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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA NACIONAL ESCOLA DE GESTORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PÚBLICA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA CECOP 3 ADSON RODRIGUES DE OLIVEIRA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO CAMPO EM EUNÁPOLIS (ASSENTAMENTO - PROJETO MARAVILHA) Salvador 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA NACIONAL ESCOLA DE GESTORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PÚBLICA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA – CECOP 3

ADSON RODRIGUES DE OLIVEIRA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO CAMPO EM EUNÁPOLIS (ASSENTAMENTO - PROJETO MARAVILHA)

Salvador 2015

ADSON RODRIGUES DE OLIVEIRA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO CAMPO EM EUNÁPOLIS (ASSENTAMENTO - PROJETO MARAVILHA)

Projeto Vivencial apresentado ao Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica Pública, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, como requisito para a obtenção do grau de Especialista em Coordenação Pedagógica. Orientador: Prof. Ernani Alcântara Dias

Salvador 2015

ADSON RODRIGUES DE OLIVEIRA

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO CAMPO EM EUNÁPOLIS (ASSENTAMENTO - PROJETO MARAVILHA)

Projeto Vivencial apresentado como requisito para a obtenção do grau de Especialista em Coordenação Pedagógica pelo Programa Nacional Escola de Gestores, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia.

Aprovado em janeiro de 2016.

Banca Examinadora

Primeiro Avaliador.____________________________________________________ Segundo Avaliador. ___________________________________________________ Terceiro Avaliador. ____________________________________________________

Aos meus colegas de escola, a comunidade do projeto maravilha e em especial

minha esposa Charlene Ribeiro Souza pelo apoio e incentivo.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por me permitir mais esta conquista.

A meus familiares, pelo apoio neste momento. A todos, meu muito obrigado.

A meu orientador, Prof. Ernani Alcântara Dias, pela paciência e competência ao me

auxiliar nesta jornada.

À Faculdade de Educação da UFBA e ao Programa Escola de Gestores, por

levarem a cabo esta iniciativa que beneficia tantos Coordenadores Pedagógicos

como eu.

(...) A liberdade da terra não é assunto de lavradores. A liberdade da terra é assunto de todos Quantos não se alimentam dos frutos da terra. Do que vive, sobrevive do salário. Do que é impedido de ir à escola. Dos meninos e meninas de rua. Das prostitutas. Dos ameaçados de Cólera. Dos que amargam o desemprego. Dos que recusam a morte do sonho. A liberdade da terra e a Paz da cidade têm um nome. Hoje viemos cantar no coração da cidade para que ela ouça nossas canções. (Pedro Tierra)

OLIVEIRA, Adson. EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO CAMPO EM EUNÁPOLIS (ASSENTAMENTO - PROJETO MARAVILHA). 2015. Projeto Vivencial (Especialização) – Programa Nacional Escola de Gestores, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2015.

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo, fazer uma reflexão sobre a Educação Fundamental Profissionalizante de Jovens e Adultos do Campo, enfatizando sua trajetória histórica de exclusão da Educação do Campo, chegando à perspectiva de ampliação dessa modalidade da educação básica para o ensino fundamental profissionalizante. No âmbito da educação fazer uma reflexão sobre o papel dos movimentos sociais na articulação para a proposta de novas Políticas Públicas e Legislações que contemplem a Educação do Campo, suas peculiaridades e a valorização dos sujeitos do campo no contexto social e político do país. Como resultado desse estudo foi elaborado um Projeto de Intervenção e conclui-se que: há um processo em construção para que a realidade campesina seja respeitada; os professores não possuem capacitação para a prática da EJA do Campo e os educandos acreditam na escola como instrumento de transformação da sociedade. Sendo assim, esta pesquisa nos fornece elementos para reconsiderar a prática pedagógica na Educação Fundamental Profissionalizante de Jovens e Adultos do Campo de forma adequada para a promoção da escolaridade e profissionalização dos jovens campesinos. Palavras-chave: Jovens e adultos; Educação Profissionalizante; Trabalho; Campo

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais no Brasil e Grandes Regiões-1991/2000..........................................................16

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CECOP Curso de Especialização em Coordenação Pedagógica

CP Coordenador Pedagógico

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação

UFBA Universidade Federal da Bahia

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................... 5

1 MEMORIAL........................................................................................................ 8

1.1 VIDA ACADÊMICA............................................................................................. 8

1.2 VIDA PROFISSIONAL....................................................................................... 9

1.3 EXPECTATIVAS................................................................................................ 10

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................... 11

2.1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS DE UMA ESCOLA

PROFISSIONALIZANTE DO CAMPO...............................................................

11

2.2 A REAL SITUAÇÃO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO........................................... 13

2.3 DIRETRIZES PARA A ELABORAÇÃO DE UMA PROPOSTA DE UMA

EDUCAÇÃO PROFISSIONALIZANTE DO CAMPO..........................................

21

3 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO...................................................................... 26

3.1 OBJETIVO.......................................................................................................... 26

3.2 RESULTADOS DAS ENTREVISTAS COM OS DOCENTES............................ 26

3.3 ENTREVISTAS COM OS EDUCANDOS........................................................... 28

3.4 ANÁLISES DAS ENTREVISTAS E INTERVENÇÃO......................................... 29

3.5 METODOLOGIA................................................................................................. 29

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 30

REFERÊNCIAS.................................................................................................. 33

ANEXO............................................................................................................... 37

5

INTRODUÇÃO

Há um reconhecimento por parte dos Jovens e Adultos campesinos no que

diz respeito a importância da escola em sua formação. Diante disso, existe um

questionamento a ser feito: Pode a escola ser instrumento de permanência na terra

desses agricultores familiares? É o que investigamos nessa monografia, na qual

refletimos sobre a contradição vivenciada pela educação rural, que pode significar,

ao mesmo tempo, um instrumento de perda e de luta pela terra. O estudo desta

temática passou a ser objeto de pesquisa a bem pouco tempo, através do governo

com novas políticas públicas e principalmente através dos movimentos sociais.

Estudos e reflexões acerca da trajetória da escola rural no Brasil mostram

que esta escola incluída no processo de “modernização do campo”, teve um papel

fundamental no processo de expropriação/proletarização dos agricultores familiares.

Ao mesmo tempo, pesquisadores do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

(MST), pensam que a terra enquanto projeto de vida e de trabalho pela qual lutam, é

também essencialmente, a terra com a escola, com a saúde e com o lazer. Mais do

que a escola, esse movimento retorna o sentido de educação como formação na luta

e no trabalho, que transcende a mera instrução a que se restringe a escola.

Apesar das Políticas Publicas que contemplam a Educação

Profissionalizante de Jovens e Adultos do Campo, serem muito recentes o objetivo

desse trabalho é analisar os estudos e os programas educacionais já desenvolvidos

no meio rural, bem como suas metodologias e suas conseqüências sócio-cultural,

lembrando que “nenhuma ação educativa pode prescindir de uma reflexão sobre o

homem e de uma análise sobre suas condições culturais” (FREIRE, 2000,p.61).

Neste sentido, constatamos que nos primeiros quatro séculos, a constituição da

formação social brasileira em que é preciso considerar a colonização, o regime de

escravidão, o latifúndio e a predominância da produção extrativista e agrícola

voltada para exportação não irá demandar a qualificação da força de trabalho,

ocasionando até certo desprezo por parte das elites, em relação ao aprendizado

escolar das camadas populares, mesmo encontrando-se iniciativas de educação

rural ainda no século XIX ((Romanelli, 1982).

6

É a partir dos anos 30 do século XX, que começa a delinear-se um modelo

de educação rural amarrado a projetos de “modernização do campo” favorecido por

instituições estrangeiras e disseminado por programas de extensão rural e novas

técnicas (Calazans, 1993). Ao analisarmos os índices de analfabetismo no Brasil na

década de 90, onde continua ser mais elevado no meio rural, que no meio urbano,

fica muito claro o desinteresse e a falta de políticas voltadas para a população rural

(Ferrari, 1991: 66). No dia-a-dia observamos práticas pedagógicas que não são

adequadas ao meio campesino, muitas vezes pautadas, pelas diversas leis

asseguradas pelas diretrizes e bases da educação brasileira, e que não contemplam

as especificidades do meio rural e dos moradores do campo.

Observa-se tal fato através do calendário escolar, que mesmo diante da

flexibilidade curricular prevista nas leis: Lei nº 4.024/61 e na atual Lei nº 9.394/96,

não sai do papel, prevalecendo assim à organização de dias letivos e férias de

acordo com o calendário das escolas do meio urbano. Associado a esse fato,

observamos que o currículo da escola rural, não passa de um mero anexo da

organização curricular da escola urbana; com pequenos ajustes de objetivos e

indicações de conhecimentos, que valorizem o trabalho agrícola e objetivam a

modificar o “homem rural”. Normalmente esse currículo, abrange a questões rurais

de forma extremamente superficial, mostrando apenas conhecimento sobre plantas

e animais; deixando de fazer menção ao homem do campo, enquanto sujeito, à sua

cultura, sua trajetória de vida, ao seu trabalho, ao meio em que vive.

Os moldes de escola rural, que são reproduzidos, através do nosso

cotidiano, são de professores que não foram preparados para atuar em escolas do

campo, geralmente leigos, turmas multisseriadas, estruturas físicas, calendários e

currículos inadequados. Dessa forma fica evidente de que tal modelo de escola não

colabora em nada para a participação e permanência do homem no campo.

Pesquisando sobre a metodologia utilizada na Educação Profissionalizante

de Jovens e Adultos do Campo, o presente trabalho monográfico foi dividido em três

capítulos:

a) No primeiro capitulo será apresentado o memorial, onde eu traço toda

minha trajetória como educador e coordenador pedagógico.

b) No segundo capítulo será abordada a real situação da educação do

campo nos tempos atuais, através da fundamentação teórica.

7

c) No terceiro capítulo será feita a Proposta de Intervenção, onde faz-se

uma análise da Educação de Jovens e Adultos do Campo, em uma escola da Zona

Rural (Assentamento Projeto Maravilha) no município de Eunápolis, apresentando

algumas ações.

Portanto reconhecemos através desta pesquisa que a constituição do ser

humano, se efetiva e se concretiza em diversos espaços de formação, entre eles

durante sua árdua caminhada de luta e resignação comum nos acampamentos,

assentamentos ou em seus pequenos lotes de terra e na busca incessante de justiça

no campo e contra os latifúndios, e na busca da apropriação de sua cultura, na

valorização de seus conhecimentos prévios e aquisição de novos saberes.

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CAPITULO I

MEMORIAL

“O CAMPO É MINHA VIDA”

1.1 VIDA ACADÊMICA.

Comecei meus estudos em Guaratinga, Extremo Sul da Bahia, onde fui

alfabetizado e estudei até o 4º ano primário. Minha irmã mais velha era professora e

sempre acompanhou nossos estudos, meu e dos meus irmãos mais novos. Fiz da 5ª

a 8ª série em Eunápolis, após a conclusão desta etapa fui fazer o ensino médio em

Salvador onde conclui o curso de técnico em contabilidade pela Escola M. A.

Teixeira de Freitas. Retornei à Eunápolis e em seguida fui trabalhar em uma

comunidade rural, conforme relato no meu memorial.

Após 09 anos sem estudar, fiz vestibular e me ingressei no curso de

Filosofia na Universidade Estadual Santa Cruz – UESC, onde cursei dois semestres,

a dificuldade em conciliar trabalho e estudo me fez retornar à Eunápolis para cursar

Pedagogia na Unisulbahia, concluindo o curso em 2004. Entre a experiência com a

educação do campo e o trabalho com as comunidades indígenas, foi crescendo e

amadurecendo uma visão crítica da realidade camponesa e sua relação com a

crescente concentração fundiária na região, onde a educação estava a serviço do

êxodo rural e do latifúndio.

O meu envolvimento com as organizações sociais me levou a realizar vários

cursos de formação na área de ciências humanas e política, conclui um cursos de

aperfeiçoamento em Políticas Públicas de Gênero e Raça, pelo Nein-UFBA, passei

no concurso público no município de Santa Cruz Cabrália, para Coordenador

Pedagógico onde desenvolvo as minhas atividades em uma Escola de porte grande

na periferia da cidade.

9

1.2 VIDA PROFISSIONAL.

Tenho uma afinidade com o campo, por ser filho de agricultor e ter nascido e

crescido em cidade com forte influência da cultura camponesa.

Minha primeira experiência trabalhando na área de educação foi em uma

comunidade rural, onde trabalhei como professor durante três anos em uma turma

multisseriada, onde a maioria dos alunos eram analfabetos, foi um grande desafio,

pois não tinha formação na área de magistério, era considerado “professor leigo”,

era assim que chamavam quem trabalhava em sala de aula sem a formação exigida,

tive aí meus primeiros contatos com a proposta de Paulo Freire, solitariamente tentei

adaptar essa proposta aos meus ensaios pedagógicos, descobrindo na prática,

mesmo sem o conhecimento cientifico, que a leitura do mundo transforma o sujeito e

o faz construtor da sua própria história, a escola que não tinha carteira, que a lousa

era uma folha de zinco, que não tinha merenda, passou a ser um instrumento

motivador para reunir a comunidade e mobilizá-la entorno de direitos e de melhoria

das condições de vida da comunidade e especialmente da educação, as ações de

reivindicações encontrou sustentação em uma consciência crítica que aos poucos

foram criando entre os membros da comunidade em função dos seus problemas e

se transformando em palavras geradoras no processo de alfabetização, sem dúvida

foi um momento de aprendizagem, leitura e conquista, sobretudo, o despertar da

minha paixão pela educação.

Após essa experiência, durante 18 anos trabalhei junto ao Conselho

Indigenista Missionário, organismo vinculado a CNBB (Conferência dos Bispos do

Brasil), acompanhando a problemática dos índios Pataxó no Extremo Sul da Bahia.

Neste convívio percebi o grande desafio em atuar junto a um povo historicamente

marginalizado, que teve o seu espaço territorial esbulhado por interesses

econômicos diversos e pelo modelo de desenvolvimento nefasto que se instalou na

região, começando com o ciclo da madeira, que detonou a Mata Atlântica,

culminando com um turismo predatório e a monocultura do eucalipto. Neste

processo de “desenvolvimento” não havia espaço para indígenas, quilombolas e

comunidades tradicionais. Com o processo de expulsão do homem do campo e o

crescimento desordenado das cidades da região, o direito à vida, a dignidade e a

cidadania ficaram comprometidas, ferindo sobremaneira os direitos humanos de

10

milhares de famílias alijadas desde modelo de desenvolvimento. Neste contexto a

educação escolar no campo estava a serviço do êxodo rural e do latifúndio.

Durante essa minha experiência tive contato com a pedagogia social e

percebi a dimensão da diversidade e pluralidade étnica do nosso país, bem como da

necessidade de construir uma alternativa de desenvolvimento para a região do

extremo Sul da Bahia. Esta alternativa passa necessariamente pela mobilização e

organização dos setores sociais que tem os seus direitos e a sua cidadania negada,

onde a educação ocupa um espaço fundamental neste processo, aliás, sem ela é

impossível uma perspectiva de futuro com direitos iguais para todos, uma educação

especifica e diferenciada, conforme determina a Constituição Federal.

A educação do campo adequada à sua realidade é fundamental para a

formação do homem do campo na perspectiva de construção de uma nova

sociedade, para resgatar valores, fortalecer princípios e forjar cidadãos e cidadãs

capazes de intervir criticamente na defesa dos seus direitos. Não é possível conviver

com uma educação do campo urbanizada, descontextualizada da realidade

camponesa.

1.3 EXPECTATIVAS.

O tema que escolhido para o meu trabalho de conclusão do curso de

especialização em coordenação pedagógica pretende refletir sobre a educação de

Jovens e Adultos no Campo, seus problemas, dificuldades e desafios na perspectiva

de uma educação transformadora para campo.

11

CAPITULO II

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 CONCEPÇÕES E PRINCÍPIOS PEDAGÓGICOS DE UMA ESCOLA

PROFISSIONALIZANTE DO CAMPO

É necessário avaliar quais as razões que levaram a discussão sobre a

relevância de se efetuar a educação do campo. Pensar a Educação

Profissionalizante do Campo é pensar num processo de desenvolvimento de

educação de trabalhadoras e trabalhadores camponeses e na sua caminhada de

luta. Isso reflete que devemos ver como uma educação politicamente e

pedagogicamente, voltada para os interesses sociais, culturais e políticos desse

grupo.

Vê-se claramente que essa educação possui particularidades, que não

podem ser relegadas a segundo plano, deve-se respeitar esses indivíduos como

sujeitos sociais, ou seja, fazer um diálogo entre a teoria pedagógica e o cotidiano

campesino e principalmente com o ser humano, não deixando de valorizar sua

memória e sua raiz.

A abordagem sobre Educação Profissionalizante do Campo surge a partir

da construção teórica de um processo ideológico e disputa política, que está inserido

nos conflitos existentes do campo, além da apropriação da educação, como direito

básico dos trabalhadores, para a garantia de sua emancipação.

A luta pela terra e a conquista dos assentamentos construíram um

território, onde se desenvolve uma nova realidade, que são os assentamentos rurais.

Nesses territórios os assentados acreditam a partir de suas experiências, que é

possível construir um novo modelo de educação, onde se pratica uma educação

aberta para o mundo desse campo. Essas experiências estão intimamente ligadas

com a busca da cidadania, onde o papel principal dos movimentos sociais tem sido

fundamental.

Observamos, entretanto que as escolas, os educandos e educadores que

se encontram nelas inseridos, mesmo não sendo objetos passíveis, acabam sendo

envolvidos por Cursos Profissionalizantes do Campo, que atendem aos anseios do

12

mercado e do Estado e que são meramente capitalistas, atendendo as demandas do

agronegócio.

“Os movimentos sociais também são de central importância para compreender a construção de uma esfera pública, como a política educacional, sobretudo no tocante à escola desempenhando um papel fundamental no estabelecimento de uma arena democrática para a deliberação social” (TORRES, 2001, p.18)

A Escola tem que atuar como um espaço social, de construção, de

resistência em busca de uma Educação Profissional do Campo, que possibilite uma

boa formação profissional, atendendo as necessidades dos trabalhadores

camponeses.

Ao fazer uma reflexão sobre os princípios pedagógicos e políticos para uma

Educação Profissional do Campo, é preciso que o povo do campo esteja presente,

com suas especificidades, não deixando de considerar também que fazem parte de

um contexto universal, onde possui como base uma sociedade capitalista

discriminatória e excludente. Sendo assim, fica claro que a fundamentação principal

para a efetivação desse modelo de Educação, está articulada junto aos movimentos

sociais e as demandas desses sujeitos, que buscam melhorias nas políticas públicas

e práticas pedagógicas, avaliando métodos arcaicos da formação para o mercado de

trabalho. Nesse processo o que se busca é a construção de novos paradigmas,

onde o sujeito não atenda apenas as demandas do mercado, mas que se tornem

seres completos nas suas dimensões humanas, culturais e críticos.

Outra condição a que se deve estar atento é a fragmentação do

conhecimento, desvinculando o ensino técnico da educação básica, papel

característico das escolas tecnicistas, que reproduziram historicamente a “educação

bancaria”, classificada por muitos autores entre eles Paulo Freire.

Devemos questionar o modelo de qualificação profissional em que

transforma o sujeito em mero “capital humano”, evitando que ocorra uma divisão

entre o preparo para o mundo do trabalho e para a cidadania.

“No currículo que integra formação geral, técnica e política, o estatuto de conhecimento geral de um conceito está no seu enraizamento nas ciências como leis gerais que explicam fenômenos. Um conceito específico, por sua vez, configura-se pela apropriação de um conceito geral com finalidades restritas a objetos, problemas ou situações de interesse produtivo. A tecnologia, nesses termos, pode ser compreendida como a

13

ciência apropriada com fins produtivos. Em razão disto, no currículo integrado nenhum conhecimento é só geral, posto que estrutura objetivos de produção, nem somente específico, pois nenhum conceito apropriado produtivamente pode ser formulado ou compreendido desarticuladamente da ciência básica.” (RAMOS, 2005, p. 120)

É preciso estar atento para que as novas Políticas Públicas da Educação

Profissional, não estejam voltadas apenas para preparar para o trabalho, mas que

preparem também, para a vida, fazendo dessa forma que realmente ocorra uma

mudança ética, pedagógica e política.

Partindo da concepção política e pedagógica, existem alguns aspectos que

devem ser tratados com ênfase, na Educação Profissional de Jovens e Adultos do

Campo, como: colaborar para a elevação da autoestima de seus educandos, bem

como dos educadores, sendo de grande relevância. Devido ao fato de que as

comunidades camponesas se sentem excluídas culturalmente, permitindo assim

uma superação dos educandos campesinos; a escola precisa arraigar em seus

educandos do campo a valorização de sua memória cultural e sua identidade,

permitindo a realização de trabalhos e projetos a partir de seus vínculos, valorizando

o passado para que sirva de alicerce para o futuro.

2.2 A REAL SITUAÇÃO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO

É preciso perceber que uma simples discussão sobre a educação

profissionalizante de Jovens e Adultos do Campo, não é mais importante que o

debate sobre distribuição de terras, sobre política agrária, sobre relações de

produção no campo. Percebe-se que não poderão existir escolas no campo sem

perspectivas de desenvolvimento, com seu povo sem esperança, buscando sair

dele. Em contrapartida não há como executar um projeto popular de

desenvolvimento do campo, sem que exista paralelamente um projeto de educação

e sem desenvolver a escolarização para todos os povos do campo (ribeirinhos,

assentados, quilombolas, indígenas e pequenos produtores rurais). A escola pode

ser um agente muito importante de formação de consciência das pessoas, para a

própria necessidade de mobilização e organização para lutar por um projeto desse

tipo.

14

Paulo Freire (2005) nos disse em uma das suas reflexões sobre a

pedagogia do oprimido: ”a escola não transforma a realidade, mas pode ajudar a

formar sujeitos capazes de fazer a transformação da sociedade, do mundo, de si

mesmos...” Se não conseguimos envolver a escola no movimento de transformação

do campo, ele será incompleto porque indicará que muitas pessoas ficaram fora

dele.

Sendo assim, precisamos identificar quais são os principais problemas da

educação do campo atualmente. Pode-se dizer que o primeiro entrave para fazer

essa avaliação seria a carência de dados sobre este tema, que já determina a

importância e tratamento que o governo dispensa a essa modalidade de ensino.

A Educação do Campo foi relegada a segundo plano ao longo dos anos,

quase sempre tratada de forma homogeneizada a partir de parâmetros urbanos, no

que se refere a questões de metodologias, conteúdos, currículos e ações

administrativas.

Há uma tendência dominante em nosso país, marcado por exclusões e desigualdades, de considerar a maioria da população que vive no campo como parte atrasada e fora de lugar no almejado projeto de modernidade. No modelo de desenvolvimento, que vê o Brasil apenas como mais um mercado emergente, predominantemente urbano, camponeses, indígenas, quilombolas e ribeirinhos são vistos como espécies em extinção. Nesta lógica, não haveria necessidade de políticas públicas específicas para estas pessoas, a não ser do tipo compensatório á sua própria condição de inferioridade, e/ou diante de pressões sociais. A situação hoje no meio rural retrata bem esta visão. (CALDART, 1998, p. 21)

É eminente reconhecer que a terra é de grande importância para o

homem campesino, atendendo boa parte de suas necessidades, favorecendo a ele

sobreviver com dignidade e compromisso, dessa forma fica explicita a urgência da

efetivação da Educação Profissionalizante do Campo. Os jovens e adultos que

vivem no campo devem colaborar para que ocorra essa mudança, permitindo sua

permanência na terra evitando a migração para as grandes cidades.

O presente estudo evidencia que é preciso uma formação profissional

alicerçada em um modelo de desenvolvimento sustentável do campo que possibilite

a permanência dos (as) jovens no campo. Neste contexto, faz-se necessário uma

educação profissional, que tenha uma abrangência em diversos níveis, que

assegure: elaborar iniciativas diversificadas que transforme a realidade sócio-

humanas das comunidades do campo; educar os (as) jovens agricultores (as),

15

visando o aprimoramento técnico-científico, por meio de uma formação integral;

enunciar a elaboração de uma proposta de educação para o trabalhador do campo

tendo como referência seus valores políticos, econômicos, sociais e culturais;

promover a aquisição de conhecimento práticos e teóricos na agricultura, pesca,

pecuária, em outras culturas e extrativismo, possibilitando o crescimento econômico

e paralelo a isso, utilizar técnicas que promovam a preservação do meio ambiente.

Mesmo assim, um primeiro diagnóstico pode ser delineado a partir de uma

simples observação, mostrando uma série de problemas relevantes tais como:

1- Analfabetismo: Os índices de analfabetismo do Brasil, que já são

bastante elevados, são ainda mais alarmantes na área rural. Segundo o Censo

Demográfico (IBGE,2000), 29,8% da população adulta1da zona rural é analfabeta

enquanto na zona urbana essa taxa é 10,3%%.

2- É importante ressaltar que a taxa de analfabetismo aqui considerada

não inclui os analfabetos funcionais, ou seja, aquela população com menos que as

quatro séries do ensino fundamental.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, 2001)

indicam que aproximadamente 95% das crianças da área rural na faixa etária de 10

a 14 anos encontram-se na escola, entretanto a taxa de distorção idade-série revela

que 50% dos estudantes estão com idade superior à adequada; o que chega a uma

defasagem de até 64,3% no segundo segmento do Ensino Fundamental. Esta

defasagem indica que as trajetórias escolares das crianças do meio rural são

caracterizadas pelas interrupções e reprovações decorrentes na maioria das vezes

do ingresso precoce como mão-de-obra familiar.

16

Tabela 1- Taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais

Brasil e Grandes Regiões-1991/2000

Regiões

Geográficas

Taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais

Brasil e Grandes Regiões-1991/2000

Total

Rural Urbana

1991 2000 1991 2000 1991 2000

Brasil

Norte

Nordeste

Sudeste

Sul

Centro Oeste

19,7

24,3

37,1

11,9

11,9

16,6

13,6

16,3

26,2

8,1

7,7

10,8

0,1

8,2

6,4

8,8

8,2

0,0

9,8

9,9

2,7

9,3

2,5

9,9

13,8

15,5

25,8

9,8

9,7

13,6

0,3

1,2

9,5

7,0

6,5

9,4

Fonte:IBGE/2000

O fato é que ainda existem milhões de pessoas (em algumas áreas chegam

a 90%), que não chegaram nem mesmo a esse direito elementar de acesso à leitura

e à escrita (IBGE,2000). Embora os índices do analfabetismo tenham indicado na

direção de uma queda, isso não tem correspondido às necessidades. Ademais, a

queda no analfabetismo não exime a necessidade de uma reflexão sobre a

implementação de políticas publicas, efetivamente comprometidas com a

alfabetização de jovens e adultos que continuam analfabetos. Surge então a

necessidade de um engajamento político efetivo que se comprometa em alfabetizar

(e pós-alfabetizar) esses jovens e adultos que continuam analfabetos. Para

implementar políticas publicas que fortaleçam a sustentabilidade dos povos do

campo, as referências para uma Política Nacional de Educação do Campo do MEC-

2003, apontam o seguinte:

Os sujeitos devem estar atentos para o fato de existem diferenças de ordem diversa entre os povos do campo. O campo é heterogêneo e muito diverso. Esta heterogeneidade possui duas implicações: a primeira é que não pode se construir uma política de educação idêntica para todos os povos do campo; a segunda, por ser heterogênea deve ser articulada as políticas nacionais e estas devem articularem-se às demandas e às especificidades

17

de cada região, ou de cada espaço ou território que se diferencia dos demais. Isto inverte a relação entre o poder público e os sujeitos. Não cabe nessa vertente, que o poder executivo decida sobre os destinos da comunidade como também não cabem atitudes corporativas de grupos organizados na definição das prioridades. A sustentabilidade do campo exige uma inversão nessa relação, é preciso que as pessoas estejam organizadas; que participem ativamente e pensem no desenvolvimento para além do seu espaço, da sua comunidade próxima, pense localmente partindo também da sua região e da relação dessa região com o desenvolvimento nacional. (MEC, 2003, pp.30-31)

2- Ensino Fundamental: Ainda há muitas crianças e adolescentes que não

tiveram acesso a escola. A nível nacional não constam dados específicos sobre a

exclusão especificamente para o meio rural. Segundo dados do IBGE, são

aproximadamente 2,7 milhões de crianças na faixa de sete e quatorze anos que

estão fora da escola no Brasil. Embora tenha havido um aumento, nos últimos anos

de 5,9 de das matrículas do ensino rural, o mesmo documento afirma que os

maiores índices de crianças fora da escola estão concentrados nos bolsões de

pobreza existentes nas periferias urbanas e nas áreas rurais.

3- Ensino Médio: Estima-se que mais de 50% da população brasileira na

faixa etária própria ao ensino médio (quinze aos dezessete anos), estejam fora da

escola, enquanto 54,3% das matriculas no ensino médio estão na faixa etária acima

de dezessete anos. Por sua vez, a matricula no meio rural representa desde 1991,

apenas 1,1% do total dessas matrículas.

Este estudo monográfico se justifica, sobretudo, pela população que reside

no Assentamento Projeto Maravilha e em propriedades rurais em seu entorno.

Segundo dados do IBGE, em 2006, existiam 31,294 milhões de pessoas vivendo no

campo. No que se refere à escolaridade, enquanto na zona urbana a população de

15 anos ou mais apresenta uma escolaridade média de 7,3 anos, na zona rural esta

média corresponde a 4 anos. Sabe-se que, apesar do aumento do número de

estabelecimentos que oferecem o nível médio nas comunidades rurais verificado

pelos censos escolares realizados pelo Inep/ MEC nos últimos anos (de 679 em

2000 para 1.533 em 2006), sua oferta se encontra ainda longe da universalização,

assim como a oferta dos anos finais do ensino fundamental. Esta situação requer,

além de política de expansão da rede de escolas públicas que ofertem essas etapas

18

da educação básica no campo, a correspondente oferta de trabalho docente com

formação adequada.

Considerando a ausência de escolas que oferecem Ensino Médio, cursos de

Educação Profissional e de especialização no campo, fato que tem levado milhares

de jovens a abandonar o campo ou deixar a educação escolar para distanciar-se da

família ou para contribuir nas atividades produtivas, é que se verifica uma

necessidade iminente de oferecer condições para a participação e responsabilidade

da família no processo educativo, na formação dos filhos e do seu meio de vida e de

oferecer opção profissional específica para o desenvolvimento do campo.

Carneiro (2005) analisando a pesquisa “O perfil da juventude brasileira”2

considera que os dados levantados permitem a informação sobre questões de

extrema importância, embora a referida pesquisa tenha trabalhado com uma

amostra reduzida de jovens rurais (19% do total da população pesquisada – 669

jovens rurais).

Em relação ao trabalho e formação profissional dos jovens a pesquisadora

destaca que 90% dos jovens entrevistados não passaram por nenhum curso de

capacitação e a profissionalização é feita por meio do aprendizado direto na prática;

95% consideram a escola importante para o seu futuro profissional e 80% para

conseguirem um emprego hoje; somente 30% dos jovens residentes no campo e

que trabalham na cidade têm carteira de trabalho assinada; os demais são

assalariados sem registro ou fazem “bico”; dos que trabalham ou trabalharam

(independe do local de residência), 42% ganham meio salário mínimo e 27%

ganham entre meio e um salário mínimo; dos 24% que trabalham no campo, 14%

estão inseridos em estabelecimentos de agricultura familiar, enquanto apenas 8%

são assalariados sem registro e 2% são ajudantes familiares sem remuneração.

Ainda de acordo com a pesquisa de Carneiro (2005), são apresentados

dados de que 24% dos jovens e adultos necessitam de atividades culturais apesar

de ocuparem os fins de semana assistindo TV, ajudando em casa ou encontrando

os amigos; 60% dos jovens rurais declararam ler ou assistir noticiários sobre política;

81% dos jovens rurais nunca participaram de associações ou grupos comunitários.

De acordo com tais informações, fica evidente que para os jovens essa carência de

lazer, transforma o campo em um local sem atrativos, levando-os a querer migrar, ao

mesmo passo que exprimem simultaneamente o desejo de ficar desde que estejam

19

envolvidos em atividades relativas ao campo, mas que permitam seu

reconhecimento enquanto sujeito. As jovens são também tentadas a migrar, na

expectativa de romper com o modelo familiar patriarcal que ainda se encontra muito

arraigado no meio rural, desvalorizando-as enquanto cidadãs que são em seu meio

social.

Tais elementos reforçam a importância e urgência de políticas públicas que

incidam diretamente nessa faixa da população brasileira; os jovens e adultos

campesinos.

“Vivemos em uma sociedade dividida em classes, na qual os privilégios de uns impedem a maioria de usufruir os bens produzidos. Se a vocação humana de ser mais só se concretiza pelo acesso aos bens culturais, é negada na injustiça, na exploração, opressão, na violência dos opressores, mas afirmada no anseio de liberdade, de justiça, de luta dos oprimidos, pela recuperação da humanidade roubada (FREIRE, 2005, p.32)

Sendo assim torna-se obsoleta a relação vertical entre educador e educando

e inicia uma relação dialógica, onde o diálogo se sobrepõe a imposição.

“Desta maneira, o educador já não é o que apenas educa,mas o que enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando, que, ao ser educado, também educa (...). Já agora ninguém educa ninguém, como tão pouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelos objetos cognoscíveis que na prática “bancária“ são possuídos pelo educador, que os descreve ou os deposita nos educandos passivos” (FREIRE, 2005, p.79)

Dessa forma, a escolarização fundamental dos jovens agricultores integrada

à qualificação social e profissional torna-se uma estratégia político-pedagógica para

garantir os direitos educacionais dos povos do campo por meio da criação de

políticas públicas nos sistemas de ensino que sejam estimuladoras da agricultura

familiar e do desenvolvimento sustentável como possibilidades de vida, trabalho e

constituição dos sujeitos cidadãos do campo.

A pesquisa em síntese busca entender que a Educação Profissional, tem

que ser refletida no campo do direito, mas também e principalmente, como uma

exigência para preparar profissionais qualificados e integrados ao campo, com

conhecimento e reconhecimento deste campo como um espaço de possibilidades de

vida e de relações econômicas, sociais, políticas e culturais. A luta do homem do

campo pelo direito, cultura, crença, não pode escapar à curiosidade dos educadores

20

envolvidos na prática da educação rural, que devem estar também preparados para

essa missão.

Um elemento predominantemente pedagógico, que não pode ser

desconsiderado pelos educadores campesinos é o da incorporação da cultura e da

realidade vivencial dos educandos como conteúdo ou ponto de partida da prática

educativa. A trajetória da educação de jovens e adultos do campo no Brasil,

atualmente requer uma reformulação pedagógica, que atenda eficientemente ao seu

público alvo. O público que tem ocorrido aos programas de jovens e adultos é

constituído de pessoas que já passaram pela escola e não foram bem sucedidos.

Esta realidade destaca um grande desafio pedagógico em termos de compromisso e

criatividade que a educação de jovens e adultos campesinos inspiram: como garantir

a esse segmento social que vem sendo marginalizado, não apenas a educação na

escola, mas o direito a todo conjunto dos processos formativos constituídos pela

humanidade, bem como o direito à escola do campo pela qual

lutam,compreendendo desde a educação infantil até a universidade.

Freire (2000) é enfático ao avaliar as políticas, as práticas pedagógicas, as

ideologias e a ética que são aplicadas nos moldes progressistas que eram aplicados

à educação.

“Se as estruturas econômicas, na verdade, me dominam de maneira tão senhorial, se, moldando meu pensar, me fazem objeto dócil de sua força, como explicar a luta política, mas, sobretudo, como fazê-la e em nome de quê? Para mim, em nome da ética, obviamente, não da ética do mercado, mas da ética universal do ser humano, para mim, em nome da necessária transformação da sociedade de que decorra a superação das injustiças desumanizantes. E tudo isso porque, condicionado pelas estruturas econômicas, não sou, porém, por elas determinado. Se não é possível desconhecer, de um lado, que é nas condições materiais da sociedade que se gestam a luta e as transformações políticas, não é possível, de outro, negar a importância fundamental da subjetividade na história (...). Para mim, não é possível falar de subjetividade a não ser se compreendida em sua dialética relação com a objetividade (...). É neste sentido que só falo em subjetividade entre os seres que, inacabados, se tornaram capazes de saber-se inacabados, entre os seres que se fizeram aptos de ir mais além da determinação, reduzida, assim, a condicionamento e que, assumindo-se como objetos, porque condicionados, puderam arriscar-se como sujeitos, porque não determinados. (FREIRE, 2000, p.56-57)

Assim faz-se necessário acirrar as discussões e reflexões acerca, da

estrutura econômica que impera em nosso país, nos deixando a margem de nossa

verdadeira raiz cultural. O homem do campo precisa sonhar e acreditar que faz parte

21

integral do povo brasileiro, de sua existência verdadeira na busca de um futuro

melhor de socialização e equidade junto a seus pares.

2.3 DIRETRIZES PARA A ELABORAÇÃO DE UMA PROPOSTA DE UMA

EDUCAÇÃO PROFISSIONALIZANTE DO CAMPO

Uma das maiores dificuldades da educação no campo hoje é a falta de

políticas públicas que permitam seu desenvolvimento de forma adequada para que

ocorra uma mudança positiva na vida dos que lá trabalham e residem. Lutar por

políticas públicas que atendam a diversidade do campo, não significa estabelecer

uma dicotomia entre o meio rural e o urbano, contrariamente significa respeitar a

diversidade existente entre esses dois meios, possibilitando fortalecer a identidade

cultural que durante muitos anos foi negada a esse grupo social.

“O campo é um lugar de vida, onde as pessoas podem morar, trabalhar e estudar com dignidade de quem tem seu lugar, a sua identidade cultural. O campo não é só o lugar da produção agropecuária e agroindustrial, do latifúndio e da grilagem de terras. O campo é espaço e território dos camponeses e dos quilombolas. É no campo que estão às florestas, onde vivem as diversas nações indígenas. Por tudo isso, o campo é lugar de vida, sobretudo de educação.” (FERNANDES, 2004, P.137)

Segundo Gentili (2002) o mecanismo histórico mais eficaz de descriminação

escolar (a negação do direito à educação aos setores populares impossibilitados de

entrar e permanecer na escola) tem diminuído tendencialmente sua intensidade.

Entretanto nem por isso a exclusão educacional desapareceu ou está a caminho de

desaparecer. Em outras palavras, ao ampliar o acesso e a permanência em um

sistema educacional cuja própria estrutura é segmentada, as possibilidades de

ingresso e egresso do aparelho escolar acabam sendo também inevitavelmente

diferenciadas. Que todos tenham acesso à escola não significa que todos tenham

acesso à escolarização. Para que o processo de escolarização ocorra de fato, é

preciso que as escolas correspondam com as necessidades do educando e respeite

sua individualidade.

Pensar na proposta de uma Educação de Jovens e Adultos

Profissionalizante do Campo significa avaliar a necessidade de políticas públicas

que garantam a permanência do homem no campo, permitindo a revalorização do

22

campo, a implementação da reforma agrária e o desenvolvimento sustentável

regional.

De acordo com essa expectativa, Freire nos ensina o seguinte:

“Sonhar não é apenas um ato político necessário, mas também uma conotação da forma histórico social de estar sendo de mulheres e homens. Faz parte da natureza humana que, dentro da história, se acha em permanente processo de tornar-se. Fazendo-se e refazendo-se no processo da história, como sujeitos e objetos, mulheres e homens, virando seres de inserção no mundo e não pura adaptação ao mundo, terminaram por ter no sonho também um motor da história. Não há mudança sem sonho como não há sonho sem esperança “(FREIRE, 2003, p.91)

A Educação Profissionalizante de Jovens e Adultos passa a ser reconhecida

através do Programa de Integração da Educação Profissional com a Educação

Básica ,Técnica de Nível Médio ao Ensino Médio na Modalidade Educação de

Jovens e Adultos (PROEJA), originário do Decreto n.5478 de 24 de junho de 2005 e

reformulado através do Decreto nº5.840/2006. Esses decretos revelam a decisão

governamental de atender à demanda de jovens e adultos pela oferta da educação

profissional técnica da qual, em geral, são excluídos.

Explicita Paiva (2006) que a ampliação na modalidade de EJA do Ensino

Fundamental para o Ensino Médio Profissionalizante não é um presente do governo.

É apenas um ponto de chegada. Ponto esse: “[...] fruto da luta social organizada, da

qual os Fóruns de EJA vêm assumindo estreita responsabilidade” (op. cit., p. 22).

A implantação do PROEJA provoca um duplo desafio. Primeiro, o

enfretamento da descontinuidade que é a marca registrada da EJA e, o segundo é

porque abre espaço para a interlocução entre a Educação Profissional de Jovens e

Adultos e a Educação Básica, Ensino Médio e a profissionalização. No campo da

EJA, essas são categorias que dialogam ainda de forma muito tímida, nas poucas

iniciativas que existem no nosso país, como bem afirma Moura (2006 b, p. 44.): Além

da implantação do PROEJA, surge também a necessidade da formação dos

profissionais da educação, que atenda os objetivos dos diferentes níveis e

modalidades de ensino, sendo assim contemplados os professores da EJA, com a

realização de cursos de pós-graduação lato sensu em diversos estados.

Para Machado (2006) espera-se que os docentes desses cursos sejam

formados para cooperar na construção desse novo campo conceitual, pois esse

espaço de sala de aula, que é fundamental, está também, sendo aproveitadas para

23

a discussão coletiva dos problemas, dificuldades, socialização das soluções e

alternativas que possam ser encontradas; e as instruções para apresentação de

Projetos do Programa de Apoio ao Ensino e à Pesquisa Científica e Tecnológica em

Educação Profissional Integrada à Educação de Jovens e Adultos – PROEJA-

CAPES/SETEC, por meio do Edital nº 03/2006, que dentre os objetivos pretendidos,

ressaltamos a formação de recursos humanos pós-graduados (strictu sensu) em

educação profissional integrada a educação de jovens e adultos, contribuindo para

desenvolver e consolidar o pensamento brasileiro na área, em foco.

Pimenta (2002) argumenta que, apesar das profundas transformações que

ocorreram, e estão ocorrendo e ocorrerão, nas políticas educacionais e na opinião

de muitas pessoas, o professor é e sempre será a peça fundamental na

aprendizagem, de forma específica, e no desenvolvimento da sociedade de forma

geral. Para isso é necessário que ele seja bem formado e esteja em constante

formação. Razão pela qual a formação inicial e continuada deve ser compreendida

não como custo/despesa, mas deve ser entendida como investimento pessoal,

profissional, institucional, público, político, social e econômico. Portanto,

investimento que deve ter a participação de todos, pois os benefícios são extensivos

a todos os participantes do processo.

Demo (2002) ressalta ser importante afirmar que é direito do professor e

dever do estado proporcionar as condições favoráveis de formação completa,

apropriada para enfrentar os grandes desafios de uma sociedade em constantes e

profundas transformações.

O Plano Nacional dos Profissionais apresenta ações para o ensino superior

que já estão em andamento, cursos esses que são: Curso de Especialização em

Desenvolvimento Territorial Sustentável, com a Universidade Federal de Campina

Grande; Cursos de Licenciatura em Educação do Campo, envolvendo universidades

públicas federais, para realização de experiências-piloto; Curso à distância,

realizado em parceria com a Universidade de Brasília, destinado a professores,

técnicos e gestores dos sistemas públicos de ensino e sociedade civil organizada,

voltado para a temática da diversidade na educação. Observa-se que já surge um

novo delinear de mudança nessa realidade e que atendendo aos anseios desses

Jovens e Adultos da Zona Rural, começa a surgir a construção de políticas voltadas

para a realidade dos povos do campo, através de Programas do Governo Federal,

24

como o Programa Saberes da Terra: Programa Nacional de Educação de

Jovens e Adultos para Agricultores/as Familiares integrada com Qualificação

Social e Profissional.

O Programa Saberes da Terra visa atender a nível federal, associado às

esferas estaduais, municipais, não governamentais e aos movimentos sociais, que já

possuam uma trajetória na busca da qualificação profissional e social desses jovens

e adultos.

Tal programa visa atender a jovens e adultos na faixa etária entre 15 e 29

anos, dado que corresponde a realidade encontrada na Escola Municipal Gilberto

Pereira Abade, e efetivar a elevação da escolaridade e qualificação profissional

integrando conhecimentos de formação geral e conhecimentos profissionais.

A qualificação profissional tem que ser vista não apenas, como uma

qualificação meramente voltada para o trabalho, mas como fator de interseção entre

trabalho, desenvolvimento e crescimento social.

Esse programa tem a finalidade de promover a qualificação e

profissionalização do educando morador do campo, assegurado por lei de acordo

com suas especificidades, a Lei nº9394/96 garante em seu Art.28 que:

Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias a sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II - organização escolar própria incluindo a adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; III - adequação ao trabalho na zona rural;

O caráter profissionalizante do programa de EJA para jovens e adultos

agricultores/as familiares de que trata este projeto é assegurado legalmente com os

seguintes Artigos da LDBEN Lei nº 9394/96:

Art. 39º. A educação profissional, integrada às diferentes forma de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. Parágrafo único. O aluno matriculado ou egresso do ensino fundamental, médio e superior, bem como o trabalhador em geral, jovem ou adulto, contará com a possibilidade de acesso à educação profissional. Art. 40º. A educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho.

25

Art. 41º. O conhecimento adquirido na educação profissional, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos.

Dessa, forma fica claro que é direito assegurado dos jovens e adultos a

oportunidade de dar continuidade, a sua escolaridade sem que ocorra a sua

erradicação do campo.

26

CAPITULO III

3. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

POJETO DE INTERVENÇÃO EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DO

CAMPO EM EUNÁPOLIS (ASSENTAMENTO - PROJETO MARAVILHA)

O presente projeto de intervenção foi desenvolvido na Escola Municipal

Gilberto Pereira Abade, localizada na Zona Rural do município de Eunápolis no

Assentamento Projeto Maravilha; A escola é de médio porte, e atende a educandos

moradores do assentamento e de propriedades agrícolas vizinhas.

A amostragem foi realizada em turmas de 5ª/6ª e 7ª/8ª da EJA do Ensino

Fundamental no noturno, com os educandos e com as professoras que atuam

nessas turmas. Após a coleta de dados, foi feita a análise do material coletado,

seguindo-se a interpretação dos resultados.

Com os educandos, e educadores objeto do projeto foi realizada uma

entrevista escrita através de questionário específico composto por questões abertas

e fechadas. (Anexo 1 e 2)

3.1 OBJETIVO

Promover capacitação em serviço para os docentes que atuam diretamente

com alunos de Educação de Jovens e Adultos do Campo.

3.2 RESULTADOS DAS ENTREVISTAS COM OS DOCENTES

Foram entrevistados 04(quatro) docentes do sexo feminino, que atuam nas

turmas da EJA 5ª/6ªe 7ª/8ª no noturno, das professoras entrevistadas sobre sua

formação profissional, apenas uma é graduada (Pedagogia) estando às outras estão

em processo de graduação, com a faixa etária entre 27 e 45 anos, a média de tempo

trabalhando com EJA do Campo é de 2 anos.

27

Em relação aos trabalhos desenvolvidos pelas professoras nas classes de

EJA do Campo, observou-se que as mesmas, não receberam nenhum tipo de

capacitação em serviço, para atuarem nessa modalidade de ensino. Quando

questionadas sobre as dificuldades encontradas em sua prática profissional na Zona

Rural, todas foram enfáticas respondendo que encontram muita dificuldade no

transporte (todas moram na Zona Urbana) que é fornecido pela Secretaria Municipal

de Educação (van), devido à falta de manutenção e de combustível. Três

professoras, disseram também que sentem muita dificuldade por não possuir

material didático adequado para esta modalidade ensino e por falta de curso de

capacitação.

As docentes quando questionadas em relação a sua identificação e

entendimento sobre a realidade campesina, mostraram-se com conhecimento

bastante restrito, informando que são pessoas diretamente ligadas ao meio urbano e

que não desenvolviam em sala, aulas contextualizadas de acordo com a realidade

dos educandos ali presente.

Dessa forma contradizem a teoria de Paulo Freire, que diz: ”o educando é

sujeito do seu próprio conhecimento, interagindo com o professor e os colegas,

provocando assim uma mudança de comportamento, tornando-se um cidadão

participativo e consciente na transformação de sua realidade social”.

“Os professores ocupam na escola uma posição fundamental em relação ao conjunto dos agentes escolares: Em suma, é sobre o ombro deles que repousa, no fim das contas, a missão educativa da escola. Nesse sentido, interessar-se pelos saberes e pelas subjetividades deles é tentar penetrar no próprio cerne do processo de escolarização, tal como ele se realiza a partir do trabalho cotidiano dos professores em interação com os alunos e com os outros atores educacionais” (TARDIFF,2002, p. 13).

Pode ser observado, também através da pesquisa que os educadores

acham que o calendário escolar não atende a realidade campesina, devendo ter um

número maior de aulas e que eles precisam de disciplinas específicas para o campo

e de aulas práticas.

28

3.3 ENTREVISTAS COM OS EDUCANDOS

As entrevistas foram realizadas em duas turmas de EJA no noturno, uma de

5ª/6ª serie com 34 (trinta e quatro alunos e outra turma de 7ª/8ª série com 29 (vinte

e nove), dos quais 10 educandos de cada turma foram entrevistados.

Observamos que os educandos da EJA do campo são pessoas que

possuem identidade e referência com a terra, cujas atividades profissionais estão

voltadas para a área agrosilvopastoril e alguns do sexo feminino como donas de

casa, mas paralelamente desenvolvendo alguma atividade agrícola.

Alguns desses educandos, não tiveram a oportunidade de estudar quando

crianças e agora, depois de adultos decidiram entrar na escola, outros iniciaram

seus estudos, porém não deram continuidade devido às dificuldades, como a

necessidade de trabalhar para ajudar no sustento da família, ou então dificuldade de

acesso a escola na zona rural. São diversas as razões que os levaram a retornarem

à escola, entre elas podemos destacar:

À vontade e a necessidade de aprender, na expectativa de melhorar sua

autoestima; a necessidade de qualificação profissional, pois procuram melhores e

maiores oportunidades de trabalho e inserção social no seu cotidiano no campo,

identificando a escola como espaço de aprendizagem e socialização.

Uma questão relevante é a situação sócio-econômica desses educandos,

que precisam trabalhar para garantir seu sustento, ocasionando cansaço físico fator

que também leva ao desestimulo. São Jovens e Adultos na faixa etária entre 15 e 35

anos (turma heterogênea) e que acreditam que quanto maior for à escolaridade,

maiores serão as possibilidades de melhoria de vida: Muitos afirmaram que

gostariam de continuar os estudos, fazer cursos profissionalizantes e que disciplinas

voltadas para a lida no campo poderiam contribuir para a melhoria dos trabalhos que

desenvolvem.

29

3.4 ANÁLISES DAS ENTREVISTAS E INTERVENÇÂO

Após análise e reflexão sobre os dados obtidos na pesquisa, entende-se que

as práticas educativas da Educação Fundamental de Jovens e Adultos do Campo,

não atendem as perspectivas dos profissionais que atuam nesse segmento, pois

eles não foram preparados para desenvolver tais atividades: Paralelamente estão os

educandos em salas de aulas que não podem ser consideradas favoráveis ao

aprendizado, com material didático inadequado, e aulas totalmente

descontextualizadas do seu cotidiano.

A proposta para a melhoria da qualidade do ensino foi de aplicação de

capacitação em serviço para os docentes durante o ano de 2015 em seis encontros

divididos nos dois semestres, essas capacitações estavam voltadas exclusivamente

para a Zona Rural e associada ao tipo de atividade profissional que os educandos

desenvolvem, considerando sua cultura e sua ligação com a terra, respeitando a

diversidade cultural.

Portanto, o importante não é transmitir conhecimentos generalizados fora do

contexto social do educando, mas despertar uma nova forma de relação com a

experiência vivida. Sendo assim, se torna muito importante conhecer o aluno,

enquanto sujeito inserido em seu meio social.

3.5 METODOLOGIA

A capacitação em serviço foi toda organizada e orientada por mim, através

de diversas atividades como mesa redonda, com convidados ligados a luta pela terra

e a educação do campo, palestras com especialistas da região de forma voluntária e

rodas de conversar com lideranças da comunidade, professores e alunos, afim de

oportunizar os docentes um contato com a visão crítica que envolvem a educação

do campo.

30

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer da pesquisa, fica clara a necessidade de comprovar a

implementação imediata da Educação Fundamental Profissionalizante de Jovens e

Adultos do Campo, isso vai se configurando a medida que os Jovens e Adultos do

Campo reconhecem a importância da luta para sua formação, no que se refere a sua

valorização e que há uma carência de Políticas Públicas, para os jovens e adultos

campesinos, por parte das instituições.

Na busca pela sua identificação e permanência na terra, com suas heranças

culturais, seus aprendizados, nesse processo vão surgindo novos sujeitos, que são

produzidos através de sua luta em busca do reconhecimento de que são capazes de

produzir riquezas e conhecimentos.

É preciso suscitar as demandas desse publico assegurando uma educação

que corresponda a sua realidade, a de sujeito do campo, fazendo-os elevar sua

autoestima e a valorizar a sua condição socioeconômica.

"Ensinar não é transferir conhecimento, conteúdos, nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso ou acomodado (...). Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender" FREIRE (199O. p.26)

Cada aspecto mencionado implica em respeitar o conhecimento e o saber

do sujeito, é um processo desafiador e mostra que o espaço de educação não é

exclusivamente, o espaço da escola e sim onde o educando vive, em seu trabalho,

sua religião, ou seja, nos espaços onde ele se reúne e produz e reproduz o saber.

Sendo assim consideramos que a Educação é um processo que perpassa por toda a

vida, influindo diretamente na socialização e humanização do sujeito.

A escola rural que existe hoje se configura como um modelo antiquado, que

impõe uma realidade capitalista de produção e de sociedade, que se fundamenta na

divisão campo/cidade e na exploração da força de trabalho. É preciso mudar esse

comportamento, e criar novos métodos que atendam a essa realidade.

As mudanças começam a ocorrer de forma lenta, à medida que os

movimentos sociais buscam e lutam por elas e que o governo começa a investir e

criar políticas públicas que contemplam o povo do campo.

31

Uma obrigação de caráter social a ser cumprida em sua integra hoje, é

possibilitar a permanência na escola a todos, em qualquer faixa etária e assim se

torna necessário a implantação de serviços educativos de natureza pública

destinados a educação de jovens e adultos de forma ampla.

A Educação Fundamental de Jovens e Adultos do Campo é aquela que

possibilita ao educando sua elevação de escolaridade e concomitante a ela sua

qualificação profissional, permitindo sua permanência e referência junto a terra,

desenvolvendo modelos de existência sustentável.

Para assegurar suas especificidades, não podemos esquecer que o

educando do campo é fundamentalmente um trabalhador que está sujeito a

situações diferenciadas de trabalho, mudanças de turno de trabalho, cansaço,

períodos de atividades agrícolas e etc.

De acordo com tais informações, fica claro que a escola pública do campo

no Município de Eunápolis, precisa adequar-se consideravelmente para atender a

esses jovens e adultos campesinos. Por isso precisa preparar-se para facilitar o

acesso e a permanência destes educandos como: estruturas adequadas,

conformidade do calendário escolar, projeto político pedagógico que inclua a EJA

profissionalizante e uma proposta curricular que considere referencias teóricas e

práticas. Além disso,o mais importante é que haja vontade política e disposição das

direções das escolas, das autoridades de ensino com poder de decisão e de todas

as pessoas envolvidas no processo político pedagógico educacional.

É preciso incentivá-los a freqüentar a escola onde encontre no aprendizado

um caminho prazeroso e natural para o domínio do conhecimento profissional.

Um entrave detectado refere-se aos educadores, pois foi comprovado que o

educador que tem referencia com o campo ou preparo para lidar com as questões

campesinas, facilita muito a educação de jovens e adultos do campo. Sabe-se que

nem sempre isso é possível, tanto no município de Eunápolis, como em qualquer

outro. Desta forma cabe ao professor reconhecer as condições culturais e sociais de

seus educandos, estabelecendo um vínculo de comunicação entre o saber técnico e

o saber empírico (saber popular) e oportunizar aos jovens e adultos atividades que

os conduzam à aquisição do saber.

De acordo com o embasamento teórico adquirido durante o estudo para a

realização deste projeto de intervenção e a pesquisa de campo, observou-se grande

32

disparidade entre teoria e prática, ou seja, alguns professores não dispõem de

material específico para a educação do campo e trabalham com os educandos

campesinos, como se os mesmos fossem da zona urbana, não levando em

consideração de que esse educando necessita da aplicação imediata do que

aprendeu na sua vida prática, que é o trabalho. Percebe-se com isso que a

educação de jovens e adultos do campo no município de Eunápolis precisa de uma

mudança, principalmente em relação aos profissionais que atuam nessa modalidade

de ensino.

Partindo dessas reflexões, algumas considerações devem ser previstas no

sentido de: indicar que sejam feitas capacitações regulares para os professores

atuantes nas turmas da EJA do Campo, onde os mesmos possam reavaliar sua

prática e criar estratégias para modificar essa prática descontextualizada; aplicação

por parte do município subsidiando materiais didáticos com o objetivo de favorecer

ambientes estimuladores e adequados na aquisição do conhecimento profissional

com ênfase na agricultura familiar, possibilitando o desenvolvimento sustentável

regional; integram com os jovens e adultos agricultores familiares e a instituição de

ensino em dar credibilidade à atuação dos educadores no sentido de mudança de

suas práticas pedagógicas, permitindo a permanecia desses educandos no campo;

e programar políticas públicas que favoreçam a educação, o trabalho e a

qualificação profissional como direito dos povos do campo.

33

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ANEXOS

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ANEXO I

QUESTIONÁRIO PARA OS ALUNOS

1º) Qual o seu sexo? ( ) Masculino ( ) Feminino 2º) Qual dessa faixa etária você se enquadra? ( ) 18 a 25 ( ) 26 a 50 ( ) > 50 3º) Qual o seu estado civil? ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Separado/divorciado ( ) Outros 4º) Qual a sua série? ( ) 5º/6º ( ) 7º/8º 5º) Você é casado? ( ) Sim ( ) Não 6º) Quantidade de filhos? ( ) 0 ( ) 1 ou 2 ( ) 3 ou 4 ( ) 5 ou mais 6º) Você trabalha como assalariado? ( ) Sim( ) Não 7º Você trabalha na sua unidade familiar? ( ) Sim ( ) Não 8º) Você tem incentivo da sua família para estudar? ( ) Sim ( ) Não 9º) Você gosta de estudar? ( ) Sim ( ) Não 10º) Até onde você deseja ir com seus estudos? ( ) Concluir o ensino fundamental ( ) Concluir apenas o médio ( ) Fazer faculdade ( ) Fazer pós-graduação 11º) Como está sendo sua aprendizagem? ( ) regular ( ) boa

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( ) ótima 12º) Por qual motivo você teve que parar de estudar?

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ANEXO II

QUESTIONÁRIO PARA PROFESSORES 1º) Há quanto tempo você trabalha nesta escola? 2º) Qual a sua formação? ( ) Ensino médio ( )Ensino Superior Outro_____________________ 3º) Qual a sua idade? 4º) Você mora na comunidade? 5º) O material didático é apropriado para a realidade da comunidade? 6º) Há muitas faltas de alunos no período da colheita e do plantio? 7º) O Calendário é diferente do da zona urbana? 8º) Os estudantes estão motivados a aprender ( ) Sim ( ) Não 9º) Você participa de cursos de qualificação e aprimoramento Profissional? ( ) Sim ( ) Não 10º) Qual curso você tem interesse em participar? 11º) Você se sente valorizado (a) na sua profissão?