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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO ALEXANDRE MAGNO PAIVA O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E AS DIFICULDADES DE RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO CABEDELO - PB 2017

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

ALEXANDRE MAGNO PAIVA

O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E AS DIFICULDADES DE RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO

CABEDELO - PB 2017

ALEXANDRE MAGNO PAIVA

O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E AS DIFICULDADES DE RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO

Trabalho de Conclusão de Curso em forma de Artigo Científico apresentado à Coordenação do Curso de Bacharelado em Direito, pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Área: Direito Penal Orientador: Prof. Ms. Arnaldo Sobrinho de Morais Neto

CABEDELO - PB 2017

P142s Paiva, Alexandre Magno. O sistema prisional brasileiro e as dificuldades de

ressocialização do preso / Alexandre Magno Paiva. – Cabedelo, 2017.

25f

Orientador: Profº Ms. Arnaldo Sobrinho de Morais Neto.

Artigo Científico (Graduação em Direito) Faculdade de Ensino Superior da Paraiba.

1. ireitos Humanos. 2. Dignidade da Pessoa Humana. 3. Lei da Execução Penal. 4. Sistema Prisional. 5. Ressocialização. I. Título.

BC/Fesp CDU: 343.2

A reprodução total ou parcial deste documento só será permitida exclusivamente para fins acadêmicos e científicos desde que seja referenciado, autor, titulo instituição, e ano de sua

publicação.

ALEXANDRE MAGNO PAIVA

O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E AS DIFICULDADES DE RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO

Artigo Científico apresentado à Banca Examinadora de Artigos Científicos da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP, como exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.

APROVADO EM _____/_______2017

BANCA EXAMINADORA

______________________________________ Prof. Ms. Arnaldo Sobrinho de Morais Neto

ORIENTADOR-FESP

_________________________________ Prof. Dr. Bruno César Azevedo Isidro

MEMBRO-FESP

_____________________________________ Profª Ms. Herleide Herculano Delgado

MEMBRO- FESP

AGRADECIMENTOS

Dedico este trabalho primeiramente а Deus, pоr ser essencial еm minha vida,

autor dе mеυ destino, mеυ guia, socorro presente nа hora dа angústia.

Aos meus avós paternos ―In Memorian avô‖ e os avós maternos, ―In

Memorian‖, pela existência de meus pais, e, pois sem eles este trabalho e muitos

dos meus sonhos não se realizariam.

Ao meu pai, Aluízio Avelino de Paiva, ―In Memorian‖ que infelizmente nos

deixou bem antes dessa minha jornada começar, mas não antes de me passar todos

seus valores, amor e me mostrar que sou capaz de muito.

À minha mãe Elizabeth Eugênia Alexandre de Paiva pelo apoio e amor de

sempre e sua torcida a cada período vencido.

As minhas irmãs Patrícia, Wiviane e Kamilla, por sempre me dá força e me

colocarem para cima em dias de desanimo total.

Em especial ao meu filho Théo que nasceu no decorrer do curso pra me dá

alegria, força, e por conhecer o verdadeiro significado do amor de um pai.

Aos amigos conquistados em nossa turma, amigos que me apoiaram em

diversos momentos.

A esta universidade, seu corpo docente, direção e administração pela

oportunidade de fazer o curso a Professora Socorro Menezes pelo apoio a esse

trabalho, e a todos os professores que marcaram minha jornada acadêmica e que

lembrarei sempre.

Ao meu ilustre Professor e orientador Arnaldo Sobrinho de Morais Neto, pelos

textos traduzidos, orientação, seu grande desprendimento em ajudar-nos e amizade

sincera.

E a todos que direta e indiretamente fizeram parte da minha formação.

Dedico esse trabalho aos meus

pais, que me ensinaram a sempre

seguir em frente com amor, ética e

humildade e ao meu filho Théo que me

ensinou ter paz, e sabedoria através do

amor de um filho.

SUMÁRIO

RESUMO .............................................................................................................. 09

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 09

2 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA NO DIREITO PENAL E O

TRATAMENTO PENITENCIÁRIO ....................................................................... 10

2.1 ASSISTÊNCIAS GARANTIDAS ÀS PESSOAS PRESAS ............................... 12

2.2 FUNÇÕES E FINALIDADE DA PENA............................................................. 13

3 ANÁLISE AO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO ................................ 14

3.1 A SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA ............................................................... 15

3.2 A SAÚDE, HIGIENE E ALIMENTAÇÃO DENTRO DAS PRISÕES ................ 18

3.3 A VIOLÊNCIA DENTRO DAS PRISÕES ........................................................ 19

4 AS PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE E AS BARREIRAS DA

RESSOCIALIZAÇÃO............................................................................................ 21

4.1 A INTERVENÇÃO MÍNIMA DO DIREITO PENAL .......................................... 22

4.2 EVOLUÇÃO DO SISTEMA PUNITIVO BRASILEIRO ..................................... 22

5 O TRABALHO PRISIONAL COMO MEDIDA RESSOCIALIZADORA .............. 24

5.1 O RETORNO À SOCIEDADE E AS VULNERABILIDADES DO EGRESSO .. 25

5.2 MONITORAMENTO ELETRÔNICO: UMA EFETIVA ALTERNATIVA A

PRISÃO................................................................................................................. 27

5.3 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO MONITORAMENTO ELETRÔNICO . 28

6 DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS .......................................... 29

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 30

ABSTRACT .......................................................................................................... 32

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 33

9

O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E AS DIFICULDADES DE RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO

1ALEXANDRE MAGNO PAIVA* ARNALDO SOBRINHO DE MORAIS NETO**

RESUMO O presente estudo tem a pretensão de estimular o debate acerca do grave problema de assistência ao preso, ao egresso, com base, em pesquisas exclusivamente bibliográficas e utilização do método dedutivo para a produção de conhecimento. A preocupação com a dignidade da pessoa humana em qualquer estágio de sua vida, e sem pré-conceitos, foi a grande balizadora da escolha do tema aqui discutido, sem se perder de vista os benefícios capitalizado pelo meio social ante o crescimento humanitário de sua gente, precursor de um futuro honrado e socialmente justo. Essencialmente o estudo no primeiro momento irá explanar os conceitos e características da reintegração, passando depois para um esclarecimento sobre os aspectos positivos e negativos desta, narrar a situação em que os presídios, de uma maneira geral, se encontram e ainda trazer algumas considerações da lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 ―Lei de Execução Penal‖ acerca do assunto e, com a conclusão sintetizar o conhecimento aqui produzido. Um dos problemas que mais afligem a sociedade brasileira atual é o que se deve fazer com aquela pessoa que agiu de forma ilícita, que transgrediu as normas ditadas pelo estado e necessita receber punição. A forma através da qual o infrator é punido deve apresentar-se eficaz, a pena deve ser justa e o seu sucesso alcançado, o que ocorre quando o condenado está recuperado depois de cumprida a sanção imposta, pronto para reincorporar-se à sociedade e não mais agir em desacordo com a lei. O que se vê no Brasil, no entanto, são instituições penitenciárias conhecidas como ―escolas do crime‖ que não cumprem seu papel ressocializante, não contribuindo, portanto, com a redução da criminalidade, problema social que assola o país para todos os lados. PALAVRAS CHAVE: Direitos Humanos. Dignidade da Pessoa Humana. Lei de Execução Penal. Sistema Prisional. Ressocialização.

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo tem por escopo tratar da evolução histórica e a finalidade

da pena, e dos sistemas prisionais, bem como a natureza, objeto e princípios da

execução penal e, por fim, analisará a ressocialização do preso, sua conceituação

* Aluno Concluinte do Curso de Bacharelado da Fesp Faculdades, semestre 2017.2 e-mail: [email protected] ** Doutorado e mestre em Direito Econômico pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Jurídicas da UFPB. Tenente Coronel da Polícia Militar do Estado da Paraíba, Professor da Fesp Faculdades, atuou como orientador desse TCC.

10

na doutrina e perante a Lei de Execução Penal, além de abordar a ressocialização

no sistema penitenciário brasileiro.

Assim, foi feita uma pesquisa bibliográfica acerca do papel do sistema

prisional brasileiro na ressocialização do indivíduo, traçando os principais temas

relacionados com o assunto.

Foram formuladas duas hipóteses: o sistema carcerário brasileiro contribui

para o aumento da criminalidade? E a prisão fornece condições para a

ressocialização do indivíduo?

A situação das penitenciárias atualmente no Brasil é calamitosa, cadeias e

presídios superlotados, em condições degradantes, esse contexto afeta toda a

sociedade que recebe os indivíduos que saem desses locais da mesma forma como

entraram ou piores. É direito de todos os cidadãos, ainda que tenha cometido algum

delito, serem tratados com dignidade e respeito.

Nesse contexto cresce a importância da adoção de políticas que

efetivamente promovam a recuperação do detento no convívio social e tendo por

ferramenta básica a Lei de Execução Penal e seus dois eixos: punir e ressocializar.

Caso contrário, persistirá o triste espetáculo do ―faz de contas‖, com repercussão da

reincidência e desprestígio das normas legais referidas.

O estudo realizado trata do que seria a reintegração de apenados, explana a

situação dos presídios e o que traz a Lei de Execução Penal sobre tal assunto. Os

debates acerca da necessidade e importância da reintegração para os detentos e a

sociedade devem ser revistas como uma maneira de ajudar na recuperação de todo

um sistema.

Desta forma a ressocialização do preso será estudado minuciosamente,

pois, o real intuito da Lei de Execução Penal e os meios possíveis para a

reintegração sejam através da educação, do trabalho e das muitas assistências

tratadas na mencionada lei.

2 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA NO DIREITO PENAL E O TRATAMENTO

PENITENCIÁRIO

O princípio da dignidade da pessoa humana, além de ser um pilar para a

reinserção social dos indivíduos presos, é de grande relevância jurídica no âmbito

constitucional, uma vez que, tal princípio é abortado de forma soberana em relação

11

aos ângulos éticos da personalidade ali consolidados. A Constituição Federal de

1988, em seu artigo 1°, inciso III:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana; (Brasil, 1988).

Assim, tal artigo consagra expressamente o princípio da dignidade como um

dos fundamentos da República Federativa do Brasil e não apenas como um simples

direito fundamental. Sendo a dignidade considerada algo real, não há grandes

dificuldades em se observar muitas situações nas quais é agredida e tratada com

repulsa.

TAVARES (2013) exemplifica duas circunstâncias em que o desrespeito ao

princípio da dignidade humana é notoriamente vislumbrada:

Quando a dignidade é afrontada através da qualidade de vida;

Quando da prática de medidas como a tortura, em todas as suas

modalidades.

Assim, por se tratar de matéria dirigida ao ser humano, a dignidade

apresenta um atributo que o diferencia dos outros entes, relacionando-se com a da

liberdade pessoal de cada indivíduo. O princípio da dignidade da pessoa humana,

então, é fundamentado na ideia de que todos são iguais em dignidade, podendo

afirmar que o homem que a detém, tem que ser respeitado, estando acima de

qualquer valor.

Segundo BITENCOURT, 2012, p 56:

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso XLIX dispõe que ―é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral‖ e também proíbe em seu mesmo artigo, inciso XLVII a aplicação de penas cruéis e degradantes. É de salientar também que o artigo 1º da Lei de Execução Penal dispõe a necessidade de proporcionar condições favoráveis para a harmônica integração social entre os presos, evidenciando-se, assim, a total proibição de tratamentos desumanos que violem a dignidade da pessoa.

As pessoas submetidas aos centros prisionais mantêm todos seus direitos

conservados, exceto àqueles como consequência específica da privação da

liberdade, estendendo-se sua humanidade muito além do fato de estarem presos.

Os agentes prisionais, de igual modo, também são seres humanos e quanto mais

12

esses dois grupos de pessoas reconhecerem e observarem suas humanidades em

comum, tanto mais digna e humanitária será o ambiente da prisão.

No Código Penal art. 38:

Art. 38 - O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e moral. (Brasil, 1940).

E a Lei de Execução Penal dispõe no artigo 40:

―Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos condenados e dos presos provisórios‖. (Brasil, 1984).

2.1 ASSISTÊNCIAS GARANTIDAS ÀS PESSOAS PRESAS

A Lei de Execução Penal em seus artigos 10 e 11 enumeram seis categorias

de assistência que devem ser garantidos aos indivíduos submetidos à pena privativa

de liberdade:

Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso Art. 11. A assistência será: I - material; II - à saúde; III - jurídica; IV - educacional; V - social; VI - religiosa. (Brasil, 1984).

A atividade educacional não pode ser considerada como uma simples

regalia concedida pela administração penitenciária, de forma extra e opcional. Ela

deve ser considerada como um elemento principal em todo conceito, capaz de

oferecer aos presos oportunidades para um melhor aproveitamento do tempo em

que permanece na prisão. A educação tem que oferecer necessidades básicas, a

fim de que todas as pessoas que se encontra na prisão, independentemente do

tempo, possam aprender habilidades tais como ler, escrever, fazer cálculos básicos

que contribuirão para sobreviver no mundo exterior.

A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 205:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu

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preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (Brasil, 1988).

Fica estabelecido que a educação é direito de todos e dever do Estado e da

família, devendo ser promovida e desenvolvida com a colaboração de toda

sociedade, visando um pleno desenvolvimento da pessoa, preparando também para

o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. O artigo 17 da lei de

execução penal diz que a ―assistência educacional compreenderá a instrução

escolar e a formação profissional do preso e do internado‖, enfatizando assim, os

dois diplomas supracitados que a educação é uma das prestações básicas mais

importantes, seja para aquele que se encontra livre, seja para aquele que cumpre

pena na prisão (MIRABETE, 2014).

2.2 FUNÇÕES E FINALIDADE DA PENA

O Código Penal Brasileiro, em seu art. 59, afirma que as penas devem ser

necessárias e suficientes à reprovação e prevenção do crime.

A sociedade pugna por medidas mais severas, aplaude as penas mais

rígidas e satisfaz-se em ver os condenados receberem altas penas. Todavia, tal

raciocínio baseia-se tão somente na teoria absoluta das penas, o caráter retributivo

que deve ser aplicado a quem delinquiu.

No entanto, a função essencial da pena não pode estar restrita à vingança

social, é primordial que seja realizada uma análise sociológica do problema. O

sentimento social de ―pagamento‖ pelo delito cometido trata-se de visão leiga e

superficial, inadmissível frente à gravidade da questão.

O endurecimento das penas seria um inadmissível retrocesso, vez que não

resolve o problema da política pública, isolar o condenado não significa acabar com

a violência eis que a origem desta está na marginalização social e não no quantum

de pena previsto em lei. O indivíduo delinquente não se preocupa em escolher o

delito que lhe trará menos restrição à liberdade, pois os motivos que o levam para a

prática criminosa é que determina qual será o delito cometido.

O Direito Penal encarregou-se de tutelar os bens mais importantes da vida e

como tal, tem o objetivo de fazer com que essa tutela seja eficaz. De nada adianta

aplicar uma pena a um infrator se ele apenas se revolta com a pena aplicada e

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aguarda a oportunidade de novamente delinquir, tal sistema está fadado ao

fracasso.

O estudo social muitas vezes revela um precioso caminho à obtenção dos

resultados almejados com as penas, pois, com o detalhamento das razões que

levaram o sujeito a delinquir e, tendo em vista os aspectos pessoais do infrator, é

possível desenvolver a execução que seja mais adequada ao caso particular,

notadamente quanto aos trabalhos a serem prestados e nos direitos a serem

restritos. Assim, maiores as chances de um positivo resultado ao processo de

recuperação e ressocialização.

É de salientar que todos os grupos de pessoas necessitam de disciplina,

ordem e respeito para que possam conviver harmoniosamente. Estes requisitos são

indispensáveis para a formação íntegra dos indivíduos que vivem em um ambiente

social, onde manifestam e expressam seus pensamentos, familiarizando com as

demais pessoas (MIRABETE, 2014).

Apesar de a execução da pena privativa de liberdade não ter exclusivamente

a finalidade retributiva e preventiva, tem sobretudo, a de reintegração do condenado

na comunidade, prevalecendo assim, a teoria da nova defesa social, que, por sua

vez, visa à prática de uma política criminal mais humana, onde acredita-se que o

preso estará convivendo, normalmente, em perfeita harmonia com a sociedade, no

futuro (MIRABETE, 2014).

Desta forma, deve-se haver uma integração da sociedade, por meio de

órgãos representativos, para que possam contribuir no acompanhamento da

execução das penas, possibilitando em uma maior probabilidade de recuperação do

indivíduo preso, até por que, finda sua pena, este indivíduo terá apoio garantido para

a sua reinserção social, sobretudo no mercado de trabalho.

3 ANÁLISE AO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

As preocupações com o sistema penitenciário atual justificam-se ante os

alarmantes índices que demonstram a sua falibilidade. Quando encarcerado, o

indivíduo perde o respeito a sua dignidade humana e o cárcere é tido apenas como

o local para o pagamento pelo crime cometido, negligenciando-se a real função a

que a pena deveria atingir, qual seja de reconscientização face ao delito praticado e

aos anseios da sociedade para com seus membros.

15

Ainda que devidamente delineados, os objetivos da pena privativa de

liberdade raramente são alcançados, pois as condições das celas são degradantes,

aflitivas, contraproducentes, a pena apresenta alto custo econômico e, além disso, é

ineficaz para a execução do exercício do controle social difuso, pois, apenas leva a

degradação e revolta daqueles que passam pelos presídios, em maioria a ele

retornando.

A má qualidade de vida revela-se pela superlotação; condições sanitárias

rudimentares; alimentação deteriorada; precária assistência médica, judiciária,

social, educacional e profissional; violência incontida permeando as relações entre

os presos, entre estes e os agentes penitenciários; rebeliões, fugas, uso de drogas,

crimes sendo ordenados do interior das penitenciárias, sendo um meio propício para

que o criminoso se aperfeiçoe no universo do crime.

3.1 A SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA

A superlotação carcerária está presente não somente nas penitenciarias e

cadeias públicas, mas sim todo o sistema. As figuras abaixo exemplifica a

quantidade total de presos no Brasil.

Figura 01

Fonte: conjur

16

Figura 02

Fonte: conjur

17

Figura 03

Fonte: g1 globo

18

Essa superlotação está associada a vários fatores tais como, o aumento da

quantidade de prisões efetuadas durante os últimos anos, o atraso do judiciário no

julgamento dos processos, e o descaso do Estado na implantação de medidas que

auxiliem a reintegração do preso na sociedade.

O aumento da quantidade de prisões efetuadas no país está diretamente

ligado às condições sociais injustas encontradas do lado de fora das prisões que

além de auxiliar no retorno do detento a criminalidade leva muitos daqueles que

nunca praticaram delito algum a se envolverem na prática de crimes.

Quanto ao atraso do judiciário um exemplo que demostra tal problema é

quantidade de presos provisórios aguardando uma sentença dentro dos

estabelecimentos prisionais. Na maioria das vezes a justiça demora anos para julgar

determinado caso, e com isso aquele que foi preso preventivamente e que já poderia

estar esperando seu julgamento livre continua ocupando espaços nas prisões.

O fracasso da progressão de regime devido à falta de assistência jurídica, a

escassez de juízes para processar os pedidos e o número pequeno de colônias

agrícolas, industriais e casas de albergado, também contribui para a superlotação

das penitenciárias e cadeias públicas, que são obrigadas a abrigarem o detento até

o aparecimento de alguma vaga no estabelecimento apropriado.

Como consequência disso tudo, surgiram às rebeliões e greves nos

estabelecimentos prisionais do país. Tais meios são as armas que os detentos

utilizam para expressar seu protesto contra a sociedade e contra o sistema

carcerário.

Portanto, esse aglomerado de fatores gera além da superlotação dos

estabelecimentos prisionais, um sentimento de revolta nos presos, causando sérios

efeitos negativos dentro das prisões, e tornando assim praticamente impossível a

tentativa de ressocialização.

3.2 A SAÚDE, HIGIENE E ALIMENTAÇÃO DENTRO DAS PRISÕES

O art. 12 da Lei de Execuções Penais prevê:

―A assistência material ao preso e ao internado consistirá no

fornecimento de alimentação, vestuário e instalações

higiênicas‖.

19

Reportagens e documentários realizados dentro de penitenciárias e cadeias

públicas mostram a falta de higiene encontrada dentro das celas, corredores e até

mesmo nas cozinhas desses estabelecimentos.

Nas celas o que se vê é um amontoado de presos disputando um espaço,

sendo obrigados a conviverem no meio de lixo, insetos e esgotos abertos, sujeitos

aos mais diferentes tipos de doenças.

Segundo Bitencourt (2011, p.166):

Nas prisões clássicas existem condições que podem exercer efeitos nefastos sobre a saúde dos internos. As deficiências de alojamentos e de alimentação facilitam o desenvolvimento da tuberculose, enfermidade por excelência das prisões. Contribuem igualmente para deteriorar a saúde dos reclusos as más condições de higiene dos locais, originadas na falta de ar, na umidade e nos odores nauseabundos.

Além das doenças do corpo, esses locais auxiliam ainda mais para o

desenvolvimento de doenças psicológicas, tais como depressão, demência e

esquizofrenias, levando muitos deles ao suicídio.

A alimentação fornecida dentro das prisões também é precária, em muitos

desses locais, são os próprios presos que fazem sua comida, com os alimentos

trazidos pelos seus familiares e em outras, a alimentação é feita em cozinhas sem

condições mínimas de higiene.

3.3 A VIOLÊNCIA DENTRO DAS PRISÕES

As prisões brasileiras estão sendo dominadas pela violência e pelo

desrespeito. Em vez das regras previstas nas legislações, o que prevalece lá dentro

é a ―lei do mais forte‖.

Os indivíduos quando entram na prisão, são obrigados a seguirem as regras

ditadas pela ―máfia carcerária‖. Isso faz com que os presos, na busca de

sobrevivência nestes estabelecimentos, se adaptem aos comportamentos impostos

pelo denominado código do recluso.

Segundo Bitencourt (2011, p. 186):

A influência do código do recluso é tão grande que propicia aos internos mais controle sobre a comunidade penitenciária que as próprias autoridades. Os reclusos aprendem, dentro da prisão, que a adaptação às expectativas de comportamento do preso é tão importante para seu bem-estar quanto a obediência às regras de controle impostas pelas autoridades.

20

O código do recluso dispõe uma série de regras que devem ser cumpridas

por todos os detentos. Sua eventual desobediência acarreta diversas sanções,

dentre elas o isolamento, o espancamento, as violências sexuais e até mesmo a

morte.

O constante ato de abusos sexuais dentro dos presidios é algo

alarmante. Com a realização desses abusos, muitas doenças sexualmente

transmissíveis são adiquiridas, sendo a principal delas a AIDS.

Um dos princípios mestre de um Estado Democrático de Direito é a

Dignidade da Pessoa Humana que deve ser tido como princípio norteador do

ordenamento e que seja amplamente aplicado. Muito se discute sobre esse

princípio, a verticalização dos direitos fundamentais está cada vez mais solidificada,

contudo, em relação às penitenciárias e ao tratamento do preso, o respeito à

dignidade da pessoa humana é esquecido. Os encarcerados não são tratados como

humanos como previsto pela Carta Magna de 1988, as condições em que estão

depositados nas casas prisionais não oferecem o mínimo para que possa ao menos

impedir a degradação do sujeito e sua personalidade. Abaixo demostra um quadro

comparativo entre as mortes em presídios.

Figura 04

Fonte: ecodebate

21

O atual sistema penitenciário é um atentado ao Direito Fundamental, pois a

maneira como os encarcerados são alojados e recebem tratamento representa um

atentado à dignidade da pessoa.

Esse cenário improdutivo deve ser repensado, não se pode admitir que o

problema das prisões no país se torne uma chaga social e seja negligenciado por

todos. Um método simples e eficiente vem se desenvolvendo no Brasil e no mundo e

apresenta uma interessante proposta de recuperação e ressocialização do preso, é

o método desenvolvido pela Associação de Proteção e Assistência aos Condenados

que pode ser utilizado como base para um novo e eficaz sistema prisional. Não há

presos irrecuperáveis, mas, tão somente, tratamento inadequado.

4 AS PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE E AS BARREIRAS DA

RESSOCIALIZAÇÃO

A pena privativa de liberdade transformou-se em principal meio coercitivo

especialmente a partir do século XIX, pois antes disso as penas corporais eram as

principais formas de punição, servindo as prisões apenas como local provisório para

posterior condenação.

Conforme os dizeres de Cezar Roberto Bitencourt (2011, p. 49): ―A crise da

pena de morte deu origem a uma nova modalidade de sanção penal: a pena

privativa de liberdade, uma grande invenção que demonstrava ser meio mais eficaz

de controle social‖.

Devido à crise que se encontra o Sistema Prisional Brasileiro nos dias

atuais, percebe-se que apesar do tempo e das diversas leis existentes, a pena

privativa de liberdade no Brasil continua não alcançando os objetivos propostos.

A Lei de execução penal em seu artigo 1º dispõe: ―A execução penal tem por

objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar

condições para a harmônica integração social do condenado e do internado‖.

Levando em consideração o disposto neste artigo, nota-se que a execução

penal possui como finalidade, além do efetivo cumprimento da pena, a

ressocialização do indivíduo, porém infelizmente quanto a essa última não tem

produzido os resultados almejados, ocasionando assim a crise que se encontra o

sistema prisional.

22

Ressocializar é dar ao preso o suporte necessário para reintegrá-lo a

sociedade, é buscar compreender os motivos que o levaram a praticar tais delitos, é

dar a ele uma chance de mudar, de ter um futuro melhor independente daquilo que

aconteceu no passado.

4.1 A INTERVENÇÃO MÍNIMA DO DIREITO PENAL

A criação de novos tipos penais gera um aumento na legislação denominada

inflação legislativa.

Com o surgimento de novas normas penais, o direito penal deixou de ser

considerado a última ratio e passou a tutelar bens jurídicos pertencentes a outros

ramos do direito, tendo o princípio da intervenção mínima perdido totalmente o

sentido.

Pelo princípio da intervenção mínima cabe ao legislador deixar de incriminar

qualquer conduta que não tenha grande importância para o direito penal e ao

intérprete incumbe a função de analisar se determinada situação pode ser resolvida

com a atuação de outros ramos da ciência jurídica.

Assim é necessário uma reforma no Direito Penal voltado ao cumprimento

do princípio da mínima intervenção, para que a pena privativa de liberdade seja

utilizada somente nos casos em que não exista outra solução para a proteção do

bem jurídico, evitando assim a prisão desnecessária de muitos indivíduos e

consequentemente o aumento da população carcerária.

4.2 EVOLUÇÃO DO SISTEMA PUNITIVO BRASILEIRO

O sistema penitenciário brasileiro, apesar de todos os déficits apresentados,

vem progredindo a lentos passos pela adoção de medidas mais eficazes a devida

função social da pena.

A publicação da lei 9.714/98 apresentou um grande avanço ao ampliar as

penas restritivas de direitos, de modo a substituir as penas privativas de liberdade

quando não superior a quatro anos e o crime não tiver sido cometido com violência

ou grave ameaça a pessoa, ou ainda, qualquer que seja a pena aplicada quando o

crime for culposo.

Além disso, as penas restritivas de direitos em muitos aspectos mostram-se

mais eficazes à ressocialização do que as penas privativas de liberdade. Nesse

23

ponto, maior destaque as penas de prestação de serviço à comunidade ou a

entidades públicas (art. 43, inciso IV do Código Penal), pois o apenado é incitado a

realizar atividades que o façam refletir sobre os valores adotados e a repensar as

razões que o levaram a delinquir, o tempo que lhe é despendido e o reconhecimento

social que traz satisfação e a vontade do sujeito em resgatar o seu crescimento, o

que em muito se mostra eficaz na redução dos índices de reincidência, eis que todo

processo ressocializador deve partir da vontade do sujeito.

Outra inovação ao ordenamento se deu com o advento da Lei 9099/95 que

demonstrou mudança de postura, comportamento, e mentalidade no campo jurídico,

pois, com o instituto da transação penal, o parquet não está obrigado a oferecer a

denúncia, contra todo e qualquer acusado e diante de qualquer infração penal,

sendo possível, para os crimes cuja pena não exceda a dois anos e obedecidos os

requisitos do art. 76, parágrafo segundo, incisos I, II e III, o representante do

Ministério Público propor ao acusado do delito a transação, ou seja, a substituição

da pena privativa de liberdade, por uma restritiva de direitos ou multa, que uma vez

aceita pelo acusado, será apreciada pelo juiz, a quem cabe homologá-la.

Seguindo a mesma direção, a recente Lei 12.403 de 2011 veio para

amenizar o problema da superlotação das penitenciárias, que prevê pena privativa

de liberdade como ultima ratio. Diante da realidade de que as penas privativas não

ressocializam, a nova lei mostra-se acertada ao prever inúmeras medidas cautelares

que bastem à garantia da instrução penal, deixando a prisão preventiva somente

para os delitos mais graves. Trata-se de uma forma de garantir o devido processo

legal, pois o magistrado quer que o processo gere uma prestação jurisdicional

efetiva ao final, a prisão por si só não basta, trata-se da pena mais grave que o

ordenamento apresenta, por isso, da mesma forma, seu deferimento deverá

preencher um maior número de requisitos e cautelas.

Outra inovação acertada da nova lei foi na exigência de que o juiz ao

receber o Auto de Prisão em Flagrante deva justificar a necessidade de manter o

indivíduo preso, afirmando não ser cabível somente as cautelares previstas, razão

porque converte o flagrante em preventiva. Isso ajudará para que muitos delitos de

pequeno porte não levem ao desnecessário e corrupto encarceramento.

O sistema prisional deve ser repensado, a ressocialização deve ser

preocupação primordial em qualquer política pública. A evolução social do país

precisa acompanhar a econômica, urge a redução dos índices e marginalidade e

24

violência, os condenados devem ser conscientizados da importância que têm para o

país, como mão de obra, como cidadãos e que em nada favorece lhes favorece a

vida do crime.

O alcance da ressocialização do preso demonstra uma grande evolução

social, buscada por toda civilização, que teve como início de cumprimento de pena a

perda dos membros vitais, da própria vida, apedrejamentos e que continua

progredindo, em busca de um dia alcançar o ideal de recuperar aquele que

transgrediu, de fazer com que se arrependa e que reabilite-se a vida em comunidade

como um homem de bem.

Em uma de suas obras sobre as prisões no Brasil, Foucault (1987, P. 262),

ele relata que ―Mas a obviedade da prisão se fundamenta também em seu papel,

suposto ou exigido, de aparelho para transformar os indivíduos. Como não seria a

prisão imediatamente aceita, pois se só o que ela faz, ao encarcerar, ao retreinar, ao

tornar dócil, é reproduzir, podendo sempre acentuá-los um pouco, todos os

mecanismos que encontramos no corpo social? A prisão: um quartel um pouco

estrito, uma escola sem indulgência, uma oficina sombria, mas, levando ao fundo,

nada de qualitativamente diferente. Esse duplo fundamento — jurídico-econômico

por um lado, técnico-disciplinar por outro — fez a prisão aparecer como a forma mais

imediata e mais civilizada de todas as penas. E foi esse duplo funcionamento que

lhe deu imediata solidez. Uma coisa, com efeito, é clara: a prisão não foi primeiro

uma privação de liberdade a que se teria dado em seguida uma função técnica de

correção; ela foi desde o início uma ―detenção legal‖ encarregada de um suplemento

corretivo, ou ainda uma empresa de modificação dos indivíduos que a privação de

liberdade permite fazer funcionar no sistema legal. Em suma, o encarceramento

penal, desde o início do século XIX, recobriu ao mesmo tempo a privação de

liberdade e a transformação técnica dos indivíduos‖.

5 O TRABALHO PRISIONAL COMO MEDIDA RESSOCIALIZADORA

O trabalho, sem dúvida, além de outros tantos fatores apresenta um

instrumento de relevante importância para o objetivo maior da Lei de Execução

Penal, que é devolver a Sociedade uma pessoa em condições de ser útil. É

lamentável ver e saber que estamos no campo eminentemente pragmático, haja

25

vista que as unidades da federação não têm aproveitado o potencial da mão de obra

que os cárceres disponibilizam. (Kuehne, 2013, p. 32).

Esse trabalho é um direito social atribuído a todos os cidadãos e está

expressamente previsto na Constituição Federal em seu art. 6º.

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Com o intuito de não deixar que esse direito seja esquecido dentro das

prisões, a Lei de Execução Penal em seu artigo 41, inciso II, também o elencou o

trabalho como sendo direito do preso, porém infelizmente são poucos os

estabelecimentos que fornecem vagas de trabalho aos reclusos.

Art. 41 - Constituem direitos do preso: II - atribuição de trabalho e sua remuneração;

O trabalho prisional além de ser um importante mecanismo ressocializador,

evita os efeitos corruptores do ócio, contribui para a formação da personalidade do

indivíduo, permite ao recluso dispor de algum dinheiro para ajudar na sobrevivência

de sua família e de suas necessidades, e dá ao detento uma maior oportunidade de

ganhar sua vida de forma digna após adquirir liberdade.

Consideramos também que o trabalho prisional é um meio de remissão de

pena previsto no art. 126, parágrafo 1º, inciso II.

Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena. § 1o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de: II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho.

Além de todos os benefícios trazidos ao preso, o trabalho também é uma

forma de ressarcir o Estado pelas despesas advindas da condenação, sendo

portanto ambos favorecidos.

5.1 O RETORNO À SOCIEDADE E AS VULNERABILIDADES DO EGRESSO

Os obstáculos enfrentados pelos detentos após adquirirem liberdade ainda

são muitos. Infelizmente, vê-se que a sociedade, diante da violência e criminalidade,

se deixa levar pelo sensacionalismo e preconceito criado pelos diversos meios de

26

comunicação e acaba adotando uma postura nada humanista em relação aqueles

que acabaram de sair das prisões e procuram seguir uma vida longe do crime.

Conforme destaca Greco (2011, p. 443): ―Parece-nos que a sociedade não

concorda, infelizmente, pelo menos à primeira vista, com a ressocialização do

condenado. O estigma da condenação, carregado pelo egresso, o impede de

retornar ao normal convívio em sociedade‖.

A principal dificuldade enfrentada por esses indivíduos é ingressar no

mercado de trabalho, pois além da marca de ex-presidiário, a maioria deles não

possuem ensino fundamental completo e nem experiência profissional, sendo

praticamente impossível serem admitidos em algum emprego.

Certo é que, o trabalho e a educação são elementos essenciais na garantia

da dignidade. Por isso, é necessário frisar que o trabalho deve ser encarado no

sistema prisional e pela sociedade como uma atividade que vai contribuir para a

inclusão do condenado no meio social através de sua produtividade e para sua

formação profissional e como ser humano.

Já a educação, e o trabalho são formas de trabalhar com o sentenciado a

sua capacidade de reflexão sobre sua conduta e a sua importância para a

humanidade. Vê-se, portanto que o trabalho e a educação são fundamentais para

apontar novos caminhos e perspectivas ao recuperando após sua saída do sistema

prisional.

Outro aspecto, é que as difusões da microeletrônica e das inovações

tecnológicas estão associadas com a mudança de um modelo baseado no uso

intensivo de uma força de trabalho semiqualificada, para outro baseado no trabalho

qualificado, polivalente e cooperativo. Este quadro passa pela exigência de

mercados mais competitivos, aliado a internalização da economia. Dessa forma

passa-se a exigir um trabalhador que esteja apto a interagir de forma mais intensa

no processo produtivo. Em outras palavras, empregabilidade está diretamente

relacionado à capacidade profissional e aquisição de conhecimentos técnicos e

educação básica.

A educação básica adquire centralidade nesse novo contexto sendo

referência nas políticas dos organismos internacionais, como representantes das

corporações transnacionais. Faz parte dessa lógica uma redefinição do papel do

Estado no sentido de modificar a sua atuação de interventor para gerencial. Por isso,

27

as políticas públicas e, particularmente, a educacional passam a ter como referência

os princípios do setor privado.

5.2 MONITORAMENTO ELETRÔNICO: UMA EFETIVA ALTERNATIVA A PRISÃO?

Diante da situação atual de superlotação carcerária, dos custos do

encarceramento, bem como dos efeitos nefastos da pena de prisão e da corrupção

que corrói o aparelho estatal, faz-se imperiosa a criação de novas possibilidades de

cumprimento das penas. Considera-se que a pura e simples adoção de medidas

repressivas tem se mostrado insuficiente para lidar com o fenômeno da

criminalidade.

Podemos dizer que o objetivo da vigilância eletrônica é a fiscalização por

meios de controle à distância de uma determinada decisão judicial.

Atualmente, existem quatro opções técnicas de monitoramento eletrônico, que

podem ser adaptadas à pessoa em forma de: a) pulseira; b) tornozeleira; c) cinto; d)

microchip subcutâneo.

Depois de intensos debates, entrou em vigor a Lei n.º12.258, de 15 de junho

de 2010, que altera o Código Penal (Decreto-Lei n.º 2.848/1940) e a Lei de

Execução Penal (Lei n.º 7.210/84) e prevê a possibilidade do uso de equipamentos

de monitoramento eletrônico (vigilância indireta) de presos (por adesão voluntária).

A lei permite a imposição da fiscalização, por meio da monitoração eletrônica,

quando for autorizada saída temporária para aquele que estiver sob o regime

semiaberto, ou quando a pena estiver sendo cumprida em prisão domiciliar,

conforme o disposto nos incisos II e IV, do art. 146-B da Lei de Execução Penal.

Desta forma, foi afastada a possibilidade de monitoração eletrônica no cumprimento

dos regimes aberto e semiaberto, das penas restritivas de direitos, do livramento

condicional e da suspensão condicional da pena.

Na prática, embora não tenha constado expressamente, sua aplicação

resultará de uma decisão judicial motivada, nos termos do art. 93, IX, da CF/88 e o

uso do aparelho deve ser autorizado pelos juízes das Varas de Execuções Penais.

Não se pode perder de vista também, embora silente a lei, que o monitoramento

eletrônico só se aplica aos infratores que a ele desejam se submeter. É dizer, só

pode ser realizado com expressa autorização do acusado/condenado, o que no

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nosso ver, seja correto, já que encara o individuo como uma pessoa dotada de

autonomia moral e titular de direitos fundamentais.

No Brasil, o benefício do monitoramento eletrônico pode ser concedido ao réu

somente pelo Juiz das execuções penais, se este achar conveniente, não depende

do consentimento do réu e deve preencher os requisitos impostos pela lei que o

regulamenta, os quais são: apenas nos casos de prisão domiciliar e saída

temporária.

O monitoramento se dá da seguinte forma: o preso ao deixar o presídio

recebe a tornozeleira que é lacrada por funcionários da Secretaria da Administração

Penitenciária (SAP). A partir daí, é entregue ao preso um rastreador que não deverá

ficar mais de 30 (trinta) metros distante da tornozeleira. Caso isto ou o rompimento

do lacre se rompa, um alarme vai disparar na empresa responsável pelo

monitoramento. A empresa então identificará o número da tornozeleira rompida e

avisará a SAP que através de seu setor de inteligência, identificará através do

número que lhe foi passado o preso correspondente a ela e chamará a Polícia Militar

que irá ao local onde a tornozeleira foi rompida para tentar recapturar o foragido.

O Juiz, em respeito ao contraditório, antes de revogar a medida deverá

realizar uma audiência de justificação, onde terá a oitiva o Ministério Público e do

acusado devidamente assistido pelo seu advogado.

Guarabira, cidade paraibana, desenvolveu antes mesmo de serem aprovadas

as leis que se encontram atualmente em vigor, um projeto-piloto de monitoramento

de presos por meio de tornozeleira eletrônica. Na época, cinco presos do regime

semi-aberto participaram como voluntários do projeto desenvolvido pelo Juiz Bruno

Azevedo, titular da Vara de Execuções Penais da comarca, cujo projeto ganhou o

nome de ―Liberdade Vigiada – Sociedade Protegida‖.

5.3 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO MONITORAMENTO ELETRÔNICO

O sistema de monitoramento eletrônico é muito novo, e ainda se encontra

apesar de já utilizado em quase todo o mundo, em evolução, em constante

aperfeiçoamento para sanar eventuais falhas e brechas que ainda estejam

ocorrendo.

Como dito anteriormente, há quem defenda com unhas e dentes tal medida

de vigilância do acusado através de dispositivos eletrônicos.

29

Estes alegam que, o monitoramento traz para o país uma redução

significativa da população carcerária, menor dispêndio econômico, humanidade das

penas e a dignidade humana, redução nas taxas de reincidência, além de evitar a

rotina da dessocialização do encarceramento.

Já os que a repudiam defendem as teses de que o sistema não é infalível e

pode haver violação dos dados por hachers, além da possibilidade de apresentar

defeitos técnicos.

Como disse Greco (2010, p.4):

Não podemos nos esquecer que não existe direito absoluto, a não ser,

como se afirma majoritariamente, o direito em não ser torturado ou de

ser escravizado. Não podemos, ainda, agir com ingenuidade na

defesa de certos princípios fundamentais, sob pena de inviabilizarmos

qualquer projeto, mesmo os benéficos à pessoa humana.

Tudo será realizado da forma mais discreta possível, ou seja, a utilização da

tornozeleira, da caneleira, do cinto ou mesmo a implantação do microchip será feita

de modo a não ofender a dignidade do condenado, evitando-se sua desnecessária

exposição.

Alegam também, que tal medida fere o direito a intimidade e a presunção de

inocência, além de que os portadores do equipamento podem ser facilmente

identificados, o que poderia gerar um preconceito por parte da sociedade. Porém

diante de tudo que foi abordado no presente trabalho nota-se que esta opinião se

torna sem nexo já que os equipamentos são cada vez menos perceptíveis.

6 O DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

Fator fundamental para que o Estado possa oferecer uma execução da pena

que atenda realmente os objetivos da ressocialização do indivíduo. A falta dessas

políticas públicas é um problema que reflete tanto fora como dentro das prisões.

Faz necessário que o governo compreenda que para diminuir o problema

carcerário, deve-se investir em políticas públicas voltadas não somente à execução

penal, mas também nas áreas de educação, saúde, segurança, habitação e geração

de emprego como forma de diminuir as desigualdades sociais existentes na

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sociedade, para que todos tenham mais oportunidades e para que ao término do

cumprimento da pena o preso encontre o apoio necessário para refazer sua vida de

forma digna.

Algumas medidas que devem ser utilizadas são: ampliar as possibilidades

da substituição da pena privativa de liberdade pelas restritivas de direito ou multa,

evitar as prisões cautelares devendo ser impostas somente quando preencherem os

requisitos necessários presentes na lei e não couber outra medida cautelar menos

drástica que o cárcere, etc.

Por último, cabe citar a necessidade de uma política pública realizada dentro

dos estabelecimentos carcerários.

Para tanto é indispensável o fomento do Poder Público para atender as

necessidades estruturais dos presídios, tais como local para que os presos possam

praticar atividades físicas, estudar, trabalhar, fazer suas refeições e por fim uma cela

que atenda as características previstas na Lei de Execução Penal.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desse modo, de acordo com a Lei de Execuções Penais (Lei n° 7.210 de

1984), que regula a execução da pena em nosso país, a mesma, possui um caráter

social preventivo, visa a repressão pela pratica do crime, mas de forma a impedir a

pratica de novos delitos.

Apesar de nosso ordenamento jurídico (art. 1ª da Lei n° 7.210, de 11 de

julho de 1984) garantir a todos os indivíduos a prevalência dos direitos humanos, a

concretização da norma, na prática, não ocorre no interior das penitenciárias.

Porém, o que temos presenciado a cada dia é uma situação de completa

violação das disposições legais, impossibilitando a ressocialização e contribuindo

para a reincidência, ou seja, a aplicação da pena como finalidade da execução da

pena privativa de liberdade não ressocializa o preso. Isto porque, pena privativa de

liberdade retira o preso totalmente do convívio social, o que influi negativamente na

sua readaptação, no seu reingresso a sociedade.

A prisão acarreta inúmeros efeitos negativos sobre a pessoa do encarcerado

(fatores psicológicos e sociológicos), os quais contribuem para a sua permanência

na criminalidade, ou seja, ao invés de ressocializá-lo, reeducá-lo, o aproxima mais

do crime. Observa-se que apesar das disposições legais protetivas, o sistema

31

penitenciário é caótico, sendo corriqueira a violação de direitos humanos nessas

instituições. Nas penitenciárias os presos são maltratados, humilhados, não somente

por outros condenados, como também, por agentes estatais que ao exercerem suas

funções sentem-se no direito de intensificar a punição daquelas pessoas, como se

considerassem insuficientes a pena imposta pelo Estado e competentes para aplicar

sanções de acordo com sua livre conveniência.

A falha do sistema prisional brasileiro além de trazer consequências

negativas ao apenado também gera graves consequências à sociedade. Ora, como

é sabido, as prisões brasileiras, infelizmente, fomentam a criminalidade. Um exemplo

que comprova esta afirmação é a existência de sociedades paralelas dentro das

prisões, como as já famosas organizações criminosas do Brasil, a saber: Comando

Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC), que nasceram dentro das prisões

brasileiras. A sociedade é vítima diante da atuação das organizações criminosas,

pois sofre com os inúmeros delitos cometidos por esta.

Percebe-se que as organizações criminosas existentes nas prisões são um

exemplo das consequências oriundas da inexistência de medidas ressocializadoras

dos presos trazem consequências desastrosas tanto para o encarcerado quanto

para a sociedade.

Convém mencionar, ainda, que o sistema progressivo serve de incentivo

(estímulo) ao apenado, pois um dos requisitos para a progressão de regime é que o

preso tenha durante o cumprimento da pena um comportamento adequando.

O sistema penitenciário precisa passar por uma reforma, com o objetivo de

garantir que a execução da pena se dê da forma como prevista pelo ordenamento

jurídico, preservando a dignidade do preso e permitindo que o mesmo reflita sobre

seus erros e não mais volte a praticá-lo, daí a necessidade de um sistema prisional

racional e humano, que possibilite verdadeiramente a ressocialização do apenado,

pois é impossível recuperá-lo com o atual sistema penitenciário.

O apenado durante o cumprimento da pena não deve ter seus direitos

violentados, pelo contrário, o Estado deve possibilitar que o apenado resgate a sua

dignidade, através da aplicação de medidas educativas, com a inserção de

atividades laborais, acompanhamento psicológico, além de permitir a convivência

familiar.

Cabe ressaltar que, a reforma do sistema penitenciário não é suficiente para

diminuir a criminalidade. Nossas crianças e jovens precisam encontrar nas escolas

32

uma educação adequada a seu desenvolvimento e amparo psicológico, de forma a

evitar que aqueles que nasceram em um ambiente criminoso não sigam os

exemplos que têm em casa ou em sua comunidade, mas que percebam a

possibilidade de vencerem por meios lícitos, se tornando profissionais qualificados e

mantedores do Estado Democrático de Direito.

É certo que a pena privativa de liberdade no Brasil além da sua finalidade

retributiva (retribuir ao apenado o mal injusto por ele praticado), objetiva neutralizar o

agente infrator (prevenção especial negativa) retirando-o do convívio social. No

entanto, a pena não cumpre sua função social que é ressocializar o agente infrator,

ou seja, reeducá-lo para que não volte a delinquir.

THE BRAZILIAN PRISON SYSTEM AND THE DIFFICULTIES OF THE

PROSECUTION OF THE PRISONER

ABSTRACT

The present study intends to stimulate the debate about the serious problem of assistance to the prisoner, egress, based on exclusively bibliographical researches and use of the deductive method for the production of knowledge. The preoccupation with the dignity of the human person at any stage of his life, and without preconceptions, was the great beacon of the choice of the subject here discussed, without losing sight of the benefits capitalized by the social environment before the humanitarian growth of its people, the forerunner of an honest and socially just future. Essentially the study in the first moment will explain the concepts and characteristics of the reintegration, then going on to clarify the positive and negative aspects of this, to narrate the situation in which the prisons generally meet and still bring some considerations of the law No. 7,210, of July 11, 1984 "Penal Execution Law" on the subject and, with the conclusion synthesize the knowledge produced here. One of the problems that most afflict the Brazilian society today is what should be done with that person who acted in an unlawful way, who has transgressed the norms dictated by the state and needs to receive punishment. The way in which the offender is punished must be effective, the punishment must be fair and its success achieved, which occurs when the convicted person is recovered after the punishment imposed is fulfilled, ready to rejoin society and not more act in disagreement with the law. What is seen in Brazil, however, are penitentiary institutions known as "schools of crime" that do not fulfill their resocializing role, thus not contributing to the reduction of crime, a social problem that plagues the country on all sides. KEYWORDS: Human Rights. Dignity of Human Person. Criminal Execution Law. Prison System. Resocialization.

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