revista de domingo nº 551

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Revista semanal do Jornal de Fato

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Page 1: Revista de Domingo nº 551
Page 2: Revista de Domingo nº 551

Jornal de Fato | DOMINGO, 17 de fevereiro de 2013

ao leitor

• Edição – C&S Assessoria de Comunicação• Editor-geral – Wil liam Rob son• Editor – Higo Lima• Dia gra ma ção – Ramon Ribeiro• Projeto Gráfico – Augusto Paiva• Im pres são – Grá fi ca De Fa to• Re vi são – Gilcileno Amorim e Stella Sâmia• Fotos – Carlos Costa, Marcos Garcia, Cezar Alves e Gildo Bento• In fo grá fi cos – Neto Silva

Re da ção, pu bli ci da de e cor res pon dên cia

Av. Rio Bran co, 2203 – Mos so ró (RN)Fo nes: (0xx84) 3323-8900/8909Si te: www.de fa to.com/do min goE-mail: re da cao@de fa to.com

Do MiN go é uma pu bli ca ção se ma nal do Jor nal de Fa to. Não po de ser ven di da se pa ra da men te.

Durante a missa, em um dos momentos da li-turgia católica, a assembleia de fiéis proclama em coro a construção “Eis o mistério da fé!”

como resposta ao chamamento do sacerdote. “Fé” e “mis-tério” sempre estiveram intrinsecamente imbricados, talvez seja pela necessidade da existência do segundo verbete para a materialização do primeiro.

Fidelidade, confiança e crença numa religião são os sinônimos usados pelo dicionário brasileiro para definir “fé”. Por sua vez, cabe ao “mistério” os sinônimos de causa oculta, desconhecimento e incompreensível como palavras comuns à sua definição. O que se quer com isso, porém, é simplesmente fazer uma ligação da pequena frase, porém vasta de questionamentos, com a renúncia do Papa Bento XVI na última segunda-feira de Carnaval, dia 11 de fevereiro, e visualizar que poucas vezes – ape-nas três vezes na história – a Igreja Católica se viu dian-te de uma situação semelhante.

O pontífice alegou falta de vigor na sua saúde frente às “transformações do mundo”. Bastou o reboliço da sur-presa com o anúncio se acalmar para iniciar a avalanche de notícias evidenciando que a raiz do “abandono” é bem mais profunda. Logo a fé na igreja, inevitavelmente, ba-lança na mesma proporção que parece resistir às trans-formações do tempo. Há mistérios nos escombros da Igreja que vão muito além de Bento XVI.

Nesta edição, obviamente, não desmistificamos esses mistérios, mas mostramos relatos de pessoas que che-garam perto, mas tão perto do Papa que, basta a Fé para ilustrar os mistérios da emoção. Você acompanha ainda, leitor, uma entrevista com padre Flávio Augusto, que fala sobre o lançamento da Campanha da Fraternidade e o papel da juventude na Igreja.

editorial

Mistério da Fé

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do

Papa

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XV

I Entrevista

Colunista Davi Moura: Bolo de Nutella com Iogurte

Professor lança livro sobre Mossoró na obra de Câmara Cascudo

Rafael Demetrius:Seu emprego é para toda vida?

Adoro comer

História

Coluna

p8

p14

p6

p 12

p4

Padre Flávio Augusto fala sobre a juventude e Campanha da Fraternidade

)) Raio cai na cúpula do Vaticano no dia do anúncio

de renúncia do Papa

Alessandro Di Meio/Ansa

Page 3: Revista de Domingo nº 551

3Jornal de Fato | DOMINGO, 17 de fevereiro de 2013

JOSÉ NICODEMOS*

conto

)( Envie sugestões e críticas para oe-mail: [email protected]

Queria ser modelo, dessas qua-se só pele sobre os ossos, já era de compleição muito frá-

gil, no fim foi parar num leito de hospital. Comia quase nada, e a mãe não cessava de reclamar, poderia pegar uma fraque-za geral. Sabia de exemplos pelo notici-ário da televisão. Preocupava-se.

Se fosse dessas gordinhas... Muito pelo contrário, era alta acima da média da mulher brasileira, e afinal de contas carecia de mais alguns quilos em relação à altura. A mãe lhe mostrava isso, e não tinha jeito. Ser modelo era-lhe já uma obsessão, e entendeu de alimentar-se, por conta própria, exclusivamente de frutas e verduras, mas porções diminu-tas.

Quase nada para um adulto. A mãe dizia um suicídio lento. A filha não se importava, inclusive se aborrecia. A mãe era antiga.

Nada de proteínas de origem animal. muito menos carboidratos, que a mãe dizia nutriente indispensável à atividade muscular e mental. Bastava ser o sufi-ciente à nutrição. Privar-se de uma ali-mentação completa, à base dos elemen-tos nutritivos indispensáveis ao organis-mo, isto lhe haveria de trazer problemas de saúde futuros.

Era uma moça que cursava faculda-de, e devia muito bem saber disso.

Ainda chegou a ter fotos publicadas numa revista comercial, de menor im-portância, fazendo a propaganda de não

Vaidade obsessiva

sei quê produto de beleza, mas não pas-sou disso. O seu ideal de vida eram as passarelas da moda elegante, com fotos nas grandes revistas do gênero.

Teve o primeiro aviso do organismo, ou seja, sintomas de uma fraqueza geral, com um mal-estar insuportável, e o mé-dico mandou-lhe que se alimentasse cor-retamente, tratava-se de uma carência de proteínas e carboidratos e afinal de contas de uma alimentação equilibrada.

Não deu ouvido ao médico, apesar de quase reduzida a pele e osso e da fraque-za que mal lhe permitia o sustentar-se sobre as pernas, a cabeça rodando feito carrossel, como é uso dizer.

A mãe preocupada, vendo a hora che-

gar o pior. Aquilo era uma atitude des-propositada, e até pensou em levar a filha a um psiquiatra, em vez de a um nutri-cionista. Já era uma questão mental.

Tudo em vão. A moça a cada dia comia menos, o medo de engordar qualquer coisa, apesar do peso muito abaixo do correspondente à sua altura, portanto uma anormalidade. Sua obsessão de ser modelo era de todo surda.

Depois de uma semana internada, sob terapia intensiva, a mãe, que não dormia, o medo de perder a filha, única, a situação era grave, segundo os médi-cos, chega o telefonema do hospital, a princípio cauteloso, depois decisivo:

A filha acabara de morrer.

O seu ideal de vida eram as passarelas da moda elegante, com fotos nas grandes revistas do gênero.

Page 4: Revista de Domingo nº 551

4 Jornal de Fato | DOMINGO, 17 de fevereiro de 2013

entrevista

PADRE FLÁVIO AUGUSTO

Por Higo LimaPara a Revista Domingo

‘Não é uma Campanha para os jovens, mas com os jovens’

A Igreja Católica inicia um dos períodos mais importantes dentro do seu calendário anual com a chegada da Quaresma. É também nesta época que o clero aproveita para divulgar a Campanha da Fraternidade, que, a cada novo ano, centra as atenções em uma temática que norteia as discussões e ações da Igreja junto à socie-

dade. A Campanha da Fraternidade deste ano foi lançada nacionalmente na última quinta-feira, 14, com um motivo especial para os potiguares, que sediou a missa inicial dos trabalhos, em Natal, na Catedral Metropolitana. A capital do Estado foi escolhida em comemoração aos 50 anos da primeira Campanha da Fraternidade, lançada no município de Nísia Floresta, em 1962. Em Mossoró, o lançamento oficial será hoje e o padre Flávio Augusto, vigário-geral da Diocese de Santa Luzia, conversou com a Revista Domingo sobre a atual Campanha, cujo tema é a juventude. “A juventude tem muito a contribuir devido suas características”, disse padre Flávio, que comentou ainda sobre a Jor-nada Mundial da Juventude, que neste ano, acontece no Brasil, e ainda sobre a atual conjuntura da Igreja Católica.

Page 5: Revista de Domingo nº 551

5Jornal de Fato | DOMINGO, 17 de fevereiro de 2013

entrevista

DOMINGO – A Campanha da Fra-ternidade deste ano tem como foco a Juventude. De que forma a Igreja pretende trabalhar o tema justamen-te com esse público?

PADRE FLÁVIO – Ela pretende usar todos os meios que envolvam a juventude, não é uma Campanha para os jovens, mas com os jovens, daí a utilização das redes sociais para en-volvê-los nesse debate. Outra forma vai ser envolver os diversos grupos já existentes em atividades para for-talecer o trabalho que já vem sendo desenvolvido.

NOS ÚLTIMOS anos, a Igreja vem

enfrentando dois desafios: a evasão de fiéis para outras religiões e a cri-se na diminuição de jovens no sacer-dócio. A Campanha da Fraternidade seria uma ação estratégica para re-verter esse cenário? Caso não, o que estaria, então, sendo feito?

A CAMPANHA da Fraternidade foi pensada em função da Jornada Mun-dial da Juventude que vai acontecer no Rio de Janeiro de 23 a 27 de ju-lho deste ano. Toda a Igreja está se mobilizando para esse grande evento, que como aconteceu nos eventos an-teriores, tem marcado a vida da Igre-ja no país onde acontece. Quanto à preocupação com eventuais saídas de fiéis da igreja católica, é preciso ter sempre presente que, no Brasil, aque-le que nunca participa de nenhuma religião, quando perguntado sempre se disse católico, mesmo que não sai-ba nem o nome do padre da paróquia onde reside e outras coisas mais... O que temos que nos preocupar é em como atingir o homem e a mulher no mundo de hoje, de forma a lhe ajudar a fazer uma boa e profunda experiên-cia com Deus.

...E Quanto ao sacerdócio?EM RELAÇÃO ao sacerdócio, a

Igreja não vive uma crise nos semi-nários, pelo contrário. A prova disso é que somente em Mossoró nós temos em 2013 mais de 40 (quarenta) jovens no Seminário Santa Teresinha. Os seminários de Natal e Caicó também estão cheios. A Diocese no município de Caicó, inclusive, já está enviando padres para outras dioceses, devido já ter número suficiente de padres na-quela região.

QUAL o papel do jovem dentro da Igreja?

O PAPEL de qualquer pessoa é se

encontrar com Deus. A Igreja é uma comunidade de pessoas que encon-tram o significado da vida e querem dar razão de sua fé. A faixa de idade da juventude tem muito a contribuir devido suas características muito pró-prias: inquietação, sonhos, ardor, es-perança etc.

A JORNADA Mundial da Juventu-

de deste ano será sediada no Brasil, como o senhor mencionou anterior-mente. Pode-se considerar um mo-mento histórico para a Igreja Católica no Brasil. Como a Diocese de Mossoró tem se preparado para o evento?

A DIOCESE vem se preparan-do organizando os jovens de todos

os cinquenta e seis municípios que compõem a nossa Diocese para que possam estar presentes no Rio de Ja-neiro, assim como fazendo com que a preparação e o retorno da Jornada re-sultem em bons frutos para a comu-nidade na qual o jovem está inserido.

NA VERDADE, qual a importân-cia da Jornada para a Igreja?

A JORNADA vai reacender a cha-ma de uma Igreja que se abre a todas as faixas de idade e juventude tem muito a contribuir para que se possa responder com coragem aos desafios do mundo atual.

TAMBÉM neste ano se comemora

os 50 anos da Campanha da Frater-nidade. Dentro do processo de evan-gelização, qual o papel da CF para a Igreja e, além disso, qual tem sido o grande legado das Campanhas ano após anos?

A CAMPANHA da Fraternidade, a cada ano, faz com que esse tempo da Quaresma assuma um gesto concre-to, ou seja, a nossa conversão passa sempre pelo tema que a Igreja nos propõe como reflexão. A CF a cada ano abre sempre essas possibilidades de um gesto de caridade muito con-creto a cada ano. Na maioria das ve-zes, é a Igreja não olhando somente para seus problemas internos, mas especialmente para os grandes desa-fios que o Brasil precisa enfrentar.

OS 50 anos da Campanha da Fra-

ternidade também é um momento importante para a Igreja no Rio Gran-de do Norte, já que a primeira edi-ção foi lançada no município potiguar de Nísia Floresta, em 1962. Haverá uma programação especial na Igre-ja no RN? Qual a importância desse momento para a história da Igreja no RN?

O PIONEIRISMO da Igreja no Rio Grande do Norte, lançando uma Cam-panha, que posteriormente se torna nacional, marca a história de nossa Igreja e ao mesmo tempo nos serve de impulso para pensarmos sempre em algo novo no processo de evange-lização, não podemos nos contentar fazendo somente aquilo que já está sendo feito, mas procurarmos novas formas de levar a Palavra de Deus a todas as pessoas da melhor forma pos-sível, e tornar a caridade algo sempre mais concreto na vida de cada um de nós. É motivo de orgulho e ao mesmo tempo de muita responsabilidade.“A Juventude tem muito a

contribuir para que se possa responder com coragem aos desafios do mundo atual”

Page 6: Revista de Domingo nº 551

Como a cidade de Mossoró é cons-truída historiograficamente pela narrativa de Luís da Câma-

ra Cascudo? Essa é a pergunta para o livro “Mossoró não cabe num livro: Luís da Câmara Cascudo, o historiador da ci-dade”, que o doutorando Bruno Balbino Aires da Costa lança em resultado dos seus estudos.

A obra é dividida em três capítulos e, já no início, o foco é para os investimen-tos da Prefeitura de Mossoró no início dos anos quarenta, época do surgimento da biblioteca, museu, universidade.

Uma política cultural nomeada de Batalha da Cultura, iniciada na adminis-tração de Dix-sept Rosado, em 1948, quando assumiu o compromisso de criar uma biblioteca pública para Mossoró. Uma batalha que seu principal objetivo era lutar por certo tipo de cultura, nota-damente, letrada. Cultura esta que ser-viu como estratégia identitária para a elaboração de uma narrativa que ligasse os mossoroenses do passado com os mos-soroenses do presente.

O interesse em “batalhar pela cultu-ra” teve da Prefeitura de Mossoró o es-forço maior. Muito embora, a Batalha da Cultura contasse com a colaboração de outros segmentos da sociedade mosso-roense e de outros lugares do Brasil. O esforço objetivava garantir para o futuro a preservação da cultura através da me-mória, promovendo-a, produzindo-a e conservando-a para a construção de uma dada identidade cultural. Identidade esta que evidencia a família Rosado e suas ações no centro da história desse espaço.

No segundo capítulo, as condições históricas de possibilidade que fizeram de Luís da Câmara Cascudo o historiador da cidade. Como parte desse projeto identitário esteve a necessidade de se fazer a escrita da história da cidade de Mossoró. Mais do que isso, era preciso projetar e legitimar a história do muni-cípio. É por isso que no início da década de cinquenta, o prefeito de Mossoró, Vingt Rosado, convida Luís da Câmara Cascudo para escrever a história de Mos-soró, pois a história produzida por ele se

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História

Jornal de Fato | DOMINGO, 17 de fevereiro de 2013

O olhar deCascudo

configuraria como a enunciação da cida-de, dando sentido, a partir do passado, aos cidadãos do presente.

No terceiro e último capítulo, uma análise do livro Notas e documentos pa-ra a História de Mossoró (1955), de Câ-mara Cascudo.

O livro Notas e Documentos para a história de Mossoró foi publicado em 1955, tendo Cascudo selecionado os su-jeitos, os acontecimentos, as datas que ele julga serem mais importantes para a história de Mossoró.

A origem do nome da cidade é esqua-drinhada por ele como sendo o primeiro marco da identidade mossoroense. Um traço presente da gente e não da natu-reza. Dos índios Monxorós e não do rio Mossoró. Para Cascudo, é o elemento humano, indígena, que nomeia a cidade.

Ao mesmo tempo em que evidencia a contribuição do índio na formação topo-nímica da cidade, Cascudo interdita sua contribuição na formação social e étnica do espaço mossoroense. Não só do índio, mas também do holandês.

A presença holandesa em Mossoró, segundo Luís da Câmara Cascudo, não trouxe contribuições para a formação social do espaço mossoroense. A estra-tégia de Cascudo era tornar toda a nar-rativa da estadia holandesa em Mossoró numa anedota, justamente para impos-sibilitar qualquer vinculação do sangue e da fé protestante dos holandeses no espaço mossoroense. Ao interditar a contribuição holandesa-protestante em Mossoró, Cascudo evidencia a presença católica de linhagem portuguesa, inscri-ta na missão dos frades Carmelitas. Estes

)) Câmara Cascudo foi convidado a

escrever sobre a História de Mossoró

Page 7: Revista de Domingo nº 551

7Jornal de Fato | DOMINGO, 17 de fevereiro de 2013

História

)) o Rio Apodi Mossoró teve papel importante para a construção de Mossoró

)) o Rio Apodi Mossoró teve papel importante para

a construção de Mossoró

seriam, para ele, os verdadeiros agentes da formação espiritual e social do espaço mossoroense. Para Luís da Câmara Cas-cudo, este espaço seria também cons-tructo da expansão dos currais de gado que, juntamente com as missões católi-cas, povoariam e conquistariam os ter-ritórios do interior do Rio Grande duran-te no século XVIII, em específico Mosso-ró.

Para Cascudo, o espaço mossoroense seria também uma construção do olhar e da paisagem do viajante Henry Koster, que visitou a fazenda de Santa Luzia no início do século XIX. Ao narrar a visita de Henry Koster, Cascudo considera que o ver e fazer ver do viajante contribui para a construção da própria imagem de Mossoró no século XIX. Henry Koster seria, para ele, a grade que possibilitaria a visibilidade do espaço mossoroense no novecentos.

Como quer fazer crer Cascudo, Mos-soró seria formada pela ação conjunta das missões católicas, da expansão dos currais e do olhar do viajante. Estes eram considerados por Cascudo como os pri-meiros formadores do espaço mossoro-ense. Luís da Câmara Cascudo adiciona, ainda, outros sujeitos à história da cida-de. Personagens que “plantaram” a ci-dade, representados pelos “homens-bons” vinculados ao grupo político dos Conservadores que atuariam na cidade como força atuante, tanto politicamente como economicamente, para a evolução do núcleo urbano.

Para além das múltiplas imagens e textos que Cascudo construiu para o es-paço mossoroense, esteve o discurso de Mossoró como a cidade da liberdade. Ao tratar da escravidão e da abolição em Mossoró, Cascudo constrói uma visão romântica, apoteótica e heroica dos abo-licionistas ao se posicionarem contra o sistema escravista. Para Cascudo, have-ria nos senhores de escravos uma “von-tade” de libertar o escravo muito antes da abolição, pois haveria nesses senhores o sentimento humanista, solidário. Ao versar sobre a benevolência dos proprie-tários de escravos, Cascudo silencia as resistências dos escravos e os conflitos sociais com os senhores. Ao falar da li-berdade em Mossoró, Cascudo não se referiu à conquista da liberdade a partir do negro, mas sim a benevolência dos senhores em libertá-los.

Para ele, Mossoró é considerada a “ter-ra da liberdade” não pela ação do negro, se assim o fosse, Cascudo teria destinado uma narrativa que destacasse o papel do escravo na construção da sua própria li-berdade. Pelo contrário. A liberdade que

identifica o espaço mossoroense é outra; é a liberdade concedida e não conquista-da. Desta maneira, Luís da Câmara Cas-cudo enaltece o feito abolicionista de Mossoró instituindo uma imagem para a cidade a partir de sua singularidade, por ser a única do Brasil, segundo ele, a co-memorar a data da abolição da escrava-tura por meio de festas, atos cívicos, hinos e desfiles. Cascudo constrói uma narrati-va que toma Mossoró como uma cidade da liberdade, servindo de referência para a instituição de uma identidade e de uma memória para Mossoró.

Luís da Câmara Cascudo ao escrever sobre Mossoró inventa seu passado, construindo mitos de origens, instituin-do sua genealogia ancestral, elegendo seus heróis fundadores, definindo suas tradições, catalogando monumentos, delimitando um patrimônio, atribuindo sentidos e significados aos lugares e aos sujeitos da história, impondo ritos e re-cordando datas. O seu processo imagi-nário de invenção da cidade e de escrita de sua história constrói imagens e sím-bolos através das quais Mossoró sonha a si mesma.

Page 8: Revista de Domingo nº 551

8 Jornal de Fato | DOMINGO, 17 de fevereiro de 2013

Bento XVI

Os últimos diasde um PapaA 11 dias de se despedir definitivamente do Papa, fiéis mossoroenses relembram encontro com Bento XVI, que deixou legado no Rio Grande do Norte

Page 9: Revista de Domingo nº 551

o peso do tempo”, descreve Everton.Dom Mariano Manzana, bispo da Dio-

cese de Santa Luzia, chegou mais próxi-mo ao Papa, em 2010, quando integrou uma comitiva de arcebispos da Regional Nordeste 3, divisão da Conferência Na-cional dos Bispos do Brasil (CNBB) em uma visita de cortesia ao Papa, em Ro-ma.

O arcebispo comenta que o encontro com Bento XVI “foi um momento volta-do para aprofundar os questionamentos conjunturais que mexem com o país”. O bispado mantém uma ligação mais pró-

xima com o Vaticano, é o intermédio entre as de-

cisões da alta cúpula e as paróquias. Mesmo

em contato cons-tante com interlo-

cutores em Ro-ma, dom Maria-no Manzana

também foi sur-preendido com a

decisão do seu líder maior.

“Depois do choque inicial, entendi a decisão

com muito respeito e admi-ração”. Para dom Mariano,

a decisão é tomada por muita “humildade em reconhecer sua limita-

ção, porque para condu-zir a barca de Pedro é ne-

cessário não somente a pa-lavra e a oração, mas também

o vigor”.

9Jornal de Fato | DOMINGO, 17 de fevereiro de 2013

Passada a surpresa inicial com o anúncio de renúncia do Papa Bento XVI, ainda não é claro o

impacto – mesmo que simbólico – que a decisão do pontífice terá na Igreja Cató-lica. O ainda atual titular da cadeira de Pedro escolheu uma segunda-feira de Carnaval, dia 11 de fevereiro, para ofi-cializar a sua decisão de deixar a lide-rança no próximo dia 28 de fevereiro.

Se o mundo foi pego de surpresa, aqueles fiéis que um dia tiveram a opor-tunidade de chegar perto do maior líder católico se viram por um momento sem resposta, sem palavras para descrever ou supor o que motivou o cardeal alemão Joseph Ratzinger a abandonar a condu-

ção do seu rebanho.No discurso lido na segunda-feira

passada, Bento XVI justifica que, “pela idade avançada”, já não tem mais forças para exercer adequadamente o ministé-rio petrino (de São Pedro, tido pela Bíblia como o fundador e primeiro pároco da Igreja Católica). Dias depois, o próprio Vaticano fez questão de trazer à tona no-tícias evidenciando as complicações de saúde sofridas pelo Papa.

O legado de Bento XVI é resumido em uma liderança de apenas 7 anos e 10 meses, considerado curto, sobretudo se comparado com o seu antecessor, Papa João Paulo II, que permaneceu no trono durante 27 anos. Nesse tempo, Bento XVI veio ao Brasil apenas uma vez, em 2007, e estava sendo esperado pela segunda vez no mês de julho, durante a Jornada Mundial da Juventude, que será sediada no Rio de Janeiro.

Foi no mesmo evento, em Madrid, Espanha, que o jornalista mossoroense Everton Lima, em 2011, chegou próximo do Papa Bento XVI. Mesmo que sem con-tato direto, e distante cerca de cinco me-tros do pontífice, a descrição do momen-to é cheia de emoção. Primeiro por estar participando do evento, em grupo com outros jovens católicos, depois pela co-moção do rápido instante de ver o líder de sua igreja tão próximo de si.

“Você tem fé e, às vezes, acha que só você tem esse sentimento. De repente você encontra uma multidão de gente do mundo todo, jovens que está com você, que tem a mesma fé e sentimento que você tem”, descreve Everton, lembrando que estava com o grupo quando viu o papôdromo passar dentro da área isolada. “É natural que tenhamos toda uma euforia porque, afinal de contas, foi a primeira vez que vi o Papa de tão perto. A gente quer saber como é a maior liderança da Igreja”.

O jornalista lembra que Bento XVI, quando escolhido pelo concla-ve do Vaticano, em 2005, já era espera-do em um manda-to rápido, justa-mente devido a sua idade, ho-je com 85 anos. “Ele já tinha a saúde fragilizada. Não se percebe muito, mas já era visto nele

Page 10: Revista de Domingo nº 551

10 Jornal de Fato | DOMINGO, 17 de fevereiro de 2013

PonCIAnoO italiano nascido em 175 assumiu o comando da Igreja Católica após um conclave em 230, uma época marcada pela divisão do catolicismo. Ele e outros líderes da Igreja foram exilados pelo imperador romano Maximino Trácio na Sardenha, uma ilha do mar Mediter-râneo. Percebendo que jamais consegui-ria retornar ao Vaticano, decidiu renun-ciar ao posto.

São CELEStIno VRenunciou no mesmo ano de sua eleição, em 1294. Vivia como eremita até a sua nomeação. A escolha de um desconhecido foi a opção do con-clave para acabar com a guerra pela su-cessão de Nicolau IV, morto dois anos antes. O novo Papa logo expôs as razões que o impediam de desempenhar suas funções: sua humildade e saúde. Ele ab-dicou em 13 de dezembro de 1294 e al-guns dias depois o cardeal Bento Gaetani foi eleito para sucedê-lo sob o nome de Bonifácio VIII.

GREGóRIo XIIINascido em Veneza em 1327, Angelo Correr foi eleito papa com mais de 80 anos de idade. Ele assumiu o posto em 1406. A renúncia ocorreu em 1415, como parte de uma negociação no Concílio de Constança pa-ra acabar com as disputas de poder den-tro da Igreja durante o período do Grande Cisma do Ocidente – uma crise na Igreja Católica que perdurou de 1378 a 1417. Como seu sucesso, foi eleito Marinho V. Gregório se tornou um bispo respeitado e morreu um ano depois.

Bento XVI

))O Papa Bento XVI sai do topo hie-

rárquico da Igreja Católica, mas deixa um importante legado para o Rio Gran-de do Norte.

Em 2007, na sua vinda ao Brasil, mesmo não tendo pisado em solo poti-guar, ele encaminhou um representan-te à cidade de Assú para oficializar a beatificação da Irmã Lindalva, a pri-meira fase antes da canonização, a pro-clamação de um santo.

A irmã Lindalva é natural do muni-cípio de Assú e foi barbaramente as-sassinada com 44 facadas, aos 40 anos, em 1993, em Salvador/BA. Desde en-tão, parte daquela cidade, bem como os seus conterrâneos na cidade de As-sú, alimentam profunda devoção à re-ligiosa, alinhada com a ordem Filhas da Caridade de São Vicente de Paula.

A beatificação foi concedida por Bento XVI 14 anos depois do episódio, evidenciando total atenção de Roma com o processo de beatificação da Irmã Lindalva.

Em um dos trechos do seu discurso, o pontífice usa também como justifica-tiva para a saída precoce do papado as “rápidas transformações” de um mun-

do “sacudido por questões de grande relevo para a vida da fé”. O trecho, por sinal, traz em si uma das marcas da gestão de Bento XVI: conservadorismo e pouca abertura para questões mo-rais.

Em contrapartida, porém, Bento XVI deixou claras marcas de simpatia para movimentos populares de de-monstração de fé, como as romarias de fiéis ao casarão do século XIX que abri-ga os restos mortais de irmã Lindalva e, no vizinho Estado do Ceará, outro exemplo é o processo de discussão em torno do Padre Cícero, reativado.

Em meados de 2011, uma equipe do Jornal de Fato viajou a Juazeiro do Norte (CE) e conversou com o padre italiano José Venturelli, encaminhado pelo vaticano na tentativa de atenuar os ânimos no processo de beatificação de Padre Cícero.

Padre Cícero morreu em 1934, aos 90 anos, proibido de subir ao altar para celebrar missa. Quase oito décadas de-pois de sua morte, se transformou em um verdadeiro messias do sertão.

Embora ainda não ostente um lugar ao lado dos santificados, o povo nor-

Bento XVI beatifica Irmã Lindalva

destino tratou de ignorar a ortodoxia da Igreja e seguir na sua fé irrestrita ao “Padim Ciço”. “Padre Cícero tem uma importância agregadora para a Igreja Católica”, revelou Venturelli.

Quando cardeal, Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Dou-trina da Fé, incentivou a diocese do Crato a estudar o processo de reabili-tação de Padre Cícero. Anos depois, em 2006, já no papado, uma comitiva cearense entregou ao Vaticano uma nova remessa de documentos.

A decisão de Bento XVi é inédita nos últimos 600 anos, o suficiente para evidenciar uma crise na igreja Católica. Historiadores ainda divergem sobre o número de papas que renunciaram aos seus

postos, mas há unanimidade em três casos: Ponciano, Celestino V e gregório Xii.

Page 11: Revista de Domingo nº 551

11Jornal de Fato | DOMINGO, 17 de fevereiro de 2013

Bento XVI

Capa do Jornal de Fato, na edição do dia 3 de abril de 2005 para noticiar a morte do Papa João Paulo II, anteces-sor de Bento XVI. A Capa foi escolhi-da pela Associação Nacional de Jor-nais (ANJ) para o livro “As melhores primeiras páginas dos jornais brasi-leiros”.

A Revista IstoÉ, de circulação nacio-nal, trouxe na capa da sua edição de abril de 2007 uma reportagem sobre o caso da Irmã Lindalva, incluindo uma entrevista com o assassino da beata.

O padre italiano José Venturelli toma de conta do Horto de Padre Cícero, em Jua-zeiro do Norte (CE), e foi enviado pelo Vaticano. Uma equipe do JOR-NAL DE FATO c o n v e r s o u com ele para a edição de se tembro da Revista Contexto.

DoM RAyMunDo DAMASCEno, atual arcebispo de Aparecida e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB);

BRASI

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DoM CLáuDIo HuMMES, arcebispo emérito de São Paulo, 78 anos, aparece em todas as listas de aposta como forte candidato da América latina para ser escolhido.

oDILo SCHERER, atual cardeal arcebispo de São Paulo, 63 anos, é o mais novo entre os brasileiros.

DoM João BRAz DE AVIz, mora em Roma, é prefeito das congregações dos religiosos e tem 66 anos.

DoM GERALDo MAJELLA AGnELo, 79, atual arcebispo emérito de Salvador (BA).

Page 12: Revista de Domingo nº 551

12 Jornal de Fato | DOMINGO, 17 de fevereiro de 2013

RAFAEL DEMETRIUS

sua carreira

xSomos diariamente inundados por regras, dicas e con-selhos de como ser mais produtivo no trabalho, como possuir o perfil ideal para aquela vaga, como se tornar

líder, como trabalhar melhor. Uma lista interminável em busca de um perfil ideal, o ápice do bom profissionalismo. Mas você já parou pra pensar se sua empresa é tão boa quanto você se esforça pra ser? Ela lhe oferece um bom ambiente de trabalho, se esforça para suprir suas necessidades? Essas são algumas perguntas que você deve se questionar para tentar definir sua empresa. Trabalho e casamento se assemelham em muitos pon-tos. Ambos exigem dedicação, tempo, paciência e caminham com uma boa dose de expectativas. E, por isso, para se “casar” com uma empresa, é preciso conhecê-la, testá-la e encontrar nela características que sejam importantes para você. Mas como fazer isso? Nos relacionamentos amorosos nós conhecemos a pessoa, namoramos, analisamos as afinidades, qualidades do parceiro, e observamos como devemos corresponder a essas atitudes do companheiro. E com o trabalho não deve ser muito diferente. Essa análise levará você à conclusão se a sua empre-sa é ou não para casar, o tema de nossa coluna de hoje.

Antes de tudoAntes de tudo é necessário pensar no que você preza em uma empresa. Oportunidade de crescimento? Bom ambiente de tra-balho? Aprendizado? Bom salário? Estabeleça prioridades e pro-cure se informar com amigos, ou através de sites e revistas sobre as empresas que oferecem as oportunidades que você busca en-contrar para se desenvolver profissionalmente.

Ajude-seAjude-se a chegar onde você deseja. Estabeleça metas; são elas que nos ajudam a não gastar tempo com o que não é necessário e a sermos mais objetivos com nossos desejos. Para facilitar, des-cubra como sua empresa (ou a empresa onde deseja ingressar) foi formada, qual sua história, seus valores. Seja sensível e per-ceba o clima organizacional, como são as pessoas que formam a companhia. Nada melhor do que o dia-a-dia para saber se você se identifica com o que faz e tem prazer em realizar suas tarefas. Tente construir uma história feliz, faça a sua parte. O que as boas empresas oferecem? Verdadeira valorização e res-peito ao ser humano, crença na evolução de seus empregados, ambiente de transparência e ética na gestão de pessoas são fa-tores que valeram pontos na hora da escolha das companhias que ocupam os primeiros lugares do ranking “Melhores empresas para se trabalhar no Brasil", segundo pesquisa anual da consul-toria internacional Great Place to Work Institute.

Seu emprego é para toda vida?

Boas empresas apostam nos jovensAs boas empresas apostam em um ambiente de trabalho dife-renciado, com muita camaradagem, com uma equipe jovem, motivada e que realmente gosta do que faz. Na hora de recrutar novos funcionários, essas empresas, buscam pessoas realmen-te de grupo, que acreditam e tem o mesmo ideal.

CapacitaçãoAs boas empresas investem em capacitação. Em meios de o funcionário se desenvolver, como uma universidade corporati-va (UCC), MBA, mestrados, treinamentos, cursos de idiomas, ou seja, tudo o que puder contribuir para o desenvolvimento da carreira, em todos os níveis. O que se busca é o desenvolvi-mento, o aprendizado. Além disso, a empresa está sempre aber-ta a ouvir a equipe para melhorar cada vez mais.

Excelentes BenefíciosBoas empresas destacam em seus programas de gestão de pes-soas, bons pacotes de benefícios, o que traz grande comprome-timento e engajamento dos colaboradores. Planos de saúde, odontológico, Vale-Alimentação, Vale-Transporte, Participação nos lucros, auxílios creches e educação ajudam a manter o fun-cionário satisfeito.

DiretoriaToda empresa geralmente têm a cara do dono. Por isso, a pro-ximidade da diretoria, através de uma postura transparente, sincera, humana e bastante dinâmica auxilia a empresa a ter bons resultados, manter as portas da empresa e da sala da di-retoria aberta para receber opiniões, dicas, sugestões e recla-mações é uma atitude transparente e que faz toda a diferença para a organização.

Bem-estarAs empresas devem atentar para a importância de investir no bem estar do profissional, físico, social e na qualidade de vida de seus profissionais, contemplando seu bem- estar intelectu-al e espiritual. Valorizar cada pessoa como ela é, percebendo seus talentos individuais, procurando saber aquilo que ela re-almente gosta de fazer, no que se sente feliz e faz bem, com prazer. As empresas boas que são para casar possuem uma política de RH baseada na valorização do ser humano e na cren-ça da sua evolução, também têm programas que visam dar qualidade de vida, capacitação técnica e evolução pessoal, pa-ra que todos os seus funcionários tenham uma visão de mundo mais ampliada,

E se minha empresa não for para casar? Se sua empresa não for uma empresa para casar não adianta se desesperar. Se o seu relacionamento com seu emprego não está dando certo, não desanime. Relacionamentos se desfazem e en-tão cabe a você partir pra outra e tentar ser feliz em outro lugar. A chave do seu sucesso está dentro de você. E lembre-se que não é só a empresa que nos escolhe, também temos que escolher a empresa. Você pode começar a conhecer outras realidades, pa-querar com outras organizações e na hora certa pedir o divórcio do seu atual emprego e partir para um novo relacionamento.

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13Jornal de Fato | DOMINGO, 17 de fevereiro de 2013

RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA *

Questão persistente )(

* Ruy Martins Altenfelder Silva é presidente do Conselho de Administração do CIEE, da Academia Paulista de Letras Jurídicas e do Conselho Superior de Estudos Avançados/ Consea (Fiesp/IRS)

artigo

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Quase metade dos brasileiros aci-ma dos 25 anos de idade não tem o ensino fundamental com-

pleto ou, o que é pior, não possui nenhum grau de instrução. O dado, estarrecedor e preocupante, acaba de ser divulgado pelo IBGE, com base no Censo de 2010 e, de lá para cá, a situação não deve ter so-frido alteração para melhor, dado o prazo de uma ou duas décadas para que medidas produzam efeitos significativos no nível de escolaridade da população. Traduzido em pessoas, esse percentual significa que 54,5 milhões não concluíram sequer os nove anos do ciclo fundamental. E outros 16,2 milhões (14,1% dessa população) foram à frente, concluíram o fundamental, mas não terminaram o ensino médio. Em resumo, perto de 71 milhões de brasilei-ros, na melhor das hipóteses e com as exceções de praxe, apresentam sérias de-ficiências de escrita, leitura e aritmética básica – o que, se não os alija do mercado de trabalho, corta pela raiz as probabili-dades de ascensão profissional e conse-quente aumento sustentável de renda.

Quando o recorte do Censo de 2010 se estreita para a faixa jovem (de 20 a 24 anos), o cenário ganha tintas menos es-curas, mas não menos preocupantes, ape-sar dos avanços registrados nas duas úl-timas décadas. Nesse segmento, um quar-to dos jovens sequer concluiu o ensino fundamental e outros 22,5% não termi-naram o ciclo médio. Somem-se ao quadro outras distorções apontadas pelo Censo, como a média insuficiente de 7,7 anos de estudo; os 30% dos alunos do fundamen-tal com idade para estar no médio; e a elevadíssima taxa de evasão, que coloca 36,5% dos jovens entre 18 e 24 anos fora da escola, e eis que surgem dúvidas per-tinentes. Por exemplo, com a baixa esco-laridade de boa parte da população, como o País poderá ingressar numa fase de de-senvolvimento sustentável? Ou como metade dos brasileiros poderá aspirar a uma vida melhor e a um futuro mais pro-missor, visto não ostentar as competên-cias e habilidades mínimas requeridas

para usufruto dos benefícios da atual era do conhecimento? E por aí se poderia ir, com o cenário educacional suscitando mais e mais dúvidas. Melhor que questio-nar, entretanto, é arregaçar as mangas e, enquanto o Brasil não elege efetivamente o ensino como a prioridade das priorida-des nacionais, cada um deverá prestar sua contribuição para atenuar a perversa de-

sigualdade educacional. É isso que o CIEE vem fazendo, com uma série de progra-mas gratuitos que visam preencher lacu-nas deixadas pelo sistema de ensino, tan-to no campo da alfabetização de adultos, quanto na melhor formação dos estudan-tes, com cursos, palestras, publicações, educação à distância e outras ações de responsabilidade cidadã.

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DAVI MOURA

14 Jornal de Fato | DOMINGO, 17 de fevereiro de 2013

adoro comer

Quando chega o período de Carnaval, todo mundo já fica na ex-pectativa para os 4 dias de folia. Minha festa se resume à tríade já conhecida pelos fãs de um bom recesso em casa: cama, mesa e banho. E desta vez acompanhado: meus tios e prima de Goiânia vieram par-ticipar dos festejos nordestinos. Uma diferença básica: enquanto eles e meus pais e familiares foram a Tibau, aproveitar a praia e o sol, eu, a prima e mais dois sobrinhos – que são quase da minha idade, diga-se de passagem – aproveitamos um acampamento dentro de casa, sem sol, só comendo, dormindo e sendo feliz.

Lá em Goiânia, o quilo do camarão gira em torno de R$ 120,00, então nosso foco no primeiro dia foi apresentá-la aos locais com pratos com essa iguaria. A primeira parada foi o Real Botequim. Normalmente estaria lotado, mas no Carnaval estava uma tranquilidade, o que fez com que o atendimento fosse ainda melhor. As escolhas foram: a fa-mosa empada de queijo do reino, a coxinha de camarão, filezinho e tequilas para esquentar. Ainda na mesma noite, passamos pela Man-jericão Pizza Gourmet e as escolhas foram a de palmito (com noz-moscada, que faz toda a diferença), bacon e cartola com chocolate, minhas favoritas.

Depois de trocar o dia pela noite, a preguiçosa manhã de domingo passou adormecida. Acordamos à tarde e nos dirigimos ao West Shop-ping. Detalhe: a última vez que eles visitaram a cidade foi há 7 anos atrás – quando as opções não passavam de espetinhos e sanduíches. Hoje já temos um local climatizado para comer, pelo menos. As escol-has deste dia foram do Bonesse, com o risoto de camarão e o frango à parmegiana. Amo o Subway, mas estava com fome de comida de ver-dade! Claro, sempre tem um sorvetinho depois.

Após um longo passeio pela cidade – fantasma, com tudo fechado – passamos em casa para repor as energias e voltar a comer. O destino era o sanduíche mais confortável da cidade: o do Sandubar. Já falei de comida confortável pra você – aquela que te desperta bons sentimen-tos, a tal da “comfort food”. Só que estava fechado e nunca tivemos tanta raiva em todo o período. Enfim, escolhemos um novo destino em cima da hora, que não vou nem citar o nome, mas já adianto: atendi-mento ruim, produto ruim e nem uma substituição de alguns ingredi-entes pudemos fazer. Empresário: treine o seu funcionário, dê estímu-los para que o mesmo trabalhe bem mesmo durante o Carnaval. Nin-

guém é obrigado a aguentar cara feia e abuso. Já na segunda-feira, para nos confraternizar com o resto da famí-

lia, fomos a Tibau para passar o dia. Acordamos tarde, não pus gaso-lina no carro e ainda esqueci o documento. Para evitar maiores tran-stornos, voltei a Mossoró, conferi tudo e fui. Esse atraso nos fez ir direto ao nosso destino de almoço: o famoso bar da Maria Lúcia, lá na praia de Grossos. O mais delicioso caranguejo da região, assim como o bom e velho peixe frito e o baião de dois fizeram o nosso almoço mais feliz. À tarde, retornamos à casa e esperamos o início da noite para sair novamente.

O destino foi o 144 Lounge Bar em Tibau, que, por sinal, já voltou a Mossoró desde a última sexta. Caipirinhas, drinks e a tal da batata Frida Kahlo foram as estrelas da noite. Sentamos em uma mesa de frente para o lado do mar, então o ventinho frio foi um ingrediente a mais. E tudo isso a pé: bebida e direção não combinam mesmo. Após descer à praia e subir novamente, paramos no Mr. Empada e, pra variar, comemos mais. O almoço do dia seguinte, terça-feira, com a família toda junta novamente, repetimos a dose em Maria Lúcia, só que o rei desta refeição foi o caldo de camarão, que fiz questão de co-locar por cima do peixe frito para ser ainda mais feliz.

De volta a Mossoró, o jantar da terça-feira, depois de passar em 7 estabelecimentos diferentes, foi no Pittsburg do Nova Betânia. A es-colha foi um tal de sanduíche Chicken Burguer, com hambúrguer de carne e frango – como não sou tão fã do de carne, pedi para retirar. Ponto positivo para o queijo cheddar e o bacon, além do molho rosê que é uma delícia sem fim. Para sobremesa, uma cartola premium, com sorvete e calda de chocolate cremoso. Acompanhado do meu sobrinho guloso, ainda dividimos uma cartola tradicional. Indico demais!

No último dia, após uma tarde passeando pelo Centro, morrendo de calor, fomos ao Sandubar, matar a vontade. Comi um sanduíche e meio e nunca vi aquilo tão cheio de pedidos. Todo mundo sentiu falta! Ah, repetimos a dose da cartola do Pitts.

Em suma, com exceção de um único local, o saldo foi positivo. Mas faço minhas as palavras da minha prima: “em Goiânia, independente de feriado, os locais abrem normalmente”. Sei bem que Mossoró ficou deserta por estes dias, mas é bom lembrar que, quem ficou, também merece comer bem. Nem todo mundo é movido a álcool durante os 4 dias. E parabéns para quem abriu: fizeram meu feriadão mais feliz.

SERVIço:

Pittsburg - Rua João da Escócia, 1293 - Nova Betânia - (84) 3317 3008

Sandubar - Pç Alípio Bandeira 2064 - Alto Conceição – (84) 3321 6725

Mossoró West Shopping - Av. João da Escossia - Nova Betânia - (84) 3422-7000 - Bonesse - (84) 3422 7062

Maria Lúcia’s - Entrada de Grossos - (84) 9176 1648.

144 Lounge Bar - R. Venceslau Brás, 144, Centro – (84) 3316 1675

Praça da Convivência - Av. Rio Branco, Centro.

Relatos de Carnaval1

Aproveite e acesse o http://blogadorocomer.blogspot.com para conferir esta e outras delícias!

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15Jornal de Fato | DOMINGO, 17 de fevereiro de 2013

adoro comer adoro comer

Bolo de Nutella com Iogurte

INGREDIENTES MODO DE PREPARO

• Misture os ovos e o iogurte com um batedor;• Quando eles estiverem bem unidos, ponha o açúcar e o óleo e misture mais um pouco;• Por último, incorpore o chocolate e coloque a farinha aos poucos para que não empelote;• Quando já tiver formado a massa, acrescente o fermento para finalizar;• Despeje essa massa numa assadeira untada e enfarinhada e leve para assar em forno pré-aquecido, em temperatura média, por cerca de 40 minutos;• Quando ele estiver pronto basta recheá-lo ou somente cobri-lo.

• 1 pote de iogurte natural de 170 g• 3 ovos• 1 pote (do iogurte) de açúcar• 1 pote (do iogurte) de chocolate em pó• 3 potes (do iogurte) de farinha de trigo• 1 colher de sopa de fermento• 1 ou 2 potes de 350 g de Nutella para rechear e cobrir (se quiser cobrir e rechear use 2)• 1 pote (do iogurte) de óleo

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