programa de pÓs-graduaÇÃo e pesquisa em...
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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM
ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA
DDIISSSSEERRTTAAÇÇÃÃOO DDEE MMEESSTTRRAADDOO PPRROOFFIISSSSIIOONNAALLIIZZAANNTTEE EEMM AADDMMIINNIISSTTRRAAÇÇÃÃOO
DIMENSÕES CULTURAIS DO EMPREENDEDORISMO: UMA COMPARAÇÃO
BRASIL - PORTUGAL.
MMAARRCCOO AANNTTOONNIIOO OOLLIIVVEEIIRRAA MMOONNTTEEIIRROO DDAA SSIILLVVAA
OORRIIEENNTTAADDOORR:: PPRROOFF.. DDRR.. LLUUIIZZ FFLLAAVVIIOO AAUUTTRRAANN MMOONNTTEEIIRROO GGOOMMEESS
CCOO--OORRIIEENNTTAADDOORRAA:: PPRROOFF.. DDRRAA.. MMAANNUUEELLAA FFAAIIAA CCOORRRREEIIAA
Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 2006
2
“DIMENSÕES CULTURAIS DO EMPREENDEDORISMO: UMA COMPA RAÇÃO
BRASIL – PORTUGAL.”
MARCO ANTONIO OLIVEIRA MONTEIRO DA SILVA
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Administração Geral.
ORIENTADOR: PPRROOFF.. DDRR.. LLUUIIZZ FFLLAAVVIIOO AAUUTTRRAANN MMOONNTTEEIIRROO GGOOMMEESS CCOO--OORRIIEENNTTAADDOORRAA:: PPRROOFF.. DDRRAA.. MMAANNUUEELLAA FFAAIIAA CCOORRRREEIIAA
Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 2006.
3
“DIMENSÕES CULTURAIS DO EMPREENDEDORISMO: UMA COMPAR AÇÃO BRASIL – PORTUGAL.”
MARCO ANTONIO OLIVEIRA MONTEIRO DA SILVA
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Administração Geral.
Avaliação:
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________________________
PROF. DR. LUIZ FLÁVIO AUTRAN MONTEIRO GOMES (Orientador). Instituição: IBMEC _____________________________________________________
PROF. DRA. MANUELA FAIA CORREIA (Co-orientadora) Instituição: UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA _____________________________________________________
PROF. DR. LUIZ ALBERTO DO NASCIMENTO CAMPOS FILHO. Instituição: IBMEC
_____________________________________________________
PROF. DR. SUL BRASIL PINTO RODRIGUES Instituição: UNIRIO
Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 2006.
4
658.421 S586
Silva, Marco Antonio Oliveira Monteiro da. Dimensões culturais do empreendedorismo: uma comparação Brasil - Portugal / Marco Antonio Oliveira Monteiro da Silva. - Rio de Janeiro: Faculdades Ibmec. 2006. Dissertação de Mestrado Profissionalizante apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração das Faculdades Ibmec, como requisito parcial necessário para a obtenção do título de Mestre em Administração. Área de concentração: Administração geral. 1. Empreendedorismo. 2. Incubadoras de empresas. 3. Administração de empresas. 4. Cultura organizacional. 5. Empresas – Brasil. 6. Empresas – Portugal. 7. Orientação empreendedora.
5
Dedico o esforço despendido na realização desta dissertação a minha esposa Elizabeth e ao meu filho Lucas que sempre têm me acompanhado e incentivado, e em especial pela motivação que me deram na decisão de fazer o Mestrado.
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que de alguma forma colaboraram para a realização deste trabalho e em
particular aqueles que me ajudaram na difícil e complexa etapa da pesquisa de campo tanto
no Brasil como em Portugal.
No Brasil, agradeço a especial atenção e colaboração dedicada pelas seguintes pessoas:
Daniela Felix (Iniciativa Jovem), Joana (SerraSoft), Kátia Aguiar (Fundação Bio-Rio),
Mariza Almeida (Phoenix – UERJ), Paula Araújo (Gênesis – PUC Rio), Regina Fátima
(Coppe - UFRJ), Alexandre Reis (Genesis - UFJF), Álvaro Eduardo (IEBT UFF), Antonio
Marinho (INT), Frederico Lanza (Inmetro), Gilberto Alves (UVA), Júlio Sá (UCP
Petrópolis), Marcello Ferreira (ND2TEC – UERJ), Marcelo Barrozo (CEFET – Rio) e
Vinícius Alves (SENAC – Rio).
Em Portugal, sou igualmente grato a inestimável ajuda e colaboração dada no apoio ao
trabalho de campo pelas seguintes pessoas: Sílvia Gonçalves (MadanPark), Vasco Varela
(TagusPark), Pedro Rebordão (Lispolis), Pedro Farromba (Parkurbis) e Raul Caires
(Madeira Tecnopolo).
Agradeço ainda as valiosas colaborações de meu orientador Prof. Dr. Luiz Flávio Autran
Monteiro Gomes e de minha co-orientadora Profa. Dra. Manuela Faia Correia.
7
RESUMO
O estudo teve como objetivo identificar semelhanças e diferenças de características entre
empreendedores em incubadoras de empresas do Brasil e de Portugal. A base utilizada para
este comparativo foram os modelos de dimensões culturais de Hofstede. e de orientação
empreendedora, sendo que para a avaliação destes foi aplicado um questionário a ambos os
empreendedores dos dois países. Portanto, esta pesquisa se caracterizou principalmente por
ter tido um expressivo e importante trabalho de campo, imprescindível para se alcançar os
objetivos propostos. Os resultados mostraram que embora existam muito mais semelhanças
do que diferenças entre os empreendedores destes dois países, existem algumas diferenças
e mesmo que pouco significativas, ainda assim são reveladores de valores e de maneiras
distintas de pensar e interpretar o mundo. Entretanto, o principal resultado desta pesquisa
foi por meio da investigação realizada apresentar um amplo quadro comparativo entre
empreendedores brasileiros e portugueses em incubadoras.
Palavras Chave: empreendedorismo, cultura, orientação empreendedora, incubadoras.
8
ABSTRACT
This study aims at identifying similarities and differences between incubators entrepreneurs
at companies from both Brazil and Portugal. This comparison was based on two models,
namely, the Hofstede`s cultural dimension and the entrepreneurial orientation.
Questionnaires were applied to entrepreneurs from both countries as a means of assessing
these two models. Therefore, this study carried out an expressive and important field
research, indispensable to achieve the established purposes. The results revealed that,
although the resemblances between both countries are greater than the differences, still
there are differences of little significance but extremely revealing of values as well as of
distinct ways of thinking and interpreting the world. Nevertheless, the research’s main
contribution was to provide a comprehensive comparative picture between Brazilian and
Portuguese entrepreneurs in incubators.
Key Words: entrepreneurship, culture, entrepreneurial orientation, incubators.
9
LISTA DE ABREVIATURAS ANPROTEC - Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos
Inovadores.
CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca.
COPPE – Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia.
GEM – Global Entrepreneurship Monitor.
INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial.
PUC – Pontifícia Universidade Católica.
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas.
SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial.
UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
UFF – Universidade Federal Fluminense.
UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora.
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro.
10
SUMÁRIO
1) INTRODUÇÃO..........................................................................................11
2) PROBLEMA...............................................................................................12
2.1) Contextualização do Problema...........................................................12
2.2) Formulação do Problema....................................................................15
2.3) Objetivos...............................................................................................16
2.3.1) Objetivo Final.............................................................................16
2.3.2) Objetivos Intermediários...........................................................16
2.4) Relevância do Estudo...........................................................................17
2.5) Delimitação do Estudo.........................................................................19
3) REVISÃO DE LITERATURA..................................................................21
3.1) Empreendedorismo..............................................................................21
3.2) Cultura..................................................................................................23
3.3) A Influência Cultural Portuguesa no Brasil......................................26
3.4) O Modelo de Dimensões Culturais de Hofstede................................29
3.4.1) Distância do Poder....................................................................30
3.4.2) Individualismo ou Coletivismo................................................31
3.4.3) Masculino ou Feminino............................................................32
3.4.4) Aversão à Incerteza..................................................................33
3.4.5) As Dimensões Culturais para Brasil e Portugal....................34
3.4.6) As Dimensões Culturais e o Empreendedorismo...................39
3.5) Sobre as Características Individuais dos Empreendedores.............40
4) METODOLOGIA.......................................................................................44
4.1) Tipo de Pesquisa...................................................................................44
11
4.2) Método...................................................................................................44
4.3) Procedimento de Coleta de Dados.......................................................46
4.3.1) Seleção da Amostra.....................................................................46
4.3.2) Elaboração do Questionário.......................................................48
4.3.3) Coleta de Dados...........................................................................51
4.4) Tratamento dos Dados.........................................................................54
4.5) Limitações do Método..........................................................................55
5) ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................56
5.1) Das Amostras........................................................................................56
5.2) Dos Atributos Pesquisados..................................................................59
5.3) Das Dimensões Culturais (atributos em conjunto)............................72
5.4) Da Orientação Empreendedora (atributos em conjunto).................74
6) CONCLUSÕES............................................................................................76
7) RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS...........................84
8) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................86
9) ANEXOS.......................................................................................................91
Anexo A – Questionário de Pesquisa (Brasil e Portugal)..........................91
Anexo B – Carta de Apresentação (Brasil e Portugal)..............................97
Anexo C - Estatísticas..................................................................................98
12
1. INTRODUÇÃO
O tema empreendedorismo definitivamente ganhou espaço nos últimos anos, tanto no meio
acadêmico, com a produção de inúmeros trabalhos, como nas discussões econômicas onde
passou a ser considerado de importância relevante na formulação de políticas
governamentais voltadas para o desenvolvimento dos países. Existe, atualmente, um claro
entendimento de que tanto a ação empreendedora como o agente responsável por ela, o
empreendedor, são fundamentais para o crescimento econômico, a geração de riqueza e
empregos em uma sociedade.
Entretanto, procurar entender porque algumas nações ou sociedades têm sido mais
empreendedoras do que outras vem sendo uma das questões fundamentais que une a quase
totalidade dos trabalhos que surgem relacionando o tema com países. Os chamados estudos
transculturais (estudos que têm como base a comparação entre culturas) abordam o tema
justamente por essa ótica, procurando investigar quais as características culturais
identificadas dentro de uma nação e se estas favorecem ou não as iniciativas
empreendedoras.
É amplamente aceito que algumas características culturais de um país, quando analisadas
em termos macro, ou de uma pessoa, quando analisadas individualmente, estão claramente
relacionadas à existência de maiores taxas de empreendedorismo. A metodologia que vem
sendo mais amplamente utilizada neste tipo de estudo comparativo entre países tem usado
como base o modelo de dimensões culturais de Hofstede, possivelmente a mais completa
pesquisa realizada mundialmente neste sentido.
Este estudo trata-se, essencialmente, de uma pesquisa que investigou, de forma
comparativa a partir do modelo acima, e do conceito de orientação empreendedora as
características de empreendedores do Brasil e de Portugal, considerando que esta
comparação desperta interesse e curiosidade, em função do papel de Portugal na formação
cultural brasileira.
Desta forma, entre os objetivos almejados estavam: elaboração de um quadro com a
identificação das características similares e distintas entre os empreendedores desses países
e verificar se as características levantadas estavam em consonância com aquelas que
13
habitualmente são consideradas como facilitadoras e estimuladoras da iniciativa
empreendedora.
Para que esses objetivos fossem atingidos, o método utilizado foi a aplicação de um
questionário em ambos os países que buscou investigar e medir determinados atributos,
definidos de forma detalhada à frente, no item da metodologia. A mensuração desses
atributos permitiu, então, a realização de uma pesquisa pioneira em termos de comparação
entre empreendedores do Brasil e de Portugal.
A aplicação do questionário tanto no Brasil como em Portugal foi feita tendo como foco
respondentes empreendedores com empresas dentro de incubadoras. A sua
operacionalização levou à ida do pesquisador a Portugal e, na prática, representou a
materialização de um convênio estabelecido entre duas instituições de ensino superior, uma
do Brasil e outra de Portugal, respectivamente, o Programa de Pós Graduação e Pesquisa
em Administração do IBMEC e a Universidade Lusíada de Lisboa.
Os resultados mostram que há muitas características similares entre esses empreendedores,
demonstrando, até certo ponto, coerência com as grandes semelhanças culturais que ambos
os países têm por força dos laços históricos que os unem. Todavia, os dados também
revelaram que existem algumas importantes diferenças e estas provavelmente são fruto da
dinâmica própria em que está inserido cada um desses países.
2. O PROBLEMA
2.1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA
Os avanços da tecnologia e a automação na produção estão gerando profundas alterações
no mercado de trabalho. A humanidade tem experimentado elevadas taxas de crescimento
econômico e de geração de riqueza, sem, contudo, assistir a expansão do mercado de
trabalho, de maneira semelhante.
Esta nova realidade deu origem ao fenômeno chamado “fim do emprego”, conseqüência
direta da globalização e da implantação de processos de gestão amplamente difundidos na
14
década de 90, como o downsizing, a reengenharia, entre outros (PAIVA e BARBOSA,
2001 apud PAIVA JR. e CORDEIRO, 2002).
Contrastando com a fase inicial da industrialização, quando os processos produtivos eram
intensivos em mão-de-obra, a atual fase da economia de mercado se baseia em processos
intensivos em capital e tecnologia, resultando no denominado desemprego estrutural
característico da atualidade.
O trabalhador desqualificado perde, aceleradamente, espaço e valor nesta nova economia.
Na era em que o saber e a informação são fundamentais, o trabalhador mais valorizado é o
que possui conhecimento e que, além disso, investe de forma contínua na sua atualização e
qualificação ampliando desta forma o seu conhecimento (DRUCKER, 2001).
Esta é uma tendência inexorável e visivelmente crescente, em um mercado de trabalho
também globalizado, e os governos têm demonstrado pouca capacidade de intervenção no
sentido de tentar reverter esta realidade. É dentro deste contexto que o empreendedorismo
vem crescendo em importância, e se apresenta como uma alternativa que pode ser
considerada como compensadora em relação aos efeitos negativos desta tendência.
Compreensão semelhante com relação a esta situação levou importantes organismos
internacionais, como por exemplo, o Banco Mundial, a financiar pesquisas no campo do
empreendedorismo, além de estabelecer parcerias com governos de diversos países,
objetivando fomentar e apoiar a atividade empreendedora ao redor do mundo.
O empreendedorismo é visto, desta forma, como de importância vital para o
desenvolvimento econômico de um país. Estima-se que cerca de 73 milhões de pessoas ao
redor do mundo tenham uma ligação direta com ações empreendedoras, seja pela abertura
de novos negócios ou ainda por meio da administração e propriedade de empreendimentos
recém criados (GEM, 2004).
A função da atividade empreendedora e sua importância econômica foram percebidas
primeiramente por J.B.Say, no século XVIII, quando relacionou esta atividade à figura do
empresário, a quem cabia assumir os riscos, alocar recursos da maneira mais produtiva, e,
desta forma, promover o desenvolvimento econômico. A riqueza e o desenvolvimento de
um país estavam, assim, relacionados diretamente à atividade e à capacidade
empreendedora de uma nação.
15
No mesmo sentido, Schumpeter (1964) reforça a importância do empreendedor como o
agente capaz de introduzir a inovação, associando esta ao conceito conhecido por
“Destruição criativa”, principal motivador do crescimento econômico.
Desta forma, surge mais uma vez de forma clara a noção de que se torna imprescindível a
existência de empreendedores, que são os empresários inovadores, e a ausência destes
representa a estagnação do desenvolvimento de uma nação. “Para muitos, a idéia de
evolução econômica traz, associada, a idéia de capacidade empreendedora”
(SCHUMPETER, 1964, p.175).
A associação entre empreendedorismo, desenvolvimento econômico e geração de riqueza,
apesar de antigas, permanecem sendo amplamente aceitas e difundidas nos dias de hoje. O
empreendedorismo não é um modismo passageiro. Ele representa o principal fator que deu
origem às grandes organizações do mundo ocidental responsáveis pela geração de
empregos, impostos e crescimento econômico.
Todavia, novas associações entre empreendedorismo e outros conceitos surgiram mais
recentemente e passaram a ser considerados de grande importância, como por exemplo, os
trabalhos que visam associar esta atividade com as características culturais de uma nação.
Embora empreender pareça ser um desejo comum em todos os povos, em maior ou menor
grau, o nível de atividade empreendedora de um país está sujeito a diversos fatores
determinantes, entre os quais as suas características culturais que exercem influência direta.
Estudos sugerem que o contexto cultural de uma nação, juntamente com o seu ambiente
afetam o comportamento dos empreendedores de maneira significativa (TAN, 2002).
George e Zahra (2002) afirmam que as pesquisas que buscam estudar a influência da
cultura sobre o empreendedorismo vêm despertando o interesse acadêmico a cerca de três
décadas, e que a utilização de dados de diversos países tem sido realizada por meio de
vários métodos para explorar a relação entre as variáveis culturais e o comportamento
empreendedor e seus resultados.
Os valores culturais de um grupo social afetam o entendimento, e, por conseguinte, a
interpretação de um individuo com relação ao mundo que o cerca, ou seja, a sociedade na
qual está inserido. Sendo o empreendedor um membro de uma sociedade, este está sujeito à
influência dos seus valores culturais.
16
O desenvolvimento de pesquisas focadas em análises do tipo transcultural estão buscando
entender por que algumas culturas produzem individualmente uma maior propensão à
atividade empreendedora do que outras. Entender como os empreendedores pensam e como
eles tomam as decisões frente a essa variável, a cultura, tem sido uma das principais
sugestões de pesquisas mais recente (BUSENITZ e LAU, 1997).
O presente estudo é igualmente uma proposta transcultural que buscou investigar
comparativamente quais são as características comuns e distintas que podem ser
encontradas tanto em empreendedores no Brasil como em Portugal, tendo como “pano de
fundo” as características culturais de cada um desses países.
A principal razão para a escolha deste tema e do foco dado, bem como a opção pela
comparação, foi porque o Brasil é um país com uma matriz cultural fortemente
influenciada por Portugal: “ podemos dizer que de lá nos veio a forma atual de nossa
cultura; o resto foi matéria que se sujeitou mal ou bem a essa forma.” (DE HOLANDA,
1995, p. 40).
2.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA
“As questões de pesquisa são enunciados aprimorados dos componentes específicos do
problema” (MALHOTRA, 2001, p.78). Servem para que o pesquisador as utilize como
orientadoras no desenvolvimento da pesquisa, e na sua formulação devem ser consideradas
também os modelos teórico e de análise adotados pelo pesquisador no estudo
(MALHOTRA,2001).
Para Cooper e Schindler (2003), a maneira adequada de explicitarmos os objetivos em um
estudo descritivo é a questão de pesquisa e esta, além de dever estar sempre em destaque no
texto para facilitar uma rápida identificação, deve também facilitar o seu desdobramento
em diversas questões investigativas.
A questão de pesquisa que orientou este estudo foi:
17
Quais são as semelhanças e as diferenças de características entre empreendedores do
Brasil e de Portugal?
2.3. OBJETIVOS
2.3.1. OBJETIVO FINAL
O objetivo central deste estudo foi identificar e descrever as principais características de
empreendedores do Brasil e de Portugal, considerando os atributos mencionados na
Revisão de Literatura e destacando similitudes e diferenças entre estas.
2.3.2. OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS
Os objetivos intermediários deste estudo foram:
• Identificar a formação acadêmica dos empreendedores.
• Verificar a existência de experiências empresariais anteriores, tanto do próprio
empreendedor como de seus familiares.
• Identificar dados do perfil dos empreendedores (idade, sexo, estado civil, setor ou
ramo de atuação).
• Identificar as principais dificuldades encontradas por esses empreendedores.
• Mensurar o comportamento dos empreendedores de ambos os países em relação aos
atributos investigados no questionário (dimensões culturais e características
individuais).
18
2.4. RELEVÂNCIA DO ESTUDO
O tema empreendedorismo vem ganhando importância no meio acadêmico há
relativamente pouco tempo. É pensamento crescente entre alguns estudiosos do tema no
Brasil, a importância de lecionar empreendedorismo aos alunos ainda nos níveis
intermediários de ensino e não somente nas universidades, a exemplo do que já é feito em
outros países.
Por ser um tema relativamente novo, não há ainda uma disponibilidade ampla de produção
de conhecimento sobre o assunto, e isto é constatado de forma mais acentuada quando se
trata de Brasil. Ainda que aqui venha se consolidando a importância deste tema, estamos
consideravelmente atrasados em relação a outros países, sendo necessário recuperar o
tempo perdido.
Embora permaneça sendo forte a crença de que as características dos empreendedores já
nascem com o indivíduo, essa posição vem se alterando de forma gradual, como resultado
de uma mudança de mentalidade. Esta mudança aponta no sentido de que é possível ensinar
empreendedorismo e, consequentemente, ajudar a formar empreendedores mais preparados.
Se as habilidades associadas à capacidade empreendedora não são possíveis de serem
adquiridas, o seu aprimoramento, por meio do aprendizado e da aquisição de novos
conhecimentos e técnicas o são (SEBRAE, 2004).
O nosso ensino, tradicionalmente voltado para formar profissionais para o mercado de
trabalho, prepara empregados para atenderem as necessidades das empresas, sendo que, no
entanto, esta orientação está em confronto com a tendência mundial do mercado de
trabalho. “A metodologia de ensino tradicional não é adequada para formar
empreendedores [...] os valores do nosso ensino não sinalizam para o empreendedorismo”
(DOLABELA, 1999, p.53).
A crescente instabilidade e insegurança nos percursos do profissional, associada à
impossibilidade de absorção da mão de obra total disponível por parte das empresas
existentes, são fatores que apontam para a necessidade da formação de um espírito
empreendedor no aluno (EIRIZ, 2005).
19
O presente estudo, ao levantar e compreender as características de empreendedores do
Brasil e de Portugal, disponibilizou conhecimento que pode vir a ser utilizado por
acadêmicos de ambos os países que lecionem disciplinas relacionadas ao tema
empreendedorismo. Conhecer as características culturais de empreendedores permite que
os cursos tenham condições de ser direcionados e formatados em seus conteúdos de acordo
com essas particularidades.
Pela mesma linha de raciocínio, esta pesquisa também contribuiu acrescentando e
ampliando o conhecimento da atividade empreendedora tanto do Brasil como de Portugal,
que pode ser objeto de intercâmbio de informações e experiências entre as suas áreas
acadêmicas. Este pesquisa pode resultar em dados e conclusões que venham também a
servir de base para novos estudos.
Entretanto, do ponto de vista acadêmico, possivelmente a principal contribuição deste
estudo está na tentativa de preencher parte da lacuna existente em termos de pesquisas
transculturais, quando se trata de um comparativo entre Brasil e Portugal. Este tipo de
pesquisa está atualmente bastante em voga quando se trata de estudos comparativos de
empreendedorismo entre países, como já dito anteriormente, mas pouco ou nada se
produziu até o momento quando se trata desses dois países em particular.
Outro importante aspecto de contribuição desta pesquisa diz respeito ao entendimento do
fenômeno da mortalidade que está fortemente presente nas iniciativas empreendedoras de
novos negócios. As elevadas taxas de mortalidade de novos empreendimentos é um
fenômeno mundial e, neste ambiente, o esperado é o insucesso. Das empresas que não
logram êxito muitas fecham desnecessariamente (DOLABELA, 1999).
Parcela significativa desta alta taxa de mortalidade é explicada pela inadequação entre as
características do indivíduo como empreendedor e os requisitos em termos de
características que habitualmente estão associados ao chamado espírito empreendedor.
Existe um perfil de características associadas ao empreendedor que estão mais ligadas ao
sucesso, de tal forma, que a inexistência dessas características pode ser um indício de que o
aspirante a empreendedor apresente elevada probabilidade de insucesso.
Da mesma forma que existem em termos macro características culturais mais associadas a
elevados níveis de empreendedorismo de um país, existem, igualmente, características
20
individuais mais associadas a empreendedores. Esta pesquisa, ao investigar características
de empreendedores do Brasil e de Portugal, contribuiu , de certa forma, com informações
que possam ajudar a explicar a mortalidade de novos empreendimentos nesses países sob
esta ótica. Esta é uma das principais contribuições práticas desta pesquisa.
Um empreendimento nascente é basicamente controlado por seu fundador o qual imprime
na gestão as suas próprias características, e estas irão resultar, ao longo da consolidação do
empreendimento, na cultura da empresa. As empresas criadas por empreendedores são um
resultado da extrapolação do mundo subjetivo de quem as criou (FILLION, 2000).
Assim, outra importante contribuição prática deste estudo é que, ao traçar um perfil dos
empreendedores de ambos os países, está contribuindo também com informações que
venham ajudar a entender parte da cultura empresarial predominante na estrutura
organizacional desses novos empreendimentos nos dois países.
Informações dessa natureza são consideravelmente úteis para outras empresas ou pessoas
que tenham negócios ou relações comerciais relacionados com empreendimentos desse
tipo, ou seja, caracterizados por um menor porte. Conhecer a cultura dominante em
empreendimentos dessa natureza facilita o acesso a essas empresas, e o entendimento dos
principais valores nesse ambiente de negócios.
Esta pesquisa disponibilizou ainda informações que podem também ser úteis aos órgãos e
instituições, oficiais ou não, de apoio e incentivo ao empreendedorismo. O sucesso da
adoção de políticas nesse sentido está diretamente associado ao nível de conhecimento que
se tem do empreendedor, ou seja, o quanto essas políticas estão adequadas ao perfil de
características deste. Conforme pesquisas, o fator apontado em segundo lugar pelos
empreendedores como responsável pelo sucesso em suas iniciativas foi a capacidade
empreendedora (SEBRAE, 2004). A capacidade empreendedora está intimamente
relacionada características do empreendedor.
2.5. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
21
O tema empreendedorismo é bastante amplo e sabe-se hoje que a ação empreendedora está
presente em todas as áreas de atuação do homem. Desta forma, é possível falar em
empreendedorismo social, organizacional, político, e autônomo, e em diversas outras
subdivisões, de acordo com a área à qual nos referimos. Entretanto, este estudo focou a
análise unicamente no empreendedorismo autônomo, que, aqui, de maneira mais genérica,
pode ser relacionado à criação de novos negócios.
As pesquisas que se propõem estudar as características do empreendedor comportam uma
grande diversidade de abordagens possíveis. Todavia, esta pesquisa estudou o tema pela
ótica dos empreendedores de ambos os países que estavam com empreendimentos
estabelecidos dentro de incubadoras, limitando-se deste modo o seu escopo.
A opção por estudar amostras que estavam dentro de incubadoras teve como objetivo focar
unicamente iniciativas tipicamente empreendedoras, ou seja, o que se buscou nesta
pesquisa foi realmente levantar as características de indivíduos que carreguem o chamado
espírito empreendedor propriamente dito. O espírito empreendedor, como citado, está
normalmente associado a determinadas características presentes no indivíduo.
Ao estudar somente empreendedores dentro de incubadoras, outra preocupação desta
pesquisa foi eliminar ocorrências, como a exemplificada a seguir, na qual uma pessoa pode
ter assumido a gestão de uma empresa já previamente existente. Na prática, isto significa
que o interesse deste estudo centrou-se no empreendedor fundador, aquele que teve a idéia,
iniciou o negócio, e que ainda permanece à frente na sua condução.
Não houve por parte desta pesquisa, delimitação quanto ao tamanho da empresa, tempo de
existência, ou setor de atuação do empreendimento a que pertence o empreendedor
estudado, desde que este tenha atendido às condições anteriormente estabelecidas, a saber,
ter sido o detentor da idéia, iniciador do empreendimento e o atual gestor. Todavia, era
esperado que, por se tratar de empreendimentos situados dentro de incubadoras, esses
provavelmente se caracterizariam por um tamanho reduzido, típicos de negócios iniciantes,
expectativa esta que se confirmou.
22
3. REVISÃO DE LITERATURA
3.1. EMPRENDEDORISMO
O economista J. B.Say, século XVIII, foi o pioneiro a utilizar a palavra entrepreneur
relacionada a empreendedor, dando a esta a função de definir o homem que organiza e
administra a produção. A esse indivíduo, o empreendedor, cabia mobilizar os fatores de
produção da melhor forma, ou seja, da maneira mais rentável e por este trabalho obter
como forma de pagamento um lucro.
J. B. Say via nessa competência industrial do empreendedor algo de superior em relação
aos demais membros da sociedade, ao que ele atribuiu ser um tino, um talento natural ou
adquirido e incomum de ser encontrado. Todavia, a principal contribuição desta definição
foi perceber o empreendedor como um identificador de oportunidades e capaz de explorá-
las de forma lucrativa.
A visão de empreendedorismo evoluiu então para incluir a idéia de inovação contínua
associada ao conceito de “Destruição criativa”, que, na prática, representava um
permanente processo de destruição de métodos antigos e de sua substituição por novos.
Esses métodos podiam ser de produção, transportes, de novos produtos e mercados, bem
como, de novas formas de organização industrial (SCHUMPETER, 1964).
A principal diferença entre as definições de Say e Schumpeter é que para este último não
basta apenas mobilizar recursos da melhor forma. Para ser considerado um empreendedor é
preciso ir além de alocar recursos da forma mais rentável, trabalho este que pode ser
considerado característico de um gerente. É necessário fazer isso, mas fundamentalmente
de maneira nova. A principal contribuição de Schumpeter ao conceito de
empreendedorismo foi associar a ele a idéia de inovação.
Para Drucker (2001), o empreendedor é também alguém que aproveita as oportunidades,
criando algo que irá gerar valor. Entretanto, Drucker não considera empreendedor quem
somente abre um novo negócio. Para ele, é fundamental que esse novo negócio crie algo
novo em termos de mercado, produto, ou similar, para que seja então considerada uma ação
empreendedora.
23
Portanto, para este autor que é mais recente, está também bastante clara a importância da
inovação e da identificação de oportunidades para os empreendedores. Ele conclui
afirmando que, na moderna economia, a principal fonte de inovação a ser utilizada na
exploração das oportunidades está no que define como Administração Empreendedora,
que, na verdade, representa um conjunto de inovações em termos de técnicas de gestão.
A despeito da evolução do conceito e do entendimento do que é ser empreendedor e o que
significa empreendedorismo, inúmeras outras definições surgiram, algumas mais técnicas e
outras igualmente teóricas.
O empreendedorismo pode ser definido de forma simples como a criação de novas
empresas, e o termo “entrepreneur” ser relacionado à pessoa que acha novas oportunidades
de negócios (LOW e MACMILLAN, 1988 apud TAN, 2002). Segundo esta definição, para
ser empreendedor basta somente encontrar uma oportunidade e explorá-la, não havendo
necessidade da existência de inovação.
Outra definição de destaque é a de Shane e Venkataraman (2000). Segundo estes autores, o
empreendedorismo é igualmente um fenômeno relacionado à existência de oportunidades,
sendo que a exploração destas é determinada pela ocorrência da assimetria de informações
entre as pessoas, bem como pelas diferentes avaliações quanto ao seu potencial de
lucratividade, feita por cada indivíduo. A existência de assimetria de informações e crenças
entre indivíduos permite a exploração das oportunidades surgidas e, à medida que as
informações se difundem, ocorre o retorno a uma situação de equilíbrio, com o conseqüente
desestímulo para novas iniciativas de empreender na oportunidade.
O empreendedor cumpre, assim, a função de ser o agente capaz de transformar em
oportunidade a informação que detém, através da criação de novos produtos e serviços.
Além disso, o empreendedorismo tem reconhecida a sua importante função de dar
dinamismo à economia (SHANE e VENKATARAMAN, 2000).
O empreendedor é o identificador de oportunidades de negócios que cria e define
contextos, visualiza situações, determina objetivos, projeta e concebe estruturas
organizacionais as quais põe em funcionamento no sentido de explorar a oportunidade
(FILLION, 2000; DOLABELA, 1999).
24
Segundo o SEBRAE (2006), o empreendedor pode ser definido por:
[...] é o indivíduo que possui ou busca desenvolver uma atitude de inquietação, ousadia e
pro - atividade na relação com o mundo, condicionada por características pessoais, pela
cultura e pelo ambiente, que favorece a interferência criativa e realizadora, no meio, em
busca de ganhos econômicos e sociais.
Para este estudo, a definição que foi adotada é a que associa o empreendedorismo e o
empreendedor à identificação de oportunidades de negócios e à criação de novas empresas
para explorá-las, não sendo necessariamente requisito obrigatório ser algo inovador.
3.2. CULTURA
Como já explicitado anteriormente, esta pesquisa é um estudo transcultural que utilizou
como arcabouço teórico de sua análise o modelo das dimensões culturais de Hofstede
(2001), advindo daí a pertinência de um tópico sobre cultura. Existem inúmeras definições
para cultura, que é, nos dizeres de George e Zahra (2002, p.5, tradução nossa), “[...] um
importante e complexo constructo”.
Cultura é um programa coletivo mental que distingue e separa os membros em grupos e
categorias entre si, baseado em suas diferentes características. Esse programa mental faz
com que os indivíduos de um grupo se comportem em conformidade com os demais dentro
de um mesmo grupo. A cultura se manifesta em sua forma mais profunda e invisível por
meio dos valores, e de maneira prática, superficial e visível através de símbolos, heróis e
rituais (HOFSTEDE, 2001).
Por grupos e categorias podemos entender, entre diversas classificações possíveis, cada
país separadamente quanto as suas características culturais predominantes. Os membros de
cada país formam agrupamentos distintos entre si, tendo como base cada um o seu próprio
programa mental. Os padrões culturais dominantes de uma nação são fortemente marcados
por um sistema de valores existentes no grupo majoritário da população, e normalmente
são estáveis por longos períodos da história (HOFSTEDE, 2001). Existem, como dito,
25
inúmeras outras classificações de grupos possíveis, todavia, para este estudo o foco foi na
categorização por nação, que é a essência do modelo de Hofstede.
Cultura pode ser definida também como um conjunto de padrões que determinam o
comportamento e a ação do homem. É resultado de aprendizado acumulativo, de
experiências de gerações anteriores que procuram transmitir esses padrões as gerações mais
jovens. Esse processo de padrões compartilhados entre os indivíduos de uma sociedade
inibe ou estimula a ação criativa dos membros (KROEBER apud LARAIA, 1993;
PLIOPAS e AGLI, 2003). Esta forma de definição do conceito é particularmente
importante porque associa padrões culturais de uma sociedade à sua capacidade criativa,
sendo uma associação de extrema validade para o estudo e compreensão do conceito de
empreendedorismo.
Laraia (1993) apresenta ainda em seu trabalho uma revisão com outras definições para o
conceito de cultura segundo diversos autores, conforme descrito a seguir:
• Tylor - cultura seria um complexo constituído de idéias adquirido pelo homem
enquanto membro de uma sociedade tais como, conhecimentos, crenças, arte,
moral, leis, costumes e outros. Por este conceito, fica clara a importância da cultura
como fruto de aprendizado.
• Sahlins, Harris, Carneiro, Rapport e Vayda - cultura é a transmissão entre os
membros de uma sociedade de padrões comuns de comportamento, que têm a
função de ajustar os indivíduos dessas sociedades a suas existências biológicas. Por
padrões comuns entende-se, por exemplo, organização econômica política e social,
crenças religiosas, entre outras. Esta definição é muito semelhante à anterior quanto
à idéia do seu conteúdo.
• W. Goodenough - introduziu uma definição curta e sucinta para cultura, porém, em
sua idéia central, não diferiu muito das demais ao afirmar ser esta é constituída por
um sistema de conhecimentos e crenças que um indivíduo deve ter para viver e agir
de maneira aceitável dentro de sua sociedade.
• David Schneider - ao tentar definir cultura, fala igualmente em regras que regulam
comportamentos e relações, mas a sua definição tem o mérito de acrescentar a idéia
de se tratar de um sistema constituído de símbolos e significados, não havendo,
portanto, necessidade da observabilidade do indivíduo propriamente dita, para que
26
se forme uma unidade cultural. Na prática, este conceito se utiliza da idéia de que o
aprendizado em termos de cultura pode ser transmitido entre os membros também
por meio de simbologia.
• Ruth Benedict define cultura como sendo a lente pela qual o homem vê e
compreende o mundo e, dessa forma, cada cultura tem sua própria lente. Esta
definição, embora curta, tem o grande mérito de abordar de forma direta a relação
causa e efeito que a cultura gera na percepção do indivíduo sobre o mundo a sua
volta.
A definição de cultura para Motta (1997) também está associada à linguagem e códigos, e
tem como atribuição servir aos indivíduos como um referencial de interpretação que dê
sentido ao mundo em que vivem e exercem as suas ações.
Para um autor mais recente, Trompenaars (2005), cultura é, de maneira simplificada, o
modo como se faz e se interpreta as coisas ao redor. É constituída por conceitos e processos
e pode ser melhor entendida como uma divisão de pressupostos, crenças, valores, normas e
padrões de linguagem. É adquirida pelo indivíduo na forma de conhecimento transferido e
tem como propósito orientá-lo quanto ao seu comportamento dentro do grupo, pois são
crenças coletivas que dão forma ao seu comportamento.
Independente do autor, os conceitos de cultura são todos muito similares em seu conteúdo,
variando apenas na forma como são elaborados. Entretanto, o importante é verificar como
um tipo de cultura influencia e condiciona o comportamento dos indivíduos, e por
extensão, dado o objetivo deste estudo, o nível da atividade empreendedora de uma
sociedade.
Uma síntese das diversas teorias mostra que a cultura, em suas diversas dimensões, tem um
papel importante na formação de um esquema de senso comum nos indivíduos de uma
sociedade, esquema este que serve como uma importante ferramenta a ser usada como
filtro para formar as interpretações e percepções desses indivíduos (CHRISMAN, CHUA e
STEIR, 2002).
Diferentes culturas geram diferentes interpretações e percepções, e, com efeito, diferentes
respostas comportamentais dos indivíduos. Desta forma, a cultura influencia da mesma
forma a interpretação e a percepção dos empreendedores em relação ao ambiente no qual se
27
encontram, o que, por sua vez, afeta a escolha das estratégias, e a performance da empresa
(CHRISMAN et al, 2002).
Para Busenitz e Lau (1997), o contexto social, os valores culturais, e as variáveis pessoais
são os elementos formadores do processo e da estrutura cognitiva de uma pessoa. Para o
empreendedorismo, essa relação assume grande importância uma vez que esta estrutura
cognitiva afeta a intenção dos indivíduos de criar e iniciar novas empresas, visto que está
intimamente ligada à forma como eles interpretam e entendem o funcionamento do mundo.
3.3. A INFLUÊNCIA CULTURAL PORTUGUESA NO BRASIL
O processo de colonização do Brasil por Portugal foi o principal determinante da matriz
cultural brasileira. Alguns dos principais traços encontrados na cultura nacional vieram de
Portugal e, ainda que aqui tenham apresentado nuances quanto a sua forma, a base é, na
essência, nitidamente portuguesa. Segundo Motta (1997), para entendermos as nossas
raízes, a formação de nossa cultura, bem como, compreendermos o que somos hoje é
necessário perceber a contribuição do colonizador português.
Inicialmente, a formação da nação brasileira nos tempos da colônia foi realizada no sentido
de se reproduzir aqui a mesma estrutura administrativa e social do Estado português
(CALDAS, 1999). É como se o colonizador português buscasse reproduzir aqui as mesmas
relações e princípios que regulavam a sociedade em seu país de origem. Na verdade, nunca
se procurou estabelecer no Brasil um modelo próprio e adequado às nossas
particularidades.
A administração da colônia brasileira ao longo do tempo, mesmo com as mudanças
ocorridas nas relações entre metrópole e colônia, reproduziu os mesmos vícios do Estado
português tais como: centralização, regulações embaralhadas e extensas, e forte influência
da Igreja (MARTINS, 1997). Muitas das características da cultura brasileira são exemplos
de uma adaptação do colonizador ao colonizado (MOTTA, 1997).
28
Para Martins (1997), o patrimonialismo revelado na confusão entre a coisa pública e a coisa
privado, ainda hoje bastante marcante em nossa cultura, é herança da administração aqui
implantada pela metrópole.
Na própria corte portuguesa, era visível o fato de que todos se dirigiam diretamente ao rei e
a seus dependentes desprezando a hierarquia com seus graus intermediários de comando
(FAORO, 1984 apud MARTINS, 1997). A conseqüência foi que aprendemos que
pertencemos a uma sociedade que valoriza a busca do Estado para a solução de nossos
problemas, relegamos para um segundo plano a nossa própria capacidade de iniciativa. É
como se estivéssemos sempre esperando que alguém de fora nos trouxesse a solução para
as nossas agruras.
Desde o início, Portugal implantou no Brasil um sistema econômico extrativista e
exploratório. Portugal fazia do Brasil uma colônia da qual muito se tirava e para a qual
pouco se devolvia. Ao contrário do que ocorreu com as colônias inglesas do norte da
América, aqui em nenhum momento houve, por parte da metrópole, preocupação para com
o desenvolvimento e o futuro da colônia.
A colonização, a integração e a consolidação do Brasil como nação sempre foi comandada
pela figura do Estado, e pouca ou quase nenhuma importância tiveram as iniciativas
particulares. Este não foi o histórico do processo verificado nas colônias inglesas, onde foi
fundamental a participação do empreendimento privado na construção e consolidação da
sociedade (BARBOSA,1996).
Ao dar inicio à colonização brasileira, Portugal metrópole já era caracterizado por ser uma
sociedade sem hegemonia de raça, com elevado grau de mistura social, tanto no sentido
vertical como horizontal, e intensa miscigenação étnica. Estes traços foram resultado do
fato de Portugal ter sido vítima de inúmeras invasões, e da sua própria posição geográfica
estratégica, entre a África e a Europa, o que permitiu seu intenso contato com outros povos
e culturas que por lá passavam em trânsito. Como confirma Holanda (1995), os portugueses
à época do descobrimento do Brasil já eram um povo de mestiços sem uma raça dominante.
Outro traço marcante de nossa cultura é o paternalismo, fortemente inserido dentro de
nossa sociedade extremamente hierarquizada. O paternalismo, ainda hoje bastante presente
29
em nossas relações, é herança de nosso sistema colonial escravagista, no qual estava
presente na relação do Senhor de Engenho com os demais membros a ele subordinados.
O paternalismo fazia parte também da sociedade portuguesa e foi desenvolvido através da
experiência com a escravidão dos mouros após a vitória dos cristãos. Esta experiência
serviu como referência para a formação da sociedade escravocrata no Brasil colônia. Por
paternalismo podemos entender uma relação na qual o superior, ao mesmo tempo em que
controla e ordena o subordinado na relação econômica, também o protege na relação
pessoal, ou seja, o superior assume o papel de um pai (FREITAS, 1997).
Outra característica presente em nossa cultura e igualmente herdada de Portugal é o
personalismo. Neste sentido, um indivíduo tem seu valor e é reconhecido pela sua malha de
relações com outras pessoas, famílias, grupos de parentes e amigos (FREITAS, 1997). É
como se o indivíduo valesse mais pelo que é dentro da sociedade do que pelo que faz nela.
Na prática, é o reconhecimento da pessoa em função de quem ela é e não em função de
suas realizações. Como não valorizamos as realizações do indivíduo, estamos
indiretamente não valorizando o trabalho que leva a essas realizações.
Ao contrário da moral protestante na qual o trabalho manual é reconhecido, aprendemos a
desvalorizar e a desprezar o trabalho manual. Até os dias de hoje, temos fortemente
consolidada entre nós a idéia de que este tipo de trabalho está associado à desqualificação
social.
Igualmente recebemos esta forma de pensar do tempo da colonização imposta ao Brasil
durante o qual o trabalho manual cabia aos escravos, e o que era verdadeiramente apreciado
pelo português e consequentemente pelo brasileiro era a vida de senhor (HOLANDA,
1995). Até hoje a estrutura escravocrata serve de base para o nosso modelo cognitivo de
referência (WOOD JR, 1999).
Herdamos, dessa forma, a visão que temos do lucro rápido, do retorno material no curto-
prazo. Vivemos muito mais o presente do que o futuro e buscamos os resultados imediatos
(PRATES e BARROS, 1997). Era difícil no Brasil colônia encontrar uma pessoa que se
dedicasse durante uma vida inteira ao mesmo ofício, sem se deixar ser atraída por outra
atividade mais rentável, sendo mais difícil ainda se identificar uma atividade que fosse
realizada pela mesma família por mais de uma geração (HOLANDA, 1995).
30
O interesse pelo lucro fácil característico do brasileiro são manifestações do espírito
aventureiro herdado de Portugal. Segundo Holanda (1995), uma das principais
características do processo de colonização do Brasil foi o fato de que este foi implantado
mais por uma motivação aventureira, sem maiores compromissos por parte de Portugal, do
que propriamente representando um empreendimento planejado e racional. Para este autor,
o que o português aqui buscava era riqueza, o que demandava ousadia, e não trabalho.
Outra importante característica destacada por Wood Jr. e Caldas (1999) é a nossa alta
plasticidade cultural, também herdada da sociedade portuguesa. A plasticidade diz respeito
à capacidade de adaptação de uma cultura com relação às influências culturais externas.
Quanto maior a adaptabilidade de uma cultura, maior é considerada a sua plasticidade.
3.4. O MODELO DE DIMENSÕES CULTURAIS DE HOFSTEDE
Para Hayton, George e Zahra (2002), a grande maioria das pesquisas que relacionam
empreendedorismo, incluindo as características individuais dos empreendedores, com as
características culturais de um país se utilizam basicamente do modelo de conceituação de
culturas nacionais elaborado por Hofstede. No mesmo sentido, Alcadipani e Crubellate
(2003) destacam que o estudo de Hofstede vem sendo amplamente utilizado como
referência na produção de artigos no Brasil.
Na prática, o modelo desenvolvido por Hofstede tem como uma de suas principais
vantagens a capacidade de viabilizar em termos operacionais a comparação entre culturas
de países distintos, ou seja, torna palpável a comparação, mesmo se tratando de um
conceito bastante subjetivo, como o é o de cultura. Pode ser adequadamente utilizado como
um esquema de análise que tem como base a criação de categorias de atributos, medidos na
forma de índices, em cada país separadamente. Esses atributos são as dimensões culturais
e, uma vez mensuradas individualmente, revelam as características culturais de um país.
Hofstede (2001) classificou, em seu primeiro trabalho, realizado na década de 80, as
chamadas dimensões culturais em quatro categorias: distância do poder, individualismo ou
coletivismo, masculino ou feminino e aversão à incerteza.
31
Posteriormente, no ano de 1991, em novo trabalho, identificou uma quinta dimensão, a qual
definiu como sendo orientação no longo-prazo ou orientação no curto-prazo. Esta dimensão
foi identificada em países do leste asiático que possuem clara orientação no longo-prazo,
sendo apontada de forma direta como um dos principais fatores responsáveis pelo recente
processo de desenvolvimento econômico acelerado que esses países têm experimentado.
Esta dimensão está diretamente relacionada à expectativa de tempo de retorno em termos
de recompensa e resultado de uma tarefa ou ação implementada que, de forma geral, os
indivíduos de uma sociedade possuem. Entretanto, esta dimensão inicialmente não seria
considerada para efeitos desta pesquisa por não ter sido mensurada para a totalidade dos
países inclusos no primeiro trabalho de Hofstede. Portugal não foi incluído na amostra do
segundo estudo do autor. Todavia, por motivos explicitados a frente na metodologia,
resolveu-se posteriormente incluir também esta dimensão na pesquisa.
3.4.1. DISTÂNCIA DO PODER
Esta dimensão está relacionada ao nível de igualdade ou de desigualdade existente entre as
pessoas na distribuição do poder dentro da sociedade em um país, e ao nível de
aceitabilidade por parte de seus indivíduos menos favorecidos em relação a essa
distribuição desigual. Escores representativos de elevada distância do poder indicam que
desigualdades na distribuição da riqueza, do poder e de privilégios dentro da sociedade são
vistos com maior naturalidade, enquanto, no sentido inverso, indicam sociedades mais
igualitárias, e menos conformadas com desigualdades nessa distribuição.
Em sociedades com elevados índices de distância do poder, é possível que se perceba
menor mobilidade social dos indivíduos. Em sentido oposto, em países que se caracterizam
por apresentarem uma sociedade com baixa distância do poder, é normal se evidenciar
maior equilíbrio e igualdade no acesso às oportunidades.
Hofstede (2001) associa elevados índices de distância do poder também a um volume
maior de conflitos políticos dentro de uma sociedade, enquanto baixos índices refletem a
32
idéia de que todas as pessoas possuem iguais direitos e, portanto, a existência de conflitos é
menor.
São também características associadas a esta dimensão: elevado autoritarismo e
conformismo em sociedades com alta distância do poder e reduzido nível de autoritarismo,
e valorização da independência em sociedades com baixa distância do poder. Nas
sociedades com elevada distância do poder, o exercício deste está normalmente mais
associado à força e ao reduzido pluralismo de idéias, enquanto nas que se caracterizam por
baixa distância deste, o poder está relacionado a legitimidade e a uma maior pluralidade de
idéias.
Dando prosseguimento, destacam-se ainda outras importantes características como a menor
crença na capacidade de intervenção do homem sobre a natureza e o ambiente, a
centralização do poder e o comportamento mais estático que caracteriza as sociedades com
alta distância do poder. Em oposição, uma maior crença na capacidade de intervenção do
homem, a descentralização do poder e o dinamismo são características mais marcantes de
sociedades com baixo distanciamento do poder.
3.4.2. INDIVIDUALISMO X COLETIVISMO
Esta dimensão esta associada à importância em termos de medida do quanto os membros
de uma sociedade são responsáveis pelos demais. Está relacionada ao nível de relevância
que a sociedade dá ao esforço e à realização individual, ou em oposição à realização
coletiva dos indivíduos e ao relacionamento entre eles. Elevados escores de individualismo
indicam que a individualidade e os direitos individuais das pessoas predominam dentro da
sociedade, enquanto que em sociedades predominantemente coletivistas os indivíduos são
estimulados a agirem em conformidade com os interesses e crenças do grupo. Neste caso,
os interesses coletivos se sobrepõem aos individuais (HOFSTEDE, 2001).
Em sociedades predominantemente individualistas, as pessoas tendem a estabelecer um
maior número de laços fracos de relacionamentos pessoais e sociais. Em sentido oposto, em
sociedades nas quais predominam o coletivismo, os laços sociais e os relacionamentos
33
pessoais são estabelecidos com maior profundidade e força. Por outro lado, para sociedades
individualistas, a preocupação, o senso de responsabilidade e a proteção das pessoas estão
mais limitados a si próprias e aos familiares diretos, enquanto que nas sociedades
coletivistas estes são estendidos para além, alcançando também os familiares indiretos,
sendo inclusive comum que se estendam ao ponto de alcançar também outros grupos de
relacionamento do indivíduo, mesmo que não familiares.
Nas sociedades coletivistas, o valor da lealdade entre os membros tem uma importância
significativa, pois a identidade do indivíduo está baseada em um sistema social, e a ação
deste é imposta pelo contexto, sendo a evolução lenta o padrão característico. Já nas
sociedades predominantemente individualistas, a identidade do indivíduo está baseada na
sua individualidade, e a ação normalmente é iniciada por vontade do próprio indivíduo,
sendo a rápida evolução o padrão característico (HOFSTEDE, 2001).
3.4.3. MASCULINO X FEMININO
Para Hofstede (2001), esta dimensão diz respeito a quanto uma sociedade tende a valorizar
predominantemente o papel masculino dos indivíduos, ou se, ao contrário, valoriza mais o
papel feminino. Nas sociedades em que se valoriza predominantemente o papel masculino,
observa-se a preponderância de valores do tipo auto-realização, competitividade, realização
material e financeira, busca por controle e poder.
Por outro lado, em sociedades nas quais ocorre o predomínio de valores femininos,
constata-se uma maior preocupação com a qualidade de vida, com a solidariedade e com a
proteção dos mais fracos.
Sociedades com predominância de traços masculinos estão normalmente relacionadas à
maior discriminação e incompreensão com as diferenças entre os gêneros, ao passo que em
sociedades com predominância de características femininas, o que se constata é o oposto,
ou seja, uma maior compreensão e menor discriminação dessas diferenças.
34
Nas culturas ditas de características femininas, a tendência à igualdade dos gêneros é mais
presente em todos os aspectos e atribuições dentro da sociedade. Isto se reflete em uma
maior observação de situações nas quais as mulheres compartilham igualmente com os
homens das preocupações e das responsabilidades tradicionalmente masculinas.
Ainda segundo Hofstede (2001), nas culturas marcadamente masculinas, há uma tendência
maior para a resolução de conflitos via agressão, enquanto nas culturas predominantemente
femininas, a tendência é a busca pela solução negociada. Outra importante característica
que diferencia as sociedades com predominância de cultura masculina daquelas com
dominância feminina é a visão do trabalho. Enquanto para a primeira o trabalho é visto
como um fim, um propósito de vida, para a segunda é visto como um meio para se chegar
ao objetivo maior que é uma melhor qualidade de vida.
3.4.4. AVERSÃO À INCERTEZA
Esta dimensão diz respeito a quanto uma sociedade aceita e está preparada para tolerar
situações de incerteza e ambigüidade, ou seja, o quanto está preparada para lidar com
situações não previstas, ainda não experimentadas e, portanto, não regulamentadas. Altos
índices de aversão à incerteza indicam que sociedade tem baixa tolerância e não está
preparada para situações de imprevisibilidade e ambigüidade. Nessas sociedades, a busca
por redução da incerteza e da ambigüidade resulta no surgimento de extensas formas de
regulamentação e controle, baseadas em leis, normas e afins (HOFSTEDE, 2001).
Elevados escores de aversão à incerteza estão igualmente associados à baixa propensão dos
indivíduos para assumirem riscos nos negócios. Para as sociedades com baixos índices de
aversão à incerteza, a idéia é justamente oposta, ou seja, risco é valor nos negócios. Quanto
maior o grau de aversão à incerteza de um país, maior também será o grau de intervenção
governamental esperado na sua economia (HOFSTEDE, 2001).
35
Sociedades com baixo índice de aversão à incerteza demonstram maior tolerância para com
situações ambíguas e imprevisíveis, resultando assim em um menor volume de
regulamentações e controles formais. Nos países em que predominam índices de baixa
aversão à incerteza, a sociedade é normalmente mais receptiva a mudanças, bem como
maior é a propensão dos indivíduos a assumirem papéis que exijam exposição ao risco
(HOFSTEDE, 2001).
Em suma, nos países onde esta dimensão apresenta escores reduzidos, as incertezas são
interpretadas como parte integrante da vida. O que é novo e desconhecido desperta
curiosidade, e há entre os membros da sociedade a crença na capacidade de influir no curso
da vida. Em contrapartida, nos países onde se constata o oposto, ou seja, elevados escores
para essa dimensão, o comum é ver as incertezas da vida como ameaças, contra as quais se
deve lutar. O que é novo e desconhecido é perigoso e “reina” entre os indivíduos o
sentimento de que é significativamente restrita a capacidade de influência sobre as forças
externas e sobre o ambiente.
É comum associar elevada aversão à incerteza ao Catolicismo Romano. Em sua pesquisa,
Hofstede chega inclusive a afirmar que esta correlação é tão forte que para os países com
maioria católica esta dimensão é geralmente a que apresenta o escore mais elevado.
3.4.5. AS DIMENSÕES CULTURAIS PARA BRASIL E PORTUGAL
Em seu modelo de dimensões culturais, Hofstede (2006) encontrou comportamentos
bastante semelhantes para Brasil e Portugal (figura 1), corroborando, desta forma, a análise
anterior de diversos autores, conforme já descrita, que apontavam para a influência
determinante de Portugal na formação da matriz cultural do Brasil.
36
DIMENSÕES CULTURAIS
0
20
40
60
80
100
120
Distancia do poder Individualismo Masculino Aversão a Incerteza
Dimensões
Indi
ces
Brasil
Portugal
Figura 1: Gráfico dos valores das dimensões.
Fonte: Hofstede (2006).
As conclusões de Hofstede (2001) indicam que tanto Brasil como Portugal se caracterizam
por elevada distância do poder e expressiva aversão à incerteza, além de que estas
dimensões apresentam escores substancialmente elevados para ambos os países,
notadamente a aversão à incerteza. Cabe destacar que tanto Brasil como Portugal são países
de forte predominância da religião católica.
Mantendo a tendência, de maneira semelhante os dois países revelam possuir traços que
caracterizam as suas culturas como predominantemente coletivistas e femininas, embora
em relação a esta dimensão o Brasil se situe praticamente no limite de passar para a outra
categoria, ou seja, a predominância feminina existe, mas não é claramente percebida.
A elevada distância do poder no Brasil reflete a herança do sistema colonial escravocrata
aqui implantado durante o período de colonização. O paternalismo e o personalismo citados
como característicos de nossa cultura e oriundos da relação do Senhor de Engenho com
seus dependentes e subordinados são manifestações que igualmente retratam a elevada
distância do poder predominante no Brasil.
37
O excesso de regulamentações, burocracia e a implantação de controles formais
(Formalismo) claramente percebidos em nossa Constituição Federal, excessivamente
extensa e detalhista, são uma típica resposta à aversão à incerteza existente na sociedade
brasileira. Da mesma forma, o patrimonialismo aqui tão presente na sociedade através da
busca no Estado dos interesses privados, pode também ser interpretado como uma outra
maneira de manifestação da nossa elevada aversão à incerteza. É sabida a exagerada
preferência por cargos e empregos públicos mostrada pelo brasileiro que, desde cedo,
“sonha” com a estabilidade deste tipo de emprego, livre de qualquer natureza de incerteza e
risco. No segmento empresarial, a aversão à incerteza muitas vezes se manifesta na quase
obrigatória presença do Estado brasileiro como investidor e parceiro nos investimentos de
interesse privado.
Em suma, segundo Hofstede (2001), tanto Brasil como Portugal são classificados em
termos de dimensões culturais de maneira muito semelhante. Ambos apresentam elevada
distância do poder, alta aversão à incerteza, e prevalência dos traços coletivistas e
femininos, sendo as duas primeiras dimensões as mais marcantes. Assim, é possível
descrever, de acordo com Hofstede, as principais características individualmente associadas
a este perfil de dimensões encontradas em ambos os países, e a expectativa é que também
sejam encontradas nos indivíduos dessas sociedades. Abaixo, seguem relacionadas essas
características para cada dimensão separadamente.
Elevada Distância do Poder
• Predominância de autoritarismo em quem tem poder.
• Tendência para o conformismo e tolerância em quem não tem poder.
• Expressivo tradicionalismo.
• Relação de dependência entre quem detém menos poder para com quem detém
mais.
• Poder associado a privilégios e uso da força para quem o detém.
• Conflito latente entre os mais e os menos poderosos.
• Estrutura de decisão centralizada.
• Concentração da autoridade e do poder.
• Distribuição de poder vertical, fortemente hierarquizada.
• Comportamento autocrático e paternalista por parte de quem detém mais poder.
38
• Freqüentes abusos de autoridade.
• Baixa receptividade a mudanças e inovações.
• Mudanças e inovações são aceitas somente se forem apoiadas pelas camadas
superiores da hierarquia.
• Valorização do trabalho intelectual.
• Indivíduos atribuem ao Estado a responsabilidade direta pelo seu bem-estar e
proteção social.
• Elitismo de idéias sobre a sociedade.
• Sociedades habitualmente de comportamento estático.
Alta Aversão à Incerteza
• Indivíduos com elevados níveis de estresse e ansiedade.
• Busca por estabilidade.
• Acentuada tendência a formalização de estruturas e procedimentos.
• Forte sentimento de lealdade, entre os indivíduos mais próximos.
• Preferência por grandes organizações para trabalhar.
• Ambição não valorizada como uma qualidade.
• Baixa permissibilidade com a discordância, diversidade e dialética.
• Desestímulo à competitividade.
• Forte resistência a mudança e inovação.
• Incertezas e mudanças são ameaças e devem ser evitadas.
• Confiança restrita no âmbito dos mais próximos e dos familiares.
• Tendência a comportamentos conservadores.
• Baixa propensão a assumir riscos.
• Crença na incapacidade de influência sobre as forças externas.
• Interpretação de que o mundo é um lugar hostil, e o futuro preocupa.
• Apelo para o controle hierárquico.
• As sociedades se caracterizam por uma maior intervenção governamental.
Coletivismo
• Preferência por decisões em grupo
39
• O sentimento de responsabilidade e proteção do indivíduo vai além dos familiares
diretos.
• Predominância de orientação coletiva.
• A identidade do indivíduo é baseada no sistema social.
• Forte dependência do indivíduo de instituições e organizações.
• Crença de que o empregador é responsável pelo empregado.
• A ação do indivíduo é determinada pelo contexto a sua volta.
• Tendência dos indivíduos a se fecharem em grupos.
• Predomínio do sentimento de rivalidade entre grupos sobre a rivalidade entre
indivíduos separadamente.
• Fortes laços de família, e entre os membros de um grupo.
• Opinião do grupo predomina sobre a do indivíduo.
• Atuação do indivíduo é marcantemente orientada pelo interesse do grupo e não pelo
interesse próprio.
• Preferência por estabelecer um “clima” do tipo familiar no ambiente do trabalho.
• Apelo emocional para a realização de tarefas em grupo.
• Melhor desempenho e maior produtividade no trabalho em grupo.
• Sobreposição das relações pessoais sobre as relações profissionais nos negócios.
• Sociedades tradicionais e de evolução lenta.
Feminilidade
• Predominância do sentimento de cooperação.
• Maior aceitação da teoria de motivações Y.
• Qualidade de vida é o importante.
• A realização do indivíduo se dá em termos de busca de qualidade.
• Orientação para relacionamentos, boas relações e laços de amizades que são
valorizados.
• Trabalhar para viver.
• Mínima diferenciação entre os papéis dos gêneros. Homens e mulheres dividem
igualmente as mesmas atribuições e papéis.
• Simpatia e preocupação pelos mais fracos.
• Valorização do comportamento modesto do indivíduo.
40
• Valorização da família e do lar.
• Valorização da solidariedade.
• Valorização da intuição, sensibilidade e consenso.
• Resolução de conflitos pela via da negociação e do entendimento.
• Comportamento permissivo e corretivo.
• Maior preocupação e consciência com o ambiente.
• Elevada participação dos indivíduos em atividades e associações de voluntariado.
3.4.6. AS DIMENSÕES CULTURAIS E O EMPREENDEDORISMO
Em geral, as pesquisas indicam que o nível de empreendedorismo é favorecido por culturas
onde predominem baixa distância do poder, baixa aversão à incerteza, elevado
individualismo e elevada masculinidade (HAYTON; GEORGE; ZAHRA, 2002). Ainda
segundo estes autores, elevada aversão à incerteza e elevada distância do poder inibem a
inovação, enquanto alto individualismo e masculinidade a estimulam, e ela é ressaltada
como tendo uma grande importância para o empreendedorismo.
As culturas que valorizam e promovem a necessidade de auto-realização, as conquistas
materiais, e a autonomia, típicas de sociedades culturalmente individualistas são as que
habitualmente apresentam as maiores taxas de formação de empresas. Estes valores
culturais estão associados a altas taxas de abertura de empresas porque apontam para a
valorização da ética do trabalho, e a postura de assumir riscos (HAYTON; GEORGE;
ZAHRA, 2002).
Para Hofstede (1994), a elevada distância do poder favorece a centralização e inibe o
empreendedorismo, enquanto a baixa distância do poder está associada à descentralização,
estimulando assim um maior nível de empreendedorismo. Da mesma forma, a elevada
aversão à incerteza favorece o surgimento de papéis e princípios restritivos que afetam
negativamente a iniciativa empreendedora. Em sentido oposto, sociedades que apresentam
baixa aversão à incerteza possuem maior capacidade de perceber e captar oportunidades, o
que também é de importância crucial para a elevação das taxas de empreendedorismo.
41
A combinação de elevada distância do poder com uma alta taxa de aversão à incerteza é
apontada como um forte potencializador de instabilidade e, dessa forma, representa um
significativo inibidor da atividade empreendedora (Hofstede, 1995).
Ainda segundo Hofstede (1994), enquanto o coletivismo favorece o surgimento de
empresas familiares, o individualismo está associado à criação do empreendimento
individual. Características culturais do tipo masculino favorecem a competitividade e a luta
pela sobrevivência, e, portanto, estão positivamente associadas a um maior nível de
empreendedorismo do que em culturas predominantemente femininas.
Em países com alta distância do poder, a atividade empreendedora pode ser prejudicada
pela visão das pessoas de classe mais baixa de que ser empreender é coisa para a elite
(MITCHEL et al, 2000 apud DOOD e PATRA, 2002). O excesso de formalismo e
regulamentação que caracterizam as sociedades com elevada aversão à incerteza
estabelecem pesadas regras de controle do comportamento social, o que está inversamente
associado à propensão para empreender.
Da mesma forma, em sociedades coletivistas, a propensão para empreender é menor em
função da reduzida crença das pessoas na capacidade de domínio e manipulação do
ambiente, característico destas sociedades (DOOD E PATRA, 2002).
3.5) SOBRE AS CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS DOS EMPREENDEDORES
A noção de espírito empreendedor está relacionada a um conjunto de características
encontradas no indivíduo que habitualmente estão associadas a uma maior probabilidade de
sucesso na ação empreendedora. O conceito conhecido por Orientação Empreendedora
(OE) se refere a uma série de dimensões que apontam nesse sentido, ou seja, são dimensões
características que estão presentes no desempenho empreendedor de sucesso.
A OE é constituída por cinco dimensões: a autonomia, o comportamento inovador, a
disposição para assumir riscos, o comportamento proativo e a competitividade agressiva.
Essas dimensões assumem usualmente um papel chave e característico na distinção do
42
processo empreendedor. Pode-se dizer que a OE se relaciona à idéia de como atuar, diz
respeito a processos, práticas e tomadas de decisões de como entrar em novos negócios
(LUMPKIM e DESS, 1996).
Por autonomia entende-se um comportamento de ação independente do indivíduo. Com
relação ao tema empreendedorismo, autonomia se caracteriza por um comportamento
centralizador do empreendedor e pela prática de uma forte liderança por parte deste,
refletindo assim em um comportamento autocrático (SHRIVASTAVA e GRANT, 1985
apud LUMPKIM e DESS, 1996). Todavia, como salientam de forma apropriada Lumpkim
e Dess (1996), a liberdade de ação de forma independente é uma dimensão de importância
fundamental dentro da OE.
Por comportamento inovador deve-se compreender a receptividade o engajamento e o
suporte em relação a novas idéias que visem o surgimento de novos produtos e serviços,
bem como a criação de novas tecnologias de processos. Representa igualmente um
importante aspecto da OE por se tratar de uma via para a captura de novas oportunidades
de negócios para o empreendedor (LUMPKIM e DESS, 1996).
A exposição ao risco é, nos dizeres de Cantillon (1734) apud Shrivastava e Grant (1985), a
principal diferença entre empreendedores e empregados, além de ser, possivelmente, a
principal qualidade e característica para descrever o empreendedorismo. O risco assumido
pode ser entendido como o nível até o qual o empreendedor compromete recursos.
Habitualmente, as empresas que investigam e procuram oportunidades de obter retornos
acima da média incorrem em elevado endividamento e comprometimento de recursos.
O comportamento proativo está associado à iniciativa do indivíduo, e é uma importante
característica do empreendedor. Para explorar as oportunidades existentes, a visão proativa
representa, na maioria das vezes, a possibilidade de ganhos extraordinários para o
empreendedor, dado o sentido de pioneirismo na ação. Em suma, esta característica pode
ser entendida como a antecipação do indivíduo em relação às necessidades e problemas
futuros (LUMPKIM e DESS, 1996).
A quinta e última dimensão característica dos empreendedores é o comportamento que se
traduz por competitividade agressiva e está relacionado à disputa com os rivais por
posições e parcelas de mercado e é de crucial importância para a sobrevivência e o sucesso
43
nas novas entradas de mercado. Na maioria das vezes, a competitividade agressiva se
reflete na opção por métodos não tradicionais de competição e disputa (LUMPKIM e
DESS, 1996).
As características de comportamento proativo e de competitividade agressiva, embora
pareçam conceitos similares, são idéias distintas. Enquanto proatividade está relacionada à
forma como as empresas exploram oportunidades e entram em novos mercados, a
competitividade agressiva está ligada à idéia de como a empresa se relaciona com as
demais empresas rivais no mercado (LUMPKIM e DESS, 1996).
Em suma, a primeira diz respeito à busca de novas oportunidades e está mais relacionada a
como encontrar a demanda, e a segunda diz respeito à atuação dentro dos mercados onde já
atua, ou seja, como competir pela demanda já existente (PORTER, 1985, apud LUMPKIM
e DESS, 1996).
Em linhas gerais, estas dimensões são as características centrais do processo de OE, sendo
que o que varia é a combinação entre si dessas dimensões, que é determinada de acordo
com o tipo de oportunidade e do empreendedor em questão.
Outro importante enfoque relativo às características dos empreendedores de sucesso é o
estudo de Baron e Markman (2000), que analisa os conceitos denominados por Capital
Social e Habilidades Sociais. A noção de Capital Social do Empreendedor define o
potencial de recursos individuais de que dispõe este em termos de conhecimentos de outras
pessoas. Trata-se na prática de uma Network social, ou seja, é o conhecimento social
acumulado. As Habilidades Sociais estão relacionadas com a idéia de uso adequado de
técnicas e procedimentos por parte do empreendedor na interação e relacionamento com os
outros, e é o fator que influencia esse nível de conhecimento.
Assim, por exemplo, os empreendedores que possuem elevado capital social com base na
construção de amplas networks costumam ter mais facilidade de acesso a fundos
provenientes de capitalistas de risco do que os empreendedores que não desenvolveram
essa característica.
Quatro tipos de habilidades sociais são identificados e associados ao empreendedor de
sucesso, a saber, a percepção social, o gerenciamento de impressões, a capacidade de
persuasão e influência, e a adaptabilidade social (BARON e MARKMAN, 2000).
44
A Percepção Social está ligada à capacidade de discernir e perceber o temperamento, as
emoções, as motivações e as características pessoais dos outros. A habilidade no campo da
percepção social é de importância crucial para o empreendedor, como por exemplo, em um
processo de negociação. O gerenciamento de impressões envolve a idéia de proficiência e
capacidade de utilização de técnicas por parte do indivíduo no sentido de induzir a reação e
a formação de uma imagem positiva de si nos outros (BARON e MARKMAN, 2000).
A percepção social permite ao indivíduo detentor desta habilidade “calibrar” de maneira
adequada as suas ações, levando em consideração o tipo de pessoa que está do outro lado.
Ao criar uma imagem favorável de si nos outros, o gerenciamento de impressões amplia a
receptividade e a confiança, derrubando barreiras e obstáculos que inibem, por exemplo, a
evolução de um processo de negociação.
A persuasão e a influência se referem às habilidades e a capacidade do indivíduo em
influenciar o comportamento dos outros no sentido desejado. Esta é uma habilidade
importante porque, na maioria das vezes, as outras pessoas não compartilham das mesmas
visões que a do indivíduo e, portanto, o comportamento e as reações dos outros costumam
ser no sentido não desejado.
Algumas pesquisas têm revelado que a capacidade de influenciar atitudes, crenças e
comportamentos dos outros tem sido um importante fator de sucesso em uma variedade de
ocupações, entre elas o empreendedorismo (BARON e MARKMAN, 2000).
A adaptabilidade social diz respeito à flexibilidade do indivíduo em se ajustar a uma
diversidade de situações sociais e a se sentir confortável dentro de diferentes contextos
sociais. Indivíduos que têm esta habilidade desenvolvida normalmente apresentam algumas
características importantes tais como, conversar com diferentes pessoas sobre os assuntos
mais distintos e introduzir-se em ambientes sociais estranhos com relativa facilidade.
Indivíduos com esta desenvoltura de comportamento são bem definidos como “camaleões”
sociais (BARON e MARKMAN, 2000).
Em suma, as habilidades sociais representam um importante papel no empreendedorismo,
na medida em que facilitam as relações com as pessoas de dentro e de fora da empresa.
Estudos revelam que também ajudam os empreendedores na tarefa de estabelecerem
45
alianças e relações comerciais. Representam um importante componente para o sucesso do
empreendedor e de suas empresas na medida em que fazem fluir a interação e a
comunicação com os outros no ambiente dos negócios.
4. METODOLOGIA
4.1. TIPO DE PESQUISA
A maneira como esta pesquisa abordou o fenômeno em questão para, desta forma, alcançar
os objetivos principal e intermediários permite classificar este estudo como uma pesquisa
descritiva. Os estudos descritivos são aqueles que se destacam por descrever fenômenos e
características de uma população-alvo (COOPER e SCHINDLER, 2003).
Como pode ser da natureza de alguns estudos descritivos, neste não houve formulação de
hipótese. Ainda que no seu desenvolvimento tenham surgido indícios de possíveis relações
entre as variáveis, estas foram apenas objeto de comentários e observações, sem contudo
haver um aprofundamento na análise dessas relações. Desta forma, não existe por parte
desta pesquisa o comprometimento em explicar o fenômeno, mas somente em descrevê-lo
quanto às suas características.
Portanto, esta Dissertação tem o formato de estudo descritivo que se apóia principalmente
na pesquisa de campo, feita por meio de uma abordagem quantitativa, que utilizou para o
levantamento das informações, a aplicação de um questionário estruturado, auto-
administrado, e constituído basicamente de perguntas fechadas.
4.2. MÉTODO
Visando o aperfeiçoamento na confecção do instrumento final de pesquisa (questionário
anexo), foram previamente realizadas algumas entrevistas com administradores de
46
incubadoras, bem como, com empreendedores situados dentro da amostra relacionada no
Brasil. Estas entrevistas tiveram como objetivo revelar aspectos não mencionados na
revisão de literatura, mas que, no entanto, deveriam ser incorporados no questionário
devido à sua importância.
As entrevistas tiveram um caráter exploratório e foram abertas para justamente buscar
captar informações ainda não consideradas. Para Cooper e Schindler (2003), a entrevista
pessoal é uma comunicação face a face que tem como principal vantagem o
aprofundamento e o detalhamento das informações obtidas.
Foram realizadas cinco entrevistas, sendo três com gestores responsáveis por incubadoras
ou centros ligados ao empreendedorismo e duas com empreendedores situados dentro de
incubadoras. A relação dos entrevistados é descrita a seguir:
• José Alberto S. Aranha - Diretor do Instituto Gênesis PUC – Rio.
• Maurício Guedes – Coordenador da Incubadora de Empresas COPPE – UFRJ.
• Marcelo Salim – Coordenador do Centro de Empreendedorismo do IBMEC.
• Edgard Nogueira – Sócio fundador do site de busca Aonde.com.
• Carlos Henrique de Assis – Sócio fundador da AcquaInvest (gestora de fundos).
A etapa seguinte e principal, a da pesquisa quantitativa de campo, se caracterizou pela
aplicação do questionário aos empreendedores da amostra no Brasil e em Portugal.
O questionário foi encaminhado ao respondente acompanhado de uma carta de
apresentação contendo as instituições envolvidas na pesquisa, além da explicitação dos
objetivos desta. A carta de apresentação destacou também a importância da participação
dos respondentes para a obtenção de um elevado nível de qualidade nos resultados. “O
respondente deve entender o seu papel na entrevista como fornecedor de informações
acuradas [...] deve ter motivação adequada para cooperar” (COOPER e SCHINDLER,
2003, p.252).
A aplicação do questionário buscou mensurar atributos normalmente associados a
características referentes aos indivíduos da amostra para, desta forma, inferir os valores
predominantes existentes nos grupos de empreendedores estudados nos dois países.
47
A inferência de valores permite a comparação de indivíduos, da mesma forma que, ao
compararmos culturas, o que é possível por meio do modelo de dimensões culturais,
comparamos sociedades. A noção de Cultura está relacionada a um grupo humano, assim
como, a idéia de personalidade está relacionada ao indivíduo (HOFSTEDE, 2001).
Muitos estudos comparando culturas usam dados coletados por meio de questionários
aplicados a indivíduos pertencentes a essas culturas. Na prática, traços culturais podem ser
medidos por meio de testes de personalidade (HOFSTEDE, 2001).
A idéia básica deste estudo foi definir atributos individuais de características a serem
mensurados no questionário a partir do estudo comparativo das dimensões de Hofstede
para Brasil e Portugal, e das características individuais que normalmente estão associadas
ao chamado espírito empreendedor. Portanto, esses atributos foram definidos tendo como
referência as dimensões abordadas nos tópicos 3.4.5 (As Dimensões Culturais para Brasil e
Portugal) e 3.5 (Sobre as Características Individuais dos Empreendedores) deste projeto.
No caso específico do atributo que mensura a dimensão “orientação no longo prazo”,
incluído na versão do questionário em anexo, foi dito inicialmente que o mesmo não seria
investigado neste estudo, uma vez que Portugal não havia sido incluído na amostra de
países que participaram do segundo estudo de Hofstede no qual foi mensurada esta
dimensão.
Entretanto, como em algumas das entrevistas exploratórias realizadas esta dimensão foi
freqüentemente citada pelos entrevistados como uma importante característica dos
empreendedores, foi feita a opção pela sua inclusão no questionário.
A mensuração desses atributos foi obtida por meio do resultado dos dados trabalhados após
a aplicação do questionário e permitiram a montagem de um quadro descritivo comparando
as características de empreendedores do Brasil e de Portugal, sendo ainda possível verificar
se estas características estavam ou não de acordo com o perfil cultural dos dois países.
4.3. PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS
4.3.1 SELEÇÃO DA AMOSTRA
48
Segundo a ANPROTEC (2006), as incubadoras têm a função de serem um instrumento de
apoio e encorajamento ao surgimento de novos empreendimentos. É um ambiente
planejado de forma ideal para receber pequenas e médias empresas no início de suas
formações, gerando para o empreendedor condições substancialmente favoráveis para o
aproveitamento de suas potencialidades e para o desenvolvimento de seu espírito
empreendedor na sua totalidade.
Uma incubadora cumpre o papel de ser uma “fábrica de empresas” e representa para o
empreendedor um importante mecanismo de suporte na transformação de projeto pessoais
em empreendimentos. As incubadoras são grandes estimuladoras de novos negócios e
apoiadoras do desenvolvimento das empresas emergentes (DOLABELA, 1999).
O público alvo desta pesquisa que compõe a amostra foi constituído por empreendedores
situados dentro de incubadoras em ambos os países, como já citado anteriormente. Desta
forma, a amostra foi não probabilística e a seleção se deu com base no critério de
conveniência.
A seleção da amostra, via empreendedores dentro de incubadoras, buscou atender a
condição de serem estudados unicamente empreendedores que tenham iniciado o negócio e
que ainda estejam à frente da sua condução. A opção por esse procedimento pretendeu
eliminar a possibilidade de “contaminação” dos dados da amostra com informações
levantadas junto a indivíduos que não estavam em concordância com a definição de
empreendedores adotada por este estudo.
Esta pesquisa utilizou também como fontes de dados secundários informações existentes
em bancos de dados de instituições e órgãos ligados à atividade empreendedora no Brasil e
em Portugal. Esses dados foram utilizados apenas como referenciais e não foram objeto de
tratamento estatístico, nem de algum outro tipo de tratamento e análise considerados na
metodologia desta pesquisa.
A análise dos dados secundários não visa responder o problema de pesquisa, o que é função
dos dados primários. Entretanto, a análise dos dados secundários é fundamental para a
definição do problema. Não se deve iniciar a coleta dos dados primários da pesquisa, sem
antes realizar uma detalhada análise dos dados secundários disponíveis relacionados ao
tema (MALHOTRA, 2001).
49
4.3.2. ELABORAÇÃO DO QUESTIONÁRIO
Para a elaboração do instrumento de coleta dados em anexo, a opção foi pela adaptação do
questionário utilizado por Hofstede (2001) em seu estudo, já que este é a principal base
teórica deste estudo, complementado com questões adicionais relevantes para o tema,
particularmente as que normalmente são relacionadas às características individuais de
empreendedores.
Embora a adaptação tenha a vantagem de partir de um questionário já amplamente
validado, ainda assim a escolha foi por testar a versão final do questionário. Os testes foram
realizados por meio da disponibilidade do questionário aos entrevistados tanto em papel
impresso como em meio eletrônico (e-mail) e por novas entrevistas, utilizadas agora como
objeto de avaliação do instrumento por parte dos entrevistados.
Nos testes aplicados, adotou-se o procedimento de disponibilizar o questionário aos
entrevistados, ou seja, inicialmente foi enviado o instrumento para o respondente
solicitando que ele respondesse e, posteriormente, por ocasião da coleta do instrumento já
preenchido, foi solicitado a este que fizesse os comentários, críticas e sugestões que
achasse pertinentes. A adoção deste procedimento tinha como objetivo a avaliação do
questionário auto-administrado.
Dez pessoas participaram do teste, sendo todas ligadas a área acadêmica e relacionadas ao
tema empreendedorismo, ainda que não situadas em incubadoras, mas bastante próximas
em termos de representatividade e de semelhança com o público alvo desta pesquisa.
Os testes não revelaram a necessidade de nenhuma alteração significativa e, praticamente
desde o começo, o questionário manteve a sua forma e conteúdo inicial. Com relação à
avaliação do fato de ser o questionário auto-administrado, o resultado foi igualmente
bastante positivo, pois os respondentes não apresentaram nenhuma dúvida, nem dificuldade
em interpretar e responder o instrumento.
Outro aspecto que foi solicitado dos respondentes durante o teste foi a avaliação quanto ao
tempo gasto para responder o questionário, tendo sido o resultado de aproximadamente 10
minutos, o que também foi considerado bastante positivo. Para Cooper e Schindler (2003),
50
a regra geral é que o respondente não deve levar mais do que esse tempo para responder a
um questionário.
Esses autores alertam ainda para a rejeição e não cooperação por parte dos respondentes
quando estes se encontram diante de um questionário longo ou complexo. Esta foi uma
preocupação presente em todo o processo de elaboração do questionário, procurando-se
simplificar a linguagem utilizada ao máximo, perseguindo-se o objetivo de tornar o
instrumento simples e de fácil entendimento na sua totalidade.
Durante a elaboração do questionário, optou-se pela escala de análise de itens e, nesse caso
especificamente, pela forma denominada por escala do tipo Likert, porém ajustada para
cinco níveis de concordância para escolha. As escalas Likert são populares, de fácil
construção e fornecem uma maior quantidade de dados quando comparadas a outras
escalas. São escalas que permitem mensurar o quanto a pessoa concorda ou discorda com
um item que está sendo avaliado (COOPER e SCHINDLER, 2003).
Para este estudo, foi adotado o procedimento de análise de perfil, que é constituído pela
análise de item-por-item da Escala Likert. A análise de perfil permitiu a comparação de
características entre os dois países em termos de classificações médias dadas pelos
entrevistados para cada item.
Para as afirmações do questionário com conteúdo negativo, foi procedida a inversão da
escala por ocasião do tratamento dos dados, como habitualmente é feito em escalas deste
tipo. Na prática, uma informação ‘concordo totalmente’, em uma afirmação positiva, tem o
mesmo sentido de uma informação ‘discordo totalmente’, em uma afirmação negativa, e,
portanto, ambas receberam o escore 5 na tabulação dos dados, uniformizando desta forma o
sentido da informação.
A versão do questionário de pesquisa anexa, foi constituída de 33 itens, baseados na Escala
Likert (1 a 33), 6 itens de escala nominal (34, 36, 37, 38, 39 e 40), 1 item de escala ordinal
(35), complementados por dados de qualificação a serem fornecidos pelos próprios
respondentes. Os itens do questionário e os atributos que esses buscam medir estão
relacionados na tabela 1.
51
TABELA 1
ITEM DIMENSÃO ATRIBUTO FONTE 1 Orient. empreendedora Autonomia Lumpkin & Dess
17 Orient. empreendedora Proatividade Lumpkin & Dess 23 Orient. empreendedora Proatividade Lumpkin & Dess 26 Orient. empreendedora Proatividade 6. Lumpkin & Dess 29 Orient. empreendedora Proatividade Lumpkin & Dess 27 Orient. empreendedora Competitividade agressiva Lumpkin & Dess 30 Orient. empreendedora Competitividade agressiva Lumpkin & Dess 32 Orient. empreendedora Competitividade agressiva Lumpkin & Dess 25 Orient. empreendedora Propensão a assumir risco Knight 2 Característica cultural Grau de feminilidade Hofstede 6 Característica cultural Grau de feminilidade Hofstede 7 Característica cultural Grau de feminilidade Hofstede 9 Característica cultural Grau de feminilidade Hofstede
14 Característica cultural Grau de feminilidade 1 Hofstede
21 Característica cultural Grau de masculinidade 5 Hofstede 3 Característica cultural Grau de coletivismo Hofstede
11 Característica cultural Grau de coletivismo Hofstede 22 Característica cultural Grau de coletivismo Hofstede 31 Característica cultural Grau de coletivismo Hofstede 4 Característica cultural Grau de individualismo Hofstede 5 Característica cultural Aversão à incerteza Hofstede
13 Característica cultural Aversão à incerteza Hofstede 10 Característica cultural Distancia do poder Hofstede 12 Característica cultural Distancia do poder Hofstede
15 Característica cultural Distancia do poder 2 Hofstede
16 Característica cultural Distancia do poder 3 Hofstede 18 Característica cultural Distancia do poder Hofstede
20 Característica cultural Distancia do poder 4 Hofstede 24 Característica cultural Orientação no longo-prazo Hofstede 28 Característica cultural Orientação no longo-prazo Hofstede 33 Característica cultural Orientação no longo-prazo Hofstede 8 Característica individual Valorização da Network
19 Característica individual Valorização da Network 34 Objetivo intermediário Principal dificuldade 35 Orient. empreendedora Importância de cada atributo 36 Orient. empreendedora Relação risco / retorno 37 Objetivo intermediário Experiência anterior 38 Complementação item 37 Experiência anterior 39 Objetivo intermediário Exemplo na família 40 Perfil do respondente Sexo
Demais itens Perfil do respondente
Qualificação / Dados biográficos
1) responsabilidade social; 2) grau de centralização; 3) grau de centralização; 4) grau de paternalismo; 5) Teoria de motivações X 6) Grau de
valorização da inovação.
Tabela 1: Relação item do questionário por atributo mensurado.
52
4.3.3 COLETA DE DADOS
A coleta de dados foi feita através da aplicação do questionário aos respondentes dentro das
amostras nos dois países, o que foi operacionalizado por meio da distribuição do formulário
do questionário em papel impresso, ou ainda, por meio eletrônico, ou seja, via e-mail.
Quando disponibilizado em meio eletrônico, o respondente dispunha de um e-mail de
retorno para devolução do questionário respondido.
Na prática, para as incubadoras de maior porte em termos de número de empresas
incubadas, foi realizada uma reunião prévia com os gestores e disponibilizado o
questionário em meio impresso, sendo a aplicação junto às empresas incubadas coordenada
pelo gestor, ou por algum funcionário da incubadora por ele indicado. Foi então acertado
um prazo de retorno inicial para a recolha dos questionários entre o pesquisador e o gestor
de 15 dias, em média. Entretanto, na maioria das vezes, esse prazo foi estendido visando
garantir um maior percentual de retorno dos questionários.
Para as incubadoras de menor porte ou geograficamente mais distantes, fato este que
dificultava a realização de uma visita, o processo adotado foi o de disponibilizar o
instrumento em via eletrônica, porém sempre precedido de um contato prévio com o gestor
ou responsável pela incubadora. Nesse processo, o questionário de pesquisa assumiu ainda
mais o seu caráter auto-administrado.
A aplicação do questionário teve início primeiramente em Portugal e foi realizada no
período compreendido entre os meses de junho e setembro de 2006. As incubadoras de
Portugal que participaram da pesquisa estão relacionadas a seguir:
• Lispolis – Pólo Tecnológico de Lisboa.
• Madam Park – Parque de Ciência de Almada (Setúbal).
• Mutela Tecpark – Parque Tecnológico de Mutela (Almada – Setúbal).
• Parkurbis – Parque de Ciência e Tecnologia de Covilhã
• PCT – Parque de Ciência e Tecnologia do Porto (agrega o Avepark e o
Portuspark).
• TagusPark – Parque de Ciência e Tecnologia (Oeiras - Lisboa).
53
• Tagus Valley – Parque de Ciência e Tecnologia do Vale do Tejo (Abrantes).
• Tecmaia – Parque de Ciência e Tecnologia da Maia (Porto).
• Madeira Tecnopolo – Parque de Ciência e Tecnologia da Madeira (Funchal).
Fonte: Tecparques – Associação Portuguesa de Parques de Ciência e Tecnologia.
ANJE (Portugal) Associação Nacional de Jovens empresários.
Foi recolhido um total de 71 questionários respondidos em Portugal, sendo que 34 pela via
impressa e os 37restantes pela via eletrônica.
A aplicação do questionário no Brasil foi realizada no período de julho a setembro de 2006,
e as incubadoras do Brasil que participaram da pesquisa estão relacionadas a seguir:
• Bio-Rio - Incubadora e Pólo Tecnológico da Fundação Bio-Rio.
• Cefet / RJ – IETI Incubadora de Empresas de Teleinformática e Empresas
Associadas.
• Coppe UFRJ – Incubadora da Coppe UFRJ.
• Gênesis PUC Rio – Incubadoras Tecnológica, Cultural e Social Gênesis.
• Gênesis UFJF – Incubadora Tecnológica - Juiz de Fora
• Inmetro – Incubadora de Empresas do Inmetro.
• INT – Incubadora do Instituto Nacional de Tecnologia.
• Iniciativa Jovem – Programa de emprendedorismo e incubação de empresas,
adaptado e implantado do LiveWire, programa patrocinado pela Shell em todo o
mundo.
• Senac Rio – Incubadora de Empresas de Base Tecnológica do Senac.
• Serra Soft – Incubadora de Base Tecnológica Núcleo SerraSoft.
• UCP – Incubadora de Empresas da Universidade Católica de Petrópolis.
• UERJ – Incubadora de Empresas de Base Tecnológica ND2TEC.
• UERJ – Incubadora de Empresas Phoenix.
• UFF – IEBTUFF Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da UFF.
• UVA – Incubadora de Empresas da Universidade Veiga de Almeida.
Fonte: Redetec - Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro / Reinc – Rede de Incubadoras,
Pólos e Parques Tecnológicos do Rio de Janeiro.
54
No Brasil, foi recolhido um total de 85 questionários respondidos, sendo que 44 pela via
impressa e os 41restantes pela via eletrônica. A opção pela disponibilidade do questionário
em dois meios, impresso e eletrônico, resultou em diferentes taxas de retorno do
instrumento respondido nos dois países. No Brasil, do total de questionários respondidos,
cerca de 52% foram obtidos pelo meio impresso e os 48% restantes pelo meio eletrônico.
Já em Portugal, o resultado foi justamente o inverso, sendo que do total respondido
aproximadamente 48% foram recolhidos pelo meio impresso, enquanto os 52% restantes
pelo meio eletrônico. Entretanto, ressalvadas pequenas diferenças, na prática a constatação
foi que, igualmente para os dois países, ocorreu uma distribuição “meio a meio” nos canais
utilizados para o retorno dos questionário respondidos (impresso e eletrônico).
Embora não tenha sido possível determinar com certeza o número de potenciais
respondentes do questionário alcançados nesta pesquisa, em termos de empresas incubadas
que foram atingidas em cada um dos países, é possível se chegar a um número provável.
Na prática, todas as empresas incubadas nas quais o gestor da incubadora foi contatado
pelo pesquisador para participar da pesquisa tiveram acesso ao questionário, seja na forma
impressa ou na forma eletrônica.
Dessa forma, considerando o somatório do número de empresas que cada incubadora
contatada e convidada a participar tinha incubadas, no momento da coleta de dados, é
possível estimar o número total de empresas para as quais foi disponibilizado o
questionário em ambos os países.
Assim, para o Brasil, o número total de empresas em potencial que tiveram acesso ao
questionário foi de aproximadamente 230, o que, confrontado com o número total de
questionários respondidos e devolvidos de 85, correspondeu a uma taxa de retorno de 37%.
Para Portugal, o número de empresas em potencial para as quais foram disponibilizadas o
questionário foi de aproximadamente 280, enquanto o número total de questionários
respondidos e retornados foi de 71, o que representou uma taxa de retorno de 25%.
Em ambos os países, durante a coleta de dados, sempre se buscou como estratégia
estabelecer um forte vínculo junto aos gestores das incubadoras, sendo praticamente
inexistente o acesso feito diretamente às empresas incubadas. Outra estratégia que parece
ter sido fundamental para o estímulo do respondente em participar, resultando em um
55
aumento do número de questionários retornados, foi a opção dada a ele de ter acesso aos
resultados finais da pesquisa.
4.4. TRATAMENTO DOS DADOS
A aplicação do questionário, juntamente com a tabulação dos dados e o seu tratamento
permitiram a mensuração dos atributos pesquisados. A tabulação dos dados foi feita por
meio do lançamento das respostas individuais dos questionários em planilha do Excel. A
opção por este tipo de planilha foi porque esta facilmente se adapta a maioria dos softwares
estatísticos existentes para o tratamento de dados, facilitando assim o processo de
importação e exportação desses dados.
As perguntas que comporam o questionário foram constituídas basicamente de três tipos
de escalas, a saber, nominal, ordinal e intervalar. Para as escalas do tipo nominal, o
tratamento estatístico adequado é limitado e se restringi ao cálculo de percentagens e da
moda como medida de posição. Quanto aos itens cuja mensuração se baseia em escalas
ordinais, eles aceitam o cálculo de percentagens e, como medida de tendência central mais
adequada, o cálculo da mediana. Por último, para os itens mensurados por meio de escalas
intervalares, é possível dar o mesmo tratamento atribuído às escalas nominais e ordinais,
acrescentando o cálculo da média como medida de tendência central e do desvio padrão
como medida de dispersão (COOPER e SCHINDLER, 2003).
Como a quase totalidade dos atributos foram mensurados por mais de um item no
questionário utilizando a Escala Likert, foi possível fazer o cálculo do somatório dos itens
relacionados a cada atributo, chegando-se, dessa forma, a um escore total por atributo, que
pôde então igualmente receber o mesmo tipo de tratamento estatístico destinado às escalas
intervalares. “As escalas de medida utilizadas exercem forte influência sobre a escolha de
técnicas estatísticas” (MALHOTRA, 2001, p. 387).
Entretanto, pelas características da amostra selecionada para este estudo, empreendedores
dentro de incubadoras, não foi possível obter um tamanho de amostra expressivo em ambos
os países, e dessa forma, o tratamento estatístico foi constituído basicamente pela estatística
56
descritiva, não se justificando, assim, a realização de outro tipo de tratamento estatístico
complementar.
4.5. LIMITAÇÕES DO MÉTODO
O tipo de pesquisa adotado, estudo descritivo com base em amostras selecionadas pelo
critério de conveniência, portanto não probabilística, representa o principal fator limitativo
da metodologia desta pesquisa, ou seja, a impossibilidade de generalizações para o restante
da população dos dados e conclusões inferidas.
Outra importante limitação a ser considerada é a questão da contextualização quando se
trata de questionários fechados, sobretudo em um estudo como este que aplicou um mesmo
questionário a respondentes de amostras situadas em países distintos.
Ademais, como é característico de amostras não probabilísticas e não expressivas em
termos de tamanho, não se buscou estudar o fenômeno pela ótica da representatividade para
posterior extrapolação dos dados. O que se buscou foi descrevê-lo com maior abrangência,
o que levou à opção pela elaboração de um questionário mais detalhado. Todavia, o nível
de importância e complexidade que o tema desta pesquisa aborda enseja um maior
aprofundamento futuro, por meio da realização de estudos complementares com base em
entrevistas abertas que darão maior profundidade ao fenômeno estudado.
A intenção central deste estudo foi traçar um quadro comparativo das características dos
empreendedores pesquisados no Brasil e em Portugal, como é típico dos estudos descritivos
que têm como principal propósito descrever o fenômeno estudado. A busca de explicações
para eventuais divergências entre os perfis, bem como, de possíveis relações causais, ainda
que abordadas, não foram, como já dito, objetivo desta pesquisa. Aprofundamentos no
sentido de investigar explicações e relações de causa e efeito são também sugestões para
estudos complementares.
57
5. ANÁLISE DOS RESULTADOS
5.1. DAS AMOSTRAS
A aplicação do questionário nos dois países resultou em perfis de amostras distintos para os
respondentes, conforme descritos a seguir. Iniciada a análise, os dados revelaram que a
média de idade dos empreendedores pesquisados no Brasil e em Portugal foi de
respectivamente 32 e 37 anos de idade, mostrando que o empreendedorismo nas
incubadoras de Portugal é uma iniciativa dominada por pessoas de uma faixa etária mais
elevada do que no Brasil, na média 5 anos a mais.
Constata-se ainda que cerca de 75 % dos empreendedores nas incubadoras do Brasil tinham
até 38 anos de idade, enquanto nas incubadoras de Portugal, para este mesmo limite de
idade, verificou-se um percentual menor, de aproximadamente 64 % dos empreendedores
pesquisados.
Outro importante e curioso aspecto é a existência, tanto no Brasil como em Portugal, de
empreendedores com mais de 53 anos de idade, sendo que no Brasil a parcela que está
acima dessa faixa corresponde a cerca de apenas 1% do total. Já em Portugal, encontrou-se
um percentual um pouco mais elevado, ou seja, cerca de 3 %. Embora os percentuais
constatados sejam baixos, eles indicam que o empreendedorismo não está restrito
unicamente às faixas de idade mais jovens, especialmente em Portugal.
O prosseguimento da análise confirma que no Brasil o empreendedorismo junto às
incubadoras ocorre mais cedo em termos de idade do que em Portugal. O intervalo de idade
que corresponde à faixa que vai de 18 a 23 anos de idade, por exemplo, inclui 13% dos
empreendedores pesquisados no Brasil, enquanto para a mesma faixa, Portugal não
apresenta nenhuma ocorrência. A distribuição das idades dos empreendedores pesquisados
para cada um dos países é apresentada na tabela 2.
58
TABELA 2
% dos Empreendedores por Faixa de Idade (Brasil e Portugal) Brasil Portugal
Faixa de Idade 1 %
freqüência %
cumulativo %
freqüência %
cumulativo 18 0 0 0 0 23 13 13 0 0 28 30 43 10 10 33 22 65 26 36 38 10 75 28 64 43 13 88 18 82 48 8 96 8 90 53 3 99 7 97
Mais 1 100 3 100 1) valores das faixas de idade correspondem aos limites superiores das classes (fechados).
Outros dados relevantes para esta comparação dizem respeito ao nível de escolaridade dos
empreendedores estudados. Cerca de 8 % dos empreendedores em Portugal e 13 % dos
brasileiros possuem apenas o Segundo Grau, e não houve nenhum exemplo de
empreendedor com apenas o Primeiro Grau nos dois países. O maior percentual de
empreendedores, tanto no Brasil como em Portugal, informaram ter como Grau de
Escolaridade a Graduação, respectivamente 59 % em Portugal e 46 % no Brasil.
Quando analisado o Grau de Escolaridade pela Mediana, Brasil e Portugal apresentam o
mesmo valor, 3, indicando que os dois países têm um comportamento bastante similar com
relação a este item pesquisado. Outro aspecto de relevante importância, e até certa forma
esperado, se refere à elevada ocorrência de empreendedores com níveis de escolaridade
mais elevados. No Brasil, 41 % dos empreendedores pesquisados informaram ter pelo
menos Pós-Graduação, Mestrado ou Doutorado, enquanto em Portugal, a mesma
informação foi dada por 33 % dos empreendedores. Aqui, cabe ainda salientar que, no
Brasil, destaca-se o nível de Mestrado com 19 % das respostas, enquanto em Portugal
merece destaque o nível de Doutorado com 10 % das respostas.
Portanto, a análise dos dados revelou que o ambiente do empreendedorismo é caracterizado
por um nível considerável de escolaridade por parte dos empreendedores nos dois países. A
distribuição do nível de escolaridade dos empreendedores pesquisados para cada um dos
países é apresentada na tabela 3.
59
TABELA 3
% dos Empreendedores por Nível de Escolaridade (Bra sil e Portugal) Brasil Portugal
Nível escolaridade 1
% freqüência
% cumulativo
% freqüência
% cumulativo
0 0 0 0 0 Legenda 1 0 0 0 0 0) s/escolaridade 2 13 13 8 8 1) Primeiro Grau 3 46 59 59 67 2) Segundo Grau 4 18 77 15 82 3) Graduação 5 19 96 8 90 4) Pós-Graduação 6 4 100 10 100 5) Mestrado
Mais 0 100 0 100 6) Doutorado 1) valores de nível de escolaridade são apenas referencias, conforme a legenda, não correspondem a classes.
Outro aspecto pesquisado foi a experiência dos empreendedores em termos de tempo de
atividade de seus empreendimentos, bem como se antes do empreendimento atual já
haviam tido experiência anterior em outro empreendimento, e, no caso de resposta
afirmativa, se essa experiência havia sido também em incubadora.
De uma maneira geral, os dados revelaram que em ambos os países os empreendedores das
incubadoras não são pessoas com larga experiência, pois não possuem muitos anos de
atividade em seus atuais empreendimentos, tendo sido constatadas para Brasil e Portugal,
respectivamente, médias de 3,54 e 4,28 anos de atividade, com ligeira vantagem para
Portugal. A título ilustrativo e reforçando esta posição, percebe-se que o intervalo que
compreende até 3 anos de atividade no atual empreendimento concentra 76 % dos
empreendedores pesquisados no Brasil e 64 % em Portugal.
Todavia, o aspecto que mais chamou a atenção quando analisado o item ‘anos de atividade’
foi as modas estatísticas apuradas de 3 anos para Portugal e 1 ano para o Brasil,
evidenciando que neste país a amostra foi significativamente influenciada por
empreendedores em empresas do tipo start ups. A distribuição da variável ‘anos de
atividade’ dos empreendedores pesquisados no atual empreendimento para cada um dos
países são mostradas na tabela 4.
60
TABELA 4
% dos Empreendedores por Anos de Atividade (Brasil e Portugal) Brasil Portugal
Anos de Atividade 1
% freqüência
% cumulativo
% freqüência
% cumulativo
1 30 30 25 25 3 46 76 39 64 5 8 84 11 75 7 5 89 10 85 9 1 90 3 88 11 6 96 5 93 13 0 96 0 93
Mais 4 100 7 100 1) valores das faixas anos de atividade correspondem aos limites superiores das classes (fechados).
Em Portugal, 38 % dos empreendedores pesquisados declararam ter tido experiência
anterior à atual como empresários e, aproximadamente 8 % , também do total pesquisado,
disseram ter tido essa experiência em incubadoras. No Brasil, 29 % declararam também ter
tido experiência anterior à atual como empresários e cerca de apenas 4 % do total disseram
ter tido essa experiência em incubadoras. Dando prosseguimento à análise, 38 % dos
empreendedores no Brasil disseram ainda ter tido ou ter um empreendedor como exemplo
na família com quem se identificaram, enquanto em Portugal 25 % afirmaram o mesmo.
Por último, uma clara constatação é que o “mundo” do empreendedorismo dentro das
incubadoras ainda é fortemente constituído por homens, esses representando 82 % dos
empreendedores pesquisados em Portugal e 77 % no Brasil.
5.2. DOS ATRIBUTOS PESQUISADOS
O primeiro item do questionário buscou mensurar a Autonomia, uma importante
característica da orientação empreendedora. Os dados revelaram que tanto para Brasil
como para Portugal esta é uma característica que os empreendedores valorizam
significativamente, especialmente em Portugal, onde a média foi de 4,83 e o desvio padrão
de apenas 0,45, contra uma média no Brasil de 4,61 e desvio padrão 0,76. A análise destes
61
dados sugere que não somente em Portugal esta é uma característica muito valorizada, com
a média muito próxima do valor máximo 5, como o baixo desvio padrão indica também
que este é um pensamento muito próximo da unanimidade entre os empreendedores
pesquisados naquele país.
O segundo item buscou medir um dos atributos que compõe o chamado grau de
feminilidade de uma cultura, uma das dimensões culturais consideradas neste estudo. Para
este atributo, tanto média como desvio padrão foram praticamente iguais para os dois
países. Portugal apresentou uma média de 4,32 e desvio padrão de 0,94 e o Brasil média de
4,31 e desvio padrão de 1,0. Estes dados sugerem que nos dois países os empreendedores
valorizam a qualidade de vida de tal maneira que, para eles, a atividade empresarial não
deve impossibilitá-los de passar o tempo desejado com a família e dedicarem-se à vida
particular.
O terceiro item do questionário procurou mensurar outra característica cultural, embora
esta seja relacionada à dimensão coletivismo. Os dados revelaram que, em ambos os países,
os empreendedores buscam na sociedade o reconhecimento em termos de utilidade de suas
atividades empresariais, e consequentemente, de acordo com a análise deste item, existe
uma forte orientação para o coletivismo. A média para este atributo em Portugal foi de 4,51
e no Brasil 4,40.
O item 4 contrapôs realização pessoal e realização financeira e buscou medir quanto os
empreendedores valorizam a primeira em relação à segunda. Os números revelaram que
para os empreendedores de ambos os países esta afirmação não é uma realidade sem
contestações, não havendo uma concordância no sentido de se aceitar que a realização
pessoal se sobrepõe à financeira. As médias obtidas foram de 3,54 no Brasil e 3,49 em
Portugal, o que demonstram claramente não existir uma opinião consolidada sobre o
assunto.
O item 5 do questionário é uma pergunta de inversão, ou seja, mede um atributo de maneira
inversa. Neste item, buscou-se medir a aversão à incerteza, outra dimensão cultural,
investigando o quanto os empreendedores não priorizavam a busca de segurança e
estabilidade para si. Desta forma, a concordância de que esta não era uma prioridade,
conforme elaborada na pergunta do questionário, indicava baixa aversão à incerteza. Daí a
62
particularidade de ser esta uma pergunta de inversão na resposta. O tratamento dado por
ocasião da tabulação foi o de se inverter o número da resposta, conforme já havia sido dito
na Metodologia.
A análise deste item revelou uma menor aversão à incerteza em Portugal do que no Brasil,
embora as médias verificadas tenham se situado muito próximas de 3 - Portugal 2,48 e
Brasil 3,15. A proximidade das médias em 3 (‘não concordo nem discordo’) pode indicar
que não há uma opinião bem formada por parte dos empreendedores dos dois países com
relação a essa questão.
O item 6 procurou quantificar o quanto os empreendedores valorizam o ambiente de
cooperação entre todos na empresa. A cooperação é uma característica associada ao grau de
feminilidade de uma cultura, pois quanto maior a cooperação maior o grau da dimensão
cultural feminilidade. Novamente os empreendedores dos dois países demonstraram
valorizar significativamente a cooperação, com as médias muito próximas do valor máximo
de concordância. Portugal apresentou uma média de 4,85 para este item e o Brasil 4,75.
Ainda para esta questão, outro importante aspecto a salientar foi o baixo desvio padrão
constatado na amostra de Portugal, de apenas 0,36, o que demonstra que a forte valorização
da cooperação no ambiente de trabalho é um pensamento bem mais homogêneo entre os
empreendedores portugueses.
A questão de numero 7 serviu para avaliar o quanto os empreendedores valorizam trabalhar
com os familiares, uma característica também associada à dimensão feminilidade de uma
cultura. Novamente os dados revelaram uma grande semelhança, evidenciando que tanto no
Brasil quanto em Portugal os empreendedores das incubadoras aparentemente não desejam
trabalhar com familiares. As médias para este atributo de 2, 31 para Brasil e 2,21 para
Portugal, além de próximas entre si, estão também próximas da escala 2 de resposta, o que
sinaliza uma significativa rejeição a trabalhar com familiares.
O item seguinte, o de número 8, buscou quantificar a importância que as relações sociais
têm para os empreendedores, ou seja, mede a importância da network. Os empreendedores
do Brasil e de Portugal revelaram de maneira similar valorizar bastante a formação de
relações sociais nos negócios, com médias novamente muito próximas entre si,
respectivamente 4,46 e 4,26.
63
A questão 9 do questionário mediu o grau com que empreendedores concordam com a
afirmação de que a competitividade entre os empregados deve ser evitada no local de
trabalho. Este é mais uma atributo que compõe a característica de feminilidade de uma
cultura. Quanto maior a concordância no sentido de que a concorrência deve ser evitada
maior o grau da dimensão feminilidade.
Para esta questão era de se esperar escores para a média tendendo à concordância, ou seja,
de que a concorrência deve ser evitada, corroborando desta forma com a indicação anterior
obtida no item 6. Evitar a concorrência entre os empregados é de certa forma uma idéia
com sentido convergente a estimular a cooperação entre todos na empresa. Curiosamente, a
expectativa não se confirmou e os escores apurados para as médias foram de 3,0 para o
Brasil e 2,54 para Portugal, indicando que, para os empreendedores do Brasil, a questão
tende à neutralidade e que para os de Portugal tende da neutralidade para uma ligeira
discordância. Assim, a análise dos dados deste item, de certa forma, contradisse a análise
do item 6.
O item 10 mediu o quanto os empreendedores dos dois países partilham o processo de
decisão com os empregados. Este atributo é uma das características que compõe a
dimensão cultural ‘distância do poder’. Os valores obtidos para as médias foram de 3,65
para o Brasil e 3,54 para Portugal, bastante próximas entre si. Estes dados podem ser
interpretados como uma indicação de que os empreendedores de ambos os países tendem a
concordar com a partilha do processo de decisão com empregados, mas não muito, ou
ainda, que tanto no Brasil como em Portugal os empreendedores não têm uma clara opinião
formada sobre o assunto. Entretanto, o baixo desvio padrão verificado neste item, 0,88 para
Portugal e 0,98 para o Brasil, permite afirmar que a baixa dispersão em torno das médias é
um forte indicador de que, para qualquer uma das interpretações acima, a posição dos
empreendedores é bem homogênea nos dois países.
A questão seguinte, a de número 11, buscou quantificar quanto os empreendedores se
sentem responsáveis pela segurança e estabilidade de seus funcionários e, desta forma,
medir mais um dos componentes da dimensão cultural ‘coletivismo’. A análise dos
resultados para este item revelou que tanto os empreendedores brasileiros, cuja a média foi
de 4,16 , como os empreendedores portugueses, para os quais a média foi de 4,38 , se
64
sentem responsáveis pela segurança e estabilidade de seus funcionários, demonstrando-se
assim presente o caráter coletivista da cultura dos dois países.
O item 12 é mais um dos componentes que foi utilizado para medir a distância do poder,
que é, como já mencionado, uma característica cultural. Para isso, buscou-se mensurar o
quanto os empreendedores de ambos os países acham que seus empregados devem ser
orientados e supervisionados na realização de suas tarefas, ou seja, se a orientação dada por
eles aos empregados é com foco na tarefa, em detrimento do foco no objetivo. Para este
item, os dados revelaram que os empreendedores do Brasil demonstram uma tendência
consideravelmente maior a orientar e supervisionar os empregados nas tarefas do que os
empreendedores de Portugal, estes possivelmente com uma orientação mais voltada para os
objetivos. Os escores das médias obtidas no Brasil e em Portugal foram de,
respectivamente, 4,06 e 3,26, bastante distantes entre si.
A questão de número 13 mediu diretamente o grau de aversão à incerteza, característica
cultural, por meio da avaliação de quanto os empreendedores valorizam a manutenção de
regras e procedimentos estabelecidos pela empresa por parte dos empregados. As médias
3,65 para o Brasil e 3,49 para Portugal revelaram muita semelhança de opinião em relação
a esta questão entre os empreendedores de ambos os países. Aqui, novamente não há uma
clara definição quanto ao pensamento dos empreendedores, embora com uma ligeira
concordância em relação à manutenção das regras e procedimentos por parte dos
empreendedores brasileiros.
Medir a importância de valores como a Responsabilidade Social para os empreendedores
foi o objetivo central do item 14, além de ser também este conceito relacionado à dimensão
cultural feminilidade. Para os dois países, os empreendedores pesquisados indicaram
estarem fortemente comprometidos com a Responsabilidade Social, com as médias deste
item pontuando próximas do máximo, bem como, os baixos desvios padrões indicam
adicionalmente serem estas posições bastante próximas da unanimidade, tanto na amostra
dos empreendedores do Brasil como de Portugal. A expressiva pontuação deste item
contribui de forma significativa para a idéia de que a característica de feminilidade da
cultura de ambos os países está presente também nos empreendedores. As médias deste
item foram de 4,71 para o Brasil e 4,55 para Portugal e os desvios padrões de 0,63 e 0,69,
respectivamente.
65
A seguir, a análise do item 15 está relacionada à característica cultural ‘distância do poder’,
e mediu o grau de centralização no controle dos negócios por parte dos empreendedores. A
constatação de médias próximas de 2 (discordância em parte), mostra que os
empreendedores dos dois países discordam da idéia de que a centralização é a melhor
maneira de condução dos negócios. As médias foram de 2,15 para Portugal e 2,01 para o
Brasil. A análise conjunta deste item com o item 10, que analisa a partilha do processo de
decisão com os empregados, mostra coerência nos resultados, com ambos apontando para o
mesmo sentido, isto é, discordância com a centralização e tendência à concordância com a
partilha do processo de decisão.
A questão 16 mensurou quase o mesmo do item 15, grau de centralização e distância do
poder, porém abordando o assunto de maneira diferente. Mediu o grau de centralização dos
empreendedores pela ótica da perda de controle dos negócios por parte destes quando
delegam funções e tarefas. As baixas médias obtidas, 1,96 para o Brasil e 1,86 para
Portugal, indicam forte discordância dos empreendedores dos dois países em relação à idéia
de que delegação leva a perda de controle. Os resultados deste item também apresentam
coerência com os resultados dos itens 15 e 10, conforme destacado acima, com as
interpretações apontando no mesmo sentido.
No item 17 foi avaliada uma importante característica da orientação empreendedora, a
proatividade. Nele buscou-se medir o quanto os empreendedores consideram como fonte de
oportunidades as contínuas mudanças no ambiente de negócios. Os resultados, com as
médias próximas de 4, especificamente 4,14 para Portugal e 3,93 para o Brasil, indicam
que em ambos os países, com ligeira vantagem para Portugal, os empreendedores
percebem as mudanças no ambiente como fonte de oportunidades.
A questão 18 mediu diretamente a dimensão cultural ‘distância do poder’, ao medir o
quanto para os empreendedores a distância hierárquica é importante para a existência de
respeito dos empregados para com os empregadores. A análise dos dados parece
demonstrar haver nesta questão uma opinião ligeiramente tendente para a discordância,
mais fortemente percebida nos empreendedores portugueses. Os escores alcançados pelas
médias foram de 1,97 para Portugal e 2,42 para o Brasil, ambas próximas de 2 (discordo
em parte), porém relativamente distantes entre si.
66
No item 19, foi retomada a mensuração da importância da network, por meio do
questionamento aos empreendedores de quanto o êxito nos negócios pode ser atribuído
mais ao conhecimento de pessoas influentes do que às aptidões do empresário.
Aparentemente, as médias apuradas, 2,80 para Portugal e 2,71 para o Brasil, próximas de
3,0 (não concordo nem discordo) e também próximas entre si, levam a uma possível
interpretação de que a importância da network para os empreendedores dos dois países não
é tão fortemente valorizada quando confrontada com suas próprias aptidões. Convém
relembrar que no item 8 a network foi fortemente valorizada pelos empreendedores do
Brasil e de Portugal, quando foi questionada isoladamente, sem confrontação com outra
característica.
A questão de número 20 é outro atributo que compõe a dimensão cultural ‘distância do
poder’. Mediu o quanto os empreendedores dos dois países valorizam as características de
lealdade e dedicação dos empregados. Estas características são particularmente
interessantes porque revelam de forma indireta o grau de paternalismo presente nas
relações entre patrão e empregado. As médias, praticamente iguais, de 4,22 para o Brasil e
4,21 para Portugal, demonstram haver concordância dos empreendedores com a afirmação
e, por extensão, algum grau de paternalismo tanto no Brasil como em Portugal.
O item 21 é particularmente importante porque está relacionado à Teoria de Motivações
X, que diz basicamente que os empregados normalmente possuem pouco interesse em
atingir metas e objetivos da empresa, mesmo quando a oportunidade surge para eles e que,
por esse motivo, é preciso motivá-los. O item mensurou o quanto os empreendedores
concordam ou não com a afirmação de que os empregados tendem a se acomodarem no
trabalho. Os escores de médias alcançados para Brasil e Portugal, respectivamente 2,46 e
2,11, apontam para a discordância em parte. É possivel que seja mais forte entre os
empreendedores de ambos os países a crença na chamada Teoria de motivações Y, que
afirma que os empregados estão sempre prontos para atingir os objetivos da empresa, desde
que lhes seja dada a oportunidade para isso (WAGNER III e HOLLENBACK, 2003).
A questão de número 22 serviu para medir o quanto os empreendedores concordam que a
vida particular do empregado é responsabilidade dele e, portanto, não cabe à empresa
responsabilidade sobre esse aspecto. Desta forma, a questão mediu de maneira inversa o
67
Grau de coletivismo, dimensão cultural. As média obtidas de 3,07 para Brasil e 3,11 para
Portugal, além de muito próximas entre si ficaram próximas de 3 o que possivelmente
indica não haver uma clara opinião formada sobre o assunto entre os empreendedores dos
dois países.
O item seguinte, o de número 23, é mais um item de mensuração da proatividade,
característica que compõe a orientação empreendedora. A proatividade foi aqui medida por
intermédio do quanto os empreendedores valorizam a estratégia de busca constante de
introdução de novas marcas produtos e serviços no mercado. Os escores das médias de 4,28
para o Brasil e 4,01 para Portugal, indicaram que os empreendedores dos dois países são
proativos nessa estratégia, com ligeira vantagem para o Brasil. Na amostra do Brasil, o
cálculo da moda estatística indicou um maior número de respostas na escala de número 5,
confirmando a tendência de maior concordância entre os empreendedores deste país,
enquanto que a moda de Portugal foi 4. Outra importante observação foi que, pela análise
dos desvios padrões, ficou também constatado um maior consenso na opinião dos
empreendedores brasileiros. Para o Brasil o desvio padrão foi de apenas 0,87, enquanto
para Portugal foi de 1,04.
O item 24 mediu a orientação no longo-prazo, que é uma dimensão cultural. Para isso,
argüiu os empreendedores quanto a concordância deles sobre a idéia de que a maior fonte
de preocupação nos negócios está no futuro. A análise dos dados revelou que
provavelmente não haja uma opinião claramente formada nos empreendedores de ambos os
países. As médias apuradas de 3, 61 em Portugal e de 3,47 no Brasil, embora de próximas,
demonstram principalmente uma clara posição de indefinição.
A relação risco retorno mediu outra característica presente na orientação empreendedora e
foi o assunto abordado no item 25, que questionou os empreendedores se concordavam ou
discordavam da afirmação de que, nas decisões de investimentos, deve ser dada prioridade
ao retorno do investimento em detrimento do risco. A média de 3,34 para o Brasil e 2,99
para Portugal, portanto ambas próximas de 3, indicam também que para este item não há
uma clara opinião estabelecida, todavia, existe uma ligeira vantagem para os
empreendedores do Brasil sobre os de Portugal, o que pode ser interpretado como uma
maior propensão a assumir riscos por parte dos primeiros.
68
A questão 26 retornou à análise da proatividade, que como já mencionado anteriormente, é
uma das características da orientação empreendedora. Mediu o quanto os empreendedores
valorizam a criatividade no ambiente de trabalho como forma de estimular a inovação, ou
seja, na prática, mensurou a importância atribuída à inovação. Para ambos os países, os
dados revelaram uma expressiva valorização da criatividade e da inovação no ambiente de
trabalho por parte dos empreendedores. No Brasil a média alcançada foi de 4,71 enquanto
em Portugal foi de 4,59. Outra importante revelação foi a forte indicação de quase
unanimidade nesse pensamento entre os empreendedores dos dois países, quando
interpretados os baixos desvios padrões obtidos nas amostras de Brasil e Portugal, de
respectivamente 0,53 e 0,67.
O item 27 mensurou o comportamento de competitividade agressiva dos empreendedores,
o que é mais uma característica presente na orientação empreendedora. A pergunta foi
basicamente constituída da afirmação de que o mais importante para a empresa é manter a
participação de mercado, mesmo que esta seja mantida à custa de redução nos preços dos
produtos vendidos. Na prática, mediu-se o quanto o empreendedor valoriza a estratégia de
manutenção da sua participação de mercado, ambiente onde se encontram os diversos
players concorrentes, contrapondo à idéia da manutenção da participação com a de redução
da rentabilidade. Ambas as médias próximas de 3, Brasil 3,25 e Portugal 2,82 levam à
interpretação de que não há nem concordância nem discordância por parte dos
empreendedores dos dois países.
A questão seguinte, a de número 28, é de mensuração da dimensão cultural ‘orientação no
longo-prazo’, e pergunta, de forma direta, se nos negócios deve-se ter como base a
orientação no longo-prazo. Os escores de médias indicaram tendência à concordância nos
empreendedores dos dois países. A média foi de 3,95 no Brasil e de 3,92 em Portugal.
A questão 29 foi outro item que mediu a proatividade, como já dito, característica da
orientação empreendedora. Mediu diretamente a concordância dos empreendedores com a
afirmação de que, nos negócios, deve-se buscar de maneira contínua novas oportunidades
de investimentos. As duas médias foram muito semelhantes e próximas de 5, no Brasil 4,66
e em Portugal 4,68 , bem como, os baixos desvios padrões 0,66 no Brasil e 0,53 em
Portugal apontam que não somente a idéia da busca contínua de novas oportunidades de
69
investimentos é fortemente valorizada pelos empreendedores dos dois países, mas também
que esta é uma posição bastante homogênea entre eles.
O item 30 está relacionado à orientação empreendedora e diz respeito à característica de
competitividade agressiva. Mediu o quanto é importante para os empreendedores monitorar
os passos dos concorrentes e responder de imediato a qualquer ação destes quando se
sentirem ameaçados. Para este item, a média Brasil foi de 4,47 e a média Portugal foi de
3,99, indicando uma tendência maior para a adoção de um comportamento mais agressivo
frente à concorrência entre os empreendedores brasileiros. Reforçando esta evidência, a
moda estatística apontou a escala 5 como maior número de respostas no Brasil, enquanto a
moda para Portugal foi 4. Além disso, o desvio padrão de 0,77 para o Brasil indica uma
maior homogeneidade nas respostas dos empreendedores do Brasil quando comparado ao
de Portugal 1,04.
O item 31 mediu diretamente o grau de coletivismo, dimensão cultural. Quanto maior a
concordância de que os interesses do grupo (empresário e empregados) são prioritários
sobre os interesses individuais (somente empresário), maior o grau de coletivismo. Para
este atributo, tanto Portugal como Brasil apresentaram médias próximas, respectivamente
4,29 e 4,07, sinalizando concordância, o que aponta para uma predominância do sentimento
de coletivismo entre os empreendedores dos dois países.
A questão 32 também está relacionada à orientação empreendedora e novamente com a
característica competitividade agressiva. Questionou de maneira direta se a melhor maneira
de lidar com a concorrência é tentando tirá-la do mercado. As médias obtidas de 1,98 para
o Brasil e 1,73 para Portugal demonstram que os empreendedores de ambos os países
tendem a discordar significativamente desse comportamento, sobretudo se considerarmos
que a moda estatística foi de 1 , demonstrando que nos dois países a maioria dos
empreendedores escolheu como resposta a discordância total.
No item 33, foi medido mais uma vez o atributo orientação no longo-prazo que, como dito
anteriormente, está relacionado à dimensão cultural. A afirmação foi construída de forma a
contrapor como escolha de estratégia nos negócios, sacrificar a rentabilidade atual em favor
da busca pela futura liderança de mercado. Os dados resultaram em escores de médias
muito próximas para Brasil e Portugal, 3,75 e 3,73 respectivamente, indicando tendência,
70
embora não acentuada, a adotar maior orientação de longo-prazo na condução dos
negócios. A análise conjunta dos resultados deste item com os do item 27 revela uma
importante curiosidade. Os empreendedores dos dois países foram indiferentes à adoção de
uma estratégia de sacrificar a rentabilidade como forma de concorrência na busca da
manutenção da parcela detida de mercado, mas revelaram relativa concordância quanto a
sacrificar a rentabilidade quando esta é vista como estratégia de longo-prazo na busca pela
liderança do mercado. Aparentemente, este procedimento é rejeitado quando visto como
uma estratégia de concorrência, de curto-prazo, mas aceito como uma estratégia de
crescimento do negócio no longo-prazo.
O empreendedorismo é, na maioria das vezes, uma iniciativa permeada por inúmeras
dificuldades enfrentadas pelos empreendedores. Na questão de número 34 do questionário,
investigou-se justamente isso, ou seja, qual era, na visão dos empreendedores dos dois
países, aquela que representava a principal dificuldade para eles. Para tal, a questão foi
estruturada com cinco opções, e foi então solicitado que fosse feita a escolha de apenas
uma alternativa. Enquanto para os empreendedores brasileiros a principal dificuldade
apontada foi a baixa disponibilidade de recursos financeiros para investimentos, para os
empreendedores portugueses o excesso de formalização e burocracia que emperram os
negócios representou o maior obstáculo. Os percentuais de resposta dados a cada uma das
alternativas por país são apresentados na tabela 5.
TABELA 5
% por Resposta para Principal Dificuldade (Brasil e Portugal) Principal Dificuldade Brasil Portugal
As freqüentes alterações do cenário que dificultam o planejamento 11% 9% O ambiente hostil caracterizado pelo aumento da concorrência 7% 11% Excesso de formalização e burocracia que emperram os negócios 26% 41% A crescente escassez de novas oportunidades de negócios 0 9% A baixa disponibilidade de recursos financeiros para investimentos 56% 30%
71
Cabe ainda destacar que as alternativas ‘excesso de formalização e burocracia’ juntamente
com a ‘baixa disponibilidade de recursos financeiros’ representaram jutas 82 % das
escolhas dos empreendedores no Brasil e 71 % das escolhas em Portugal.
Em questões anteriores foi medida a importância que os empreendedores davam a cada
característica e atributo, formulando-se afirmativas que permitiram avaliar cada um
separadamente. No item 35, essa mensuração da importância foi relativizada, ou seja,
juntou-se esses atributos em uma mesma questão, permitindo desta forma uma comparação
simultânea entre eles. Foi solicitado aos empreendedores que ordenassem de 1 a 6 cada
característica e atributo de acordo com o seu grau de importância.
Os atributos relacionados neste item foram ‘comportamento autônomo e independente’,
‘comportamento proativo’, ‘propensão para o risco’, ‘comportamento fortemente
competitivo’ e ‘comportamento inovador’, todos estes ligados à orientação empreendedora,
acrescidos da característica ‘aptidão para construção da network’.
A análise dos dados obtidos junto aos empreendedores brasileiros revelou o seguinte
ordenamento decrescente em termos de importância, ou seja, do mais importante para o
menos importante: comportamento inovador, comportamento proativo, propensão para o
risco, construção da network, comportamento fortemente competitivo e por último
comportamento autônomo e independente.
Já a análise dos dados levantados junto aos empreendedores portugueses, considerando
igualmente a ordem decrescente em termos de importância, revelou a seguinte seqüência:
comportamento proativo, comportamento inovador, propensão para o risco, construção da
network, comportamento autônomo e independente e por último comportamento
fortemente competitivo.
Algumas informações foram bastante pertinentes. As diferenças encontradas no
ordenamento da importância de cada atributo tanto no Brasil como em Portugal não
revelaram nenhuma divergência significativa. Uma das diferenças foi a inversão dos dois
primeiros atributos. Enquanto no Brasil os resultados apontaram em primeiro o
comportamento inovador e em segundo o comportamento proativo, em Portugal apareceu
em primeiro o comportamento proativo e em segundo o comportamento inovador.
72
Entretanto, comportamento inovador e comportamento proativo representaram no Brasil e
em Portugal, respectivamente, 62% e 58% das respostas como escolha da principal
característica do empreendedor.
A outra diferença foi também a inversão nos resultados dos dois últimos atributos no
ordenamento. Enquanto no Brasil o quinto e o sexto atributos apontados em termos de
importância foram respectivamente o comportamento fortemente competitivo e o
comportamento autônomo e independente, em Portugal foi escolhido em quinto lugar o
comportamento autônomo e independente e em sexto o comportamento fortemente
competitivo. Contudo, comportamento fortemente competitivo e comportamento autônomo
e independente foram responsáveis por 65% das respostas como escolha da menos
importante característica do empreendedor no Brasil e por 61% das respostas em Portugal.
Para os demais atributos, ‘propensão para assumir riscos’ e ‘construção de uma rede de
network’, as seqüências de escolha foram iguais para os dois países, revelando que os
empreendedores brasileiros e portugueses dão a esses atributos uma importância
claramente intermediária. A figura 2 representa a distribuição das respostas para principal
característica do empreendedor, conforme avaliado no item 35 do questionário.
Principal Característica do Empreendedor (Brasil e Portugal)
0
5
10
15
20
25
ComportamentoAutonomo e
Independente
ComportamentoProativo
Propensão àAssumir Riscos
Construção deAmpla Netw ork
ComportamentoFortementeCompetitivo
ComportamentoInovador
característica
% p
/ re
spos
ta
BrasilPortugal
Figura 2: Gráfico com as respostas atribuídas à principal característica do empreendedor.
73
O item 36 do questionário mediu a propensão para assumir riscos dos empreendedores e,
para isso, mensurou de forma direta a relação risco retorno, buscando graduá-la por meio
de diversas alternativas de resposta, aquela que melhor representava a posição deles.
Os dados indicaram que tanto os empreendedores do Brasil como os de Portugal optam, nas
decisões de investimento, por uma orientação intermediária nessa relação, ou seja, retorno
médio e risco médio, condizente com os resultados obtidos no item 25 que também mediu a
propensão para assumir riscos. As médias foram de 2,96 para Portugal e 2,75 para o Brasil,
mostrando portanto, uma ligeira maior propensão a assumir riscos por parte dos brasileiros.
Neste item do questionário, a apuração de uma média menor nas respostas representou uma
maior pontuação na propensão, visto que a resposta de número 1 foi tabulada como retorno
agressivo e risco agressivo, a de número 2 como retorno alto e risco alto, a de número 3
como retorno médio e risco médio, a de número 4 como retorno moderado e risco
moderado, e finalmente, a de número 5 como retorno baixo e risco baixo. Desta forma,
menores números foram tabulados e associados a respostas com maiores graduações na
relação risco e retorno. Os percentuais relativos a cada resposta por país são apresentados
na tabela 6.
TABELA 6
% por Resposta para Relação Risco Retorno (Brasil e Portugal)
Relação Risco Retorno Brasil Portugal Retorno Agressivo e Risco Agressivo
8% 1% Retorno Alto e Risco Alto
26% 19% Retorno Médio e Risco Médio
48% 62% Retorno Moderado e Risco Moderado
18% 18% Retorno Baixo e Risco Baixo
0% 0%
5.3. DAS DIMENSÕES CULTURAIS (ATRIBUTOS EM CONJUNTO)
74
Após a análise dos resultados realizada separadamente por atributo, o procedimento
seguinte foi a análise dos resultados agregados dos atributos. Como já citado na
metodologia deste estudo, diversos atributos que foram medidos individualmente no
questionário são componentes de uma determinada Dimensão Cultural que pode ser
denominada como um constructo. Para Cooper e Schindler (2003), em pesquisa,
constructos podem ser entendidos como um conceito maior formado por um conjunto de
conceitos mais simples.
Na prática, procedeu-se agregando os diferentes atributos que compunham uma
determinada dimensão para, desta forma, se obter uma pontuação total para esta, ou seja,
procedeu-se à medição do constructo propriamente dito. O paço inicial desta análise de
resultados abordou atributos separadamente para agora, nesta etapa, abordar os constructos,
que neste caso são as dimensões culturais.
Os constructos medidos foram as dimensões culturais, Feminilidade, Coletivismo, Aversão
à Incerteza, Distância do Poder e Orientação no Longo-Prazo. Paralelamente, mediram-se
também outros dois conceitos considerados de grande importância em se tratando de um
estudo sobre características de empreendedores, a saber, os conceitos de grau de
centralização e de valorização da network por parte dos mesmos. Quanto ao grau de
centralização, foi obtido por meio do cálculo dos escores de dois itens que compuseram a
dimensão distância do poder. Já a medição do grau de valorização da network foi feita por
meio do cálculo dos escores de dois atributos que se referiam unicamente a este conceito e
que, portanto, não estavam relacionados a nenhuma dimensão.
A análise dos dados agregados revelou muita semelhança entre os empreendedores dos dois
países, sendo que as diferenças, quando existentes, foram sempre pequenas, representando
ligeiras variações de uma determinada dimensão ou conceito mensurado. As dimensões
culturais e conceitos nas quais os empreendedores brasileiros apresentaram maior
pontuação foram: feminilidade, aversão a incerteza, distância do poder e valorização da
network. Já para os empreendedores portugueses, os resultados indicaram maior pontuação
para as seguintes dimensões e conceitos: coletivismo, grau de centralização e orientação no
longo-prazo. A pontuação alcançada para cada uma das dimensões e conceitos pesquisados
para ambos os países é mostrada na tabela 7.
75
TABELA 7
Total Pontuação Dimensões Culturais e Conceitos Cen tralização e Network Base: média do somatório das médias de cada item (B rasil e Portugal)
Constructo (Dimensão / Conceito) Itens quest. Brasil Portugal Feminilidade 2,6,7,9 e 14 3,82 3,69 Coletivismo 3,11,22 e 31 3,89 4,01
Aversão à incerteza 5 e 13 3,40 2,98 Distância do poder 10,12,15,16,18 e 20 2,84 2,65
Grau de centralização 15 e 16 1,99 2,01 Orientação no longo-prazo 24,28 e 33 3,73 3,75
Valorização network 8 e 19 3,58 3,53
5.4. DA ORIENTAÇÃO EMPREENDEDORA (ATRIBUTOS EM CONJUNTO)
O conceito de Orientação Empreendedora (OE) é um constructo composto pelos atributos
autonomia, proatividade, competitividade agressiva e propensão a assumir riscos. Na seção
Revisão de Literatura deste estudo, foi relacionado um outro atributo ligado a este conceito,
a Inovação, e que aqui nesta tabela se encontra inserido dentro do atributo proatividade. A
inovação é um dos componentes da proatividade, todavia, devido a sua importância, ela é
frequentemente analisada separadamente. Como a medição do grau de valorização da
inovação já havia sido analisada na etapa de mensuração dos itens de forma separada (item
26 do questionário), foi então feita nesta etapa a opção por se incluir como um componente
da proatividade.
Os dados novamente revelaram mais similitudes do que diferenças e estas últimas, quando
ocorreram, também representaram diferenças pouco expressivas. As médias atingidas para
o total do constructo OE foram muito próximas entre si. Enquanto para o Brasil foi de 3,89,
para Portugal foi de 3,75. Os empreendedores do Brasil apresentaram maior pontuação em
proatividade, competitividade agressiva e propensão para assumir risco, enquanto os
empreendedores portugueses pontuaram mais no atributo restante, a autonomia. A
pontuação para cada um dos atributos da OE para os dois países é demonstrada na tabela 8.
76
TABELA 8
Total Pontuação Orientação Empreendedora (Brasil e Portugal) Base: média do somatório das médias de cada item
Atributo Itens Brasil Portugal Autonomia 1 4,61 4,83
Proatividade 17,23,26 e 29 4,39 4,36 Competetitividade agressiva 27,30 e 32 3,23 2,85
Propensão a assumir riscos 25 3,34 2,99
Total Orientação Empreendedora 3,89 3,75
Considerando o conceito de OE na sua totalidade, ou seja, o constructo, é interessante
determinar o percentual com que cada item contribuiu para sua composição. Este
procedimento, adotado nesta etapa da análise, resultou em uma interpretação muito
próxima aos resultados obtidos anteriormente no item 35 do questionário, quando foi
solicitado diretamente aos empreendedores que ordenassem a importância por eles
atribuída a determinadas características dos empreendedores. Naquele item estavam
presentes todos os atributos da OE, agora novamente considerados, sendo que destaque
para o atributo inovação, ou seja, não inserido na proatividade e com uma característica
adicional que era a network. O percentual de cada um dos atributos na composição da OE
para os dois países aparece representado na tabela 9.
TABELA 9
% de cada item na formação da pontuação da Orientação Empreendedora Base nas médias de cada item (Brasil e Portugal)
Atributo Brasil Portugal Autonomia 30% 32%
Proatividade 28% 29% Competitividade Agressiva 21% 19% Propensão a assumir riscos 21% 20%
Total Orientação Empreendedora 100% 100%
77
6. CONCLUSÕES
Conforme destacado na revisão de literatura deste estudo, para Hofstede (2001), as culturas
de Brasil e Portugal apresentam elevada distância do poder, acentuada aversão à incerteza e
ainda predominância das características culturais de coletivismo e feminilidade. Ainda
segundo este autor, as dimensões distância do poder e aversão à incerteza, e principalmente
esta segunda, são as que apresentam os maiores escores entre todas as dimensões culturais
nos dois países.
Hofstede (2001) afirma ainda que um perfil de características culturais composto por baixa
distância do poder, baixa aversão à incerteza, bem como predominância das dimensões
culturais de individualismo e masculinidade é o que mais favorece um maior nível de
empreendedorismo.
Entretanto, esta pesquisa constatou que o perfil cultural dos empreendedores das
incubadoras no Brasil e em Portugal não é semelhante ao perfil cultural descrito para os
dois países nos seus aspectos gerais. Esta pesquisa revelou que, para os empreendedores do
Brasil e de Portugal, as dimensões aversão à incerteza e distância do poder apresentaram
resultado contrário ao padrão descrito quando considerada a cultura dos dois países como
um todo, tendo sido justamente as duas dimensões que apresentaram os menores escores de
pontuação média quando comparada às demais.
Quanto à predominância das características de coletivismo e feminilidade existentes na
cultura dos dois países, estas se revelaram igualmente presentes também nos
empreendedores pesquisados em ambos os países, tendo sido encontrado, portanto, para
estas duas dimensões um comportamento convergente ao da cultura do Brasil e de Portugal
como um todo.
Até onde se pode concluir, existe a predominância de uma cultura empreendedora, com
características particulares, e estas se diferenciam das características da cultura geral dos
dois países. A idéia é que as características culturais dos países influenciaram e estão
presentes na formação cultural dos empreendedores, já que estes são membros da
sociedade. Mas embora essas características os tenham influenciado, elas não foram
determinantes ao ponto de resultarem em um padrão cultural igual ao dos dois países.
78
Assim, percebe-se que o coletivismo e a feminilidade passaram para a formação cultural
dos empreendedores brasileiros e portugueses, o mesmo não acontecendo com a aversão à
incerteza e a distância do poder, possivelmente porque estas duas dimensões são de vital
importância para a determinação do nível de empreendedorismo. Em outras palavras, é
difícil acreditar em empreendedorismo em um ambiente de forte aversão à incerteza porque
empreender é, sobretudo, “apostar” na incerteza.
Da mesma forma, a elevada distância do poder que se caracteriza, entre outras coisas, por
atribuir elevada importância à hierarquia e ao que a pessoa é dentro da sociedade, não é
coerente com o comportamento dos empreendedores que habitualmente se caracterizam por
valorizar mais a interação com os outros do que estabelecer relações niveladas, menos
estratificadas no ambiente de seus empreendimentos, e, principalmente, por valorizarem a
realização, ou seja, o que se faz dentro da sociedade e não o que se é. Em geral,
empreendedores apresentam comportamento menos personalista que a maioria dos outros
segmentos da sociedade. As dimensões culturais encontradas para os empreendedores em
incubadoras do Brasil e de Portugal são demonstradas na figura 3.
Dimensões Culturais para Empreendedores (Brasil e P ortugal)
00,5
11,5
22,5
33,5
44,5
Feminilidade Coletivismo Aversão àincerteza
Distancia doPoder
Orient. noLongo-Prazo
atributo
pont
uaçã
o m
édia
Brasil
Portugal
Figura 3: Gráfico com a pontuação média das dimensões culturais para os
empreendedores.
Através do gráfico pode-se concluir também que, embora as culturas dos empreendedores
brasileiros e portugueses se diferenciem em algumas dimensões da cultura geral
79
característica dos dois países, elas se assemelham entre si em termos do comportamento
constatado para as dimensões culturais junto aos empreendedores. Na teoria, isso pode
reforçar a intuição da existência de uma cultura empreendedora com características
particulares nos empreendedores do Brasil e de Portugal, semelhantes entre si, mas
distintas em relação à cultura característica dos países.
Outro importante aspecto que cabe mencionar foi o fato da ‘aversão à incerteza’ juntamente
com a ‘distância do poder’ serem mais elevadas entre os empreendedores do Brasil do que
entre os de Portugal. Um maior detalhamento da análise permite inferir terem as relações
entre empregador e empregados um caráter mais restritivo e controlador entre os
empreendedores brasileiros. Estes demonstraram maior simpatia por orientar e
supervisionar as tarefas dos empregados, maior intolerância com a quebra de regras por
parte desses, menor discordância com a existência de um ambiente de trabalho
hierarquizado, além de uma menor rejeição à teoria de motivações X e também uma maior
tendência a estabelecer relações de trabalho paternalistas.
Uma outra observação relevante é o fato dos empreendedores portugueses perceberem mais
fortemente as mudanças no ambiente como fontes de oportunidades. É lícito presumir que,
enquanto as mudanças no ambiente representam para os empreendedores de Portugal fontes
de oportunidades, para os do Brasil mudanças podem estar mais associadas à percepção de
serem uma fonte geradora de incertezas.
A idéia inicialmente abordada nestas conclusões acerca de uma particularidade de
características mais fortes, quando se trata de empreendedores, foi igualmente verificada
pela interpretação do comportamento da Orientação Empreendedora. Os empreendedores
de Brasil e Portugal apresentaram, mais uma vez, comportamentos muito semelhantes,
reforçando, dessa forma, a conclusão de que há muito mais de parecido entre eles do que de
diferente. A figura 4 refere-se ao comportamento da orientação empreendedora apurado
para os dois países.
80
Orientação Empreendedora por item e total (Brasil e Portugal)
0
1
2
3
4
5
6
Aut
onom
ia
Pro
ativ
idad
e
Com
petit
.A
gres
siva
Pro
pen.
àA
ssum
ir R
isco
s
Tot
al O
rient
.E
mpr
eend
edor
a
atributo
Pon
tuaç
ão m
édia
Brasil
Portugal
Figura 4: Gráfico com a pontuação da orientação empreendedora.
Na observação dos resultados da Orientação empreendedora, é possível identificar a
ocorrência de uma pontuação menor no comportamento de competitividade agressiva entre
os empreendedores de Portugal. Em todos os itens desta pesquisa, de avaliação direta e
indireta, os empreendedores portugueses sempre apresentaram um menor grau de
competitividade quando comparados aos brasileiros. Na realidade, os resultados não
mostraram um comportamento fortemente competitivo associado a nenhum dos dois países,
mas ainda assim em Portugal o sentimento de competitividade parece ser bem menor .
Outra conclusão que cabe ser destacada, associada também à competitividade, é o fato dos
empreendedores dos dois países terem demonstrado indiferença quanto à adoção da
estratégia de sacrificar a rentabilidade atual como forma de concorrência na “luta” pela
manutenção da parcela detida de mercado, mas revelarem relativa concordância quanto a
sacrificar a rentabilidade quando esta é vista como estratégia de longo-prazo, na busca pela
liderança futura do mercado.
Aparentemente, como havia sido dito, este procedimento é rejeitado quando visto como
estratégia de concorrência de curto-prazo, mas aceito quando considerado como estratégia
de crescimento do negócio no longo-prazo. Uma conclusão bastante plausível é a de que
81
tanto os empreendedores do Brasil como os de Portugal evitam o confronto direto e aberto
com a concorrência, demonstrando provavelmente um receio da reação.
Como já explicitado, as análises concluíram ser a ‘aversão à incerteza’ mais elevada entre
os empreendedores do Brasil do que nos de Portugal. Entretanto, surpreendentemente, a
‘propensão para assumir riscos’ também se evidenciou maior entre os empreendedores
brasileiros em todos os itens pesquisados relacionados ao tema. A ‘aversão à incerteza’ e a
‘propensão para assumir riscos’ podem ser vistos como conceitos complementares.
Incerteza é uma idéia associada a risco por conta de resultado ou situação desconhecida no
futuro e, portanto, ‘aversão à incerteza’ pode ser entendida, por extensão, como rejeição,
temor a resultado, ou situação não prevista no futuro.
‘Propensão para assumir riscos’ está relacionada a quanto dessa incerteza a pessoa está
disposta a se expor em troca de um retorno. Dessa forma, ‘propensão para assumir riscos’
está diretamente relacionada a uma contrapartida, podendo ser entendida como uma medida
do quanto a remuneração ao risco exerce atratividade sobre o indivíduo para que este aceite
se expor à incerteza.
Concluindo, pode-se dizer que, embora os empreendedores brasileiros revelem uma maior
rejeição a incertezas futuras, concomitantemente, demonstram também ter maior disposição
a assumir riscos, desde que remunerados como forma de compensação por essa exposição
ao risco.
As figuras 5 e 6 representam, respectivamente, a distribuição das respostas para a relação
risco e retorno, conforme avaliado no item 36 do questionário, e as curvas que ligam os
pontos de percentual máximo de cada resposta. Estas curvas (Figura 6) podem ser
entendidas como uma aproximação da curva risco retorno (propensão para assumir riscos)
dos empreendedores para cada um dos países separadamente. As alternativas variando de
retorno agressivo e risco agressivo em uma extremidade, até retorno baixo e risco baixo na
outra, são como um intervalo contínuo que representa a graduação da relação risco e
retorno.
82
Relação Risco Retorno (Brasil e Portugal)
0
10
20
30
40
50
60
70
RetornoAgressivo e
Risco Agressivo
Retorno Alto eRisco Alto
Retorno Médio eRisco Médio
RetornoModerado e
Risco Moderdo
Retorno Baixo eRisco Baixo
risco retorno
% p
/ res
post
a
Brasil
Portugal
Figura 5: Gráfico com as respostas atribuídas pelos empreendedores à relação risco
retorno.
Figura 6: Gráfico com as curvas relação risco e retorno (propensão a assumir riscos).
83
A contínua busca de novas oportunidades de investimentos foi bastante valorizada pelos
empreendedores de ambos os países. Entretanto, enquanto os empreendedores portugueses
demonstraram perceber mais fortemente as mudanças no ambiente como fonte de
oportunidades, os empreendedores brasileiros aparentaram valorizar de maneira mais
significativa a criatividade no ambiente de trabalho como forma de estimular a inovação.
A análise conjunta dessas observações leva a uma possível conclusão, ou seja, a de que os
empreendedores de ambos os países, com níveis de proatividade parecidos, diferem quanto
a forma como são proativos na busca de novas oportunidades de investimentos. Enquanto
os brasileiros parecem buscar novas oportunidades dentro de seus próprios negócios, se
caracterizando por uma busca interna, os portugueses demonstram maior atração pela busca
dessas oportunidades no ambiente, se caracterizando em sentido contrário por uma busca
externa.
Esta dedução demonstra ser coerente quando considerada uma outra conclusão já
apresentada nesta pesquisa, ou seja, a de que o ambiente, com suas mudanças, pode ser
visto como fonte geradora de incertezas para os empreendedores brasileiros e, portanto, não
atrativo como oportunidade de investimentos.
Corroborando também com essa conclusão, tem-se a análise das respostas dadas pelos
empreendedores à questão 34, ‘principal dificuldade’, que representou o item do
questionário que avaliou a reação dos empreendedores frente ao ambiente. Curiosamente, a
alternativa que diz respeito à crescente escassez de novas oportunidades de investimentos
representou 9% das respostas dos empreendedores portugueses, enquanto nenhum
empreendedor brasileiro escolheu essa alternativa como resposta.
Pode-se inferir, consequentemente, que os empreendedores brasileiros não assinalaram essa
opção possivelmente por entenderem que as oportunidades de investimentos surgem mais
da possibilidade de criação e inovação dentro do ambiente, do que propriamente por
oportunidades que surjam de maneira aleatória e independente no ambiente. A figura 7
representa o percentual de respostas dado por alternativa referente à principal dificuldade,
conforme avaliado no item 34 do questionário. Destaca-se a opção ‘escassez de novas
oportunidades de investimentos’ com quase 10% das respostas dos empreendedores de
Portugal e nenhuma escolha como resposta por parte dos empreendedores do Brasil.
84
Principal Dificuldade (Brasil e Portugal)
0
10
20
30
40
50
60
Alterações noCenário
Aumento daConcorrência
Excesso deFormalização e
Burocracia
Escassez deNovas
Oportunidades
BaixaDisponibilidade de
Recursos
dificuldade
% p
/ res
post
a
BrasilPortugal
Figura 7: Gráfico com as respostas atribuídas pelos empreendedores à principal
dificuldade.
Pelo desdobramento da análise acima pode-se concluir ainda que, dada à característica dos
empreendedores portugueses de terem uma maior atratividade pela busca de novas
oportunidades de investimentos que surjam no ambiente, de forma aleatória e espontânea, é
possível ter como resultante um comportamento que se caracterize por uma maior
rotatividade e diversificação nos setores de atuação nos negócios desses empreendedores. É
fato que esta pesquisa inferiu um percentual maior de empreendedores em Portugal que
afirmaram ter tido experiências anteriores à atual como empresários, cerca de 38%,
enquanto no Brasil estes foram aproximadamente 29%.
Complementando as conclusões, ainda quanto a principal dificuldade, fica claro, conforme
evidenciado no gráfico, que o excesso de formalização e burocracia juntamente com a
baixa disponibilidade de recursos são, indubitavelmente, as maiores dificuldades apontadas
pelos empreendedores dos dois países. Possivelmente, a concentração de respostas nestas
duas opções reflita, na prática, o sentimento dos empreendedores brasileiros e portugueses
quanto à falta de apoio do poder público. Esse sentimento pode ser conseqüência direta da
ausência de políticas que facilitem o seu acesso aos serviços controlados pelo poder
público, bem como da inexistência de linhas de crédito oficiais destinadas às necessidades
de recursos para financiamento de seus empreendimentos.
85
Em suma, pode-se concluir que são maioria as semelhanças entre os empreendedores do
Brasil e de Portugal, e que as diferenças, conforme descritas, não chegam a ser
significativas ao ponto de permitir supor a existência de dois padrões diferentes de
comportamento de características culturais e de orientação empreendedora para os
empreendedores de ambos os países.
7. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS
O presente estudo buscou preencher parte da lacuna existente em termos de conhecimento
transcultural para o Brasil e Portugal naquilo que diz respeito ao empreendedorismo.
Certamente, uma de suas principais contribuições será a de estimular a curiosidade sobre o
assunto, bem como motivar o surgimento de novos estudos complementares, já que o tema,
além de amplo, é relativamente novo e desconhecido, e portanto, ainda pouco explorado
nos dois países.
Pretender listar todas as possibilidades de novas pesquisas é evidentemente algo fora da
realidade. Entretanto, o que vai se buscar aqui é, tendo como base este estudo, relacionar
novas questões que naturalmente surgiram no seu desenvolvimento e que, por não terem
sido elucidadas no presente trabalho, torna-se pertinentes como sugestões para pesquisas
futuras. A seguir, são descritas algumas dessas sugestões.
• O empreendedorismo é um fenômeno que sofre influência de diversos fatores. Este
estudo concentrou-se, sobretudo, nas influências culturais, mas pouco observou as
influências do ambiente sobre os empreendedores e como estes reagem a elas. O
item 34 do questionário foi uma das poucas questões desta pesquisa que abordou o
tema ‘ambiente’ e a “visão” dos empreendedores frente a este, portanto, muito
pouco se considerado o potencial do assunto a ser explorado. Aprofundar as
pesquisas sobre as questões do ambiente que influenciam o empreendedorismo nos
dois países e como influenciam é uma importante sugestão.
• Este estudo partiu da premissa de que, culturalmente, Brasil e Portugal possuem
características semelhantes em suas sociedades e a partir daí buscou investigar as
características culturais dos empreendedores de ambos os países. Desta forma, outra
86
importante possibilidade de estudos reside na realização de pesquisas, também do
tipo transcultural, todavia agora direcionadas para a comparação entre
empreendedores de países com características culturais diferentes. Este tipo de
pesquisa permitiria ajudar a mensurar até que ponto o fator cultural influencia no
empreendedorismo, bem como de que maneira essa influencia se revela.
• Uma das conclusões desta pesquisa foi que empreendedores brasileiros e
portugueses, embora tenham o mesmo nível de proatividade, aparentemente a
exercem de maneira diferenciada. Investigar mais profundamente esta diferença é
igualmente outra sugestão de pesquisa futura.
• Este estudo concluiu também que a aversão à incerteza e a distância do poder são
mais elevadas entre os empreendedores do Brasil do que nos de Portugal. Assim,
investigar mais profundamente esta diferença buscando entender as causas é outra
sugestão interessante de agenda para pesquisas futuras.
• Neste trabalho concluiu-se também que o grau de competitividade dos
empreendedores portugueses era menor do que o dos empreendedores brasileiros.
Assim, outra relevante sugestão é aprofundar a investigação no sentido de buscar
também as possíveis causas que expliquem este comportamento.
Outras sugestões passam pelas já feitas no item metodologia do presente estudo. Esta
pesquisa se caracterizou por um volumoso trabalho de campo centrado na aplicação de
questionários em empreendedores do Brasil e de Portugal. Dada a importância e a
complexidade do tema, foi sugerido na metodologia a realização de estudos
complementares, tendo como base uma maior quantidade de entrevistas abertas com
empreendedores de ambos os países. A opção por este tipo de estudo permitirá uma maior
profundidade e sensibilidade quanto ao entendimento do fenômeno estudado. Como
mencionado anteriormente, inúmeras são as possibilidades de estudos e aqui foi
apresentada apenas uma parcela mínima de sugestões.
87
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92
7. ANEXOS
Anexo A – Questionário de Pesquisa (Brasil e Portugal).
Prezado(a), O Programa de Pós Graduação e Pesquisa em Administração do IBMEC Brasil e a Universidade Lusíada de Lisboa estão desenvolvendo, em cooperação, uma pesquisa com o objetivo de traçar o perfil de empreendedores em incubadoras do Brasil e de Portugal. Sua ajuda, respondendo a este questionário, é de grande importância para a realização desta pesquisa.
QUESTIONÁRIO
Parte I As pessoas diferem no que consideram importante para elas nas suas atividades profissionais. Assim, gostaríamos que assinalasse, a sua concordância ou discordância com cada das afirmações que se seguem, considerando como atividade a sua ocupação como empresário. (marque apenas um número por afirmação, colocando um X ao lado da sua escolha) 1) Discordo totalmente. 2) Discordo em parte. 3) Não concordo, nem discordo. 4) Concordo em parte 5) Concordo totalmente.
1) Na atividade de empresário, é importante ter autonomia e liberdade de ação. 1 2 3 4 5
2) A atividade como empresário tem que possibilitar ter o tempo desejado para a família e/ou vida particular.
1 2 3 4 5
3) A atividade empresarial deve gerar na sociedade o reconhecimento em termos de utilidade para esta.
1 2 3 4 5
4) Na atividade de empresário, a realização pessoal é mais importante do que a financeira. 1 2 3 4 5
93
5) Na sua atividade, o empresário não deve considerar a busca de segurança e estabilidade para si como a prioridade.
1 2 3 4 5
6) A atividade empresarial deve ser exercida em um ambiente de cooperação entre todos na empresa.
1 2 3 4 5
7) Ter uma atividade como empresário que possibilite trabalhar com os familiares. 1 2 3 4 5
8) Na atividade de empresário, deve-se buscar a construção de relações sociais. 1 2 3 4 5 Parte II A seguir, é feita uma série de afirmações relacionadas a valores, crenças e atitudes. Gostaríamos que assinalasse considerando novamente o grau com o qual concorda ou discorda de cada uma dessas afirmações, considerando a sua ocupação como empresário. (marque apenas um número por afirmação, colocando um X ao lado da sua escolha)
1) Discordo totalmente. 2) Discordo em parte. 3) Não concordo, nem discordo. 4) Concordo em parte. 5) Concordo totalmente. 9) A competitividade entre os empregados deve ser evitada no trabalho.
1 2 3 4 5
10) O processo de decisão deve ser partilhado com os empregados. 1 2 3 4 5
11) O empresário deve assumir a responsabilidade pela segurança e estabilidade de seus funcionários.
1 2 3 4 5
12) O empregado deve ser sempre orientado e supervisionado na realização de suas tarefas.
1 2 3 4 5
13) As regras e procedimentos existentes na empresa jamais devem ser quebradas pelos empregados.
1 2 3 4 5
94
14) O empresário deve considerar, na condução de seu negócio, valores como a responsabilidade social.
1 2 3 4 5
15) A centralização é o modelo mais adequado de controle dos negócios.
1 2 3 4 5
16) O empresário, ao delegar funções e tarefas, perde parte do controle sobre os negócios.
1 2 3 4 5
17) No ambiente dos negócios, a mudança contínua deve ser encarada como útil porque representa uma fonte de oportunidades.
1 2 3 4 5
18) A distância hierárquica é um importante aspecto para a manutenção do respeito e da obediência por parte dos empregados em relação ao empregador.
1 2 3 4 5
19) O êxito nos negócios está usualmente mais relacionado com o conhecimento de pessoas influentes do que propriamente com o fato do empresário deter determinadas aptidões.
1 2 3 4 5
20) Entre as mais valorizadas características do empregado estão a lealdade, o compromisso e a dedicação à empresa.
1 2 3 4 5
21) Os empregados, na sua maioria, tendem a acomodar-se e a não querer trabalhar. 1 2 3 4 5
22) A vida particular do empregado é da responsabilidade dele, não cabendo à empresa participação ou responsabilidade neste campo.
1 2 3 4 5
23) O empresário deve procurar constantemente introduzir novas marcas, produtos e serviços no mercado.
1 2 3 4 5
24) A principal fonte de preocupações nos negócios está no futuro e não no presente. 1 2 3 4 5
25) Nas decisões de negócios deve ser dada prioridade ao retorno do investimento em detrimento do risco.
1 2 3 4 5
95
26) No ambiente empresarial é prioridade estimular a criatividade como forma de estimular a inovação.
1 2 3 4 5
27) Para a empresa, o mais importante é manter sempre a sua participação de mercado, mesmo
que esta seja mantida à custa da redução nos preços de seus produtos. 1 2 3 4 5 Parte III No processo de condução da empresa e dos negócios, frequentemente, o empresário está diante de situações que exigem decisões, muitas destas estratégicas e de grande importância para o desempenho atual e para o crescimento futuro da empresa. Diante do exposto, considere o seu processo de condução e de tomada de decisões como empresário à frente de sua empresa e, por favor, marque nas afirmações abaixo o grau de concordância ou discordância que atribui a cada uma delas. (marque apenas um número por afirmação, colocando um X ao lado da sua escolha)
1) Discordo totalmente. 2) Discordo em parte. 3) Não concordo, nem discordo. 4) Concordo em parte. 5) Concordo totalmente 28) Nos negócios, deve-se ter como base à orientação no longo-prazo.
1 2 3 4 5
29) Nos negócios, deve-se buscar de maneira contínua novas oportunidades de investimentos. 1 2 3 4 5
30) Nos negócios, deve-se monitorar os passos dos concorrentes e responder de imediato a qualquer ação destes que representem uma ameaça.
1 2 3 4 5
31) Nos negócios, os interesses do grupo (empresário e seus empregados) estão acima dos interesses individuais (somente os do empresário).
1 2 3 4 5
32) Nos negócios, a melhor maneira de enfrentar a concorrência é tentando tirá-la do mercado. 1 2 3 4 5
33) Nas decisões de negócios, especialmente nas estratégicas, é preferível sacrificar a rentabilidade atual a favor da busca pela futura liderança de mercado.
1 2 3 4 5
96
Parte IV 34) Abaixo estão relacionadas algumas das dificuldades normalmente encontradas pelos
empresários na condução de seus negócios. Gostaríamos que assinalasse aquela que representa, na sua opinião, a principal dificuldade enfrentada. Marque somente uma opção.
1 ( ) As freqüentes alterações do cenário que dificultam o planejamento. 2 ( ) O ambiente hostil caracterizado pelo aumento da concorrência. 3 ( ) O excesso de formalização e burocracia que “emperram” os negócios. 4 ( ) A crescente escassez de novas oportunidades de negócios. 5 ( ) A baixa disponibilidade de recursos financeiros para investimentos.
35) Algumas características individuais estão mais associadas ao chamado espírito empreendedor e, por extensão, ao empreendedor de sucesso. Por favor, gostaríamos que ordenasse de 1 a 6 em termos de importância que atribui para cada uma dessas características individuais, considerando os requisitos necessários, na sua opinião, para a formação de um perfil empreendedor de sucesso.
OBS: coloque 1 para a característica mais importante, 2 para a seguinte e assim, subsequentemente, até 6 para a menos importante.
( ) Ter comportamento autônomo e independente. ( ) Ter comportamento proativo. ( ) Ter propensão para assumir riscos. ( ) Construir uma ampla e sólida Network. ( ) Ter comportamento fortemente competitivo. ( ) Ter comportamento inovador.
36) As decisões de novos investimentos envolvem considerações quanto à relação entre risco e retorno do investimento. Considerando novamente o processo de tomada de decisão como empresário, gostaríamos que assinalasse entre as alternativas abaixo, aquela que representa a orientação mais adequada que deve ser dada a este tipo de decisão. Marque somente uma opção.
( ) Retorno agressivo e risco agressivo. ( ) Retorno alto e risco alto. ( ) Retorno médio e risco médio. ( ) Retorno moderado e risco moderado. ( ) Retorno baixo e risco baixo.
37) Já teve experiência anterior à atual como empresário? 1 ( ) sim 2 ( ) não 38) Se sim, iniciou em incubadora? 1 ( ) sim 2 ( ) não
97
39) Na sua família tem ou teve alguém com quem se identificou, que lhe serviu de exemplo como empresário?
1 ( ) sim 2 ( ) não
Parte V - Dados biográficos Nome (opcional): Idade: 40) Sexo:
1 ( ) Masculino 2 ( ) Feminino
Formação acadêmica:
Empresa:
Anos de atividade:
Setor / Ramo de atividade: E-mail: E-mail de contato e retorno do questionário: [email protected] Marco Antônio Monteiro Pesquisador IBMEC Deseja obter os resultados deste estudo? ( ) sim ( ) não
Obrigado pela sua colaboração!
98
Anexo B – Carta de Apresentação (Brasil e Portugal).
Prezado(a), O Programa de Pós Graduação e Pesquisa em Administração do IBMEC Brasil
e a Universidade Lusíada de Lisboa estão desenvolvendo, em cooperação, uma pesquisa
com o objetivo de traçar o perfil de empreendedores em incubadoras do Brasil e de
Portugal.
A sua ajuda respondendo ao questionário em anexo, é de grande importância para
o processo de investigação. O questionário respondido poderá ser devolvido para o email
[email protected] Caso deseje obter os resultados desse estudo, não se
esqueça de indicar o seu email no final do questionário.
Agradecemos desde já a sua colaboração.
Atenciosamente,
Manuela Faia Correia, PhD Luiz F. Autran M. Gomes, PhD
Universidade Lusíada de Lisboa IBMEC - Brasil
Marco Antonio O. Monteiro / Erika de Oliveira Porcaro
IBMEC - Brasil
99
Anexo C – Estatísticas.
PRINCIPAIS ESTATÍSTICAS APURADAS POR ITEM DO QUESTI ONÁRIO ITEM BRASIL PORTUGAL
Média Mediana Desv. Pad. Moda Média Mediana Desv. Pad. Moda 1 4,61 5 0,76 5 4,83 5 0,45 5 2 4,31 5 1,02 5 4,32 5 0,94 5 3 4,40 5 0,92 5 4,51 5 0,63 5 4 3,54 4 1,12 4 3,49 4 1,03 4
5 * 3,15 3 1,37 2 2,48 2 1,03 2 6 4,75 5 0,60 5 4,85 5 0,36 5 7 2,31 2 1,13 1 2,21 2 0,99 3 8 4,46 5 1,02 5 4,26 4 0,85 5 9 3,00 3 1,29 2 2,54 2 1,00 2
10 3,65 4 0,98 4 3,54 4 0,88 4 11 4,16 4 1,03 5 4,38 4 0,72 5 12 4,06 4 1,08 4 3,26 4 1,18 4 13 3,65 4 1,16 4 3,49 4 1,15 4 14 4,71 5 0,63 5 4,55 5 0,69 5 15 2,01 2 1,11 1 2,15 2 1,02 2 16 1,96 2 1,09 1 1,86 2 0,98 2 17 3,93 4 0,97 4 4,14 4 0,99 5 18 2,42 2 1,26 2 1,97 2 1,10 1 19 2,71 2 1,19 2 2,80 3 1,08 2 20 4,22 5 1,08 5 4,21 4 0,91 5 21 2,46 2 1,18 2 2,11 2 1,08 2 22 3,07 3 1,24 2 3,11 3 1,36 2 23 4,28 5 0,87 5 4,01 4 1,04 4 24 3,47 4 1,28 4 3,61 4 0,99 4 25 3,34 4 1,11 4 2,99 3 1,10 4 26 4,71 5 0,53 5 4,59 5 0,53 5 27 3,25 4 1,18 4 2,82 3 1,07 2 28 3,95 4 1,03 4 3,92 4 0,73 4 29 4,66 5 0,66 5 4,68 5 0,53 5 30 4,47 5 0,77 5 3,99 4 1,04 4 31 4,07 4 1,06 5 4,29 4 0,90 5 32 1,98 2 1,19 1 1,73 2 0,81 1 33 3,75 4 1,09 4 3,73 4 1,00 4 34 - - - 5 - - - 3 35 - - - 6 - - - 2 36 2,96 3 0,66 3 2,75 3 0,84 3 37 - - - 2 - - - 2 38 - - - 2 - - - 2 39 - - - 2 - - - 2
Idade 32,27 30 8,65 27 37,11 36 8,42 36 Sexo - - - 1 - - - 1 Escolaridade 3,54 3 1,08 3 3,55 3 1,08 3 anos de atividade 3,54 2 3,87 1 4,28 3 4,62 3 * as estatísticas deste item foram apuradas após a inversão realizada na escala de respostas.