a46-politicas publicas e educacao do campo elementos para um debate

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 Políticas públicas e educação do campo: elementos para um debate  Elianeide Nascimento Lima Luiz Bezerra Neto Universidade Federal de São Carlos RESUMO. O presente estudo objetiva analisar os condicionantes históricos e políticos que geram o debate políticas públicas e educação do campo. Para tanto, partiu-se da indagação: há  políticas públicas de educação do campo que de fato beneficie a classe trabalhadora do campo em nosso país? Será feito uma retomada histórica da forma como, no Brasil, os diversos governos vêm lidando co m a educação ofe recida aos filhos dos trabalhadores do campo Serão dadas algumas notícias sobre a legislação educacional considerando serem importantes e necessárias, bem como notícias acerca da forma como os movimentos sociais foram adquirindo uma organização e participação crescentes no cenário político decisório das políticas para a educação do campo. Não é demais aqui demarcar que não é nossa intenção tomar a Educação do Campo como um fenômeno isolado do contexto maior da Educação Brasileira. Entendemos que as mazelas da Educação do Campo são mesmas que ocorrem na Educação dos filhos dos trabalhadores urbanos. O nosso pressuposto é que só podemos entender o campo como parte da totalidade sócio- histórica, e assim, entendemos que a contradição a se considerar não é campo e cidade e sim, capital e trabalho. Ao final, serão apontados novos rumos para uma análise das políticas públicas como um terreno de conflitos, disputas e correlação de forças entre trabalhadores e patrões. Palavras-chav e: Educação do campo; Políticas públicas, movimentos sociais

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Políticas PúblicasEducação do Campo

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  • Polticas pblicas e educao do campo: elementos para um debate

    Elianeide Nascimento Lima

    Luiz Bezerra Neto

    Universidade Federal de So Carlos

    RESUMO.

    O presente estudo objetiva analisar os condicionantes histricos e polticos que geram o

    debate polticas pblicas e educao do campo. Para tanto, partiu-se da indagao: h

    polticas pblicas de educao do campo que de fato beneficie a classe trabalhadora do

    campo em nosso pas? Ser feito uma retomada histrica da forma como, no Brasil, os

    diversos governos vm lidando com a educao oferecida aos filhos dos trabalhadores

    do campo Sero dadas algumas notcias sobre a legislao educacional considerando

    serem importantes e necessrias, bem como notcias acerca da forma como os

    movimentos sociais foram adquirindo uma organizao e participao crescentes no

    cenrio poltico decisrio das polticas para a educao do campo. No demais aqui

    demarcar que no nossa inteno tomar a Educao do Campo como um fenmeno

    isolado do contexto maior da Educao Brasileira. Entendemos que as mazelas da

    Educao do Campo so mesmas que ocorrem na Educao dos filhos dos trabalhadores

    urbanos. O nosso pressuposto que s podemos entender o campo como parte da

    totalidade scio- histrica, e assim, entendemos que a contradio a se considerar no

    campo e cidade e sim, capital e trabalho. Ao final, sero apontados novos rumos para

    uma anlise das polticas pblicas como um terreno de conflitos, disputas e correlao

    de foras entre trabalhadores e patres.

    Palavras-chave: Educao do campo; Polticas pblicas, movimentos sociais

  • 1- Existem Polticas Pblicas de Educao do Campo para a classe

    trabalhadora do campo?

    Ao longo da presente exposio, pretendemos levantar argumentos, que mostram

    ser esta pergunta algo que exige um exame histrico das condies e aes polticas

    implementadas pelos diferentes governos, desde o Brasil Imprio (qui antes) at os

    dias atuais e, em contrapartida, pelas aes polticas de movimentos sociais que, em

    certa medida, se contrapem s aes do Estado.

    Vejamos, primeiramente, os dois aspectos que devem ser considerados na

    tentativa de resposta a questo acima levantada:

    1. Se olharmos para alguns documentos oficiais, como por exemplo, as constituies

    federais e as leis de diretrizes e bases da educao (apenas para situarmos esse dois

    conjuntos de documentos oficiais), poderemos afirmar que algumas polticas para a

    educao do campo foram se constituindo ao longo dos anos;

    2. Se olharmos para as aes das elites em relao ao campo educacional, claramente

    teremos polticas voltadas constituio de uma educao do campo, tanto aes

    baseadas ou respaldadas nas documentaes oficiais, quanto aes que foram se

    oficializando ao longo dos anos, refletindo um compromisso com a nova ordem

    econmica do capital;

    Convm antes de tudo,explicitar uma proposta de entendimento/definio do que

    poltica pblica, poltica de Estado, poltica de governo:

    Tendo em vista que o Estado no se limita ao governo e abrange dimenses

    polticas e sociais que, em grande medida, refletem os interesses de elites que detm o

    poder econmico, o que se deve entender por poltica de Estado o conjunto de aes

    organizadas e amplas que regulam a vida econmica, social e ideolgica dos povos, de

    forma a manter o status quo das elites e, ao mesmo tempo, garantir que os cidados no

    enxerguem os mecanismos de controle social.

    Em nossa sociedade capitalista, tipicamente predominam as aes das elites

    econmicas que detm os meios de produo e a fora poltica que mantm as aes de

    regulao por meio do policiamento ostensivo, controle das mdias, religio, leis e

    governos. O setor empresarial, em nossa sociedade, detm o poder de eleger

    representantes legais que fazem parte desse grupo ou que esto ao seu servio. Os

  • grandes banqueiros, a exemplo das polticas desenvolvidas pelo Banco Mundial, e o

    setor privado da economia, juntamente com representantes das elites religiosas,

    legisladores, foras armadas e governantes, compem o Estado, entendido aqui como

    estrutura regulatria da vida social, econmica, poltica e ideolgica dos povos.

    Note-se que, nesta perspectiva, Estado e governo no so sinnimos e Estado

    no se restringe a uma demarcao geogrfica e lingustica. Estado, enquanto estrutura

    regulatria da vida material e espiritual, no fica delimitado a uma nao, mas

    representa uma organizao supranacional e supragovernamental que pode lanar mo

    de mecanismos sutis ou ostensivos de controle visando ao lucro e manuteno do

    capital.

    O governo, enquanto estrutura organizativa delimitada por um espao

    geogrfico, legal e poltico, frequentemente confundido com o Estado por funcionar

    em grande parte como um dos braos deste mesmo Estado. Da suas polticas, aqui

    chamadas de polticas de governo, comumente refletirem as aes mais amplas e as

    perspectivas capitalistas do Estado. As polticas de governo funcionam como

    mecanismos de controle e abafamento de conflitos na sociedade e frequentemente so

    anunciadas por meio de discursos voltados ao bem estar geral, soluo de problemas

    sociais, ao atendimento de necessidades e reivindicaes da populao em geral. Uma

    poltica local, regional ou nacional, cujo carter pode ser emergencial ou de

    enfrentamento de mdio e longo prazo, pode aparentemente estar desatrelada de um

    contexto mais amplo, mas, a rigor, sempre refletir de forma mais ostensiva ou mais

    velada a intencionalidade do Estado.

    Como a sociedade civil, composta por diferentes grupos e diferentes interesses,

    leva ao terreno das reivindicaes uma srie de propostas sociais e de contraposies ao

    Estado ou ao governo, algumas dimenses dessas propostas e dessas reivindicaes so

    apropriadas pelo Estado que, particularmente por meio do governo, lana mecanismos

    de respostas aos anseios sociais em forma de amplos programas sociais, decretos,

    normas e aditivos, os quais possuem uma caracterstica sui generis: apropria-se dos

    discursos reivindicatrios dos movimentos sociais organizados e lana programas que

    visam ao abafamento das crises sociais, sem perder as caractersticas de aes que,

    apenas na aparncia, apontam para solues e respostas s crises sociais.

  • Esses programas, que assumem um carter deliberativo e legal, so as polticas

    pblicas. Esse termo est, em certa medida, bastante desgastado, mas ainda serve para

    albergar, de forma maniquesta, uma srie de reivindicaes da sociedade civil e, ao

    mesmo tempo, atuar de forma compensatria visando ao silenciamento de alguns

    conflitos sociais. Assim, do meu ponto de vista, as polticas pblicas so mecanismos

    de controle e de abafamento do Estado, frequentemente implementadas pelos governos

    e, portanto, refletem em grande medida as polticas de Estado e poderiam ser mais

    apropriadamente chamadas de polticas de governo.

    Um exemplo de poltica pblica em educao a poltica de incluso. A

    incluso um paradigma educacional pautado no reconhecimento das diferenas e

    movido pela proposta de que indivduos, escolas e sociedades devem desenvolver

    prticas inclusivas, as quais se contrapem ao isolamento e excluso de indivduos com

    necessidades diferenciadas em sua educao, como os deficientes, os superdotados, os

    que possuem transtornos ou dficits de aprendizagem, etc. Na prtica, a poltica pblica

    de incluso abarca os discursos de vanguarda dos movimentos sociais e de educadores

    em torno das diferenas, mas implementa uma incluso s avessas, que mais exclui do

    que inclui, pois restringe-se mera insero de indivduos especiais na escola regular,

    sem a mnima infraestrutura, sem preparo adequado dos professores, sem dilogo com

    as famlias e com os alunos, sem apoio tcnico e de suporte aos professores. O mesmo

    pode ser dito para a poltica pblica de progresso continuada. Ambas as polticas

    partem de um movimento mundial de reivindicao social, e sofrem as deformaes

    tpicas das polticas de Estado.

    Nesse sentido, ainda estamos muito longe da vivncia de polticas gestadas pelo

    povo e implementados sob o acompanhamento e gerenciamento da populao

    diretamente interessada nas mudanas e ganhos sociais reivindicados. Os movimentos

    sociais tm conseguido, quando muito, alguma representatividade nas polticas pblicas

    que so, a rigor, polticas implementadas pelo governo a servio dos interesses do

    Estado e no dos trabalhadores.

    Podemos resumir esse quadro apontando que a educao do campo, enquanto

    educao voltada ao trabalhador, historicamente tem sido marginalizada, sendo tratada

    como poltica compensatria, a servio do agronegcio, do latifndio, conforme

    poderemos observar nesse breve histrico (1824/ 1970) traado a seguir.

  • 2.2.1. Polticas de educao do campo em diferentes tempos e lugares

    fato que a educao est sempre ligada a uma proposta de sociedade. E esta

    proposta de sociedade, por sua vez, forja uma educao que ensina aos homens os

    valores e a cultura dos dominantes. No caso da educao no Brasil, e particularmente a

    educao no campo, historicamente, Estado e elite tornam-se um s na garantia da posse

    de terra pelos grandes latifundirios, e essa configurao perdura at os dias atuais, em

    que pesem as mudanas sociais ocorridas e, em grande parte, protagonizadas pelos

    movimentos sociais.

    A histria da educao do campo guarda contradies, antagonismos e

    imposies de vises hegemnicas, que tem como resultado o silenciar de vozes, o

    cercear de aes, o tornar inviveis projetos que refletem interesses gestados e sentidos

    no mago das prticas e culturas dos trabalhadores.

    Todas as aes e projetos que foram destinados Educao rural e/do campo, o

    foram do ponto de vista do dominador, atendendo a interesses particulares de grupos

    especficos, os donos do capital, demonstrando facetas de manuteno e perpetuao da

    explorao. patente o antagonismo de interesses e de foras que se articulam em torno

    de propostas derivadas de vises de mundo e prticas de vida totalmente divergentes.

    a histria marcada pelas contradies capital/trabalho, sendo esse ltimo sempre

    condicionado pelo primeiro, numa relao contraditria e conflituosa.

    No embate entre Estado/elites e movimentos sociais/academia se evidenciam

    dois projetos para a educao do campo, a saber: um projeto do capital que assumido e

    implementado pelo Estado e o projeto dos trabalhadores do campo, que proposto por

    movimentos e organizaes ligados ao campo. Se olharmos para a histria oficial da

    Educao do Campo, nos deparamos somente com uma proposta, tendo em vista que na

    correlao de foras que se estabelece, o projeto dos trabalhadores historicamente no

    teve fora para se impor, nunca teve visibilidade. Ao olharmos para alguns documentos

    oficiais, como por exemplo, as constituies federais e as leis de diretrizes e bases da

    educao (apenas para situarmos esse dois conjuntos de documentos oficiais),

    poderemos afirmar que algumas polticas para a educao do campo foram se

    constituindo ao longo dos anos. Aliado a isso, as aes das elites em relao ao campo

    educacional, se materializaram em polticas voltadas constituio de uma educao do

    campo, se oficializando ao longo dos anos, refletindo um compromisso de perpetuao

  • do sistema capitalista . Esses dois aspectos encontram-se de tal forma imbricados entre

    si que dificilmente conseguiremos separ-los. Alm disso, conforme visto no captulo

    anterior, o contexto educacional fruto direto do contexto social e poltico no apenas

    de nosso pas, mas do mundo capitalista como um todo; portanto, no podemos perder

    de vista a anlise dialtica de que tudo se relaciona e, desse modo, torna-se necessrio

    identificar os condicionantes sociais, polticos e econmicos que concorrem para o

    surgimento de uma poltica educacional.

    Ao analisarmos os sete textos constitucionais do Brasil, constataremos que estes

    foram bastante omissos no que diz respeito educao destinada a classe trabalhadora.

    Na primeira constituio, outorgada por D. Pedro I em 25 de maro de 1824, as nicas

    referncias educao enfatizam apenas a gratuidade da instruo primria a todos os

    cidados, alm da vaga indicao de criao de colgios e universidades. pertinente

    ressaltar, que os indivduos considerados cidados ainda eram em nmero bastante

    restrito, pertencentes s elites. Nesse contexto histrico a populao brasileira era

    eminentemente rural e se ocupava dos trabalhos na pecuria e lavoura. Esse

    descompromisso e silncio frente educao da classe trabalhadora, que diga-se de

    passagem no era considerada cidad, era um reflexo do contexto cultural que entendia

    que o trabalho na lavoura e na pecuria no necessitava de qualquer instruo formal

    para sua realizao. Essa viso se estendia aos indgenas e escravos, vistos como

    primitivos e no merecedores de qualquer ao instrucional, salvo a catequese que tinha,

    obviamente, a nica funo de ensinar a submisso e subservincia ao branco europeu,

    considerado modelo de civilizao, evoluo e superioridade.

    Quase sete dcadas depois, com a Proclamao da Repblica (1889), foi

    instituda a pasta da Agricultura, Comrcio e Indstria, que dentre as suas atribuies

    deveria atender estudantes do campo. De acordo com Souza (2011). a inteno era

    modernizar o pas e acredita-se que a educao seria uma das formas de lev-lo ao

    desenvolvimento socioeconmico, ento forou os fazendeiros a abrirem escolas em

    suas fazendas (SOUZA, 2011, p. 133). Vrios autores considera ser este momento, um

    marco da constituio da educao rural.

    Dois anos aps, com a promulgao da nova constituio em 24 de fevereiro de

    1891, a situao no se altera em relao educao da classe trabalhadora. A Educao

    considerada como um fator de civilidade, funciona de forma precria e estando a servio

    dos grupos detentores do poder e dos interesses externos da poca O texto

  • constitucional, baseado diretamente na constituio dos Estados Unidos da Amrica,

    indica as responsabilidades das unidades federativas na implementao da educao,

    estando a Unio responsvel pelo ensino superior e os Estados pelo ensino primrio e

    secundrio, embora estes tambm tivessem a prerrogativa de criar e manter instituies

    de ensino superior.

    Fato a se destacar o surgimento em 1920, de um movimento chamado Ruralismo

    Pedaggico, que tinha como bandeira a defesa da educao dos camponeses, uma escola

    integrada s condies locais regionalistas, cujo objetivo maior era promover a fixao

    do homem ao campo. De acordo com Souza (2011):

    O Ruralismo pedaggico estava ligado modernizao do campo

    brasileiro e contava com o apoio dos latifundirios, que temiam perder

    a mo-de-obra barata de que dispunham, e de uma elite urbana muito

    preocupada com o resultado da intensa migrao campo-cidade e com

    as consequncias desse inchao das periferias das cidades (SOUZA,

    2011, p. 135)

    As propostas desse movimento ganharam eco no cenrio nacional, tendo como

    pano de fundo intensas transformaes de carter poltico e econmicas por que passava

    o pas naquela poca, uma conjuntura marcada por mais uma crise cclica do

    Capitalismo (BEZERRA NETO, 2003). O ruralismo pedaggico defendia uma

    educao diferenciada, com currculo e metodologias especficas para a educao do

    campo ... uma educao de sentido prtico e utilitrio, e insistia-se na necessidade de

    escolas adaptadas vida rural (CALAZANS, 1993, p. 17)

    Assim, a intensa migrao campo/cidade da dcada de 1920, foi o motivo real pelo qual

    os intelectuais burgueses e as oligarquias rurais se preocupassem com a educao do

    trabalhador rural. Ainda segundo Souza (2011), essa preocupao:

    no era mais que a busca de alternativas para os problemas

    relacionados ao xodo rural, como o crescimento das favelas, as

    doenas causadas pela falta de saneamento bsico, a violncia, etc.,

    alm dos problemas em relao produo camponesa, que no

    correspondia aos interesses do capital diante do avano das foras

  • produtivas. Alm disso, at 1930 2/3 da populao residia no campo,

    que estava repleto de contradies. (SOUZA, 2011, P. 136)

    Vale destacar que foi somente a partir da dcada de 1930, que os programas de

    escolarizao avanam no campo como uma necessidade do modelo econmico. Nesse

    mesmo ano criado o Ministrio da Educao e sade pblica, dada a necessidade de se

    investir na educao, diante do novo quadro que se desenhava, que passou a exigir uma

    mo-de-obra especializada.

    Assim, conforme Paiva (1987), foram organizadas duas frentes na educao:

    uma para conter a migrao, outra para atender a demanda de trabalhadores para a

    indstria nas cidades. Essa poltica de volta aos campos do governo Vargas

    justificava-se no discurso populista de povoar e sanear a zona rural. (PAIVA 1987, p.

    127). Nesse perodo comea j se notar uma considervel diminuio da populao

    rural. A precariedade da educao no se resumia a rea rural, mas tambm urbana,

    tendo em vista que somente 30% estava matriculada na escola.(SOUZA, 2011)

    Em 1931 foi criado o ento Conselho Nacional de Educao, CNE, (que sucedeu

    o Conselho Superior de Educao, de 1911, e o Conselho Nacional de Ensino de 1925)

    e foi diretamente citado na constituio promulgada em 16 de julho de 1934 pelo

    governo provisrio de Getlio Vargas. No texto constitucional dito que o CNE seria

    responsvel pela elaborao de um Plano Nacional de Educao. Porm, esse plano

    nacional s elaborado em 1962, quando em voga a LDB de 1961.

    Alm de um CNE inoperante, particularmente quanto a educao voltada para a classe

    que vive do trabalho, nota-se que a constituio de 1934 tambm omissa nesse

    sentido. O nico avano a se considerar encontrado no artigo 156, pargrafo nico,

    que diz: Para a realizao do ensino nas zonas rurais, a Unio reservar no mnimo,

    vinte por cento das cotas destinadas educao no respectivo oramento anual. No

    entanto, no h notcias de qualquer fiscalizao da aplicao desse percentual. A

    constituio de 1934 tambm cita a criao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao

    Nacional, porm esta s comea a ser discutida em 1948 e lanada em 1961. O texto

    constitucional de 1934, portanto, em muitos aspectos parece sinalizar para alguns

    avanos tmidos que, na prtica, comeam a se concretizar dcadas depois.

  • A preocupao com a educao do campo ganhou especial destaque no Estado Novo,

    com a implantao dos primeiros programas para a educao do campo. Estes

    programas estavam vinculados a alguns interesses, servindo ao capital internacional e

    concretizao do processo de urbanizao e industrializao iniciado com a

    Proclamao da Repblica (LEITE, 1999). O interesse pela educao dessa parcela da

    populao, nesse contexto se justificava pelo potencial que ela apresentava em ser

    veiculadora dos valores nacionalistas do Estado Novo, e a preocupao com a formao

    de mo-de-obra especializada para atender aos interesses do capital, que avanava na

    agricultura e na industrializao. Nesse contexto foram criados o SENAI e SENAC ,

    com o objetivo de formar tecnicamente trabalhadores para o mercado.

    Um outro aspecto a se considerar, a livre iniciativa no campo da educao j

    aparece claramente na constituio de 1934, mas na constituio de 10 de novembro

    de 1937, outorgada no governo Vargas, que surge o compromisso explcito com os

    setores privados. J na constituio de 18 de setembro de 1946, promulgada durante o

    governo de Gaspar Dutra, retoma-se a educao como direito de todos, porm o

    compromisso com as elites e com o fortalecimento da iniciativa privada no campo

    educacional est plenamente consolidado. A submisso s orientaes do imperialismo

    levou o governo brasileiro a privatizar de vez a educao do campo. O Estado deixa de

    oferecer educao elementar como um direito aos camponeses e a delega iniciativa

    privada (SOUZA, 2011, p. 142). O artigo 168 preconizava que [...] empresas

    industriais, comerciais e agrcolas [...] so obrigadas a manter ensino primrio gratuito

    para os seus servidores e os filhos destas. Esse artigo garantia e legitimava uma prtica

    que j vinha sendo realizada pelas elites rurais: as escolas eram construdas e mantidas

    dentro das propriedades dos grandes latifundirios de maneira a formar mo de obra

    barata para trabalhar em suas terras. Em outras palavras, a explorao ganhava um

    status de legalidade. Esse formato de explorao, por sinal, perdura at os dias atuais.

    A partir dos anos 1950 torna-se acentuada a dicotomia entre urbano e rural,

    colocando-os como sinnimo de avanado e atrasado, respectivamente. H um

    significativo aumento do xodo rural, estimulado pelo crescente empobrecimento da

    populao rural, das ms condies de trabalho, e destitudos de condies

    minimamente dignas de sobrevivncia, so forados a migrarem para a rea urbana a

    procura de trabalho nas indstrias.

  • O aumento do xodo rural, a dicotomia crescente entre urbano e rural, a

    oficializao de uma perspectiva de progresso urbanocntrica, e a ampliao da

    explorao do trabalhador e de seus filhos, desrespeitando-os nos mnimos direitos, so

    um terreno propcio ao aumento da insatisfao popular e, paralelamente, ao aumento da

    organizao de frentes populares de luta que buscavam se contrapor ao modelo

    expansionista que avanava em detrimento dos anseios da populao

    Interessante destacar que a partir da dcada de 1960 houve uma inverso no

    objetivo da educao oferecida aos trabalhadores do campo:

    Em vez de fixar o objetivo agora seria retirar os camponeses do

    campo para dar lugar aos modernos processos tecnolgicos surgidos

    com a modernizao da agricultura. Inicia-se o processo de

    expulso dos camponeses para beneficiar o grande capital que

    avanava com voracidade sobre o campo brasileiro. Com a

    modernizao da agricultura, foi decretado o fim do campesinato e

    o estmulo ao xodo rural. Se o campesinato estava fadado ao

    desaparecimento, logo a educao do campo tambm desapareceria.

    (SOUZA, 2011, p.145)

    Os conflitos polticos e presses sociais feitas por diversos segmentos, tais como

    os estudantes, docentes, alguns setores militares e polticos de inspirao socialista,

    aliados aos altos ndices da inflao e enfraquecimento do governo Joo Goulart,

    culminaram no golpe militar de 31 de maro de 1964. Esse golpe representa um divisor

    de guas na histria social e poltica do Brasil e o setor educacional um dos que mais

    se ressentem das aes e desdobramentos advindos da tomada de poder pelos militares.

    O regime militar, em seu incio, lana em 30 de novembro de 1964 a lei 4.504,

    conhecida como Estatuto da Terra. Esse estatuto trazia, em sua redao, o anncio de

    avanos em relao a assegurar uma srie de direitos ao trabalhador do campo. Mas na

    prtica apenas consolida a fora dos grandes latifundirios, em nome da reforma agrria,

    da posse de terras socialmente produtivas e da utilizao de recursos e capitais nacionais

    e estrangeiros na modernizao do plantio e do cultivo.

    As elites agrrias saiam fortalecidas, a situao educacional das zonas rurais e

    ribeirinhas ficava cada vez mais precria. Mais adiante, em 24 de janeiro de 1967, foi

  • promulgada a constituio, marcada pela decretao dos Atos Institucionais, cerceando

    os direitos polticos dos cidados. Nenhum avano em relao educao no campo. O

    artigo 105 apenas preconizava que os poderes pblicos instituiro e ampararo servios

    e entidades que mantenham na zona rural escolas capazes de favorecer a adaptao do

    homem ao meio e o estmulo de vocaes profissionais.

    De inspirao notadamente tecnicista, o texto da LDB 95692/71) , no que diz respeito a

    educao do campo, no seu artigo 49:

    Art. 49. As empresas e os proprietrios rurais, que no puderem

    manter em suas glebas ensino para os seus empregados e os filhos

    destes, so obrigados, sem prejuzo do disposto no artigo 47, a

    facilitar-lhes a freqncia escola mais prxima ou a propiciar a

    instalao e o funcionamento de escolas gratuitas em suas

    propriedades.

    Novamente o Estado delega a responsabilidade ao setor privado, se

    desobrigando da sua responsabilidade. Um perodo de grande turbulncia e tentativas de

    silenciamento das vanguardas polticas marcou a ditadura dos militares. Mas, os

    movimentos sociais e polticos de diferentes matizes, em certa medida unidos na

    resistncia e na organizao de lutas em diversos mbitos sociais, formaram desde ento

    uma ampla e crescente mobilizao, resultando em conquistas significativas a serem

    discutidas mais detalhadamente adiante.

    Resumindo o quadro at agora apresentado, podemos perceber que at a dcada

    de 1970, no houve nenhum poltica pblica de fato voltada para a escolarizao da

    populao rural, a educao era utilizada como instrumento de abafamento de conflitos

    e de imposio de ideologias. A preocupao que centralizava as aes voltadas

    educao do campo, variava de acordo com os interesses do capital, ora era de

    modernizar o campo, habilitar o trabalhador do campo a enfrentar as exigncias das

    novas tecnologias e inovaes do setor agrcola, e, portanto fixar esse homem no

    campo, ora de expulsar esse homem do campo, num processo de esvaziamento do

    campo. A educao voltada para essa parcela da populao foi entregue nas mos da

    iniciativa privada, e a despeito do que constava nas legislaes, no havia, qualquer

    controle ou amparo do Estado. Em contrapartida a classe trabalhadora do campo,

  • organizada em movimentos, exerciam presso sobre o governo, ao mesmo tempo em

    que recorriam a alternativas como os Centros Populares de Cultura, o Movimento de

    Educao de Base.

    E assim, chegamos dcada de 1980, com uma educao do campo, limitada a

    escolas multisseriadas, de 1 a4 sries, de m qualidade, relegadas ao abandono e

    descaso pblico, e o ensino de 5 a 8 sries e mdio praticamente inexistentes. Com a

    orientao das organizaes internacionais de esvaziamento do campo, comea a

    vigorar uma poltica de fechamento das escolas do campo, e os alunos so transportados

    a longas distncias em condies precrias para escolas localizadas na zona urbana.

    Essa poltica de nucleao adotada principalmente a partir da dcada de 1990, por

    quase todos os estados da federao, tendo como justificativa a reduo de custos.

    A constituio de 1988, atualmente vigente, em 05 de outubro durante o governo

    de Jos Sarney (19851990), recebeu, em certa medida, algumas contribuies das lutas

    sociais empreendidas at ento. Essa constituio teve inspirao no iderio do Estado

    de bem-estar europeu e na interveno do Estado nas reas sociais. Algumas conquistas

    significativas em termos de direito ao trabalhador foram sinalizadas na lei. Em relao

    educao do campo, nada foi acrescentado e o texto nem sequer toca diretamente no

    assunto. A nica referncia, embora indireta, a garantia de igualdade de acesso e de

    permanncia na escola. Por outro lado, o artigo 28 da LDB de 1996, ainda vigente,

    prescreve que:

    Na oferta de educao bsica para a populao rural, os sistemas de ensino

    promovero as adaptaes necessrias sua adequao s peculiaridades da vida rural e

    de cada regio, especialmente:

    I - contedos curriculares e metodologias apropriadas s reais necessidades e

    interesses dos alunos da zona rural;

    II - organizao escolar prpria, incluindo adequao do calendrio escolar s

    fases do ciclo agrcola e s condies climticas;

    III - adequao natureza do trabalho na zona rural

    a primeira lei nacional que explicita alguma referncia educao na zona

    rural, embora de modo bastante reticencioso. No entanto, h claramente a presena de

    elementos que so essenciais ao debate: contedos curriculares; metodologias de ensino;

  • realidade local; calendrio escolar; ambiente fsico e cultural; dinmica de vida. Esses

    elementos, que sero retomados em outro momento da presente tese, representam uma

    importante abertura para que passos mais avanados fossem dados, desta vez com uma

    legitimao baseada em texto oficial.

    Mas necessrio avanar e verificar o quanto a organizao da sociedade civil

    conseguiu protagonizar aes que levam a concluir que um esboo de poltica pblica

    est se efetivando, apesar do que ainda falta ser feito.

    2.2.2- As Polticas Pblicas de educao do Campo a partir da dcada de 1990

    possibilidades e contradies

    Os anos 1980 viviam o contexto de reabertura poltica, que se consolidaria nos

    anos 1990. Nesse contexto, maior liberdade de expresso misturou-se a discursos

    democrticos e ao afastamento do Estado em relao s questes sociais,

    particularmente no sentido de incentivar a ao da sociedade civil, eximindo-se da

    busca de solues e implementao de aes que fizessem frente aos problemas sociais

    prementes. O incentivo ao da sociedade civil e o tom de parceria com setores-chave

    da sociedade civil encobria, em certa medida, a autodesobrigao do Estado em relao

    sociedade.

    A partir dos anos 1990, o contexto histrico-poltico foi propcio para que os

    movimentos sociais ganhassem fora e conseguissem dar visibilidade ao seu projeto de

    sociedade, que inclua a luta por direitos terra e educao. Nos anos 1990 esse

    quadro educacional comea a dar sinais de mudana, pois os movimentos sociais e

    sindicais comeam a pressionar de forma mais articulada pela construo de polticas

    pblicas para a populao do campo. Fato importante a destacar a constituio de um

    grupo denominado Por uma Educao do Campo que inicia um movimento de

    Articulao por uma Educao do Campo e consegue colocar a questo da Educao

    do Campo na agenda poltica do pas. importante ressaltar que esse momento

    histrico propiciou a ao do movimento social, e a Educao do Campo fruto da

    mobilizao dos movimentos sociais, especialmente do MST, mas tambm devemos

    olhar o contexto histrico, social que tambm propiciou essa movimentao.

  • A participao da sociedade civil nas polticas pblicas sociais tinha um

    significado poltico para alm das proclamadas democratizao e cidadania. De fato

    houve uma abertura para participao, espaos coletivos, e nas polticas pblicas foi

    permitido que a sociedade civil participasse da elaborao das polticas, mas bom

    lembrar que o Estado no abriu mo do controle dessas polticas, que na educao

    feita, por exemplo, com as avaliaes.

    Com isso no queremos desmerecer todo o empenho e o mrito do movimento

    social nesse processo. Mas a inteno destacar qual era projeto do capital, e o que

    requeria da educao. Estaremos sim reiterando o que discutimos de polticas pblicas

    no primeiro captulo como um palco de disputa, o movimento social com suas

    reivindicaes que foram em medida atendidos pelo Estado e do outro lado, os

    interesses capitalistas.

    fundamental destacar a importncia do I ENERA (I Encontro Nacional de

    Educadores da Reforma Agrria) que foi o grande marco desse processo, um importante

    espao pblico de discusso que deu visibilidade a essa luta dos movimentos sociais. O

    I ENERA aconteceu em julho de 1997 e foi promovido em parceria com o MST, UNB,

    UNESCO, UNICEF, e CNBB. O objetivo desse encontro foi ampliar um debate

    nacional sobre a educao do mundo rural levando em conta o contexto do campo em

    termos de cultura especifica, bem como a maneira de ver e de se relacionar com o

    tempo, o espao e o meio ambiente e quanto ao modo de viver, de organizar a famlia e

    trabalho.( (KOLLN; NERY; MOLINA, 1999, p. 14))

    Neste evento foi lanado um desafio: pensar a educao pblica para os povos

    do campo, levando em considerao o seu contexto em termos polticos, econmicos,

    sociais e culturais. Sua maneira de conceber o tempo, o espao, o meio ambiente e sua

    produo, alm da organizao coletiva, as questes familiares, o trabalho, entre outros

    aspectos. Utilizava-se uma nova perspectiva de pensar a Educao do Campo,

    descentralizando as discusses nos estados e municpios. Nesse encontro surge a ideia

    de uma Conferncia Nacional Por Uma Educao Bsica do Campo.

    Em 1998 foi realizada a I Conferncia Nacional por uma Educao Bsica do

    Campo, uma parceria entre o MST, UnB, UNICEF Fundo das Naes Unidas para a

    Infncia, UNESCO Organizao das Naes Unidas para a educao, a cincia e a

    cultura e CNBB Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil. Esta Conferncia

  • considerada um marco para o reconhecimento do campo enquanto espao de vida e de

    sujeitos que reivindicam sua autonomia e emancipao. Nela foram debatidas as

    condies de escolarizao face aos problemas de acesso, manuteno e promoo dos

    alunos; a qualidade do ensino; as condies de trabalho e a formao do corpo docente,

    alm dos modelos pedaggicos de resistncia que se destacam enquanto experincias

    inovadoras no meio rural1

    A socializao desses modelos sinalizava a construo de uma proposta de

    educao do campo, chegando-se a um consenso sobre a necessidade de uma educao

    especfica e diferenciada para a educao do campo. Na ocasio, o termo educao do

    campo apresenta uma nova conotao, significando "ser esse o momento do batismo

    coletivo de um novo jeito de lutar e pensar a educao para o povo brasileiro que vive e

    trabalha no e do campo" (KOLLN; NERY; MOLINA, 1999, p. 14). E acrescentam:

    Educao do campo e no mais educao rural ou educao para o meio rural

    (KOLLN; NERY; MOLINA, 1999, p. 13). Essa mudana no simplesmente de

    nomenclatura e sim de concepo de educao. A concepo de educao rural expressa

    a ideologia governamental do incio do sculo XX e a preocupao com o ensino

    tcnico no meio rural, considerado como lugar de atraso. J a educao do campo

    expressa a ideologia e fora dos movimentos sociais do campo, na busca por uma

    educao pblica que valorize a identidade e a cultura dos povos do campo, numa

    perspectiva de formao humana e de desenvolvimento local sustentvel (SOUZA,

    2006).

    Essa mudana de terminologia, apesar de adotada tanto pela poltica oficial do

    governo, quanto para a maioria de estudiosos e universidades, tornou-se ento um termo

    hegemnico quando se remete educao dos trabalhadores rurais. No entanto, existem

    estudiosos e pesquisadores da rea que apontam crticas em relao a essa mudana,

    crtica que revelam uma questo maior de fundo que questo da dicotomia entre

    configurao do espao urbano, rural, necessidade de uma educao especfica.

    Segundo Barroso (2011) a substituio de educao rural por educao do campo no

    meramente formal. Embasa-se em um debate que mobiliza acadmicos, setores

    governamentais, legislativo, judicirio, ONGs (organizaes no governamentais),

    1 Experincias como das Escolas Famlias Agrcolas, das Casas Familiares Rurais, que utilizam a pedagogia

    da Alternncia, as experincia do MEB foram apontadas como experincias exitosas de Educao do

    Campo, um modelo a se seguir.

  • entidades de classe, universidades etc. Em especial, a adoo da nova denominao

    alicera-se fortemente nos movimentos sociais, principalmente naqueles que

    reivindicam a reforma agrria.

    A educao do campo expressa uma nova concepo quanto ao campo, o

    campons ou o trabalhador rural, fortalecendo o carter de classe nas lutas em torno da

    educao. Em contraponto viso de campons e de rural como sinnimo de arcaico e

    atrasado, a concepo de educao do campo valoriza os conhecimentos da prtica

    social dos camponeses e enfatiza o campo como lugar de trabalho, moradia, lazer,

    sociabilidade, identidade, enfim, como lugar da construo de novas possibilidades de

    reproduo social e de desenvolvimento sustentvel. De acordo com Roseli Caldart,

    A proposta pensar a educao do campo como processo de

    construo de um projeto de educao dos trabalhadores do campo

    gestado desde o ponto de vista dos camponeses e da trajetria de lutas

    de suas organizaes (CALDART, 2004, p. 13).

    Com base nesse pensamento, comeou-se a discutir outro perfil de escola do

    campo, no uma educao para os sujeitos do campo e sim uma educao com os

    sujeitos do campo. Reitera Molina (2004), que a educao do campo como novo

    paradigma, est sendo construda por diversos grupos sociais e universidades, rompem

    com o paradigma rural cuja referncia a do produtivismo, ou seja, o campo como

    lugar da produo de mercadorias e no como espao de vida, o lugar da dialetizao da

    cultura, do saber e da formao de identidades.

    Um importante fruto da I conferncia foi a criao, ainda em 1998, do

    movimento Articulao Nacional por uma Educao do Campo, entidade

    supraorganizacional que passou a promover e gerir as aes conjuntas pela

    escolarizao dos povos do campo em nvel nacional. Dentre as conquistas alcanadas

    por essa Articulao esto: a realizao da II Conferncia Nacional por uma Educao

    Bsica do Campo em 2004; a instituio pelo CNE (Conselho Nacional de Educao)

    das Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas do Campo, em 2002; e

    a instituio do Grupo Permanente de Trabalho de Educao do Campo (GPT), em

    2003. (SECAD, 2004).

    Um fato importante a mencionar a criao do PRONERA (Programa Nacional

    da Educao na Reforma Agrria) em 16 de abril de 1998, por meio da Portaria n.

  • 10/98, foi uma conquista bastante significativa, ainda mais tendo em vista que essa

    conquista se deu no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 2002), o qual

    recusava qualquer dilogo com os movimentos sociais, e conforme destacamos no

    captulo anterior, foi um governo que declaradamente estava a servio do grande capital.

    Interessante destacar que apesar de ser um programa voltado para a Educao, estava

    desde 2001, e ainda hoje est ligado, ao Ministrio de Desenvolvimento Agrrio (MDA)

    e no ao MEC. Conforme enfatiza Souza (2008),

    O lanamento do Programa Nacional da Educao na Reforma

    Agrria, em 1998, demonstra o fortalecimento da educao do campo

    na poltica educacional; demonstra a fora dos movimentos sociais,

    conquistada pelo acmulo de experincias e conhecimentos na rea

    (SOUZA, 2008, p. 8).

    O PRONERA surgiu a partir de um debate coletivo efetuado no I ENERA. Esse

    debate priorizou a necessidade de desenvolver estratgias frente alfabetizao de

    jovens e adultos em funo de um alto ndice de analfabetismo e baixos nveis de

    escolarizao entre os beneficirios do Programa de Reforma Agrria; porm no

    deixava tambm de vislumbrar as diferentes dimenses envolvidas na educao do

    campo. Como se v, embora o PRONERA esteja atrelado a rgos oficiais do governo

    federal, sua raiz encontra-se na luta dos movimentos sociais do campo e, portanto,

    uma proposta diretamente comprometida, pelo mesmo em seu incio, com os

    trabalhadores do campo, tendo em vista a proposio e implementao de polticas

    educacionais que reflitam as necessidades gerais desses trabalhadores.

    Ainda como reflexo da luta dos movimentos sociais ligados ao campo, em 2002

    foi aprovado a Resoluo CNE/CEB N. 01 de 03 de abril que instituiu as Diretrizes

    Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas do Campo. Essas diretrizes,

    enfatizam que a educao do campo, tratada como educao rural na legislao

    brasileira, abrange os espaos da floresta, da pecuria, das minas e da agricultura, bem

    como os espaos pesqueiros, caiaras, ribeirinhos e extrativistas. (BRASIL, 2002) Esse

    um mote importante e que nos ajuda a entender que a educao do campo no se

    restringe ao meio rural tradicional e nem se limita a populaes que lidam

    exclusivamente com agropecuria. A educao do campo, portanto, uma educao que

  • engloba diferentes populaes em diferentes espaos e em atividades e existncias

    diversificadas.

    Nesse sentido, no se trata de uma delimitao meramente geogrfica como

    critrio fundamental da demarcao do que seja educao do campo. Trata-se de um

    reconhecimento de que as diversidades culturais precisam ser contempladas em

    quaisquer propostas educacionais. Alm do mais, essa perspectiva de educao visa a

    superao da dicotomia campo/cidade no sentido de questionar que haja contedos

    escolares prprios do campo e contedos escolares prprios da cidade. A rigor, os

    contedos, enquanto patrimnio cultural da humanidade, devem ser os mesmos; o que

    no significa que as metodologias de ensino sejam as mesmas e, muito menos, que as

    especificidades culturais, regionais e locais sejam deixadas de lado ou desvalorizadas

    As Diretrizes Operacionais para a Educao Bsica nas Escolas do Campo,

    enquanto legislao, especfica, apesar de sua importncia social e educacional, ainda

    um documento que precisa ser debatido, articulado e reivindicado em sua

    implementao. So avanos que esto no papel, mas que ainda no encontraram foras

    que os materializem em aes efetivas, haja vista que muitas escolas do campo ainda

    no a conhecem e, (conforme veremos a partir dos dados no captulo seguinte) portanto,

    professores encontram-se distantes e at completamente alheios dessas diretrizes. Aps

    uma dcada de lanamento das diretrizes operacionais, pouco foi feito em relao

    mudana do panorama educacional do campo. Entretanto, o fato de j se ter documentos

    oficiais que sinalizam mudanas significativas j representa um terreno frtil para

    discusses, debates e reivindicaes por parte dos movimentos sociais e acadmicos

    ligados ao campo.

    Complementando as aes e lutas enraizadas nos movimentos sociais, em 2004

    foi criada a Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade SECAD

    no mbito do Ministrio da Educao, dentro da qual se instituiu a Coordenao Geral

    da Educao do Campo. A criao de uma coordenao geral no apenas um passo

    burocrtico e sim a concretizao de possibilidades de aes, dentro do mbito federal

    oficial, que visam s demandas sociais e cabe aos movimentos sociais e acadmicos o

    partilhamento dessas possibilidades, ampliar os espaos institucionais e buscar a

    implementao por meio dos programas institudos, como o Programa de Apoio

    Formao Superior: Licenciatura em Educao do Campo Procampo, ProJovem

  • Campo Saberes da Terra. Todos esses programas oferecem diferentes possibilidades,

    embora haja claramente o vis de uma poltica e incentivo voltado aos modelos

    neoliberais de educao, particularmente enfatizando a preparao atuao no

    agronegcio. No entanto, se os movimentos sociais e acadmicos no se impuserem e

    no aproveitarem essas possibilidades, estaremos abrindo mo de efetivas aes em

    direo a um modelo de educacional voltado efetivamente aos trabalhadores do campo e

    seus filhos.

    Como se v, o I ENERA e a I Conferncia Nacional de Educao do Campo

    geraram avanos, embora nem sempre sentidos mais ostensivamente entre os

    trabalhadores do campo. A necessidade de uma segunda conferncia se fazia premente.

    Em 2004 realizou-se a II Conferncia Nacional de Educao do Campo. A segunda

    conferncia trouxe um amadurecimento das questes relacionadas dicotomia

    campo/cidade, concepo de educao no e do campo, e participao, cada vez mais

    ativa, dos movimentos sociais pela educao do campo. Um produto fundamental da

    segunda conferncia foi a visibilidade dada s proposies de articulao nacional para

    encampar o movimento de educao do campo, no mais restringindo-se essa educao

    s sries iniciais (1 ao 5 ano), e sim ampliando-se a luta por inserir os filhos dos

    trabalhadores do campo, em toda educao bsica (educao infantil, fundamental e

    mdio), e nas universidades pblicas brasileiras, de graduaes e ps-graduaes; uma

    vez que, o campo tambm necessita de diversos profissionais qualificados para atuarem

    nessa realidade.(CONFERNCIA NACIONAL POR UMA EDUCAO DO

    CAMPO, 2004)

    A II Conferncia trouxe como mote Educao do campo: direito nosso, dever

    do Estado, e esse lema enfatizou a voz dos trabalhadores, em contraposio s polticas

    impostas e verticalizadas a partir da ao do Estado. Nessa bandeira de luta, ficava cada

    vez mais claro o questionamento em relao ao papel do Estado, o qual deveria ser

    pressionado a engajar-se no dilogo com os trabalhadores e com os movimentos sociais

    do campo. E, mais que isso, deveria voltar-se concretizao de aes e programas que

    seriam frutos de ideias gestadas nas lutas e debates populares.

    A II Conferncia lana uma Carta como documento que resume e explicita

    algumas pontuaes polticas e conceituais fundamentais e que deveriam servir, da por

    diante, como parmetros e balizas aos documentos e propostas oficiais do governo. Na

  • Carta constam as seguintes pontuaes: 1) Defesa de uma educao que ajude a

    fortalecer um projeto popular de agricultura, que valorize e transforme a agricultura

    familiar/camponesa e se integre na construo social de um outro projeto de

    desenvolvimento sustentvel de campo e de pas; 2) Defesa de uma educao para

    superar a oposio entre campo e cidade e a viso predominante de que o moderno e

    mais avanado sempre o urbano, e que o progresso de um pas se mede pela

    diminuio da sua populao rural; 3) Construo de uma poltica especifica para a

    formao dos profissionais da Educao do Campo. Em suma, a Carta coloca como

    pano de fundo que a educao deve ser um instrumento que garante e amplia as

    possibilidades de os trabalhadores do campo serem os protagonistas da criao de novas

    condies de existncia no campo. Em outras palavras, acredita-se que elevar a

    escolarizao dos trabalhos e dos filhos dos trabalhadores do campo deve ser um

    esforo que envolve movimentos sociais, sindicais e as esferas oficiais em seus mbitos

    federal, estadual e municipal.

    Podemos afirmar que, em certa medida, a organizao e mobilizao dos

    movimentos sociais foraram avanos importantes nas esferas governamentais, pelo

    menos no que diz respeito produo de documentos oficiais que sinalizam aes

    nunca antes assumidas pelos governos anteriores. Em que pesem essas iniciativas

    oficiais, a rigor no podemos concordar que esses avanos nos documentos refletem, de

    fato, as reivindicaes dos movimentos sociais e, muito menos, tornaram-se efetivos ao

    ponto de consolidarem aes e programas que mudem o panorama de sculos na

    questo do campo. Nesse sentido, de fundamental importncia destacar que os

    preconizados avanos ainda so muito tmidos e, sobretudo, ainda no se concretizaram

    de forma a ter um efeito de mudana substancial da vida dos trabalhadores do campo.

    A criao, em 2010, do FONEC (Frum Nacional de Educao do Campo)

    uma sinalizao de que, em grande medida, a luta pela educao dos povos do campo e

    suas reivindicaes, ainda est longe de ser contemplada a contento. Refiro-me aqui ao

    fato de que um espao privilegiado como o FONEC s foi criado muito recentemente,

    aps seis anos da II Conferncia e, ainda assim, sob ao de uma poltica de cooptao

    de lideranas sociais por parte do governo federal, o qual, com propostas populistas

    conseguiu silenciar vozes que poderiam lutar a favor de ganhos efetivos aos

    trabalhadores.

  • A partir do FONEC, uma srie de reflexes em torno do caminhar histrico e

    poltico foram se delineando, e o contexto de lanamento de proposies

    governamentais foi sendo denunciado, tornando mais claro o mecanismo por trs dessas

    proposies. Eles analisam, por exemplo, que o PRONACAMPO2 traz, em seu formato,

    uma lgica que est mais prximo de uma Educao rural do que uma Educao do

    Campo. Esse formato assumido pelo PRONACAMPO no arbitrrio, ou seja, no

    puro acaso, pois est dentro da lgica de uma nova tendncia, novo ciclo que estamos

    entrando, que de retorno da educao rural ao cenrio brasileiro, devidamente

    atualizada pelas novas demandas de reproduo do capital no campo.

    2.2.3. Novos elementos ao debate das polticas pblicas para a educao do campo

    O governo Fernando Henrique Cardoso, em seus dois mandatos (1995-1998;

    1999-2002) possibilitou a consolidao de um modelo neoliberal de produo e de

    relaes capital- trabalho, com repercusses profundas no s na economia, mas em

    todos os setores-chave da sociedade. Particularmente em relao ao setor da Educao,

    os cidados sofreram duros golpes em funo de que se consolidou o sucateamento do

    ensino pblico e acentuou-se a entrada do setor privado na educao, respaldado pela

    LDBEN ento recm-lanada, em 1996. Apesar do fortalecimento do setor privado e do

    entreguismo econmico que caracterizou os anos FHC, paralelamente crescia a

    organizao e a fora de presso dos movimentos de trabalhadores do campo,

    intelectuais orgnicos e movimentos sociais em geral. Esses movimentos, em suas

    manifestaes, foram fundamentais para a ocorrncia do I ENERA, em plena era FHC.

    A rigor, o I ENERA fruto de uma conjuntura social e poltica que ganha visibilidade e

    repercusso internacional principalmente a partir da tragdia ocorrida em Eldorado dos

    Carajs, no sul do Estado do Par. O Massacre de Eldorado dos Carajs, como ficou

    conhecido, ocorreu em 1996 com o assassinato de 17 trabalhadores do campo sem-terra,

    a mando do governo do estado sob a coao de grandes latifundirios.

    2 Programa Nacional de Educao do Campo (Pronacampo), foi lanado em maro de 2012, com

    tendo por objetivo oferecer apoio tcnico e financeiro aos estados, Distrito Federal e municpios para

    implementao da poltica de educao do campo

  • Esse fato gerou o Dia Nacional de Luta pela Terra e criou um espao de

    fragilidade no governo FHC. Em 1997, uma grande caminhada em Braslia que reuniu

    em torno de 100 mil pessoas, sedimentou um espao forado de abertura das

    reivindicaes, em um ano eleitoral, no qual FHC (diga-se, a elite neoliberal) aspirava

    continuao como presidente. O segundo mandato de Fernando Henrique inicia com o

    fortalecimento do movimento social de educao do campo. A efervescncia gerada

    pelo I ENERA, conforme j relatei, acaba por criar o terreno propcio I Conferncia e

    continuidade da organizao e visibilidade da luta pela educao do campo, que passa

    a se configurar em uma luta por implementao de polticas de educao do campo.

    Os anos FHC so substitudos pela ascenso do Partido dos Trabalhadores ao

    poder no mbito federal, sinalizando para muitos a possibilidade de implantao de um

    modelo diferenciado de governo, cuja governabilidade seria garantida por aes

    democrticas voltadas aos interesses da populao, particularmente da populao de

    dominados, h muito vilipendiada em seus mais bsicos direitos.

    Pela primeira vez um partido formado pela classe trabalhadora ascendia ao poder

    e no se fez demorada a mudana to esperada, pelo menos a mudana quanto ao

    discurso e quanto a algumas prticas inditas: ministros passaram a receber em seus

    gabinetes, em audincias, os representantes dos trabalhadores que levavam

    reivindicaes. Essas reivindicaes eram ouvidas e traduzidas em aes e

    implementaes de solues iniciais aos problemas sociais indicados. Mas, esse

    apenas um aspecto superficial do contexto. A rigor, apesar dos avanos na tentativa de

    prticas democrticas, o PT que entrou no poder no mais representava o mesmo PT de

    antes e rapidamente as alianas feitas com as elites, antes mesmo da primeira eleio,

    passaram a cobrar mudanas de posturas diante das agendas e premncias sociais.

    O governo Lula passou a atender a agenda de reivindicaes dos movimentos

    dos trabalhadores do campo, porm ao seu modo, e no nos moldes do que se esperava.

    E o que se esperava? Uma prtica diferenciada na qual a gesto fique nas mos dos

    trabalhadores do campo.

    Nesse sentido, estamos longe de uma poltica de educao do campo, que de fato

    atenda s revindicaes e necessidades dos trabalhadores do campo. O que foi realizado

    at o momento nem sequer consegue sensibilizar muitos municpios e o que chega s

    escolas apenas um rumor de que algo mudou; porm, em geral, a preocupao de

  • prefeitos, secretrios de educao e diretores escolares a especificao da escola como

    sendo do campo, a ttulo de recolhimento de verbas e recursos outros capazes de

    auferir algumas melhoras escola. Como bem aponta Cavalcante ( 2010):

    O paradoxo talvez, que a educao do campo ao alcanar o

    universo retrico e legalista das polticas educacionais brasileiras j no

    sculo XXI pode no estar de fato sendo apropriada pelos

    (significativos) pedaos do rural que no se encontram em

    movimento (este rural ainda sob a lgica da produo capitalista,

    muitas vezes inerte ao mundo de lutas e labutas dos movimentos

    sociais em diferentes cantos do Brasil nos ltimos vinte anos).

    (CAVALCANTE, 2010, p.01)

    Os avanos so muito poucos e as mudanas advindas no tm tido qualquer

    efeito sobre as escolas, sobre as prticas escolares e, evidentemente, sobre a classe

    trabalhadora do campo.

    Polticas pblicas para a educao do campo deveriam passar pela tica de aes

    populares. Se estamos longe disso, podemos, no entanto, apontar algumas marcas que,

    necessariamente, podem e devem ser forjadas nas prticas educacionais e educativas no

    campo.

    Referncias

    BEZERRA NETO, L. Avanos e retrocessos da Educao Rural no Brasil.

    Tese(doutorado)- Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, 2003.

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