inclusÃo de pessoas deficientes em uma empresa...

83
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - TCC MAÍSA TERESINHA ALVES DE FARIAS INCLUSÃO DE PESSOAS DEFICIENTES EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO Porto Alegre 2015

Upload: trinhminh

Post on 08-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - TCC

MAÍSA TERESINHA ALVES DE FARIAS

INCLUSÃO DE PESSOAS DEFICIENTES EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE

COLETIVO

Porto Alegre

2015

MAÍSA TERESINHA ALVES DE FARIAS

INCLUSÃO DE PESSOAS DEFICIENTES EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE

COLETIVO

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Administração de Empresas, na Faculdade de Administração do Centro Universitário Ritter dos Reis - UNIRITTER. Orientadora: Prof. Me. Rafaela Behs Jarros

Porto Alegre

2015

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais Adão Farias (in memorian), e Maria Farias pela luta, determinação e dignidade na minha criação e de meus irmãos.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus que permitiu que tudo isso acontecesse, porque dele por ele e para ele são todas as coisas.

Dedico especial agradecimento as minhas irmãs Mairi e Carma pelo apoio, compreensão e principalmente pela cumplicidade de todos os dias e doação incondicional.

A minha orientadora Rafaela Behs Jarros pela dedicação, disponibilidade e suporte na elaboração deste trabalho.

Aos meus irmãos e sobrinhos agradeço a confiança e incentivo constantes.

A todos os colegas e professores do curso que fizeram parte da minha formação e da minha vida acadêmica.

Agradeço a todos os amigos que ajudaram em oração, me estimularam e torceram ainda que de longe para que este sonho se torne realidade.

A todos vocês meu muito obrigado.

RESUMO

As pessoas com deficiência vêm adquirindo certos direitos nos últimos anos, dentre eles o da inserção no mercado de trabalho por intermédio da Lei de Cotas e mais recentemente a Lei Brasileira de Inclusão. As leis visam reparar a falta de oportunidades que historicamente lhes foram negadas, fato que por si só já representa um avanço. Mas é preciso avançar mais, em pleno século XXI percebe-se que grande parte da sociedade ainda desconhece ou tem preconceito no tocante ao assunto. A desinformação é um dos principais fatores obstrutivos do progresso da inclusão social. Sendo assim, o presente trabalho tem o propósito de ampliar a compreensão através do estudo das práticas inclusivas adotadas por uma empresa de transporte coletivo da cidade de Porto alegre. Para sua execução buscou-se referencias com os principais autores na área e como metodologia adotou-se uma pesquisa qualitativa de natureza exploratória. Foi realizada entrevista com roteiro semiestruturado de forma presencial com a equipe de Recursos Humanos e individualmente com alguns funcionários com deficiência. Os dados obtidos foram explorados através de análise de conteúdo, a qual foi dividida em três categorias. Ao final da pesquisa foi possível verificar que a organização enfrenta grandes dificuldades no que diz respeito à contratação de PcDs para composição do seu quadro funcional.

Palavras-Chave: Pessoas com deficiência. Mercado de trabalho. Lei de Cotas

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CONADE-Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência

DH- Desenvolvimento Humano

EPTC- Empresa Pública de Transporte e Circulação

IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INSS- Instituto Nacional do Seguro Social

ISO- International Organization for Standardization, ou Organização Internacional

para Padronização

LBI - Lei Brasileira de Inclusão

MTE- Ministério do trabalho e Emprego

OIT- Organização Internacional do Trabalho

ONU- Organização das Nações Unidas

PcD- Pessoa com deficiência

PGQP - Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade

SENAC- Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI- Serviço Nacional de aprendizagem Industrial

SNPD- Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência

SRTE/RS – Superintendência Regional do Trabalho e Emprego

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Pessoas com pelo menos um tipo de deficiência investigada.......... ........30

Gráfico 2: Atividades por sexo e deficiência.......................... ....................................30

Gráfico 3: Número de pessoas com deficiência ocupadas x pessoas sem

deficiência...................................................................................................................31

Gráfico 4: Cumprimento de cotas por estado.............................................................32

Gráfico 5: Distribuição de pessoas com deficiência por cargo...................................56

Gráfico 6: Distribuição de funcionários por gênero....................................................56

Gráfico 7: Distribuição por tipos de deficiência em valor absoluto.............................57

Gráfico 8: Distribuição quanto ao nível de escolaridade.................. .........................58

LISTA DE FIGURAS:

Figura 1 – Organograma Funcional............................................................................14

Figura 2 – Características dos entrevistados.............................................................52

Figura 3 – Quadro de alinhamento.............................................................................80

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................10

1 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO E DO SEU AMBIENTE ............... 12

1.1 HISTÓRICO ................................................................................................... 12

1.2 NEGÓCIO ..................................................................................................... 12

1.3 MISSÃO ......................................................................................................... 12

1.4 VALORES ..................................................................................................... 13

1.5 OBJETIVOS DA ORGANIZAÇÃO ............................................................ 13

1.6 PRODUTOS E/OU SERVIÇOS ................................................................. 13

1.7 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL E ESTRUTURA FUNCIONAL ..... 13

1.8 MERCADO DE ATUAÇÃO ......................................................................... 14

1.9 PRINCIPAIS CLIENTES ............................................................................. 14

1.10 PRINCIPAIS FORNECEDORES .................................................................. 15

1.11 PRINCIPAIS CONCORRENTES .............................................................. 15

1.12 ÓRGÃOS REGULAMENTADORES ........................................................... 15

1.13 OUTRAS INFORMAÇÕES RELEVANTES ............................................. 16

2 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ................................................................................ 17

3 OBJETIVOS .............................................................................................................. 18

3.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................... 18

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 18

4 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 19

5 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 20

5.1 CONCEITOS DE DEFICIÊNCIA ............................................................... 20

5.2 O TRABALHO COMO CONDIÇÃO DE CIDADANIA ............................. 22

5.2.1 Visão histórica e social do trabalho de deficientes ................................ 26

5.2.2 Panorama social do trabalhador com deficiência no Brasil ................... 29

5.3 GARANTIAS LEGAIS INCLUSIVAS ......................................................... 33

5.3.1 Direito à acessibilidade .......................................................................... 39

5.4 INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO .......................................... 41

5.4.1 A discriminação e o direito à diferença .................................................. 46

6 PROPOSTA DO PROCEDIMENTO METODOLÓGICO ................................... 50

6.1 ABORDAGEM E TIPO DE PESQUISA .................................................... 50

6.2 DEFINIÇÃO DA POPULAÇÃO-ALVO E PLANO DE AMOSTRAGEM51

6.3 PLANO DE COLETAS DE DADOS .......................................................... 52

6.4 PLANO PARA ANÁLISE DE DADOS ....................................................... 53

7 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ............................................................. 55

7.1 PERFIL DOS COLABORADORES COM DEFICIÊNCIA ...................... 55

7.2 FATORES INCLUSIVOS ............................................................................ 62

7.3 RELAÇÕES NO TRABALHO ..................................................................... 66

8 CONSIDERAÇOES FINAIS ................................................................................... 69

8.1 SÍNTESE CONCLUSIVA ....................................................................... 69

8.2 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ................................................................ 71

8.3 SUGESTÃO PARA FUTURA PESQUISA ............................................ 72

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 73

APÊNDICE A – Roteiro de entrevista com funcionários de Recursos Humanos79

APÊNDICE B - Roteiro de entrevista para funcionários com deficiência .. 80

APÊNDICE C – Quadro de alinhamento .......................................................... 81

10

INTRODUÇÃO

A recessão econômica tem elevado o temor do desemprego a

patamares cada vez maiores. Na atualidade tornou-se muito comum a

discussão sobre “inclusão” e políticas afirmativas. Filho (2009, p.59) afirma que

“o momento é apropriado, pois a sociedade está desperta, sensível às

mudanças e estamos vivendo a era da inclusão”. Como consequência, tem

surgido no país instrumentos legais para assegurar os direitos de grupos

desfavorecidos que se encontram em situação de vulnerabilidade, para lhes

garantir equidade de oportunidades.

Ao longo deste trabalho procurou-se refletir sobre a Lei de Cotas, que

se refere à reserva de vagas para inserção de pessoas com deficiência no

mercado de trabalho, na perspectiva de uma organização em particular. Para

tanto, usou-se uma empresa que atua no ramo de transporte coletivo de Porto

Alegre. Como base para pesquisa, buscou-se conhecer o que há por trás da

contratação destas pessoas com a finalidade de aprofundar mais sobre a

temática.

A lei que regula a contratação através de cotas está em vigor no Brasil

desde o ano de 1991. Desde então, as empresas com cem ou mais

funcionários deve reservar um percentual de vagas para pessoas detentoras de

algum tipo de deficiência (BRASIL, 1991). É um grande desafio que as

empresas não só respeitem esta lei, mas também que façam seus gestores

acreditarem na capacidade laborativa destas pessoas. Para que isso aconteça

deve haver uma mudança cultural empresarial e da sociedade como um todo,

que do mesmo modo deve participar da implantação e monitoramento das

políticas públicas.

Nos últimos anos, segundo dados do Ministério de Trabalho e Emprego,

aumentou de maneira significativa o número de vagas ocupadas no país, de

maneira formal, por pessoas com deficiência. No entanto, o percentual de

empresas que contratam sem serem obrigadas a cumprir lei ainda é

considerado baixo. Não se pode contestar o esforço por parte do governo para

tornar o país uma sociedade mais inclusiva, onde os indivíduos possam

exercer plenamente seus direitos, independente de suas características ou

credos, inclusive o direito ao trabalho do qual a cidadania faz parte. Cabe às

11

organizações fazerem sua parte e oferecer a todos as mesmas oportunidades

(BRASIL, 2015).

O presente trabalho está estruturado em oito capítulos, inicia com a

caracterização da empresa, que serviu de campo a ser explorado. Seguida

pela definição do problema que originou e conduziu a pesquisa, cuja resposta

procurou-se alcançar através dos objetivos da pesquisa, que foram projetados

no capitulo seguinte. O quarto capítulo legitima a escolha do tema através da

justificativa, neste caso, os impactos causados em uma organização na

ocasião da inclusão de pessoas com deficiência. O capítulo seguinte apresenta

o referencial teórico, o qual foi fragmentado em quatro capítulos e traz uma

síntese literária das principais ideias e conhecimentos, do que já foi formulado

até o momento, que serviram de base para a realização do trabalho.

O sexto capítulo descreve os procedimentos metodológicos, utilizados

para viabilizar e atingir os objetivos da pesquisa. Utilizou-se como método de

pesquisa uma abordagem qualitativa do tipo exploratória, no qual se realizou

um estudo de caso. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas em

profundidade, presenciais e embasadas em roteiro semiestruturado, nas quais

procurou-se extrair as impressões dos sujeitos da pesquisa, a saber, uma

equipe multidisciplinar formada por profissionais dos Recursos Humano, e com

alguns funcionários com deficiência da empresa.

O sétimo capítulo traz a apresentação dos resultados, bem como a sua

interpretação por meio de análise de conteúdo. Por fim, são apresentadas as

considerações finais.

12

1 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO E DO SEU AMBIENTE

1.1 HISTÓRICO

Atuando no mercado há mais de 25 anos, a empresa é uma

permissionária do transporte público coletivo de Porto Alegre. Faz parte de um

consorcio ao lado de outras, com o objetivo de racionalizar o transporte da

Zona Norte de Porto Alegre e a consequente qualidade e produtividade dos

serviços prestados.

Em 2000 sua diretoria assinou o termo de Adesão ao PGQP - Programa

Gaúcho de Qualidade e Produtividade com o objetivo de formalizar a

caminhada pela melhoria constante dos serviços oferecidos. Em 2004

implantou um Sistema de Gestão e obteve a certificação ISSO 9001:2000. Em

2007 foram destaques as implantações: Ouvidoria Interna; Controladoria e

Sistema Integrado de Gestão, composto pela Gestão da Qualidade, Gestão da

Segurança e Saúde Ocupacional e Gestão Ambiental. Atualmente possui uma

frota com 158 veículos, com idade média de quatro anos e aproximadamente

850 colaboradores efetivos que atendem 2 milhões de clientes ao mês.

1.2 NEGÓCIO

A empresa atua no transporte coletivo e é integrante da Associação dos

Transportadores de Passageiros -ATP- e do Consórcio Operacional da Zona

Norte.

1.3 MISSÃO

Transportar pessoas com foco nos clientes, na melhoria contínua dos

resultados, na prevenção à poluição, no cumprimento da legislação, na

minimização dos impactos socioambientais, no controle dos riscos á segurança

e saúde ocupacional.

13

1.4 VALORES

· Ética;

· Humildade;

· Reconhecimento das pessoas;

· Pontualidade;

· Excelência nas parcerias;

· Gestão Integrada;

· Capital organizacional;

· Segurança;

· Doação;

· Produtividade.

1.5 OBJETIVOS DA ORGANIZAÇÃO

Destacar-se pelo empreendedorismo e pela gestão sustentável até

2016.

1.6 PRODUTOS E/OU SERVIÇOS

Serviço de transporte coletivo de passageiros.

1.7 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL E ESTRUTURA FUNCIONAL

· A relação de hierarquia da empresa se da em quatro níveis:

· Conselho de sócios: formado pelos proprietários

· Diretoria: atualmente conta com 3 diretores

· Gestores

· Operacional: incluem os demais colaboradores (motoristas e cobradores;

manutenção; administrativo).

14

Figura 1 – Organograma Funcional

1.8 MERCADO DE ATUAÇÃO

A empresa atua na bacia Norte de Porto Alegre.

1.9 PRINCIPAIS CLIENTES

Seus principais clientes são os residentes e trabalhadores da zona norte

de Porto Alegre cujo logradouro é abastecido por linhas da empresa.

15

1.10 PRINCIPAIS FORNECEDORES

Seus principais fornecedores são:

· Petrobrás: fornecedora de óleo diesel;

· Mercedes Benz: fornecedora de ônibus;

· Marcopeças: fornecedora de peças de ônibus;

· Marcopolo: fornecedor de carrocerias.

· Conta também com a parceria do Centro Clínico Gaúcho e da Bardusch

na parte de uniformes.

1.11 PRINCIPAIS CONCORRENTES

Além das formas de deslocamento como moto e bicicleta, seus

principais concorrentes são os transportes da área metropolitana, lotações,

taxis e transportes clandestinos.

1.12 ÓRGÃOS REGULAMENTADORES

A EPTC- Empresa Pública de Transporte e Circulação – que é uma

empresa que regula e fiscaliza as atividades relacionadas ao trânsito e

transportes no município de Porto Alegre. Foi criada pela Lei Municipal 8.133,

de 13 de janeiro de 1998 atendendo a uma tendência internacional de

municipalização de mobilidade urbana.

16

1.13 OUTRAS INFORMAÇÕES RELEVANTES

A empresa apresenta as seguintes diretrizes:

· Ao Cliente: aprimorar atitudes voltadas à satisfação contínua dos

passageiros;

· Ao Governo: atender a legislação aplicável;

· Ao Colaborador: elevar a satisfação, desenvolver e reconhecer

constantemente seus profissionais;

· Ao Fornecedor: qualificar suas parcerias;

· À Comunidade: fortalecer ações de promoção da responsabilidade

socioambiental;

· Ao Sócio: elevar o potencial da organização.

17

2 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

Com a atual desaceleração da economia ficou mais difícil para o

brasileiro encontrar uma ocupação. Segundo dados do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística- IBGE de junho de 2015 1,7 milhões de pessoas em

idade economicamente ativa encontram-se desocupadas, um aumento de 45

pontos percentuais em relação ao mesmo mês do ano anterior (BRASIL, 2015).

O desemprego é uma preocupação que atinge uma grande parcela dos

trabalhadores, mas no caso da pessoa com deficiência este problema é

amplificado. Além da competição natural, tais pessoas enfrentam ainda a

discriminação e o prejulgamento da sociedade, que via de regra atrela sua

capacidade laborativa a sua deficiência. Estas pessoas lutam contra

preconceitos, quebram tabus e derrubam várias barreiras para se inserir no

mercado de trabalho e na sociedade em geral. A mão-de-obra da pessoa com

deficiência é tão produtiva quanto à mão-de-obra de um trabalhador não

deficiente. Apesar dos dispositivos legais garantirem ao portador de deficiência

um espaço no mercado de trabalho, o que se constata na realidade é uma

grande dificuldade por parte da sociedade para o cumprimento desta premissa,

em razão de suas práticas muitas vezes excludentes e discriminatórias

(SASSAKI, 1997; QUINTÃO, 2005).

Uma organização ao contratar uma pessoa com deficiência (PcD) não

deve pensar meramente em cumprir uma lei ou convenção, deve enxergá-lo

como um profissional que irá agregar valor ao seu negócio. O cidadão com

deficiência está sujeito aos mesmos direitos e deveres que os demais, nada

mais justo que receba tratamento igualitário. Passados quase 25 anos da lei

de cotas, de que maneira a organização tem buscado se adaptar a ela?

18

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

O presente estudo tem o objetivo de analisar a efetividade da lei que

regula a contratação de deficientes, bem como as principais barreiras

encontradas para a efetivação da mesma.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

· Descrever o perfil dos portadores de deficiência inseridos na

organização e suas ocupações;

· Verificar a realidade das atividades inclusivistas na organização;

· Identificar a ocorrência de obstáculos no ambiente de trabalho.

19

4 JUSTIFICATIVA

O país vive um momento de ebulição política com vários movimentos em

todos os estados, onde pessoas de todas as classes sociais saem às ruas

fazendo reivindicações e exigindo seus direitos. Portanto, é propício o estudo

de um dos direitos mais significativos e importantes para o homem, o direito ao

trabalho como uma reafirmação da cidadania. Além do trabalho ser o principal

meio de subsistência do ser humano, uma pessoa que trabalha sente-se útil,

independente, participativa, enfim, agente do seu destino. Todas as pessoas

deveriam ter direito de ganhar a vida por meio de um trabalho, que fosse

livremente escolhido e em condições equitativas, livre de qualquer tipo de

discriminação.

A escolha do tema é relevante na medida que traz a reflexão sobre uma

questão muito discutida na atualidade, que é a inclusão de pessoas com

deficiência como parte da Responsabilidade Social das empresas e a

importância da diversidade nestas organizações. A sustentabilidade é

amplamente difundida, embora seja mais mencionado o lado ambiental, ela

também contempla a dimensão social. Educação, saúde e igualdade de

oportunidades são fundamentais para uma força de trabalho produtiva

(GELMAN e PARENTE, 2008). Uma organização é socialmente responsável

quando suas ações visam diminuir as desigualdades sociais e a melhoria da

qualidade de vida da população, comprometendo-se com o resgate da

cidadania, a inclusão faz parte deste compromisso.

20

5 REFERENCIAL TEÓRICO

O capitulo foi dividido em quatro títulos referentes ao tema da inclusão

de pessoas com deficiência, com base em informações já existentes na

literatura.

5.1 CONCEITOS DE DEFICIÊNCIA

A noção e o conceito de deficiência variam bastante. Enquanto para

Garcia (2009) deficiências são aquelas exteriorizações que podem ser notadas

aos olhos, ao tato, ao olfato ou ao raciocínio por seu afastamento do que se

considera normal; para Canguilhem (2007) é para além do corpo, pois um

mesmo indivíduo pode em momentos diferentes ser considerado normal ou

anormal. Uma pessoa com astigmatismo ou miopia, por exemplo, seria

considerada normal em uma atividade agrícola ou pastoril, mas anormal na

marinha ou aviação.

Do ponto de vista médico deficiência refere-se à incapacidade de uma

ou mais funções da pessoa. No âmbito econômico, deficiência significa a

dificuldade a ser vencida para produzir melhor; já no campo jurídico a condição

de deficiência é a fixada pela lei. Devido à diferença de definições, torna-se

difícil fixar com exatidão o percentual de pessoas com deficiência (PASTORE,

2001).

O modelo médico de deficiência está entranhado na sociedade, sendo

este um dos principais pretextos para impedimento de uma convivência mais

inclusiva. Dentro deste modelo, a pessoa com deficiência é vista como um

paciente, dependente do cuidado de terceiros e incapaz para o trabalho. A

coletividade determina meios de enquadrar as pessoas em categorias, bem

como o total de requisitos considerados naturais para cada uma destas classes

(GOFFMAN, 1988; SASSAKI, 1999).

No Brasil de acordo com a nova Lei Brasileira de Inclusão, classifica-se

21

pessoa com deficiência o cidadão que tem impedimentos de longo prazo de

natureza física, mental, intelectual ou sensorial que podem obstruir a sua

participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as

demais pessoas. A lei prevê que quando se fizer necessária à avaliação da

deficiência também levará em conta: limitação no desempenho de atividades;

impedimentos nas funções e no corpo; fatores socioambientais, psicológicos e

pessoais e restrições de participação. . (BRASIL,2015).

Segundo o Decreto n° 3.298/99 que teve sua redação reorganizada pelo

Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência-CONADE-

pelo Decreto nº 5.926/04. No Art. 3° deste decreto define-se (BRASIL, 2004):

· Deficiência permanente aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um

período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter

probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos;

· Incapacidade a redução efetiva e acentuada da capacidade de

integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações,

meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência

possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar e

ao desempenho de função ou atividade a ser exercida.

A maioria das pessoas com deficiência para o trabalho não as tem de

nascença. Elas podem ter origem genética, identificadas durante ou pós-

gestação, podem ser de consequência de doenças transmissíveis ou crônicas,

perturbações psiquiátricas, abuso de drogas, ou ainda advir de traumas e

lesões causadas por acidentes. A imprudência no trânsito, por exemplo, é a

principal responsável por mutilar e lesionar milhares de pessoas anualmente no

país. Segundo o Denatran, Departamento Nacional de Trânsito, todos os anos

mais de 501 mil brasileiros são vítimas de acidentes não fatais em ruas e

estradas, muitos ficando com lesões permanentes (PASTORE, 2001; BRASIL,

2012).

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) classifica a deficiência em

cinco tipos: física, visual, auditiva, mental e múltipla; sendo que (BRASIL,2008):

· Deficiência física é a alteração completa ou parcial de alguma parte do

corpo e que compromete a função física;

· Deficiência visual considera-se a cegueira e a baixa visão, que não

22

consegue ter uma visão nítida mesmo com uso de acessórios auxiliares;

· Deficiência auditiva é a perda parcial ou total de 41 decibéis da audição

ou mais;

· Deficiência mental é o funcionamento intelectual abaixo da media de

maneira significativa e limitações associadas de duas ou mais áreas de

habilidades adaptativas;

· Deficiência múltipla é a associação de duas ou mais deficiências.

Ainda segundo o MTE a comprovação de deficiência pode ser feita por

meio de:

a. Laudo médico, que pode ser emitido por médico do trabalho da empresa ou outro médico, atestando enquadramento legal do(a) empregado(a) para integrar a cota, de acordo com as definições estabelecidas na Convenção nº 159 da OIT, Parte I, art. 1; Decreto nº 3.298/99, arts. 3º e 4º, com as alterações dadas pelo art. 70 do Decreto nº 5.296/04. O laudo deverá especificar o tipo de deficiência e ter autorização expressa do(a) empregado(a) para utilização do mesmo pela empresa, tornando pública a sua condição; b. Certificado de Reabilitação Profissional emitido pelo INSS. (BRASIL, 2004)

As vistas disso, os médicos desempenham um importante papel no

concernente ao mercado de trabalho. A eles cabe a incumbência de determinar

quem é deficiente ou não, servindo de suporte para concessão de beneficio e

reintegração ao trabalho. Ademais, são eles que farão a distinção entre

deficiência, incapacidade e invalidez, embora o limite das categorias nem

sempre ser bem determinado. Dependendo do tratamento feito ou de um

obstáculo mantido ou removido, uma pessoa pode passar de uma categoria a

outra, fazendo com que se entre no campo da subjetividade (PASTORE, 2001).

5.2 O TRABALHO COMO CONDIÇÃO DE CIDADANIA

Michaelis (2002, p. 168) define cidadão como “o indivíduo no gozo dos

direitos civis e políticos de um Estado”. A Constituição Federal de 1988 situa os

valores sociais do trabalho e livre iniciativa como um dos princípios

fundamentais a cidadania. Este fundamento constitucional relaciona a

dignidade e a cidadania através o exercício do trabalho que é um direito

23

assegurado no seu art. 6° a todos, inclusive às pessoas com deficiência

(BRASIL, 1988).

Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos declara em seu

Art. 23 que, toda pessoa tem direito não apenas ao trabalho, mas também à

escolha e a condições satisfatórias de trabalho; todos têm direito, sem

discriminação, a um salário igual para um trabalho igual. A Constituição Federal

no art. 7º proíbe a discriminação na remuneração e critérios de admissão aos

trabalhadores com deficiência. A Convenção sobre os direitos da Pessoa com

Deficiência em seu Art. 27 reafirma o direito ao trabalho, inclusive para as

pessoas que adquiriram a deficiência. Dias (2004) destaca que, realçar as

relações trabalhistas sob o enfoque da dignidade humana e dos valores

sociais, é premissa necessária de proteção ao trabalhador juntamente com

outras regras constitucionais (BRASIL, 2009; BRASIL, 1988).

Devendo haver afinidade entre o cargo e a deficiência, pois

determinados tipos de deficiências impedem determinadas atividades. As

pessoas com deficiência fazem parte de um grupo multifacetado, com as mais

variadas peculiaridades. Não há como omitir de certa desvantagem da

capacidade laborativa de certos grupos para tarefas comuns, tais como a do

deficiente físico em um trabalho doméstico ou em outras atividades. Neste

caso, cabem sanções positivas aos empregadores, como forma de incentivar a

inclusão das minorias, sem, no entanto caracterizar qualquer tipo de

discriminação (DIAS, 2004; ARAÙJO, 2010).

Nesse sentido Niess (2003) complementa, só se admite a diferença de

funções á pessoa com deficiência, quando a referida atividade exigir alguma

habilidade física, mental ou sensorial que falte a esse trabalhador, e que não

pode ser superada com a ajuda de equipamentos. Deve haver análise de

cargos para ajustar estes profissionais em funções que sejam compatíveis com

a sua capacidade individual e que propicie um desenvolvimento adequado,

para que os mesmos possam ter maior autonomia e independência.

Segundo Silva (1993), o trabalho tem importância indiscutível na vida do

ser humano, o desocupado, possuindo ou não deficiência, tem a tendência de

se sentir inútil e inadequado. Especialistas reforçam que o trabalho remunerado

resulta em prestígio social. Ponto de vista este, compartilhado por Wanderley

(1999, p.23) quando afirma “[...] que o vínculo dominante de inserção na

24

sociedade moderna continua a ser a inserção pelo trabalho [...]”.

O trabalho esteve presente desde o início das civilizações. A princípio as

pessoas se apropriavam da natureza para suprir suas necessidades, com o

desenvolvimento da agricultura alguns senhores se denominaram donos das

terras. Para garantir sua sobrevivência as pessoas trabalhavam para esses

donos. Outra maneira de se adquirir o sustento era através da fabricação de

produtos manufaturados e a comercialização desses bens (Aranha, 2005).

Com a Revolução Industrial surgiu uma nova relação, alguns passaram

a ser donos do capital. Enquanto uns tornavam-se proprietários, outros só

tinham a sua força de trabalho a oferecer, surgia então o modo de produção

capitalista. Com o desenvolvimento da tecnologia, houve uma imensa

transformação no modo de produzir os produtos e na maneira de execução dos

serviços. Inicia-se então, o fenômeno da automação e junto o surgimento da

competitividade, bem como da exclusão. Com o advento do novo mundo,

grande parte das pessoas não tem mais acesso ao mercado de trabalho

(GUARESCHI, 1999).

A exclusão moderna se difere das discriminações anteriores, uma vez

que há um culto exagerado à imagem. Neste contexto, criasse sujeitos

totalmente dispensáveis ao mundo produtivo, não havendo mais oportunidade

de inserção neste universo. Embora todos tenham o mesmo direito ao trabalho,

o número de pessoas com deficiência em idade economicamente ativa fora do

mercado, é o dobro do número das pessoas sem deficiência (SASSAKI, 1997;

WANDERLEY, 1999).

Nossa Constituição prevê no art. 6º os direitos sociais como: educação,

saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança, proteção à

maternidade e infância, e assistência aos desamparados (BRASIL,1988). Na

opinião de Silva (1993), não há precisão de mais declarações de novos

Direitos, mas sim a necessidade de colocar os já existentes em prática.

O trabalho como direito social é um elemento essencial para garantir a

sobrevivência do indivíduo, além de lhe proporcionar bem-estar e segurança.

Sua remuneração deve possibilitar a satisfação das necessidades básicas do

trabalhador. O art. 170, inciso VIII da ordem econômica e financeira da

Constituição Federal, tem como forma de assegurar a todos uma vida digna, a

busca do pleno emprego. Na proteção do direito ao trabalho, estão inseridos

25

valores sociais fundamentais na estrutura socioeconômica do país (BRASIL,

1988).

O significado do trabalho transcende a uma atividade assalariada ou um

emprego. Segundo Séguin (2002), a sua inexistência ou precariedade, atinge a

autoestima humana. O conceito do trabalho extrapola as teorias econômicas, é

forma de cidadania plena, o ser humano tem direito a uma ocupação. Nesse

sentido, Nascimento (2004) acrescenta ao dizer que a proteção ao trabalho tem

um amplo significado, é muito mais do que simples questão de sobrevivência, o

ser humano pode transformar e ser transformado por ele.

Em 1919 foi criada a Organização Internacional do Trabalho (OIT), como

parte do Tratado de Versalhes que pôs fim a primeira Guerra Mundial. A OIT é

uma agência do sistema das Nações Unidas composta por representantes de

governos, empregadores e trabalhadores, da qual o Brasil faz parte. Ela é

responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais de

trabalho, as convenções uma vez confirmadas por decisão soberana de um

país, passam a fazer parte do seu ordenamento jurídico. A OIT teve papel

importante na definição das legislações trabalhistas e na elaboração de

políticas econômicas, sociais e trabalhistas no séc. XX, inclusive trabalho para

deficientes (OITBRASIL, 2014).

Segundo Filho (2009), o estado deve seguir uma linha real ao proteger o

indivíduo. Baseada nos direitos humanos, voltados à preservação da dignidade

humana, impedindo a marginalização, bem como, concedendo que este tenha

acesso a uma vida digna e feliz. Visão compartilhada por Cruz (2005), que

acrescenta que o pluralismo, em função das particularidades individuais e

coletivas dos grupos que compõe a sociedade, eleva-se a condição de principio

inseparável da ideia de dignidade humana, exigindo do estado e da sociedade

a proteção de todos os diferentes.

O trabalho, se utilizado de maneira correta e decente, é um poderoso

instrumento de integração. O termo Trabalho Decente, que foi formalizado pela

OIT em 1999, resume sua missão de promover oportunidades, para que todos

possam ter um trabalho produtivo e de qualidade, em condições de liberdade,

equidade, segurança, sendo estas condições consideradas fundamentais para

a redução das desigualdades sociais (OITBRASIL, 1999).

No Brasil comemora-se em primeiro de maio o Dia Internacional do

26

Trabalho que é uma data marcada, principalmente, pela luta e pelas

reivindicações por direitos sociais. A data, cada vez mais, perde características

comemorativas e é marcada por requerimento de cidadania através de um

trabalho digno e por ações que minimizem a exclusão social (SÉGUIN, 2002).

O estudo da proteção e da discriminação ao trabalho, sob a ótica do

direito das minorias, é de importância fundamental. Pois significa, não só, a

garantia deste direito-dever a milhares de cidadãos que vivem marginalizados,

mas dar possibilidades aos que trabalham que o façam em condições de

dignidade (NASCIMENTO, 2004).

5.2.1 Visão histórica e social do trabalho de deficientes

Desde a antiguidade as pessoas que nasciam com limitações funcionais,

com alguma diferença ou necessidade específica, eram praticamente banidas

do convívio social sem causar nenhum problema de ordem ética ou valor

moral. Pessoas com deficiência eram abandonadas a própria sorte, ou

dependiam da caridade humana para sobreviver (ARANHA, 2005).

Os portadores de deficiência receberam tratamentos diferenciados em

lugares e em épocas diferentes. Em Atenas, como exemplificado por Niess

(2003), chegaram a ter acesso a atividades produtivas, quando não as podiam

realizar, eram assistidos por um sistema semelhante ao da Seguridade Social,

mantido mediante a contribuição da sociedade.

Os deficientes eram estigmatizados, Goffman (1988), relata que os

gregos criaram o termo estigma, para se referirem a sinais corporais que

evidenciava algo de extraordinário ou sobre seu status moral, que identificasse

mais facilmente a pessoa, para que pudesse ser evitada. O estigma está

relacionado com pressupostos que levam á discriminação, os estereótipos que

fogem do padrão de um corpo idealizado, muito presente ainda nos dias atuais.

Guimarães (2010, p.201) conceitua estigma como “uma marca social

que certos indivíduos carregam por possuírem características diversas

daquelas padronizadas por uma sociedade”, associa-se a estas colocações

com as de Pastore (2001) quando afirma que, estas percepções distorcidas

acabaram estereotipando e restringindo muitos indivíduos para a vida e para o

27

trabalho. A sociedade avançou em muitos aspectos, mas muito pouco

progrediu na superação dos preconceitos. Estes foram somente modificando e

sofisticando sua forma de manifestação, devido à pressão de segmentos mais

esclarecidos. As reações, outrora discriminatórias, deram lugar a

comportamentos marcados por compreensão e humanismo superficiais.

O modo como a sociedade lida com a deficiência e suas percepções,

tem mudado ao longo do tempo, passando do extermínio à integração, sendo

intercalado por diversas etapas. O Iluminismo, embora tenha colocado a

deficiência na área da condição biológica, trouxe agregada a noção de

normalidade (BONFIM, 2010).

Segundo Véras (1999), no Brasil desde o tempo colonial até a República

contemporânea, os processos de exclusão social se faz presente em nossa

história. Para Ortega (2010, p.149), “historicamente, as deficiências estavam

ligadas ao crime, ao mal, às aberrações.” A narrativa religiosa lançava

hipóteses de que corpos acometidos por alguma deficiência era resultado de

castigos divino. Já a narrativa científica, no decorrer do sec. XIX, retirou-se a

deficiência do âmbito religioso, desde então, o corpo deficiente passou a ser

visto como uma variação patológica do corpo (SANTOS, 2010).

Do ponto de vista Sassaki (1997) a inclusão dos deficientes no mercado

de trabalho pode ser dividida em 4 fases, a saber:

1º) Fase da exclusão: neste período a pessoa deficiente não tinha

nenhum acesso ao mercado laboral, a empresa podia ser condenada por

exploração. Havia uma ideologia protecionista onde trabalho e deficiência eram

duas coisas incompatíveis, ainda não haviam descoberto a capacidade de

produtiva destas pessoas;

2º) Fase da segregação: nesta fase havia um sentimento paternalista

onde instituições filantrópicas ofereciam trabalhos realizados por pessoas

deficientes. Era uma oferta de trabalho sem vínculo empregatício, onde além

do paternalismo havia o uso da mão de obra barata, prática ainda persistente

na atualidade;

3º) Fase da integração: esta fase pode ser aplicada de 3 formas

distintas: pessoas deficientes são admitidas e contratadas desde que

qualificadas profissionalmente e que utilizem os espaços das empresas sem

28

que precise nenhuma modificação; após seleções pessoas deficientes são

colocadas em órgão públicos ou empresas particulares que concordem em

fazer pequenas adaptações em seus postos de trabalho, ainda que estes

sejam por objetivos práticos; pessoas deficientes são colocadas em setores

específicos, portanto excludentes, com ou sem modificação. Pode acontecer

nestas formas de integração que haja um clima desfavorável à interação social

ou uma dificuldade de desenvolvimento destes recursos humanos.

4º) Fase da inclusão: surge, finalmente, no mercado de trabalho a

imagem da empresa inclusiva, disposta a enfrentar junto com as pessoas com

deficiência e seus aliados os desafios do mercado de trabalho cada vez mais

competitivo.

O sistema de reservas de mercado para pessoas com deficiência tem

uma longa historia. Foi desenvolvido na Europa do sec. XX inicialmente com o

objetivo de acolher os feridos da 1° Guerra Mundial, sendo adotado por vários

países do continente. Nos últimos anos, o sistema evoluiu na direção da

flexibilidade dando opção aos países de ao invés de preencher as cotas,

contribuir para um fundo público destinado a recuperação destes ex-

combatentes (PASTORE, 2001).

Cruz (2005) argumenta que, nos últimos anos pouco se evoluiu, visto

que em uma população que apresenta um número expressivo de pessoas com

algum tipo de deficiência, muitas ainda se encontram fora da força de trabalho

regular. Pastore (2001) salienta que, a maioria continua trabalhando dentro da

informalidade. As razões que limitam a inclusão de trabalhadores com

deficiência no mercado de trabalho são múltiplas. De um lado a falta de

qualificação, alegada pelos empregadores, de outro a desinformação e o

preconceito, e acima de tudo a falta de um incentivo para estimular as

contratações como acontece em alguns países.

No entender de Bonfim (2010), apesar das injustiças, como a

discriminação e estereótipos, e o paternalismo que ainda persiste nas relações

das pessoas com deficiência, houve um avanço significativo a partir da primeira

metade do séc. XX. Após a Segunda Guerra, os corpos com deficiência que

antes eram vistos como improdutivos, começou a ser visto como o de heróis de

29

guerra. Esta mudança de conceito foi estendida também a outras pessoas em

situação semelhante.

As denominações também foram variando ao longo do tempo. Segundo

Sassaki (2003), no passado eram utilizadas várias expressões para referirem-

se as pessoas deficientes, a partir da Constituição de 1988, influenciado pelo

Movimento Internacional de Pessoas com Deficiência, passou a utilizar o termo

“pessoa portadora de deficiência”. Adotou-se também o termo “pessoas com

necessidades especiais” demonstrando a evolução na tentativa de denominar

esses cidadãos sem marca-los de maneira negativa. Porém, como a expressão

necessidades especiais é muito abrangente e deficiências não se portam,

estão com a pessoa, optou-se pela forma “pessoa com deficiência”, mas

comumente usada no exterior.

Segundo Silva (1993), as palavras que são usadas para se referir as

pessoas, revela a visão que se tem delas. Da mesma forma Cruz (2005, p. 96)

considera, “o estereótipo do portador de deficiência se liga a própria

denominação do mesmo: deficiente.” Infelizmente, essa ideia se associa a

incapacidade, a dependência e a invalidez.

5.2.2 Panorama social do trabalhador com deficiência no Brasil

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas- IBGE

(2010), o Brasil contava com quase um quarto da população (23,9%) com

algum tipo de deficiência investigada (visual, auditiva, motora e

mental/intelectual), cerca de 45,6 milhões de pessoas. Segundo levantamento

do censo o tipo de deficiência mais frequente entre os brasileiros é a visual,

seguida pela motora, auditiva e mental ou intelectual, sendo a proporção por

tipo de deficiência ilustrada no gráfico a seguir:

30

Gráfico 1: Pessoas com pelo menos um tipo de deficiência investigada

Os trabalhadores com deficiência representam 23,6% da população do

total de ocupados com 40,2% destes trabalhadores de carteiras assinadas. Em

2010 havia 40.073.377 pessoas com alguma deficiência em idade ativa, porém

23,7 milhões não tinham ocupações. Dentre as pessoas com algum tipo de

deficiência economicamente ativa 60,3% era do sexo masculino e 41,7% do

sexo feminino. Quanto ao tipo de deficiência, a maior taxa de ocupação foi

verificada no segmento de deficientes visuais, já a menor taxa ocorreu no

segmento de pessoas com deficiência mental ou intelectual para ambos os

sexos (ver gráfico abaixo) (IBGE, 2010).

Gráfico 2: Atividades por sexo e deficiência

Fonte: Gráfico construído a partir de dados do IBGE, censo demográfico 2010

Fonte: Gráfico construído a partir de dados IBGE, censo demográfico 2010

31

Apesar das conquistas já alcançadas ainda há muito a ser feito, como

descrito por Sassaki (1997, p.62), “[…] o percentual de pessoas deficientes em

idade economicamente ativa que estão fora da força de trabalho é duas vezes

superior ao das pessoas sem deficiência, embora todas tenham o mesmo

direito de trabalhar”. Mesmo com a exigência legal de cotas para trabalhadores

com deficiência, o nível de ocupação deles é considerado baixo em

comparação à depessoas sem deficiência, 23,6% contra 76,4%

respectivamente em um total de 86.353.839 como mostra gráfico a seguir

(IBGE, 2010).

Gráfico 3: Número de pessoas com deficiência ocupadas x pessoas sem deficiência

Não se pode negar a existência do prejulgamento de que o trabalhador

com deficiência é alguém incapaz ou ineficaz para o trabalho. O efeito deste

preconceito é que esse trabalhador, mesmo tendo capacidade para exercer

uma profissão que seja adaptável ao seu tipo de deficiência, encontra

resistências, muitas vezes disfarçadas que lhe impede a integração no

mercado de trabalho. O preconceito deve ser tratado na raiz, não somente com

a facilitação do acesso destes em locais anteriormente dificultados como o

mercado de trabalho (ASSIS, 199-; PASTORE, 2006).

Dados mais recentes, do Ministério do Trabalho e Emprego, dão conta

que no ano em que Lei de Cota completa 24 anos, houve um aumento de 20%

Fonte: Gráfico construído a partir do IBGE, Censo Demográfico 2010

32

na participação de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. O numero

de vagas ocupadas chegou a 357,8 mil, quando computadas empresas

públicas de regime estatutário e as que contratam de forma espontânea. Entre

os estados, o Rio Grande do Sul aparece em primeiro lugar nas ações de

inclusão social através da criação e manutenção de empregos chegando 52%

de cotas cumpridas. Veja o gráfico a seguir (BRASIL, 2015)

Gráfico 4: Cumprimento de cotas por estado

Uma sociedade só será realmente inclusiva quando qualquer cidadão for

respeitado e valorizado por sua pessoa, não por seu físico ou sua condição

social. A atitude preconceituosa busca demonstrar uma espécie de

distanciamento superior, entre aquele que age preconceituosamente e o objeto

do preconceito, portanto, o prejulgamento marginaliza aqueles que possuem

características menos “dignas”; funcionando como um exercício de poder

(PINSKY e ELUF, 1993; BRAGANÇA, 2009).

Fonte: construído a partir de dados do MTE, 2015

33

5.3 GARANTIAS LEGAIS INCLUSIVAS

A Organização das Nações Unidas-ONU proclamou o ano de 1981 como

o ano Internacional da Pessoa Portadora de Deficiência, sob o lema:

“Participação e Igualdade Plenas”. O ano de 1993, foi proclamado pela

Assembleia Geral das Nações Unidas como início da década da Equiparação

de Oportunidades para a Pessoa Portadora de Deficiência. Com os trabalhos

executados pelas Nações Unidas, obteve-se grande êxito no reconhecimento

dos direitos e na dignidade das pessoas afetadas por alguma deficiência

(PUSSOLI, [199-]).

A inserção dos trabalhadores com deficiência começou a tomar forma no

Brasil a partir da década de 90, embora já houvesse inciativas anteriores, como

a Constituição de 1988 que lhes assegurava direitos. A Lei 8.112/90, que

dispõe sobre os Servidores Públicos, em seu artigo 5º § 2o assegura as

pessoas portadoras de deficiência, o direito de se inscrever em concursos

públicos para cargos cujas atribuições sejam de acordo com a sua deficiência,

a reserva de até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas. O decreto

3.298/99 art. 39, veta a aplicação de tal lei em casos de provisão de cargo em

comissão ou função de confiança, de livre nomeação e exoneração; e cargo ou

emprego público integrante de carreira que exija aptidão plena do candidato

(BRASIL, 1999).

De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego-MTE em julho

de1991 no Brasil foi criada a Lei 8. 213 regulamentada pelo Decreto 3.048/99,

chamada Lei de Cotas. Através desta lei, no artigo 93, ficou estabelecido que

as empresas de iniciativa privada que tivesse acima de cem (100) funcionários

deveriam destinar de 2% a 5% dos postos de trabalho para pessoa portadora

de deficiência ou beneficiário reabilitado. Para estar em conformidade com esta

lei, a empresa que tiver até duzentos (200) empregados deve reservar 2% das

vagas; de duzentos e um (201) a quinhentos (500) deve reservar 3%; de

quinhentos e um (501) a mil (1000) deve designar 4% das vagas e a empresa

que tiver de mil e um (1001) em diante 5%. O direito, antes visto como

notadamente repressivo com a função de disciplinar e determinar sanções,

hoje assume um papel também de gestor da sociedade. As empresas devem

34

obedecer pelo menos o percentual mínimo previsto na legislação (BRASIL,

1991, PUSSOLI, [199-]).

A desobediência a essa lei é passível de multa, que varia de acordo com

o número de deficientes não contratados, prevista no art. 133 da Lei nº 8.213.

Segundo Panuzzio (2004), o Ministério Público do Trabalho busca, em primeiro

lugar, conscientizar a empresa, antes de ajuizar ação civil pública, para que

efetive a reserva de mercado destinada as PcDs. Em um primeiro momento,

são instaurados procedimentos administrativos com recomendações para que

a empresas entrem em conformidade com a lei. Em um segundo momento,

instaura-se procedimento investigatório onde a empresa é convocada a assinar

o Termo de Compromisso proposto pela Procuradoria do Trabalho. Este termo

prevê a contratação de trabalhadores com deficiências num determinado prazo,

se o Termo não for atendido, o Ministério é obrigado a levar a empresa a juízo,

ou executar a multa prevista neste Termo.

Outro direito conquistado no art. 203 da Constituição Federal, foi o da

habilitação e reabilitação para pessoas com deficiência e a promoção da sua

integração na vida comunitária, sendo estes contribuintes ou não do sistema

previdenciário. O decreto 3.298/99 descreve a habilitação e reabilitação como o

processo orientado a possibilitar que a pessoa portadora de deficiência,

adquira o nível suficiente de desenvolvimento profissional para ingresso e

reingresso no mercado de trabalho e participar da vida comunitária. Tais

serviços devem conter recursos necessários para preparar PcDs para o

trabalho que lhe seja adequado e tenha perspectivas de obter, conservar e nele

progredir (BRASIL, 1999; BRASIL 1988).

Pastore (2001) define habilitação como o conjunto de atividades voltadas

para quem tem limitação de nascença, ou para os que precisam se qualificar

para o mundo do trabalho; já a reabilitação é a atenção prestada às pessoas

com deficiência, em geral, após um acidente de trabalho ou outro tipo de

acidente. Ambas de suma importância para aumentar as chances de trabalho

às pessoas com deficiência. Segundo o mesmo autor, o processo de

habilitação e reabilitação está quase todo concentrado no INSS e não existem

muitos programas destinados a tal feito. Concentram-se as verbas públicas

para manter os profissionais longe do mercado de trabalho haja vista que

pouco se destina a reabilitação e a prevenção de acidentes.

35

As organizações podem contar com o apoio de instituições de

reabilitação, ou com a parceria de entidades de formação profissional no

processo de contratação de profissionais com deficiência. No Brasil, está

aumentando o número de instituições especializadas no atendimento de quem

possui deficiência, as quais têm a missão de recrutar e colocar no trabalho tais

profissionais. Elas se organizam individualmente ou em redes, disseminam

informações colaborando para promover o conhecimento e o compromisso

social em relação aos deficientes. Destacam-se entre outras, por suas

incessantes atividades, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais-

APAE, a Associação à Criança com Defeituosa-AACD e a Sociedade

Pestalozzi, pelo trabalho realizado na área de deficiência mental (SASSAKI,

1997; PASTORE, 2001).

De acordo com o parágrafo 1° da Lei de cotas, a dispensa do

trabalhador deficiente habilitado, ou do trabalhador reabilitado, ao final de

contrato por prazo determinado; ou a imotivada no contrato por prazo

indeterminado, só poderá ocorrer após admissão de outro empregado em

situação semelhante (BRASIL, 1991). O que significa a existência de um

paradoxo, pois se o contratado não corresponder às expectativas da empresa,

esta poderá demiti-lo desde que o substitua por outro em semelhante condição.

Portanto a lei não é garantia de emprego, considerando-se que um funcionário

com deficiência pode ser demitido a qualquer hora sem que a legislação seja

descumprida.

Há um consenso entre técnico, pesquisadores e especialistas de que, a

inserção de PcDs no mercado de trabalho é a melhor maneira de ajuda-los a

superar seus problemas. Para isso, conta-se com os sistemas de apoio ao

trabalho que envolve uma grande variedade de atividades tais como:

educação, qualificação profissional, assistência médica, habilitação e

reabilitação para o trabalho, mecanismos legais, estímulos aos empresários,

serviços de colocação e mais campanhas antidiscriminatorias (PASTORE,

2001).

Ainda que haja legislação protetiva, cabe ressaltar o descaso da

sociedade com este grupo de cidadãos, bem como o consequente descaso do

poder público já que este é reflexo da própria sociedade. A responsabilidade do

cuidado com as minorias deveria ser de todos, tendo em vista a impossibilidade

36

de a atribuição ser de exclusividade do Estado. Cabe à sociedade eliminar as

barreiras físicas, programáticas e atitudinais para que as pessoas com

deficiência possam ter acesso ao serviço, lugares, informações e bens

necessários ao seu desenvolvimento (FILHO, 2009; SASSAKI, 1997).

Do ponto de vista de Silva (1993), a sociedade não tem alternativa a não

ser arcar com as consequências, bem como com as dificuldades decorrentes

do fato de existir uma parte significativa da população vivendo à margem de

quase tudo, que tem o direito de ver suprida, pelo menos as suas necessidades

básicas. A Lei de Cotas tem o objetivo de eliminar ou, pelo menos, minimizar

desigualdades acumuladas pela história. Garantindo igualdade de

oportunidades, como uma forma de compensar os anos de marginalização e

segregação forçada a que este grupo com outros tem sido submetido. Uma

maneira de retificar a injustiça social conferida anteriormente. Este processo

também é chamado ação afirmativa.

(…) as ações afirmativas podem ser definidas como um conjunto de políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou voluntário, concebidas com vistas ao combate à discriminação racial, de gênero e de origem nacional, bem como para corrigir os efeitos presentes da discriminação praticada no passado, tendo por objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como a educação e o emprego (GOMES, 2001, p.40).

A expressão ação afirmativa surgiu nos Estados Unidos, sendo utilizada

pele primeira vez em uma ordem executiva federal no ano de 1965, onde se

determinava que empresas empreiteiras ficassem obrigadas a aumentar a

admissão de grupos minoritários através de ação afirmativa. Desde então, o

termo passou a ser sinônimo de favorecimento de algumas minorias

desfavorecidas por preconceitos arraigados, e que precisavam ser superados

para que a igualdade fosse alcançada (SILVA, 2003).

Essa definição foi ampliada e abrangeu outros grupos igualmente

discriminados como pessoas com deficiência, homossexuais ou situações em

que a pessoa pertença a mais de um grupo discriminado. As políticas

afirmativas, funcionam como uma espécie de programa social, em vez de criar

oportunidades procuram assegurar uma igualdade entre protegidos e

desprotegidos. As mesmas ajudam na inclusão por ser uma combinação de

várias medidas, o que as difere do sistema de cotas que apenas tende a coagir

37

as empresas a contratar as pessoas, sem levar em conta a educação e a

qualificação para o exercício das profissões (PASTORE, 2006). Nesse sentido,

Dias (2004) corrobora ao afirmar que com o poder legislativo voltando seu foco

à equiparação de oportunidades, mediante o estabelecimento de regulamentos

de sanções positivas, as eventuais diferenças na capacidade laborativa de

determinados grupos poderiam ser superadas, favorecendo assim sua inclusão

social.

Segundo Rios (2008), a ação afirmativa é uma questão que gera

controvérsia. Constantemente a expressão é relacionada à imposição de cotas,

usualmente, tomadas como intransigentes. No âmbito judiciário há cinco

argumentos utilizados para justificar sua existência: o combate aos efeitos das

discriminações passadas; a promoção da diversidade; a sua natureza

compensatória; a criação de modelos positivos para populações minoritárias e

o provimento de serviços melhores à população que está em minoria. Para

Vasconcelos (2010), a despeito da lei de cotas gerar conflitos, não é oferecido

alternativas que não passem por politicas afirmativas, e que garantam que

pessoas com deficiência acesse o mercado de trabalho e nele permaneça.

Percebe-se neste processo a influência da Revolução Francesa no séc.

XIX, com um clima favorável a abolir as injustiças sociais e rever o tratamento

desumano até então concedido. Buscavam-se os direitos sociais com

intervenções estatais que compensassem as desigualdades, provendo direitos

implantados e construídos de forma coletiva que lhes desse direito entre outras

coisas a saúde, a educação e ao trabalho. O espaço urbano sempre

discriminou, a injustiça e exclusão são produtos da organização sociopolítica

(MOUSSATCHÉ, 1997).

A sociedade e os próprios interessados, vêm buscando medidas através

de protestos e queixas em busca do direito à igualdade; e de repulsa a

discriminação, sofrida muitas vezes até no seio da própria família. Muitas vezes

o nascimento de uma criança deficiente envolve a família em um sentimento de

perda, fazendo ruir todas as fantasias e fazendo-a experimentar um sentimento

de ser diferente de outras famílias (SPROVIERI, 1997; GUIMARÃES, 2009;

GARCIA, 2009).

Não havia nada que assegurasse garantias para pessoas com

deficiência, até a Carta de 1967/1969 não havia legislação específica, a

38

Emenda Constitucional n°12 de 1978 que assegurou as primeiras garantias. Na

Constituição corrente, havia dispositivos esparsos e fragmentados sem

regulamento harmônico sobre o assunto. De acordo com o Art. 5, a

Convenção dos direitos das pessoas com deficiência da ONU de 2007, as

medidas específicas que forem necessárias para que se alcance a efetiva

igualdade não deverão ser consideradas discriminatórias (FILHO, 2009).

Na visão de Ribeiro e Carneiro (2009), a Lei de Cotas tem mostrado

resultados pouco expressivos demonstrando a fragilidade institucional e a

precariedade com que são tratadas as leis, favorecendo a condutas

permissivas principalmente por parte das organizações. Mas por outro lado, só

o fato de se promover espaço para debates em torno da educação,

acessibilidade em espaços públicos e privados já significa um avanço na

direção da prática inclusiva em relação ao deficiente. A legislação é uma

ferramenta altamente relevante e fundamental para a equiparação de

oportunidades e adequação, para que esse segmento da sociedade possa

exercer seu papel de cidadão e dar sua contribuição para o desenvolvimento

da Nação (QUINTÂO, 2005; PUSSOLI, 199-).

Em julho do ano corrente foi sancionada a Lei 13.146/2015, prevista

para entrar em vigor em janeiro de 2016, chamada Lei Brasileira de Inclusão-

LBI. O Estatuto da Pessoa com Deficiência/ LBI ampliando os benefícios à

pessoa com deficiência na garantia da equiparação de oportunidades e está

em consonância com a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com

Deficiência da ONU, incorporada na Constituição Federal em 2009 (BRASIL,

2015).

Entre os avanços do Estatuto/LBI, destaque para a criminalização da

discriminação à pessoa com deficiência que, similarmente a discriminação

racial também passa a ser considerado crime. Na área do trabalho e emprego,

foi mantida a cota atual e foi vetada a obrigatoriedade de reserva de vagas

para empresas que possuem abaixo de 100 funcionários. Um das novidades é

a previsão do auxilio-inclusão, que se trata de uma renda auxiliar ao

trabalhador com deficiência que passará a ser paga no momento da admissão,

mas que ainda depende da aprovação de outra lei regulamentando os critérios

e o valor do auxílio (BRASIL, 2015).

A discriminação por motivo de deficiência na ótica jurídica é definida

39

como qualquer diferenciação, exclusão ou restrição baseada na deficiência,

com a intenção ou efeito de prejudicar o usufruto, em igualdade de

oportunidades com as demais pessoas, de todos os direitos humanos e

liberdades fundamentais em qualquer esfera (RIOS, 2010). Do ponto de vista

de Silva (1993), as leis destinadas a estimular o emprego destas pessoas

ajudam de alguma forma, mas de maneira alguma, é a solução para todos os

casos.

5.3.1 Direito à acessibilidade Com a implantação da Lei de Cotas, outro aspecto a ser discutido foi à

arquitetura pouco inclusiva das cidades, sendo uma das formas de integração o

incremento da acessibilidade. As organizações tiveram que se readaptarem

para receber estes novos clientes internos e o governo redesenhar as vias

públicas, preparar edifícios públicos e privados, assim como preparar os meios

de transporte para dar a maior autonomia possível a essa população.

Ambientes físicos, construções que cercam o ser humano, tais como:

edificações, espaços urbanos, mobiliários, aparelhos assistivos, utensílios e

meios de transportes devem ser alcançáveis a todos (SASSAKI, 1997).

Panuzzio conceitua acessibilidade da seguinte forma:

Acessibilidade é a possibilidade e condição de alcance para

utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e

equipamentos urbanos, das instalações e equipamentos esportivos,

das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de

comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade

reduzida (Panuzzio, 2004, p.89).

Araújo (2010) afirma que, de nada adianta garantir o direito ao trabalho

se este não vier acompanhado da garantia do direito ao transporte e da

eliminação de barreiras que lhe impedem o acesso. Silva (1993) aponta que,

para dificultar não contamos com ambientes de trabalho preparados para

sujeitos que vive a consequência de uma desvantagem, seja ela de que tipo

for.

No ano de 2000 entrou em vigor a lei 10.098, que estabeleceu normas

para promover a acessibilidade das pessoas com deficiência ou com

40

mobilidade reduzida por meio da extinção de obstáculos e barreiras em vias

públicas. O Art. 9 da Convenção da ONU de 2007 assegura que, os Estados

que fizeram parte do acordo deverão tomar medidas apropriadas para

desenvolver, promulgar e monitorar a execução de padrões e diretrizes

mínimas para a acessibilidade dos serviços e instalações abertas ao público. A

acessibilidade é um atributo essencial do ambiente, que garante a melhoria da

qualidade de vida das pessoas, devendo estar presente em todos os espaços,

inclusive nos sistemas e tecnologias de informação e comunicação (BRASIL,

2000).

Niess (2003, p.93) afirma que “o ambiente urbano foi projetado dentro de

um padrão destinado a acatar as necessidades de homens e mulheres que não

precisam de atenção especial”. De fato, há não muito tempo atrás a arquitetura

se baseava no homem dito normal, negando as pessoas com alguma

deficiência o direito de ir e vir e de ter no mínimo uma vida digna. Nos dias de

hoje, já é mais comum nos depararmos com banheiros para cadeirantes,

elevadores acessíveis, rampas, barras de apoio, pisos táteis, sinalização com

sinal sonoro, etc. Aos poucos a sociedade vai assimilando a nova concepção,

sendo acessibilidade à palavra-chave para a inclusão, apesar de pouco

debatida dada a sua importância. (FILHO, 2009; CASTRO, 2013).

De acordo com Castro (2013), o investimento em acessibilidade reduz

custos, pois os gastos são consideravelmente maiores ao readaptar uma

construção já construída. Embora seja importante ressaltar a importância de

que novas construções e meios de transportes sejam projetados de maneira

acessível, também é relevante salientar que ambientes inacessíveis já

existentes sejam devidamente ajustados. As organizações têm muito a ganhar

investindo em acessibilidade, além de deixar os ambientes transitáveis,

portanto mais democráticos, têm ainda a oportunidade de atrair novos clientes.

O regulamento é que o ambiente deve ser cômodo as PcDs, e não o

contrário, não adianta a lei lhes assegurar direitos, se as mesmas não tiverem

como os acessar (NIESS, 2003). As pessoas têm necessidades diferentes e

variadas, e estas devem ser levadas em conta na hora de investir em

infraestrutura que lhes confira mobilidade e autonomia na realização das suas

atividades. Sassaki (1997, p. 50.) conceitua autonomia como “condição de

domínio no ambiente físico e social, preservando ao máximo a privacidade e a

41

dignidade da pessoa que a exerce”.

A acessibilidade tem um grande peso na hora da contratação dos

recursos humanos de uma organização. Um funcionário com deficiência pode

não ser envolvido em um programa de desenvolvimento, ou até mesmo deixar

de receber alguma promoção, por descaso da organização ou por motivo de

inacessibilidade no ambiente de trabalho. Devem-se oferecer recursos

necessários para acolher as especificidades e colocar a pessoa com

deficiência em pé de igualdade com os demais. Há certo descompasso entre a

lei e a realidade, no entanto, uma empresa pode tornar-se inclusiva buscando

informações apropriadas com profissionais que atuam na área de inclusão

(SASSAKI, 1997).

A efetividade das garantias tem sido cobrada pela ação de Delegacias

do Trabalho e órgãos do Ministério do Trabalho, que recebem sucessivas

queixas de abusos por parte das organizações. A demanda das reclamações

das pessoas com deficiência que recorrem ao Ministério Público tem motivos

variados, mas a maioria é relacionada à garantia de direitos como

acessibilidade, transporte e inserção no mercado de trabalho. Juntas, essas

reivindicações representam 60% dos processos analisados sendo que

cidadãos com impedimentos físicos são os principais sujeitos de tais

requerimentos. É importante garantir a qualidade no processo de inclusão para

que se continue avançando (CRUZ, 2005; GUIMARÃES, 2010).

5.4 INCLUSÃO NO MERCADO DE TRABALHO

A globalização faz parte do universo corporativo e com ela vêm à tona

discussões sobre pluralidade e respeito às diferenças, faz parte do

compromisso ético empresarial a promoção da diversidade. O que coloca o

tema de inclusão de pessoas com deficiências como um dos temas centrais a

ser analisado pelas corporações. A empresa inclusiva pode obter vantagens

significativas como reforço de imagem, ganhos no ambiente de trabalho,

ganhos de produtividade e melhoria do clima organizacional (GIL, 2002).

Um dos pilares da sustentabilidade é a prática da responsabilidade

social. O desenvolvimento sustentável refere-se à integração de objetivos de

42

qualidade de vida, com justiça social e a manutenção da diversidade. A ISO

26000 é uma norma de diretrizes de uso voluntário, sem fins de certificação,

dirigido às organizações comprometidas a incorporar em seus processos

decisórios atividades que irão impactar a sociedade de forma positiva. Para

uma empresa socialmente responsável, a contratação de pessoas com

deficiência não é vista somente como uma obrigação legal, para elas antes de

qualquer coisa, a inclusão é um compromisso com políticas sociais (ABNT,

2010).

Sassaki (1997) estabelece clara distinção entre integração e inclusão.

Ao seu ver, o processo de integração social não necessita de medidas

inclusivas, e de fato, nem todas as pessoas com deficiência necessitam que

haja uma modificação na sociedade para se integrarem nela. Em suma, no

processo integrativo a pessoa com deficiência é que tem que se adaptar a

sociedade. Em contrapartida, há aqueles que não poderão participar de forma

plena e igualitária em uma sociedade se esta não se tornar inclusiva. Na sua

concepção a inclusão é entendida como:

[...] o processo pelo qual a sociedade se adapta para incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui, então, um processo bilateral no qual as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos (SASSAKI, 1997, p.41).

Na inclusão o movimento de adequação deve ser bilateral, tanto a

pessoa com deficiência quanto a sociedade devem amoldar-se de forma

simultânea. É preciso aceitar com normalidade o fato de que somos

aparentemente diferentes, ainda que no nível da imaginação, a igualdade

ocorra em sua totalidade. Para que as desigualdades sejam minimizadas e

para que não haja a dominação de uns sobre os outros, como seres diferentes,

as pessoas devem ser tratadas também de forma distintas. Para colocar todos

os membros de uma sociedade em condições equivalentes de disputa pelos

bens, torna-se necessário muitas vezes favorecer uns em desvantagens de

outros. (SÉGUIN, 2002; SILVA, 2003).

É sabido que a heterogeneidade é decisiva no enriquecimento de trocas

intelectuais, sociais e culturais. A diversidade no meio social é um fator crucial

no enriquecimento das trocas, dos intercâmbios intelectuais, sociais e culturais

43

que possam ocorrer entre os sujeitos que interagem. Uma empresa inclusiva é

aquela que acredita no valor da diversidade humana, consideram as diferenças

individuais, programa mudanças fundamentais em suas práticas

administrativas, realiza mudanças no ambiente físico, faz adaptação nos

procedimentos e em seus instrumentos de trabalho e treina todos os recursos

humanos no quesito da inclusão (SASSAKI, 1997; MANTOAN, 1997).

Uma sociedade pluralista é indispensável sob a ótica da dignidade

humana. Todos devem trabalhar no sentido de oferecer oportunidades,

garantindo instrumentos para que estimule a participação da coletividade, onde

se possam aproveitar as diferentes visões e experiências humanas

desenvolvendo o potencial de cada cidadão. A efetividade dos direitos de

PcDs, para acessarem o mercado de trabalho tem esbarrado na resistência

das empresas. Todavia, o principal obstáculo à efetivação de cotas de

empregos privados tem sido á falta de qualificação profissional (CRUZ, 2005).

Contrariando este enfoque, a Secretaria Nacional de Promoção dos

Direitos da Pessoa com Deficiência – SNPD discorda do argumento de que a

causa do não cumprimento da Lei de cotas seja resultado da ausência de mão

de obra qualificada desses profissionais. Parte-se do fato que existe pessoas

com deficiência disponíveis no mercado de trabalho, com qualificações não

muito diferentes daquelas apresentadas pelas pessoas sem deficiência, sendo

assim o nível de desocupação deveria ser equivalente. Cabe, portanto a

empresa, a responsabilidade de encontrar tais pessoas, e uma vez contratados

promover treinamento e capacitação destes trabalhadores em suas áreas de

atividades especificas (BRASIL, 2010).

Todavia, sabe-se da precariedade no campo educacional do Brasil no

atendimento as PcDs. A proporção daqueles que se educam de maneira

adequada é muito pequena, o que acaba refletindo e dificultando sua inserção

no mercado de trabalho. Poucos estão em escolas especiais, à falta de

formação dos docentes é uma barreira para que frequentem escolas regulares.

No que se refere à profissionalização, o quadro também é inquietante. Há

alguns esforços e investimentos neste sentido realizado por escolas do sistema

S (SENAC e SENAI) oferecendo cursos profissionalizantes a quem tem

deficiência, mas ainda pouco expressivos diante da grande demanda

(PASTORE, 2001).

44

Em concordância Cruz (2005) observa que, no campo educacional, a

pessoa com deficiência tem direito a um sistema próprio de educação que seja

flexível e adequado com a necessidade particular de cada um. As instituições

de nível superior também devem oferecer adaptações de provas e materiais a

essa comunidade. Infelizmente, estas instituições acabam não cumprindo tal lei

sobre a alegação que falta demanda de tal segmento. Assim, são raras as que

possuem professores capacitados e equipamentos adequados, o que denota a

dificuldade da PcD nesta área. Tal realidade reflete o argumento de Castro

(2013, p. 124) de que “o governo federal deixou de dar ao cidadão com

deficiência algo fundamental: educação”.

O Capital Humano é um dos principais instrumentos geradores de

riqueza, cada ser humano tem um valor específico, sendo importante resgatar

a consciência de que as pessoas não são um recurso perecível, mas sim um

bem valioso a ser desenvolvido. São as pessoas que tornam as organizações

viáveis, portanto é necessário que se invista nelas. Uma empresa ao contratar

um deficiente deve também pensar no desenvolvimento desta pessoa, através

de um treinamento adequado. Uma pessoa com deficiência é aquela

capacitada para o trabalho por meio de treinamento singularizado respeitando

sempre sua limitação, seja ela física, visual, auditiva ou mental. Se

devidamente preparada, essa pessoa pode apresentar qualidades pessoais e

profissionais da mesma maneira que um não deficiente (CARREIRA, 1997;

RUZZARIN, AMARAL, SIMIONOVSCHI, 2006).

É preciso que as instituições deem oportunidades e condições de

desenvolvimento para as pessoas com deficiência acessarem o mercado de

trabalho. Lacerda (199-) ressalta que os efeitos psicológicos do desemprego

podem ser tão prejudiciais quanto à própria deficiência, visto que para a

maioria das pessoas o trabalho além de meio de sobrevivência também se

confunde com a própria plenitude da vida.

Segundo Silva (1993) as pessoas não deficientes, têm sido

continuamente priorizadas para as vagas existentes no mercado de trabalho

em detrimento de pessoas com deficiência, como se estes fosse de classe

inferior. Apesar da maioria dos empresários fazer comentários positivos quanto

à contratação de pessoas com deficiência, são moderados ao falar sobre suas

dúvidas e receios.

45

No entendimento de Sassaki (1997), alguns dos principais fatores

internos de uma empresa que facilita a inclusão da pessoa com deficiência são:

adaptação no acesso físico nos locais de trabalho; revisão de políticas de

contratação de pessoal; revisão das descrições de cargos; revisão dos

programas de integração de novos empregados e de treinamento e

desenvolvimento de recursos humanos; revisão da filosofia da empresa;

capacitação do pessoal de recrutamento e seleção; cumprimento da legislação

nacional e das recomendações internacionais pertinentes ao trabalho; adoção

de programa de prevenção de acidentes e moléstias ocupacionais; facilitação

na aquisição de produtos tecnológicos que facilitem o desempenho dos

empregados com deficiências mais severas. Segundo Carreira (1997), um

administrador precisa entender que ao contratar alguém com deficiência, está

diante de uma força de trabalho e não de um incapacitado.

O processo de recrutamento e seleção deve ser igual à dos demais

funcionários, pois um tratamento diferenciado por si só já seria uma maneira de

discriminação. Em concordância sobre igualdade de tratamento, Gil (2002, p.

23) observa que “como qualquer outro funcionário, o desempenho do

profissional portador de deficiência deve ser avaliado dentro de critérios

previamente estabelecidos e acordados entre empregado e empregador”.

Quando uma empresa dá abertura para a contratação de deficientes,

está rompendo barreiras que excluem essas pessoas do processo laborativo.

Mas a partir do ato desta contratação surgem questões a serem examinadas,

como o obstáculo da compreensão por parte dos empregadores e empregados,

bem como a falta de experiência dos trabalhadores de conviver com pessoas

deficientes. O processo de inclusão não termina com a prática de dar

emprego, é importante que sejam asseguradas condições de interação destas

pessoas com os demais funcionários e com todos os demais com os quais a

empresa mantem contato. A tarefa de inclusão não pode parar no instante de

admissão, uma vez contratadas, tanto as pessoas com deficiência como as

empresas precisam, pelo menos por algum tempo, de apoio, aconselhamento e

acompanhamento (FURTADO, 2004; PASTORE, 2001).

46

5.4.1 A discriminação e o direito à diferença

Um dos desafios mais inquietantes e debatidos da contemporaneidade é

sobre atos discriminatórios. A discriminação pode se dar em dois níveis, direta

e indireta. Considera-se direta quando há qualquer restrição, exclusão ou

preferência ocorrendo de forma proibida. Já a indireta, acontece quando

ocorrem práticas, ainda que aparentemente neutras, que causem impactos a

indivíduos ou grupos, beneficiando alguns em detrimento de outros

promovendo assim o preconceito (RIOS, 2008).

Apesar dos avanços na esfera dos direitos humanos e das legislações,

uma vida sem discriminação ainda está longe de ser uma realidade. De um

lado a Constituição veda todo tipo de discriminação, de outro as pessoas que

carregam em seus corpos algo tido como anormal, continuam a sofrer com a

marginalização. Quando há preconceito por causa de raça ou sexo é

denominado racismo e sexismo, respectivamente, já quando o motivo da

discriminação é a deficiência, não há na língua portuguesa alguma expressão

que o defina. Existe a idealização de um padrão, e quem nele não se

encaixarem é inferiorizado, considerado improprio para a vida social e

produtiva (DINIZ e SANTOS, 2010).

Desta forma, Silva (2003) pressupõe a existência de dois tipos de

igualdade: material/real e formal. A igualdade material ou real é aquela que

assegura tratamento uniforme e efetivo de todos os homens perante os bens

da vida, idealizada, porém difícil de realizar. Já a igualdade formal, assegura

tratamento uniforme na lei e perante a lei. Niess (2003) salienta que todos são

iguais em direitos e obrigações, ser diferente também é um direito, em suas

palavras:

As pessoas portadoras de deficiência, como integrantes que são da sociedade, possuem direitos e deveres comuns a todos, sendo, inclusive, contribuinte de impostos diretos e indiretos. Têm, de outro lado, o direito de ver respeitadas as suas diferenças, com vistas ao tratamento isonômico na sua verdadeira acepção (NIESS, 2003, p.1).

Sarmento, Ikawa e Piovesan (2010) reforçam ao observarem que, os

direitos humanos traz em si uma ideia de diferença, e para que estes direitos

sejam respeitados há pelo menos três implicações a serem observadas: o

reconhecimento de direitos iguais na diferença; o reconhecimento de direitos

47

particulares e o reconhecimento da diversidade como algo importante. Goffman

(1988, p.11) afirma que “os corpos são espaços demarcados por sinais que

antecipam papéis a serem exercidos pelos indivíduos”. Baseado nesta posição

pode-se afirmar que a sociedade faz um prejulgamento, determinando os

atributos e a posição social que cada sujeito está apto a ocupar.

Em termos de legislação, a pessoa com deficiência está amplamente

amparada: lei contra discriminação, lei para acessar lugares públicos ou

privados, lei de transporte gratuito, lei de cotas trabalhistas; e assim por diante.

Mas as referidas leis não possuem por si só um efeito milagroso, ainda não foi

vencido o primeiro e pior obstáculo a que tais pessoas são expostas, a saber, o

preconceito e, agregada este, a visão de incapacidade. As ações afirmativas só

serão efetivamente concretizadas, quando as demais também forem

resolvidas. Nunca é demais lembrar que, com a onda de violência cada vez

mais crescente, a precariedade do trânsito nas grandes cidades somadas aos

acidentes de trabalho, torna a todos vulneráveis e ninguém está livre de ter de

viver com algum tipo de deficiência ou limitação (PANUZZIO, 2004).

Rios (2012) traz uma questão controversa acerca do conteúdo das

normativas de igualdade que, ao mesmo tempo em que afirma o direito à

diferença, proclama um direito geral. O autor questiona se a existência de uma

legislação específica de proteção para cada grupo socialmente inferiorizado

não seria por si só uma forma de discriminação, já que formalmente somos

todos iguais perante a lei. Mas reforça também que, nem sempre a adoção de

tratamentos diferentes se revela um maleficio. Na prática o princípio de

isonomia deve ser complementado, tendo em vista a inviabilidade de que todos

tenham seus direitos realmente alcançados. Acrescenta ainda, que a

verdadeira igualdade consiste em partilhar desigualmente aos desiguais, na

medida da sua desigualdade (RIOS, 2010).

Enriquecendo este conteúdo, Vasconcelos (2010) argumenta que não se

pode confundir a luta pelo respeito às diferenças com a preservação das

desigualdades, a busca pela justiça social não pode ser ofuscada pela

conquista do direito a diferença. Segundo o autor, se fixar somente nas

diferenças corporais ou funcionais, estimular-se-á a eternização dos desníveis

sociais e econômicos. A busca pela aceitação das diferenças não anula os

esforços para obtenção de equidade.

48

Rios (2008) define preconceito como percepções mentais negativas

sobre determinados indivíduos ou grupos, expressadas de diferentes maneiras

e intensidades. O termo discriminação caracteriza a materialização de atitudes

arbitrarias ou omissivas, conectadas ao preconceito que culmina na violação

dos direitos destes indivíduos ou grupos. Sendo assim, discriminação e

preconceito possuem conceitos diferentes, mas correlacionados.

Em 1998, realizou-se uma pesquisa que identificou as diferentes

concepções da sociedade a respeito de pessoas com deficiência. Tais

conceitos não têm muita relação com a realidade, mas apesar de distorcidas e

preconceituosas, fazem parte do cotidiano na qual tais pessoas têm que

conviver e exercer o seu oficio. Analisando como estas pessoas formam suas

crenças e valores, identificou-se cinco traços básicos que permeiam estas

percepções e que variam de acordo com a sociedade, classes sociais, nível de

educação e com o discernimento de reponsabilidade social. Segundo a

pesquisa, há uma ampla parcela de indivíduos que veem os deficientes como

seres infelizes, outros os consideram inúteis, há ainda os que os enxergam

como diferentes como oprimidos ou doentes (HUNT, 1998 apud PASTORE

2001).

Para Gil (2002) é normal às pessoas terem diferença de comportamento

nos processos inclusivos. A empresa tem o dever de sensibiliza-las, através de

orientações e propagação de princípios de respeito à diversidade e

responsabilidade social. A inclusão se dá mediante esforço coletivo, e só

haverá envolvimento coletivo se o espirito de equipe estiver despertado. Castro

(2013) sugere como agir no relacionamento com pessoas com deficiência: agir

com bom senso e naturalidade; no caso de querer ajudar sempre perguntar

qual a melhor maneira de proceder; não se ofender em caso de reusa visto que

nem sempre a ajuda é necessária.

Pinsky e Eluf (1993) observam que a cidadania é uma atitude que deve

ser praticada em todas as situações, e respeitar as diferenças é o que se

espera de cidadãos que lutam pela democracia e por um mundo mais justo.

Silva (1993) chega à conclusão que não é só o ser discriminado que precisa

ser trabalhado, mas também a realidade social na qual se pretende a

integração, para que todos sem exceção entendam os problemas em toda sua

complexidade e some esforços na busca de soluções.

49

50

6 PROPOSTA DO PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Nesta seção, pretende-se demonstrar o método de pesquisa utilizado e

as técnicas (instrumentos) utilizadas para a coleta e análise dos dados. Para

Michaliszyn e Tomasini (2012) metodologia é o ramo da lógica que se ocupa

dos métodos utilizados nos diferentes tipos de ciências. Já Gil (1999), define

método como o caminho utilizado para se chegar a um determinado fim; e

método científico como o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos

adotados para alcançar o conhecimento acerca de uma questão.

Desta forma, o capítulo da metodologia descreve os procedimentos de

fato utilizados, bem como a maneira que estes foram analisados (ROESCH,

2006). Neste capítulo são descritos os seguintes itens: abordagem e tipo de

pesquisa, definição da população alvo e plano de amostragem, plano de coleta

e análise de dados.

6.1 ABORDAGEM E TIPO DE PESQUISA

“A pesquisa é um conjunto de processos sistemáticos, críticos e

empíricos aplicados no estudo de um fenômeno” como descreve Sampiere,

Collado e Lucio (2013, p.30). Já Gil (1999), conceitua pesquisa como processo

formal e sistemático de desenvolvimento do método cientifico, cujo objetivo

fundamental é descobrir respostas para problemas por meio de procedimentos

científicos.

O presente trabalho foi baseado em uma abordagem de pesquisa do tipo

qualitativa por julgar mais adequada para retratar as percepções pessoais,

portanto mais subjetivas, dos profissionais de Recursos Humanos da empresa

e dos funcionários com deficiência. A pesquisa qualitativa responde a questões

muito particulares e se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade

que não pode, ou que dificilmente poderia ser traduzido somente em números

e indicadores. O enfoque qualitativo é escolhido quando se busca compreender

sobre fenômenos, pontos de vista, significados e opiniões sob a perspectiva

dos participantes. (MINAYO, 2011; SAMPIERI, COLLADO E LUCIO, 2013).

Flick (2009, p. 37) acrescenta que “a pesquisa qualitativa dirige-se a análise de

51

casos concretos em suas particularidades locais e temporais, partindo das

expressões e atividades das pessoas em seus contextos locais”

Quanto aos meios de investigação, além da pesquisa bibliográfica com

base em livros, revistas científicas e rede eletrônica, para a realização deste

trabalho foi realizado um mergulho mais aprofundado em uma unidade

individual, portanto refere-se a uma pesquisa exploratória pelo fato de examinar

uma realidade pouco conhecida proporcionando maior entendimento e maior

percepção, no caso a inclusão de deficientes no mercado de trabalho de uma

empresa em particular. As pesquisas exploratórias têm como principal intenção

esclarecer e transformar conceitos e ideias com o propósito de ampliar a visão

de determinada circunstância. Utiliza-se o estudo exploratório quando se tem

muitas dúvidas ou falta de conhecimento sobre o tema ou problema de

pesquisa (GIL, 1999).

6.2 DEFINIÇÃO DA POPULAÇÃO-ALVO E PLANO DE AMOSTRAGEM

“No processo qualitativo, a amostra é um grupo de pessoas, eventos,

acontecimentos, comunidades, etc., sobre o qual deveremos coletar os dados,

sem que necessariamente seja representativo do universo ou população que

estudamos” (SAMPIERE, COLLADO e LUCIO, 2013, p. 403). A amostragem

utilizada será do tipo não probabilístico, que não apresenta fundamentação

matemática ou estatística e depende exclusivamente de critérios do

pesquisador. As amostras não probabilísticas são as mais utilizadas nas

pesquisas e a escolha dos elementos depende das características de cada

pesquisa (GIL, 1999; SAMPIERE, COLLADO e LUCIO, 2013).

A amostra da pesquisa é composta de PcDs que trabalham na empresa

de transporte coletivo e os funcionários que trabalham na área de Recursos

Humanos, os mesmos serão escolhidos por acessibilidade ou por

conveniência, destituído de qualquer procedimento estatístico, cuja finalidade

não é a generalização dos dados. O interesse das indagações é concentrado

em participantes que ajude a entender o fenômeno de estudo (GIL, 1999;

VERGARA, 2010). A razão de a amostragem ser por conveniência, deu-se

para melhor adaptação dos horários da empresa e do pesquisador.

52

6.3 PLANO DE COLETAS DE DADOS

A coleta de informações foi realizada através de entrevista que “trata-se

do contato direto, face a face, entre o pesquisador e o entrevistado” como

descreve Michaliszyn e Tomasini (2012, p.56). A entrevista é, portanto, uma

forma de diálogo assimétrico onde uma das partes busca coletar dados e a

outra serve como fonte de informação. É essencial no estudo exploratório, por

ser um procedimento utilizado na investigação sobre assuntos humanos ou

para ajudar no conhecimento ou no tratamento de um problema social. É uma

das técnicas mais utilizadas na coleta de dados para saber o que as pessoas

sabem, sentem e esperam (GIL, 1999; MARCONI e LAKATOS, 2011).

A entrevista é aberta e semiestruturada seguindo um roteiro composto

de com 12 perguntas (apêndice A). Realizada de forma conjunta com uma

equipe de profissionais da área de Recursos Humanos da empresa, a qual eles

chamam de DH- Desenvolvimento Humano formada por uma Assistente Social,

a coordenadora de DH e uma representante da direção. Além da equipe,

realizou-se entrevista com 4 funcionários com deficiência, individualmente,

composta de 13 perguntas (apêndice B).

Para Roesch (2006), as perguntas abertas são a forma mais básica de

coleta de dados em pesquisa qualitativa, pois permitem ao pesquisador

entender a ótica dos respondentes. Segundo Flick (2013), a entrevista

semiestruturada tem o objetivo de obter visões individuais sobre determinado

tema, onde se espera que os entrevistados respondam da maneira mais livre e

extensiva que desejarem.

A seguir a Figura 2 mostra as características dos funcionários com

deficiência que participaram da pesquisa, que terão seus nomes alterados de

modo a preservá-los. A representante feminina terá o nome fictício de Helen e

os demais Antônio, Nelson e Cristopher.

53

Figura 2 – Características dos entrevistados

Entrevistado Descrição

Helen Sexo feminino, deficiência física, 54 anos, administrativo, trabalha há 5 anos na empresa.

Antônio

Sexo masculino, portador de HTLV I e II, 45 anos, cobrador, trabalha há 3 anos na empresa.

Nelson

Sexo masculino, deficiência mental, 34 anos, auxiliar de escritório, trabalha há 6 anos na empresa.

Cristopher

Sexo masculino, deficiência física, 58 anos, cobrador, trabalha há 25 anos na empresa.

Fonte: Dados oriundos da entrevista aplicada pela pesquisadora (2015)

6.4 PLANO PARA ANÁLISE DE DADOS

A análise trata-se da apresentação dos dados coletados e análise dos

resultados. A análise de conteúdo na perspectiva de Bardin (1977, p.31) “é um

conjunto de técnicas de análise das comunicações.” Utiliza-se a técnica como

tratamento das mensagens coletadas. A análise de conteúdo compreende três

fases distintas: pré-análise; exploração do material e por fim tratamento dos

resultados, inferência e interpretação. A autora salienta que enquanto a

linguística preocupa-se em descrever o funcionamento da língua, a análise de

conteúdo procura conhecer aquilo que está por detrás das palavras sobre as

quais está debruçada.

A documentação foi produzida através da edição ou transcrição dos

materiais da entrevista que serviram de base para análise efetiva,

apresentados na forma de texto. Na concepção de Sampieri, Collado e Lucio

(2013, p. 454) “transcrição é o registro escrito de uma entrevista, sessão de

grupo, narração, anotação e outros elementos similares”.

Gil (1999) destaca que a única maneira de reproduzir as respostas de

uma entrevista com precisão é registra-las durante o processo, mediante

anotações ou através do uso de um gravador. Segundo Roesch (2006), a

análise de conteúdo é o método mais utilizado na condução de análise de

54

textos em pesquisa científica. O método busca agrupar palavras, frases ou

parágrafos em categorias de conteúdo. De acordo com Flick (2009) a

categorização do material coletado é uma das características essenciais da

análise qualitativa de conteúdo.

A análise de dados seguiu o seguinte roteiro: transcrição das entrevistas;

leitura das informações; classificação em categorias; análise do conteúdo e

conclusão.

55

7 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Nesta seção é apresentado o perfil dos colaboradores com deficiência

da companhia, posteriormente serão analisados os dados adquiridos através

da entrevista concedida pelos funcionários com deficiência e com a equipe do

setor de Recursos Humanos. Para melhor análise e para responder os

objetivos, os textos originados da entrevista e as perguntas, conforme

demonstrado na Figura 3 (apêndice C), foram divididas em 3 blocos de

categorias que visaram abranger aspectos como características dos

trabalhadores, fatores de inclusão e relações no trabalho.

7.1 PERFIL DOS COLABORADORES COM DEFICIÊNCIA

A inclusão de pessoas com deficiência também faz parte da

responsabilidade social empresarial. As empresas são cada vez mais

pressionadas a assumirem o compromisso de promoção da diversidade com

vistas à redução dos desníveis sociais. Para garantir a inclusão foi criada a Lei

de Cotas, a partir da qual as empresas devem reservar um percentual de vagas

a funcionários com deficiência baseado no seu número total de funcionários.

O nível de ocupação de trabalhadores que apresentam deficiência é

muito baixo se comparado ao nível de pessoas sem deficiência (IBGE, 2010).

No momento o número de funcionários com deficiência, da empresa

pesquisada, soma um total de 35 em universo de 850 colaboradores efetivos.

Estando, portanto, dentro do percentual exigido na legislação, ainda assim

afirmam estar à procura de mais dois funcionários para trabalhar com uma

margem maior.

Seus perfis são variados, de acordo com a empresa não há restrições

especificas. A idade média é de 45 anos, sendo a idade do funcionário mais

jovem 21 anos e 64 anos o de maior idade. Observou-se que atuam em

diversas áreas: administrativo, manutenção, conservação de veículos e

infraestrutura, operação. A maior incidência encontra-se no operacional com

56

destaque para a função de cobrador (54%), sendo o cargo de motorista (9%) o

de mais difícil adaptação. Os demais estão pulverizados e distribuídos

conforme o gráfico a seguir:

Gráfico 5: Distribuição de pessoas com deficiência por cargo

Similar ao número total de pessoas com deficiência economicamente

ativa no país, onde homens são predominantes (IBGE, 2010), o percentual de

funcionários do sexo masculino também prevalece sobre o feminino. O quadro

funcional da empresa é constituído por 28 homens e 7 mulheres como mostra o

gráfico que está representado na forma percentual:

Gráfico 6: Distribuição de funcionários por gênero

Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados colhidos na organização

Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados colhidos na organização

57

Quanto ao tipo de deficiência à maioria possui deficiência física, seguido

por reabilitados e portadores de deficiência mental. Diferentemente do total de

brasileiros cuja deficiência visual é a mais constante (IBGE, 2010). A

deficiência do tipo sensorial é a que aparece com menor frequência como

demonstra o gráfico a seguir:

Gráfico 7:Distribuição por tipos de deficiência em valor absoluto

Fonte: elaborado pela autora a partir de dados colhidos na organização

De acordo com a equipe de DH a empresa enfrenta dificuldades na

contratação desses funcionários sendo a “qualificação dos profissionais

deficientes, interesse e adesão ao processo seletivo (ausência, desistências...)”

os maiores limitadores. Uma afirmação de Cristopher leva a crer que realmente

as organizações estão tendo certa dificuldade para admissão de PcDs pois

relata que “ano passado um banco me chamou porque eles não conseguem

deficientes, aí disseram que se eu souber de algum deficiente desempregado

pra mandar lá [...] Eles tão (sic) atrás porque a lei obriga”.

Segundo Pastore (2001) os fatores restritivos são múltiplos, se de um

lado há falta de aptidão alegada por empregadores do outro há desinformação

e preconceito. Corroborando com este ponto de vista, Cruz (2005) também

elege o despreparo ser o principal obstáculo da efetivação de cotas privadas,

alia-se com este fator a resistência das empresas. A seguir apresenta-se, no

Gráfico 8, o nível de escolaridade dos funcionários com deficiência. Tendo

58

como predominância o Ensino Fundamental Incompleto, somente uma pessoa

concluiu o Ensino Superior:

Gráfico 8: Distribuição quanto ao nível de escolaridade

Fonte: elaborado pela autora a partir de dados colhidos na organização

Fica evidente que a falta de qualificação, uma das principais dificuldades

na contratação das PcDs apontadas pela empresa também se evidencia no

baixo nível de escolaridade, 24 pessoas não completaram o nível médio. É

preciso investir mais na área do conhecimento, deve haver uma associação de

providencias legais, aprendizado e qualificação. Em um ambiente competitivo a

preparação se faz cada vez mais necessária, para tanto o ambiente escolar

deve proporcionar condições para que esse profissional chegue ao mercado de

trabalho melhor capacitado. Pastore (2001, p.79) discorre sobre o quanto é

essencial à boa educação ao dizer que “o desemprego atinge muito mais os

menos educados”.

Ao definirem a relevância do trabalho em suas vidas, os entrevistados

são unânimes em atribuir-lhe um lugar de destaque, e como descrito por

Séguin (2002) a sua percepção não fica circunscrita somente na teoria

econômica. Nas respostas evidenciaram-se vários significados como:

valorização pessoal, conquistas e envolvimento social. Cristopher argumentou

“eu sou deficiente se eu ficar parado hoje vai ser muito ruim, eu tenho minha

esposa tenho dois filhos, todos trabalham imagina, eu em casa não da pra

59

ficar, então o trabalho pra mim é importante, sempre foi e sempre será”, para

outro participante:

[...] tu trabalhando vai ganhar mais e o aposentado como deficiente vai ganhar muito menos, tu vai ter uma vida trabalhando ativa, tu vai se mexer, tu não vai ficar atirado dentro duma casa até pegar uma depressão porque ninguém se importa contigo, tu vai ver gente, tu vai no (sic) mercado, tu vai comer um xis, sei lá qualquer coisa. O meu ponto de vista como deficiente eu não quero ficar parado dentro de casa eu quero ter uma vida ativa como todo mundo tem até o final dos meus dias. (Antônio).

O comentário de Helen foi: “acho o trabalho importante, os benefícios

também né, que as pessoas conquistam, acho muito importante”. Há até quem

trabalhe em duas empresas em turnos diferentes, como é o caso de Nelson,

“agora eu trabalho em dois, nos dois turnos, a gente olha na rua e a gente

pensa: bah, mas é uma empresa grande, eu vou trabalhar ali, eu sempre

sonhei, eu sempre sonho pra cima, agora to (sic) aqui”. A Constituição

Federal/88 situa os valores do trabalho como um dos princípios de cidadania,

visão compartilhada por um dos entrevistados:

Esse negócio de 4 deficientes a cada cem funcionários é uma maravilha porque nós como deficientes vamos ser pessoa que vamos produzir, nós vamos ser mais respeitados, por quê? Porque nós trabalhamos, nós não tamos (sic) aposentados tirando dinheiro de quem tá (sic) trabalhando. Porque cidadão é o trabalhador, cidadania. (Antônio)

O trabalho é muito importante para o desenvolvimento de uma

sociedade, além de ser um instrumento de inserção. Trabalhar é um dos

principais exercícios de cidadania, assim sendo, quem não possui um trabalho

não participa diretamente do seu progresso. O trabalho tem importância

indiscutível na vida do ser humano, o desocupado, possuindo ou não

deficiência, tem a tendência de se sentir inadequado (SILVA, 1993).

Em relação ao tempo para acessar o mercado de trabalho todos

ingressaram rapidamente, como pode ser observado no relato de Nelson: “Eu

trabalho desde os 14 anos, meu primeiro serviço foi de lavar carros. Foi

esquisito, eu só sai do emprego lá passou um mês só e me chamaram aqui”.

Cristopher também começou a trabalhar na adolescência: “[...] aqui eu to (sic)

há 25 anos, comecei na verdade a trabalhar em 76, eu tinha vindo do interior

eu tinha uns 17 anos”. A resposta de Helen foi:

Eu trabalhava como atendente nos correios, então eu trabalhei 5

60

anos com contrato de 5 anos fechado, aí quando terminou o contrato eu tive que sair. Eu só peguei uma parcela do seguro desemprego quando eu fui pegar a segunda parcela eu já tava (sic) aqui.

Fica evidente o sentimento de gratidão por parte dos entrevistados com

deficiência, ainda que conscientes que a inclusão é um direito que os assiste

todos se sentem agradecidos pela instituição que os acolheu. Assim, se verifica

que embora a organização enfrente problema de atração, o mesmo não

acontece com a retenção, entre os respondentes todos trabalham há mais de 3

anos.

A equipe de DH quando questionada sobre como ocorre a decisão de

contratação, respondeu que se dá conforme as demandas das áreas e das

PcDs, segundo a mesma “são realizados levantamentos das demandas e

debatidas as ações e resultados em grupo multidisciplinar, entre as áreas da

empresa envolvidas”.

A maneira como eles ingressaram na organização foi semelhante, quase

todos os participantes tiveram acesso à vaga por intermédio de

relacionamentos pessoais. Helen entrou por intermédio de um parente, “[...] a

minha prima trabalha aqui né, então ela sabia que como eles tem vaga

específica pra PcD, aí ela me informou que tavam (sic) precisando de pessoas

e me indicou”. Nelson tinha um amigo que já trabalhava “Eu me escrevi e deixei

uma ficha na portaria, primeiro eu pedi pra um colega deixar aqui mas acho

que ele não deixou. Depois me chamaram, é que eu sou uma pessoa insistente

né quando eu quero eu vou atrás”.

Como encontrei a vaga aqui foi o meu sobrinho, eu era porteiro fazia serviço de guarda de rua, sou deficiente, semianalfabeto, tenho a terceira serie não sou muito bom em matemática [...] aí me deram até mais de uma oportunidade, é que algumas coisas eu errei sabe, prova de tabela, me lembro que a primeira vez me deu um branco. (Antônio)

O único que não foi admitido com intervenção de um amigo ou familiar

foi Cristopher que ingressou com o apoio de um dos dirigentes, “[...] os donos

da empresa que me deram uma chance, eu tinha vindo do interior e um dia fui

lá levei a carteira e eles me devolveram aí esse senhor tava (sic) no portão e

perguntou: não deu aí meu? Então vamos lá que agora vai dar, e to (sic) lá até

hoje”. Em seus depoimentos os entrevistados reforçaram a importância do

relacionamento, é importante ter bons contatos que possam fornecer alguma

61

referência ou fazer indicação.

A equipe de DH relatou que não utilizam o apoio de entidades

especializadas para contratação de seus funcionários

Já tivemos parcerias com consultorias especializadas na contratação de profissionais PcDs, porem, com pouca efetividade (não conseguimos efetivar contratações a partir dos candidatos encaminhados). Contamos com a contribuição da SRTE/RS – Superintendência Regional do Trabalho e Emprego, que envia currículos de pessoas com deficiência às empresas, e divulgamos nossas oportunidades nos meios de comunicação (cartazes nos ônibus, site da Empresa, busdoor em ônibus de treinamento, anúncios em jornais, etc.).

Em relação ao quesito da forma como é feita a seleção e recrutamento,

a declaração foi de que é realizada “da mesma forma como com os demais

candidatos. Não temos uma seleção especifica, ou separada para profissionais

com deficiência. Os requisitos da vaga podem ser flexibilizados, mas a seleção

é a mesma”. Conforme Carreira (1997) esta é a maneira correta de se recrutar

e selecionar, a seu ver este processo deve ser igual para todos indistintamente.

Quando os funcionários foram indagados sobre a existência de feedback

por parte da empresa, foram obtidas as seguintes respostas: Helen se referindo

a uma colega de trabalho, “geralmente é entre nós duas que trabalhamos

juntas né, então uma da pra outra, às vezes da nossa chefa por via email, por

telefone, esse tipo de coisa.” Na sequência Nelson testifica a afirmação anterior

de não ser muito recorrente o feedback por parte da chefia quando fala que

“reclamam às vezes quando eu falto. O gestor não fala muito, é meio quieto,

ele é calmo [...] ele é gestor né, então é uma pessoa bem séria.” Já Antônio

declara que:

“é bom receber elogios, mas o bom trabalhador sabe que melhora quando recebe a crítica né, se sabe que ta (sic) errado, então tu vai lá e melhora o teu trabalho, com certeza [...], tem que falar porque trabalho é trabalho e amizade é amizade, todo mundo é profissional. As vezes eu dou a minha opinião também na caixinha da empresa, o que tu acha do trabalho e eu acho importante ter isso ai”.

Como ponto positivo a empresa também procura obter a avaliação por

parte dos funcionários, como no dizer de Cristopher na declaração “todos os

anos tem perguntas que eles têm que mandar sabe lá pra onde, mas é muito

bom trabalhar aqui”. Mas é necessário que os gestores estejam mais

envolvidos no contato direto de comunicação com estes funcionários para

incentivar no processo de melhoria.

62

7.2 FATORES INCLUSIVOS

Para nivelar e garantir a igualdade de oportunidades foi criadas ações

afirmativas como a Lei de Cotas e a Lei Brasileira de Inclusão. Conforme

Pussoli (199-) a legislação tem sido uma ferramenta primordial para o equilíbrio

de possibilidades para quem tem alguma deficiência. Os respondentes

expuseram suas opiniões acerca da importância desta Lei sendo todos

favoráveis, a saber:

A lei é importante né, porque têm muitas pessoas que tem muita dificuldade, esses dois últimos empregos eu peguei através das cotas. Os benefícios também né que as pessoas conquistam também né, eu acho importante. (Helen)

Eu acho importante, eu tenho uma irmã que não caminha, eu acho muito difícil a empresa [...] essas pessoas se dar na empresa entendeu? .A lei de cotas foi importante porque tem muitos locais que não aceitam né, ainda existe no nosso país ainda existe muito preconceito. (Nelson )

Se não tivesse a lei de cotas hoje a maioria acho que estaria desempregado, talvez aqui nessa empresa não porque a empresa já tinha deficientes antes da lei, mas pra outras empresas se não tivesse essa lei de cotas aí nem entrava na porta. Graças a essa lei que tem um monte de deficiente ai que ta (sic) conseguindo emprego, porque senão tava (sic) fora. (Cristopher )

Um dos entrevistados foi mais além chegando a criticar duramente a

quem não trabalha, na sua visão a lei:

É importante pro (sic) deficiente que quer trabalhar, não pro (sic) deficiente que não quer, porque tem deficiente que não quer trabalhar. Infelizmente aqui no Brasil tem deficiente que vive e quer viver daquele salário mínimo [...] com todo respeito ele quer ser um ladrão de oxigênio, um parasita. (Antônio)

Que a lei de cotas trouxe benefícios aos deficientes é indiscutível, mas

na visão de Gil (2002) também pode trazer benefícios à empresa. Além do

cumprimento da determinação legal há outras motivações, como aumento de

prestigio, práticas de diversificação e humanização no ambiente de trabalho.

Interrogou-se também a equipe de DH para saber se, em sua compreensão, a

63

lei traz alguma vantagem à empresa em questão, da qual se obteve a seguinte

resposta:

Sim. Obtenção de qualidade e produtividade quando o PcD contribui para os objetivos da empresa, realizando suas atividades com responsabilidade e comprometimento. Estimular a ética social, a cidadania e a solidariedade no ambiente de trabalho. Atender as exigências legais a ser reconhecida como empresa socialmente responsável a que inclui, acolhe, desenvolve e retém talentos PcDs.

As pessoas são uns dos principais, senão o principal, instrumento de

riqueza faz-se necessário investimento por parte das corporações. É o ser

humano que torna uma organização viável, então é primordial que se invista

nele. Uma empresa ao contratar alguém com deficiência deve também pensar

no desenvolvimento desse indivíduo, pois quando devidamente preparadas

apresentam qualidades do mesmo modo que um não deficiente. (RUZZARIN,

AMARAL, SIMIONOVSCHI, 2006; CARREIRA, 1997).

Com base nestas afirmações se questionou os funcionários sobre a

participação em alguma atividade de aperfeiçoamento, ao que Helen

respondeu afirmativamente: “a gente faz cursos aqui, não especificamente pra

PcD, mas palestras [...] Já fiz cursos da ISO, 7S, reunião de setores e reuniões

da CIPA também”. Nelson ratifica “já participei de cursos de segurança do

trabalho, treinamento de fogo, já me capacitei também eu gosto de sempre

estar fazendo um curso, uma coisa”. Já Cristopher foi mais econômico com as

palavras ao apenas afirmar “Já participei de várias reuniões lá com a diretoria".

As pessoas com deficiência quando devidamente inseridas em funções

que possam desenvolver suas habilidades e conhecimentos, podem

proporcionar ganho de produtividade à empresa (GIL, 2002). Sobre o nível de

desempenho destes funcionários a equipe de DH tem a visão de que é

“variado, alguns superam as expectativas da empresa outros não atendem

satisfatoriamente as demandas da função”. Em relação à capacitação, obteve-

se a seguinte resposta: “a existência de treinamento prévio depende da vaga

para qual se candidata”.

Ao abrir as portas para o trabalho de pessoas com deficiência, as

empresas devem repensar nas condições de acessibilidade oferecidas, para

que dificuldades sejam neutralizadas ou pelo menos reduzidas. Garantir a

qualidade no acesso também faz parte do processo inclusivo (GUIMARÃES,

64

2010).

Como a deficiência possui atributos variados, podendo estes ser físicos,

sensoriais (auditivo ou visual), intelectuais ou até mesmo múltiplos, suas

dificuldades são igualmente diferentes, as adversidades são de acordo com a

particularidade de cada tipo de deficiência. Para analisar o cenário como um

todo e a infraestrutura oferecida pela organização instigou-se os funcionários

com deficiência a falar sobre as dificuldades arquitetônicas de acesso por eles

encontradas. Houve concordância entre os respondentes Helen e Antônio,

como ambos possuem deficiência nos membros inferiores, fizeram referência a

uma escada como maior obstáculo, Helen respondeu:

Pra locomoção eu não tenho dificuldade, claro, eu não consigo correr rápido, caminhar eu caminho normal, mas assim em acessos eu não tenho dificuldade. Na empresa não tem muita coisa com obstáculos, a única coisa seria uma escada, mas eu subo escadas também.

A resposta de Antônio foi: “a maior dificuldade pra mim como deficiente

físico é o pátio porque eu tenho que caminhar até aqui, apesar de que agora os

guris me trazem de ônibus e a escadaria, mas a escadaria geralmente tem um

colega na volta ali pra ajudar”, em seguida revelou se sentir constrangido às

vezes com a superproteção por parte de alguns colegas. Antes de ir amparar é

melhor se certificar de que a PcD realmente necessita de ajuda como sugerido

por (CASTRO, 2013).

O entrevistado Cristopher cuja deficiência reside nos membros

superiores, não encontra dificuldades de acesso: “graças a Deus não posso me

queixar de nada [...] não tenho nada do que reclamar”. Da mesma maneira

Nelson também não encontra nenhum impedimento. Quanto maior for à

autonomia do colaborador tanto melhor será seu rendimento. Castro (2013)

pontua que as instituições só têm a ganhar investindo em ambientes mais

acessíveis e mais democráticos; embora Silva (1993) saliente que o mercado

de trabalho não está preparado para assimilar indivíduos com deficiência.

Com relação as limitações no desempenho de tarefas, nem todos

entrevistados referiram encontrar problemas na realização de suas atividades.

Apesar de relutante na resposta Helen acha que “dentro do esperado que a

casa oferece ta (sic) bem”. Já Nelson cuja deficiência é intelectual, comenta

nem sempre compreender os comandos dados para a realização das tarefas:

“às vezes eu tenho alguma dificuldade então eu chego e pergunto como é que

65

quer se quer assim ou assado, agora estou bem, mas eu esqueço muito as

coisas”. O que demostra que devemos dar atenção especial às particularidades

de cada um, neste caso como o déficit é intelectual, as informações devem ser

objetivas e claras para facilitar a compreensão.

No caso do colaborador Antônio, que exerce a função de cobrador,

encontra contratempo no desnível dos bancos e fala que ás vezes prefere

trabalhar um pouco de pé, segundo ele é porque “as pessoas não são

exatamente do mesmo tamanho, então senta uma pessoa vamos dizer assim

um pouco obesa e vai soltando o parafuso, aí fica incômodo, é complicado”. Já

Cristopher deu uma resposta ambígua, ao mesmo tempo em que negou a

existência de empecilhos declarou enfrentar dificuldades na realização de

tarefas que exijam habilidades manuais, segundo ele “não tem muita

dificuldade, porque a coisa que eu não consigo fazer algum motorista bom

sempre me ajuda. Uma época atrás que tinha que trocar letreiro, sempre os

motoristas que faziam pra mim, agora que ta (sic) tudo moderno melhorou”.

Segundo o entender de Niess (2003), na definição dos requisitos dos

cargos as empresas devem levar em conta as deficiências e suas

características, a ocupação tem que ser compatível com a capacidade do

sujeito que irá desempenha-la. O cargo e a deficiência devem estar em

conformidade, devendo ser levado em conta à necessidade do uso de

tecnologia assistiva na contribuição de autonomia e aprimoramento do

desempenho.

Para acompanhar, ficar a par do comportamento destes colaboradores e

de seus desempenhos a equipe de Desenvolvimento Humano revela que é

feito:

Através do acompanhamento probatório, nos 90 e 300 dias de empresa, realizado por uma psicóloga (profissional ou em formação), e anualmente realizado acompanhamento do serviço social, realizado pela assistente social. Ha acompanhamento e avaliação para saber necessidades, dificuldades (ouvidoria).

Gil (2002) ressalta que como qualquer outro funcionário, o colaborador

com deficiência deve ter sua produtividade igualmente avaliada dentro de

preceitos previamente combinados entre as partes.

66

7.3 RELAÇÕES NO TRABALHO

Com legislação favorável e ações afirmativas correspondentes, é cada

vez mais perceptível a integração de pessoas com deficiência no centro do

convívio social e no mercado de trabalho. Relativo ao acolhimento por parte da

empresa no momento de ingresso, um participante relatou ter enfrentado certa

dificuldade de comunicação e resistência no começo, mas que foi solucionada:

Quando entrei foi tudo novidade né, pras pessoas também foi novidade, se bem que já tinha deficientes, mas os que estavam aqui eram diferente, eles tinham problema pra falar comigo e eu também no começo não conseguia me comunicar com eles, mas depois melhorou. (Nelson)

Antônio assume que no início entrou com certo receio, mas com o

passar do tempo essa desconfiança foi dissipada pela forma com que foi

recebido:

No começo foi não vou mentir, achei que fosse só por causa da cota, depois minha opinião mudou pelo jeito que eles me trataram. No início pode até ser que fosse só por causa da cota, mas como pessoa eles demonstraram um pouco de carinho por mim”.

Os demais afirmaram não ter encontrado problemas e sentiram-se bem

recebidos por todos. Para Panuzzio (2004) o preconceito e a desinformação

ainda é o empecilho crucial da igualdade e ainda precisa ser vencido.

Muitas vezes se tem uma compreensão distorcida a respeito do

desconhecido. Furtado (2004) observa que o processo inclusivo pode esbarrar

na inexperiência das pessoas de conviver com pessoas deficientes. O que

pode ser observado no relato de um participante, que referiu ter esbarrado em

resistência inicial simplesmente pelo fato dos profissionais não terem ainda se

relacionado com pessoas com seu tipo de deficiência. O setor de Recursos

Humanos deve auxiliar no processo de inclusão, caso contrário a pessoa

estará somente integrada tendo que se adequar ao cenário, sendo o propósito

maior a inclusão. A equipe deve facilitar e auxiliar nas situações conflitantes, a

fim de evitar práticas discriminatórias.

Em um processo inclusivo o público interno também deve ser preparado

para relacionar-se com as diferenças. Observou-se que sobre a questão de

relacionamento com os demais funcionários, segundo a descrição dos

entrevistados, acontece de maneira satisfatória.

67

Prezo muito a amizade, é fantástico, eu me emociono um pouco. Respeito todo mundo e quero ser tratado com o mesmo respeito, procuro ser melhor como eu sei que sou capaz, eu penso em ser o melhor. E outra coisa de bom, aqui os deficientes são iguais aos outros, eu como deficiente não gosto de ser tratado como o coitadinho. (Antônio)

Nelson enfatiza que possui mais afinidade com alguns colegas, dizendo

que: “Aqui todo mundo me trata bem, mas cada um é diferente né tem uns que

eu me dou mais, tem gente que me dou menos”. Depoimento que vai de

encontro à afirmativa de Niess (2003) que as pessoas são diferentes e têm o

direito de ver estas desigualdades respeitadas. Tanto Helen quanto Cristopher

asseguraram estarem satisfeitos com o relacionamento com os demais

colegas. Sassaki (1997) afirma que vivemos na fase da inclusão, na qual a

interação social entre os recursos humanos deve ser plena, pessoas com

deficiência não podem ser colocadas em setores específicos sem que haja

convívio com os demais.

A percepção do relacionamento entre os colaboradores com deficiência

e os demais do ponto de vista da equipe de Desenvolvimento Humano se dá

de maneira natural. A equipe se preocupa em preparar previamente os

funcionários para questões inclusivas, visto que os mesmos se relacionam com

PcDs tanto interna como externamente, o relato foi:

Relacionam-se como qualquer outro colaborador da empresa, é tratado da mesma forma e interagem com os colegas e setores da empresa assim como os demais colaboradores, há bastante solidariedade. Há palestras com funcionários contra a discriminação inclusive, colaboradores são treinados para lidar com PcDs tanto dentro como fora da empresa.

A ação de treinar e envolver os trabalhadores contra a discriminação

está de acordo com a concepção de Gil (2002), que menciona que as

empresas devem orientar e não impor, despertando o respeito dos funcionários

através de conversas, palestras e depoimentos. Quanto mais conhecimento

melhor, a informação é o início para se romper as barreiras do preconceito e da

promoção da diversidade em qualquer ambiente.

Foi possível perceber nos funcionários certa reticencia ao falar da

existência de preconceito e/ou discriminação sofrida entre colegas de trabalho,

mas quando convidados a falar de uma maneira mais generalizada sobre o

mesmo tema tiveram maior desenvoltura para falar. Nelson, que ficou com

problema intelectual após um acidente, mencionou que foi desacreditado

68

quando cursava o nível superior “Muitos colegas me perguntavam, mas tu na

faculdade? Acho que na cabecinha deles achavam que eu uma pessoa que

tinha problema não podia fazer a faculdade. Mas eu não esquentei”.

A explanação de Cristopher comprova a desinformação da sociedade,

ou a relutância de compreensão que alguém com deficiência possa ser

produtiva. Em sua fala Cristopher se contradiz primeiro relata haver pouca

discriminação para logo após falar o contrário:

As pessoas têm curiosidade de saber como é que eu trabalho como tu consegue, isso eu escuto quase todo dia. Isso vai de cada um eu acho, sei lá, eu tinha 9 anos quando fiquei deficiente, trabalhava no interior, na roça, eu na roça não ia poder fazer coisa nenhuma então vim pra cidade. Pra mim parece até que é pouca a discriminação assim, mas pelos outros eu vejo que há bastante.

Antônio ao falar sobre sua deficiência confessa sofrer preconceito: “eu

não falo pras pessoas o nome da minha doença sabe, porque me tratam como

aidético e nem chegam perto de mim, eles tem nojo até de mim, geralmente eu

só dou o código da doença que é infecção parasitaria”.

Conforme ressalta Furtado (2004) o ato de dar emprego não constitui

inclusão por si só, é imperativo que a organização possibilite a interação dos

funcionários com deficiência com todos os demais com os quais se tem

relação. O contato e a informação ajudam a desmistificar o universo da

deficiência e promove o processo de inserção. A inclusão de PcDs começa

com a ruptura de crenças equivocadas como as demonstradas na pesquisa de

Hunt (1998 apud PASTORE 2001).

69

8 CONSIDERAÇOES FINAIS

Neste capítulo são apresentadas as conclusões e as limitações

encontradas ao longo do trabalho, bem como as sugestões para futuras

pesquisas.

8.1 SÍNTESE CONCLUSIVA

O objetivo deste trabalho foi analisar o processo de adaptação, bem

como os obstáculos que uma grande organização enfrenta para se adequar a

legislação que estabelece a obrigatoriedade de que as empresas absorvam no

seu quadro funcional, pelo menos um número mínimo da população com

deficiência no mercado de trabalho. Para a viabilização da pesquisa, além de

buscar subsidio na fundamentação teórica, escolheu-se uma empresa de

grande porte que atua no ramo do transporte coletivo como objeto de estudo.

Constatou-se em primeiro lugar que a companhia já buscava o compromisso

de promoção da diversidade e inclusão anteriormente a ser determinado pela

legislatura.

Através das entrevistas realizadas com os profissionais com deficiência

e com uma equipe interdisciplinar que coordena o setor de Recursos Humanos,

foi possível evidenciar certo descompasso entre a oferta e a demanda destes

profissionais. Se de um lado os dados do IBGE (2010) mostram, que apesar

dos avanços ainda há poucos deficientes inseridos no mercado de trabalho, do

outro existe a dificuldade pela organização de contratar PcDs, fator em que

reside o maior obstáculo na efetividade. Ainda que tenha sido louvável a

intenção de inclusão, o fato é que mais do que exigir, é preciso preparar

pessoas para oferecer mão de obra qualificada ao mercado.

Para que pessoas com deficiência saiam da marginalização social e

como cidadãos tenham acesso aos recursos disponíveis a todos, é preciso que

os deem todo o suporte que se faz necessário para oportunizar. O processo

inclusivo deve ser multidirecional, tem que se dar em todas as instâncias. A

solução é desenvolver e capacitar o sujeito, antes de inseri-lo no mercado

laborativo.

70

Um mercado de trabalho inclusivo deve ser um somatório de educação,

preparação e políticas públicas. Como as empresas são as maiores

impactadas com a escassez de mão de obra, uma alternativa seria ela mesma

investir em seus futuros funcionários através de programas próprios de

treinamento ou patrocinando terceiros.

Outro obstáculo constatado, é que a lei de cotas não registra nenhuma

diferenciação para empresas que contemplam em suas atividades trabalhos

que dificultem ou que não permitam que os mesmos sejam realizados por

funcionários possuidores de limitações. A empresa não dispõe de muitas vagas

no setor administrativo ou operacional a não ser para cobradores e motoristas.

Isto acaba gerando dificuldades para alocarem PcDs visto que para ocupar o

cargo de motorista deve se cumprir exigências legais bem especificas, fato que

quase impossibilita alguém com deficiência preencher tal ocupação. Algumas

empresas deste segmento já tentaram sem sucesso entrar com recurso para

tirar motoristas do cálculo da soma do total de funcionários para chegar ao

percentual de cotas, diante desta circunstancia resta á organização somente à

opção de adaptar-se da melhor maneira possível a esse contratempo.

Através dos relatos dos entrevistados, observou-se que outro quesito

que pode ser revisto e melhorado é o relativo à acessibilidade. Apesar da

maioria dos funcionários com deficiência trabalharem fora das dependências da

companhia, pode-se investir em aperfeiçoamentos internos. Visto que a maioria

dos funcionários possui deficiência física, em um primeiro momento a criação

de um local e de materiais mais adequados de trabalho traria mais conforto e

preveniria acidentes laborais. Posteriormente, adequar também às demais

particularidades de outros tipos de deficiência, pensando em futuras

contratações, assim se diminui as restrições na hora de contratar.

Levando-se em consideração os aspectos analisados, entende-se que a

empresa até o presente momento vem conseguindo ser eficaz no seu processo

de inclusão. Têm a preocupação de não segregar estes colaboradores, dando-

lhes tratamento equivalente aos demais, desde a seleção e recrutamento até o

cuidado no que tange aos seus relacionamentos interpessoais no âmbito do

trabalho. O relacionamento entre colegas de trabalho acontece de maneira

natural. É inegável a existência do preconceito, mas com ações como

programas de conscientização contra discriminação, voltada tanto ao público

71

interno como externo, com certeza fará um ambiente mais tolerante e

humanizado. Nenhum ser humano é igual a outro, por mais semelhante que se

possa ser todos têm suas diferenças, o respeito à diferença deve ser

disseminado e as pessoas devem ser enxergadas antes da sua deficiência e

não o contrário.

Dessa forma, entende-se que a pesquisa respondeu ao problema

inicialmente proposto e seus objetivos. Com base nas teorias e através dos

relatos obtidos, concluiu-se que a companhia tem enfrentado certas

dificuldades como as anteriormente citadas, mas tem procurado exercer seu

papel empresarial no tocante à inclusão de pessoas com deficiência. O ideal

seria que a sociedade estivesse em um nível de evolução mais adiantado e

que o processo inclusivo ocorresse de forma espontânea, mas como estamos

longe disso infelizmente medidas como a Lei de Cotas ainda se fazem

necessárias, visto que produzem respostas mais imediatas e impacto mais

direto.

8.2 LIMITAÇÕES DA PESQUISA

Diante do estudo realizado, inicialmente identificou-se a escassez de

bibliografia referente ao tema, principalmente as mais atualizadas. Durante a

coleta de dados surgiram alguns obstáculos, um deles foi à dificuldade de

encaixar data de entrevista com os funcionários já que a maioria trabalha

externamente, isto limitou um pouco o tamanho da amostra. Outro fator

restritivo da pesquisa foi o fato de que no ano corrente houve a primeira

licitação da história para concessão do serviço de transporte coletivo na capital

que até então funcionava por permissão. Essa circunstância gerou muito

trabalho e inquietação na organização, o que acabou absorvendo toda a

atenção de seus dirigentes. Todo processo de entrevistas que tinha que ser

realizado na empresa deveria passar pela análise e aprovação destes,

ocasionando bastante dificuldade e demora na comunicação.

72

8.3 SUGESTÃO PARA FUTURA PESQUISA

O presente trabalho utilizou uma amostra relativamente pequena,

sugere-se que futuros estudos ampliem essa amostra e o torne mais

abrangente envolvendo ramos de atividades diferentes em uma mesma

pesquisa. Sendo um dos objetivos da pesquisa identificar as maiores

dificuldades de adaptações ocorridas no processo de inclusão no mercado de

trabalho, pode-se contribuir também com outras parcelas representativas da

sociedade, que de alguma forma sentem-se cerceadas em seus direitos de

exercer a cidadania. Neste sentido, sugerem-se futuros estudos para avaliação

de inclusão de outros grupos igualmente segregados e que se encontram em

situação de vulnerabilidade.

73

REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Salete Fábio. Projeto Escola Viva : garantindo o acesso e permanência de todos os alunos na escola : necessidades educacionais especiais. - Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2005 ARAÚJO, Luis Alberto David, in Igualdade, diferença e direitos humanos. SARMENTO, Daniel; IKAWA, Daniela; PIOVESAN, Flávia (Coord.) Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.

ASSIS, Olney Queiroz; PUSSOLI, Lafaiete; LACERDA, Vanderley Andrade de. Os direitos da pessoa portadora de deficiência. São Paulo: Lumen Editora, [199-].

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS E TÉCNICAS-ABNT. NBR ISSO 26000: Diretrizes sobre responsabilidade social. Rio de Janeiro, 2010.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edições 70, 2004.

BRAGANÇA, Soraya; PARKER, Marcelo (Org.). Igualdade nas diferenças: os significados do 'ser diferente' e suas repercussões na sociedade. Porto Alegre: Ed. UERGS, 2009. BONFIM, Symone Maria Machado. Atuação parlamentar sobre a deficiência in DINIZ, Debora; SANTOS, Wederson Rufino dos (Org.). Deficiência e discriminação. Brasília: Letras livres, 2010. Pgs. 257-283

BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm >. Acesso em: 17 maio 2015.

______. Decreto n. 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm>.

______. Lei n. 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L10098.htm>. Acesso em: 19 maio 2015.

______. Constituição (1988). Constituição da República federativa do Brasil de 1988. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>.

74

Acesso em 15 jul, 2015.

______. Conceito pessoa com deficiência para Lei de cotas, de 02 de dezembro de 2004. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5296.htm>. Acesso em 17 de maio de 2015.

______. Lei n. 6.949, de 25 de agosto de 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm>. Acesso em: 24 de maio 2015. ______. Secretaria de Direitos Humanos, 2010. Disponível em: <http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/node/767>. Acesso em out, 2015. ______. Tipos de deficiência, de 24 de abril de 2012. Disponível em <http://www.brasil.gov.br/saude/2012/04/tipos-de-deficiencia >. Acesso em 10 de jun. de 2015. ______. Lei de cotas completa 24 anos, de 24 de julho de 2015. Disponível em : <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/07/lei-de-cotas-para-pessoas-com-deficiencia-completa-24-anos>. Acesso em 20 de ago. 2015. ______. Estatuto da pessoa com deficiência, de 6 de julho de 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm.Acesso em out. 2015. ______.Pesquisa mensal de emprego. Disponível em < ftp://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Mensal_de_Emprego/fasciculo_indicadores_ibge/2015/pme_201506pubCompleta.pdf>. Acesso em 04 de agosto de 2015. CANGUILHEM, Georges, 1904-1905. O normal e o patológico. Tradução de Maria Thereza Redig de Carvalho Barrocas. 7° ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011. CARREIRA, Dorival. A integração da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. In: MANTOAN Maria Teresa Eglér (Org.). A integração de pessoas com deficiência: contribuições para uma reflexão sobre o tema. São Paulo: Memnom: Editora SENAC. São Paulo, 1997. P. 24-31

CASTRO, Jary de carvalho e. Ir e Vir: acessibilidade, compromisso de cada um. Campo Grande. Gráfica Gibim e Editora, 2013. CRUZ, Àlvaro Ricardo de Souza. O direito à diferença: as ações afirmativas como mecanismo de inclusão social de mulheres, negros, homossexuais e pessoas portadoras de deficiência. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2005.

DIAS, Elcio Pablo Ferreira in Direito das minorias: proteção e discriminação

75

no trabalho, NASCIMENTO, Grasiele Augusta Ferreira. (Org.), cap. O trabalho das minorias e os Principios constitucionais, p. 13-28, Campinas: Alínea, 2004. DINIZ, Debora; SANTOS, Wederson Rufino dos (Org.). Deficiência e discriminação. Brasília: Letras livres, 2010.

FILHO, Gilberto Stanieski. As leis que garantem a acessibilidade da pessoa com deficiência: Mito ou Realidade? In: BRAGANÇA, Soraya; PARKER, Marcelo (Org.). Igualdade nas diferenças: os significados do 'ser diferente' e suas repercussões na sociedade. Porto Alegre: UERGS, 2009. p.57-94.

FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.

FURTADO, Emmanuel Teófilo. Preconceito no trabalho e a discriminação por idade. São Paulo: LTr, 2004.

GARCIA, Eloy Julius. A luta do portador de deficiência contra o descaso da sociedade. In: BRAGANÇA, Soraya; PARKER, Marcelo (Org.). Igualdade nas diferenças: os significados do 'ser diferente' e suas repercussões na sociedade. Porto Alegre: UERGS, 2009. p. 7-9.

GELMAN, Jacob Jacques; PARENTE, Juracy Gomes (Coord.). Varejo socialmente responsável. Porto Alegre: Bookman, 2008.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. GIL, Marta (coord.). O que as empresas podem fazer pela inclusão das pessoas com deficiência, São Paulo : Instituto Ethos, 2002..

GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação de identidade deteriorada. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1988.

GUARESCHI, Pedrinho. (Pressupostos psicossociais da exclusão: competitividade e culpabilização) in SAWAIA, Bader (org.) As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.

GUIMARÃES, Raquel (Gênero e deficiência: um estudo sobre as relações de cuidado) in DINIZ, Debora; SANTOS, Wederson Rufino dos (Org.). Deficiência e discriminação. Brasília: Letras livres, 2010.

76

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 2010. Características gerais da população. IBGE, 2010. MANTOAN, Maria Teresa Eglér. A integração de pessoas com deficiência: contribuições para uma reflexão sobre o tema. São Paulo: Memnom: Editora SENAC. São Paulo, 1997.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2008. MICHALISZYN, Mario Sergio; TOMASINI, Ricardo. Pesquisa: orientações e normas para elaboração de projetos, monografias e artigos científicos.7. ed. Petrópolis: Vozes, 2012. MINAYO, Maria Cecilia de Souza (Org.), Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 30. Ed. Petrópolis: Vozes, 2011.

MOUSSATCHÉ, Ana Helena. Diversidade e processo de integração. In: MANTOAN, Maria Teresa Eglér (Org.). A integração de pessoas com deficiência: contribuições para uma reflexão sobre o tema. São Paulo: Memnom: Editora SENAC. São Paulo, 1997. P. 10

NASCIMENTO, Grasiele Augusta Ferreira. (Org.). Direito das minorias: proteção e discriminação no trabalho. Campinas: Alínea, 2004.

NIESS, Luciana Toledo Távora; NIESS, Pedro Henrique Távora. Pessoas portadoras de deficiência no direito brasileiro: doutrina e legislação. São Paulo: J. de Oliveira, 2003.

Organização Internacional do Trabalho-Promovendo o Trabalho Decente. Disponível em <http://www.oitbrasil.org.br/content/apresenta%C3%A7%C3%A3o> acesso em 27/07/2015

PANUZZIO, Danielle, in Direito das minorias: proteção e discriminação no trabalho.. NASCIMENTO, Grasiele Augusta Ferreira. (Org.). cap. Panorama sobre os portadores de necessidades especiais pg. 83-97. NASCIMENTO, Grasiele Augusta Ferreira. (Org.). Campinas: Alínea, 2004

PASTORE, José. As mudanças no mundo do trabalho: leituras de sociologia do trabalho. - São Paulo: LTr, 2006.

77

PASTORE, José. Oportunidades de trabalho para portadores de deficiência. São Paulo: LTr, 2001.

PINSKY, Jaime; ELUF, Luiza Nagib. Brasileiro(a) e assim mesmo cidadania e preconceito. São Paulo: Contexto, 1993.

QUINTÃO, Denise Teresinha da Rosa. Algumas reflexões sobre a pessoa portadora de deficiência e sua relação com o social. Psicologia & Sociedade. Canoas/RS, v.17, nº 1, p.17-28, jan./abr2005.

RIBEIRO, Marco Antônio e CARNEIRO, Ricardo . In: Organizações & Sociedade. Sep 20016(50):545-564; Salvador: Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia, 2009.

RIOS, Roger Raupp. Direito da antidiscriminação: discriminação direta, indireta e ações afirmativas. Porto Alegre: Liv. do Advogado, 2008.

RIOS, Roger Raupp. O direito da antidiscriminação e a tensão entre o direito à diferença e o direito geral de igualdade. Direitos Fundamentais & Justiça, 2012 v.6, n.18, p.149-168.

RIOS, Roger Raupp in DINIZ, Debora; SANTOS, Wederson Rufino dos (Org.). Deficiência e discriminação. Pgs. 73 a 96. Cap. Direito da antidiscriminaçao e discriminação por deficiência. Brasília: Letras livres, 2010

ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de estágio e de pesquisa em administração: guia para estágios, trabalhos de conclusão, dissertações e estudos de caso. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2006.

RUZZARIN, Ricardo; AMARAL, Augusto Prates do; SIMIONOVSCHI, Marcelo. Sistema integrado de gestão de pessoas com base nas competências. Porto Alegre, RS: AGE, 2006.

SAMPIERI, Roberto Hernández; COLLADO, Carlos Fernández; LUCIO, María del Pilar Baptista. Metodologia de pesquisa. 5. ed. Porto Alegre: Penso, 2013.

78

SARMENTO, Daniel; IKAWA, Daniela; PIOVESAN, Flávia (Coord.) . Igualdade, diferença e direitos humanos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. 3. ed. Rio de Janeiro: WVA, 1999

SAWAIA, Bader (org.). As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.

SÉGUIN Elida. Minorias e grupos vulneráveis: uma abordagem jurídica. Rio de Janeiro: Forense, 2002.

SILVA, Fernanda Duarte Lopes Lucas da. Princípio constitucional da igualdade. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003.

SILVA, Otto Marques da. Uma questão de competência. São Paulo: Memnon, 1993.

SPROVIERI, Maria Helena S. A integração da pessoa deficiente. In: MANTOAN, Maria Teresa Eglér (Org.). A integração de pessoas com deficiência: contribuições para uma reflexão sobre o tema. São Paulo: Memnom: Editora SENAC. São Paulo, 1997. p. 104-108.

TEM- Ministério do Trabalho e Emprego. A inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. 2 ed. Brasília: TEM, SIT, 2007.

VASCONCELOS, Fernando Donato. In: Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. Jun 2010, p.41-52; São Paulo

VERGARA, Sylvia Helena Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

VÉRAS, Maura Pardini Bicudo in SAWAIA, Bader (org.). As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.

WANDERLEY, Mariângela Belfiore in SAWAIA, Bader (org.). As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Sawaya, Bader (org.) Rio de Janeiro: Vozes, 1999.

79

APÊNDICE A – Roteiro de entrevista com funcionários de Recursos Humanos

Roteiro de entrevista com funcionários de Recursos Humanos:

· Quantos funcionários com deficiência a empresa possui?

· Que cargos ocupam?

· Qual o perfil destes profissionais (idade, sexo, formação, escolaridade)?

· Há dificuldade na contratação de PcDs? Se sim quais?

· Como ocorre a decisão de contratar PcDs?

· A empresa utiliza o apoio de entidades especializadas e/ou associações

de pessoas deficientes para contratação?

· De que maneira é feita a seleção e recrutamento?

· Considera que a lei de cotas traz benefícios para a empresa? Quais?

· Como você percebe o desempenho destas pessoas nas suas

atividades?

· Há um treinamento prévio?

· Após a contratação é realizado um acompanhamento dessas pessoas?

Se sim, como?

· Como você percebe o relacionamento destas pessoas com você e com

os outros funcionários?

80

APÊNDICE B - Roteiro de entrevista para funcionários com deficiência

Roteiro de entrevista para funcionários com deficiência:

· Qual seu tipo de deficiência?

· Qual setor você trabalha?

· Trabalha há quanto tempo aqui?

· Qual a importância do trabalho para você?

· Você demorou muito para entrar no mercado de trabalho?

· Como você encontrou a vaga?

· Você recebe retorno sobre seu trabalho por parte da empresa?

· Em sua opinião qual a importância da Lei de cotas?

· Participa ou já participou de alguma atividade ou curso de

aperfeiçoamento?

· Desde que você entrou quais as maiores dificuldades encontradas?

· Encontra alguma limitação para desenvolver suas tarefas diárias na

empresa?

· Sente-se bem acolhido pela empresa?

· Como é seu relacionamento com os colegas de trabalho?

81

APÊNDICE C – Quadro de alinhamento

Figura 3 – Quadro de alinhamento

Objetivo Geral

O presente estudo tem o objetivo de analisar a efetividade da lei que regula a contratação de deficientes, bem como as principais barreiras encontradas para a efetivação da mesma.

Objetivos específicos

Descrever o perfil dos funcionários com deficiência inseridos na organização e suas ocupações

Verificar a realidade das atividades inclusivistas na organização

Identificcar a existência de barreiras de obstáculos

Blocos

Trabalho e perfil dos colaboradores com deficiência

Fatores de inclusão Relações no trabalho

Roteiro Funcionários

· Qual seu tipo de deficiência?

· Qual setor você trabalha?

· Trabalha aqui a quanto tempo?

· Qual a importância do trabalho pra você?

· Demorou a entrar no mercado de trabalho?

· Como encontrou a vaga?

· Recebe retorno

sobre seu trabalho?

· Em sua opinião qual a importância da Lei de cotas?

· Já participou de alguma atividade de aperfeiçoamento?

· Quais as maiores dificuldades encontradas?

· Encontra limitações para desempenhar suas tarefas?

· Sente-se bem acolhido pela empresa?

· Como é seu relacionamento com os colegas de trabalho?

82

Figura 3 – Quadro de alinhamento (Continuação)

Roteiro Recursos Humanos

· Quantos funcionários com deficiência a empresa possui?

· Que cargos ocupam?

· Qual é o perfil

destes profissionais?

· Há dificuldades na contratação de PcDs?

· Como ocorre a decisão de contratar PcDs?

· Utilizam o apoio de entidades especializadas para contratação?

· De que maneira é feito a seleção e recrutamento?

· Considera que a Lei de Cotas traz algum benefício para empresa?

· Como você percebe o desempenho dos funcionários nas suas atividades?

· Há treinamento

prévio?

· Após a contratação é realizado acompanhamento destas pessoas?

· Como é percebido o relacionamento das PcDs com os demais funcionários?

Fonte: Elaborado pela autora