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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA NACIONAL ESCOLA DE GESTORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PÚBLICA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA CECOP 3 DULCIMEIRE MARQUES DE ALMEIDA AVALIAÇÃO EDUCACIONAL NAS CLASSES MULTISSERIADAS Salvador 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA NACIONAL ESCOLA DE GESTORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PÚBLICA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA – CECOP 3

DULCIMEIRE MARQUES DE ALMEIDA

AVALIAÇÃO EDUCACIONAL NAS CLASSES MULTISSERIADAS

Salvador 2015

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DULCIMEIRE MARQUES DE ALMEIDA

AVALIAÇÃO EDUCACIONAL NAS CLASSES MULTISSERIADAS

Projeto Vivencial apresentado ao Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica Pública, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, como requisito para a obtenção do grau de Especialista em Coordenação Pedagógica. Orientador: Prof. Neire Goes Ribeiro Bride

Salvador 2015

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DULCIMEIRE MARQUES DE ALMEIDA

AVALIAÇÃO EDUCACIONAL NAS CLASSES MULTISSERIADAS

Projeto Vivencial apresentado como requisito para a obtenção do grau de Especialista em Coordenação Pedagógica pelo Programa Nacional Escola de Gestores, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia.

Aprovado em janeiro de 2016.

Banca Examinadora

Primeiro Avaliador. ____________________________________________________ Segundo Avaliador. ___________________________________________________ Terceiro Avaliador. ____________________________________________________

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AGRADECIMENTOS

A Deus, criador do Universo,por me presentear com mais uma conquista.

Aos meus familiares, pelo apoio nas horas que mais precisei . A todos, meu muito

obrigado por tudo.

A minha orientadora, Prof.ª. Neire Goes Ribeiro Bride, pela compreensão, paciência

e competência ao me auxiliar durante todo este trabalho.

À Faculdade de Educação da UFBA e ao Programa Escola de Gestores, pela

parceria que veio me proporcionar esta oportunidade de crescimento profissional e

pessoal, beneficiando muitos Coordenadores Pedagógicos, como eu, a realizar seus

sonhos.

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“A avaliação é a reflexão transformada em ação, não podendo

ser estática nem ter caráter sensitivo e classificatório”.

Jussara Hoffmann.

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ALMEIDA, Dulcimeire. AVALIAÇÃO EDUCACIONAL NAS CLASSES

MULTISSERIADAS. 2015. Projeto Vivencial (Especialização) – Programa

Nacional Escola de Gestores, Faculdade de Educação, Universidade Federal da

Bahia, Salvador, 2015.

RESUMO

A presente pesquisa investiga sobre a avaliação educacional nas classes multisseriadas, considerando que muitos profissionais ainda avaliam somente com métodos quantitativos, tendo a nota como fator relevante e não o processo de aprendizagem. A avaliação é um processo que deve direcionar toda a atividade pedagógica do professor e da escola. Assim sendo, nota-se que é preciso refletir sobre a forma de avaliação que está sendo empregada nas escolas multisseriadas. Para tanto, o estudo baseou-se em teóricos da avaliação e noutros que discutem o ensino nas classes multisseriadas, sendo decisiva a aplicação de questionários aos profissionais da UE investigada, cujas respostas obtidas confirmaram que a maioria dos professores ainda não veem a avaliação como um processo e a utilizam no formato tradicional. Concluiu-se que para a avaliação acontecer plenamente é preciso compreender o aprendizado do aluno, interpretar seus erros e acertos e utilizá-los no redimensionamento de seus planejamentos, modificando, assim, a sua pratica pedagógica. Palavras-chave: Avaliação tradicional, Avaliação qualitativa e Classe multisseriada.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 Sentidos da avaliação para 2 dos 5 professores da Escola XXXX... 32

Gráfico 2 Sentidos da avaliação para 3 dos 5 professores da Escola XXXX... 34

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CECOP Curso de Especialização em Coordenação Pedagógica

EJA

FUNDEB

Educação de Jovens e Adultos

Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais da Educação

LDB

MEC

Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Ministério da Educação e Cultura

PACTO Programa Alfabetização na Idade Certa

PCNs Paramentos Curriculares Nacionais

PDDE Programa Dinheiro Direto na Escola

PNAIC

PNE

Programa Nacional Pela Alfabetização Na Idade Certa

Plano Nacional de Educação

PPP Projeto Político Pedagógico

PROFA Programa de Formação de Professores Alfabetizadores

UE Unidade Escolar

UFBA Universidade Federal da Bahia

UNEB Universidade do Estado da Bahia

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................... 09

1 MEMORIAL............................................................................................... 11

1.1 VIDA ACADÊMICA E VIDA PROFISSIONAL............................................ 11

1.2 EXPECTATIVAS........................................................................................ 15

2 REVISÃO DE LITERATURA: REALIDADE DAS CLASSES

MULTISSERIADAS EM ESCOLAS DO CAMPO AS FORMAS DE

AVALIAÇÃO NELAS ADOTADAS...........................................................

15

3 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO............................................................. 24

3.1 INSTRUMENTOS UTILIZADOS NO ESTUDO DO PROCESSO

AVALIATIVO DA ESCOLA XXXX..............................................................

24

3.1.1 RETRATANDO A ESCOLA XXXX: ESTRUTURA FÍSICA E PRÁTICAS

PEDAGÓGIAS...........................................................................................

26

3.1.2 APLICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE PESQUISA: COLETA DE

DADOS......................................................................................................

28

3.1.3 ANÁLISE DE DADOS: EXAMINANADO PARA INTERVIR ...................... 28

3.2 MODIFICANDO A PRÁTICA PEDAGÓDICA: MÃOS À OBRA................. 33

4 CRONOGAMA: AÇÕES PLANEJADAS ................................................. 34

CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 35

REFERÊNCIAS......................................................................................... 36

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INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso teve a finalidade de

compreender a avaliação educacional nas classes multisseriadas. Esta investigação

surgiu da necessidade de perceber como os professores das escolas do campo, que

trabalham simultaneamente com alunos de vários anos, fazem a avaliação com

estes alunos.

Avaliar não consiste somente em aplicar provas e notas para classificar os

alunos. Este é um processo que está para além disso, deve ocorrer de forma

contínua e progressiva, buscando compreender as facilidades e dificuldades de

assimilação dos conteúdos por parte dos discentes e dos docentes, avaliar a sua

prática, para possíveis intervenções. O professor deve ter a clareza de que quando

avalia o aluno, também está avaliando o seu trabalho. No entanto, sabe-se que

muitos professores ainda têm enraizada a ideia da avaliação classificatória,

modalidade avaliativa que sintetiza as aprendizagens dos alunos, tendo por base

critérios gerais como verificar e rotular.

Por assim ser, emergiu a necessidade de estruturar um trabalho em que fosse

possível entender o processo utilizado pelos professores, acerca da avaliação

escolar, para então, criar condições de ajudá-los a entender o processo avaliativo

nas classes multisseriadas e ainda auxiliá-lo na implementação de um modelo de

avaliação que prime pela qualidade, na escola pesquisada, neste caso, a Escola

XXXX, uma escola sediada no meio rural, com turmas multisseriadas.

Pelo fato de trabalhar nessa escola do campo e conviver cotidianamente com

os profissionais que ali atuam, sinto a necessidade de aprofundar sobre o processo

avaliativo recorrente, uma vez é fundamental para o processo ensino/aprendizagem.

Para tanto, serão analisados, cuidadosamente, com esse trabalho, quais seriam os

processos avaliativos pertinentes que venham atender as necessidades dos alunos

do campo. Uma vez que a educação é direito de todos, torna-se necessário

percebê-la nos vários espaços em que acontece e possibilitar os meios para que se

efetive da melhor forma possível e atinge o objetivo previsto: a aprendizagem,

proporcionando uma educação de qualidade para todos.

Para tanto, o foco está na avaliação qualitativa, pois esta visa observar o

caminho da aprendizagem em que o aluno evolui. , o que construiu em um

determinado tempo, para que o professor possa dar continuidade no seu trabalho

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alterando, diversificando ou não, o seu fazer pedagógico. Desse modo, a avaliação

deve ter um caráter diagnóstico e processual, é preciso saber quais as conquistas e

as dificuldades dos alunos para organizar e planejar o trabalho a ser feito. Esse

mapeamento, portanto, é entendido como a essência do processo de ensino e não

como o final, devendo acontecer a todo o momento e não apenas no final de

períodos escolares, para com isso acolher e não exclui. Assim como defende

Luckesi (2002), o processo de avaliação da aprendizagem deve ser um ato

amoroso, no sentido de que a avaliação, por si só, é um ato de acolhimento, que

integra e inclui.

No desenvolvimento desse trabalho trago primeiro um memorial, onde me

apresento e falo um pouco de minha vida acadêmica, profissional e expectativas

traçando a trajetória profissional como professora e coordenadora pedagógica. Em

seguida, trago o referencial teórico, no qual me embasei para escrita do presente

trabalho com autores como: Cipriano Luckesi, Hoffmann, Netto e Stacanela. Logo na

sequência, vem o projeto de intervenção, o qual foi desenvolvido diante do estudo

realizado e que pretendia alcançar os objetivos que nortearam todo esse trabalho,

os quais foram: Ajudar os professores a entender o processo avaliativo nas escolas

multisseriadas e auxilia-los a implementar um modelo de avaliação qualitativa nas

escolas do campo.

A pesquisa deu-se no campo qualitativo, através da pesquisa bibliográfica,

bem como da pesquisa de campo, com observação in loco, e ainda entrevista

semiestruturada, buscando lançar um olhar crítico sobre o processo avaliativo

ministrado pelo docente, e ainda compreender seu conhecimento acerca desta

avaliação. Em seguida fora realizada a análise da pesquisa e feitas as conclusões,

as quais deram suporte à execução da Proposta de Intervenção.

Assim, a presente proposta de intervenção, como parte inerente desta

pesquisa, aspira atender aos anseios que os professores têm em compreender

como se dá o processo de avaliação, ponderando sobre os seus objetivos e sua a

finalidade no processo de aprendizagem, que é a de prover informações sobre o

processo pedagógico. Essa informações permitem aos docentes definir sobre as

interferências e as modificações necessárias no planejamento das ações educativas.

Dessa forma, estaremos garantido que a aprendizagem do aluno aconteça de forma

democrática, uma vez que ele deve ser percebido como ser social e político que é

capaz de pensar criticamente acerca de seus atos.

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1. MEMORIAL

1.1 VIDA ACADÊMICA E VIDA PROFISSIONAL

Eu, Dulcimeire Marques de Almeida, propus-me a escrever esse Memorial

para apresentá-lo à Universidade Federal da Bahia – UFBA, ao Curso de Pós-

Graduação Lato Sensu em Coordenação Pedagógica – CECOP 3, sob a orientação

da professora Neire Goes Ribeiro Brinde, orientadora do componente curricular

TCC/PV.

Venho de uma família de três irmãos (dois homens e eu, a única mulher),

sendo que sou a caçula. Meu pai era lavrador e minha mãe quando ainda era

solteira trabalhou muito tempo como professora leiga em escolas do campo, mesmo

com tão pouca escolaridade, eles sempre se preocuparam em nos dar uma boa

educação.

Comecei a estudar cedo, com quatro anos de idade, na Escola Estadual José

Azevedo, hoje Escola Municipal de Bom Jardim, localizada na zona rural do

município de Érico Cardoso. Lembro-me bem dos meus primeiros dias de aula,

apesar do desejo de estudar, na hora de ir para a escola, eu senti medo e chorei

muito, mas minha mãe ameaçou me bater, então eu fui, e isso deve ter durado a

primeira semana, depois me acostumei, passando a gostar muito da escola e

também da professora. Seu nome é Elza, hoje colega de profissão e vizinha na

comunidade onde moramos, minha professora durante todo o antigo curso primário.

Tempos difíceis aqueles, a turma era multisseriada, e os recursos didáticos

eram escassos. Comecei pelo "ABC", mas como já tinha uma base de casa, estando

quase alfabetizada, passaram-me para a CARTILHA e logo em seguida para a 1ª

série. Foi na 1ª série que sentir brotar o gosto pela leitura, através do livro didático

com o texto “O banho do gatinho”. Texto esse que lia e relia várias vezes e

recontava para todos os familiares e amigos.

Modéstia à parte, eu era considerada a melhor aluna da classe até o final da

2ª série, quando veio o falecimento do meu pai e comecei a desligar-me da escola,

só pensava na falta que ele fazia. Isso durou mais de um ano para então superar e

voltar a dedicar novamente aos estudos.

Superado essa fase, concluí o primário nessa escola rural e multisseriada.

Iniciei então o Ensino Fundamental 2, já com a certeza de qual profissão queria

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seguir: a de professora. Apesar do Magistério ser o único curso disponível no

município, coincidentemente era o que eu queria para a minha vida. E eu o fiz.

Ingressei-me na então 5ª série, no ano de 1993, no então Colégio Cenecista

de Água Quente, nessa época era uma instituição particular. Dois anos após,

passou a ser público estadual, com o nome de Colégio Estadual Antônio Carlos

Magalhães. Sempre muito dedicada, era uma das melhores alunas da classe. No

final de 1999, concluí o Magistério, ficando até inicio de 2002 aguardando uma vaga

para poder trabalhar, na tão sonhada sala de aula. Nesse período, trabalhei com

alfabetização de Jovens e adultos nos programas: Alfabetização Solidária e Aja

Bahia, atuando nesses projetos, compreendi a satisfação e realização pessoal e

profissional que trabalhar na educação nos trás. Gostava muito de estar ali

trabalhando com aquelas pessoas, ajudando-as a resgatar a auto estima e a

vontade em aprender. Muitas delas tinham por objetivo realizar o sonho de

conseguir ler, outras queriam somente aprender a escrever o próprio nome. Nessa

fase sei que contribui para a formação de muitas delas.

Já no início de 2002 fui convidada para trabalhar no ensino regular, com uma

turminha de classe multisseriada com alunos da Pré-Escola a 2ª série,

coincidentemente, naquela que foi a primeira escola onde estudei. Nesse mesmo

ano começou em nosso município de Érico Cardoso o Programa de Formação de

Professores Alfabetizadores (PROFA). Aquele foi um curso decisivo para eu

começar a entender sobre o processo pelo qual passa uma criança na face da

Alfabetização. Foi naquela ocasião que tive meus primeiros contatos com as teorias

e concepções de autores conceituados como Paulo Freire, Rubens Alves, Telma

Weisz, Emília Ferreiro, Antônio Zabala, e também passei a conhecer os Parâmetros

Curriculares Nacional (PCNs). A cada dia que passava, crescia em mim a certeza de

estar na profissão certa, fazendo o que realmente gostava, que era alfabetizar

crianças. Mas aquele curso também despertou em mim vontade e necessidade de

estudar mais, ou seja, a vontade de me especializar. Logo em 2003, veio para o

nosso município a Rede UNEB 2000, essa era a chance que eu esperava para

realizar meu sonho, que era cursar Pedagogia e aumentar meu leque de

conhecimento sobre a área que já atuava. Foi, sem dúvidas, uma experiência

maravilhosa, pois além de muitas amizades, consegui alcançar boas notas e o

principal, novos conhecimentos e informações que fizeram com que eu crescesse e

muito como pessoa e como educadora. O Estágio Supervisionado era feito em

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nossa própria sala de aula, o chamado laboratório. A professora de estágio e demais

professores do Curso gostavam muito de acompanhar minhas aulas, diziam que eu

era dinâmica e criativa. Mas, nessa época, já carregava comigo uma dúvida: como

avaliar meus alunos? Como elaborar um instrumento de avaliação que fosse justo

com meus alunos, considerando a heterogeneidade? Mas na verdade, confesso que

não consegui respostas para essas dúvidas durante o curso de graduação.

Minha formatura foi no dia 17 de junho de 2007. Essa foi uma grande vitória,

afinal era isso que eu queria, esforcei-me bastante, estudei com dedicação até

realizar esse sonho. Após a conclusão do curso, continuei em minha sala de aula,

na zona rural, ainda com uma classe multisseriada. Nos encontros de planejamentos

e estudos, sempre questionava a minha coordenadora sobre avaliação, levantando

questões que faziam referência à avaliação diagnóstica, avaliação formativa,

somativa, dialógica e qualitativa. A avaliação diagnóstica vem de diagnosticar, ou

seja, tem a função de obter informações sobre os conhecimentos, aptidões e

competências dos estudantes, visando a organização dos processos de ensino e

aprendizagem de acordo com as situações identificadas (Luckesi, 2000).Nessa

época, já usava a avaliação diagnóstica, porém de modo muito restrito, somente no

início do ano letivo. Procurava ainda buscar dessa coordenadora meio de entender

avaliação formativa, a qual é dita como processual ou de desenvolvimento, que

ocorre ao longo do processo de ensino-aprendizagem, e ainda falava com os meus

colegas professores das vantagens da avaliação dialógica em que mantido um

diálogo entre o educador e o educando, visando promover o desenvolvimento do

estudante, incentivando-o a avançar e procurar formas de transformar o meio em

que vive. Nesse método avaliativo, o educador age como o mediador, incentivando a

integração e a participação, em favor da aprendizagem escolar.

Naqueles momentos sentia muita falta desses modelos de avaliação em

nossos planejamentos, pois até então a avaliação predominante naquele grupo de

professores, do qual fazia parte, é era a Somativa, sendo ela exteriorizada como

avaliação final, tendo como objetivo apresentar um sumário, uma apresentação

concentrada de resultados obtidos numa situação educativa. É nesse contexto que

Estebam elucida:

Avaliar tem se confundido com a possibilidade de medir a quantidade de conhecimentos adquiridos pelos alunos e alunas, considerando o que foi

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ensinado pelo professor ou professora. O ensino tem sido a referência para a atribuição de valor à aprendizagem (ESTEBAN, 2003, p. 81).

Acredito, assim como aclara Estabam (2003), que muitos colegas professores

ainda fazem confusão em diferenciar avaliar e medir a quantidade de conhecimentos

do aluno. Ainda com relação àquele período da minha experiência pedagógica, eu

acreditava em um método de avaliação numa perspectiva qualitativa, avaliação essa

que prever a necessidade de uma ação diagnóstica, sendo que essa medida implica

em resultados positivos, considerando que durante o processo é possível identificar

as dificuldades e propiciar as intervenções necessárias para o desenvolvimento da

aprendizagem do aluno.

Em 2013, fui convidada a participar do Programa Nacional de Alfabetização

na Idade Certa (PNAIC), como orientadora de estudos. Aceitei o desafio e logo

também me colocaram como orientadora do Pacto Estadual. Foi um ano de muitos

estudos e conquistas, pois percebi que poderia estender a minha vocação em

alfabetizar a muitas outras crianças, através do trabalho desenvolvido com os

professores do Curso. Nesse mesmo ano, comecei a cursar o Programa de

Capacitação a Distância para Gestores (Progestão).

Já no Final de 2013 para início de 2014, fui convidada pelo Secretário

Municipal da Educação a fazer parte do quadro de Coordenadores Pedagógicos do

Município. O trabalho seria desenvolvido em algumas escolas da zona rural, com

classes multisseriadas. Aceitei mais esse desafio, acreditando que poderia ajudar a

melhorar a qualidade de ensino e principalmente ajudar no processo de

alfabetização de nossas crianças do campo, as quais via uma defasagem, nesse

sentido. No entanto, durante todo esses anos de experiências, o processo avaliativo

me inquietava, exigindo de mim horas de reflexões. Até hoje, sempre procuro levar

esse tema para os encontros de formação com os professores e vejo que estou

conseguindo, aos poucos, fazer com que eles também reflitam sobre a maneira

como veem fazem avaliação, sempre debatendo sobre os resultados obtidos.

Hoje posso dizer que gosto do trabalho de coordenar, assim como gosto de

alfabetizar. Mais recentemente, surgiu a oportunidade de iniciar a especialização em

Coordenação Pedagógica pela Universidade Federal da Bahia - UFBA, que coisa

maravilhosa. Não hesitei em abraçar essa rica oportunidade, uma alegria imensa

para mim poder continuar realizando sonhos. Não achava que seria fácil encarar

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mais esse desafio e não está sendo mesmo, pois o excesso de trabalho e a falta de

tempo para me dedicar como deveria são os maiores obstáculos.

Tenho muitas expectativas para a realização do Projeto Vivencial, proposto

pelo CECOP 3, em que tratarei de Avaliação Educacional. É muito importante

realizar uma atividade como esta, reconhecer a importância de estudar e conhecer

os referenciais teóricos e ter isso como objeto de estudo, saber também que

relacionar esses referenciais à prática é fundamental. Vejo nesse trabalho a

oportunidade de sanar muitas dúvidas quanto aos processos avaliativos para então

ajudar os professores a compreenderem o que é avaliar, para com isso poderem

buscar mudanças significativas nesse processo, pois segundo Luckesi (2000), o

professor "necessita de compreender o que é avaliar e, ao mesmo tempo, praticar

essa compreensão no cotidiano escolar. Repetir conceitos de avaliação é uma

atitude simples e banal; o difícil é praticar a avaliação". Para o estudioso, isso exige

mudanças internas do educador e do sistema de ensino.

1.2 EXPECTATIVAS

É com esse olhar e com muita força de vontade que espero despertar nos

professores essa mudança, tão necessária para possibilitar a aprendizagem e a

própria formação do educando. Espero também conseguir aproximar-me ainda mais

da prática refletida e reflexiva, para tanto, contar com a orientação desse Curso de

Pós-Graduação, será fundamental, sei que conseguiremos.

2. REVISÃO DE LITERATURA: REALIDADE DAS CLASSES MULTISSERIADAS

EM ESCOLAS DO CAMPO AS FORMAS DE AVALIAÇÃO NELAS ADOTADAS

Como conceito inicial os autores definem classe multisseriada a forma escolar

a que se refere já faz parte da história da educação há vários anos e carrega

consigo uma carga de significados maior do que pode parecer. Trata-se de uma sala

onde um professor trabalha, ao mesmo tempo e no mesmo espaço, com vários

estudantes de níveis ou séries do Ensino Fundamental diferentes (NETTO,

STECANELA, p.47).

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Essa conceituação indica a pouca relevância que a classe multisseriada teve

no decorrer da história da educação. A dificuldade do acesso aos meios

educacionais, a convivência com as precariedades em infraestrutura, recursos

didáticos e recursos humanos. Assim, os alunos do meio rural, pertencentes a essas

turmas, sempre ficaram aquém dos alunos urbanos. Essa realidade era mais comum

nos municípios pobres do interior do nordeste e norte do país. Muitas das escolas

funcionavam em casas, a maioria dos professores não tinha formação adequada.

Ainda conviviam com a falta de material didático, merenda escolar, etc. As escolas-

casas não dispunham de mobiliário adequado, muitas delas não tinham nem

banheiros para atender às necessidades dos alunos. Esses eram obrigados a sair

para um matagal para fazer as suas necessidades fisiológicas. Com tudo isso, o fato

de a classe multisseriada funcionar em uma casa, muitos pais não se sentiam à

vontade para mandar os filhos à escola, pois muitas das vezes não tinham

afinidades com o dono da casa.

Em razão disso,

a expressão escola isolada, mesmo não sendo sinônimo de classe multisseriada, é muito empregada para designar as escolas do meio rural. A expressão foi mais utilizada em oposição aos grupos escolares e às escolas reunidas no período educacional republicano, embora já fosse utilizado anteriormente para designar escolas do interior em localidades de difícil acesso. Sua condição era o isolamento geográfico em primeiro lugar e, consequentemente, pedagógico (NETTO, STECANELA, p. 49).

As escolas do meio rural, por ser na sua maioria de difícil acesso e ficarem

isoladas da zona urbana, muitas das vezes não tinham nem suas necessidades

básicas atendidas. A precariedade do ensino no meio rural resulta num maior

número de pessoas analfabetas no decorrer da história, poucos anos de

escolaridade, maior número de evasão, repetência e pouco acesso ao ensino médio

e superior.

Partindo dessas considerações, o cerne desta pesquisa está em apontar

formas de atuação para se trabalhar com as classes multisseriadas. Mas antes

disso, é preciso reconhecer que o professor ou professora encontra muitas

dificuldades ligadas ao exercício da docência nas classes multisseriadas. Rabello e

Goldenstein (1986), buscando conhecer e apontar uma metodologia que atenda

satisfatoriamente às classes multisseriadas, identificaram algumas dificuldades, as

quais também podem ser encontradas em turmas "consideradas homogêneas".

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Entre essas dificuldades, estão a idealização, pelo professor, de uma homogênea,

por assim considerar mais fácil para se trabalhar; a elaboração de um planejamento

ligado às reais condições da classe e o atendimento aos diferentes níveis de

aprendizagem apresentado pela turma.

Sabe-se que essas dificuldades são encontradas em quaisquer classes de

ensino regular. Entretanto, com relação à classe multisseriada, que é constituída,

quase sempre, por alunos de várias séries, faz se necessária a análise cuidadosa da

realidade onde ela está inserida, principalmente quando se trata de uma classe em

funcionamento no meio rural. Essa atenção se deve ao fato da escola está situada

no meio rural, onde geralmente não dispõe dos instrumentos pedagógicos que são

oferecidos às escolas dos centros urbanos. Muitas escolas do campo não têm

sequer a eletricidade com a qual seria possível o acesso à informática e,

consequentemente, conexão à internet, o uso da TV e de outras mídias

audiovisuais, sugestivas ao trabalho em sala de aula.

Ainda com relação à atenção especial à escola do campo, no contexto

expresso acima, cabe lembrar de que esse aspecto é mencionado no conjunto das

diretrizes que norteiam o ensino fundamental, proposto pelo Plano Nacional de

Educação – PNE:

A escola rural requer um tratamento diferenciado, pois, a oferta do ensino fundamental precisa chegar a todos os recantos do País e a ampliação da oferta de quatro séries regulares em substituição às classes isoladas unidocentes é meta a ser perseguida, consideradas as peculiaridades regionais e a sazonalidade (Plano Nacional de Educação – PNE, 2002, p. 21).

A diretriz acima mostra que a escola rural é penalizada pelas próprias

políticas sociais e educacionais em nosso país. Não se pode pensar em melhoria da

educação sem considerar essa realidade, ou seja, o sucesso escolar dos alunos,

principalmente daqueles que estudam em classes multisseriadas, depende de uma

atenção especial. A escola não pode silenciar-se frente a esse quadro, pois é um

dos seus papéis prezar pela igualdade democrática dos seus alunos.

Sobre esse olhar especial da escola que culmine na exata visão da realidade,

rompendo com o "olhar normalizador" que tende a encobrir o que está errado,

Gentilli (2001) defende a escola para todo, sem exclusão e distinção. Ele assinala

que "é na escola democrática que se constrói a pedagogia da esperança, antídoto

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limitado ainda que necessário contra a pedagogia da exclusão que nos impõe de

cima e que, vítimas do desencanto ou realismo cínico, acabamos reproduzindo

desde baixo".

As palavras do autor constituem-se num alerta tanto para aqueles que fazem

a educação apenas para determinado grupo de alunos quanto para aqueles que,

assim percebendo, nada fazem para intimidar essas práticas de exclusão. Para o

autor, o maior perigo está exatamente no fato de nos acostumarmos com a situação,

considerando-a como normal.

Arroyo (2004) também faz ponderações sobre a fragilidades da escola do

campo. Ele salienta que é necessário reinventar espaços que favoreçam a proposta

da escola rural. Nesse sentido, ele ajuíza que nós devemos acabar com essa

"concepção de escola seletiva e peneiradora". Caso contrário, segundo o autor,

"não construiremos uma escola de direitos".

Evidentemente, a escola não consegue, por si só, garantir o direito de todos.

Para cumprir com essa árdua tarefa, ela conta com as entidades mantedoras, seja a

nível municipal, estadual ou federal. Diferente de algumas décadas atrás, as escolas

contam nestes últimos anos contam com o apoio de alguns programas . Um desses

programas é o FUNDEB - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação

Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação.

Desde a criação do FUNDEB, o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento

da Educação) resultou em mais verbas para os municípios pobres e seus poucos

recursos educacionais. Agora a união faz a complementação de verba quando estes

não conseguem atingir a per capta de seus alunos. Também foi determinante a

obrigatoriedade da aplicação dos recursos por conta da lei de responsabilidade fiscal

do Governo Federal. Assim, o FNDE passou a financiar a merenda escolar através

dos Programas: PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar; PNLD –

Programa Nacional do Livro Didático; PDE – Programa Dinheiro Direto na Escola;

PNTE – Programa Nacional de Transporte Escolar.

Esse financiamento, por meio do FUNDEB, fez com que muitos dos

municípios brasileiros evoluíssem em várias áreas: graduação dos professores em

Pedagogia, Letras e outros cursos, construção de escolas, implantação do

transporte escolar, diminuição da evasão escolar, maior número de matrículas,

construção de escolas.

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Todos esses benefícios também chegaram às escolas com classes

multisseriadas. Como prova disso, também foi criado o Escola Ativa, um programa

do Governo Federal especialmente voltado para a capacitação de professores que

atuam em classes multisseriadas. Teruya, Walker, Nicácio e Pinheiro (2005), na

coletânea de textos do Guia para a formação de professores da Escola Ativa,

proposto pelo MEC (Mas, o que é a Escola Ativa?), dizem que

Escola Ativa é uma proposta metodológica voltada para a gestão de classes multisseriadas, que combina, em sala de aula, uma série de elementos e instrumentos de caráter pedagógico/administrativo cujas implementações objetiva aumentar a qualidade do ensino oferecido naquelas classes (Brasil,. MEC. Fundescola, 2005, p. 48).

De acordo com os autores, o Programa Escola Ativa é um dos poucos

programas educacionais voltadas para atendimento da clientela de classes

multisseriadas. Por conta disso, produzir um material didático pensado para atender

às necessidades das classes multisseriadas motiva os professores e alunos por

desafiar mais o processo de ensino aprendizagem.

Esses são exemplos de conquistas importantes para o ensino oferecido pelas

escolas e seus profissionais, mas ainda estão distantes de representar o padrão de

ensino que tanto almejamos. Mesmo contando com os financiamentos, a escola não

consegue avançar com relação às suas práticas pedagógicas, pois existe ainda uma

disparidade na distribuição de funções dos seus profissionais. Numa escola que

muitas vezes é imprescindível a existência de um coordenador pedagógico, esses e

outros papeis são exercidos pelo próprio professor. Há escolas em que ele faz o

papel de todos os possíveis funcionários que uma escola comum pode ter. Esses

argumentos são pontuados por Teruya, Walker, Nicácio e Pinheiro (2005), quando

colocam que

As atribuições impostas ao(à) professor(a) que trabalha numa classe multisseriada vão além do exercício da docência porque este tem que cumprir outros encargos no espaço escolar, tais como: limpar a sala de aula, fazer a merenda escolar, cuidar da documentação da escola e zelar pela conservação do patrimônio público (TERUYA, WALKER, NICÁCIO, PINHEIRO, 2005, p.10).

O quadro de atribuições apresentado acima dá ênfase à sobrecarga do

professor por conta do exercício de várias funções. Consequentemente, a

quantidade de atribuições de caráter administrativo e até mesmo financeiro faz com

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que haja, sem dúvida, um grande prejuízo para o desenvolvimento pedagógico.

Esse tipo de situação está relacionado diretamente com o desempenho escolar do

aluno. Fica inviável trabalhar os conteúdos necessários durante o ano letivo e

quanto às aulas, estas ficam mais diminutas e o acúmulo desse tempo perdido faz

grande diferença no final do ano letivo.

Os problemas apontados até aqui afetam estampadamente a escola do

campo. Assim, é de se esperar que esses problemas afetem o seu funcionamento

em todos os aspectos, principalmente naquelas onde funcionam as classes

multisseriadas, em que a didática é mais complexas.

Nesse contexto, considerando o tema em foco nesta pesquisa, o agravante

está até mesmo nas formas de avaliação adotadas nesse modelo de escola. A

avaliação que acontece nas classes multisseriadas, muitas vezes, não é indicada

para esse modelo de organização de classe, pois não é levado em consideração a

sua composição, suas prioridades e dificuldades de aprendizagem. Muitas vezes,

devido a dificuldade de se trabalhar com metodologias que atendam a uma classe

com diferentes níveis de aprendizagem, os alunos são "padronizados". Ou seja, a

proposta pedagógica da escola e consequentemente o trabalho docente é único

para todos, trazendo sérios prejuízos para os alunos, pois grande parte deles é

excluída.

Nesse contexto, a exclusão e a desigualdade na oferta da educação,

impregnadas até mesmo nas formas de avaliação, Arroyo (2004) apresenta um

lamento, dizendo "como é difícil superar essa cultura seletiva que está nas

avaliações, nas provas para aprovar-reprovar, repetir ano, reter fora idade!". O autor

salienta que a escola, por agir assim, desvirtua a sua própria identidade, pois para

ele, "escola peneiradora, seletiva e excludente é a própria negação da escola

como direito de todos, universal".

A avaliação adotada nas classes multisseriadas constata-se como Avaliação

Somativa. Esse sistema de avaliação não está preocupado com as necessidades

individuais dos alunos: ansiedades, dúvidas, dificuldades, inseguranças. Também

conhecida como classificatória, a avaliação somativa, na visão de Haydt (2000) tem

como papel principal classificar os alunos ao final de uma unidade didática, bimestre

ou até mesmo ao concluir o ano letivo, considerando o desempenho apresentado.

Essa concepção de avaliação baseado no ato de "medir" o aproveitamento do

aluno está impregnada no sistema de unidades convencionais. Segundo Haydt

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(2000), o uso constante dessa forma de avaliar o aluno tem relação direta com a

nossa prática diária de utilização das unidades de medidas, unidades de tempo.

Para a escritora, "o resultado de uma medida é expresso em números. Daí a sua

objetividade e exatidão. A medida se refere sempre ao aspecto quantitativo do

fenômeno a ser descrito".

Nesse modelo de avaliação escolar, o educando não é visto como

participante do processo, e o que determina o seu sucesso ou fracasso são as

notas. O educador limita-se ao educando reproduzir apenas o que foi ensinado. A

implicação é a supervalorização da nota, aqui o que vale é o acerto, o erro é punido

pela nota.

Segundo Luckesi (2002), de um modo geral, as escolas hoje utilizam apenas

na teoria o conceito de avaliação e na prática elas se reduzem a aplicarem provas e

exames, por serem atividades "mais práticas", não exigindo muito trabalho na

hora de serem executadas.

Por isso mesmo, a ênfase do aluno está no resultado e não no aprendizado.

Pouco importa para ele se está aprendendo ou não. O objetivo maior é alcançar a

média, nem que seja colando. Se as notas são somadas e já no terceiro bimestre o

aluno venha a alcançou a média, já não valoriza mais o quarto bimestre.

A forma de avaliar baseada na função classificatória, segundo Luckesi (2002),

torna estático o processo de crescimento. Ao contrário disso, ele enfatiza que o

desenvolvimento da ação, da autonomia e do crescimento intelectual como um todo

só será obtido quando a avaliação apresentar a função diagnóstica, a qual favorece

a identificação do que os alunos sabem para possíveis intervenções.

O escritor vai além na concepção de uma avaliação com função diagnóstica,

cujo propósito maior é o de possibilitar o (re)planejamento de ações que leve o aluno

ao progresso. Aqui ele nos fornece um panorâmica de como isso é possível.

Para que a avaliação diagnóstica seja possível, é preciso compreendê-la e realizá-la comprometida com uma concepção pedagógica. No caso, considerarmos que ela deva estar comprometida com uma proposta pedagógica histórico-crítica, uma vez que esta concepção está preocupada com a perspectiva de que o educando deverá apropriar-se criticamente de conhecimentos e habilidades necessárias à sua realização como sujeito crítico dentro desta sociedade que se caracteriza pelo modo capitalista de produção. A avaliação diagnostica não se propõe e nem existe uma forma solta isolada. É condição de sua existência e articulação com uma concepção pedagógica progressista (LUCKESI 2002, p.82).

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Nesse sentido, ao pensar em fazer uma avaliação educacional progressista,

hoje, é imprescindível que a relação ensino-aprendizagem favoreça a auto-

avaliação. Para Hoffmann (2005), na auto-avaliação tanto o professor quanto o

aluno desenvolverá refletir acerca da busca dos melhores caminhos para

prosseguirem na prática pedagógica. Assim, o professor encontra metodologias que

façam o aprendiz aprender mais e melhor e o aluno atina por perceber seu próprio

limite e potencial que lhe possibilite consolidar novos saberes.

Ainda sobre o processo de auto-avaliação, a escritora salienta que

Ao promover e desafiar os estudantes a refletir, o professor também estará refletindo sobre processos didáticos, sobre a adequação de suas perguntas, críticas, comentários, tomando consciência sobre o seu pensar e o seu fazer, num processo igualmente de auto-avaliação. Seus registros e anotações o auxiliarão nesse sentido, por objetivar o seu pensamento sobre o aluno, levando-o a tomar novas decisões (HOFFMANN, 2005, p. 54).

Diante do apresentado pela autora, percebe-se que, diferente do

simplesmente dar notas, o processo da auto-avaliação exige mais dedicação, tempo

para reflexão e planejamento de ações por parte do professor. Nisto está a maior

importância da avaliação, pois uma vez que o professor agir assim, também

possibilitará ao aluno o ato de se auto avaliar.

Por outro lado, os alunos mal sucedidos se desmotivam e para eles, a auto-

avaliação poderá fazer com reflita sobre a sua aprendizagem.

Nesse raciocínio, a proposta, concernente à avaliação, direciona a um

processo de natureza contínua, com mais dinamismo, não ficando restrito

simplesmente aos índices quantitativos.

Vasconcellos (1995), ao pensar em avaliação, referir-se ao acompanhamento

de todo o processo de aprendizagem do aluno, o que perpassa também pelas

decisões que devem ser tomadas a partir dos resultados obtidos na verificação. O

autor resume esses aspectos ao descrever a avaliação como um

processo abrangente da existência humana, que implica uma reflexão crítica sobre a prática, no sentido de captar seus avanços, suas resistências, suas dificuldades e possibilitar uma tomada de decisão sobre o que fazer para superar obstáculos (VASCONCELLOS, 1995, p.43).

Importante perceber que o autor não desassocia a atividade pedagógica, no

que tange a avaliação, da avaliação que é feita em quaisquer atividades humanas,

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fazendo um paralelo com o que acontece em nosso cotidiano. Assim, o ato de

aprender exige superação de dificuldades, quebra de paradigmas, reflexão sobre o

caminho percorrido e planejamento de novas estratégias, tudo isso, em prol da

construção de novos conhecimentos.

A avaliação permeia todo esse processo de construção, e os erros

encontrados no caminho passam a ser indícios das reais condições do aluno. É

exatamente nesse momento, segundo os estudiosos, em que está o ponto de

partida para a construção de novos saberes, de novas aprendizagens. Para tanto, é

extremamente necessária a mediação do professor, pois, devido a imaturidade

frente à gama de conhecimentos com a qual se depara, o aluno não conseguirá

concluir esse processo sozinho. É nessa acepção que Vasconcellos (1995)

implementa o conceito de avaliação, dizendo que ela é "a forma de acompanhar o

desenvolvimento dos educandos e ajudá-los em suas eventuais dificuldades".

Parafraseando com Vasconcellos, Amorim e Souza (1994) reforçam que a

“avaliação não é algo que se dê de modo dissociado do objeto ao qual se dirige e

não se concretiza independentemente dos valores dos sujeitos em interação". Esse

é um conceito que sintetiza, com eficácia, o modelo de avaliação que deve ser

defendido nas classes multisseriadas, onde são bem maiores as diversidades entre

os alunos.

A partir da concepção de avaliação acima, os autores enfatizam que

os princípios norteadores de uma proposta avaliativa e de seu próprio processo de construção representam uma explicitação do posicionamento de sujeitos frente a um determinado segmento da realidade, sujeitos esses que ocupam diferentes lugares sociais, o que leva ao afloramento de divergentes e conflitantes ênfases na avaliação (AMORIM e SOUZA , 1994, p.125).

Diante do exposto até aqui, é preciso romper com os mais variados tabus

existentes com relação a avaliação da aprendizagem. Para tanto, faz-se necessário

dissociar avaliação da ideia de aprovação ou reprovação do aluno. A avaliação deve

ser vista como "a forma de acompanhar o desenvolvimento dos educandos e ajudá-

los em suas eventuais dificuldades" (Vasconcellos, 1995). Afinal, o que está em jogo

na sala de aula, como foco primordial, é a aprendizagem de todos os alunos, sem

exceção.

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3. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

A presente proposta de intervenção deste TCC tem como eixo temático

"Avaliação educacional nas escolas multisseriadas", cujo foco está numa escola do

município de Érico Cardoso, Bahia, referendada, sempre que mencionada, pelo

pseudônimo XXXX. O estudo constitui-se no TCC do Curso de Especialização em

Coordenação Pedagógica – CECOP 3, Polo de Macaúbas, vinculado ao Programa

Nacional Escola de Gestores do Ministério da Educação (MEC) e da Educação

Básica Pública, e é desenvolvido em parceria com a Faculdade de Educação da

Universidade Federal da Bahia (UFBA).

3.1 INSTRUMENTOS UTILIZADOS NO ESTUDO DO PROCESSO AVALIATIVO

DA ESCOLA XXXX

Para investigar acerca do problema em pauta, requereu-se a realização de

uma pesquisa. A palavra pesquisa pode significar estudo, levantamento, sondagem.

Assim, o propósito de uma pesquisa ou investigação é buscar respostas para um

problema, algo que não esteja correspondendo com aquilo que se espera de uma

determinada ação. Desta busca se espera a construção de novos conhecimentos

que contribuam para a resolução dos problemas, apontando novos rumos para a

concretização dos objetivos traçados. Nesse sentido, Thiollent (2002), diz que

a idéia de pesquisa-ação encontra um contexto favorável quando os investigadores não querem limitar suas investigações aos aspectos acadêmicos e burocráticos da maioria das pesquisas convencionais. Querem pesquisas nas quais as pessoas implicadas têm algo a ‘dizer’ e a ‘fazer’. Não se trata de simples levantamento de dados ou de relatórios a serem arquivados. Com a pesquisa-ação os pesquisadores pretendem desempenhar um papel ativo na própria realidade dos fatos observados (THIOLLENT, 2002,p. 16).

A pesquisa-ação não é constituída apenas pela ação ou pela participação.

Com ela, é necessário produzir conhecimentos, adquirir experiência, contribuir para

a discussão ou fazer avançar o debate acerca das questões abordadas. Essa foi a

metodologia adotada para investigar o processo avaliativo da escola XXXX; para, a

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partir de então, mobilizar ações que venham a sensibilizar os professores acerca

das vantagens da avaliação qualitativa nas classes multisseriadas, que são, de fato,

formato das classes pertencentes à escola onde será desenvolvida a presente

pesquisa. O objetivo inicialmente é ajudar aos professores que atuam nessa escola

a entender e a implantar o processo avaliativo com foco qualitativo nessas classes.

Para isso, foram realizadas entrevistas, visando buscar informações e

contextualizar a realidade no sentido de levantar questionamento a respeito do

processo avaliativo. Em seguida foram realizadas as entrevistas semiabertas, com

professores da referida escola. Isso colaborou muito com a investigação devido o

contato entre pesquisador e pesquisado, bem como a liberdade de expressar-se

livremente, reforçando assim, a questão afetiva e outras questões de grande

relevância para a pesquisa.

A análise de documentos textuais como o PPP (Projeto Político Pedagógico)

da escola, a Proposta Curricular, livros didáticos adotados pela escola e

principalmente os instrumentos de registros de aprendizagem (como a caderneta),

foram muito importante nesse processo, pois elucidaram, inicialmente, a realidade

pedagógica da escola.

Para pesquisar sobre "A avaliação educacional nas escolas multisseriadas",

tema do presente estudo, foi necessário fazer inicialmente um levantamento das

questões que vêm impactando o desenvolvimento da escola no requesito avaliação.

Assim, chegou-se à conclusão de que as formas de avaliação em uso têm

predominantemente características tradicionais e arcaicas para o atual contexto

social. Dessa forma, procurou-se, dentro da temática em questão, sensibilizar os

professores acerca das vantagens da avaliação qualitativa em classes

multisseriadas. Essas questões nortearam a pesquisa, constituindo-se na

problemática desse estudo.

Deste modo, aprofundar no estudo da avaliação, com foco na sensibilização

dos professores quanto a maneira mais eficaz de avaliação, ajudará a garantir o

direito que os alunos de classes multisseriadas têm de aprender regularmente os

conteúdos curriculares e extracurriculares, os quais contribuirão para formá-los

socialmente.

O estudo desta temática tem, entre outros objetivos, o de ajudar os

professores a entender o processo avaliativo nas escolas multisseriadas e auxiliá-los

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na implementação de um modelo de avaliação qualitativa nas suas e demais escolas

com classes multisseriadas.

3.1.1 RETRATANDO A ESCOLA XXXX: ESTRUTURA FÍSICA E PRÁTICAS

PEDAGÓGIAS

A Escola XXXX é uma escola de pequeno porte, situada em um povoado da

zona rural, a 3 km da sede do município de Érico Cardoso, com população estimada

em 400 habitantes. O público estudantil é composto de 62 alunos, divididos na,

Educação Infantil, Ensino Fundamental de 1º ao 5º ano e EJA (Educação de Jovens

e Adultos). Para atender a esses alunos, a escola conta com cinco professores. Os

alunos matriculados na escola são de diferentes faixas etárias, variando de 03 a 60

anos, os quais são moradores próximos à escola, facilitando assim uma relação de

afetividade entre a escola e a comunidade. Os alunos pertencem a famílias de

pouco poder aquisitivo, cuja renda é extraída da agricultura como trabalhadores

rurais temporários. A maioria é beneficiária do Programa Bolsa Família do Governo

Federal.

A escola é um ponto de referência para a comunidade e todos estão sempre

dispostos a colaborar nas atividades que fazem partes do calendário sócio cultural,

como as datas comemorativas.

O espaço físico da escola é composto por duas salas de aula grandes e

arejadas, as quais atendem cinco turmas, sendo duas pela manhã (4º e 5º ano),

duas à tarde (pré /1º ano e 2º/3º ano) e à noite, atende a turma da Educação de

Jovens e Adultos. Sua área física é de aproximadamente 150m2, contemplando,

além das salas de aula, um banheiro, uma cantina, um almoxarifado, uma sala de

informática, um muro que contorna a escola, favorecendo a criação de uma horta.

Nos últimos anos a escola tem recebido vários recursos do Governo Federal como o

PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola) e PDDE Educação Integral, os quais

tem contribuído para o desenvolvimento tanto da escola como da comunidade.

Os recursos pedagógicos são inúmeros na escola, conta com uma sala de

informática com cinco computadores, porém sem conexão com a internet. Além da

sala de recursos multifuncionais composta por computadores completos, alfabeto

móvel e sílabas, caixa tátil, dominó, caixinhas com números e kit de tesoura etc. A

sala de informática é bem explorada nas aulas de redação, em que se utiliza os

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editores de texto. Por enquanto, a escola não dispõe de profissionais preparados

para trabalhar, de fato, com os conteúdos da informática.

O PPP - Projeto Político Pedagógico que se encontra na escola foi construído

em 2005 pela equipe de professores, sem a participação dos outros segmentos.

Aqui está o maior equívoco de muitas escolas da atualidade, que elaboram os seus

documentos pedagógicos, como o PPP, apenas com o intuito de formalizar a sua

situação burocrática, não prezando por sua função primordial, que é a de

instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que supere os conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando impessoal e racionalizado da burocracia que permeia as relações no interior da escola, diminuindo os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão (VEIGA, 2002, p.2).

Considerando que a do PPP deva ser fruto de um trabalho coletivo, essa não

é a realidade da Escola XXXX, pois outros segmentos que fazem parte da

comunidade escolar não estiveram envolvidos na sua construção. Contrariando a

esta realidade, Veiga (2002), salienta que

o projeto político-pedagógico vai além de um simples agrupamento de planos de ensino e de atividades diversas. O projeto não é algo que é construído e em seguida arquivado ou encaminhado às autoridades educacionais como prova do cumprimento de tarefas burocráticas. Ele é construído e vivenciado em todos os momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo da escola (VEIGA, 2002, p.1).

Quando as proposições citadas acima não são preservadas, ações como a

implantação de uma Proposta Curricular que contemple as reais necessidades

pedagógicas da escola e dos profissionais também são penalizadas, uma vez que o

foco geralmente está apenas nos conteúdos do livro didático, como que os

conteúdos tivessem que ser trabalhado aleatoriamente.

Na unidade escolar em questão, a Proposta Curricular é construída de forma

inadequada, pois a Secretaria Municipal da Educação é a única responsável pela

execução desse documento, resultando assim em uma Proposta Curricular pobre

que não leva em conta as experiências dos professores e os conhecimentos dos

alunos, nem as características locais da comunidade em que a escola está inserida.

Dessa forma, impede a construção da identidade da escola e a valorização da

cultura.

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3.1.2 APLICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE PESQUISA: COLETA DE DADOS

Para a efetivação desse trabalho, os critérios metodológicos utilizados foram

a aplicação de entrevistas e a realização de reuniões para divulgação dos

conhecimentos do tema proposto.

A coleta de informação se deu através de entrevista e pesquisas de campo.

As questões nortearam o trabalho, possibilitando, assim, traçar o perfil dos

professores e analisar como se dá o processo avaliativo nessa escola. A entrevista

aconteceu em dois dias, 21 e 22 de novembro. No primeiro dia, foram entrevistados

os professores do turno matutino e no segundo dia, os professores do turno

vespertino.

Durante a entrevista, os entrevistados ficaram à vontade para questionar com

relação às perguntas do instrumento e expor seus pontos de vista e argumentos

livremente.

3.1.3 ANÁLISE DE DADOS: EXAMINANADO PARA INTERVIR

Os profissionais estão em uma faixa etária de 35 anos, todos possuem

ensino superior em instituição particular e pública, têm em média 10 anos de

atuação em escolas do campo, mais especificamente em classes multisseriadas. Os

professores frequentam formação continuada, oferecida pela Secretaria Municipal de

Educação e atualmente todos eles, do 1º ao 5º ano, estão frequentando o PACTO e

PNAIC, programas que tratam da Alfabetização na Idade Certa, sendo que dentro

dessas formações também é abordado o tema avaliação. Contudo, sabe-se que é

preciso sempre discutir a avaliação de forma sistematizada como um processo

contínuo.

Para a aplicação do instrumento de pesquisa, inicialmente, alguns

professores demonstraram insatisfação em responder, pois para eles estavam

sendo avaliados, e como entendem esse processo como algo fechado, que aprova

ou reprova o indivíduo, sentiram-se inseguros. Mas, depois de uma conversa,

explicando o real objetivo da pesquisa, aceitaram participar. As respostas dadas

pelos 05 (cinco) professores entrevistados sobre o que pensam e como fazem a

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avaliação demonstram opiniões que os dividem em dois grupos distintos. Essas

opiniões foram sintetizadas em dois gráficos, os quais ilustram muito bem a

realidade da escola com relação aos problemas que envolvem a questão da

avaliação.

O gráfico 1 (abaixo), representa o grupo 1, formado por dois professores que

já têm, teoricamente, uma visão mais aberta da avaliação.

Gráfico 1. Sentidos da avaliação para 2 dos 5 professores da Escola XXXX

De acordo apontado na figura acima, dois professores usam a avaliação para

conhecer o nível de aprendizagem de seus alunos, com a finalidade de identificar o

ponto onde estão, para, a partir daí, ajudá-los a avançar. Para isso, usam a

avaliação diagnóstica, onde os resultados servem como um norte para o

planejamento das próximas aulas e conteúdos a serem explorados. Esses ainda

disseram que sempre é feita a retomada da avaliação, focando nos erros e acertos

com o objetivo de mediar as aprendizagens. Esse é o ponto fundamental da

avaliação como processo, para Perrenoud (1999), a avaliação da aprendizagem,

numa nova visão, apresenta um caráter mediador na construção do currículo e se

encontra estreitamente pautada na gestão da aprendizagem dos alunos. No entanto,

esses professores ainda manifestaram sentir dificuldades em relação às formas de

avaliação.

Um dos professores descreveu que ainda não está claro para ele a questão

de diferenciar as atividades avaliativas para alunos de uma mesma série/ano. Ou

seja, o professor não concorda em ter que avaliar os alunos de uma mesma

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série/ano com atividades diversas, já que o objetivo ali implícito é um só entre eles:

ser aprovado para série/ano seguinte, o que, na interpretação dele, exige o mesmo

nível de aprendizagem para ambos os grupos de alunos. Já o segundo professor

enfatizou que às vezes tem dificuldade em descobrir o momento certo de avaliar,

ainda que saiba que a avaliação deve ocorrer a todo tempo.

Por meio dessa entrevista e também por acompanhamento em sala de aula,

pois atuo nessa escola como coordenadora e sempre observo a prática desses

professores, nota-se que há um distanciamento entre o que pensam sobre avaliação

e o que realmente acontece na prática dentro da sala de aula. Percebe-se que ainda

encontram-se em um processo de transição entre avaliação tradicional, com foco

quantitativo, e a avaliação qualitativa. Esse pode ser um sinal positivo, pois Esteban

(2003) destaca que a avaliação qualitativa constitui numa modalidade avaliativa em

transição por ter como foco central a compreensão dos processos dos sujeitos e da

aprendizagem, o que apresenta um rompimento com a primazia do resultado

característico do processo quantitativo. A autora afirma que

"a avaliação qualitativa tenta responder à imposição de a avaliação qualitativa apreender a dinâmica e a intensidade da relação aprendizagem-ensino, porém articulada por princípios que sustentam o conhecimento-regulação-mercado, Estado e comunidade (ESTEBAN, 2003, p.26).

Complementando a esse pensamento, Demo (2004) assinala que

A avaliação qualitativa pretende ultrapassar a avaliação quantitativa, sem dispensar esta. Entende que no espaço educativo os processos são mais relevantes que os produtos, não fazendo jus à realidade, se reduzida apenas às manifestações empiricamente mensuráveis (DEMO, 2004, p. 156).

Embora esse seja o caminho, o da transição, a escola XXXX ainda se

encontra mais arraigada nas práticas tradicionais da avaliação, confirmando que sua

visão sobre os atos de avaliar e examinar são sinônimos. Sobre este aspecto,

Esteban (2004) destaca que "embora muito criticada, a avaliação do desempenho

escolar, como resultado do exame que o professor ou professora realiza sobre

o aluno ou aluna, ainda é predominante".

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O segundo professor fala ainda sobre a sua dificuldade em saber o momento

de avaliar, demonstra que ainda não entendeu que a avaliação deve ser processual

e contínua, ou seja, deve estar acontecendo a todo momento e não apenas através

de atividades escritas, com horários agendados para acontecer, como sugere

Libâneo (2004). Segundo o autor, a avaliação sempre deve ser diagnóstica e

processual, pois ela deve auxiliar os professores a identificarem aspectos em que os

alunos apresentam dificuldades. O autor salienta ainda que é a partir desse

levantamento das dificuldades demonstradas pelo alunos que o professor poderá

refletir sobre sua prática, de forma que seja ainda possível de modificá-la a fim de

apontar soluções para problemas de aprendizagem dos alunos durante o processo e

não meramente ao fim do bimestre ou quando o ano letivo termina.

Abaixo, segue o gráfico 2 que representa o grupo 2, formado pelos outros três

professores da Escola XXXX, os quais demonstram uma ter uma visão primária do

que seja e para que serve a avaliação escolar.

Gráfico 2. Sentidos da avaliação para 3 dos 5 professores da Escola XXXX

O resultado da entrevista com esses três dos cinco professores dessa

escola, esboçado na figura 2, assim como as observações em sala de aula, é um

pouco alarmante. As respostas dadas por esses professores deixam caro que eles

avaliam através de testes e provas e que usam a avaliação apenas para medir e

testar os conhecimentos dos alunos, raramente apresentam os resultados para focar

em erros e quase nunca retomam os conteúdos, os quais os alunos demonstraram

dificuldade. No cotidiano escolar desses professores há uma nítida separação entre

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a avaliação processual e a avaliação pontual, prevalecendo sempre os testes

escritos e as provas finais. Nessa perspectiva, a avaliação da aprendizagem vem

acontecendo de formal unilateral, visto que os critérios, a seleção dos conteúdos e o

julgamento da aprendizagem se concentram na figura do professor, que não se

percebe autoritário e tradicional, nesse processo. Se detém apenas em medir o que

deveria ser aprendido pelo aluno e classificam o aprendiz desconsiderando fatores

sociais, culturais e cognitivos que interferem no ato de aprender, reforçado por

Luckesi:

Há professores dignos na educação, melhores, muita vezes, do que as instituições a que servem; mas, de modo geral, todos estão se revelando autoritários no processo de avaliação e reproduzem na escola a repressão da sociedade, quando ameaçam o aluno, quando o reprovam, quando o assustam e geram dificuldades onde não existe (LUCKESI, 1992, p. 20).

Nas escolas do campo, tais práticas avaliativas não devem fazer parte do

cotidiano escolar, pois reforçam as desigualdades sociais a partir dos chamados

“privilegiados”, ou seja, os que sabem mais, mantendo com isso um clima de

insegurança, tanto no ato de aprender quanto no ato de ser avaliado pelo que foi

ensinado pelo professor.

Ainda no estudo de campo, vários documentos foram analisados, entre eles o

diário de classe. Foi notória a urgência de uma intervenção, pois tal instrumento não

atende a avaliação como um processo contínuo, tendo espaço para o registro

apenas de notas, a chamada avaliação quantitativa. Esse mesmo modelo de diário

é usado para todas as séries, até mesmo para primeiro e segundo ano, pois quando

os alunos dessas séries não são reprovados, os professores aplicam as chamadas

provinhas a fim de obterem a nota que será registrada no diário.

O que se conclui frente a esse quadro pedagógico, apresentado pela Escola

XXXX e que ainda é a realidade de muitas unidades escolares brasileiras, é a

mecanização de um ensino marcado pelo cumprimento de atos burocráticos e

desvinculado da pedagogia do questionamento, da indagação, da construção do

conhecimento. Assim, o que pode ser feito na tentativa de reverter esse situação é

reestruturação das práticas docentes nessa escola, partindo de um planejamento

pedagógico que faça, inicialmente, os professores perceberem que a escola está aí,

de fato, para ajudar o aluno a aprender. Esse é o papel primordial da escola.

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3.2 MODIFICANDO A PRÁTICA PEDAGÓDICA: MÃOS À OBRA

Diante da realidade de como se dá o processo avaliativo da escola XXXX,

fica clara a necessidade de uma intervenção, isso objetivando ajudar aos

professores a entender o processo avaliativo nas escolas multisseriadas e

auxiliando-os a implementar modelos de avaliações qualitativas.

O processo avaliativo na unidade escolar XXXX habitualmente tem mostrado

uma grande insatisfação nos seus resultados. Diante das situações aqui apontadas,

requer uma reflexão mais profunda por parte dos profissionais (professores e

coordenadores) que atuam na determinada escola.

A prática educativa nas escolas multisseriadas necessita de uma estruturação

que contribua com inovação e adequação da realidade dos sujeitos do campo. Por

isso, é fundamental intervir, de forma organizada, desenvolvendo estratégias

avaliativas diferenciadas.

O processo de avaliação requer acompanhamento do que é planejado, das

ações em sala de aula e da aprendizagem dos alunos, utilizando-se de

instrumentos variados que permitem analisar tanto os alunos quanto o próprio

trabalho docente. Para que isso efetivamente aconteça, é necessário uma definição,

por parte do professor, dos objetivos de aprendizagem e um acompanhamento

através de avaliações diagnostica e contínua para analisar se esses objetivos estão

sendo alcançados. Se não, o professor poderá rever suas ações e definir novas

estratégias com vista a proporcionar a aprendizagem efetiva. Pois um importante

papel do professor é avaliar constantemente os alunos e as estratégias que eles

seguem para alcançarem a aprendizagem de determinado conteúdo. Nesse sentido,

é essencial procurar compreender como esses alunos constroem seus

conhecimentos, quais são suas habilidades, suas dificuldades e necessidades

individuais.

No processo avaliativo, algo muito importante a ser considerado diz respeito à

autoavaliação do aluno e a participação dos familiares. Ao refletir sobre seus

avanços, dificuldades e expectativas, o aluno pode perceber estratégias de

aprendizagem que precisam ser modificadas. Quanto aos familiares, se estes

estiverem cientes dos objetivos que os alunos precisam alcançar e do percurso das

crianças na escola, poderão interferir no estabelecimento dessas estratégias, e

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exercerem um papel mais ativo na escola, dialogando com o professor com base em

informações que possuem sobre o processo de ensino-aprendizagem.

É importante que o professor da escola multisseriada tome como prática os

registros diários e semanais do desenvolvimento dos alunos, anotando as

dificuldades, os avanços, as aprendizagens adquiridas e os conteúdos e

competências não alcançados pelos alunos. A avaliação, como regulação das

aprendizagens Esteban (2004), deve contar com esses registros para que o docente

tenha em mãos dados do desenvolvimento de cada aluno. Esses registros também

precisam ser contemplados nos diários de classes para que possam ser consultados

pelo próprio professor da escola e dos futuros professores desse aluno.

Todo esse trabalho possibilitará ao coordenador pedagógico, aos professores

e ao Conselho Escolar discutir e refletir acerca do processo avaliativo da escola do

campo, pois, no município, geralmente o trabalho pedagógico que é desenvolvido na

escola urbana, semelhantemente é reproduzido para as escolas do campo. No que

diz respeito ao processo avaliativo não é diferente, pois a forma de avaliar é

mecanicamente aplicada à escola do campo, desconsiderando as especificidades

de uma escola multisseriada, o que torna a realidade pedagógica dessa escola

muito mais crítica.

4. CRONOGAMA: AÇÕES PLANEJADAS

PERIÓDO AÇÕES LOCAL RESPONSÁVEIS

Novembro Realização de reunião com os

professores da escola para

informar sobre o trabalho.

Escola Coordenadora/cursista

Novembro Reunião com os

coordenadores na Secretaria

para informar sobre o trabalho

e discutir o objetivo do

trabalho.

Secretaria

Municipal da

Educação

Coordenadora/cursista

Novembro Levantamento de dados

através de análises

documentais, Proposta

Escola e

Secretaria

Municipal da

Coordenadora/cursista

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Curricular, PPP, diário de

classe e currículo;

Educação/

Escola XXXX

Novembro Entrevista com os professores

da escola XXXX.

Escola XXXX Coordenadora/cursista

Fevereiro Apresentação de propostas de

avaliação para equipe

pedagógica da Secretaria

Municipal da Educação.

Secretaria

Municipal da

Educação

Coordenadora/cursista

Fevereiro Elaboração de um novo

instrumento de avaliação que

contemple a avaliação

qualitativa, em conjunto com a

equipe da Secretaria

Municipal da Educação.

Secretaria

Municipal da

Educação

Coordenadora/cursist

a

Fevereiro Definição do cronograma com

a coordenação geral para

formação dos professores.

Secretaria

Municipal da

Educação

Coordenadora/cursista

Março a

dezembro

Formação continuada para

professores da escola xxx e

demais professores do campo.

Secretaria

Municipal da

Educação

Coordenadora/cursist

a

Março a

dezembro

Acompanhamento pedagógico

e dos instrumentos avaliativos.

Escola XXXX Coordenadora

pedagógica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A avaliação deve ser o processo a serviço do direcionamento de toda a

atividade pedagógica do professor e da escola. Pensando assim, ela deve ser vista

como instrumento que propicia a aprendizagem. Para tanto, é preciso assumir a

concepção de que essa atividade não tem fim em si mesma, mas que possa

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favorecer ao educando a possibilidade de confrontar seus conhecimentos e (re)

construí-los.

A presente pesquisa procurou buscar entender o processo avaliativo utilizado

pelos professores da escola XXX. O estudo mostrou que muitos dos educadores da

referida escola encaram a avaliação como um ato gerador de notas, as quais se

tornam fato relevante nesse processo e não a aprendizagem do aluno como deveria

ser. Tal crítica está mensurada nas palavras de Luckesi (2003), o estudioso da

avaliação, quando destaca que a avaliação é atravessada por uma pedagogia do

exame em detrimento de uma pedagogia de ensino aprendizagem.

Diante disso, o objetivo deste trabalho, além do de buscar entender o

processo avaliativo nas classes multisseriadas, foi também, e principalmente, o de

auxiliar na implementação de um modelo avaliativo qualitativo, o qual prime por uma

aprendizagem mais significativa. Contudo, no decorrer dessa fase de estudo e

análise, outro ponto crucial surgiu: o de ajudar os professores a rever suas

concepções de avaliação. Pois segundo Hoffman (2010), rever a concepção de

avaliação e os aspectos a ela subjacentes é rever certamente as concepções de

ensino e aprendizagem, de educação e de escola, apoiadas em princípios e valores

comprometidos com a instituição e com a formação do aluno cidadão. E para que

aja uma mudança de postura e consequentemente a implementação de um modelo

de avaliação qualitativa, se fez necessário que os professores busquem entender

quais concepções de avaliação têm e procurem também estudar um pouco mais

outros métodos avaliativos.

Conclui-se, então, que muitos dos professores já percebem a avaliação como

uma atividade didática, pedagógica permanente e necessária ao trabalho docente.

Porém, ainda resistem a colocá-la em pratica. Nesse sentido, entende-se que há

muito para ser feito no sentido de melhorar todo esse processo concernentes às

práticas avaliativas. Portanto, esse trabalho não se encerra por aqui.

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