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1 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE Priscila Ferreira Silva O INFANTICÍDIO INDÍGENA: o relativismo cultural e o papel dos direitos humanos Belo Horizonte 2014

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1  

 

 

 

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE

Priscila Ferreira Silva

O INFANTICÍDIO INDÍGENA: o relativismo cultural e o papel dos direitos humanos

Belo Horizonte

2014

 

2  

 

 

 

PRISCILA FERREIRA SILVA

O INFANTICÍDIO INDÍGENA: o relativismo cultural e o papel dos direitos humanos

Monografia elaborada como requisito de conclusão de curso de Bacharelado

em Relações Internacionais junto ao Centro Universitário de Belo Horizonte sob

a orientação da Professora Gabriela Gribel Lage.

Belo Horizonte

2014

 

3  

 

 

 

Priscila Ferreira Silva

O INFANTICÍDIO INDÍGENA: o relativismo cultural e o papel dos direitos humanos

Monografia elaborada como requisito de conclusão do curso de Bacharelado em Relações Internacionais junto ao Centro Universitário de Belo Horizonte.

____________________________

Examinador 1

____________________________

Examinador 2

____________________________

Examinador 3

Conceito: ________________________________

 

4  

 

 

 

RESUMO

O presente trabalho tem como foco questões cultural que são consideradas

contemporâneas, apesar de se fazer presentes por muito tempo, como o

infanticídio indígena, questão que gera polêmica em território nacional e

internacional. Será analisado o papel dos Direitos Humanos, uma vez que este

trata dos direitos e liberdades inerentes a todas as pessoas e o relativismo

cultural que defende que cada cultura vive de acordo com seus costumes e

tradições.

Palavras-Chave: Infanticídio indígena; Relativismo cultural; Direitos Humanos.

ABSTRACT

This work will have the focus in issues cultures considered contemporaneous,

although be present for a long time, like an indigenous infanticide, a polemic

question in national and international territory. The Human Rights will be

analyzed, once this debate of rights and freedom is essential for all the people

and the cultural relativism defends the each culture lives until your customs and

traditional.

Key-words: Indigenous Infanticide; Cultural Relativism; Human Rights.

 

 

5  

 

 

 

 

LISTA DE SIGLAS

D.H- Direitos Humanos

DUDH- Declaração Universal dos Direitos Humanos

DUDC- Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural

ONU- Organização das Nações Unidas

OIT- Organização Internacional do Trabalho

Art.-Lei. - Artigo

UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

 

6  

 

 

 

SUMÁRIO

Introdução...........................................................................................................7

1. O Relativismo Cultural e o Universalismo dos Direitos Humanos perante a

Teoria Construtivista..........................................................................................8

2. Análise da Teoria do Relativismo Cultural sobre a Perspectiva

Antropológica.....................................................................................................13

3. Abordagens teóricas sobre os Direitos Humanos........................................17

3.1. O Universalismo dos Direitos Humanos.....................................................21

4. O Impasse entre o Relativismo Cultural e o Universalismo dos Direitos

Humanos no caso do Infanticídio Indígena.......................................................25

4.1. O Infanticídio Indígena e a Teoria Universalista dos Direitos

Humanos...........................................................................................................28

5. Considerações Finais....................................................................................43

6. Referências....................................................................................................45

 

7  

 

 

 

Introdução

O término da II Grande Guerra Mundial, no último século, foi um dos principais

fatores que fizeram com que os Direitos Humanos ganhassem um grande

destaque no cenário global. O homem passou a ser, realmente, visto como

parte do direito internacional, acarretando, na utilização de novos padrões da

soberania estatal, ou seja, com o homem passando a ser o principal foco.

O mundo, neste período pós-guerra, se encontrava completamente fragilizado

e compreendia a necessidade de se criar uma boa quantidade de tratados

voltados à proteção e afirmação dos direitos inerentes ao homem. Tais

tratados deveriam valer em âmbito universal, sendo assim todos seriam

beneficiados. O universalismo dos Direitos Humanos ganha então o seu

destaque.

Por outro lado, o relativismo cultural que entende que cada sociedade/tribo tem

o direito de expressar e viver sua cultura, tendo suas próprias, crenças,

tradições e costumes mesmo que muitas vezes esse não seja aceito por

outros, indo contra os Universalistas dos Direitos Humanos. É o caso do

infanticídio indígena, uma prática cultural que se faz presente em diversas

tribos e não é aceito pelos universalistas, visto que todos têm o direito à vida,

indiferentemente da raça, cor, credo ou religião.

A cultura é vista como uma ferramenta de suma importância na formação da

identidade do homem e dos valores que regem a sua criação. A sua

diversidade é que faz do mundo algo tão plural, sendo assim uma peça

fundamental. Porém, os Direitos Humanos e tudo que é englobado por este,

não havendo a distinção entre as culturas, é essencial no mundo atual onde a

valorização do ser humano é indispensável.

 

8  

 

 

 

Sendo assim, o presente trabalho tem por ponto principal entender se os dois

posicionamentos, a serem analisados, Relativismo e Universalismo, são ou não

compatíveis. Para isso, se faz necessário à presença de uma terceira teoria

que cause uma interação entre as outras duas e tal teoria é a construtivista,

viés das Relações Internacionais que é a ideal para se buscar uma via

conciliatória.

O trabalho será baseado em analises e autores construtivistas, relativistas e

universalistas, passando por todos os pontos necessários para se entender

como garantir os Direitos Humanos sem que o relativismo cultural seja violado.

Entendendo o que cada uma das teorias busca e tendo sempre por interesse

maior a relativização destas.

1. O Relativismo Cultural e o Universalismo dos Direitos Humanos perante a Teoria Construtivista

A teoria construtivista é uma doutrina de suma importância para as Relações

Internacionais, que se faz cada vez mais presente no cenário acadêmico. Tal

teoria surge no presente trabalho contrapondo as idéias divergentes do

Relativismo Cultural e do Universalismo dos Direitos Humanos, pontos

principais do estudo que se segue, entendendo melhor o que cada um defende

e buscando uma via conciliatória entre as duas, se é possível, de fato,

relativizá-los. Para a teoria do construtivismo, todas as teorias que se opõem,

como é o caso do Relativismo Cultural e do Universalismo dos Direitos

Humanos, deveriam buscar a compreensão de uma para a outra, tendo como

foco principal a paz.

 

9  

 

 

 

Há uma grande variedade de sociedades, cada uma segue o seu próprio rumo,

o qual foi determinado por uma série de fatores, incluindo os eventos históricos

que cada qual passou. O que se dá como junção de uma para outra é que a

cultura pode ser vista como algo acumulativo, uma grande conexão de histórias

que consegue passar o conhecimento da dignidade do ser humano. Como

afirma Cançado Trindade:

as culturas não são pedras no caminho da universalidade dos direitos humanos, mas sim elementos essenciais ao alcance desta última. A diversidade cultural há que ser vista, em perspectiva adequada, como um elemento constitutivo da própria universalidade dos direitos humanos, e não como um obstáculo a esta. Não raro a falta de informação, ou o controle – e mesmo o monopólio – da informação por poucos pode gerar dificuldades, estereótipos e preconceitos. Não é certo que as culturas sejam inteiramente impenetráveis ou herméticas. Há um denominador comum: todas revelam conhecimento da dignidade humana (TRINDADE, 2013, p. 301).

Cada cultura tem por principal característica suas particularidades. Pode se

dizer, então que a cultura é a herança que cada pessoa adquire no momento

em que vem ao mundo. Deve se ressaltar também que as mudanças de

ambiente, resultam em mudanças de comportamento, ou seja, pode se nascer

em uma determinada cultura, mas não significa que há a obrigação de

permanecer nesta uma vez que não seja compatível com os seus valores

pessoais. A superação deste impasse entre relativistas e universalistas pode

ser fundamental na aplicação dos direitos inerentes a todos e na aceitação da

diversidade cultural presente no mundo (TRINDADE, 2013).

O posicionamento construtivista facilita a compreensão do impasse entre os

relativistas e os universalistas. Através dele é possível compreender a limitação

de ambos, uma vez que entender o indivíduo, a sociedade e o ambiente que

estes integram como fatores interdependentes e peculiares é fundamental.

Mostrando, a partir daí, que é nessa relação de caráter multidirecional que as

 

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preferências e os interesses dos indivíduos são formados. Entendendo o

Construtivismo como:

construtivismo é a perspectiva segundo a qual o modo pelo qual o mundo material forma a e é formado pela ação e interação humana depende de interpretações normativas e epistêmicas dinâmicas do mundo material. [...] Além disso, os construtivistas acreditam que a capacidade humana de reflexão ou aprendizado tem seu maior impacto no modo pelo qual os indivíduos e atores sociais dão sentido ao mundo material e enquadram cognitivamente o mundo que eles conhecem, vivenciam e compreendem. Assim, os entendimentos coletivos dão às pessoas razões pelas quais as coisas são como são e indicações de como elas devem usar suas habilidades materiais e seu poder. [...] construtivismo significa estudar como aquilo que os agentes consideram racional tem efeitos nos empreendimentos e nas situações humanas coletivas (ADLER, 1999, p. 205-6; 215).

O construtivismo expõe que mesmo nossas instituições mais antigas e

duradoras se baseiam na coletividade dos entendimentos, são estruturas que

por muitas vezes foram consideradas inexistentes pela consciência do homem

e que relutaram até que fossem vistos como algo inevitável. Os pensadores

construtivistas também acreditam que o homem possui uma maior capacidade

de reflexão e de aprendizagem a respeito do mundo material em que vivem,

buscando sempre o conhecimento a cerca deste, vivenciando e

compreendendo o que os cerca. Para eles, a coletividade a respeito dos

entendimentos dá aos homens motivos para compreender as coisas como são

e mostram como o poder e habilidades devem ser usadas: “O modo pelo qual o

mundo material forma, e é formado pela ação e interação humana depende de

interpretações normativas e epistêmicas do mundo material “(ADLER, 1999, p.

206).

 

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É estruturado, segundo o construtivismo, que o mundo é socialmente

construído pelos agentes1, que têm seus valores, culturas, crenças e ações

modificadas pelas dinâmicas das estruturas. O entendimento de mundo, para

eles, é uma construção do próprio individuo, em principal por intermédio da

linguagem, por se tratar da forma principal de comunicação, entre os homens,

com os seus e com a sociedade em geral. Para os construtivistas, a paz, é de

responsabilidade do Estado, sendo ele, quem fornece e quem a controla

(Vinha, 2009).

Entende se então, a importância da perspectiva construtivista no presente

trabalho, visto que esta envolve uma visão onde o homem não é apenas um

ator racional e sim uma peça fundamental na composição do Estado e

consequentemente das culturas que os cercam, sendo assim, um depende

mais dou outro do que possa imaginar na construção na paz. A abordagem

aponta que, mesmo que a cultura venha a ser vista de forma conservadora,

pode vir a acontecer uma transformação de estrutura por motivo de

contestação por quem faz parte, ou seja, de seus agentes. Tais contestações

podem ser resultado de diferenças entres as políticas culturas de cada

sociedade. Entende se que estrutura e agentes tem a mesma importância no

que tange a explicação da forma como a sociedade age. A estrutura se faz

presente tanto na construção dos agentes tanto na construção das suas

práticas sociais, ela é o meio e também o resultado da representação das

duas. Os agentes, por outro lado, possuem identidades e o são os construtores

de sua praticas, agem de acordo com as regras implantadas pelas instituições

e conforme seus interesses (GIDDENS, 1979).

Alexander Wendt, um dos principais pensadores construtivistas, acredita que

esta abordagem se destaca ao tratar questões que outras teorias têm falhado

ao avaliar. Tal perspectiva, aponta que os atores são formados pelo meio social

                                                                                                                         1 Segundo o autor Anthony Giddens, os agentes são detentores de identidades e têm a função de construtores de suas próprias práticas. Agem de acordo com as regras institucionais e de acordo com seus interesses (GIDDENS, 1979).

 

12  

 

 

 

no qual vivem, procurando analisar como essa formação acontece e quais

resultados ela traz para o todo. Foca-se no fato de como são criados

identidades e interesses, compreendendo se a funcionalidade das coisas

quando unidas, evitando a limitação de apenas se descrever. Deve-se

ressaltar, que o entendimento a respeito da composição dos fatos é

indispensável para explicar a forma com que eles aconteceram (WENDT,

1999).

O construtivismo seria então, um facilitador no processo de se compreender as

limitações existentes entre o universalismo e o relativismo, levando em

consideração, como os agentes e a estrutura, que de acordo com a

perspectiva, são complementares. Seria essa então a forma mais

compreensível de solucionar controvérsias de caráter cultural sem deixar de

deixar de lado os direitos humanos que são inerentes a todos, conseguindo

chegar a uma via conciliatória das partes.

Um exemplo a ser relatado, é a cultura indígena e as tradições seguidas por

algumas tribos, como é o caso da pratica do infanticídio2, ato que é repudiado

por universalistas. Sob o ponto de vista dos D.H todos têm direito a vida,

indiferente da sua cultura, por outro lado para os relativistas culturais, esta e

qualquer outra prática precisam ser compreendidas através da antropologia

cultural, para que seja esclarecida sua essência sem que haja a inclusão de

uma valoração moral. A abordagem construtivista e seus ideais se faz

importante ao tentar solucionar ou ao menos compreender melhor o impasse

entre certas tradições culturais e a aplicação dos D.H.

                                                                                                                         2 Pode se entender como: “O infanticídio é definido como o ato de: Matar sob a influência do estado puerperal o próprio filho, durante o parto ou logo após. art. 123 do Código Penal.” BRASIL,1984.

 

13  

 

 

 

Os construtivistas acreditam na importância de se compreender todos os lados,

sendo assim a concepção de cultura aparece de forma variada aos olhos de

muitos, como é o caso do antropólogo Clifford Geetz, que acredita que esta é

desenvolvida através de diferentes construções peculiares e que tem os seus

significados reprimidos por um a série de símbolos que são partilhados pelos

seus iguais. Geetz propõe que o conceito de cultura é demasiadamente

incompleto e que quanto mais intenso, menos completo. Além disto, ele se

fundamenta no ato de compartilhar as ideias, dando margem a coletividade

existente em toda sociedade:

acreditando, como Marx Weber, que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assume a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado. É justamente uma explicação que eu procuro, ao construir expressões sociais, enigmáticas na sua superfície (GEETZ, 2008, p.4).

Dentro do debate existente entre os teóricos relativistas e universalistas, o

construtivismo ganha um papel importante no que tange a compreensão dos

pontos de vista de cada assunto. Sendo assim, pode se compreender a

importância da diversidade cultural para a construção social e a importância

dos direitos humanos conquistados pela humanidade como peça fundamental

na valorização do homem. Acreditando que é necessária a junção de ambas

para construção de um ambiente agradável a todos.

 

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2. Análise da Teoria do Relativismo Cultural sobre a Perspectiva Antropológica

Ao passe, que o construtivismo busca a compreensão de ambas as partes,

facilitando para que exista uma via conciliatória, buscando à paz e não

tendenciado para nenhum lado. Alguns pensadores defendem o ideal proposto

pelas teorias, relativista cultural e universalista dos D.H, como é o caso do

antropólogo Franz Boas, um dos nomes mais importantes na inicialização do

chamado relativismo cultural entre os estudiosos do século XX. Para ele, o

relativismo não era somente um instrumento metodológico, uma vez que a

percepção do valor relativo de todas as culturas também servia para ajudar a

lidar com as questões complexas colocadas para a humanidade pela

diversidade cultural. Sendo assim, um dos seus seguidores, o brasileiro Celso

Castro, afirma que o relativismo Boasiano de cultura tem como embasamento

um relativismo de fundo metodológico, uma vez que cada pessoa vê o mundo

sobre o ponto de vista da cultura em que cresceu (CASTRO, 2004).

A questão do bem e do mal é definida dentro da própria sociedade/tribo. Não

se deve julgar uma determinada cultura em virtude de suas crenças, práticas e

credos, uma vez que há uma grande diversidade desta. Para os relativistas,

essa diversidade é o que justifica sua teoria. Para eles cada cultura, dentro de

seus valores, se julga e determina o certo e o errado.

O relativismo cultural, segundo Boas, ensina que existem divergências entre os

valores de cada cultura, mas que devem ser vistas como capazes de suprir os

interesses e necessidades de seus integrantes. Não importa o que os olhares

externos pensem ou acreditem, mas sim se dentro daquela sociedade os

interesses e as necessidades são satisfeitos. A cultura é a ferramenta que

explica a diversidade comportamental, de valores e também atitudes. É

possível perceber então que Boas, sai em defesa da ideia de autonomia

 

15  

 

 

 

cultural3, uma vez que, na sua visão, os grupos se manifestam de acordo com

os seus costumes mais antigos, entendendo, que para o relativista não existem

culturas superiores ou inferiores (BOAS,1887).

Para os defensores do relativismo4 a diversidade cultural é um direito. Tal

diversidade deve ser respeitada mutuamente de cultura para cultura, sem

intervenções, uma vez que nem os próprios indivíduos participantes de um

determinado grupo tem esse direito de intervenção. Os grupos são portadores

de suas próprias leis e valores, regidas por conceitos privados e próprios

simbolizados na diversidade.

Percebe se então, que na teoria do relativismo cultural a ideia defendida é a de

que qualquer que seja as características comportamentais deve ser

primeiramente, julgadas conforme ao lugar que ocupa na estruturação única da

cultura em que está presente e em termos nas particularidades dos valores

desta cultura. Tal teoria tem uma forte ligação com o subjetivismo, onde, o

conhecimento e os valores existem, mas dependem de fatores que residem no

sujeito que os pratica ou faz parte deles. No relativismo as informações

geradoras de conhecimento e os valores são dependentes de fatores externos

como a influência do meio, do espírito da época, da cultura da qual fazem parte

e de seus determinantes (BASTIAN, 1971).

                                                                                                                         3 A autonomia cultural “representa a condição alcançada pela criança em desenvolvimento quando esta considera os vários fatores relacionados à intencionalidade, à dimensão da responsabilidade social e à independência do julgamento moral, cultural antes heterônomo. Esta ligada à questão da moralidade (consideração e respeito à alteridade), bem como à questão da iniciativa de ação associada à relativa independência na avaliação do que seja certo ou errado em determinado contexto.” (PIRES, 2008,p.415) 4 Defensores do relativismo cultural como: Franz Boas,1887; Erna Bastian,1971; Ruth Benedict,200; etc.

 

16  

 

 

 

É a partir deste ponto que o relativismo cultural– hoje entendido como uma

teoria por vários autores da antropologia5-, com foi que surgiram os estudos

que tem como objetivo investigar mais a fundo a diversidade cultural mundial,

demonstrando que esta é imutável e por isso precisa compreendida, uma vez

que toda a cultura é considerada como configuração saudável para os

indivíduos que a praticam. Todos os povos formulam juízos em relação aos

modos de vida diferentes dos seus é necessário a compreensão de uma

cultura para outra.

a cultura é o conjunto de valores compartilhados por uma coletividade que impõe uma ordem e uma classificação ao mundo e que contribui para conferir identidade a uma comunidade e dotá-la de parâmetros que permitam construir e interpretar o mundo que a cerca. Em outras palavras, a cultura pode ser entendida como a programação mental coletiva em um determinado ambiente, não sendo, assim, uma característica individual, mas algo que abarca as várias pessoas que são condicionadas pelas mesmas circunstâncias de vida (MACEDO;CANEN, 2009,p.414).

Segundo a antropóloga Ruth Benedict, defensora das ideias de Boas, o

chamado relativismo cultural aponta a personalidade do indivíduo, que é

formado pelas normas e valores que são prestados pelos seus padrões

culturais, nos quais, muitas vezes o próprio não tem como seguir um caminho

diferente, visto que tudo está previamente implantado na sua vida bem antes

do seu nascimento. Sendo assim, pode se entender que a cultura é algo

herdado e que as diferenças devem ser respeitadas, como é demonstrado

neste trecho: “ninguém pode participar completamente em qualquer cultura se

não tiver sido criado dentro de suas formas e vivido de acordo com elas; mas

todos podem conceder que outras culturas têm, para os seus participantes, o

mesmo significado que se reconhece na sua própria” (BENEDICT, 2000, p.49).                                                                                                                          5 Autores da antropologia, como Franz Boas, Ruth Benedict, Celso Castro, Clifford Geertz, entre outros acreditam que: “a antropologia é constituída como ciência a partir da cultura e é utilizada para estudar toda a diversidade cultural que está presente.” (DICIONÁRIO,2006).

 

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O relativismo cultural é contraposto ao etnocentrismo cultural. O etnocentrismo

tem por principal característica a dificuldade em lidar com as diferenças, ou

seja, esta teoria não concorda com a ideia de que a cultura está presente de

forma diversa e que cada grupo social possui a sua repleta de crenças,

tradições e valores. Os etnocêntricos entendem que a sua cultura que é a certa

e que ela deve vigorar. Sendo assim o etnocentrismo, nada mais é que: “...

uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de

tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores,

nossos modelos, nossas definições do que é a existência” (ROCHA, 1984, p.

7).

A teoria relativista defende que cada sociedade deve viver dentro das suas

tradições e agir do modo que é considerado correto por lá e desta forma eles

também devem se privar de repreender os costumes dos outros, pois, se o

fizerem estarão agindo de forma etnocêntrica. O antropólogo Melville

Herskovits, afirma sabiamente que:

todos os povos formam juízos acerca dos modos de vida diferentes dos seus. Quando se empreende o estudo sistemático, a comparação da origem a classificação, e os especialistas traçaram muitos esquemas para classificar os modos de vida. Emitiram se juízos morais sobre os princípios éticos que guiam a conduta e moldam os sistemas de valores de diferentes povos. Organizaram-se suas estruturas econômicas e políticas e suas crenças religiosas por ordem de complexidade, eficácia e desejabilidade. Avaliaram se sua arte, música e formas literárias (HERSKOVITS, 1969, p. 86).

Entende-se que, a diversidade cultural faz parte da constituição própria e

essencial de cada cultura. Essa diversidade pode acontecer por ações internas

e externas, resultantes do tempo. Culturalmente pode haver trocas de hábitos,

valores e até mesmo crenças, depende de quão “aberta” seja a cultura, essas

trocas de sociedade para sociedade são comuns, atualmente visto que é uma

forma de se entender e apreciar a cultura do próximo, deixando de lado certos

tabus de caráter etnocêntricos.

 

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A cultura e todo seu relativismo se fazem necessárias socialmente. Visto que

esta diversidade característica faz com que a interação da sociedade seja

promovida. Os relativistas deixam a entender que em diferentes culturas as

convicções de caráter moral também serão diferentes, isto é algo imutável, aos

seus olhos, que resulta no fato de que as verdades morais de cada um também

são relativas. Porém, essa defesa do imutável pode ser vista como um dos

problemas do relativismo e pode fazer com que a teoria seja encarada como

conformista, uma vez que é aceito, sem ressalvas, as atitudes, as tradições,

crenças, etc. presentes nos grupos culturais, mesmo que estes sejam errados

podendo resultar na radicalização do relativismo6.

3. Abordagens teóricas sobre os Direitos Humanos

Assim como o relativismo cultural, os direitos do homem passaram por diversas

transformações até alcançar a sua atual conjuntura. Direitos esses, que são ao

mesmo tempo considerados poderes e deveres de todos, como afirma Sergio

Resende de Barros:

direitos humanos são poderes-deveres. Constituem direitos que ao mesmo tempo são deveres dos indivíduos humanos entre si mesmos- de todos para cada um e de cada um para com todos- nos aspectos objetivos e subjetivos necessários a manter a humanidade pela manutenção da comunidade humana fundamental, isto é, pela preservação dos fatos e valores que são logicamente porque são

                                                                                                                         6 A radicalização do relativismo cultural: “Prevê, o não contato entre povos diferentes e a ideia de que se ele ocorrer será, inexoravelmente, ruim, uma imposição cultural de um grupo sobre o outro. Assim, não é raro vermos posições extremadas quanto às possíveis relações entre etnias indígenas, por exemplo, e grupos outros da sociedade envolvente, que são vistas como um tipo de intervenção que é necessariamente destrutiva e perigosa desses grupos em relação às etnias indígenas” (ATINI,2014).  

 

 

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historicamente e comuns e necessários à humanidade (BARROS, 2003, p.1).

O fim da Segunda Guerra Mundial7 foi um dos fatores principais do último

século, para a fixação dos Direitos Humanos como um tema de caráter global,

que prevalece até os dias atuais. Neste período do pós Guerra, o mundo se

encontrava extremamente fragilizado e via uma grande necessidade do ser

humano ser colocado como um sujeito do direito internacional, esta colocação

acarretou a formação de novos paradigmas, como por exemplo, a flexibilização

da soberania estatal e foi conferida ao ser humano uma centralização de papel

no sistema internacional. Conforme afirma Peixoto: “A inserção da pessoa

humana como sujeito de direito internacional trouxe novos paradigmas,

flexibilizando a soberania estatal e concedendo à pessoa humana um papel

central no sistema internacional” (PEIXOTO, 2007, p.257).

Outro fator que auxilia na definição dos D.H, como algo de importância integral

foi a Globalização8. Visto que esta é apontada como uma das causas que

ajudaram a elaborar e colocar em pratica os sistemas de proteção internacional

a pessoa humana9. A Globalização conectou as regiões do mundo e as mais

diferenças culturas, proporcionando a visualização das dificuldades

enfrentadas por muitos e também as aversões com relação aos direitos

humanos, resultando no crescimento da teoria universalista, onde o mínimo do

padrão dos D.H é defendido. A Declaração Universal dos Direitos Humanos                                                                                                                          7 A Segunda Guerra Mundial foi o: “Conflito armado organizado por Hitler, na Alemanha, e seus aliados a fim de criar um novo e vasto império na Europa. A Alemanha deu início à II Guerra Mundial ao invadir a Polônia no dia 1 de setembro de 1939. Conflito que abrangeu todo mundo de forma direta ou indireta e deixou centenas de mortos e feridos, além da degradação de vários territórios.” (A SEGUNDA,2014).  8A globalização caracteriza-se como um fenômeno de caráter político, econômico, social ,tecnológico, cultural, entre outros e que se fortificam através de meios de comunicação, se espalhando por todo mundo ao mesmo tempo. (GIDDENS, 2003).

9 A proteção internacional dos direitos humanos: “Defere no sistema onusiano, um status e um standard diferenciado para o indivíduo, isto é, apresenta um sistema de proteção à pessoa humana, seja nacional ou estrangeiro, diplomata ou não, um núcleo de direitos insuscetíveis de serem derrogados em qualquer tempo, condição ou lugar.” (GUERRA,2010, p.949).

 

20  

 

 

 

tem como principal foco, abranger todas as nações e povos, objetivando o fato

de que cada sujeito e cada órgão da sociedade, baseando-se sempre nesta

Declaração, se empenhem, pelo meio dos ensinamentos e educação, fazendo

com que esses direitos e liberdades sejam acatados, e que seja adotada uma

série de ações progressivas, envolvendo tanto o cenário nacional quanto o

internacional, uma vez que se assegura a sua autoridade, entre as partes dos

Estados-Membros, tanto entre as partes das regiões dentro de sua

competência. (Declaração Universal dos Direitos Humanos, Adotada e

proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas

em 10 de dezembro de 1948) 10. Onde é previsto que:

Artigo I: Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.

Artigo II: Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

Artigo III: Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo V: Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Artigo VII: Todos são iguais perante a lei e tem direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação (ONU,1948).

Os pensadores da teoria universalista consideram o discurso defendido pelos

relativistas como falho uma vez que para estes, toda prática cultural deve ser

respeitada, sem ressalvas, dando margem ao erro, pois nem sempre as

                                                                                                                         10DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, ONU, 1948.Disponível em <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>Acesso em 19/04/2014.

 

21  

 

 

 

diferenças culturais legitimam valores de caráter inquestionável. Por outro

lado, os relativistas debatem com os universalistas apontando que a existência

da diversidade no mundo, não apenas cultural, mas também social étnica e

religiosa, com pontos de vista diferentes, não deveriam sofrer intervenções de

maneira radical a ponto de impedir suas práticas. Além disso, os relativistas

alegam que o universalismo seria, na verdade, um valor de caráter ocidental,

sendo necessária a aplicação com cautela, por se tratar de uma situação

delicada onde há a precisão de intervenção para que sejam garantidos os

Direitos Humanos e há necessidade de que a cultura do próximo seja

respeitada, uma vez que o homem age, na maioria das vezes, de acordo com

os seus padrões de cultura. Como afirma Boaventura de Souza Santos:

todas as culturas tendem a considerar os seus valores máximos como os mais abrangentes, mas apenas a cultura ocidental tende a formulá-las como universais. Por isso mesmo, a questão da universalidade dos direitos humanos trai a universalidade do que questiona. Por outras palavras, a questão da universalidade é uma questão particular, uma questão especifica da cultura ocidental (SANTOS, 1997, p.112).

Os universalistas se defendem ao afirmarem que a verdadeira importância ao

buscar um valor ou uma crença que seja comum e que possam ser fonte de um

conceito de direitos humanos, considerado casual, está em acreditar que a

própria ideia de direitos humanos já se coloca como universais. As normas

internacionais de D.H têm por principal objetivo estabelecer modelos que não

considerem a soberania nacional para a proteção dos indivíduos contra

abusos. Ser detentor dos D.H denota que há alguns padrões sob os quais

nenhuma sociedade ou o Estado pode se opor, independentemente de sua

própria cultura e que há uma sutil diferença entre relativismo cultural e

diversidade cultural. Assim como afirma Washington Souza, defensor das

ideias de Cançado Trindade:

 

22  

 

 

 

a universalidade dos direitos humanos é uma decorrência de sua própria concepção, ou de sua captação pelo espírito humano, como direitos inerentes a todo ser humano, e a ser protegidos em todas e quaisquer circunstâncias. Mas para lograr a eficiência dos direitos humanos universais, há que tomar em conta a diversidade cultural, ou seja, o substratum cultural das normas jurídicas. Isto não se identifica com o relativismo cultural, muito ao contrário. Os chamados “relativistas” se esquecem de que as culturas não são herméticas, mas sim abertas aos valores universais. Não explicam como determinados tratados, como as Convenções de Genebra sobre Direito Internacional Humanitário e a Convenção sobre os Direitos da Criança, tenham já logrado aceitação universal. Tampouco explicam a aceitação universal de valores comuns superiores, de um núcleo de direitos interrogáveis, assim como da proibição absoluta da tortura, dos desaparecimentos forçados de pessoas e das execuções sumárias, extralegais ou arbitrárias. Ao contrário do que apregoam os “relativistas”, a universalidade dos direitos humanos se constrói e se ergue sobre o reconhecimento, por todas as culturas, da dignidade do ser humano (SOUZA, 2005, Tomo I, p. 56).

3.1 O Universalismo dos Direitos Humanos

Para-se entender melhor sobre os Direitos Humanos e a sua amplitude,

incluindo o seu universalismo, deve se compreender em primeiro plano os seus

primórdios, além da diferenciação existente entre a prática e a teoria, uma vez

que tais pontos, prática e teoria, traçam caminhos que são distintos e possuem

ritmos diferentes. Para Noberto Bobbio, tal distinção é de extrema importância

pois fala-se muito e há muito tempo nos direitos que são inerentes aos homens

entre todos os meios (políticos, sociais, filosóficos, jurídicos, etc) porem, apesar

de ser um tema sempre alvo de debates, discursos e afins, não se faz muita

coisa, para que tais direitos, sejam protegidos efetivamente. Para Bobbio, ai

esta a diferença entre a prática e a teoria, onde também esta a necessidade de

se modificar pretensões e transforma-las em direitos, que é o que são de fato.

Para ele, assim como para outros pensadores políticos11, o desenvolvimento

dos dois pontos só se deu efetivamente com o fim da Segunda Grande Guerra

                                                                                                                         11 Noberto Bobbio, 1992; Cançado Trindade,1997; Sergio Resende de Barros,2003;

 

23  

 

 

 

Mundial, seguindo duas direções diferentes, sendo a sua universalização e a

sua multiplicação (BOBBIO, 1992).

Das duas direções tomadas, a universalização dos Direitos Humanos, sobre a

perspectiva de Bobbio, foi totalmente tomada pelo direito internacional. Como

pode se perceber adiante:

o ponto de partida de uma profunda transformação do direito das “gentes”, como foi chamado durante séculos, em direito também dos “indivíduos”, dos indivíduos singulares, os quais, adquirindo pelo menos potencialmente o direito de questionarem o seu próprio Estado, vão se transformando, de cidadãos de um Estado particular, em cidadãos do mundo ( BOBBIO, 1992,p. 68).

A doutrina seria a mais indicada por tratar de forma mais ampla os Direitos

inerentes aos homens, uma vez que cada vez mais tais Direitos são tratados

no âmbito externo e não somente no interno dos Estados. Já na direção da

multiplicação, o homem e seus direitos são ligados a sociedade, tratando o

surgimento da sua sociabilidade e mantendo sempre a ligação entre as

transformações sociais e o surgimento de novos paradigmas do direito. Para

Bobbio, os direitos humanos são indiscutivelmente um elemento social, sendo

necessário que se considere tais pontos sociais para a sua aplicação (BOBBIO,

1992).

Tomando como pressuposto os Direitos Humanos, a sua universalidade e

multiplicidade, pode se entender que tais direitos são como uma concretização

de poder com o próprio dever, visto que esta junção foi dada pela precisão

contínua em se sustentar, reprimir e por fim conseguir com que seja cumprida

os deveres que são previstos, essenciais a todos os seres humanos (BARROS,

2003).

 

24  

 

 

 

cada direito humano é síntese de poder com dever em prol da humanidade, em cujo âmbito se pode tanto quanto se deve para realizar o ser humano nos indivíduos humanos no curso da sua historia conjunta. Sempre, em conformidade com os valores que nela emergem quando necessários- e permanecem enquanto necessários – para tornar em fatos a humanidade, no seu continuo desenvolver pelo seu continuo atender de suas próprias necessidades (BARROS, 2003, p.11).

O que se deve ressaltar, segundo Bobbio, é que a universalidade dos Direitos

Humanos será vista no cenário internacional como sendo uma indistinção

destes direitos porem, tal ponto não é pertinente, uma vez que, as pessoas são

iguais de forma genérica e não nas vias de fato: “Com relações aos direitos

políticos e aos sociais, existem diferenças de individuo para individuo, ou

melhor, de grupos de indivíduos para grupos de indivíduos... que são

relevantes” (BOBBIO, 1992, p. 71).

A teoria universalista dos Direitos Humanos sempre foi alvo de debates, visto

que para muitos12, os DH devem ser tratados como algo relativo, ou seja,

respeitando as diferenças de cada um, sejam elas de âmbito cultural, religioso,

ético, político, etc. Lembrando que o ser humano, peça chave de tal teoria, esta

sempre passando por mudanças e cabe aos D.H acompanhá-las.

Para alguns pensadores como Cançado Trindade, o que deve ser levado em

consideração nos Direitos Humanos é que ele de fato um Direito inerente ao

Homem e assim deve ser tratado. Ele aponta que:

obter um equilíbrio abstrato entre as partes, mas remediar os efeitos do desequilíbrio e das disparidades na medida em que afetam os direitos humanos. Não se nutre das barganhas da reciprocidade, mas se inspira nas considerações de ordre public em defesa de interesses comuns superiores, da realização da justiça (TRINDADE, 1997, p. 26).

                                                                                                                         12 Franz Boas,1887; Melville Herskovits,1969; Erna Bastian,1971, etc.

 

25  

 

 

 

Sendo assim, baseando- se no ponto de vista de Cançado Trindade, o cientista

político Benoni Belli, aponta que os direitos do homem são direitos voltados

para o seu amparo e que deve ser uma ferramenta usada para a sua proteção,

em qualquer que seja a situação, não importa se for ao ambiente externo ou no

interno. Levando em consideração todas as questões, incluindo as de

jurisprudência13, uma vez que o universalismo dos Direitos Humanos evidencia

que a importância do direito que protege o homem supera todo e qualquer

obstáculo, visto que, perante a existência de normas advindas de tratados tanto

internos ou externos, internacionais, a que será utilizada sempre será a que

favorecer mais a parte em questão, ou seja, a vítima. Não significando, no

entanto, o desleixo dos Estados com as suas próprias normas, mas sim que

não existe a possibilidade de se comprometer com algo internacionalmente e

não aplicar internamente. Uma vez que os tratados dos D.H, apontam valores a

serem seguidos, não havendo a possibilidade de um tratado dos D.H ser

quebrado por uma lei interna (BENONI, 1998).

A universalidade dos direitos inerentes aos homens, então seria, uma peça

chave na fundamentação do próprio D.H., mesmo sabendo das dificuldades

encontradas por esse, como as próprias questões de relativismo cultural.

Compreendendo que ao ver universalista, a verdade, os direitos, as pessoas,

etc, devem ser vistos em um todo. Por outro lado, o paradoxo esta em afirmar

que os direitos são todos universais, visto que é muito difícil se apontar um

único direito que se apresente de maneira incondicional a alguém. Sendo

assim, deve se dizer que todo direito é na verdade social, pois são trazidas as

pessoas no social, na sociedade em que vivem, por intermédio do governo que

os controla. Por tanto, por mais que os direitos sejam vistos como universais,

                                                                                                                         13  A jurisprudência entende-se: Conjunto de fonte secundária do direito que consiste em aplicar a casos semelhantes orientação uniforme dos tribunais: interpretação que os tribunais dão á lei, adaptando-a a cada caso concreto submetido a seu julgamento (PEQUENO, 2002,p. 183).

 

 

26  

 

 

 

eles são na verdade afirmados ou retirados por seu Estado em determinadas

situações (RESENDE DE BARROS, 2003).

4. O Impasse entre o Relativismo Cultural e o Universalismo dos Direitos Humanos no caso do Infanticídio Indígena

Tomando por base o impasse entre universalistas e relativistas culturais, a

respeito das tradições culturais indígenas, mais especificamente o infanticídio

que ocorre em certas tribos e a aplicação dos Direitos Humanos, sobre uma

perspectiva construtivista, pode-se salientar que pela ótica relativista, o

comportamento e as atitudes das tribos indígenas fazem parte de suas

tradições culturais, não existindo o entendimento de que matar crianças, andar

seminus, entre outros, seja algo errado que não seja aceito pela sociedade.

Impor normas internacionais, até mesmo nacionais, é impedir a liberdade

cultural concedida a todas as tribos através de tratados internacionais e de leis

nacionais. Para os relativistas, os universalistas têm como conceito de direitos

humanos algo completamente ocidentalizado, onde muitas vezes as minorias,

como os índios, são deixadas de lado em prol de algo que é visto como comum

a todos, mas que muitas vezes não é.

Por outro lado, na visão do universalismo dos Direitos Humanos as práticas

realizadas dentro das tribos indígenas confrontam os direitos concedidos

internacionalmente aos Estados membros e que englobam todas as pessoas,

independentemente de raça, religião, etnia, tribo, etc. Independentemente da

liberdade cultural, a pessoa deve ser colocada no ponto maior e por isso seus

direitos e garantias fundamentais precisam ser protegidos a todo custo.

nos Estados em que existam minorias étnicas, religiosas ou linguísticas, as pessoas pertencentes a essas minorias não devem

 

27  

 

 

 

ser privadas do direito de ter, em comum com os outros membros do seu grupo, a sua própria vida cultural, de professar e de praticar a sua própria religião ou de empregar a sua própria língua (art. 27, Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos).

O infanticídio é um termo utilizado popularmente por séculos para referenciar o

ato de assassinar crianças que não são desejadas. Este termo faz alusão a

uma ação tão antiga quanto à própria humanidade, tendo fatos por todo o

mundo contados pela a história. O infanticídio e a forma como este foi visto e

punido, acompanhou o modo como à própria sociedade se desenvolveu.

Desde Roma Antiga, tem-se presente a prática do infanticídio com traços

característicos. No Direito Romano, a morte do filho pela mãe igualava-se ao

parricídio14, no entanto, se a morte ocorresse por intermédio do pai não era

julgado como um crime, uma vez que o pai, pater familia, tinha poder absoluto

sobre as mulheres e também o poder de vida sobre os seus filhos, mais

conhecido como jus vitae ac necis15. Sendo assim, os pais se viam no direito

de matar seus filhos caso estes nascessem imperfeitos ou que desonrassem e

fossem contra a própria família. Isto porque, com os acontecimentos históricos,

está prática foi sendo vista e entendida de maneira diversa até se chegar ao

conceito de crime por várias sociedades urbanas (PRADO, 2007).

Nesta época não se via, ainda, o infanticídio como crime, mas apenas como a

manifestação da cultura e de costumes. Assim, não havia reprovação muito

menos censura do ato:

verifica-se que entre os povos primitivos da humanidade, a morte dos filhos e das crianças não constituía crime, nem

                                                                                                                         14 Pode se entender a prática do parricídio como: “Homicídio praticado contra o próprio pai ou contra qualquer dos ascendentes. ” (PEQUENO ,2002, pag. 228)

15FRANÇA, Natália. Derecho y Cambio Social.O INFANTICÍDIO INDÍGENA NO BRASIL: O UNIVERSALISMO DOS DIREITOS HUMANOS EM FACE DO RELATIVISMO CULTURAL. 2006.p.3.Disponível em <http://www.derechoycambiosocial.com/revista025/infanticidio_y_derechos_humanos.pdf > Acesso em 18/04/2014.

 

28  

 

 

 

atentava contra a moral ou os costumes, pois, as mais antigas legislações penais conhecidas, não fazem qualquer referência a esse tipo de crime, concluindo ser, então, permitida a conduta hoje delituosa (MAGGIO, 2004. p. 40).

Na Grécia Antiga, a história era bem parecida, visto que o pai tinha todo o

poder sobre sua prole, se julgasse necessário poderia assassinar o filho.

Ressaltando, que muitas vezes o fato de uma criança ter vindo ao mundo

contra a sua vontade, mesmo sendo fruto do casamento legitima era motivo

para matá-lo (RIBEIRO, 2004, p. 19).

No Egito, a situação se diferenciava, uma vez que o pai que cometesse o ato

de assassinar o próprio filho era obrigado a passar, abraçado ao corpo da

criança, três dias e três noites. O infanticídio acontecia quando a criança tinha

a saúde precária ou alguma deficiência e por preocupação o desempenho do

pai, enquanto guerreiro era prejudicado (MUAKAD, 2002, p. 10-11).

Entretanto, com o crescimento da Igreja Católica e seus dogmas16, a visão

sobre o infanticídio passou por mudanças drásticas. O Cristianismo pregava a

dignidade humana como um direito primordial, tornando o ato de assassinar

crianças um pecado e um crime. Dessa maneira, as ideias e práticas

anteriormente realizadas – como a de um pai que retirava a vida de seu filho –

deixou de ser aceita e até mesmo permitida dentro da sociedade.

Associado a esta ideia trazida pelo Cristianismo, tem-se a influência das ideias

iluministas que agregou a dignidade humana, outras medidas humanitárias

como a liberdade, o direito à vida, etc., de maneira que o infanticídio passou a

ser considerado um crime privilegiado, tendo sua pena reduzida quando

cometido por motivo de pobreza extrema ou de preservação da honra, sendo

levadas em consideração as condições psicológicas e físicas da mãe no                                                                                                                          16 “s.m. Teologia. Aspecto, item particular, mais importante de uma doutrina religiosa que se apresenta como algo indubitável ou inquestionável.” (Disponível em <http://www.dicio.com.br/dogma/ >Acesso 19/04/2014). A igreja católica acredita que os dogmas ajudam a manter os fiéis dentro de suas crenças.

 

29  

 

 

 

momento do parto, uma vez que neste momento deve se considerar o conflito

existente entre a prevalência da honra ou do próprio instinto maternal. Sendo

assim, após ressaltar a prática do infanticídio e a violência contra as crianças

praticadas em todo mundo entende que este possui traços e peculiaridades

que variam de acordo com cada povo e cada região (PRADO, 2007).

4.1 O Infanticídio Indígena e a Teoria Universalista dos Direitos Humanos

O infanticídio só passou a ser visto com um crime de caráter excepcional a

partir do Código Austríaco. Desde então, todas as legislações elaboradas pelos

países de todo o mundo utilizaram como base o Código para considerar a

morte indiscriminada de crianças como crime a ser punido pelo Estado.

A prática do infanticídio é condenada pelo Código Penal de 194017. Ocorre que,

a prática do infanticídio em algumas sociedades faz parte de sua cultura

dificultando a ação do Estado (até mesmo em âmbito Internacional através da

proteção dos Direito Humanos dos recém-nascidos) em controlar e punir tal

ato.

É preciso levar em consideração que as sociedades indígenas não são

consideradas como sendo parte da sociedade em geral, uma vez que não são

aderidos por eles os costumes e leis comuns a todos. Visto que para alguns

doutrinadores do ramo do Direito, os índios são consideráveis inimputáveis18,

ou seja, não podem ser penalizados, pois desconhecem a lei. Como é possível

perceber:

                                                                                                                         17 “Código. Lei que disciplina integral e isoladamente uma parte substanciosa do direito positivo; por exemplo: direito civil ou direito penal. ” Código Penal (CP). Dl 2.848/40, publicado no DOU de 31/12/40 e retificado em 30/01/41. (Pequeno DICIONÁRIO JURÍDICO, 2002, p.77). 18 São pessoas consideraras inimputáveis aquelas que: “são isentos de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. ” Art. 26. (Pequeno DICIONÁRIO JURÍDICO, 2002, p.160)

 

30  

 

 

 

esse é um dos pontos centrais do estudo: o que nós, brancos, entendemos como sendo vida e humano diferente da percepção dos índios. Um bebê indígena, quando nasce, não é considerado uma pessoa – ele vai adquirindo pessoalidade ao longo da vida e das relações sociais que estabelece (UNB, 2009).

O infanticídio indígena é um tema de repercussão mundial, uma vez que a

sociedade urbanizada entende que o fato de se matar crianças por não serem

“perfeitas” ou serem frutos de um relacionamento incestuoso/pecaminoso é

inaceitável, pois a vida é direito de todos, garantia concedida desde o

surgimento do feto. Entretanto, assim como a sociedade urbana cresceu

baseada em leis de proteção ao indivíduo, as sociedades indígenas cresceram

com crenças que envolvem o bem do grupo, do coletivo, da tribo e não do bem

estar do indivíduo. Tem-se aqui que analisar os dois lados e compreender que,

de fato, cada um possui sua razão, os índios em manterem suas tradições e a

sociedade urbanizada de acreditarem que existem limites e proteção legal para

todos, inclusive os índios.

Essa proteção ao índio não é recente, uma vez que os legisladores tinham em

mente a necessidade de se preservar a cultura, costume, religião, terras,

tradições, sem que houvesse interferência agressiva das leis que regem a

sociedade urbana. Dentro disso, pode se referenciar a norma jurídica19

internacional mais conhecida que é a Declaração Universal dos Direitos

Humanos que foi adotada pela Organização das Nações Unidas20 em 1948,

trazendo em seu corpo, direitos básicos e essenciais inerentes a todos os

seres humanos, de maneira generalizada e sem distinções quanto à raça,

etnia, cor, sexo, sociedade e contexto cultural. Os direitos humanos têm por um

                                                                                                                         19 Entende-se como norma jurídica o: “Preceito obrigatório de direito transformado em lei e que, por conseguinte, pode ser exigido por força de lei” (PEQUENO,2002, p.204). 20 “A Organização das Nações Unidas, também conhecida pela sigla ONU, é uma organização internacional formada por países que se reuniram voluntariamente para trabalhar pela paz e o desenvolvimento mundial. ” (ONUBR.Organização das Nações Unidas no Brasil. 18/04/2014. Disponível em <http://www.onu.org.br/conheca-a-onu/conheca-a-onu/ >Acesso 18/04/2014).

     

 

31  

 

 

 

dos seus principais pontos a sua indivisibilidade e sua universalidade. Sendo

assim de importância suprema na valorização do homem.

A Declaração solidifica a afirmativa da moral universal, aplicando um acordo a

respeito de valores comuns a todos devendo ser utilizados pelos Estados.

Sendo assim, para que houvesse a internacionalização dos direitos humanos

era preciso que estes fossem tratados como algo de interesse verdadeiramente

internacional, sendo indispensável uma nova definição do domínio da

soberania estatal. Ressaltando também a nova condição do ser humano como

verdadeiramente parte do Direito Internacional (ONU,1948).

a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição (ONU,1948).

A Declaração foi criada com a intenção de trazer a paz, organização,

democracia, lutar contra a opressão e a discriminação, defender a igualdade e

a dignidade das pessoas e reconhecer que os direitos humanos e as liberdades

fundamentais devem ser aplicados a cada cidadão do planeta. O momento

histórico da criação da DUDH era de fragilidade, pois o mundo estava sendo

assombrado pelas atrocidades causadas pela Segunda Guerra Mundial. As

mortes, o desrespeito, as desigualdades, abalaram a toda a comunidade

mundial, deixando ainda mais clara à necessidade de se proteger os direitos de

cada ser humanos. A DUDH é considerada uma recomendação aos países

componentes da ONU. Em virtude disso, se discutia sua força como norma

vinculante dentro do direito internacional e dentro das legislações internas de

cada país em prol do ser humano, uma vez que a Declaração não é um tratado

 

32  

 

 

 

e sim uma Resolução, ou seja, não possui força vinculante. Entretanto, a

dúvida quanto a sua força acabou sendo superada. O entendimento hoje é de que:

a vigência dos direitos humanos independe de sua declaração em constituições, leis e tratados internacionais; exatamente porque se está diante de exigências de respeito à dignidade humana, exercidas contra todos os poderes estabelecidos, oficiais ou não. “Todo homem”, proclama o art. VI da Declaração, “tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei. O Estatuto da Corte Internacional de Justiça, em seu art. 38, enumera como fontes do direito internacional, a par dos tratados ou convenções, também os costumes e os princípios gerais de direito. Ora, os direitos definidos na Declaração de 1948 correspondem, integralmente, ao que o costume e os princípios jurídicos internacionais reconhecem, hoje, como exigências básicas de respeito à dignidade humana. A própria Corte Internacional de Justiça assim tem entendido (ESCOLA,2014).

A Declaração Universal dos Direitos Humanos é clara em enunciar que a

dignidade da pessoa humana é a premissa básica para o desenvolvimento da

sociedade, pois sem esta garantia poderá se instalar o caos, pois o Estado se

tornará tirano e totalitário. Entretanto, ao mesmo tempo em que se verifica que

a falta de preservação dos direitos humanos em uma sociedade pode ser fatal,

o contrário também pode ser derradeiro em determinadas culturas. A

intervenção dos direitos humanos em sociedades indígenas pode ser vista

como uma medida necessária, mas é preciso lembrar que esta visão é externa

e não pode ser considerada como crucial.

As sociedades indígenas possuem sua maneira de viver, de agir, suas práticas

milenares visando viver bem dentro de suas tribos. Sua forma de plantar,

caçar, reproduzir, dormir, se vestir, é única e se alteradas podem assim

modificar a essência cultural fazendo com que eles deixem de ser o que são e

se tornem parte da sociedade urbanizada (como já vem ocorrendo em algumas

 

33  

 

 

 

tribos, pois se verifica a existência de roupas, tecnologia, alimentos que são

adquiridos nas cidades. Esses índios são classificados como urbanos). 21

Grande parte da população indígena enfrenta uma rápida e complicada

mudança social, onde se torna necessária à busca de novos caminhos para a

proteção de saúde física e cultural, consequentemente, garantindo as das

gerações futuras e melhorando a situação de suas vidas. Os índios enfrentam,

há um bom tempo, certas dificuldades como: as tomadas e deteriorações de

seus territórios, abusos de caráter sexual, a indução a utilização de drogas,

utilização abusiva de sua mão de obra, dos adultos e crianças, pobreza e saída

em massa de suas terras para as cidades, causando um grande êxodo (FUNAI,

2014).

A visão de que a prática do infanticídio por tribos indígenas é uma atrocidade e

que precisa ser controlada é uma visão da sociedade urbanizada, politicamente

controlada e juridicamente consciente. Conforme já exposto neste trabalho, é

preciso lembrar que a cultura dos índios é diferente da urbana. Eles possuem

suas leis e suas normas, distinguindo o certo do errado dentro daquilo que

acreditam e não do que lhes é conferido. Impor aos índios normas

internacionais e nacionais é retirar-lhes sua liberdade cultural, defendida

também por legislação nacional e tratados internacionais. O caminho pode

estar em orientar e não impor algo que é classificado como certo.

Sobre a luz da Declaração Universal dos Direitos Humanos, no que tange o

debate entre o universalismo dos direitos humanos e o relativismo cultural,

mais especificamente do infanticídio indígena, pode se ressaltar que o

universalismo busca a proteção do ser humano acima de qualquer questão de

âmbito cultural. Sendo assim, os defensores dos D.H acreditam que tais

direitos devem de fato ser acatados por todos, independentemente da cultura,

raça, religião, entre outros e apontando que o relativismo é uma maneira de                                                                                                                          21 São os índios que vivem em meio a sociedade urbanizada em pequenas e grandes cidades ou em seus arredores (RIBEIRO,2010).

   

 

34  

 

 

 

que esses direitos sejam violados, uma vez que esta possa ir contra os valores

inerentes a todos, como por exemplo, a própria vida.

Já pela ótica do relativismo cultural é apontado o fato de que se tais

documentos de caráter internacional, voltados aos direitos humanos, atribuem

aos Estados o direito à liberdade de se desenvolver socialmente,

economicamente, politicamente e culturalmente, assim como é citado na

Declaração Universal dos Direitos Humanos, não é coerente que se obrigue

determinadas culturas a acatar todos os pontos defendidos pelos D.H quando

tais medidas não sejam compatíveis com sua realidade cultural, pois se o

fizerem estarão indo contra os direitos que eles mesmos idealizaram.

Sendo assim, para o relativismo, cada sociedade ou tribo, tem uma maneira de

se comportar e é baseado nisto cada ser humano se porta, de acordo com o

exemplo do meio social em que vive. A partir daí é que cada qual forma sua

opinião a respeito das demais culturas.

Assim como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração

Universal sobre a Diversidade Cultural (DUDC) da UNESCO22 surgiu em um

momento de fragilidade depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de

2001. O mundo se encontrava mais uma vez amedrontado e diante disto os

países tiveram a chance de afirmar novamente a ideia de que o caminho para

obter a paz e afastar a possibilidade de novos embates culturais está em

estabelecer uma ponte de ligação entre estas. Tal Declaração seria então o

resultado do empenho da UNESCO, na busca da promoção do valor existente

na diversidade das culturas no mundo, considerando as como um dos

principais bens pertencentes à humanidade (DUDC, 2002).

                                                                                                                         22Declaração Universal sobre a Diversidade Cultura. Disponível<http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001271/127160por.pdf>. Acesso em 15/05/2014.

 

35  

 

 

 

Artigo 1 – A diversidade cultural, patrimônio comum da humanidade. A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade. Fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade, a diversidade cultural é, para o gênero humano, tão necessária como a diversidade biológica para a natureza. Nesse sentido, constitui o patrimônio comum da humanidade e deve ser reconhecida e consolidada em benefício das gerações presentes e futuras’’ (UNESCO,2001).

O intuito da Declaração é sem dúvidas a preservação da diversidade cultural,

apontando que cada ser humano deve respeitar não apenas a sua cultura

dentro do seu meio social, mas também as demais culturas. Acreditando que

desta maneira tal diversidade será mantida, aprendendo a lidar com um mundo

globalizado e repleto de inovações, garantindo cada vez mais a interação entre

os grupos e gerando cada vez uma sociedade coesa.

Artigo 2 – Da diversidade cultural ao pluralismo cultural Em nossas sociedades cada vez mais diversificadas, torna-se indispensável garantir uma interação harmoniosa entre pessoas e grupos com identidades culturais a um só tempo plurais, variadas e dinâmicas, assim como sua vontade de conviver. As políticas que favoreçam a inclusão e a participação de todos os cidadãos garantem a coesão social, a vitalidade da sociedade civil e a paz. Definido desta maneira, o pluralismo cultural constitui a resposta política à realidade da diversidade cultural.“Inseparável de um contexto democrático, o pluralismo cultural é propício aos intercâmbios culturais e ao desenvolvimento das capacidades criadoras que alimentam a vida pública (UNESCO,2001).

Sobre a luz do relativismo cultural, a Declaração Universal sobre a Diversidade

Cultural possui algumas normas divergentes, como por exemplo, ao afirmar

que um grupo tem o direito de professar os seus costumes, mas se houver

violação de algum dos direitos humanos, deverá arcar com seus atos. Pode se

tomar como exemplo o caso do infanticídio indígena que é praticado por

algumas tribos. Tal pratica está inserida em algumas tribos á séculos, sendo

 

36  

 

 

 

passada de geração em geração e levando por elas todo um significado, porem

para a DUDC tal ato não poderia ser defendido, mesmo se tratando de uma

manifestação cultural, uma vez que a diversidade cultural não deve ser usada

como argumento para ir contra os direitos inerentes a todos, como a vida.

Artigo 4 – Os direitos humanos, garantias da diversidade cultural.

A defesa da diversidade cultural é um imperativo ético, inseparável do respeito à dignidade humana. Ela implica o compromisso de respeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais, em particular os direitos das pessoas que pertencem a minorias e os dos povos autóctones. Ninguém pode invocar a diversidade cultural para violar os direitos humanos garantidos pelo direito internacional, nem para limitar seu alcance (UNESCO,2001).

Para os relativistas, essa limitação às práticas culturais presentes na DUDC,

através dos direitos humanos, como no caso do infanticídio indígena, podem

levar os índios a viverem como a sociedade urbanizada deseja. Eles acreditam

que eles podem vir a ser transformados naquilo que não são tendo seus

costumes manipulados, podendo resultar até na retirada da sua autonomia; Já

para os universalistas, a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural

está inteiramente ligada aos seus conceitos. Visto que um dos compromissos

da Declaração está na reafirmação da consolidação por completo dos direitos

humanos e também das liberdades básicas estabelecidas na Declaração

Universal dos Direitos Humanos. Os direitos ligados a cultura integram desta

forma os direitos humanos (UNESCO, 2001).

Percebe se que a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural é de

suma importância no que tange a coesão entre as culturas e que pode ser visto

como um facilitador no processo de amenizar os conflitos existentes na

atualidade que, muitas vezes, tem por causas a dificuldade de se compreender

e aceitar as diferenças culturais. Segundo a DUDC, a interação entre os

grupos é fundamental na busca pela paz.

 

37  

 

 

 

É relevante, ao se falar de Direitos Humanos e da sua proteção, destacar

também a adoção de dois Pactos, um voltado para os direitos civis e políticos e

outro voltado para os direitos econômicos, sociais e culturais. Os Pactos

ressaltam, que os Estado adeptos não podem tratar diferencialmente um

indivíduo ou grupo de sua população, independentemente de quais sejam seus

costumes, podendo ser ressaltado então a questão dos índios e a prática do

infanticídio como uma tradição cultural de algumas tribos.

O mais básico dos direitos humanos, que é o direito que todos têm a vida, faz

com que esse seja um dos direitos mais reforçados por todos os meios de

promoção dos universalistas. Juntamente com o direito à vida estão os direitos

de todos a uma situação favorável ou pelo menos decente para se viver. Sendo

assim os Pactos tem esse principal objetivo, além de se fazer cumprir as

medidas apontadas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Os

principais aspectos das declarações são: autodeterminação; direito ao

consentimento livre, prévio e informado; direito a reparação pelo furto de suas

propriedades; direito a manter suas culturas; direito a comunicação.23

O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos tiveram a sua adoção no dia

16 de dezembro de 1966 pela a Assembleia-Geral das Nações Unidas em sua

XXI. Tal Pacto introduzia em seu corpo a reiteração de que os direitos

humanos eram universais e indivisíveis, assim como já havia sido afirmado na

Declaração Universal dos Direitos Humanos, estabelecendo também direitos

voltados ao ser humanos, avigorando o amparo aos direitos já presentes na

DUDH. Os direitos presentes no Pacto são inerentes a todos os seres

                                                                                                                         23BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,1992. DECRETO No 591, DE 6 DE JULHO DE 1992. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0591.htm > . Acesso em 20/04/2014.

 

38  

 

 

 

humanos, sem restrição de cor, religião, raça, gênero, cultura, entre outros.24

Assim como é presente em seu Artigo 1°:

Artigo: 1. Todos os povos têm direito à autodeterminação. Em virtude desse direito, determinam livremente seu estatuto político e asseguram livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural.

2.Para a consecução de seus objetivos, todos os povos podem dispor livremente se suas riquezas e de seus recursos naturais, sem prejuízo das obrigações decorrentes da cooperação econômica internacional, baseada no princípio do proveito mútuo, e do Direito Internacional. Em caso algum, poderá um povo ser privado de seus meios de subsistência.

3.Os Estados Partes do presente Pacto, inclusive aqueles que tenham a responsabilidade de administrar territórios não-autônomos e territórios sob tutela, deverão promover o exercício do direito à autodeterminação e respeitar esse direito, em conformidade com as disposições da Carta das Nações Unidas (BRASIL,1992).

O segundo é o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e

Culturais25, que faz parte da Carta Internacional dos Direitos Humanos e da

Declaração Universal dos Direitos Humanos. A resolução n.2.200 da

Assembleia Geral das Nações Unidas adotou o Pacto no dia 16 de dezembro

do ano de 1966 onde o objetivo estava em dar uma maior importância e força

jurídica aos pontos presentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos e

desta forma fazer com que seus países membros se responsabilizassem mais

no caso de alguma infração. O Pacto reconhece que os direitos inerentes ao

ser humano não podem se concretizar sem que se sejam dados condições

mínimas para que todos tenham direitos econômicos, sociais e culturais, não

se esquecendo dos seus direitos políticos e civis. No Pacto é considerado o

fato da Carta das Nações Unidas impor aos seus Estados partidários o dever                                                                                                                          24 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,1992. DECRETO No 592, DE 6 DE JULHO DE 1992. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0592.htm > . Acesso em 20/04/2014. 25 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,1992. DECRETO No 591, DE 6 DE JULHO DE 1992. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0591.htm > . Acesso em 20/04/2014.

 

39  

 

 

 

de promoção dos respeitos universais e essenciais a todos e compreende que

é obrigação do indivíduo, uma vez que este deve ser comprometido com os

seus iguais, promover e cumprir os direitos defendidos (BRASIL,1992).

Por essa perspectiva, em uma ótica relativista, ambos os pactos trazem a

importância de se valorizar as diferenças culturais antes e ainda apontam a

importância da autodeterminação dos povos para a manutenção da diversidade

cultural, mas da mesma forma que nos direitos humanos o direito à vida está

em primeiro lugar e não há justificativas para que viola-los; Já na ótica

universalista, são ressaltados os mesmo pontos da Declaração Universal dos

Direitos Humanos visto que nos dois pactos são reafirmados os pontos

estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, sendo assim, os

índios teriam os seus direitos enquanto humanos resguardados, mas no

aspecto cultural não, uma vez que algumas de suas práticas ferem os seus

próprios direitos.

Por último, pode se acrescentar a este embate de opiniões entre relativistas e

universalistas a presença da convenção 169 da Organização Mundial do

Trabalho – OIT26 sobre Povos Indígenas e Tribais. Adotada no ano de 1989, foi

um marco na legislação internacional em relação aos indígenas. A Convenção

trouxe várias garantias específicas, como o direito dos índios de manterem seu

modo de vida e fortalecerem suas identidades no âmbito dos Estados em que

vivem. Além disso, garante a obrigatoriedade do Estado membro em proteger

os direitos nela concedidos. Reconhece o direito que todo grupo indígena

possui de participar de sua vida cultural, suas tradições, costumes e crenças, e

defende o exercício pleno dos direitos humanos e liberdades fundamentais. A                                                                                                                           26 “A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é a agência das Nações Unidas que tem por missão promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter acesso a um trabalho decente e produtivo, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade. O Trabalho Decente, conceito formalizado pela OIT em 1999, sintetiza a sua missão histórica de promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter um trabalho produtivo e de qualidade, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humanas, sendo considerado condição fundamental para a superação da pobreza, a redução das desigualdades sociais, a garantia da governabilidade democrática e o desenvolvimento sustentável.” (OIT,1999).

 

40  

 

 

 

OIT mostra que o índio possui o direito de professar sua cultura e também de

se enquadrarem nos direitos humanos, mas dentro daquilo que acreditam e do

que vivem. As normas universais não podem ser aplicadas

indiscriminadamente sem que haja uma aplicação diferenciada para os

desiguais. 27

Os índios possuem a necessidade de interdependência e a indivisibilidade

entre os diretos fundamentais. Para tanto se faz necessário garantir-lhes o

direito à autodeterminação28 ou o direito à manutenção de suas culturas e

tradições para que possam desenvolver assim como se vê em seu Artigo 3o.

1. Os povos indígenas e tribais deverão gozar plenamente dos direitos humanos e liberdades fundamentais, sem obstáculos nem discriminação. As disposições desta Convenção serão aplicadas sem discriminação aos homens e mulheres desses povos.

2. Não deverá ser empregada nenhuma forma de força ou de coerção que viole os direitos humanos e as liberdades fundamentais dos povos interessados, inclusive os direitos contidos na presente Convenção (BRASIL,2004).  

A declaração ganhou destaque por garantir os direitos indígenas e defender a

política de não discriminação entre os povos, porem para os relativistas

culturais existe a necessidade do aumento da eficácia e garantia ao índio o seu

direito de ser índio, sem limitações ou criminalização, para eles tanto em

âmbito internacional quanto em âmbito nacional, as leis se divergem quanto à

proteção do índio e seus costumes. Pela ótica universalista, algumas práticas

indígenas, como o infanticídio, devem continuar a ser recriminadas pela

sociedade urbanizada uma vez que estas práticas vão contra os direitos                                                                                                                          27BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,2004.DECRETO Nº 5.051, DE 19 DE ABRIL DE 2004. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5051.htm > Acesso 20/04/2014. 28 Pode se entender que:“A autodeterminação estabelece que a um povo deva ser oferecida a possibilidade de conduzir livremente sua vida política, econômica e cultural, segundo princípios democráticos. ” (KEDA, 2001, p. 75).

 

41  

 

 

 

humanos. Para eles, tal ato não passa de um crime e não como uma

demonstração cultural. Eles afirmam que não se deve usar a diversidade

cultural como uma desculpa para ir contra os direitos humanos.

A Convenção 169 da OIT foi de fundamental importância na luta dos direitos

indígenas, porem para sua eficácia no que tange os índios e deve se chegar a

um meio termo onde os direitos humanos consigam ser aplicados sem maiores

confrontos, os índios devem ser orientados do que é certo ao invés de serem

intimidados. Conforme segue no seu Artigo 4º:

1. Deverão ser adotadas as medidas especiais que sejam necessárias para salvaguardar as pessoas, as instituições, os bens, as culturas e o meio ambiente dos povos interessados.

2. Tais medidas especiais não deverão ser contrárias aos desejos expressos livremente pelos povos interessados.

3. O gozo sem discriminação dos direitos gerais da cidadania não deverá sofrer nenhuma deterioração como consequência dessas medidas especiais (OIT,1989).

Diante da declaração da OIT, a grande necessidade está em saber levar o

índio ao caminho certo, sem que sua cultura seja ferida. É importante ressaltar

que para certos grupos indígenas, em principal os que praticam o infanticídio, o

conceito de certo e errado é extremamente diferente da sociedade urbanizada,

devendo então ser tomadas medidas para que todas as informações cheguem

da forma correta sem amedronta-los ou discrimina-los.

Lembrando, que o dever de deter qualquer prática seja ela indiscriminada ou

não é do Estado, sendo assim, mesmo com todas as declarações e direitos,

em algumas situações nada pode ser feito. Pensando nisto, Cançado Trindade,

afirma que a grande questão dos Direitos Humanos esta, em que por mais que

seja visto por muitos de forma universal e por outros de forma relativa, esta no

 

42  

 

 

 

fato de que ele acompanha as mudanças proporcionadas pelo tempo, e que

atualmente a justiça internacional vem tomando um novo parâmetro. Ele

afirma ainda que para que se chegue a uma justiça de fato internacional é

necessário que a uma jurisdição internacional tenha uma participação ativa na

nacional para o cumprimento da justiça. Ou seja, em situações extremas, como

é o caso do infanticídio, por mais que para muitos seja uma questão cultural o

Estado deve estar preparado para saber como agir, afinal de contas para que

um fim seja atingido, independente do caso, é necessário que o Estado cumpra

com a obrigação que se propôs em âmbito internacional (CANÇADO

TRINDADE, 2010).

a contrário do que muitos ainda supõem em tantos países, as jurisdições nacional e internacional, neste início do século XXI, não são concorrentes ou conflitivas, mas sim complementares, em constante interação na proteção dos direitos da pessoa humana e na luta contra a impunidade dos violadores de tais direitos...na história das relações - e interações - entre as jurisdições nacional e internacional, é este um precedente que continuará certamente a ser estudado pelas gerações presentes e futuras de constitucionalistas e jusinternacionalistas, tanto latinoamericanos como de outras regiões do mundo (TRINDADE, 2010, p. 61).

A influência entre as jurisdições internas e externas devem ser mútuas. Ambas

são de extrema necessidade para que os Direitos Humanos venham de fato a

ser garantidos a todos os homens. Independente da forma que este direito será

aplicado seja no âmbito doméstico ou internacional.

5. Considerações Finais

É de fundamental importância à colocação do homem, após o período pós-

guerra, como o centro dos Direitos Humanos. Entendendo que, estes são um

conjunto de normas que constituem os direitos inerentes aos homens,

 

43  

 

 

 

indiferente de sua raça, cor, cultura, religião ou sexo e levando em

consideração todas as vantagens por eles trazidas.

Todavia, é necessário ressaltar as modificações passadas pela sociedade

ocasionadas pelo adensamento, resultando em um grande aumento

populacional que é fruto do fenômeno da globalização. Atualmente, as

sociedades ou tribos, tem se constituído através de minúsculos espaços,

fazendo com os diferentes tipos de cultura sejam obrigados a interagir entre si,

onde, muitas vezes, as tradições de cada um sejam afetadas por esse convívio

involuntário. Esse chamado choque cultural, pode ser o gerador de mudanças

nas partes.

Para os relativistas culturais, os valores que regem as culturas em geral têm o

seu desenvolvimento extremante ligado a sua história. De modo que, cada

grupo, tribo ou sociedade teve seus princípios fundamentais formados de

formas diferentes, sendo assim, o que são direitos para um pode não ser o

outro. Para os relativistas, o maior argumento contra o universalismo é a

diversidade cultural presente no mundo, que é indispensável por se tratar de

um patrimônio comum a todos.

Para os universalistas, por outro lado, a necessidade de que os D.H sejam

cada vez mais legitimados, principalmente pelos países que o aderiram, é

fundamental para que a paz seja instaurada. Para eles, após todos os

acontecimentos fatídicos passados pela humanidade, como as grandes

guerras, todos precisam compreender o quão indispensável são os D.H e o que

podem proporcionar a humanidade. É impossível não admitir a presença da

diversidade cultural, mas ressalta-se, que ela não serve como respaldo para

que os D.H sejam violados. As normas internacionais sobre a proteção destes

direitos são referentes ao que não é admitido pela comunidade internacional

em um todo, tendo em vista os valores compartilhados, comuns aos seus

membros.

 

44  

 

 

 

Partindo deste ponto onde a interação cultural é vista como fruto do mundo

globalizado atual, onde a instauração da paz é fundamental para o

desenvolvimento da humanidade, deve-se, então, encontrar um meio termo no

que tange o relativismo cultural e o universalismo dos Direitos Humanos, visto

que ambos são de suma importância para que exista a interação necessária

entre as culturas e a atualidade. Entende-se que certas sociedades ou tribos,

como no caso dos índios que praticam o infanticídio, tal meio termo possa não

ser bem visto. Cabe aos órgãos voltados à proteção dessas tribos introduzirem

de forma correta os valores inerentes a vida.

 

45  

 

 

 

6. Referências

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