faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior...

24
FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO ROMMEL WESLEY PINTO DÁLIA RESSOCIALIZAÇÃO DOS PRESOS NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO CABEDELO- PB 2015

Upload: ngocong

Post on 12-Feb-2019

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

ROMMEL WESLEY PINTO DÁLIA

RESSOCIALIZAÇÃO DOS PRESOS NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO

CABEDELO- PB

2015

Page 2: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

ROMMEL WESLEY PINTO DÁLIA

RESSOCIALIZAÇÃO DOS PRESOS NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO

Trabalho de conclusão do Curso de Direito, em forma de Artigo científico apresentado à Coordenação do Curso de Bacharelado em Direito, pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Área: Direito Penal Orientador: Prof. Ricardo Servulo Fonseca da Costa

CABEDELO-PB

2015

Page 3: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo
Page 4: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

ROMMEL WESLEY PINTO DÁLIA

RESSOCIALIZAÇÃO DOS PRESOS NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO

Artigo Científico apresentado à Banca

Examinadora de Artigos Científicos da Faculdade

de Ensino Superior da Paraíba - FESP, como

exigência para obtenção do grau de Bacharel em

Direito.

APROVADO EM _____/_________ DE 2015

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________

Prof. Ricardo Servulo Fonseca da Costa

MEMBRO –FESP

___________________________________________________

Prof.

MEMBRO -FESP

___________________________________________________

Prof.

MEMBRO -FESP

Page 5: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇOES INICIAIS................................................................................5

2 A EXECUÇÃO PENAL NO BRASIL.....................................................................7

2.1 EVOLUÇÃO NORMATIVA DA PENA....................................................................7

2.2 DEVERES E DIREITOS DO PRESO...................................................................11

3 PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE E OS OBSTACULOS DA

RESSOCIALIZAÇÃO.................................................................................................14

3.1 A SAÚDE, HIGIENE E ALIMENTAÇÃO NA PRISÃO..........................................14

3.2 SUPERLOTAÇÃO CARCERARIA.......................................................................15

3.3 VIOLÊNCIA..........................................................................................................16

3.4 O RETORNO À SOCIEDADE..............................................................................17

4 ALTERNATIVAS PARA A CRISE CARCERARIA E EFETIVA

RESSOCIALIZAÇÃO.................................................................................................18

4.1 O TRABALHO PRISIONAL..................................................................................18

4.2 A EDUCAÇÃO NA PRISÃO.................................................................................19

4.3 INTERVENÇÃO MÍNIMA DO DIREITO PENAL...................................................20

4.4 PROMOÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS............................................................20

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................21

REFERÊNCIAS...................................................................................................22

Page 6: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

6

RESSOCIALIZAÇÃO DOS PRESOS NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO

ROMMEL WESLEY PINTO DALIA*

RICARDO SERVULO FONSECA DA COSTA**

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo analisar a realidade do sistema penitenciário brasileiro, verificando como se ocorre o processo de ressocialização de presos em execução penal no Brasil. O Sistema Prisional Brasileiro é um dos principais problemas que existem no Brasil, pois lida com o conhecimento do caos da superlotação, maus tratos, presos subsistindo em condições indignas, alguns permanecem presos mesmo já tendo cumprido sua pena, resultado do descaso judiciário. A situação atual apresenta uma total falta de condições para atendimento dos parâmetros apropriados para o cumprimento e a ressocialização do preso, que a lei tanto defende. A gerenciamento prisional também estar abaixo das expectativas das políticas e metodologia de ressocialização. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica na jurisprudência, doutrina e artigos. O estudo chega à conclusão de que, mesmo a lei de execução penal conduzir todo o processo ressocializador, a eficiência dos métodos de ressocialização do sistema prisional brasileiro não conseguem alcançar os objetivos almejados pela falta de emprego efetivo da legislação, assegurando a dignidade da pessoa humana, o direito ao trabalho, educação, entre outros. Palavras-chave: Preso. Pena. Ressocialização.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O sistema prisional brasileiro é com certeza um estorvo para o governo, no

decorrer dos anos a população carcerária cresce consideravelmente e, o que no

começo da história das prisões brasileira era regra, os presos distribuídos pelos tipos

de crimes, o que se vê atualmente na maioria das prisões são presos condenados

por crimes com menor gravidade no mesmo estabelecimento, na mesma cela que

um preso condenado por crimes de altíssimo potencial ofensivo. Existindo dessa

forma, uma escola do crime, onde os criminosos menos perigosos aprendem a

praticar delitos mais graves. Ficando a ressocialização longe da realidade.

*Aluno concluinte do Curso de Bacharelado em Direito da Fesp Faculdades, semestre 2015.2. e-mail: [email protected] **Especialista em Direito, Advogado, Professor da Fesp Faculdades, atuou como orientador desse TCC. E-mail: [email protected]

Page 7: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

7

Tal situação do sistema carcerário apresenta um enorme paradoxo em

relação ao Estado, já que não é compreensível que um país com uma legislação de

execuções penais progressista, dentro dos parâmetros internacionais, que na sua

natureza, se colocada em efetivamente em prática, em tese, seria eficaz na

ressocialização do presidiário. Contudo, depara-se com um sistema prisional

totalmente inoperante para devolver ao convívio da sociedade um indivíduo

totalmente recuperado depois de cumprir sua pena.

Para que se possa compreender melhora à realidade do sistema penitenciário

brasileiro, foi feita uma pesquisa bibliográfica na jurisprudência, na doutrina, nas

legislações e outros artigos acerca do tema, com o objetivo de realizar uma sucinta

análise histórica acerca da execução penal no Brasil e evolução das penas.

O Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do

Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas – DMF, do Conselho Nacional de

Justiça - CNJ divulgou em junho de 2014 o novo diagnóstico de pessoas presas no

Brasil. Conforme o estudo, até julho de 2014 o Sistema Prisional do Brasil acolhia

uma população de 563.526 presos, índice que ainda é elevado ao considerar as

prisões domiciliares, chegando a 711.463 (CNJ,2014)

O sistema penitenciário tem disponibilidade para 357.219 apenados, isto é, há

um déficit de 206.307 vagas atualmente. É importante destacar que dos 563.526

presidiários que cumprem pena em regime fechado, 41% são presos provisórios, o

que significa que a demora do sistema Judiciário no julgamento dos processos

intensifica o problema da superlotação, circunstancia que viola o princípio da

dignidade humana, como também o Princípio da duração razoável do processo.

Conforme o diagnóstico do Conselho Nacional de Justiça – CNJ, a média de

reclusos no Brasil é de 358 para cada 100 mil, o que posiciona o Brasil na quarta

posição entre os países com a maior população carcerária do mundo, perdendo

somente dos Estados Unidos, China e Rússia. Acontece que, quando se calcula os

presos domiciliares, o Brasil avança uma posição, ficando no terceiro lugar,

perdendo para os Estados Unidos e China.

O presente artigo busca analisar o progresso da Lei de Execuções Penais

(LEP) até atualmente, apontando os principais motivos que transformaram o Sistema

Prisional no que ele é hoje, além da impossibilidade de ressocializar os apenados,

diante de uma situação de total abandono e descaso.

Page 8: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

8

2 A EXECUÇÃO PENAL NO BRASIL

Será abordada a evolução normativa da pena, esclarecendo as mudanças

com no decorrer dos anos, onde passou de um caráter cruel e desumano para uma

natureza humana, com a finalidade de ressocializar o homem para a vida em

sociedade. E também uma análise a partir da primeira tentativa de uma codificação

até a elaboração da Lei 7.210 de 1984 (Lei de Execução penal-LEP).

É importante também analisar os direito e deveres do apenados, que estão

determinados na Lei 7210/84 nos artigos 38 a 43, por fim e de extrema relevância

tratar a respeito dos objetivos da pena, possuindo ela três finalidades, quais sejam: a

retributiva, preventiva e reeducativa, esclarecendo por meio de teorias, como a teoria

absoluta, teoria relativa e teoria mista, levando a entender que o Brasil adotou a teria

mista, tendo a pena um objetivo tanto retributiva, intimidatória e reeducativa.

2.1 EVOLUÇÃO NORMATIVA DA PENA

A pena é uma entidade bastante antiga, desde dos princípios civis era preciso

punir aquele que não respeitavam as normas impostas por um certo grupo social,

familiar, tribo ou clã. De início a pena era uma exposição do indivíduo com o intuito

de manter sua espécie, seu respeito e dignidade, depois se apresentou como uma

forma de retribuir e intimidar, por meio de penas cruéis.

A expressão “pena” origina-se do latim poena, com derivação do grego poine,

que quer dizer “dor, castigo, punição, expiação, penitência, sofrimento, trabalho,

fadiga, submissão, vingança e recompensa”. (OLIVEIRA,2003)

De acordo com Capez (2014, p.332) a definição de pena pode ser entendida

como:

Sanção penal de caráter aflitivo, imposta pelo Estado, em execução de uma sentença, ao culpado pela prática de uma infração penal, consistente na restrição ou privação de um bem jurídico, cuja finalidade é aplicar a retribuição punitiva ao delinquente, promover a sua readaptação social e prevenir novas transgressões pela intimidação dirigida à coletividade.

Na idade antiga a pena representava era vista como um tipo de vingança

pública o que acarretava a execução de punições cujo grau era maior do que o

Page 9: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

9

crime praticado, tendo como finalidade apenas castigar o infrator de uma maneira

rígida com a intenção de ocasionar dor, fase representada pela celebra frase:

“Oculum pro óculo–dentem pro dente” (olho por olho dente por dente) inserida na Lei

do Talião. De acordo com Greco (2015, p. 84):

A Lei de Talião pode ser considerada um avanço em virtude do momento em que havia sido editada. Isto porque, mesmo que de forma insipiente [sic], já trazia em si uma noção, ainda que superficial do conceito de proporcionalidade. O “olho por olho” e o “dente por dente” traduziam um conceito de justiça, embora ainda atrelado à vingança privada.

Na idade média a pena, continuava com o caráter corpóreo, empregando

crueldade e sendo aplicada como meio de vingança, era bastante utilizada a tortura,

com amputação de partes do corpo, cegamento e pena de morte. Nessa época teve

uma grande interferência da igreja para avigorar a natureza humanitária da pena,

onde o réu devia ser reputado e tratado como um ser humano.

O direito canônico inseriu o cárcere como forma de castigo, considerando

dessa forma a pena um meio do criminoso pagar por seus pecados, é nesse instante

por interferência da igreja e do direito canônico que se vê uma preocupação em

fazer uma reforma, visando a prisão no lugar da vingança ou tortura. Conforme

Smanio, 2012, p.20:

As penas corporais foram substituídas por penas imateriais e a pena de morte, pela restrição da liberdade, que conservando a vida do criminoso tornava possível a sua correção. Foi por esse motivo que surgiram as primeiras penas restritivas de liberdade através das internações em monastérios. Distinguia, Direito Canônico, entre moral e direito e classificava os delitos em: delicta eclesiástica, que ofendia o direito divino e era punida pela própria Igreja através dos Tribunais Eclesiásticos; delicta secularia, que ofendia somente o direito dos homens e era punida pela justiça pública; e delicta mixta, que ofendia ambos e podia se julgada tanto por uma quanto pela outra. Em relação ao delito, em clara oposição ao conceito germânico, privilegiava o elemento subjetivo do crime, exigindo para todo delito um “animo”, um motivo, importando-se, consequentemente, com a tentativa.

Na idade moderna o direito canônico continuava operando grande influência

na execução da pena, começando esta a ganhar uma natureza ressocializatória,

visava-se o bem estar e reabilitação do apenado, supera-se a concepção de que,

para a justiça criminal, o réu era apenas a pessoa abstrata e desconhecida; não se

considerava que atrás das fórmulas, se sentenciavam realidades vivas, seres

Page 10: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

10

humanos, onde o futuro moral e social era a consequência de um problema por

solucionar.

Na idade contemporânea, no tempo onde a defesa do indivíduo ganha força,

onde amadurece a concepção de reabilitar o apenado por meio da pena, tempo esse

que foi influído pelo movimento do iluminismo, partindo de contribuições de

doutrinadores como Voltaire e Beccaria. No decorrer desse período a execução

penal sofreu transformações acerca do direito material e processual, onde visava-se

a coerência penal, devendo esta ser razoável em relação a conduta praticada pelo

indivíduo e sua penalidade. É nessa fase que se começa efetivamente a natureza

humanitária da pena, deixando de lado a essência cruel da pena e ambicionava-se a

natureza da reabilitação, a pena sai de uma era incongruente para se adentrar em

uma era coerente e humanitária.

Consolidada a natureza humanitária da pena nasce a concepção de prisão

como meio de privação da liberdade, substituindo a pena de morte que tinha uma

natureza irracional e violenta, a pena de prisão se desenvolve na realidade, mais

como uma ideia do modelo de produção capitalista do que com a finalidade

humanitária e idealista de reabilitação do réu.

Mirabete (2014, p.20) elenca os princípios básicos propostos por Beccaria:

São os seguintes os princípios básicos pregados pelo filósofo que, não sendo totalmente original, firmou em sua obra os postulados básicos do Direito Penal moderno, muito dos quais adotados pela Declaração dos Direitos do Homem, da Revolução Francesa:1. Os cidadãos, por viverem em sociedade, cedem apenas uma parcela de sua liberdade e direitos. Por essa razão, não se podem aplicar penas que atinjam direitos não cedidos, como acontece nos casos da pena de morte e das sanções cruéis.2. Só as leis podem fixar as penas, não se permitindo ao juiz interpretá-las ou aplicar sanções arbitrariamente.3. As leis devem ser conhecidas pelo povo, redigidas com clareza para que possam ser compreendidas e obedecidas por todos os cidadãos.4. A prisão preventiva somente se justifica diante de prova de existência do crime e de sua autoria.5. Devem ser admitidas em Juízo todas as provas, inclusive a palavra dos condenados (mortos civis).6. Não se justificam as penas de confisco, que atingem os herdeiros do condenado, e as infamantes, que recaem sobre toda a família do 19 criminoso. 7. Não se deve permitir o testemunho secreto, a tortura para o interrogatório e os juízos de Deus, que não levam a descoberta da verdade. 8. A pena deve ser utilizada como profilaxia social, não só para intimidar o cidadão, mas também para recuperar o delinquente.

A prisão passou a ter uma natureza de finalidade social e conservação dessa

massa de indivíduo, e nasce devido ao regime capitalista e da condição econômica,

Page 11: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

11

assim não é possível afirmar que a prisão despontou com o ímpeto de um ato

humanitário, com a finalidade exclusiva de alcançar a ressocialização do criminoso.

A pena privativa de liberdade tem o objetivo de correção por meio da reclusão

e detenção do réu, impossibilitando dessa forma a pratica de novos delitos,

almejasse que o apenado retome sua liberdade não acarretando sequelas para a

sociedade, o condenado já tem condição de ser humano, não existia mais a tortura

como método de penalizar.

No Brasil o avanço normativo da pena é marcado por três fases: o Período

Colonial, Período do Império Código Criminal e Período Republicano. No período

colonial (1500- 1822) teve como primeira legislação as Ordenações Afonsinas,

também executada em Portugal, sendo substituída em 1521 pelas ordenações

manuelinas, essa da mesma forma não se consolidou, sendo revogada pelo Código

Filipino, conhecido pelas suas penas cruéis, ignorando plenamente os valores

essenciais humanos, abrangendo diversas formas de penalizações extremamente

brutais.

O período Imperial iniciou-se em 1822 com a Independência do Brasil,

conservou o Código Filipino, enquanto esperava a instituição de um novo código,

nesse período o Brasil enfrentava um momento de transformações, e liberdade de

valores humanos, sendo o direito penal bastante influenciado pelo movimento

iluminista, baseado no princípio da irretroatividade e da pessoalidade da pena.

No ano de 1830 a prisão começou a ter um papel de emenda e regeneração

moral para o apenado, sendo no mesmo ano editado o Código Criminal, pelo

imperador D. Pedro I. Código que diminuiu os crimes penalizados com a morte,

como também extinguiu as penas infamantes. Nasce a pena de privação de

liberdade, substituindo as penas corporais. Como ensina Motta (2011, p.78):

O arsenal das penas estabelecido pelo ódigo de 830 compunha-se da morte na forca (artigo 38); gal s (artigo 44); prisão com trabalho (artigo 46); prisão simples (artigo 47); banimento (artigo 50); degredo (artigo 5 ); desterro (artigo 52); multa (artigo 55); suspensão de emprego (artigo 58); perda de emprego (artigo 59). ara os escravos, havia ainda a pena de açoite, caso não fossem condenados morte nem s gal s. epois do açoite, o escravo deveria ainda trazer um ferro, segundo a determinação do juiz.

O Período Republicano começa em 1889 com o Brasil transformando-se em

Republica, consequentemente ocorreram alguns progressos, inclusive com a Lei

Page 12: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

12

Aurea, libertando os escravos, nesse momento o então Código Imperial Criminal

tinha necessidade de ser substituído em razão das grandes transformações que

ocorriam no país.

Então, em 1932 foi editada a consolidação das leis penais de Vicente Piragibe

em razão da elevada quantidade de alterações feitas no tão criticado código penal

de 1890. Entre 1890-1932, existiram muitos projetos para a substituição do código

penal.

Enfim, no ano de 1937 Alcântara Machado anunciou um Projeto de Código

Criminal Brasileiro, para apreciação por uma Comissão Revisora, foi sancionado, por

decreto de 1940, como Código Penal, e começou a vigorar desde 1942 até os dias

atuais, mesmo que parcialmente alterado.

Com a elaboração do Código Penal de 1940 surgiu a necessidade de uma

legislação voltada a execução penal, embora antes mesmo da publicação do aludido

Código, a doutrina já discorria com grande relevância a elaboração de uma lei de

execução penal, devido ao Código Penal e o Código de Processo Penal não

abrangerem uma parte reservada para tratar da determinação da execução penal e

disposições de privação de liberdade.

O que acontece somente no ano de 1981, quando uma comissão formada

pelo Ministro da Justiça e integrada pelos professores Francisco de Assis Toledo,

René Ariel Dotti, Miguel Reale Júnior, Ricardo Antunes Andreucci, Rogério Lauria

Tucci, Sérgio Marcos de Moraes Pitombo, Benjamim Moraes Filho e Negi Calixto

apresentou o anteprojeto da nova Lei de Execução Penal, sendo promulgada pela

Portaria n° 429, de 22 de julho de 1981. (MIRABETE 2014)

Em 29 de junho de 1983, o então Presidente da República João Figueiredo

enviou o projeto ao Congresso Nacional. Sendo sancionada a Lei de Execução

Penal, Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984, entrando em vigor em 13 d e julho de

1985. (MIRABETE, 2014).

2.2 DEVERES E DIREITOS DO PRESO

O sistema de disciplina interna do complexo prisional é uma operação

complexa, que deve ser realizada considerando a natureza humanitária da pena, isto

é, respeitando aos preceitos e garantias determinadas na Constituição Federal de

Page 13: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

13

1988 como o princípio da dignidade da pessoa humana e também na Declaração

Universal dos Direitos Humanos (1948). A Lei nº 7.210/84 (Lei de Execuções Penais) nos artigos. 38 e 39 determina

uma iniciação e um rol de obrigações a serem cumpridas pelos apenados, a saber:

Art. 38. Cumpre ao condenado, além das obrigações legais inerentes ao seu estado, submeter-se às normas de execução da pena. Art. 39. Constituem deveres do condenado: I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença; II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se; III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados; IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de subversão à ordem ou à disciplina; V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas; VI - submissão à sanção disciplinar imposta; VII - indenização à vítima ou aos seus sucessores; VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas realizadas com a sua manutenção, mediante desconto proporcional da remuneração do trabalho; IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento; X - conservação dos objetos de uso pessoal. Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que couber, o disposto neste artigo.

A grande finalidade desse dispositivo legal é a obediência do preso,

ocasionando na sua recuperação social, a pessoa antes de ser presa não atende às

leis e regras, e na condição de preso tem que respeitar e executar as obrigações

atribuídas pela lei de execução penal, sob pena de cometer falta grave, deixando de

ter direito aos benefícios prisionais.

A Constituição Federal e a Lei de Execução de Penal estabelecem também

os direitos inerentes ao preso, legitima este como ser humano, independentemente

do crime praticado contra a sociedade, entende a legislação que mesmo o indivíduo

que comete um crime e condenado por ele, ao se encontrar preso terá direitos.

A Constituição Federal estipula como direito dos apenados:

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;

Page 14: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

14

LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado; LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial.

A Lei de Execução Penal-LEP, por sua vez, também estabelece direitos

inerentes a pessoa do apenado:

Art. 40 - Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos condenados e dos presos provisórios. Art. 41 - Constituem direitos do preso: I - alimentação suficiente e vestuário; II - atribuição de trabalho e sua remuneração; III - Previdência Social; IV - constituição de pecúlio; V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação; VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena; VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo; IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado; X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados; XI - chamamento nominal; XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena; XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento; XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito; XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes. XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária competente Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento. Art. 42 - Aplica-se ao preso provisório e ao submetido à medida de segurança, no que couber, o disposto nesta Seção. Art. 43 - É garantida a liberdade de contratar médico de confiança pessoal do internado ou do submetido a tratamento ambulatorial, por seus familiares ou dependentes, a fim de orientar e acompanhar o tratamento. Parágrafo único. As divergências entre o médico oficial e o particular serão resolvidas pelo Juiz da execução.

Assim, a execução penal no ordenamento jurídico brasileiro deve respeitar os

limites de natureza humanitária, a pena deve ser coerente ao crime praticado pelo

apenado, por essa razão a CF no art 5ª incisos XLIX, L, LXII, LXII, LXV e a Lei de

Execução Penal em seus arts.40, 41, 42 e 43 determinam os direitos dos presos e

Page 15: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

15

tudo o que ultrapassar dos limites estipulados por tais legislações, viola os direitos

dos apenados.

3 PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE E OS OBSTACULOS DA

RESSOCIALIZAÇÃO

A pena privativa de liberdade se tornou um principal método coercitivo

principalmente a partir do século XIX, já que antes as penas físicas eram os

principais meios de punição, apresentando-se as prisões somente como local

temporário para condenação consecutiva. De acordo com os ensinamentos de

Bitencourt (20 , p. 49): “A crise da pena de morte deu origem a uma nova

modalidade de sanção penal: a pena privativa de liberdade, uma grande invenção

que demonstrava ser meio mais eficaz de controle social”.

A Lei de Execução Penal no art. 1º estabelece que: “A execução penal tem

por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar

condições para a harmônica integração social do condenado e do internado”. Em

razão da crise que se instaurou no sistema penitenciário brasileiro atualmente, nota-

se apesar das muitas legislações existentes, a pena privativa de liberdade não

consegue alcançar as finalidades almejadas.

Ressocializar é conceder ao apenado a assistência necessária para reintegrá-

lo a sociedade, é procurar entender as razões que o levaram a cometer o delito, é

possibilitar a ele uma chance de tornar-se melhor, de ter um futuro prospero

independente dos erros do passado. Porém existem obstáculos para essa

ressocialização, entre eles os principais serão descritos a seguir

3.1 A SAÚDE, HIGIENE E ALIMENTAÇÃO NA PRISÃO

Tanto a saúde física como a mental são fundamentais a todo ser humano,

estando ela profundamente vinculada a qualidade de vida. O art. 12 da Lei de

Execuções Penais determina que: “A assistência material ao preso e ao internado

consistirá no fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas”.

Estudos realizados nas penitenciárias, mostram a total ausência de higiene

nas celas, corredores, área comum e até mesmo nas cozinhas desses

Page 16: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

16

estabelecimentos. Nas celas o que se encontra é um acumulo de apenados

competindo por um espaço, sendo compelidos a coexistirem no meio de lixo, insetos

e esgotos abertos, submetidos aos mais variados tipos de doenças.

Conforme Bitencourt (2011, p.166):

Nas prisões clássicas existem condições que podem exercer efeitos nefastos sobre a saúde dos internos. As deficiências de alojamentos e de alimentação facilitam o desenvolvimento da tuberculose, enfermidade por excelência das prisões. Contribuem igualmente para deteriorar a saúde dos reclusos as más condições de higiene dos locais, originadas na falta de ar, na umidade e nos odores nauseabundos.

Além de todas as doenças, da mais variada gravidade, esses lugares

colaboram ainda para o surgimento de patologias psicológicas, como a depressão,

alienações e esquizofrenias, provocando em muitos deles o desejo de suicídio. As

prisões não possuem hospitais próprios, o que acarreta uma demora nos

atendimentos, não possuem alas de isolamento, ocasionando uma disseminação de

doenças contagiosas, o que piora a situação.

Ademais, a alimentação fornecida nas prisões da mesma forma é precária, na

maior parte das penitenciárias, os próprios apenados cozinham, com os alimentos

fornecidos pelos seus familiares e em outras, a alimentação é preparada em locais

sem condições mínimas de higiene

Percebe-se que apesar da LEP garantir direitos fundamentais ao apenados,

falta políticas públicas referentes a condição em que se encontra o sistema

penitenciário e a sociedade lamentavelmente vê essa situação como algo

merecedora, já que busca penalizar o apenado da pior forma possível, não levam

em consideração as consequências sociais de tais práticas.

3.2 A SUPERLOTAÇÃO CARCERÁRIA

O problema da superpopulação carcerária é o mais conhecido e habitual que

aflige o sistema penitenciário brasileiro, a disparidade no número de presos e de

vagas nas celas colabora para a situação humilhante em que se encontram os

apenados por agravar os outros problemas já existentes nos presídios.

A realidade que se encontra as penitenciárias é degradante, não fornecem a

mínima condição de dignidade, onde presos dormem no chão, dividem uma cela

Page 17: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

17

mínima com o dobro ou até o triplo da capacidade permitida e as providências que

são tomadas não chegam a alcançar resultados significativos, pois o problema é

estrutural, existem muitos presos para alojar em um pequeno espaço, os presídios

encontram-se depredados, com falta de espaço e estrutura física, como está imposta

na Lei, não respeitando os direitos fundamentais da pessoa humana.

No ambiente superlotado o respeito aos direitos dos apenados prescritos na

Lei de Execução Penal se torna quase impossível. Como exemplo, podemos citar o

art. 88 da LEP, que difere bastante da realidade:

Art. 88. O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório. Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular: a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana; b) área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados).

A demora do judiciário colabora para a superlotação carcerária já que o

número de apenados provisórios esperando uma sentença dentro das prisões é alto.

A justiça passa anos para julgar os casos, e assim aquele que estar preso

preventivamente, que poderia aguardar seu julgamento livre permanece ocupando

espaços nas prisões.

O fiasco da progressão de regime em razão da ausência de assistência

jurídica, o número pequeno de juízes para julgar os pedidos, igualmente colabora

para a superlotação das prisões, que são impelidas a acolherem o apenado.

A superlotação, acarreta situações extremamente inseguras, aumentando a

apreensão entre os presos, favorecendo a ocorrência de motins, rebeliões, fugas,

abusos sexuais, transmissão de doenças, entre outras coisas, colocando a vida dos

próprios presos e dos agentes e policiais que trabalham no presídio em risco, além

do risco para a sociedade.

3.3 A VIOLÊNCIA

As penitenciárias brasileiras estão sendo submetidas a violência e o

desrespeito. Os apenados ao entram na prisão, são compelidos a seguirem as

normas impostas pela população carcerária. O que acarreta a busca pela

Page 18: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

18

sobrevivência, assim os apenados devem se adaptar as condutas impostas pelo

chamado código do recluso.

De acordo com Bitencourt (2011, p. 186):

A influência do código do recluso é tão grande que propicia aos internos mais controle sobre a comunidade penitenciária que as próprias autoridades. Os reclusos aprendem, dentro da prisão, que a adaptação às expectativas de comportamento do preso é tão importante para seu bem-estar quanto a obediência às regras de controle impostas pelas autoridades.

As prisões de todo o Brasil se transformaram em um lugar de aprendizado do

crime, favorável para a formação e procriação da violência, onde os presos violam

sexualmente seus companheiros de cela, se agridem, muitas vezes causando a

morte do outro, sem falar nas violações cometidas aos seus direitos pelos agentes

carcerários, que por muitas vezes usam da sua autoridade para torturarem os

presos, por culpa do seu despreparo profissional, descontrole emocional, más

condições de trabalho, exaustivas jornadas e um péssimo salário.

Outro importante ponto que desencadeia a violência nos presídios é a falta de

divisão entre os presos, classificando-os pelos crimes cometidos e pela

periculosidade, atualmente nos presídios pode-se encontrar presos que cometeram

homicídios, latrocínios, estupros, juntos com presos que roubaram uma galinha, uma

lata de leite ou algo assim, não querendo aqui defender esses apenados que

praticam crime de bagatela, pois são também infratores da lei, mas será mesmo

justo estarem juntos com presos de alta periculosidade?

3.4 O RETORNO À SOCIEDADE

A influência da sociedade na ressocialização do apenado ao convívio social é

um elemento fundamental para que a esta acarrete efeitos positivos. As dificuldades

enfrentadas pelos apenados depois de terem sua liberdade de volta ainda são

muitas. Lamentavelmente, percebe-se que a sociedade, perante a violência e

delinquência, é levada sensacionalismo e preconceito formado pelos vários meios de

comunicação e adotam um posicionamento nada humanista no que se refere

aqueles que saíram prisões e buscam seguir uma vida distante do crime.

Page 19: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

19

Como bem ensina Greco (20 , p. 443): “ arece-nos que a sociedade não

concorda, infelizmente, pelo menos à primeira vista, com a ressocialização do

condenado. O estigma da condenação, carregado pelo egresso, o impede de

retornar ao normal convívio em sociedade”.

A grande dificuldade para os ex apenados é ingressar no mercado de

trabalho, já que além do estigma de ex-presidiário, a maioria deles não possuem

ensino fundamental completo e nem experiência profissional, sendo bastante difícil

conseguirem algum emprego

Essa conjuntura impedi a necessária e humanitária inclusão novamente do ex

apenado ao convívio social colaborando de maneira direta o crescimento da

reincidência.

4 ALTERNATIVAS PARA A CRISE CARCERÁRIA E EFETIVA

RESSOCIALIZAÇÃO

Em virtude da crise que mergulha o sistema prisional brasileiro, a pena

privativa de liberdade se transformou somente em um meio de afastar da sociedade

o indivíduo que cometeu um delito. Logo, é de extrema relevância que se busque

opções para alterar o cenário atual do país, afinal o Estado tem a obrigação de fazer

cumprir sua legislação e não pode apenas desprezar tudo o que está ocorrendo.

Então, é importante fazer uma análise das possíveis opções que o Estado

pode utilizar para que o sistema prisional vencer essa crise e aconteça a tão

almejada ressocialização do apenado, de maneira efetiva.

4.1 O TRABALHO PRISIONAL

O trabalho ocasiona no ser humano diversas consequências positivas. De

acordo com o entendimento de Maurício Kuehne (2013, p. 32):

O trabalho, sem dúvida, além de outros tantos fatores apresenta um instrumento de relevante importância para o objetivo maior da Lei de Execução Penal, que é devolver a Sociedade uma pessoa em condições de ser útil. É lamentável ver e saber que estamos no campo eminentemente pragmático, haja vista que as unidades da federação não têm aproveitado o potencial da mão de obra que os cárceres disponibilizam.

Page 20: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

20

A atividade profissional é elemento de um direito social atinente a todos os

indivíduos e está expressamente determinada na Constituição Federal em seu art.

6º. Com a intenção de não permitir que esse direito seja ignorado dentro das

prisões, o art. 14, II da Lei de Execução Penal, igualmente retrata o trabalho como

direito do apenado, mas infelizmente são raros os estabelecimentos que concedem

vagas de emprego aos reclusos.

O trabalho na prisão além de ser um relevante instrumento ressocializador,

impedi as consequências corruptoras da ociosidade, colabora para a formação da

personalidade do indivíduo, possibilita ao recluso conseguir algum dinheiro para

auxiliar no sustento de sua família e de suas necessidades, e proporciona ao

apenado uma maior chance de ganhar sua vida de maneira digna depois que sair da

prisão.

Ademais, considera-se igualmente o trabalho na prisão como uma forma de

remissão de pena, determinada no art. 126, §3 da Lei de Execuções Penais, onde

para cada três dias de trabalho, um será descontado.

Com todas as vantagens trazidas aos apenados, o trabalho ainda é uma

forma de compensar o Estado pelos dispêndios advindos da condenação, sendo

assim ambos beneficiados.

4.2 A EDUCAÇÃO NA PRISÃO

No que diz respeito a assistência educacional na prisão a Lei de Execução

Penal versou sobre o tema nos arts. 17 à 21 e no art. 41, inciso VII. A educação nas

prisões tem como principal objetivo capacitar o indivíduo para que ele possa

perseguir um futuro melhor ao sair da prisão, pois o estudo é reputado hoje como um

critério essencial para ingressar no mercado de trabalho, e a maioria dos apenados

não possuem nem ensino fundamental completo.

Da mesma forma que acontece com o trabalho, foi elaborada igualmente a

remissão por estudo, determinada no art. 126, parágrafo 1º, inciso I da LEP, que diz:

Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena. § 1

o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de:

Page 21: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

21

I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional - divididas, no mínimo, em 3 (três) dias;

Assim sendo, a educação na prisão além de estimular o detento a buscar

novos caminhos ao conseguir sua liberdade, também é um modo de reduzir os dias

que devem ser cumpridos atrás das grades.

4.3 A INTERVENÇÃO MINIMA DO DIREITO PENAL

A elabora de novas espécies penais acarreta um crescimento na legislação

chamada inflação legislativa. Com o advento de novas regras penais, o Direito Penal

deixa de ser reputado como a ultima ratio, passando a amparar bens jurídicos

alusivos a outras áreas do direito, tendo o princípio da intervenção mínima deixado

de fazer sentido.

Pelo princípio da intervenção mínima é de competência do legislador deixar

de recriminar qualquer comportamento que não tenha grande relevância para o

Direito Penal e ao intérprete coube o papel de observar se determinada conjuntura

pode ser solucionada com a atuação dos demais ramos da ciência jurídica.

Logo, é preciso uma modificação no Direito Penal direcionada a efetivação do

princípio da mínima intervenção, para que a pena privativa de liberdade seja

empregada apenas nos casos em que não exista outra solução para a defesa do

bem jurídico, impedindo assim a prisões desnecessárias e por consequência o

crescimento da população carcerária.

4.4 PROMOÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

A promoção de políticas públicas é um elemento essencial para que o Estado

possa disponibilizar uma execução da pena que satisfaça efetivamente sua

finalidade que é ressocializar o indivíduo.

A ausência dessas políticas públicas é um problema que ecoa tanto externa

como internamente nas prisões, devendo as possíveis respostas serem separadas

em três âmbitos distintos: a estatal, a criminal e a penitenciária.

Page 22: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

22

Em relação a política pública estatal, é preciso que o governo entenda que

para reduzir o problema carcerário, é necessário investir em políticas públicas

direcionadas não apenas à execução penal, mas igualmente as esferas de

educação, saúde, segurança, habitação e geração de emprego como meio de

reduzir as desigualdades sociais que existem, para que todos possam ter mais

oportunidades e para que ao fim do cumprimento da pena o apenado tenha o

amparo necessário para recompor sua vida de maneira honesta.

Certas medidas que podem ser empregadas pela política pública criminal são:

aumentar as hipóteses de substituição da pena privativa de liberdade pelas

restritivas de direito ou multa, impedir as prisões cautelares, determinadas apenas

quando preencherem os requisitos necessários existente na legislação e quando

não for cabível outra medida cautelar menos extremada que a prisão, entre outras.

Por fim, é importante mencionar a necessidade de uma política pública feita

no interior dos estabelecimentos prisionais, também chamada de política

penitenciária. Para isso é imprescindível o incentivo do Poder Público para satisfazer

as necessidades estruturais das penitenciarias, tais como um lugar para que os

apenados possam realizar atividades físicas, educar-se, exercer alguma profissão,

fazer suas refeições e no final uma cela que satisfaça as exigências feitas na Lei de

Execução Penal.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O intuito deste artigo não é salvaguardar indivíduos que cometeram crimes e

muito menos os delitos executados por eles, mas sim buscar possibilidades que

sejam eficientes contra o colapso do sistema penitenciário brasileiro, pois está mais

que evidenciado que a pena privativa de liberdade da maneira com que está sendo

empregada não está produzindo os resultados necessários, e pelo inverso só está

piorando ainda mais a condição em que se encontra.

Ficou claro que o ordenamento jurídico brasileiro reconhece o direito dos

apenados e defendem sua personalidade e dignidade, tanto com a Declaração dos

Direitos Humanos, como também com a Lei de Execução Penal e a Constituição

Federal, visando realmente a ressocialização do preso. O que falta para que haja

um sistema penitenciário decente é a efetiva aplicação dessas normas.

Page 23: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

23

Dessa maneira, conclui-se que ainda há alternativas para o sistema

penitenciário brasileiro, estando muitas delas estipuladas na própria legislação. O

que falta na realidade é o comprometimento de todos, para que sejam postas em

prática ações que procurem reduzir os níveis de violência e auxiliem na recuperação

do detento, afinal a finalidade da pena não é somente punir o condenado, mas

também ressocializá-lo.

ABSTRACT

This article aims to analyze the reality of the Brazilian penitentiary system, checking as is the rehabilitation process of prisoners in penal execution in Brazil. The Brazilian prison system is one of the main problems that exist in Brazil, because it deals with the chaos of knowledge overcrowding, ill-treatment, prisoners being in undignified conditions, some remain stuck even having already served his sentence as a result of legal neglect. The current situation shows a total lack of conditions for compliance with the appropriate parameters for compliance and rehabilitation of the prisoner, that the law is about both. The prison management also be below expectations of political and social rehabilitation methodology. The methodology used was the bibliographical research case law, doctrine and articles. The study comes to the conclusion that even the criminal law enforcement drive all the resocializing process, the efficiency of the Brazilian prison system rehabilitation methods fail to achieve the desired goals by the lack of effective use of legislation, ensuring the dignity of the human person , the right to work, education, among others.

Keywords: Trapped. Feather. Resocialization.

REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 – Lei de Execução Penal. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7210.htm>. Acesso em 20 de out. 2015. BRASIL. Conselho Nacional de Justiça – Novo Diagnostico de pessoas presas no Brasil. Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/images/imprensa/diagnostico_de_pessoas_presas_correcao.pdf >. Acesso em 20 de out. 2015. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em 15 de out. 2015. BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da Pena de Prisão - Causas e Alternativas. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

Page 24: FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP … · 2018-07-23 · faculdade de ensino superior da paraÍba - fesp curso de graduaÇÃo em direito rommel wesley pinto dÁlia ressocializaÇÃo

24

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal - Parte Geral - Vol. 1 - 18ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2014 GRECO, Rogério. Direitos Humanos, Sistema Prisional e Alternativa à Privação de Liberdade. São Paulo: Saraiva, 2011. GRECO, Rogério. Sistema prisional: colapso e soluções alternativa. 2. ed. rev., ampl. e atual. Niterói: Impetus, 2015. KUHENE, Maurício. Lei de Execução Penal Anotada. 11. ed. rev. e atual. Curitiba: Jaruá, 2013. MIRABETE, Júlio Fabrini. Execução Penal: comentários à Lei n° 7.210, de 11-7-84. 12. ed., rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2014 MOTTA, Manoel Barros da. Crítica da Razão Punitiva: Nascimento da Prisão no Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 2011. OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: um paradoxo social – 3. Ed – Florianópolis: Editora da Universidade Federal de Santa Catarina, 2003. SMANIO, Gianpaolo Poggio; FABRETTI, Humberto Barrionuevo. Introdução ao Direito Penal: criminologia, princípios e cidadania. São Paulo: Atlas, 2012.