ambiente institucional brasileiro: impacto nas estratégias...
TRANSCRIPT
FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM
ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA
DDIISSSSEERRTTAAÇÇÃÃOO DDEE MMEESSTTRRAADDOO PPRROOFFIISSSSIIOONNAALLIIZZAANNTTEE EEMM AADDMMIINNIISSTTRRAAÇÇÃÃOO
Ambiente Institucional Brasileiro: Impacto nas Estratégias das Empresas do Setor de
Petróleo e Gás
LLuuiizz MMaarrcceelloo MMaarrtt iinnss AAllmmeeiiddaa
ORIENTADOR: Prof. Dr. Luiz Alberto Nascimento Campo s Filho
Rio de Janeiro, 31 de maio de 2010.
“AMBIENTE INSTITUCIONAL BRASILEIRO: IMPACTO NAS EST RATÉGIAS DAS EMPRESAS DO SETOR DE PETRÓLEO E GÁS”
LUIZ MARCELO MARTINS ALMEIDA
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Administração Geral
ORIENTADOR: Prof. Dr. Luiz Alberto Nascimento Campos Filho
Rio de Janeiro, 31 de maio de 2010.
“AMBIENTE INSTITUCIONAL BRASILEIRO: IMPACTO NAS EST RATÉGIAS DAS EMPRESAS DO SETOR DE PETRÓLEO E GÁS”
LUIZ MARCELO MARTINS ALMEIDA
Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Administração Geral
Avaliação:
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________________________
Professor Dr. Luiz Alberto Nascimento Campos Filho (Orientador) Instituição: IBMEC RJ _____________________________________________________
Professor Dr. Alexandre Barros da Cunha Instituição: IBMEC RJ _____________________________________________________
Professor Dr. Luís Antônio Dib Instituição: COPPEAD/UFRJ
Rio de Janeiro, 31 de maio de 2010.
FICHA CATALOGRÁFICA
658.4012 A447
Almeida, Luiz Marcelo Martins. Ambiente institucional brasileiro: impacto nas estratégias das empresas do setor de petróleo e gás / Luiz Marcelo Martins Almeida - Rio de Janeiro: Faculdades Ibmec, 2010. Dissertação de Mestrado Profissionalizante apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração das Faculdades Ibmec, como requisito parcial necessário para a obtenção do título de Mestre em Administração. Área de concentração: Administração geral. 1. Empresas – Planejamento estratégico. 2. Teoria institucional. 3. Economia – Petróleo e gás.
v
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha esposa Aline e ao nascimento de minha filha Letícia que são as fontes primordiais para a minha dedicação, motivação e inspiração.
vi
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, que sempre me ajudou em todos os momentos
de minha vida.
A meus pais, que sempre me incentivaram a estudar e me desenvolver como profissional e ser
humano.
Ao meu chefe Haroldo Fialho Prates e ao BNDES que me deram uma oportunidade de
continuar desenvolvendo meus conhecimentos acadêmicos.
A todas as pessoas que me ajudaram de alguma forma na elaboração deste trabalho, e
principalmente aos executivos entrevistados que dedicaram parte importante de seu tempo
para me ajudar.
Ao meu Prof. Dr. Luiz Alberto Nascimento Campos Filho, que se dedicou, me orientou e
incentivou na elaboração desta pesquisa.
vii
RESUMO
A teoria institucional explica como as interações entre as organizações e as instituições
constituem o principal determinante das atividades econômicas e conseqüentemente o
desempenho e as estratégias empresariais. A maioria dos países emergentes está em uma fase
de transição institucional, onde os modos de transação baseados em relacionamento estão
mudando gradualmente para transações baseadas em regras (PENG, 2003). O Brasil está
passando por diversas reformas institucionais, desde o fim do regime militar em 1985. Além
disto, em 2007, a Petrobras descobriu jazidas consideráveis de petróleo e gás na camada de
pré-sal, na costa brasileira, motivando o Governo Federal a propor projetos de lei para alterar
o regime jurídico-regulatório de exploração e produção de petróleo e gás existente para estas
novas áreas. O objetivo do presente estudo é identificar como o ambiente institucional
brasileiro influencia as estratégias das empresas do setor de petróleo e gás. A metodologia
utilizada foi a do estudo de caso único sobre o setor de exploração e produção. Os resultados
obtidos de dados secundários e de entrevistas, com os principais executivos de empresas da
cadeia brasileira de petróleo e gás e de organizações públicas, demonstram que as instituições
têm pouca influência nas decisões das empresas de exploração e produção de petróleo, sendo
que dentro das instituições a dimensão regulatória é a que mais influencia estas decisões.
Palavras Chave: Teoria Institucional, Petróleo e Gás, Transição Institucional, Visão Baseada
em Recursos, Teoria de Dependência de Recursos, Teoria dos Stakeholders.
viii
ABSTRACT
Institutional theory explains how interactions between organizations and institutions shape
economic activities and consequently managerial performance and strategies. Most of
emerging countries are in an institutional transition stage where relationship-based transaction
modes are gradually changing into rule-based transitions (PENG, 2003). Brazil has been
going through several institutional reforms since the end of the military regime in 1985.
Besides, in 2007, Petrobras found considerable oil and gas reserves in the pre-salt layer off the
Brazilian coast, incentivating the Federal Government to propose bills targeted at altering the
juridical-regulatory regime of exploration and production of existing oil and gas for those new
areas. This study aims to identify how the institutional Brazilian environment influences the
oil and gas producing companies’ strategy. The methodology used was a single study case
about exploration and production of oil and gas sector. Results obtained from secondary data
and interviews with the main Brazilian oil and gas companies executives and public
organizations demonstrated that institutions have a minor influence over the decisions taken
by oil exploration and production companies, considering that within those institutions the
regulatory dimension has the main power over their decisions.
Key Words: Institutional Theory, Oil and Gas, Institutional Transition, Resources-based
View, Resources Dependency Theory, Stakeholders Theory.
ix
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Evolução Anual do Consumo Mundial de Petróleo...............................................29
Gráfico 2 – Evolução Anual do Investimento Estrangeiro Direto............................................33
Gráfico 3 – Consumo Mundial de Energia Primária.................................................................33
Gráfico 4 – Reservas Mundiais de Petróleo..............................................................................35
Gráfico 5 – Evolução Anual da Produção Mundial de Petróleo...............................................36
Gráfico 6 – Controle das Reservas Mundiais de Petróleo........................................................38
x
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Resumo das teorias abordadas na Revisão Bibliográfica.......................................18
Quadro 2 – Indicadores que Compõe o Índice de Competitividade Institucional....................28
Quadro 3 – Evolução dos Resultados das Rodadas de Licitações da ANP..............................42
Quadro 4 – Lista dos Países Detentores das Maiores Reservas de Petróleo e suas Respectivas
Produção, Ranking Institucional e Características Contratuais..............................46
xi
LISTA DE ABREVIATURAS ANP Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
BOE Barris de Óleo Equivalente
CGI Índice de Competitividade Global
CNPE Conselho Nacional de Política Energética
E&P Exploração e Produção
EIA Energy Information Administration
IOCs International Oil Companies
MME Ministério das Minas e Energia
NOCs National Oil Companies
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OCs Oil Companies
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
P&G Petróleo e Gás
Prominp Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural
xii
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 1
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................................ 5
2.1 TEORIA INSTITUCIONAL...................................................................................................................... 5
2.2 RELACIONAMENTO ENTRE AS INSTITUIÇÕES E AS ORGAN IZAÇÕES.................................. 9
2.3 TEORIA INSTITUCIONAL E TEORIA DE DEPENDÊNCIA DE RECURSOS.............................. 12
2.4 TEORIA INSTITUCIONAL E VISÃO BASEADA EM RECURSO S................................................. 14
2.5 TRANSIÇÕES INSTITUCIONAIS E ESCOLHAS ESTRATÉGIC AS .............................................. 15
3 METODOLOGIA.................................................................................................................. 19
4 AMBIENTE INSTITUCIONAL BRASILEIRO: IMPACTO NAS ESTRATÉGIAS DO SETOR DE PETRÓLEO E GÁS.......................................................................................... 25
4.1 BRASIL E SEU AMBIENTE INSTITUCIONAL: EVOLUÇÃO, SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVAS ............................................................................................................................................ 25
4.2 EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO NO MUNDO........................................................30
4.3 EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO NO BRASIL ........................................................ 40
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................................................... 51
5.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS.............................................................................................................. 51
5.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS......................................................................................................... 57
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 65
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTAS...................................................................70
APÊNDICE B – LISTA DE EMPRESAS ENTREVISTADAS.............................................. 72
1
1 INTRODUÇÃO
O ambiente institucional é influenciado pela estrutura legal e administrativa, na qual os
indivíduos, as empresas, organizações e o governo interagem para gerar renda e riqueza. O
nível de desenvolvimento das instituições influencia as decisões de investimento das empresas
e a organização da produção, como exemplo, donos de terras, ações ou de patentes ficarão
desestimulados em investir se sentirem insegurança em seus direitos de propriedade. As
instituições também englobam as atitudes dos governos em relação aos mercados e a
liberdade de expressão, além da eficiência de suas operações. Excesso de burocracia e de
regulações, corrupção, sistemas jurídicos morosos, dentre outros problemas são exemplos de
ineficiência governamental, que aumentam significativamente os custos de transação e
diminuem a velocidade de crescimento econômico. Desta maneira, as instituições devem
garantir o direito de propriedade e um ambiente propício para o cumprimento dos contratos e
resolução de disputas (SCHWAB, 2009).
O Brasil vem passando por diversas reformas em seu ambiente institucional desde o fim do
regime militar em 1985. Além disto, a descoberta, em 2007, de hidrocarbonetos em grande
quantidade na camada de pré-sal na costa brasileira gerou a proposta do Governo Federal que
encontra-se em debate no Poder Legislativo brasileiro sobre possíveis alterações no regime
jurídico-regulatório de Exploração e Produção (E&P) de petróleo existente no Brasil, que
passaria a vigorar para as jazidas descobertas no pré-sal.
2
Segundo o estudo realizado pela Bain & Company e TozziniFreire Advogados (2009), o atual
cenário de grande volatilidade na relação entre a oferta e a demanda de petróleo e,
conseqüentemente, de seu preço, tem influenciado o Governo a pensar em adotar um modelo
jurídico-regulatório que deve ser adaptado de maneira a maximizar as suas receitas,
independentemente do nível de preço do petróleo, e simultaneamente manter o potencial de
atratividade para os investimentos públicos e privados destinados a E&P na camada de pré-
sal. O modelo proposto, em tramitação no Poder Legislativo, também deverá garantir a
soberania do Brasil sobre estas novas jazidas descobertas, sem alterações legislativas
complexas que possam gerar insegurança jurídica. Cabe ressaltar que para a exploração destas
jazidas de hidrocarbonetos o Brasil necessitará de uma grande quantidade de investimentos
para desenvolver a indústria de E&P de Petróleo e Gás (P&G) e seus fornecedores de
equipamentos e serviços.
Segundo North (2009) as interações entre as instituições e as organizações moldam1 as
atividades econômicas e Peng (2003) acrescenta que estas interações influenciam também as
estratégias adotadas pelas empresas. Peng (2003) também observou que já foram realizados
diversos estudos sobre como as escolhas estratégicas das empresas são tomadas, mas a
maioria deles focou em um ambiente institucional estável. Porém, o Brasil e diversos países
emergentes estão passando por transições institucionais massivas, conforme constatado por
Dieleman e Sachs (2008), Meyer et al (2009), Peng (2003), Tihanyi e Hegarty (2007), Tong,
Reuer e Peng (2008) e Yamakawa, Peng e Deeds (2008), e que podem ser definidas como as
mudanças fundamentais e compreensivas nas regras formais e informais do jogo que afetam
os jogadores, neste caso, as organizações.
1 Foi utilizado o verbo moldar como tradução de inglês para português para shape.
3
Nesse contexto de mudanças institucionais brasileiras desde o fim do regime militar e de
tramitação da atual alteração específica no modelo jurídico-regulatório do setor de P&G
nacional, esse estudo tem o objetivo de identificar como as instituições brasileiras influenciam
a decisão estratégica das empresas do setor de exploração e produção de petróleo e gás no
Brasil em um momento de transição institucional.
Para a realização da pesquisa utilizou-se a metodologia do estudo de caso único. Para isto
foram utilizados os métodos de análises de evidências formulados por Yin (2005) e as
técnicas de análise de conteúdo formuladas por Bardin (2007). Como fontes primárias de
dados foram utilizadas as entrevistas realizadas com 16 executivos (presidentes, diretores e
gerentes executivos) de organizações públicas e privadas relacionadas ao setor de Petróleo e
Gás e como fontes de dados secundárias foram consultados relatórios disponibilizados por
organizações públicas e privadas, publicações em mídia eletrônica, artigos e outras fontes
disponíveis sobre o tema.
Os resultados obtidos demonstram que as instituições têm pouca influência nas decisões das
empresas de exploração e produção de petróleo, sendo que dentro das instituições a dimensão
regulatória é a que mais influencia estas decisões.
A dissertação está organizada em cinco capítulos principais, fora a introdução (capítulo 1). O
segundo capítulo apresenta a revisão da literatura sobre teoria institucional, abrangendo as
transições institucionais e o relacionamento entre instituições e organizações. O capítulo 3
detalha a metodologia adotada na elaboração do trabalho. No quarto capítulo é apresentado o
caso sobre o setor de P&G brasileiro, abordando as transições institucionais ao longo do
período e as principais características do setor de P&G no Brasil e no mundo, de forma a
elucidar hipóteses da influência desta variável no desempenho das empresas. No quinto
4
capítulo são apresentados os resultados das entrevistas com os administradores das empresas
selecionadas e a relação desses resultados obtidos com as transições institucionais, além das
discussões dos resultados. Finalmente, o sexto capítulo é dedicado às considerações finais,
implicações gerenciais e sugestões para futuras pesquisas sobre o assunto.
5
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Este capítulo tem como objetivo apresentar uma revisão da literatura sobre a teoria
institucional em geral, ele também foca a dinâmica do relacionamento entre as organizações e
as instituições, as transições institucionais e o processo de decisão estratégica das empresas.
2.1 TEORIA INSTITUCIONAL
Scott (1994) constatou que o institucionalismo tem raízes teóricas na sociologia e na
economia. Segundo Peng e Heath (1996), os sociólogos focam na legitimidade das
instituições, baseada na crença que molda a maneira com que as pessoas de uma sociedade
pensam e agem. Os economistas defendem que a estrutura institucional da sociedade serve
como restrição para regular as atividades econômicas, ditando as “regras do jogo”.
Conforme a visão econômica, North (1994) define que as instituições são restrições
elaboradas para estruturar as interações humanas. Elas são constituídas de restrições formais
(constituições, leis etc.), restrições informais (códigos de conduta, convenções e normas de
comportamento) e as maneiras pelas quais estas restrições são cumpridas. As instituições
definem a estrutura de incentivos da sociedade e econômicos. É esta interação entre as
organizações e as instituições que interferem na evolução de uma economia. Neste caso, é
usada uma metáfora que considera que as instituições são a “regra do jogo” e as organizações
são os “jogadores”.
6
Pelo lado sociológico, Scott (1994) definiu que o perfil institucional de um país é definido
como um conjunto de todas as instituições relevantes que foram estabelecidas e foram
continuadas através do tempo pelas organizações e pelos indivíduos. Scott (1994) acrescenta
ainda que as instituições são constituídas de três pilares, que são o regulatório, o normativo e
o cognitivo.
Para Orr e Scott (2008) e Busenitz et al (2000) a dimensão regulatória do perfil institucional
compreende as políticas governamentais, regras, direito de propriedade e as leis de um país e
que promovem certos tipos de comportamento e reprimem outros. As regulações são criadas e
mantidas por estados nacionais, províncias ou regimes locais com poder de criar regras e
sanções. Elas podem prover suporte para novos negócios, facilitar a aquisição de recursos e
reduzir riscos de negócios. As empresas podem alavancar recursos patrocinados por
programas governamentais e ter privilégios de políticas governamentais que favorecem os
empreendedores. Os autores acrescentam ainda que inclusive as organizações individuais,
como as empresas e os sindicatos, também estabelecem regras e monitoram o comportamento
de seus participantes.
Orr e Scott (2008) e Busenitz et al (2000) definem que a dimensão normativa abrange as
normas informais, valores, tradições, padrões, regras e comportamentos que são partilhados e
“carregados” pelos indivíduos e guiam seus comportamentos e decisões. Os sistemas
normativos compreendem os valores e as normas. Os valores são conceitos preferidos ou
desejáveis, enquanto as normas especificam como as coisas devem ser feitas. Os sistemas
normativos definem metas e objetivos e os caminhos apropriados para alcançá-los.
A dimensão cognitiva, segundo Scott (1994), compreende as estruturas cognitivas e o
conhecimento social dividido pela população em determinada sociedade, ela afeta o
7
comportamento dos indivíduos, e é moldada por uma grande quantidade de esquemas,
identidades, lógicas de ação, programas e inferências que as pessoas usam para selecionar e
interpretar as informações. Estes elementos são culturais, uma vez que a realidade social é
referenciada e racionalizada contra estruturas simbólicas externas e ao mesmo tempo é
cognitiva, visto que a realidade social é interpretada e construída através de estruturas internas
de interpretação e ação. Desta forma, tanto a comparação com a cultura externa, e a
interpretação interna de processos moldam as explicações e as percepções da realidade social.
Orr e Scott (2008) citam como exemplo os elementos cultural/cognitivos que servem de
modelo para a divisão do trabalho e construir organizações e trabalhos em equipe.
North (2009) enfatiza que cada país possui estruturas institucionais diferentes e o nível de
desenvolvimento de suas economias está relacionado fundamentalmente ao desenvolvimento
destas estruturas, sendo que as mudanças econômicas baseiam-se em um processo
incremental contínuo que é conseqüência das escolhas diárias dos indivíduos e dos
empreendedores das organizações. Enquanto muitas destas decisões são rotineiras, outras
envolvem contratos entre pessoas e organizações. Normalmente, trocas de contratos podem
ser realizadas dentro da estrutura existente de direitos de propriedade e regras políticas. Em
outras ocasiões, novos contratos necessitam de modificações nas regras existentes. Estas
mudanças ocorrem porque as pessoas percebem que podem fazer melhores negociações
reestruturando as trocas (políticas ou econômicas).
Baseados nesta visão econômica, Djankov et al (2003) argumentam que o direito de
propriedade e fazer cumprir os contratos são essenciais para os investimentos, o comércio e o
crescimento econômico. Muitas instituições servem para assegurar a propriedade e fazer
cumprir os contratos, tais como as agências reguladoras e os tribunais. Muitas delas são
inteiramente privadas, tais como reputações e discussões informais entre vizinhos. As
8
agências regulatórias restringem a conduta privada que pode influenciar negativamente o
ambiente institucional e a justiça resolve os problemas de propriedade e disputas contratuais.
Dentro do ambiente institucional North (1994) define que as organizações são formadas por
grupos de indivíduos que se juntam sob um mesmo propósito para alcançar um objetivo,
podendo ser políticas (Senado, partidos políticos, prefeitura dentre outras), econômicas
(empresas, sindicatos, cooperativas, dentre outras), sociais (igrejas, clubes, dentre outras) e
educacionais (universidades, centros de pesquisa etc). As organizações são formadas a partir
das oportunidades geradas pelo conjunto de restrições institucionais existentes.
Corroborando as afirmações de North (2009), sobre as diferenças institucionais entre países,
Hitt et al (2000) complementam que existem diferenças importantes entre mercados
desenvolvidos ou em desenvolvimento que afetam as estratégias das empresas. A economia,
política e cultura podem ser extremamente diferentes, mesmo em países fronteiriços. A
estrutura institucional específica de cada país orienta as atividades estratégicas das empresas e
a quantidade de recursos disponíveis dentro de suas fronteiras. Os padrões institucionais de
cada país, tais como acesso às instituições de pesquisa e institutos educacionais, fontes de
financiamento e disponibilidade de mão-de-obra especializada ajudam a determinar como a
inovação surge em uma nação. Busenitz et al (2000) acrescentam ainda que essas diferenças
em instituições nacionais levam a níveis diferentes de empreendedorismo, por meio de
direitos de patentes, normas societárias e esquemas cognitivos, dentre outros.
2.2 RELACIONAMENTO ENTRE AS INSTITUIÇÕES E AS ORGANIZAÇÕES
Segundo North (2009), a interação entre as organizações e as instituições molda as atividades
econômicas. Peng (2003) acrescenta que esta interação também molda as estratégias das
9
empresas, como a da escolha de um modo de entrada em um mercado estrangeiro. Levando
em conta a importância deste relacionamento, Orr e Scott (2008) consideraram que as
empresas têm um papel ativo nas respostas para as pressões das instituições, por meio de
associações, sindicatos ou sozinhas.
Para Jackson e Deeg (2008) as instituições não devem ser vistas apenas como restrições e sim
como um recurso para resolver os problemas da coordenação econômica. As estratégias das
empresas são formuladas pela natureza das interações delas com as instituições. A variedade
de tipos de instituições afeta o modo de entrada dos investidores estrangeiros, através da
criação de restrições, custos ou riscos para as multinacionais. Uma multinacional
provavelmente escolherá controlar uma subsidiária, quando os riscos contratuais forem
grandes ou joint ventures, quando os riscos políticos são altos.
Desta maneira, Peng e Heath (1996) argumentam que a estratégia de crescimento por meio de
alianças reflete a falta de habilidade da empresa em possuir todos os recursos necessários para
realizar a sua expansão sozinha ou por meio de uma aquisição de outra empresa em um
determinado ambiente institucional. Esta estratégia representa um esforço da empresa para
reduzir as incertezas devido à falta de “infraestrutura” institucional por meio do
desenvolvimento de relações interorganizacionais.
Jackson e Deeg (2008) afirmam ainda que as instituições moldam os recursos disponíveis para
as empresas, tais como diferentes tipos de financiamento ou capital humano, que estão
disponíveis coletivamente para as firmas. As instituições também influenciam a governança
interna das empresas por meio da modificação de poder entre os diversos stakeholders e a
capacidade de coordenação do mercado através de diferentes domínios funcionais. Como
resposta, as empresas se engajam em pressões políticas diretas, para mudar instituições e
10
sugerir diversos padrões de mudanças, baseadas na interação das empresas com os diversos
sistemas políticos.
Além disto, North (2009) acrescenta que o empreendedor político ou econômico utiliza seus
talentos ou conhecimentos tácitos para alcançar margens lucrativas. A eficiência das
organizações depende da percepção e realização destes objetivos. Nos casos em que se
necessita de grandes pagamentos para influenciar as regras e fazê-las cumprir, os
empreendedores poderão pagar para criar organizações intermediárias (associações
comerciais, grupos lobistas, ações de comitês políticos) entre as firmas e os corpos políticos
para obter os ganhos potenciais de uma mudança política. Quanto maior os recursos da
sociedade influenciados pelas decisões governamentais (diretamente ou via regulações), mais
recursos serão necessários para as organizações defensivas ou ofensivas.
Segundo Scott (1994) e Dacin et al (2007) a teoria institucional também é influenciada pela
justificativa social, que faz com que as organizações busquem a legitimidade ou aprovação de
seus atos, principalmente em relação aos participantes de que ela dependa diretamente e são
responsáveis pelo fornecimento de recursos físicos, humanos ou financeiros, dentre outros.
Desta maneira, as estratégias das empresas são influenciadas pelas normas sociais e culturais
da sociedade, que legitimam as suas atividades, e são guiadas por uma gama de entidades, tais
como acionistas, consumidores, grupos de interesse e governos, sendo que cada um tem
regras e valores próprios.
Neste contexto, Baum e Oliver (1991) defendem que uma organização tem mais
probabilidade de sobreviver se ela tiver legitimidade, suporte social e aprovação dos
participantes externos de seu ambiente institucional. Oliver (1991) acrescenta que esta
legitimidade externa eleva o status da organização na comunidade, facilita a aquisição de
11
recursos e desvia as questões sobre os direitos da organização e competências para fornecer
produtos específicos ou serviços. Partindo deste princípio, a tentativa de obter apoio social
converge com a teoria dos stakeholders, que descreve a corporação como uma rede de
interesses competitivos e cooperativos que possuem valor intrínseco. Donaldson e Preston
(1995) definem os stakeholders como pessoas ou grupos com interesses legítimos em vários
aspectos da atividade da corporação e que querem ter algum benefício dela. Eles são
identificados por seus interesses na corporação e se a corporação tem algum interesse neles.
Os stakeholders estão em constantes relações de troca com a empresa, podendo supri-la com
recursos, sendo que cada um deles tem interesses próprios. Analisar quem são eles, seus
interesses e como eles atuam é de grande valia na identificação de stakeholders críticos para a
sobrevivência organizacional (HILL; JONES, 1998). Eles são identificados por meio dos
benefícios ou restrições potenciais que sofrem ou potencialmente sofrerão como resultado das
decisões da empresa. A identificação e a avaliação da legitimidade das expectativas de
stakeholders potenciais é uma função importante dos gerentes, freqüentemente coordenado
com os outros stakeholders já reconhecidos (DONALDSON; PRESTON, 1995).
Para Pinto e Oliveira (2004), as organizações submetidas às pressões do ambiente técnico-
econômico e do ambiente político-institucional são avaliadas, respectivamente, tanto pela
eficiência econômica quanto à adequação das exigências sociais. Estas últimas constituem-se
tanto em determinações de ordem formal e legal, quanto em pressões espontâneas, não
formalizadas.
12
2.3 TEORIA INSTITUCIONAL E TEORIA DE DEPENDÊNCIA DE RECURSOS
Segundo North (2009), as organizações com fins lucrativos regularmente alteram a estrutura
institucional para perseguir o objetivo de seus criadores. Elas são formadas como função das
restrições institucionais, além de outras restrições, tais como tecnológicas e de lucros. As
interações entre estas restrições delimitam as oportunidades para maximizar a riqueza
potencial dos empreendedores (econômicos ou políticos). Portanto, Oliver (1991) propõe que
as instituições garantem a base da legitimidade e em conseqüência as organizações respondem
a uma variedade de pressões institucionais fazendo escolhas estratégicas, tais como
desobediência, agir conforme as regras e escapar. Desta maneira, as organizações têm um
comportamento ativo quando respondem as pressões institucionais, não sendo passivas e
conformadas em todas as condições institucionais apresentadas.
A teoria da dependência de recursos foca na gama de comportamentos de escolha ativa que as
organizações podem exercer para manipular dependências externas ou exercer influência
sobre a alocação de fontes de recursos críticos. Em comparação, a teoria institucional tende a
limitar suas ações de conformidade estrutural com o ambiente. As organizações
previsivelmente irão agir de acordo com os credos e as práticas institucionalizadas quando
eles são externamente validados e aceitos pelas organizações ou quando seus fatos sociais
qualitativamente servem a eles como único e concebível caminho óbvio ou natural para
conduzir uma atividade organizacional. Tanto a perspectiva institucional, quanto a
dependência de recursos, assumem que a escolha organizacional é possível dentro de um
ambiente de restrições externas, mas a teoria institucional tem focado mais na conformidade
do que na resistência, mais na passividade do que na atividade e mais na aceitação consciente
do que na manipulação política como resposta para pressões externas e expectativas
(OLIVER, 1991).
13
Assim como a teoria institucional, a teoria da dependência de recursos sugere que a
organização busca a legitimidade e a estabilidade. Tais teorias assumem que as organizações
são direcionadas pelos interesses, embora estes tenham a tendência de serem definidos
socialmente ou institucionalmente através da perspectiva institucional existente.
De acordo com Oliver (1991), a teoria institucional foca na reprodução ou imitação das
estruturas organizacionais, atividades e rotinas em resposta a uma pressão governamental,
expectativas dos funcionários ou normas coletivas do ambiente institucional. Por outro lado, a
teoria da dependência de recursos defende que a estabilidade organizacional é alcançada
através do exercício do poder, controle ou negociação de interdependências com o propósito
de atingir um fluxo vital de recursos estáveis e previsíveis, alem de reduzir a incerteza
ambiental. Oliver (1991) sugere que as respostas organizacionais irão variar conforme a
resistência, de passiva a ativa, de obediência para controle, de impotente para influente, de
habitual para oportunista, dependendo das pressões institucionais na direção da conformidade
que são exercidas nas organizações.
O escopo das condições sobre as quais as organizações estão aptas a se adaptar é limitado pela
capacidade organizacional, conflito e consentimento. Recursos inadequados ou a falta de
capacidade para obter os recursos em conformidade com as pressões institucionais podem
fazer a adaptação unilateral inalcançável, e a falta de reconhecimento e consentimento das
expectativas institucionais limitam a habilidade das organizações de adaptarem-se aos
requisitos institucionais.
14
2.4 TEORIA INSTITUCIONAL E VISÃO BASEADA EM RECURSOS
HITT et al (2004) afirmam que os arranjos institucionais podem produzir barreiras de entrada
ou criar oportunidades para ação. Desta maneira, os arranjos institucionais determinam os
caminhos e limites para ações aceitáveis das empresas. Como resultado, a escolha das ações
estratégicas depende das diferenças na existência, características e intensidade de cada arranjo
institucional. Baseado no que foi afirmado por Meyer et al (2009), pode-se concluir que o
desenvolvimento institucional afeta diretamente a estratégia de entrada, assim como a
necessidade dos investidores por recursos locais impacta a estratégia de entrada de diferentes
maneiras em contextos institucionais diferentes, demonstrando a integração entre a teoria
institucional e visão baseada em recursos.
Segundo Meyer et al (2009), uma multinacional quando faz um investimento direto em um
país emergente escolhe entre três modelos de entrada, greenfield (construção de uma nova
unidade), aquisição ou joint venture. As joint ventures e aquisições fornecem acesso a
recursos pertencentes às firmas locais, sendo que a primeira opção integra parcialmente os
recursos locais selecionados de um parceiro local e a segunda integra totalmente uma firma
local às operações da empresa. Um projeto de implantação (greenfield) não acessa
diretamente uma firma local como fonte de recursos organizacionais, mas permite que os
entrantes possam comprar ou contratar recursos disponíveis no mercado local, tais como mão-
de-obra e infraestrutura.
Um nível alto de desenvolvimento institucional pode reduzir a necessidade em se estabelecer
uma joint venture com um parceiro local e assim facilita o modo de entrada via aquisição ou
greenfield, enquanto a necessidade por recursos em um ambiente institucional fraco aumenta
a preferência por aquisições ou joint ventures e não por greenfield (MEYER et al, 2009).
15
Pode-se considerar que os arranjos institucionais são fortes, se eles suportam as trocas
voluntárias determinando um mecanismo eficiente de mercado. As instituições são fracas, se
elas falham em assegurar a eficiência do mercado, ou se minam o mesmo (como no caso de
corrupção de negócios).
A teoria institucional assume que os indivíduos são motivados para agir de acordo com as
pressões sociais externas. Enquanto que a visão baseada em recursos assume que os
indivíduos são motivados a decidir sobre a melhor escolha econômica. De acordo com a teoria
institucional, as empresas fazem escolhas racionais baseadas nas normas, que são modeladas
pelo contexto social em que a firma está inserida. A visão baseada em recursos sugere que as
empresas realizam escolhas economicamente racionais que são modeladas pelo contexto
econômico da firma. De acordo com Oliver (1997), a teoria institucional também sugere que
pressões sociais externas reduzem a variação de estrutura e de estratégias da firma, enquanto a
visão baseada em recursos propõe que fatores de imperfeição de mercado aumentam a
variação de recursos das firmas e as suas estratégias.
2.5 TRANSIÇÕES INSTITUCIONAIS E ESCOLHAS ESTRATÉGICAS
De acordo com North (2009), a função das instituições é reduzir as incertezas fornecendo uma
estrutura estável para a interação humana, mas não necessariamente eficiente. As instituições
afetam o desempenho da economia devido ao seu efeito nos custos de transação e produção.
As transições institucionais podem ser definidas como a mudança de um modo primário de
troca para outro, com a finalidade de reduzir as incertezas. De qualquer maneira, Oliver
(1992) propõe que estas transições institucionais irão provavelmente gerar, pelo menos no
curto prazo, um caos considerável e o aumento dos custos de transação, enquanto as novas
instituições surgem para ocupar o lugar das antigas.
16
Segundo Peng (2003), existem dois tipos de estruturas de modos transacionais, as baseadas no
relacionamento e as baseadas nas regras. O modo de transação baseado no relacionamento é
conhecido como um contrato relacional. Inicialmente o custo de se estabelecer este tipo de
contrato é alto, e os benefícios baixos, uma vez que as partes necessitam construir uma rede
social forte através do tempo, sendo um processo de consumo de recursos. Quando a escala e
o escopo das transações aumentam, os custos de transação provavelmente reduzirão e os
benefícios aumentarão. Depois de um tempo, o custo deste modo de transação volta a
aumentar e os benefícios a diminuir, isto porque quanto maior o número de variedades de
produtos e trocas, maior a complexidade do acordo a ser feito entre as partes, devido à falta de
instituições formais.
Johnson et al (2000) caracterizam o modo de transação baseado nas regras como trocas
impessoais com uma terceira parte responsável por fazer cumprir os contratos. Neste caso, o
custo inicial de transação é alto para desenvolver e implantar instituições formais. Com o
passar do tempo, as instituições provavelmente facilitarão as transações de mercado, porque
as partes irão poder ter mais confiança para realizar trocas entre elas e buscar ganhos de trocas
mais complexas.
Desta maneira, Peng (2003) propõe que o processo de transições institucionais nos países
emergentes começa com transações baseadas em relacionamentos para gradualmente
mudarem para transações baseadas em regras. No momento da transição as forças do Estado e
da sociedade no ambiente organizacional estão entre os mais importantes agentes da mudança
institucional, alguns exemplos são mudança de regimes políticos, mudanças de políticas
econômicas ou pressões de órgãos internacionais. A partir deste ponto, a economia direciona-
se à uma nova fase baseada em regras, que necessitará de um longo período de evolução
incremental, devido à ausência de regras para controlar todas as transações, a falta de
17
instituições que façam cumprir as regras existentes e a resistência por parte de algumas
organizações.
Embora as leis formais possam mudar de uma hora para outra, como resultado de decisões
políticas ou judiciais, as restrições informais incorporadas nos costumes e códigos de conduta
são mais difíceis de serem mudadas por políticas deliberadas (NORTH, 2009). Também deve-
se acrescentar que as restrições informais têm um papel importante nas trocas econômicas nos
países emergentes durante a transição institucional e tem uma influencia muito grande sobre o
comportamento das empresas e dos indivíduos, assim como na formulação das restrições
formais (PENG, 2003).
Segundo Djankov et al (2002), as empresas podem utilizar ou criar uma organização baseada
em uma rede informal como resposta a um ambiente institucional pouco desenvolvido ou
quando ele apresenta padrões culturais, tais como laços sociais, que são utilizados na ausência
de instituições impessoais. Desta maneira as instituições irão impactar nos custos de utilização
do mercado de capitais ou de outros diferentes recursos.
Pearce et al (2008) acrescentam que existe um grande interrelacionamento entre as estratégias
das empresas e o ambiente político. Além disto, as estratégias das firmas levam em conta a
aproximação com os políticos e os sistemas políticos para tentar influenciá-los. Quando uma
empresa escolhe uma estratégia de joint venture ou aquisição de uma empresa, ela busca
alianças ou maneiras de influenciar o ambiente político e os recursos que ela possa obter deste
relacionamento, confirmando que as empresas têm um comportamento ativo em relação ao
ambiente institucional.
18
Fukuyama (1995) observou que mesmo quando a transição institucional gera mais trocas de
mercado baseadas em regras, ela não irá erradicar completamente as negociações baseadas em
relacionamento. De fato, economias desenvolvidas, tais como França, Japão, Itália e Suécia
continuam apresentando características de redes baseadas em grupos de negócios.
Diante do exposto, Meyer (2009) afirma que arranjos institucionais fracos aumentam a
assimetria de informações, elevando os riscos de parcerias e a necessidade de se gastar mais
recursos em busca de informações. As joint ventures fornecem recursos tais como redes que
ajudam a contrapor idiossincrasias de instituições fracas. Em contrapartida, a necessidade de
parceiros diminui com o desenvolvimento das estruturas institucionais. O modo de entrada via
aquisição é sensível à eficiência de mercado, especialmente o financeiro, necessitando de
transparência e cumprimento de contratos. Estruturas institucionais subdesenvolvidas
dificultam o acesso a recursos via transações de mercado, inibindo a entrada via greenfield, e
aumentam os custos de adquirir uma firma. Por outro lado, as joint ventures fornecem
maneiras de acessar recursos locais em mercados cujas transações impessoais são difíceis.
Peng (2003) acrescenta que existem opiniões divergentes sobre qual a melhor estratégia, mas
que alguns autores relataram que redes informais se envolvem com corrupção burocrática e
que a construção de uma estrutura institucional formal é a melhor maneira para permitir que
as empresas tenham capacidade de competir baseadas em capacidade de mercado. O Quadro 1
sintetiza as teorias abordadas na revisão bibliográfica.
Visão Dimensões Tipos de Resposta Estratégicas às InstituiçõesRestrições formais ConformidadeRestrições informais Aceitação Política
Maneiras pelas quais as restrições são cumpridas
Obediência
regulatória ResistênciaNormativa Manipulação políticaCognitiva/Cultural Controle
Econômica
Sociológica
Passiva
Ativa
Transições institucionais
Quadro 1 – Resumo das teorias abordadas na Revisão Bibliográfica
19
3 METODOLOGIA
A pesquisa proposta está baseada em um estudo de caso único. O objetivo deste capítulo é
apresentar a metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa, a estrutura do estudo
de caso proposto e os próximos passos.
3.1 APRESENTAÇÃO DA ESCOLHA METODOLÓGICA
O estudo de caso é uma pesquisa que pode ser utilizada para focar e entender a dinâmica
existente em um cenário criado pelo pesquisador. Yin (2005) afirma que o estudo de caso
pode ser utilizado como estratégia de pesquisa para contribuir com o conhecimento que temos
de fenômenos individuais, sociais, políticos, organizacionais e de grupos, dentre outros.
Nestas situações, utiliza-se esta metodologia devido ao desejo de se compreender fenômenos
sociais complexos.
Segundo Eisenhardt (1989), o estudo de caso tem como vantagens a narrativa histórica, o teste
e a validação empírica, que deriva de seu vínculo com a evidência empírica. Acrescenta-se a
isso, a independência de literaturas anteriores ou de observações empíricas passadas como é o
caso da pesquisa proposta neste trabalho. A autora também afirma, que esse tipo de
metodologia é altamente complementar à construção de teoria incremental da pesquisa
científica.
20
O método do estudo de caso, definido por Yin (2005), consiste em uma pesquisa empírica que
investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto na vida real, especificamente
quando as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não estão facilmente definidas. Além
disto, no estudo de caso, o pesquisador tem pouco ou nenhum controle sobre os eventos
comportamentais atuais.
Segundo Yin (2005), o estudo de caso permite que se retrate, rica e detalhadamente, eventos e
situações complexas. Eisenhardt (1989) acrescenta que o estudo de caso permite a
compreensão das dinâmicas envolvidas num evento único, neste caso, a dinâmica institucional
no setor brasileiro de E&P de petróleo. Para tal, são usadas fontes múltiplas de evidências,
informações e dados.
Utilizando a metodologia formulada por Yin (2005), selecionou-se a opção de estudo de caso
único por se pretender estudar o comportamento e evolução do objeto da pesquisa ao longo de
um período no tempo. Acrescenta-se que a escolha de um estudo de caso único possibilita
confirmar ou contestar as teorias existentes sobre o assunto em questão, podendo ser utilizado,
portanto, para verificar se as proposições de uma teoria são corretas ou se existe algum outro
conjunto mais relevante de explanações.
O presente estudo de caso foi desenvolvido baseado no processo proposto por Yin (2005) para
o desenvolvimento de teorias a partir de pesquisas de estudos de caso. Foram realizados
ajustes propostos por Costa e Campos Filho (2008) para analisar se a proposição de uma
teoria está correta.
21
3.2 DEFINIÇÃO DA QUESTÃO DE PESQUISA
O objetivo deste trabalho é analisar a influência das instituições na estratégia corporativa das
empresas de setor de P&G, e como é a dinâmica de relacionamento entre os empresários e as
instituições em um ambiente de transição institucional.
3.3 SELEÇÃO DO CASO
O objetivo deste estudo de caso é estudar a interferência do ambiente institucional na
estratégia corporativa no setor brasileiro de E&P de petróleo. Para isso, foram identificados os
fatores institucionais que influenciam a estratégia das empresas e que motivam as suas
reações. A unidade de análise utilizada foi a indústria de E&P de petróleo e o foco foi o inter-
relacionamento entre as empresas e as instituições que influenciam o setor, no período
compreendido entre a promulgação da ultima constituição brasileira de 1988 e 2010.
O setor de P&G foi escolhido, porque no período estabelecido acima passou por uma
mudança regulatória, e atualmente está vivendo novamente esta situação, pois encontra-se no
Poder Legislativo brasileiro uma nova proposta regulatória para o setor.
3.4 LEVANTAMENTO DE DADOS
Yin (2005) ressalta a importância do uso da triangulação de métodos para a obtenção de dados
e fontes variadas para gerar conclusões mais robustas. Como fontes primárias de dados foram
utilizadas as entrevistas realizadas com os principais executivos das organizações públicas e
privadas selecionadas. As fontes secundárias foram obtidas por meio de: 1) artigos e relatórios
publicados sobre o setor de P&G brasileiro e internacional disponibilizados por agências de
energia brasileira e estrangeiras, e por organizações públicas e privadas; 2) leis, matérias e
artigos publicados sobre as mudanças institucionais brasileiras e sobre as mudanças no regime
22
jurídico-regulatório brasileiro para o setor de P&G desde 1995; e 3) bancos de dados,
relatórios e artigos sobre as instituições estrangeiras e sobre o setor de P&G internacional.
Também foram utilizadas publicações em mídia eletrônica, artigos e outras fontes disponíveis.
3.5 ELABORAÇÃO DO ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA A PESQUISA DE CAMPO
Após a leitura do material utilizado como referência, foram identificados os fatores ligados ao
relacionamento entre as instituições e organizações que são importantes para as escolhas
estratégicas das empresas e conseqüentemente para o desempenho destas.
As perguntas do roteiro de pesquisa foram formuladas, visando analisar a existência e a
influência dos fatores críticos apontados pelas teorias sobre a influência das mudanças
institucionais no âmbito do setor brasileiro de P&G. Inicialmente foi aplicado um protótipo do
questionário com dois executivos não relacionados à pesquisa, com a finalidade de testar a
clareza do mesmo.
Utilizou-se um roteiro com questões abertas, segundo as recomendações de Bardin (2007) e
Yin (2005) para a preparação e condução das entrevistas. O roteiro resultante está no
Apêndice A.
3.6 PESQUISA DE CAMPO
No desenvolvimento da pesquisa de campo foram realizadas entrevistas com os principais
executivos (presidentes, diretores e superintendentes) de empresas da cadeia do setor
brasileiro de P&G e com pessoas do primeiro escalão de organizações públicas com
influência direta no setor, além de órgãos de classe e sindicatos.
23
Estas entrevistas foram realizadas entre dezembro de 2009 e abril de 2010. Os entrevistados
têm influência direta na estratégia das empresas ou têm influência institucional no setor.
Durante a pesquisa de campo foram entrevistados 16 profissionais: 7 presidentes, 6 diretores e
3 gerentes executivos. A lista das empresas e instituições em que estes profissionais trabalham
encontra-se no anexo B. As entrevistas foram realizadas pessoalmente pelo pesquisador, que
utilizou o roteiro desenvolvido como guia. Com a finalidade de facilitar a interação com o
entrevistado e melhorar a análise das respostas, as entrevistas foram gravadas em mídia MP3
e transcritas posteriormente com a prévia concordância dos entrevistados. Cada entrevista
durou, em média, cerca de 100 minutos. Todos os questionários transcritos serão anexados
nos arquivos do autor, desde que com a devida validação e autorização do entrevistado.
3.7 ANÁLISE DOS DADOS E CONVERGÊNCIA DE EVIDÊNCIAS
Para o processo de análise de dados usou-se a técnica de análise de conteúdo, que Bardin
(2007) descreve como um conjunto de técnicas de análise de comunicações que visa obter,
através de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,
indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às
condições de produção ou recepção destas mensagens.
Bardin (2007) sugere ainda que as diferentes fases da análise de conteúdo devem ser
organizadas em torno de três fases cronológicas: 1) a pré-análise; 2) a exploração do material;
e 3) o tratamento dos resultados obtidos e a interpretação.
Segundo Bardin (2007), o tratamento dos resultados e a conseqüente interpretação dos
mesmos devem ser significativos e válidos. Os analistas, tendo a sua disposição resultados
significativos e fiéis, podem assim propor inferências e adiantar interpretações a propósito dos
24
objetivos previstos ou que digam respeito a outras descobertas inesperadas. Na análise dos
resultados e interpretação, foram realizadas inferências estatísticas e interpretações das
respostas obtidas.
Por se tratar de um estudo de caso único, Yin (2005) recomenda que sejam utilizados dados
de fontes múltiplas tais como, dados obtidos de entrevistas, referências bibliográficas,
registros de arquivos, séries temporais dentre outras para que se permita fazer a convergência
das evidências coletadas. O resultado é o estudo de caso, que encontra-se no capítulo 4.
3.8 LIMITAÇÕES DA METODOLOGIA
Yin (2005) recomenda, que independentemente do estudo de caso, os pesquisadores devem
ter muito cuidado no planejamento e realização dos estudos visando evitar as principais
críticas à metodologia, tais como falta de rigor, influência do investigador, pouca base para
generalizações e demandar muito tempo para conclusão do estudo de caso. Desta forma, o
autor alerta que o pesquisador não pode ser negligente e deve seguir procedimentos
sistemáticos, não aceitando como conseqüência evidências equivocadas ou visões
tendenciosas.
Conforme recomendado por Yin (2005), procurou-se reduzir ao máximo os vieses através do
cruzamento dos resultados obtidos nas análises de conteúdo das entrevistas com o maior
número possível de informações e dados para a realização da convergência das evidências.
Uma grande dificuldade encontrada pelo pesquisador foi a pequena quantidade de pessoas
entrevistadas no presente estudo de casos, fator esse essencialmente vinculado à
disponibilidade dos administradores em participar do processo de entrevistas.
25
4 AMBIENTE INSTITUCIONAL BRASILEIRO: IMPACTO NAS ESTR ATÉGIAS DO SETOR DE PETRÓLEO E GÁS
O objetivo deste capítulo é apresentar o estudo de caso sobre o impacto das instituições
brasileiras nas estratégias das empresas do setor de P&G. Este capítulo apresenta um
panorama das principais mudanças institucionais recentes do Brasil e descreve a situação e o
funcionamento do setor de E&P de P&G mundial. Ele descreve a história das mudanças
institucionais relativas ao setor de P&G brasileiro desde 1995 e suas conseqüências, além de
relatar as principais mudanças no marco jurídico-regulatório que estão sendo propostas pelo
Governo Federal.
4.1 BRASIL E SEU AMBIENTE INSTITUCIONAL: EVOLUÇÃO, SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVAS
No início da década de 1970, a economia brasileira apresentava um crescimento econômico
acelerado e foi atingida pelo choque do petróleo. A necessidade de legitimação de um regime
autoritário estatizante por meio do sucesso econômico de curto prazo suscitou uma
substituição pesada de importações, financiada por uma forte acumulação de dívida externa
baseada em uma dependência financeira internacional profunda dos petrodólares. Na
economia doméstica, o estabelecimento da indexação salarial acompanhou a abertura do
regime militar que foi iniciada pelo general Geisel (1974-1979). A forte demanda doméstica e
a indexação de preços e salários levaram a dívida externa e a inflação doméstica a
aumentarem. A deterioração continuada do cenário internacional forçou o País a declarar
26
moratória nas suas obrigações externas em 1982 e conseqüentemente reestruturar a sua dívida
externa (BACHA; BONELLI, 2005).
Segundo os autores acima, a crise financeira do início da década de 1980 foi fundamental para
o término do regime militar no país. O retorno do regime democrático em 1985 ocorreu em
ambiente de alto endividamento externo e inflação em alta. Para tentar modificar este cenário,
o governo do Presidente Sarney (1985-1989) implantou três planos sucessivos de
estabilização econômica que interromperam temporariamente a correção monetária da dívida
interna. Em 1987, ele declarou moratória unilateral da dívida externa. Posteriormente, houve
uma moratória da dívida interna, constituída pelo congelamento por um ano de praticamente
todos os ativos financeiros domésticos no início do governo Collor (1990-1992).
Desta forma, a crise da década de 1980 que afetou o Brasil teve como causa fundamental uma
crise fiscal e de intervenção nos setores econômicos e sociais, além de uma crise burocrática
de administração do Estado. De acordo com Pereira (1998), pressupõe-se que é papel do
Estado garantir a ordem interna, a estabilidade da moeda e o gerenciamento do mercado, além
de garantir a coordenação econômica.
A inflação foi controlada,em 1994, por meio da implantação do Plano Real, e o Presidente
Cardoso (1995-2002) decidiu encerrar o modelo estatizante de substituição de importações
que prevaleceu no regime militar. Porém, uma política fiscal fraca e a grande dependência de
um câmbio fixo (ancorado por altas taxas reais de juros) não estimularam as exportações nem
o investimento privado, o que impediu uma retomada sustentada do crescimento econômico.
Depois da crise cambial de janeiro de 1999, foi adotado um tripé de política macroeconômica
baseado em um elevado superávit fiscal primário, política monetária de metas de inflação e
taxa de câmbio flutuante. As reformas estruturais do governo Cardoso conseguiram reduzir o
27
custo do capital, enquanto aumentavam o grau de utilização da capacidade sem gerar inflação.
O Presidente Lula, em seus primeiros anos de governo, manteve intacto o tripé de política
macroeconômica de 1999 e continuou a realizar as reformas necessárias sobre a Constituição
de 1988 para permitir o crescimento sustentável da economia (BACHA; BONELLI, 2005).
Desde 1988, quando foi promulgada a última constituição brasileira, motivada principalmente
pelo fim do regime militar, o Brasil tem passado por um período de: 1) desenvolvimento da
estabilidade macroeconômica; 2) liberalização e abertura da economia; 3) redução da pobreza
e da desigualdade social; 4) consolidação da democracia; 5) independência do judiciário,
dentre outras melhorias. Estas reformas vêm permitindo a criação de um ambiente propício
para o crescimento econômico no longo prazo.
No entanto, para Pereira (1998) a maior mudança institucional brasileira foi a implantação de
um regime democrático, porque ele é um regime que tem condições de garantir a estabilidade
política e o desenvolvimento econômico sustentado. Desta forma, a reconstrução do Estado,
na década de 1990, permitiu que ele pudesse realizar não apenas suas tarefas básicas de
garantidor de propriedade e dos contratos, mas também sua função de garantidor dos direitos
sociais e de promotor da competitividade do País. Esta década também foi caracterizada pela
reforma administrativa, que abrangeu a privatização de empresas e serviços públicos, além da
criação de agências reguladoras.
Apesar das reformas realizadas até o momento, o país continua em um processo de transição
institucional, revelado pela quantidade de problemas que continuam existindo, tais como
dívida pública alta, rigidez do mercado de trabalho, desigualdade social e o baixo nível de
confiança dos cidadãos nos políticos (MIA, 2009).
28
Além dos problemas acima, que não permitem um impulso maior ao crescimento brasileiro,
existe ainda a necessidade da reforma tributária e regulatória. Em 2009, o Brasil foi
ranqueado na 56° colocação no índice de competitividade global (CGI – Competitive Global
Index) elaborado por Schwab (2009), sendo que no ranking institucional aparece apenas como
o 93° colocado entre 133 países pesquisados. O CGI é baseado em uma estrutura
metodológica que permite classificar as instituições, políticas e fatores, determinando o nível
de produtividade de um país, baseados em 12 itens macro e microeconômicos, dentre eles o
grau de desenvolvimento institucional. O indicador de competitividade institucional foi
calculado baseado em indicadores que englobam as instituições públicas e privadas dos países
pesquisados. Os itens que foram pesquisados para compor o índice e a classificação do Brasil
em cada um deles encontram-se no Quadro 2.
Indicadores Colocação 1 Direito de propriedade 70° 2 Proteção a Propriedade Intelectual 91° 3 Desvio de recursos público 121° 4 Confiança pública nos políticos 127° 5 Independência Jurídica 78° 6 Favorecimento nas decisões de oficiais de governos 74° 7 Gastos governamentais esbanjadores 129° 8 Sobrecarga de regulação governamental 132° 9 Eficiência da estrutura legal em disputas jurídicas 95° 10 Eficiência do quadro jurídico em impugnar recursos 81° 11 Transparência das políticas governamentais 96° 12 Influência do terrorismo nos custos dos negócios 5° 13 Custos dos Negócios devido a crimes e violência 118° 14 Crime Organizado 111° 15 Confiança nos serviços da polícia 89° 16 Comportamento ético das empresas 95° 17 Confiança nos padrões de auditoria e relatórios 70° 18 Eficácia das diretorias corporativas 58° 19 Proteção aos interesses dos investidores minoritários 59° Colocação geral 93°
Quadro 2 – Indicadores que Compõe o Índice de Competitividade Institucional
Fonte: Schwab (2009)
29
Conforme pode ser observado, paralelamente às reformas institucionais brasileiras, o fluxo de
investimento estrangeiro direto nos últimos 20 anos está aumentando significativamente,
segundo dados do Banco Central do Brasil (2010), colocando o Brasil na segunda posição
entre os países em desenvolvimento na captação destes recursos, ficando apenas atrás da
China. Um dos grandes motivadores para esta atração foi a promulgação da Constituição de
1988, que equiparou o tratamento dado ao capital de empresas estrangeiras com investimento
direto no Brasil ao das empresas nacionais. No Gráfico 1, pode-se observar a evolução dos
investimentos estrangeiros diretos nos últimos anos e a participação percentual anual do setor
de P&G nestes investimentos.
0,00%
1,00%
2,00%
3,00%
4,00%
5,00%
6,00%
7,00%
8,00%
9,00%
10,00%
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
35.000
40.000
45.000
50.000
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
US$
(m
ilhõ
es)
Gráfico 1 – Evolução Anual do Investimento Estrangeiro Direto
Fonte: Banco Central do Brasil (2010)
Segundo Mia (2009), os fatores por trás deste destaque brasileiro são seu grande mercado em
expansão, acesso a recursos naturais abundantes e a abertura relativa à entrada de
investimentos estrangeiros diretos. Por outro lado, foram identificados obstáculos substanciais
para o aumento do fluxo de investimentos diretos, tais como baixa eficiência governamental.
30
O modo de entrada no mercado brasileiro depende especificamente de cada indústria. Nos
setores de petróleo, mineração, financeiro e telecomunicações as empresas transnacionais
expandiram suas atividades primordialmente através de fusões e aquisições e nos demais
setores, a expansão se deu através primordialmente da implantação de novos projetos
(greenfields) no período de 2003 a 2008 (MIA, 2009).
Carneiro (2008) afirma que as reformas em governos democráticos têm que ser
exaustivamente negociadas, uma vez que a opinião pública tem grande interesse nas decisões.
Além disto, a falta de experiência administrativa de muitos políticos acaba acarretando na
falta de preocupação no desenvolvimento de um Estado eficiente. Outro ponto importante
ressaltado e o clientelismo político que aumenta após os períodos autoritários, gerando
barreiras ao aperfeiçoamento da administração pública.
Dentre os principais problemas institucionais brasileiros pode-se citar a consolidação recente
do direito de propriedade, sobreposição de agências reguladoras, modificações freqüentes na
legislação que se refere aos investimentos públicos e privados, instituições políticas frágeis e
mão-de-obra com pouca instrução educacional (MIA, 2009).
4.2 EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO NO MUNDO
O Estado é o principal agente no setor de energia, ele é responsável pela taxação, regulação e
subsídios e em determinadas situações ele participa, distribui e comercializa esse insumo. A
energia é o fator mais importante para a economia e a sociedade e esse mercado apresenta
diversas falhas reconhecidas. A operação de um mercado energético, como o de petróleo, sem
a presença do Estado seria impossível (BICALHO, 2007).
31
Segundo o ranking publicado pela Forbes (2010), das 20 maiores empresas de capital aberto
em receita no mundo, 9 eram petrolíferas. Pelas características que esta indústria apresenta em
termos de lucratividade e importância estratégica, a presença do Estado sempre foi um
elemento importante para o seu desenvolvimento (COUTINHO; FERRAZ, 1993). Ele se
manifesta tanto no controle e fiscalização, como no seu fomento através do apoio a
implantação de empresas próprias ou de terceiros em países exportadores ou importadores de
petróleo, além de coordenar políticas industriais e tecnológicas específicas de interesse para o
setor.
Coutinho e Ferraz (1993) afirmam que o petróleo é uma commodity internacional, devido a
sua distribuição desigual pelo mundo. Enquanto vastos recursos economicamente
aproveitáveis se localizam em regiões de baixa demanda, outras, intensamente
industrializadas, sofrem as conseqüências por não possuí-las. Os desdobramentos geopolíticos
desse desequilíbrio natural têm sido uma constante fonte de incertezas e riscos para esta
atividade. Os países que detém importantes reservas ou contam com amplo mercado
consumidor são aqueles que oferecem as maiores oportunidades para o seu desenvolvimento.
Esses dois fatores moldam o perfil das companhias atuantes no setor: as dos países
consumidores (EUA, Europa Ocidental e Japão) e a dos países exportadores (OPEP e países
do Terceiro Mundo).
Os principais segmentos da indústria do petróleo são, à montante, E&P (upstream), e, à
jusante, transporte, refino e distribuição (downstream). Esta indústria apresenta forte
concentração, justificada pelas características técnicas e econômicas da cadeia que necessita
de forte aporte de capital para financiar os investimentos; suporte financeiro para apoiar os
investimentos de alto risco para exploração; e economias de escala para sustentar uma
atividade que possui altos custos fixos. Portanto, o porte é o principal fator para a
32
competitividade das International Oil Companies2 (IOCs) e das National Oil Companies3
(NOCs).
Em toda história da indústria do petróleo jamais prevaleceu um sistema eminentemente
concorrencial. As grandes empresas do setor atingiram o porte e a projeção atual através de
concentração e da proteção do Estado e, depois, pelo processo de cartelização. Mais
recentemente, com a criação da OPEP, cresceu a importância dos países produtores e de suas
companhias nacionais. Essas, atualmente, passam por um processo de verticalização e
internacionalização. Em termos gerais, o mercado vem evoluindo da cartelização para a
oligopolização (COUTINHO; FERRAZ, 1993).
Como já afirmado pelos autores acima, um dos fatores de maior influência na indústria do
petróleo é o geopolítico. Tanto é assim, que, em 2008, os países produtores filiados à OPEP,
com 76% das reservas de petróleo do mundo, eram responsáveis por cerca de 45% da
produção. A instabilidade regional e as freqüentes intervenções no mercado praticadas por
essa organização desde o primeiro choque do petróleo, em 1973, levou a uma bem sucedida
política de diversificação das fontes de suprimento, principalmente por parte dos países
pertencentes à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que
aumentaram muito pouco seu consumo de petróleo neste período, conforme pode ser
observado no Gráfico 2.
2 A EIA (2009a), define as IOCs como companhias petrolíferas internacionais pertencentes a investidores. O objetivo principal dessas empresas é maximizar o retorno do acionista. Elas buscam desenvolver e produzir rapidamente o petróleo para a qual obtém acesso e vender a sua produção em mercados competitivos. 3 Existem dois tipos diferentes de NOCs (companhias nacionais de petróleo), o primeiro abrange empresas com autonomia estratégica e operacional que atuam como pessoas jurídicas, incluindo a Petrobras (Brasil) e Statoil (Noruega), e que buscam o equilíbrio entre o lucro e os objetivos de seu país para o desenvolvimento de sua estratégia corporativa. Embora estas empresas possam oferecer suporte aos objetivos de seu país, elas são entidades com fins lucrativos. O segundo tipo abrange as empresas que operam como uma extensão do governo, tais como a Saudi Aramco (Arábia Saudita), a Pemex (México) e a PDVSA (Venezuela), e apóiam os seus programas de governo, quer financeiramente ou estrategicamente. Estas empresas não têm sempre o incentivo, os meios, ou a intenção de desenvolver as suas reservas provadas no mesmo ritmo que as empresas comerciais. Devido à diversidade de situações e objetivos dos governos dos seus países, essas empresas petrolíferas nacionais exercem uma grande variedade de objetivos que não são necessariamente orientados para o mercado.
33
-
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
19
73
19
74
19
75
19
76
19
77
19
78
19
79
19
80
19
81
19
82
19
83
19
84
19
851
986
19
87
19
88
19
89
19
90
19
91
19
92
19
93
19
94
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
002
001
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
20
07
20
08
mil
hõ
es
ba
rril
/dia
OCDE Ex URSS Outros Emergentes
Gráfico 2 – Evolução Anual do Consumo Mundial de Petróleo
Fonte: BP (2009)
No Gráfico 3 pode-se observar a queda de participação do petróleo na matriz energética
mundial a partir de 1983, apesar do crescimento absoluto de sua produção.
Gráfico 3 – Consumo Mundial de Energia Primária (milhões de toneladas de óleo equivalente)
Fonte: BP (2009)
Segundo a Energy Information Administration - EIA (2009b), China e Índia são os países de
mais rápido crescimento no mundo e terão grande importância como consumidores no
Carvão Hidroeletricidade Energia Nuclear Gás Natural Petróleo
34
mercado de energia no futuro. Em 2006, estes dois países já consumiam cerca de 19% da
energia primária mundial. Caso este crescimento continue se mantendo, em 2030, a EIA
(2009b) projeta uma participação de 30% neste mercado.
A indústria upstream avalia de forma comparativa, os diversos países que competem pelos
seus investimentos. É importante ressaltar que a atratividade das oportunidades abrange
diversas dimensões, que são analisadas conjuntamente. Um ponto importante de análise é o
risco país, ou seja, os riscos associados a rupturas macroeconômicas, que não é específico
apenas ao setor do petróleo. Outros pontos importantes para análise são os riscos regulatórios
do setor de petróleo, os incentivos dados para investimento nos país, estrutura fiscal, potencial
geológico e potencial de mercado (ALMEIDA; ARAÚJO, 2007).
A situação política no Oriente Médio e a insegurança do mercado frente à dependência do
petróleo da OPEP incentivaram o redirecionamento dos investimentos internacionais em E&P
de petróleo em países em desenvolvimento não pertencentes a esta organização por parte das
empresas que atuam internacionalmente. Da mesma maneira, os países importadores de
petróleo, também passaram a investir para diminuir a dependência externa dessa fonte de
energia. A estratégia foi bem sucedida, refletindo-se na expansão das reservas nos países em
desenvolvimento a ela não alinhados, mesmo assim, a OPEP aumentou a sua participação nas
reservas mundiais para 76,0%, em 2008, conforme pode ser observado no Gráfico 4.
35
0,0%
20,0%
40,0%
60,0%
80,0%
100,0%
-
300,0
600,0
900,0
1.200,0
1.500,0
198
0
198
1
198
2
198
3
198
4
198
5
198
6
198
7
198
8
198
9
199
0
199
1
199
2
199
3
199
4
199
5
199
6
199
7
199
8
199
9
200
0
200
1
200
2
200
3
200
4
200
5
200
6
200
7
200
8
bil
hõ
es
de
ba
rris
Opep Ex URSS Demais países %OPEP
Gráfico 4 – Reservas Mundiais de Petróleo
Fonte: BP (2009)
O enfoque dado à exploração que se seguiu aos choques do petróleo levou a expansão das
reservas dos países em desenvolvimento. Esses detêm, atualmente, a maior parte das reservas
provadas de petróleo, quase 93% do total mundial, contra os 7% à disposição dos países
desenvolvidos, membros da OCDE. Desses 93%, mais de 81% concentram-se em países
pertencentes a OPEP. Somente os países do Oriente Médio detêm cerca de 59,9% das reservas
mundiais, enquanto as reservas dos países oriundos da extinta URSS representam 10,2% das
reservas.
A partir do primeiro choque do petróleo foram incentivadas, a nível mundial, políticas para
conter o consumo energético, obrigando a OPEP a impor quotas inferiores à capacidade de
produção de seus filiados para tentar manter os preços. Tal política resultou no recuo de sua
participação na produção mundial de 50%, no início dos anos 70, para 35% em meados da
década de 1980. No entanto, pode-se observar no Gráfico 5, que a partir da década de 1990,
em função dos baixos preços internacionais do petróleo e do grande crescimento dos países
emergentes, principalmente China e Índia, houve um aumento considerável na demanda,
36
levando à uma recuperação da produção dos países da OPEP. Daí em diante, observa-se uma
recuperação da posição da organização no mercado produtor de petróleo, hoje ao redor dos
45%. O resultado da realocação de investimentos foi a elevação da participação na produção
mundial dos países em desenvolvimento não alinhados à OPEP de 21,7% para 32,7%, entre
1973 e 2008, conforme ilustrado no Gráfico 5.
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
-
15,0
30,0
45,0
60,0
75,0
90,0
19
73
19
74
19
75
19
76
19
77
19
78
19
79
19
80
19
81
19
82
19
83
19
84
19
85
19
86
19
87
19
88
19
89
19
90
19
91
19
92
19
93
19
94
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
20
07
20
08
mil
hõ
es
ba
rris
/dia
OPEP Países em desenvolvimento fora da OPEP OCDE % OPEP % Países em desenvolvimento fora da OPEP
Gráfico 5 – Evolução Anual da Produção Mundial de Petróleo
Fonte: BP (2009)
Atualmente, a região do Mar do Norte (que inclui a produção offshore da Noruega, Reino
Unido, Holanda e Alemanha) vem apresentando declínio em sua produção e diminuição das
perspectivas de novas descobertas capazes de compensar esta redução. Todos os países desta
região têm planos de continuar estimulando investimentos e provendo acesso irrestrito à
exploração nesta área. Em situação contrária, a EIA (2009b) mapeou diversos problemas
institucionais em países com grandes reservas de petróleo, alinhados ou não com a OPEP, que
influenciam a decisão de investimentos, conforme a seguir.
• A Venezuela e o México possuem legislações que restringem a propriedade de
hidrocarbonetos por empresas estrangeiras. Essa nacionalização de recursos
37
desencorajou investimentos domésticos e estrangeiros e inibiu a habilidade destes
países em aumentar, ou mesmo manter os níveis de produção históricos;
• Em relação ao Iraque, a EIA (2009b) acredita que os investimentos que estão sendo
realizados em infraestrutura e nos sistemas político e legal irão permitir um aumento
nas atividades de E&P de petróleo no país;
• A Rússia e o Cazaquistão estão localizados em uma região cheia de disputas
territoriais, bloqueios de transporte, mudanças contratuais e intervenções políticas. A
EIA (2009b) acredita que a produção de petróleo russa irá declinar no curto prazo,
devido à uma mudança na legislação tributária que gerou prejuízo para as companhias
petrolíferas, desincentivando os investimentos em E&P. O Cazaquistão tem um
histórico recente de quebra de contratos para forçar a renegociação dos retornos dos
investimentos, além de possuir problemas para o escoamento de sua produção, fatos
que desestimulam o investimento neste país;
• Os investimentos em E&P no Irã não estão limitados apenas pelas restrições
internacionais impostas, mas pela eficácia das operações de sua NOC e as dificuldades
encontradas pelo seu governos e os investidores estrangeiros em estabelecer termos de
contratos razoáveis.
Segundo Coutinho e Ferraz (1993), a perda de controle das IOCs sobre a produção de petróleo
expôs essas empresas, de certa forma, ao mercado. A estratégia utilizada para permanecerem
no topo do ranking mundial foi centrada na grande capacidade de atuar internacionalmente,
na disponibilidade de mobilização de recursos financeiros e na implementação da capacitação
tecnológica viabilizando a produção offshore, que tem permitido a expansão das reservas
mundiais. A situação de estabilidade, entretanto, mostra-se frágil devido à distribuição
geográfica das reservas de petróleo e da continuada insistência, dos países produtores filiados
38
à OPEP, em controlar preços via limitação da produção. De qualquer maneira, as IOCs
continuam a perder espaço no mercado internacional, detendo, em 2009, 48% da produção e
apenas 14% do direito de propriedade do petróleo mundial, sendo que destes, quase metade é
em partilha com as NOCs, conforme Gráfico 6.
65%12%
15%
8%
Reservas de Empresas Estatais (Acesso Limitado)
Reservas Detidas por Empresas Estatais e Acesso das Empresas Privadas por meio de Participação
Reservas Detidas por Empresas Russas
Reservas de Acesso Livre as Empresas Privadas
Gráfico 6 – Controle das Reservas Mundiais de Petróleo
Fonte: EIA (2009c)
Segundo informações da EIA (2009a), atualmente existe uma mudança estrutural em
andamento nas empresas do setor. Enquanto as IOCs continuam perdendo espaço no setor, as
NOCs de países em desenvolvimento, como do Brasil, China, Arábia Saudita, Rússia e mais
recentemente da Índia têm aumentado suas atividades internacionais. A nova postura dessas
empresas é condizente com a implementação de uma política de integração das suas
atividades, seja buscando reservas para abastecer seus países de origem ou para integrar as
atividades à jusante, fator decisivo para garantir o escoamento e a valorização da produção de
seus países em mercados consumidores.
A existência de uma indústria petrolífera forte em um país com escassas reservas é importante
para assegurar o abastecimento do mercado interno. Para isto pode-se recorrer a diversos tipos
de contratos, como os de riscos ou as joint ventures com empresas nacionais de países
exportadores. Em países com potencial significativo de reservas a presença de uma indústria
39
petrolífera robusta é ainda mais importante, porque a produção de petróleo é geralmente
rentável e pode propiciar ao país capacitação tecnológica. Pode-se destacar a Noruega, que
através da empresa nacional Statoil, fomentou uma indústria petroleira e para-petroleira
dinâmica (COUTINHO; FERRAZ, 1993).
A capacitação tecnológica também é um fator relevante de competitividade das empresas do
setor bem como para a inserção no mercado mundial. Atualmente, elas buscam novas
oportunidades por meio de aperfeiçoamento de tecnologia para exploração em águas
profundas e de investimentos para a localização e desenvolvimento de reservas em regiões
politicamente estáveis (fora do domínio da OPEP). Preços elevados para o petróleo permitem
o desenvolvimento de projetos caros, tecnicamente difíceis e de alto risco (EIA, 2009b).
Nos últimos anos, os preços internacionais de petróleo se deslocaram para cima. Em 2008, o
preço do petróleo superou seus picos históricos, atingindo os US$ 140/barril, passando agora
por uma rápida redução, para um patamar em torno de US$ 75/barril. O nível atual de preços
favorece o segmento de exploração de petróleo offshore, cujos investimentos e custos de
exploração são historicamente superiores aos dos campos terrestres. Apesar dos campos
localizados no Mar do Norte terem entrado em fase de declínio de produção, novas regiões
nas costas da África, Leste Asiático e do Brasil apresentam perspectivas favoráveis de
investimento e produção. Esses investimentos têm impactado diretamente a demanda por
serviços e bens de capital tais como equipamentos submarinos (subsea), sistemas de produção
offshore (plataformas) e navios (petroleiros e embarcações de apoio).
A indústria petrolífera necessita de fornecedores especializados (indústria de bens de capital e
serviços industriais), cadeia denominada de indústria para-petroleira. Essa indústria é
constituída por empresas especializadas em nichos determinados do mercado e que
40
necessitam de maiores inversões em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Essa indústria foi
inicialmente estabelecida em alguns países desenvolvidos, como nos Estados Unidos, Reino
Unido e Noruega. O primeiro choque do petróleo foi o fator mais importante para o
estabelecimento desta indústria, quando os investimentos em P&D cresceram
significativamente para viabilizar tecnologias que não possuíam viabilidade financeira, como
a exploração offshore. Nessa época, a indústria para-petroleira passou por um boom, dando
suporte para que fossem viabilizados campos petrolíferos em países em desenvolvimento fora
da OPEP, além da expansão das atividades no Mar do Norte e no Golfo do México (BAIN &
COMPANY E TOZZINIFREIRE ADVOGADOS, 2009). No Brasil, nessa época, o
direcionamento dos investimentos da Petrobrás para águas profundas permitiu o surgimento
de uma indústria para-petroleira, ainda em fase de desenvolvimento, devido à grande
necessidade de equipamentos (plataformas e sistemas de apoio) por parte da indústria do
petróleo nacional.
4.3 EXPLORAÇÃO E PRODUÇÃO DE PETRÓLEO NO BRASIL
Segundo Coutinho e Ferraz (1993), somente com a crise do petróleo dos anos 70 e a
identificação de bacias petrolíferas offshore, as empresas estrangeiras manifestaram o
interesse pela exploração de petróleo no Brasil. Abriu-se, então, o país aos contratos de risco,
única flexibilização introduzida no monopólio exercido pela Petrobrás, desde 1953. No
entanto, os investimentos estrangeiros não alcançaram a ordem de grandeza esperada. Os
resultados das pesquisas realizadas pelas empresas estrangeiras contribuíram pouco para o
aumento das reservas nacionais de petróleo.
O monopólio da União sobre as atividades upstream e downstream de P&G, que era realizado
exclusivamente por intermédio da Petrobras, foi flexibilizado através de um processo de
41
revisão constitucional em 1995, que permitiu que a União pudesse contratar com empresas
estatais privadas a execução dessas atividades. Logo depois foi aprovada a Lei n° 9.478/97
que criou a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para
permitir o estabelecimento das regras do relacionamento entre a União e as companhias de
petróleo nas atividades petrolíferas, órgão regulador da indústria, vinculado ao Ministério das
Minas e Energia (MME). A partir deste momento, a ANP passou a realizar periodicamente
rodadas de licitação para exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás natural
para a outorga do direito de exercício dessas atividades no setor de P&G. Esta mesma Lei,
também criou o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), responsável pela
proposição ao Presidente da República de políticas nacionais para energia (BRASIL, 1997).
Segundo a Bain & Company e TozziniFreire Advogados (2009), em abril de 2008, 72 grupos
econômicos, sendo 36 empresas de origem brasileira, incluindo a Petrobras e 36 de outros 19
países, tais como Angola, Canadá, Cingapura, Estados Unidos e Holanda, atuavam no Brasil
em atividades de E&P de P&G em empreendimentos de pequeno e grande porte. No período
de 1997 a 2008, que corresponde ao período do regime atual regulatório para o setor, as
reservas provadas brasileiras passaram de 7,1 bilhões para 12,8 bilhões de barris de petróleo e
de gás natural saíram de 228 bilhões de m3 para 364,2 bilhões de m3.
Além disto, a ANP (2009) relata que nos 66 campos em desenvolvimento existentes em
dezembro de 2008, a Petrobras tinha a concessão sozinha de 41 destes campos e participava
de 15 parcerias. Com relação aos 291 campos em produção em 31/12/2008, a Petrobras não
participava de apenas 34 e outros 10 campos eram parcerias entre esta empresa e outras
concessionárias. Os demais campos produtores, ou seja, 247 eram concessões à Petrobras,
sem parcerias.
42
De acordo com Alveal e Canelas (2007), até 1995, o estoque de capital fixo externo no país
em E&P de petróleo não passava de 0,17% do valor total, basicamente devido à participação
estrangeira nos setores fornecedores de bens e serviços para as atividades de E&P da
Petrobras no Brasil. Esta situação apresenta uma grande mudança a partir de 1997, quando o
investimento estrangeiro direto no setor de E&P passa a ter maior contribuição sobre o
investimento estrangeiro direto total apresentando um crescimento considerável, conforme
demonstrado no Gráfico 1. Apesar disso, a Petrobras ainda é a líder absoluta no mercado
brasileiro, tendo sido responsável por cerca de 95% da produção de petróleo brasileira. O
Quadro 3 mostra a evolução dos investimentos no setor de E&P brasileiro.
Quadro 3 – Evolução dos Resultados das Rodadas de Licitações da ANP
Fonte: ANP (2009)
Segundo a Bain & Company e TozziniFreire Advogados (2009), em novembro de 2007, o
CNPE, anunciou as avaliações preliminares sobre as reservas de Tupi, localizada na bacia de
Santos. As estimativas preliminares eram de que a reserva possuía 4 bilhões de barris de óleo
equivalente (BOE) recuperáveis, mas estudos mais precisos indicaram que esta descoberta
contém pelo menos 8 bilhões de BOE recuperáveis. O anúncio desta reserva foi seguido por
uma serie de declarações sobre a possível existência de grandes reservas de P&G em uma
nova área exploratória denominada camada de pré-sal. Esta denominação deve-se ao fato
43
destas reservas estarem localizadas abaixo de uma espessa camada de sal, a aproximadamente
6 mil metros de profundidade. Segundo declarações da Petrobras, a região de pré-sal pode
conter mais petróleo. Segundo informações do Portal Exame (2008) existem estimas que as
reservas nacionais recuperáveis possam atingir o patamar de 80 bilhões de BOE.
De acordo com informações do Centro de Regulação e Efetividade (2010), em virtude dessas
descobertas significativas, o CNPE decidiu cancelar a oferta de 41 blocos, que encontram-se
na área do pré-sal, da 9° rodada de licitação. A justificativa apresentada pelo Conselho foi a
de que o tamanho das reservas mudaria o patamar do Brasil na participação mundial de E&P
de P&G, e que seria necessária a realização de estudos detalhados para avaliar a necessidade
de mudanças no marco regulatório brasileiro atual antes de novas licitações na área do pré-sal.
Segundo o estudo realizado pela Bain & Company e TozziniFreire Advogados (2009), os três
principais regimes jurídico-regulatórios adotados por países produtores de P&G são a
concessão, o contrato de partilha da produção (Production Sharing Contracts – PSC) e o
contrato de serviços. Além desses três, existe ainda o regime de joint venture, que é pouco
utilizado. Em alguns países, pode-se encontrar mais de um destes regimes jurídico-
regulatórios. Geralmente, isso acontece quando há E&P de P&G em áreas com características
muito distintas dentro do mesmo país, ou podem estar relacionados a questões políticas ou
econômicas, quando uma nação decide utilizar um regime diferente para novas áreas
outorgadas. A seguir temos uma breve descrição de cada regime jurídico-regulatorio.
1. Concessão – neste regime, o Estado concede a uma ou mais oil companies (OCs)
nacionais ou estrangeiras a exclusividade na exploração e produção de petróleo e gás,
por sua conta e risco, em uma determinada área. Neste caso, as OCs se tornam
proprietárias da produção, respeitando as regras do contrato e as legislações locais. O
Estado atua como agente regulador e fiscalizador, e normalmente não participa da
44
atividade de E&P de P&G, sendo remunerado através de seu sistema de impostos e
cobrança de royalties.
2. Partilha da produção (PSC) – neste caso é firmado um contrato entre o Estado,
normalmente através de sua estatal petrolífera (NOC) e uma OC, sendo que o primeiro
contribui com a área a ser explorada e a OC realiza a atividade de E&P por sua conta e
risco. Caso sejam descobertas reservas comercializáveis, a OC recebe parte do
petróleo como compensação para recuperar os custos incorridos e os investimentos
realizados na exploração, desenvolvimento e produção, conforme definido
contratualmente. O petróleo remanescente corresponde à parcela da produção que será
partilhada entre o Estado e a OC. Uma característica importante, é que neste tipo de
regime o Estado participa diretamente das atividades de E&P, geralmente através de
sua NOC, podendo atuar como operador ou não, e que a propriedade do petróleo ou
gás extraído permanece sendo do Estado, que, geralemnte, não é remunerado por meio
de royalties e tributos pelas OCs.
3. Contrato de Serviços – esse regime é adotado nos Estados onde o direito de explorar e
produzir petróleo é atribuído exclusivamente a NOC, não prevendo outorga às OCs.
Nesses países as OCs não têm acesso às atividades de E&P e conseqüentemente às
reservas de hidrocarboneto. Nesse caso, as OCs contratadas não correm qualquer risco
na exploração das jazidas e elas são remuneradas pelos seus serviços,
independentemente da descoberta de reservas.
4. Joint venture – este regime consiste na formação de uma sociedade com propósito
específico, não havendo contratos de concessão ou partilha. As joint ventures são
utilizadas em países onde as NOCs são atuantes na E&P, e detêm o direito de realizar
essas atividades.
45
A Bain & Company e TozziniFreire Advogados (2009) acrescenta que o regime de concessão
costuma ser utilizado em países desenvolvidos, que fazem parte da OCDE, ou em países em
desenvolvimento que possuem ambiente institucional relativamente estável, tais como Brasil,
Argentina, Colômbia e Rússia. Nesses países, o regime vem sofrendo constantemente
adaptações para atender as suas particularidades. Por outro lado, os contratos de partilha de
produção possuem mais autonomia, permitindo maior estabilidade contratual e segurança
jurídica, uma vez que eles permitem a adoção de sistemas tributários específicos para as
atividades de E&P de P&G. Desta maneira, estes contratos possuem regras de tributação
claras, autônomas e independentes em relação aos demais sistemas fiscais do País, tornando-o
comumente utilizado para atrair investimentos em países com quadros institucionais instáveis.
De uma forma geral as OCs preferem esses modelos por se sentirem mais protegidas, dados
os riscos de instabilidade política, falta de transparência e incerteza jurídica do Estado
hospedeiro. Os contratos de serviços e as joint ventures são sistemas utilizados em casos e
contextos isolados.
Por sua vez, a Petrobras (2010a) afirma que o sistema de partilha costuma ser usado por
países com grandes reservas e baixo risco exploratório e que cerca de 80% das reservas
mundiais estão em países que adotam este modelo ou sistemas mistos, que misturam
características de mais de um modelo. No Quadro 4, pode-se observar a listagem dos países
detentores das maiores reservas mundiais, o regime jurídico regulatório adotados por eles e a
colocação no ranking mundial para o índice de desenvolvimento institucional e de direito de
propriedade.
46
País
Reservas
(bilhões de
barris)
Produção
(milhões
barris/dia)
Regime
Adotado
Direito de
Propriedade
Indice
institucional
Arabia Saudita 264 10.846 Serviços 37 32
Irã 138 4.325 Serviços - -
Iraque 115 2.423 Serviços - -
Kuwait 102 2.784 Serviços 45 51
Venezuela 99 2.566 Jonit Venture 132 133
Emirados Árabes Unidos 98 2.980 Concessão 34 15
Rússia 79 9.886 Concessão 121 114
Líbia 44 1.846 Partilha 93 67
Cazaquistão 40 1.554 Partilha 103 86
Nigéria 36 2.170 Partilha 91 102
EUA 31 6.736 Concessão 30 34
Canadá 29 3.238 Concessão 12 17
Catar 27 1.378 Concessão 16 9
China 16 3.795 Partilha 39 48
Angola 14 1.875 Partilha - -
Brasil 13 1.899 Concessão 70 93
Argélia 12 1.993 Partilha 120 115
México 12 3.157 Serviços 86 98
Noruega 8 2.544 Concessão 10 7
Azerbaijão 7 914 Partilha 80 55
Total 1.181 68.909
Total Mundo 1.258 81.820
Quadro 4 – Lista dos Países Detentores das Maiores Reservas de Petróleo e suas Respectivas Produção, Ranking Institucional e Características Contratuais
Fonte: Schwab (2009), BP (2009), Bain & Company e a TozziniFreire Advogados (2009)
Segundo Bresciani (2010) e Veja.com (2009), atualmente, encontram-se em tramitação no
Senado brasileiro quatro projetos de leis propostos pelo Governo Federal e aprovados pelo
Congresso Nacional, em março de 2010, que visam estabelecer um novo marco regulatório
para a E&P de P&G na camada do pré-sal, que incluem a criação de uma nova empresa
estatal e vantagens para a Petrobras. Os principais pontos do projeto encontram-se a seguir.
• Instituição do contrato de partilha da produção para as áreas do pré-sal. O regime de
concessão utilizado atualmente na E&P de petróleo será válido apenas para as áreas já
licitadas do pré-sal. O Governo justifica que a mudança é necessária pelo fato do pré-
sal ser uma das maiores reservas de hidrocarbonetos do mundo;
47
• A Petrobras será a operadora de todos os blocos que serão explorados na camada do
pré-sal. A União poderá contratar a Petrobras para produzir e explorar áreas no pré-sal
ou realizar licitações para selecionar empresas privadas. De qualquer forma, terá uma
fatia mínima de 30% em cada bloco. Com o objetivo de aumentar a capacidade de
investimento da estatal, a União vai ceder à empresa o direito de explorar até 5 bilhões
de barris de óleo na camada do pré-sal. concomitantemente, a estatal realizará um
aumento de capital, em que os recursos captados no mercado serão usados para saldar
a dívida com o Estado brasileiro pela concessão da exploração do petróleo cedido.
• Criação de uma estatal, denominada Pré-Sal S.A., vinculada ao Ministério de Minas e
Energia, que representará a União e será responsável pela autorização das licitações
relativas à exploração da camada do pré-sal. A estatal, não realizará atividades
operacionais nem fará investimentos, mas terá presença nos comitês que definirão as
atividades dos consórcios, com poder de veto nas decisões.
• A criação do Novo Fundo Social (NFS) com os recursos obtidos pela União com a
renda do Petróleo, que realizará investimentos no Brasil e no exterior. Uma das
finalidades do fundo será financiar a cadeia de fornecedores e bens de serviço.
A Petrobras (2010a) justifica que o ambiente para a exploração de petróleo, em 1997, quando
foi instituída a lei atual de E&P, era totalmente diferente do atual. Naquela época, o Brasil e a
Petrobras estavam inseridos em um ambiente de instabilidade econômica, e o preço do
petróleo era baixo (US$ 19/barril). Além disso, os blocos possuíam alto risco exploratório,
perspectiva de baixa rentabilidade e o Brasil era um grande importador de petróleo. O marco
regulatório que instaurou o sistema de concessão foi criado, à época, para possibilitar retorno
às empresas que assumissem esse alto risco.
48
Segundo a Petrobras (2010a), o cenário atual que justificaria a mudança do regime jurídico-
regulatório para a E&P na camada do pré-sal está baseado na estabilidade econômica
alcançada pelo Brasil e na descoberta de uma das maiores províncias petrolíferas do mundo
em um momento em que o petróleo está cotado acima de US$ 70,00/barril. A Empresa
acrescenta, que pelos testes realizados, sabe-se que o risco exploratório é baixo e a
produtividade é alta nas descobertas localizadas na camada pré-sal. Além disso, credita-se que
a Petrobras tem elevada capacidade tecnológica e uma grande capacidade de captação de
recursos para atuar no pré-sal. A Petrobras (2010a) complementa ainda que com o regime de
partilha, o governo pretende obter maior controle da exploração de P&G e fazer com que os
recursos obtidos sejam utilizados de maneira mais equânime para a sociedade brasileira.
Devido ao aumento de volumes de investimentos a partir de 1997, houve um boom na
indústria para-petroleira brasileira, principalmente na demanda por estruturas para exploração
e produção offshore. Cabe destacar que, no período 2011-2014, o Plano de Investimentos da
Petrobras prevê investimentos de R$ 265 bilhões, dos quais R$ 163,2 bilhões em exploração
de petróleo no Brasil (PETROBRAS, 2010b).
Coutinho e Ferraz (1993) afirmam que esta é uma indústria intensiva em mão-de-obra e
extremamente incentivada ao redor do mundo. Furtado (2007) relata que para aumentar a
competitividade da indústria brasileira, que compete com equipamentos importados
totalmente isentos de impostos, o Governo Federal criou o REPETRO, que é um regime
aduaneiro especial de exportação e posterior importação de bens que visa a reduzir a carga
fiscal sobre os investimentos para pesquisa e lavra de campos de petróleo e gás natural,
onshore e offshore. Segundo Furtado (2007), outra medida importante adotada com a
finalidade de estimular a indústria para-petroleira nacional foi a decisão da ANP incorporar
49
nos critérios para a seleção dos leilões de áreas de exploração índices de nacionalização. A
evolução destes índices e do resultado de todas as licitações encontra-se no Quadro 3.
Com a mesma finalidade acima, o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de
Petróleo e Gás Natural (Prominp), coordenado pelo MME, foi criado com o objetivo de
maximizar a participação da indústria nacional de bens e serviços, em bases competitivas e
sustentáveis, na implantação de projetos de P&G no Brasil e no exterior. O Prominp conta
com a participação do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC), da
Petrobras, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do
Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) e da Organização Nacional da Indústria do Petróleo
(ONIP). Participam, também, a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e diversas
associações de classe do setor de P&G (PROMINP, 2010a).
A principal função do Prominp é a estruturação de suas ações a partir das necessidades de
bens e serviços associadas aos investimentos do setor de P&G. O Prominp identifica os
gargalos relacionados à qualificação profissional, infraestrutura industrial e fornecimento de
materiais, equipamentos e componentes. Entre suas atribuições está a coordenação da seleção
dos candidatos e do treinamento dos mesmos. A Petrobras é a principal financiadora deste
plano de qualificação, aportando recursos previstos para investimentos em P&D,
estabelecidos nos contratos de concessão, cuja aplicação em qualificação profissional foi
aprovada pela ANP. Além da Petrobras, o plano recebe recursos do Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE) e do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) (PROMINP, 2010b).
Até março de 2010, o Prominp já havia formado 78 mil profissionais qualificados. Além
desses profissionais, a execução do Plano de Negócios da Petrobras para o período 2009-2013
50
irá demandar a qualificação de mais 207 mil pessoas para o atendimento dos
empreendimentos previstos para esse período.
51
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo são apresentados os resultados das entrevistas com os executivos das empresas
selecionadas e a relação desses resultados obtidos com as transições institucionais, além das
discussões dos resultados.
5.1 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Como explicado na metodologia, foi realizada a convergência das evidências pela tabulação
das respostas do questionário, buscando categorizar os temas da questão central da pesquisa.
Nas citações a seguir, os entrevistados são identificados pelas seguintes categorias: (P)
presidente; (D) diretor; e (GE) gerente executivo.
O primeiro item do questionário refere-se ao fator que levou as empresas a investir na cadeia
do setor de E&P de petróleo. A resposta unanime dos respondentes foi que o principal fator
que leva as empresas a investir na cadeia de E&P de petróleo em qualquer lugar do mundo é a
atratividade do setor e a grande oportunidade de crescimento.
Quanto ao papel das instituições brasileiras na decisão de investimento neste setor, a
totalidade dos respondentes que representam as empresas, excetuando-se as empresas estatais,
observou que as instituições não interferiram diretamente na decisão de investimento no setor.
52
Por outro lado, todos os respondentes que representam a indústria de E&P e dois entrevistados
de organizações do Governo, que juntos representam 6/16 da amostra, disseram que a quebra
do monopólio para a E&P de P&G no Brasil em 1997, a criação da ANP e regras claras foram
o fator primordial para o aumento dos investimentos deste setor. Para o segmento da indústria
para-petroleira, 11/16 dos entrevistados citam que os programas, desonerações e projetos que
estão sendo realizados pelas instituições governamentais são importantes para a decisão de
investimento dos participantes desta indústria.
Sobre as instituições brasileiras (item 2), todos os respondentes vêem melhorias,
principalmente ligadas à manutenção da democracia, transparência das instituições e
desenvolvimento de regras claras, conforme observado nas declarações a seguir.
O processo de construção de instituições não é um processo que pode ser acelerado com
tanta facilidade, ele é um processo que toma um certo tempo. Então o que eu acredito é o
seguinte: que o Brasil tem instituições de qualidade, tem um marco legal, tem segurança
jurídica, tem uma tradição jurídica, tem um sistema institucional muito bem organizado.
Claro, que comparativamente com outros países em desenvolvimento eu reputaria como
de boa qualidade. Agora, o que nós estamos assistindo é uma transição de sistemas
institucionais onde a função da regulação pública feita através de agências relativamente
novas criou uma certa insuficiência ou até momentos de vácuo e tal. (P7).
Eu acho que as instituições funcionam, a população brasileira sabe o que está
acontecendo. Há uma transparência. Nós estamos vivendo em uma época que eu quero
acreditar que a gente continue evoluindo, sem ufanismo, com bases sólidas e instituições
estruturadas. (D2).
A respeito de como as instituições brasileiras interferem na performance das empresas, os
entrevistados citaram diversas áreas institucionais que interferem nos seus resultados e que
53
ainda precisam de melhoras na seguinte ordem: (1) diminuição da corrupção (8/16); (2)
diminuição da burocracia (7/16); (3) reforma das legislações tributária e trabalhista apontadas
cada uma por 6/16 dos entrevistados; (4) melhora do sistema jurídico (5/16); e (5)
desenvolvimento do sistema financeiro (4/16).
Em relação a apoios explícitos das instituições para as empresas do setor de E&P de petróleo,
tais como subsídios (item 4), 7/16 dos respondentes disseram que são contra, 6/16 disseram
que são a favor e 3/16 não tinham uma opinião definida. As declarações a seguir demonstram
esta divisão de opiniões.
Pode até ser, mas tem que ser muito bem identificados e tem que se utilizar um horizonte
de metas, e serem identificados conforme alguns fatores estratégicos e com muita
transparência, se não tiver transparência absoluta, qualquer sistema dessa natureza não é
benéfico. (P3).
Eu não acho que o caminho seja o subsídio, o caminho é permitir que a indústria seja
mais competitiva, auxiliando nos processos de tecnologia, processos de fabricação, não
vemos subsídio como mecanismo de solução de problemas, talvez até em curto prazo,
médio prazo, mas em longo prazo, não. (P4).
Para 14/16 dos respondentes, a mudança do marco jurídico-regulatório do setor brasileiro de
E&P de petróleo (item 5) não preocupa o investidor estrangeiro. Os seguintes comentários são
bastante representativos em relação ao assunto.
A coisa principal de qualquer mudança é a segurança jurídica dos contratos já existentes.
Qualquer governo é soberano para decidir o que é melhor para o seu país e para o seu
povo. Então, o governo brasileiro tem todo o direito de resolver alterar as regras do jogo.
Qualquer alteração na base contratual dos direitos segurados anteriormente, isso sim
seria um risco. (D6).
54
A alteração de ambientes macroeconômicos, se eles forem dentro dos limites do
razoável, sempre se adaptam e estão acostumadas a fazer isso no mundo inteiro. Então,
reformas, adaptações, modernizações, adequações, isso faz parte do processo evolutivo
da humanidade, agora se forem atos revolucionários, aí essas mudanças radicais, em
geral, não fazem parte do portfólio das empresas. (P3).
Sobre a questão de saber se os empresários têm dificuldade em se adaptar aos costumes e à
cultura dos brasileiros (item 6), 15/16 dos entrevistados disseram que não percebem isso,
conforme pode ser notado na seguinte afirmação.
Eu acho que o Brasil tem uma tradição de flexibilidade e adaptabilidade do ponto de
vista cultural, a propensão do trabalhador brasileiro ao aprendizado é muito alta, a busca
de aprendizado, [...] ,além do fato que nós temos uma maior abertura a compreensão de
paradigmas e maior flexibilidade cultural, eu acho isso tudo positivo no ponto de vista de
atração dos investimentos estrangeiros. (P7).
Por outro lado temos a seguinte afirmação de outro entrevistado.
A indústria do petróleo é globalizada, não tem a menor dificuldade em tratar dessas
questões e se envolver com diferentes povos e realidades culturais, se adapta com
facilidade e isso acontece tanto no Brasil como em qualquer lugar do mundo. (P3).
Sobre os riscos ao direito de propriedade e à proteção aos direitos dos investidores (item 7),
todos os respondentes afirmaram que os riscos são mínimos, conforme observado nas
transcrições parciais a seguir.
Eu acho que toda empresa quando vai para qualquer lugar do mundo, em todo lugar tem
riscos de oportunidade, não é? Não existe lugar no mundo que tenha só oportunidade [...]
Então eu acho que quem está na chuva é para se molhar, mas todo mundo faz a sua
55
análise, pegando todas as informações possíveis, através de bancos, de mercado de
capitais. (D1).
Sempre que você tem uma ruptura de regras institucionais e adoção de novo modelo
você sempre cria uma defasagem de aprendizado institucional que momentaneamente
gera algum tipo de desconforto, mas eu não vejo isso como sendo um fator. O que é
fundamental no sistema é o respeito às normas jurídicas, segurança básica institucional,
que o País tem de sobra, a maturidade política, que o País tem, e as condições objetivas
de atratividade e de rentabilidade esperada para o seu capital que é um driver
importantíssimo. (P7).
Para 11/16 dos respondentes as instituições brasileiras são impessoais (item 8), mas para dois
destes respondentes as instituições brasileiras são impessoais no setor de E&P de petróleo,
mas que para o cidadão elas são informais (pessoais), como pode ser observado no comentário
a seguir.
Depende da instituição, no setor de E&P de petróleo, são formais, [...] mas em nível
cidadão, [...] a capacidade sua de identificar planos B ou rotas de fuga de determinados
problemas que você está enfrentando e normalmente isto está associado a um poder
econômico ou financeiro capaz de fazer você ter alguém estudando o assunto para você
perceber estas alternativas. Isso acaba existindo e isso acaba tendo a conseqüência de um
tratamento desigual pra problemas provavelmente iguais. (GE2).
Em relação aos marcos regulatórios (item 9), a totalidade dos respondentes afirmou que eles
melhoraram, o que pode ser ilustrado pela transcrição parcial a seguir.
Eu acho que o país se desenvolveu bastante nos últimos anos e já atingiu um grau de
desenvolvimento muito bom, tanto que atualmente o País atrai atenção de toda a
comunidade internacional e de muitas empresas multinacionais e investidores
internacionais interessados em investir no país. Mas eu acho que é importantíssimo que
56
esse marco esteja sempre em evolução, porque não basta criar o marco, as leis e o
ambiente em um primeiro momento e acomodar. (D3).
Em relação aos marcos normativos (item 10), a totalidade dos respondentes afirmou que eles
melhoraram, mas um comentário merece destaque.
Uma das coisas que talvez esteja na origem desse processo todo é a questão cultural, é o
problema da penalidade, se você transgredir nas penalidades, acabou. Não tem como [...]
vai-se criando um sistema atrás do outro para controlar, e não se controla nada porque
não se aplica penalidade, essa é uma diferença grande entre o anglo-saxão e o latino, nós
temos pena de todos e quando se transgride fica por isso mesmo, não tem sistema que
consiga funcionar [...]. (P3).
Em relação à legitimidade de suas ações junto aos stakeholders (item 11), 12/16 dos
respondentes observaram que isto é muito importante. Novamente, um comentário merece
destaque.
Tem um benefício muito maior do que o custo, que é você ter as pessoas integradas e
parceiras no teu projeto [...] essa transparência, essa forma de relacionamento ostensivo
que a gente tem com os stakeholders nos ajudam a termos visibilidade para poder buscar
as soluções que a gente precisa. (P5).
Cabe ressaltar, que 11/16 dos respondentes destacaram espontaneamente que as associações
de classe (associações comerciais, grupos lobistas, ações de comitês políticos) têm um papel
fundamental para obter os ganhos potenciais de uma mudança política.
Destaca-se também que 10/16 dos entrevistados também falaram sobre parcerias entre
empresas nacionais e estrangeiras como forma de atrair empresas que possuem tecnologia.
57
Outro fator que merece destaque é que 9/16 dos respondentes chamaram a atenção para o fato
de que a indústria de E&P de petróleo sofre muito menos influência institucional dos países
do que a indústria para-petroleira.
5.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os resultados da pesquisa e os dados secundários permitem identificar que as instituições
brasileiras estão em transição, desde a promulgação da Constituição de 1988 e que a cadeia do
setor de E&P de petróleo foi bastante influenciada pelo fim do monopólio, em 1997, e por
estas transições institucionais.
Esta influencia é evidenciada pelo aumento do investimento estrangeiro direto no Brasil,
principalmente no setor de P&G, e no aumento do volume de investimentos nas licitações
realizadas pela ANP. Além disto, a transição institucional brasileira é evidenciada pela
resposta unânime dos entrevistados em relação à melhora dos marcos regulatórios e
normativos brasileiros, mas com a ressalva de que existem diversas instituições que
necessitam de melhorias conforme constatado na pesquisa: (1) diminuição da corrupção
(8/16); (2) diminuição da burocracia (7/16); (3) reforma das legislações tributária e trabalhista
apontadas cada uma por 6/16 dos entrevistados; (4) melhora do sistema jurídico (5/16); e (5)
desenvolvimento do sistema financeiro (4/16).
Também foi constatado que ainda se nota uma informalidade nas instituições brasileiras,
conforme 6/16 dos respondentes, fato que é evidenciado pela colocação institucional
brasileira, dentro do CGI. De acordo com os conceitos de Peng (2003), isso demonstra que as
instituições brasileiras estão mudando gradualmente de transações baseadas em
relacionamento para transações baseadas em regras.
58
Observando-se os resultados, é possível constatar que as empresas brasileiras e estrangeiras
detentoras de tecnologia buscam parcerias entre si para investir no Brasil. Os resultados
refletem a falta de habilidade das empresas nacionais em possuir todos os recursos necessários
para realizarem seus investimentos sozinhas dentro do atual cenário institucional brasileiro,
fato que encontra respaldo na proposição de Peng e Heath (1996). Por outro lado, Mia (2009)
constata que as empresas estrangeiras do setor de P&G entraram primordialmente no Brasil
por meio de fusões e aquisições no período de 2003 a 2008, o que está alinhado com as
afirmações de Meyer et al (2009) de que um nível alto de desenvolvimento institucional pode
reduzir a necessidade em se estabelecer joint ventures, facilitando o modo de entrada via
aquisição ou greenfield.
Sobre o direito de propriedade, os entrevistados declararam que não percebem grandes riscos
e que apesar das mudanças jurídico-regulatórias para o setor brasileiro de E&P de petróleo, os
contratos estabelecidos foram mantidos, além disso, as instituições brasileiras tem um
histórico longo de respeito à contratos. Estes resultados estão em linha com as proposições de
Djankov et al (2003) e North (1994), que argumentam que o direito de propriedade e fazer
cumprir os contratos são essenciais para o desenvolvimento da indústria nacional e para as
decisões de investimentos empresariais. Também verificou-se que as empresas brasileiras são
influenciadas positivamente pela cultura brasileira, que se adapta facilmente às necessidades
das empresas, conforme afirmado por 15/16 dos entrevistados, legitimando as atividades
empresariais, de acordo com as propostas de Scott (1994) e Dacin et al (2007).
Durante a análise dos resultados constatou-se que 11/16 dos respondentes destacaram de
forma espontânea que as associações de classe têm um papel fundamental nas negociações
entre as organizações e as instituições, e que as mesmas são utilizadas para aumentar a
capacidade de negociação das empresas. De acordo com as considerações de Oliver (1991) e
59
North (1994, 2009), muitas desonerações e estímulos, para a cadeia da indústria de E&P,
foram apoiados diretamente por essas associações, que são utilizadas para defender de forma
ativa os interesses das organizações perante as instituições. Corroborando as proposições de
Jackson e Deeg (2008) de que as instituições não devem ser vistas apenas como restrições e
sim como um recurso para resolver os problemas de coordenação econômica.
Os governos tentam controlar os recursos referentes à indústria de P&G, devido à sua grande
relevância na economia. Desta maneira, as organizações buscam a legitimidade de seus atos
perante seus stakeholders, conforme constatado por 12/16 dos respondentes, cabe lembrar que
este é um setor de grandes investimentos e conseqüentemente de grandes impactos na
sociedade, que está em linha com os princípios estabelecidos por Scott (1994) e Dacin et al
(2007). Na maioria das vezes esta legitimidade não é espontânea, mas sim através de
cumprimento de regras e normas.
Através dos resultados da pesquisa e dos dados secundário, observou-se uma característica
importante na cadeia de E&P de petróleo. As empresas de E&P e as para-petroleiras são
influenciadas pelas instituições de forma diferente. A indústria para-petroleira brasileira tem
obtido diversos benefícios governamentais para fomentar o seu desenvolvimento, que
comprova que a as instituições brasileiras estão tendo grande influência nas decisões
estratégicas das empresas, conforme as proposições de North (2009) e Hitt et al (2000) sobre
a influência das instituições nas decisões estratégicas das empresas.
Sobre a indústria de E&P de petróleo, constatou-se que este setor não é afetado por ambientes
institucionais instáveis. Deve-se lembrar que o fator geopolítico tem grande importância para
o desenvolvimento de novas reservas petrolíferas para as grandes empresas deste setor, além
de necessitarem de altíssimos investimentos para os seus planos de expansão. Desta forma, as
60
grandes empresas deste setor, as IOCs e as NOCs, investem regularmente em regiões que têm
historicamente problemas institucionais, que não são considerados uma barreira de entrada
importante, estando em desacordo com as proposições de Hitt et al (2004). Tanto as NOCs,
como as IOCs estão buscando reservas para abastecer seus países de origem ou para aumentar
a sua participação neste mercado. Os administradores desta indústria fazem uma análise de
risco e oportunidade sobre todos os países e o fator institucional é apenas um dentre muitos a
serem analisados. Como comentado por um dos respondentes, esta é uma indústria
globalizada, cujo objetivo é buscar petróleo onde potencialmente ele possa existir. Portanto,
não estando de acordo com os princípios de Hitt et al (2000) e North (2009), que propõe que
as diferenças institucionais entre países influenciam as estratégias das empresas, e de Peng
(2003), que propõe que as restrições informais têm um papel importante nas trocas
econômicas nos países emergentes durante transições institucionais.
61
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devido ao grande volume de investimento que será necessário para a E&P de petróleo na
camada de pré-sal e a proposta de mudança do marco jurídico-regulatório para este setor, que
se encontra em tramitação no Senado brasileiro, obteve-se uma situação ímpar para que
pesquisadores e administradores possam observar como as instituições interferem nas
decisões estratégicas das empresas deste setor no Brasil
Desta maneira, a presente dissertação objetivou examinar a influência das instituições
brasileiras, que encontram-se em transição, sobre as decisões estratégicas da cadeia de E&P
de petróleo brasileira, baseado no institucionalismo sociológico de Scott (1994) e econômico
de North (1994, 2009) e na proposição das transições institucionais de Peng (2003). Deve ser
alertado que os resultados são limitados, devido ao método utilizado de estudo de caso.
Os resultados encontrados permitiram identificar que as instituições brasileiras encontram-se
em fase de transição desde a promulgação da Constituição de 1988, e estão evoluindo de um
ambiente de transações baseadas em relacionamento para um ambiente baseado em regras,
corroborando os estudos de Peng (2003). Neste sentido, pode-se observar que o principal fator
institucional que permitiu o aumento do investimento estrangeiro direto na indústria de E&P
de petróleo no Brasil foi a queda do monopólio da Petrobras, em 1997, associada à criação de
uma agência reguladora e regras claras, fatos este ligados à dimensão regulatória. Ao mesmo
62
tempo, os respondentes apontaram diversos fatores institucionais, tais como burocracia e
corrupção, que têm influenciado a performance da indústria para-petroleira.
Os estudos também revelaram que as organizações instaladas no Brasil, reagem de maneira
ativa às mudanças institucionais e que utilizam organizações intermediárias (associações) para
defender seus interesses, conforme proposto por Oliver (1991) e North (1994, 2009). Além
disto, foi constatado que as empresas procuram a legitimidade ou aprovação de seus atos,
espontaneamente ou através de regras estabelecidas pelas instituições, conforme a proposição
de Scott (1994) e Dacin et al (2007). Desta maneira, os gestores têm papel fundamental para
entender como as associações de classe funcionam e identificar de forma clara e objetiva
quais os problemas comuns ao setor para que eles sejam defendidos junto às instituições.
Apesar das mudanças em andamento para o marco jurídico-regulatório do setor de E&P e as
que foram realizadas em 1997, os resultados confirmam a proposições de North (1994) e
Djankov et al (2003), sobre a necessidade da manutenção do direito de propriedade e a
segurança jurídica. Pode-se concluir que a confiança dos investidores nas instituições
brasileiras se manteve apesar destas mudanças.
A indústria para-petroleira necessita de um ambiente institucional que motive o seu
desenvolvimento, através dos recursos disponíveis dentro de um país. Desta maneira, o acesso
a centros de pesquisa e institutos educacionais, fontes de financiamento e disponibilidade de
mão-de-obra especializada são recursos que são supridos pelas instituições e que afetam
diretamente a estratégia de investimento das empresas. Neste caso os gestores devem estar
atentos para todas as dimensões da teoria institucional, independentemente da vertente
sociológica ou econômica.
63
A indústria de E&P de P&G atua globalmente e está sujeita a fatores geopolíticos. Cabe
destacar que a maior parte das reservas e da produção mundial de petróleo encontra-se em
países de baixo desenvolvimento institucional. Devido à sua necessidade de reposição de
reservas e grandes investimentos para se manter, as IOCs e as NOCs estudam os seus projetos
de forma global e exploram todos os fatores de risco e oportunidades embutidos em um
projeto de E&P para cada país, e o fator institucional não parece ser o mais relevante para esta
indústria, conforme relatado pelas entrevistas e pelos dados secundários. Neste sentido, as
premissas de Hitt et al (2000) e North (2009), que propõe que as diferenças institucionais
entre países influenciam as estratégias das empresas, não se aplicam para esta indústria. Além
disto, as restrições informais não têm um papel importante para as trocas econômicas deste
setor durante as transições institucionais, opondo-se a proposição de Peng (2003).
Portanto os gerentes devem atentar que a dimensão regulatória tem muito mais importância,
do que a dimensão normativa e cognitiva/culturais na avaliação de uma estratégia de
investimento no setor de E&P de petróleo, diminuindo-se conseqüentemente a relevância das
instituições nas premissas de investimentos. Neste caso, a necessidade de reposição de
reservas de hidrocarbonetos das grandes empresas de petróleo, associada a grande capacidade
de investimento das mesmas, permite que elas possam correr o risco institucional de diversos
países e escolher a melhor maneira para que os contratos de E&P sejam cumpridos.
Apesar das instituições brasileiras estarem passando por uma fase de transição, as empresas
da cadeia do setor de E&P de petróleo se sentem confortáveis dentro deste ambiente, não
percebendo risco ao seu direito de propriedade. Por outro lado, a indústria para-petroleira
identifica diversos fatores institucionais que podem ser desenvolvidos para que o Brasil
aumente a atratividade desta indústria. As empresas perceberam que o principal direcionador
64
para a proposição de mudança do marco jurídico-regulatório atual é o desenvolvimento de um
modelo que possa gerar mais riqueza para o País sem desrespeitar os contratos em vigência.
Dentre as considerações finais, apontam-se como linhas de pesquisa a serem exploradas por
futuros trabalhos acadêmicos:
• O estudo sobre o impacto dos ambientes institucionais em outras indústrias de base ou
ligadas ao setor de commodities;
• O estudo comparativo entre a indústria de E&P de P&G e outras indústrias,
abrangendo as transições institucionais; e
• A repetição da pesquisa proposta nesta dissertação, após a implantação do novo
regime jurídico-regulatório que está em tramitação no Senado brasileiro para o setor
de E&P de P&G, para avaliar o impacto destas novas mudanças institucionais nas
estratégias das empresas deste setor.
65
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, E. F. DE; ARAÚJO, L. DOS R. Atratividade do Upstream da indústria de petróleo e gás brasileiros. In: BICALHO, R. G. (Org.). Ensaios sobre política energética: coletânea de artigos do boletim INFOPETRO. Rio de Janeiro: Interciência, 2007. p. 138-143.
ALVEAL, Carmen; CANELAS, André. Investimentos em exploração e produção de petróleo no Brasil após a abertura. In: BICALHO, R. G. (Org.). Ensaios sobre política energética: coletânea de artigos do boletim INFOPETRO. Rio de Janeiro: Interciência, 2007. p. 152-160.
ANP – AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS (Brasil). Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Rio de Janeiro, 2009.
BACHA, EDMAR L.; BONELLI, Regis. Uma interpretação das causas da desaceleração econômica do Brasil. Revista de Economia Política, v. 25, n. 3, p. 163-189, 2005.
BAIN & COMPANY E TOZZINIFREIRE ADVOGADOS. Estudos de alternativas regulatórias, institucionais e financeiras para a exploração e produção de petróleo e gás natural e para o desenvolvimento da cadeia produtiva de petróleo e gás natural no Brasil. São Paulo, jun. 2009.
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Investimento estrangeiro direto. Base de dados de 1950 a 2009. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?INVED>. Acesso em: 10 maio 2010.
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edições 70, abr. 2007.
BARNEY, Jay. Firm resources and sustained competitive advantage. Journal of Management, v. 17, n. 1, p. 99-120, 1991.
BAUM, Joel A. C.; OLIVER, Christine. Institutional Linkages and Organizational Mortality. Administrative Science Quarterly, v.36, p. 187-218, June 1991.
BICALHO, R. G. Política energética: abrangência, consistência, dilemas e desafios. In: BICALHO, R. G. (Org.). Ensaios sobre política energética: coletânea de artigos do boletim INFOPETRO. Rio de Janeiro: Interciência, 2007. p. 3-17.
66
BP. BP Statistical review of world energy 2009. Jun. 2009. Disponível em: <http://www.bp. com/liveassets/bp_internet/globalbp/globalbp_uk_english/reports_and_publications/statistical_energy_review_2008/STAGING/local_assets/2009_downloads/statistical_review_of_world_energy_full_report_2009.pdf>. Acesso em: 10 abr. 10.
BRASIL. Lei n° 9.478, de 6 de agosto de 1997. Dispõe sobre a política energética nacional, as atividades relativas ao monopólio do petróleo, institui o Conselho Nacional de Política Energética e a Agência Nacional do Petróleo e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Legislativo, Brasília, DF, 07 ago. 1997.
BRESCIANI, Eduardo. Câmara aprova emenda que divide royalties para Fundos de Participação. Globo.com. Brasília, 10 mar. 2010. Disponível em: < http://g1.globo.com/ Noticias/Politica/0,,MUL1524313-5601,00.html>. Acesso em: 02 abr. 2010.
BUSENITZ, L. W.; GOMEZ, C.; SPENCER, J. W. Country institutional profiles unlocking entrepreneurial phenomena. Academy of Management Journal, v. 43, n. 5, p. 994-1003, 2000.
CARNEIRO, J. G. P. Bases de uma reforma administrativa de Emergência. In: Fórum Nacional, 2008, Rio de Janeiro. Estudos e pesquisas... Rio de Janeiro INAE, 2008.
CENTRO DE REGULAÇÃO E EFETIVIDADE. ANP anuncia a exclusão da nona rodada de 41 blocos exploratórios. Disponível em: <http://cre.org.br/index.php?action=see-news&wneCode=24&language=por>. Acesso em: 30 abr. 2010.
COSTA, Ricardo G. P. da; CAMPOS FILHO, Luiz. A. N. Inter-organizational relationship management as a success factor for strategic alliances: a case study from the aviation industry. BAM , 2008.
COUTINHO, L. G.; FERRAZ, J. C. (Coord.). Estudo da competitividade da indústria brasileira: competitividade da indústria de extração e refino de petróleo, Campinas: Fundação Economia de Campinas – Fecamp, 1993.
DACIN, M. T.; OLIVER, C.; ROY, Jean-Paul. The legitimacy of strategic alliances: an institutional perspective. Strategic Management Journal, n. 28, p. 169-187, 2007.
DIELEMAN, Marleen; SACHS, Wladimir M. Coevolution of institutions and corporations in emerging economies: how the Salim group morphed into an institution of Suharto’s crony regime. Journal of Management Studies, 2008.
DJANKOV, S. et al. Courts. The Quarterly Journal of Economics, p. 453-517, May 2003.
DJANKOV, S. et al. The regulation of entry. The Quarterly Journal of Economics, p. 1-37, Feb. 2002.
DONALDSON, Thomas; PRESTON, Lee E. The stakeholder theory of the corporation: concepts, evidence, and implications. Academy of Management Review, v. 20, n. 1, p. 65-91, 1995.
EISENHARDT, K. M. Building theories from case study research. Academy of Management Review, v. 1, n. 4, p. 532-550, 1989.
67
EIA – ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION. Who are the major players supplying the world oil market? Jan. 2009a. Disponível em: <http://tonto.eia.doe.gov/ energy_in_brief/world_oil_market.cfm>. Acesso em 06 maio 2010.
EIA – ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION. International energy outlook 2009. Washington, may 2009b. Disponível em: <http://www.eia.doe.gov/oiaf/ieo/pdf/ 0484(2009).pdf>. Acesso em: 15 abr. 2010.
EIA – ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION. Meeting the World’s Demand for Liquid Fuels. Washington, Apr. 2009c. Disponível em: <http://www.eia.doe.gov/ conference/2009/session3/Sweetnam.pdf >. Acesso em: 15 abr. 2010.
FORBES.COM. The Forbes global 2000. Ranking das 2.000 maiores empresas do mundo. Disponível em: <http://www.forbes.com/lists/2010/18/global-2000-10_The-Global-2000_ Sales.html>. Acesso em: 10 maio 2010
FUKUYAMA, Francis. Trust : the social virtues and the creation of prosperity. New York: Free Press, 1995.
FURTADO, A. T. Mudança institucional e política industrial no setor de petróleo. In: BICALHO, R. G. (Org.). Ensaios sobre política energética: coletânea de artigos do boletim INFOPETRO. Rio de Janeiro: Interciência, 2007. p. 18-21.
HILL, C. W. L.; JONES, G. R. Strategic management theory: an integrated approach. 4. ed., Boston: Houghton Mifflin Company, 1998.
HITT, Michael A.; DACIN, M. T. Partner selection in emerging and developed market contexts: resource-based and organizational learning perspectives. Academic Management Journal, v. 443, p. 449-467, 2000.
HITT, Michael A. et al. The institutional effects on strategic alliance partner selection in transition economies: China vs. Russia. Organization Science, v. 15, n. 2, p. 173-185, 2004.
JACKSON, Gregory J.; DEEG, Richard. Comparing capitalism: understanding institutional diversity and its implications for international business. Journal of International Business Studies, v. 39, p. 540-561, 2008.
JOHNSON, Simon; MCMILLAN, John; WOODRUFF, Christopher. Courts and relational contracts. Journal of Law, Economics & Organization, v. 18, n. 1, p. 221-277, Apr. 2002.
KOSTOVA, Tatiana. Country institutional profiles: concept and measurement. Academy of Management Proceedings, p. 180-184, 1997.
MEYER, K. E. et al. Institutions, resources, and entry strategies in emerging economies. Strategic Management Journal, v. 30, p. 61-80, 2009.
MIA, I. et al (Ed.). The Brazil competitiveness report 2009. Geneva: World Economic Forum, 2009. Disponível em: <http://www.weforum.org/pdf/Global_Competitiveness_ Reports/Reports/Brazil/BrazilCompetitivenessReport2009.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2010.
NORTH, Douglass C. Institutions, institutional change and economic performance. 27th ed. New York: Cambridge University Press, 2009.
68
______. Economic performance through time. The American Economic Review, v. 84, n. 3, Jun. 1994.
OLIVER, Christine. Strategic responses to institutional processes. Academy of Management Review, v. 15, n. 1, p. 145-179, 1991.
______. The Antecedents of Deinstitutionalization. Organization Studies, v. 13, n. 4, p. 563-588, 1992.
______. Sustainable competitive advantage: combining institutional and resource-based views. Strategic Management Journal, v. 18:9, p. 697-713, 1997.
ORR, Ryan J.; SCOTT, W. Richard. Institutional exceptions on global projects: a process model. Journal of International Business Studies, v. 39, p. 562-588, Feb. 2008.
PEARCE, J. L.; CASTRO, J.O.; GUILLEN, M.F. Influencing politics and political systems: political systems and corporate strategies. Academy of Management Review, v. 33, n. 2, p. 493-495, 2008.
PENG, Mike W. Institutional transitions and strategic choices. Academy of Management Review, v. 28, n. 2, p. 275-290, 2003.
PENG, Mike W.; HEATH, Peggy S. The growth of the firm in planned economies in transition: institutions, organizations, and strategic choice. Academy of Management Review, v. 22, n. 2, p. 492-528, 1996.
PEREIRA, L. C. B. A Reforma do Estado nos anos 90: Lógica e Mecanismos de Controle. Lua Nova – Revista de Cultura Política, n.45, p.49-95, 1998.
PETROBRAS. Pré-sal. 2010a. Disponível em: <http://www.petrobras.com.br/minisite/presal/ pt/perguntas-respostas/>. Acesso em: 30 mar. 2010.
PETROBRAS. Divulgação de Resultados: 4º trimestre de 2009 e exercício de 2009 (legislação societária). 2010b. Disponível em: <http://www2.petrobras.com.br/ri/pdf/ APIMECs_4T09.pdf >. Acesso em: 30 mar. 2010.
PINTO, Murilo S.; OLIVEIRA, Rezilda R. Estratégias competitivas no setor elétrico brasileiro: uma analise dos interesses e expectativas dos atores da Chesf. RAC, Ed. Especial, p. 131-155, 2004.
PORTAL EXAME. 80 bilhões de barris no mar profundo. 23 dez. 2008. Disponível em: <http://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/Infra2008/especiais/80-bilhoes-barris-mar-profundo-410821.html>. Acesso em: 08 maio 2010.
PROMINP. Conheça o Prominp. Disponível em: <http://www.prominp.com.br/data/pages/ 8A954884253212CE01253227B9351D5E.htm>. Acesso em: 15 mar. 2010a.
PROMINP. Plano Nacional de Qualificação Profissional. Disponível em: <http://www. prominp.com.br/data/pages/8A954884253212CE012532298D19241C.htm#10;>. Acesso em: 15 mar. 2010b.
69
SCHWAB, KLAUS (Ed.). The global competitiveness report 2009-2010. Geneva: World Economic Forum, 2009. Disponível em: <http://www.weforum.org/pdf/GCR09/ GCR20092010fullreport.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2010.
SCOTT, W. R. Institutions and organizations. In: SCOTT, W. R.; MEYER, J. W. (Ed.). Institutional environments and organizations: structural complexity and individualism. Thousand Oaks, CA: Sage Publications, 1994.
TIHANYI, Laszlo; HEGARTY, W. Harvey. Political interests and the emergence of commercial banking in transition economies. Journal of Management Studies, 2007.
TONG, Tony W.; REUER, Jeffrey J.; PENG, Mike W. International joint ventures and the value of growth options. Academy of Management Journal, v. 51, n. 5, p. 1014-1029, 2008.
VEJA.COM. Projeto de lei para exploração do pré-sal. 03 set. 2009. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/economia/projeto-lei-exploracao-pre-sal-496296.shtml>. Acesso em: 15 abr. 2010.
YAMAKAWA, Y.; PENG, M. W.; DEEDS, D. L. What drives new ventures to internationalize from emerging to developed economies? Entrepreneurship: Theory & Practice, v.32, n.1, p. 59-82, 2008.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed., Porto Alegre: Bookman, 2005.
70
APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA
Nome:
Grupo:
Cargo:
Formação Acadêmica:
Experiência Profissional:
Data:
Hora:
Entrevistador 1:
Entrevistador 2:
1. Qual foi o fator que levou o grupo a investir no setor de P&G? E qual o papel do
governo nessa decisão?
2. Como vê as instituições brasileiras?
3. Como as instituições interferem na performance do grupo?
4. Ao seu ver subsídios são importantes para o desenvolvimento na indústria para-petroleira (estaleiros e bens de capital)?
5. Pode-se observar que existem muitas empresas multinacionais participando na cadeia brasileira de E&P, como eles vêem as mudanças jurídico-regulatórias para este setor?
6. As empresas vêem dificuldade de adaptação à cultura e aos costumes brasileiros?
7. Em relação à segurança no direito de propriedade ou de proteção aos investidores. Qual a sua preocupação em relação a isto?
8. As instituições brasileiras são pessoais (informais) ou impessoais? Você tem algum exemplo?
9. Em relação aos marcos regulatórios, tais como transparência política, regulação anti-trust, proteção à propriedade intelectual, eficiência do sistema judiciário, inflação,
71
política fiscal e dominância de mercado em industrias chave são marcos regulatórios, qual a sua opinião sobre a atual realidade brasileira?
10. Em relação aos marcos normativos, tais como resposta do sistema político para desafios econômicos, corrupção burocrática, atitudes governamentais direcionada a realidade econômica, transparência perante aos cidadãos, risco político, impedimentos burocráticos para o desenvolvimento econômico e a independência das autoridades locais são marcos normativos, qual a sua opinião sobre a atual realidade brasileira?
11. Como é a dinâmica de relacionamento entre as empresas e o suporte dos stakeholders para apoiar uma ação da mesma?
12. Existe algum ponto que você ache importante e que nós não abordamos nesta entrevista?
13. Você indicaria algum setor ou empresa para conversar do setor de P&G ou do Governo?
14. Depois de ler e aprovar o trabalho, posso citar o seu nome e o da sua organização?
72
APÊNDICE B - LISTA DE EMPRESAS ENTREVISTADAS
Empresa/Organização ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos ABPIP – Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gãs ANP – Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Bardella S/A Indústrias Mecânicas BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Empresa Petrolífera Multinacional Estaleiro Atlântico Sul S.A. IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Lupatech S.A. OGX Petróleo e Gás Participações S.A. ONIP – Organização Nacional das Indústrias de Petróleo Petrobras – Petróleo Brasileiro S.A. Prominp – Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural Queiroz Galvão Petróleo e Gás S.A. SINAVAL – Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore Transpetro – Petrobras Transporte S.A.