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MANEJO INTEGRADO DAS PRAGAS E DOENÇAS DO ABACAXI Figura 1. Interação entre os fatores responsáveis pelo desenvolvimento de problemas fitossanitários na cultura do abacaxizeiro. INTRODUÇÃO A crescente demanda, pelos consumi- dores, por produtos de boa aparência e qualidade, aliada ao menor uso de agrotóxicos, tem feito com que os produto- res que se dedicam à fruticultura de expor- tação adotem, cada vez mais, práticas inte- gradas de manejo de pragas e doenças em seus pomares. Neste sentido, as práticas e cuidados abordados neste Manual devem ser implementados, sempre que possível, visando à redução do uso de agrotóxicos, sem, contudo, causar decréscimo na produ- ção de frutos nem em suas qualidades. DESENVOLVIMENTO DOS PROBLEMASFITOSSANITÁRIOS Para que determinado problema fitossanitário se estabeleça em maior ou menor intensidade sobre uma cultura, é necessária a integração de quatro compo- nentes importantes no seu processo epidemiológico: hospedeiro suscetível; pre- sença de pragas e patógenos; ambiente fa- vorável; e a ação de vetores e do próprio homem (Figura 1). Quando um ou mais dos três primeiros fatores ocorrem de maneira desfavorável, ou quando o homem inter- vém com o objetivo de controlar as pragas Ilustração: Marcelo Mancuso da Cunha

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Page 1: DAS PRAGAS E DOENÇAS DO ABACAXI - Ceinfo · Frutas do Brasil, 9 Abacaxi Fitossanidade MANEJO INTEGRADO DAS PRAGAS E DOENÇAS DO ABACAXI Figura 1. Interação entre os fatores responsáveis

Frutas do Brasil, 9 Abacaxi Fitossanidade

MANEJO INTEGRADODAS PRAGAS EDOENÇAS DOABACAXI

Figura 1. Interação entre os fatores responsáveis pelo desenvolvimento de problemasfitossanitários na cultura do abacaxizeiro.

INTRODUÇÃO

A crescente demanda, pelos consumi-dores, por produtos de boa aparência equalidade, aliada ao menor uso deagrotóxicos, tem feito com que os produto-res que se dedicam à fruticultura de expor-tação adotem, cada vez mais, práticas inte-gradas de manejo de pragas e doenças emseus pomares. Neste sentido, as práticas ecuidados abordados neste Manual devemser implementados, sempre que possível,visando à redução do uso de agrotóxicos,sem, contudo, causar decréscimo na produ-ção de frutos nem em suas qualidades.

DESENVOLVIMENTO DOSPROBLEMAS FITOSSANITÁRIOS

Para que determinado problemafitossanitário se estabeleça em maior oumenor intensidade sobre uma cultura, énecessária a integração de quatro compo-nentes importantes no seu processoepidemiológico: hospedeiro suscetível; pre-sença de pragas e patógenos; ambiente fa-vorável; e a ação de vetores e do própriohomem (Figura 1). Quando um ou mais dostrês primeiros fatores ocorrem de maneiradesfavorável, ou quando o homem inter-vém com o objetivo de controlar as pragas

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e doenças, os problemas fitossanitários nãoocorrem ou ocorrem em níveis insignifi-cantes. Por outro lado, o homem e osvetores podem agir como disseminadoresde pragas e doenças fazendo com que de-terminados problemas fitossanitários apa-reçam em lugares onde eles não existiam,ou então tornando-os mais severos.

AMBIENTE E LOCALIZAÇÃODO POMAR

O abacaxi é uma planta originária daregião amazônica, razão pela qual as áreaslocalizadas na faixa compreendida entre osparalelos 25ºN e 25ºS são consideradas asmais adequadas ao seu cultivo. Entretanto,pomares comerciais de abacaxi podem serencontrados fora dessa faixa como é o casoda região de Assam, na Índia, a 30º45’N, ede Port Elizabeth, na África do Sul, 33º58’S.

A faixa ótima de temperatura para queo abacaxizeiro possa expressar seu melhordesenvolvimento das raízes e da parte aéreasitua-se entre 22ºC e 32ºC, porém ele écapaz de suportar temperaturas de até 40ºC,embora haja risco de queima das folhas. Astemperaturas mínimas registradas, ondeainda se observa crescimento do abaca-xizeiro, estão em torno de 5ºC. No entanto,sob condições de baixa temperatura o de-senvolvimento da planta é muito lento.

Outro fator ambiental importante nocultivo do abacaxizeiro é a precipitaçãopluviométrica. Chuvas bem distribuídas,num total de 1.000 a 1.500 mm por ano, sãosuficientes para propiciar bom crescimentoe produção ao abacaxizeiro. Porém, plantioscomerciais têm sido encontrados tanto emregiões onde a precipitação anual é de 500a 600 mm, quanto acima de 3.000 mm.

Para a instalação do plantio, deve-seescolher um terreno plano ou de declividadeinferior a 5%, cujo solo apresente profun-didade superior a 70 cm, textura média ouarenosa, pH entre 4,5 e 5,5 e boa drenagem,devendo-se dar preferência a áreas próxi-mas a reservatórios de água, devido à neces-

sidade de sua utilização na mistura de pro-dutos químicos.

TIPO E ORIGEM DO MATERIALDE PLANTIO

O primeiro passo para a instalação deum pomar sadio e produtivo consiste nautilização de material de plantio de boaqualidade e procedência. Os padrões míni-mos de qualidade para produção, transpor-te e comercialização de mudas deabacaxizeiro, baseados na Portaria n.º 384,de 15 de dezembro de 1980, publicada noDOU de 17 de dezembro de 1980, são aseguir especificados: o comprimento damuda, a partir do colo, deverá ser de 20 cma 40 cm para qualquer variedade, excetopara as mudas do tipo coroa, cujo compri-mento mínimo não poderá ser inferior a15 cm; mudas da cultivar Pérola ou simila-res deverão pesar entre 150 a 250 gramas e asde Smooth Cayenne, de 200 a 350 gramas; asmudas deverão estar isentas de pragas emoléstias e não apresentarem danos mecâni-cos; a comercialização das mudas poderá sera granel ou em embalagem ventilada.

O abacaxizeiro produz, naturalmente,quatro tipos de mudas: rebentão, filhote-rebentão, filhote e coroa (Figura 2). Alémdessas mudas, outras podem ser obtidaspor seccionamento do caule de plantas quejá produziram. Todas estas mudas possuemcaracterísticas distintas que devem ser con-sideradas no momento de escolher o tipodo material a ser utilizado para a instalaçãode novos pomares:

• Rebentão. É a mais precoce dasmudas do abacaxizeiro. Porém, devido pro-vavelmente ao seu desenvolvimento a par-tir de gemas situadas na base do caule,região geralmente infectada pelo fungoFusarium subglutinans, agente causal dafusariose, os rebentões apresentam alta in-cidência dessa doença, o que limita seu usocomo material de plantio.

• Filhote rebentão. Muda que seforma na base do pedúnculo, o filhote

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rebentão, como o próprio nome indica,apresenta características tanto das mudastipo filhote quanto dos rebentões.

• Filhote. Originados de gemas situ-adas na região apical do pedúnculo, próxi-ma da base dos frutos, os filhotes são asmudas formadas em maior número noabacaxizeiro. Apesar de serem menos pre-coces do que o rebentão e de apresentaremaltos percentuais de infecção pela fusariose,os filhotes têm sido o material de plantiopreferido pelos produtores, especialmentena cultivar Pérola.

• Coroas. Localizadas no topo dosfrutos, as coroas só são utilizadas comomaterial de plantio em regiões onde osfrutos são destinados à indústria. Além depossuírem ciclo mais longo do que os de-mais tipos de mudas e apresentarem altasuscetibilidade a F. subglutinans, as coroassão também facilmente atacadas por outrospatógenos.

• Plântulas ou mudas de secção decaule. Produzidas em condições de vivei-ro, a partir de plantas que já produziramfrutos, as plântulas apresentam como prin-cipal vantagem sua sanidade no que dizrespeito à fusariose, mais grave doença daabacaxicultura brasileira.

A escolha da variedade a ser cultiva-da deve ser feita com base na sua aceitação

pelo mercado consumidor onde devem sercolocados os frutos. Deve também ser leva-da em conta a sua capacidade de adaptaçãoàs condições de clima e ao solo da região.Outro ponto importante diz respeito à dis-ponibilidade de mudas de boa qualidadepara a instalação do plantio.

IMPLANTAÇÃO ECONDUÇÃO DO PLANTIO

Com uma antecedência de 60 a 90dias, devem-se coletar amostras de solospara análise. Esta antecedência se faz neces-sária uma vez que, sendo preciso realizar acorreção do solo, esta será efetuada emtempo hábil.

Em áreas virgens, o preparo do soloconsiste em roçagem, destoca, encoiva-ramento, queima, aração e gradagem. Casoa área tenha sido anteriormente cultivadacom abacaxi, deve-se proceder à incorpo-ração dos restos culturais, a menos quetenha ocorrido incidência de pragas e doen-ças no cultivo precedente. A aração e agradagem deverão ser efetuadas nos doissentidos do terreno a uma profundidade de30 cm.

Como regra geral, sob condiçõesde sequeiro, o plantio do abacaxizeirodeve ser efetuado no final da estação secae início das chuvas, dando-se preferência aespaçamentos mais adensados, em fileirassimples ou duplas, que permitam um nú-mero mínimo em torno de 37.000 plantaspor hectare.

É importante, durante o ciclo dacultura, manter o abacaxizal livre das plan-tas invasoras, especialmente nos primeirosseis meses após o plantio. Capinas manuais,cobertura morta ou aplicação de herbicidassão as medidas mais comumente emprega-das no controle do mato. Cultivadores àtração animal têm uso restrito aos primei-ros meses após o plantio.

A adubação deve ser feita semprecom base na análise do solo. Na primeiraadubação, realizada um a dois meses após o

Figura 2. Planta de abacaxizeiro mos-trando os diferentes tipos de mudas.

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plantio, o adubo deve ser colocado no solo,próximo da planta, enquanto na segunda ena terceira adubações, o adubo tanto podeser colocado no solo quanto na axila dasfolhas basais. A decisão sobre a escolha dasfontes dos nutrientes deverá ser fundamen-tada, dentre outros aspectos, no custo porunidade do nutriente em questão.

A época de floração do abacaxizeiro,e por conseguinte da colheita, pode serantecipada e uniformizada mediante a aplica-

ção de fitorreguladores, sendo o carburetode cálcio e o ácido 2-cloroetilfosfônico osmais utilizados. Além de possibilitarescalonamento e homogeneidade na pro-dução, com reflexos positivos na renda doprodutor, a prática da indução floral permi-te também que se programe o desenvolvi-mento da inflorescência e do fruto emépocas desfavoráveis à incidência dafusariose, o que constitui vantagem adicio-nal desta prática.