a perspectiva da atividade portuária
TRANSCRIPT
-
8/9/2019 A Perspectiva da Atividade Porturia
1/13
1
FAE Centro Universitrio 4 Seminrio sobre Sustentabilidade
Curitiba PR de 11 a 13 de novembro de 2009
A PERSPECTIVA DA ATIVIDADE PORTURIA PARA O DESENVOLVIMENTO
LOCAL DO MUNICPIO DE SO JOO DA BARRA
Flvio de Moraes Siqueira Campos (UFF) [email protected]
Luiz Perez Zotes (UFF) [email protected]
RESUMO
Neste artigo apresentada uma alternativa de empreendimento para o desenvolvimento
econmico e social de um municpio com baixa atividade econmica, aproveitando as
potencialidades regionais, com foco em So Joo da Barra, no Estado do Rio de Janeiro.
Utilizando-se de pesquisa bibliogrfica e visitas ao local, e sob a tica de desenvolvimento
local endgeno e de custos de transportes, e constatando as vantagens advindas dos
ganhos em horas de navegao, os autores concluram pela convenincia de que se
promova um estudo de viabilidade da construo de um porto fluvial para apoio logstico na
atividade off shore (supply) e pequenos reparos, alm do atendimento s embarcaespesqueiras da regio.
Palavras-chave: Desenvolvimento endgeno; Economia de transportes; Bacia de Campos;
So Joo da Barra.
INTRODUO
O objetivo deste artigo apresentar uma alternativa de atividade para fomentar o
desenvolvimento econmico e social do Municpio de So Joo da Barra, no Estado do Rio
de Janeiro, hoje extremamente dependente dos royalties do petrleo, pois grande parte da
arrecadao municipal, quase 70%, vem daquele repasse (poo de Roncador)
(PREFEITURA DE SO JOO DA BARRA, 2008).
1 FORMULAO DA SITUAO-PROBLEMA
Jos de vila Aguiar Coimbra, na apresentao do livro Empreendedorismo Social
a transio para a sociedade sustentvel, diz: Uma sociedade ser sustentvel s e
exclusivamente quando seu desenvolvimento for gerado nela e por ela assumido (MELO
NETO, 2002).
-
8/9/2019 A Perspectiva da Atividade Porturia
2/13
2
FAE Centro Universitrio 4 Seminrio sobre Sustentabilidade
Curitiba PR de 11 a 13 de novembro de 2009
O municpio de So Joo da Barra, por suas caractersticas econmicas, tem hoje a
oportunidade de promover seu prprio desenvolvimento, mas de modo planejado urbanstica
e ambientalmente, construindo assim um modelo para o futuro, ao contrrio de cidades,
principalmente na rea petrolfera da bacia de Campos que cresceram a reboque da
indstria petrolfera, sem tempo para um adequado planejamento urbano, ameaando, com
isso, a qualidade de vida das pessoas. Isso pode ser evitado nesse Municpio, enquanto
ainda no alvo importante de agentes interessados na explorao de suas riquezas.
2 REFERENCIAL TERICO
2.1 DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO
Desenvolvimento econmico consiste de um processo de enriquecimento, que
inclui seus habitantes, ou seja, na acumulao de ativos individuais ou pblicos, e tambm
de um crescimento da produo nacional e da remunerao recebida pelos que participam
da atividade econmica. Em histria o desenvolvimento coincide com o aparecimento do
capitalismo e com o advento da Revoluo Industrial. Nos sistemas pr-capitalistas no
havia acumulao, ou seja, no havia desenvolvimento. Outro aspecto importante que o
desenvolvimento no uma via de mo nica os pases podem recuar ou avanar nesse
processo.
No mundo ocidental, duas correntes principais de pensamento dominaram o
cenrio. Como alternativa crise de 1929, o economista ingls John Maynard Keynes
formulou a hiptese de que o Estado deveria interferir ativamente na economia, seja
regulando o mercado de capitais, seja criando empregos e promovendo obras de infra-
estruturae fabricando bens de capital.
Essa teoria foi muito popular at os anos 1970 quando - em parte devido crise do
petrleo - o sistema monetrio internacional entrou em crise. Tornou-se ento evidente a
inviabilidade da conversibilidade do dlar em ouro, ruindo o padro dlar-ouro, com inflao
e o endividamento dos Estados por um lado, e uma grande acumulao de excedente
monetrio lquido nas mos dos pases exportadores de petrleo por outro. Em vista disso,sobreveio uma mudana de enfoque na poltica econmica.
Surge ento a escola neoliberal de pensamento econmico, baseada na firme
crena na Lei de Say, e cujos fundamentos j tinham sido esboados em 1940 pelo
economista austraco Friedrich August von Hayek. Para corrigir os problemas inerentes
crise, os neoliberais pregavam a reduo dos gastos pblicos e a desregulamentao, de
modo a permitir que as empresas com recursos suficientes pudessem investir em
praticamente todos os setores de todos os mercados do planeta: tornar-se-iam empresas
multinacionais ou transnacionais.
-
8/9/2019 A Perspectiva da Atividade Porturia
3/13
3
FAE Centro Universitrio 4 Seminrio sobre Sustentabilidade
Curitiba PR de 11 a 13 de novembro de 2009
Uma das reaes s prticas neoliberais foi a busca de alternativas de
desenvolvimento econmico local, como forma de tentar suprir a incapacidade de promoo
do desenvolvimento pelos Estados dos pases subdesenvolvidos, nomeadamente em
oposio s idias e prticas neoliberais.
O desenvolvimento requer no s a criao e a reproduo do capital econmico,
mas tambm do capital humano (conhecimentos, habilidades e competncias) e do capital
social (confiana, cooperao, empoderamento (empowerment), organizao e participao
social).
Quanto ao crescimento econmico, a forma mais clssica e tradicional de avali-lo
medindo o Produto Interno Bruto - PIB. Questiona-se que, por trs do crescimento do PIB,
muitas vezes, esconde-se indicadores sociais desvantajosos como, por exemplo, na dcada
de 70 o milagre brasileiro, quando as altas taxas de crescimento do PIB no contriburam
significativamente para diminuir as desigualdades econmicas e sociais.
A propsito, escreveu Jane Jacobs (2000):
Desenvolvimento mudana qualitativa. Expanso (crescimento) mudanaquantitativa. Os dois esto intimamente vinculados, mas no so a mesma coisa... Acorrelao prtica entre desenvolvimento econmico e expanso econmica(crescimento) a diversidade econmica... Eis o princpio que se aplica tanto aecossistemas quanto economia de comunidades: complexos diversificados seexpandem em ambientes ricos que so criados pela utilizao e reutilizaodiversificada da energia recebida.
O socilogo Augusto de Franco (2007) define desenvolvimento local como uma
nova estratgia de induo ao desenvolvimento, que prev a adoo de uma metodologiaparticipativa, pela qual mobiliza-se recursos da sociedade civil, em parceria com o Estado
(com os trs nveis de governo) e com o mercado, para a realizao de diagnsticos da
situao de cada localidade, a identificao de potencialidades, a escolha de vocaes e a
confeco de planos integrados de desenvolvimento. Trata-se de uma tecnologia social
inovadora de investimento em capital humano e em capital social.
2.2 SUSTENTABILIDADE
Os principais argumentos para o desenvolvimento sustentvel baseiam-se nos
princpios moral, ambiental, tico e social.
A sustentabilidade existe para garantir uma melhor qualidade de vida para todos,
agora e para as futuras geraes, combinando interesses ecolgicos e sociais e oferecendo
oportunidades de negcios para empresas que podem melhorar a vida das pessoas no
mundo (HOLLIDAY; PEPPER, 2001) e abrange vrios nveis de organizao, desde a
vizinhana local at o planeta inteiro.
Para um empreendimento humano ser sustentvel, tem de ter em vista quatro
requisitos bsicos. Esse empreendimento tem de ser:
-
8/9/2019 A Perspectiva da Atividade Porturia
4/13
4
FAE Centro Universitrio 4 Seminrio sobre Sustentabilidade
Curitiba PR de 11 a 13 de novembro de 2009
ecologicamente correto;
economicamente vivel;
socialmente justo e
culturalmente aceito.
3 CARACTERSTICAS REGIONAIS
So Joo da Barra foi um municpio prspero, do sculo XVIII at final do sculo
XIX. Possua uma intensa atividade naval que iniciou em 1740 (LAMEGO, 1945; p. 155) e
porturia, a despeito das limitaes e dificuldades em se lidar com a foz do rio Paraba do
Sul, poca. Esse porto e estaleiro tinham como objetivo principal escoar a produo dos
municpios de Campos dos Goytacazes e, posteriormente, So Fidlis e Itaperuna,
basicamente de cana de acar e caf. Com o advento do transporte ferrovirio na regio a
preos mais competitivos, essas atividades iniciaram um ciclo de decadncia que dura at
hoje.
No final da dcada de 40, no governo de Eurico Gaspar Dutra, foi dado incio
implantao de espiges do pontal de Atafona at s proximidades da cidade de So Joo
da Barra, a cerca de 4 km, que teria a finalidade no s mercantil, como a de abrigar parte
da esquadra da Marinha de Guerra, dadas as condies propcias oferecidas pela gua
doce do rio, menos nociva aos cascos das embarcaes (SOS ATAFONA, 1999). Nessa
poca tambm foi dado incio construo da Escola de Aprendiz de Marinheiros, emAtafona, obra abandonada desde a dcada de 50.
Isso mostra que a regio j foi alvo de intenes investidoras por parte do governo
federal, o que demonstra sua localizao estratgica e a possibilidade porturia.
Localizado na margem direita da foz deltaica do rio Paraba do Sul, o municpio de
So Joo da Barra est inteiramente situado sobre a restinga e sobre o aqfero Barreiras
Recente, que fornece gua pura e lmpida para localidades como Barcelos, Grussa, Au e
Cajueiro. Possui bolses de mata atlntica de transio para a vegetao de restinga. A
cidade fica na parte mais baixa da plancie goitac, a uma altitude de seis metros acima donvel do mar.
Tem como coordenadas geogrficas de latitude 21 3813 Sul e de longitude 41
0303 Oeste, e acessado atravs da BR-356.
Sua rea de 431,9 km2 est dividida em trs distritos: Sede, Barcelos e Pipeiras e
limita-se ao norte com So Francisco do Itabapoana, a oeste e sul com Campos dos
Goytacazes e a leste com o Oceano Atlntico.
-
8/9/2019 A Perspectiva da Atividade Porturia
5/13
5
FAE Centro Universitrio 4 Seminrio sobre Sustentabilidade
Curitiba PR de 11 a 13 de novembro de 2009
FIGURA 1 - LOCALIZAO DO MUNICPIO (EM VERMELHO) NO MAPA DO RJ
O censo de 2000 apurou uma populao de 27.578 habitantes.
Suas principais atividades econmicas so:
Turismo, agropecuria, olericultura e fruticultura nativa, castanhas de caju cozidas,pesca, indstrias de bebidas, de vassouras, e de fios txteis, olarias, farinha demesa, usina de acar e doces batidos caseiros - banacaxi, goiabada, caju comcastanha, ara pero, abbora com coco e outras - artesanato em palha e conchas,e bordados (PREFEITURA DE SO JOO DA BARRA, 2008).
TABELA 1 PIB POR MUNICPIO DO RJ EM 2006MUNICPIO PIB (R$ 1.000) Participao MUNICPIO PIB (R$ 1.000) Participao
Rio de Janeiro 127.956.075 46,47% Quissam 2.363.472 0,86%
Campos dos Goytacazes 23.114.742 8,39% Barra Mansa 2.347.490 0,85%
Duque de Caxias 22.565.282 8,19% Itagua 1.933.337 0,70%
Niteri 7.460.317 2,71% Nova Friburgo 1.932.910 0,70%
So Gonalo 6.887.923 2,50% Porto Real 1.834.014 0,67%
Maca 6.474.102 2,35% Terespolis 1.581.120 0,57%
Cabo Frio 6.462.028 2,35% Casimiro de Abreu 1.449.566 0,53%
Nova Iguau 6.264.736 2,28% Itabora 1.372.946 0,50%
Volta Redonda 6.006.665 2,18% Mag 1.342.204 0,49%
Rio das Ostras 5.861.067 2,13% Itaperuna 1.230.400 0,45%
Petrpolis 4.524.122 1,64% Armao dos Bzios 1.182.703 0,43%
Angra dos Reis 3.495.350 1,27% Mesquita 1.080.703 0,39%
Resende 3.129.320 1,14% Nilpolis 1.079.865 0,39%
Belford Roxo 2.923.281 1,06% So Joo da Barra 914.936 0,33%
So Joo de Meriti 2.893.083 1,05% Demais municpios 17.698.969 6,43%
Estado do Rio de Janeiro 275.362.728 100,00%
Fonte: IBGE (http://www.ibge.gov.br/)
Em 2006 seu PIB foi de 915 milhes de reais (vide TABELA 1), representando
0,33% do PIB estadual que foi de 275 bilhes de reais, segundo o IBGE.
-
8/9/2019 A Perspectiva da Atividade Porturia
6/13
6
FAE Centro Universitrio 4 Seminrio sobre Sustentabilidade
Curitiba PR de 11 a 13 de novembro de 2009
O percentual de 70% da receita municipal sendo oriunda dos royalties do petrleo,
como j mencionado, preocupante, pois torna o municpio bastante dependente de uma s
fonte de receita. Da a necessidade de aplic-la na criao de atividades economicamente
sustentveis bem como para a criao de infra-estrutura que permita a atrao e
manuteno dessas atividades.
4 MTODO
Foi feita uma pesquisa bibliogrfica envolvendo artigos, livros e stios na Internet.
Aproveitando a experincia pessoal de um dos autores, freqentador da regio h
muitos anos, foram percorridos os pontos estratgicos possveis para localizao do
empreendimento, tendo sido sugerida uma rea, mostrada na FIGURA 2 (crculo vermelho),
mas no necessriamente limitada ao crculo, mas s margens do canal direito.
importante ressaltar que no foi feita pesquisa adicional sobre as condies da
rea mostrada, estando indefinida sua delimitao, e desconhecidas pelos autores outras
caractersticas, tais como propriedade, solo e destinao atual. O que se quis mostrar que
o canal direito d condies de navegabilidade para pequenas embarcaes, devendo o
empreendimento, se concretizado, ser localizado s suas margens, em trecho a ser indicado
num possvel projeto de viabilidade.
FIGURA 2 FOZ DO RIO PARABA DO SUL
Foram feitas entrevistas com pessoas selecionadas entre:
-
8/9/2019 A Perspectiva da Atividade Porturia
7/13
7
FAE Centro Universitrio 4 Seminrio sobre Sustentabilidade
Curitiba PR de 11 a 13 de novembro de 2009
moradores antigos;
profissionais da pesca (com informaes importantes sobre o regime das guas
do rio);
polticos locais, inclusive a prefeita do municpio (sobre o interesse da
municipalidade no empreendimento);
presidente, diretores e militantes de ONG
conhecedores e defensores do meio ambiente daquela regio.
Um levantamento batimtrico simples feito pelo Eng. Vicente Jdice (vide
agradecimento ao final) no canal direito da foz do Rio Paraba do Sul a jusante de So Joo
da Barra at cerca de meia milha fora da barra, usando peso e corda, pde revelar a
potencialidade do canal para o trfego de embarcaes.
5 RESULTADO
A foz do Rio Paraba do Sul, em Atafona, dista cerca de 127 km em linha direta dos
poos de Roncador, Albacora, Marlim e Barracuda, ao passo que o posto de Roncador dista
cerca de 364 km da entrada da Baa de Guanabara, uma distncia quase trs vezes maior.
Uma anlise nas cartas geogrficas da regio aponta para que um porto em So
Joo da Barra atenderia com vantagens a praticamente toda a bacia de Campos (poos de
Roncador, Albacora, Marlim, Garoupa, Namorado, Badejo, Barracuda, Pampo, Carapicu e
Carata), exceto aos poos Maromba e Papa-Terra, que poderiam ser atendidos tanto porNiteri quanto por So Joo da Barra, a se considerar apenas as distncias. O novo porto
atenderia tambm aos novos poos de Piramb e Caxaru, na Bacia do Esprito Santo.
FIGURA 3: CAMPOS PETROLFEROS
Fonte: http://www2.petrobras.com.br/Petrobras/portugues/plataforma/pla_bacia_campos.htm
-
8/9/2019 A Perspectiva da Atividade Porturia
8/13
8
FAE Centro Universitrio 4 Seminrio sobre Sustentabilidade
Curitiba PR de 11 a 13 de novembro de 2009
A FIGURA 3 mostra a localizao dos principais campos de petrleo nas bacias do
Esprito Santo, Campos e Santos.
A TABELA 2 mostra a distncia em km da barra da baa de Guanabara (Rio de
Janeiro), de Vitria e da foz do Rio Paraba at os poos extremos das Bacias de Campos e
do Esprito Santo, dando uma idia das vantagens no custo de transporte martimo advindas
da operao do porto em So Joo da Barra.
TABELA 2 DISTNCIAS MARTIMAS AOS CAMPOS PETROLFEROS
CAMPO BACIA
DISTNCIA EM km
NITERI/RIO
DE JANEIRO
SO JOO DA
BARRA
TUBARO
(Vitria)
Albacora Campos 341 123 195
Badejo Campos 241 123 268
Barracuda Campos 291 127 250
Carapicu Campos 254 154 300
Carata Campos 236 173 327
Garoupa Campos 286 95 223
Marlim Campos 314 136 250
Maromba Campos 200 209 364
Namorado Campos 282 104 236
Pampo Campos 232 132 286
Papa-terra Campos 218 209 359
Roncador Campos 364 127 186
Catu Esprito Santo 404 141 154Caxaru Esprito Santo 373 95 123
Piramb Esprito Santo 377 100 127
Fonte: http://www2.petrobras.com.br/Petrobras/portugues/plataforma/pla_bacia_campos.htmcom obteno das distncias aproximadas pelo autor mediante rgua milimtrica.
Como infra-estrutura de transportes tem-se que, partir do Rio de Janeiro e Vitria, o
local servido pela BR-101 at Campos dos Goytacazes (286 km do Rio de Janeiro e 245
de Vitria) e pela BR-356 (40 km de Campos), alm de ferrovia, operada pela FCA-Ferrovia
Centro Atlntica, hoje pertencente Cia. Vale do Rio Doce, com 316 km do Rio de Janeiro
at Campos dos Goytacazes, esta ltima tambm servida pelo Aeroporto BartolomeuLisandro, aerdromo homologado, pblico, administrado pela INFRAERO, indicador SBCP,
com pista de asfalto medindo 1.544x45 m (vide TABELA 3).
TABELA 3 DISTNCIA ENTRE TERMINAISMODAL PERCURSO Km SIGLA
RodovirioRio de Janeiro Campos dos Goytacazes
Campos dos Goytacazes Atafona
286
40
BR-101
BR-356
Ferrovirio Rio de Janeiro Campos dos Goytacazes 316 FCA
Areo Rio de Janeiro Campos dos Goytacazes - SDU - CAW
Fonte: elaborao prpria
-
8/9/2019 A Perspectiva da Atividade Porturia
9/13
9
FAE Centro Universitrio 4 Seminrio sobre Sustentabilidade
Curitiba PR de 11 a 13 de novembro de 2009
Portanto, esse porto pode no ter, a princpio, um bom fluxo de mercadorias entre
as localidades terrestres prximas, em virtude do pouco desenvolvimento da regio, mas
teria, por outro lado, o benefcio da proximidade das rotas martimas de suprimento, pois
est bem prximo da maior concentrao de poos da bacia de Campos. Se for planejado
para possuir uma boa estrutura de servios, tarifas e operao, ser uma escolha
interessante para os armadores de frotas de suprimento em face do apoio logstico que o
empreendimento forneceria atividade petrolfera (FNTAA, 2007).
Os investimentos previstos em portos fluminenses esto revolucionando o cenrio
logstico estadual, notadamente os portos de Au, Itagua e Barra do Furado. O Complexo
Porturio do Au, localizado em So Joo da Barra, um empreendimento privado de
quase R$ 5 bilhes, e ser destinado prioritariamente ao escoamento de minrio de ferro.
Este grande terminal logstico ir se constituir como um dos portos mais profundos do
Brasil, com perspectivas de se tornar a grande ncora econmica da regio (Sistema
FIRJAN, n/d).
As caractersticas do ancoradouro sugerido neste trabalho so diferentes e at
complementares s do porto do Au: pequenas dimenses; pequeno calado para
embarcaes mdias; destinado a atividades off-shore, abastecimento e pesca; baixo
investimento; possveis atividades de manuteno de embarcaes na sua retro-rea.
Portanto, a construo do porto do Au, com vocao e destinao prpria, no invalida
a proposta deste trabalho.Para confirmar a viabilidade tcnica do empreendimento, faz-se necessrio um
estudo detalhado, que atenda s necessidades de todos, sobre o canal do brao direito do
rio, tais como batimetria e movimentao do leito, bem como a necessidade de dragagens, a
fim de delinear a rota das embarcaes da barra at o cais. Um levantamento batimtrico
prvio foi feito pelo Eng. Vicente Jdice, autor de um trabalho sobre a transgresso do
Pontal de Atafona pelo mar (SOS ATAFONA, 1999), encontrando uma profundidade mdia
de 6,5 metros em toda a sua extenso, at cerca de meia milha fora da barra.
6 CONCLUSO
Pela teoria do desenvolvimento local endgeno, as regies devem se apropriar de
suas potencialidades humanas e naturais, a fim fazer com que o fluxo de riquezas convirja
para dentro, a partir de atividades no s extrativas, mas de transformao que agregue
valor aos produtos e servios, e que possam aproveitar o espao e localizao geogrfica,
favorecendo a logstica dos empreendimentos.
O desenvolvimento depende de fatores que vo alm do crescimento econmico
apenas, que necessrio, mas no suficiente. E mais que isso, o prprio crescimento
-
8/9/2019 A Perspectiva da Atividade Porturia
10/13
10
FAE Centro Universitrio 4 Seminrio sobre Sustentabilidade
Curitiba PR de 11 a 13 de novembro de 2009
econmico precisa levar em considerao fatores locais, especficos de cada regio. Ou
seja, se vamos investir no Norte Fluminense, temos que procurar atividades que
potencializem as caractersticas da regio, que valorizem sua diversidade, que aproveitem
suas vantagens comparativamente s vantagens de outras regies.
A diversidade regional assim um ponto fundamental para um processo
sustentvel de desenvolvimento. A natureza diferenciada do Norte Fluminense, tanto no
litoral, como nas serras, um ponto positivo nesse contexto, bem como a cultura e a prpria
histria do lugar.
Alm de outras atividades econmicas que podem ser incentivadas a partir do
potencial do municpio, chama a ateno o fato de que esse possui condies favorveis
instalao de um porto de apoio off-shore, tais como:
proximidade dos principais campos petrolferos;
bom acesso rodovirio;
acesso ferrovirio a 40 km;
aeroporto a 40 km;
topografia plana;
localizao fluvial.
Importante, porm, seria o impulso no desenvolvimento local com conseqncias
socialmente favorveis, empregando a populao local diretamente e indiretamente.
Neste artigo, entretanto, no foram considerados os aspectos concernentes aotransporte intermodal e s especificaes da carga a transitar: os locais de origem, quais as
que podem ser produzidas localmente ou na regio prxima, e as questes de estocagem.
Tambm no houve detalhamento da estrutura de custos, nem da localizao do
empreendimento, bem como da questo ambiental. Esses aspectos devero ser objetos de
estudos posteriores, a fim de avanar na prospeco da idia ora lanada, para que se
conhea a maior eficincia do sistema.
Afora os interesses de armadores, aquavirios e empresas ligadas aos setores
petrolfero e de manuteno naval, a proposta do porto deve mobilizar a classe poltica local,em virtude dos benefcios sociais que adviriam atravs do desenvolvimento regional
proporcionado por uma nova atividade econmica.
A prioridade agora, para a regio continuar crescendo e alcanar o
desenvolvimento, investir em infra-estrutura, em novas tecnologias, no melhor
conhecimento das potencialidades de toda a regio, especialmente vegetao de restinga e,
principalmente, em educao.
-
8/9/2019 A Perspectiva da Atividade Porturia
11/13
11
FAE Centro Universitrio 4 Seminrio sobre Sustentabilidade
Curitiba PR de 11 a 13 de novembro de 2009
Garantindo acesso populao a melhores servios, a novos conhecimentos e
educao de qualidade, podemos inferir que um processo de desenvolvimento seja
sustentvel e no apenas um "milagre" passageiro.
O Art. 47 do projeto de lei que institui o novo plano diretor do municpio estabelece
que o Governo Municipal incentivar a integrao da economia municipal com as atividades
da indstria petrolfera, preservando sempre suas caractersticas e potencialidades
originais. (SO JOO DA BARRA, 2006).
O que est proposto neste artigo vem ao encontro desse trecho do Plano Diretor, e
apoiado pela ONG SOS Atafona, em uma de suas propostas para esse Plano Diretor,
quando explicita a meta planejar, adotar e auxiliar a execuo de aes, programas e
projetos destinados a promover e a acelerar o desenvolvimento scio-econmico ambiental
de sua foz, referindo-se ao rio Paraba do Sul (SOS ATAFONA, 1999).
A questo porturia e de navegao tambm mencionada pela ONG COCIDAMA,
no documento que apresenta propostas ao mesmo Plano Diretor, no item 1:
... A busca de soluo tecnolgica para o problema poder favorecer a pesca, oturismo (quebra-mar artificial), esporte (wind-surf, surf, banana-boats, ski aquticoetc), resgatar a histria da navegao do municpio e ainda possibilitar a criao deum ancoradouro de embarcaes de apoio da Petrobrs para auxiliar na exploraoda Bacia de Campos, gerando renda aos muncipes, referindo-se ao problema doavano do mar no Pontal de Atafona (COCIDAMA, 2006).
A criao desse ancoradouro independe daquela transgresso, pois poderia situar-
se 2 ou 3 km a montante da foz, protegido da disputa do rio com o mar (vide Figura 2).
Hoje, as embarcaes que abastecem as plataformas ou necessitam de reparos,
vo at os portos do Rio de Janeiro, Niteri ou Vitria, percorrendo distncias de at quase
400 km, exceto quanto ao porto de Forno em Arraial do Cabo, este mais prximo, mas com
desvantagens quanto ao acesso rodovirio e ferrovirio. Com o porto em So Joo da
Barra, essa distncia diminuiria significativamente (vide Tabela 1). Isso significa reduo de
custo de transporte martimo, o que interessa a empresrios do setor, alm do aspecto
estratgico em face do apoio logstico que ser propiciado armao brasileira de apoio
martimo, porturio e atividades conexas (FNTTAA, 2007).
luz do que foi exposto, pode-se concluir pela convenincia de que seja promovido
um estudo de viabilidade para a construo e explorao de um porto fluvial na localidade
de Atafona, para apoio logstico na atividade off shore (supply) e pequenos reparos, alm do
atendimento s embarcaes pesqueiras da regio.
Finalmente, resta saber se esse empreendimento atenderia aos quatro requisitos
bsicos da sustentabilidade, sendo:
Ecologicamente correto: a atividade porturia pode ser uma atividade limpa,
desde que atenda aos princpios e normas da qualidade e ambientais, com rigor
na fiscalizao;
-
8/9/2019 A Perspectiva da Atividade Porturia
12/13
12
FAE Centro Universitrio 4 Seminrio sobre Sustentabilidade
Curitiba PR de 11 a 13 de novembro de 2009
Economicamente vivel: pelo que foi exposto, e semelhana de outros
empreendimentos, h necessidade de se elaborar um estudo de viabilidade
econmica para o projeto;
Socialmente justo: atravs do aproveitamento da mo de obra local
regularmente empregada e registrada, agregando programas de treinamento
incentivado pelo executivo municipal;
Culturalmente aceito: o maior agregado que se traz aceitao cultural do
empreendimento o fato de que o municpio j foi palco, no passado, de intensa
atividade porturia e de navegao, conforme j foi exposto no item 1. Isso
soaria como um resgate da auto-estima da populao.
Como o Dr. Rudolf Schwob, diretor do setor de Proteo Corporativa Ambiental da
F. Hoffmann La Roche AG, declarou: necessrio enfatizar que idias sozinhas no so
suficientes, e trabalho prtico tem que seguir teorias para alcanar os objetivos
(HOLLIDAY; PEPPER, 2001, p.20).
AGRADECIMENTO
Os autores agradecem ao Eng. Vicente Ponce Pasini Jdice, autor do trabalho
sobre a Transgresso do Pontal de Atafona na Foz do Rio Paraba do Sul, o qual deu
origem ao documento aqui referenciado como SOS ATAFONA, e idealizador de um porto
fluvial em So Joo da Barra.
Referncias:
COCIDAMA COMIT DE CIDADANIA & MEIO AMBIENTE. Requerimento PD/001/06 ComissoGestora do Plano Diretor de So Joo da Barra. So Joo da Barra, 6 de setembro de 2006.Disponvel em: < http://www.planodiretorsjb.cefetcampos.br/>. Acesso em: 13 jul. 2007, 11:39.
FNTTAA - FEDERAO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM TRANSPORTES AQUAVIRIOSE AFINS. Of.no.064/07/rlgp/egn/70 Exma. Sra. Prefeita Carla Maria Machado dos Santos. Rio deJaneiro, 2 de abril de 2007.
FRANCO, Augusto de. Quatro Lies de Desenvolvimento Local. Carta Rede Social 151(22/11/07). Disponvel em: http://augustodefranco.locaweb.com.br/. Acesso em: 8 set 2009.
HOLLIDAY, Chad; PEPPER, John. Sustainability Through the Market: seven keys to success.Geneva: World Business Council for Sustainable Development, 2001.
JACOBS, Jane. The nature of economies. New York: Vintage Books, 2000.
LAMEGO, Alberto Ribeiro. O Homem e o Brejo. Rio de Janeiro: IBGE, 1945. 204 p. (BibliotecaGeogrfica Brasileira. Publicao n. 1. Srie A Livros. Setores da Evoluo Fluminense I).
MELO NETO, Francisco de Paulo de; FRES, Csar. Empreendedorismo Social: a transio paraa sociedade sustentvel. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002. 232 p.
-
8/9/2019 A Perspectiva da Atividade Porturia
13/13
13
FAE Centro Universitrio 4 Seminrio sobre Sustentabilidade
Curitiba PR de 11 a 13 de novembro de 2009
PREFEITURA DE SO JOO DA BARRA. Dados Censitrios. Caractersticas Locais. Disponvel em:. Acesso em: 2 mar 2009, 17:15.
SO JOO DA BARRA (RJ). Projeto de Lei de 3 de outubro de 2006. Institui o novo Plano Diretor domunicpio de So Joo da Barra. Disponvel em:. Acesso em: 2 mar 2009, 16:59.
Sistema FIRJAN. Deciso Rio Investimentos 2010-2012. Federao das Indstrias do Estado doRio de Janeiro.
SOS ATAFONA ASSOCIAO DE DEFENSORES E AMIGOS DE ATAFONA. Anlise daTransgresso do Mar no Pontal de Atafona. So Joo da Barra: 1999. Disponvel em: . Acesso em: 2 mar 2009, 11:03.