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As 99 páginas contam diferentes histórias de um homem à frente de seu tempo. São capítulos dedicados à reinvenção da arquitetura, à luta por justiça social e à convivência em família. O livro, ou melhor, a vida de Oscar Niemeyer, que com-pleta 100 anos em 15 de dezembro, é de vanguarda. O arquiteto ousou. Criou traços inconfundíveis, inspirados nas curvas da geografia - e das mulheres - brasileiras. Exi-lou-se em Paris durante a ditadura militar e deu vida ao Partido Comunista Francês. Rabiscou sua prancheta e fez surgir Brasília. Em outras folhas brancas, desenhou infinitas curvas ‘‘livres e sensuais’’ pelo Brasil e mundo afora. Casou-se pela segun-da vez aos 98 anos.

A trajetória de Oscar Niemeyer, ícone da arquitetura moderna, começa em 1934, quando ele se forma arquiteto e engenheiro pela Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. No ano seguinte, começa a trabalhar no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão, onde conhece figuras como Le Corbusier e Gustavo Capanema. O bom relacionamento do jovem seria fundamental para seus primeiros passos rumo ao reconhecimento internacional.

Niemeyer ainda não sabia que a amizade com Juscelino Kubitschek renderia a maior obra de sua carreira. O arquiteto foi apresentado ao então prefeito de Belo Horizonte por Gustavo Capanema, em 1940. JK tinha grandes planos para a Lagoa da Pampulha e convidou o recém-formado para o projeto arquitetônico. A Igreja de São Francisco de Assis, cartão-postal da cidade, marcou o estilo Niemeyer, totalmente

niemeyeroscaro centenário de um gênio

Conheça a história do homem

que revolucionou a arquitetura

moderna, suas invenções e a paixão

pela família. No ano de seu

centenário, o Brasil e o mundo prestam

homenagens

Catedral de Brasília

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MaTÉRia dE caPa TEXTO: Mila TaNuS

Viva São Paulo - Maio 2007

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niemeyer

100 ANOSO Ano do Centenário foi criado pela

Câmara dos Deputados quando o arquiteto completou 99 anos. No mesmo dia, Niemeyer inaugurou o antigo projeto do Complexo Cul-tural da República, em Brasília, onde foi aber-ta oficialmente a comemoração. O primeiro evento da agenda foi a exposição ‘‘Niemeyer por Niemeyer’’, que ficou em cartaz até o mês passado e mostrou os melhores painéis fotográficos de Kadu Niemeyer, fazendo uma retrospectiva da vida e da obra de Oscar.

Kadu, aliás, é quem está à frente do escritório ‘‘100 Anos de Oscar Niemeyer’’ (www.100anososcarniemeyer.com), respon-sável pela agenda comemorativa do cente-nário. No mês de julho ou agosto, em Belo Horizonte, estão previstas exposições sobre a trajetória do arquiteto, e em outubro serão em São Paulo, na OCA. Em novembro, have-rá uma mostra em Cuba, e em dezembro, no Rio de Janeiro. O Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, abrirá a exposição comemorativa apenas em janeiro de 2008. Segundo o escri-tório, estão sendo negociadas exposições em Paris e outras cidades da Europa. Mas já está certo que o Partido Comunista Francês prestará uma homenagem ao artista.

No momento, o principal evento em cartaz é o documentário ‘‘Oscar Niemeyer, A Vida é um Sopro’’. Dirigido por Fabiano Maciel, o longa mostra o arquiteto contan-do como concebeu seus principais projetos e revolucionou a arquitetura moderna. Nie-meyer também fala sobre sua vida e sobre o ideal de uma sociedade justa. O filme, rodado no Brasil, Argélia, França, Itália, Estados Uni-dos, Uruguai, Inglaterra e Portugal, demorou dez anos para ser produzido.

A principal comemoração, no entanto, será uma grande festa, cujos detalhes ainda são segredo. Nesse dia, talvez, um retrato da família poderá completar a história e ilustrar a centésima página do livro que celebra a vida de um gênio.

avesso ao ângulo reto. ‘‘Foi meu primeiro trabalho. Nela já se faz presente essa arquitetura mais livre e criativa que procuro realizar’’, comenta o autor. A Pampu-lha lançou Niemeyer no Brasil e no mundo.

Depois de criar o Conjunto do Ibirapuera, na São Paulo dos anos 50, e em Brasília, a capital arrojada para os anos 60, o arquiteto foi impedido de trabalhar no país durante a ditadura militar. Decidiu, então, viver em Paris, onde foi muito bem acolhido pelo presidente Charles De Gaulle, que até baixou um decreto para permitir seu trabalho como arquiteto na França. O incentivo permitiu que Nieme-yer inventasse projetos incríveis, como o do Partido Comunista Francês e o do Centro Cultural Le Havre.

Ao redor do planeta, ele participou de trabalhos de sucesso. Nos Estados Unidos, contribuiu para o projeto do prédio da ONU, em Nova Iorque. Na Itália, desenhou a Editora Mondadori. Criou a Universidade de Constantine, na Argélia. Também traçou a Universidade de Haifa e outros edifícios em Israel.

O já consagrado arquiteto volta ao Brasil no final da década de 70. E con-tinua usando toda criatividade em seus projetos. Um dos mais ousados é o do Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC), inaugurado em 1996. Para a mesma cidade, projetou um caminho só com suas obras, ainda em construção. Abriu a Fundação Oscar Niemeyer em Brasília e, no Rio, desenhou o anexo do Museu Oscar Niemeyer de Curitiba... Niemeyer nunca mais parou de inventar.

Ah, como é mágico ver surgir na folha branca de papel um palácio, um museu, uma bela figura de mulher! Como as desejo e gosto de desenhá-las! Como as sinto nas cur-

vas da minha arquitetura!”

Foto

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ção

Museu Oscar Niemeyer, Curitiba

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PRINCIPAIS OBRASNo capítulo das principais obras,

Brasília é a mais notável. Depois do sucesso na Pampulha, Niemeyer foi convidado pelo já presidente JK para projetar a capital da República. O Plano Piloto, idealizado pelo urbanista Lúcio Costa, segue a linha moder-nista. ‘‘Reconheço, sem falsa modéstia, que não me faltou coragem para desenhar as cúpulas do Congresso Nacional’’, revela o autor em ‘‘Conversa de Arquiteto’’.

No Congresso Nacional, as cúpulas côncava e convexa são sede do Senado e da Câmara dos Deputados, respectivamente. Já no Palácio do Planalto, a casa do Execu-tivo, são os traços horizontais e as colunas ‘‘leves como penas pousando no chão’’ que predominam. Nos Palácios da Alvorada e do Itamaraty e no Memorial JK, Niemeyer fez desenhos únicos.

A Catedral Metropolitana também é inovadora. Tem planta circular e 16 pilares unidos no topo. A nave principal está abaixo do nível do solo e recebe luz natural pelos vitrais.

O Complexo Cultural da República, embora projetado há 40 anos, é a mais recen-te obra de Niemeyer em Brasília. Foi inaugu-rado em 15 de dezembro de 2006, quando o arquiteto completou 99 anos. É formado pelo Museu Nacional Honestino Guimarães e pela Biblioteca Nacional Leonel Brizola.

Ainda em Brasília, o Espaço Oscar Niemeyer, que pertence à Fundação Oscar Niemeyer (www.niemeyer.org.br), guarda a mostra permanente de sua obra. É uma edi-ficação cilíndrica projetada por ele mesmo.

O Conjunto da Pampulha é a prin-cipal obra de Niemeyer em Minas Gerais. Ao redor da lagoa, o arquiteto traçou a

MaTÉRia dE caPa

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Museu de Arte Contemporânea, Niterói

Casa das Canoas, Rio de Janeiro

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Oca, São Paulo

Foto: Roberto Riva

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Igreja de São Francisco de Assis, a Casa do Baile, o Cassino da Pampulha e o Iate Clube. Hoje, onde era o cassino, funciona o Museu de Arte da Pampulha. E na antiga Casa do Baile, um centro de referência em urbanismo e arquitetura.

Em São Paulo, o arquiteto assina 17 projetos. Os mais conhecidos são o edifício Copan e o conjunto do Parque do Ibirapue-ra, projetados em 1954 para as comemora-ções dos 400 anos da cidade. Oscar Nieme-yer também criou o Memorial da América Latina, símbolo da integração das culturas do continente.

No Rio de Janeiro, destaque para os projetos em Niterói. No Museu de Arte Contemporânea, o arquiteto empregou ‘‘soluções mais audaciosas’’. Pelo Caminho Niemeyer há vários edifícios projetados ao longo da orla, como o Teatro Popular. Ainda estão por vir a catedral católica e a esta-

DEPOIMENTO

Chico Buarque, compositor, sobre o seu desejo de ser arquiteto

‘‘A Casa do Oscar era o sonho da família. Havia o terreno para os

lados da Iguatemi, havia o ante-pro-jeto, presente do próprio. Havia a

promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar. Cresci

cheio de impaciência, porque me pai, embora fosse dono do Museu

do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar. Pois

bem, internaram-me num ginásio em Cataguases, projeto do Oscar.

Vivi seis meses naquele casarão do Oscar, achei pouco. Decidi-me a ser Oscar eu mesmo. Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando a minha música sai boa penso que parece música de

Tom Jobim. Música do Tom na minha cabeça é casa do Oscar.’’

ção de barcas, entre outras construções. Finalizado o caminho, Niterói vai se tor-nar a segunda cidade brasileira com maior número de trabalhos de Niemeyer, depois de Brasília.

Na capital do Estado, três ícones: o sambódromo na Marquês de Sapucaí, a sede da Fundação Oscar Niemeyer, voltada à documentação e pesquisa, e a Casa das Canoas, um presente do arquiteto à família. A casa, em plena Floresta da Tijuca, é uma referência arquitetônica mundial.

Entre outras obras-primas espa-lhadas pelo Brasil, o Museu Oscar Nieme-yer (www.museuoscarniemeyer.org.br), em Curitiba, é imperdível. Inaugurado em 2002, e conhecido pelo formato de um olho, expõe fotos, maquetes e croquis dos principais trabalhos do arquiteto, desenvolvidos entre 1941 e 2002.

Parlamento Latino-americano, São Paulo

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Congresso Nacional, Brasília

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EM FAMÍLIAApesar da admiração por Cuba, Nie-

meyer nunca esteve na ilha - talvez pelo lendá-rio medo de avião. Provavelmente, o arquiteto conhecerá o país de Fidel Castro pelas lentes do neto, o fotógrafo Kadu Niemeyer, que este-ve em Cuba recentemente para acompanhar o desenvolvimento do projeto do avô.

A ligação afetiva entre os dois é muito forte. ‘‘Com ele aprendi o que é honestidade, modéstia e solidariedade. Mais do que avô, ele é o meu paizão’’, comenta o fotógrafo. Kadu viveu ao lado de Niemeyer durante o período do exílio e viajou o mundo com ele para acom-panhar - e fotografar - as principais obras. ‘‘É muito grande minha satisfação de retratar as obras do meu avô. Eu procuro colaborar para que o seus trabalhos possam, pelas minhas fotografias, continuar a despertar o encanta-mento e o aplauso de todos’’.

Kadu lembra com carinho de histórias vividas com o avô. Lembra da vez em que Nie-meyer viajou de carro da Itália até a Argélia porque não queria pegar um avião. Também se recorda do dia em que o avô decidiu ir de carro da França a Portugal, minutos antes de o avião decolar.

NOVOS PROJETOS No capítulo dos novos

projetos, Niemeyer mostra-se incansável. Mudou o foco de suas criações e ousou ao projetar, em

2005, o Parque Aquático Pots-dam, na Alemanha, que deve ser

inaugurado neste ano. Outra obra prometida para antes do centenário

é o Centro Cultural Principado de Astúrias, em Avilés, na Espanha.

‘‘Será uma grande praça, com-preendendo um museu e um amplo

auditório’’, adianta o arquiteto. Uma de suas últimas

invenções, porém, é uma home-nagem ao presidente venezuelano

Hugo Chávez. O mestre teve a idéia de presenteá-lo com um monumen-to em reverência a Simón Bolívar. A

obra terá 170 metros de extensão e 100 metros de altura e será cons-

truída em uma praça de Caracas. Niemeyer também projetou uma

praça para Havana, em Cuba. ‘‘Ela terá um teatro e uma escultura em

homenagem ao povo cubano.’’

Niemeyer construiu uma grande famí-lia: uma filha, cinco netos, doze bisnetos e sete trinetos! O arquiteto é muito zeloso e faz ques-tão de estar presente na vida de todos. ‘‘Ele se preocupa com todos nós. Sempre está nos ajudando ou puxando nossas orelhas’’, brinca Kadu. Os programas favoritos da família são os almoços e jantares na casa de Anna Maria, a única filha.

Niemeyer foi casado por 76 anos com Anitta Baldo - ficou viúvo em 2004. Dois anos depois, em mais uma demonstração de afeto, ele decidiu casar-se novamente. A escolhida foi Vera Lúcia Cabreira, sua secretária duran-te 15 anos. O casamento seria a melhor forma de deixar para ela parte de seu patrimônio.

O arquiteto também esconde um lado poeta. Sua própria arquitetura é poesia: ‘‘O que me atrai é a curva livre e sensual. A cur-va que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas nuvens do céu, no corpo da mulher amada.’’

‘‘De um traço, nasce a arquitetura. E quando ele é bonito e cria

surpresa, ela pode atingir, sendo bem conduzida, o nível superior

de uma obra de arte.’’

MaTÉRia dE caPa

Kadu (neto), Anna Maria (filha) e Ana Carol (bisneta) Oscar, Oscar (neto) e bisnetos

Vera (esposa), Oscar e Anna Maria (filha)

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família, os amigos e esse mundo injusto que devemos modificar.

RVSP: O que mais gosta de fazer na compa-nhia de filhos e netos?Niemeyer: Aproveitar sua companhia sem-pre me dá alegria. Minha filha e os netos têm sido também pessoas muito presentes ao longo da minha trajetória de arquiteto, ocupado demais com os meus projetos.

RVSP: Qual o programa preferido de família?Niemeyer: Nos reunimos sempre em meu escritório, onde permaneço mais tempo.

RVSP: Como é se casar aos 98 anos?Niemeyer: Já tive oportunidade de declarar, em uma entrevista aos meus amigos do Pas-quim: a vida é uma mulher do lado e seja o que Deus quiser... Me casar foi uma boa decisão. Estou muito feliz nessa nova condição.

RVSP: Como é o Oscar Niemeyer poeta?Niemeyer: Não sou poeta. Gosto muito de escrever e nos meus livros e artigos posso me manifestar mais livremente. Muitas vezes fico entusiasmado com que escrevo. Sempre procuro usar uma linguagem simples.

RVSP: De onde vem tanta inspiração?Niemeyer: A vida é um campo de provoca-ção ilimitado. E ela me fascina, apesar de se revelar tantas vezes cruel e avessa aos desejos dos homens.

RVSP: Quais serão as comemorações para os 100 anos?Niemeyer: Isso me cansa um pouco. Os meus amigos e as pessoas que me estimam é que vão se incumbir de tais atividades.

RVSP: Qual a sua avaliação sobre a arqui-tetura de hoje?Niemeyer: Vou fazer mais uma vez um apelo aos arquitetos: cada um deve ter a sua arqui-tetura, fazer o que gosta e não aquilo que os outros gostam. Essa liberdade deve nos mover.

muitos amigos. Mas esse período me deu oportunidade de fazer a minha arquitetu-ra mais conhecida no exterior. Foi lá que levei a bom termo as experiências únicas que constituíram a realização da sede do Partido Comunista Francês, a da Editora Mondadori (em Milão) e, em particular, a Universidade de Constantine.

RVSP: Qual a importância da família na sua vida e também na sua carreira? Niemeyer: Sempre digo que o mais impor-tante não é a arquitetura, mas a família. A

deram oportunidade de fazer amizades, principalmente na França, Itália e Argélia. E amizade para mim é fundamental.

RVSP: De qual obra o senhor mais gosta?Niemeyer: São muitos projetos que rea-lizei. Prefiro lembrar de alguns que me deram especial alegria, como a Universi-dade de Constantine, na Argélia, o Palácio do Congresso e as obras da Pampulha, que definiram o rumo da minha arquitetura.

RVSP: Como foram os anos de exílio? Que importância tiveram esses anos na sua vida e carreira?Niemeyer: É evidente que pesaram mui-to, pois fiquei afastado de parentes e de

Revista Viva São Paulo: No começo da car-reira o senhor imaginava que faria obras de grande expressão?Niemeyer: É óbvio que não. O que me agra-da sempre lembrar é que desde o início os meus trabalhos foram bem apreciados. Per-ceberam que neles havia uma vontade de alcançar uma forma diferente. E esse desejo de provocar surpresa é que tem dominado os projetos que realizo no Brasil e no exterior. RVSP: Por que escolheu a arquitetura?Niemeyer: Talvez pelo gosto de desenhar, que desde cedo manifestei. O desenho me levou para a arquitetura.

RVSP: Como desenvolveu essa arquitetura de vanguarda, com bastante curva? E como foi a repercussão dessa vanguarda na época?Niemeyer: Já nos projetos elaborados para a Lagoa da Pampulha exprimi a minha posição em relação ao funcionalismo racionalista domi-nante. É certo que isso provocou não só a sur-presa positiva, mas também reações desfavo-ráveis, que revelaram total incompreensão.

RVSP: Do que mais se orgulha na carreira profissional?Niemeyer: O reconhecimento da minha obra por mais de seis décadas. Agrada-me recordar também que graças aos meus trabalhos foi possível levar a engenharia brasileira ao exterior.

RVSP: Qual a satisfação de ser o grande projetista de Brasília?Niemeyer: É evidente que é grande e autên-tica. Mas lembro que atuei como arquiteto dos principais prédios públicos da capital. O autor do plano foi o Lúcio (Costa).

RVSP: Que importância as obras no exte-rior trouxeram para a carreira?Niemeyer: Essas obras - sobretudo as que pude realizar quando estava no exílio - deram um impulso novo às minhas ativida-des de arquiteto. Elas, acima de tudo, me

ENTREVISTA COM OSCAR NIEMEYER

Em entrevista exclusiva para a revista Viva São Paulo, Oscar Niemeyer e seu neto Kadu falam sobre suas vidas.

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Revista Viva São Paulo: Qual a sua ligação com Oscar Niemeyer?A minha ligação com meu avô é muito forte. Com ele aprendi que as virtudes fundamen-tais de um ser humano são honestidade, modéstia e solidariedade. Tenho um afeto muito grande porque ele não é somente meu avô, que carinhosamente chamo de ‘‘Dindo’’, ele é meu paizão.

RVSP: De que histórias você não se esquece? Muitas. Como ele é uma pessoa extraordiná-ria, mas ao mesmo tempo uma pessoa nor-mal, temos várias histórias engraçadas. Em novembro de 1994, fomos a Portugal e de lá pegamos um trem (evitando o avião) para a França. Ao chegarmos na estação da França, os carregadores de mala estavam em greve e o nosso tempo de fazer a baldeação era de poucos minutos. Então saímos correndo, eu, com todo meu equipamento fotográfico e minha bagagem, a Vera, meu avô e João

todos nós, um alicerce muito grande para que tenhamos o mesmo cuidado com as nossas famílias. Ele se preocupa com todos nós e sempre está presente, nos ajudando e puxando nossas orelhas quando necessá-rio. Ele é uma pessoa fantástica.

RVSP: Qual a expectativa da família para os 100 anos?Que ele esteja muito bem de saúde e feliz e que continue criando seus projetos que, a cada dia, encantam mais a todos.

RVSP: O que a família pensa em fazer para comemorar a data?O que ele quiser, afinal quem manda neste dia é ele.

RVSP: Qual a rotina da família? Oscar vê os filhos e netos com freqüência? Sempre. Costumamos nos reunir em almoços e jantares na casa da minha mãe (Anna Maria).

Niemeyer (primo), também com suas res-pectivas bagagens. Após grande corrida, conseguimos chegar a tempo para pegar o trem TGV. Em dezembro, ainda nesta mes-ma viagem, no dia de regressarmos para o Brasil, já com check-out do hotel acertado, e o táxi com todas as bagagens acomodadas, meu avô, mais uma vez para evitar o gran-de vilão - o avião -, resolveu que voltaríamos a Lisboa de carro. Meu avô estava na Itália e, como não gosta de avião, alugou um táxi com destino à Argélia.

RVSP: Qual a satisfação de retratar as obras de seu avô?É muito grande e eu procuro colaborar para que os seus trabalhos possam, pelas minhas fotografias, continuar a despertar o encantamento e o aplauso de todos.

RVSP: Como o senhor Oscar é com a família?Muito zeloso e uma fonte inspiradora para

ENTREVISTA COM KADU NIEMEYER

Estação Hidroviária Charitas, Niterói

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