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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA MARIA CLAUDIA VIDAL BARCELOS REGIMES DE SENTIDOS EM ESPAÇOS TEMÁTICOS PAULISTANOS: CONSUMO DE MÓVEIS E OBJETOS DE DECORAÇÃO SÃO PAULO 2014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

MARIA CLAUDIA VIDAL BARCELOS

REGIMES DE SENTIDOS EM ESPAÇOS TEMÁTICOS PAULISTANOS:

CONSUMO DE MÓVEIS E OBJETOS DE DECORAÇÃO

SÃO PAULO

2014

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MARIA CLAUDIA VIDAL BARCELOS

REGIMES DE SENTIDOS EM ESPAÇOS TEMÁTICOS PAULISTANOS:

CONSUMO DE MÓVEIS E OBJETOS DE DECORAÇÃO

Texto apresentado à banca de qualificação do programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do grau de Mestre em Comunicação e Semiótica.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Claudia Mei Alves de Oliveira.

SÃO PAULO

2014

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BANCA EXAMINADORA

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Para meu filho Victor, que está sempre em

meus pensamentos.

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Agradecimentos

Ao Claudio, meu marido, por todo seu incentivo, apoio e amor nessa jornada.

À minha orientadora, Ana Claudia de Oliveira, que entre tantos afazeres me conduziu pela

pesquisa com extrema dedicação.

Às professoras Sylvia Demetresco e Valdenise Martyniuk, pelos apontamentos essenciais.

Aos novos amigos Mariana Albuquerque e Marc Bogo, pelo acolhimento e pelos momentos

compartilhados.

Ao nosso grupo de pesquisa Centro de Pesquisa Sociossemióticas, por ampliar meus

horizontes.

Ao Rafael Lenzi, pelas correções tão necessárias.

Às minhas amigas queridas de longa data, Sy, Tatã, Macá, Rô, Marylza, Pati e Nora que

souberam compreender minha ausência em alguns momentos de convívio.

À Fundação PUC São Paulo, pela bolsa concedida.

E finalmente, agradeço à Deus pela minha vida e por proporcionar todos esses encontros

sensíveis sem os quais não seria possível chegar até aqui.

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RESUMO

A presente pesquisa estuda o comércio de móveis e objetos de decoração da cidade de São

Paulo. Objetivamos compreender e sistematizar a produção de sentido no contexto do

consumo desse segmento a partir de como são estabelecidas as relações intersubjetivas entre

sujeitos e espaços temáticos. Indagamos assim, como os sujeitos se dão a ver pela ocupação

desses espaços temáticos e fazem ser o sentido para o comércio de decoração paulistano?

Como corpus foram tomadas duas ruas temáticas da cidade, a Rua Teodoro Sampaio e

Alameda Gabriel Monteiro da Silva, em trechos específicos, nos quais a concentração de lojas

do segmento de decoração é maior. Nossa hipótese é que as lojas organizam-se de modo

estratégico em consonância aos valores praticados nas ruas que estão alocadas. Essas vias são

tomadas como destinadores fortes que vão intervir nos modos de presença dos sujeitos. Para

complementar nossa investigação analisamos a empresa Dunélli House que se faz vista por

três lojas nesses trechos selecionados. Nesses espaços temáticos ocorrem diferentes modos de

sociabilidade presentificados em seus enunciados que fazem ser o sentido do consumo,

promovendo identidades e regimes de interação social. O referencial teórico e metodológico

adotado é a semiótica discursiva a partir do legado de A.J. Greimas, com sua proposição do

percurso gerativo de sentido e da gramática narrativa. O desdobramento dessa teoria na

sociossemiótica de E. Landowski embasa a análise dos regimes de visibilidade e regimes de

sentido a partir dos tipos de interação que ocorrem nesses espaços, bem como a abordagem da

semiótica plástica realizada por J.M. Floch e A. C. de Oliveira. A conclusão é que essas vias

temáticas são destinadores fortes capazes de delinear os tipos de sujeitos que se dão a ver nos

trechos selecionados e fazem ser o sentido para o comércio de decoração paulistano.

Palavras-chave: São Paulo. Práticas de consumo. Móveis e objetos de decoração.

Visibilidade. Regimes de interação e de sentido. Sociossemiotica.

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ABSTRACT

The present study regards São Paulo’s city commerce of furniture and decoration objects. We

aim to understand and systematize sense production on the context of this segment’s

consumption from the way intersubjective relations are settled between subjects and thematic

spaces. In that way we question how do subjects allow themselves to be seen by the

occupation of these thematic spaces and give meaning to sense for Paulistano’s decoration

commerce? As corpora were taken two thematic streets of the city, RuaTeodoro Sampaio and

Alameda Gabriel Monteiro da Silva, on specific sites where concentration of decoration

segment stores is bigger. As hypothesis we assume that stores organize themselves in a

strategic way, according to the values practiced on the spaces where these stores are placed.

These streets are presumed as strong Addressers that will interfere on subjects’ presence way.

As a complement to our investigation we analyze Dunélli House Company, that makes itself

seen by three stores on the selected sites. On these thematic spaces occur different sociability

ways presentified in their enunciates that make the consumption sense to be, promoting

identities and social interaction regimes. The theoretical and referential basis adopted is

Discursive Semiotics, from A. J. Greimas’ legacy, with his proposition concerning sense

generative path and narrative grammar. The development of this theory on E. Landowski’s

Sociossemiotics founds visibility regimes and sense regimes’ analysis from the kinds of

interaction that happen on these spaces, as well as J.M. Floch and A. C. de Oliveira’s

approach on Plastic Semiotics. The conclusion points that these thematic routes are strong

Addressers, able to delineate the kinds of subjects that come to be seen on selected sites and

give meaning to sense regarding Paulistano’s decoration commerce.

Keywords: São Paulo. Consumption practices. Furniture and decoration objects.Visibility.

Sense interaction regimes. Sociossemiotics.

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LISTA DE FIGURAS

Figura1- Mapa dos polos comerciais de rua da cidade de São Paulo.............................

Figura 2 - Rua das Noivas..............................................................................................

Figura 3 - Rua dos eletrônicos........................................................................................

Figura 4 - Rua Oscar Freire............................................................................................

Figura 5- Lustres Bobadilha...........................................................................................

Figura 6 – A divulgação da CASACOR 2012.................................................................

Figura 7- O estilo de morar dos bandeirantes.................................................................

Figura 8 – A moradia no final do século XIX................................................................

Figura 9 – Loja Mappin: anúncios e espaços internos...................................................

Figura10- Art Déco na arquitetura e no mobiliário........................................................

Figura 12- Símbolo da modernidade: Edifício Ester......................................................

Figura 12: A era do Rádio..............................................................................................

Figura 13- A televisão dentro de casa............................................................................

Figura 14- Edição da revista Casa e Jardim..................................................................

Figura 15- Ícones dos anos 50........................................................................................

Figura 16- Poltrona Paulistana......................................................................................

Figura 17: Móveis Hobjeto.............................................................................................

Figura 18- Decoração dos anos 70.................................................................................

Figura 19 – O conceito de moradia e trabalho, atualizado.............................................

Figura 20- Uma das lojas Tok Stok................................................................................

Figura 21- Shopping Lar Center....................................................................................

Figura 22- O D&D- Decoração e Design Center..........................................................

Figura 23 – Loja Conceito Dedon..................................................................................

Figura 24 – o Bairro Pinheiros.......................................................................................

Figura 25- Jardim Paulistano..........................................................................................

Figura 26- Delimitações dos bairros e vias....................................................................

Figura 27- Av. Brigadeiro Faria Lima............................................................................

Figura 28- O Largo da Batata........................................................................................

Figura 29- Início da Rua Teodoro Sampaio...................................................................

Figura 30- Trecho selecionado.......................................................................................

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Figura 31- A Alameda Gabriel Monteiro da Silva.........................................................

Figura 32- Alameda Gabriel comercial..........................................................................

Figura 33 – O andar pela Alameda.................................................................................

Figura 34- Alameda comercial arborizada.....................................................................

Figura 35- Estabelecimentos comerciais na Alameda....................................................

Figura 36- Consumidora na Alameda............................................................................

Figura 37- As lojas e suas fachadas................................................................................

Figura 38- Cuidados dispensados...................................................................................

Figura 39- Inovação nas fachadas..................................................................................

Figura 40- Preservação da arquitetura da casa...............................................................

Figura 41- Nomes como diferenciação de serviço.........................................................

Figura 42: A loja Firma Casa........................................................................................

Figura 43- Conceito: Firma Casa..................................................................................

Figura 44- Marcas renomadas na Alameda Gabriel.......................................................

Figura 45- Lojas de grifes internacionais.......................................................................

Figura 46: Loja conceitual Moss para a Casa...............................................................

Figura 47- Evento Avant Gabriel Chandon...................................................................

Figura 48- Pontos comerciais na Teodoro dos móveis...................................................

Figura 49- O elemento cromático na diferenciação.......................................................

Figura 50- A passagem entre exterior e o interior.....................................................

Figura 51- Fachadas diferenciadas.................................................................................

Figura 52-Loja Garimpo................................................................................................

Figura 53- Exposição nas calçadas.................................................................................

Figura 54- Faixas promocionais.....................................................................................

Figura 55- Sujeitos consumidores em circulação...........................................................

Figura 56- Cópias de mobiliário.....................................................................................

Figura 57- Casa & Móvel...............................................................................................

Figura 58- Espaços internos do Casa & Móvel Outlet...................................................

Figura 59- Divulgação no Casa & Móvel Outlet...........................................................

Figura 60- Fachadas da Dunélli House..........................................................................

Figura 61- Logo da marca em frente às lojas.................................................................

Figura 62- Vitrinas em relação.......................................................................................

Figura 63- Cartões da loja..............................................................................................

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Figura 64- Serviço de café das lojas...............................................................................

Figura 65- Mesas de atendimento..................................................................................

Figura 66: Indicação do Espaço Goumet no piso superior.............................................

Figura 67- Ambientes internos da Dunélli Teodoro.......................................................

Figura 67- Composições internas da Dunélli Gabriel....................................................

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SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS......................................................................................

São Paulo e os segmentos de decoração............................................................................

Abordagem semiótica dos espaços temáticos de São Paulo..............................................

Do objeto de estudo, o corpus...........................................................................................

Organização do trabalho....................................................................................................

CAPÍTULO I: MÓVEIS E A DECORAÇÃO NA CULTURA PAULISTANA.......

I.1. O ponto de venda do segmento de decoração.........................................................

CAPÍTULO II: AS RUAS TEMÁTICAS DO SEGMENTO......................................

II.1. Bairros e entornos..................................................................................................

II.2. Os modos de presença da Alameda comercial......................................................

II.3. Os modos de presença da Teodoro dos móveis.....................................................

CAPÍTULO III: PRESENÇAS DA DUNÉLLI HOUSE.............................................

III.1. A empresa e localizações.....................................................................................

III.2. Estratégias de visibilidade....................................................................................

III.3. Entre a identidade e os valores assumidos...........................................................

CAPÍTULO IV: TIPOLOGIAS E INTERAÇÕES DOS SUJEITOS........................

IV.1. Tipologia dos sujeitos..........................................................................................

CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................

REFERÊNCIAS...............................................................................................................

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Com 460 anos, São Paulo pode ser considerada uma cidade jovem e inovadora.

Marcada por um grande polo de consumo que não para de crescer, a cidade de São Paulo

mostra-se para o Brasil, América Latina, enfim, para o mundo, como cidade das novidades e

das possibilidades em diversos segmentos. Não é raro ouvir: “São Paulo tem de tudo”! A

própria prefeitura, na criação do novo slogan da cidade enquanto marca, convida: “Viva tudo

isso” (SP TURIS) ofertando o “tudo” da cidade aos seus moradores e visitantes1. Esses são

então, consumidores em potencial do que a cidade tem a oferecer, capital socioeconômico

cultural, vivificado no grande polo comercial da megalópole.

Sede de muitas filiais de empresas multinacionais e instituições financeiras, São

Paulo é o centro da economia brasileira. Local onde as ideias nascem e amadurecem mais

rapidamente em comparação às outras regiões do país. É assim que, em ritmo acelerado, a

cidade acompanha as mudanças internas ou aquelas impostas pelo mercado internacional, que

propicia em seus polos comerciais uma constante mudança nos modos de consumir.

Esses aglomerados comerciais formam-se a partir da evolução das cidades. No início

da metrópole paulistana era na região central que concentrava as atividades principais do

município. No artigo “Polos comerciais de rua”, J. Parente ressalta o motivo da sua origem

central:

[...] o centro concentrava todas as principais atividades da cidade, pois ali se localizavam os terminais de transporte coletivo, os órgãos de gestão pública,

as atividades financeiras e empresariais, o polo varejista, assim como as

residências da população de maior poder aquisitivo. (2007, p.50)

Com o crescimento e o desenvolvimento urbano, a área comercial central expandiu-

se dando origem aos polos comerciais localizadas em bairros. Assim, espalhados em todos os

bairros da cidade de São Paulo, os pontos de vendas estão alocados para atender sujeitos

moradores ou passantes em busca de diversos produtos e serviços (Fig.1).

1 Para aprofundamento consultar A. C. de Oliveira no texto: “ Viva tudo isso”( In caderno de texto de XVIII Colóquio Centro de Pesquisas Sociossemioticas. SP, 2012..

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Figura1- Mapa dos polos comerciais de rua da cidade de São Paulo

O mapa mostra destacado, em círculos, os diversos polos comerciais de rua espalhados nas regiões da cidade de

São Paulo.

Fonte: Parente – Varejo&Pesquisa.

É característica do comércio de São Paulo a formação de ruas especializadas em

diversas segmentações: rua das noivas (Fig.2) rua dos eletrônicos (Fig.3), rua das autopeças,

rua da moda (Fig.4) entre tantas outras ruas temáticas. Contam-se 79 ruas especializadas em

mais de 51 segmentos2. Nessas ruas vemos inúmeras lojas em diversos formatos, instaladas

lado a lado, praticando a livre concorrência, ofertando mercadorias de um mesmo tema.

2 Dado segundo site oficial de turismo da cidade de São Paulo (VISITE SÃO PAULO). Acessado 26/08/2014.

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Figura 2 - Rua das Noivas

Rua São Caetano conhecida como a "Rua das Noivas", está localizada na região central de São Paulo, no bairro da Luz. O bairro é constituído por construções antigas que na sua maioria foram reformadas para abrigar as lojas

de artigos para casamento que podem ser identificadas pelas amplas vitrinas as quais permitem visibilidade de

fora para dentro.

Fonte: http://monicacerimonialista.blogspot.com.br/

Figura 3 - Rua dos eletrônicos

Rua Santa Efigênia, no centro de São Paulo. Especializada em eletrônicos, a rua movimenta milhares de

empregos e leva outros milhares de consumidores do país a frequentar a região. A rua é bastante movimentada.

As lojas utilizam fachadas coloridas como recurso para o diferenciamento de uma loja da outra.

Fonte: http://www.guiadasemana.com.br/turismo/noticia/lugares-para-musicos-em-sao-paulo

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Figura 4 - Rua Oscar Freire

Localizada na zona oeste da cidade, a Rua Oscar Freire sedia várias grifes de luxo que estão lado a lado e

instauram uma prática de passeio e apreciação dos arranjos expostos não somente para os paulistanos mas

também para os turistas. Na rua arborizada as calçadas largas permitem a instalação de bancos que propiciam os

sujeitos instalarem-se para comtemplar as vitrinas e a circulação de pessoas pelo local.

Fonte: http://www.skyscrapercity.com/

São Paulo e os segmentos de decoração

Para uma São Paulo cujo trânsito é caótico, a existência de ruas comerciais temáticas

facilita muito a vida de quem está em busca de produtos específicos. A concorrência traz

vantagens, não somente pela possível pesquisa na tomada de preço e na comparação entre os

modelos expostos como também possibilita uma concorrência saudável entre os comerciantes.

De acordo com P. Kotler (2012, p.296) a concorrência direta acontece quando as empresas

procuram satisfazer os mesmos consumidores e suas necessidades com ofertas similares. Por

estarem agrupadas em uma mesma rua ou região as lojas atraem os consumidores pela

variedade de ofertas dentro do mesmo tema melhorando o movimento de vendas de todos os

comerciantes. Essa característica também faz com que as transformações e adequações dos

polos comerciais de ruas sejam mais dinâmicas. Um bom exemplo é a Rua da Consolação, no

trecho próximo ao cemitério, que a partir da loja Lustres Bobadilha, instalada ali nos anos

1953, deu origem à formação de um polo de comércio do segmento de iluminação, o que

levou essa rua ser conhecida como “rua dos lustres e luminárias” de São Paulo (Fig.5).

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Figura 5- Lustres Bobadilha

Fachada da loja Lustres Bobadilha na Rua da Consolação na década de 50. A loja que ocupava o andar térreo de

um prédio residencial chegou a vender móveis, mas especializou-se na venda de lustres e luminárias.

Fonte: arquivo pessoal de Silva Bobadilha.

Muito embora, após 60 anos de existência, a Lustres Bobadilha tenha fechado suas

portas no ano de 2013, o segmento de decoração tem crescido na cidade de São Paulo.

Somente neste mesmo ano, o aumento do setor foi em torno de 8% em relação ao ano

anterior, o que representa valores entre R$ 4 e 5 bilhões, alavancando assim a instalação de

novos pontos de venda ou propondo a readequação dos já existentes na cidade de São Paulo

(GOUVÊA DE SOUZA, 2013).

A expansão desse comércio é dada também pelo aumento constante de eventos e

feiras do segmento realizadas na cidade. Considerada a “capital dos eventos”, São Paulo

abriga muitas exposições por ano. Mais precisamente a cada seis minutos um novo evento é

realizado e a cada três dias uma feira de negócios é aberta em segmentos distintos3. De acordo

com o site Visite São Paulo, a cada ano, circulam 13 milhões de visitantes na cidade para

3 Dados publicados na revista impressa Brasileiros - edição especial- expo 2020/eventos, maio 2013.

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alavancar os negócios ou estreitar contatos profissionais, fazer compras ou aproveitar o

calendário cultural4.

No que abrange o segmento que envolve a decoração são realizadas feiras e

exposições que vão desde a apresentação de novos materiais de construção básicos aos

acabamentos refinados, feiras do setor moveleiro e de objetos decorativos, assim como

mostras de decoração que fazem circular milhões de sujeitos em busca dos lançamentos e

novidades. Como exemplos, a Feicom Batimat, evento que está na 20ª edição em 2014, é o

principal salão da construção da América Latina: reunindo expositores do segmento da

construção civil, apresenta lançamentos de produtos e serviços e oferece conferências e

palestras sobre o tema aos visitantes. Outro evento, que acontece simultaneamente à Feicom,

é a Expo Revestir, considerada a Fashion Week 5da arquitetura e construção dada sua

importância e atuação na divulgação de tendências. No ano de 2013 o evento, que está na sua

12ª edição, foi encerrado com um número recorde de visitação na marca de 51 mil pessoas,

6% a mais que no ano anterior, o que comprova o aquecimento do segmento.

Na categoria de mostras de decoração a precursora e mais importante é a CASACOR

São Paulo. No ano de 1987 a idéia de reunir arquitetos e decoradores para montar 22

ambientes, distribuídos numa residência no Jardim Europa, deu início a uma série de mostras

similares. Atualmente a CASACOR está presente em 19 cidades brasileiras e seis países

latino-americanos, trazendo as novidades da indústria moveleira e de acabamentos lançados,

conforme relatam seus dirigentes: O resultado é um evento que possibilita aos visitantes a

experiência única de desfrutar a exposição de novidade em decoração, design, peças, materiais

tecnologias, e equipamentos de altíssimo nível, para que vivenciem um momento de sonho e bem

estar. (CASACOR)

A CASACOR São Paulo acontece anualmente entre os meses de maio e junho.

Vinculados à sua abertura, outros eventos acontecem em paralelo a fim de estimular o

comércio e as práticas do consumir móveis e objetos de decoração. Inúmeras lojas do

segmento divulgam a mostra com cartazes informativos em suas vitrinas, como voz delegada

do bom gosto e das novidades (Fig.6). Na ocasião, as vitrinas são montadas com as últimas

tendências de decoração, muitas delas presentes nos ambientes decorados do evento.

Apropriando-se dessa data esperada pelos vários profissionais da área e até mesmo pelos

4 Dado publicado no site Visite São Paulo- http://www.visitesaopaulo.com/o-que-define-sao-paulo.asp. Aceeso em 26/08/2014. 5 Fashion week é um evento da indústria da moda que dura aproximadamente uma semana e acontece em

diversas cidades do mundo.

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sujeitos que possuem afinidade com o tema da decoração, as indústrias e marcas aguardam a

primeira semana da abertura para lançar a nova coleção ou produtos. Esses são apresentados

nas lojas com brunches e coquetéis para arquitetos, designers e clientes de todo o Brasil. É

desse modo que a cidade de São Paulo tornar-se referência na divulgação de tendências para

as demais cidades brasileiras.

Figura 6 – A divulgação da CASACOR 2012

A CASACOR é reconhecida como a maior mostra de decoração das América Latina. No ano de 2012, em São

Paulo, o tema foi “Moda, Estilo e Tecnologia”. Na imagem, exemplar de um dos diversos cartazes que

apresentam a mostra CASACOR São Paulo. O cartaz aparece nas vitrinas das fachadas das lojas de decoração da cidade, cujo publicizar é reiterado em cada ponto de venda. Nesta vitrine a loja Dunélli House da Alameda

Gabriel Monteiro da Silva comunica o evento aos passantes e assim coloca-se como loja integrante do evento o

que a qualifica também como sujeito do bom gosto.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

A partir do sucesso da CASACOR, eventos e mostras similares do segmento são

lançados a cada ano na cidade. É o caso da recente MostraBlack, evento anual desde 2011,

que reúne profissionais da área de decoração para montar ambientes de residências escolhidas

pelos organizadores do evento. Também, tem sido cada vez mais frequente as lojas de móveis

oferecerem os espaços de suas vitrinas para arquitetos e designers de interiores comporem

ambientes com os produtos da loja, transformando-as em pequenas mostras de decoração. É

neste contexto que a figura do designer de interiores, cuja função é planejar e organizar os

espaços, escolher móveis e elementos de um ambiente de forma harmônica e estética, pode

atuar na definição de estratégias em conjunto com a indústria da moda de decoração e no

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comércio do segmento, elevando assim, o número de consumidores de móveis e objetos de

decoração.

A cidade de São Paulo se faz não só como promotora de eventos distintos que

reforçam o comércio de decoração, mas também como local cuja dinamicidade desse

comércio faz ser possível o encontro do sujeito com aquilo que ele busca, exercendo assim

seu fascínio (VARGAS, 2001, p 14).

Abordagem semiótica dos espaços temáticos de São Paulo

No dicionário Houaiss o comércio é definido como atividade que consiste em trocar,

vender ou comprar produtos, mercadorias e valores. Essa troca entre sujeitos concretiza-se

num dado espaço. Segundo H. C. Vargas (2001) “a necessidade de encontro para a realização

da troca, vai levar a atividade comercial a procurar lugares mais propícios a esse encontro”

(p.20). Portanto o comércio tem uma relação original com a cidade constituída por suas ruas e

espaços urbanos.

Na relação entre cidade e comércio torna-se relevante projetar cidades a partir da

observação da vida em sua manifestação cotidiana. O arquiteto norte americano K.Lynch

afirma no seu livro: A imagem da cidade (1997), que nós, enquanto usuários dos vários

espaços urbanos que constituem uma cidade, podemos apreender as relações que são

estabelecidas quer seja pelos modos como as pessoas andam e atravessam cruzamentos quer

seja pelo modo como interagem com os diversos espaços e com os demais sujeitos. O autor

afirma que: “Não somos meros observadores desse espetáculo, mas parte dele:

compartilhamos o mesmo palco com outros participantes [...] todos os sentidos estão em

operação, e a imagem é uma combinação de todos eles.” (1997, p.2). Assim o autor destaca

que a população não apenas torma parte de uma dada cidade como também a percebe pelos

seus sentidos.

Uma cidade pode ser apreendida a partir dos modos como ela é percebida pelos seus

habitantes ou visitantes que a identificam não somente através das possíveis leituras de seus

espaços urbanos, dada pela competência do saber e poder decodificá-las, mas também pelas

competências sensíveis que são neles e por eles estabelecidas. Conforme, A.C. de Oliveira

descreve, essa construção de sentido,

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se faz não apenas pela via do inteligível, que atribui aos espaços da cidade

valores quanto aos usos e crenças, mas principalmente pelos encontros

sensíveis, no lançar do citadino ou visitante pelos espaços em processos interativos capazes de gerar outros significados. (2012, p.5)

Desse modo o viver a cidade passa a ser apreendido tanto pela ordem do sensível

como também pela ordem do inteligível, conforme propôs A.J.Greimas na sua obra Da

Imperfeição (2002), que a partir de então, comenta Landowski, possibilitou “uma via para

uma série de investigações complementares que abordam outras formas de encontro entre o

homem e o mundo” (2010, p.94). Além dos encontros inteligíveis, a análise semiótica integra

esses encontros sensíveis, observando como esses modos opostos são articulados no fazer

sentido da urbe.

A semiótica discursiva propõe procedimentos para entender os mecanismos do

sentido da vida nas unidades de sua manifestação. A descrição e análise por meio do percurso

gerativo de sentido permite a construção de uma teoria semiótica da significação. Entendido

como uma representação dinâmica da produção de sentido, essa geração organiza-se em um

percurso em três níveis pressupostos: o discursivo, o narrativo e o fundamental que vão

reoperar a apreensão de tudo aquilo que está no mundo e nos toca fazendo-nos sentir e

construir a significação.

Essa pesquisa tem o intuito de compreender e sistematizar a produção de sentido no

consumo de móveis e objetos de decoração em duas ruas temáticas da cidade de São Paulo, a

Rua Teodoro Sampaio e a Alameda Gabriel Monteiro da Silva. Nesses espaços urbanos o

social se faz presente estabelecendo práticas de vida e de consumo que são manifestas e

podem ser apreendidas pela observação dos modos de presença dos pontos comerciais, dos

comportamentos entre sujeitos e sujeitos e dos sujeitos e objetos que são definidos pelas

interações entre eles. Para apreender e compreender as relações que são estabelecidas nessas

ruas temáticas e entre elas no exame das lojas do segmento e dos sujeitos consumidores que

circulam nesses espaços urbanos da cidade, o conceito de interação em seus modos de

ocorrências é fundante dos tipos de construção de sentido.

No bojo dessas conceituações, indagamos como é consumir nessas ruas temáticas da

cidade de São Paulo? Como os sujeitos se dão a ver pela ocupação desses espaços urbanos? E

como fazem ser o sentido no comércio de decoração paulistano?

Para responder esse problema de investigação lançamos como primeira hipótese a ser

tratada que as lojas organizam-se de modo estratégico em consonância com os valores

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praticados nas ruas que estão alocadas. Por essa razão as ruas são tomadas como destinadores

fortes que vão intervir nos modos de presença dessas lojas. Modelados os pontos de comércio,

esses na concepção semiótica de pares pressupostos formam o sujeito complexo: destinador e

destinatário. Por essa concepção de sujeito complexo assumimos se possível, pela definição

de um definir o outro.

A partir das práticas que se dão a ver nesses espaços temáticos é possível entender

como esse comércio faz sentido. De acordo com A.C. de Oliveira (2014, p.5) entende-se por

prática de vida os atos de um fazer diário de uma cidade, de um grupo social, de um

estabelecimento comercial, ou mesmo de uma rua, cujos elementos carregam nessa repetição,

isotopias que os qualificam. Esses atos são, pois, praticados e tomados como indicadores de

uma série de encadeamentos de programas narrativos que contam as narrativas desse tipo de

comércio.

Entendemos que o consumo não se resume apenas ao ato da compra com seu valor

prático, mas sim que a esse são atribuídos valores simbólicos. Consideramos assim que o

sujeito busca bens de consumo, quaisquer que esses sejam, muito mais pelo significado

simbólico, conforme explica G. McCracken: “Usam o significado dos bens de consumo para

expressar categorias e princípios culturais, cultivar ideias, criar e sustentar estilos de vida,

construir noções de si e criar [e sobreviver a] mudanças sociais.” (2003, p.11).

Ainda o ato de comprar, como ato de consumo, significa pelo próprio gosto do

consumo dotado de uma estesia que desenvolve o querer cultivá-lo. É assim que qualquer

produto, além de ser um bem de consumo, torna-se símbolos que agrega gostos que remetem

a estilos de vida, como A. Volpi escreve:

É possível comprar roupas, mas também é possível adquirir um estilo

despojado. É possível colocar um piercing no nariz, mas é possível também adquirir um ar contestador na vida [...]. É possível comprar um relógio de

grife, mas também é possível sentir-se único. É possível praticar golfe, mas

também é possível fazer parte de um grupo de pessoas ricas e influentes. (1971, p.92)

O gosto pode ser definido semióticamente, pois é o ato de classificação dos objetos

relacionando-os de acordo com a preferência do sujeito que pode querer estar ou não em

conjunção com eles. Essa manifestação do gosto produz identificação uma vez que declarar

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aquilo que nos agrada é um modo de identificar-nos tanto diante de nós mesmos como dos

demais sujeitos que fazem parte desse grupo de pertença.

O espaço social é articulado e segmentado pela moda que coloca em circulação

formas que alinham o significado de pertencimento. Muito embora não seja a moda que crie

as diferenças sociais e culturais entre sujeitos, é através dela que as diferenças são manifestas

e valorizadas, afinal postula Landowski: “seguir uma moda é adotar as marcas com auxílio

das quais determinado meio declina figurativamente sua identidade” (1997, p. 96).

Para E. Landowski, somente por meio da análise dos arranjos figurativos podemos

explicar os efeitos que as coisas exercem sobre nós ou no mundo em “termos impressivos”

(2004, p.106). Nesses termos, o conceito de figuratividade torna-se basilar para análise dos

modos de presença, tanto das ruas temáticas, das lojas alocadas nessas vias e dos sujeitos que

circulam por esses espaços.

A sociossemiótica desenvolvida por E. Landowski, como continuidade da teoria

semiótica projetada por A.J. Greimas, além de proporcionar a possibilidade de analisar a

imagem de uma rua com lojas alocadas, como “presença sensível” cujo sentido imediato é

apreendido pelos passantes, explora também as estratégias utilizadas para identificar a

visibilidade e a sociabilidade presentificadas nos espaços urbanos, nos quais o sentido não só

se constrói à distância do sujeito, mas também é vivido. Para as interações de vários tipos essa

teoria fornece fundamentos para descrevê-las e analisá-las, assim como as práticas de vida e,

entre essas, as de consumo de móveis e objetos de decoração presentes nesses espaços

urbanos da cidade de São Paulo. Como afirma E. Landowski a semiótica passou a dar conta

do vivido e está ainda desenvolvendo caminhos de estudo para compreender e descrever os

objetos significantes a fim de compreender a significação no mundo. Para o autor, a semiótica

pode ser entendida como “uma prática reflexiva e crítica de questionamento sobre nós

mesmos enquanto sujeitos permanentemente comprometidos em atividades de construção de

sentido”. (LANDOWSKI, 2002, p.127). Concordando por essa via de entendimento é que

adotamos esse arcabouço teórico para analisar o nosso objeto de estudo.

Do objeto de estudo, o corpus

Uma vez apresentado o nosso tema e a fundamentação teórica dessa pesquisa,

trataremos da definição do corpus. No site de turismo da cidade de São Paulo estão descritos

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quatro endereços referentes ao tema de móveis e objetos de decoração no município: a Rua

Teodoro Sampaio, a Rua Normandia, a Alameda Gabriel Monteiro da Silva e a Praça

Benedito Calixto6. No entanto, embora a Rua Normandia, localizada no bairro de Moema, e a

Praça Benedito Calixto, no bairro de Pinheiros, apareçam listadas no site como ruas

especializadas no segmento, ao fazermos nossa investigação in loco, verificou-se que

atualmente poucas são as lojas de móveis e de objetos de decoração instaladas nesses

endereços. Na Rua Normandia conhecida como ponto turístico na época de natal, cuja

decoração natalina faz levar inúmeros visitantes ao local, encontramos muitas lojas de roupas

e acessórios femininos que tomaram o espaço das lojas de decoração antes existentes. Muito

provavelmente essa substituição aconteceu em consequência da existência de diversas lojas de

roupas femininas instaladas na Rua Bem-te-vi, a poucas quadras dessa rua, comprovando a

tendência de formação e adequação de polos comerciais na cidade.

No entorno da Praça Benedito Calixto encontram-se poucas lojas do segmento

instaladas. Neste espaço urbano acontece a tradicional feira de antiguidades e artesanato da

cidade, a Feira de Artes, Cultura e lazer da Praça Benedito Calixto todos os sábados. São

mais de 300 expositores de segmentos diversos, entre eles, brinquedos, roupas, discos,

comidas, objetos pessoais, além de móveis e objetos decorativos, que nos leva a crer que seja

por esse motivo que o endereço apareça como local temático do segmento. Porém, uma vez

que o local transforma-se num grande evento semanal que leva milhares de habitantes e

visitantes da cidade e por tornar difícil a investigação exclusiva dos modos de consumir

móveis e objetos de decoração entre tantos outros interesses ali revelados, optamos por

excluí-lo de nossa pesquisa.

Limitamos então, nossa escolha pela Rua Teodoro Sampaio e Alameda Gabriel

Monteiro da Silva, em trechos específicos por serem vias muito extensas e de comércio

variado. Na Rua Teodoro Sampaio selecionamos uma parte que é compreendida por cinco

quarteirões entre as ruas Fradique Coutinho e Francisco Leitão. Na Alameda Gabriel

Monteiro da Silva o recorte foi feito entre a Av. Brigadeiro Faria Lima e Av. Brasil. Tal

escolha foi pelo fato desses trechos apresentarem a maior concentração de lojas de varejo do

segmento e poderem ser comparados de modo relacional.

Entende-se por varejo um conjunto de atividades de negócios que adiciona valor a

produtos e serviços vendidos à consumidores para seu uso pessoal e familiar (LEVY;WEITZ,

2000, p.27). Dentro do varejo estão as lojas de varejo especializadas, ou seja são aquelas que

6 Disponível em: http://www.cidadedesaopaulo.com/sp/br/guia-de-compras/ruas-de-comercio-especializado.

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vendem uma linha estreita de produtos com um profundo sortimento dentro dessa linha. São

essas que nos interessa investigar.

Ao longo desses trechos específicos, inúmeras lojas de móveis e objetos decorativos

estão alocadas uma ao lado da outra, que foram investigadas pelos modos como se mostram

no primeiro contato com os sujeitos passantes nessas vias. A relação estabelecida entre esses

sujeitos nos permitirá saber como essas vias temáticas fazem sentido para o comércio de

decoração. Aprofundando nossa análise selecionamos as lojas de móveis e objetos de

decoração da Dunélli House, presentes tanto na Rua Teodoro Sampaio como na Alameda

Gabriel Monteiro da Silva com o propósito de identificar quais são os procedimentos que a

mesma empresa utiliza em cada um desses endereços. Desse modo testaremos nossa hipótese

sobre essas vias serem destinadores fortes capazes de intervir nos modos de presença dos

sujeitos.

Organização do trabalho

Para alcançar nossos objetivos, após a apresentação do tema, da fundamentação

teórica e metodológica e do corpus nessas considerações iniciais, organizamos esse trabalho

em mais quatro capítulos e considerações finais. No primeiro capítulo, desenvolvemos o

comércio de decoração correlacionado às mudanças nos modos de morar na cultura paulistana

que embasam a formação dos polos comerciais do segmento. No segundo capítulo são

analisadas de modo relacional a Rua Teodoro Sampaio e Alameda Gabriel Monteiro da Silva.

Como ponto de partida, investigamos seus bairros e entornos, as suas origens e os valores que

são nelas praticados. O terceiro capítulo, intitulado “Presenças da Dunélli House”

complementa nossa investigação sobre o tema do comércio de decoração, trazendo análises de

três lojas da empresa localizadas nos trechos selecionados com o intuito de verificar como ela

se apresenta e quais são os procedimentos que recorre no mostra-se de suas lojas de acordo

com o endereço em que estão posicionadas. No quarto capítulo propomos tipologias dos

sujeitos a partir das relações estabelecidas entre os modos de mostra-se das lojas e dos sujeitos

passantes, que na interação constroem o sentido desse comércio.

Encerramos nossa pesquisa com as considerações finais delineando os tipos de

sujeitos que se dão a ver nesses espaços temáticos e as interações em seus modos de

ocorrência na construção do sentido.

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CAPÍTULO I. MÓVEIS E A DECORAÇÃO NA CULTURA PAULISTANA

São Paulo apresenta-se como uma babel de possibilidades7, fruto do

desenvolvimento marcado pelo ecletismo cultural que contribuiu (e ainda contribui) para o

surgimento de novos e distintos modos de morar e do consequente modo de consumir móveis

e objetos de decoração.

Desde uma São Paulo antiga, com casinhas de taipa de pilão pintadas de branco, sem

ostentação e parcamente mobiliadas, que compunham o homogêneo cenário da capital

paulista da época, passando pela explosão das casas ecléticas e bem decoradas da belle

époque, pelos atuais condomínios de prédios e de casas até chegar às formações de casas auto

construídas, mudanças nos modos de morar foram vistas e sentidas por aqueles que residem

ou não na cidade de São Paulo.

Foi somente no final do século XIX que o desenvolvimento dos modos de produção

avançou no Brasil em decorrência das indústrias de pequeno e médio porte instaladas, em sua

maioria, no sudeste do país, que aliadas às estradas de ferro, foram cruciais nas

transformações sociais e econômicas que ocorriam. Nessa mesma época as primeiras

multinacionais começaram a chegar ao Brasil com novos conceitos que impulsionaram o

mercado consumidor. A mola propulsora de novos modos de morar e consumir paulistano foi

sem dúvida o início do intercâmbio cultural que favoreceu a comunicação do Brasil com o

mundo e, desde então, não para mais de ocorrer.

Antes, na São Paulo dos bandeirantes (Fig.7), o interior das casas era despojado com

pouquíssimos móveis e objetos decorativos, qualquer ostentação era ausente. Tal

configuração era usual, e se manteve por muito tempo para todas as classes econômicas que,

com hábitos domésticos que remetiam a uma cultura indígena, dispensavam qualquer tipo de

conforto em suas moradias.

7 Termo usado por Guilherme Wismik entrevista para revista Folha São Paulo Casa&decoração 2013.

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Figura 7- O estilo de morar dos bandeirantes

Simplicidade da casa dos Bandeirantes, um exemplar típico das habitações rurais paulistas entre os séculos XVII

e XVIII. Mobiliário da casa paulistana do século XIX, banco rústico de madeira com toda a irregularidade do fazer manual.

Fonte: Elvio Romero e Maria Angélica Santi.

Com a vinda da Família Real portuguesa ao Brasil no ano de 1808, as famílias

brasileiras mais abastadas passaram a tomar contato com a cultura europeia e adotar os modos

de morar europeus, sobretudo com a imitação de mobiliários e serviços de mesa. Em meados

do século XVIII os mobiliários começaram a ser inspirados nos modelos ingleses que

chegavam via Portugal, embora fossem reproduzidos sem um acabamento primoroso por falta

de ferramental. Surgia assim uma nova demanda para a execução de um mobiliário que não

somente cumpria a função utilitária, mas também uma função estética.

O processo de modernização do país trouxe inúmeras mudanças, sobretudo para o

governo de São Paulo, que para acompanhar a expansão da cidade viu-se obrigado a

modificar o seu traçado urbanístico a partir de novas vias e espaços destinados para dar lugar

tanto as novas moradias como também a um novo comércio que se instalava na cidade.

Na medida em que a abastada sociedade paulistana que se formava mostrava-se

aberta às novas ideias e costumes trazidos da cultura europeia, desejando sair do campo e vir

morar na cidade, e também ansiando por construções de tijolos em nada parecidas com as

moradias singelas feitas de taipa de pilão com móveis rústicos do campo. São Paulo, então,

passou a valorizar moradias com fachadas diferenciadas, tanto pelos novos materiais de

construção empregados como pelos projetos de arquitetos estrangeiros e mestres de obras

italianos, e assim transformaram a paisagem da cidade conforme ilustra muito bem o trecho

do livro “Da taipa ao concreto” de A.C. Lemos:

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[...] importantíssima à vida cultural de São Paulo foi a estrada de ferro; por

ela desceu o café e subiu o progresso avassalador. Subiram os imigrantes,

equipamentos mil aperfeiçoados pela Revolução Industrial, inclusive materiais de construção, que desbancaram a taipa mameluca. Subiu o

ecletismo, os novos estilos que tornaram as diferenças qualitativas na

apreciação arquitetônica, enquanto, anteriormente, as diferenças eram

simplesmente quantitativas, pois a taipa, as telhas, as rótulas eram as mesma tanto nas grandes casas ricas como nas pobres de portas e janelas. (2013,

p.86)

Tais mudanças arquitetônicas não ficaram somente nas fachadas, mas estenderam-se

para os espaços internos das casas, modificando hábitos dos moradores. Como exemplo das

transformações internas, as alcovas, pequenos locais sem ventilação e luz comuns nas antigas

moradias, foram substituídas por dormitórios maiores, arejados e iluminados por janelas. Uma

nova sala denominada gabinete, reservada às atividades intelectuais masculinas, era

incorporada à frente da casa e ao lado desta, era adicionada uma sala maior destinada para

receber visitas, que antes eram recebidas apenas nos alpendres. Ainda como parte do processo

de transformação das moradias paulistanas, novos mobiliários passaram a compor os

ambientes, tais como pianos, cômodas com tampo de mármore, armários com espelhos nas

portas, entre outros artefatos mais elaborados que substituíam o tosco mobiliário de antes.

No final do século XIX, as moradias mais abastadas da cidade eram finamente

decoradas com requintes de detalhes, ambientadas com mobiliário trazido da França e

complementos como papéis de parede, tapetes orientais, tecidos adamascados e cristais

também importados. Com essas novas possibilidades de pensar a moradia, as pessoas

voltavam à atenção aos arranjos e composições dos ambientes, desejando consumir objetos

decorativos e mobiliários mais refinados (Fig.8), conforme explica Paulo de Freitas Costa, no

seu livro Sinfonia de objetos,

[...] o processo de modernização das cidades do período, já justificava a criação de ambientes domésticos sofisticados, resultado da acumulação

burguesa, onde os objetos selecionados tornavam-se signos de aristocracia,

prosperidade e atualização (2007, p.39).

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Figura 8 – A moradia no final do século XIX

Avenida Paulista na década de 1920 com as fileiras de ipês e os palacetes construídos ao logo dela, marcando o

ecletismo na arquitetura.

Fonte: Ebe Reale

Sala de estar da residência do prefeito Fabio Prado finamente decorada, que se tornou símbolo da prosperidade

paulistana. A casa está na Av. Brigadeiro Faria Lima que na época era local de referência das novas residências

de alto padrão. Hoje o edificio abriga o Museu da Casa Brasileira.

Fonte: Acervo Museu Casa Brasileira.

Em conjunto com esses novos modos de morar que surgiam na cidade, o comércio

paulistano expandia-se para atender uma sociedade ávida por novidades no segmento de

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móveis e objetos de decoração. Foi neste contexto que em 1911, o Mappin, loja de

departamento inglesa, foi trazida pelos irmãos Walter John Mappin e Hebert Joseph Mappin,

e instalou-se na rua XV de Novembro, no centro da cidade de São Paulo, para atender a elite

paulistana. Posteriormente, acompanhando o desenvolvimento da cidade, mudou-se para a

Praça Ramos de Azevedo que formava em conjunto com a Rua Direita e a Rua São Bento, um

local sinônimo de bom gosto e sofisticação. Apesar do Mappin ser considerada uma loja de

elite, desde sempre procurou atrair os consumidores pela inovação. Foi pioneira no país,

seguindo os moldes de lojas europeias e norte-americanas, na colocação de vitrinas próximas

aos clientes, na publicação dos preços das peças, além de anunciar sempre as suas ofertas e

novidades em vários segmentos (Fig.9).

Figura 9 – Loja Mappin: anúncios e espaços internos

Anúncio veiculado na Revista da Semana, com ofertas de cortinas recém-chegadas de Londres. Ao lado, a

fotografia tirada entre 1916 e 1917 mostra as dependências internas da loja no setor de vendas de móveis. Fontes: Acervo Folhapress e http://www.saopauloantiga.com.br/mappin

O crescimento acelerado que o país viveu entre os anos 1910 e 1914, aliado a

interrupção da importação de produtos decorrente da primeira guerra mundial e o aumento de

mão de obra preparada para trabalhar nas indústrias foram fatores que contribuíram para que o

setor moveleiro deslanchasse. Nessa época, destacava-se o Liceu de Artes e Ofícios de São

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Paulo, a Casa Alemã e a Móveis Tepermam que fabricavam móveis sob encomenda para os

clientes. Fundadas, na maioria por imigrantes, as indústrias de móveis iniciaram suas

atividades numa estrutura familiar com pequenas oficinas de produção artesanal e foram

expandindo suas empresas. Algumas dessas atuam até hoje no mercado, como a Móveis

Paschoal Bianco, Móveis Bergamo, Riccó Móveis, Móveis Teperman, entre outras.

São Paulo acompanhou o movimento que defendia o retorno às tradições lusitanas,

na tentativa de reconhecê-lo como o verdadeiro estilo brasileiro em oposição ao ecletismo da

arquitetura da belle époque, no período entre guerras. Porém, não demorou muito para que o

Art Déco, nome dado à moda das artes decorativas que surgiu em Paris na década de 1920 e

apresentado na Exposição Internacional de Artes Decorativas das Indústrias Modernas, fosse

adotado pela cidade. O estilo Art Déco trazia tanto a inventividade tecnológica como a

precisão manual dos artesãos, combinados na confecção de peças decorativas, na produção

dos mobiliários e na arquitetura. O estilo ganhou maior contorno nos Estados Unidos na

década de 1930, e devido a uma ampla divulgação da indústria do cinema norte-americano

tornou-se bastante popular no Brasil. Os traços retos e as formas geométricas que marcam

esse estilo instauraram a modernidade na cidade de São Paulo por meio dos seus prédios e

viadutos, além do mobiliário comercializado nas lojas (Fig. 10).

Figura10- Art Déco na arquitetura e no mobiliário

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O Viaduto do Chá localizado no centro da cidade de São Paulo é um importante exemplar do estilo Art Déco na

arquitetura da cidade, construído em 1938. Abaixo, modelo de poltrona em madeira com detalhe em aço, com

formas geométricas precisas que marcam o estilo. Fontes:http://www.insidesaopaulo.com/2010_12_01_archive.html e Acervo Casa Museu Brasileira.

A construção do Edifício Esther, no ano de 1936, foi um marco dessa modernidade

na arquitetura, que instaurou um novo modo de morar paulistano (Fig.11). Localizado na

Praça da República no centro da cidade, projetado pelos arquitetos Vital Brazil e Adhemar

Marinho, o prédio de onze andares foi inspirado nos ideais da escola alemã Bauhaus8

(LEMOS, 2013, p. 218). O edifício previa o uso multifuncional que enfatizava áreas livres, a

circulação e terraços com jardins. Reunia-se a moradia, o lazer e o trabalho. Esta edificação

não somente tornou-se um símbolo da modernidade na cidade de São Paulo, como também

contribuiu para a disseminação de um novo modo de morar, em prédios de apartamentos,

espaço esse compartilhado por diferentes famílias. Antes, tal ideia era vinculada apenas às

moradias em cortiços destinadas aos menos favorecidos.

8 A escola Bauhaus foi fundada em 25 de abril de 1919. No início era uma escola de arquitetura e academia de

artes. Hoje considerada uma das maiores e mais importantes expressões do que é

chamado Modernismo no design e na arquitetura, sendo a primeira escola de design do mundo.

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Figura 12- Símbolo da modernidade: Edifício Ester

Fachada do Edifício Esther, localizado na Praça da República e construído em 1936, dando início às

verticalizações modernas em São Paulo. A construção em concreto com a predominância das linhas horizontais é

característica da escola Bauhaus.

Fonte: Carlos A.C. Lemos

As novas tendências de moradia que São Paulo absorvia gerava uma necessidade de

buscar móveis mais adequados para mobiliá-las. Foi a partir dos anos 30, que a indústria

moveleira desenvolveu-se muito no Brasil, sobretudo na cidade de São Paulo. De acordo com

A. Santi no ano de 1938, São Paulo produziu por volta de 8.046.800 peças enquanto o Rio de

Janeiro, que era o segundo polo mais industrializado, produziu apenas 1.360.700. (2013, p.

134), número bastante expressivo que constata o polo empreendedor que São Paulo sempre

foi e continua a ser.

Após a segunda Guerra mundial foram rápidas as transformações que ocorreram na

cidade de São Paulo. Os avanços tecnológicos e o aumento do número de construções civis

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fizeram com que a cidade iniciasse o seu processo mais intenso de verticalização, tendo como

consequência o crescimento desordenado da cidade, conforme relata A.C. Lemos:

Após a Segunda Guerra veio o grande surto imobiliário, quando a cidade se

renovou toda em concreto armado, crescendo verticalmente sobre si mesma

em sua área já definida em épocas anteriores e crescendo desordenadamente pelas áreas periféricas através de loteamentos sem controle, onde

proliferaram as casas populares autoconstruídas, agora já sob a

responsabilidade de outro tipo de imigrante: o nordestino. (2013, p.139)

As mudanças nos modos de morar não somente apareciam em decorrência do

desenvolvimento da cidade, que forçosamente precisava alterar o seu traçado urbanístico para

alargar ruas e avenidas gerando desapropriações, mas também eram estimulados pelas

descobertas tecnológicas e inovações que a sociedade absorvia e passava a consumir.

A substituição do rádio individual por um aparelho maior e coletivo, que

proporcionava a reunião de pessoas num mesmo ambiente, marcou uma mudança tanto no

convívio social como nos modos de morar (Fig.12). Nessa época, as residências passaram a

ter mais um cômodo: a copa. Esse local centralizava a reunião da família e passou a ser

incorporado nas casas de todas as classes sociais. Além disso, as salas passaram a ser

organizadas de modo que proporcionassem o “ouvir” de forma mais confortável possível.

Lojas de móveis, como a loja de departamento Mappin, vendiam sofás e poltronas com o

argumento do conforto exigido para esta nova prática de vida das famílias paulistanas e

brasileiras, ou seja, a reunião em torno do rádio.

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Figura 12: A era do Rádio

Os primeiros rádios vieram a ser um fenômeno nacional. Milhares de ouvintes se reuniam ao redor do rádio para ouvir os concursos de talentos, que revelaram grandes nomes da música popular brasileira.

Fonte: colunamiolodepote.blogspot.com.br

A década de 1950, conhecida como Anos Dourados, foi marcada pelo otimismo do

pós-guerra e pelo consumo estimulado pela economia que prosperava. Em 1950, Assis

Chateaubriand inaugura o primeiro canal de televisão na cidade de São Paulo, a rede TUPI,

que instaurou novos costumes na sociedade, não somente pelo fato das famílias deixarem o

rádio e passarem a reunir-se em frente ao aparelho televisivo, mas principalmente pelo fato da

televisão representar um canal de comunicação capaz de proporcionar mudanças mais velozes

na sociedade, intervindo nos modos de consumir. Os hábitos de lazer das pessoas se

modificaram mais uma vez e os modos de organização das moradias também sofreram

alterações (Fig.13). O comércio por sua vez, acompanhava essa nova prática de vida e

ofertava aos consumidores não somente os aparelhos de televisão, mas também os mobiliários

mais adequados para que estas novas tecnologias fossem desfrutadas com maior conforto.

Como exemplo, as poltroninhas chamadas “Pullman” revestidas em couro de porco com

almofadas de veludo e os sofás Chesterfield, que eram comercializadas em larga escala por

diversas lojas de móveis na cidade.

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Figura 13- A televisão dentro de casa

A televisão entrava pela primeira vez em muitos lares paulistanos. Esse modelo de televisão, com “pé palito”,

marcou um estilo nos anos 50.

Fontes: Evert F. Baumgardner/Wiki Commons

Acompanhando esse momento próspero na comunicação e do consumo, em 1953

surge a primeira revista de decoração do Brasil a Casa e Jardim da Editora Globo. Os modos

de morar eram pela primeira vez tratados para uma realidade brasileira por meio de uma mídia

impressa, que trouxe a possibilidade dos leitores “entrarem” nas casas de pessoas influentes

da época. Na primeira edição, a revista publicou a matéria: “Entre o céu e a vegetação pousa

a casa de dois artistas” que mostrava a casa de Lina Bo Bardi, arquiteta do conhecido e

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emblemático prédio que abriga o Museu de Arte de São Paulo, o MASP. A proposta da

revista era trazer aos leitores aquilo que havia de mais novo na arquitetura, design e

mobiliário (Fig.14). Com as publicações era possível tomar conhecimento sobre os

lançamentos de mobiliários, eletrodomésticos e demais produtos que revigoravam os modos

de morar. Nas palavras de A.C. Lemos, os cinquenta anos dessa revista contribuíram não

somente nos modos de morar mas também no convívio e nas relações humanas:

A revista Casa e Jardim, nesses cinquenta anos de vida, perpassou décadas fundamentais na definição do ato de morar e por esse tempo a significação

maior esteve no aperfeiçoamento a que chegaram os meios de comunicação.

Tal progresso influiu bastante nos programas habitacionais, porém,

curiosamente chegou a interferir também no convívio ou nas relações entre as pessoas, tanto as aproximando como as afastando fisicamente. (2013,

p.270)

Figura 14- Edição da revista Casa e Jardim

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Publicada na edição nº 32 de Casa e Jardim, esta casa cujo projeto é de Oscar Niemeyer e paisagismo de

Roberto Burle Marx, mostrava aos leitores a impressionante beleza plástica da arquitetura e decoração dos

ambientes da residência.

Fonte: casaejardim.globo.com

A comemoração dos quatrocentos anos da cidade de São Paulo foi marcada pela

arrojada concepção do Parque Ibirapuera. A inovadora arquitetura de Oscar Niemeyer foi

apresentada para os paulistanos, que passaram a adotar o “estilo Bienal” no interior de suas

casas. De acordo com Milly Teperman, em entrevista concedida para Maria Angélica Santi a

indústria moveleira brasileira foi estimudada e iniciou a produção de mobiliários inspirados

nas novas formas arquitetônicas que passaram a ser vistas e admiradas.

Na década de 50 a construção de Brasília resultou numa grande demanda de

mobiliário de acordo com os princípios da arquitetura moderna: peças mais

funcionais, com um desenho limpo, sem ornamentações. (2013, p. 136).

Foi assim que os móveis de “pés palitos”, caracterizados por linhas retas, em

conjunto com outros mobiliários, renovaram o gosto paulistano de decorar suas casas.

Arquitetos como Sérgio Rodrigues, Zanine Caldas e Joaquim Tenreiro contribuíram muito

para disseminar a moda da decoração a partir de mobiliários desenhados por eles, que se

tornaram ícones da época e são bastante procurados até os dias de hoje (Fig.15).

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Figura 15- Ícones dos anos 50

Um ícone da época, a poltrona de pé palito, até hoje reproduzida em larga escala. Poltronas que marcaram o

estilo da modernidade dos anos 50. As poltronas dos arquitetos: a Mole de Sérgio Rodrigues, poltrona do “mestre

das madeiras” Joaquim Tenreiro e os traços característicos em forma de “z” dos móveis de Zanine Caldas.

Fontes: http://www.domusrepresentacoes.com.br/ http://casa.abril.com.br/materia/23-moveis-que-possuem-pes-

palito,http://designdemoveis.blogspot.com.br/2008/05/poltrona-mole-por-millr.html,

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A partir de então, as empresas brasileiras de móveis passaram a dar mais atenção ao

design de seus produtos. Como a fábrica Tepermam que inicia a produção de móveis

licenciados pela empresa norte-americana Herman Miller, responsável pela produção de peças

modernas que virariam clássicos do design industrial, entre elas as produções de Charles e

Ray Eames. O momento favorecia a criação de móveis e objetos de decoração pelos

designers, além da abertura de lojas como showroom das suas produções. Surgiam assim,

novas empresas na cidade de São Paulo, como a marca L’Atelier e a Hobjeto. Fundada pelo

designer Jorge Zalszupin, a L’Atelier foi pioneira na fabricação de móveis de plásticos além

de outras produções em série, algumas dessas tonaram-se peças emblemáticas dos anos 60,

como a cadeira Paulistana até hoje reeditada (Fig.16). Segundo o designer a necessidade de

expor suas produções fez com que abrisse uma loja na cidade para que os clientes tivesse

oportunidade de conhecer os modelos fabricados.9

Figura 16- Poltrona Paulistana

Poltrona Paulistana de Jorge Zalszupin, inspirada nas linhas da poltrona de Charles Eames, que entre outros

mobiliários criados pelo designer eram produzidos pela L’Atelier fundada em 1959 na cidade de São Paulo.

Fonte: Etel interiores

9 http://www.revistacliche.com.br/2012/03/jorge-zalszupin/

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Seguindo o momento aquecido do comércio de móveis, em 1964, Geraldo de Barros

funda com sócios, a Hobjeto Indústria de Móveis. A Hobjeto trazia a proposta de produzir

móveis em larga escala e de modo menos elitizado, sem contudo deixar de seguir as

tendências internacionais que eram lançadas em feiras conceituadas no exterior. A moda da

decoração passa a ser mais acessível (Fig.17).

Figura 17: Móveis Hobjeto

Ambientação com móveis da Hobjeto do designer Geraldo de Barros. A empresa sempre esteve ligada às

tendências internacionais, principalmente aos lançamentos da feira de Colônia, na Alemanha. Fonte: Acervo Hobjeto

As novas expressões que surgem em respostas ao momento atual vivido, e que são

veiculadas pelos meios de comunicação, cooperam na disseminação da moda dos novos

modos de morar, que repercutirão nos modos de consumir a moda da decoração. Os anos

1970 foram de muita expressão pessoal e de rebeldia que repercutiram na moda, música e

costumes da época. As casas tornaram-se locais propícios para que a individualidade de seus

moradores fosse expressa, em oposição submissão das gerações passadas. Os modos de

projetar e organizar os espaços valorizava essa liberdade de escolhas. Cores fortes, muitas

estampas, novos materiais incorporados nos ambientes, nos mobiliários e objetos de

decoração, como o plástico, o acrílico e o metal entre outros eram usados juntos, sem

restrições. Se nos anos 50 a novidade do aparelho de televisão reunia os familiares, nos anos

70 era o aparelho que unificava a função do toca-discos, toca-fitas e rádio (3 em 1), o mais

cobiçado, que era atração das moradias modernas. Tornou-se prática a reunião de amigos em

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casa para ouvir os lançamentos musicais nos discos de vinil. O móvel comum em todas as

ambientações e estilos da época era a estante, que em destaque nas salas, acomodava a

televisão, o aparelho de som, os vários discos de vinil e objetos decorativos, e alguns modelos

mais sofisticados incorporavam um barzinho. As casas dos anos 70 tinham estilos que iam

desde os mais despojados com almofadões espalhados pelos chãos até os mais sofisticados

compostos por móveis inovadores (Fig. 18).

Figura 18- Decoração dos anos 70

Os ambientes das casas da década de 70 eram bastante coloridos e utilizavam muitas estampas. Novos materiais

como plástico, acrílicos, metais eram empregados nos mobiliários e objetos decorativos. A estante era o centro

da sala, móvel utilizado para colocar a televisão, o aparelho de som, coleção de discos de vinil e objetos de

decoração. As samambaias traziam o verde para o interior das casa. Fonte: http://decoracaodoquarto.blogspot.com.br/

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Podemos dizer que seguir algum estilo entre os vários estilos propostos pela moda da

decoração, pode ser entendido como “a maneira mais espontânea de afirmar quem somos e de

fazer saber a outro o que somos” (LANDOWSLKI, 1997, p. 98). No entanto, cabe refletir que

o processo da moda da moradia, diferentemente de outros, é sem dúvida lento uma vez que

envolve um alto investimento na compra de um imóvel e de esforços para equipá-lo. Mesmo

assim, temos visto cada vez a disseminação dela por meio de simulacros de modos de morar

que se repetem para todas as camadas sociais.

No ano de 1958, São Paulo conheceu uma novidade nos modos de morar com a

inauguração do Conjunto Nacional na Avenida Paulista. Prédio de uso misto, destinado tanto

à moradia como ao uso comércial, está numa quadra inteira da avenida que até 1952 era

ocupada pela mansão da família Horácio Sabino. A concepção do projeto era inovadora por

dividir a construção em duas lâminas, uma vertical com apartamentos e outra horizontal com

uma galeria para estabelecimentos comerciais. O Conjunto Nacional é considerado o primeiro

shopping center da América Latina (PAIVA) além de ser um ponto emblemático da cidade10.

David Libeskind, arquiteto responsável pelo projeto, inspirou-se em conceitos que eram

utilizados nos Estados Unidos adequando-os às necessidades da cidade de São Paulo que se

expandia, conforme explica:

Eu estava sempre lendo publicações estrangeiras e sabia que nos Estados Unidos, naquela época, estavam sendo construídos muitos centros

comerciais. Propus a idéia de uma construção que combinasse uma parte

horizontal, para lojas, com um jardim suspenso e uma lâmina vertical, para

apartamentos. (LIBESKIND apud MORAES)

É interessante notar que após cinquenta anos, a cidade de São Paulo acompanhou o

lançamento de um empreendimento imobiliário com conceitos semelhantes, embora

atualizados: o Parque Cidade Jardim. Numa área de 189 mil m2 localizada às margens do

Rio Pinheiros, estão nove torres residenciais com apartamentos de 235 a 594 m2, um centro

empresarial com três torres comerciais equipadas com heliporto, tudo isso entremeado por

extensos e bem cuidados jardins. O emprendimento tem acesso exclusivo ao Shopping Center

Cidade Jardim, considerado o mais luxuoso da cidade. Toda a área é cercada por muros altos

e um forte monitoramente de segurança. Ambos os empreendimentos trazem a moradia, o

trabalho, o lazer e o consumo agregados numa mesma área. A verticalidade e horizontalidade

10 http://www.cidadedesaopaulo.com/sp/br/o-que-visitar/atrativos/pontos-turisticos/2079-conjunto-nacional

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são elementos presentes nos dois empreendimentos, porém no Conjunto Nacional o bloco

sólido que constitui uma única torre indica espaços mais integrados que favorecem o convívio

dos sujeitos que circulam por ali. No Parque Cidade Jardim, no entanto, dá-se a ver várias

torres que reforça o sentido da exclusão, advinda de necessidade de uma minoria que pode e

quer isolar-se. Muito embora o conceito desses dois tipos de empreendimento sejam o

mesmo, os valores praticados não o são (Fig.19).

Figura 19 – O conceito de moradia e trabalho, atualizado

O Conjunto Nacional construído na década de 1950, está localizado na Av. Paulista. O projeto foi inovador no

conceito de reunir apartamentos residenciais e galerias com estabelecimentos comerciais num único prédio. Ao

lado a maquete do empreendimento Parque Cidade Jardim, com as torres residenciais em cima do luxuoso

shopping Cidade Jardim, localizado na Marginal Pinheiros.

Fontes: arquivo Folha e arquivo JHSF

Dentre os diversos lançamentos imobiliários que acontecem na cidade de São Paulo,

tem crescido a oferta de imóveis com pouca metragem seguindo tendência que já acontece nas

cidades de Tóquio, Paris e Nova York. Segundo o Renato Cymbalista, desde as décadas de 50

e 60 o mercado imobiliário lançava apartamentos pequenos, conhecidos como quitinetes que

foram abolidas dos empreendimentos novos a partir da década de 7011. (2014, p. 42) No

entanto, os novos apartamentos pequenos possuem plantas modificadas para o gosto e

costumes atuais dos paulistanos. Se nas versões das quitinetes antigas encontramos banheiros

11 Fonte Revista da Folha de São Paulo, 31 de agosto de 2014. Casa & Decoração.

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e cozinhas amplos, nas versões atuais esses são diminutos e se destacam espaços sociais mais

integrados.

As construtoras lançam no mercado empreendimentos que seguem padrões de

construções consagradas sejam essas para um público de alto poder aquisitivo ou para quem

possui recursos mais modestos. É o que ocorre atualmente com a explosão de

empreendimentos residenciais que possuem varandas como diferencial e atrativo de vendas.

Segundo a Geoimovel12, empresa de informações imobiliárias, desde o ano de 2008, em todos

os lançamentos de prédios residenciais acima de 65 m2 que oconteceram na cidade de São

Paulo, elas foram incluídas. Um dos motivos para esse aumento está na propagação do

conceito de um estilo de vida para morar numa cidade de concreto como São Paulo, que

empreendimentos de luxo trouxeram. As varandas oferecem possibilidades, quer seja de um

convívio social, por meio das churrasqueiras instaladas ou do paisagismo que integra o verde

quase inexistente na cidade paulistana.

Atrelado a todos esses novos ou atualizados conceitos de moradia está a moda de

decoração que se faz presente também nos lançamentos imobiliários. Muitos deles, para

valorizar o empreendimento montam, nos stands de vendas, apartamentos muito bem

decorados com o máximo de aproveitamento possível dos espaços. Além disso, por meio da

divulgação impressa, nomes de arquitetos, designers e paisagistas renomados, responsáveis

pela ambientação das áreas comuns do empreedimento, são estampados como voz delegada

do bom gosto.

O segmento de móveis e objetos de decoração cresce acompanhando o crescimento

do setor imobiliário. Em São Paulo a venda de unidades residenciais novas cresceu 23,6% no

ano de 2013 em relação ao anterior, segundo o SECOVI (SECOVI-SP, 2014). Nos últimos dez

anos, os gastos com a aquisição de móveis aumentaram 56,8%, movimentando valores por

volta de 41,7 bilhoes de reais. A classe C é responsável pela metade desse aumento, enquanto,

a classe A e B, juntas, representam 33,8% e a classe D 19,7%, segundo dados do Instituto

Data Popular (AGUILHAR, 2012). Esse número representativo do aumento de consumo do

segmento pela classe C está pautado na mudança dos modos de consumir dessa classe, que

passou a equipar suas casas com o mesmo privilégio que as classes mais altas, conforme

explica Renato Meirelles (apud AGUILHAR, 2012), diretor do Instituto Data Popular:

12 Fonte Jornal Folha de São Paulo, 29 de dezembro de 2013. Caderno imóveis.

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Movida pelo chamado consumo de aspiração, a classe C procura o que antes

era privilégio das classes mais altas: design, personalização, funcionalidade e

peças inspiradas nas principais tendências do mercado. “Esse consumidor deixa de ter móveis herdados e hoje pode organizar a decoração da própria

casa”. (AGUILHAR, 2012)

Neste contexto, o segmento da decoração torna-se aquecido e justifica não só o

aumento de inúmeras lojas do setor, mas também a adequação dos polos comerciais na cidade

de São Paulo, que se transformam continuamente para atender as exigências do mercado da

moda em decoração. Como exemplo, podemos citar a Loja Tok Stok, considerada a maior rede

brasileira de móveis e utensilhos domésticos, e um caso de sucesso na forma de vendê-los.

Atualmente a marca tem em São Paulo doze lojas localizadas tanto nas ruas como nos

shoppings da cidade.

Há trinta e cinco anos atrás, com a abertura da loja Tok Stok na Avenida São Gabriel,

a cidade de São Paulo conheceu uma novidade nos modos de consumir móveis e objetos de

decoração. A marca fazia-se inédita, pois propunha a venda de móveis de forma individual e

não em conjunto, como era a fórmula empregada pela maioria das lojas do segmento. A

primeira unidade da marca, com um espaço de apenas 80 m2, se fazia ser vista pelos

ambientes montados e decorados para que os consumidores pudessem ver e sentir as diversas

possibilidades de decoração para suas casas. Apropriando-se da fórmula do autoatendimento

dos supermercados, colocava pela primeira vez uma variedade de objetos de decoração em

gôndolas, possibilitando também a pronta entrega dos móveis, o que facilitava a vida do

consumidor que não precisaria mais aguardar a entrega dos bens adquiridos (Fig.20).

Figura 20- Uma das lojas Tok Stok

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Fachada da loja Tok Stok localizada na Marginal Pinheiros em São Paulo e o espaço interno da loja com

ambientes organizados e decorados com os produtos que vende de forma que o consumidor veja e sinta a

decoração como um todo.

Fonte: Felipe Crescenti Arquitetura

A expansão do segmento de decoração aliado à aceitação cada vez maior do formato

shopping na cultura paulistana, em 1987, o Shopping Lar Center foi inaugurado. Dentro do

complexo Center Norte, localizado na Vila Guilherme próximo a Marginal Tiete, o Lar

Center reune lojas do segmento que vão desde a venda de materiais básicos para construção,

presentes, móveis e decoração, móveis planejados para cozinha e quartos, entre lojas

específicas de cortinas, tapetes, colchões, iluminação e eletrodomésticos (Fig. 21).

Figura 21- Shopping Lar Center

Vista da fachada do Shopping Lar Center que faz parte do complexo Center Norte, na Vila Guilherme. Espaço

interno do shopping cujas lojas expõem produtos em oferta nos corredores para atrair os consumidores.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

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Um momento importante para o comércio brasileiro aconteceu com a abertura para a

importação no país na década de 1990, que acirrou a concorrência entre os fabricantes locais e

competidores internacionais. Nesta época, pudemos ver uma grande expansão do mercado de

móveis e objetos de decoração, através de novas lojas fixadas em endereços elegantes da

cidade de São Paulo, oferecendo móveis importados com qualidade superior aos fabricados

em solo nacional. Pela primeira vez, tínhamos acesso a um mobiliário com design inovador de

qualidade a preços competitivos, que deixavam os móveis nacionais em desvantagem. Com o

mercado abalado pela concorrência estrangeira, a necessária modernização das indústrias no

processo produtivo era inevitável para a sobrevivência. As indústrias moveleiras, de tecidos e

de objetos de decoração, assim como todas as demais indústrias nacionais, passavam a

valorizar o design e a qualidade de seus produtos, investindo também nas instalações de suas

lojas, na apresentação dos produtos e nos cuidados com o atendimento ao consumidor, antes

desprezados.

A partir desses consumidores mais exigentes e dispostos a pagar por artigos mais

sofisticados, juntamente com a preferência pelo comércio no formato shoppings, o D&D –

Decoração e Design Center, foi inaugurado em 1995, na zona sul da cidade (Fig.22). O

empreendimento anexo ao WTC- World Trade Center, considerado o maior complexo de

negócios da América Latina, reúne 95 lojas de decoração, ingressando assim no rol dos

endereços especializados do segmento na cidade.

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Figura 22- O D&D- Decoração e Design Center

Fachada do D&D instalado na Marginal Pinheiros, integrando o complexo do WTC (World Trade Center) e seus

espaços internos distribuídos em dois andares.

Fonte: http://boomspdesign.com.br/

O mercado varejista de materiais de construção também foi inovado por meio dos

Home Centers, que se apropriaram do conceito de autoatendimento e pronta entrega. Lojas

como a Leroy Merlin, Telhanorte e C&C, são exemplos desse formato de varejo que não

apenas vendem materiais básicos para a construção e reforma, mas também oferecem

produtos para decoração, todos esses separados em departamentos. Esse processo de

convergência reafirma a preocupação de empresas do segmento em atender às demandas de

consumidores que estão construindo ou reformando e que também desejam seguir a moda em

decoração a um preço acessível. A Leroy Merlin, marca francesa, apresenta-se no seu site

como capaz de atender tais anseios dos consumidores:

Desde que chegou ao Brasil, em 1998, a Leroy Merlin vem trazendo inovações para o mercado de material de construção. Focadas

na qualidade de produtos, no atendimento e nos serviços prestados, as lojas

da rede oferecem ambientes espaçosos e agradáveis para receber melhor seus clientes. Não tenha dúvidas: a Leroy Merlin pode te ajudar em todas as

etapas de sua obra. Afinal, é especializada nas áreas de Construção,

Acabamento, Decoração, Jardinagem e Bricolagem. (LEROY MERLIN)

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A presença de computadores ligados à internet nos lares interferiu tanto nos modos

de consumir como nos modos de morar. A possibilidade de trabalhar à distância fez com que

a casa fosse repensada para abrigar um cômodo para essa função. Hoje, o antigo gabinete ou

escritório, local que era dedicado ao estudo ou leitura transformou-se em home office, uma

realidade que veio para ficar sobretudo em São Paulo, cuja mobilidade na cidade é um

problema.

A possibilidade de consumir produtos por meio da internet também facilitou e ainda

facilita a vida dos sujeitos que desejam pesquisá-los ou comprá-los. Nesse contexto, cujo

comércio eletrônico integra os canais de vendas que as marcas utilizam, a competitividade

torna-se mais acirrada. Como consequência desse comportamento, um novo consumidor

surgiu, agora mais informado e conectado, e principalmente mais exigente.

No que se refere ao segmento de móveis e decoração, segundo a empresa de

consultoria E-Bit, que realiza pesquisas sobre internet, no ano de 2012, o setor apareceu pela

primeira vez entre as cinco categorias mais vendidas pela web (APPLE, 2013). No entanto,

existem muitos aspectos que impedem sua evolução de modo mais agressivo como ocorre

com outros segmentos. A principal causa é a limitação de visualizar perfeitamente os

produtos. Fatores como as distorções das imagens e das cores dos itens, a venda de móveis de

forma isolada e a falta do contato físico com o produto, levam os consumidores preferirem ir

até as lojas físicas. A loja física, portanto, ainda é o canal de compras mais utilizado na venda

de móveis e objetos de decoração, pois permite não só que o sujeito tenha o contato com os

produtos como também visualize a composição como um todo, fatores primordiais no

processo de seleção.

I.1. O ponto de venda do segmento de decoração

Na década de 90, assistimos a abertura econômica no país que em conjunto à

implantação do Código de Defesa do Consumidor (CDC), no ano de 1991, e a estabilidade do

Plano Real, proporcionaram mudanças, em curto prazo de tempo, nas relações de consumo na

virada do século XX. Em decorrência dessas mudanças, o comércio passou a focalizar suas

ações no encantamento do consumidor, uma vez que o ato de consumir produtos não trazia

satisfação apenas pela posse dos mesmos. Era preciso agregar outros valores aos produtos,

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conforme escreve A. C. de Oliveira na apresentação do livro A Marca pós-moderna de A.

Semprini:

O ato de comprar e o ato de consumir na sua reiteração foram perdendo o

valor de uma novidade com a força vetor capaz de surpreender. Como todo

ato repetitivo, o maravilhamento dos bens de consumo desgastou-se, tornando-se mais uma das atividades rotineiras que o sujeito experimenta em

busca do encontro de si mesmo. (2010, p.13)

Segundo A. Semprini o imaterial e o imaginário passam a ser uma dimensão do

consumo pós-moderno em conjunto com o individualismo, o corpo e a mobilidade. Os

sujeitos passam assim a valorizar aspectos abstratos dos produtos, consumindo-os com certa

dose de fantasia. É desse modo que os móveis, por exemplo, passam não somente a cumprir

uma função, mas também a ter outros valores incorporados a eles, como o estético e o estésico

marcado pelo sentir conforto e bem estar, conforme explica o autor:

[...] o conforto, tornou um argumento de venda importante, em numerosos setores de consumo. Esta busca de conforto, benefício imaterial por

excelência, é frequentemente associada a uma base concreta e material muito

importante, mas cujo papel é funcional, pois ela está subordinada à procura do máximo bem estar. (2010, p.60)

No acirrado cenário da concorrência e com o desgaste pela dessemantização do ato

de consumir, algumas empresas notaram que era inevitável surpreender os sujeitos e passaram

a agregar o valor da experiência no ato de consumir seus produtos. Assim, concentraram seus

esforços na tentativa de provocar reações emocionais nos sujeitos enquanto consumidores em

potencial, deixando de serem apenas nomes para ganhar corpo e personalidade. Para tanto, era

preciso não somente saber quem era o seu cliente, mas compreendê-lo, antecipando seus

desejos, bem como moldar os pontos de venda, principal local de aproximação das marcas

com o consumidor final.

Um bom exemplo disso está na ação sensorial que a varejista sueca de mobiliário e

decoração, Ikea, realizou em 2007 na cidade de Oslo, resultante de uma pesquisa que

identificou que muitas pessoas de outras regiões incluíam a loja Ikea como ponto turístico a

ser visitado na cidade. A ação consistiu na montagem de ambientes especiais dentro da loja,

para que clientes convidados pudessem usufruí-los durantes quatro noites como hóspedes. No

final da estadia os convidados podiam levar para casa os roupões, toalhas de banho e roupas

de cama que foram utilizados, com o propósito de fortalecer a experiência com a marca.

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Assim o vetor experiência passa ganhar importante lugar e vai sendo desbravador de modos

vários.

Nesta dimensão do consumo imaginário, os pontos de vendas passaram a ser mais

valorizados. Quer esteja nele instalado uma loja de varejo que venda sua própria marca ou

várias outras, esses espaços são planejados para sensibilizar o sujeito consumidor. No

desdobramento das estratégias que as lojas utilizam para se fazer ser vista e sentida, o Visual

Merchandising entendido como “técnica de trabalhar o ambiente do ponto de venda criando

identidade e personificando decorativamente” (BLESSA, 2009, p.6) reforça os modos de

diferenciação pelas quais procuram mostrar-se ao consumidor. Atualmente, mais do que ir até

uma loja para adquirir um produto, a valorização do contato com o espaço da loja é

priorizada. As estratégias e as sensibilizações de modos de arranjo tornam-se fundamentais

para impactar os sujeitos. Para tanto o design, arquitetura e decoração, são capazes de

produzir um ambiente de compartilhamento e envolvimento que motivem e induzam os

consumidores a apreender e construir os valores que a loja deseja passar. Segundo

Demetresco, o visual merchandiser “cria efeitos de sentido e cenas de ilusão na decoração do

comércio” (2012, p.11).

Foi por esse caminho que as lojas conceito surgiram como um formato inovador das

lojas de marca. Esse tipo de loja diferencia das demais por terem espaços organizados não

apenas visando a venda de seus produtos, mas principalmente para que o conceito da marca

seja apreendido em ato. A marca é considerada um ativo intangível da empresa o que a torna

não só um nome e uma imagem, mas sim todo um jeito de ser, pensar e agir. Portanto, em sua

natureza semiótica, segundo A. Semprini, ela é capaz de construir, veicular significados e

articular um projeto de sentido a uma promessa concreta e materializada pelas ofertas,

produtos e serviços que disponibiliza aos sujeitos consumidores (2010, p.97). Em nossa

sociedade contemporânea a busca de sentido a partir de projetos de vida que tragam

significados tem sido cada vez mais valorizada, e é nesse contexto que a marca pode operar

enquanto sujeito de fazer e tornar-se forte. De acordo V. L. Martyniuk, a marca é o que

concentra o sentido, construído como resultado da operação conjunta de suas manifestações

(2008, p.9).

Como exemplo de loja conceito do segmento de decoração, tem-se a marca alemã

Dedon, fabricante de móveis de luxo para ambientes externos. Para ganhar uma maior

visibilidade, a marca inaugurou a Dedon Island resort, ilha localizada no Siargão, Filipinas,

aberta para um público de convidados restrito com a finalidade de fazê-los experienciar o que

a marca propõe como estilo de vida: “O luxo de viver com os pés descalços”, oferecendo aos

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visitantes a oportunidade de passar momentos inspiradores e renovadores junto à natureza,

conforme informa Bobby Dekeyser (2012) seu proprietário. O conceitual dessa marca se faz

ser sentido pelos enormes painéis fotográficos que trazem a imagem de sujeitos descontraídos

e alegres usufruindo os espaços da ilha, que, instalados no interior de suas lojas na cidade,

trazem a Dedon Island aos olhos “urbanos” de quem a contempla. Em São Paulo, a Dedon

está instalada na elegante rua temática da cidade, a Alameda Gabriel Monteiro da Silva, que

organiza seus espaços internos explorando as emoções e sensações dos clientes que percorrem

a loja, não somente estimulando o consumo de seus produtos, mas também, e principalmente,

evocando um estilo de vida proposto pela marca, presentificado na ambiência da loja. Vemos

assim os enormes painéis fotográficos espalhados nas paredes, com o tema recorrente do

clima de descontração da praia, com pessoas sorridentes, vestidas de forma despojada, que

remetem à sensação de liberdade e alegria de viver, sem deixar de lado a sofisticação e

exclusividade do produto, presentificadas tanto no design e nos materiais empregados em seus

produtos como também nos complementos decorativos da loja e no atendimento diferenciado

(Fig.23). Podemos dizer que a Dedon, por meio de sua loja conceito, conta sua história de

forma intencional para seduzir o sujeito consumidor, colocando-o por painéis fotográficos

dizendo claramente onde ele gostaria de estar.

Figura 23 – Loja Conceito Dedon

Os paineis fotográficos de grandes proporções que estão nas paredes da loja Dedon, instalada na Rua Gabriel

Monteiro da Silva, que seduzem os sujeitos consumidores com um estilo de vida proposto pela marca.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

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Paco Underhill, em seu livro A Magia dos Shoppings (2004) reforça a ideia de como

uma loja de varejo, seja ela de uma única marca ou que venda outras, por meio de seus

espaços pode estruturar-se aos moldes de uma construção de narrativas:

A história da marca deve ser contada ao longo de toda loja [...] Os cliente

devem ser atraídos para dentro e seduzidos aos poucos, enquanto percorrem

o espaço da loja.[...]Quando entramos em uma loja pela primeira vez, nossos sentidos são aguçados,e nossos olhos varrem todo o lugar. Cheiramos o ar, e

nossos ouvidos procuram sinais que nos digam claramente onde estamos.

(2004, p.208)

Por narrativa entende-se a característica de narrar por meio de sequências de

enunciados de estado que são transformados pelos enunciados de fazer. Tratadas como

percurso narrativo, compreendem uma sequência de programas narrativos simples ou

complexos do sujeito em busca de um objeto de valor. Para isso, o sujeito é modalizado por

outro sujeito doador de competências para a realização da performance do fazer, podendo ser

sancionado positiva ou negativamente. A semiótica é uma teoria de ação e estuda como o

fazer faz ser o sujeito. Para ela existem dois tipos de percurso narrativo: o que está no nível

narrativo do sujeito, que corresponde ao enunciado e o que está no nível discursivo, no

domínio da enunciação. O nível narrativo do sujeito é constituído por dois sintagmas: a

competência e a performance, em que modalização e a manipulação fazem o sujeito fazer. No

percurso discursivo, identificável por figuras, encontramos as marcas da negociação do

contrato em que a troca efetiva do objeto de valor ocorreu. Assim, o sujeito que entra na loja

da Dedon, não apenas busca comprar um móvel diferenciado para sua casa, mas procura

também estar em conjunção com o estilo de vida que a marca enuncia e que lhe proporciona

experiências de sentir pelos painéis e “pelos pés descalços” se ele for um daqueles a viver em

ato o que a marca propõe.

O ponto de venda é capaz de em um dado espaço reunir as qualidades sensíveis, que

podem ser da ordem do visual, olfativa, sonora e térmica, que em conjunto e organizadas de

modo apropriado venham a manifestar uma realidade significante. Assim, uma loja enuncia

seu modo de ser e a apreensão do sentido pode ser captada e fazer sentido ou não ao sujeito

consumidor que circula por estes espaços. Temos, pois, um encadeamento de enunciados de

estado e de transformação que constituem narrativas de uma cidade, de ruas, de lojas ou da

relação entre elas.

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As estratégias que a empresa utiliza são definidoras das diretrizes de todas as

interações desenvolvidas com os consumidores e a sociedade como um todo (Martyniuk,

2008, p.10). Os destinadores fazem escolhas sobre onde e como irão instalar suas lojas, de

modo que se faça comunicar aos seus destinatários para o que vieram. Tais escolhas, tanto no

endereço escolhido como nas formas arquitetônicas e arranjos dos seus espaços internos, são

usadas como força de persuasão. Podemos dizer que uma loja se faz ser vista por meio da

imagem que os sujeitos formam ao vê-la e reconhecê-la, conforme explica A. C. de Oliveira,

[...] como a imagem sentida e percebida chega então a levar o passante a

conhecer o produto, formar uma imagem da loja e, por fim, poder se auto-

identificar são tópicos de extrema relevância compreender, pois no sentir e no perceber, se instaura a significação. (1997, p.44)

Para a semiótica, um dos componentes que determina o processo comunicacional é o

fazer crer do enunciador com o propósito de persuadir o enunciatário no convencimento de

seu discurso. Nessa relação, o fazer crer implica na modalidade da volição, no fazer querer do

sujeito enunciador apoiado no crer do enunciatário sobre o discurso verdadeiro. A persuasão é

feita por meio de um conjunto de procedimentos argumentativos que estão presentes nesta

relação, num jogo complexo de manipulação a fim de efetivar a interação entre as partes. Os

modos de presença das lojas no contexto da rua em que estão alocadas, como nos modos de se

fazerem ser vistas pelo passante, pelos arranjos arquitetônicos externos de sua fachada e

vitrinas, pela exposição do mobiliário e objetos no interior da loja, entre outros aspectos, são

organizados com a finalidade de trazer o sujeito consumidor para perto do objeto de venda,

estabelecendo uma relação entre a combinação daquilo que deseja mostrar com aquilo que é

visto, posições que vão estruturar os procedimentos dos regimes de visibilidade. Assim, o

destinador escolhe quais as estratégias utilizará para que seja apreendida pelos passantes, seu

destinatário.

O ponto de venda assumido nesta construção enunciativa é, sem dúvida, poderoso

para que o contrato seja efetivado entre o destinador e destinatário. Ele é assim constituído

por um conjunto de ações planejadas com a intenção de atingir seu público alvo com

vivências inteligíveis e sensíveis que põem o consumidor na experiência mesma do sentido

que é assim presentificado.

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O nome de uma loja ou de uma marca ao ser enunciado traz consigo sentidos e

valores associados ao mundo que ela cria. Elas podem assim, construir “mundos possíveis” 13

para seus destinatários. É desse modo que a marca alemã Dedon muito além de oferecer

móveis de boa qualidade com design apurado faz o sujeito querer um estilo de vida que a

marca enuncia. Ou ainda, sentir que pertence ao mundo que a varejista Ikea cria. São vários os

caminhos nas estratégias da diferenciação que as marcas utilizam. No entanto, dentre todas as

estratégias que as marcas podem utilizar para atingir seus consumidores em potencial a

escolha da localização de suas lojas é parte constituinte importante da sua enunciação, como

veremos a seguir.

13 Termo utilizado por G. W. Leibniz, cujo conceito central da filosofia é a Harmonia Universal identificada com Deus para vivemos no melhor dos mundos possíveis.

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CAPÍTULO II. AS RUAS TEMÁTICAS DO SEGMENTO DE DECORAÇÃO

A busca de móveis e objetos de decoração é o programa narrativo comum que

sustenta a narrativa nos trechos selecionados da Rua Teodoro Sampaio e Alameda Gabriel

Monteiro da Silva. Cada uma dessas vias temáticas organiza-se de forma a atingir os sujeitos

consumidores em potencial no intuito de persuadi-los a firmar uma troca. Segundo A.J.

Greimas (2011, p.514) a troca constitui uma das formas da comunicação ou transferência de

objetos de valor. Centrado num “fazer-fazer”, o programa narrativo pode ser analisado como

estrutura contratual e estrutura modal (OLIVEIRA, 1997, p.135). Nesses termos podemos

investigar quais são os arranjos postos nesses trechos e relacioná-los, conforme propõe

Greimas, que afirma que um local só pode ser apreendido se o fixarmos em relação a um

lugar diferente, que ele só se define por aquilo que não é (1981, p.115).

II.1 Bairros e entornos

Embora a Rua Teodoro Sampaio e Alameda Gabriel Monteiro da Silva estejam

relativamente próximas uma da outra, essas vias estão inseridas em diferentes bairros que

também são distintos por características peculiares desde suas origens e posterior

desenvolvimento. Segundo M. de Certeau os bairros de uma cidade constituem-se para os

sujeitos que circulam por eles, como “uma parcela conhecida do espaço urbano na qual,

positiva ou negativamente, ele se sente reconhecido” (2009, p.40), assim um bairro é

apreendido pelas particularidades existentes e pelo uso que ele é capaz de proporcionar aos

habitantes e visitantes.

A Rua Teodoro Sampaio está localizada no bairro de Pinheiros, uma das regiões

mais antigas da cidade. Desde a sua formação e, durante muito tempo, esse bairro foi

considerado um núcleo sem muita importância para a capital, o que resultou no seu

desenvolvimento tardio e lento. Foi por volta do final do século XIX, que as primeiras

transformações aconteceram na região, tendo como ponto de partida a chegada da linha de

bonde que possibilitou o acesso e a consequente circulação de um maior número de pessoas

pelo bairro, que na época já era conhecido pela concentração da venda de vários produtos

agrícolas, sobretudo por reunir produtores de batatas. A comercialização era realizada a céu

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aberto num ponto espefícico do bairro, o que levou esse local ser conhecido por “Largo da

Batata”, nome esse oficializado somente em julho de 2012. Com o fortalecimento desse

comércio agrícola na região, a prefeitura inaugurou o Mercado de Pinheiros. No início, esse

mercado era apenas um galpão destinado aos comerciantes e produtores que vinham do

interior para vender seus produtos, que fez com que a população o apelidasse de “Mercado

dos Caipiras” (REALE, 1982, p.73). O lançamento do loteamento da Chácara Água Branca

dos Pinheiros mesclou a característica comercial agrícola do bairro com a construção de

residências destinadas para a classe média (Fig.26). Aos poucos a região foi desenvolvendo-

se, principalmente com o comércio local que se instalou ao longo da Rua Teodoro Sampaio.

Figura 24 – o Bairro Pinheiros

O Mercado de Pinheiros inaugurado em 1929, um galpão destinado para a venda de produtos agrícolas que

vinham do interior, sendo apelidado pelos paulistanos de “Mercado dos Caipiras”. O bairro de Pinheiros guarda,

até os dias de hoje, suas características comerciais desde a sua origem.

Fonte: Raul Goldschmidt

Não muito distante desse trecho da Rua Teodoro Sampaio está a Alameda Gabriel

Monteiro da Silva localizada no bairro nobre do Jardim Paulistano. Planejado pela

Companhia City, a partir de 1912, o bairro foi loteado para dar continuidade ao modelo

proposto dos bairros vizinhos, o Jardim América e Jardim Europa. O projeto urbanístico

desses bairros previa alamedas e a construção de residências em grandes lotes proporcionando

uma configuração privilegiada em relação aos bairros mais antigos da cidade. Na década de

1920, embora a linha do bonde passasse por ela, transformando-a na via mais movimentada

do bairro, a Alameda Gabriel Monteiro da Silva continuava essencialmente residencial e

mantinha as características bucólicas do Jardim Paulistano (REALE, 1982, p.109).

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Nesses aspectos o bairro Jardim Paulistano pouco mudou com o passar dos anos.

Ainda podemos ver belas e bem cuidadas casas entre uma massa de árvores, algo raro na

cidade de São Paulo, dominar a paisagem. Muitas dessas casas continuam sendo utilizadas

para fins residências, embora existam aquelas que cederam lugar aos escritórios e

estabelecimentos comerciais.

Figura 25- Jardim Paulistano

O bairro Jardim Paulistano preserva sua constituição original de prédios baixos construídos em grandes lotes e

principalmente a sua área verde.

Fonte: http://marleneacayaba.blogspot.com.br/

Tanto a Alameda Gabriel Monteiro da Silva como a Rua Teodoro Sampaio são vias

delimitadas pelas mesmas avenidas de acesso: a Av. Brigadeiro Faria Lima, a Av. Rebouças e

a Av. Brasil, cuja certa altura vira extensão da Av. Henrique Schaumamm (Fig.26). Porém, ao

cruzarmos os bairros onde estão inseridas, notamos diferenças significativas que são vistas e

sentidas por aqueles que ali circulam. Para identificá-las propomos um trajeto pela Av.

Brigadeiro Faria Lima tendo como ponto de partida a Av. Juscelino Kubitschek, em direção

ao bairro de Pinheiros.

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Figura 26- Delimitações dos bairros e vias

Os dois bairros vizinhos, Jardim Paulistano e Pinheiros, separados pela Av. Rebouças, limitadas pela Marginal

Pinheiros e Av. Brasil/Henrique Schaumann. A Av. Rebouças, em destaque se faz ser vista como um marco

divisor entre os distintos modos de presença desses bairros

Fonte: www.google.com.br

Considerada um dos centros financeiros da cidade de São Paulo, a Av. Brigadeiro

Faria Lima foi construída a partir do Largo da Batata, em meados dos anos 60. É nela que

está o shopping Iguatemi, considerado o primeiro empreendimento de grande porte, instalado

no Brasil seguindo os moldes norte-americanos. Num segundo momento, por volta dos anos

90, essa avenida sofreu alterações no seu traçado pelo seu prolongamento tanto na direção do

bairro de Pinheiros como na direção do bairro da Vila Olímpia. Essa avenida se faz ser vista

por um corredor de prédios de escritórios e instituições financeiras marcada por duas épocas

distintas. Para o lado do bairro de Pinheiros vemos uma concentração deles com aspectos

mais antigos em comparação aos novos prédios que estão próximos a Av. Juscelino

Kubitschek.

Seguindo então da Av. Juscelino Kubitschek em direção ao bairro de Pinheiros, a

Av. Brigadeiro Faria Lima apresenta um tráfego intenso de carros, ônibus e pedestres. A via

de mão dupla com quatro pistas de cada lado é separada por um canteiro central com jardim

bem cuidado. Em alguns trechos desse canteiro central existe uma ciclovia devidamente

sinalizada. As faixas que demarcam o espaço destinado aos veículos são largas e recém-

pintadas com placas indicativas e sinalizações que propiciam o ordenamento do trânsito e dos

pedestres, marcas essas que conferem a esse espaço urbano um modo organizado de ser e

estar.

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Durante o dia, nota-se um movimento intenso de pessoas que circulam a pé,

sobretudo no horário de almoço. Os corpos vestidos em sua maioria com roupas de trabalho,

geralmente andando em grupos, concentram-se nos sinais de pedestres, tendo como destino os

restaurantes da região. Podemos ver também alguns poucos corpos em trajes esportivos que

circulam pela avenida aproveitando a pista de cooper e ciclovia do canteiro central (Fig.27).

Esses modos de presença repetem-se com relativa frequência, instaurando uma prática no

circular pela Av. Faria Lima até chegarmos à esquina da Av. Rebouças. É nesse ponto que

essas avenidas oferecem caminhos alternativos para outras vias e saídas da cidade. Seguindo a

mesma direção do trajeto proposto do início, é nesse cruzamento, que passamos do bairro

Jardim Paulistano para o bairro de Pinheiros. A quantidade de ônibus que passam a circular

nesse trecho é maior, tendo em vista o terminal de Pinheiros que concentra várias linhas de

ônibus está muito próximo desse ponto. Com isso, o trânsito torna-se caótico, uma vez que os

carros parecem “brigar” com esses ônibus pelo direito a um espaço na via. A circulação de

pedestre é também maior dada á região ser basicamente comercial. Os corpos andam mais

apressados pelas calçadas, muito provavelmente em direção ao terminal ou estação de metrô

Faria Lima, ou mesmo para realizar suas compras. No trecho próximo ao terminal,

ambulantes passam a frequentar as calçadas, ofertando produtos, comidas, bebidas e outros

itens para aqueles que circulam na região (Fig.28).

Figura 27- Av. Brigadeiro Faria Lima

Um dos centros financeiros da cidade de São Paulo, a Avenida Faria Lima arborizada, é uma via bem cuidada,

com canteiro central para cooper e ciclovia, faixas bem sinalizadas e trânsito ordenado. Fonte: www.google.com.br

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Figura 28- O Largo da Batata

Corpos que circulam no início da Rua Teodoro Sampaio, a partir do Largo da Batata, onde está o acesso ao

metro Faria Lima e terminal de ônibus. Local de grande circulação de pedestres favorece o comércio formal e

informal na região.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

A Rua Teodoro Sampaio nasce de um cruzamento entre as Ruas Paes Leme e Rua

Butantã para depois passar pelo Largo da Batata, e é nesse ponto que iniciamos nossa

investigação. Via de um único sentido, essa longa e reta rua é bastante movimentada, quer

seja por veículos ou por sujeitos que circulam por ali. Corredor de passagem para os demais

pontos da cidade, nessa via há ônibus, carros particulares e utilitários, motos, circulando

incessantemente, fazendo o trânsito ser lento e conturbado na maioria dos dias da semana e

em diversos horários. Para avançar pela rua de carro é necessário driblar o congestionamento

contínuo e o estreitamento da via, em consequência tanto da faixa exclusiva de ônibus ao lado

direito, como pela “zona azul” 14 que permite estacionamento de veículos ao lado esquerdo.

O comércio instalado nos primeiros quarteirões é muito diversificado e popular.

Vários ambulantes, com carrinhos abarrotados de produtos, dividem as calçadas com os

pedestres, que andam apressados esbarrando-se uns aos outros. Muitos desses pedestres

andam e atravessam a rua de modo apressado e muitas vezes até de modo descuidado.

Podemos ouvir sons de buzina e de freadas bruscas por parte dos motoristas com relativa

frequência. Alguns pontos comerciais utilizam som com alto-falantes para anunciar ofertas e

tocar músicas na tentativa de sobressaírem-se um dos outros. Nesses primeiros quarteirões um

14 Zona Azul é o estacionamento rotativo pago, criado em 30/12/1974, através do Decreto 11.661, com o objetivo de promover a rotatividade das vagas existentes, racionalizando o uso do solo em áreas adensadas,

disciplinando o espaço urbano e permitindo maior oferta de estacionamento.

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sentido agitado é apreendido, que permanece até chegar ao cruzamento com a Rua Fradique

Coutinho (Fig.29) A partir dessa rua até a Av. Henrique Schaumann, o caos parece ceder

lugar a certa ordenação que parece produzir alívio e reconforto para quem não está

acostumado a tanto barulho.

Figura 29- Início da Rua Teodoro Sampaio

A concentração de lojas populares é maior nos primeiros quarteirões da Rua Teodoro Sampaio a partir do Largo

da Batata. Calçadas possuem espaço reservado para barracas de ambulantes que transformam a passagem num

caminho muito estreito prejudicado pelo excesso de pessoas que circulam. Via de um único sentido, que tem

faixa exclusiva de onibus e zona azul e faz com que o congestionamento seja constante.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

A conhecida Av. Henrique Schaumann corta a Rua Teodoro Sampaio, separando-a

em parte alta e parte baixa da via. A partir dessa avenida, nos próximos cinco quarteirões,

lojas de instrumentos musicais podem ser vistas lado a lado, o que a faz ser também uma rua

temática do segmento. Na parte baixa, mais precisamente entre as ruas Fradique Coutinho e

Francisco Leitão, dá-se a ver uma maior concentração de lojas de móveis e objetos de

decoração, cujo trecho nos interessa investigar.

Nesse trecho específico mencionado, o polo de comércio temático iniciou-se na

década de 1950, a partir de pontos de manufatura de móveis rústicos com o aproveitamento de

madeiras que se instalaram na região. Com a circulação cada vez maior de sujeitos

interessados em comprar móveis desse tipo na região, aos poucos, os quarteirões passaram a

serem constituídos por inúmeras e diversificadas lojas do segmento moveleiro fortalecendo

ainda mais esse polo comercial (Fig.30).

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Figura 30- Trecho selecionado

Trecho da Rua Teodoro Sampiao, entre as ruas Fradique Coutinho e Francisco Leitão, que se dá a ver maior

concentração de lojas especializadas.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

Voltando para o bairro do Jardim Paulistano, a Alameda Gabriel Monteiro da Silva

tem nas suas extremidades o Rio Pinheiros e a Av. Rebouças. Essa via é bastante longa,

atravessando importantes avenidas da cidade, como Av. Brigadeiro Faria Lima e Av. Brasil.

Para quem inicia o trajeto pela Marginal Pinheiros o sentido é de mão dupla até a Av. Brasil,

que depois passa a ser mão única até chegar ao encontro com a Av. Rebouças. Nesse primeiro

trecho, o trânsito é bastante calmo dado pela circulação reduzida de carros. Nas imediações da

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Av. Brigadeiro Faria Lima até Av. Rebouças, a alameda passa a ter maior circulação de

carros, sem contudo, causar tumulto. Os carros, em sua maioria, são de passeio entre os raros

caminhões e poucos ônibus, que juntos fazem o percurso de forma bastante controlada e lenta.

Não ouvimos som de buzinas ou freadas bruscas algo frequente no trânsito paulistano. O

movimento geralmente é calmo e ordenado, mesmo quando o tráfico é intenso uma vez que

essa via liga duas avenidas importantes da cidade (Fig. 31).

Figura 31- A Alameda Gabriel Monteiro da Silva

A Alameda Gabriel Monteiro da Silva no cruzamento com a Av. Brigadeiro Faria Lima, cujo percurso é feito de

modo calmo sem grandes concentrações de carros e ônibus.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos.

A transformação de uma parte da alameda em polo comercial é recente. Foi partir de

1990 que algumas casas residenciais cederam lugar aos inúmeros estabelecimentos comerciais

que vemos em maior quantidade no trecho entre as Avenidas Brigadeiro Faria Lima e Av.

Brasil. De acordo com A.C. Lemos isso foi possível pela ação dos especuladores que

burlaram a lei de zoneamento, conforme denuncia:

E o comércio e os escritórios em zonas proibidas? Qual a explicação, por

exemplo, da Alameda Gabriel Monteiro da Silva estar repleta de lojas? A

origem dessas irregularidades, como suspeitamos, está na trama organizada de influências lastreadas do poder público. (2013, p.90)

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Apesar da queixa, essa transformação tornou-se uma prática constante levando

inclusive alguns dos pontos comerciais iniciarem suas atividades apenas com liminares, sem

alvará dado pela Prefeitura de São Paulo. Somente em 2004, com a aprovação pela Câmara

dos novos planos diretores regionais, algumas atividades comerciais foram admitidas e

regularizadas, sobretudo as galerias de arte e lojas de decoração. Polêmicas à parte, o fato é

que o preço do metro quadrado na Alameda Gabriel Monteiro da Silva é um dos mais caros da

cidade de São Paulo, que com o valor médio entre R$12.500,00 a R$ 12.460,00 (VERONESI,

2013), não foi impeditivo o fato dos casarões, construídos em grandes lotes, serem

transformados em pontos comerciais. A paisagem da Alameda Gabriel Monteiro da Silva

nesse trecho específico modificou-se dada pela concentração de lojas diferenciadas e

específicas do segmento de decoração que se dão a ver uma ao lado da outra (Fig.32).

Figura 32- Alameda Gabriel comercial

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Alameda Gabriel Monteiro da Silva entre as Avenidas Brigadeiro Faria Lima e Brasil. Dá-se a ver inúmeras

lojas de decoração instaladas em grandes lotes, uma ao lado da outra, que deram uma nova paisagem a via.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

Nesse trecho, poucos são os sujeitos que circulam pelas calçadas. Quando os vemos,

em horários específicos, podemos julgar que são moradores da região, pois em trajes

esportivos denotam uma atitude de lazer, levando seus cachorros para passear ou praticando

algum tipo de esporte. Outro momento específico que a circulação de sujeitos nas calçadas

torna-se mais intensa e nos quarteirões próximos a Rua Juquiá, é durante o horário de entrada

e saída da escola britânica de São Paulo, Saint’s Paul School. Nas imediações da escola,

nesses horários apenas, identificamos os alunos uniformizados indo e vindo, acompanhados

ou não entrarem nos carros. Em menor quantidade, outros passantes indicam serem

funcionários das lojas por estarem de uniformes ou pedestres em direção as avenidas que

cortam a Alameda (Fig. 33).

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Figura 33 – O andar pela Alameda

Pouca circulação de sujeitos nas calçadas. Alguns desses, em trajes esportivos, indicam serem moradores do

bairro. Próximo da Alameda, na altura da Rua Laerte Assunpção, está a Praça Gastão Vidigal utilizada para

lazer dos moradores do bairro.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

Temos, pois, dois bairros da cidade de São Paulo com identidades próprias. Embora

o tema da decoração seja um denominador comum entre eles, por meio dos trechos

sinalizados, buscamos saber como esses espaços temáticos fazem sentido para o comércio do

segmento. Para a apreensão do sentido, a análise do modos de mostra-se de cada um deles,

por meio das relações entre os actantes, sujeitos, lojas e espaços, se faz necessária.

II. 3. Os modos de presença da Alameda comercial

O que define uma via ser uma alameda é a existência de árvores plantadas ao longo

dela. No trecho compreendido pelas Avenidas Brigadeiro Faria Lima e Brasil, que nos

interessa investigar podemos vê-las em harmonia com o paisagismo das lojas e demais

estabelecimentos comerciais como prova de resistência do verde característico desse bairro

paulistano (Fig.34).

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Figura 34- Alameda comercial arborizada

Vista da Alameda Gabriel Monteiro da Silva na altura do número 1.500. Ao lado direito da imagem, o muro do

Colégio Madre Alix cercado por árvores em frente a loja de tecido Regatta.

Fonte: www.google.com.br

Conforme mencionamos anteriormente, nesse trecho específico, poucas são as casas

cuja função permanece para moradia. Muitas delas são hoje lojas de móveis, de tecidos,

objetos de arte, enfim de itens relativos ao tema da decoração que estão mescladas por outros

estabelecimentos comerciais distintos. É exatamente nesse trecho que faz a Alameda Gabriel

Monteiro da Silva ser uma via comercial.

Quase sempre, nos polos comerciais de ruas das cidades encontramos

estabelecimentos comerciais que prestam serviços para os sujeitos moradores ou

frequentadores do local. São agências bancárias, farmácias, restaurantes, supermercados, entre

outros, que fazem parte do contexto comercial garantindo a manutenção das relações que são

estabelecidas ali. Nesse trecho selecionado não é diferente. Tais estabelecimentos estão

presentes, muito embora sejam poucos exemplares. Entre as agências bancárias, encontramos

o Personalitté, o Primer e o Select, nomeações respectivas para os bancos Itaú, Bradesco e

Santander, nas suas versões destinadas ao atendimento diferenciado para poucos. Na

continuidade de nossa investigação, vemos o supermercado, o Pão de Açúcar “terceira

geração” 15, a farmácia Drogasil e a imobiliária Kauffmann. Todos esses estabelecimentos

comerciais são organizados de modo que ofereça um atendimento direcionado a um público

de gosto que parece ser mais exigente, e se fazem ser vistos por características distintivas

dado o zelo como se mostram aos sujeitos passantes (Fig. 35).

15 O conceito “terceira geração” é baseado na oferta de mais serviços e criação de ambientes nas lojas do Pão de Açúcar.

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Figura 35- Estabelecimentos comerciais na Alameda

A agência do Itaú Personalité e a farmácia Drogasil, alguns exemplares de estabelecimentos diferenciados que se fazem ser vistos pela organização de suas fachadas conforme o contexto da Alameda. O restaurante Z-Deli na

esquina da R. Juquiá reitera a tendência da moda em decoração presentes nas lojas vizinhas, por meio do

emprego de composições cromáticas.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

Muito embora uma rua comercial seja marcada pela circulação intensa de pessoas a

pé, na Alameda raramente vemos sujeitos que andam por ela com a intenção de olhar as

vitrinas das lojas ali presentes. A identificação dos possíveis sujeitos consumidores ocorre

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pelo carro que sinaliza para entrar ou sair do estacionamento da loja, ou pelo curto trajeto

entre o carro e a porta do estabelecimento e vice-versa. Pouquíssimos são aqueles sujeitos que

carregam sacolas na saída da loja em direção ao carro. Nesses raros momentos, são sempre

assistidos por um funcionário da loja que os ajudam nessa atividade (Fig.36).

Figura 36- Consumidora na Alameda

Poucos são os sujeitos que circulam pelas calçadas da Alameda. O sujeito é identificado como um provável

consumidor ao estacionar seu carro em frente à loja, e pela rara ação de levar sacolas, como essa cliente que

provavelmente adquiriu algum produto e está sendo ajudada por um funcionário da loja.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

Embora as lojas sejam vizinhas uma das outras, a distância entre elas é generosa dada

pela configuração dos terrenos em grandes lotes, característica do bairro Jardim Paulistano. A

maioria das lojas que encontramos nesses quarteirões possuem uma fachada larga e espaço

reservado para o estacionamento de veículos. Mesmo com essa disponibilidade ofertada de

forma gratuita, algo raro na cidade de São Paulo, é usual, na maioria das lojas, o serviço de

manobrista que recepciona os carros dos clientes. Esse serviço pode ser identificado

facilmente pelos ombrelones abertos em frente às lojas, que abriga o funcionário fardado à

espera dos clientes (Fig.37).

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Figura 37- As lojas e suas fachadas

Área disponível para o estacionamento dos carros em frente às lojas e o serviço de manobristas à disposição dos

clientes, que são facilmente identificados pelos ombrelones abertos ou pelo manobrista uniformizado à espera do

cliente.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

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Na maioria das lojas, em frente as suas fachadas bem cuidadas, estão posicionados

sujeitos vestidos em ternos pretos que desempenham função de segurança e/ou funcionários

uniformizados que varrendo às calçadas ou cuidando dos jardins integram a paisagem. Esses

modos de presença indicam cuidados que são praticados pelos pontos comerciais, que

privilegiam tanto com a segurança como a aparência externa do estabelecimento. Um efeito

de sentido de calma e tranquilidade é portanto desfrutada por quem quer que passe por esse

trecho (Fig. 38).

Figura 38- Cuidados dispensados

Funcionários uniformizados em ternos pretos desempenham a função de segurança das lojas. Outros também

devidamente uniformizados varrem as calçadas ou cuidam dos jardins em frente às lojas.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

Padrão recorrente nas diversas lojas presentes na Alameda Monteiro da Silva é o

mostra-se por meio de fachadas bem cuidadas e trabalhadas com revestimentos elaborados. A

fachada é o elemento arquitetônico que se estende por toda a área externa que compõe o

visual de um edifício. É, portanto, nela que estão os elementos estéticos, como revestimentos,

cores, formas, nomes da loja ou da marca, entre outros, que em conjunto são essenciais para a

comunicação da identidade de um estabelecimento comercial. Por meio dela que o sujeito

passante pode pressupor que tipo de estabelecimento está diante dele. Nessa via temática tanto

a inovação nas formas arquitetônicas como a preservação das características da construção

original estão presentes. É o caso da loja Decameron que inova com a utilização de conteiners

marítimos pintados em cores contrastantes. Esses foram empilhados um sobre o outro e

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incorporados à estrutura do prédio. O bloco sólido e colorido tem dois planos, um que está no

nível da rua formando um túnel utilizado como entrada da loja, e outro no alto, como vitrina.

Entre outras fachadas arrojadas recorremos a da Galeria Bia Dória. Inspirado no origami, arte

japonesa de dobrar papel, a casa é envolvida por estruturas metálicas revestidas com painéis

de alumínio composto, na cor preta. O sujeito passante direciona seu olhar para o enorme

bloco multifacetado posicionado na esquina da Rua Mariana Correia que traz a modernidade

para a Alameda sem saber que por debaixo da estrutura ainda está a construção original (Fig.

39).

Figura 39- Inovação nas fachadas

Exemplares de lojas localizadas no trecho selecionado da Alameda cuja fachada arrojada é estratégia de

diferenciação nos modos de mostrar-se. A Decameron inova na escolha da fachada colorida, feita com módulos

de contêiners empilhados, e a Galeria Bia Dória com formas inspiradas no origami.

Fonte:www.google.com.br

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Entre as lojas com fachadas arrojadas, existem também aquelas que mantém de modo

visível as características originais da casa, valorando a tradicionalidade do bairro. Duas delas

nos chama atenção, a Armando Cerello e a Quarto e etc., ambas marcas com apenas uma loja

na cidade de São Paulo. A primeira, marca tradicional na produção de móveis em fibras

naturais e sintéticas, há 100 anos no mercado, mostra-se por meio de uma fachada pouco

alterada. A cor pêssego empregada nas paredes externas contrasta muito pouco com o

contorno branco da porta de entrada e duas janelas que recebem toldos na cor grafite. O nome

da marca aparece no alto da fachada de modo discreto. A marca Quarto e Etc. presente na

Alameda desde 1993, escolhe seguir a mesma linha da preservação dos traços originais da

casa. A loja mantém o ar bucólico do bairro por meio da fachada na cor terracota e do

paisagismo cujas plantas, em crescimento, vão encobrindo as paredes frontais do prédio. As

duas marcas escolhem vitrinas muito discretas cuja a visibilidade de fora para dentro do

sujeito passante é limitada do mesmo modo como não visualizamos o interior de uma

residência, indicando reserva. O efeito de sentido da exclusividade é apreendido (Fig. 40).

Figura 40- Preservação da arquitetura da casa

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Fachada da única loja da marca Armando Cerello na cidade de São Paulo. A loja preserva os traços originais da

casa, apenas com pequenas transformações. A loja da Quarto e etc. especializada em quartos mostra-se por

meio de uma fachada intimista que mantém os traços bucólicos do bairro com paisagismo bem cuidado.

Fontes: Acervo Armando Cerello e Maria Claudia Vidal Barcelos.

Percebemos então, a utilização de cores, formas, materiais, iluminação, paisagismo,

entre outros recursos explorados pelo enunciador combinados para manipular o olhar do

sujeito passante. É nessa combinatória que o tipo de loja está enunciado ao sujeito

consumidor antes mesmo dele entrar nela. Por meio desses atributos o sujeito passante pode

formar uma ideia do que encontrará no da interior.

Os sujeitos que percorrem esse trecho da Alameda pode reconhecer facilmente uma

mesma marca que se faz ser vista por duas lojas distintas. Nesse contexto, o reconhecimento

não se faz pelas fachadas das lojas, uma vez que não são padronizadas, mas pelo nome

principal da marca acrescido de outro, indicando que cada loja parece oferecer produtos

específicos ou serviços diferenciados. Algumas vezes a identificação dessa diferenciação é

óbvia, neste caso podemos citar a Casual exteriores e Casual interiores ou as lojas Q e etc. e

a Q e etc. bebê, que no próprio complemento do nome da marca está enunciado o que

encontrará no interior de cada loja. Em outros, no entanto é preciso entrar nas lojas para saber

o que as distingue. É o caso da Brentwood e a Brentwood Natural. A empresa, há 20 anos no

mercado, tem quatro lojas na cidade de São Paulo que recebem o nome de Brentwood e vende

os mesmos produtos em todas as suas unidades. O acrescimento da palavra Natural ao nome é

usado para distinguir a linha de produtos que a empresa passou a vender e expor nessa única

loja alocada na Alameda. A linha desse mobiliário é diferenciada por traz um conceito mais

despojado com móveis sustentáveis, algo tão valorado na atualidade. De mesmo modo a By

Kamy, diferencia seu atendimento e tipos de produtos por meio de duas lojas distintas. A

empresa que comercializa tapetes destina a By Kamy Studio para a exposição de tapetes de

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tamanhos menores e preços mais acessíveis, enquanto que a By Kamy Maison, a menos de um

quarteirão, oferece uma linha de tapete mais diferenciada tanto nos tamanhos como nos

valores por metro quadrado (Fig.41).

Figura 41- Nomes como diferenciação de serviço

A marca Bretwood possui duas lojas na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, uma que oferta mobiliários iguais aos expostos nas demais lojas da marca e outras que é direcionado ao estilo mais despojado. Fachada das lojas

da marca By Kamy, uma direcionada para a vende de tapetes menores e a preços acessíveis, a nomeada Ky

Kamy Studio, e a By Kamy Maison, que oferta tapetes maiores e mais caros.

Fontes: www.google.com.br e By Kamy

Duas outras lojas também chama atenção do sujeito passante que as identifica pelo

nome quase igual: a Firma Casa e a Conceito: Firma Casa. Instalada no número 1487, a

Firma Casa mostra-se pelo arrojado teto revestido por vasos com “espadas de São Jorge”

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que integram a paisagem verde da Alameda. Quase em frente a essa loja, está a Conceito:

Firma Casa, que se mostra ao sujeito passante por uma fachada contemporânea. A primeira

oferece uma linha de móveis e objetos que ela denomina de design high-end, termo utilizado

para definir produtos sofisticados e fabricados com alta tecnologia (Fig. 42). A outra também

oferece tanto móveis como objetos decorativos diferenciados, mas a sua abordagem de venda

está apoiada no conceito de que “tudo é diferente, tudo combina” (Fig. 43). Para identificar

essas diferenças propostas entre as lojas é necessário entrar nelas, desfrutar de seus espaços

internos, e percebe-las. Podemos dizer ainda que a empresa coloca-se para públicos distintos

por meio de cada uma dessas lojas, porém mantem o conceito central, que é trazer novidades

assinadas por designers reconhecidos ou não aos seus clientes.

Figura 42: A loja Firma Casa

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A fachada da loja Firma Casa criação dos irmãos Campana que constituído por 2.500 vasos de alumínio com

mais de nove mil sementes da planta Espada de São Jorge. O ambiente interno da loja que expõe mobiliário e

peças assinadas por designers reconhecidos internacionalmente.

Fonte: arquivo Firma Casa

Figura 43- Conceito: Firma Casa

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A loja Conceito: Firma Casa localizada em frente a outra loja da empresa mostra-se por meio de uma fachada

contemporânea e organiza seus espaços de modo despojado sem preocupação com combinações padronizadas.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

A Alameda Gabriel Monteiro da Silva também se faz pela escolha de empresas que

já possuem uma loja consagrada alocada nela, instalarem outros espaços para abrigar uma

nova marca. É o caso da Montenapoleone, empresa responsável pela distribuição das marcas

italianas Cassina e Poltrona Frau, ligados ao grupo da escuderia da Ferrari, que apresenta e

comercializa tais móveis na loja de mesmo nome. Recentemente, o grupo Montenapoleone

abriu um novo espaço para a venda dos produtos da marca italiana Kartell que possui uma

variedade grande de objetos de decoração. De modo similar, a loja Collectania distribuidora

da marca holandesa Auping reconhecida pela fabricação de camas de alto padrão em conforto

e tecnologia, que está na Alameda Gabriel Monteiro da Silva desde 1994, inaugurou uma loja

conceito para a venda de móveis para ambientes externos da marca alemã, Dedon. Nos dois

casos a divulgação dessas marcas associadas a um único grupo está apenas no site das

empresas. Essas ações reforçam a valorização do endereço para a venda de móveis e objetos

de decoração diferenciados (Fig. 44).

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Figura 44- Marcas renomadas na Alameda Gabriel

O grupo Montenapoleone, possui uma loja que oferece produtos das marcas renomadas Poltrona Frau e

Cassina e outro show-room exclusivo da marca Kartell. A loja Collectania representante da marca Auping

também criou um novo espaço para a venda dos produtos da marca alemã Dedon, muito próximo da primeira.

Fontes: www.google.com.br e Maria Claudia Vidal Barcelos

De modo recorrente, no trecho em questão, podemos ver as lojas de marcas

internacionais renomadas do segmento de decoração. Temos a Armani Casa, as francesas

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Ligne Roset e Cristais Baccarat, norte-americana Holly Hunt entre outras ao lado de marcas

nacionais de prestígio que em conjunto reúnem “o mundo da decoração” na Alameda Gabriel

Monteiro da Silva (Fig.45). A escolha desse endereço pelas empresas internacionais pode ser

ilustrada a partir da marca Armani Casa, presente nesse endereço desde junho de 2013 com a

sua primeira loja no Brasil. A decisão de vir tanto para a cidade de São Paulo como instalar

sua loja nessa via foi baseada no fato do crescimento do mercado de luxo e do status que é

conferido a Alameda, conforme a assessoria de imprensa da marca afirma:

A decisão de abrir uma loja Armani Casa se deve principalmente ao

crescente interesse do público brasileiro por design de interiores. Uma

tendência comprovada pelo grande afluxo de profissionais do setor nas edições mais recentes do Salão do Móvel de Milão. Outro fator relevante é o

boom da construção que está ocorrendo nas maiores cidades do País. A

decisão de abrir a Armani Casa na Gabriel Monteiro da Silva ocorreu de

forma natural, uma vez que consideramos a área o distrito de design da cidade (LIMA, 2013).

Figura 45- Lojas de grifes internacionais

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Vizinhas uma das outras, marcas nacionais e estrangeiras estão ao logo da Alameda Gabriel Monteiro da Silva.

A marca francesa Cristais Baccarat com a loja Maison Baccarat e a Armani Casa, grife italiana, são exemplares

de marcas de luxo recém-inaugurados em São Paulo.

Fonte: www.google.com.br e Maria Claudia Vidal Barcelos

Esse endereço também parece ser a escolha ideal para uma marca alocar sua loja

conceitual. Conforme mencionamos anteriormente, esse tipo de loja diferencia das demais por

terem espaços organizados não apenas visando a venda de seus produtos, mas principalmente

por apresentarem espaços planejados e trabalhados para que o conceito da marca seja

apreendido pelo sujeito consumidor. Desse modo os ambientes são trabalhados para criar um

veículo emocional entre os sujeitos e a marca, por meio de arranjos associados a um estilo de

vida, por exemplo. No número 1556 da Alameda, a norte-americana Moss para a Casa,

empresa de móveis planejados de alto padrão, mostra-se por meio de sua loja conceitual. Ela

organiza sua loja em ambiente por estilos definidos como: Natural, Urbano e Provençal. As

linhas dos desenhos do mobiliário e as composições acompanham cada um desses estilos

propostos pela marca. Assim no estilo Urbano, formas retas, puras do mobiliário em

ambientes bem definidos e práticos, se fazem vistos, em oposição, ao estilo Provençal, cujas

linhas arredondadas estão presentes nos móveis de cores claras que são combinados com

tecidos em estampas delicadas e românticas. Os quatros elementos da natureza: fogo, água,

terra e ar são as inspirações para os desenhos do mobiliário da linha Natural (fig.46).

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Figura 46: Loja conceitual Moss para a Casa

Fachada comtemporânea da loja conceito da marca norte-americana Moss para Casa e o interior da loja dividido

em estilos definidos pela marca como natural, urbano e provençal.

Fonte: acervo Moss para casa

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A reiteração dessas escolhas enunciativas faz com que a Alameda Gabriel Monteiro

da Silva seja vista como via temática da decoração de luxo. De acordo com Kotler (2012) o

denominador das marcas de luxo são qualidade e exclusividade. Nesse conceito os sujeitos

que buscam mobiliários de luxo devem sentir que estão comprando algo realmente especial,

que embora possa ser pelo design e durabilidade fatores que justificam o alto preço do

produto, são os valores simbólicos que tais produtos carregam que determinam a sua compra.

Os aspectos que envolvem o plano de marketing das marcas de luxo devem estar alinhados

para garantir qualidades de bens e serviços e experiências agradáveis de compra e consumo.

Para o autor as associações secundárias como eventos e entidades, por exemplo, podem ser

impulsionadores do brand equity, definido como o valor agregado atribuído a bens e serviços

(p.260), nesse contexto é possível fazer escolhas de ações que agregam valor quer seja à uma

marca, uma loja ou mesmo a uma via comercial.

O evento Avant Gabriel Chandon é um modo pelo qual o valor é também agregado à

Alameda Gabriel Monteiro da Silva. Inspirado em festivais de Paris e Nova York, o evento

está na terceira edição e tem apoio da Prefeitura de São Paulo. Na ocasião o trecho entre as

ruas Cônego Eugênio Leite e Dr. Carlos Assumpção recebe um longo tapete vermelho,

transformando-o numa enorme passarela cultural ao ar livre. Nela são instalados vários

quiosques de comidas e bebidas, além de locais destinados às atividades infantis. Ao mesmo

tempo as lojas permanecem abertas promovendo atividades relacionadas à arte, gastronomia,

música e design. De acordo com o idealizador do projeto, João Doria Jr: “O Avant Gabriel é

lúdico, comunitário, sustentável e integrador. Ele evoca a cidadania pelo direito de usufruto

da sua cidade, de forma humana e fraterna” (AVANT, 2013). Podemos afirmar que essa via

temática projeta-se não só como um espaço de vanguarda da moda da decoração, mas também

nos modos de viver a cidade de São Paulo (Fig.47).

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Figura 47- Evento Avant Gabriel Chandon

Evento Avant Gabriel Chandon, entre as ruas Eugênio Leite e Dr. Carlos Assumpção. Ação conjunta dos lojistas

e da Prefeitura de São Paulo, em que parte da alameda recebe um tapete vermelho formando um enorme

calçadão de pedestres que passeiam e interagem com as diversas atividades que estão ali colocadas.

Fonte: www.google.com.br

A visibilidade do tema de decoração se faz pelo site oficial da Alameda Gabriel

Monteiro da Silva, denominado: Gabriel Online (GABRIEL). Nele estão informações

relativas às últimas tendências do segmento de decoração e dicas de como decorar ou usar

objetos decorativos. Por meio da seção Vitrine o consumidor virtual pode visualizar os

produtos e móveis vendidos nas lojas alocadas na Alameda. Em decorrência do sucesso desse

site, surgiu a revista digital: Gabriel, direcionada para as classes A e B. O conteúdo da revista

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trata de design, decoração, paisagismo e arquitetura, a partir das tendências dos modos de

morar bem e dos estilos de vida. De forma interativa, os produtos que são citados nas matérias

estão ligados à seção Vitrine do site Gabriel Online, e podem ser acessados pelo leitor

interessado, que pode usufruir da Alameda Gabriel sem sair de casa.

Independente do estilo adotado na decoração de um ambiente, para compô-lo se faz

necessário agregar diversos itens para alcançar a ambiência que se deseja. Cortinas, tapetes,

iluminação, revestimentos, móveis, peças decorativas e utilitárias, obras de arte, entre outros

itens, fazem em conjunto, parte da composição de um dado ambiente. Assim, o sujeito que

está imbuído nessa missão de decorar um espaço precisa recorrer a diversas lojas e

fornecedores na busca de itens específicos. Nessa via temática é possível encontrar uma

variedade de lojas que vão desde galerias de arte até lojas muito específicas. Temos pois, a

Bali Express e Espaço Til, ambas especializadas em móveis e objetos decorativos orientais,

produtos específicos como a Maison Caves, que comercializa adegas, a Viking, marca

prestigiada de eletrodomésticos norte-americanos, Fast Frame que emoldura quadros na

hora, papéis de parede na loja Bucallo, entre outros. Essa imagem da Alameda comercial de

capaz de oferecer diversos itens destinados à decoração é reforçada e promovida pela

Associação Alameda Gabriel, que a descreve em seu site do seguinte modo:

A famosa Alameda Gabriel é um convite para os que querem decorar e

redecorar seu lar, seu escritório, seu local de lazer, pois reune as maiores marcas de decoração do país. Os profissionais e clientes ficam extremamente

satisfeitos em encontrar num único local todas suas necessidades, como:

luminárias; tapetes e carpetes; porcelanato, revestimentos, cerâmicos,

mármores, granitos e pisos; tecidos; persianas; galerias de arte; objetos de decoração; movelaria (clássicos, contemporâneos e linhas inovadoras),

cozinhas; banheiros; acessórios; molduras; adegas; utilidades de cozinha;

cama, mesa e banho, e muito mais.

Por meio dessas marcas textuais da Alameda Gabriel Monteiro da Silva, enquanto

endereço temático, podemos perceber a sua presença no comércio do segmento de decoração

que estabelece uma prática de consumo que tende a ser mais elitizada.

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II. 3. Os modos de presença da Teodoro dos móveis

A Rua Teodoro Sampaio é uma estreita e longa reta cortada por muitas ruas

transversais. É no trecho entre as ruas Fradique Coutinho e Francisco Leitão, área que abrange

cinco quarteirões, que encontramos diversas lojas de móveis uma ao lado da outra, entre

outros estabelecimentos comerciais, que nos interessa investigar.

A paisagem neste trecho é marcada por prédios, construções antigas, que estão lado a

lado, sem recuo entre elas, tanto nas laterais como na fachada frontal. Não é raro ver, lojas de

móveis de pequeno porte posicionadas no andar térreo de um mesmo prédio que compartilha

moradia ou outro tipo de estabelecimento comercial. Nesses casos, o acesso é sinalizado e

independente, localizado quase sempre, ao lado da fachada da loja. A enorme quantidade de

pontos comerciais que ocupam as estreitas calçadas faz com que um emaranhado de fios

elétricos e cabos telefônicos presos aos postes incorpore no cenário dessa via temática. Nessas

mesmas calçadas, vemos resistentes árvores, pontos de ônibus, que formam filas em horários

de picos, lixeiras, bancas de jornal que “dividem” esse mesmo espaço com os sujeitos

passantes interessados em olhar as diversas lojas de móveis.

Em quase todas as construções com pontos comerciais que estão alocados não há

recuo entre a calçada e sua fachada. Portanto, não há como ter um espaço destinado para o

estacionamento de carros em frente a eles. Dado ao fluxo constante de veículos nessa via,

esses pontos comerciais não conseguem oferecer o serviço de manobrista a seus clientes. A

escassez de locais para estacionar faz com que os sujeitos consumidores tenham que procurar

por um estacionamento particular ou vaga de zona azul16 antes de seguir a seus destinos. No

caso do sujeito consumidor optar pela vaga disponível na rua, precisa antes de tudo

preocupar-se em ter em mãos o cartão de estacionamento antes de seguir em frente na sua

busca. Também são raras as lojas que possuem convênios com os estacionamento para

clientes. Muitos desses estacionamentos, que estão na própria Rua Teodoro Sampaio, utilizam

espaços de prédios particulares. Esses apresentam entradas estreitas e de difícil acesso que

causam tumulto no fluxo das calçadas e rua (Fig.48).

16 Zona Azul é o estacionamento rotativo pago, criado em 30/12/1974, através do Decreto 11.661, com o

objetivo de promover a rotatividade das vagas existentes, racionalizando o uso do solo em áreas adensadas,

disciplinando o espaço urbano e permitindo maior oferta de estacionamento.

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Figura 48- Pontos comerciais na Teodoro dos móveis

Um dos quarteirões que abrange o trecho selecionado da Rua Teodoro Sampaio, entre as Ruas Fradique

Coutinho e Francisco Leitão, em que vemos a maior concentração de lojas de móveis. Muitas delas

compartilham o mesmo prédio com outros estabelecimentos comerciais. Garagens dos edifícios são utilizadas

como estacionamentos particulares com acesso difícil de entrada estreita.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

Conforme mencionamos anteriormente, a primeira identificação do tipo de comércio

que se apresenta diante de nós começa pela fachada da loja. O nome dela, componentes

matéricos, vitrinas, produtos expostos, entre outros recursos persuasivos são marcas

enunciativas que o enunciador escolhe para comunicar-se ao sujeito passante. De modo

intencional o destinador loja quer captar atenção do seu destinador e assim a fachada assume

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um papel importante como sujeito operador no “fazer ver para crer”17. Nesse movimentado

trecho da Rua Teodoro Sampaio, cujas lojas estão muito próximas umas das outras, vemos a

maior parte delas optar em manter as características originais da construção antiga apenas

modificando-a com pequenas adaptações necessárias para cumprir a função comercial. Parece

haver pouco investimento na fachada principal do prédio, quer sejam de grande ou pequeno

porte.

O elemento cromático é o mais utilizado para que uma loja sobressaia-se aos prédios

vizinhos. É o caso da marca Copel de colchões que por meio de sua fachada azul escuro, cor

essa padronizada em todas as lojas de rua da rede, destaca-se das demais lojas vizinhas. O

recurso da utilização das cores são em alguns casos compostos com outros que nos parece ser

um investimento econômico nos modos delas se destacarem, como um simples portal feito

com bexigas coloridas que enfeitam a entrada da loja. A loja Sun House, faz uso da cor coral

ao máximo para valoriza-se. Aplicada não só na fachada o emprego dessa cor estende para o

poste, canteiro da árvore e vaso de planta em frente a loja ( Fig. 49). A loja apropria-se da

calçada, área pública, incorporando-a na comunicação de sua marca envolvendo e

direcionando o sujeito passante.

Figura 49- O elemento cromático na diferenciação

17 Para maior aprofundamento, consultar o livro “Vitrinas: acidentes estéticos da contemporaneidade” A.C. de Oliveira.

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A cor como recurso de diferenciação é utilizada nas fachadas frontais de diversos tamanhos das lojas ao longo

da Rua Teodoro Sampaio. A loja da Copel utiliza a cor azul escuro na fachada que está ao lado de um prédio

que utiliza a cor laranja destacar-se. A loja Sun House estende o uso da cor coral de sua fachada para a calçada.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

Os prédios geminados, construídos em pequenos lotes, fazem com que os pontos

comerciais alocados nesse trecho temático tenham suas fachadas rentes à calçada. Não existe

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portanto, um recuo que favoreça a parada para olhar vitrinas com distanciamento necessário.

O que ocorre nessa interação é estar de um lado da calçada e a avistar a loja ou vitrina do

outro lado da rua. A maioria das construções apresenta uma frente estreita que impossibilita a

colocação de porta de entrada e vitrinas separadas. Com essa configuração muitas delas optam

em não tê-las, que faz com que o sujeito passante esteja posicionado a poucos passos da

exposição dos produtos no interior da loja. O universo da loja mistura-se assim, ao

movimento externo da rua, com seus barulhos, odores e outros passantes que andam

apresados. Outras lojas escolhem colocar planos de vidro fechando parte da frente do prédio e

reservam uma abertura para a entrada da loja e mantem suas portas sempre abertas. Nesse

caso o sujeito pode visualizar toda a loja com os arranjos expostos e o movimento que

acontece no interior dela (Fig. 50).

Figura 50- A passagem entre exterior e interior

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As portas e vitrines são rentes à calçada estreita e o sujeito consumidor visualiza o interior da loja da calçada. O

universo da loja é assim misturado aos movimentos característicos da rua, com barulhos e odores. De modo

bastante informal a mesma funcionária que vende faz a limpeza da porta de entrada.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

Raras são as lojas que se organizam de modo mais elaborado no trecho selecionado.

Em menor número, podemos visualizar algumas que sobressaem na paisagem por meio da

fachada principal modificada por elementos arquitetônicos que as valorizam. Por terem a

frente do prédio mais larga podem instalar portas de vidro e vitrinas separadas, que favorece a

circulação e a visualização das composições expostas no interior da loja. Podemos dizer que

essas lojas são simulacros das lojas renomadas do segmento, localizadas em outras áreas da

cidade. É o caso das lojas Clami e Kaza & Estilo que se destacam entre as demais lojas da rua.

A Clami presentes nos dois shoppings temáticos da cidade, o Lar Center e o D&D, escolhe

mostra-se nessa via pela fachada em estilo arrojado, com estrutura de aço pintada na cor

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marrom escuro. Enormes vitrinas no nível da rua permitem a visualização dos ambientes

compostos no espaço interno. No andar superior vemos planos de vidro fixados e com

persianas, sem nenhum mobiliário exposto. A Kaza & Estilo, loja única na cidade de São

Paulo, recorre à elementos mais clássicos para compor sua fachada. Visualizamos faixas

largas horizontais que parecem lembrar tábuas de madeira distribuídas ao longo da frente do

prédio. A porta posicionada no lado direito está separada da vitrina, que permite ao sujeito

que a vê não atrapalhar aquele que entra ou sai da loja. Embora o emprego de duas cores, a

branca e o ocre faça um contraste marcante, não causa estranheza, sobretudo por que a mesma

cor que está no prédio vizinho. O efeito de sentido criado é de harmonia, algo que se torna

mais valorizado ainda por não ser o padrão recorrente nesse trecho (Fig.51).

Figura 51- Fachadas diferenciadas

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Loja Clami localizada no número 1650 da Rua Teodoro Sampaio se faz ser vista por uma fachada elaborada e

atualizada com enormes vitrinas que permite a visualização do interior da loja. O padrão de organização segue os

moldes das demais lojas da empresa. Seguindo uma linha mais clássica a Kaza & Estilo valoriza a fachada da

loja com linhas horizontais e mescla duas cores contrastantes que cria um efeito harmonioso na paisagem.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

Outra fachada que se destaca na paisagem está no cruzamento da Rua Teodoro

Sampaio com a Dr. Virgílio de Carvalho Pinto. O prédio novo de três andares, uma espaçosa

construção de esquina, mostra-se por meio de uma fachada recoberta por vidros com elemento

arquitetônico revestido em pedras que remete a um pórtico. No alto e no centro da fachada

frontal do prédio, está colocado um banner na cor vermelha com a palavra inglesa “Outlet”

escrita em branco. Logo abaixo estão os logos das marcas: Ilustre e Sierra. No jargão do

comércio varejista essa palavra indica que nessa loja podemos encontrar produtos

descontinuados das marcas sinalizadas. Esse indicativo é reforçado pelo nome: Sierra que está

impresso no vidro da porta dupla de entrada de modo bem discreto, que nos leva a crer que

seja uma loja da marca. No entanto, essa loja de móveis chama-se Garimpo. De fato nesse

lugar funcionava uma loja da marca Sierra, fabricante de móveis e estofados com um design

apurado e sofisticado direcionado a um público diferenciado. A marca retirou-se da Rua

Teodoro Sampaio enquanto loja Sierra e a substituiu por essa outra loja, a Garimpo. A ação

de garimpar significa fazer seleção de coisas, muitas dessas preciosas, a partir da coleta ou

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reunião de determinado material, de modo sugestivo a marca enuncia que nessa loja é possível

“garimpar” móveis, almofadas, tapetes, adornos da marca Sierra a preços reduzidos e na

pronta entrega (Fig.52). Podemos supor que essa decisão está ligada ao fato da Rua Teodoro

Sampaio parecer ser mais competitiva quanto a oferta de produtos pelo preço do que pela

qualidade da marca.

Figura 52-Loja Garimpo

No cruzamento da Rua Teodoro Sampaio com a Dr Virgílio Carvalho Pinto a loja Garimpo se dá a ver por uma

fachada mais elaborada que contrasta com as lojas vizinhas. Essa loja é do grupo Sierra fabricante de móveis e

estofados sofisticados. No vidro das vitrinas está gravado de modo bastante discreto o nome da loja Sierra, que

antes estava alocada nesse endereço.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

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A competitividade na disputa de atrair o olhar do sujeito passante com a intenção de

que ele passe da calçada para o interior da loja é acirrada nesse trecho. Recorrer a modos de

exposição de produtos de maneira pouco tradicional parece ser a maneira utilizada por

algumas lojas para que sejam notadas. Desse modo aproveitam tanto o degrau que separa a

calçada da vitrina como a própria calçada para expor seus produtos. Essa prática da invasão

das lojas para os espaços coletivos demonstram pouco importar-se com a obstrução do

caminho que já é estreito. De modo impositivo o móvel é colocado no trajeto do sujeito

passante que precisa desviar dos mesmos para seguir na direção que deseja. (Fig.53).

Figura 53- Exposição nas calçadas

Algumas lojas expõem móveis no lado externo sem a preocupação com a obstrução da passagem na calçada ou

mesmo da entrada de suas lojas, como faz a Sun House. Sem reserva e de modo declarado o mobiliário está

exposto bem a vista de quem passa pela calçada ou rua. Na loja da Cintubro um sujeito usufrui da poltrona se

constrangimento.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

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Diante da forte concorrência dada pela variedade de lojas ofertando produtos

similares ao longo do trecho selecionado, essas lojas recorrem à faixas promocionais

sinalizando descontos nos produtos ou facilidades no pagamento com intuito de chamar à

atenção dos sujeitos que circulam pelas calçadas. Banners posicionados no alto em frente da

loja ou colados nas vitrina são chamativos e em grandes proporções, provavelmente para que

possam ser vistos imediatamente e lidas até mesmo pelo sujeito que passa de automóvel. Não

existe a preocupação com a interferência que tais faixas ou cartazes colados fazem com a

fachada da loja ou com as vitrinas. Esse modo de destacar-se é centrado na valorização do

preço que vem antes da valorização da qualidade do produto ou mesmo da marca. A loja que

ser lembrada pela condição facilitada ou pela vantagem que ela pode proporcionar ao sujeito

que busca algum tipo de produto (Fig.54).

Figura 54- Faixas promocionais

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Faixas promocionais para atrair o público são colocadas no interior da loja sem preocupação com a estética da

fachada da loja ou ponto comercial. Essas sinalizam descontos ou vantagens no pagamento facilitado com

atrativo para o consumidor comprar.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

A circulação a pé nesse trecho da rua é sem dúvida intensa. Andar pelas calçadas

requer cuidados uma vez que no passeio encontramos alguns obstáculos que estreitam o

caminho, como bancas de jornal, pontos de ônibus, postes, além do número elevado de

sujeitos que circulam por elas. Acontecem, com relativa frequência, esbarrões entre sujeitos

que param abruptamente para olhar algo que está no interior da loja ou que saem distraídos

delas com aqueles que andam apresados para algum destino. Na maioria das vezes, vemos

sujeitos andando em pares ou grupos. Pelo gestual indicam serem casais, famílias ou amigos

que compartilham juntos a busca de algum tipo de móvel para comprar. Não é raro presenciar

as pessoas segurando papéis e cartões de lojas, possíveis orçamentos, entrando e saindo delas,

em conversas paralelas sobre os produtos vistos com seus companheiros. O caminhar é quase

sempre acelerado, o que indica uma atitude de quem precisa ganhar tempo na visitação das

lojas em busca do produto desejado, quer seja essa pelo uso, modelo ou preço. Para enfrentar

as longas caminhadas ou mesmo carregar os produtos os sujeitos estão vestidos de modo

informal e confortável. Sapatos baixos ou tênis, bermudas em dias quentes ou calças jeans e

camisetas parecem formar o uniforme de todos, assim como carregar as bolsas cruzadas ou

mochilas que deixam as mãos livres para tocar nos produtos e quem sabe agilizar os

movimentos (Fig.55).

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Figura 55- Sujeitos consumidores em circulação

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Banca de jornal que estreita o caminho e força os sujeitos desviarem dela e dos demais sujeitos que circulam pela

calçada. As pessoas são vistas, em sua maioria em grupos ou duplas indicando serem famílias ou amigos, que

entram e saem das lojas conversando sobre os produtos ou possibilidades de compra.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

Um atrativo que essa rua temática proporciona é quantidade de lojas que vendem

produtos para o mesmo uso. No trecho selecionado, podemos ver três lojas da marca Copel,

três lojas Bella Colchões, a loja Sleep House, entre lojas menores que vendem o mesmo item.

Também, chama atenção aquelas lojas que oferecem produtos inspirados nos modelos de

designers famosos ou mesmo cópias daqueles vendidos em lojas credenciadas pela marca

original. Nesse caso, os sujeitos que buscam um móvel com design similar aquele que foi

visto em lojas mais sofisticadas ou em revistas de decoração, esperam encontrar uma

reprodução a um preço mais acessível. A maioria das lojas, cuja visualização dos espaços

internos é visto do lado de fora, vemos exposições muito semelhantes com produtos iguais,

que marca uma homogeneidade e padronização dos modos de decorar ambientes. Por essas

marcas enunciativas a Rua Teodoro Sampaio favorece a pesquisa de preço de um móvel, seja

esse utilitário ou não (Fig.56).

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Figura 56- Cópias de mobiliário

Nas imediações da Rua Teodoro Sampaio consumidores carregam cadeiras cujo modelo é inspirado na criação

do Designer italiano Henry Bertoia e que são vendidas em diversas lojas vizinhas uma das outras. A loja Makdesign comercializa cópias de modelos bastante procurados para compor ambientações.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

A Rua Teodoro Sampaio ganha maior visibilidade como rua temática de móveis,

com o empreendimento Casa & Móvel, localizado na altura do número 1400, esquina com a

Rua Conego Eugênio Leite. O prédio de dois andares, que abrange boa parte do quarteirão,

sobressai-se pela fachada horizontal que possui duas entradas, uma delas localizada na

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esquina. Na cor vermelha banners colados nas paredes de entrada, dão boas vindas aos

sujeitos passantes e indicam a entrada do piso “Teodoro”. Esse centro de compras tem apenas

vinte lojas de móveis e acessórios decorativos e possui também um pequeno café central, um

espaço para exposição e estacionamento próprio (Fig.57). Recentemente o empreendimento

mudou seu nome de Shopping Casa & Móvel para Casa & Móvel Outlet, embora a maioria

das lojas continue praticando a comercialização de produtos por encomenda como era antes,

contrariando assim a definição do termo “Outlet” que significa vender produtos

descontinuados.

Figura 57- Casa & Móvel

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O empreendimento, antes chamado de Shopping Casa & Móvel, agora é Casa & Móvel Outlet. Localizado num

prédio de dois andares que se destaca pela dimensão extensa em relação às demais lojas presentes na rua, possui

duas entradas, uma pela Rua Teodoro Sampaio e a entrada de esquina com a Rua Conego Eugênio Leite.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos.

Os espaços internos no Casa & Móvel Outlet são padronizados pela utilização de

tablados que determinam o espaço entre uma loja e outra, o que causa uma primeira

impressão de serem lojas montadas em stands de vendas provisórios. Não existem portas ou

vitrinas como elemento de separação entre o interior das lojas e os corredores. Apesar desse

modo de organização ser atualmente uma tendência difundida por algumas marcas

prestigiadas na apresentação de seus produtos, nessas lojas eles não são atualizados. Essa

percepção é dada, tanto pelo uso de materiais que revestem o espaço projetado como no

mobiliário ultrapassado ofertado (Fig.58).

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Figura 58- Espaços internos do Casa & Móvel Outlet

Lojas separadas por tablados que parecem ser stands de vendas provisórios.Apesar desse conceito ser hoje

adotado por algumas marcas de prestígio, o efeito de sentido nesse empreendimento não é no entanto da atualização. Ao contrário, pelos elementos plásticos que marcaram uma época passada e pelos tipos de móveis

ofertados indicam ser móveis populares.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

As faixas promocionais, que encontramos nas fachadas das lojas ao longo do trecho

selecionado, também estão presentes na porta de entrada e dentro do shopping com intuito de

chamar atenção dos consumidores. Uma faixa na cor vermelha posicionada na entrada

principal enuncia a possibilidade de comprar móveis a um “preço justo”. Os principais

argumentos que o Casa & Móvel Outlet traz aos consumidores é a vantagem de poder

estacionar e o pagamento facilitado, muito antes que estes conheçam as lojas e os produtos

que poderão encontrar ali (Fig.59). Por meio desses argumentos iniciais, da enunciação tanto

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verbal como visual o sujeito passante crê no dizer verdadeiro e prossegue para dentro do

shopping para conferir outras possibilidades de contrato que cada loja oferece.

Figura 59- Divulgação no Casa & Móvel Outlet

A utilização de faixas promocionais no interior e na frente da entrada do shopping, ação de vendas adotada com

frequência pelas diversas lojas alocada nesse trecho da Rua Teodoro Sampaio. Fonte: Maria Claudia Vida Barcelos

A concorrência dos shoppings do segmento, como o Lar Center e Shopping D&D,

assim como o modelo de polo de comércio de rua que a Alameda Gabriel Monteiro da Silva

apresenta fizeram com que a revitalização desse trecho da rua fosse cogitada. Em 2002, a

associação de lojistas do setor moveleiro que atua na área, contrata a arquiteta urbanista

Flávia Ralston para elaborar um projeto urbanístico para a rua com foco no trecho do

segmento de móveis. Nessa ocasião, a arquiteta definiu as impressões que a rua causava como

a seguinte: "O que existe hoje é uma rua deteriorada, sem segurança, cheia de propaganda

irregular, calçadas quebradas e árvores em péssimo estado”18. A urbanista apresentou um

projeto que previa uma nova identidade visual para a Rua Teodoro Sampaio. Por meio da

reforma do calçamento, do aterramento da fiação elétrica, de um projeto luminotécnico e das

fachadas laterais dos prédios, as quais receberiam instalações de obras de arte reproduzidas

em chapas de alumínio, completaria a ambientação da rua. A ação conjunta entre os lojistas e

a Prefeitura da cidade de São Paulo, no entanto, não foi adiante.

18 Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u60626.shtml acessado em 12/02/2014.

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A Rua Teodoro Sampaio, enquanto rua do segmento de móveis e objetos de

decoração mantém características de polo comercial de rua tendendo mais ao gosto popular do

que ao gosto diferenciado dos consumidores. Ela assume esse modo de presença para o

comércio de decoração e para a cidade por meio dessas marcas textuais apreendidas.

II. 3. Destinadores em relação

Parte do nosso trabalho, enquanto semioticistas é identificar quais são os padrões que

se repetem nas narrativas desses dois trechos temáticos. A identificação de qualquer lugar

pode ser feita por meio do levantamento dos arranjos figurativos em termos da seleção de

figuras encadeadas, formantes do plano da expressão, e de temas formantes do plano do

conteúdo que o enunciador escolhe com intuito de fazer parecer. O enunciador é um produtor

do discurso que é colocado por meio de investimentos semânticos cada vez mais complexos e

particulares (FLOCH, 2001, p.27). Ao longo dos trechos selecionados investigamos o sistema

de articulações entre os eixos pragmáticos e sintagmáticos que resultam na identificação dos

traços que são reiterados nesses espaços temáticos.

Na Alameda Gabriel Monteiro da Silva a constância de marcas nacionais e

internacionais renomadas que ofertam produtos específicos para decoração e que fazem ser

vistas por meio de suas lojas com fachadas elaboradas e suntuosas parecem indicar ser

possível encontrar um móvel ou objeto de decoração de qualidade comprovada. O trecho

marcado pelos amplos estacionamentos, manobristas, porteiros e seguranças fardados, jardins

e calçadas bem cuidadas em frente as fachadas das diversas lojas, que integram a paisagem

conferem um modo de consumir móveis e objetos de decoração apoiada no conforto. A

circulação dos sujeitos consumidores é por meio de veículos e ocorre de forma pontual, ou

seja, na maioria das vezes, o sujeito dirige-se primeiro a uma loja para depois seguir para

alguma outra que lhe chamou atenção. A pesquisa do produto pela marca parece ser o que

motiva os sujeitos irem até a Alameda Gabriel Monteiro da Silva. Não há tensão nessa via. O

efeito de sentido é da tranquilidade.

A configuração do trecho selecionado da Rua Teodoro Sampaio dada pelos vários

pontos comerciais de pequeno porte posicionados próximos um dos outros privilegia a

circulação a pé dos sujeitos consumidores, que entram e saem das lojas com relativa

facilidade marcando um modo acelerado de consumir. Tendo isso em vista, as lojas

organizam-se para que o sujeito passante tome contato quase que imediato com aquilo que

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elas possam oferecer. A constância de ofertas anunciadas seja por faixas promocionais que

indicam preços “imbatíveis” ou crédito facilitado, móveis expostos próximos à calçada,

ausência de vitrinas como mediadoras entre o dentro e fora, são recursos que favorecem a

pesquisa de preços e modelos similares. Por todos esses aspectos o efeito de sentido da

urgência no encontro do sujeito com o objeto que se deseja achar é assim apreendido nesse

trecho temático.

Tendo como base as articulações discursivas e os valores postos em circulação que

produzem efeitos de sentido distintos em cada um desses espaços temáticos apresentamos

abaixo um quadro esquemático comparativo de suas distinções:

Rua Teodoro Sampaio Alameda Gabriel Monteiro da Silva

Tempo acelerado Tempo desacerelado

Circulação intensa de pessoas Pouca circulação de pessoas

Circulação a pé de loja em loja Circulação de carro - pontual

Urgência nos modos de consumir Tranquilidade nos modos de consumir

Lojas pequeno porte Lojas renomadas

Pouco investimento nas fachadas Alto investimento nas fachadas

Diferenciação pelo elemento cromático Diferenciação pelo elemento eidético

Homogeneidade de produtos Diversidade de produto

Oferta do produto Marca do produto

Tende ao popular Tende ao elitizado

↓ ↓

Favorece a prática da pesquisa do produto Favorece a prática da pesquisa do produto

pelo preço pela marca

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Uma vez identificado os valores e as práticas que se dão a ver nesses trechos

temáticos da Rua Teodoro Sampaio e da Alameda Gabriel Monteiro da Silva, faltava-nos

saber se eles, enquanto destinadores fortes, são capazes de modelar os modos de mostrar-se

das lojas. Para responder essa questão escolhemos uma mesma empresa, a Dunélli House que

se faz ser vista por lojas distintas nos trechos apontados.

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CAPÍTULO III. PRESENÇAS DA DUNÉLLI HOUSE

Conforme A.C. de Oliveira escreve: cada empreendimento na sua trama de sociabilidade

configura ainda uma intrincada rede de estratégias de visibilidade tanto da empresa, marcas e

produtos, quanto do público consumidor (2014, p. 21). A escolha da localização em conjunto com

a organização externa e interna de seus espaços faz parte das estratégicas de visibilidade que

as empresas escolhem com a intenção de se comunicarem com seu público alvo.

Aspectos arquitetônicos, formas, cores, materialidade, vitrinas, produtos expostos e

seus arranjos, relações interpessoais entre vendedores e consumidores, na combinatória de

todos esses elementos escolhidos, produzem sentidos que fazem a Dunélli House apresentar-

se com um modo de ser caracterizador de sua identidade.

III.1. A empresa e localizações

Com mais de 30 anos no mercado de móveis, a Dunélli House define-se no seu site

como empresa que vende “alta decoração” e como sinônimo de bom gosto, qualidade e

conforto. Há muitos anos com três lojas na cidade de São Paulo, sendo uma alocada na Av.

Rebouças, outra na Rua Teodoro Sampaio e a terceira no bairro de Moema, em meados do

ano de 2013, decidiu inaugurar a quarta loja na Alameda Gabriel Monteiro da Silva. Essa loja

está localizada próxima a Av. Brigadeiro Faria Lima e possui uma área expositiva de 500m2.

Pouco mais de seis meses após a inauguração dessa loja, a empresa abriu mais uma unidade

com uma área superior a 1.500m2, na mesma via. Essas duas lojas, distantes a poucas quadras

uma da outra, são consideradas conceituais pela empresa muito embora ofereçam os mesmos

produtos que estão nas demais lojas, com exceção da localizada na Av. Rebouças que

recentemente tornou-se outlet ofertando produtos descontinuados.

Entre tantos endereços que a marca escolhe fixar suas lojas na cidade de São Paulo

estaremos investigando comparativamente aquelas que estão localizadas nos trechos que

compreendem o corpus de nossa pesquisa, ou seja, uma na Rua Teodoro Sampaio e as outras

duas, mais recentes, na Alameda Gabriel Monteiro da Silva. Nosso questionamento é como a

Dunélli House mostra-se em cada um desses endereços? Quais são os procedimentos que a

empresa recorre para aproximar-se dos valores praticados nesses trechos temáticos sem,

contudo, descaracterizá-la enquanto empresa? Identificá-los testa a nossa hipótese de que

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essas ruas temáticas são destinadores fortes intervindo nos modos de presença das lojas e no

consequente modo de consumir dos sujeitos assim sendo dos próprios sujeitos.

III.2. Estratégias de visibilidade

A loja da Dunélli House na Rua Teodoro Sampaio se faz vista por um prédio de

esquina localizado no cruzamento da Rua Teodoro Sampaio com a Rua Fradique Coutinho

que preserva elementos da construção original. Foram introduzidas muitas aberturas nas

fachadas para a função de amplas vitrinas, que estão posicionadas na extensão inferior e

superior das laterais do prédio. Um anexo de três andares foi incorporado ao prédio que está

na Rua Fradique Coutinho. Na ação da expansão de sua atuação no mercado, a empresa

instalou suas recentes unidades dos Jardins, em prédios já existentes. As duas lojas na

Alameda Gabriel Monteiro da Silva estão em prédios mais novos de dois andares e de

tamanhos diferentes. A loja localizada próxima a Av. Faria Lima é um retângulo com grandes

vitrinas, enquanto a outra, bem maior, é de esquina e parece ter sofrido muitas intervenções

para chegar à arquiteura que apresenta.

A cor preta é reiterada em todas as fachadas das lojas da Dunelli House o que

presentifica o valor que a marca atribui a si. Para a semiótica a cor é uma categoria

constituinte do visual que está relacionada às sensações que ela provoca nos sujeitos, capazes,

portanto de efeitos de sentido variados. No texto Cor e sentido, Diana Luz Pessoa de Barros

escreve sobre a cor preta que:

[...] ora relacionado com a noção de ausência de falta (de luz), ora com excesso, de saturação (de pigmento), como é próprio do nome; daí ter os

sentidos de sobriedade, dignidade, mistério, fantasia, sofisticação,

elegância...( 2012, p. 7).

A cor é um dos elementos que corporifica os efeitos de sentido que o discurso da

empresa, no primeiro momento feito, a partir da fachada, busca causar nos sujeitos passantes

(OLIVEIRA, 1997, p.95). Pela cor preta a Dunélli House busca assim, enunciar a sofisticação,

tradição e responsabilidade do ato de vender móveis e objetos de decoração, seja qual for seu

endereço, almejando que os sujeitos passantes a reconheça imediatamente (Fig. 60).

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Figura 60- Fachadas da Dunélli House

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As lojas da marca Dunélli House em três endereços distintos: na primeira imagem a loja de esquina da Rua

Teodoro Sampaio. Prédio mais antigo que os demais na Alameda Gabriel Monteiro da Silva. A loja localizada no

número 1718 é menor que a loja que está no número 2069, ambas sofreram intervenções para vitrinas.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

O logo da marca prioriza o nome “Dunélli” escrito na fonte itálica na cor branca a

cima de três listas finas na cor vermelha, amarela e verde, que separa a palavra “House” na

cor verde. A utilização da língua inglesa parece ser um posicionamento de que a marca está

em conexão com as últimas tendências de decoração que vem de fora do país. Colocados em

frente às lojas, esses estão direcionados em relação ao trajeto do sujeito passante. Na loja da

Rua Teodoro Sampaio, que fica na esquina, o logo está posicionado de modo que seja visto

nos dois ângulos do trajeto percorrido, seja a pé ou de carro. No entanto como o fundo do

logo é também na cor preta, como é a cor da fachada, apenas o nome Dunélli fica em

destaque. Nas lojas localizadas na Alameda Gabriel Monteiro a escolha deu-se em fixá-lo em

suportes no passeio que proporciona uma grande visibilidade para os passantes, na maioria

das vezes de carro, nos dois sentidos dessa via (Fig. 61).

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Figura 61- Logo da marca em frente às lojas

Logo da marca Dunélli House localizado em frente a loja facilita a visualização de quem está de carro ou a pé

nos dois sentido da via. Na loja da Rua Teodoro Sampaio o logo está na fachada de esquina. A cor preta do

fundo do logo destaca apenas o nome da loja.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

Em frente às duas lojas da Alameda Gabriel Monteiro da Silva, é possível identificar

o serviço de manobrista por meio dos ombrelones e funcionários uniformizados, seguindo o

mesmo padrão das demais lojas que ocupam essa via temática, algo que está ausente na loja

da Rua Teodoro Sampaio dado o tráfego intenso e a dificuldade em estacionar o carro na

região.

Os modos de visualização das vitrinas variam de acordo com a estrutura do prédio de

cada loja. As vitrinas enquanto mediadoras entre o fora e o dentro das lojas, são “fonte de

sedução e espaço de manipulação”, conforme aponta A. C. de Oliveira (1997, p. 16). É por

meio delas que o passante toma contato com o que a marca tem a oferecer no seu interior. Na

loja Dunélli House da Rua Teodoro Sampaio é necessário um distanciamento para enxergar

aquelas que estão posicionadas no alto. Essas possuem formatos variados e são salientes

aproveitando o máximo do espaço. Para os sujeitos que estão andando pelas calçadas as

vitrinas térreas permitem a visão para o interior da loja, que apresenta uma grande variedade

de produtos arranjados em vários ambientes que se misturam um aos outros. Nas lojas da

Alameda Gabriel Monteiro da Silva as vitrinas são enormes retângulos que deixam aparente o

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fundo branco das paredes internas destacando as composições do mobiliário exposto. Na

primeira loja, no entanto a horizontalidade da vitrina permite visualizar uma composição

inteira, enquanto na loja maior, elas são verticais, valorizando o pé direito duplo da loja. As

composições formadas nessas lojas são com poucos produtos que possibilitam uma maior

amplitude na visualização do conjunto todo (Fig. 62).

Figura 62- Vitrinas em relação

Vitrina da loja alocada na Alameda Gabriel Monteiro da Silva em contraposição às vitrinas da loja da Rua

Teodoro Sampaio. A primeira segue um padrão mais atual, cuja composição de um único ambiente dá-se a ver,

enquanto em formatos variados as vitrinas da loja da Rua Teodoro Sampaio, expõem vários produtos e permite a

visualização do interior da loja que também expõe muitos produtos compostos em ambiente.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

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Os sujeitos que aceitam o convite da Dunélli House para entrar numa de suas lojas

encontrarão vendedores solícitos no atendimento. Uniformizados de calça e camisa na cor

preta, destacando apenas a função superior da gerência pelo uso do terno preto, os vendedores

percorrem a loja ao lado do sujeito consumidor o tempo todo. Quase sempre o atendimento é

iniciado pelas perguntas clássicas na área de vendas: “Em que posso ajudar ?” ou “O que você

procura?”, após esse primeiro contato, eles buscam auxiliar direcionando-os rapidamente para

algumas opções expostas. O “passeio” pelos ambientes da loja é sempre acompanhado pelo

ávido vendedor que sugere peças e modelos o tempo todo. Caso nenhum dos produtos

expostos atenda as expectativas do sujeito consumidor existe ainda a possibilidade de vê-los

por catálogos dos vários fabricantes. Nas mesas que estão à venda dá-se a ver cartões com o

nome da loja emoldurado por suportes de acrílico que estão misturados com os objetos

decorativos que não só lembram ao sujeito consumidor onde ele está como também o

acompanha durante sua busca (Fig.63).

Figura 63- Cartões da loja

As mesas que estão à venda servem de suporte para os vários cartões com o nome da loja que estão mesclados

entre os objetos de decoração que a loja comercializa.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

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O oferecimento de café e água, usual em diversas lojas do segmento, é aqui marcado

pela fartura de acompanhamentos comestíveis que estão expostos em cima de um balcão e

podem ser pegos à vontade ou entregues pelas funcionárias da loja. No entanto, há distinções

entre as duas lojas localizadas na Alameda Gabriel Monteiro da Silva em relação a que está na

Rua Teodoro Sampaio. Aos sábados, nessa última loja, vemos uma fartura de petiscos com

vinho sobre o balcão que é servido por copeiras uniformizadas. Essas ficam em conjunto com

as muitas vendedoras e consumidores que circulam pela loja. De modo bem menos ostensivo,

nas duas lojas da Alameda, o balcão é organizado com mais parcimônia e reserva (Fig. 64).

Figura 64- Serviço de café das lojas

Balcão que cumpre a função de bar nas lojas da Dunélli House da Alameda Gabriel Monteiro da Silva e na Rua

Teodoro Sampaio. Em cima deles estão dispostos acompanhamentos comestíveis para o café, que são oferecidos

pelas funcionárias da loja.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

O sujeito consumidor que estiver interessado em saber mais informações sobre um

móvel ou objeto de decoração é conduzido pelo vendedor para uma mesa de atendimento,

entre várias, que ficam agrupadas de modo muito próximas uma das outras. Nelas estão

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dispostos computadores que serão utilizados para a verificação das condições de pagamento,

prazos de entrega, ou qualquer outro assunto relativo ao produto desejado. Posicionadas lado

a lado, faz com que a privacidade seja restrita, uma vez que as conversas podem ser

facilmente ouvidas por todos ao redor. Prática usual nas tratativas de negociações sobre os

valores é o vendedor perguntar como o sujeito consumidor pretende pagar pelo produto. O

valor de um produto é variável em relação aos números de vezes do parcelamento do

pagamento, podendo gerar descontos significativos. Muitas vezes nessa hora, ocorre a

interferência do gerente que assume a negociação com o sujeito interessado na compra

Um diferencial que a empresa disponibiliza para seus clientes, principalmente para

aqueles que estão indecisos com a compra do produto, é a possibilidade trazer a planta do

ambiente que desejam decorar para que um vendedor-decorador dê sugestões de arranjos com

produtos vendidos nas lojas. Nessas condições a loja só oferta esse serviço personalizado caso

o sujeito que realmente tenha interesse em comprar algum móvel e, somente entrega a planta

com o layout sugerido quando a compra for efetivada (Fig.65).

Figura 65- Mesas de atendimento

As mesas de atendimento bem próximas uma das outras colocando os consumidores lado a lado nas negociações

com o vendedor. Na loja da Alameda Gabriel Monteiro da Silva o estilo mais moderno das mesas e cadeiras na

cor branca compõe o cenário da loja em contraposição a escolha de mesas e cadeiras na madeira escura, na loja

da Rua Teodoro Sampaio.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

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Nas lojas localizadas na Alameda Gabriel Monteiro da Silva a porta automática de

vidro é incorporada à arquitetura do prédio, que é acionada quando o sujeito consumidor se

aproxima dela. Embora, na loja da Rua Teodoro Sampaio exista uma porta dupla de vidro que

separa a calçada do seu espaço interior, essa está constantemente aberta convidando o sujeito

passante a entrar sem reservas. O aromatizador de ambiente, ausente nessa loja, é incorporado

à ambiência das outras duas, aguçando o sentido olfativo dos sujeitos assim que entram por

elas.

Cada uma das construções que estão alocadas essas unidades possuem aspectos

arquitetônicos que definem os modos pelos quais o sujeito toma contato com o interior da

loja. Na Alameda Gabriel Monteiro da Silva o acesso da loja maior é dado por uma escada

pouco inclinada ladeada por coqueiros altos que coloca aquele que entra num hall de entrada

com pé direito duplo, que permite o tempo necessário para que ele desacelere dos movimentos

agitados da rua. Na menor, dessa mesma rua temática, esse tempo não existe, pois um único

degrau separa o fora e o dentro dos espaços. No instante em que a porta se abre é possível ver

todo o andar térreo com suas composições. Nessas duas lojas, os vendedores estão

posicionados ao fundo e demoram um pouco mais para virem ao encontro daqueles que

transpõem as portas de entrada.

Diferentemente desse modo de mostra-se, na Dunélli House da Rua Teodoro

Sampaio, a porta de entrada está sempre aberta, e é possível visualizar uma sala decorada

muito próxima à calçada. Os vendedores ficam posicionados juntos e perto do vão de entrada,

o que permite agilidade no contato com os sujeitos consumidores que passam por ela. Ao

entrar é possível ver muitas composições agrupadas umas ao lado das outras. No centro da

loja dá-se a ver uma escada vazada que conduz aos dois andares superiores. No primeiro

andar mais salas de estar e jantar arranjadas em composições que seguem o mesmo padrão de

organização do andar de baixo. No último pavimento, estão expostos os móveis para uso

externo, ambientados em composições para varandas, terraços e os espaços gourmets. A

indicação desse espaço se faz por um cartaz informativo apoiado sobre uma mesa localizada

estrategicamente na saída da escada do primeiro andar (Fig.66).

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Figura 66: Indicação do Espaço Goumet no piso superior

Em frente á escada do primeiro andar está uma mesa estrategicamente colocada com um aviso informativo de

que no piso superior a loja expõe móveis destinados a áreas externas e varandas gourmet, como um convite ao

sujeito consumidor conhecer esse espaço.

Fontes: Maria Claudia Vidal Barcelos

Há um excesso de mobiliários e objetos decorativos. Eles parecem ser superiores ao

espaço físico da loja. Com isso, a circulação é prejudicada pelos caminhos estreitos que se

formam entre as diversas composições que são vistas. A falta de distanciamento entre os

vários ambientes montados dificulta a visualização das composições como um todo. Essas se

misturam uma às outras, o que torna difícil imaginar um ambiente isolado sem interferências

de outros elementos presentes no mesmo espaço. O recurso utilizado para a delimitação de

cada ambiente é a cor. O uso de acessórios coloridos, como almofadas, quadros, porta

revistas, vasos entre outros objetos decorativos, que também estão à venda, é o modo pelo

qual o olhar é orientado para cada composição arranjada (Fig.67).

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Figura 67- Ambientes internos da Dunélli Teodoro

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As composições no interior da loja da Rua Teodoro Sampaio. Ambientes são formados com muitos produtos

expostos quer sejam esses móveis ou objetos decorativos. O recurso da cor determina o inicio e término de cada

ambiente, orientando o olhar o sujeito que percorre a lojas.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

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Apesar da metragem das lojas localizadas na Alameda Gabriel Monteiro da Silva ser

diferentes, afinal uma delas tem o triplo do tamanho da outra, os padrões de exposição são

similares. De modo bem mais intimista e reservado as duas lojas organizam seus espaços com

uma quantidade bem menor de móveis e objetos decorativos expostos. Nelas é possível

visualizar o todo do ambiente montando, assim como focalizar um produto específico. O olhar

do sujeito é direcionado para uma composição sem tanta interferência do ambiente que está

montando mais adiante. A delimitação “forçada” de cada ambiente pela cor como acontece na

loja da Rua Teodoro Sampaio já não é mais necessária. O efeito de sentido da harmonia é

apreendido

Em comum, no espaço interno dessas duas lojas, escadas posicionadas nas laterais

conduzem ao segundo piso. No piso superior a disposição dos mobiliários expostos mantém o

mesmo padrão de organização do andar de baixo, ou seja, ambientes mais amplos e com

menos quantidade de produtos expostos. O “verde” dos jardins bem cuidados, característica

recorrente do bairro Jardim Paulistano, é incorporado à ambientação dessas duas lojas, algo

ausente na loja da Rua Teodoro Sampaio. (Fig.67).

Figura 67- Composições internas da Dunélli Gabriel

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Ambientes nas lojas da Dunélli House da Alameda Gabriel Monteiro da Silva, cujas composições são mais amplas e favorece o ângulo de visão do sujeito que percorre a loja. O verde, característico do bairro Jardim

Paulistanos é trazido para dentro das lojas.

Fonte: Maria Claudia Vidal Barcelos

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III. 3. Entre a identidade e os valores assumidos

A identidade da empresa Dunélli House é marcada pela escolha em manter a mesma

cor na fachada de suas lojas, a mesma linha de mobiliário, os mesmos preços e o atendimento

de modo similar, seja qual for o endereço que esteja. Porém, a empresa vai assumir um modo

particular para apresenta-se por meio de suas lojas a partir dos valores assumidos que

identificamos anteriormente em cada um dos trechos temáticos.

Na Rua Teodoro Sampaio, cujo excesso de ofertas é visto e sentido, a pesquisa de

preço e modelos é favorecida e o tempo é acelerado, a Dunélli House mostra-se apropriando

desses valores, tanto pela farta variedade de produtos e excesso de arranjos expostos nos

ambientes internos. Enormes painéis de vidros permitem a visualização dessas ofertas e

enuncia assim, ao sujeito passante que ali é possível encontrar de tudo, em todos os estilos e

gostos. As duas lojas presentes na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, no entanto,

organizam-se de modo menos ostensivo. Suas fachadas mais elaboradas, tal como apresentam

as lojas vizinhas, permite a visualização do espaço interno que é mediado por vitrinas que

deixam transparecer algumas ambientações com um número menor de produtos, assim como

restringem a visibilidade do que acontece no interior dessas lojas. Nesse modo de mostra-se

parece não haver a necessidade da urgência em mostrar imediatamente tudo que a loja pode

oferecer ao sujeito passante.

Por esses modos de se fazer vista julgamos que a empresa Dunélli House quer “fazer

crer sobre seu modo de ser e de estar no mercado” (OLIVEIRA, 1997, p.117). Pela ação de

estar com lojas nos dois trechos mencionados cujos valores e práticas diferem-se, reforça o

fato dela sentir-se apta para transitar em dois universos distintos que eles proporcionam, sem

constrangimento. O universo elitizado das marcas e produtos diferenciados da Alameda

Gabriel Monteiro da Silva em contraoposição ao mundo das ofertas de mobiliários e objetos

decorativos enunciados na Rua Teodoro Sampaio, que tendem ao popular, são aproximados

por ela que adequa seus modos de mostra-se assumindo os valores praticados nesses trechos.

Cada uma dessas vias temáticas passa a ser então um destinador forte capaz de moldar os

modos de mostra-se de outro destinador forte que é a empresa Dunélli House.

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CAPÍTULO IV: TIPOLOGIAS E INTERAÇÕES DOS SUJEITOS

Constatada essa relação de subordinação entre destinadores, tendo em vista que as

lojas adequam-se aos valores manifestos em cada um dos trechos analisados, e a partir da

visibilidade como critério que define os modos de presença das lojas e dos sujeitos

consumidores nesses espaços temáticos, intentamos alcançar uma tipologia desses sujeitos.

Para tal recorremos ao quadrado semiótico, representação visual que coloca em

relação os traços distintivos das categorias semânticas levantadas. De acordo com J-M.Floch,

o interesse do quadrado semiótico,

[...] claramente se coloca na organização de um universo cultural coerente,

mesmo aquele que não seja considerador como racional. Permite a antecipação de ambos caminhos que o sentido pode tomar, e posições de

sentido que são logicamente presentes, mas ainda não se encontram em

vigor. Acima de tudo, temas, imagens, conceitos e expressões posicionados

no quadrado semiótico sempre existem em definições lógicos-semânticas (2014, p.11)

A sua construção se dá pela oposição de dois termos que são pressupostos e que

mantém uma relação de contrariedade entre eles. Por sua vez, esses termos podem ser

negados e gerar novos termos, que são contraditórios, e portanto não podem coexisir. Pela

operação de asserção, os termos contraditórios que estão em oposição ao seu contrário, são

complementares pela operação de implicação de um termo com o outro.

Isso posto, utilizaremos essa ferramenta de análise que nos será útil na proposição uma

possível tipologia de sujeitos que pelos modos de interação irão construir o sentido do

comércio de decoração paulistano.

IV.1. Tipologias dos sujeitos

Ao longo dos trechos que percorremos pudemos identificar quatro matrizes nos

modos de mostrar-se das lojas ao sujeito passante. As lojas assumem valores na plásticidade e

figuratividade que, colocados em relação com os sujeitos do enunciado, criam possíveis

simulacros. Em nossas análises chegamos a termos definidos que organizam os tipos de lojas

nesses espaços temáticos.

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Para as lojas que são organizadas de modo que o sujeito passante rapidamente seja

colocado em contato com aquilo que ofertam atribuímos o termo “Declarada”. Esse tipo de

loja se faz pela ausência de portas e vitrinas que favorecem a visualização da exposição dos

arranjos propostos, pelas faixas promocionais indicando descontos ou pelo nome da loja que

enuncia o produto vendido. Todos esses são recursos utilizados para que o sujeito saiba

rapidamente que poderá encontrar ali. Como exemplos as lojas: Só camas, Sun House e

Country House localizadas na Rua Teodoro Sampaio.

Em oposição a esse modo de organizar-se, vemos lojas cujo acesso é limitado dado

pelo modo intimista que se fazem ser vistas. Portas recuadas e fechadas, que são abertas

apenas por vendedores após o acionamento da campainha, em conjunto com vitrinas que

expõem poucos produtos e não permitem visualizar o movimento no interior da loja, nomes

que pouco indicam o produto que vendem, são aquelas que identificamos como loja

“Enigmática”. Essas lojas tendem a ser mais elitizadas, como a Firma Casa, a Moss para

casa, Decameron todas localizadas na Alameda Gabriel Monteiro da Silva.

Conforme mencionamos na dinâmica do quadrado semiótico cada um desses termos

pode ser negado e gerar outro termo. Desse modo temos ocupando a posição subcontrária ao

“Oculta” o termo “Reveladora”. Essas lojas assim designadas são aquelas que mostram o que

está no interior de seus espaços por portas de vidro que se abrem de modo automático e pelas

vitrinas amplas que permitem a visualização das composições arranjadas e a movimentação

que acontece entre consumidores e vendedores no interior da loja, sem reserva. A passagem

de fora para dentro é feita de modo manipulatório por sedução. Esse tipo de loja é

exemplificado pela Kaza&Estilo e Clami, que alocadas na Rua Teodoro Sampaio destoam na

paisagem e as lojas Brentwood e Dunélli House na Alameda Gabriel Monteiro da Silva. Por

sua vez as lojas que atribuímos o termo “Desvelada”, organizam-se de modo que o sujeito

passante possa apenas vislumbrar o que se passa no interior da loja. Nem tudo é mostrado

para ele, porém é possível que esse seja tocado pelo que está a sua frente e aceite o convide

para explorá-la. É o caso das lojas Conceito: Firma Casa e Garimpo.

A partir desses tipos de lojas que delineamos podemos supor os simulacros de

sujeitos consumidores. O sujeito “Modelado” que valoriza o simulacro do padronizado

identifica-se com as lojas do tipo “Declarada”, uma vez que seguem uma regularidade no

padrão de mostra-se e de modo direto e sugere decorações previsíveis pelo uso de produtos

seriados. Uma vez que a maioria delas está localizada na Rua Teodoro Sampaio, esse sujeito

provavelmente frequenta apenas essa via temática na busca de algum móvel ou objeto

decorativo. Por sua vez, em oposição a esse, está o sujeito “Exclusivista” que valoriza o

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simulacro do diferenciado. Muito provavelmente tal sujeito frequenta apenas o trecho

temático da Alameda Gabriel Monteiro da Silva, cujas lojas do tipo “Enigmáticas” se fazem

ver vistas pela aleatoriedade dos seus arranjos e de suas propostas.

Dois outros sujeitos foram esboçados a partir dessas relações estabelecidas, são eles o

“Estrategista” e o “Antenado”. Assumimos que esses sujeitos frequentem ambos os espaços

temáticos, embora por motivações diferentes. O primeiro, valorizando o simulacro das ofertas,

dada pelo custo-benefício, identifica-se pelas lojas do tipo “Revelada”, as quais se mostram

por meio de vitrinas amplas que permitem a visualização de composições atuais colocando-o

em conjunção com a moda da decoração. A relação de troca está apoiada no convencimento

da volição de um sujeito pela manipulação de outro sujeito. É pelo tipo de loja que

denominamos “Desvelada”, que o sujeito “Antenado”, vai valorizar o simulacro que encontre

o seu modo de ser. Sem objeções esse sujeito é capaz de frequentar todos os espaços

temáticos, pois a ação dele é movida pela sensibilidade (Oliveira, 2013, p.28). São pois, por

esses modos distintos de ação dos sujeitos que se constrói a identidade dos mesmos.

Abaixo apresentamos a representação gráfica com base no modelo propositivo de

Landowski, que permite estabelecer relações entre as ações dos sujeitos nesses espaços

temáticos:

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Risco

Sob

controle

Declarada Enigmática

Programação nos arranjos Aleatoriedade nos arranjos

Só camas Firma Casa

Country House Moss para casa

Sun House Decameron

Previsibilidade nas ações Aventura proporcionada

Sujeito Modelado Sujeito Exclusivista

Valoriza o simulacro Valoriza o simulacro

padronizado diferenciado

Frequenta a Teodoro Sampaio Frequenta a Gabriel M. Da Silva

Revelada Desvelada Manipulação por sedução Ajustamento pela descoberta

Dunélli House Conceito: Firma Casa

Brentwood Garimpo

Clami

Intencionalidade nas ações Sensibilidade nas ações

Sujeito Estrategista Sujeito Antenado

Valoriza o simulacro Valoriza o simulacro que

da oferta (custo benefício) encontre seu modo de ser

Frequentas as duas vias Frequentas as duas vias

Não Controle do

risco

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Iniciamos nossa pesquisa afirmando o quanto é dinâmico o comércio paulistano, que

em constante mudança não para de crescer e procura atender a demanda de gostos variados

dos sujeitos habitantes e visitantes que circulam pela cidade de São Paulo. De fato, no que

confere o comércio de móveis e objetos de decoração temos visto, à um curto prazo de tempo,

as transformações desse segmento estimuladas por fatores multiplos. Citamos, por exemplo,

como o mercado imobiliário impõe novos modos de morar ou como as novas expressões

embassam estilos de vida, estímulos esses que desempenham um papel preponderante na

moda da decoração e no consequente consumo do segmento.

Ultimamente, temos sido colocados diante de um espetáculo de distintos modos de

morar e organizar nossos espaços. Os meios de comunicação apropriam-se desse momento e

disseminam novos modos de consumir móveis e objetos de decoração. Podemos assistir uma

variedade de programas de televisão destinados ao tema de decorar ambientes, ler as inúmeras

revistas especializadas, acessar blogs de arquitetos e decoradores que disponibilizam ideias,

entre tantas outras opções. Em resposta à essa demanda, o comércio oferta diversas

possibilidades e seguimos acompanhando as novidades do segmento pelas marcas

estrangeiras que instalam-se na cidade, pelas lojas reconhecidas que ampliam seus espaços,

pelas empresas que focam em temas específicos... Não importa, seja qual for o meio, o gosto

pela decoração está na moda.

Nesse cenário nos damos conta das inúmeras lojas do segmento instaladas em centros

comerciais e ruas da cidade de São Paulo. O ponto de venda revela-se como detentor da

possibilidade do encontro do sujeito consumidor com o objeto de seu desejo. É por meio dele

que a empresa poderá proporcionar uma experiência agradável para que esse sujeito tome

contato com aquilo que ela oferece. Essa relação de troca, no entanto, tem seu início antes

mesmo do sujeito consumidor entrar na loja.

As escolhas que envolvem a localização são pensadas de modo estratégico pelas

empresas no fazer ser vistas por meio de suas lojas. Entre tantas possibilidades as ruas

temáticas do segmento de decoração parecem ser atrativas para muitas empresas e marcas

alocarem suas lojas, uma vez elas proporcionam uma grande circulação de consumidores em

busca de algum móvel ou objeto decorativo.

Uma relação complexa é assim, estabelecida que envolvem dois destinadores fortes,

a rua e a loja, que organizam para seus destinatários, seu público alvo. A figuratividade

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manifesta na rua tem como base os gostos e valores dos sujeitos que a frequenta. Ao passar

por trechos temáticos o sujeito passante encontra diversas lojas que por meio de seus arranjos

constituíntes irão sinalizar sua identidade. Nesse processo de construção identitária as lojas

apropriam-se dos mesmos gostos e valores que estão colocados na rua. Desse modo, uma

relação modeladora é estabelecida, cujo destinador-rua age sobre o destinador-loja, sem

contudo que essa última perca sua identidade.

A imagem que o sujeito consumidor faz desses espaços temáticos é centrada nos

modos pelos quais os arranjos são constituídos e pelas interações que ali são estabelecidas, e o

sentido é assim construído.

Tanto a Alameda Gabriel Monteiro da Silva como a Rua Teodoro Sampaio estão

relacionadas a uma prática de manipulação que se desdobra para uma programação,

fundamentada na regularidade, cujos papéis temáticos das lojas e marcas enunciam para seu

público. A estratégia da manipulação, fundamentada na intencionalidade de fazer o sujeito

consumidor ir até uma dessas vias está no valor que cada uma delas define. Quer seja a

conjunção ou disjunção com a marca, com a loja reconhecida, com o produto específico, que

são possíveis de encontrar na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, ou na tomada de preço e na

farta oferta de modelos similares, que são favorecidos na Rua Teodoro Sampaio, esses valores

estão postos nessas vias por meio dos modos como as diversas lojas ocupam esses espaços

temáticos.

As lojas que parecem não estar em consonância com os valores praticados nessas

vias, que aqui definimos como “estrangeiras”, estão fundamentadas no regime de acidente,

que consiste na aleatoriedade e, portanto, existe um grande risco em serem rejeitadas. O

ajustamento, regido pela sensibilidade da união de sujeitos que interagem juntos na

construção do sentido, acontece pelo moldar-se das lojas em consonância com os valores

praticados nesses espaços temáticos, que por sua vez também se ajustam ao movimento

próprio da cidade de São Paulo.

Os polos comerciais de rua parecem perder suas forças em meio a tantos shoppings

centers existentes e por aqueles que são inaugurados a cada ano na cidade de São Paulo.

Entretanto, eles ainda respondem por uma grande fatia das vendas do varejo, o que significa

que continuam levando milhares de sujeitos consumidores à circular por eles. Nesse contexto,

esses aglomerados comerciais permanecem uma opção próspera para as empresas varejistas.

Apesar de todos esses indicativos, enfatizamos a necessidade deles estarem em constante

renovação para que não se tornem espaços deteriorados. Vínculados ao destinador-cidade,

eles estão à mercê de investimentos públicos que dão sustentação a sua preservação e

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manutenção. Muitas vezes com esse recurso público escasso adicionado aos vários desafios de

uma grande cidade, como é São Paulo, as parcerias público-privadas são alternativas. Essas

parcerias podem trazer beneficios para que eles sejam fortalecidos como centro de compras.

Isso ocorre, por exemplo, na Alameda Gabriel Monteiro da Silva como mencionamos

anteriormente. Por meio da Associação Alameda Gabriel que representa os estabelecimentos

comerciais alocados nela, essa via temática ganha força e maior visibilidade com eventos que

tem apoio da Prefeitura de São Paulo. De outro lado, sem grande força, a Rua Teodoro

Sampaio, no trecho investigado, precionada pela concorrência dos shoppings temáticos e da

Alameda Gabriel Monteiro da Silva, no ano de 2002 buscou alternativas para a revitalização

de seus espaços com um projeto financiado por alguns empresários do setor moveleiro, que

teria apoio da prefeitura, no entanto ele não avançou.

Podemos constatar que tanto a revitalização como a manutenção dos polos

comerciais de ruas é um desafio constante por exigir grandes investimentos de capital e

mudança de mentalidade dos empresários e da administração pública, conforme J. Parente

aponta,

Iniciativas interessantes de parcerias entre o poder público e a iniciativa

privada e entre associações rgionais de comércio, observadas em algumas

cidades brasileiras, têm gerado bons resultados para a comunidade em que estão inseridas, para o poder público, graças a maior geração de impostos, e

para os empresários –repercutindo no aumento de vendas.(2007, p. 54).

Com base nesses desafios acreditamos que nossa pesquisa venha trazer um pouco de

luz na compreensão desses espaços temáticos, uma vez que pela ação dos sujeitos que se dão

a ver neles, o sentido dos mesmos é construído.

Nos propusemos entender como são estabelecidas as relações intersubjetivas entre

sujeitos e esses espaços temáticos. Pudemos sinalizar as diferenças existentes entre os trechos

selecionados por meio de suas figuratividades que são carregadas de sentido (LANDOWSKI,

2012, p. X). Na continuidade da pesquisa identificamos os tipos de sujeitos que se dão a ver

nesses espaços e como interagem entre si. Por meio do modelo proposto por Landowski,

apresentado na sua obra Interacciones arriesgadas(2009) estabelecemos de modo dinâmico a

construção dos tipos de sentidos nesses dois espaços temáticos.

Chegamos ao fim de nossa pesquisa sabendo que muitos outros caminhos se abrem

a partir dela. Tendo em vista a dinamicidade do universo do comércio paulistano de móveis e

objetos de decoração, sabemos que novas lojas serão instaladas nesses espaços temáticos e

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levarão mais sujeitos consumidores a percorrê-los, trazendo outros sentidos. Então nos

apoiamos nessa citação de Landowski para encerramos,

[...] mais que pretender dizer o sentido (tarefa impossível),tratar-se-á agora

de observar as condições de sua presença numa série de contextos

intersubjetivos,e, portanto, interativos, precisos.Não mais que em outra parte, o sentido não é dado ai. Como se sabe,ele está sempre a se construir.

Ou melhor a se conquistar... (2015, p.XIV).

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