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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO TRABALHO E VIDA PESSOAL: OPORTUNIDADES E DESAFIOS DE MULHERES EM POSIÇÃO DE LIDERANÇA MARILENA DE LIMA SILVA NEVES ORIENTADORA: Prof.ª Dr.ª LUCIA BARBOSA DE OLIVEIRA Rio de Janeiro, 20 de Dezembro de 2012.

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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO

TRABALHO E VIDA PESSOAL: OPORTUNIDADES E DESAFIOS DE MULHERES EM POSIÇÃO DE LIDERANÇA

MARILENA DE LIMA SILVA NEVES

ORIENTADORA: Prof.ª Dr.ª LUCIA BARBOSA DE OLIVEIRA

Rio de Janeiro, 20 de Dezembro de 2012.

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TRABALHO E VIDA PESSOAL: OPORTUNIDADES E DESAFIOS DE MULHERES EM POSIÇÃO DE LIDERANÇA

MARILENA DE LIMA SILVA NEVES

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Gestão de Recursos Humanos

ORIENTADORA: Prof.ª Dr.ª LUCIA BARBOSA DE OLIVEIRA

Rio de Janeiro, 20 de Dezembro de 2012.

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TRABALHO E VIDA PESSOAL: OPORTUNIDADES E DESAFIOS DE MULHERES EM POSIÇÃO DE LIDERANÇA

MARILENA DE LIMA SILVA NEVES

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Gestão de Recursos Humanos

BANCA EXAMINADORA: _____________________________________________________ Professora Dra. LUCIA BARBOSA DE OLIVEIRA (Orientadora) Instituição: IBMEC-RJ _____________________________________________________ Professor Dr. VALTER MORENO DE ASSIS JUNIOR Instituição: IBMEC-RJ _____________________________________________________ Professora Dra. ANA HELOISA DA COSTA LEMOS Instituição: PUC-RJ

Rio de Janeiro, 20 de Dezembro de 2012.

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(...) Hoje ativamos o poder sem

manejar armas de fogo, mas canalizando a ternura e a engenhosidade do afeto.

Somos Marias Bonitas, carinhosas, sofridas,

projetistas de um tempo novo, seguindo as curvas de batalhas infinitas,

andando sobre os próprios pés, conjugando nosso próprio verbo, e erguendo com as próprias mãos

um cotidiano antes programado para bordar, casar e cozinhar.

Agora o mundo nos anuncia e anunciamos o mundo.

Sem protocolos ou marcações de tempo.

Não é uma vida fácil. Ela arde o sufoco das horas, das decepções... dos medos... dos sustos e da fome.

No sufoco das cobranças amargas e traiçoeiras. Na competitividade animalesca.

Mas estamos de pé na arte e no estilo. Revelando intimidades e descobertas.

(...)

LEDA MARIA

Aos meus amados Magnos, e as "Marias Bonitas " deste Brasil.

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v

AGRADECIMENTOS

Quero iniciar agradecendo a Deus por tudo que tenho e principalmente por tudo que sou Nele,

por me conceder saúde e determinação para ir à busca de tudo que desejo e preciso, por me

dar uma família tão simples e tão rica de valores e sentimentos, por colocar em minha vida

pessoas tão especiais com as quais tenho o prazer de compartilhar minhas experiências,

angustias e alegrias.

Para não cometer injustiças, quero agradecer a TODAS as pessoas que de alguma forma me

ajudaram, me apoiaram ou simplesmente torceram por mim e aos meus líderes e liderados,

com quem aprendo tanto.

Ao meu esposo, Alexandre Magno, por sempre me apoiar em meus projetos, por toda

dedicação e auxilio, por trazer equilíbrio a minha vida e me fazer tão feliz. Aos meus filhos

Alexandre Magno Jr e André Magno, por serem tão compreensivos com a minha falta de

tempo, por me renovarem a cada dia com o brilho dos seus olhos, com estes rostinhos

iluminados, com um abraço, com seu sorriso e aos meus pais, minha referencia de

honestidade e superação.

A minha orientadora, Profª Drª. Lucia Barbosa de Oliveira, pelas sugestões e críticas. Por me

apoiar de forma firme e ao mesmo tempo tão generosa e serena, por sua disponibilidade e

principalmente por sua paciência. A Sandra Miranda, pelo profissionalismo nas transcrições

das entrevistas e apoio na revisão de texto. Vocês são profissionais e mulheres brilhantes!

Agradeço ao corpo docente do Ibmec, por cada experiência compartilhada e a todos os demais

funcionários desta instituição que nos deram suporte ao longo do curso, em especial a Marcia

Peron e aos funcionários da biblioteca.

A todos os mestrandos da turma 2010.2, pela troca de experiências, pelo companheirismo, por

fazerem parte desta história. Em especial a Shanna Rubia, por ter sido minha companhia em

todas as disciplinas, pelas risadas, pelas dicas e por se tornar uma grande amiga. Ao amigo e

agora meu Coordenador, José Godinho, por se tornar meu mentor na iniciação a minha

trajetória como professora acadêmica.

Por fim, a todas as mulheres que entrevistei mães, profissionais, líderes, guerreiras, por

compartilharem suas experiências e enriquecerem este trabalho com suas lindas histórias.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Busca por equilíbrio e qualidade de vida ................................................................ 44

Figura 2 – Objetivos de carreira ............................................................................................... 47

Figura 3 - Principais desafios da liderança ............................................................................... 52

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Participação da população ocupada com nível superior completo (2011) ............... 7

Gráfico 2 - Composição dos cargos por sexo em empresas brasileiras (2010) .......................... 8

Gráfico 3 - Entrevistadas por faixa etária em que tiveram o primeiro filho ............................. 28

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Labirinto: Principais desafios enfrentados pelas mulheres ................................... 10

Quadro 2 - Comportamento do líder transacional .................................................................... 14

Quadro 3 - Comportamento do líder transformacional ............................................................ 15

Quadro 4 – Teorias das relações entre trabalho e família ......................................................... 22

Quadro 5 - Perfil resumido das entrevistadas ........................................................................... 26

Quadro 6 - Tempo para se chegar ao cargos de liderança ........................................................ 27

Quadro 8 – Desigualdade de gênero em áreas específicas de atuação ..................................... 37

Quadro 10 – Teoria instrumental .............................................................................................. 42

Quadro 11 – Teoria do conflito ................................................................................................ 43

Quadro 12 - Características do estilo de liderar ....................................................................... 51

Quadro 7 – Sentido dado ao trabalho ....................................................................................... 53

Quadro 9 – Benefícios da maternidade..................................................................................... 57

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Neves, Marilena de L. S. Trabalho e Vida Pessoal: Oportunidades e Desafios de Mulheres

em Posição de Liderança. Dissertação de Mestrado Profissionalizante em Administração,

Faculdades Ibmec, Rio de Janeiro, 2012.

O crescimento da participação das mulheres no mercado de trabalho já vem ocorrendo há

algumas décadas e se deve a uma série de fatores. As mulheres estão mais escolarizadas e

ocupam espaço cada vez maior no mercado de trabalho, inclusive em cargos que até pouco

tempo atrás eram considerados quase que exclusivamente masculinos. O crescimento

acelerado da economia brasileira ao longo dos últimos anos aumentou de forma significativa a

demanda por novos talentos no mercado de trabalho, dentro desse contexto as mulheres se

tornaram fonte de talentos por estarem capacitadas a atenderem essas demandas, (GURIAN e

ANNIS, 2009). Tendo este contexto como pano de fundo, esse trabalho teve como objetivo

investigar a forma como mulheres - com filhos menores e que ocupam posições de liderança -

percebem e lidam com as oportunidades e os desafios enfrentados no trabalho e na vida

pessoal, além de buscar compreender qual sentido elas atribuem à maternidade e à carreira ao

analisar as questões que vivenciam no mercado de trabalho atual. Foram entrevistadas dez

mulheres que exercem cargos de liderança em empresas situadas no município do Rio de

Janeiro e que são mães de crianças menores de doze anos. Os resultados apontam que as

“exigências da vida familiar” geram conflitos e dilemas no cotidiano dessas executivas, isso

nos leva a acreditar que esses conflitos e sentimentos relacionados ao desafio da conciliação

de seus múltiplos papéis tendem a estarem relacionados ao sentido atribuído por elas ao

trabalho e a maternidade.

De forma geral concluiu-se que os maiores desafios enfrentados por elas, diante das

dificuldades relatadas para conciliar o trabalho e a vida pessoal, encontram-se na continuidade

de padrões culturais tradicionais que se perpetuam nas diferenças entre o papel do homem e

da mulher na sociedade e no reconhecimento de que estas desigualdades afetam a trajetória de

carreira dessas mulheres.

Palavras Chave: Gênero, Maternidade, Carreira e Liderança.

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Neves, Marilena de L. S. Work and personal life: opportunities and challenges of women in leadership positions. Dissertação de Mestrado Profissionalizante em Administração, Faculdade IBMEC, Rio de Janeiro, 2012.

The growth of women's participation in the labor market has been occurring for several

decades and is due to a number of factors. Women are more educated and increasingly occupy

space in the labor market, even in jobs that until recently were considered almost exclusively

male. The accelerated growth of the Brazilian economy over the past few years has

significantly increased the demand for new talent in the labor market, within this context

women have become a source of talent for being trained to meet these demands (Gurian and

Annis, 2009). Having this context as a backdrop, this study aimed to investigate how women -

with minor children and in positions of leadership - perceive and deal with the opportunities

and challenges in work and personal life, and seek to understand meaning which they attribute

to motherhood and career to consider issues they experience in the current job market. We

interviewed ten women who hold positions of leadership in companies located in the

municipality of Rio de Janeiro and mothers of children under twelve. The results indicate that

the "demands of family life" generate conflicts and dilemmas in everyday life these

executives, it leads us to believe that these conflicts and feelings related to the challenge of

reconciling their multiple roles tend to be related to the sense attributed by them to work and

motherhood.

Overall it was concluded that the major challenges faced by them in the face of difficulties

reported for balancing work and personal life, are a continuation of traditional cultural

patterns that perpetuate the differences between the role of men and women in society and the

recognition that these inequalities affect the career path of these women.

Keywords: Gender, Motherhood, Career and Leadership.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------- 2

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ------------------------------------------------------------------ 5

2.1 A mulher e o mercado de trabalho ............................................................................. 5

2.2 Liderança e gênero.................................................................................................... 12

2.3 Maternidade e carreira .............................................................................................. 17

3. CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS ------------------------------------------------- 23

3.1 Metodologia de investigação .................................................................................... 23

3.2 Grupo pesquisado ..................................................................................................... 23

3.3 Coleta e análise de dados .......................................................................................... 24

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ----------------------------------------- 26

4.1 Perfil das entrevistadas ............................................................................................. 26

4.1.1 Ana ........................................................................................................................ 29

4.1.2 Beatriz ................................................................................................................... 29

4.1.3 Cintia .................................................................................................................... 30

4.1.4 Deise ..................................................................................................................... 30

4.1.5 Eliana ................................................................................................................... 31

4.1.6 Flávia .................................................................................................................... 31

4.1.7 Gilda ..................................................................................................................... 32

4.1.8 Helen ..................................................................................................................... 32

4.1.9 Irene ...................................................................................................................... 33

4.1.10 Julia .................................................................................................................. 33

4.2 Desafios profissionais ............................................................................................... 34

4.3 Desigualdade de gênero ............................................................................................ 36

4.3.1 Preconceito ........................................................................................................... 37

4.3.2 Resistência à liderança feminina .......................................................................... 39

4.3.3 Exigências da vida familiar .................................................................................. 40

4.4 Relação trabalho-família........................................................................................... 41

4.5 Busca por equilíbrio e qualidade de vida.................................................................. 43

4.5.1 As frustradas ......................................................................................................... 45

4.5.2 As resolvidas ......................................................................................................... 46

4.6 Objetivos de carreira ................................................................................................. 46

4.7 Liderança feminina ................................................................................................... 50

4.8 Sentido dado ao trabalho .......................................................................................... 52

4.9 Sentido dado à maternidade ...................................................................................... 54

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS------------------------------------------------------------------- 58

APÊNDICE A: ROTEIRO DAS ENTREVISTAS ---------------------------------------------- 65

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1. INTRODUÇÃO

O crescimento da participação das mulheres no mercado de trabalho já vem ocorrendo há

algumas décadas e se deve a uma série de fatores. Elas estão mais escolarizadas, têm menos

filhos e se fazem mais presentes nos espaços públicos. Tudo isto contribuiu para sua entrada e

permanência no mercado de trabalho. Se há alguns anos as mulheres eram destinadas a ocupar

cargos mais operacionais, ou especificamente femininos, hoje elas estão ocupando um espaço

cada vez maior no mercado de trabalho e cargos que até pouco tempo atrás eram considerados

quase que exclusivamente masculinos (ARAUJO, 2004).

Embora as estatísticas apontem para o crescimento da participação das mulheres no mercado

de trabalho brasileiro e para o maior número de mulheres ocupando cargos de liderança, uma

pesquisa realizada pelo Instituto Ethos (2010) com funcionários e dirigentes das 500 maiores

empresas do país, demonstrou que a desigualdade entre homens e mulheres permanece

grande. As mulheres têm apenas 13,7% de participação nos níveis hierárquicos mais elevados

destas organizações.

De acordo com Morgan (2010), mesmo com trajetórias ascendentes nas empresas, as

mulheres são às vezes excluídas de áreas estratégicas, ficando restritas a áreas mais

administrativas. Lipovetsky (2000) contribui para esta discussão ao destacar que a

participação das mulheres nos círculos decisórios ainda continua restrita, como se um "teto de

vidro" (glass ceiling) as bloqueasse a partir de certo nível. Kanter (1997), além de sinalizar

para o crescimento do número de mulheres ocupando cargos de liderança nas organizações,

destaca que estas estão mais instruídas e ressalta que a ascensão profissional acarreta

exigências fora do ambiente do trabalho, centradas principalmente nas responsabilidades

familiares. A autora também enfatiza a existência do conflito entre trabalho e família,

afirmando que "há evidências de que mulheres na faixa etária dos trinta anos começam a

perder suas ambições de carreira quando começam a querer filhos." (KANTER, 1997, p.300).

Numa pesquisa mais recente realizada com mães que trabalham, Troiano (2007) ressalta que

as mulheres estão dispostas a recusar cargos mais elevados nas organizações, se estes

exigirem mais tempo disponível para o trabalho e sacrifícios, como jornadas extensas e

muitas viagens.

Dada a relevância do gênero feminino no ambiente dos negócios e o crescente interesse pelo

tema liderança, esta pesquisa buscou elementos para uma compreensão mais detalhada das

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características das mulheres que ocupam cargos de liderança. Desta forma, este trabalho teve

por objetivo investigar a forma como mulheres – com filhos menores e que ocupam posições

de liderança – percebem e lidam com as oportunidades e os desafios enfrentados no trabalho e

na vida pessoal.

Como objetivos específicos da pesquisa, definiu-se:

· Investigar possíveis dificuldades enfrentadas em sua trajetória profissional;

· Conhecer os desafios que enfrentam para conciliar seus múltiplos papéis;

· Investigar as características mais evidenciadas no estilo de liderança dessas mulheres

através de sua própria percepção;

· Compreender o sentido que essas mulheres atribuem à maternidade e à carreira;

O crescimento acelerado da economia brasileira ao longo dos últimos anos faz aumentar cada

vez mais a demanda por novos talentos no mercado de trabalho. Com isto, a escassez de

profissionais qualificados vem se mostrando como um dos maiores obstáculos ao crescimento

das empresas (GURIAN e ANNIS, 2009). Dentro deste contexto, as mulheres têm se tornado

uma grande fonte de talentos para o mercado de trabalho. Embora seja notório o crescimento

da participação das mulheres no mercado de trabalho e o aumento de mulheres ocupando

cargos de liderança, a desigualdade entre homens e mulheres nas empresas brasileiras ainda é

muito significativa.

Peters (2004) afirma que as características femininas atendem aos requisitos de liderança da

atualidade, apontando como pontos fortes da liderança feminina: unir os funcionários,

compartilhar informações, ser flexível e valorizar a diversidade cultural. Gurian e Annis

(2009) destacam que saber aproveitar de forma balanceada os talentos naturais de homens e

mulheres pode ser uma grande vantagem competitiva diante da escassez de profissionais

qualificados e da progressiva inclusão das mulheres no mercado de trabalho, ressaltando que

as empresas poderiam promover a igualdade entre os gêneros através da valorização das

necessidades, percepções e capacidade de liderança das mulheres. Novas habilidades e

competências são necessárias e as características do arquétipo feminino podem ter muito a

oferecer às organizações. Neste contexto, o equilíbrio entre os sexos tem sido estimulado nas

organizações e tem acarretado a valorização do estilo feminino de liderar (MORGAN, 2010).

De acordo com Gurian e Annis (2009), é preciso investigar maneiras de atrair e manter um

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número maior de mulheres no alto escalão da liderança, principalmente das empresas que vêm

sendo tradicionalmente dominadas por culturas masculinas, sendo necessário entender o que

as mulheres realmente necessitam para que continuem partilhando seus talentos, exercendo

funções de liderança e contribuindo de forma significativa para o resultado das organizações.

Assim, a relevância deste estudo se dá pela construção de uma compreensão mais detalhada

das características das mulheres que ocupam cargos de liderança, oferecendo informações que

permitam um maior entendimento de suas necessidades e valores. Espera-se assim, contribuir

para uma maior reflexão sobre as políticas de gênero nas organizações.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A fundamentação teórica para essa dissertação foi dividida em três blocos principais. No

primeiro bloco, através de um panorama geral com ênfase no mercado de trabalho brasileiro,

apresentamos a forma que se deu a inserção da mulher no mercado de trabalho e a

discriminação de gênero ainda presente no mercado atual. O segundo bloco destina-se à

discussão sobre as diferenças de gênero e os estilos de liderança. E por fim, o terceiro bloco é

dedicado ao entendimento dos valores atribuídos à maternidade e suas implicações na

ambição e expectativas de carreira das executivas.

2.1 A mulher e o mercado de trabalho

No Brasil, a maior parte dos estudos que buscam compreender o impacto dos traços da cultura

brasileira na gestão das organizações se apoia em trabalhos sobre a formação histórica,

cultural e social e econômica do país e um dos pioneiros na discussão sobre a influência das

culturas nacionais sobre as culturas organizacionais foi Hofstede (MOTTA, 1997). Nesse

sentido, Hofstede (1991 apud MOTTA, 1997) afirma que a distribuição do papel sexual em

uma sociedade é transferida ou repassada pela socialização que ocorre entre as famílias, nas

escolas ou em grupos sociais. Hofstede denominou de socialização o processo pelo qual

modelos de cultura são transferidos de uma geração para outra, ou seja, a forma que homens e

mulheres aprendem seus lugares na sociedade. Uma descoberta importante da pesquisa

realizada por Hofstede diz respeito a importância da cultura nacional para explicar as

diferenças relativas a atitudes e valores no trabalho tendo em vista que são influenciados pelos

padrões e valores de cada país. Nesse trabalho, não se pretende aprofundar os aspectos

culturais do povo brasileiro, mas sua relevância constitui pano de fundo para o estudo das

questões de gênero no mercado de trabalho brasileiro.

No inicio do século XX os homens eram vistos como únicos e suficientes provedores dos

lares brasileiros. A mulher não precisava e não deveria ganhar dinheiro, as que ficavam

viúvas ou eram de classes populares e, portanto, sem garantia de auxílio para o sustento da

casa e dos filhos, faziam doces por encomendas, arranjo de flores, bordados e crivos, lavavam

roupa para fora, davam aulas de piano, etc. Essas tarefas domésticas, além de pouco

valorizadas, eram atividades discriminadas pela sociedade. Mesmo a mulher demonstrando

estar apta ao trabalho, até mesmo em atividades exercidas exclusivamente por homens, existia

preconceito em relação à mulher sair de casa para trabalhar fora, pois os maridos alegavam

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que, neste caso, a mulher deixaria de lado seus afazeres domésticos e sua atenção na criação

dos filhos. A mulher era vista apenas como esposa, dona de casa, mãe e exercer outra

atividade representava uma ameaça não só à organização doméstica como também à

estabilidade do matrimônio (PRIORE, 2011).

Aqui a autora evidencia a discriminação e o perfil aceitável na época para atuação da mulher

no trabalho ao constatar: “As mulheres inteligentes ou cultas eram incentivadas a ajudar os

maridos caso fosse preciso, mas deveriam fazê-lo de forma tal que o marido não se sentisse

humilhado ou aborrecido por ter seu território invadido por uma mulher” (PRIORE, 2011, p.

630). Mesmo com todo preconceito inerente à época, algumas mulheres conseguiram transpor

as barreiras de que a função feminina se restringisse ao papel de esposa subserviente, mãe e

dona de casa e, com determinação, passaram a conquistar maior espaço no mercado de

trabalho.

O crescimento da população feminina no mercado de trabalho brasileiro a partir do inicio da

década de 70 foi resultante de diversos fatores, dentre eles o significativo surgimento de

movimentos sociais das classes trabalhadoras que vieram ao encontro e impulsionaram o

movimento feminista. Bello (2008) destaca que mudanças culturais e de comportamento

aliados a necessidade de aumento da renda familiar e melhoria do nível de escolaridade

feminina, tornaram possível a realização do desejo e necessidade das mulheres conquistarem

autonomia e independência financeira. Diante da necessidade de alcançarem igualdade aos

homens, as mulheres passaram a assumir nova identidade, em contrapartida, esse choque da

modernidade foi responsável pela geração de vários conflitos que podemos observar até a

atualidade: Dupla jornada de trabalho, diferenças salariais entre homens e mulheres entre

outras. Ao mesmo tempo em que a participação da mulher aumentava, cresciam também as

discriminações e desigualdades entre os gêneros. Cabe aqui uma breve definição sobre

gênero:

O Dicionário Aurélio (FERREIRA, 2008) apresenta diferentes definições para o termo

gênero, das quais se destacam:

• Agrupamento de indivíduos que tenham características comuns;

• A forma como se manifesta social e culturalmente a identidade sexual dos indivíduos.

Essa segunda definição evidencia a importância dos fatores culturais e sociais na formação

dos gêneros. As quais têm seus reflexos até os dias atuais. Problemas relacionados a gênero

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como desigualdade de salários, planos de carreira diferenciados, dupla jornada de trabalho,

assédios moral e sexual compõem a lista das heranças culturais e principais desafios a serem

superados pelas trabalhadoras brasileiras (BELLO, 2008).

Da década de 70 até os dias atuais a participação das mulheres no mercado de trabalho

apresenta vertiginosa progressão, se em 1970 apenas 18% das mulheres brasileiras

trabalhavam, a Pesquisa Mensal de Emprego (IBGE, 2011) aponta que a participação das

mulheres na população economicamente ativa em 2011 chegou a 46,1%. A pesquisa também

mostra predomínio da presença feminina com nível superior em diversos grupamentos de

atividades como, por exemplo, na construção civil, atividade majoritariamente desenvolvida

pelo sexo masculino, onde a participação de mulheres com nível superior completo é de

28,6% (ver Gráfico 1), conferindo autenticidade aos argumentos de Tanure (2007) de que a

expansão da presença da mulher no mercado de trabalho ganhou impulso quando

necessidades econômicas a levaram a contribuir no orçamento familiar, sendo intensificada

gradualmente com o aumento do nível da escolaridade feminina e redução das barreiras

culturais relacionadas aos tipos de profissionalização. O fato de estarem mais escolarizadas e

terem menos filhos, além de contribuir para sua entrada e permanência no mercado de

trabalho, também contribuiu para o crescente número de mulheres ocupando cargos antes

ocupados somente por homens e alcance em cargos de liderança.

Gráfico 1 - Participação da população ocupada com nível superior completo (2011)

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IBGE (2011)

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Embora as estatísticas apontem para o crescimento da participação das mulheres no mercado

de trabalho brasileiro, a desigualdade entre gêneros no mundo corporativo ainda é gigantesca,

principalmente nos cargos mais elevados das organizações.

A pesquisa realizada por Tanure (2007) revelou que apenas 23% dos executivos brasileiros

eram mulheres, essas tinham participação ainda menor nos cargos mais elevados. Em

pesquisa mais recente realizada pelo Instituto Ethos (2010), com funcionários e dirigentes das

500 maiores empresas do país, foi demonstrado que, embora tenha havido avanços em relação

aos levantamentos anteriores, as desigualdades entre homens e mulheres permanecem

expressivas nestas organizações.

O Gráfico 2, mostra que a diferença é menor no quadro funcional, onde a presença feminina

representa uma parcela de 33,1% dos postos de trabalho, mas cresce progressivamente com o

declínio da participação das mulheres nos níveis hierárquicos mais elevados: 26,8% na

supervisão, 22,1% na gerência e 13,7% no executivo. Evidenciando a existência de barreiras

que bloqueiam o acesso das mulheres a cargos mais elevados e conferindo autenticidade aos

argumentos de Morgan (2010), ao destacar que as mulheres podem enxergar oportunidades no

topo de suas organizações, mas o caminho muitas vezes é bloqueado pelo preconceito sexual.

Gráfico 2 - Composição dos cargos por sexo em empresas brasileiras (2010)

Fonte: Adaptado a partir de dados do Instituto Ethos (2010)

Além do crescimento do número de mulheres ocupando cargos de liderança nas organizações,

Kanter (1997) destaca o fato de as mesmas estarem mais instruídas e aponta que a ascensão

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profissional acarreta exigências fora do ambiente do trabalho centradas principalmente nas

responsabilidades familiares. Morgan (2010) ressalta que no mundo atual organizado em

redes, o equilíbrio entre os sexos nas organizações vem sendo estimulado, favorecendo assim

o estilo feminino de liderar. Novas habilidades e competências são necessárias e as

características do arquétipo feminino têm muito a oferecer às organizações atuais.

Ao analisar os interesses, conflitos e jogos de poder nas organizações, Morgan (2010) aponta

algumas questões inerentes à relação entre os sexos no contexto organizacional, dando

destaque para o fenômeno “teto de vidro” que pode ser observado em forma de discriminação

aberta, mas que geralmente permeia a cultura das organizações de forma menos visível.

Através de dados estatísticos recentes podemos observar pelo menos três mecanismos de

discriminação de gênero presentes no mercado de trabalho brasileiro atual:

• Discriminação salarial: Os homens tendem a receber remuneração superior às das

mulheres em ocupações idênticas. Segundo a Pesquisa Mensal de Emprego realizada pelo

IBGE (2011) o rendimento médio do trabalho das mulheres em 2011 foi R$ 1.343,81, ou seja,

72,3% do que recebiam os homens (R$ 1.857,63).

• Fenômeno teto de vidro: Termo que indica a barreira que dificulta a ascensão profissional

feminina no mercado de trabalho. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Ethos (2010) a

desigualdade entre homens e mulheres permanece expressiva entre as 500 maiores empresas

brasileiras, sendo que 83,3% dos cargos executivos nestas organizações são ocupados por

homens.

• A segregação ocupacional: Em geral mulheres ocupam postos de trabalho menos

qualificados e, consequentemente com menor remuneração. De acordo com IBGE (2011), a

presença masculina é majoritária dentro da população atuante em diversos tipos de

grupamentos de atividades econômicas, sendo no trabalho doméstico a maior

representatividade feminina (94,9%). Bello (2008) constata que os seguimentos que mais

absorvem o trabalho feminino no Brasil são os que tendem a propiciar as menores

remunerações.

Eagly e Carli (2007) consideram a metáfora “teto de vidro” insuficiente à realidade atual.

Segundo as autoras, houve um tempo em que as mulheres realmente não tinham praticamente

nenhuma chance de alcançar cargos de liderança influentes, não conseguiam romper a barreira

sutil, invisível e chegar ao topo. Porém, este fenômeno não descreve a complexidade e

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variedade de desafios que as mulheres enfrentam. Se nós queremos fazer mais progressos, é

hora de mudar o nome do desafio, sendo “labirinto” a metáfora que melhor descreve os

desafios enfrentados pelas mulheres em suas trajetórias profissionais na busca por ascensão

nas organizações (EAGLY e CARLI, 2007 p.2). O “labirinto” é um símbolo contemporâneo

que transmite a ideia de uma trajetória complexa para um objetivo pelo qual vale a pena lutar,

ou seja, embora o trajeto não seja simples e direto, haja múltiplos desafios a serem superados,

existe uma rota viável para alcançar o objetivo e chegar ao topo. Com base em pesquisas

acadêmicas e governamentais as autoras identificaram alguns desafios (ver Quadro 1), que

compõe este labirinto:

Quadro 1 – Labirinto: Principais desafios enfrentados pelas mulheres

Obstáculos que dificultam a ascensão das mulheres à cargos mais elevados nas organizações

Preconceito Homens são promovidos mais rapidamente do que as mulheres com qualificações

equivalentes, mesmo em ambientes tradicionalmente femininos, como enfermagem e educação.

Resistência à liderança

feminina

Existe um conjunto amplo de associações mentais, consciente ou não, sobre as mulheres, homens e líderes. Em geral as mulheres não são vista como pessoas

que tem “ a características certas” para trabalhos poderosos.

Questões de

estilo de liderança

Muitas líderes femininas lutam para equilibrar algumas qualidades das mulheres (compaixão pelos outros), com qualidades que as pessoas pensam que os líderes

de sucesso precisam ter (afirmação e controle).

Exigências da

vida familiar

As mulheres ainda são as que mais dedicam tempo à família e às vezes chegam a interromper suas carreiras ou vivem sobrecarregadas e sem tempo para se dedicar

a rede social essencial para seu avanço profissional.

Fonte: Adaptado de Eagly e Carli (2007).

Diante do cenário atual globalizado e em constantes transformações, o aumento da

competitividade e os avanços tecnológicos tornam o ambiente nas organizações mais

complexo e dinâmico, promovendo a necessidade de maior diversidade interna. Morgan

(2010) ressalta que o desafio é utilizar esta diversidade para promover o desenvolvimento das

organizações. Porém, para que isso seja possível, os ambientes organizacionais precisam ser

mais flexíveis e transparentes, evidenciando a preocupação de que as organizações podem

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estar perdendo grande parte de seu talento por não incentivarem a participação de mulheres

nos processos de sucessão de seus líderes. Nesse sentido, podemos verificar que se por um

lado as mulheres ainda enfrentam a crença de que o modelo masculino de gestão é mais

aceitável, em contrapartida existem evidências positivas em relação à participação feminina

na liderança das organizações.

Segundo Stefano, Kroehn e Oscar (2011), a economia brasileira gerou na última década 19

milhões de empregos formais e esse fator é destacado como um dos indicadores da

transformação vigente no país. Na pesquisa realizada com 335 grandes empresas instaladas no

país e publicada na Revista Exame, verificou-se que metade dessas pretende admitir mão de

obra nos próximos meses e o principal desafio para preencher essas vagas disponíveis é a

escassez da mão de obra qualificada. Uma das soluções apontadas é a inclusão de mão de obra

feminina nessas vagas. A matéria retrata esse cenário atual ao afirmar: “A progressiva

inclusão das mulheres no mercado de trabalho é um fenômeno mundial que tem entre suas

raízes o avanço da tecnologia sobre a força física e provoca impactos sociais e econômicos

gigantescos visto que no mundo e no Brasil, as mulheres têm um tempo de escolaridade

superior ao dos homens. Elas estão mais nas universidades e nos doutorados, estando mais

aptas para encarar a economia baseada no conhecimento”.

As conquistas e atuações das mulheres no mercado de trabalho são evidentes, mas ainda

existe um longo caminho a percorrer para equilibrar a divisão de gênero no trabalho no Brasil.

Dentre vários fatores, destaca-se a dupla jornada feminina e a desigualdade na divisão das

responsabilidades familiares. Segundo Guimarães (2012, p.21), embora a jornada exercida no

mercado de trabalho pelas mulheres seja inferior a dos homens, as mulheres em média

trabalham cinco horas a mais por semana, pois dedicam significativa parte de seu tempo aos

afazeres domésticos e cuidados com familiares. Evidencia-se, portanto, que a incorporação

das mulheres ao mercado de trabalho vem ocorrendo de forma expressiva sem que tenha

ocorrido uma redefinição das relações de gênero com relação à divisão sexual do trabalho,

tanto no âmbito da vida privada, quanto no processo de formulação de políticas públicas e de

ações por parte de empresas e sindicatos.

O verdadeiro desafio das mulheres que querem ter sucesso no mundo organizacional é mudar os valores organizacionais no sentido mais fundamental. (MORGAN, 2010, p. 229).

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2.2 Liderança e gênero

O tema liderança é objeto de estudo muito explorado ao longo da história, acredita-se que a

palavra liderança tenha aparecido por volta do ano 1300 da era cristã (STOGDILL, 1974) e

até hoje não se chegou a um consenso sobre a definição exata do que é liderança, sobre o

papel do líder ou sobre o efeito da liderança em seus liderados e nas organizações. Bergamini

(2002) afirma que a liderança tem sido investigada há muito tempo sendo justo existir

inúmeras interpretações ao decorrer das épocas e suas particularidades inerentes. Os

diferentes pontos de vistas não são necessariamente opostos, de certa forma, complementam-

se e o conjunto de todas as teorias oferece uma visão ampla do assunto. O autor destaca dois

elementos comuns em todas essas definições: Em primeiro lugar, elas conservam o

denominador comum de que a liderança esteja ligada a um fenômeno grupal, isto é, envolva

duas ou mais pessoas. Em segundo lugar, fica evidente tratar-se de um processo de influência

exercido de forma intencional por parte do líder sobre seus seguidores.

Yukl (2006, p. 5) também sugere diversificadas definições de liderança que refletem

“diferentes perspectivas acerca de um fenômeno complexo e multifacetado”. Apresentamos a

seguir algumas definições sobre liderança propostas por diferentes autores ao longo dos

tempos traduzidas e apresentadas por Bergamini (1994):

- “O comportamento de um indivíduo quando está dirigindo as atividades de um grupo em

direção a um objetivo comum”. (HEMPHILL e COONS, 1957, P.7 apud BERGAMINI, 1994,

p. 14).

- “Uma interação entre pessoas na qual uma apresenta informação de um tipo e de tal maneira

que os outros se tornam convencidos de que seus resultados serão melhorados caso se

comportem da maneira sugerida ou desejada”. (JACOBS, 1970, p. 232 apud BERGAMINI,

1994, p. 15).

- “O processo de influenciar as atividades de um grupo organizado na direção da realização de

um objetivo”. (ROUCH e BEHLING, 1984, p. 46 apud BERGAMINI, 1994, p. 15).

- "Líderes são agentes de mudança – pessoas cujos atos afetam outras pessoas e os atos de

outras pessoas o afetam também". (BASS, 1990, p. 20 apud BERGAMINI, 1994, p. 15).

- “A capacidade de influenciar um grupo em direção ao alcance dos objetivos”. (ROBBINS,

2009).

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A liderança ocorre quando um membro do grupo modifica a motivação ou a competência de

outros membros do grupo. Os primeiros estudos e pesquisas sobre as teorias da liderança

levavam em consideração as qualidades pessoais do líder (YUKL, 2006). A busca por

descobrir relações significativas entre liderança e os traços pessoais dos líderes, originou aos

pesquisadores explorarem outras abordagens para compreensão deste conceito. Referentes às

teorias de liderança existem três diferentes abordagens, sendo elas: As teorias dos traços, as

comportamentais e as contingenciais.

As teorias dos traços levavam em consideração as qualidades pessoais do líder, segundo

acredita-se ser a liderança nata, ou seja, o líder nasce feito. Um estudo conduzido por Lorde

et. al. (1986 apud CARVALHO, 2006) confrontou trinta e cinco pesquisas anteriores e

concluiu que três traços de líderes, inteligência, dominância e masculinidade, estavam

associados de forma significante com a percepção dos seguidores sobre liderança. A partir da

descrença em relação à aceitação incondicional das teorias dos traços, surgiram as teorias

comportamentais, levando os cientistas a se preocupar com a dinâmica do comportamento do

líder e acreditar que a liderança poderia ser ensinada (BERGAMINI, 1994).

Já as teorias contingenciais ou situacionais têm abordagem complementar a anterior e passam

a observar, além do comportamento do líder, o ambiente situacional e o comportamento do

subordinado. Nesta visão o líder precisa adaptar seu estilo de liderar às características do

grupo liderado para obter sucesso (CARVALHO, 2006).

Mais recentemente, Burns (1978), propõe o ato de liderar com base em transações e

transformações, o autor descreve os líderes como aqueles que exploram as motivações de seus

liderados para transcender os objetivos pessoais e alcançar os objetivos do grupo. As bases

teóricas que defendem este estilo são: Sociologia do carisma (WEBER, 1946), teoria da

liderança carismática (MORE, 1997), liderança transformacional e transacional (BASS, 1985;

BURNS, 1978) que, segundo Lowe e Gardner (2001 apud CARVALHO, 2006), são os mais

pesquisados e atuais desde 1980.

Na liderança transacional, ocorre uma troca, seja ela política, econômica ou psicológica entre

o líder e o liderado. Busca-se a melhor forma de motivar o liderado através de recompensas

pelo esforço e resultado alcançado. O líder que adota, normalmente, o estilo transacional (ver

Quadro 2) apela para os interesses próprios dos seguidores a fim de estabelecer uma relação

de troca; monitorizam o trabalho recompensando-os quando os objetivos são atingidos e

corrigindo-os quando falham (REGO e CUNHA, 2003).

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Quadro 2 - Comportamento do líder transacional

DIMENSÕES DESCRIÇÃO & COMPORTAMENTOS ASSOCIADOS

Recompensa

contingente Mostra o que deve ser feito para o esforço ser recompensado; recompensa o

desempenho positivo dos liderado; reconhece as conquistas;

Gestão por exceção

(Ativa) Foco nos erros e falhas na obtenção dos objetivos; Aplicando ações corretivas

quando não alcançam os padrões estabelecidos;

Gestão por exceção

(Passiva) Aguarda que os problemas ocorram, para só então, sejam tomadas ações

corretivas;

Liderança

laissez-faire

O líder praticamente se recusa a tentar influenciar os subordinados, abdica de suas responsabilidades se mostrando ausente nos momentos críticos e de tomada

de decisão

Fonte: Adaptado de Rego e Cunha (2003).

A liderança transformacional tem como principal característica o foco do líder no

desenvolvimento, envolvimento e transformação de sua equipe através de estímulos

intelectuais, comunicação inspiradora das expectativas, fornecimento de visão, expectativa de

desempenho e valorização das atividades. O líder transformacional (ver Quadro 3) é definido

como alguém que privilegia o envolvimento dos liderados, inspira seus seguidores a mudarem

suas atitudes a fim de que tanto líderes, quanto liderados, elevem-se a níveis mais altos de

motivação e alcance de objetivos baseados em valores e ideias. Almeja despertar a

consciência dos seus seguidores para a importância das metas do grupo e assim ganhar a

confiança deles, geralmente consegue que as pessoas transcendam seus interesses pessoais

(REGO e CUNHA,2003). Os líderes transformacionais despertam nos seguidores fortes

sentimentos de identificação com sua pessoa e com a missão apresentada por eles, sendo

assim merecedores de confiança e fé daqueles que o seguem (BERGAMINI, 2002, P. 155).

Embora haja diferenças significativas entre as lideranças transacionais e transformacionais, as

mesmas não devem ser vistas como abordagens opostas.

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Quadro 3 - Comportamento do líder transformacional

DIMENSÕES DESCRIÇÃO & COMPORTAMENTOS ASSOCIADOS

Carisma/Influencia

idealizada

Demonstração de qualidades que motivam o respeito e orgulho nos liderados pelo trabalho conjunto; transmite confiança e identificação; comunica valores, objetivos

e a importância da missão organizacional;

Liderança/Motivação

inspiradora

Comunica propósitos importantes de maneira simples; estimula o esforço dos seguidores, criando expectativas elevadas; atua como modelo de comportamento;

demonstra otimismo em relação aos objetivos futuros;

Estimulação intelectual Examina novas perspectivas para resolver problemas e completar tarefas; estimula

o pensamento inovador e criativo; promove estímulos contínuos para que os seguidores se sintam desafiados.

Consideração

individualizada

Trata cada seguidor individualmente; aconselha, orienta, apoia, treina, encoraja; promove o desenvolvimento do potencial dos seguidores; dá feedback e delega

responsabilidade;

Fonte: Adaptado de Rego e Cunha (2003).

Segundo Robbins (2000), como o líder transformacional é também carismático, há

sobreposição entre os conceitos e definições de liderança carismática e transformacional. O

aspecto carismático dos líderes é a forma pela qual são respeitados e admirados, gerando

identificação de seus liderados. Outro aspecto importante do líder transformacional é a

capacidade de despertar a motivação inspiradora, sendo essa gerada a partir das expectativas

que cada liderado tem com relação ao seu trabalho, quando identificam o significado do

trabalho e sua importância para a realização dos objetivos da organização. À medida que cada

pessoa sabe o significado de seu trabalho no contexto organizacional, facilita sentir-se

motivada. O líder transformacional também deve exercer estímulo intelectual no sentido de

ideias e valores, incentivando seus liderados a adotarem atitudes criativas. Segundo

Bergamini (2002), esse estímulo leva os colaboradores não só a abraçar novas atitudes, como

também, a questionar ideias consagradas, analisando situações e problemas já existentes de

outras maneiras, criando novas alternativas. O último atributo indispensável a um líder

transformacional é a consideração individualizada, que diz respeito a tratar todos "iguais" em

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termos morais, mas ao mesmo tempo de modo "diferente", ou seja, atendendo

individualmente às necessidades de cada liderado.

Bass (1985) ressalta que em geral o líder não é exclusivamente transformacional ou

transacional, mas incluem em seu estilo comportamentos dos dois tipos, ou seja,

acrescentando a ideia da igualdade de eficácia dos dois estilos, embora em situações

diferentes, o transformacional em períodos de fundação ou de mudança da organização e o

transacional em períodos de evolução e em ambientes estáveis. A liderança transformacional,

segundo Bergamini (2002, p. 32) parece ser a mais atual e mais valorizada por grandes

organizações.

Eagly et. al. (2003) ao associar os estilos de liderança transformacional e transacional ao

papel do gênero, constataram que existe uma tendência clara do feminino adotar um estilo de

liderança mais transformacional, superando o masculino em três dimensões: Influência

idealizada, motivação inspiradora e consideração individualizada. Relacionada ao

comportamento do líder transacional a mulher apresentou vantagens em relação aos homens

apenas na dimensão de “Recompensa Contingente”, demonstrando atribuir mais recompensas

aos seus liderados do que os homens. Os autores consideram ainda que a mulher possua certos

traços e características que as favorece no exercício da liderança nas organizações, visto que

na atualidade essas passam a valorizar o conhecimento gerado pelas pessoas e pressupõe que

aqueles que detêm qualidades como capacidade para inovar, intuição, sensibilidade,

flexibilidade, capacidade para trabalhar em equipe e administrar a diversidade, estão mais

aptas a ocupar cargos de liderança.

No cenário dinâmico e competitivo atual, Robbins (2000) afirma que são necessários líderes

que desafiem o status quo, criem visões de futuro e sejam capazes de inspirar os membros da

organização a querer realizar essas visões. Peters (2004) defende que as características

femininas atendem aos requisitos de liderança da atualidade, apontando como pontos fortes

dessa liderança as capacidades de unir os funcionários, favorecer o estilo de liderança

colaborativa e interativa, compartilhar informações, flexibilidade e valorização da diversidade

cultural. Para Gurian e Annis (2009), as diferenças no estilo de liderar de homens e mulheres

vão além da personalidade. De acordo com suas pesquisas, embora homens e mulheres em

geral tenham desempenho intelectual equivalente, o cérebro de cada um realiza as tarefas de

forma diferente, nem superior, nem inferior, simplesmente diferentes. Os autores destacam

ainda que no âmbito organizacional, saber aproveitar de forma balanceada os talentos naturais

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de cada um pode ser uma grande vantagem competitiva diante da globalização do mercado, da

escassez de profissionais qualificados e da progressiva inclusão das mulheres no mercado de

trabalho.

Na pesquisa realizada por Tanure (2007) com executivos brasileiros, foi constatado que, ao

mesmo tempo em que se fala da importância crescente do estilo feminino de liderar, mais

intuitivo e emocional, os depoimentos de homens e mulheres levam a concluir que para

alcançar o topo é necessário adotar o estilo masculino de liderar, mais assertivo e agressivo.

Fleury (2007) contribui para esta argumentação, quando afirma que nas organizações o

estereótipo da profissional bem sucedida ainda é bastante masculinizado, ou seja, a mulher

dura, pouco flexível, sem vida pessoal é a que chega ao topo. Isso demonstra que a progressão

das mulheres nos cargos de liderança ainda se dá num contexto onde os homens são a maioria

e os aspectos masculinos ainda muito valorizados. Resultante desse aspecto algumas mulheres

abrem mão de seu estilo autêntico de liderar e adotam determinado estilo masculino de líder

como modelo para sobreviver. Como apontam Gurian e Annis (2009, p.67), estas se tornam

“ainda mais machos que os homens” e as denominaram o “terceiro sexo”.

Os conceitos e características aqui apresentados servirão de referência para a investigação dos

estilos de liderança evidenciados nas líderes entrevistadas pela autora.

2.3 Maternidade e carreira

O conceito de maternidade, o entendimento do que se diz a respeito de ser mãe e os valores

atribuídos à função maternal sofreram mudanças no decorrer da história até os dias atuais.

Segundo Priore (2011), a valorização do amor espontâneo e incondicional das mães por seus

filhos ganhou grande importância e destaque a partir dos séculos XVII e XVIII e permanecem

até a atualidade.

No final do século XIX, com o declínio do poder patriarcal, as mães passam a ter ainda mais

controle sobre os filhos e a ideia de que para se sentir plenamente realizada a mulher precisa

exercer sua vocação natural de ser mãe é amplamente enaltecida e difundida. Quando as

famílias operárias do século XIX começaram a associar trabalho fora do lar ou mesmo dentro

dele com o papel da maternidade, iniciou-se a dupla jornada feminina, sendo intensificada no

decorrer do século XX, quando a mulher passou a ter mais acesso ao espaço público e à

educação profissional. Somado a isto, os avanços tecnológicos e o surgimento dos

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anticoncepcionais na década de 1960 deram à mulher possibilidade de escolha, maior

segurança e realização (PRIORE, 2011).

Nas últimas décadas, como já fora mencionado, além do crescimento da participação das

mulheres no mercado de trabalho elas vêm assumindo cargos cada vez mais elevados,

ganhando relevância em áreas antes dominadas quase que exclusivamente por homens. Na

busca por maior independência e realização profissional, as mulheres parecem estar

priorizando suas carreiras e isso tem acarretado mudanças na estrutura da sociedade, pois,

além de postergarem a primeira gestação, não querem ter mais do que dois filhos (ROCHA-

COUTINHO, 2003). Pesquisa do IBGE (2011) confere autenticidade aos argumentos de

Rocha-Coutinho ao diagnosticar queda de 21,9% na taxa de fecundidade das brasileiras, a

taxa que era de 2,38 filhos por mulher em 2000 passou para 1,86 em 2010. Essa pesquisa

mostrou que houve redução em todas as regiões do país, destacando o Sudeste como a região

que apresenta a menor taxa, de 1,66 filho por mulher, sendo o Rio de Janeiro com a menor

taxa entre os Estados, 1,62 filho por mulher. A pesquisa também revelou o aumento da média

de idade em que as mulheres tornam-se mães. Os grupos de idade de 20 a 24 anos apresentou

queda de 27% na taxa total de fecundidade entre 2000 e 2010. Porém, no grupo acima de 30

anos, a proporção aumentou de 27,6%.

Rocha-Coutinho (2003) também chama atenção para a associação entre a identidade feminina

e a capacidade da mulher gerar ou cuidar de um filho, a maternidade continua sendo uma

experiência considerada insubstituível e até indispensável para maioria, vista como algo que

dá sentido a vida da mulher. Ao ingressar no mercado de trabalho, esta mulher passa a

conviver com o desafio de realizar múltiplos papéis, gerando conflitos, estresses e

sentimentos de culpa oriundos da busca pelo equilíbrio entre os múltiplos papéis que precisam

ser desempenhados por elas. Segundo Troiano (2007), as mulheres com filhos pequenos que

trabalham se questionam constantemente sobre a divisão do tempo empregado em sua vida

familiar e no trabalho, destacando que saber equilibrar seus múltiplos papéis, dividindo seu

dia entre dedicação profissional, cuidado com os filhos, casa, esposo, tornou-se o grande

desafio para a mulher moderna. Quando questionadas sobre de que forma dividiam o tempo

fora do trabalho, embora a maioria das mulheres entrevistadas por Troiano (2007) tenha

demonstrado ser difícil decidir como dividir o tempo, o número de horas dedicadas aos

cuidados com os filhos superou todas as demais atividades e o tempo dedicado a si ficou em

último lugar. Isso evidencia a importância da maternidade no cotidiano feminino, como

afirmou Nuria Chichilla:

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Enquanto os homens pensam em trabalhar e ter êxito na profissão, as mulheres querem conciliar família, amigos e trabalho, por isso a ambição feminina é muito mais ampla e completa que a masculina. (CHICHILLA apud TROIANO, 2007. p 144).

Tonelli e Betiol (1991 apud JABLONSKI, 2010) também abordaram as diferenças no sentido

dado ao trabalho por diferentes classes sociais e a pesquisa revelou que as classes

socioeconômicas mais baixas atribuem ao trabalho o sentido de “sobrevivência”, já entre as

camadas mais altas o significado do trabalho é “independência e autorrealização”. Almeida

(2007), ressalta a existência de diferenças não apenas no sentido dado ao trabalho, mas

também no sentido dado a maternidade entre as mulheres trabalhadoras de classe média que

possuem filhos e as trabalhadoras de classe popular. A pesquisa realizada com mulheres dos

dois grupos sociais identificou que, embora todas as mães tenham associado maternidade aos

cuidados infantil e se sintam responsáveis pela criação e educação de seus filhos, para as mães

de classes populares o trabalho é visto como um benefício para a família, uma forma de ajudar

a suprir as necessidades básicas da família; já as mães de classe média dão ao trabalho o

sentido de um projeto individual, demonstrando maior sofrimento e culpa por terem que

deixar seus filhos para trabalhar.

Jablonski (2010), diante das novas demandas impostas pelo ingresso maciço das mulheres no

mercado de trabalho, buscou investigar o cotidiano de casais brasileiros de classe média sob a

ótica das divisões de tarefas domésticas e cuidados com os filhos. Sua pesquisa apontou que

continua sendo as mulheres que dão conta da maioria das tarefas domésticas e dos cuidados

com os filhos, sendo as responsabilidades dos homens com os filhos ainda consideradas

tímidas. Um fato interessante apontado pela pesquisa é que apesar da sobrecarga feminina, as

mulheres em sua maioria não demonstraram sinal de inconformidade com esta situação,

qualificando a ajuda recebida pelo conjugue como bem vinda e às vezes até festejada, ou seja,

as mulheres entrevistadas, todas de classe média, com alto nível de escolaridade, embora

tenham demonstrado o desejo de ter mais tempo para dedicar-se a si mesmas, demonstraram

aceitar a noção tradicional de que as tarefas domésticas não precisam ser divididas de forma

igualitária entre os sexos.

Dentro deste contexto, Troiano (2007), ressalta que, se por um lado, a maternidade aumenta

as atribuições, conflitos e responsabilidades, por outro, a experiência da maternidade também

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pode impulsionar a carreira. Dependendo da forma que este novo desafio será encarado e o

sentido que será dado a esta nova e maravilhosa experiência:

(…) este caminho não tem fim e nos proporciona, ao longo de todos os

passos, um punhado de oportunidades. A gente aprende a se relacionar com as crianças – afinal são seres únicos e muito diferentes de nós -, a lidar com situações imprevistas ou difíceis, a se concentrar mais no que faz, a se estressar menos por bobagens, isso só para citar alguns aspectos (TROIAN0, 2007. p. 136).

A autora relaciona algumas competências emocionais que são estimuladas através dos

desafios da maternidade, das quais se destacam:

• Tolerância: No dia a dia com o filho pequeno a mulher desenvolve mais paciência e

tolerância para lidar com situações que não são como ela esperava, passando a entender e

aceitar melhor o comportamento do outro e suas limitações.

• Versatilidade: Quem desempenha múltiplos papéis acaba exercitando a habilidade de

realizar várias tarefas ao mesmo tempo e desempenhar com desenvoltura atividades

diferentes.

• Perspectiva: Aprende a compreender melhor o que realmente importa e dar aos

problemas o tamanho que eles têm de fato, permitindo levar a vida de maneira mais

equilibrada e feliz.

• Concentração e foco: Para que tudo funcione o dia tem que render é preciso ter

concentração e foco nas prioridades, tornando assim a mulher mais produtiva.

• Capacidade de delegar: Como não dá para dar conta de tudo sozinha é necessário

delegar e saber delegar se traduz em não se sobrecarregar e valorizar o trabalho em equipe.

Segundo Rocha-Coutinho (2006), a identidade feminina no Brasil foi alterada aos poucos

criando um novo papel para a mulher brasileira de trabalhadora e pessoa engajada em uma

carreira profissional. Para facilitar a compreensão da ambição e expectativas das executivas

com relação a sua vida profissional, faremos a partir deste ponto uma pequena menção ao

tema carreira e a relação entre trabalho e família.

Historicamente o termo carreira foi criado pelos franceses para designar corrida competitiva.

Posteriormente o termo ganhou o sentido de trajetória, contendo a noção de progressão do

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indivíduo através da vida. Arthur, Hall e Lawrence (1989 apud OLIVEIRA, 2009) propõem o

conceito de que a carreira reflete a relação entre o indivíduo e a organização e sua evolução ao

longo do tempo, levando em consideração aspectos internos (identidade) e externos (posição

na sociedade) do indivíduo. Segundo Sonnenfeld e Kotter (1982 apud OLIVEIRA, 2009) as

teorias assumem que o desenvolvimento de carreira é paralelo ao desenvolvimento do

indivíduo, ou seja, a carreira é um processo evolutivo e deve ser analisado ao longo da vida.

Cada estágio da carreira caracteriza-se pela existência de um conjunto de temas ou tarefas

particulares que correspondem, normalmente, a um período etário específico do ciclo de vida.

Gaio-Santos (2008) questiona a inadequação da estrutura por período etário do ciclo de vida

destas teorias, principalmente quando adaptada às mulheres, segundo a autora o gênero

influencia de forma muito mais proeminente o comportamento dos indivíduos do que a idade.

Ao analisar as múltiplas e complexas ligações entre o trabalho e a família e seus efeitos no

desenvolvimento das carreiras, a autora conferiu particular ênfase ao gênero e chegou à

conclusão de que não existe um modelo teórico unificador dentro desta área, sendo diversas as

perspectivas teóricas explicativas da ligação entre os dois domínios. Tendo por base diferentes

estudos sobre o tema, o Quadro 4, apresenta breves definições de algumas teorias que

descrevem a relação entre trabalho e família (GAIO-SANTOS, 2008).

Bartolomé e Evans (1980), destacam que embora alguns sentimentos possam ter um efeito

positivo na vida das pessoas quando se sentem realizadas, competentes e satisfeitas com o seu

trabalho, o aumento de responsabilidade, o excesso de trabalho e também o aumento da

competição no mercado são alguns fatores que provocaram o surgimento de uma relação com

a vida profissional que muitas vezes gera ansiedade, sofrimento, medo, desânimo, tensão e

decepção. Segundo os autores, quando ocorre este transbordamento emocional negativo

decorrente desta sobrecarga, os sentimentos vividos no trabalho interferem na vida pessoal

podendo acarretar problemas familiares. Quando as emoções negativas transbordam os

executivos frequentemente expressam as suas insatisfações com seus estilos de vida e relatam

que querem mais tempo para a vida privada. Isso evidencia que os sentimentos que

transbordam no trabalho são manifestados em casa, algumas vezes são expressos por ausência

psicológica, atos de agressão, alguns perdem o controle com seu conjugue ou até mesmo com

os filhos, explodindo em fúria diante de coisas mínimas.

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Quadro 4 – Teorias das relações entre trabalho e família

Teoria da

segmentação

Defende que ambos os domínios funcionam de forma independente e autônoma, sem quaisquer influências mútuas. Sendo possível estar satisfeito com a carreira e com a família, apenas com um domínio, ou com nenhum deles.

Teoria da

transferência

(Spillover)

Assume a existência de uma relação de reciprocidade entre o trabalho e a família que gera similaridades entre ambas as esferas, uma área da vida influencia a outra, de forma positiva ou negativa.

Teoria da

compensação

Defende que as insatisfações sentidas num determinado domínio, são compensadas por um maior investimento na outra esfera da vida. São feitos diferentes investimentos pessoais nos dois cenários para compensar num deles aquilo de que sentem falta no outro.

Teoria

Instrumental Sugere que uma determinada esfera (o trabalho) constitui o meio através do qual se obtém aquilo que se deseja na outra esfera (a família).

Teoria do

Conflito

Sugere que a energia e o tempo são limitados, de tal forma que o sucesso ou a satisfação num determinado domínio implica a realização de sacrifícios no outro domínio. Esta perspectiva sustenta que o trabalho e a família são, na generalidade, incompatíveis diante de suas diferentes exigências, responsabilidades, expectativas e normas.

Fonte: Adaptado de Gaio-Santos (2008).

Bartolomé e Evans (1980) ainda chamam a atenção para os problemas físicos e emocionais

que podem ser gerados por este desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal que por

consequência geram efeito negativo na produtividade e também nas relações interpessoais. Os

autores ainda destacam que o trabalho e a vida pessoal podem ficar em harmonia e reforçar

um ao outro se, e apenas se, evitarmos as armadilhas pessoais e da carreira e enfrentarmos de

forma satisfatória as emoções que surgem no trabalho. Por outro lado, os executivos que não

conseguem administrar o lado emocional do trabalho alcançam sucesso profissional à custa da

vida privada, muitos se dedicam à carreira esquecendo-se de valorizar as outras dimensões da

vida.

Levinson (2001) menciona que o tempo com as suas famílias para algumas executivas é

considerado muito importante, se sentindo culpadas por privarem esse tempo em prol de seu

trabalho e, ao mesmo tempo, frustradas por não conseguirem lidar com esta situação. Os

conceitos e estudos aqui apresentados servirão de referência para aprofundar o entendimento

do sentido que as mulheres em cargos de liderança, atribuem à maternidade e a carreira e

conhecer as estratégias utilizadas para conciliar seus múltiplos papéis.

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3. CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

3.1 Metodologia de investigação

Neste estudo optou-se pelo método qualitativo, por ser mais adequado à busca do

entendimento interpretativo e por permitir, com base no discurso das entrevistadas, uma

compreensão mais detalhada dos temas abordados. Além disso, segundo Flick (2009), este

método é de particular relevância ao estudo das relações sociais e das diversidades dentro da

nova estrutura de ambientes. O autor acrescenta ainda que o objetivo do estudo é fator

determinante para a escolha do método a ser utilizado. Para Goldenberg (2009), é evidente o

valor da pesquisa qualitativa para estudar questões difíceis de quantificar como sentimentos,

motivações, crenças e atitudes individuais. A pesquisa qualitativa também pode ser útil para

identificar conceitos e variáveis relevantes de situações que podem ser estudadas

quantitativamente. Denzin e Lincoln (1994 apud FLICK, 2009) comparam a pesquisa

qualitativa a uma bricolagem, no qual pedaços são colocados juntos ou próximos,

possibilitando uma nova visão para solução de problemas, onde as histórias de vida

compartilhadas, ricas em conteúdo para análise, são organizadas como peças de um quebra-

cabeça que vão se encaixando e dando sentido a realidade.

Esta é uma pesquisa exploratória com o propósito de alcançar maior entendimento sobre as

oportunidades e desafios vivenciados pelas executivas brasileiras com abordagens sobre

questões que interferem em suas vidas, tanto pessoal, quanto profissional. Através de

entrevistas individuais e em profundidade buscou-se entender de que forma essas mulheres

lidam com esses desafios no cotidiano e quais estratégias adotam para conciliar seus múltiplos

papéis na sociedade, e driblarem a desigualdade no ambiente de trabalho.

3.2 Grupo pesquisado

Foram selecionadas e entrevistadas dez mulheres que exercem cargos de liderança em

empresas situadas no Município do Rio de Janeiro. A seleção das entrevistadas se deu por

acessibilidade e conveniência (FLICK, 2009) e pela condição da entrevistada possuir no

mínimo um filho com menos de 12 anos de idade. Na pesquisa qualitativa a preocupação do

pesquisador não é com a representatividade numérica do grupo pesquisado, mas com o

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aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, de uma instituição,

de uma trajetória (GOLDENBERG, 2009).

Embora a desigualdade entre homens e mulheres em cargos de liderança ocorra em todos os

setores, Gurian e Annis (2009) ressaltam que setores como o editorial, o de cosméticos e o de

serviços sociais, são os que normalmente têm maior quantidade de líderes mulheres. As

entrevistadas foram escolhidas com critério na diversidade e, portanto, oriundas de diferentes

tipos de negócios: instituição financeira, construção civil, indústria de mídia, indústria de

cosméticos, empresas de telecomunicações, energia, Forças Armadas, publicidade,

representadas por executivas que atuam em diferentes áreas como Recursos Humanos,

Vendas, Financeiro, Engenharia, etc.

3.3 Coleta e análise de dados

A coleta dos dados foi realizada no período de 20 de Julho a 30 de Agosto de 2012, em locais

e horários previamente negociados entre a pesquisadora e entrevistadas, através de entrevistas

individuais em profundidade. Cooper e Schindler (2003) descrevem a entrevista pessoal como

uma comunicação face a face que tem como principal vantagem o aprofundamento e o

detalhamento das informações obtidas. A narrativa oral é um recurso bastante utilizado em

pesquisa sobre relação de gênero, através dos relatos narrados nas entrevistas é possível não

apenas conhecer fatos, mas descobrir sentimentos e verificar de forma mais ampla como os

entrevistados se percebem, qual significado atribuem às suas ações, como e a que atribuem

valor (ROCHA-COUTINHO, 2006).

Foi utilizado um roteiro organizado por temas com perguntas abertas objetivando aprofundar

a compreensão sobre cada tema questionado. Esse roteiro foi explorado de forma flexível

(NICOLACI-DA-COSTA, 2007), permitindo à entrevistada se pronunciar sem restrições,

assim como à pesquisadora aprofundar e investigar quando necessário através da inclusão de

perguntas.

O roteiro das entrevistas foi dividido em quatro tópicos, sendo que no primeiro

o objetivo foi conhecer toda a trajetória profissional das entrevistadas. O segundo tópico

direcionado à compreensão da percepção das entrevistadas diante da ocorrência, ou não, de

desigualdade de gênero no ambiente corporativo e o impacto deste em suas carreiras

profissionais. No terceiro, procurou-se averiguar quais são as características mais

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evidenciadas no estilo de liderança de cada entrevistada. O quarto tópico tratou da

maternidade, família e dos desafios envolvidos na apropriação e atuação nesses múltiplos

papéis desempenhados pelas executivas.

Para facilitar a análise dos dados, todas as entrevistas foram gravadas e posteriormente

transcritas, com a devida autorização das entrevistadas, garantindo-se, no entanto,

confidencialidade dos dados. As entrevistas tiveram média de duração de 52 minutos gerando

o total de 523 minutos de material gravado. A análise dos dados foi inspirada no Método de

Explicitação do Discurso Subjacente (MEDS) proposto por Nicolaci-da-Costa (2007),

composto por duas etapas igualmente importantes. Primeiro foi feita uma análise inter-

participantes como ponto de partida para elaborar e refletir sobre o significado total e também

permitir a visão ampla do conjunto das informações coletadas. Nessa primeira parte as

respostas semelhantes foram agrupadas dentro de cada tópico e isso permitiu a criação das

primeiras categorias de análise. O segundo passo foi realizar a análise intra-participante onde

cada entrevistada foi analisada individualmente para averiguar a existência de conflitos ou

contradições de opiniões e inconsistências entre as respostas. Para examinar se tais

contradições eram recorrentes nas demais entrevistas, retornou-se à análise inter-participantes

que possibilitou uma visão abrangente do grupo ao se aprofundar nas análises individuais das

entrevistas.

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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo são apresentados os resultados da análise das entrevistas com os quais faremos

alguns contrapontos com a literatura. Inicialmente será apesentada uma breve descrição do

perfil de cada entrevistada, incluindo dados demográficos e aspectos de sua realidade

enfatizados durante as entrevistas e considerados relevantes para o entendimento de suas

trajetórias profissionais, vida pessoal e familiar. Após esta descrição serão apresentados e

discutidos os temas relativos aos objetivos específicos previamente definidos.

4.1 Perfil das entrevistadas

O Quadro 5 apresenta o perfil das entrevistadas, cujos nomes foram trocados para preservar

sua privacidade.

Quadro 5 - Perfil das entrevistadas

Nome Idade (anos)

Estado Civíl

Nível de Instrução

Cargo Atual

Tempo de

Empresa (anos)

Idade dos

Filhos (anos)

Com quantos anos...

Teve o 1º

Filho

Começou a Trabalhar

Assumiu cargos de liderança

ANA 39 Casada Pós

Graduada Gerente de

Vendas 11 3, 6 e 6 33 17 27

BEATRIZ 41 Casada Pós

Graduada Gerente de

RH 5 5 e 8 33 18 37

CINTIA 42 Casada Pós

Graduada Gerente de

RH 12 6 e 11 31 18 32

DEISE 41 Casada Pós

Graduada

Gerente de Qualidade e Segurança

16 4 e 7 34 20 28

ELIANA 40 Casada Pós

Graduada

Capitã da Marinha e Empresária

15 3 37 24 27

FLÁVIA 35 Casada Pós

Graduada Gerente de

RH 1 12 22 21 27

GILDA 37 Casada Pós

Graduada Gerente de

Vendas 2 3 33 17 34

HELEN 35 Casada Pós

Graduada Gerente de

Comunicação 1 5 e 11 24 18 29

IRENE 36 Casada Pós

Graduada Gerente de

Banco 15 4 e 7 29 16 35

JULIA 35 Casada Graduada Empresária 5 1 e 6 29 16 27

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Todas as entrevistadas são casadas ou têm união estável, com idades entre 35 e 42 anos

(média de 38 anos). Com relação ao nível de instrução, verificou-se que nove entrevistadas

são pós-graduadas e uma possui somente graduação. Observou-se também que oito

entrevistadas ocupam atualmente cargo de gerência, uma é capitã da Marinha do Brasil e

empresária e outra é empresária. Com relação ao tempo de empresa, este variou entre um e

dezesseis anos.

O mercado de trabalho atual sofre com a falta de executivos qualificados para ocupar cargos

de liderança e uma das estratégias adotadas pelas empresas tem sido acelerar o processo

de treinamento de jovens gestores. O novo ritmo de formação acarretou queda no tempo para

se chegar ao cargo de liderança. Antes se demorava quase vinte anos para que um funcionário

assumisse um cargo de gerência e atualmente, bastam, em média, cinco anos (STEFANO,

KROEHN e OSCAR, 2011). Todas as entrevistadas ingressaram no mercado de trabalho

entre os anos de 1988 e 1998. As entrevistadas que assumiram cargos de liderança em menor

tempo foi Eliana, através de concurso público como Oficial das Forças Armadas e Flávia que

ingressou no mercado de trabalho em 1998, entretanto, não foi possível estabelecer uma

correlação entre o ano de inserção no mercado de trabalho das entrevistadas e o tempo que

levaram para assumir cargo de liderança.

Quadro 6 - Tempo para se chegar ao cargo de liderança

Ano em que CINTIA BEATRIZ ANA DEISE GILDA IRENE JULIA HELLEN ELIANA FLÁVIA

Começou a Trabalhar 1988 1989 1990 1991 1992 1992 1993 1995 1996 1998

Assumiu cargo de Liderança 2002 2008 2000 1999 2009 2011 2004 2006 1999 2004

Dif. tempo em anos 14 19 10 8 17 19 11 11 3 6

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Seis entrevistadas tiveram seu primeiro filho com mais de 30 anos. A mais jovem mãe entre

as entrevistadas teve seu primeiro filho aos 22 anos – ver gráfico 3. Com relação ao número

de filhos, seis das entrevistadas possuem dois filhos, duas possuem um filho e somente uma

entrevistada tem três filhos, sendo dois gêmeos.

Gráfico 3 - Entrevistadas por faixa etária em que tiveram o primeiro filho

Tais constatações evidenciam o destaque dado por Rocha-Coutinho (2003) ao fato de que as

mulheres, na busca por maior independência e realização profissional, vêm priorizando suas

carreiras. Além de postergarem a primeira gestação, não querem ter mais do que dois filhos.

Isto fica muito claro no discurso de uma das entrevistadas, que por opção teve seu primeiro e

único filho aos 37 anos.

Se eu tivesse casado e tido filho no início de minha carreira teria sido mais difícil porque eu dava 11 plantões na emergência, era uma escala absurda. Via as pessoas que eram casadas brigarem muito, não ver os filhos e ficarem deprimidas por causa disso. Eu, pelo menos, nessa fase de formação era filha, não era mãe. (Eliana)

Segundo o critério Brasil de classificação econômica (ABEP, 2011), três entrevistadas,

Beatriz, Cintia e Julia pertencem a Classe A1 e as demais entrevistadas pertence à Classe A2.

Segundo Almeida (2007), existem diferenças não apenas no sentido dado ao trabalho, mas

também no sentido dado à maternidade entre as mulheres trabalhadoras de classe média que

possuem filhos e as trabalhadoras de classe popular.

A seguir apresentamos uma breve descrição de cada uma das entrevistadas, com alguns dados

demográficos e ênfase em aspectos que emergiram durante as entrevistas, que tendem a ser

relevantes para o entendimento de suas trajetórias profissionais, seus dilemas pessoais e

perspectivas de futuro.

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4.1.1 Ana

Gerente de vendas de uma multinacional do mercado de beleza e higiene pessoal onde

trabalha há 11 anos, Ana tem 39 anos e é mãe de três meninas, duas gêmeas de 6 anos e a

caçula com 3 anos. É casada com um executivo que é diretor de uma concessionária em

Pilares, moram na Barra da Tijuca e ela trabalha no centro da cidade. Para o cuidado das

filhas, conta com duas babás em tempo integral. Ana veio de São Paulo onde iniciou sua

trajetória profissional como estagiária aos 17 anos como recepcionista em uma empresa de

engenharia, enquanto cursava faculdade fez estágios em uma renomada empresa de tecnologia

e numa empresa do setor automobilístico. Foi durante esse último estágio que percebeu seu

talento para a área de vendas, tanto que acabou sendo efetivada nessa empresa onde, além de

encontrar sua vocação profissional, conheceu seu marido. A vinda para o Rio de Janeiro se

deu porque seu marido foi transferido para esta cidade, ela então conseguiu emprego como

gerente de vendas em uma empresa de cigarros, mas não se adaptou ao segmento e nem ao

estilo de atuação que o cargo lhe exigia, pediu demissão e migrou para a empresa onde está

até hoje. Incialmente ocupou o cargo de gerente da administração comercial, em seguida foi

gerente de trade marketing e, atualmente é gerente regional de vendas. Dar as filhas uma vida

com mais oportunidades do que ela e o marido tiveram é uma de suas principais motivações,

com estilo de vida corrido, viagens praticamente todas as semanas, aos finais de semana Ana

se dedica exclusivamente à família.

4.1.2 Beatriz

Trabalha desde os 18 anos quando iniciou sua carreira como vendedora em uma loja, mas não

deu muito certo, pois comprava mais do que vendia. Durante o período da faculdade fez

estágio na própria instituição na área administrativa, ainda nesse período como estagiária

iniciou sua carreira no setor de RH de um Hotel, em seguida foi trabalhar em uma empresa de

consultoria e depois em uma grande empresa de telefonia, também no RH, onde trabalhou por

sete anos e neste período teve seus dois filhos. Tem 41 anos, é casada com um empresário

graduado em Educação Física, pai de seus dois filhos, um de 8 anos e outro de 5 anos, moram

em Botafogo, ela trabalha no Centro do Rio, onde costuma chegar por volta das 08:30h e sair

às 20horas. Após a licença maternidade do segundo filho, pediu demissão da empresa de

telefonia para ir trabalhar em uma grande empresa de energia como coordenadora de RH,

onde trabalha há cinco anos como gerente de RH. Durante a semana conta com a ajuda

permanente de uma pessoa que cuida de seus filhos desde que nasceram e lhe ajuda na

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administração da casa e demais empregados e nos finais de semana dedica-se totalmente a

família.

4.1.3 Cintia

Costuma viajar a trabalho a cada 15 dias e às vezes toda semana, acorda as 5:20h da manhã,

pois faz questão de tomar café com os filhos, uma menina de onze anos e um menino de seis

anos, para preparar o café da manhã e acompanhar a saída das crianças para escola. Tem 42

anos e está casada há doze anos, seu esposo trabalha na área financeira, atualmente Cintia

mora e trabalha na Barra da Tijuca, em casa conta com a ajuda permanente de uma

empregada nos cuidados com a casa e filhos. Geralmente chega ao trabalho por volta das 8:30

e saí por volta das 19horas. Começou a trabalhar aos 18 anos como secretaria para ajudar

financeiramente aos pais e pagar sua faculdade. Teve que abandonar a faculdade por questões

financeiras, mas quando estava mais estabilizada retornou a faculdade e decidiu fazer estágio

na área de RH, estagiou em uma grande empresa de computadores onde foi efetivada. Quando

o RH da empresa foi transferido do Rio para São Paulo, ela saiu e foi trabalhar no RH de um

banco, onde aprofundou seu conhecimento em Recursos Humanos, fez pós-graduação em RH

e nessa época se casou. Quando o banco em que trabalhava foi vendido, aproveitou o grande

boom da área de telecomunicações para buscar novos desafios e foi trabalhar no RH de uma

grande empresa de telecomunicação, sem saber que já estava grávida de sua primeira filha,

ficou insegura no começo por iniciar na empresa grávida, mas correu tudo de forma tranquila.

Trabalhando nessa empresa há 12 anos, teve seus filhos, fez uma nova pós-graduação em

telecomunicações e aos 32 anos assumiu o cargos de liderança, como gerente de RH.

4.1.4 Deise

Iniciou sua trajetória profissional aos 20 anos, estagiando na área de construção civil enquanto

cursava a faculdade de engenharia. Ao terminar a faculdade foi trabalhar na área

administrativa com gerenciamento de contratos numa grande empresa de engenharia que atua

na construção civil, localizada na mesma rua onde morava com seus pais, trabalha lá até hoje,

há16 anos na empresa. Aos 28 anos assumiu cargos de liderança pela primeira vez como

coordenadora na área de certificações e passou a viajar constantemente para visitar os

contratos fora do Rio. Atualmente trabalha na administração central da empresa que fica em

Benfica, como gerente de qualidade e segurança e já não viaja mais. Tem 41 anos, não é

casada oficialmente, mas mora junto há 9 anos com um engenheiro que também trabalha na

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área de construção civil, com quem teve uma filha que está com 7 anos e um filho de 4 anos.

No cuidado diário da casa e filhos conta com a ajuda permanente de uma empregada, além do

apoio da sogra e da mãe que moram próximas. Costuma sair da empresa por volta das

19horas, mas como mora no Recreio dos Bandeirantes, só chega em casa por volta das

21horas.

4.1.5 Eliana

Determinada, desde criança queria ser médica e seguir carreira militar. Cursou faculdade de

medicina e aos 24 anos prestou concurso e iniciou sua trajetória militar na Marinha. Tem 40

anos, se casou aos 34 e com 37anos teve seu único filho, atualmente com 3 anos. Seu esposo é

piloto militar aposentado das Forças Armadas, atualmente trabalha em empresa particular

como piloto, ficando 15 dias no Rio e 15 dias fora. Eliana iniciou sua trajetória profissional

como Oficial da Marinha trabalhando na junta médica de seleção de candidatos a soldados das

Forças Armadas. Serviu também em navio hospital na Amazônia e na Antártica onde ficou

por seis meses, experiências marcantes e gratificantes. Comandou um Quartel Militar com

dois mil subordinados do sexo masculino. Especializou-se em cirurgia plástica e atualmente

ocupa o posto de Capitão de Corveta e é responsável pelo setor de cirurgia plástica do

Hospital Militar e também é proprietária de uma clínica de estética na Barra da Tijuca. No

cuidado com o filho e a casa, além de uma empregada mensalista, conta com a ajuda

constante de sua mãe. Durante a semana sua rotina diária começa por volta das 05h20min da

manhã, pois geralmente às 7horas já está fazendo cirurgias, ou supervisionando o centro

cirúrgico. Nos fins de semana costuma dedicar-se exclusivamente à família a não ser que

esteja escalada pra serviço militar obrigatório, o que já não acontece com frequência.

4.1.6 Flávia

Tem 35 anos, recebeu educação bastante tradicional, casou-se aos 20 anos. Seu esposo é

engenheiro de formação, atualmente é empresário, dono de posto de gasolina e de uma

distribuidora de hortifrúti que atende a redes de supermercados. Formada em economia,

começou a trabalhar aos 21 anos e teve seu único filho aos 22 anos, atualmente está com 12

anos. Após o nascimento do filho foi morar no condomínio onde mora sua mãe na Barra da

Tijuca, para contar com sua ajuda. Estagiou no sistema FIRJAN e no Metrô na área

financeira. Na época da privatização do Metrô, seu gerente financeiro assumiu o

departamento de RH e a convidou para ir trabalhar no setor com remuneração, se adaptou

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muito bem ao setor e não quis mais sair do RH. Fez MBA em gestão de RH e aos 27 anos

assumiu cargos de liderança pela primeira vez. Quando saiu do metrô foi trabalhar na Coca

Cola, como gerente de desenvolvimento e comunicação interna e ficou por 5 anos. Saiu para

vir trabalhar em uma importante empresa de mídia onde trabalha há um ano e quatro meses

como gerente de RH.

4.1.7 Gilda

Trabalha desde os 17 anos, tem 37 anos, é casada há 7 anos, seu esposo é gerente de contas

especiais em empresa de Telecomunicações, moram no Bairro de Itaipuaçu, em Niterói,

ambos trabalham no Rio. Tem um filho de 3 anos que fica na creche em período integral, não

tem empregada, mas conta constantemente com a ajuda da sua mãe. Iniciou sua trajetória

profissional no escritório de uma rede de lojinhas onde controlava as contas a pagar e receber

e, às vezes também ajudava no balcão de vendas. Em seguida foi trabalhar em uma empresa

de tecnologia como operadora de Call Center, depois foi para uma grande empresa de

telecomunicações, onde trabalhou por 11 anos também em Call Center. Nesse período de 11

anos fez faculdade de Administração, foi transferida para área de vendas corporativa, casou-

se, fez MBA em Marketing, teve filho aos 33 anos e aos 34 anos assumiu o cargos de

liderança pela primeira vez, como gerente de vendas. Ao sair dessa empresa foi trabalhar

como gerente de vendas em outra também de Telecomunicações, nessa ficou apenas 1 ano e

meio e decidiu sair para empreender. Abriu uma empresa prestadora de serviços na área de

Telecom em sociedade com uma amiga, mas a sociedade não deu certo, então resolveu voltar

para o mercado de trabalho. Atualmente é gerente de vendas em uma empresa de

telecomunicações, mas pensa em voltar a empreender, porém em negócio com perfil

feminino, como beleza, moda, ou culinária, pois acha telecomunicações um segmento muito

técnico e masculino.

4.1.8 Helen

Tem 35 anos, foi casada duas vezes, atualmente mora com os dois filhos, um menino de 11

anos que é fruto do seu primeiro casamento e uma menina de 5 anos que é do atual

companheiro, consultor de TI, de quem está separada, mas vivendo uma fase de reconciliação.

Mora em Niterói e trabalha no centro do Rio. Embora tenha empregada mensalista, os filhos

ficam na casa da sua mãe ou sogra depois que voltam do colégio. Começou a trabalhar aos 18

anos, fazia faculdade de jornalismo e foi estagiar no Metrô na área de comunicação, aos 20

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anos foi efetivada e passou para o endomarketing, depois foi para o RH da empresa como

consultora, neste período, aos 24 anos, teve seu primeiro filho e quando ele estava com 3

anos, separou-se do primeiro casamento. Depois trabalhou como consultora de RH em uma

importante empresa de mídia e também no endomarketing de uma indústria farmacêutica,

casou-se novamente, fez MBA e aos 29 anos assumiu cargos de liderança pela primeira vez

como coordenadora de comunicação, aos 30 anos teve sua segunda filha. Atualmente é

gerente de comunicação de uma grande empresa de soluções em energia.

4.1.9 Irene

Tem 36 anos, está casada há 15 anos com microempreendedor do ramo automobilístico de

autopeças. Mora na Barra da Tijuca e é gerente geral de uma agência bancária localizada a

cinco minutos de sua casa. Tem duas filhas, uma de 7 anos e outra de 5 anos. Para ajudar nos

cuidados com as filhas e a casa, conta com a ajuda permanente de uma babá. Começou a

trabalhar aos 16 anos como auxiliar de escritório em uma empresa de autopeças onde

conheceu seu marido. Depois entrou através de uma agência como temporária para prestar

serviço ao banco onde trabalha. Foi fazer faculdade, casou-se e fez prova para ser efetivada

pelo banco. Iniciou sua trajetória como efetiva do Banco como caixa, foi promovida a

assistente de vendas, trainee de gerente de contas, até assumir a gerencia de contas de um

segmento especial de clientes do banco. Ainda como gerente de contas especiais, foi trabalhar

no centro do Rio, na agência matriz onde fica a diretoria. Nesta época teve sua primeira filha e

ao voltar da licença maternidade solicitou transferência para uma agência da Barra da Tijuca

para ficar mais próxima de casa. Teve sua segunda filha, participou de processo interno para

gerente geral e ficou como backup de gerente geral em algumas agências até assumir a um

ano atrás cargos de liderança pela primeira vez como gerente geral da agência onde trabalha

atualmente. Nos cuidados com as filhas e a casa, conta com uma empregada mensalista e, às

vezes com a sua mãe, que por morar longe não pode lhe ajudar sempre. Nos fins de semana

faz questão de estar sempre junto com a família.

4.1.10 Julia

Começou a trabalhar aos 16 anos na empresa do padrasto, iniciou faculdade de direito, mas

não se identificou, fez alguns cursos de especialização e retornou para faculdade, dessa vez

para fazer publicidade. Ao concluir a faculdade, foi para os USA aprender inglês e, aos 21

anos por questões familiares, resolveu pedir demissão da empresa do padrasto e sair de casa

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para morar sozinha. Tem 35 anos, é casada e tem dois filhos, um de 6 anos e outro de 1 ano e

meio. Seu esposo é vice-presidente de uma indústria de cosméticos, moram e trabalham na

Barra da Tijuca. No cuidado com os filhos e a casa tem ajuda de 4 empregadas mensalistas e

quando viaja conta com apoio da mãe e de uma tia também. Quando pediu demissão da

empresa do padrasto foi convidada pra trabalhar na empresa onde seu esposo trabalha, uma

indústria de cosméticos, no setor de desenvolvimento de produtos. Realizou alguns

lançamentos de produtos e aos 27 anos assumiu a gestão de todo departamento de criação da

empresa, casou-se e aos 29 anos teve seu primeiro filho, depois assumiu também a parte de

mídia da empresa. Após o nascimento do seu primeiro filho, resolveu sair da empresa e

montar sua própria agência de publicidade. Quando seu segundo filho nasceu, já estava em

seu negócio próprio e com uma rotina de trabalho mais suave. Sua agência de publicidade está

no mercado há cinco anos e atende a indústria onde seu esposo trabalha e outras contas.

4.2 Desafios profissionais

Nos relatos sobre os maiores desafios em suas trajetórias profissionais, as entrevistadas

associaram a busca pelo equilíbrio entre vida pessoal e profissional como o maior a ser

superado. Devido à relevância do tema, o mesmo será explorado de forma mais profunda mais

adiante. Outros aspectos como conflito entre gerações, adaptação às mudanças, preconceito e

discriminação, também foram mencionados pelas entrevistadas em seus discursos como

grandes desafios enfrentados.

O mercado de trabalho está passando por significantes transformações e tornando-se cada vez

mais competitivo. Diante deste cenário, buscar qualificação e desenvolvimento constante é

mencionado por Helen como um desafio profissional. Ela destaca ainda que a necessidade de

adaptar-se rapidamente às mudanças para atender os objetivos estratégicos das organizações e

se manter competitiva no mercado é algo difícil, porém desafiador.

Acho que sempre mudança. (...) passei por várias mudanças de gestão, mudança de área, isso é uma coisa desafiadora porque você tem que se adequar rapidamente, tem que entender o cenário, esse é um desafio. (...) De desenvolvimento, acompanhar mercado é muito difícil, se não tiver antenado, não tiver um network muito bem feito, consolidado, você fica para trás, o desafio para se manter competitivo no mercado é grande (Helen)

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Para Deise, alcançar o cargo de liderança num mercado dinâmico e competitivo, por si só, se

configura um grande desafio. Ter que se mostrar competente para assumir a gestão em uma

empresa familiar foi o seu maior desafio.

Acho que o principal desafio foi o de justamente chegar na posição de gerente. Apesar de ter 16 anos na empresa temos que sempre mostrar que somos realmente competentes para isso. Então o maior desafio para mim foi correr atrás disso. (Deise)

As mudanças no mercado de trabalho acarretaram também mudanças nas relações entre

empregados e empregadores, segundo Cappelli (1999), a relação de trabalho que antes se

assemelhava a um casamento, atualmente funciona como um eterno divórcio e re-casamento.

Para Gilda a recolocação no mercado de trabalho após um desligamento é um momento

delicado no qual surgem vários desafios e enfrentamentos pessoais para garantir a superação.

Um desafio é quando você é desligado e tem que se recolocar, momento de buscar autoestima, vencer os concorrentes numa vaga de emprego. (...) tive um sucesso enorme numa recolocação melhor do que a que eu tinha anteriormente que é muito raro de acontecer quando você é desligado. (Gilda)

Vivemos um momento onde diferentes gerações convivem no mesmo ambiente de trabalho,

umas chefiando outras e vice-versa, com aspirações e modelos mentais diferentes. Portanto,

encontrar um ponto de equilíbrio para esta convivência também é visto como desafiador para

Flávia ao assumir cargos de liderança e passar a liderar gerações mais antigas e por Julia, que

vivenciou preconceito ao começar a trabalhar aos 17 anos, sendo vista como uma “garotinha”.

O desafio foi em gestão de pessoas. Eu virei supervisora muito cedo e por vezes gerenciei e até hoje tenho liderados mais velhos do que eu. Acho que isso é um grande desafio, conseguir se integrar as diferentes gerações e aqui na empresa isso é uma realidade. (Flávia)

Quando você começa nova tem muito preconceito, as pessoas te olham e: Ah, uma garotinha. Você tem que sempre tentar e aprender. Acho que para mim isto foi um grande desafio. (Julia)

Visto que em muitas organizações, como observado por Gurian e Annis (2009), ainda

predomina uma cultura machista, dificuldades relacionadas a preconceito e discriminação,

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configuram-se como desafio cotidiano e requerem posição firme de enfrentamento das

mulheres em tais organizações, como relata Eliana que atua nas Forças Armadas.

O desafio maior é se posicionar num ambiente em que não está completamente acostumado com a presença feminina, como um quartel de fuzileiro naval e num navio. Às vezes você se posicionar dentro do ambiente de trabalho, dependendo do ambiente é muito problemático pelo fato de ser mulher. (...) Cultura machista, muito machista. Os homens não querem mulher no navio até hoje, não querem. (Eliana)

4.3 Desigualdade de gênero

A maioria das entrevistadas ao serem questionadas sobre suas percepções a respeito de que se

o fato de ser mulher de alguma forma tenha interferido em sua trajetória profissional,

afirmaram que as oportunidades foram igualitárias entre homens e mulheres e que não se

sentiram preteridas por serem do sexo feminino e, caso tenha ocorrido, foi de forma tão sutil

que imperceptível, conforme pode ser observado na fala da Flávia.

Nunca achei que a empresa em meu movimento ou das pessoas de que participei enquanto estive na empresa, não vi nenhum tipo de discriminação ou por ser homem, ou mulher, ou porque pode engravidar, ou porque acabou de casar, pelo menos nunca percebi isso e se teve foi muito sutil. (Flávia)

Para Beatriz, que é gerente de Recursos Humanos, não há discriminação de gênero nos

processos seletivos da organização em que trabalha. O que importa é a competência para

aproveitar o momento oportuno, destacando a questão da meritocracia para as promoções ser

efetiva.

Eu trabalho no Departamento de RH, de seleção, não tem discriminação contra mulher, homem, nada, tem a sua capacidade de atuar naquela posição e isso é muito claro. Na promoção é mérito, você tem oportunidade e pode. (Beatriz)

Outro aspecto interessante observado é que algumas entrevistadas, embora tenham afirmado

que o fato de ser mulher não tenha interferido em suas trajetórias profissionais, pontuaram que

em algumas áreas das organizações, como engenharia, tecnologia e comercial, por exemplo,

percebem a existência de preconceito e discriminação pelo fato de ser praticamente nula a

presença de lideranças femininas, conforme observações feitas por Cintia, Gilda e Ana no

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Quadro a seguir. Esta ocorrência é destacada por Morgan (2010) ao constatar que mesmo com

trajetórias ascendentes nas empresas, as mulheres são às vezes excluídas de algumas áreas,

ficando restritas a áreas mais administrativas.

Quadro 7 – Desigualdade de gênero em áreas específicas de atuação

Engenharia Tecnologia Comercial

Não tem essa questão de ter que ser homem ou mulher na área de Recursos Humanos, em algumas áreas pode até ser que ainda tenha esse preconceito. Engenharia tem preconceito, se você pegar a área de engenharia não tem nenhuma mulher na liderança. (Cintia)

Telecomunicação tem áreas muito técnicas onde vejo um lado mais masculino, ainda não vejo muita mulher na liderança, a maioria é dos homens. (Gilda)

As mulheres estão crescendo muito e hoje têm posições importantes de liderança dentro da empresa, mas na área comercial ainda tem um pouco de preconceito em relação à mulher eu acho. (Ana)

Embora a maioria das entrevistadas não tenha reconhecido a existência de preconceitos e

discriminação contra as mulheres nas empresas em que trabalharam ou trabalham atualmente,

alguns relatos espontâneos sugerem que elas têm consciência da existência de obstáculos que

dificultam a ascensão das mulheres nas organizações. Tais obstáculos corroboram com os

desafios identificados por Eagly e Carli (2007), quando comparam os desafios enfrentados

pelas mulheres simbolicamente como um “labirinto”, metáfora que transmite a ideia de uma

trajetória complexa para um objetivo pelo qual vale a pena lutar. Com base em pesquisas

acadêmicas e governamentais as autoras identificaram alguns desafios que compõe este

labirinto, entre os quais destacaremos três no presente estudo, preconceito, resistência à

liderança feminina e exigências da vida familiar, conforme discutido a seguir.

4.3.1 Preconceito

As entrevistadas reconhecem nas empresas a existência de planos de carreira, oportunidades

reais de mudança para cargos mais elevados, de forma igualitária entre homens e mulheres,

porém através do discurso de algumas entrevistadas como o de Helen, por exemplo,

percebemos nitidamente a existência de protecionismo que denotam inclinação ao preconceito

no momento de concorrerem a uma promoção. Segundo Eagly e Carli (2007), o preconceito é

evidenciado quando homens são promovidos mais rapidamente do que as mulheres com

qualificações equivalentes.

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Eu acho que embora as empresas pelas quais passei todas tenham uma estrutura de cargos, planos de carreira, no final das contas eu sempre vejo que ainda há um pouco de protecionismo, um pouco de: Ah, eu gosto mais dele do que de você, então embora você tenha um bom trabalho, ele também tem, então vou promovê-lo em vez de você. (Helen)

A necessidade de fazer um bom marketing pessoal é enfatizada por Deise ao dizer que não

basta apenas se mostrar competente para ser promovida. Ela assumiu posição de gerente após

15 anos de empresa e acredita que se conseguisse fazer mais “social” este tempo poderia ter

sido menor. As atribuições fora do trabalho, o tempo e prioridade dedicados à família podem

ter deixado Deise em desvantagem com relação à participação nas redes sociais da empresa.

Para Snell e Bohlander (2009), o fato de as mulheres não fazerem parte das chamadas “rede

dos velhos bons garotos”, rede informal de relacionamentos interpessoais, podem colocá-las

em estado de desvantagem em relação aos homens, pois passam a não ter acesso às

oportunidades de progresso e outras dicas de carreira da mesma forma que os homens que

fazem parte desta rede.

É uma empresa que te dá oportunidade, mas como todas as outras sempre tem uma questão de política, você tem que fazer um marketing pessoal muito bom, não necessariamente ser competente, mas ter um marketing pessoal muito bom(...) não fazendo o social, que é isso que acaba comigo, mas acho que realmente é por isso demorei tanto para conseguir esse cargo de gerência em que estou hoje em dia. (Deise)

Além de o preconceito constituir um obstáculo enfrentado pelas mulheres na busca por cargos

mais elevados nas organizações, Deise destaca a existência de preconceito na contratação de

mulheres, inclusive pela questão da maternidade:

Já vi situações em que a pessoa não foi contratada por ser mulher, ter filhos, então a empresa não quis porque se a mulher tem filho ele pode ficar doente, ela não virá trabalhar, isso acontece sim e dizer que não acontece é tapar o sol com a peneira eu acho. (Deise)

Gurian e Annis (2009) ressaltam que saber aproveitar de forma balanceada os talentos

naturais de homens e mulheres pode ser uma grande vantagem competitiva diante da escassez

de profissionais qualificados e da progressiva inclusão das mulheres ao mercado de trabalho.

Segundo os autores para se tornar uma empresa mais competitiva e valiosa neste milênio,

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tanto em termos humanos, como financeiros, as empresas precisam promover a igualdade

entre os gêneros através da valorização das necessidades, percepções e capacidade de

liderança das mulheres. Isso pode ser observado na empresa onde Irene trabalha:

Recebemos uma pontuação como se fosse uma gratificação em pontos por ter líder mulher, o banco faz isso, quanto mais cargos femininos mais pontuação eu ganho nessa avaliação de qualidade operacional. (Irene)

Irene relacionou a quebra das barreiras à ascensão feminina e do preconceito no banco onde

trabalha, não apenas às políticas organizacionais, mas também ao comportamento do diretor

que afirma gostar de trabalhar com o sexo feminino e essa característica é, inclusive, motivo

de preocupação entre os homens em seu ambiente de trabalho.

Na regional Rio - Barra tem uma superintendente que hoje é mulher, tiveram três homens no passado e hoje é mulher. Têm dois meses que ela está aqui e o diretor falou: Estou muito feliz por ter uma mulher superintendente na Barra que toma conta de 20 agências porque tem muito homem no banco (...) Os homens ficam até preocupados porque ele adora trabalhar com mulheres (Irene)

4.3.2 Resistência à liderança feminina

Segundo Eagly e Johnson (1990), existe um conjunto amplo de associações mentais,

conscientes ou não, sobre as mulheres, homens e líderes. Em geral as mulheres não são vistas

como pessoas que têm “as características certas” para trabalhos importantes. Ana coloca que,

creditam aos homens posturas mais fortes e rígidas para enfrentar processos de mudança na

organização. Para Helen, fatores como estes exigem muita clareza na atuação e demonstração

de capacidade no exercício profissional das mulheres.

Sempre quando buscam uma posição um pouco mais acima, uma posição de mudança, às vezes, de alguma alteração que precise ser feita, eles buscam um homem. Acho que porque acham que a posição é um pouco mais forte, o homem é mais rígido, sei lá... (...) no momento em que foi visualizado um momento de mudança, acreditavam que precisavam de pessoas com mais força e viam na pessoa de um homem uma postura com mais força. (Ana)

Eu acho que nossa atuação como mulher no mercado tem que ser muito bem clara, aqui estou sendo profissional, então vou agir de maneira profissional para que não haja essa má interpretação pelo fato de ser mulher . (...) Está vendo fulaninha? Fulaninha está fazendo corpo mole porque tem filho. (Helen)

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4.3.3 Exigências da vida familiar

Dentre vários fatores que acarretam a desigualdade entre os gêneros nas organizações,

destaca-se a dupla jornada feminina e a desigualdade na divisão das responsabilidades

familiares. Segundo Eagly e Carli (2007) as mulheres ainda são as que mais dedicam tempo à

família e, às vezes chegam a interromper suas carreiras ou vivem sobrecarregadas e sem

tempo para se dedicar a rede social essencial para seu avanço profissional. Guimarães (2012)

destaca que embora a jornada exercida no mercado de trabalho pelas mulheres seja inferior à

dos homens, as mulheres em média trabalham cinco horas a mais por semana, pois dedicam

significativa parte de seu tempo aos afazeres domésticos e cuidados com familiares. Essas

“exigências da vida familiar” são colocadas por algumas entrevistadas como um gerador de

conflitos, elas se veem diante de um grande dilema e são pressionadas a fazer escolhas, o que

de certa forma afeta a sua trajetória profissional. Cintia, que atualmente é gerente de Recursos

Humanos, fala do quanto é difícil conciliar as ambições de carreira e a busca pelo

reconhecimento profissional com os projetos pessoais de ter maior qualidade de vida e mais

tempo para os filhos.

Então eu tenho pensado muito na minha carreira, mas como concilio essas duas coisas, que eu consiga ser feliz, mas consiga também ter qualidade de vida, uma família, uma estrutura que eu consiga dar atenção e não ficar só voltada para o dinheiro, desenvolvimento, carreira e deixe essa parte de lado porque é difícil conciliar os dois ao mesmo tempo.(...) Gosto do que faço, gosto da maneira como trabalho, gosto da empresa, a questão é se eu quero ser Diretora de RH ou não, estou pesando muito a questão familiar também, até que ponto estou disposta a me sacrificar mais ainda para ganhar um pouco mais, ter essa questão profissional mais reconhecida e deixar meus filhos para tras.(Cintia)

Flávia também é gestora de RH e deseja ser promovida a Diretora de RH, mas reconhece que

tem que fazer escolhas e que neste momento está disposta a sacrificar seu crescimento

profissional para se dedicar ao projeto pessoal de ter mais um filho, mesmo que isto implique

em perder a oportunidade de ser promovida. Ela considera essa característica feminina

interessante e ressalta a importância de se ter clareza nesse processo de decisão.

Aí é o que eu acho que está a diferença na mulher, em alguns momentos precisa priorizar, a vida da mulher tem uma balança e isso é interessante, não é? Tem o lado profissional e o lado pessoal, às vezes abrimos mão de algumas questões profissionais para dar ênfase maior para o pessoal e aí

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é uma decisão que a mulher precisa tomar quando decide, por exemplo, ser mãe, então o ano que vem será meu momento muito mais pessoal do que profissional e sem problema nenhum. (...) Você pode dizer: Ah, se surgir uma oportunidade de eu ser diretora no ano que vem e você pretende ter filho? Não vai surgir outra oportunidade, mas eu não me sinto atrapalhada por conta disso. (Flávia)

As questões relativas à maternidade têm elevado grau de importância na vida das

entrevistadas. A maioria delas reconhece que a opção de ter filhos aumentou as dificuldades

enfrentadas na conciliação de seus objetivos de carreira com sua vida pessoal. Helen destaca

que a estrutura de apoio que possui para os cuidados com o filho e a casa e a forma como

encara esta nova etapa de sua vida, podem ser determinantes diante dos desafios.

Quando você é mãe, você tem licença maternidade, para um tempo, tem que voltar e se atualizar, voltar ao ritmo, mas ao mesmo tempo seu filho está em casa ou na creche, então dificulta, mas não inviabiliza e vai muito da maneira como você encara, se você tem uma estrutura com que possa contar eu acho que atrapalha menos, mas de fato complica um pouco mais. (Helen)

Mesmo as que são empresárias, donas de seus próprios negócios, reconhecem a mudança na

forma de ver a vida e enfrentar os desafios profissionais após a maternidade. A flexibilidade é

menor porque não se trata mais de tomar decisões pensando só em você ou em seu

companheiro. Com filhos a responsabilidade é outra e pode tornar suas ações profissionais um

pouco mais “enrijecidas”, como relata Julia.

Enquanto você não é mãe tenta tudo, pode arriscar mais, se você não é mãe se tem que viajar hoje para tal lugar pega a mala e vai onde tiver que ir (...) mas depois que você é mãe as coisas ficam um pouco mais enrijecidas, não é mais tão fácil viajar, vou e fico com o coração na mão. (Julia)

4.4 Relação trabalho-família

Ao analisar as múltiplas e complexas ligações entre o trabalho e a família e seus efeitos no

desenvolvimento das carreiras, Gaio-Santos (2008), chegou à conclusão de que não existe um

modelo teórico unificador dentro desta área, sendo diversas as perspectivas teóricas

explicativas da ligação entre os dois domínios. Com base em diferentes estudos sobre o tema,

apresentou algumas teorias que descrevem a relação entre trabalho e família, das quais

destacamos a Teoria Instrumental e a Teoria do Conflito descritas a seguir:

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Na teoria instrumental, a autora sugere que uma determinada esfera, neste caso o trabalho,

constitui o meio através do qual se obtém aquilo que se deseja na outra esfera, a família.

Pesquisas conduzidas por Sarti (2003 apud ALMEIDA, 2007) com diferentes classes sociais

evidenciaram que o trabalho feminino assume muito mais o sentido de um benefício para a

família do que uma afirmação da individualidade nas famílias de camadas populares. Porém,

nesta pesquisa onde as dez entrevistadas são executivas pertencentes à classe A, quatro das

entrevistadas, Ana, Cintia, Deise e Helen, encaram o trabalho como um instrumento para

alcançar objetivos familiares, em especial dar aos filhos educação e ensino de qualidade.

Mesmo tendo que lidar com os conflitos da relação trabalho-família, estes conflitos são

justificados pelo desejo de dar uma vida melhor à família, diminuindo assim o sentimento de

culpa pelas opções feitas.

Quadro 8 – Teoria instrumental

T E O R I A I N S T R U M E N T A L

Comecei a trabalhar com 17 anos (…) Hoje mais do que nunca preciso trabalhar porque afinal são “três carnezinhos” como a gente fala, um só

trabalhando não tem como. (Ana).

Comecei a trabalhar muito nova, com 18 anos, meu pai estava em situação financeira complicada. (...) Eu não quero que eles passem o aperto financeiro que eu passei. (Cintia)

Explico para eles porque a mamãe precisa trabalhar e que a mamãe gostaria também muito de ficar junto deles, mas que a gente precisa trabalhar, ganhar dinheiro para ter tudo o que temos. (Deise)

Preciso manter a minha carreira nessa linha para poder pagar um colégio legal para eles, para poder oferecer um curso de inglês legal, toda a estrutura que eles precisarem. (Helen)

Na teoria do conflito a autora aponta para o fato de que a energia e o tempo são limitados de

tal forma, que o sucesso ou a satisfação num determinado domínio, neste caso o trabalho,

implica na realização de sacrifícios no outro domínio, a família. Os dilemas e conflitos que as

mulheres enfrentam na tentativa de administrar o relacionamento entre sua vida pessoal e

profissional podem ser ainda mais difíceis do que aqueles enfrentados pelos homens.

Bartolomé e Evans (1980), num estudo com executivos, destacam que o aumento de

responsabilidade, o excesso de trabalho e também o aumento da competição no mercado são

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alguns fatores que provocaram o surgimento de conflitos na relação trabalho-família e

sentimentos de culpa, frustração, que foram relatados por seis entrevistadas.

Quadro 9 – Teoria do conflito

T E O R I A

D O

C O N F L I T O

Eu acho que depois que os filhos nascem a coisa complica muito. (...) os filhos já estão maiores, mas chega a ser um problema às vezes na vida pessoal o ritmo elevado. (Beatriz)

Você fica frustrado porque a gente, no fundo, no fundo, quer fazer tudo, não é? E a mulher não é só a sociedade que cobra, a gente se cobra. (...) Você fica frustrado, fica meio triste, não é fácil. Às vezes tenho vontade de não fazer, embora ame tudo o que faço. (Eliana)

A vida da mulher tem uma balança e isso é interessante, não é? Tem o lado profissional e o lado pessoal, às vezes abrimos mão de algumas questões profissionais para dar ênfase maior para o pessoal e aí é uma decisão que a mulher precisa tomar. (Flávia)

Viemos de uma cultura que imprimiu na gente um ritmo e modelo de mulher maravilha que tem que fazer tudo. Quando vemos que não estamos sendo a mulher que aprendemos que temos de ser, aí agente se sente culpada porque não está cumprindo com todos os seus papéis. (Gilda)

Uma coisa que sempre gostei de fazer e não faço há muitos anos é me cuidar, fazer ginástica (...) É um sentimento como se eu precisasse preencher isso de alguma forma, preciso encontrar um tempo para isso. (Irene)

Não tem jeito, você se sente culpada, de vez em quando entro na paranoia e me sinto culpada por não estar o tempo inteiro junto deles, por ter que deixar. (...) Então vira e mexe bate aquele sentimento de culpa: Será que sou boa mãe? Isso bate bastante e me sinto às vezes culpada do quanto tenho que dividir. (Julia)

4.5 Busca por equilíbrio e qualidade de vida

Com a maternidade, a busca por equilíbrio entre a vida pessoal e profissional assume outra

dimensão. Exigindo cautela nas expectativas em ambas as esferas, para não se tornarem

inatingíveis. Para as mulheres que trabalham fora, Troiano (2007) afirma que as que têm

filhos pequenos se questionam constantemente sobre a divisão do tempo empregado em sua

vida familiar e no trabalho, destacando que saber equilibrar seus múltiplos papéis, dividindo

seu dia entre dedicação profissional, cuidado com os filhos, casa, esposo, tornou-se o grande

desafio para a mulher moderna. No presente estudo, as entrevistadas Cintia e Beatriz,

declararam que o maior desafio não é o trabalho, mas sim dar conta de seus múltiplos papéis,

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gerenciar filhos, casa, família. Mesmo consciente de que não dá pra dar conta de tudo, Beatriz

ressalta a pressão e o nível de stress oriundos de algumas cobranças do trabalho.

A questão é esse gerenciamento com filhos, com casa, família, do que não é só você e que depende de uma estrutura sua. Então eu acho que o meu maior desafio não é nem o trabalho, não é a função, é fazer esse meio de campo. (Cintia)

O principal desafio eu acho que é dar conta de tudo, não é? Dar conta de todas as demandas que a casa tem, que os filhos têm, que o marido tem, eu acho que esse é sempre o principal desafio e dar conta de tudo que você tem, do trabalho, principalmente dependendo com quem você trabalha. Acho que é uma pressão e um nível de stress para você dar conta de tudo que tem que fazer muito grande e obviamente não dá para fazer tudo perfeito. (Beatriz)

Um dos maiores desafios da mulher moderna é ter muitas opções, todas acompanhadas de

uma pressão imensa em fazer a escolha certa. Alcançar o equilíbrio e qualidade de vida não

quer dizer somente organizar e atender de forma eficaz à rotina do dia a dia, mas também

cuidar do lado emocional e do próprio crescimento pessoal. Exige prática e envolve acertos e

erros, principalmente no que diz respeito à administração do tempo. Para Bartolomé e Evans

(2001) as experiências individuais e o sentido dado aos vários papéis desempenhados, afetam

o equilíbrio e a qualidade de vida das pessoas. Assim, o trabalho e a vida pessoal podem ficar

em harmonia e reforçar um ao outro se as armadilhas pessoais e da carreira forem evitadas e

as emoções que surgem no trabalho forem enfrentadas de forma satisfatória. Assim foi

possível dividir as entrevistadas em dois grupos distintos: as frustradas e as resolvidas.

Figura 1 – Busca por equilíbrio e qualidade de vida

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4.5.1 As frustradas

Com os desafios enfrentados na área profissional e a pressão social ligada à questão cultural, é

comum algumas mulheres estabelecerem que precisam ser perfeitas, como profissional, chefe,

mãe, esposa, dona de casa, etc. Desenvolvendo uma capacidade crítica e perfeccionismo que

pode até se tornar cruel, gerando cobranças e frustrações. Levinson (2001) enfatiza isso ao

mencionar que o tempo com as suas famílias para algumas executivas é considerado muito

importante, se sentindo culpadas por privarem esse tempo em prol de seu trabalho e, ao

mesmo tempo, frustradas por não conseguirem lidar com esta situação. Estes sentimentos

podem refletir também na falta de interesse em crescer nas organizações onde trabalham. Elas

não querem abrir mão de trabalhar e por isto a maioria vê a conquista do "negócio próprio”

como uma possível solução destes conflitos. Mulheres gerentes, cujos filhos estão numa

idade que exige muita atenção, frequentemente sentem o conflito entre a maternidade e sua

atuação na empresa. Snell e Bohlander (2009) complementam dizendo que se o conflito se

torna muito angustiante, elas podem decidir renunciar à carreira, mesmo que

temporariamente. Resultados da pesquisa realizada por Troiano (2007) revelaram que

trabalhar meio período ou montar seu próprio negócio são duas formas almejadas pelas

mulheres para equilibrar a rotina exaustiva e se livrar de algumas preocupações.

Possivelmente pelo fato de todas as entrevistadas ocuparem cargos de liderança nas empresas

onde trabalham o desejo de trabalhar meio período não foi cogitado, contudo o desejo de

empreender foi relatado por seis das entrevistadas.

Você fica frustrado porque a gente, no fundo, no fundo, quer fazer tudo, não é? E a mulher não é só a sociedade que cobra, a gente se cobra também. (Eliana)

Como profissional sou uma pessoa que me cobro muito, acho que isso é um problema para mim, acabo me cobrando muito e com isso acabo cobrando também as pessoas, eu quero perfeição, eu gosto de fazer tudo o que me comprometi cumprir, não gosto de fazer mal feito. E aí acabo ficando meio doida porque me cobro na parte profissional e na parte de família. (Deise)

Eu acho que como mulher sempre lutei muito pela minha independência e hoje colho os frutos positivos e negativos disso. Me sinto muito culpada às vezes, me sinto mal, mas é uma coisa que eu tenho que trabalhar e só eu posso melhorar. Ter a consciência disso já é um passo. Como vou trabalhar isso é outro passo. (Helen)

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4.5.2 As resolvidas

Acreditar em si mesma e naquilo que está fazendo, viver de acordo com sua realidade e

escolhas, reduz o fardo da cobrança interior e da sensação de estar em constante saldo

devedor na atuação dos múltiplos papéis da mulher executiva e mãe. Para Silva (2005), a vida

pode ser metaforicamente denominada de um jogo onde há a necessidade de estabelecer uma

estratégia na busca de bons resultados, afirmando que equilibrar a relação entre trabalho e

vida pessoal depende da forma como as pessoas experienciam a vida e encaram as situações,

esses fatores podem trazer modificações no seu comportamento e na sua maneira de visualizar

o mundo. Embora sinta desejo de dedicar mais tempo à vida pessoal, este grupo de

entrevistadas, as resolvidas, demonstrou consciência de suas escolhas, o que lhes permite

desfrutar de sentimentos de satisfação, realização, além de almejarem crescer

profissionalmente como poderá ser visto a seguir, ao discorrer sobre os objetivos de carreira.

Eu acho que consigo fazer malabarismo da minha vida, todos falam na empresa que eu sou uma heroína. Hoje estou muito satisfeita comigo e com meu trabalho.(...) Hoje eu acho que fiz escolhas em minha vida e as minhas escolhas são o meu trabalho e a minha família. (Ana) Eu me sinto bem. É difícil falar essas coisas, não é? Eu acho que uma mulher que está realizada profissionalmente, com o casamento e com o filho, não falta mais nada. (Flávia) Sou feliz comigo mesma, já tive alguns probleminhas de auto estima um pouco baixa, mas acho que isso é da mulher mesmo, acredito no meu potencial, sou super feliz do jeito que sou e realizada como mãe, mulher, esposa, filha e profissional. (Irene)

4.6 Objetivos de carreira

Com relação ao futuro profissional, as entrevistadas não demonstraram desejo de abrir mão de

sua carreira, mas há um forte anseio pela redução das horas trabalhadas. Na busca pelo

equilíbrio entre vida pessoal e profissional, as entrevistadas se dividem em três grupos: as que

desejam crescer, as que desejam manter o que já conquistaram em suas carreiras e as que

desejam dedicar-se a um negócio próprio, empreender.

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Figura 2 – Objetivos de carreira

Crescer

Este grupo de entrevistadas, que também compõe o grupo das resolvidas, se mostraram

relativamente ambiciosas com relação a sua carreira. Ana é gerente comercial e almeja

assumir cargo de diretoria, cuidar da equipe comercial do Brasil todo e participar das decisões

estratégicas da área comercial.

Eu quero ficar na área comercial, existe uma posição acima da minha que chama Diretoria Comercial que é uma coisa que eu quero buscar. Na diretoria comercial cuidar do Brasil inteiro, ter maior entrada com o internacional, participar das decisões estratégicas da divisão na área comercial, então eu queria muito assumir essa direção comercial. (Ana)

Mesmo ciente de que ainda tem uma longa estrada a percorrer e que este objetivo não será

realizado em curto prazo, Flávia, gerente de RH, se mostra convicta em suas ambições

profissionais e tem como objetivo claro e definido assumir o cargo de diretoria.

Eu quero virar diretora de RH um dia, tenho isso muito claro. Acho que minha trajetória vai me levar a isso, não em curto prazo, ainda tenho uma estrada, mas tenho esse objetivo. (Flávia)

Irene trabalha há 15 anos no Banco onde fez carreira e atualmente é gerente geral de uma

agência de porte médio. Seu objetivo inicial é assumir uma agência de porte maior para

adquirir mais experiência até atingir seu objetivo maior que é ser superintendente.

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Hoje assumo uma agência em minha primeira gestão como gerente geral (...). O meu objetivo é crescer, assumir uma agência de porte maior porque sei que irá me trazer mais experiência e responsabilidade e até assumir uma superintendência eu pretendo, mas isso daqui uns cinco anos ou pouco mais. (Irene)

Manter

Para que cada setor da vida funcione harmoniosamente, é necessário ter a noção do que é

possível e o que não é. É preciso escolher quais são as prioridades do momento. As mulheres

estão dispostas a recusar cargos mais elevados nas organizações, se estes exigirem maior

tempo disponível para o trabalho e sacrifícios, como jornadas extensas e muitas viagens

(TROIANO, 2007). Para Cintia a perspectiva de crescer profissionalmente requer alguns

sacrifícios que não são aceitáveis, nem válidos nesse momento de sua vida, sendo assim,

prefere manter-se no cargo atual, como gestora de RH, do que ter que abrir mão de passar

mais tempo com a família para alcançar a posição de Diretora de RH na organização.

Em minha carreira, acho que no ano passado, entrei um pouco num conflito (...) não existe diretoria de RH no Rio. É quando repenso à que custo quero crescer. Passar a semana inteira em São Paulo sem ver meus filhos? Pedir para meu marido largar o emprego não dá porque ele hoje tem uma carreira solidificada. (...) as empresas buscam muita mobilidade, eu não estou disposta a isso. (Cintia)

Empreender

O desejo de empreender foi um tema que emergiu durante as narrativas. Para Bohlander e

Snell (2009), a iniciativa de abrir suas próprias empresas pode configurar um meio pelo qual

as mulheres têm quebrado os “tetos de vidro”, fenômeno já mencionado anteriormente, que

bloqueia o progresso das mulheres que desejam crescer nas organizações. Entre as dez

entrevistadas, duas já são empreendedoras e quatro (Beatriz, Deise, Helen e Gilda), apontaram

como objetivo profissional ter um negócio próprio. Este desejo de empreender se revelou

como um caminho para equilibrar melhor o trabalho e os filhos, e obter melhor qualidade de

vida, idealizando mais liberdade e flexibilidade de tempo.

Beatriz, Deise e Helen falaram do desejo de empreender, demonstrando que suas expectativas

são de conseguir conciliar satisfatoriamente a vida pessoal com a profissional, motivadas

essencialmente pela possibilidade de ter maior flexibilidade de horários.

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Se almejar alguma coisa diferente na carreira for ser promovida para alguma coisa que vai exigir mais de mim do que já dou eu não quero. Hoje o que almejo para minha vida é qualidade de vida. (...) Eu acho que vou acabar indo para uma carreira de ter algum negócio mesmo, não tenho a menor ideia do que vai ser, mas é muito provável que eu não fique em empresa para poder ter essa liberdade na questão do tempo. (...) eu acho que te dá um pouco mais de liberdade de estar em determinados horários e momentos com a família.. (Beatriz)

Hoje em dia meu principal objetivo é ter o meu negócio. Penso em ter para eu poder ter um pouquinho mais de flexibilidade com horário para poder dar mais atenção a minha casa. (Deise)

Eu penso nisso, em cinco anos continuar como gerente e de repente chegar ao cargo de diretoria e depois, quem sabe, ter e me dedicar ao meu negócio. (...) a questão de ter mais tempo. Eu queria muito poder fazer o meu tempo e de repente com uma consultoria isso é possível. Ou não. (Helen)

Para Gilda que já teve uma experiência como empreendedora, o desejo de voltar a empreender

está mais relacionado ao fato de se encontrar, de fazer algo que lhe dê mais prazer.

Atualmente ela trabalha como Gerente de Vendas no seguimento de telecomunicações e,

como já mencionado anteriormente, considera o segmento onde atua muito técnico e

masculino, e o empreendedorismo um possível caminho pra mudar para um mercado mais

feminino.

Tenho vontade de empreender, tenho um pouco de medo pelas dificuldades que tivemos na outra empresa, parte financeira e de investimento a partir de retorno, mas até foi bom porque adquiri certa maturidade quanto a isso. (...) queria fazer coisas mais ligadas ao lado feminino, de moda ou culinária que é uma área que gosto. (Gilda)

Eliana e Julia, que já são empresárias, demonstram satisfação com seus negócios e desejam

consolidar, crescer, ampliar a empresa. Julia ressalta que a empresa deixou de ser um sonho

pessoal e que fazer o negócio acontecer tornou-se objetivo de toda sua equipe. Associado à

sua vocação por medicina, Eliana também mencionou os objetivos lecionar e desenvolver um

projeto filantrópico.

Minha Clínica de Estética agora está fazendo dois anos estamos implementando outra parte que estou administrando, botando outras pessoas para trabalhar, estou gostando muito disso. Meu objetivo agora é incrementar essa parte e, se possível, meu projeto agora é tentar fazer uma parte para ensino, dar aula de alguma coisa. Também fazer um projeto filantrópico (Eliana)

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Na realidade foi um sonho montar uma agência, conseguir buscar novos clientes, a intenção é consolidar isso (...) O desafio é crescer, ter uma equipe forte, coesa, poder crescer todos juntos, acho que todos encontraram um sonho e não é mais um sonho só meu, um sonho de todos aqui dentro de que o negócio aconteça (Julia)

4.7 Liderança feminina

Durante as entrevistas foi solicitado às executivas refletir sobre os principais atributos de seu

estilo de liderar, que características contribuem para sua atuação como líderes e quais

dificultam o exercício da liderança. As principais características de cada uma das

entrevistadas, tanto os aspectos considerados positivos, quanto os considerados negativos,

estão apresentadas através dos relatos no quadro 10.

Ao comparar os relatos com a literatura anteriormente apresentada sobre os principais estilos

de liderança, podemos perceber a evidência de várias características do estilo de liderança

transformacional, dentre as quais podemos destacar: Ser humana, justa, saber ouvir, assumir

posição de servir e de parceria, ter facilidade de se relacionar, criar empatia, ter carisma, dar

autonomia. Essa evidência vai ao encontro dos resultados das pesquisas de Eagly et. al. (2003)

que ao associar os estilos de liderança transformacional e transacional ao papel do gênero,

constataram que existe uma tendência clara das mulheres adotarem um estilo de liderança

mais transformacional.

Algumas dessas características, também foram associadas pelas executivas como aspectos

negativos do estilo de liderar, como pode ser observado no relato de Ana ao declarar que ser

humana demais pode atrapalhar e no de Julia, que ao adotar um estilo de liderança mais

participativo e compartilhado, por vezes é confundida pelas pessoas como “a boazinha”.

(...) Ser humana demais às vezes atrapalha. (Ana)

(...) As pessoas confundem esse meu jeito de liderança com “a boazinha”

e não é bem isso. (Julia)

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Quadro 10 - Características do estilo de liderar

ASPECTOS POSITIVOS ASPECTOS NEGATIVOS

Ana

Eu acho que é essa questão do ouvir, ser justa, cobrar na medida certa, saber como cobrar. Acho que são essas três principais características.

Às vezes ser humana demais... Ser humana demais às vezes atrapalha.

Bea

triz

Eu acho que a confiança, maturidade, conhecimento, pelo menos é o que eu escuto deles, não é?

Falta de foco. Eu atendo todo mundo, eu não digo não.

Cin

tia

Eu acho que a proximidade, sou uma pessoa muito próxima, colocando-me muito na posição de servir e não de impor nada. Gosto de delegar.

O que eu acho que atrapalha e é que eu preciso às vezes ser mais planejada, fico muito focada na solução do problema e deixo o planejamento para traz.

Dei

se

Então acho que isso é o mais marcante, essa parceria, eles falam que se sentem seguros porque sabem que qualquer coisa eu estarei junta.

Eu acho que meu temperamento porque sei que às vezes sou meio explosiva.

Elia

na Ouvir. Eles sentem que podem falar comigo as coisas,

sou chefe e viro meio psicóloga porque as pessoas contam a vida para mim.

É que às vezes sou meio banana e sofro à toa. Tenho que passar a ver a coisa de forma diferente.

Flá

via

Eu tenho facilidade de relacionamento muito grande, sempre tive.

Eu falo pra caramba e acho que isso me atrapalha, às vezes tenho que dar uma freada porque senão enlouqueço as pessoas.

Gild

a

Eu acho que a empatia, ter carisma, conseguir conversar com calma, tenho essa facilidade de falar e ser ouvida.

Talvez a insegurança na parte técnica me atrapalhe na hora de passar uma informação mais técnica para o funcionário.

Hel

en

A abertura que dou para eles de criticarem, sugerirem, acho isso muito bom para mim e para eles. Autonomia que dou para eles tocarem um projeto.

A minha rigidez sem dúvida. Às vezes na rigidez acabo sendo ríspida autoritária e não ouvindo.

Iren

e

Entendimento, companheirismo, não é ser boazinha, mas (...) ser mais humana, saber cobrar na hora certa, saber entender e acho que tem dado resultado.

Eu acho que deveria pedir para que eles fizessem mais esse lado que falei do tempo, correr para fazer com que aconteça mais rápido.

Julia

O meu jeito é muito de pedir ajuda, minha forma de liderar é bastante compartilhada (...). Liderança participativa onde todos participam, não tem autoritarismo.

Às vezes é isso porque acaba que as pessoas confundem esse meu jeito de liderança com “a boazinha” e não é bem isso.

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As entrevistadas quando questionadas sobre os maiores desafios enfrentados como líder,

algumas características da liderança transformacional, como desenvolver pessoas, tirar o que

cada um tem de melhor, ser exemplo, gerir de forma justa, foram mencionadas, isso

demonstra empenho da parte delas em aprimorar e efetivar um comportamento de liderança

mais transformacional. Segundo Bergamini (2002) a liderança transformacional parece ser a

mais atual e mais valorizada por grandes organizações.

Figura 3 - Principais desafios da liderança

Dimensões do comportamento

do líder transformacional

PRINCIPAIS DESAFIOS DA LIDERANÇA

Influencia idealizada

Gerir a equipe de forma justa. (Ana)

Motivação inspiradora

O desafio como líder é você ser exemplo porque você acaba sendo fonte inspiradora. (Cintia) Meu desafio é tirar o que cada um tem de melhor. (Flávia) Acho que o desafio é desenvolver as pessoas, entender exatamente o que cada um tem de melhor para oferecer e você potencializar. (Helen)

Estimulação intelectual

Eu acho isso um desafio, fazer render mais o dia deles, entendeu? Fazer com que o dia seja mais produtivo. (Irene)

Consideração individualizada

Questões pessoais de relacionamentos são as mais difíceis. (Beatriz) Quando tenho que chamar atenção ou quando tenho que mandar embora. (Deise) O que eu acho mais difícil de lidar é com não conseguir agradar e com isso, não me sentir culpada. (Eliana) O equilíbrio do resultado, do feedback, porque o que serve para um, não serve para outro. (Gilda) Acho que os maiores desafios para mim são das questões pessoais deles, situações em que você começa a perceber que um está começando a ter problema de relacionamento com o outro. (Julia)

4.8 Sentido dado ao trabalho

Ao relatarem suas trajetórias profissionais, algumas entrevistadas compartilharam o sentido

que sua atividade de trabalho assume em sua vida. O estudo conduzido por Morin (2002 apud

GAIO-SANTOS, 2008) identificou cinco razões para o trabalho: (1) realizar-se e atualizar seu

potencial; (2) adquirir autonomia e garantir segurança; (3) relacionar-se com os outros e estar

vinculado em grupos; (4) contribuir para a sociedade; (5) dar um sentido a vida. Algumas

dessas razões foram evidenciadas nos discursos das entrevistadas.

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Aspectos como aspirações pessoais desde a infância, algo que realmente dá sentido à vida,

uma missão, uma forma de realização pessoal, uma maneira de criar relacionamentos e

convívio social, aprendizado e troca de experiências foram mencionados e relacionados ao

sentido dado ao trabalho. Isso pode ser observado através de alguns relatos no quadro a

seguir.

Quadro 11 – Sentido dado ao trabalho

Dar um sentido a

vida e contribuir

para a sociedade

Sempre quis ser médica desde pequena e quando eu tinha 7 anos – essa é uma história bonitinha que meu pai conta para todo mundo – eu dizia que ia ser médica e da Marinha, só que não tinha mulher na Marinha naquela época, as mulheres entraram em 81 e eu falei isso em 79 – 80, aí diz que eu respondi assim: Mas quando eu crescer vai ter, pois eu quero salvar muitas vidas. (Eliana)

Realizar-se e

atualizar seu

potencial

Acho muito importante a mulher ter, não é nem a sua independência, acho que sua realização e acho que isso também faz com que a gente dê a ele uma criação melhor, no sentido financeiro dele poder estar nos melhores colégios, melhor formação, poder viajar e aí em termos culturais.(Flávia)

relacionar-se com os

outros e estar

vinculado em

grupos

Como trabalho desde cedo eu acho que é bom para a mulher, acho que não me veria sem estar trabalhando hoje porque você cria certa independência, cria um relacionamento social, conhece pessoas e eu acho que isso é muito importante também.(Irene)

Dentre os sentidos que o trabalho assume em suas vidas, adquirir autonomia e garantir

segurança à família foi quase unânime. A maioria das entrevistadas valoriza os aspectos

financeiros do trabalho, reconhecendo sua validade como o caminho para a independência

financeira, para dar melhor padrão de vida à família e, em especial, melhor formação aos

filhos, como pode ser observado no discurso de Irene, Helen e Ana.

Acho que é bom para a mulher, acho que não me veria sem estar trabalhando, porque você cria certa independência. Eu sempre quis trabalhar e ter independência. (Irene)

Preciso manter a minha carreira nessa linha para poder pagar um colégio legal para eles, para poder oferecer um curso de inglês legal, toda a estrutura que eles precisarem. (Helen)

Hoje mais do que nunca preciso trabalhar porque afinal são “três

carnezinhos” como a gente fala e um só trabalhando não tem como.(...)Hoje em dia com elas nessa idade o que mais queremos é que tenham um

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futuro promissor, então hoje investimos muito na educação delas (...) dar aquilo que eu e marido não tivemos dar aquilo que a gente acha que se tivesse tido lá atrás de repente hoje estaríamos em outras condições. (Ana)

4.9 Sentido dado à maternidade

Buscando conhecer como essas executivas lidam com a identidade de mãe e que sentidos são

atribuídos à maternidade, ficou nítido que o filho é prioridade para todas elas e que mudanças

significativas ocorreram na sua forma de encarar os desafios profissionais e a vida com a

chegada dos filhos. Dentre as transformações, são citados o amadurecimento, a valorização de

pequenas e simples atitudes, as mudanças nas prioridades e o menor egoísmo.

Eu acho que o fato de você ser mãe te traz uma força interior muito maior, você passa a ter mais segurança nas suas colocações, não sei... Ser mãe parece que você sai de uma etapa e vira outra mulher, você se torna realmente uma mulher. (Ana)

Eu acho que você se tornar mãe é um amadurecimento na vida de toda mulher, você vê a vida de forma diferente, valoriza as coisas diferente, tem uma dedicação às coisas diferente e com isso se torna uma pessoa bem melhor, menos egoísta e tal. (Beatriz) Pelo fato de ser mãe a gente olha a vida de outra maneira e suas prioridades de outra maneira. Antes de ter filhos minha prioridade era o trabalho, não pensava em horário, em nada e tudo era o meu trabalho. Depois que tive filhos minha prioridade mudou, antes eles e depois o trabalho. (Deise)

Como destacado por Rocha-Coutinho (2003), a maternidade continua sendo uma experiência

considerada insubstituível e até indispensável para maioria das mulheres. Sendo vista como

algo que dá sentido à vida. Para Irene, os filhos são a razão de seu viver e o conflito entre qual

peso dar ao trabalho adquiriu maior visibilidade diante da maternidade.

No começo foi confuso porque você fica no dilema: E agora? Qual peso dá para o trabalho? Mas aí você percebe que tem ali o que vira a razão de seu viver: os filhos. (Irene )

O tempo dedicado ao relacionamento conjugal tende a ser deixado em terceiro plano após a

chegada dos filhos, principalmente no caso de Ana e Cintia, que moram longe dos familiares e

viajam constantemente a trabalho. É um período delicado da vida conjugal e representa um

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fator de angústia. Para Ana, com decorrer do tempo, crescimento dos filhos, estas dificuldades

tendem a irem naturalmente se atenuando.

Hoje sou muito mais mãe do que esposa e isso é uma coisa que eu me cobro bastante, tenho me cobrado muito e ele também tem me cobrado muito. Agora na medida em que elas estão crescendo eu acho que a relação começa a voltar a ser um pouco mais efetiva, acho que realmente ela se desgasta por um período, acho provável até porque são três crianças que requerem tempo. (Ana)

Acho que o casamento acaba ficando um pouco prejudicado. Trabalho não posso deixar de lado porque não posso perder meu emprego senão fico desempregada e sem salário. As crianças te demandam porque estão novas, então às vezes o casamento quando a gente vê... Meu Deus do céu, vamos resgatar o casamento. Acaba que a gente se distancia porque a rotina nos distancia naturalmente pelo cansaço, falta de tempo, viagem (Cíntia)

Em contrapartida, podemos observar que as entrevistadas que contam com a ajuda de um

parente próximo, como a mãe, a madrinha e a sogra, nos cuidados com o filho como é o caso

de Gilda e Beatriz, ou cujos filhos estão com idade um pouco mais elevada, no caso de Flávia

que tem um único filho de 12 anos, conseguem dedicar-se ao relacionamento a dois. Essas

mulheres manifestam a importância de se buscar momentos a dois e apontam que essa busca

deve ser constante e requer atenção.

Falando como esposa acho que sou excelente esposa, procuro estar sempre bonita para meu esposo, sempre trocar carinho, e-mail, mensagem. Sempre que dá deixo o Arthur com minha mãe para sair, ir ao cinema, jantar fora, buscamos programações a dois. (Gilda)

Hoje em dia eu acho que tomamos bastante cuidado com isso, sabe? De estar bem juntos, conversar muito, coisas que nunca fizemos como ir viajar no final de semana e voltar no domingo, deixando as crianças com a madrinha ou com a avó, então hoje olhamos para a nossa relação de marido e mulher com muito cuidado. (Beatriz)

Eu sou muito feliz, a gente tem uma relação boa, temos curtido viajar todo ano, muito teatro, alguns até o Lucas vai, outros não vai porque não quer, o Lucas agora já tem churrasco, tem a vida dele com os amigos dele também. Nós temos momentos a dois que nos proporcionamos, o Lucas fica na minha mãe e a gente dorme fora, vamos jantar fora. (Flávia)

Na difícil divisão do tempo no cotidiano fica evidente que a parte da vida pessoal mais

sacrificada por todas as entrevistadas, é o cuidado consigo mesma. Tal resultado é consistente

com os da pesquisa realizada por Troiano (2007) em que o número de horas dedicadas aos

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cuidados com os filhos superou todas as demais atividades e o tempo dedicado a si ficou em

último lugar. Essa dimensão é nitidamente protelada em virtude do trabalho que demanda a

maior quantidade de tempo e dos cuidados com os filhos e a família que são suas prioridades

nas horas de folga. A sensação de que fazem mais pelos outros gera frustração e representa

um dilema na vida delas, conforme relatos a seguir.

Então agora comecei a ver que realmente eu preciso pensar um pouco mais em mim, fazer coisas que me tragam prazer que eu sempre quis e sempre adiei em função de outras coisas, primeiro o trabalho, filhos, marido e nunca pensei em mim. (Deise) Ah, eu agora estou meio largada, eu engordei, tenho feito mais pelos outros do que por mim. Estou feliz com tudo o que eu faço, mas eu vi que tudo que faço é pelos outros. E aí? Onde está a Helen nessa história? (Helen)

Os maiores dilemas comigo Julia é que tenho que entrar em forma, tenho que emagrecer, tenho que ficar bonita, esses são os meus maiores dilemas (...). Certa frustração de querer, querer, querer e se atola no dia-a-dia e não consegue fazer. Quando você chega em casa e vê as crianças, não vou para a academia nada, vou ficar com as crianças e aí vira a tua rotina e se acomoda àquilo. (Julia)

Quando questionadas sobre suas ambições pessoais, a maioria das entrevistadas relatou

ambições diretamente relacionadas a projetos que envolvem a família e a criação dos filhos,

reforçando o sentido e importância dada à família, em especial ao futuro dos filhos. A

dificuldade de separar eu-pessoa do nós-família demonstra que estão mais preocupadas com o

bem estar geral e que este é também um fator importante para se sentirem realizadas. Esse

conflito faz parte da vida de todas e exige um olhar sempre atento para equilibrar suas

prioridades.

Acho que eu conquistei e se eu mantiver o que tenho hoje, a família que tenho, contando marido, filhos, pais, irmãos, eu acho que é isso porque o que a gente quer é manter esse bem, que meus filhos continuem estudando em uma boa escola, sejam pessoas do bem, felizes com o que escolherem fazer e é isso que eu quero para minha vida pessoal e nada mais. (Beatriz)

Me sinto hoje em dia realizada, nunca fui de querer muitas coisas em questões materiais, enfim, tenho uma família que adoro e a única coisa que hoje em dia eu quero, objetivo de vida pessoal é poder dar um pouco mais de atenção para os meus filhos. (Deise)

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Realizei o sonho de ser mãe, sou mãe de duas meninas e não pretendo ter mais filhos, sou casada há 15 anos e feliz em meu casamento (...). Eu acho que família é o pilar de tudo e esse é meu objetivo maior de poder dar amor para elas e poder educá-las para enfrentarem a vida da melhor forma possível porque não é fácil. (Irene)

Se por um lado, a maternidade aumenta as atribuições, conflitos e responsabilidades, por

outro, a experiência da maternidade também pode ser vista como um aprendizado que pode

ser utilizado para impulsionar a carreira, dependendo da forma que este novo desafio será

encarado e o sentido que será dado a esta nova e maravilhosa experiência (TROIANO, 2007).

Através de alguns relatos podemos observar que algumas competências emocionais foram

estimuladas através dos desafios da maternidade. Essas competências foram separadas em

quatro áreas: motivação, inteligência emocional, eficiência e resiliência, conforme mostra o

quadro a baixo.

Quadro 12 – Benefícios da maternidade

Mot

ivaç

ão Eu acho que o fato de você ser mãe te traz uma força interior muito maior,

parece que você sai de uma etapa e vira outra mulher (Ana)

Inte

ligê

ncia

em

ocio

nal

Eu acho que a maternidade me trouxe equilíbrio e maturidade, passei a refletir melhor, ter mais serenidade para tratar de alguns temas. (Cintia)

Talvez por ter sido mãe muito jovem amadureci muito com a maternidade. (...) Acho que te traz serenidade, empatia, para mim foi muito bom, não tem como não ter sido. (Flávia)

No trabalho a maternidade te traz um lado mais humano, mas sensível que ajuda você entender o outro. Te humaniza muito mais (Gilda)

Efi

ciên

cia Conseguimos fazer várias coisas ao mesmo tempo e o homem não consegue;

não à toa somos mulher, mãe, profissional. Nós, enquanto mulheres, mães, temos melhor capacidade de resolver problemas, pensamos rápido, agimos rápido. (Helen)

Res

iliên

cia Quando somos mãe nos sentimos muito fortes, e no trabalho isso te traz forças

pra superar os desafios e seguir em frente. (Gilda)

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa realizada com mulheres, mães de crianças menores de doze anos que ocupam

cargos de liderança, investigou-se elementos para compreender suas características e como

percebem e lidam com as oportunidades e desafios enfrentados no trabalho e na vida pessoal.

Com relação aos desafios enfrentados em suas trajetórias profissionais, foi possível observar

que a dificuldade em conciliar seus múltiplos papéis, ou seja, a busca do equilíbrio entre vida

pessoal e profissional é considerado pelas entrevistadas como o maior desafio a ser superado.

A maioria das entrevistadas embora tenha afirmado que o fato de ser mulher em nada

interferiu em suas trajetórias profissionais relataram, no entanto, que ao assumirem cargos de

liderança admitiram transpor vários obstáculos ao longo do caminho semelhantes ao

“labirinto” descrito por Eagly e Carly (2007). Segundo as autoras, houve um tempo em que as

mulheres realmente tinham poucas chances de alcançar cargos de liderança influentes, pois

não conseguiam romper a barreira sutil e invisível do “teto de vidro”. Atualmente, este

fenômeno parece não descrever a complexidade e variedade dos desafios que essas mulheres

enfrentam, sendo “o labirinto” uma metáfora mais adequada para descrever os desafios

enfrentados em suas trajetórias profissionais e na busca por ascensão nas organizações por

transmitir a ideia de uma trajetória complexa, com múltiplos obstáculos a serem superados,

mas de fato com uma rota viável para chegar ao objetivo.

Guimarães (2012) destaca que embora a jornada de trabalho das mulheres seja inferior à dos

homens, as mulheres em média trabalham cinco horas a mais por semana, pois dedicam

significativa parte de seu tempo aos afazeres domésticos e cuidados com familiares. Essas

“exigências da vida famíliar” são colocadas por algumas entrevistadas como um gerador de

conflitos. Elas se veem diante de um grande dilema e são pressionadas a fazer escolhas, sendo

possível considerar que estas escolhas de certa forma afetam sua trajetória profissional e suas

expectativas de carreira.

Acreditamos que os conflitos e sentimentos relacionados ao desafio da conciliação de seus

múltiplos papéis podem estar associados ao sentido que as mesmas atribuem ao trabalho e à

maternidade. Segundo Almeida (2007), existem diferenças no sentido dado ao trabalho e à

maternidade para mulheres de diferentes classes sociais. Para as mulheres trabalhadoras de

classe popular, por exemplo, o trabalho assume mais o sentido de um benefício para a família

do que de realização pessoal. Já as trabalhadoras de classe média veem o trabalho como um

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projeto pessoal de autorrealização. O sentimento que parece predominar é o de conflito e

insegurança diante das escolhas. As entrevistadas demonstraram se sentir, muitas vezes,

culpadas pelas escolhas feitas, por não conseguirem dedicar o tempo que gostariam aos filhos

e aos cuidados pessoais, ao mesmo tempo em que se sentem realizadas e desafiadas com suas

conquistas profissionais.

Esse resultado se mostra contraditório, pois ao mesmo tempo em que essas mulheres

demonstraram sentimentos de satisfação e autorrealização no trabalho, atribuem aos filhos e à

família a razão de todos os seus esforços profissionais. Este sentido instrumental dado ao

trabalho - para dar melhor padrão de vida à família e, em especial, melhor formação aos filhos

- pode representar uma forma de amenizar o sentimento de culpa por ver no trabalho uma

fonte de realização pessoal, prazer, autonomia, socialização, que contradiz a cultura ainda

dominante de que a mulher deve antes de tudo, sentir prazer em cuidar dos filhos e ser boa

mãe (PRIORE, 2011).

No que se refere ao estilo de liderança, alguns comportamentos transformacionais foram

evidenciados na forma que as entrevistadas demonstraram enxergar seu estilo de liderar,

principalmente quando questionadas em relação aos principais desafios da liderança dentre os

quais podemos destacar: foco das líderes no desenvolvimento de suas equipes em tirar o que

cada um tem de melhor; ser exemplo; demonstrando empenho em aprimorar e efetivar um

comportamento de liderança mais transformacional. Cabe questionarmos se estas

características são naturais de seus estilos de liderar ou se essas mulheres, ao exercerem

cargos de liderança, esforçam-se para adotar comportamentos mais transformacionais, por

parecer ser o estilo de liderança mais atual e mais valorizado por grandes organizações

(BERGAMINI, 2002, p. 32).

Com relação aos objetivos de carreira, as entrevistadas não veem o fato de ser mulher como

um limitador para suas aspirações. No entanto a maioria delas demonstrou disposição para

abrir mão de suas ambições de carreira se isto for demandar maior tempo de dedicação ao

trabalho e, consequentemente menor tempo para se dedicar aos cuidados dos filhos e da

família. Como citado por Eagly e Carly (2007), as “exigências familiares” podem configurar

um obstáculo à ascensão das mulheres a cargos mais elevados. Dentro deste contexto, o

desejo de empreender emergiu como uma alternativa para continuar em cargo de gestão e

conseguir ter mais autonomia e flexibilidade para gerenciar seu tempo e conciliar seus

múltiplos papéis. De certa forma essa visão pode ser ilusória, diante das evidências de que um

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empreendimento em fase inicial demanda muita dedicação e mais horas de trabalho do que se

imagina.

De forma geral, conclui-se que os maiores desafios a serem superados pelas mulheres

encontram-se nas diferenças ainda marcantes entre o papel do homem e da mulher na

sociedade e o reconhecimento de que estas desigualdades afetam a trajetória de carreira das

mulheres. Apesar de algumas mudanças significativas as mulheres ainda assumem a criação

dos filhos e administração da casa como algo decorrente de sua condição feminina e, em

alguns casos, acabam abrindo mão de suas ambições profissionais para se dedicarem mais ao

papel materno. Confirma-se assim a visão de Rocha-Coutinho (2003), ao afirmar que os

padrões de gênero permanecem tradicionais com modelo onde homens e mulheres apresentam

padrões de comportamento relativamente rígidos e difíceis de serem alterados.

Devido à dificuldade de equilíbrio entre vida profissional e pessoal e o sentido dado à

maternidade pelas entrevistadas, seria interessante, futuras pesquisas com mulheres que

decidiram abdicar de suas carreiras para se dedicar ao cuidado dos filhos e do lar e com

mulheres em cargo de gestão que não possuem filhos. Ademais, Gurian e Annis (2009)

destacam que saber aproveitar de forma balanceada os talentos naturais de homens e mulheres

pode ser uma grande vantagem competitiva diante da escassez de profissionais qualificados e

da progressiva inclusão das mulheres no mercado de trabalho. Sendo assim, outro possível

enfoque para ampliação do presente estudo seria verificar o que as organizações estão fazendo

para se tornarem mais flexíveis e para promover o equilíbrio entre os sexos em cargos de

liderança.

Os resultados encontrados nessa dissertação não podem ser generalizados a todas as mulheres

que ocupam posição de liderança nas organizações e que possuem filhos menores. No entanto,

espera-se que as análises aqui apresentadas permitam um maior entendimento de suas

necessidades e valores, contribuindo para inspirar reflexões sobre as políticas de gênero nas

organizações.

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APÊNDICE A: ROTEIRO DAS ENTREVISTAS

AQUECIMENTO:

1. Conte um pouco sobre a sua família, seus filhos... Quem mora com você? Qual é a

profissão do seu cônjuge?

2. Conte-me como é um dia típico de trabalho na sua vida? Quais os maiores desafios

enfrentados?

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL:

3. Conte um pouco sobre sua trajetória profissional: Onde você estava trabalhando e que

cargo ocupava quando você se casou, teve filhos? Como você foi lidando e

conciliando seu crescimento profissional com essas mudanças pessoais

(casamento/filhos)?

4. Você acredita que o fato de ser “mulher” de alguma forma interferiu (ajudou/

atrapalhou) na sua trajetória profissional? No alcance do cargos de liderança? E o fato

de ter filhos? Por quê?

5. Quais são suas principais ambições profissionais? Existem outros cargos/posições

dentro da sua organização que você almeja? Quais investimentos você tem feito na sua

carreira para alcança-los?

DESIGUALDADE DE GÊNERO:

6. Como você enxerga a mulher atualmente no mercado de trabalho? Em sua opinião, o

que mudou e o que ainda precisa mudar para facilitar a inserção das mulheres no

mercado de trabalho brasileiro?

7. Você acredita que as mulheres em geral tem mais dificuldade de ascensão profissional

do que os homens? E com relação a chegarem ao topo das organizações, aos cargos

mais elevados? Por quê?

8. Com relação à empresa em que você trabalha você acredita que as oportunidades de

promoções são iguais para ambos os sexos? Sua empresa estimula a diversidade de

gênero em cargos de liderança? De que modo?

9. O que as empresas poderiam fazer para estimular/ter um maior número de mulheres

ocupando cargos de liderança? Você considera que as políticas da sua empresa

incentivam as mulheres a alcançarem cargos de liderança? Por quê?

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ESTILO DE LIDERANÇA:

10. Com relação a liderança: Você já teve outras experiências em cargos de liderança?

Quais? Você precisou fazer alguma adaptação na sua vida pessoal, familiar para

assumir os desafios da liderança? O que mudou na sua vida?

11. Em sua trajetória profissional você teve algum(a) líder que tenha servido de

referência/inspiração pra você? Em que sentido?

12. Quais os principais desafios que você encontra como líder e como você lida com estes

desafios?

13. Quais as principais características do seu estilo de liderar você considera determinante

para ser uma líder de sucesso?

14. Na sua visão, o que seus liderados mais valorizam em você como líder?

MATERNIDADE E CONCILIAÇÃO DOS MULTIPLOS PAPÉIS:

15. Fale um pouco sobre sua vida fora do trabalho. O que gosta de fazer? Como é sua

relação com seus filhos, marido, amigos? Como divide o seu tempo?

16. Pra conseguir conciliar seus múltiplos papéis (mulher, mãe, profissional), você conta

com a ajuda de alguém? De quem? De que forma é esta ajuda?

17. Fazendo uma auto avalição do desempenho de seus múltiplos papéis (mulher, mãe,

esposa, profissional), em qual desses papéis você acredita que deveria se dedicar

mais? Que sentimentos isto lhe traz?

FECHAMENTO:

18. Com relação aos assuntos abordados, você gostaria de acrescentar algo mais?

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DADOS DEMOGRÁFICOS

Local e Data da Entrevista: Nº Entrevista: Nome: Tel: E-mail:

Idade: Estado Civil: Grau de Instrução: Area de Formação: Tempo de Empresa: Cargo Atual: Segmento de atuação da empresa: Quantidade de funcionários da empresa por sexo: Fem ( ) Masc ( ) Com quantos anos começou a trabalhar? Com quantos anos assumiu cargos de liderança pela primeira vez? Com quantos anos teve o primeiro filho (a)?

Sexo e idade dos filhos:

Classe Social (questionário ABEP)

Posse de Itens Quantidade de Itens

0 1 2 3 4 ou +

Televisão em cores 0 1 2 3 4

Rádio 0 1 2 3 4

Banheiro 0 4 5 6 7

Automóvel 0 4 7 9 9

Empregada mensalista 0 3 4 4 4

Máquina de lavar 0 2 2 2 2

Videocassete e/ou DVD 0 2 2 2 2

Geladeira 0 4 4 4 4

Freezer / geladeira duplex 0 2 2 2 2

Chefe de família: ( ) A própria ( ) Marido ( ) Outro. Grau de Instrução do chefe de família: Analfabeto / Até 3 série fundamental 0

Até 4 sériefundamental 1

Fundamental completo 2

Colegial completo / Superior incompleto 4

Superior completo 8

Total de pontos: _________ Classificação Social: __________