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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO ALEXANDRE MAGNO MOREIRA RIBEIRO CRIMES AMBIENTAIS: DANOS CAUSADOS AO PATRIMÔNIO AMBIENTAL CABEDELO - PB 2015

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

ALEXANDRE MAGNO MOREIRA RIBEIRO

CRIMES AMBIENTAIS: DANOS CAUSADOS AO PATRIMÔNIO AMBIENTAL

CABEDELO - PB

2015

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ALEXANDRE MAGNO MOREIRA RIBEIRO

CRIMES AMBIENTAIS: DANOS CAUSADOS AO PATRIMÔNIO AMBIENTAL

Trabalho de Conclusão de Curso em forma de Artigo científico apresentado à Coordenação do Curso de Bacharelado em Direito, pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito.

Área: Direito Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Sérvulo

Fonseca da Costa.

CABEDELO – PB

2015

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ALEXANDRE MAGNO MOREIRA RIBEIRO

CRIMES AMBIENTAIS: DANOS CAUSADOS AO PATRIMÔNIO AMBIENTAL

Artigo Científico apresentado à Banca Examinadora de Artigos Científicos da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP, como exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Aprovado em_____/_________/2015

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Prof. Esp. Ricardo Sérvulo Fonseca da Costa

ORIENTADOR - FESP

__________________________________________

Profª Ms. Maria do Socorro da Silva Menezes

MEMBRO - FESP

__________________________________________

Profª Ms. Luciana Vilar de Assis

MEMBRO - FESP

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SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................................. ....04

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................04

2 DIREITO AMBIENTAL: CONCEITO............................................................................05

2.1 AUTONOMIA DO DIREITO AMBIENTAL...................................................................08

3 A RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL: CONCEITO.................................09

3.1 RESPONSABILIDADE AMBIENTAL NOS CRIMES RELACIONADOS..................09

3.2 PRINCÍPIOS AMBIENTAIS EM MATÉRIA DE DIREITO PENAL AMBIENTAL....11

3.3 TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA.........................................................................20

4 A RESPONSABILIDADE PENAL NA LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS...............22

4.1 A LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS COMO NORMA PENAL EM BRANCO...........22

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................23

ABSTRACT............................................................................................................................24

REFERÊNCIAS.....................................................................................................................24

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CRIMES AMBIENTAIS: DANOS CAUSADOS AO PATRIMÔNIO AMBIENTAL

Alexandre Magno Moreira Ribeiro*

Ricardo Sérvulo Fonseca da Costa**

RESUMO

O presente artigo científico tem como escopo analisar a aplicabilidade da Lei 9.605/98, que

trata sobre os crimes ambientais decorrentes de danos causados ao ambiente. Esta lei,

chamada de Código Penal Ambiental é bastante significativa para a preservação do meio

ambiente, porque prevê diversas hipóteses criminosas, com aplicação de penas restritivas de

direito, prestação de serviços à comunidade ou multa, consoante o potencial ofensivo do

crime praticado, propiciando, dessa forma, avanços significativos na defesa do meio

ambiente. Apesar da existência da Lei 9.605/98, quanto à sua aplicabilidade, é flagrante a

desobediência daqueles que praticam os delitos nela previstos. Empresários inescrupulosos e

movidos pela ambição preferem pagar as multas a eles impostas, e continuarem a infringir a

Lei, poluindo os rios, mares, atmosfera, destruindo matas, etc. A deficiência na fiscalização

pelos órgãos públicos das três esferas de governo, tem colaborado para este quadro de

desobediência. Portanto, o presente estudo realiza uma abordagem sobre essas questões,

avaliando com profundidade os aspectos jurídicos da responsabilidade penal sobre crimes

ambientais, notadamente de pessoas jurídicas, pois, são estes os que mais agridem o meio

ambiente. Procurando compreender melhor este tema, pesquisou-se nas diversas legislações

que tratam do assunto em questão, tais como doutrinas, Constituição Federal de 1998,

Decretos e jurisprudências.

Palavras-chave: Direito Ambiental. Lei nº 9605/98. Crime Ambiental.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, não se pode definir o meio ambiente sem levar em conta a interação

existente entre homem e natureza. O antropocentrismo clássico não mais predomina, a partir

do qual o meio ambiente era considerado como objeto de satisfação das necessidades do

homem. É preciso reconhecer o meio ambiente como valor autônomo, como um dos polos da

relação de interdependência homem-natureza, pois sem ela o homem não teria como

sobreviver.

Nos séculos XIX e XX, impulsionado pela ideologia liberal-individualista

predominante à época, o sentimento humano de apropriação, somados aos avanços

tecnológicos e científicos da Revolução Industrial e da pós-Revolução Industrial, assim como,

______________

* Concluinte do Curso de Direito da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP. 2015. 2. E-.mail:

[email protected].

** Advogado, especialista, professor, atuou como orientador nesse TCC.

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o consumismo exagerado e compulsivo de uma considerável parte da população,

intensificaram a exploração dos recursos naturais, de forma inconsequente e predatória.

Portanto, a crise ambiental é reflexo dessa contraposição entre os interesses do homem – o

desenvolvimento – e da natureza – a preservação e o equilíbrio ambientais.

A partir da década de 1970, a conscientização do esgotamento dos recursos naturais,

da agressão do meio ambiente praticada pelo homem, do risco de catástrofes ambientais e da

incompatibilidade ente o modelo econômico capitalista e a manutenção da qualidade de vida,

gerou a necessidade de inserir o meio ambiente no rol dos direitos merecedores de proteção

jurídica, com o estabelecimento de um aparato legislativo capaz de conter os excessos

praticados contra a natureza e de gerir os riscos ambientais.

Foi preciso, portanto, a natureza sinalizar através de fenômenos como o aumento da

temperatura global, os degelos das calotas polares, as irregularidades das estações e outros

inúmeros eventos, para que a humanidade despertasse para a necessidade de preservar o meio

ambiente, passando a utilizar dos seus recursos naturais de maneira sustentável, mesmo que

ainda parcialmente. Assim, de forma gradual, a sociedade vem sendo conscientizada sobre a

importância de cuidar do meio ambiente. Quer por ações educativas, quer por leis específicas.

Outras leis foram criadas em defesa do meio ambiente, tais como a Lei 9.605/98 9 (lei

de crimes ambientais), lei 9.985/2000, lei 11.105/2005, lei 9.795/99, que trata da Política

Nacional de Educação Ambiental, entre outras. Vale ressaltar, que não apenas na área

jurídica, a degradação do meio ambiente tem sido combatida em todos os fronts, os debates

têm se intensificado em todas as áreas do conhecimento, a consciência ambiental tem crescido

bastante na população, mas não bastam estas coisas, é necessário conseguir “sensibilizar” a

todos sobre esse problema, que afeta a humanidade ameaçando a sua própria existência no

planeta. O presente artigo, elaborado com base na técnica de pesquisa bibliográfica, tem como

foco principal as questões ambientais, a legislação ambiental e seu desenvolvimento, e a Lei

9.605/98 e seus desdobramentos.

2 DIREITO AMBIENTAL: CONCEITO

Na atualidade, o tema meio ambiente desperta o interesse de todos, nas mais diversas

áreas do conhecimento em virtude de sua relevância, pois, finalmente, a humanidade

conscientizou-se da necessidade de preservá-la, pois, trata-se de salvar a sua própria

existência na Terra. É uma questão de vida morte. O meio ambiente é de relevância

imensurável, pois, para que se possa existir necessita-se dele, e é por isso que deve-se, a todo

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custo, preservá-lo, de forma que não seja agredido a ponto de torná-lo impróprio para a

sobrevivência dos seres vivos.

Tamanha sua importância e imprescindibilidade, que ele tem conceito legal fixado na

Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, conhecida com Lei da Política Nacional do Meio

Ambiente, que em seu art. 3º, inciso I, prescrevendo-o como “o conjunto de condições, leis,

influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida

em todas as suas formas" (BRASIL, 1981).

Assim como o meio ambiente, o Direito Ambiental não possui um conceito único

acerca de sua definição. O Direito Ambiental, portanto, tem o objetivo de abordar toda a

matéria pertinente à proteção ambiental. Segundo Machado (2010, P.54):

O Direito Ambiental é um direito sistematizador, que faz a articulação da legislação,

da doutrina e da jurisprudência concernentes aos elementos que integram o

ambiente. Procura evitar o isolamento dos temas ambientais e sua abordagem

antagônica.

São muitos os conceitos de direito Ambiental atribuído pela doutrina, podendo ser

conceituado como o “conjunto de normas jurídicas que regem a preservação, melhoria ou

recuperação de um ambiente sempre que este for meio para garantir a sadia qualidade de vida

humana e a manutenção da vida em todas as suas formas” (FURLAN; FRACALOSSI, 2010,

p. 112).

Direito ambiental pode ser definido como um direito que se desdobra em três vertentes

fundamentais, que são constituídas pelo direito ao meio ambiente, direito sobre o meio

ambiente e direito do meio ambiente. Tais vertentes existem, na medida em que o Direito

Ambiental é um direito humano fundamental que cumpre a função de integrar os direitos à

saudável qualidade de vida, ao desenvolvimento econômico e à proteção dos recursos

naturais. Mais do que um direito autônomo, o Direito Ambiental é uma concepção de

aplicação da ordem jurídica que penetra, transversalmente, em todos os ramos do Direito. O

Direito Ambiental, portanto, tem uma dimensão humana, uma dimensão ecológica e uma

dimensão econômica que devem harmonizar sob o conceito de desenvolvimento sustentável

(ANTUNES, 2010).

Segundo Piva (2010), “o Direito Ambiental é o ramo do direito positivo difuso que

tutela a vida humana com qualidade através de normas jurídicas protetoras do direito à

qualidade do meio ambiente e dos recursos ambientais necessários ao seu equilíbrio

ecológico”. De acordo com os conceitos acima citados, tornam-se claros, de acordo com suas

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peculiaridades, os aspectos fundamentais de qualquer definição de Direito Ambiental - um

conjunto de normas, regras e princípios, destinados à proteção do meio ambiente.

De acordo com Furlan e Fracalossi (2010), para fins didáticos é possível visualizar a

seguinte evolução cronológica do Direito Ambiental brasileiro:

1- Fase individualista ou da exploração desregrada. Desde o descobrimento do Brasil

até meados do século XX, o meio ambiente teve escassa proteção jurídica. Tratou-se de uma

“fase da exploração desregrada ambiental, onde a conquista de novas fronteiras (agrícolas,

pecuárias e minerárias) era tudo que importava na relação homem-natureza. Tinha na omissão

legislativa sue traço preponderante, relegando-se eventuais conflitos de cunho ambiental

quando muito ao sabor do tratamento pulverizado, assistemático e privatístico dos direitos de

vizinhança”.

A proteção ambiental era feita de uma forma mediata, indireta e reflexa, não sendo o

meio ambiente tutelado de modo autônomo, mas como um verdadeiro bem provado. Nesta

fase individualista, o homem aparecia como um verdadeiro déspota, senhorio de tudo,

pautando sua relação com o meio ambiente numa concepção egoísta e meramente econômica.

2 – Fase fragmentária. Após esse período e a partir da década de 60, o legislador

começou a se preocupar mais com os recursos naturais, mas não com o meio ambiente de uma

maneira unificada. Existia apenas uma proteção legal esparsa, fragmentada. O ordenamento

jurídico tutelava os bens ambientais que tinham alguma conotação econômica. O meio

ambiente restava protegido de uma forma analítica e não englobadamente. Destacam-se, nesta

fase, as seguintes normas:

Código Florestal de 1965 – Lei 4.771, de 15.09.1965;

Código de Caça de 1967 – Lei 5.197, de 03.01.1967;

Código de Pesca de 1967 – Decreto-lei, de 28.02.1967;

Código de Mineração de 1967 – Decreto-lei 227, de 28.02.1967;

Lei de Responsabilidade por Danos Nucleares de 1977 – Lei 6.453, de 17.10.1977;

Lei do Zoneamento Industrial nas áreas Críticas de Poluição de 1980 – Lei 6.803, de

02.07.1980.

Estas normas demonstram a existência de uma proteção legal circunscrita, por

exemplo, às florestas, animais, peixes e minérios, mas não ao meio ambiente de modo

uniforme. Também, esta segunda fase não se desvinculou da ideologia antropocêntrica pura,

inexistindo uma tutela imediata do meio ambiente, mas, ao contrário, apenas a proteção

pontual e fragmentada, recebendo forte influencia da fase anterior. Preponderava o interesse

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em proteger a saúde humana. Enquanto a primeira fase tinha por essência o interesse

econômico, nesta o foco principal era a saúde humana.

3 – Fase holística. O terceiro período, a partir do qual o meio ambiente começa a ser

protegido de forma integral, tem com marco a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (

Lei 6.938/1981), que, inclusive, impulsionou a sistematização do Direito Ambiental, alçando-

o à categoria de direito próprio e autônomo, até então estudado na seara do Direito

Administrativo (FURLAN; FRACALOSSI, 2010).

A Lei 9.605/1998 (Lei dos Crimes Ambientais) também se destaca nesta terceira fase,

pois trouxe significativas inovações e se constituiu num precioso instrumento contra a

degradação do meio ambiente, bem com a Lei de Agrotóxicos (Lei 7.802/1989).

Também nesse terceiro período merece realce o fato de a Constituição brasileira de 1988 ter

sido inovadora na proteção ambiental, dedicando um capítulo inteiro ao meio ambiente, o qual

foi considerado um direito fundamental.

Outro marco desta fase foi a Lei de Biossegurança (Lei 11.105, de 24.03.2005), que

regulamentou os incisos II, IV, e V do § 1.º do art. 225 da Constituição Federal. Esta lei, entre

outras matérias, estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades

que envolvem Organismos Geneticamente Modificados – OGM e seus derivados e permite,

sob certas condições, a utilização das células-tronco embrionárias para fins de pesquisa e

terapia (em que pesem várias ações estarem discutindo a constitucionalidade de inúmeros

dispositivos da referida Lei). Também não pode ser esquecida a menção à Lei 12.187/2009,

que instituiu a Política Nacional sobre Mudança do Clima – PNMC e estabeleceu seus

princípios, objetivos, diretrizes e instrumentos. (FURLAN; FRACALOSSI, 2010).

2.1 AUTONOMIA DO DIREITO AMBIENTAL

A partir do instante em que o direito serve de instrumento para a aplicação e

efetivação de uma certa política ambiental, é preciso admitir a autonomia do direito ambiental

como uma categoria entre as ciências jurídicas, dotada de princípios próprios, caso contrário,

dificilmente se obteria a proteção eficaz pretendida sobre o meio ambiente.

Referindo-se à autonomia do direito ambiental, Canotilho (2010, p.196) afirma:

Por nossa parte defendemos a ideia segundo a qual se pode e deve falar em Direito

do Ambiente não só como campo especial onde os instrumentos clássicos de outros

ramos do Direito são aplicados, mas também como disciplina jurídica dotada de

substantividade própria. Sem com isso pôr de lado as dificuldades que tal concepção

oferece e condicionamentos que sempre terão de introduzir-se a tal afirmação.

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Segundo Milaré (2010, p. 110) pode-se afirmar, sem medo de errar, que, no Brasil, O

direito do Ambiente é na realidade um “Direito Adulto”. Conta ele com princípios próprios,

com assento constitucional e com um regramento infraconstitucional complexo e moderno.

Além disso, tem a seu dispor toda uma estrutura administrativa especializada e instrumentos

eficazes de implementação.

Neste mesmo raciocínio, Sirvinskas (2010, p.36) declara: “o direito ambiental é uma

disciplina relativamente nova, que ganhou autonomia com a edição da Lei nº 6.938/81, pois

até então era considerado um apêndice do direito administrativo”. Esta lei se refere à Política

Nacional de Meio Ambiente, dando a devida importância que o tema merece. Segundo Milaré

(2010, p. 112) [...] mais do que um novo ramo do direito com seu próprio corpo de regras, o

direito do ambiente tende a penetrar todos os sistemas jurídicos existentes para os orientar

num sentido ambientalista. O direito ambiental é, portanto, comprovadamente autônomo, e

essa autonomia é essencial para a proteção do meio ambiente nos mais diversos aspectos.

3 A RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL: CONCEITO

A lei 9.605/98 assegura plenamente as sanções penais e administrativas derivadas de

condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. O art. 225, § 3º, estabelece que “as condutas e

atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou

jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar o

dano” (BRASIL, 1998).

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, na sua concepção moderna, é

um dos direitos fundamentais da pessoa humana (Art. 225, caput), o que, por si só, justifica o

sancionamento penal das agressões contra ele perpetradas, como extrema ratio. Em outro

modo de dizer, “ultima ratio da tutela penal ambiental significa que esta é chamada a intervir

somente nos casos em que as agressões aos valores fundamentais da sociedade alcancem o

ponto do intolerável ou sejam objeto de intensa reprovação do corpo social” (MILARÉ, 2010,

p. 345).

3.1 RESPONSABILIDADE AMBIENTAL NOS CRIMES RELACIONADOS

A responsabilização da pessoa jurídica por infrações penais cometidas é uma tendência

global. Freitas e Freitas (2010, p. 147) enumeram, como países que aderiram, sem restrições,

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à responsabilização penal de pessoas jurídicas a Inglaterra, os Estados Unidos, o Canadá, a

nova Zelândia e a Áustria. Mencionam, ainda, alguns países em que essa tendência vem

crescendo, tais como França, Venezuela e Colômbia (GRANZIERA, 2009).

Cronologicamente, hoje o rol dos países que aderiram à essa responsabilização penal

das pessoa jurídicas deve ser bem maior. No Brasil, a determinação da responsabilização

penal da pessoa jurídica encontra fundamento constitucional no § 3º do art. 225. Em

cumprimento do preceito constitucional, a Lei n° 9.605/98 estabeleceu a responsabilidade

penal das pessoas jurídicas, “sempre que a infração seja cometida por decisão de seu

representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua

entidade”. Não obstante a assunção da responsabilidade penal pela pessoa jurídica,

permanecem as pessoas físicas ligadas ao delito – autoras, coautoras ou participes do mesmo

fato, responsáveis pelas infrações penais praticadas.

São requisitos para que se possa responsabilizar a pessoa jurídica em seara penal:

1- a infração penal deve ter sido cometida por decisão de seu representante legal ou

contratual, ou de seu órgão colegiado, e; 2 – a infração deve ter sido cometida no interesse ou

benefício da pessoa jurídica (GRANZIERA, 2009).

A Lei 9.605/1998, em seu art. 21, admite algumas penas que podem ser aplicadas,

isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas, tais como: (i) multa; (ii)

restritivas de direitos; (iii) prestação de serviços à comunidade. Fácil perceber que a lei

diverge do Código Penal quanto à prestação de serviços à comunidade, modalidade tratada

pelo Código como espécie de pena restritiva de direitos.

As penas restritivas de direitos aplicáveis às pessoas jurídicas, consoante a Lei

9.605/98, são as seguintes:

1 - Suspensão parcial ou total de atividades; “a suspensão de atividades será aplicada

quando estas não estiverem obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à

proteção do meio ambiente” (art. 22§ 1.º).

- Interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade: “a interdição será

aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida

autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou

regulamentar” (art. 22 § 2.º).

- Proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios,

subvenções ou doações: “a proibição de contratar com o Poder Público e dele obter

subsídios, subvenções ou doações não poderá exceder o prazo de dez anos” (art. 22, § 3.º).

E, nos termos do art. 23.

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Existe, ainda, a possibilidade de a pessoa jurídica ter sua liquidação forçada, caso

constituída ou utilizada preponderantemente com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a

prática de crimes definidos pela Lei 9.605/98,. Nesse caso, o patrimônio da pessoa jurídica

será reputado instrumento do crime, sendo perdido em prol do Fundo Penitenciário Nacional.

(FURLAN; FRACALOSSI, 2010).

Mesmo com existência de todas essas penalidades previstas, na prática, sabe-se que são

poucos os casos em que elas são aplicadas, tendo em vista que a legislação permite um sem

números de recursos.

3.2 PRINCÍPIOS AMBIENTAIS EM MATÉRIA DE DIREITO PENAL AMBIENTAL

No direito ambiental, os princípios estão voltados para a finalidade básica de proteger

a vida, em qualquer forma que esta se apresente, e garantir um padrão de existência digno

para os seres humanos desta e das futuras gerações, bem como de conciliar os dois elementos

anteriores com o desenvolvimento econômico ambientalmente sustentado. Os princípios

atuam como “alicerces fundamentais, standards juridicamente vinculantes, balizando a

atuação do Estado em relação à tutela do meio ambiente” (FURLAN: FRACALOSSI, 2010,

p, 97).

Ainda, segundo os autores supracitados, os princípios de direito ambiental não se

confundem com os princípios da Política Nacional do Meio Ambiente, previstos na Lei

6.938/1981. Os princípios de direito ambiental têm conotação mais ampla, genérica,

infundindo seus efeitos para todo este ramo do Direito, enquanto os princípios da PNMA

apenas balizam a aplicabilidade da referida lei. Todos os princípios de direito ambiental, de

uma maneira ou de outra, têm por finalidade a garantia e a concretização de um meio

ambiente ecologicamente equilibrado.

Destarte, conforme Machado (2010) são os seguintes os principais princípios do

Direito Ambiental:

1 - Princípio do desenvolvimento sustentável – Consta na Declaração de Estocolmo de

1972 e na Declaração do Rio/92 que “[...] os seres humanos constituem o centro das

preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida

saudável e produtiva em harmonia com o meio ambiente”.

Pelo princípio do desenvolvimento sustentável – também extraído do art. 225, caput,

da Constituição Federal – deve haver uma conciliação adequada entre a preservação do meio

ambiente e a exploração econômica do mesmo, justamente para que o meio ambiente seja

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preservado para as presentes e futuras gerações. Não por outro motivo o art. 170, VI, da

Constituição Federal expressa que a ordem econômica tem como um de seus princípios a

defesa do meio ambiente.

Para a concretização do princípio do desenvolvimento sustentável, é necessário:

O crescimento econômico dos países não pode ser fulcrado na alteração da

qualidade de vida e do ambiente ecologicamente equilibrado;

O progresso econômico de atender as necessidades humanas de emprego

alimentação, energia, água e saneamento;

O controle da população mundial, mantendo-a num patamar sustentável, permite o

desenvolvimento sem comprometer o meio ambiente;

Conservar e melhorar a base de recursos, com a redução da emissão de poluentes;

Reorientar a tecnologia e administrar o risco, adotando critérios de emissão de

poluentes;

Reorientar a tecnologia e administrar o risco, adotando critérios de ecoeficiência e

de participação;

Incluir o meio ambiente e a economia no processo de tomada de decisões;

Adotar técnicas modernas de produção e circulação.

O papel do Estado na concretização do princípio é primordial, pois deve, orientar,

normatizar, fiscalizar e punir os agentes econômicos que realizam suas atividades em descaso

com as normas ambientais, criando externalidade (efeitos externo ao mercado) negativas

muito superiores aos seus próprios benefícios diretos. Em muitos países, a atuação do Estado

para promover o desenvolvimento sustentável, coibindo ou diminuindo os índices de poluição

e outras formas de agressão ambiental, baseia-se principalmente na imposição de quotas ou

impostos e subsídios de Pigou (impostos criados para corrigir as externalidades negativas).

Inúmeras vezes as controvérsias sobre determinados empreendimentos econômicos

são resolvidos apenas pelo poder judiciário. Costuma-se, nesses casos lançar sobre os ombros

do judiciário a falácia do processo. O juiz consciente, entretanto, sabe que o conflito entre o

progresso e o meio ambiente pode até ser decidido em prejuízo do meio ambiente, mas não

sem antes muita reflexão, e assegurado que o referido prejuízo somente possa ser o menor

possível entre todos os imagináveis, primando-se pela busca do desenvolvimento sustentável.

Nesse contexto, o Supremo Tribunal Federal elucidou que a incolumidade do meio ambiente

não pode ser afetada por interesse empresarial nem depende de motivações exclusivamente

econômicas.

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O principio do desenvolvimento sustentável, além de estar impregnado de caráter

essencialmente constitucional, é legitimado por compromissos internacionais, representando

“fator de obtenção do justo” equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia,

subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando a corrente situação de conflito

entre valores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja observância não

compromete nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais significativos direitos

fundamentais: o direito a preservação ao do meio ambiente que traduz bem de uso comum da

generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações

(MACHADO, 2010).

2) Princípio da participação - Quando o art. 225 caput, da constituição Federal

determina que é dever do poder Público e da coletividade proteger o meio ambiente, tal

determinação o impõe a adoção de comportamento negativos e positivos. Negativos, como

não praticar atos que importem em destruição do meio ambiente. Positivo, como a realização

de atos visando sua efetiva proteção. O Estado e a coletividade, esta por meio de organizações

ambientais, sindicatos, indústrias, comércio, agricultura e outros organismos, devem em

conjunto traçar diretrizes protetivas em nome do equilíbrio ambiental.

O princípio da participação assenta-se sobre dois pressupostos inafastáveis: a)

informação; e b) educação ambiental. A declaração do Rio 92 colocou o enunciado do

principio da participação de forma apropriada: “principio nº 10: a melhor maneira de tratar

questões ambientais é assegurar a participação, do nível apropriado, de todos os cidadãos

interessados”. (FURLAN; FRACALOSSI, 2010, p.103).

Ainda, segundo Furlan e Fracalossi (2010), a nível nacional, cada indivíduo deve ter

acesso às informações pertinentes ao meio ambiente de que disponha as autoridades públicas,

inclusive informações sobre materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem

como a oportunidade de participar em processos de tomada de decisões. Os Estados devem

facilitar e estimular a conscientização e a participação pública, colocando a informação à

disposição de todos. Deve ser propiciado acesso efetivo a mecanismos judiciais e

administrativos, inclusive no que diz respeito à compensação de danos.

Além da participação individual, este princípio confere aos cidadãos o direito pleno de

participar na elaboração das políticas públicas ambientais. Para concretizar a participação, tem

os cidadãos instrumentos legislativos, administrativos e processuais. São instrumentos

legislativos: plebiscito; referendo; iniciativa popular de leis. São instrumentos

administrativos: direito de petição; direito de informação; estudo prévio de impacto ambiental

(audiências públicas). São instrumentos processuais: ação popular; mandado de segurança

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coletiva; tutela inibitorial; ação civil de responsabilidade por improbidade administrativa;

mandado de injunção.

Antunes (2010, p.74) prefere utilizar o termo princípio democrático, significando

aquele que assegura aos cidadãos o direito pleno de participar nas elaborações das políticas

públicas ambientais.

O princípio da participação, nesta ordem de ideias, como se disse anteriormente, o

reconhecimento da categoria dos deveres fundamentais revela um avanço na dogmática

tradicional. Afinal, se existem direitos fundamentais, deve ser analisados a face oculta desses

direitos, qual seja, os custos destes direitos, ou melhor, os deveres que sustentam estes

direitos. No especifico caso do direito fundamental ao meio ambiente, impõe-se o

reconhecimento do respectivo dever fundamental de proteger o meio ambiente –

especialmente em sua vertente de participar efetivamente das políticas de proteção, sem

prejuízo da participação individual, quando as circunstâncias assim exigirem (FURLAN;

FRACALOSSI, 2010).

3) Princípio do poluidor-pagador - O principio do poluidor-pagador encontra-se

firmemente arraigado no ordenamento jurídico brasileiro. A constituição Federal, ao

consagrar o princípio do poluidor-pagador em relação à exploração dos recursos minerais,

estende implicitamente seu âmbito de alcance a todas as degradações ambientais. Aliás,

especificamente quando à exploração de recursos minerais, encontra-se o explorador,

obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a solução técnica exigida

pelo órgão público competente, na forma da lei (art. 225, § 2 e 3). (MACHADO, 2010).

A declaração do Rio/92, em seu princípio 13, prevê que: [0]s Estados devem

desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e indenização das vítimas de

poluição e outros danos ambientais. O princípio 16 complementar: “[...] tendo em vista que o

poluidor deve, em princípio, arcar com o custo decorrente da poluição...”.

A Lei dois crimes ambientais (Lei 9.605/1998) também se refere ao dever de reparar o

dano nos seguintes termos:

Art.27: Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação

imediata de pena restritiva de direitos ou multas, prevista no art. 76 da lei n.9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido a

previa composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em

caso de comprovada impossibilidade (FURLAN; FRACALOSSI, 2010, p.112).

A reparação do dano ambiental serve como medida imediata de recomposição e,

também, como medida pública socioeducativa. Não se pode perder de vista que durante

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milhares de anos a degradação ambiental não mereceu maiores atenções. Os recursos naturais

mais abundantes eram desprovidos de valor e considerados res nullius ores communes. Como

não pertenciam a ninguém, se responsabilizava pela degradação. Aristóteles já dizia: “[ ] o

que é comum ao maior número de indivíduos constitui objeto de menor cuidado. O homem

tem maiores cuidados com o que lhe é próprio e tende a negligenciar o que lhe é comum

(FURLAN; FRACALOSSI, 2010, P.114).

Os recursos naturais atualmente são compreendidos como res omnioun ou seja, bem de

todos, patrimônio comum da humanidade. Isso implica um compromisso intergeracional, no

sentido de que as presentes gerações de seres humanos apenas detém a posse fiduciária dos

recursos naturais, sendo responsável perante as futuras gerações em deixar nossos recursos

naturais, tal como foram encontrados, seja em quantidade, qualidade ou variedade.

(FURLAN; FRACALOSSI, 2010).

Destarte, aquele que poluir o meio ambiente deve, em princípio, reparar o dano

causado. Trata-se de uma relação de causa e efeito: ”se degradou, deve reparar”. Isso não quer

dizer que se pode poluir mediante pagamento ulterior, pois não existe um direito à poluição (o

objetivo superior da norma é a prevenção, evitando consequentemente o dano ambiental). O

mandamento engendra em seu enunciado uma proibição (proibido poluir), sendo o dever de

reparação apenas uma das consequências do ato ilícito (MACHADO, 2010).

Segundo Furlan e Fracalossi (2010, P. 117):

Na comunidade europeia o princípio do poluidor-pagador fundamenta a política ambiental comunitária e foi enunciado pelo art. 191, n.2, do Tratado

sobre o funcionamento da união Europeia, atualizado pelo Tratado de

Lisboa, nos principais idiomas. Em português: [a] política da comunidade no

domínio do ambiente visará a um nível de proteção elevado, tendo em conta a diversidade das situações existentes nas diferentes regiões da comunidade.

Basear-se nos princípios da precaução e da ação preventiva, da correção,

prioritariamente na fonte, dos danos causados ao ambiente, e do poluidor-pagador.

Machado (2010, p.87) acrescenta que, com a finalidade de enquadramento normativo,

cumpre ter em mente os conceitos fornecidos pelo art. 3 da Lei 6.938/1981 (Política Nacional

do Meio Ambiente):

Conceito de degradação ambiental: alteração adversa das características do meio

ambiente;

Conceito de poluição: a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades

que direta ou indiretamente:

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a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem- estar da população;

b) criem condições adversas as atividades sociais e econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais exigidos e

estabelecidos.

Estes conceitos são relevantes porque identificam normativamente o dano e o poluidor.

Em um encadeamento de atividades nocivas, todos os agentes que contribuem, direta ou

indiretamente, pela poluição são responsáveis pela reparação do dano. No caso dos veículos

automotores, por exemplo, devem ser responsabilizados pela poluição atmosférica tanto os

produtores quanto os utentes, visto que ambos realizam atividades degradantes. Todavia,

preventivamente, devem os custos da produção ser imputados à categoria mais fácil de

controlar, no caso as fábricas de veículos que lucraram com a produção (causa significante)

(FURLAN; FRACALOSSI, 2010).

A política Nacional do meio ambiente (lei 6.938/1981) agasalhou a responsabilidade

objetiva, em seu art. 14, § 1. Também preveem a responsabilidade objetiva as seguintes leis:

Lei 7.542/1986 (danos à segurança de navegação, a terceiros e ou meio ambiente);

Lei 7.661 1989 (danos aos recursos naturais e culturais da zona costeira);

Lei 7.802 1989 (dano à saúde das pessoas e do meio ambiente, decorrentes de

atividades relacionadas com agrotóxicos e afins);

Lei 7805/1989 (danos causados ou meio ambiente, decorrente de atividades

garimpeiras);

Lei 8,171/1991(danos causados ao meio ambiente, decorrentes de atividades

agrícolas);

.Lei 11.105 (danos decorrentes de atividade biogenética).

Para a responsabilização, é suficiente que sejam comprovados o dano e o nexo de

causalidade, o malefício e o ato do poluidor. Deve ser ressaltado que eventual autorização

administrativa concedida pelos poderes públicos não diminui, nem elide, a responsabilidade

do infrator (FURLAN; FRACALOSSI, 2010).

De acordo com os autores acima citados, a reparação do dano deve ser integral. Neste

prisma, em primeiro lugar, deve-se buscar a recomposição do meio ambiente danificado, tanto

quanto for possível. Apenas e tão somente na hipótese de não ser possível recompor o meio

ambiente em “nível próximo” ao que era antes ao dano, possibilita-se a reparação em pecúnia.

Consoante precedente do superior tribunal de justiça, “o sistema jurídico de proteção ao meio

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ambiente, disciplinado em normas constitucionais (CF, 225, s 3.) e infraconstitucionais (Lei

6.938/1981, arts. 2 e 4), está fundado, entre outros, nos princípios da prevenção, do poluidor-

pagador e da reparação integral. Deles decorrem para os destinatários (Estado e Comunidade),

deveres e obrigações de variada natureza, comportando prestações pessoais, positivas e

negativas (fazer e não fazer), bem como de pagar quantias (indenização dos danos

insuscetíveis de recomposições (in natura ), prestações essas que não se incluem, mas, pelo

contrário , se for o caso.

3) Princípios da precaução e da prevenção – O Principio da Precaução é responsável

pela vedação de determinadas ações no meio ambiente, uma vez que não exista certeza

absoluta de que tais ações não causarão reações adversas. Este princípio se diferencia do

princípio da prevenção pelo fato de buscar evitar que reações desconhecidas aconteçam, uma

vez que o princípio da prevenção busca prevenir o meio ambiente de degradações e

consequências conhecidas.

Decorrente do caput do art.225, assim como inciso v do §1. Deriva originariamente do

princípio do direito alemão, exigindo a atuação mesmo antes do princípio da prevenção impor

qualquer atuação preventiva. Sua exegese impõe o beneficio da dúvida em favor do meio

ambiente quando exista qualquer incerteza sobre os efeitos de determinadas atividades. Bem

por isso, dispôs o princípio 15 da declaração do Rio/92 que:

Para proteger o meio ambiente medidas de precaução devem ser largamente

aplicadas pelos Estados segundos suas capacidades. Em caso de risco de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza cientifica absoluta não deve servir de

pretexto para procrastinar a adoção de medidas, efetivas em termos de custo visando

a prevenir a degradação do meio ambiente.

E surge neste contexto, a possibilidade de inversão do ônus da prova, lastreada no

postulado do indubio pro ambiente. Ou seja, inexistindo uma certeza científica quando a

degradação ambiental cabe ao empreendedor provar que sua atividade não comporta riscos ao

meio ambiente. Em caso de dúvida, decide-se em favor do meio ambiente (FURLAN;

FRACALOSSI, 2010).

Portanto, está claro que o princípio da precaução deve ser aplicado como elemento

norteador de todas as condutas lesivas ao meio ambiente. Seja como resultado da fiscalização

do Estado, ou seja como elemento de decisão dos poderes públicos e particulares diante da

incerteza do risco ambiental.

Machado (2010, p.93) declara que a implementação do princípio da precaução não

tem por finalidade imobilizar as atividades humanas. Não se trata da precaução que tudo

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impede ou que em tudo vê catástrofe ou males. O princípio da precaução visa à durabilidade

da sadia qualidade de vida das gerações humanas e à continuidade da natureza existente no

planeta.

O princípio da preservação está diretamente ligado ao Estudo Prévio de Impacto

Ambiental (EPIA). Pela constituição Federal de 1988 incube ao poder público exigir na forma

da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa

degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental (art. 225, §1 IV). Isso

porque a atuação do Estado é fundamental para a aplicação efetiva do princípio da precaução.

Além da concessão criteriosa de autorização para empreendimentos potencialmente lesivos e

fiscalização rigorosa em todas as áreas de risco, a punição exemplar dos danificadores do

meio ambiente serve para disseminar a consciência ambiental, fonte motriz de toda atuação

ecologicamente correta (FURLAN; FRACALOSSI, 2010).

Pedagógica é, portanto, a aplicação das penalidades previstas em lei para quem

danificar o meio ambiente, pois, antes de tudo serve de exemplo para aqueles que porventura

estariam planejando danos à ela. Destarte, no caso da prevenção, ao contrario do que ocorre

com o principio da precaução, já existe provas cientificas da danosidade de uma determinada

atividade do nexo entre o dano e a causa da adequação das medidas de prevenção. No

princípio da prevenção não devem existir dúvidas quanto aos possíveis danos ambientais. O

princípio da prevenção é aplicado em momento anterior á degradação, buscando-se evitar a

repetição de comportamentos lesivos ao meio ambiente (FURLAN; FRCALOSSI, 2010).

Assim, conclui-se que estes dois princípios são preventivos e devem ser observados

por todos com vistas a preservar o meio ambiente.

4) Princípio da integração - Partindo do pressuposto de que todas as atividades

humanas podem afetar, direta ou indiretamente, o meio ambiente, o tratado da comunidade

Europeia normatizou o principio da integração.

A impotência do referido princípio no âmbito da comunidade europeia pode ser

aquilatada pelo fato de que inicialmente havia sido inserido no art. 174, nº 2, do tratado na

seara dos princípios fundamentais do direito comunitário do ambiente. Posteriormente,

entretanto em função de alteração promovida pelo tratado de Amsterdam, o principio da

integração passou a figurar no rol dos princípios gerais de Direito Comunitário (art.6 da parte

1 do referido tratado). Atualmente, o princípio encontra-se no art. 11 do tratado sobre o

funcionamento da união Europeia, conforme alteração promovida pelo tratado de Lisboa

(FURLAN; FRACALOSSI, 2010).

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Ainda de acordo com autor acima citado, a definição expressa no tratado, às

exigências em matéria de proteção do ambiente devem ser integradas na definição e execução

das políticas e ações da União, em especial com o objetivo de promover um desenvolvimento

sustentável. Conquanto não normatizado com este nome pelo legislador brasileiro, o princípio

da integração decorre do art. 225 da constituição Federal, o qual impõe ao poder público

defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações. Inclui-se na defesa

e preservação do meio ambiente pelo poder público o “dever de integração das considerações

ambientais”.

Na definição e aplicação das políticas públicas, deverá sempre levar em conta – ou

seja –os aspectos ambientais decorrentes. A desconsideração ou mesmo a consideração

insuficiente – dos aspectos ambientais pelo executivo ou legislativo, poderá ensejar o

reconhecimento da invalidade dos atos pelo Poder Judiciário (MACHADO, 2010).

5) Princípio do usuário-pagador - Princípio do usuário-pagador, aquele que utiliza um

recurso da natureza deve pagar por essa utilização. Trata-se de uma contraprestação

econômica pelo uso de um recurso ambiental. Significa o rompimento com a vetusta ideia que

os bens ambientais podem ser indiscriminados e utilizados. Assim, deve o usuário pagar pelo

usufruto de determinados recursos naturais. Esse pagamento, certamente, não se traduz em

uma fonte de receita estatal, mas em verdadeiros instrumentos de educação ambiental, na

medida em que serve para que o usuário reconheça o valor dos bens ambientais e sejam

incentivados a utilizá-lo racionalmente.

Os recursos amealhados devem ser revertidos para o financiamento de projetos

relacionados ao recurso natural respectivo. O exemplo mais contundente da aplicação desse

princípio é a cobrança pelo uso de recursos hídricos. Consoante o art.19 da Lei 9.433/1997

(que tratou da política Nacional de Recursos Hídricos), a cobrança pelo uso de recursos

hídricos objetivas: a) reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação

de seu real valor; b) incentivar a racionalização do uso da água; c) obter recursos financeiros

para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos

hídricos (FURLAN: FRACALOSSI, 2010).

Portanto, é notório que o princípio do poluidor-pagador acaba por proteger a qualidade

do ambiente e seus componentes, contribuindo, também, para que se crie uma maior

conscientização quanto ao uso racional dos recursos naturais e a necessidade de sua proteção.

6) Princípio da informação - A Constituição Federal consagra o direito a informação no art.5.

incisos XXXIII e XXXIV alínea “b”, bem como quando proclama a publicidade do estudo do

impacto ambiental no art. 225, s 1 inciso IV.

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A informação contribui para o processo de educação de cada indivíduo e da

comunidade. Mas, informações visam, também, dar chance à pessoa informada de tomar

posição ou pronunciar-se sobre a matéria informada. A informação ambiental deve cumprir os

seguintes requisitos: ser veraz, contínua, tempestiva e completa. Deve ainda ter como

características essenciais: tecnicidade (ser composto de dados técnicos); compreensibilidade;

e rapidez. A prestação das informações pelo poder público, em matéria ambiental, foi

regulamentada pela lei 10.650/2003, a qual dispôs o acesso público aos dados e informações

ambientais existentes no órgão e entidades integrantes do sistema nacional do meio ambiente

(SISNAMA), instituído pela lei 6.938/1981.

De acordo com o artigo 2º, todos os órgão e entidade da administração pública , direta

e indireta e funcional , integrantes de SISNAMA, ficam obrigados as permitir o acesso

público aos documentos, expedientes e processos administrativos que tratem de matéria

ambiental e a fornecer todas as informações ambientais que estejam sobre sua guarda , em

meio escrito, visual , sonoro ou eletrônico , principalmente as informações relativas a:

1) qualidade do meio ambiente ;

2) políticas, planos e programas potencialmente causadores de impacto ambientas;

3) resultado de monitoramento e auditoria nos sistema de controle de poluição e de

atividade potencialmente poluidoras, bem como de planos e ações de recuperação de áreas

degradadas ;

4) acidentes , situações de risco ou de emergência ambientais;

5) emissões de efluentes líquidos e gasosos, e produção de resíduos sólido;

6) substâncias tóxicas e perigosas;

7) diversidade biológica;

8) organismos geneticamente modificados (MACHADO, 2010).

Dessa forma, o princípio da informação torna-se bastante importante, pois proporciona

a todos ter conhecimento acerca dos problemas ambientais, possibilitando-lhes a oportunidade

de participar ativamente das ações em prol de um ambiente mais saudável e equilibrado.

3.3 TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA

A teoria da imputação objetiva, segundo inscritos, já fazia parte do Direito Grego, e,

sobre isto Jesus (2009, p.112) afirma que esta teoria teria surgido há aproximadamente seis

décadas.

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A partir da doutrina de Claus Roxin (2000) o mundo jurídico passou a admitir a

hipótese da existência de uma imputação objetiva, tudo decorrente na fundamentação do

estudo da estrutura criminal em aspectos de política criminal. Para ele, antes de se pensar

sistematicamente o crime, deve-se analisá-lo politicamente (FURLAN; FRACALOSSI,

2010).

. Galvão (2012, p.101) também afirma que a imputação objetiva tem sua origem do

Direito Grego, porém a sua fundamentação teórica se acentuou no início deste século. A

imputação objetiva, portanto, é aplicada nos casos de desobediência às leis.

Certamente, as bases filosóficas que, efetivamente, dão ensejo à teoria partem de Hegel, com

sua filosofia subjetivista/sociológica que se inicia com Durkheim, que dizia que uma

sociedade normal deve Ter em seu meio o crime, desde que não haja excessos em quantidade

e qualidade (MACHADO, 2010).

A nova teoria procura conjugar elementos das teorias outrora existentes. Em síntese,

não é uma nova teoria, mas uma compilação dos ensinamentos das demais, visto que suas

principais inovações são:

A adequação social passa a ser elemento normativo do tipo:

Não se fala mais em resultado naturalístico, uma vez que ele será sempre caracterizado

pelo risco ao objeto jurídico. Dessa forma, desenvolveu-se a distinção entre risco

permitido e risco proibido;

A conduta só será imputável objetivamente ao agente se houver plausibilidade mínima

entre a conduta e o resultado final (FURLAN; FRACALOSSI, 2010).

A imputação objetiva apresenta-se como um complemento corretivo das teorias

causais. A imputação de um fato é a relação entre acontecimento e vontade. Significa, na

verdade, atribuir juridicamente a alguém a realização de uma conduta criadora de um

relevante risco proibido e a produção de um resultado jurídico.

A imputação como um juízo sobre o fato não é consequentemente, um juízo causal,

mas teleológico. O conceito de finalidade não deve ser interpretado de um ponto de vista

subjetivo, mas sim objetivo- não se imputa só o que era querido e conhecido pelo agente, mas

também o que era conhecido e, portanto, passível de ser abarcado pela vontade. Em síntese: o

fato é a realização da vontade; e a imputação, o juízo que relaciona o fato com a vontade

(FURLAN; FRACALOSSI, 2010).

De acordo com a teoria da imputação objetiva, o comportamento e o resultado

normativo só podem ser atribuídos ao sujeito quando:

1 - A conduta criou ao bem (jurídico) um risco juridicamente desaprovado e relevante;

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2 - O perigo realizou-se no resultado. O evento é considerado no sentido normativo ou

jurídico e não naturalístico;

3 - O alcance do tipo incriminador abrange o gênero de resultado produzido.

A imputação objetiva pressupõe a realização de um perigo criado pelo autor e não acobertado

por um risco permitido dentro da abrangência do tipo. Pode também considerar o incremento

do risco e o fim da proteção da norma. Por isso, não se põe em destaque o resultado

naturalístico, próprio da doutrina causal clássica, e sim o resultado (ou evento) jurídico, que

corresponde à afetação ou perigo de afetação do bem penalmente tutelado. Nesse requisito,

convém observar que há também imputação objetiva quando a conduta aumenta o risco

permitido com violação relevante do dever de cuidado (FURLAN; FRACALOSSI, 2010).

4 A RESPONSABILIDADE PENAL NA LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS

4.1 A LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS COMO NORMA PENAL EM BRANCO

Forte no princípio da legalidade dos delitos e das penas tem-se repetido que o Direito

Penal deve definir de modo autônomo os componentes de suas normas, evitando remissão a

outras regras do ordenamento jurídico. Não obstante, em matéria de proteção ao meio

ambiente tem-se utilizado, com frequência, a técnica legislativa denominada norma penal em

branco, ou seja, “com o preceito lacunoso ou incompleto, necessitando da complementação

de outros dispositivos legais, que podem ser até mesmo extrapenais”. Esta prática funda-se no

caráter complexo, técnico e multidisciplinar da problemática ambiental (MILARÉ, 2010,

p.348)

A Lei 9.605/98 – base do ordenamento ambiental penal – foi pródiga no emprego

desta técnica. Como exemplo:

a) Art. 29, § 4.º, I e VI – não estão discriminadas as espécies raras ou consideradas

ameaçadas de extinção; por igual, não estão definidos os métodos ou instrumentos

capazes de provocar destruição em massa;

b) Art. 34, caput, e parágrafo único, I e II – não há menção aos períodos de pesca

proibida, nem se sabe quais os lugares interditados; não se diz quais são as espécies

aquáticas que devam ser preservadas ou o tamanho dos espécimes cuja pesca é

proibida; não se estabelece a quantidade de pescado permitida nem quais sejam os

aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos;

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c) Art. 35, I e II – não se define o que venham a ser explosivos, nem tampouco

substancias toxicas proibidas;

d) Art. 36 – as listas oficiais da fauna e da flora devem ser buscadas junto aos órgãos

oficiais de gestão ambiental integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente –

SISNAMA;

e) Art. 37 – o animal nocivo passível de abate deve ser caracterizado e declarado pelo

órgão competente, no caso o IBAMA;

f) Art. 62 – quais os bens especialmente protegidos por lei, ato administrativo ou

decisão judicial?

Em todos estes casos, como se percebe, o comportamento proibido vem enunciado de

forma vaga, clamando por complementação ou integração através de outros dispositivos

legais ou atos normativos extravagantes. E nem poderia ser diferente, em matéria regulada

predominantemente por normas e instituições de direito administrativo (MILARÉ, 2010, p.

349). Destarte, é necessário banir estas lacunas para que as normas do Direito Ambiental se

tornem mais eficazes.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os que defendem a responsabilização penal da pessoa jurídica acreditam nessa

possibilidade, com penas correspondentes à sua natureza, ou seja, penas de multa, restritivas

de direitos e até mesmo com a desconsideração da pessoa jurídica quando enquadrados em

casos de extrema gravidade.

A tendência mundial de responsabilização penal das pessoas jurídicas é um fato

inquestionável, como por exemplo, nos Estados Unidos, Canadá, onde as penas aplicadas são

de acordo com a gravidade do delito, variando entre as penas de multa ou inabilitações de

empresas.

O direito fundamental da pessoa humana, tratado no artigo 225, caput, afirma que

todos possuem o direito de usufruir de um ambiente ecologicamente equilibrado. Sendo o

meio ambiente amparado e protegido como um patrimônio público. E cabe ao Estado e à

coletividade a responsabilidade para sua proteção.

De acordo com o princípio da prevenção e precaução, as normas e sanções aplicadas tê

como objetivo prevenir e evitar sua degradação e eventuais aplicações de medidas

compensatórias. Assim, conforme o entendimento doutrinário majoritário a responsabilização

penal do Estado não existe, por ferir princípios fundamentais do Estado Democrático de

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Direito e a eventual aplicação da pena poderá prejudicar a sociedade. Quanto à coautoria ou

corresponsabilidade da pessoa física é perfeitamente aceitável, conforme consagra os artigos

2º e 3º da Lei 9.605/98.

Em virtude de um melhor entendimento das finalidades das penas e dos tipos de

sanções aplicáveis à pessoa jurídica, tornou-se mais evidente manter-se um posicionamento a

favor da possibilidade de sancionar as pessoas jurídicas com as penas de multa, restritivas de

direitos, prestação de serviços à comunidade e desconsideração da pessoa jurídica, conforme

prevê a legislação em vigor. Diante disso, é necessário analisar um conjunto de questões e o

caso concreto antes da aplicação dessas sanções, procurando privilegiar sempre o bem-estar

social, e a preservação do meio ambiente.

ENVIRONMENTAL CRIMES: DAMAGE TO ENVIRONMENTAL

HERITAGE

ABSTRACT

This research paper has the objective to analyze the applicability of Law 9.605/98, which

deals with environmental crime in general, and particularly on the criminal liability of the

legal entity. This law, called the Environmental Criminal Code is quite significant for the

preservation of the environment, because it provides a variety of criminal cases, applying

penalties restricting rights, provision of community service or a fine, as the offensive potential

of the crime committed, giving, thus, significant advances in protecting the environment.

Despite the existence of Law 9.605/98, as to its applicability, is flagrant disobedience of those

who practice the offenses to which it refers. Driven by ambition and unscrupulous

businessmen prefer to pay fines imposed on them, and continue to break the law, polluting

rivers, oceans, atmosphere, destroying forests, etc.. The deficiency in supervision by public

bodies of the three spheres of government, has contributed to this box disobedience.

Therefore, this performs an approach to these issues, assessing in depth the legal aspects of

liability of legal persons for crimes against the environment, according to the Environmental

Law. Looking better understand this issue, we looked at the various laws that deal with the

subject matter, such as doctrines, the Federal Constitution of 1998 Decrees and jurisprudence.

Keywords: Environmental Law. Law 9605/98. Environmental crime.

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