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i FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO GOVERNANÇA CORPORATIVA E CUSTOS DE AGÊNCIA NAS EMPRESAS COM INFLUÊNCIA GOVERNAMENTAL Aluno: DANIEL DE FREITAS GOTAÇ Orientador: PROF. DR. ROBERTO MARCOS DA SILVA MONTEZANO Rio de Janeiro, 30 de outubro de 2013.

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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM

ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO

GOVERNANÇA CORPORATIVA E CUSTOS DE AGÊNCIA NAS EMPRESAS COM

INFLUÊNCIA GOVERNAMENTAL

Aluno: DANIEL DE FREITAS GOTAÇ

Orientador: PROF. DR. ROBERTO MARCOS DA SILVA

MONTEZANO

Rio de Janeiro, 30 de outubro de 2013.

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“GOVERNANÇA CORPORATIVA E CUSTOS DE AGÊNCIA NAS EMP RESAS COM INFLUÊNCIA GOVERNAMENTAL”

DANIEL DE FREITAS GOTAÇ

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Administração Geral

ORIENTADOR: PROF. DR. ROBERTO MARCOS DA SILVA MONTEZANO

Rio de Janeiro, 30 de outubro de 2013.

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G683 Gotaç, Daniel de Freitas.

Governança corporativa e custos de agência nas empresas com influência governamental. / Daniel Gotaç de Freitas. - Rio de Janeiro: [s.n.], 2013. 71 f.; il.

Dissertação de Mestrado Profissionalizante em Administração do IBMEC. Orientador: Prof. Dr. Roberto Marcos da Silva Montezano. 1. Governança corporativa. 2. Custos de agência. 3.

Influência governamental. I. Título. CDD 658.04

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DEDICATÓRIA

A Olivia, amor da minha vida, por todo carinho e compreensão.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus e a meus pais, que me deram a vida e me ensinaram a

vivê-la com honestidade e respeito. A toda minha família que esteve sempre ao meu lado. Aos

colegas, professores e funcionários do IBMEC pelo incentivo e contribuições ao longo da

caminhada. À Petrobras pela oportunidade e confiança ao sempre estimular meu crescimento.

Aos professores Raimundo Nonato e Valdir Lameira pelas ricas contribuições desde a defesa

do projeto.

Agradeço especialmente a meu orientador Roberto Montezano, professor exemplar, pela

simplicidade e sabedoria ao me indicar os caminhos.

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RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo investigar empiricamente os determinantes dos custos

de agência de empresas brasileiras. O principal objetivo é investigar a relação entre a

influência governamental e os custos de agência, mas também foram investigadas a

concentração de controle e a presença em segmentos diferenciados de governança corporativa

BM&FBOVESPA. Para isto, utilizou-se como proxies dos custos de agência a taxa de

eficiência no giro dos ativos e a relação entre as despesas com administração e receitas de

vendas. Os principais resultados encontrados são conflitantes. Para o índice de giro de ativos

a, pesquisa encontrou que: i) custos de agência aumentam quando a empresa sofre influência

estatal, quando participa dos segmentos diferenciados de governança da BM&FBOVESPA e

quando possuem conselhos de administração mais numerosos; ii) custos de agência são

reduzidos em empresas maduras e de maior porte; iii) não foram encontradas evidências

quanto à concentração de controle e quanto à alavancagem financeira. No que diz respeito à

relação entre as despesas com administração e receitas de vendas, os principais resultados

encontrados foram: i) custos de agência são reduzidos quando a empresa sofre influência

estatal, quando há maior concentração de controle, quando participa dos segmentos

diferenciados de governança, quando são de maior porte e quando são mais alavancadas; ii)

não foram encontradas evidências quanto ao tamanho do conselho de administração e quanto

à idade da empresa.

Palavras-chave: Governança Corporativa, custos de agência, influência governamental.

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ABSTRACT

This study aimed to investigate empirically the determinants of agency costs in Brazilian

companies. The main objective is to investigate the relation between government influence

and agency costs, but were also investigated concentrated ownership and the participation in

BM&FBOVESPA special governance segments. To this end, we used as proxies of agency

costs the asset turnover ratio and SG&A and sales revenue ratio. The main results are

conflicting. For the asset turnover ratio, research has found that: i) agency costs increase when

the company is influenced by the government, when participating in BM&FBOVESPA

special governance segments and when have larger boards; ii) agency costs are reduced in

mature and larger companies; iii) no evidence was found for concentrated ownership and for

financial leverage. Regarding SG&A and sales revenue ratio, the main findings were: i)

agency costs are reduced when the company is influenced by the government, when there is

concentrated ownership, when participating in BM&FBOVESPA special governance

segments, in larger companies and when increases the company's financial leverage; ii) there

was no evidence as to the size of the board and the age of the company.

Keywords: Corporate Governance, agency costs, government influence.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Modelo de balanço das empresas............................................................................... 8

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Comparativo entre os Segmentos de Listagem da BM&FBOVESPA. ................... 12

Tabela 2 - Custos de Agência e Estrutura de Controle e Propriedade - Principais Trabalhos . 24

Tabela 3 - Amostra apresentada por Setores NAICS ............................................................... 27

Tabela 4 - Variáveis da Pesquisa .............................................................................................. 34

Tabela 5 - Estatísticas Descritivas ............................................................................................ 37

Tabela 6 - Resultados da análise de regressão para Custos de Agência medidos por Ln de Giro de Ativo (Receita de vendas/Ativo Total) no ano de 2011....................................................... 41

Tabela 7 - Resultados da análise de regressão para Custos de Agência medidos por Ln de Giro de Ativo (Receita de vendas/Ativo Total) no ano de 2012....................................................... 42

Tabela 8 - Resultados da análise da regressão para Custos de Agência medidos por Ln de Despesas Discricionárias (VG&A/Receita de Vendas) no ano de 2011 .................................. 44

Tabela 9 - Resultados da análise da regressão para Custos de Agência medidos por Ln de Despesas Discricionárias (VG&A/Receita de Vendas) no ano de 2012 .................................. 45

Tabela 10 - Principais resultados das análises de regressão para Custos de Agência .............. 47

Tabela 11 - Síntese qualitativa da análise dos resultados. ........................................................ 49

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LISTA DE ABREVIATURAS

BM&FBOVESPA Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo

BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social

CVM Comissão de Valores Mobiliários

IFRS International Financial Reporting Standards

IHH Índice de Herfindahl-Hirschman

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

NAICS North American Industry Classification

VG&A Despesas de Vendas Gerais e Administrativas

VPL Valor Presente Líquido

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1

1.1. O PROBLEMA .................................................................................................................. 1

1.2. OBJETIVO DA PESQUISA .............................................................................................. 3

1.3. JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA ................................................................................. 4

2. REVISÃO DA LITERATURA ....................................................................................... 6

2.1. GOVERNANÇA CORPORATIVA ................................................................................... 6

2.2. O PROBLEMA DE AGÊNCIA ....................................................................................... 13

2.3. ESTRUTURA DE PROPRIEDADE E CONTROLE ...................................................... 16

2.4. A INFLUÊNCIA GOVERNAMENTAL ......................................................................... 17

2.5. MODELOS EMPÍRICOS DE CUSTOS DE AGÊNCIA................................................. 20

3. METODOLOGIA ........................................................................................................... 25

3.1. COLETA DE DADOS ..................................................................................................... 26

3.2. CUSTOS DE AGÊNCIA ................................................................................................. 28

3.3. ESTRUTURA DE CONTROLE E INFLUÊNCIA ESTATAL ....................................... 29

3.4. CONCENTRAÇÃO DE CONTROLE ............................................................................. 31

3.5. SEGMENTO DE LISTAGEM NA BM&FBOVESPA ................................................... 31

3.6. VARIÁVEIS DE CONTROLE ........................................................................................ 32

3.7. MODELOS EMPÍRICOS E HIPÓTESES ....................................................................... 33

4. RESULTADOS ............................................................................................................... 35

4.1. ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS .................................................................................... 35

4.2. RESULTADOS EMPÍRICOS .......................................................................................... 39

5. CONCLUSÕES ............................................................................................................... 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 54

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1. INTRODUÇÃO

1.1. O PROBLEMA

Berle e Means (1932) previram a evolução das empresas com propriedade dispersa e gestão

concentrada em administradores profissionais. Este trabalho, considerado por muitos o marco

inicial em governança corporativa, analisou a composição acionária das grandes empresas

norte-americanas e discutiu os inevitáveis conflitos de interesse que estruturas de propriedade

pulverizadas poderiam acarretar para o desempenho e valor das companhias. Desde então,

questões como estrutura de financiamento, custos de agência, conflitos entre controle e

gestão, passaram a fazer parte de uma intensa discussão, dando origem aos fundamentos do

que atualmente é conhecido por governança corporativa. Mas foi a partir da Teoria de

Agência de Jensen e Meckling (1976) que as pesquisas sobre governança assumiram um

papel importante no campo de finanças corporativas.

Desde Jensen e Mekling (1976), Shleifer e Vishny (1997) e Zingales (1998) aspectos como

estrutura de capital, programas de incentivo gerencial, estrutura organizacional, pressão de

investidores institucionais, concorrência no mercado de produtos, aquisições hostis e proteção

aos minoritários têm sido foco de discussão em governança corporativa.

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Jensen e Mekling (1976) assumem que há uma relação contratual entre acionista e gestor,

onde há uma delegação de poderes dada pelo acionista (principal) ao gestor (agente). O

objetivo é que o agente atenda ao interesse do principal. Entretanto, o interesse próprio do

gestor pode acarretar em decisões que não visam à maximização da riqueza dos acionistas. Os

custos diretos e indiretos dessa transferência da gestão são conhecidos como custos de

agência.

Existem mecanismos para fazer com que os gestores não coloquem seus interesses à frente

dos interesses dos fornecedores de financiamento, aumentando a segurança do investidor.

Estes mecanismos podem ser legais, estatutários e de gestão. Como exemplos há medidas

contra aquisições hostis (antitakeover, poisonpills), criação de incentivos apropriados para o

gestor e medidas de monitoramento, como auditorias independentes e a Lei Sarbanes-Oxley.

Esta Lei, criada em 2002 nos Estados Unidos, teve como objetivo principal a restauração do

equilíbrio dos mercados por meio de mecanismos que assegurassem a responsabilidade da alta

administração de uma empresa sobre a confiabilidade da informação fornecida.

É importante destacar que todas estas medidas geram custos e são imperfeitas no sentido de

garantir que o gestor atuará sempre em favor dos interesses dos proprietários. No entanto,

podem contribuir para redução dos custos de agência. Além disso, tendo em vista a estrutura

de controle da maioria das empresas do Brasil, que em geral não seguem o modelo de

empresa com propriedade dispersa proposto por Berle e Means (1932), outro ponto

importante a ser entendido é de que maneira os acionistas minoritários têm seus direitos

protegidos quando há a presença de um controlador poderoso na gestão da empresa. Em tal

situação, há mudança no paradigma de governança corporativa: a boa governança não mais

consiste em proteger o interesse dos acionistas, mas em evitar que os acionistas controladores

expropriem os minoritários.

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Mas como estas questões são tratadas quando o Governo é o controlador ou influencia

diretamente na atuação da empresa por meio de regulação? Como se comportam os custos de

agência em empresas que sofrem a influência estatal? Estas são questões que se pretende

investigar neste trabalho.

1.2. OBJETIVO DA PESQUISA

O objetivo central da pesquisa é analisar empiricamente os determinantes dos custos de

agência das empresas brasileiras, procurando examinar diferenças entre empresas com

influência governamental e empresas privadas de capital aberto. Considera-se empresa com

influência governamental aquela que: (1) possui controle direto do Estado, (2) é controlada

por fundos de pensão de empresas estatais ou pelo BNDES, (3) atua em setores fortemente

influenciados por agências reguladoras, ou seja, empresas que atuam em setores cuja

abrangência, tarifação e regulamentação são fortemente controladas por agentes estatais.

Utilizando como critério a classificação NAICs (North American Industry Classification),

além das empresas controladas pelo Estado, foram consideradas empresas que sofrem

influência estatal as pertencentes aos setores de geração, transmissão e distribuição de energia

elétrica, eletricidade, gás e água e Água, esgoto e outros sistemas.

Partimos da hipótese de que empresas que sofrem influência estatal incorrem em maiores

custos de agência. O trabalho utiliza como proxies para estimativa dos custos de agência: o

índice de giro de ativos e a relação entre as despesas controladas pela administração e receitas

de vendas. Desta forma, construiremos modelos de regressão para determinantes dos custos

de agência de empresas brasileiras de capital aberto. A metodologia desenvolvida por Ang et

al. (2000) para pequenas empresas não financeiras norte americanas, e por Sinhg e Davidson

(2003), para grandes empresas não financeiras norte americanas, suporta o presente estudo.

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Como meta secundária e instrumental, esta pesquisa realizará um levantamento de amostra

relevante da literatura que aborde a questão de Governança Corporativa, estrutura de

propriedade e custos de agência.

1.3. JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA

A visão introduzida por Berle e Means (1932) de propriedade dispersa e gestão profissional é

mais frequentemente observada nos Estados Unidos e na Grã Bretanha. Em outros países,

especialmente na América Latina e no Brasil, o modelo tipicamente praticado e verificado por

La Porta (1999) é aquele em que predomina a existência de um acionista majoritário que

detém o controle da empresa e aponta seus administradores. Por sua vez, algumas das maiores

empresas do Brasil tem como controlador a figura do Estado, que pode influenciar

diretamente na gestão em defesa de seus interesses, em detrimento dos acionistas

minoritários.

Como suporte teórico, há a visão de que a governança corporativa deve buscar minimizar os

custos de agência, moderando a separação dos interesses entre investidores e administradores,

ou entre acionistas controladores e minoritários. Esta visão busca diminuir conflitos,

estabelecendo regras que propiciem ganhos mútuos às partes envolvidas. Este é um tema

bastante explorado na literatura internacional, mas ainda não há mecanismos que propiciam

total alinhamento entre interesses. Isto faz do tema algo rico e com grande perspectiva de

novos estudos que tragam à tona aperfeiçoamentos nos mecanismos existentes e surgimentos

de novos instrumentos de governança.

De acordo com a Constituição Brasileira, (1988), os objetivos do Estado são voltados para a

construção de uma sociedade justa, para a garantia do desenvolvimento econômico nacional e

a promoção do bem de todos. Tendo em vista que estes objetivos diferem dos meramente

empresariais, a partir do momento em que o governo assume o papel controlador de empresas

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ou de agente regulador com influência determinante na atuação empresarial, supõe-se que a

relação de governança muda e isto afeta os custos de agência. Diante deste cenário, parte-se

da hipótese que isto implica em custos de agência maiores do que os de empresas privadas de

capital aberto sem influência governamental. Este trabalho se propõe a analisar esta questão,

pois é um aspecto que mereceu pouca atenção da literatura brasileira.

A dissertação está estruturada da seguinte forma: o segundo capítulo fará uma revisão de

amostra relevante da literatura governança corporativa, o problema de agência, estrutura de

propriedade e controle, a influência governamental e modelos desenvolvidos sobre o tema. O

terceiro capítulo abordará a metodologia utilizada para a realização da pesquisa, as hipóteses

testadas e os modelos de regressão adotados. O quarto capítulo desenvolve a análise dos

resultados. O quinto capítulo apresenta as conclusões, as limitações do trabalho, implicações

para governança corporativa e indicações de potenciais caminhos para pesquisas futuras.

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2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. GOVERNANÇA CORPORATIVA

A separação entre a propriedade e o controle das sociedades anônimas, analisada por Berle e

Means (1932), representou os fundamentos para o fenômeno organizacional que atualmente é

conhecido por governança corporativa. Tal distribuição de poder pode gerar o desalinhamento

de interesses entre executivos e acionistas na busca dos objetivos principais da organização.

Tendo em vista que o objetivo principal das empresas de capital aberto é a maximização do

valor para os acionistas e manutenção de sua estrutura em contínuo desenvolvimento, a

governança corporativa busca o equilíbrio entre esses interesses.

Jensen e Meckling (1976) integram elementos da teoria da agência, teoria dos direitos de

propriedade e da teoria de finanças para desenvolver uma teoria da estrutura de propriedade

da empresa. Eles constatam que milhões de indivíduos voluntariamente confiam suas riquezas

pessoais a gestores com base em um conjunto complexo de relações, formalmente e

informalmente constituídas, que delineiam os direitos e deveres das partes envolvidas.

De acordo com estes autores, o crescimento do uso desta forma de atuação bem como o

crescimento do valor de mercado das empresas estabelecidas sugeria, até então, que os

credores e investidores, de modo geral, não estavam decepcionados com os resultados, apesar

dos custos de agência inerentes a esta forma de atuação. Neste trabalho, defendem também

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que custos de agência são tão reais quanto qualquer outro custo. O nível de custos de agência

depende, entre outras coisas, das regras estabelecidas e da engenhosidade humana na

elaboração de contratos. Tanto as regras como a sofisticação dos contratos relevantes para a

empresa são produtos de um processo histórico em que havia fortes incentivos para os

indivíduos minimizarem os custos de agência.

Há na literatura diferentes definições para a governança corporativa. O Instituto Brasileiro de

Governança Corporativa (IBGC) a define como um sistema pelo qual as sociedades são

dirigidas e monitoradas, envolvendo os acionistas e os cotistas, Conselho de Administração,

Diretoria, Auditoria Independente e Conselho Fiscal. Zingales (1998) define governança

corporativa como o conjunto complexo de restrições que moldam a negociação ex post sobre

os quasi-rents gerados pela firma. Shleifer e Vishny (1997) definem como as maneiras pelas

quais os financiadores asseguram-se de obter um retorno sobre seu investimento.

Tomando uma perspectiva ampla sobre as questões envolvidas, Gillan e Starks (1998)

definem a governança corporativa como o sistema de leis, regras e os fatores que controlam as

operações de uma empresa. Podem ser enquadradas em dois grupos: internos e externos. Esta

separação pode ser captada pelo modelo de balanço das empresas:

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Figura 1 – Modelo de balanço das empresas

Cre

do

res

Acio

nis

tas

Conselho

Gerentes

AtivosDívida

PL

Interno Externo

Fonte: Adaptado de Gillan (2006, p.382)

Gillan (2006) divide a governança interna de uma organização em cinco categorias básicas: 1.

O Conselho de Administração (papel, estrutura e incentivos); 2. Incentivos Gerenciais; 3.

Estrutura de Capital; 4. Estatuto Social e medidas antitakeover; 5. Sistemas de Controle

Interno.

Da mesma forma, o autor divide a estrutura externa de governança em cinco grupos: 1. Leis e

regulamentos; 2. Mercados 1 (incluindo os mercados de capitais, o mercado de controle

corporativo, mercados de trabalho e mercados de produtos); 3. Mercados 2 - com ênfase aos

provedores de informação do mercado de capitais (como o previsto pelo crédito, estrutura de

capital e os analistas de governança); 4. Mercados 3 - com foco em serviços de contabilidade,

financeira e jurídica das partes externas à empresa (incluindo a auditoria, e conselhos de

banco de investimento); 5. Fontes privadas de um controle externo, em particular os meios de

comunicação e ações judiciais.

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Williamson (2005) desenvolve uma teoria para explicar como as organizações se estruturam

internamente em resposta às características das transações que executam em um determinado

ambiente institucional. Ele propõe que a governança deve ser examinada em relação a dois

níveis de análise institucional: as regras formais e informais do jogo - ou seja, o nível do

ambiente institucional (o governo, as leis de propriedade e contrato, e sua aplicação) e o nível

social (normas, costumes). Seu trabalho adota três conceitos fundamentais surgidos na década

de 1930: visão de contratos, atores humanos e custos de transação. Admite ainda que os

agentes econômicos possuam racionalidade limitada. A principal lição de racionalidade

limitada é que todos os contratos complexos são inevitavelmente incompletos. Assim, a

tomada de decisão é adaptativa e sequencial.

Algumas decisões não podem ser tomadas com antecedência, mas quando surge a

necessidade. Isso não implica, porém, que as sucessivas contingências sejam tratadas de uma

forma ad hoc. Pelo contrário, segundo Williamson (2005), a economia da governança faz a

suposição cognitiva de que as partes de um contrato de longo prazo possuem uma

"previsibilidade viável", ou seja, tem a capacidade de olhar para frente, descobrir possíveis

riscos e suas ramificações, e em seguida incorporar mecanismos de mitigação de riscos dentro

dos acordos contratuais ex ante, com o objetivo de minimizar os custos de transação e

proporcionar ganhos mútuos.

Berle e Means (1932) mostraram que a dispersão do acionista cria um substancial poder

gerencial. Desta forma, a premissa por trás de finanças corporativas modernas é de que

gerentes não atuam sempre em busca dos melhores interesses dos fornecedores de

financiamento, mas muitas vezes em interesse próprio. Assim, objetivando dirimir os riscos

morais que envolvem esta questão, os incentivos dos gerentes podem ser parcialmente

alinhados com os interesses dos investidores através do uso de sistemas de compensação

baseados em desempenho, tais como bônus, ações, opções de ações e incentivos monetários

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associados ao valor da firma. Também são instrumentos de alinhamento de interesses a

redução de turnover de executivos e a criação de estruturas de monitoramento como o

Conselho Fiscal e as auditorias independentes. Mas estas medidas geram custos e são

imperfeitas no sentido de garantir que o gestor atuará sempre em favor dos interesses dos

proprietários.

Segundo Tirole (2006), o aumento da cobertura da mídia tornou familiares termos como

"maior transparência", "responsabilidade empresarial", "falhas de governança corporativa",

"quadros de diretores fracos", "aquisições hostis", "proteção aos acionistas minoritários", e

"ativismo dos investidores". Desta forma, governança corporativa tem sido um tema bastante

explorado em finanças corporativas modernas, o que não proporcionou o surgimento de

mecanismos que propiciem total alinhamento entre propriedade e administração. Isto faz do

tema algo rico e com grande potencial para pesquisas que visem aperfeiçoamentos nos

mecanismos existentes e surgimentos de novos instrumentos aplicados de governança.

Nos Estados Unidos, a mídia desempenha um papel importante na governança das empresas.

Por exemplo, Mclean (2001) da Fortune Magazine trouxe à tona as práticas contábeis

fraudulentas da Enron, que tiveram como consequência a abertura de dezenas de

investigações criminais contra executivos da Enron e da Arthur Andersen, que era

responsável por auditar as contas da empresa, e desencadearam no pedido de concordata da

empresa em 2001.

Em razão de uma série de escândalos financeiros corporativos como o da Enron, foi

sancionada a Lei Sarbanes-Oxley em 2002. Essa lei estabeleceu um conjunto severo de regras

para os principais agentes envolvidos no mundo corporativo, como administradores,

auditores, advogados e analistas de mercado. Aos auditores independentes foram destinadas

regras específicas que introduziram novidades como a criação de órgão fiscalizador da

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profissão, novas regras de independência e renovadas normas de auditoria (SILVA e

ROBLES, 2008).

Existem diversos mecanismos de governança corporativa, que tem como principal objetivo a

proteção dos interesses dos acionistas contra o comportamento do gestor e dos acionistas

minoritários contra ações despóticas dos acionistas controladores. Como vimos, estes

mecanismos podem ser internos (o conselho de administração, sistemas de remuneração,

concentração acionária e atuação de investidores institucionais) ou externos (a proteção legal

aos investidores, aquisição hostil, competição, fiscalização de agentes de mercado e a

estrutura de capital). Neste contexto, o Conselho de Administração possui um papel

fundamental, pois deve garantir que a gerência busque maximizar o valor de mercado da

firma.

Em resumo, a governança corporativa, na visão da Teoria de Agência, busca minimizar os

custos de agência, moderar a separação dos interesses entre controle e propriedade,

diminuindo conflitos e estabelecendo regras que propiciem ganhos mútuos às partes

envolvidas. Pode ser considerada como a forma de infundir ordem nas relações intrafirma.

No Brasil, objetivando proporcionar um ambiente de negociação de ações que estimulasse,

simultaneamente, o interesse dos investidores e a valorização das companhias, em dezembro

de 2000 a BM&FBOVESPA lançou os segmentos especiais de listagem das empresas -

BOVESPA MAIS, Novo Mercado, Nível 1 e Nível 2. Assim, foram criados os níveis

diferenciados de governança corporativa, para os quais as empresas listadas na Bolsa têm

adesão voluntária. A Tabela 1 a seguir apresenta um comparativo entre os Segmentos de

Listagem da BM&FBOVESPA.

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Tabela 1 - Comparativo entre os Segmentos de Listagem da BM&FBOVESPA. NOVO MERCADO NÍVEL 2 NÍVEL 1 BOVESPA MAIS TRADICIONAL

Características das Ações Emitidas

Permite a existência somente de ações ON

Permite a existência de ações ON e PN (com direitos adicionais)

Permite a existência de ações ON e PN (conforme legislação)

Somente ações ON podem ser negociadas e emitidas, mas é permitida a existência de PN

Permite a existência de ações ON e PN (conforme legislação)

Percentual Mínimo de Ações em Circulação (free float)

25% de free float até o 7º ano de listagem, ou condições mínimas de liquidez

Não há regra

Distribuições públicas de açõesVedação a disposições estatutárias (a partir de 10/05/2011)Composição do Conselho de AdministraçãoVedação à acumulação de cargos (a partir de 10/05/2011)Obrigação do Conselho de Administração (a partir de 10/05/2011)Demonstrações FinanceirasReunião pública anual e calendário de eventos corporativosDivulgação adicional de informações (a partir de 10/05/2011)

100% para ações ON e PN100% para ações ON e 80% para PN (até 09/05/2011)

Oferta pública de aquisição de ações no mínimo pelo valor econômico

Conforme legislaçãoObrigatoriedade em caso de fechamento de capital ou saída do segmento

Conforme legislação

Adesão à Câmara de Arbitragem do Mercado

Facultativo Obrigatório Facultativo

Obrigatoriedade em caso de fechamento de capital ou saída do segmento

Obrigatório

Obrigatório Facultativo

Política de negociação de valores mobiliários e código de conduta Não há regra

Concessão de Tag Along 100% para ações ON80% para ações ON (conforme legislação)

100% para ações ON80% para ações ON (conforme legislação)

Presidente do conselho e diretor presidente ou principal executivo pela mesma pessoa (carência de 3 anos a partir da adesão)

Não há regra

Manifestação sobre qualquer oferta pública de aquisição de ações da companhia

Não há regra

Traduzidas para o inglês Conforme legislação

No mínimo 25% de free float

Esforços de dispersão acionária Não há regra

Limitação de voto inferior a 5% do capital, quorum qualificado e "cláusulas pétreas”

Não há regra

Mínimo de 5 membros, dos quais pelo menos 20% devem ser independentes com mandato unificado de até 2 anos

Mínimo de 3 membros (conforme legislação)

Fonte: BM&FBOVESPA 2013

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2.2. O PROBLEMA DE AGÊNCIA

No artigo The Nature of Firm, Coase (1937) procurou responder ao questionamento sobre a

origem do crescimento das firmas, propondo que elas crescerão enquanto for mais barato

racionalizar os custos de transação de um determinado produto internamente, do que adquiri-

lo diretamente no mercado. Até a década de 30 no século XX, considerava-se que os custos de

transação eram desprezíveis, ou seja, os custos de contratação e organização eram ignorados e

a atenção ficava voltada exclusivamente para o sistema de preços, quantidades de

fornecimento e demanda (ARROW, 1969). Este foi o paradigma dominante na economia

durante boa parte do século XX.

Coase (1937) aborda com ceticismo o tratamento ortodoxo da firma de que o sistema

econômico é coordenado apenas pelo mecanismo de preços e destaca a percepção de que

existiam custos para realização de transações no mercado e que era necessário incorporá-los à

análise. No enfoque da Teoria Contratual, a firma existe porque ela representa um meio de

economizar os custos gerados pelos conflitos de interesse existentes entre as partes dos

contratos que envolvem as relações de produção, sendo, por conseguinte, mais eficiente do

que o mecanismo de mercado (CORREIA e AMARAL, 2008). Assim, pode-se definir uma

empresa como um conjunto de contratos.

O problema de agência, ou problema agente-principal, aparece quando o bem estar de uma

parte, denominada principal, depende das decisões tomadas por outra, denominada agente.

Embora o agente deva tomar decisões em benefício do principal, muitas vezes ocorrem

situações em que os interesses dos dois são conflitantes, dando margem a um comportamento

oportunista por parte do agente, referido como moral hazard ou oportunismo (CARVALHO,

2002).

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Os custos de agência são todos aqueles frequentemente designados como custos de

contratação, custos de transação, custos de risco moral e custos de informação. Estes

resultam, assim, da soma dos custos de criar e estruturar contratos entre o principal e o agente;

de gastos de monitoramento pelo principal; de gastos com comprometimento pelo agente; e

da perda residual (JENSEN e MECKLIN, 1976).

Jensen e Meckling (1976) definem uma relação de agência como um contrato sob o qual uma

ou mais pessoas (o principal) se envolvem com outra pessoa (o agente) para realizar algum

serviço em seu nome, que envolve a delegação de alguma autoridade de tomada de decisão

para o agente. Se ambas as partes do relacionamento são maximizadores de utilidade, há

razões para acreditar que o agente não agirá sempre no melhor interesse do principal e sempre

haverá alguma divergência entre as decisões tomadas pelos agentes e aquelas que otimizariam

os interesses do titular, gerando-se uma perda residual (JENSEN e MECKLING, 1976). Neste

trabalho seminal, os autores afirmam ainda que custos de agência surgem em qualquer

situação que envolva esforço por duas ou mais pessoas mesmo que não haja clara relação

principal-agente. O principal pode limitar as divergências de seu interesse através da criação

de incentivos apropriados para o agente e incorrendo em custos de monitoramento destinados

a limitar as atividades em desacordo do agente.

Em algumas situações o principal remunera o agente para garantir que ele não vá tomar

medidas que prejudiquem seus interesses. No entanto, é geralmente impossível para o

principal ou para o agente, a custo zero, garantir que o agente tomará decisões ótimas do

ponto de vista do principal. De acordo com Ross (2002), supõe-se que os administradores e os

acionistas, se deixados a si mesmos, procurarão agir em defesa de seus próprios interesses.

Por exemplo, Jensen (1986) verifica que o pagamento de dividendos aos acionistas pode ser

fonte de conflitos, uma vez que diminui os recursos sob o controle dos gestores.

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Segundo Brealey-Meyers (1991), custos de agência são incorridos quando (1) gerentes não

tentam maximizar o valor da empresa e (2) os acionistas incorrem em custos para monitorar

os gestores e influenciar suas ações. Conflitos entre acionistas e gerentes criam um problema

de agente-principal, o que proporciona perda de eficiência e valor para a empresa. Os

acionistas são os principais, os gestores são os seus agentes. Acionistas querem aumentar o

valor da empresa, mas os gestores podem ter outros interesses. O agente vai aceitar o contrato

se a utilidade com o contrato for superior ou igual à utilidade que este auferiria se estivesse

fora do contrato.

Segundo os autores, os custos de agência podem ser reduzidos de duas maneiras: através do

monitoramento dos gestores ou dando-lhes os incentivos adequados para maximizar o valor.

No entanto, como o monitoramento é necessariamente imperfeito, planos de compensação

devem ser projetados para dar aos gestores os incentivos corretos. A compensação pode ser

com base na entrada (por exemplo, o esforço do gestor ou de vontade demonstrada em

assumir riscos) ou saída (retorno real ou valor acrescentado, como resultado de decisões do

gestor). O problema desta prática é que a produção não depende apenas de decisões do gestor,

mas também de muitos outros eventos fora do seu controle.

Bhattacharya (1979) propõe que as firmas devem utilizar a política de dividendos de forma a

minimizar os custos de agência. Apesar dos efeitos fiscais adversos de dividendos contra

ganhos de capital nos Estados Unidos, muitas empresas norte-americanas optam por pagar

dividendos, com a tendência de suavizar os pagamentos ao longo do tempo, relutando em

cortar os pagamentos repentinamente, mesmo quando os recursos internos não são suficientes

para financiar boas oportunidades de investimento. Esta prática serve como forma de

sinalização ao mercado e tem o objetivo de reduzir os custos de agência. O autor também

propõe que, em um ambiente de informação assimétrica, os dividendos sinalizam perspectivas

futuras da empresa e, portanto, aumentam seu valor de mercado.

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2.3. ESTRUTURA DE PROPRIEDADE E CONTROLE

A literatura dominante sobre governança corporativa baseia-se na premissa de que a empresa

pertence aos acionistas e que a administração deve ser feita em benefício deles

(CARVALHO, 2002). O predomínio, por décadas, da visão descrita em Berle e Means

(1932), segundo a qual as grandes empresas modernas possuem propriedade acionária

dispersa, moldou o debate sobre governança corporativa: o grande problema de agência era

visto como o conflito entre administradores (agentes) e acionistas (principais). O oportunismo

consistiria de decisões dos administradores que não visassem à maximização do valor das

ações. A boa governança empresarial significaria a adoção de mecanismos que forçassem os

administradores (não acionistas) a proteger os interesses dos acionistas.

Entretanto, estudos mais recentes (mais notadamente de LA PORTA et al., 1997) tem

demonstrado que o paradigma de Berle e Means (1932) é uma exceção restrita aos Estados

Unidos e à Grã-Bretanha. Na maioria dos países, o modelo que predomina é o de um acionista

majoritário que detém o controle da empresa e aponta seus administradores. Em tal situação,

há mudança no paradigma de governança corporativa: a boa governança não mais consiste em

proteger o interesse dos acionistas, mas em evitar que os acionistas controladores expropriem

os minoritários. Segundo Shleifer e Vishny (1997), a existência de acionistas controladores

pode ter efeito deletério para uma empresa devido à possibilidade dos interesses dos

acionistas controladores não estarem alinhados com os interesses dos demais acionistas.

Okimura et al. (2004) argumentam que o poder de controle que um acionista controlador pode

ter possibilita o uso dos recursos da empresa em benefício próprio, enquanto outros acionistas

da empresa arquem parcialmente com os custos. Por outro lado, em países com baixa proteção

legal para os investidores, a concentração da propriedade parece ser uma resposta do mercado

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para minimizar a probabilidade de expropriação por parte dos administradores em detrimento

dos acionistas.

Os trabalhos sobre estrutura de controle realizados no Brasil mostram que, em termos de

controle e propriedade, o mercado brasileiro se aproxima mais dos mercados do Japão e da

Europa Continental do que dos mercados dos Estados Unidos e do Reino Unido. Valadares e

Leal (2000) avaliaram a estrutura de propriedade e controle de companhias de capital aberto

no Brasil listadas na BM&FBOVESPA em dezembro de 1996 e constatam que 62% das

companhias não estatais listadas possuíam um acionista majoritário, controlando mais de 50%

do capital votante da empresa. Além disso, também estudaram a composição indireta do

controle das companhias e concluíram que as estruturas piramidais, no caso das companhias

brasileiras que possuem um acionista com mais de 50% do controle direto, são utilizadas,

como previsto na teoria, para diluir a propriedade dos principais acionistas, sem, no entanto,

diminuir a concentração do controle.

2.4. A INFLUÊNCIA GOVERNAMENTAL

Mesmo com amplo processo de privatização realizado ao longo das décadas de 1980 e 1990,

em vários países membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Econômico) as empresas estatais ainda representam uma parte substancial do PIB, emprego e

do valor de mercado das empresas. As empresas estatais são frequentemente predominantes

em concessionárias e indústrias de infraestrutura, como energia, transportes e

telecomunicações, cujo desempenho é de grande importância para amplos segmentos da

população e para o setor empresarial. Consequentemente, a governança das estatais é

fundamental para assegurar uma contribuição positiva para a eficiência econômica e

competitividade geral do país (OECD, 2004a).

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Em abril de 2005 a OCDE apresentou proposta de diretrizes para promover melhores práticas

de governança na atuação das empresas estatais. A partir da referência das diretrizes de

governança corporativa para empresas privadas instituídas em 1999, revisadas e divulgadas

em 2004, foram realizadas diversas rodadas de discussão a fim de permitir que esse conjunto

geral de diretrizes incorporasse também dimensões e necessidades típicas das empresas

estatais e do Estado no papel de controlador (OECD, 2004b).

O referencial legal e regulatório de empresas estatais deve assegurar um ambiente de

competitividade com o setor privado e promover boas práticas de governança corporativa,

seguindo os princípios de governança corporativa da OCDE (2004b):

• Deve haver clara separação entre a função propriedade exercida pelo Estado e as

demais funções;

• Os governos devem simplificar a forma legal da estatal de modo a assegurar o

exercício dos direitos pelos credores, inclusive quanto a pedidos de insolvência;

• As obrigações e responsabilidades da estatal devem ser claramente discriminadas nas

leis e normas;

• As estatais devem se submeter à aplicação das leis gerais e normativas;

• O arcabouço legal deve ser flexível de forma a permitir ajustes na estrutura de capital;

• As estatais devem se relacionar em bases estritamente comerciais com fornecedores de

recursos financeiros.

O modelo que se configura hoje na maioria dos países, em especial na América Latina, não é

de uma propriedade pulverizada. A concentração da propriedade em investidores individuais,

famílias, governos ou ainda o controle via acordo entre acionistas tem predominado,

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configurando cenário no qual o problema principal deixa de ser entre proprietário e gestor

para se situar na relação entre acionistas majoritários e minoritários (FILHO e PICOLIN,

2008). Particularmente, como funciona a dinâmica de empresas cujo sócio majoritário é o

Governo? Como são defendidos os direitos dos acionistas minoritários? E como se

comportam os custos de agência nestas empresas?

A propriedade estatal pode ser justificada pela ausência de mecanismos institucionais que

garantam à iniciativa privada que as políticas redistributivas não retirariam as quasi-rents de

seus investimentos. Ou seja, o motivo para a propriedade estatal é assegurar investimentos em

ativos socialmente valiosos que não podem ser realizados por investidores privados devido

aos riscos de expropriação (ESFAHANI e ARDAKANI, 2002).

La Porta (1999) analisa a estrutura de controle em diversos países. Excluindo os Estados

Unidos, especialmente países com pouca proteção para acionistas minoritários, mesmo as

maiores empresas tendem a ter acionistas controladores e, frequentemente, o controlador é

uma família, geralmente o fundador da empresa ou de seus descendentes, mas, muitas vezes,

o principal acionista é o Estado. Esses acionistas têm direito excessivo no controle nas

empresas, principalmente através de estruturas piramidais de propriedade, mas também

através da participação ativa na gestão. Essas empresas não são dirigidas por gestores

profissionais sem participação acionária, mas pelos acionistas controladores. Os acionistas

controladores estão numa posição ideal para monitorar a gestão e, de fato, o topo da gestão é

normalmente composto pelo grupo controlador, seja ele familiar ou pertencente ao Estado,

mas, ao mesmo tempo, eles têm o poder de expropriar os acionistas minoritários, bem como

muitas vezes, o interesse em fazê-lo.

Se a governança corporativa trata da forma pela qual os fornecedores de recursos às

corporações se asseguram que irão obter retorno de seus investimentos (SHLEIFER E

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VISHNY, 1997), no que se refere à iniciativa privada, a principal preocupação de governos e

legisladores deve ser promover ambientes econômico e institucional adequados a esses

investimentos (FILHO e PICOLIN, 2008). Entretanto, o que estamos procurando entender

nesta pesquisa é o que ocorre em termos de custos de agência quando o Estado exerce

também a função de controle empresarial, seja através de participação direta no capital

votante da empresa, seja através de participação via banco ou fundo de pensão estatal ou

através de forte regulação.

2.5. MODELOS EMPÍRICOS DE CUSTOS DE AGÊNCIA

Em trabalho pioneiro, Ang et al. (2000) utilizaram como caso base o modelo de empresa com

custo de agência igual a zero de Jensen e Meckling (1976), onde o gestor é o único acionista

da empresa. Quando o gestor possui menos de 100% do capital da empresa, os acionistas

necessariamente incorrem em custos de agência buscando assegurar que o gestor (agente) atue

em defesa de seus interesses. Como o caso de empresas cujo gestor possui 100% do capital se

restringe a pequenas empresas, os autores utilizaram para a realização da pesquisa uma

amostra de 1.708 pequenas empresas americanas não financeiras. Sua abordagem empírica

utiliza dois pressupostos fundamentais sobre os custos de agência: (1) A empresa gerida por

um proprietário com 100% do capital incorre em custos de agência nulos e, (2) os custos de

agência podem ser medidos como a diferença entre a eficiência de uma empresa

imperfeitamente alinhada e a eficiência de uma empresa perfeitamente alinhada. Ang et al.

(2000) estimaram os custos de agência de duas formas:

• A primeira, calculando-se diretamente os custos de agência - a diferença entre as

despesas de uma empresa com uma certa estrutura de propriedade e de gestão e o caso base de

empresa com custo de agência igual a zero. Para isso, foi calculada a relação entre as despesas

operacionais e as receitas anuais. Esta medida representa os gastos excessivos, incluindo a

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concessão de regalias. É a mensuração dos custos de agência através da medição da taxa de

eficiência na gestão das despesas operacionais. Um alto índice evidencia elevados custos de

agência e menor valor para a firma.

• A segunda medida de custos de agência é uma proxy para a perda de receitas

atribuíveis a utilização ineficiente de recursos, que pode ser resultante de decisões de

investimento equivocadas (o investimento em ativos com VPL negativo) ou a partir de má

gestão (gestores exercendo muito pouco esforço para geração de receitas). Esta medida é

calculada através da relação entre as vendas anuais e os ativos totais. É o índice de eficiência

de utilização dos ativos. A empresa que possui baixa taxa de utilização dos ativos indica

elevados custos de agência e menor valor para a firma. Uma firma que possui alto giro de

ativos demonstra alta geração de vendas e fluxos de caixa e maior valor da empresa.

Seus resultados forneceram a confirmação direta das previsões feitas por Jensen e Meckling

(1976) de que os custos de agência são maiores entre as empresas que não são 100% de

propriedade de seus gestores. Estes custos aumentam à medida que a participação acionária

do proprietário-gerente declina.

Singh e Davidson (2003) estenderam o trabalho de Ang et al. (2000) para empresas

americanas grandes e não financeiras para a mensuração e determinação dos custos de

agência. A primeira medida foi representada pela divisão das receitas anuais pelos ativos

totais da empresa, denominada de taxa de giro dos ativos. Esta variável mede a capacidade do

gestor em empregar os ativos de forma eficiente. Uma alta taxa de giro dos ativos indica um

valor alto de receitas de vendas, assim como um fluxo de caixa operacional para um dado

nível de ativos. Desta forma, se espera que os custos de agência oriundos de conflitos de

agência, entre os acionistas e o gestor, sejam inversamente relacionados com a taxa de giro

dos ativos.

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A segunda forma de medir os custos de agência usada por Singh e Davidson (2003) é

representada pela divisão das despesas de vendas, gerais e administrativas – VG&A (Vendas,

Gerais e Administrativas) pelas receitas de vendas anuais, uma medida de despesas

discricionárias da gestão. Singh e Davidson (2003) ajustaram o conceito utilizado por Ang et

al (2000). Ao invés da utilização de todas as despesas operacionais, somente consideraram as

despesas VG&A, de forma a focar nas despesas controladas pela gestão - gastos com salários,

gratificações, escritórios, automóveis, etc. Se espera que os custos de agência oriundos de

conflitos de agência, entre os acionistas e o gestor, sejam positivamente relacionados com a

taxa de indicação de despesas discricionárias.

Seus principais resultados empíricos indicaram que quanto maior a participação acionária do

gestor, menor o custo de agência com maior utilização eficiente de ativos e menores despesas

diretamente controladas pela gestão.

Seguindo Ang et al. (2000) e Singh e Davidson (2003), Ibrahim e Samad (2011) analisaram

os mecanismos de governança e seus impactos nos custos de agência em empresas familiares

e não familiares na Malásia. Constataram que empresas familiares possuem menores custos

de agência em relação a empresas não familiares, mas possuem menor valor de mercado.

Além disso, empresas familiares podem atenuar os problemas de agência, aumentando o

número de gestores membros da família na empresa e, consequentemente, aumentando o

papel de dualidade (gestão e controle). Para empresas não familiares, constataram que, ao

invés de ter um conselho maior, aumentar o número de conselheiros independentes e reduzir o

papel de dualidade mitigam os custos de agência. Fleming et al. (2005), examinaram os

custos de agência em pequenas e médias empresas australianas e documentaram que os custos

de agência são menores em empresas geridas pelos proprietários.

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No Brasil, Lameira (2007) estimou a qualidade da governança por meio de um índice de

governança composto por parâmetros relacionados à estrutura de propriedade e controle,

níveis de monitoramento, divulgação de informações financeiras, atuação do Conselho de

Administração e política de remuneração, relacionando-o aos indicadores de valor das

companhias. Documentou que: a maior dispersão do capital ordinário; a maior participação do

controlador no capital total; menores graus de imobilização; maiores conselhos; menor

alavancagem operacional e financeira; menores riscos; maiores margens; adoção de programa

de ADR níveis 2 ou 3; maior tempo de experiência societária; maiores patrimônios, e a

participação no Nível 2 ou Novo Mercado da Bovespa se relacionam positivamente com a

qualidade da governança praticada pelas empresas.

Monteiro (2011) analisa as relações entre custos de agência, estrutura de controle e outras

variáveis importantes no processo de governança corporativa das grandes empresas brasileiras

de capital aberto. Analisando a relação entre as despesas VG&A pelas Vendas Anuais, a

autora constatou que: i) os custos de agência diminuem quando aumenta a concentração de

controle nas empresas, ii) os custos de agência diminuem quando aumenta o tamanho do

conselho de administração e iii) os custos de agência aumentam com a participação de

investidores institucionais no controle da empresa. Quanto à relação dos custos de agência

com o giro de ativos, a autora encontrou que: i) os custos de agência diminuem com a

participação dos investidores pessoa física no controle e ii) os custos de agência aumentam

conforme aumenta a alavancagem financeira. Neste trabalho, não foi encontrada relação

estatística significante entre os custos de agência e os segmentos especiais de listagem da

BM&FBOVESPA. Também não foi identificada relação estatística significante entre os

custos de agência e o tamanho da empresa no caso brasileiro. A Tabela 2 a seguir apresenta

um resumo de trabalhos recentes sobre o tema.

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Tabela 2 - Custos de Agência e Estrutura de Controle e Propriedade - Principais Trabalhos James S Ang Manohar Singh Grant Fleming Michael Firth Philip J. Mcknight H. Ibrahim

RebelA Cole Wallace N. Davidson III Richard Heaney Peter M.Y. Fung Charlie Weir F.A. Samad

James Wuh Lim Rochele McCosker Oliver M. Rui

2000 2003 2005 2008 2009 2011

Journal of Finance Journal of Banking & Finance Pacif-Basin Finance Journal Journal of Asset ManagementThe Quartely Review of Economics and Finance

South African Journal Of Business Management

País Estados Unidos Estados Unidos Australia China Reino Unido Malásia

Empresas Pequenas e não financeiras Grandes e não financeiras Pequenas e medias (SME) Grandes e não financeiras Grandes e não financeiras Familiares e não familiares não financeiras

Fonte FRBINSSF NYSE, AMEX e NASDAQ I COMPUSTAT Business Long Survey (BLS) por ABS, 2000 SHANGAI e SHENZEN/ CSMAR FTSE Share Index CompaniesAnnual reports and financial databases such as Worldscope, Datastream, and Perfect Analysis.

Período 1992 1992 a 1994 1996 a 1997 e de 1997 a 1998 1998 a 2000 1996 a 2000 1999 to 2005

Amostra 1708 empresas 236 obs para 118 empresas3820 empresas(1996-1971) e 3793 (1997-1998)

1647 obs para 549 empresas 534 obs para 128 empresas 290 empresas

Metodologia Regressão múltipla Cross Section Regressão múltipla/Ortogonal Regressão múltipla Cross Section Regressão multipla/Efeitos Fixos e Aletórios Painel com Efeitos Fixos e Regressão TobitPainel com Regressão multipla/Efeitos Fixos e Aletórios

Resultados

> Custos de agênca são menores quando umgestor externo gere a empresa.

> Custos de agência variam inversamentecom as ações em propriedade dos gestores.

> Custos de agência aumentam com onúmero de acionistas não gestores.

> Monitoramento externo produz efeitopositivo na forma de custos de agência maisbaixos

> A gestão de proprietário está positivamenterelacionada com a utilização eficiente deativos,mas não serve como impeditivo paragastos discricionários excessivos.

>Blocos de propriedade externos podem tersomente um efeito limitado nos custos deagência.

>Membros externos do conselho parecemnão proteger a empresa dos custos deagência.

>Em grandes empresas de capital aberto ogestor proprietário reduz significativamenteos custos de agência

>Os custos de agência são mais baixos emempresas geridas por detentores de capital.Consistente com o argumento de que aredução da separação entre propriedade econtrole reduz os custos de agência.

> Custos de agênca decrescem conformeaumenta a participação acionária de gestorese empregados.

> Custos de agênca decrescem conformecresce a participação acionária da família.

> O nível dos custos de agênca crescem como nível de capital da empresa mãe

>Empresas com acionistas estrangeirosincorrem em maiores custos de agência.

> Limitada e fraca evidência de que aconcentração de propriedade está associada abaixos custos de agência.

> Participação do governo como acionistanão tem qualquer efeito sobre o nível doscustos de agência, ou seja, não há diferençaentre empresas controladas pelo governo ounão.

>A proporção de participação no conselho demembros externos não tem associação comcustos de agência.

> As mudanças na estrutura de conselho queocorreram pós periodo Cadbury, não tem,geralmente, afetado os custos de agência. Istosugere uma série de mecanismos compatíveiscom a maximização de valor da empresa.

> Dívidas reduzem os custos de agência.

> Ter um comitê de nomeação aumenta oscustos de agência, indicando que existemcustos associados com certos mecanismos degovemança.

> Aumentar a participação do conselho reduzos custos de agência.

> Empresas familiares têm menores custos de agência em relação a empresas nãofamiliares, mas por outro lado, possuemmenor valor da empresa.

> Empresas familiares podem atenuar osproblemas de agência, aumentando o númerode gestores na empresa e aumentando o papelde dualidade (gestão e controle).

> Empresas não familiares não devem buscaraumentar o tamanho do conselho, masaumentar o número de conselheirosindependentes, reduzindo papel de dualidadeno sentido de reduzir os custos de agência

Autores

Objetivo

Agency costs, corporate governance mechanisms and ownership structure in large UK publicly quoted companies: A panel data analysis

Estender o trabalho de Ang et al (2000) para grandes empresas de capital aberto

Segue o trabalho de Ang et al (2000) e examina como os custos de agência mudam quando propriedade e controle são separadas

Agency Costs and Ownership StructureAgency Costs, ownership structure and and corporate govemance mechanism

Agency costs and ownership structure in Australia

FIRTH, M ; FUNG, P.M.Y ; RUI,O.M. Ownership, governance mechanisms, and agency costs in China´s listed firms. Journal of Asset Management, v.9, n.2, p.90-101, 2008.

Prover mensuração absoluta e relativa de custos de agênca por comparação entre diferentes estruturas de propriedade e gestão

Analisa as relações entre custos de agência, estrutura de propnedade e mecanismos de govemança

Agency costs, corporate governance mechanisms and performance ofpublic listed family firms in Malaysia

Analisaram os mecanismos de governança e seus impactos no valor e nos custos de agência em empresas familiares e não familiares na Malásia

Analisa o impacto da governança e da propriedade nos custos de agência nas grandes empresas cotadas do Reino Unido

Título

Publicação

Fonte: Adaptado de Monteiro (2011).

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3. METODOLOGIA

Segundo Creswell (2010), métodos quantitativos de pesquisa envolvem o processo de coleta,

análise, interpretação e redação dos resultados de um estudo. Desta forma, a abordagem de

pesquisa adotada neste trabalho é a quantitativa. O objetivo central é examinar empiricamente

os determinantes de duas proxies para custos de agência de empresas brasileiras, testando

algumas hipóteses que serão detalhadas adiante.

O estudo acompanha a metodologia desenvolvida por Ang et al. (2000) e Singh e Davidson

(2003). Serão utilizadas como medidas dos custos de agência a taxa de eficiência no giro dos

ativos da empresa e o índice de eficiência das despesas controladas pela gestão. Desta forma,

pretendemos estimar os custos de agência utilizando como proxies a indicação de despesas

discricionárias pela gestão (VG&A/Vendas Anuais) e o giro de ativos (Vendas Anuais/Ativo

Total), para os anos de 2011 e 2012. Serão utilizados os anos de 2011 e 2012 para que a

amostra utilize como parâmetro as International Financial Reporting Standards (IFRS), que

entraram em vigor no Brasil a partir do ano de 2010. Com isso, o parâmetro Vendas Anuais se

refere às receitas líquidas, diferentemente de Monteiro (2011), que utilizou as receitas brutas

como parâmetro. Esta diferença se deve ao fato de que a base de dados da ECONOMÁTICA

não mais disponibiliza as informações de receita bruta desde a entrada em vigor das IFRS.

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3.1. COLETA DE DADOS

Utilizando dados da BM&FBOVESPA, da ECONOMÁTICA e da CVM encontramos 371

empresas ativas e com capital aberto até 31 de dezembro de 2012. Excluindo-se da amostra as

instituições financeiras, o número de empresas foi reduzido para 325. Destas 325 empresas,

conseguimos coletar todas as informações necessárias para 252 empresas, nos anos de 2011 e

2012. Excluindo-se outliers, a amostra final ficou com 242 firmas. Com exceção do setor de

geração, transmissão e distribuição de energia elétrica representado em nossa amostra por 29

empresas ou 12,3% e do setor de Construção de edifícios residenciais, com 17 empresas ou

7%, todos os demais setores não possuem participação superior a 5% em número de empresas

em nossa amostra. Na Tabela 3 apresentamos a distribuição das 242 empresas.

Para a pesquisa, consideramos duas categorias de empresas com influência estatal. Na

primeira categoria, consideramos aquelas cujo controle pertence diretamente ao Estado, a

fundos de pensão de empresas estatais ou ao BNDES. Chegamos então a um total de 21

empresas estatais que atendem aos critérios.

Na segunda categoria, consideramos empresas com influência estatal as que atuam em setores

fortemente influenciados por agências reguladoras, ou seja, empresas que atuam em setores

cuja abrangência, tarifação e regulamentação são fortemente influenciadas por agentes

estatais (Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, Eletricidade, gás e água e

Água, esgoto e outros sistemas). Essa categoria é representada por 36 empresas, 13 empresas

pertencem simultaneamente às duas categorias.

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Tabela 3 - Amostra apresentada por Setores NAICS

Setor NAICS Número Participação Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica 29 12,0% Construção de edifícios residenciais 17 7,0% Indústria de autopeças 9 3,7% Tecelagens 8 3,3% Indústria de roupas de tecido 7 2,9% Locadora de imóveis 6 2,5% Telecomunicações 6 2,5% Transformação de aço em produtos de aço 6 2,5% Abatedouros 5 2,1% Indústria de calçados 5 2,1% Indústria química 5 2,1% Outras indústrias de produtos de metal 5 2,1% Outras outras indústrias 5 2,1% Água, esgoto e outros sistemas 4 1,7% Atividades auxiliares ao transporte rodoviário 4 1,7% Indústria de papel, celulose e papelão 4 1,7% Loja de departamentos 4 1,7% Atividades auxiliares ao transporte 3 1,2% Editoras de software 3 1,2% Empresa de eletricidade, gás e água 3 1,2% Indústria de açúcar e produtos de confeitaria 3 1,2% Indústria de carrocerias e trailers 3 1,2% Loja de artigos para saúde e cuidados pessoais 3 1,2% Moinho de grãos 3 1,2% Subtotal 150 62,0% Outros setores com 2 empresas 48 19,8% Outros setores com apenas 1 empresa 44 18,2% Total 242 100,0%

Fonte: ECOMOMÁTICA

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3.2. CUSTOS DE AGÊNCIA

Singh e Davidson (2003) argumentam que o giro de ativos mede a capacidade da gestão em

empregar recursos de forma eficiente. Uma alta taxa de rotatividade de ativos mostra uma

grande quantidade de vendas e o fluxo de caixa gerado para um determinado nível de ativos.

A baixa relação indica que a gestão está utilizando de forma ineficiente os ativos e

provavelmente reduzindo o valor da empresa. Enquanto um maior giro de ativos pode ser

identificado como uma prática eficiente na gestão de ativos e, portanto, criando valor para os

acionistas, uma baixa relação vendas/ativos reflete a implantação de ativos para fins não

produtivos. Portanto, as empresas com considerável conflito de agência terão índices de

rotatividade de ativos mais baixos em comparação às que têm menores conflitos de agência.

A segunda Proxy para os custos de agência utilizada por Singh e Davidson (2003) é um pouco

diferente daquela utilizada por Ang et al. (2000). Ao invés de utilizarem a relação entre

despesas operacionais de vendas, utilizaram a relação entre as despesas de vendas, gerais e

administrativas (VG&A) e as receitas de vendas anuais. As despesas VG&A incluem salários,

que são um elemento importante do total de benefícios direcionados para os gestores da

empresa. Na medida em que despesas gerais e administrativas incluem aluguéis, serviços

públicos, pagamentos de locação e suprimentos, refletem diretamente as despesas em

edifícios de escritório, mobiliário, automóveis e outras instalações semelhantes. Além disso, a

administração pode também usar a publicidade e as despesas com vendas para camuflar os

gastos com gratificações. Portanto, maior conflito de agência equivale à menor eficiência,

refletido em maior despesa discricionária de gestão (VG&A/Receita de vendas anuais).

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3.3. ESTRUTURA DE CONTROLE E INFLUÊNCIA ESTATAL

Singh e Davidson (2003), ao analisarem a estrutura de propriedade e controle das grandes

empresas americanas, definiram dois grupos importantes:

i) o grupo formado pelos gestores e membros do conselho de administração que

participam no capital da empresa, ou seja, propriedade interna. Empresas com uma ampla

participação interna deveriam ter menor conflito de agência, consequentemente, menores

custos de agência. Os menores custos de agência se refletiriam em um maior giro dos ativos e

em menores despesas VG&A em relação às vendas.

ii) o grupo de acionistas que não participam da gestão e nem do conselho de

administração e que possuam 5% ou mais do capital da empresa, ou seja, propriedade externa.

Uma maior participação de propriedade externa indicaria maiores incentivos e capacidade dos

blocos de acionistas para monitorar a gestão. Assim, espera-se uma relação positiva entre a

proporção de propriedade externa e eficiência de utilização de ativos. Da mesma forma, a

maior proporção de propriedade externa atua como um desestímulo à gestão para realização

de despesas desnecessárias e, portanto, deve incidir negativamente nas despesas VG&A.

Para o grupo de propriedade interna documentaram que a gestão do proprietário está

positivamente relacionada com a utilização eficiente de ativos. Mas, diferentemente do

esperado, não serve como impeditivo para gastos discricionários excessivos. Para o grupo

denominado de propriedade externa, encontraram efeito limitado nos custos de agência.

Os dados disponíveis através da ECONOMÁTICA, BM&FBOVESPA e da CVM para as

empresas brasileiras quanto à estrutura de propriedade e controle não nos permitem separar a

propriedade nos dois grupos formulados por Singh e Davidson (2003).

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Firth et al. (2008) analisaram a estrutura de propriedade na China e propuseram quatro

principais variáveis de controle grupos que afetam os custos de agência:

i. Institucional - Em geral, a literatura sugere que os acionistas institucionais estão

associados a menores custos de agência. Entretanto, os autores não encontraram

nenhuma evidência de que essa forma de controle é mais eficaz na redução de custos

de agência;

ii. Governo - Os autores documentaram que a participação do governo como acionista

não tem qualquer efeito sobre o nível dos custos de agência, ou seja, não há diferença

entre empresas controladas pelo governo ou não, rejeitando a hipótese inicial de que

empresas com participação governamental são menos eficientes na redução de custos

de agência;

iii. Estrangeiro - Seus resultados indicaram que empresas com acionistas estrangeiros

incorrem em maiores custos de agência;

iv. Concentração de propriedade - Foi incluída uma variável para representar a

propriedade altamente concentrada na China. Esta variável utiliza a participação

proporcional dos três principais proprietários e foi encontrada limitada e fraca

evidência de que a concentração de propriedade está associada a baixos custos de

agência.

Para o presente trabalho, além de considerar o controle estatal, vamos analisar a influência

governamental exercida através de regulação. De acordo com o Portal Brasil (2013), as

agências reguladoras foram criadas para fiscalizar a prestação de serviços públicos praticados

pela iniciativa privada, além de controlar a qualidade na prestação do serviço e estabelecerem

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regras para o setor. Portanto, em setores sujeitos à forte regulação, a influência do governo na

atuação da empresa é determinante para a eficiência e o valor da firma.

Desta forma, para influência estatal, definimos uma variável dummy que atribui valor 1

quando a participação do governo no capital ordinário da empresa é maior do que 50% ou

quando a empresa atua em setores cuja influência governamental ocorre através de regulação.

Espera-se que a influência estatal implique em maiores custos de agência.

3.4. CONCENTRAÇÃO DE CONTROLE

Ang et al. (2000) e Singh e Davidson (2003) mostram que a concentração de propriedade

proporciona maior eficácia no controle de custos de agência. Desta forma, também seguindo

Firth et al. (2008), foi incluída uma variável para representar a concentração de propriedade.

Esta variável utiliza a participação proporcional dos três maiores acionistas com direito a

voto. Como medida de concentração será utilizado o Índice de Herfindahl-

Hirschman∑=

n

i 1

s i

2

(IHH), que é calculado como a soma dos quadrados das participações dos

acionistas controladores que compõem o capital votante da empresa em questão, e varia entre

0 e 10.000. O valor zero traduziria uma empresa que não possui qualquer acionista

controlador. O valor 10.000 traduz uma situação em que a empresa é controlada por um único

acionista que detém 100% participação no capital votante. A hipótese esperada é que maior

concentração de controle implica em menores custos de agência.

3.5. SEGMENTO DE LISTAGEM NA BM&FBOVESPA

Embora Monteiro (2011) não tenha encontrado relação estatística significante entre os custos

de agência e os segmentos especiais de listagem da BM&FBOVESPA, repetiremos os testes

com dados de 2011 e 2012, levando em consideração que a adesão aos segmentos de listagem

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BM&FBOVESPA e a suas respectivas práticas de governança ainda estão em fase de

consolidação.

Assim, atribuímos uma variável dummy que determina a participação da empresa no Mercado

Tradicional ou em Segmentos Especiais de governança (Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado).

Quando a empresa participa do Mercado Tradicional atribuímos 0 (zero) e quando participa

dos Segmentos Especiais atribuímos 1 (um). É esperado que a participação nos Segmentos

Especiais de governança reduza os custos de agência.

3.6. VARIÁVEIS DE CONTROLE

Seguindo Singh e Davidson (2003), será utilizado o tamanho do conselho de administração

como medida de mecanismo de governança, tendo como parâmetro o número de conselheiros.

Embora empresas inseridas no Novo Mercado e Nível 2 dos Segmentos de Listagem da

BM&FBOVESPA sejam obrigadas a ter em seu conselho pelo menos 20% de membros

independentes, não será utilizada a variável composição do conselho de administração, pois

não foi possível identificar o número de membros externos à empresa, já que esta informação

não está disponível.

Para a avaliação do tamanho da empresa será utilizado como parâmetro o logaritmo natural da

receita anual de vendas e, para a alavancagem financeira, a relação entre a dívida total e o

ativo total da empresa. Singh e Davidson (2003) argumentam que o tamanho da empresa pode

proporcionar ganhos de escala nas despesas VG&A. Além disso, o tamanho da empresa pode

capturar diversificação de negócios e pode refletir uma melhor utilização dos ativos devido a

economias de escala e sinergias entre os negócios. Um aumento do nível de alavancagem

financeira pode ser utilizado como uma restrição de acesso ao caixa por parte da gestão,

resultando em menores custos de agência. Por fim, utilizaremos a variável idade da empresa

como mais uma variável de controle com base no argumento de que as empresas maduras são

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mais eficientes no controle de custos de agência, (ANG et al., 2000). Também com base no

mesmo argumento, utilizaremos o tempo de listagem na BM&FBOVESPA.

3.7. MODELOS EMPÍRICOS E HIPÓTESES

Segundo Creswell (2010), as hipóteses quantitativas, são previsões que o pesquisador faz

sobre as relações esperadas entre variáveis. Contra a hipótese nula de que os custos de agência

são independentes da natureza do controlador, supondo que empresas que sofrem influência

governamental incorrem em maiores custos de agência, postulamos as seguintes hipóteses:

a) os custos de agência variam diretamente com a influência governamental;

b) a concentração de controle reduz os custos de agência;

c) a inserção nos segmentos especiais de listagem da BM&FBOVESPA reduz os custos

de agência.

Para testar estas hipóteses, foram realizadas análises de regressão linear múltipla em cross-

sections para investigar os determinantes dos custos de agência nos anos de 2011 e 2012. As

variáveis a serem utilizadas estão apresentadas na Tabela 4. A questão central da regressão

múltipla é encontrar uma função que descreva da melhor forma possível o comportamento de

uma variável (dependente) usando duas ou mais variáveis explicativas (independentes).

Mesmo quando estamos interessados no efeito de apensas uma das variáveis (independentes),

é importante incluir todas as outras capazes de afetar a variável dependente, de forma a

reduzir os resíduos estocásticos, aumentando a força dos testes de significância. Cada

regressão foi realizada através do método de mínimos quadrados ordinários, utilizando-se o

software SPSS, versão 21.

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Tabela 4 - Variáveis da Pesquisa

Variáveis dependentes - Custo de Agência

Abreviatura Descrição

Giro de Ativos GirAt Ln (Vendas anuais/Ativo Total)

Índice de despesas discricionárias da Gestão

IndVGA Ln (VG&A/Vendas Anuais)

Variáveis independentes Influência governamental e Concentração de Controle

Controle Estatal ou Influência por Regulação

Estat Igual a 1 se pertence a setor influenciado pelo Estado e 0 em caso contrário

Concentração controle Conc Soma dos quadrados das participações proporcionais das três maiores acionistas ordinários

Segmento listagem BM&FBOVESPA

Segmentos Diferenciados de Governança da BM&FBOVESPA

SegLis Igual a 1 se a empresa está nos Segmentos Especiais (Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado) e 0 em caso contrário

Variáveis de Controle

Tamanho do Conselho de Administração

TamCA No de membros do Conselho

Tamanho da empresa TamEmp Ln Receita de Vendas Anuais

Alavancagem financeira Alav Dívida Total/Ativo Total

Idade da Empresa Idade Tempo em anos desde a Fundação da Empresa

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4. RESULTADOS

4.1. ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS

A Tabela 5 apresenta estatísticas descritivas das variáveis analisadas. O giro de ativos

apresenta média (mediana) para os anos de 2011 e 2012 de 0,72 (0,59) e 0,74 (0,63),

respectivamente. Estes níveis são intermediários entre os encontrados por Singh e Davidson

(2003) nas empresas norte americanas para os anos de 1992 e 1994, 1,46 (1,24) e 1,39 (1,25),

respectivamente e os encontrados por Firth et al. (2008) para empresas chinesas, 0,48 (0,39)

para o período de 1998-2000. Ibrahim e Samad (2011) em pesquisa com empresas da Malásia

encontram média de 0,7 para o período 1999-2005, valor semelhante ao obtido nesta

dissertação.

As despesas discricionárias apresentam média (mediana) para os anos de 2011 e 2012 de 0,19

(0,17) e 0,20 (0,17) respectivamente. Os valores encontrados são menores do que os valores

documentados por Singh e Davidson (2003) para as empresas americanas, 0,29 (0,19) e 0,27

(0,20) para os anos de 1992 e 1994 respectivamente, e por Ibrahim e Samad (2011), 0,32 de

média para empresas da Malásia. Os índices de despesas discricionárias no Brasil se mostram

próximos às evidências de Firth et al. (2008) para as empresas chinesas: média (mediana) de

0,25 (0,13) para os anos de 1998-2000.

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Com relação à concentração de controle encontramos média (mediana) de 0,35 (0,29),

apresentando valor mínimo de 0,005 e máximo de 1. Estes valores são superiores aos

encontrados por Firth et al.(2008) para a China nos anos de 1998-2000, de 0,22 (0,18) e

apresentando valor mínimo de 0,01 e máximo de 0,78 A média (mediana) encontrada é

semelhante à obtida por Monteiro (2011) para empresas brasileiras nos anos 2007 e 2009 de

0,38 (0,34). Singh e Davidson (2003) e Ibrahim e Samad (2011) não estudaram a

concentração de propriedade e controle.

Quanto à origem do capital com direito a voto foi obtido que 91,3% da amostra (221

empresas) têm origem privada. Com controle estatal foram identificadas 8,7% da amostra (21

empresas). Sofrem influência estatal por regulação, 14,9% da amostra (36 empresas). E estão

influenciadas pela ação do Estado, seja através do controle do capital votante, seja por

regulação, 18,2% da amostra (44 empresas).

A média (mediana) encontrada para o tamanho do conselho de administração foi de 7,07 (7).

O número de membros dos Conselhos de Administração varia entre 2 e 16 membros. Os

resultados encontrados para média (mediana) no caso brasileiro são ligeiramente inferiores

aos encontrados por Singh e Davidson (2003) para as empresas americanas em 1992 e 1994,

sendo 9,26 (9) e 9,37 (9). Firth et al. (2008) não analisaram o tamanho do conselho de

administração na China.

As empresas inseridas nos segmentos especiais da BM&FBOVESPA representam 58,3% da

amostra (141 empresas), considerando empresas com capital aberto até dezembro de 2012.

Monteiro (2011) obteve 43,6%, considerando empresas com capital aberto até 2006, o que

indica o crescimento da adesão aos segmentos especiais ao longo dos anos.

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Tabela 5 - Estatísticas Descritivas

Variáveis Dependentes - Custo de AgênciaAbrevia

turaDescrição Ano Média Mediana Minimo Maximo

Desvio Padrão

Assimetria

Curtose

2011 0,719 0,590 0,080 3,540 0,488 1,915 6,5372012 0,737 0,630 0,090 3,520 0,507 1,928 5,9552011 0,198 0,165 0,020 0,950 0,137 1,950 5,6432012 0,204 0,170 0,020 2,150 0,185 6,102 56,060

Variáveis independentes

Influência Governamental e Concentração de Controle

Regulação ou Estatal Estat

Igual a 1 se a participação nas ações ordinárias > 50% e se pertence a setor influenciado pelo Estado 0 em caso contrário (44 empresas influenciadas por regulação ou controladas pelo Estado)

2012 0,182 0,000 0,000 1,000 0,386

Concentração controle ConcSoma dos quadrados das participações proporcionais das três maiores ordinários

2012 0,351 0,291 0,005 1,000 0,283 0,855 -0,265

Segmento listagem Bovespa

Segmento listagem BM&FBOVESPA SegLis

Igual a 1 se a empresa está nos Segmentos Especiais (Nivel 1, Nivel 2 e Novo Mercado) e 0 em caso contrário (148 empreas inseridas nos Segmentos Especiais)

2012 0,583 1,000 0,000 1,000 0,494

Variáveis de Controle

Tamanho do Conselho de Administração TamCANo de membros do Conselho 2012 7,074 7 2 16 2,551 0,346 0,081

2011 14,021 13,970 8,040 19,310 1,737 -0,164 0,5932012 14,132 14,160 8,270 19,460 1,761 -0,169 0,4442011 0,311 0,303 0,011 1,702 0,191 1,960 11,6152012 0,235 0,217 0,000 1,453 0,168 2,169 11,5572011 40,1 38,5 1,816 139,4 29,6 0,803 0,2812012 41,1 39,5 2,8 140,4 29,6 0,803 0,2812011 19,3 14,5 -1,1 73,8 15,7 0,694 -0,330 2012 20,3 15,5 -0,1 74,8 15,7 0,694 -0,330

Tamanho da empresa TamEmp Ln Receita de Vendas Anuais

Alavancagem financeira Alav Dívida total/Ativo Total

Giro de Ativos GirAt Vendas anuais/Ativo Total

Índice de despesas descricionárias da Gestão IndVGA VG&A/Vendas Anuais

Idade da Empresa Idade Tempo em anos desde a Fundação da Empresa

Tempo de Listagem BOVESPA List_BovTempo em anos desde a listagem da empresa na BOVESPA

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Analisando o tamanho das empresas (Receita de Vendas) em bilhões de reais encontramos

média (mediana) de 5,43 (1,17) para 2011 e de 6,13 (1,42) para 2012. Os valores em bilhões

de reais variam de 0,003 a 244,18 em 2011 e de 0,004 a 281,38 em 2012. As médias

encontradas por Singh e Davidson (2003) no caso americano em bilhões de dólares foram de

2,06 (0,6) para 1992 e de 2,15 (0,71) para 1994. Firth et al. (2008) analisaram o tamanho da

empresa através do ativo total.

Os valores encontrados para média (mediana) para a alavancagem (dívida total sobre ativo)

no caso brasileiro foram 0,31 (0,30) e 0,24 (0,22) para os anos de 2011 e 2012

respectivamente. Para os anos 2007 e 2009, Monteiro (2011) encontrou, respectivamente,

0,25 (0,24) e 0,39 (0,28). Os valores variaram entre o mínimo de 0,01 e o máximo de 1,70 em

2011 e de 0 a 1,45 em 2012. O trabalho de Firth et al. (2008) se concentrou em analisar a

alavancagem para a dívida de longo prazo chinesa e, desta forma, apresentou valores bem

menores para média (mediana), 0,11 (0,03) para os anos de 1998-2000. Mas com relação aos

valores mínimo e máximo, apresentou os valores de 0 e 6,32 respectivamente, demonstrando

uma alavancagem máxima de longo prazo bem superior à brasileira, que inclui os dados de

curto prazo e longo prazo.

A média (mediana) encontrada para a idade, tendo como referência 31 de dezembro de 2012,

foi de 41,13 (39,5), oscilando entre 2,8 e 140,4 anos. Estes níveis são maiores do que os

encontrados por Ibrahim e Samad (2011), de cerca de 29,7 anos de média para empresas da

Malásia. A média (mediana) encontrada para tempo em anos desde a listagem da empresa na

BM&FBOVESPA, tendo como referência dezembro de 2012, foi de 20,28 (15,45). Os valores

variaram entre 0 e 74,8 anos.

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4.2. RESULTADOS EMPÍRICOS

Foram realizadas quatro regressões múltiplas em seções transversais: duas para os custos de

agência medidos por despesas discricionárias (2011 e 2012), e duas para os custos de agência

por giro de ativo (2011 e 2012). Para a seleção das variáveis independentes, foi utilizado o

método Backward Elimination, considerando nível de significância estatística de 5%. A

variável “Tempo de Listagem BOVESPA”, possui alta correlação com a variável “Idade”

(0,67), por isso foi retirada da análise.

As premissas básicas do modelo de regressão linear foram observadas por meio da análise dos

resíduos. As premissas de normalidade e heterocedasticidade não foram satisfeitas ao

trabalharmos com as variáveis dependentes para os anos de 2011 e 2012. Desta forma foi

realizada a transformação das variáveis dependentes nos anos de 2011 e 2012, com a

aplicação do logaritmo natural (Ln). Com a transformação, para ambas as variáveis, a

hipótese de normalidade não foi rejeitada ao nível de significância de 5%. Para a variável

relativa ao custo de agência por indicação do giro de ativos (Vendas anuais/Ativo Total)

foram obtidos níveis de significância estatística de 0,072 e 0,2 para os anos de 2011 e 2012,

respectivamente. Para a variável relativa ao custo de agência por indicação de despesas

discricionárias (VG&A/Vendas Anuais), foi obtido nível de significância estatística de 0,2

para os anos de 2011 e 2012. Seguimos então com ambas as variáveis transformadas.

Apresentamos nas Tabelas 6, 7, 8 e 9 os resultados das regressões. Todas as estatísticas F

foram significativas ao nível de 1%.

Cada tabela apresenta os resultados encontrados em cada uma das etapas da regressão até a

seleção do melhor modelo. Os resultados empíricos com os melhores modelos para cada uma

das quatro modelagens realizadas estão sumarizados na Tabela 10. A Tabela 11 sintetiza

análise qualitativa dos resultados.

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40

a) Variável dependente: Ln de Giro de Ativos.

As tabelas 6 e 7 apresentam os resultados para 2011 e 2012, sendo o custo de agência medido

por giro de ativos com variável dependente. A hipótese de ausência de relação com os custos

de agência para empresas sob influência governamental foi rejeitada.

Os modelos encontrados apresentaram relações inversas e estatisticamente significativas para

as variáveis “Estatal ou Regulada” e “Segmento Diferenciado de Governança

BM&FBOVESPA”. Tautologicamente, os resultados sugerem que empresas influenciadas

pelo Governo e as participantes dos segmentos especiais da BM&FBOVESPA incorrem em

maiores custos de agência. O resultado para a variável “Segmento Diferenciado de

Governança BM&FBOVESPA” é o oposto do esperado. A concentração de controle

acionário não se mostrou estatisticamente significativa para explicar o giro de ativos.

Quando analisamos os resultados para as variáveis de controle, observou-se que o tamanho e

a idade da empresa possuem relação direta com o giro de ativos, ou seja, empresas maiores e

mais antigas parecem ser mais eficientes e possuem menores custos de agência. Por outro

lado, o aumento do tamanho do conselho de administração aumenta os custos de agência

(reduz o giro de ativos). A alavancagem financeira também não se mostrou significativa para

explicar os custos de agência pelo giro de ativos.

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41

Tabela 6 - Resultados da análise de regressão para Custos de Agência medidos por Ln de Giro de Ativo (Receita de vendas/Ativo Total) no ano de 2011

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3-2,448 *** -2,42 *** -2,469 *** (-6,901) (-6,904) (-7,128)

Estrutura de Propriedade e Controle-0,378 *** -0,381 *** -0,402 *** (-3,325) (-3,358) (-3,622)-0,155 -0,152(-0,949) (-0,935)

-0,305 *** -0,309 *** -0,269 ***

(-2,933) (-2,986) (-2,854)

Variáveis de Controle-0,06 *** -0,059 *** -0,056 *** (-2,894) (-2,863) (-2,752)0,173 *** 0,174 *** 0,17 *** (6,114) (6,131) (6,062)0,113(0,546)0,004 *** 0,004 *** 0,004 *** (2,75) (2,75) (2,834)

R2 Ajustado 0,200 0,203 0,203

F (9,623)*** (11,21)*** (13,285)***

Estatal ou regulada Estat

Constante Abreviatura

Idade da Empresa Idade

Concentração controle Conc

Segmentos Diferenciados de Governança da Bovespa

SegLis

Tamanho do Conselho de Administração TamCA

Tamanho da empresa TamEmp

Alavancagem financeira Alav

*** Significativo ao nível de 1%; ** Significativo ao nível de 5% e * Significativo ao nível de 10%. A estatística "t" aparece entre parênteses.

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Tabela 7 - Resultados da análise de regressão para Custos de Agência medidos por Ln de Giro de Ativo (Receita de vendas/Ativo Total) no ano de 2012

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3-2,247 *** -2,271 *** -2,381 *** (-6,137) (-6,277) (-6,78)

Estrutura de Propriedade e Controle-0,396 *** -0,407 *** -0,408 *** (-3,469) (-3,648) (-3,656)-0,079(-0,482)

-0,328 *** -0,307 *** -0,302 ***

(-3,151) (-3,241) (-3,181)

Variáveis de Controle-0,055 *** -0,054 *** -0,055 *** (-2,63) (-2,59) (-2,673)0,165 *** 0,163 *** 0,167 *** (5,733) (5,728) (5,881)-0,288 -0,291(-1,211) (-1,228)0,004 ** 0,004 ** 0,004 ** (2,458) (2,507) (2,472)

R2 Ajustado 0,193 0,195 0,194F (9,219)*** (10,752)*** (12,574)***

Idade da Empresa Idade

Tamanho do Conselho de Administração TamCA

Tamanho da empresa TamEmp

Alavancagem financeira Alav

Estatal ou regulada Estat

Concentração controle Conc

Segmentos Diferenciados de Governança da Bovespa

SegLis

Constante Abreviatura

*** Significativo ao nível de 1%; ** Significativo ao nível de 5% e * Significativo ao nível de 10%. A estatística "t" aparece entre parênteses

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43

b) Variável dependente: Ln de Despesas Discricionárias.

As tabelas 8 e 9 apresentam os resultados para 2011 e 2012, sendo o custo de agência medido

pelas despesas discricionárias como variável dependente. Como nas regressões para giro de

ativos, a hipótese de ausência de relação com os custos de agência para empresas sob

influência governamental foi rejeitada. Ao contrário do esperado e diferentemente do obtido

no modelo anterior, a influência governamental afeta negativamente, ou seja, reduz os custos

de agência medidos pelas despesas discricionárias. As empresas listadas nos segmentos

especiais da BM&FBOVESPA apresentam menores custos de agência medidos pelas

despesas diretamente controladas pela gestão. Esses resultados também são conflitantes com

os encontrados para giro de ativos. A concentração de controle acionário possui relação

negativa com as despesas discricionárias e, consequentemente, com os custos de agência.

No tocante às variáveis de controle, tamanho da empresa se mostrou estatisticamente

relevante. Empresas maiores apresentam menores despesas discricionárias, ou seja, menores

custos de agência. Estes resultados ratificam as evidências encontradas na análise por giro de

ativos.

A alavancagem financeira apresenta relação negativa e estatisticamente significativa com os

custos de agência por despesas discricionárias. Esta evidência não foi documentada no

modelo anterior. Os coeficientes das variáveis “Tamanho do Conselho de Administração” e

“Idade da Empresa” não se mostraram diferentes de zero.

Observa-se que os resultados da regressão para despesas discricionárias em 2012 possuem

menor poder de explicação em comparação com 2011. Os coeficientes de determinação das

regressões oscilam de 28%, para os modelos de 2011, para 17% em 2012.

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Tabela 8 - Resultados da análise da regressão para Custos de Agência medidos por Ln de Despesas Discricionárias (VG&A/Receita de Vendas) no ano de 2011

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 30,079 0,047 -0,03(0,242) (0,15) (-0,096)

Estrutura de Propriedade e Controle-0,592 *** -0,589 *** -0,537 *** (-5,65) (-5,646) (-5,437)-0,473 *** -0,468 *** -0,505 *** (-3,156) (-3,139) (-3,418)

-0,345 *** -0,332 *** -0,304 ***

(-3,604) (-3,682) (-3,437)

Variáveis de Controle0,029 0,029(1,526) (1,516)-0,103 *** -0,103 *** -0,085 *** (-3,962) (-3,965) (-3,677)-0,551 *** -0,551 *** -0,527 *** (-2,881) (-2,884) (-2,762)-0,001(-0,41)

R2 Ajustado 0,285 0,288 0,284

F (14,753)*** (17,245)*** (20,124)***

Constante Abreviatura

Estatal ou regulada Estat

Concentração controle Conc

Segmentos Diferenciados de Governança da Bovespa

SegLis

Idade da Empresa Idade

Tamanho do Conselho de Administração TamCA

Tamanho da empresa TamEmp

Alavancagem financeira Alav

*** Significativo ao nível de 1%; ** Significativo ao nível de 5% e * Significativo ao nível de 10%. A estatística "t" aparece entre parênteses.

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Tabela 9 - Resultados da análise da regressão para Custos de Agência medidos por Ln de Despesas Discricionárias (VG&A/Receita de Vendas) no ano de 2012

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3-0,423 -0,431 -0,497(-1,201) (-1,266) (-1,482)

Estrutura de Propriedade e Controle-0,443 *** -0,443 *** -0,406 *** (-4,038) (-4,047) (-3,919)-0,449 *** -0,448 *** -0,474 *** (-2,856) (-2,863) (-3,07)

-0,319 *** -0,316 *** -0,297 ***

(-3,188) (-3,345) (-3,204)

Variáveis de Controle0,021 0,021(1,045) (1,044)-0,072 ** -0,072 *** -0,057 ** (-2,594) (-2,598) (-2,395)-0,415 * -0,416 * -0,399 * (-1,817) (-1,824) (-1,755)0(-0,098)

R2 Ajustado 0,170 0,173 0,173

F (8,034)*** (9,41)*** (11,07)***

Constante Abreviatura

Estatal ou regulada Estat

Concentração controle Conc

Segmentos Diferenciados de Governança da Bovespa

SegLis

Idade da Empresa Idade

Tamanho do Conselho de Administração TamCA

Tamanho da empresa TamEmp

Alavancagem financeira Alav

*** Significativo ao nível de 1%; ** Significativo ao nível de 5% e * Significativo ao nível de 10% A estatística "t" aparece entre parênteses.

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46

c) Síntese comparativa.

Os resultados obtidos para a influência governamental foram conflitantes para giro de ativos

(efeito positivo sobre custos de agência, um efeito esperado) e despesas discricionárias (efeito

negativo sobre custos de agência, um efeito não esperado). Os resultados obtidos por Firth et

al. (2008) indicaram que a participação do governo como acionista não tem qualquer efeito

sobre o nível dos custos de agência. Ou seja, não há diferença entre empresas controladas pelo

governo ou não.

A inserção nos segmentos especiais de listagem da BM&FBOVESPA também apresentou

resultados opostos: aumenta os custos de agência medidos por giro de ativos (não esperado) e

reduz pelas despesas discricionárias (esperado). Monteiro (2011) não encontrou relação

estatística significante entre os custos de agência e os segmentos especiais de listagem da

BM&FBOVESPA.

A análise sobre a concentração de controle mostrou a redução dos custos de agência por

despesas discricionárias. Este resultado era esperado e está alinhado com os resultados

encontrados por Firth et al. (2008) para as empresas chinesas e por Monteiro (2011) para

empresas brasileiras. Porém, a concentração de controle não afeta a taxa de giro de ativos.

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Tabela 10 - Principais resultados das análises de regressão para Custos de Agência

2011 2012 2011 2012-2,469 *** -2,381 *** -0,03 -0,497(-7,128) (-6,78) (-0,096) (-1,482)

Estrutura de Propriedade e Controle

-0,402 *** -0,408 *** -0,537 *** -0,406 *** (-3,622) (-3,656) (-5,437) (-3,919)

-0,505 *** -0,474 *** (-3,418) (-3,07)

-0,269 *** -0,302 *** -0,304 *** -0,297 ***

(-2,854) (-3,181) (-3,437) (-3,204)

Variáveis de Controle-0,056 *** -0,055 *** (-2,752) (-2,673)0,17 *** 0,167 *** -0,085 *** -0,057 ** (6,062) (5,881) (-3,677) (-2,395)

-0,527 *** -0,399 * (-2,762) (-1,755)

0,004 *** 0,004 ** (2,834) (2,472)

R2 Ajustado 0,203 0,194 0,284 0,173

F (13,285)*** (12,574)*** (20,124)*** (11,07)***

Despesas Discricionárias

Tamanho do Conselho de Administração TamCA

Tamanho da empresa TamEmp

Concentração controle Conc

Segmentos Diferenciados de Governança da Bovespa

SegLis

Estatal ou regulada

Constante Abreviatura

Idade da Empresa Idade

Giro de Ativos

Alavancagem financeira Alav

Estat

*** Significativo ao nível de 1%; ** Significativo ao nível de 5% e * Significativo ao nível de 10%. A estatística "t" aparece entre parênteses.

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O aumento do número de membros do Conselho de Administração tem efeito positivo nos

custos de agência estimados por giro de ativos. Este resultado está alinhado ao obtido por

Sinhg e Davidson (2003). O tamanho da empresa influencia negativamente os custos de

agência. Este resultado foi obtido tanto para os custos de agência estimados pelo giro de

ativos quanto para os estimados pelo índice de despesas discricionárias. Também foi obtido

que a alavancagem financeira reduz os custos de agência relacionado às despesas

discricionárias. Estes resultados estão alinhados aos obtidos por Sinhg e Davidson (2003) e

por Ibrahim e Samad (2011).

Por fim, a análise da idade da empresa por giro de ativos está alinhada ao resultado obtido por

Ibrahim e Samad (2011), que documentaram que firmas mais velhas incorrem em menores

custos de agência. Ang et al.(2000) argumentam que empresas maduras são mais eficientes do

que as empresas mais jovens.

É importante mencionar que foram realizadas regressões para 2012 com variáveis explicativas

defasadas para 2011 nos dois modelos de custos de agência e não foram observadas alterações

relevantes nos resultados econométricos em comparação com a base contemporânea.

A Tabela 11 apresenta uma síntese qualitativa da análise dos resultados.

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Tabela 11 - Síntese qualitativa da análise dos resultados.

Variável Giro de Ativos Despesas

Discricionárias

H1. Estatal ou regulada Reduz eficiência

(esperado) Aumenta eficiência

(não esperado)

H2. Concentração controle - Aumenta eficiência

(esperado)

H3. Segmentos Diferenciados de Governança da BM&FBOVESPA

Reduz eficiência (não esperado)

Aumenta eficiência (esperado)

Tamanho do Conselho de Administração

Reduz eficiência (esperado)

-

Tamanho da empresa Aumenta eficiência

(esperado) Aumenta eficiência

(esperado)

Alavancagem financeira - Aumenta eficiência

(esperado)

Idade da Empresa Aumenta eficiência

(esperado) -

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5. CONCLUSÕES

Esta dissertação investigou empiricamente os efeitos da influência estatal, da concentração de

controle e da presença em segmentos diferenciados de governança sobre custos de agência de

empresas brasileiras pós-implantação do IFRS no Brasil. Nosso principal objetivo era

investigar a relação entre a influência governamental e os custos de agência.

Para o trabalho foram consideradas como empresas sob influência estatal aquelas cuja maioria

das ações com direito a voto pertencem ao Estado, empresas controladas por fundos de

pensão de empresas estatais ou pelo BNDES e empresas que atuam em segmentos fortemente

influenciados por agências estatais. As hipóteses centrais testadas propuseram que menor

influência estatal, maior concentração de controle e adoção voluntária de melhores níveis de

governança produzem menores custos de agência. Como proxies de custo de agência foram

utilizados o índice de giro de ativos e a relação entre as despesas com administração e receitas

de vendas, seguindo metodologia desenvolvida por Ang et al. (2000), e por Sinhg e Davidson

(2003). A relação esperada entre giro de ativos e custos de agência é inversa e a taxa de

despesas discricionárias tem relação direta com os custos de agência.

Com base em uma amostra de 242 empresas brasileiras com capital aberto, a pesquisa adotou

um modelo de regressão linear simples em seções transversais para os anos de 2011 e 2012,

implementado via método de mínimos quadrados ordinários. Como variáveis de controle

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foram eleitos o tamanho do conselho de administração, o tamanho da empresa, o índice de

alavancagem financeira e a idade da empresa.

A partir dos resultados das regressões, obtivemos que a influência estatal de fato aumenta os

custos de agência quando analisada pela ótica do giro de ativos. Isto pode indicar que a

influência estatal reduz a eficiência na utilização dos ativos das empresas, pois estas

conseguem gerar menos receitas com os ativos. Por outro lado, quando analisada sob a ótica

das despesas discricionárias, foi observado que a influência governamental reduz os custos de

agência. Estes resultados são conflitantes.

Também foram conflitantes os resultados obtidos na análise sobre a inserção nos segmentos

especiais de listagem da BM&FBOVESPA. Custos de agência aumentam quando analisados

pela visão de giro de ativos e são reduzidos, quando analisados pela visão das despesas

discricionárias.

A análise agregada destes resultados sugere que a influência governamental e a inserção nos

segmentos especiais de listagem da BM&FBOVESPA são capazes de reduzir despesas, mas

não de aumentar receitas e otimizar a utilização dos ativos.

Para a variável concentração de controle, quando analisada pela ótica de giro de ativos, não

foram encontradas evidências de sua influência nos custos de agência. Entretanto, foi

observado que esta variável reduz os custos de agência quando analisada sob a ótica das

despesas discricionárias, o que sugere que os grandes acionistas têm um incentivo para

monitorar a gestão e estão suficientemente informados para assumir papéis de monitoramento

de custos operacionais.

Com relação ao tamanho do Conselho de Administração, foi documentado que maiores

conselhos de administração aumentam os custos de agência estimados pelo giro de ativos.

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Esta evidência é consistente com a noção de que os grandes conselhos são ineficientes e é

semelhante às previsões de Jensen e Meckling (1976).

Com relação ao tamanho da empresa, foi evidenciado que possui influência negativa nos

custos de agência, tanto para os estimados pelo giro de ativos quanto para os estimados pelo

índice de despesas discricionárias. Também foi obtido que a alavancagem financeira reduz os

custos de agência relacionados às despesas discricionárias, consistente com o resultado de

McKnight e Weir (2009). Isso confirma a proposição de Sinhg e Davidson (2003) de que para

o tamanho da empresa, bem como para a alavancagem há economias de escala para despesas

VG&A. Além disso, a alavancagem financeira cria obrigações de geração de caixa, o que

disciplina o gestor na busca desse objetivo. A utilização de ativos pode melhorar quanto

maior a empresa devido às economias de escala e à sinergia entre as linhas de negócios. É

plausível argumentar que as empresas são capazes de gerar maior receita de vendas em

diferentes produtos, sem ter que duplicar a base de ativos para cada segmento.

Na análise da influência da idade da empresa nos custos de agência, foi verificado, através da

análise do giro de ativos, que firmas mais antigas incorrem em menores custos de agência,

sugerindo que empresas maduras são mais eficientes do que as empresas mais jovens. A idade

não mostrou impacto sobre o custo de agência medido por despesas discricionárias.

Analisando as limitações do trabalho, primeiramente, cabe mencionar que o assunto

governança corporativa é bastante abrangente e as determinantes dos custos de agência podem

ser mais numerosas do que as apresentadas nesta dissertação. Desta forma é possível que

esteja ocorrendo omissão de variáveis, o que acaba sendo incorporado ao erro.

Outra limitação a ser considerada é a possível presença de endogeneidade e causalidade

reversa. Uma das variáveis explicativas pode estar sendo determinada pela variável explicada

no modelo.

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53

Outro aspecto a ser considerado, é que os índices utilizados como proxy dos custos de

agência, especialmente o giro de ativos, são bastante dependentes do setor de atuação da

empresa. Supõe-se que setores mais intensivos em capital tenham giro de ativos menores e,

consequentemente, maiores custos de agência neste índice, o que não necessariamente

significará má gestão dos ativos. Mas esta análise não foi realizada neste trabalho.

Também é importante mencionar que não foi analisada a composição do conselho de

administração, ou seja, membros internos e membros externos à organização, por não termos

estas informações disponíveis. Desta forma, nossa análise se restringe à influência do

tamanho do conselho de administração nos custos de agência, sem considerar a independência

deste conselho de administração.

Como objeto para futuros trabalhos, sugerimos uma análise sobre a relação dos custos de

agência com medidas de valor. Isto revelaria se os esforços de redução dos custos de agência

e as boas práticas de governança corporativa têm impacto positivo no valor das empresas.

Nesta linha, sugere-se também a realização de uma análise relacionando os custos de agência

com um índice de governança corporativa.

Em função dos resultados conflitantes encontrados neste trabalho, da crescente adesão aos

segmentos especiais de listagem da BM&FBOVESPA e dos poucos estudos realizados no

Brasil, recomendamos também uma investigação mais aprofundada dos custos agência das

empresas inseridas neste contexto. Por fim, julgamos relevante uma análise dos custos de

agência de forma mais segmentada, a fim de investigar se existe relação entre os setores da

economia e a ocorrência dos custos de agência.

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