a perspectiva da atividade portuária

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    FAE Centro Universitrio 4 Seminrio sobre Sustentabilidade

    Curitiba PR de 11 a 13 de novembro de 2009

    A PERSPECTIVA DA ATIVIDADE PORTURIA PARA O DESENVOLVIMENTO

    LOCAL DO MUNICPIO DE SO JOO DA BARRA

    Flvio de Moraes Siqueira Campos (UFF) [email protected]

    Luiz Perez Zotes (UFF) [email protected]

    RESUMO

    Neste artigo apresentada uma alternativa de empreendimento para o desenvolvimento

    econmico e social de um municpio com baixa atividade econmica, aproveitando as

    potencialidades regionais, com foco em So Joo da Barra, no Estado do Rio de Janeiro.

    Utilizando-se de pesquisa bibliogrfica e visitas ao local, e sob a tica de desenvolvimento

    local endgeno e de custos de transportes, e constatando as vantagens advindas dos

    ganhos em horas de navegao, os autores concluram pela convenincia de que se

    promova um estudo de viabilidade da construo de um porto fluvial para apoio logstico na

    atividade off shore (supply) e pequenos reparos, alm do atendimento s embarcaespesqueiras da regio.

    Palavras-chave: Desenvolvimento endgeno; Economia de transportes; Bacia de Campos;

    So Joo da Barra.

    INTRODUO

    O objetivo deste artigo apresentar uma alternativa de atividade para fomentar o

    desenvolvimento econmico e social do Municpio de So Joo da Barra, no Estado do Rio

    de Janeiro, hoje extremamente dependente dos royalties do petrleo, pois grande parte da

    arrecadao municipal, quase 70%, vem daquele repasse (poo de Roncador)

    (PREFEITURA DE SO JOO DA BARRA, 2008).

    1 FORMULAO DA SITUAO-PROBLEMA

    Jos de vila Aguiar Coimbra, na apresentao do livro Empreendedorismo Social

    a transio para a sociedade sustentvel, diz: Uma sociedade ser sustentvel s e

    exclusivamente quando seu desenvolvimento for gerado nela e por ela assumido (MELO

    NETO, 2002).

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    O municpio de So Joo da Barra, por suas caractersticas econmicas, tem hoje a

    oportunidade de promover seu prprio desenvolvimento, mas de modo planejado urbanstica

    e ambientalmente, construindo assim um modelo para o futuro, ao contrrio de cidades,

    principalmente na rea petrolfera da bacia de Campos que cresceram a reboque da

    indstria petrolfera, sem tempo para um adequado planejamento urbano, ameaando, com

    isso, a qualidade de vida das pessoas. Isso pode ser evitado nesse Municpio, enquanto

    ainda no alvo importante de agentes interessados na explorao de suas riquezas.

    2 REFERENCIAL TERICO

    2.1 DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO

    Desenvolvimento econmico consiste de um processo de enriquecimento, que

    inclui seus habitantes, ou seja, na acumulao de ativos individuais ou pblicos, e tambm

    de um crescimento da produo nacional e da remunerao recebida pelos que participam

    da atividade econmica. Em histria o desenvolvimento coincide com o aparecimento do

    capitalismo e com o advento da Revoluo Industrial. Nos sistemas pr-capitalistas no

    havia acumulao, ou seja, no havia desenvolvimento. Outro aspecto importante que o

    desenvolvimento no uma via de mo nica os pases podem recuar ou avanar nesse

    processo.

    No mundo ocidental, duas correntes principais de pensamento dominaram o

    cenrio. Como alternativa crise de 1929, o economista ingls John Maynard Keynes

    formulou a hiptese de que o Estado deveria interferir ativamente na economia, seja

    regulando o mercado de capitais, seja criando empregos e promovendo obras de infra-

    estruturae fabricando bens de capital.

    Essa teoria foi muito popular at os anos 1970 quando - em parte devido crise do

    petrleo - o sistema monetrio internacional entrou em crise. Tornou-se ento evidente a

    inviabilidade da conversibilidade do dlar em ouro, ruindo o padro dlar-ouro, com inflao

    e o endividamento dos Estados por um lado, e uma grande acumulao de excedente

    monetrio lquido nas mos dos pases exportadores de petrleo por outro. Em vista disso,sobreveio uma mudana de enfoque na poltica econmica.

    Surge ento a escola neoliberal de pensamento econmico, baseada na firme

    crena na Lei de Say, e cujos fundamentos j tinham sido esboados em 1940 pelo

    economista austraco Friedrich August von Hayek. Para corrigir os problemas inerentes

    crise, os neoliberais pregavam a reduo dos gastos pblicos e a desregulamentao, de

    modo a permitir que as empresas com recursos suficientes pudessem investir em

    praticamente todos os setores de todos os mercados do planeta: tornar-se-iam empresas

    multinacionais ou transnacionais.

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    Uma das reaes s prticas neoliberais foi a busca de alternativas de

    desenvolvimento econmico local, como forma de tentar suprir a incapacidade de promoo

    do desenvolvimento pelos Estados dos pases subdesenvolvidos, nomeadamente em

    oposio s idias e prticas neoliberais.

    O desenvolvimento requer no s a criao e a reproduo do capital econmico,

    mas tambm do capital humano (conhecimentos, habilidades e competncias) e do capital

    social (confiana, cooperao, empoderamento (empowerment), organizao e participao

    social).

    Quanto ao crescimento econmico, a forma mais clssica e tradicional de avali-lo

    medindo o Produto Interno Bruto - PIB. Questiona-se que, por trs do crescimento do PIB,

    muitas vezes, esconde-se indicadores sociais desvantajosos como, por exemplo, na dcada

    de 70 o milagre brasileiro, quando as altas taxas de crescimento do PIB no contriburam

    significativamente para diminuir as desigualdades econmicas e sociais.

    A propsito, escreveu Jane Jacobs (2000):

    Desenvolvimento mudana qualitativa. Expanso (crescimento) mudanaquantitativa. Os dois esto intimamente vinculados, mas no so a mesma coisa... Acorrelao prtica entre desenvolvimento econmico e expanso econmica(crescimento) a diversidade econmica... Eis o princpio que se aplica tanto aecossistemas quanto economia de comunidades: complexos diversificados seexpandem em ambientes ricos que so criados pela utilizao e reutilizaodiversificada da energia recebida.

    O socilogo Augusto de Franco (2007) define desenvolvimento local como uma

    nova estratgia de induo ao desenvolvimento, que prev a adoo de uma metodologiaparticipativa, pela qual mobiliza-se recursos da sociedade civil, em parceria com o Estado

    (com os trs nveis de governo) e com o mercado, para a realizao de diagnsticos da

    situao de cada localidade, a identificao de potencialidades, a escolha de vocaes e a

    confeco de planos integrados de desenvolvimento. Trata-se de uma tecnologia social

    inovadora de investimento em capital humano e em capital social.

    2.2 SUSTENTABILIDADE

    Os principais argumentos para o desenvolvimento sustentvel baseiam-se nos

    princpios moral, ambiental, tico e social.

    A sustentabilidade existe para garantir uma melhor qualidade de vida para todos,

    agora e para as futuras geraes, combinando interesses ecolgicos e sociais e oferecendo

    oportunidades de negcios para empresas que podem melhorar a vida das pessoas no

    mundo (HOLLIDAY; PEPPER, 2001) e abrange vrios nveis de organizao, desde a

    vizinhana local at o planeta inteiro.

    Para um empreendimento humano ser sustentvel, tem de ter em vista quatro

    requisitos bsicos. Esse empreendimento tem de ser:

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    ecologicamente correto;

    economicamente vivel;

    socialmente justo e

    culturalmente aceito.

    3 CARACTERSTICAS REGIONAIS

    So Joo da Barra foi um municpio prspero, do sculo XVIII at final do sculo

    XIX. Possua uma intensa atividade naval que iniciou em 1740 (LAMEGO, 1945; p. 155) e

    porturia, a despeito das limitaes e dificuldades em se lidar com a foz do rio Paraba do

    Sul, poca. Esse porto e estaleiro tinham como objetivo principal escoar a produo dos

    municpios de Campos dos Goytacazes e, posteriormente, So Fidlis e Itaperuna,

    basicamente de cana de acar e caf. Com o advento do transporte ferrovirio na regio a

    preos mais competitivos, essas atividades iniciaram um ciclo de decadncia que dura at

    hoje.

    No final da dcada de 40, no governo de Eurico Gaspar Dutra, foi dado incio

    implantao de espiges do pontal de Atafona at s proximidades da cidade de So Joo

    da Barra, a cerca de 4 km, que teria a finalidade no s mercantil, como a de abrigar parte

    da esquadra da Marinha de Guerra, dadas as condies propcias oferecidas pela gua

    doce do rio, menos nociva aos cascos das embarcaes (SOS ATAFONA, 1999). Nessa

    poca tambm foi dado incio construo da Escola de Aprendiz de Marinheiros, emAtafona, obra abandonada desde a dcada de 50.

    Isso mostra que a regio j foi alvo de intenes investidoras por parte do governo

    federal, o que demonstra sua localizao estratgica e a possibilidade porturia.

    Localizado na margem direita da foz deltaica do rio Paraba do Sul, o municpio de

    So Joo da Barra est inteiramente situado sobre a restinga e sobre o aqfero Barreiras

    Recente, que fornece gua pura e lmpida para localidades como Barcelos, Grussa, Au e

    Cajueiro. Possui bolses de mata atlntica de transio para a vegetao de restinga. A

    cidade fica na parte mais baixa da plancie goitac, a uma altitude de seis metros acima donvel do mar.

    Tem como coordenadas geogrficas de latitude 21 3813 Sul e de longitude 41

    0303 Oeste, e acessado atravs da BR-356.

    Sua rea de 431,9 km2 est dividida em trs distritos: Sede, Barcelos e Pipeiras e

    limita-se ao norte com So Francisco do Itabapoana, a oeste e sul com Campos dos

    Goytacazes e a leste com o Oceano Atlntico.

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    FIGURA 1 - LOCALIZAO DO MUNICPIO (EM VERMELHO) NO MAPA DO RJ

    O censo de 2000 apurou uma populao de 27.578 habitantes.

    Suas principais atividades econmicas so:

    Turismo, agropecuria, olericultura e fruticultura nativa, castanhas de caju cozidas,pesca, indstrias de bebidas, de vassouras, e de fios txteis, olarias, farinha demesa, usina de acar e doces batidos caseiros - banacaxi, goiabada, caju comcastanha, ara pero, abbora com coco e outras - artesanato em palha e conchas,e bordados (PREFEITURA DE SO JOO DA BARRA, 2008).

    TABELA 1 PIB POR MUNICPIO DO RJ EM 2006MUNICPIO PIB (R$ 1.000) Participao MUNICPIO PIB (R$ 1.000) Participao

    Rio de Janeiro 127.956.075 46,47% Quissam 2.363.472 0,86%

    Campos dos Goytacazes 23.114.742 8,39% Barra Mansa 2.347.490 0,85%

    Duque de Caxias 22.565.282 8,19% Itagua 1.933.337 0,70%

    Niteri 7.460.317 2,71% Nova Friburgo 1.932.910 0,70%

    So Gonalo 6.887.923 2,50% Porto Real 1.834.014 0,67%

    Maca 6.474.102 2,35% Terespolis 1.581.120 0,57%

    Cabo Frio 6.462.028 2,35% Casimiro de Abreu 1.449.566 0,53%

    Nova Iguau 6.264.736 2,28% Itabora 1.372.946 0,50%

    Volta Redonda 6.006.665 2,18% Mag 1.342.204 0,49%

    Rio das Ostras 5.861.067 2,13% Itaperuna 1.230.400 0,45%

    Petrpolis 4.524.122 1,64% Armao dos Bzios 1.182.703 0,43%

    Angra dos Reis 3.495.350 1,27% Mesquita 1.080.703 0,39%

    Resende 3.129.320 1,14% Nilpolis 1.079.865 0,39%

    Belford Roxo 2.923.281 1,06% So Joo da Barra 914.936 0,33%

    So Joo de Meriti 2.893.083 1,05% Demais municpios 17.698.969 6,43%

    Estado do Rio de Janeiro 275.362.728 100,00%

    Fonte: IBGE (http://www.ibge.gov.br/)

    Em 2006 seu PIB foi de 915 milhes de reais (vide TABELA 1), representando

    0,33% do PIB estadual que foi de 275 bilhes de reais, segundo o IBGE.

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    O percentual de 70% da receita municipal sendo oriunda dos royalties do petrleo,

    como j mencionado, preocupante, pois torna o municpio bastante dependente de uma s

    fonte de receita. Da a necessidade de aplic-la na criao de atividades economicamente

    sustentveis bem como para a criao de infra-estrutura que permita a atrao e

    manuteno dessas atividades.

    4 MTODO

    Foi feita uma pesquisa bibliogrfica envolvendo artigos, livros e stios na Internet.

    Aproveitando a experincia pessoal de um dos autores, freqentador da regio h

    muitos anos, foram percorridos os pontos estratgicos possveis para localizao do

    empreendimento, tendo sido sugerida uma rea, mostrada na FIGURA 2 (crculo vermelho),

    mas no necessriamente limitada ao crculo, mas s margens do canal direito.

    importante ressaltar que no foi feita pesquisa adicional sobre as condies da

    rea mostrada, estando indefinida sua delimitao, e desconhecidas pelos autores outras

    caractersticas, tais como propriedade, solo e destinao atual. O que se quis mostrar que

    o canal direito d condies de navegabilidade para pequenas embarcaes, devendo o

    empreendimento, se concretizado, ser localizado s suas margens, em trecho a ser indicado

    num possvel projeto de viabilidade.

    FIGURA 2 FOZ DO RIO PARABA DO SUL

    Foram feitas entrevistas com pessoas selecionadas entre:

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    moradores antigos;

    profissionais da pesca (com informaes importantes sobre o regime das guas

    do rio);

    polticos locais, inclusive a prefeita do municpio (sobre o interesse da

    municipalidade no empreendimento);

    presidente, diretores e militantes de ONG

    conhecedores e defensores do meio ambiente daquela regio.

    Um levantamento batimtrico simples feito pelo Eng. Vicente Jdice (vide

    agradecimento ao final) no canal direito da foz do Rio Paraba do Sul a jusante de So Joo

    da Barra at cerca de meia milha fora da barra, usando peso e corda, pde revelar a

    potencialidade do canal para o trfego de embarcaes.

    5 RESULTADO

    A foz do Rio Paraba do Sul, em Atafona, dista cerca de 127 km em linha direta dos

    poos de Roncador, Albacora, Marlim e Barracuda, ao passo que o posto de Roncador dista

    cerca de 364 km da entrada da Baa de Guanabara, uma distncia quase trs vezes maior.

    Uma anlise nas cartas geogrficas da regio aponta para que um porto em So

    Joo da Barra atenderia com vantagens a praticamente toda a bacia de Campos (poos de

    Roncador, Albacora, Marlim, Garoupa, Namorado, Badejo, Barracuda, Pampo, Carapicu e

    Carata), exceto aos poos Maromba e Papa-Terra, que poderiam ser atendidos tanto porNiteri quanto por So Joo da Barra, a se considerar apenas as distncias. O novo porto

    atenderia tambm aos novos poos de Piramb e Caxaru, na Bacia do Esprito Santo.

    FIGURA 3: CAMPOS PETROLFEROS

    Fonte: http://www2.petrobras.com.br/Petrobras/portugues/plataforma/pla_bacia_campos.htm

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    A FIGURA 3 mostra a localizao dos principais campos de petrleo nas bacias do

    Esprito Santo, Campos e Santos.

    A TABELA 2 mostra a distncia em km da barra da baa de Guanabara (Rio de

    Janeiro), de Vitria e da foz do Rio Paraba at os poos extremos das Bacias de Campos e

    do Esprito Santo, dando uma idia das vantagens no custo de transporte martimo advindas

    da operao do porto em So Joo da Barra.

    TABELA 2 DISTNCIAS MARTIMAS AOS CAMPOS PETROLFEROS

    CAMPO BACIA

    DISTNCIA EM km

    NITERI/RIO

    DE JANEIRO

    SO JOO DA

    BARRA

    TUBARO

    (Vitria)

    Albacora Campos 341 123 195

    Badejo Campos 241 123 268

    Barracuda Campos 291 127 250

    Carapicu Campos 254 154 300

    Carata Campos 236 173 327

    Garoupa Campos 286 95 223

    Marlim Campos 314 136 250

    Maromba Campos 200 209 364

    Namorado Campos 282 104 236

    Pampo Campos 232 132 286

    Papa-terra Campos 218 209 359

    Roncador Campos 364 127 186

    Catu Esprito Santo 404 141 154Caxaru Esprito Santo 373 95 123

    Piramb Esprito Santo 377 100 127

    Fonte: http://www2.petrobras.com.br/Petrobras/portugues/plataforma/pla_bacia_campos.htmcom obteno das distncias aproximadas pelo autor mediante rgua milimtrica.

    Como infra-estrutura de transportes tem-se que, partir do Rio de Janeiro e Vitria, o

    local servido pela BR-101 at Campos dos Goytacazes (286 km do Rio de Janeiro e 245

    de Vitria) e pela BR-356 (40 km de Campos), alm de ferrovia, operada pela FCA-Ferrovia

    Centro Atlntica, hoje pertencente Cia. Vale do Rio Doce, com 316 km do Rio de Janeiro

    at Campos dos Goytacazes, esta ltima tambm servida pelo Aeroporto BartolomeuLisandro, aerdromo homologado, pblico, administrado pela INFRAERO, indicador SBCP,

    com pista de asfalto medindo 1.544x45 m (vide TABELA 3).

    TABELA 3 DISTNCIA ENTRE TERMINAISMODAL PERCURSO Km SIGLA

    RodovirioRio de Janeiro Campos dos Goytacazes

    Campos dos Goytacazes Atafona

    286

    40

    BR-101

    BR-356

    Ferrovirio Rio de Janeiro Campos dos Goytacazes 316 FCA

    Areo Rio de Janeiro Campos dos Goytacazes - SDU - CAW

    Fonte: elaborao prpria

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    Portanto, esse porto pode no ter, a princpio, um bom fluxo de mercadorias entre

    as localidades terrestres prximas, em virtude do pouco desenvolvimento da regio, mas

    teria, por outro lado, o benefcio da proximidade das rotas martimas de suprimento, pois

    est bem prximo da maior concentrao de poos da bacia de Campos. Se for planejado

    para possuir uma boa estrutura de servios, tarifas e operao, ser uma escolha

    interessante para os armadores de frotas de suprimento em face do apoio logstico que o

    empreendimento forneceria atividade petrolfera (FNTAA, 2007).

    Os investimentos previstos em portos fluminenses esto revolucionando o cenrio

    logstico estadual, notadamente os portos de Au, Itagua e Barra do Furado. O Complexo

    Porturio do Au, localizado em So Joo da Barra, um empreendimento privado de

    quase R$ 5 bilhes, e ser destinado prioritariamente ao escoamento de minrio de ferro.

    Este grande terminal logstico ir se constituir como um dos portos mais profundos do

    Brasil, com perspectivas de se tornar a grande ncora econmica da regio (Sistema

    FIRJAN, n/d).

    As caractersticas do ancoradouro sugerido neste trabalho so diferentes e at

    complementares s do porto do Au: pequenas dimenses; pequeno calado para

    embarcaes mdias; destinado a atividades off-shore, abastecimento e pesca; baixo

    investimento; possveis atividades de manuteno de embarcaes na sua retro-rea.

    Portanto, a construo do porto do Au, com vocao e destinao prpria, no invalida

    a proposta deste trabalho.Para confirmar a viabilidade tcnica do empreendimento, faz-se necessrio um

    estudo detalhado, que atenda s necessidades de todos, sobre o canal do brao direito do

    rio, tais como batimetria e movimentao do leito, bem como a necessidade de dragagens, a

    fim de delinear a rota das embarcaes da barra at o cais. Um levantamento batimtrico

    prvio foi feito pelo Eng. Vicente Jdice, autor de um trabalho sobre a transgresso do

    Pontal de Atafona pelo mar (SOS ATAFONA, 1999), encontrando uma profundidade mdia

    de 6,5 metros em toda a sua extenso, at cerca de meia milha fora da barra.

    6 CONCLUSO

    Pela teoria do desenvolvimento local endgeno, as regies devem se apropriar de

    suas potencialidades humanas e naturais, a fim fazer com que o fluxo de riquezas convirja

    para dentro, a partir de atividades no s extrativas, mas de transformao que agregue

    valor aos produtos e servios, e que possam aproveitar o espao e localizao geogrfica,

    favorecendo a logstica dos empreendimentos.

    O desenvolvimento depende de fatores que vo alm do crescimento econmico

    apenas, que necessrio, mas no suficiente. E mais que isso, o prprio crescimento

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    econmico precisa levar em considerao fatores locais, especficos de cada regio. Ou

    seja, se vamos investir no Norte Fluminense, temos que procurar atividades que

    potencializem as caractersticas da regio, que valorizem sua diversidade, que aproveitem

    suas vantagens comparativamente s vantagens de outras regies.

    A diversidade regional assim um ponto fundamental para um processo

    sustentvel de desenvolvimento. A natureza diferenciada do Norte Fluminense, tanto no

    litoral, como nas serras, um ponto positivo nesse contexto, bem como a cultura e a prpria

    histria do lugar.

    Alm de outras atividades econmicas que podem ser incentivadas a partir do

    potencial do municpio, chama a ateno o fato de que esse possui condies favorveis

    instalao de um porto de apoio off-shore, tais como:

    proximidade dos principais campos petrolferos;

    bom acesso rodovirio;

    acesso ferrovirio a 40 km;

    aeroporto a 40 km;

    topografia plana;

    localizao fluvial.

    Importante, porm, seria o impulso no desenvolvimento local com conseqncias

    socialmente favorveis, empregando a populao local diretamente e indiretamente.

    Neste artigo, entretanto, no foram considerados os aspectos concernentes aotransporte intermodal e s especificaes da carga a transitar: os locais de origem, quais as

    que podem ser produzidas localmente ou na regio prxima, e as questes de estocagem.

    Tambm no houve detalhamento da estrutura de custos, nem da localizao do

    empreendimento, bem como da questo ambiental. Esses aspectos devero ser objetos de

    estudos posteriores, a fim de avanar na prospeco da idia ora lanada, para que se

    conhea a maior eficincia do sistema.

    Afora os interesses de armadores, aquavirios e empresas ligadas aos setores

    petrolfero e de manuteno naval, a proposta do porto deve mobilizar a classe poltica local,em virtude dos benefcios sociais que adviriam atravs do desenvolvimento regional

    proporcionado por uma nova atividade econmica.

    A prioridade agora, para a regio continuar crescendo e alcanar o

    desenvolvimento, investir em infra-estrutura, em novas tecnologias, no melhor

    conhecimento das potencialidades de toda a regio, especialmente vegetao de restinga e,

    principalmente, em educao.

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    Garantindo acesso populao a melhores servios, a novos conhecimentos e

    educao de qualidade, podemos inferir que um processo de desenvolvimento seja

    sustentvel e no apenas um "milagre" passageiro.

    O Art. 47 do projeto de lei que institui o novo plano diretor do municpio estabelece

    que o Governo Municipal incentivar a integrao da economia municipal com as atividades

    da indstria petrolfera, preservando sempre suas caractersticas e potencialidades

    originais. (SO JOO DA BARRA, 2006).

    O que est proposto neste artigo vem ao encontro desse trecho do Plano Diretor, e

    apoiado pela ONG SOS Atafona, em uma de suas propostas para esse Plano Diretor,

    quando explicita a meta planejar, adotar e auxiliar a execuo de aes, programas e

    projetos destinados a promover e a acelerar o desenvolvimento scio-econmico ambiental

    de sua foz, referindo-se ao rio Paraba do Sul (SOS ATAFONA, 1999).

    A questo porturia e de navegao tambm mencionada pela ONG COCIDAMA,

    no documento que apresenta propostas ao mesmo Plano Diretor, no item 1:

    ... A busca de soluo tecnolgica para o problema poder favorecer a pesca, oturismo (quebra-mar artificial), esporte (wind-surf, surf, banana-boats, ski aquticoetc), resgatar a histria da navegao do municpio e ainda possibilitar a criao deum ancoradouro de embarcaes de apoio da Petrobrs para auxiliar na exploraoda Bacia de Campos, gerando renda aos muncipes, referindo-se ao problema doavano do mar no Pontal de Atafona (COCIDAMA, 2006).

    A criao desse ancoradouro independe daquela transgresso, pois poderia situar-

    se 2 ou 3 km a montante da foz, protegido da disputa do rio com o mar (vide Figura 2).

    Hoje, as embarcaes que abastecem as plataformas ou necessitam de reparos,

    vo at os portos do Rio de Janeiro, Niteri ou Vitria, percorrendo distncias de at quase

    400 km, exceto quanto ao porto de Forno em Arraial do Cabo, este mais prximo, mas com

    desvantagens quanto ao acesso rodovirio e ferrovirio. Com o porto em So Joo da

    Barra, essa distncia diminuiria significativamente (vide Tabela 1). Isso significa reduo de

    custo de transporte martimo, o que interessa a empresrios do setor, alm do aspecto

    estratgico em face do apoio logstico que ser propiciado armao brasileira de apoio

    martimo, porturio e atividades conexas (FNTTAA, 2007).

    luz do que foi exposto, pode-se concluir pela convenincia de que seja promovido

    um estudo de viabilidade para a construo e explorao de um porto fluvial na localidade

    de Atafona, para apoio logstico na atividade off shore (supply) e pequenos reparos, alm do

    atendimento s embarcaes pesqueiras da regio.

    Finalmente, resta saber se esse empreendimento atenderia aos quatro requisitos

    bsicos da sustentabilidade, sendo:

    Ecologicamente correto: a atividade porturia pode ser uma atividade limpa,

    desde que atenda aos princpios e normas da qualidade e ambientais, com rigor

    na fiscalizao;

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    FAE Centro Universitrio 4 Seminrio sobre Sustentabilidade

    Curitiba PR de 11 a 13 de novembro de 2009

    Economicamente vivel: pelo que foi exposto, e semelhana de outros

    empreendimentos, h necessidade de se elaborar um estudo de viabilidade

    econmica para o projeto;

    Socialmente justo: atravs do aproveitamento da mo de obra local

    regularmente empregada e registrada, agregando programas de treinamento

    incentivado pelo executivo municipal;

    Culturalmente aceito: o maior agregado que se traz aceitao cultural do

    empreendimento o fato de que o municpio j foi palco, no passado, de intensa

    atividade porturia e de navegao, conforme j foi exposto no item 1. Isso

    soaria como um resgate da auto-estima da populao.

    Como o Dr. Rudolf Schwob, diretor do setor de Proteo Corporativa Ambiental da

    F. Hoffmann La Roche AG, declarou: necessrio enfatizar que idias sozinhas no so

    suficientes, e trabalho prtico tem que seguir teorias para alcanar os objetivos

    (HOLLIDAY; PEPPER, 2001, p.20).

    AGRADECIMENTO

    Os autores agradecem ao Eng. Vicente Ponce Pasini Jdice, autor do trabalho

    sobre a Transgresso do Pontal de Atafona na Foz do Rio Paraba do Sul, o qual deu

    origem ao documento aqui referenciado como SOS ATAFONA, e idealizador de um porto

    fluvial em So Joo da Barra.

    Referncias:

    COCIDAMA COMIT DE CIDADANIA & MEIO AMBIENTE. Requerimento PD/001/06 ComissoGestora do Plano Diretor de So Joo da Barra. So Joo da Barra, 6 de setembro de 2006.Disponvel em: < http://www.planodiretorsjb.cefetcampos.br/>. Acesso em: 13 jul. 2007, 11:39.

    FNTTAA - FEDERAO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM TRANSPORTES AQUAVIRIOSE AFINS. Of.no.064/07/rlgp/egn/70 Exma. Sra. Prefeita Carla Maria Machado dos Santos. Rio deJaneiro, 2 de abril de 2007.

    FRANCO, Augusto de. Quatro Lies de Desenvolvimento Local. Carta Rede Social 151(22/11/07). Disponvel em: http://augustodefranco.locaweb.com.br/. Acesso em: 8 set 2009.

    HOLLIDAY, Chad; PEPPER, John. Sustainability Through the Market: seven keys to success.Geneva: World Business Council for Sustainable Development, 2001.

    JACOBS, Jane. The nature of economies. New York: Vintage Books, 2000.

    LAMEGO, Alberto Ribeiro. O Homem e o Brejo. Rio de Janeiro: IBGE, 1945. 204 p. (BibliotecaGeogrfica Brasileira. Publicao n. 1. Srie A Livros. Setores da Evoluo Fluminense I).

    MELO NETO, Francisco de Paulo de; FRES, Csar. Empreendedorismo Social: a transio paraa sociedade sustentvel. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002. 232 p.

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    FAE Centro Universitrio 4 Seminrio sobre Sustentabilidade

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    PREFEITURA DE SO JOO DA BARRA. Dados Censitrios. Caractersticas Locais. Disponvel em:. Acesso em: 2 mar 2009, 17:15.

    SO JOO DA BARRA (RJ). Projeto de Lei de 3 de outubro de 2006. Institui o novo Plano Diretor domunicpio de So Joo da Barra. Disponvel em:. Acesso em: 2 mar 2009, 16:59.

    Sistema FIRJAN. Deciso Rio Investimentos 2010-2012. Federao das Indstrias do Estado doRio de Janeiro.

    SOS ATAFONA ASSOCIAO DE DEFENSORES E AMIGOS DE ATAFONA. Anlise daTransgresso do Mar no Pontal de Atafona. So Joo da Barra: 1999. Disponvel em: . Acesso em: 2 mar 2009, 11:03.