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FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO JOSÉ JAIR GOMES O INSTITUTO DA COLABORAÇÃO PREMIADA CABEDELO-PB 2015

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FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

JOSÉ JAIR GOMES

O INSTITUTO DA COLABORAÇÃO PREMIADA

CABEDELO-PB

2015

JOSÉ JAIR GOMES

O INSTITUTO DA COLABORAÇÃO PREMIADA

Trabalho de Conclusão de curso em forma de artigo científico apresentado à Coordenação do Curso de Bacharelado em Direito, pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Área: Processo Penal Orientadora: Profª Ms. Juliana Porto Vieira

CABEDELO-PB

2015

G633o Gomes, José Jair. O instituto da colaboração premiada. / José Jair Gomes. – Cabedelo,

2015.

26f. Orientadora: Profª. Esp. Juliana Porto Vieira. Artigo Científico (Graduação em Direito). Faculdades de Ensino Superior

da Paraíba – FESP

1. Colaboração Premiada. 2. Constituição Federal. 3. Código Penal . 4.

Réu. 5. Ordenamento Jurídico. I. Título

BC/Fesp CDU: 343.1 (043)

JOSÉ JAIR GOMES

O INSTITUTO DA COLABORAÇÃO PREMIADA

Artigo Científico apresentado à Banca Examinadora de Artigos Científicos da Faculdade Superior da Paraíba – FESP, como exigência para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

APROVADO EM _____/_______2015

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

Profª Ms. Juliana Porto Vieira ORIENTADOR- FESP

___________________________________________ Profº Esp. Ivo Sérgio Borges da Fonseca

MEMBRO- FESP

___________________________________________

Profº Esp. Roberto Moreira de Almeida MEMBRO- FESP

Dedico a minha família, sobretudo a minha esposa Elaine, pelo apoio e incentivo sem os quais dificilmente teria conquistado esse sonho.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por me manter firme na busca da

realização desse sonho.

Aos meus pais, pela formação humana e de vida transmitidas.

À minha esposa e filha, nas quais todos os dias me inspiravam e me faziam

permanecer firme nesse propósito.

Aos meus irmãos, pelo apoio e direcionamento.

Aos colegas de trabalho, pela paciência e ajuda tantas vezes necessária,

meus sinceros agradecimentos.

Aos mestres, em especial a minha orientadora, todo o respeito e carinho,

pela vocação em transmitir conhecimento.

Aos colegas de curso, meus sinceros votos de sucesso e realização

profissional.

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”

Rui Barbosa (1849-1923)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 09

2 DEFINIÇÃO DA DELAÇÃO PREMIADA ............................................................ 10

3 BREVE HISTÓRICO E NORMATIZAÇÃO DO INSTITUTO ............................... 12

4 PROBLEMAS ..................................................................................................... 17

4.1 A ÉTICA E A DELAÇÃO ...................................................................................... 17

4.2 PROTEÇÃO DO DELATOR ................................................................................ 18

5 DELAÇÃO E O SEU VALOR COMO PROVA .................................................... 21

6 JURISPRUDÊNCIAS .......................................................................................... 22

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................... 24

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 25

9

O INSTITUTO DA COLABORAÇÃO PREMIADA

José Jair Gomes

Juliana Porto Vieira

RESUMO Sabe-se que a delação premiada é um instituto relativamente recente no ordenamento jurídico Brasileiro. Uma vez que, ela pode ser encontrada na: Lei de Crimes Hediondos, Código Penal, Lei dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, Lei dos Crimes de Lavagem de Capitais, Lei dos Crimes contra a Ordem Tributaria e Econômica, dentre outras e tendo a última normatização na Lei 12.850/13, que trada de organização criminosa. Desta forma, o objetivo desse trabalho é analisar o instituto da colaboração premiada. No que tange a metodologia, a pesquisa foi totalmente bibliográfica, onde a bibliografia primaria foram as leis Brasileiras, enquanto que a secundaria foram os autores que discutiam sobre o tema. Desta forma, os tópicos discutidos foram: i) a delação premiada de forma geral; ii) um breve histórico sobre a temática; iii) a ética e a delação; iv) proteção do delator; v) a delação e o seu valor como prova; vi) jurisprudência. Por fim, pode-se concluir que o instituto da delação premiada á algo extremamente indispensável para o ordenamento jurídico Brasileiro, uma vez que abrange todas as áreas. Consequentemente, ele auxilia no processo de investigação na persecução penal, objetivando futura condenação no processo penal. Palavras-Chave: Colaboração Premiada. Constituição Federal. Código Penal. Réu. Ordenamento Jurídico

1 INTRODUÇÃO

O instituto da colaboração premiada, ou anteriormente intitulada como

delação premiada, está presente em nosso ordenamento jurídico através de

diversas leis, tais como: Lei de Crimes Hediondos – nº 8.072/90 (art. 8º, § único),

Código Penal (arts. e 159, §4º, e 288), Lei do Crime Organizado – nº 9.034/05 (art.

6º), Lei dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional – nº 7.492/86 (art. 25, §2º),

Lei dos Crimes de Lavagem de Capitais – nº 9.613/88 (art. 1º, §5º), Lei dos Crimes

contra a Ordem Tributária e Econômica – nº 8.137/90 (art. 16), Lei de Proteção a

vítimas e testemunhas – nº 9.807/99 (art. 14), Nova Lei de Drogas – nº 11.343/06

(art. 41), Lei que trata do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência – nº

12.529/2011 (art. 86) e, mais recentemente, na Lei que trata da definição de

Aluno concluinte do Curso de Bacharelado em Direito da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – Fesp, semestre 2015.2. Email: [email protected] Mestre e Especialista pela em Ciências Jurídico-Criminais pela Universidade de Coimbra – Portugal. Advogada. Professora da FESP Faculdades, atuou como orientadora desse TCC. Email: [email protected]

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organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção

da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal – Lei 12.850/13

(arts. 3º, I, 4º e 5º), esta última institucionalizando o referido procedimento, com o

objetivo de combater a criminalidade organizada, subsidiando a busca da verdade

real no processo penal e consequente responsabilização criminal dos autores de

delitos.

Observa-se que o instituto está presente em diversos diplomas legais. Logo,

torna-se necessário que seja analisado as leis para poder compreender como tal

mecanismo pode ser utilizado no ordenamento jurídico brasileiro. Assim, faremos

uma abordagem sobre as disposições gerais do instituto em tela, como natureza

jurídica, cabimento, titularidade para propor a colaboração premiada, características,

responsabilidades, etc.

A natureza metodológica é qualitativa, tendo em vista o lado social

indiscutível, e as postulações a serem realizadas com base nas fontes pesquisadas.

Acerca dos métodos de abordagem, mostra-se mais adequada a aplicação do

método dialético que, para Mezarroba e Monteiro (2010, p.72), é o processo de

construção de conceitos através da análise de objetos, confrontando-os com rigor

científico, testando suas contradições possíveis, buscando a concretização de uma

nova teoria.

Observando ainda a necessidade de uma interpretação jurídica acerca do

trabalho, adotaremos o método hermenêutico clássico, pois além do próprio

ordenamento jurídico, serão considerados princípios gerais de direito e princípios

constitucionais, visando com isso ampliar a compreensão da norma. Desta forma, O

objetivo geral deste trabalho nos coloca dentro de uma pesquisa bibliográfica,

constituída do levantamento e estudo de considerações teóricas já realizadas a

respeito da temática aqui trabalhada.

2 DEFINIÇÃO DA DELAÇÃO PREMIADA

O termo delação tem como origem do latim delatione e significa “denunciar,

revelar (crime ou delito); acusar como autor de crime ou delito; deixar perceber;

enunciar como culpado; denunciar-se como culpado; acusar-se" (FERREIRA, 1999,

p. 617 apud GREGHI, 2009).

11

Segundo Jesus, (2006, p. 9 apud GRECHI 2009), a delação premiada é a

"incriminação de terceiro, realizada por um suspeito, indiciado ou réu, no bojo de seu

interrogatório (ou em outro ato)". Ainda, segundo o autor, diz-se premiada por ser

"incentivada pelo legislador, que premia o delator, concedendo-lhe benefícios

(redução da pena, perdão judicial, aplicação de regime penitenciário brando, etc)”.

(JESUS, 2006, p. 9 apud GRECHI, 2009).

Nucci (2011, p.716) ao se referir ao instituto, aduz:

[...] significa a possibilidade de se reduzir a pena do criminoso que entregar o(s) comparsa(s). É o ‘dedurismo’ oficializado, que, apesar de moralmente criticável, deve ser incentivado em face do aumento contínuo do crime organizado. É um mal necessário, pois trata-se da forma mais eficaz de se quebrar a espinha dorsal das quadrilhas, permitindo que um de seus membros possa se arrepender, entregando a atividade dos demais e proporcionando ao Estado resultados positivos no combate à criminalidade.

Mas, de forma geral:

dela o premiada ocorre quando um investigado, ao ser interrogado em qualquer fase da investiga o criminal, policial ou em u zo, confessa a autoria de um fato criminoso, e igualmente atribui a um terceiro a participa o no delito como seu comparsa (LESCANO, s/d, p.2).

Assim, a dela o premiada tem como intuito de ‘’prováveis desenlaces

trágicos como poss vel morte da pessoa sequestrada, que se inserem na l gica do

processo que envolve a a o e torsiva mediante sequestro” (LESCANO , s/d, p.3).

Assim, o autor abaixo explica de forma clara o instituto da colaboração premiada.

Logo,

Originado de delatio, de deferre (na sua acep o de denunciar, delatar, acusar, deferir), aplicado na linguagem forense mais propriamente designar a de um delito, praticado por uma pessoa, sem que o denunciante (delator) se mostre parte interessada diretamente na sua repress o, feita perante autoridade udiciária ou policial, a quem compete a iniciativa de promover a verifica o da den ncia e a puni o do criminoso (SILVA, 2001, p. 247 apud ESTRELA, 2010, p. 11-12).

O mesmo autor destaca que a delação não está diretamente relacionada com

a desistência voluntária. Até mesmo por que em algumas situações a delação

premiada não pode ser confundida com a delação espontânea. Já que de forma

geral, a delação premiada ocorre a partir do ponto que o suposto criminoso

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voluntariamente aceita a sua culpa perante a justiça e acaba recebendo alguns

benefícios.

3 BREVE HISTÓRICO E NORMATIZAÇÃO DO INSTITUTO

O instituto em apreço tem seus primeiros registros no Brasil nas Ordenações

Filipinas, no período compreendido entre os nos de 1603 a 1867, passando a fazer

parte propriamente do nosso ordenamento jurídico com a regulamentação da Lei

dos Crimes Hediondos (nº 8.072/90), que instituiu o beneficio para o participante ou

associado à quadrilha ou bando que denunciar à autoridade, possibilitando a sua

desarticulação. Nesse sentido:

Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços (BRASIL, 1990).

O instituto da delação premiada é previsto em nosso ordenamento de forma

abrangente, abarcando além do próprio Código Penal e a já citada Lei de Crimes

Hediondos, diversas leis especiais e de grande importância dentro do ordenamento

jurídico nacional, Lei do Crime Organizado – nº 9.034/05 (art. 6º), Lei dos Crimes

contra o Sistema Financeiro Nacional – nº 7.492/86 (art. 25, §2º), Lei dos Crimes de

Lavagem de Capitais – nº 9.613/88 (art. 1º, §5º), Lei dos Crimes contra a Ordem

Tributária e Econômica – nº 8.137/90 (art. 16), Lei de Proteção a vítimas e

testemunhas – nº 9.807/99 (art. 14), Nova Lei de Drogas – nº 11.343/06 (art. 41), Lei

que trata do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência – nº 12.529/2011 (art.

86).

Pode-se, então, afirmar sobre esse instituto, que se trata de uma ferramenta

jurídica, hoje normatizada, que visa dar dinamismo a persecução penal, seja na fase

inquisitória (inquérito policial), bem como na ação penal, stricto sensu. Sua evolução

em nosso ordenamento pode ser exemplificada através das denominações que já

houve, a saber: denuncia do próprio participante, delação premiada, e, por fim,

colaboração premiada. Esta última, com a intenção de tornar o investigado um

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colaborador para a elucidação dos ilícitos, dando-lhe a chance de ser beneficiado

por essa colaboração, no caso, de uma futura condenação.

Para Greco (2010, p. 685) ao falar sobre a possibilidade de concessão do

perdão judicial, prevista no art. 13 da Lei 9.807/99, decorrente da delação premiada,

aduz:

Pela redação do mencionado art. 13, tudo indica que a lei teve em mira o delito de extorsão mediante seqüestro, previsto no art. 159 do Código Penal, uma vez que todos os seus incisos a ele se parecem amoldar. Contudo, vozes abalizadas em nossa doutrina já se levantaram no sentido de afirmar que, na verdade, a lei não limitou a sua aplicação ao crime de extorsão mediante seqüestro, podendo o perdão judicial ser concedido não somente nesta, mas em qualquer outra infração penal, cujos requisitos elencados pelo art. 13 da Lei nº 9.807/99 possam ser preenchidos.

A última regulamentação desse instituto veio na Lei 12.850/13, que trata da

definição de organização criminosa, sobre a investigação criminal, sobre os meios

de obtenção da prova, também acerca das infrações penais correlatas e o

procedimento criminal. Esse normativo legal assim, estabelece a colaboração

premiada em qualquer fase da persecução penal (art. 3º), admitindo-a como meio de

prova lícito.

Ainda dentro da lei 12.850/13, mais precisamente em seu artigo 4º, temos a

forma de processamento legal, dentro do caso concreto, do instituto. Dessa forma:

Art. 4o O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial,

reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas; II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa; III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa; IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa; V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada. § 1

o Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta a

personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração (BRASIL, 2013).

Anote-se que no mínimo um dos resultados previstos nos incisos de I a V, do

citado artigo, terá obrigatoriamente que ser concretizados. Isto é, a informação alvo

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do instituto e que será fornecida pelo investigado colaborador, deverá, levar a um ou

mais desses resultados previstos em lei, para que o acordo seja efetivado em sua

plenitude.

Continuando com a análise da lei 12.850/13, temos as figuras da Autoridade

Policial e do representante do Ministério Público, como propositores do acordo com

o investigado:

§ 2o Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério

Público, a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (BRASIL, 2013).

Explicito o parágrafo acima, na intenção de definir seus propositores,

contudo fica a cargo da autoridade Judiciária, a aceitação do referido acordo. Para

que se efetive, no caso concreto, alguns dos benefícios ao investigado, este deverá

obrigatoriamente ser chancelado pela autoridade Judiciária, que inclusive, pode

entender pelo indeferimento do acordo firmado entre as partes.

Nesse sentido, o instituto pode apresentar falhas, pois mesmo tendo sido

seguido o rito formal e processual estabelecido em lei, poderá o acordo ser tornado

nulo pela autoridade judiciária, sendo essa impedida por lei de participar de qualquer

forma da elaboração do acordo.

Mesmo o investigado fornecendo as informações que possuía e que

efetivamente contribuíram, como previsto em lei, poderá o investigado não obter os

benefícios a que, em tese, teria o direito, caso a autoridade judiciária entenda faltar

algum dos requisitos legais. Da lei, extrai-se o seguinte:

§ 6o O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para

a formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor. § 7

o Realizado o acordo na forma do § 6

o, o respectivo termo,

acompanhado das declarações do colaborador e de cópia da investigação, será remetido ao juiz para homologação, o qual deverá verificar sua regularidade, legalidade e voluntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de seu defensor. § 8

o O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos

requisitos legais, ou adequá-la ao caso concreto. § 3

o O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao

colaborador, poderá ser suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por

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igual período, até que sejam cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional (BRASIL, 2013).

Cabe ressaltar a possibilidade o acordo versar, não apenas sobre a

condenação, mas também sobre o não oferecimento da denúncia pelo Ministério

Público. A previsão legal diz que:

§ 4o Nas mesmas hipóteses do caput, o Ministério Público poderá deixar de

oferecer denúncia se o colaborador: I - não for o líder da organização criminosa; II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo (BRASIL, 2013).

A colaboração efetiva com a investigação policial e com o processo criminal,

bem como a sua voluntariamente, por parte do investigado, são fatores

preponderantes na obtenção de um ou mais dos resultados previstos nos incisos do

art. 4º, da lei 12.850/13, sendo remetido ao Judiciário para homologação, cabendo

ao Juiz analisar sua regularidade, legalidade e voluntariedade, podendo recusar a

homologação à proposta que não atender aos requisitos legais.

Homologado o acordo, o investigado se compromete a cumprir as exigências

feitas pela Autoridade Policial ou pelo representante do Ministério Público,

devidamente especificadas no bojo do acordo, atendendo rigorosamente o que

prevê a Lei, no sentido de obtenção de informações, depoimentos, localização de

pessoas, identificação de acusados, coleta de provas, etc., que ensejem na busca

pela resolutividade da investigação policial ou processo criminal.

Entretanto, a colaboração premiada não deve ser o principal meio de prova a

ser utilizado contra aquele que está sendo delatado, cabendo apenas servir como

meio de obtenção de materialidade e da autoria do crime, devendo a investigação

policial ou o processo criminal ser instruído com demais provas que demonstrem a

veracidade das informações apresentadas pelo delator, sendo vendado ao Juiz

proferir sentença com fundamento apenas nas declarações prestadas pelo

colaborador, conforme Art. 4º, § 16º da Lei 12.850/13, nenhuma sentença

condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente

colaborador.

Ainda de acordo com a Lei 12.850/13, o investigado colaborador, no

momento em que for firmado o acordo, passa a ter os seguintes direitos:

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Art. 5o São direitos do colaborador:

I - usufruir das medidas de proteção previstas na legislação específica; II - ter nome, qualificação, imagem e demais informações pessoais preservados; III - ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores e partícipes; IV - participar das audiências sem contato visual com os outros acusados; V - não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser fotografado ou filmado, sem sua prévia autorização por escrito; VI - cumprir pena em estabelecimento penal diverso dos demais corréus ou condenados (BRASIL, 2013).

Isso quer dizer que o investigado passará a contar com os meios disponíveis

de proteção estatal, para a preservação de sua integridade física. Necessário

acrescentar que mesmo sendo, atualmente, chamado de colaborador, o acordo é

sobre delação de companheiros de outrora, e que represálias são possíveis de

acontecerem. Nesse sentido, o Estado, além de propor reduções nas aplicações das

penas para o colaborador, também comprometesse em resguardar a integridade

física deste, visando à busca da verdade real.

Chegado o momento de formalização do acordo, a lei 12.850/13, prevê as

seguintes formas:

Art. 6o O termo de acordo da colaboração premiada deverá ser feito por

escrito e conter: I - o relato da colaboração e seus possíveis resultados; II - as condições da proposta do Ministério Público ou do delegado de polícia; III - a declaração de aceitação do colaborador e de seu defensor; IV - as assinaturas do representante do Ministério Público ou do delegado de polícia, do colaborador e de seu defensor; V - a especificação das medidas de proteção ao colaborador e à sua família, quando necessário. Art. 7

o O pedido de homologação do acordo será sigilosamente distribuído,

contendo apenas informações que não possam identificar o colaborador e o seu objeto. § 1

o As informações pormenorizadas da colaboração serão dirigidas

diretamente ao juiz a que recair a distribuição, que decidirá no prazo de 48 (quarenta e oito) horas. § 2

o O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao

delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações, assegurando-se ao defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados os referentes às diligências em andamento. § 3

o O acordo de colaboração premiada deixa de ser sigiloso assim que

recebida a denúncia, observado o disposto no art. 5o (BRASIL, 2013).

Pode-se, intuir, que a intenção do legislador ao preceituar essa formalização,

foi a de trazer a maior segurança possível ao processo penal, uma vez que a

17

utilização desses meios visa à concretização de informações relevantes a

elucidação penal. Logo, esse instituto mostrou-se ser extremamente importante para

o ordenamento jurídico brasileiro.

Dessa forma se observa que o instituto é utilizado pelo estado com o fim de

obter informações que ensejem na desarticulação de organizações criminosas,

identificação dos demais coautores, e consequentemente com a possibilidade de

que seja reavida a totalidade ou parte do produto ou proveito das infrações penais

cometidas pela organização, sendo um mecanismo a ser utilizado cada vez mais

pelos órgãos responsáveis pela persecução criminal, com o fim de que seja

alcançado o maior número possível de autores de delitos praticados sob o manto

das organizações criminosas, que sem o referido instituto, passariam imunes a

responsabilização criminal as quais estão sujeitos, ocasionando uma menor

sensação de impunidade na sociedade.

4 PROBLEMAS

Neste tópico serão discutidos a respeito dos principais problemas que estão

diretamente ligados com a delação premiada, que são: i) ética e a delação e ii) a

proteção do delator.

4.1 A ÉTICA E A DELAÇÃO

Grande discussão na doutrina se trava quanto a questão ética relacionada

ao instituto, posto que para alguns autores o Estado incentiva a traição de amigos de

outrora, para o réu conseguir benefícios no cumprimento de pena em uma futura

condenação penal.

Segundo Zaffaroni (1996, p.45 apud PINTO, 2013):

a impunidade de agentes encobertos e dos chamados ‘arrependidos’ constitui uma séria lesão à eticidade do Estado, ou seja, ao princípio que forma parte essencial do Estado de Direito: [. . .] “o Estado está se valendo da cooperação de um delinquente, comprada ao preço da sua impunidade para ‘fazer usti a’, o que o Direito Penal liberal repugna desde os tempos de Beccaria.

De forma contrária, Aras (2015), questiona:

18

[...] a colaboração premiada é antiética. De que ética tratamos? Quem a define? Tem-se como referência a ética do conjunto da sociedade ou a ética das associações criminosas? Se a esta última se referem os críticos, a resposta é sim, a colaboração premiada é antiética porque fere os deveres de lealdade e de silêncio, mafioso (omertà) ou não, que existem entre delinquentes. Falar demais e “entregar o ogo” ruim para os neg cios. É p ssimo para negociatas. Em algumas organiza ões criminosas, a pena por esse agir “anti tico” a morte. Porém, se tivermos em mira a ética da sociedade em geral, veremos que não há vício moral algum em colaborar com o Estado para a punição de criminosos, a prevenção ou a elucidação de crimes, a salvação da vida de pessoas sequestradas ou a devolução de dinheiros subtraídos da Nação. É isto o que se espera de uma sociedade equilibrada: que seus integrantes cooperem uns com os outros.

Em suma, a ética é um assunto extremamente delicado, principalmente no

que tange ao instituto da colaboração premiada. Pois, trata-se de ate então

parceiros buscando cada um o melhor para si. Colocando assim em cheque

constantemente a questão ética. Mas, mesmo assim a colaboração premiada

continuará sendo utilizada.

4.2 PROTEÇÃO DO DELATOR

De acordo com Robaldo (s/d, p. 2) por um longo tempo não existia qualquer

tipo de proteção para a vítima, testemunha e ao co-réu. Uma vez que muitas vezes o

réu teria que fazer uma escolha: preservar a sua pele ou auxiliar a justiça. Por

causa disso, por um longo tempo a lei do silêncio sempre vencia, tornando isso algo

extremamente natural. Assim,

A Lei no . – ainda que n o satisfatoriamente – fez o quadro mudar, pois com a cria o de programa de assist ncia a v tima, testemunha, acusados e condenados, assegurou-se a essas pessoas um maior grau de confian a, permitindo-lhes colaborar com os rg os p blicos (pol cia, inist rio P blico, udiciário etc) na apura o de certos delitos.

Vale salientar que apenas entra no programa de proteção e assistência a

vítima que colabora efetivamente com as autoridades no processo de apuração dos

fatos. Uma vez que, devem atender as existências legais, segundo Robaldo (s/d).

Desta forma, essas pessoas devem estar sofrendo graves ameaças a sua vida ou

ao seu psicológico.

19

Consequentemente, a Lei 9.807/99 lei discorre a respeito da proteção as

vitimas e testemunhas. Logo, também foi estabelecido segundo Câmara (2013)

normas quer seja federal ou estadual destinado para a proteção das vitimas ou

testemunhas de crimes. Concomitantemente, também foi instituído o Programa

Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas. Portanto,

Esse Programa garante s testemunhas (e aos colaboradores) seguran a por um prazo de anos, prorrogáveis por mais , o que, para os colaboradores, torna-se inviável, vez que tal per odo n o serviria para sanar a situa o de dio geralmente criada por uma dela o. al per odo previsto no parágrafo nico do art. , da ei no . , por m ali n o constam em quais hip teses pode ser prorrogado, ou se a, quais s o as ‘circunst ncias e cepcionais’ que autorizam a prorroga o (CÂMARA, 2013, p. 37).

Câmara (2013, p. 36) afirma que a Lei 9.807/1999 “tem o ob etivo de

promover a presta o das v timas e testemunhas amea adas por sua colabora o

na elucida o de fatos criminosos”. Logo, para poder ter direito a proteção, deve

estar de acordo com os itens abaixo:

. pessoa deve estar coagida ou e posta a grave amea a" (art. 1o, caput). bviamente n o necessário que a coa o ou amea a tenha á se tenham consumado, sendo bastante a e ist ncia de elementos que demonstrem a probabilidade de que tal possa vir a ocorrer. situa o de risco, entretanto, deve ser atual. . situa o de risco em que se encontra a pessoa deve decorrer da colabora o por ela prestada a procedimento criminal em que figura como v tima ou testemunha (art. 1º, caput). ssim, pessoas sob amea a ou coa o motivadas por quaisquer outros fatores n o comportam ingresso nos programas. c) Personalidade e c . s pessoas a serem inclu das nos programas devem ter personalidade e conduta compat veis com as restri ões de comportamento a eles inerentes (art. 2º, § 2º), sob pena de por em risco as demais pessoas protegidas, as equipes t cnicas e a rede de prote o como um todo. Da porque a decis o de ingresso s tomada ap s a realiza o de uma entrevista conduzida por uma equipe multidisciplinar, incluindo um psic logo, e os protegidos podem ser e clu dos quando revelarem conduta incompat vel (art. 10, II, "b"). . É necessário que a pessoa este a no gozo de sua liberdade, raz o pela qual est o e clu dos os “condenados que este am cumprindo pena e os indiciados ou acusados sob pris o cautelar em qualquer de suas modalidades” (art. 2º, § 2º), cidad os que á se encontram sob cust dia do Estado. . ingresso no programa, as restri ões de seguran a e demais medidas por eles adotadas ter o sempre a ci ncia e concord ncia da pessoa a ser protegida, ou de seu representante legal (art. 2º, § 3º), que ser o e pressas em ermo de ompromisso assinado no momento da inclus o (BRASIL, 1999).

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Câmara (2013) discorre que mesmo esse modelo sendo implementado em

1998 acabou protegendo poucas pessoas. Uma vez que, ao comparar com o dos

Estados Unidos, que teve o seu início na década de 70 mais de 7.500 testemunhas

e 9.500 famílias foram protegidas pelo Witness Security Program. Já no Brasil até o

ano de 2013 foram 700 pessoas, enquanto que no nível federal foram apenas 95

pessoas.

No que tange ao colaborador preso, Câmara (2013, p. 40) afirma que a pena

tem que ser reduzida, desde que “os pressupostos de relev ncia, voluntariedade e

eficácia da den ncia se am preenchidos, ficando a dosimetria da redu o ao

encargo do uiz, que analisará o caso concreto”. Entretanto, ressalte-se que:

tal ei n o admite a inser o do r u colaborador em nenhum dos programas de prote o previstos no artigo 7º, posto ser norma destinada apenas s v timas e s testemunhas amea adas, sendo que a prote o prevista ao r u colaborador preso se restringir apenas ado o de medidas especiais de seguran a e prote o integridade f sica do r u, enquanto este estiver encarcerado (CÂMARA, 2013, p. 41)

Todavia, a proteção para o colaborador que está em liberdade podemos

afirmar que “p s receber o perd o udicial, o colaborador n o pode, simplesmente,

sair andando pelas ruas como se nada tivesse ocorrido, pois, conforme á

mencionado, as organiza ões criminosas n o perdoam os traidores e os condenam

morte” (KOBREN, 2006, p. 3 apud CÂMARA, 2013, p. 41).

Logo, vale salientar que:

o r u colaborador fica sob a prote o do Provita, desde que atenda aos requisitos interpostos pela ei . , pois ao desafiar a organiza o da qual foi membro o colaborador corre e acerbado risco de morte, vivendo em constante ang stia pelas amea as que sofreu e necessita da prote o do Estado, considerando-se que at ent o os fortes la os com atividades criminosas era o que o mantinha em “seguran a”. erece, dessa forma, ser protegido de qualquer apro ima o dos membros da quadrilha aos quais delatou em sede de processo criminal (CAMARA, 2013, p. 42).

Depreende-se assim que no ordenamento jurídico pátrio existe legislação

específica com o objetivo da proteção pessoal das testemunhas da persecução

penal, e no instituto em análise, reitera o legislador sua preocupação, dispondo em

ser artigo 5º, I da Lei 12.850/13, ser direito de o colaborador usufruir de medidas de

proteção.

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5 DELAÇÃO E O SEU VALOR COMO PROVA

Leal (2010) afirma que o valor da delação como prova é algo extremamente

discutido no âmbito jurídico brasileiro. O autor até discute tal valoração em outros

países como Estados Unidos e Itália, onde demonstram que lá a delação possui

validade. ssim, “delação durante a confissão embora seja admitida dentro do

ordenamento processual penal, não encontra previsão legal específica em nosso

ordenamento ur dico e por tal, tem para muitos, natureza de prova testemunhal”

(MACHADO, 2014, p.1). Consequentemente:

Tão logo, a delação não é uma prova que exclusivamente sem outras que lhe dêem veracidade possa levar a condenação do co-réu, mesmo por que, do quando da interrogação do confessor, o co-réu não teve a oportunidade de exercer o seu direito do contraditório e da ampla defesa (MACHADO, 2014, p.2).

Lescano (s/d) discorre que a delação é uma prova anômala, ou seja, é

totalmente irregular. Já que acaba violando o principio do contraditório, este

considerado como uma das bases do processo penal. Entretanto, Nucci (2010)

afirma que o principio do contraditório é previsto na Constituição ederal. á que

“n o se pode aceitar, singelamente, a afirma o de que ainda que violadora do

princ pio do contradit rio, a dela o tem sido aceita pelos tribunais. ada que viole

um princ pio constitucional pode ser aceito e assimilado pelo sistema

ur dico”(LESCANO, s/d, p.20).

Desta forma:

É induvidosa a inconstitucionalidade da dela o premiada. E assim o , porque há um ferimento inadmiss vel regra do devido processo legal. á, nas modalidades praticadas, pena sem processo, de todo inadmiss vel. asta ver que, para que se possa homologar o acordo preciso que ha a processo (s dele pode advir pena), o que s se admite depois de oportunizado o contradit rio. a dela o premiada, sem embargo de tudo, n o há processo porque n o há contradit rio e a tamb m reside a inconstitucionalidade (COUTINHO, 2006, p. 7-9 apud LESCANO, s/d, p.20).

Sabe-se que a delação ocorre apenas a partir do momento em que ocorre a

confiss o no perdurar do interrogat rio. Pois, “apesar de ser ato personal ssimo,

quanto figura do r u, termina sendo realizado sem amparo constitucional que

reclama o crivo do contradit rio” (LESCANO, s/d, p.21).

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Em suma, Leal (2010) afirma que a delação pode ser qualificada como prova

quando um terceiro é incriminado, enquanto que a avaliação da prova é um ato

personalíssimo do magistrado. Consequentemente, demonstra que a colaboração

premiada está intrínseca no ordenamento jurídico brasileiro. Pode-se afirmar que ela

tem obtido sucesso no perdurar da sua utilização.

6 JURISPRUDÊNCIAS

Aqui serão discutidas duas jurisprudências referentes à delação premiada. A

primeira foi a decisão do Superior Tribunal de Justiça no HC 97.509, abaixo:

PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. LEGITIMIDADE DOMINISTÉRIO PÚBLICO PARA IMPETRAR HABEAS CORPUS. DELAÇÃO PREMIADA. EFETIVA COLABORAÇÃO DO CORRÉU NA APURAÇÃO DA VERDADE REAL. APLICAÇÃODA MINORANTE NO PATAMAR MÍNIMO. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. ORDEM CONCEDIDA. 1. "A legitimação do Ministério Público para impetrar habeas corpus, garantida pelo art. 654, caput, do CPP, somente pode ser exercida de acordo com a destinação própria daquele instrumento processual, qual seja, a de tutelar a liberdade de locomoção ilicitamente coarctada ou ameaçada. Vale dizer: o Ministério Público somente pode impetrar habeas corpus em favor do réu, nunca para satisfazer os interesses, ainda que legítimos, da acusação" (HC 22.216/RS, Rel. Min. FELIXFISCHER, Quinta Turma, DJ 10/3/03). 2. O sistema geral de delação premiada está previsto na Lei 9.807/99. Apesar da previsão em outras leis, os requisitos gerais estabelecidos na Lei de Proteção a Testemunha devem ser preenchidos para a concessão do benefício. 3. A delação premiada, a depender das condicionantes estabelecidas na norma, assume a natureza jurídica de perdão judicial, implicando a extinção da punibilidade, ou de causa de diminuição de pena. 4. A aplicação da delação premiada, muito controversa na doutrina e na jurisprudência, deve ser cuidadosa, tanto pelo perigo da denúncia irresponsável quanto pelas consequências dela advinda para o delatore sua família, no que concerne, especialmente, à segurança. 5. Competindo ao Órgão ministerial formar o convencimento do juiz acerca da materialidade e autoria delitiva aptas a condenação, ficou consagrado o princípio do nemo tenetur se detegere. Apesar da ausência de previsão expressa do princípio da não autoacusação na Declaração Universal dos Direitos do Homem, em 1948, ficou assegurada a presunção de inocência e o direito absoluto de não ser torturado. 6. O Pacto de São José da Costa Rica consagrou o princípio da nãoautoacusação como direito fundamental no art. 8º, § 2º, g, dispondo que ninguém é obrigado a depor contra si mesmo nem a se declarar culpado. 7. A delação premiada, por implicar traição do corréu ao comparsa do crime, não pode servir de instrumento a favor do Estado, que tem o dever de produzir provas suficientes para o decreto condenatório. 8. Ao delator deve ser assegurada a incidência do benefício quando da sua efetiva colaboração resulta a apuração da verdade real. 9. Ofende o princípio da motivação, consagrado no art. 93, IX, da CF, a fixação da minorante da delação premiada em patamar mínimo sema devida fundamentação, ainda que reconhecida pelo juízo monocrático a relevante colaboração do paciente na instrução probatória e na determinação dos autores do fato delituoso. 10. Ordem concedida para aplicar a minorante da

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delação premiada em seu grau máximo, fixando-se, assim, a pena do paciente em 2 anos e 4meses de reclusão, competindo, destarte, ao Juízo da Execução a imediata verificação acerca da possível extinção da punibilidade pelo cumprimento da pena imposta na Ação Penal 3.111/04, oriunda da Comarca de Estrela do Sul/MG. (STJ, Relator: Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, Data de Julgamento: 15/06/2010, T5 - QUINTA TURMA).

Essa jurisprudência deixou nítido que existem algumas características que

devem ser relevantes no perdurar da analise da delação premiada. Desta forma,

vale salientar que a Lei 12.850 de 2013, que é referente ao crime organizado ajudou

a sedimentar o modelo consensual existente.

Isso também ficou nítido no julgado pelo Superior Tribunal de Justiça, no HC

151918, conforme jurisprudência abaixo:

HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. ATENUANTE DE CONFISSÃO ESPONTÂNEA. APLICAÇÃO. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. BENEFÍCIO DA DELAÇÃO PREMIADA. EXAME DE PROVA. 1. Improcede a alegação de constrangimento ilegal por ausência de aplicação da atenuante de confissão espontânea, porquanto a pena acabou por ser reduzida ao mínimo legal em virtude da referida atenuante genérica. 2. As instâncias ordinárias afastaram a possibilidade de incidência da causa de diminuição de pena prevista no art. 14 da Lei nº 9.807/99 de maneira fundamentada, notadamente porque o paciente se limitou a confessar seu envolvimento no delito e informar sobre a participação do comparsa e de um menor. Tais circunstâncias nãorepresentam auxílio na investigação e elucidação do caso. Perquirir o acerto da decisão exige o revolvimento de provas, impróprio à via estreita via do writ. 3. Ordem denegada. (STJ, Relator: Ministro OG FERNANDES, Data de Julgamento: 11/10/2011, T6 - SEXTA TURMA).

Mesmo sendo um Habeas Corpus e o réu tentou colaborar com a

investigação. Entretanto, ele não poderá ser beneficiado com a redução da pena que

esta prevista na lei 9.807/99. Pois, apenas aqueles que corroboram com o sistema

jurídico podem usufruir dos seus benefícios. Logo, pode ser r observado que:

Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terço (BRASIL, 1999).

Ou seja, o réu não fez o processo de delação completamente,

consequentemente, foi constatado que não merecia ser beneficiado com a redução

da pena. Pois, partir do momento que ele não pratica a delação de forma completa

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acaba perdendo os benefícios intrínsecos a colaboração premiada que já foi

destacado aqui.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se concluir que o instituto da colaboração premiada é algo

extremamente necessário para o ordenamento jurídico Brasileiro. Entretanto faz-se

necessário que seja realizado um aprimoramento na estrutura normativa

aprimorando ainda mais o instituto. Pois, o que utilizamos hoje está ultrapassado e

necessita de reforma urgentemente.

Uma vez sedimentado e continuamente aprimorado, o instituto da

colaboração premiada irá auxiliar cada vez mais na obtenção de resultados eficazes

na busca da condenação de criminosos e desmantelamento de organizações

criminosas que causam lesões imensuráveis a coletividade, gerando uma gama de

benefícios para a sociedade. Concomitantemente, os propósitos das leis que

preveem a delação premiada são as melhores possíveis, pois acabou normatizando

mecanismo, que utilizado devidamente, resulta em resultados significativos na busca

da verdade real na persecução penal, e consequentemente na reparação, se não

total, mas significativa, dos danos causados, a exemplo dos recentes acordos

através do instituto em apreço, na investigação em curso realizada pela Polícia

Federal, através da denominada Operação Lava Jato, obtendo resultados

significativos tanto na condenação dos acusados, como no ressarcimento de

quantias consideráveis aos cofres públicos.

Claro que o problema da colaboração premiada com a conduta ética nunca

deixara de existir, por que é um importante mecanismo de combate ao crime quer

seja organizado ou praticado por aqueles de colarinho branco. Mas, de forma geral

a colaboração pode ser considerada como um instrumento eficaz no processo de

obtenção de prova na fase inquisitorial e processual penal.

Desta forma, a colaboração serve para auxiliar no processo de investigação

de um determinado caso jurídico, em suas diversas vertentes. Consequentemente, a

lei que rege a delação serve também para proteger aqueles que escolhem ser

delatores em troca de benefícios na futura condenação penal, em suma, a

colaboração premiada vem atendendo aos anseios da população, a lei 12.850

tornou-a legal e pode ser estendida a todos os tipos penais.

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THE INSTITUTE OF COOPERATION PRIZE

ABSTRACT It is known that the award-winning snitching is a relatively recent arrival in the Brazilian legal system. Since it can be found at: Heinous Crimes Act, Criminal Code, Law on Crimes against the National Financial System, Law of Crimes of Money Laundering, Law of Crimes against Tributaria Order and Economy, among others. Thus, the aim of this study is to analyze the Institute's award-winning collaboration. Regarding the methodology, the research was totally literature, where the primary literature were Brazilian law, while the secondary were the authors who discuss the theme. In this way, the topics discussed were: i) the plea bargaining in general; ii) a brief history of the issue; iii) ethics and whistleblower; iv) incompatible with the principle of mandatory prosecution; v) whistleblower protection; vi) the whistleblower and its value as evidence; viii) jurisprudence. Finally, it can be concluded that the whistleblower Institute will award something extremely vital for the Brazilian legal system, since it covers all areas. Accordingly, it aids in the case investigation process. Keywords: Collaboration Awarded. Brazilian Federal Constitution. Penal Code. Defendant. Legal System

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dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm>. Acesso

em: 30 set. 2015. _____. Superior Tribunal de Justiça. Penal. Habeas corpus. Roubo circunstanciado. Habeas corpus nº 97.509, da 5ª Turma. Relator: Ministro Arnaldo Esteves Lima. Brasília, DF, 15 jun. 2010. Disponível em: <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/19136024/habeas-corpus-hc-97509-mg-2007-0307265-6/relatorio-e-voto-19136026>. Acesso em: 15 out. 2015. _____. Superior Tribunal de Justiça. Penal. Habeas corpus. Roubo circunstanciado. Habeas corpus nº 151918, da 6ª Turma. Relator: Ministro OG Fernandes. Brasília, DF, 11 out. 2011. Disponível em: <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21051087/habeas-corpus-hc-151918-mg-2009-0211514-9-stj>. Acesso em: 15 out. 2015. CÂMARA, Milena. Delação premiada e a segurança do colaborador. Brasília: IDP, 2013, 46p. Monografia (Especialização), Instituto de Direito Público, Brasília – DF, 2013. ESTRELA, William Rodrigues Gonçalves. Delação premiada: análise de sua constitucionalidade. Taguatinga: FAPRO, 2010, 57p. Monografia – trabalho de conclusão do C urso de Bacharelado em Direito, Faculdade Projeção, Taguatinga – DF, 2010. GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 12. ed. Rio de Janeiro: Editora Impetus, 2010. GREGHI, Fabiana. A delação premiada no combate ao crime organizado. Disponível em: <http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1512243/a-delacao-premiada-no-combate-ao-crime-organizado-fabiana-greghi>. Acesso em: 30 set. 2015. LEAL, Celso Costa Lima Verde. Valor probatório da delação premiada no Brasil e no direito comparado. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2631, 14 set. 2010. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/17390>. Acesso em: 26 out. 2015. LESCANO, Mariana. A delação premiada e a sua (in) validade á luz dos princípios constitucionais. Disponível em: <http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2010_1/mariana_lescano.pdf > . Acesso em: 20 out. 2015. MACHADO, Damares Costa; LIMA, Antonio Henrique Maia. Delação premiada como instituto de perdão judicial. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVII, n. 125, jun 2014. Disponível em: <http://ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14178>. Acesso em: 26 out. 2015.

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