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FESP – FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA COORDENAÇÃO DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO FERNANDA MARIA ROCHA OLIVEIRA DE LIMA DELAÇÃO PREMIADA: TRAIÇÃO OU COMBATE A CRIMINALIDADE? JOÃO PESSOA 2009

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FESP – FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA

COORDENAÇÃO DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

FERNANDA MARIA ROCHA OLIVEIRA DE LIMA

DELAÇÃO PREMIADA: TRAIÇÃO OU COMBATE A CRIMINALIDADE?

JOÃO PESSOA 2009

FERNANDA MARIA ROCHA OLIVEIRA DE LIMA

DELAÇÃO PREMIADA: TRAIÇÃO OU COMBATE A CRIMINALIDADE?

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito da Fesp Faculdade, como requisito parcial para a obtenção do título Bacharel em Direito. Orientadora: Márcia Betânia Casado e Silva Vieira Área: Direito Penal

JOÃO PESSOA 2009

L732d Lima, Fernanda Maria Rocha Oliveira Delação premiada / Fernanda Maria Rocha Oliveira de Lima – João

Pessoa, 2009. 63f.

Orientadora: Profª. Márcia Betânia Casado e Silva Vieira

Monografia (Graduação em Direito) Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP.

1. Delação Premiada 2. Persecução penal 3. Delator 4. Benefícios

5. Requisitos 6. Ética 7. Ineficiência do Estado I. Título.

CDU: 347.963(043)

FERNANDA MARIA ROCHA OLIVEIRA DE LIMA

DELAÇÃO PREMIADA: TRAIÇÃO OU COMBATE A CRIMINALIDADE?

BANCA EXAMINADORA

Profª. Márcia Betânia

Orientadora

1º Membro

2º Membro

JOÃO PESSOA 2009

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho, primeiramente, a Deus, que me proporcionou a vida e a

força necessária para superar os problemas que nela surgiram;

Aos meus familiares, por estarem sempre presentes, me ajudando e me

apoiando nas decisões que foram tomadas;

Aos professores, que me conduziram por vivências nunca antes

experimentadas;

Aos amigos que me conquistaram e que foram conquistados nesse período e

que sempre compartilharam minhas decepções, expectativas e vitórias...

Enfim, a todas aquelas pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para

minha formação e meu crescimento, tanto profissional como pessoal.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por representar a misericórdia, a sabedoria e a inteligência;

À professora e orientadora Márcia Betânia, que tanto contribuiu para a

realização deste trabalho;

Aos meus pais, Maria José Aciole e José Marques Leal, que com muito carinho

e apoio, não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida;

Ao meu irmão, que serviu de exemplo para com seu entusiasmo e coragem;

Aos colegas de Turma, pela convivência, companheirismo, aprendizado e troca

de experiências;

A todos os professores, pelo carinho, dedicação e entusiasmo demonstrado ao

longo do curso.

Aos amigos, pela paciência em tolerar a minha ausência;

Enfim, a todos que, de alguma forma, contribuíram para esta construção.

“O fim do Direito é a paz; o meio de atingi-lo, a luta. O Direito não é uma simples idéia, é força viva. Por isso a justiça sustenta, em uma das mãos, a balança, com que pesa o Direito, enquanto na outra segura a espada, por meio da qual se defende. A espada sem a balança é a força bruta, a balança sem a espada é a impotência do Direito. Uma completa a outra. O verdadeiro Estado de Direito só pode existir quando a justiça brandir a espada com a mesma habilidade com que manipula a balança.”.

Rudolf Von Ihering.

RESUMO

A Delação Premiada é um instituto presente no ordenamento jurídico brasileiro gerador de muitas controvérsias, existindo assim argumentos favoráveis e contrários à sua aplicação. Inicialmente foi criado no intuito de auxiliar o Estado na persecução penal dos crimes de maior lesividade e de laboriosa investigação, como os ligados ao crime organizado; posteriormente, por meio de algumas leis infraconstitucionais teve sua aplicação ampliada aos crimes de qualquer natureza. Este estudo examina a evolução da Delação Premiada no Brasil e na legislação estrangeira, que deu subsídios para implantação desse instituto em nosso país, seu conceito, os requisitos e benefícios oferecidos por tal instituto, além dos aspectos críticos que o envolvem. O presente trabalho investiga se a aplicação da Delação premiada é eticamente reprovável, bem como se fere o princípio da dignidade da pessoa humana e o da proporcionalidade. Por fim, procura esclarecer acerca dos argumentos favoráveis e contrários ao instituto da Delação Premiada no direito brasileiro.

Palavras-chave: Delação Premiada. Persecução penal. Delator. Benefícios. Requisitos. Ética. Ineficiência do Estado.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................8 1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES E O CONCEITO DE DELAÇÃO PREMIADA.10 2 DELAÇÃO PREMIADA NO BRASIL ........................................................................18 2.1 A DELAÇÃO PREMIADA EM OUTROS PAISES...............................................22 2.1.1 Na Itália .......................................................................................................................22 2.1.2 Nos Estados Unidos ....................................................................................................23 2.1.3 Na Espanha .................................................................................................................24 2.1.4 Na Colômbia................................................................................................................25 2.1.5 Na Alemanha...............................................................................................................25 2.1.6 Em Portugal e em Outros Países ...............................................................................26 3 REQUISITOS E BENEFÍCIOS PARA CONCESSÃO DA DELAÇÃO PREMIADA ..........................................................................................................................................27 4 ASPECTOS CRÍTICOS ................................................................................................35 4.1 A QUESTÃO DA ÉTICA NA DELAÇÃO PREMIADA .......................................35 4.2 DIFERENÇA ENTRE ÉTICA, MORAL E DIREITO...........................................38 4.3 A INEFICÁCIA DO ESTADO NO COMBATE A CRIMINALIDADE ..............40 4.4 O MENOSPREZO DOS VALORES FUNDAMENTAIS ......................................41 CONCLUSÃO.........................................................................................................................44 REFERÊNCIAS .....................................................................................................................47 ANEXOS..................................................................................................................................53 LEIS DE TRATAM DA DELAÇÃO PREMIADA.......................................................53 JULGADOS CONTRÁRIOS À APLICAÇÃO DA DELAÇÃO PREMIADA.................58 JULGADOS FAVORÁVEIS À APLICAÇÃO DA DELAÇÃO PREMIADA..................60

INTRODUÇÃO

A Delação Premiada é um instituto presente na legislação penal brasileira que tem

como objetivo auxiliar o Estado na persecução criminal, por meio de benefícios concedidos

ao agente, que com sua delação venha entregar um ou mais comparsas, propiciando assim a

aplicação da justiça criminal por parte do Estado. Tal instituto pode ser aplicado a qualquer

crime, mas é utilizado, sobretudo, nos ilícitos exercidos por organizações criminosas, que hoje

em dia apresentam sofisticação e preparo tecnológico para o cometimento dos mais variados

delitos. Com o aumento cada vez mais acirrado da criminalidade no Brasil, faz-se necessário

um instrumento que possibilite o Estado de obter recursos à altura dos métodos praticados

pelos criminosos, que agem tanto de forma isolada quanto em organizações criminosas.

A aplicação da Delação Premiada gera controvérsias, existindo argumentos favoráveis

e contrários ao instituto. Embora previsto em diversas legislações brasileiras, cada legislação

apresenta um requisito para que tal instituto seja utilizado. Ora solicita-se a voluntariedade do

agente, ora a espontaneidade; ora se requer que o agente revele à autoridade policial ou

judicial toda a trama delituosa para que seja concedido o benefício, ora exige-se que o autor,

co-autor ou partícipe contribua, prestando informações que conduzam à apuração das

infrações penais e de sua autoria ou à localização de bens, direitos ou valores objeto do crime.

O presente trabalho objetiva compreender e examinar o instituto da Delação premiada

levando em consideração sua unicidade, ou seja, como instrumento de política criminal do

Estado capaz de solucionar os problemas para os quais foi criado, apesar da falta de legislação

específica que o regule. Pode-se dizer, dessa forma, que mesmo estando a Delação Premiada

prevista em diversas leis brasileiras seu fundamento é um só: a delação de comparsa(s), a

efetivação da Justiça criminal e a concessão de benéficos ao agente colaborador. Para tanto,

utilizar-se-á como fonte principal a Lei 9.807/99, a mais abrangente sobre o assunto.

Dessa forma, considerando-se a Delação Premiada como instituto único, procurar-se-á

responder a questionamentos como: a Delação Premiada é um instituto eticamente

reprovável? Sua utilização fere os princípios da dignidade da pessoa humana e o da

proporcionalidade? Tal instituto configura a ineficácia do Estado no combate à criminalidade?

Como fundamentação à pesquisa no intuito de responder tais questionamentos,

analisar-se-á o conceito de Delação Premiada e sua evolução histórica, abordando-se as

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legislações estrangeiras que tratam do assunto, bem como o início de sua utilização, além de

seu atual estágio no Brasil.

Dedicar-se-á um capítulo aos requisitos e benefícios da Delação Premiada presentes na

Lei 9.807/99, intitulada de Lei de Proteção às Vítimas e Testemunhas. Aqui serão analisados

quais os requisitos objetivos e subjetivos que podem ser exigidos para aplicação desse

instituto, bem como quais os benefícios propostos caso tais requisitos sejam supridos.

Dedicar-se-á também um capítulo concernente aos aspectos críticos que envolvem a

Delação Premiada, aspectos estes que dizem respeito à ética e seu entrelaçamento com a

moral e o Direito, a ineficácia do Estado no combate à criminalidade e o menosprezo aos

valores fundamentais.

Para fundamentar o estudo em questão, utilizar-se-ão como base principal os conceitos

e idéias de autores como: Damásio E. de Jesus, Alberto Silva Franco, Eduardo Araújo da

Silva, José Alexandre Marson Guidi, Guilherme de Souza Nucci, De Plácido e Silva, Maria

Helena Diniz, Cezar Roberto Bitencourt, Davi Teixeira de Azevedo, entre outros.

Utilizar-se-á como metodologia de abordagem, o método hipotético dedutivo, já que o

trabalho se desenvolverá a partir de problemas formulados, realizando-se assim uma análise

crítica dos aspectos gerais da Delação Premiada, confrontando-os com os fatos reais, o que

permitirá adquirir as respostas procuradas.

No que tange aos métodos de procedimento, serão utilizados os métodos histórico,

comparativo e funcionalista, uma vez que se objetiva esquematizar uma sucinta evolução

histórica da Delação Premiada, entender sua função e verificar sua aplicabilidade nos dias

atuais.

Objetivando harmonizar uma posição teórico-metodológica com o tema, empregar-

se-ão as técnicas de pesquisa documental e bibliográfica. Faz-se necessário observar que

essas técnicas permitirão a aquisição de várias informações, as quais serão obtidas através de

consultas a várias fontes. No que diz respeito à pesquisa documental, utilizar-se-ão as

decisões jurisprudências e a legislação, e na pesquisa bibliográfica, tem-se como fontes:

doutrinas, teses, revistas de circulação nacional e periódicos, o que constitui um abundante

material, essencial para análise do instituto da Delação Premiada.

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1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES E O CONCEITO DE DELAÇÃO

PREMIADA

A atual realidade social, adicionada ao enorme avanço tecnológico, é considerada

positiva, por trazer uma melhor qualidade de vida aos seres humanos e negativa por fazer

emergir novos tipos de crimes.

Infelizmente, a criminalidade evoluiu a tal ponto que quase não está conseguido ser

combatida. Em decorrência dessa não resolução da criminalidade, fez-se necessária a criação

de uma medida político-criminal que a combatesse ou ao menos a reduzisse a um nível que

pudesse ser tolerado pela sociedade.

Assim, criou-se a Delação Premiada, que tem como finalidade básica a busca de

falhas nas organizações criminosas cultivando a infidelidade criminal entre os seus.

Mister observar que essa infidelidade se configura na quebra da affectio societatis,

um dos componentes positivos na luta contra determinadas modalidades de crimes. Logo, a

Delação não foi ignorada no sistema legal atual.

Após a aceitação da Delação Premiada como forma de combate aos avanços da

criminalidade no ordenamento jurídico brasileiro, percebeu-se que tal instituto apresenta

aspectos que sugerem críticas: a questão da ética, da demonstração da ineficácia do Estado

no combate à criminalidade e do menosprezo pelos valores fundamentais.

No que diz respeito à ética, é importante conceituá-la para se verificar,

posteriormente, se a Delação Premiada se configura, realmente, como um instituto

reprovável, imoral, como defendem alguns estudiosos.

Pode-se afirmar que a ética corresponde a uma espécie de delimitação do que é

certo, do que pode ser realizado sem ferir seus próprios princípios.

De outra forma, e com base nos estudos filosóficos, pode-se definir a ética como

sendo toda ação considerada boa para o indivíduo e para a sociedade. Faz-se necessário não

confundir ética com moral, já que esta é definida como um conjunto de normas, costumes,

princípios, preceitos e valores que orientam o comportamento de cada indivíduo em seu

grupo social.

Diante dessas distinções, percebe-se claramente, que para alguns estudiosos do

assunto, a Delação Premiada é imoral, já que a traição evidencia fraqueza de caráter. Nesse

sentido, sustenta-se que a lei deve instituir condutas sérias, moralmente aceitáveis, o que não

aconteceu quando se acolheu a figura da Delação Premiada no Brasil.

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Ainda sobre a questão da ética, existe posicionamento divergente do acima citado.

Os ilustres estudiosos que se encaixam nesse posicionamento defendem que não existe uma

efetiva traição e sim uma adesão de esforços por parte do Estado e do delator no intuito de

restaurar a ordem que fora perturbada com o cometimento do crime.

Na verdade, entende-se que o delator, arrependido, embutiu-se de um sentimento de

culpa, de uma vontade que o impele a mudar de direção e contribuir com a justiça.

Cumpre ressaltar que devem ser observados alguns requisitos, firmados pela

jurisprudência, quando da aplicação da delação, evitando-se assim, qualquer forma de

constrangimento em relação à vontade do delator. Tais requisitos são a autenticidade da

confissão, a inexistência de qualquer sentimento de ódio ou vingança por parte do delator e a

inexistência de abrandamento ou mesmo banimento de responsabilidades. Nesta ótica, a

delação se reveste de eticidade, passando a ser considerada antiética e moralmente

reprovável o possível abuso por parte dos agentes estatais na obtenção da delação.

Além das questões éticas, outros problemas podem ser identificados, destacando-se

dentre ele, a possibilidade de o instituto gerar a "acomodação", a apatia da autoridade

incumbida da apuração, que passando a contar com a possibilidade da delação poderá deixar

de dedicar-se com mais afinco na realização de seu ofício; é possível que a delação

proporcione de forma proposital o desvio no rumo das investigações, ainda que temporário,

porém, com reflexos negativos à apuração da verdade etc.

No que diz respeito à ineficácia do Estado no combate à criminalidade, realmente

recai sobre esse instituto a idéia de ineficiência por parte do Poder Público no combate ao

crime. Há quem defenda que quando se aceitou no ordenamento jurídico brasileiro o

instituto da Delação Premiada houve o reconhecimento de uma impotência, por parte do

Estado, em cumprir suas funções, dentre elas a segurança.

Contrariamente a esse posicionamento, há quem entenda que mesmo havendo tantas

críticas a esse instituto ele é de grande eficácia e se configura uma atitude positiva, mais

ainda, coerente, no combate a criminalidade que tanto apavora a sociedade brasileira e se usa

para defender seus pontos de vista a união de esforços entre Estado e delator já citada.

A questão do menosprezo aos valores fundamentais também é um ponto bastante

polêmico no tocante à Delação Premiada. Inserida na corrente que critica tal instituto,

encontram-se presentes doutrinadores que acreditam que a aceitação desse instituto estaria

desprezando valores como a equidade e a proporcionalidade, já que o delator estaria se

beneficiando do fato de entregar seus comparsas e respondendo pelo mesmo crime por eles

cometido só que de forma mais branda.

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Outros, ao contrário dos pensadores acima, defendem que o instituto da Delação

Premiada não fere de forma alguma os princípios da equidade e da proporcionalidade já que

ninguém delataria por delatar se não estivesse incumbido de sentimentos de notáveis valores

e com o objetivo de amenizar os problemas causados. Defendem ainda, que ao confessar a

sua participação no crime, o delator dá um passo importante rumo à sua recuperação, não

objetivando nada mais que recompensar a sociedade pelo mal que causou.

Mister observar que faz-se necessário um estudo da Delação Premiada no

ordenamento jurídico brasileiro para perceber seus efeitos e mais, para perceber se esse

instituto se adéqua à realidade social do referido ordenamento, trazendo, realmente

benefícios para a sociedade.

A Delação Premiada, também conhecida como “direito premial” não é um instituto

novo. Uma das mais antigas formas de sua utilização era a fixação de cartazes em lugares

públicos contendo a foto e o nome do bandido procurado. Nesses cartazes oferecia-se uma

recompensa para quem soubesse de alguma informação que levasse à prisão do bandido.

No Brasil a Delação Premiada foi primeiramente utilizada na época da escravidão, por

volta do ano 1500, quando queria-se capturar os negros fugidos das senzalas. Nestes casos,

pagava-se alguma soma de grande valor monetário a quem trouxesse o negro fujão ou

contratava-se um capitão do mato, figura especialista no aprisionamento de negros fugidos.

De qualquer forma, a informação de que havia fugido escravo de uma determinada fazenda ou

da necessidade de capitão do mato se dava com a fixação de cartazes. O cartaz de “Procura-

se” mais antigo que se tem registro no Brasil encontra-se no Parque Histórico General Bento

Gonçalves, localizado em São Lourenço do Sul-RS.

Fugiu por segunda vez o escravo crioulo de nome Ricardo, preto de vinte e tantos annos de propriedade de José Lopes FILHO, DE BELLEM. O MOTIVO DA FUGA FOI ELE TER FURTADO RÉIS 200$00 AO SEU SENHOR COM INTENTO DE LIBERTA-SE. GRATIFICA-SE A QUE O AGARRAR E LEVAR A CADÊA. O CONSERVADOR 08/01/1883. (TROJAHN, 2006)

Hoje em dia não se usa mais a fixação de cartazes em locais públicos. Com as recentes

mudanças tecnológicas e o advento da internet, tais cartazes passaram a ser virtuais e podem

ser encontrados em páginas eletrônicas como a do FBI – Federal Bureau Investigation

(Serviço Geral de Investigação dos Estados Unidos). Nestes tipos de sites são encontrados

links reservados especialmente a procura de fugitivos considerados perigosos com

oferecimento de recompensas para quem se dispuser a “ajudar” com as investigações.

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Atualmente a solicitação, via internet, de procurado com a maior recompensa já

estipulada é a de Osama Bin Laden. No site do FBI, oferece-se uma recompensa de 25

milhões de dólares por informações que levem diretamente à prisão ou condenação de Bin

Laden.

Não obstante, antes de conhecermos e nos aproveitarmos da expressão “Delação

Premiada”, tal instituto foi há muito utilizado. A Bíblia Sagrada relata o mais emblemático

caso de Delação Premiada: a entrega de Jesus à crucificação. No evangelho segundo São

Mateus, capítulo 26, versículos 14-16, há uma narração a respeito da traição de Judas

Iscariotes, então discípulo de Jesus, ao entrega-lhe por 30 moedas de prata.

Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes e disse: ‘Que me quereis dar, e eu vo-los trarei?’ Ajustaram com ele trinta moedas de prata e desde daquele instante procurava então uma oportunidade para entregar Jesus. (BÍBLIA SAGRADA, 1986)

Até hoje, em decorrência desse acontecimento, existe em nossa cultura popular a

tradição da “malhação de Judas”, onde pessoas de uma determinada comunidade se reúnem,

confeccionam um boneco de pano e o dependuram em uma árvore ou poste, praticando contra

ele atitudes agressivas vindo a queimá-lo posteriormente. Tal encenação representa a repulsa

ao ato de traição cometido por Judas contra a Jesus.

Necessário se faz a chamar atenção que a cólera das pessoas é dirigida ao traidor,

sendo quase indiferente ao mandante e aos algozes, os quais efetivamente poderiam ter

evitado a execução ou diminuído o sofrimento do Messias. Disso retira-se que a dor da ferida

aberta, do sofrimento e da morte repercutem com menor intensidade se comparado à delação.

Já que, mais do que provocar mera reprovação, a cagüetagem é rejeitada veementemente

como comportamento torpe, indigno, o que levou muitos prisioneiros políticos resistirem à

humilhação da tortura em nome da lealdade aos seus pares.

O homem só é considerado um ser social, quando está inserido em uma sociedade e

quando a ela se adéqua, principalmente no que diz respeito aos seus valores e

comportamento. Para que haja integração entre as pessoas se faz necessária a presença da

confiança e da lealdade, valores primordiais, senão deveres, da boa relação social. No

entanto, existem alguns tipos de relacionamentos em que o dever de lealdade e confiança é

quebrado, como no caso da delação.

Diante de tal situação, pode-se perceber que a traição não é comportamento bem

aceito em nossa cultura, pois fere o principio da lealdade. Eis ai, para alguns estudiosos do

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assunto, a grande problemática que envolve a Delação Premiada. Mesmo que haja a prática de

atos louváveis por parte dos delatores, estes sempre serão lembrados pela sua atitude de

traição, de cagüetagem para com seus comparsas.

De acordo com Rodrigues Junior, a grande problemática que envolve a Delação

Premiada diz respeito a não existência, no Direito brasileiro, de legislação específica

definidora de regras a despeito de tal instituto.

A institucionalização deste estímulo, em norma ou negócio jurídico, estabelece uma nova proposição jurídica além das existentes. A prestação tem seu “premio” em liberar o devedor. A não prestação importa a “pena” de exigir de seu patrimônio, ou, excepcionalmente, de sua liberdade ambulatória, o ressarcimento. A conduta sobrenormal necessita de um suporte jurídico a sancioná-la, prestigiando-a sobre a forma de uma vantagem. (RODRIGUES JUNIOR, 2006, p. 287)

Historicamente, outro caso de Delação Premiada ocorrido no Brasil foi o Joaquim

Silvério do Reis, em 1789, na Inconfidência Mineira:

[...] um dos conjurados, que andava enforcado, teve a brilhante idéia de se livrar dos apuros financeiros enforcando seus colegas. Foi assim que o Coronel Joaquim Silvério dos Reis obteve da Fazenda Real o perdão de uma dívida de 172:763$919, oriunda de um contrato de entradas mal-sucedido. Quase ao mesmo tempo da denúncia de Joaquim, dois outros sujeitos também denunciaram o movimento ao Governador Luís Antônio Furtado de Mendonça: O portuga Basílio de Brito Malheiro do Lago e o açoriano Inácio Correia Pamplona. (REIS, 1979, p. 52)

No contexto histórico brasileiro de 1964, a Delação Premiada também foi largamente

utilizada. Aqui os perseguidos políticos delatavam seus companheiros em troca do perdão de

seus crimes ou exílio.

Em nossa história recente os fatos constantes em relatos que todo dia nos surpreendem novas publicações sobre o Golpe Militar de 1964 e seu recrudescimento a partir de 12 de dezembro de 1968 (Ato Institucional n º 05), inclui a delação em condições adversas por figurões de vida política brasileira ‘acima de qualquer suspeita’. Tudo isso indica o nível do problema que temos de enfrentar quando se implanta este instituto para fins de abordar uma criminalidade diferente da comum, como a praticada por organizações criminosas, principalmente nos crimes de ‘colarinho branco’ (Write collar crime), que não muito raro financia a transformação de votos em cargos políticos. (SANTOS, 2005, INTERNET)

Feitas tais considerações, falar-se-á agora a despeito do conceito de Delação Premiada.

O verbo delatar, de acordo com os estudos de Piragibe e Malta quer dizer: Denunciar alguém como autor de uma infração quando o denunciante é pessoa não incumbida de participar da repressão penal, nem é legitimamente interessada na acusação, e procura algum proveito indefensável. Tem, portanto, sentido pejorativo: "Alcaguetar". (PIRAGIBE E MALTA, 1988, p. 273)

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Segundo o Dicionário Jurídico Piragibe (2007, p.366) “é causa de diminuição de pena

para o acusado ou partícipe que entregar seus comparsas”.

A expressão delação origina-se do latim delatione e quer dizer denunciar, revelar

(crime ou delito).

Fernando Capez, em sua obra intitulada Curso de Processo Penal (2003, p. 298),

interpreta a delação premiada como sendo “a afirmativa feita por um acusado, ao ser

interrogado em juízo ou ouvido na polícia. Além de confessar a autoria de um fato criminoso,

igualmente atribui a um terceiro a participação como comparsa.”

Adenilton Luis Teixeira relata que delação é a denúncia ou revelação feita em juízo ou

à autoridade policial, por um acusado de um crime, da participação de terceiro elemento como

seu comparsa na realização de delito.

Segundo Maria Izabel Duran:

A delação premiada é definida como instituto criado para estimular o criminoso a delatar outros criminosos, perigosos à sociedade, contribuindo com ela e tendo como recompensa, uma redução considerável de sua pena ou até mesmo, receber um tipo de pena menos rigoroso. Em outras palavras, é um benefício concedido ao indivíduo autor de crime em concurso com outros indivíduos, que cooperar na investigação, auxiliando os policiais na elucidação de crimes e que entregar seus companheiros. (DURAN, 2008, INTERNET)

Já para Rafael Boldt delação premiada é:

A possibilidade que tem o participante ou associado de ato criminoso de ter sua pena reduzida ou até mesmo extinta, mediante a denúncia de seus comparsas às autoridades, permitindo o desmantelamento do bando ou quadrilha, ou ainda facilitando a libertação do seqüestrado, possível no caso do crime de extorsão mediante seqüestro cometido em concurso de agentes. (BOLT, 2005, p.4)

De outra forma, a delação premiada é um instrumento pelo qual um réu diz o que sabe

em troca de um alívio na pena.

Segundo o advogado e Conselheiro Federal da OAB (Ordem dos Advogados do

Brasil) Alberto Zacarias Toron, a delação premiada é considerada um prêmio dado a um réu,

geralmente preso por extorsão mediante seqüestro, lavagem de dinheiro e em crimes contra o

sistema financeiro, e só pode ser concedida por um juiz.

De acordo com Newton Freitas (2006, INTERNET), “A delação premiada é o ato de

um acusado, em troca da redução ou até isenção da pena, denunciar outros participantes do

crime, indicar a localização da vítima em caso de seqüestro ou contribuir, de alguma forma,

para a resolução do caso.”

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De Plácido e Silva, em sua obra Vocábulo Jurídico (1982, p. 23), ao definir delação,

consigna que: “originado de delatio, de deferre (na sua acepção de denunciar, delatar, acusar,

deferir), é aplicado na linguagem forense mais propriamente para designar a denúncia de um

delito [...]”.

Para Adalberto José Q. T. Aranha (2006, p. 97), delação, ou chamamento de co-réu, é

a "afirmativa feita por um acusado, ao ser interrogado em juízo ou ouvido na polícia, e pela

qual, além de confessar a autoria de um fato criminoso, igualmente atribui a um terceiro a

participação como seu comparsa".

Cezar Roberto Bittencourt entende que a delação premiada versa sobre a redução da

pena (que pode chegar em algumas hipóteses, até mesmo a total isenção da pena) para o

delinqüente que delatar seus comparsas, concedida pelo juiz na sentença condenatória, desde

que sejam satisfeitos os requisitos que estabelece a lei.

De acordo com o Promotor gaúcho Gilberto Thums, a delação "ocorre quando o

indiciado, espontaneamente, revelar a existência da organização criminosa, permitindo a

prisão de um ou mais de seus integrantes".

Gabriel C. Zacarias de Inellas interpreta o instituto da delação premiada como sendo a

afirmativa do co-réu, ao ser interrogado, na qual, além de confessar a autoria de um fato

antijurídico, igualmente atribui a um terceiro a participação, como seu comparsa.

Por sua vez, o doutrinador Guilherme de Souza Nucci (1997, p. 208) determina que

ocorre delação premiada “quando se realiza o interrogatório de um co-réu e este, além de

admitir a prática do fato criminoso do qual está sendo acusado, vai além e envolve outra

pessoa, atribuindo-lhe algum tipo de conduta criminosa, referente a mesma imputação”.

O site www.wikipedia.org define que a Delação premiada: É um benefício dado ao criminoso que aceite colaborar na investigação ou entrega de seus companheiros. Esse benefício é previsto em diversas leis brasileiras: Código Penal, Leis n° 8.072/90 – Crimes Hediondos e equiparados, 9.034/95 – Organizações Criminosas, 7.492/86 – Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, 8.137/90 – Crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo, 9.613/98 – Lavagem de dinheiro, 9.807/99 – Proteção a Testemunhas, 8.884/94 – Infrações contra a Ordem econômica e 11.343/06 – Drogas e Afins.

Dessa forma, pode-se conceituar Delação Premiada como sendo a imputação da

prática de um crime a terceiro, promovida pelo acusado no momento de seu interrogatório, em

que o mesmo confessa sua participação no delito, ou seja, é um benefício concedido ao réu

colaborador que assume a autoria do delito e imputa a prática deste mesmo crime a terceiros.

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Damásio de Jesus estabelece uma distinção entre delação e delação premiada. Diz ele

que: Delação é a incriminação de terceiro realizada por um suspeito, investigado, indiciado ou réu, no bojo de seu interrogatório (ou em outro ato). “Delação premiada” configura aquela iniciativa pelo legislador que premia o delator concedendo-lhe benefícios (redução de pena, perdão judicial, aplicação de regime penitenciário brando etc. (JESUS, 2006, p. 26-27)

É de grande importância observar que a Delação Premiada não se caracteriza como

uma confissão (strictu sensu), como a prevista no art. 65, inciso III, alínea “d” do Código

Penal, pois para isso seria necessário que o fato somente fosse dirigido ao depoente e nem

como testemunho, pois nesse caso não haveria a existência de relacionamento entre o delator

e os outros integrantes do fato delituoso. Logo, se o interrogado somente atribuir a

responsabilidade dos fatos a terceiro, sem confessar, será classificado apenas como

testemunha, já que a Delação somente ocorre quando há confissão do réu e a incriminação de

um co-autor ou partícipe. Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: [...] III - ter o agente: [...] d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime; [...].

Outro ponto de grande importância que deve ser exaltado é o fato da Delação

Premiada também não se configurar como arrependimento eficaz e desistência voluntária,

previstos no Código Penal, no art. 15 e nem arrependimento posterior previsto no art. 16 da

mesma legislação. Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados. Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída à coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.

Nesse sentido, percebe-se que a Delação nada mais é do que um estímulo à verdade

processual, que se caracteriza como instrumento de relevante importância na investigação e na

repressão de determinadas formas de crime e objetiva fornecer informações ao Estado que

auxiliem a persecução penal.

18

2 DELAÇÃO PREMIADA NO BRASIL

A Delação Premiada teve sua origem escrita no Brasil com as Ordenações Filipinas,

que esteve em vigência por 227 anos, quando da entrada em vigor do Código Criminal de

1830. De acordo com Damásio de Jesus:

A parte criminal do Código Filipino constava no título V, capítulo CXVI, que tratava da delação premiada sob o título ‘Como se perdoará os malfeitores, que derem outros à prisão’, que concedia o perdão aos criminosos delatores e tinha abrangência, inclusive por premiar, como o perdão, criminosos delatores de delitos alheios. (JESUS, 2006, p.26-27)

O direito premial, também conhecido como Delação Premiada, também esteve

presente em movimentos históricos políticos como o caso da Inconfidência Mineira em que

Joaquim Silvério dos Reis conseguiu o perdão de suas dívidas por parte da Fazenda Real ao

delatar seus companheiros.

Em época mais recente, verifica-se a utilização do instituto da delação premiada,

durante o regime militar. Neste sentido, não havia nenhuma legislação específica tratando

sobre o tema, a aplicação da Delação Premiada se dava apenas quando “criminosos”

políticos eram capturados e necessitavam entregar seus companheiros para a obtenção do

abrandamento da pena ou o exílio.

“Mais recentemente, a delação premiada foi usada no Golpe Militar de 1964 com o

fim de descobrir supostos ‘criminosos’ que não concordavam com o regime militar

repressivo”. (GUIDI, 2006, p.111)

Após as Ordenações Filipinas, a primeira legislação a tratar do tema Delação

Premiada no Brasil foi a Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, que dispôs sobre os crimes

hediondos prevendo a diminuição da pena de 1 (um) a 2/3 (dois) terços para o participante

ou associado que denunciasse para a autoridade competente o bando ou quadrilha,

possibilitando seu desarticulamento.

“Lei nº 8.072/90, art. 8º, parágrafo único – O participante que denunciar à autoridade

o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de 1 (um) a

2/3 (dois terços).”

Necessário chamar atenção para a existência de uma modalidade de Delação

Premiada denominada de acordo de leniência. Tal instituto foi utilizado apenas na Lei

8.884/94.

19

Segundo Camargo (2004, INTERNET) acordo de leniência: “é o ajuste que permite

ao infrator participar da investigação, com o fim de prevenir ou reparar dano de interesse

coletivo.” Apesar de não mencionada pela maioria dos doutrinadores, a Lei 8.884, de 11/06/1994, que trata da prevenção e a repressão ás infrações contra a ordem econômica trouxe uma modalidade de delação premiada, denominada em seu art. 35-B e 35-C, de acordo de leniência. Diferenciando-se em relação as demais legislações, essa modalidade de delação pode ser aplicada às pessoas físicas e jurídicas que colaborem com as investigações e o processo administrativo instaurado para apuração de irregularidades. (GUIDI, 2006, p.113) Art. 35-B. A União, por intermédio da SDE, poderá celebrar acordo de leniência, com a extinção da ação punitiva da administração pública ou a redução de um a dois terços da penalidade aplicável, nos termos deste artigo, com pessoas físicas e jurídicas que forem autoras de infração à ordem econômica, desde que colaborem efetivamente com as investigações e o processo administrativo e que dessa colaboração resulte: (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) I - a identificação dos demais co-autores da infração; e (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) II - a obtenção de informações e documentos que comprovem a infração noticiada ou sob investigação. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) § 1o O disposto neste artigo não se aplica às empresas ou pessoas físicas que tenham estado à frente da conduta tida como infracionária. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) § 2o O acordo de que trata o caput deste artigo somente poderá ser celebrado se preenchidos, cumulativamente, os seguintes requisitos: (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) I - a empresa ou pessoa física seja a primeira a se qualificar com respeito à infração noticiada ou sob investigação; (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) II - a empresa ou pessoa física cesse completamente seu envolvimento na infração noticiada ou sob investigação a partir da data de propositura do acordo; (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) III - a SDE não disponha de provas suficientes para assegurar a condenação da empresa ou pessoa física quando da propositura do acordo; e (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) IV - a empresa ou pessoa física confesse sua participação no ilícito e coopere plena e permanentemente com as investigações e o processo administrativo, comparecendo, sob suas expensas, sempre que solicitada, a todos os atos processuais, até seu encerramento. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) § 3o O acordo de leniência firmado com a União, por intermédio da SDE, estipulará as condições necessárias para assegurar a efetividade da colaboração e o resultado útil do processo. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) § 4o A celebração de acordo de leniência não se sujeita à aprovação do CADE, competindo-lhe, no entanto, quando do julgamento do processo administrativo, verificado o cumprimento do acordo: (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) I - decretar a extinção da ação punitiva da administração pública em favor do infrator, nas hipóteses em que a proposta de acordo tiver sido apresentada à SDE sem que essa tivesse conhecimento prévio da infração noticiada; ou (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) II - nas demais hipóteses, reduzir de um a dois terços as penas aplicáveis, observado o disposto no art. 27 desta Lei, devendo ainda considerar na gradação da pena a efetividade da colaboração prestada e a boa-fé do infrator no cumprimento do acordo de leniência. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) § 5o Na hipótese do inciso II do parágrafo anterior, a pena sobre a qual incidirá o fator redutor não será superior à menor das penas aplicadas aos demais co-autores da infração, relativamente aos percentuais fixados para a aplicação das multas de que trata o art. 23 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

20

§ 6o Serão estendidos os efeitos do acordo de leniência aos dirigentes e administradores da empresa habilitada, envolvidos na infração, desde que firmem o respectivo instrumento em conjunto com a empresa, respeitadas as condições impostas nos incisos II a IV do § 2o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) § 7o A empresa ou pessoa física que não obtiver, no curso de investigação ou processo administrativo, habilitação para a celebração do acordo de que trata este artigo, poderá celebrar com a SDE, até a remessa do processo para julgamento, acordo de leniência relacionado a uma outra infração, da qual não tenha qualquer conhecimento prévio a Secretaria. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) § 8o Na hipótese do parágrafo anterior, o infrator se beneficiará da redução de um terço da pena que lhe for aplicável naquele processo, sem prejuízo da obtenção dos benefícios de que trata o inciso I do § 4o deste artigo em relação à nova infração denunciada. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) § 9o Considera-se sigilosa a proposta de acordo de que trata este artigo, salvo no interesse das investigações e do processo administrativo. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) § 10. Não importará em confissão quanto à matéria de fato, nem reconhecimento de ilicitude da conduta analisada, a proposta de acordo de leniência rejeitada pelo Secretário da SDE, da qual não se fará qualquer divulgação. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) § 11. A aplicação do disposto neste artigo observará a regulamentação a ser editada pelo Ministro de Estado da Justiça. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000) Art. 35-C. Nos crimes contra a ordem econômica, tipificados na Lei no 8.137, de 27 de novembro de 1990, a celebração de acordo de leniência, nos termos desta Lei, determina a suspensão do curso do prazo prescricional e impede o oferecimento da denúncia. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-se automaticamente a punibilidade dos crimes a que se refere o caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

Em 1995, mais precisamente em 03 de maio, entrou em vigor a Lei nº 9.034, que

tratou sobre a utilização de meios operacionais para a repressão de ações praticadas por

organizações criminosas.

“Lei nº 9.034/95, art. 6º - Nos crimes praticados em organização criminosa, a pena

será reduzida de um a dois terços, quando a colaboração espontânea do agente levar ao

esclarecimento de infrações penais e sua autoria.”

Ainda em 1995, a Lei 9.080 também tratou do tema Delação Premiada ao acrescentar

um dispositivo à Lei no 7.492/86 (Lei do Colarinho Branco), que dispôs sobre os crimes

contra o Sistema Financeiro Nacional, estabelecendo a Delação Premiada nos crimes em que

haja co-autoria ou formação de quadrilha, utilizando-se para tanto da expressão “confissão

espontânea”. Art. 25[...] § 2º Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial

21

ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços. (Incluído pela Lei nº 9.080, de 19.7.1995)

Em 1996 foi sancionada a Lei nº 9.269 que acabou por alterar o art. 159, §4º, do

Código Penal, determinando que a Delação Premiada fosse aplicada quando fosse o crime

cometido em concurso e um dos concorrentes denunciasse a prática de crime e os outros

participantes, possibilitando a liberação do seqüestrado.

Art. 159/CP - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: [...] § 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.

Na Lei 9.613 de 1998, denominada de Lei de Lavagem de Dinheiro, ficou

estabelecida a Delação Premiada para o “colaborador espontâneo”, como assim determina o

artigo 1º, § 5º: A pena será reduzida de um a dois terços e começará a ser cumprida em regime aberto, podendo o juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena restritiva de direitos, se o autor, co-autor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais e de sua autoria ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.

Percebendo-se a necessidade de evolução do Instituto, foi elaborada a Lei 9.807 em

1999, que instituiu a possibilidade do perdão judicial e da extinção da punibilidade para o

agente colaborador.

Art. 13 - Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a conseqüente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado: I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa; II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada; III - a recuperação total ou parcial do produto do crime. Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso. Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terços.

Mister observar que a Lei nº 9.807/99 foi a mais abrangente de todas as leis a

despeito da Delação Premiada, pois estabeleceu maiores requisitos para a concessão do

22

benefício, além de prever a aplicação de medidas especiais de segurança e de proteção da

integridade física do réu colaborador em seu artigo 15, confirmando a evolução da Delação

Premiada no ordenamento jurídico brasileiro. Art. 15. Serão aplicadas em benefício do colaborador, na prisão ou fora dela, medidas especiais de segurança e proteção a sua integridade física, considerando ameaça ou coação eventual ou efetiva. § 1o Estando sob prisão temporária, preventiva ou em decorrência de flagrante delito, o colaborador será custodiado em dependência separada dos demais presos. § 2o Durante a instrução criminal, poderá o juiz competente determinar em favor do colaborador qualquer das medidas previstas no art. 8o desta Lei. § 3o No caso de cumprimento da pena em regime fechado, poderá o juiz criminal determinar medidas especiais que proporcionem a segurança do colaborador em relação aos demais apenados.

Em 11 de janeiro de 2002, foi instituída a Lei 10.409, posteriormente revogada pela

Lei 11.343 de 23 de agosto de 2006, denominada de Lei Antidrogas. Tal legislação prevê a

Delação Premiada em seu art. 41.

Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços.

2.1 A DELAÇÃO PREMIADA EM OUTROS PAISES

Apesar de ser um instituto de recente aplicação no Brasil, a Delação Premiada há

muito tempo já foi consolidada em outros países. E assim sendo, faz-se necessário tecer

alguns comentário sobre este instituto no Direito Comparado.

2.1.1 Na Itália

Na Itália, seu surgimento se deu com o intuito de desmembrar as famosas Máfias,

que só passaram a ser desvendadas a partir 1980. Com a finalidade de obter o

arrependimento, a confissão e a delação foi criada, nesse pais, em 29 de maio de 1982, a Lei

misure per la difesa dell´´ordinamento constituzionale.

No Direito italiano há três figuras relacionadas à colaboração com a justiça, que são:

23

Regime jurídico do “arrependido”, ou seja, do concorrente que, antes da sentença condenatória, dissolve ou determina a dissolução da organização criminosa; retira-se da organização, se entrega sem opor resistência ou abandona as armas, fornecendo, em qualquer caso, todas as informações sobre a estrutura e organização da societas celeris; impede a execução dos crimes para os quais a organização se formou. [...] Regime jurídico do “dissociado”, ou seja do concorrente que, antes da sentença condenatória se empenha com eficácia para elidir ou diminuir as conseqüências danosas ou perigosas do crime ou para impedir a prática de crimes conexos e confessa todos os crimes cometidos. [...] Regime jurídico do “colaborador”, ou seja do concorrente que, antes da sentença condenatória, além dos comportamentos acima previstos, ajuda as autoridades policiais e judiciárias na colheita de provas decisivas para individualização e captura de um ou mais autores dos crimes ou fornece elementos de prova relevantes para exata reconstituição dos fatos e a descoberta dos autores. (GRINOVER, 1995, p.15)

Atualmente, a Delação Premiada no Direito italiano encontra-se regulada pelo artigo

289, §3º e 630 do Código Penal e pelas Leis nº 304/82, 34/87 e 82/91, existindo ainda o

Decreto-lei nº 678/1994, que estabeleceu que os requisitos para aceitação de uma pessoa

como colaboradora devem ser interpretados de forma restritiva.

Necessário se faz chamar a atenção para o fato de que os benefícios concedidos na

Itália aos “colaboradores” localizam-se no campo dos crimes cometidos em face da segurança

interior do Estado, sendo exclusivamente focada para o desmantelamento da máfia,

objetivando desmembrar sua estrutura sigilosa.

O caso mais famoso de Delação Premiada ocorrido na Itália foi o de Tommaso

Buscetta durante a “Operação mãos limpas”. Nessa operação foram presos 475 mafiosos.

Interessante que Tommaso não pleiteou qualquer tipo de prêmio pela sua delação, postulando

apenas segurança pessoal e proteção aos seus familiares. Num acordo entre governos,

Tommaso acabou por ir cumprir sua pena nos Estados Unidos.

2.1.2 Nos Estados Unidos

Nos Estados Unidos, esse instituto teve sua aplicação em 1789, com a criação do US

Marshall’s Service. O US Marshall’s Service teve como foco principal a proteção de

membros do Poder Judiciário e as testemunhas de acusação de crimes federais. Com a

evolução da sociedade e, conseqüentemente, da criminalidade, o US Marshall’s Service

sofreu consideráveis mudanças. Atualmente, o US Marshall’s Service atua por meio do programa Witness Security

Program que garante a segurança de pessoas ameaçadas, que arriscam suas vidas

24

colaborando com a justiça americana no combate ao crime organizado e demais

atividades criminais significativas. (FELIX, 2000, p. 293)

De acordo com Lima (1999, p. 28). “No sistema americano, repousa a idéia de que a

verdade é fruto de uma decisão consensual sistematicamente negociada. Isto vale para a

barganha que se faz entre a promotoria e a defesa, quando o réu se declara culpado (plea

bargain ou plea guilty)”.

Necessário se faz destacar que nos Estados Unidos não existe a absolvição como

forma de prêmio pela delação. Aqui o Ministério Público age de modo jurídico-político e

concluí, após a investigação pelo interesse na propositura da ação penal considerando tanto

questões de política criminal como também chances e possibilidades.

Wálter Fanganiello Maierovitch com propriedade destaca:

[...] é largamente aplicada no Processo Penal norte-americano, com os mais surpreendentes e espantosos acordos (agreement). Inúmeros são os casos de avenças disparadas: admite-se trocar homicídio doloso típico por culposo; tráfico por uso de drogas; roubo qualificado pelo emprego de arma de fogo por furto simples. Para os críticos mais severos, trata-se de prática lúdica, quando se nota que dez crimes variados são trocados pela declaração de culpabilidade (plea of guilty) de apenas um, que pode ser até o menos grave. A plea bargaining visa, fundamentalmente, a punição, ainda que branda e socialmente injusta. É justificada como poderoso remédio contra a impunidade, diante do elevado número de crimes a exigir colheita de prova induvidosa da autoria, coma conseqüente pletora de feitos e insuportável carga de trabalho do judiciário. (1989, p. 15)

2.1.3 Na Espanha

Na Espanha, equivalente a Delação Premiada no Brasil, encontra-se a figura do

arrependimento processual, tipificado nos artigos 376 e 579, nº3 do Código Penal espanhol,

que tem como premiação a atenuação da pena. Para isso, mister a presença de algumas condições: a) abandono das atividades delituosas; b) confissão dos fatos delituosos nos quais tenha participado; e c) ajuda a impedir a produção do delito ou auxiliar na obtenção de provas para a identificação ou captura dos demais, ou, ainda, cooperação eficaz para a consecução de provas que impeçam a atuação ou desenvolvimento das organizações criminosas em que tenha participado. Na verdade, o legislador espanhol consagra a colaboração tanto preventiva quanto repressiva, exigindo que a colaboração seja eficaz para a concessão da benesse. Trata-se, no caso, da figura do testigo de La Corona, pela qual o Estado, por razões de interesse público, concede imunidade ao acusado, o qual perde tal condição ou sequer chega a adquirir esse status. (OLIVEIRA JUNIOR, 2001, p. 275)

25

O instituto da Delação Premiada no Direito espanhol também recebe a denominação

coloquial de delincuente arrependido (delinqüente arrependido).

É necessário enfatizar que os artigos 376 e 579 apresentam redações semelhantes,

versando o primeiro sobre os crimes contra a saúde pública, referindo-se, especificamente a

organizações ou associações destinadas ao tráfico ilegal de drogas e o segundo sobre os

crimes de terrorismo.

2.1.4 Na Colômbia

Na Colômbia, a Delação Premiada encontra-se regulada no Código Penal, nos artigos

413 a 418 e no Código de Processo Penal, no art. 369-A. Tal dispositivo estabelece uma série

de benefícios àquele que colaborar com o Poder Judiciário. Mister observar que ao contrário

de outras legislações, a concessão dos benefícios não se condiciona à confissão. Logo, não

basta ao agente apenas delatar seu comparsa, a delação deve vir acompanhada de provas

eficazes.

Note-se que, não exigindo a legislação colombiana que a delação venha acompanhada da confissão do agente, o Estado deverá provar a culpa deste em juízo, uma vez que, delatando os comparsas e não confessando, não há como, no momento da delação, incriminar o delator. (GUIDI, 2006, p.110)

2.1.5 Na Alemanha

Na Alemanha, encontramos a figura da Kronzeugenrelegelun que, ao ser traduzido

significa “clemência”. Aqui o Estado estabelece uma premiação ao acusado que colaborar

com a Justiça. O Código Penal Alemão chama atenção para o arrependimento post delictum,

podendo haver exclusão da responsabilidade criminal, caso haja uma colaboração eficaz do

agente. O Código Penal Alemão concede o benefício da diminuição da introduziu ou sua dispensa mesmo quando a colaboração do agente não é efetiva, ou seja, não evita o crime, mas que, ao menos, diminua o perigo provocado, impeça que a atividade criminosa seja continuada ou sucedida por outra ou contribua para que a associação criminosa se extinga. Quando o resultado é completo e eficaz no sentido de impedir o crime, é concedida a impunidade total ao delator. (OLIVEIRA JUNIOR, 2001, p.274)

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2.1.6 Em Portugal e em Outros Países

O Direito português também introduziu alguns dispositivos em sua legislação criminal

que, assim como a maioria das legislações estrangeiras, refere-se às associações criminosas.

São estes dispositivos: Art. 299º - Associação criminosa 1- Quem promover ou fundar grupo, organização ou associação cuja finalidade ou actividade se dirigida à prática de crimes é punido com pena de prisão de 1 a 5 anos. [...] 4- As penas referidas podem ser especialmente atenuadas ou não ter lugar a punição se o agente impedir ou se esforçar seriamente por impedir a continuação dos grupos, organizações ou associações, ou comunicar à autoridade a sua existência de modo a esta poder evitar a pratica de crimes. Art. 300º - Organizações terroristas [...] 6- É correspondentemente aplicável o disposto no nº4 do art. 299º. Art. 301º - Terrorismo 1- [...] 2- A pena pode ser especialmente atenuada ou não ter lugar a punição se o agente abandonar voluntariamente a sua actividade, afastar ou fizer diminuir consideravelmente o perigo por ela provocado, impedir o resultado que a lei quer evitar se verifique, ou auxiliar concretamente na escolha das provas decisivas para a identificação ou captura de outros responsáveis.

Estabelecendo-se uma comparação entre a legislação portuguesa e a brasileira, o crime

de associação criminosa previsto no art. 299º do Código Penal Português é o mesmo crime de

quadrilha ou bando previsto no art. 288 do Código Penal Brasileiro.

É significativo registrar que a Delação Premiada é também regulada nas legislações do

Chile, em seu art. 8º do Código Penal e da Argentina, em seu art. 217, da mesma legislação

criminal.

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3 REQUISITOS E BENEFÍCIOS PARA CONCESSÃO DA DELAÇÃO

PREMIADA

Quando da aplicação da Delação Premiada se faz necessário observar quais os

benefícios por ela concedidos, além, obviamente, dos requisitos para esta concessão.

Como visto anteriormente, a Delação Premiada nada mais é do que uma doação de

prerrogativas àquele que, voluntariamente, tenha colaborado, de forma efetiva, à investigação

policial ou ao processo criminal. Este instituto encontra amparo na Lei 9.807/99 (Proteção às

Vítimas e Testemunhas), nos seguintes termos: Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a conseqüente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado: I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa; II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada; III - a recuperação total ou parcial do produto do crime. Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso.

De acordo com este dispositivo legal, pode-se perceber que os requisitos para

concessão do benefício da Delação Premiada são a colaboração efetiva, eficaz e natural na

investigação e no processo criminal, desde que essa colaboração logre êxito; a descoberta dos

demais co-autores ou partícipes; a localização da vítima com integridade física resguardada e

a recuperação total ou parcial do objeto do crime.

No tocante à colaboração efetiva, esta deve ter sido eficaz, possibilitando assim, os

efeitos exigidos pela norma, quais sejam, a identificação dos demais co-autores ou partícipes

da ação criminosa, a localização da vítima com sua integridade física preservada, ou a

recuperação total ou parcial do produto do crime.

Vale ressaltar, acerca da eficácia, que David Teixeira Araújo assim entende:

O requisito da efetividade da colaboração não se confunde, portanto, com sua eficácia, dada a condição prevista na parte final do dispositivo. Para a concessão do perdão judicial, deve a colaboração ser voluntária, efetiva e de algum modo ser eficaz, a produzir ao menos um dos efeitos desejados que empolgaram o acusado a colaborar [...] A eficácia, destarte, coloca-se como resultado posterior que independe da natureza da colaboração. Isto é, sendo a colaboração voluntária e efetiva, dela poderá surgir ou não um dos três resultados previstos nos incisos, qualquer deles capazes de justificar o perdão judicial, que se funda, como se verá a seguir, na menor culpabilidade do agente e na finalidade da sanção penal em face dessa menor reprovabilidade. Se, todavia, nenhum dos resultados advier de uma colaboração caracteristicamente voluntária e efetiva, faltará um requisito de ordem objetiva. (1999, p. 06)

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Desta forma, pode-se perceber que incidem sobre este instituto requisitos objetivos

como a efetiva colaboração, que por sua vez implica na possível identificação dos demais co-

autores ou partícipes da ação criminosa; a localização da vítima com a sua integridade física

preservada e a recuperação total ou parcial do produto do crime e requisitos subjetivos como a

primariedade do réu, devendo se levar em conta a personalidade do beneficiado e a natureza,

circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso.

Estabelece o inciso I do art. 13: “a identificação dos demais co-autores ou partícipes

da ação criminosa”. Necessário se faz chamar a atenção que só será possível a concessão do

perdão judicial se forem identificados todos os participantes da ação criminosa.

No requisito que alude à localização da vítima com sua integridade física preservada

(Inciso II, art. 13 da Lei 9.807/99) entende-se que não se deve conceder a benesse do perdão

judicial se for verificado que a vítima padeceu de maus tratos, não sendo suficiente que o

sujeito passivo tenha sido encontrado vivo.

Por último, no que diz respeito aos requisitos, encontra-se a recuperação total ou

parcial do produto do crime (artigo 13, inciso III, da Lei nº 9.807/99). Aqui estabelece a

doutrina que deve haver pelo menos a recuperação parcial de tal produto para que se

configure o benefício do perdão judicial.

Diante do exposto, pode-se entender que os requisitos objetivos (efetiva colaboração,

localização da vítima com a sua integridade física preservada e recuperação total ou parcial do

produto do crime) para concessão do perdão judicial são alternativos, ou seja, uma vez

atendido um deles, o réu colaborador poderá, se preencher os requisitos subjetivos, receber o

perdão judicial. Já os requisitos subjetivos devem ser atendidos cumulativamente.

Existe posição contrária que interpreta a não existência de alternatividade, nem tão

pouco de cumulatividade.

De acordo com Sérgio Donat König:

Se houver co-autores e partícipes todos deverão ser identificados, se, além disso, houver vítimas também deverão ser libertadas todas as vítimas com sua integridade física preservada. Por fim, nos crimes em que há co-autores ou partícipes, vítimas e produtos do crime, devem todos ser identificados, todas as vítimas localizadas e com sua integridade física preservada e os produtos do delito recuperados total ou parcialmente. (2000, p. 06)

Também transcorre do mesmo entendimento o estudioso Bruno Cezar da Luz Pontes

que, em um artigo da internet, determina que:

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Cabe indagar sobre a cumulatividade ou alternatividade dos incisos do art. 13. Trata-se de cumulatividade, e não de alternatividade. Salvo impossibilidade de efetivação dos três requisitos, como no caso de homicídio onde não se fala em recuperação total ou parcial do produto do crime, necessário sempre que a colaboração do co-autor seja efetiva, voluntária, que ele seja primário e que desta colaboração tenha resultado a identificação dos demais participantes, a localização da vítima com sua integridade física preservada e a recuperação total ou parcial do produto do crime.

Logo, de acordo com o exposto acima, para que o acusado tenha o direito ao perdão

judicial necessário se faz a satisfação de todos os incisos presentes no art. 13 da Lei nº

9.807/99, voluntariamente.

Não obstante, tal posicionamento não é o que prevalece no ordenamento jurídico

brasileiro já que os requisitos de ordem objetiva devem ser alternativamente considerados, ou

seja, a presença de um dos incisos já dá ao acusado, se preenchidos os requisitos subjetivos, o

direito ao perdão judicial.

Esse também é o entendimento de Alexandre Demetrius Pereira, Promotor de Justiça

em São Paulo em artigo publicado na Internet sobre a questão:

No crime de latrocínio consumado (crime mais severamente apenado do Código Penal Brasileiro) o réu delator diz onde estão os bens roubados que são parcialmente ou até totalmente recuperados, não obstante a vítima violentamente morta. Segundo a literalidade da lei fará jus ao perdão judicial, pois basta que alternativamente se façam presentes uma das condições dos incisos do art. 13: ‘ I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa; OU II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada; OU III - a recuperação total ou parcial do produto do crime.

E ainda, no mesmo sentido André Stefam Araújo Lima, também em artigo publicado

na Internet: Requisitos legais alternativos ou cumulativos: os requisitos do art. 13 são alternativos, de modo que não é preciso sempre permitir a identificação dos demais autores, mais a recuperação do produto do crime e mais a libertação da vítima. Fossem cumulativos os requisitos, somente a extorsão mediante seqüestro o admitiria.

Antes de tecer maiores comentários a despeito dos benefícios assegurados pela Lei

9.807, necessário se faz comentar acerca dos requisitos subjetivos. São eles: a voluntariedade

da colaboração; a primariedade e personalidade favorável do beneficiado (art. 13, caput e

parágrafo único, da Lei nº 9.807/99).

No tocante à voluntariedade da colaboração, existe posicionamento unânime da

doutrina ao afirmar ser desnecessária a espontaneidade do ato. Aqui a lei solicita que o ato

seja apenas voluntário. Ademais, o próprio legislador estabeleceu nítida diferença entre ato

voluntário e ato espontâneo.

30

Espontâneo: [Do lat. tard. spontaneu.] Adj. 1. Que se origina em sentimento ou tendência natural, em determinação livre, sem constrangimentos; ex.: aceitar uma coisa por espontânea vontade. 2. Que se manifesta como que por instinto, sem premeditação ou desvios; sincero; ex.: criança espontânea; gesto espontâneo. (FERREIRA, 2004, p. 814)

“Voluntário: [Do lat. voluntariu] Adj. 1. Que age espontaneamente. 2. Derivado da

vontade própria; em que não há coação; espontâneo. 3. Bras. RS Diz-se do cavalo que marcha

com facilidade, espontaneamente, sem ser preciso fustigá-lo”. (Apud, p. 2.075)

Maria Helena Diniz entende que:

Espontâneo é o ato cuja motivação é interna ao agente, isto é, não há estímulo nem sugestão externa, mas a vontade decorrente de fatores intrínsecos àquele que age desse modo. Já voluntário, por sua vez, é o ato possivelmente (mas não necessariamente) derivado de provocação, estímulo, sugestão; enfim, de fator externo a deflagrar a vontade do agente. (1998, p. 756)

Já David Teixeira de Azevedo (1999, p. 06) explica a voluntariedade, asseverando que

o imprescindível é ter sido a contribuição voluntária e efetiva, isto é, não resultante de

nenhuma coação externa irreversível e caracterizada pela presença positiva e interessada do

acusado.

Nesse sentido Alberto Silva Franco afirma que:

Para que se possa reconhecer a delação premiada, a conduta do delator deve ser relevante do ponto de vista objetivo e voluntária, sob o enfoque subjetivo. [...] A atitude do delator deve ser voluntária, isto é, uma manifestação própria, pessoal, no sentido de abandonar quer o propósito de protrair a duração do seqüestro, quer o de conseguir o proveito econômico. Pouco importa que tal conduta não tenha sido espontânea. Tem o mesmo significado a declaração que resulte de um arrependimento efetivo e sincero, ou que tenha sido feito por mero cálculo, ou que tenha decorrido de um sentimento de vingança. Não interessa para efeito da delação a motivação do delator. (1994, p. 320)

O segundo requisito subjetivo a ser considerado pelo magistrado trata da primariedade

do acusado. Entende-se por primário a pessoa que não possui contra si nenhuma sentença

penal condenatória transitada em julgado.

Logo, para se obter o perdão judicial não basta que o colaborador apresente bons

antecedentes, há a exigência por parte da lei que ele seja primário.

Por fim, no tocante aos requisitos subjetivos, temos o estabelecido pelo parágrafo

único do art.13 da Lei 9.807/99: “A concessão do perdão judicial levará em conta a

personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do

fato criminoso”.

31

De acordo com os ensinamentos de Azevedo:

Por derradeiro, tem-se a apreciação da personalidade do acusado, e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do delito. Todas essas questões estão diretamente ligadas à atividade estatal de avaliar adequação, oportunidade e conveniência de se aplicar o perdão judicial mediante a apreciação da culpa do agente e da finalidade da resposta jurídica da qual se vai abdicar. Aí repousa a coerência legislativa de permitir ao magistrado a aplicação ou não do instituto. (1999, p. 06)

Diante de tais comentários, falar-se-á agora a respeito dos benefícios oferecidos pela

Delação Premiada.

A Lei 9.807/99 concedeu dois benefícios ao réu colaborador: o perdão judicial e a

redução da pena de um a dois terços.

Segundo David Teixeira de Azevedo:

O perdão judicial é medida político-criminal por meio da qual, reconhecida a existência de todos os pressupostos de existência do delito, e com fundamento na prevenção especial e geral de crimes, considera-se extinta a punibilidade do delito, para o qual a pena se mostra desnecessária e inútil. Trata-se, como adverte Mario Duni, de um desvio lógico do magistério punitivo, que deixará de punir uma conduta que preenche todos os requisitos legais de punição. (1999, p. 448)

Logo, observa-se que o perdão judicial é uma regra na qual o juiz, observando os

pressupostos de existência e validade, não aplica a pena em face de justificadas

particularidades. Ou seja, o Estado desobriga-se a impor a pena através da própria sentença do

magistrado, devendo, portanto, ser o perdão judicial aplicado na sentença de mérito, sendo

para tanto, inadmissível no inquérito policial. Importante ressaltar que o perdão judicial é

causa extintiva de punibilidade conforme estabelece o artigo 107, IX do Código Penal e

compõe instrumento de despenalização, descabendo, assim, a inclusão do nome do réu no rol

dos culpados e sua condenação em custas, conforme pronunciamento do Superior Tribunal de

Justiça.

Alguns doutrinadores como Nucci acreditam ser a Delação Premiada um direito

subjetivo do réu delator e defendem que esta deve ser concedida desde que preenchidos os

requisitos legais de natureza objetiva e subjetiva. Outros, no entanto, defendem que não se

trata de puro direito subjetivo público, já que deve existir a verificação dos requisitos de

concessão expressos em lei e a apreciação, por parte do magistrado e com base no seu

arbítrio, dos requisitos subjetivos.

Diante dessa colocação, percebe-se que foi dado ao magistrado a possibilidade de não

conceder ao réu colaborador o perdão judicial, mesmo presentes os requisitos necessários;

32

entretanto, deverá o magistrado conceder a redução da pena, valendo-se salientar que a

expressão “poderá” disposta no art. 13 da Lei nº 9.807/99 não se trata de uma simples

faculdade onde o magistrado poderá aceitar ou dispensar a pena sem alguma fundamentação.

Vale ressaltar que para concessão do perdão judicial faz-se necessário a presença da

colaboração efetiva e voluntária do réu com a investigação e o processo criminal, resultando

essa colaboração na identificação dos co-autores ou partícipes do fato criminoso ou na

localização da vítima em perfeitas condições físicas ou ainda na recuperação total ou parcial

do produto do crime, além de ser o réu primário.

Determina ainda a Lei nº 9.807/99, em seu art. 14 que:

O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terços.

Diante do exposto, fica claro que o requisito doutrinário para a diminuição da pena é a

colaboração voluntária e efetiva. Dessa forma:

Como requisito traz a contribuição voluntária e efetiva, efetividade não obstante omitida do texto legal, contudo requisito conatural à concessão do benefício. Não há referência, como se viu à efetividade de tal colaboração, mas esse dado é da natureza do instituto. Não se refere também o legislador à consecução do resultado consistente na identificação dos ‘comparsas’, na localização da vítima ou na recuperação total ou parcial do produto do crime. (AZEVEDO, 1999, p. 07)

Logo, embora o acusado tenha colaborado de forma voluntária e eficiente com a

justiça, mas desta colaboração não restou resultado, ou seja, um dos resultados legalmente

previstos não foi alcançado, o juiz poderá reduzir a pena de 01 (um) a 02 (dois) terços.

Existe corrente doutrinária que acredita que mesmo não havendo o legislador

estabelecido requisitos para a redução da pena, a exemplo da primariedade, existe em certos

casos, uma certa facultatividade para sua permissão, principalmente quando não se encontrar

presente a efetividade.

Outros, contrariando tal entendimento, defendem que a diminuição da pena poderá

incidir ou da não efetividade da colaboração ou da ineficácia da mesma já que a lei não fez

maiores exigências para a concessão da redução da pena.

Assim, se o réu colaborar na investigação voluntariamente, mas sem muito esforço, ou seja, sem o real fornecimento de informações e sem caráter contínuo, a colaboração não terá efetividade, mas mesmo assim permitirá a redução da reprimenda. Por outro lado, se houver colaboração voluntária e efetiva, mas sem

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eficácia, de rigor a diminuição da pena. Dessa forma, tem-se que, se não houver efetividade na colaboração, poderá haver a redução. Ora, se apenas não se fizer presente a eficácia, tendo o réu se empenhado na descoberta da realidade delituosa fornecendo dados, informações e trabalhando permanentemente junto à polícia ou ao juízo, pontual deverá ser a diminuição. (AZEVEDO, 1999, p. 07)

Explica Paulo Martini que:

O quantum da diminuição é exatamente idêntico ao previsto nos casos de tentativa e arrependimento posterior, fato este que faz a delação, ainda que não tenha sucesso, ter os mesmos efeitos de tais institutos, conquanto apresentem desvalor social diferentes. (2000, p. 29)

Necessário se faz observar que o instituto da Delação Premiada filia-se a uma corrente

política criminal que dá especial importância ao fornecimento, por parte do delator, de dados

verossímeis e benéficos à investigação criminosa.

Outro benefício também estipulado pelo legislador é a medida especial de segurança e

proteção a integridade física do delator, como estabelece o art. 15 da Lei 9.807/99:

Serão aplicadas em benefício do colaborador, na prisão ou fora dela, medidas especiais de segurança e proteção a sua integridade física, considerando ameaça ou coação eventual ou efetiva. § 1º Estando sob prisão temporária, preventiva ou em decorrência de flagrante delito, o colaborador será custodiado em dependência separada dos demais presos. § 2º Durante a instrução criminal, poderá o juiz competente determinar em favor do colaborador qualquer das medidas previstas no art. 8º desta Lei. § 3º No caso de cumprimento da pena em regime fechado, poderá o juiz criminal determinar medidas especiais que proporcionem a segurança do colaborador em relação aos demais apenados.

O artigo acima mencionado estipula em seu “caput” que será garantido ao

colaborador, na prisão ou fora dela, medidas especiais de segurança e proteção a sua

integridade física. Nota-se, contudo, que tal benefício é quase impossível de ser dado ao

colaborador em virtude da falência dos programas de proteção já existentes. Tal benesse

adentra na questão das grandes discussões realizadas no Brasil: a capacidade ou não do

Estado de prover aos seus cidadãos os direitos por ele determinados.

O §1º estipula a separação de dependência para o colaborador que esteja sob prisão

temporária, preventiva ou em decorrência de flagrante delito. Percebe-se que diante da

superlotação das prisões e da incapacidade do Estado em mantê-las financeiramente se faz

impossível a aplicação de tal benefício. No entanto, necessário se faz a chamar atenção que

não basta apenas a cela separada, já que em nosso sistema prisional há constantes rebeliões e

também a existência do fácil acesso aos demais presos, deve haver também, como estipula o

34

§3º, a adoção de medidas especiais para a proteção do colaborador quando este cumprir sua

pena em regime fechado.

No tocante ao §2º, este estabelece que poderá o juiz, durante a instrução criminal

determinar qualquer das medidas previstas no art. 8º da Lei 9.807/99, ou seja, medidas

cautelares direta ou indiretamente relacionadas com a eficácia da proteção.

“Art. 8o Quando entender necessário, poderá o conselho deliberativo solicitar ao

Ministério Público que requeira ao juiz a concessão de medidas cautelares direta ou

indiretamente relacionadas com a eficácia da proteção.”

Por fim, necessário se faz ressaltar que neste artigo não se fala em proteger

testemunhas ou vítimas, mas réus que decidam colaborar com a investigação ou com o

processo criminal.

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4 ASPECTOS CRÍTICOS

4.1 A QUESTÃO DA ÉTICA NA DELAÇÃO PREMIADA

Objeto de grandes discussões tem sido a Delação Premiada alvo de inúmeras críticas,

principalmente no que diz respeito a sua carga de moral ética e religiosa.

Os princípios éticos e morais, pilares da justiça social, orientam a construção de uma

sociedade mais humana, que deve se fundar no ser humano como valor máximo por

excelência.

Somente os seres humanos têm a aptidão de estabelecer relações com base na

confiança. Perceptível é o fato de que o fortalecimento de uma relação depende, dentre, outros

fatores, da possibilidade de se confiar no outro, condição esta que serve de base para

formação de uma sociedade coesa e harmônica.

Diante desse contexto, questiona-se:

Seria a delação premiada adequada aos valores fundamentais consagrados em nossa Constituição, principalmente quando põe em xeque a dignidade da pessoa humana? Seria justificável defender deslizes éticos como premissas toleráveis em prol de avanços no combate à criminalidade? Ao oferecer ao delator criminoso a faculdade de obter sua pena extinta, mediante a "traição" de seus convivas, não estaríamos institucionalizando a perfídia e gerando uma sensação de insegurança? Estaria à delação premiada promovendo a consolidação de algumas das funções do Direito, tais como educar, promover a organização e o controle social, incentivar os comportamentos positivos e reprimir objetivando a manutenção da ordem social? (BITENCOURT, 2008, p. 124)

Doutrinadores como Alberto Silva Franco acreditam ser a Delação Premiada um

instrumento de desintegração social por não valorizar a vida moral fundada na dignidade da

pessoa humana. [...] o princípio da dignidade da pessoa humana constitui a viga mestra de todo o arcabouço jurídico porque “confere unidade de sentido ao conjunto de preceitos relativos aos direitos fundamentais” e “há de ser interpretado como referido a cada pessoa (individual), a todas as pessoas sem discriminações (universal) e a cada homem como um ser autônomo (livre)”. Está, por isso, o “princípio da dignidade da pessoa humana na base de todos os direitos constitucionalmente consagrados, quer dos direitos e liberdades tradicionais, quer dos direitos dos trabalhadores e direitos a prestações sociais. (FRANCO, 1992, p.58)

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De acordo com seus ensinamentos:

Dá-se o prêmio punitivo por uma cooperação eficaz com a autoridade, pouco importando o móvel real do colaborador, de quem não se exige nenhuma postura moral, mas antes, uma atitude eticamente condenável. Na equação "custo-benefício", só se valora as vantagens que possam advir para o Estado com a cessação da atividade criminosa ou com a captura de outros delinqüentes, e não se atribui relevância alguma aos reflexos que o custo possa representar a todo o sistema legal enquanto construído com base na dignidade da pessoa humana. (Idem, p. 221)

Outro doutrinador que acredita que a Delação premiada fere os princípios éticos é

Renato Flávio Marcão. Em um artigo publicado na internet tal estudioso defende que:

Em relação à delação premiada, o que se vê é seu surgimento quando há desajuste entre os envolvidos; quando um se sente prejudicado pela persecução penal (em sentido amplo) e desamparado pelo(s) comparsa(s). O desespero, a simples intenção de beneficiar-se, ou ambos, constitui o mote da delação. Não há qualquer interesse primário em colaborar com a Justiça; não há qualquer conversão do espírito e do caráter para o bem; não há preocupação com o que é realmente justo e verdadeiro; não há, enfim, motivo de relevante valor moral para a conduta egoísta. Porém, dela se vale o Estado na busca da verdade real; dela se utiliza a Justiça na busca de sua finalidade mediata: a paz social. Em si mesma, premiada ou não, a delação dá mostras de ausência de freios éticos; pode apresentar-se como verdadeira traição em busca de benefícios que satisfaçam necessidades próprias em detrimento do(s) delatado(s), conduta nada recomendável tampouco digna de aplausos.

Autores como Roberto Soares Garcia instituem que:

Com a chancela da delação premiada, o ordenamento jurídico brasileiro deu a este um colorido algo esquizofrênico: ora a traição é tida como circunstância agravante ou qualificadora de crime, ora na forma de delação, pode levar à isenção ou à diminuição da pena. Desta forma, a polêmica em torno da ‘delação premiada’, em razão de seu absurdo ético, nunca deixará de existir. Se de uma lado, representa importante mecanismo de combate à criminalidade organizada; de outro traduz-se em um incentivo legal à traição. (2006, p. 2-3)

Perfilhado na mesma linha de raciocínio está Edson Arruda Câmara, ao afirmar que:

A parte da dogmática que trata da chamada delação premiada é constituída por normas jurídicas, só que de conteúdo moral e ético, no mínimo discutível. Vale rememorar, nesta parte, que a vida social está regulada por um universo de normas das quais apenas as normas jurídicas portam em sua essência o caráter da obrigatoriedade erga omnes, através de sanções que lhe são peculiares e que levou Von Ihering a dizer que ‘norma sem sanção é como fogo que não queima’. (2005, p. 48-50)

Corrente contrária a este posicionamento defende que a importância do bem jurídico

tutelado pela Delação Premiada, a segurança pública, valida a sua utilização como

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instrumento eficaz para confrontar o crime organizado, chamando atenção, ainda, para a

inexistência de outros meios capazes de solucionar tal problemática.

De acordo com Mendroni:

Ao que tudo indica, a delação encontra sua origem no ‘acordo’ de vontade entre as partes, mas sem ser ‘acordo’ propriamente dito revela sua característica e como tal opera efeitos. Não pode ser considerado acordo porque envolve a decisão por uma terceira parte – o juiz, que não participa da ‘negociação’. A situação da revelação dos dados existe entre o acusado, diretamente ou por seu advogado, com o Promotor de Justiça, e ainda com a expressa concordância por parte deste, a decisão final caberá ao Juiz, por conceder ou não algum benefício como troca. (2007, p. 37)

Defendem Teotônio e Nicolino que:

Em que pesem as críticas de ordem ética de alguns doutrinadores que salientam que o instituto premia o traidor, não parecem justas as constatações ao tema, sob o ponto de vista da sistemática processual, posto que a sua aplicação, sem sombra de dúvida, aproxima-se mais da descoberta da verdade real, permitindo a persecução penal, com relação aos traficantes e às suas quadrilhas, com vista à reclamada aplicação dos preceitos básicos da legislação penal e processual penal, figuras básicas da legalidade e da democracia.(2003, p. 27)

Ensina Lima que:

Primeiro ponto a ser superado é o da suposta imoralidade desse acordo, comparado muitas vezes à traição. Amiúde seus detratores equiparam os investigados/réus colaboradores à Judas Iscariotes ou a Joaquim Silvério dos Reis. Trata-se de imagem forte, mas destituída de qualquer razoabilidade. Nenhuma pessoa delatada é Jesus Cristo ou Tiradentes. Não há regra moral omertá, não se pode admitir como obrigação ética o silêncio entre criminosos. Na verdade a obrigação é para com a sociedade. O que existe realmente é o dever de colaborar para elucidação do crime, pois esse é o interesse social. Em segundo momento, não há nas palavras de um colaborador senão indícios de crimes a serem investigados. Os depoimentos prestados por colaboradores são caminhos a serem seguidos e confirmados. Devem, assim, ser tratados com o sigilo necessário, comum a toda investigação, e isso por dois bons motivos: o sigilo preserva a prova para diligências a serem realizadas – como no caso de busca e apreensões futuras – e a imagem de pessoas eventualmente implicadas. (2005, p. 30)

Coaduna do mesmo entendimento José Alexandre Marson Guidi, ao afirmar que:

Quanto à justificação ética da delação premial reside, a nosso ver, na utilidade social. Afinal de contas, é notório na doutrina clássica ou moderna que o Direito, enquanto instrumento de realização da paz social, não é obra para santos, mártires ou heróis. Se a delação premial merece reprovação absoluta, temos que condenar, também a estipulação de recompensa para quem revela o local onde o criminoso se acha acoutado ou, ainda, o instituto da delação anônima, que tem propiciado a solução de inúmeros delitos. Além disso, embora a delação premial traga, consigo, a pecha de “alcagüete” ou “dedo-duro” para o delator que, forçoso admitir, delata ou colabora apenas no intuito de se safar das penalidades a que está sujeito, também é verdade que seus comparsas não deixam de ser menos culpados quando “supostas” vítimas de uma delação. (2006, p. 148)

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Deste modo, e em consonância com o aludido acima, seria a inutilização da Delação

Premiada, com fundamentos na imoralidade de tal instituto e no incentivo à traição, um

enorme prejuízo, não havendo o menor cabimento em se falar em injustiça ou em imoralidade

no tocante à aplicação da Delação Premiada.

“Certamente a delação premiada continuará sendo amplamente utilizada,

independentemente de sua fundamentação ética e provavelmente será vista como valiosa,

dada a sua utilidade e o medo que impera da criminalidade crescente” (BITTAR; ALMEIDA,

2004, p. 263).

Por fim, fica claro o paradoxo existente em torno da Delação Premiada e que

certamente precisamos nos conter ao tecermos nossas críticas a respeito desse instituto, afinal,

deve-se levar em consideração os bens em jogo em cada caso concreto, relativizando, desta

forma, a aplicação da Delação Premiada.

4.2 DIFERENÇA ENTRE ÉTICA, MORAL E DIREITO

Diante do exposto, necessário se faz realizar a distinção entre ética, moral e direito

para sabermos, mais adiante, se a Delação é, como defendem alguns, reprovável do ponto de

vista ético.

Pode-se afirmar que a Ética é o estudo geral do que é bom ou mau, do que é certo e do

que é errado. Um dos propósitos da Ética é a procura de justificativas para as regras propostas

pela Moral e pelo Direito.

Ela diferencia-se de ambos, Moral e Direito, por não estabelecer regras gerando em

cada indivíduo um senso de reflexão e de responsabilidade. Esta reflexão sobre a ação

humana é sua principal característica. Assim, entende-se que a ética corresponde a uma

espécie de determinação, de delimitação do que é certo, sendo este próprio e estabelecido pelo

indivíduo.

“A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou

seja, é ciência de uma forma específica de comportamento humano.” (REALE, 1996, p. 41)

A Moral se fundamenta em regras que são assumidas pela pessoa, como uma forma de

assegurar o seu bem-estar, o seu bem-viver. Independe de espaços geográficos, assegura uma

identidade entre pessoas que não se conhecem, mas que se utilizam deste mesmo referencial

moral comum para estabelecer suas relações diárias.

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Hodiernamente, não conseguimos distinguir ética e moral e acabamos por utilizar

essas palavras como sinônimas. Alguns estudiosos do assunto fazem uma distinção entre elas;

logo, a moral é definida como um conjunto de normas, preceitos, princípios, costumes e

valores que orientam o comportamento dos indivíduos no seu meio social. A característica

básica da moral é o seu caráter normativo. Já a ética pode ser definida como o conhecimento,

a teoria ou a ciência do comportamento moral que objetiva esclarecer, compreender, validar e

criticar a moral de uma sociedade. Tendo, portanto, um caráter filosófico e científico.

Na vida cotidiana há normas que somos obrigados a cumprir, ou seja, normas que

possuem um caráter imperativo, pois dizem respeito às condutas consideradas essenciais para

o funcionamento normal da vida social. Essas regras visam à satisfação do bem coletivo, o

equilíbrio das relações humanas e a manutenção da ordem na esfera comunitária; logo, não

estão sujeitas ao livre arbítrio do individuo. Dessa maneira, essas normas situam-se no campo

do direito, que impõe regras de conduta que devem ser observadas, valendo-se até mesmo da

força coercitiva para assegurar o seu cumprimento. De outra forma, o direito objetiva

determinar o regramento de uma sociedade demarcada pelas fronteiras do Estado.

Há quem afirme que o direito é sub-conjunto da moral e, por isso, toda a lei é moralmente aceitável. Acredita-se ser essa assertiva equivocada, vez que a moral e o direito, apesar de se referirem a uma mesma sociedade, podem ter perspectivas discordantes (DINIZ, 1995, p. 343).

De acordo com Kant (2003, p.36) “o direito é, pois, o conjunto de condições sob as

quais o arbítrio de um se pode harmonizar com o arbítrio do outro, segundo uma lei universal

da liberdade”.

Por fim, vale salientar que embora a ética, a moral e o direito se distingam, apresentam

também grandes vínculos, chegando até a se sobreporem e que a discussão sobre a relação

entre a moral e o direito está longe de acabar.

Devemos, entretanto, discernir esses dois grandes segmentos normativos da vida,

porém, sem colocá-los em pólos extremos. Ensina-nos com muita propriedade o ilustre jurista

Reale, (1996, p.42) “Ao homem afoito e de pouca cultura basta perceber uma diferença entre

dois seres para, imediatamente, extremá-los um do outro, mas os mais experientes sabem a

arte de distinguir sem separar, a não ser que haja razões essenciais que justifiquem a

contraposição.”

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4.3 A INEFICÁCIA DO ESTADO NO COMBATE À CRIMINALIDADE

Não é de agora que se percebe que o uso da Delação Premiada no ordenamento

jurídico brasileiro produz a idéia de demonstração da inoperância do poder no combate ao

crime.

Há quem defenda que quando da utilização desse instituto, o Estado acaba por

reconhecer sua fragilidade, tanto no que diz respeito à investigação de crimes quanto à

punição, necessitando para a solução de tais problemas da boa vontade do investigado ou

acusado em colaborar com a justiça, realizando assim a delação.

De acordo com os ensinamentos de José Carlos de Oliveira Robaldo, em seu artigo da

internet: “A Delação Premiada e a Lei de Proteção a Vítimas e Testemunhas”:

Entretanto, se de um lado a delação constitui-se de um importante meio de combate e punição à criminalidade, especialmente a sofisticada, de outra parte não deixa de ser um instrumento eticamente questionável, pois incentiva e estimula a traição (trair traz benefício, na feliz afirmação de Damásio). Não bastasse, revela a ineficiência do Estado, ou, talvez, a sua falência, pois comprova a sua incapacidade de, por meio da apuração formal (polícia, Ministério Público etc), colher provas e identificar a autoria do delito.

Partindo-se desse entendimento, pode-se concluir que o Estado estaria impotente para

cumprir com um de seus objetivos básicos: a segurança pública. Diante de tal acontecimento,

fez-se necessário a substituição de meios tradicionais para solução desses problemas e a

solução encontrada foi a Delação Premiada.

Segundo Alexandre Demetrius Pereira:

É realmente uma situação iníqua, em que o Estado mais uma vez reconhece sua incompetência para investigar e punir a criminalidade. De fato, não vislumbro outra maneira de entender a proposta contida em tais artigos, senão com a confissão pública e expressa do Estado, que parece dizer "não tenho como investigar o crime. Não tenho como punir o criminoso". Se, não obstante, tiver o criminoso vontade de delatar seus comparsas, identificando-os ou dizendo onde está a res, receberá a clemência do Estado, ficando impune. (1999, INTERNET)

Contrariando esse posicionamento doutrinário encontra-se a corrente que defende que,

mesmo sendo a Delação bastante criticada, esta apresenta grande eficiência e se insere numa

atitude coerente no combate à criminalidade, caminhando ao lado dos demais meios de

investigação como um benefício em busca da justiça.

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Marco Aurélio Souza da Silva (2008), em um artigo publicado na internet, insere-se

neste posicionamento doutrinário e defende que:

Para uma corrente, a delação premiada cuida de uma indispensável disposição legal ao combate crescente da criminalidade organizada, vez que a alcagüetagem de comparsas auxilia a desvendar a autoria dos delitos, sem a qual seria mais difícil ou mais demorado para o Estado atingir a verdade real. Assim, apesar do questionável conteúdo antiético, estabelece um importante mecanismo de combate à criminalidade organizada que assola o País. Como medida de segurança pública a preservar a ordem e a paz social, o instituto da delação na dogmática penal se agrega às transformações da sociedade moderna, que requer respostas rápidas do Estado-juiz na apuração dos fatos e na punição dos criminosos. Amolda-se à ideologia da defesa social, na qual o Estado está legitimado para reprimir a criminalidade e promover a paz.

De acordo com Roberto Porto, Promotor de Justiça integrante do Gaeco - Grupo de

Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado, do Estado de São Paulo:

Só para também ressaltar: até 1995, o estado negava a existência de crime organizado no Brasil e já havia em São Paulo a Máfia Chinesa, um caso em que temos atuação desde 1985. O PCC é outro em que o Gaeco atua, ou seja, todas essas organizações nasceram e ganharam porte em cima da omissão do Estado. Foi criada essa lei de repressão ao crime organizado, mas na verdade já existia na legislação, e um dos trunfos dessa lei é um dispositivo copiado da Itália: a delação premiada. É a forma de o sujeito se tornar colaborador e Ter a pena reduzida. A redução é substancial, de um a dois terços da pena. Na Itália foi a maior arma nas operações Mãos Limpas. Aplicamos no caso da "Máfia dos Fiscais". Nunca tinha sido aplicada essa lei, e o dispositivo tem uma eficácia tremenda. Como teve. E aí fomos super criticados, inclusive todos os livros doutrinários criticam esse instituto, porque no Brasil instituíram que o sujeito que colabora é delator. Então, essa lei baseia-se na traição, e por isso é imoral. No mundo inteiro ela é aplicada, mas no Brasil há uma resistência. (2003, p. 32)

Nesse sentido percebe-se uma maior presença do Estado que deixa de ser visto como

ser omisso e passa a ser caracterizado como instituição presente, procurando soluções ao

combate das práticas delituosas que rapidamente se propagaram.

4.4 O MENOSPREZO DOS VALORES FUNDAMENTAIS

Na corrente doutrinária que critica a delação premiada, encontram-se presentes os que

acreditam estar este instituto desprezando valores fundamentais como a proporcionalidade e a

dignidade da pessoa humana.

A Constituição Federal, em seu quadro de garantias individuais e sociais, buscou

preservar a personalidade humana contra a proteção das penas infames, evitar a condenação

sem processo contraditório, a eliminação de algumas penas e a individualização destas, enfim,

42

acabou por definir uma orientação que qualifica perfeitamente o regime e os princípios

fundamentais a serem seguidos.

No tocante à proporcionalidade, muito se tem discutido acerca deste assunto. Esse

princípio exige um juízo de ponderação entre a gravidade do fato e a gravidade da pena, sendo

considerado desproporcional sempre que restar um desequilíbrio nessa relação.

O princípio da proporcionalidade destina-se tanto ao poder legislativo, quando este

estabelece abstratamente as penas aplicadas a cada delito, quanto ao juiz, quando este

determina a medida das penas a serem cumpridas pelos autores do delito.

Segundo Eduardo Araújo da Silva (2003, p.55-56), o princípio da proporcionalidade

reserva-se a regulamentar o confronto aparentemente existente entre o Estado e o indivíduo,

sendo sua finalidade a de equilibrar essa relação contraditória de interesses, evitando tanto a

violação dos direitos fundamentais do indivíduo quanto o comprometimento da atividade

estatal na repressão da criminalidade.

Destarte, é certo que o princípio da proporcionalidade postula que a pena seja

proporcional ao mal produzido pela conduta típica, ilícita e culpável do agente.

De acordo com Beccaria:

O interesse de todos não é somente que se comentam poucos crimes, mas ainda que os delitos mais funestos à sociedade sejam os mais raros. Os meios que a legislação emprega para impedir os crimes devem, pois, ser mais fortes à medida que o delito é mais contrário ao bem público e pode tornar-se mais comum [...] Bastará que o legislador sábio estabeleça divisões principais na distribuição das penas proporcionadas aos delitos e que, sobretudo, não aplique menores castigos aos maiores crimes. (1999, p. 85)

No tocante à dignidade da pessoa humana, pode-se afirmar que ela é um dos

fundamentos da República Federativa do Brasil, conforme estabelece o art. 1º, inciso III da

Constituição Federal: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos

Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e

tem como fundamentos: (...) III - a dignidade da pessoa humana; (...)”.

A dignidade da pessoa humana atribui coesão entre os direitos e garantias

fundamentais, sendo considerado por muitos um valor moral e espiritual inerente a cada

pessoa, manifestando-se nas decisões conscientes da vida e trazendo consigo o anseio do

respeito ao próximo.

Mister ressaltar que é a partir da dignidade da pessoa humana que se faz a avaliação

dos interesses constitucionais, sendo assegurado por parte do Estado o exercício da liberdade

pessoal e o do livre arbítrio.

43

Segundo Augusto Zimmermann:

A dignidade da pessoa humana valoriza o homem como ser único, sujeito autônomo de decisão moral. Ele proporciona que o bem comum possa se realizar através da livre opção dos membros da coletividade, da sua única e exclusiva decisão responsável em face do bem e do mal. (2004, p. 234-235)

Parte da doutrina defende que o uso da delação premiada fere o princípio da dignidade

da pessoa humana uma vez que o Estado passa a negociar com o criminoso com o objetivo de

obter uma investigação criminal mais enérgica.

Feitas essas considerações, percebe-se que a delação premiada não menospreza os

valores fundamentais acima citados. Haja vista que para ter coragem de se utilizar da delação

premiada, o acusado ou investigado necessita ser impelido pelo senso de colaboração com a

justiça, pois tem noção das conseqüências que poderão sobrevir de seu ato.

De acordo com David Teixeira de Azevedo:

Se a reprimenda já não potencialmente atingirá a finalidade retributiva ou preventiva, seja especial ou geral, positiva ou negativa, é caso de dispensa de pena. Como acrescenta Donnedieu de Vabres, lembrado por Wagner Brussolo Pacheco, "dizer que o perdão judicial é, hoje, um ato de política criminal não significa que ele constitui um favor, uma manifestação de generosidade arbitrária. O seu domínio é determinado pelos fins sociais que a lei tem em vista ao criá-lo". E também para Manzini, igualmente citado pelo mesmo articulista, a não imposição da pena, em determinados casos, pode; levar à prevenção da delinqüência e também ao aprimoramento ético em geral. (1999, p. 07)

Logo, a Delação Premiada não fere os princípios da proporcionalidade e da dignidade

da pessoa humana, já que a iniciativa da delação é do agente, não havendo qualquer violência

em relação ao sujeito. Existindo, portanto, o respeito à liberdade de escolha, não se

interferindo em sua vontade de delatar ou não.

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CONCLUSÃO

O que orientou a elaboração deste estudo foi verificar se a Delação Premiada pode ser

considerada um instituto eticamente reprovável, bem como se a aplicação de tal instituto fere

os princípios da dignidade da pessoa humana e o da proporcionalidade.

A Delação Premiada é há muito tempo utilizada, sendo a fixação de cartazes de

“Procura-se” em locais públicos a sua forma mais primitiva de aplicação. No Brasil, tal forma

foi utilizada na época da escravidão para localizar os escravos fugitivos.

Com os adventos tecnológicos, essa modalidade de localização de criminosos evoluiu,

passando a ser feita via internet, através de sites de buscas onde se oferecem recompensas por

informações que levem à captura dos procurados pela justiça.

Apesar de ser utilizada há muito tempo, a Delação Premiada não é bem aceita pela

população, pois tal atitude é considerada como traição, desagradando o grupo social e ferindo

o princípio da lealdade. Todavia o grande óbice existente à sansão premial no Brasil está no

fato desta não apresentar legislação específica que a regule, apesar de presente em diversas

leis brasileiras que definem os requisitos e os benefícios de sua aplicação.

Levando-se em consideração os múltiplos conceitos apresentados pelos mais diversos

autores, nota-se que a Delação Premiada é uma gratificação dada pelo Estado ao acusado de

crime ou co-réu, que em seu interrogatório, confessa a prática de ato criminoso e acaba por

incriminar um terceiro por este mesmo ato, podendo advir de tal conduta a redução da pena de

um a dois terços ou a extinção da punibilidade pelo perdão judicial. Tal instituto tem como

objetivo primordial fornecer ao Estado informações que auxiliem a persecução penal,

possibilitando a extinção de atividades criminosas.

O instituto da Delação Premiada está consubstanciado na legislação de diversos

países, tendo tais legislações influenciado sua inserção no ordenamento jurídico brasileiro. O

presente instituto, como legislação, surgiu no Brasil por volta de 1603, com as Ordenações

Filipinas, que esteve em vigor até 1830, com a criação do Código Criminal. Após essa data

não mais se tratou a respeito da Delação Premiada na legislação brasileira, vindo esta a

ressurgir em 1990, com a publicação da Lei 8.072 de 25 de julho, relativa aos crimes

hediondos.

A Delação Premiada, antes de ser representação da ineficácia do Estado no combate as

diversas formas de crime, é um instrumento eficaz de combate à criminalidade,

45

principalmente a organizada, que em razão das suas particularidades passou a afetar a solução

dos crimes por parte do Estado.

Inicialmente este instituto foi criado basicamente com o intuito de facilitar a

investigação e punição dos atos delituosos cometidos por organizações criminosas, que em

decorrência de suas características, como a grande capacidade de adaptação e a utilização de

tecnologias cada vez mais avançadas, inserem-se no campo de difícil solução criminal por

parte do Estado. Com o passar do tempo esse instituto foi ampliado as demais espécies de

crime, configurando-se uma boa solução na busca da persecução penal.

As polêmicas que cercam o instituto da Delação Premiada são muitas, existindo

posicionamentos contrários e favoráveis à sua aplicação. Os que são contrários argumentam

que este instituto fere a ética e provoca a desconfiança, elemento desnecessário para a

harmonia das relações sociais. Os que advogam a favor deste instituto argumentam que nada

há de antiético ou imoral em sua aplicação, já que a ética deve ser empregada em favor da

sociedade, devendo para tanto, existir a delação no sentido de colaborar para um bem maior

que é o interesse social.

Ponto de grande divergência doutrinária quanto à aceitação ou não da aplicação da

Delação Premiada é o fato desta caracterizar a ineficiência por parte do Estado de combater a

criminalidade crescente. Nota-se, contudo, que a aplicação desse instituto não produz a idéia

de demonstração da inoperância do poder no combate ao crime, já que o Estado passa a se

preocupar mais com soluções que combatam as práticas delituosas.

Outro questionamento a despeito da Delação Premiada que traz consigo grandes

discussões é o fato de a mesma ferir os princípios da dignidade da pessoa humana e o da

proporcionalidade. No tocante à dignidade da pessoa humana, não se encontra configurado

qualquer prejuízo que a aplicação da Delação Premiada possa causar, já que a iniciativa de

delatar parte do agente, não havendo qualquer forma de violência em relação ao sujeito e

mesmo quando sugerido por terceiros a delação respeita a liberdade de escolha do indivíduo,

não se interferindo em sua vontade ou não de delatar.

Em relação à proporcionalidade, não existem inconstitucionalidades relacionadas ao

instituto, pois não há razoabilidade entre alguém que contribuiu com a elucidação das

infrações penais e sua autoria e aquele que em nada cooperou para persecução criminal.

Portanto, cada conduta deverá ter uma reprimenda proporcional às conseqüências ocorridas.

Logo, conclui-se que a Delação Premiada está em concordância com a ordem

constitucional vigorante, salientando-se que para fundamentar uma eventual condenação

deve-se levar em consideração outros indícios e demais provas coletadas nos autos, sendo

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esse instituto considerado um extraordinário instrumento de política criminal, objetivando a

realização da persecução penal e a busca da verdade real por parte do Estado.

“Um dia, os juristas vão ocupar-se do direito premial. E farão isso quando,

pressionados pelas necessidades práticas, conseguirem introduzir a matéria premial dentro do

direito, isto é, fora da mera faculdade ou arbítrio. Delimitando-o com regras precisas, nem

tanto no interesse do aspirante ao prêmio, mas sobretudo no interesse superior da

coletividade”. (Ruldof Von Ihering, 1853)

47

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ANEXOS - LEIS QUE TRATAM DA DELAÇÃO PREMIADA

LEI TEXTO

No 7.492, DE 16 DE JUNHO DE 1986.

Define os crimes contra o sistema financeiro nacional, e dá outras providências.

Art. 25.[...]

§ 2º Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços."

Nº 9.269, DE 02 DE ABRIL DE 1996.

Estabeleceu nova redação ao art. 159, §4º, do Código Penal.

Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate.

§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. (Acrescentado pela L-008.072-1990) (Alterado pela L-009.269-1996)

Nº 8.072 DE 25 DE JUNHO DE 1990.

Lei dos Crimes Hediondos, nos termos do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal.

Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.

Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.

Nº 8.137, DE 27 DEDEZEMBRO DE

1990.

Crimes contra a ordem Tributária, econômica e contra a ordem de consumo.

Art. 16. Qualquer pessoa poderá provocar a iniciativa do Ministério Público nos crimes descritos nesta lei, fornecendo-lhe por escrito informações sobre o fato e a autoria, bem como indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.

Parágrafo único. Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços. (Parágrafo incluído pela Lei nº 9.080, de 19.7.1995)

Nº 9.034, DE 03 DE MAIO DE 1995.

Dispõe sobre a utilização de meios operacionais para a

prevenção e repressão

Art. 6º Nos crimes praticados em organização criminosa, a pena será reduzida de um a dois terços, quando a colaboração espontânea do agente levar ao esclarecimento de infrações penais e sua autoria.

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Nº 9.613, DE 03 DE MARÇO DE 1998.

Dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nessa Lei; Cria o conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF

Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime: I - de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins; II - de terrorismo e seu financiamento;(Redação dada pela Lei nº 10.701, de 9.7.2003) III - de contrabando ou tráfico de armas, munições ou material destinado à sua produção; IV - de extorsão mediante seqüestro; V - contra a Administração Pública, inclusive a exigência, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, de qualquer vantagem, como condição ou preço para a prática ou omissão de atos administrativos; VI - contra o sistema financeiro nacional; VII - praticado por organização criminosa. VIII - praticado por particular contra a administração pública estrangeira (arts. 337-B, 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal). (Inciso incluído pela Lei nº 10.467, de 11.6.2002) Pena: reclusão de três a dez anos e multa. § 1º Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste artigo: I - os converte em ativos lícitos; II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou transfere; III - importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros. § 2º Incorre, ainda, na mesma pena quem: I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores que sabe serem provenientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste artigo; II - participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes previstos nesta Lei. § 3º A tentativa é punida nos termos do parágrafo único do art. 14 do Código Penal. § 4º A pena será aumentada de um a dois terços, nos casos previstos nos incisos I a VI do caput deste artigo, se o crime for cometido de forma habitual ou por intermédio de organização criminosa. § 5º A pena será reduzida de um a dois terços e começará a ser cumprida em regime aberto, podendo o juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena restritiva de direitos, se o autor, co-autor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais e de sua autoria ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.

Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a conseqüente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a

55

Nº 9.807, DE 13 DE JULHO DE1999.

Estabelece normas para a organização e manutenção de programas especiais de proteção de vítimas e a testemunhas ameaçadas, institui o programa Federal de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas e dispões sobre a proteção de acusados ou condenados que tenha voluntariamente prestado efetiva colaboração à investigação policial e ao processo criminal.

investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado:

I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa;

II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada;

III - a recuperação total ou parcial do produto do crime.

Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso.

Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terços.

Art. 15. Serão aplicadas em benefício do colaborador, na prisão ou fora dela, medidas especiais de segurança e proteção a sua integridade física, considerando ameaça ou coação eventual ou efetiva.

§ 1o Estando sob prisão temporária, preventiva ou em decorrência de flagrante delito, o colaborador será custodiado em dependência separada dos demais presos.

§ 2o Durante a instrução criminal, poderá o juiz competente determinar em favor do colaborador qualquer das medidas previstas no art. 8o desta Lei.

§ 3o No caso de cumprimento da pena em regime fechado, poderá o juiz criminal determinar medidas especiais que proporcionem a segurança do colaborador em relação aos demais apenados.

Nº 8.884, DE JUNHO DE 1994.

Transforma o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE em autarquia e dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a Ordem Econômica e dá outras providências.

Art. 35-B. A União, por intermédio da SDE, poderá celebrar acordo de leniência, com a extinção da ação punitiva da administração pública ou a redução de um a dois terços da penalidade aplicável, nos termos deste artigo, com pessoas físicas e jurídicas que forem autoras de infração à ordem econômica, desde que colaborem efetivamente com as investigações e o processo administrativo e que dessa colaboração resulte: (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

I - a identificação dos demais co-autores da infração; e (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

II - a obtenção de informações e documentos que comprovem a infração noticiada ou sob investigação. (Incluído pela Lei nº 10.149, de

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Nº 8.884, DE JUNHO DE 1994.

Transforma o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE em autarquia e dispõe sobre a prevenção e a repressão às infrações contra a Ordem Econômica e dá outras providências.

21.12.2000)

§ 1o O disposto neste artigo não se aplica às empresas ou pessoas físicas que tenham estado à frente da conduta tida como infracionária. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

§ 2o O acordo de que trata o caput deste artigo somente poderá ser celebrado se preenchidos, cumulativamente, os seguintes requisitos: (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

I - a empresa ou pessoa física seja a primeira a se qualificar com respeito à infração noticiada ou sob investigação; (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

II - a empresa ou pessoa física cesse completamente seu envolvimento na infração noticiada ou sob investigação a partir da data de propositura do acordo; (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

III - a SDE não disponha de provas suficientes para assegurar a condenação da empresa ou pessoa física quando da propositura do acordo; e (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

IV - a empresa ou pessoa física confesse sua participação no ilícito e coopere plena e permanentemente com as investigações e o processo administrativo, comparecendo, sob suas expensas, sempre que solicitada, a todos os atos processuais, até seu encerramento. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

§ 3o O acordo de leniência firmado com a União, por intermédio da SDE, estipulará as condições necessárias para assegurar a efetividade da colaboração e o resultado útil do processo. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

§ 4o A celebração de acordo de leniência não se sujeita à aprovação do CADE, competindo-lhe, no entanto, quando do julgamento do processo administrativo, verificado o cumprimento do acordo: (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

I - decretar a extinção da ação punitiva da administração pública em favor do infrator, nas hipóteses em que a proposta de acordo tiver sido apresentada à SDE sem que essa tivesse conhecimento prévio da infração noticiada; ou (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

II - nas demais hipóteses, reduzir de um a dois terços as penas aplicáveis, observado o disposto no art. 27 desta Lei, devendo ainda considerar na gradação da pena a efetividade da colaboração prestada e a boa-fé do infrator no cumprimento do acordo de leniência. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

§ 5o Na hipótese do inciso II do parágrafo anterior, a pena sobre a qual incidirá o fator redutor não será superior à menor das penas aplicadas aos demais co-autores da infração, relativamente aos percentuais fixados para a aplicação das multas de que trata o art. 23

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desta Lei. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

§ 6o Serão estendidos os efeitos do acordo de leniência aos dirigentes e administradores da empresa habilitada, envolvidos na infração, desde que firmem o respectivo instrumento em conjunto com a empresa, respeitadas as condições impostas nos incisos II a IV do § 2o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

§ 7o A empresa ou pessoa física que não obtiver, no curso de investigação ou processo administrativo, habilitação para a celebração do acordo de que trata este artigo, poderá celebrar com a SDE, até a remessa do processo para julgamento, acordo de leniência relacionado a uma outra infração, da qual não tenha qualquer conhecimento prévio a Secretaria. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

§ 8o Na hipótese do parágrafo anterior, o infrator se beneficiará da redução de um terço da pena que lhe for aplicável naquele processo, sem prejuízo da obtenção dos benefícios de que trata o inciso I do § 4o deste artigo em relação à nova infração denunciada. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

§ 9o Considera-se sigilosa a proposta de acordo de que trata este artigo, salvo no interesse das investigações e do processo administrativo. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

§ 10. Não importará em confissão quanto à matéria de fato, nem reconhecimento de ilicitude da conduta analisada, a proposta de acordo de leniência rejeitada pelo Secretário da SDE, da qual não se fará qualquer divulgação. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

§ 11. A aplicação do disposto neste artigo observará a regulamentação a ser editada pelo Ministro de Estado da Justiça. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

Art. 35-C. Nos crimes contra a ordem econômica, tipificados na Lei no 8.137, de 27 de novembro de 1990, a celebração de acordo de leniência, nos termos desta Lei, determina a suspensão do curso do prazo prescricional e impede o oferecimento da denúncia. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-se automaticamente a punibilidade dos crimes a que se refere o caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)

Nº 11.343, DE

AGOSTO DE 2006.

Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas.

Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços.

Fonte: Costa (2008, p. 86-89).

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JULGADOS CONTRÁRIOS À APLICAÇÃO DA DELAÇÃO PREMIADA

APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE E ASSOCIAÇÃO. ART.12, CAPUT, E ART.14, AMBOS DA LEI Nº 6.368/76. CONDENAÇÃO. PRELIMINAR DE INÉPCIA DA EXORDIAL ACUSATÓRIA AFASTADA. RECURSOS DEFENSIVOS CENTRADOS NA FRAGILIDADE PROBATÓRIA. EFICAZ E CONVINCENTE MATERIAL PROBATÓRIO QUE SE HARMONIZAM COM OS DEMAIS ELEMENTOS DOS AUTOS, INCLUSIVE COM CONFISSÃO DE UM DOS ACUSADOS EM AMBAS AS FASES PROCESSUAIS. PLEITO ABSOLUTÓRIO. AFASTADO. ASSOCIAÇÃO PERMANENTE E ESTÁVEL NÃO CONFIGURADA. ABSOLVIÇÃO QUE SE IMPÕE. ADEQUAÇÃO DA CARGA PENAL COM APLICAÇÃO DA CAUSA DE ESPECIAL AUMENTO DE PENA PREVISTA NO ART. 18, III, DA LEI DE TÓXICOS. APELAÇÕES PROVIDAS NESTA PARTE. PLEITO ACUSATÓRIO PUGNANDO O AUMENTO DA CARGA PENAL IMPOSTA AOS SENTENCIADOS FACE A GRANDE QUANTIDADE DE ENTORPECENTE. PROVIMENTO. SUBSTITUIÇÃO DA PENA POR RESTRITIVAS DE DIREITOS. INCOMPATIBILIDADE COM O CUMPRIMENTO EM REGIME INTEGRALMENTE FECHADO. DELAÇÃO PREMIADA. NÃO CARACTERIZAÇÃO. RESTITUIÇÃO DE VEÍCULO CONFISCADO. IMPOSSIBILIDADE. APELOS DEFENSIVOS PARCIALMENTE PROVIDOS. APELO ACUSATÓRIO PROVIDO. CARGA PENAL MODIFICADA. "A denúncia só é inepta quando contém inequívoca deficiência capaz de impedir a compreensão da acusação, dificultando sobremaneira à defesa do acusado". Para a configuração do delito previsto no art. 12 da Lei n. 6.368/76, não se exige a efetiva prova do tráfico, sendo suficiente para o convencimento judicial, e tendo em conta o teor do "caput" do art. 37 do mesmo diploma legal, o conjunto de indícios e circunstâncias que envolvem o agente. A majorante do art. 18, III, da Lei 6.368/76, incide nos casos de simples co-autoria de agentes na atividade de tráfico ilícito de entorpecente. O benefício decorrente da delação premiada, previsto no §§ 2º e 3º do art. 32, da Lei 10.409/2002 não pode ser aplicado ao réu que pouco ou nada traz de importante para desmantelar a associação criminosa. A substituição da pena privativa de liberdade regulada no art. 44 do Código Penal é incompatível com os crimes equiparados aos hediondos. (TJPR, AC 0282120-3, Francisco Beltrão, 5ª C. Crim., Relª Desª Maria Jose Toledo Marcondes Teixeira, por maioria, J. 07.04.2005) (PASTRE, 2009, p.70)

APELAÇÃO CRIMINAL. CONDENAÇÃO POR CRIME DE TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. APELO I: RECURSO MINISTERIAL PRETENDENDO A FIXAÇÃO DO REGIME INTEGRALMENTE FECHADO PARA O CUMPRIMENTO DA PENA IMPOSTA ÀS RÉS. IMPROCEDÊNCIA. NOVA ORIENTAÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. APELO II: PLEITO VISANDO AO RECONHECIMENTO DO INSTITUTO DA DELAÇÃO PREMIADA. INVIABILIDADE. NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS PREVISTOS NO ARTIGO 32, §2º E 3º DA LEI 10.409/02.

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ADEQUAÇÃO, DE OFÍCIO, DA PENA DE MULTA EM CONFORMIDADE COM O ARTIGO 38 DA LEI 6.368/76. SENTENÇA CONDENATÓRIA MANTIDA. RECURSOS NÃO PROVIDOS. (TJPR, AC 0335236-5, Guairá, 4ª C. Crim., Rel. Des. Luiz Zarpelon, Unânime, J. 28.09.2006) (PASTRE, 2009, p.71)

REVISÃO CRIMINAL. SENTENÇA CONTRÁRIA AO TEXTO EXPRESSO DA LEI PENAL OU À EVIDÊNCIA DOS AUTOS. LATROCÍNIO. PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA E COOPERAÇÃO DOLOSAMENTE DISTINTA. INOCORRRÊNCIA. Não se pode reconhecer a cooperação dolosamente distinta ou a participação de menor importância quando as circunstâncias dos fatos delituosos demonstram que o acusado podia prever as conseqüências gravosas dos delitos, caracterizadas pela morte das vítimas. Aquele que executa condutas nucleares do tipo, é autor do delito, não podendo ser tido como mero partícipe, agente que não participa diretamente da empreitada delitiva. FORMAÇÃO DE QUADRILHA. DELAÇÃO PREMIADA. ARTIGO 8º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 8072/90. INAPLICABILIDADE. É inviável a redução da reprimenda nos termos do artigo 8º, parágrafo único, da Lei nº 8072/90, quando, antes da confissão do réu, já havia elementos que permitissem inferir ter sido cometido o crime de formação de quadrilha. LATROCÍNIO. DOIS FATOS. CONTINUIDADE DELITIVA. CONCURSO FORMAL IMPRÓPRIO. Tendo sido os dois crimes de latrocínio cometidos mediante única ação perpetrada em vários atos provenientes de desígnios autônomos, se está diante de concurso formal impróprio, não se podendo falar, pois, em continuidade delitiva. LATROCÍNIO. PENA DE MULTA. REDUÇÃO. INVIABILIDADE. Inviável a redução da pena de multa quando as circunstâncias judiciais dos delitos justificam sua fixação em 60 dias-multa para cada crime de latrocínio e o valor do dia-multa foi estabelecido no mínimo legal em vista da carência financeira do apenado. LATROCÍNIO E FORMAÇÃO DE QUADRILHA. REGIME PRISIONAL. INTEGRAL FECHADO. O regime de cumprimento da pena para o crime de latrocínio é o integralmente fechado, pois decorrente de texto expresso de lei, cuja constitucionalidade tem sido reafirmada pelo STF. Inaplicabilidade da Lei nº 9.455/97 ao crime de latrocínio. Súmula nº 698 do STF. No entanto, com relação ao delito de formação de quadrilha, não se pode determinar o regime integralmente fechado para cumprimento da pena, vez que não se trata de crime hediondo. À unanimidade, julgaram parcialmente procedente a revisão criminal para definir o regime prisional inicial fechado para cumprimento da pena cominada a Cristiano da Silva em vista do delito de formação de quadrilha. (Revisão Criminal Nº 70007742869, Quarto Grupo de Câmaras Criminais, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Roque Miguel Fank, Julgado em 23/09/2005) (PASTRE, 2009, p.72)

ROUBO MAJORADO (CONCURSO DE AGENTES E EMPREGO DE ARMA). MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS EM RELAÇÃO A UM DOS AGENTES. CONFISSÃO. RECONHECIMENTO DO RÉU PELAS VÍTIMAS. DELAÇÃO PREMIADA. AFASTAMENTO DA CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DE PENA. DÚVIDA INSUPERÁVEL QUANTO À AUTORIA EM RELAÇÃO AOS DEMAIS

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ACUSADOS. DELAÇÃO ISOLADA NO CONTEXTO PROBATORIO. ABSOLVIÇÃO. Apelações defensivas providas. Apelação Ministerial parcialmente provida. (Apelação Crime Nº 70012108957, Sexta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco Antônio Bandeira Scapini, Julgado em 18/08/2005) (PASTRE, 2009, p.73)

APELAÇÃO CRIME. ENTORPECENTES. PROGRESSÃO DE REGIME. DELAÇÃO PREMIADA. A condenação merece ser mantida, pois os apenados confessaram a prática da conduta criminosa. A reincidência, necessariamente, determina a majoração da pena. Os condenados devem responder em regime inicialmente fechado, diante de recente decisão do Pretório Excelso. Afastada a aplicabilidade do benefício da delação premiada, no presente caso, pois não houve, em verdade, qualquer delação. PARCIAL PROVIMENTO. (Apelação Crime Nº 70013510060, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Vladimir Giacomuzzi, Julgado em 06/04/2006) (PASTRE, 2009, p.73)

JULGADOS FAVORÁVEIS À APLICAÇÃO DA DELAÇÃO PREMIADA

APELAÇÃO CRIMINAL - TRÁFICO DE ENTORPECENTES E ASSOCIAÇÃO - ART. 12, "CAPUT", C/C O ART. 18, INCISO III, AMBOS DA LEI Nº 6.368/76 - RECURSOS. 1 RECURSO MINISTERIAL - PLEITO DE MODIFICAÇÃO DAS PENAS-BASES - ACOLHIMENTO - ELEVADA QUANTIDADE DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE - 14.400 FRASCOS DE LANÇA PERFUME - PERDIMENTO DOS VEÍCULOS UTILIZADOS PELOS RÉUS NO EVENTO DELITIVO - IMPOSSIBILIDADE - VEÍCULOS NÃO PREPARADOS - AUSÊNCIA DE HABITUALIDADE PARA PRÁTICAS ILÍCITAS - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 2 AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS - AFASTAMENTO DA MAJORANTE DO ART. 18 DA LEI Nº 6.368/76 - IMPOSSIBILIDADE - ASSOCIAÇÃO EVENTUAL PARA O TRÁFICO CONFIGURADA - DELAÇÃO PREMIADA- POSSIBILIDADE - EXEGESE DO ARTIGO 32, §2º DA LEI DE TÓXICOS - ALTERAÇÃO DE OFÍCIO DO VALOR DA PENA PECUNIÁRIA - RESSALVA, 'EX OFFÍCIO' DA POSSIBILIDADE DE PROGRESSÃO DO REGIME E ALTERAÇÃO DE OFÍCIO PARA REGIME INICIALMENTE FECHADO - INCONSTITUCIONALIDADE RECONHECIDA PELO STF - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 3 AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS - DELAÇÃO DO CO-RÉU - DECLARAÇÕES DOS POLICIAIS FEDERAIS - VALIDADE - PROVAS UNÍSSONAS E COERENTES - PLEITO PELO AFASTAMENTO DA MAJORANTE DO ART. 18 DA LEI Nº 6.368/76 - NÃO ACOLHIMENTO - CONDENAÇÃO POR FATO CRIMINOSO DESCRITO NA DENÚNCIA - - ALTERAÇÃO DE OFÍCIO DO VALOR DA PENA PECUNIÁRIA - RESSALVA, 'EX OFFÍCIO' DA POSSIBILIDADE DE PROGRESSÃO DO REGIME E ALTERAÇÃO DE OFÍCIO PARA REGIME INICIALMENTE FECHADO - INCONSTITUCIONALIDADE RECONHECIDA PELO STF RECURSO IMPROVIDO.

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(TJPR, 3ª C. Crim., AC 0323205-9, Francisco Beltrão, Rel. Juiz Conv. Laertes Ferreira Gomes, Unânime, J. 04.05.2006) (PASTRE, 2009, p.74)

APELAÇÃO CRIMINAL. RECURSOS DEFENSIVO E MINISTERIAL. ROUBO MAJORADO PELO EMPREGO DE ARMA, CONCURSO DE AGENTES E RESTRIÇÃO À LIBERDADE DAS VÍTIMAS. FORMAÇÃO DE QUADRILHA ARMADA. ARGÜIÇÕES DEFENSIVAS DE NULIDADES PROCESSUAIS, QUE VÃO REJEITADAS. PROVA SUFICIENTE PARA CONDENAR OS RÉUS RECORRENTES, EXCETO UM, E INSUFICIENTE PARA FAZER O MESMO EM RELAÇÃO AOS RECORRIDOS. ABSOLVIÇÃO DE UM DOS RECORRENTES. DELAÇÃO PREMIADA. PEDIDO MINISTERIAL DE PERDÃO JUDICIAL QUE SE ACOLHE EM FAVOR DO DELATOR. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA QUANTO AO MAIS, POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. Preliminares rejeitadas. Recuso ministerial parcialmente provido. Recursos de dois réus providos. Recursos dos demais desprovidos. (Apelação Crime Nº 70026888701, Sétima Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: João Batista Marques Tovo, Julgado em 18/12/2008)

APELAÇÃO CRIME. ROUBO DUPLAMENTE MAJORADO. EMPREGO DE ARMA E CONCURSO DE AGENTES. TENTATIVA. 1. MÉRITO CONDENATÓRIO. MANUTENÇÃO. A existência do crime e a identidade dos seus autores emergem induvidosas dos elementos de convicção colacionados aos autos. Confessos dois dos co-acusados, além de assumirem a autoria da tentativa de roubo, imputaram-na, também, ao terceiro co-acusado. A negativa deste restou isolada nos autos, porquanto outras provas testemunhais dão suporte às narrativas ofertadas pelos réus confessos. Condenações imperativas. 2. MAJORANTE. EMPREGO DE ARMA DE FOGO. AFASTAMENTO. INVIABILIDADE. É consabida a desnecessidade de apreensão e de exame técnico para aferir a potencialidade lesiva do artefato. Isso porque, conforme reiteradamente se tem decidido, o fundamento da majorante reside no poder de intimidação em face da vítima. Prova oral e material que não deixa dúvidas acerca da utilização, por parte dos responsáveis pela rapina, de instrumento altamente vulnerante, com o qual, inclusive, foram realizados disparos. Majorante materializada. 3. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA. Configurada a tentativa de roubo, pois houve a concreção da grave ameaça, inclusive com o deflagar de tiros para que a vítima saísse de trás do balcão, a retrocessão no prosseguimento do processo executivo deveu-se a ação de uma das testemunhas, ao afirmar que conhecia um deles, o que os intimidou e afugentou do local. Essa temida identificação descortinou-se como impedimento externo e alheio à vontade dos agentes....Na sempre lembrada assertiva de Frank, é voluntária a desistência quando o sujeito ativo possa dizer: não quero continuar, - embora possa fazê-lo. Deixa de ser voluntária quando se diz: não posso continuar, embora queira. Inquestionável, na hipótese, a tonalização do conatus, porque inexistente o atributo da voluntariedade na desistência. 4. DOSIMETRA DAS PENAS. Co-réu Luís Carlos Chaves. Pena-base fixada, modestamente, em 04 anos e 6 meses. Desfavorecem-no a conduta social, registrando

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diversos envolvimentos com a Justiça Criminal desde a menoridade ; as circunstâncias, em razão dos disparos de arma de fogo que colocaram em risco a vida da vítima e demais pessoas que se encontravam no local. Na 2ª etapa, redução de 6 meses pela menoridade. Aumento de 1/3 pelas majorantes, que se mostrou benéfico, e, ao final, redução de 1/3 pela tentativa, resultando em carcerária de 03 anos, 6 meses e 20 dias, e não 04 anos, como constou no ato sentencial. Multa de 10-dias-multa, à razão unitária mínima mantida. Co-réus Marcos da Silva Machado e Júlio Antônio Fernandes. Penas-base de 06 anos decorrentes dos desajustes demonstrados nas personalidades e condutas sociais, bem como das desfavoráveis circunstâncias do crime, como já analisado. Na 2ª fase, redução de 01 ano em razão das atenuantes da menoridade de ambos e confissão espontânea, subsumida esta na delação premiada, o que os beneficiou duplamente. Aumento de 1/3 pelas majorantes, não podendo se mantido o acréscimo de 2/5, em razão do princípio da isonomia. Ao final, duas reduções, sucessivas, de 1/3, pela tentativa e delação premiada, resultando em privativas de liberdade de 02 anos, 11 meses e 16 dias. Multas no mínimo legal. 5. REGIMES PRISIONAIS. À luz das penas impostas, e inexistindo elementos que justifiquem a fixação do regime semi-aberto para o cumprimento das corporais, impõe-se a modificação dos mesmo para o aberto. APELOS PARCIALMENTE PROVIDOS. PRIVATIVAS DE LIBERDADE REDIMENSIONADAS. (Apelação Crime Nº 70025816166, Oitava Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Fabianne Breton Baisch, Julgado em 12/11/2008) (http://tj.rs.gov.br/site_php/jprud2/ementa.php)

APELAÇÃO-CRIME. TRÁFICO ILÍCITO DE MACONHA (ART. 12, CAPUT, DA LEI N. 6.368/76). MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS EM RELAÇÃO A DOIS DOS ACUSADOS. ASSOCIAÇÃO (ART. 14 DA LEI 6.368/76). ABSOLVIÇÕES MANTIDAS. 1. ACUSADO QUE SE ENCONTRAVA PRESO. INEXISTÊNCIA DE PROVA SEGURA DA AUTORIA. Nada foi encontrado em poder do réu, que se encontrava preso quando a maconha foi apreendida com a companheira. Impossível condenar alguém com quem nenhuma substância ilícita foi apreendida por um crime equiparado a hediondo, tão-somente, com base em delação efetuada na fase policial e retificada em juízo. Absolvição. 2. DELAÇÃO PREMIADA. Mantida a redução da pena (diminuído apenas o quantum) porquanto a delação auxiliou na apreensão da droga, prisão e condenação do co-réu. 3. REDUTOR PREVISTO NO §4º DO ART. 33 DA LEI. 11.343/06. Impossibilidade de aplicação da causa de diminuição de pena, tratando-se de contexto legal diverso. Manutenção no caso, porém, por inexistir insurgência do Ministério Público, que postula a diminuição da redução. 4. ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. Ausência de provas do animus associativo com o fim específico de traficar drogas, não bastando a ocorrência de um único crime. Absolvições mantidas. 5. REGIME CARCERÁRIO. DELITO EQUIPARADO A HEDIONDO. RETROATIVIDADE DA LEI N. 11.464/07. MANUTENÇÃO DO REGIME INICIAL FECHADO. Atualmente, por disposição expressa da Lei n. 8.072/90, com a nova redação dada pela Lei n. 11.464, de 28/03/2007, está vedada a imposição de regime integralmente fechado para delitos hediondos ou a eles equiparados, tratando-se de lei nova mais benéfica que retroage em favor dos réus. Manutenção do regime carcerário inicial

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fechado. Imposição do mesmo regime à acusada, mesmo condenada à pena mais branda. APELAÇÃO DEFENSIVA PROVIDA. APELAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PROVIDA EM PARTE. (Apelação Crime Nº 70020500286, Segunda Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Lúcia de Fátima Cerveira, Julgado em 23/09/2008) (http://tj.rs.gov.br/site_php/jprud2/ementa.php)

PENAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES (LEI 11.343/06, ART. 33, "CAPUT"). PRETENSÃO DE ABSOLVIÇÃO - IMPOSSIBILIDADE - COMPROVAÇÃO SUFICIENTE DE AUTORIA E MATERIALIDADE - TRAFICÂNCIA CARACTERIZADA - TESTEMUNHO DOS POLICIAIS - AUSÊNCIA DE DIVERGÊNCIAS - RELEVÂNCIA E VALIDADE COMO PROVA - CONDENAÇÃO MANTIDA. DOSIMETRIA PENAL: PEDIDO DE REDUÇÃO DA PENA PELA FRAÇÃO MÁXIMA POR FORÇA DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA DO ARTIGO 33, §4º, DA LEI Nº 11.343/06 - IMPOSSIBILIDADE NO CASO - ELEVADA QUANTIDADE DE DROGA; PLEITO DE REDUÇÃO DA PENA PELA FRAÇÃO MÁXIMA LEGAL EM RAZÃO DO RECONHECIMENTO DA DELAÇÃO PREMIADA - PROCEDÊNCIA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (a) Mantém-se a condenação por tráfico se a prova é suficiente para ampará-la. (b) 'Na hipótese não é aplicável a causa de diminuição da pena prevista no parágrafo 4º, da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, dispositivo cuja retroatividade é indiscutível por ser norma mais benéfica ao réu, em face da quantidade de droga apreendida bem como por estar evidenciado dedicar-se o réu a comercialização de substância entorpecente (...).' (TJPR - Ap. Cr. nº 471876-7 - Rel. Des. Rogério Coelho - DJ 31/10/2008). (c) 'Réu que colabora intensa e eficazmente com a Justiça, como expressa e elogiosamente reconhecido na sentença - Acusado que faz tudo que lhe é possível, sem exceção, como colaborador da Justiça, com isso propiciando identificação, localização e prisão de integrantes-chefes dos grupos distribuidores e comercializadores da droga - Redução que deve ser aplicada no máximo permitido, de dois terços.' (TJPR - Ap. Cr. nº 204512-5 Rel. - Rel. Des. Rabello Filho - DJ 04/04/03.) (TJPR - 3ª C. Crim. - AC 0530359-7 - Foro Regional de São José dos Pinhais da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Juiz Subst. 2º G. Rui Bacellar Filho - Unanime - J. 26.02.2009)( http://www.tj.pr.gov.br/portal/judwin/consultas/jurisprudencia/JurisprudenciaDetalhes.asp?Sequencial=6&TotalAcordaos=43&Historico=1&AcordaoJuris=781056)