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0 FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO MARCELA ALVES MAIA DO CRIME DE INFANTICÍDIO: DA IMPUTABILIDADE DA PORTADORA DO PUERPÉRIO CABEDELO- PB 2015

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

MARCELA ALVES MAIA

DO CRIME DE INFANTICÍDIO: DA IMPUTABILIDADE DA PORTADORA DO PUERPÉRIO

CABEDELO- PB 2015

1

MARCELA ALVES MAIA

DO CRIME DE INFANTICÍDIO: DA IMPUTABILIDADE DA PORTADORA DO PUERPÉRIO

Trabalho de Conclusão de Curso em forma de Artigo científico apresentado à Coordenação do Curso de Bacharelado em Direito, pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Área: Direito penal Orientadora: Profª. Ms. Juliana Porto Vieira

CABEDELO- PB 2015

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MARCELA ALVES MAIA

DO CRIME DE INFANTICÍDIO: DA IMPUTABILIDADE DA PORTADORA DO PUERPÉRIO

Artigo Científico apresentado à Banca Examinadora de Artigos Científicos da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP, como exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.

APROVADO EM: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________ Profª Ms. Juliana Porto Vieira

ORIENTADORA- FESP

_________________________________________ Profª Esp. Gabriela Henrique da Nóbrega

MEMBRO- FESP

_________________________________________ Prof. Esp. Pablo Juan Nóbrega de Souza da Silveira

MEMBRO- FESP

3

Dedico primeiramente a Deus que iluminou meu caminho nesta caminhada, aos meus pais, meu noivo, amigos e familiares.

4

AGRADECIMENTOS

À Deus por ter me dado força, perseverança, sabedoria e saúde para

enfrentar todas as dificuldades.

À minha orientadora Juliana Porto, que com sua paciência e sabedoria,

sempre dando suporto com incentivos e correções, tornou possível a conclusão

deste artigo.

Aos professores Gabriella Nóbrega e Pablo Juan, pela participação de minha

banca examinadora.

À professora Socorro Menezes, pelo aprendizado passado que foi de suma

importância para a realização deste artigo.

À minha mãe Edna, que nunca mediu esforços para eu chegar nesta etapa da

minha vida, ser meu exemplo de guerreira e batalhadora, por sempre ter acreditado

em mim, e pela toda sua ajuda e o seu apoio incondicional.

Ao meu pai, por todo amor e incentivo.

Aos meus amigos e familiares pelas belas palavras de incentivo e sempre me

motivando.

Ao meu noivo Romerito, meu companheiro por estar sempre ao meu lado, me

incentivando e dando seus puxões de orelha quando eu queria desistir. A você o

meu mais sincero obrigado, por sempre acreditar em mim, mesmo quando eu não

acreditava. Seu cuidado e dedicação foi que deram, em alguns momentos a

esperança para eu seguir.

As minhas amigas Camila Vilarim e Daniela Teixeira, minhas irmãs de

coração, que sempre apoiando, me animando, deram forças para continuar. Sem

vocês o curso não seria o mesmo. Deus as botou com um propósito em minha vida,

e agradeço a ele por conhecê-las.

E para todas as pessoas que mesmo indiretamente fizeram parte da minha

formação.

5

"LUTA. Teu dever é lutar pelo Direito. Mas no dia em que encontrares o Direito em conflito com a Justiça, luta pela Justiça" (Eduardo Couture, 1904-1956)

6

SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................ 07

2 INFANTICÍDIO .................................................................................................. 09

2.1 ORIGEM ............................................................................................................ 11

2.2 ESTADO PUERPERAL ..................................................................................... 12

3 ALTERAÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS DECORRENTES DO

PUERPÉRIO ............................................................................................................. 14

4 CULPABILIDADE DA GENITORA ................................................................... 15

4.1 PERÍCIA ............................................................................................................ 16

5 A INFLUÊNCIA DO ESTADO PUERPERAL NA CARACTERIZAÇÃO DO

CRIME DE INFANTICÍDIO ........................................................................................ 17

6 DIVERGÊNCIAS DOUTRINÁRIAS ................................................................... 18

7 DECISÕES DOS TRIBUNAIS ........................................................................... 19

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 21

REFERÊNCIAS ................................................................................................. 22

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DO CRIME DE INFANTICÍDIO: DA IMPUTABILIDADE DA PORTADORA DO PUERPÉRIO

MARCELA ALVES MAIA*

JULIANA PORTO VIEIRA**

RESUMO

O presente artigo versa sobre uma questão muito complexa e diz respeito ao crime de infanticídio. O crime de infanticídio nos tempos primordiais era tratado com penas severas, porém tornou-se ao longo dos tempos um crime privilegiado, tendo penas mais brandas. Antes o critério adotado pelos legisladores era o critério psicológico, onde a mão levava a morte de seu filho por motivo de honra, nos tempos atuais o critério fisiopsicológico é o adotado entre os legisladores, onde a mãe é levada a matar seu filho por estar com alterações psicológicas devido à gravidez. Para que possa ser caracterizado como infanticídio, a genitora no ato da ação teria que esta sob a influência do estado puerperal e para sua comprovação terá que passar por pericias e quase nunca se consta o estado puerperal nesse tempo, tendo o perito tomar como base testemunhas e depoimentos. Certos doutrinadores afirmam que o estado puerperal deverá atenuar na pena, pois a genitora não estava com discernimento no ato do crime, porém outros doutrinadores são contras as atenuações da pena, pelo fato que no ato da ação a genitora estaria com discernimento parcial. Deste modo o presente artigo tem por finalidade estudar o fator desencadeador da prática do crime de infanticídio e das consequências que podem provocar as mulheres acometidas por essa perturbação psíquica. A problemática a ser enfrentada é se a mãe age dolosamente ao cometer o infanticídio Desse modo, o objetivo deste trabalho é analisar a questão do dolo no crime de infanticídio juntamente com a influência do estado puerperal. Para alcançar os seus objetivos, será utilizado o método de abordagem dedutivo, bem assim os métodos analíticos, histórico e interpretativo, por meio de pesquisa bibliográfica, documental e jurisprudencial. PALAVRAS-CHAVE: Infanticídio. Estado Puerperal. Imputabilidade

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Infanticídio denota a morte daquele que esta nascendo, tendo sua origem

em latim. Tal prática delituosa veio se destacando ao longo do tempo pela

_____________________

*Concluinte do curso de Direito da Fesp Faculdades, semestre 2015.2. E-mail: [email protected]. ** Advogada, mestre e especialista em ciências jurídico- criminais pela universidade de Coimbra- Portugal. Atuou como orientadora desse TCC

sua complexibilidade. Nos tempos antigos, os legisladores optavam por adotar o

critério psicológico, onde a mãe matava seu próprio filho por motivo de honra. Hoje o

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código civil pátrio adotou o critério fisiopsicológico onde a mãe mata o filho por sofrer

alterações psicológicas na gravidez, atenuando assim a culpabilidade. Vale ressaltar

que se o crime for cometido durante a gravidez, este se tratará de crime de aborto,

ou muito tempo posterior ao parto, será caracterizado como homicídio.

O presente artigo tem como escopo verificar o motivo da prática delituosa e

das consequências acometidas a mulheres que praticam o infanticídio sob a

influência do estado puerperal, sofrendo está perturbação mental. Somente a

genitora com perturbações mentais transitórias poderá ser autora do crime, e sua

vítima é direcionada ao seu próprio filho nascente ou neonato. Vale salientar que a

autora só será julgada por crime de infanticídio, se apresentar os requisitos

necessários para sua configuração.

O crime de infanticídio exige que a autora esteja sob a influência do estado

puerperal, para que esta venha a praticar o crime, caracterizando-o como

infanticídio. O estado puerperal atua na genitora como uma perturbação psíquica

transitória de difícil verificação. No ato da prática delituosa, a genitora não apresenta

discernimento para entender o caráter ilícito de sua ação, razão para qual o nosso

ordenamento jurídico afasta a culpabilidade da genitora.

Este artigo tomará como base a relação entre o crime de infanticídio e a

imputabilidade da portadora do puerperio, e como o nosso ordenamento jurídico

vigente trata o crime citado acima. Para o desenvolvimento da pesquisa será

considerada a atuação do Código Penal Brasileiro. Serão também utilizadas as

técnicas da pesquisa bibliográfica e documental para a fundamentação teórica e

embasamento na fase de análise dos dados.

Sendo assim, optou por realizar o trabalho pelo método de pesquisa

bibliográfica, que compreendeu a coleta de dados conceituais em livros, periódicos

científicos, sites, teses e dissertações. E ainda o método dedutivo estabelecendo

relações com uma segunda proposição para, a partir de raciocínio lógico, chegar à

verdade daquilo que propõe.

2 INFANTICÍDIO

Infanticídio é a realização do ato de matar, sendo a conduta da própria mãe,

que deverá acontecer durante ou logo após o parto. O crime poderá ser praticado

por qualquer ato tais como deixar de amamentar o filho, como também

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estrangulando ou afogando. Vale destacar que para caracterizar tal crime, o

nascente teria que está vivo no momento da ação.

O nosso Código Penal Brasileiro em seu artigo 123 trata do crime de

infanticídio afirmando que é o crime onde a mãe tira a vida do próprio filho, tendo

esta à influência do estado puerperal, durante ou logo após o parto. O crime de

infanticídio somente poderá ser cometido pela genitora, qualquer outra pessoa será

caracterizada como crime de homicídio, por essa razão que infanticídio um crime

próprio.

Para se caracterizar o crime de infanticídio, a nossa Legislação Brasileira,

afirma que deverá existir cumulativamente três requisitos, que a conduta da genitora

seja proposital, que a vitima seja o recém-nascido e que o nascente tenha vivido

após o parto. Além disso, é indispensável que fique averiguado ter sobrevindo

realmente como perturbação psíquica, que é o verdadeiro sentido que contém a

expressão: sob a influência do estado puerperal. No entendimento de Christofoli

(2010, apud Capez et. al., 2010, p.102) defende que:

a melhor orientação é aquela que leva em consideração a duração do estado puerperal, exigindo-se uma análise concreta de cada caso. Assim, o delito de infanticídio deve ser cometido enquanto durar o estado puerperal, não importando avaliar o número de horas ou dias após o nascimento, e, se aquele não mais subsistir, não mais poder-se-á falar em delito de infanticídio, mas em delito de homicídio.

Deverá em cada caso concreto, ser levada em consideração a duração do

estado puerperal, devendo o infanticídio ocorrer durante esse estado, todavia, se o

estado não subsistir haverá o crime de homicídio. Souza (2008) afirma

que infanticídio é um crime contra a vida, no transcorrer da história, a expressão

infanticídio, do latim ‘infanticidium’, sempre teve o significado de morte de criança,

especialmente no recém-nascido.

Infanticídio significa: “Assassínio de recém-nascido ou de criança. Morte do

próprio filho, sob a influência do estado puerperal, durante o parto ou logo depois”

(FERREIRA, 2015). Infanticídio é derivado do latim, infans e coedere, que denota “o

que mata uma criança recém-nascida”.

Noronha (2010) garante: “Somente a genitora é sujeito ativo desse crime, é

ela sob a influência do estado puerperal, matando o próprio filho”. O nosso Código

Penal Brasileiro, adota o critério fisiopsicológico como configuração do crime de

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infanticídio, ou seja, a aceitação da influência do estado puerperal sob o crime de

infanticídio cometido pela genitora contra o seu próprio filho. Vale salientar que, tal

conduta deverá ser pratica durante ou logo após o parto, passando muito tempo,

este será caracterizado como homicídio.

Capez ( 2010, p. 134), diz que infanticídio é:

[...] uma espécie de homicídio doloso privilegiado, cujo privilegium é concedido em virtude da “influência do estado puerperal” sob o qual se encontra a parturiente. É que o estado puerperal, por vezes, pode acarretar distúrbios psíquicos na genitora, os quais diminuem a sua capacidade.

O crime de infanticídio pertence a uma categoria diferente dos crimes

comuns, aquele é caracterizado como crime próprio, onde somente determinadas

pessoas poderá cometer tal prática delituosa para que se possa configurar como

infanticídio. Portanto, somente a genitora poderá atentar contra a vida do seu próprio

filho nascente ou neonato. O crime de infanticídio esta tipificado no artigo 123 do

Código Penal vigente, adotando o critério fisiopsicológico.

O sujeito passivo é a genitora que irá cometer o crime contra seu filho. E o

sujeito passivo no crime de infanticídio é o filho, o recém-nascido. De acordo com

Sandock (2009, p. 50):

À psicose puerperal é um exemplo de transtorno psicótico sem outra especificação que ocorre em mulheres que tiveram filhos há pouco. A síndrome se caracteriza, em parte, por depressão, delírios e pensamentos de ferir o bebê ou a si mesma. Esta ideação de suicídio ou infanticídio deve ser monitorada, uma vez que algumas mães agem a partir dessas ideias.

Bitencourt (2015) afirma que somente o próprio nascente ou o recém-nascido,

poderá ser o sujeito passivo. Capez (2010) afirma que o infanticídio é constituido por

três elementos: matar o próprio filho; durante ou logo após o parto; sob a influência

do estado puerperal. Excluindo algum desses elementos, o crime deixara de ser de

infanticídio e passará a ser outro crime.

Conforme Veloso (2010), na medicina o estado puerperal é de difícil

conceituação, pois não existe tal tipo de patologia, e nem se quer elementos seguros

que caracterize tal estado, e não há limite de duração determinado. Na pericia, o

estado puerperal é de difícil percepção, pois muitas das vezes, quando as genitoras

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são submetidas a tais exames, o estado puerperal já tenha regredido sem deixar

sequelas.

No código penal pátrio de 1969, era adotado o critério psicológico, onde a

mãe cometia tal crime por motivo de honra, onde o fruto foi concebido por uma

relação extraconjugal, levando a mulher a matar o recém-nascido por angustia e

ocultando tal nascimento. O estado puerperal conforme as alterações físicas e

psíquicas da parturiente deverá ser considera como patologia, deverá ser

considerada todo o sofrimento causado a mulher durante ou posterior ao parto.

2.1 ORIGEM

Nos tempos primordiais, o crime de infanticídio não se distinguia do homicídio,

as penas para ambos eram extremamente severas, portanto, aquelas que matavam

o próprio filho tinham penas severas. No mesmo tempo a Ordenação penal de

Carlos V prévia que genitora que praticassem tal crime seria enterrada viva ou

empalada. O Direito Romano também não havia a distinção de tal crime com o de

homicídio também prevendo penas bastante severas.

Com advento do Iluminismo, as vozes que defendia tratamento menos severo

para o infanticídio avolumaram-se, destacando a morte do próprio filho por motivo de

honra. No Código Penal Austríaco em 1803, o infanticídio foi abordado como

homicídio privilegiado “tomando como base as condições psíquicas e físicas no

decorrer do parto” (CAPEZ, 2010).

Com o surgimento do período moderno e atual, a parturiente começou a ser

tratada com mais benefícios e com certos privilégios na área jurídica. Salientando

que na realidade houve uma brusca mudança de mentalidade e de costumes,

abrangendo a pena do infanticídio, dando a genitora penas mais brandas para quem

cometesse o crime de infanticídio,

Com as mudanças, o nosso ordenamento jurídico passou a julgar o crime de

infanticídio como homicídio privilegiado, somente quando praticado pela mãe. De

acordo com os filósofos do direito natural, o infanticídio decorria de fortes fatores

como a pobreza, a deformidade, a prole portadora de doenças e a honra. Nesse

sentido, influenciando diretamente os legisladores a privilegiar esse crime.

Vale ressaltar que o crime de infanticídio é exercido desde os tempos

primordiais alegando-se motivos de honra, religião, deficiências físicas, dentre

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outros. Em cada época era visto por diferentes critérios. Somente nos tempos

modernos é que se tornou um homicídio privilegiado, surgindo um abrandamento

das penas, desde que houvesse motivos de honra ou condições psicológicas

especiais (CAPEZ, 2010)

Compreende-se o conceito de infanticídio primeiramente como o ato de

matar, ou seja, tirar a vida de alguém, o segundo é a compreensão da influencia do

estado puerperal, caracterizando assim o crime de infanticídio. O legislador entende

que este crime um homicídio privilegiado, cometido pela própria mão contra seu filho

recém-nascido, estando esta sob a influência do estado puerperal, ou seja, sob

condições fisiológicas especiais.

2.2 ESTADO PUERPERAL

Estado puerperal ocorre logo após a expulsão da placenta, ou seja, o pós-

parto, onde o corpo da mulher esta voltando ao estado antes da gravidez. Podendo

perdurar até 40 dias posterior ao parto. No estado puerperal, a genitora sofre

alterações psicológicas, onde leva a não aceitação da criança, desejando assim tirar

a vida do filho. Vale salientar, que nem todas as mulheres que matam o filho estão

sob a influência do estado puerperal, precisando assim de um exame pericial para

tal comprovação (VELOSO, 2010).

O estado puerperal atinge vários níveis de intensidade na psique da genitora,

se comprovado, a mulher poderá apresentar duas formas de distúrbio: a neurose

aguda ou a psicose. Na psicose puerperal, a genitora ira sofrer delírios ou

alucinações relacionadas ao recém-nascido, podendo provocar a morte deste. Na

neurose aguda a genitora apresente irritação, depressão e ansiedade. De acordo

com especialistas o estado puerperal pode apresentar os mesmos sintomas da

depressão pós-parte, levando assim na confusão.

De acordo com Veloso (2010) o infanticídio ocorre pela gravidez ilegítima,

levando a mulher em pensar formas de como matar o fruto de uma relação não

aceitável, e praticam o crime como solução de tal conduta, muitas vezes com

requintes de crueldade. As genitoras, maioria das vezes desencadeiam o estado

puerperal por não receberem apoio após o parto, tendo estas durante a gravidez,

sofrido algum trauma emocional.

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Certos fatores pode ocasionar o estado puerperal na genitora, tais como:

distúrbio mentais antes da gravidez, falta de apoio, gravidez indesejada,

complicações na gravidez, problemas pessoais, dentre outros. Caracteriza-se o

estado puerperal pela atenção falha, desorientação, falta de discernimento para

diferenciar o lícito do ilícito, memória escassa, dentre outros sintomas.

O estado puerperal acomete apenas em algumas mulheres, não é uma regra,

leva a uma perturbação mental. O estado baseia-se em dois fatores, o primeiro é o

fator fisiopsicológico que são as alterações hormonais decorrente do parto e o outro

fator é o psicológico onde visa esconder a desonra causada pela gravidez não

legitima. O estado puerperal pode está presente, mas nem sempre ocasiona

alterações hormonais na genitora. Jesus (2010) afirma que o estado puerperal são

as perturbações sofridas pela mulher durante o parto, tanto físico como psicológica.

Para a medicina legal o estado puerperal reduz o discernimento da puérpera

como também atenção falha, e quando esta se reabilita não apresenta lembrança

alguma do ato cometido. É conceituado como um transtorno mental transitório, pela

sua curta duração e não deixa sequelas, que após o puerpério a saúde mental da

genitora volta ao normal. Para Croce e Croce (2012) o puerpério nem sempre

acarreta uma perturbação psíquica, é necessário averiguar se o estado puerperal é

decorrente do puerpério de maneira que diminuia o seu discernimento.

Enfim, o estado puerperal pode ser considerado como um conjunto de

características psicológicas, que tem seu início com o parto, podendo perdurar até

logo após o mesmo. Pra muitos pesquisadores, o estado puerperal perdura até

quarenta dias após o nascimento de seu filho, todavia, não a confirmação concreta

da real duração desse estado, podendo durar a mais da duração estabelecida.

3 ALTERAÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS DECORRENTES DO

PUÉRPERIO

O puerpério se da após o parto, é quando a mulher passa por alterações

psíquicas e físicas para voltar ao seu estado antes da gravidez, ou seja, o corpo da

mulher vai recuperando características, embora algumas estruturas não voltem a

serem como antes, essas alterações se dar após o nascimento do filho. Esse

período dura em torno de oito semanas.

Cardoso (2009) diz que durante a gestação, a mulher foi se adaptando a

mudanças tanto externas como internas de forma lenta. Após o nascimento do filho,

14

a mudança é brusca, a mulher é bombardeada de hormônios, deixando-a mais

sensível. O puerpério no entendimento de Nucci (2015) é o período do início do

parto até a volta do estado de antes da gravidez, toda mulher passa pelo estado

puerperal, porém algumas mais aguçadas do que outras

Algumas mulheres durante o puerpério apresentam alterações psicológicas

em razão das modificações hormonais, a alteração mais grave é chamada de estado

puerperal. Algumas mães desencardiam essas alterações durante a gravidez, outras

tendo alterações mentais desde antes, porém com as modificações sofridas na

gravidez é que essas perturbações psíquicas surgem apenas após o parto.

O estado puerperal é caracterizado onde a genitora, por falta de discernimento e

por motivos psicológicos ocisam por tirar a vida do próprio filho, independentemente

de como for praticar, seja por ato omisso ou comissivo, e ao termino do estado

puerperal, a genitora não se lembra do crime cometido. É um estado transitório,

incompleto, caracterizado pela desatenção da genitora com seu filho. Muitas vezes

se manifesta na parturiente que não recebem conforto ou ate mesmo solidariedade

após o parto, ou que o filho seja fruto de uma relação ilegítima.

4 CULPABILIDADE DA GENITORA

O infanticídio está tipificado no artigo 123 do código penal, com pena de dois

a seis anos de detenção. Ele é classificado como um crime do tipo autônomo, pois

para ser caracterizado como infanticídio somente a genitora do recém-nascido,

durante ou logo após o seu nascimento o mata sob a influência do estado puerperal,

independentemente da forma de como o matou, podendo ser de forma omissiva ou

comissiva, muitas vezes com frieza e requintes de crueldade (VADE MECUM, 2015).

A legislação prevê atenuação da pena para a infante, pois no ato da ação a

parturiente estava sob a influência do estado puerperal, sofrendo varias alterações e

impedindo de ter o discernimento que teria se ela estivesse em seu estado normal, a

diminuição da pena ocorre pela reprovabilidade da ação e pela sua diminuição do

discernimento, justificando assim a diminuição da pena podendo ser de um terço a

dois terços.

O infanticídio é julgado com a cominação de dois artigos, o primeiro é o artigo

123 do código penal, em seu roll taxativo onde configura o crime de infanticídio

15

como a mãe que matão próprio filho, sob a influência do estado puerperal, durante

ou logo após o parto (grifos nosso). O segundo é o artigo 26 do Código Penal:

Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar- se de acordo com este entendimento. Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um terço a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento (VADE MECUM, 2015, p. 354).

A pena poderá ser reduzida de um terço a dois se comprovado que no

momento da ação a parturiente, esta sob a influência do estado puerperal, tendo sua

saúde mental reduzida e sem entendimento do caráter ilícito da ação. Porém ambos

os artigos só poderão ser usados se comprovados tal influência. A comprovação é

feita por exame pericial determinada pelo legislador, sendo de difícil percepção.

Sendo comprovada a inexistência do estado puerperal, não há do que

responder por infanticídio e sim por homicídio, pois no momento do crime a genitora

teria o discernimento completo e o entendimento do caráter ilícito de sua ação. Se

comprovado no exame pericial a influência do estado puerperal no ato da ação, a

genitora não ira responder por crime algum. Pois ela estaria com sua saúde mental

perturbada, o seu discernimento incompleto, não sendo capaz de entender o caráter

ilícito da ação. Para definir a culpabilidade da genitora, o exame pericial deverá

constar os requisitos para o crime de infanticídio.

4.1 PERÍCIA

A perícia para a detectação do estado puerperal no crime de infanticídio é de

extrema importância, pois é com o exame pericial que irá constatar se a genitora

cometeu o crime com perturbações mentais e sem o entendimento do caráter ilícito

de sua ação, decorrentes do estado puerperal.

Para os peritos este tipo de perícia é considerada a cruz dos peritos, pela

grande dificuldade de constatar na mulher o estado puerperal. Muitas vezes o

exame é feito tardiamente, tendo passado os sintomas e sem conseguir a

comprovação do estado puerperal na pratico do delito. Quando a incerteza no

exame, os peritos deverão se apoiar em testemunhos e depoimentos.

16

Veloso (2010, p. 364) assevera que a perícia é:

[...] conjunto de procedimentos médicos e técnicos que tem como finalidade o esclarecimento de um fato de interesse da Justiça. Ou como um ato pelo qual a autoridade procura conhecer, por meios técnicos e científicos, a existência ou não de certos acontecimentos, capazes de interferir na decisão de uma questão judiciária ligada à vida ou à saúde do homem ou que com ele tenha relação.

Para os legisladores, a perícia esclarece fatos de interesse da justiça por

meios científicos, sendo de extrema necessidade para a caracterização do delito. A

perícia constata se no momento do delito a genitora apresentava ou não os

requisitos, passando a interferir na decisão judicial da genitora. Se a conduta da

genitora não se enquadrar no tipo penal, não poderá ela ser julgado por infanticídio e

sim por homicídio.

No exame pericial, terá que averiguar na mulher certas circunstâncias, o

exame deverá mostrar se a parturiente realmente deu a luz e se foi recente caso

contrário desvirtua o crime, confirmar as condições do parto, se após o ocorrido a

genitora apresenta alguma lembrança, se antes da gravidez a genitora já

apresentava perturbações mentais, e após a gravidez essas perturbações

agravaram, pois se for, ela será julgada conforme o artigo 26 do código penal

brasileiro.

Na perícia deverá ter provas da condição de ser nascente, infante nascido,

recém-nascido, prova de que houve vida extrauterina, diagnóstico da morte do bebê,

exame de puérpera, ou seja, no exame para configurar o crime de infanticídio,

deverá constatar que, o crime ocorreu durante ou logo após o parto, o infante terá

que está vivo, que o bebê veio a óbito em decorrência da pratica delituosa da mãe, e

averiguar se na mãe apresenta perturbações mentais decorrentes do puerperio,

esse exame na mãe é indispensável nos crimes de infanticídio.

5 A INFLUÊNCIA DO ESTADO PUERPERAL NA CARACTERIZAÇÃO DO CRIME

DE INFANTICÍDIO

O controle do estado puerperal na caracterização do crime de infanticídio é de

suma importância, pois sem esse estado não existe tal crime. A lei só aceita esse

tipo de crime se tiver decorrido do estado puerperal, das alterações psíquicas

17

sucedidas dele e pela falta de entendimento do caso ilícito, levando a genitora a

cometer o crime de matar contra o próprio filho.

Para Jesus (2010) as decorrências do estado puerperal nem sempre levam a

mulher a matar o próprio filho e em outros casos levam a matar, porém não

caracteriza o infanticídio. No primeiro caso o estado puerperal não produz nenhuma

perturbação mental na genitora, no caso de matar o filho, não a de se falar em

infanticídio e sim em homicídio, pois ela terá discernimento para entender o ato ilícito

de sua ação.

No segundo caso, quando o estado puerperal acarreta doença mental, será

feita a exclusão da pena, por se tornar inimputável. No terceiro caso, quando há

consequências de perturbações mentais causando a confusão entre o licito e o

ilícito, enfraquecendo a sua capacidade de entendimento, ela se tornará semi-

imputável. Em ambos os casos, são consequências do estado puerperal.

No quarto caso onde a influência do estado puerperal configura o crime de

infanticídio, sendo esta aceita pelos legisladores, a genitora antes da gravidez nunca

veio a apresentar qualquer tipo de perturbação mental, porém com o estresse físico

e emocional e as transformações decorridas da gravidez, a gestante acaba

praticando o crime de infanticídio. Ressaltando que estas só apresentam

perturbações mentais durante o estado puerperal, no fim deste, desaparece sem

deixar sequelas e lembranças do ocorrido na mulher.

Vale-se dizer que, se a genitora não estiver sob a influência do estado

puerperal, não a de que se falar em infanticídio e sim em homicídio, pois sem o

controle de tal estado a mulher teria discernimento e entendimento do ato ilícito que

esta cometendo. Tal estado terá que está presente no momento da ação.

6 DIVERGÊNCIAS DOUTRINÁRIAS

O estado puerperal causa muitas divergências entre os doutrinadores, pelo

simples fato da incerteza jurídica na caracterização do estado puerperal na autora

do crime. Essa divergência também se dar pelo fato de que quando a genitora passa

pelo exame pericial, sendo este feito tardiamente, nada consta dos elementos para a

caracterização do estado puerperal, dando assim a incerteza do exame.

Certos doutrinadores são a favor do estado puerperal para configurar o crime

de infanticídio, pelo fato de que esta antes da gravidez não apresentava qualquer

18

tipo de transtorno, apresentando após a gestação, causando discernimento e não

entendimento do ato ilícito de sua ação, e ao termino do transtorno a genitora não

apresente lembrança alguma do ocorrida e nenhuma sequelas mentais.

Capez ( 2010, p. 134), diz que infanticídio é:

[...] uma espécie de homicídio doloso privilegiado, cujo privilegium é concedido em virtude da “influência do estado puerperal” sob o qual se encontra a parturiente. É que o estado puerperal, por vezes, pode acarretar distúrbios psíquicos na genitora, os quais diminuem a sua capacidade.

Outros doutrinadores são contras o estado puerperal como caracterizador do

crime de infanticídio, pelo fato de ser de extrema dificuldade sua aprovação, pois

quando a genitora é submetida a tal exame, muitas das vezes não apresenta

qualquer tipo de transtorno pelo fato de ser feito tardiamente, chamando-o até de

ficção jurídica apenas para justificar a atenuação da pena para as genitoras que

cometem a prática delituosa. De acordo com Fasciane e Andrade (2010, apud.

Mukad et. al),

A expressão estado puerperal tem sido considerada controvertida e merecido, através dos tempos, severas críticas denominadas por alguns, simples ficção jurídica, para justificar o abrandamento do tratamento penal; é algo fantasioso e sem limite de duração definido”.

As divergências doutrinárias se da pelo fato do crime ser de difícil

configuração, o estado puerperal em seu término não deixa sequelas, e a genitora

não apresenta lembranças do ocorrido, e feralmente a perícia é feita tardiamente. O

exame quando apresenta negatividade, o perito deve se apoiar em testemunhos e

depoimentos.

7 DECISÕES DOS TRIBUNAIS

Ainda há muitas controvérsias nas decisões dos tribunais sobre o crime de

infanticídio, muitas das vezes por falta de comprovação no exame pericial e na

dúvida decorrente dela. Averigua-se abaixo, jurisprudências a favor da influência do

estado puerperal para caracterizar o crime de infanticídio. Conforme os tribunais:

Configuração do infanticídio - TJPR: “Ocorre infanticídio com a morte do recém-nascido causada logo após o parto pela mãe, cuja consciência se

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acha obnubilada pelo estado puerperal, que é estado clínico resultante de transtornos que se produzem no psíquico da mulher em decorrência do nascimento do filho” (RT 548/349).

Infanticídio por Omissão – TACRSP: “Responde por infanticídio a progenitora que, após o nascimento do filho, não presta os cuidados indispensáveis à criança, deixando de fazer a ligadura do cordão umbilical seccionado” (JTACRIM 49/187).

Influência do Estado Puerperal – TJSP: “Se toda a ação da acusada se verifica durante o estado puerperal, agiu ela, em tais circunstâncias, em estado transitório de desmoralização psíquica. É do temor à vergonha da maternidade ilegítima, motivo que levou o legislador a admitir em casos tais um abrandamento da pena, no que teve em conta os princípios da criminologia moderna sobretudo os postulados dos iluministas. Por isso o infanticídio é um delictum exceptum, um delito previlegiado” (RT 442/409).

E ainda:

Reconhecimento do estado puerperal e prova pericial – TJSP: “Apresenta-se de relativo valor probante a conclusão para verificação do estado puerperal, assumido relevo também as demais circunstâncias que fazem gerar a forte presunção de delictum exceptum” (RT 506/362).

Segue abaixo:

TJMG-AFASTADO. INFANTICÍDIO. COMPROVADA INFLUÊNCIA DO ESTADO PUERPERAL NA CONDUTA DA MÃE. DESCLASSIFICAÇÃO NECESSÁRIA..., imperiosa a desclassificação da imputação de homicídio qualificado para que a pronunciada seja levada a julgamento pelo cometimento do crime de infanticídio (artigo 123 do Código Penal )...

TJ-SP - Recurso em Sentido Estrito- Ementa: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO INFANTICÍDIO E OCULTAÇÃO DE CADÁVER PRONÚNCIA - MANUTENÇÃO - NECESSIDADE Preenchimento dos requisitos para a sentença de pronúncia - Prova pericial comprovando a materialidade Indícios suficientes de autoria igualmente comprovados Depoimento de testemunhas corroborando a imputação tanto do delito doloso contra a vida quanto do crime conexo - Tese da ré de inocência que não emerge cristalina e que, ao menos por ora, foi contrariada pelo laudo pericial Questão que deverá ser examinada pelo Conselho de Sentença Decreto de pronúncia confirmado - RECURSO EM SENTIDO ESTRITO DESPROVIDO.

E ainda:

TJ-MG - Rec em Sentido Estrito- Ementa: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA EM RELAÇÃO AO CRIME DE OCULTAÇÃO DE CADÁVER - PENA EM ABSTRATO - OCORRÊNCIA - EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE - PRONÚNCIA -INFANTICÍDIO - PROVA DA MATERIALIDADE E INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA - ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA - IMPOSSIBILIDADE - Tendo transcorrido o prazo prescricional, com base na pena em abstrato cominada ao delito de ocultação de cadáver, desde a data da pronúncia, é de se reconhecer a ocorrência da prescrição da pretensão punitiva da acusada, em relação ao citado delito. - Para a absolvição sumária, exige-se que a versão defensiva se encontre em perfeita consonância com todos os elementos de prova coligidos. - Havendo prova

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da materialidade delitiva e indícios de que a ré seja a autora do delito em apuração, deve ela ser submetida a julgamento popular.

Jurisprudências contra a influência do estado puerperal como configuração

para o crime de infanticídio:

TJ-PR-Ementa: HABEAS CORPUS. CRIME DE INFANTICÍDIO (ART. 123 , DO CÓDIGO PENAL ). PEDIDO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL EM VIRTUDE DA ALEGADA ATIPICIDADE DA CONDUTA. IMPROCEDÊNCIA. - Não há que se falar em impossibilidade jurídica do pedido, pois a paciente responde pelos fatos descritos na denúncia e não pela capitulação do crime. Assim, ainda que, após a instrução criminal, fique constatado pela Magistrada a quo que o feto, no momento do nascimento, não tinha vida, é possível que os fatos descritos na denúncia se subsumam a outro tipo penal, podendo ocorrer, por consequência, emendatio libeli (art. 383 , do CPP ) ou a prova dos autos pode apontar circunstância ou elemento da infração penal não Habeas Corpus Crime nº 759358-6. constante na denúncia, o que exigirá nova definição jurídica em virtude de mutatio libeli (art. 384 , do CPP ). - Não sendo possível concluir na via estreita do Habeas Corpus, que não permite aprofundada análise do conjunto fático-probatório, pela atipicidade da conduta descrita na denúncia, é de rigor que se denegue do presente writ.

E ainda:

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TJ-SC - Recurso Criminal- Ementa: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. TRIBUNAL DO JÚRI. PRONÚNCIA. HOMICÍDIO QUALIFICADO PELO MOTIVO TORPE, POR UTILIZAÇÃO DE RECURSO QUE IMPOSSIBILITOU A DEFESA DA VÍTIMA E MAJORADO POR SER ESTA MENOR DE 14 (QUATORZE) ANOS (ART. 121 , § 2º , INCISOS I E IV , E § 4º , DO CÓDIGO PENAL ). RECURSO DA DEFESA. AUSÊNCIA DE INSURGÊNCIA QUANTO À EXISTÊNCIA DE PROVA DA MATERIALIDADE E DE INDÍCIOS DE AUTORIA DE CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA. PRETENDIDA, APENAS, A ALTERAÇÃO DA CAPITULAÇÃO LEGAL DO DELITO CONSTANTE DA DECISÃO, PARA QUE PASSE A CONSTAR O CRIME DE INFANTICÍDIO. IMPOSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE PROVAS INEQUÍVOCAS DE TER A ACUSADA PRATICADO A CONDUTA SOB O EFEITO DO ESTADO PUERPERAL. PRESENÇA DE ELEMENTOS PROBATÓRIOS DISSONANTES A ESSE RESPEITO. VALORAÇÃO PROBATÓRIA A SER REALIZADA PELO CORPO DE JURADOS. MANTIDA A DEFINIÇÃO JURÍDICA APONTADA PELO MAGISTRADO A QUO. PEDIDO SUBSIDIÁRIO DE AFASTAMENTO DAS QUALIFICADORAS. MOTIVO TORPE E MEIO QUE IMPOSSIBILITOU A DEFESA DA VÍTIMA. PROVAS NOS AUTOS QUE INDICAM A POSSIBILIDADE DE SUA CONFIGURAÇÃO. EVENTUAIS DÚVIDAS A SEREM DIRIMIDAS PELA CORTE POPULAR. INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO SOCIETATE. MANUTENÇÃO DA PRONÚNCIA QUE SE IMPÕE. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. Existentes nos autos elementos contraditórios a respeito de ter a acusada realizado a conduta típica sob o efeito do estado puerperal, e demandando estes, para a sua elucidação, aprofundado exame de mérito e juízo valorativo, deve a matéria ser submetida ao Conselho de Sentença, detentor da competência para o julgamento doscrimes dolosos contra a vida. 2. Na fase da pronúncia, as qualificadoras "só podem ser excluídas quando manifestamente improcedentes, sem qualquer apoio nos autos, vigorando também quanto a elas o princípio in dubio pro societate". (MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado. 8ª. ed. São Paulo: Atlas, 2001. p. 921).

As divergências entre os legisladores ocorrem pelo simples da incerteza da

influência do estado puerperal na autora do crime, ou seja, a genitora. Muitas das

vezes o exame é feito tardiamente, dificultando assim tal comprovação. Quando o

exame pericial não da a comprovação necessária para configuração de tal crime, os

legisladores de verão basear-se em testemunhas e depoimentos, para assim julgar

da melhor forma possível.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O crime de infanticídio ao decorrer dos tempos veio se destacando no rol dos

crimes de autonomia própria, pelo fato de somente a mãe do neonato ou nascente

poderá ser autora de tal crime. Ele veio recebendo de penas severas para mais

brandas, e dando uma proteção maior a infante, em virtude da perturbação mental

decorrida da gravidez e fatores decorrentes, tanto emocionais como físicos.

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O legislador ao julgar tal crime observa se no momento da ação a genitora

estaria sob a influência do estado puerperal, sendo comprovado por meio de exame

pericial. Sendo evidenciado, ela será julgada com a cominação de dois artigos

existentes no código penal brasileiro, os artigos 123 e 26, ou seja, não sendo punido

por crime algum, pelo fato da existência de perturbação mental comprovado no ato

da ação.

Para caracterizar o crime de infanticídio terão que estar presentes os

requisitos e a comprovação por exame pericial chamada de cruz dos peritos que

detecta o estado puerperal ou não, que por sua vez é de extrema dificuldade a sua

percepção, pois o estado de infanticídio no seu término não deixa sequelas e

lembranças do ocorrido na genitora.

Ora, se a infante no momento da ação estava sob a influência do estado

puerperal não há de que se falar em crime, sendo esta acobertada pelo artigo 26 do

código penal brasileira. Podemos ver também que transtornos ocorridos durante a

gravidez estimulam ao ponto da mãe ser capaz de matar o próprio filho. Seu ato

torna-se um dos fatores de excludente da criminalidade, tornado-a inimputável.

Diante de tais considerações, à comprovação da influência do estado

puerperal para caracterizar o crime de infanticídio é de suma importância, porém

como a certeza de tal estado é de difícil constatação mesmo com o exame pericial, o

legislador deverá julgar a forma mais favorável à mãe, ou seja, deverá julgar pelo

crime de infanticídio, mesmo se o exame pericial for inconclusivo.

INFANTICIDE THE CRIME: THE LIABILITY CARRIER OF PUERPERIUM

ABSTRACT

This article deals with a very complex issue and concerns the crime of infanticide. The crime of infanticide in ancient times was treated with harsh penalties, but has become over the years a privileged crime, with penalties milder. Before the criterion adopted by the legislators was the psychological criterion, where the hand took the death of his son for the sake of honor in atuas times the fisiopsicológico criterion is adopted among legislators, where the mother is taken to kill his son to be with psychological changes due to pregnancy. So it can be characterized as infanticide, the infant at the moment of action would have this under the influence of puerperal state and its verification will have to undergo skills and almost never appears in the puerperal state at that time and the expert to build on witnesses and testimonials. Some scholars claim that the puerperal state should mitigate the penalty, as the mothers 'was not with insight into the crime act, but other scholars are cons mitigations pen, the fact that at the moment of action would be mothers' partial

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insight. Thus the present article aims to study the triggering factor of the crime of infanticide practice and the consequences that can cause women affected by this psychic disturbance. The issue to be addressed is whether the mother acts intentionally to commit infanticide Thus, the aim of this study is to analyze the issue of fraud in the crime of infanticide with the influence of the puerperal state. To achieve its objectives, the deductive method of approach will be used, as well as analytical methods, historical and interpretative, through bibliographical, documentary and jurisprudential research. Keywords: Infanticide. Puerperal state. Liability

REFERÊNCIAS

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BITENCOUT, Cesar Roberto. Tratado de direito penal, 1. v. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. CARDOSO, Leonardo Mendes. Medicina Legal para o acadêmico de direito. 2. ed. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2009. CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, v. 2. CROCE, Delton; CROCE, Delton Júnior. Manual de medicina legal. 8. ed. , São Paulo: Saraiva, 2012. FERREIRA, Aurélio de Holanda Buarque. Dicionário aurélio da língua portuguesa. 8. ed. Positivo, 2015. JESUS, Damásio. Direito penal: parte geral. 31. ed. São Paulo, Saraiva: 2010, v. 1. MUAKAD, Irene Batista. O infanticídio: análise da doutrina médico-legal e da prática Judiciária. São Paulo: Mackenzie, 2010 NORONHA, Magalhães E. Direito penal. 1. v. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2015 SADOCK, Benjamin James; SADOCK, Virgínia Alcott. Compêndio de psiquiatria. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. SOUZA, Kenedys Fernandes de. Infanticídio: homicídio privilegiado no código penal brasileiro (2008). Disponível em:< http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=3894> Acesso em: 20 out. 2015. VELOSO, Genival. Medicina legal, 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan 2010.

24

FERREIRA, 2015 JURISPRUDÊNCIAS. Disponível em:<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=Infantic%C3%ADdio>. Acesso em: 21 out. 2015. JURISPRUDÊNCIAS. Disponível em:<

http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=CRIME+DE+INFANTIC%C3%8DDIO>. Acesso em: 05 nov. 2015.

25

M217d Maia, Marcela Alves. Do crime do infanticídio: da imputabilidade da portado do puerpério. /

Marcela Alves Maia. – Cabedelo, 2015.

24f. Orientadora: Profª. Esp. Juliana Vieira Porto. Artigo Científico (Graduação em Direito).Faculdades de Ensino Superior

da Paraíba – FESP

1. Infanticídio. 2. Estado Puerperal. 3. Imputabilidade. I. Título

BC/Fesp CDU:343 (043)