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0 FACULDADE DE DIREITO THIAGO DA SILVA ALMEIDA ALIENAÇÃO PARENTAL: NOSSA JUSTIÇA TEM FERRAMENTAS PARA ENFRENTÁ-LA? CANOAS 2015

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FACULDADE DE DIREITO

THIAGO DA SILVA ALMEIDA

ALIENAÇÃO PARENTAL: NOSSA JUSTIÇA TEM FERRAMENTAS PARA

ENFRENTÁ-LA?

CANOAS

2015

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THIAGO DA SILVA ALMEIDA

ALIENAÇÃO PARENTAL: NOSSA JUSTIÇA TEM FERRAMENTAS PARA

ENFRENTÁ-LA?

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora da Faculdade de Direito do Centro Universitário Ritter dos Reis, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: Profa. Ms. Claudia Ernst Pereira Rohden.

CANOAS

2015

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THIAGO DA SILVA ALMEIDA

ALIENAÇÃO PARENTAL: NOSSA JUSTIÇA TEM FERRAMENTAS PARA

ENFRENTÁ-LA?

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora da Faculdade de

Direito do Centro Universitário Ritter dos Reis, como requisito parcial à obtenção do título de

Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Orientador: Profa. Ms. Claudia Ernst Pereira Rohden

__________________________________________

Professor (a) Examinador (a)

__________________________________________

Professor (a) Examinador (a)

CANOAS

2015

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Dedico este trabalho aos meus pais, a minha família e a minha

namorada, pelo carinho e apoio a mim dedicado nos momentos de

apreensão.

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Agradeço a minha orientadora, Professora Claudia E. Rohden, pela

dedicação e pela ajuda ao longo dessa jornada.

Agradeço aos amigos e colegas pela colaboração nos momentos de

preocupação e, em especial, aos meus chefes e colegas da Defensoria

Pública do Estado do Rio Grande do Sul.

Ainda, agradeço à colega de aula e amiga, Natália Model, e ao meu

amigo Marcelo Flores pelas discussões que se constituíram de ajuda

fundamental para a realização desse estudo.

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"A decisão de ter um filho é uma coisa muito séria. É decidir ter,

para sempre, o coração fora do corpo".

E. Stone

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo esclarecer o que é e como ocorre a Alienação Parental.

Faz uma breve análise do afeto que permeia as relações de família. Aborda uma análise da Lei

da Alienação Parental. Estuda a diferença entre a Alienação Parental e a Síndrome da

Alienação Parental e suas consequências para as crianças e os adolescentes, bem como estuda

a figura do genitor alienador, mencionando alguns de seus comportamentos. A pesquisa faz

algumas considerações sobre o Poder Judiciário, como este lida com a Alienação Parental e,

muitas vezes, acaba se tornando um aliado inocente do alienador em virtude de denúncias

falsas, bem como realizada a análise de algumas decisões jurisprudenciais do Tribunal de

Justiça do Rio Grande do Sul. O foco principal da pesquisa é abordar ferramentas alternativas

e preventivas para coibir ou tentar diminuir a prática de alienação parental, destacando

medidas que já estão presentes em nosso ordenamento jurídico e outras que podem ser

utilizadas.

Palavras-chave: Alienação Parental. Síndrome da Alienação Parental. Consequências da

Alienação. Lei 12.318 de 2010. Poder Judiciário. Ferramentas Alternativas. Prevenção.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................7

2 A FAMÍLIA SOCIO AFETIVA...........................................................................................10

2.1 TÉRMINO DA RELAÇÃO CONJUGAL: UM DESAFIO TAMBÉM PARA OS

FILHOS.....................................................................................................................................11

2.2 CONVIVÊNCIA FAMILIAR: A BASE PARA O DESENVOLVIMENTO

PSICOLÓGICO E SOCIAL DA CRIANÇA............................................................................13

3 ALIENAÇÃO PARENTAL.................................................................................................15

3.1 ANÁLISE DA ALIENAÇÃO PARENTAL A LUZ DA LEI Nº 12.318/2010....................17

3.2 DIFERENÇA ENTRE SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL E ALIENAÇÃO

PARENTAL..............................................................................................................................26

3.3 AS CONSEQUÊNCIAS DA ALIENAÇÃO PARENTAL PARA AS CRIANÇAS E OS

ADOLESCENTES....................................................................................................................27

3.4 O COMPORTAMENTO DO ALIENADOR......................................................................28

4 A JUSTIÇA...........................................................................................................................31

4.1 COMO O PODER JUDICIÁRIO LIDA COM A ALIENAÇÃO PARENTAL..................32

4.2 O PODER JUDICIÁRIO COMO UM ALIADO INOCENTE DO ALIENADOR............33

4.2.1 As falsas denúncias de abuso sexual ou de maus-tratos.............................................35

4.2.2 Comparação dos sintomas do abuso sexual com os sintomas de alienação

parental....................................................................................................................................36

4.2.3 A implementação de falsas memórias...........................................................................38

4.3 DECISÕES JUDICIAIS.....................................................................................................39

5 UM CAMINHO PARA A BATALHA: AS FERRAMENTAS ALTERNATIVAS E

PREVENTIVAS PARA COMBATER A ALIENAÇÃO PARENTAL...............................44

5.1 PERÍCIA MULTIDISCIPLINAR: UM INSTRUMENTO FUNDAMENTAL PARA

AUXILIAR NAS DECISÕES JUDICIAIS..............................................................................45

5.2 TRATAMENTO PSICOLÓGICO COMPULSÓRIO DE PAIS.........................................48

5.3 AMPLIAÇÃO DA CONVIVÊNCIA COM O GENITOR ALIENADO............................50

5.4 DEPOIMENTO SEM DANO E SUA VIABILIDADE NAS VARAS DE FAMÍLIA.......51

5.5 GUARDA COMPARTILHADA COMO FORMA DE REDUÇÃO DE ALIENAÇÃO

PARENTAL..............................................................................................................................53

6 CONCLUSÃO......................................................................................................................58

REFERÊNCIAS......................................................................................................................60

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1 INTRODUÇÃO

Atualmente é comum e surpreendente o número de famílias desfeitas e ex-cônjuges

que não possuem capacidade de estabelecer um vínculo de respeito e harmonia, utilizando

seus filhos como instrumento punitivo de uns contra os outros. Essa prática é conhecida

como Alienação Parental e, no Brasil, foi sancionada a Lei de nº 12.318, de 26.08.2010,

que trata do tema, definindo-a como a interferência na formação psicológica da criança ou

do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou por aqueles que

detenham a criança ou o adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância para que

repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos

com este.

Assim, o presente trabalho estuda, primeiramente, a evolução do conceito de

família que atualmente deve ser aprimorada com base no afeto, observando a evolução da

sociedade e respeitando a possibilidade de diversos tipos de reconhecimento de entidades

familiares. Desse modo, considerando que o filho é o elo mais importante da família, o

presente estudo buscará abordar que o término da relação conjugal também é um enorme

desafio para os filhos, bem como a importância do convívio familiar para o seu

desenvolvimento psicossocial.

Por conseguinte, o presente trabalho busca esclarecer o que é Alienação Parental,

analisando pontualmente os artigos da Lei 12.318/2010, que tipificou a prática de

Alienação Parental e consequentemente tornou o assunto mais claro para sociedade e gerou

mais segurança para os operadores do direito. Ainda, aborda a diferença entre Síndrome da

Alienação Parental e Alienação Parental. A primeira trata da questão emocional da criança

e a segunda refere-se a prática do agente alienador em afastar o menor de quem o ama.

Examina, também, as consequências que essa prática traz para as crianças e adolescentes,

bem como o comportamento do agente alienador.

Considerando que a prática de Alienação Parental surge, principalmente, após

conflitos judiciais de separação e de divórcio com disputa de guarda ou pedido de

regulamentação de visitas, o presente estudo analisa o papel do Poder Judiciário e como

este lida com a Alienação Parental. Ainda, verifica que muitas vezes a justiça se torna um

aliado inocente do alienador diante das falsas denúncias de abuso sexual e de maus tratos,

bem como da difícil e demorada averiguação das acusações dessa natureza, faz-se

necessário aportar decisões judiciais, a fim de demonstrar como o Poder Judiciário está

buscando identificar e combater a prática de Alienação Parental.

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É evidente que há um prejuízo social com relação à prática de alienação parental,

uma vez que a probabilidade de reprodução futura dessa conduta é enorme, pois a falta de

solução acaba por contribuir e, inclusive, abstrair a importância de combater essa

síndrome.

Assim, o último capítulo elenca algumas ferramentas alternativas e preventivas para

combater a Alienação Parental, pois nossa justiça precisa de novas medidas e do apoio de

equipes multidisciplinares, havendo a necessidade de trazer profissionais de diferentes

áreas para dentro do processo, uma vez que são os profissionais que possuem diferentes

qualificações que podem auxiliar a resolução do conflito.

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2 A FAMÍLIA SOCIOAFETIVA

O Direito Brasileiro na atualidade tem indicado novos elementos que compõem as

relações familiares, indo além dos limites fixados pela Constituição Federal de 1988, mas

incluindo também seus princípios.1

O Código Civil de 1916 e as leis posteriores, vigentes no século passado, regulavam a

família constituída unicamente pelo casamento.2 Contudo, com a consagração do princípio da

dignidade da pessoa humana como cláusula pétrea da Constituição Federal de 1988 (art. 1º,

III, CF/88), além dos princípios básicos da família moderna, como o da liberdade e da

igualdade, uma nova ordem jurídica foi estabelecida, a qual deixa de lado o caráter econômico

e de procriação da família e prioriza um vínculo principal que é a afetividade.3

Segundo Paulo Lobo, no plano Constitucional, o Estado, antes ausente, passou a se

interessar de forma mais efetiva pelas relações de família em suas variáveis manifestações

sociais. Daí a progressiva tutela constitucional, ampliando o âmbito dos interesses protegidos,

definindo modelos, nem sempre acompanhados pela rápida evolução social, a qual engendra

novos valores e tendências que se concretizam a despeito da lei.4

Atualmente, a família deve ser aprimorada com base no afeto, observando a evolução

da sociedade e respeitando a possibilidade de diversos tipos de reconhecimento de entidades.

Não é cabível em nosso atual ordenamento jurídico nenhum tipo de exclusão preconceituosa

com base numa interpretação restrita da Constituição Federal.5

Nesse sentido, Arnaldo Rizzardo esclarece que o conceito de família que melhor se

adapta às novas regras jurídicas pode ser definido como o conjunto de pessoas com o mesmo

domicílio ou residência, e identidades de interesses materiais e morais, integrado pelos pais

casados ou em união estável, ou por um deles e pelos descendentes legítimos, naturais ou

adotados.6

A família é responsável pela criação e educação de seus filhos, pela orientação para

uma vida profissional e pelos ensinamentos de solidariedade doméstica e cooperação

1 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil: Direito de Família. 15.. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 39. v. 5. 2 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 32. v. 6. 3 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 30. 4 LOBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 17. 5 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 31. 6 RIZZARDO. Arnaldo. Direito de Família. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 12.

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recíproca. Ademais, é considerado o local, de extrema importância, onde se adquire os bons

ou maus hábitos que promovem influências na projeção social dos indivíduos, ou seja, a

família é a base para o desenvolvimento psicossocial do ser humano.7

Por fim, o que se espera de uma família é que transmita o cuidado, a proteção, a ética,

os ensinamentos de afeto, o desenvolvimento dos vínculos de pertencimento, a construção da

personalidade, a inclusão social na comunidade em que vivem, enfim, que proporcione uma

boa qualidade de vida a seus integrantes. No entanto, estas expectativas são apenas

possibilidades e não garantias.8

2.1 TÉRMINO DA RELAÇÃO CONJUGAL: UM DESAFIO TAMBÉM PARA OS FILHOS

[...] Se lembra quando a gente Chegou um dia a acreditar

Que tudo era pra sempre Sem saber

Que o pra sempre Sempre acaba [...]

Por Enquanto Legião Urbana

Os versos da música “Por Enquanto” da Legião Urbana mostram que durante o

casamento muitas são as expectativas em relação ao que se espera do outro, onde esperam um

relacionamento incessante e acreditam que o amor é eterno. Contudo, várias das expectativas

criadas nessa relação não são realistas, surgindo assim conflitos e crises advindos das

frustações e insatisfações das expectativas dos parceiros. 9 Assim, o amor acaba e as

separações acontecem, restando mágoas, grandes ressentimentos e um enorme desejo de

vingança.10

A família, por um motivo ou outro, seja pela vontade, seja pela morte, será

dissolvida.11 Aceitar o fim do relacionamento pode ser muito difícil, ainda mais quando se

percebe que a pessoa por quem se foi tão apaixonado, por quem um dia se “entregou de corpo

7 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil: Direito de Família. 13.. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 14. v. 5. 8 CARVALHO, Maria do Carmo Brant de. O lugar da família na política social. In: CARVALHO, Maria do Carmo Brant de (coord.). A família contemporânea em debate. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2002. p. 15. 9 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 46. 10 DIAS, Maria Berenice. Alienação parental: um crime sem punição. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 5. 11 ALEXANDRIDIS, Georgios; FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Alienação parental. 2.. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 37.

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e alma”, possa nos decepcionar provoca enorme desilusão. O que mais gera angustia é

constatar do que essa pessoa é capaz de fazer para atrapalhar a relação com um filho que

tiveram, sendo este, muitas vezes, o bem mais precioso que o ser humano possa ter. A enorme

dificuldade de lidar com o desgastante emocional do processo de separação e divórcio não se

compara ao vazio de viver sem presenciar as descobertas do filho, sem acompanhar o

aprendizado diário e, principalmente sem a troca de carinho.12

Já os filhos sofrem diversas consequências diante da conflituosa separação de seus

genitores, visto que não são somente atingidos pela alteração judicial da estrutura familiar,

mas sim pelas perdas advindas desse fato e, muitas vezes, são incluídos nessa batalha como

um instrumento de agressividade em relação às pessoas que ela possui maior vínculo e

necessidade afetiva.13

A separação de fato do casal não quer dizer que houve a separação emocional.

Frequentemente no momento do término da relação conjugal estão presentes questões

emocionais não resolvidas pelo ex-casal, sendo que estes ainda continuam vivenciando

sentimentos de ódio, traição, desilusão com o casamento e uma vontade consciente, ou não,

de se vingar do ex-companheiro pelo sofrimento causado. Assim, como mencionado

anteriormente, os filhos, por vezes, são envolvidos no conflito como uma forma de atingir o

ex-cônjuge, o que acaba contribuindo para a manutenção do litígio.14

Assim, vale transcrever trecho da poesia de Fabrício Carpinejar:

Não xingue o pai de seu filho usando o que ele foi como marido. Não xingue a mãe de seu filho usando o que ela foi como esposa. Ele pode ser um excelente pai e um péssimo marido. Ela pode ser uma excelente mãe e uma péssima esposa. É preciso separar as duas condições. Para evitar represálias, para evitar que a criança não fique traumatizada. O que costuma acontecer: os pais desabafam para o filho tudo o que deu errado no casamento. Expõem o ódio. Criticam o ex abertamente. Lavam a roupa em público. A criança fica em pânico, não entende qual lado defender(...)15

Nesse sentido, Jorge Trindade explica que o conflito poderá exigir dos filhos a tomada

de posições mais ou menos particularizadas que, não raro, proporcionam conflitos de lealdade,

12 PALERMO, Roberta. Ex-marido, pai presente: Dicas para não cair na armadilha da alienação parental. São Paulo: Summus Editorial, 2012. p. 29. 13 SOUZA, Juliana Rodrigues. Alienação parental sob a perspectiva do direito à convivência familiar. 1. ed. Leme: Mundo Jurídico, 2014. p. 98. 14 SOUSA, Analícia Martins de. Síndrome da alienação parental: Um Novo Tema nos Juízos de Família. São Paulo: Cortez, 2010. p. 21. 15CARPINEJAR, Fabrício. Uma ausência inexplicável. 23 abril 2013. Disponível em: <http://carpinejar.blogspot.com.br/2013/04/uma-ausencia-inexplicavel.html>. Acesso em: 23 set. 2015.

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às vezes de lealdades invisíveis.16

O Estatuto da Criança e do Adolescente, mediante os artigos 3º, 4º e 130, protege o

menor contra qualquer tipo de tortura, seja física ou psicológica, por quem quer que seja,

especialmente por aqueles que têm o dever de protegê-lo.17

Segundo Andréa Pachá:

É pelo afeto e pelo diálogo que as injustiças podem ser reduzidas. Os filhos aprendem muito mais pelo exemplo do que pelos discursos e não há exemplo mais absoluto do que a incondicionalidade do amor de uma alma que traz outra alma ao mundo.18

Assim, é dever dos pais, bem como do poder Judiciário, com o apoio multidisciplinar,

nesse momento de término da relação conjugal, buscar, independentemente dos motivos que

levaram a dissolução, preservar o melhor interesse do filho, evitando assim que a crise

conjugal se transforme em uma crise familiar.

Por fim, cabe aos operadores do Direito e aos demais profissionais envolvidos nesse

tema, como os psicólogos e os assistentes sociais, preservar e garantir não apenas a

convivência da criança e do adolescente com ambos os genitores, mas também assegurar o

seu desenvolvimento como membro de uma família, que mesmo modificada continua sendo

um lugar de proteção e acolhimento.19

2.2 CONVIVÊNCIA FAMILIAR: A BASE PARA O DESENVOLVIMENTO

PSICOLÓGICO E SOCIAL DA CRIANÇA

Conforme já mencionado anteriormente, o conceito atual de família é centrado com

base no afeto, assim, a convivência dos filhos com os pais não é direito, é dever. O

afastamento entre pais e filhos produz sequelas emocionais que podem deixar reflexos

permanentes em sua vida.20

A formação psicossocial adequada que uma criança precisa é influenciada sem sombra

16 TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2004. p. 187. 17 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 58-59. 18 PACHÁ, Andréia. A vida inventada. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA, Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 220. 19 SOUZA, Juliana Rodrigues. Alienação Parental: Sob a perspectiva do direito à convivência familiar. 1. ed. Leme: Mundo Jurídico, 2014. p. 100-101. 20 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 469-470.

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de dúvidas pelo bom relacionamento e exercício das funções parentais a ela direcionadas.21

Nesse sentido explica Juliana Rodrigues de Souza:

A denominação poder familiar deriva de cuidados especiais que os adultos devem ter com relação à criança e ao adolescente, principalmente, àqueles que estão em fase de desenvolvimento. A criança e o adolescente precisam, no início de suas vidas e na fase de construção da sua personalidade, alguém para dirigir-lhes a criação e a educação, defender seus direitos, transmitir amor, atenção, carinho, respeito, entre tantas outras funções. Essas tarefas são, geralmente, exercidas pelos pais através do instituto poder familiar.22

Os filhos têm o direito à convivência familiar com os pais e têm a necessidade inata do

afeto do seu pai e da sua mãe, pois o amor constrói a estrutura psíquica da prole e cada genitor

tem uma função específica nesse desenvolvimento.23

Assim, as crianças e os adolescentes precisam ser nutridos do afeto de seus genitores,

não apenas pela proximidade física, mas principalmente pela proximidade emocional, uma

vez que os princípios transmitidos pela família são fundamentais para o suporte psíquico e

para a futura inclusão dos filhos na sociedade.24

21 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 56. 22 SOUZA, Juliana Rodrigues. Alienação Parental: Sob a perspectiva do direito à convivência familiar. 1. ed. Leme: Mundo Jurídico, 2014. p. 81-82. 23 MADALENO, Rolf. O preço do afeto. In: PEREIRA, Tânia da Silva; PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coords.). A ética da convivência familiar: sua efetividade no cotidiano dos tribunais. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 152 e 159. 24 MADALENO, Rolf. O preço do afeto. In: PEREIRA, Tânia da Silva; PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coords.). A ética da convivência familiar: sua efetividade no cotidiano dos tribunais. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 152.

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3 ALIENAÇÃO PARENTAL

A denominação “Síndrome da Alienação Parental” (SAP) surgiu como nomenclatura

para definir uma série de sintomas associados. O fato é que era necessário conceituar um

problema que já se constatava desde o fim do século passado.25

Os primeiros registros do termo “síndrome da alienação parental” surgiram em 1985,

quando Richard Gardner (1931-2003), professor da Clínica Infantil da Universidade de

Columbia e membro da Academia Norte-americana de Psiquiatria da Criança e do

Adolescente, iniciou as pesquisas sobre o tema26, pois se interessou pelos sintomas que as

crianças desenvolviam nos divórcios litigiosos.27

Assim, Richard Alan Gardner conceitua a Síndrome da Alienação Parental da seguinte

forma:

A Síndrome de Alienação Parental (SAP) é um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no contexto de disputas de custódia de crianças. Sua manifestação preliminar é a campanha denegritória contra um dos genitores, uma campanha feita pela própria criança e que não tenha nenhuma justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor (o que faz a “lavagem cerebral, programação, doutrinação”) e contribuições da própria criança para caluniar o genitor-alvo. Quando o abuso e/ou a negligência parentais verdadeiros estão presentes, a animosidade da criança pode ser justificada, e assim a explicação de Síndrome de Alienação Parental para a hostilidade da criança não é aplicável.28

Gardner é considerado um dos maiores especialistas nos temas de separação e divórcio

e observou que, na disputa judicial, os genitores deixavam claro em suas ações que o desejo

maior era ver o ex-cônjuge afastado dos filhos.29

Nesse sentido, Jorge Trindade esclarece que a Síndrome da Alienação Parental é um

transtorno psicológico que se caracteriza por um conjunto de sintomas pelos quais um genitor,

denominado cônjuge alienador, transforma a consciência de seus filhos, mediante diferentes

formas e estratégias de atuação, com o objetivo de impedir, dificultar, destruir seus vínculos

com o outro genitor, denominado cônjuge alienado, sem que existam motivos reais que

25 PALERMO, Roberta. Ex-marido, pai presente: Dicas para não cair na armadilha da alienação parental. São Paulo: Summus Editorial, 2012. p. 15. 26 PALERMO, Roberta. Ex-marido, pai presente: Dicas para não cair na armadilha da alienação parental. São Paulo: Summus Editorial, 2012. p. 15. 27 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 23. 28 GARDNER, Richard A. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome de Alienação Parental (SAP)? Tradução por Rita Rafaeli. 2002. Disponível em: <http://www.alienacaoparental.com.br/textos-sobre-sap-1/o-dsm-iv-tem-equivalente>. Acesso em: 19 set. 2015. 29 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 23.

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justifiquem essa condição.30

A alienação parental consiste em um jogo de manipulações do alienador que tem por

objetivo principal: afastar o outro do convívio com o filho e manter essa relação quase que

exclusivamente com ele.31 Cria-se, nesses casos, em relação ao filho, a situação conhecida

como “órfão de pai vivo”.32

Denise Maria Perissini da Silva esclarece que o processo de alienação pode acontecer

de duas formas principais. A primeira delas é o bloqueio de todo o tipo de contato, na qual o

argumento utilizado pelo agente alienador é de que o outro genitor não pode se ocupar das

crianças por falta de tempo, que estes passam a se sentir mal quando voltam das visitas ou que

a visita não é conveniente, tendo em vista que não há tempo suficiente para adaptação. Assim,

a mensagem passada à criança é que não é agradável estar com o outro genitor. A segunda

forma é construída pelas denúncias de falsos abusos, tanto sexual quanto emocional, alegando

que o filho não recebe os cuidados necessários durante a estada com o outro.33

Diante da necessidade de regulação do tema foi sancionada a Lei n. 12.318/2010, que

trata da alienação parental, importante instrumento para que seja reconhecida uma situação

de extrema gravidade e prejuízo à pessoa do menor e daquele que está sujeito a ser

vitimado.34

Cumpre referir que a lei que foi promulgada no Brasil não trata especificamente da

Síndrome da Alienação Parental, e sim, do comportamento de Alienação Parental.35

Assim, é necessário ter cautela quando se analisa um caso que envolve Alienação

Parental para não enquadrar quaisquer situações nessa matéria e deixar a criança em uma

situação de risco, vulnerável a abuso e maus-tratos, mas também resguardar os vínculos

parentais saudáveis, que devem ser preservados independente dos interesses ou desinteresses

dos ex-cônjuges, pois é um direito da criança e do adolescente.36

30 TRINDADE, Jorge. Manual de psicologia jurídica para operadores do direito. 6. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. p. 196. 31 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 55. 32 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 305. v. 6. 33 SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome de alienação parental - o que é isso? 2. ed. Campinas: Armazém do Ipê, 2011. p. 56. 34 ALEXANDRIDIS, Georgios; FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Alienação parental. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 45. 35 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 65. 36 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 65.

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3.1 ANÁLISE DA ALIENAÇÃO PARENTAL A LUZ DA LEI nº 12.318/2010

A Lei de Alienação Parental vem para afastar do campo do direito a hipótese que a

prática de alienação parental não existe, tento em vista que, a partir de sua tipificação, ela se

torna formalizada e consequentemente tem mais valor diante da sociedade e passa mais

segurança aos operadores do direito.37 Nesse sentido, dispõe o artigo 1º: “Esta Lei dispõe

sobre a alienação parental.”.38

Provavelmente, uma lei não muda integralmente o comportamento do ser humano,

mas provoca, muitas vezes, uma coação para praticar tal ato. Mesmo já havendo ferramentas

jurídicas para prevenir ou diminuir a prática de alienação parental, uma lei específica, sem

dúvida, é de grande importância para a sociedade.39

Além disso, a Lei também surge como uma tentativa de combater a lentidão do poder

Judiciário, uma vez que há previsão legal, quando comprovada a alienação parental, que o

processo tramite com mais rapidez, resguardando, assim, o melhor interesse da criança ou

adolescente.40

O artigo 2º define alienação parental, vejamos:

Art. 2º: Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.41

Nota-se que é exemplificativo o conceito, as hipóteses e os sujeitos que podem

incorrer na prática de alienação parental.42 Trata-se da situação em que a genitora, o genitor

ou qualquer outra pessoa, que tenha autoridade parental, manipulem a criança ou o

adolescente com o intuito de romper laços afetivos com um dos genitores.43 Assim, constata-

37 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 116. 38 BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 30 out. 2015. 39 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 41. 40 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 118. 41 BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 30 out. 2015. 42 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 42. 43 SOUZA, Juliana Rodrigues. Alienação Parental: Sob a perspectiva do direito à convivência familiar. 1. ed. Leme: Mundo Jurídico, 2014. p. 105.

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se que não fica restrita a figura do alienador à pessoa de um dos genitores, podendo ser

qualquer parente próximo desse menor.44

Vale salientar que parentes, tais como os avós e tios, também podem sofrer com a

alienação parental, contudo está lei também os protegerá, pois é direito da criança e do

adolescente conviver com seus familiares, conforme dispõe o art. 1.589 do Código Civil.45

O parágrafo único do artigo 2º exemplifica atos considerados como alienação parental:

Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros: I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade parental; III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.46

O rol de exemplos que a norma expõe advém de práticas que podem vir a dificultar a

convivência familiar.47 Esse modo de agir do alienador pode ser intencional ou não, por vezes

sequer é por ele percebido, pois se trata, frequentemente, de má interpretação e

direcionamento equivocado das angustias decorrentes do término da relação conjugal.48

Nesse sentido explica o professor Douglas Phillips Freitas:

Essa conduta, intencional ou não, desencadeia uma campanha de modificação nas emoções do alienador e da criança, na sequência, que a faz produzir um sistema de cumplicidade e compreensão da conduta do alienante, ora justificando, ora praticando (a criança) atos que visam a aprovação do alienante, que joga e chantageia sentimentalmente o menor, com expressões do tipo: “você não quer ver a mãe triste, né?”, entre outras.49

44 ALEXANDRIDIS, Georgios; FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Alienação parental. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 51. 45 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 42. 46 BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm.>. Acesso em: 02 nov. 2015. 47 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 122. 48 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 43. 49 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 43.

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O próprio texto do parágrafo único do artigo 2º da Lei da Alienação Parental informa

apenas alguns exemplos de elementos que identificam a conduta do alienador50, tendo em

vista ser quase impossível expor todos os meios utilizados pelo agente na sua missão de fazer

a criança romper laços afetivos com outrem.51

Nesse sentido, cabe ao poder Judiciário agir para reverter essa situação, pois pode o

juiz, por exemplo, afastar o menor do convívio da mãe ou do pai, mudar a guarda ou até

mesmo destituir ou suspender o exercício do poder parental.52

O artigo 3º desta Lei preserva o Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa

Humana, pois o afastamento de qualquer um dos genitores ou de parentes próximos

importantes para o desenvolvimento e a formação psicossocial do menor viola a dignidade da

criança por estar em fase de evolução, passando ela a ser manipulada por atos praticados pelo

agente alienador.53 O referido artigo assim dispõe:

Art. 3º: A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda.54

A dignidade da pessoa humana é um princípio constitucional fundamental em nosso

ordenamento jurídico, vez que prevista no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal.55

Nesse sentido explica Maria Berenice Dias:

É o princípio maior, fundante do Estado Democrático de Direito, sendo afirmado já no primeiro artigo da Constituição Federal. A preocupação com a promoção dos direitos humanos e da justiça social levou o constituinte a consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional. Sua essência é difícil de ser capturada em palavras, mas incide sobre uma infinidade de situações que dificilmente se podem elencar antemão. Talvez possa ser identificado como sendo o princípio de manifestação primeira dos valores constitucionais, carregado de sentimentos e emoções. É impossível uma compreensão exclusivamente intelectual e, como todos os outros princípios, também é sentido e experimentado no plano dos afetos.56

50 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 43. 51 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 122. 52 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 306. 53 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 122-123. 54 BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 02 nov. 2015. 55 ALEXANDRIDIS, Georgios; FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Alienação parental. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 62. 56 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 65.

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Além desse princípio, a prática de alienação parental fere o direito à convivência

familiar saudável previsto no artigo 227 da Constituição Federal.57

Esse artigo também subsidia a conduta ilícita e abusiva por parte do agente alienador

que corrobora o pedido de danos morais, além de outras medidas de cunho ressarcitório ou

inibitório.58

A Lei traz a possibilidade de tramitação prioritária e garantia mínima de visitação

assistida, conforme dispõe o artigo 4º:

Art. 4º: Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso. Parágrafo único. Assegurar-se-á à criança ou adolescente e ao genitor garantia mínima de visitação assistida, ressalvados os casos em que há iminente risco de prejuízo à integridade física ou psicológica da criança ou do adolescente, atestado por profissional eventualmente designado pelo juiz para acompanhamento das visitas.59

O artigo 4º da Lei prevê que o reconhecimento da prática de alienação parental por

parte de um dos genitores pode ser feito não só pelo genitor vitimado, mas também pelo

próprio juiz ex officio, ou mesmo pelo representante do Ministério Público, por se tratar de

matéria de ordem pública relativa à proteção da criança ou do adolescente.60

A ação de julgamento de alienação parental pode ser uma ação originária autônoma ou

pode ser incidental, uma vez que pode ser requerida a averiguação quando algum outro

processo envolvendo as partes estiver tramitando, tais como divórcio, ação de guarda,

regulamentação de visitas, etc.61

O processo envolvendo a matéria de alienação parental trata de direito envolvendo

menor, assim é necessária a sua tramitação prioritária às demais demandas em curso naquele

juízo, como forma de garantir a efetividade à luz do inciso LXXVIII do artigo 5º da

57 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 123. 58 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 44. 59 BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 02 nov. 2015. 60 ALEXANDRIDIS, Georgios; FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Alienação parental. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 62. 61 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 123.

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Constituição Federal.62

Ainda, constata-se que o parágrafo único deixa claro que, enquanto apuradas as

alegações, o juiz deve agir com cautela, permitindo o contato do genitor com o menor de

forma assistida ou vigiada.63

Com relação às provas, o artigo 5º prevê a possibilidade de perícia psicológica ou

biopsicossocial, vejamos:

Art. 5º: Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou biopsicossocial. § 1º O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra genitor. § 2º A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados, exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental. § 3º O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência de alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do laudo, prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em justificativa circunstanciada.64

Evidentemente que os casos de alienação parental são de difícil constatação por parte

do juiz, considerando que, por mais que seja grande a sua experiência, não é sua área de

formação, devendo este buscar auxílio com psicólogos, assistentes sociais e psiquiatras, pois

estes podem colher dados relevantes e formular laudos para respaldar sua decisão.65

Vale ressaltar que o juiz não precisa vincular a sua decisão ao resultado da perícia. O

magistrado pode determinar algumas medidas para inibir ou atenuar as práticas de alienação

parental, garantindo a proteção direta às crianças e aos adolescentes envolvidos nessa

situação66, conforme dispõe o artigo 6º:

Art. 6º: Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente

62 ALEXANDRIDIS, Georgios; FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Alienação parental. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 67. 63 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 45. 64 BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 02 nov. 2015. 65 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 129. 66 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 131.

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responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso: I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador; II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; III - estipular multa ao alienador; IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; VII - declarar a suspensão da autoridade parental. Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar.67

O rol das medidas inseridas neste artigo é apenas exemplificativo, pois podem ser

aplicadas outras medidas previstas no ordenamento jurídico para evitar a proliferação dos

danos decorrentes da alienação parental e aumentar o convívio saudável entre a criança e o

genitor vitimado.68

Caracterizada a alienação parental, Kristina Wandalsen sugere algumas medidas mais

extremistas, como a prisão do agente alienador:

Na hipótese de a perícia concluir que o genitor alienante efetivamente estava imbuído do propósito de banir da vida dos filhos o outro genitor, o juiz deve determinar medidas que propiciem a reversão desse processo, como a aproximação da criança com o genitor alienado, o cumprimento do regime de visitas, a condenação do genitor alienante ao pagamento de multa diária enquanto perdurar a resistência às visitas ou enquanto perdurar a prática que conduz à alienação parental, a alteração da guarda dos filhos e ainda a prisão do genitor alienante.69

O principio dos melhores interesses da criança e do adolescente é recorrente nesta lei e,

por isso, a fixação da guarda dar-se-á preferencia ao genitor que viabilizar a convivência da

criança ou adolescente com o outro genitor. Não satisfeita essa condição, a decisão pode ser

modificada a qualquer tempo, uma vez que não faz coisa julgada material, apenas formal,

possibilitando alterar o detentor da guarda,70 conforme refere o seguinte artigo:

Art. 7º A atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência ao genitor que viabiliza a efetiva convivência da criança ou adolescente com o outro genitor nas hipóteses em que seja inviável a guarda compartilhada.71

67 BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 02 nov. 2015. 68 ALEXANDRIDIS, Georgios; FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Alienação parental. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 75. 69 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 133. 70 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 139. 71 BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Disponível em:

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Dissolvida a relação conjugal, a consequência natural é a fixação da guarda.72 No

ordenamento jurídico atual a guarda compartilhada é aplicada de regra sempre que possível,

conforme dispõe o artigo 1.584, parágrafo 2º do Código Civil:

Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor.73

A Lei da Alienação Parental ratifica tal situação, uma vez que a guarda sendo

compartilhada, a convivência da criança passa a ser exercida de forma igualitária entre os

detentores, diminuindo, assim, a probabilidade da ocorrência de alienação parental com algum

deles.74

Art. 8º: A alteração de domicílio da criança ou adolescente é irrelevante para a determinação da competência relacionada às ações fundadas em direito de convivência familiar, salvo se decorrente de consenso entre os genitores ou de decisão judicial.75

Com relação a competência para o exercício da jurisdição quanto à alienação parental,

explica o professor Douglas Phillips Freitas:

O art. 8º: da Lei da Alienação Parental parece contrariar toda a estrutura processual sobre o foro competente ser o do menor, inclusive com recente súmula do STJ nesse sentido. Entretanto, em uma leitura mais atenta, nota-se que a “alteração de domicílio” seria aquele decorrente da prática da alienação parental, principalmente quando já proposta a ação. O presente artigo deve ser interpretado de forma sistemática com o inciso VI do art. 6.º desta lei, que permite ao juiz, caracterizados atos típicos de alienação parental, “determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente”.76

O presidente da República, no ato do sancionamento da lei, vetou alguns artigos.

Primeiramente, o veto do artigo 9º, que previa a possibilidade de mediação77, aduz o seguinte:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 02 nov. 2015. 72ALEXANDRIDIS, Georgios; FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Alienação parental. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 82. 73BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 02 nov. 2015. 74 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 139. 75 BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 02 nov. 2015. 76 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 57/58. 77 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 145.

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Art. 9º: As partes, por iniciativa própria ou sugestão do juiz, do Ministério Público ou do Conselho Tutelar, poderão utilizar-se do procedimento da mediação para a solução do litígio, antes ou no curso do processo judicial. § 1º: O acordo que estabelecer a mediação indicará o prazo de eventual suspensão do processo e o correspondente regime provisório para regular as questões controvertidas, o qual não vinculará eventual decisão judicial superveniente. § 2º: O mediador será livremente escolhido pelas partes, mas o juízo competente, o Ministério Público e o Conselho Tutelar formarão cadastros de mediadores habilitados a examinar questões relacionadas à alienação parental. § 3º: O termo que ajustar o procedimento de mediação ou o que dele resultar deverá ser submetido ao exame do Ministério Público e à homologação judicial.” Razões do veto O direito da criança e do adolescente à convivência familiar é indisponível, nos termos do art. 227 da Constituição Federal, não cabendo sua apreciação por mecanismos extrajudiciais de solução de conflitos. Ademais, o dispositivo contraria a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, que prevê a aplicação do princípio da intervenção mínima, segundo o qual eventual medida para a proteção da criança e do adolescente deve ser exercida exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja indispensável.78

O veto do artigo 9º da Lei 12.318 diz respeito à impossibilidade do uso da mediação

para solução de conflitos envolvendo a alienação parental, tendo em consideração a

indisponibilidade do direito de convivência familiar da criança e do adolescente.79

Talvez o veto presidencial poderia ser repensado, pois não é uma mera alternativa da

justiça para substituir o julgador.80 Nesse sentido explica Denise Maria Perissini da Silva:

A mediação familiar é um procedimento estruturado de gestão de conflitos pelo qual a intervenção confidencial e imparcial de um profissional qualificado, o mediador, visa restabelecer a comunicação e o diálogo entre as partes. Seu papel é o de levá-las a elaborar, por elas próprias, acordos duráveis que levem em conta as necessidades de cada um e em particular das crianças em um espírito de corresponsabilidade parental. Para a autora, o objetivo da mediação é a responsabilização dos protagonistas, para que sejam capazes, por si mesmos, de formular acordos duráveis. Por isso, a mediação não pode/deve ser vista como uma forma meramente “desafogar o Judiciário”, e sim como um modo eficaz de solução de conflitos, principalmente conflitos familiares, realizada preferencialmente por psicólogos.81

A mediação poderia auxiliar e muito nos casos de alienação parental, haja vista que

esses conflitos, normalmente seriam discutidos por meio de longos, onerosos e desgastantes

demandas judiciais e a medição transformaria isso em diálogo e compartilhamento de

decisões.82

78 BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 02 nov. 2015. 79 MADALENO, Ana Carolina Carpes; MADALENO, Rolf. Síndrome da Alienação Parental: a importância de sua detecção com seus aspectos legais e processuais 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 131. 80 MADALENO, Ana Carolina Carpes; MADALENO, Rolf. Síndrome da Alienação Parental: a importância de sua detecção com seus aspectos legais e processuais 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 132. 81 SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome de alienação parental: o que é isso? 2. ed. Campinas: Armazém do Ipê, 2011. p. 147. 82 SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome de alienação parental: o que é isso?

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Desde logo, vale ressaltar que o Poder Judiciário está atulhado de processos e não

suporta mais demandas. Então, o trabalho interdisciplinar envolvendo profissionais

qualificados como psicólogos, advogados, assistentes sociais, entre outros, é importantíssimo

para tratar de conflitos familiares.83

Outrossim, segue texto do artigo e do veto do presidente da República ao artigo 10,

em relação ao crime de falso relato capaz de acarretar a interrupção do convívio da criança

com o genitor84, com o seguinte teor:

Art. 10. O art. 236 da Seção II do Capítulo I do Título VII da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, passa a vigorar acrescido do seguinte parágrafo único: Art. 236. ............................................................................... Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem apresenta relato falso ao agente indicado no caput ou à autoridade policial cujo teor possa ensejar restrição à convivência de criança ou adolescente com genitor.’ (NR)” Razões do veto O Estatuto da Criança e do Adolescente já contempla mecanismos de punição suficientes para inibir os efeitos da alienação parental, como a inversão da guarda, multa e até mesmo a suspensão da autoridade parental. Assim, não se mostra necessária a inclusão de sanção de natureza penal, cujos efeitos poderão ser prejudiciais à criança ou ao adolescente, detentores dos direitos que se pretende assegurar com o projeto.85

Caroline de Cássia Francisco Buosi esclarece que esse artigo foi inserido pela

Comissão de Seguridade Social e Família e nem chegou à análise da presidência, por ter sido

vetado pela própria Comissão de Constituição de Justiça e Cidadania.86

O artigo 11º é último dispositivo da lei e refere-se à publicação da lei que ocorreu em

26 de agosto de 2011: “Art. 11. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.”.87

A Lei da Alienação Parental já veio com extremado atraso e a matéria abordada na Lei

é de extrema importância para a sociedade, razão pela qual dispensa o prazo de vacatio legis

que é frequentemente utilizado para uma fase de transição ou de adaptação da nova

legislação.88

2. ed. Campinas: Armazém do Ipê, 2011. p. 147. 83 SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome de alienação parental: o que é isso? 2. ed. Campinas: Armazém do Ipê, 2011. p. 149. 84 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 146. 85 BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 02 nov. 2015. 86 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 147. 87 BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 02 nov. 2015. 88 MADALENO, Ana Carolina Carpes; MADALENO, Rolf. Síndrome da Alienação Parental: a importância de sua detecção com seus aspectos legais e processuais 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 135.

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3.2 DIFERENÇA ENTRE SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL E ALIENAÇÃO

PARENTAL

Richard Gardner definiu a síndrome da alienação parental como um distúrbio infantil

que acometeria, especialmente, menores de idade envolvidos em situações de disputa de

guarda entre os pais. Na visão do referido autor, a síndrome se desenvolve a partir de uma

programação ou lavagem cerebral realizada por um dos genitores para que o filho rejeite o

outro responsável.89

A expressão Síndrome da Alienação Parental é frequentemente criticada, pois não está

prevista nem no CID-10 (Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à

Saúde), nem mesmo no DSM IV-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças

Mentais).90 Assim, não é reconhecida como uma categoria diagnosticada, bem como não é

considerada uma síndrome médica válida91, pois síndrome significa distúrbio, sintomas que se

instalam em decorrência da prática de que os filhos foram vítimas, de extrema reação

emocional ao genitor. Já Alienação são as atitudes que desencadeiam verdadeira campanha

desmoralizadora levada a efeito pelo alienante.92

Nesse sentido, explica Marco Antônio Garcia Pinho:

A Síndrome da Alienação Parental não se confunde com Alienação Parental, pois que aquela geralmente decorre desta, ou seja, enquanto a AP se liga ao afastamento do filho de um pai através de manobras da titular guarda, a Síndrome, por seu turno, diz respeito às questões emocionais, aos danos e sequelas que a criança e o adolescente vêm a padecer.93

Jorge Trindade esclarece que: “Síndrome é o conjunto de sintomas que caracteriza a

existência de uma doença, seja na esfera orgânica (física), seja no plano psicológico

(mental).”.94 Dessa forma, é possível observar que a síndrome refere-se a uma questão de

89 BRITO, Leila Maria Torraca de; SOUZA, Analícia Martins de. Síndrome de Alienação Parental: da Teoria Norte-Americana à Nova Lei Brasileira. Scielo, Rio de Janeiro, v. 31, n. 2, dez. 2010, p. 268-283. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pcp/v31n2/v31n2a06.pdf>. Acesso em: 07 mai. 2015. 90 DIAS, Maria Berenice. Alienação parental: um crime sem punição. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: Realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 15. 91 SOUZA, Juliana Rodrigues. Alienação parental sob a perspectiva do direito à convivência familiar. 1. ed. Leme: Mundo Jurídico, 2014. p. 113. 92 DIAS, Maria Berenice. Alienação parental: um crime sem punição. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: Realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 16. 93 PINHO, Marco Antônio Garcia. Alienação Parental. In: Revista do Ministério Público. Minas Gerais: ano IV, n 17, jul.-set. de 2009. p. 14. 94 TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica Para Operadores do Direito. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. p. 176.

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comportamento emocional da criança alienada. Já a alienação refere-se a prática do agente

alienador em afastar o menor de quem o ama.95

3.3 AS CONSEQUÊNCIAS DA ALIENAÇÃO PARENTAL PARA AS CRIANÇAS E OS

ADOLESCENTES

A Alienação Parental é capaz de frutificar diversas consequências trágicas, tanto para

o agente alienador quanto ao alienado, contudo seus efeitos mais dramáticos recaem sobre os

filhos.96

Na Alienação Parental, a criança ou o adolescente é manipulado a rejeitar um dos seus

genitores, consequentemente acaba perdendo um laço afetivo tão importante para o seu

desenvolvimento97, sendo assim vítima de uma violência que pode parecer invisível.98

O alienador, em sua maioria a mãe, monitora o tempo e o sentimento do filho,

programando-o para afastar-se de quem o ama, o que gera contradição de sentimentos e

destruição do vínculo afetivo.99 Esse tipo de conduta pode gerar consequências para o resto da

vida, pois provoca comportamentos abusivos contra a criança, promove vivências

contraditórias da relação entre pai e mãe e cria imagens adulteradas das figuras paterna e

materna, gerando assim um olhar destruidor e maligno sobre as relações amorosas em

geral.100

Os efeitos prejudiciais que a prática da alienação parental pode provocar nas crianças

difere de acordo com a sua idade, com a maneira e frequência que o menor foi manipulado,

com o tipo de vínculo que possuía com os pais, além de outros diversos fatores.101

Nesse sentido, François Podevyn esclarece que os efeitos que podem ocasionar em

crianças vítimas da Síndrome de Alienação Parental são: “depressão crônica, incapacidade de 95 DIAS, Maria Berenice. Alienação parental: um crime sem punição. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: Realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 16. 96 TRINDADE, Jorge. Síndrome da Alienação Parental. In: DIAS, Maria Berenice (Coord.). Incesto e alienação parental: Realidades que a justiça insiste em não ver. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 23. 97 SOUZA, Juliana Rodrigues. Alienação parental sob a perspectiva do direito à convivência familiar. 1. ed. Leme: Mundo Jurídico, 2014. p. 133. 98 RAMIRES, Vera Regina Röhnelt; RODRIGUES, Maria Alice. Alienação Parental e a Lei: A Judicialização das Relações Familiares. In: BOECKEL, Fabrício Dani de; ROSA, Karin Regina Rick (Org.). Direito de Família: Em Perspectiva Interdisciplinar. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 226. 99 DIAS, Maria Berenice. Alienação Parental: Uma Bala Perdida que Mata. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA, Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 166. 100TRINDADE, Jorge. Síndrome da Alienação Parental. In: DIAS, Maria Berenice (Coord.). Incesto e alienação parental: Realidades que a justiça insiste em não ver. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 23. p. 24. 101TRINDADE, Jorge. Síndrome da Alienação Parental. In: DIAS, Maria Berenice (Coord.). Incesto e alienação parental: Realidades que a justiça insiste em não ver. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 23. p. 24.

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adaptação em ambiente psicossocial normal, transtornos de identidade e de imagem,

desespero, sentimento incontrolável de culpa, sentimento de isolamento, comportamento

hostil, falta de organização, dupla personalidade e, às vezes, suicídio. Estudos têm mostrado

que, quando adultas, as vítimas da Alienação tem inclinação ao álcool e às drogas, e

apresentam outros sintomas de profundo mal estar.”.102

Assim, com o passar do tempo ocorre um sentimento enorme de culpa em que o

menor percebe que, anteriormente, foi cúmplice de uma campanha contra quem ele

igualmente amava.103

3.4 O COMPORTAMENTO DO ALIENADOR

O comportamento de um alienador pode ser muito diversificado104, pois seu modo de

agir é sempre no sentido de que está fazendo o melhor para o menor, mas não passa de

atitudes manipuladoras para assumir o controle sobre a criança e atingir seu objetivo.105

Nesse sentido, esclarece Denise Maria Perissini da Silva refere que:

Normalmente, em uma visão mais superficial, o ente alienador é aquele que se encontra aparentemente sempre “disponível” a auxiliar na aproximação entre a criança e seu genitor; é ele quem “oferece” a visitação em Juízo, afirmando pensar pura e simplesmente no interesse total da criança. No entanto uma visão mais acurada, tal comportamento se da tão somente com a intenção clara e específica da manutenção do exercício do controle do filho, mantendo sob jugo os pensamentos e sentimentos do menor para que eles “pensem” e “sintam” da forma que quer e que determina.106

Os comportamentos do alienador que caracterizam a conduta de Alienação Parental

são inúmeros, sendo praticamente impossível oferecer uma lista fechada desses

comportamentos107, como bem explica a psicóloga Caroline Buosi:

Elencar todos os exemplos de alienação parental seria praticamente impossível, haja

102 PODEVYN, François. Síndrome da Alienação Parental. ONG APASE Associação de Pais e Mães Separados. 04 abril 2001. Disponível em: <http://www.apase.org.br/94001-sindrome.htm>. Acesso em: 18 set. 2015. 103 MADALENO, Ana Carolina Carpes; MADALENO, Rolf. Síndrome da Alienação Parental: a importância de sua detecção com seus aspectos legais e processuais 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 55. 104 TRINDADE, Jorge. Síndrome da Alienação Parental In: DIAS, Maria Berenice (Coord.). Incesto e alienação parental: Realidades que a justiça insiste em não ver. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 25. 105 SOUZA, Juliana Rodrigues. Alienação parental sob a perspectiva do direito à convivência familiar. 1. ed. Leme: Mundo Jurídico, 2014. p. 127. 106 SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome de alienação parental: o que é isso? 2. ed. Campinas: Armazém do Ipê, 2011. p. 61. 107 TRINDADE, Jorge. Síndrome da Alienação Parental In: DIAS, Maria Berenice (Coord.). Incesto e alienação parental: Realidades que a justiça insiste em não ver. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 25.

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vista a quantidade de facetas que podem ser utilizadas pelo alienador na sua tarefa em afastar seu filho de outrem, cada qual com suas possibilidades no caso concreto.108

O parágrafo único do artigo 2º da Lei da Alienação Parental refere algumas atitudes

que podem incorrer na prática de alienação parental, vejamos:

Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros: I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade parental; III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.109

Jorge Trindade complementa esses comportamentos, demostrando outras situações

bem conhecidas:

- apresentar o novo cônjuge como novo pai ou nova mãe; - interceptar cartas, e-mails, telefonemas, recados, pacotes destinados aos filhos; - desvalorizar o outro cônjuge perante terceiros; - desqualificar o outro cônjuge para os filhos; - recusar informações em relação aos filhos (escola passeios, aniversários, festas etc.); - falar do modo descortês do novo cônjuge do outro genitor; - impedir a visitação; - esquecer de transmitir avisos importantes/compromissos (médicos, escolares etc.); - envolver pessoas na lavagem emocional dos filhos; - tomar decisões importantes sobre os filhos sem consultar o outro; - trocar nomes (atos falhos) ou sobrenomes; - impedir o outro cônjuge de receber informações sobre os filhos; - sair de férias e deixar os filhos com outras pessoas; - alegar que o outro cônjuge não tem disponibilidade para os filhos; - falar das roupas que o outro cônjuge comprou para os filhos ou proibi-los de usá-las; - ameaçar punir os filhos caso eles tentem se aproximar do outro cônjuge; - culpar o outro cônjuge pelo comportamento dos filhos; - ocupar os filhos no horário destinado a ficarem com o outro.110

108 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 122. 109 BRASIL. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>. Acesso em: 02 nov. 2015. 110 TRINDADE, Jorge. Síndrome da Alienação Parental In: DIAS, Maria Berenice (Coord.). Incesto e alienação parental: Realidades que a justiça insiste em não ver. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 25-26.

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Assim, percebe-se que o alienador aparenta ser uma pessoa super protetora, mas na

verdade emite, muitas vezes com sentimento de raiva e com intenção ou não de se vingar do

outro, comportamentos alienadores.111

111 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 83.

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4 A JUSTIÇA

Os conflitos que chegam aos juízos de família, na maioria das vezes, versam sobre

divórcio ou dissolução da união conjugal e envolvem a guarda e o arranjo de visitas de filhos.

Nesses processos, é corriqueiro as partes fazerem críticas uma às outras quanto ao seu

comportamento em relação aos cuidados e educação dos filhos, ou até mesmo levantarem

questões de valores morais do ex-parceiro na tentativa de desqualificá-lo. Assim, o poder

Judiciário vira uma espécie de competição para ver quem tem mais aptidão para desempenhar

as funções parentais. 112

Nesse sentido, considerando que os casais não possuem discernimento de resolver

situações que envolvem o bem estar dos seus filhos, entram em ação outros profissionais:

juízes, promotores, advogados, psicólogos, assistentes sociais, entre outros. 113

A justiça tem que agir, não pode ser cega, pois há verdades e mentiras a serem

desvendadas e, conforme dispõe o artigo 4º da Lei n. 12.318/2010, a alienação parental pode

ser mencionada a qualquer momento do processo.114 Assim, as partes, o magistrado ou o

representante do Ministério Público, ao constatarem a prática de alienação parental devem

solicitar ou, no caso do juiz, determinar de ofício, a tramitação prioritária do processo, bem

como promover medidas provisórias necessárias para assegurar os direitos do menor e

preservar a sua convivência com o genitor alienado.115

É importante identificar a alienação parental o mais rápido possível, pois este ato

configura um descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental e precisa ser

combatido para tornar efetivo o comando constitucional que protege com absoluta prioridade

os interesses da criança e do adolescente. 116

112 SOUSA, Analícia Martins de. Síndrome da alienação parental: Um Novo Tema nos Juízos de Família. São Paulo: Cortez, 2010. p. 21. 113 MOLD, Cristian Fetter. Alienação parental Recíproca. In: DIAS, Maria Berenice (Coord.). Incesto e alienação parental: Realidades que a justiça insiste em não ver. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 126. 114 SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome de alienação parental: o que é isso? 2. ed. Campinas: Armazém do Ipê, 2011. p. 91. 115 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 45. 116 DIAS, Maria Berenice. Alienação parental: um crime sem punição. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 19.

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4.1 COMO O PODER JUDICIÁRIO LIDA COM A ALIENAÇÃO PARENTAL

A prática alienação parental, com o advento da Lei n. 12.318/2010, ficou

regulamentada, ou seja, foi criado um instrumento que pode reconhecer o fato que enseja um

grande prejuízo ao menor e ao genitor ou parente próximo que está sendo alienado.117

As origens da prática de alienação parental são muitas, contudo, como já mencionado

em tópicos anteriores, na maioria das vezes a alienação parental é provocada pelo genitor que

detém a guarda do menor e, diante dessa proximidade, busca manipular a criança de forma a

denegrir a imagem do outro genitor com o objetivo de afastá-lo do convívio.118

Geralmente, quando o genitor ou a pessoa alienada se dá conta de que está sendo

realmente afastada do convívio da criança ou do adolescente e resolve procurar ajuda, é tarde:

a alienação parental já se encontra instalada. Assim, no momento em que o genitor ou o

parente próximo do menor se sentir prejudicado, percebendo a ocorrência de alienação

parental, não pode ficar inerte a essa situação, deve levar o caso ao Judiciário, solicitando sua

intervenção para que seus direitos e os direitos da criança ou do adolescente sejam

protegidos.119

O magistrado, ao verificar indícios de ocorrência da prática de alienação parental, vai

solicitar apuração.120 Contudo, deve o juiz agir com cautela, uma vez que a situação a ser

enfrentada envolve interesses e direitos de menor que não podem ser violados.

Nesse sentido esclarece o juiz de direito Gildo Alves de Carvalho Filho:

No âmbito do Poder Judiciário, deparamos-nos com situações de difícil enfrentamento que exigem atuações diferenciadas e ainda mais sensivelmente nas ações judiciais que indiquem a possibilidade de ocorrência de alienação parental, diante do alto grau de complexidade de sua abordagem. Invariavelmente, esses processos desenvolvem-se em quadros de crise inter e intrapessoal extremamente aguda, chagando a provocar em seus observadores um caudaloso rio de dúvidas quanto ao quadro comportamental. Em consequência dessa realidade, tais processos geram grandes lacunas de convencimento. É fato também que se verifica, a cada caso concreto, o desenvolvimento de um espectro de incertezas e de descrenças no ser humano; isso se dá quando é percebido que se trata de circunstâncias nas quais são atribuídas características, inacreditavelmente, negativas, envolvendo diretamente a relação entre pai e filhos. É nessa realidade que complexa que o juiz se faz presente. Assim, diante de um quadro paralelo à competência formal do judiciário,

117 SOUZA, Juliana Rodrigues. Alienação parental sob a perspectiva do direito à convivência familiar 1a edição / Juliana Rodrigues de Souza – Leme/SP: Mundo Jurídico, 2014. p. 10. 118 ALEXANDRIDIS, Georgios; FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Alienação parental. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 96. 119 PALERMO, Roberta. Ex-marido, pai presente: Dicas para não cair na armadilha da alienação parental. São Paulo: Summus Editorial, 2012. p. 75. 120PALERMO, Roberta. Ex-marido, pai presente: Dicas para não cair na armadilha da alienação parental. São Paulo: Summus Editorial, 2012. p. 75.

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sobressaem, das argumentações, crises mais relacionais e menos jurídicas, logo o juiz se vê envolto em um grande dilema à frente: de processos envolvendo disputas de guarda e regulamentação do direito de convivência de filhos que, cada vez mais, indicam comportamentos direcionados à alienação parental. Por ser dever ímpar do judiciário promover o bem viver, tem-se a consciência de que a Justiça, na pós-modernidade, não se limita a promover o enfoque formal da lide, definir, decidir, mas, sobretudo, deve buscar a transformação dos conflitos para aliviar situações de ruptura, de tenção, de mágoa e, principalmente, de rancor, com o objetivo de preservar um imprescindível bem durável: a pacífica convivência das pessoas.121

Assim, quando a Justiça não interfere firme e cuidadosamente nos casos de alienação

parental, a consequência é o rompimento, para toda a vida, de um vínculo de afetividade

essencial para a formação de qualquer ser humano.122

4.2 O PODER JUDICIÁRIO COMO UM ALIADO INOCENTE DO ALIENADOR

Atualmente é comum e surpreendente o número de famílias desfeitas: cada vez mais

ex-cônjuges, que não possuem capacidade de estabelecer um vínculo de respeito e harmonia,

utilizam seus filhos como instrumento punitivo de uns contra os outros. Assim, é necessário

ter cautela ao analisar um caso que envolva a suspeita de alienação parental para não

enquadrar quaisquer ocorrência nessa matéria.123

Nesse intenso jogo de manipulação, muitas vezes são criados episódios que não

ocorreram de verdade, mas o alienador consegue convencer o menor que acaba acreditando na

existência desse fato e consequentemente repete a situação como se tivesse realmente

ocorrido.124

O fato é levado ao Judiciário com o objetivo de que a convivência entre o menor e o

outro genitor seja suspensa. Assim, o juiz encontra-se em uma situação delicada e,

considerando a gravidade do relato, muitas vezes não encontra outra saída senão suspender

qualquer contato entre ambos e determinar a realização de estudos sociais para verificar se foi

verdade o que lhe foi noticiado.125

121 CARVALHO FILHO, Gildo Alves de. Alienação Parental. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA, Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 155-156. 122 PACHÁ, Andréia. A vida inventada. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA, Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 218. 123 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 65. 124 DIAS, Maria Berenice. Alienação Parental: Uma Bala Perdida que Mata. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA, Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 166. 125 DIAS, Maria Berenice. Alienação Parental: Uma Bala Perdida que Mata. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA, Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo:

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Nesse sentido, transcrevo trecho do artigo “Falsas memórias” da professora Maria

Berenice Dias:

Esta notícia, levada ao Poder Judiciário, gera situação das mais delicadas. De um lado, há o dever de tomar imediatamente uma atitude e, de outro, o receio de que, se a denúncia não for verdadeira, traumática será a situação em que a criança estará envolvida, pois ficará privada do convívio com o genitor que eventualmente não lhe causou qualquer mal e com quem mantém excelente convívio. Mas como o juiz tem a obrigação de assegurar proteção integral, reverte a guarda ou suspende as visitas e determina a realização de estudos sociais e psicológicos. Como esses procedimentos são demorados – aliás, fruto da responsabilidade dos profissionais envolvidos –, durante todo este período cessa a convivência do pai com o filho. O mais doloroso é que o resultado da série de avaliações, testes e entrevistas que se sucedem às vezes durante anos acaba não sendo conclusivo. Mais uma vez depara-se o juiz diante de um dilema: manter ou não as visitas, autorizar somente visitas acompanhadas ou extinguir o poder familiar; enfim, manter o vínculo de filiação ou condenar o filho à condição de órfão de pai vivo.126

Assim, o magistrado que não possui um amparo suficiente para enfrentar esse tipo de

questão e, muitas vezes, sobrecarregado pelo número de processos em andamento, acaba por

favorecer o alienador que tem a sua pretensão convalidada pela concessão de medidas

cautelares que impedem a continuidade das relações dos filhos com seus familiares.127

Para corroborar esse entendimento, esclarece o professor Douglas Phillips Freitas:

[...] a falta de varas especializadas , o elevado número de ações em curso, a pequena quantidade de servidores e assessores, a falta de pauta especial para audiências de conciliação, o reduzido ou inexistente número de peritos sociais e psicólogos vinculados ao juízo, bem como o tratamento das ações que envolvem alienação parental no mesmo patamar que os litígios patrimoniais, como num “script” processual e decisório, sem dúvidas tornam o judiciário corresponsável na alienação parental perpetrada pelas partes.128

Diante disso, é possível constatar que o alienador consegue muitas vezes, no Poder

Judiciário, um aliado inocente e sem influência que aprova a alienação ao proibir, sem um

conhecimento técnico/social aprofundado, o contato entre pais e filhos, diante de falsas

acusações de abuso sexual ou de maus-tratos. Como acusações dessa natureza, atualmente,

são de difícil e demorada averiguação, a cautela em evitar a exposição do filho a abusos tem

como consequência a consolidação da alienação.

Saraiva, 2014. p. 166. 126 DIAS, Maria Berenice. Falsas memórias. Revista Persona. Disponível em: <http://www.revistapersona.com.ar/Persona54/54PPEDias.htm>. Acesso em: 29 set. 2015. 127 CARVALHO FILHO, Gildo Alves de. Alienação Parental. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA, Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 162. 128 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 34.

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Assim, para o alienador o seu grande “parceiro” é o tempo, pois quanto mais tempo o

processo demorar, mais tempo terá para manipular e induzir o menor a estruturar “falsas

memórias” e rejeitar o outro genitor.129

Por fim, percebe-se que o tempo do processo judicial tende a ser mais lento que o

tempo do processo de alienação parental.

4.2.1 As falsas denúncias de abuso sexual ou de maus-tratos

A falsa denúncia de abuso sexual é uma forma de abuso infantil, uma vez que causa

um dano, muitas vezes irreparável, a criança envolvida na mentira, sendo esta emocional e

psicologicamente manipulada e abusada.130

Conforme já exposto em tópicos anteriores, no fim do relacionamento, muitas vezes, o

filho vira um instrumento de vingança entre os ex-cônjuges, manipulando-o para rejeitar o

outro genitor. Contudo, esse simples afastamento não é suficiente para satisfazer os interesses

doentios do guardião e, assim, por mais incrível que pareça, pode realizar denúncias de falso

abuso sexual e de maus tratos.131

Essas ações são costumeiras em nosso ordenamento jurídico e é lamentável a atitude

do alienador de não preservar quem, de fato, necessita de mais amparo, como bem explica a

juíza Andréa Pachá:

Imaginar que uma mãe possa procurar o Estado e pedir o afastamento de um pai do filho com uma denúncia falsa de abuso sexual é um fato que nos envergonha em humanidade. No entanto, a situação existe e em número maior que o tolerável.132

Diante de uma acusação desse porte, considerada gravíssima, o magistrado, que tem

por interesse preservar a integridade da criança e não tendo maiores elementos para distinguir

se é verdadeiro ou não o fato, não tem outra alternativa senão suspender temporariamente ou

reduzir a convivência do menor com o genitor falso abusador.133

129 SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome de alienação parental: o que é isso? 2. ed. Campinas: Armazém do Ipê, 2011. p. 92. 130 GUAZZELI, Mônica. A falsa denúncia de abuso sexual. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 183 e 195. 131 GUAZZELI, Mônica. A falsa denúncia de abuso sexual. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 191. 132 PACHÁ, Andréia. A vida inventada. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA, Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 218. 133 GUAZZELI, Mônica. A falsa denúncia de abuso sexual. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e

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Essas acusações não envolvem apenas a figura paterna, muitas vezes a mãe, o tio, a

madrasta, o padrasto, os avós estão envolvidos em processos criminais que podem destruir

suas vidas, mas principalmente destroem a sua relação com os filhos, enteados e/ou netos.134

O mais grave é que, diante de uma falsa denúncia, além de prejudicar a família e

principalmente a criança, a certeza do que realmente ocorreu dificilmente será alcançada135.

Para essa identificação, indispensável não só a participação de psicólogos, psiquiatras e

assistentes sociais, mas principalmente a capacitação do magistrado para poder distinguir o

sentimento de ódio exagerado que leva ao desejo de vingança a ponto de programar o filho

para reproduzir falsas denúncias com o objetivo de afastá-lo do genitor.136

A falsa denúncia de abuso sexual não pode merecer o apoio da Justiça, que, em nome

da proteção integral, de forma muitas vezes precipitada e sem elementos suficientes para

constatar o que realmente ocorreu, vem rompendo vínculo de convivência tão indispensável

ao desenvolvimento psicossocial da criança.137

Assim, constatada a presença da síndrome da alienação parental, é indispensável que

haja a responsabilização do genitor que atua desta forma por ser sabedor da dificuldade de ser

auferida a veracidade dos fatos e usa o filho como um instrumento vingativo.138

4.2.2 Comparação dos sintomas do abuso sexual com os sintomas de alienação parental

Considerando que alegações de abuso sexual são frequentes no Judiciário,

principalmente em litígios envolvendo separação ou divórcio, e diante da dificuldade de

identificar se a acusação de abuso sexual realmente é verdadeira ou não, José Manoel Aguilar

publicou um quadro comparativo para estabelecer algumas diferenças entre abuso sexual e

alienação parental:

alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 191. 134 ARAÚJO, Sandra Maria Baccara. O genitor alienador e as falsas acusações de abuso sexual. In: DIAS, Maria Berenice (Coord.). Incesto e alienação parental: Realidades que a justiça insiste em não ver. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 207. 135 GUAZZELI, Mônica. A falsa denúncia de abuso sexual. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 195. 136 DIAS, Maria Berenice. Alienação Parental: Uma Bala Perdida que Mata. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA, Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 167. 137 DIAS, Maria Berenice. Alienação Parental: Uma Bala Perdida que Mata. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA, Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 167/168. 138 DIAS, Maria Berenice. Síndrome da alienação parental, o que é isso? Disponível em: <http://mariaberenice.com.br/uploads/1__s%EDndrome_da_aliena%E7%E3o__parental%2C_o_que_%E9_isso.pdf>. Acesso em: 08 set. 2015.

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ABUSO SEXUAL SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL

O filho lembra do que ocorreu sem nenhuma ajuda externa

O filho programado não viveu o que seu progenitor denuncia. Precisa se recordar.

As informações que transmite têm credibilidade, com maior quantidade e qualidade de detalhes.

As informações que transmite têm menor credibilidade, carecem de detalhes e inclusive são contraditórios entre os irmãos.

Os conhecimentos sexuais são impróprios para sua idade: ereção, ejaculação, excitação, sabor do sêmen ....

Não tem conhecimentos sexuais de caráter físico – sabor, dureza, textura, etc.

Costumam aparecer indicadores sexuais – condutas voltadas ao sexo, conduta sedutora com adultos, jogos sexuais precoces e impróprios com semelhantes (sexo oral), agressões sexuais a outros menores de idade inferior, masturbação excessiva, etc.

Não aparecem indicadores sexuais

Costumam existir indicadores físicos do abuso (infecções, lesões).

Não existem indicadores físicos

Costumam aparecer transtornos funcionais – sono alterado, eneresis, encopresis, transtornos de alimentação.

Não costumam apresentar transtornos funcionais que o acompanhem.

Costumam apresentar atrasos educativos – dificuldade de concentração, atenção, falta de motivação, fracasso escolar.

Não costumam apresentar atraso educativo em consequência da denúncia.

Costumam apresentar alterações no padrão de interação do sujeito abusado – mudanças de conduta bruscas, isolamento social, consumo de álcool ou drogas, agressividade física e/ou verbal injustificada, roubos, etc.

O padrão de conduta do sujeito não se altera em seu meio social.

Costumam apresentar desordens emocionais – sentimentos de culpa, estigmatização, sintomas depressivos, baixa auto estima, choro sem motivo, tentativas de suicídio....

Não aparecem sentimentos de culpa ou estigmatização, ou condutas de autodestruição.

O menor sente culpa ou vergonha do que declara Os sentimentos de culpa ou vergonha são escassos ou inexistentes

As denúncias de abuso são prévias à separação As denúncias por abuso são posteriores à separação

O progenitor percebe a dor e a destruição de vínculos que a denúncia provocará na relação familiar.

O progenitor não leva em conta, nem parece lhe importar a destruição dos vínculos familiares.

Seria esperado que um progenitor que abusa de seus filhos pudesse apresentar outros transtornos em diferentes esferas de sua vida.

Um progenitor alienado aparenta estar são nas diferentes áreas de sua vida.

Um progenitor que acusa o outro de abuso a seus filhos costuma acusá-lo também de abusos a si mesmo.

Um progenitor programador só denuncia o dano exercido aos filhos.

Fonte: ONG APASE139

139 AGUILAR, José Manoel. Síndrome de Alienação Parental – Filhos manipulados por um cônjuge para odiar o outro. ONG APASE Associação de Pais e Mães Separados. Disponível em: <http://www.apase.org.br/94009-comparacao.htm>. Acesso em: 01 out. 2015.

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4.2.3 A implementação de falsas memórias

“A diferença entre as falsas memórias e as verdadeiras é a mesma das joias: são

sempre as falsas que parecem ser as mais reais, as mais brilhantes.”. 140

As mentiras inventadas pelo guardião alienador, nesse caso geralmente a genitora, têm

como alvo principal denegrir a imagem do não guardião, fazendo intensa lavagem cerebral na

criança.141 Assim, diante dessa convivência diária com o processo de destruição, a criança

acaba assimilando verdades inexistentes e inicia um processo de repulsa e afastamento do

genitor alienado.142

Nesse sentido, explica Denise Maria Perissini da Silva:

A manipulação emocional que o genitor alienador tenta impor sobre a criança, mediante procedimentos de sedução, ameaças de abandono, “chantagens emocionais”, confidências, entre outros, torna-se um importante recurso para que a criança, movida pelo pacto de lealdade com este, comece a estruturar uma vivência de fatos de abuso sexual/físico que não ocorreram, situações e cenários que nunca presenciou nas visitas com o genitor alienado, afirmar que encontrou pessoas prejudiciais (mas que na verdade não conhece)[...].143

A criança muitas vezes não consegue perceber que está sendo manipulada e acredita

naquilo que lhe foi dito de forma insistente e repetida. Com o passar do tempo, a situação vira

corriqueira e nem mesmo o alienador consegue distinguir a diferença entre a verdade e a

mentira.144

Assim, a verdade da mãe passa a ser a verdade da criança e esta começa a repetir o

que lhe é dito pelo genitor alienador como se aquilo realmente tivesse acontecido, pois

geralmente na cabeça do filho, divergir de quem supostamente está lhe protegendo, passa a

produzir um sentimento de traição.145 Dessa forma, implantam-se as falsas memórias que

140 Salvador Dali, comentando sua obra ‘A persistência da memória’, de 1931, em seu livro Secret Life. Apud: SILVA, Denise Maria Perissini da. A ética do psicólogo jurídico em acusações de abuso sexual. In: DIAS, Maria Berenice (Coord.). Incesto e alienação parental: Realidades que a justiça insiste em não ver. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 351. 141 DUARTE, Lenita Pacheco Lemos. Qual a posição da criança envolvida em denúncias de abuso sexual quando o litígio familiar culmina em situações de alienação parental: inocente, vítima ou sedutora? In: DIAS, Maria Berenice (Coord.). Incesto e alienação parental: Realidades que a justiça insiste em não ver. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 154. 142 PACHÁ, Andréia. A vida inventada. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA, Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 217. 143 SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome de alienação parental: o que é isso? 2. ed. Campinas: Armazém do Ipê, 2011. p. 104. 144 DIAS, Maria Berenice. Alienação Parental: Uma Bala Perdida que Mata. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA, Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 166. 145 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba:

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ficam registradas no inconsciente da criança, deixando marcas profundas no seu

psicológico.146

Além dos prejuízos emocionais, a mentira pode promover danos psíquicos relativos a

fatos que nunca chegaram a acontecer.147 Nesse sentido explica a psicóloga Lenita Duarte:

Os estragos psicológicos de ser massacrado por falas contraditórias, incoerentes e ambíguas deixam os sujeitos crianças/adolescente inseguros, desconfiados, medrosos diante do mundo ao seu redor, instáveis e adoecidos emocionalmente e fisicamente. Os referidos sintomas mostram os tipos de violência psíquica que são dirigidas aos filhos pelo “alienador”. 148

Para concluir, as falsas memórias podem ser entendidas como um fenômeno no qual

uma pessoa se lembra de algo de forma diferente do que realmente aconteceu ou, até mesmo,

se lembra e acredita em alguma coisa que nunca aconteceu ou existiu.149

4.3 DECISÕES JUDICIAIS

No cenário jurídico brasileiro, constata-se que ainda são poucos julgados tratando da

matéria de Alienação Parental, pois enfrentamos algumas dificuldades e barreiras que

precisam ser ultrapassadas para que essa prática seja reconhecida no processo. Vale mencionar

que as decisões judiciais estão evoluindo com o passar do tempo, contudo tem muito que

evoluir para tornar efetivo a proteção integral das crianças e adolescentes.150

A alienação parental ocorre geralmente nas ações da vara de família, consistindo na

manipulação mental e emocional do filho, levando-o a se afastar de seu genitor não

guardião. 151 A prática alienadora é constatada através de laudos psicológicos, conforme

Juruá, 2012. p. 66. 146 DUARTE, Lenita Pacheco Lemos. Qual a posição da criança envolvida em denúncias de abuso sexual quando o litígio familiar culmina em situações de alienação parental: inocente, vítima ou sedutora? In: DIAS, Maria Berenice (Coord.). Incesto e alienação parental: Realidades que a justiça insiste em não ver. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 154. 147 CARVALHO FILHO, Gildo Alves de. Alienação Parental. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA, Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 159. 148 DUARTE, Lenita Pacheco Lemos. Qual a posição da criança envolvida em denúncias de abuso sexual quando o litígio familiar culmina em situações de alienação parental: inocente, vítima ou sedutora? In: DIAS, Maria Berenice (Coord.). Incesto e alienação parental: Realidades que a justiça insiste em não ver. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 154. p. 154. 149 ALVES, Cíntia Marques; LOPES, Ederaldo José. Falsas Memórias: questões teóricometodológicas. Ribeirão Preto: Revista Paideia, Abr 2007, vol.17, n.36, p.46. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/paideia/v17n36/v17n36a05.pdf>. Acesso em: 04 nov. 2015. 150 SOUZA. Juliana Rodrigues. Alienação parental sob a perspectiva do direito à convivência familiar 1a edição / Juliana Rodrigues de Souza – Leme/SP: Mundo Jurídico, 2014, p. 116 151 SOUZA, Raquel Pacheco Ribeiro de. Reflexões para um novo tempo. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA,

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verificaremos nas jurisprudências colacionadas a seguir:

APELAÇÃO CÍVEL. FAMÍLIA. SUBSTITUIÇÃO DE GUARDA. CERCEAMENTO DE DEFESA. AGRAVO RETIDO. PROVIMENTO QUE SE IMPÕE. PREJUDICADA A ANÁLISE DO MÉRITO DO RECURSO DE APELAÇÃO. Hipótese em que evidenciada a necessidade de realização de avaliação psicológica em todos os envolvidos na lide (genitores e filhos menores de idade), imperativo o provimento do agravo retido interposto na audiência de instrução pelo demandante. Restando cediço que o objetivo da avaliação psicológica é o de comprovar a existência ou não de alienação parental por parte da genitora das crianças, tem-se que tal circunstância enseja a manutenção das visitas paternas deferidas na origem, enquanto se desenvolve a instrução processual, com a qual se aguarda elementos seguros para a decisão final da ação. PROVIMENTO DO AGRAVO RETIDO. PREJUDICADA A ANÁLISE DAS RAZÕES TRAZIDAS NO RECURSO DE APELAÇÃO. Sentença desconstituída.152

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE SUPRIMENTO DE AUTORIZAÇÃO PARA VIAGEM CONVERTIDA EM AÇÃO DE GUARDA E REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS PATERNAS. ALEGAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL. AUSÊNCIA DA NECESSÁRIA INSTRUÇÃO PROBATÓRIA. BUSCA DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA. Não há como persistir a decisão recorrida quando há indícios de alienação parental não esclarecidos por ausência de avaliação psicológica. Cumpre realizar a avaliação psicológica da criança e de seus genitores com o intuito de buscar preservar o melhor interesse do infante. DERAM PROVIMENTO AO RECURSO PARA DESCONSTITUIR A SENTENÇA.153

APELAÇÃO CÍVEL. GUARDA. HONORARIOS Foram realizadas perícias, psicológica e social, que concluíram que ambos os genitores estão capacitados para dispensar à filha os cuidados necessários. Em que pese haja entre o ex-casal um forte clima de desavença, não se verifica situação de vulnerabilidade à infante sob os cuidados maternos, nem mesmo foram identificados indícios de alienação parental por parte da mãe. Assim, é de ser mantida a guarda com a genitora. No que diz respeito aos honorários, é de ser mantida a verba tal como fixada na sentença, pois de acordo com os parâmetros do art. 20, §3º e 4º do CPC. NEGARAM PROVIMENTO A AMBOS OS RECURSOS. UNÂNIME.154

Verifica-se que desde o início da promulgação da Lei da Alienação Parental, que

ocorreu em 2011, o Poder Judiciário já fazia uso da avaliação psicológica a qual, inclusive,

veremos no próximo capítulo.

Outra ferramenta importante é o tratamento psicológico, o qual também veremos no

capítulo seguinte, pois é uma das medidas imposta pela Lei 12.318/10 como possibilidade de

Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 124-125. 152 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível 70041734070. Apelante: J. S. S. Apelado: V. P. S. Relator: Des. Roberto Carvalho Fraga. Porto Alegre, 19 out. 2011. 153 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível 70047476650. Apelante: L. L. Apelado: E. P. B. Relator: Des. Alzir Felippe Schmitz. Porto Alegre, 23 ago. 2012. 154 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível 70057137911. Apelante: L. C. Apelado: D. C. A. P. Relator: Des. Luiz Felipe Brasil Santos. Porto Alegre, 30 jan. 2014.

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superação ou diminuição da prática de alienação parental155 e já é utilizada para tal finalidade,

conforme decisão a seguir:

APELAÇÃO. AÇÃO DE ALTERAÇÃO DE GUARDA. TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO OU PSICOLÓGICO. ALIMENTOS. VISITAS. DISTRIBUIÇÃO DA SUCUMBÊNCIA. VALOR DE HONORÁRIOS. Adequada a determinação sentencial de que o núcleo familiar se submeta a tratamento psiquiátrico ou psicológico, porquanto intenso o conflito vivenciado entre as partes, inclusive com bons indícios de alienação parental. Descabida a redução dos alimentos devidos pelo apelado à filha comum, porquanto não comprovada qualquer redução nas possibilidades dele. Ademais, a resolução da questão patrimonial (partilha) entre os litigantes, não guarda relação direta com os alimentos devidos pelo apelado à filha. Não há insurgência substancial da apelante em relação às visitas regulamentadas pela sentença, como ela mesma afirmou em suas razões recursais. Descabida a distribuição igualitária da sucumbência, porquanto o apelado sucumbiu em parte maior do que a apelante. A distribuição deve se dar na proporção de 70% - 30%. Viável majorar o valor dos honorários advocatícios, porquanto fixados pela sentença em valor diminuto, considerando o tempo de tramitação do processo, a natureza da causa, e a qualidade do trabalho desempenhado. DERAM PARCIAL PROVIMENTO.156

Conforme já mencionado em tópico anterior, muitas acusações de abuso sexual

surgem diante do alto nível de conflito existente entre os genitores que não conseguem

superar o fim do relacionamento, como meio de vingança para tentar impedir o contato do

filho com o genitor não guardião. Contudo, o Judiciário está percebendo o nível de

beligerância entre os pais e está preservando o convívio, mesmo que assistido, do genitor não

guardião e advertindo o genitor guardião de tal prática, vejamos:

DIREITO DE VISITAS. PAI. ACUSAÇÃO DE ABUSO SEXUAL. PEDIDO DE SUSPENSÃO. SUSPEITA DE ALIENAÇÃO PARENTAL. INTENSA BELIGERÂNCIA. 1. Como decorrência do poder familiar, o pai não-guardião tem o direito de conviver com o filho, acompanhando-lhe a educação, de forma a estabelecer com ele um vínculo afetivo saudável. 2. A criança está vitimizada, no centro de um conflito quase insano, onde a mãe acusa o pai de abuso sexual, e este acusa a mãe de promover alienação parental. 3. As visitas foram restabelecidas e ficam mantidas sem a necessidade de supervisão, pois a acusação de abuso sexual não encontra nenhum respaldo na prova coligida. 4. A mãe da criança deverá ser severamente advertida acerca da gravidade da conduta de promover alienação parental e das graves conseqüências jurídicas decorrentes, que poderão implicar na aplicação de multa ou, até mesmo, de reversão da guarda. Recurso desprovido.157

AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL LITIGIOSA. PEDIDO DE VISITAS ASSISTIDAS. PROVIDÊNCIA LIMINAR. 1. Como decorrência do poder familiar, tem o pai não guardião o direito de avistar-se com a filha,

155 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 111. 156 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível 70049432305. Apelante: L. L. F. Apelado: M. M. B. Relator: Des. Rui Portanova. Porto Alegre, 06 dez. 2012. 157 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento 70060325677. Agravante: V. N. K. Agravado: B. D. Z. Relator: Des. Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves. Porto Alegre, 25 jul. 2014.

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acompanhando-lhe a educação e mantendo com ela um vínculo afetivo saudável. 2. Não havendo bom relacionamento entre os genitores e havendo acusações de abuso sexual do pai em relação à filha mais velha e de alienação parental pela mãe, e havendo mera suspeita ainda não confirmada de tais fatos, mostra-se adequada a suspensão do direito de visitação do pai em relação à filha supostamente vítima do abuso e a visita assistida à outra filha. 3. Os fatos, porém, reclamam cautela e, mais do que o direito dos genitores, há que se preservar o direito e os interesses das menores. 4. Considerando a gravidade dos fatos narrados, tanto as menores como os genitores deverão ser submetidos, com a maior brevidade, à avaliação psicológica, por perito nomeado pelo juízo a quo. Recurso desprovido.158

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS. PAI. ACUSAÇÃO DE ABUSO SEXUAL. VISITAS ASSISTIDAS. CABIMENTO. 1. Como decorrência do poder familiar, o pai não-guardião tem o direito de avistar-se com a filha, acompanhando-lhe a educação, de forma a estabelecer com ela um vínculo afetivo saudável. 2. A mera suspeita da ocorrência de abuso sexual não pode impedir o contato entre pai e filha. 3. Adequado, assim, as visitas assistidas pelos avós paternos, com o que restará assegurada a integridade física e psicológica da menor durante o convívio com o genitor, bem como resguardará este de novas acusações. RECURSO PROVIDO EM PARTE.159

Ainda, quando constatado os indícios de alienação parental, a Lei deixa claro que há a

possibilidade de alteração da guarda e o Judiciário está aplicando tal medida com o seguinte

fundamento:

AGRAVO INTERNO. DECISÃO MONOCRÁTICA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. GUARDA. ALIENAÇÃO PARENTAL. ALTERAÇÃO. CABIMENTO. 1. Comporta decisão monocrática o recurso que versa sobre matéria já pacificada no Tribunal de Justiça. Inteligência do art. 557 do CPC. 2. Em regra, as alterações de guarda são prejudiciais para a criança, devendo ser mantido a infante onde se encontra melhor cuidada, pois o interesse da criança é que deve ser protegido e privilegiado. 3. A alteração de guarda reclama a máxima cautela por ser fato em si mesmo traumático, somente se justificando quando provada situação de risco atual ou iminente, o que ocorre na espécie. 4. Considera-se que a infante estava em situação de risco com sua genitora, quando demonstrado que ela vinha praticando alienação parental em relação ao genitor, o que justifica a alteração da guarda. 5. A decisão é provisória e poderá ser revista no curso do processo, caso venham aos autos elementos de convicção que sugiram a revisão. Recurso desprovido.160

AGRAVO DE INSTRUMENTO. INCIDENTE DE ALIENAÇÃO PARENTAL E ALTERAÇÃO DE GUARDA. LIMINAR. CABIMENTO. Caso no qual restaram demonstrados, pelos documentos constantes aos autos, indicativos de atos de alienação parental praticados pela genitora, com a colocação de todo o tipo de óbice à visitação paterna, o que justifica a reversão da guarda em prol do genitor. NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO.161

158 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento 70062944251. Agravante: J. B. C. Agravante: A. S. A. S. Relator: Des. Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves. Porto Alegre, 25 mar. 2015. 159 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento 70066306572. Agravante: M. A. B. S. Agravado: A. P. K. S. Relator: Des. Liselena Schifino Robles Ribeiro. Porto Alegre, 28 ago. 2015. 160 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento 70065789042. Agravante: C. R. L. J. Agravado: A. J. Relator: Des. Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves. Porto Alegre, 29 jul. 2015. 161 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento 70063498406. Agravante: J. R. F. S. Agravado: A. M. Relator: Des. Liselena Schifino Robles Ribeiro. Porto Alegre, 24 jun. 2015.

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Diante dessa breve análise de algumas decisões do Tribunal de Justiça do Rio Grande

de Sul, percebe-se que a Justiça está trabalhando, buscando alternativas e adotando

providências para coibir a prática da alienação parental, a fim de resguardar o melhor

interesse da criança e do adolescente.

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5 UM CAMINHO PARA A BATALHA: AS FERRAMENTAS ALTERNATIVAS E

PREVENTIVAS PARA COMBATER A ALIENAÇÃO PARENTAL

A criança e o adolescente são sujeitos que denotam uma proteção especial. Cada vez

mais as legislações estão aprimorando os direitos da criança e do adolescente, resguardando,

assim, os direitos humanos, a proteção integral e o melhor interesse dos menores. Entretanto,

a realidade muitas vezes é outra, pois a eles continuam sofrendo diversas formas de maus-

tratos e violência.162

Sem dúvida, a Lei 12.318/2010 já alcançou grande repercussão em nossa sociedade,

facilitando a identificação dos abusos praticados e atos tipificados, além de ter dado grande

visibilidade e amplitude na discussão de um tema tão importante que muitos profissionais se

deparam no dia-a-dia.163

A sociedade é um elo importante para combater a prática de alienação parental, porém

precisa ir além e lutar para garantir a funcionalidade do preceito normativo. Nesse sentido

explica Melissa Telles Barufi:

[...] o estágio em que se encontra a sociedade brasileira é, sem dúvida, significativa mas não se trata de uma linha de chagada, porém um ponto de partida. Acredita-se que é necessário ir além e atuar a fim de garantir a real efetivação do texto legal. Ampliando sua visibilidade, provocando o poder judiciário e promovendo uma modificação na conduta social, a fim de coibir a complexa dimensão que está por detrás da alienação parental. 164

O Poder Judiciário enfrenta muitas barreiras institucionais e organizacionais que

inviabilizam medidas eficientes e eficazes para dar um tratamento adequando às feridas

provocadas pela alienação parental. O Judiciário sozinho não é suficiente para interferir nas

questões ligadas à alienação parental, devendo buscar novos caminhos e aportes em outras

ciências, através de pessoas qualificadas para amenizar o verdadeiro e complicado dilema de

decidir em processos que envolvem a alienação parental.165

162 BARUFI, Melissa Telles. Alienação parental – interdisciplinaridade: um caminho para o combate. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 219. 163 BARUFI, Melissa Telles. Alienação parental – interdisciplinaridade: um caminho para o combate. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 219. 164 BARUFI, Melissa Telles. Alienação parental – interdisciplinaridade: um caminho para o combate. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 220. 165 CARVALHO FILHO, Gildo Alves de. Alienação Parental. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA, Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 157/158.

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Não é tarefa fácil constatar a prática de alienação parental, pois não basta somente

analisar de forma isolada a conduta do agente, é necessário que o Judiciário busque

inicialmente o conhecimento dos verdadeiros fatos e tenha a sensibilidade para valorar as

manifestações e sentimentos das partes e busque auxílio, nas disciplinas correlatas, de um

aparato técnico seguro e preciso para reconhecer ou afastar a existência da prática de

alienação parental.166

Nesse sentido, explica o magistrado Gildo Alves de Carvalho Filho:

[...] Necessário se faz o uso de muita cautela e sensibilidade diante dos casos apresentados, visto que nem sempre caracterizam alienação parental, sinalizando, sim, uma crise de comunicação entre adultos, refletindo no trato com os filhos. Nesta correnteza, percebe-se ainda a construção de alianças extremamente perigosas entre os alienadores e os condutores técnicos, supostamente induzidos e seduzidos por uma encantadora versão, não raro também cooperada pelos advogados, que, tais quais os acusadores, acreditam na verdade daquilo que é dito e ainda não investigado. É preciso diferenciar a fantasia da realidade[...]167

Assim, resta claro que a Justiça precisa do apoio de equipes multidisciplinares, pois há

a necessidade de trazer os assistentes sociais, psicólogos, ou seja, os peritos para dentro do

processo, pois são os profissionais que possuem um preparo técnico maior para analisar e,

principalmente, auxiliar os casais no momento da dissolução do vínculo conjugal, a fim de

evitar que um dos pais pratique a alienação parental. Dessa maneira, mostra-se necessário

ampliar o enfoque e conjugar esforços na busca de ferramentas alternativas e preventivas para

combater essa prática ilícita e abusiva que se transforma em um doloroso processo.168

5.1 PERÍCIA MULTIDISCIPLINAR: UM INSTRUMENTO FUNDAMENTAL PARA

AUXILIAR NAS DECISÕES JUDICIAIS

A alienação parental, conforme já dito nos tópicos anteriores, é uma tarefa de difícil

aferição, principalmente para o magistrado que não possui formação na área de perícia.169

Assim, a perícia multidisciplinar, conforme o artigo 5º da Lei n. 12.318/2010, consiste na 166 CARVALHO FILHO, Gildo Alves de. Alienação Parental. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA, Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 160. 167 CARVALHO FILHO, Gildo Alves de. Alienação Parental. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA, Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 159. 168 BARUFI, Melissa Telles. Alienação parental – interdisciplinaridade: um caminho para o combate. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 220. 169 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 128.

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determinação de perícia psicológica ou biopsicossocial que poderão ser realizadas

conjuntamente ou separadamente do processo judicial.170

A perícia pode ser realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados.

Douglas Phillips Freitas diz que as perícias são compostas por perícias sociais, psicológicas,

médicas entre outras que se fizerem necessárias para o subsídio e certeza da decisão

judicial.171

O Poder Judiciário já faz uso dessa ferramenta para esclarecer os fatos e buscar

amparo nas suas decisões, conforme entendimentos jurisprudenciais abaixo transcritos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE CONVERSÃO DE SEPARAÇÃO EM DIVÓRCIO. NECESSIDADE DE PROVA PERICIAL. No caso, não havendo bom relacionamento entre os genitores e havendo acusações de alienação parental, mostra-se adequada a avaliação psicológica das partes e do filho, por perito nomeado pelo juízo. RECURSO PROVIDO EM PARTE.172

AÇÃO DE ALTERAÇÃO DE VISITAS. NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA. PEDIDO DE COMPLEMENTAÇÃO DE PERÍCIA. QUESITO SOBRE POSSÍVEL OCORRÊNCIA DE ALIENAÇÃO PARENTAL. 1. A regulamentação de visitas materializa o direito do filho de conviver com o genitor não guardião, assegurando o desenvolvimento de um vínculo afetivo saudável entre eles, devendo ser resguardado sempre os interesses da criança, que estão acima da conveniência dos genitores. 2. É necessário que os fatos sejam esclarecidos e que as questões controvertidas possam ser devidamente elucidadas, de forma a permitir o estabelecimento de um regime de visitas que atenda os interesses do filho. 3. A existência ou não de alienação parental não constitui nova causa de pedir, sendo questão relevante que deve ser esclarecida, pois deve ser estabelecido o adequado regime de visitas. 4. A prova se destina a formar o convencimento do julgador, cabendo a ele determinar a produção das provas necessárias para o esclarecimento dos fatos, não havendo preclusão. Incidência do art. 130 do CPC. Recurso desprovido.173

A avaliação psicológica pode analisar diversos aspectos do comportamento dos

litigantes, tais como interesses, personalidade, desenvolvimento e maturidade, condições

emocionais e de conduta, entre outras.174 Ainda, Denise Maria Perissini da Silva explica que:

O psicólogo deve ser ótimo observador para perceber as manipulações emocionais sutis, as mensagens e influências que o alienador está exercendo sobre a criança,

170 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 59. 171 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 59. 172 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento 70066880287. Agravante: R. C. F. Agravado: N. P. R. Relator: Des. Liselena Schifino Robles Ribeiro. Porto Alegre, 14 out. 2015. 173 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento 70065138372. Agravante: P. R. C. Agravado: I. M. C. Relator: Des. Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves. Porto Alegre, 29 jul. 2015. 174 SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome de alienação parental: o que é isso? 2. ed. Campinas: Armazém do Ipê, 2011. p. 98.

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reconhecer que nem sempre as reações psicossomáticas das crianças são autênticas (não se pode basear a acusação de abuso sexual somente pelo choro da criança, uma vez que a criança pode chorar por diversos motivos, até pelo fato de ser constrangida a formular acusações infundadas contra o pai/mãe a quem tanto ama!), constatar se há autenticidade nos relatos das crianças, e verificar qual é o ambiente favorável e sadio para o desenvolvimento psicossocial da criança em disputa.175

Esclarece a psicóloga Carolina de Cássia Francisco Buosi:

[...] a vivência de profissionais especializados na área de psicologia, assistência social e psiquiatria pode colher dados importantes para respaldar o magistrado em sua decisão, diante de laudos, testes psicológicos e estudos sociais que forneçam dados para o entendimento daquele caso concreto.176

Perícia multidisciplinar é gênero, sendo suas espécies a perícia social, psicológica,

médica, entre outras, pois é necessário buscar em outras áreas conhecimentos que possam

colaborar para solução de determinado caso. Quando for complexa a perícia, o Código

Processual Civil já prevê a possibilidade de o juiz indicar outros profissionais, ou seja,

permite a produção interdisciplinar de perícia 177 , nos termos do artigo 431-B do CPC:

“tratando-se de perícia complexa, que abranja mais de uma área de conhecimento

especializado, o juiz poderá nomear mais de um perito e a parte indicar mais de um assistente

social”.

É essencial que os profissionais que forem realizar a perícia sejam profissionais com

aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar tais atos, pois

não pode ser qualquer profissional com formação básica178, já que é necessário que o perito

conheça o que é alienação parental e seus efeitos nocivos179, haja vista a complexidade das

variáveis envolvidas no caso e a dificuldade de diagnostico.180

O perito ou a equipe multidisciplinar precisa agir de forma rápida, haja vista a

necessidade de celeridade processual e, principalmente, pela razão do maior parceiro do

alienador: o tempo.181 O prazo para os peritos ou a equipe multidisciplinar apresentarem os

175 SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome de alienação parental: o que é isso? 2. ed. Campinas: Armazém do Ipê, 2011. p. 99. 176 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 129. 177 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 60. 178 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 130. 179 SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome de alienação parental: o que é isso? 2. ed. Campinas: Armazém do Ipê, 2011. p. 99. 180 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 130. 181 SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome de alienação parental: o que é isso? 2. ed. Campinas: Armazém do Ipê, 2011. p. 100.

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laudos é de 90 (noventa) dias, podendo este ser prorrogado, conforme explica Caroline de

Cássia Francisco Buosi:

O prazo de 90 (noventa) dias para o perito ou a equipe multidisciplinar apresentarem os laudos se justifica pela necessidade de celeridade processual em função da matéria de alienação parental, na qual a variável tempo é de suma importância para a possibilidade de restituição dos vínculos dos afetados. Contudo, a prorrogação diante de autorização judicial baseada em justificativa circunstanciada é relevante, pois não se pode sobrepor a qualidade do estudo técnico ao período em que o mesmo deva ser elaborado. Assim, sendo necessário, pode-se requerer um prazo maior para averiguação das diligências, análises e apuração dos fatos, desde que prioritários ao bom andamento do processo. 182

A perícia multidisciplinar é um instrumento importante no conjunto probatório da ação,

pois para garantir o direito, antes de tudo, é preciso saber a verdade dos fatos alegados. A

produção da perícia como prova processual possui um caráter objetivo que demonstra a

existência de um fato e possui um caráter subjetivo que mostra às partes os resultados da

perícia para que seja confirmada ou contestada.183

Por fim, vale esclarecer que a decisão do magistrado não fica, necessariamente,

vinculada ao teor laudo pericial, pois este tem livre arbítrio para julgar. Entretanto, vale referir

que o resultado da perícia compõe um valioso conjunto probatório que pode auxiliar o juiz

nas decisões judiciais. 184

5.2 TRATAMENTO PSICOLÓGICO COMPULSÓRIO DE PAIS

As medidas mais indicadas e eficazes para diminuição da prática de alienação parental

são a modificação da guarda ou a ampliação da convivência com o genitor alienado. Contudo,

essas medidas nem sempre são os meios mais adequados para solucionar grandes litígios. 185

Quem mais sofre com todas estas situações é o menor, pois é sempre a vitima que

acaba sendo penalizada de alguma forma por sentimentos e relacionamentos não resolvidos

pelos seus pais.186 Conforme já referido em tópicos anteriores, muitas vezes a criança ou o

182 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 130. 183 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 78. 184 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 131. 185 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 125. 186 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 125.

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adolescente é usado como instrumento de vingança para acabar prejudicando o outro genitor,

nesse sentido esclarece Maria Berenice Dias:

Os filhos tornam-se instrumentos de vingança, sendo impedidos de conviver com que se afastou do lar. São levados a rejeitar e a odiar quem provocou tanta dor e sofrimento. Ou seja, são programados para odiar. Com a dissolução da união, os filhos ficam fragilizados, com sentimento de orfandade psicológica. Este é um terreno fértil para plantar a ideia de terem sido abandonados pelo genitor. Acaba o guardião convencendo o filho de que o outro genitor não lhe ama. Faz com que acredite em fatos que não ocorreram com o intuito de levá-lo a afastar-se do pai.187

Assim, para buscar uma melhor solução para esse tipo de ocorrência, há a necessidade

de um auxílio de terceiros, pois o direito sozinho não possui todas as ferramentas necessárias

para lidar com situações mais complexas e delicadas como é o caso do tema tratado.188

Geralmente o direito utiliza ferramentas legais, contudo ineficazes para situações tão

delicadas, como exemplo é o caso da busca e apreensão do menor: resolve o problema do

direito à convivência, mas não resolve o dano causado pela prática de alienação parental,

causando, muitas vezes, ampliação no sofrimento da criança.189

Assim, é imprescindível que o Judiciário abra caminhos para melhor solução ou até

mesmo prevenção desse tipo de litígio. Uma das formas que surge é a realização de terapia

familiar, pois é na terapia e na psicologia que se encontra um amparo melhor, ou seja, um

conhecimento teórico e prático com mais eficácia de resolver os reflexos da Alienação

Parental.190

A terapia compulsória pode ser determinada pelo magistrado conforme outorga a Lei

da Alienação parental em seu artigo 6º. Vale salientar que a determinação da realização de

terapia, neste caso, não serve para buscar a reconciliação do casal, mas para realizar um

tratamento dos distúrbios e das condutas motivadoras da conduta alienatória praticada por um

ou ambos os genitores, a fim de conscientizá-los que mesmo separados não deixam de ser pais

e, principalmente, para que resguardem o bem estar da criança.191

187 DIAS, Maria Berenice. Alienação parental: um crime sem punição. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 15. 188 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 125. 189 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 125/126. 190 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 126. 191 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 127.

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5.3 AMPLIAÇÃO DA CONVIVÊNCIA COM O GENITOR ALIENADO

A prática de alienação parental, conforme já mencionado em tópico anterior, fere o

direito fundamental da criança ou do adolescente de convivência familiar saudável. Além de

ferir o princípio da dignidade da pessoa humana, a prática de alienação parental também

confronta o artigo 227 da Constituição Federal que prescreve ser obrigação da família, da

sociedade e do Estado proporcionar à criança, com absoluta prioridade, o direito à

convivência familiar.192

Aos menores deve ser assegurado o direito de conviver com ambos os genitores, uma

vez que a convivência com os pais é de extrema importância para o seu desenvolvimento

psicossocial.193

A Lei da Alienação Parental traz, no seu artigo 6º, como instrumento para inibir ou

atenuar os efeitos causados pela prática de alienação a possibilidade de ampliar o regime de

convivência familiar em favor do genitor alienado.194

O direito de convivência dos pais com os filhos não é só direito, mas sim um dever,

como bem explica o juiz de direito Ronaldo Martins:

Os filhos têm o direito de conviver com ambos os pais, e o fato de viverem estes separados não pode retirar da criança esse direito, como fazem alguns, causando-lhe traumas, sofrimentos e angústia pela espera e pela incerteza da companhia daquele que é o responsável por sua existência em um certo fim de semana - que pode não acontecer, eventualmente, em razão de um compromisso profissional urgente e inesperado, de um médico, dentista ou advogado que necessitou atender a um cliente no horário da "visita". O convívio do filho com o pai ou a mãe que não tem a sua custódia não pode ser denominado de visita e não pode ser esporádico como é adotando-se o sistema padrão. Nada impede, por exemplo, que o pai com quem não reside o menor possa levá-lo ao colégio ou lá recebê-lo ao final das aulas e levá-lo para casa, sua ou dele, um dia ou outro da semana, ou levá-lo ao curso de língua estrangeira, balé, clube ou academia de ginástica, médico ou dentista. Nada pode impedir que fale com o filho ao telefone para saber como foi o seu dia na escola, se foi bem nas provas, ou o convide para pescar, assistir a uma partida de futebol no fim de semana ou feriado, quando o que detém a guarda não tem programa melhor ou que interesse mais ao filho, desde que não haja prejuízo para seu rendimento escolar, apenas porque aquele fim de semana não lhe é reservado para a "visita". Mas o egoísmo, segundo mostra a experiência, tem obstado esse maior contato, apenas porque naquela semana não havia sido estipulada a "visita".195

192 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 58 e 123. 193 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 57. 194 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 48. 195 MARTINS, Ronaldo. Guarda de filhos de pais separados. ONG APASE Associação de Pais e Mães Separados. Disponível em: <http://www.apase.org.br/82003-parecer.htm>. Acesso em: 24 out. 2015.

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A periodicidade das visitas é de grande importância e a Justiça também tem o dever de

preservar a convivência, conforme observa Yussef Said Cahali:

À justiça cabe impedir que o exercício do direito de visitas seja dificultado por sentimentos abjetos, como também não atende aos interesses dos menores dificultarem o desempenho desse direito-dever; por presunção é de se esperarem resultados benéficos para a prole, desses contatos periódicos com o outro genitor, contatos que permitirão não só uma melhor fiscalização quanto à maneira como estão sendo tratados os filhos, como também acalentam aquele natural afeto que resulta do vínculo da paternidade. 196

Assim, o direito de convivência deve ser sempre preservado e ampliado na medida do

possível, pois o intervalo de tempo em que ocorrem as “visitas” do genitor não guardião pode

causar na criança o medo do abandono do genitor ausente, acrescido do desapego a este, em

razão do distanciamento.197 Inclusive, quando o genitor não guardião for suspeito de abuso,

viciado em tóxicos, alcoólatra inveterado ou psicopata, deve ser preservada e ampliada a

convivência, porém restringindo a um local apropriado, sendo este local determinado em juízo

e com acompanhamento de terceira pessoa, sendo chamada essa prática de visitação

assistida.198

5.4 DEPOIMENTO SEM DANO E SUA VIABILIDADE NAS VARAS DE FAMÍLIA

Maria Berenice Dias explica que “existe uma ideia sacralizada da família.

Corresponde ao lugar idealizado por todos como espaço de segurança, de proteção e de amor

que embala o sonho da felicidade”. Esses fatores criam uma responsabilidade enorme nas

crianças/adolescentes que, por medo, insegurança ou por qualquer outro motivo, acabam se

tornando “fiéis” a um de seus genitores e criam um pacto de silêncio difícil de romper.199

Os casos de alienação parental são de difícil aferição,200 está na hora dos juizados de

famílias buscarem novas técnicas de colherem provas para desvendar os relatos: se tratam de

196 DUARTE, Marcos. Alienação Parental: Comentários Iniciais à Lei 12.318/2010. O Povo Online. 12 dez. 2010. Disponível em: <http://blog.opovo.com.br/direitoeinformacao/alienacao-parental-comentarios-iniciais-a-lei-12-3182010/>. Acesso em: 24 out. 2015. 197 SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome de alienação parental: o que é isso? 2. ed. Campinas: Armazém do Ipê, 2011. p. 87. 198 MADALENO, Ana Carolina Carpes; MADALENO, Rolf. Síndrome da Alienação Parental: a importância de sua detecção com seus aspectos legais e processuais 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 37. 199 DIAS. Maria Berenice. Incesto e o mito da família feliz. In: DIAS, Maria Berenice (Coord.). Incesto e alienação parental: Realidades que a justiça insiste em não ver. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 260. 200 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 128.

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verdades ou de mentiras.

Em maio de 2003, o Juizado da Infância e Juventude de Porto Alegre criou uma forma

alternativa de ouvir crianças ou adolescentes em audiência, com o propósito de evitar que elas

sofram danos durante a produção de provas nos processos judiciais, nos quais sejam vítimas

ou testemunhas.201

O projeto foi denominado de Depoimento sem Dano e posteriormente o nome foi

alterado pelo CNJ para Depoimento Especial. Pelo projeto desenvolvido, as crianças ou

adolescentes não prestam seus depoimentos da maneira convencional, 202 são retiradas do

ambiente formal da sala de audiências e transferidas para uma sala projetada especialmente

para tal circunstância,203 ou seja, uma sala mais acolhedora, onde possui jogos, brinquedos,

etc.204

O magistrado José Antonio Daltoé Cezar, criador do projeto, esclarece como é

realizada a audiência:

A sala do depoimento, que também pode ser nominada de sala de escuta, é ligada por vídeo e áudio à sala de audiências, na qual se encontram presentes o juiz, o promotor de justiça, o advogado, o réu e os serventuários da justiça, os quais podem interagir enquanto o relato ocorre, desde que autorizados pela autoridade judiciária, porquanto o sistema presidencial de audiências permanece inalterado. Com a criança, na sala de escuta, uma técnica previamente capacitada para a tarefa facilita a tomada do depoimento, repassando à criança, com os modelos de linguagem adequados à idade que ela tiver, as perguntas que lhe forem transmitidas desde a sala de audiências. 205

Assim, o depoimento sem dano ou especial mostra-se ser uma nova alternativa para

colher provas de crianças e adolescentes nos juizados de família, principalmente em casos que

envolvam alienação parental, pois é uma maneira de romper a barreira do silêncio que leva à

invisibilidade do que realmente está ocorrendo.206 Essa técnica não se baseia somente na

201 CEZAR, José Antônio Daltoé. A inquirição de crianças vítimas de abuso sexual em juízo. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 370. CEZAR, José Antônio Daltoé. A inquirição de crianças vítimas de abuso sexual em juízo. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 370. 203 CEZAR, José Antônio Daltoé. Depoimento sem dano: Uma alternativa para inquirir crianças e adolescentes nos processos judiciais. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2007. p. 61. 204 CEZAR, José Antônio Daltoé. A inquirição de crianças vítimas de abuso sexual em juízo. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 370. 205 CEZAR, José Antônio Daltoé. A inquirição de crianças vítimas de abuso sexual em juízo. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 370. 206 DIAS. Maria Berenice. Incesto e o mito da família feliz. In: DIAS, Maria Berenice (Coord.). Incesto e alienação parental: Realidades que a justiça insiste em não ver. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p.

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palavra, uma vez que, com a gravação do áudio e vídeo, as emoções, o choro, a tristeza, a

lágrima os gestos são alvos de avaliação por parte daqueles que têm como dever produzir

validamente as provas e com base nelas proferir uma decisão.207

5.5 GUARDA COMPARTILHADA COMO FORMA DE REDUÇÃO DE ALIENAÇÃO

PARENTAL

[...] Eu moro com a minha mãe Mas meu pai vem me visitar

Eu moro na rua, não tenho ninguém Eu moro em qualquer lugar

Já morei em tanta casa que nem me lembro mais Eu moro com meus pais [...]

Legião Urbana – Pais e Filhos

O número de divórcios cresce no Brasil e no mundo e novas famílias surgem e nasce

um “problema”: definir a guarda dos filhos. Esse problema é corriqueiro na sociedade, mas

deve ser enfrentado, pois os filhos são o maior amor de uma família e esse amor deve

importar mais que as formalidades! A soma do amor garante a vida que uma criança

merece.208

Antes do rompimento da relação conjugal, a guarda é exercida pelo casal com relação

aos seus filhos menores, exercício este que se dá por meio da autoridade parental, entretanto,

quando ocorre a dissolução conjugal, os pais precisam estabelecer a quem incumbirá o

exercício da guarda. 209

Maria Berenice Dias esclarece:

Falar em guarda de filhos pressupõe a separação dos pais. Porém, o fim do relacionamento dos pais não pode levar à cisão dos direitos parentais. O rompimento do vínculo familiar não deve comprometer a continuidade da convivência dos filhos com ambos os genitores [...] 210

A guarda unilateral, também chamada de exclusiva, não atende às necessidades da

260. 207 CEZAR, José Antonio Daltoé. A inquirição de crianças vítimas de abuso sexual em juízo. In: Dias, Maria Berenice (coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 371. 208 MENDONÇA, Martha. Filhos: amar é compartilhar. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA, Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 109. 209 ALEXANDRIDIS, Georgios; FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Alienação parental. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 39. 210 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 451.

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criança ou do adolescente, visto que é de extrema relevância a presença da figura paterna ou

materna no desenvolvimento dos filhos. Pensando nisso, para reduzir a ausência de

proximidade da criança ou adolescente com o pai ou a mãe e, a fim de atender às necessidades

do menor, surgiu a modalidade de guarda conjunta ou compartilhada. 211

A guarda compartilhada foi instituída pela Lei n. 11.698/2008, que deu nova redação

aos artigos 1.583 e 1.584 do Código Civil, determinando a igualdade de convivência de

ambos os genitores, priorizando o melhor interesse dos filhos e caracterizando o

compartilhamento do exercício do poder familiar. 212

Assim, a guarda compartilhada é a forma de manter de forma equilibrada os vínculos

parentais, sendo atribuído a ambos os genitores, de forma simultânea, o dever de zelar pelo

cuidado, proteção, carinho, educação e custódia dos filhos. 213 Em outras palavras explica

Denise Maria Perissini da Silva:

[...] é o meio pelo qual os pais separados, divorciados ou com dissolução de união estável realizada permanecem com as obrigações e os deveres na educação do filhos e nos cuidados necessários ao desenvolvimento deles em todas as áreas, tais como emocional, psicológica, entre outras. A guarda compartilhada não permite, portanto, que nenhum dos pais se exima de suas responsabilidades e, muito menos, que um dos pais não possa exercer esse dever para com a vida do filho e, por fim, garante que permaneça a convivência dos pais com o filho, mesmo após a dissolução do casamento ou da união estável. É um regime que conduz a relação dos pais separados com os filhos após o processo de separação, quando os dois vão gerir a vida do filho. 214

No dia 22 de dezembro de 2014 foi criada a Lei 13.058, conhecida como nova Lei da

Guarda Compartilhada, que alterou o parágrafo 2º do artigo 1.583 do Código Civil 215, dando

a seguinte redação: “Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve ser

dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista as condições

fáticas e os interesses dos filhos.”. 216

O professor Conrado Paulino da Rosa esclarece que as modificações trazidas pela Lei

nº 13.058/2014 vieram em boa hora, acima de tudo para dirimir o mito do filho

211 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 102. 212 MADALENO, Ana Carolina Carpes; MADALENO, Rolf. Síndrome da Alienação Parental: a importância de sua detecção com seus aspectos legais e processuais 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 36. 213 ALEXANDRIDIS, Georgios; FIGUEIREDO, Fábio Vieira. Alienação parental. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 39. 214 SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome de alienação parental: o que é isso? 2. ed. Campinas: Armazém do Ipê, 2011. p.1. 215 MADALENO, Ana Carolina Carpes; MADALENO, Rolf. Síndrome da Alienação Parental: a importância de sua detecção com seus aspectos legais e processuais 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 36. 216 BRASIL. Lei n. 13.058, de 22 de dezembro de 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/Lei/L13058.htm>. Acesso em: 21 out. 2015.

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“mochilinha”217, pois é possível que os pais, mesmo que não residam mais sob o mesmo teto,

passam exercer em conjunto as responsabilidades sobre os filhos.218 Nesse sentido, explica

Ana Carolina Carpes Madaleno:

[...] A responsabilidade é de ambos os genitores, que juntos deliberam sobre a melhor educação, a melhor forma de criação, os valores que passarão a seus filhos, ou seja o poder parental é exercido como antes da separação dos pais. Esse compartilhamento visa garantir ao filho que seus genitores se empenharão na tarefa de sua criação, minimizando os efeitos danosos que o rompimento da relação entre o casal gera na prole [...] 219

O Judiciário já está fazendo uso dessa ferramenta preventiva, vejamos decisão abaixo

transcrita:

APELAÇÕES CÍVEIS. FAMÍLIA. ALTERAÇÃO DO REGIME DE VISITAÇÃO PATERNA. IMPROCEDÊNCIA. ESTABELECIMENTO DA GUARDA COMPARTILHADA. PROCEDÊNCIA. MANUTENÇÃO. RECONHECIMENTO DE ALIENAÇÃO PARENTAL. DESCABIMENTO. REVOGAÇÃO DA GRATUIDADE JUDICIÁRIA DEFERIDA NA SENTENÇA AO GENITOR. CABIMENTO. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. PROPORCIONALIDADE A SER OBSERVADA EM RELAÇÃO À VERBA HONORÁRIA. COMPENSAÇÃO. VIABILIDADE. 1. Caso em que os estudos técnicos realizados na instrução foram categóricos no sentido da inexistência de situação a contraindicar o convívio paterno-filial, ocorrência que amparou a improcedência do pedido de suspensão das visitas paternas (objeto da ação), revelando, em contrapartida, a dificuldade de comunicação e de cooperação entre os genitores, a litigiosidade decorrente da separação, bem como os negativos reflexos desse conflito no desenvolvimento emocional do filho menor, responsabilidade que deve ser imputada a ambos os genitores, não autorizando o pretendido reconhecimento da alienação parental alegadamente praticada pela genitora (objeto da reconvenção). 2. Considerando que ambos os genitores são aptos ao exercício da guarda, corretamente estabelecido na origem o seu compartilhamento (objeto da reconvenção), arranjo que atende ao disposto no art. 1.584, § 2º, do CC (nova redação dada pela Lei nº. 13.058/14) e que se apresenta mais adequado à superação do litígio e ao atendimento dos superiores interesses do infante. 3. A ausência de consenso entre os pais não pode servir, por si apenas, para obstar o compartilhamento da guarda, que, diante da alteração legislativa e em atenção aos superiores interesses dos filhos, deve ser tido como regra. Precedente do STJ. 4. Manutenção da sentença no ponto em que fixou como base de moradia a residência da genitora e regulamentou o convívio paterno-filial nos termos propostos pelo genitor, em atenção à necessidade de preservação e fortalecimento dos vínculos afetivos saudáveis. 5. Não tendo o genitor demonstrado sua situação de fazenda e, assim, que faz jus à concessão da assistência judiciária gratuita, deve ser revogado o benefício deferido em seu favor na sentença, conforme requerido no apelo da genitora. 6. Descabido o redimensionamento da sucumbência recíproca, pois inocorrente o alegado decaimento mínimo do genitor, devendo ser mantida a proporção estabelecida na sentença para o pagamento das custas processuais, que deve ser observada também em relação aos honorários advocatícios, possibilitando-se a compensação (art. 21, parágrafo único, do CPC e da Súmula n°

217 ROSA, Conrado Paulino da. Nova Lei da Guarda Compartilhada. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 73. 218 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 141. 219 MADALENO, Ana Carolina Carpes; MADALENO, Rolf. Síndrome da Alienação Parental: a importância de sua detecção com seus aspectos legais e processuais 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 36.

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306 do STJ), conforme postulado no apelo do genitor. 7. Declaração de voto do revisor. APELOS PARCIALMENTE PROVIDOS.220

É claro que a modalidade de guarda compartilhada, como também na guarda unilateral,

exige dos pais um amplo grau de responsabilidade para deixarem de lado seus ressentimentos

pessoais, primando pelos melhores interesses da prole – não há espaço para egoísmo ou coisas

banais que só prejudicam o entendimento e fomentam a discórdia. 221

A opção da legislação acerca dessa modalidade de guarda para prevenção da Síndrome

de Alienação Parental se dá na medida em que tira a figura do filho como um troféu, pois

nenhum genitor é “dono” dele e muito menos dos seus pensamentos e traz a ideia de

compartilhar.222 Douglas Phillips Freitas diz que: “é adequado que a Lei da Alienação Parental

incentive a realização da Guarda Compartilhada, pois esta permite a aproximação dos filhos

sem a conotação de posse que advém da guarda unilateral.”.223

Para corroborar esse entendimento, esclarece Caroline de Cássia Francisco Buosi:

Ao impossibilitar o convívio exclusivo com somente um dos genitores e diminuir o desejo e a possibilidade de empoderamento por parte do possível alienador, o fenômeno da Síndrome da Alienação Parental ficará mais distante de instalar-se naquele núcleo familiar, haja vista que o cotidiano da criança com ambos os pais gera recordações precisas de bons momentos, o que impede a inscrustação de falsas memórias. 224

Nesse sentido, Maria Berenice Dias se posiciona da seguinte maneira:

Ao contrário do que todos proclamam esta não foi uma vitória dos pais, mas uma grande conquista dos filhos, que não podem mais ser utilizados como moeda de troca ou instrumento de vingança. Acabou a disputa pela posse do filho que, tratado como um mero objeto, ficava sob a guarda da mãe que detinha o poder de permitir ou não as visitas do pai. Agora os filhos adquiriram o direito de não serem mais chamados de filhos da mãe!225

Por fim, a guarda compartilhada não significa dividir o tempo da criança ou do

adolescente em duas metades, sendo estas divididas entre duas casas. Significa dividir os

220 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível 70061663670. Apelante: E. S. C. Apelado: P. F. L. C. Relator: Des. Ricardo Moreira Lins Pastl. Porto Alegre, 09 abr. 2015. 221 SILVA, Denise Maria Perissini da. Guarda compartilhada e síndrome de alienação parental: o que é isso? 2. ed. Campinas: Armazém do Ipê, 2011. p.2. 222 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 142. 223 FREITAS, Douglas Phillips. Alienação parental: comentários à Lei 12.318/2010. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 109. 224 BUOSI, Caroline de Cássia Francisco. Alienação parental: uma interface do direito e da psicologia. Curitiba: Juruá, 2012. p. 142. 225 DIAS, Maria Berenice. Filho da mãe. Disponível em: <http://www.mariaberenice.com.br/uploads/2_-_filho_da_m%E3e.pdf>. Acesso em: 20 out. 2015.

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direitos e os deveres igualmente entre os pais. Amar e cuidar do jeito que podem, sem que

haja qualquer tipo de obstáculo. A final o filho não é só da mãe, mas do pai também. 226

226 MENDONÇA, Martha. Filhos: amar é compartilhar. In: BORBA, Daniela Vitorino; SILVA, Alan Minas Ribeiro da. (Org.) A Morte Inventada: Alienação Parental em Ensaios e Vozes. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 112-113.

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6 CONCLUSÃO

Os tempos mudaram e a estrutura da instituição familiar se transformou. Contudo, um

ponto não mudou: a relação de vínculo entre pais e filhos!

Toda relação humana, seja ela conjugal ou afetiva, é baseada em sentimentos, dizem

que este é o meio pelo qual o coração transmite algum recado e esse recado pode ser

interpretado pelo próximo de uma maneira diferente do proposto ou até mesmo da maneira

que deveria ser interpretado, ocasionando assim descontentamentos, problemas ou crises que,

se não superados, podem levar a dissolução de um vínculo conjugal ou até mesmo afetivo.

Geralmente esse rompimento da relação se torna um processo sofrido e doloroso, no qual

sobram ressentimentos e o desejo de vingança vêm à tona.

Esses conflitos batem à porta do Poder Judiciário buscando uma solução para um

litígio que muitas vezes não se trata de uma causa jurídica propriamente dita, mas sim de

problemas pessoais, psicológicos, afetivos sobrecarregados de dor, sofrimento e

ressentimentos. Mas o Poder Público possui alternativas para solucionar tais situações? Eu

acredito que sim. Cada vez mais mostra-se necessário a Justiça evoluir em conformidade com

a sociedade e olhar atentamente para os conflitos familiares, principalmente para verificar se

não há alguma prática alienadora prejudicando o vínculo afetivo da criança.

Cumpre relembrar que a família é o agente socializador da criança, é nela que o menor

se desenvolve, conquista valores e se torna apto para “enfrentar” a sociedade. A criança tem

que ser criada com amor, não pode conviver no meio de conflitos e, muito menos se tornar

instrumento punitivo contra pessoas que querem o seu bem e a ama. Mais tarde, talvez essa

criança que sofreu tanto com essa prática irá confrontar-se com sua pré-história e irá repetir

tais atos.

Conforme analisado, a alienação parental consiste em um jogo de manipulações do

alienador que tem um objetivo principal: afastar o outro do convívio com o filho. É uma

prática corriqueira por um dos cônjuges no fim do relacionamento conjugal. Há de se atentar

que a condutada alienadora pode ser promovida tanto pela mãe, como pelo pai e, também por

pessoas próximas a criança.

Assim, evidentemente que não é apenas o genitor ou pessoa próxima alienada que

sofre com os danos causados pela Alienação Parental, mas principalmente as crianças que

estão em um período de formação e acabam sofrendo graves consequências psicológicas.

É claro que há um prejuízo social com relação à prática de alienação parental e é

preciso transparecer para a sociedade a gravidade dessa conduta e a importância desse

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tema. Nota-se que a legislação, aos poucos, está evoluindo, principalmente no campo do

Direito de Família e da Criança e do Adolescente. São aspectos positivos como a criação

da Lei da Alienação Parental e a Lei da Guarda Compartilhada que tornam o direito mais

fortalecido, uma vez que essas leis possibilitam a promoção dos direitos da Criança e do

Adolescente de conviverem com ambos os genitores após o fim da relação conjugal,

mantendo e fortalecendo os laços afetivos.

A Lei 12.318/2010 conceitua e exemplifica os atos de alienação parental, dando

mais segurança para o magistrado identificar situações que envolvam tal conduta.

Entretanto somente a lei não é suficiente para proteger as crianças e os adolescentes, pois

os únicos meios de proteção não são só as leis e as doutrinas que tratam sobre o assunto, é

necessário, primeiramente, que os próprios pais tenham a consciência do que estão fazendo

com seus filhos.

Ainda, é necessário que o Poder Judiciário utilize suas ferramentas alternativas ou até

mesmo busque novos caminhos e aportes em outras ciências, através de pessoas qualificadas,

para amenizar e prevenir a prática de alienação parental. Existem recursos não judiciais que

são eficazes para solução de conflitos familiares, como a terapia familiar, a mediação, etc.

Talvez a mediação seja uma grande solução para os casos de alienação, é lamentável o artigo

9º da Lei 12.318/2010 ter sido vetado, pois as partes precisam é de diálogo para resolver as

questões familiares e muitas vezes conscientizadas que os direitos legítimos dos filhos devem

ser preservados e não se submeterem a demandas judiciais que muitas vezes se arrastam por

anos.

É fundamental que a lei seja aplicada com cautela, é imprescritível que haja múltiplos

níveis de análise e uma perspectiva interdisciplinar, pois ao invés de contribuir para o que a

lei se propõe, o efeito pode ser inverso, qual seja, incentivar o conflito, manter as desavenças

e os sentimentos, contribuindo para a ruptura dos vínculos familiares.

Assim, conclui-se que independentemente de qual modelo familiar a criança convive,

é necessário que o seu vínculo de afetividade com seus responsáveis seja sagrado e intenso

para que possa ter um desenvolvimento adequado e futuramente poder estabelecer vínculos

saudáveis e viver em harmonia buscando um ideal mais feliz, pois a alienação parental é

também um problema social que traz consequências catastróficas para as gerações futuras. O

escritor e pensador alemão Johann Goethe bem esclarece: “Só é possível ensinar uma criança

a amar, amando-a.”

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