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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO - NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA - NPJ REGULAÇÃO E DEFESA DA CONCORRÊNCIA DA ATIVIDADE PORTUÁRIA DANIELA APARECIDA BITENCOURT ITAJAÍ - SC, 18 DE NOVEMBRO DE 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO - NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA - NPJ

REGULAÇÃO E DEFESA DA CONCORRÊNCIA

DA ATIVIDADE PORTUÁRIA

DANIELA APARECIDA BITENCOURT

ITAJAÍ - SC, 18 DE NOVEMBRO DE 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO-NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA - NPJ

REGULAÇÃO E DEFESA DA CONCORRÊNCIA DA ATIVIDADE PORTUÁRIA

DANIELA APARECIDA BITENCOURT

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Doutor Osvaldo Agripino de Ca stro Jr.

ITAJAÍ- SC, 18 de novembro de 2008

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, pela dádiva da vida, e pela força concedida para eu prosseguir sempre em busca dos meus sonhos.

Aos meus pais, João e Lindomar, que sempre me incentivaram, e me apoiaram em todos os momentos da minha vida.

A minha avó Maria Gonçalves Amaro (in memorian), com ela aprendi a ser

perseverante, ter fé e confiar em Deus.

Aos poucos, porém bons e fiéis amigos, que me acompanharam nesta trajetória.

Ao meu irmão Joares, e meus sobrinhos João Victor e Leonardo, agradeço pelo amor e carinho.

Agradeço em especial ao Professor Doutor Osvaldo Agripino de Castro Jr. o qual tive o

privilégio de ter como orientador.

Enfim, agradeço a todas as pessoas que cruzaram minha vida, que de uma maneira

ou outra, me ajudaram a chegar até aqui.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha avó Maria Gonçalves Amaro (in memorian), grande inspiração, para minha vida.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí - SC, 18 de novembro de 2008

Daniela Aparecida Bitencourt Graduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Daniela Aparecida Bitencourt ,

sob o título Regulação e Defesa da Concorrência da Atividade Por tuária , foi

submetida em 18 de novembro de 2008 à banca examinadora composta pelos

seguintes professores: Dr. Osvaldo Agripino de Castro Jr. (Orientador e

Presidente da Banca), Msc. Giselda da Silveira Cherem (Membro), e aprovada

com a nota __.

Itajaí - SC,18 de novembro de 2008

Professor Doutor Osvaldo Agripino de Castro Jr. Orientador e Presidente da Banca

Msc. Giselda da Silveira Cherem Membro da Banca

Professor Mestre Antônio Augusto Lapa Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANTAQ Agência Nacional de Transportes Aquaviários

ANTT Agência Nacional de Transportes Terrestres

ART. Artigo

CONIT Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transportes

CAP Conselho de Autoridade Portuária

CADE Conselho Administrativo de Defesa Econômica

CMM Comissão de Marinha Mercante

DNIT Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes

E.C Emenda Constitucional

MPF Ministério Público Federal

PCN Plano de Construção Naval

SNV Sistema Nacional de Viação

SEP Secretaria Especial de Portos

SBDC Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Agência Reguladora

As agências reguladoras são autarquias sob regime especial, ultimamente criada

com a finalidade de disciplinar e controlar certas atividades.1

Área do Porto Organizado

Área compreendida pelas instalações portuárias, quais sejam ancoradouros,

docas, cais, pontes e píer de atracação e acostagem, terrenos e armazéns,

edificações e vias de circulação interna, bem como pela infra-estrutura de

proteção e acesso aquaviário ao porto tais como guia - correntes, quebramares,

eclusas, canais, bacias de evolução e área de fundeio que devem ser mantidas

pela Administração do Porto”.2

Carga Própria

“Aquela que pertence a pessoa jurídica ou a pessoa jurídica que seja sua

subsidiária integral ou controlada, ou a pessoa jurídica de que a autorizada seja

subsidiária integral ou controlada ou, ainda, que pertença a pessoas jurídicas que

integram grupo de sociedades de que a autorizada seja integrante como

controladora ou controlada”.3

Porto Organizado

Porto organizado é “o construído e aparelhado para atender às necessidades da

navegação, da movimentação de passageiros ou da movimentação e

1 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo . 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 132. 2 Conforme inciso III, § 1º do art. 4º da Lei n. 8.630/93. 3 Conforme inciso IV, do art. 2º . da Resolução n. 517/2005.

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armazenagem de mercadorias, concedido ou explorado pela União, cujo tráfego e

operações portuárias estejam sob a circunscrição de uma autoridade portuária”.4

Regulação

Aragão conceitua regulação como “conjunto de medidas legislativas,

administrativas e convencionais, abstratas ou concretas, pelas quais o Estado, de

maneira restritiva da liberdade privada ou meramente indutiva, determina, controla

ou influencia o comportamento dos agentes econômicos, evitando que lesem os

interesses sociais definidos no marco da Constituição e orientando-os em direções

socialmente desejáveis”.5

Regulamentação

Ato de criar regulamentos necessários à execução da lei, prerrogativa competente

do Presidente da República. Conforme o dicionário regulamentação é “o ato de

fixar por meio de regulamento. Conjunto de medidas legais ou regulamentares que

regem um assunto”.6

Transporte Aquaviário

Denomina-se transporte aquaviário quando o veículo se desloca no meio líquido,

estando, assim, incluídos o transporte marítimo, fluvial e terrestre. A modalidade

aquaviária caracteriza-se pela capacidade de transportar grandes volumes de

carga em um único veículo de transporte, o que representa um baixo consumo de

energia por unidade de peso movimentada.7

4 Conforme inciso IV, do art. 1º . da Lei. n. 8.630/93. 5 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Agências Reguladoras e a Evolução do Direito Administrativo e Econômico . 4 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 25. 6 HOUAISS, Antônio. Enciclopédia e Dicionário Ilustrado . Rio de Janeiro: Edições Delta, 1994. p. 723. 7 FARIA, Sérgio Fraga Santos. Fragmentos da História dos Transportes . São Paulo: Aduaneiras, 2000, p. 20.

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SUMÁRIO

RESUMO...........................................................................................XII

ABSTRACT........................................... ...........................................XIII

INTRODUÇÃO .................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ......................................... .............................................. 5

CONCEITOS DO SISTEMA JURÍDICO DA ATIVIDADE PORTUÁRI A 1.1 PROBLEMA ....................................... ...............................................................5 1.1.1 JUSTIFICATIVA................................ .............................................................5 1.2 CONCEITOS .....................................................................................................5 1.2.1 REGULAÇÃO.................................... .............................................................6 1.2.2 REGULAMENTAÇÃO............................... .....................................................7 1.3 DEFESA DA CONCORRÊNCIA ......................... ..............................................8 1.4 INFRA-ESTRUTURA PORTUÁRIA ...................... ..........................................11 1.4.1 TERMINAIS PORTUÁRIOS DE USO PÚBLICO .......... ...............................13 1.4.2 TERMINAIS PORTUÁRIOS DE USO PRIVATIVO.. ...... ..............................14 1.4.3 TERMINAIS PORTUÁRIOS DE USO PRIVATIVO MISTO.. ........................14 1.5 DESCENTRALIZAÇÃO DE AÇÕES...................... .........................................15 1.5.1 CONCESSÕES ............................................................................................16 1.5.2 PERMISSÕES.. ............................................................................................16 1.5.3 AUTORIZAÇÕES................................. ........................................................17 1.6 CADE... ...........................................................................................................17

CAPÍTULO 2 ......................................... ............................................ 21

CONTEXTUALIZAÇÃO DO TRANSPORTE AQUAVIÁRIO E DA ATIVIDADE PORTUÁRIA 2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA REGULAÇÃO............... .................................21 2.2 ORIGEM E EVOLUÇÃO DA REGULAÇAO DO TRANSPORTE AQ UAVIÁRIO NO BRASIL ......................................... .................................................................23 2.3 REGULAÇÃO DO SISTEMA DE TRANSPORTES ............ ............................24 2.4 INTERVENÇÃO REGULATÓRIA ........................ ...........................................25 2.5 REGULAÇÃO DO MONOPÓLIO......................... ...........................................26 2.6 SISTEMA NACIONAL DE VIAÇÃO ..................... ...........................................29 2.7 SECRETARIA ESPECIAL DE PORTOS .................. ......................................30 2.8 COMPETÊNCIAS DA AGÊNCIA REGULADORA - ANTAQ..... .....................32 2.9 ANTAQ E CADE NA DEFESA DA CONCORRÊNCIA......... ..........................34

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CAPÍTULO 3 ......................................... ............................................ 37

REGULAÇÃO E DEFESA DA CONCORRÊNCIA DO TRANSPORTE AQUAVIÁRIO E DA ATIVIDADE PORTUÁRIA 3.1 REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA PORTUÁRIA............ ...........................37 3.2 COMPETÊNCIA DA ANTAQ E DO ÓRGÃO DE PROTEÇÃO À CONCORRÊNCIA.................................................................................................40 3.3 PRINCÍPIOS DA DEFESA DA CONCORRÊNCIA........... ...............................44 3.3.1 PRINCÍPIO DA SOBERANIA NACIONAL ............. .....................................45 3.3.2 PRINCÍPIO DA GARANTIA DO DESENVOLVIMENTO NACI ONAL...........46 3.3.3 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE............... .....................................47 3.3.4 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA...................... ..................................................48 3.3.5 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ...................... ...............................................48 3.3.6 PRINCÍPIO DA IGUALDADE....................... ................................................49 3.3.7 PRINCÍPIO DA LIVRE CONCORRÊNCIA .............. .....................................50 3.3.8 PRINCÍPIO DA LIVRE INICIATIVA................ ..............................................51 3.4 O PODER JUDICIÁRIO NA ATIVIDADE PORTUÁRIA E NO TRANSPORTE AQUAVIÁRIO......................................... ...............................................................52

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................... ............................... 54

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS...................... ..................... 57

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RESUMO

O presente trabalho tem como tema Regulação e Defesa da Concorrência da

Atividade Portuária, e objetiva identificar de modo sistemático, as principais

características dos órgãos de regulação do transporte aquaviário e da atividade

portuária, visando estabelecer através da ANTAQ (Agência Nacional de

Transporte Aquaviário) e do CADE (Conselho Administrativo de Defesa

Econômica), uma estrutura adequada que gere condições de manter o equilíbrio

econômico, e ambiente competitivo no setor portuário.

É visível que o sistema portuário brasileiro, encontra-se em uma situação de

debilidade e defasagem institucional, esse setor exige uma modernização e

adequação capaz de promover concorrência e equilíbrio entre entes públicos e

privados. O trabalho é produto do Grupo de Pesquisa Regulação da Infra-estrutura

e Juridicidade da Atividade Portuária, da Linha de Pesquisa Produção e Aplicação

do Direito, do Programa de Doutorado e Mestrado em Ciência Jurídica da

UNIVALI, e está dividido em três capítulos. O primeiro capítulo trata das questões

introdutórias, a escolha do tema, e aborda conceitos operacionais essenciais para

a compreensão da presente pesquisa. No segundo capítulo objetiva-se a tratar a

origem e evolução histórica da regulação do transporte aquaviário e da atividade

portuária. E o terceiro capítulo trata-se do estudo dos órgãos reguladores, e

princípios que objetivam a fiscalizar e regular as atividades do setor portuário,

tentando manter a ordem econômica, a concorrência e o equilíbrio do mercado.

Ao final, são apresentados os pontos conclusivos e relevantes da pesquisa,

seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre a

regulação e defesa da concorrência portuária.

Palavras chave: Transporte Aquaviário e Atividade Portuária. Regulação. Concorrência.

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ABSTRACT

The present work has as subject Regulation and Competition’s Defense of the

Port Activity, searching to identify in a systematic way, the main characteristics of

the agencies of regulation of the aquatic transport and the port activity, aiming to

establish through the ANTAQ (National Agency of Waterways Transport) and of

the CADE (Administrative Advise of Economics’ Defense), an adequate structure

that generate conditions to keep the economic balance, and competitive

environment in the port sector. It is visible that the Brazilian port system, finds in a

situation of weakness and institutional imbalance, where this sector demands a

modernization and adequacy capable to promote competition and balance

between public and private beings. The work is a product of the Group of Research

on Regulation of the Infra-structure and Legality of the Port Activity, of the Line of

Research on Production and Application of Law of the Program of Doctorate and

Master´s degree in Legal Science of the UNIVALI, and it is divided in three

chapters. The first chapter deals with introductory questions, the choice of the

subject, and boards operational essential concepts for the understanding of the

present inquiry. In the second chapter it is aimed treating the origin and historical

evolution of the regulation of the aquatic transport and of the port activity. And one

treats the third chapter as the study of the regulating organs, and beginnings what

they aim to supervise and to regulate the activities of the sector longshoreman,

trying to maintain the economical order, the competition and the balance of the

market. Finally, conclusions and relevant points of the research are presented,

resulted from the stimulation to the continuity of the studies and of the reflections

on the regulation and defense of the port’s competition.

Keywords: Maritime Transportation and Port activities. Regulation. Competition.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objetivo geral contribuir

para a efetividade da concorrência nos transportes aquaviários e portos

brasileiros.

Como objetivo específico pretende identificar as principais

características regulatórias do transporte aquaviário e da atividade portuária no

Brasil, especificamente na atuação da Agência Nacional de Transportes

Aquaviário – ANTAQ e seu papel e o do CADE diante da defesa da concorrência.

O esgotamento financeiro dos recursos do Estado marcou o

fim de um modelo de Administração Pública, caracterizando o surgimento de

empresas prestadoras de serviços portuários, surgindo a necessidade de

ampliação de agências reguladoras.

Dessa necessidade, nasceram as agências reguladoras de

atividades econômicas, destinadas a regular a exploração de serviços portuários.

O objetivo dessas agências é manter este mercado em equilíbrio, atuando em

conjunto com estruturas jurídicas existentes, e observar a defesa da concorrência,

devendo promover o equilíbrio entre os interesses públicos e privados.

O segmento da exploração das atividades portuárias é de

singular importância para o desenvolvimento da economia nacional, observando-

se que é através da utilização desses serviços que se viabilizam 95% da

totalidade das operações de comércio exterior nacional.

Os portos são estruturas básicas e desempenham

indispensável função no desenvolvimento econômico regional, com a geração de

serviços auxiliares.

Aproximadamente 95% das mercadorias que entram e saem

do país são movimentadas por meio das atividades portuárias. Diante da

necessidade brasileira no mercado internacional, o crescimento das instalações

portuárias, é condição básica. Contudo, os processos atuais não são suficientes,

criando uma defasagem no setor. Assim, objetivando alcançar o aumento da

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competitividade e eficiência dos serviços, nasce a necessidade de aprimoramento

do sistema jurídico regulatório.

O modelo atual de exploração e regulação das atividades no

sistema portuário é regulamentado pela Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993,

conhecida por “Lei dos Portos”, que disciplina as instalações portuárias dos portos

organizados, caracterizando o início da regulação.

Como instrumento jurídico auxiliar, foi criada em 2001, a

Agência Nacional de Transporte Aquaviário – ANTAQ, a quem compete

implementar a competição portuária, disponibilizando os mecanismos legais para

aplicação das políticas de concorrência.

A Lei n. 8.884, de 11 de junho de 1994, publicada no DOU

(Diário Oficial da União) de 13 de junho 1994, transformou o Conselho

Administrativo de Defesa Econômica, em Autarquia, que dispõe sobre a

prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica. O CADE, além de

seu papel judicante, atua preventivamente contra abusos de ordem econômica,

orientado pelos ditames constitucionais que garantem à liberdade de iniciativa, a

livre concorrência, a função social da propriedade, a defesa dos consumidores e

contra o abuso do poder econômico.

Diante do estímulo concorrencial a ser implantado pela

ANTAQ, conduzindo os agentes econômicos da atividade portuária a se

comportarem de maneira competitiva, o sucesso da regulação das atividades

portuárias, depende da eficiência da ANTAQ e do controle de condutas exercido

pelo CADE.

Para atingir os objetivos da monografia, o trabalho é

modulado em capítulos individualizados. O Capítulo 1 trata das questões

introdutórias e da conceituação dos institutos relevantes à atividade portuária para

melhor entendimento do aludido trabalho.

No Capítulo 2, trata-se da gênese e aspectos históricos da

regulação do transporte aquaviário e da atividade portuária.

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3

Por fim, o Capítulo 3 discorre acerca da regulação da defesa

da concorrência por meio do estudo da legislação competente para resguardar a

eficiência da competitividade entre agentes econômicos dos setores de

transportes aquaviários e portuário.

No final, apresentam-se breves considerações conclusivas,

além de destacar pontos relevantes para a elaboração do trabalho, estimulando à

continuidade dos estudos.

Para a presente monografia foi criada a seguinte hipótese:

� O estudo dos principais aspectos legais e econômicos

que regulam o transporte aquaviário e a atividade portuária contribui para a

efetividade da defesa da concorrência no setor portuário e aquaviário, e para a

manutenção do mercado em equilíbrio através das agências reguladoras,

evitando um mercado concentrado, que provoca falta de competição.

Quanto à Metodologia registra-se que, na fase de

investigação8 foi utilizado o método indutivo9, na fase de tratamento dos dados o

método cartesiano10 e, os resultados expressos na presente monografia são

compostos na base lógica indutiva.

8 “(...) momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente estabelecido (...)”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica e Metodologia da Pesquisa Jurídica. 9. ed. Florianópolis: OAB-SC Editora e co-edição OAB Editora, 2005, p. 101. 9 “(…) pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral (…)”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica e Metodologia da Pesquisa Jurídica. 9. ed. Florianópolis: OAB-SC Editora e co-edição OAB Editora, 2005, p. 104. 10 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar, e avaliar). LEITE, Eduardo de Oliveira. A monografia jurídica. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 22-26.

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4

Nas diversas fases da pesquisa, foram acionadas as

técnicas do Referente11, da Categoria12, do Conceito Operacional13 e da

Pesquisa Bibliográfica14.

O estudo tenta, de forma simples e direta, não sobrecarregar

o texto com excessivas referências às normas portuárias, busca abordar a

regulação da defesa do transporte aquaviário, bem como da atividade portuária,

de modo que contribua para o esclarecimento do presente trabalho, e incentive o

aperfeiçoamento de parâmetros jurídicos para a execução dessas atividades.

11 “(...) explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica e Metodologia da Pesquisa Jurí dica. 9. ed. Florianópolis: OAB-SC Editora e co-edição OAB Editora, 2005, p. 62. 12 “(...) palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica e Metodologia da Pesquisa Jurí dica. 9. ed. Florianópolis: OAB-SC Editora e co-edição OAB Editora, 2005, p. 31. 13 “(...) uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos (...)”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica e Metodologia da Pesquisa Jurídica. 9. ed. Florianópolis: OAB-SC Editora e co-edição OAB Editora, 2005, p. 45. 14 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica e Metodologia da Pesquisa Jurí dica. 9. ed. Florianópolis: OAB-SC Editora e co-edição OAB Editora, 2005, p. 239.

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CAPÍTULO 1

CONCEITOS DO SISTEMA JURÍDICO DA ATIVIDADE PORTUÁRI A

A presente monografia, dividida em três capítulos, objetiva

estudar os principais aspectos legais e econômicos da legislação que regula o

transporte aquaviário e a atividade portuária, bem como visa à aplicação dos

dispositivos pertinentes para a execução da defesa da concorrência, e ao estímulo

à competitividade nessas atividades.

1.1 PROBLEMA

A edição da Lei n. 8.884, de 11 de junho de 1994, publicada

no DOU em 13 de junho de 1994, que trata da defesa da concorrência, juntamente

com a posterior criação da Agência Nacional de Transporte Aquaviário - ANTAQ

pela Lei n. 10.233 editada em 05 de junho de 2001, que tem entre suas

competências zelar pela aplicação da defesa da concorrência do transporte

aquaviário e da atividade portuária, colocam a regulação do setor numa situação

de debilidade institucional, acrescida da ineficácia dos mecanismos legais

pertinentes, dentro de uma realidade que exige modernização e adequação desse

sistema.

1.1.1 JUSTIFICATIVA

É necessário aperfeiçoar o ambiente institucional no qual

atua a ANTAQ especialmente no que tange à defesa da concorrência no setor de

sua competência, a fim de evitar desequilíbrio provocado pelo mercado

globalizado, e articular um método capaz de trazer para o conjunto da sociedade a

perspectiva de uma economia equilibrada e competitiva.

1.2 CONCEITOS

Neste subtítulo tratar-se-á de diferenciar regulação,

regulamentação, dentre outras categorias importantes para a melhor

compreensão do aludido trabalho.

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1.2.1 REGULAÇÃO

Não se deve confundir regulação com regulamentação.

A origem dessa expressão vem da tradução do inglês de regulation. Dependendo

do contexto, pode ser traduzida para o português como regulação ou

regulamentação, mas no contexto das agências reguladoras, a expressão deve

ser traduzida obrigatoriamente como regulação. Já a regulamentação é a tradução

de outra expressão inglesa de rulemaking.

Deste modo, Alexandre Santos de Aragão após

analisar a diferença entre regulação e regulamentação, assim define regulação:

“Conjunto de medidas legislativa, administrativas e

convencionais, abstratas ou concretas, pelas quais o Estado,

de maneira restritiva da liberdade privada ou meramente

indutiva, determina, controla, ou influencia o comportamento

dos agentes econômicos, evitando que lesem os interesses

sociais definidos no marco da Constituição e orientando-os

em direção socialmente desejáveis”.15

Assim entende-se que regulação é um conjunto de

normas impostas pelo Estado que limita a liberdade de ação de escolha de

empresas e profissionais liberais nos mais diversos campos de atividade.

Dessa forma, o autor italiano Sérgio Fois ensina que

“isso a que se quer aludir falando de regulação, afigura-se como fenômeno

jurídico dificilmente enquadrável nas três tradicionais funções públicas”.16

Neste contexto, Sérgio Fois diagnostica que a

utilização do vocábulo “regulation” revela a referência às funções governamentais

que não se identificam nem com uma função normativa em sentido próprio, nem

com função verdadeiramente jurisdicional, nem com atuação administrativa em

sentido restrito.

15 ARAGÃO, Alexandre Santos de. O Conceito Jurídico de Regulação da Economia . Rio de Janeiro: Forense. 2001, p. 74. 16 FOIS, Sérgio. Servizi e Interessi tra Privatizzazionni e Regolazi one Pubblica, em Diritto e Societa , vol. 1, Padova: Cedam, 2000, p. 27.

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7

Justen Filho, buscando lições de Sérgio Fois, entende

que regulação revela uma atuação governamental distinta das funções estatais

clássicas, é, nem uma função normativa própria, tampouco função jurisdicional ou

mesmo administrativa em sentido estrito, mas sim uma espécie de governo de

setor.17

Diante destes conceitos, conclui-se que o termo

regulação diz respeito a todo tipo de intervenção que o Estado faz na atividade

econômica pública e privada, ora para controlar, ora para orientar o mercado, com

objetivo de proteger o interesse público.

1.2.2 REGULAMENTAÇÃO

A expressão “regulamentação” corresponde ao

desempenho de função normativa infra-ordenada, pela qual se detalham as

condições de aplicação de uma norma de cunho abstrato e geral. 18

Justen Filho, alude de forma semelhante, que a

expressão regulamentação corresponderia “ao desempenho de função normativa

infra-ordernada, pela qual se detalham as condições de aplicação de uma norma

de cunho abstrato e geral”19, isto é, especificam-se as condições necessárias para

dar eficácia a dispositivos que, pela sua amplitude de abrangência, o tornam difícil

para ser aplicado a situações concretas.

É nesta função reguladora (rulemaking) ou quase

legislativa que reside o cerne das atribuições das agências independentes

americanas. O interessante é que no exercício dessa função normativa elas agem

ora como um típico Poder Regulamentar, ora adotam procedimentos mais

comumente usados na prática do Poder Judiciário.

17 JUSTEN FILHO, Marçal. O Direito das agências reguladoras independentes . São Paulo: Dialética, 2002, p. 15. 18 GRAU, Eros Roberto. O Direito Posto e o Direito Pressuposto . 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 186. 19 JUSTEN FILHO, Marçal. O Direito das agências reguladoras independentes . São Paulo: Dialética, 2002, p. 15.

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8

Em princípio, o rulemaking das agências consiste em

editar prescritive formulations ou lesgislatives rules, isto é, normas regulamentares

das atividades incluídas no respectivo campo de especialidade, passando tais

normas a ter força de lei, tanto para os agentes econômicos envolvidos quanto

para os usuários dos respectivos serviços.

Estas normas revestem-se de características que as

aproximam das leis. De um lado, o seu descumprimento sujeita o infrator às

mesmas conseqüências jurídicas previstas para a não observância das leis

votadas pelo Congresso, como, por exemplo, o pagamento de pesadas multas.

Por outro lado, tais normas são bem menos vulneráveis a ataques na via

jurisdicional, eis que a tradição do direito público jurisprudencial norte-americano é

de outorgar ampla deferência20 à expertise dos órgãos e entidades

especializadas,21 tais como as agências reguladoras.

A regulamentação propicia a edição de atos de cunho

normativo, que apresentam natureza derivada. Isto significa que o regulamento

introduz inovação, mas compreendida no âmbito normativo produzido por um ato

legislativo. O regulamento esclarece e complementa a lei, veiculando norma que

estava implícita ou que se insere nos limites da lei.22

1.3 DEFESA DA CONCORRÊNCIA

A competição reflete a disputa entre as empresas pela

possibilidade de vender seus produtos para o maior número possível de clientes.

É o principal mecanismo que uma economia de mercado possui para garantir o

seu bom funcionamento. Em mercados competitivos, as empresas precisam

manter baixos custos e margens de lucro, oferecer produtos de boa qualidade, e

sempre inovarem e colocarem novos produtos a disposição dos consumidores.

20 Estudo realizado em 1990 mostrou que nos anos de 1986 e 1987 a Corte Suprema dos EUA validou 70% das decisões das agências. V. Steve Cann. Administrative Law. 2. ed., Sage Publications: London, 1998, p. 96. 21 SCALIA, Antonin. Judicial Deference to Administrative Interpretations of Law. In: Duke Law Journal , 1989, p. 511. 22 TÁCITO, Caio. Temas de direito público . Rio de Janeiro: Renovar, vol. 1, 1997 , p. 510.

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Caso contrário, as empresas correm o risco de serem

expulsas do mercado por concorrentes mais hábeis. No longo prazo, a disputa

entre empresas em um mercado competitivo leva à maximização das eficiências

alocativa, técnica e dinâmica, garantindo uma alocação ótima de recursos e o

máximo de bem-estar social.

Para que haja concorrência, é necessário que o mercado

tenha um número suficientemente grande de produtores e consumidores de

tamanhos não muito diferentes, agindo de forma independente. Isso faz com que

nem vendedores, nem compradores tenham poder de mercado, não sendo

capazes de determinar, de forma unilateral ou coordenada, as condições com que

bens e serviços são comercializados no mercado em termos de preço, qualidade

dos produtos e condições de venda.

As empresas, naturalmente, prefeririam não ter competição,

já que é esta quem impede o empresário de extrair lucros anormais, fixando

preços acima do custo, ou de relaxar na busca permanente da eficiência. Por isso,

é natural, buscar a neutralização da concorrência por meio do domínio do

mercado ou mesmo da realização de acordos com objetivo de regular ou atenuar

mutuamente as forças concorrenciais. Se possível todas as empresas sempre

seriam monopolistas ou trabalhariam de forma concertada para reduzir a

rivalidade entre elas.

O objetivo final da política de defesa da concorrência é

promover a eficiência econômica e o bem-estar social. Em geral, esse objetivo é

tão ou mais facilmente atingido quanto mais atomizado for o mercado, seja pelo

lado dos produtores, seja dos consumidores, e quanto mais independente for a

atuação de cada um. Isso não se confunde com um regime laissez-faire para

existir competição, é necessário que existam regras delimitando o que vale ou não

na disputa entre empresas e, em especial, que se defenda a concorrência do

esforço constante das empresas para reduzi-la.

Do ponto de vista jurídico, deve-se distinguir livre mercado e

livre concorrência. O conceito histórico de livre mercado – a entrada, permanência

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ou saída do mercado, não se confunde com o princípio constitucional da ordem

econômica, que celebra a livre concorrência como um dos pilares do Estado de

Direito. A livre concorrência é a competição honesta, é a garantia de que todos

têm direito de acessar o mercado.

O artigo 170 da Carta de 1988 determina que:

Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do

trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a

todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,

observados os seguintes princípios.

VI – a livre iniciativa.

Neste sentindo João Bosco Leopoldino, alude que “a

liberdade de atuação no mercado, a livre concorrência, é a que mais interessa ao

sistema econômico”. Ele define concorrência no mercado como a que “decorre de

um conjunto de condições que permite a todos os agentes do mercado concorrer

à compra e venda de forma que cada um possa alcançar seus objetivos sem ferir,

desarrazoadamente, as metas pretendidas pelos demais”.23

A política de competição opera por meio de dois tipos de

instrumentos. O primeiro é estabelecido de estruturas competitivas de mercado,

impedindo o surgimento de empresas grandes o suficiente para deter poder de

mercado. Tipicamente, as agências de defesa da concorrência fazem isso

controlando os atos de concentração entre empresas.

Complementarmente, as autoridades também proíbem

certas condutas empresariais, tanto para impedir que um grupo de empresa aja de

forma concertada para manipular condições de oferta, como ainda para impedir

que uma empresa dominante abuse de sua posição para prejudicar concorrentes

menores. Trata-se da repressão ao abuso de poder econômico ou do controle de

condutas anticoncorrenciais.

23 LEOPOLDINO DA FONSECA, João Bosco. Lei de Proteção da Concorrência . 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 3.

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A política de defesa da concorrência, assim como a

regulação econômica, tem como objetivo final a promoção do bem-estar social.

Freqüentemente, ainda que nem sempre, este é mais bem servido quando se

estimula o máximo de competição no mercado. Há, porém, duas diferenças

relevantes entre os dois tipos de política.

Uma na qual nos setores regulados a competição é um

instrumento auxiliar, mas não é o foco principal do trabalho do regulador,

enquanto nos demais setores a situação se inverte. Outra que, em setores

regulados, é necessário estar sempre buscando e promovendo oportunidades de

aumentar a competição, ao passo que o trabalho das agências de defesa da

concorrência, como diz o próprio nome, é mais reativo, voltado principalmente

para impedir que os agentes econômicos dificultem o natural surgimento da

competição.24

1.4 INFRA-ESTRUTURA PORTUÁRIA

Base da atual regulação portuária, a Lei n. 8.630

regulamentada em 25 de fevereiro de 1993 – a Lei dos Portos, entre outras

questões, veio regular a forma de exploração dos serviços portuários. Por esse

instrumento legal é admitida a exploração das instalações portuárias nacionais

para fins de uso público ou para uso privativo, e de turismo, para a movimentação

de passageiros. No caso de exploração para uso privativo ela poderá ser

exclusiva ou mista, sendo assegurado a todos os interessados o direito de

construir, reformar, ampliar, arrendar e explorar instalações portuárias,

dependendo para tanto de contrato de arrendamento ou de autorização de acordo

com a sua localização.

A Lei dos Portos não definiu sobre a figura do terminal

portuário de uso público, tendo que ser criado a Lei n. 11.518/2007, que

estabelece em seu artigo 4º, § 3º, que:

24 PINHEIRO, Armando Castelar. Direito, Economia e Mercados. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 356 -357.

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“A exploração de instalação portuária de uso público fica restrita

a área do porto organizado ou a área de instalação portuária

pública de pequeno porte”.

As instalações de uso público estão localizadas dentro da

área do porto organizado, e as de uso privativo podem localizar-se dentro ou fora

do porto organizado. As referentes modalidades podem ser utilizadas para a

movimentação de passageiros, ou armazenagem de mercadorias, destinados ou

provenientes de transporte aquaviário.25

A Lei n. 8.630/93, em seu artigo 1º, dispõe que compete à

União explorar, diretamente ou mediante concessão, o porto organizado. Deste

modo, a União Federal é titular da exploração do porto organizado de forma direta

ou, através de terceiros mediante concessão através de licitação.

Salienta Castro Junior que: “a concessão não significa a

substituição do Estado na função administrativa portuária, pois a administração

estará sob a supervisão normativa do Estado”.26

Além da modalidade de uso público, na modalidade privada

dos terminais portuários é possível o uso de instalações com finalidade exclusiva

ou mista; na primeira, mediante contrato de arrendamento, movimenta-se carga

própria do titular das instalações; na segunda, a movimentação envolve cargas de

terceiros.

A construção e a operação de terminais privativos de uso

exclusivo ou misto submetem-se à prévia autorização do Poder Federal, por

intermédio da Agência Nacional de Transportes Aquaviários – ANTAQ. 27

25 Lei n. 8.630, de 25 de fevereiro de 1993 , artigo 1º, § 1º, inciso V. 26 CASTRO JR. Osvaldo Agripino de (Org). Temas Atuais de Direito do Comércio Internacional . Florianópolis: Editora da OAB/SC, 2005, p. 177. 27 SOUZA JUNIOR, Suriman Nogueira de. Regulação Portuária – A Regulação Portuária dos Serviços Públicos de Infra-Estrutura Portuária no B rasil. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 24.

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1.4.1 TERMINAIS PORTUÁRIOS DE USO PÚBLICO

Não há definição formal sobre os terminais de uso público,

podendo este ser interpretado conforme o artigo 4º, § 3º, da Lei n. 11.518/2007.

“A exploração de instalação portuária de uso público fica restrita à

área do porto organizado ou à área de instalação portuária

pública e de pequeno porte.”

Os terminais portuários de uso público estão localizados em

áreas de Portos Organizados, sendo explorados diretamente pela União ou, nos

termos da Lei de concessões e permissões de serviços públicos, ou por

arrendatários. Os terminais de uso público são prestadores de serviço público e,

como tal, sujeitos ao regime de direito público. Dessa maneira, estes terminais

obedecem a contratos de concessão, precedidos de licitação (art. 4° da Lei n.

8.630/93). Os terminais de uso público enfrentam restrições tanto nos preços que

praticam quanto nas quantidades que oferecem. No que se referem às

quantidades, estes terminais estão obrigados a atender todos os consumidores de

maneira isonômica, não podendo, recusar mercadorias de menor valor agregado.

Neste sentido Carlos Augusto Lobo, ressalta:

“Os terminais de uso público prestam serviços públicos, ou seja:

a) seu objetivo primordial é suplementar os portos organizados na

satisfação das necessidades da coletividade, quanto a serviços

portuários; b) qualquer interessado tem o direito de utilizar-se do

serviço, em igualdade de condições com os demais usuários; c) o

titular de uso público tem a obrigação de colocar o serviço à

disposição dos interessados de forma regular e contínua, sem

discriminação entre os usuários; d) seus serviços devem ser

remunerados mediante uma tarifa estabelecida pelo poder

público, de aplicação geral; e) seus serviços estão sujeitos à

fiscalização pelo poder concedente”.28

28 LOBO, Carlos Augusto Silveira. Os terminais portuários privativos na Lei 8.630/93. In: Revista de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Renovar, vol. 220, p. 28-29.

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1.4.2 TERMINAIS PORTUÁRIOS DE USO PRIVATIVO

O terminal portuário de uso privativo conforme o artigo 4º, §

2º, “a”, determina que se destine a movimentação de carga própria. A partir disso

entende-se que os terminais de uso privativo exclusivo destinam-se à

movimentação e armazenagem de carga própria, isso significa a vedação à sua

implantação como instrumento de prestação de serviço público. A referência a

carga própria indica que o terminal se destina a movimentação e armazenamento

de cargas de titularidade de um único e mesmo sujeito.

A exigência de carga própria, então, pressupõe que o

terminal portuário não se destinará a atender ao mercado, prestando serviços ao

público em geral. Atuará no interesse e para benefício de determinada empresa, a

qual não necessitará recorrer aos préstimos de uso público.

Poderão estar situados dentro ou fora da área do porto

organizado. Os terminais privativos situados fora dessa área, dependerão de

autorização da ANTAQ, que é considerada pelo artigo 6º da Lei n. 8.630/93,

delegação, por ato unilateral, feita pela União à pessoa jurídica que demonstre

capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco.

1.4.3 TERMINAIS PORTUÁRIOS DE USO PRIVATIVO MISTO

Pode-se inferir que o terminal de uso privativo misto é

aquele que conjuga operações com cargas próprias e com cargas de terceiros. A

exceção da movimentação de cargas de terceiros nada mais é que a previsão do

aproveitamento econômico da capacidade ociosa dos terminais privativos.

Essa situação é bem descrita por Carlos Augusto Silveira

Lobo:

“O terminal privativo é um verdadeiro estabelecimento da

empresa a que pertence e integra sua atividade industrial ou

comercial, até porque a finalidade precípua do terminal é a

movimentação da carga própria, relacionada com o

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empreendimento. A movimentação de carga de terceiros visa a

ocupar a capacidade ociosa do terminal. O titular do terminal

privativo desfruta da ampla liberdade de contratar a

movimentação de cargas de terceiros, na medida em que possa

preencher a capacidade ociosa de suas instalações portuárias e

na medida em que seus serviços satisfizerem às pretensões

dos terceiros. Distingui-se, assim, do serviço público portuário

que, quando prestado por particulares, depende de delegação

do poder público e se sujeita aos controles administrativos

próprios”. 29

A Resolução n. 517/2005, estipula condições para a outorga

de autorização para os terminais de uso privativo misto. Esta Resolução

estabelece condições objetivas para a efetiva configuração do uso privativo misto.

Prevê que o interessado na autorização deve comprovar, por meio de estudo

técnico, que a carga própria que pretende movimentar no terminal privativo é

suficiente para o retorno do investimento, ou seja, que essa declaração de carga

própria a ser movimentada no terminal privativo não é mero pretexto ou promessa

insubsistente. Exige ainda, que o interessado declare as cargas de terceiros que

eventualmente pretende movimentar, utilizando a capacidade ociosa de suas

instalações.

Com este procedimento, busca impedir que os terminais de

uso privativo misto transformem-se, na realidade, em terminais de uso público não

sujeitos às obrigações e aos controles do regime público.

1.5 DESCENTRALIZAÇÃO DE AÇÕES

Uma das mais importantes diretrizes gerais do

gerenciamento da infra-estrutura portuária é a descentralização das ações,

promovendo sua transferência: a) a outras entidades públicas; ou b) a empresas

29 SILVEIRA LOBO, Carlos Augusto. Os terminais portuários privativos na Lei n. 8.630/ 93, p. 28.

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públicas ou privadas. No primeiro caso, mediante convênios de delegação e, no

segundo, mediante outorgas de concessão, autorização ou permissão. 30

1.5.1 CONCESSÕES

Segundo ensinamento de Celso Antônio Bandeira de Mello:

“Concessão de serviço público é o instituto através do qual o

Estado atribui o exercício de um serviço público a alguém que

aceita prestá-lo em nome próprio por sua conta e risco, nas

condições fixadas e alteráveis unilateralmente pelo Poder Púbico,

mas sob garantia contratual de um equilíbrio econômico-

financeiro, remunerando-se pela própria exploração do serviço,

em geral e basicamente mediante tarifas cobradas diretamente

dos usuários dos serviços”.31

A concessão de serviços e de uso de bens públicos é,

constitucional e doutrinariamente, um contrato administrativo, destinado a

transferir a particulares certas atividades reservadas à Administração Pública. O

regime concessional se formaliza por meio de um contrato administrativo, no qual

são estabelecidas as obrigações do contratante privado, de forma a satisfazer o

interesse público.

1.5.2 PERMISSÕES

O regime permissional é classicamente o vínculo produzido

por ato administrativo unilateral, discricionário e precário, revogável a qualquer

tempo, gratuito ou oneroso, pelo qual a Administração Pública faculta ao particular

a execução de serviço público ou a utilização privativa de bem público por

terceiros, em face de interesse particular, desde que não contrarie o interesse

público.

30 Art. 12, caput, inciso I, da Lei n. 10.233/2001. 31 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo . 17. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 652.

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Valemo-nos das palavras de Celso Antônio Bandeira de

Mello, “permissão é ato unilateral e precário, intuitu personae, através do qual o

Poder Público transfere a alguém o desempenho de um serviço de sua alçada,

proporcionando à moda do que faz na concessão, a possibilidade de cobranças

de tarifas dos usuários”.32

1.5.3 AUTORIZAÇÕES

Para Di Pietro o ato que autoriza ao particular a exploração

do serviço inexiste como delegação de serviço público prestado ao público, pois,

na autorização, o serviço é prestado no interesse exclusivo do particular.33

O ato de autorização independe de processo licitatório,

sendo a autorização portuária exercida em liberdade de preços de serviços, tarifas

e fretes, em ambiente de livre competição, não sendo estipulado prazo de vigência

ou termo final, e extiguindo-se pela sua própria eficácia, por renuncia, anulação ou

cassação.34

Assim, é clara a conclusão que na autorização o serviço

prestado é de interesse do particular.

1.6 CADE – LEGISLAÇÃO DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA

Há várias décadas o Brasil tem dispositivos legais de defesa

da concorrência. Na década de 1930, criaram-se dispositivos legais com vistas a

proteger a economia popular, e na Constituição Federal de 1946, no seu artigo

148, a defesa da concorrência aparece explicitamente como um objetivo a ser

perseguido pelo governo:

“A lei reprimirá toda e qualquer forma de abuso do poder

econômico, inclusive as uniões ou agrupamentos de empresas

32 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo . 17. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 701-702. 33 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo . 14. ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 218. 34 MEDAUAR, Odete. A figura da concessão. In: Concessão de serviço público . São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 16.

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individuais ou sociais, seja qual for a sua natureza, que tenham

por fim dominar os mercados nacionais, eliminar a concorrência e

aumentar arbitrariamente os lucros”.

Apenas em 1962, porém, esse artigo seria regulamentado,

pela Lei n. 4.137, que criou o Conselho Administrativo de Defesa Econômica –

CADE e tipificou com maior detalhe o abuso do poder econômico que deveriam

ser punidos, e instituiu os procedimentos a serem seguidos nas averiguações,

entre outras disposições.

Definiu-se como abuso de poder econômico a

monopolização e a eliminação da concorrência via acordos entre empresas,

fusões e aquisições; a criação de barreiras à entrada ou ao desenvolvimento de

concorrentes; o exercício do poder de monopólio; a exigência de exclusividade

para propaganda; e a combinação prévia entre participantes de concorrências

públicas.

Um aspecto importante dessa lei era atribuir ao CADE a

responsabilidade de fiscalizar a conduta das empresas, fazer averiguações,

instaurar processos, julgar casos e, quando necessário, ordenar as providências

cabíveis.

O CADE pode ser dividido em três grandes fases. A

primeira, que se dá desde a sua fundação em 1962, no governo João Goulart

(momento conturbado na história brasileira) até 1991. Nesse período o CADE

permaneceu praticamente inativo, com poucas e parcas realizações, tendo se

prestado muito mais a ser instrumento do Estado em ações demagógicas de

combate a crimes contra a economia popular e contra o desabastecimento de

determinados produtos essenciais (em razão dos constantes tabelamentos de

preços) do que efetivamente a defender a livre concorrência.

O segundo período que compreende a edição da Lei n.

8.158, de 8 de janeiro de 1991, até 1994. Nessa grande fase, o Executivo

alardeou a abertura do mercado e a liberalização dos mercados, mas o CADE

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acabou servindo principalmente como instrumento de ameaça e de retaliação

contra determinados setores da economia.

Essa segunda fase terminou com a edição, em 1994, da

atual Lei n. 8.884, verdadeiro marco legal que transformou o CADE em

Autarquia35, de forma que passa a ser órgão que administra a si mesmo e possui

determinadas prerrogativas de autonomia – característica de ente administrativo

que estabelece regras para si mesmo.

Nesta terceira fase, o CADE se apresenta como uma

autarquia federal criada em 1962, e vinculada ao Ministério da Justiça, com

jurisdição nacional e sediada no Distrito federal. Cabe-lhe fiscalizar o abuso do

poder econômico, tutelando a sua apuração e repressão, quando este for

verificado. Sua instância superior é o Plenário, composto por sete membros,

sendo um presidente e seis conselheiros, todos indicados e nomeados pelo

Presidente da República após aprovação do Senado Federal, para um mandato

fixo de dois anos, com direito a uma recondução.

O CADE tem uma procuradoria, responsável por prestar

assessoria jurídica, defendê-lo em juízo e promover a execução judicial de suas

decisões. O Procurador-Geral é indicado pelo Ministro da Justiça e nomeado pelo

Presidente da República, depois de aprovado pelo Senado Federal, e aplicando-

se a ele as mesmas regras que aos conselheiros. O Procurador-Geral participa

das reuniões do CADE, mas não tem direito a voto. Junto ao CADE também

funciona um representante do Ministério Público Federal.

O Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC),

por intermédio do CADE, interage com o Ministério Público Federal (MPF). Este

pode oficiar processos contra infrações da ordem econômica sujeitos à apreciação

do CADE.

Por outro lado, o CADE poderá acionar o MPF para que

este promova a execução de suas decisões e dos compromissos de cessação, e a

35 Autarquias “pessoas jurídicas de direito público interno criado por lei da União, Estado ou município para a consecução de determinados serviços públicos específicos, delegados pelo Estado com capacidade de autogovernarem-se”. CRETELLA JUNIOR, José. Curso de Direito Administrativo de acordo com a Constituição vigente . Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 44.

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adoção de medidas judiciais cabíveis. O Ministério Público Federal também pode

participar, junto com a Polícia Federal, do combate aos cartéis, tipificados pela Lei

n. 8.137, em seu artigo 4º, inciso I, item a, como crime contra ordem econômica.36

“Constitui crime contra ordem econômica abusar do poder

econômico, dominando o mercado ou eliminando, total ou

parcialmente, a concorrência mediante ajuste ou acordo de

empresas”.

Nos casos de deficiência de concorrência, surgiu a

necessidade da intervenção de autoridades competentes que imponha aos agentes

econômicos a observância de ações e omissões necessárias à obtenção de

resultados eficientes que tornem a concorrência perfeita.

Assim, fixada a necessidade de aplicar a defesa da

concorrência e, após abordar a importância da modernização e adequação do

sistema portuário com a finalidade de atender ao interesse público, é relevante

estudar a evolução histórica da regulação do transporte aquaviário e da atividade

portuária, objeto de investigação do próximo capítulo.

36 PINHEIRO, Armando Castelar. Direito, Economia e Mercados . Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 381-389.

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CAPÍTULO 2

CONTEXTUALIZAÇÃO DO TRANSPORTE AQUAVIÁRIO E DA ATIVIDADE PORTUÁRIA

Neste capítulo, analisar-se-á a origem e evolução do

transporte aquaviário e da atividade portuária, observando que a regulação

portuária comporta uma categoria de entes reguladores que não encontra paralelo

em outros ordenamentos setoriais no Brasil.

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA REGULAÇÃO

De criação estrangeira, a regulação surgiu na Inglaterra, a

partir da criação, pelo Parlamento no ano de 1834, de diversos entes autônomos,

objetivando aplicar e concretizar medidas previstas em lei e para decidir

controvérsias resultantes desses textos, sendo depois apropriado juridicamente

pelos Estados Unidos.37 Depois sofre influência inglesa e, a partir de 1887, tem

início a proliferação de agencies para regulação de atividades, imposição de

deveres na matéria e aplicação de sanções.

Na França, as Autoridades Administrativas, embora sem

personalidade jurídica e sujeitas à fiscalização do Conselho do Estado, marcam

também um propósito de neutralidade política.

De acordo com Conrado Hubner Mendes, a história das

agências reguladoras nos Estados Unidos foi marcada por quatro fases. O

nascimento desse modelo de regulação deu-se em 1887, quando se verificou a

necessidade de se conferir uma resposta reguladora às disputas que estavam a

ocorrer entre as empresas de transporte ferroviário que procuravam obter o lucro

máximo nas tarifas que livremente estipulavam, e os fazendeiros do Oeste, que

atuaram como grupo de pressão sobre as Assembléias Estaduais, obtendo que

fossem reguladas, legislativamente, as tarifas ferroviárias e o preço de

armazenagem de cereais.

37 MORAES, Alexandre de. Agências Reguladoras . São Paulo: Atlas, 2002, p. 24.

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Nesse ano, criou-se então a ICC – Interstate Commerce

Comission e, um pouco mais tarde, a FTC – Federal Trade Comission, destinada a

controlar condutas anticompetitivas de empresas e corporações monopolistas.

Numa segunda fase, localizada entre os anos 1930 e 1945,

a economia norte-americana, abalada por uma forte crise, foi socorrida por uma

irrupção de inúmeras agências administrativas que, como parte da política do New

Deal, liderada pelo Presidente Roosevelt, intervieram fortemente na economia. Tal

intervenção, suprimindo os princípios básicos do Liberalismo e conferindo ampla

autonomia a tais agências administrativas, foi motivo de um início de debate

constitucional-jurisprudencial substancioso.

O terceiro momento, entre 1945 e 1965, foi marcado pela

edição de uma lei geral de procedimento administrativo (APA – Administrative

Procedural Act), que trouxe uniformidade no processo de tomada de decisões pelas

agências conferindo-lhes maior legitimidade.

Na década de 1960 defrontou-se o sistema regulatório

americano com um problema que desvirtuou as finalidades da regulação

desvinculada do poder político: a captura das agências reguladoras pelos agentes

econômicos regulados.

Assim os agentes privados, com seu colossal poder

econômico e grande poder de influência, diante de entes reguladores que

dispunham de completa autonomia perante o poder político, não encontraram

dificuldades para implantar um mecanismo de pressão que acabasse por quase

determinar o conteúdo da regulação que iriam sofrer. Os maiores prejudicados, por

conseqüência, foram os consumidores.

Finalmente, em 1985, num processo que continua até os

dias de hoje, o modelo começou a se redefinir para que se consolide um modelo

regulatório independente, mas com os controles externos adequados para garantir

essa independência.38

38 SUNDFELD, Carlos Ari. Direito Administrativo Econômico . São Paulo: Malheiros, 2000, p. 120-121.

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23

2.2 ORIGEM E EVOLUÇÃO DA REGULAÇÃO DO TRANSPORTE AQ UAVIÁRIO NO BRASIL

As primeiras concessões para a construção de portos no

Brasil ocorreram no final do século XIX e início do século XX, e pode ser dividida

em cinco fases em relação à trajetória do transporte aquaviário.

A primeira fase ocorreu até 1967 onde foram criadas a

Comissão de Marinha Mercante (CMM) em 1941; e a Taxa de Renovação da

Marinha Mercante em 1958; editada a Resolução n. 2.995/67 da CMM,

estabelecendo igualdade de participação entre armadores nacionais e dos países

importador e exportador. Além disso, foram feitos o I e II Plano de Construção Naval

(PCN), que expandiu os estaleiros nacionais.

A segunda fase deu-se entre os anos de 1967 a 1984. Em

1969 foram adotadas medidas de reserva de carga à bandeira brasileira (carga

prescrita) Decretos – Lei n. 666 e 687; foi criada a exclusividade da cabotagem para

armadores brasileiros e feita a abertura do transporte marítimo de longo curso à

iniciativa privada, com a entrada de empresas brasileiras nas conferencias de fretes

e assinatura de acordos bilaterais.

A terceira fase aconteceu entre o período de 1984 a 1990

onde surgiu uma política protecionista bem como a edição da Resolução

SUNAMAM n. 8.364/84, os fretes eram elevados e encareciam o comércio exterior,

o que causou a perda de competitividade das empresas brasileiras, que passaram a

atuar com empresas estrangeiras. Nesse período houve grande redução de frota

mercante nacional.

A quarta fase ocorreu entre 1991 a 2001. Em 1991 houve a

desregulação total do tráfego, por meio de Portaria do Ministério dos Transportes n.

07/91, que extinguiu as cotas das empresas brasileiras financiadas pelo governo e

liberou a operação em qualquer tráfego, bem como a navegação turística de

cabotagem (EC n. 07/1995).

Ressalta-se que, em 1993 foi editada a Lei n. 8.630 – Lei de

Modernização dos Portos, e em 1997 foi editada a Lei n. 9.432 que ordena o tráfego

aquaviário no Brasil. Na sua quinta fase entre o período de 2001 a 2008, deu-se a

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24

criação da ANTAQ e da Secretaria Especial dos Portos, criada pela MP n. 369 de

2007, convertida na Lei n. 11.118, de 5 de setembro de 2007.

Essa lei incluiu dispositivos na Lei n. 10.683, de 28 de maio

de 2003, dentre os quais o artigo 24 A, que trata da competência da Secretaria

Especial de Portos (SEP). Além disso, deve-se mencionar a proposta da emenda à

Constituição (PEC) n. 81, de 2003, de autoria do Senador Tasso Jereissatti que

estabelece princípios da atividade regulatória. 39

Somente em 2001 foi editada a Lei n. 10.233, que criou a

Agência Nacional de Transportes Aquaviários, responsável entre outras atribuições

pela regulação das atividades de 37 portos públicos existentes, e editada antes dela

a Lei n. 8.630/93, lei que regula a atividade portuária, ocasionando então problemas

para aplicação da legislação do setor.

2.3 REGULAÇÃO DO SISTEMA DE TRANSPORTES

Como preconizado constitucionalmente, a atividade

econômica é instrumento para a obtenção do desenvolvimento nacional, pelo qual

se busca atingir o pleno emprego, o respeito à dignidade da pessoa humana e o

bem-estar da população. Esses objetivos republicanos legitimam a intervenção do

Estado, sempre direcionada no sentido do atendimento dos interesses públicos,

restringindo ou ampliando a liberdade de iniciativa dos agentes econômicos

nacionais.40

De fato, essa intervenção é um importante instrumento de

promoção do desenvolvimento econômico e social, expressa pela formulação de

políticas públicas gerais e setoriais refletindo o conteúdo programático de um

governo. É, exatamente, a implementação dessas políticas públicas que, no

campo da ação exclusiva do Estado, direcionam as ações regulatórias,

dimensionando a liberdade empresarial em face do interesse coletivo.

39 CASTRO JUNIOR, Osvaldo Agripino de. A regulação dos transportes aquaviários e portos nos Estados Unidos e Brasil. Revista Portos e Navios , dez 2007, p. 40-44. 40 Art. 3º da Constituição Federal do Brasil .

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25

A Lei n. 10.233, de 5 de junho de 2001, com as alterações

introduzidas pela Medida Provisória n. 2.217-3, de 4 de setembro de 2001, ao

dispor sobre a reestruturação dos transportes aquaviário e terrestre, conforme

previsão constitucional, reorganizou o gerenciamento do Sistema Federal de

Viação, disciplinando a prestação de serviços de transportes e criando o Conselho

Nacional de Integração de Políticas de Transportes – CONIT, o Departamento

Nacional de Infra-Estrutura de Transportes – DNIT, a Agência Nacional de

Transportes Terrestres – ANTT e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários

– ANTAQ.

2.4 INTERVENÇÃO REGULATÓRIA

As características sociais e econômicas do país tornam

irrenunciável o dever da implementação de programas desenvolvimentistas de

governos, nos quais, sempre que possível, a forma de intervenção do Estado no

domínio econômico deixe de ser a empresarial e seja a de eminentemente

regulador, buscando o desenvolvimento dos setores produtivos nacionais.

Isso ocorre mediante a aplicação de instrumentos e

mecanismos de regulação adequados à nossa realidade, equilibrando os

interesses públicos e privados relacionados à prestação de serviços públicos,

notadamente os relativos à infra-estrutura dos transportes aquaviários.

A noção de serviço público situa-se numa área, nem sempre

clara, entre o direito público e o privado. É dentro desse espaço limítrofe que,

elasticamente, a estrutura prestacional dos serviços públicos se ajusta as

mudanças técnicas e econômicas de uma sociedade, condicionando à extensão

do papel do Estado na economia. Essa dinâmica de ordem econômica impulsiona

a evolução do direito, vinculando-a as necessidades econômicas de um período

temporal.

A realidade de determinados segmentos econômicos

estratégicos brasileiros mostra que, mesmo com o reforço do perfil regulatório do

Estado e a ampliação do espaço de atuação da iniciativa privada, a intervenção

estatal setorial é inevitável.

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26

Esta é a situação do Sistema Portuário Nacional, onde as

tipicidades dos monopólios naturais e legais levam o Estado a intervir, aplicando

os meios disponibilizados pelo ordenamento econômico visando à consecução do

desenvolvimento setorial.

Em razão da sua importância estratégica, os portos

brasileiros sempre estiveram submetidos à intervenção estatal independente da

organização política do país. Essa intervenção não foi o resultado de uma

estratégia de governo cuidadosamente concebida, ao contrário, foi o resultado de

numerosas circunstâncias políticas e econômicas que levaram o Estado brasileiro

a ampliar ou restringir sua atuação interventiva.41

Assim, é expressa a presença do Estado pelo exercício de

atividade econômica de interesse público, prestando serviço de infra-estrutura

portuária, porquanto é assegurada constitucionalmente à União a competência

para explorar esses serviços, quer diretamente ou mediante concessão,

autorização ou permissão.42

2.5 REGULAÇÃO DO MONOPÓLIO

Durante todo o século XX, o Brasil regulou a exploração de

seus monopólios naturais sem dispor de órgãos reguladores independentes. Com

a liberalização da exploração desses monopólios para a iniciativa privada, tornou-

se clara a necessidade da instituição de um novo modelo regulatório, dotando o

Estado de instrumentos que o tornassem mais eficiente no desempenho de suas

funções.

A regulação dos serviços públicos é uma forma de

intervenção econômica setorial que adquiriu relevância a partir da implementação

dos processos de desestatização empresarial. Antes desses processos, a

intervenção econômica setorial era operada por intermédio das próprias empresas

controladas pelo Estado.

41 S0UZA JUNIOR, Suriman Nogueira de. Regulação Portuária – A Regulação Jurídica dos Serviços Públicos de Infra-Estrutura Portuária no B rasil . São Paulo: Saraiva, 2008, p. 27 – 28. 42 S0UZA JUNIOR, Suriman Nogueira de. Regulação Portuária – A Regulação Jurídica dos Serviços Públicos de Infra-Estrutura Portuária no B rasil . São Paulo: Saraiva, 2008, p. 30.

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Exemplificando, tem-se a atuação da extinta Empresa de

Portos do Brasil S/A – Portobrás, controladora do sistema portuário nacional, que

tinha entre suas finalidades a realização de atividades vinculadas à construção,

administração e exploração dos portos e vias navegáveis, exercendo a

supervisão, orientação, coordenação, controle e fiscalização sobre tais atividades.

Conforme Bilac Pinto, se a economia e as técnicas de

prestação dos serviços de utilidade pública permitissem a sua exploração num

ambiente aberto de competição, a regulação desses serviços seria dispensável,

porque “a concorrência cindiria o poder das empresas em luta, e conduziria tanto

ao baixo nível das tarifas como aos altos padrões dos serviços”.43

Contudo, se tais serviços só podem ser economicamente

prestados em regime de monopólio, surge à necessidade de encontrar um meio

que supra o fator de equilíbrio das tarifas e da qualidade dos serviços; surge a

regulação da prestação dos serviços como forma de manter o equilíbrio

sistemático de determinado mercado.

A regulação dos monopólios naturais é expressa pela

utilização do poder legítimo e coativo do Estado objetivando alcançar fins sociais,

que de outra forma não seriam alcançados, ampliando-se o acesso aos bens e

serviços socialmente desejados a um menor custo ou melhores preços, corrigindo

as falhas de mercado ou problemas de informação, típicos dos monopólios

naturais, como o portuário.

No segmento portuário, a regulação exercida pela ANTAQ,

criada pela Lei n. 10.233, de 05 de junho de 2001, com as alterações introduzidas

pela Medida Provisória n. 2.217-3, de 04 de setembro de 2001, justifica-se como

forma de atendimento a determinados grupos sociais, cujos interesses demandam

a prática regulatória num ambiente monopolizado, podendo esses principais

grupos sociais serem caracterizados em três blocos: o dos empresários privados,

com maior poder de influência; o dos usuários da infra-estrutura portuária, que dão

43 PINTO, Bilac. Regulamentação efetiva dos serviços de utilidade pú blica . 2. ed. atualizada. por Alexandre Santos de Aragão. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 201.

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28

o necessário apoio social aos reguladores; e os próprios reguladores, buscando

aumentar seu poder político e social.44

Como podemos observar no atual sistema regulatório

brasileiro, a ANTAQ assume importante papel, especificamente quando se tem

como propósito estimular a concorrência num ambiente monopolizado

naturalmente45, caso da infra-estrutura portuária brasileira, que por suas

características não abriga a possibilidade de atuação de vários agentes

submetidos aos princípios constitucionais da livre concorrência e da competição.

A agência, enquanto referência regulatória do setor é o

espaço no qual as relações entre o Direito e a Economia devem coexistir de forma

equilibrada, onde a propriedade e a iniciativa privada deparam-se com os

interesses nacionais. A regulação do monopólio portuário deve ser norteada pela

capacidade de interpretação das transformações econômicas e sociais, aplicando-

se os instrumentos normativos ajustados à função social que lhe cabe

desempenhar, sem que isso signifique uma distorção influenciada por finalidades

político-partidárias, ou por resultados econômicos imediatos.46

Além de ser um monopólio natural, a prestação de serviços

públicos de infra-estrutura portuária é um monopólio legal. Assim, a função

regulatória assume destacado papel, impedindo a conduta abusiva por parte do

monopolista, cabendo à entidade reguladora orientar a formação do segmento,

bem como, intervir sempre que não houver consenso entre os agentes

econômicos que participem da atividade regulada, e impedir que os portos, antes

um monopólio estatal, transformem-se num monopólio privado.

Origina-se disso o dever da ANTAQ de regular,

supervisionando e fiscalizando, a implementação das políticas públicas

garantidoras do acesso ao serviço de infra-estrutura portuária a todos os agentes

econômicos integrantes da cadeia produtiva nacional, impedindo que os portos

figurem como ponto de estrangulamento, tanto operacional como financeiro, 44 LASHERAS, Miguel Angel. La regulación econômica de los servicios publicos . Barcelona: Ariel, 1999, p. 2. 45 Monopólio natural se configura em atividade econômica, cujo exercício pressupõe elevados custos fixos, com rentabilidade decrescente em função da economia de escala. Isso significa que a duplificação de uma infra-estrutura reduzirá a eficiência econômica da exploração. 46 GOMES, Orlando; VARELA, Antunes. Direito Econômico . São Paulo: Saraiva, 1977, p. 15.

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29

dificultando a capacidade de comercialização de bens e o transporte de

pessoas.47

2.6 SISTEMA NACIONAL DE VIAÇÃO – SNV

Os portos brasileiros integram o Sistema Nacional de

Viação – SNV, que é constituído pela infra-estrutura viária e pela estrutura

operacional dos diferentes meios de transporte de pessoas e bens, sob jurisdição

da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Sob a jurisdição da União está a malha viária nacional,

formada por eixos e terminais relevantes do ponto de vista da demanda de

transporte, da integração nacional e das conexões internacionais, estando

compreendido no SNV os elementos físicos da infra-estrutura viária existente e

planejada, definidos pela legislação vigente.48

Os objetivos essenciais do SNV são: a) dotar o país de

infra-estrutura viária adequada; b) garantir a operação racional e segura dos

transportes de pessoas e bens; e c) promover o desenvolvimento social e

econômico e a integração nacional.49

Como base conceitual para a implementação dos objetivos

do SNV é definido como infra-estrutura viária adequada aquela que torna mínimo

o custo total do transporte, este entendido como a soma de custos de

investimentos, de manutenção e de operação dos sistemas. Por operação racional

e segura, temos aquela que se caracteriza pela gerência eficiente das vias, dos

terminais, dos equipamentos e dos veículos, para fim de garantir a segurança e a

confiabilidade dos transportes.50

47 NUSDEO, Ana Maria de Oliveira. A regulação e o direito de concorrência. In: Direito administrativo econômico . São Paulo: Malheiros, 2000, p. 171. 48 Art. 3º da Lei n° 10.233, de 5 de junho de 2001. 49 Art. 4º da Lei n° 10.233, de 5 de junho de 2001. 50 Art. 4º, §§ 1° e 2° da Lei n° 10.233, de 5 de junh o de 2001.

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30

2.7 SECRETARIA ESPECIAL DE PORTOS

Objetivando priorizar as ações necessárias para maior

eficiência e eficácia na formulação de políticas e diretrizes para o desenvolvimento

do setor de portos marítimos e promover a execução e a avaliação de medidas,

programas e projetos de apoio ao desenvolvimento da infra-estrutura portuária

marítima e dos portos outorgados às companhias docas, foi instituída a Secretaria

Especial de Portos da Presidência da República, pela Lei n. 11.518, de 5 de

setembro de 2007.

Além desses objetivos, cabe a essa Secretaria a

participação no planejamento estratégico do setor de portos marítimos e da infra-

estrutura portuária marítima, a aprovação dos planos de outorgas e o

desenvolvimento da infra-estrutura dos portos sob sua esfera de atuação, visando

a segurança e a eficiência do transporte aquaviário de cargas e de passageiros.

Para tanto, foi observado o marco regulatório do setor,

mantidas integralmente as competências da Agência Nacional de Transportes

Aquaviários – ANTAQ.

As alterações na Lei n. 10.233, de 5 de junho de 2001,

resumiram-se a transferir do Ministério dos Transportes para a Secretaria Especial

de Portos as competências básicas relativas à infra-estrutura portuária marítima e

aos portos outorgados às companhias docas, bem como incluir Secretaria

Especial de Portos Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte –

CONIT. Além disso, a Secretaria Especial de Portos foi incluída no Conselho

Diretor do fundo de Marinha Mercante – CDFMM.

Visando a focalização e a priorização do desenvolvimento

da infra-estrutura portuária, essas alterações legais visaram assegurar a

integração dos diversos modais de transporte. Assim, continuou o Ministério dos

Transportes responsável pela formulação da política relacionada à Marinha

Mercante, vias navegáveis e portos fluviais e lacustres.

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Com essas medidas buscou-se dotar o setor portuário de

um órgão especializado, voltado para o seu desenvolvimento, viabilizando a ação

governamental, em articulação com a sociedade, para incremento da infra-

estrutura portuária marítima e dos portos outorgados às companhias docas,

contribuindo para a manutenção e o aumento das exportações brasileiras, bem

como para a ampliação de sua competitividade.

Com exceção das matérias relacionadas às Companhias

Docas, ao Ministério dos Transportes passaram a competir as matérias ligadas à

política nacional de transportes ferroviário, rodoviário e aquaviário; à marinha

mercante, vias navegáveis e portos fluviais e lacustres; e a participação na

coordenação dos transportes aeroviários e serviços portuários.

À Secretaria Especial de Portos compete assessorar direta

e imediatamente o Presidente da República na formulação de políticas e diretrizes

para o desenvolvimento e o fomento do setor de portos e terminais portuários

marítimos e, especialmente, promover a execução e a avaliação de medida,

programas e projetos de apoio ao desenvolvimento da infra-estrutura e da

superestrutura dos portos e terminais portuários marítimos, bem como dos

outorgados às companhias docas, competindo-lhe: a) a formulação, coordenação

e supervisão das políticas nacionais; b) a participação no planejamento

estratégico, o estabelecimento de diretrizes para sua implementação e a definição

das prioridades dos programas de investimentos; c) a aprovação dos planos de

outorgas; d) o estabelecimento de diretrizes para a representação do Brasil nos

organismos internacionais e em convenções, acordos e tratados referentes às

suas competências; e e) o desenvolvimento da infra-estrutura e da superestrutura

aquaviária dos portos e dos terminais portuários sob sua esfera de atuação,

visando à segurança e a eficiência do transporte aquaviário de cargas e de

passageiros.

Para a Secretaria Especial de Portos foram transferidas as

competências relativas a portos marítimos, portos de vias interiores, portos

outorgados ou delegados e aos diversos segmentos e modalidades de

navegação, estabelecidas em leis gerais ou específicas ao Ministério dos

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Transportes e ao Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes –

DNIT.

2.8 COMPETÊNCIAS DA AGÊNCIA REGULADORA – ANTAQ

O órgão regulador da atividade portuária no Brasil é a

Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), que foi criada pela Lei n.

10.233, de 05 de junho de 2001, cujo regulamento está previsto no Anexo I do

Decreto n. 4.122, de 13 de fevereiro de 2002:

Art. 1º - A Agência Nacional de Transportes Aquaviários –

ANTAQ, criada pela Lei n. 10.233, de 05 de junho de 2001, tem

sede e foro no Distrito Federal, com personalidade jurídica de

direito público, submetida ao regime autárquico especial e

vinculada ao Ministério dos Transportes, com a qualidade de

órgão regulador das atividades portuárias e de transporte

aquaviário.51

Aragão, sobre as agências reguladoras brasileiras, sustenta

que “são autarquias de regime especial, dotadas de considerável autonomia frente

à Administração Central do Estado”.52 Assim, a ANTAQ é vinculada, porém não

subordinada ao Ministério dos Transportes, com regime autárquico especial, e

possui independência administrativa, autonomia financeira, e mandado de quatro

anos de seus dirigentes.

A Agência tem por objetivos, in verbis: a) implementar as

políticas formuladas pelo Governo; b) regular ou supervisionar as atividades de

prestação de serviços e de exploração da infra-estrutura de transportes, de forma a

garantir a movimentação de pessoas e bens, em cumprimento a padrões de

eficiência, segurança, conforto, regularidade, pontualidade e modicidade nos fretes

e tarifas; e c) harmonizar, preservando o interesse público, os objetivos dos

51 Art. 1º do Anexo I do Decreto n. 4.122, de 13 de fevereiro de 2002. 52 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Agências Reguladoras e a Evolução do direito administrativo econômico. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 275.

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usuários, arbitrando conflitos de interesses e impedindo situações que configurem

competição imperfeita ou infração da ordem econômica.53

Pode-se afirmar que as competências complexas das

quais as agências reguladoras independentes são dotadas, fortalecem o Estado de

Direito, vez que, ao retirar do emaranhado das lutas políticas a regulação de

importantes atividades sociais e econômicas, atenuando a concentração de

poderes na Administração Pública Central, alcançam, com melhor proveito, o

escopo maior, não meramente formal, da separação de poderes.

Assim, garante-se eficazmente a segurança jurídica, a

proteção da coletividade dos indivíduos empreendedores de tais atividades ou por

elas atingidos, mantendo-se sempre a possibilidade de interferência do Legislador,

seja para alterar o regime jurídico da agência reguladora, ou mesmo para extingui-

la.54

Entre as competências da ANTAQ, estão: a) elaborar e

editar normas e regulamentos relativos à exploração da infra-estrutura portuária;

estabelecer normas e padrões a serem observados pelas autoridades portuárias,

nos termos da Lei n. 8.630; b) celebrar atos de outorga de permissão ou

autorização de prestação de serviços de transportes pelas empresas de navegação;

c) controlar, acompanhar e proceder à revisão e ao reajuste de tarifas, nos casos de

serviços públicos de transporte de passageiros; d) julgar as licitações e celebrar os

contratos de concessão para exploração dos portos organizados, nos termos da Lei

n. 8.630; e) adotar normas e procedimentos no sentido de que a exploração da

infra-estrutura e a prestação de serviços de transporte se exerçam de forma

adequada, satisfazendo as condições de regularidade, eficiência, segurança,

atualidade, generalidade, cortesia na prestação do serviço, e modicidade nas

tarifas.

Cabe à ANTAQ, como agência reguladora apta a exercer

intervenção no domínio econômico aquaviário, reger-se pelos atributos da

53 ANTAQ. Regimento interno, art. 3º aprovado pela Resolução n. 646 , de 06.10.2006 (alterado pela Resolução n. 1021, de 24.04.2008. 54 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Agências Reguladoras e a Evolução do direito administrativo econômico. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 376.

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regulação de monopólios e competição, assumindo o papel de autêntica agência

reguladora, através de uma administração pluralista e pluriorganizada.55

A prevenção e a repressão às infrações contra a ordem

econômica são atribuições do Conselho Administrativo de Defesa Econômica –

CADE, autarquia federal com atribuições executórias e postulatórias, que de modo

conjunto e acessório com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários –

ANTAQ, visam estabelecer uma economia justa e competitiva.

2.9 ANTAQ E CADE NA DEFESA DA CONCORRÊNCIA

Constituem a esfera de atuação da ANTAQ: a) a

navegação fluvial, lacustre, de travessia, de apoio marítimo, de apoio portuário, de

cabotagem e de longo curso; b) os portos organizados e as Instalações Portuárias

Públicas de Pequeno Porte; c) os terminais portuários privativos e as Estações de

Transbordo de Cargas; d) o transporte aquaviário de cargas especiais e

perigosas; e e) a exploração da infra-estrutura aquaviária federal.56

Atuando em nível federal, a ANTAQ tem entre suas funções

o exercício do Poder Concedente, pelo qual lhe compete estabelecer as condições

mediante as quais é possível a transferência para a iniciativa privada das

atividades relacionadas ao transporte aquaviário.

Visando a movimentação intermodal mais econômica e

segura de pessoas e bens, é disposto que a ANTAQ deve articular-se com as

demais agências reguladoras setoriais para resolução das interfaces do transporte

aquaviário com as outras modalidades de transporte, inclusive harmonizando sua

esfera de atuação com a de órgãos dos Estados e dos Municípios encarregados

do gerenciamento das operações de transporte aquaviário intermunicipal e

urbano. Dentro de sua esfera de atuação, cabe à agência:

55 BIOLCHINI, Monique Calmon de Almeida. Regulação do Transporte Aquaviário: a regulação da outorga de autorização. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2005, p. 152. 56 Art. 23 da Lei n. 10.233, de 5 de junho de 2001, com a redação dada pela Medida Provisória n. 2.217-3, de 4 de setembro de 2001, e as inclusões introduzidas pela Lei n. 11.518, de 5 de setembro de 2007.

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35

a) promover estudos específicos de demanda de serviços

portuários, bem como os aplicados às definições de tarifas, preços e fretes,

estabelecendo normas e padrões a serem observados pelas autoridades

portuárias;

b) aprovar as propostas de revisão e de reajuste de tarifas

encaminhadas pelas Administrações Portuárias, após prévia comunicação ao

Ministério da Fazenda;

c) propor ao Ministério dos Transportes os planos de

outorgas, instruídos por estudos específicos de viabilidade técnica e econômica,

para exploração da infra-estrutura e a prestação de serviços de transportes

terrestre; e

d) publicar os editais, julgar as licitações e celebrar os

contratos de concessão para exploração dos portos organizados, celebrar os

respectivos atos de outorga para a exploração da infra-estrutura aquaviária e

portuária, gerindo e fiscalizando os respectivos contratos e demais instrumentos

administrativos, e celebrar atos de outorga de permissão ou autorização de

prestação de serviços de apoio portuário, gerindo os respectivos contratos e

demais instrumentos administrativos.

Não obstante as competências legalmente atribuídas à

ANTAQ, diversas situações podem implicar conflitos de competência entre os

poderes: federal, estadual e municipal, cuja solução dependerá de decisão alheia

ao agente regulador. Situação evidente da possibilidade de instalação de conflitos

é o caso de monopólios, uma vez que diante dessa situação estaremos na órbita

de atuação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE.

Nesse sentido, no ato de criação da Agência ficou expressa

a forma de relacionamento entre essas entidades, sendo estabelecido que as

infrações de abuso de poder econômico devem ser comunicadas ao CADE pela

ANTAQ. No mesmo sentido, é possível o conflito de competência entre a agência

e os órgãos de defesa dos usuários de serviços públicos. Tratando-se de conflitos

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envolvendo entidades dentro da mesma esfera de poder da Federação, a solução

reside no âmbito do poder hierárquico do administrador.57

Quanto às administrações portuárias, compete à ANTAQ a

supervisão e a fiscalização das atividades desenvolvidas por aquelas nos portos

organizados. Nessa atribuição de competência, incluem-se as administrações dos

portos objeto de convênios de delegação celebrados pelo Ministério dos

Transportes nos termos da Lei n. 9.277, de 10 de maio de 1996.

Para tanto, a ANTAQ no exercício de suas atribuições,

deve observar as prerrogativas específicas do Comandante da Marinha e atuar

sob sua orientação em assuntos de Marinha Mercante, que interessem à defesa

nacional, à segurança de navegação aquaviária e à salvaguarda da vida humana

no mar, devendo ser consultada quando do estabelecimento de normas e

procedimentos de segurança que tenham repercussão nos aspectos econômicos

e operacionais da prestação de serviços de transporte aquaviário.58

Com o objetivo de alcançar um sistema equilibrado e

competitivo, tratar-se-á no próximo capítulo, dos meios para assegurar os

interesses dos agentes econômicos da atividade portuária, bem como da

efetividade dos órgãos reguladores responsáveis pelo setor.

57 Arts. 55 e 56 da Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. 58 Art. 51 – A da Lei n. 10.233, de 5 de junho de 2001.

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CAPÍTULO 3

REGULAÇÃO E DEFESA DA CONCORRÊNCIA DO TRANSPORTE AQUAVIÁRIO E DA ATIVIDADE PORTUÁRIA

Neste capítulo será feita a análise da legislação e dos órgãos

competentes pela regulação e concorrência do transporte aquaviário e da

atividade portuária.

3.1 REGULAÇÃO DA CONCORRÊNCIA PORTUÁRIA

Em relação à questão da concorrência entre portos, “a idéia

permeia o sistema pós 1990 com a extinção da Portobrás e promove a

concorrência entre portos, apesar da responsabilidade única do Ministério dos

Transportes, da continuidade da administração pelas Companhias Docas e de

uma natural concentração de cargas em Santos [...]”.59

Em que pesem essas restrições institucionais à

concorrência entre portos, existe ainda as barreiras de custo de transporte

terrestre, de existência de instalações apropriadas a cada tipo de carga, de

freqüência de navios de/para os diversos mercados/fontes de suprimento,

estrutura de mercado das cadeias de transportes e movimentação, principalmente

das ferrovias e dos terminais de carga geral.60

Destaca-se também, a atual assimetria de custos entre os

terminais que se localizam dentro e fora da área do porto organizado, determinada

fundamentalmente pelo fato de não-obrigatoriedade de utilizarem mão-de-obra

avulsa sindicalizada. Não obstante ser esta uma excelente forma de induzir

reduções de custo nas operações dos portos públicos representa, sem dúvida,

uma discriminação. Some-se ainda, o fato de que não existem critérios

regulatórios definidos para o estabelecimento dessas áreas dos portos, tornando

frágil essa estratégia e pouco transparentes as ações de governo nessa matéria. 59 OLIVEIRA, C., e MATTOS, C. Defesa da Concorrência nos Portos . Brasília: CADE, 1997, p. 3. 60 Conforme ADPF n. 139 ajuizada em 02 de abr. de 2008 pela ABRATEC – Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres de uso Público, momento que a ABRATEC pessoa jurídica de direito privado alega arguição de inconstitucionalidade do art. 4°, § 2°, II, alínea b, da Lei n. 8.630/93 por ofensa aos arts. 21, XII,”f”, e 175 da CF/88.

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Outro ponto que merece destaque concerne às políticas

tarifárias para os serviços de utilização de instalações de uso comum.

Tipicamente, essas instalações estarão sob a tutela direta ou indireta (via

contratos de arrendamento) da administração portuária, seja pública ou privada, e,

portanto, ensejando a apropriação de rendas monopolísticas, ou ainda

desincentivos à atuação eficiente dos agentes do setor.

O exercício da competência do Conselho de Autoridade

Portuária - CAP no sentido de homologar as tarifas portuárias deve, portanto, ser

amparado por critérios e sistemas de informação adequados, de forma a reprimir,

nessa primeira instância, práticas abusivas ou, pró - ativamente, orientar a correta

formação de preços por parte das administrações portuárias.

No caso portuário, o controle centralizado das instalações

de uso comum, ou mesmo de grandes terminais concentradores, faz com que

esses serviços adquiram um caráter exclusivo. Isso, por um lado, faculta seu uso

comercial, mas, por outro, no tocante às condições de produção, limita a oferta a

um único agente. O elemento limitante nesses casos seria a magnitude dos custos

(quebra-mar, canal de acesso, píer, etc) exigidos para a entrada de novas

empresas no setor, ante o tamanho do mercado.

Com efeito, o regime tarifário dessas instalações pode ser

definido por um conjunto de regras de fixação das tarifas, pelas formas de

aplicação (tarifas: única; por tempo de utilização; por tonelada movimentada; por

calado ou porte bruto das embarcações), bem como pelos tipos de serviço sobre

os quais as tarifas incidem (por exemplo, atividades ou serviços agrupados ou

desagregados).

No tocante às regras de fixação, os principais regimes

conhecidos e discutidos na literatura incluem: taxa de retorno; tarifa máxima ou

teto; tarifa definida pelo custo, destacando-se o marginal; e desempenho

comparativo. A aplicação de cada uma dessas regras apresenta vantagens e

desvantagens diferenciadas, tendo em vista o modelo institucional a ser adotado

para as administrações portuárias e a atual configuração dos CAPs.

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Por outro lado, olhando pelo lado da desejada atuação

comercial das administrações portuárias, tem-se que a formulação de preços por

estas deverá passar a ser um instrumento gerencial. Para esse efeito, são dois os

aspectos básicos a serem considerados.

Em primeiro lugar, a estratégia de formulação de preços

deve se basear na compreensão objetiva da rentabilidade da empresa,

considerando simultaneamente: a) qual é a estrutura de custos, e como esses

custos se comportam; e b) qual a disposição manifestada do cliente em pagar, e

de que forma seu comportamento pode ser influenciado.

Outra matéria de interesse sob o tema da regulação engloba

a relação umbilical de propriedade e conflito de interesse nos elos da cadeia

logística que envolve os portos, tanto do lado terrestre, como na navegação. Os

casos recentes de fusão de grandes ferrovias norte-americanas exemplificam bem

essa situação.

O serviço de praticagem é outra área onde se apresentam

sérias questões de regulação. De fato, em função das especificidades locais

desses serviços, configurados ao longo do tempo em que os recursos de

navegação eram limitados, desenvolveu-se um caso emblemático de captura

entre reguladores e regulados.

As restrições à livre oferta de serviços impostas pelos

reguladores, ou mesmo a obrigatoriedade dos serviços onde não mais se

justificam, tem propiciado diversas sugestões de aperfeiçoamento, em prol da

redução de custos e do aumento da segurança da navegação.61

A concorrência entre portos tem como principais objetivos

aumentar a competitividade do sistema portuário face aos concorrentes

estrangeiros, garantindo assim níveis de qualidade e preço adequado à

competitividade, garantir a modernidade do sistema, criando e desenvolvendo

infra-estruturas portuárias modernas que ofereçam um bom serviço e possam

receber os modernos navios com altos desempenhos.

61 PINHEIRO, Armando Castelar. A Privatização no Brasil – Os casos dos serviços de utilidade pública. Rio de Janeiro: BNDES, 2000, p. 264-267.

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Além disso, visa garantir o futuro do sistema e a sua

expansão, olhando o longo prazo e o interesse nacional e não interesse de curto

prazo, racionalizar o uso do investimento público realizado e definir vocações e

complementaridades para as políticas de desenvolvimento de cada porto, apenas

no que respeita a investimento público a aplicar.

3.2 COMPETÊNCIAS DA ANTAQ E DO ÓRGÃO DE PROTEÇÃO À CONCORRÊNCIA

Na falta de um controle eficaz, que atue de forma restritiva à

concorrência ou realize atos de concentração tendentes à limitação da

concorrência no setor, sendo um agente público a ANTAQ está obrigada a

promover a regulação orientada pelos postulados do Direito da Concorrência. Em

face das características do mercado em questão, isso significa garantir a estrutura

de mercado eficiente que permita a prestação do serviço público com qualidade,

de forma universal e contínua e com modicidade tarifária.

A Lei n. 8.884/94, logo no seu parágrafo 1º, identifica a sua

finalidade: prevenir e reprimir as infrações contra a ordem econômica.

Art. 1º - Esta lei dispõe sobre a prevenção e a repressão às

infrações contra a ordem econômica, orientada pelos ditames

constitucionais de liberdade de iniciativa, livre concorrência,

função social da propriedade, defesa dos consumidores e

repressão ao abuso do poder econômico.

A repressão à ordem econômica volta-se contra aquelas

condutas empresariais que reduzem o bem-estar econômico e social. A

jurisprudência do Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE

acompanha nesse sentido, a jurisprudência internacional segundo a qual uma

conduta só é anticompetitiva quando afeta a eficiência econômica como um todo.

Já a prevenção das infrações constitui-se no controle das

estruturas de mercado, de maneira a impedir que estruturas ineficientes sejam

criadas a partir de atos e contratos de quaisquer formas manifestados. Nota-se

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que o CADE não impede nem mesmo a formação de monopólios, desde que essa

seja a estrutura de mercado mais adequada na busca da eficiência econômica.

Nas duas dimensões da lei repressiva e preventiva, cabe ao

CADE a busca das condições de mercado que maximizam a eficiência e o bem

estar econômico social. Por essa razão qualquer ação, seja de agente público ou

privado, que afete um mercado relevante de bens e serviços de maneira negativa,

abrindo espaço para ineficiência econômica, é passível de repressão. O artigo 15

não deixa dúvida quanto à possibilidade de responsabilização de agentes

públicos.

Art. 15 - Esta lei aplica-se às pessoas físicas ou jurídicas de

direito público ou privado, bem como a quaisquer associações de

entidades ou pessoas, constituídas de fato ou de direito, ainda

que temporariamente, com ou sem personalidade jurídica, mesmo

que exerçam atividade sob regime de monopólio legal.

Ao se tratar dos relacionamentos entre sistemas de defesa

da concorrência e órgãos reguladores devem ser levados em consideração dois

aspectos. Em primeiro lugar, a necessidade de se assegurar uma aplicação

uniforme e sistemática do Direito e das políticas concorrenciais do país como um

todo. Do contrário, se as agências se pusessem a aplicá-los por sua conta, correr-

se-ia o risco de incoerência e fragmentação da política de concorrência. Além

disso, é conveniente que as agências, dotadas da capacitação técnica apropriada,

sejam aproveitadas no tratamento de problemas que freqüentemente envolvem

questões de grande especificidade e tecnicidade.62

No entanto, a transferência de poderes exclusivos às

agências é uma alternativa perigosa, tomando-se em consideração o risco de sua

captura pelos interesses regulados, à medida que o contato reiterado com os

62 ROCHA, Bolívar Moura. Articulação entre regulação de infra-estrutura e de fesa da concorrência. Revista Instituto Brasileiro de Estud o das Relações de Concorrência e Consumo – IBRAC, vol. 7, 1998, p. 47-48.

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agentes econômicos atuantes no setor tende a produzir uma identificação entre os

interesses dessas empresas e os dos funcionários das agências.63

O CADE deve decidir sobre os processos instaurados e

sobre recursos de ofício das decisões da Agência pelo arquivamento de

processos administrativos, nos termos estabelecidos pelos incisos II, III e IV do

artigo 7° da Lei n. 8.884/94.

Art. 7º . Compete ao Plenário do CADE:

II. decidir sobre a existência de infração à ordem econômica e

aplicar as penalidades previstas em lei;

III. decidir os processos instaurados pela Secretaria de Direito

Econômico do Ministério da Justiça;

IV. decidir os recursos de ofício do Secretário da SDE.

A conclusão decorrente de uma análise sistemática em

cotejo com a disciplina legal de proteção à concorrência, permite afirmar que as

agências detêm o dever funcional para promover a concorrência, zelando para

que os sistemas de atribuição de concessões, autorizações e permissões levem

em conta a necessidade de que os mercados envolvidos funcionem em

competição.

No mesmo sentido, devem ter essa atenção ao lidarem com

questões relativas aos acessos por prestadoras de serviço às redes, sistemas e

estruturas em geral quando necessário para a viabilização da concorrência na

prestação do serviço e na exploração da atividade.

As agências reguladoras, no entanto, estarão extrapolando

a sua competência se aplicarem por sua conta as regras e as penalidades

contidas na Lei n. 8.884, de 1994. A constatação da existência de possíveis

infrações à ordem econômica deverá dar ensejo ao procedimento de

investigações estabelecido na Lei n. 8.884, de 1994, culminando com uma

decisão do CADE.

63 NUSDEO, Fábio. Fundamentos para uma Codificação do Direito Econômi co . São Paulo: Editora RT, 1995, p. 122 – 139.

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Existe no Direito Brasileiro, no entanto, a possibilidade de

ingresso em juízo do CADE para a defesa da competição nos mercados. Com

efeito, sendo o CADE uma autarquia, tendo personalidade jurídica própria e sendo

estruturado para a realização de atividades determinadas, é possível o seu

ingresso em juízo para defender as condições de desempenho das funções a ele

atribuídas na lei de sua instituição e na legislação em geral.

Este tipo de demanda judicial estaria fundado na sua

atribuição de zelar pela observância da Lei de Defesa da Concorrência,

estabelecida pelo inciso I do artigo 7º da Lei n. 8.884 de 1994, e, ainda nos

dispositivos da legislação sobre os setores privatizados que lhe incube reprimir as

práticas prejudiciais à livre concorrência.

O inciso I, artigo 20, da Lei n. 8.884/94 deixa clara a

possibilidade de uma agência reguladora ser responsabilizada por infração à

ordem econômica.

Art. 20. Constituem infrações da ordem econômica,

independentemente de culpa, os atos sob qualquer forma

manifestados que tenham por objeto ou possam produzir os

seguintes efeitos, ainda que não sejam alcançados:

I. limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre

concorrência ou a livre iniciativa;

Por sua vez, a implantação e a manutenção da concorrência

nos setores privatizados tenderão a ser tanto mais efetivas quando for coesa a

articulação das autoridades antitruste e das agências reguladoras. Existem outros

mecanismos, mais informais, que permitem a participação do CADE no

desempenho, pelas agências, das funções de regulação dos setores privatizados

em questão.

Em primeiro lugar, a participação das autoridades antitruste

nas audiências públicas que precedem a adoção de seus atos normativos. Em

segundo lugar, o estabelecimento de convênios entre órgãos de defesa da

concorrência e as agências reguladoras poderia propiciar uma cooperação e

intercâmbio de experiências e conhecimentos tais que não se pusesse, na prática,

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a necessidade de o CADE impugnar as normas expedidas pelas agências. Nesse

último caso estaria sendo aproveitada a competência consultiva da autarquia,

estabelecida no inciso XVII do artigo 7º da Lei n. 8.884, de 1994.

Mesmo fora do âmbito de um convênio, as agências

reguladoras poderiam formular consultas ao CADE, com base no mencionado

artigo 7º da Lei de Proteção à Concorrência, que foi disciplinado em maior detalhe

pela Resolução n. 18, de 25 de novembro de 1998, conforme a qualquer

interessado, inclusive órgãos e entidades públicos, pode consultar o CADE em

matéria de sua competência.

3.3 PRINCÍPIOS DA DEFESA DA CONCORRÊNCIA PORTUÁRIA

Na Administração Pública, “Toda atividade administrativa do

Estado é norteada pelos princípios da supremacia e da indisponibilidade do

interesse público”.64 Para realizar suas funções, a Administração Pública recorre

freqüentemente a colaboração de terceiros, para melhor cumprir suas finalidades.

Significa afirmar a impossibilidade de autorizar qualificação de organizações

sociais sem adoção de cautelas severas e rigorosas, destinadas a evitar práticas

reprováveis.

Assim, nas palavras de Bandeira de Mello “todos estes

princípios vigoram segundo determinadas condições, regulamentação e limites,

admitindo variantes, temperamentos e qualificações particulares à vista do

significado singular que assumem em função da legislação [...] sem embargo,

desempenham o papel de guia; norte que orienta a compreensão [...]”.65

Conclui-se que os princípios constituem diretrizes mestras

do sistema jurídico no qual se encontram inseridos, e tem como finalidade nortear

os objetivos a serem perseguidos pela sociedade, pelo Poder Público e Privado.

Feita essa menção preliminar, passamos em seguida a avaliar os princípios:

64 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo . São Paulo: Malheiros, 1993, p. 16. 65 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo . 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 55.

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3.3.1 PRINCÍPIO DA SOBERANIA NACIONAL

Este elemento decorre da secular Teoria do Estado, pelo qual

são ressaltados os valores da independência nacional, e cumulativamente o

respeito igualitário entre as Nações. Na nova doutrina tratadista, o conceito de

soberania, teve alguns aspectos amputados, em busca da integração estatal,

como prescreve Celso Ribeiro Bastos:

“Se por soberania quisermos entender um poder absolutamente

irrefreado, o mais sensato é reconhecer que essa noção não é a

mais útil nos tempos modernos e mesmo historicamente e, o mais

provável, é que ela tenha sido a expressão de nenhuma realidade

objetiva. Um poder absolutamente infrene jamais existiu a

começar pela óbvia razão de que todo exercício do poder está

condicionado a circunstâncias de ordem econômica, social,

demográfica, até mesmo tecnológica, que não podem ser

alteradas por manifestações unilaterais do poder”.66

No que tange à atividade portuária em conexão com o

conceito atual de soberania, necessitamos, ventilar a noção da vontade soberana

do Estado, na regência do ordenamento que regrará o Porto e suas atribuições,

com prioridade surge como princípio geral da atividade econômica a soberania

nacional.

Faz valer este norte a lição imperativa de que nenhuma

vontade estranha a da Nação-sede pode se sobrepor - em legitimidade e

legalidade - à determinação pátria, sob pena de desconsideração do princípio da

autodeterminação dos povos.

E assim, nas palavras de Eros Roberto Grau, “a soberania

econômica nacional não supõe o isolamento econômico, mas antes, pelo

66 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Teoria do Estado e Ciência Política . 6. ed. São Paulo: Celso Bastos, 2004, p. 97-98.

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contrário, a modernização da economia, da sociedade e da ruptura de nossa

situação de dependência em relação a sociedades desenvolvidas”.67

3.3.2 PRINCÍPIO DA GARANTIA DO DESENVOLVIMENTO NACI ONAL

Visualizando o desenvolvimento nacional, os portos não

devem ser tratados como meros agentes comerciais por parte dos entes

governamentais. Ademais, o ordenamento portuário deve buscar a primazia pela

obtenção do desenvolvimento nacional, mediante a concorrência operacional.

“Assim, as alterações efetivamente realizadas na Lei n. 8.630/93

buscaram implantar uma política de modernização do setor

portuário, com o aumento da competitividade nos portos

brasileiros e conseqüente elevação da produtividade, em especial

com a privatização dos portos públicos. Utilizou-se nova postura

política, objetivando a construção de novos berços e terminais,

bem como a exploração de instalações portuárias por meio do

arrendamento e locação dos portos públicos; criou-se a figura dos

Terminais Privativos de Uso Misto e Terminais Arrendados,

objetivando maior competitividade na área das exportações,

mediante ganhos de eficiência e produtividade, numa clara

aplicação aos princípios da lei de mercado”. 68

Porém, se em um prato da balança compete exclusivamente

aos portos o alcance do desenvolvimento, noutro é obrigação primária do Governo

fomentar a atividade portuária com o fito de assegurar a competitividade externa,

através de taxas condizentes, celeridade de escoamento, segurança negocial,

entre outros.

Sob égide deste princípio é inaceitável que a legislação

portuária tenha aplicação retrógrada, ou descompassada com a realidade

67 GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988 . 3. ed. atualizada. São Paulo: Malheiros, 2008, p. 225. 68 STEIN, Alex Sandro. Curso de Direito Portuário . São Paulo: LTr, 2002, p.47.

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universal, ceifando a evolução e o desenvolvimento do Brasil, em prevalência de

questões meramente formalistas.

“Daí por que a idéia de desenvolvimento nacional, patrocinada

pelas Constituições contemporâneas, dentre as quais sobreleva,

pela sua expressão taxativa, a brasileira (art. 3º, I), põe-se no

sentido de aperfeiçoamento das condições de todas as pessoas

que compõem o Estado. O egoísmo individual não convive com o

princípio da justiça social. Aliás, egoísmo não convive, contracena,

faz de conta para manter tudo igual e intangível ao contato de

terceiros”.69

3.3.3 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE

“O princípio da proporcionalidade consiste, basicamente, no

dever de não serem impostas obrigações, restrições ou serviços em medida

superior aquela estritamente necessária ao atendimento do interesse público,

segundo critérios negociáveis de adequação dos meios aos fins.”70

E assim, nesse sentido, a instituição da regulação deve

necessariamente atender ao princípio da proporcionalidade, em todos os seus

elementos constitutivos (elemento a adequação, elemento a necessidade e

proporcionalidade em sentido estrito), tanto nos seus aspectos negativos como

comissivos, buscando-se assegurar a não imposição de regulações contrárias ao

interesse público.71

69 ROCHA, Carmem Lucia Antunes. O princípio constitucional da função social da propriedade. Revista Latino Americana de Estudos Constitucionais . Belo Horizonte, 2003, p. 579. 70 MEDAUAR, Odette. Direito Administrativo Moderno . São Paulo: Revista dos Tribunais, 8. ed., 2003, p. 152. 71 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Agências Reguladoras e a Evolução do Direito Administrativo . Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 130.

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3.3.4 PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA

As noções de eficiência e de concorrência não podem ser

conflitantes, considerando que é a própria concorrência que induz a eficiência. Por

isso, as integrações que buscam eficiência devem ser entendidas como benéficas

para o mercado, desde que levem à redução de preço dos produtos ofertados no

mercado.

Cabe ao Estado tutelar o mercado competitivo como um bem

jurídico. Instituído pela Emenda Constitucional n. 19, de 04 de junho de 1998,

leciona que a administração dos órgãos públicos deve ser desempenhada com

presteza, desenvoltura, perfeição e rendimento funcional. O axioma contido neste

princípio importa em efetivar os resultados de interesse público.

Para Alexandre de Moraes:

“Princípio da eficiência é aquele que impõe à Administração Pública

direta e indireta e a seus agentes a persecução do bem comum,

por meio de exercício de suas competências de forma imparcial,

neutra, transparente, participativa, eficaz, sem burocracia e

sempre em busca da qualidade, primando pela adoção de critérios

legais e morais necessários para a melhor utilização possível dos

recursos públicos, de maneira a evitar-se desperdícios e garantir-

se uma rentabilidade social.”72

Este primado, nas docas do direito portuário é de relevância

imensurável, em atendimento da função do porto, que, por sua natureza deve ser

eficiente na confecção dos resultados pretendidos.

3.3.5 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Com o objetivo de erradicar o absolutismo da vontade

governamental, e em igual medida o poder arbitrário do Estado consagrou-se que

ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude

72 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional . 14. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 317.

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de Lei. Sobre certo panorama é uma garantia que combate a vontade caprichosa

do detentor do poder.

Além deste genérico conceito, em sentido restrito à

administração pública, na qual se enquadram os portos explorados diretamente

por órgãos federados, ou de poderes delegados, observa-se que o administrador

está sujeito às exigências do bem comum, e deles tem o dever de assim fazer.

Enquanto na administração privada é autorizado realizar o que a lei não proíbe, no

setor público somente é autorizado fazer o que a lei permite.

“Cumprir simplesmente a lei na frieza de seu texto não é o mesmo

que atendê-la na sua letra e no seu espírito. A administração, por

isso, deve ser orientada pelos princípios do Direito e da Moral,

para que ao legal se ajunte o honesto e o conveniente aos

interesses sociais”.73

Destarte, deve o envolvido com a administração portuária

portar-se em harmonia com os princípios de antemão elencados para além de

apresentar-se legalmente, este seu dever de agir seja consoante às necessidades

que o moveram.

3.3.6 PRINCÍPIO DA IGUALDADE

Este princípio leva à obrigatoriedade de um comportamento

que respeite a igualdade de direito de todos os integrantes do mercado, bem

como de não adotar comportamentos que impeçam a entrada no mercado ou

fornece a eliminação de um concorrente. O princípio da igualdade se refere à

possibilidade de atuação garantida a todos, independentemente do seu tamanho

estrutural.

Este princípio serve de fundamento para o princípio da não-

discriminação e tem como conseqüência a não-exclusividade. Consagra a Carta

Cidadã de 1988, que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

73 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo brasileiro . 25. ed. atual. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 83.

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natureza, o que reflete o primado da isonomia. Estas expressões reproduzem em

seu bojo a intenção de não-diferenciação das pessoas e que fazem jus a

tratamento idêntico pela lei, em conformidade com os critérios chancelados pelo

ordenamento jurídico positivo. Conforme versou Moraes, “o que se veda são as

diferenciações arbitrárias, as discriminações absurdas, que aleija o próprio

conceito de Justiça”.74

No que tange ao estudo da regulamentação portuária, é

salutar analisar a importância da isonomia conferida aos brasileiros e estrangeiros

residentes no País, no espectro dos Direitos e Garantias Individuais, por

inteligência do caput do artigo 5º, da Constituição Federal. Nesta ordem ainda é

útil de paráfrase a concessão de igualdade de direitos entre os trabalhadores com

vínculo empregatício permanente e os trabalhadores avulsos.

Grandiosa a relevância do instituto cabeça do

mencionado artigo na estalagem normativa dos portos. É de notório conhecimento

e de domínio público que, pelas vias da área portuária andam inúmeros Homens,

de variadas nacionalidades, credos, origens raciais e que à luz da ordem

constitucional brasileira gozam dos mesmos direitos e iguais garantias dos aqui

paridos, nossos conterrâneos.

3.3.7 PRINCÍPIO DA LIVRE CONCORRÊNCIA

A instalação da Lei de Modernização dos Portos deu-

se em meio a monopólios rochosos, fincados nas docas, que relutaram em ceder

suas prerrogativas, em típica conduta egoísta. Com a implantação de preceitos

novéis para a ordem econômica advindas da Constituição Federal sucumbiram os

grilhões para a manifestação da liberdade de iniciativa, com expressão

autorização à repressão ao abuso do poder econômico que mirar a dominação

dos mercados, à eliminação da concorrência e o aumento desenfreado dos lucros.

74 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional . 14. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 64.

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Em suma, o espírito da lei que dispõe sobre o regime

jurídico da exploração dos portos organizados e das instalações portuárias é

nutrido e impulsionado para assegurar definitivamente a concorrência, protegida

de embates afrontosos pela atuação regulatória do Estado. Ademais, este mesmo

diploma, impõe não somente a concorrência dentro dos portos organizados, bem

como entre os portos organizados, objetivando brindar os usuários com custos

menores e melhor qualidade na prestação do serviço.

3.3.8 PRINCÍPIO DA LIVRE INICIATIVA

O direito da propriedade individual e sua conseqüência

lógica, o princípio da liberdade de iniciativa são o sustentáculo e a justificativa

para a atuação dos integrantes do mercado em regime concorrencial, bem como

ainda a fundamentação da legislação antitruste que pretende exatamente

resguardar a independência de cada participante.

A liberdade iniciativa não pode prescindir da

intervenção do Estado, sendo a defesa da concorrência uma forma de assegurar o

livre exercício da atividade econômica. Conforme já proclamado pelo CADE:

“... a economia de mercado é o pilar de sustentação do

sistema capitalista. A livre iniciativa, princípio consagrado na

Constituição, requer para a sua concreção indivíduos livres

que possam exercer a atividade econômica de sua escolha,

evidentemente, nos limites da lei. Mas não existe liberdade

sem tutela. De uma concepção liberal da liberdade, passou-

se a uma concepção social, que transformou o Estado de

guardião da propriedade privada e do contrato livremente

pactuado em promotor de interesse público”.75

Nesse sentido, “A defesa da concorrência é o único

mecanismo possível de se assegurar a livre iniciativa e conter o abuso do poder

econômico. Este não é algo ruim, sendo às vezes até indispensável. Mas pode ser

75 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Agências Reguladoras e a Evolução do direito administrativo econômico. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 386.

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perverso, tanto na origem, em razão dos métodos utilizados para sua obtenção,

quanto depois de consolidado, pelos artifícios de que se vale para se manter”.76

3.4 O PODER JUDICIÁRIO NA ATIVIDADE PORTUÁRIA E NO TRANSPORTE AQUAVIÁRIO

Quanto ao papel que cabe ao juiz, também é reservado, nas

modernas teorias, o desenvolvimento da argumentação nas decisões, a fim de se

poder ter mínimo de controle nas decisões, de se poder ter um mínimo de controle

dos valores utilizados, já que todo valor é arbitrário, pois que não existe nenhuma

justiça absoluta, perfeita, fundada na razão.

Daí, vários autores postulam relativismo axiológico, a fim de

pressupor que a função que cabe ao direito, em todas as épocas, é a de

fundamentar e manter uma sociedade pacífica e duradoura entre os membros da

comunidade jurídica.77

São as leis e as normas delas oriundas (inclusive as

expedidas pela própria agência) que, dentro do amplo espectro regulatório que o

Poder Público possui, fixam os marcos, menos ou mais amplos, em que o poder

regulatório se desenvolverá, razão pela qual “o órgão regulador não pode praticar

atos concretos sem base normativa específica e adequada. Se uma competência

não foi expressamente conferida por lei, nem com base nela, pelos regulamentos,

pelo edital da licitação ou pelo contrato, o órgão não a tem”.78

Objeto de grandes dissensos é a abrangência do poder

regulador sobre a gestão interna dos concessionários e permissionários: por um

lado, sendo empresas privadas, a matéria é de livre decisão da empresa; por outro,

incumbido o Poder Público da fiscalização da quantidade do serviço e da

modicidade da tarifa, é possível que a ingerência sem assuntos internos possa ser,

76 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo . São Paulo: Malheiros. 8. ed. 1992, p. 666-667. 77 BIOLCHINI, Monique Calmon de Almeida. Regulação do Transporte Aquaviário: a regulação da outorga de autorização . Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2005, p. 167. 78 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Agências Reguladoras e a Evolução do direito administrativo econômico. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 386.

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à luz da teoria dos Implied Powers, o meio necessário para que alcance os seus

objetivos regulatórios.79

Na regulação das atividades econômicas de interesse geral,

o Poder Público deve limitar-se a expedir normas que digam respeito aos interesses

primários a serem atendidos, não podendo se imiscuir em assuntos intestinos das

empresas, mesmo que atinentes a outros interesses públicos.80

Não poderá o Poder Público impor regulação que faça com

que as autorizações operativas típicas desta modalidade regulatória serem

equivalentes às concessões, a um publicatio, ou seja, não pode o Poder autorizante

ter poderes correspondentes aos que existiriam se a atividade fosse um serviço

público, sob pena de incidir em fraude à Constituição.81

79 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Agências Reguladoras e a Evolução do direito administrativo econômico. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 387. 80 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Agências Reguladoras e a Evolução do direito administrativo econômico. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 393. 81 ARAGÃO, Alexandre Santos de. Agências Reguladoras e a Evolução do direito administrativo econômico. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 393.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo da história da regulação dos portos brasileiros,

observou-se que o Estado tem sido incapaz de suprir as necessidades do setor,

ocorrendo inexistência de competitividade nas operações, e falta de investimentos

em infra-estrutura e equipamentos, atribuindo ao sistema debilidade e perda de

concorrência.

A privatização dos portos via licitação, assegurou aos

interessados o direito de construir, reformar, e ampliar os terminais, estimulando a

concorrência portuária. Com a ineficácia do Estado perante o sistema, este então

passou a ter função de planejar, regular, e fiscalizar, representado pelas agências

reguladoras.

Ocorrida às alterações constitucionais no sistema portuário,

desde a extinção da Portobrás em 1990, e surgindo a ANTAQ em 2001, é

evidente ainda a necessidade de ajustes regulatórios compatíveis com a realidade

social e econômica do Brasil.

Tendo sido abordados os conceitos do sistema jurídico da

atividade portuária, e problemas regulatórios desse sistema, levanto a hipótese:

O estudo dos principais aspectos legais e econômicos que regulam o transporte

aquaviário e a atividade portuária contribui para a efetividade da defesa da

concorrência no setor portuário e aquaviário, para a manutenção do mercado

em equilibrado através das agências reguladoras, evitando um mercado

concentrado, que provoca falta de competição. Posteriormente foi desenvolvido

o estudo dos aspectos históricos do transporte aquaviário, para posteriormente

aprofundar a pesquisa da defesa da concorrência atribuída à responsabilidade a

ANTAQ e ao CADE de regular, fiscalizar, intervir e prevenir, garantindo o

crescimento econômico, para ao final retomar a hipótese para compreensão do

aludido trabalho.

A ANTAQ foi criada com a finalidade de desenvolver uma

estrutura setorial eficiente, confiável, e transparente em suas decisões. Ao estudar

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a regulação e concorrência do transporte aquaviário e da atividade portuária,

mostraram-se alguns pontos relevantes que são necessários para contribuir com o

entendimento da não aplicabilidade da defesa da concorrência dentro do sistema:

a) a ANTAQ dispõe de regulamento adequado que estabelece

critérios para atuação de terminais públicos e privados, porém alguns terminais

privados obtêm autorização da própria ANTAQ para exercerem atividades que

contrariam com os preceitos constitucionais, causando uma concorrência injusta e

desequilibrada;

b) o CADE destina-se a prevenir e reprimir o abuso do poder

econômico, não admitindo que haja regimes jurídicos distintos entre terminais

públicos e privados.

Deste modo, cabe a ANTAQ implementar a competição,

promovendo políticas concorrenciais, compatibilizando com os dispositivos legais

relacionados com o CADE. Essa competência deve ser exercida no sentido de

estimular o mercado regulatório.

Não resta dúvida que este setor, há muito que se

desenvolver, e as imperfeições do sistema, levam a ANTAQ a intensificar sua

função reguladora e fiscalizadora, juntamente com atuação do CADE reprimindo e

prevenindo abuso econômico.

Verifica-se, portanto, que os principais aspectos legais e

econômicos que regulam o transporte aquaviário e a atividade portuária que

deveriam contribuir para a efetividade da defesa da concorrência da atividade

portuária, e com a manutenção do mercado equilibrado através das agências

reguladoras, evitando um mercado concentrado, que provoca falta de competição,

não ocorre no ambiente portuário.

Sobre o tema, ainda ressalta-se as imperfeições setoriais

públicas e privadas, como também a prática de intervenção regulatória, pois esta

não é capaz de corrigir as falhas ou desequilíbrio do mercado. No setor portuário,

o mercado é imperfeito por sua própria natureza, e para reverter isso passará por

um processo lento.

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Diante desse fato, a ANTAQ deveria avaliar melhor o

processo de criação de normas, e seu impacto sobre as atividades fiscalizadas.

Alguns dos pontos negativos da ANTAQ seria o excesso de flexibilidade que pode

conduzir a perda de credibilidade da regulação e inibir o investimento privado, em

particular de empresas estrangeiras. Este é um desafio a ser enfrentado e

superado ao longo dos próximos anos.

Outro aspecto importante é a segurança jurídica que busca

prevenir a expropriação de direitos, que tanto a ANTAQ, quanto o CADE devem

assegurar aos entes regulados.

A função reguladora da ANTAQ deve buscar o equilíbrio dos

interesses dos agentes públicos e privados, visando estabelecer um setor atrativo

para investimentos financeiros de novas empresas, oferecendo a estas, garantias

confiáveis e mecanismos legais e institucionais pertinentes.

Assim, conclui-se que competição perfeita não é sinônimo de

maior competição possível. A perfeição da competição pressupõe igualdade. Esta

pode e deve ser estimulada, mas de maneira regulada e saudável, dentro da lei,

sem o que ela se torna predatória ou infratora da ordem econômica. Uma

concorrência saudável é aquela que se encontra no plano de igualdade de

condições, ou seja, igualdade dos ônus e encargos do ponto de partida e ao longo

da competição.

Não pode existir contradição entre os interesses público e

privado. O Estado, representado pelo CADE e ANTAQ, ao regular as atividades

do setor portuário, busca satisfazer os interesses coletivos, e de fato proporcionar

um ambiente competitivo e equilibrado.

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