processual do Centro Judiciário de

Solução de Conflitos (CEJUSC) e, dessa forma, será feita a solicitação para o 6 Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/conciliacao-e-mediacao-portal-da-conciliacao/perguntas-frequentes/politica-judiciaria-nacional-nupemecs-e-cejuscs> 7 Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/conciliacao-e-mediacao-portal-da-conciliacao/perguntas-frequentes/politica-judiciaria-nacional-nupemecs-e-cejuscs>

25

agendamento de uma sessão de conciliação. Nesse ato, em grande parte dos

tribunais, já será expedida a chamada carta-convite para a parte contrária participar

da sessão de conciliação. A carta-convite pode ser levada pelo próprio reclamante

ou encaminhada através de qualquer meio de comunicação. Caso o problema

apresentado não seja um conflito, a pessoa que procurou esse centro recebe do

funcionário do CEJUSC a devida orientação, podendo ser encaminhada ao órgão

responsável pela análise do assunto8.

Para esse trabalho de monografia, o CEJUSC que representa o centro dessa

pesquisa é o CEJUSC das Varas Cíveis da cidade de João Pessoa, Paraíba,

localizado no 7º andar do Fórum Cível de João Pessoa. Com endereço na Avenida

João Machado, sem número, Jaguaribe, João Pessoa-PB9. Nesse CEJUSC

funcionam seis salas com audiências durante cinco dias da semana.

Depois da explanação sobre o CEJUSC, o seu funcionamento e sua

estruturação. Analisa- se a seguir outro elemento formador da pesquisa que são os

bancos, um dos responsáveis pela formação do setor financeiro.

Figura 1 – CEJUSC, Fórum Cível- João Pessoa PB. Fonte: INTERNET

8Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/conciliacao-e-mediacao-portal-da-conciliacao/perguntas-frequentes/politica-judiciaria-nacional-nupemecs-e-cejuscs?start=10> 9 Disponível em:<http://conciliar.tjpb.jus.br/sobre/>

26

4 BANCOS

A palavra banco vem do alemão bank, que significa: banco de madeira, usado

por aqueles que se dedicavam ao ofício de trocar e emprestar dinheiro. A partir da

Idade Média, começaram a se chamar assim as primeiras casas ou

estabelecimentos nos quais se realizavam essas atividades10.

Na Babilônia, uma das regiões mais ricas do antigo Oriente, as pessoas não

iam aos templos apenas para adorar seus deuses. Guardavam neles objetos de

valor (metais preciosos, joias ou cereais), porque ali estariam seguros e ninguém

poderia roubá-los. Os sacerdotes não cobravam para cuidar desses bens, todavia,

podiam emprestar uma parte deles para quem precisasse e recebiam algum

pagamento em troca.

Com o passar do tempo surgiu o dinheiro. As pessoas que o utilizavam na

compra e na venda de mercadorias precisavam de maneiras e lugares seguros para

guardá-lo. Então começaram a aparecer cambistas (pessoas que trocavam um tipo

de moeda por outro) e prestamistas (pessoas que emprestavam dinheiro) gregos,

romanos e árabes. Posteriormente, na Idade Média, foi a vez de os ourives (pessoas

que trabalhavam o ouro e outros metais preciosos) se encarregarem de trocar,

emprestar e cuidar do dinheiro. Eram, em geral, homens de confiança, que

guardavam em seus depósitos as riquezas de alguns clientes e as emprestavam a

outros, cobrando por esses serviços11.

Os ourives entregavam recibos às pessoas, com anotação da quantidade de

dinheiro que elas lhes davam para guardar. Aconteceu que muitas daquelas

pessoas, em vez de voltarem ao ourives para retirar o dinheiro, começaram a utilizar

os recibos para fazer pagamentos. Assim surgiram as primeiras cédulas12.

Com esse negócio de guardar, emprestar dinheiro e dar recibos, os ourives se

tornaram os primeiros banqueiros, e suas oficinas começaram a ser chamadas de

10Cartilha sobre bancos. Banco Central. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/Pre/educacao/cadernos/bancos.pdf> 11Cartilha sobre bancos. Banco Central. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/Pre/educacao/cadernos/bancos.pdf> 12Cartilha sobre bancos. Banco Central. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/Pre/educacao/cadernos/bancos.pdf>

27

bancos. Os bancos tornaram o comércio mais fácil e seguro, não só para os que

moravam numa mesma cidade, mas também para aqueles que negociavam entre

cidades e países diferentes.

Dessa forma, deve- se compreender que os bancos são as instituições

responsáveis por exercer as atividades financeiras do cidadão e de empresas como

saques, depósitos, pagamentos, transferências, empréstimos e financiamentos.

O Banco Central é a instituição no Brasil encarregada de fiscalizar,

estabelecer normas e fazer com que essas entidades prestem serviços adequados e

satisfatórios. A fiscalização brasileira segue as normas do acordo de Basileia,

regulador da atividade financeira global. O pacto estabelece que os bancos tenham

recursos suficientes para garantir e assumir os riscos a que se submetem. No Brasil,

os bancos necessitam de autorização do Banco Central para funcionar. Os grupos

estrangeiros precisam de autorização via decreto do Poder Executivo. E toda

instituição deve ser auditada por profissionais independentes, que devem ser

trocados a cada cinco anos13.

Além dos bancos, estão envolvidas nesse estudo de caso as seguradoras.

Essas instituições serão detalhadas no tópico seguinte.

13Cartilha sobre bancos. Banco Central. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/Pre/educacao/cadernos/bancos.pdf>

28

5 SEGURADORAS

A atividade seguradora no Brasil teve início com a abertura dos portos ao

comércio internacional, em 1808. A primeira sociedade de seguros a funcionar no

país foi a "Companhia de Seguros BOA-FÉ", em fevereiro daquele mesmo ano, que

operava no seguro marítimo. Neste período, a atividade seguradora era regulada

pelas leis portuguesas. Somente em 1850, com a promulgação do "Código

Comercial Brasileiro" (Lei n° 556, de 25 de junho de 1850) é que o seguro marítimo

foi pela primeira vez regulado e utilizado em todos os seus aspectos.14

A criação do Código Comercial Brasileiro foi de fundamental importância para

o desenvolvimento do seguro no Brasil, incentivando o aparecimento de inúmeras

seguradoras, que passaram a operar não só com o seguro marítimo, expressamente

previsto na legislação, mas, também, com o seguro terrestre. Até mesmo a

exploração do seguro de vida, proibido expressamente pelo Código Comercial, foi

autorizada em 1855, sob o fundamento de que o Código Comercial só proibia o

seguro de vida quando feito juntamente com o seguro marítimo. Com a expansão do

setor, as empresas de seguros estrangeiras começaram a se interessar pelo

mercado brasileiro, surgindo, por volta de 1862, as primeiras sucursais de

seguradoras sediadas no exterior.15

Estas sucursais transferiam para suas matrizes os recursos financeiros

obtidos pelos prêmios cobrados, provocando uma significativa evasão de divisas.

Assim, visando proteger os interesses econômicos do Brasil, foi promulgada, em

1895, a Lei n° 294, dispondo exclusivamente sobre as companhias estrangeiras de

seguros de vida, determinando que suas reservas técnicas fossem constituídas e

tivessem seus recursos aplicados no Brasil, para fazer frente aos riscos aqui

assumidos. Algumas dessas empresas estrangeiras mostraram-se discordantes das

disposições contidas no referido diploma legal e fecharam suas sucursais.

O mercado segurador brasileiro já havia alcançado desenvolvimento

satisfatório no final do século XIX. Devido ao Código Comercial, que estabeleceu as

14 História dos Seguros.Disponível em: <http://www.susep.gov.br/menu/a-susep/historia-do-seguro> 15 História dos Seguros.Disponível em: <http://www.susep.gov.br/menu/a-susep/historia-do-seguro>

29

regras necessárias sobre seguros marítimos, aplicadas também para os seguros

terrestres e, em segundo lugar, a instalação no Brasil de seguradoras estrangeiras,

com vasta experiência em seguros terrestres16.

Foi em 1916 que se deu o maior avanço de ordem jurídica no campo do

contrato de seguro, ao ser sancionada a lei, que promulgou o Civil Brasileiro, com

um capítulo específico dedicado ao contrato de seguro. Os preceitos formulados

pelo Código Civil e pelo Código Comercial passaram a compor o chamado Direito

Privado do Seguro. Esses preceitos fixaram os princípios essenciais do contrato e

disciplinaram os direitos e obrigações das partes, de modo a evitar e dirimir conflitos

entre os interessados. Foram esses princípios fundamentais que garantiram o

desenvolvimento da instituição do seguro.

Em 1939, foi criado o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), através do

Decreto-lei n° 1.186. As sociedades seguradoras ficaram obrigadas, desde então, a

ressegurar no IRB todas as responsabilidades que excedessem sua capacidade de

retenção própria, que, através da retrocessão, passou a compartilhar o risco com as

sociedades seguradoras em operação no Brasil. Com esta medida, o Governo

Federal procurou evitar que grande parte das divisas fosse consumida com a

remessa, para o exterior, de importâncias vultosas relativas a prêmios de resseguros

em companhias estrangeiras17.

O saldo positivo da atuação do IRB foi gigantesco, propiciando a criação

efetiva e a consolidação de um mercado segurador nacional, ou seja,

preponderantemente ocupado por empresas nacionais, sendo que as empresas com

participação estrangeira deixaram de se comportar como meras agências de

captação de seguros para suas respectivas matrizes, sendo induzidas a se organizar

como empresas brasileiras, constituindo e aplicando suas reservas no País.

Em 1966, através do Decreto-lei n° 73, de 21 de novembro de 1966, foram

reguladas todas as operações de seguros e resseguros e instituído o Sistema

Nacional de Seguros Privados, constituído pelo Conselho Nacional de Seguros

Privados (CNSP); Superintendência de Seguros Privados (SUSEP); Instituto de

16 História dos Seguros.Disponível em: <http://www.susep.gov.br/menu/a-susep/historia-do-seguro> 17 História dos Seguros. Disponível em: <http://www.susep.gov.br/menu/a-susep/historia-do-seguro>

30

Resseguros do Brasil (IRB); sociedades autorizadas a operar em seguros privados;

e corretores habilitados18.

O Departamento Nacional de Seguros Privados e Capitalização - DNSPC -foi

substituído pela Superintendência de Seguros Privados - SUSEP -entidade

autárquica, dotada de personalidade jurídica de Direito Público, com autonomia

administrativa e financeira, jurisdicionada ao Ministério da Indústria e do Comércio

até 1979, quando passou a estar vinculada ao Ministério da Fazenda.

Em 28 de fevereiro de 1967, o Decreto n° 22.456/33, que regulamentava as

operações das sociedades de capitalização, foi revogado pelo Decreto-lei n° 261,

passando a atividade de capitalização a subordinar-se, também, a numerosos

dispositivos do Decreto-lei n° 73/66. Adicionalmente, foi instituído o Sistema

Nacional de Capitalização, constituído pelo CNSP, SUSEP e pelas sociedades

autorizadas a operar em capitalização19.

Após a análise da origem e desenvolvimento da conciliação, de bancos e

financeiras no Brasil, será feita no tópico seguinte a exposição central da pesquisa: a

demonstração de que predomina a ineficiência nas tentativas de conciliação

envolvendo bancos, seguradoras e pessoas físicas.

18 História dos Seguros. Disponível em: <http://www.susep.gov.br/menu/a-susep/historia-do-seguro> 19 História dos Seguros. Disponível em: <http://www.susep.gov.br/menu/a-susep/historia-do-seguro>

31

6 A INEFICIÊNCIA DE ACORDOS ENVOLVENDO BANCOS E SEGURADORAS

NO CEJUSC DO FÓRUM CÍVEL DE JOÃO PESSOA/PB

A pesquisa foi realizada no CEJUSC do Fórum Cível de João Pessoa, tal

dinâmica envolveu as audiências de conciliação que envolviam bancos ou

seguradoras no polo do requerido e particulares ou também chamadas de pessoas

físicas no polo do requerente.

Essas audiências foram realizadas no período que iniciou- se em outubro do

ano de 2016 até agosto do ano de 2017. Importante lembrar que durante esse

período ocorreu o recesso da Justiça que foi do período de 20 de dezembro do ano

de 2016 até o dia 08 de janeiro de 2017, com os prazos processuais ficando

suspensos até o dia 20 de janeiro de 2017.

6.1 AUDIÊNCIAS ENVOLVENDO BANCOS

Entre o dia 13 de outubro de 2016 e o dia 16 de dezembro desse mesmo ano,

foram realizadas 70 audiências envolvendo bancos no CEJUSC do Fórum de João

Pessoa, sendo 26 audiências no mês de outubro, 34 audiências no mês de

novembro e 10 audiências no mês de dezembro. Depois de analisar os termos de

todas essas audiências nesse período, ficou constatado que em 70 audiências de

conciliação: os bancos foram ausentes em 18 audiências, a outra parte foi ausente

em 6 audiências e, quando as partes estiveram presentes, foram 49 audiências sem

acordo e apenas 1 audiência realizada no mês de novembro em que foi obtido um

acordo entre as partes.

Partindo para o ano de 2017, foram realizadas 48 audiências envolvendo

bancos, do dia 13 de fevereiro até o dia 22 de agosto. Dividindo as audiências em

períodos mensais, foram feitas: 4 audiências no mês de fevereiro, 3 audiências no

mês de março, 1 audiência no mês de abril, 2 audiências em maio, 2 em junho e 33

no mês de agosto. Após a análise de todos os termos dessas audiências

conciliatórias foram diagnosticados os seguintes números: 1 audiência com ausência

de ambas as partes, 3 audiências em que ocorreu a ausência dos bancos, 6

audiências em que a outra parte não compareceu, 38 audiências sem acordo entre

as partes e nenhuma audiência em que ocorreu acordo entre as partes.

32

Sendo assim, fazendo um resumo quantitativo do total de acordos envolvendo

bancos nas audiências de conciliação do CEJUSC do Fórum Cível de João Pessoa,

Paraíba, no período que comporta o dia 13 de outubro de 2016 até o dia 22 de

agosto do ano de 2017, extraem- se os seguintes números: das 118 audiências

realizadas, ocorreu acordo realizado entre as partes em 01 dessas audiências

realizadas. Transformando em porcentagem o número de acordos realizados

envolvendo bancos foi de aproximadamente 0,84% nesse período de tempo.

Nessas audiências foram diversas as entidades bancárias presentes,

podendo ser citadas as seguintes: Banco Pan, Banco Fiat, Banco Wolks, Santander,

Banco Aimoré, Banco Bradesco S.A., Banco Mercantil, Banco Itaú, Banco do Brasil,

HSBC Bank, dentre outras.

O tópico seguinte é semelhante a esse, todavia, será destrinchada a pesquisa

feita sobre as audiências de conciliação envolvendo seguradoras.

Outubro- Dezembro 2016 70 Audiências

Ausência do Banco

18 Audiências

Ausência da outra Parte

06 Audiências

Audiências sem acordo

49 Audiências

Audiência com acordo

01 Audiência

Tabela 1 – Audiências envolvendo Bancos, Outubro- Dezembro 2016

33

Tabela 2 – Audiências envolvendo Bancos, Fevereiro- Agosto 2017

6.2 AUDIÊNCIAS ENVOLVENDO SEGURADORAS

No que diz respeito às audiências conciliatórias envolvendo seguradoras, o

primeiro período analisado foi do dia 13 de outubro de 2016 até o dia 16 de

dezembro do mesmo ano. Na divisão dessas audiências durante tais meses, foram

obtidos os seguintes números: 10 audiências em outubro, 02 audiências em

novembro e 01 audiência em dezembro, totalizando 13 audiências nesse período.

Após a leitura de todos os termos de audiência promovidos, ficou constatado que

foram: 02 audiências com ausência das seguradoras, 04 audiências com ausência

da outra parte envolvida no processo, 02 audiências com ausência das partes e 05

audiências em que não foram feitos acordos.

O outro período temporal de audiências de conciliação envolvendo

seguradoras no CEJUSC do Fórum Cível de João Pessoa, Paraíba, aconteceu entre

os dias 13 de fevereiro de 2017 até o dia 22 de agosto do mesmo ano. Nesses dias

foram apuradas um total de 10 audiências, sendo: 04 delas em fevereiro, 03 em

março, 02 em abril e 01 em agosto. Através dos termos de audiência se pôde

colocar em números os seguintes aspectos: em 01 audiência ocorreu a ausência da

seguradora, em 06 audiências a outra parte foi ausente, em 01 dessas audiências

ocorreu a ausência das partes e em 04 delas não houve acordo.

Fevereiro- Agosto 2017 48 Audiências

Ausência do Banco

03 Audiências

Ausência da outra Parte

06 Audiências

Audiências sem acordo

38 Audiências

Audiência com acordo

00 Audiências

Ausência das Partes

01 Audiência

34

Promovendo uma totalização do número de acordos realizados envolvendo

seguradoras no CEJUSC do Fórum Cível de João Pessoa, Paraíba, como foi feito

com os bancos anteriormente. Depreende- se que no período de tempo que inicia-

se no dia 13 de outubro de 2016 e se encerra no dia 22 de agosto de 2017, foram

realizadas 23 audiências de conciliação em que sempre uma das partes

representava seguradoras, e que nessas 23 audiências não houve acordos,

chegando a porcentagem de 00% de acordos envolvendo seguradoras.

Nessas audiências conciliatórias foram diversas as seguradoras presentes,

podendo ser citadas as seguintes: Seguradora Líder, Cardif do Brasil Seguros,

Mapfre, Veracruz Seguradora S/A, Federal Seguros, Sulamerica Seguros, dentre

outras.

Após a pesquisa de campo realizada no CEJUSC do Fórum Cível de João

Pessoa, Paraíba, entre os dias 13 de outubro de 2016 até o dia 22 de agosto do ano

de 2017. Foram documentadas 141 audiências de conciliação envolvendo bancos e

seguradoras, sendo que dentro desse universo de 141 audiências, foi realizado

apenas 01 acordo entre as partes, ou seja, um percentual de aproximadamente

0,70% em acordos feitos na audiência de conciliação.

Tabela 3 – Audiências envolvendo Seguradoras, Outubro- Dezembro 2016

Outubro- Dezembro 2016 13 Audiências

Ausência da Seguradora

02 Audiências

Ausência da outra Parte

04 Audiências

Ausência das Partes

02 Audiências

Audiências sem acordo

05 Audiências

Audiência com acordo

00 Audiências

35

Tabela 4 – Audiências envolvendo Seguradoras, Fevereiro- Agosto 2017

Tabela 5 – Audiências envolvendo Bancos e Seguradoras, Outubro 2016- Agosto 2017

Fevereiro- Agosto 2017 10 Audiências

Ausência da Seguradora

01 Audiências

Ausência da outra Parte

06 Audiências

Audiências sem acordo

04 Audiências

Ausência das Partes

01 Audiências

Audiência com acordo

00 Audiências

Outubro 2016- Agosto 2017

141 Audiências

Audiência com acordo

01 Audiências

Percentual de acordos

0,70%

36

7 METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste trabalho é a chamada metodologia indutiva, já

que se vai partir de casos e situações específicas para que se consiga chegar nas

respostas para as problemáticas do trabalho. Dessa forma, será através da análise

do funcionamento da conciliação dentro do CEJUSC (Centro Judicial de Solução de

Conflitos e Cidadania) do Fórum Cível de João Pessoa, do levantamento

bibliográfico que envolve a ferramenta jurídica da conciliação para se chegar às

características fundamentais (celeridade, informalidade, economia processual,

oralidade e simplicidade) da própria conciliação aplicadas na prática processual. E a

coleta de dados sobre audiências de conciliação envolvendo entidades financeiras e

seguradoras dentro do CEJUSC (Centro Judicial de Solução de Conflitos e

Cidadania) do Fórum Cível de João Pessoa.

O estudo ora proposto será realizado em três etapas interligadas. A primeira

etapa será feita com o levantamento bibliográfico que envolve a temática conciliação

judicial. Tal levantamento será realizado através da coleta de dados secundários

(em livros, artigos e periódicos com autoridade para o tema), bem como de dados

primários coletados de instituições jurídicas e governamentais especializadas no

tema através de seus portais bibliográficos e eletrônicos de divulgação.

A segunda etapa consistirá em investigar os dados (através de estatísticas

e pesquisas) das audiências conciliatórias envolvendo entidades financeiras e

seguradoras no CEJUSC (Centro Judicial de Solução de Conflitos e Cidadania) do

Fórum Cível de João Pessoa.

E a terceira etapa irá analisar (com base no que foi extraído das duas

etapas anteriores) a ineficiência de acordos perante entidades financeiras e

seguradoras no CEJUSC (Centro Judicial de Solução de Conflitos e Cidadania) do

Fórum Cível de João Pessoa.

Dessa forma, os procedimentos utilizados serão predominantemente

bibliográficos (utilizando- se de fontes primárias e secundárias), a forma de

abordagem da pesquisa será a quantitativa, já que as informações obtidas poderão

ser transformadas em estatísticas ou em números (poderão ser quantificáveis).

Essa monografia vai utilizar a técnica de pesquisa cuja finalidade é a pura,

já que os resultados encontrados por essa pesquisa vão servir para um avanço na

37

teoria analisada dentro do projeto (não vai se utilizar os resultados dessa pesquisa

na parte prática ou no dia a dia).

38

8 CONCLUSÃO

Através da pesquisa realizada, dos números apresentados no tópico 2.1.7 e

da experiência como conciliador no CEJUSC do Fórum Cível de João Pessoa,

Paraíba, ficou evidenciada uma real ineficiência na conquista de acordos dentro das

audiências de conciliação envolvendo bancos e seguradoras nesse CEJUSC.

Na situação envolvendo os bancos, constatou- se que, em praticamente todas

as audiências, os advogados e os prepostos representantes dos bancos vão para

essas audiências conciliatórias com ordens expressas da entidade bancária de que

não poderão fazer nenhuma proposta de acordo para a outra parte envolvida na lide.

Dessa forma, muitas vezes, esses representantes comparecem na audiência apenas

para não serem documentados como ausentes e para informar que não possuem

proposta alguma de acordo, impedindo o objetivo central da audiência conciliatória.

Outra situação que ocorre com menos frequência é a apresentação, por parte

desses representantes da entidade bancária, de valores monetários muito ínfimos

comparados aos valores apresentados como proposta para acordo pela outra parte

da disputa judicial. Dessa forma, com essas ordens expressas dos bancos que

representam, esses advogados e prepostos não podem ser flexíveis e buscarem

propostas melhores, pois estariam botando em risco seus empregos. Tudo isso

explanado anteriormente acaba gerando os números ínfimos sobre bancos e

conciliações apresentados na pesquisa.

As seguradoras estão praticamente com os mesmos números irrelevantes de

acordos dentro das audiências de conciliação, todavia, a justificativa principal para a

quantidade zero de acordos envolve as datas em que acontecem as audiências de

conciliação. Explicando mais detalhadamente, ocorre que na maior parte dos casos

ou pode- se dizer em todos os casos observados em que as partes compareceram

mas não houve acordos, ainda não haviam sido realizadas as perícias médicas que

devem ser feitas para constatar o que houve de fato e apontar para o direito de

utilização do seguro. Sendo assim, não existe a possibilidade de se buscar um

acordo entre as partes, essa possibilidade seria viável caso a audiência fosse

realizada após a realização da perícia médica. Dessa forma, os representantes da

seguradora comparecem para a audiência, porém sem nenhuma perspectiva de

proposta para acordo.

39

Essa falta de perspectiva de acordo é também um fator para justificar a

quantidade acentuada de ausência da outra parte nessas audiências, como foi

demonstrado anteriormente foram 10 ausências em 23 audiências, já que a parte

fica sabendo da não realização de acordos envolvendo seguradoras e prefere não

comparecer a audiência.

Outro ponto de bastante relevância é o artigo 334 do novo CPC que coloca as

condições para a não realização da audiência de conciliação. Nesse artigo e em

seus incisos, destaca- se que para não haver a audiência de conciliação é

necessário que as duas partes envolvidas no processo se manifestem e digam

expressamente que não desejam a realização da audiência de conciliação. Segue

adiante esse artigo (BRASIL, 2015):

Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o

caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de

conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias,

devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.

§ 1o O conciliador ou mediador, onde houver, atuará necessariamente na

audiência de conciliação ou de mediação, observando o disposto neste

Código, bem como as disposições da lei de organização judiciária.

§ 2o Poderá haver mais de uma sessão destinada à conciliação e à

mediação, não podendo exceder a 2 (dois) meses da data de realização da

primeira sessão, desde que necessárias à composição das partes.

§ 3o A intimação do autor para a audiência será feita na pessoa de seu

advogado.

§ 4o A audiência não será realizada:

I - se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na

composição consensual;

II - quando não se admitir a autocomposição.

§ 5o O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse na

autocomposição, e o réu deverá fazê-lo, por petição, apresentada com 10

(dez) dias de antecedência, contados da data da audiência. [...]

A audiência de conciliação é realizada para que se busque um acordo entre

as partes, e um acordo só é realizado quando toas as partes que compõem o

processo estão com a intenção de fazer tal acordo. Dessa maneira, se alguma das

partes não quiser promover um acordo, não existe a possibilidade dele ser feito.

Sendo assim, não se compreende o motivo desse artigo do CPC, demonstrado

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anteriormente, tornar obrigatório que todas as partes tenham que se manifestar

contra a realização da audiência.

Depois de toda essa pesquisa e detalhamento dos elementos formadores da

temática desse trabalho de monografia, deve- se destacar a ferramenta da

conciliação como fundamental para uma maior vazão de processos judiciais e

garantia da celeridade jurídica. Porém, na situação dos bancos, é necessária uma

tomada de consciência dos seus diretores e de quem comanda a área jurídica

dessas entidades sobre a importância da audiência de conciliação e das grandes

vantagens de não prolongar processos na Justiça brasileira.

Em relação aos processos envolvendo seguradoras, um dos caminhos para

que se tenha maior sucesso nas audiências de conciliação envolvendo tais

entidades, é a definição das datas dessas audiências somente após a realização da

perícia médica e de outras burocracias que impeçam a propositura de acordos.

Para finalizar, deveria ser realizada uma reforma no artigo 334 do novo CPC,

transformando a necessidade de ambas as partes terem que se manifestar para que

não ocorra a audiência de conciliação, em apenas uma das partes se manifestar

para que não ocorra tal audiência.

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