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i FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ECONOMIA INTERVENÇÕES DO BANCO CENTRAL NO MERCADO DE CÂMBIO: UM ESTUDO DO CASO BRASILEIRO GUSTAVO MONTEZANO ORIENTADOR: FERNANDO NASCIMENTO DE OLIVEIRA Rio de Janeiro, 30 de março de 2007

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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM

ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

DDIISSSSEERRTTAAÇÇÃÃOO DDEE MMEESSTTRRAADDOO PPRROOFFIISSSSIIOONNAALLIIZZAANNTTEE EEMM EECCOONNOOMMIIAA

INTERVENÇÕES DO BANCO CENTRAL NO MERCADO DE CÂMBIO: UM ESTUDO DO

CASO BRASILEIRO

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Rio de Janeiro, 30 de março de 2007

ii

“INTERVENÇÕES DO BANCO CENTRAL NO MERCADO DE CÂMBIO: UM ESTUDO DO CASO BRASILEIRO”

GUSTAVO MONTEZANO

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração:

ORIENTADOR: FERNANDO NASCIMENTO DE OLIVEIRA

Rio de Janeiro, 30 de março de 2007.

iii

“INTERVENÇÕES DO BANCO CENTRAL NO MERCADO DE CÂMBIO: UM ESTUDO DO CASO BRASILEIRO”

GUSTAVO MONTEZANO

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração:

Avaliação:

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________________________

Professor FERNANDO NASCIMENTO DE OLIVEIRA (Orientador) Instituição: Digite o nome da Instituição _____________________________________________________

Professor: OSMANI TEIXEIRA DE CARVALHO GUILLÉN Instituição: Ibmec/RJ _____________________________________________________

Professor: JOSE VALENTIM MACHADO VICENTE Instituição: Banco Central do Brasil

Rio de Janeiro, 30 de março de 2007.

iv

332.45 M781

Montezano, Gustavo Henrique Moreira. Intervenções do Banco Central no mercado de câmbio: um estudo de caso brasileiro / Gustavo Henrique Moreira Montezano. - Rio de Janeiro: Faculdades Ibmec. 2007. Dissertação de Mestrado Profissionalizante apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Economia das Faculdades Ibmec, como requisito parcial necessário para a obtenção do título de Mestre em Economia. Área de concentração: Finanças Internacionais. 1. Câmbio - Brasil. 2. Mercado de câmbio – Intervenção. 3. Banco Central – Intervenção.

v

vi

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais por todo o suporte e incentivo que sempre me deram para, os quais

foram cruciais para me ajudar a superar desafios como este.

Agradeço a minha namorada pela paciência e compreensão com as noites a fio que são

necessárias para completar uma tese de mestrado e as abdicações que devemos fazer para tal.

Agradeço ao meu orientador pela motivação que me transmitiu ao longo de todo o trabalho,

pela sua imensa disponibilidade e compreensão, frutos da sua dedicação e paixão pela

pesquisa acadêmica.

Obrigado a todos.

vii

RESUMO

O presente trabalho procura avaliar a eficácia das intervenções do Banco Central do Brasil no

mercado de câmbio realizadas no período de janeiro de 1999 à setembro de 2006, após a

adoção do regime de câmbio flutuante, através de instrumentos de títulos cambiais, swaps e

mercado à vista. Nossas estimativas foram obtidas através do método de mínimos quadrados

ordinários simples e em dois estágios. Obtivemos resultados diferentes para cada tipo de

instrumento. Enquanto as intervenções por títulos cambiais se mostraram eficazes em todos os

períodos, as intervenções via swaps não se mostraram eficazes em nenhum momento. As

intervenções pelo mercado à vista se mostraram eficazes apenas nos períodos sem crises

cambiais.

Palavras Chave: intervenção, câmbio, Banco Central, Brasil.

viii

ABSTRACT

In the present study we intend to evaluate the efficacy of Brazilian Central Bank’s

interventions in the exchange market in the period from January 1999 to September 2006,

after the floating exchange rate policy adoption, trough the instruments of domestic dollar

linked debt, swap and spot market. Our results were obtained through the simple OLS

methodology and through TSLS. The estimated efficacy varies for each instrument analyzed.

While dollar linked debt presented efficacy in all periods, the swaps did not show efficacy in

any case. Spot interventions were significant only during the periods without exchange rate

crises.

Key Words: intervention, exchange rate, Central Bank, Brazil.

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Comportamento das variáveis macroeconômicas ao longo dos períodos .............. 32 Figura 2 – Evolução da taxa de câmbio nominal................................................................... 33 Figura 3 – Evolução da taxa de juros nominal ...................................................................... 35 Figura 4 – Evolução da taxa de juros americana ................................................................... 36 Figura 5 – Evolução do risco-Brasil ..................................................................................... 37 Figura 6 – Taxa de câmbio nominal e intervenções no mercado à vista ................................ 39 Figura 7 – Estoques de títulos cambiais em poder do mercado (diferença de metodologia)... 41 Figura 8 – Taxa de câmbio nominal e intervenções via títulos cambiais ............................... 43 Figura 9 – Taxa de câmbio nominal e intervenções via swaps cambiais................................ 45

x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Períodos de intervenção ...................................................................................... 30 Tabela 2 – Dados de variação do câmbio nominal por período ............................................. 34 Tabela 3 – Resumo das intervenções observadas por período ............................................... 46 Tabela 4 – Resultados modelo base...................................................................................... 51 Tabela 5 – Resultados da regressão da depreciação da moeda pela sua defasagem................ 53 Tabela 6 – Resultados do modelo com risco-país ................................................................. 56 Tabela 7 – Resultados teste de robustez com taxa de juros internacional .............................. 59 Tabela 8 – Resultados teste de robustez com assimetria entre compra e venda...................... 60 Tabela 9 – Resultados teste de robustez com MQO em dois estágios.................................... 64

xi

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................1

2 REVISÃO LITERÁRIA.........................................................................................6

2.1 Histórico.................................................................................................................... 7

2.2 Caso dos Emergentes................................................................................................ 9

2.3 Objetivo .................................................................................................................. 12

2.4 Formas de intervenção ........................................................................................... 13

2.5 Canais de transmissão ............................................................................................ 14

2.6 Instrumentos........................................................................................................... 16

2.7 Restrições na análise............................................................................................... 17

2.8 Definição de eficácia............................................................................................... 19

2.9 Freqüência de medição........................................................................................... 20

2.10 Metodologias utilizadas .......................................................................................... 20

2.11 Principais resultados encontrados na literatura ................................................... 21 2.11.1 Países industrializados ................................................................................................................ 21 2.11.2 Países emergentes ........................................................................................................................ 24 2.11.3 Brasil ............................................................................................................................................. 27

3 DADOS ..............................................................................................................29

3.1 Períodos .................................................................................................................. 29

3.2 Taxa de câmbio nominal ........................................................................................ 32

3.3 Juros domésticos..................................................................................................... 34

xii

3.4 Juros internacionais ............................................................................................... 36

3.5 Risco país ................................................................................................................ 36

3.6 Intervenções descontínuas...................................................................................... 37 3.6.1 Mercado à vista................................................................................................................................. 38 3.6.2 Títulos cambiais ................................................................................................................................ 40 3.6.3 Swaps ................................................................................................................................................. 44

4 O MODELO........................................................................................................47

5 RESULTADOS ..................................................................................................50

5.1 Modelo base ............................................................................................................ 50

5.2 Modelo com risco país ............................................................................................ 54

5.3 Testes de robustez................................................................................................... 57 5.3.1 Modelo com taxa de juros internacionais....................................................................................... 57 5.3.2 Modelo com teste de assimetria ....................................................................................................... 59 5.3.3 Modelo com teste de assimetria em dois estágios........................................................................... 62

CONCLUSÃO ...........................................................................................................67

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................69

ANEXO A – RESUMO DAS PRINCIPAIS BIBLIOGRAFIAS ...................................71

ANEXO B – RESULTADOS DO TESTE DE HAUSMAN PARA O MODELO COM ASSIMETRIA ENTRE COMPRA E VENDA .............................................................73

1

1 INTRODUÇÃO

Um Banco Central pode atuar no mercado de câmbio não somente para gerenciar reservas ou

prover liquidez ao mercado, ele pode fazê-lo simplesmente para interferir no comportamento

da taxa de câmbio: são as chamadas intervenções cambias ativas. Em geral, os principais

motivadores para isto são reações contra: (i) desvios de curto prazo na moeda frente ao seu

valor de equilíbrio (“valor fundamental”) ou (ii) para acalmar mercados em turbulência. Por

essas características, nota-se que as intervenções buscam atuar tanto no nível quanto na

volatilidade da moeda, dependendo da situação em questão. O presente estudo busca analisar

se estas intervenções são eficazes para afetar o nível da moeda e quais os possíveis motivos

que as tornam (in)eficazes.

Seguindo a tendência de diversos países emergentes durante os anos 90, o Banco Central do

Brasil passou a adotar uma política de câmbio flutuante devido ao enorme déficit na balança

comercial exercido pelo regime de câmbio fixo. A despeito disso, o Banco Central Brasil

continuou a intervir no mercado de câmbio através de instrumentos como títulos indexados ao

dólar, swaps ou cambio spot.

Os casos clássicos de intervenção estudados na literatura são os grandes períodos de

intervenções coordenadas entre os principais Bancos Centrais dos G7. Todavia, a literatura

sobre intervenções em países emergentes ainda é restrita. No Brasil temos os exemplos de

2

Araújo e Goldfajn (2004) que analisaram o efeito das intervenções sobre a volatilidade da

moeda no período de 2000 a 2003 e concluíram que as mesmas são endógenas ao modelo e

que as intervenções do Banco Central do Brasil reduziram a volatilidade da moeda durante o

período em questão. Novaes e Oliveira (2005) argumentaram que a resposta às intervenções

depende do nível de volatilidade da taxa de câmbio nominal. Os autores mostram que nos

períodos de alta volatilidade as intervenções do Banco Central do Brasil não foram capazes de

alterar a esperança condicional da taxa de câmbio, independente do instrumento utilizado.

Durante a história recente dos países emergentes, o nível da taxa de câmbio tem sido fator

fundamental para os perfis de risco de crédito soberanos, uma vez que boa parcela do

endividamento destes países estava atrelada à moeda internacional1. Além do efeito sobre o

risco-país, o elevado nível de “pass-through” faz com que os impactos de uma desvalorização

cambial sobre a inflação possam afetar renda e emprego. Com base nestes argumentos,

justifica-se uma prática intervencionista mais ativa pelos Bancos Centrais emergentes, mesmo

sob regimes de câmbio flutuante.

A despeito disso, não existe um consenso na literatura sobre a eficácia das intervenções ou

mesmo sobre a metodologia de abordagem do problema. Os resultados são os mais diversos

possíveis, assim como as hipóteses conclusivas. Algumas características das intervenções

tornam o estudo das mesmas extremamente complexo. A primeira delas é que não se sabe

qual teria sido o real comportamento da moeda caso o Banco Central não tivesse intervido.

Outra é que se pode supor que exista uma correlação entre determinadas conjunturas de

mercado e a atividade de intervenção, o que induziria o pesquisador a trabalhar com modelos

endógenos. Também não se conhece ao certo qual a defasagem entre a intervenção e o seu

1 No caso brasileiro especificamente, nos últimos anos esta realidade tem se alterado com a recompra da dívida externa e aumento das reservas internacionais.

3

efeito sobre a moeda propriamente dita. Além desses, existe um complicador adicional para a

formação de um consenso sobre o tema, o fato de que as particularidades das economias

locais bem como as conjunções temporais são fatores exógenos ao câmbio, impossibilitam

dessa forma as comparações de longos períodos de tempo ou entre diferentes países.

O modelo que utilizaremos para responder a algumas destas perguntas será o mesmo

apresentado por Novaes e Oliveira (2005), utilizando uma abordagem de taxa de câmbio em

tempo contínuo com regressores MQO. Ainda que a literatura sobre intervenções no mercado

de câmbio não tenha convergido para um modelo padrão para a trajetória da taxa de câmbio

nominal, uma classe de modelos baseados em processos em tempo contínuo tem ganhado

relevância nos últimos anos2.

O modelo considera dois grupos de intervenções capazes de alterar a trajetória da taxa de

câmbio: as intervenções contínuas e as intervenções discretas (ou descontínuas). A ferramenta

contínua será representada pela taxa de juros doméstica, enquanto as intervenções discretas

são compostas pelas operações de compra e venda de moeda através dos instrumentos de

swaps, títulos cambias e mercado à vista. Estes últimos serão modelados por processos de

poisson. Apesar das operações de títulos e swaps serem pouco comuns para a maior parte dos

Bancos Centrais, no caso brasileiro estes instrumentos foram bastante representativos no

controle da taxa de câmbio. Nos testes de robustez, utilizaremos variáveis macroeconômicas

como juros domésticos e risco-país, para simular o comportamento do câmbio na ausência de

intervenções. Em todos os casos procuraremos destacar as diferença de comportamento das

respostas entre os períodos com e sem crises cambiais, sempre focando a discussão na eficácia

dos instrumentos sobre a variação logarítmica da taxa de câmbio.

2 Exemplos: Domaç e Mendoza (2002), Bonser-Neal (1996), Dominguez (2004) e Reitz (2002).

4

A equação base de nosso estudo consiste na regressão da variação diária do logaritmo da taxa

de câmbio pelas variáveis independentes de intervenção contínuas (taxa de juros doméstica) e

descontínuas (instrumentos de títulos, swap e à vista). Como variação ao modelo base,

introduziremos nesta regressão a variável de riso-país com o intuito de capturar o impacto da

variação do nível de aversão a risco, medido pelo EMBI Brasil, sobre a taxa de câmbio.

Também utilizaremos a taxa de juros internacional como teste de robustez, representada pela

taxa dos títulos de 10 anos do tesouro americano. Além destes testes, vamos tentar verificar a

presença de assimetria entre compra e venda na eficácia dos instrumentos. Na seção seguinte,

utilizaremos variáveis instrumentais com o intuito de verificar a presença de endogeneidade

na especificação.

Nossa análise será feita em bases diárias e se estende de janeiro de 1999 até setembro de

2006, quando vivenciamos momentos bem distintos no que se refere à conjuntura econômica

e perfil de intervenções. Esses períodos foram divididos entre dois períodos de crises cambias

(primeiro semestre de 1999 e segundo semestre de 2002) e três períodos sem crises cambiais

(o período entre as crises, o ano de 2003 e o último período que vai de janeiro de 2004 até

setembro de 2006). Os períodos de crise cambial compreendem (i) os meses subseqüentes ao

fim do regime de cambio fixo, quando o real depreciou quase 70% em dois meses, até que o

mercado se estabilizasse em torno do valor de equilíbrio real da moeda; e (ii) o período pré-

eleitoral do Governo Lula, quando os temores acerca da ortodoxia econômica que seria

adotada e a fuga de capital estrangeiro e busca por proteção fizeram com que o real atingisse o

seu menor valor atingindo quase a razão de R$ 4,00 / US$. Neste período, o real se

desvalorizou cerca de 60% em cinco meses.

O primeiro período sem crise é aquele compreendido entre as crises de 1999 e a de 2002. O

segundo refere-se ao primeiro ano do Governo Lula, quando o mercado retomou a confiança

5

na política econômica. O último período corresponde ao momento de maior estabilização

econômica, quando em que o nível de liquidez mundial se eleva consideravelmente, e

verifica-se um aumento de fluxo de capital aos países emergentes (incluindo o Brasil), que

aprecia suas moedas e aumenta o nível de reservas internacionais do Banco Central do Brasil.

Em geral, nossos resultados indicam que as intervenções via títulos cambiais ou mercado à

vista possuem uma eficácia de 0,8% de apreciação (ou depreciação) para cada US$ 1 bilhão

de dólares vendidos (ou comprados) através destes instrumentos3. Este resultado está em linha

com o encontrado por Domaç and Mendoza (2002) que concluíram que nos casos de México

e Turquia a eficácia das intervenções foi de 2% e 0,8%, respectivamente, apesar de o fazerem

por uma metodologia diferente da nossa.

Na seção 2, faremos uma revisão literária sobre o tema de intervenções. Em comentaremos

brevemente o cenário de mercado cambial brasileiro durante o período analisado, entre janeiro

de 1999 até os dias atuais, com destaque para os instrumentos que foram utilizados nas

intervenções em cada período. Na seção 4, descrevemos os dados utilizados na análise

empírica e como os mesmos foram obtidos. Em seguida, na seção 5, comentaremos os

resultados empíricos obtidos bem como os testes de robustez realizados a partir do modelo

base. Por fim faremos uma conclusão com base nos resultados encontrados, buscando

enquadrá-los no contexto da literatura de intervenções e no cenário econômico brasileiro.

3 No caso das intervenções através do mercado à vista, deve-se ressaltar que este resultado é válido apenas nos períodos sem crises cambiais.

6

2 REVISÃO LITERÁRIA

As publicações acerca do tema da intervenção se tornaram mais freqüentes após a divulgação

do estudo de Dominguez (1993) que concluiu que intervenções ocultas4 aumentam a

volatilidade da moeda, enquanto somente aquelas que são tornadas públicas podem reduzi-la.

O texto pode ser considerado, de certa forma, como uma continuidade ao estudo de Diebold e

Nerlove (1989) sobre o comportamento da volatilidade da moeda. Diebold e Nerlove não

entraram no campo das intervenções propriamente dito, mas relacionaram sinais

macroeconômicos à volatilidade da moeda e concluíram que quanto mais ambíguos forem tais

sinais, mais instável é a resposta do mercado. Esse material serviu de insumo para que

Dominguez publicasse sua pesquisa a que ia de encontro à prática comumente adotada por

muitos Bancos Centrais à época: não dar transparência aos agentes sobre sua operações nos

mercados de câmbio. Os Bancos Centrais, por sua vez, argumentavam que a divulgação das

intervenções possibilitaria ações dos especuladores contra sua moeda, o que poderia tornar a

intervenção inócua e/ou aumentar a volatilidade do câmbio.

A partir da publicação do estudo de Dominguez (1993), intensificou-se a polêmica acerca do

tema das intervenções e novas metodologias de pesquisa das mesmas foram desenvolvidas, o

que motivou o aprofundamento deste assunto por diversos autores.

4 Oculta foi o termo usado pelos autores para definir as intervenções que não são publicamente anunciadas ao mercado pelos Bancos Centrais.

7

A maior parte da literatura empírica utiliza para pesquisa empírica os períodos de

intervenções coordenadas entre os Bancos Centrais da Alemanha, EUA e Japão, enquanto os

estudos de caso de países emergentes ainda são extremamente raros. As conclusões obtidas

por tais estudos são as mais diversas possíveis. Geralmente, essa falta de consenso acadêmico

é atribuída pelos próprios autores à natureza da atividade de intervenção, o que detalharemos

mais a frente. No entanto, antes de expor tais argumentos, é necessário descrever alguns

atributos das intervenções cambiais para sua melhor compreensão.

2.1 HISTÓRICO

O primeiro grande período intervencionista do qual se tem registro é o de Bretton Woods

(Bretton Woods Exchange Rate System) que se iniciou ao final da 2ª Guerra. As intervenções

tinham como objetivo manter as paridades do poder de compra entre os principais países do 1º

mundo, afim de que os abalos pós-guerra não gerassem uma desestruturação de longo prazo

sobre suas economias. Sempre que as taxas de câmbio excedessem as faixas de paridades pré-

determinadas, os Bancos Centrais agiam no sentido de reenquadrá-las. Essa publicidade

acerca das bandas de taxas de câmbio possibilitou que grandes investidores lucrassem com

trades especulativos contra as moedas uma vez que a reação dos Bancos Centrais e

conseqüente movimento de preços eram facilmente previstos. A disseminação dessa estratégia

de operação entre os investidores e o conseqüente aumento do volume que os Bancos Centrais

deveriam aplicar para conter esses movimentos tornou inviável a manutenção desta política.

Desta forma, a partir de 1973 o sistema foi rompido (Período Pós Bretton Woods) e as

intervenções foram deixadas ao cargo individual de cada Banco Central até 1977. Naquele

ano, o FMI divulgou uma nota aos países membros defendendo o conceito de que as

intervenções cambiais deveriam ter três princípios básicos: (i) não poderiam manipular a

8

moeda para favorecer a balança de pagamentos ou competitividade de preços internacionais;

(ii) deveriam intervir para conter mercados em desordem e (iii) ao intervir, deveriam levar em

consideração as taxas de juros e poder de compra de outras moedas5. (DOMINGUEZ 1993)

Entre 1981 e 1984, a atividade de intervenções foi sensivelmente reduzida. Neste período, o

dólar americano se valorizou mais de 40% sobre o marco alemão e o déficit da balança

comercial americana era superior a US$ 100 bilhões. Para conter esta enorme valorização, em

1985, os G5 assinaram o Acordo de Plaza, quando os Bancos Centrais de Japão, EUA e

Alemanha iniciaram um processo de intervenções coordenadas sem precedentes na economia

mundial que perdurou até o final dos anos 806.

Em 87, foi assinado pelos G7 o Acordo de Louvre que tinha como objetivo a continuidade da

desvalorização do dólar americano assim como a estabilização das moedas internacionais.

Entretanto, desta vez não foram estabelecidas quaisquer bandas de referência para tal, como

havia sido feito nos anos 70. (DOMINGUEZ 1993)

Após este Acordo, uma nova fase de grandes intervenções verificou-se nas economias da

União Européia, especialmente no período de transição para a institucionalização do Euro

como moeda continental, quando o mesmo sofreu grande depreciação frente ao dólar

americano. (SARNO e TAYLOR 2001)

5 Não se sabe até que ponto tal orientação foi realmente desempenhada pelos Bancos Centrais membros, entretanto a sua divulgação sinaliza a presença dentro do FMI da eficácia das intervenções sobre a paridade das moedas. 6 Tal proesso foi fundamental para a pesquisa sobre o tema, pois originou a principal base de dados estudada pelos pesquisadores.

9

2.2 CASO DOS EMERGENTES

Como pode ser observado, os grandes movimentos intervencionistas e, consequentemente, as

principais fontes de pesquisa empírica sobre o tema se concentram em economias de países do

Primeiro Mundo. Entretanto, historicamente os países emergentes são muito mais ativos do

que se refere às intervenções cambiais, haja vista, por exemplo, o longo período de política de

câmbio fixo praticada por muitos deles.

A partir de meados dos anos 90, diversas economias emergentes permitiram que a taxa de

câmbio nominal fosse determinada livremente pelo mercado. Em quase todos os países, a

decisão teria sido muito mais uma imposição conjuntural do que uma decisão refletida de

política econômica, tendo em vista que com a globalização financeira, a fragilidade dos

fundamentos domésticos e a instabilidade do cenário internacional tornaram insustentável a

defesa de uma paridade fixa diante de ataques especulativos cada vez mais fortes.

Mesmo com a adoção de políticas de câmbio flutuante, argumenta-se que não é conveniente

aos emergentes deixem o mercado ajustar livremente o preço de suas moedas. Esses países

estão mais sujeitos aos ataques especulativos e a maior exposição de suas economias aos

efeitos adversos da volatilidade cambial justifica uma prática intervencionista mais ativa pelos

Bancos Centrais.

Além do efeito sobre o perfil de crédito público, o elevado nível de “pass-through” faz com

os impactos de uma desvalorização cambial sobre a inflação de desemprego sejam bem

relevantes, exigindo grandes ajustes nas taxas de juros para conter tais efeitos e manter os

patamares inflacionários como forma de proteger o nível de emprego.

10

Como foi bem mencionado por Bonser-Neal (1996), o setor privado é impactado pela

volatilidade da moeda não apenas no nível de atividade, mas também pelo aumento do retorno

exigido pelos investidores, clientes ou fornecedores. Bonser-Neal argumenta que a

volatilidade traz incerteza sobre as expectativas da paridade do poder de compra, agregando

um fator de risco tanto nos investimentos internacionais quanto no comercio exterior, uma vez

que os custos incorridos com variações de preços e receitas em moeda estrangeira podem

inviabilizar negócios e aumentar o retorno exigido por investidores no país.

Sobre esse ponto Disyatat e Galati (2005) argumentam que os agentes privados poderiam

buscar proteção contra a volatilidade individualmente, reduzindo a dependência

microeconômica de uma gestão intervencionista do Banco Central. Entretanto, em seu estudo

Disyatat e Galati afirmam que, nestes países, os custos de proteção (hedge) contra tais

movimentos são demasiadamente caros e muitas vezes inacessíveis a uma parcela relevante

dos agentes econômicos. Acreditam também que, em parte, isto se deve à microestrutura dos

mercados financeiros locais, onde há pequena quantidade de agentes financeiros que

dominem o mercado de câmbio desses países. Os argumentos de Disyatat e Galati são

interessantes ao associarem a maior necessidade de intervenção desses países não só as suas

condições macroeconômicas, mas também como um ônus que esses Governos arcam por não

fomentarem a criação de um mercado financeiro competitivo e capilarizado. Apesar de

também defenderem uma função mais ativa dos Bancos Centrais como agentes reguladores da

moeda nestes países, os autores lembram o fato de que a popularização dos instrumentos de

proteção poderia ser uma alternativa mais barata e mais eficiente de proteger a economia da

volatilidade da taxa de câmbio, reduzindo a dependência da economia privada da gestão

intervencionista do Banco Central.

11

Apesar da maior relevância das intervenções para as economias emergentes, a disponibilidade

de estudos sobre intervenções nestes mercados é extremamente escassa. Além da falta de base

de dados confiáveis para tal, muitos argumentam que a ausência de credibilidade dos Bancos

Centrais (ou curto período da mesma) nestes países faz com que as respostas às intervenções

sejam muito contaminadas por ruídos e conjunturas voláteis, não permitindo uma serie

comparativa adequada para obter um padrão de comportamento. Disyatat e Galati (2005)

apresentam a mais completa revisão literária sobre intervenções em países emergentes, onde

mencionam estudos de Canales-Krijenko (2003)7, Domaç and Mendoza (2002-México e

Turquia)8, Guimarães and Karacadag (2004-México e Turquia)9, Tapia and Tokman (2004-

Chile)10, Holub (2004-Republica Tcheca)11, Bárbaras (2003-Hungria)12 e Rhee e Song (1999-

Coréia)13. No caso brasileiro, destacamos os estudos de Araújo e Goldfajn e Novaes (2004) e

Oliveira (2005).

7 Argumentaram que o efeito mais direto da condição de fraco poder de sinalização dos Bancos Centrais emergentes é que devem fazer um volume relativo muito maior de intervenções do que os desenvolvidos para ter um mesmo efeito. Para embasar o argumento, forneceram algumas evidências quantitativas sobre o volume relativo de negociações no mercado frente ao tamanho das intervenções. 8 Concluíram que sinalizações sobre política monetária na Turquia e México não tiveram qualquer impacto sobre o nível ou volatilidade da moeda. Encontraram também assimetria sobre os impactos das intervenções no nível da moeda, entre as posições comprada ou vendida. Nas vendas (mas não nas compras) de dólares os Bancos Centrais foram capazes de impactar o nível do cambio. A venda líquida de US$ 100 milhões apreciava o câmbio em 0,08% no México e 0,2% na Turquia, em media. Nos dois países, as intervenções reduziram a volatilidade da moeda. 9 Enfatizaram a importância de anúncios públicos das intervenções nos casos de México e Turquia. Como o Banco Central turco sempre avisava ao mercado sobre suas intervenções, no momento em que as mesmas ocorriam, elas tinham impacto nulo sobre o câmbio, pois já haviam sido precificadas pelo mercado. 10 Através de dados diários e intra-diários, concluíram que anúncios oficiais sobre intervenções iminentes do Banco Central chileno tornavam as mesmas claramente eficazes em influenciar o nível e tendência do câmbio (especialmente a partir de 2001), enquanto as intervenções secretas não eram eficazes. Concluíam que a eficiência das intervenções mudava com o tempo de acordo com as alterações nas políticas de intervenção do Banco Central. 11 Enfatizaram a importância de anúncios públicos das intervenções nos caso da República Tcheca. 12 Afirma que para o Banco Central da Hungria é mais fácil intervir contra a apreciação da moeda do que contra a depreciação. 13 Concluiu que na medida em que o mercado coreano foi se tornando mais aberto, as intervenções ficaram menos eficazes.

12

2.3 OBJETIVO

A própria definição da intervenção cambial apresenta variações. Enquanto alguns a definem

como toda e qualquer ação do Banco Central neste mercado, a maioria dos autores a restringe

às ações do Banco Central que visem de alguma forma impactar o nível ou a volatilidade da

moeda, como no caso de Neely (2005)14.

As principais razões mencionadas na literatura para justificar o objetivo dos Bancos Centrais

de influenciar a moeda consistem em reações contra (i) “desvios de curto prazo” do valor da

moeda frente ao seu valor de equilíbrio (ou valor fundamental) ou (ii) para acalmar mercados

em turbulência15. Todavia, o Banco Central também pode atuar no mercado sem o intuito de

impactar diretamente o nível ou volatilidade da moeda, são as chamadas intervenções

passivas. Exemplos destes tipos de intervenções são (i) recompor (ou reduzir) reservas

internacionais ou (ii) realizar a internalização de recursos para agentes (privados ou públicos)

em alguns casos específicos.

Para fins empíricos a segregação das intervenções entre ativas e passivas não é comummente

utilizada pelos autores, tendo em vista a dificuldade de identificar o objetivo primário do

Banco Central nas intervenções. A maioria dos autores sequer comenta tal diferenciação. Os

poucos que o fazem informam dois principais motivos para não o fazer16: (i) primeiro, porque

não existe base de dados que forneça tal distinção e (ii) segundo, porque esta segregação

poderia gerar inconsistências na regressão tendo em vista que os agentes de mercado, que

14 De acordo com Neely (2005) Intervenção Cambial denomina a atividade de compra ou venda por parte dos Bancos Centrais nos mercados de câmbio com o intuito de influenciar de alguma forma o comportamento da moeda. 15 Enquanto o primeiro se concentra no nível, o segundo está mais associado à volatilidade da taxa de câmbio. 16 Como exemplos de autores que comentaram o tema, citamos Dominguez (1993).

13

geram a função resposta da intervenção, não são capazes de fazer tal distinção no momento da

mesma, o que não justificaria um comportamento diferente em cada caso.

Não foi encontrado qualquer registro na literatura de autores que mencionassem (i) a intenção

de desviar a moeda de seu valor fundamental ou (ii) uma forma de evitar que a moeda

atingisse seu valor de equilíbrio, como motivadores ou meta de atuação do Banco Central17.

Uma pesquisa realizada por Neely (2000) junto a 20 Bancos Centrais reforçou a hipótese de

que estas premissas eram inconsistentes. Quando perguntados sobre os objetivos que levariam

aquele Banco Central a intervir: 90% dos respondentes informaram que “corrigir tendências

de curto prazo no nível da moeda” seria um motivador de intervenção; 66% disseram que

“corrigir o valor da moeda para o seu valor fundamental” também seria um motivo, enquanto

nenhum destes afirmou que obter lucro com trades especulativos pudesse motivar essa

atividade.

2.4 FORMAS DE INTERVENÇÃO

Geralmente, os pesquisadores distinguem as intervenções em dois grupos quanto ao seu

impacto sobre a base monetária, categorizando-as como “Não Esterilizadas” (unsterilized ou

non sterilized) aquelas que alteram a base monetária doméstica e “Esterilizadas” (sterilized)

aquelas que não alteram. Tal diferenciação torna-se importante na identificação do objetivo

fim da intervenção, pois o Governo pode realizar transações e buscar neutralizar o efeito sobre

a base monetária para que a atividade no mercado cambial não interfira na sua política

monetária. Por outro lado, a negociação cambial pode ter como objetivo acumular (ou reduzir)

17 Inclusive, esta premissa de que o Banco Central busca sempre intervir no “sentido correto” é utilizada como hipótese de eficácia em alguns estudos. Nestes casos, os autores testam a hipótese de que a intervenção é considerada bem sucedida caso o Banco Central realize lucro com a operação, já que ele tende a “comprar na baixa” e “vender na alta” para ajudar a corrigir o valor da moeda no sentido de seu valor de equilíbrio.

14

o volume de reservas internacionais, sem que seus impactos sobre a oferta de moeda sejam

desejáveis.

Intervenções Não Esterilizadas afetam diretamente a oferta de moeda doméstica, com isso a

atividade cambial afeta também a política monetária doméstica, o que muitas vezes não é

desejável pelos Bancos Centrais (SARNO e TAYLOR (2001)). O processo de neutralização

(esterilização) da intervenção se resume a compensação do saldo líquido das intervenções

sobre a base monetária, que deve ser feito imediatamente ou em curto espaço de tempo após a

intervenção. Podemos exemplificar o processo de neutralização da seguinte forma: caso o

Banco Central do Brasil realize operações no mercado de câmbio, cujo saldo líquido seja de

uma posição vendida (comprada) em dólar, naturalmente, houve uma redução (aumento) da

liquidez disponível de moeda local na economia doméstica, já que o mercado, na ponta

oposta, foi vendedor (comprador) liquido de reais. Para compensar tal redução (aumento) da

base monetária em circulação, o Governo (seja através do Banco Central do Brasil ou do

Tesouro) pode recomprar (emitir) títulos de sua divida doméstica injetando (retirando) moeda

no mercado e recompondo assim a disponibilidade da base monetária da economia.

2.5 CANAIS DE TRANSMISSÃO

Intervenções Esterilizadas afetam a taxa de câmbio através de dois canais: o de portfólio e o

de sinalização. O primeiro pode ser explicado através do Modelo de Portfólio, no qual os

investidores ajustam suas carteiras de acordo com a taxa de retorno esperada para os ativos de

cada país. O modelo considera que não existem oportunidades de arbitragem nas alocações de

carteira entre as diversas moedas. Dessa forma, durante o processo de esterilização da

intervenção, o Banco Central altera a oferta de títulos no mercado e conseqüentemente o

15

retorno esperado para os mesmos. Com isso o valor relativo dos ativos denominados na sua

moeda se altera em relação aos ativos internacionais. (SARNO e TAYLOR 2001)

Em geral, como o volume das intervenções é relativamente baixo frente ao volume de dívida

emitida pelos Governos, grande parte dos autores mostra pouca credibilidade de que este

canal possa seja eficaz para a transmissão dos efeitos de intervenção. Diversos estudos não

encontraram evidências de que este canal fosse significante, dentre aqueles que encontraram

algum tipo significância, Dominguez e Frankel (1993), Evans e Lyons (2001) e Ghosh (1992),

sugerem que o mesmo é muito pouco eficaz.

O segundo canal de transmissão da intervenção é o de sinalização, pelo qual o Banco Central

indica ao mercado qual a sua estratégia de política monetária no que se refere ao câmbio.

Musa (1981) é reconhecido como o primeiro a citar a relevância desse canal como ferramenta

de política monetária Ao comprar ou vender moeda, além de efetivar a simples transação em

si, o Banco Central fornece sinais externos sobre suas metas e expectativas aos agentes de

mercado, fazendo com que esses infiram sobre o comportamento futuro do Banco Central. A

atitude de buscar antecipar as ações do Banco Central como forma de se obter lucros se deve

ao fato de que (i) os agentes enxergam que o Banco Central tem grande capacidade de gestão

do mercado cambial e (ii) o Banco Central possui mais informações relevantes do que as

disponíveis ao mercado.

A grande maioria dos autores acredita que o canal da sinalização é o principal meio de

disseminação dos impactos de intervenção. Isso justifica a grande especificidade de cada caso

analisado e a dificuldade de se comparar resultados que utilizam diferentes bases de dados, já

que a eficácia deste canal está diretamente relacionada à percepção que os agentes de mercado

possuem sobre o Banco Central. Esta percepção de imagem do ente regulador pode mudar não

16

apenas de um país para outro, mas também em um mesmo país ao longo de determinado

período. Com isso, espera-se que o padrão de comportamento das respostas do mercado (se

por ventura existir) varie sensivelmente em cada caso. Tal condição faz com que o estudo das

eficácias das intervenções por um longo período de tempo apresente resultados com pouco

sentido econômico, tendo em vista que os coeficientes das regressões tendem a mudar com o

tempo.

2.6 INSTRUMENTOS

O Banco Central possui diversos meios de interferir no mercado de câmbio além da simples

negociação à vista da moeda. Atualmente, encontram-se disponíveis instrumentos mais

sofisticados como contratos futuros, swaps ou opções de moeda. Além da atuação direta em

mercado, o Banco Central também pode intervir sem realizar qualquer transação, através de

divulgações ao público sobre políticas, normas ou metas que pretende seguir que possam ter

impactos diretos ou indiretos sobre o valor da moeda. Essas diferentes modalidades de

intervenções possuem algumas vantagens ou complementaridades entre si.

No caso dos futuros ou swaps, o Banco Central tem a opção de interferir no mercado sem

aplicar recursos imediatos ou podem neutralizar uma operação à vista que tenha sido efetivada

para “atender” a alguma demanda pontual de liquidez do mercado (sem ter que passar pelo

processo de Esterilização).

As opções fornecem hedges para os agentes de mercado sem que os mesmos tenham que

especular a moeda. Elas reduzem as chances de grandes turbulências no mercado ao permitir

que investidores e especuladores travem suas posições evitando, desta forma, grandes ralis em

busca da zeragem das posições nos momentos de maior volatilidade da moeda.

17

Além das intervenções diretas que consomem recursos e em alguns momentos podem não ser

suficientes para conter os ânimos do mercado, o Banco Central pode influenciá-lo através do

estabelecimento de regras, determinação de políticas explícitas ou simplesmente por

declarações dos dirigentes de seu alto escalão que tenham repercussão no mercado.

2.7 RESTRIÇÕES NA ANÁLISE

A diversidade de metodologias de pesquisa e resultados obtidos sobre o tema de intervenções

é vasta. Entretanto, as questões básicas que motivaram este campo de pesquisa são

extremamente simples e diretas. De acordo com Neely (2005) as principais questões residem

em: (i) Quais os efeitos das intervenções sobre o nível e volatilidade da taxa de câmbio? (ii)

Em quais condições os Bancos Centrais atuam? As questões secundárias recaem sobre fatores

como o sentido de intervenção, publicidade e volume de intervenções e seus efeitos sobre

essas respostas?

As questões primárias que tentam ser respondidas na literatura de intervenções são perguntas

quase que imediatas ao leitor que se inicia no tema. Entretanto, pesar da objetividade das

questões envolvidas, algumas características das intervenções tornam complexa a forma de se

estudá-la e geram contradições entre os autores. A primeira delas é que não se sabe qual teria

sido o real comportamento da moeda caso o Banco Central não tivesse intervido. Essa

argumentação é comumente utilizada por alguns quando sentido do efeito da intervenção

sobre o nível da moeda não condiz com as expectativas. Por exemplo, quando o sinal do

coeficiente de intervenção indica que a compra de moeda pelo Banco Central reduz o preço da

mesma. Nestes casos, alguns autores argumentam que a tendência dos Bancos Centrais de

atuarem em sentido oposto à tendência presente em mercado pode gerar situações deste tipo e

18

ignoram o significado econômico do sinal. A literatura denominou esse perfil de atuação de

“leaning against the wind”.

Um segundo ponto de restrição levantado por pesquisadores é que intuitivamente pode-se

supor que exista uma correlação entre situações de mercado e a atividade de intervenção, o

que induziria o pesquisador a trabalhar com regressões espúrias já que seriam os momentos

do câmbio é que determinariam a atividade do Banco Central, havendo uma inversão do que

se define como variáveis dependentes.

A simultaneidade entre a intervenção e a freqüência de medição também é levantado como

ponto delicado por alguns. Isso ocorre devido ao fato de que, em geral, a freqüência de dados

é feita em bases diárias (Neely 2005). Como as intervenções podem ter efeitos imediatamente

após as mesmas e seus reflexos repercutirem ao longo do dia de negociação, ocorre o

problema de simultaneidade. Por esta razão, a maioria dos autores da literatura utiliza

modelos GARCH para suas regressões (especialmente para o estudo da volatilidade). Nos

casos de autores que utilizam métodos OLS, a forma mais comum que se tem utilizado para

lhe dar com o problema de simultaneidade em regressores é utilizar variáveis instrumentais.

Para se estimar corretamente o parâmetro, deve-se definir um instrumento para a intervenção

(variável correlacionada com a intervenção, mas não com os choques na taxa de cambio) e

realizar uma regressão de mínimos quadrados em dois estágios. Encontrar tal instrumento não

é tarefa fácil uma vez que fatores que afetam as intervenções provavelmente afetarão também

a taxa de câmbio. Entretanto, não encontramos muitos comentários sobre os instrumentos

utilizados pelos autores, em geral, apenas os resultados são comentados sem dar detalhes

acerca das variações de resultados em função dos instrumentos escolhidos.

19

Outro ponto importante é que dificilmente existem longos períodos de intervenções em que o

ambiente macroeconômico permanecesse estável, uma vez que as conjunções temporais e até

mesmo as peculiaridades regionais dificultam as comparações da resposta do mercado às

intervenções. Para solucionar esse ponto, cada autor busca definir períodos em que acreditam

que tais condições tenham permanecido relativamente constantes e fazem conclusões para

cada um deles. Os resultados de coeficientes obtidos por regressões de longos períodos de

tempo são comumente reportados como mera formalidade sem o dispêndio de comentários

interpretativos acerca destes resultados.

2.8 DEFINIÇÃO DE EFICÁCIA

Em geral, os autores não são objetivos ao definir o que seriam condições de eficácia das

intervenções. Nenhum dos autores pesquisados define previamente ao seu estudo o que seria o

resultado de uma intervenção bem sucedida, deixando a conclusão e definição desta condição

para uma análise a posteriori.

A conclusão acerca da presença ou não de eficácia é obtida a partir dos coeficientes

resultantes das regressões, interpretados à luz das condições de restrições da análise

(mencionadas na seção “2.7 Restrições na Análise”). Dessa forma, existem casos em que um

mesmo coeficiente é interpretado de formas distintas, entre os estudos, no que se refere à

presença ou não de eficácia. Exemplo, enquanto para alguns autores se a compra de US$ 1

bilhão em moeda local, apreciá-la em 0,05% isso pode ser considerado como um indicador de

eficácia. Já para outros, o sinal pode ser extremamente fraco e não ser conclusivo.

A condição de eficácia das intervenções é sem dúvida o parâmetro que mais distancia as

diversas publicações, o que poderia justificar a grande variedade de resultados encontrados.

20

2.9 FREQÜÊNCIA DE MEDIÇÃO

Apesar da grande maioria dos estudos utilizarem bases de dados em freqüências diárias, não

há consenso sobre o período de defasagem entre a intervenção propriamente dita e o efeito

sobre a moeda. Na pesquisa realizada por Neely (2000) junto aos Bancos Centrais: 39% dos

bancos acreditam que as intervenções têm efeito em poucos minutos, 22% em poucas horas e

39% em alguns dias ou mais que isso. Esta disparidade de opiniões também é compartilhada

pelos autores, pois a depender do comportamento real e da freqüência de medição utilizada os

dados podem não capturar tal comportamento. Entre aqueles que apresentam maior

diversidade de freqüências analisadas, destacamos Dominguez (1993) que fez trabalhos com

freqüência diárias e semanal, diárias (Domingues 1998) e diárias e 5 minutos (Domingues

2004)18.

2.10 METODOLOGIAS UTILIZADAS

Pesquisadores têm usado três tipos de metodologias para responder tais questões, sendo o

estudo de eventos em séries temporais o mais comum dentre eles, a partir do qual surgiram

variações de modelos que utilizam volatilidade implícita em opções de moeda19. Outra forma

comum de se estudar volatilidade foi através de modelos GARCH.

Essa metodologia GARCH se tornou mais freqüente na medida em que o foco das pesquisas

se voltou mais para o efeito sobre a volatilidade da moeda. A maioria dos estudos utiliza a

18 Em todos os casos, Dominguez concluiu que intervenções tendem a elevar a volatilidade da moeda. 19 Ao utilizarem opções de moeda, os autores traçam a o sorriso da volatilidade, a partir dos diferentes vencimentos das opções e definem alguns vértices que serão utilizados como dados empíricos. A partir deste momento, o tratamento econométrico é idêntico ao realizado com dados de volatilidade observada.

21

variância condicional, argumentando que a variância condicional destes modelos se aproxima

da variância real20.

Estudos mais recentes utilizam a volatilidade implícita em opções de moeda como uma forma

de se verificar os impactos sobre a variância da moeda. A vantagem sobre os modelos

tradicionais é que eles capturam as expectativas futuras do mercado que não são variáveis

diretamente observáveis, enquanto a volatilidade passada pode não representar a verdadeira

expectativa do mercado sobre o câmbio. Exemplos desses estudos são Bonser-Neal e Tanner

(1996). Galati e Melick (1999) foram além da volatilidade implícita e traçaram funções de

densidade de probabilidade completas implícitas nas opões e futuros de moeda.

2.11 PRINCIPAIS RESULTADOS ENCONTRADOS NA LITERATURA

2.11.1 Países industrializados

Conforme mencionamos, as publicações sobre o tema da intervenção se intensificaram após a

divulgação do estudo de Dominguez (1993) o qual concluiu que intervenções que não são

anunciadas pelo Banco Central tendem a elevar a volatilidade da moeda, enquanto somente

aquelas que são tornadas públicas podem conter os ânimos do mercado. Dominguez utilizou

dados diários e semanais entre 1985-1991 das moedas dólar/yen e dólar/DM. De certa forma,

o texto pode ser considerado como uma continuidade ao estudo de Diebold e Nerlove (1989)

sobre o comportamento da volatilidade da moeda.

20 Como exeplos de autores, podemos citar: Dominguez (1993), Bonser-Neal (1996), , Galati e Melick, Doroodian e Carapole (2001), Reitz (2002), Dominguez (1998), Kim, Kortian e Sheen (1999), Domaç e Medonza (2002). Em geral, os resultados indicam que a intervenção do Banco Central aumenta a volatilidade.

22

Resultados semelhantes aos de Dominguez (1993) foram encontrados por Baillie e Humpage

(1992) que afirmaram existir uma relação positiva entre as intervenções e a volatilidade das

moedas dólar/yen e dólar/DM entre 1987-1990, sem mencionar a questão de publicidade das

intervenções. Hung (1997) também fez a mesma inferência sobre aumento de volatilidade,

porém se baseando no argumento a origem desse movimento está nos “noise traders” que

reagem a qualquer condição nova no mercado. Connoly e Taylor (1994) se restringiram a

relação yen/US$ e concluíram que entre 1977-1979 as atuações do Banco Central japonês

também contribuíram para aumentar a volatilidade. Doroodian e Caporale (2001) realizaram

estudo com dados diários entre 1985-1997 e encontraram impactos tanto no nível quanto na

volatilidade. Os sinais obtidos para os coeficientes do nível da moeda se apresentaram

conforme esperado e a intervenção tende a aumentar a volatilidade.

Entretanto, Bonser-Neal e Tanner (1996) também utilizaram a base de dados de 1985-1991

entre os Bancos Centrais de Alemanha, EUA e Japão e argumentaram que as intervenções

tiveram diferentes impactos ao longo desse período. Contrariamente ao que foi inferido por

Dominguez concluíram que o fato das intervenções serem publicas ou não é indiferente para o

efeito sobre a volatilidade e que, em geral, intervenções aumentam a volatilidade da moeda21.

Galati e Melick (1999) foram além da volatilidade implícita e utilizaram as opões e futuros de

moeda para traçar funções completas de densidade de probabilidades implícitas no yen/dólar

entre 1993-1996 e concluíram que as intervenções apesar de não terem impacto sobre o nível

da moeda, aumentam a volatilidade da mesma.

21 O modelo de Bonser-Neal e Tanner (1996) foi um dos primeiros a utilizar a volatilidade implícita em opções como uma visão forward looking. As variáveis macroeconômicas incluíam volatilidade do S&P, anúncios sobre política monetária, inflação, produção industrial, taxa de emprego. Volatilidades defasadas também foram incluídas no modelo.

23

O estudo de Brandner, Grech e Stix (2001) utilizou dados diários de intervenções entre 1993-

1998 de seis diferentes países europeus (Bélgica, Alemanha, Dinamarca, Espanha, França,

Irlanda e Portugal) os resultados são os mais diversos possíveis entre países e períodos. Ao

trabalhar com diferentes mercados no mesmo estudo, os autores demonstraram claramente a

condição de particularidade de cada caso, indicando que não se pode esperar um “padrão de

resposta” para intervenções, independente das condições geográficas e temporais. O único

ponto comum entre os diferentes países é que os resultados sempre dependem da volatilidade

presente no mercado. Os autores argumentaram que, em geral, as intervenções devem afetar o

nível da moeda em um cenário de baixa volatilidade. Já no que se refere aos impactos sobre a

volatilidade em si, as resultados foram os mais diversos possíveis.

No aspecto do perfil de comportamento dos Bancos Centrais, Edison (1993) e Almekinders

(1995) através de revisões bibliográficas concluíram que a maioria dos estudos publicados se

baseia numa função de reação do Banco Central que busca minimizar os desvios da moeda

frente a algum valor implícito, indicando que os Bancos Centrais devem gerenciar

(inconscientemente) suas intervenções pela metodologia de bandas. Entretanto, Baillie e

Osterberg (1997) e Dominguez (1998) encontraram resultados opostos, eles utilizaram

modelos de causalidade reversa e rejeitaram a hipótese de que um aumento da volatilidade

gera intervenções por parte do Banco Central.

Chowdhury e Sarno (2004) estudaram a dinâmica de volatilidade da taxa de câmbio através

de volatilidades estocásticas. Apesar de não tratar diretamente sobre o tema de intervenção a

pesquisa contribui para o tema ao testar a persistências de choques de volatilidade para

freqüências de 1, 15, 30 e 60 minutos. Segundo os autores, a volatilidade é tão persistente que

é difícil distinguir seu movimento estocástico de um processo com raiz unitária. Os resultados

qualitativos encontrados são os mesmos para modelos estacionários e não estacionários. O

24

modelo foi testado para quatro moedas diferentes (EUR/USD, CHF/USD, GBP/USD e

CAD/USD). O ruído domina a volatilidade para a freqüência de 1 minuto, porem para

freqüências de 15 minutos ou mais agrega muito pouco na volatilidade, sendo mais

preponderante o componente persistente da volatilidade. Em todos os casos estudados, a

volatilidade passada da própria moeda é mais relevante para a sua volatilidade atual do que a

volatilidade atual das outras moedas, o que reforça ainda mais o conceito de persistência se

sobressaindo sobre o conceito de fatores externos que impactem a volatilidade.

2.11.2 Países emergentes

Entre os estudos que focaram em economias emergentes, destacamos primeiramente o caso de

Rhee and Song (1999) que analisaram a freqüência de intervenções do Banco Central

coreano. A conclusão vai de encontro a argumentação de que o volume de intervenções é

mais relevante nos emergentes do que em paises industrializados. Os autores concluíram que

quanto mais uma economia vai se tornando aberta, as intervenções vão sendo menos

eficientes. Muitos autores argumentam que a eficácia de intervenções nesses paises se dá mais

pelo tamanho relativo das intervenções frente ao volume total de mercado do que pela

credibilidade do Banco Central propriamente dita, não se podendo descartar inclusive o canal

de portfólio para estes casos. Esse foi o ponto defendido por Canales-Krijenko et al (2003),

afirmando que a conseqüência mais direta da condição do fraco poder de sinalização dos

Bancos Centrais emergentes é que estes devem fazer um volume relativo de intervenções

muito maior que os desenvolvidos para se obter um mesmo efeito. Em seu estudo, os autores

forneceram algumas evidências sobre o volume relativo de negociações no mercado frente ao

tamanho das intervenções que embasam suas argumentações. A conclusão de Rhee and Song

(1999) reforça tal argumentação, mas através de uma abordagem de analise dinâmica de uma

25

mesma economia, diferentemente do realizado por Canales-Krijenko et al que compararam

diferentes países num mesmo intervalo de tempo.

A Austrália é um dos países fora do eixo dos G7 que teve suas intervenções mais analisadas

pelos pesquisadores. Essa motivação vem do fato de que ao final dos anos 80, o Banco

Central daquele país explicitou que estaria alterando sua política de intervenções. Kim,

Kortian e Sheen (1999) utilizaram dados diários deste Banco Central entre 1983-1997 e

argumentaram que, neste período, as intervenções tiveram grande impacto sobre o nível da

moeda no próprio dia da intervenção e tendem a reduzir a volatilidade da mesma. Resultado

semelhante foi encontrado por Kears e Rigobon (2003) que sugeriram um método em GMM

para resolver o problema de simultaneidade. Utilizaram dados diários daquele país entre

1986-1993 e encontraram resultados com sinais corretos e com mais intensidade do que

outros métodos mais padronizados. Da mesma forma que foi concluída por Kim, Kortian e

Sheen acreditam que a maior parte do efeito da intervenção concentra-se no próprio dia e um

pequeno resíduo nos dias subseqüentes22. Concluíram que a compra de US$ 100 milhões em

dólares australianos aprecia a moeda local em 1,3-1,8%. Esse resultado é muito similar ao

encontrado por Dominguez e Frankel (1993) no caso dos países do G7, apesar da metodologia

de estimação ser completamente diferente.

Turquia e México são dois países emergentes que possuem regime de metas de inflação. Sob

este contexto, Domaç and Mendoza (2002) concluíram que sinalizações sobre política

monetária nestes países não tiveram qualquer impacto sobre o nível ou volatilidade do dólar.

Encontraram assimetria nos impactos de intervenção de compra e venda sobre o nível da

moeda. Nas vendas (mas não nas compras) o Banco Central impactou o nível do câmbio. A

22 Os autores acreditam que esta seja a razão pela qual são encontrados pequenos valores nos coeficientes ao se utilizar regressões OLS com defasagens.

26

venda liquida de US$ 100 MM apreciava em média o câmbio em 0,08% no México e 0,2% na

Turquia. Em ambos os casos, as intervenções reduziram a volatilidade da moeda. Portanto, a

pratica de intervenção nesses paises mostrou-se eficiente sob o regime de metas de inflação

como uma forma de evitar que choques de curto prazo na moeda impactem os preços

domésticos. Guimarães e Karacadag (2004) também estudaram os mesmos países e

enfatizaram a importância de anúncios públicos nos casos de México e Turquia, para que as

intervenções reduzam a volatilidade.

A questão de assimetria de impactos entre compra e venda também foi explorada por

Bárbaras (2003) em estudo sobre o Banco Central húngaro, tendo concluído que é mais fácil

intervir contra a apreciação da moeda do que contra a depreciação. Acredita-se que tal

argumento possa ser uma mera variação da questão de eficácia sujeita a volatilidade, tendo em

vista que em situações de depreciação da moeda, o mercado tende a ser mais inseguro e com

maior nível de volatilidade.

Tapia and Tokman (2004) concluíram que, a partir de 2001, anúncios oficiais sobre

intervenções iminentes do Banco Central chileno tiveram claros impactos sobre o nível e

tendência do câmbio enquanto as intervenções secretas surtiam tal efeito. Os autores

afirmaram que a eficiência das intervenções mudava com o tempo de acordo com alteração do

“policy framework” do Banco Central. Os autores utilizaram tanto informações diárias quanto

intra diárias.

No caso da Republica Tcheca, a importância da publicidade das intervenções também foi

ressaltada por Holub (2004). Entretanto, Disyatat e Galati (2005) pesquisaram base de dados

27

daquele país entre 2001-2002 e concluíram que o Banco Central não foi capaz de conter a

apreciação da Koruna23.

2.11.3 Brasil

A literatura sobre intervenções no Brasil ainda é extremamente restrita, poucos autores

dedicaram suas pesquisas ao tema em si. A maioria dos trabalhos publicados que abordam o

tema o fazem como um comentário a parte dentro de um estudo sobre os regimes cambiais

nacionais.

Araújo e Goldfajn (2004) procuraram analisar o efeito das intervenções sobre a volatilidade

da moeda no período de 2000 a 2003. O estudo, com base em modelo EGARCH, concluiu

previamente que a presença do Banco Central do Brasil no mercado aumenta a volatilidade.

Entretanto, ao introduzir instrumento que testasse a endogeneidade das intervenções, concluiu

que as mesmas são endógenas ao modelo e que o Banco Central do Brasil reduziu a

volatilidade da moeda durante o período em questão.

Novaes e Oliveira (2005) utilizaram um modelo em GMM e concluíram que a resposta às

intervenções depende do nível de volatilidade da taxa de câmbio nominal no período entre

janeiro de 1999 a novembro de 2002. Os autores argumentam que nos períodos de alta

volatilidade (primeiro semestre de 1999 e segundo semestre de 2002) as intervenções do

Banco Central do Brasil não foram capazes de alterar a esperança condicional da taxa de

23 Em seu estudo, conclui que a volatilidade também não foi impactada pela atividade de intervenção. Utilizou MQO com variáveis instrumentais. Não descreveu quais foram os instrumentos utilizados, mas indicou que estimava uma função de reação do Banco Central. Para isso, definiu bandas de valor para a taxa de câmbio nominal (média histórica +/- 1,5 desvios padrões). Quando superadas tais bandas, a função de reação do Banco Central atuava como corretor da endogeneidade através do instrumento em MQO.

28

câmbio, independente do instrumento utilizado. Entretanto, nos demais períodos analisados os

instrumentos se mostram eficazes24.

O trabalho de Novaes e Oliveira (2005) utilizou métodos diferentes ao publicado por Araújo e

Goldfajn, entretanto os resultados se mostraram complementares. Enquanto, Araújo e

Goldfajn concentraram-se na analise da volatilidade, Novaes e Oliveira buscaram verificar o

impacto sobre a esperança condicional do nível da moeda. Pelos resultados descritos, pode-se

inferir que apesar de não ser capaz de alterar o nível da moeda em épocas de crises, o Banco

Central do Brasil foi capaz de reduzir a volatilidade do mercado.

24 “Desses resultados podemos tirar duas lições principais. Como as intervenções não conseguem mudar as esperanças condicionais em épocas de crise, o uso de reservas cambiais e o endividamento em moeda externa nestas épocas só fazem sentido se as intervenções tiverem outros objetivos além de evitar a depreciação da taxa de câmbio. Por exemplo, se as intervenções visarem mudanças na volatilidade condicional da taxa de câmbio nominal.” (NOVAES e OLIVEIRA 2005)

29

3 DADOS

A seção a seguir apresenta a base de dados que foi utilizada em nossa análise empírica. Ela

inclui dados sobre a taxa de câmbio (R$ por dólar), risco-Brasil (em pontos base), taxa de

juros doméstica (em p.p.ao ano), taxa de juros internacional (em p.p.ao ano) e intervenções do

Banco Central no mercado de câmbio, através do mercado à vista, swaps e títulos cambiais

(em milhões de dólares). Os dados estão em bases diárias compreendendo o período de

01/01/1999 à 21/09/2006. Foram retirados da amostra sábados, domingos e feriados, com isso

nossa série totalizou 1.977 dias de negociação.

3.1 PERÍODOS

Durante o intervalo de tempo de nossa análise, tanto a conjuntura econômica quanto a

estratégia de intervenções do Banco Central do Brasil sofreram significativas transformações.

Desta forma, espera-se que o padrão de respostas do mercado às intervenções do Banco

Central apresente variação ao longo do período, de acordo com o conceito de clusters

mencionado na literatura. Por este razão, a obtenção de coeficientes das variáveis de

intervenção em longos períodos de tempo pode gerar informações não significativas. Para

evitar este problema e identificar o comportamento do mercado em diferentes conjunturas, as

séries temporais foram subdivididas em cinco períodos, isolando as crises cambiais e o

período de maior estabilidade econômica a partir de 2004.

30

TotalInício 01-jan-99 31-mai-02 01-jul-99 01-jan-03 01-jan-04 01-jan-99

Fim 30-jun-99 31-dez-02 30-mai-02 31-dez-03 21-set-06 21-set-06

Período (A) (C) (B) (D) (E)

Observações 124 151 743 259 700 1.977

Crises cambiais Períodos sem crise cambial

Tabela 1 – Períodos de intervenção

O primeiro período (Período A), com 124 observações, compreende o primeiro semestre de

99, imediatamente após a liberação da política de câmbio flutuante. Este será o primeiro

período de crise cambial em nossa amostra, quando a taxa de câmbio oscilou entre o patamar

de R$ 1,20 e R$ 2,00, apresentando uma variação de quase 70% num intervalo inferior a dois

meses. Após este overshooting, houve uma acomodação da moeda até atingir cerca de R$

1,70 em maio de 99. Movimento semelhante também foi observado na variável de risco-país,

que saltou no início do período (em virtude do aumento na relação divida / PIB e redução da

capacidade de pagamento soberano) seguido por uma redução do mesmo, até atingir um

patamar inferior a 1.000 bps. Durante esse período, a taxa de juros doméstica apresentou

significativa redução, passando de 26% a.a. para 19% a.a.

A segunda fase de nossa amostra, ou Período B, vai de julho de 1999 até o período pré-

eleitoral do Governo Lula, em Maio de 2002, totalizando 743 observações. Ele representa o

período entre as crises cambiais de 1999 e 2002. Durante esse intervalo de tempo, a taxa de

câmbio também apresentou depreciação significativa, porém em derivada menos intensa do

que nos períodos de crises cambiais. Os movimentos da taxa de câmbio e risco-país se

mostram bem correlatos. A taxa de juros doméstica apresenta redução no início do período e

começa a se elevar quando a moeda doméstica inicia o movimento de depreciação. A taxa de

juros internacional apresenta redução de 6% a.a. para 5%a.a.

31

A segunda crise cambial (Período C) compreende a fase pré-eleitoral do Governo Lula,

quando as especulações acerca da política econômica do novo presidente fizeram com que a

taxa de câmbio apresentasse o maior nível histórico desde o plano real. O real se depreciou

mais de 60% no período de maio à outubro daquele ano, tendo atingido o patamar de quase

R$ 4,00. O período se estendendo de junho à dezembro de 2002 com 151 observações. Os

movimentos das variáveis de risco-país e a taxa de juros doméstica acompanharam a

tendência da moeda.

Os dois últimos períodos representam uma fase de sensível redução da aversão a risco,

contemplando o início do Governo Lula até setembro de 2006. O ano de 2003 foi destacado

do período seguinte devido ao fato de que a política de intervenções do Banco Central do

Brasil e a percepção do mercado sobre o novo Governo ainda sofriam grandes alterações. Este

período, iniciado em janeiro e terminado em dezembro de 2003, apresenta 259 observações.

Neste ano, observa-se uma sensível redução do nível das variáveis de taxa de câmbio, risco-

país e juros domésticos.

O último período, de janeiro de 2004 até setembro de 2006, representa o período de maior

estabilidade econômica do país. Este contém 700 observações e compreende a fase de

apreciação do real e redução da aversão ao risco pelos investidores. No que tange aos juros

domésticos, o período se inicia com um aperto monetário, até janeiro de 2005, seguido por

uma redução gradativa da taxa de juros.

32

-

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

Jan-

99

May

-99

Sep

-99

Jan-

00

May

-00

Sep

-00

Jan-

01

May

-01

Sep

-01

Jan-

02

May

-02

Sep

-02

Jan-

03

May

-03

Sep

-03

Jan-

04

May

-04

Sep

-04

Jan-

05

May

-05

Sep

-05

Jan-

06

May

-06

Sep

-06

Cam

bio

(R$)

e R

isco

(100

0 bp

s)

-

5

10

15

20

25

30

35

40

Taxa

de

juro

s %

a.a

.

Risco Cambio Tbill10 DI

Periodo A

Periodo B

Periodo CPeriodo D Periodo E

Figura 1 – Comportamento das variáveis macroeconômicas ao longo dos períodos

3.2 TAXA DE CÂMBIO NOMINAL

Utilizamos dados do câmbio diário com base na cotação de fechamento do dólar comercial

compra em reais. Os dados foram extraídos da base de dados da Bloomberg. Na série

econométrica, utilizamos o logaritmo da variação cambial dia a dia. Além de tornar a série

estacionária25, a transformação logarítmica em primeiras diferenças nos possibilita trabalhar

com variações percentuais da taxa de câmbio, o que normaliza os efeitos ao longo do tempo,

tendo em vista que no período analisado a moeda doméstica apresentou significativa

volatilidade em seu nível. Em nosso modelo, a variação diária do logaritmo da taxa de câmbio

será a variável dependente, enquanto a sua defasagem de um período será uma das variáveis

dependentes.

25 A estacionariedade da série foi confirmada pelos testes de raiz unitária.

33

-

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

Jan-

99M

ay-9

9S

ep-9

9Ja

n-00

May

-00

Sep

-00

Jan-

01M

ay-0

1S

ep-0

1Ja

n-02

May

-02

Sep

-02

Jan-

03M

ay-0

3S

ep-0

3Ja

n-04

May

-04

Sep

-04

Jan-

05M

ay-0

5S

ep-0

5Ja

n-06

May

-06

Sep

-06

Câm

bio

(R$)

Figura 2 – Evolução da taxa de câmbio nominal

A tabela abaixo representa o comportamento da variação diária do câmbio ao longo dos

períodos de nosso estudo. É interessante destacar que durante as crises não se verifica um

acréscimo no percentual de dias com depreciação da moeda, mas sim um aumento da

volatilidade observada no dia. Pelo resultado abaixo, percebe-se que, em geral, as proporções

entre apreciações e depreciações da moeda em determinado período fica próximo da relação

55 / 45, independente da tendência de valorização. O que ocorre nestes períodos é um

aumento da volatilidade para ambos os sentidos das variações, o que nos leva a crer que

durante as crises, as grandes desvalorizações se dão em poucos dias de altíssima volatilidade.

Esta característica faz com que, durante as crises, o comportamento de tendência na taxa de

câmbio não seja óbvio em termos estatísticos, apesar da intensa desvalorização nesses

períodos.

34

Variação Câmbio Nominal

Total01-jan-99 31-mai-02 01-jul-99 01-jan-03 01-jan-04 01-jan-9930-jun-99 31-dez-02 30-mai-02 31-dez-03 21-set-06 21-set-06

(A) (C) (B) (D) (E)

124 151 743 259 700 1.977100% 100% 100% 100% 100% 100%

Númro de observações53 64 327 137 385 966

43% 42% 44% 53% 55% 49%67 86 393 113 308 967

54% 57% 53% 44% 44% 49%3 1 23 9 7 43

2% 1% 3% 3% 1% 2%

MédiaApreciação -0,54% -0,70% -0,26% -0,39% -0,33% -0,35%Depreciação 0,84% 0,93% 0,31% 0,31% 0,30% 0,39%

Sem variação

Intervenções

Crises cambiais Períodos sem crise cambial

Observações

Apreciação

Depreciação

Tabela 2 – Dados de variação do câmbio nominal por período

3.3 JUROS DOMÉSTICOS

Os dados referentes aos juros domésticos foram obtidos através de uma aproximação do que

seria uma taxa de juros esperada pelos investidores, com uma abordagem forward looking.

Através da base de dados da Bloomberg obtivemos os dados diários da taxa de depósitos

interbacária (CDI) anualizada. Com base nesta série, calculamos a taxa pré-fixada para os 360

dias posteriores ao respectivo período, partindo da premissa que a taxa de juros observada

pelos agentes de mercado ao precificar o custo do carrego de suas posições não seria

necessariamente a taxa de overnight, mas sim uma expectativa para o custo médio nos meses

35

subseqüentes. A hipótese utilizada nesta abordagem é que mercado sempre acertaria a taxa de

juros prefixada para os 360 dias subseqüentes26.

Após realizar a estimativa para a taxa de juros forward looking anualizada em cada dia da

amostra, transformamos esta série em primeiras diferenças com o intuito torná-la estacionária.

Esta série é apresentada em p.p. e representará a variável independente de intervenções

contínuas por parte do Banco Central do Brasil ao longo dos períodos.

-

5

10

15

20

25

30

35

40

Jan-

99M

ay-9

9S

ep-9

9Ja

n-00

May

-00

Sep

-00

Jan-

01M

ay-0

1S

ep-0

1Ja

n-02

May

-02

Sep

-02

Jan-

03M

ay-0

3S

ep-0

3Ja

n-04

May

-04

Sep

-04

Jan-

05M

ay-0

5S

ep-0

5Ja

n-06

May

-06

Sep

-06

Juro

s %

(a.a

.)

Figura 3 – Evolução da taxa de juros nominal

26 Apesar de basearmos nosso modelo no trabalho de Novaes e Oliveira (2005), os autores utilizaram uma taxa de juros ex-post, enquanto o presente estudo utiliza a ex-post.

36

3.4 JUROS INTERNACIONAIS

Os juros internacionais estão representados pela taxa de juros anualizada do título do tesouro

americano de 10 anos (T-Bill). A fonte de dados neste caso também foi a agência Bloomberg.

Para regressão, utilizamos a série em primeiras diferenças da taxa de juros nominal,

apresentada por tanto em p.p.27.

-

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

Jan-

99M

ay-9

9S

ep-9

9Ja

n-00

May

-00

Sep

-00

Jan-

01M

ay-0

1S

ep-0

1Ja

n-02

May

-02

Sep

-02

Jan-

03M

ay-0

3S

ep-0

3Ja

n-04

May

-04

Sep

-04

Jan-

05M

ay-0

5S

ep-0

5Ja

n-06

May

-06

Sep

-06

Juro

s %

(a.a

.)

Figura 4 – Evolução da taxa de juros americana

3.5 RISCO PAÍS

O risco país utilizado foi obtido através de dados diários de aversão ao risco Brasil com base

no indicador EMBI, retirado da base de dados da Bloomberg. O indicador é apresentado em

27 Devido a maior estabilidade dos juros americanos, não realizamos qualquer estimativa de juros pré-fixados, conforme o fizemos para o juro doméstico.

37

basis poitns28. Para utilização desta variável na equação econométrica, faremos a mesma

transformação aplicada sobre o nível da taxa de câmbio, utilizando logaritmo da variação

diária do risco-país como uma das variáveis independentes em nosso teste de robustez.

-

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

Jan-

99M

ay-9

9S

ep-9

9Ja

n-00

May

-00

Sep

-00

Jan-

01M

ay-0

1S

ep-0

1Ja

n-02

May

-02

Sep

-02

Jan-

03M

ay-0

3S

ep-0

3Ja

n-04

May

-04

Sep

-04

Jan-

05M

ay-0

5S

ep-0

5Ja

n-06

May

-06

Sep

-06

Ris

co (1

000

bps)

Figura 5 – Evolução do risco-Brasil

3.6 INTERVENÇÕES DESCONTÍNUAS

Os instrumentos de intervenção do Banco Central do Brasil considerados no presente estudo

contemplam instrumentos de intervenção contínua (taxa de juros) e descontínua; mercado à

vista, títulos e swaps cambias. Por convenção definimos que a venda de dólares, ou oferta

28 É importante mencionar que este indicador é obtido através dos spreads de créditos dos títulos de dívida externa soberana do Governo brasileiro. A partir de 2006, o Tesouro brasileiro iniciou um grande processo de recompra de títulos que faziam parte da cesta deste índice, o que gerou um movimento de fechamento dos spreads por conta de movimentos técnicos de oferta e demanda, sem representar necessariamente uma alteração da visão do mercado sobre o perfil de crédito soberano.

38

desta moeda no mercado, está indicado pelo sinal positivo, enquanto a compra de dólares pelo

sinal negativo.

O processo de obtenção das séries de intervenção teve as seguintes etapas: (i) cada uma das

séries deu origem a duas séries, separando-se as operações de compra e venda; (ii) calculou-se

os desvios padrões de cada uma destas séries29; (iii) as intervenções que apresentassem

montante inferior a um desvio padrão foram retiradas da amostra30. Após a aplicação desses

filtros, obtivemos as séries de intervenções utilizadas na regressão.

Definimos intervenções como as operações de compra ou venda de moeda que fossem em

módulo superior a um desvio padrão.

σµ se ≥INT

3.6.1 Mercado à vista

Os dados de mercado à vista foram extraídos da base de dados pública do Banco Central do

Brasil, através da série de “Variações da base monetária – operações com o setor externo”. O

gráfico abaixo apresenta a distribuição das intervenções à vista ao longo do período analisado.

Nota-se que o Banco Central do Brasil adota um padrão de cluster para tal tipo de

intervenção, já que as datas em que há intervenção são sucessivas e concentradas.

29 Esta premissa, utilizada em ulguns textos da literatura, é totalemente arbitrada e outras hipóteses podem ser testadas para definir quais operações em mercado seriam classificadas como interveção. 30 Em alguns casos desconsideramos esta condiçao, especialmente no mercado à vista, com o intuito de incluir na amostra os períodos de sucessivas intervenções neste mercado, por mais que as mesmas fossem inferior a um desvio padrão.

39

Figura 6 – Taxa de câmbio nominal e intervenções no mercado à vista

Durante os períodos de crises cambiais, o Banco Central do Brasil foi bem ativo na oferta de

dólar ao mercado, possivelmente como uma forma de contrapor a desvalorização cambial. Em

1999, os volumes de venda foram extremamente elevados e eventualmente ocorreram também

operações de compra. Nos meses de junho à dezembro de 2001 e 2002, nota-se que a

estratégia adotada foi de se repetir sucessivos dias de vendas em volumes mais modestos se

comparados aos de 1999.

A partir de 2005, verifica-se que há uma alteração no comportamento do Banco Central ao

intensificar suas ações de compra de moeda externa simultaneamente a tendência de queda da

taxa de câmbio. O primeiro período de sucessivas compras se deu entre janeiro e abril de

2005, um segundo período é identificado entre outubro de 2005 e junho de 2006 e um terceiro

período nos meses de agosto e setembro de 2006. Dado o elevado número de operações de

40

compras, o Banco Central foi capaz de elevar volume de reservas internacionais e realizar um

programa de recompra de dívidas externas sem precedentes na história do país.

Tanto durante os períodos de compra de quanto de venda de dólar, nota-se que o Banco

Central agiu de acordo com a tendência descrita na bibliografia como “leaning against the

wind”. A expressão representa a estratégia de atuar no mercado contrariamente à tendência

vigente, no sentido de reequilibrar o balanceamento entre oferta e demanda.

A série original de operações no mercado à vista apresentava uma amostra total com 1.889

dias (num período total de 1.977 dias), representando atividade em 96% dos dias analisados.

Este fato se deve pela elevada freqüência de ruídos na mesma, onde qualquer transação com o

mercado, por menor que seja seu volume, é reportada. O montante médio de operações de

compra foi de US$ 31 milhões e US$ 18 milhões nas vendas.

Após a aplicação dos filtros descritos na seção “4.6 Intervenções Descontínuas”, o número de

observações reduziu em 68% nos casos de compra e 76% nos de venda. Com isso, o total de

observações foi de 526 dias, indicando que o Banco Central do Brasil interveio em 27% dos

dias analisados através do mercado à vista.

3.6.2 Títulos cambiais

Durante os primeiros anos do regime de câmbio flutuante, o Banco Central e o Tesouro

Nacional utilizaram frequentemente os instrumentos de títulos cambiais como ferramentas de

intervenção. Os principais títulos de dívida destas operações foram a NBC-E e a NTN-D, suas

remunerações estavam atreladas a uma sobretaxa sobre a variação da taxa de câmbio. Desta

forma, estes títulos funcionam como ativos substitutos na oferta de moeda estrangeira

41

impactando, indiretamente, o preço do mercado à vista da taxa de câmbio. Ao recomprar (ou

emitir) títulos cambiais aos agentes domésticos, o Banco Central (ou Tesouro Nacional) estão

aumentando (ou reduzindo) a exposição do mercado à moeda nacional em seus portfólios.

Apesar da utilização destes títulos terem sido muito ativa a partir de 1999, em 2002 suas

emissões cujas emissões foram interrompidas, tendo sido substituídos por LTFs associadas a

swaps cambiais. A primeira experiência desta nova política ocorreu em fevereiro de 2002

quando foi anunciada a rolagem de parte dos títulos cambiais através de vendas de LFT com

swap cambial. Os compradores dessas LFTs compram ativos a taxa pós fixadas associado a

um swap com passivo nesta taxa e ativo no cupom cambial. Desde então, os estoques de

NTN-D e NBC-E passaram a ser gradualmente substituídos pela colocação de swaps, como

pode ser notado na figura abaixo.

jan-

99

mai

-99

set-9

9

jan-

00

mai

-00

set-0

0

jan-

01

mai

-01

set-0

1

jan-

02

mai

-02

set-0

2

jan-

03

mai

-03

set-0

3

jan-

04

mai

-04

set-0

4

jan-

05

mai

-05

set-0

5

jan-

06

mai

-06

set-0

6

Metodologia 2 Metodologia 1

Figura 7 – Estoques de títulos cambiais em poder do mercado (diferença de metodologia)

42

A série de títulos cambiais foi obtida a partir da base de dado do Departamento de Pesquisa do

Banco Central31, que indicam o estoque em mercado destes títulos. Para acessarmos os dados

de todo o período sob análise em bases diárias foi necessário compilarmos duas fontes de

dados distintas, conforme indicado no gráfico abaixo32. A base de dados consta com duas

séries devido ao fato de que houve uma alteração na metodologia de apreçamento. Até 2002,

utilizava-se o preço de lastro para auferir o estoque de títulos em poder de mercado. A partir

de 2003, houve uma alteração dessa metodologia para uma precificação baseada na curva do

papel. A primeira apresentava bases diárias até outubro de 2002 e a segunda a partir desta

data.

Para obtenção das intervenções através de títulos cambiais, utilizamos a seguinte

procedimento: (i) obtivemos o volume do estoque de títulos em poder do mercado em dólares

americanos; (ii) apurou-se a variação nominal dia a dia desta base; (iii) com isso obteve-se

uma série com o volume de operações diárias de títulos cambias; (iv) esta série foi separada

em duas: uma com as operações de compra e outra com as operações de venda; (v) calculou-

se o desvio padrão para cada uma destas séries; (vi) definimos que intervenções seriam

aquelas operações que tivessem módulo superior a um desvio padrão; (vii) após retirar as

operações inferiores a um desvio padrão (US$ 445 milhões para compra e US$ 398 milhões

para venda), obtivemos as séries de intervenções de compra e venda de títulos cambiais. A

série de intervenções de compra apresentou amostra em 248 dias, com média diária de US$

141 milhões, a série de venda apresentou 234 dias com média de US$ 234 milhões. No total,

verificamos intervenções em 482 dias, equivalente a 24% de nossa amostra.

31 Estas informações são confidenciais e foram cedidas com acordo de não divulgação para realização deste trabalho. 32 É importante ressaltar que as bases de títulos cambiais apresentavam divergências nos períodos de sobreposição das mesmas. Entretanto, como utilizamos a diferença de base dia a dia para estimar a intervenção em mercado na data, tal incoerência de volume total em mercado não é restrição para utilização destas informações, mesmo sendo um ponto que se deve ter ser ressaltado.

43

Figura 8 – Taxa de câmbio nominal e intervenções via títulos cambiais

Assim como o mercado à vista, a utilização dos instrumentos de títulos cambiais como

mecanismo de intervenção mostra-se bem intensa durante as fases de crises cambiais até

2003, quando a emissão de novos títulos foi interrompida (conforme descrito na seção sobre o

setor). A partir desta data, as intervenções consistiram basicamente em redução do estoque em

poder do mercado.

Como pode ser observado na figura 8, o comportamento destas intervenções é extremamente

volátil, ocorrendo operações ambos os sentidos em curtos espaços de tempo.

44

3.6.3 Swaps

A utilização do instrumento de swap tem início a partir de abril de 2002, com o final da

emissão dos títulos cambiais. De acordo com Banco Central do Brasil, por meio do

Departamento de Operações do Mercado Aberto - DEMAB, neste período, realizou um

número inédito de leilões de compra e de troca de títulos públicos e de swap cambial, visando

conter a volatilidade do preço dos títulos e reduzir a pressão sobre a taxa de câmbio. Entre

março e novembro daquele ano, foram realizados em torno de 200 leilões.

De acordo com o Banco Central do Brasil, uma vantagem desta nova modalidade é que ao

trocar os títulos cambiais por LFTs, o passivo do principal da dívida passa a ser contabilizada

no balanço do Tesouro, enquanto o passivo cambial entra na contabilidade do Banco Central,

reduzindo desta forma a carga sobre o balanço do Banco Central do Brasil. Com isso, o

requerimento de margens e spreads também são reduzidos, o minimiza o custo total da

operação de proteção aos agentes de mercado, tendo em vista que a nova sistemática permite

que o mercado negocie separadamente dois instrumentos.

O procedimento de obtenção da série de intervenções via swaps foi idêntico ao utilizado para

o caso de títulos. A série de intervenções de compra apresenta 99 dias com operações com

uma média de US$ 54 milhões, enquanto as de venda apresentam 23 dias com média de US$

31 milhões. No total, verificam-se intervenções em 122 dias, correspondendo a 6% do total.

45

Figura 9 – Taxa de câmbio nominal e intervenções via swaps cambiais

Entre abril de 2002 e outubro de 2003, as intervenções de swaps foram basicamente de

posições vendidas em dólar. A partir de então, com a tendência de apreciação do real, o Banco

Central do Brasil passou a intervir em posições compradas em dólar via swaps, foi o início

dos chamados swaps reversos. Além da mudança no sentido das posições a partir de 2005, os

dados de intervenção indicam também uma alteração na freqüência das mesmas. Pela figura 9,

nota-se que entre janeiro e abril de 2005 o Banco Central passou a intervir em dias sucessivos,

enquanto nos entre 2002 e 2004, as operações eram espaçadas no tempo. Essa prática fica

mais clara quando se observa as intervenções nos últimos meses de 2005 e os primeiros meses

de 2006, quando se repetem quase que diariamente em volumes bem similares.

A tabela abaixo resume a freqüência de intervenções ao longo dos períodos analisados:

46

Total01-jan-99 31-mai-02 01-jul-99 01-jan-03 01-jan-04 01-jan-9930-jun-99 31-dez-02 30-mai-02 31-dez-03 21-set-06 21-set-06

(A) (C) (B) (D) (E)

124 151 743 259 700 1.977100% 100% 100% 100% 100% 100%

21 1 1 7 238 26817% 1% 0% 3% 34% 14%23 94 128 13 0 258

19% 62% 17% 5% 0% 13%44 95 129 20 238 526

35% 63% 17% 8% 34% 27%

26 50 132 24 15 24721% 33% 18% 9% 2% 12%26 44 152 11 3 236

21% 29% 20% 4% 0% 12%52 94 284 35 18 483

42% 62% 38% 14% 3% 24%

0 14 0 23 84 1210% 9% 0% 9% 12% 6%0 23 3 18 0 44

0% 15% 0% 7% 0% 2%0 37 3 41 84 165

0% 25% 0% 16% 12% 8%

Compra de dólar

Venda de dólar

Total

Compra de dólar

Venda de dólar

Total

Swaps

Compra de dólar

Venda de dólar

Total

Títulos cambiais

À vista

Intervenções

Crises cambiais Períodos sem crise cambial

Observações

Tabela 3 – Resumo das intervenções observadas por período

47

4 O MODELO

O modelo que utilizaremos será uma adaptação do apresentado por Novaes e Oliveira (2005).

A partir do modelo em tempo contínuo apresentado pelos autores, ajustamos à equação para a

forma discreta e resolvemos a equação através do método de MQO. Este padrão de equação é

o mais comum na literatura e enquadra-se no objetivo deste trabalho: estudar a eficácia de

distintos instrumentos de intervenção no mercado de câmbio. A vantagem do mesmo é que

apresenta flexibilidade para descrever a trajetória de câmbio nominal com e sem intervenções

do Banco Central33.

[ ] ( ) (1) .S . titulo swap avista1-ttitulot

swapt

avistatitt IIIS βββχµα ++++∆=∆

O termo dependente �S representa a variação do logaritmo da taxa de câmbio nominal. O

primeiro termo da equação é a própria variação da taxa de câmbio defasada por um período. O

termo � representa o conjunto de variáveis macroeconômicas que serão utilizadas para

modelar a dinâmica da moeda sem a presença de intervenções. Tais termos apresentam

variações na literatura, mas em geral são compostos por indicadores macroeconômicos ou

anúncios relevantes sobre determinados temas. Em nosso caso, utilizaremos a taxa de juros

33 Ainda que a literatura sobre intervenções no mercado de câmbio não tenha convergido para um modelo padrão para a trajetória da taxa de câmbio nominal, uma classe de modelos baseados em processos em tempo contínuo tem ganhado relevância nos últimos anos. Entre outras vantagens, estes modelos obtêm formas fechadas para momentos de processos que permitem testes estatísticos do impacto das intervenções.

48

doméstica, o risco-país e a taxa de juros internacionais. O último termo refere-se às

intervenções descontínuas do Banco Central do Brasil no mercado de câmbio

Pela equação (1), a expectativa condicional da apreciação (ou depreciação) da taxa de câmbio

nominal é função da variação da taxa de câmbio nominal no período anterior (�St-1), das

variáveis macroeconômicas no respectivo período (�it), dos coeficientes de intervenções no

mercado à vista de câmbio (�avista), dívida em dólar (�titulos) e swap cambial (�swap). Se o

coeficiente associado a um dos instrumentos descontínuos é estatisticamente significativo,

então podemos afirmar que esse instrumento é eficaz em influenciar a esperança condicional.

Por exemplo, se na data t a desvalorização cambial tiver sido de 2,0% e o Banco Central do

Brasil ofertar dólares no valor correspondente a US$ 1 bilhão, o coeficiente esperado para o

respectivo instrumento é de 2 x 10-6. Observe também que uma política eficaz, no sentido

acima, não afeta apenas a esperança condicional da variação da taxa de câmbio nominal no

próximo período. Ao perceber que essa esperança é afetada por intervenções, o mercado

busca inferir a freqüência das intervenções e a magnitude. Portanto, como em Krugman

(1991), Cadenillas e Zapatero (2000), Cadenillas e Zapatero (1999), e Jiang (1999), a política

de intervenções afeta toda a trajetória de câmbio.

A partir da equação (1), testaremos a capacidade do Banco Central afetar a esperança

condicional da desvalorização a partir da estimação dos parâmetros �f. Nestes testes, vamos

supor que, a priori, que as intervenções do Banco Central são não correlacionadas com a

variação da taxa de câmbio nominal. Além de possibilitar uma interpretação consistente (com

os dados) para estimativas dos coeficientes de eficácia de intervenção do Banco Central, a

hipótese de pré-determinação da política de intervenção nos permite ignorar problemas de

endogeneidade na estimação dos parâmetros �f se, como suposto na equação (1), os

coeficientes µ e K são invariantes às variáveis de estado que determinam as intervenções.

49

Sem estas duas hipóteses, precisaríamos obter variáveis instrumentais para a política de

intervenção, ou então estimar simultaneamente a função de reação do banco central e o

impacto da política de intervenções, como em Araújo e Goldfajn (2004). No presente estudo,

a solução para a questão da endogeneidade será obtida pela utilização de variáveis

instrumentais.

50

5 RESULTADOS

A partir do modelo descrito na seção anterior, realizamos regressões básicas e testes de

robustez para as mesmas. As regressões foram feitas para cada período cambial e para o

intervalo completo da amostra. Nossa modelagem básica consiste em regredir a depreciação

da taxa de câmbio pela sua série defasada de um período e pelos instrumentos de intervenções

contínuas e descontínuas. Como extensão ao modelo base, introduzimos a variável de risco-

país.

5.1 MODELO BASE

Conforme a expectativa, os testes de heterocedasticidade e Jarque-Bera confirmaram a

homocedasticidade e normalidade do erro para todos os períodos. O teste LM, com defasagem

de 10 períodos indicou forte presença de endogeneidade na amostra, especialmente nos

períodos até dezembro de 2003, quando havia maior instabilidade econômica. Tal resultado

era esperado para os momentos de crises cambiais, quando a função de reação do Banco

Central deveria ser conseqüência do comportamento da variável dependente, já que seu

51

objetivo nestes momentos era de conter a volatilidade da moeda. Entretanto o p-valor para o

período B (entre as duas crises) também indicou forte correlação entre 1999 e 2002. Para os

dois períodos após 2003, obtivermos p-valores de 84% em 2003 e 9% a partir de 2004,

indicando também uma possível presença de endogeneidade para o último período.

01-jan-99 31-mai-02 01-jul-99 01-jan-03 01-jan-0430-jun-99 31-dez-02 30-mai-02 31-dez-03 21-set-06

(A) (C) (B) (D) (E)

0,26*** 0,05 0,22*** -0,08 -0,02 0,14***

(0,00) (0,48) (0,00) (0,21) (0,54) (0,00)

2,23 5,74 -0,56 -0,92 2,79 0,34

(0,40) (0,46) (0,74) (0,81) (0,29) (0,72)

-2,02*** -0,70*** -0,77*** 1,27*** 0,01 -0,86***

(0,00) (0,00) (0,00) (0,00) (0,98) (0,00)

-0,13 -2,23 -0,34 0,16 -0,62** -0,14

(0,60) (0,22) (0,45) (0,84) (0,01) (0,34)

- -0,05 -0,22 -0,04 -0,01 -0,10

- (0,84) (0,24) (0,85) (0,93) (0,24)

0,36* 0,11 0,06** -0,04 -0,07* 0,01

(0,06) (0,57) (0,01) (0,75) (0,05) (0,81)

Observações 124 151 743 259 700 1977

R2 79% 22% 40% 18% 1% 23%

R2 Ajustado 78% 19% 40% 16% 0% 23%

Teste - LM (p-valor) 1% 6% 0% 84% 9% 0%

Heterocedasticidade 0% 0% 0% 0% 0% 0%

0% 0% 0% 0% 0% 0%

Jarque Bera 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Prob (estatística-F) 0% 0% 0% 0% 16% 0%

Heterocedasticidade ("cross terms")

Todos períodos

(C)

Coeficiente de intervenção via swap (�swap)

(�selic)

(�titulos)

(�àvista)

Coeficiente da variação da taxa de juros doméstica

Coeficiente de intervenção de títulos cambiais

Variável Dependente: variação da taxa de câmbio nominal

Coeficiente de intervenção à vista

Constante

Períodos sem crise cambialCrises cambiais

Coeficiente da variação do cambio no instante anterior

Variável Independente

(�)

Tabela 4 – Resultados modelo base

O coeficiente para a defasagem da apreciação da taxa de câmbio, mostrou-se significativo

apenas nos dois primeiros períodos, quando os resultados indicam uma persistência de 20%

da variação cambial diária. Para os períodos subseqüentes os coeficientes mostram-se não

significativos. É interessante notar que de acordo com os resultados não conseguimos

verificar uma significativa tendência de um comportamento autoregressivo para a depreciação

do câmbio durante a crise de 2002, conforme se observa para os períodos anteriores, incluindo

52

a crise de 1999. Acreditamos que isso possa ser explicado pela natureza de comportamento da

moeda durante esta crise especificamente. Conforme observado na tabela 4, seção de câmbio,

durante este período observamos apreciação da moeda em 42% e depreciação da mesma em

57% dos dias. Esta proporção de 45/55% entre dias com apreciação e depreciação esta

próxima da que foi observada para todos os períodos, indicando que durante as crises, não é o

% de dias de depreciação que resulta em numa sobre depreciação da moeda, mas sim a

assimetria entre os dias com apreciação e dias de depreciação. Ao observamos, na mesma

tabela este indicadores, notamos que apreciação diária média da taxa de câmbio neste periood

foi de 0,70% enquanto a depreciação média foi de 0,93%, indicando uma forte presença de

volatilidade. Durante este período, tivemos dias em que a moeda depreciou 5% e 4%, o que

nos leva a crer que a grande desvalorização cambial se dá em poucos dias de alta depreciação

do que em uma sucessão de dias com depreciação constante. Este comportamento é conhecido

em finanças comportamentais como “fuga da manada”, com isso a presença de uma série com

características de AR(1) torna-se menos esperada. Para complementar este entendimento,

regredimos a variável de depreciação pela sua defasagem e obtivemos resultado significativo

apenas na crise de 1999 e no período completo. Interessante notar que o coeficiente

encontrado para o período inteiro foi significante com intensidade de 10%, muito próximo ao

encontrado em nosso modelo base quando o mesmo foi de 14%.

53

01-jan-99 31-mai-02 01-jul-99 01-jan-03 01-jan-0430-jun-99 31-dez-02 30-mai-02 31-dez-03 21-set-06

(A) (C) (B) (D) (E)

0,23** 0,08 0,05 0,06 -0,02 0,10***

(0,01) (0,32) (0,19) (0,36) (0,62) (0,00)

0,25 0,21 0,04 -0,07 -0,04 0,03

(0,25) (0,24) (0,13) (0,22) (0,23) (0,28)

Observações 124 151 743 259 700 1977

R2 5% 1% 0% 0% 0% 1%

R2 Ajustado 4% 0% 0% 0% 0% 1%

Teste - LM (p-valor) 14% 17% 20% 17% 12% 0%

Heterocedasticidade 0% 2% 0% 0% 0% 0%

0% 2% 0% 0% 0% 0%

Jarque Bera 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Heterocedasticidade ("cross terms")

Todos períodos

(C)

Variável Dependente: variação da taxa de câmbio nominal

Constante

Períodos sem crise cambialCrises cambiais

Coeficiente da variação do cambio no instante anterior

Variável Independente

(�)

Tabela 5 – Resultados da regressão da depreciação da moeda pela sua defasagem

O coeficiente de intervenção contínua mostrou-se não significativo em todos os períodos. Os

sinais se mostraram conforme o esperado34 apenas nos dois primeiros períodos sem crises

cambiais. Estes sinais indicam que a intervenção via aumento de juros é inócua durante as

crises cambiais. Para o período de maior estabilidade, a partir de 2004, este sinal pode ser

justificado pela situação atípica de apreciação da moeda e queda de taxa de juros

simultaneamente, motivada pelo expressivo saldo em conta corrente.

Para o caso das intervenções descontínuas, os resultados indicam significância da intervenção

através de títulos cambiais durante todo o período em que era permitida a emissão destes

passivos pelo Tesouro e pelo Banco Central. A partir de 2003, as intervenções via tais

instrumentos consistiam basicamente em recomprar os títulos vincendos, o que não deve

interferir o câmbio, tendo em vista que tais recompras já são precificadas pelo mercado antes

das mesmas ocorrerem. Os coeficientes indicam que cada US$ 1 bilhão de dólares vendidos

através deste instrumento, apreciava a moeda local em 2% na crise de 1999 e 0,7% durante a

crise de 2002 e no período que a antecedeu.

34 O sinal esperado para o coeficiente de intervenções contínuas é negativo, uma vez que uma elevação da taxa de juros doméstica tende a apreciar a moeda local, reduzindo, portanto, a taxa de câmbio.

54

Os coeficientes de intervenção no mercado à vista apresentaram-se significativos apenas no

último período, quando tivemos maior estabilidade e as intervenções se concentraram quase

que exclusivamente em compra de dólares. Este coeficiente indica que para cada US$ 1 bilhão

de dólares comprados no mercado, o real se deprecia em 0,6%. Em todos os períodos, os

sinais dos coeficientes de intervenção à vista se mostraram conforme esperado, exceto em

2003. Neste período, a atividade no mercado à vista do Banco Central foi esporádica e sem

um sentido claramente definido. Os coeficientes das intervenções via swap mostraram sinais

conforme o esperado em todos os casos. Entretanto, todos ele foram não significantes e as

intensidades dos mesmos foi baixa.

5.2 MODELO COM RISCO PAÍS

Como uma variação de nosso modelo base, incorporamos a variável macroeconômica do

risco-Brasil ao modelo, como forma de capturar a percepção de aversão ao risco de crédito

soberano sobre o preço da taxa de câmbio. Acreditamos que esta variável possa explicar boa

parte da trajetória cambial em momentos de crise. Entretanto, a possível presença de

endogeneidade entre o risco-Brasil e o nível do câmbio nestes períodos deve ser levada em

consideração, uma vez que a depreciação da moeda pode afetar a percepção de risco de

crédito soberano ao elevar a relação Dívida / PIB, aumentando assim o risco de default

implícito em títulos da dívida soberana. Como hipótese simplificadora para este exercício,

vamos supor inicialmente que a depreciação da moeda não afeta o risco-país, sendo a relação

entre essas duas moedas sendo observada apenas no sentido oposto, quando o aumento do

risco deprecia a moeda ao aumentar a busca por proteção pelos investidores.

55

O coeficiente do risco-país mostrou-se significante em todos os períodos, com p-valor 0%,

exceto na crise de 1999. A intensidade indica que na crise de 2002, para cada 1% de variação

no risco-país, o cambio de apreciava (ou depreciava) em 0,3%. Para os demais períodos sem

crises cambiais, esta relação situa-se entre 0,13% e 0,19%.

Além de mostrar significância do coeficiente, a introdução da variável de risco melhorou

também os coeficientes da defasagem da depreciação da taxa de câmbio. Para os períodos sem

crise cambial, os p-valores para os dois últimos períodos passaram de 21% e 54%

respectivamente para 3% e 0%. Entretanto para os períodos até 2003 os impactos não foram

tão relevantes, uma vez que tal coeficiente já era significativo para os dois primeiros períodos

e não significativo para a crise de 2002. Os sinais indicam que até 2003, havia uma maior

tendência de persistência da depreciação do câmbio, enquanto a partir de então o sinal

negativo destes coeficientes indicam um comportamento de maior estabilização, uma vez que

o movimento de um dia da taxa de câmbio tende a compensar parte do movimento do dia

anterior. Conforme discutido anteriormente, este resultado indica que a hipótese de que

durante as crises cambiais a relação entre depreciação da moeda e incremento do risco-país é

circular mostra-se verdadeira.

56

01-jan-99 31-mai-02 01-jul-99 01-jan-03 01-jan-0430-jun-99 31-dez-02 30-mai-02 31-dez-03 21-set-06

(A) (C) (B) (D) (E)

0,25*** -0,04 0,15*** -0,11** -0,10*** 0,07***

(0,00) (0,46) (0,00) (0,03) (0,00) (0,00)

1,82 -4,07 -0,78 0,09 1,87 -1,15

(0,50) (0,49) (0,61) (0,98) (0,41) (0,18)

0,02 0,30*** 0,13*** 0,19*** 0,19*** 0,18***

(0,33) (0,00) (0,00) (0,00) (0,00) (0,00)

-2,00*** -0,42*** -0,67*** 0,86*** 0,02 -0,74***

(0,00) (0,00) (0,00) (0,00) (0,95) (0,00)

-0,08 -0,66 -0,47 -0,22 -0,50** 0,11

(0,76) (0,63) (0,26) (0,76) (0,01) (0,44)

- -0,11 -0,23 -0,06 -0,05 -0,13*

- (0,56) (0,18) (0,76) (0,59) (0,06)

0,34* 0,14 0,07*** 0,05 -0,06* 0,02

(0,08) (0,35) (0,00) (0,65) (0,07) (0,39)

Observações 124 151 743 259 700 1977

R2 79% 56% 50% 38% 26% 38%

R2 Ajustado 78% 54% 50% 36% 25% 38%

Teste - LM (p-valor) 6% 67% 0% 50% 3% 0%

Heterocedasticidade 0% 0% 0% 0% 0% 0%

0% 0% 0% 0% 0% 0%

Jarque Bera 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Prob (estatística-F) 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Coeficiente de intervenção à vista

Variável Dependente: variação da taxa de câmbio nominal

Todos períodos

Heterocedasticidade ("cross terms")

Constante (C)

Coeficiente de intervenção via swap

Coeficiente da variação do risco-páis

(�swap)

Coeficiente da variação da taxa de juros doméstica

(�àvista)

Coeficiente de intervenção de títulos cambiais

Períodos sem crise cambialCrises cambiais

Coeficiente da variação do cambio no instante anterior

Variável Independente

(�)

(�selic)

(�risco)

(�titulos)

Tabela 6 – Resultados do modelo com risco-país

A presença desta variável independente também melhorou os indicadores de correlação serial

obtidos pelo Teste LM com defasagens de dez períodos para os momentos de crises cambiais.

Enquanto no modelo anterior os p-valores indicavam 1% e 6% para o primeiro e segundo

período de crise, respectivamente, ao introduzirmos mais esta variável tais valores passaram a

6% e 67%. Pode-se supor que este incremento possa ter se dado pelo fato de que o risco-país

esta capturando parte do movimento do câmbio, em nossa hipótese simplificadora de que não

há referência circular entre estas variáveis durante as crises.

57

Os testes também apresentaram significativo incremento do R2 em relação ao modelo anterior

aumentado em torno de 20p.p. na maior parte dos períodos. Os coeficientes da taxa de juros

doméstica continuaram se mostrando não significativos em todos os casos.

Os coeficientes das intervenções através de títulos cambiais mantiveram sua significância em

todos os períodos (enquanto sua emissão era permitida). Entretanto, sua eficácia reduziu em

relação aos resultados anteriores. Enquanto o modelo anterior apresentava uma intensidade de

0,7% para cada US$ 1 bilhão na crise de 2002, no atual esta intensidade caiu para 0,4%.

As intervenções no mercado à vista continuaram se mostrando não significativas em todos os

períodos exceto no último período de maior estabilidade econômica. Neste último, houve um

incremento da eficácia deste instrumento, para cada US$ 1 bilhão de compra de dólares, o real

se depreciou em 0,6%, enquanto no modelo anterior a eficácia encontrada foi de 0,5%. No

caso das intervenções pelo instrumento de swap, os coeficientes continuaram se mostrando

não significativos e com baixa eficácia, apesar dos sinais se comportarem conforme esperado

em todos os casos.

5.3 TESTES DE ROBUSTEZ

5.3.1 Modelo com taxa de juros internacionais

A partir da equação anterior que continha a variável de risco-país, incluímos também a taxa

de juros internacional, com o objetivo de verificar se a mesma impacta a paridade de poder

compra e, conseqüentemente, o valor da moeda. Conforme de esperava, os resultados indicam

que a mesma impacta o valor da moeda apenas nos períodos sem crise cambial, sendo não

significativa nos períodos de crise. Os vetores mais intensos das crises que vivenciamos

58

durante a amostra foram fundamentos da economia doméstica, sendo menos relevante nesses

períodos o comportamento da economia americana.

Para os períodos sem crise, os coeficientes obtidos indicam que a elevação de 1p.p. da taxa de

juros americana desvaloriza o real entre 1% e 2%. Sendo que a maior intensidade deste

coeficiente é observada no período de maior estabilidade da economia nacional. Apesar de

significativos, estes módulos dos coeficientes indicam que tal vetor não é tão relevante na

determinação da paridade do real frente ao dólar, tendo em vista que para se obter uma

depreciação de 10% no real frente ao dólar, supondo tudo o mais constante, seria necessária

uma elevação de 5p.p. na taxa de juros americanas. Em bases relativas, isso significaria

praticamente dobrar a taxa vigente atualmente naquele país.

Apesar de se mostrar significativa a presença desta variável praticamente não alterou os

demais coeficientes e indicadores obtidos na regressão, tanto no que se refere as demais

variáveis econômicas (como câmbio e risco-país), nas intervenções descontínuas e nos

indicadores de LM, R2 e homocedasticidade. Conforme mencionado, apesar de significativa

estatisticamente, a variável de juros internacionais tem pouca relevância na determinação da

depreciação do câmbio.

59

01-jan-99 31-mai-02 01-jul-99 01-jan-03 01-jan-0430-jun-99 31-dez-02 30-mai-02 31-dez-03 21-set-06

(A) (C) (B) (D) (E)

0,25*** -0,05 0,15*** -0,12** -0,10*** 0,07***

(0,00) (0,42) (0,00) (0,02) (0,00) (0,00)

2,11 -3,80 -0,84 0,24 1,97 -1,08

(0,44) (0,52) (0,58) (0,94) (0,39) (0,21)

-1,43 0,94 1,14*** 1,12* 2,24*** 1,27***

(0,36) (0,55) (0,00) (0,09) (0,00) (0,00)

0,02 0,31*** 0,14*** 0,20*** 0,19*** 0,19***

(0,42) (0,00) (0,00) (0,00) (0,00) (0,00)

-2,01*** -0,42*** -0,67*** 0,85*** -0,01 -0,74***

(0,00) (0,00) (0,00) (0,00) (0,98) (0,00)

-0,08 -0,58 -0,52 -0,15 -0,48** 0,12

(0,75) (0,68) (0,21) (0,83) (0,01) (0,38)

- -0,12 -0,23 -0,04 -0,04 -0,13*

- (0,55) (0,18) (0,85) (0,65) (0,07)

0,37* 0,14 0,07 0,05 0,06* 0,02

(0,06) (0,34) (0,00) (0,61) (0,08) (0,35)

Observações 124 151 743 259 700 1977

R2 79% 56% 51% 38% 27% 39%

R2 Ajustado 78% 54% 50% 37% 27% 39%

Teste - LM (p-valor) 1% 64% 0% 51% 9% 0%

Heterocedasticidade 0% 0% 0% 0% 0% 0%

0% 0% 0% 0% 0% 0%

Jarque Bera 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Prob (estatística-F) 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Wald teste (�int=0; �risco=0) 40% 0% 0% 0% 0% 0%

Todos períodos

Variável Dependente: variação da taxa de câmbio nominal

Heterocedasticidade ("cross terms")

Constante (C)

(�àvista)

Coeficiente da variação da taxa de juros doméstica

Coeficiente de intervenção de títulos cambiais

Coeficiente de intervenção à vista

(�int)

(�selic)

(�risco)

(�titulos)

Coeficiente de intervenção via swap

Coeficiente da variação do risco-páis

(�swaps)

Coeficiente da variação da taxa de juros internacional

Períodos sem crise cambialCrises cambiais

Coeficiente da variação do cambio no instante anterior

Variável Independente

(�)

Tabela 7 – Resultados teste de robustez com taxa de juros internacional

5.3.2 Modelo com teste de assimetria

A fim de verificar a possível presença de assimetria na eficácia das intervenções, replicamos o

modelo apresentado na seção 5.235 introduzindo diferentes séries para as operações de compra

35 Este modelo foi escolhido entre os três discutidos por ter apresentado significativa melhora nos resultados em comparação ao modelo base e por que a taxa de juros internacionais não é um vetor relevante para a determinação da trajetória da taxa de câmbio no período em questão conforme observamos.

60

e venda. Cada série de intervenção descontínua foi separada em duas séries distintas de

compra e venda.

01-jan-99 31-mai-02 01-jul-99 01-jan-03 01-jan-0430-jun-99 31-dez-02 30-mai-02 31-dez-03 21-set-06

(A) (C) (B) (D) (E)

0,21*** -0,04 0,15*** -0,14** -0,10*** 0,06***

(0,00) (0,52) (0,00) (0,01) (0,00) (0,00)

3,16 1,47 -0,70 1,71 1,87 -0,30

(0,21) (0,82) (0,64) (0,62) (0,41) (0,73)

0,04 0,29*** 0,13*** 0,19*** 0,19*** 0,18***

(0,11) (0,00) (0,00) (0,00) (0,00) (0,00)

-1,67*** -0,87*** -0,71*** 1,59*** - -0,80***

(0,00) (0,00) (0,00) (0,00) - (0,00)

-2,37*** -0,22* -0,63*** 0,63*** 0,02 -0,71***

(0,00) (0,10) (0,00) (0,00) (0,95) (0,00)

0,27 -0,25 -0,61 -0,02 - -0,67***

(0,30) (0,86) (0,19) (0,99) - (0,00)

-2,07*** - 0,88 0,20 -0,50** -0,47**

(0,00) - (0,42) (0,83) (0,01) (0,02)

- -0,16 -0,20 -0,35 - -0,25**

- (0,40) (0,23) (0,32) - (0,01)

- 1,51 - 0,02 -0,05 0,03

- (0,55) - (0,92) (0,59) (0,77)

0,09 0,36 0,08*** 0,05 -0,06 0,02

(0,62) (0,04) (0,00) (0,61) (0,07) (0,53)

Observações 124 151 743 259 700 1977

R2 82% 58% 50% 39% 26% 39%

R2 Ajustado 81% 55% 50% 37% 25% 39%

Teste - LM (p-valor) 43% 74% 0% 39% 3% 0%

Heterocedasticidade 0% 0% 0% 0% 0% 0%

0% 0% 0% 0% 0% 0%

Jarque Bera 0% 18% 0% 0% 0% 0%

Prob (estatística-F) 0% 0% 0% 0% 0% 0%

(�àvista

venda)

Variável Dependente: variação da taxa de câmbio nominal

Heterocedasticidade ("cross terms")

Todos períodos

Coeficiente da variação da taxa de juros doméstica

Coeficiente de intervenção de títulos cambiais - venda

Coeficiente de intervenção à vista - venda

Coeficiente de intervenção de títulos cambiais - compra

(�selic)

(�risco)

(�titulos

venda)

Períodos sem crise cambialCrises cambiais

Coeficiente da variação do cambio no instante anterior

Variável Independente

(�)

Constante (C)

Coeficiente de intervenção via swap - venda

Coeficiente da variação do risco-páis

(�swap

venda)

Coeficiente de intervenção à vista - compra

(�àvista

compra)

Coeficiente de intervenção via swap - compra

(�swap

compra)

(�titulos

compra)

Tabela 8 – Resultados teste de robustez com assimetria entre compra e venda

Comparando-se com o resultado da seção 5.2 houve uma melhora no indicador de correlação

serial para os períodos com crises cambiais. Entretanto, o teste continuou indicando a

presença de autocorrelação nos períodos (B) e (E). Não houve significativa alteração dos

61

coeficientes R2 e nem dos indicadores de heterocedastcidade. O teste de Jarque Bera indicou

a possível presença de um erro não normal da crise de 2002.

As alterações dos coeficientes da depreciação da taxa de câmbio defasada foram praticamente

desprezíveis. A variável de risco-país passou a ser significativa na crise cambial de 1999, com

uma eficácia de 0,05% de depreciação para cada 1% de incremento no risco. Em todos os

demais testes realizados até então este coeficiente havia se mostrado não significativo. Para os

demais períodos as alterações dos coeficientes de risco foram praticamente desprezíveis.

Os coeficientes das intervenções contínuas permaneceram não significativos para todos os

períodos. Houve alteração significativa da intensidade dos mesmos nos períodos (C) e (D) que

passaram de -4,1 e 0,1 para 1,5 e 1,7, respectivamente. Em ambos os casos, os sinais se

mostraram contrariamente ao esperado.

As intervenções de títulos cambiais continuaram significativas em todos os períodos

(enquanto os mesmos podiam ser emitidos) exceto nas compras de dólar durante a crise

cambial de 2002. Observamos a presença de assimetria na eficácia das intervenções de

compra e venda via títulos cambiais, sem, no entanto um padrão de comportamento. Em geral,

as operações de venda de dólar por este instrumento se mostraram mais eficazes do que as

compras. Isso pode ser devida ao fato de que boa parte de nossas amostras de compra de

dólares neste instrumento seja no vencimento dos mesmos, quando os efeitos destas

intervenções já estão precificados pelo mercado no momento em que as mesmas ocorrem. Na

crise de 1999, as compras de títulos depreciavam o real em 2,5% para cada US$ 1 bilhão,

enquanto as vendas dos mesmos apreciavam em 1,6%. Já na crise de 2002, as vendas

mostram-se mais eficazes tendo impacto de 0,9% e as compras tem impacto de 0,2%.

62

No caso das intervenções no mercado à vista, a observação de assimetria de eficácia é pouco

relevante, na medida em que observamos uma tendência do Banco Central do Brasil intervir

em sentido constante através deste instrumento ao longo dos períodos, exceto na crise de

1999, quando observamos 44 dias de intervenções no mercado à vista sendo 21 dias em

compras de dólares e 23 dias com vendas. Neste período, apenas as compras apresentaram

coeficientes significativos: para cada US$ 1 bilhão, o real se depreciava em 2%. Para os

demais períodos, as intervenções no mercado à vista se apresentaram não significativas em

todos os casos, exceto no último período, quando observamos uma eficácia de 0,5% de

depreciação para cada US$ 1 bilhão em compra de dólar.

No caso das intervenções via swaps, as mesmas continuaram mostrando não significativa em

todos os casos, exceto quando fazemos a regressão para o período inteiro, independente da

separação entre crises cambiais. Neste caso, as operações de venda de dólar mostram-se

eficazes. Entretanto, entendemos que tal condição não deva ser considerada como sinal de

eficácia deste instrumento, tendo em vista que durante este período as condições econômicas

sofreram alterações significativas, não sendo, portanto, razoável que algum padrão de reação

do mercado se mantenha constante ao longo de todo este intervalo de tempo.

5.3.3 Modelo com teste de assimetria em dois estágios

Com o intuito de aprimorar o modelo no que se refere a endogeneidade dos regressores,

realizamos a regressão anterior, com assimetria de compra e venda, através do método MQO

em dois estágios. Instrumentalizamos as séries de intervenção, buscando retirar das mesmas

os componentes de reação à variação da taxa de câmbio nominal. Os instrumentos utilizados

63

para cada intervenção foram a média da referida intervenção nos dez dias anteriores ao

respectivo período de análise. A intuição econômica por trás da seleção deste instrumento tem

como premissa isolar da variável intervenção o componente de reação a situação de mercado

no respectivo dia, deixando nestas variáveis independentes apenas o componente da política

de longo prazo das intervenções. Acreditamos que esta condição deva ser mais forte no último

período de nossa análise, quando observamos sucessivas intervenções no mercado à vista e

através de swaps reversos. Através destas sucessivas intervenções, o Banco Central transmitiu

ao mercado claros sinais de que tinha o objetivo de recompor reservas com estas operações.

64

01-jan-99 31-mai-02 01-jul-99 01-jan-03 01-jan-0430-jun-99 31-dez-02 30-mai-02 31-dez-03 21-set-06

(A) (C) (B) (D) (E)

0,13* -0,05 0,15*** -0,09 -0,11*** 0,02

(0,07) (0,44) (0,00) (0,36) (0,00) (0,28)

3,90 2,50 -1,55 -6,58 4,22 2,16**

(0,20) (0,77) (0,37) (0,28) (0,11) (0,04)

0,07 0,28*** 0,13*** 0,20*** 0,19*** 0,19***

(0,11) (0,00) (0,00) (0,00) (0,00) (0,00)

-1,63** -1,06* -0,60*** 0,17 - -0,89***

(0,01) (0,05) (0,00) (0,88) - (0,00)

-2,89*** -0,48 -0,81*** 0,97 1,12 -0,88***

(0,00) (0,18) (0,00) (0,21) (0,21) (0,00)

1,55** 2,39 -0,94 -14,56** - 3,77***

(0,05) (0,60) (0,41) (0,01) - (0,00)

-2,58 - 5,89 -2,96 -0,93** -0,80**

(0,17) - (0,11) (0,41) (0,01) (0,02)

- -0,78 -0,49 -1,21 - -1,24***

- (0,14) (0,34) (0,42) - (0,00)

- 4,78 - -0,06 -0,09 0,07

- (0,63) - (0,96) (0,68) (0,80)

-0,15 0,24 0,05 0,00 -0,07* -0,03

(0,58) (0,45) (0,15) (0,99) (0,09) (0,41)

Observações 124 151 743 259 700 1977

R2 75% 52% 48% 2% 23% 27%

R2 Ajustado 73% 50% 47% -1% 22% 27%

Teste - LM (p-valor) 21% 41% 0% 32% 3% 0%

0% 0% 0% 0% 0% 0%

0% 0% 0% 0% 0% 0%

Jarque Bera 0% 46% 0% 0% 0% 0%

Prob (estatística-F) 0% 0% 0% 0% 0% 0%

Coeficiente da variação do cambio no instante anterior

Variável Independente

(�)

Coeficiente de intervenção via swap - venda

Coeficiente da variação do risco-páis

(�swap

venda)

Coeficiente de intervenção à vista - compra

(�àvista

compra)

(�titulos

venda)

(�àvista

venda)

(�titulos

compra)

Heterocedasticidade ("cross terms")

Heterocedasticidade

Constante (C)

Coeficiente de intervenção via swap - compra

(�swap

compra)

Variável Dependente: variação da taxa de câmbio nominal

Coeficiente da variação da taxa de juros doméstica

Coeficiente de intervenção de títulos cambiais - venda

Coeficiente de intervenção à vista - venda

Coeficiente de intervenção de títulos cambiais - compra

(�selic)

(�risco)

Períodos sem crise cambialCrises cambiais

Todos períodos

Tabela 9 – Resultados teste de robustez com MQO em dois estágios

O teste LM não indicou melhora na correlação serial, mantendo uma forte presença de

correlação nos períodos (B) e (E), quando não há crises cambiais. O teste de Jarque Bera

indicou manteve a hipótese de rejeição da normalidade do resíduo na crise de 2002.

Os coeficientes da depreciação do defasada do câmbio nos períodos da crise d e1999 e no ano

de 2003 (nas regressões sem os instrumentos os mesmos haviam se apresentado significantes).

65

A despeito disso, os sinais e intensidade se mantiveram relativamente estáveis em relação ao

modelo anterior.

Os coeficientes da variável de risco-país praticamente não se alteraram, tanto em significância

quanto na intensidade dos mesmos.

O coeficiente da taxa de juros doméstica continuou sem significância exceto para o período

inteiro de 1999 à 2006. Neste caso, o mesmo passou ter significância de 4%, porém com sinal

contrário ao esperado. Isso pode ser explicado pelo fato de que durante as crises cambiais,

pudemos notar que a intervenção contínua não se mostrou eficaz e no último período,

observamos uma situação particular de apreciação cambial e redução dos juros por fatores

externos a economia doméstica. Os sinais do coeficiente de intervenção contínua passaram a

apresentar-se conforme esperado nos períodos sem crise cambial (B) e (D) e com coeficientes

mais relevantes. No ano de 2003, os resultados indicam que para cada 1p.p. de redução na

taxa de juros pré-fixadas de 360 dias, o real se depreciava em 6,5%.

As intervenções através de títulos continuaram mostrando-se significativas em todos os

períodos, exceto nas compras de dólares durante a crise cambial de 2002 e nos períodos em

que a emissão destes títulos havia sido encerrada. Notamos também um aumento na eficácia

das vendas de títulos cambiais na crise de 2002, quando temos indícios de que a venda de

US$ 1 bilhão dos mesmos apreciava o real em 1%. Os títulos também continuaram se

mostrando eficazes na crise de 1999, com assimetria entre os efeitos de compra e venda.

Os coeficientes das intervenções à vista se aproximaram mais dos resultados esperados. Na

crise de 1999, as compras passaram a ser não significativas e as vendas tornaram-se

significativas com sinal positivo, indicando que durante este período as operações de venda de

66

moeda à vista contribuíam para a depreciação do real ao contrário do que seria uma reação

normal de apreciação. Esta inversão de sinal também ocorreu na crise de 2002, porém com

intensidade ainda maior. Enquanto na crise de 1999, para cada US$ 1 bilhão em venda de

dólares no mercado à vista o real se depreciava em 1,5%, na crise de 2002, esta relação se

elevou para 2,4%. Nos períodos sem crise cambial, destacamos o aumento do coeficiente de

intervenção no mercado à vista no período de 2004 à 2006, quando a eficácia para cadê US$ 1

bilhão de dólares comprados passou de 0,5% no método de MQO para 0,9% com a utilização

dos instrumentos. Se tomarmos como base todo o período sob análise, ambos os coeficientes

de compra quanto de venda se mostram significativos, entretanto percebe-se que apenas as

compras são eficazes e as vendas de reservas cambiais tendem a depreciar o real.

No caso das intervenções via instrumentos de swap, continuamos obtendo resultados não

significativos em todos os períodos, apesar dos sinais dos coeficientes terem se apresentado

conforme o esperado em quase todas as ocasiões (exceto nas compras na crise de 2002).

Entretanto, na regressão com o período completo, apenas as posições vendidas vias swaps se

mostram significativas, contrariamente ao que observamos para o mercado à vista.

67

CONCLUSÃO

Assim como ocorre na maioria dos países emergentes, a atividade de intervenção do Banco

Central do Brasil no mercado de câmbio é extremamente freqüente. A carência de

instrumentos de hedge acessíveis aos agentes da economia real torna indispensável a ação do

Banco Central frente a grandes variações do preço da moeda, uma vez que os agentes não

conseguem proteger-se individualmente, o que expõe parcela relevante da economia real aos

efeitos adversos de tal volatilidade.

A questão que buscamos responder no presente trabalho é a eficácia de tais intervenções,

tanto nos períodos com ou sem crises cambiais, através dos seus diversos instrumentos -

títulos, swaps e operações á vista. Em todos os períodos de nossa análise, a intervenção via

títulos cambiais mostrou-se eficaz, enquanto os swaps não se mostraram eficazes em nenhum

momento. Não foi possível esclarecer a razão de tal diferença, e o resultado causa estranheza

uma vez que que os títulos cambiais são uma combinação de títulos indexados a moeda local

associados a um swap. Desta forma, o fator de intervenção em ambos os instrumentos é

similar.

Da análise por períodos, foi constatado que as intervenções através do mercado à vista

mostram-se eficazes apenas em períodos sem crises cambiais. Em geral, durante os períodos

de crise, a venda de dólares não foi capaz de afetar a trajetória da taxa de câmbio e,, quando

68

ocorreu algum efeito significativo,, constatou-se que se dava em sentido contrário ao esperado

em uma operação ordinária: a venda de dólares durante as crises depreciava ainda mais o real.

Creditamos tal resultado ao fato de que o Banco Central reduz o nível de suas reservas nessa

operação, e em um período de crise, isso poderia aumentar a percepção de risco soberano,

levando a uma depreciação do real.

No caso das intervenções à vista e por swaps, nossos resultados estão em linha com o que foi

observado por Oliveira e Novaes (2005): em momentos de crise as intervenções do Banco

Central não são eficazes na alteração da trajetória da taxa de câmbio. Uma questão a ser

explorada em maiores detalhes é a razão que tornou as intervenções via títulos cambiais

eficazes durante estes períodos em nossa análise.

Em geral, nossos resultados indicam que as intervenções via títulos cambiais ou mercado à

vista possuem uma eficácia de 0,8% de apreciação (ou depreciação) para cada US$ 1 bilhão

de dólares vendidos (ou comprados) através destes instrumentos36. Este resultado está em

linha com o encontrado por Domaç and Mendoza (2002) que concluíram que nos casos de

México e Turquia a eficácia das intervenções foi de 2% e 0,8%, respectivamente, apesar de

chegarem a tais conclusões por uma metodologia diferente da apresentada nesse trabalho.

Como proposta de continuidade ao presente estudo, destacamos a busca por instrumentos

adequados para contornar a endogeneidade em períodos de crises cambiais. Como pontos

adicionais, sugerimos a realização de um estudo sobre o impacto das intervenções na

volatilidade da moeda através de uma abordagem forward looking baseada em volatilidade

implícita em opções de moeda.

36 No caso das intervenções através do mercado à vista, deve-se ressaltar que este resultado é válido apenas nos períodos sem crises cambiais.

69

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71

ANEXO A – RESUMO DAS PRINCIPAIS BIBLIOGRAFIAS

72

73

ANEXO B – RESULTADOS DO TESTE DE HAUSMAN PARA O MODELO COM ASSIMETRIA ENTRE COMPRA E VENDA