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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA NACIONAL ESCOLA DE GESTORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA PÚBLICA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA CECOP 3 ALDENIR MENDES MASCARENHAS A ROTINA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR Salvador 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA NACIONAL ESCOLA DE GESTORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA

PÚBLICA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA – CECOP 3

ALDENIR MENDES MASCARENHAS

A ROTINA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR

Salvador

2015

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ALDENIR MENDES MASCARENHAS

A ROTINA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR

Projeto Vivencial apresentado ao Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica Pública, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, como requisito para a obtenção do grau de Especialista em Coordenação Pedagógica. Orientadora: Prof.ª Anita dos Reis de Almeida

Salvador

2015

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ALDENIR MENDES MASCARENHAS

A ROTINA PEDAGÓGICA PARA NA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR

Projeto Vivencial apresentado como requisito para a obtenção do grau de Especialista em Coordenação Pedagógica pelo Programa Nacional Escola de Gestores, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia.

Aprovado em janeiro de 2016.

Banca Examinadora

Primeiro Avaliador.____________________________________________________ Segundo Avaliador. ___________________________________________________ Terceiro Avaliador. ____________________________________________________

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Aos

Educadores e educandos da educação infantil.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao meu querido Pai por minha vida saudável e pela

oportunidade de construir esse trabalho, por me inspirar e me encorajar.

Aos meus familiares, pelo apoio neste momento, aos meus amigos pelas palavras

de ânimo e as crianças do ministério infantil, que eu lidero na igreja, por

compreenderem minha ausência e por todo carinho demonstrado. A todos, meu

muito obrigado.

A minha colega de trabalho e líder, Perpétua Maria Boaventura Sampaio pelo

incentivo através das suas atitudes que nos revelam que quando realmente

acreditamos, conquistamos.

A tutora Elaine Anunciação da Silva pelo apoio, incentivo e atenção no decorrer

desse curso.

A minha orientadora, Prof.ª Anita dos Reis Almeida, pela atenção, compreensão e

competência ao me auxiliar nesta jornada importante na minha vida acadêmica e

profissional.

À Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e ao Programa

Escola de Gestores, por oferecer essa especialização, pelo compromisso e

responsabilidade de qualificar tantos Coordenadores Pedagógicos que

consequentemente terão a oportunidade de desenvolver melhor a sua função e

promover mudanças na educação que contribuam para aprendizagem dos alunos e

para o trabalho dos professores.

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A intervenção educativa precisa, portanto, de uma mudança de

ótica substancial, na qual não somente abranja o saber, mas

também o saber fazer, não tanto o aprender, como o aprender

a aprender. (PELIZZARI et al.,2012, p.40).

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MASCARENHAS, Aldenir Mendes. A rotina pedagógica na educação pré-escolar:

2015. Projeto Vivencial (Coordenação Pedagógica) – Programa Nacional Escola de Gestores, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2015.

RESUMO

Esse trabalho aborda as contribuições da rotina pedagógica para o desenvolvimento da aprendizagem na educação pré-escolar. Foi desenvolvido com base em estudos de alguns autores que trazem informações importantes a respeito do tema e também através de uma pesquisa qualitativa feita com professoras que atuam na educação pré- escolar de uma escola pública municipal na cidade de Conceição do Coité, Bahia. Tem como o objetivo ajudar os docentes da educação pré-escolar, das escolas públicas municipais dessa cidade a utilizarem a rotina pedagógica como recurso didático que, além de facilitar a organização das atividades que serão desenvolvidas no cotidiano escolar, pode contribuir para um trabalho pedagógico de qualidade incidindo no desenvolvimento da aprendizagem das crianças de maneira significativa. Está presente neste trabalho uma proposta de intervenção, criada para tentar responder como a realização de um trabalho que inclui uma rotina pedagógica no seu cotidiano escolar pode contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem. Ressalta-se que o sucesso dessa proposta depende da existência da sintonia de ideias e práticas pedagógicas presente entre os profissionais da educação envolvidos nesse projeto. . Palavras-chave: Rotina pedagógica. Desenvolvimento. Aprendizagem. Cotidiano.

Educação pré-escolar.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro Cronograma do Projeto de Intervenção..................................... 42

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CECOP Curso de Especialização em Coordenação Pedagógica

LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

UFBA

UEFS

FASE

RCNEI

SESC

TCC

PV

AC

PI

PPP

EJA

CEC

PROGESTÃO

FUNDEB

Universidade Federal da Bahia

Universidade Estadual de Feira de Santana

Faculdade de Sergipe

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

Serviço Social do Comércio

Trabalho de Conclusão de Curso

Projeto Vivencial

Atividade Complementar

Proposta de Intervenção

Projeto Político Pedagógico

Educação de Jovens e Adultos

Centro Educacional de Coité

Programa de Capacitação a Distância para Gestores

Escolares

Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação

Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................. 10

1 MEMÓRIA DE UMA PEDAGOGA............................................................ 14

1.1 VIDA ACADÊMICA E PROFISSIONAL..................................................... 16

1.2 EXPECTATIVAS.......................................................................................... 21

2 A ROTINA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL.......................... 23

3 A ROTINA PEDAGÓGICA NO COTIDIANO DAS CRIANÇAS DA

EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR DE UMA ESCOLA PÚBLICA

MUNICIPAL................................................................................................

30

3.1 ORGANIZAÇÃO DO AMBIENTE ESCOLAR............................................ 30

3.2 CONCEPÇÃO DA ROTINA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO PRÉ- -

ESCOLAR ................................................................................................

32

3.3 ATUAÇÃO DA CORDENAÇÃO PEDAGÓGICA E A FORMAÇÃO

CONTINUADA ..........................................................................................

39

3.3.1 Resultados esperados ...........................................................................

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................

43 44

REFERÊNCIAS........................................................................................... 47

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INTRODUÇÃO

São muitas as discussões que ocorrem em torno das propostas de trabalhos

oferecidas à educação infantil, mas em meio aos diversos assuntos inerentes a essa

etapa da educação básica, escolhi pesquisar sobre as contribuições da rotina

pedagógica para o desenvolvimento da aprendizagem na educação pré-escolar.

O que acontece diariamente dentro das escolas precisa ser organizado

cuidadosamente, principalmente pelos profissionais responsáveis pelo

desenvolvimento das atividades que promovam a construção do conhecimento das

crianças. É importante que o espaço preparado para receber as crianças da

educação infantil seja acolhedor, mas também deve-se considerar que a

organização desse espaço e das atividades precisa ser pensada para promover o

prazer das crianças em frequentar esse ambiente e também a participação delas

nas atividades de maneira a estimulá-las nas suas expressões de ideias,

pensamentos e sentimentos.

O professor da educação infantil precisa saber como organizar sua proposta

de trabalho diário com as crianças, para que a mesma seja atraente e promova

aprendizagem por meio de descobertas significativas. Na obra, Por amor e força

rotinas na educação infantil, sua autora ressalta: “podemos observar que a rotina

pedagógica é um elemento estruturante da organização institucional e de

normatização da subjetividade das crianças e adultos que frequentam os espaços

coletivos de cuidados e educação.” (BARBOSA, 2006, p.45).

Pretendo por meio desse trabalho, responder a seguinte questão: De que

maneira a proposta de trabalho com rotina pedagógica na educação pré-escolar

pode contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem?

Como Coordenadora Pedagógica da Educação Pré-escolar, que atende

crianças na faixa etária de 4 e 5 anos, percebo que a maioria das atividades

educativas propostas pelos profissionais, que são coordenados por mim, se

concentra no desenvolvimento da escrita e no reconhecimento das letras, na escrita

do nome próprio, de algumas palavras e dos números. Não que o trabalho com a

escrita seja desnecessário na educação infantil, ao contrário, ele é muito importante.

Sabemos que na realidade da maioria dos alunos que frequentam as instituições

públicas de educação, a escola é o único lugar que lhes permite o acesso à cultura

escrita. (SCARPA, 2006). A minha preocupação surge com a forma como se propõe

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o acesso à escrita, muitas vezes antecipando a escolarização característica do

ensino fundamental e deixando de lado a maneira como a criança da educação pré-

escolar constrói significantemente os seus conhecimentos em relação à escrita.

Scarpa (2006), explica que na educação infantil as informações sobre a escrita não

acontecem apenas quando o educador mostra para seus educandos as letras que

compõem uma palavra, nessa etapa às crianças adquirem como muito mais sentido

o conhecimento sobre a escrita quando participam de diferentes situações de

práticas de leitura, nas quais fazem leituras não convencionais ou têm o professor

como leitor, brincam com a sonoridade das palavras, participam de produções de

escrita em que o professor atua como escriba e também quando escrevem da

maneira que sabem e o professor faz as mediações necessárias para que haja

evolução das hipóteses silábicas. O trabalho com a rotina pedagógica na educação

pré-escolar favorece as crianças o acesso à escrita como sugerido por Scarpa e

também ao desenvolvimento de outras habilidades.

Antes de exercer a função de coordenadora pedagógica atuei como

professora e como tal, utilizava a rotina pedagógica como recurso para organizar as

atividades diárias que seriam desenvolvidas na classe em que lecionava. Por meio

dela proporcionava atividade de escrita, na qual eu era a escriba, o desenvolvimento

da oralidade, da noção de ordem, expressão das ideias e pensamentos através da

fala e situava as crianças sobre o que iria ocorrer durante o período em que elas

estavam na escola. Com a proposta de trabalho organizada a partir de uma rotina

pedagógica eu passei a perceber o que, para as crianças, era mais atrativo e

prazeroso e isso me ajudava na elaboração das aulas que seriam propostas a elas.

Tendo experimentado o trabalho com a rotina e sabendo dos seus benefícios,

sugeri aos professores que coordeno que experimentassem utilizar a rotina como

recurso pedagógico. Nas visitas as escolas para acompanhar e orientar os

professores percebia que a maioria dos profissionais não se interessava em praticar

essa proposta de trabalho. Diante dessa situação, resolvi pesquisar sobre o tema e

aprofundar meus conhecimentos na expectativa de tornar meu objeto de estudo

relevante para o exercício da prática docente na educação pré-escolar por

proporcionar de forma significativa uma aprendizagem de qualidade às crianças de 4

e 5 anos, para que as mesmas ingressem no ensino fundamental com habilidades

necessárias para prosseguir seu desenvolvimento escolar.

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Pretendo apresentar fundamentos teóricos que ajudem no rompimento da

resistência de alguns profissionais no que diz respeito à inovação de suas práticas

como educadores que atuam nessa primeira etapa da educação básica. Com a

conclusão desse trabalho, terei a oportunidade de colocar em prática uma das

minhas funções de coordenadora pedagógica que é a formação continuada dos

professores que acompanho, através de encontros promovidos para a discussão do

tema. Nesses encontros, para socialização da pesquisa e das experiências sobre o

trabalho realizado com rotina pedagógica, o objetivo será a compreensão por partes

dos professores de como a organização de uma rotina pedagógica no cotidiano

escolar das crianças podem envolver avanços nas habilidades necessárias aos

alunos da educação pré-escolar.

A metodologia norteadora deste trabalho ocorreu através da leitura de

pesquisadores e teóricos que trazem informações significantes sobre o tema e

também por meio de uma pesquisa qualitativa feita na Escola X, no município de

Conceição do Coité, com as professoras que atuam na educação pré-escolar para

buscar informações sobre o que conhecem como rotina pedagógica, como ela

ocorre no cotidiano escolar e quais os benefícios que ela apresenta para o

desenvolvimento da turma.

A partir de estudos que fundamentam a necessidade da rotina pedagógica na

educação pré-escolar para o desenvolvimento de um trabalho intencional de

qualidade que possibilita o desenvolvimento da aprendizagem das crianças nessa

faixa etária e com a socialização do resultado desse trabalho espero, como

profissional da educação infantil, fazer com que os educadores percebam a

importância de incluir a rotina pedagógica na sua prática docente, entendendo como

essa inclusão pode contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem dos seus

alunos e, o mais importante, contribuir para inclusão, no cotidiano das instituições

públicas, que ofereçam educação pré-escolar, no município de Conceição do Coité,

de uma rotina pedagógica construída a partir do olhar do educador sobre as

necessidades e prazeres dos seus educandos, com a participação das crianças e

que favoreça significantemente, na formação desses sujeitos.

Para tratar do meu objeto de estudo, o presente trabalho inicia o primeiro

capítulo com um memorial que aborda, de maneira breve, a minha vida estudantil,

acadêmica e profissional e as minhas expectativas com a função que exerço

atualmente na área da educação. Em seguida, no segundo capítulo fundamento

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meu trabalho com base nos teóricos estudados. Na tentativa de responder como a

rotina pedagógica pode contribuir para aprendizagem das crianças inseridas na

educação pré-escolar apresento, no terceiro parágrafo desse texto, a minha

proposta de intervenção e, para concluir, trago as considerações finais do meu

Projeto Vivencial elaborado como Trabalho de Conclusão de Curso da minha

Especialização em Coordenação Pedagógica oferecida pela Universidade Federal

da Bahia.

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1 MEMÓRIA DE UMA PEDAGOGA

“O Memorial é um documento que retrata determinado período e registra

aspectos essenciais, vivido em um determinado espaço de tempo.” (BRASIL, 2008,

p.6). Assim, proponho-me, através desse trabalho, solicitado como atividade do

Trabalho de Conclusão de Curso da Especialização em Coordenação Pedagógica,

pelo Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica, UFBA, escrever

sobre minha história, focando na minha vida acadêmica, na minha vida como

profissional da educação e nas minhas expectativas com a conclusão dessa

especialização para minha vida profissional.

Meu nome é Aldenir Mendes Mascarenhas, sou brasileira, nasci na cidade

de Conceição do Coité-Ba no dia vinte oito de junho de mil novecentos e setenta e

quatro. Antes de abordar sobre a minha vida acadêmica e profissional, nesse

documento, quero expressar a experiência marcante que vivenciei no período de

escolarização.

Costumo afirmar que a educação escolar tradicional que obtive durante a

minha vida estudantil contribuiu de forma negativa para o meu desenvolvimento

cognitivo. Prosseguia na escola como depósito de informações transmitidas por

professores, na qual eu era um sujeito passivo, que aceitava tudo como uma

verdade, sem motivação para construir conhecimentos, pois o ensino, na maioria

das vezes, ocorria através da cópia e memorização de questionários de vinte

questões e avaliação acontecia por meio de provas que constavam dez das vinte

questões que eu decorava na véspera da prova que testificava minha

"aprendizagem".

Não me recordo de nenhum momento na minha infância, de uma roda de

conversa promovida por professoras, em que o objetivo era buscar os

conhecimentos prévios dos alunos ou propor um momento para que eles pudessem

desenvolver a expressão oral e corporal e expor suas ideias e sentimentos. O

processo de ensino e aprendizagem acontecia de maneira mecânica. O

conhecimento era transmitido pelo professor sem a preocupação de uma

assimilação por parte do aluno. Eu recebia as informações e tentava mantê-las vivas

em minha memória, repetindo o que era transmitido até o dia da prova, depois disso

poucas coisas permaneciam vivas. Por que o que importava era ser aprovada e não

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garantir a aprendizagem. De acordo coma teoria da aprendizagem significativa de

Ausubel:

A aprendizagem é muito mais significativa à medida que o novo conteúdo é incorporado às estruturas de conhecimento de um aluno e adquire significado para ele a partir da relação com seu conhecimento prévio. Ao contrário, ela se torna mecânica ou repetitiva, uma vez que se produziu menos essa incorporação e atribuição de significado, e o novo conteúdo passa a ser armazenado isoladamente ou por meio de associação

arbitrárias na estrutura cognitiva. (PELIZZARI et al. ,2002, p.38).

Só compreendi que o meu processo de aprendizagem foi mecânico e sem

significado ao ingressar no ensino médio, em uma escola particular em Salvador, e

depois na universidade. Na minha cidade era comum alguns pais, que tinham

condições financeira para investir na educação, enviarem seus filhos para

estudarem em escolas particulares em Salvador, pois as escolas que ofereciam o

ensino médio, naquela época, não preparavam para o vestibular. Quando fui estudar

em uma escola particular em Salvador, com a metodologia de ensino e

aprendizagem totalmente diferente da que eu tinha experimentado durante minha

vida toda, tive grandes dificuldades, principalmente para interpretar o que eu lia, já

que na educação tradicional o importante era decodificar e não interpretar. Passava

horas tentando decorar um texto, quando o que eu precisava era compreendê-lo,

então comecei a perceber que não sabia interpretar uma história ou um texto, pois

tinha passado a vida toda decorando para fazer a prova, através de aulas copistas e

sem significado.

Essa dificuldade percorreu até na minha vida acadêmica, quando finalmente

algumas disciplinas do curso de pedagogia esclareceram o que ocorreu comigo na

minha vida escolar. A partir das novas experiências vivenciadas no ensino médio e

na universidade, passei a compreender o que lia, pois na universidade o aluno é

estimulado a construir seus conhecimentos e o professor atua como um facilitador

da aprendizagem. Por isso, hoje, é comum nos meus discursos ouvir ou ler a palavra

“significativa”. Por experiência, confio no processo de ensino e aprendizagem que

enxerga no aluno um sujeito ativo, capaz de participar e construir os seus

conhecimentos. A respeito da aprendizagem significativa foi constatado:

Efetivamente, a aprendizagem significativa tem vantagens notáveis, tanto do ponto de vista do enriquecimento da estrutura cognitiva do aluno como do ponto de vista da lembrança posterior e da utilização para experimentar novas aprendizagens, fatores que a delimitam como sendo a aprendizagem

mais adequada para ser promovida entre os alunos. (PELIZZARI et al.,

2002, p.39).

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Diante dessa frustrante experiência estudantil, o objeto de estudo, que

pretendo pesquisar no decorrer do meu TCC, nesse referido Curso de

Especialização, se relaciona com minha formação pessoal, por não querer assistir

às crianças da educação infantil “aprendendo” como eu “aprendi”, ou seja, sem

significado. Relaciona-se com minha prática profissional, por ter a oportunidade de

contribuir com uma prática docente que favorece ao aluno a chance de construir

seus conhecimentos por estar inserido numa rotina pedagógica que oferece tal

condição e também apresenta relação como minha vida acadêmica, pelo fato de ter

tomado conhecimento da minha aprendizagem insignificante, através dos meus

estudos na minha formação como pedagoga.

Depois de apresentar de maneira breve o que vivenciei na minha infância e

adolescência como estudante, prosseguirei sucintamente relatando sobre a minha

vida acadêmica e profissional.

1.1 VIDA ACADÊMICA E PROFISSIONAL

Conclui em 2006 o curso de Pedagogia com habilitação em Educação Pré-

escolar na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). A minha primeira

especialização, em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Faculdade de

Sergipe (FASE), foi concluída em 2010. Além da minha formação e especialização,

fiz outros cursos que contribuíram para o aperfeiçoamento da minha profissão

como: Curso de Capacitação e Qualificação para Professores da Educação Infantil

com enfoque em Psicomotricidade, em 2008, pela RH Max Consultoria de Ensino e

Capacitação Docente, Formação Continuada, promovida pela Secretaria Municipal

de Educação e Cultura, em 2010. Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da

Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb),

Módulo de Controle Social para Conselheiros e Programa de Transporte Escolar,

em 2012, Programa Dinheiro Direto na Escola e Competências Básicas, em 2013 e

Programa Nacional de Alimentação Escolar em 2014. Todos esses cursos fazem

parte do Programa Formação pela Escola. Em 2014, conclui o curso Programa de

Capacitação a Distância para Gestores Escolares - PROGESTÃO. Participei

também de várias Jornadas Pedagógicas, Seminários e Congressos com temas

voltados para educação.

Durante o período em que estava fazendo a minha graduação, devido a

minha carga horária de trabalho e alguns fatores relacionados à minha vida

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pessoal, não me dediquei a cursos paralelos ao da minha formação. Apenas

participava de alguns seminários, jornadas e congressos que tivessem proveitos

para complementação da minha carga horária na faculdade. A partir do momento

que comecei a exercer a prática pedagógica, começou a despertar interesses em

estudos que aprimorassem o meu trabalho como educadora. Mas, não foi logo no

início da minha prática docente que comecei a fazer novos cursos. Após algum

tempo exercitando o meu trabalho, senti a necessidade de buscar novos

conhecimentos que contribuíssem para minha vida profissional. A partir daí, foi

gerado um novo prazer pelos estudos e a vontade de conhecer e exercer minha

prática pedagógica com qualidade.

Minha primeira experiência profissional na educação aconteceu no ano de

2002 como estagiária de uma instituição particular, Escola Asas de Papel, na

cidade de Feira de Santana. Nesse período, eu estava cursando disciplinas em

vários semestres e ainda não tinha certeza se realmente a educação era área

profissional que eu queria atuar. A oportunidade de trabalhar como auxiliar de

ensino nas turmas da educação infantil em uma escola comprometida com a

educação, com profissionais docentes capacitados que tinham além do espaço

adequado, dos materiais pedagógicos de qualidade, um acompanhamento

constante de duas coordenadoras pedagógicas, uma específica para a educação

infantil e outra para o acompanhamento do ensino fundamental, me proporcionou

um despertar na minha vida profissional. Foi exatamente nessa ocasião que decidi

prosseguir com dedicação no curso de Pedagogia para seguir carreira na

educação. Até hoje aplico na minha prática profissional aprendizagens adquiridas

no meu período de estágio nessa referida instituição.

A segunda experiência ocorreu no ano de 2005, como estagiária na Escola do

Serviço Social do Comércio (SESC), em Feira de Santana. Nesse estágio, eu

auxiliava no trabalho de acompanhamento escolar, no qual crianças dessa escola

e de outras, tinham reforço escolar e participavam de projetos. Foi nessa

experiência que realizei meu primeiro projeto, solicitado pelo SESC, em que as

crianças vivenciaram o resgate de algumas brincadeiras de rua. Ainda na Escola

do SESC, fiz o estágio solicitado pela UEFS para conclusão de curso e pela

segunda vez experimentei o trabalho com turmas da educação infantil. No ano

seguinte, 2006, por intermédio desse estágio, fui contratada para assumir uma

turma do maternal na Escola Pequeno Príncipe, também particular em Feira de

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Santana. Foi uma experiência significativa, com um acompanhamento de

coordenação pedagógica de qualidade, e que me ofereceu experiências

importantes para o exercício do meu trabalho atual. Mas, devido a problemas

pessoais, não continuei trabalhando nessa escola, lecionei apenas um ano e voltei

a residir na minha cidade natal, Conceição do Coité.

Ao retornar para minha cidade de origem, prestei serviço temporário no

Colégio Estadual Professora Olgarina Pitangueira Pinheiro nas turmas da

Educação de Jovens e Adultos (EJA), o que para mim não foi uma boa

experiência, pois essa não é a área que estou habilitada para trabalhar e por isso

não exerci o meu trabalho com qualidade.

Em 2007, logo após o trabalho com as turmas da EJA, surgiu uma seleção

para professor substituto da rede municipal de ensino de Conceição do Coité.

Participei do processo seletivo, fui aprovada e convocada para trabalhar no ano

seguinte, em 2008. Como professora substituta, trabalhei por dois anos na Escola

Mundo Infantil no distrito de Salgadália. Foi considerável para minha carreira a

experiência vivenciada com alunos de três e cinco anos nessa escola. A

dificuldade enfrentada nesse período foi o fato de ter como uma de minhas alunas

uma criança especial portadora da Síndrome de Down. Ela era uma criança

adorável e muito querida pela turma, o que me incomodava era o meu despreparo.

Apesar de tentar incluí-la na turma com atenção e carinho, não sabia como realizar

atividades que pudessem proporcioná-la avanços significativos na aprendizagem.

Hoje, numa situação como essa eu enfrentaria diferente, pois com certeza buscaria

ajuda através de outras pessoas e por meio de pesquisas e estudos. Mas, naquele

período, eu apenas me frustrei e reconheço que fui passiva diante da situação.

Poderia ter sido melhor.

Ainda como professora substituta, assumi uma turma de primeira série.

Trabalhar com essa turma foi algo novo, já que o meu exercício acontecia com

maior frequência na educação infantil. Com esses alunos enfrentei a realidade

ainda comum nas escolas públicas, alunos com idade avançada e sem as

habilidades de escrita e leitura comum para a faixa etária. Foi difícil, mas também

gratificante participar do avanço dessas crianças.

No final de 2009 meu contrato como professora substituta foi finalizado. Em

outubro de 2009, antes da conclusão dos contratos, a Prefeitura Municipal de

Conceição do Coité realizou um concurso público para professores. Participei do

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concurso e fui aprovada como professora da educação infantil. Trabalhei nos anos

de 2010, 2011 e 2012 como professora de creche, onde desempenhei com

dedicação o meu trabalho. Em 2011, participei de um concurso, por meio da

apresentação e desenvolvimento de um projeto com as crianças da creche, cujo o

tema era “A leitura e o universo do aprender”, promovido pela Secretaria de

Educação e Cultura do município. Nesse concurso, recebi o Certificado de Honra

ao Mérito pelo primeiro lugar no Prêmio Professor de Qualidade 2011, categoria

creche. Com esse título meu trabalho tornou-se reconhecido e apreciado por

alguns colegas da área de educação.

Em 2013, após a mudança da gestão municipal, fui indicada para assumir o

cargo de coordenadora pedagógica da educação infantil, das turmas pré-escolar,

do município de Conceição do Coité. Foi uma excelente surpresa e a realização de

um sonho. Nunca almejei cargo de direção escolar, mas desde a faculdade tinha o

desejo de um dia atuar como coordenadora pedagógica. Apesar de nesse período,

estar também atuando como coordenadora da educação infantil no Centro de

Educação de Coité (CEC), uma das melhores escolas particulares da cidade, e de

já ter trabalhado como coordenadora pedagógica em outra escola, também

particular, ser convidada para fazer parte da coordenação pedagógica da

educação infantil do município foi uma honra e um grande desafio. Desde então, é

nessa função que tenho atuado e me dedicado.

No cargo de coordenadora pedagógica, oriento os professores da educação

infantil na construção dos planejamentos das aulas direcionadas aos alunos da

pré-escola, crianças de 4 e 5 anos. Reunimo-nos por unidade para elaboração do

planejamento coletivo, no qual apresento para os professores as competências,

habilidades, conteúdos e sugestões de algumas atividades para serem

desenvolvidas com os alunos, dando-lhes liberdade para sugerir e alterar a

proposta apresentada, desde que não atrapalhe o processo de ensino e

aprendizagem. Também aproveito esse momento para socialização das

experiências vivenciadas pelos professores nas escolas e o esclarecimento de

dúvidas relacionadas ao trabalho. No decorrer da unidade, visito as escolas e os

professores com objetivo de observar os trabalhos desenvolvidos e ajudá-los nas

suas dificuldades, aproveitando também para analisar os desenvolvimentos dos

alunos, verificar as dificuldades no processo de ensino e aprendizagem e fazer os

encaminhamentos necessários para solucionar os problemas encontrados.

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A experiência como coordenadora pedagógica me proporcionou a

observação de várias práticas docentes na educação infantil, particularmente na

pré-escola. Percebo que a maioria dos educadores dessa área, focaliza sua

metodologia de ensino no aprendizado da escrita, principalmente na escrita do

nome, no reconhecimento das letras, na identificação dos números e na contagem

oral. É comum ouvir dos educadores que coordeno os termos “coordenação

motora” e “escrita do nome”, o que me leva a acreditar que, para eles, essas são

as principais habilidades a serem desenvolvidas nas crianças da educação pré-

escolar. Essa situação tem gerando um desconforto durante as minhas visitas ás

escolas e conversas com alguns professores. Na verdade, o que acontece, é que

muitos dos profissionais que atuam na educação infantil, não estão habilitados

para trabalhar nesse segmento e por não terem um conhecimento aprofundado na

área que estão atuando acabam formulando ideias ao invés de buscarem

conhecimentos com fundamentação teórica para desempenhar bem o seu

trabalho. Sei que as habilidades citadas são importantes e devem ser

desenvolvidas, mas, com significado. Além do que já foi mencionado, notei, na

minha atuação como coordenadora pedagógica, que pouco se sabe sobre a

necessidade de uma rotina pedagógica para o desenvolvimento de uma educação

infantil de qualidade.

Durante as visitas feitas às escolas que coordeno, ao solicitar a apresentação

do que foi planejado para aquele dia, era notório na maioria dos casos que não

havia uma preocupação com a organização da rotina no planejamento, muito menos

uma preocupação com os interesses das crianças, o que elas gostavam, para o

desenvolvimento da aula. Percebendo isso, passei a sugerir a organização de uma

rotina pedagógica nos nossos encontros para o planejamento coletivo do que seria

trabalhado com os alunos durante a unidade. Além de sugerir, expliquei como tornar

essa rotina proveitosa para explorar e desenvolver algumas das habilidades

propostas no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI).

Apesar disso, não percebi durante as visitas de acompanhamento pedagógico que a

proposta estava sendo colocada em prática. Os alunos continuavam sem ter

conhecimento do que seria proposto no cotidiano escolar, apenas esperavam

acontecer, e era possível perceber que o que mais importava era seguir o que foi

proposto no planejamento coletivo ou nem isso, pois já encontrei situações em que

as crianças estavam dispersas por não haver uma aula preparada para aquele dia e

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o professor estava na sala apenas para constar que foi trabalhar. Diante dessa

situação, senti a necessidade de pesquisar sobre as contribuições da rotina

pedagógica para o desenvolvimento da aprendizagem na educação pré-escolar.

O trabalho como coordenadora da educação infantil, viabilizou o meu

ingresso nesse curso de Especialização em Coordenação Pedagógica e através

dele obtive conhecimentos consideráveis para o aprimoramento da minha prática

pedagógica. Exponho a seguir a minha esperança profissional com base na

proposta apresentada nesse curso.

1.2 EXPECTATIVAS

Pretendo, através das pesquisas, para elaboração do meu PV, obter

fundamentos teóricos e argumentos convincentes que sirvam para orientar a

prática docente e promover a construção de uma rotina pedagógica que contribua

para a aprendizagem dos alunos da pré-escola. Diante de tanta resistência que

tenho percebido entre os professores, no que diz respeito à necessidade de

atualização da prática pedagógica na educação pré-escolar espero, através desse

trabalho, sensibilizar os profissionais que atuam na área que coordeno de que uma

sala de aula na educação infantil organizada a partir das necessidades das

crianças pode favorecer significantemente a vida do cotidiano escolar e facilitar o

trabalho do educador, por tornar o ambiente mais atrativo e participativo para as

crianças. Para que isso ocorra, colocarei em prática uma das minhas principais

funções que é a formação continuada dos professores, através da socialização das

informações obtidas na minha pesquisa que esclarecerão sobre como a rotina

pedagógica pode favorecer o trabalho desses professores e a aprendizagem das

crianças. Com esse trabalho concluído, a minha atuação profissional terá um

impacto por meio da multiplicação dos conhecimentos que adquiri no decorrer

dessa formação o que, consequentemente, trará um olhar mais aprofundado no

que diz respeito à organização da rotina pedagógica na sala de aula, ou seja,

desejo impactar, enquanto coordenadora pedagógica, provocando mudanças na

prática pedagógica dos profissionais das escolas que atuo.

“Entendemos a coordenação pedagógica como uma assessoria

permanente e continuada ao trabalho docente.” (LIMA; SANTOS, 2007, p.79). Cuja

uma das suas principais contribuições é: “fornecer subsídios que permitam aos

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professores atualizarem-se e aperfeiçoarem-se constantemente em relação ao

exercício profissional.” (PILETTI, 1998, p. 125 apud LIMA; SANTOS, 2007, p.79).

Assim, como me apresentei disposta a aproveitar a oportunidade de

participar do curso de Especialização em Coordenação Pedagógica com a

pretensão de atualizar-me quanto à função profissional que exerço atualmente,

buscando aperfeiçoar meus conhecimentos, espero que os educadores também se

mostrem abertos para as mudanças que vem acontecendo na educação infantil e

assim, permitam que o coordenador exerça uma das suas principais funções, como

foi mencionado no parágrafo anterior. Para que a mudança ocorra e haja qualidade

na educação, é preciso que os profissionais dessa área andem em sintonia.

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2 A ROTINA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Antes de abordar sobre a rotina pedagógica, apresentarei com base nos

teóricos estudados para elaboração desse trabalho, aspectos que considero

importantes para o desenvolvimento de uma prática pedagógica que promova

aprendizagem e educação de qualidade na educação infantil.

“O significado da “Proposta Pedagógica de Educação Infantil” é a busca de

organização do trabalho de cuidar e educar crianças de 0 a 5 anos, em creches e

pré-escolas, completando a ação da família e da comunidade.” (SALLES; FARIAS,

2012, p.20). Apesar de atualmente a educação infantil ocupar um papel de destaque

na educação básica, como antes não existia, e haver uma proposta pedagógica que

tem como finalidade a organização do trabalho que promova cuidados e uma

educação de qualidade, ainda é comum nos depararmos com profissionais que

trabalham nesse segmento sem a preparação necessária para desenvolver uma

proposta pedagógica que realmente promova o desenvolvimento da aprendizagem

na educação infantil.

A LDBEN nº 9394/96 define a educação infantil como primeira etapa da

educação básica e tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até

5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,

complementando a ação da família e da comunidade. O que a lei afirma sobre a

finalidade da educação infantil precisa ser urgentemente colocado em prática nas

escolas que oferecem esse serviço, sem pretensão de generalizar, mas, diante da

minha prática e realidade, esse segmento ainda não tem sido encarado como a lei

determina, pois nele é comum encontrarmos professores que trabalham sem perfil e

habilidade para promover o desenvolvimento integral em todos os seus aspectos e

uma aprendizagem significativa que sirva de base para prosseguir com qualidade os

estudos nos anos posteriores. São variados os conceitos sobre infância e a

educação infantil por parte dos profissionais que nela atuam e essa situação

compromete a proposta prevista pela lei. Em uma discussão sobre as concepções

de infância e educação infantil foi verificado que:

Historicamente, a noção de infância tem sido vinculada à visão de um ser desprotegido, que merece cuidados pois nele se depositam as esperanças de futuro. Tal visão obscurece o fato de que, quando o presente e o passado dessa criança não são levados em consideração, as perspectivas de futuro tornam-se limitadas, uma vez que à visão da criança real, inserida num contexto sociocultural específico, se sobrepõe uma criança idealizada, tomada pelo que lhe falta. (MICARELLO; DRAGO, 2005, p. 133).

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Quando não se compreende a criança como ser individual e desconsidera a

sua história e o contexto na qual está inserida, o educador encara a sala de aula

como um todo, colocando as suas expectativas naquilo que acredita ser ideal,

ignorado que a realidade precisa ser compreendida para ser transformada a partir de

uma educação que entende a criança como um ser individual que pensa, se

expressa e é capaz de construir novos conhecimentos a partir dos que já possuem.

Estudos contemporâneos sobre a infância enfatizam que a criança é um sujeito social, que possui história e que, além disso, é produtora e reprodutora do meio no qual está inserida, atuando, portanto, como produtora de história e cultura. (MICARELLO; DRAGO, 2005, p.133).

A prática da educação infantil como um trabalho voltado para crianças vistas

como seres sem capacidade de expressar suas ideias, que não sabem de nada e

necessitam de um cuidado excessivo, que impossibilita o desenvolvimento da

autonomia, carece de ser abolida e para que isso ocorra acredito que o primeiro

passo é a exigência de profissionais habilitados e competentes para atuar nessa

área.

É inaceitável o consentimento a todo profissional licenciado para atuar na

educação infantil. Digo isso pelo fato de encarar situações de pessoas trabalhando

com crianças da educação infantil, acreditando que é um trabalho fácil, no qual não

há necessidade de se avaliar o processo de aprendizagem, pois basta deixá-las

brincar e entregar desenhos prontos para colorir ou papel em branco para riscar. Em

alguns casos esses profissionais aparecem para atuar na educação infantil

simplesmente para completar a sua carga horária de trabalho. Enquanto não houver

uma determinação legal que garanta a essas crianças o direito de uma educação

infantil com profissionais qualificados, continuaremos seguindo com deficiência

neste segmento da educação básica. Enxergo a educação infantil como a base de

toda a educação. Assim, se ela for de qualidade, a probabilidade de o sujeito

continuar com bom desempenho nas outras etapas da educação é bem maior.

A obra de Sonia Kramer, Profissionais da educação infantil: gestão e

formação, traz relatos importantes a respeito do que alguns educadores pensam

sobre a relação entre a teoria e a prática nas práticas de formação:

Analisando o que dizem sobre essa relação, foi possível perceber algumas questões recorrentes nos depoimentos, que podem ser sintetizados nos seguintes eixos: referências a professores que afirmam ter se formado na prática, no próprio exercício das atividades profissionais da educação infantil; discussões em torno da situação de profissionais que, tendo uma formação “teórica”, não conseguem traduzir a teoria em mudanças significativas na prática; a visão de profissionais que trabalham como

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formadores de professores sobre a relação teoria e prática nas práticas de formação. ( MICARELLO, 2005, p.141).

Para profissionais que acreditam na importância de uma educação infantil de

qualidade para o desenvolvimento integral da criança que promovem a

aprendizagem de maneira significativa, é difícil conviver com a realidade de

educadores com o discurso de que a sua prática foi construída a partir da sua

experiência na ausência de teorias que os direcionassem pois, na maioria desses

casos, o que se presencia é uma prática pedagógica fora do contexto na qual as

crianças estão inseridas, na tentativa de antecipar o trabalho de escolarização

presente nas séries iniciais do ensino fundamental.

Pensar nos discursos vindos de alguns educadores sobre a valorização do

profissional da educação que, em muitos casos, se limitam a questão da melhoria da

remuneração, é refletir: Será que quando o professor não está aberto para o novo,

permanece na situação de comodidade, e resiste a conhecer e aperfeiçoar a sua

prática, não consegue compreender que ele mesmo não valoriza a profissão que

escolheu? Será que os alunos não merecem avançar com as mudanças que

proporcionam melhoria na educação? Um profissional afirmar que sua formação se

deu apenas no exercício da sua prática é contradizer a sua profissão de educar e

promover conhecimentos. A prática é importante e realmente nos fornece grandes

aprendizados quando se relaciona com teorias.

No caso do educador que teve acesso a uma formação, mas não consegue

colocar os conhecimentos adquiridos por meios das teorias em prática e,

consequentemente, não muda, significantemente a sua prática, é uma outra

realidade que dificulta a qualidade e melhoria da educação infantil. Há realmente

falhas na formação dos professores, há teorias que são difíceis de praticá-las, mas

isso não dá legalidade para não buscar melhorar, permanecer no comodismo e

continuar negligenciando a sua prática e desvalorizando o papel do educador. Será

possível obter autonomia quando não se buscar conhecer, mudar e promover uma

educação de qualidade?

É extremamente necessário, no campo da educação infantil, ter acesso a

informações que esclareçam o processo de desenvolvimento do conhecimento das

crianças. Piaget (1972) apresenta o desenvolvimento do conhecimento em quatro

estágios e explica sua formação baseado em quatro fatores: maturação, experiência,

transmissão social em sentido amplo e equilibração.

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De acordo com o teórico Jean Piaget (1972), a maturação apesar de não ser

suficiente para o desenvolvimento do conhecimento, desempenha um papel

indispensável e não pode ser ignorada. Para ele a experiência não explica tudo, mas

é um fator básico no desenvolvimento das estruturas cognitivas. Quanto a

transmissão social, Piaget considera fundamental, mas não suficiente e ressalta a

importância de se considerar o estado de compreensão da informação na qual sua

estrutura permita a assimilação do que está sendo informado. Por fim, ele fala do

fator que ele considera fundamental, a equilibração, no qual acontece o equilíbrio

entre os outros três fatores já existentes.

Segundo Piaget (1972), a aprendizagem está subordinada ao

desenvolvimento e não vice-versa. Ele ressalta a assimilação, definida por ele como

a integração da realidade em uma estrutura, como fundamental na aprendizagem.

Sendo a aprendizagem possível apenas quando há uma assimilação ativa.

Diante da teoria de Piaget sobre desenvolvimento e aprendizagem, como

aceitar que a educação infantil possa ser dirigida por pessoas que acreditam que

apenas a prática dissociada de conhecimentos teóricos é capaz de fazer com que os

alunos tenham acesso a uma educação de qualidade. Na verdade, o que

comumente acontece é um “faz de conta” nessa importante etapa da educação,

quando a mesma é exercida por profissionais desqualificados. A teoria de Piaget,

como as de outros teóricos, nos traz grandes contribuições que promovem uma

aprendizagem compatível com a faixa etária da criança.

A intervenção educativa precisa, portanto, de uma mudança de ótica substancial, na qual não somente abranja o saber, mas também o saber fazer, não tanto o aprender, como o aprender a aprender. Para isso, é necessário que os rumos da ação educativa incorporem em sua trajetória um conjunto de legalidades processuais. (PELIZZARI et al.,2002, p.40).

A criança precisa ser compreendida como sujeito ativo do processo de ensino

e aprendizagem e jamais como deposito de informações. O educador sem base

teórica pode até desenvolver um bom trabalho, mas se ele enriquecer a sua prática

com teorias capazes de produzir um aperfeiçoamento produtivo no seu exercício

profissional, esse educador com certeza fará um trabalho ainda melhor.

A proposta da aprendizagem na escola precisa realmente ser significativa,

para que não ocorra uma aprendizagem temporária que facilmente será esquecida.

Como já foi citado anteriormente neste trabalho, com base na teoria da

aprendizagem significativa segundo Ausubel, a aprendizagem torna-se significante

quando um novo conteúdo é integrado às novas estruturas de conhecimento de um

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educando a partir da relação feita com o conhecimento que ele já possui. Pois,

quando não há essa relação o que de fato ocorre é uma aprendizagem mecânica ou

repetitiva, que produz menos significado e o novo conteúdo passa a ser armazenado

isoladamente ou por meio de associações arbitrária na estrutura cognitiva.

(PELIZZARI et al., 2002).

Pensar em aprendizagem significativa é também pensar em um ambiente

acolhedor que proporcione às crianças a possibilidade de aprender de forma

atraente, na qual elas constroem novos conhecimentos a partir dos que já possuem

e o educador age como facilitador desse processo e não como transmissor de

conteúdo. Barbosa e Horn (2001), ressaltam a importância de conhecer a classe e

suas necessidades para a partir desse conhecimento estruturar o espaço-temporal

de forma significativa.

É importante que o educador observe o que as crianças brincam, como estas brincadeiras se desenvolvem, o que mais gostam de fazer, em que espaço preferem ficar, o que lhes chamam mais atenção, em que momento do dia estão mais tranquilos ou mais agitados. Este conhecimento é fundamental para que a estruturação espaço-temporal tenha significado. Ao lado disto, também é importante considerar o contexto sociocultural no qual se insere e a proposta pedagógica da instituição, que deverá lhe dar suporte. (BARBOSA; HORN, 2001, p.67).

Além de conhecer as necessidades de cada turma e a organização do

ambiente educacional nas instituições que oferecem educação infantil, é preciso

considerar a importância de envolver as crianças em sua construção.

A ideia central é que as atividades planejadas diariamente devem contar com a participação ativa das crianças garantindo às mesmas a construção das noções de tempo e de espaço, possibilitando-lhes a compreensão do modo de como as situações sociais são organizadas e, sobretudo,

permitindo ricas e variadas interações sociais. (BARBOSA; HORN, 2001, p. 67-68).

O profissional da educação que atua em turmas da educação infantil deve se

atentar para aspectos importantes que fazem do espaço e tempo destinado às

crianças, no período em que permanecem na escola, proveitoso para aprendizagem.

O educador dessa etapa, precisa compreender a importância de considerar as

necessidades das crianças e a sua participação na construção da organização do

trabalho que será desenvolvido com a turma, da qual elas fazem parte. Os espaços

físicos, onde serão desenvolvidas as atividades, devem possibilitar experiências

múltiplas que promovam a criatividade, experimentação, imaginação e interação

com outras pessoas o que consequentemente contribuirá para o desenvolvimento

das diferentes linguagens expressivas. (BARBOSA; HORN, 2001).

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De acordo com o RCNEI, volume 2:

A promoção do crescimento e do desenvolvimento saudável das crianças nas instituições educativas está baseada no desenvolvimento de todas as atitudes e procedimentos que atendem as necessidades de afeto, alimentação, segurança e integridade corporal e psíquica durante o período do dia em que elas permanecem na instituição. (BRASIL,1998, p.50-51).

Baseado na citação acima, pode-se considerar a relevância de se organizar,

dentro do cotidiano escolar das crianças, uma rotina pedagógica que envolva o

desenvolvimento de todas as atitudes e procedimentos que garantam as

primordialidades dessas crianças. Mas, antes de elaborar a rotina, é preciso que o

educador compreenda o que realmente significa uma rotina pedagógica e quais as

suas utilidades para o desenvolvimento da aprendizagem, caso contrário essa

organização pode torna-se insignificante para o desenvolvimento de habilidades que

facilitarão a aprendizagem dos educandos.

“A rotina é uma categoria pedagógica que os responsáveis pela educação

infantil estruturaram para a partir dela, desenvolver o trabalho cotidiano nas

instituições de educação infantil.” (BARBOSA, 2006, p.35). Sendo um elemento

pedagógico a rotina precisa ser bem construída, de maneira que atinja os interesses

e necessidades de todos os que estão envolvidos e principalmente, que promova

situações de aprendizagem.

A construção de uma rotina dentro do cotidiano escolar serve como forma de

organizar as atividades que serão desenvolvidas, propõe segurança e orienta as

crianças e professores. “A repetição de certas ações, de determinadas práticas dá

estabilidade e segurança aos sujeitos. Saber que depois de determinada tarefa

ocorrerá outra dá certo sossego às pessoas, sejam elas grandes ou pequenas.”

(BARBOSA, 2006, p.38).

Depois da rotina construída com base nas considerações apresentadas

anteriormente, como por exemplo: o conhecimento das necessidades da turma e a

participação das crianças no processo de construção da rotina pedagógica, o

professor deve aproveitar a apresentação da rotina para explorar elementos da

linguagem oral e escrita como também alguns conceitos matemáticos. “Isto nos dá a

chance de experimentar e introduzir atividades de enorme interesse para a

aprendizagem das crianças, com relativa independência das atividades específicas

programadas na área de Linguagem.” (CURTO et al., 2000, p.19).

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A escrita da rotina, diariamente no quadro, tendo o professor como escriba e

com a participação das crianças, pode ser utilizada como atividade permanente.

Esse procedimento demonstra uma das contribuições de organizar e apresentar

para a turma o que será proposto como atividade no período que irá passar na

escola. Além da expressão oral de suas hipóteses sobre como escrever algumas

palavras, servirá também para entender a funcionalidade da leitura e da escrita.

(CURTO et al., 2000).

Quando a rotina é organizada com a pretensão de promover a aprendizagem

e o desenvolvimento da autonomia nas crianças, deixando de ser vista apenas como

um roteiro que facilita a aplicação do que foi planejado como atividade para aula, ela

passa a ser um recurso pedagógico com contribuições importantes no que diz

respeito a aprendizagem das crianças em todas as áreas de conhecimentos

propostas no RCNEI:

As rotinas das pedagogias da educação infantil foram vistas, neste trabalho, como um dos elementos integrantes das práticas pedagógicas e didáticas que são previamente pensadas, planejadas e reguladas como o objetivo de ordenar e operacionalizar o cotidiano da instituição e constituir a subjetividade de seus integrantes. (BARBOSA, 2006, p.39).

Este trabalho não tem a intenção de apresentar o conceito da rotina

pedagógica com bases em autores que abordam aspectos relevantes sobre o tema.

O objetivo principal é trazer informações que contribuam para aceitação de que

quando se tem conhecimento sobre o conceito da rotina pedagógica é mais fácil

compreender as contribuições que ela pode oferecer para aprendizagem das

crianças, e em particular as crianças da educação pré-escolar.

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3 A ROTINA PEDAGÓGICA NO COTIDIANO DAS CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO

PRÉ–ESCOLAR DE UMA ESCOLA PÚBLICA MUNICIPAL

De acordo com a LDBEN, a educação básica tem por finalidade desenvolver o

educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da

cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.

A educação infantil faz parte da primeira etapa da educação básica, ela é a base e

por isso a prática pedagógica desenvolvida nessa etapa, assim como nas outras,

precisa ser assegurada com dedicação e qualidade para que as crianças tenham

garantido o que a lei descreve como finalidade da educação básica.

Nas últimas décadas, é possível perceber mudanças significativas na educação

infantil, mas sabemos que a presença de profissionais não habilitados para o

exercício da prática pedagógica dessa primeira etapa da educação básica ainda é

uma realidade constante. Como coordenadora da educação infantil, procuro

desempenhar meu trabalho com objetivo de promover o desenvolvimento do

educando a partir de um processo de ensino e aprendizagem executado de forma

significativa e que promova a formação de indivíduos participativos e responsáveis

com o seu papel social. Nessa perspectiva, como estudante do Curso de

Especialização em Coordenação Pedagógica, oferecido pelo Programa Nacional

Escola de Gestores da Educação Básica Pública, Faculdade de Educação, UFBA,

no Polo Conceição do Coité, escolhi a relação entre aprendizagem escolar e

trabalho pedagógico como eixo desta pesquisa.

3.1 ORGANIZAÇÃO DO AMBIENTE ESCOLAR

A proposta de intervenção é uma das etapas do meu trabalho que será

realizada em uma escola pública municipal que chamarei de Escola X, localizada na

cidade de Conceição do Coité, Bahia. Tal escola oferece educação pré-escolar e

ensino fundamental, anos iniciais, mas como não tem salas de aulas suficiente para

receber todos os alunos que procuram o atendimento escolar, seu trabalho acontece

em dois espaços, em diferentes endereços. As atividades escolares oferecidas aos

alunos do ensino fundamental, do 2º ao 5º ano, ocorrem no espaço próprio da

instituição. Os alunos da educação pré-escolar e do 1º ano do ensino fundamental,

são atendidos em uma casa, alugada pela Secretaria de Educação. A casa foi

organizada e mobiliada para receber sua clientela. No turno matutino, são atendidas

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31 crianças da educação pré-escolar distribuídas em duas salas de aula, uma para o

1º período, crianças de 4 anos, e a outra para o 2º período, crianças de 5 anos e 19

alunos do 1º ano do ensino fundamental em outra sala de aula. No turno vespertino

33 crianças frequentam as turmas da pré-escola, 1º e 2º períodos, e 18 alunos o 1º

ano, totalizando 64 alunos.

A casa onde funciona essa escola, possui 3 salas de aulas, uma sala de

vídeo, uma secretaria, onde as professoras se reúnem para elaborar seus

planejamentos e uma secretária escolar trabalha dando suporte aos professores e

direção, uma cozinha, 3 banheiros, dois para os alunos e um para os funcionários, e

uma área utilizada para recreação e realização de atividades que necessitam de um

espaço aberto. Trabalham na escola 8 professoras e 2 auxiliares, sendo que 4

docentes são responsáveis pelo trabalho na educação pré-escolar e uma estagiária

atua como auxiliar de ensino nesse segmento, 1 cozinheira, 2 zeladoras, 1 porteiro,

1 secretária e a vice-diretora.

Na cidade de Conceição do Coité, são poucas as escolas públicas municipais

que possuem um (a) coordenador (a) pedagógico (a) designado (a) para exercer a

sua função dentro da instituição de ensino, a maioria desses profissionais estão

lotados na Secretaria de Educação e se responsabilizam por um determinado

número de escolas para dar o devido suporte pedagógico. No ensino fundamental,

anos finais, os coordenadores atuam por disciplina, no ensino fundamental, anos

iniciais, há coordenadores para cada ano e outros específicos para educação do

campo. Na educação infantil atuam três coordenadoras, uma para creches, uma

para educação pré-escolar e outra para educação infantil do campo. Na Escola X,

sou a responsável pela coordenação pedagógica da educação pré-escolar, mas

estou lotada na Secretaria de Educação, sendo assim não há um(a) coordenador(a)

pedagógico (a) trabalhando, exclusivamente, dentro dessa escola.

Durante as visitas de coordenação pedagógica, feitas a essa escola, é

comum ouvir queixas das professoras em relação a ausência de participação dos

pais na vida escolar de seus filhos. Crianças que não frequentam regularmente as

aulas, que chegam na escola sem material didático, que não tem acompanhamento

na realização das atividades escolares que vão para casa, que possuem

comportamento de indisciplina e têm dificuldade para obedecer aos combinados.

São situações que necessitam da parceria da família para facilitar o avanço no

desenvolvimento da aprendizagem. Mas, não são todos os pais que se mostram

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ausentes na vida escolar de seus filhos infelizmente, o que ocorre na Escola X é

comum na maioria das instituições públicas de ensino devido a uma série de fatores.

De acordo com as pessoas que trabalham diretamente na escola, não há uma

participação ativa da comunidade escolar dentro dessa instituição de ensino. A

escola recebe alunos de bairros diferentes, alguns de famílias desestruturadas

economicamente e com uma relação familiar abalada, filhos de pais separados,

mães que passam o dia fora trabalhando para garantir o sustento da família, e por

isso, falta o tempo suficiente para participar da vida escolar dos filhos, crianças

criadas por avós porque os pais foram embora para trabalhar em outra cidade, filhos

criados por pais usuários de drogas. Sendo assim, são vários os fatores que

dificultam a reunião das famílias para convencê-las da sua importante participação

na comunidade escolar para que a escola possa trabalhar com melhor qualidade e

promover uma educação mais eficaz e significante na vida de seus alunos.

Diante da situação apresentada, é quase impossível atrair os pais ou

responsáveis para participarem democraticamente da construção do Projeto Político

Pedagógico (PPP) da escola. Mas, a instituição possui o seu PPP que atualmente

está sendo modificado pela gestão e funcionários da escola. A escola possui

regimento escolar e não tem o conselho escolar.

3.2 CONCEPÇÃO DA ROTINA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO PRÉ-

ESCOLAR

O tema do meu trabalho dentro do eixo “A Relação entre Aprendizagem

Escolar e Trabalho Pedagógico” é: As Contribuições da Rotina Pedagógica para o

Desenvolvimento da Aprendizagem na Educação Pré-Escolar. Através desse

trabalho, construído por meio da leitura de textos, de alguns dos teóricos, que

abordam sobre o assunto e da aplicação de um questionário a três professoras da

escola que atuam na educação pré-escolar, pretendo encontrar resposta para a

seguinte problemática: De que maneira a proposta de trabalho com rotina

pedagógica na educação pré-escolar pode contribuir para o desenvolvimento da

aprendizagem?

Como estudante desse curso de especialização e também coordenadora

pedagógica da educação infantil, além da problemática que busco analisar com essa

pesquisa, tenho como objetivo, vencer a resistência que impede o aperfeiçoamento

na prática pedagógica da educação pré-escolar e promover a compreensão de como

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uma organização no cotidiano escolar da criança, por meio da rotina pedagógica,

pode ser significante e contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem na

educação pré-escolar.

O método utilizado para essa etapa do PV, que chamamos de proposta de

intervenção foi a pesquisa-ação, explicada como:

“A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou de problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.” (THIOLLENT,1996, p.14).

Com base na afirmação de Thiollent (1996), a respeito da pesquisa-ação,

foram elaboradas, para essa pesquisa, algumas questões para serem respondidas

pelas professoras que atuam na educação pré-escolar apoiadas em suas

experiências vivenciadas na prática pedagógica atual. O questionário foi produzido

para colher informações sobre como ocorre a rotina pedagógica no seu cotidiano e

quais os benefícios que ela apresenta para o desenvolvimento da turma.

Das quatro professoras que atuam na educação infantil, apenas uma não

estava presente nos dias em que a pesquisa foi realizada e três delas responderam

ao questionário. Antes de iniciar as perguntas dentro do tema, houve

questionamentos a respeito da formação e do tempo de atuação de cada

profissional que participou da pesquisa. Duas das participantes possui formação de

nível superior, uma em Letras e outra em Pedagogia com Especialização em Gestão

Escolar. Apenas uma não possui graduação e concluiu sua formação no magistério.

A professora com graduação em Pedagogia informou possuir 28 anos de atuação

em sala de aula, todos eles na educação pré-escolar, a professora formada em

Letras atua há 10 anos em sala de aula e apenas 5 na educação pré-escolar e a que

possui formação apenas no magistério, tem 22 anos lecionando, dentre eles 5 foi na

educação pré-escolar. Todas elas atuam há 5 anos na escola. As professoras

graduadas atuam nas turmas de 1º período e a outra docente na turma do 2º

período.

De acordo com Thiollent (1996, p.15), “a participação das pessoas implicadas

nos problemas investigados é absolutamente necessária”. Para agir sobre o

problema do estudo é imprescindível o envolvimento de alguns educadores que

atuam na educação pré-escolar. O questionário aplicado trouxe informações

valiosas a respeito de como os profissionais envolvidos compreendem a rotina na

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educação pré-escolar e de que forma utilizam esse recurso na sua prática

pedagógica.

A respeito da compreensão sobre a rotina pedagógica na educação pré-

escolar as professoras apresentaram as seguintes respostas: P1) “É o que eu

prático na sala de aula e na escola durante o dia-a-dia.” P2) “Rotina é todo trabalho

desenvolvido no dia-a-dia, através de atividades cotidianas organizadas da melhor

maneira possível a facilitar o ensino e aprendizagem”. P3) “É um compromisso

pedagógico. O ensinar e o aprender se desenvolve de uma maneira alegre e

divertida”.

O resultado da pesquisa feita com as participantes representativas da

educação pré-escolar revela que, apesar da rotina pedagógica fazer parte do

cotidiano das escolas, pouco se sabe sobre ela e como utilizá-la para contribuir com

o desenvolvimento da aprendizagem das crianças. Essa revelação confirma o que

Barbosa (2006, p.16) diz, “A presença significativa das rotinas nas práticas de

educação infantil acabou por constituí-la como categoria pedagógica central, mas

muito pouco estudada e explicada”.

Não é que as respostas dadas sobre a compreensão da rotina pedagógica

estejam erradas. Mas, a rotina pedagógica vai além do que foi apresentado, é mais

do que o trabalho desenvolvido todo dia. A rotina pedagógica é um instrumento que

precisa ser planejado para atender as necessidades da turma com o objetivo de

promover interação entre as crianças e adultos, autonomia, criatividade e expressão.

Enfim, a rotina não é apenas o esboço do que ocorrerá durante a aula. Para

promover a aprendizagem, ela precisa ser organizada com essa intenção. E sobre

como é organização diária da rotina pedagógica, foram apresentadas as seguintes

respostas:

P1) “Organizo da seguinte maneira: recolho as atividades de casa e faço logo

a correção, em seguida a chamada, oração, música, acolhida com os brinquedos ou

livros de historinhas, conversa e logo depois começo a explicar o conteúdo e as

atividades faço de maneira individual”.

P2) “Acolhida, oração, leitura feita pelo professor, roda de conversa,

conteúdos (dinamizando sempre como música, história e brincadeiras) atividade,

recreio, atividade e organização para ir para casa”.

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P3) “1º momento – acolhimento, músicas e sempre com brincadeiras. Logo

após uma atividade proposta e observação se o objetivo foi alcançado”.

Com base no que diz Barbosa (2006), a rotina é a forma de organizar a

atividade escolar presente no cotidiano da criança inserida na educação infantil. As

respostas apresentas pelas educadoras, indicam que as mesmas compreendem a

rotina como instrumento organizador do seu trabalho no dia a dia da sala de aula.

No que diz respeito a organização da rotina, é possível perceber que a mesma

ocorre, aparentemente, sempre da mesma maneira sem que haja uma preparação

prévia e a preocupação de envolver as crianças de forma participativa nesse

processo, fazendo com que elas se apropriem sobre o que irá ocorrer no seu dia na

escola.

Organizar o cotidiano das crianças na Escola Infantil pressupõe pensar que o estabelecimento de uma sequência básica de atividades diárias é antes de mais nada, o resultado da leitura que fazemos do nosso grupo de crianças, a partir principalmente de suas necessidades. (BARBOSA; HORN, 2001, p.67)

Como já foi mencionado no capítulo anterior, em citação desses mesmos

autores, para organizar a rotina pedagógica é importante considerar as preferências

das crianças e os momentos que serão melhor aproveitados para explorar situações

que favoreçam aprendizagens.

“Insistimos na ideia de que quase toda atividade escolar inclui elementos de

linguagem oral e escrita, isto é, não se aprende a ler e a escrever apenas na “hora

da linguagem.” (CURTO et al.,2000, p.19). Acreditar que a criança só desenvolve as

habilidades das áreas de conhecimentos propostas no RCNEI quando há um tempo

destinado para trabalhar os conhecimentos de uma área específica é não saber

aproveitar as variadas oportunidades de aprendizagem presentes na rotina da

criança no seu cotiando escolar.

Uma rotina pedagógica planejada e organizada com base no conhecimento

que o educador tem a respeito das necessidades da sua turma e com a participação

dela na sua construção, é um recurso proveitoso para o desenvolvimento de várias

habilidades correspondentes à faixa etária dos alunos da educação pré-escolar. A

rotina não deve ser vista apenas como a organização das atividades que serão

desenvolvidas na classe, assim ela corre o risco de atender apenas às necessidades

de trabalho do professor. Além disso, ela contribui com a interação entre colegas,

para socialização de ideias, exposição de opiniões, noção de organização e de

tempo, compreensão da utilidade da escrita e leitura, apreciação de materiais

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artísticos, quando há dentro da sua rotina um espaço reservado para artes e outros

benefícios.

Na pesquisa feita, houve a preocupação de se conhecer a opinião das

professoras a respeito de como elas fazem da rotina uma aliada para o

desenvolvimento da aprendizagem das crianças e as respostas foram as seguintes:

P1) “Procuro seguir sempre o que planejo e realizo as atividades pedagógicas

durante a aula”.

P2) “A rotina pedagógica possibilita a nós, professores, alcançar o objetivo

desejado. A forma como o tempo, o espaço e os materiais são organizados é que

nos ajudam quando temos quaisquer limitações de ambiente”.

P3) “Com atividades lúdicas acompanhando o desenvolvimento passo-a-

passo”.

Na primeira resposta apresentada sobre o questionamento fica claro que a

rotina é aproveitada apenas para organizar o trabalho da professora. Na segunda, a

professora demonstra o reconhecimento de que a rotina possibilita alcançar o

objetivo desejado, mas não deixa claro qual seria esse objetivo nem de que forma a

rotina pode contribuir. Ela também ressalta que a maneira de se organizar o tempo e

o espaço ajuda no trabalho dela, mas também não esclarece qual seria a maneira

de organização adequada. E na terceira resposta, a professora enxerga apenas nas

atividades lúdicas a possibilidade de a rotina ser uma aliada na aprendizagem, mas

também não apresenta argumentos

que justifiquem a sua resposta.

Essas respostas fortalecem a minha visão de que há uma necessidade de

aprofundar os conhecimentos a respeito do trabalho com rotina pedagógica na

educação pré-escolar. Essa situação torna-se ainda mais visível na ideia que as

professoras têm quanto a contribuição das crianças na construção da rotina.

Sobre como a docente acha que as crianças podem contribuir na construção

da rotina pedagógica, a P1 respondeu: “Com a realização de todas as atividades

pedagógicas proposta por mim”. Primeiro que nessa resposta fica claro que a

criança não participa do processo de construção, segundo que a forma como foi

colocada é que a criança é obrigada a obedecer ao que proposto a ela mesmo que

não haja aprendizagem. O importante é fazer o que a professora manda.

As crianças podem contribuir quando é oferecida a elas a oportunidade de

avaliar a aula para que elas demonstrem o que foi satisfatório ou não e, a partir daí o

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professor pode colher informações valiosas para tornar a sua prática mas eficaz e

consequentemente melhorar a qualidade do ensino e aprendizagem. Elas também

podem ajudar quando são observadas pelo professor, para que o mesmo conheça a

turma que trabalha e suas preferências. Este conhecimento também será importante

para selecionar atividades que realmente desperte a participação da criança e a

promoção da construção do conhecimento de forma significativa. E, além disso, o

docente pode também dar aos educandos a chance de opinar sobre algo que

gostariam de conhecer ou aprender e elaborar projetos ou atividades com base nas

opiniões colhidas, possibilitando-lhes uma nova oportunidade de descobertas.

Acredito haver mais possibilidades de as crianças contribuírem na construção da

rotina pedagógica. O que não deveria mais existir é a incrível capacidade de

limitação das crianças por parte de alguns educadores.

As outras respostas apresentadas, pelas professoras, no que diz respeito à as

contribuições das crianças na construção da rotina foram: P2) “As crianças podem

contribuir com suas ações, mostrando suas limitações, necessidades e capacidades

de escolhas.” e P3) “Com o desenvolvimento das atividades propostas, alcançando

seus objetivos”. Nota-se que na resposta da segunda participante, há um maior

envolvimento das crianças, pois a professora revela que as ações e as

necessidades delas, assim como suas limitações e capacidades de escolha são as

possibilidades de as crianças participarem da elaboração da rotina. Nesse caso há

um olhar para a criança. A resposta da terceira participante, volta-se para a

satisfação da professora, esquecendo-se da participação ativa do aluno.

No questionário apresentado às professoras, havia outras questões

importantes para colher informações de como a rotina pedagógica é encarada na

educação pré-escolar. Além das questões que já foram apresentadas, achei

interessante saber as opiniões dessas profissionais da educação infantil sobre a

importância da rotina para o desenvolvimento do seu trabalho e por que para elas

seria considerável compartilhar com os seus alunos o que elas irão fazer no período

em que permanecem na escola.

Quanto a importância da rotina para o desenvolvimento do trabalho das

professoras na escola, as respostas indicam que elas consideram o trabalho com a

rotina importante, pois servem para orientá-las no que será feito e ajudam no

desenvolvimento das crianças. Quando relatam nessa questão que a rotina contribui

para o desenvolvimento das crianças, comparando esse comentário as respostas

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dadas à terceira questão da pesquisa, é possível perceber uma contradição. Pois,

quando foi perguntado de que forma a rotina seria uma aliada para o

desenvolvimento da aprendizagem das crianças, não obtive resposta que

esclarecesse como o uso da rotina pudesse promover a aprendizagem.

A cada momento de análise das respostas apresentadas à pesquisa fortalecia

o que Barbosa (2006) diz a respeito dos poucos estudos encontrado sobre o tema.

“A rotina torna-se apenas um esquema que prescreve o que se deve fazer e em que

momento esse fazer é adequado.” (BARBOSA, 2006, p. 36).

A rotina pedagógica é o que normalmente acontece dentro do cotidiano

escolar. Sua contribuição acontece quando ela é construída não apenas para

organização do que será realizado, mas principalmente quando é planejada com o

objetivo de atender principalmente as necessidades do aluno e não somente facilitar

o trabalho do professor. Mas, diante do que as participantes dessa pesquisa

revelam, fica manifesto que a rotina é vista, principalmente como norteadora do que

será feito na aula, sem um profundo conhecimento de como ela pode contribuir para

a aprendizagem do aluno e tornar o trabalho docente apreciável.

Quanto à questão sobre, se elas acham importante compartilhar com seus

alunos o que irá ocorrer durante o período que eles permanecerão na escola, foram

essas as respostas apresentadas: P1) “Sim. Porque eles se interessam cada dia

mais, sabendo o que vai ser estudado ou feito durante o dia.” P2) “Sim, pois mesmo

inconscientemente as crianças aprendem a se organizar e principalmente organizar

suas próprias atividades”. P3) “Sim, porque ao compartilhar, venho despertar o

interesse deles”.

Em relação a importância de compartilhar com as crianças o que irá ocorrer

durante a aula, as professoras reconhecem que é interessante os alunos tomarem

conhecimento da rotina que eles irão participar no seu cotidiano escolar. De acordo

com as participantes, ao saber o que irão fazer as crianças demonstram mais

interesses e aprendem a se organizar.

Quando a rotina é compartilhada com as crianças, elas se sentem mais

seguras, por saber que estão inseridas num espaço organizado para atender as

suas necessidades e interesses, têm a oportunidade de opinar e de divulgar as suas

preferências, tornam-se mais autónomas e situadas no tempo. Essa situação,

consequentemente, fará do ambiente escolar um lugar mais cativante. Conforme

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Barbosa (2006), saber a sequência do que vai acontecer, traz tranquilidade e

estabilidade.

Para finalizar a pesquisa desse trabalho as docentes foram questionadas:

Quais áreas de conhecimentos podem ser exploradas quando uma rotina é

construída e socializada com a participação das crianças? E apesar de não deixar

claro de como a rotina podem auxiliar na aprendizagem das crianças na educação

pré-escolar, elas admitiram em suas respostas que todas as áreas de conhecimento

podem ser trabalhadas no desenvolvimento da rotina.

É valoroso tomar conhecimento, através da última questão da pesquisa, de

que as docentes constataram que todas as áreas de conhecimentos podem ser

exploradas quando a rotina é construída adequadamente para atender as

necessidades da turma, mesmo demonstrando em algumas das suas respostas, que

há pouco conhecimento entre elas, sobre como desenvolver um trabalho significante

por meio de uma rotina pedagógica que promova contribuições consideráveis para a

aprendizagem das crianças.

Perante a concepção da rotina pedagógica na educação escolar, apresentada

através dessa pesquisa, fica evidente a necessidade de se criar situações de

estudos que ofereçam aos professores da educação infantil, informações

importantes para que os mesmos atualizem os seus pensamentos a respeito do

trabalho pedagógico realizado a partir de uma rotina.

3.3 ATUAÇÃO DA COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA E A FORMAÇÃO

CONTINUADA

O Curso de Especialização em Coordenação Pedagógica proporcionou aos

seus participantes a oportunidade de ampliar os conhecimentos em relação ao papel

do coordenador pedagógico na educação. Miziara et.al (2014), em O que revelam as

pesquisas sobre a atuação do coordenador pedagógico, trouxeram informações

consideráveis para prática desses profissionais da educação. “As pesquisas

analisadas sugerem a formação continuada como a principal atribuição do

coordenador pedagógico.” (MIZIARA et al., 2014, p.612).

A pesquisa feita revela informações importantes sobre como vem sendo

desenvolvido a proposta pedagógica na educação pré-escolar nessa instituição e a

visão dos educadores quanto ao trabalho com a rotina pedagógica e como eles

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consideram o que sejam as contribuições das crianças para favorecerem o processo

de ensino e aprendizagem.

Assim, diante do resultado dessa pesquisa, percebe-se a necessidade de se

criar estratégias para ajudar a solucionar o problema levantado nesse Projeto de

Vivência: De que maneira a proposta de trabalho com a rotina pedagógica pode

contribuir para o desenvolvimento da aprendizagem na educação pré-escolar?

Na perspectiva de solucionar a problemática desse PV, será apresentado aos

professores que atuarão nas escolas públicas do município de Conceição do Coité,

nas salas de educação pré-escolar, uma Proposta de Intervenção, tendo como

objetivo geral oferecer aos docentes a oportunidade de uma capacitação que os

ajude a compreender as contribuições da rotina pedagógica para aprendizagem das

crianças inseridas nesse segmento da educação básica e a utilizá-la como recurso

valioso, para melhorar a qualidade do seu trabalho educativo.

Uma das funções do coordenador pedagógico é acompanhar o trabalho

docente na intenção de ajudar a resolver os problemas que aparecem durante a

prática pedagógica, desta maneira, após descobrir as causas que impedem a

execução de uma rotina que contribua consideravelmente para o desenvolvimento

da aprendizagem da crianças da educação pré-escolar, a PI dessa pesquisa

pretende alcançar os seguintes objetivos específicos, nas escolas públicas que

oferecem educação pré-escolar na cidade de Conceição do Coité:

Ajudar os professores da educação pré-escolar a considerar a importância

de incluir a rotina pedagógica no cotidiano escolar;

Incluir a rotina pedagógica na proposta de trabalho da educação pré-

escolar;

Construir a rotina pedagógica a partir do olhar sobre as necessidades e

interesses da turma;

Envolver as crianças no processo de construção da rotina;

Compartilhar diariamente com as crianças o que será proposto durante a

aula;

Promover o desenvolvimento da aprendizagem através da utilização

diária da rotina;

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Envolver todas as áreas de conhecimento na rotina pedagógica.

Para responder a essa questão é fundamental levar em consideração a

necessidade de aprofundar os conhecimentos sobre o trabalho com a rotina

pedagógica. Enviar materiais para que os professores estudem isoladamente sobre

o tema não seria uma boa opção. Pensando assim, será proposto aos profissionais

que atuarão na educação pré-escolar no próximo ano letivo, um estudo coletivo

sobre o tema, na qual trarei minhas contribuições com base nos conhecimentos

adquiridos no decorrer dessa especialização. Seguido do estudo, será proposto um

momento de socialização dos materiais analisados e das opiniões dos profissionais

sobre a pesquisa e da sua visão do trabalho com a rotina pedagógica. Uma oficina

também será programada para que os profissionais demonstrem na prática o que

compreenderam sobre as contribuições da rotina pedagógica na educação pré-

escolar.

Para concluir a proposta de intervenção será feito um acompanhamento

bimestral nas escolas, na qual os professores serão observados e apresentarão

respostas, através de questionários, de como eles tem conseguido fazer da rotina

um instrumento auxiliador da aprendizagem.

Essa proposta de intervenção será apresentada aos professores no nosso

primeiro encontro do ano letivo de 2016. Nele, firmaremos algumas datas,

reservadas para os estudos, que poderão ser nos dias reservados para a Atividade

Complementar (AC). Após a realização dos estudos, definiremos uma data para

socialização das ideias a respeito do tema com base no que foi estudado. Depois da

discussão sobre o tema eles terão a tarefa de formar grupos para apresentar na

prática, para os próprios professores participantes dos estudos sobre o tema, como

organizarão e desenvolverão a rotina pedagógica entendendo-a como recurso

importante para o desenvolvimento da aprendizagem das crianças. Depois de refletir

esse momento, colocarão em prática com os seus alunos o que foi estudado e

aguardarão o resultado do trabalho que deverá ser apresentado para a

coordenadora pedagógica, quando a mesma comparecer às escolas.

A seguir será apresentado o quadro do cronograma de como serão

desenvolvidas as ações presentes na PI:

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Quadro: Cronograma da Proposta de Intervenção

Ação

Responsável pela realização da Ação

Público Alvo

Local

Recursos

Período da ação

Convidar os professores da educação pré-escolar para participarem de um estudo sobre as contribuições da rotina pedagógica para educação infantil.

Coordenadora pedagógica da educação pré-escolar.

Docentes da educação pré-escolar.

Escola Municipal João Paulo Fragoso.

Datashow e computador.

Fevereiro/ 2016

Promover estudo coletivo sobre o tema.

Coordenadora pedagógica da educação pré-escolar.

Docentes da educação pré-escolar.

Sala de reunião da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte.

Datashow, computador e material de leitura sobre o tema utilizada na construção do PV.

Março/ 2016

Socializar o estudo coletivo e discussão sobre o tema.

Coordenadora pedagógica da educação pré-escolar.

Docentes da educação pré-escolar.

Sala de reunião da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte.

Bloco de anotações, canetas, Datashow, computador e material de leitura sobre o tema utilizada na construção do PV.

Abril/2016

Propor uma oficina sobre o tema.

Coordenadora pedagógica da educação pré-escolar.

Docentes da educação pré-escolar.

Escola Municipal João Paulo Fragoso

Datashow, computador, lousa, piloto, blocos de anotações e canetas.

Abril/2016

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Acompanhar o trabalho com a rotina pedagógica nas escolas.

Coordenadora pedagógica da educação pré-escolar.

Docentes e alunos da educação pré-escolar.

Escolas dos município que oferecem educação pré-escolar em turmas regular.

Questionários e canetas.

Junho, agosto, outubro e dezembro de 2016.

Fonte: Elaborado pela autora (2015).

3.3.1 Resultados esperados

À vista da PI apresentada, na busca de fazer com que o trabalho

desenvolvido com a rotina pedagógica contribua de maneira significativa, explorando

todas as áreas de conhecimentos previstas no RCNEI e promovendo o

desenvolvimento da aprendizagem das crianças inseridas nas escolas da educação

pré-escolar da rede pública municipal na cidade de Conceição do Coité, espero que

todas as pessoas envolvidas nessa proposta mostrem-se abertas para mudanças

que contribuirão para o avanço de sua prática pedagógica. A expectativa desse

trabalho, volta-se para o aperfeiçoamento das práticas docentes desenvolvidas na

educação pré-escolar, a partir do discernimento de que a organização do espaço

onde ocorrerão as atividades escolares cotidianas, precisam ser consideradas como

parte do trabalho pedagógico que contribui para promoção de uma educação de

qualidade. Sendo assim, em consequência desse trabalho, o resultado almejado é

que as crianças construam novos conhecimentos, a partir da sua colaboração e

participação da rotina pedagógica.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um espaço educativo que propõe no seu cotidiano uma rotina pedagógica

voltada para atender às necessidades das crianças que frequentam diariamente

esse espaço, terá todos os dias a oportunidade de oferecer situações que

promovam o desenvolvimento da aprendizagem em todas as áreas de

conhecimentos propostas no Referencial Curricular Nacional para a Educação

Infantil. Mesmo que no planejamento das aulas, o professor separe os dias para

aprofundar os conhecimentos em áreas específicas, com a introdução de uma rotina

elaborada com a participação das crianças, às vezes direta e outras vezes

indiretamente, o docente da educação infantil pode promover situações que ampliem

a construção do conhecimento sem ficar limitado apenas a um ou dois campos da

aprendizagem.

Ao organizar o que será proposto nas aulas, com base nas observações feitas

diariamente quanto a participação das crianças nas atividades propostas, nos

momentos de interação entre os colegas e durante as brincadeiras, como sugere

Barbosa e Horn (2001), o professor estará planejando sua aula com base nas

informações sobre as preferências das crianças, seus interesses e suas

capacidades. Assim, indiretamente as crianças estarão participando da construção

da rotina inserida no seu cotidiano escolar e podem também participar diretamente

em uma roda de conversa para avaliar o dia na escola, expondo suas ideias de

como gostaria que as aulas acontecessem. Nesse momento de construção da rotina

pedagógica, o educador, além de demonstrar preocupação com a disposição de um

ambiente que atenda os interesses de sua clientela, contribui para que os seus

alunos exercitem a expressão oral das suas ideias, pensamentos e gostos,

promovendo a eles a capacidade de ampliar gradativamente suas possibilidades de

comunicação e expressão, como sugere o RCNEI na área de Linguagem Oral e

Escrita.

Quando a rotina é apresentada diariamente e é escrita no quadro pelo

professor, mas com a participação das crianças, buscando delas as informações a

respeito do dia da semana, do mês e ano e também da sequência de como as

atividades ocorrem diariamente, como por exemplo: a acolhida, a roda de conversa,

o lanche, higiene, recreio, atividades e outros, está sendo oferecida às crianças

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possibilidades de expressão oral a respeito da marcação do tempo por meio do

calendário e da sequência de como o trabalho acontecem permitindo que fiquem

situadas no que irá acontecer. Também pode ser solicitado que as crianças

contribuam no processo da escrita que será feita pelo professor. Assim, nesse

momento o trabalho com a rotina contribui na aprendizagem de conceitos

matemáticos e do processo da construção da escrita.

Ao selecionar o que será feito na acolhida o professor pode organizar

espaços que envolva o desenho, pintura, recortes, colagem, dança, jogos de

encaixe e montagem, leituras e outras atividades, incluindo na rotina o

desenvolvimento de algumas habilidades nas áreas de Artes Visuais, Movimento e

Música, propostas no RCNEI.

No ambiente escolar em que há participação social das crianças, no qual lhes

são oferecidas a oportunidade de manifestar opiniões próprias sobre

acontecimentos, há interação com outras crianças e adultos, possibilidades de

aguçar suas curiosidades, é ofertada a chance de alcançar alguns dos objetivos

propostos em Natureza e Sociedade que também é uma área de conhecimento

apresentada pelo RCNEI.

O educador precisa se atentar para as possibilidades de aprendizagem

ofertadas a partir de um trabalho que considera a rotina como estrutura sobre a qual

será organizado o tempo didático que representa o tempo de trabalho educativo

realizado com as crianças (BRASIL, 1998). Necessita também enxergar as rotinas

da pedagogia da educação infantil como um dos elementos que integram as práticas

pedagógicas e didáticas que são previamente pensadas e planejadas (BARBOSA,

2006).

Estando atento e se colocando disposto para inovação de sua prática

pedagógica, o professor estará possibilitando a oferta das duas condições para

haver aprendizagem significativa apresentadas por Pelizzari et al. (2002), em

primeiro lugar, provavelmente aluno terá disposição para aprender, já que a rotina é

organizada com a sua participação, atingindo os interesses das crianças. Em

segundo, o conteúdo escolar a ser aprendido está sendo apresentado de maneira

significativa.

Além do que já foi mencionado, outra contribuição importante oferecida por

meio de uma prática pedagógica que envolve a participação das crianças é o

desenvolvimento da autonomia através da sua liberdade de agir e opinar sobre o

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que possivelmente vai ocorrer dentro do espaço educativo em que elas passam uma

boa parte do seu tempo.

Mas, é preciso ficar claro que o que foi apresentado nesse Projeto de

Vivência através da pesquisa realizada não soluciona as dificuldades enfrentadas na

educação infantil nem finaliza a discussão sobre o trabalho com a rotina pedagógica

nessa etapa da educação básica, apenas oferece informações que podem contribuir

para a aprendizagem significativa das crianças inseridas nas escolas que oferecem

educação pré-escolar.

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REFERÊNCIAS

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