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FABIO FORTUNATO BRASIL DE CARVALHO Atividade Física na perspectiva crítica de Promoção da Saúde: Por outra compreensão da Educação Física. Rio de Janeiro 2008

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FABIO FORTUNATO BRASIL DE CARVALHO

Atividade Física na perspectiva crítica de Promoção da Saúde:

Por outra compreensão da Educação Física.

Rio de Janeiro 2008

Fabio Fortunato Brasil de Carvalho

Atividade Física na perspectiva crítica de Promoção da Saúde: Por outra compreensão da Educação Física.

Trabalho de conclusão do Curso de Especialização em Saúde Pública, com vistas à obtenção do título de Sanitarista, apresentada à Comissão Julgadora da Escola Nacional de Saúde Pública, sob orientação da Mestra Rosa Maria da Rocha.

Rio de Janeiro 2008

______________________________________________

_______________________________________________

___________________________________________________

Fabio Fortunato Brasil de Carvalho

Atividade Física na perspectiva crítica de Promoção da Saúde: Por outra compreensão da Educação Física.

Monografia apresentada ao curso de Especialização em Saúde Pública, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca – Fundação Oswaldo Cruz, como requisito para obtenção do título de Sanitarista.

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof°. Ms. Rosa Maria da Rocha Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca – FIOCRUZ

Prof°. Dra. Maria de Fátima Lobato Tavares Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca – FIOCRUZ

Prof°. Phd. Alexandre Palma Universidade Federal do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro,_______ de____________ de 2008.

AGRADECIMENTOS

À minha mãe, pois “seu carinho me fortalece, seu amor me faz viver” e

complementado, nossas divergências me tornaram um homem de princípios.

À orientadora deste trabalho, Professora Rosa Maria da Rocha, principalmente pelas

oportunidades que vem me oferecendo, você não sabe o quanto eu as esperei.

À “patroa”, sempre juntos em tudo, desde o jogo do VASCO lotado, cobrança pela

confecção de artigos no prazo estipulado, até o grande sonho cada vez mais próximo do

casamento, “rs”, estamos de verdade juntos!!!! “É pra você BEBEL.”

Ao Professor Alexandre Palma, pois aquele encontro no curso por teleconferência

na administração nacional do SESC, mesmo que de forma despropositada, me permitiu

conhecer e buscar a aproximação com a Saúde Coletiva para dar sentido às reflexões sobre

a Educação Física/atividade física como possível porta para saúde, bem-estar, qualidade de

vida e outros termos que representam a promessa de felicidade, de forma simplista e

unilateral.

Às novas e grandes amizades que pude fazer ao longo do curso e de nossos debates

acalorados nas caronas, na sala, em Belo Horizonte, na feira dos Paraíbas (“rs”) ou no

almoço na ENSP que permitiram que eu compreendesse um pouco melhor os possíveis

caminhos para a luta pela saúde – Rodrigo, Juliana, Kleber, Andressa, Abel, Muanza e

tantos outros.

RESUMO

O presente trabalho consistiu em revisão bibliográfica e pretende evidenciar as

discussões teóricas que a Educação Física tem feito baseado em alguns referenciais da

Saúde Coletiva/Promoção da Saúde apontando possibilidades de aproximação entre estes

campos do saber na perspectiva de alcançar outra compreensão da Educação Física. A

literatura especializada da Educação Física e a mídia em geral, constantemente advogam a

saúde como um dos principais fins da atividade física. Acreditamos que o termo atividade

física pode abarcar um sentido amplo, extrapolando a quantificação energética e por este

motivo optamos pela sua utilização. Contudo, a Educação Física privilegia o enfoque

biológico da “saúde”, resultando numa relação causal entre a atividade física e saúde; o que

é explorado pela lógica comercial de criar, aumentar a necessidade ou sua percepção por

parte de possíveis consumidores. Fala-se também em bem-estar e qualidade de vida; o que

é acriticamente aceito e difundido até mesmo entre os profissionais de saúde. É gerado a

partir deste entendimento que o indivíduo, independente do seu contexto de vida só teria

uma escolha a fazer; tornar-se fisicamente ativo, o que caracteriza uma forma

‘culpabilizatória’ de encarar a adoção da atividade física como hábito de vida. Contrapondo

a forma prescritivo-normativa com que a atividade física vem sendo ‘receitada’ aos

sujeitos, repudiamos a crença ‘ingênua’ que atividade física produz saúde que imputa à

primeira a responsabilidade de tornar-se redentora de todos os possíveis males do

sedentarismo. Defendemos que concomitantemente ao fomento da prática regular de

atividade física haja a análise do contexto de vida dos sujeitos e o subseqüente

enfrentamento dos determinantes de sua saúde, assim, os conteúdos da Educação Física

devem permitir a compreensão e enfrentamento dos diversos fatores que influenciam tal

prática. Vislumbramos a real possibilidade do estreitamento da Educação Física com alguns

referenciais da Saúde Coletiva/Promoção da Saúde através do crescente envolvimento de

profissionais da área que materializam-se, entre outros, na carta de Porto Alegre, redigida

em 2006 no seminário de Educação Física e Saúde Coletiva: a inserção no SUS ou ainda

em outras iniciativas.

Descritores: Promoção da saúde; determinantes sociais da saúde; Educação Física;

atividade física.

ABSTRACT

This study was a bibliographic review and tried to highlight the theorical

discussions in the physical education area based on Public Health/ Health Promotion

showing the possibilities to close this discussion. Physical activities as a principal way of

being healthy is released by the expert literature and the midia very often. We believe that

the physical activity meaning is wide and go beyond the energy expenditure. That is the

reason we choose this term. Physical Education emphasizes focus on biological health. This

belief results in a commercial need, creates and even increases a new necessity or

perception to possible consumers. It talk about welfare and quality of life; which is acritical

accepted and released even with health professionals. From this understanding, without

considerate the context of life, the subject have only one choose: be physicaly active which

characterizes a ‘guilty’ way to face the physical activity as a life habit. Contrasting a

prescritive-normative form that the physical activities are being ‘prescribed’ for subjects,

we repudiate the ‘naive’ belief that physical activity produces health and put in this thought

the responsability to be the redemption for possible sedentary ills. We defend that must be

done a individual context of life analisis concomitantly the promove of including physical

activities as a habit and face the health determinants, so, the Physical Education topics must

allow to face the health determinants and the comprehension of a lot of factors that

influences the practice. We see a real possibility to strait the discussion between some

Public Health / Health Promotion references and Physical Education throughout the

increasing area professionals involvement that we can see clearly in carta de Porto Alegre.

It was wrote in 2006 in a Physical Education and Health seminary; the including in SUS

programs and others possibilities.

Keywords: Health promotion; social health determinants; Physical Education; physical

activity.

SUMÁRIO

Introdução............................................................................................................................... 9

Objetivo geral.......................................................................................................................... 13

Objetivos específicos............................................................................................................... 13

Capítulo 1: Promoção da Saúde.............................................................................................. 14

Capítulo 2: Determinantes Sociais da Saúde........................................................................... 20

Capítulo 3: Principais documentos do movimento da Promoção da Saúde ....................... 25

Capítulo 4: Aproximando Educação Física e Saúde Coletiva/Promoção da Saúde ............... 37

Capítulo 5: Considerações finais............................................................................................. 53

Referência bibliográfica......................................................................................................... 57

INTRODUÇÃO

Os Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física (PCNs), documento redigido

pela Secretaria de Educação Fundamental, órgão ligado ao Ministério da Educação e Cultura

indicam como objetivo do ensino fundamental, entre outros: “conhecer o próprio corpo e dele

cuidar, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade

de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva” (Brasil, p.9,

1998). Recorreu-se a este importante documento que “pretende criar condições, nas escolas, que

permitam aos nossos jovens ter acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente elaborados e

reconhecidos como necessários ao exercício da cidadania” (Souza, 1998), não de forma

despropositada e, sim para revelar que a Educação Física pode se beneficiar da aproximação

com a Saúde Coletiva/Promoção da Saúde como tal documento mostra e buscaremos evidenciar

neste trabalho.

Entende-se que a escola é um local privilegiado para ações de promoção da saúde

(Tavares, 2002). Isto por que uma vez apreendidos conceitos e práticas favoráveis à saúde e á

cidadania nesta fase da vida, na qual ocorre a formação social, haverá grande possibilidade de

que ajam em favor de sua saúde. Já Luz (2007), ao tratar especificamente da educação física

escolar, discorda ao afirmar que esta prática pouco irá influenciar na vida adulta dos alunos. A

literatura ainda é inconclusiva quanto à transferência de uma vida fisicamente ativa na infância e

adolescência para a vida adulta. Aponta-se o contexto onde este sujeito já na vida adulta está

inserido como o principal fator para a prática de atividade física como hábito de vida.

Portanto, desde a idade escolar objetiva-se que o sujeito disfrute de todo o seu potencial

de saúde. Objetivo este que deve ser constantemente perseguido por todos aqueles envolvidos na

formação de cidadãos; docentes, pais, comunidade escolar e é claro, os próprios alunos – se

tratando desta fase da vida – e todas as instituições com as quais nos relacionamos ao longo da

vida – família, religiosidade, trabalho entre outras. È importante frisar que não é objetivo deste

trabalho focar apenas a relação, por mais promissora que seja, entre promoção da saúde e a idade

e ambiente escolar, mas não há como negar que nesta fase da vida encontramos situação propícia

para a capacitação e formação de cidadãos.

Contudo, através do debate e ações que a Promoção da Saúde se propõe, este trabalho

pretende mostrar que somente os hábitos saudáveis numa perspectiva individual, mesmo sendo

cruciais para que se atinjam gradações cada vez maiores no estado de saúde individual e

coletivo, não são suficientes para que se compreenda e se enfrente os determinantes sociais da

saúde.

A literatura especializada da Educação Física, assim como a mídia em geral,

constantemente advoga a saúde como um dos principais fins da atividade física. Ressaltamos

neste momento que nos apropriaremos do termo atividade física para denominar um campo geral

que englobe além desta com cunho desportivo, de lazer, aptidão física entre outras, as práticas

corporais e exercício físicos. Esta opção não nega a pertinência do debate sobre os significados

de cada termo e sua melhor utilização em determinado contexto, apenas busca a facilitação da

compreensão pois acreditamos que ainda há a necessidade de desconstrução do entendimento da

atividade física meramente como gasto calórico, o que para Carvalho (2007) homogenizaria o

coletivo e padronizaria o corpo. Acreditamos, então, que mesmo o termo atividade física pode

abarcar um sentido amplo, extrapolando a quantificação energética e por este motivo que

optamos pela sua utilização.

A relação existente entre saúde e educação física conformou a institucionalização desta

última, estando sempre presente em âmbito profissional, oficial e científico. Esta visão é

explicitada nos PCNs, quando afirma que “as relações que se estabelecem entre [...] saúde e

Educação Física são quase que imediatas e automáticas ao considerar-se a proximidade dos

objetos de conhecimentos envolvidos e relevantes” (BRASIL, p.36, 1998). Ou ainda que “a

prática de jogos, esportes, lutas, danças, ginásticas é considerada, no senso comum, como

sinônimo de saúde (Brasil, p.36, 1998).

Contrapondo a estas questões, Carvalho (2004) nos leva a uma reflexão ao afirmar que o

“acesso à informação por meio, especialmente, dos veículos de comunicação em massa e da

publicidade é limitante e reduzido, o que divulgam serve para reforçar o entendimento de que a

atividade física produz saúde” (p.28) e assim há influência sobre as pessoas que acaba por

ressaltar aspectos superficiais e banalizar a relação dessas pessoas com o cuidado com o seu

corpo (Carvalho, 2007). E para Costa e Venâncio (p.63, 2004) “a mídia, de forma massificada,

induz muitas vezes a ressaltar a imagem do corpo saudável e belo, como formas de constituir a

identidade”.

Há ainda mais uma reflexão necessária, como é entendida a “saúde” por esta área do

conhecimento referente à educação física? Bagrichevsky e Estevão (2005), Carvalho (2005) e

Deslandes (2004) nos auxiliam nesta reflexão ao afirmarem que há privilégio do enfoque

biológico, resultando numa relação causal entre a atividade física e saúde desconsiderando assim

os determinantes sócio-culturais e econômicos existentes nessa relação. Relação esta que é

explorada e estimulada pela indústria cultural, do lazer e da saúde (BRASIL, 1998; Castiel,

2003; Campos, 2004; Costa e Venâncio, 2004; Carvalho, 2007). Ao mesmo tempo em que

responsabiliza o indivíduo, única e exclusivamente, por sua condição de vida.

E ainda, para Deslandes (2004) o papel atribuído a atividade física nem sempre foi o

mesmo no campo da saúde coletiva. Sua inserção nesse campo sofre as influências dos

paradigmas vigentes e também das abordagens contra-hegemônicas.

Farinatti e Ferreira (2006) alertam para a importância de que o professor de educação

física possa tomar uma posição em relação ao que entende por saúde e promoção da saúde. Já

que sem essa compreensão prévia, se tornaria difícil elaborar, adotar, desenvolver ou avaliar, ao

menos de forma consciente, programas de educação física que trabalhem com elementos ligados

à saúde.

Este trabalho é relevante na tentativa de aproximar alguns dos referenciais da Saúde

Coletiva, mais especificamente da Promoção da Saúde com os da Educação Física, contribuindo

para o amadurecimento desta na compreensão e enfrentamento dos determinantes sociais da

saúde.

Para Czeresnia (p.39, 2003) “o discurso da saúde pública e as perspectivas de direcionar

as práticas de saúde [...] vêm articulando-se em torno da idéias de promoção da saúde” e para

Buss (2001) esta se apresenta como uma das estratégias mais promissoras para o enfrentamento

dos múltiplos problemas de saúde que atingem as populações.

Carvalho (2005); Bagrichevsky e Estevão (2005) sugerem o estreitamento entre Saúde

Coletiva e Educação Física na perspectiva de aproximar as dimensões coletiva, pública, social,

econômica e cultural com as de caráter individual e biológico, objetivando uma relação dialógica

e assim tornar a Educação Física realmente uma área promotora da saúde através da

compreensão da saúde de forma ampliada.

O presente trabalho possui caráter qualitativo e a metodologia consistirá em revisão

bibliográfica na perspectiva de revelar as discussões que aproximam a Educação Física da Saúde

Coletiva/Promoção da Saúde realizada por autores de ambas as áreas. A seleção da bibliografia

se deu ao longo do curso de especialização em saúde pública que esta monografia pretende

encerrar. Foram identificados alguns pensadores que buscaram a inter-relação entre a Educação

Física e a Saúde Coletiva , ou ainda os que buscaram problematizar de forma crítica a relação

entre o corpo, saúde, qualidade de vida entre outros. E alguns autores que discutem a Promoção

da Saúde desde a sua sistematização. A partir daí, suas obras e referências foram pesquisadas a

fim de que pudesse ser compreendido e ampliado o contato que eu iniciara com a Promoção da

Saúde. É importante salientar que essa busca influenciou a forma com que o objeto foi

apreendido nesta monografia.

Inicialmente, lembro-me de crer que haveria pouca bibliografia que problematizasse

especificamente a educação física/atividade física a partir dos referenciais da Promoção da

Saúde/Saúde Coletiva e fiquei positivamente surpreso ao constatar, durante e ao finalizar esta

monografia, que existe razoável bibliografia que buscam alcançar este objetivo.

OBJETIVO GERAL:

Evidenciar as discussões que a Educação Física tem feito baseado em alguns referenciais

da Saúde Coletiva/Promoção da Saúde apontando possibilidades de aproximação entre estes

campos do saber na perspectiva de alcançar outra compreensão da prática de atividade física.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

1 Investigar as contribuições que a aproximação aos conceitos da Promoção da Saúde pode

trazer para a área da Educação Física;

2 Problematizar a relação de causa e efeito entre atividade física e saúde;

3 Propor uma nova forma de entender a atividade física e sua relação com a saúde individual e

coletiva a partir da revelação de como ela vem sendo difundida.

Capítulo 1:

PROMOÇÃO DA SAÚDE

1.1 - CONCEITO E IMPLICAÇÕES

Já no século XIX, Virchow, Villermée, Chadwick entre outros, já apontavam as relações

entre as condições de vida e saúde (Rosen,1994). As idéias sobre promoção da saúde no Brasil

foram introduzidas em meados dos anos 80 (Carvalho, 2008) e segundo Buss (p.15, 2003) esta

“surge como reação à acentuada medicalização da saúde na sociedade e no interior do sistema

de saúde” e ainda de acordo com este autor é um conceito direcionado aos determinantes gerais

da saúde, entendendo-a como um produto histórico e social (Buss, 2000). O principal motivo

para a retomada do ideário da Promoção da Saúde foi o custo crescente da assistência médica

sem que ocorressem resultados igualmente significativos (Czeresnia, 2003). Segundo a Carta de

Ottawa, documento que deu início ao movimento da Promoção da Saúde, caracteriza-o por ser

um “processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e

saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo” (Organização Mundial da

Saúde - OMS, 1986). Segundo Reis e colaboradores (2002) esta carta ampliou a concepção de

promoção da saúde naquele determinado momento histórico, pois incorporou a importância e o

impacto dos aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais nos determinantes da saúde.

Discorreremos mais em um item posterior sobre esse e outros documentos importantes para o

movimento da promoção da saúde. Assim, as ações de promoção da saúde objetivam fazer com

que as condições de vida sejam cada vez mais favoráveis (OMS,1986).

Na linha da conceituação utilizada pela OMS, Czeresnia (2003); Campos e cols. (2004)

afirmam ser a autonomia dos sujeitos e coletividades através da capacitação para o processo do

cuidado á saúde um dos principais pilares da promoção da saúde. Zioni e Westphal (2007)

concordam com tal afirmativa ao entenderem que a promoção da saúde ao se propor a

compreender as condições de saúde, como elas são produzidas e advogar a participação popular

no processo de tomada de decisões deve tornar os indivíduos e coletividades capazes de agirem

com protagonismo nas decisões que impliquem em sua saúde. Assim, deve ocorrer o

“reconhecimento da autonomia individual e coletiva como elementos criadores de novas

alternativas e, portanto transformadores da dinâmica social e da sociedade” (p.28). Peres et al

(2005) relatam que a efetividade de ações de promoção da saúde; ou seja, que objetivam a

melhoria da qualidade de vida e consequentemente da saúde implicam um profundo

envolvimento dos atores e da população beneficiária.

Para Andrade, Wiik e Vasconcellos (2004) podemos, hoje, perceber melhor o nosso

estado de saúde, e assim nos tornarmos mais autônomos e mais responsáveis por nossa qualidade

de vida. Isto devido à melhoria geral das condições alimentares, de moradia, de saneamento

básico, de educação e de informação. Contudo, cremos não serem suficientes apenas tais

melhorias citadas, já que a nosso ver não garante a capacitação dos sujeitos para agirem

prioritariamente em favor de sua saúde.

A diferenciação para a promoção da saúde entre ser instrumento do neoliberalismo, ou

seja advogar uma perspectiva de retração de investimentos públicos em políticas sociais, ou de

igualdade social, de fato, será a participação social (Marcondes, 2004).

Propõe-se uma articulação de saberes técnicos e populares, a mobilização de recursos

institucionais e comunitários, públicos e privados, ou seja, entre saúde e condições de vida,

ressaltando as inter-relações de equidade social, através do aumento da capacidade da

participação popular, inter-setorialidade, fomento de políticas públicas saudáveis, criação de

ambientes favoráveis à saúde e reorientação do sistema de saúde, baseando-se numa visão

ampliada do processo saúde-doença e reconhecendo a multideterminação deste processo (Buss,

2000, 2001; Pedrosa, 2004).

Assim, o foco está na vulnerabilidade do coletivo, na sociedade, nas relações que interagem com

a saúde e no ambiente, compreendido em seu aspecto físico, social, político, econômico e

cultural e que irão requerer intervenções articuladas intersetorialmente e participação social com

o objetivo de conceber a saúde como direito, portanto a saúde envolve os demais setores da

sociedade além do setor médico e dos demais profissionais da saúde (Palma, 2003; Czeresnia,

2003; Marcondes, 2004; Pedrosa, 2004).

Portanto,

a promoção da saúde deve ser compreendida como uma agenda integrada e multidisciplinar cujo objetivo primordial é fomentar mudanças em três níveis: assistência à saúde, gestão local de políticas públicas e proteção e desenvolvimento sociais para todos. (Carvalho, p.4, 2008)

Para Campos e colaboradores (2004), falar da promoção da saúde no Brasil é

indissociável da reflexão e enfrentamento das iniqüidades sócio-sanitárias que envolvem não só

o setor saúde. Assim, os autores refletem sobre como ela pode auxiliar na “geração de outros

modos de atenção e de gestão da saúde, de criação do viver e de outras realidades” (Campos e

cols. p. 746, 2004).

Marcondes (2004) aponta três questões referenciais para se debater a promoção da saúde,

quais sejam: as limitações do modelo biomédico, a ampliação do conceito de saúde e a diferença

entre prevenção e promoção. O modelo biomédico baseou-se na doutrina da etiologia específica

que consistia na crença de que para cada enfermidade haveria um único agente específico, assim

o contexto de vida dos sujeitos foi deixado de lado na consideração do processo saúde-doença

(Farinatti e Ferreira, 2006). Barros (2002) considera o fenômeno da medicalização como

consequência e estímulo à hegemonia do modelo biomédico que encontra ambiente propício na

sociedade de consumo, sob o império da lógica de mercado. Define medicalização como “a

crescente e elevada dependência dos indivíduos e da sociedade para com a oferta de serviços e

bens de ordem médico-assistencial e seu consumo cada vez mais intensivo” (p.7). Farinatti e

Ferreira por sua vez a definem como “invasão de uma quantidade importante de setores da vida

cotidiana pelas determinações da medicina” (p.135) o que gera um entendimento de que a saúde

é área exclusiva da medicina.

Barros (2002) lembra-nos que não se trata de culpabilizar de forma simples e linear o

modelo biomédico sem considerar como se deu essa hegemonia ao longo da história.

Posteriormente, percebeu-se que o paradigma biomédico era insuficiente para responder de

forma satisfatória os componentes subjetivos presentes no processo saúde-doença. Assim, para

Barros (2002) há profissionais – o autor fala especificamente do profissional médico mas

acreditamos poder ampliar para qualquer profissional de saúde – que compreendem a

importância de visualizar o sujeito como um todo relacionado ao seu contexto socioeconômico,

contudo terminam por regressar ao reducionismo, pois este foi o modelo em que foi pautada sua

formação.

Marcondes (2004), em consonância com o que este estudo vem apontando, defende que a

compreensão da saúde relaciona-se às condições de vida que são geradas pelas relações sociais –

já que estas permeiam o acesso à alimentação, educação, trabalho, renda, lazer, paz e ambientes

saudáveis, entre outros aspectos fundamentais para a saúde e a qualidade de vida, assim são

importantes elementos do processo saúde-doença. Continua, afirmando que a ampliação do

conceito de saúde partiu do reconhecimento da limitação do foco exclusivo no risco individual

para responder aos processos de saúde-doença baseados em modelos biológicos e de tecnologias

médicas (modelo biomédico).

O autor alerta sobre a interdependência entre saúde e desenvolvimento e afirma que o

crescimento econômico deve beneficiar as condições de vida da população como um todo para

que os setores sociais e sanitários sejam efetivos ao se mobilizar para buscar gradações cada vez

maiores de saúde individual e coletiva assim como propõe o emprego da promoção da saúde

para a adequação de políticas, programas e serviços, como forma de enfrentar tanto a

medicalização da vida social como a individualização da saúde pública. A diferença entre

promoção e prevenção será abordada em item posterior.

1.2 - PROMOÇÃO DA SAÚDE CRÍTICA OU CONSERVADORA?

O conceito de promoção da saúde tem sido interpretado de diferentes formas ao longo de

sua construção, ou seja, numa perspectiva mais conservadora e noutra crítica, como

denominaram Farinatti e Ferreira (2006). Na primeira o foco seria a redução do peso econômico

dos serviços de saúde ao imputar ao indivíduo a responsabilidade pela sua saúde, independente

do contexto de vida deste. E na segunda, o foco seria a transformação social através da

capacitação dos cidadãos. Czeresnia (p.40, 2003) utiliza os termos: perspectiva conservadoras e

progressistas respectivamente.

Buss (2001), Ferreira e Buss (2002), Palma (2003) corroboram ao afirmarem existirem

dois principais grupos onde podem ser reunidas as conceituações de promoção da saúde. Em um

deles estariam fora do âmbito da promoção da saúde todos os fatores que estivessem fora do

controle dos indivíduos, ou seja, as atividades são dirigidas a mudanças comportamentais dos

indivíduos. No entanto, Buss (2001) se alinha com o que denomina “conceito moderno de

promoção da saúde” (p.279) no qual a saúde é produto de um amplo espectro de fatores

relacionados a qualidade de vida, logo as atividades estariam mais voltadas ao coletivo de

indivíduos e ao ambiente; entendido em seu contexto físico, social, político e econômico.

Autores como Peres e colaboradores (2004), Stotz e Araújo (2004) também apontam a existência

de duas concepções distintas de promoção da saúde, estes últimos ainda afirmam que ambas

foram incorporadas pela OMS.

Não se trata de polarizar ou rivalizar ambas as concepções de promoção da saúde, já que

necessariamente haverá mudanças individuais para que comunidades alcancem gradações cada

vez maiores de saúde, contudo, tais mudanças comportamentais viriam associadas a mudanças

no contexto sócio- econômico e cultural. Logo, o que está em voga é o enfoque e predominância

de qual concepção de promoção da saúde será utilizada.

1.3 - PROMOÇÃO X PREVENÇÃO

Há ainda em muitos casos, uma indefinição conceitual que gera uma confusão entre

práticas ditas de promoção da saúde e de prevenção. Czresnia (2003) explicita definições que

nos auxiliam a distingui-los, para ela a prevenção estrutura-se mediante a divulgação de

informação científica e de recomendações normativas de mudanças de hábitos (grifo meu). Já

a promoção extrapola a aplicação técnica e normativa, pois objetiva a o fortalecimento da

capacidade individual e coletiva para a compreensão e o enfrentamento dos condicionantes da

saúde e complementa: “essa concepção diz respeito ao fortalecimento da saúde por meio da

construção da capacidade de escolha” (p. 48, 2003) e “isso não é da esfera do conhecimento

verdadeiro, mas do valor (p.49, 2003).

O quadro abaixo também traz algumas diferenças entre as abordagens da promoção e da

prevenção.

PROMOÇÃO PREVENÇÃO

Determinantes da saúde, criar alternativas

saudáveis

Reduzir os fatores de risco e enfermidades

População em geral e às condições

relacionadas à saúde

Indivíduos com possibilidade de adoecer,

Àqueles com elevado risco

Conteúdos sócio-políticos, ecológicos e

sócio-culturais

Ênfase aos fatores de risco, prática clínica,

preventivas e reabilitação

Adaptado de Palma, Bagrichevsky e Estevão (2003)

Contudo, não há porque prescindir destas formas de atenção à saúde, pois para Carvalho

(2005) não há limites rígidos entre eles. A autora também concorda que a principal diferença

entre eles é a ênfase com que são utilizados e sugere que a clínica incorpore o social e o

subjetivo assim como a saúde pública/Promoção da Saúde atue com o auxílio da clínica.

1.4 - ATUALIDADE DO DEBATE SOBRE A PROMOÇÃO DA SAÚDE

Através do discurso de posse do atual Ministro da Saúde, José Gomes Temporão,

percebe-se o quão atual é o debate que o ideário da promoção da saúde busca, pois este assumiu

que “vivemos um intenso processo de medicalização perdendo-se a perspectiva de que, o que

mais produz saúde [...] está fora da governabilidade setorial (Temporão, 2007). Ele referia-se a

renda, emprego, habitação, saneamento, lazer, cultura, educação entre outros portanto “[...] a

saúde é, antes que biológica, uma produção social” (Temporão, 2007).

Ainda afirmou pretender assumir “uma visão integrada interinstitucional, múltipla e

interativa que aproxime os espaços da saúde, educação, esportes, cultura, saneamento,

segurança, habitação com as políticas de inclusão social”. Há também neste discurso o

evidenciamento de que torna-se necessário ampliar o debate proferido pela Saúde

Coletiva/Promoção da Saúde na Educação Física já que esta lida diretamente com educação,

lazer, cultura, esportes entre outros.

Capítulo 2:

DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE

Já está devidamente estabelecido que há relação entre a saúde das populações, as

desigualdades nas condições de vida e o grau de desenvolvimento social. Para Buss e Pellegrini

Filho (p.2006, 2006b) as iniqüidades em saúde, citando definição cunhada por Whitehead na

qual seriam “aquelas desigualdades de saúde que além de sistemáticas e relevantes são também

evitáveis, injustas e desnecessárias, são um dos traços mais marcantes da situação de saúde do

Brasil”. Estes autores ainda citam que a literatura atualmente aponta que a distribuição da

riqueza de uma sociedade e não apenas sua acumulação, seria uma forma de alcançar saúde e

qualidade de vida para seus integrantes, ou seja, “a desigualdade na distribuição de renda não é

prejudicial à saúde somente dos grupos mais pobres, mas é também prejudicial para a saúde da

sociedade em seu conjunto” (Buss e Pellegrini Filho, p.2006, 2006b).

Para Ferreira e Buss (p.15, 2002) “para se promover saúde é absolutamente necessário

se conhecer e agir sobre seus principais determinantes”. E já que foi referido em muitos

momentos que o movimento da promoção da saúde busca justamente esta compreensão e

enfrentamento, neste item, pretende-se debater sobre tais determinantes.

Zioni e Westphal (p.29, 2007) nos auxiliam a compreender o quão importante é esta

discussão ao afirmarem que “as desigualdades econômicas expressas pela posição que se ocupa

na estratificação social determinariam uma desigualdade de acesso aos fatores de boa ou má

saúde, aumentando as iniqüidades da área”.

Discorrer sobre a promoção da saúde e sua determinação social é indissociável da

compreensão de que a intervenção sobre os mecanismos de estratificação social é das mais

cruciais para combater as iniqüidades de saúde. Logo, para Buss e Pellegrini Filho (p.11, 2007)

as “políticas que diminuam as diferenças sociais, como as relacionadas ao mercado de

trabalho, educação e seguridade social, além de um sistemático acompanhamento de políticas

econômicas e sociais” devem ser avaliadas com a finalidade de diminuir seus efeitos sobre a

estratificação social e assim sobre a saúde dos indivíduos e grupos sociais.

Em 2006, inserido num processo global, desencadeado pela Organização Mundial da

Saúde (OMS), é criada a Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS)

que teria no combate às enormes iniqüidades na situação de saúde da população brasileira a sua

principal preocupação (Buss e Pellegrini Filho, 2006a). E “sua criação e composição expressam

o reconhecimento de que a saúde é um bem público, a ser construído com a participação

solidária de todos os setores da sociedade brasileira” (site do CNDSS). E ainda segundo Buss e

Pellegrini Filho (p.1.772, 2006a) a “CNDSS visa a mobilizar a sociedade brasileira e o próprio

governo para entender e enfrentar de forma mais efetiva as causas sociais das doenças e mortes

que acometem a população, e reforçar o que é socialmente benéfico para a saúde individual e

coletiva.”

Para Zioni e Westphal (2007), citando Villar, o Brasil tem se destacado nessa abordagem,

pois seria o único estado a ter uma comissão oficial para estudos sobre os DSS.

Para a CNDSS, os DSS “são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais,

psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus

fatores de risco na população.” Já para a OMS os DSS são “são as condições sociais em que as

pessoas vivem e trabalham.” (Buss e Pellegrini Filho, p.78, 2007).

A problematização em torno da existência dos DSS permite o entendimento, por

exemplo, de que um dos principais fatores para que se alcance gradações cada vez maiores de

saúde- o comportamento pessoal - muitas vezes entendidos apenas como de responsabilidade

individual, dependentes de opções feitas pelas pessoas, muitas vezes não o são. Isto porque tais

opções estão fortemente condicionadas por determinantes sociais - como informações,

propaganda, pressão dos pares, possibilidades de acesso a alimentos saudáveis e espaços de lazer

etc (Buss e Pellegrini Filho, 2007).

Para Zioni e Westphal (p.28, 2007) “pensar em determinação social da saúde implica em

uma reflexão sobre a saúde enquanto objeto das ciências sociais”, logo “significa pensar em

uma sociedade que se interroga sobre seus objetivos que elabora uma nova representação sobre

si mesma, que busca novos discursos sobre as relações homem /sociedade, homem / natureza,

saúde/sociedade.” As autoras seguem afirmando que sobre o enfoque das ciências sociais,

a preocupação consiste em descobrir como podem ser produzidas condições sociais e de saúde que correspondam a um nível adequado de vida; [...]; qual o nível de participação política do conjunto da sociedade na elaboração e implantação de políticas sociais; [...], como são incorporadas identidades e experiências?

A aproximação entre a determinação social da saúde e a promoção da saúde, segundo as

autoras “exige uma reflexão teórica importante sobre a participação política ou sobre as

experiências da contemporaneidade” (p.30).

As autoras defendem que a “atuação sobre os DSS assim como as propostas de

promoção da saúde remetem necessariamente à reflexão sobre a dinâmica social visto que estão

voltadas para a transformação das condições de vida” (p.32), para elas a participação popular

deve ser entendida como condição para a saúde, para a transformação das condições negativas

de saúde e de vida. A discussão da democracia passaria necessariamente pela discussão da

participação política. Assim, as autoras acreditam tratar-se, portanto, de ofertar condições sociais

que permitam a cada pessoa aceder com sua particularidade à cidadania e construir sua vida com

o máximo de autonomia.

No entanto, as autoras sugerem uma importante reflexão ao entenderem ser paradoxal

que indivíduos e grupos sociais mais vulneráveis as determinações negativas da saúde sejam

aqueles responsáveis pelo seu enfrentamento. Cabe-nos neste momento, apresentar o que

entendemos por ‘culpabilização da vítima’, pois esta expressão aparecerá por diversas vezes no

presente texto, quando for abordada a dimensão individual com que é encarada as opções que

fazemos e que interferem em nossa saúde, como a prática de atividade física. Para Faria Júnior

citado por Devide (p.139, 2003) trata-se de “depositar no cidadão, a responsabilidade por sua

saúde individual, ignorando os múltiplos fatores que atuam sobre sua saúde e dos quais ele não

possui controle”. Ou ainda uma “dimensão moral que responsabiliza cada pessoa por seu

próprio adoecimento e desconsidera a dinâmica sistêmica e multifária que influencia os estados

de enfermidade humanas” (Bagrichevsky & Estevão, p.67, 2005).

Vale dizer que, a promoção da saúde justamente entende que os indivíduos ou grupos sociais

citados por Zioni e Westphal (2007) seriam os mais interessados em transformações sociais para

que seja possível a luta por gradações cada vez maiores de saúde. E ainda, não é advogado que

tais indivíduos ou grupos sociais enfrentem sozinhos tais determinantes, a luta em defesa da

saúde, segundo a promoção da saúde, é um compromisso de todos, profissionais de saúde,

governantes, classe política, enfim, do conjunto de toda sociedade. Carvalho (p.4, 2008) ilustra

bem a situação ao afirmar que “todos os setores da sociedade devem compartilhar a

responsabilidade no esforço de proteger e cuidar da vida humana, promovendo saúde e

qualidade de vida para todos”.

Ferreira e Buss (p.15, 2002) nos lembram da importância da consideração e análise dos

DSS e suas implicações no contexto local, pois “os determinantes da saúde, ainda que se

expliquem num plano mais geral, estão visceralmente ligados ás condições concretas de vida e

adquirem materialidade no nível local, onde [...] vivem as pessoas”, Peres et al (2005) também

afirmam que os determinantes sócio-econômicos, culturais, ambientais e políticos que são

apontados pelas próprias comunidades dentro de contextos de pobreza e exclusão social é que

caracterizam políticas e programas de promoção da saúde mais inovadores.

Apesar do que foi comentado, há ainda um descompasso entre tais avanços no

conhecimento dos DSS e das iniquidades em saúde e sua utilização na definição de políticas

públicas que objetivem sua diminuição ou extinção. Contudo, é necessário o entendimento de

que não deve-se esquecer da importância do jogo político, do embate de interesses muitas vezes

antagônicos, nas decisões sobre políticas, em nome de uma racionalidade centralizadora baseada

em evidência científica (Buss e Pellegrini filho, 2006b).

Portanto, pelo exposto, pode-se também acreditar que a prática de atividade física acaba

sendo determinada socialmente, ou seja, por questões políticas, culturais, econômicas além das

biológicas. Deslandes (2004) concorda com tal afirmativa já que crê que a inserção da atividade

física no campo da saúde coletiva sofre as influências dos paradigmas vigentes e também das

abordagens contra-hegemônicas (p. vii). Esta ‘determinação social’ da prática de atividade física

será discutida amiúde na parte deste trabalho que versará especificamente sobre ela.

Capítulo 3:

PRINCIPAIS DOCUMENTOS DO MOVIMENTO DA

PROMOÇÃO DA SAÚDE

Estes documentos são fruto das conferências internacionais sobre a Promoção da Saúde e

explicitam sua evolução.

3.1 - Carta de Ottawa (OMS, 1986)

A definição que esta traz para a promoção da saúde já foi citada neste texto (vide p.15).

Contudo, nela não é contemplado um dos cinco campos de ação que este mesmo documento

sugere, que é a criação de políticas públicas favoráveis à saúde. Segue afirmando que “para

atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social os indivíduos e grupos devem

saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio

ambiente” (p.1). Esta definição de saúde, cunhada pela OMS em 1.946, apesar de ser um avanço

para aquele determinado momento histórico, superando a idéia da saúde apenas como ausência

de doença, já não é capaz de abranger o que hoje se denomina conceito ampliado de saúde.

Palma (2001) afirma que devido a dificuldade de definição do que é completo bem-estar, mesmo

que pareça uma evolução, torna-se incompleta sua utilidade.

Este documento defende que paz, habitação, educação, alimentação, renda, ecossistema

estável, recursos sustentáveis, justiça social e eqüidade são pré-requisitos para a saúde. Assim,

“a saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver” (p.1).

Também afirma ser “a saúde é o maior recurso para o desenvolvimento social, econômico e

pessoal, assim como uma importante dimensão da qualidade de vida”. Já traz a tona o

entendimento de que aspectos políticos, sócio-econômicos, culturais, ambientais,

comportamentais, e não apenas os biológicos, possuem implicações na saúde individual e

coletiva. Isso é um forte indício da superação do enfoque eminentemente biológico com que era

encarada a saúde.

Para este documento, “as pessoas não podem realizar completamente seu potencial de

saúde se não forem capazes de controlar os fatores determinantes de sua saúde” (p.2). Cabe

uma importante ressalva a nosso ver, questiona-se a possibilidade que cada sujeito possui de

controlar tais fatores, pois como bem colocado por este documento, há aspectos políticos, sócio-

econômicos, culturais, ambientais, comportamentais e biológicos que muitas vezes não estão

sobre o controle do indivíduo. Concordamos que a busca por gradações cada vez maiores na

compreensão e enfrentamento destes determinantes é um dos principais objetivos do movimento

da promoção da saúde, mas há que se questionar se em algum momento todos esses aspectos

estarão inteiramente sobre o controle de sujeito.

A Carta de Ottawa traz a importância da inter-setorialidade, pois defende a ação

coordenada entre todos os interessados na saúde das populações, Estado e organizações da

sociedade civil, enfim todos os sujeitos pois a saúde é uma experiência tanto individual como

coletiva. Entre elas: governo, setor saúde e outros setores sociais e econômicos, organizações

voluntárias e não-governamentais, autoridades locais, indústria e mídia. Ainda defende que “os

profissionais e grupos sociais, assim como o pessoal de saúde, têm a responsabilidade maior na

mediação entre os diferentes, em relação à saúde, existentes na sociedade” (p.2).

Propõe cinco campos centrais de ação:

a) Construção de políticas públicas saudáveis: Situa a saúde como prioridade de políticos e

governantes de todos os níveis e setores, ressaltando que suas decisões podem ocasionar

conseqüências no campo da saúde. Tenta também fazê-los compreender que possuem

responsabilidades com e sobre a saúde.

b) Criação de ambientes favoráveis à saúde: A partir da constatação da complexidade das

sociedades que vivemos busca-se a mudança de modos de vida, de trabalho e de lazer no

sentido de gerar condições seguras, estimulantes, satisfatórias e agradáveis. Pois estes

têm um significativo impacto sobre a saúde. Para este campo de ação, o trabalho e lazer

deveriam ser fontes de saúde para as pessoas. Assim, a organização social do trabalho

deveria contribuir para a constituição de uma sociedade mais saudável.

c) Reforço da ação comunitária: através de ações comunitárias concretas e efetivas busca-se

desenvolver prioridades, para a tomada de decisão, na definição de estratégias e na sua

implementação, visando a melhoria das condições de saúde.

As ações recaem sobre os recursos humanos e materiais da comunidade com o objetivo

de intensificar a auto-ajuda e o apoio social, além de fomentar a participação popular na

direção dos assuntos de saúde.

d) Desenvolvimento de habilidades pessoais: através da divulgação de informação,

educação para a saúde, podendo ocorrer em diferentes esferas como a educação formal e

não-formal. O que se quer, é que ocorra o aumento de opções disponíveis para que as

populações possam exercer maior controle sobre sua própria saúde e sobre o meio-

ambiente, e assim poderem optar por formas que conduzam a uma saúde melhor.

e) Reorientação do sistema de saúde: a promoção da saúde nos serviços de saúde deve ser

compartilhada entre indivíduos, comunidade, grupos, profissionais da saúde, instituições

que prestam serviços de saúde e governos. As necessidades globais do indivíduo, como

pessoa integral que é são o ponto de partida para as mudanças necessárias na educação e

no ensino dos profissionais de saúde e também na organização e atitude dos serviços de

saúde.

A Carta de Ottawa também defende que a saúde é construída através do cuidado próprio

e com os outros, no ambiente onde trabalham, divertem-se etc. Entende ainda que a capacidade

de tomar decisões e de ter controle sobre as circunstâncias da própria vida, também são parte

desta construção. Palma, Bagrichevsky e Estevão (p.19, 2003) e os PCNs da Educação Física

(Brasil, p.37, 1998) concordam com este entendimento, pois afirmam respectivamente que a

“saúde está relacionada a história do indivíduo e deste com a sociedade, ela é, assim, uma

experimentação do indivíduo” ou ainda que “o aprendizado das relações entre a prática de

atividades corporais e a recuperação, manutenção e promoção da saúde deve incluir o sujeito e

sua experiência pessoal”.

Detemo-nos pormenorizadamente na Carta de Ottawa (OMS,1986) pois esta é

considerada como dando início ao conceito moderno de promoção da saúde.

3.2 - Declaração de Adelaide (OMS, 1988)

Nela, o tema central gira em torno das políticas saudáveis. Segue a mesma definição da

Carta de Ottawa. Complementa afirmando que o objetivo principal de uma política pública

saudável é “criar um ambiente favorável para que as pessoas possam viver vidas saudáveis”

(p.1). Assim, opções saudáveis de vida para os cidadãos seriam favorecidas através de políticas

saudáveis. Afirma a saúde como direito humano fundamental e um secular investimento social.

Assim as iniqüidades no campo da saúde têm raízes nas desigualdades existentes na sociedade e

os grupos mais desprivilegiados e vulneráveis deveriam receber prioridade no enfrentamento

dessas desigualdades. Ao entender que “os países desenvolvidos têm a obrigação de assegurar

que suas próprias políticas públicas tenham impacto positivo na saúde das nações em

desenvolvimento” (p.2), traz uma importante contribuição para o entendimento de que barreiras

geográficas não devem impedir de que todas as nações ajam em favor da saúde de suas

populações, enfim, de toda a humanidade.

Entende que ações concretas nos níveis nacional, regional e local são necessárias para a

materialização dos princípios da promoção da saúde e que “a responsabilidade pública pela

saúde é um componente essencial para o fornecimento das políticas públicas comprometidas

com a saúde” (p3).

Afirma que a integração entre desenvolvimento social e econômico é essencial para promover a

saúde e que novas alianças na saúde devem ser fomentadas, o que para Buss (2000) caracteriza a

questão da intersetorialidade. Reafirma, assim como na Carta de Ottawa, que “as instituições

educacionais precisam responder às necessidades emergentes da nova saúde pública,

reorientando os currículos existentes” (p.6) com o objetivo de melhorar as habilidades em

capacitação, mediação e defesa da saúde pública.

3.3 - Declaração de Sundsvall (OMS, 1991)

Privilegiou os ambientes favoráveis à saúde ao afirmar que “ambientes e saúde são

interdependentes e inseparáveis” (p.2). Ao trazerem à tona que as desigualdades cada vez

maiores refletem-se na saúde das populações caminham no entendimento de que ações globais

são cada vez mais necessárias.

“No contexto da saúde, o termo “ambientes favoráveis” refere-se aos aspectos físico e

social do nosso entorno” (p.2). Segue afirmando que “para muitos, a educação é inatingível ou

insuficiente, ou ainda falha em capacitar e fortalecer as populações mais pobres” (p.2). Assim,

enquanto o acesso for limitado às estruturas políticas, a autodeterminação para ações favoráveis

á saúde individual e coletiva será diminuída.

Propõe a equidade como prioridade na criação de ambientes favoráveis à saúde e ainda

alerta que a criação destes têm diferentes dimensões: física, social, espiritual, econômica e

política. Afirma, visando promover a criação de ambientes favoráveis, que “aumentar o poder de

decisão das pessoas e a participação comunitária são fatores essenciais num processo

democrático de promoção da saúde e a força motriz para a autoconfiança e o desenvolvimento”

(p.4).

Conclui que “os temas de saúde, ambiente e desenvolvimento humano não podem estar

separados. Desenvolvimento implica na melhoria da qualidade de vida e saúde, ao mesmo tempo

que na preservação da sustentabilidade do meio ambiente” (p.5).

3.4 - Declaração de Santa Fé de Bogotá (OPAS, 1992)

Esta declaração definiu o significado da Promoção da Saúde na América Latina (AL).

Assumiu a relação entre saúde e desenvolvimento e buscou criar condições que priorizem como

propósito fundamental do desenvolvimento, o bem-estar geral. Reconheceu que a prolongada

crise econômica e as políticas de ajuste macroeconômico agravam as iniqüidades e geram a

deterioração das condições de vida da maioria da população.

Assim, definiu o desafio da Promoção da Saúde na AL em “conciliar interesses

econômicos e os propósitos sociais de bem-estar para todos, assim como trabalhar pela

solidariedade e eqüidade social” (p.1), pois julga que estes são condições indispensáveis para a

saúde e o desenvolvimento.

Para o documento, a região apresenta uma situação epidemiológica caracterizada pela

persistência ou ressurgimento de doenças outrora controladas como a malária, cólera, entre

outras; pelo aumento de doenças crônicas não-transmissíveis como o câncer e doenças

cardiovasculares e pelo surgimento de novas enfermidades como a Aids e as resultantes da

deterioração ambiental. Destaca a importância da participação ativa das pessoas nas mudanças

das condições sanitárias e na maneira de viver, condizentes com a criação de uma cultura de

saúde. Defende a informação e a promoção do conhecimento constituem valiosos instrumentos

para a participação e as mudanças. Ademais, ainda existem barreiras que limitam o exercício da

democracia e a participação da cidadania na tomada de decisões.

Traz algumas estratégias como: 1) Impulsionar a cultura da saúde, modificando valores,

crenças, atitudes; 2) Transformar o setor saúde colocando em relevo a estratégia de promoção da

saúde; 3) Convocar, animar e mobilizar um grande compromisso social para assumir a vontade

política de fazer da saúde uma prioridade. Também traz alguns compromissos, dentre eles

destacam-se: 1) Impulsionar o conceito de saúde condicionada por fatores políticos, econômicos,

sociais, culturais, ambientais, de conduta e biológicos, e a promoção da saúde como estratégia

para modificar estes fatores condicionantes; 2) Convocar as forças sociais para aplicar a

estratégia de promoção da saúde, colocando os propósitos sociais à frente dos interesses

econômicos; 6) Fortalecer a capacidade da população nas tomadas de decisões que afetem sua

vida e para optar por estilos de vida saudáveis; 9) Fortalecer a capacidade convocatória do setor

saúde para mobilizar recursos para a produção social da saúde, estabelecendo responsabilidades

de ação nos diferentes setores sociais e seus efeitos sobre a saúde.

Assim os papéis da promoção da Saúde são: “Não só identificar os fatores que favorecem

a iniqüidade e propor ações que diminuam seus efeitos, mas também em atuar além, como um

agente de mudança que induza transformações radicais nas atitudes e condutas da população e

seus dirigentes” (p.2).

3.5 - Declaração de Jacarta (OMS, 1997)

É a primeira Conferência Internacional sobre promoção da Saúde a ter lugar em um país

em desenvolvimento e a incluir o setor privado no apoio à promoção da saúde.

Defende a promoção da saúde como um investimento valioso e a saúde como um direito

humano fundamental e essencial para o desenvolvimento social e econômico. Assim “atua sobre

os determinantes da saúde para criar o maior beneficio para os povos, para contribuir de

maneira significativa para a redução das iniqüidades em questões de saúde, para assegurar os

direitos humanos e para a formação do capital social” (p.1).

Reafirma os pré-requisitos para a saúde como a Carta de Ottawa acrescidos de: direito de

voz das mulheres, um ecossistema estável, uso sustentável dos recursos, justiça social, respeito

aos direitos humanos e eqüidade.

Afirma que um comportamento mais sedentário, entre outros, ameaçam a saúde e o bem-

estar de centenas de milhões de pessoas. Este assunto foi ressaltado porque obviamente nos

interessa sua discussão em um item posterior deste trabalho.

Como prioridades para a promoção da saúde no século XXI propõe:

1. Promover a responsabilidade social para com a saúde;

2. Aumentar os investimentos para fomentar a saúde;

3. Consolidar e expandir parcerias em prol da saúde (Inter-setorialidade);

4. Aumentar a capacidade comunitária e dar direito de voz ao indivíduo;

5. Conseguir uma infra-estrutura para a promoção da saúde.

Conclui que a pobreza é, acima de tudo, a maior ameaça à saúde. Sendo vital que a

promoção da saúde evolua para fazer frente aos determinantes da saúde. Assim, a promoção da

saúde é um enfoque prático para a obtenção de maior eqüidade em saúde.

3.6 - Declaração do México (OMS, 2000)

Reconhece que a consecução do nível de saúde mais alto possível é um elemento positivo

para o aproveitamento da vida e necessário para o desenvolvimento social, econômico e a

eqüidade. E que a promoção da saúde e o desenvolvimento social é um dever e responsabilidade

central dos governos, compartilhada por todos os setores da sociedade; o que deixa claro a

importância da inter-setorialidade.

Constata que persistem muitos problemas de saúde que prejudicam o desenvolvimento

social e econômico e que, portanto, devem ser urgentemente resolvidos para promover uma

situação mais eqüitativa em termos de saúde e bem-estar. Ressalta a urgente necessidade de

abordar os determinantes sociais, econômicos e ambientais da saúde.

Conclui que a promoção da saúde deve ser um componente fundamental das políticas e

programas públicos em todos os países na busca de eqüidade e melhor saúde

para todos e afirmam que de promoção da saúde são eficazes.

3.7 - Carta de Bangkok (OMS, 2005)

Teve como propósito a afirmação de que o desenvolvimento global e nacional deveria

situar-se em torno do empoderamento das comunidades para a melhoria da saúde e da eqüidade

em saúde. Buscou complementar o que fora discutido pelas declarações sobre a Promoção da

Saúde anteriores. Pretende atingir todos aqueles envolvidos no processo da melhoria de saúde

dos sujeitos: governos e políticos em todos os níveis, sociedade civil, setor privado, organizações

internacionais e comunidade da saúde pública.

Reconhece que desfrutar o mais elevado estado possível de saúde é um dos direitos

fundamentais de todo ser humano, sem discriminação e um conceito positivo e inclusivo de

saúde como determinante da qualidade de vida, que inclui o bem estar mental e espiritual.

Elenca alguns fatores críticos que atualmente influenciam de forma negativa a saúde: aumento

das desigualdades dentro de cada país e entre países, novos padrões de consumo e comunicação,

mudanças no meio ambiente global e urbanização, o que geraria condições adversas de trabalho,

exclusão dos portadores de deficiências entre outras.

Afirma que para obtenção de maiores avanços na implementação de estratégias efetivas

de Promoção da Saúde, todos os setores e ambientes devem atuar para advogar em favor da

saúde com base nos direitos humanos e na solidariedade; investir em políticas sustentáveis,

ações e infra-estrutura para que sejam atingidos os determinantes da saúde; regular e legislar

para assegurar um alto nível de proteção para a redução de danos e oportunidades iguais para a

saúde e o bem estar de todas as pessoas entre outros.

Assim, o progresso na direção de um mundo mais saudável requer ação política forte,

ampla participação e advocacia sustentável e o setor saúde desempenharia um papel chave para

prover liderança na construção de políticas e parcerias para a Promoção da Saúde. Pretende

tornar a Promoção da Saúde uma responsabilidade central de todos os governos e uma prioridade

para as comunidades e a sociedade civil. Inclui o setor privado e o setor informal na busca por

gradações cada vez maiores de saúde ao afirmar que estes têm a responsabilidade de assegurar a

saúde e segurança no local de trabalho, e de promover a saúde e o bem estar de seus

empregados, suas famílias e comunidades.

Traz um importante alerta já que afirma que desde a adoção da Carta de Ottawa, um

número significativo de resoluções em níveis nacional e global têm sido assinados em apoio à

Promoção da Saúde, porém estes não têm sido necessariamente acompanhados pela ação. Pode-

se concluir então, que a saúde determina o desenvolvimento sócio-econômico e político.

3.8 - Política Nacional de Promoção da Saúde

Em 2005 o Ministério da Saúde definiu a Agenda de Compromisso pela Saúde que

agrega três eixos: O Pacto em Defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), o Pacto em Defesa da

Vida e o Pacto de Gestão. Destaca-se o Pacto pela Vida que entre suas prioridades está o

aprimoramento do acesso e da qualidade dos serviços prestados no SUS, a promoção,

informação e educação em saúde com ênfase na promoção de atividade física (grifo meu), na

promoção de hábitos saudáveis de alimentação e vida, controle do tabagismo; controle do uso

abusivo de bebida alcoólica; e cuidados especiais voltados ao processo de envelhecimento.

Entende que para todos se tornarem partícipes no cuidado com a saúde é necessária uma

política transversal, integrada e intersetorial, abrangendo não só o setor sanitário, mas também,

outros setores do Governo, os setores privados e não-governamental e a sociedade, compondo

redes de compromisso e co-responsabilidade quanto à qualidade de vida da população.

Em março de 2006 entra em vigor no Brasil a Política Nacional de Promoção da Saúde

(PNPS).

Em sua introdução nos alerta para as mudanças - econômicas, políticas, sociais e

culturais, que ocorreram desde o século XIX e que se intensificaram no século passado,

produzindo alterações significativas para a vida em sociedade. Assim, a saúde passou pelo

processo de transformação da sociedade acarretando um processo de transformação dos

problemas sanitários.

Defende a promoção da saúde “como uma das estratégias de produção de saúde, ou seja,

como um modo de pensar e de operar articulado às demais políticas e tecnologias desenvolvidas

no sistema de saúde brasileiro” (p.10), pois contribuiria na construção de ações que possibilitam

responder às necessidades sociais em saúde, como por exemplo a inclusão dos múltiplos

determinantes e condicionantes da saúde na formulação dos instrumentos ordenadores do

planejamento urbano e/ou agrário

Afirma que a saúde é resultado dos modos de organização da produção, do trabalho e da

sociedade em determinado contexto histórico. Logo, sendo uma produção social de

determinação múltipla e complexa, exige a participação ativa de todos os sujeitos envolvidos em

sua produção na análise e na formulação de ações que visem à melhoria da qualidade de vida e

assim, busca estabelecer redes de compromissos e co-responsabilidades em favor da vida.

Continua afirmando que o aparato biomédico não consegue modificar os condicionantes nem

determinantes mais amplos desse processo.

Contribui ao entender que “os modos de viver não se referem apenas ao exercício da

vontade e/ou liberdade individual e comunitária” (p.11). Propõe que as intervenções em saúde

tomem como objeto os problemas e as necessidades de saúde e seus determinantes e

condicionantes. Defende que a organização da atenção e do cuidado à saúde perpasse as ações e

os serviços que operem sobre os efeitos do adoecer englobando também aqueles que busquem

melhores condições de vida e favoreçam a ampliação de escolhas saudáveis por parte dos

sujeitos e das coletividades no território onde vivem e trabalham, ou seja, busca-se a composição

de redes de compromisso e co-responsabilidade quanto à qualidade de vida da população.

Assim, a promoção da saúde é “uma estratégia de articulação transversal na qual se

confere visibilidade aos fatores que colocam a saúde da população em risco e às diferenças

entre necessidades, territórios e culturas presentes no nosso País” (p.12). Ou ainda como “um

mecanismo de fortalecimento e implantação de uma política transversal, integrada e

intersetorial” (p.15). Tem o objetivo de criar mecanismos que reduzam as situações de

vulnerabilidade, defendam a eqüidade e incorporem a participação e o controle sociais na gestão

das políticas públicas mediante a formulação de políticas sociais e econômicas que operem na

redução dos riscos de adoecer. Defende que todos devam ser partícipes na proteção e no cuidado

com a vida.

Assim, a promoção da saúde materializa-se na articulação entre “sujeito/coletivo,

público/privado, estado/sociedade, clínica/política, setor sanitário/outros setores, visando

romper [...] fragmentação na abordagem do processo saúde-adoecimento e reduzir a

vulnerabilidade, os riscos e os danos que nele se produzem” (p.15).

Entende que a produção de saúde torna-se indissociável da produção de subjetividades

mais ativas, críticas, envolvidas e solidárias e, simultaneamente, exige a mobilização de recursos

políticos, humanos e financeiros que extrapolam o âmbito da saúde. Assim, coloca ao setor

Saúde o desafio de construir a intersetorialidade. Define-a como uma articulação das

possibilidades dos distintos setores para pensar a questão complexa da saúde e de co­

responsabilização pela garantia da saúde como direito humano e de cidadania.

Assim, o setor Saúde deve tornar cada vez mais visível que o processo saúde­

adoecimento é efeito de múltiplos aspectos, sendo pertinente a todos os setores da sociedade.

Seu objetivo geral é

promover a qualidade de vida e reduzir vulnerabilidade e riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes – modos de viver, condições de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais.

Destacam-se alguns objetivos específicos:

1 III– Promover o entendimento da concepção ampliada de saúde, entre os trabalhadores

de saúde, tanto das atividades-meio, como os da atividades-fim;

2 VI – Valorizar e otimizar o uso dos espaços públicos de convivência e de produção de

saúde para o desenvolvimento das ações de promoção da saúde;

3 X – Prevenir fatores determinantes e/ou condicionantes de doenças e agravos à saúde;

Em suas diretrizes destaca-se:

4 IV – Promover mudanças na cultura organizacional, com vistas à adoção de práticas

horizontais de gestão e estabelecimento de redes de cooperação intersetoriais;

Traz como um importante eixo temático as ações que objetivem a promoção da alimentação

saudável; práticas corporais/atividades físicas e ambiente livre de tabaco. Sugere o apoio e

fortalecimento de ações de promoção da saúde inovadoras utilizando diferentes linguagens

culturais, tais como jogral, hip hop, teatro, canções, literatura de cordel e outras formas de

manifestação.

Priorizou para o biênio de 2006-2007 ações específicas sobre:

a) Alimentação saudável: objetivando a segurança alimentar e nutricional, contribuindo

com as ações e metas de redução da pobreza, a inclusão social e o cumprimento do direito

humano à alimentação adequada. Destaca-se a preocupação com a redução do risco para doenças

crônicas não-transmissíveis (DCNT), devido à ênfase para a regulamentação da propaganda e

publicidade de alimentos. Busca ainda estimular ações de empoderamento do consumidor para

o entendimento e uso prático da rotulagem geral e nutricional dos alimentos, promover a

alimentação saudável nas escolas;

b) Prática corporal/atividade física: sugere o mapeamento e apoio as ações de práticas

corporais/atividade física existentes nos serviços de atenção básica, estimula o oferecimento de

práticas corporais/atividade física como caminhadas, prescrição de exercícios, práticas lúdicas,

esportivas e de lazer, na rede básica de saúde, voltadas tanto para a comunidade como um todo

quanto para grupos vulneráveis; estimula à inclusão de pessoas com deficiências em projetos de

práticas corporais/atividades físicas e alerta para a necessidade melhorias ambientais, de espaços

públicos, área física, equipamentos entre outros, buscando aumentar os níveis populacionais de

atividade física.

É importante salientar que obviamente este tema tem grande concordância com o que

este estudo pretende trazer para debate, logo, em itens posteriores acredita-se que poderemos

compreender melhor como articular este eixo temático da PNPS com a finalidade deste estudo.

c) Prevenção e controle do tabagismo: Busca a redução da aceitação social do tabagismo,

redução dos estímulos para que os jovens comecem a fumar e aumento do acesso dos fumantes

ao apoio para cessação de fumar, investindo na promoção de ambientes livres de tabaco através

de ações educativas, normativas e organizacionais. Destaca-se o controle e monitoramento dos

aspectos relacionados aos produtos de tabaco comercializados tais como as estratégias de

comercialização e de divulgação de suas características para o consumidor entre outros.

d) Redução da morbimortalidade em decorrência do uso abusivo de álcool e outras

drogas: Busca investir em ações educativas e sensibilizadoras para crianças e adolescentes

quanto ao uso abusivo de álcool, de drogas e suas conseqüências. Desenvolve iniciativas de

redução de danos pelo consumo de álcool e outras drogas que envolvam a co-responsabilização e

autonomia da população. Destaca-se o apoio à restrição de acesso a bebidas alcoólicas de acordo

com o perfil epidemiológico de dado território, protegendo segmentos vulneráveis e priorizando

situações de violência e danos sociais.

e) Redução da morbimortalidade por acidentes de trânsito: Sugere a incorporação de

ações educativas na grade curricular de todos os níveis de formação através de discussões

intersetoriais e busca apoio às campanhas de divulgação em massa dos dados referentes às

mortes e seqüelas provocadas por acidentes de trânsito.

f) Prevenção da violência e estímulo à cultura de paz: Busca a sensibilização e

capacitação dos gestores e profissionais de saúde na identificação e encaminhamento adequado

de situações de violência intrafamiliar e sexual e estímulo à articulação intersetorial que envolva

a redução e o controle de situações de abuso, exploração e turismo sexual.

g) Promoção do desenvolvimento sustentável: Busca o fortalecimento de instâncias

decisórias intersetoriais com o objetivo de formular políticas públicas integradas voltadas ao

desenvolvimento sustentável, apóia o envolvimento da esfera não-governamental no

desenvolvimento de políticas públicas de promoção da saúde. Promove o uso de metodologias

de reconhecimento do território, em todas as suas dimensões – demográfica, epidemiológica,

administrativa, política, tecnológica, social e cultural, como instrumento de organização dos

serviços de saúde.

Pode-se concluir que a estratégia de promoção da saúde

é retomada como uma possibilidade de enfocar os aspectos que determinam o processo saúde-adoecimento em nosso País – como, por exemplo: violência, desemprego, subemprego, falta de saneamento básico, habitação inadequada e/ou ausente, dificuldade de acesso à educação, fome, urbanização desordenada, qualidade do ar e da água ameaçada e deteriorada; e potencializam formas mais amplas de intervir em saúde (p.10).

Capítulo 4:

APROXIMANDO EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE

COLETIVA/PROMOÇÃO DA SAÚDE

4.1 - PREDOMÍNIO BIOLÓGICO DA SAÚDE NA EDUCAÇÃO FÍSICA E SEUS

DESDOBRAMENTOS

Bagrichevsky & Estevão (2005) afirmam que a matriz teórico-científica da área da

Educação Física desconsidera, na maior parte das vezes a dimensão sociológica da saúde e

defendem que aja uma análise contraponto ao “enfoque reducionista de saúde que a Educação

Física tem hegemonicamente advogado, permitindo para si um papel difusor de idéias rasas e

simplistas do tipo ‘pratique exercício e ganhe saúde’ (p.69).

A “saúde” na área da Educação Física privilegia o enfoque biológico, resultando numa

relação causal entre a atividade física e saúde desconsiderando assim os determinantes sócio-

culturais e econômicos existentes nessa relação (Bagrichevsky e Estevão, 2005; Carvalho, 2005;

Deslandes, 2004). Assim, responsabiliza o indivíduo, única e exclusivamente, por sua condição

de vida e permite que a relação entre atividade física e saúde seja explorada e estimulada pela

indústria cultural, do lazer e da saúde (BRASIL, 1998; Castiel, 2003; Campos, 2004; Costa e

Venâncio, 2004).

Sobre a Educação Física, Carvalho (2005) indaga o porquê de advogarmos a saúde,

qualidade de vida e bem-estar como principais fins de nossa atuação profissional e não

conseguimos construir vínculos, por exemplo, com o serviço público de saúde. Vale lembrar,

conforme visto na PNPS que há o incentivo, pelo menos legal, para que isso ocorra. O

questionamento que se faz crucial por hora é: isto realmente está ocorrendo?

Qualidade de vida também é uma expressão marcante ao tratar-se do engajamento na

prática de atividade física. Qual é a academia que não a oferece a partir do ingresso em suas

atividades? O termo torna-se ambíguo ao poder significar acesso a bens culturais e de lazer, boas

condições de moradia, estar devidamente empregado e remunerado, ter assistência médica entre

outros. Ou pode significar um apelo ao consumismo já que apresentaria o mercado capitalista

como alternativa única para o seu alcance (Andrade, Wiik e Vasconcellos, 2004). Estes autores

defendem que a qualidade de vida deveria ser estendida a todos pois é conteúdo da cidadania,

logo direito de todos.

Sendo encarada muitas vezes como uma boa escolha, a atividade física, no modelo

clássico de prevenção faria com que nos tornássemos menos suscetíveis às doenças,

principalmente as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) tais como: diabetes, hipertensão,

doenças cardiovasculares em geral. Comporia junto a uma alimentação balanceada, o não

tabagismo, entre outros um espectro denominado como estilo de vida saudável que acreditaria,

baseado em conotações probabilísticas, ser uma forma de alcançar mais saúde ou ainda de evitar

gastos públicos, caso determinados comportamentos sejam adotados ou modificados (Deslandes,

2004; Bagrichevsky, Estevão e Vasconcellos-Silva, 2007).

É gerado a partir deste entendimento que o indivíduo, independente de suas condições

sócio-econômicas e culturais, enfim, do contexto onde este vive, só teria uma escolha a fazer;

tornar-se ativo, o que caracteriza uma forma ‘culpabilizatória’ de encarar a adoção da atividade

física como hábito de vida. Costa e Venâncio (p.70, 2004) afirmam que “uma parte dos

profissionais de Educação Física está deixando de apresentar um posicionamento crítico e ético

diante da ação da mídia e dos avanços biotecnológicos”.

Segundo Castiel (p.93, 2003)

uma crítica comum ao conceito ‘estilo de vida’ é referente a seu emprego em contextos de miséria e aplicado a grupos sociais onde as margens de escolha praticamente inexistem. Muitas pessoas não elegem ‘estilos’ para levar suas vidas. Não há opções disponíveis. Na verdade, nestas circunstâncias, o que há são estratégias de sobrevivência [grifo do autor].

Bagrichevsky, Estevão e Vasconcellos-Silva (2007) ainda afirmam o sedentarismo como

um símbolo emblemático da era persecutória em que vivemos. Assim, o sedentarismo seria o

mal a ser combatido, e esses autores concordam ao entender que há um enfoque na

responsabilização individual não só neste, mas no geral, em todos os problemas da saúde da

população. Castiel (2007) ao abordar a temática da Saúde persecutória, afirma que a saúde e a

vida foram tomadas por uma prevenção total, na busca da longevidade biológica. Assim,

“descarta-se a valorização ética das experiências corporais “livres” dos sujeitos, como

possibilidades de realização singular, como formas mais humanas de ser e sentir-se saudável

(ou não)” (p.864). O autor ainda afirma que a discussão sobre qualidade de vida deve perpassar

também a quantificação da vida através de análise critica sobre as propostas de longevidade a

qualquer preço.

Sobre o combate ao sedentarismo como preocupação em saúde pública, Bagrichevsky,

Estevão e Vasconcellos-Silva (2007) lançam o seguinte questionamento: “como fazê-lo sem

estigmatizar os sujeitos classificados como sedentários”? (p.862). A nosso ver, esta é uma

abordagem exaustivamente utilizada e que acaba, em muitas vezes, afastando os sujeitos da

prática de atividade física já que apresenta um modelo externo, de corpos, rendimento etc,

restando “ao sujeito apenas submeter-se, adaptar-se a metas e padrões estabelecidos de

antemão. Ou, sentindo-se incapaz, alienar-se, não se permitindo vivenciar a experiência”

(Brasil, p.37, 1998). Ou, denominada de outra forma, ocorre uma “perspectiva impositiva,

medicalizada, culpabilizante, agenciadora a priori do contingente de gastos calóricos para

evitação de riscos e agravos” (Bagrichevsky, Estevão e Vasconcellos-Silva, p.86, 2007)

permanecendo implícito “um discurso moralizante e higienista de bons hábitos e um incentivo a

práticas reducionistas de ‘saudável condicionamento corporal’ (Deslandes, p.vii, 2004).

Ou ainda segundo Costa e Venâncio (2004, p.61) ocorre uma luta “por uma inclusão num grupo

em que as pessoas detenham tal perfil para trazer-lhes benefícios sociais, pessoais e

profissionais, e ainda revelar o nível socioeconômico”.

Ocorre a partir daí a outorga “um caráter de ‘estatuto’ ou ‘modelo’ individualista a ser

seguido” como parte essencial de um estilo de vida (Bagrichevsky e Estevão, 2005). E os corpos

“diferentes” só interessam [...] como o mau exemplo. A partir deles faz-se a propaganda

“terrorista” (Costa e Venâncio, p.67, 2004). Expressa mais uma vez o entendimento, muitas

vezes implícito até no pensamento de profissionais da área, a concepção que privilegia o

biológico quando refere à saúde, pois crê que características morfológicas como magreza ou

corpos musculosos são exemplos de saúde. Para Costa e Venâncio (p.70, 2004) os profissionais

de educação física “corroboram os discursos de controle do corpo que a mídia produz ao fazer

da atividade física (associada à biotecnologia) uma possibilidade de corresponder ao padrão de

beleza em nome da saúde”.

Assim, para esta ótica, o bem-estar das pessoas estaria “invariavelmente dependente da

genética e da cultura de vida das pessoas, expressa pelos estilos de vida e ambientes em que

vivem” (CONFEF, p.14, 2006).

Ocorre, então, o que se denominou “mercadorização da saúde” (Bagrichevsky e Estevão,

p.69, 2005), ou seja, a busca pela obtenção da saúde através da comercialização de serviços e

produtos, o que é explorado e estimulado pela indústria da saúde além das indústrias cultural e

do lazer (Brasil, 1998; Campos, 2004; Costa e Venâncio, 2004; Castiel, 2003) e o corpo passa

ser produto de comercialização, consumo e controle (Costa e Venâncio, 2004).

A partir daí, a lógica comercial de criar ou aumentar a necessidade ou sua percepção por

parte de possíveis consumidores faz com que aja a divulgação e conseqüente inculcação de que a

prática de atividade física traria saúde, além de bem-estar e qualidade de vida. Palma et al (2003)

e Bagrichevsky e Estevão (2005) alertam que só quem tem poder aquisitivo abastado é que

consegue obter tais serviços e produtos e Palma (2000) mostrou através de estudo revisional que

a atividade física está bastante associada ao estado sócio-econômico. Costa e Venâncio (2004)

corroboram com tal afirmativa ao enfatizarem que a mídia torna o corpo objeto de consumo e

manipulação do próprio ser humano. Assim, os veículos de comunicação de massa apresentam o

corpo desejável à sociedade, que por sua baixa capacidade crítica, aceita-o como modelo a ser

seguido, ou nas palavras das autoras este corpo divulgado seria um “protótipo do belo” (p.60).

Alertam ainda que em muitas vezes caberá aos profissionais de Educação Física uma prática que

reproduza tal protótipo. Carvalho (2004) como já citado ilustra também como a mídia de massa

divulga informações que reforçam o “entendimento de que a atividade física produz saúde”

(p.28). Portanto, ressalta-se a base biológica e fisiológica do corpo que está em evidência

baseado em sua forma. Corpo este que propaga uma espécie de saúde e beleza homogêneas,

caracterizando um padrão ideal “atingível” por meio de atividade física, dieta, entre outros.

Acaba por haver a convocação do corpo pelas relações de consumo expressas na mídia para

vender estilos de vida saudáveis (Costa e Venâncio, 2004).

Vale lembrar, como já afirmamos, que os discursos da atividade física e saúde são na

atualidade um grande filão da economia e a partir daí pode-se conjecturar que há a criação de

certos padrões morais que baseiam-se em grande parte em discursos científicos para alimentar

tal ‘indústria’. Costa e Venâncio (p.64, 2004) afirmam que “vai depender do profissional de

Educação Física assumir ou não a função de “vendedor” caso aceitem acriticamente a ‘venda’

de significados sociais como: saúde, bem-estar, juventude e beleza através da prática de

atividade física. Os profissionais de Educação Física, portanto deveriam estar atentos a este

quadro para realizar uma leitura crítica e posteriormente se posicionarem. As autoras citam uma

reportagem na maior emissora de tv aberta do país que evidencia a opção de advogar pela

atividade física de forma utilitária, ou seja, com um fim em si mesma. Nesta, atividades

domésticas foram apresentadas como atividade física – o que não é incorreto – e ressaltadas pela

perda calórica. Contudo, aspectos como prazer, sociabilidade entre outros não foram

mencionados.

Na esteira do discurso que associa saúde à atividade física, ocorre também a associação

entre esporte e saúde de forma linear e baseado numa relação causal como já abordado neste

texto. Busca-se na verdade, ascenção social mascarando interesses sociais, políticos e

econômicos dos envolvidos neste processo. Reforça, assim, a compreensão do esporte com

caráter utilitário.

Assim “urge a tarefa de se analisar [...] as tentativas de massificação de uma norma

moralizante da aparência física utópica do ‘corpo sarado’, [...] e do ‘estilo de vida ativo’, que

estão em curso na sociedade contemporânea (Bagrichevsky e Estevão, p.67, 2005). Deve-se,

através da reflexão da relações que estão envolvidas no consumo da saúde e então abordar os

padrões socioculturais vigentes dentro de uma perspectiva de

autoconhecimento para o autocuidado e ampliá-la como sendo um direito almejar uma vida prazerosa possibilitarão uma contraposição aos interesses econômicos que pregam a busca da aptidão física por meio do sofrimento, subjugando o corpo pela vontade apoiada em um modelo de dominação e no consumo de bens e serviços (Brasil, p. 41, 1998)

É razoável aceitar que a prática regular de atividade física traz benefícios para a saúde

(Ferreira e Najar, 2005; Palma (2000); Bagrichevsky e Estevão, 2005), esta entendida aqui em

seu conceito ampliado não se restringindo apenas ao seu componente biológico. Contudo,

conforme afirmam Bagrichevsky & Estevão (2005, p.67) “é complicado consentir na aceitação

acrítica de que é tão simplesmente mantendo-se ´ativo´ que se obtém saúde”.

O que defendemos é que concomitante a prática regular de atividade física aja a análise

do contexto de vida dos indivíduos e o subseqüente enfrentamento dos determinantes de sua

saúde. Assim, contrapõe a forma prescritivo-normativa com que a atividade física vem sendo

‘receitada’ aos indivíduos, pois concordamos com Carvalho (2005) ao afirmar que somente

através de transformações econômicas, sociais e políticas resultando em padrões saudáveis de

existência é que se produz saúde.

Propõe-se então, a co-gestão compartilhada entre indivíduos e sociedades para que

sinergicamente colaborem para a produção de ambientes e políticas saudáveis, onde a atividade

física terá importante lugar (Deslandes, 2004), ou seja, o envolvimento dos sujeitos, no processo

de mudança para que a atividade física torne-se m hábito de vida, é condição necessária.

4.2 - SAÚDE COLETIVA E EDUCAÇÃO FÍSICA

Por diversas vezes no texto a atividade física apareceu como importante componente da

saúde, promoção da saúde e qualidade de vida. Cabe-nos neste item ampliar o debate e

entendimento de como esta pode realmente contribuir para tais aspectos tão importantes de

nossas vidas.

Bagrichevsky & Estevão (p.71, 2005) afirmam que “o campo da Saúde Coletiva designa

um agregado de saberes e práticas referido à saúde como fenômeno social e, portanto, de

interesse público”. Carvalho (2005) por sua vez, sugere que a Educação Física analise a

constituição do campo da Saúde Coletiva, para que conheça outras formas de pensar e agir no

universo da saúde. A autora define este campo como:

um campo de saberes e práticas que toma como objeto as necessidades sociais de saúde, com intuito de construir possibilidades interpretativas e explicativas dos fenômenos relativos ao processo saúde-doença, visando a ampliar significados e formas de intervenção (p.20).

Bagrichevsky e Estevão (2005) em texto que tem a preocupação em “registrar a

emergencial necessidade de se repensar as formulações teórico-metodológicas na Educação

Física que balizam intervenções e políticas, ditas de Promoção à Saúde” (p.65), buscam através

da Saúde Coletiva coaduná-la às perspectivas críticas. Os autores alertam que os elementos

sócio-culturais e econômicos intervenientes no processo saúde-doença são desconsiderados.

Soma-se a isto a desconsideração destes fatores na adesão á prática de atividades físicas. Estes

autores acreditam que os movimentos Eugênico e Sanitarista - que conformaram a Educação

Física como instituição no início do século passado no Brasil – podem ser considerados os

precursores ideológicos da massificação de um estilo de vida ativo. Consideramos também que

através do arcabouço militar com que a Educação Física foi inicialmente ministrada fechava-se

então uma tríade que se faz presente na atualidade no imaginário não só da população como de

muitos profissionais da área e de saúde em geral. Assim quem não se seduz por promessas de

corpos, rendimento e aceitação por estar próximo a modelos que são massificados e aceitos

como dentro da normalidade estética torna-se culpado. Para Andrade, Wiik e Vasconcellos

(2004, p.59) “nossos corpos são regulados por critérios de normalidade impostos por regras e

esquemas fundados na medicina, na visão de diferentes especialistas, na cultura, nos vários

padrões regionais e nos modelos de consumo”. Os autores ainda supõem que concepções

religiosas e filosóficas das gerações passadas não permitiram que fossemos socializados para

estabelecer com o nosso corpo uma relação de intimidade. Lembram-nos que o padrão cultural

dominante é o jovem, assim crêem que “a nossa cultura exclui a perda, a doença, a vitalidade e

a decadência física” (p.62).

Bagrichevsky & Estevão (p.69, 2005) afirmam que “as dimensões relacionais entre

saúde e sociedade têm sido proficuamente debatidas em outras áreas do conhecimento”.

Acreditamos que este debate será extremamente importante na área de Educação Física, pois

permitirá um aprofundamento nas questões de saúde da população. Kunz (2006) crê que desde

que vem se tentando introduzir, na Educação Física brasileira, os referenciais das ciências

humanas e sociais para a apreensão crítica da realidade na qual está inserida, tem-se avançado

muito. Ressaltamos que na área específica da Educação Física, a relação entre saúde e sociedade

já encontra campo fértil para debates já há algum tempo, contudo, acreditamos que tais debates

acabam por ficar restritos a suas cercanias e a um nicho restrito de profissionais. O que

buscamos é a ampliação deste debate com diversas outras áreas da saúde e das ciências sociais e

é claro, com os profissionais da área. Como exemplo lembramos que importantes publicações

como os PCNs por exemplo, que retrata a preocupação de instituições governamentais com a

Educação Física – mais especificamente escolar, mas acreditamos poder extrapolar para

qualquer âmbito de trabalho de atuação – e que buscam a democratização, humanização e

diversificação a prática pedagógica da área, e com isso ampliar, de uma visão apenas biológica,

para um trabalho que incorpore as dimensões afetivas, cognitivas e socioculturais dos sujeitos

(Brasil, 1998).

A Saúde Coletiva, mais especificamente a promoção da saúde, como vem sendo

defendida neste texto, integrando áreas de conhecimento distintas, trazem a tona a dimensão

social, coletiva e política da saúde, que hoje se busca concretizar através da busca por melhores

condições de vida para a população.

Carvalho (2005) defende que o ensino e a pesquisa em Educação Física sejam voltados

ao atendimento da população, da educação em saúde para os indivíduos e comunidades. Para

isso, consolidar trabalho conjunto com a Saúde Coletiva pode ser um caminho rico na direção da

população, das políticas sociais e das políticas públicas.

Temas como corpo e lazer, por exemplo, fazem parte dos desafios relativos às

necessidades sociais em saúde da população brasileira e hoje, a Saúde Coletiva, já reconhece a

urgência de se ater também a problemas como estes que são comuns à Educação Física. Peres et

al (2005), em estudo que trata do lazer e da cultura como demandas sociais, políticas públicas e

importantes dimensões dos projetos de melhoria da qualidade de vida e da saúde, acreditam que

estes podem influenciar o processo saúde/doença – seja individual ou coletivamente. Afirmam

ainda que as políticas públicas também podem ser influenciadas com a perspectiva de

desenvolvimento e de melhoria da qualidade de vida. Os autores crêem que as atividades de

lazer são atividades culturais e para Daólio (p.2, 2005) a “cultura é o principal conceito para a

educação física, porque todas as manifestações corporais humanas são geradas na dinâmica

cultural”. Galvão, Rodrigues e Sanches Neto (2005) afirmam que o principal objetivo da

Educação Física – estes autores falam especificamente da área escolar, mas cremos poder

ampliar para qualquer área de atuação da educação física – é introduzir e integrar os sujeitos na

Cultura Corporal de Movimento, formando cidadãos que irão usufruir, partilhar, produzir,

reproduzir e transformar as manifestações características dessa área como o esporte, o jogo, a

dança entre outros. Os PCNs dão importante contribuição ao defenderem que

a concepção de cultura corporal de movimento amplia a contribuição da Educação Física [...] para o pleno exercício da cidadania, na medida em que, tomando seus conteúdos e as capacidades que se propõe a desenvolver como produtos socioculturais, afirma como direito de todos o acesso e a participação no processo de aprendizagem (p.30, Brasil, 1998).

Assim, o lazer possui um grande potencial de suscitar e expressar diversas formas de

sociabilidade e de reciprocidade, devido a seu caráter educativo, relacional e crítico-reflexivo

(Peres et al, 2005). Portanto, a atividade física como atividade de lazer e da cultura mostra-se

como importante dimensão do cuidado à saúde, de forma ampliada como estamos destacando

neste texto, já que extrapola o âmbito biológico. Como exemplo, Peres et al (2005) acreditam

que lazer, esporte e cultura possuem capacidade de modificar a trajetória de crianças e jovens,

citam que representantes de comunidades onde há grande exclusão social acreditam que ações

culturais, de lazer e esporte são essenciais, pois teriam grande capacidade de se contrapor à

violência, em especial para as crianças e os jovens, segmento em maior vulnerabilidade neste

caso. Concordamos em parte com tal afirmativa, reiteramos que é necessário compreender como

estas ações serão planejadas e executadas, quais são os valores que perpassarão tais atividades,

pois nos parece que o esporte, por exemplo, por si só não poderia de forma simplista atuar em

temática tão complexa como a violência. Vale lembrar que o esporte profissional está cheio de

contradições, valorização exacerbada da competição que em muitas vezes acaba reforçando a

própria violência – vide casos de torcidas organizadas e até mesmo os próprios atletas

profissionais quando estão competindo.

Peres et al (p. 767, 2005) concluem que “lazer, esporte e cultura são assuntos

fundamentais na dinâmica comunitária e na implementação de programas sociais e de saúde”

pois permitiriam apropriação crítica e reflexiva em relação ao contexto social em que vivem.

Logo, a possibilidade de aproximação entre Educação Física e Saúde Coletiva, objeto

principal deste trabalho, segundo Carvalho (2005) trará para a área da Educação Física

discussões fundamentadas no referencial das ciências humanas, o que pode contribuir para que os profissionais específicos compreendam sua prática pedagogica de maneira contextualizada, considerando os fatores culturais, históricos, econômicos, e políticos, de modo que faça contraponto à visão estritamente biológica do corpo e relevando os elementos da cultura corporal como manifestações e expressões humanas, portanto, com historicidade e significado (p.25).

Assim, os conteúdos da Educação Física devem ir além da realização pura e simples de

tarefas motoras, o que caracteriza-a com um fim em si mesma. Busca-se a compreensão e

enfrentamento dos diversos fatores que influenciam tal prática. Um desporto, então, deve ser

compreendido em seu contexto sócio-político, econômico e cultural, o que extrapola e muito o

simples saber-fazer. Não desconsideramos, contudo, a importância da técnica na busca de uma

melhor performance, só não concordamos quando esta torna-se fim exclusivo na prática da

atividade física de cunho desportivo ou não. E ainda salientamos que mesmo quando a busca

pela maior eficiência técnica se faz presente, é importante relacioná-la com o cuidado a saúde

individual e coletiva.

4.3 - PROGRAMAS DE FOMENTO A PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA: BREVE

ANÁLISE

A difusão de programas institucionais através de campanhas publicitárias, que teriam

como objetivo o aumento dos níveis populacionais de atividade física enfatizam a prática de

atividade física de forma descontextualizada com a realidade concreta de vida daqueles que

pretende atingir. Levantamos o seguinte questionamento: como aquele trabalhador mal

remunerado que gasta 4 horas, em média, de deslocamento por dia poderia usufruir dos

benefícios que a prática de atividade física pode trazer?

Ferreira e Najar (2005) em artigo que busca refletir sobre o processo de adesão à

atividade física como empreendimento na área da saúde e sobre as ações costumeiramente

adotadas nesse sentido, afirmam que o acúmulo de conhecimento no campo de estudo referente à

adesão ao exercício físico ainda é pequeno diante de sua importância no Brasil. Acreditam,

baseado na falta de evidências, que a mera informação dos benefícios proporcionados pela

atividade física é insuficiente para a incorporação desta como hábito de vida, o que é

corroborado por Farinatti e Ferreira (2006).

Afirmam que “a questão da motivação e adesão ao exercício é [...] multidimensional”

(p.210), citam estudos que apontaram a diversidade e complexidade dos fatores ligados à adesão

a prática de exercícios tais como: experiências anteriores na prática desportiva e de exercícios

físicos; apoio do cônjuge e de familiares; aconselhamento medico; conveniência do local de

exercitação; aspectos biológicos/ fisiológicos; gênero; automotivação para a prática do exercício;

disponibilidade de tempo; condição socioeconômica; conhecimento sobre exercício físico e

acesso a instalações e espaços adequados à prática de exercício físicos. Palma (2000) cita outros

fatores tais como: o papel da mídia, a influência do esporte de alto rendimento, a cultura local,

entre outros.

Fica claro a partir daí, a nosso ver, que a questão do aumento das gradações de atividade

física populacionais é extremamente complexo, não permitindo análises rasas e

descontextualizadas da realidade dos sujeitos a quem se pretende atingir.

Trazem a tona, relatando estudo de King (1994), a necessidade de “ações nos níveis

ambiental, organizacional, institucional, social e legislativo” (p. 211). Ou seja, políticas

públicas e intervenções ambientais são particularmente importantes para a promoção da

atividade física, já que para os autores, ambas são elaboradas para influenciar grandes grupos

populacionais. Vale lembrar que estas prerrogativas se alinham com dois dos cinco campos de

ação da promoção da saúde, quais sejam: construção de políticas públicas saudáveis e criação de

ambientes favoráveis à saúde; aproximando-se, portanto do entendimento que buscamos através

deste trabalho para educação física/atividade física ao aproximá-la do referencial da saúde

coletiva/ promoção da saúde. Ferreira e Najar seguem afirmando que “programas e campanhas

de promoção de estilos ativos de vida são as ações que vêm se destacando dentre as estratégias

adotadas pelo poder público” (p.211). No Brasil, um exemplo emblemático é o programa Agita

São Paulo que posteriormente deu início ao programa em âmbito nacional denominado Agita

Brasil. Para Ferreira e Najar (2005) o esforço de programas como estes que objetivam promover

a prática regular da atividade física parece não surtir os efeitos esperados, pois admitem que a

maioria da população brasileira não pratica atividade física regularmente. Afirmam ainda que

são escassos estudos que avaliam iniciativas de promoção da atividade física em âmbito nacional

ou de larga abrangência populacional mas que os que existem concordam sobre a efetividade de

programas e campanhas em melhorar o conhecimento da população e apontam a limitação em

ampliar o nível de adesão a prática de atividades físicas. Apontam, citando Cavill (1998), como

um dos principais motivos a “dificuldade que programas teriam para alterar o quadro social

desfavorável à prática regular de atividades físicas“ (p. 214). Este quadro apontado coaduna-se

com o que este trabalho se propõe a levar para o debate quando afirmamos que aja a análise do

contexto de vida dos indivíduos e o subseqüente enfrentamento dos determinantes de sua saúde

em conjunto com o incentivo a prática regular de atividades físicas.

Como anteriormente relatado, acredita-se que a mera informação dos benefícios

proporcionados pela atividade física é insuficiente para a incorporação desta como hábito de

vida, logo para Ferreira e Najar (2005) o quadro de sedentarismo da população não seria alterado

se os programas e campanhas com esse fim se restringirem a buscar apenas a ampliação do

conhecimento da população sobre atividades físicas. Estes autores alertam ainda, que a adesão à

atividade física como hábito de vida é um fenômeno complexo devendo ser entendido como um

processo já que o hábito de praticar atividades físicas expressa o comportamento final desejado.

E se levarmos em conta apenas esse indicador para a efetividade de programas de fomento à

prática de atividades físicas haveria ênfase no produto e desconsideraria o processo.

Concluem que o aumento da probabilidade de que a atividade física passe a fazer parte da

rotina de sujeitos e coletividades, passa necessariamente por mudanças no entorno social, trazem

alguns exemplos como: oferta, distribuição e acessibilidade de equipamentos desportivos e

espaços públicos para a prática de atividades físicas, desenvolvimento de uma consciência

coletiva no que toca ao reconhecimento de sua importância, alterações nas relações entre tempo

de trabalho e lazer, o que implica repensar fatores como jornada de trabalho e rendimentos.

Palma (2000) também reconhece que há uma relação inversamente proporcional entre condições

sócio-econômicas e a prática de exercícios físicos.

Em vias de conclusão deste trabalho, recebemos o convite para coordenar um núcleo do

projeto Segundo Tempo (PST) que foi idealizado pelo ministério do Esporte, então analisaremos

de forma breve este projeto, pois vislumbramos a real possibilidade de trabalhar com a atividade

física – neste caso a de cunho desportivo – na perspectiva crítica de Promoção da Saúde.

O PST tem como público alvo crianças e adolescentes com maior vulnerabilidade social

e destina-se à democratização do acesso à prática esportiva, por meio de atividades esportivas e

de lazer. Objetiva colaborar para a inclusão social, bem-estar físico, promoção da saúde e

desenvolvimento intelectual e humano, e assegurar o exercício da cidadania. Portanto, como

afirmamos, se seu objetivo for alcançado, seria a realização do que viemos propondo ao longo

deste trabalho.

Além da prática esportiva, o projeto prevê a oferta de atividades complementares, como

reforço escolar, programação cultural e orientação em questões de saúde além de reforço

alimentar. Traz alguns resultados que espera alcançar, não só nos jovens participantes, mas em

todos os envolvidos, destaca-se: interação entre os participantes e destes com a sua realidade

local; melhoria da auto-estima e das condições de saúde dos participantes; aumento do número

de praticantes de atividades esportivas educacionais; melhoria da qualificação de professores e

estagiários de educação física envolvidos; diminuição no enfrentamento de riscos sociais pelos

participantes; diminuição da evasão escolar nas escolas atendidas e melhoria no rendimento

escolar dos alunos envolvidos.

Com a possibilidade de articulações inter-setoriais, há a possibilidade de materializar a

promoção da saúde já que permite que o PST extrapole o esporte como principal instrumento de

educação.

Por se tratar de um programa amplo, que pretende desde educar através do esporte até a

descoberta de talentos esportivos, acreditamos que caberá aos profissionais envolvidos em cada

núcleo – local onde ocorrerão as atividades esportivas, de lazer, entre outras, não se limitando a

um espaço físico como uma quadra ou campo – direcionar as práticas para se aproximarem mais

ou menos do que defendemos neste texto.

4.4 - CARTA BRASILEIRA DE PREVENÇÃO INTEGRADA NA ÁREA DA SAÚDE NA

PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO FÍSICA

O Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) em 2006 lançou um documento

denominado Carta Brasileira de Prevenção Integrada na Área da Saúde na perspectiva da

Educação Física que em sua apresentação reconhece a importância da prevenção, promoção da

saúde e do papel essencial do Profissional de Educação Física na composição de políticas

públicas de Saúde. Contudo deixa clara a sua opção por enfatizar a prevenção. A nosso ver,

biologiza e medicaliza a Educação Física em sua relação com a sociedade pois afirma a

“prevenção como fator estratégico no combate ás injustiças sociais, à violência, ao

analfabetismo, à evasão escolar, à exclusão social” (p.4) ou ainda quando afirma que

“prevenção significa antecipação, leitura prévia e identificação de situações sociais

inadequadas que, a curto, médio e longo prazos, possam trazer prejuízos à população” (p.4).

Defende a atividade física pelas múltiplas potencialidades que possui, afirmando que o

esporte, a ginástica, a dança, as lutas, a musculação apresentam-se como “práticas

economicamente viáveis para promoção da saúde e da inclusão social, revelando-se ícones da

prevenção integrada e holística” (p.4). Leva-nos a reflexão do que se entende, neste documento,

por Promoção da Saúde, já que quase sempre traz os campos da prevenção e promoção da Saúde

como sinônimos.

Para este documento a

atividade física sistematizada e o Esporte quando conduzidos e orientados de forma adequada, formativa, educativa, qualificada e ética, ou seja, por Profissional de Educação Física habilitado, por representarem atividades lúdicas e livres que, como atividades socializantes por si só, atraem as pessoas, são considerados por todos os diferentes segmentos de profissionais da área da Saúde como excelentes meios minimizadores e facilitadores na busca de saídas e soluções para os problemas que vêm recrudescendo de forma progressiva na sociedade atual (p.4).

Transparece certo otimismo ingênuo ao acreditar que o profissional de educação física,

simplesmente por ser habilitado, conseguirá orientar da forma citada toda e qualquer atividade

física e/ou desportiva. Não leva em conta que este profissional está inserido numa sociedade que

pode dar mais ou menos valor para a atividade, sua atuação profissional, o que acarretará entre

outros, mais ou menos condições de trabalho para este profissional. Além disso, permite o

entendimento da atividade física e/ou desportiva como uma espécie de ‘salvadoras da pátria’

imputando a elas um poder que acreditamos estar mais em consenso no senso comum do que de

fato em evidências.

Aproxima-se em determinados momentos do referencial da Promoção da Saúde como

defendido por este texto e do conceito ampliado de saúde, por exemplo, ao afirmar sobre o

direito à saúde que “as ações de prevenção e promoção da Saúde são estratégias positivas de

intervenção para a busca contínua de avanços políticos, sociais, culturais, ambientais e

educacionais, sempre no sentido do desenvolvimento humano” (p.13). E ainda ao entender a

saúde, como direito humano fundamental e essencial como fator de investimento social e

econômico e que “a busca da saúde pressupõe o exercício da cidadania, significando assumir a

responsabilidade com a qualidade de vida” (p.5). Ou ainda que “os campos da Prevenção e da

Promoção têm se deslocado progressivamente para o centro das atenções na área da saúde, da

educação, da economia, do trabalho, da justiça social, [...] tanto no setor público como no

privado” (p.5). Contudo, mais uma vez traz prevenção e promoção da saúde de forma quase

indissociável além de defender uma relação da qualidade de vida “com um estilo de vida ativo,

de modo individual e participativo na comunidade” (p.5) levantando a dúvida de como seria este

modo individual e participativo na comunidade. Adiante afirma que a busca da saúde pela

sociedade brasileira pressupõe o exercício da cidadania e para tanto, a sociedade tem se

empenhado de diferentes formas e através de vários procedimentos, só que entende que a

assunção deva ser de forma individual e de maneira participativa, o que cabe ao universo total da

comunidade.

Continua, defendendo que a profissão Educação Física quando aplicada de forma

qualificada, competente, responsável e ética, pois certamente poderá contribuir

significativamente para a melhoria da qualidade de vida da comunidade e fortalecimento dos

anseios e dos direitos de cidadania. O que não fica claro e já foi motivo de ressalva neste texto,

é: como caracterizar a forma qualificada, competente, responsável e ética do profissional de

Educação Física? Apenas a formação acadêmica e a habilitação profissional poderiam fazê-lo? O

documento conclui que dinamizada competentemente, esta Educação Física proporcionará a

ampliação e o reconhecimento da importância de serviços prestados pela categoria dos

profissionais da área. Nisso concordamos e isto é um dos objetivos deste trabalho e desta

discussão que o mesmo pretende fomentar, só que não há como fazer este debate de forma

simplista, imputando ao profissional de educação física ou à atividade física e/ou desportiva um

estatuto de solução para quase todas as mazelas que existem na sociedade contemporânea. É

como se estes fossem bons por si só independente do contexto onde se dá ou daquele que os

pratica.

É contraditório ao enfatizar como benefícios da atividade física apenas os que estimulam

os vários sistemas orgânicos e afirmar por diversas vezes, que esta tem muitos benefícios quanto

à inclusão social. Ora, questiona-se se aspectos biológicos como melhora no sistema

cardiopulmonar, manutenção da pressão sangüínea em níveis aceitáveis entre outros são

suficientes para a problemática dos problemas sociais que a sociedade brasileira enfrenta? Ao

defenderem a atividade física como “uma arma eficaz para a promoção da saúde” (p.6), o

fazem biologizando a questão, pois afirma que “o aumento da atividade física tende a reduzir em

1/3 os casos de doenças arteriais e coronarianas, bem como para controle dos fatores de risco e

um poderoso caminho para a melhoria da qualidade de vida” (p.6). O que nos permite inferir

que para este documento a qualidade de vida restringir-se-ia a ausência ou atenuação de doenças.

Afirma que a prática regular de atividades físicas possui relevância na formação do ser

humano e na conquista da qualidade de vida só que as classifica como pertencentes ao aspecto

economia. Este trabalho repudia o entendimento de que a formação do ser humano e a atividade

física como importante instrumento para tal, sirvam apenas como poupadores de possíveis gastos

já que por esta ótica, acreditaria-se que atividade física poderia prevenir diversas DCNT.

Acredita que a atividade física faz com que “as pessoas tenham mais energia e disposição para

aproveitar o seu envolvimento tanto no mundo do trabalho, como do lazer e social” (p.6). Mais

uma vez mostra um total descolamento da realidade de vida de muitos brasileiros, pois é sabido

que existem jornadas de trabalho esgotantes (somando-se deslocamento, jornada de trabalho

propriamente dita e afazeres domésticos) e, portanto não haveria tempo ou ‘energia’ para o

engajamento em atividades físicas. Palma, Abreu e Cunha (2007) trouxeram a tona esta

problemática para estudantes de Educação Física, concluindo que um número importante adota

comportamentos que contrariam o discurso hegemônico na área que reforça a importância de um

‘estilo de vida’ considerado saudável. Então como sermos ingênuos achando que outrem tem que

praticar atividade física para ter mais ‘energia’ se muitas vezes, nós mesmos – profissionais de

educação física e saúde – não conseguimos fazê-las.

Mais uma vez imputa à prática da atividade física a redenção de todos os males como fica

claro no trecho a seguir:

Constata-se dessa forma ser praticamente consensual no seio da comunidade, que a prevenção de grande parte dos males da modernidade passa pela prática de atividades físicas, prática essa responsavelmente orientada visando à melhoria da qualidade de vida da sociedade, proporcionando ao indivíduo adotar um estilo de vida que seja suficientemente ativo, permitindo-lhe condições de viver e conviver livremente com suas necessidades, desejos, demais pessoas e meio-ambiente, podendo dessa forma exercer todos os seus direitos e capacidades de cidadania (p.6).

Questiona-se se ser ativo então proporcionaria condições de viver a todos? Só isso é necessário

para a cidadania?

Cita importantes documentos como a Agenda de Berlim (1999) que defende “a Educação

Física é um direito humano de todas as pessoas, principalmente das crianças” (p.9); ou a

Declaração de São Paulo para a Promoção da Atividade Física no Mundo (1999), que considera

que “aproximadamente dois milhões de mortes por ano no Planeta são atribuídos ao

sedentarismo e que a inatividade física associada ao fumo e pobreza causa 75% das mortes de

doenças crônicas não transmissíveis” (p.10). Só que não traz em seu corpo nenhuma proposta

para combater a pobreza, o que a nosso ver, restringe a efetividade da prática de atividade física

para evitar tais mortes.

Esclarece seu posicionamento de tratar prevenção e promoção da saúde de forma quase

indissociável ao defender que estas “devem ser consideradas conjuntamente pelas suas

proximidades e raízes comuns no Bem-estar de cada indivíduo” (p.14).

Aponta para a necessidade de compartilhamento entre as pessoas, suas famílias,

comunidades, organismos e instituições e do Estado para a prevenção e promoção da saúde e

ainda que estas serão reforçadas em sociedades mais justas e cooperativas, onde as políticas

públicas conseguiriam maior possibilidade de êxito social. Reitera a interdisciplinaridade e

intersetorialidade como essenciais para a prevenção e promoção da Saúde. Cita também a

educação para a saúde, pois “possibilita a tomada de consciência, a participação, a consciência

crítica do momento histórico vivido e a formação de uma possível rede de suporte social [...]”

(p.18). Ao afirmar que

as atividades físicas, para que se constituam em variáveis positivas na vida das pessoas, precisam ser desenvolvidas numa perspectiva de Educação Física, isto é, num processo de Educação, seja por vias formais e não-formais, e compreendidas como um dos direitos fundamentais de todos (p.20).

Mostra aí, cunho corporativista, pois permite o entendimento de que apenas pela ‘perspectiva da

Educação Física’ é que ocorreria um processo educacional, formal ou não-formal na prática de

atividades físicas.

Conclui que os profissionais de Educação Física, a partir do entendimento de que esta

área se relaciona com a educação, saúde, cultura, esporte, lazer, [...] “terão na sua atuação por

estilos de vida ativos na população do país, que valorizar a educação para a saúde” (p.22).

Lembramos, neste momento a crítica de Castiel (2003) sobre o conceito de estilo de vida (vide

p.39).

Capítulo 5:

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Promoção da Saúde então busca articular todos os componentes da saúde, assim ela

não é só biológica, como a Educação Física tem advogado hegemonicamente, contudo ela

também não é só política ou sócio-cultural. Acreditamos que o maior desafio que a Promoção da

Saúde traz é a articulação destes componentes, com o devido enfoque em cada um deles nos

momentos pertinentes. Como ilustração deixamos o seguinte exemplo: quando um sujeito

acometido de alguma DCNT como hipertensão arterial, diabetes mellitus ou ainda uma lesão

ortopédica procurar o atendimento de um profissional de saúde, falaremos neste caso

especificamente do profissional de educação física; este profissional terá que conhecer a

fisiopatologia e os protocolos de tratamento através da atividade física, contudo, não poderá

deixar de levar em conta em que contexto este sujeito está inserido. Quais são os valores que este

atribui à atividade física? Quais serão as reais possibilidades deste sujeito ter a atividade física

como hábito de vida durante e após o tratamento? Só assim, cremos que este profissional será

efetivo na busca de uma saúde melhor para este sujeito.

Há a necessidade de reflexão sobre o fato de que ao advogar a capacitação dos sujeitos

para que se tornem autônomos, partícipes em sua saúde pode acarretar também responsabilizá­

los sobre seu estado de saúde. Neste texto foi utilizado o termo co-gestão, que acreditamos

mostrar que a participação dos sujeitos agindo em favor de sua saúde é condição necessária para

que alcancemos gradações cada vez maiores de saúde individual e coletiva. Contudo,

rechaçamos a caracterização da ‘culpabilização’ pois acreditamos que esta participação é

dialógica, ou seja, já que os sujeitos estão inseridos em uma sociedade deve-se buscar formas

para que estes não sejam apenas manipulados por estruturas coercitivas que lhe são impostas,

mas sim que consigam se articular para serem menos vulneráveis a tais coerções.

Então, conclamamos aos profissionais de Educação Física que se engajem na busca de

conhecimento e informação ligados à Saúde Coletiva/Promoção da Saúde para que se tornem

cada vez mais críticos e possam se posicionar neste debate que o trabalho procurou fomentar.

Mesmo que se coloquem a favor desta atividade física que por hora nos colocamos contra – uma

atividade física culpabilizante e que se acredita ser uma espécie de redenção contra quase todos

os males, ou ainda uma promessa fácil de qualidade de vida, saúde e bem-estar.

Neste momento levantamos a seguinte questão, como se dará esse processo de

aproximação dos profissionais da Educação Física e os referenciais da Saúde Coletiva/Promoção

da Saúde? Acreditamos que faz-se necessário que estes referenciais façam, cada vez mais, parte

da formação destes profissionais.

Vislumbramos a real possibilidade do estreitamento da Educação Física com alguns

referenciais da Saúde Coletiva/Promoção da Saúde através do crescente envolvimento de

profissionais da área que materializam-se, entre outros, na carta de Porto Alegre, redigida em

2006 no seminário de Educação Física e Saúde Coletiva: a inserção no SUS ou ainda, como

divulgado na revista oficial do Sistema CONFEF/CREF em Março de 2008, na presença do

profissional de Educação Física em núcleos de Apoio à Saúde da Família conforme Portaria n°

154 que o ministério da saúde aprovou em 24 de Janeiro de 2008 e na presença de representantes

dos Conselhos Federais e Regionais de Educação Física (CONFEF/CREFs) na 13° Conferência

Nacional de Saúde. Em que pese o fato de que a presença deste conselheiro não necessariamente

significar que os profissionais de educação física estão imbuídos da possibilidade de

compreender a atividade física de uma nova forma que acreditamos poderá torná-la mais atrativa

para um contingente populacional maior e de conhecer o Sistema Único de Saúde, seus avanços

possibilidades e desafios, já aponta para o fato de que a Educação Física está voltando-se para o

debate proferido pela Saúde Coletiva.

Assim, o que pretendemos passar através deste trabalho de revisão pode ser resumido no

fato de que os conhecimentos construídos sobre a educação física/atividade física, suas

implicações, contextos, devem permitir uma leitura crítica dos valores sociais, como os padrões

de beleza e saúde, padrões de desempenho que homogeiniza os sujeitos, competição exacerbada,

entre outros.

Repudiamos, então, a crença ‘ingênua’ que atividade física produz saúde, através de uma

relação causal, imputando à atividade física a responsabilidade de tornar-se redentora de todos os

possíveis males do sedentarismo. Atualmente, não falta na mídia ‘leiga’ e até mesmo entre os

profissionais de saúde, a idéia de que simplesmente ao tornar-se ativo fisicamente, o sujeito

poderá desfrutar de saúde, bem-estar, qualidade de vida. Até mesmo ressaltando um caráter

biológico dos benefícios que a atividade física pode trazer é paradoxal, portanto, o fato de se

isentar da participação das aulas de educação física nas escolas os alunos com mais de trinta

anos ou ainda quem cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas como está na Lei

de Diretrizes e bases da educação nacional (Brasil, 1996) e a preocupação com o aumento da

mortalidade por doenças cardiovasculares e DCNT expressos na literatura científica mundial.

Defendemos que concomitantemente ao fomento da prática regular de atividade física aja a

análise do contexto de vida dos indivíduos e o subseqüente enfrentamento dos determinantes de

sua saúde.

Uma limitação desta pesquisa, por seu caráter revisional, é que a mesma incorreu em uma

utopia ou idealismo, pois acreditamos que os aspectos teóricos para a operacionalização da

promoção da saúde na educação física já estão disponíveis, pois se aproximam do que foi

discutido pelo movimento que denominou-se renovador ou crítico da educação física brasileira a

partir do final da década de 80. Bagrichevsky (2007) ressalta que este movimento supracitado

não questionou em nenhum momento a relação da aptidão física como sinônimo de saúde, que

reforçava as dimensões exclusivamente individuais da saúde. Entendemos que mesmo sem haver

o enfoque nos referenciais pertinentes à saúde coletiva, as proposições baseadas na perspectiva

renovadora, crítica ou ainda emancipadora da Educação Física brasileira, até a presente data, se

aproximam do que a Promoção da Saúde advoga através do entendimento de que a Educação

Física auxilia os sujeitos e coletivos na busca pela conquista da cidadania plena em diferentes

aspectos de sua humanidade. Assim, acreditamos que objetiva o alcance da saúde ampliada, em

seu contexto social, econômico, cultural, político e biológico.

Faz-se necessário, numa próxima etapa a investigação de sua real utilização nas de ações

que objetivam a adoção da atividade física como hábito de vida, o que abre uma promissora

possibilidade pesquisa. Contudo, não se trata de questionar o valor deste trabalho de revisão, e

sim, apenas mostrar a necessidade de complementação com novas investigações.

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