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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
AMANDA DE MEDEIROS BEZERRA
A FLEXIBILIZAÇÃO DAS RELAÇÕES TRABALHISTAS –
O Caso das demissões coletivas da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer)
JOÃO PESSOA
2011
AMANDA DE MEDEIROS BEZERRA
A FLEXIBILIZAÇÃO DAS RELAÇÕES TRABALHISTAS –
O Caso das demissões coletivas da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer)
Artigo Científico apresentado à Banca
Examinadora de Artigos Científicos da Faculdade
de Ensino Superior da Paraíba – FESP, como
exigência parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Direito.
Orientador: Prof. Adriano Mesquita Dantas
Área: Direito do Trabalho.
JOÃO PESSOA 2011
B469a Bezerra, Amanda de Medeiros
A flexibilização das relações trabalhistas: o caso das demissões coletivas da Empresa Brasileira de Ambraer) / Amanda de Medeiros Bezerra. – João Pessoa, 2011.
26f.
Artigo (Graduação em Direito) Faculdade de Ensino Superior
da Paraíba – FESP. 1. flexibilização 2. Relações trabalhistas 3. Embraer I. Título.
BC/FESP CDU: 34:331(043)
AMANDA DE MEDEIROS BEZERRA
A FLEXIBILIZAÇÃO DAS RELAÇÕES TRABALHISTAS –
O Caso das demissões coletivas da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer)
Artigo Científico apresentado à Banca
Examinadora de Artigos Científicos da Faculdade
de Ensino Superior da Paraíba – FESP, como
exigência parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Direito.
Aprovado em: ____/____/____
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof. Adriano Mesquita Dantas
Orientador
________________________________________
Membro da Banca Examinadora
________________________________________
Membro da Banca Examinadora
A FLEXIBILIZAÇÃO DAS RELAÇÕES TRABALHISTAS –
O CASO DAS DEMISSÕES COLETIVAS DA EMPRESA BRASILEIRA DE
AERONÁUTICA (EMBRAER)
AMANDA DE MEDEIROS BEZERRA*
ADRIANO MESQUITA DANTAS
RESUMO
A flexibilização vem sendo amplamente debatida nas áreas jurídica e econômica, sendo
evidente a polêmica que envolve o tema. Assim, entender as implicações da flexibilização no
mundo do trabalho exige a contextualização das propostas que vêm sendo desenvolvidas por
esta. Diante do exposto, busca o presente artigo analisar o cenário em questão, verificando as
mudanças ocorridas na sociedade brasileira que culminaram nesta flexibilização - a
terminologia, o conceito e a natureza jurídica desse instituto, traçando o contexto histórico
dos movimentos em que se sustenta o Direito do Trabalho. Por fim, fazer um breve estudo de
caso sobre as dispensas da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), formulando as
principais conclusões lançadas no desenvolvimento deste trabalho. Para tanto, o objetivo
proposto é estudar o conceito e os efeitos da flexibilização das relações trabalhistas. Os
objetivos específicos são: examinar a flexibilização da norma sob o aspecto da necessidade do
mundo globalizado; identificar os benefícios e as questões prejudiciais no tocante aos direitos
dos trabalhadores; comparar o instituto da flexibilização através de pesquisa doutrinaria e
jurisprudência; verificar as condições em que se deram as demissões pela Empresa Brasileira
de Aeronáutica (Embraer). Com a finalidade de responder aos objetivos propostos a
metodologia utilizada será a pesquisa bibliográfica.
Palavras-Chave: Flexibilização. Relações Trabalhistas. Embraer.
* Graduada em Publicidade e Propaganda pela – ASPER; Graduanda em Direito pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP. Correio Eletrônico: [email protected] Juiz Federal do Trabalho do Tribunal Regional do Trabalho da 13ª Região/PB, Professor da FESP Faculdades e Presidente
da Amatra13 - Associação dos Magistrados do Trabalho da 13ª Região. Graduado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Pós-Graduado em Direito do Trabalho e em Direito Processual Civil pela Universidade Potiguar. Doutorando em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidad Del Museo Social Argentino.
4
INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como foco o exame da dinâmica do ordenamento jurídico
trabalhista brasileiro e os recentes ensaios em torno da flexibilização das normas vigentes,
como possível resposta às situações de crise econômica que se abate sobre o país na
atualidade.
A pesquisa justifica-se na medida em que a flexibilização tornou-se um assunto
amplamente discutido e debatido no Brasil, tendo surgido várias questões de ordem
econômica em sentido contrário às disposições legais e constitucionais, todas elas voltadas à
precarização dos direitos e das conquistas alcançadas pelos trabalhadores, o que exige atenção
contra o risco de retrocesso social. Muitas das propostas colocadas neste sentido apontam para
a redução do quadro de pessoal, sendo, pois fundamental que tais negociações ocorram com
observância dos princípios basilares da democracia brasileira. Portanto, atualmente, existe
grande divergência sobre a viabilidade da flexibilização, principalmente, entre a classe
patronal e dos empregados, pois a mesma introduz na norma interna a necessidade de se dar
causa justa ao término da relação de emprego por parte do empregador, podendo acarretar
transformações na relação de emprego.
Metodologicamente, o trabalho monográfico foi construído a partir de pesquisa
bibliográfica – livros, revistas e sites de internet –, através da qual se buscou compreender a
dinâmica do processo e analisá-la à luz do pensamento dos autores que tratam da temática.
É certo que o direito, por também se tratar de uma ciência social, é dinâmico e reage
às alterações sociais do meio em que se vincula – seja por força de revoluções ou por meio da
manifestação pacífica, e não revolucionária, da massa –, mas na maioria das vezes, essas
mudanças acontecem lenta e “naturalmente”. São adaptações das regras com vistas a dar-lhes
eficácia e proporcionar, àqueles aos quais se aplicam, maior participação social.
Somando-se a isto, existe a relevância do regramento das relações sociais trabalhistas
que traz consigo a função social do modelo econômico vigente que leva a submissão dos
trabalhadores às forças econômicas daqueles que detém em suas mãos o poder do capital.
Para entender melhor este processo, antes de adentrar nos conflitos das relações
laborais, faz-se necessário um levantamento histórico e evolutivo destas, já que quando se fala
de flexibilização das normas trabalhistas remete-se a fatores históricos que emanam de crises
sociais, políticas, culturais e econômicas pertinentes a própria história humana.
Não é de hoje que se percebe que o mundo está em plena fase de transformação, sendo
necessário que, além das pessoas, as empresas também se modifiquem e se adequem a este
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novo processo, sobrevivendo nesta acirrada competição travada pela economia global. Neste
contexto, encontram-se profundas revoluções tecnológicas, e, portanto o cenário das relações
de trabalho deve ser percebido a partir das transformações que atingem a estrutura produtiva,
movidas pela interferência do capital.
Doutrinariamente o Direito do Trabalho – que hoje formaliza os direitos do empregado
e do empregador, nas relações laborais privadas – é consequência e produto dos modelos de
relações existentes na sociedade após a Revolução Industrial. Desta forma, com o advento do
modelo liberal de economia e a manutenção social e funcional das estruturas laborais
decorrentes desse modelo político-econômico houve, então, relativa desregulamentação
estatal das relações trabalhistas privadas. Isto significa que o Estado tende a não intervir ou a
intervir minimamente nas relações de mercado e de emprego da iniciativa privada, deixando a
cargo do mercado regular a demanda dos empregos ou mesmo da manutenção do próprio
mercado.
Todas estas inovações, como as mudanças sócio-econômicas e o avanço tecnológico
acabam por influenciar o mundo do trabalho. No entanto, ao lado da necessidade de as
empresas se tornarem competitivas, verifica-se a constante luta pelo combate ao desemprego.
Esta competitividade resulta da busca pela sobrevivência no mercado, pela produtividade e
diminuição dos custos, em especial com mão de obra. O mercado, que tem sua própria lógica,
vem ao encontro destas alternativas, como uma exigência de renovação, para assim conseguir
a sobrevivência.
É inegável que os movimentos sociais, políticos e econômicos, locais e internacionais,
influenciaram a construção da legislação trabalhista brasileira, sustentada na proteção do
trabalhador, seja pela regulamentação legal das condições mínimas da relação de emprego
seja pelas medidas sociais adotadas e implantadas pelo governo e pela sociedade. Neste
contexto, há de se considerar as legislações vigentes e outras fontes do Direito do Trabalho,
que são utilizadas para dirimir as lides no âmbito trabalhista, no atual Estado Democrático de
Direito, paradigma em que o Brasil está inserido nos dias de hoje.
Assim, os conflitos entre trabalhadores e empregadores devem ser solucionados, tanto
na esfera judicial como extrajudicial, principalmente sob a égide da Consolidação das Leis
Trabalhistas e da Constituição da República, tendo em vista a consolidação dos direitos dos
trabalhadores na Carta Magna, no Capítulo dedicado aos Direitos Sociais. Insta observar que,
sob o aspecto do direito coletivo do trabalho, com foco em interesses abstratos de um grupo, a
maior característica do Direito do Trabalho está na busca de soluções e na pacificação dos
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conflitos coletivos do trabalho1, bem como nas formas de representação dos trabalhadores
pelos sindicatos, que vem sofrendo profundas transformações com enfoque na flexibilização
dos direitos dos trabalhadores.
Assim, este estudo justifica-se em função do contexto atual, inserido em um mercado
globalizado e competitivo, cujo avanço tecnológico e organizacional tem papel fundamental
dentro das empresas. É com este enfoque que se pretende compreender o modelo “flexível”
dos direitos dos trabalhadores visando à permanência destes no mercado de trabalho.
Esta flexibilização vem sendo amplamente debatida nas áreas jurídica e econômica, sendo
evidente a polêmica que envolve o tema. Assim, entender suas implicações no mundo do
trabalho exige a contextualização das propostas que vêm sendo desenvolvidas por esta.
Em busca deste entendimento, foram propostos os seguintes objetivos: examinar a
flexibilização da norma sob o aspecto da necessidade do mundo globalizado; identificar as
diferenças entre desregulamentação e a flexibilização; identificar os benefícios e as questões
prejudiciais no tocante aos direitos dos trabalhadores; estudar o instituto da flexibilização
através de pesquisa doutrinária e da jurisprudência; verificar as condições em que se deram as
demissões pela Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer).
Em busca de alcançar seus objetivos, a presente pesquisa utilizou o método dedutivo,
ou seja, partiu de uma construção geral para chegar ao específico. O método escolhido visou
demonstrar, ao longo do projeto, o que já se encontra implícito, esclarecendo as idéias através
de cadeias de raciocínio.
No que tange à parte prática, a técnica de pesquisa adotada foi a da documentação
indireta, a qual abrange a pesquisa bibliográfica e a documental. Foi feito um levantamento
dos dados bibliográficos referentes ao tema proposto, buscando sempre relacioná-los com o
posicionamento jurisprudencial acerca da matéria.
1 ABORDAGEM HISTÓRICA SOBRE O DIREITO DO TRABALHO
O termo trabalho vem do latim tripaliare, cujo significado seria “martirizar com o
tripalium”, um instrumento de tortura composto de três paus ou uma canga que pesava sobre
os animais. (SPOTORNO, 2003).
1 Conflitos coletivos do trabalho ou conflitos on going são as lides eternas, que não se exaurem em um ato, pois as relações entre empregado e empregador sempre se perpetuarão e os interesses econômicos são antagônicos.
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Na Antiguidade Clássica a escravidão constituiu a primeira forma de trabalho, onde o
escravo era considerado coisa, propriedade do dominus, não sendo sujeito de direito. Para
alguns dos grandes filósofos gregos como Platão e Aristóteles, o trabalho envolveria apenas a
força física, tendo um sentido meramente pejorativo, enquanto os homens livres deveriam se
dedicar ao pensamento e à contemplação. Em Roma, a organização do trabalho dos homens
livres, mas de baixo poder aquisitivo, era regida pela locatio conductio, cujo objetivo seria a
regulação das atividades de locação da força de trabalho em troca de pagamento que se
chamava merces ou pensio.
Nos séculos iniciais da Idade Média, verificou-se uma decadência do modelo de
produção baseado no trabalho escravo e, em seu lugar, foi se constituindo o feudalismo ou
servilismo, sistema em que os servos, que não eram homens livres, prestavam serviços nas
terras dos senhores feudais, tendo estes o dever de conceder proteção militar e política
àqueles. Neste contexto, o centro das atividades produtivas deixou de ser a cidade e passou a
ser o campo. Mas isto não significa que tenha havido produção urbana no medievo. Neste
período, os alemães e os escandinavos organizaram a ghilda, um tipo de associação de
socorro mútuo, espécie de república voltada para o disciplinamento de certas atividades
profissionais:
Do Collegium romano e da ghilda nórdica surgiu a Corporação. Tendo sua
denominação derivada do latim: corpus, corporis; era uma organização de
pessoas, que exercendo a mesma arte rudimentar, ofício manual, comércio
ou tarefa, possuíam suas regras, gozavam de iguais direitos, usufruíam os
mesmos privilégios e tinham idênticos deveres. Assim, as corporações foram
sendo organizadas com o fim precípuo de proteger os artesãos, artífices,
obreiros, mercadores, lavrantes etc. (RIOS FILHO, 1960, p. 247).
Ao longo de toda Era Medieval foram surgindo agremiações dessa natureza nos
diversos países da Europa. Corporações de pedreiros livres, ou franco-maçons, surgiram no
século VIII na Itália e por volta do IX na Inglaterra, Alemanha e França. Gozavam de
prestígio e tinham influência junto aos principais círculos de poder, merecendo em diversas
situações a simpatia de soberanos, que viam nelas instrumentos capazes de contribuir para
debilitar o feudalismo – visto que eram geralmente organizações urbanas – em favor do
governo central. Apoiadas por muitas das principais autoridades, puderam ser mais bem
regulamentadas e ganharam mais poder. (SARAIVA, 2009). Ao longo dos séculos seguintes
se disseminaram e se desenvolveram, passando a se tornar conhecidas como Corporações de
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Ofícios, atuando por quase um milênio na maioria dos países europeus e mesmo em suas
colônias.2
Seus regulamentos disciplinavam minuciosamente a atividade profissional – tanto a
formação da mão de obra como a organização da produção – se tornando elemento essencial
da vida social e econômica destes países, pelo menos até o final do século XVII. Mas, a partir
do século XVIII este sistema começou a dar sinais de declínio. Assentado sobre uma rígida
estrutura hierárquica, o sistema corporativo se estabeleceu propiciando muitos privilégios a
seus mestres, assentado sobre regras e normas totalmente alheias à vontade do trabalhador,
sendo aplicadas a todos os seus membros (aprendiz, companheiro e mestre), deixando o
ajuste contratual de ser norma reguladora. Assim, os abusos praticados pelos mestres nas
corporações de ofício e a incapacidade de adaptação do trabalho ali desenvolvido às novas
exigências socioeconômicas incrementaram a transição da sociedade artesanal para o
capitalismo mercantil.
Além disso, o sistema de formação-produção baseado em práticas exclusivamente
empíricas, tornava-se muito avesso à experimentação e à inovação. Este sistema impunha
limites muito estreitos à produção, o que se tornara incompatível com as necessidades da
sociedade urbano-industrial nascente. Esta se fundamentava no novo sistema fabril, cuja
lógica se assentava nas novas manufaturas e nas primeiras “grandes” fábricas, opostas ao
sistema corporativo das pequenas tendas e oficinas. (FONTES, 2011).
Desde então, o sistema corporativo deixara de ser viável diante do novo modelo de
sociedade, tornando-se alvo das reformas liberalizantes que, deflagradas a partir da Revolução
Francesa, começaram nos países mais desenvolvidos da Europa, no final do século XVIII, e
depois se espalharam pelo resto do mundo. Tais movimentos renovadores proclamavam os
ideais libertários do homem e, por extensão, sua total liberdade frente ao exercício do
trabalho. Uma vez que aquelas corporações se colocavam em posição oposta a essa liberdade,
começaram a ser extintas, inicialmente na França (lei Le Chapelier, de 1791) e na Inglaterra
(Combination Act, 1799). Noutros países da Europa e de outras partes do mundo elas ainda se
mantiveram em franca atividade por quase meio século, mas os ideais daquela revolução se
propagaram pelo mundo afora e com o decorrer do tempo, devido ao caráter de privilégio ou
de monopólio que as caracterizavam, essas entidades foram sendo extintas ou amplamente
modificadas. (BENÉVOLO, 1983).
2 Em Portugal estas organizações foram bem mais tardias, começando a surgir apenas no final do século XV e
passando a se irradiar pelas colônias, inclusive pelo Brasil, ao longo do XVI. (FONTES, 2011).
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O liberalismo do século XVIII pregava um Estado alheio à área econômica,
consubstanciado na frase “laissez faire, laissez passer, laissez aller” de Vincent Gournay, e o
Código de Napoleão revelava como norma suprema da relação jurídica a vontade contratual.
Com o advento da Revolução Industrial, modificou-se o setor produtivo e o trabalho
transformou-se em emprego, dando origem à classe operária. Deu-se início a uma fase de
liberalismo econômico quase ilimitado, o que, num ambiente de desregulamentação da
atividade produtiva e das relações de trabalho, conduziu ao desamparo dos trabalhadores, a
parte mais frágil do sistema, visto que estes eram possuidores unicamente de sua força de
trabalho, o que fez surgir uma nova forma de “servidão”. Neste contexto o trabalho, que antes
era de responsabilidade dos homens, principalmente, foi sendo compartilhado com o emprego
generalizado de mulheres e menores, pois, com o advento do maquinismo e a relativa redução
do esforço físico despendido no trabalho, tornou-se possível a utilização dessas meias-forças.
Ao longo de todo o século XIX, na mesma medida em que se consolidava o sistema
de produção fabril, pioravam as condições de vida e de trabalho da classe operária, o que era
realizado sem as mínimas condições de higiene e segurança, motivando a ocorrência de
frequentes acidentes no ambiente laboral e outros graves problemas sociais, o que deu causa a
diversas manifestações populares, principalmente na Inglaterra, França e Alemanha, os países
mais adiantados na industrialização, à época. Neste contexto, nasceu um movimento de
filósofos e juristas voltado para o enfrentamento dos problemas vinculados às relações de
trabalho, que ficou conhecido como a “Questão Social”. Ao mesmo tempo, foi-se construindo
entre os trabalhadores a consciência de que, somente a partir de sua organização, seria
possível mitigar seus problemas. Eles então começaram a reunir-se e a associar-se para
reivindicar uma solução para a questão social, o que exigia o envolvimento direto dos
diversos agentes da sociedade.
Grande contribuição ao trato desta questão deve ser atribuída a Robert Owen que, nas
décadas iniciais do século XIX, propôs a idéia da aplicação de um Direito do Trabalho, com o
objetivo de assegurar aos trabalhadores de todos os cantos do planeta um mínimo de direitos
em termos de condições de trabalho e de vida dignos, em contraposição à filosofia liberal-
individualista, dominante desde Revolução Francesa. “Owen pugnava por uma intervenção
efetiva do Estado nas relações trabalhistas, pelo menos numa tentativa de garantir direitos
básicos, pois, na prática, o trabalhador era a parte menos favorecida da relação e muitas vezes
sem qualquer direito.” (SOUZA, 2006, p. 427).
Neste contexto, ao longo da referida centúria o Estado foi deixando a condição de
abstencionista para a de intervencionista, tomando para si o trato das relações de trabalho, em
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busca do bem-estar social, pois o conflito entre o coletivo e o individual ameaçava a estrutura
da sociedade e sua estabilidade. O ordenamento jurídico das relações de trabalho entrou na
ordem do dia, buscando assumir um sentido de justiça e equilíbrio, além de conferir ao
Direito do Trabalho a condição de norma garantidora da dignidade do ser humano. Foram
deste período conquistas como a revogação da proibição da associação de trabalhadores e a
fixação de um limite máximo de dez horas para a jornada de trabalho na Inglaterra.
Também se ocupou da questão trabalhista a doutrina social da igreja, por meio da
Encíclica Rerum Novarum (1891), de Leão XIII, da Quadragésimo Anno (1931) e da Divini
Redemptores (1931), ambas de Pio XI.
A partir das décadas iniciais do século XX, sobretudo após o término da Primeira
Guerra Mundial, o direito do trabalho ganhou uma nova posição. Surgiu o movimento
chamado constitucionalismo social, que propôs a inclusão de normas de interesse social e de
garantia de certos direitos fundamentais nas constituições dos mais diversos países. A
primeira e verdadeiramente inovadora constituição a tratar do tema foi a do México, de 1917,
que estabeleceu a jornada diária de trabalho de oito horas, o descanso semanal remunerado, o
salário mínimo e a proibição do trabalho de menores de doze anos de idade. Em seguida a
esta, foi promulgada a célebre constituição social-democrática de Weimar, em 1919, que,
após a derrota da Alemanha na Primeira Grande Guerra, representou o colapso da civilização
do século XIX, forçando, não apenas a abdicação do kaiser Guilherme II, mas o próprio fim
da monarquia, instituindo a primeira república alemã. Esta constituição transplantou para o
território alemão os mesmos princípios definidos dois anos antes pela Carta Magna mexicana:
“a limitação da jornada de trabalho, o desemprego, a proteção da maternidade, a idade
mínima de admissão nos trabalhos industriais e o trabalho noturno dos menores na indústria.”
(COMPARATO, 2011).
Fato de suma importância na formação histórica do direito do trabalho foi a
celebração do Tratado de Versalhes, em 1919: “Nas negociações para o estabelecimento da
paz, dentre outras idéias, pensou-se na universalização do trabalho e seu tratamento. Assim
foi criada uma Comissão denominada Conferência de Legislação Internacional do Trabalho,
visando envidar esforços para colocar em prática tais idéias.” (SOUZA, 2006). O tratado
prevê, em sua Parte XIII, a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), com a
função precípua de estudar e promover a melhoria das relações de emprego no âmbito
internacional, por meio da expedição de convenções e recomendações.
A Carta Del Lavoro, instituída em 1927, na Itália, representou outro grande avanço
no trato da questão trabalhista. Instituindo um sistema corporativista-facista que continha as
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diretrizes para uma nova ordem política, econômica e social, este instrumento tinha por base
uma forte interferência estatal sobre a sociedade, com o propósito declarado de promover o
interesse nacional sob controle de um Estado de viés autoritário que, apoiado no discurso da
promoção do interesse nacional, impunha suas regras a todas as pessoas e organizações
sociais. Nos anos seguintes, este sistema serviu de inspiração para outros similares em
Portugal, Espanha e Brasil. (OLIVEIRA, 1982).
Aqui, ensaios de legislação trabalhista já se vislumbravam desde a segunda década do
século XX, quando surgiram propostas de criação de órgãos e instrumentos voltados ao tema,
como o Departamento Nacional do Trabalho (1915), o Código de Trabalho e a Comissão de
Legislação Social (ambos de 1918). Nos anos seguintes, foram criados diversos textos legais
versando sobre esta matéria, a exemplo da lei de acidentes de trabalho (1919), a lei da
estabilidade no emprego, pensão e aposentadoria dos ferroviários (1923) e a dos portuários
(1926), a lei do regime de férias dos comerciários (1925) e a regulamentação do trabalho de
menores (1927). (PINHEIRO, 1997). Entretanto, foi a partir do regime varguista de 1930,
com o abandono da posição liberal para a intervencionista, que a regulamentação das relações
de trabalho passou a ocupar espaço prioritário na agenda do governo. Este estabelecera que
“[...] toda moderna concepção econômica, política e social deverá ter por base a idéia-fato:
trabalho. E todo programa voltado para o mundo novo a constituir será contido nesta fórmula:
defesa, representação e dignificação do trabalho.” (GOMES, 1982, p. 155). Daí desenvolveu-
se um grande esforço no sentido de construir uma organização “científica” para o trabalho,
que fosse capaz de respaldar uma política de amparo ao homem-trabalhador, e buscou-se
estabelecer relações do tipo “trabalho e riqueza” e “trabalho e cidadania”.
Através do Ministério do Trabalho, o governo avançou em direção a um crescente
intervencionismo na questão trabalhista. O Executivo se empenhou, não apenas em organizar
os instrumentos legais então existentes, mas também em criar toda uma legislação de proteção
ao trabalhador, que incluía a adoção da jornada de trabalho de oito horas, o sistema de
previdência social e a proteção ao trabalho da mulher e do menor. Tudo isto culminaria com a
promulgação, em 1º de maio de 1943, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que
desde então passou a servir de âncora normativa para as relações entre os trabalhadores e
empregadores do país. (RODRIGUES, 1991).
Após o término da Segunda Guerra Mundial, foi proclamada, em dezembro de 1948, a
Declaração Universal dos Direitos do Homem, prevendo alguns direitos aos trabalhadores
como férias remuneradas periódicas, lazer, repouso, limitação da jornada de trabalho etc. Este
instrumento teve importante repercussão no ordenamento jurídico brasileiro, sobretudo no
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trato das relações trabalhistas, contribuindo para a edição da Lei nº 605/49, que instituiu o
repouso semanal remunerado, e, anos depois, da Lei nº 4.090/62, que criou o 13º salário.
A partir dos anos 1980, após mais de meio século de intervencionismo estatal
verificou-se uma mudança, em pensamento e prática de política econômica, na direção de um
retorno ao liberalismo, vigente entre as décadas finais do século XIX e as primeiras do XX, e,
neste contexto, o neoliberalismo espalhou-se pelo mundo, inclusive no Brasil. (ARAÚJO,
1988). Sua característica principal é a defesa da liberdade econômica, tanto em termos de
produção como de relações sociais, inclusive no que se refere às relações de trabalho. No
âmbito da política econômica esta doutrina defende as privatizações, a presença mínima do
Estado na economia e, em termos das relações de trabalho, estimula a menor regulação
possível, da flexibilização à total desregulamentação, pregando que o Estado deixe de intervir
nas relações de emprego, os quais passariam a ser regulados pelo mercado. Perde de vista,
por outro lado, que, se assim fosse, o empregado cairia em situação de hipossuficiência, visto
que não teria como se equiparar ao empregador nas relações de trabalho, necessitando,
portanto, da proteção do Estado.
Neste contexto, surge uma nova teoria advogando a necessidade de separar o
econômico do social. Quanto ao primeiro, sobre este prevaleceriam as regras de mercado,
mas em relação ao segundo, haveria o papel regulador do Estado. Isto, em certa medida, se
encontra traduzido na Constituição Brasileira de 1988. Esta traz, já em seu Art. 1º, Inciso IV,
que um dos fundamentos da República reside “[...] nos valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa.” Posto desta forma, é lícito considerar que a Carta Magna dedica ao trabalhador a
condição de mola propulsora da Ordem Econômica, deixando claro seu compromisso com a
questão social, aonde primeiro consagra o valor do trabalho e depois o da livre iniciativa, e
não o contrário. No âmbito da livre iniciativa o país adota o sistema capitalista, onde as
decisões de mercado (preços, produtos etc.) são condicionadas pela lei da oferta e da procura,
entre empresários e empresas, e não pelo Estado. Contudo, como trata em primeiro lugar da
defesa do trabalhador, a lei não afasta a atuação do Estado neste quesito. O Art. 170 da CF,
caput, dispõe que a Ordem Econômica funda-se na “[...] valorização do trabalho humano e na
livre iniciativa [...]” tendo “[...] por fim assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social.” Já o Art. 193 desta norma define que há uma conexão entre os
direitos sociais e a Ordem Social, estatuindo que esta “[...] tem como base o primado do
trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.” (BRASIL, 1988).
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2 A CRISE DO TRABALHO E O DESEMPREGO COMO PROBLEMA SOCIAL
O desemprego é, inegavelmente, o maior problema social da atualidade, tanto no
Brasil como no resto do mundo. O contexto internacional é o de uma sociedade pós-capitalista
e globalizada, que vem aumentando seus níveis de produção à base de reduzidos índices de
absorção de mão-de-obra. Disto resulta que mais de 200 milhões de pessoas estão atualmente
desempregadas em todo o mundo, segundo relatório elaborado pela Organização Internacional
do Trabalho (OIT) em conjunto com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), recentemente divulgado pela imprensa. (G1 ECONOMIA, 2011). Se a
estes forem somados os subempregados, a estimativa total deste contingente ultrapassa a
ordem de 800 milhões de pessoas, “[...] o que equivale a treze vezes a população
economicamente ativa (PEA) brasileira.” (VIEIRA, 2011).
O desemprego estrutural, resultante da extinção de postos de trabalho sem perspectiva
de reaproveitamento dos desempregados em novas atividades no curto prazo, vem afetando
vários países, principalmente os europeus, aonde a população vem envelhecendo nos últimos
tempos. Isto traz à tona uma nova questão social, pois afeta princípios consagrados como o
valor social do trabalho, a redução das desigualdades sociais e a dignidade da pessoa humana.
A revolução tecnológica advinda da informática e da robótica tem provocado a
constante substituição da força de trabalho pelas máquinas e softwares. Com o emprego da
alta tecnologia, há uma necessidade cada vez menor de quadros numerosos de empregados na
produção industrial, e, em contrapartida há um crescimento considerável da produtividade das
empresas. Outro fator que está contribuindo para a eliminação sistemática do trabalho humano
no processo de produção é a competição internacional entre as empresas. Esta, facilitada pela
velocidade e pela agilidade das comunicações e do comércio, provocou um aumento na
concorrência, o que levou as empresas a tomarem iniciativas no sentido de reduzir seus gastos
e os custos de produção, o que inclui a redução do número de empregados, a subcontratação
dos serviços de que necessitam e a reordenação da escala de salários, com a adoção de planos
salariais variáveis conforme a produtividade.
Como assinala Nascimento (2001), a precária situação atual do emprego tende a se
agravar, porque o rápido progresso tecnológico está trazendo consigo um crescimento que não
cria empregos na mesma dimensão em que cresce a oferta de mão de obra, o que gera um
quadro de deterioração das condições laborais, com diminuição do pessoal empregado,
supressão de postos de trabalho e redução dos salários dos trabalhadores menos qualificados.
Ele alerta que não se pode estabelecer uma relação direta entre a liberalização do comércio
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internacional e as perdas de empregos, mas preconiza a adoção de uma política econômica e
social coordenada com o desenvolvimento de programas de proteção ao emprego, que devem
ser apreciados sob o prisma da Justiça Social. O autor observa, ainda, que a atual situação de
desemprego no mundo reduziu sobremaneira a capacidade de negociação dos sindicados,
levando-os a assumir uma posição meramente defensiva, tendo que dedicar mais atenção à
manutenção dos empregos existentes do que a novas conquistas para os trabalhadores, como
também reduziu sua capacidade de negociação coletiva. Para Nascimento (2001):
O movimento sindical perdeu muito do seu poder de negociar, e o seu
número de filiados diminuiu, apesar das ações que desenvolve no sentido de
sua afirmação e da defesa dos interesses dos trabalhadores, alterando-se a
fisionomia das pautas de reivindicações periódicas, antes centrada em
melhores salários, agora em manutenção de empregos, retreinamento e
vantagens sociais mais do que econômicas. (NASCIMENTO, 2001, p. 45).
Neste contexto, surgiu no último quartel do século XX uma corrente, conhecida como
neoliberal, defendendo a idéia de que a redução do desemprego poderia ser alcançada a partir
da formação de um Estado liberal. Esta corrente prega a omissão ou, pelo menos, a mínima
intervenção estatal sobre a atividade econômica, desregulamentando, tanto quanto possível, o
Direito do Trabalho, e reduzindo os níveis de proteção ao trabalhador, a fim de que as
condições de emprego sejam ditadas, basicamente, pelas leis de mercado. Parte da premissa
de que, com a redução dos encargos trabalhistas e das dificuldades para descontratação, os
empregadores encontrariam mais disposição para admitir trabalhadores, ampliando, por esta
via, a oferta de novos postos de trabalho.
Em oposição à corrente neoliberal encontram-se os que postulam a formação de um
Estado social. Os adeptos desta corrente defendem a intervenção estatal nas relações de
trabalho, na medida necessária à efetivação dos princípios formadores da justiça social e à
preservação da dignidade humana, propondo a ampliação dos direitos indisponíveis por meio
dos instrumentos de negociação coletiva.
Entre as duas posições acima tratadas, e apesar de ter como objetivo principal o pleno
emprego – o que pressupõe o combate ao desemprego abusivo –, o Direito do Trabalho
contemporâneo ainda não encontrou meios eficazes para enfrentar tal questão. É preciso,
portanto, enquanto dever e tarefa da sociedade e dos governos, resgatar a dívida social, para
que um mínimo de condição de vida digna esteja ao alcance de todos.
15
3 DINÂMICA DO ORDENAMENTO JURÍDICO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO
EM CONTEXTO DE CRISE ECONÔMICA E ALTO NÍVEL DE DESEMPREGO
Considerando que os primeiros instrumentos da legislação trabalhista brasileira datam
das décadas iniciais do século XX, e que esta se consolidou com a edição da CLT em 1943, é
possível afirmar que todo o contexto histórico de sua formação já foi amplamente modificado.
Nos dias atuais, diante das transformações havidas em todos os campos da vida em sociedade,
novos desafios foram colocados e, em relação a estes, o Direito do Trabalho não deve ficar
indiferente, sem perder de vista, ao mesmo tempo, seu compromisso com a defesa da função
social da atividade econômica, do trabalho e da dignidade da pessoa humana. Ao mesmo
tempo, no Brasil como no exterior, um novo olhar precisa ser lançado sobre o ordenamento
jurídico das relações de trabalho e, nesta perspectiva, a própria normativa afeita ao tema já
busca novos referenciais para balizar o tratamento da questão. O foco do problema reside na
necessidade de mitigar o desemprego, ampliar o mercado consumidor e aproximar a força de
trabalho da nova realidade da globalização, que fez com que os Estados nacionais adotassem
políticas de abertura de mercados e flexibilização das leis de consumo e de trabalho. Cumpre
observar, nesta perspectiva, que a elaboração e a aplicação da regulamentação das relações de
trabalho e das condições em que este é realizado não podem prescindir da intervenção do
Estado, posto que este é, nas sociedades modernas, o mais legítimo representante dos agentes
sociais e o único capaz de induzir as partes a buscarem a solução dos seus conflitos.
Mas o que viria a ser tal flexibilização? Qual seria o seu papel no contexto atual e os
limites de razoabilidade e aceitabilidade da matéria?
É necessário, em tempos de altos índices de desemprego, os agentes sociais buscarem
formas de combatê-lo, e, neste sentido, a flexibilização é colocada como uma possibilidade:
Em função dessa nova realidade, contraposta à rigidez da legislação
trabalhista, surgiu na Europa um movimento de idéias, que cada vez mais
ganha novos adeptos: a flexibilização. Trata-se de um processo de quebra da
rigidez das normas, tendo por objetivo, segundo seus defensores, conciliar a fonte autônoma com a fonte heterônoma do direito do trabalho, preservando,
com isso, a saúde da empresa e a continuidade do emprego [...]. (LEITE,
2000, p. 184).
Mesmo admitindo que o termo “flexibilização” pode ser considerado um caso de
neologismo, pois não se encontra expresso nas obras de nenhum dos dois mais importantes
dicionaristas brasileiros, Antonio Houaiss e Aurélio Buarque de Holanda, é razoável propor
que tal conceito pode estar relacionado aos termos “flexibilidade” e “flexibilizar”. Ambos, por
16
sua vez, relacionam-se à qualidade do que é flexível, maleável, adaptável etc. e à faculdade de
tornar ou tornar-se menos rígido, de poder curvar-se de um lado para outro, dependendo das
exigências do momento. (HOUAISS, 2004). Deste ponto de vista, se aplicada às relações
trabalhistas, a flexibilização poderia ser entendida como uma forma de flexibilizar alguns dos
direitos dos empregados e das obrigações dos empregadores, para atender às necessidades
momentâneas das empresas em situação de dificuldade financeira, no que tange à redução dos
custos de produção, com o objetivo de evitar o aumento do desemprego.
Para Martins (2004) a flexibilização consiste em uma menor rigidez na legislação,
propiciando adaptações no trabalho, em razão das transformações sociais e econômicas. Já
Silva (1998) enfatiza que:
A flexibilidade diz respeito a uma qualidade constante de certo direito,
atributo de adaptabilidade ao meio em que tende a incidir, e o termo
flexibilização, ausente nos dicionários, apesar de mais empregado do
que o antecedente, a um pressuposto de adaptação do direito, algo
relativo a uma qualidade ainda a ser alcançada por ele (SILVA, 1998,
p.75).
Pastore (1995), por seu turno, considera que flexibilizar é criar direitos que sejam
negociáveis. Ao transformarem direitos "não transacionáveis" em direitos "transacionáveis"
abre-se uma enorme lacuna para a negociação e para a contratação coletiva. Sendo assim fica
mais fácil negociar e contratar coletivamente. Esta nova tendência vem em decorrência do
surgimento de novas tecnologias, demonstram a passagem da era industrial para a pós-
industrial, revelando o aumento do setor terciário da economia. (MARTINS, 2005).
Para Cassar (2010), a desregulamentação pressupõe a ausência do Estado (ou o Estado
mínimo), a revogação de direitos impostos pela lei e retirada total da proteção legislativa,
permitindo a livre manifestação de vontade, a autonomia privada para regular a relação de
trabalho, seja de forma individual ou coletiva. A flexibilização, por sua vez, pressupõe a
intervenção estatal, mais ou menos intensa, para proteção dos direitos do trabalhador, mesmo
que apenas para garantia de direitos básicos.
17
Conforme demonstra Nascimento (1997):
A desregulamentação é vocábulo que deve ser restrito ao direito coletivo do
trabalho, não se aplicando ao direito individual do trabalho para qual existe a
palavra flexibilização. Assim, desregulamenta-se o coletivo e se flexibiliza o
individual. Portanto, desregulamentação seria a política legislativa de
redução da interferência da lei nas relações coletivas de trabalho, para que se
desenvolvam segundo o princípio da liberdade sindical e das representações
de trabalhadores (NASCIMENTO, 1997, p. 122).
Neste sentido, não há como confundir desregulamentação com flexibilização, visto
que a primeira é caracterizada pela ausência do Estado na regulação das relações de trabalho.
Também Süssekind (2000, p. 121) diferencia flexibilização de desregulamentação,
advertindo que “[...] nesta o Estado se omite tanto quanto possível, (laisser faire), a fim de
que as condições de emprego sejam ditadas, preponderamente, pela autonomia privada,
segundo as leis do mercado; na flexibilização, o Estado impõe algumas normas de ordem
pública, admitindo, em relação a diversas regras gerais, sua adaptação ou complementação
pela autonomia privada, especialmente por meio da negociação coletiva.”
Pelo exposto, a flexibilização tem sido apontada como uma possível alternativa para o
enfrentamento da crise econômica, entendendo-se que ela pode ser enquadrada no artigo 501
da CLT, e considerando-se a crise econômica como uma “força maior”.
O conceito legal de força maior (CLT, art. 501) autoriza a resposta
afirmativa. É que crise econômica é acontecimento inevitável, em
relação à vontade do empregador, e para a realização da qual este não
concorreu, direta ou indiretamente, principalmente uma crise gerada
em outro país (FUZITA, 2010, p. 49).
Para alguns, estas transformações da economia mundial e o conseqüente
enfraquecimento da política interna de cada país, dos altos índices de desemprego mundial e
de subempregos, é o que justifica a flexibilização de determinados preceitos rígidos ou de
criação de regras alternativas para manutenção da saúde da empresa e da fonte de emprego.
Mesmo assim, alerta Roboredo (2011), um dos princípios basilares da flexibilização é aquele
que, no âmbito do Direito do Trabalho, incentiva os sindicatos a atuarem como representantes
dos empregados e a zelarem pela classe operária. Esse princípio protetor fundamenta-se sobre
outro princípio: o da razoabilidade ou da racionalidade, cuja premissa é que o ser humano age
18
de forma razoável e racional, estruturando suas ações e comportamentos dentro de padrões
preestabelecidos socialmente.
Num cenário internacional de grave crise econômica que, nas últimas décadas, tem
assolado muitos dos países ocidentais, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) tem-se
orientado para a criação de políticas sociais de proteção ao trabalhador, sobretudo no que
respeita à relação de emprego, frente à ameaça de precarização que esta sofre no quadro da
economia mundial globalizada, que aponta para o desemprego estrutural. Neste período, as
normas tradicionais regulamentadoras dos contratos de trabalho vigentes na maioria dos
países, caracterizavam-se por uma simetria formal entre os direitos das partes referente ao
término do contrato de trabalho, sem que qualquer delas tivesse a obrigação de justificar sua
decisão. A diversidade de consequências do exercício do poder discricionário destas partes de
pôr fim à relação de emprego resultou, em alguns países, no surgimento de um movimento
direcionado a assegurar a proteção ao trabalhador.
Dispondo sobre o término da relação de trabalho, a Convenção nº 158 da OIT criou
normas gerais destinadas a proteger o trabalhador contra as dispensas imotivadas. Quanto à
sua definição, o artigo 3 da Convenção esclarece que as expressões “término” e “término da
relação de trabalho” se referem ao término da relação de trabalho por iniciativa do
empregador, restringindo-se, desta forma, a essa hipótese o campo de aplicação material. Não
se compreende aí, obviamente, o término da relação de trabalho por outras causas, tais como
decisão judicial, iniciativa do trabalhador, aposentadoria, acordo entre as partes e força maior.
Conforme a referida Convenção 158, o procedimento para a dispensa coletiva de
empregados, provocada por motivos econômicos, tecnológicos, estruturais ou análogos, pode
Ser resumido na observância das seguintes etapas: a) elaboração de um plano de dispensa
coletiva, com a apresentação de argumentos que a justifiquem; b) especificação do número de
empregados atingidos e período de dispensa; c) alternativas que podem ser adotadas para
evitar tais dispensas (redução dos salários, redução da jornada, transferência de empregados
para outras unidades da empresa etc.); d) readmissão prioritária dos despedidos em caso de a
empresa vir a superar a crise; e) prazo para manifestação do representante dos trabalhadores
sobre o plano; f) comunicação à autoridade competente do plano de dispensa. (OIT, 1982).
É preciso compreender, neste contexto, que as dispensas coletivas, do ponto de vista
social, têm muito maior relevância do que as individuais, tanto porque envolvem muitos
empregados, como porque importam em supressão de empregos e fechamento de empresas,
além de redução de pessoal em larga escala. Em virtude disto, o direito estrangeiro dá muita
ênfase às dispensas coletivas, ao cumprimento, pelas empresas, de procedimentos que visam
19
proporcionar um diálogo entre as partes envolvidas (empregados e empregadores), com o
intuito de, conjuntamente, buscarem alternativas para a dispensa, ou, sendo esta inevitável, se
adotarem medidas que minorem os efeitos da perda do emprego para os trabalhadores.
No Brasil, as hipóteses de flexibilização dos direitos trabalhistas estão claramente
expressos em alguns incisos do artigo 7º da Constituição Federal, devendo-se salientar,
contudo, que a lei laboral é bastante flexível, desde que para garantir ainda mais direitos à
classe trabalhadora, como pode ser observado no caput do referido artigo. In verbis:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:
[...]
VI – irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo
coletivo; [...]
XIII – duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e
quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução
da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; XIV – jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos
de revezamento, salvo negociação coletiva [...]. (BRASIL, 1988).
É neste contexto, e à luz dos dispositivos legais afeitos ao Direito do Trabalho, que a
seguir será comentado o caso da demissão coletiva de trabalhadores que ocorreu na Empresa
Brasileira de Aeronáutica (Embraer), no início de 2009, que, em reação a isto, deu causa ao
ajuizamento de um dissídio coletivo pelo sindicato dos empregados, o que teve ampla
repercussão no meio jurídico trabalhista nacional.
4 O DISSÍDIO COLETIVO Nº. 309/2009: JULGAMENTO DO CASO DAS
DEMISSÕES DA EMBRAER
Segundo Kokol (2010, p. 09), “[...] em fevereiro de 2009, a Embraer demitiu cerca de
4,2 mil funcionários, motivo pelo qual o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos
e Região, o Sindicato dos Metalúrgicos de Botucatu e a Federação dos Metalúrgicos de São
Paulo ajuizaram Dissídio Coletivo no Tribunal Regional de Trabalho da 15º Região.”
Tal dissídio tramitou sob o nº. 309/2009-000-15-00, obtendo a decisão da citada corte
trabalhista, cuja ementa se reproduz abaixo:
20
CRISE ECONÔMICA - DEMISSÃO EM MASSA – AUSÊNCIA DE
PRÉVIA NEGOCAÇÃO COLETIVA – ABUSIVIDADE –
COMPENSAÇÃO FINANCEIRA – PERTINÊNCIA. As demissões
coletivas ou em massa relacionadas a uma causa objetiva da empresa, de
ordem técnico-estrutural ou econômico-conjuntural, como a atual crise
econômica internacional, não podem prescindir de um tratamento jurídico de
proteção aos empregados, com maior amplitude do que se dá para as
demissões individuais e sem justa causa, por ser esta insuficiente, ante a
gravidade e o impacto socioeconômico do fato. Assim, governos, empresas e
sindicatos devem ser criativos na construção de normas que criem
mecanismos que, concreta e efetivamente, minimizem os efeitos da dispensa
coletiva de trabalhadores pelas empresas. À míngua de legislação específica
que preveja procedimento preventivo, o único caminho é a negociação
coletiva prévia entre a empresa e os sindicatos profissionais. Submetido o
fato à apreciação do Poder Judiciário, sopesando os interesses em jogo:
liberdade de iniciativa e dignidade da pessoa humana do cidadão trabalhador
cabe-lhe proferir decisão que preserve o equilibro de tais valores [...].
(BRASIL, 2009).
A referida contenda trouxe à luz a lacuna jurídica pátria em relação à matéria em tela.
“Destarte a demissão coletiva no Brasil não seja regulada, os magistrados aclamaram
ordenamentos jurídicos de outros países que exigem diversos procedimentos a serem tomados
antes da medida adotada pela empresa” (KOKOL, 2010, p. 11).
Por esta via, e vislumbrando o princípio da dignidade humana, da livre iniciativa e da
livre cidadania, bem como o valor social do trabalho, o ministro Maurício Godinho Delgado,
em seu relatório, reputou ofensivo o ato demissional da empresa, posto que não houve prévia
negociação coletiva; este, no entanto, restou vencido. Por outro ângulo há de se destacar que
na decisão final da corte, ainda que os ministros tenham negado o caráter de abusividade de
tais demissões, eles consideraram que, para os casos futuros, a entidade sindical competente
deverá ser previamente comunicada e a negociação coletiva será ato imprescindível para a
validade do referido ato demissional.
Os juízes ressaltaram que estes não devem se basear apenas nas lacunas da lei. E assim
Maurício Godinho Delgado expressa:
[...] Neste espectro de princípios basilares explícitos na Constituição da República
encontram-se os fundamentos para sustentar que a demissão coletiva dos
trabalhadores por empresas, quer sejam por inovações tecnológicas, automações,
crises econômicas etc., quer por supressão de estabelecimentos, por seus impactos
econômicos e sociais, não são imunes a uma rede de proteção dos trabalhadores
atingidos. Esta proteção deve ter outros parâmetros que não aqueles que o Direito do
Trabalho expressamente concede aos trabalhadores que sofrem demissões
individuais (BRASIL, 2009).
21
Vale ainda destacar que o sentenciante atribuiu aos dirigentes da empresa uma total
falta de sensibilidade em relação aos trabalhadores, por não considerarem “[...] que ao longo
de muitos anos colaboraram diuturnamente para que a Embraer se tornasse a empresa de
sucesso que é hoje.” Nas palavras do juiz:
Registro de antemão que esse Tribunal tem sempre reconhecido a
importância de todos os empreendedores e propulsores do desenvolvimento
econômico e social do país, da microempresa às gigantes industriais,
agroindustriais, comerciais, agrocomerciais e empresas de prestação de
serviços. A suscitada empresa genuinamente brasileira, baseada em
tecnologia aqui desenvolvida e incorporada, contando com capital e material
humano nacionais, tornou-se uma âncora internacional na produção de
aeronaves. Recordo-me que por ocasião do embate internacional com
gigantes do chamado mundo desenvolvido, perante a Organização Mundial
do Comércio, o sentimento de todos os brasileiros foi de que Embraer fosse
vitoriosa, como aconteceu finalmente. A par desse sucesso em um mercado
mundial tão competitivo, em que os desafios são enormes, o que deve ser
ressaltado ainda é o fato de oferecer 22.000 postos de trabalho numa época
de duro desemprego. (BRASIL, 2009).
O citado ministro, ao proferir a decisão destacou “[...] que o Direito Coletivo do
Trabalho possui normas e princípios específicos, além de possuir funções justrabalhistas
gerais e específicas, quais seja a geração de criação de normas solucionadoras de conflitos de
natureza coletiva, função sociopolítica e função econômica” (KOKOL, 2010, p. 11). Nas
palavras do magistrado:
Nesse contexto, os diversos instrumentos do Direito Coletivo do Trabalho
são meios de solução de importantes conflitos sociais, que são aqueles que
surgem em torno da relação de emprego (ou de trabalho), ganhando projeção
grupal, coletiva. Além disso, tal ramo do direito é um dos mais relevantes
instrumentos de democratização do poder, no âmbito social, existentes nas
modernas sociedades democráticas. O problema das dispensas coletivas,
portanto, deve ser resolvido dentro desses parâmetros (BRASIL, 2009).
Em relação ao rumoroso e ainda discutido caso da Embraer, Kokol conclui que:
Conquanto tenha sido reformada a sentença proferida em primeira instância
entendendo pela abusividade da demissão coletiva, a Suprema Corte
Trabalhista decidiu que nos casos futuros a negociação coletiva prévia com o
Sindicato obreiro será indispensável, tal decisão representa um marco na
história do Direito Coletivo do Trabalho (KOKOL, 2010, p. 11).
22
Por isso, nos dias de hoje a discussão a respeito da flexibilização das normas laborais é
cada vez mais freqüente e importante, já que a CLT, promulgada há quase sete décadas, já não
atende plenamente às necessidades sociais e ao enfrentamento dos conflitos entre empregados
e empregadores brasileiros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
À guisa de conclusão, é preciso admitir que, em situações de crise econômica, deve-se
evocar ao direito do trabalho um novo olhar, sobretudo no que respeita ao direito coletivo do
trabalho por ocasião da demissão de grandes contingentes de trabalhadores, como foi o caso
dos quatro mil e duzentos funcionários demitidos em 2009 pela Embraer.
Afinal, o direito deve acompanhar as mudanças sociais, conforme ensina André-Nöel
Roth:
Crise que não é somente econômica, mas também crise dos modelos de
regulação sociais tradicionais, ou seja, crise do Estado e de seu instrumento
de regulação privilegiado, o direito, inclusive nos países industrializados
„avançados‟ europeus e norte-americanos (ROTH, 1996, p. 126).
Entretanto, a história mostrou através do episódio em comento, que os instrumentos
legais hoje disponíveis no Brasil não foram suficientemente eficazes para assegurar a
necessária proteção ao trabalhador contra a ameaça do desemprego. A demissão coletiva de
mais de quatro mil funcionários da Embraer foi negociada fundamentalmente para atender aos
interesses da classe patronal, tendo como respaldo a própria Constituição Federal e a
Convenção nº 158 da OIT.
Portanto, revela-se urgente aclamar a valorização dos direitos e garantias fundamentais
dos trabalhadores para servir de escudo contra as crises econômicas. Nesse sentido, é preciso
repensar também o Direito Coletivo do Trabalho como instrumento de efetivação de direitos e
o papel dos entes de representação coletiva dos trabalhadores.
Atente-se, em relação a isto, que no Brasil atualmente tramitam no Poder Legislativo
alguns projetos de lei visando a desregulamentação das relações de emprego e trabalho, como
o de número PL 5483/01, que altera a redação do artigo 618 da CLT, que passaria a constar
com a seguinte redação: “Art. 618 - As condições de trabalho ajustadas mediante convenção
ou acordo coletivo prevalecem sobre o disposto em lei, desde que não contrariem a
Constituição Federal e as normas de segurança e saúde do trabalho.” Trata-se de uma proposta
23
de flexibilização da legislação trabalhista de larga envergadura, algo inédito na história da
nação, que vem atribuir às convenções e acordos coletivos de trabalho alcance superior ao da
própria lei!
Parece ocioso alertar para o risco que representa tal iniciativa, caso não se ofereçam
em contraponto à mesma, as condições minimamente necessárias à proteção do trabalho e da
dignidade de vida dos trabalhadores brasileiros.
THE FLEXIBILITY OF LABOR RELATIONS -
THE CASE OF THE LAYOFFS OF EMPRESA BRASILEIRA DE AERONAUTICA
(EMBRAER)
AMANDA DE MEDEIROS BEZERRA
ADRIANO MESQUITA DANTAS
ABSTRACT
The relaxation has been widely debated in legal and economic, it is evident that the
controversy surrounding the issue. Thus, understanding the implications of flexibility in the
workplace requires the context of the proposals being developed by it. Given the above, this
article seeks to analyze the scenario in question, checking the changes in Brazilian society,
which culminated this flexibility - the terminology, the concept and the legal nature of this
institute, tracing the historical context of movements in which the law holds work. Finally, a
brief case study of the dispensations of Empresa Brasileira de Aeronautica (Embraer),
formulating the key findings released in this work. Therefore, the proposed objective is to
study the concept and the effects of flexibility of labor relations. The specific objectives are:
to examine the relaxation of the rule under the guise of necessity in a globalized world, to
identify the benefits and questions concerning the rights of workers, to compare the flexibility
of the Institute through research doctrine and jurisprudence; check the conditions under which
to have layoffs by the Brazilian Air Force - EMBRAER. In order to meet the objectives the
proposed methodology will be the literature search.
Key-Words: Relaxation. Labor relations. Embrae.
24
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