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Tecnologística – A CSI é especia- lizada no atendimento à indústria automobilística. Este continuará a ser o setor-alvo da empresa ou há outros em vista? Ceballos – A CSI faz parte do Gru- po Cargo, de origem argentina, que se dedica às atividades de logística e transportes. Nascemos dentro da in- dústria automotiva, mas precisamos diversificar. O setor é forte, muito grande, mas sofre periodicamente os- cilações e não queremos depender de um único segmento. As oportunida- des que estamos tendo nessa indústria vêm aumentando, justamente pelo fato de sermos muito especializados. Sempre somos convidados para os BIDs e isso termina criando um ciclo natural. Mas queremos buscar outros setores. Hoje, 80% de nossa atuação estão concentrados no setor automo- tivo. É muita dependência. Claro que não temos apenas um cliente, são vá- rios. Mas mesmo assim, as oscilações de que falei atingem o setor como um todo. Tecnologística – E o fato de os clientes tradicionais do automoti- vo estarem crescendo no Brasil au- menta ainda mais essa participa- ção do setor dentro da CSI? Ceballos – Exato. Recentemente, renovamos nosso contrato com a Re- nault por um período de mais dois anos, e foi a primeira vez que esta montadora renovou com seu presta- dor de serviços logísticos. Até então, quando findava o contrato, ela tro- cava de operador. E é um contrato muito grande, porque atende à fábri- ca de veículos de passeio, à planta da Nissan e a de motores, todas dentro do complexo Ayrton Senna, em São José dos Pinhais (PR). E a Renault é uma das montadoras que mais cres- cem em participação de mercado e acredito que continuará crescendo muito, porque tem uma linha bem adequada ao mercado brasileiro. Além disso, a Nissan acaba de anunciar oficialmente sua nova plan- ta no Estado do Rio de Janeiro. Não Pronta para diversificar Um dos mais importantes provedores de serviços logísticos para a indústria automotiva no País, a CSI Cargo está apta também a atender a outros setores. Ao mesmo tempo em que vê ampliada a atuação em seu segmento principal, com a entrada de novas montadoras no País, a operadora mira outros objetivos, como os serviços de transporte. É o que conta, nesta entrevista exclusiva, o diretor- presidente da empresa, Andrés Ceballos ENTREVISTA 46 - Revista Tecnologística - Novembro/2011 Divulgaão

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Pronta para Diversificar

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Page 1: Andres Ceballos - Revista Tecnologística

Tecnologística – A CSI é especia-lizada no atendimento à indústria automobilística. Este continuará a ser o setor-alvo da empresa ou há outros em vista?

Ceballos – A CSI faz parte do Gru-po Cargo, de origem argentina, que se dedica às atividades de logística e transportes. Nascemos dentro da in-dústria automotiva, mas precisamos diversifi car. O setor é forte, muito grande, mas sofre periodicamente os-cilações e não queremos depender de um único segmento. As oportunida-des que estamos tendo nessa indústria vêm aumentando, justamente pelo fato de sermos muito especializados. Sempre somos convidados para os

BIDs e isso termina criando um ciclo natural. Mas queremos buscar outros setores. Hoje, 80% de nossa atuação estão concentrados no setor automo-tivo. É muita dependência. Claro que não temos apenas um cliente, são vá-rios. Mas mesmo assim, as oscilações de que falei atingem o setor como um todo.

Tecnologística – E o fato de os clientes tradicionais do automoti-vo estarem crescendo no Brasil au-menta ainda mais essa participa-ção do setor dentro da CSI?

Ceballos – Exato. Recentemente, renovamos nosso contrato com a Re-nault por um período de mais dois

anos, e foi a primeira vez que esta montadora renovou com seu presta-dor de serviços logísticos. Até então, quando fi ndava o contrato, ela tro-cava de operador. E é um contrato muito grande, porque atende à fábri-ca de veículos de passeio, à planta da Nissan e a de motores, todas dentro do complexo Ayrton Senna, em São José dos Pinhais (PR). E a Renault é uma das montadoras que mais cres-cem em participação de mercado e acredito que continuará crescendo muito, porque tem uma linha bem adequada ao mercado brasileiro.

Além disso, a Nissan acaba de anunciar ofi cialmente sua nova plan-ta no Estado do Rio de Janeiro. Não

Pronta para diversifi carUm dos mais importantes provedores de serviços logísticos para a indústria automotiva no País, a CSI Cargo está apta também a atender a outros setores. Ao mesmo tempo em que vê ampliada a atuação em seu segmento principal, com a entrada de novas montadoras no País, a operadora mira outros objetivos, como os serviços de transporte. É o que conta, nesta entrevista exclusiva, o diretor- presidente da empresa, Andrés Ceballos

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sabemos se vamos atender a essa fá-brica também, mas de qualquer for-ma é outro cliente que, certamente, irá crescer no País. Ou seja, a parti-cipação do automotivo vai continuar forte na CSI, e achamos bom que seja assim, mas é hora de diversifi car.

Tecnologística – Uma dessas os-cilações que o senhor comentou foi durante a crise de 2008, não?

Ceballos – Sim, quando a cri-se irrompeu, a reação imediata das montadoras foi puxar o freio, mes-mo antes de saber os efeitos dela no Brasil. Foram anúncios automáti-cos de férias coletivas e uma para-da geral de produção. Por sorte, não houve demissões, porque aqui esse movimento durou um mês, já que o mercado interno não foi afetado. Foi uma parada brusca, mas logo de-pois as atividades foram retomadas. No entanto, serviu de alerta. Nossos contratos estão atrelados ao volume de produção e, se não há produção, é complicado. Graças à nossa expe-riência, tivemos muita flexibilidade tanto na parada, quanto na retoma-da. Mas foi um susto.

Tecnologística – E quais são os demais setores que estão na mira da CSI?

Ceballos – Temos alguns em vis-ta. Mas pensamos que não adianta investir no que já está superatendi-do, por isso vamos analisar com cal-ma. Devemos ir onde somos fortes e temos expertise. Um setor em que apostamos é o de alimentos e bebi-das, que já atendemos na Argentina. Lá, a Ambev é um cliente muito for-te. Para ela, fazemos a distribuição de bebidas e o gerenciamento de centros de distribuição em Córdoba e Tucu-mán. Eles compraram a Quilmes, a marca de cerveja mais tradicional do mercado argentino, e a Brahma está crescendo muito lá também. Mas,

além da distribuição, somos muito fortes na armazenagem e na logística interna e podemos operar em qual-quer tipo de indústria. No Brasil, já atendemos, por exemplo, às empre-sas de tecnologia, de produtos de consumo fi nal e matéria-prima, além de fornecedores do varejo que arma-zenam conosco. Oferecemos não só a logística interna nas dependências do cliente – o chamado in-house – mas fazemos também armazenagem em nossos próprios sites.

Tecnologística – Qual a estrutura e o portfólio da empresa no Brasil?

Ceballos – Temos quatro centros de distribuição próprios, dois no Pa-raná, um em Uruguaiana (RS) e um em Cotia (SP). Com relação aos ser-viços, além da armazenagem e distri-buição, que já citei, oferecemos hoje, a logística interna – que inclui a ges-tão de material desde o recebimento administrativo/físico, até o abasteci-mento de linha, além da gestão de devolução de embalagens vazias; o transporte nacional e internacional; a gestão de armazéns de peças de re-posição e a consultoria em logística.

Já na Argentina temos o mesmo portfólio, mas o Grupo possui tam-bém uma fábrica de embalagens de madeira para a indústria automo-bilística, para peças de exportação, transporte Milk-Run e distribuição de

veículos zero-quilômetro. Então, lá, fechamos todo o ciclo da indústria automotiva, com transporte de ma-teriais, seja do fornecedor ou através de contêineres do porto até a fábrica, logística interna com abastecimento das linhas de montagem, além da distribuição dos veículos e de peças de reposição para o mercado.

Tecnologística – O setor de peças de reposição está crescendo?

Ceballos – Sim, e embora ele es-teja muito vinculado ao automoti-vo, é tratado como outro segmen-to. Um contrato muito importante que obtivemos em autopeças foi o que fechamos em setembro com a Renault, para fazer outro pedaço de sua logística, que é a distribuição de peças e acessórios para o mer-cado de reposição. Já fazíamos essa operação na Argentina para a pró-pria Renault e para a Volkswagen e agora estamos fazendo também no Brasil. É um serviço à parte da lo-gística da fábrica. Como comentei anteriormente, nossa penetração e experiência no setor automotivo nos levam não somente a conquis-tar novos clientes, mas a ampliar os contratos nos atuais.

Temos experiência de mais de dez anos na reposição na Argentina, com logística estruturada e profissionais dedicados para atendê-la. No Brasil, a Renault está sendo nosso primei-ro cliente e queremos fazer dela um benchmark para continuar a cres-cer. O setor acompanha o desenvol-vimento da indústria automotiva; quanto mais veículos e caminhões vendidos, mais peças o mercado de reposição necessita.

A peça é tão importante quanto o veículo e sua disponibilidade está muito vinculada à imagem da marca e à satisfação do cliente. É um ponto nevrálgico. Hoje, todas as montado-ras trabalham com garantia estendi-

Quando veio a crise, o setor automotivo puxou o freio; mesmo sendo por pouco tempo, foi

um alerta: não podemos depender tanto de um só segmento

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da e isso inclui a manutenção e a tro-ca de peças. É uma forma de cativar o cliente e direcioná-lo ao atendimen-to em concessionárias autorizadas. É uma estratégia, a meu ver, muito inteligente, pois esvazia o mercado paralelo de peças.

E o consumidor nacional passa por um amadurecimento, com maior conhecimento de seus direitos, o que vem paralelamente ao crescimento econômico. A garantia, hoje, é um di-

ferencial de vendas. Ao comprar um carro, o consumidor cada vez mais faz essa conta, de quanto vai custar a manutenção. É uma evolução, e que-remos fazer parte dela.

Tecnologística – O automotivo não estaria dando sinais de desa-quecimento? Como o senhor vê este mercado?

Ceballos – Ele continua aquecido, mas eu prevejo ajustes na indústria

para o próximo ano, no sentido de evitar o excesso de produção. Há si-nais contraditórios, porque enquan-to alguns clientes estão trabalhando inclusive nos feriados, outros estão dando férias coletivas. Mas eu vejo isso como um ajuste de estoques. As fábricas continuam trabalhando em três turnos e ninguém reduziu. Acre-dito que o mercado continuará em alta e talvez se reduzam apenas as horas extras, que estavam sendo ne-cessárias para dar conta da demanda muito aquecida.

Tecnologística – O senhor acha que o recente aumento do IPI para os automóveis importados irá im-pactar este cenário?

Ceballos – Acredito que não. Esta medida visou claramente os chineses, mas também deverá causar impacto, principalmente nos automóveis de luxo, que são, em sua grande maio-ria, importados. O maior volume da produção nacional é voltado aos veí-culos mais populares. Não vejo um grande impacto na indústria.

Tecnologística – E como o se-nhor analisa o mercado de logísti-ca de forma geral?

Ceballos – Vejo um cenário prós-pero para a logística, que está ga-nhando cada vez mais importância dentro das empresas e da economia em geral. O mercado é cada vez mais competitivo e a logística é um ponto de otimização de custos. As empresas já se deram conta de que não adian-ta produzir bem e ter um marketing afi ado se não conseguirem colocar o produto certo no lugar certo. Mas, ao mesmo tempo, elas têm muito a fazer na área de logística, que ainda é um gargalo em vários setores. O segmen-to automotivo, que é líder e pioneiro em logística, sempre se preocupou com essa área. Mas em outros ainda há muito a desenvolver e as empresas

A CSI Cargo é a empresa mais nova do Grupo Cargo, de ori-

gem argentina, que além desta, possui outras duas divisões: a Car-go S.I.S.A., voltada à prestação de serviços logísticos para a indústria, e a Expreso Cargo, que presta servi-ços de transporte nacional e inter-nacional com frota mista, atuando também como Agente de Transpor-te Aduaneiro (ATA), fazendo tran-sações de importação e exportação entre Brasil e Argentina.

Braço de logística do Grupo no Brasil, a CSI Cargo atua como um integrador, oferecendo aos clientes um amplo leque de soluções que englobam toda a cadeia logística. A empresa entrou no Brasil em 1998, inicialmente para atender à fábrica da montadora Chrysler em Campo Largo, no Paraná, a quem já aten-dia na Argentina. Com a venda da montadora, o novo dono decidiu fechar a planta paranaense. Mas a atuação da CSI no País continuou, com a aquisição de contratos com empresas relevantes no mercado local, como Volkswagen, Renault-Nissan e CNH. Mas a atuação da

Serviços integrados para a indústria

companhia vai além do setor auto-motivo, atendendo a clientes como Aethra, AAM do Brasil, Pepsico, Nokia-Siemens e Cia. Providência, entre outros.

A CSI Cargo atua nas áreas de lo-gística integrada, centros de distribui-ção, operações de transportes e fabri-cação de embalagens para clientes. Os projetos desenvolvidos pela empresa englobam desde o planejamento e a implantação até a gestão logística, com soluções personalizadas.

A empresa investe também em tecnologia da informação, para aumentar o controle e a eficiência das operações. Ela entrou na era da computação em nuvem (cloud computing) com a implementa-ção de um software para controle de pátio de contêineres, Contec, que iniciou a operação no último mês de outubro na Renault. Outra novidade é a utilização do Tablet Xoom, da Motorola, para as opera-ções do Contec. Por meio do tablet, será possível registrar online da-dos como avarias nos contêineres, movimentação, disponibilidade e priorização de desovas.

ENTREVISTA

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só agora se deram conta do potencial de alavancagem de margem de lucro que uma boa logística proporciona.

Tecnologística – Qual é o maior gar-galo que vocês enfrentam atualmente?

Ceballos – Um deles é a questão da mão de obra. Os profi ssionais de logística estão cada vez mais valoriza-dos. Para nós, este é um dos grandes gargalos, porque o mercado brasileiro ainda é carente de pessoas formadas em logística e as empresas estão indo atrás de reforçar seus quadros. Aca-bamos tendo de formar profi ssionais dentro de casa, o que, por um lado, é bom, porque já os treinamos dentro do perfi l que necessitamos.

E há também a questão da infraes-trutura. Acho que o Brasil ainda está

muito defasado em infraestrutura lo-gística. Isso não é algo que se resolva a curto prazo e não vemos nenhuma ação concreta e efetiva para melhorar as condições. Estradas, portos e aero-portos são insufi centes e mal prepara-

dos para absorver o crescimento que a economia teve nos últimos anos. É um grande gargalo competitivo para o País e acaba nos afetando também.

O Governo incentiva a produção de commodities agrícolas porque o mercado externo está demandando, e o agronegócio brasileiro é muito competitivo, tem alta produtivida-de. O problema é levar o produto do campo ao mercado, principalmente o externo. Nós estamos a 90 km do Porto de Paranaguá e, na época da sa-fra, vemos as fi las que se formam e chegam até o planalto. Toda a cadeia logística paga por essa inefi ciência.

Os governos lançam planos su-cessivos, PAC 1, PAC 2, PNLT, etc., mas o problema não se resolve. A solução seriam as Parcerias Público-

ENTREVISTA

A solução para os gargalos logísticos do País são as PPPs. O

Governo terá de aceitar a iniciativa privada

como parte da solução desses problemas

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Privadas, as PPPs. O Governo terá de colocar a iniciativa privada como parte da solução desse problema. E as empresas, por outro lado, têm in-teresse de investir, para dar agilida-de e eficiência ao processo. O Brasil tem um potencial enorme, mas tem que melhorar alguns pontos estra-tégicos para se manter competitivo, ou vai ficar para trás.

Tecnologística – A CSI opera no Brasil, Argentina e entre os dois países. Quais são as dificuldades dessa operação?

Ceballos – Certamente, a aduana é o principal nó. Ela é ruim dos dois lados e, para piorar, às vezes há dis-putas comerciais e políticas entre os dois países que se refl etem na fron-teira. Ela acaba sendo um ponto de retaliação. Vimos isso recentemente com a questão dos veículos retidos, e é um problema constante. O Mer-cosul tem de amadurecer muito. O acordo prevê o livre comércio, mas na prática prevalecem os interesses de cada país. A guerra na aduana é algo muito arcaico e que não ajuda ninguém. Ela tem que acabar.

Tecnologística – O crescimento do Brasil assusta os argentinos?

Ceballos – Não é que assuste, porque hoje a economia argentina é muito dependente da brasileira, es-pecialmente no setor industrial. O Brasil é o maior destino dos produtos industrializados da Argentina, então se o Brasil vai bem, isto signifi ca cres-cimento do outro lado. O que acon-teceu é que a Argentina está pagando caro pela política equivocada da dé-cada de 1990, quando houve a dola-rização da economia. Com ela, tudo o que vinha de fora era muito mais barato e não havia porque produzir lá. Isso acabou com a indústria local que, agora, está tendo de correr para tirar o atraso. E, num mundo dinâ-

nico como o de hoje, perder três ou quatro anos é uma eternidade.

Já o Brasil não passou por isso. O capitalismo aqui é mais desen-volvido, o empresariado brasileiro é mais arrojado e mais antenado com a economia globalizada. Eu, que conheço bem a cultura argenti-na, porque nasci lá – embora tenha vindo muito pequeno para cá – faço uma comparação: o Brasil tem uma cultura mais parecida com a ameri-cana, em termos de consumo e di-namismo, enquanto os argentinos são muito europeus. Os hábitos de consumo são diferentes e eles são muito mais nacionalistas.

Tecnologística – Quais são os in-vestimentos planejados pela CSI para suportar o crescimento previsto?

Ceballos – Estamos direcionando nossos investimentos para áreas espe-cífi cas. A primeira é a de transportes – nacional e internacional –, em que já somos muito fortes na Argentina e queremos ser no Brasil também. E vamos investir na construção de cen-tros de distribuição. Devido ao cres-cimento da economia, o setor está bem carente. Há muitos lançamentos de unidades de armazenagem, mas a demanda está maior que a oferta. O custo do metro quadrado cresceu muito em Curitiba, embora ainda seja bem inferior ao preço praticado em São Paulo. E acredito que a ten-dência é de que este preço, com o tempo, seja nivelado nacionalmente, à medida que as economias estaduais forem fi cando mais equilibradas.

Na parte de Tecnologia da Infor-mação temos uma área interna que desenvolve soluções específi cas para as necessidades de nossos clientes. Es-tamos sempre aplicando novas ferra-mentas para melhorar a performance das operações, o que demanda inves-timento. E, como somos muito for-tes em logística interna e sempre ga-

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nhamos novos contratos, investimos constantemente em equipamentos de movimentação e armazenagem.

Com relação à frota, as ações envol-vem compra de caminhões e desenvol-vimento de parcerias. A estratégia da CSI é ter um mix entre frota própria e de agregados, através de parceiros de primeira linha, que possam garantir a qualidade da frota e dos motoristas. Não queremos prestar serviço de trans-porte comum.

Tecnologística – De quanto é o mix atual de frota própria e de ter-ceiros e qual é a meta?

Ceballos – Hoje, temos aproxi-madamente 20% de frota própria

e 80% de agregados. Pretendemos chegar a 35% de frota própria até o final de 2013, para termos maior se-gurança na oferta; isto significa um investimento de aproximadamente R$ 10 milhões de reais.

Tecnologística – Vocês estão muito concentrados na Região Sul e no Estado de São Paulo. Preten-dem expandir a atuação para ou-tras regiões do País?

Ceballos – Planejamos expandir no Sudeste, que é onde o setor auto-motivo é mais forte. Principalmen-te São Paulo e Minas Gerais, onde o Grupo Fiat tem negócios expressi-vos. Já fazemos uma operação para

a CNH e pretendemos ampliar a atuação em Minas. O Rio de Janei-ro está crescendo tam-bém. Tem as operações da Volkswagen e terá também a fábrica da Nissan. Como já dis-se, não sabemos se ire-mos atendê-la também nessa nova planta, mas certamente haverá uma concorrência e vamos participar. E o fato de já trabalharmos com a Nissan certamente é um atalho. Logística interna é uma questão de con-fiança, pois o operador está dentro da casa do cliente e conhece toda a estrutura dele.

Tecnologística – O fato de vocês ainda não operarem no Rio não é impeditivo?

Ceballos – Acredito que não, porque a própria Nissan também ainda não opera. E é uma excelente oportunidade, pois a fá-

brica vai começar do zero e podemos apoiá-los no desenvolvimento do layout sob o ponto de vista logístico. Fizemos isto com a fábrica da Chrys-ler quando a montadora se instalou no País, em 1998, ajudando a defi nir equipamentos, métodos de armaze-nagem, de abastecimento de linha e desenhando racks específi cos. É muito interessante começar do zero, porque a fábrica já nasce sob medida, com os processos logísticos adequados. É uma oportunidade de ter uma operação mais competitiva, mais otimizada. A montadora, naturalmente, preocupa-se muito mais com o processo produti-vo, e logística é nossa especialidade.

Tecnologística – E o Nordeste?Ceballos – Ainda não temos planos

para essa região, embora tenhamos in-teresse. Mas, por hora, nossa força co-mercial está mais centrada no Sudeste.

Tecnologística – O senhor falava há pouco que o consumidor brasilei-ro está mais consciente ao adquirir um carro. E as empresas, ao contra-tarem um operador logístico, tam-bém sabem o que estão comprando?

Ceballos – A logística acompa-nha o desenvolvimento econômico do País. As empresas, assim como os consumidores, estão em graus varia-dos de conscientização. A parcela de empresas que estão realmente aptas a terceirizar sua logística interna ainda é pequena. Normalmente, só as grandes estão, porque já têm seus processos desenhados para um ter-ceiro. Sabem onde termina sua res-ponsabilidade e onde começa a do operador logístico. Na maioria das empresas isto não está claro; não está bem definido o que é respon-sabilidade da logística e o que é da produção, por exemplo.

Essa é nossa maior dificuldade. Muitas vezes o cliente em potencial não tem seu processo preparado

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para isso, nem delimitou respon-sabilidades. Porque quando tudo é feito dentro de casa, fica mais fácil; mas quando vem um terceiro, essa falta de estruturação de processos pode desgastar a relação, criando atritos desnecessários e até fazendo com que a terceirização seja um fra-casso. Como se diz popularmente, o combinado não é caro. É preciso, antes de terceirizar, delimitar pode-res e responsabilidades.

Tecnologística – Que percentual do mercado o senhor acredita estar preparado para a terceirização?

Ceballos – Eu diria que uns 30% apenas, embora potencialmente, muito mais empresas possam tercei-rizar. Mas há diferenças de setor para setor. O automotivo tem em seu DNA a cultura da terceirização. Já o varejo é mais lento. Ele vem sofrendo um movimento forte de concentração e, talvez por isso, tenha este processo mais atrasado que a indústria.

Tecnologística – As aquisições estão nos planos da CSI?

Ceballos – Sempre que discutimos nosso crescimento, principalmente na área de transportes, essa questão vem à tona. É a forma mais rápida de crescer. Você não compra uma fro-ta de veículos de um dia para outro; tem prazo de entrega, o mercado está aquecido e as montadoras têm fi las de espera, às vezes de meses. E um time de motoristas não se forma ra-pidamente, ainda mais na situação atual de mercado aquecido. Então, a aquisição é uma oportunidade de crescer rapidamente. Acreditamos muito na nossa capacidade de gestão de transportes. Podemos absorver um transportador de menor porte e apli-car nosso conhecimento em gestão da cadeia para oferecer um serviço melhor ao cliente. Assim, a aquisi-ção faz parte da estratégia, mas não é algo que vá se concretizar no curto prazo. Está em nosso horizonte.

Tecnologística – Até porque, vo-cês têm tido um crescimento orgâ-nico excelente, não?

Ceballos – Sem dúvida. Temos colocado muita energia em novos

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contratos, mas sem esquecer do crescimento nos clientes atuais, ofe-recendo novos serviços e soluções. Damos muita atenção à nossa cartei-ra e um exemplo disso é a Renault, em que fomos ampliando o escopo de atuação. Conquistamos, recente-mente, mais um serviço que não era nosso, que é o transporte interno, em circuito fechado, dentro das três fá-bricas da montadora. E acontece com outros também, como Volkswagen e CNH. À medida que conhecemos mais a operação do cliente podemos oferecer novos serviços. Eles mesmos nos veem como fonte de soluções e procuramos transformar isso em no-vos negócios.

É uma via de mão dupla. Para que os clientes nos deem mais negócios

de seu supply chain, têm que ganhar confi ança. E, para isso, temos que dar reciprocidade através de uma melhor performance e custos mais baixos. Para o cliente, é uma vantagem ter um operador integrado ao invés de fa-

lar com vários interlocutores ao longo de sua cadeia. A gestão fi ca mais fácil.

Tecnologística – De quanto tem sido o crescimento da CSI no País e quanto a empresa espera crescer em 2011 em relação ao período anterior?

Ceballos – Estamos no Brasil há treze anos e nosso faturamento cresceu 450% nos últimos dez anos. A empre-sa vem conquistando clientes novos a cada ano, e um novo cliente represen-ta um salto no faturamento. No ano de 2010, a CSI faturou R$ 100 milhões e, para 2011, estamos projetando um crescimento de 40% no faturamento.

Silvia Marino

CSI Cargo: (41) 3381-2300

As aquisições fazem parte da estratégiada CSI, mas não no curto prazo.Temos crescido

bastante dentro de nossa carteira atual

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