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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA FESP CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO ALEXANDRE SOUZA PITTA LIMA A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA EXECUÇÃO FISCAL DA DÍVIDA ATIVA TRIBUTÁRIA CABEDELO PB 2016

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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA – FESP

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

ALEXANDRE SOUZA PITTA LIMA

A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA EXECUÇÃO

FISCAL DA DÍVIDA ATIVA TRIBUTÁRIA

CABEDELO – PB

2016

ALEXANDRE SOUZA PITTA LIMA

A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA EXECUÇÃO

FISCAL DA DÍVIDA ATIVA TRIBUTÁRIA

Trabalho de Conclusão de Curso em forma de Artigo

Científico apresentado à Coordenação do Curso de

Bacharelado em Direito, pela Faculdade de Ensino

Superior da Paraíba - FESP, como requisito parcial para

a obtenção do título de Bacharel em Direito.

Área: Processo Tributário

Orientadora: Profª Ms. Herleide Herculano Delgado

CABEDELO - PB

2016

ALEXANDRE SOUZA PITTA LIMA

A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA EXECUÇÃO

FISCAL DA DÍVIDA ATIVA TRIBUTÁRIA

Artigo Científico apresentado à Banca Examinadora de

Artigos Científicos da Faculdade de Ensino Superior da

Paraíba - FESP, como exigência para a obtenção do

grau de Bacharel em Direito.

APROVADO EM ____/_________ DE 2016

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Profª Ms. Herleide Herculano Delgado

ORIENTADORA - FESP

__________________________________________

Profº Ms. Felipe Ribeiro Coutinho da Silva

MEMBRO - FESP

__________________________________________

Profº Ms. Rafael Pontes Vital

MEMBRO - FESP

TERMO DE RESPONSABILIDADE/DIREITOS AUTORAIS

Eu ALEXANDRE SOUZA PITTA LIMA, RG nº 0550786996 SSP/BA, acadêmico do

Curso de Bacharelado em Direito, autor do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC,

intitulado A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA

EXECUÇÃO FISCAL DA DÍVIDA ATIVA TRIBUTÁRIA, declaro para os devidos fins

que o TCC que apresento atendem as normas técnicas e científicas exigidas na elaboração de

textos, indicadas no Manual para Elaboração de Trabalho de Conclusão de Curso da

Fesp Faculdades. As citações e paráfrases dos autores estão indicadas e apresentam a origem

da ideia do autor com as respectivas obras e anos de publicação. Caso não apresente estas

indicações, ou seja, caracterize crime de plágio, estou ciente das implicações legais

decorrentes deste procedimento.

Declaro, ainda, minha inteira responsabilidade sobre o texto apresentado no TCC,

isentando o professor orientador, a Banca Examinadora e a instituição de qualquer

ocorrência referente à situação de ofensa aos direitos autorais.

Cabedelo - PB, 1º de dezembro de 2016

______________________________________

ALEXANDRE SOUZA PITTA LIMA

Mat. 2016110023

SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS......................................................................................... 5

2 A PESSOA JURÍDICA NO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO...................................... 6

2.1 O SÓCIO E O ADMINSTRADOR E A RESPONSABILIDADE DESTES PERANTE

AS OBRIGAÇÕES SOCIAIS DA SOCIEDADE............................................................... 9

2.2 A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA......................................11

3 A EXECUÇÃO FISCAL DA DÍVIDA ATIVA TRIBUTÁRIA.................................. 13

3.1 O REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO FISCAL...................................................16

4 O INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE NO

CPC/2015...........................................................................................................................20

4.1 A UTILIZAÇÃO DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA

PERSONALIDADE JURÍDICA NA EXECUÇÃO FISCAL............................................22

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................24

REFERÊNCIAS................................................................................................................25

5

A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NA EXECUÇÃO

FISCAL DA DÍVIDA ATIVA TRIBUTÁRIA

Alexandre Souza Pitta Lima*

Herleide Herculano Delgado**

RESUMO

O presente artigo trata da aplicação subsidiária do incidente de desconsideração da

personalidade jurídica na execução fiscal. Para tanto, demonstra que a Fazenda Pública deve

buscar, primeiro, o redirecionamento. Nesse intuito, desenvolve-se a discussão em torno do

tema nos seções e subseções que se seguem até as considerações finais. Aborda a posição

doutrinária atual fazendo-lhe críticas no tocante a confusão que esta faz entre os institutos

acima mencionados. Constrói-se, por isso, arrimando-se na doutrina e no entendimento do

Superior Tribunal de Justiça, os conceitos de pessoa jurídica e sua desconsideração, de

responsabilidade tributária e patrimonial, de dívida ativa, de redirecionamento, de execução

fiscal, de incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Em cada seção e subseções

deste se faz um estudo sistemático da doutrina e legislação a respeito do conceito jurídico

abordado nele, e quando necessário, também da jurisprudência. Quanto à responsabilidade

tributária analisada, adotou-se a interpretação pretoriana de que ela seria subsidiária,

diferentemente do que se compreende da literalidade do texto normativo, o qual prescreve sê-

la pessoal. Em relação às pessoas jurídicas de direito privado, restringe-se as sociedades.

Diga-se que a dívida ativa considerada foi a de origem tributária, em decorrência do escopo

temático abordado. Enfim, demonstra-se a subsidiariedade do novel instituto processual do

incidente de desconsideração da personalidade jurídica na execução fiscal, e, de sua total

independência do redirecionamento do executivo fiscal.

PALAVRAS-CHAVE: Pessoa Jurídica. Execução Fiscal. Redirecionamento.

Desconsideração da Personalidade Jurídica.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente estudo busca demonstrar que o incidente de desconsideração da

personalidade jurídica, previsto no Código de Processo Civil de 2015, aplica-se

subsidiariamente ao redirecionamento nas execuções fiscais. Entretanto, fá-lo-á criticando a

doutrina que vem se formando a respeito da aplicação ou não do referido incidente processual

aos executivos fiscais.

Isso porquanto, parte incipiente da doutrina entende que a Fazenda Pública não

deve utilizar-se do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, enquanto outra

parte dos doutrinadores aceita a utilização desse incidente processual na execução fiscal,

* Bacharel em Ciências Contábeis. Pós graduado em Direito tributário. Aluno graduando do 10º período do Curso de Direito da FESP –

Faculdades, semestre 2016.2. E-mail: [email protected]. ** Herleide Herculano Delgado. Advogada. Consultora Jurídica. Professora Especialista em direito tributário. Mestre em Direito econômico.

Orientadora deste TCC. E-mail: [email protected].

6

porém de forma equivocada, isto é, misturam o conceito deste com o de redirecionamento

fulcrado nas Leis 6.830/80 e 5.172/66.

Tal estudo se faz necessário, porquanto, diante do novo incidente processual, a

doutrina pátria começou a discuti-lo no intuito de melhor aplica-lo no direito processual

brasileiro, notadamente na execução fiscal. O fator determinante para iniciar, desde logo, esse

debate em torno da seara fiscal, está o artigo 135 do Código tributário Nacional, que, regula a

responsabilidade tributária de terceiros.

Nesse intento, cada seção deste trabalho abordará os conceitos jurídicos de direito

material e de direito processual imprescindíveis ao desenvolvimento do presente tema. Tal

estudo se fará mediante pesquisa bibliográfica, que de maneira exploratória, perquiriu

abranger as obras de maior envergadura sobre a temática em epígrafe. A escolha do material

bibliográfico, além do motivo relacionado acima, fez-se, também, pela disponibilidade e

atualidade dos livros que o compõem.

A par disso, construir-se-ão à frente os conceitos de pessoa jurídica,

destrinchando-o em outros dois: responsabilidade e desconsideração da personalidade

jurídica, de dívida ativa, de redirecionamento, de execução fiscal, de incidente de

desconsideração da personalidade jurídica, para, enfim, trazer a posição a que chegará este

estudo sobre a aplicação do referido incidente processual na execução fiscal.

2 A PESSOA JURÍDICA NO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

A Lei Federal 10.406, de 10 de outubro de 2002 – Código Civil Brasileiro (CCB),

em seu artigo 1º, estabelece que “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”.

Com isso, de plano, infere-se que o ser humano está enquadrado no referido dispositivo,

porquanto, como é sabido e consabido, é-o sujeito de direitos e obrigações na ordem jurídica.

Especifique-se que na qualidade de pessoa natural (BRASIL, 2002).

Essa norma jurídica, contudo, traz subtendido, nas suas entrelinhas, que não

somente a pessoa natural é centro de imputação de direitos e obrigações, pois, de modo

idêntico, é-o a pessoa jurídica. Tal conclusão decorre de se localizar, o artigo 1º em epígrafe,

no Título II do Livro I, intitulado de “Das Pessoas”, no plural; referindo-se, dessa maneira, a

mais de uma pessoa, as quais só podem ser: a natural e a jurídica (BRASIL, 2002).

No mesmo sentido caminha a lição de Camillo (2014, p.85), que, ao comparar o

Código Civil atual com o seu antecessor (CC/1916), dessumiu, por estar aquele influenciado

pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB), fora substituída a

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palavra “homem”, empregada pelo CC/1916, pelo vocábulo “pessoa”, a qual “[...] propiciou,

num conceito amplo, a abrangência da pessoa jurídica” (BRASIL, 2002; 1916; 1988).

Por conseguinte, pode-se dizer que o Código Civil Brasileiro, antes de qualquer

outro conceito jurídico, preocupou-se em definir primeiramente os sujeitos do Direito – as

pessoas – ou seja, a natural e a jurídica. A mesma percepção teve Diniz (2011, p. 129) ao

lecionar que, in verbis:

Para a doutrina tradicional “pessoa” é o ente físico ou coletivo suscetível de direitos

e obrigações, sendo sinônimo de sujeito de direito. Sujeito de direito é aquele que é

sujeito de um dever jurídico, de uma pretensão ou titularidade jurídica, que é o poder

de fazer valer, através de uma ação, o não cumprimento do dever jurídico, ou

melhor, o poder de intervir na produção da decisão judicial (grifo do autor).

Além das pessoas natural e jurídica, o artigo 40 do CCB subdivide esta última em

de direito privado e de direito público. E vai mais fundo, por seu turno, ao desdobrar a pessoa

jurídica de direito público em interno e externo. O conhecimento do conceito das diversas

espécies de pessoas disciplinadas no ordenamento jurídico pátrio, notadamente no Código

Civil Brasileiro, é de suma importância para se compreender como elas se relacionam, e as

consequências jurídicas disto no direito interno (BRASIL, 2002).

Nessa toada, o artigo 41 do mesmo diploma, identifica as pessoas jurídicas de

direito público interno como: “I - a União; II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;

III - os Municípios; IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; e V - as demais

entidades de caráter público criadas por lei”; enquanto as de direito público externo (art. 44,

CCB) com “I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações; IV - as organizações

religiosas; V - os partidos políticos; e VI - as empresas individuais de responsabilidade

limitada” (BRASIL, 2002).

Demais disso, o surgimento da pessoa jurídica de direito privado, em termos

legais, opera-se com o registro de seu ato constitutivo junto ao órgão competente, conforme a

dicção do artigo 45, in fine, do corpo jurídico em epígrafe. Ipsis litteris:

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a

inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de

autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as

alterações por que passar o ato constitutivo (BRASIL, 2002).

A doutrina de Nery Junior e Nery (2011, p. 264), outrossim, esmiuçando o

requisito legal previsto na parte inicial do texto do precitado artigo 45, e combinando-o com o

artigo 97 da Lei 6.404/76 – Lei das Sociedades Anônimas (LSA) – preceitua:

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É no Registro Civil das Pessoas jurídicas, com as formalidades previstas na LRP

120, que os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromisso das

sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias, bem como o das

fundações e das associações de utilidade pública devem ser inscritos (LRP 1141),

para celebrar a existência legal das pessoas jurídicas. Também lá serão registrados

os atos constitutivos das sociedades civis que revestirem as formas estabelecidas nas

leis comerciais, com exceção das sociedades anônimas, regidas por lei própria, a

LSA (L 6404/76) [...].

No entanto, nada obstante o perfazimento obrigatório da condição legal acima

exposta, para o surgimento da pessoa jurídica de direito privado, o sobredito Codex, nos

artigos 986 a 990 – SEÇÃO I (Da Sociedade em Comum) do SUBTÍTULO I (Da Sociedade

Não Personificada) do TÍTULO II (Da Sociedade) – reconhece a realidade fática das

sociedades em comum, isto é, que funcionam sem o devido registro, ao atribuir efeitos

jurídicos a interação dessas com o mundo fenomênico. Diniz (2011, p. 194), em sintonia com

tal raciocínio, traz a seguinte explanação:

A sociedade em comum é a que não tem personalidade jurídica, por falta de

inscrição de seu ato constitutivo no órgão competente, apesar de apresentar sócios e

exercer atividade produtiva para a consecução de resultado econômico a ser

partilhado entre seus membros. Ela, portanto, tem existência, e está em

funcionamento, vivendo de fato e produzindo efeitos como negócio jurídico.

O Enunciado 58 da I Jornada de Direito Civil, promovido pela CJF, indo além,

equiparou outros dois tipos de sociedade não personificada ao de sociedade em comum,

descrevendo que “a sociedade em comum compreende as figuras doutrinárias da sociedade de

fato e da irregular”. Explicitando melhor: tal interpretação trouxe a identidade entre tais

institutos jurídicos, transformando-os num só: o da sociedade em comum.

Em remate, Diniz (2011, p. 194, grifo do autor) pontua que “no Brasil, para a

maioria dos autores, a sociedade irregular e a sociedade de fato são consideradas realidades

idênticas; logo, a sociedade em comum as engloba, visto que não são personificadas”. Quer

significar isso, que não é relevante se o empresário já praticou algum dos atos prescritos em

lei para se registrar, pois se ele não levar a termo o procedimento administrativo de registro no

órgão público competente, continuará na informalidade.

Acrescente a isso, que dentre a referida sociedade ilimitada, há a em conta de

participação, prevista no artigo 991 do CCB, que, combinado com o 992, sê-la-á

necessariamente não personificada, haja vista sua constituição “[...] independe[r] de qualquer

formalidade e pode[r] provar-se por todos os meios de direito” (BRASIL, 2002). Em

consonância está à doutrina de Ferragut (2013, p.261) ao afirma que, ipsis litteris:

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[...] as sociedades não-personificadas são as que não foram levadas ao registro

público necessário a lhes conferir personalidade jurídica. Entretanto, o direito não

deixa de considera-la sociedades, porque nelas se identifica a affectio societatis.

Tratam-se das denominadas sociedades em comum e das sociedades em conta de

participação [...]

Nota-se, nesse contexto, que o paradigma utilizado pelo Codex Civilis

determinativo da existência ou não de personalidade por parte das sociedades e, até da

empresa individual de responsabilidade limitada, é o registro destas no órgão competente.

Sendo assim, havendo registro do instrumento constitutivo, será sociedade personalizada; do

contrário, sociedade não personalizada.

2.1 O SÓCIO E O ADMINSTRADOR E A RESPONSABILIDADE DESTES PERANTE AS

OBRIGAÇÕES SOCIAIS DA SOCIEDADE

Não basta, entretanto, seja uma sociedade personificada para a configuração da

responsabilidade limitada. Isso porquanto, há em nossa ordem civil a pessoa jurídica de

direito privado, que, apesar de gozar de autonomia subjetiva, todos os sócios respondem

subsidiariamente com os bens particulares pelas obrigações sociais dela. A exemplo da

sociedade em nome coletivo (arts. 1.039 a 1.044, CCB).

Ademais, conquanto a redação do artigo 990 do CCB preconizar que os sócios das

sociedades não personificadas arcam ilimitada e solidariamente pelos deveres societários, por

causa do comando prescrito no artigo 988, que diz: “Os bens e dívidas sociais constituem

patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em comum”. Isto é, essa exclusão do

benefício de ordem não se justifica (BRASIL, 2002).

Com idêntico raciocínio se apresenta a lição de Ferragut (2013, p. 264), a qual

assevera verbis:

Não concordamos com essa regra [art. 990, CC], tendo em vista que, em que pese

estarmos tratando de sociedade não-personificada, a responsabilidade do sócio deve

ser sempre subsidiária à da sociedade (em razão dos princípios da capacidade

contributiva e do não-confisco). Nesse sentido, apenas se for identificada a

impossibilidade de se exigir da sociedade o adimplemento da dívida, é que os sócios

serão compelidos a pagar a integralidade da dívida (responsabilidade ilimitada).

Referentemente, porém, as sociedades em conta de participação, em razão do

disposto no artigo 991 do CCB, afirmar que “[...] atividade constitutiva do objeto social é

exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e

exclusiva responsabilidade, [...]”, poderá o seu credor social – até porque desconhece a

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existência dela – executar diretamente os bens particulares do respectivo sócio ostensivo. A

responsabilidade, por isso, será sempre ilimitada e solidária (BRASIL, 2002).

Em situação intermediária, por sua vez, estão às sociedades simples (arts. 997 a

1.038, CCB), em comandita simples (arts. 1.045 a 1.051, CCB) e em comandita por ações

(arts. 1.090 a 1.092, CCB), visto que, nas duas últimas, há duas qualidades de sócios ou

acionistas, respectivamente, os de responsabilidade limitada ao capital investido

(comanditário ou acionista) e os de responsabilidade solidária ou subsidiária com as

obrigações sociais (comanditado ou diretor-acionista). Quanto à sociedade simples, segundo o

artigo 997, VII, do CCB, o limite da responsabilidade dos sócios dependerá de como estiver

estabelecido no contrato social (BRASIL, 2002).

No que concerne às sociedades de responsabilidade limitada, pode-se afirmar que

estas se encontram entre as mais utilizadas pelos empreendedores brasileiros, destacando-se

as sociedades limitada (arts. 1.052 a 1.087, CCB) e anônima (arts. 1.088 e 1.089, CCB,

regulada pela Lei 6.404/76). A aludida preferência se deve a limitação dos riscos do

investimento, na medida em que, de regra, o patrimônio particular dos sócios ou acionistas,

nessa ordem, fica protegido de eventuais prejuízos causados a terceiros pela entidade

societária, por insuficiência patrimonial de honrar com as suas obrigações sociais, quer seja

momentânea, quer seja permanente (BRASIL, 2002).

De fato, em consequência dessa autonomia patrimonial, os respectivos

patrimônios não se comunicam. Está aqui, pois, o principio da autonomia patrimonial.

Definindo-o, Coelho (2013, p. 82) traz as ponderações infratranscritas:

Pelo princípio da autonomia patrimonial, considera-se a sociedade empresária, por

ser pessoa jurídica, um sujeito de direito diferente dos sócios que a compõem. Entre

outras consequências, este princípio implica que a responsabilização pelas

obrigações sociais cabe à sociedade, e não aos sócios. Apenas depois de executados

os bens da sociedade, e mesmo assim observando-se eventuais limitações impostas

por lei, os credores podem pretender a responsabilização dos sócios.

Essa incomunicabilidade patrimonial, no entanto, não é absoluta, uma vez que, em

algumas situações previstas em lei, podem os sócios ou administradores responder, com seus

patrimônios, às dívidas da pessoa jurídica, ainda que a responsabilidade desta seja limitada.

Em vista disso, não se deve esquecer que somente em situações excepcionais, os bens

particulares daqueles serão alcançados pelas obrigações sociais desta.

O artigo 1.080 do CCB, verba gratia, descreve duas situações fático-jurídicas,

que, se provocadas pelos sócios ou administradores de sociedade limitada ou anônima,

respectivamente, em desfavor delas, à responsabilidade daqueles que lhes deram causa será

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ilimitada. Pois, nas palavras do aludido dispositivo legal: “As deliberações infringentes do

contrato ou da lei tornam ilimitada a responsabilidade dos que expressamente as aprovaram”.

Diga-se, a propósito, que não se configura tal fato numa desconsideração da personalidade

jurídica (BRASIL, 2002).

Na mesma esteira se manifestou a IV jornada de Direito Civil, com a edição do

Enunciado 229, de litteram:

Art. 1.080: A responsabilidade ilimitada dos sócios pelas deliberações infringentes

da lei ou do contrato torna desnecessária a desconsideração da personalidade

jurídica, por não constituir a autonomia patrimonial da pessoa jurídica escudo para a

responsabilização pessoal e direta.

Enfim, a personalidade jurídica, per se, não garante a distinção patrimonial entre

os bens particulares dos sócios ou administradores e o patrimônio social das empresas,

porquanto, repise-se, a pessoa jurídica de responsabilidade limitada segue a regra da

autonomia patrimonial. Isso não acontecerá, por sua vez, com a entidade societária de

responsabilidade ilimitada, haja vista sendo o patrimônio desta insuficiente para cobrir sua

obrigação social, responderão também por ela, os bens particulares dos sócios ou

administradores até o limite de satisfazê-la.

2.2 A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

De mais a mais, o Código Civil prevê situações fáticas nas quais se torna

imprescindível à desconsideração da personalidade jurídica para atribuir as dívidas sociais aos

sócios ou administradores que agirem conforme as condutas disciplinas no artigo 50, in

verbis:

Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade,

ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do

Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e

determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos

administradores ou sócios da pessoa jurídica (BRASIL, 2002, grifos nossos).

Decerto que o precitado dispositivo legal se refere às sociedades limitada e

anônima, porquanto, relativamente às ilimitadas, os deveres societários destas estarão aptos a

alcançar os bens particulares dos sócios, sempre que forem superiores ao patrimônio especial.

Nesse contexto, infere-se que não se deve confundir o instituto jurídico da responsabilização

subsidiária ou solidária com o da desconsideração da personalidade jurídica.

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Na intenção de expender a teoria da desconsideração da personalidade jurídica

adotada por nosso ordenamento jurídico, no art. 50 do CCB, Diniz (2016, 128) doutrina que,

in verbis:

A pessoa jurídica é uma realidade autônoma, capaz de direito de obrigações,

independentemente de seus membros, pois efetua negócios sem qualquer ligação

com a vontade deles; além disso, se a pessoa jurídica não se confunde com as

pessoas naturais que a compõe, se o patrimônio da sociedade não se identifica com

os dos sócios, fácil será lesar credores, mediante abuso de direito, caracterizado por

desvio de finalidade, tendo-se em vista que os bens particulares dos sócios não

podem ser executados antes dos bens sociais, havendo dívida da sociedade. Por isso

o Código Civil pretende que, quando a pessoa jurídica se desviar dos fins

determinantes de sua constituição, ou quando houver confusão patrimonial, em

razão de abuso da personalidade jurídica, o órgão judicante, a requerimento da parte

ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo (CPC, art. 133),

esteja autorizado a desconsiderar, episodicamente, a personalidade jurídica, para

coibir fraudes de sócios que dela se valeram como escudo sem importar essa medida

numa dissolução da pessoa jurídica. Com isso, subsiste o princípio da autonomia

subjetiva da pessoa coletiva, distinta da pessoa de seus sócios; tal distinção, no

entanto, é afastada, provisoriamente, para um dado caso concreto, estendendo a

responsabilidade negocial aos bens particulares dos administradores ou sócios da

pessoa jurídica.

A jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça vem, aos poucos,

sedimentando-se em favor da tese esposada acima. A guisa de exemplo, colaciona-se abaixo a

Ementa do MC 17.411/DF, ipsis litteris:

MEDIDA CAUTELAR EM SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA.

ARRESTO DE BENS. REQUISITOS PREENCHIDOS. 1. Cuida-se de caso em

que, instaurado processo arbitral estrangeiro, o devedor deu início as alienações de

bens da empresa ré, por ele controlada. Alienações que se acentuaram após a

prolação da sentença arbitral, hoje já homologado na SEC 5692. 2. Confusão

patrimonial entre os bens do devedor pessoa física e os bens da empresa ré (S/A

Fluxo), da qual ele é sócio majoritário e controlador. Desconsidera-se a

personalidade jurídica, nos termos do art. 50 do Código Civil. 3. Alienações que se

deram em favor dos filhos, de empresa dos filhos e da ex-esposa do devedor,

esvaziando o patrimônio imobiliário da empresa logo após instaurado o

procedimento arbitral e especialmente logo após proferida a sentença arbitral capaz

de reduzir o devedor à insolvência (mormente se somado o valor de tal condenação

ao de outras provenientes de sentenças estrangeiras também já homologadas na

SECs 6197 e 6079). Presentes os elementos que autorizam o reconhecimento da

fraude à execução, nos termos do art. 593, II, do CPC/1973. 4. Não se pode negar ao

processo arbitral as mesmas garantias executivas e acauteladoras colocadas à

disposição daqueles que optam pela via judicial. 5. Medida cautelar procedente.

Liminares confirmadas. Prejudicados os embargos de declaração de fls. 3677/3681.

(MC 17.411/DF, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, CORTE

ESPECIAL, julgado em 24/10/2016)

Os tribunais regionais federais, entretanto, vêm misturando o conceito jurídico de

responsabilização com o de desconsideração da personalidade jurídica. Essa conclusão é

decorrente da reiterada combinação do art. 50 do CCB com o art. 158 da LSA ou o art. 135,

13

III, da Lei 5.172/66 – Código Tributário Nacional (CTN) – em suas decisões. O primeiro trata

da desconsideração da personalidade jurídica, enquanto os demais das responsabilidades

pessoal e subsidiária dos sócios ou administradores (BRASIL, 1966; 1976; 2002). Tome-se,

por exemplo, as ementas transcritas abaixo, verbis:

PROCESSUAL CIVIL. TÍTULO EXTRAJUDICIAL (NOTA

PROMISSÓRIA). EMBARGOS À EXECUÇÃO. SOCIEDADE ANÔNIMA.

SÓCIO-DIRETOR. RESPONSABILIDADE. CITAÇÃO. OCORRÊNCIA

ATESTADA PELO PRÓPRIO APELANTE. REGULARIDADE.

PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. INOCORRÊNCIA. 1. Autorizada a

desconsideração da empresa executada, constituída sob a forma de sociedade

anônima, o redirecionamento do feito executivo para os sócios, dentre os quais

aquele eleito para o cargo de diretor da empresa, constitui medida prevista no art.

158 da Lei nº 6.404/76, devendo o imputado responder pela dívida contraída.

Precedente deste Regional. [...] 6. Apelações desprovidas. (TRF-5 - AC:

00117164620104058100 CE, Relator: Desembargador Federal Paulo Machado

Cordeiro, Data de Julgamento: 18/02/2016, Terceira Turma)

Como visto alhures, a doutrina não vem se entendendo com a jurisprudência,

relativamente à diferença existente entre o conceito jurídico de responsabilização solidária e

subsidiária previsto no Código Tributário Nacional do de desconsideração da personalidade

jurídica disciplinado no artigo 50 do CCB. No entanto, no desenvolvimento deste estudo

ficarão esclarecidas todas as dúvidas a respeito desses institutos do Direito Positivo (BRASIL,

2002).

3 A EXECUÇÃO FISCAL DA DÍVIDA ATIVA TRIBUTÁRIA

Após o lançamento tributário se abre o prazo para o contribuinte pagá-lo ou

impugná-lo, ambos geralmente dentro de 30 (trinta) dias. Mas, hodiernamente, quase a

totalidade dos tributos, mormente os impostos e as contribuições, é o contribuinte ou

responsável tributário que apura e depois recolhe o tributo ao Erário, sem que para isso haja

qualquer participação do Fisco.

Deveras, atualmente o lançamento de ofício somente está previsto para as

seguintes situações: o sujeito passivo recolheu o tributo em valor menor do que o realmente

devido ou ocultou-o completamente por erro ou no intuito de evadir-se parcial ou totalmente

da tributação. Por fim, alguns tributos, em decorrência de suas características, as respectivas

legislações tributárias estabelecem que eles sejam lançados de ofício pela autoridade

fazendária. São eles: IPTU, ITR, ITCD, ITBI e IPVA.

Pois bem, em qualquer desses casos vertentes, não efetuado o pagamento devido

e, depois de respeitadas às garantias processuais do sujeito passivo, insertas na Constituição

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da República, a Fazenda Pública inscreverá o referido quantum debeatur na dívida ativa

tributária. Ademais, tal procedimento é de competência da Procuradoria Geral do respectivo

ente tributante, assim como a cobrança judicial dos epigrafados créditos tributários inscritos.

A dívida ativa, todavia, não se resume à tributária, pois, na inteligência do artigo

2º, §2º, da Lei 6.830/1980 – Lei de Execução Fiscal (LEF) – ela pode ser tanto tributária

quanto não tributária, abrangendo, inclusive “atualização monetária, juros e multa de mora e

demais encargos previstos em lei ou contrato”. Dependendo, para esse mister classificatório,

da natureza jurídica da obrigação de fundo (BRASIL, 1980).

Sendo assim, o Código Tributário Nacional conceituou dívida ativa tributária, no

artigo 201, prescrevendo que “Constitui dívida ativa tributária a proveniente de crédito dessa

natureza, regularmente inscrita na repartição administrativa competente, depois de esgotado o

prazo fixado, para pagamento, pela lei ou por decisão final proferida em processo regular”

(BRASIL, 1966).

A Lei 4.320, de 17 de março de 1964, outrossim, e indo além, definiu, em seu §2º

do artigo 39, as duas espécies de dívida ativa a saber, verbis:

Art. 39. Omissis.

(...)

§ 2º - Dívida Ativa Tributária é o crédito da Fazenda Pública dessa natureza,

proveniente de obrigação legal relativa a tributos e respectivos adicionais e multas, e

Dívida Ativa não Tributária são os demais créditos da Fazenda Pública, tais como os

provenientes de empréstimos compulsórios, contribuições estabelecidas em lei,

multa de qualquer origem ou natureza, exceto as tributárias, foros, laudêmios,

alugueis ou taxas de ocupação, custas processuais, preços de serviços prestados por

estabelecimentos públicos, indenizações, reposições, restituições, alcances dos

responsáveis definitivamente julgados, bem assim os créditos decorrentes de

obrigações em moeda estrangeira, de subrogação de hipoteca, fiança, aval ou outra

garantia, de contratos em geral ou de outras obrigações legais (BRASIL, 1964).

Dar-se-á, entretanto, a denominação de dívida ativa somente aos créditos de

titularidade da Fazenda Pública, a qual, em sentido amplo, representa as pessoas políticas,

bem como as suas autarquias e fundações públicas. Referindo-se ao conceito jurídico em

epígrafe, Cunha (2016, p. 5, grifos do autor) afirma que, ipsis litteris:

O uso frequente do termo Fazenda Pública fez com que se passasse a adotá-lo num

sentido mais lato, traduzindo a atuação do Estado em juízo; em Direito Processual,

quando se alude à Fazenda Pública em juízo, a expressão apresenta-se como

sinônimo de Poder Público em juízo, ou do Estado em juízo, ou do ente público em

juízo, ou, ainda, da pessoa jurídica de direito público em juízo.

Nesse passo, após o controle da legalidade do crédito tributário exercido pela

Procuradoria Geral dos entes tributantes, e a sua posterior inscrição na dívida ativa, emitir-se-

15

á a Certidão da Divida Ativa (CDA), que representa o título executivo extrajudicial da

Fazenda Pública, o qual será executado conforme as disposições da LEF, aplicando-lhe

supletivamente a Lei 13.105, de 16 de março de 2015 – Código de Processo Civil

(CPC/2015).

A respeito disso, temos o magistério de Marins (2016, p. 773) ao descrever que

“A CDA é título executivo extrajudicial previsto em lei, tanto no CTN (art. 204), como no

CPC/1973 (art. 585, VII), no CPC/2015 (art. 784, IX) e na LEF (art. 3º), diplomas que

atribuem a essa certidão a presunção legal [relativa] de liquidez, certeza e exigibilidade”.

Ademais, verdade seja dita, referidos atributos estão presentes em todos os títulos executivos

extrajudiciais previstos no ordenamento jurídico pátrio.

Ainda nas palavras de Marins (2016, p. 734), referindo-se ao iter processual

administrativo que passa o crédito tributário até sua inscrição em dívida ativa e a consequente

emissão da CDA (título executivo extrajudicial), dilucida que, de litteram:

O título executivo para ser válido, leia-se gerar presunção de liquidez e certeza, deve

espelhar fielmente o que se apurou no procedimento administrativo – que a seu

turno deve ter sido realizado em absoluta adstrição à lei, material, formal e, em

certos casos, processual – sob pena de ineficácia da execução e nulidade do título.

Se não for regular o procedimento administrativo não haverá presunção de certeza

impossibilitando qualquer pretensão executaria por parte do Fisco.

Superada a fase administrativa, com a inscrição do crédito tributário em dívida

ativa, pode a Fazenda Pública dar início a fase judicial. Para isso, basta que seja protocolada

junto ao Judiciário a competente peça inicial. Contudo, adverte-se que a sua confecção têm de

obedecer às regras previstas no artigo 6º da LEF, quais sejam:

Art. 6º. A petição inicial indicará apenas:

I - o Juiz a quem é dirigida;

II - o pedido; e

III - o requerimento para a citação.

§ 1º - A petição inicial será instruída com a Certidão da Dívida Ativa, que dela fará

parte integrante, como se estivesse transcrita.

§ 2º - A petição inicial e a Certidão de Dívida Ativa poderão constituir um único

documento, preparado inclusive por processo eletrônico.

§ 3º - A produção de provas pela Fazenda Pública independe de requerimento na

petição inicial.

§ 4º - O valor da causa será o da dívida constante da certidão, com os encargos

legais. (BRASIL, 1980)

Demais disso, comentando a supracitada norma jurídica processual, Theodoro

Junior (2016, p. 139) explica que “A petição inicial, agora, nas execuções de Dívida Ativa, é

bastante singela. Não precisa conter todos os dados do art. 319 do novo Código de Processo

16

Civil”. Diga-se, também, que, consoante à dicção do §1º do referido artigo 6º, “A petição

inicial será instruída com a Certidão da Dívida Ativa, que dela fará parte integrante, como se

estivesse transcrita” (BRASIL, 1980).

3.1 O REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO FISCAL

Cuidando primeiramente dos sujeitos relacionais, em específico do sujeito ativo

da obrigação tributária, o CTN, no artigo 119, disciplina que “Sujeito ativo da obrigação é a

pessoa jurídica de direito público, titular da competência para exigir o seu cumprimento”

(BRASIL, 1966). Denari (2011, p.172) ao analisar o aludido dispositivo legal constrói o

entendimento do qual, de litteram:

Sujeito ativo da obrigação tributária é, pois, o ente político investido de competência

e de capacidade tributária, isto é, qualificado para instituir os tributos discriminados

na Constituição, bem como apto para cobrá-los dos respectivos sujeitos passivos,

valer dizer, para se titular de direitos e obrigações na ordem jurídica tributária.

Na sequência, o precitado diploma se ocupa do sujeito passivo, que é a pessoa

natural ou jurídica obrigada a satisfazer a pretensão tributária do sujeito ativo, sempre que

aquela promover o fato conotado na hipótese de incidência tributária. Nesse diapasão se

encontra a dicção do caput do artigo 121 do CTN, in verbis:

Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento

de tributo ou penalidade pecuniária.

Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se:

I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o

respectivo fato gerador;

II - responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação

decorra de disposição expressa de lei. (BRASIL, 1996)

Quanto ao parágrafo único do retromencionado artigo 121, esse classifica o

sujeito passivo em duas espécies: contribuinte e responsável. Reportando-se-lhes, Baleeiro

(2013, p. 1112, grifos do autor) ensina que “Distingue, também, dentre os sujeitos passivos da

obrigação principal, o contribuinte, propriamente dito, e o responsável. Este, sem ser

contribuinte, tem a obrigação de pagar, por efeito de disposição expressa da lei”.

Com idêntica percepção, ao enfrentar nomeadamente o conceito de

responsabilidade, previsto em várias partes do Código Tributário Nacional, Amaro (2015, p.

336-337) traz esclarecimento imprescindível a sua compreensão. Veja-se:

Após definir a figura de responsável, no art. 121, parágrafo único, II, o Código

Tributário Nacional abre uma seção (“Da Responsabilidade Tributária”) dedicada ao

17

assunto. Há hipóteses de responsabilidade definidas no próprio Código (na referida

seção dedicada à “responsabilidade tributária” e fora dela). Prevê também a

possibilidade de a lei estabelecer outras situações em que um terceiro, vinculado ao

fato gerador, seja eleito como responsável (art. 128).

De mais a mais, nada obstante o epigrafado artigo 121 do CTN deixar evidente

que, pelo menos em matéria tributária, o conceito de terceiro interessado na ocorrência da

hipótese de incidência tributária está implícito no de responsável, pois, se estivesse vinculado

pessoal e diretamente ao fato imponível, seria contribuinte, o título da seção, onde estão

inseridos os artigos 134 e 135 do diploma em tela, foi “Responsabilidade de Terceiros”,

configurando, porquanto, um pleonasmo.

A essa conclusão também chegou Amaro (2015, p. 337, grifos do autor) ao

descrever que, verbis:

Em face da conceituação dada pelo Código, vimos que o responsável é sempre um

terceiro (situado fora do binômio Fisco-contribuinte). No entanto, ao disciplinar a

matéria, o Código reserva para algumas situações o título de “responsabilidade de

terceiros” (arts. 134 e 135), tratando, apartadamente, dos sucessores (arts. 129 a

134), e dos responsáveis solidários (arts. 124 e 125), como se nestes casos não

houvesse a figura de terceiro.

A par do exposto até aqui, é de extrema importância à referida distinção dos

sujeitos passivos da obrigação tributária em contribuinte e responsável, uma vez que sobre ela

repousa o conceito de redirecionamento da execução fiscal. De fato, essa possibilidade se

encontra regrada no artigo 135, caput, c/c o inciso III, do CTN, situado topograficamente,

repise-se, no título “Responsabilidade de Terceiros”. No mais, esse dispositivo disciplina a

responsabilidade tributária pessoal de certas pessoas, que possuem poder de decisão, controle

e influência sobre determinados fatos e negócios jurídicos (BRASIL, 1966).

Nas palavras do retromencionado preceito legal – artigo 135, III, do CTN – “São

pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes

de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos: [...]

os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado”. É

controverso, entretanto, o caráter pessoal dessa responsabilidade tributária (BRASIL, 1966).

Convém se frisar, demais, que a referida responsabilidade não advém de negócios

jurídicos realizados em conformidade com o Direito; pelo contrário, os que ela abarca

originam-se de atos ou fatos ilícitos praticados ou provocados por pessoas mal-intencionadas

ou irresponsáveis, quer seja por vingança, quer seja por dinheiro, ou outro motivo qualquer,

mas sempre com o liame subjetivo de prejudicar a entidade societária a qual representa.

18

No mais, Coêlho (2015, p. 638), ao destrinchar o predito artigo 135, deixa a

seguinte lição, ipsis litteris:

Em suma, o art. 135 retira a “solidariedade” e a “subsidiariedade” do art. 134. Aqui

a responsabilidade se transfere inteiramente para os terceiros, liberando seus

dependentes e representados. A responsabilidade passa a ser pessoal, plena e

exclusiva desses terceiros. Isso ocorrerá quando eles procederem com manifesta

malícia (mala fides) contra aqueles que representam, toda vez que for constatada a

prática de ato ou fato eivado de excesso de poderes ou com infração de lei, contrato

social ou estatuto. O regime agravado de responsabilidade tributária previsto no

artigo estende-se, é óbvio, peremptoriamente, àquelas duas categorias de

responsáveis previstas no rol dos incisos II e III [...].

Dessarte, não pode o Fisco aplicar o aludido dispositivo nos casos em que o

representante da pessoa jurídica somente deixou de adimplir o débito tributário dentro do

prazo legal. Ou melhor, do simples descumprimento de obrigação tributária principal. Sob

esse ponto de vista, deliberou a Corte Especial, no AgRg no AREsp 779.523/SP, cuja ementa

colaciona-se logo abaixo:

TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO FISCAL.

REDIRECIONAMENTO. SÓCIO-GERENTE. NECESSIDADE DE PROVA

DA PRÁTICA DE ATO COM EXCESSO DE PODERES, CONTRÁRIO À

LEI OU AO CONTRATO SOCIAL. INADIMPLEMENTO TRIBUTÁRIO.

HIPÓTESE QUE NÃO CARACTERIZA INFRAÇÃO DE LEI, NOS

TERMOS DO ART. 135 DO CTN. PRECEDENTES. IMPOSSIBILIDADE DE

RESPONSABILIZAÇÃO OBJETIVA DO SÓCIO-GERENTE. INCLUSÃO

DE SEU NOME NA CDA, NA QUALIDADE DE CORRESPONSÁVEL

TRIBUTÁRIO. LEGITIMIDADE DA COBRANÇA QUE SE TEM POR

DESCONSTITUÍDA, NESSE PARTICULAR, QUANDO O ÚNICO

FUNDAMENTO DA INCLUSÃO, SEGUNDO A PRÓPRIA FAZENDA

EXEQUENTE, REPOUSA NA MERA FALTA DE PAGAMENTO DE

TRIBUTOS PELA SOCIEDADE. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. I.

Nos termos da jurisprudência, "a Primeira Seção, no julgamento do REsp

1.101.728/SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, submetido ao rito dos recursos

repetitivos, consolidou entendimento segundo o qual 'a simples falta de pagamento

do tributo não configura, por si só, nem em tese, circunstância que acarreta a

responsabilidade subsidiária do sócio, prevista no art. 135 do CTN. É indispensável,

para tanto, que tenha agido com excesso de poderes ou infração à lei, ao contrato

social ou ao estatuto da empresa'. Agravo regimental improvido" (STJ, AgRg no

REsp 1.265.515/AP, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA,

DJe de 23/02/2012). II. Nas hipóteses em que a única razão jurídica da inclusão do

nome do sócio-gerente como corresponsável tributário, na CDA, for a ausência de

pagamento de tributos pela sociedade, o pedido de redirecionamento mostra-se

infundado, sendo devido seu indeferimento, porquanto desconstituída, nesse ponto, a

presunção relativa de legitimidade da referida Certidão de Dívida Ativa. III. Agravo

Regimental improvido. (AgRg no AREsp 779.523/SP, Rel. Ministra Assusete

Magalhães, Segunda Turma, julgado em 01/03/2016)

É certo, por seu turno, que a transferência da responsabilidade tributária da

sociedade para a pessoa natural que a representa será específica ao fato ou negócio jurídico

19

viciado na qual deu azo tal como, aliás, preceitua o caput do artigo 135 transcrito supra. Nesse

sentido, é o escólio de Amaral (2015, p. 353-354, grifo do autor) que diz:

[...] verifica-se que esse dispositivo [art. 135, CTN] exclui do polo passivo da

obrigação a figura do contribuinte (que, em princípio, seria a pessoa em cujo nome e

por cuja conta agiria o terceiro), ao mandar que o executor do ato responda

pessoalmente. A responsabilidade pessoal deve ter aí o sentido (que já se adivinhava

no art. 131) de que ela não é compartilhada com o devedor “original” ou “natural”.

A jurisprudência, há algum tempo consolidada, do Superior Tribunal de Justiça,

entretanto, entendendo diferentemente da doutrina majoritária, decidiu que a responsabilidade

regulada no retrocitado artigo 135 é de ordem subsidiária. Veja-se, em corroboração, a ementa

que lhe serviu de paradigma, in verbis:

TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO FISCAL. TRIBUTO

DECLARADO PELO CONTRIBUINTE. CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO

TRIBUTÁRIO. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. DISPENSA.

RESPONSABILIDADE DO SÓCIO. TRIBUTO NÃO PAGO PELA

SOCIEDADE. 1. A jurisprudência desta Corte, reafirmada pela Seção inclusive em

julgamento pelo regime do art. 543-C do CPC, é no sentido de que "a apresentação

de Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais – DCTF, de Guia de

Informação e Apuração do ICMS – GIA, ou de outra declaração dessa natureza,

prevista em lei, é modo de constituição do crédito tributário, dispensando, para isso,

qualquer outra providência por parte do Fisco" (REsp 962.379, 1ª Seção, DJ de

28.10.08). 2. É igualmente pacífica a jurisprudência do STJ no sentido de que a

simples falta de pagamento do tributo não configura, por si só, nem em tese,

circunstância que acarreta a responsabilidade subsidiária do sócio, prevista no art.

135 do CTN. É indispensável, para tanto, que tenha agido com excesso de poderes

ou infração à lei, ao contrato social ou ao estatuto da empresa (EREsp 374.139/RS,

1ª Seção, DJ de 28.02.2005). 3. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa

parte, parcialmente provido. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do CPC e da

Resolução STJ 08/08. (REsp 1101728/SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki,

Primeira Seção, julgado em 11/03/2009)

Nessa conjuntura, pode-se concluir que a responsabilidade tributária prevista no

artigo 135 do CTN deve obedecer a dois critérios: subjetivo e objetivo. Este toca os bens

particulares dos representantes da sociedade que somente serão atingidos pelas dívidas

tributárias se o patrimônio societário for deficitário. Aquele condiz com o liame subjetivo da

conduta maliciosa imprescindível que conjugada com os efeitos fiscais leva a

responsabilidade supra (BRASIL, 1966).

Portanto, se a Fazenda Pública estiver diante de fortes indícios de que

determinado crédito tributário em fase de execução fiscal se enquadra, em sua formação, nos

critérios dispostos no artigo 135, caput, c/c o inciso III, do CTN, então, poderá ela pedir o

redirecionamento do executivo fiscal para os sócios, diretores, gerentes ou outra pessoa

representante da sociedade executada que lhe deram causa (BRASIL, 1966).

20

Repita-se, todavia, que a jurisprudência sedimentada do STJ, acordou ser

imperioso para isso, primeiro, diligenciar a procura de bens do patrimônio social da pessoa

jurídica, pois o referido redirecionamento somente ocorrerá se aqueles não forem encontrados,

ou se foram, sejam insuficientes. Acrescente-se em favor disso, que a praxe forense caminha

no mesmo sentido da interpretação pretoriana.

Além dessa específica responsabilização contida no artigo 135, caput, c/c o inciso

III, do CTN, há, ainda, o novel incidente de desconsideração da personalidade jurídica

inserido no Direito pátrio pelos artigos 133 a 137 do CPC/2015, que tem como um dos

direitos de fundo a desconsideração da personalidade jurídica regulada no artigo 50 do CCB,

instituto jurídico de direito material tratado na subseção 2.2 (BRASIL, 1966; 2015; 2002).

4 O INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE NO CPC/2015

Este incidente processual instituído pelo CPC/2015, em sua seção IV, o qual

engloba os artigos 133 a 137, uma vez que, antes do novo código processual, a doutrina se

ressentia da falta de um instituto processual próprio para demandar a desconsideração da

personalidade jurídica arrimado nos pressupostos do artigo 50 do CCB, ou de qualquer outro

previsto legalmente. Assim, logo no artigo 133 ficam estabelecidos os sujeitos ativos

processuais, que são: a parte e o Ministério Público (BRASIL, 2015; 2002).

Sobre esse novel incidente processual comenta Rodrigues Filho (2016, p. 262)

que, verbis:

Embora omissa a lei processual de 1973, prevê o Código de processo Civil de 2015,

em seus arts. 133 a 137, disciplina a respeito do “incidente de desconsideração da

personalidade jurídica”, como forma de intervenção de terceiros, que, como vimos,

poder ser pleiteado em qualquer momento do processo, seja na fase de

conhecimento, seja na fase ou processo de execução.

No tocante a esse instrumento processual, o fundamento legal de sua incidência,

que é o abuso da personalidade jurídica, exige a presença de um dos seguintes critérios

objetivos: desvio de finalidade ou confusão patrimonial. Confrontando-se, demais, o direito

material de fundo do instituto jurídico em comento com o de do redirecionamento da

responsabilidade tratada na subseção 3.1, dessume-se de plano que eles não se sobrepõem e,

dessa maneira, não se confundem.

Sintonizado com isso, Catanhede (2016, p. 65) esclarece que, de litteram:

É importante deixar claro que somente caberá a desconsideração da personalidade

jurídica quando se tratar de imputar uma norma ao sócio ou à sociedade sem que

21

estes sejam seus destinatários específicos. Em outras palavras, a teoria da

desconsideração da personalidade jurídica só deve ser aplicada se a autonomia da

pessoa jurídica se tornar um obstáculo para a coibição de fraudes e abusos de direito.

Caso o sócio, o acionista, o administrador ou a sociedade sejam destinatários

específicos de normas que lhes atribuam responsabilidade pelo abuso de direito ou

pela realização de fraudes, não há falar em aplicação da teoria da desconsideração da

personalidade jurídica. Nessas hipóteses a responsabilidade é imputada diretamente

ao sócio, acionista, administradores ou à própria pessoa jurídica, conforme o caso.

Convém destacar que o legislador federal ordinário, no corpo do §1º, in fine, do

art.133 do CPC/2015, delegou ao ato normativo infraconstitucional substantivo a competência

para dispor sobre os pressupostos materiais do incidente processual em estudo. Por causa

disso, este pode ser aplicado em diversos ramos do direito substantivo, e.g., nas relações

consumeristas, conforme o artigo 28 da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990 – Código de

Defesa do Consumidor (CDC) – na defesa da ordem econômica, consoante o artigo 34 da Lei

12.529, de 30 de novembro de 2011, e, por fim, no combate a corrupção, segundo a Lei

12.846, de 1º de agosto de 2013 (BRASIL,2015; 1990; 2011; 2013).

Em reforço, cita-se abaixo a lição elucidativa de Bruschi, Nolasco e Amadeo

(2016, p. 140), in verbis:

Tal como foi concebida, a partir da sistematização de casos jurisprudenciais, a teoria

da desconsideração da personalização jurídica permite ao juiz considerar ineficaz o

limite existente entre os patrimônios da sociedade e os do sócio quando tiver

ocorrido abuso da personalidade jurídica com o intuito de frustrar a satisfação de

determinada obrigação, como nos casos de desvio da finalidade para a qual a pessoa

jurídica foi criada ou pela confusão patrimonial entre sociedade e sócio.

Concernente à consequência jurídica da desconsideração da personalidade

jurídica, pode-se considerá-la como a constrição dos bens particulares dos sócios para saldar

as dívidas da sociedade. A tal sujeição passiva o artigo 790, VII, do CPC/2015 dá a

denominação de responsabilidade patrimonial, também conhecida na doutrina como

executiva. Enquanto, a responsabilização dimanada do redirecionamento obtido nos moldes

do art. 4º, V, da LEF, de responsabilidade tributária (BRASIL, 1980; 2015).

Essa diferenciação se torna importante, devido ao regime jurídico de cada uma

dessas sujeições. A responsabilidade tributária gozará do regime jurídico tributário, à medida

que a patrimonial desfrutará do regime jurídico civil; sendo este detentor de garantias e

privilégios inferiores ao daquele. Demais disso, articulando essas diferentes

responsabilidades, de forma crítica e comparativa, Conrado (2015, p. 62) faz a seguinte

explanação, ipsis litteris:

22

Pela ordem, cuidemos de reconhecer, em princípio, que esse “responsável” a que se

refere o precipitado inciso VII [ do artigo 790 do CPC/2015] não é o responsável

tributário de que trata o art. 4º, inciso V, da lei nº 6.830/80; do contrário, se

admitíssemos essa “confusão” nos conceitos, o art. 790 do Código de processo Civil

de 2015 perderia o sentido: como o responsável tributário – assim reconhecido (i)

administrativamente, tendo seu nome gravado no título, com a decorrente assunção

da qualidade de “devedor”, ou (ii) judicialmente, nos casos de redirecionamento –

detém legitimidade passiva, sua responsabilidade patrimonial é “derivada” [...].

Enfim, por tudo que fora debatido até esse momento, pode-se inferir, com sólida

certeza, que o redirecionamento da execução fiscal e o incidente de desconsideração da

personalidade jurídica disciplinado no CPC/2015 não se misturam, permitindo-se, com isso, e

conforme o caso, que se aplique um ou outro na cobrança da dívida ativa tributária de

titularidade da Fazenda Pública (BRASIL, 2015).

4.1 A UTILIZAÇÃO DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE

JURÍDICA NA EXECUÇÃO FISCAL

A utilização do incidente de desconsideração da personalidade jurídica na

execução fiscal é plenamente possível, porquanto os pressupostos de direito material nos

quais este e o redirecionamento se fundamentam são mutuamente exclusivos. No entanto,

somente se aplica aquele se este não for imputável ao caso, quer dizer, primeiro verifica se a

consequência jurídica do fato infringente age especificamente no sujeito que lhe deu causa. Se

afirmativo, então, redirecionar-se-á o executivo fiscal; ao revés, aplicar-se-á o incidente de

desconsideração da personalidade jurídica.

O entendimento doutrinário de não permitir a utilização do incidente de

desconsideração da personalidade jurídica na execução fiscal, além se incipiente, mostra-se,

sobremaneira, equivocado, haja vista, devido à aplicação do CPC/2015 ser subsidiária e

suplementar a LEF, e ainda, a inexistência de choque entre elas, no tocante ao aludido

incidente processual e o artigo 50 da CCB, é perfeitamente justificável a utilização deste no

executivo fiscal (BRASIL, 2015; 1980; 2002).

Noutro giro verbal, os pressupostos de direito material do redirecionamento e do

incidente de desconsideração da personalidade jurídica estão prescritos em diplomas jurídicos

diferentes. O primeiro se encontra dentre as normas jurídicas do CTN, especificamente no

artigo 135 do CTN. O segundo no artigo 50 do CCB e noutros subsistemas jurídicos,

conforme se descreveu alhures (BRASIL, 1966; 2015).

De outra banda, parte considerável da doutrina, reconhece a legalidade da

aplicação do incidente processual sub examine no executivo fiscal. Contudo, laboram em erro

ao misturarem o fundamento jurídico do referido instrumento com o do redirecionamento.

23

Defendendo essa interseção entre diplomas legais, Marins (2016, p. 412) reverbera que

“Mesmo nesses casos de responsabilidade do sócio, de que são exemplos às hipóteses

previstas nos referidos arts. 134, VII, e 135, III, do CTN, deve-se adotar o incidente de

desconsideração da personalidade jurídica”.

Sustentando a referida confusão conceitual, embora reconhecendo o desacerto

dessa posição, Borda (2016, p. 421) assevera que, in verbis:

[...] é possível também sustentar a aplicação do incidente para os casos de

redirecionamento, quando equiparado, ainda que de forma equivocada, à

desconsideração. Trata-se de garantir o devido processo legal aos sócios que venham

a ser atingidos, a qualquer título, pela execução fiscal movida contra a sociedade da

qual ela faz parte. O incidente servirá, quando menos, para demonstrar que a dívida

deveria ser constituída mediante processo administrativo, prévio, sobretudo quando

se está diante dos casos do art. 135 do Código Tributário Nacional, por exemplo.

Nada é mais confusa e incorreta, a tese doutrinária que, por ser o CPC/2015 de

aplicação subsidiária e supletiva a LEF, ou, também, por reforçar o devido processo legal, o

redirecionamento da execução fiscal se faria mediante o uso do incidente de desconsideração

da personalidade jurídica, nos casos em que os sócios, os diretores ou os outros representantes

da sociedade, não figuraram no processo administrativo tributário (BRASIL, 2015; 1980).

Isso porque, o fato de não constar o nome dessas pessoas na certidão da dívida

ativa paradigmática (título executivo extrajudicial), apenas obriga a Fazenda Pública provar

que elas agiram conforme a conduta prescrita no caput do artigo 135 do CTN. No mais,

decerto que os sócios, os administradores, dentre outros, in casu, não estão impedidos de

exercer o contraditório e a ampla defesa, bem como das demais garantias fundamentais

provenientes do devido processo legal (BRASIL, 1966).

De mais a mais, se os sócios, os diretores ou outros representantes da sociedade

foram inseridos no polo passivo da obrigação tributária, quando do lançamento do respectivo

crédito tributário, e com isso, desde a formação, passando pelos controles administrativos de

legalidade, até chegar à inscrição do direito creditório do Fisco na dívida ativa, então, terão

tais pessoas de provar que suas condutas não se enquadrariam no caput do artigo 135 do

CTN, existindo, assim, a inversão do ônus probatório (BRASIL, 1966).

Portanto, o fato de participar ou não do processo administrativo tributário (PAT),

apenas se refletirá no ônus probatório. Se o sócio ou o administrador não participou do PAT,

desde o início, a obrigação de provar recairá sobre a Fazenda Pública; do contrário, haverá a

inversão do ônus da prova em desfavor do sujeito passivo. Perceba-se, por derradeiro, que em

24

nenhum momento a solução dessas situações fáticas precisou sair da seara do direito

tributário.

Isso não quer dizer, entretanto, que as pessoas jurídicas de direito público interno

não possam se utilizar do incidente de desconsideração da personalidade jurídica na execução

fiscal, pois, como dito alhures, em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo

desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, deve-se aplicar o predito incidente

processual no executivo fiscal, imputando, dessa forma, a responsabilidade patrimonial, e não

a responsabilidade tributária, aos sócios, aos diretores ou aos outros representantes da

sociedade.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estar-se que, conquanto a doutrina pátria esteja caminhando no sentido de

combinar o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, disciplinado no

CPC/2015, com o fundamento de direito material do redirecionamento, prescrito no CTN;

ficou demonstrado que aquele, aplica-se subsidiariamente ao redirecionamento nas execuções

fiscais. Dessa forma, não se confundindo.

Explicitando melhor, parte incipiente da doutrina entende que a Fazenda Pública

não deve utilizar-se do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, enquanto outra

parte dos doutrinadores aceita a utilização desse incidente processual na execução fiscal,

porém, de forma equivocada, isto é, misturam o conceito deste com o de redirecionamento

fulcrado nas Leis 6.830/80 e 5.172/66.

No entanto, ao compulsar a dogmática jurídica referente ao tema discutido nesta

pesquisa científica, percebeu-se que o redirecionamento da execução fiscal se encontra

regrado em diplomas próprios – Código Tributário Nacional e Lei da Execução Fiscal –

enquanto o aludido incidente processual, no novel Código de Processo Civil e no Código

Civil Brasileiro. Portanto, não se deve confundi-los.

Ademais, dessume-se que, para haver o redirecionamento da execução fiscal, a

conduta do sócio ou administrador deve configurar excesso de poderes, infração de lei,

contrato social ou estatutos, de modo que aqueles respondam subsidiariamente pela obrigação

tributária derivada do precitado comportamento; enquanto que, no caso da desconsideração da

personalidade, é necessário o abuso da personalidade, que se estabelece pelo desvio de

finalidade e confusão patrimonial.

25

Para torna possível a conclusão a que se chegou neste trabalho científico,

construiu-se os conceitos de pessoa jurídica e sua desconsideração, de responsabilidade

tributária e patrimonial, de dívida ativa, de redirecionamento, de execução fiscal, de incidente

de desconsideração da personalidade jurídica. Tais seções e subseções foram distribuídas de

maneira lógica e didática no intento de o desenvolvimento do presente tema fosse feito sem

percalços e arrodeios desnecessários.

Enfim, baseando-se no material bibliográfico pesquisado, chegou-se a conclusão

da qual não existe empecilho na aplicação subsidiária do incidente de desconsideração da

personalidade jurídica na execução fiscal, mesmo que se achem disciplinados em diplomas

processuais diferentes. Isso porquanto, os pressupostos fáticos destes não se confundem nem

se misturam, uma vez que são mutuamente excludentes.

ABSTRACT

This article deals with the subsidiary application of the incident of disregard doctrine in fiscal

execution. To do so, it demonstrates that the Public Treasury should first seek redirection. In

this sense, the discussion around the theme is developed in the chapters and sub-chapters that

follow until the final considerations. It addresses the current doctrinal position by criticizing

for the confusion that´s make among the above mentioned institutes. Therefore, the concepts

of legal entity and its disregard, tax and patrimonial liability, active debt, redirection, fiscal

execution, tax incident, tax liability, tax liability and asset liability are defined on the doctrine

and understanding of the Superior Court of Justice. In each chapter and sub-chapters of this

one a systematic study of the doctrine and legislation is made regarding the juridical concept

approached in him, and when it`s necessary, also of the jurisprudence. As to the tax liability

analyzed, the Praetorian interpretation was adopted that it would be subsidiary, differently

from what is understood from the literality of the normative text, which prescribes to be

personal. In relation to legal entities governed by civil law, are restricted to companies. It is

said that the active debt considered the tax origin, due to the thematic scope addressed.

Finally, we show the subsidiarity of the novel procedural institute of the incident of disregard

doctrine in the fiscal execution, and the total independence from the redirection of the fiscal

executive.

KEY WORD: LEGAL PERSON. FISCAL EXECUTION. REDIRECTION. DISREGARD

DOCTRINE.

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BC/Fesp CDU: 34:336.2

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