boletim orcamento socioambiental 22

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Ano VI • nº 22 • novembro de 2007 Publicação do Instituto de Estudos Socioeconômicos - Inesc 22 O PPA 2008/2011 ois temas estão em destaque nesta edi- ção do boletim socioambiental. O pri- meiro traz uma reflexão sobre a aplicabilidade da Lei Maria da Penha à realidade dos povos indígenas no Bra- sil. A Lei criada para coibir a violência doméstica contra a mulher, de modo geral, é alvo de muitos questionamentos e dúvidas por parte da mulher indíge- na, que, embora alvo de violência e agressões, ainda discute se esse instru- mento legal serve realmente para ela ou se é melhor utilizar os códigos de con- duta já estabelecidos pelos seus povos. O outro tema analisa o tratamento dado pelo governo aos povos indígenas no Plano Plurianual 2008/2011. Esse Plano, no qual o governo estabelece as metas, as diretrizes e os gastos públicos para os próximos quatro anos, foi en- caminhado para o Congresso Nacio- nal no último dia 31 de agosto, onde está sendo apreciado. Na avaliação do Inesc, as propos- tas do governo voltadas para os povos indígenas não apresentam claramente nem os objetivos nem, principalmen- te, as formas como se pretendem realizá- los. A previsão de gastos com políticas públicas dirigidas a indígenas, confor- me o PPA 2008/2011, está em torno de R$ 2 bilhões. E D I T O R I A L D www.inesc.org.br A Lei Maria da Penha e as mulheres indígenas No contexto das mulheres indígenas, a falta de informação sobre a Lei Maria da Penha se apre- senta como uma realidade ou, quando não, as in- formações são repassadas de forma distorcida. Por exemplo, tem amedrontado bastante as mulheres indígenas a informação de que, caso façam a de- núncia de que foram vítimas de violência, serão tiradas das suas casas, das suas terras, dos seus ter- ritórios de convívio e levadas para as tais casas de abrigo, fora do seu lar.

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Boletim Orcamento Socioambiental 22

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Ano VI • nº 22 • novembro de 2007Publicação do Instituto de Estudos Socioeconômicos - Inesc

22

O PPA 2008/2011

ois temas estão em destaque nesta edi-ção do boletim socioambiental. O pri-meiro traz uma reflexão sobre aaplicabilidade da Lei Maria da Penhaà realidade dos povos indígenas no Bra-sil. A Lei criada para coibir a violênciadoméstica contra a mulher, de modogeral, é alvo de muitos questionamentose dúvidas por parte da mulher indíge-na, que, embora alvo de violência eagressões, ainda discute se esse instru-mento legal serve realmente para ela ouse é melhor utilizar os códigos de con-duta já estabelecidos pelos seus povos.

O outro tema analisa o tratamentodado pelo governo aos povos indígenasno Plano Plurianual 2008/2011. EssePlano, no qual o governo estabelece asmetas, as diretrizes e os gastos públicospara os próximos quatro anos, foi en-caminhado para o Congresso Nacio-nal no último dia 31 de agosto, ondeestá sendo apreciado.

Na avaliação do Inesc, as propos-tas do governo voltadas para os povosindígenas não apresentam claramentenem os objetivos nem, principalmen-te, as formas como se pretendem realizá-los. A previsão de gastos com políticaspúblicas dirigidas a indígenas, confor-me o PPA 2008/2011, está em tornode R$ 2 bilhões.

E D I T O R I A L

D

www.inesc.org.br

A Lei Maria da Penha eas mulheres indígenas

No contexto das mulheres indígenas, a falta deinformação sobre a Lei Maria da Penha se apre-senta como uma realidade ou, quando não, as in-formações são repassadas de forma distorcida. Porexemplo, tem amedrontado bastante as mulheresindígenas a informação de que, caso façam a de-núncia de que foram vítimas de violência, serãotiradas das suas casas, das suas terras, dos seus ter-ritórios de convívio e levadas para as tais casas deabrigo, fora do seu lar.

2 novembro de 2007

Sob o ponto de vistajurídico, até o

advento da Lei Mariada Penha, quando anotícia de violênciadoméstica chegava

ao conhecimento dasautoridades ditas

competentes, amesma era tratada

como situação banal

Orçamento & Política Socioambiental: uma publicação do INESC – Instituto de Estudos Socioeconômicos, em parceria com a Oxfam/Novib. Tiragem: 1,5 mil exemplares. INESC - End: SCS – Qd, 08, bl B-50 - sala 435 - Ed. Venâncio 2000 – CEP 70.333-970 Brasília/DF– Brasil – Tel: (61) 3212 0200 – Fax: (61) 3212 0216 – E-mail: [email protected] – Site: www.inesc.org.br. ConselhoDiretor: Armando Raggio, Caetano de Araújo, Fernando Paulino, Guacira de Oliveira, Jean Pierre Leroy, Jurema Werneck, Luiz Gonzagade Araújo, Neide Castanha, Pastor Ervino Schmidt. Colegiado de Gestão: Atila Roque, Iara Pietricovsky, José Antônio Moroni. Assesso-res/as: Alessandra Cardoso, Alexandre Ciconello, Edélcio Vigna, Eliana Graça, Jair Barbosa Júnior, Luciana Costa, Ricardo Verdum.Assistentes: Ana Paula Felipe, Lucídio Bicalho. Instituições que apóiam o Inesc: Action Aid, CCFD, Christian Aid, EED, Embaixada doCanadá - Fundo Canadá, Fastenopfer, Fundação Avina, Fundação Ford, Fundação Heinrich Boll, KNH, Norwegian Church Aid, Novib,Oxfam, Save the Children Fund e Wemos Fundation. Jornalista responsável: Luciana Costa (DRT 258ES).

A Lei Maria da Penha, de 2006, ganhou este nomepor causa da biofarmacêutica Maria da Penha Maia,que tornou-se símbolo da violência doméstica depoisde lutar durante 20 anos para ver seu agressor conde-nado. O marido tentou matá-la duas vezes e ela ficouparaplégica. O caso chegou à Comissão Interamericanados Direitos Humanos da Organização dos EstadosAmericanos (OEA), que acatou, pela primeira vez, adenúncia de um crime de violência doméstica.

Sob o ponto de vista ju-rídico, até o advento da LeiMaria da Penha, quando anotícia de violência domés-tica chegava ao conheci-mento das autoridades ditascompetentes, a mesma eratratada como situação ba-nal, de “menor potencialofensivo”. Isso, nos termosda lei, quer dizer que po-deria se dar o mesmo trata-mento que se dispensava aum acidente de trânsito ou a uma briga de vizinhonos Juizados Especiais Criminais (JEC), e o caso aca-bava culminando com o pagamento de cestas bási-cas, como forma de penalizar o autor da agressão.Esse arranjo tornou-se uma prática comum.

A Lei Maria da Penha, sancionada pelo presidenteLula em agosto de 2006, é fruto de um processo dearticulação do movimento feminista. Mais especifica-mente, sua idéia nasceu numa reunião realizada emagosto de 2002, no Rio de Janeiro, na qual um grupode mulheres teve a idéia de se comprometer “a lutarpor uma lei que regulasse o enfrentamento à violência; a

produzir uma legislação que reconhecesse a violência do-méstica como uma violação aos direitos humanos e queinstrumentalizasse o Estado brasileiro em prol das víti-mas da violência de gênero. Daí a proposta de um Juizadoespecífico para tratar da violência doméstica numa pers-pectiva conglobante de atuação dos direitos civil e penal,e a assessoria de equipe multidisciplinar”. 1

A nova lei de violência doméstica e familiar contraa mulher traz inovações para o mundo jurídico, visan-do criar mecanismos para coibir a violência e visandoà proteção da mulher, tais como:

Estipula a criação, pelos Tribunais de Justiça dosestados e do Distrito Federal, de Juizados Especi-ais de Violência Doméstica e Familiar contra aMulher. Até então, esses casos eram tratados pelosJuizados Especiais Criminais, nos quais a pena má-xima prevista era de dois anos de detenção e haviaa possibilidade de se converter a pena em paga-mento em dinheiro, através de cestas básicas a se-rem entregues a entidades carentes. Tal possibili-dade acabou virando uma prática para punir osautores das agressões domésticas, levando a bana-lizar a gravidade do assunto. Pela nova Lei, essaconversão de pena não é mais permitida;

Traz uma série de medidas para proteger a mu-lher agredida. Prevê, dentre outras, a saída doagressor de casa; a proteção dos filhos; o direitoda mulher reaver seus bens, inclusive com escol-ta policial; além de permitir cancelar procura-ções que porventura tenham sido feitas dandoplenos poderes ao autor da agressão;

Determina que a mulher somente poderá renun-ciar à denúncia perante o juiz, evitando, dessaforma, a prática de coação geralmente sofrida

1 CASTILHO, Ela Wiecko Volmer de. Um ano de Lei Maria da Penha. Última Instância, 2007.

3novembro de 2007

Apesar de todo essequadro aparente de

expectativas nãocorrespondidas, a Lei

Maria da Penhacompletou um ano de

existência e a ministrada Secretaria Especial

de Políticas para asMulheres da

Presidência daRepública, Nilcéia

Freire, faz uma análisepositiva

pelas vítimas, para forçá-las a retirar a queixa con-tra o agressor.

Especifica as formas de violência doméstica sofri-das pela mulher, como as violências física, psico-lógica, sexual, patrimonial e moral.

Com tantas inovações, a Lei mexeu com o históricodescaso com que as autoridades brasileiras e a imprensavinham tratando os casos de violência doméstica contraa mulher, ao longo dosanos. Já são mais de 10 li-vros editados sobre a novalei e os veículos de comuni-cação nacionais tambémnão ficaram atrás, garantin-do grande e intenso desta-que à novidade jurídica.Entretanto, o enfoque sedirecionou ao propósitosancionatório penal, o queparece ter ocasionado umefeito contrário ao preten-dido. O jornal Estado deSão Paulo de 28/05/2007,em matéria sobre o assun-to, disse que não há dados para mostrar se a situação dasmulheres melhorou a partir da lei. O que se sabe é queelas estão indo menos às delegacias especializadas paradenunciar maus-tratos. Numa outra matéria, a man-chete anunciava que, em seis meses de Lei Maria daPenha, o número de denúncias havia caído para 18,8%.

Segundo explicações da Coordenadora das Dele-gacias de Defesa da Mulher do Estado de São Paulo, adelegada Márcia Bucelli Salgado, o motivo para essaredução de denúncias se deve ao fato de que “a divul-gação de que a lei ficou mais rígida acabou surtindo efei-to negativo. Não posso afiançar pesquisas, mas a impres-são é de que a possibilidade de prender o marido fez avítima pensar duas vezes antes de registrar a queixa”.

Assim, se originaram questionamentos sobre quaispontos estariam errados, uma vez que a Lei foi criadajustamente para que se aumentasse o número de de-núncias de casos de violência sofridos pelas mulheres

em seus lares. Esse panorama demonstra o impacto e osefeitos práticos da Lei junto às vítimas, causados pelaforma como o assunto foi divulgado. Almeida2 afirmouque: “nem na época, nem agora, as maiores interessadasforam ouvidas sobre o assunto. Em vez de mostrar um casoilustrativo, como na matéria da semana passada, o pró-prio jornal [Estado de São Paulo] poderia ter tentado ou-vir as mulheres – especialmente as mulheres pobres e mora-doras da periferia – para saber que tipo de informaçãoreceberam sobre a nova lei. Não questionar a afirmaçãode que “a divulgação de que a lei ficou mais rígida” foiuma das causas da diminuição de denúncias significa acei-tar que a população foi efetivamente informada”.

Continuando, a matéria questiona: “Se uma mu-lher bem informada, vivendo na maior cidade do país,enfrenta problemas, o que dizer da grande maioria, semrecursos e sem informação, que continua sofrendo violên-cia? Dizer que elas conhecem a Lei e preferem não de-nunciar é dizer, no fim das contas, que elas sofrem por-que querem”. Para as mulheres indígenas, a falta de in-formações ou de informações distorcidas é um pro-blema que merece atenção.

Mas, apesar de todo esse quadro aparente de expec-tativas não correspondidas, a Lei Maria da Penha com-pletou um ano de existência e a ministra da SecretariaEspecial de Políticas para as Mulheres da Presidência daRepública, Nilcéia Freire, faz uma análise positiva: elaafirma que desafios e dificuldades são historicamenteprevisíveis, pois esse tipo de violência se assenta em umaestrutura social ainda machista e patriarcal.

Numa medida de monitoramento da implementaçãoda Lei, a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres(SPM) demandou informações estatísticas aos Tribunaisde Justiça de todos os estados do país. O retorno foi deapenas 50% das informações solicitadas, o que levou àconclusão de que a implementação da lei no país é desi-gual. A ministra entende que “por isso, é no mínimo pre-maturo afirmar que diminuiu ou aumentou a incidênciado fenômeno, como também é impossível determinar as ra-zões pelas quais, em algumas cidades, aumentou ou dimi-nuiu o número de ocorrências/denúncias.”.

Nesse primeiro ano da Lei, apenas 47 Juizadosou Varas Especiais de Violência Doméstica e Fami-

2 ALMEIDA, Lígia Martins de. Lei Maria da Penha – Rede de proteção ou tiro pela culatra. Disponível em www.observatorio.ultimosegundo.ig.com.brAcesso em 05/06/2007.

4 novembro de 2007

O Estado brasileirotem demonstradoações ainda muito

incipientes voltadaspara a mulher

indígena. São açõespulverizadas dentre

os ministérios

liar contra as Mulheres foram criados pelos Tribu-nais de Justiça estaduais, conforme prevê o textolegal. Destes, 47% localizam-se na região sudeste ea região nordeste foi a que menos criou Juizados;somente um, em Pernambuco.

Numa medida de fortalecimento da Lei, há notíciaspositivas a respeito do esforço para a sua efetivaimplementação. O governo federal anunciou, em agos-to de 2007, na II Conferência Nacional de Políticas paraas Mulheres, o investimentode R$ 1 bilhão para utilizarno Pacto Nacional deEnfrentamento à Violênciacontra as Mulheres, que con-siste em ações coordenadasentre a SPM e diversos mi-nistérios. A execução do Pac-to está prevista para o perío-do de 2008 a 2011.

O movimento feminista indígenaEmbora sempre acompanhando seus maridos ou

pais nas discussões dos movimentos indígenas des-de a década de 80, somente há alguns anos as mu-lheres indígenas passaram a se organizar como mo-vimentos femininos para discutir questões de gêne-ro, o que também para elas ainda é um tema muitorecente e pouco claro, inclusive em termosconceituais, porque, apesar de estarem discutindoentre mulheres, acabam discutindo as políticas ge-rais voltadas para a comunidade, e na maioria dasvezes as suas demandas são para as questões da saú-de e educação indígena, sem se atentarem propria-mente para o enfoque de gênero.

As mulheres, como forma de amadurecimento noprocesso do movimento indígena, vêm se articulan-do e se organizando em grupos, associações, coorde-nações ou departamentos das organizações gerais dospovos. Já possuem representação nas esferas de go-verno nos âmbitos municipais, estaduais e federal. Ograu de discussão é variado, indo desde o mais pri-mário, como as reuniões internas nas aldeias, até adefesa de propostas em instâncias nacionais, como aConferência Nacional de Política para as Mulheres ea Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI).

As disparidades na organização desse movimentode mulheres indígenas se dão por uma variedade demotivos, que vão desde os geográficos aos étnicos, oque é peculiar quando se trata de povos indígenas. Nãohá representatividade indígena nacional. O que se temsão representações regionais que discutem em nomede sua região, do seu povo, do coletivo. Assim como éprática, em reuniões de cunho oficial, que seus parti-cipantes levem as propostas apresentadas para seremdiscutidas e decididas nas suas bases, o mesmo tam-bém ocorre com as mulheres indígenas. Nas socieda-des indígenas, os indivíduos estão subordinados aosinteresses de sua sociedade: não há direitos individuaisno sentido da sociedade “democrática”. As mulherescompartilham com a sua sociedade a visão do papelque essa sociedade reserva às mulheres. Daí se consi-derar a peculiaridade dessa representatividade: a lide-rança indígena que tem contato com a sociedade não-indígena e que interage com as conquistas do movi-mento feminista que estão contidas nas leis brasileiras.

Falta amparo à mulher indígenaO Estado brasileiro tem demonstrado ações ainda

muito incipientes voltadas para a mulher indígena. Sãoações pulverizadas dentre os ministérios, e muitas vezes,embora tenham como um de seus alvos as mulheresindígenas, não há nenhuma rubrica ou programa ofici-al específicos para este público. Em janeiro de 2007, aFundação Nacional do Índio (Funai), órgão indigenistaoficial, criou a Coordenação de Mulheres Indígenas,subordinada à presidência do órgão e chefiada pela in-dígena Wapichana Léa Bezerra. Entre as finalidades,estão a de coordenar, articular e acompanhar aimplementação de ações relacionadas à questão de gê-nero no âmbito da Funai, bem como estimular a parti-cipação de mulheres indígenas nos fóruns de discussãoe nas instâncias de proposição e formulação de políticaspúblicas com foco na perspectiva de gênero.

Anteriormente à criação da Coordenação de Mu-lheres Indígenas, a Funai, por meio de sua Coordena-ção Geral de Desenvolvimento Comunitário (CGDC),também coordenada por uma indígena, a KaingangRosane, já desenvolvia, desde 2006, uma atividade comprevisão no Plano Plurianual (PPA) denominada Açãode Promoção das Atividades Tradicionais das Mulheres

5novembro de 2007

A ausência deinformação sobre aLei Maria da Penha

revelou-se comouma realidade entre

as mulheresindígenas,

demonstrando oquanto é necessário

divulgar informaçõesesclarecedoras

sobre a nova Lei

Indígenas. Em razão da inovação da proposta dentroda instituição, estão sendo realizadas oficinas em todasas regiões do país, com o objetivo de traçar um diagnós-tico geral da realidade produtiva das mulheres indíge-nas em suas aldeias e comunidades, além de divulgar aação cuja diretriz é desenvolver atividades em conjuntocom as mulheres e através de um controle social. Numdiagnóstico ainda parcial, de um universo de 90% dasoficinas já realizadas, além do perfil das atividades pro-dutivas das mulheres indí-genas, surgiram os temassaúde, educação e violên-cia. Este último se apresen-tou contemplando desdeaspectos no âmbito da vidacomunitária à violência do-méstica.

Por ocasião da II Con-ferência Nacional de Mu-lheres promovida pelaSecretaria Especial de Po-líticas para as Mulheres,em agosto de 2007 - naqual, das 2.500 mulheres representantes dos maisdiversos segmentos sociais do país, apenas 31 eramindígenas -, a Coordenação de Mulheres Indígenasda Funai consolidou, em conjunto com o Departa-mento de Mulheres, Infância e Juventude Indíge-na da Coordenação das Organizações Indígenas daAmazônia Brasileira (DMIJI/COIAB), todas as pro-postas até então encaminhadas pelas mulheres in-dígenas do país ao longo dos anos e com base emeventos nacionais. A consolidação dessas propostasapontou para a necessidade de implementar políti-cas públicas direcionadas ao fortalecimento do mo-vimento indígena e suas representatividades; à saú-de, à educação, à sustentabilidade e à segurança.

O mesmo aconteceu durante as reuniões daComissão Nacional de Política Indigenista (CNPI),instância composta por órgãos oficiais do governo,representações indígenas e representações da socie-dade civil, cuja finalidade é discutir e elaborar dire-trizes para a construção de políticas públicas volta-das para as populações indígenas do país. Na CNPI,dentre várias subcomissões, há a subcomissão de

Gênero, Infância e Juventude, cujo objetivo tam-bém é formular políticas públicas levando-se emconsideração a realidade local das populações indí-genas e a busca de melhorias.

A violência de gênero no meio indígenaO novo enfoque gerado a partir da Lei Maria da

Penha, no que diz respeito à violência contra a mu-lher, trouxe à baila uma série de discussões no seiodo movimento das mulheres indígenas; movimen-to esse que, como demonstramos, apresentou con-quistas, tanto no campo social quanto no âmbitogovernamental. Dentro de suas comunidades, asmulheres passaram a questionar a Lei Maria da Pe-nha - como surgiu, quem a discutiu e quais os refle-xos que se apresentarão nos seus cotidianos. A au-sência de informação sobre a Lei revelou-se comouma realidade entre as mulheres indígenas, demons-trando o quanto é necessário divulgar informaçõesesclarecedoras sobre a nova Lei.

A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340, de 07 deagosto de 2006) dispõe, no art. 2º:

“Toda mulher, independente de classe, raça,etnia, orientação sexual, renda, cultura, níveleducacional, idade e religião, goza dos direitosfundamentais inerentes à pessoa humana, sen-do-lhe asseguradas as oportunidades e facilida-des para viver sem violência, preservar sua saú-de física e mental e seu aperfeiçoamento moral,intelectual e social.” (grifos nossos)

Obviamente, resta claro compreender que, aten-dendo ao princípio constitucional da igualdade, a leique coíbe a violência doméstica e familiar contra amulher também acolhe as vítimas indígenas. De fato,não poderia ser diferente. O que se percebe é que oshomens indígenas, interagindo em maior grau coma sociedade dita “dominante”, têm sido fortementeimpactados pelo machismo, que é um pano de fun-do das relações de gênero nas sociedades ocidentais.A desestruturação das sociedades indígenas de modogeral tem incidido nos elos mais fracos dessa socieda-de: as mulheres e as crianças. Portanto, se no passadoa “lei dos brancos” não tinha muito a dizer para o

6 novembro de 2007

Talvez o que elasqueiram é ter

maiores informaçõessobre essa Lei, parapoderem decidir se

tal instrumento legalserve para elas ou sepreferem a utilização

dos códigos deconduta já

estabelecidos pelosseus povos

universo indígena, hoje parece ser necessária. Confi-ra o exemplo de um caso de agressão contra mulherindígena, ocorrido em Mato Grosso do Sul.

Após passar por cirurgia, a indígena Adélia GarciaGarcette, de 37 anos, foi transferida para a UTI doHospital Evangélico. Ela está em estado de coma,entubada, inconsciente e respira com a ajuda deaparelhos. O estado de saúde da mulher é grave.Adélia foi atingida por vários golpes de facão nacabeça. A agressão foitão grave que a mulherteve o olho esquerdo ar-rancado. Ela tambémteve a mão esquerdapraticamente decepa-da. No Hospital Evan-gélico, ela passou poruma cirurgia no crânioe outra para amputaros quatro dedos mutila-dos. O principal suspei-to da agressão foi preso.Adélia teria dito aAristides Soares, de 30 anos, que ele seria o pai deseu bebê... (Adélia não resistiu e morreu).3

Este outro caso ocorreu no Sul do país:Uma pedra acabou com a vida de uma morado-ra da reserva indígena Cantagalo, na parada 25da Lomba do Pinheiro, limite de Porto Alegrecom Viamão. Segundo a polícia, a índia VeraLúcia da Silva, 25 anos, foi morta na manhã deontem, após ter sido apedrejada na cabeça. Ocaso está sendo investigado pela 3ª DP deViamão, que já tem um suspeito. O companhei-ro da vítima seria o autor do crime.4

Esses dois casos são apenas amostras da violência queacomete as mulheres indígenas. Logo, nada mais lógicoentendermos que a Lei Maria da Penha veio ao encon-tro dos anseios indígenas, como instrumento para coi-bir tais práticas, e que as mulheres do movimento indí-

gena estão interessadas em incorporar os benefícios daLei às conquistas já obtidas pelo movimento. Essa dispo-sição está refletida nas demandas apresentadas no semi-nário “Mulheres indígenas fazem a diferença: o papelda liderança para o fortalecimento dos povos indíge-nas”, promovido pela Organização das Mulheres Indí-genas de Roraima, em novembro de 2006. As deman-das foram principalmente no campo da saúde, da edu-cação, e em relação à violência contra a mulher. Sobreeste tema, o documento diz:

Nós, mulheres indígenas, temos sido as principaisvítimas de bebida alcoólica; somos agredidas, abu-sadas sexualmente, e vivemos sob ameaça das conse-qüências da bebida alcoólica. Nossas comunidadesjá escreveram inúmeras cartas pedindo providênci-as para as retiradas dos bares que comercializambebidas no interior das terras indígenas, mas até omomento não temos resultados em nossos pedidos. Énossa vida que está em questão, e não podemos ca-lar, mas cobrar.5

E ainda:Cresce assustadoramente a violência contra os povosindígenas e suas lideranças. Neste cenário destaca-sea grande vulnerabilidade pelas várias formas de vi-olência que as mulheres e crianças indígenas sofrem:física, moral, psicológica entre outras.”6

A Lei Maria da Penha: serve às indígenas?A lógica de que a Lei Maria da Penha parece ser a

resposta suficiente às demandas não é verdadeira. Hoje,as mulheres indígenas admitem que a violência domés-tica as atinge, mas questionam os efeitos da lei nas suascomunidades. Seus maridos e filhos terão que respon-der, nas cadeias e prisões das cidades, pelo abuso come-tido? Quem irá caçar? Quem irá pescar? Quem irá aju-dar na roça?

Talvez o que elas queiram é ter maiores informaçõessobre essa Lei, para poderem decidir se tal instrumentolegal serve para elas ou se preferem a utilização dos códi-gos de conduta já estabelecidos pelos seus povos.

A idéia da aplicabilidade da lei em obediência ao

3 PERIN, Alessandro. Indígena agredida está na UTI e respira por aparelhos. Campo Grande News, 22/08/07.4 Índia é morta a pedrada em reserva – companheiro da vítima é o principal suspeito do crime. Disponível em www.zerohora.com.br Acesso em 03/09/075 Ver Mulheres indígenas de Roraima fazem a diferença. Disponível em www.mulheresdeolho.org.br Acesso em 18/11/06.6 Documento final da 1ª Assembléia das Guerreiras Mulheres Indígenas do Leste e Nordeste, realizada em Ribeirão das Neves/MG, de 13 a 16 de agosto de 2007.

7novembro de 2007

princípio da igualdade deve se adequar ao princípio daautodeterminação dos povos, também garantido emnosso mandamento constitucional e nas regras que re-gem as relações institucionais e que fundamentam osdocumentos que tratam dos direitos humanos.

A Convenção nº 169 da Organização Internacio-nal do Trabalho (OIT) sobre Povos Indígenas e Tribaisreconhece, dentre outras considerações, as aspiraçõesdesses povos no sentido de assumir o controle de suaspróprias instituições, suas formas de vida e seu desen-volvimento econômico, além de manter e fortalecer suasidentidades, línguas e religiões dentro do âmbito dosEstados onde moram. A Convenção no169 preceitua,no artigo 3o:

Os povos indígenas e tribais deverão gozar plena-mente dos direitos humanos e liberdades fundamen-tais, sem obstáculos nem discriminação. As disposi-ções desta Convenção serão aplicadas sem discrimi-nação aos homens e mulheres desses povos.

A mesma Convenção estabelece, no artigo 5o:

Ao se aplicar as disposições da presente Convenção:a) deverão ser reconhecidos e protegidos os valorese práticas sociais, culturais religiosos e espirituaispróprios dos povos mencionados e dever-se-á le-var na devida consideração a natureza dos pro-blemas que lhes sejam apresentados, tanto coleti-va como individualmente;b) deverá ser respeitada a integridade dos valores,práticas e instituições desses povos;

E agora, a recém-aprovada Declaração das NaçõesUnidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas estabele-ceu, no artículo 3:

Los pueblos indígenas tienen derecho a la libredeterminación. En virtud de ese derecho,determinan libremente su condición política ypersiguen libremente su desarollo económico, socialy cultural.

No artículo 4, é feita a seguinte afirmação:Los pueblos indígenas, en ejercicio de su derechode libre determinación, tienen derecho a la au-

tonomia o el autogobierno en las cuestones rela-cionadas con sus asuntos internos y locales, así comoa disponer de los medios pra financiar suas fun-ciones autónomas.

Haverá, naturalmente, os embates jurídicos sobre aidéia de “se opor o relativismo das culturas aouniversalismo dos direitos humanos ou à vigência uni-versal da Constituição dentro da nação”. Os conceitosnorteadores do direito penal brasileiro e dos direitoshumanos serão confrontados ou, talvez, adequados.

Entretanto, em respeito e reconhecimento àsespecificidade dos povos indígenas “a preocupação cres-cente nos nossos dias é a de valorizar e preservar a diferen-ça, a reprodução de um mundo no plural, o direito dossujeitos coletivos”.7

A controvérsia jurídica em nome dos princípios dosdireitos será inevitável e de indiscutível importância.Discutir os direitos coletivos ainda é enveredar por en-tendimentos não pacíficos. Assim, também é inevitávele necessário proporcionar aos povos indígenas e, nestecaso, às mulheres indígenas, fóruns específicos nas regi-ões, em parcerias com os departamentos de mulheresdas organizações regionais, para discutir e entender aLei Maria da Penha, uma vez que as mulheres indíge-nas não discutem de forma isolada os seus problemas.Tendem sempre a envolver a comunidade, os seus par-ceiros, caciques e professores. Só assim os homens passa-rão a compreender que a violência tem que ser comba-tida. Seria acertado ouvir das mulheres indígenas se essanova Lei se aplica também à realidade étnica de cadapovo indígena deste país ou se elas preferem manter atradicionalidade dos códigos de conduta e de puniçãopróprios de seus povos e se utilizarem da legislação vi-gente quando entenderem que a situação foi além daesfera de controle e entendimento interno de sua co-munidade.

Suzy Evelyn de Souza e SilvaAssessora da Fundação Nacional do Índio - Funai

Valeria Paye Pereira/KaxuyanaCoordenadora do Departamento de Mulheres,

Infância e Juventude Indígena/Coiab

7 SEGATO, Rita Laura. Que cada povo trame os fios da sua história – em defesa de um Estado restituidor e garantidor da deliberação no foro étnico. Disponívelem http://www.cimi.org.br/pub/publicacoes/1190056936_Rita%20Segato%20-%20INFANTICIDIO.pdf Acesso em 18/11/07.

8 novembro de 2007

A proposta dogoverno para o PPA

2008-2011, no tocanteaos povos indígenas,deixa pouco claro o

significado dosobjetivos enunciadose a maneira como sepretende efetivá-los

na prática

A proposta do governo para o Plano Plurianual(PPA) 2008-2011, no tocante aos povos indíge-nas, deixa pouco claro o significado dos objetivosenunciados e a maneira como se pretende efetivá-los na prática. O governo diz que os povos indíge-nas, classificados entre a “parcela da sociedade maisvulnerável”, serão beneficiados com a articulaçãode ações que promoverão a garantia de direitos, aproteção das terras e a promoção social “dos índi-os”, considerando as especificidades culturais eterritoriais, e valorizandosua autonomia.

A proposta do Execu-tivo foi encaminhada aoCongresso Nacional em31 de agosto passado,quando o governo en-viou seu plano de traba-lho para o período de2008/2011, acompa-nhado do respectivo or-çamento. Na mensagempresidencial que apre-senta o Plano Plurianual (PPA), é dito que sua ela-boração contou com ampla participação de seg-mentos representativos da sociedade, efetivada pormeio de aproximadamente 40 Conferências e inú-meros Fóruns e Conselhos. Isso significa dizer que,na sua elaboração, foram considerados os resulta-dos das Conferências de Saúde Indígena (2006),dos Povos Indígenas (2006) e de Meio Ambiente(2003 e 2005), entre outras.

A mensagem do governo anuncia que a estraté-gia de desenvolvimento que se pretendeimplementar (em continuidade à “inaugurada” noPPA 2004/2007) opera com base na “incorpora-ção progressiva das famílias no mercado consumi-dor das empresas modernas”. São 306 programas,organizados em três eixos prioritários - crescimentoeconômico; ações no campo social; e melhoria daqualidade da educação da população - e orientadospor dez objetivos estratégicos de governo.

O único objetivo estratégico no qual é feita men-ção explícita aos povos indígenas, ainda assim de for-ma bastante insuficiente, é o que se destina a “forta-lecer a democracia, com igualdade de gênero, raça eetnia, e a cidadania com transparência, diálogo soci-al e garantia dos direitos humanos”. O governo dizque, por meio do Programa Universidade para To-dos (Prouni), serão reservadas vagas para “negros eindígenas”, de forma proporcional à presença destaspopulações nas respectivas unidades da federação.

O documento do PPA informa ainda que, noperíodo de 2008/2011, serão feitos investimentosno valor de R$ 1 bilhão para atendimento a “áreasindígenas, comunidades quilombolas, localidadesrurais e áreas de risco epidemiológico, onde o aces-so aos serviços de saneamento básico é fundamen-tal para redução dos índices de incidência de doen-ças como malária, doença de chagas,esquistossomose, tracoma, febre tifóide, dengue ehepatite”. Para o período 2008/2011, o governofederal estabeleceu como meta 1.346 aldeias indí-genas com cobertura de abastecimento de água.

Nos demais nove objetivos estratégicos, o documen-to é completamente omisso em relação aos povos indí-genas. Esse é o caso do objetivo de “implantar umainfra-estrutura eficiente e integradora do territórionacional”, ao qual estão vinculados 42 programas, nosquais se concentram as ações que mais têm impactosobre os territórios e as populações locais. Em nenhummomento, foi feita referência ao respeito àsterritorialidades indígenas e à sua autonomia no to-cante aos processos decisórios, numa visível afronta aodisposto na Constituição Federal de 1988, na Con-venção 169 da Organização Internacional do Traba-lho (OIT) e na Declaração sobre os Direitos dos PovosIndígenas, aprovada pela Assembléia Geral da Orga-nização das Nações Unidas (ONU), em 13 de setem-bro de 2007. Ao contrário, é afirmado que, como partedo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC),serão implementadas medidas destinadas a agilizar efacilitar a implantação de investimentos (públicos eprivados) em infra-estrutura.

Os povos indígenas no PPA 2008/2011

9novembro de 2007

Nome da açãoCoordenação earticulação daspolíticas de proteçãoe promoção dospovos indígenas.

Capacitação deservidores públicosfederais em processode qualificação erequalificação.Demarcação eregularização deterras indígenas.Fomento àvalorização dosprocessoseducativos dospovos indígenas.

Gestão ambiental eterritorial das terrasindígenas.

Gestão eadministração doprograma.

abela 1T

Ações do programaProteção e Promoção dos Povos Indígenas

FinalidadeArticular as políticas públicas do governofederal voltadas aos povos indígenas edestinadas à sua proteção e promoção.

Realizar ações diversas voltadas aotreinamento de servidores.

Promover a regularização das terrasindígenas.

Promover políticas de educaçãoespecíficas para os povos indígenas,garantindo o direito à cidadania.

Assegurar a proteção e gestãoambiental e territorial e a conservaçãoda biodiversidade das terras indígenas.

Garantir as condições administrativas,financeiras e gerenciais necessárias parao planejamento e a execução doprograma, das ações e atividades.

Observações do InescResponsável: Fundação Nacional doÍndio (Funai). Da parte da Funai, há umagrande expectativa, ao menos emtermos retóricos, sobre a capacidade daComissão Nacional de PolíticaIndigenista (CNPI) tornar-se o principalespaço de articulação das políticaspúblicas voltadas aos povos indígenas.Responsável: Fundação Nacional doÍndio (Funai).

Responsável: Fundação Nacional doÍndio (Funai).

Responsável: Fundação Nacional do Índio(Funai). As administrações regionais sãoresponsáveis pela elaboração dasprogramações anuais, bem como pelaexecução e pelo envio de relatórios deprestação de contas para a Coordenaçãode Educação do órgão. Além dasatividades relacionadas com a política dachamada “educação escolar indígena”,está prevista nessa ação a elaboração edivulgação do Estatuto da Criança e doAdolescente, à luz da legislação indigenista.Responsável: Fundação Nacional do Índio(Funai). A ação anteriormentedesenvolvida pelo Programa de Proteçãodas Terras e Povos Indígenas da AmazôniaLegal (PPTAL) foi incorporada a esta novaação, juntamente com as ações defiscalização de terras indígenas; deconservação e recuperação dabiodiversidade; e a de estudos de impactosambientais e culturais decorrentes deempreendimentos de infra-estrutura.Responsável: Fundação Nacional doÍndio (Funai). Inclui todas as atividades-meio necessárias à gestão eadministração do programa.

10 novembro de 2007

Responsável: Fundação Nacional doÍndio (Funai). Nessa ação, está incluídaa manutenção do sistema censitário daspopulações indígenas.Responsável: Fundação Nacional doÍndio (Funai).

Responsável: Fundação Nacional doÍndio (Funai).

Responsável: Fundação Nacional do Índio(Funai). Inclui a atuação do Museu do Índio(RJ). Inclui ainda o projeto de documentaçãode línguas indígenas (Instituto Max Planckde Psicolingüística, da Alemanha); derevitalização cultural dos indígenas doAmapá (Unesco), entre outrosResponsável: Fundação Nacional doÍndio (Funai). Foram incluídas aqui asações do PPA 2004/2007 de capacitaçãode indígenas e técnicos; de promoçãodas atividades tradicionais das mulheresindígenas; e de fomento às atividadesprodutivas em terras indígenas.Responsável: Fundação Nacional do Índio(Funai). Esta ação inclui a instalação deestrutura física em aldeias e em áreasurbanas; a realização e o apoio à participaçãoem eventos relacionados; o apoio eincentivo à comercialização, entre outras.Responsável: Fundação Nacional do Índio(Funai). A obtenção de documentação;o apoio à criação de organizaçõesindígenas; o deslocamento de indígenasa outras regiões; o acompanhamento dasações de saúde; e a construção demoradias estão incluídas nessa ação.Responsável: Fundação Nacional do Índio(Funai). Além da reestruturação do órgão,estão previstas a adoção de um novoplano de cargos e salários; a realização deconcurso público; e a remodelação daestrutura física da sede e das regionais.Responsável: Secretaria de Biodiversidadee Florestas do Ministério do Meio Ambiente(MMA). Sua implementação se dará deforma descentralizada, por meio de

Gestão edisseminação dasinformações acercada temática indígena.Localização eproteção de povosindígenas isolados oude recente contato.

Pesquisa sobrepopulação indígena.

Preservação doconhecimento dospovos indígenas.

Promoção doetnodesenvolvimentoem terras indígenas.

Promoção dopatrimônio culturaldos povos indígenas.

Proteção social dospovos indígenas.

Reestruturaçãoorganizacional daFunai.

Conservação erecuperação dabiodiversidade emterras indígenas.

Gerar e disponibilizar informaçõesacerca dos povos indígenas e da políticaindigenista, inclusive para o processodecisório da instituição.Além de localizar e promover ações deproteção aos grupos isolados e derecente contato, prevê-se dimensionare definir o território de ocupação, alémda sua vigilância e fiscalização.Promover estudos sobre problemasvivenciados pelos povos indígenas egerar subsídios para políticas públicas.Documentar, cadastrar, salvaguardar edifundir o conhecimento pertencenteaos povos indígenas.

Promover a autonomia produtiva decomunidades indígenas.

Promover e valorizar as culturasindígenas, por meio da realização e doapoio a projetos e atividades.

Garantir o exercício de igualdade socialaos povos indígenas, no tocante àspolíticas e aos serviços sociais universaisprestados pelos entes federados.

Implantar novo desenho institucional.

Promover, resgatar, valorizar, disseminare preservar o conhecimento tradicional

abela 1 (continuação)T

11novembro de 2007

convênios para que organizações não-governamentais (ONGs) e instituições depesquisa realizem o mapeamento das áreasde sobreposição com unidades deconservação, e desenvolvam instrumentose mecanismos de gestão compartilhada dabiodiversidade nessas áreas.Responsável: Secretaria Executiva eSecretaria de Extrativismo eDesenvolvimento Rural Sustentável doMinistério do Meio Ambiente (MMA).

Responsável: Secretaria de Extrativismo eDesenvolvimento Rural Sustentável doMinistério do Meio Ambiente (MMA).Trata-se do denominado Projetos De-monstrativos dos Povos Indígenas (PDPI).Responsável: Departamento de SaúdeIndígena da Fundação Nacional de Saúde(Funasa).

Responsável: Departamento de SaúdeIndígena da Fundação Nacional de Saúde(Funasa).

Responsável: Departamento de SaúdeIndígena da Fundação Nacional de Saúde(Funasa). Inclui a viabilização das condiçõespara assistência à saúde no âmbito dosDistritos Sanitários Especiais Indígenas(DSEI); a supervisão do trabalho dasEquipes Multidisciplinares de SaúdeIndígena (EMSA); a elevação da capacidadede gestão da informação, entre outras. Aimplementação se dará de forma direta epor meio de convênios com ONGs,organizações indígenas, estados emunicípios que atuam nas terras indígenas.Responsável: Departamento de SaúdeIndígena da Fundação Nacional de Saúde(Funasa). Inclui o cadastramento dasfamílias no Cadastro Único; a garantiada inclusão dos indígenas nosinstrumentos governamentais voltadospara a promoção de uma alimentaçãosaudável, entre outras ações.Responsável: Secretaria Nacional deDesenvolvimento de Esporte e de Lazerdo Ministério do Esporte.

Fomento à gestãoambiental em terrasindígenas.

Fomento a projetosde gestão ambientaldos povos indígenasda Amazônia.

Estruturação deunidades de saúdepara atendimento àpopulação indígena.Gestão eadministração doprograma.

Promoção, vigilância,proteção erecuperação dasaúde indígena.

Vigilância e segurançaalimentar enutricional dos povosindígenas.

Realização dos Jogosdos Povos Indígenas.

sobre o ambiente natural e o usosustentável dos seus recursos.

Fomentar e apoiar projetos que visemao uso sustentável e à gestão ambientaldas terras indígenas, associado com apromoção da auto-sustentação indígenaem seus territórios.Melhorar as perspectivas desustentabilidades econômica, social ecultural dos povos indígenas em suasterras e a conservação dos recursosnaturais nelas existentes.Dotar o subsistema de atendimento àsaúde indígena de estrutura física e deequipamentos necessários ao seufuncionamento e modernização.Garantir as condições administrativas,financeiras e gerenciais necessárias parao planejamento e a execução deprograma, ações e atividades.Disponibilizar serviços de saúde aospovos indígenas.

Combater a desnutrição na populaçãoindígena.

Integrar os povos indígenas por meio doincentivo, da valorização e do fortaleci-mento da prática de esportes tradicionais.

abela 1 (continuação)T

12 novembro de 2007

De fato, ainda hácarência de

mecanismosinstitucionaisinovadores e

consistentes quegarantam a

territorialização dosprincípios já

enunciados, isto é: agarantia de direitos, aproteção das terras ea promoção social dospovos e comunidades

locais indígenas

Os povos indígenas no novo PPANo Anexo I da proposta do Plano Plurianual

(PPA) 2008/2011, os povos indígenas são mencio-nados explicitamente como beneficiários de açõesem sete programas finalísticos. São eles:

1. Ciência, tecnologia e inovação para a inclu-são e o desenvolvimento social;

2. Conservação e uso sustentável da biodiver-sidade e dos recursos naturais;

3. Conservação,manejo e usosustentável da agro-biodiversidade;

4. Paz no campo;5. Educação para a di-

versidade cultural;6. Saneamento rural; e7. Proteção e promo-

ção dos povos indí-genas.

Desses sete progra-mas, somente os três úl-timos têm ações especí-ficas destinadas aos in-dígenas, e somente o úl-timo é destinado exclusivamente a esses povos.Nesse programa, estão concentradas as açõesque, no PPA anterior (2004/2007), estavam dis-tribuídas em dois programas, ambos sob a coor-denação do Ministério da Justiça, por intermé-dio da Fundação Nacional do Índio (Funai). Nonovo PPA (2008/2011), a Funai continua for-malmente como órgão responsável pela articu-lação e coordenação da política indigenista dogoverno federal.

Se esse novo arranjo irá proporcionar melhorarticulação das ações e resultados concretos nos ter-ritórios e para as comunidades locais, só o tempodirá. De fato, ainda há carência de mecanismosinstitucionais inovadores e consistentes que garan-tam a territorialização dos princípios já enunciados,isto é: a garantia de direitos, a proteção das terras ea promoção social dos povos e comunidades locaisindígenas, tomando por base as especificidades

socioculturais, as formas de territorialidade e a au-tonomia indígena nos processos decisórios.

No tocante à regularização dos territórios dospovos indígenas, o Plano Plurianual prevê, até 2011,concluir o procedimento de demarcação adminis-trativa de 542 terras indígenas, com a regulariza-ção de mais 122 terras indígenas.

Se feito o previsto, já será um feito. Mas fica aquestão: quando e como serão tratadas as 494 rei-vindicações de terras que deram entrada naFunai, e que até agosto de 2007 ainda não havi-am sido processadas pelo órgão. Essas reivindica-ções são originárias das regiões Sul, Sudeste, Cen-tro-Oeste e Nordeste.

Um “novo” programaO programa de Proteção e Promoção dos Povos

Indígenas é novo, mas nem tanto, já que resultada reunião de ações que antes estavam em doisprogramas. Além disso, houve vários casos de fu-são de ações, sob a alegação de que isso possibili-taria uma melhor articulação para a gestão dosrecursos disponíveis e a efetivação dos objetivossetoriais e programáticos estabelecidos. Na tabe-la 1 (p. 9-11), apresentamos o conjunto de açõesprevistas no novo programa.

Como os dois programas anteriores, o novo pro-grama dirigido aos povos indígenas é tão ambicio-so quanto genérico. Seu objetivo anunciado é ode “garantir aos povos indígenas a manutenção ourecuperação das condições objetivas de reprodu-ção de seus modos de vida e proporcionar-lhesoportunidades de superação das assimetrias obser-vadas em relação à sociedade brasileira em geral”.Considerando as assimetrias políticas e econômi-cas estabelecidas na esfera intra-governamental, eos interesses econômicos predominantes na defi-nição das prioridades de governo, com certeza esseprograma não terá forças para evitar os impactosglobais decorrentes das inúmeras obras de infra-estrutura previstas no Plano de Aceleração doCrescimento (PAC).

Ricardo VerdumAssessor de Políticas Socioambiental e Indígena do Inesc