competitividade sustentÁvel na atividade portuÁria: …

119
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO Camila Papa Lopes COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: SÃO SEBASTIÃO, LITORAL NORTE DO ESTADO DE SÃO PAULO Santos 2011

Upload: others

Post on 24-Jul-2022

4 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS

PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

Camila Papa Lopes

COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: SÃO SEBASTIÃO, LITORAL NORTE DO ESTADO DE SÃO PAULO

Santos 2011

Page 2: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS

PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

Camila Papa Lopes

COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: SÃO SEBASTIÃO, LITORAL NORTE DO ESTADO DE SÃO PAULO

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Administração da Universidade Católica de Santos como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Administração Orientador: Prof. Dr. Icaro Aronovich da Cunha

Santos 2011

Page 3: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

LOPES, Camila Papa.

Competitividade sustentável na atividade portuária: São Sebastião, litoral norte do Estado de São Paulo/ Camila Papa Lopes – Santos, 2011. 118f.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Católica de Santos, 2011.

Programa de Mestrado em Administração Orientador: Prof. Dr. Ícaro Aronovich Cunha

1. Portos. 2. Gestão Ambiental. 3. Competitividade. 4. Sustentabilidade.

Page 4: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS

PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

Camila Papa Lopes

COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: SÃO

SEBASTIÃO, LITORAL NORTE DO ESTADO DE SÃO PAULO

Esta dissertação foi avaliada pelo programa de Pós-Graduação em Gestão de Negócios da Universidade Católica de Santos como requisito para a obtenção do título de Mestre em Administração e foi considerada:

( ) Aprovada ( ) Reprovada

BANCA EXAMINADORA:

______________________________

Orientador: Prof. Dr. Ícaro Aronovich Cunha – Membro Nato

__________________________

Prof. Dr. Paulo de Sá Porto – Membro Titular

____________________________

Prof. Dr.– Membro Titular

Page 5: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

O único homem que se educa é aquele que aprendeu como aprender: que aprendeu como se adaptar e mudar; que se capacitou de que nenhum conhecimento é seguro, que nenhum processo de buscar conhecimento oferece uma base de segurança.

Carl R. Rogers

Page 6: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

Dedico esta pesquisa ao meu irmão Luigi, melhor amigo, parceiro, dono do coração mais bondoso, quem esteve ao meu lado, ri, chora e compartilha comigo em todas as dificuldades e transformações de nossas vidas; Ao Professor Doutor Ícaro Aronovich Cunha, meu orientador, que mostrou a importância da consciência, persistência e suavidade como as melhores características para mudarmos o nosso ambiente e buscar soluções para conflitos que parecem imutáveis. Com sua humanidade, me deu o conselho mais simples e valioso que eu poderia receber de um doutor e tornou-se meu modelo de pesquisador; Ao Professor Doutor Getulio Kazue Akabane, pela sabedoria, pela amizade e parceria, pelas oportunidades e pelo mundo em que me inseriu, contribuindo para a realização de um grande sonho, a vida acadêmica; E ao Professor Doutor Antonio Carlos Freddo, um grande pesquisador, que me ensinou os segredos de um trabalho correto e do mundo acadêmico, mostrou uma perspectiva diferente e tornou mais claro o que é metodologia, e pela coragem de mostrar-se do jeito que é, uma sábia lição.

Page 7: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador Icaro Aronovich Cunha, por acreditar no meu potencial, pela paciência e

persistência com que me orientou, pelas oportunidades que me ofereceu e por incentivar na

concretização deste trabalho como a realização de um sonho, muito obrigada!

Ao Eduardo Hipólito do Rego, Otavio Luiz Grottone, Dam Kajiya, Alfredo Mariano Bricks,

Maximiliano de Souza e Adriano Truffi Lima, que contribuíram fornecendo informações

valiosas para minha pesquisa e por disponibilizarem seu tempo participando de longas

entrevistas para a confecção desta dissertação.

A minha mãe Rita Maria Sidanez Papa, meu pai Diogo Lopes Filho e meus irmãos Pietro

Papa Lopes e Luigi Papa Lopes, por me ensinarem a manter meus valores, a lutar pelos meus

sonhos e nunca deixar os obstáculos me impedirem de seguir adiante.

A Sueli Nanni, amiga especial, que me apresentou a vida acadêmica e acreditou no meu

potencial, que literalmente me pegou pela mão e trouxe para o mestrado, algo que nunca irei

esquecer.

Aos amigos Catarine Aparecida Vieira Barbosa, Regina Fujiko Tagava, Moacir Bispo dos

Santos, Breno Gregório Lima, Alipio Carlos Tavares Labão, Getulio Kazue Akabane,

Washington Luiz Pereira Soares e Rafael Mateus Barreto, sem os quais eu não teria finalizado

o mestrado, que me fizeram amadurecer, auxiliaram em minha continuidade no mestrado e

contribuíram para meu direcionamento ao meio universitário enquanto carreira profissional,

que sigo com intensidade por ser minha vocação. Muito obrigada por todo o apoio, conselhos

e suporte ao longo desta etapa de minha vida!

A Cátia e Mônica, secretárias do mestrado da Unisantos, que nos recebem com grande

acolhimento, nos defendem e direcionam a todo momento, principalmente na parte

burocrática, que dificilmente conseguimos entender.

Ao diretor Helio Fernando Hallite da Rocha Santos e à Cleusi Gama da Silva, amigos e

parceiros de trabalho, pela contribuição e compreensão nos momentos de ausência para a

execução desta pesquisa.

Page 8: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

Ao Coordenador Fernando Fernandes, pela amizade, incentivo e auxílio para a finalização

desta dissertação dentro dos prazos estipulados.

A todos os meus amigos que não mencionei aqui, mas que me apoiaram, que escutaram,

abriram seus braços, pessoas que acreditam que a vida é diversidade, cada um com seu valor,

que lutam pelo ideal de trazer harmonia ao nosso planeta.

A todos que me ajudaram, direta ou indiretamente, inclusive àqueles que me deram exemplos

que serviram como parâmetro, pois assim descobri que tipo de pesquisadora pretendo ser até o

fim.

Page 9: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

RESUMO

Os portos destacam-se enquanto meio de movimentação da economia das nações, sendo a

questão ambiental nesse segmento um elemento que pode agregar valor para o aumento da

competitividade na atividade portuária, pois enquanto um elo da cadeia de valores das

organizações, os portos incorporam as exigências do mercado, dentre elas a ecoeficiência e a

responsabilidade social. Esta pesquisa investiga a incorporação da questão ambiental na

atividade portuária para o aumento da competitividade sustentável, tendo como caso o Porto

de São Sebastião, que merece destaque por se antecipar a outros portos brasileiros pela

apresentação de sistema de gestão integrada em processo de implantação e de solução

ambiental inovadora para seu processo de expansão de infraestrutura. A pesquisa foi realizada

a partir de entrevistas de profundidade com: diretor de gestão da Companhia Docas de São

Sebastião (CDSS), assessor ambiental responsável pela implantação do Sistema de Gestão

Integrado (SGI) do Porto de São Sebastião, um membro do Conselho de Autoridade

Portuária, Secretário de Meio Ambiente do Município de São Sebastião e diretores de

empresa responsável por solução inovadora em operação de granéis sólidos no porto em

análise. As entrevistas ocorreram em momentos distintos e os resultados foram analisados por

critério de convergência das informações, tendo em vista os elementos para a discussão:

incorporação da questão ambiental, implantação da gestão ambiental, competitividade e

sustentabilidade. Observou-se que há ênfase na questão ambiental como um elemento da

gestão portuária que vem sendo incluído a partir da implantação do SGI, constituindo assim

um diferencial que é valorizado enquanto uma estratégia para a competitividade sustentável

na expansão portuária. Assim, conclui-se que a incorporação da questão ambiental é tratada

em São Sebastião enquanto elemento de competitividade sustentável dos negócios portuários,

o que evidencia a compatibilidade entre os conceitos de competitividade e sustentabilidade na

atividade portuária.

Palavras-chave: Portos. Gestão ambiental. Competitividade. Sustentabilidade.

Page 10: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

ABSTRACT

The ports stand out as a means of movement the nations economy, and environmental issues

in this segment an element that can add value to increase competitiveness in port activity,

because as a link in the value chain of organizations, ports incorporate market demands,

among them the eco-efficiency and social responsibility. This research investigates the

incorporation of environmental issues in port activity for increasing sustainable

competitiveness, and as if the Port of São Sebastião, which deserves to stay ahead of other

Brazilian ports by presenting an integrated management system in the process of deployment

and innovative environmental solution for its expansion of infrastructure. The research was

carried out in depth interviews with: managing director of the São Sebastião Dock Company

(CDSS), an environmental advisor responsible for the implementation of the Integrated

Management System (IMS) of São Sebastião Port, a member of the Authority Port, Secretary

of Environment of São Sebastião and directors of the company responsible for innovative

solution in dry bulk operation in the port in question. The interviews took place at different

times and the results were analyzed by convergence criterion of the information in order to

discuss the elements: incorporation of environmental issues, implementation of environmental

management, competitiveness and sustainability. It was observed that there is emphasis on the

environment as an element of the port management that has been included since the

implementation of the IMS, thus providing a competitive edge that is valued as a strategy for

sustainable competitiveness in the expansion port. Thus, it conclude that the incorporation of

environmental issues in São Sebastião is treated as an element of sustainable competitiveness

of the port business, which shows the compatibility between the concepts of sustainability and

competitiveness in port activities.

Keywords: Ports. Environmental management. Competitiveness. Sustainability.

Page 11: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AAPA

ABNT

AIA

ANTAQ

CAP

CDSS

CEE

CETESB

CIRM

COGERCO

COMDURB

CONAMA

CPA

CPEA

DERSA

EIA

EMAS

EMS

FUNDESPA

IBAMA

ICC

ILOS

ISO

ISPS CODE

American Association of Port Authorities (Associação Americana de

Autoridades Portuárias)

Associação Brasileira de Normas Técnicas

Avaliação de Impacto Ambiental

Agência Nacional de Transportes Aquaviários

Conselho de Autoridade Portuária

Companhia Docas de São Sebastião

Comunidade Econômica Européia

Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de

São Paulo

Comissão Interministerial dos Recursos do Mar

Grupo de Coordenação do Gerenciamento Costeiro

Conselho Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano

Conselho Nacional do Meio Ambiente

Centro Político Administrativo

Consultoria, Planejamento e Estudos Ambientais

Desenvolvimento Rodoviário S.A.

Estudo de Impacto ambiental

Eco-Management and Audit Scheme (Sistema Comunitário de

Ecogestão e Auditoria)

Environmental Management System (Sistema de Gestão Ambiental)

Fundação de Estudos e Pesquisas Aquáticas

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis

International Chamber of Commerce (Câmara de Comércio

Internacional)

Instituto de Logística e Supply Chain

International Organization for Standardization

International Ship and Port Facílity Security Code (Código

Internacional para proteção de Navios e Instalações Portuárias)

Page 12: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

IUCN

MMA

MOPRESS

OGMO

ONG

ONU

PAF

PCA

PDZ

PEI

PERS

PIPC

PINO

PNGC

PNMA

PRONAVE

RCA

RECAP

REPLAN

REVAP

RIMA

RPBC

RSE

SDM

SEMAM

SEP

SGA

SGI

SISNAMA

SMS

International Union for Conservation of Nature (União Internacional

para a Conservação da Natureza

Ministério de Meio Ambiente

Movimento de Preservação de São Sebastião

Órgão Gestor de Mão de obra

Organização Não-Governamental

Organização das Nações Unidas

Plano de Ação Federal para a Zona Costeira

Plano de Controle Ambiental

Plano de Desenvolvimento e Zoneamento

Plano de Emergência Individual

Port Environmental Review System (Sistema de Revisão Ambiental

Portuária)

Plano Integrado Porto Cidade

Planejamento Ambiental Estratégico das Atividades Portuárias,

Industriais, Navais e Offshore no Litoral Paulista

Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro

Política Nacional de Meio ambiente

Agentes de Comércio Exterior Ltda.

Relatório de Controle Ambiental

Refinaria de Capuava

Refinaria do Planalto Paulista

Refinaria Henrique Lage

Relatório de impacto Ambiental

Refinaria Presidente Bernardes

Responsabilidade Social Empresarial

Self-Diagnosis Method (Metodologia de Autodiagnóstico)

Secretaria de Meio Ambiente

Secretaria Especial de Portos

Sistema de Gestão Ambiental

Sistema de Gestão Integrado

Sistema Nacional de Meio Ambiente

Saúde, Segurança e Meio ambiente

Page 13: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

SSO

TAC

TEBAR

USP

Saúde e Segurança Operacional

Termo de Ajuste de Conduta

Terminal Marítimo Almirante Barroso

Universidade de São Paulo

Page 14: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

LISTA DE QUADROS E TABELA

Quadro 1: Questões sobre a sustentabilidade ........................................................................... 41�

Quadro 2: Sistemas de gestão e seus objetivos......................................................................... 53�

Quadro 3: Cronologia de análise de problemas ambientais na área do porto de São Sebastião

.................................................................................................................................................. 61�

Quadro 4: Relação entre conceitos teóricos e resultados das entrevistas ................................. 92�

Tabela 1: Movimentação Tebar mês de agosto de 2011 .......................................................... 88

Page 15: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Projeto da Construção do Porto de São Sebastião .................................................... 56�

Figura 2: Pier de atracação do porto público ............................................................................ 58�

Figura 3: Área de passivo ambiental do porto de São Sebastião .............................................. 60�

Figura 4: Aterro em São Sebastião em 1987 ............................................................................ 62�

Figura 5: Área de Implantação da Infra-estrutura Portuária ..................................................... 64�

Figura 6: Equipamento inovador visto de frente ...................................................................... 80�

Figura 7: Equipamento inovador em operação ......................................................................... 81�

Figura 8: Equipamento inovador parte lateral .......................................................................... 81�

Figura 9: Equipamento inovador no cais público ..................................................................... 82�

Figura 10: Foto aérea da localização do TEBAR em relação ao porto público ....................... 86�

Figura 11: Localização dos piers de atracação do Tebar .......................................................... 87�

Page 16: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 17�

1.1 Problema ............................................................................................................................. 19�

1.2 Objetivos ............................................................................................................................. 20�

1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................. 20�

1.2.2 Objetivos Específicos .................................................................................................. 20�

1.3 Justificativa ......................................................................................................................... 20�

1.4 Procedimentos Metodológicos ........................................................................................... 22�

2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................. 26�

2.1 A Competitividade pela Incorporação da Questão Ambiental ....................................... 26�

2.2 Desenvolvimento Sustentável......................................................................................... 30�

2.3 Sustentabilidade Empresarial ......................................................................................... 34�

2.4 Gestão Ambiental em Portos .......................................................................................... 42�

2.4.1 Sistemas de Gestão Ambiental Praticados em Portos ................................................. 47�

3 COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL PELA INCORPORAÇÃO DA QUESTÃO

AMBIENTAL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA DE SÃO SEBASTIÃO ............................... 54�

3.1 Fase 1 – Contexto ambiental no porto público ............................................................... 55�

3.1.1 Histórico do Porto de São Sebastião ........................................................................... 55�

3.1.2 Problemas ambientais relacionados à atividade portuária em São Sebastião .............. 59�

3.2 Fase 2- Estratégias de transição quanto à questão ambiental ......................................... 64�

3.2.1 Expansão do Porto de São Sebastião ........................................................................... 64�

3.2.2 A Gestão Ambiental do Porto de São Sebastião.......................................................... 67�

3.2.3 Competitividade portuária a partir da incorporação da questão ambiental ................. 78�

4 DISCUSSÃO ......................................................................................................................... 90�

CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 101�

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 105�

Page 17: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

APÊNDICE A ........................................................................................................................ 110�

Formulário para Entrevista com Gestor do Porto de São Sebastião antes da criação da

Companhia Docas ................................................................................................................... 110�

APÊNDICE B ......................................................................................................................... 111�

Formulário para Entrevista com Assessor Ambiental do Porto de São Sebastião ................. 111�

APENDICE C ......................................................................................................................... 114�

Formulário para Entrevista com Membro do CAP de São Sebastião..................................... 114�

APENDICE D ........................................................................................................................ 116�

Formulário para Entrevista com diretor da empresa PRONAVE, que realiza inovação

ambiental no Porto de São Sebastião ...................................................................................... 116�

APENDICE E ......................................................................................................................... 118�

Formulário para Entrevista com Secretário de Meio Ambiente (SEMAM) do Município de

São Sebastião .......................................................................................................................... 118�

Page 18: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

17

1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa aborda a incorporação da questão ambiental na atividade portuária como

elemento de competitividade. Com a economia aberta à globalização, a partir da década de

1990, a quantidade de serviços de comércio exterior aumentou de forma acentuada, o que

contribuiu para a introdução de novas práticas de competição em portos.

No contexto da concorrência entre os portos, Verhoeff (1981) entende que esta se

desdobra em quatro níveis distintos: a concorrência entre as empresas portuárias, a

concorrência entre os portos, a concorrência entre grupos de portos (ou seja, um grupo de

portos com características geográficas comuns), e a competição entre as faixas (ou seja, portos

localizados ao longo da mesma costa ou com estruturas portuárias idênticas).

Segundo Voorde e Winkelmans (2002) a competição em portos refere-se à

concorrência entre as empresas portuárias, que podem ser operadores de terminais (os

jogadores concorrentes envolvidos na organização das cadeias de transporte), ou em relação a

operações específicas (o objeto, tendo em conta a origem e o destino dos fluxos de tráfego).

Cada operador é orientado pelo objetivo de alcançar o máximo de crescimento em relação ao

transporte de mercadorias, em termos de valor adicionado ou de outras formas. Assim,

buscam-se diferenciais competitivos que possam influenciar este crescimento.

O investimento na atividade portuária é necessário para a movimentação das economias

mundiais, segundo Cullinane e Talley (2006), que consideram o impacto econômico e a

competitividade como problemas a serem solucionados na complexa cadeia de tomada de

decisões sobre investimento no porto.

Nesse setor, são impactadas as cidades, pois, de acordo com Junqueira (2002), sendo a

principal função dos portos a de transformar-se na infra-estrutura de carga e descarga das

mercadorias de transporte marítimo, sua atividade de espaço de trânsito de carga e descarga

das mercadorias induz outras atividades de grande importância econômica para as cidades,

tais como a atividade portuária.

Na visão de Maia (2003), as cidades portuárias mais avançadas não só oferecem um

conjunto de serviços e infra-estruturas tradicionais de transporte, como também são autênticos

pólos de organização, controle, financiamento e serviços tecnologicamente avançados para o

comércio e a distribuição em âmbito nacional e internacional, portanto, cidade e porto

coincidem e se potencializam mutuamente.

Page 19: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

18

Tendo em vista a necessidade de planejamento das atividades portuárias frente ao

crescimento do comércio internacional, devido à globalização, no Brasil, foi criada, em 1993,

a Lei de Modernização dos Portos, Lei 8.630/93, que não enfatizou a importância da questão

ambiental, conforme Kitzmann e Asmus (2006, p.1043):

O processo de reformas do setor portuário, deflagrado pela Lei de Modernização dos Portos (Lei no 8.630/93), que constituiu o chamado “novo modelo portuário brasileiro”, não contemplou de forma decisiva a questão ambiental. Por não ser considerada um fator estratégico na grande complexidade das reformas pretendidas, a dimensão ambiental entrou no sistema pela via judicial, geralmente resultante de demandas do Ministério Público. Como conseqüência, mesmo passados tantos anos da promulgação da Lei de Modernização dos Portos, poucas autoridades portuárias têm unidades ambientais adequadamente estruturadas, com pessoal qualificado e em número suficiente, orçamento próprio e políticas consistentes e continuadas. Da mesma forma, poucas empresas privadas do sistema portuário tratam as questões ambientais no âmbito do planejamento, como uma estratégia proativa, que reduz custos e diminui impactos ambientais, evitando as ações de comando e controle que são reativas, dispendiosas e ineficazes em termos socioambientais.

Percebe-se que a lei deu prioridade à privatização da operação portuária, na qual as

atividades passaram a ser exercidas por operadores portuários privados, favorecendo a

concorrência no ambiente portuário e, assim, análises sobre a competitividade dos portos

brasileiros tornaram-se relevantes. Porém, considerando o atual organograma portuário, de

acordo com a Lei 8.630/93, para ser um porto organizado, ele precisa apresentar os seguintes

elementos (PORTO, 2007, p.87):

a. Área definida por decreto;

b. Administração e autoridade constituídas;

c. Regras estabelecidas para a atividade (regimento de exploração ou outro);

d. Conselho de Autoridade Portuária – CAP

e. Órgão Gestor de Mão-de-Obra – OGMO;

f. Tarifas portuárias para pagamento dos serviços prestados;

g. Plano de Desenvolvimento e Zoneamento – PDZ;

h. Programas de Arrendamento;

i. Licenças ambientais e habilitações pertinentes.

Em relação à infra-estrutura, Martins e Caixeta Filho (2001) consideram que houve

expansão acentuada nas operações portuárias após o fenômeno de conteinerização e os

principais terminais de contêineres do Brasil foram privatizados, investindo na modernização

Page 20: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

19

dos equipamentos de movimentação (portêineres, guindastes com alta capacidade,

plataformas, dentre outros) e em pátios especializados, para torná-los mais eficientes e reduzir

custos, aumentando a competitividade das atividades portuárias em geral. Este argumento

revela um desafio aos portos que ainda não operam com contêineres, ou que operam com

capacidade de movimentação de cargas limitada.

Para Porto (2007), o porto organizado estabelecido após a Lei 8.630/93 é caracterizado

devido à atuação de atores públicos e privados neste ambiente, sendo uma unidade dos

segmentos econômicos existentes, com suas peculiaridades e que necessita de planejamento

estratégico e gestão, sendo necessário o estabelecimento de um comando localizado que não

deveria ser cuidado somente por uma autoridade política, embora esteja subordinado a ela.

Neste enfoque reside a incorporação da questão ambiental, que precisa ser analisada a

luz da autoridade portuária, das empresas que operam no porto e da sociedade, de forma que

esta passe a constituir na gestão um elemento para agregar valor e que pode representar um

diferencial competitivo.

1.1 Problema

Foi pesquisada a incorporação da questão ambiental no Porto de São Sebastião,

administrado pela Companhia Docas de São Sebastião (CDSS), criada em 2007 (vinculada à

Secretaria de Estado dos Transportes de São Paulo) e como esta poderá influenciar na

competitividade portuária.

Embora a Lei 8.630/93 não evidencie a importância das questões ambientais na

atividade portuária, estas são previstas pela política ambiental brasileira, que requer que os

portos desenvolvam gestão ambiental a partir de licenciamentos e novas formas de

planejamento e controle que induzem transformações territoriais, especialmente a partir da

portaria MMA nº. 425, de outubro de 2011.

Porter e Kramer (2006) entendem que a questão ambiental, assim como a social, é

eficaz em empresas que as adotam como parte de sua estratégia de negócios, seguindo o

mesmo direcionamento que suas decisões empresariais, ou seja, executam a responsabilidade

socioambiental como fonte de “oportunidades, inovação e vantagem competitiva”.

Relacionando esta perspectiva de Porter e Kramer com a atividade portuária, podem

ser criadas soluções inovadoras para os problemas ambientais decorrentes das operações no

porto como parte do negócio.

Page 21: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

20

Porém, na visão de autoridades e operadores portuários, a questão ambiental tem sido

considerada como um custo elevado e que não pode ser incorporado por aumentar o preço da

tarifa portuária, o que influencia negativamente na competitividade da atividade portuária,

quando poderia representar diferenciais competitivos, por agregar valor ao produto/ serviço,

sendo um fator importante a ser analisado em relação à competitividade portuária. Assim,

questiona-se:

A incorporação das questões ambientais influencia na competitividade sustentável da

atividade portuária?

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo Geral

Investigar se a implantação da gestão ambiental contribui para a competitividade da

atividade portuária.

1.2.2 Objetivos Específicos

a. Caracterizar o estágio de implantação da gestão ambiental no Porto de São Sebastião;

b. Levantar processo de inovação tecnológica no Porto de São Sebastião para solucionar

problemas ambientais;

c. Analisar a prática da gestão ambiental a partir dos conceitos de competitividade e

sustentabilidade empresarial.

1.3 Justificativa

O interesse pelo Porto de São Sebastião surgiu por ser uma área considerada a terceira

melhor região portuária do mundo, apresentar calado natural de 23 metros, pela localização

estratégica e por ter gestão própria definida recentemente, que abrange as questões

ambientais.

Page 22: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

21

Também se destaca por apresentar um projeto de ampliação do porto e expansão de

suas atividades pela infra-estrutura, tendo como desafio a incorporação da questão ambiental,

aspecto previsto no projeto de implantação do sistema de gestão ambiental do Porto de São

Sebastião como necessário à obtenção de licença ambiental para expansão das atividades e

que pode representar uma vantagem competitiva.

O Porto de São Sebastião apresenta licença de operação, destacando-se no setor, pois

apenas cinco portos no Brasil possuem tal licença. A autoridade portuária também apresenta a

gestão ambiental em fase de implantação, que o coloca como um porto diferenciado em

relação aos demais que ainda não incorporam a questão ambiental nas atividades e operações.

Também, neste porto, encontra-se uma inovação ambiental criada pelo operador

portuário PRONAVE (Agentes de Comércio Exterior Ltda.), no ano de 2007, mesmo ano da

criação da Companhia Docas de São Sebastião. Foi desenvolvido um equipamento para

reduzir a poluição ambiental causada pela descarga de granéis sólidos.

Este equipamento é uma inovação tecnológica que resultou em novo sistema de

descarga de granéis sólidos para reduzir a emissão de material particulado durante a operação

de retirada da mercadoria dos navios e a transferência para os caminhões, principalmente na

descarga de sulfato de sódio e carbonato de sódio. Embora não atinja a saúde pública, a poeira

deste tipo de operação gerava poluição visual em São Sebastião e sua solução constitui uma

solução ambiental que agrega valor ao negócio.

Kitzmann e Asmus (2006) consideram que a incorporação da questão ambiental é uma

lógica da vantagem competitiva sustentável somada à responsabilidade social. A questão

ambiental enquanto vantagem competitiva é considerada por Porter (1990) como algo

necessário, pois a poluição seria um sinal de ineficiência e desperdício no negócio. Assim,

Kitzmann e Asmus (2006) entendem que essa lógica deve ser trabalhada no contexto de

portos:

As demandas ambientais sobre o sistema portuário são imensas, por conta de passivos herdados (ambientais, culturais, estruturais) e de ativos continuamente criados. Ambos os casos geram inconformidades, que devem ser enfrentadas para que as conformidades possam ser alcançadas, garantindo o pleno funcionamento dos portos sem prejuízos econômicos e socioambientais.

A visão de Kitzmann e Asmus é relacionada com a questão ambiental no tocante à

necessidade de estudos aprofundados e, a inclusão da discussão sobre ecoficiência nas

operações portuárias, constitui uma justificativa desta pesquisa, ao enfatizar que podem haver

Page 23: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

22

conformidades nas atividades para a expansão das operações portuárias com inclusão da

questão ambiental, o que pode constituir uma forma de obter competitividade.

Também possui relevância a questão ambiental em São Sebastião, que apresenta-se

peculiar devido ao município abrigar 70% de seu território com unidades de conservação

ambiental, conforme Cunha (2008, p.48):

As significativas manifestações de conflitos ambientais em São Sebastião ligam-se às suas peculiaridades históricas e ambientais, tratando-se de um lugar onde ocorrem conjuntos naturais e arquitetônicos de importância singular, fenômenos notáveis de devastação e poluição e uma consciência bastante disseminada na sociedade local sobre as possibilidades e conveniências de procurar manter-se uma qualidade ambiental diferenciada no contexto do litoral. O território de São Sebastião contém grande porção de Serra do Mar coberta por Mata Atlântica, sendo cerca de 70% do município parte do Parque Estadual da Serra do Mar.

O autor cita como causas dos conflitos ambientais modificações no município

decorrentes de três iniciativas principais: “a inauguração do porto de cargas, na segunda

metade da década de 50; a implantação do Terminal Almirante Barroso, o maior terminal

petrolífero da América Latina, na década de 60; e o asfaltamento da rodovia Rio-Santos, na

década de 80” (p.49).

A pesquisa sobre a incorporação da questão ambiental como fonte de competitividade

para as atividades portuárias, tendo como caso o Porto de São Sebastião, é relevante para

profissionais e acadêmicos da área de portos e meio ambiente por abranger um aspecto

necessário e que pode representar oportunidades e inovação.

1.4 Procedimentos Metodológicos

A pesquisa é exploratória e qualitativa. Marconi e Lakatos (2001) e Malhotra (2001,

p.106) explicam a exploratória como “um tipo de pesquisa que tem como principal objetivo o

fornecimento de critérios sobre a situação-problema enfrentada pelo pesquisador e sua

compreensão”. A escolha deste método justifica-se pela busca de informações sobre a

incorporação da questão ambiental para a competitividade no Porto de São Sebastião.

Malhotra (2001, p.114) confirma a importância da pesquisa exploratória:

Quando pouco se sabe a respeito da situação-problema, é desejável começar com pesquisa exploratória. Esta é adequada quando o problema deve ser

Page 24: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

23

definido com maior precisão, os cursos alternativos de ação identificados, as perguntas ou hipóteses da pesquisa desenvolvidas e as variáveis-chave isoladas e classificadas como dependentes ou independentes.

Segundo Minayo (1994), a pesquisa qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados

das ações e relações humanas, um lado que não pode se captar ou perceber em equações,

médias e estatísticas, possibilitando ampliar as relações descobertas.

Inicialmente a pesquisa partiu de um levantamento bibliográfico sobre gestão ambiental

portuária, sustentabilidade, sustentabilidade empresarial, competitividade e a incorporação da

questão ambiental. Utilizou-se os autores de referência: Michael Porter (competitividade e

incorporação da questão ambiental como vantagem competitiva), José Carlos Barbieri e Icaro

Aronovich Cunha (gestão ambiental portuária), Ignacy Sachs (desenvolvimento sustentável) e

Fernando Almeida (sustentabilidade empresarial). Também foram utilizados outros livros,

artigos de periódicos e eventos científicos, dissertações e teses para compor o referencial

teórico.

Em sequência, optou-se por um estudo de caso do Porto de São Sebastião a partir de

pesquisa documental e de campo. O estudo de caso apresenta como característica o

planejamento, que apresenta maior flexibilidade, podendo ocorrer mesmo que seus objetivos

sejam reformulados no decorrer da pesquisa. Neste tipo de trabalho, estuda-se um grupo ou

comunidade em termos de sua estrutura, ressaltando a interação de seus componentes (YIN,

2005).

A pesquisa documental neste estudo caracterizou-se pela coleta e análise de documentos

na Companhia Docas de São Sebastião: Plano de Desenvolvimento e Zoneamento (PDZ) para

a expansão do porto de São Sebastião, que inclui os estudos que foram realizados com ênfase

no aspecto ambiental; Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental

(RIMA), utilizados para mostrar a importância e incorporação da questão ambiental na gestão

portuária de São Sebastião. Em seguida é explicitado o foco analisado em cada documento

coletado:

PDZ do Porto de São Sebastião: neste documento, foram utilizados os aspectos de

caracterização da região de inserção do porto, regularização ambiental do porto e informações

sobre o plano de expansão, especificamente o aspecto ambiental para a expansão, tais como

licenciamento ambiental;

EIA: foram analisados a gestão, o diagnóstico e a implantação da gestão ambiental, bem

como programas ambientais e legislação para a expansão do porto de São Sebastião;

Page 25: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

24

RIMA: como este documento trata sobre resumos do EIA para compreensão do

processo de licenciamento ambiental, foram coletados dados referentes a este processo de

forma mais simplificada, bem como a relação de políticas públicas envolvidas no processo de

expansão portuária que deu ensejo à criação do Plano Integrado Porto Cidade (PIPC).

Marconi e Lakatos (2001) entendem como relevante a pesquisa documental, pois é o

tipo de pesquisa que ainda não possui tratamento científico relevante, mas que mostra a

situação-problema com clareza, sendo composta por informações coletadas na empresa que

podem fornecer um panorama coerente sobre a situação-problema.

A pesquisa de campo ocorreu a partir de entrevistas de profundidade em cinco etapas:

1 – Gestor do Porto de São Sebastião antes da criação da Companhia Docas, que

fornece um panorama histórico da evolução deste porto (APÊNDICE A);

2 – Assessor ambiental do Porto de São Sebastião: conhecimento sobre o processo de

implantação da gestão ambiental e seus diferenciais (APENDICE B);

3 – Membro do Conselho de Autoridade Portuária: visão dos operadores e demais

agentes sobre a implantação da gestão ambiental e sua continuidade/ multiplicação

(APENDICE C);

4 – Diretor de empresa privada atuante como agente no Porto de São Sebastião:

responsável por inovação ambiental (APENDICE D).

5 – Secretário de Meio Ambiente do Município de São Sebastião (APÊNDICE E).

De acordo com Malhotra (2011), este tipo de entrevista é indicado para obtenção de

motivações básicas ou atitudes perante questões delicadas, sendo conduzidas a partir de um

“esboço de discussão” flexível, que permita identificar questões ocultas e informações

subjacentes, que não seriam compartilhadas em um ambiente com outros indivíduos, por

exemplo. Para a condução das entrevistas, são apresentados cinco formulários (APÊNDICES

A, B, C, D e E) com questões de pesquisa abertas, de forma a possibilitar uma análise

qualitativa e descritiva sobre a incorporação da questão ambiental e sustentabilidade na

atividade portuária.

Para apresentação dos resultados foram adotados os métodos descritivo, para cada

entrevista, e em sequência o método comparativo, com a finalidade de discussão dos

resultados das entrevistas em relação à fundamentação teórica determinada, respondendo aos

questionamentos da pesquisa.

Como o universo da pesquisa é o Porto de São Sebastião, foi aplicada pesquisa de

campo com os principais agentes que tratam da questão ambiental, sendo perspectivas de

análise distintas. Considerando a quantidade de agentes que interagem em um porto, e pela

Page 26: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

25

impossibilidade de estudar cada agente, a amostragem adotada é a não probabilística por

conveniência.

Assim a estrutura prevista para a dissertação prevê cinco capítulos, sendo o primeiro a

introdução, aspectos de organização da pesquisa e procedimentos metodológicos, no segundo

o referencial teórico com os principais conceitos e teorias adotados nesta pesquisa; no terceiro

trata-se do estudo de caso de São Sebastião, apresentando-se os resultados da pesquisa; no

quarto é apresentada a discussão dos aspectos relevantes dos resultados da pesquisa, por fim

as considerações finais.

Page 27: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

26

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A Competitividade pela Incorporação da Questão Ambiental

Voorde e Winkelmans (2002) entendem que a competitividade dos portos é influenciada

por: (1) demanda específica dos consumidores, (2) fatores específicos de produção, (3) para

apoiar indústrias relacionadas a cada operador, e (4) as competências específicas de cada

operador e de seus rivais. A concorrência portuária também é afetada pelas autoridades

portuárias e outras entidades públicas.

Porter e Van Der Linde (1995) abordaram a competitividade a partir de uma abordagem

de regulação ambiental estatal sobre os mercados e sobre a produção como forma lucrativa,

analisando o aspecto da necessidade de inovação ambiental como instrumento lucrativo para o

empresário, que tornaria desnecessária a regulamentação ambiental sobre o tema. É questão

complexa e naturalmente relacionada à história cultural de cada sociedade, isto porque

existem povos nos quais mercado produtor e mercado consumidor trabalham de tal forma

alinhados que a busca pela melhor alternativa ambiental ocorre naturalmente, tal a evolução

social alcançada.

Porter e Kramer (2006), no entanto, consideram que as empresas têm executado

atividades no intuito de minimizar impactos ambientais e sociais de suas atividades, porém

isto não é tão utilizado como poderia ser, por dois motivos: primeiro por uma postura

divergente entre interesses da empresa e da sociedade, sendo que estas são interdependentes e

poderiam obter maior eficiência produtiva se houvesse convergência de posturas em relação à

questão ambiental; segundo, devido às empresas levarem a responsabilidade social

empresarial de maneira distinta de sua estratégia, ou seja, não há relação entre a estratégia do

negócio e a prática da responsabilidade social empresarial (RSE). Conforme Porter e Kramer

(2006, p.2)

O fato é que as abordagens dominantes à RSE são tão fragmentadas e desvinculadas da empresa e da estratégia que ocultam muitas das grandes oportunidades para que a empresa beneficie a sociedade. Já se analisasse suas perspectivas no campo de responsabilidade social usando os mesmos arcabouços que norteiam suas principais decisões empresariais, a empresa descobriria que a RSE pode ser muito mais do que um custo, um entrave ou uma ação filantrópica – pode ser uma fonte de oportunidades, inovação e vantagem competitiva.

Page 28: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

27

Porter e Kramer (2006) entendem que as empresas, quando adotam o conceito de

responsabilidade social empresarial, utilizam quatro tipos de argumentos: dever moral,

sustentabilidade, licença para operar e reputação.

Para Barbieri (2007), a questão ambiental pode ser abordada pelas empresas enquanto

uma questão estratégica, pela busca de condição vantajosa no negócio a partir da perspectiva

da prevenção ambiental, com práticas de controle e preservação como forma de criar

oportunidades de mercado e prevenir ameaças ambientais que ocorrem ou podem vir a ocorrer

futuramente.

Isso ainda não ocorre com eficácia na visão de Porter e Van Der Linde (1995), quando o

mercado altamente competitivo funciona com tamanha agilidade e baseado em decisões

tomadas por gestores que na prática possuem informações incompletas e limitados pelo

tempo, e isto faz com que a maioria das empresas tenda a manter-se em movimento inercial,

ou seja, mantendo práticas que até aquele momento mostraram-se capazes de gerar retorno,

muitas vezes em detrimento de inovações altamente lucrativas.

De acordo com Barbieri (2007, p.125):

O envolvimento das empresas com os problemas ambientais adquire importância estratégica à medida que aumenta o interesse da opinião pública sobre as questões ambientais, bem como dos grupos interessados nesses problemas: trabalhadores, consumidores, investidores e ambientalistas. Muitos investidores já consideram as questões ambientais em suas decisões pois sabem que os passivos ambientais estão entre os principais fatores que podem corroer a rentabilidade e a substância patrimonial das empresas.

Ainda segundo Barbieri (2007), um dos impulsionadores para esta condição de aumento

do consumo é o aumento da quantidade de indivíduos que optam por comprar produtos e

serviços que internalizam as questões ambientais e sociais e refere-se a Porter (1999) quando

este trata da eficácia operacional e do posicionamento estratégico da empresa pelo

desempenho de atividades em relação a concorrência, e apenas a eficácia operacional não é

suficiente para manter desempenho superior em longo prazo. Assim, para Porter (1999) a

competitividade seria determinada pela busca de um mix de valor aos clientes

Torna-se necessária maior compreensão da inter-relação entre a empresa e a sociedade

e, ao mesmo tempo, esta deve ser atrelada às estratégias e atividades específicas do negócio

como criação de valor superior para o consumidor. De forma geral, a responsabilidade social

estratégica também compartilha valor por meio do investimento em aspectos sociais, que

Page 29: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

28

garantem o reforço da competitividade da empresa. A relação simbiótica desenvolve o

sucesso da empresa e da comunidade, que se reforçam mutuamente.

Para Porter e Kramer (2006), quanto mais intimamente uma questão social é ligada à

atividade da empresa, maior a oportunidade de alavancar os recursos da empresa e suas

capacidades, beneficiando a sociedade.

Porter e Kramer (2006) acreditam que, no centro de qualquer estratégia de negócio, há

uma proposição de valor única, um conjunto de necessidades que uma empresa pode atender a

seus clientes que a escolheram e outros concorrentes não podem; sendo assim, esta estratégia

ocorre quando uma empresa adiciona a dimensão social à sua proposição de valor, fazendo

com que o impacto social seja integrante da estratégia global do negócio.

Para Porter e Kramer (2006), a integração entre negócios e necessidades sociais requer

ajustes na organização, nas relações de subordinação, e nos incentivos, o que influencia em

sua liderança. Embora a responsabilidade social dependa de um bom cidadão corporativo e

aborde danos sociais, a empresa cria um relacionamento estratégico mais seletivo. Empresas

contribuem para melhorar centenas de questões sociais, mas apenas algumas adotam esta

contribuição como oportunidade para fazerem diferença real para a sociedade ou para conferir

uma vantagem competitiva para o negócio.

Kitzmann e Asmus (2006, p.1043) analisam esta questão sob a ótica da gestão

ambiental portuária:

Assim, para se fazer gestão ambiental é essencial preparar-se, qualificar-se, investir, mudar estruturas, processos e rotinas. É por isso que do ponto de vista dos empreendedores, geralmente preocupados com o lucro imediato, a gestão ambiental sempre foi identificada como custo adicional. No entanto, essa lógica vem sendo superada por outra, que identifica a preservação ambiental como fator de vantagem competitiva sustentável, especialmente quando somada às ações de responsabilidade social corporativa.

É pertinente tratar sobre a internalização da questão ambiental também sob a ótica da

responsabilidade social, pois ambiente e sociedade fazem parte de um mesmo contexto

quando se trata de competitividade pela criação de estratégias sustentáveis.

Porém, se faz necessário entender a evolução da perspectiva ambiental para o centro da

estratégia empresarial como forma de aumentar a competitividade. Embora Porter e Kramer

(2006) e Barbieri (2007) entendam como uma mentalidade em transformação das empresas e

mudança de atitude por parte destas em relação à questão socioambiental, é preciso debater

um aspecto relevante para esta mudança, a inércia do negócio, sendo a incorporação da

Page 30: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

29

questão ambiental como uma estratégia do negócio um processo que pode demorar em alguns

setores, como o portuário, por exemplo.

A inércia do negócio portuário quanto à internalização da questão ambiental é tida como

uma resistência de muitas empresas, pois estas consideram o investimento em meio ambiente

um custo cujo retorno não é interessante em portos, e acabam apenas investindo nesse aspecto

quando pressionadas pela regulação ambiental, conforme mencionado por Kitzmann e Asmus

(2006). A regulação não é ruim para o negócio, porém é compreendida enquanto uma medida

de punição para algumas empresas.

Porter e Van Der Linde (1995) defendem a pratica da regulação ambiental por alguns

aspectos essenciais:

a. Criar pressão externa, motivando a inovação;

b. Melhorar o meio ambiente;

c. Alertar empresas e governos sobre potenciais deficiências e capacidade de

aprimoramentos;

d. Aumentar a probabilidade de ter-se inovações amistosas com o meio ambiente;

e. Criar demanda e consciência sobre a eficiência dos recursos como fonte de

poluição;

f. nivelar o campo competitivo, conferindo mais chances aquelas empresas que

atuem como vetores da inovação ambiental.

Porter e Van Der Linde (1995) entendem que a maioria das empresas tende a rejeitar

inicialmente inovações no aspecto ambiental impulsionados pela imagem que possuem da

regulamentação como punição, porém, quando existe sintonia entre o ente regulamentador e o

empresário, a regulamentação passa efetivamente a produzir inovações positivas e um

ambiente competitivo saudável.

Ainda conforme Porter e Van Der Linde (1995), existem alguns princípios segundo os

quais pode-se obter uma regulamentação favorável à inovação:

a. Focar nos resultados e não na tecnologia;

b. Regulamentação severa incentivando a adoção de inovações em caráter

definitivo;

c. Estabelecer regulamentação tendo em vista o usuário final sempre que possível

e buscando ao máximo o início da cadeia produtiva.

Page 31: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

30

d. Adotar fases e estágios de implantação de forma a garantir uma gradual, porém

definitiva, implantação.

e. Utilizar incentivos de mercado

f. Alinhar regulamentações e normas afins;

g. Tornar o processo regulatório mais estável;

h. Tornar o processo participativo exigindo a participação do setor envolvido;

i. Capacitar os reguladores com a especificidade necessária ao setor ao qual se

destinam;

j. Minimizar o tempo e os recursos consumidos no processo em si.

A questão, no que diz respeito à regulamentação, não é rigidez da norma, mas a

flexibilidade de sua aplicabilidade, tendo em vista o foco na solução do problema, ou nas

possibilidades de solução, incentivando desta forma a inovação e criando oportunidades.

Outro aspecto a ser considerado em relação às questões ambientais, é a sua introdução

na por profissionais externos ou especializados, que não necessariamente estão vinculados aos

resultados da empresa, ou por estes profissionais não serem vinculados a áreas técnicas,

destacando um perfil especializado em condições ambientais sem a visão de gestão, o que os

torna profissionais mais relacionados com a conformidade de processos do que na inovação e

internalização da questão ambiental enquanto estratégia pertinente ao negócio.

A análise permite inferir que não é somente a regulação que impulsiona a inovação

ambiental, mas sim a concorrência em âmbito global, conforme o exemplo do contexto

portuário, na qual a competitividade também é definida pelo valor agregado ao produto/

serviço, atrelado à cadeia de valor, uma vez que muitas empresas que dependem do comércio

internacional deixam de utilizar serviços de outras que não investem em meio ambiente e na

responsabilidade social, o que remete ao debate sobre a ótica que vem sendo adotada da

sustentabilidade e da gestão ambiental.

2.2 Desenvolvimento Sustentável

A expressão “desenvolvimento sustentável” foi definida a partir do Relatório

Brundtland ou “Nosso Futuro Comum”, criado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente

e Desenvolvimento no ano de 1987. Segundo Franco (2000, p.26), foi criada com o propósito

de “harmonização entre o desenvolvimento sócio-econômico com a conservação do meio

Page 32: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

31

ambiente, com ênfase na preservação dos ecossistemas naturais e na diversidade genética,

para a utilização dos recursos naturais”.

De acordo com o Nosso Futuro Comum, o conceito de desenvolvimento sustentável, ou

ecodesenvolvimento, é um processo de transformação que direciona a exploração dos

recursos, os investimentos, o desenvolvimento tecnológico e as mudanças institucionais, de

forma que se harmonizem para aumentar o potencial presente e futuro, para atender as

necessidades humanas.

Sachs (2004) analisa a relação entre o capital humano e os recursos naturais,

argumentando sobre a postura dos países ricos e pobres, norte e sul, no qual os ricos querem

manter seu padrão de consumo e os pobres possuem como cultura a exploração dos recursos

de maneira desordenada. É preciso refletir sobre a gestão local como um fator de

sustentabilidade (p.71):

Para dar ao ecodesenvolvimento uma base teórica sólida, dever-se ia tentar avaliar meticulosamente as críticas até agora marginais e nem sempre convergentes ao paradigma convencional, dar-lhes mais atenção nos círculos acadêmicos e reestruturar progressivamente todo o campo da ecossocioeconomia como parte de um esforço mais amplo, avaliando o impacto, sobre todas as ciências sociais, do que Edgar Morin denomina de ecologização do pensamento.

Dentre as mudanças que Sachs (1993) propôs inicialmente, oferecia ênfase ao

desenvolvimento agrícola e rural sustentável, que englobava: comprometimento da população

rural, descentralização e gestão independente de comunidades locais, estabelecimento de

direitos e obrigações legais, investimento na reabilitação e conservação dos recursos naturais.

Como em “Nosso Futuro Comum”, Sachs (1993) permeia o debate também em torno da

explosão demográfica, mas com foco no movimento de urbanização desordenado,

especificamente no Sul, sugerindo a necessidade de estratégias de desenvolvimento.

Considera que o desenvolvimento sustentável relaciona-se ao consumo e propõe que devem

ser feitas reformas políticas que modifiquem os problemas de suprimento, com contribuição e

reorientação da tecnologia.

Sachs (1993) sugere estratégias de transição, relevando que duas décadas é um período

suficiente para estabelecer e manter estratégias, os países industrializados devem ter maior

participação nos custos e ajuste técnico, além da necessidade de haver mudanças

institucionais fortes e movimentos no sentido de modificar o estilo de vida e padrão de

consumo das populações.

Page 33: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

32

A proposta de Sachs (1993) sobre as estratégias de transição contempla uma análise das

reações e condições das regiões sul, leste e norte, partindo da premissa dos objetivos

diferenciados e da necessidade da ação global entre regiões e fundamentalmente, entre

diversos agentes intervenientes que influenciam no processo do desenvolvimento. Também,

faz uma reflexão sobre os resultados da cúpula da Terra, a ECO 92, que culminou na Agenda

21, um programa que visa ações para melhorias ambientais, segundo o autor, mais como um

debate teórico que permeou a necessidade de intervenção dos países do Norte, de forma mais

substancial, mas também do sul. Analisa também a sugestão de Agendas 21 locais, como

ênfase em soluções para o desenvolvimento local.

No relatório Nosso Futuro Comum (1991), o desenvolvimento sustentável inclui duas

palavras-chave, que são necessidades e limitações. Remete a uma discussão sobre o padrão de

vida e dos objetivos da sustentabilidade somente serem alcançados em longo prazo. Também

define que o fator determinante das necessidades são a sociedade e a cultura.

Enfatiza-se também que não se deve esquecer as necessidades básicas como prioridade

e que é preciso diminuir a patamares aceitáveis a exploração dos recursos naturais.

Sachs (1993) não propõe uma ruptura, mas a diminuição da exploração de forma que

não se ponha em risco os sistemas naturais que garantem a sobrevivência no planeta, ou seja,

não é contrário ao crescimento e desenvolvimento, apenas propõe uma reflexão sobre um

conceito de desenvolvimento sustentável que signifique um “processo de transformação”. O

autor entende que deve ser alcançada a equidade social por meio da educação em conjunto

com o desenvolvimento das instituições, como agentes interdependentes e elenca que a

equidade é prejudicada pelos meios legais e pela jurisdição política que, em muitos casos, não

coincide com a área afetada.

Outro aspecto da reflexão de Sachs (1993) é o argumento de que os objetivos das

políticas ambientais devem considerar o crescimento, mas com alteração da qualidade do

desenvolvimento, de forma mais consciente. Com isto, sugere a emergência de retomar o

crescimento em países em desenvolvimento, pois nestes países existe correlação entre

economia, diminuição da pobreza e melhoria das condições ambientais, ao mesmo tempo em

que os países desenvolvidos devem ser menos intensivos no uso de matéria-prima e energia e

serem mais equitativos no impacto ambiental que promovem.

Sachs (1993) também propõe uma mudança de perspectiva e de atitude, tanto de países

em desenvolvimento quanto de países desenvolvidos. Nesse sentido, constata a necessidade

de harmonizar integração de fatores econômicos e ecológicos nos sistemas legais e no

processo decisório de países de todo o mundo (p.67):

Page 34: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

33

O tema comum a essa estratégia do desenvolvimento sustentável é a necessidade de incluir considerações econômicas e ecológicas no processo de tomada de decisões. Afinal, economia e ecologia estão integradas nas atividades do mundo real. Para tanto, será preciso mudar as atitudes e objetivos e chegar a novas disposições institucionais em todos os níveis.

Sachs (2008, p.85-6) parte de uma concepção sistêmica que inclui dimensões

ambientais, sociais, econômicas, ecológicas e culturais:

a. Social: busca de um patamar aceitável de homogeneidade social; melhoria na

distribuição de renda, que deve ser mais igualitária; melhoria nas condições de

emprego/ trabalho com qualidade de vida; igualdade de acesso a recursos e serviços

sociais;

b. Cultural: mudanças X continuidade e equilíbrio entre inovação e tradição e ao

patrimônio histórico; autonomia para desenvolvimento e execução de projeto

nacional integrado e endógeno

c. Ecológica: preservação do potencial do ambiente natural e biodiversidade na

produção de recursos renováveis; limitação de uso dos recursos não-renováveis;

d. Ambiental: respeito a capacidade de autodepuração dos ecossistemas;

e. Econômica: desenvolvimento econômico equilibrado; segurança na alimentação;

melhoria na capacidade de produção e seus recursos; autonomia na pesquisa

científica e tecnológica; inserção nacional na economia internacional;

O autor entende que a prática destas questões é complexa pela influência de fatores

como a má distribuição de renda, poluição, tecnologia e estilos de vida, o que exige por sua

vez a participação de todos os agentes, governamentais, empresariais e consumidores, entre

outros, para a implementação da expansão regional.

Posteriormente, Sachs (2008) entende que para haver ecodesenvolvimento, se requer

planejamento local e participativo.

Assim, a sustentabilidade é um conceito complexo em sua extensão, para designar uma

prática multidimensional não pode ser aplicada simplesmente em uma única atividade ou

empresa. Por este motivo, foram criadas variações deste conceito, sendo um deles a

perspectiva empresarial da sustentabilidade.

O conceito de sustentabilidade empresarial teve início com a proposta de Elkington

(1999), que criou o triple bottom line, um conceito no qual a sustentabilidade somente pode

ser obtida quando a empresa equilibra resultados econômicos, atuação para o

Page 35: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

34

desenvolvimento da sociedade e preservação do meio ambiente. Para Elkington (1999), a

empresa pode criar valor ou destruí-lo a partir do desempenho que está embasado pelos

pilares social, econômico e ambiental, os quais devem estar previstos em sua gestão.

2.3 Sustentabilidade Empresarial

De acordo com Barbieri (2000), não se pode ignorar a necessidade contínua do

desenvolvimento. As empresas precisam modificar suas estruturas e procedimentos, adotando

tecnologias para que poluam menos, sem diminuir lucros ou aumentar custos. De acordo com

Romeiro et al. (2001), é necessário fazer investimentos de longo prazo, é preciso parar de agir

sob os preceitos do capitalismo selvagem para adotar medidas sustentáveis. Os agentes

econômicos precisam adotar soluções estratégicas para promover o desenvolvimento

sustentável, promovendo a sustentabilidade nas empresas.

Almeida (2002) propôs uma nova visão a respeito do desenvolvimento sustentável para

empresários, executivos e funcionários de empresas de qualquer porte pela introdução de um

novo modelo de administração a partir da Responsabilidade Social Corporativa ou

Empresarial.

O mundo tornou-se tripolar (governo, sociedade, empresa) e evoluiu com a noção de

desenvolvimento sustentável. Almeida (2002) iniciou sua análise a partir de uma postura

preventiva imposta pela sustentabilidade, coloca o fator tempo no centro da discussão e define

o processo de sustentabilidade como o conjunto formado entre ecoeficiência e

responsabilidade social promovidos pelas empresas.

Seu foco não foi condenar o desenvolvimento, mas propor uma mudança de paradigma

para a sustentabilidade, considerando um sistema de mercados abertos e competitivos, ação

governamental equilibrada entre mecanismos de comando e controle, auto-regulação,

relacionamento com stakeholders, informação coerente com a realidade da empresa,

transparente e boa governança corporativa.

Define a ecoeficiência como uma filosofia que inclui a gestão ambiental na

administração empresarial, trazendo um crescimento qualitativo a partir da melhoria contínua.

Também define responsabilidade social como o comprometimento constante dos

empresários na adoção de um comportamento ético e desenvolvimento simultâneo da

Page 36: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

35

qualidade de vida dos empregados, famílias, comunidades e sociedade, ou seja, uma nova

postura que tenha como meta redução da miséria.

Porter e Kramer (2006) analisam a responsabilidade social empresarial na perspectiva

de que, quando se analisa estrategicamente, a responsabilidade social das empresas pode se

tornar uma fonte de progresso social, como a empresa aplica seus recursos consideráveis,

conhecimentos e informações para as atividades que beneficiam a sociedade.

Segundo Porter e Kramer (2006), examinar as escolas primárias de pensamento sobre a

responsabilidade social empresarial é um ponto de partida essencial para compreender por que

uma nova abordagem é necessária à integração de considerações de ordem social nas

operações de competência de negócios e da estratégia. O campo de responsabilidade social é

imbuído de um imperativo moral. Em algumas áreas, como a honestidade na apresentação

demonstrações financeiras e operacionais dentro da lei, as considerações morais são fáceis de

entender e aplicar. É da natureza das obrigações morais a serem mandatos absolutos, no

entanto, enquanto a maioria das empresas opta por escolhas sociais, estas envolvem

ponderação de valores concorrentes, interesses e custos.

Almeida (2002) constata que há, ao mesmo tempo, vantagens para a sociedade e para a

empresa, ao adotar a responsabilidade social e a ecoeficiência, pois permite melhor

gerenciamento em épocas de crise e melhor relacionamento com públicos, sendo um fator de

competitividade.

Na concepção de Tachizawa (2002), a administração, com as concepções de

ecoeficiência e responsabilidade social, precisa adotar procedimentos, tecnologias e

conhecimentos humanos para estabelecer novos meios de produção, que não prejudiquem a

natureza nem promovam desequilíbrios no ambiente.

Para Dyllick e Hokerts (2002) a sustentabilidade é um tema discutido na perspectiva de

crescimento econômico, equidade social e conservação do meio ambiente. O desenvolvimento

econômico e o cuidado com o meio ambiente são compatíveis, interdependentes e

necessários. A alta produtividade, a tecnologia moderna e o desenvolvimento econômico

podem e devem coexistir com um meio ambiente saudável.

Almeida (2002) sugere mensurar a sustentabilidade por meio da criação e aplicação de

indicadores que devem influenciar no processo decisório, mas o autor comenta que isto ainda

é um desafio não só no Brasil. Mostra alguns indicadores e faz uma análise de sua eficácia.

Para Almeida (2002, p.164):

Page 37: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

36

Não é demais repetir que as melhores práticas na busca do desenvolvimento sustentável ainda estão por ser descobertas. Estamos apenas no início do processo de sistematização de conceitos e estabelecimento de padrões. Da experiência de cada um dos autores desse processo e da troca de informações entre todos, virão as respostas que nos faltam.

Essa modificação deve-se a alguns motivos: abalo à hegemonia absoluta da dimensão

econômica, organizações da sociedade civil, operações em rede pelas evoluções nos meios de

comunicação, democracia, evolução do conhecimento científico, demanda das novas gerações

por produtos e serviços sustentáveis. Para Almeida (2002, p.175):

A sustentabilidade requer uma nova ordem mundial, associada a uma profunda mudança de atitude no interior de cada nação, da cada instituição, de cada indivíduo [...] O capitalismo, que até agora mostrou ser o sistema econômico mais eficaz, precisará de uma gestão competente para que, em algumas décadas, entremos na era do capitalismo sustentável.

É interessante analisar a evolução do pensamento de Almeida a respeito da

sustentabilidade em sua obra de 2007. Numa viagem, ao se deparar com uma realidade, numa

estrada em Goiás sem nenhuma árvore, o autor relata o poder concentrado, alta tecnologia,

transformação dos ecossistemas e serviços, combinados à miséria e falta de oportunidades,

que demonstram não mais uma ameaça às futuras gerações, mas no aqui e agora já

visualizam-se os resultados do desenvolvimento predatório, nos aspectos social e ambiental,

lideranças mais informadas e mal-intencionadas, o que sugere uma ruptura urgente.

Há necessidade de planejamento e investimento para a adoção de gestão que possa

destinar recursos e implementar processos para solucionar os problemas e crises empresariais

em relação ao meio ambiente, destacando-se a evolução tecnológica que deve existir para

tornar viável a expansão, criando uma nova mentalidade, de acordo com Sachs (1993, p.7),

O desenvolvimento e o meio ambiente estão indissoluvelmente vinculados e devem ser tratados mediante mudança de conteúdo, das modalidades e das utilizações do crescimento. Três critérios fundamentais devem ser obedecidos simultaneamente: equidade social, prudência ecológica e eficiência econômica.

Para Almeida (2007), a gestão representa o meio efetivo para que os critérios de Sachs

sejam cumpridos e transformem-se em valor para as organizações, de forma que o

desenvolvimento sustentável seja uma prática e garanta vantagem competitiva.

Page 38: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

37

Esta análise propõe a importância de criar um plano para a prática da sustentabilidade

dentro das empresas, sendo que esta também é entendida como eco-eficiência, de acordo com

Almeida (2007), uma filosofia de gestão para incentivar as empresas para investir em

melhorias ambientais ao mesmo tempo em que se obtém benefícios econômicos. Centra-se em

oportunidades de negócios e permite que as empresas sejam mais responsáveis em termos

ambientais, econômicos e sociais, de inovação, que resulta em crescimento e competitividade.

A expansão da sustentabilidade pode ser analisada por uma reflexão de Sachs (2004,

p.25):

Perdemos a inocência. Hoje sabemos que nossa civilização e até mesmo a vida em nosso planeta estarão condenadas, a menos que nos voltemos para o único caminho viável, tanto para os ricos quanto os pobres. Para isso, é preciso que o Norte diminua seu consumo de recursos e o Sul escape da pobreza. O que se pode entender com esta frase é que devemos tomar cuidado com o tipo de desenvolvimento que produzimos e que este pode ser responsável pelos recursos que deixamos de obter, ou pelo destino dado aos obtidos.

Para Orsato (2009), a estratégia baseada na sustentabilidade requer simultaneamente o

enfoque de custos, aumento de valor para o consumidor e geração de benefícios sociais.

De acordo com Hart e Milstein (2004), alguns empresários acreditam que a

sustentabilidade é um mal necessário, cujos custos, investimentos, regulações e

responsabilidades, são onerosos a empresa. A sustentabilidade é entendida como elevação de

expectativas em relação ao desempenho ambiental e social, sendo uma empresa sustentável

aquela que gera benefícios econômicos, sociais e ambientais, que consistem nos três pilares

do desenvolvimento sustentável.

Porém, há desconhecimento, por parte dos gestores, quanto ao significado da

sustentabilidade e à motivação para inclui-la nas empresas, sendo que muitas empresas

acreditam que a sustentabilidade dificilmente pode ser conciliada com a criação de valor aos

acionistas, uma visão que tem subestimado as oportunidades estratégicas nesse tema.

Dentre as dimensões-chave para o acionista, apresentam-se: redução de custo, reputação

e legitimidade; na visão futura: inovação e reposicionamento e caminho de crescimento.

Hart e Milstein (2004) entendem que existem quatro motivadores globais da

sustentabilidade, dentre os quais:

a. crescente industrialização e correlatas conseqüências, sendo a eficiência de recursos

e prevenção da poluição focos de sustentabilidade;

Page 39: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

38

b. proliferação e interligação de stakeholders da sociedade civil, cujo desafio é a

transparência e responsabilidade;

c. tecnologias emergentes que oferecem soluções poderosas e que tornam obsoletas

bases de empresas que usam energia e matéria-prima de forma intensiva, sendo a

inovação e as transformações tecnológicas necessárias ao desenvolvimento

sustentável;

d. aumento da população, pobreza e desigualdade associada a globalização, sendo o

desenvolvimento social e criação de riqueza em escala de massa, inerentes a

sustentabilidade, e sua aplicação dependente de políticas.

As políticas atuais mostram-se insuficientes para definir em cada atividade o que deve

ser feito para que a empresa equacionar as dimensões de sustentabilidade: preservar o meio

ambiente, contribuir com a sociedade da qual faz parte e é agente e ainda assim dar

continuidade ao desenvolvimento econômico, conforme Merico (2001, p.253): “[...] as atuais

políticas econômicas e sociais não mais respondem aos desafios deste novo momento

histórico. Os limites da biosfera foram atingidos e, em vários casos, ultrapassados,

provocando rupturas”.

Hart e Milstein (2004) enfatizam que a sustentabilidade é complexa, multidimensional

que não pode ser aplicada por uma única ação corporativa, pois requer que se aplique pelo

menos um dos motivadores, seja reduzindo o consumo de matéria-prima e poluição, operar

com níveis mais amplos de transparência e responsabilidade, desenvolvimento de novas

tecnologias e atender às necessidades dos que se encontram no inferior da pirâmide de renda

mundial.Desta forma, Hart e Milstein (2004) entende a contribuição da aplicação dos

motivadores da seguinte forma:

a. No primeiro motivador, menos resíduos significa melhor utilização de recursos e

insumos, resultando em custos mais baixos de matéria-prima e depósitos de

resíduos e o combate à poluição requer participação dos empregados e

desenvolvimento de potenciais para melhoria contínua. Programas de redução de

resíduos e emissões por ecoeficiência têm sido adotados.

b. O segundo motivador influencia na reputação e legitimidade pelo gerenciamento do

produto, que necessita de integração dos stakeholders nos processos de negócios e

assim combate o impacto ambiental em cada elo da cada de valor, criando relações

de confiança e otimizando a reputação corporativa.

Page 40: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

39

c. O terceiro motivador impõe a adoção de tecnologias limpas, cujas inovações

ultrapassam rotinas e conhecimento comum, gerando competências sustentáveis

que representam reposicionamento das habilidades internas e desenvolvimento e

exploração de mercados futuros.

d. O quarto motivador analisa as oportunidades de crescimento da empresa e aumento

da fatia de mercado, a partir de uma forma mais inclusiva permeada por diálogo e

colaboração com stakeholders. Isto gera sustentabilidade pela criação de mapas

comuns para negócios futuros e guias para empresários em termos de prioridades

organizacionais, desenvolvimento de tecnologia, alocação de recursos e

planejamento de novos modelos de negócios, o que gera um agente catalisador do

desenvolvimento de tecnologias inovadoras, produtos e serviços que atendam

necessidades específicas e direcione o crescimento econômico em múltiplos níveis

na economia, criando acesso a mercados de escala e escopos imensos.

Assim, Hart e Milstein (2004) entendem que a sustentabilidade é viável e necessária,

quando considerados os motivadores com as respectivas soluções e resultados. Sugerem que a

busca do valor sustentável deve incluir: diagnóstico (avaliação da atividade da empresa),

avaliação de oportunidades (foco na construção de novas capacidades e competências),

implementação (organizar conjunto de possíveis oportunidades com projetos discretos e

experimentos em negócios. Aligleri, Aligleri e Kruglianskas (2009, p. 9) consideram que a

sustentabilidade e a responsabilidade social partem da mudança nas políticas empresariais

para acompanhar a necessidade do mercado:

Está cada vez mais evidente que toda iniciativa de negócio tem um impacto sobre o lucro e sobre o mundo. Dessa forma, o desempenho social inadequado e a falta de políticas bem elaboradas de cunho social e ambiental podem ter sérias implicações organizacionais, acarretando prejuízos materiais e morais de modo a aumentar os custos e perder oportunidades de mercado. Não há como ignorar o novo compromisso das empresas, pois a questão não é parte apenas de uma sensibilização ética, mas, principalmente, econômica e mercadológica.

De acordo com Hitchcok e Willard (2008), a sustentabilidade requer planejamento e

avaliação para ser implementada e continuamente avaliada. Para Hitchcock e Willard (2008,

p.26),

Sustentabilidade é uma tendência e muitas organizações a estão perseguindo, a fim de obter sucesso e competitividade. Anos atrás, as empresas só poderiam atrapalhar tais esforços aleatórios com ênfase no meio ambiente

Page 41: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

40

para se destacar no mercado. Agora, porém, que os atores se tornaram mais sofisticados, é de suma importância empreender um processo formal para a abordagem da sustentabilidade.

Orsato (2009) considera que há o aspecto da competitividade incluido na discussão da

sustentabilidade, pois a difusão das questões relativas ao meio ambiente, sociedade e

economia equilibrados na gestão empresarial não reduz a concorrência, uma vez que as

empresas como um todo estão adotando estas questões em suas estratégias, e a distinção pode

ser feita em relação às áreas que cada uma distribui seus eco-investimentos, o que requer

considerações aprofundadas e questionamentos sobre a estratégia de sustentabilidade e sua

prática. Willard (2008) considera alguns destes questionamentos sobre a sustentabilidade,

conforme quadro 1.

Page 42: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

41

Questões de base Questões provenientes das questões de

base

Devemos perseguir (ou continuar a perseguir)

a sustentabilidade?

Se sim, o que nós faremos?

O que é a sustentabilidade que faz sentido

para nós? Que pressões nos empurram a fazê-

lo? Quais as oportunidades para isso hoje?

Existem algumas questões no âmbito da

sustentabilidade, que são um foco particular

(por exemplo, alterações climáticas, lixo

eletrônico e as normas internacionais do

trabalho)?

Qual seria uma visão totalmente sustentável

para o nosso olhar como organização?

Que framework usaremos para definir a

sustentabilidade em nosso contexto?

Como é que a sustentabilidade se relaciona

com outras iniciativas de organização (por

exemplo, manufatura enxuta, sistemas de

gestão ambiental e certificação de produtos?

Como vamos medir o nosso progresso?

Quais os projetos que iremos realizar, agora

e no futuro, para alcançar um estado

sustentável?

Onde devemos iniciar ou implementar a

sustentabilidade a seguir?

Quais os sistemas e estruturas necessários

para apoiar os nossos esforços?

Quais são os prováveis desafios e como

podemos superá-los?

O que mais precisamos saber para tomar uma

decisão?

É este o momento certo?

Quadro 1: Questões sobre a sustentabilidade Fonte: Hitchcock e Willard (2008, p.xx)

No quadro Hitchcock e Willard (2008) enfatizam a necessidade de serem feitos esses

questionamentos como forma de gerar análises e definir métricas que sirvam de apoio a

implantação de um plano de sustentabilidade empresarial.

Assim, entende-se que a sustentabilidade oferece uma ampla gama de oportunidades

que podem ser exploradas pelas empresas, o que requer visão ampla do negócio, criatividade

e persistência, para gerar valor ao negócio, ao meio ambiente e à sociedade.

Questão emergente neste debate é a prática da gestão ambiental nesse contexto, como

um aspecto que propicia a sustentabilidade empresarial.

Page 43: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

42

2.4 Gestão Ambiental em Portos

Segundo Almeida (2010), a gestão ambiental foi motivada pelo controle de qualidade e

pela regulamentação no processo produtivo em fábricas, no final da década de 1960,

especialmente nos Estados Unidos, sendo que, no início de 1970, as empresas passaram a se

adequar pela criação de gerências ambientais e desenvolvendo algum tipo de conformidade,

especialmente empresas da área de saúde, segurança e meio ambiente.

Para esta mudança, Macedo (1994) dividiu os quesitos que as empresas devem possuir

para adotar a gestão ambiental:

a. Gestão de processos: inclui a avaliação da qualidade ambiental de todas as

atividades, equipamentos e máquinas relativos ao manejo de insumos, recursos e

matérias-primas;

b. Gestão de resultados: avaliação da qualidade ambiental a partir dos processos de

produção, no tocante aos efeitos ou resultados ambientais, que podem ser medidos

por emissões gasosas, efluentes líquidos, resíduos sólidos, particulados, odores,

ruídos, vibrações e iluminação;

c. Gestão de sustentabilidade (ambiental): avaliação da capacidade ambiental de

resposta aos resultados de produção que o afetam, pela monitoração sistemática da

qualidade do ar, água, solo e biodiversidade;

d. Gestão do plano ambiental: avaliação sistemática e contínua dos elementos que

fazem parte do plano de gestão ambiental implementado, sendo avaliado pelo

desempenho ambiental.

De acordo com Almeida (2010), os motivadores para o envolvimento das empresas com

o tema gestão ambiental podem ser explicados por alguns fatores:

a. Elevação dos custos ambientais: custos relacionados à conformidade às regulamentações, passivos associados a problemas ambientais, multas e sanções criminais por infrações;

b. Aumento das regulamentações ambientais, o que levou à maior responsabilização dos conselhos de administração das empresas pelo mau gerenciamento ambiental;

c. Difusão em escala global dos acidentes e problemas ambientais; d. Pressão de investidores e instituições financeiras, devido à exigência de

seus credores;

Page 44: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

43

e. A difusão do conceito de desenvolvimento sustentável, cunhado pelo relatório “Nosso Futuro Comum”, produto da Comissão Mundial das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1987;

f. O sistema de regulamentação dos Estados Unidos, por meio do Federal Polution Prevention Act de 1990, lei federal de prevenção da poluição, que passa a encorajar as iniciativas de prevenção da poluição;

g. Inclusão dos incentivos de mercado, além da regulamentação com base em

h. “comando e controle”; i. Aproximação com os processos de qualidade em empresas que

passaram a ter comportamento proativo, ao incluírem a questão ambiental em suas estratégias.

Ainda de acordo com Almeida (2010), no Brasil, o tipo de gestão ambiental inicial era

com foco no tratamento de resíduos somente no final do processo produtivo, o que foi

mudando ao longo do tempo a partir da adoção de instrumentos de gestão ambiental, tais

como Estudo de Impacto Ambiental (EIA), Avaliação do Impacto Ambiental (AIA) e

auditorias ambientais. Tinoco e Kraemer (2008, p.116) entendem que “Os instrumentos de

gestão ambiental objetivam melhorar a qualidade ambiental e o processo decisório. São

aplicados a todas as fases dos negócios e podem ser: preventivos, corretivos, de remediação e

proativos, dependendo da fase em que são implementados”.

Barbieri (2007, p.153) define gestão ambiental como: “[...] as diferentes atividades

administrativas e operacionais realizadas pela empresa para abordar problemas ambientais

decorrentes da sua atuação ou para evitar que eles ocorram no futuro”. O autor entende

atuação das empresas com relação aos problemas ambientais a partir de três perspectivas:

controle da poluição, prevenção da poluição e incorporação das questões ambientais na

estratégia empresarial.

No contexto portuário, a noção da importância do meio ambiente foi introduzida da Lei

de Modernização dos Portos, Lei 8.630/93, onde são ressaltadas mudanças:

a. Instalação e pleno funcionamento dos Conselhos de Autoridade Portuária nos portos;

b. Pleno funcionamento dos Órgãos Gestores de Mão de obra (OGMOs) na maioria dos

portos;

c. Maior participação da iniciativa privada na gestão e nos investimentos portuários;

d. Aumento da produtividade e redução dos custos portuários;

e. Praticamente todos os principais terminais e instalações portuárias públicas foram

arrendados à exploração de empresas privadas.

Page 45: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

44

Houve a necessidade de gestão, capacitação da mão de obra, alteração da estrutura

tarifária, o aumento da eficiência e competitividade entre portos e nesse contexto de mudança

e evolução, surgiu o debate sobre a gestão ambiental portuária. Isto representa o conjunto de

variáveis que podem influenciar na questão ambiental relacionada com esse setor,

influenciando a decisão das autoridades portuárias no processo de planejamento.

Desta forma, há que se pensar em gestão da atividade portuária, que requer das

autoridades portuárias um novo olhar, especialmente no tocante ao impacto ambiental que o

porto gera, sendo também incluída tal questão na Lei de Modernização dos Portos.

Monié e Vidal (2006, p.988-89) entendem que a gestão ambiental entra como estratégia

de negócio para agregar valor na atividade portuária:

[...] questionamento central é relativo à capacidade do porto de ampliar o espaço de atuação a partir das instalações portuárias para investir no campo dos dispositivos logísticos terrestres, desenvolvendo, assim, um papel mais ativo nas redes de valor agregado em escalas regional ou continental. A transformação da autoridade portuária em agente do planejamento e da gestão ambiental deveria também constituir uma prioridade. Além da ação local voltada para a resolução de problemas ambientais específicos, a aquisição de um saber-fazer em termos de gestão do meio ambiente costeiro urbano e regional pode representar uma competência lucrativa se for exportada para outros portos pela autoridade portuária ou por empresas especializadas.

Devem ser considerados os problemas associados ao desenvolvimento desordenado e

sem planejamento para a inserção da questão ambiental na gestão portuária. Nesse sentido, de

acordo com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ, 2010), os problemas

observados na maioria dos portos quanto ao aspecto ambiental na estratégia de negócios são:

a. Conflito de competências entre os órgãos licenciadores;

b. Falta de regulamentação específica;

c. Sobreposição de atuação das autoridades envolvidas;

d. Inobservância da hierarquia dos instrumentos legais;

e. Exigüidade dos prazos e

f. Falta de recursos.

A regulação ambiental portuária precisa ser definida por políticas ambientais que

requerem redução do impacto e de danos ao ambiente a partir da sistematização de um

conjunto de atividades operacionais e de gestão, além da criação de inventário e avaliações

Page 46: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

45

ambientais que permitam o estabelecimento de planejamento coerente com as estruturas

portuárias existentes.

Em primeiro lugar deve ser realizado o diagnóstico das áreas existentes e seus principais

problemas ambientais, para em seguida definir critérios para o licenciamento e incorporação

da gestão ambiental.

Para Kitzmann e Asmus (2006), para a prática da gestão ambiental é necessário

investimento em reestruturação portuária e isto tem sido encarado pelas empresas que atuam

no porto como “barreiras ao desenvolvimento”, pois requer investimento para adaptação, e

isto pode refletir no preço dos produtos e serviços.

Para tanto, tem sido realizados esforços para se adequar às demandas ambientais, que

são imensas sobre o sistema portuário conforme os autores “por conta de passivos herdados

(ambientais, culturais, estruturais) e de ativos continuamente criados” (p.1046).

De acordo com a ANTAQ (2010), conceitua-se o Sistema Integrado de Gestão

Ambiental Portuária:

Trata-se de um processo contínuo e adaptativo, envolvendo condicionantes ambientais, que, por meio de ajustes sucessivos, no qual uma organização define (e redefine) seus objetivos e metas, traça sua missão, implementa suas ações relativas à promoção de uma atividade comercial, de facilitação e agilidade do trânsito portuário, implante atributos de proteção do ambiente, segurança e saúde do patrimônio agregado à atividade, nele incluídos a infra-estrutura, sua força de trabalho (seus empregados), clientes e comunidade em geral.

Há necessidade de planejamento para a adoção da gestão ambiental para destinar

recursos e implementar processos de forma a solucionar os problemas em relação ao meio

ambiente, à cidade e à costa.

De acordo com Barbieri (2007), a realização de ações ambientais isoladas não constitui

um sistema de gestão ambiental. É preciso considerar os vários aspectos da adoção de

políticas e gestão ambientais, partindo da criação de “diretrizes, definição de objetivos,

coordenação de atividades e avaliação de resultados”.

Cunha (2006, p.2) analisa a gestão ambiental portuária a partir da ótica dos conflitos

ambientais gerados a partir dos impactos da atividade portuária: “As atividades portuárias

estão na origem de amplas transformações dos ambientes regionais, e carregam

constantemente vasto potencial de impactos”.

Para Cunha (2004; 2007; 2008), pode-se pensar em soluções a partir da política

ambiental, com ênfase na Agenda Ambiental Portuária, criada pelo Programa Nacional de

Page 47: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

46

Gerenciamento Costeiro (PNGC), em 1998. O PNGC foi criado pela Lei 7.661, de 16/05/88,

cujo escopo foi definido na Resolução no 01/90 da Comissão Interministerial para os

Recursos do Mar (CIRM), de 21/11/90, aprovada em conformidade com audiência do

Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) e previa-se a evolução do PNGC, por

meio do Grupo de Coordenação do Gerenciamento Costeiro (COGERCO). Posteriormente, o

PNGC passou por atualizações e foi definido como PNGC II, em 1997, que reafirma a

definição e abrangência de zona costeira, assim como a considera “patrimônio nacional”, em

conformidade com o estabelecido no art. 225 da Constituição Federal:

Zona Costeira - é o espaço geográfico de interação do ar, do mar e da terra, incluindo seus recursos ambientais, abrangendo as seguintes faixas: Faixa Marítima - é a faixa que se estende mar afora distando 12 milhas marítimas das Linhas de Base estabelecidas de acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, compreendendo a totalidade do Mar Territorial. Faixa Terrestre - é a faixa do continente formada pelos municípios que sofrem influência direta dos fenômenos ocorrentes na Zona Costeira, a saber: a) os municípios defrontantes com o mar, assim considerados em listagem desta classe, estabelecida pelo Instituto Brasileiros de Geografia Estatística (IBGE); b) os municípios não defrontantes com o mar que se localizem nas regiões metropolitanas litorâneas; c) os municípios contíguos às grandes cidades e às capitais estaduais litorâneas, que apresentem processo de conurbação; d) os municípios próximos ao litoral, até 50 km da linha de costa, que aloquem, em seu território, atividades ou infra-estruturas de grande impacto ambiental sobre a Zona Costeira, ou ecossistemas costeiros de alta relevância; e) os municípios estuarinos-lagunares, mesmo que não diretamente defrontantes com o mar, dada a relevância destes ambientes para a dinâmica marítimo-litorânea; e f) os municípios que, mesmo não defrontantes com o mar, tenham todos seus limites estabelecidos com os municípios referidos nas alíneas anteriores (MMA, 1997).

De acordo com Cunha (2004, p.24), a agenda ambiental promove um sistema de gestão

ambiental portuário de uma perspectiva ampla, de forma que procura acompanhar a

modernização portuária:

Existe a preocupação em se administrar as mudanças ambientais que os portos provocam, em especial as que ocorrem na linha da costa, quando as obras portuárias são implantadas; as alterações de ecossistemas relevantes em cada região, como por exemplo as áreas de mangue; a poluição provocada pelo lixo dos navios, ou pelos esgotos e cargas movimentadas; a poluição aérea, eventualmente provocada; os acidentes ambientais, como o derramamento de produtos no mar e nas águas agregadas; o assoreamento

Page 48: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

47

dos canais portuários e as dragagens feitas para manter a profundidade deles; a ocupação do território, porque os portos têm um enorme potencial de indução de ocupação das regiões de influência ligadas aos planos de expansão portuária; e a questão das águas de lastro, que os navios levam de uma região do planeta para outras, transportando assim espécies e às vezes provocando colonizações do ecossistema por espécies exóticas, ou mesmo que ameaçam a saúde pública.

Cunha considera que a gestão ambiental portuária deve ser algo compartilhado com

diálogo entre os agentes que atuam no porto e em sua área de influência, sendo que a agenda

ambiental acaba por ser um meio de viabilizar o diálogo e assim chegar a soluções

sustentáveis.

2.4.1 Sistemas de Gestão Ambiental Praticados em Portos

2.4.1.1 Modelo da Câmara de Comércio Internacional

A Câmara de Comércio Internacional (International Chamber of Commerce – ICC) é

uma organização não governamental global cujo objetivo promover e assessorar o comércio

internacional e a globalização. Fundada em 1919, com sede em Paris, é considerada um pilar

do comércio internacional e suas atividades abrangem desde arbitragem até resoluções que

envolvam questões referentes a mercados livres, sistemas financeiros, regulamentação de

negócios, combate à corrupção e ao crime comercial. O ICC abriga a Corte Internacional de

Arbitragem, um dos mais importantes tribunais de arbitragem do mundo, é pioneiro na

autorregulamentação de negócios e é o principal parceiro de negócios da Organização das

Nações Unidas (ALMEIDA, 2010).

Sua atuação ocorre por meio de comissões técnicas com a definição de políticas e regras

adequadas para áreas e setores distintos, que tenham influência sobre as negociações

internacionais.

No ano de 1992, foi divulgada uma Carta Empresarial para o Desenvolvimento

Sustentável, na Conferência das Nações Unidas, ECO 92, como um instrumento da ICC para

que as empresas pudessem equacionar os desafios ambientais que passaram a surgir nos anos

de 1980 e 1990, integrado aos desafios propostos pela Comissão Mundial sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento, no relatório Nosso Futuro Comum. Este documento apresenta

16 princípios que devem ser aplicados na gestão ambiental: prioridade organizacional; gestão

Page 49: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

48

integrada; processos de melhoria; educação do pessoal; prioridade de enfoque; produtos e

serviços; orientação ao consumidor; equipamentos e operacionalização; pesquisa; enfoque

preventivo; fornecedores e terceirizados; plano de emergência; transferência de tecnologia;

contribuição ao esforço comum; atitude transparente; atendimento e divulgação (AQUINO;

ABREU; ALMEIDA, 2008).

A proposta da ICC para a aplicação dos princípios da Carta é um modelo de SGA e de

auditoria ambiental com adesão voluntária por parte das empresas, que é disponibilizado

como uma estrutura ou técnica para que as empresas possam obter um desempenho

sustentável e atender aos seus objetivos e à regulamentação em constante evolução, bem

como os riscos ambientais e pressões sociais, financeiras econômicas e competitivas

(ALMEIDA, 2010).

Os objetivos da SGA, segundo Barbieri (2007, p.154), são:

(1) assegurar a conformidade com as leis locais, regionais, nacionais e internacionais; (2) estabelecer políticas internas e procedimentos para que a organização alcance os objetivos ambientais propostos; (3) identificar e administrar os riscos empresariais resultantes dos riscos ambientais; (4) identificar o nível de recursos e de pessoal apropriado aos riscos e aos objetivos ambientais.

De acordo com Barbieri (2007), fazem parte deste sistema os seguintes elementos: 1)

planejamento, que inclui o estabelecimento de políticas e procedimentos, determinação de

objetivos e metas e alocação de recursos; 2) organização, que engloba a estrutura

organizacional, papéis a serem desenvolvidos, definição de responsabilidades; 3)

implementação, que inclui os procedimentos gerenciais; 4) controle, a partir da gestão dos

sistemas de informação, mensuração de resultados, auditoria ambiental e ações corretivas.

2.4.1.2 Eco-Management and Audit Schema (EMAS)

O Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria (Eco-Management and Audit Schema

– EMAS) é uma proposta de SGA definida pelo Regulamento do Conselho da Comunidade

Econômica Européia (CEE) nº 1836/93 cuja adesão era voluntária, para as empresas

industriais. No ano de 2001, o Regulamento nº 761/2001, do Parlamento Europeu e Conselho

da União Européia, revogou o regulamento de 1993, tornando o EMAS disponível a qualquer

tipo de organização.

Page 50: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

49

Os objetivos do EMAS, conforme Barbieri (2007, p.156) são:

(a) concepção e implementação de um SGA conforme os requisitos estabelecidos pela Resolução 761/2001; (b) avaliação sistemática, objetiva e periódica do desempenho desse SGA; (c) fornecimento de informação sobre o comportamento ambiental e um diálogo aberto com o público e outras partes interessadas; e (d) participação ativa do pessoal da organização, bem como da formação e aperfeiçoamento de profissionais adequados às tarefas requeridas pelo SGA.

No anexo III do Regulamento (CEE) nº 1221/2009 do Parlamento Europeu e do

Conselho, que revoga o Regulamento (CEE) nº 761/2001 e institui uma nova versão para a

norma EMAS, a relação do EMAS com a International Organization for Standardization

(ISO) aparece de maneira clara na afirmação de que “os requisitos do sistema de gestão

ambiental no âmbito do EMAS são os estabelecidos na secção 4 da norma EN ISO

14001:2004” (EMAS, 2009).

Para Barbieri (2007), “Enquanto o sistema proposto pelo ICC não define a abordagem

dos problemas ambientais; o EMAS claramente se volta para a prevenção da poluição”.

O SGA do EMAS influencia e direciona o comportamento ambiental da organização e

segue o modelo de melhoria contínua, como um ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Act / Planejar-

Fazer-Verificar-Agir), que envolve as fases (ALMEIDA, 2010, p.90-1):

a. Definição da política ambiental: é a base do sistema de gestão ambiental.

b. Planejamento: levantamento ambiental da organização; identificação dos requisitos legais; definição de objetivos e metas; definição do programa de gestão ambiental; garantia de documentação, coerência e cumprimento dos objetivos e metas constantes da política ambiental;

c. Implementação: estabelecimento da estrutura, práticas e responsabilidades de controle, para cumprimento dos objetivos e da política ambiental.

d. Comunicação: a empresa/organização deve implantar e efetivar procedimentos para o estabelecimento de comunicação interna entre os diversos níveis e funções, bem como manter a comunicação referente à documentação relevante com as partes interessadas externas.

e. Controle: identificação das operações e atividades associadas aos aspectos ambientais significativos, estabelecidos pela política ambiental para garantia de que as atividades sejam realizadas sob determinadas condições, acompanhamento dos procedimentos para prevenção e capacidade de resposta a emergências;

f. Verificação: a fase de verificação e ações corretivas estabelece os sistemas de monitorização, de registros, de auditorias e de atuação em caso de não conformidade. O cumprimento deste requisito é o que permitirá à empresa/organização realizar a monitoração dos impactos ambientais mais significativos, como também verificar a conformidade

Page 51: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

50

com os objetivos e metas estabelecidos. Devem ser mantidos procedimentos para a identificação, manutenção e eliminação dos registros ambientais, os quais devem ser legíveis, identificáveis, rastreáveis e protegidos contra danos, deterioração ou perda. É necessário o acompanhamento periódico das auditorias sobre o SGA, bem como sua revisão feita pela direção da organização.

No sistema proposto pelo EMAS, a organização precisará definir uma declaração

ambiental que será destinada ao órgão competente após uma validação feita por um auditor e,

em seguida, disponibilizada para o público.

A obtenção do registro e atribuição do logotipo EMAS para uso da organização em

documentos, publicidade dos produtos, serviços ou atividades, como membro do EMAS

somente será possível pelo cumprimento dos objetivos e regras do SGA.

2.4.1.3 ISO 14000

Segundo Barbieri (2007, p.159), a ISO é uma entidade formada por órgãos

internacionais de normalização, desde 1947, cujo objetivo é “desenvolver a normalização e

atividades relacionadas para facilitar as trocas de bens e serviços no mercado internacional e a

cooperação entre os países nas esferas científicas, tecnológicas e produtivas”. A ISO é

responsável pela criação de certificações de qualidade

A norma ISO 14000 foi definida no segundo semestre de 1996, sendo alterada no ano

de 2004, com a finalidade de especificar procedimentos e regras para que uma empresa tenha

um modelo de sistema de gestão ambiental para auxiliá-la a alcançar seus objetivos

ambientais.

De acordo com Barbieri (2007, p.166), “as normas relativas ao sistema de gestão

ambiental produzidas pela ISO são: ISO 14001, ISO 14004 e ISO 14006”, sendo que as duas

primeiras referem-se a uso geral pelas organizações e a última específica para organizações

florestais.

A ISO 14001 foi traduzida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e

foram definidas duas regras para o sistema de gestão ambiental: NBR ISO 14001 define os

requisitos e orientações para uso da norma e NBR ISO 14004:2005 estabelece as diretrizes

gerais sobre os princípios, sistemas e técnicas de apoio.

A NBR 14001 é direcionada a empresas que pretendem implementar e manter um

modelo de sistema de gestão ambiental em conformidade com uma política ambiental pré-

Page 52: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

51

definida e divulgá-las a parceiros e clientes a certificação. A adesão é voluntária e pode ser

aplicada a quaisquer empresas, públicas ou privadas.

As etapas definidas para a adoção do sistema de gestão ambiental da NBR 14001

precisam englobar alguns aspectos, tais como: comprometimento e política, planejamento,

implementação, medição e avaliação, análise crítica e melhoria contínua.

Desta forma, o sistema de gestão ambiental das empresas que possuem certificação ISO

14000 deve apresentar uma política ambiental embasada pelos princípios do certificado

(ABNT NBR 14001: 2004). A gestão da organização deve definir esta política de forma que

esta seja (ABNT, 2004):

a) Apropriada à natureza, escala e impactos ambientais de suas atividades, produtos e serviços. b) Inclua um comprometimento com a melhoria contínua e com a prevenção de poluição; c) Inclua um comprometimento em atender aos requisitos legais aplicáveis e outros requisitos subscritos pela organização que se relacionem aos seus aspectos ambientais; d) Forneça uma estrutura para o estabelecimento e análise dos objetivos e metas ambientais; e) Seja documentada, implementada e mantida; f) Seja comunicada a todos que trabalhem na organização ou que atuem em seu nome, e g) Esteja disponível para o público.

A ABNT NBR 14001: 2004 estabelece que são considerados aspectos ambientais os

elementos das atividades de uma organização (processo), seus produtos ou serviços, que

podem interagir com o meio ambiente e ocasionar um impacto ambiental que modifique o

meio ambiente, de forma adversa ou benéfica. Define-se meio ambiente como a

circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo ar, água, solo, recursos naturais,

flora, fauna, seres humanos e suas inter-relações.

Além da ISO 14001, existem normas específicas de responsabilidade social, de saúde

ocupacional e segurança no trabalho que podem ser adotadas em conjunto com o sistema de

gestão ambiental pelas organizações e em alguns casos vem sendo adotados como uma

estratégia de negócio da empresa.

Page 53: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

52

2.4.1.4 Sistemas Integrados de Gestão

Os Sistemas Integrados de Gestão são viabilizados a partir de aplicação de sistemas de

gestão, sendo os mais comuns, respectivamente, o de gestão da qualidade (NBR ISO

9001:2000), do meio ambiente (NBR ISO 14001:2004), da segurança e saúde ocupacional

(OHSAS 18001: 2007) e da responsabilidade social (SA 8000:2001, ABNT NBR

16001:2004). Para Barbieri (2007, p.198):

Observa-se uma tendência para juntar as questões relativas à qualidade, ao meio ambiente, à segurança e à saúde, formando sistemas de gestão complexos pelo fato de tratarem de questões diferentes, mas bem menos do que criar e gerir sistemas separados para cada uma dessas questões. O resultado é a criação de sistemas de gestão integrados envolvendo qualidade, meio ambiente e saúde e segurança no trabalho.

A criação dos sistemas de gestão integrados ocorre a partir do comprometimento e

políticas comuns aos aspectos de qualidade, meio ambiente, saúde e segurança no trabalho,

assim como a responsabilidade social, no nível estratégico das organizações, a partir de

requisitos específicos e mantendo comuns treinamentos, documentação, controles, registros,

etc.

Considerando que a gestão ambiental passou a ser utilizada nas empresas como uma

variação da gestão de qualidade, a regra que utilizada, para os sistemas de gestão integrados, é

que seja aplicada a NBR ISO 9001:2000 antes de qualquer outra norma.

Para Ribeiro Neto, Tavares e Hoffman (2008, p.28):

Os sistemas de gestão têm seus alicerces em um conjunto de princípios que formam a base para a melhoria contínua do desempenho. Compreender esses princípios é, seguramente, o melhor ponto de partida para a adequada interpretação e utilização dos sistemas.

Page 54: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

53

Sistema Objetivos globais do sistema

Sistema de Gestão da Qualidade

NBR ISO 9001:2000

Fornecer produtos que atendam aos requisitos do cliente e

aos requisitos regularmente aplicáveis

Aumentar a satisfação dos clientes

Sistema de Gestão Ambiental

NBR ISO 14001:2004

Controlar os impactos de atividades, produtos e serviços

sobre o meio ambiente

Melhorar o desempenho ambiental

Sistema de gestão da segurança

e saúde ocupacional

OHSAS 18001: 2007

Controlar os riscos de segurança e saúde ocupacional

Melhorar continuamente as condições de segurança e

saúde ocupacional

Sistema de Gestão de

Responsabilidade Social

SA 8000:2001

Melhorar as condições de trabalho

Promover o respeito aos direitos dos trabalhadores

Sistema de Gestão de

Responsabilidade Social

NBR 16001:2004

Controlar os impactos sociais das organizações em suas

três dimensões: econômica, ambiental e social

Promover a cidadania, a transparência e o

desenvolvimento sustentável

Quadro 2: Sistemas de gestão e seus objetivos Fonte: Ribeiro Neto, Tavares e Hoffman (2008, p.27-28)

De acordo com Almeida (2010) “A evolução dos modelos de gestão nas organizações

justifica o desenvolvimento de normas, para auxiliar no equilíbrio dos interesses econômico-

financeiros com os impactos gerados pelas suas atividades”.

O desenvolvimento do Sistema de Gestão Integrado (SGI) tornou necessária a

elaboração de uma norma específica para certificação desse sistema. Em decorrência dessa

necessidade, a entidade britânica responsável pela elaboração de normas, a British Standards

International (BSI), desenvolveu a primeira especificação no mundo relativa a requisitos

comuns de Sistemas Integrados de Gestão, a PAS 99:2006. Essa norma fornece um modelo

para que as organizações integrem em uma única estrutura todas as normas e especificações

de sistemas de gestão (ALMEIDA, 2010).

Os sistemas de gestão ambiental podem ser adotados pelos portos ou mesmo estes

podem se embasar nos procedimentos e regras sem buscar a certificação.

Page 55: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

54

3 COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL PELA INCORPORAÇÃO DA QUESTÃO

AMBIENTAL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA DE SÃO SEBASTIÃO

Nesta seção são mencionados os elementos de competitividade sustentável a partir de

diferentes visões sobre o sistema de gestão ambiental do Porto de São Sebastião pelos

resultados de entrevistas de profundidade realizadas com seis indivíduos que possuem atuação

em cargos relacionados à atividade portuária de São Sebastião, sendo eles:

1 – Diretor de Gestão da Companhia Docas de São Sebastião: responsável pela gestão do

porto;

2 – Assessor ambiental da CDSS: responsável pela implantação do SGI no porto de São

Sebastião e pela dimensão ambiental da atividade portuária local;

3 – Secretário de Meio Ambiente do Município de São Sebastião;

4 – Membro do CAP de São Sebastião: representa o setor de importação/ exportação

participante do CAP;

5 – Dois sócios-diretores da empresa PRONAVE: empresa protagonista de solução ambiental

sustentável para a operação de granéis sólidos no porto de São Sebastião, sendo um deles

diretor administrativo e outro diretor de operações.

A entrevista foi realizada com roteiros parcialmente estruturados, tendo como foco a

convergência e/ ou divergência de alguns aspectos chave, tais como:

a. história do porto e início da preocupação com o meio ambiente;

b. os problemas ambientais relacionados com a atividade portuária de São Sebastião;

c. expansão do Porto de São Sebastião;

d. a existência de um sistema de gestão ambiental (implantação, influências,

necessidades e motivações);

e. a competitividade sustentável do porto pela incorporação da questão ambiental;

f. transmissão de conhecimento (com ênfase na experiência da Transpetro no

Terminal Almirante Barroso - TEBAR).

Os resultados apresentados foram relacionados com as publicações científicas do

referencial teórico e com documentos relativos ao porto de São Sebastião, tais como PDZ,

PIPC E EIA-RIMA.

Page 56: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

55

Os resultados mostram fases definidas sobre a questão ambiental: primeira fase com a

construção do porto, onde não havia preocupação com os recursos naturais; a segunda fase se

caracteriza por um período de transição que o porto vivencia atualmente, onde se enquadram a

obtenção de licença de operação e está se estruturando em relação a gestão ambiental e suas

práticas para a terceira fase, que é o projeto de expansão de suas atividades e qual estratégia

de negócio tem sido adotada para a competitividade na atividade portuária com a ampliação

do porto.

3.1 Fase 1 – Contexto ambiental no porto público

3.1.1 Histórico do Porto de São Sebastião

A história do Porto de São Sebastião teve início em 1927, a partir do Decreto Federal

17.957/27 que concedeu ao Estado de São Paulo autorização para a construção do porto, que

foi anulado por falta de projetos estruturados. Posteriormente, em 1934, foi dada outra

concessão, a partir do Decreto Federal 24.729/34, para construção, aparelhamento e

exploração do Porto de São Sebastião por prazo de 60 anos (1934-1994) prorrogável por mais

13 anos. Sua construção iniciou-se no mesmo ano, conforme projeto (Figura 1).

Page 57: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

56

Figura 1: Projeto da Construção do Porto de São Sebastião

Fonte: CPEA (2009)

Em 1952, foi criado o órgão de gestão do porto de São Sebastião pela Lei Estadual

1.776/52, sendo a administração ligada à Secretaria de Viação e Obras Públicas e,

posteriormente subordinava-se ao Departamento Hidroviário da Secretaria dos Transportes do

Estado de São Paulo.

Desde a construção, que durou até 1954, pensava-se em expansão da retroárea e São

Sebastião foi idealizado para ser o porto mais importante do Estado de São Paulo, porém,

devido à limitação nos acessos viários, especialmente a dificuldade de transporte, tal

importância foi transferida ao Porto de Santos.

Assim, o porto foi aberto ao tráfego em 1955, porém sua operação iniciou-se em 1963,

após a construção do Terminal Almirante Barroso (TEBAR).

Page 58: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

57

De acordo com o Diretor de Gestão do porto, na época da construção não havia

preocupação com a questão ambiental, sendo propostos, após o início da operação portuária

em São Sebastião, projetos de expansão do porto, porém todos eles indicavam o aterramento

de uma área de mangue (Baía do Araçá) para expansão do retroporto e implantação de novos

berços de atracação.

Foram realizados alguns aterros, dentre os quais em 1972, para pátios, foi citado como o

mais importante antes do EIA-RIMA. E, embora houvesse uma política ambiental regulatória

em estruturação no Brasil, a questão ambiental não era considerada importante nos projetos

em São Sebastião, pois não havia a cultura e educação ambiental, nem incidência de

legislação relativa a gestão ambiental, o que começou a ocorrer na metade da década de 1980.

A partir disto, foram realizados obras e empreendimentos, com a necessidade de

licenciamento, passou-se a realizar um estudo mais aprofundado do entorno do porto, e com

isto as questões ambientais passaram a ter maior importância, no final da década de 1970. São

Sebastião, por este histórico de necessidade de expansão, fez o primeiro EIA-RIMA do

Estado de São Paulo, sendo aprovado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente no ano de

1986, com foco em aterros e ampliação da área de retroporto.

Em 1989, a empresa vinculada à Secretaria de Transportes do Estado de São Paulo, de

acordo com Decreto Estadual 29.884/89, Desenvolvimento Rodoviário S.A. (DERSA),

assumiu como autoridade portuária para realizar a gestão do porto e possuía uma gerência de

meio ambiente que conduzia os assuntos ambientais, tais como a implantação de planos de

resíduos sólidos e líquidos, Plano de Controle Ambiental (PCA), e implantou outros

programas, tais como o Plano de Emergência Individual (PEI), além de treinamentos de

equipes para atuar no cais público.

Embora a Dersa apresentasse diretoria de assuntos hidroviários, ao final do período de

concessão, em 2007, o contrato de delegação entre União e Estados estipulou a

obrigatoriedade de criação de uma Companhia Docas para realizar a gestão do porto, de forma

a executar melhorias estruturais e administrativas, com a finalidade de propor um plano de

expansão para o porto, projeto este que deveria considerar como prioridades a oferta de

condições mínimas de competitividade, obras e infra-estrutura de ampliação, nova

organização administrativa e capacitação da mão de obra. De acordo com Porto (2006, p.87),

há obrigatoriedade de uma administração portuária por força de lei nos portos públicos, sendo

necessária a Companhia Docas para execução desta função de forma a criar um Regulamento

de exploração da infra-estrutura para a gestão, de forma que defina a estrutura para cobrança

Page 59: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

58

de tarifas portuárias de prestação de serviços para operação de carga e navegação, bem como

para a manutenção do cais público.

Embora existisse, desde a época de concessão da DERSA, uma Companhia Docas em

São Sebastião, esta não possuía autoridade para a gestão da atividade portuária e era apenas

um setor administrativo sem autonomia, vinculado a DERSA.

Em 2007, a partir da nova concessão dada ao Estado de São Paulo, por prazo de 25 anos

(entre 2007 e 2032), prorrogáveis por mais 25 anos, constituiu-se assim a Companhia Docas

de São Sebastião (CDSS), pelo Decreto Estadual 52.102, de 29/08/2007. A CDSS foi criada

como sociedade anônima vinculada à Secretaria dos Transportes, com personalidade jurídica

de direto privado e finalidade única de administrar e desenvolver o Porto Organizado de São

Sebastião (Figura 2).

Figura 2: Pier de atracação do porto público

Fonte: CDSS (2009)

Page 60: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

59

Na foto verifica-se que o cais público possui hoje apenas um berço de atracação e, tendo

em vista o crescimento local, percebe-se que há potencial para ampliação deste porto, cujo

projeto de expansão contempla estudos técnicos e ambientais.

3.1.2 Problemas ambientais relacionados à atividade portuária em São Sebastião

Considerando a diversidade de problemas ambientais que podem ocorrer, este aspecto

foi questionado a todos os depoentes desta pesquisa, sendo que percebem-se algumas

convergências sobre aspectos impactantes, porém, observou-se que cada depoente possui uma

perspectiva sobre a questão ambiental, o que tornou este elemento importante para a evolução

do porto, bem com fundamenta a adoção de um sistema de gestão para controle ambiental.

Os problemas de poluição do meio ambiente influenciam o porto desde seu

desenvolvimento histórico, pela ocupação desordenada da região na década de 1950, sendo

que a cidade apresenta áreas poluídas devido à falta de tratamento de esgoto, aliado a

condições climáticas, como ventos, que trazem sedimentos para uma praia próxima ao porto,

sendo necessária integração porto-cidade, além do impeditivo de expansão por falta de

acessos viários.

Sobre os acidentes ambientais antes e após a implantação do sistema de gestão

ambiental, há uma mudança de perspectiva, pois o que anteriormente, no contexto histórico

representava à sociedade um pequeno problema, pois não havia ênfase na questão ambiental,

atualmente é tratado como algo importante, sendo que qualquer ocorrência é verificada e

corrigida, embora atualmente apresente poucos registros, especialmente com a melhoria na

condição de atendimento dos problemas ambientais.

O Secretário de Meio Ambiente de São Sebastião comentou como problema ambiental

para o porto de São Sebastião, e sua conseqüente expansão, a existência de somente dois

acessos de transporte, que influenciam no trânsito urbano e causam emissão de poluentes

(especialmente rodoviários, de caminhões).

O problema do trânsito impacta o contexto urbano e a relação porto-cidade em São

Sebastião, assim como em outros portos. Nos últimos dez anos, esta relação melhorou

significativamente, por ter maior interface entre interesses da comunidade e do porto, além de

haver parceria destes para apoiar a expansão portuária, que resultará em melhorias de infra-

estrutura urbana e na geração de empregos. Historicamente, são destacados conflitos

Page 61: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

60

derivados do impacto do porto em ambiente urbano e ainda a comunidade não está

comprometida com a ampliação do porto, pois este não gera divisas para o município, então

não há interferência direta na cidade por São Sebastião sobreviver de comércio e serviços, o

que existe é maior aproximação entre administração pública do porto e prefeitura por

interesses e convergências políticas.

Como forma de controlar a incidência de problemas ambientais, segundo consultoria

realizada pela Consultoria, Planejamento e Estudos Ambientais (CPEA) para o EIA, foi

analisada a ficha cadastral de áreas contaminadas da Companhia de Tecnologia de

Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo - CETESB (que evidenciou poluição com

dispersão de granéis sólidos), problema elencado pelo Diretor de Gestão do porto, além do

referente aos resíduos sólidos gerados na área portuária que resultou em um depósito de

resíduos (figura 3).

Figura 3: Área de passivo ambiental do porto de São Sebastião

Fonte: CPEA (2009)

Esta área de passivo ambiental foi alvo de inquérito civil público (nº11/03) pela

presença de entulhos e materiais de obras na área do cais público. Na mesma consultoria que

foi realizada para controle de problemas ambientais relativos à atividade portuária em São

Sebastião, como forma de promover a compreensão sobre a evolução no tratamento das

questões ambientais no porto, foi criado um quadro cronológico de análise dos passivos

Page 62: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

61

ambientais, cujo método de análise foi fotointerpretações sobre as modificações no ambiente

do porto de São Sebastião, conforme quadro 3.

Ano Verificação Contexto ambiental 1962 Verifica-se a existência da estrutura do píer do

porto de São Sebastião, vias de rodagem na orla, possíveis delimitações de loteamentos no entorno no local e baixa ocupação antrópica

Presença de trânsito de caminhões, presença de ocupação por indivíduos em São Sebastião em loteamentos

1972 Nesta data observa-se maior ocupação antrópica principalmente ao norte do porto, início de obras na porção oeste e o aterramento de área ao norte da via de acesso ao píer

Aumento da ocupação humana em locais provenientes da necessidade de construção e aterramento de área

1987 A área em questão já possui evidente ocupação antrópica em todo seu entorno. Observa-se as instalações do TEBAR e uma área de aproximadamente 154.000m² aterrada a oeste do porto, a noroeste do porto outra área também fora aterrada promovendo acesso a um novo píer, provavelmente para o Ferry Boat e instalações de armazéns no porto de São Sebastião

Aumento populacional e mais dois locais com aterro

1994 A oeste do porto observa-se a consolidação do processo de aterramento observado na foto de 1987 (Figura 4) e uma nova área a leste desta também aterrada, observam-se a norte do Porto novas áreas aterradas sem ocupação definida

Mais áreas aterradas e consolidação do aterramento realizado anteriormente

2005 As áreas aterradas observadas na foto de 1994 estão consolidadas, há ocupação por estruturas e pátios nas mesmas a oeste, noroeste e norte do porto, a oeste observam-se também cinco silos entre o TEBAR e as áreas aterradas, a ocupação do entorno está consolidada

Consolidação de aterramento e maior ocupação do entorno

2009 Não houve alterações significativas no layout das instalações na área em relação à foto anterior, excetuando-se uma área ao norte do porto onde aparentava não haver ocupação definida em 2005, observa-se nesta foto que a área foi transformada em parque recreativo

Presença de parque recreativo onde não havia ocupação

Quadro 3: Cronologia de análise de problemas ambientais na área do porto de São Sebastião Fonte: CPEA (2009)

Page 63: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

62

O quadro evidencia um dos principais problemas destacados na atividade portuária: os

aterros, que são preenchimentos de terra em locais de ambientes aquáticos (figura 4).

Figura 4: Aterro em São Sebastião em 1987

Fonte: Engenheiro Luiz Stéfano, fiscal de obra, junho de 1988 apud Francisco (1999)

O aterramento pode prejudicar áreas de mangue, podendo impactar negativamente o

meio biótico acarretando problemas ambientais relevantes, uma vez que o mangue tem como

função exportar matéria orgânica, o que representa um local ideal para a reprodução de peixes

e outros organismos que são consumidos pelo homem, além de ter grande importância na

recuperação de áreas degradadas por auxiliar na fixação da terra para estabilidade do ambiente

costeiro. Sendo assim, quaisquer modificações que impactam áreas de manguezais constituem

um problema ambiental severo, que requer atenção para não prejudicar o ambiente natural e

evitar conseqüências danosas ao espaço territorial e às comunidades.

Outro aspecto considerado importante na atividade portuária de São Sebastião, ainda

quanto a problemática ambiental, refere-se ao descarte de granéis sólidos, pela dispersão de

material particulado no processo de descarga, principalmente barrilha e sulfato (matéria-prima

para indústrias de cosméticos principalmente) que, quando molhados devido à chuva,

tornavam-se derrapantes nas pistas e ruas, na travessia de balsas com pessoas durante a

operação, além de causar problemas respiratórios nos trabalhadores portuários, sendo que o

Page 64: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

63

período de maior incidência foi o ano de 2000 e foram feitas diversas tentativas com funis,

grab, sucção até chegar a uma solução pela empresa PROVANE, que acabou com este

problema.

Como forma de equacionar os problemas ambientais, havia um Centro Político

Administrativo (CPA), instrumento que apontou, na década de 1980, antes da existência da

CDSS, problemas com granel sólido, pela emissão de particulado (barrilha e sulfato) em

operação no porto, e foi feito com a CETESB um Termo de Ajuste de Conduta (TAC),

prevendo a regularização deste aspecto. Assim, a implantação de melhorias ambientais no

caso de granéis sólidos iniciou em 1989, por uma necessidade, pois perdia-se carga e fazia

sujeira no porto e na cidade.

Os problemas ambientais na atividade portuária de São Sebastião incentivaram a criação

de políticas públicas no município, sendo que eram feitas críticas a falta de investimentos em

recursos ambientais e estes passaram a ser considerados não somente no âmbito da atividade

portuária, mas esta motivou ações em âmbito regional.

Há visibilidade da questão ambiental no porto de São Sebastião não somente pelo

impacto da atividade, mas pelo fato de São Sebastião possuir 85% da área regional de

unidades de conservação, por abrigar o Parque Estadual da Serra do Mar. Assim, abriga

atrativos naturais, sendo alvo de ambientalistas e entidades que apontavam os problemas

ambientais e tornavam públicos os acidentes ambientais, sendo que neste quesito, deu-se

ênfase, historicamente, aos acidentes protagonizados pelo TEBAR, com as operações de

transporte de petróleo, e com isso, surgiu o debate da questão ambiental em São Sebastião.

Com este histórico em São Sebastião, as políticas ambientais têm importância e estão

embasadas por arcabouço jurídico de fiscalização, política e educação ambiental antecipada a

outros municípios, além de ser uma das primeiras Secretarias de Meio Ambiente Municipal

do Estado de São Paulo, com corpo técnico atuante, técnicos, Conselho Municipal de Meio

Ambiente e Desenvolvimento Urbano (COMDURB), onde tomam decisões importantes,

criaram-se plano diretor e políticas públicas, além de ser palco de discussões ambientais

importantes para a região.

Quanto à influência das políticas ambientais do município no porto, estas constituem

um aspecto positivo, pois São Sebastião foi o primeiro município a apresentar lei ambiental

própria, Lei nº. 848/92, um dos primeiros municípios a ter coleta seletiva, desde 1989, o que

demonstra que a questão ambiental é parte do contexto regional, não está somente atrelado a

atividade portuária.

Page 65: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

64

3.2 Fase 2- Estratégias de transição quanto à questão ambiental

3.2.1 Expansão do Porto de São Sebastião

O projeto de expansão do Porto de São Sebastião vem sendo discutido desde tempos

históricos, porém somente foi realizado um estudo detalhado sobre os aspectos técnicos e o

ambiental para sua execução a partir de 2007. O projeto de expansão contempla a construção

de mais três berços de atracação para recepção de maior quantidade de navios (figura 5).

Figura 5: Área de Implantação da Infra-estrutura Portuária

Fonte: PDZ Porto de São Sebastião (2009)

Na figura observa-se, na área marcada em amarelo, o que se pretende expandir no Porto

de São Sebastião, a partir da construção de uma nova retroárea, desta forma, sugeriram-se

medidas a partir de um conjunto de metas a serem cumpridas para viabilizar a expansão, em

decorrência de algumas tentativas que não se concretizaram ao longo do contexto histórico

deste porto. As diretrizes para a o projeto de expansão são:

Page 66: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

65

a) Adequar os espaços na área portuária, de modo a atender as necessidades das

cargas, do ponto de vista da: navegação (profundidade, número e comprimento dos

berços de atracação); movimentação adequada dos diferentes tipos de cargas (dutos,

circulação viária interna, esteiras rolantes e equipamentos para movimentação de

contêineres); e logística terrestre (áreas de estocagem e acessos terrestres);

b) Integrar urbana e ambientalmente o Porto com a cidade de São Sebastião, de modo

a servir de base para o capítulo portuário da revisão do Plano Diretor Urbano do

Município;

c) Estabelecer uma visão geral das intervenções terrestres e aquaviárias que são

necessárias para a integração com a cidade e para o atendimento das demandas de

cargas futuras;

d) Interagir com os demais planos e projetos de logística da sua área de influência.

Em comparação com o que existe hoje, observa-se que a ampliação do porto significará

um aumento significativo na movimentação de carga, o que traz como conseqüência impacto

no sistema viário e urbano.

A Secretaria de Meio ambiente de São Sebastião contempla a viabilidade de uma

ampliação portuária a partir da previsão de novos contornos rodoviários, com uma proposta

de trânsito subterrâneo no contorno de São Sebastião, ainda a ser construído. Nesta secretaria,

defende-se a necessidade de expansão do porto, porém com sugestão de maior cuidado com o

último remanescente de mangue do litoral norte, o mangue de Araça, sendo que o projeto de

expansão contempla um aterro neste local quando poderia fazer uso de outros espaços

disponíveis em são Sebastião.

Considera-se que a questão ambiental é o ponto central de discussão quando trata do

projeto de expansão, especialmente quanto ao aterro que impacta nos manguezais e braços de

mar e, dentre os problemas urbanos, há necessidade de melhoria da infra-estrutura, pois a

ampliação trará aumento da população, conseqüentemente sobrecarregando o sistema de

tratamento de água e esgoto, lixo doméstico, que são questões que, embora não sejam

diretamente criadas pelo porto, são influenciadas pela atividade portuária, além do impacto

negativo que pode ocasionar no turismo litorâneo.

De acordo com o Relatório do CPEA 685 referente ao estudo de impacto no Porto de

são Sebastião, o EIA-RIMA passou a ser realizado em São Sebastião exatamente para

verificar problemas ambientais como os mencionados, com foco no processo de

Page 67: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

66

licenciamento para viabilizar um projeto de expansão portuária, que contempla diversas

questões ambientais e propõe um planejamento para que a ampliação seja sustentável.

O Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do Porto é uma exigência da lei 8.630/93 e

é referência para o EIA/RIMA em elaboração no local, que visa o licenciamento ambiental e

definirá a participação da iniciativa privada no projeto de expansão do porto. A Cia Docas de

São Sebastião obteve a Licença de operação em 2009.

Também existe em São Sebastião o Planejamento Ambiental Estratégico das Atividades

Portuárias, Industriais, Navais e Offshore no Litoral Paulista (PINO) que estabelece diretrizes

para a política de desenvolvimento com ênfase no conhecimento de territórios com suas

dinâmicas sócio-econômicas e potencialidades e restrições ambientais, que inclui a

sustentabilidade como uma visão de desenvolvimento integrado.

No PDZ, argumenta-se que foi realizado um estudo de mercado para determinar a

abrangência do projeto de expansão com três enfoques principais identificados:

1. Identificar novas cargas;

2. Verificar a área de abrangência do Porto (hinterland);

3. Projetar a movimentação das cargas atuais e novas ao longo do tempo.

A partir das análises nestes três eixos, estimou-se que as cargas adequadas ao porto

expandido serão: etanol; contêiner; veículos; açúcar; fertilizantes e atividades de apoio

offshore.

Contudo, a ênfase no processo de conteinerização e veículos como forma de aumentar a

movimentação do porto público é motivo de críticas e resistências para a ampliação do porto,

sendo que o contêiner tem gerado debates com população de Ilhabela, devido ao impacto

ambiental e outras questões, tais como a perda de paisagem natural, pois os contêineres

poderiam prejudicar a “visão da natureza”, sendo este argumento feito por indivíduos que

possuem casa de veraneio na ilha e não querem ter a visão de contêineres na ilha uma vez que

o maior atrativo de Ilhabela são as lindas paisagens.

Quanto às exigências da prefeitura para a expansão do porto, fundamenta-se em práticas

de um porto limpo, que tenha parada para turistas (o PDZ contempla a construção de um

terminal turístico sendo que considera este aspecto como “uma demanda notadamente

reprimida”), que receba royalties referentes ao pré-sal devido às operações offshore que

abriga, além de que não se use tanto retro-área, já que possui 400.000m2 desde 1989 sem uso

(retroárea que possui vegetação e não está em uso).

Page 68: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

67

No zoneamento proposto no PDZ para a ampliação portuária, considerou-se área

definida para abrangência limitada pelo traçado da futura perimetral portuária projetada para a

cidade, por dique de contenção do aterro a ser implantado que resultará em área de remanso

entre ele e o costão do Araçá, o cais de múltiplo uso a ser construído e a darsena prevista para

uso das autoridades marítimas com área de cerca de 1.100.000 m² para ocupação portuária.

Também menciona-se a necessidade de contemplar a mão-de-obra regional, bem como

realização de obras de saneamento, podendo até ser obtida uma certificação no futuro.

Assim, finaliza-se este tópico comentando que o principal aspecto a ser analisado para a

expansão é o ambiental, pela análise aprofundada de impacto que deverá ser feita, sendo esta

região especialmente sensível no tocante ao impacto ambiental, por estar a maior parte de São

Sebastião contida em unidades de conservação, e pelos riscos de degradação ambiental e

urbana que tal projeto acarretaria, sendo que São Sebastião já apresenta alguns problemas

ambientais importantes e que precisam ser incorporados a atividade portuária por sua

influência se dar de forma direta e indireta.

O desafio imposto para o projeto de expansão requer uma estratégia bem definida, o que

tem sido executado a partir da incorporação da questão ambiental enquanto estratégia para

expandir, a partir da adoção de procedimentos, rotinas, normas, e sistema de gestão

implantado para internalizar a questão ambiental enquanto parte do negócio, e como um

diferencial competitivo em relação a outros portos nacionais.

3.2.2 A Gestão Ambiental do Porto de São Sebastião

A gestão ambiental na atividade portuária de São Sebastião ainda está em processo de

implantação e iniciou-se com a criação da companhia Docas em 2007, ou seja, é muito

recente, ainda em fase de estruturação.

Este processo é lento, pois Porto de São Sebastião não recebe recursos do Governo do

Estado para custeio do sistema de gestão e seus instrumentos, portanto, a gestão ambiental é

custeada somente pela receita com as tarifas portuárias, o Estado subsidia somente

investimentos em infra-estrutura no cais público, o que dificulta o investimento no sistema de

gestão e isso acaba por influenciar de forma negativa esse processo, pois há falta de recursos

da autoridade portuária para a questão ambiental, uma vez que esta tem sua receita atrelada a

cobrança de taxas e tarifas, e estas precisam ser competitivas.

Page 69: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

68

Outro ponto que dificulta este processo é a pequena ênfase da Lei de Modernização dos

portos a questão ambiental, está mencionada no artigo 3, § 1º, inciso VII, que dentre as

responsabilidades dos órgãos de gestão do porto, estão “fiscalizar as operações portuárias,

zelando para que os serviços se realizem com regularidade, eficiência, segurança e respeito ao

meio ambiente”. Ainda assim, observa-se que o PDZ (2009) contempla a questão ambiental

como importante para o negócio portuário:

O Programa de gestão ambiental, saúde ocupacional e segurança do trabalhador portuário destina-se a estabelecer os instrumentos necessários à gestão do Porto, empregando recursos e meios adequados para a prevenção, manejo ou recuperação dos diversos componentes de segurança e meio ambiente onde interferem a manutenção, a operação e as melhorias institucionais e funcionais, realizando-se de forma equilibrada e sustentada. O programa visa definir a competências, critérios técnicos, financeiros e humanos para a consecução dos objetivos, estruturando-se em Planos de ações e procedimentos gerenciais.

Dentre os investimentos requeridos para o processo de gestão ambiental, estes são

direcionados a separação de resíduos na operação do porto nos estudos realizados para a

implantação do processo de gestão ambiental e para o projeto de expansão do porto, porém

ainda há necessidade de investimentos para adoção de processos de certificação ambiental,

sendo este custo inerente ao negócio e ao mercado.

A autoridade portuária obedece às normas ambientais especificas para o setor de portos,

estipuladas pelos órgãos ambientais vinculados ao Ministério de Meio Ambiente (MMA) e

pela Secretaria Especial de Portos (SEP), e se antecipando a muitos portos nacionais, sendo de

competência do CAP acompanhar a evolução da gestão ambiental do ponto de vista do

interesse comum de usuários e governo visto que, a competência, planejamento e gestão são

atribuições da autoridade portuária e/ ou das empresas concessionárias, a fim de realizar as

regularizações ambientais exigidas e mantê-las.

Os estudos ambientais realizados oferecem uma visão do impacto ambiental causado

pela atividade portuária, sendo que não há conflitos quanto à implantação de condutas ou

planos e as empresas vem atendendo aos procedimentos determinados pela autoridade

portuária como necessários.

Assim, a gestão ambiental aplica uma legislação em evolução, associada aos interesses

sociais da região e que atende, também, às exigências mercadológicas dos usuários do porto

como, por exemplo, empresas terceirizadas, que prestam serviços para as demais empresas

Page 70: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

69

que atuam no porto precisam estar em conformidade com as normas estabelecidas pela

autoridade portuária.

Além disso, há comunicação com a prefeitura, por meio da SEMAM sobre tráfego de

caminhões necessários para a operação portuária, a partir de um controle de horários de

entrada e saída destes em área urbana, planejado conforme tipo de caminhão e seu impacto no

trânsito do município.

Considera-se que foram três os motivadores principais para a implantação de um

sistema de gestão em São Sebastião:

a. primeiro redução de custo, por minimizar a geração de resíduos na operação;

b. segundo que o TEBAR passou a adotar um sistema de gestão ambiental rígido,

com regras e procedimentos que influenciaram a autoridade portuária e esta

adequou-se por ser o terminal privativo um cliente do porto;

c. terceiro foi o projeto de expansão do porto, que requer uma análise ambiental

profunda para a obtenção das licenças ambientais que autorizam a ampliação da

estrutura portuária.

Um instrumento que favorece a implantação da gestão ambiental é a Agenda Ambiental

Portuária. De acordo com o estudo do CPEA (2008), em 1998, foi definido o primeiro Plano

de Ação Federal para a Zona Costeira (PAF), em parceria com o Ministério do Meio

Ambiente, e neste documento, a Comissão Interministerial dos Recursos do Mar (CIRM), que

determinou o Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro e aprovou a primeira Agenda

Ambiental Portuária para os portos e instalações portuárias de uso privativo fora das unidades

portuárias, de acordo com Resolução CIRM 006/98.

A Agenda Ambiental Portuária estabelece os principais objetivos que delineiam ações

específicas, tais como (CPEA, 2008, p.26):

a. Promover o controle ambiental da atividade portuária; b. Inserir a atividade ambiental no âmbito do gerenciamento costeiro; c. Implantar unidades de gerenciamento ambiental nos portos e nas

instalações portuárias fora dos portos; d. Regulamentar os procedimentos da operação portuária adequando-os

aos padrões vigentes; e. Capacitar recursos humanos para a gestão ambiental portuária.

Page 71: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

70

A partir destes objetivos, a Agenda Ambiental Portuária integra a atividade dos portos

enquanto documento referência que incorpora a questão ambiental nos portos brasileiros, de

uma forma distinta do licenciamento ambiental, que é um instrumento de regulação técnica.

Em São Sebastião, a implantação da gestão ambiental portuária adotou a agenda

ambiental em sua pauta, sendo até o momento realizado apenas um seminário na cidade de

São Sebastião sobre o Diálogo para a Sustentabilidade, a partir do estabelecimento de um

Comitê de Diálogo para a promoção da Sustentabilidade, em que a Petrobrás torna-se parceira

das ONGs, experimentando novo posicionamento como atora de sustentabilidade para a

solução de conflitos ambientais locais.

Neste diálogo, percebeu-se que o processo de gestão ambiental deveria ser avançado

para possibilitar a execução do projeto de expansão do porto, portanto, adotou dois

diferenciais como elementos de competitividade para a expansão: a. obteve uma licença

ambiental de operação que, embora seja uma obrigação para a atividade portuária, no Brasil,

poucos portos a possuem, sendo entendido enquanto um diferencial competitivo e; b. está

implantando um sistema de gestão integrado.

3.2.2.1 Licenciamento Ambiental em São Sebastião

A licença ambiental é um tramite de análise do impacto regional do porto, que faz parte

dos requisitos para a gestão ambiental e é validada pela autorização dos órgãos ambientais,

para a operação no porto, desde que esteja em conformidade com as exigências ambientais do

setor portuário.

De acordo com Barbieri (2007), o processo de licenciamento é um instrumento de

política pública determinado pela política nacional do meio ambiente, Lei 6.938/81, que tem

prazo de validade temporário e requer ajustes periódicos para sua continuidade. Barbieri

(2007, p.293) explica a necessidade da licença de operação: “A licença de operação é a que

finalmente autoriza o início das operações do empreendimento ou atividade objeto do projeto,

cuja expedição depende da verificação do cumprimento das questões estabelecidas nas etapas

anteriores” (licenças prévia e de instalação).

A Resolução Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA 237/97) que apresenta

as disposições e definições do processo de licenciamento ambiental e estabelece três tipos de

licença ambiental em seu art.8º:

Page 72: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

71

Art. 8º - O Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá as seguintes licenças: I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação; II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante; III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação.

Também, a resolução CONAMA 237/97, em seu Anexo I, nomeia as atividades e

empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental, dentre eles, no setor portuário, as

“marinas, portos e aeroportos”. Em seu 1º Artigo fica definido que:

I - Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.

A licença está subordinada ao artigo 2º da Lei 6.938/81 que, além de definir os

princípios norteadores da Política Nacional de Meio ambiente (PNMA), qualifica o Poder

Público para estabelecer normas e planos, como mecanismos de proteção ao meio ambiente e

aplicando as devidas sanções para o descumprimento, e também realiza a fiscalização. Isto é

feito atribuindo-se aos órgãos e instituições da União, dos Estados, dos Municípios, do

Distrito Federal e dos Territórios autorização para cumprir os princípios estipulados, e estes

constituem o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA).

Também, o artigo 9º da Lei 6.938/81 estabeleceu como instrumentos de atuação da

PNMA, a avaliação de impactos ambientais; o licenciamento, e a revisão de atividades efetiva

ou potencialmente poluidoras. Assim foram adotados a Avaliação dos Impactos Ambientais

(AIA) definido pela Lei 6.803/80, que disciplinava o zoneamento industrial em área com

poluição crítica e em 1981, com a PNMA, passou a desempenhar outras funções, e a ser

exigida em projetos públicos e particulares, industriais ou não, incidindo assim na atividade

portuária. Também integram o processo de licenciamento a realização do EIA e do RIMA.

Page 73: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

72

Assim, dentre os procedimentos impostos para a obtenção de licença ambiental,

destacam-se conforme o Art. 10 da resolução CONAMA 237/97:

Art. 10 - O procedimento de licenciamento ambiental obedecerá às seguintes etapas:

I - Definição pelo órgão ambiental competente, com a participação do empreendedor, dos documentos, projetos e estudos ambientais, necessários ao início do processo de licenciamento correspondente à licença a ser requerida;

II - Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida publicidade;

III - Análise pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA, dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados e a realização de vistorias técnicas, quando necessárias;

IV - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA, uma única vez, em decorrência da análise dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados, quando couber, podendo haver a reiteração da mesma solicitação caso os esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios;

V - Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação pertinente;

VI - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente, decorrentes de audiências públicas, quando couber, podendo haver reiteração da solicitação quando os esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios;

VII - Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer jurídico;

VIII - Deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a devida publicidade.

Para o Licenciamento Ambiental do Plano de Desenvolvimento do Porto de São

Sebastião, a Companhia Docas de São Sebastião elaborou um Plano de Trabalho que aborda

desde a caracterização do empreendimento e um diagnóstico simplificado de sua área de

influência, explicitando a metodologia e o conteúdo dos estudos necessários para a avaliação

dos impactos ambientais relevantes decorrentes da implantação do projeto.

Também contratou o CPEA como consultoria para a realização do EIA-RIMA, PDZ e

PIPC. Sendo assim, a licença de operação foi obtida em 2009.

Page 74: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

73

A licença de operação obtida em São Sebastião, embora seja um requisito legal para a

atividade portuária, é entendida como um diferencial em relação a outros portos brasileiros,

pois somente quatro portos a possuem no Brasil, sendo São Sebastião um deles, destacando-se

inclusive do Porto de Santos, que não a possui.

Porém, houve a publicação da Portaria nº424 em 26 de outubro de 2011, que dispõe

sobre procedimentos específicos a serem aplicados pelo Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) na regularização ambiental de

portos e terminais portuários e define condições para facilitar o processo de licenciamento

ambiental nos portos a partir do estabelecimento de critérios e prazos para a regularização

ambiental que propiciará a licença de operação, conforme arts. 3, 4, 5 e 6.

Art. 3º - O IBAMA oficiará os responsáveis pelos portos e terminais portuários previstos no art. 1º para que, no prazo de cento e vinte dias, contados a partir da edição desta Portaria, firmem termo de compromisso, com o fim de apresentar, no prazo máximo de setecentos e vinte dias, os Relatórios de Controle Ambiental - RCAs, que subsidiarão a regularização ambiental, por meio das respectivas licenças de operação, observadas as exigências desta Portaria. § 1º - A assinatura do termo de compromisso suspende as sanções administrativas ambientais já aplicadas pelo IBAMA e impede novas autuações, quando relativas, em ambos os casos, à ausência da respectiva licença ambiental. § 2º - O disposto no § 1º não impede a aplicação de sanções administrativas ambientais pelo descumprimento do próprio termo de compromisso. § 3º - No termo de compromisso deverá constar previsão no sentido de que as informações atualizadas relativas à regularização e gestão ambiental estejam disponíveis na rede mundial de computadores. Art. 4º - Os RCAs serão elaborados em atendimento aos termos de referência a serem adequados e consolidados pelo IBAMA em conjunto com o requerente, com base no Anexo desta Portaria, podendo incluir ou excluir exigências, em função das especificidades do empreendimento, das peculiaridades locais, dos estudos existentes e da legislação pertinente, desde que adequadamente justificadas. § 1º - A consolidação de que trata o caput deverá ser concluída no prazo máximo de dois meses, a partir da assinatura do termo de compromisso junto ao IBAMA. § 2º - Por ocasião da consolidação referida no caput, será fixado pelo IBAMA cronograma para a elaboração e apresentação do RCA, levando em consideração as peculiaridades de cada porto ou terminal portuário, observado o prazo máximo de que trata o caput. Art. 5º - O IBAMA expedirá as licenças de operação, após a aprovação dos respectivos relatórios de controle ambiental, cuja análise se dará em até cento e oitenta dias. Parágrafo único - Os portos e terminais portuários previstos no art. 1º, que se encontram em processo de obtenção de licença de operação poderão se beneficiar das condições ora estabelecidas e optar entre os cronogramas já acordados e os previstos nesta Portaria.

Page 75: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

74

Art. 6º - Durante o processo de regularização, ficam autorizadas a operação do porto ou terminal portuário e as atividades de manutenção rotineira e de segurança operacional. Parágrafo único - As atividades de manutenção rotineira e de segurança operacional deverão ser informadas previamente ao IBAMA.

O instrumento utilizado é o Relatório de Controle Ambiental (RCA), definido no art 2.

da mesma portaria como o documento que apresenta os “estudos, programas e planos

ambientais a serem implementados nos portos ou terminais portuários que aderirem ao

procedimento de regularização”, para obter conformidade dos aspectos ambientais

concernentes à operação portuária.

Com a publicação da portaria n.424/11, infere-se que o processo de licenciamento

tornou-se mais simples para maior regularização dos portos, porém os que já possuem licença

de operação também se beneficiam para a continuidade da licença. A este aspecto, em São

Sebastião, planejou-se a continuidade das atividades portuárias em conformidade com as

exigências ambientais a partir do sistema de gestão integrado (SGI).

3.2.2.2 Sistema de Gestão Integrado na Atividade Portuária de São Sebastião

No porto de São Sebastião, foi adotado o SGI entre os setores portuários, definido a

partir da obtenção de licença de operação em 2009 e devido a Portaria nº.104, da Secretaria

Especial de Portos (SEP), de 29 de Abril de 2009, que dispõe sobre a criação e estruturação

do Sistema de Gestão Ambiental (SGA) e de Segurança e Saúde (SMS) no Trabalho nos

portos e terminais marítimos, bem como naqueles outorgados às Companhias Docas. O

objetivo do SGI é o de efetuar eficazmente os estudos e ações vinculadas à gestão ambiental

portuária, assim como, aqueles relativos à segurança e à saúde no trabalho.

O processo de implantação do SGI no porto de São Sebastião está estruturado com base

na integração dos setores envolvidos na gestão do porto, sendo eles: meio ambiente, recursos

humanos e gestão financeira, que atuam em conjunto com a presidência e diretoria portuária

da CDSS.

O processo de implantação do SGI iniciou-se em são Sebastião no ano de 2009, a partir

de um ato administrativo interno que criou o núcleo de meio ambiente com diretorias de

gestão, sendo a gestão ambiental vinculada à presidência e autoridade portuária, Saúde e

Segurança Operacional (SSO) vinculada à diretoria de administração, além da financeira e de

Page 76: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

75

recursos humanos contribuírem para este processo, embora todos trabalhem de forma

autônoma em relação à gestão portuária.

A implantação do sistema é considerada uma questão estratégica para a nova gestão que

iniciou em 2007, pela regularização portuária e estabelecimento de critérios alfandegário, de

tarifação, financeiro, eficiência ambiental, International Ship and Port Facílity Security Code

(ISPS Code), mas especialmente no tocante ao aspecto ambiental que serve de aporte para o

projeto de expansão, o que justifica a criação de um Núcleo de Meio Ambiente para a

operacionalização do sistema de gestão integrado, como forma de realizar a análise conjunta

entre os atores do porto de SS, favorecendo a unidade do conhecimento.

Esta fase de implantação está no estágio de contratação de profissionais para as áreas

necessárias, estruturação do quadro e organograma do sistema de gestão integrada e em

seguida serão estabelecidas todas as políticas ambientais e de gestão que irão incidir, além das

que já estão em vigência, mencionadas anteriormente. Com isto, encontra-se em fase de

planejamento estratégico e em definição de cada plano e programa, para em seguida

estabelecer as metas de gestão, ambientais e os procedimentos em conformidade com as

normas do SGI.

Quanto à certificação, em São Sebastião, há preocupação com a adoção de normas

preconizadas pelos certificados de qualidade, ambientais, de responsabilidade social e outros,

porém não há ênfase ainda em ser um porto certificado. Percebe-se que as atividades e

práticas portuárias estão embasadas pelos modelos de gestão ambientais, tais como ISO

14000, Sistema Comunitário de Ecogestão e Auditoria (Eco-Management and Audit Scheme -

EMAS), de acordo com o Regulamento Europeu (CEE) nº 761, de 19 de Março de 2001,

praticado nos portos europeus e que define uma série de políticas e métricas para implantar a

gestão ambiental.

Também são adotados critérios da Associação Americana de Autoridades Portuárias

(American Association of Port Authorities - AAPA), que inclui as autoridades de portos e

instalações de portos do Canadá, Caribe, América Latina e Estados Unidos, e do Ecoports, um

projeto de pesquisa da União Européia com os objetivos de harmonizar a gestão ambiental

entre os seus portos, trocar experiências e implementar as melhores práticas ambientais

portuárias, que estabeleceu ações ambientais tais como: Metodologia de Autodiagnóstico

(Self-Diagnosis Method — SDM), um sistema de auto-avaliação ambiental, identificação de

prioridades e do nível de resposta gerencial na área portuária e na cadeia logística; Sistema de

Revisão Ambiental Portuária (Port Environmental Review System — PERS), que contribui

para os portos executarem a implantação do Sistema de Gestão Ambiental (Environmental

Page 77: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

76

Management System — EMS) e também auxilia na adoção de certificações, como a ISO

14000 (KITZMANN; ASMUS, 2006).

Um aspecto ressaltado e que influencia na estruturação do sistema de gestão é que, no

cais público, diferente de terminais privativos (que recebem/ transportam cargas pré-

definidas), não existe conhecimento sobre o tipo de carga que será recebida/ transportada,

impossibilitando planejamento prévio, cada procedimento é analisado individualmente, não se

sabe que tipo de carga irá receber até o momento da solicitação e desta forma, o planejamento

é feito de acordo com a demanda de carga, o que impacta na operação, na tarifa e

conseqüentemente, na adoção de normas padronizadas.

A adoção deste sistema de gestão integrado constitui um desafio para a regularização

ambiental e mostra o diferencial da atividade portuária de São Sebastião, na busca pela gestão

ambiental. Também, na operação, contempla critérios exigidos pelas auditorias ambientais e

modelos de certificação, sendo esta adequação realizada de forma cotidiana, com plano de

ação em cada solicitação de operação de carga/ descarga.

Entende-se que, neste aspecto, há preocupação com a continuidade das melhorias

ambientais e com a sustentabilidade, pois a prática da autoridade portuária em relação à

questão ambiental ocorre a partir de uma perspectiva das dimensões de sustentabilidade, que

auxiliam no estudo das operações portuárias, não de forma estruturada como previsto na

teoria, mas pela preocupação com os aspectos social, econômico e ambiental. As dimensões

políticas também são contempladas conforme o debate sobre a atuação de cada agente e

autoridades envolvidas, incluindo-se nesse contexto o atendimento as autoridades e

legislações pertinentes do setor portuário e ambiental. E a dimensão ecológica está em debate

pelo projeto de expansão do porto.

Dentre as dificuldades para a implantação, constata-se, conforme mencionado

anteriormente, o custo elevado da implantação de um sistema de gestão e a mudança de

mentalidade dos usuários, que requer tempo e ações integradas entre os diversos atores, uma

vez que há necessidade de investimento no negócio, em treinamento e capacitação. Assim,

verifica-se que a CDSS também fiscaliza e investe na conscientização especialmente do

trabalhador avulso, em seu treinamento e capacitação.

Complementa-se que participam do processo de debate e estruturação do sistema de

gestão a CETESB e o IBAMA.

Entende-se que neste quesito, a implantação de um SGI deriva de uma necessidade

imposta pelas políticas ambientais adotadas, não somente por uma questão de regulação

ambiental, mas como forma de se adequar a uma nova realidade de gestão.

Page 78: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

77

Para sua operacionalização, o SGI requer que sejam elaborados relatórios e documentos

a partir de procedimentos implementados na atividade portuária, como forma de mensurar e

controlar as melhorias ambientais e quesitos técnicos.

Quanto à avaliação de desempenho em relação à gestão ambiental, como ainda é um

sistema de gestão recente na CDSS e em fase de implantação, não possui condições de

analisar o desempenho, mas a prática vem evidenciando as diferenças no tratamento da

questão ambiental, pelas empresas e pela autoridade portuária, sendo que todas as ocorrências

e procedimentos são registrados em relatórios e documentados, que são encaminhados

também para análise pelos órgãos ambientais.

Existe também uma norma da CDSS (que ainda não foi totalmente implantada) que

constitui uma exigência de adequação às normas e questões ambientais, para as empresas

usuárias do porto, sendo que podem apresentar suas próprias práticas e procedimentos e a

CDSS irá validá-los, com a finalidade de respeitar as particularidades de cada tipo de

atividade/ operação, valorizando assim a questão ambiental de acordo com sua relevância em

todos os usuários do porto. Dentre as empresas, destacam-se cinco operadores portuários que

estão adequados as regras ambientais preconizadas pelo porto de São Sebastião (aqui não se

usa a palavra normas pois não há ênfase em normatização): PRONAVE, Sincrolog, SP

Logistica, Polo e SLB.

Desta forma, as empresas incorporam a questão ambiental enquanto estratégia de

negócio, que se verifica nas práticas de tratamento dos resíduos, limpeza, renovação e

manutenção de equipamentos e veículos, qualificação do trabalhador, dragagem, reciclagem,

dentre outras atividades diversas, ou seja, nas atividades técnicas, o que se reflete na condução

da gestão do porto e da atuação de todos os agentes, sejam usuários, operadores, etc. e

impactam a sociedade em geral.

A adesão a este sistema de gestão foi viabilizada por uma gama de conhecimentos de

fontes diversas envolvidas na atividade portuária, que inclui os aspectos teóricos e

operacionais de normas de certificação, bem como dados do local e os aspectos e impactos da

atividade portuária em si, tendo propostas de mitigação ambiental.

Além disto, são estudados procedimentos obtidos com os operadores portuários, uma

vez que são eles que possuem a tecnologia, o know-how e o modus operandi para cada tipo de

operação no porto. Assim, há troca de conhecimentos sobre os procedimentos operacionais da

atividade portuária.

No âmbito do conhecimento, há um limite de até onde atua o operador e em qual

momento incide a autoridade portuária, que age mais como um coletor e fiscalizador de

Page 79: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

78

informações e consolida os conhecimentos para a implantação do sistema de gestão, tendo

como base o foco no SGI também considerando os conhecimentos técnicos gerados sobre o

meio biótico e os impactos regionais e locais.

A transmissão de conhecimento se dá em formato de audiências públicas, relatórios

ambientais, palestras, mídia, dentre outros meios de comunicação com a sociedade em geral.

Quanto aos conhecimentos que ainda são necessários para a implantação do novo sistema

gestão, menciona-se a necessidade de desenvolvimento de competências nas áreas específicas

de legislação ambiental, infra-estrutura portuária, biologia marinha e tratamento sanitário para

atuarem especificamente no porto de São Sebastião, tendo em vista o processo de ampliação

portuário.

Este aspecto mostra-se um dos mais importantes no tocante a implantação de um

sistema de gestão que possa resultar numa ampliação sustentável do porto, e influenciam nisto

a elaboração dos documentos pertinentes a viabilidade de mudanças em São Sebastião, a

exemplo PDZ, EIA-RIMA, PIPC, dentre outros documentos que trazem conhecimentos para

execução de melhorias no porto.

A adoção de conhecimento também é valorizada pelos agentes privados, tais como a

PRONAVE, que, para chegar a uma solução ambiental, adotou como estratégia a socialização

e combinação de conhecimentos de profissionais de áreas distintas, como forma de obter uma

solução inovadora e sustentável.

3.2.3 Competitividade portuária a partir da incorporação da questão ambiental

Considera-se que a licença de operação mostra-se como um elemento de

competitividade do Porto de São Sebastião, tomando-se como exemplo o projeto gaseoduto

Capixaba (uma obra da Petrobrás cujo embarque do gás ocorre em São Sebastião),

destacando-se que, se não houvesse a licença de operação, o porto não movimentaria este tipo

de carga.

Todavia, a licença de operação impacta no custo da tarifa portuária e isso incide

positivamente em termos de imagem do porto, porém dificulta em relação ao aumento da

tarifa, que gera aumento de custo para o produto.

A incorporação da questão ambiental gera custos, que são entendidos em São Sebastião

como investimentos, e que estes ainda não retornaram devido à extensão limitada do porto,

Page 80: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

79

por possuir apenas um berço de atracação e assim, atuando no limite de sua capacidade.

Sendo assim, o processo de expansão, que está em fase de licenciamento ambiental no

IBAMA e que poderá se beneficiar da portaria MMA nº. 424/11, que facilita a obtenção de

licença ambiental, poderá ocorrer com diferenciais competitivos relevantes no cenário

portuário nacional.

Assim, há influência da questão ambiental e esta ocorre em todos os atuantes do porto,

sendo que, sem licença ambiental, nenhum projeto de expansão será possível, o que acabará

prejudicando a chegada de novos investidores e distanciando o porto de São Sebastião dos

interesses dos exportadores e importadores.

Outro elemento de competitividade é a estruturação de um sistema de gestão integrado

no porto de São Sebastião, conforme mencionado anteriormente.

Com isto, entende-se ser ainda pequena a atuação do porto de SS, um papel maior para

este porto seria relevante no cenário regional e nacional, coexistindo muitas sobreposições de

papéis administrativos que dificultam o processo decisório. A criação da CDSS é recente,

assim como o sistema de gestão integrado, sendo necessário, como normalmente ocorre,

análise de sobreposição de competências portuárias e ambientais para solucionar entraves

administrativos, somando esforços que, inclusive poderiam gerar maior reconhecimento pelos

órgãos ambientais.

Além do que foi mencionado, São Sebastião se destaca na questão ambiental por abrigar

uma empresa que criou uma inovação ambiental em operação portuária de granéis sólidos e

poderia se beneficiar também do exemplo de seu terminal privativo, o Terminal Marítimo

Almirante Barroso (TEBAR).

3.2.3.1 Práticas Sustentáveis na Atividade Portuária: questão ambiental e inovação

Como um exemplo de inovação que integra ecoeficiência com responsabilidade social

na atividade portuária, observa-se a iniciativa da empresa PRONAVE, que realizou uma

inovação ambiental para reduzir a dispersão de granéis sólidos durante a operação no porto de

São Sebastião, prática que acarretava poeira em carros, vias públicas e até em pessoas na

cidade de São Sebastião e nas balsas que realizavam a travessia de carros e passageiros para

Ilhabela, devido a emissão de material particulado.

Esta emissão não era considerada tóxica, mas por ser proveniente de barrilha e sulfato,

matérias-primas da indústria cosmética principalmente, acarretava problemas respiratórios a

Page 81: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

80

trabalhadores portuários e, embora não se tenha registro, popularmente considerava-se que

esta poeira, em dias de chuva, tornavam as ruas escorregadias, podendo causar acidentes de

trânsito.

Pensando nestes aspectos, atrelado a uma preocupação de desperdício associado a esta

dispersão de produto, a empresa PRONAVE passou a buscar soluções a partir de 1989,

evoluindo em tecnologia, conhecimento e assim, chegou-se a uma inovação em 2007.

A solução sustentável consiste em um equipamento para evitar a emissão de material

particulado na atmosfera, sendo um sistema de despoeiramento por meio de exaustão,

conforme figuras 6 a 9.

Figura 6: Equipamento inovador visto de frente

Fonte: PRONAVE MATERIAL INSTITUCIONAL

Page 82: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

81

Figura 7: Equipamento inovador em operação

Fonte: PRONAVE MATERIAL INSTITUCIONAL

Figura 8: Equipamento inovador parte lateral

Fonte: PRONAVE MATERIAL INSTITUCIONAL

Page 83: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

82

Figura 9: Equipamento inovador no cais público

Fonte: PRONAVE MATERIAL INSTITUCIONAL

O equipamento oferece um procedimento parecido com os demais adotados

normalmente em portos que realizam operação com granéis sólidos, o que pode acarretar

poeira na operação, tais como açúcar por exemplo. No porto de São Sebastião, este

equipamento é utilizado nas operações de descarga de barrilha e sulfato e para sua construção,

houve um estudo detalhado e multiprofissional sobre exaustão, temperatura, vento, em função

da sistemática de descarga, sendo que na operação de carregamento não houve a necessidade

de implementação de mudanças, visto que não ocorre o processo de empoeiramento, apenas

houve a padronização de procedimentos operacionais.

Inicialmente o equipamento consistia em uma caixa para captação de efluentes líquidos,

devido à lavagem de caminhões para minimizar a poeira de operação e evitar a dispersão da

matéria-prima transportada em vias públicas, sendo que, além da poluição visual, havia o

risco pequeno de que, em caso de chuva, o produto tornasse a pista mais escorregadia,

podendo ocasionar acidentes de trânsito.

Considerando que o porto público não se responsabilizava pela infra-estrutura terrestre

(lavagem de caminhões), foi atribuída a responsabilidade à empresa para a realização este

Page 84: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

83

procedimento, evitando assim problemas urbanos decorrentes da operação de barrilha e

sulfato.

A criação e instalação do equipamento inovador e o processo de despoeiramento

iniciou-se em 2007, a partir de uma consultoria ambiental, de engenharia e outros

profissionais que resultou em um projeto, que consiste na construção de um funil com

tecnologia de controle de tempo e funções. Este projeto foi apresentado a CETESB, foi

aprovado e implantado, sendo que sua operação resultou em redução de 95 a 98% da poeira

gerada neste tipo de operação.

Este funil é dotado de sistemas de exaustão superior e inferior, filtros de manga e um

cérebro (computador) comandado por um software que controla suas funções a partir de

informações dos operadores. O software também identifica erros, mostra estatísticas de

operação e, com isso, contribui com uma melhoria contínua.

Este equipamento é inovador no Brasil e até o momento foi vendida uma unidade para o

porto de Santos, o que ocorreu em agosto de 2010.

A motivação para a adoção deste equipamento pela PRONAVE ocorreu pela exigência

da comunidade local e de turistas de Ilhabela, com influências do ministério público, devido a

um inquérito civil público no porto que tratava sobre a emissão do material particulado e que

prejudicava o meio urbano, sendo que este foi arquivado em 2010.

A empresa propôs a solução também pela preocupação com os trabalhadores que

ficavam expostos aos produtos no porto e com isto eram afastados da atividade portuária por

problemas de saúde. Os diretores da PRONAVE, depoentes da pesquisa, mencionaram que

houve resistências, especialmente devido ao pensamento comum da população de que deveria

parar o processo de movimentação de barrilha no porto de São Sebastião.

Esta inovação foi incorporada enquanto uma estratégia ambiental do porto de São

Sebastião quando a CETESB aprovou o projeto com a melhor tecnologia prática disponível

no mercado. Com isto, a empresa realizou treinamentos sobre como e por que operar o

equipamento.

A inovação é considerada como uma influência da preocupação ambiental que impacta

positivamente na competitividade portuária, pois o porto se torna mais atrativo por ser uma

movimentação limpa, lembrando-se que as grandes empresas não querem vincular sua

imagem e marca em uma operação de matéria-prima deles com a degradação ambiental e

prezam por boas práticas relacionadas ao meio ambiente e sociedade.

Considera-se que, com a implementação do equipamento, houve incremento de 25% de

movimentação portuária, que gerou divisas para porto e trabalhadores, mas tal solução não

Page 85: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

84

alcança o consumidor, pela falta de divulgação empresarial, além de que não há valorização

do usuário no porto ou de agentes governamentais, somente é tido como um diferencial de

mercado.

A empresa divulga que o investimento foi alto, ainda não obteve retorno e após sua

introdução na atividade portuária, passou a ser entendida como uma obrigação, não como um

diferencial competitivo. Assim, entende-se que, enquanto para a autoridade portuária, esta

solução é vendida como um diferencial para o porto de São Sebastião, para a empresa, seu

retorno será somente obtido com a venda do equipamento a outros portos.

Enquanto uma solução ambiental inerente ao negócio principal da empresa como

operadora portuária, é entendido como exigência do mercado e das empresas que o compõem,

como um dos elos da cadeia de valor, que contribuirá para a melhoria de sua imagem

institucional, ainda que isso represente aumento de custo na operação, e que será repassado

até o consumidor final.

Quanto aos benefícios da tecnologia, esta pode influenciar e auxiliar no processo de

gestão ambiental, pois influencia na imagem do porto de são Sebastião, que poderá se tornar

uma referência nos pais devido às práticas e profissionais, técnicos com enfoque no meio

ambiental.

Entende-se que há incorporação das dimensões de sustentabilidade no projeto por

desenvolver no porto uma mudança de conceitos, ao mostrar que as operações portuárias

podem ocorrer sem degradar o meio ambiente e esta solução contribuiu para campanhas na

comunidade, mudança de comportamento dos trabalhadores portuários, influenciando na

forma de visualizar o próprio porto.

O investimento para a implantação desta solução ambiental foi aproximadamente de

R$2 milhões de reais, realizado em 2007, subsidiado pela empresa exclusivamente, sendo que

soma-se a isto a evolução constante do equipamento (em 2008 foram executadas melhorias

incrementais), pois a empresa investe em melhoria continua, inovando constantemente em

tecnologia, conceitos e melhorias na operação, mencionando ganho na qualidade da operação

e manutenção do negócio.

Como a empresa é a única que opera com granel sólido em São Sebastião, não houve

uma regulamentação específica, mas a CETESB, com a provação do projeto, recomendou a

prática da PRONAVE.

Na empresa, consideram-se que esta solução foi viabilizada devido a uma soma de

conhecimentos técnicos e especializados da equipe de engenheiros, técnicos de sistemas,

aliados com a experiência da empresa, com equipe competente, além da coordenação de um

Page 86: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

85

consultor da área ambiental, reuniões de braimstorm, assim houve compartilhamento de

conhecimentos entre todos os envolvidos na operação, assim como a parceria com órgão

ambiental, que fez com que a empresa pudesse se antecipar as políticas ambientais existentes,

chegando a inovação.

O desempenho do equipamento é avaliado por métodos de medições realizados a cada

três horas, além de manutenções preventivas no equipamento, verificação nos filtros de

manga, recolhimento de material, além de preenchimento de formulários, medição de

condições climáticas, solicitações da autoridade portuária, enfim, procedimentos padrões da

operação.

3.2.3.2 Terminal da Transpetro em São Sebastião: características, importância e gestão

ambiental

No porto organizado de São Sebastião localiza-se um terminal privativo de uso da

Petrobras, o Terminal Marítimo Almirante Barroso (TEBAR), que movimenta granéis

líquidos, petróleo e derivados. É considerado como o maior terminal aquaviário da América

Latina, conforme figura 10.

Page 87: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

86

Figura 10: Foto aérea da localização do TEBAR em relação ao porto público

Fonte: PDZ São Sebastião (2009)

Este terminal foi inaugurado em 1969, sendo que foi definida a localização devido ao

calado natural e neste local, antes mesmo da construção do terminal da Petrobrás, eram feitos

transbordos de óleo de navios cujo calado não permitia a acostagem em Santos.

Constitui-se por um píer, com quatro berços de atracação em extensão de 905 metros,

com profundidades variando entre 14 e 26 metros. Para armazenamento de granéis líquidos

são utilizados 43 tanques com capacidade de 2,1 milhões de toneladas e abriga um oleoduto

que interliga duas plataformas, situadas no meio do Canal de São Sebastião (a 1km da costa

aproximadamente).

Na junção entre as plataformas e a parte terrestre existe uma rede de canalizações, incluindo

tubulações que escoam o petróleo e produtos derivados até os tanques de armazenamento, e as

duas tubulações de esgoto que encaminham o efluente para os dois emissários submarinos

situados perto da plataforma Pier Sul (Figura 11).

Page 88: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

87

Figura 11: Localização dos piers de atracação do Tebar

Fonte: CPEA (2008)

A importância do TEBAR para o porto de São Sebastião deve-se a sua movimentação

diária de 800 mil barris ou 4 bilhões de litros por mês, que representam 50% do petróleo

consumido pelo País.

No mês de agosto de 2011, foi movimentado no terminal cerca de 4.442.432 toneladas

de granéis líquidos, entre importação e exportação, conforme tabela 1.

Page 89: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

88

Tabela 1: Movimentação Tebar mês de agosto de 2011 (em toneladas)

AGOSTO Produto Longo Curso Cabotagem

IMPORTAÇÃO 1.318.416 2.846.945 Petróleo 787.008 2.706.313 Nafta 33.192 81.458 Óleo Combustível - - Diesel 462.606 - Outros 35.610 59.174

EXPORTAÇÃO 30.066 246.915 Petróleo - - Nafta 16.704 - Gasolina 5.903 - Diesel - 133.835 Outros 7.459 113.080

TOTAIS PARCIAIS 1.348.482 3.093.860 TOTAL GERAL 4.442.342 Fonte: CDSS (2011)

Quase 80% do petróleo movimentado pelo terminal vem da Bacia de Campos e os

cerca de 20% restantes são importados da África e do Golfo Pérsico. O Tebar também se

destaca por abastecer quatro refinarias paulistas da Petrobras: Refinaria Presidente Bernardes

(RPBC), em Cubatão, Refinaria Henrique Lage (REVAP), em São José dos Campos;

Refinaria do Planalto Paulista (REPLAN), em Paulínia; e Refinaria de Capuava (RECAP), em

Capuava.

Considerando a movimentação, importância e impacto de suas operações, a

responsável pelo TEBAR, Transpetro, por ser uma subsidiária da Petrobrás, segue as políticas

e diretrizes de SMS desta.

De acordo com Rogério Picado (2004), gerente de SMS da Transpetro, todas as

unidades da Petrobrás possuem certificação ISO 14.000 de qualidade ambiental e de forma

pioneira, realiza estudos de sensibilidade e vulnerabilidade ambiental, além de ações de

contingência, constituindo uma iniciativa inédita no Brasil, pelo levantamento e cadastro de

fontes e identificação de todas as gerações de efluentes, além do gerenciamento completo de

todos os tipos de resíduos. Especificamente em São Sebastião, a empresa realizou este estudo

com o monitoramento completo do canal em parceria com a Universidade de São Paulo

(USP), Instituto Oceanográfico e Fundação de Estudos e Pesquisas Aquáticas (FUNDESPA),

que auxiliaram na caracterização detalhada do canal de São Sebastião

Page 90: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

89

Considerando a adequação do porto pela busca das normas e rotinas previstas pelo

processo de certificação, acredita-se que há influência da Petrobrás, especialmente por abrigar

um terminal de uso privativo responsável por 60% do escoamento de petróleo no Brasil que

exige dos envolvidos em sua cadeia de valores a adoção de normas de conduta. Contudo, não

existe conhecimento proveniente da gestão da Petrobrás na adequação de questões ambientais

para a obtenção de licenciamento, assim como na gestão ambiental do porto público, sendo a

CDSS responsável pela implantação do SGI e pelos benefícios atrelados e esse processo.

Verifica-se a inexistência de padronização entre atividades do porto de carga e Tebar e

evidencia-se que a Petrobrás é apenas uma cliente do porto organizado, sendo diferente das

demais empresas que atuam no porto apenas por possuir um terminal privativo. Desta forma,

na relação entre porto público e a Transpetro, não existe benchmarking, o que ocorre é a

existência de ações integradas entre CDSS e terminal privativo da Petrobrás, que resultou na

soma dos Planos de Emergência Individual (PEIs) para a gestão de resíduos de navios, sendo

que a CDSS estabelece a regra de como são operados e os procedimentos necessários.

É valorizado o modelo de comunicação da Petrobrás tomando-se como exemplo o

relacionamento da empresa com a comunidade, que se dá por meio de investimentos em

projetos de entidades para beneficiar a sociedade, audiências públicas, diálogo com a

comunidade e mediação de conflitos ambientais. O Secretário de Meio Ambiente revelou que

há benchmarking da Transpetro para o controle ambiental da prefeitura, devido à divulgação

do controle ambiental da empresa que a prefeitura toma conhecimento especialmente de

procedimentos de controle ambiental.

A Petrobrás mostra-se mais avançada em sistema de gestão de riscos e emergência, de

acordo com sua evolução histórica e atuação. Ainda assim, o terminal TEBAR precisa de

autorização da Cia Docas para execução de qualquer modificação no terminal.

A Transpetro apresentas políticas e diretrizes de qualidade, segurança, meio ambiente e

saúde de acordo com os valores adotados na Petrobrás, que subsidia a Transpetro e o TEBAR.

Apesar de pouco aprofundados nesta pesquisa, estes valores demonstram a preocupação

da Petrobrás em manter uma conduta preventiva, embora nem sempre isso seja possível.

A empresa é um modelo a ser adotado em evolução de gestão ambiental e SGI, uma vez

que apresenta um programa avançado no gerenciamento de riscos, e isso representa uma

forma de lidar com problemáticas ambientais, sendo um de seus instrumentos o diálogo com a

comunidade e stakeholders em geral, de forma que promove, ainda que de forma inicial, a

cooperação para a sustentabilidade.

Page 91: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

90

4 DISCUSSÃO

A discussão foi construída tomando como base a incorporação da questão ambiental no

Porto de São Sebastião pela análise de elementos de competitividade, elencados por depoentes

e apontados no referencial teórico.

Para iniciar a discussão, foi feita uma relação entre os principais conceitos teóricos e os

resultados das entrevistas, de que forma estes são presentes na realidade da atividade portuária

em São Sebastião, conforme quadro 4.

Assessor

ambiental

Diretor de

gestão CDSS

Empresa

PRONAVE

CAP Secretaria de

Meio ambiente

do Município

Sustentabilidade

(Sachs)

Sim, há

preocupação

com o

atendimento de

dimensões de

sustentabilidade

e organização da

gestão portuária

de forma a

viabilizar o

projeto de

expansão do

porto

Sim, foram

consideradas as

condições locais

e os benefícios

nos aspectos

ambiental,

econômico e

social

Não há esta

preocupação, o

foco está em

como são

tratadas as

questões

portuárias

equacionando o

interesse dos

operadores,

governo e

sociedade

Há a ênfase no

aspecto social,

ambiental e

político

Sustentabilidade

empresarial

(Almeida) -

Ecoeficiência +

Responsabilidade

social

Não há a

preocupação

com estes

aspectos

diretamente, o

que apresentam

é a introdução

Sim, buscaram a

ecoeficiência

por meio da

introdução de

uma inovação

tecnológica e

atendem ao

Não há esta

preocupação

Não há esta

preocupação

Page 92: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

91

de normas

ambientais e

sociais que

culminam em

melhorias nas

operações e

processos

quesito

responsabilidade

social devido a

preocupação

com a sociedade

Competitividade

ambiental

(Porter e Van

Der Linde)

Sim, apresentam

a introdução do

SGI como um

aspecto de

competitividade,

bem como a

licença de

operação, porém

são limitados a

extensão

territorial do

porto

Sim,

destacaram-se

por introduzir

uma solução

ambiental

portuária

pioneira no

Brasil

Sim, pela

preocupação na

expansão do

Porto de São

Sebastião como

forma de

competir com

outros portos

não só no

Brasil, mas no

mundo

Não, há ênfase

no aspecto

político e

ambiental pela

região ser

composta por

unidades de

conservação,

embora

apresentem

iniciativas

pioneiras no

quesito

ambiental

Gestão ambiental

(Barbieri)

Sim Sim, atendem

aos quesitos de

qualidade e

respeito ao meio

ambiente ao

evitar a poluição

Sim

Gestão ambiental

portuária

(Cunha)

Sim, adotam os

princípios da

agenda

ambiental

portuária e

praticam a

Não

diretamente,

mas participam

do processo

Influenciam na

equação dos

problemas

portuários

relativos aos

operadores e

Sim, mantêm

sua participação

na agenda

ambiental

portuária

Page 93: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

92

comunicação

com governo e

sociedade para

priorizar as

necessidades

locais e

viabilizar a

expansão

portuária

governo e

fazem parte da

agenda

ambiental

portuária, com

ênfase nos

principais

debates

relativos ao

porto e sua

expansão

Quadro 4: Relação entre conceitos teóricos e resultados das entrevistas Fonte: Elaborado pela autora

Destacam-se na discussão a convergência entre competitividade e sustentabilidade a

partir dos elementos competitivos adotados pelo Porto de São Sebastião em sua estratégia de

negócios, tendo em vista o processo de expansão do porto. Os elementos competitivos foram

analisados em relação aos autores destacados no referencial teórico, sendo os principais:

Cunha, Bussinger, Kitzmann e Asmus, dentre outras contribuições.

A incorporação da questão ambiental como um fator de competitividade na atividade

portuária de São Sebastião se dá por três elementos de competitividade: 1) licença de

operação obtida pelo porto, que por si só não constitui um diferencial competitivo, porém, se

considerar que dentre 37 portos brasileiros, conforme dados da ANTAQ, apenas cinco

possuem licença de operação, São Sebastião ainda pode utilizar a licença como um

diferencial; 2) Também a implantação de um sistema de gestão integrado; e 3) o caso de

inovação ambiental da PRONAVE constituem elementos de competitividade.

Licença de Operação

O primeiro aspecto a ser debatido é a obtenção de licença de operação no Porto de São

Sebastião no ano de 2009, sendo que este aspecto não deveria ser considerado como algo que

influencie a competitividade deste porto, pois observa-se que há uma legislação em vigência

que impõe a licença de operação aos portos, conforme mencionado anteriormente. Ainda

assim, o fato de apenas cinco portos no Brasil apresentarem esta licença representa um

Page 94: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

93

diferencial, o que também pode se justificar pelo impacto da atividade portuária, que em

alguns portos é significativa tendo em vista a evolução história da atividade e das cidades.

Também se ressalta que este instrumento regulatório foi estabelecido pela necessidade de

adequação dos portos às questões ambientais.

Porto (2006, p.27-28) acredita que, embora não sejam áreas extensas de zonas costeiras

que abrigam complexos portuários, o impacto da atividade portuária, principalmente os danos

ecológicos e ambientais decorrentes de acidentes em sítios naturais, influenciou na criação de

compromissos, mecanismos e regulações ambientais, inicialmente com medidas saneadoras,

em seguida com leis e punições de infrações ambientais e culminou em ações preventivas a

fim de evitar situações danosas no futuro:

O que motivou esse processo foi a constatação de que não se poderia ficar mais impassível diante de tanta agressão. Hoje, passado algumas décadas de regramento, em função de uma forte conscientização ambiental, não se admite uma atividade portuária sem que haja instrumentos de gestão do meio ambiente que possibilitem a valorização dos sítios portuários.

Cunha (2006, p.1020) analisa o processo de obtenção do licenciamento, argumentando

que há certa dificuldade para os portos obterem licença devido a um problema de competência

dos órgãos licenciadores:

A situação em um estágio incipiente de incorporação dos portos na política ambiental brasileira, serve como base para entender as dificuldades e os conflitos que envolvem os usuários dos recursos comuns afetados por esta atividade. Um aspecto relevante para entender as dificuldades do licenciamento ambiental dessas atividades está nas limitações de desempenho das agências ambientais públicas, em especial na falta de uma gestão que faça uso integrado dos instrumentos disponíveis em nossa ordem jurídica.

A consideração de Cunha é defendida por Kitzmann e Asmus (2006, p.1048) de forma

semelhante, com foco na sobreposição de competências e entidades licenciadoras:

Há superposição de competências e predomínio de enfoques parciais (setoriais) em matéria ambiental, de gerenciamento costeiro e de desenvolvimento regional. Os diversos órgãos reguladores têm dificuldades para compatibilizar suas agendas de trabalho e integrar políticas e ações, devido a visões conflitantes do funcionamento do sistema portuário e das causas e soluções para os problemas ambientais ali gerados. Outro fator a ser destacado é a inconsistência das ações de regulação, que variam de porto a porto. Assim, de acordo com características locais, um porto pode ser regulado pelo órgão estadual de proteção ambiental e não pelo órgão federal,

Page 95: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

94

mais atuante em outros portos, ou por ambos (como o caso do porto do Rio Grande). Isso acontece pela falta de uma política nacional para o setor, que seja aplicada de forma harmônica em todos os portos, respeitando as características específicas de cada sítio portuário, que exigem diferentes estratégias de gestão.

Bussinger (2009) defende que o licenciamento tem relação com cultura de qualidade,

aumento da previsibilidade no processo de licenciamento ambiental, redução de prazos de

tramitação, redução de retrabalho e redução de custos, desde que haja simplificação no

processo decisório. Para o autor, o processo de licenciamento no Brasil é algo complicado e,

especialmente quanto aos órgãos ambientais licenciadores, os quais responsabiliza por

prejudicar o sistema de licenciamento e fiscalização ambiental, sendo que a burocracia neste

aspecto não necessariamente acarreta defesa eficaz e adequada do meio ambiente. Assim

argumenta (2009, p.33):

Era de se esperar que, em função do desconhecimento da dimensão dos problemas e das dificuldades de prognósticos, os instrumentos criados fossem mais rígidos e/ ou pouco claros. Desde então, diversos ajustes foram sendo introduzidos, aqui e acolá; alguns possibilitando a incorporação de novos conhecimentos científicos e tecnológicos, além de maior clareza nas normas, outros nem tanto – apenas resultado de prevalência de circunstanciais entendimentos ou interesses de pessoas ou grupos pontuais.

A Portaria MMA nº 424/11 oferece solução inferindo que esta competência é de

responsabilidade do IBAMA, sendo que, neste instrumento, o processo de licenciamento

ambiental passa a ser simplificado e, conforme o art. 6º, os portos que assinarem o termo de

compromisso com as exigências para o processo de licenciamento passam a ter suas

operações autorizadas.

Analisando este argumento em face da obtenção da licença de operação no Porto de

SS, observa-se que certas particularidades vêm sendo atendidas pelo porto, caso contrário não

teriam obtido a licença.

Ainda assim, os portos que já possuem licença ambiental, embora estejam obrigados a

efetuarem atualização no processo de licença, certamente apresentarão mais facilidade para

obtenção da continuidade da licença, tendo em vista o prazo de 720 dias para a apresentação

de RCAs, conforme preconiza a assinatura do termo de compromisso.

Contudo, isto mostra maior flexibilidade no tocante a incidência de regulações que

ainda não estão na mesma velocidade dos órgãos licenciadores, que necessitam atender

exigências mercadológicas e acabam por reduzir a importância da licença, especialmente

Page 96: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

95

considerando que os portos operam normalmente sem licença e que a portaria nº 424/11

autoriza esta condição a partir do momento em que os portos assinem o termo de

compromisso.

Na visão de Kitzmann e Asmus (2006, p.1046), este aspecto é mais político:

Como grande regulador do sistema portuário, é urgente que o setor governamental apóie ações de gestão ambiental, propiciando condições e motivando positivamente os outros componentes desse sistema (operadores, usuários etc.) a fazerem a sua parte no cumprimento da regulamentação ambiental. Assim, independente de grandes recursos financeiros, o setor governamental deveria aportar outras formas de subsídios, como usar os seus espaços de atuação dentro do sistema para aglutinar os atores portuários em torno do que deveria ser um objetivo comum: a segurança ambiental dos nossos portos.

Bussinger (2009) constata que “toda obra de infra-estrutura ou para prestação de

serviços públicos provoca impactos” e que são exceção os casos que, além dos impactos

negativos, não gerem aspectos positivos em ações, empreendimentos humanos e ambientais.

O autor toma como base estes princípios para demonstrar o instrumento de análise dos

impactos, denominada “matriz integrada de impactos” pela Resolução 1/86 do CONAMA, a

partir da visão de sustentabilidade. O autor constata que tanto a Política Nacional de Meio

Ambiente (Lei nº 6.938/81 quanto o artigo 225 da Constituição Federal e, ainda, a norma

CONAMA 1/86 em seu artigo 6º, incisos I e II), são instrumentos necessários tanto para

análise de viabilidade do empreendimento quanto para sua efetiva implantação.

Embora sua análise seja técnica do ponto de vista do licenciamento e da fiscalização,

infere que, quanto à questão ambiental, está atrelada a cultura da qualidade, a partir da

aplicação da área jurídica e outras áreas do conhecimento, que devem confluir com conceitos,

abordagens e metodologias para criarem novos mecanismos no processo decisório de

licenciamento, de forma que contemple maior objetividade e padronização de análises, que

estas sejam multiprofissionais e que deve haver ênfase maior no planejamento e gestão

ambiental (vis-a-vis do licenciamento).

Assim, infere-se que o licenciamento pode ser considerado um elemento competitivo da

atividade portuária de São Sebastião no tocante a forma como é procedido pelos órgãos

responsáveis, e que sua obtenção ocorreu neste porto devido a procedimentos executados em

conformidade com o que se espera em diversos âmbitos, produzindo assim um destaque

perante a implantação de política ambiental nacional pela adoção de procedimentos que

mostram incorporação da questão ambiental ao negócio portuário.

Page 97: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

96

Sistema de Gestão Integrado

No tocante ao SGI, incidem outras considerações, dentre as quais entra o aspecto da

certificação. Segundo Almeida (2010), os terminais que atuam no porto de Santos estão

obrigados por força de contrato com a Codesp (cláusula 27 §3º) a aderirem a Norma ISO

14001 como modelo de sistema de gestão ambiental, o que ainda não ocorre na prática devido

a dificuldade de implantação dos procedimentos e rotinas estipulados pela ISO 14001.

Normalmente o que as empresas fazem é adotar primeiro o Sistema de Gestão da

Qualidade (SGQ) que oferece base para a implantação das demais certificações, dentre elas a

ISO 14001, em sequência o Sistema de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho

(Occupational Health and Safety Assessment Series – OHSAS 18001) e por fim a Norma de

Responsabilidade Social SA 8000 (Social Acountability), sendo que o SGI constitui na

integração de duas ou mais normas, sendo o mais comum SGQ com SGA. Desta forma, as

empresas buscam a certificação para adotarem procedimentos mais corretos em sua atividade.

Em comparação a realidade do Porto de Santos, no caso do Porto de São Sebastião, não

há preocupação com certificação nem normas processuais que estabeleçam sua

obrigatoriedade, sendo que as empresas que operam no porto de São Sebastião podem buscar

a certificação para melhoria nos procedimentos, porém a autoridade portuária ressaltou que a

busca é pela adoção das normas preconizadas pelos órgãos certificadores para a execução da

atividade portuária em conformidade com a legislação e as políticas ambientais.

As certificações são tidas em São Sebastião como restrições a evolução do porto, pois

estas são apenas “cartas de intenções” que não resultam em um instrumento sustentável, uma

vez que nem sempre pressupõem a implementação de programas ambientais e limitam-se

muito a padronização das atividades e procedimentos.

Considera-se que a adoção de procedimentos e rotinas corretos no aspecto ambiental

também pode refletir em redução de custos de operação e de investimentos, embora devam ser

feitos investimentos onerosos para que isso ocorra, além de perdas em mão-de-obra,

especialmente com a adoção de tecnologias para a atividade portuária.

Já no PDZ do Porto de São Sebastião (2009), infere-se a necessidade da certificação

para o projeto de expansão:

Todas as atividades e operações serão regulamentadas por meio de procedimentos e normas que envolverão, além dos aspectos técnicos e operacionais, as questões ambientais, de saúde ocupacional e segurança do trabalhador portuário.

Page 98: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

97

Busca-se com isso a certificação de processos e não de etapas do trabalho ou de empresas. O objetivo é de que todos os processos realizados no Porto obtenham certificações das séries ISO 14.000, ISO 9.000 e OHSAS 18.000.

Porém, em são Sebastião, no momento atual, cujo foco é o estabelecimento de

condutas e procedimentos que viabilizem a expansão do porto e representem aumento de

competitividade, a busca é pela implementação de um sistema de gestão que contemple a

gestão ambiental de forma efetiva e o processo de certificação não é interessante neste

momento uma vez que o porto se encontra ainda em etapa de implementação do sistema de

gestão integrado, que por si só, representa um diferencial deste porto em relação aos outros

portos nacionais.

Sendo assim, no porto de São Sebastião, há preocupação em se manter operações e

procedimentos em conformidade com as normas, independente de certificação, para a

continuidade da licença ambiental como uma vantagem para o projeto de expansão do porto,

sendo que os instrumentos adotados foram todos condizentes com o que estipulam os órgãos

ambientais, EIA-RIMA, PDZ, e estão atualmente em fase de análise para obtenção da licença

para a ampliação. De acordo com Porter e Van der linde (1995, p.396): “A maneira como as

empresas respondem aos problemas ambientais talvez seja, de fato, um indicador-chave de

sua competitividade geral”.

Cunha (2006) comenta da importância da certificação perante a agenda ambiental

portuária:

[...] as empresas privadas que assumem operações portuárias devem ser certificadas pelos padrões de qualidade dos sistemas de gestão ambiental previstos na série ISO 14000, específica para o meio ambiente. Esse não é um mecanismo de controle do governo, e sim do mercado. Ele é desenvolvido pelas empresas por iniciativa própria, visando vantagens competitivas por demonstrarem melhor desempenho ambiental.

Assim, infere-se que a certificação pode ser um elemento a mais na busca pela

competitividade, se as empresas privadas buscam a certificação, o porto público poderia se

beneficiar da mesma forma, sem esquecer as devidas diferenças entre a autoridade portuária e

os operadores no tocante a investimentos, recursos e incidência de entidades governamentais

relacionadas ao meio ambiente. Segundo kitzmann e Asmus (2006):

O marco jurídico que regula as demandas ambientais e de segurança portuária é extenso, variando desde as convenções internacionais ratificadas pelo Brasil, até a legislação nacional e as políticas públicas estabelecidas em diferentes níveis (principalmente federal e estadual), muitas refletindo a internalização dos acordos internacionais. O cumprimento desse marco

Page 99: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

98

regulatório ainda é problemático em razão da falta de conscientização, ausência de condições de infra-estrutura, recursos financeiros, tecnologias e pessoal capacitado, tanto por parte dos regulados (o setor portuário), quanto dos reguladores (órgãos públicos intervenientes).

Na perspectiva de Koehler e Asmus (2010, p.205) a gestão integrada que se busca

adotar nos portos segue uma dinâmica diferenciada, sendo o elemento de integração os

sistemas de gestão ambiental adotados pelo porto público e os sistemas de gestão ambiental

adotados pelas empresas atuantes:

Dentro deste contexto, dada à complexa estrutura organizacional dos portos e suas atividades associadas, as ações de gestão ambiental têm sido fragmentadas, sendo necessário o desenvolvimento de uma política integradora, baseada em instrumentos técnicos e cuja execução seja viabilizada por arranjos institucionais capazes de operar o sistema de gestão ambiental portuário. O problema se coloca em como viabilizar o gerenciamento ambiental integrado frente ao marco regulatório e institucional que rege a exploração dos portos, em que diversas organizações com atribuições diferenciadas interagem em um mesmo espaço.

Para os autores, as atividades de controle ambiental ocorrem por meio de dois

elementos: ordenamento territorial pelo zoneamento ambiental e licenciamento ambiental.

O SGI que está em implantação no Porto de São Sebastião constitui um elemento de

competitividade portuária, uma vez que constitui um diferencial em relação aos outros portos

nacionais e apresenta como vantagem os atributos provenientes da constituição de uma gestão

recente, na qual as questões ambientais da atividade portuária de São Sebastião são

incorporadas e representam também um benefício para as empresas que aderirem à

movimentação de seus produtos neste porto, especialmente a partir do projeto de expansão.

Inovação ambiental sustentável

Visando uma competição sustentável, apresenta-se a inovação ambiental da

PRONAVE, sendo que o equipamento desenvolvido pela empresa representa redução de 98%

da emissão de material particulado na cidade de São Sebastião e na operação portuária.

Por se tratar de uma inovação, ainda não é explorado enquanto um aspecto de

conhecimento tecnológico, então não existem publicações científicas sobre ele.

Considera-se este elemento na discussão em relação ao comentário de Cunha, Vieira e

Rego (2007), sendo que a solução foi desenvolvida por uma iniciativa da empresa frente ao

um problema social, e sua contribuição atende a quesitos ambientais, sociais e econômicos,

Page 100: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

99

sendo este último um investimento que reduziu desperdício em primeiro momento, mas com o

tempo resultará em ganhos sustentáveis para a empresa, mercado e sociedade.

Esta iniciativa pode ser considerada como uma solução que integra a competitividade

sustentável relativa ao Porto de São Sebastião, uma vez que, na visão de Almeida (2007,

p.167), “Não há sustentabilidade sem inovação. A capacidade de fazer inovações tecnológicas

e não-tecnológicas (organizacionais e gerenciais) está na base do sucesso de uma empresa no

longo prazo”.

Complementa este pensamento de competitividade sustentável a partir da noção de

inovação, o comentário de Porter e Van Der Linde (1995, p.377) sobre a adoção da questão

ambiental como motivadora da inovação:

A inovação em resposta à regulamentação ambiental é passível de enquadramento em duas grandes categorias. A primeira é a das novas tecnologias e abordagens que minimizam o custo do tratamento da poluição, quando existente. A chave para estas abordagens geralmente reside na captação dos recursos incorporados na poluição e na sua conversão em algo de valor (...) O segundo tipo de inovação, muito mais interessante e importante, ataca as causas básicas da poluição a partir da melhoria da produtividade dos recursos. Suas conseqüências assumem muitas formas, incluindo a utilização mais eficiente de insumos específicos e o aumento do rendimento e a melhoria dos produtos.

Assim, a inovação tecnológica ambiental proposta pela empresa PRONAVE representa

um ganho na competitividade do porto de São Sebastião, e em âmbito portuário nacional. E

também, apresenta-se relevante por incluir um aspecto inerente a atividade portuária em São

Sebastião: sua relação com a cidade que abriga o porto.

De acordo com Llovera (1999, p.210)

A melhoria das relações porto-cidade, a elaboração de um modelo de gestão conjunto que aproveite as condições favoráveis de ambos e que dê potencialidade aos fatores de crescimento endógeno do porto, da cidade e de sua mais ampla hinterlândia, é uma grande alternativa para o desenvolvimento sustentável da cidade portuária

Entende-se que o argumento de Llovera abrange uma condição importante para a

competição sustentável da atividade portuária, por traçar a relação entre o porto e a cidade,

sendo esta relação muito próxima do ponto de vista econômico, ambiental e social. De acordo

com Porto (2007, p.25):

Page 101: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

100

A atividade portuária de hoje é fruto de uma série de fatores que a torna intensiva, especializada, abrangente e fomentadora de desenvolvimento. É tratada ou concebida numa economia de escala e numa visão integrada dos fatores de trânsito, neles incluído o patrimônio portuário, constituído da infra-estrutura de transporte, contemplada também a infra-estrutura ambiental que lhe dá sustentação e viabilidade.

Além da relação com a cidade, a combinação do conceito de sustentabilidade com

competitividade na atividade portuária inclui o consumidor.

Na atividade portuária, a preocupação ambiental é derivada de uma demanda/ exigência

das empresas que primam ou que mantém seus alicerces na preocupação sócio-ambiental, de

que forma que os consumidores analisarão elementos pertinentes à imagem institucional no

mercado, porém, os consumidores não entendiam a atividade portuária enquanto um elo da

cadeia de valores organizacional, normalmente a consideravam como algo impactante ao

meio ambiente apenas.

A realidade vem mudando, conforme Porter e Van der linde (1995, p.383), sendo que, a

importância dos portos irá refletir a incorporação da questão ambiental enquanto parte do

negócio portuário:

Estamos agora numa fase de transição da história industrial, em que as empresas ainda são inexperientes no gerenciamento criativo das questões ambientais. Os clientes também não estão cientes de que a ineficiência na utilização dos recursos implica que terão que arcar com custos da poluição.

Barbieri (2007) propõe a questão ambiental como uma posição estratégica em busca

da competitividade:

A abordagem ambiental estratégica significa tratar sistematicamente as questões ambientais, para proporcionar valor aos componentes do ambiente de negócio da empresa que os diferenciem dos seus concorrentes e contribuam para dotá-la de vantagens competitivas sustentáveis.

Com esta abordagem, pode ser que os usuários tenham maior visibilidade sobre a

sustentabilidade a partir de uma análise pela ótica do consumidor. Sendo assim, Cunha, Vieira

e Rego (2007) incluem uma perspectiva portuária sustentável: “Normalmente, a atividade

portuária não se dá sem o devido comprometimento do meio ambiente físico e antrópico que o

cerca. Uma tentativa de minimizar os impactos negativos da atividade é alicerçá-la sob a

perspectiva do desenvolvimento sustentável”.

Page 102: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

101

CONCLUSÃO

Esta dissertação abordou os conceitos de competitividade e sustentabilidade para

analisar a incorporação da questão ambiental na atividade portuária.

A sustentabilidade prevê uma relação de equilíbrio e pode propiciar ganhos mútuos

entre os atores envolvidos em realidades de grande complexidade, como é a de um porto. Ao

adotar essa premissa para o contexto portuário de São Sebastião, a discussão existente

perpassa pela viabilidade do projeto de expansão do porto com o mínimo possível de

intervenção na biodiversidade e na estrutura urbana da cidade que o abriga, a partir de uma

estratégia de negócio que incorpora a questão ambiental.

Esta ênfase é o que moveu os principais elementos abordados nesta pesquisa. Nota-se

que a atividade portuária de São Sebastião destaca-se por apresentar elementos de

competitividade que favorecem a sustentabilidade. Neste cenário, o meio ambiente faz parte

da região e, embora tenham sido mencionados alguns problemas no tocante ao meio ambiente,

as soluções são implementadas continuamente pelos gestores, o que difere de outros portos,

nos quais a questão ambiental é entendida como um custo adicional que não deveria estar

atrelado ao negócio.

O que se destaca, na gestão portuária de São Sebastião, é a naturalidade com que se

tratam as questões ambientais, como algo inerente ao negócio portuário e à manutenção da

qualidade de vida na cidade e região, não somente por uma preocupação genuína pela

biodiversidade, mas pela motivação do desenvolvimento local e por experiências históricas

em um local rico em sua natureza.

A competitividade a partir da incorporação da questão ambiental na atividade portuária

é um tema instigante, dada a análise dos elementos ambientais competitivos no Porto de São

Sebastião. A vocação e a necessidade de expansão são o foco da competitividade sustentável

identificada ao longo da pesquisa, pois esta é apresentada enquanto estratégia de negócios

deste porto para seu processo de expansão.

Considerando a pergunta de partida desta dissertação, entende-se que a incorporação da

questão ambiental constitui um fator propício para a competitividade portuária a partir da

identificação dos elementos: licença de operação, implantação de um sistema de gestão

integrado e inovação sustentável.

A licença de operação é uma exigência das políticas ambientais que incidem nos portos

brasileiros, porém, considerando o contexto portuário nacional, observa-se que possuem

Page 103: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

102

licença de operação poucos portos, apenas cinco de um total de quarenta, o que representa

uma vantagem na competição desta atividade.

A implementação de um sistema de gestão integrado é um elemento que gerará uma

vantagem sustentável, pela dificuldade que há para a implantar a gestão ambiental somente; e

isto é entendido como forma de atender necessidades de empresas que operam no porto, mais

do que cumprimento de procedimentos para a certificação. Sendo assim, o Porto de são

Sebastião adequa-se a demanda de seus usuários e contempla as exigências do mercado.

Assim, a implantação do sistema de gestão integrado agrega valor para a expansão do

porto, além de que isto representa uma organização da atividade portuária seguindo critérios

definidos por normas internacionais, conforme as mencionadas, Ecoportos, ISO, dentre outras

e que contemplam experiências avançadas de gestão de portos e competitividade nestes

ambientes.

Também, quanto a inovação sustentável, a empresa que investiu em solução tecnológica

para melhorias ambientais ainda não recuperou o investimento, mas melhorou o

relacionamento com o mercado e sua perspectiva de retorno recai sobre a venda de

equipamento, que representa uma inovação tecnológica ambiental que será levada para outros

portos, melhorando a competitividade portuária brasileira.

Desta forma, o objetivo da pesquisa foi atendido, pois a análise permitiu compreender

que a gestão ambiental pode contribuir para o aumento da competitividade na atividade

portuária de São Sebastião.

Sendo assim, a questão ambiental em são Sebastião é tida como uma ferramenta para

obter competitividade, mas, pela forma como tem sido tratada, pode ser considerada como

uma forma de competitividade sustentável.

O conhecimento dos depoentes da pesquisa de campo, além da experiência de todos, por

atuarem no porto de São Sebastião em longo tempo, se considerar que alguns possuem

publicações que foram utilizadas no referencial teórico e discussão desta dissertação,

comprova-se que há uma preocupação com a questão ambiental e a sustentabilidade, que

confirma-se pela pesquisa científica do tema, além de sua aplicação em São Sebastião.

A busca do conhecimento associa-se ao interesse em descobrir formas de introduzir

adequações e inovações na operação e gestão portuária e no contexto urbano, o que se

consolida na execução de pesquisas científicas e na socialização deste conhecimento.

A condição de sustentabilidade, que permite a denominação competitividade sustentável

na atividade portuária de São Sebastião, é a busca do desenvolvimento, a partir da ampliação

do porto, com o atendimento de dimensões sociais, econômicas, ambientais, ecológicas,

Page 104: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

103

culturais, territoriais e políticas, quando consideradas as melhorias que vem sendo debatidas e

implantadas e os diferenciais competitivos apresentados, conforme segue:

a. sociais: Geração de empregos e renda para a comunidade local, bem como

investimentos em melhorias locais para contribuir com a estrutura de comércio e

serviços, principais atividades de São Sebastião, uma vez que porto não gera divisas

para a cidade (mudança que está previsto no projeto de expansão);

b. econômicas: diferencial competitivo em relação aos outros portos nacionais pelo

licenciamento que apresenta, redução de custos de operação pela adoção de gestão

ambiental, captação de recursos pelo investimento de empresas que terão interesse em

atuar no porto de SS, recebimento de royalties devido a operações off-shore que

abriga;

c. ambientais: Práticas de um porto limpo; sistema de gestão integrado e incorporação

da questão ambiental enquanto estratégia de competitividade do porto, disseminação

de educação ambiental a partir de projetos e iniciativas ambientais apoiadas pela

Petrobrás e ONGs regionais;

d. ecológicas: questão ambiental como foco para a viabilidade de expansão do porto,

com análise de intervenções terrestres e aquaviárias necessárias para integração porto-

cidade, além de análise no sistema viário e urbano;

e. culturais: adesão da comunidade, diálogo para a sustentabilidade, solução para a

comunidade a partir de inovação ambiental criada pela PRONAVE e que evidencia

uma prática sustentável que pode ser um exemplo de que é possível introduzir

ecoeficiência e responsabilidade social na atividade portuária;

f. territoriais: Interface entre comunidade e porto, relação porto-cidade, além de

parcerias para apoiar a expansão portuária, resultando em melhorias de infra-estrutura

urbana;

g. políticas: Criação de políticas públicas municipais e influência regional destas, sendo

que por contem 85% de sua área por unidades de conservação, sendo adotado aparato

jurídico de fiscalização, política e educação ambiental.

Assim, a análise e discussão dos resultados permitiram compreender que a soma das

experiências, conhecimentos e funções em relação à atividade portuária, culminam no

atendimento à competitividade sustentável.

Page 105: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

104

Por fim sugere-se a realização de pesquisas mais aprofundadas sobre o processo de

implantação do SGI em portos e a continuidade da questão ambiental enquanto elemento de

competitividade, o alcance disto para as comunidades em sua percepção de qualidade de vida,

o que se pode aplicar como forma de verificar a competitividade sustentável, que requer

continuidade e analisar diversas percepções do assunto.

Page 106: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

105

REFERÊNCIAS

ACSELRAD, Henri; HOLLANDA, Theodoro Buarque de; BREDARIOL, Celso. Problemáticas socioambientais do projeto de ampliação e modernização do Porto de Sepetiba. In: SILVA, Gerardo; COCCO, Giuseppe. Cidades e portos: os espaços da globalização. Rio de Janeiro: DP&A, 1999, p.243-74.

ALIGLERI; Lilian; ALIGLERI, Luiz Antonio; KRUGLIANSKAS, Isak. Gestão socioambiental: responsabilidade e sustentabilidade do negócio. São Paulo: Atlas, 2009.

ALMEIDA, Fernando. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

_________________. Os desafios da sustentabilidade: uma ruptura urgente. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

ALMEIDA, Nádia Conceição Vernes. Sistemas de gestão ambiental: um estudo dos terminais do porto de Santos. 2010. Dissertação (Mestrado em Administração de empresas). Escola de Administração de empresas de São Paulo. São Paulo, Fundação Getulio Vargas, 2010.

ANTAQ. Agência Nacional de Transportes Aquaviários. Disponível em: www.antaq.gov.br. Acesso em: 21/08/2010.

AQUINO, A.R.; ABREU; I. ALMEIDA, J.R. (orgs.) Análise de sistema de gestão ambiental: ISO 14000, ICC e EMAS. Rio de Janeiro: Thex, 2008.

BARBIERI, José Carlos. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

______________. Desenvolvimento sustentável regional e municipal: conceitos, problemas e pontos de partida. Revista Administração On Line. FECAP. São Paulo. v.1, n. 4, out/dez, 2000.

BUSSINGER, Frederico. Licenciamento ambiental; um passo (necessário) adiante. In: BOLDRINI, Eliane Beê; PAULA, Eduardo Vedor de. Gestão ambiental portuária: subsídios para o licenciamento das dragagens. Antonina, PR: Associação de defesa do Meio ambiente e Desenvolvimento de Antonina, 2009. p.29-42.

Page 107: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

106

COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso Futuro Comum. 2 ed. Rio de Janeiro: FGV, 1991.

CULLINANE, K.; TALLEY, W. K. Port economics: Research in Transportation Economics. Amsterdam: Elsevier, 2006.

CUNHA, Icaro Aronovich; FREDDO, Antonio Carlos; AGUIAR, Maria Aparecida Ferreira. Gestão ambiental e competitividade dos portos: negociando uma agenda. Anais do XIII SIMPEP, Bauru, SP, Brasil, 6 a 8 de Novembro de 2006.

CUNHA, Icaro Aronovich; VIEIRA, Jônatas de Pinho; REGO, Eduardo Hipólito. Sustentabilidade da atividade portuária rumo à agenda ambiental para o porto do canal de São Sebastião. eGesta, v. 3, n. 1, p. 7-32, jan.-mar./2007.

CUNHA, Icaro Aronovich et al. Análise do trabalho portuário avulso sob a ótica da sustentabilidade: em foco o Porto de São Sebastião-SP. Anais do V Sinap. Santos, 2008.

CUNHA, Icaro Aronovich. Gestão ambiental e atividade portuária. In: CUNHA, Icaro Aronovich (org.). Portos no ambiente costeiro. Santos: Leopoldianum, 2004.

_____________________. Gerenciamento de riscos e negociação ambiental em área portuária.

_____________________. Fronteiras da gestão: os conflitos ambientais das atividades portuárias. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v.40, n.6, p.1019-40, Nov/ dez 2006.

_____________________. Conflito ambiental em águas costeiras: relação porto-cidade no canal de São Sebastião. Ambiente & Sociedade, v.VI, n. 2, p.83-98, jul./dez. 2003.

_____________________. Política ambiental, negociação de conflitos e sustentabilidade. Santos: Leopoldianum, 2008. E-book. Disponível em: http://www.unisantos.br/edul/politicaambiental/index.html. Acesso em: 19/02/2011.

DYLLICK, T.; HOKERTS, K. Beyond the business case for corporate sustainability. Business Strategy and the Environmental. v. 11, n. 2, Mar/Abr, 2002.

ELKINGTON, J. Cannibals with forks: the triple bottom line of 21st century business. Oxford: Capstone, 1999.

Page 108: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

107

FRANCO, M. A. R. Planejamento ambiental para a cidade sustentável. São Paulo: Annablume: FAPESP, 2000.

FRANCISCO, José. A desconstrução total da praia da frente da cidade de São Sebastião. Ecologia da paisagem e planejamento ambiental. I Fórum de Debates Disponível em: http://www.seb-ecologia.org.br/forum/art2.htm. Acesso em: 21/10/2011.

GOSS, R. Economic policies and seaports: 3. Are port authorities necessary? Maritime Policy & Management, v.17, n.4, p.269, 1990.

GRAMMENOS, Costas T. The handbook of Maritime Economics and Business. Informa Professional. London: LLP, 2002.

HART, S.L.; MILSTEIN, M.B. Criando valor sustentável. RAE Executivo, v.3, n.2, p.65-79, maio/ julho 2004.

HITCHCOCK, D.; WILLARD, M. The step-by-step guide to sustainability planning. London, UK: Earthscan, 2008.

JUNQUEIRA, Luciano A. Prates. Gestão de negócios: um saber interdisciplinar. In: JUNQUEIRA, Luciano A. Prates. (org.) Desafios da modernização portuária. São Paulo: Aduaneiras, 2002.

KITZMANN, Dione; ASMUS, Milton Lauforcade. Gestão ambiental portuária: desafios e possibilidades. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v.40, n.6, p.1041-60, Nov/ dez 2006.

KOEHLER, Pedro Henrique Wisniewski; ASMUS, Milton Lauforcade. Gestão ambiental integrada em Portos Organizados: uma análise baseada no caso do porto de Rio Grande, RS – Brasil. Revista de Gestão Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management, n.10, v.2, p.201-215, 2010.

LlOVERA, Joan Alemany. Por um desenvolvimento sustentável da cidade portuária. In: SILVA, Gerardo; COCCO, Giuseppe. Cidades e portos: os espaços da globalização. Rio de Janeiro: DP&A, 1999, p.209-16.

MACEDO, R.K. Gestão Ambiental: os instrumentos básicos para a gestão ambiental de territórios e unidades produtivas. Rio de Janeiro: Abes, 1994.

Page 109: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

108

MAIA, J. M. Economia Internacional e Comércio Exterior. 8.ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MALHOTRA, Naresh. Pesquisa de marketing. 3.ed. Porto Alegre: Bookman, 2011.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico. 7.ed. São Paulo: Atlas, 2007.

MARTINS, R. S.; CAIXETA FILHO, J. V. Evolução histórica da gestão logística no transporte de cargas. In: CAIXETA-FILHO, J. V.; MARTINS, R. S. Gestão Logística do Transporte de Cargas. São Paulo: Atlas, 2001.

MERICO, Luiz Fernando Krieger. Políticas públicas para a sustentabilidade. In: VIANA, Gilney; SILVA, Marina, DINIZ, Nilo (org.). O desafio da sustentabilidade: um debate socioambiental no Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001.

MINAYO, Maria Cecilia. de S. (Org.) et al. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1994.

MONIÉ, Frédéric; VIDAL, Soraia Maria do S. C. Cidades, portos e cidades portuárias na era da integração produtiva. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v.40, n.6, p.975-95, Nov/ dez 2006.

ORSATO, R. Sustainability strategies: when does it pay to be Green? New York, EUA: Palgrave McMillan, 2009.

PICADO, rogério. Estudos pioneiros da Petrobrás. In: CUNHA, Icaro Aronovich (org.). Portos no ambiente costeiro. Santos: Leopoldianum, 2004.

PORTER, Michael E.; KRAEMER, Mark R.. Strategy & society: the link between competitive advantage and corporate social responsability. Harvard Business Review. HBRlog, p.1-15, dec 2006.

PORTER, Michael. Competição: estratégias competitivas essenciais. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

PORTER, Michael; LINDE, Class Van Der. Verde e competitivo: acabando com o impasse. In: PORTER, M. E.. Competição: estratégias competitivas essenciais. Rio de Janeiro, Campus, 1995, p.371-397.

Page 110: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

109

PORTO, Marcos Maia. Portos e o desenvolvimento. São Paulo: Aduaneiras, 2007.

RIBEIRO NETO, João Batista M.; TAVARES, José da Cunha; HOFFMANN, Silvana Carvalho. Sistemas de Gestão Integrados: qualidade, meio ambiente, responsabilidade social, segurança e saúde no trabalho. São Paulo: SENAC São Paulo, 2008.

ROMEIRO, A. R.; REYDON, B. P.; LEONARDI, M. L. Economia do meio ambiente: teoria, política e a gestão de espaços regionais. Campinas: Unicamp.IE, 2001.

SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. 3.ed. Rio de Janeiro: Garamond, 2008.

________. Desenvolvimento Includente, Sustentável, Sustentado. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.

________. Estratégias de Transição para o Século XXI – Desenvolvimento e Meio Ambiente. Studio Nobel – FUNDAP, 1993.

TACHIZAWA, T. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa. São Paulo: Atlas, 2002.

TINOCO, João Eduardo Prudêncio; KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. Contabilidade e gestão ambiental. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2008.

VERHOEFF, J.M. Zeehavenconcurrentie: overheidsproduktie van havendiensten. In: VERHOEFF, J.M. Vervoes-en haveneconomie: tussen actie en abstractive. Leiden: Stenfert Kroese, 1981.

VOORDE, E. VAN; WINKELMANS, W. A general introduction to port competition and management. In: HUYBRECHTS, M. Port competitiveness: an economic and legal analysis of the factors determining the competitiveness of seaports. Antwerp: De Boeck, 2002.

YIN, Richard. K. Estudo de Caso: Planejamento e método. 3 ed. Bookman: Porto Alegre, 2005.

Page 111: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

110

APÊNDICE A

Formulário para Entrevista com Gestor do Porto de São Sebastião antes da criação da

Companhia Docas

I) Dados pessoais do Gestor do Porto de São Sebastião:

Nome: ____________________________________________ Idade: ____

Cargo atual: _________________________________________________________

Formação: ________________________________________________________

II) Roteiro de Entrevista

1. Fale do contexto histórico do Porto de São Sebastião.

2. Por favor, relate como a questão ambiental era tratada no Porto antes da criação da

Companhia Docas.

3. Quais são os principais problemas ambientais do Porto de São Sebastião?

4. Na sua opinião, atualmente, existe gestão ambiental no porto de cargas? Se sim, desde

quando há gestão ambiental no Porto de São Sebastião e em qual estágio se encontra?

5. Quais os investimentos na área ambiental na sua gestão?

6. Qual a influência da questão ambiental sobre a competitividade portuária?

7. Quais são as vantagens da gestão ambiental?

8. Quais são as dificuldades para implantação?

9. Quantos acidentes ambientais ocorreram antes da implantação da Companhia Docas

de São Sebastião?

10. Como era avaliado o desempenho em relação à gestão ambiental:

a. No porto de cargas:

b. No CAP:

c. No Tebar:

11. Existia padronização de atividades entre porto de carga e CAP? Por que?

12. Quais eram as políticas ambientais relacionadas com a gestão ambiental do Porto de

cargas?

13. Como era a atuação da Petrobrás perante as questões ambientais?

14. Havia alguma relação entre Petrobrás e porto de carga no aspecto ambiental? Como

ocorria esta interação?

15. Havia licenciamento ambiental no porto?

Page 112: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

111

APÊNDICE B

Formulário para Entrevista com Assessor Ambiental do Porto de São Sebastião

II) Dados pessoais do responsável pela Gestão Ambiental do Porto de São Sebastião:

Nome: ____________________________________________ Idade: ____

Cargo: ___________________________________________________________

Formação: ________________________________________________________

II) Roteiro de Entrevista

1. Quais são os principais problemas ambientais do Porto de São Sebastião?

2. Existe gestão ambiental no porto de cargas? Se sim, desde quando há gestão ambiental no

Porto de São Sebastião e em qual estágio se encontra?

3. Qual foi o objetivo para a implantação da gestão ambiental?

4. Como é feita a gestão ambiental do Porto de São Sebastião? Qual sistema de gestão

ambiental foi implantado?

5. Quais atividades contemplam o Programa de Gestão Ambiental do Porto de São

Sebastião?

6. Quais os investimentos na área ambiental antes da implantação da gestão ambiental? E

depois?

7. Qual a influência da questão ambiental sobre a competitividade portuária?

8. Quais são as vantagens da gestão ambiental?

9. Quais são as dificuldades para implantação?

10. Quantos acidentes ambientais ocorreram antes e depois da implantação da gestão

ambiental?

11. Por favor, trace um panorama cronológico das atividades de gestão ambiental do porto de

cargas (descreva as metas por atividades e por tempo).

12. Quem é o responsável por esta atividade?

13. Quais são as atribuições do CAP em relação à gestão ambiental?

14. Quem são os envolvidos? Quantas pessoas e quais os cargos e entidades a que estão

vinculadas na prática da gestão ambiental no porto de cargas?

15. De que forma ocorre a transmissão de conhecimento e aprendizado do processo de gestão

ambiental proposto?

16. Há certificação no porto de cargas?

17. Como é avaliado o desempenho em relação à gestão ambiental:

Page 113: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

112

d. No porto de cargas:

e. No CAP:

f. No Tebar:

18. A autoridade portuária considera que há incorporação das dimensões da sustentabilidade

na gestão ambiental? Quais são incluídas em quais atividades?

19. Existe padronização de atividades entre porto de carga e CAP? Por que?

20. Quais são as políticas ambientais relacionadas com a gestão ambiental do Porto de

cargas?

21. Quais são os conhecimentos necessários para a implantação da gestão ambiental?

22. A Petrobrás possui sistema de gestão avançado, incluindo certificações. Qual a ênfase da

gestão ambiental da Transpetro?

23. Quais são as atividades principais do programa de gestão ambiental da Transpetro?

24. É feito algum tipo de controle para avaliação das medidas ambientais realizadas pela

Transpetro? Se há, como ocorre? (Por exemplo, mensuração, tabulação, registros,

documentos, auditorias, outros)

25. A autoridade portuária consegue coordenar as atividades do Tebar? Como isso ocorre e

quem são os responsáveis?

26. Existe alguma parceria do porto de cargas com a Transpetro em relação a gestão

ambiental? Como seria uma comparação do estágio de gestão entre um e outro?

27. O Programa de Gestão Ambiental da Transpetro pode servir de benchmarking para o

porto de cargas?

28. Quais atividades do Tebar podem ser implantados no porto de cargas?

29. Por que isso ainda não ocorre?

30. Quais são as políticas ambientais propostas para o Porto de São Sebastião em cada um

dos aspectos a seguir?

a. Operação

b. Projetos e processos

c. Monitoramento e mensurações das emissões

d. Redução, reuso e reciclagem de materiais

e. Saúde e segurança dos profissionais, usuários e comunidade

f. Logística Reversa

g. Transportes

h. Treinamento ambiental

i. Contabilidade de custos ambientais

Page 114: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

113

31. Trace um comparativo entre os aspectos analisados pelo Tebar/ Porto de cargas/CAP.

32. Como está o licenciamento ambiental do porto de cargas? O que inclui este

licenciamento?

33. Quais são os programas ambientais exigidos no licenciamento? Quais estão

implantados?

Obrigada pela atenção

Page 115: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

114

APENDICE C

Formulário para Entrevista com Membro do CAP de São Sebastião

III) Dados pessoais do representante:

Nome: ____________________________________________ Idade: ____

Empresa e Cargo: __________________________________________________

Formação: ________________________________________________________

Tipo de Representação no CAP: _______________________________________

II) Roteiro de Entrevista

1. Quais são os principais problemas ambientais do Porto de São Sebastião?

2. Na visão do CAP, existe gestão ambiental no porto de cargas? Se sim, desde quando

há gestão ambiental no Porto de São Sebastião e em qual estágio se encontra?

3. Quais aspectos da questão ambiental são discutidos nas reuniões do CAP?

4. Qual a visão dos integrantes do CAP sobre a gestão ambiental no porto de São

Sebastião?

5. Qual foi o objetivo para a decisão da implantação da gestão ambiental?

6. Qual a influência da questão ambiental sobre a competitividade portuária?

7. Quais atividades do CAP contemplam o Programa de Gestão Ambiental do Porto de

São Sebastião?

8. Quais os investimentos na área ambiental que foram exigidos para a implantação da

gestão ambiental?

9. Os representantes do CAP consideram quais vantagens para a gestão ambiental?

10. Quais são as dificuldades para implantação?

11. Quais são as atribuições do CAP em relação à gestão ambiental?

12. Quem são os envolvidos? Quantas pessoas e quais os cargos e entidades a que estão

vinculadas na prática da gestão ambiental no porto de cargas?

13. De que forma ocorre a transmissão de conhecimento e aprendizado do processo de

gestão ambiental proposto?

14. Como é avaliado o desempenho em relação à gestão ambiental?

15. O CAP considera que há incorporação das dimensões da sustentabilidade na gestão

ambiental? Quais são incluídas em quais atividades?

16. Quais são os conhecimentos necessários para a implantação da gestão ambiental?

Page 116: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

115

17. O CAP é responsável pela coordenação das atividades do porto e do Tebar? Como isso

ocorre e quem são os responsáveis?

18. Quais são as políticas ambientais propostas para o Porto de São Sebastião em cada um

dos aspectos a seguir?

19. Operação

20. Projetos e processos

21. Monitoramento e mensurações das emissões

22. Redução, reuso e reciclagem de materiais

23. Saúde e segurança dos profissionais, usuários e comunidade

24. Logística Reversa

25. Transportes

26. Treinamento ambiental

27. Contabilidade de custos ambientais

Obrigada pela atenção

Page 117: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

116

APENDICE D

Formulário para Entrevista com diretor da empresa PRONAVE, que realiza inovação

ambiental no Porto de São Sebastião

IV)Dados pessoais do responsável da empresa (PRONAVE):

Nome: ____________________________________________ Idade: ____

Cargo: ___________________________________________________________

Formação: ________________________________________________________

II) Roteiro de Entrevista

1. Qual é a inovação ambiental que a empresa apresenta?

2. Há quanto tempo este equipamento é utilizado no Porto de São Sebastião?

3. Qual foi a motivação para esta iniciativa? Foi uma exigência do mercado, da

população local, da autoridade portuária?

4. Quanto tempo levou para esta inovação ser incorporada como uma estratégia

ambiental no Porto de São Sebastião?

5. Qual a influência da inovação ambiental sobre a competitividade portuária?

6. Quais os benefícios desta tecnologia? Em redução de impacto e em sustentabilidade?

7. A inovação ambiental em questão pode influenciar em sistemas de gestão ou políticas

ambientais como exemplo para a autoridade portuária? De que forma isto ocorre?

8. Em quais aspectos da gestão portuária esta inovação gerou impacto? Por quê?

9. Você considera que as dimensões da sustentabilidade podem ser incorporadas na

gestão do Porto de são Sebastião? De que forma você visualiza esta questão?

10. Quais são os principais problemas ambientais do Porto de São Sebastião?

11. Quais os investimentos na área ambiental que foram exigidos para a implantação da

gestão ambiental?

12. Quais são as dificuldades para implantação?

13. Quais são as atribuições exigidas das empresas atuantes no porto de São Sebastião em

relação à gestão ambiental?

14. Quem são os envolvidos? Quantas pessoas e quais os cargos e entidades a que estão

vinculadas na prática da gestão ambiental no porto?

15. Quais são os conhecimentos necessários para a implantação da gestão ambiental?

16. De que forma ocorre a transmissão de conhecimento e aprendizado do processo de

gestão ambiental proposto?

Page 118: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

117

17. Como é avaliado o desempenho em relação à gestão ambiental?

18. Quais as políticas ambientais a que as empresas estão sujeitas para atuar no Porto de

São Sebastião?

19. A empresa está em conformidade com estas políticas?

Obrigada pela atenção

Page 119: COMPETITIVIDADE SUSTENTÁVEL NA ATIVIDADE PORTUÁRIA: …

118

APENDICE E

Formulário para Entrevista com Secretário de Meio Ambiente (SEMAM) do Município

de São Sebastião

V) Dados pessoais do secretário:

Nome: ____________________________________________ Idade: ____

Tempo na função: ___________________________________________________

Formação: ________________________________________________________

1. Quais são os principais problemas ambientais do Porto de São Sebastião?

2. Fale sobre a relação porto-cidade em São Sebastião.

3. As políticas ambientais municipais impedem ou favorecem a gestão ambiental do porto?

Por quê?

4. Quais são as propostas da SEMAM para a gestão ambiental envolvendo o porto de

carga?

5. Como ocorre a interação do porto com a sociedade?

6. Quais as políticas ambientais a que as empresas estão sujeitas para atuar no Porto de

São Sebastião?

7. Houve a criação de políticas municipais específicas para a questão ambiental

relacionada ao porto?

8. Quais são as vantagens da gestão ambiental?

9. Quais são as dificuldades para implantação?

10. Como é avaliado o desempenho em relação à gestão ambiental?

11. Qual a postura da SEMAM em relação ao projeto de ampliação do porto?

12. Quais são as exigências da SEMAM para esta ampliação?

13. Qual é o impacto da ampliação do porto no município?

14. Qual a influência da ampliação na competitividade da atividade portuária?

15. Qual a influência da gestão ambiental sobre a competitividade portuária?