os efeitos do bilinguismo na memÓria de trabalho de...

109
MESTRADO EM LETRAS LINGUAGEM, INTERAÇÃO E PROCESSOS DE APRENDIZAGEM ANA CLAUDIA BENNETT OS EFEITOS DO BILINGUISMO NA MEMÓRIA DE TRABALHO DE JOVENS ADULTOS SUL-BRASILEIROS PORTO ALEGRE 2016

Upload: vokiet

Post on 07-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

MESTRADO EM LETRAS

LINGUAGEM, INTERAÇÃO E PROCESSOS DE APRENDIZAGEM

ANA CLAUDIA BENNETT

OS EFEITOS DO BILINGUISMO NA MEMÓRIA DE TRABALHO

DE JOVENS ADULTOS SUL-BRASILEIROS

PORTO ALEGRE

2016

ANA CLAUDIA BENNETT

OS EFEITOS DO BILINGUISMO NA MEMÓRIA DE TRABALHO

DE JOVENS ADULTOS SUL-BRASILEIROS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Letras do Centro Universitário

Ritter dos Reis, como requisito parcial para a

obtenção do título de Mestre em Letras.

Orientadora: Profª. Drª. Márcia Zimmer

PORTO ALEGRE

2016

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Ficha catalográfica elaborada no Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Dr. Romeu Ritter dos Reis

B471e

Bennett, Ana Claudia.

Os efeitos do bilinguismo na memória de trabalho de jovens adultos sul-brasileiros / Ana Claudia Bennett. – 2016.

109 f.: il.; 30 cm. Dissertação (Mestrado em Letras) – Centro Universitário Ritter dos

Reis, Faculdade de Letras, Porto Alegre - RS, 2016. Orientador: Profª. Drª Márcia Zimmer.

1. Letras. 2. Bilinguismo. 3. Psicolinguística. I. Título. II. Zimmer, Márcia.

CDU 81’246.2

ANA CLAUDIA BENNETT

OS EFEITOS DO BILINGUISMO NA MEMÓRIA DE TRABALHO

DE JOVENS ADULTOS SUL-BRASILEIROS

Dissertação de Mestrado, apresentada

junto ao Programa de Pós-Graduação em

Letras do Centro Universitário Ritter dos

Reis, como requisito parcial para a

obtenção do título de Mestre em Letras.

Área de concentração: Linguagem,

Interação e Processos de Aprendizagem

Orientadora: Profª. Drª. Márcia Zimmer

____PROVADA Conceito final: ......................................

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________ Profª. Drª. Ana Beatriz Arêas da Luz Fontes (UFRGS)

__________________________________________ Profª. Drª. Noeli Reck Maggi (Uniritter)

__________________________________________ Profa. Dra. Márcia Cristina Zimmer (Orientadora – Uniritter)

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, o meu agradecimento especial a Deus pela vida e por permitir que eu alcançasse mais esta conquista.

Ao meu marido Scott G. Bennett, à minha mãe Neida Noeli Malmann Gomes e à minha irmã Liane Gomes da Rosa Zacouteguy pelos conselhos e apoio.

Aos demais familiares, pela confiança.

Aos meus queridos colegas de trabalho (da Biblioteca de Psicologia da UFRGS) e à minha chefe, pela compreensão, paciência e apoio;

À UFRGS (EDUFRGS) pela bolsa de Mestrado e pela licença para capacitação que possibilitaram a realização do curso e o término da presente dissertação;

Aos professores do curso de mestrado do Centro Universitário Ritter dos Reis, pelos exemplos e ensinamentos, especialmente à prof. Noeli Reck Maggi e à Prof. Valéria Brisolara;

Ao pastor Waldemar Garcia Jr. pelas orações e pelos conselhos nos momentos mais difíceis;

Aos participantes desta pesquisa, pela colaboração fundamental para a dissertação.

Aos meus queridos colegas de aula, pelo incentivo.

À Profa. Dra. Márcia Zimmer, minha orientadora, e às Prof. Dras. Profª. Drª. Ana Beatriz Arêas da Luz Fontes (UFRGS) e Profª. Drª. Noeli Reck Maggi, membros da banca de qualificação e defesa desta dissertação, pela orientação.

Ao Alexandre Verfe, ao Silvio Gusmão e ao Daniel Sganzerla pela ajuda com o programa SPSS, usado na análise dos dados. À Brenda Pierobon pela ajuda na coleta de dados.

A todos aqueles amigos que me ajudaram, de uma forma ou de outra, muito obrigada.

RESUMO

Pesquisas apontam que o bilinguismo é uma experiência que exerce efeitos benéficos sobre as funções executivas. O presente estudo tem como objetivo colaborar com as pesquisas dessa área da psicolinguística, replicando um estudo americano (BAKER, 2013) que investiga os efeitos do bilinguismo na memória de trabalho de jovens adultos. Os participantes da presente pesquisa são quarenta e seis adultos brasileiros, universitários ou que já terminaram o curso de graduação, entre dezoito e trinta e cinco anos, sendo vinte e três deles monolíngues, falantes de português brasileiro e vinte e três bilíngues, falantes de português brasileiro e inglês. Foram aplicados os testes NBD e WFC1 para medir a memória de trabalho e o teste WFC2 para testar a memória de longa duração. Também foi aplicado o PNT (Picture

Naming Task) para verificar o nível de proficiência na língua inglesa. Os testes NBD e WFC utilizam vinte palavras abstratas, sendo dez cognatas para verificar se (e de que forma) a experiência bilíngue influencia a memória de trabalho. Diversos estudos canadenses sobre os efeitos do bilinguismo no desenvolvimento cognitivo, como os desenvolvidos por Ellen Bialystok e seus colaboradores (BIALYSTOK et al., 2004; BIALYSTOK et al., 2008; BIALYSTOK, 2009; BIALYSTOK, BARAC, 2012, entre outros), e estudos americanos (BAKER, 2013; MACNAMARA, CONWAY, 2014) evidenciaram vantagens dos bilíngues em relação aos monolíngues. Contudo, mais recentemente, uma série de outros estudos (BIALYSTOK, 2008; LIMBERGER, BUCHWEITZ, 2012; PAAP, GREENBERG, 2013; PAAP et al. 2014) vem contestando a chamada vantagem bilíngue. Foi encontrada uma diferença estatisticamente significativa somente em um dos testes, o WFC2. Os resultados aqui encontrados estão em consonância com os achados do estudo replicado e colaboram para o debate sobre a existência ou não da vantagem bilíngue.

Palavras-chave: Bilinguismo. Memória de trabalho. Jovens adultos brasileiros.

ABSTRACT

Bilingualism is an experience that seems to have beneficial effects on the executive functions. This thesis aims at collaborating with other studies in this area of psycholinguistics, replicating an American thesis (BAKER, 2013) which investigates the effects of bilingualism on young adults’ working memory. The research participants are 46 Brazilian adults (college students or people who have already finished their undergraduate course), between 18 and 35 years old, 23 monolinguals (Brazilian Portuguese speakers) and 23 bilinguals (English and Portuguese speakers). In this study, the following tests were applied: NBD (Naming by

Definition), WFC (Word Fragment Completion) and PNT (Picture Naming Task). The two tests, NBD and WFC, use 20 abstract words (10 cognate words) to check whether (and how) the bilingual experience influences working memory. Several Canadian studies on bilingualism and cognitive development, as Ellen Bialystok and colleagues’ (BIALYSTOK et al., 2004; BIALYSTOK et al., 2008; BIALYSTOK, 2009;

BIALYSTOK and BARAC, 2012, among others), American ones (BAKER, 2013; MACNAMARA, CONWAY, 2014) and other nationalities have evidenced a bilingual advantage. However, most recently a series of studies (BIALYSTOK, 2008; LIMBERGER, BUCHWEITZ, 2012; PAAP, GREENBERG, 2013; PAAP et al. 2014) have been contesting the so-called bilingual advantage. In this study, a statistically significant difference was found in only one of the tests, namely, WFC2. The results reported here are in consonance with the findings of the study replicated (BAKER, 2013), and they collaborate in the debate about the possible existence of a bilingual advantage.

Keywords: Bilingualism. Working memory. Brazilian young adults

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Vantagens e desvantagens cognitivas de bi/multilíngues

Quadro 2 - Exemplos de palavras e definições utilizadas no teste NBD

Quadro 3 - Exemplos de palavras usadas no teste WFC

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 -Distribuição dos participantes por sexo

Grafico 2 - Atividade profissional dos participantes

Gráfico 3 – Local de conversação de inglês

Gráfico 4 – Pessoas com quem os participantes bilíngues falam inglês

gráfico 5 – Porcentagem diária de pensamento em inglês e português

gráfico 6 – Desempenho dos participantes bilíngues monolíngues na tarefa NBD

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Média de idade dos grupos

Tabela 2 – Escolaridade dos participantes

Tabela 3 – Tempo de Estudo Pós Ensino Médio

Tabela 4 – Instituição educacional

Tabela 5 – País em que aprenderam inglês

Tabela 6 –Como os participantes bilíngues aprenderam inglês

Tabela 7 – Idade em que os participantes bilíngues iniciaram o aprendizado de

inglês

Tabela 8 – Tipos de textos escritos pelos participantes em inglês

Tabela 9 – Leitura de textos em inglês

Tabela 10 –Autoavaliação das quatro habilidades

Tabela 11 – Horas diárias de conversação em inglês

Tabela 12 – Autoavaliação do sotaque em inglês

Tabela 13 – Comparação do nível de bilinguismo com o PNT

Tabela 14 – Comparação das habilidades com o PNT

Tabela 15 – Escores dos grupos na tarefa NBD Tabela 16 – Desempenho dos participantes monolíngues e bilíngues na tarefa WFC

Tabela 17 - Correlação linear de Pearson

Tabela 18 - Correlação linear entre WFC 1 e WFC 2

Tabela 19 – Comparação entre palavras cognatas e não cognatas (grupo dos

bilíngues)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CI – Controle inibitório

CLPT- Competing Language Processing Task

FEs – Funções executivas

FMT – Frogs Matrices Task

IB – Idosos Bilíngues

IM – Idosos Monolíngues

JB – Jovens Bilíngues

JM – Jovens Monolíngues

L1 – Língua materna

L2 - Língua adicional ou estrangeira

MCD – Memória de Curta Duração

MLD – Memória de Longa Duração

MT – Memória de trabalho

NBD – Naming By Definition

PB – Português Brasileiro

PNT – Picture Naming Task

QI – Quociente de Inteligência

SPSS - Statistical Package for Social Sciences

TR – Tempo de Reação

WFC1- Word Fragment Completion – primeira etapa

WFC2 – Word Fragment Completion – segunda etapa (realizada 5 dias após a primeira etapa)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO– MODIFIQUEI A ORDEM E ALGUMAS INFORMAÇÕES EM ALGUNS PARÁGRAFOS:........................................................................................ 13

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 18

2.1 BILINGUISMO– MODIFIQUEI A ORDEM DE ALGUNS PARÁGRAFOS: .......... 18

2.2 FUNÇÕES EXECUTIVAS E VANTAGEM BILÍNGUE .................................................... 23

2.3 MEMÓRIA DE TRABALHO E VANTAGEM BILÍNGUE – TAMBÉM MUDEI PARÁGRAFOS DE LUGAR ...................................................................................... 27

2.4 ESTUDOS EMPÍRICOS ...................................................................................... 35

2.4.1 Estudos empíricos sobre bilinguismo e memória de trabalho .............................. 35

2.4.2 Estudos sobre bilinguismo e efeito cognato. ......................................................... 45

3 METODOLOGIA .................................................................................................... 48

3.1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 48

3.1.1 Objetivo geral ............................................................................................................ 48

3.1.2 Objetivos específicos ........................................................................................ 48

3.2 HIPÓTESES ........................................................................................................ 49

3.3 OS INFORMANTES ............................................................................................ 50

3.3.1 Critérios de inclusão .......................................................................................... 50

3.3.2 Critérios de exclusão ......................................................................................... 51

3.4 Instrumentos e procedimentos de coleta de dados ........................................................ 51

3.4.1 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E INFORMADO ................................ 51

3.4.2 Questionário de sondagem e autoavaliação linguística ........................................ 52

3.4.3 Os testes usados no estudo .................................................................................... 52

3.4.3.1 NBD - NAMING BY DEFINITION .................................................................. 53

3.4.3.2 WFC - WORD-FRAGMENT COMPLETION .................................................. 54

3.4.3.3 PNT- PICTURE NAMING TASK .................................................................... 55

3.5 PROCEDIMENTOS .................................................................................................... 55

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS: ................................. 58

4.1 PERFIL DOS PARTICIPANTES ............................................................................... 58

4.2 RESULTADOS RELATIVOS À PRIMEIRA HIPÓTESE: ........................................ 69

4.2.1 Descrição ................................................................................................................... 69

4.2.2 Discussão .................................................................................................................. 71

4.3 RESULTADOS RELATIVOS À SEGUNDA HIPÓTESE ......................................... 74

4.3.1Descrição .................................................................................................................... 74

4.3.2 Discussão .................................................................................................................. 76

4.4 RESULTADOS RELATIVOS À TERCEIRA HIPÓTESE ........................................ 78

4.4.1 Descrição ................................................................................................................... 78

4.4.2 Discussão .................................................................................................................. 80

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 83

5.1 RESULTADOS OBTIDOS NA DISCUSSÃO DOS OBJETIVOS DA PESQUISA 83

5.2 LIMITAÇÕES DO ESTUDO ....................................................................................... 85

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 89

ANEXOS ................................................................................................................. 100

ANEXO 1 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............... 100

ANEXO 2 - QUESTIONÁRIO DE SONDAGEM ..................................................... 102

ANEXO 3 - PALAVRAS USADAS NOS TESTES NBD E NA PRIMEIRA E SEGUNDA ETAPA DO TESTE WFC ..................................................................... 105

ANEXO 5 – FIGURAS UTILIZADAS NO PNT ........................................................ 108

13

1 INTRODUÇÃO

Atualmente sou professora de inglês e como sempre busco meu

aperfeiçoamento profissional, decidi cursar o mestrado em Letras. O meu interesse

pela aprendizagem e pelo ensino de inglês, além da minha experiência como

bilíngue, levaram-me a escolher os temas deste trabalho: bilinguismo e memória de

trabalho1.

Há muito tempo o bilinguismo tem atraído a atenção de teóricos e

profissionais de diferentes áreas (BHATIA; RITCHIE, 2013), como a linguística

aplicada (FINGER et al., 2011; MARTIN, ELLIS, 2012, a psicolinguística (JAY, 2003;

HARLEY, 2008; BIALYSTOK et al., 2004; BIALYSTOK et al., 2007; BIALYSTOK et

al., 2008; MARTIN-RHEE; BIALYSTOK, 2008), a neurolinguística (ABUTALEBI;

GREEN, 2007; BIALYSTOK, 2005 e HALSBAND, 2006) e a fonoaudiologia

(ABUTALEBI et al., 2009; MICHAEL, GOLLAN, 2005), entre outros.

De acordo com King (2007) e Maher (2007), há uma relação positiva entre o

bilinguismo, o funcionamento cognitivo e a competência comunicativa. O aumento

do pensamento divergente/criativo, a maior predisposição ao pensamento abstrato e

a maior sensibilidade para o contexto de comunicação são apenas algumas das

vantagens. Kroll e Bialystok (2013) acrescentam que o bilinguismo apresenta

benefícios para o funcionamento do cérebro, como a plasticidade e a flexibilidade

cerebrais e habilidades linguísticas, como a consciência metalinguística.

Outras vantagens também podem ser citadas: Os bilíngues também

apresentam maior densidade de massa encefálica no lado esquerdo do córtex

parietal. Essa diferença é maior nos bilíngues precoces (que aprenderam a se

comunicar em duas línguas desde a infância) e naqueles com uma proficiência

maior na segunda língua (MECHELLI et al., 2004).

1Segundo Baddeley e colaboradores (2011), a memória de trabalho é o sistema que armazena e manipula informação de forma temporária, permitindo que as pessoas executem atividades complexas como o raciocínio, o aprendizado e a compreensão.

14

Além das vantagens cognitivas e fisiológicas, o bilinguismo também apresenta

vantagens sociais. As pessoas bilíngues, por exemplo, tendem a ser mais abertas

para se relacionarem com pessoas de outras culturas e grupos e para aceitar

diferenças, o que também contribui para um melhor relacionamento interpessoal na

escola e no trabalho.

Apesar das diversas vantagens relacionadas ao bilinguismo citadas acima e

de muitas outras, ainda existe certo preconceito e alguns mitos. Como preconceitos,

podemos citar o fato de que alguns pais, até mesmo com bom nível cultural, ainda

hesitam em matricular seus filhos em cursos de idiomas, com receio de que eles

fiquem confusos com o aprendizado de duas línguas, ou seja, que a aprendizagem

de uma língua adicional possa prejudicar a aprendizagem da primeira língua ou

língua materna (BIALYSTOK et al, 2012). Em relação aos mitos, há na literatura

inicial sobre bilinguismo estudos que mencionavam que os bilíngues apresentaram

QI mais baixo do que monolíngues (SAER, 1922).

Até os anos 1920, as pesquisas apresentavam desvantagens da população

bilíngue em relação à monolíngue, principalmente devido a problemas

metodológicos das pesquisas da época. Entretanto, a partir dos anos 1960, mais

precisamente tendo o estudo de Peal e Lambert (1962) como um marco para o

desenvolvimento das pesquisas sobre o bilinguismo, os estudos começaram a ter

problemas metodológicos solucionados, como o controle de variáveis, como o nível

socioeconômico dos participantes, e os resultados começaram a apresentar uma

vantagem bilíngue.

Tal vantagem, de acordo com Rodrigues e colaboradores (2015), consiste em

uma hipótese de que o bilinguismo reforçaria um conjunto específico de habilidades

intelectuais chamado de funções executivas2 (FEs), demonstrada em inúmeras

pesquisas, como as que envolvem o estudo da consciência metalinguística, do

controle inibitório, da melhora da memória de trabalho, etc. (CODERRE et al., 2012;

BIALYSTOK, BARAC, 2012; BIALYSTOK et al. 2008; COSTA et al., 2008;

2Funções executivas são habilidades cognitivas envolvidas no planejamento, iniciação, seguimento e monitoramento de comportamentos complexos dirigidos a um fim. Há inúmeras FEs como: atenção, concentração, seletividade de estímulos, capacidade de abstração, planejamento, flexibilidade, controle mental, autocontrole e memória operacional ou de trabalho (HAMDAN, BUENO, 2005).

15

BIALYSTOK, 2006; BIALYSTOK et al., 2004). Em outras palavras, o bilinguismo é

uma experiência que parece exercer efeitos benéficos sobre as funções executivas.

Um dos aspectos de interesse recente das pesquisas sobre a chamada

vantagem bilíngue é a memória de trabalho. Ela também é um assunto relevante

para a linguística aplicada, pois o seu papel é fundamental para qualquer

aprendizagem e, em especial, para a aprendizagem de línguas estrangeiras

(MARTIN, 2012).

Segundo Bialystok (2008), é evidente que experiências desafiadoras têm um

efeito poderoso no desempenho cognitivo e na organização e estrutura cerebral.

Desse modo, um dos objetivos do presente trabalho é contribuir com as pesquisas

que buscam elucidar se o bilinguismo consiste em uma experiência que contribui

com resultados benéficos sobre as funções executivas, em particular sobre a

memória de trabalho de adultos jovens.

A memória de trabalho (doravante MT), apesar de ser considerada uma

função executiva (BARKLEY, 2012) que contribui na execução de atividades

cognitivas complexas, como a compreensão e o raciocínio (BADDELEY, 1992),

ainda carece de estudos no Brasil (PINTO, 2009). Além disso, até mesmo os

estudos internacionais ainda apresentam resultados divergentes e inconclusivos.

Assim, não há uma evidência clara de que os bilíngues possuam uma memória de

trabalho melhor do que os monolíngues (MORALES et al., 2013, p. 5).

A vantagem bilíngue, portanto, continua sendo um construto bastante

questionado, principalmente por um grupo de pesquisadores (PAAP et al. 2014,

PAAP; GREENBERG, 2013, BIALYSTOK, 2008, LIMBERGER; BUCHWEITZ, 2012),

que afirmam não haver um consenso sobre a evidência de uma vantagem bilíngue

entre os estudos realizados até o momento.

Entender tanto o papel da memória de trabalho junto às funções executivas

quanto o efeito que o bilinguismo exerce no seu desenvolvimento é extremamente

relevante porque a MT é fundamental para diversas habilidades cognitivas,

especialmente aquelas envolvendo interferência, conflito ou distração (KANE et al.,

16

2007). A compreensão de uma língua e a aprendizagem de uma segunda língua, por

exemplo, dependem muito da MT (MARTIN, 2012; WEN, 2012; CONWAY, 2008).

Mais estudos verificando o potencial benefício da MT, comparando o desempenho

de bilíngues e monolíngues em populações adultas contribuiriam muito para com a

literatura sobre o bilinguismo, a memória e o entendimento de seu funcionamento.

Justifica-se, assim, o presente estudo sobre os efeitos do bilinguismo na

memória de trabalho em adultos jovens, por ainda não existir um consenso sobre os

reais efeitos que o bilinguismo desempenha sobre as funções executivas e sobre a

memória de trabalho. Este é um dos motivos que me fizeram decidir sobre o tema:

trazer contribuições para as pesquisas que buscam esclarecimentos em relação às

possíveis vantagens ou desvantagens do bilinguismo. Mais especificamente, esta

pesquisa tem por tema o efeito do bilinguismo na memória de trabalho de jovens

adultos sul brasileiros.

Dessa forma, o presente estudo pretende responder principalmente à

questão: O bilinguismo pode, de fato, incrementar a memória de trabalho de adultos

jovens sul-brasileiros? Para isso, optou-se por replicar o estudo americano de Baker

(2013), intitulado Effects of bilingualism on working memory ability. A autora

americana utilizou, em seu estudo, o inglês como língua materna e o espanhol como

língua estrangeira. No presente estudo, a língua materna será o português brasileiro

e a língua estrangeira será o inglês.

Após ter sido exposto o tema, as motivações e as justificativas para o

presente estudo, passa-se para a descrição de sua organização. No capítulo dois,

encontra-se a revisão de literatura, que se subdivide em quatro seções. A seção 2.1,

intitulada Bilinguismo, traz definições dos termos bilíngue e bilinguismo, além de

apresentar os tipos de bilinguismo; a seção 2.2 trata da definição de Funções

Executivas (FEs) e das explicações sobre o funcionamento das principais FEs,

assim como a sua relação com a vantagem bilíngue; a seção 2.3 discute conceitos a

respeito da memória de trabalho; e finalmente, a seção 2.4 aponta alguns estudos

empíricos sobre bilinguismo, memória de trabalho e efeito cognato.

17

No terceiro capítulo, são apresentados o objetivo principal e os objetivos

específicos; as hipóteses decorrentes dos objetivos a que esta investigação se

propõe; o perfil dos participantes e o contexto da pesquisa; os procedimentos

utilizados para a efetivação da investigação, assim como a amostragem, a definição

e a aplicação dos instrumentos.

No capítulo quatro, os resultados da pesquisa são apresentados e discutidos.

Por fim, no capítulo cinco, são apresentadas as conclusões do trabalho, bem como

as contribuições e as limitações da presente dissertação de mestrado.

18

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo, são apresentados os pressupostos teóricos que nortearam o

presente estudo. O capítulo inicia com uma seção que trata sobre alguns conceitos

básicos sobre o bilinguismo. Logo depois, discorre-se sobre as funções executivas e

a vantagem bilíngue. A seção seguinte é dedicada à memória de trabalho. Por fim,

são descritos alguns estudos empíricos sobre bilinguismo, memória de trabalho e

efeito cognato reportados na literatura.

2.1 BILINGUISMO

O estudo do bilinguismo tem ocupado, cada vez mais, um importante lugar

nos debates sociais, políticos, culturais, linguísticos e psicológicos que definem as

comunidades e regiões sociais e étnicas, pois o bilinguismo não pode ser separado

do contexto social e político em que a aprendizagem acontece (DORIA, 2010; JAY,

2003).

A existência do bilinguismo explica-se principalmente pela necessidade que o

homem teve, desde muito tempo atrás, de viajar com fins comerciais, religiosos,

políticos e culturais. A interação entre diferentes grupos linguísticos se intensificou

nos últimos anos com as mudanças políticas e econômicas em muitos países, assim

como com as rápidas inovações na área da tecnologia da informação, como é o

caso da internet, das redes sociais e de sites como o Skype. Muitos outros motivos

também podem ser citados, como a imigração e o casamento entre pessoas de

países diferentes (JAVIER, 2007).

Metade da população mundial, ou até mais, é bilíngue. Pode-se constatar que

existem bilíngues de todas as idades, em todas as classes sociais e na grande

maioria dos países, pois existem 30 vezes mais línguas do que países. Alguns

países possuem mais de 400 línguas, como no caso da Índia, por exemplo, e na

Nigéria existem em torno de 500 línguas (GROSJEAN, 2013).

19

Nos Estados Unidos e no Canadá, aproximadamente 20% da população fala

uma língua estrangeira em casa. Esse número é ainda maior em áreas urbanas,

chegando a 60% em Los Angeles e a 50% em Toronto. Na Europa, os números são

semelhantes: em uma pesquisa recente, 56% de toda a população da união

europeia declarou ser bilíngue funcional e alguns países alcançaram médias ainda

mais altas, como é o caso de Luxemburgo, que obteve 99% (BIALYSTOK et al.,

2012).

No Brasil, são faladas em torno de 200 idiomas. As línguas autóctones,

faladas pelos indígenas são 170, e as línguas alóctones, faladas pelas comunidades

de descendentes de imigrantes como de alemães, italianos, poloneses, ucranianos e

japoneses, por exemplo, somam um total de 30 línguas. Portanto, o Brasil está entre

os 94% de países do mundo em que são faladas mais de uma língua (OLIVEIRA,

2009; CAVALCANTI, 1999).

Mas, afinal, o que é bilinguismo e/ou o que é ser bilíngue? O novo dicionário

Aurélio da língua portuguesa apresenta a seguinte definição para bilíngue: “Bilíngue.

[Do lat. Bilíngue. ] Adj. 2 g. 1. E. Ling. Diz-se de indivíduo, ou comunidade, que faz

uso regular de duas línguas”. O referido dicionário define bilinguismo como “[De

bilíngue + -ismo.] s.m. E. Ling. Utilização regular de duas línguas por indivíduo, ou

comunidade, como resultado de contato linguístico. [Cf. multilinguismo.]”

No entanto, não há uma unanimidade entre os teóricos e pesquisadores sobre

uma definição operacional, tanto de bilíngue quanto de bilinguismo. Romaine (1995)

e muitos outros autores, como Chin e Wigglesworth (2007), citam inúmeras

definições para os termos bilíngue e bilinguismo, que vão desde a de Bloomfield

(1933), que considerava que para ser bilíngue o indivíduo teria que dominar as duas

línguas como um falante nativo, até a definição de Haugen (1953), Mackey (2000) e

Weinreich (1968), que consideravam como bilíngue a pessoa que pudesse usar

duas línguas alternadamente.

Antigamente, considerava-se bilíngue apenas quem falasse duas ou mais

línguas “perfeitamente”, isto é, até mesmo sem sotaque na língua adicional, de

acordo com alguns estudiosos, como Saer, (1922). Atualmente, a maior parte dos

20

pesquisadores define o bilinguismo ou o multilinguismo como o uso de duas ou mais

línguas (ou dialetos) no dia-a-dia, pois sabe-se que os bilíngues não são dois

monolíngues em uma pessoa, e sim falantes usando duas línguas em situações

diferentes e com propósitos diferentes (FABBRO, 2008).

Segundo Zimmer e colaboradores:

é praticamente impossível atingir-se uma proficiência total em duas ou mais línguas, considerando-se as quatro habilidades linguísticas (fala, escrita, compreensão auditiva e leitora) e cada um dos subcomponentes linguísticos de cada língua (morfologia, sintaxe, semântica, pragmática, discurso e fonologia) (ZIMMER et al., 2008).

As autoras também defendem que o nível de proficiência dos bilíngues em

cada um dos domínios de habilidade, como a da fala e da escrita em ambas as

línguas, por exemplo, assim como a forma em que eles usam esses sistemas

linguísticos separadamente ou como alternam entre um e outro sistema são

influenciados por fatores como “o tópico de discussão, a relação de intimidade entre

interlocutores, o nível de formalidade do ambiente, as condições psicológicas e

físicas dos indivíduos” (ZIMMER et al., 2008, p. 5).

Além de ser possível encontrar dezenas de definições na literatura, também

encontram-se muitas subdivisões e tipos de bilinguismo, conforme a idade de

aprendizagem, o domínio da língua adicional, entre outras condições. Serrani-

Infante (1998), por exemplo, apresenta uma classificação para os bilíngues que

depende de como se deu a aquisição da língua adicional:

· Bilinguismo precoce: ambas as línguas materna e adicional são

aprendidas simultaneamente na primeira infância;

· Bilinguismo tardio: refere-se ao bilíngue que aprendeu a língua

adicional depois da língua materna;

· Bilinguismo residual ou regressivo: quando conservam-se somente

algumas competências reduzidas;

· Bilinguismo equilibrado: quando os níveis de competência são

relativamente equilibrados;

· Bilinguismo dominante: quando as competências são assimétricas;

21

· Bilinguismo ativo: as competências de compreensão e expressão são

efetivas em ambas as línguas;

· Bilinguismo passivo: uma das línguas só é dominada no nível da

compreensão;

· Bilinguismo técnico: quando é limitado apenas a usos especializados;

· Bilinguismo substrativo: o contexto desvaloriza a língua materna.

Baker (2011) afirma que o bilinguismo e o multilinguismo podem ser

analisados de acordo com as dimensões que interagem entre si, a saber:

1) Habilidade: alguns bilíngues possuem uma competência produtiva, isto é,

são capazes de falar e escrever em ambas as línguas, ao passo que outros são

mais passivos, tem uma habilidade receptiva, apenas compreendem textos escritos

e orais.

2) Uso: os bilíngues geralmente usam as suas línguas para diferentes

propósitos. Um mesmo falante pode usar a sua língua materna apenas em casa e

no trabalho e na escola ele pode usar somente a sua segunda língua e vice-versa.

3) Equilíbrio das duas línguas: muito raramente, a habilidade e uso da língua

materna e da segunda língua dos bilíngues é a mesma. Muito frequentemente, uma

língua é dominante.

4) Idade: considera-se um bilinguismo simultâneo quando uma criança

apreende a língua materna e a segunda língua ao mesmo tempo (desde o

nascimento). Se a criança aprende a segunda língua após os três anos de idade,

tem-se o bilinguismo sequencial ou consecutivo.

5) Desenvolvimento: existem bilíngues que apresentam uma diferença bem

grande no desenvolvimento das suas línguas. Enquanto a língua materna está bem

desenvolvida, a segunda língua está nos estágios iniciais de desenvolvimento e

podem ser chamados de bilíngues incipientes.

6) Cultura: um bilíngue pode aprender bem uma segunda língua e tornar-se

bicultural quando conhece, tem empatia e se comporta de forma adequada em

relação à cultura da sua segunda língua. Por outro lado, pode apenas conhecer a

segunda língua, sem interesse pela cultura dessa língua.

7) Contextos: alguns bilíngues fazem parte de comunidades bilíngues

endógenas que usam uma ou duas línguas no seu dia-a-dia, enquanto outros

somente usam a sua segunda língua quando viajam, então o contexto é exógeno.

22

8) Bilinguismo eletivo: quando o bilíngue escolhe estudar a segunda língua,

como os que estudam em cursos particulares.

No início das pesquisas sobre o bilinguismo, até aproximadamente a década

de 1960, foram encontrados mais resultados negativos do que positivos na

comparação entre sujeitos bilíngues e monolíngues. Ao testar 1400 crianças no país

de Gales, Saer (1922) reportou um resultado significativamente inferior apresentado

pelas crianças bilíngues moradoras de comunidades rurais comparadas com as

monolíngues também moradoras de localidades rurais. A explicação de Saer para o

resultado negativo dos bilíngues em comparação com os monolíngues de seu

estudo foi a “confusão mental” apresentada pelas crianças bilíngues, participantes

da pesquisa. Entretanto, quando apenas crianças bilíngues e monolíngues

moradoras de localidades urbanas foram comparadas, o pesquisador não encontrou

diferenças estatisticamente significativas. Deve-se ressaltar que não houve um

controle sobre o nível socioeconômico dos participantes nessa pesquisa. Hakuta

(1986) salienta que as crianças bilíngues participantes da amostra foram testadas na

língua que estavam recém começando a aprender.

Porém, em 1962, com o estudo de Peal e Lambert, a história dos estudos

sobre o bilinguismo começa a mudar. Os autores desenvolveram uma pesquisa com

crianças morando em Montreal, divididas em dois grupos: monolíngues, falantes de

francês e bilíngues, falantes de inglês e francês. A hipótese era de que os bilíngues

tivessem escores inferiores aos dos monolíngues nos testes linguísticos e escores

equivalentes em testes espaciais não linguísticos. Contudo, os participantes

bilíngues obtiveram escores superiores em quase todos os testes, principalmente

aqueles que demandavam a manipulação e reorganização de símbolos

(BIALYSTOK et al., 2012).

Mais recentemente, um crescente número de estudos (BIALYSTOK,

VISWANATHAN, 2009; BIALYSTOK et al, 2008; LUK, 2011; OSSHER et al, 2013)

vem relatando uma vantagem bilíngue. Existem também, diversos estudiosos que

reportam, como visto anteriormente na introdução, um número considerável de

pesquisas que apresentam resultados negativos ou que não apresentam diferenças

significativas entre os participantes monolíngues e bilíngues (PAAP et al. 2014,

23

PAAP; GREENBERG, 2013, BIALYSTOK, 2008, LIMBERGER; BUCHWEITZ, 2012).

Portanto, ainda não há um consenso mostrando apenas resultados positivos em

relação à experiência bilíngue.

Nesta seção procurou-se trazer os motivos para a existência do bilinguismo,

além de definições apresentadas na literatura, tipos de bilinguismo e alguns outros

dados sobre o bilinguismo no Brasil e no mundo. Na seção a seguir, discorre-se

sobre as funções executivas, que exercem um papel fundamental quando se

estabelece uma relação entre o bilinguismo e vantagens cognitivas.

2.2 FUNÇÕES EXECUTIVAS E VANTAGEM BILÍNGUE

Barkley (2012) afirma que existem inúmeras definições para o termo funções

executivas (FEs), e não há um consenso na literatura sobre a sua definição. O autor

apresenta definições de vários pesquisadores, sendo que algumas possuem

características semelhantes, como a noção de que as funções executivas estão

ligadas à resolução de problemas, ao planejamento, à seleção de objetivos, à

memória e à tomada de decisão, entre outros. Uma das definições apresentadas por

ele é a de Gioia et al. (2000, p. 1), na qual as funções executivas são vistas como

um conjunto de processos responsáveis por guiar e organizar funções cognitivas,

emocionais e comportamentais, principalmente durante a resolução de problemas.

Hamdan e Bueno definem as funções executivas (FEs) como

habilidades cognitivas envolvidas no planejamento, iniciação, seguimento e monitoramento de comportamentos complexos dirigidos a um fim. Na avaliação neuropsicológica, o termo FE é utilizado para designar uma ampla variedade de funções cognitivas que implicam: atenção, concentração, seletividade de estímulos, capacidade de abstração, planejamento, flexibilidade, controle mental, autocontrole e memória operacional (HAMDAN, BUENO, 2005).

Existe uma divergência quanto à localização das FEs, mas a maior parte

dos estudos, marcados por uma visão localizacionista da cognição, indica que elas

estão situadas no córtex pré-frontal (BARKLEY, 2012; DIAMOND, 2006). Todavia,

visões mais dinâmicas e distribuídas das funções cognitivas humanas

(ABUTALEBI; GREEN, 2007) apontam que as FEs fazem parte de uma rede que

24

conecta o córtex frontal, o córtex cingulado anterior, os gânglios basais e o córtex

parietal inferior.

Também há certa controvérsia em relação aos seus componentes.

Entretanto, podem-se enumerar os mais citados na literatura, como o controle

executivo, que consiste em um sistema ou mecanismo responsável pela

coordenação dos vários processos implicados na realização das FEs (HAMDAN;

BUENO, 2005); o controle inibitório, que é um componente que suprime as

interferências externas ou internas que podem atuar como distratores (KLUWE-

SCHIAVON; VIOLA; GRASSI-OLIVEIRA, 2012); a atenção seletiva, que define os

processos que permitem a seleção de informações relevantes e seu

processamento cognitivo (DALGALARRANDO, 2008); a flexibilidade cognitiva,

responsável por mudar as nossas perspectivas e abordagens para nos ajustarmos

a novas prioridades, exigências ou para resolver problemas, entre outros

(DIAMOND, 2012) e a memória de trabalho (MT), que é um sistema que armazena

as informações somente enquanto uma determinada tarefa está sendo realizada

(MOURÃO JUNIOR; MELO, 2011), na qual o nosso trabalho focará.

De acordo com Morales et al. (2013) e Bialystok (2009), atualmente

reconhece-se que experiências cognitivas complexas como o code-switching, que é

uma situação vivida pelo bilíngue, na qual ele pode mudar de uma língua para a

outra completamente em uma frase, vêm evidenciando um melhor desempenho

cognitivo, pois modificam o desenvolvimento cerebral e, consequentemente, as

funções cognitivas. O falante pode alternar a língua no discurso sem ter consciência

sobre as trocas que fez durante a conversação. Outros fatores também podem fazer

com que o falante tenha esse comportamento, como, por motivos sociais ao

escolher adotar a língua de uma minoria como modo de expressar solidariedade

com o grupo social. Por outro lado, o codeswitching pode acontecer como forma de

excluir outras pessoas que não pertencem ao grupo utilizando uma língua que

aquelas pessoas não entendem (CRYSTAL, 1997).

O bilinguismo requer um constante envolvimento do sistema de controle

executivo para administrar a atenção para a língua alvo; então, credita-se a essa

25

experiência uma melhora no funcionamento do controle executivo, deixando-o mais

preparado também para executar outras tarefas.

É importante destacar que, segundo Abutalebi e Green (2007), o processo do

code-switching é ensejado pelas funções executivas distribuídas nas diferentes

partes do cérebro, o que configura um processo dinâmico envolvendo estruturas

corticais e subcorticais, que usam a inibição para resolver a competição lexical e

selecionar a língua-alvo. Os autores, então, defendem a ideia de que há uma única

rede mediando a representação e o controle da L1 e da L2, conforme pode ser

observado na figura 1.

Figura 1 - Áreas envolvidas no processo de controle

Fonte: ABUTALEBI, J; GREEN, D, 2007

Rodrigues e colegas (2015) sugerem que uma função executiva pode ter

influência sobre o funcionamento de outra. Sem o adequado funcionamento do

controle inibitório, por exemplo, “a memória de trabalho se ocupa com informações

26

irrelevantes e há a diminuição da eficiência do processamento cognitivo”

(RODRIGUES et al., 2015, p. 114).

Bialystok e colaboradores (2012) acrescentam que a vantagem bilíngue não

se reduz somente a uma função executiva. Ao contrário, a experiência constante de

gerenciar duas línguas modifica a maneira como o cérebro e a mente dos bilíngues

age em qualquer conversa, pois além de monitorar o contexto, o interlocutor e outros

aspectos de uma conversação, os bilíngues precisam inibir a atenção à língua que

não está em uso, mas que continua ativa. Os bilíngues mostram uma ativação das

duas línguas e uma interação entre elas, mesmo em contextos onde apenas uma

das línguas é usada (BIALYSTOK, 2011, p. 241).

Um exemplo dessa interação ou interatividade é o efeito cognato, observado

em pesquisas descritas na literatura (PREUSS et al., 2015;COSTA et al, 2000;

HERMANS et al., 1998), que ocorre por as palavras cognatas usadas nos testes

possuírem a mesma origem etimológica (MORRIS, 1981) e semelhança na forma

escrita da palavra, em outras palavras, quando há uma semelhança fonológica e

ortográfica entre a L1 e a L2, como por exemplo, a palavra irmão em inglês - brother

- e em alemão - Bruder (KROLL; De GROOT, 2009). Devido à semelhança de forma

e significado entre as línguas, as palavras cognatas são processadas de forma

diferente das outras palavras. Em algumas tarefas, as palavras são processadas

mais rapidamente, o que é chamado de efeito cognato ou efeito de facilitação (YAN,

2014), como é o caso, por exemplo, de uma tarefa onde os bilíngues têm de traduzir

palavras cognatas e não cognatas oralmente, sendo a tradução de cognatas mais

rápida do que a de não cognatas (SANCHEZ-CASAS et al., 1992).

Uma outra vantagem ligada ao bilinguismo é apresentada por alguns estudos

(KROLL; BIALYSTOK, 2013; BIALYSTOK et al., 2009; BIALYSTOK, 2004) que

investigam o controle executivo. Eles sugerem que há uma vantagem bilíngue

durante toda a vida. Assim, segundo esses autores, o controle executivo se

desenvolve mais cedo nas crianças bilíngues, mantém-se mais eficiente na fase

adulta e apresenta um declínio mais suave com o envelhecimento por apresentar um

efeito cumulativo de uma experiência estimulante durante toda a vida, consistindo

numa reserva cognitiva, um conceito que descreve os efeitos protetores da

27

experiência bilíngue contra o seu declínio durante o envelhecimento (MONIRI, 2006;

BIALYSTOK et al., 2012).

Aqui nesta seção foi apresentada a definição e a localização das funções

executivas. Na próxima seção, discorre-se sobre uma das funções executivas: a

memória de trabalho, que tem papel central nesta pesquisa.

2.3 MEMÓRIA DE TRABALHO E VANTAGEM BILÍNGUE

A memória está intimamente ligada ao aprendizado. Conforme Gazzaniga e

colaboradores, o aprendizado é o processo de aquisição de informação, enquanto a

memória refere-se à persistência do aprendizado. “O aprendizado, então, tem um

resultado ao qual chamamos de memória” (GAZZANIGA et al., 2006, p. 320). Em

outras palavras, o aprendizado acontece quando se cria uma memória ou ela é

reforçada pela repetição.

A memória humana necessita de três qualidades: as capacidades de

codificar, armazenar e evocar a informação. Apesar de esses três estágios

atenderem a diferentes funções, eles interagem, isto é, a codificação determina qual

informação deve ser armazenada e como ela deve ser armazenada, limitando o que

pode ser evocado mais tarde (BADDELEY et al., 2011). Segundo Gazzaniga e

colaboradores (2006), a codificação possui duas fases. A primeira fase é a

aquisição, que é o registro das informações em arquivos sensoriais e estágios de

análise sensorial e a segunda é a consolidação, na qual é criada uma forte

representação da informação através do tempo. King (2011) acrescenta que para a

codificação acontecer, quer dizer, para processar a nova informação a ser

armazenada, é necessário prestar atenção à informação. Pessoas que têm o hábito

de executar várias atividades ao mesmo tempo, como assistir a uma palestra

enquanto enviam uma mensagem pelo celular, por exemplo, apresentam mais

dificuldades para prestar atenção à palestra e consequentemente, para codificar as

informações.

28

O armazenamento é o resultado da aquisição e da consolidação. Ele cria e

mantém um registro permanente. Finalmente, o passo seguinte que pode ocorrer ou

não, é a evocação, que é a capacidade de localizar ou lembrar das informações

armazenadas e reutilizá-las (CARLSON et al., 2010; LENT, 2005).

Na literatura, é possível encontrar vários tipos de memória. Elas estão

classificadas de acordo com a duração ou conteúdo, ou com os vários tipos de

pesquisa, como a memória de longa duração, de curta duração, memória remota,

memórias associativas e não associativas, declarativas e procedurais, etc.

A Memória de curta duração, por exemplo, (MCD) estende-se desde os

primeiros segundos ou minutos após o aprendizado até entre três e seis horas. Já a

Memória de Longa Duração (MLD) pode durar de seis horas até vários dias, meses

ou anos. As lembranças da infância, os conhecimentos que adquirimos na escola ou

o aprendizado de uma língua estrangeira são exemplos deste tipo de memória. O

papel básico da MCD é o de manter a informação disponível enquanto esta não é

armazenada pela MLD. Experiências repetidas ou a presença de um forte alerta

emocional podem converter a memória de curta duração em memória de longa

duração (IZQUIERDO et al., 1999; MCGAUGH, 2000; IZQUIERDO, 2011; KANDEL

et al., 2014).

A Memória de trabalho (MT), que é o principal foco do presente trabalho, de

acordo com King (2011), é um tipo de memória em que o cérebro manipula e

armazena informações para nos ajudar a entender, tomar decisões e resolver

problemas. Izquierdo (2011, p. 27) afirma que “a expressão memória de trabalho

provém da área de computação e se emprega pela analogia com sistemas que

cumprem essa função nos computadores”. Se por exemplo, toda a informação no

disco rígido de um computador é como a memória de longo prazo, então a MT é

comparável ao que está aberto e ativo em um dado momento. Desse modo, a

memória de trabalho é um sistema de memória ativo.

A memória de trabalho é processada, principalmente, pelo córtex pré-frontal,

nas suas porções anterolateral e órbito-frontal e nas suas conexões com a amígdala

basolateral e o hipocampo, através do córtex entorrinal. A MT depende da atividade

29

elétrica dos neurônios dessas regiões do cérebro. Os potenciais de ação de alguns

neurônios acontecem no início dos acontecimentos, enquanto para outros se dão no

meio ou no fim. Os neurônios responsáveis por detectar o início e o fim dos

acontecimentos são chamados de neurônios on e neurônios off. Eles encontram-se

no córtex pré-frontal e em todas as vias sensoriais. Para gerir a MT, o córtex pré-

frontal atua juntamente com o córtex entorrinal, o parietal superior e cingulado

anterior e com o hipocampo. Essas regiões trocam informações entre si por meio de

suas conexões (IZQUIERDO, 2011, p. 26).

O principal papel da MT é o de gerenciador, quer dizer, no momento de

receber qualquer tipo de informação, determinar, entre outras coisas, se esta

informação é nova ou não e também se é útil ou prejudicial para o organismo. Para

fazer isso, a MT deve ter acesso rápido às memórias preexistentes no indivíduo; se

a informação que lhe chega é nova, não haverá registro dela no resto do cérebro, e

o sujeito pode aprender (formar uma nova memória) sobre aquilo que está

recebendo do mundo externo. “As possibilidades de que, ante uma situação nova,

ocorra ou não um aprendizado, estão determinadas pela memória de trabalho e

suas conexões com os demais sistemas mnemônicos” (IZQUIERDO, 2011, p. 29).

Baddeley e colaboradores (2010) defendem que a memória de trabalho é

responsável pelo armazenamento temporário de informações e pela manipulação

dessas informações, o que é muito útil na execução de tarefas complexas. O nome

memória de trabalho foi criado por Baddeley para enfatizar o seu papel funcional,

como um sistema que sustenta atividades cognitivas complexas. Como a memória

de trabalho tem uma capacidade de armazenar informações temporariamente; se

ocorrer alguma interferência durante este processo, provavelmente a informação

será esquecida, porque a MT é sensível a interferências, exigindo atenção para

manter-se intacta (IZQUIERDO, 2004, 2011).

Riesgo (2006) acrescenta que a memória de trabalho também auxilia outros

processos executivos como a atenção e seus subtipos: estado de alerta, atenção

sustentada, seletiva, serial, compartilhada, de deslocamento, e os mecanismos

inibitórios que favorecem a exclusão dos estímulos quando não interessam ao

objetivo da atividade desenvolvida no momento. Portanto, o papel da MT é

30

coordenar o fluxo de informações necessárias para a execução de determinadas

tarefas e controlar a transmissão de informações entre outras partes do sistema

cognitivo (EYSENCK; KEANE, 1994).

Diversos estudos sugerem que a MT desempenha um papel ativo nos

processos cognitivos ligados à compreensão da linguagem e à aprendizagem

(CACERES, 2012; MARTIN, 2012). Por outro lado, não há ainda um consenso sobre

o seu exato funcionamento. Os pesquisadores dos diversos componentes da MT

concordam com a noção de que ela é um sistema cognitivo que permite que a

informação seja armazenada, manipulada e aplicada às tarefas presentes

(BADDELEY, 1992; ENGEL DE ABREU, 2011; GASS; LEE, 2011; MORALES et al.,

2012).

Embora a MT tenha sido estudada por décadas, ainda não há um consenso

acerca do papel do bilinguismo sobre a MT. Também não existem muitos estudos

feitos com adultos jovens, isto é, a maior parte dos estudos envolvendo a MT e o

bilinguismo foi feita com crianças ou idosos (MORALES et al., 2013; FARHADIAN,

2013; BILLIG, 2009; PINTO, 2009; BIALYSTOK et al., 2004; BIALYSTOK et al.,

2006).

É muito importante entender tanto o papel que a memória de trabalho

desempenha dentro das funções executivas quanto o efeito que o bilinguismo tem

sobre essa FE, uma vez que a memória de trabalho é um dos componentes mais

importantes entre as funções executivas (MORALES et al., 2013; BAKER, 2013;

BIALYSTOK et al., 2008).

Vários modelos de memória de trabalho foram propostos, de acordo com a

área de interesse de cada teórico. A seguir são apresentados alguns dos modelos

de MT encontrados na literatura.

Um dos principais modelos é o proposto por Baddeley, que apresenta quatro

componentes: um mecanismo central executivo, semelhante à atenção; a alça

fonológica, que retém as informações de uma forma fonológica/baseadas na fala

(um modelo de memória de curto prazo verbal que serve para ajudar no aprendizado

31

de uma língua estrangeira, por exemplo); o esboço visuoespacial, especializado na

codificação espacial e visual e o buffer episódico, que permite que os outros

componentes da memória de trabalho interajam entre si e se conectem tanto com a

percepção quanto com as memórias de curto e de longo prazo. (BADDELEY, 2010;

EYSENCK, KEANE, 2007).

O modelo atual de memória de trabalho de Baddeley (2000) é apresentado na

figura 2. Pode-se ver a ligação com a memória de longa duração a partir dos

subsistemas fonológico e visuoespacial. Também pode-se notar que as informações

conseguem acessar o buffer através de subsistemas visuoespaciais e fonológicos e

da memória de longa duração.

Figura 2 - modelo de memória de trabalho de Baddeley (2000)

Fonte: Baddeley, 2011, p. 71

Baddeley e colaboradores (2011) explicam que a alça fonológica atua

aumentando a amplitude em até três itens na tarefa de repetir números que se

acabou de ouvir, por exemplo, além de estar intimamente ligada à aquisição de

vocabulário, gramática e possivelmente da leitura.

O buffer episódico ou episodic buffer, segundo Baddeley et al. (2011), é o

sistema de armazenamento responsável por reter aproximadamente quatro

segmentos de informação em um código multidimensional. Graças a essa

capacidade para reter uma gama de dimensões, ele age como uma conexão entre

32

vários subsistemas da memória de trabalho e liga esses subsistemas a inputs da

memória de longa duração e da percepção. Apesar de cada uma dessas fontes de

informação usar um código diferente, elas podem ser combinadas dentro de um

buffer multidimensional.

O esboço visuoespacial possui uma capacidade de armazenamento limitada,

que restringe-se a aproximadamente três ou quatro objetos. O esboço visuoespacial

é importante para a orientação espacial e o conhecimento geográfico, entre outros.

Ele também é indispensável à leitura, “pois apesar de não “fotografarmos” na

memória todas as palavras que lemos em um texto, para compreendê-lo de forma

coerente é necessário que o cérebro retenha as quatro ou cinco últimas palavras

lidas” (MOURÃO JUNIOR; MELO, 2011).

O principal componente da memória de trabalho é o executivo central, que

gerencia todo o funcionamento da MT. Há várias tentativas de identificar as

principais funções do executivo central. Baddeley identificou as seguintes funções:

a) mudança nos planos de resgate; b) compartilhamento nos estudos de tarefa

dupla; c) atenção seletiva a alguns estímulos enquanto se ignora outros; d) ativação

temporária da memória de longo prazo. Um exemplo de dividir a atenção entre duas

ou mais tarefas seria conversar com alguém que está no carro enquanto dirige

(BADDELEY, 2010; EYSENCK, KEANE, 2007). Os processos básicos do sistema

executivo da memória de trabalho são o processo inibitório, a comutação de dados

(ou a flexibilidade cognitiva) e a atualização e fortalecimento da informação na MT

(BIALYSTOK, 2008). Esses processos exercem um impacto interessante no caso do

bilinguismo, como será visto mais adiante.

Existem outros modelos para explicar o funcionamento da MT na literatura.

Um deles é o Modelo Atencional Executivo de Kane e Engle (2002; Kane, Conway) e

outro modelo que também pode ser citado é o Modelo do Processo Integrado

(Cowan, 1995; 2005).

No modelo de Engle (2002), a memória de trabalho é vista como um sistema

conjugado de dois tipos de domínios, sendo um específico e um geral. O domínio

específico consiste em uma reserva para a representação temporária da informação

33

e é agrupado com o geral, que envolve um mecanismo de atenção executiva ou

controle de atenção. Alguns tipos de domínios são o visual, o auditivo e o espacial.

Nesse modelo, os conteúdos retidos na Memória de Trabalho seriam

representações ativadas (temporariamente) da memória de longo prazo. Com o

tempo, essas ligações podem perder forças e permanecer abaixo do limite da

consciência. Entretanto, essa ligação pode ser reativada e manter-se no nível da

consciência, se houver atenção (KANE et al. 2007, p. 44).

Assim, Kane e Engle (2002), consideram que a Memória de trabalho é capaz

de controlar a atenção, com a finalidade de manter as informações em um estado

ativo e rapidamente recuperáveis. A atenção seria o controle atencional, que refere-

se à habilidade em manter a meta, a informação ou o estímulo do contexto ativo.

Manter a informação no contexto ativo permite o fácil acesso quando há interferência

e inibe os estímulos irrelevantes (Kane et al. 2001).

A habilidade de inibir a interferência permite maior processamento e retenção

de informações. Segundo Kane e Engle (2000) o principal papel da MT é a

recuperação e ativação das informações mantidas na memória de longo prazo.

Diferenças individuais na MT refletem o grau em que a distração é inibida e

informações relevantes podem ser mantidas ativadas com o foco de atenção (Kane

et al. 2001). De acordo com essa teoria o controle atencional é um fator que vincula

todos os processos cognitivos, componentes e funcionamentos juntos.

Em resumo, esse modelo propõe que a MT consiste em domínios gerais de

controle atencional, utilizados para recuperar e manter a ativação de estruturas da

MLP. Diferenças individuais na MT, refletem o grau em que a distração é inibida e

informações relevantes podem ser mantidas ativadas com o foco de atenção (Kane

et al. 2001).

Um outro modelo de MT encontrado na literatura é o modelo de Cowan (1999)

– o modelo dos processos embutidos. Esse modelo enfatiza as relações entre

memória e atenção.

34

Nas próprias palavras do autor:

Nessa abordagem, o termo memória de trabalho foi usado para indicar o nível funcional no qual a memória ativada, o foco de atenção e os processos executivos centrais trabalham juntos para manter os itens temporariamente na mente a fim de ajudar nas várias tarefas cognitivas (COWAN, 2010, p. 453).

Nesse modelo, o funcionamento da memória ocorreria num processo de

integração entre seus componentes (ativação, atenção e inibição). Ele propõe que

exista uma interação e interdependência mutua entre a MT e a memória de longo

prazo (Cowan, 2005).

Além de inúmeros modelos de MT apresentados na literatura, também é

possível verificar diversas vantagens ligadas ao bilinguismo. De acordo com Kalat

(2013), os indivíduos bilíngues exercitam o controle da atenção, trocando de um

código linguístico para outro (code switching). Nesse processo, eles melhoram a

habilidade de controlar a atenção, de inibir as distrações e de armazenar

informações na memória de trabalho.

Bialystok e colaboradores (2008) sugerem que a memória de trabalho de

bilíngues pode ser mais demandada do que a de monolíngues, pois os bilíngues têm

de lidar com duas línguas. Michael e Gollan (2005) apresentam um estudo que

sugere que os bilíngues possuem uma memória de trabalho melhor do que os

monolíngues devido à necessidade dos primeiros em administrar dois sistemas de

línguas, o que requer a inibição de um dos sistemas enquanto a outra língua está

em uso. Dessa forma, o bilinguismo requereria um maior controle e manipulação dos

recursos da memória de trabalho, melhorando assim também o uso da memória de

trabalho em outras atividades e tarefas.

Rodrigues e colaboradores (2015) afirmam que:

[...] a interpretação dominante a respeito da vantagem bilíngue é a de que bilíngues praticam mais o exercício da atenção seletiva e de flexibilidade cognitiva, devido às exigências de coordenação das línguas, pois para falar fluentemente e evitar intromissões indesejadas é preciso inibir a língua não alvo para produzir a língua alvo em um determinado momento de fala (RODRIGUES et al., 2015).

35

Foi possível, nesta seção, verificar como se dá o funcionamento da MT, de

acordo com os principais modelos encontrados na literatura. Na seção a seguir,

quando forem relatados estudos sobre bilinguismo e memória de trabalho, será

possível observar com maior clareza a relação entre memória de trabalho e

bilinguismo.

2.4 ESTUDOS EMPÍRICOS

Nesta seção são relatados alguns estudos sobre bilinguismo, memória de

trabalho e efeito cognato.

2.4.1 Estudos empíricos sobre bilinguismo e memória de trabalho

Esta seção relata estudos sobre a relação entre memória de trabalho e

vantagem bilíngue.

Dentre os trabalhos que investigam a influência que o bilinguismo exerce

sobre a memória de trabalho, destaca-se o de Bialystok e colaboradores (2004).

Esses pesquisadores desenvolveram um estudo com 40 participantes, divididos em

2 grupos: o primeiro com 20 pessoas entre 30 a 54 anos (idade média de 43 anos) e

o segundo, também de 20 pessoas, com idades entre 60 a 88 anos (idade média de

71,9). Em ambos os grupos, 50% era monolíngue, falantes de inglês morando no

Canadá e 50% era bilíngue, falantes de Tamil3 como primeira língua e inglês como

segunda língua (bilíngues desde os seis anos de idade, moradores da Índia). A

pesquisa foi realizada no país onde os pesquisados moravam e com condições

semelhantes de background (origem, classe social, educação ou experiência

profissional) e sexo. Foi utilizado o teste Simon para comparar o desempenho de

bilíngues e monolíngues quanto à memória de trabalho. O teste foi feito utilizando

um computador laptop. O teste começava com uma cruz no centro da tela que

permanecia por 800 ms, seguida por uma tela em branco (por 250 ms). No final do

3O Tamil é uma língua falada no sul da Índia, em caráter oficial, bem como no Sri Lanka e em Singapura.

36

intervalo, aparecia um quadrado vermelho ou azul no lado esquerdo ou direito da

tela por até 1000 ms. Os participantes eram instruídos a pressionar a tecla shift do

lado esquerdo do teclado marcada com um “X” assim que eles vissem o quadrado

azul e a tecla shift marcada com “O” ao ver o quadrado vermelho. Os resultados

demonstram que os bilíngues foram mais rápidos do que os monolíngues, tanto na

condição congruente4 como na incongruente5e a vantagem bilíngue quanto à rapidez

foi ainda maior nos itens incongruentes, demonstrando que os participantes

bilíngues responderam mais rapidamente em condições que demandavam mais da

memória de trabalho. Além disso, o grupo de idosos bilíngues (média de idade de

71,9 anos), demonstrou melhor desempenho nos testes medindo a memória de

trabalho, a inteligência verbal e espacial, o vocabulário receptivo, a atenção e a

seleção comparados com os participantes monolíngues, tendo um desempenho

equivalente aos dos jovens monolíngues e bilíngues (com média de idade de 43

anos). Tais resultados indicam vantagens dos bilíngues em relação aos monolíngues

na realização de tarefas que envolviam grande demanda da memória de trabalho e

que essas vantagens são ainda mais significativas no caso dos participantes mais

idosos.

É importante salientar que há controvérsias na literatura sobre o uso da

Simon task (condição central) para medir a memória de trabalho, pois ela não é a

tarefa mais típica para medir a memória de trabalho. A memória de trabalho envolve

armazenamento e processamento de informações (BADDELEY, 1992; PARK;

PAYER, 2006; ENGEL DE ABREU, 2011; GASS; LEE, 2011; MORALES et al.,

2012). Assim, uma tarefa apropriada para medir a memória de trabalho deve exigir

não apenas armazenamento breve de informações, mas também manipulação da

informação. Na tarefa Simon de quadrados, utilizada no estudo de Bialystok (2004)

e de Billig (2009), por exemplo, os participantes tinham de memorizar a regra

arbitrária associando uma cor a uma tecla de resposta. Nessa tarefa, portanto, não

havia uma manipulação de informação. Park e Payer (2006) afirmam que as tarefas

apenas exigem memorização de itens, mas não exigem manipulação. Portanto, de

acordo com os referidos autores, a tarefa Simon mede a memória de curto prazo e

não a MT. 4Condição congruente, nesse teste: a tecla que correspondia à resposta correta ficava no mesmo lado do estímulo. 5Condição incongruente, nesse teste: a tecla da resposta correta ficava no lado oposto.

37

Outro estudo que Bialystok e colaboradores (2008) também desenvolveram

foi a pesquisa em que eles investigaram o desempenho de 96 participantes em

tarefas que mediam a memória de trabalho e o controle executivo. Os participantes

eram 24 jovens adultos monolíngues (idade média de 20,7 anos), 24 jovens adultos

bilíngues (idade média de 19,7 anos), 24 idosos monolíngues (idade média de 67,2

anos) e 24 idosos bilíngues (idade média de 68,3 anos). Foram utilizados os

seguintes testes: Teste dos Blocos Corsi, o Teste Simon de flechas e o Teste

Stroop. Para verificar o desempenho da memória de trabalho foi utilizado o teste de

Corsi. O teste consiste basicamente em recordar as sequências de blocos de

madeira apontadas pelo pesquisador, em ordem normal e inversa. Os bilíngues

jovens lembraram mais sequências do que suas contrapartes monolíngues, tanto na

ordem normal quanto na inversa, demonstrando uma vantagem em relação aos

monolíngues jovens. Os bilíngues (jovens e idosos) também tiveram um

desempenho melhor do que os monolíngues nas tarefas que testavam o controle

executivo.

Morales e colaboradores (2013) desenvolveram dois estudos comparando a

memória de trabalho de crianças monolíngues e bilíngues. O primeiro estudo

contava com 56 crianças de classe média, moradoras de uma cidade grande, com

uma média de idade de cinco anos e meio, sendo 29 monolíngues (17 meninos) e

27 bilíngues (11 meninos). Todas as crianças bilíngues falavam inglês na escola e

uma outra língua em casa. Foram feitos três testes: Peabody Picture Vocabulary

Test (PPVT-III, Dunn & Dunn, 1997) Kaufman Brief Intelligence Test (K-BIT,

Kaufman & Kaufman, 2004) e a Simon task – condição central (para medir a

memória de trabalho), na qual as crianças foram instruídas a pressionar uma tecla

específica para cada figura mostrada na tela do computador, e.g.: “pressione a tecla

da direita para a árvore verde”. As crianças bilíngues responderam mais

rapidamente do que as monolíngues e alcançaram uma maior acurácia na execução

da tarefa medindo a memória de trabalho.

O segundo estudo contava com 125 crianças (as mesmas 56 crianças de

cinco anos do primeiro estudo e mais 69 crianças de sete anos). Os participantes de

sete anos estavam divididos em 33 monolíngues, sendo 16 meninos e 35 bilíngues

(18 meninos). Assim como no estudo 1, as crianças falavam inglês na escola e na

comunidade onde moravam e outra língua em casa. Os participantes executaram a

38

Frogs Matrices Task (FMT), que é uma variante do teste de Corsi e testa a memória

de trabalho visuoespacial. Foi apresentada aos participantes uma matriz no formato

3x3. As crianças foram informadas que cada célula representaria uma lagoa que

seria ocupada por um sapo. Os nove sapos eram apresentados por um determinado

tempo, um de cada vez ou em grupos, seguidos por uma matriz em branco que

ficava também por alguns segundos na tela. Após esse tempo, as crianças tinham

de lembrar onde os sapos estavam localizados, sendo instruídas a tocar na tela do

computador para mostrar em que lagoa/célula os sapos foram apresentados

anteriormente. Em ambos os estudos, os participantes bilíngues tiveram um

desempenho melhor nas tarefas que mediam a memória de trabalho do que os

monolíngues e a vantagem bilíngue foi maior nos testes com condições mais

difíceis. No estudo 1, foi encontrada uma vantagem bilíngue relacionada à acurácia

nos testes mais difíceis, enquanto no estudo 2, as crianças bilíngues mais novas

apresentaram um desempenho melhor na condição simples do que os monolíngues

e na condição mais difícil houve uma vantagem bilíngue em todas as idades.

Diversas pesquisas brasileiras relacionando o bilinguismo à memória de

trabalho e outras funções executivas foram inspiradas principalmente nos trabalhos

de Bialystok. A maior parte delas investiga os bilíngues do sul do Brasil, falantes da

variedade da língua alemã Hunsrückisch.

Billig (2009) analisou o desempenho de quatro grupos de participantes:

adultos e idosos bilíngues e monolíngues de duas cidades do interior do Rio Grande

do Sul em relação às funções executivas. Foram aplicados testes para verificar o

Controle Inibitório (CI) e a MT (Simon de Flechas e Quadrados e Teste Stroop) nos

83 participantes, sendo 42 bilíngues, falantes de hunsrückisch e português e 41

monolíngues, falantes de português. Para medir a memória de trabalho foi utilizada

a tarefa Simon de quadrados (com estímulo central), a mesma tarefa utilizada por

Bialystok et al. (2004). Não houve uma diferença significativa entre os grupos

bilíngues e monolíngues, como a autora previa em sua hipótese. Foi constatado que

não houve diferenças significativas entre os grupos no desempenho dos testes de

função executiva (testes não linguísticos). Também não houve diferenças

significativas em relação ao CI. Uma explicação para a falta de vantagem dos

bilíngues pode estar relacionada com a escolaridade (o nível de escolaridade dos

participantes era, em média, oito anos) ou ao fato de as palavras usadas nos testes

39

estarem em português, apesar da língua dominante dos participantes ser o

Hunsrückisch.

Pinto (2009) desenvolveu um estudo com 60 participantes, distribuídos em

quatro grupos envolvendo as variáveis idade e bilinguismo. O grupo dos adultos

idosos (entre 60 e 75 anos de idade) foi dividido igualmente em monolíngues,

falantes de Português Brasileiro (PB) como L1, e bilíngues, falantes de

Hunsrückisch (língua de imigração alemã) como L1 e PB como L2. E no grupo de

adultos jovens (entre 30 e 50 anos de idade), a metade foi composta de

monolíngues, falantes de PB como L1; e a outra metade, de bilíngues, falantes de

Hunsrückisch, como L1; e PB como L2. A pesquisa foi realizada nas cidades de

Porto Alegre e de Ivoti, no Rio Grande do Sul. Para avaliar as capacidades

cognitivas relativas à memória de trabalho, à inteligência e ao vocabulário, foram

utilizados, respectivamente, as Tarefas Simon 1 e 2, o Teste Raven de Matrizes

Progressivas e o Teste Peabody de Vocabulário Receptivo com Figuras. Observou-

se que os Idosos Bilíngues (IB) apresentaram uma tendência de melhor

performance em relação aos adultos idosos monolíngues (IM), uma vez que, em

todas as condições propostas na tarefa Simon 1 e 2, os IB obtiveram percentual

maior de acurácia, menor tempo de reação (TR) nas testagens congruentes e

incongruentes, e de efeito Simon. Apesar de não terem sido encontradas

diferenças estatísticas significativas na tarefa Simon - testes 1 e 2, a autora

observou uma tendência de melhor desempenho dos grupos bilíngues, adultos

jovens (JB) em relação aos adultos jovens monolíngues (JM) na execução dessa

tarefa.

Pereira (2012) realizou um estudo com 56 participantes, adultos jovens entre

19 e 35 anos de idade e idosos entre 60 e 75 anos, sendo 20 monolíngues e 28

bilíngues (falantes de português brasileiro e do dialeto vêneto). Os participantes

eram descendentes de imigrantes italianos do sul do Brasil. A autora tinha como

objetivo verificar como o bilinguismo influencia o processamento de alguns

componentes cognitivos, como a Memória de Trabalho, a atenção e o Controle

Inibitório. Pereira utilizou o teste de Geração Aleatória de Números (GAN)6 para

6Nesse teste, o participante ouve estímulos sonoros de um computador (som de compasso) e deve gerar números aleatórios (sempre de 1 a 10), na mesma velocidade em que os sons vão aparecendo. É enfatizado ao participante que este não deve formar sequências crescentes,

40

avaliar o controle inibitório e encontrou diferenças estatisticamente significativas

entre monolíngues e bilíngues. Para testar a Memória de Trabalho, a autora utilizou

testes de Span Auditivo de Palavras, semelhante ao Teste Word Span e o teste N-

Back7. Os resultados do primeiro teste de Memória de Trabalho não apresentaram

diferenças significativas entre os grupos de monolíngues e bilíngues. Entretanto, na

tarefa N-Back, houve diferenças significativas, o que confirma a vantagem do grupo

bilíngue no processamento da MT. Os resultados da pesquisa de Pereira (2012)

sugerem uma influência positiva do bilinguismo no desempenho do executivo central

da MT e do controle inibitório nos bilíngues, o que, interessantemente, vem de

encontro à maioria dos resultados dos falantes de Hunsrückisch.

Martins (2010) procurou investigar se há diferenças no desempenho em

tarefas relacionadas às funções executivas da atenção e do controle inibitório entre

idosos bilíngues e monolíngues; se há diferenças entre idosos bilíngues e

monolíngues no desempenho de uma tarefa relacionada à memória de trabalho e se

há diferenças entre idosos dos dois grupos no desempenho de um teste relacionado

à memória emocional. A pesquisa contou com 38 participantes idosos (faixa etária

entre 60 e 75 anos), divididos em dois grandes grupos: 18 idosos bilíngues e 20

idosos monolíngues. Esses bilíngues eram falantes de alemão e/ou pomerano

(42%), de espanhol (31,5%) e o restante dividia-se em italiano, francês e inglês. Os

testes utilizados foram: tarefa de Simon, Word Span e teste de Cahill. Os resultados

dos testes não apresentaram uma diferença estatística significativa entre os grupos.

Foi notada uma sutil diferença de acurácia entre os grupos na Tarefa de Simon e de

Cahill, porém, na execução do trabalho notou-se diferenças qualitativas sutis dos

bilíngues em relação aos monolíngues.

Apesar de serem encontrados diversos estudos na literatura relatando

vantagens dos bilíngues em relação aos monolíngues em relação à memória de

trabalho, como os descritos acima, também existem muitos outros relatando

desvantagens ou não apresentando vantagens ou desvantagens. Isto é, também

decrescentes, pares ou ímpares. À medida que a velocidade dos sons aumenta, o participante precisa gerar números mais rapidamente (PEREIRA, 2012). 7 Esse instrumento consiste na evocação do item n-anterior ao apresentado numa sequência. Por exemplo: em n = 1 back, o participante deve evocar o item anterior ao apresentado; em n = 2 back, dois itens anteriores ao apresentado e assim sucessivamente (LIMA, et al., 2011).

41

existem diversas pesquisas na literatura demonstrando resultados iguais entre

bilíngues e monolíngues na execução de tarefas que medem a memória de

trabalho. Podemos citar o artigo The good, the bad and the indifferent, de Bialystok

(2008), no qual ela analisa alguns estudos comparando a memória de trabalho de

bilíngues e monolíngues e conclui que não existiu uma diferença significativa entre

os grupos bilíngues e monolíngues no que tange à execução de tarefas que medem

a memória de trabalho.

Um trabalho que exemplifica esse dado é o trabalho de Bialystok e Feng

(2009). Os pesquisadores utilizaram dois estudos. O primeiro contou com 40

crianças de sete anos de idade, sendo 50% bilíngues e 50% monolíngues. Os

testes utilizados foram: Sequencing Span (para medir a memória de trabalho),

PPVT (Peabody Picture Vocabular Test), Forward Digit Span e Proactive

Interference task. No teste Sequencing Span, os participantes tinham que repetir

uma sequência de números e os números tinham de ser reordenados em ordem

crescente, ou melhor, para medir a memória de trabalho, além de memorizar, era

necessário reordenar também. Por exemplo, se o pesquisador falava a sequência 8

– 2, o participante teria de repetir 2 – 8. Participaram do segundo estudo 109 jovens

adultos, 54 monolíngues e 55 bilíngues. Foram utilizados um questionário de

autoavaliação linguística, o Proactive Interference Task8 e o PPVT III A9. Os

resultados dos testes não demonstraram diferenças significativas entre os

participantes monolíngues e bilíngues.

O estudo de Namazi e Thordardottir (2010) é outro exemplo de pesquisa que

não demonstrou uma vantagem bilíngue em relação à memória de trabalho. Os

participantes do trabalho dos dois pesquisadores foram quarenta e cinco (45)

crianças de Montreal e Vancouver, no Canadá, divididos em três grupos: 15

monolíngues falantes de francês (idade média de 59.4 meses), 15 monolíngues

falantes de inglês (idade média de 59.5 meses), e 15 bilíngues simultâneos de

francês e inglês (idade média de 58.7 meses). Para testar a memória de trabalho

8 Teste que consiste na apresentação de 4 listas contendo 5 palavras cada. Após a apresentação das palavras,

que eram referentes a frutas, roupas, cores e partes do corpo, as crianças tinham 10 segundos para dizer quais

as palavras elas lembravam. 9 Teste usado para avaliar o reconhecimento de vocabulário. O pesquisador fala em voz alta uma das figuras

contidas no quadro e o participante tem de apontar qual é.

42

verbal foi utillizada a tarefa Competing Language Processing Task (CLLPT). As

crianças escutavam uma série de frases (42 no total) e tinham de lembrar a palavra

final de cada frase. Para avaliar a memória de trabalho visual foi usado o Pattern

Recall Task, no qual os participantes tinham de lembrar a posição de personagens

do desenho animado Bob Esponja na tela do computador, semelhante ao Frogs

Matrices Task. No estudo também foi testada a memória de curta duração. Os

resultados mostraram que não houve uma diferença significativa entre os grupos em

relação à memória de trabalho verbal e também não houve diferença

estatisticamente significativa em relação à memória de trabalho visual entre os dois

grupos.

Baker (2013), cujo trabalho está sendo replicado na presente dissertação,

contou com 35 participantes, sendo 18 bilíngues, falantes de inglês americano (L1)

e espanhol (L2) e 17 monolíngues falantes de inglês americano. A autora utilizou

três testes em duas etapas: Naming by Definition (NBD), Word Fragment

Completion (WFC) e Picture Naming Task (PNT). Na primeira etapa tanto bilíngues

quanto monolíngues realizaram o NBD e o WFC. Ambas as tarefas testavam a

memória de trabalho. Na NBD, eram apresentadas 20 definições (uma de cada vez)

na tela do computador. Após cada definição permanecer na tela por 10 segundos,

os participantes tinham de falar em voz alta qual palavra abstrata (sendo 10

cognatas e 10 não cognatas) correspondia àquela definição, então aparecia a

palavra correta, que eles foram instruídos a memorizar, mas sem saber quando e

como as palavras seriam utilizadas novamente. Ao término da tarefa, os

participantes completavam o questionário de autoavaliação e realizavam a WFC. O

teste começava com fragmentos, ou seja, apenas algumas letras de cada palavra

apresentada no teste anterior, o NBD e os participantes tinham de completar as

lacunas oralmente, isto é, eles tinham de lembrar as palavras vistas no teste

anterior. Na segunda etapa, bilíngues e monolíngues realizavam o teste WFC

novamente, mas desta vez o teste media a memória de longa duração por ser

realizado 5 dias após a primeira etapa. Após completarem o teste WFC, os

bilíngues também tinham de executar o Picture Naming Task para verificar o nível

de proficiência na língua espanhola. Na execução da NBD e da primeira etapa da

WFC, não foi verificada uma diferença significativa entre bilíngues e monolíngues,

ou seja, não houve uma vantagem bilíngue em relação à memória de trabalho entre

43

bilíngues e monolíngues. Porém, houve um número de acertos maior dos bilíngues

comparados aos monolíngues na segunda etapa da WFC, demonstrando uma

diferença significativa quanto à memória de longa duração. O uso de palavras

cognatas e não cognatas nos testes NBD e WFC não mostrou um efeito cognato.

No quadro 1, a seguir, é possível verificar alguns dos principais trabalhos

nacionais e estrangeiros descritos na literatura. Este quadro apresenta vantagens e

desvantagens cognitivas entre bilíngues e monolíngues.

44

Quadro 1 - Vantagens e desvantagens cognitivas de bi/multilíngues

Vantagens

Desvantagens

Crianças

Maior controle inibitório no desenvolvimento de tarefas de funções executivas (MARTIN-RHEE; BIALYSTOK, 2008; BANDEIRA, 2010). DESCREVER ESSA PO Maior flexibilidade mental (PEAL; LAMBERT, 1962) Maior consciência metalinguística (CUMMINS, 1978) Maior criatividade (KESSLER & QUINN, 1987) Melhor na solução de problemas (BAIN, 1975; KESSLER & QUINN, 1980)

Vocabulário menor em cada língua (BIALYSTOK; FENG, 2011). Acesso lexical (GOLLAN et al., 2005). Fluência verbal (BIALYSTOK; FENG, 2011)

Adultos

Vantagens em funções executivas relacionadas ao controle inibitório e atencional (BIALYSTOK et al., 2004). Maior promoção de reservas cognitivas: aumento da neuroplasticidade (BIALYSTOK et al., 2007). Melhor memória de trabalho e controle executivo(BIALYSTOK et al., 2008) Média de tempo de reação nos testes (medindo CI) menor do que a dos monolíngues (BILLIG, 2009) Melhor desempenho do executivo central da MT e do controle inibitório (PEREIRA, 2012) Melhor desempenho na execução do teste medindo a memória de trabalho. (PINTO, 2009) Status cognato das palavras no processo de lexicalização, ou seja as palavras cognatas foram nomeadas mais rapidamente (PREUSS, 2011) Vantagem cognata na menor latência de nomeação das cognatas em relação às não cognatas (PREUSS, 2015) Efeito cognato (Sherkina-Lieber (2004)

Acesso lexical (GOLLAN et al., 2005). Decisão lexical (RANSDELL; FISCHLER, 1987) Fluência semântica(GOLLAN et al., 2002). Estado “ponta da língua” (GOLLAN; ACENAS,

2004).

Idosos

Atraso em torno de 4,1 anos no aparecimento dos sintomas do Mal de Alzheimer e outras demências (BIALYSTOK et al., 2007). Melhor desempenho do executivo central da MT e do controle inibitório (PEREIRA, 2012) Percentual maior de acurácia e menor tempo de reação (TR) nos testes de memória de trabalho (PINTO; 2009)

Acesso lexical (GOLLAN et al., 2007).

Fonte: Adaptado de Rodrigues (2013, p. 26)

Existem muitos outros estudos sobre o bilinguismo e o multilinguismo na

literatura. Aqui, foram descritos alguns das principais pesquisas que comparam o

desempenho de bilíngues e monolíngues na execução de tarefas medindo funções

45

executivas. Na próxima seção, serão relatados alguns estudos sobre o efeito

cognato, que também é analisado no presente estudo.

2.4.2 Estudos sobre bilinguismo e efeito cognato.

O efeito cognato tem sido estudado na literatura para verificar se os bilíngues

têm mais facilidade para reconhecer ou produzir palavras cognatas mais

rapidamente do que palavras não cognatas. Essa vantagem apresentada pelos

bilíngues em relação aos monolíngues é chamada de efeito cognato.

Quanto ao efeito cognato, podemos citar o estudo de Sherkina-Lieber (2004),

composto por 40 participantes russos, 20 bilíngues, falantes de russo e inglês e 20

monolíngues, falantes de inglês. Todos os participantes bilíngues eram imigrantes

ou visitantes da Rússia, morando, trabalhando ou estudando em Toronto, no

Canadá, tendo praticado o inglês por, no mínimo dois anos. A língua materna de

todos era o russo e o inglês era a segunda língua, aprendida na escola na Rússia ou

no Canadá. Portanto, eles eram bilíngues fluentes, tendo o russo como língua

dominante e os participantes monolíngues eram falantes nativos de inglês

canadense. Foram utilizadas 35 palavras cognatas e 55 não cognatas para cada

língua. Foram criadas duas versões para os bilíngues. Todos os participantes

receberam listas de palavras e foram instruídos para classificar a frequência de uso

para aquelas palavras numa escala de 10 pontos. Os resultados demonstraram um

efeito cognato, ou seja, os bilíngues classificaram a frequência das palavras

cognatas como tendo maior frequência de uso no inglês do que as palavras não

cognatas.

Outro exemplo de efeito cognato é o estudo de Preuss e colaboradores

(2015). Participaram da pesquisa dez voluntários bilíngues português-espanhol não

balanceados. Os participantes tinham uma média de idade de 23 anos, sendo quatro

participantes do sexo masculino e seis do sexo feminino. Eles afirmaram ter mais de

três anos de estudo de espanhol como L2 e foram submetidos a um exame de

proficiência (adaptado do DELE – Diplomas de Español como Lengua Extranjera–

nível superior), no qual obtiveram mais de 50% de acertos e foram classificados

como pertencentes ao nível intermediário-avançado de proficiência na L2. Também

46

reportaram, no questionário preenchido por eles, ter um bom desempenho (média de

3,1, numa escala de 1 a 5) nas quatro habilidades linguísticas e usar frequentemente

a L2 (56% de uso na universidade e 28% de uso no trabalho). O objetivo da

pesquisa era testar efeitos de interferência (semântica, de identidade, de facilitação

fonológica/ortográfica) e efeito cognato. Para isso, foi utilizada uma tarefa de

nomeação, desenvolvida com o software E-prime 2.0, na qual os participantes foram

instruídos a dizer, o mais rápida e corretamente possível, o nome do desenho na L2,

enquanto ignoravam as palavras distratoras que apareciam em sua L1. Um

computador com um microfone ligado a uma caixa de resposta (SRBOX) registrava

os tempos de reação. O experimento tinha a seguinte ordem: 1º) tela com o ponto

de fixação (300 milissegundos), 2º) tela com a palavra distratora na L1 (300 ms) e,

3º) a tela com o desenho a ser nomeado que permanecia aberta até que se iniciasse

a nomeação, desde que não ultrapassasse o limite de 4000 ms, pois, nesse caso, o

programa avançava automaticamente para uma nova sequência de palavra e

desenho. As palavras utilizadas foram controladas em termos de frequência e

extensão e a tarefa continha 190 pares de desenho-palavra, sendo que os dez

primeiros pares serviam somente de aquecimento, não sendo, consequentemente,

considerados nas análises. Os demais pares (180) foram subdivididos em blocos de

10 pares, abrangendo os tipos de efeito de interferência (semântica, de identidade e

de facilitação fonológica/ortográfica) e cognato (palavras cognatas, não cognatas e

falso-cognatas). Os resultados apontam uma vantagem cognata na menor latência

de nomeação das cognatas em relação às não cognatas em todos os casos.

O estudo de Ivanova e Costa (2008) não conseguiu demonstrar a mesma

vantagem. A pesquisa foi realizada na Espanha e contou com 111 participantes

divididos em três grupos (37 participantes em cada grupo): monolíngues falantes de

espanhol, bilíngues falantes de espanhol e catalão e bilíngues falantes de catalão e

espanhol. Todos os participantes eram estudantes universitários, sendo a maioria

estudante de psicologia. Foram utilizadas 50 figuras, retiradas do International

Picture Naming Project Database, sendo 50% cognatas e 50% não cognatas no

teste Picture Naming. Os participantes foram instruídos a nomear as figuras o mais

rápida e corretamente possível. Só houve um efeito cognato na L2 com palavras de

alta frequência.

47

Uma vez apresentado um breve panorama sobre as pesquisas concernentes

à relação entre bilinguismo, funções executivas e efeito cognato, pode-se agora

partir para a apresentação dos objetivos, hipóteses e delineamento da pesquisa aqui

relatada. Este será o assunto do capítulo 3.

48

3 METODOLOGIA

Levando em consideração a revisão da literatura, neste capítulo são

estabelecidos o objetivo geral e as hipóteses da pesquisa, além do método utilizado

na sua implementação, descrevendo os critérios de seleção da amostra, de coleta,

de levantamento e computação dos dados. Este capítulo encontra-se dividido em

cinco seções: a) os objetivos (3.1), b) as hipóteses da pesquisa (3.2); c) os

informantes (3.3); d) os instrumentos utilizados na coleta de dados (3.4) e e) os

procedimentos de tratamento dos dados (3.5).

3.1 OBJETIVOS

Este capítulo descreve os objetivos do presente estudo, apresenta as

respectivas hipóteses de pesquisa e relata os procedimentos empregados para

implementar a investigação. Para isso, serão descritos o processo de amostragem

utilizado, os instrumentos e os procedimentos de coleta de dados.

3.1.1 Objetivo geral

O objetivo geral deste estudo é investigar a influência que o bilinguismo pode

exercer sobreas funções executivas, explorando, mais especificamente, o seu

potencial impacto sobre a memória de trabalho, por meio da comparação entre um

grupo de falantes monolíngues de português brasileiro e um grupo de falantes

bilíngues de português brasileiro e inglês. Para isso, procurou-se medir as

habilidades dos participantes de lembrar (imediatamente e depois de vários dias)

palavras abstratas vistas anteriormente enquanto realizavam a tarefa Naming by

Definition, que também demandava palavras abstratas como respostas.

3.1.2 Objetivos específicos

A partir do objetivo geral foram traçados três objetivos com maior

detalhamento, que serão descritos a seguir:

49

a) comparar os escores de monolíngues e bilíngues na execução da

tarefa NBD (Naming By Definition, que será descrita na seção 3.4.3.1) (BAKER,

2013), na qual são apresentadas definições (escritas e através de uma gravação)

que devem ser respondidas oralmente com um substantivo ou adjetivo

correspondente;

b) analisar se os bilíngues possuem vantagens comparados a

monolíngues na execução da tarefa WFC (Word-Fragment Completion - descrita na

seção 3.4.3.2), que avalia a memória de trabalho através da utilização de palavras

abstratas, ou seja, os participantes precisam lembrar as palavras imediatamente

após elas serem apresentadas na tarefa Naming By Definition (NBD) e também 5

dias depois;

c) verificar se existe diferença entre o desempenho dos dois grupos na

nomeação das palavras cognatas e não cognatas usadas nos testes Naming By

Definition (NBD) e Word Fragment Completion (WFC), isto é, se existe efeito

cognato;

Na próxima seção, serão descritas as hipóteses do presente estudo.

3.2 HIPÓTESES

A partir dos objetivos explicitados na seção anterior, foram formuladas as

hipóteses a seguir:

1) Os participantes bilíngues obterão números de acertos

significativamente mais elevados do que os monolíngues na execução da Tarefa

NBD (Naming by Definition);

2) Haverá uma diferença estatisticamente significativa a favor dos

bilíngues em relação ao número de acertos na tarefa WFC (Word Fragment

Completion);

50

3) Os bilíngues obterão um número significativamente maior de palavras

cognatas do que não cognatas nas Tarefas Naming By Definition e Word Fragment

Completion.

3.3 OS INFORMANTES

A amostra final desta pesquisa foi constituída de (46) quarenta e seis adultos

jovens, (23) vinte e três monolíngues e (23) vinte e três bilíngues, com idades entre

18 e 35 anos, sendo a maior parte deles estudantes universitários e alguns já

formados em cursos de graduação, de especialização ou de mestrado. A grande

maioria deles mora em Porto Alegre e região metropolitana, RS.

A seguir, serão descritos os critérios para seleção dos participantes da

pesquisa.

3.3.1 Critérios de inclusão

Os critérios de inclusão para os participantes monolíngues foram:

1. serem falantes nativos do português brasileiro;

2. estarem situados na faixa etária de 18 a 35 anos;

3. estarem cursando algum curso universitário ou já terem concluído

qualquer curso universitário;

4. serem destros.

Os critérios de inclusão para os participantes bilíngues foram:

1. falarem inglês, com no mínimo um nível intermediário de fluência

(verificado pela autoavaliação apresentada no questionário de

sondagem e autoavaliação linguística, descrito na seção 2.4.2)

2. obterem no mínimo 60% de acertos na nomeação das figuras em

inglês no teste PNT (Picture Naming Test), descrito no item 2.4.3.3;

51

3. estarem situados na faixa etária de 18 a 35 anos;

4. estarem cursando ou já terem concluído algum curso universitário;

5. serem destros.

3.3.2 Critérios de exclusão

Os critérios para exclusão para os participantes foram os seguintes:

1 - Falarem inglês ou qualquer outra língua estrangeira (nível

intermediário ou avançado) - para o grupo monolíngue;

2 – Não falarem inglês, com no mínimo um nível intermediário de

fluência - para os bilíngues;

3 - Serem canhotos (para ambos os grupos10)

Na próxima seção, são descritos os instrumentos utilizados nesta pesquisa,

bem como os procedimentos relativos à coleta de dados.

3.4 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

Esta seção apresenta os instrumentos 1) Termo de consentimento; 2)

Questionário de Sondagem e Autoavaliação linguística; 3) Naming by Definition; 4)

Word Fragment Completion e 5) Picture Naming Task.

3.4.1 Termo de Consentimento Livre e Informado

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)

da Plataforma Brasil, sob o registro CAAE 44207315.5.0000.5309, parecer 1149921.

O Termo de Consentimento (Anexo 1) foi elaborado e apresentado para todos os

participantes da presente pesquisa. Neste documento, os participantes foram

informados sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa. Neste documento,

10Esse critério foi colocado devido ao fato de que o funcionamento cerebral de destros e canhotos é diferente (BARRETT et al, 2014).

52

também foi informado aos participantes que eles poderiam desistir da participação a

qualquer momento que desejassem, sem que isso os prejudicasse. Também foi

garantido o sigilo sobre todas as informações de identificação pessoal, já que seus

nomes não serão vinculados aos resultados do estudo quando forem publicados, pois

todos os dados serão divulgados de forma coletiva. Cada participante assina o

documento em duas vias, sendo que uma fica com a pesquisadora e outra com ele.

Com a finalidade de proteger a identidade do participante, os termos não foram

anexados a esta dissertação, entretanto há uma cópia de cada um em poder da

Comissão de Ética do Centro Universitário Ritter dos Reis/UniRitter.

3.4.2 Questionário de sondagem e autoavaliação linguística

Os participantes da pesquisa responderam a um Questionário de Sondagem e

Autoavaliação Linguística (Anexo 2), adaptado de Baker (2013) e Kharkhurin (2005),

composto de 30 perguntas, em que foram abordadas questões como idade, perfil

educacional, aprendizagem e uso da língua inglesa, autoavaliação das 4 habilidades

linguísticas: escutar, falar, ler e escrever, além do nível de bilinguismo português-

inglês.

3.4.3 Os testes usados no estudo

Foram utilizados três testes no presente estudo: Naming by Definition (NBD),

Word Fragment Completion (WFC) e Picture Naming Task (PNT), sendo que os

participantes monolíngues realizaram dois testes e os participantes bilíngues, 3.Os

participantes monolíngues e bilíngues realizaram dois testes na primeira etapa;

entretanto, na segunda etapa do estudo os participantes bilíngues realizaram dois

testes, enquanto os participantes monolíngues, somente um. A seguir encontra-se a

apresentação mais detalhada de cada teste.

53

3.4.3.1 NBD - Naming By Definition

Foram usadas 20 (vinte) palavras abstratas (substantivos e adjetivos) e 20

definições correspondentes a cada uma das palavras, que foram traduzidas e/ou

adaptadas do estudo de Baker (2013), que o presente estudo replica. A metade das

palavras selecionadas para o estudo são cognatas de inglês e português, para

verificar se as palavras cognatas têm alguma influência na memória dos bilíngues.

Para obter 10 palavras cognatas em português e em inglês, foi necessária a

eliminação de uma palavra e o acréscimo de outra.

Para este teste, foi explicado aos participantes bilíngues e monolíngues que

seriam apresentadas vinte definições de palavras em forma de perguntas e eles

teriam que responder tais perguntas com substantivos ou adjetivos que eles

acreditavam ser correspondentes a cada definição.

A lista completa de palavras e definições usadas no teste NBD encontra-se no

anexo 3. Abaixo encontram-se dois exemplos de definições e palavras usadas no

teste:

Quadro 2 – Exemplos de palavras e definições utilizadas no teste NBD

Definição/pergunta Resposta correta a ser memorizada

Como você chamaria uma criação,

principalmente irreal, improvável, fruto

da imaginação de alguém?

Fantasia

Como você descreveria alguém que

prefere não falar sobre assuntos

pessoais com os outros?

reservado

Fonte: Da autora, 2016

O teste NBD foi realizado apenas na primeira etapa da pesquisa. Ele foi feito

no computador laptop da pesquisadora, usando o programa PowerPoint. Os

participantes liam as definições na tela, escutavam a gravação e tinham de

responder oralmente. Três versões desse teste, com ordens diferentes de definições

foram usadas com os participantes monolíngues e bilíngues.

54

3.4.3.2 WFC - Word-Fragment Completion

O teste WFC foi usado na primeira etapa, após a realização do teste Naming

by Definition e depois de os participantes responderem ao questionário, para testar a

memória de trabalho. Na segunda etapa do estudo, 5 dias mais tarde, o teste WFC

foi usado para testar a memória de longa duração dos participantes.

Os participantes bilíngues e monolíngues foram informados que eles veriam

fragmentos das mesmas palavras vistas no teste anterior (Naming By Definition) e

teriam que completar as lacunas de cada palavra oralmente, uma de cada vez, ou

seja, teriam de fornecer a palavra completa oralmente a partir de fragmentos. As

palavras utilizadas foram adaptadas do estudo de Baker (2013) e MacLeod e Kampe

(1996).

MacLeod and Kampe desenvolveram as pistas/fragmentos para o teste WFC

através de um teste piloto, que indicou um número de acertos por parte dos

participantes em torno de vinte por cento somente adivinhando as palavras, sem

terem visto as palavras completas anteriormente. Para a aplicação do WFC na

presente pesquisa, também foi desenvolvido um teste piloto para alcançar o mesmo

percentual de acertos sob as mesmas condições.

A lista completa das palavras usadas no teste WFC, tanto na primeira, quanto

na segunda etapa encontra-se no anexo 4. No quadro 3, abaixo, encontram-se

exemplos das palavras:

Quadro 3 – exemplos de palavras usadas no teste WFC

Fragmento da palavra Resposta correta

_a_t_si_ Fantasia

_es_ _va_o Reservado

_eg_ _ar Regular

Fonte: Da autora, 2016

55

3.4.3.3 PNT- Picture Naming Task

Somente os participantes bilínguesexecutaram o teste PNT (Picture Naming

Task). Eles receberam um álbum contendo 240 figuras, representando substantivos

concretos. Em uma folha separada, eles tiveram que escrever o nome das 120

figuras em inglês e 120 em português. Esta tarefa foi realizada para mensurar o

vocabulário dos participantes bilíngues em inglês e português, além de comparar o

desempenho deles no teste PNT com a sua autoavaliação. Os resultados deste teste

aparecem no perfil dos participantes, caracterizando o grupo bilíngue.

Uma vez apresentados os instrumentos da pesquisa, apresentam-se, a seguir,

os procedimentos.

3.5 PROCEDIMENTOS

Os testes foram aplicados em duas etapas, sendo que a segunda etapa

ocorreu cinco dias após a primeira. Eles foram feitos com a presença apenas da

pesquisadora e de um participante de cada vez em uma sala silenciosa do Centro

Universitário Ritter dos Reis(Campus FAPA e Campus Zona Sul), da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul (Campus da Saúde e Campus do Vale) ou no

escritório da pesquisadora.

Em primeiro lugar, os participantes receberam instruções através do programa

PowerPoint sobre os testes a serem realizados na primeira sessão. Logo após

receberem as instruções e esclarecerem dúvidas com a pesquisadora, a primeira

sessão começou com o teste Naming By Definition (NBD). O teste começa com uma

definição em forma de pergunta que aparece em negrito na tela do computador junto

com a sua gravação que dura entre 5 e 7 segundos. Cada pergunta/definição

permanece na tela do computador por 10 segundos. Durante esse período, o

participante deve responder à pergunta oralmente, isto é, o participante deve dizer

qual palavra corresponde àquela definição. Passados os 10 segundos, a resposta

correta aparece e permanece na tela por cinco segundos. Os participantes foram

56

instruídos a tentar memorizar cada palavra, mas não foi explicado a eles o objetivo

nem quando as palavras seriam usadas novamente. Após cinco segundos, uma

outra definição aparece, e a mesma sequência segue-se com todas as vinte

definições e palavras.

Ao término do teste NBD, os participantes completaram o questionário de

sondagem e autoavaliação linguística biográfico (anexo 2). Após completarem o

questionário, os participantes receberam instruções sobre a execução do teste

Word-Fragment Completion (WFC), também no laptop da pesquisadora, usando o

programa PowerPoint. Após solucionarem dúvidas, iniciaram o teste. Ele começa

com a apresentação de um fragmento da primeira palavra do teste Naming By

Definitionna tela do computador. Os fragmentos/lacunas permanecem na tela por 10

segundos, ou seja, os participantes têm 10 segundos para completar as lacunas e

responder oralmente qual é a palavra. Se em 10 segundos, eles não conseguirem

lembrara palavra, uma tela com asteriscos aparece por 2 segundos, seguida dos

fragmentos da próxima palavra, até todas as 20 palavras serem apresentadas.

Foram usadas três versões (as mesmas palavras, porém em ordem diferente) dessa

tarefa entre todos os participantes.

A segunda sessão foi feita cinco dias após a primeira, começando a partir do

teste Word Fragment Completion, utilizando o mesmo procedimento usado na

primeira sessão. Novamente, três versões foram utilizadas com os participantes. (O

teste Naming by Definition não foi realizado na segunda sessão).

Apenas os participantes bilíngues executaram o teste Picture Naming Task

(PNT). Os participantes receberam um álbum contento 120 figuras coloridas,

repetidas uma vez, num total de 240 figuras. O álbum foi dividido em quatro seções:

os participantes tiveram vinte minutos para identificar, em uma folha separada, as

primeiras sessenta figuras em inglês, as outras sessenta em português, a terceira

parte em inglês novamente e as últimas sessenta em português. Os participantes

foram instruídos a adivinhar se eles não tinham certeza sobre o nome de alguma

figura, entretanto também receberam a informação que poderiam deixar algumas

figuras em branco caso não soubessem ou lembrassem o nome delas. Eles tiveram

trinta e cinco (35) minutos para completar toda a tarefa.

57

No próximo capítulo, encontram-se a apresentação e discussão dos

resultados do presente trabalho.

58

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS:

Neste capítulo, serão apresentados e discutidos os resultados relativos às

hipóteses apresentadas no capítulo anterior, e testadas por meio dos três testes:

Naming by Definition (NBD), Word Fragment Completion (WFC) e Picture Naming

Task (PNT), além do perfil dos candidatos, que tem a finalidade de caracterizar os

participantes. Para isso, este capítulo está dividido nas seguintes seções: 4.1 -

Resultados descritivos relativos ao perfil linguístico dos informantes; 4.2 -Resultados

concernentes à primeira hipótese; 4.3 - Resultados concernentes à segunda

hipótese e 4.4 - Resultados concernentes à terceira hipótese.

4.1 PERFIL DOS PARTICIPANTES

A partir da aplicação do Questionário de Sondagem e Autoavaliação (anexo

2), composto por 35 perguntas, em que foram abordadas questões como idade, perfil

educacional, assim como outras informações sobre como se deu o aprendizado e

como é o uso da língua estrangeira no cotidiano, quando aprenderam e onde

aprenderam, com quem falavam e onde, se liam, o que liam, se escreviam e o que,

se já tinham viajado para o exterior, entre outros aspectos, foi possível delinear o

perfil dos participantes. Esse questionário, juntamente com a aplicação do teste

Picture Naming Task, permitiu a classificação dos participantes em monolíngues e

bilíngues.

Pode-se constatar que não houve uma diferença significativa em relação à

faixa etária dos dois grupos da pesquisa (p valor = 0.402): a média de idade dos

participantes bilíngues é de 27,22 anos, enquanto a média de idade dos

monolíngues é de 25,96 anos, conforme mostra a tabela 1.

59

Tabela 1–Média de idade dos grupos

C N Média Desvio Padrão Mínimo Máximo Bilíngue 23 27,22 4,612 18 34

Monolíngue 23 25,96 5,456 18 34 Fonte: Da autora, 2016

Quanto à distribuição por sexo, verificou-se que houve um número bem maior

de participantes do sexo feminino em ambos os grupos, representando 65.22% dos

entrevistados, como aponta o gráfico 1.

Gráfico 1 – Distribuição dos participantes por sexo

Fonte: Da autora, 2016

Quando questionados se eram profissionalmente ativos, a maior parte dos

participantes respondeu que se encontra profissionalmente ativo, com um total de

80% (considerando os grupos de monolíngues e bilíngues juntos), conforme mostra

o gráfico 2.

65%

35%

Sexo

Feminino Masculino

60

Gráfico 2 - Atividade profissional dos participantes

Fonte: Da autora, 2016

Em relação às atividades profissionais dos participantes da pesquisa, pode-se

identificar um maior número de professores entre os bilíngues e bolsistas entre os

monolíngues, como mostram as tabelas 2 e 3.

Tabela 2 – Atividade profissional dos bilíngues

Monolíngue

Profissão Frequência Percentual Não declarado 4 17,39% Autônomo 1 4,35% Auxiliar administrativo 2 8,70% Auxiliar de produção 1 4,35% Auxiliar serviços gerais 1 4,35% Bibliotecário (funcionário público) 1 4,35% Bolsista 7 30,43% Engenheiro 1 4,35% Estagiário 2 8,70% Funcionário Público 1 4,35% Professor de dança 1 4,35% Técnico em biblioteconomia 1 4,35% Total 23 100,00%

20%

80%

Ativo Profissionalmente

Não Sim

61

Através da tabela 3 a seguir, pode-se observar que a escolaridade dos

participantes varia de graduação incompleta a mestrado completo. Percebe-se que a

maior parte (60.87%) está matriculada em algum curso universitário. Não houve

discrepância alguma entre os grupos entrevistados, não oferecendo, portanto,

nenhum efeito adverso para o estudo.

Tabela 3 – Escolaridade dos participantes

Escolaridade

Grupo Graduação incompleta

Graduação completa

Especialização incompleta

Especialização completa

Mestrado/MBA incompleto

Mestrado/MBA completo

Total

Bilíngue 12 3 0 3 3 2 23

52,17% 13,04% 0,00% 13,04% 13,04% 8,70% 100,00%

Monolíngue 16 2 1 2 2 0 23

69,57% 8,70% 4,35% 8,70% 8,70% 0,00% 100%

Total 28 5 1 5 5 2 46

60,87% 10,87% 2,17% 10,87% 10,87% 4,35% 100%

Fonte: Da autora, 2016

Ainda em relação à escolaridade, é possível afirmar queo tempo de estudo

após o Ensino Médio, obteve uma média de 6,52 anos entre os participantes

bilíngues e 4,87 anos entre os participantes monolíngues, conforme a tabela 4.

Tabela 4 - Tempo de Estudo Pós Ensino Médio

Grupo Média Desvio-Padrão

Bilíngue 6,52 2,84

Monolíngue 4,87 2,88

Fonte: Da autora, 2016

Entre os entrevistados dos dois grupos, quase metade (45.65%) é estudante

da UFRGS, 28,26% estuda ou estudou no Centro Universitário Ritter dos Reis

(UNIRITTER), enquanto o restante se dividiu entre outras instituições privadas e a

UFSM, como pode-se verificar na tabela 5.

62

Tabela 5– Instituição Educacional

Instituição Frequência Percentual

UFRGS 21 45.65%

UNIRITTER 13 28.26%

PUC 5 10.87%

UNILASALLE 3 6.52%

UNINTER 1 2.17%

ULBRA LASALLE 1 2.17%

UFSM 1 2.17%

FAPA 1 2.17%

Total 46 100%

Fonte: Da autora, 2016

A esmagadora maioria dos entrevistados bilíngues (91.3%) aprendeu inglês

no Brasil, e apenas 2 participantes aprenderam a língua inglesa fora do país, como

pode-se observar na tabela 6, a seguir.

Tabela 6 - País em que aprenderam inglês

País que aprendeu inglês N Percentual

Brasil 21 91.30%

Estados Unidos 2 8.70%

Total 23 100%

Fonte: Da autora, 2016

Entre os entrevistados bilíngues, 34,69% aprenderam inglês em cursos

privados de inglês, enquanto 30,61% aprenderam em casa. Na tabela 6, existe a

possibilidade do participante marcar mais de uma opção, sendo assim, a coluna

percentual de casos é o percentual em relação aos 23 respondentes, enquanto a

coluna percentual das respostas tem como base o número de colunas marcadas

nesta questão.

63

Tabela 7 – Como os participantes bilíngues aprenderam inglês

Onde aprendeu inglês? Respostas Percentual das Respostas Percentual de casos

Curso 17 34.69% 73.91%

Casa 15 30.61% 65.22%

Escola 12 24.49% 52.17%

Outro 5 10.20% 21.74%

Total 49 100% 213.04%

Fonte: Da autora, 2016

O tempo médio de estudo de inglês no grupo bilíngue foi de 11.91 anos com

desvio padrão de 6.22 e a idade média de início de estudo da língua foi 10,48, como

mostra a tabela 7. A idade mínima de início de aprendizagem da língua estrangeira

foi apenas 1 ano de idade e a máxima foi 21.

Tabela 8 – Idade em que os participantes bilíngues iniciaram o aprendizado de inglês

Fonte: Da autora, 2016

Entre os participantes que escrevem em inglês, 55.88% escrevem e-mails em

inglês, e apenas 11.76% escrevem artigos em inglês. Os outros tipos de textos

relatados pelos entrevistados são: livros, poemas, jogos, bate-papo (chats) e posts

em redes sociais e textos acadêmicos, como planos de aula, textos para estudos e

trabalhos para a faculdade.

Descritivas Idade Inglês

Mínimo 1

Máximo 21

Média 10,48

Desvio-Padrão 4,68

Mediana 12

Moda 12

64

Tabela 9 –Tipos de textos escritos pelos participantes em inglês

O que escreve em inglês? Respostas Percentual Percentual de casos

Email 19 55.88% 82.61%

Outros 11 32.35% 47.83%

Artigo 4 11.76% 17.39%

Total 34 100% 147.83%

Fonte: Da autora, 2016

A maior parte dos entrevistados que lê em inglês costuma ler artigos

científicos (32.84%), como mostra a tabela 9. Os textos que estão sob o título

“outros” são: planos de aula, dissertações, teses, jogos, materiais diversos para

tradução e letras de música.

Tabela 10 – Leitura de textos em inglês

O que lê em inglês? Respostas Percentual Percentual de casos

Artigos 22 32.84% 95.65%

Livros 16 23.88% 69.57%

Revistas 14 20.90% 60.87%

Jornais 9 13.43% 39.13%

Outros 5 7.46% 21.74%

Nada 1 1.49% 4.35%

Total 67 100% 291.30%

Fonte: Da autora, 2016

Pode-se constatar, através do gráfico 4, que grande parte dos bilíngues

costuma conversar em inglês com amigos (37,74%), um número considerável

conversa com colegas (20,75%) e apenas 5,66% afirmaram conversar com o

namorado, namorada, cônjuge ou pais.

65

Gráfico 4 – Pessoas com quem os participantes bilíngues falam inglês

Fonte: Da autora, 2016

Na tabela 11, a seguir, pode-se verificar que, dentre os entrevistados que são

bilíngues, grande parte considera sua compreensão oral (65.22%) muito boa, assim

como a produção oral (52, 17%), leitura (69.57%) e escrita, 47,83%.

Tabela 11 – Autoavaliação das quatro habilidades

Ruim Regular Boa Muito boa

Compreensão 0 (0,00%) 3 (13,04%) 5 (21,74%) 15 (65,22%)

Fala 1 (4,35%) 5 (21,74%) 5 (21,74%) 12 (52,17%)

Leitura 0 (0,00%) 1 (4,35%) 6 (26,09%) 16 (69,57%)

Escrita 1 (4,35%) 7 (30,43) 4 (17,39%) 11 (47,83%)

Fonte: Da autora, 2016

Um resultado interessante, apresentado na tabela 11, é que, dentre aqueles

que se consideraram bilíngues, 39,1% não falam inglês todos os dias, enquanto

26,1% falam em inglês por mais de 6 horas por dia.

37.74%

20.75%

13.21%

5.66% 5.66%

16.98%

Amigos Colegas Alunos Pais Namorado

(a)

Outros

Com quem fala inglês

66

Tabela 12 – Horas diárias de conversação em inglês

Horas de fala em inglês, por dia Frequência Percentual

Não falo todos os dias, apenas

eventualmente 9 39,1%

Mais de 6 horas 6 26,1%

2 horas 3 13,0%

4 horas 3 13,0%

1 hora 2 8,7%

Total 23 100%

Fonte: Da autora, 2016

A tabela 13 informa que a maioria dos entrevistados que se declarou bilíngue

considera seu sotaque discreto (52.17%), enquanto apenas 4.35% dos participantes

consideram que fala exatamente como um nativo.

Tabela 13 – Autoavaliação do sotaque em inglês

Sotaque Frequência Percentual

Discreto 12 52.17%

Carregado 5 21.74%

Regular 5 21.74%

Exatamente como um falante nativo 1 4.35%

Total 23 100%

Fonte: Da autora, 2016

Além de responder ao questionário, os participantes bilíngues também

executaram uma tarefa para verificar o seu desempenho na língua portuguesa e

inglesa, a PNT (Picture Naming Task). A tarefa consiste em nomear 120 palavras

67

em português e 120 palavras em inglês, como descrito na seção 3.4.3.3, para

verificar o conhecimento dos participantes bilíngues quanto ao vocabulário nas duas

línguas. O teste foi aplicado com o intuito de medir o desempenho nas duas línguas

e consequentemente, verificar o grau de bilinguismo dos participantes. As palavras

utilizadas estão no anexo 4 desta dissertação. Os participantes também tinham de

autoavaliar o seu nível de bilinguismo português-inglês em uma das questões do

questionário, que apresentava uma escala que ia de 1 a 11, sendo que 1 significa

“eu só falo português”, 6 significa “eu sou bilíngue e fluente igualmente nas duas

línguas” e 11, “eu falo só inglês”. Assim, foi feito o cruzamento dos resultados da

PNT com os resultados da autoavaliação dos alunos no questionário, e os dados

referentes a esse cruzamento encontram-se na tabela 13, a seguir.

Tabela 14 – Comparação do nível de bilinguismo com o PNT

Nível declarado de Bilinguismo

PNT N Média

Desvio-Padrão Mínimo Máximo

4 Inglês

2 73,5 0,71 73 74

Português 119 1,41 118 120

5 Inglês

3 84,67 7,57 76 90

Português 119,33 1,15 118 120

6 Inglês

18 94 13,56 75 115

Português 118,83 1,65 114 120

Total Inglês

23 91 13,71 73 115

Português 118,913 1,53 114 120

Fonte: Da autora, 2016

O número médio de acertos no Picture Naming Task em português foi 118,91,

representando 99,09 % do total de acertos e o número médio de acertos em inglês

foi 91, o que representa 75,83%, e o número máximo de acertos foi 115 (95,83% do

total de acertos). O número mínimo foi 73 (60,83% do total de acertos), como mostra

a tabela 13 acima. Quanto ao questionário, pode-se verificar que a maior parte dos

participantes, 18 ou 78,26% afirmou ser bilíngue fluente (6 na escala), enquanto

apenas 2 participantes marcaram 4 na escala e 3 participantes marcaram 5. Os

dados apresentados na tabela 13 sugerem haver consistência entre o nível de

68

bilinguismo reportado no questionário e os resultados do PNT em inglês, pois as

médias de acertos no teste PNT na língua inglesa vão aumentando conforme a

escala de bilinguismo, ou seja, a média do PNT para os participantes que se auto

declararam 4 na escala de bilinguismo foi 73,5; a média de acertos no PNT para

quem se auto declarou 5 na escala de bilinguismo foi 84,67 e a média de acertos no

PNT para aqueles que se auto avaliaram como bilíngues fluentes, isto é, para

aqueles que marcaram 6 na escala de bilinguismo, foi 94.

Também com o intuito de verificar a congruência entre os escores do PNT e

autoavaliação dos participantes bilíngues em relação às quatro habilidades na língua

inglesa, a tabela 15, apresentada a seguir, traz alguns dados interessantes. Os

participantes bilíngues que avaliaram suas habilidades na língua inglesa como ‘Muito

Boa’ obtiveram um escore médio no PNT maior que os bilíngues que atribuíram uma

avaliação mais baixa para as quatro habilidades mensuradas. Por outro lado, essa

congruência não foi verificada quando os participantes avaliaram algumas de suas

habilidades como regular ou boa. Isso mostra um grau intermediário de boa fé na

autoavaliação dos entrevistados.

Tabela 15 – Comparação das habilidades com o PNT

PNT Inglês

Habilidade Autoavaliação N Média Desvio-Padrão Mínimo Máximo

Compreensão

Regular 3 81,67 14,15 73 98

Boa 5 82,60 7,44 76 95

Muito Boa 15 95,67 13,56 75 115

Fala

Ruim 1 74 . 74 74

Regular 5 82,60 10,29 73 98

Boa 5 89,20 7,09 81 97

Muito boa 12 96,67 14,99 75 115

Leitura

Regular 1 73 . 73 73

Boa 6 82 8,02 74 95

Muito Boa 16 95,50 13,37 75 115

Escrita

Ruim 1 78 . 78 78

Regular 7 81,14 8,07 73 95

Boa 4 86,75 8,34 79 97

Muito boa 11 100 13,14 75 115 Fonte: Da autora, 2016

69

Uma vez analisado o perfil dos participantes, cabe apresentar e discutir os

resultados da presente pesquisa na próxima seção.

4.2 RESULTADOS RELATIVOS À PRIMEIRA HIPÓTESE:

Como foi mencionado na seção 3.1.2, o primeiro objetivo da presente

pesquisa era comparar os escores de monolíngues e bilíngues na execução da

tarefa Naming By Definition (descrita na seção 3.4.3.1), na qual são apresentadas

definições (escritas e através de uma gravação) que devem ser respondidas

oralmente com um substantivo ou adjetivo correspondente. A primeira hipótese do

estudo, descrita na seção 3.2, previa um desempenho significativamente melhor por

parte dos bilíngues em relação aos monolíngues nessa tarefa.

4.2.1 Descrição

Com o intuito de verificar se a performance dos grupos no teste NBD aderiu à

distribuição normal foi realizado o Teste de Kolmogorov-Smirnov. A hipótese de que

a variável segue distribuição normal não foi rejeitada. Para esta e as demais

análises, foi utilizado o programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS)

versão 18.

A comparação entre os grupos para o desempenho no teste NBD (Naming by

Definition) foi realizada, utilizando o teste t de student, não apresentando uma

diferença significativa entre o grupo de bilíngues e monolíngues, ao nível de 5% de

significância. Caso esta diferença exista, o teste não teve poder para detectá-la.

Com o auxílio do gráfico 6, verifica-se que o número de acertos dos bilíngues foi

levemente superior à dos monolíngues.

70

Gráfico 6 – Desempenho dos participantes bilíngues monolíngues na tarefa NBD

Fonte: Da autora, 2016

Ainda em relação ao NBD, também foi realizado o teste t, comparando o

percentual de acertos em relação aos acertos no alvo11entre os grupos. Através da

tabela 16, é possível verificar que não houve diferença significativa entre os grupos

na tarefa NBD (que incluía os sinônimos). A média de acertos dos bilíngues foi de

0,511, enquanto a média dos monolíngues foi de 0,439. Todavia, os bilíngues

apresentaram uma diferença significativa em relação aos monolíngues na realização

da tarefa NBD alvo (onde não os sinônimos não foram considerados). A média dos

participantes bilíngues foi de 0,361, enquanto a dos monolíngues foi de 0,289. No

estudo de Baker (2013) não foi encontrada diferença entre os dois grupos.

11Quando não se levou em conta os sinônimos, ou seja, quando os únicos acertos considerados válidos foram aquelas palavras exatamente iguais às apresentadas na tela do computador durante a execução da tarefa.

71

Tabela 16 - Desempenho dos participantes monolíngues e bilíngues na tarefa NBD

Variável Grupo Média Desvio-padrão P-valor do teste t

NBD Bilíngues 0,511 0,133

0,088 Monolíngues 0,439 0,145

NBD Alvo Bilíngues 0,361 0,103

0,053 Monolíngues 0,289 0,138

Devemos salientar que a tarefa NBD funcionou como uma primeira etapa para

os testes WFC1 e WFC2, ou melhor, na tarefa Naming by Definition, houve a

introdução das palavras que deveriam ser memorizadas para serem lembradas no

teste WFC. Apesar de não existir uma diferença significativa no teste NBD, os

participantes bilíngues obtiveram um número de acertos superior no número de

acertos total, onde os sinônimos também contavam como acertos. Quanto ao NBD

alvo, que corresponde apenas ao número de acertos reais, ou seja, onde os

sinônimos não são considerados, houve um número significativamente maior de

acertos por parte dos participantes bilíngues: 0,361, contra uma média de 0,289 de

acertos dos participantes monolíngues.

4.2.2 Discussão

A primeira hipótese previa uma diferença estatisticamente significativa em

relação aos monolíngues na execução da tarefa Naming by Definition. Embora essa

hipótese não tenha sido corroborada totalmente, como demonstram os dados

descritos na seção 4.2.1, os participantes bilíngues obtiveram um número de acertos

levemente superior ao dos monolíngües no teste NBD (onde os sinônimos foram

considerados): os monolíngues tiveram uma média de acertos de 0,439, enquanto

os bilíngues tiveram uma média de acertos de 0,511. No NBD alvo (teste onde os

sinônimos não foram considerados), os resultados mostraram uma vantagem

bilíngue, ou seja, os bilíngues obtiveram um resultado estatisticamente superior ao

dos monolíngues: a média dos participantes bilíngues foi de 0,361 e a dos

monolíngues foi de 0,289.

72

É importante destacar que o trabalho de Baker (2013), aqui replicado, não

obteve uma vantagem significativa nos resultados gerais do teste dos bilíngues em

relação aos monolíngues. Baker reportou que não existiu nenhuma diferença de

desempenho em relação às palavras alvo (NBD alvo), onde os sinônimos não foram

considerados, ao passo em que na presente pesquisa, os participantes bilíngues

apresentaram uma vantagem estatisticamente significativa em relação aos

monolíngues.

Essa vantagem bilíngue no teste NBD alvo e os números de acertos

superiores dos bilíngues na execução da tarefa NBD talvez possam justificar-se pela

prática, que segundo Crystal (1997) é comum entre bilíngues que possuem o

mesmo background linguístico ao interagirem, em que alternam o discurso entre a

língua materna e a língua adicional durante o curso da conversação, em um

fenômeno conhecido como codeswitching. Logo, por exemplo, uma frase pode

começar em uma língua e terminar em outra. Essa troca leva o interlocutor a

continuar naquela língua por um determinado tempo. O codeswitching é um

fenômeno complexo, que pode ocorrer por um fator de ordem linguística, em função

de a pessoa conseguir expressar-se melhor em determinada língua. Com o

codeswitching, Bialystok (2009) afirma que o controle executivo é bastante exigido

para direcionar a atenção à língua alvo. Então, o codeswitching teria possibilitado

uma melhora do sistema cognitivo aos bilíngues participantes desta pesquisa.

Como os bilíngues já estão habituados a gerenciar e trocar de uma língua

para outra, eles provavelmente tiveram mais facilidade para executar a NBD e a

NBD alvo. Ao invés de duas línguas, todos os participantes tiveram que realizar duas

atividades ao mesmo tempo. Eles tinham de pensar e decidir qual era a melhor

resposta para cada questão, além de memorizar palavras que apareciam na tela. A

memória de trabalho é utilizada em atividades ou experiências cognitivas complexas

como as da tarefa NBD.

Isso pode sugerir que os participantes monolíngues foram mais afetados

pelas exigências do processamento lexical da tarefa NBD, que em teoria ativaria

múltiplas possibilidades de palavras antes de uma palavra final ser selecionada.

Portanto, mesmo que a palavra escolhida pelo participante correspondesse à

palavra correta, provavelmente outras palavras também tinham sido cogitadas pelo

participante antes da sua seleção final, já que a maior parte das definições

73

apresentadas na tarefa NBD poderiam ser respondidas de outras formas, isto é,

outras palavras sinônimas também poderiam ter sido usadas. Assim, essas palavras

ativadas pelas definições da tarefa NBD poderiam interferir na memorização da

próxima palavra da tarefa NBD. Em síntese, a tarefa NBD, utilizada no presente

estudo, é uma tarefa que testa a memória de trabalho, pois utiliza duas atividades

simultaneamente, sendo uma de processamento de informação e outro de

memorização de informações, quando os participantes tinham de responder a uma

questão, fornecendo uma palavra que corresponderia à definição apresentada, e

outra de memorização de palavras. Assim, a tarefa NBD e a NBD alvo foram

escolhidas para avaliar a MT, pois envolvem o processamento e o armazenamento

de informações. Portanto, essas duas tarefas estão em harmonia com o conceito de

MT proposto por alguns autores (ENGLE, 2010; COWAN, 2008; BADDELEY, 2000),

no qual a Memória de trabalho seria responsável por coordenar o processamento e

o armazenamento de informações.

Os testes para medir e comparar a memória de trabalho de bilíngues e

monolíngues e os resultados do presente estudo se assemelham aos do estudo de

Bialystok e Feng (2009). Os pesquisadores compararam as habilidades de grupos

de crianças e adultos monolíngues e bilíngues na memorização de palavras, usando

um paradigma de interferência. Os participantes da pesquisa eram instruídos a

memorizar uma lista de palavras de uma determinada categoria e mais tarde tinham

que lembrar essas palavras. O mesmo procedimento foi realizado para mais duas

listas de palavras da mesma categoria da primeira lista (o que causa interferência), e

também tinham de memorizar uma lista de palavras de uma categoria diferente. Os

referidos autores não encontraram diferenças no número de palavras lembradas

entre os grupos de bilíngues de nenhuma faixa etária, embora quando se levou em

consideração diferenças de vocabulário, houve uma vantagem bilíngue no grupo dos

adultos.

Não foram localizados outros estudos que utilizaram o teste Naming by

Definition para comparar a memória de trabalho de trabalho de bilíngues e

monolíngues na literatura. Foram encontrados apenas testes que são semelhantes,

como o de Bialystok e Feng (2009). A seguir, serão apresentados e discutidos os

resultados relativos à segunda hipótese do presente estudo.

74

4.3 RESULTADOS RELATIVOS À SEGUNDA HIPÓTESE

O segundo objetivo era analisar se os bilíngues possuem vantagens

comparados a monolíngues na execução da tarefa WFC (Word-Fragment

Completion - descrita na seção 7.2.2), que avalia a memória de trabalho através da

utilização de palavras abstratas, ou seja, os participantes precisam lembrar as

palavras imediatamente após elas serem apresentadas na tarefa Naming By

Definition (NBD) e também 5 dias depois. Para isso, a segunda hipótese previa que

haveria uma diferença estatisticamente significativa a favor dos bilíngues na tarefa

WFC (Word Fragment Completion).

4.3.1 Descrição

Com o intuito de verificar se as tarefas WFC1 e WFC2 aderiam à distribuição

normal, também foi realizado o Teste de Kolmogorov-Smirnov. Em nenhum dos

casos, a hipótese de que a variável segue distribuição normal foi rejeitada. Foi

utilizado o programa SPSS versão 18 para esta análise.

Para o segundo teste realizado pelos dois grupos (monolíngues e bilíngues),

o WFC1, realizado poucos minutos após o término do teste NBD, foi aplicada a

mesma metodologia estatística usada para os resultados do NBD. Não foi

constatada uma diferença significativa estatisticamente, conforme os dados

apresentados na tabela 17.

Tabela 27 - Desempenho dos participantes monolíngues e bilíngues na tarefa Word Fragment Completion

Variável Grupo Média Desvio-padrão P-valor do teste t

WFC 1 Bilíngues 0,687 0,138

0,109 Monolíngues 0,63 0,093

WFC 2 Bilíngues 0,68 0,129

0,034* Monolíngues 0,607 0,098

75

No entanto, através da tabela 17, pode-se verificar que houve diferença

significativa entre o grupo de bilíngues e monolíngues no teste WFC2, ou seja, os

bilíngues apresentaram uma proporção de acertos bem superior aos monolíngues

nas questões respondidas 5 dias após a primeira etapa. Os monolíngues obtiveram

uma média de acertos de 0,607, enquanto os bilíngues obtiveram a média de 0,680.

Nos demais casos, apesar de a proporção de acertos ter sido maior para os

bilíngues, o teste não detectou diferença estatística.

Na tabela 18, a seguir, verifica-se que a correlação linear entre WFC1 e

WFC2 é superior, descritivamente, entre os bilíngues do que entre os monolíngues.

Isto é, à medida que cresce a proporção de acertos de WFC1, cresce linearmente a

proporção de acertos em WFC2, e esse crescimento mútuo, ou relação linear é,

descritivamente, maior para os bilíngues, sugerindo que o percentual de acerto nos

testes é mais parecido nesta categoria. Em contrapartida, para os monolíngues,

essa relação é quase inexistente, não sendo significativa.

Tabela 18 – Correlação linear entre WFC 1 e WFC 2

Monolíngues Bilíngues

WFC1

WFC 1 Cognatas WFC2 WFC1

WFC 1 Cognatas WFC2

WFC1 Pearson Correlation 1 1

Sig. (2-tailed)

WFC 1 Cognatas

Pearson Correlation ,477 1 ,874 1

Sig. (2-tailed) ,021

,000

WFC2 Pearson Correlation ,465 ,299 1 ,687 ,600 1

Sig. (2-tailed) ,025 ,166

,000 ,002

WFC 2 Cognatas

Pearson Correlation ,503 ,482 ,643 ,682 ,759 ,841

Sig. (2-tailed) ,014 ,020 ,001 ,000 ,000 ,000

Fonte: Da autora, 2016

Uma vez apresentados os resultados descritivos em relação à segunda

hipótese, passa-se agora à discussão desses resultados.

76

4.3.2 Discussão

Em relação à segunda hipótese, previa-se que haveria uma diferença

estatisticamente significativa a favor dos bilíngues no desempenho da tarefa Word

Fragment Completion, que mede a memória de trabalho. Assim como Baker (2013),

cujo trabalho está sendo replicado aqui, não se encontrou diferençasentre os dois

grupos em relação à primeira etapa de aplicação do WFC (ou WFC1), ou seja,

minutos após a aplicação do teste Naming By Definition, também não foi encontrada

uma vantagem significativa dos bilíngues em relação aos monolíngues na execução

da tarefa.

Porém, os resultados da aplicação da segunda etapa do WFC (o WFC2),

realizada 5 dias após a primeira, mostram uma vantagem que é considerada

significativa dos bilíngues em relação aos monolíngues. Essa vantagem se dá em

relação não só à memória de trabalho, mas principalmente em relação à memória de

longa duração, pois informações que são lembradas depois de seis horas, como é o

caso da segunda etapa da tarefa WFC (a WFC2), são consideradas memória de

longa duração.

Alguns pesquisadores afirmam que há uma relação entre a memória de

trabalho e a memória de longa duração (MIYAKE, SHAH, 1999), embora a natureza

e a extensão dessa relação seja discutível. De acordo com Baddeley, a memória de

trabalho conecta-se com a memória de longa duração através do buffer episódico ou

episodic buffer12. Graças a sua capacidade para reter uma gama de dimensões, o

buffer episódico conecta vários subsistemas da memória de trabalho e liga esses

subsistemas a inputs da memória de longa duração e da percepção. (BADDELEY et

al., 2011, p. 70). Pode-se verificar, desse modo, que a segunda hipótese foi

parcialmente corroborada, pois se encontrou uma vantagem significativa dos

bilíngues em relação aos monolíngues apenas na execução do WFC2, replicando o

resultado encontrado por Baker (2013).

Paap e Greenberg (2013) afirmam que a experiência dos bilíngues,

especialmente os fluentes, em trocar de código linguístico, envolvendo a avaliação

do contexto, a seleção de uma língua e a inibição da outra língua pode levar a uma

12Componente do modelo de memória de trabalho proposto por Baddeley et al. (2011).

77

melhora nas funções executivas, como diversos pesquisadores já reportaram

(BIALYSTOK, 2006; BIALYSTOK, CRAIK, KLEIN, & VISWANATHAN, 2004;

BIALYSTOK, CRAIK, LUK, 2008; COSTA, HERNÁNDEZ, SEBASTIÁN-GALLÉS,

2008).

Paap e Greenberg (2013) argumentam que há indícios de que as funções

executivas dos bilíngues sejam mais exercitadas e, portanto, mais fortalecidas

durante a compreensão e produção oral pelo monitoramento do ambiente

comunicativo constante em caso de haver necessidade de troca de código ou

codeswitching.

Contudo, os referidos autores acrescentam que, embora os monolíngues não

necessitem fazer o mesmo tipo de monitoramento que os bilíngues fazem durante o

codeswitching, o ato de falar qualquer língua também requer outras formas de

monitoramento e inibição. Em qualquer conversação, por exemplo, há a

necessidade de monitoramento do ambiente para perceber os sinais para a troca de

turnos, para possíveis usos de sarcasmos, mudanças de tópico, etc.

Os falantes monolíngues também precisam fazer escolhas sintáticas e

semânticas constantemente. Portanto, ainda que os bilíngues fluentes tenham mais

necessidade de monitoramento do ambiente conversacional, essa necessidade extra

pode não ser suficiente para garantir melhor desempenho quanto às funções

executivas (PAAP; GREENBERG, 2013).

A ausência de uma vantagem bilíngue no WFC1 talvez possa ser explicada

pelo efeito de outras variáveis como proficiência, tempo e frequência de uso da

língua, entre outros, que influenciam o processamento e memorização bilíngue.

O aprendizado de uma língua é um contínuo, ocorrendo ao longo de um

tempo, com prática e vivências, e de um modo monolíngue a um modo bilíngue

(GROSJEAN, 2001; COOK, 2003). Assim, acredita-se que o tempo de uso das

línguas também tem influência sobre a ativação interlinguística e, sobre o

desempenho dos participantes nas tarefas. Grosjean (1989) sugere que, na medida

em que o bilíngue recebe mais input e faz um maior uso da língua ao longo do

tempo, ele conhece novas situações, novos ambientes e interlocutores, que fazem

com que esse falante desenvolva melhor suas habilidades na língua estrangeira.

Portanto, após períodos de prática, o falante bilíngue tem acesso a um

78

conhecimento mais amplo necessário à maioria de suas necessidades

comunicativas.

Embora alguns estudos encontrados na literatura (PEREIRA, 2012;

BIALYSTOK et al., 2008) tenham reportado uma vantagem bilíngue em relação à

memória de trabalho, outros trabalhos, como o de Pinto (2009), não obtiveram a

mesma vantagem. No grupo de adultos jovens, observou-se uma tendência de

melhor desempenho dos grupos bilíngues, adultos jovens em relação aos adultos

jovens monolíngues na execução da tarefa Simon, que mediu a memória de trabalho

em sua pesquisa, apesar disso, não foram encontradas diferenças estatísticas

significativas na execução da tarefa. Existem muitos outros trabalhos que não

encontraram uma vantagem bilíngue, como os relatados em uma metanálise feita

por Hilchey e Klein (2011). Na próxima seção serão descritos os resultados

referentes à terceira hipótese, bem como a discussão desses resultados.

4.4 RESULTADOS RELATIVOS À TERCEIRA HIPÓTESE

Foi estabelecido como terceiro e último objetivo verificar se existe diferença

entre o desempenho dos dois grupos na nomeação das palavras cognatas usadas

nos testes Naming By Definition (NBD) e Word Fragment Completion (WFC). Foi

testado, então, se existe efeito cognato, utilizando-se, para isso, 10 palavras

cognatas no primeiro teste, o NBD e também 10 palavras no segundo e no terceiro

teste, no WFC1 e WFC2, respectivamente.

4.4.1 Descrição

Em relação às palavras cognatas e não cognatas usadas no teste NBD,

houve uma diferença significativa no percentual de acertos dos dois grupos de

palavras pelos participantes bilíngues, porém, neste caso, a proporção média de

acertos foi maior para as palavras não cognatas (0,691) do que das cognatas

(0,330), ou seja, apesar de a terceira hipótese prever um efeito cognato13, (descrito

13O efeito cognato consiste da facilitação na execução de tarefas pelos bilíngues pela semelhança ortográfica, fonética e de significado entre as palavras da língua materna e da língua estrangeira.

79

na seção 2.2), como é possível verificar, na tabela 19, não houve um efeito cognato

na execução da tarefa NBD.

Quanto à tarefa NBD alvo, é possível perceber, pela tabela 19, que não houve

diferença significativa na proporção de acertos entre as palavras cognatas e as não

cognatas considerando o acerto exato da palavra, sem considerar sinônimos. É

possível verificar que os percentuais médios de acertos são bastante próximos,

sendo de 0,330 das palavras cognatas e de 0,391 para as não cognatas. Isto é,

enquanto que em 10 questões de palavras cognatas, o número médio de acertos era

de 3,30, em 10 questões envolvendo palavras não cognatas, o número médio de

acertos era de 3,91 para as não cognatas. Portanto também não houve efeito

cognato na tarefa NBD alvo.

No que tange à execução da tarefa WFC1, realizada na primeira etapa da

pesquisa, também não houve uma diferença significativa entre as palavras cognatas

e não cognatas. A média de acertos de palavras cognatas e de não cognatas foi a

mesma: 0,687. Assim, também não houve um efeito cognato na execução da tarefa

WFC1.

Porém, no teste WFC2, realizada na segunda etapa da presente pesquisa (5

dias após a primeira etapa), a tabela 19 mostra que houve diferença significativa

entre a proporção média de acertos das palavras cognatas e das não cognatas para

o grupo dos bilíngues, sendo esta proporção de 0,726 e de 0,635, respectivamente.

Dessa forma, houve um efeito cognato na execução da tarefa WFC2.

80

Tabela 19 – Comparação entre palavras cognatas e não cognatas (grupo dos bilíngues)

Bilíngues Proporção média de acertos

p-valor* Cognatas Não Cognatas

NBD 0.330 (0.146) 0.691 (0.200) 0,000

NBD - Alvo 0,330 (0,146) 0,391 (0,131) 0,129

WFC 1 0.687 (0.152) 0.687 (0.160) 1

WFC 2 0.726 (0.118) 0.635 (0.172) 0,005 * Representa o teste t pareado

Após a descrição dos dados referentes à terceira hipótese, passa-se agora à

discussão desses resultados.

4.4.2 Discussão

A terceira hipótese previa uma diferença significativa em relação ao número

de acertos relativos às questões envolvendo palavras cognatas e não cognatas (nas

Tarefas Naming By Definition e Word Fragment Completion) pelos bilíngues, ou seja,

previa-se a existência do efeito cognato. Segundo Christoffels e colaboradores

(2007), diversos estudos na área de psicolinguística têm demonstrado que o status

cognato influencia o desempenho de uma gama de tarefas. Os falantes bilíngues

reconhecem as palavras cognatas mais rapidamente, traduzem e recordam palavras

cognatas mais rapidamente do que as não cognatas, por exemplo (DE GROOT,

1992; DE GROOT; NAS, 1991; GOLLAN; ACENAS, 2004; DIJKSTRA et al., 2010;

ALGARABEL et al, 2006; HOSHINO; KROLL, 2008; COSTA et al, 2000).

O efeito cognato sugere que as duas línguas faladas pelos bilíngues são

ativadas mesmo em contextos monolíngues (KROLL et al., 2008; MACNAMARA,

CONWAY, 2014). Embora existam estudos relatando um efeito cognato (como os

citados anteriormente e na introdução), no presente estudo, não foi constatada uma

diferença estatisticamente significativa na maior parte dos testes (NBD, NBD alvo e

WFC1) entre o número de acertos de palavras cognatas e não cognatas, ou seja,

não foi encontrado um efeito cognato nesses testes. Portanto, a terceira hipótese foi

corroborada apenas parcialmente, pois houve um efeito cognato apenas na

execução da tarefa WFC2.

81

Alguns estudos sugerem que para que a influência interlinguística ocorra,

resultando em um efeito cognato, é necessário um certo nível de proficiência na

língua estrangeira. Blumenfeld e Marian (2007, apud Van Hell e Tanner, 2012) em

seu estudo, testaram se a proficiência influenciaria a coativação de duas línguas no

reconhecimento de palavras. Os pesquisadores utilizaram participantes bilíngues de

alemão (L1) e inglês (L2) e bilíngues de inglês (L1) e alemão (L2) em uma tarefa

onde eles tinham de escutar e identificar palavras cognatas não-cognatas. Como

resultado, foi possível verificar que os bilíngues com alta proficiência de alemão (L1)

e inglês (L2) resolveram os problemas de competição entre semelhanças

interlinguísticas das línguas mais rapidamente do que os participantes bilíngues de

inglês (L1) e alemão (L2), que tinham menor proficiência em alemão. Portanto,

sugere-se que os participantes bilíngues com nível elevado de proficiência podem

ter mais facilidade para resolver conflitos entre candidatos com semelhanças

interlinguísticas.

Estudos realizados com intérpretes simultâneos, comparando intérpretes mais

experientes com intérpretes menos experientes, indicam que o controle cognitivo e a

memória de trabalho dos bilíngues, por exemplo, melhoram com a prática da língua

adicional e com a experiência (YUDES et al., 2011, 2012; MACNAMARA, CONWAY,

2014). Resumindo, um fator importante para os resultados obtidos é a proficiência

dos participantes em L2, ou seja, uma possível explicação para um efeito cognato

não ter sido encontrado em todas as tarefas da presente pesquisa talvez esteja

ligada ao fato de que os participantes do presente estudo não serem todos de nível

avançado e não terem uma prática diária do inglês.

Outra variável que possivelmente explicaria a ausência do efeito cognato

esperado na presente pesquisa são as diferentes funções das línguas no cotidiano

do falante (Maher, 1997). Assim, o domínio de uso de uma determinada língua vai

depender também do propósito do falante de utilizar essa língua e do contexto.

Portanto, quanto maior a frequência de uso, nos mais diversos contextos, o falante

se torna pouco a pouco mais conhecedor desse idioma. Então, acredita-se que a

frequência de uso da língua estrangeira desse estudo, também poderia ter

influenciado seus resultados. Em relação à da frequência, 39,1% dos participantes

bilíngues informou que não utiliza diariamente, 26,1% utiliza o inglês por mais de 6

horas por dia, 13% fala inglês de 2 a 4 horas e 8,7% fala inglês por apenas 1 hora

82

por dia. É possível verificar que grande parte dos bilíngues não utilizam a língua

inglesa com bastante frequência e pode-se sugerir que este sistema linguístico não

está tão ativo quanto o sistema linguístico do português, o que não facilitaria um

efeito cognato.

Yan (2014) também sugere que quanto mais tarde um bilíngue aprende a

língua adicional, menor será a tendência de o efeito cognato ser alcançado.

Portanto, talvez se este estudo tivesse sido feito apenas com bilíngues avançados,

tivesse sido encontrado um efeito cognato.

Resumindo, sugere-se, então, que o nível de proficiência e a frequência de

uso da L2 dos participantes do presente estudo pode não ter sido suficiente para

que se verificasse o efeito cognato apresentado por vários estudos relatados na

literatura, como os citados pela presente pesquisa. No próximo capítulo, encontram-

se as últimas considerações acerca dos resultados e das limitações da presente

pesquisa.

83

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste capítulo de considerações finais, é apresentado um sumário dos

resultados obtidos. Para tanto, este capítulo está dividido em duas seções: na

primeira, é apresentada uma análise geral quanto aos principais resultados deste

trabalho e, na segunda, são descritas as limitações deste estudo.

5.1 RESULTADOS OBTIDOS NA DISCUSSÃO DOS OBJETIVOS DA PESQUISA

O objetivo principal do presente estudo foi investigar os efeitos do bilinguismo

na memória de trabalho de jovens brasileiros. Para que essa análise fosse possível,

o presente estudo contou com uma amostra de 46 participantes, sendo 23

monolíngues, falantes de português brasileiro e 23 bilíngues, falantes de português

brasileiro e inglês. Os participantes realizaram duas tarefas para medir a memória

de trabalho: a NBD e a WFC1 e também realizaram uma tarefa que mediu a

memória de longa duração: a WFC2. Também buscou-se verificar se os

participantes bilíngues obteriam um número superior de acertos envolvendo as

palavras cognatas presentes nos testes, ou seja, buscou-se verificar a existência de

um efeito cognato.

Para atender ao objetivo geral da pesquisa, foram traçados três objetivos

específicos, a seguir:

Foi estabelecido como primeiro objetivo específico, verificar se os bilíngues

obteriam desempenho significativamente distinto dos monolíngues na tarefa NBD

(Naming By Definition), que mede a memória de trabalho. Os resultados mostraram

que não houve diferença significativa entre os grupos na execução da tarefa NBD,

assim como também não foram encontradas diferenças significativas nessa tarefa

no estudo de Baker (2013), que o presente estudo replica. Entretanto, o percentual

84

de acertos dos bilíngues foi sempre levemente superior ao dos monolíngues.

Quanto aos resultados obtidos, pode-se concluir, desta forma, que a hipótese

lançada para este objetivo não foi corroborada.

O segundo objetivo específico foi traçado na intenção de analisar se os

bilíngues possuem vantagens quando comparados a monolíngues na execução da

tarefa WFC (Word-Fragment Completion), que também avalia a memória de

trabalho na primeira etapa (WFC1) e mede a memória de trabalho e a memória de

longa duração na segunda etapa (WFC2), realizada 5 dias após a primeira etapa. A

análise estatística demonstrou que não houve diferenças significativas em relação à

média dos escores totais obtidos pelos grupos na primeira etapa (na WFC1), mas

houve uma vantagem estatisticamente significativa dos bilíngues em relação aos

monolíngues na segunda etapa do teste (WFC2), que media a memória de longa

duração, replicando os resultados obtidos na pesquisa de Baker (2013). Pode-se

concluir, pelo diagnóstico estatístico e pela análise dos resultados, que a segunda

hipótese foi apenas parcialmente corroborada.

O terceiro objetivo investigou se o grupo de bilíngues evidenciou um número

de acertos significativamente maior na nomeação das palavras cognatas usadas

nos testes Naming By Definition (NBD) e Word Fragment Completion (WFC),

comparados com as palavras não cognatas, ou melhor, se houve efeito cognato.

Com relação a esse objetivo não foram encontrados resultados significativos em

todas as tarefas. Apenas houve uma diferença significativa, e portanto, foi

observado um efeito cognato na execução da tarefa WFC2. A hipótese formulada

para o terceiro objetivo, dessa forma, foi corroborada parcialmente. A pesquisa de

Baker mostrou uma vantagem bilíngue na execução da WFC2, mas não houve um

efeito cognato.

Resumindo, no presente estudo, houve um resultado estatisticamente

significativo favorecendo o grupo dos bilíngues na execução da tarefa WFC2 e

também houve um efeito cognato na tarefa WFC2. Isto é, a tarefa WFC2, realizada

5 dias após a primeira, na qual a memória de longa duração é mensurada,

apresentou uma vantagem bilíngue, tanto considerando os acertos no total, quanto

85

comparando o uso de palavras cognatas e não cognatas. Na próxima seção, serão

apresentadas as limitações deste estudo.

5.2 LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Em primeiro lugar, um fator a ser considerado foi o tempo limitado para

coletar, discutir os resultados e concluir a pesquisa. Como a liberação do comitê de

ética foi recebida em julho, durante as férias letivas, houve uma maior dificuldade de

encontrar participantes durante esse mês. A investigação teve início em julho de

2015 e terminou em dezembro do mesmo ano. Outra grande dificuldade para a

realização da pesquisa foi encontrar participantes que aceitassem participar de duas

etapas, sendo a segunda 5 dias após a primeira. Foram perdidos mais de 10

participantes que, apesar de terem aceitado e se comprometido em participar da

nossa pesquisa, realizaram apenas a primeira etapa e não compareceram na

segunda, invalidando a sua participação.

Outra limitação é em relação à falta de um ambiente adequado para

realização das tarefas do estudo no computador. Mesmo tendo acesso a salas de

aula da UFRGS e UNIRITTER para aplicação do estudo, não foi possível evitar os

ruídos do ambiente externo completamente. Sabe-se que tarefas que exigem

bastante concentração, como as tarefas do presente estudo, podem ter seus

resultados afetados por qualquer leve distração, alterando a acurácia nos testes.

Ainda quanto ao número de participantes, como foi decidido acatar a

sugestão de Baker (2013), e acrescentar mais 15 participantes, para alcançar 50

participantes no total, houve grande dificuldade em recrutar e aplicar os testes, e

infelizmente, não foi possível obter 50 participantes pela desistência de quatro

participantes nos últimos dias de aplicação dos testes. Em vista disso, a amostra

final constituiu-se de 46 participantes. Quanto ao tempo individual exigido para os

participantes bilíngues executarem os testes da segunda etapa, que eram o Word

Fragment Completion e a Picture Naming Task, a demanda de mais de 40 minutos

também dificultou e atrasou a aplicação dos testes.

86

Ainda outras limitações estão ligadas à seleção dos participantes bilíngues.

Como os únicos meios para definir quem eram os bilíngues em nossa pesquisa foi o

questionário com questões de autoavalição de suas habilidades linguísticas e de seu

grau de bilinguismo, além de um teste avaliando o grau de acerto de nomeações de

figuras (Picture Naming Task), não foi possível, assim como no estudo de Baker

(2013), precisar com exatidão o grau de bilinguismo dos participantes bilíngues.

Também não foi feito nenhum teste para medir o conhecimento de línguas dos

monolíngues, apenas confiou-se nas suas respostas dadas no questionário,

afirmando que eram monolíngues. Sabe-se que, no nosso estado, temos um maior

contato com a língua espanhola por nossos vizinhos argentinos e uruguaios

visitarem nossas praias no verão, ou seja, é quase impossível existir alguém que

não tenha tido nenhum contato com outras línguas.

5.3 Contribuições do estudo e sugestões para outras pesquisas

Em estudos futuros, seria interessante fazer uma avaliação prévia mais

precisa quanto à proficiência, o tempo e a frequência de uso da língua estrangeira.

Isso contribuiria para uma seleção de bilíngues com nível de proficiência mais

equivalente entre si. Assim, o controle das variáveis que influenciam o

processamento de linguagem de indivíduos bilíngues poderia se dar de forma mais

precisa. Também seria interessante fazer uma entrevista ao invés de apenas

solicitar que os participantes respondessem ao questionário de sondagem e

autoavalição linguística para ter dados mais precisos e amplos em relação ao perfil

dos participantes da pesquisa.

Quanto às contribuições do estudo, espera-se que tenha colaborado para os

estudos sobre o bilinguismo, que é um assunto que ainda envolve controvérsias,

mitos e preconceitos. Embora os estudos sobre o bilinguismo não sejam tão

recentes, ainda há muitas pessoas que, por exemplo, pensam que o Brasil é um

país monolíngue, em que a única língua falada é o português. Na verdade, há uma

realidade multilíngue no Brasil, na qual se pode perceber a presença de distintos

idiomas e culturas tão variados e complexos que enriquecem a história do país.

87

De fato, são falados mais de 200 idiomas hoje no Brasil, entre eles, 170

línguas faladas pelas tribos indígenas, 30 línguas faladas pelas comunidades de

imigrantes, além das línguas das comunidades surdas, a Língua Brasileira de Sinais

(LIBRAS) e a língua de sinais Urubu-Kaapór (Oliveira, 2008). Nos estados do sul do

Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, houve uma

colonização de imigrantes alemães e italianos. Os falantes de Hunsrückisch e do

Vêneto rio-grandense (também chamado Talian) ainda sofrem preconceito pelo seu

sotaque carregado no português, por exemplo. Percebe-se, assim, que o Brasil

monolíngue é uma concepção limitadora e preconceituosa e que admitir a presença

de distintos idiomas e culturas tão variados e complexos enriquece a história de uma

nação e a sua identidade. Por fim, espera-se que as reflexões propostas por este

trabalho possam ter ampliado a concepção de bilinguismo, desfazendo a noção de

um bilinguismo “ideal” ou “perfeito”, e entendendo que a competência bilíngue é um

contínuo, que se desenvolve pouco a pouco com a prática, e pode variar conforme a

situação, o interlocutor e o tema da conversação.

No presente trabalho, a partir dos dados analisados, foram encontrados

resultados semelhantes ao trabalho de Baker (2013), replicando os resultados de

quase todos os testes. Consequentemente, pode-se considerar que a replicação do

estudo e de seus principais resultados colabora para a arena de discussões sobre a

existência ou não da vantagem bilíngue, trazendo argumentos a favor da sua não

existência ou de possíveis confounds da vantagem bilíngue com outros fatores, tais

como nível de educação formal e altas demandas profissionais, apontados por

Rodrigues (2013). Paap e Greenberg (2013) acrescentam que até mesmo

determinadas atividades normais do dia-a-dia do mundo atual, com suas novas

demandas tecnológicas, por exemplo, podem levar a uma melhoria das funções

executivas dos adultos, fator que colabora para diminuir as diferenças entre

bilíngues e monolíngues nas FEs.

Convém ressaltar que, como afirmam Paap e colaboradores (2015), as

vantagens trazidas pelo bilinguismo no âmbito pessoal, econômico, social e cultural

são indiscutivelmente superiores às desvantagens. Porém, mesmo após mais de

uma década de intenso estudo, a questão sobre a influência do bilinguismo sobre

as funções executivas continua sendo controversa.

88

Por fim, espera-se, portanto, que este trabalho tenha contribuído para

aumentar o escopo de pesquisas sobre a vantagem bilíngue, replicando um estudo

cujas tarefas (NBD, WFC) ainda não haviam sido testadas em participantes sul-

brasileiros. Espera-se também que questões concernentes à influência que o

bilinguismo pode exercer nas funções executivas, em especial na memória de

trabalho, trazidas pelo presente estudo possam colaborar com o avanço do

conhecimento na área de Psicolinguística em futuros estudos.

89

REFERÊNCIAS

ABUTALEBI, J., DELLA ROSA, P. A., TETTAMANTI, M., GREEN, D. W., & CAPPA, S. F. Bilingual aphasia and language control: A follow-up fMRI and intrinsic connectivity study. Brain & Language, v. 109, p. 141-156, 2009. ABUTALEBI, J; GREEN, D. Bilingual language production: The neurocognition of language representation and control. Journal of Neurolinguistics, v. 20, n. 3, p. 242-275, 2007. ADI-JAPHA, E.; BERBERICH-ARTZI, J.; LIBNAWI, A. Cognitive flexibility in drawings of bilingual children. Child Development, v. 81, n. 5, p. 1356-66, 2010. BADDELEY, A.; EISENCK, M. W.; ANDERSON, M. C. Memória. Porto Alegre: Artmed, 2011. BADDELEY, A.; EISENCK, M. W.; ANDERSON, M. C. Memory. New York: Psychology Press, 2010. BADDELEY, A.D. Working memory. Science, v.255, p. 556-559, 1992. BANDEIRA, M. H. T. Diferenças entre crianças monolíngues e multilíngues no desempenho de tarefas de funções executivas e na transferência de padrões de VOT (Voice Onset Time) entre as plosivas surdas do pomerano, do português e do inglês. (Mestrado em Letras). Universidade Católica de Pelotas. Pelotas, 2010. BAIN, B. Toward an integration of Piaget and Vygotsky: Bilingual considerations. Linguistics, v. 13, n. 160, p. 5-20, 1975. BAKER, C. Foundations of Bilingual Education and bilingualism. 5 Ed. Tonawanda: McNaughton & Gunn Ltd, 2011. BAKER, C.M. Effects of bilingualism on working memory ability. 68 f. Dissertação (Mestrado em Linguística), California State University, Long Beach, 2013. BARKLEY, Russel. Executive Functions: What they are, how they work, and why the evolved. Nova Iorque: Guilford Press, 2012.

BHATIA, T. K.; RITCHIE, W. C. (Ed.). The handbook of bilingualism and multilingualism, West Sussex: Wiley-Blackwell, 2013. BIALYSTOK, E. Bilingualism: The good, the bad, and the indifferent. International Symposium on Bilingualism Lecture. Cambridge University Press, v. 12, n.1, p. 3-11, Aug. 2008. Disponível em:<http://www.bangor.ac.uk/bilingualism-

90

summerschool/courses/chondrogianni/Bialystok%202009.pdf>. Acesso em: 10 set. 2013. BiIALYSTOK, E.; CRAIK, F. I. M.; GREEN, D. W.; GOLLAN, T. H. Bilingual minds. Psychological Science in the Public Interest, v. 10, 89129, 2009. BIALYSTOK, E; CRAIK, F.M; LUK, G. Bilingualism: consequences for mind and brain. Trends in cognitive Sciences, v. 16, n. 4, Oct. 2012. BIALYSTOK, E; BARAC, R. Emerging Bilingualism: Dissociating advantages for metalinguistic awareness and executive control. Cognition, v. 122, n. 1, p. 67-73, jan. 2012.

BIALYSTOK, E.; FENG, X. Language proficiency and its implications for monolingual and bilingual children. In A. Durgunoglu; C. Goldenberg (Eds.). Challenges for language learners in language and literacy development (pp. 121-140). Guilford Press, 2011 BIALYSTOK, E.; FENG, X. Language proficiency and executive control in proactive interference: Evidence from monolingual children and adults. Brain and Language, v. 109, p. 93-100, 2009.

BIALYSTOK, E.; VISWANATHAN, M. Components of executive control with advantages for bilingual children in two cultures. Cognition, v. 112, n. 3, p. 494–500, sep. 2009. BIALYSTOK, E.; CRAIK, F. I. M.; LUK, G. Cognitive control and lexical access in younger and older bilinguals. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, and Cognition, v. 34, n. 4, p. 859–873, 2008. BIALYSTOK, E.; CRAIK, F. I. M.; FREEDMAN, M. Bilingualism as a protection against the onset of symptoms of dementia. Neuropsychologia, v. 45, p. 459-464, 2007. BIALYSTOK, E., CRAIK, F. I. M., & RYAN, J. Executive control in a modified anti-saccade task: Effects of aging and bilingualism. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, and Cognition, v. 32, p. 1341– 1354, 2006. BIALYSTOK, E. Consequences of bilingualism for cognitive development. In J. F. Kroll, & A. M. B. de Groot (Eds.). Handbook of bilingualism: Psycholinguistic approaches (pp. 417-432). NY: Oxford University Press, 2005. BIALYSTOK, E. et al. Effect of bilingualism on cognitive control in the Simon task: Evidence from MEG. Neuroimage, v. 24, n. 1, p.40-49, 2004. BIALYSTOK, E.; CRAIK, F. I. M.; KLEIN, R.; VISWANATHAN, M. Bilingualism, aging, and cognitive control: Evidence from the Simon Task. Psychology and Aging, v. 19, n. 2, p. 290-303, 2004.

91

BIALYSTOK, E. Bilingualism in development: Language, literacy, and cognition. Cambridge University Press, 2001. BIALYSTOK, E. Levels of bilingualism and levels of linguistic awareness. Developmental Psychology, v. 24, p. 560-567, 1988. BILLIG, J. Bilinguismo e envelhecimento: efeitos no controle cognitivo. 130f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Programa de Pós-graduação em Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009. BLOOMFIELD, L. Language. New York: Holt, 1933. BRENTANO, L. S. Bilinguismo escolar: uma investigação sobre controle inibitório. 128f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem) – Programa de Pós-graduação em Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. BRENTANO, L. S.; FINGER, I. Habilidades linguística e metalinguística diferenciadas no aprendizado em currículo bilíngue. Signo, v.35, n. especial, p. 120-144, jul.-dez. 2010. CÁCERES, G. H. O papel da experiência linguística na relação entre alcance de memória de trabalho e compreensão leitora.141 f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem– Programa de Pós-graduação em Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012. CAMPBELL, R.; SAIS, E. Accelerated metalinguistic (phonological) awareness in bilingual children. British Journal of Developmental Psychology, v.13, p. 61-68, 1995. CARLSON, S. M.; MELTZOFF, A.N. Bilingual experience and executive functioning in young children. Developmental Science, v. 11, n. 2, p. 282-298, 2008. CARLSON, N. R. et al. Psychology: The science of behavior. 7. Ed. Boston: Allyn & Bacon, 2010. CAVALCANTI, M. Estudos sobre a educação bilíngue e escolarização em contextos de minorias linguísticas no Brasil. Delta, v. 15, p. 385-417, 1999. CHIN, N. B.; WIGGLESWORTH, G. Bilingualism: an advanced resource book. New York: Routledge, 2007. CHRISTOFFELS, I.K.; FIRK, C; SCHILLER, N.O. Bilingual language control: an event-related brain potential study. Brain Research, p. 192-208, 2007. CODERRE, E. L. Exploring the cognitive effects of Bilingualism: Neuroimaging investigations of lexical processing, executive control, and the bilingual advantage. Tese (doutorado) University of Nottingham, 2012.

92

CONWAY, A. R. A. et al. (Ed). Variation in working memory. New York: Oxford University Press, 2008. COSTA, A.; CARAMAZZA, A.; SEBASTIAN-GALLES, N. The cognate facilitation effect: implications for models of lexical access. Journal of Experimental Psychology, 26, p. 1283-1296, 2000. COSTA, A.; HERNÁNDEZ, M.; SEBASTIÁN-GALLÉS, N. Bilingualism aids conflict resolution: Evidence from the ANT task. Cognition, v. 106, p. 59–86, 2008. CRAIK, F.I.M.; BIALYSTOK, E. Cognition through the lifespan: mechanisms of change. Trends in Cognitive Sciences. v. 10, n.3, March 2006. CRYSTAL, David. The Cambridge Encyclopedia of Language. 2 ed. New York: Cambridge University Press,1997. CUMMINS, J. Bilingualism and the development of metalinguistic awareness. Journal of Cross-Cultural Psychology, v. 9, p. 131-149, 1978. DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais.2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.

DE BOT, K. The multilingual lexicon: Modelling selection and control. The international Journal of Multilingualism, v. 1, n.1, 2004.

DE GROOT, A.M.B. Determinants of Word translation. Journal of Experimental Psycholy: Learning, memory and cognition, v.18, 1992, p. 1008-1018.

DE GROOT, A.M.B., NAS, G.L. Lexical representation of cognates and noncognates in compound bilinguals. Journal of Memory and Language, v. 30, 1991, p. 90-123.

DIAMOND, A. Executive Functions. AnnualReview ofPsychology.v. 64, p. 135–

68, 2013.

DIJKSTRA, T., MIWA, K., BRUMMELHUIS, B., SAPPELLI, M., BAAYEN, H. (2010). How cross-language similarity and task demands affect cognate recognition. Journal of Memory and Language, v. 62, p. 284– 301, 2010. doi:10.1016/j.jml.2009.12.003 DORIA, C. Concepts and meanings in the bilingual memory of ESL students. 59f (Dissertação) Mestrado em Letras. The University of Toledo, 2010. ENGEL DE ABREU, P.M.J. Working memory in multilingual children: Is there a bilingual effect? Memory, v.19, p. 529-537, 2011. ENGLE, R.W. Role of Working Memory Capacity in Cognitive Control. Current Anthropology, v, 51, n. 1, p. 17-26, 2010.

93

ENGLE, R.W. Working Memory Capacity as Executive Attention. Current Directions in Psychological Science, v. 11, n.1, p. 19-23, 2002. EYSENCK, M.; KEANE, M. T. Manual de psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 2007. EYSENK, Michael W; KEANE, Mark. Psicologia Cognitiva: um manual introdutório. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. FABBRO, F. The neurolinguistics of bilingualism: an introduction. New York: Psychology Press, 2008. FEIST, G. J.; ROSENBERG, E. L. Psychology: making connections. New York: McGraw-Hill, 2010. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 3 ed. Curitiba: Positivo, 2004. FINGER, I; BILLIG, J. D.; SCHOLL, A. P. Effects of Bilingualism on inhibitory control in elderly Brazilian bilinguals. In: SANS, C; LEOW, R. (Ed.) Implicit and explicit language learning. Washington: Georgetown University press, 2011. GASS, S.M.; LEE, J. Working memory capacity, inhibitory control, and proficiency in a second language. In M.S. S. & W. L. (Ed.) Modeling bilingualism: From structure to chaos. Amsterdam: John Benjamins, 2011, p. 59-84. GAZZANIGA, M. S.; IVRY, R. B.; MANGUN, G. R.Neurociência Cognitiva: a biologia da mente. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. GILL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Editora Atlas, 2002. GOLLAN, T. H.; ACENAS, L. A. R. What is a TOT? Cognate and translation effects on tipof-the-tongue states in Spanish–English and Tagalog–English bilinguals. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory and Cognition, v. 30, p. 246-269, 2004. GOLLAN, T. H.; MONTOYA, R. I.; Fennema-Notestine, C.; Morris, S. K. Bilingualism affects picture naming but not picture classification. Memory & Cognition, 33, p. 1220-1234, 2005. GOLLAN, T. H.; MONTOYA, R. I.; WERNER, G. Semantic and letter fluency in Spanish-English bilinguals. Neuropsychology, v. 16, p. 562-576, 2002.

GROSJEAN, F; LI, P. Psycholisguistics of Bilingualism. Malden: Wiley-Blackwell, 2013.

HAGAR, T.K. et al. Bilingual education metalinguistic awareness, and the understanding of an unknown language. Bilingualism: Language and Cognition, v. 14, n. 2, p. 233-242, 2011.

94

HAKUTA, K. Mirror of language: The debate on bilingualism, New York: Basic Books, 1986. HAMDAN, A. C., & BUENO, O. F. A. Relações entre controle executivo e memória episódica verbal no comprometimento cognitivo leve e na demência tipo Alzheimer. Estudos de Psicologia, v. 10, p. 63-71, 2005.

HARLEY, T. A. The psychology of language: From data to theory, 3. ed. New York: Psychology Press, 2008. HALSBAND, U. Bilingual and multilingual language processing. Journal of Physiology. Paris, n. 99, p. 355-369, 2006. HAUGEN, E. The Norwegian language in America: A study in Bilingual behavior. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1953. HERMANS, D.; BONGAERTS, T.; DE BOT, K.; SCHREUDER, R. Producing words in a foreign language: can speakers prevent interference from their first language? Bilingualism: Language and Cognition, Cambridge: Cambridge University Press, v. 1, n. 3, p. 213-230, 1998. HILCHEY, M. D.; KLEIN, R. M. Are there bilingual advantages on nonlinguistic interference tasks? Implications forplasticity of executive control processes. Psychonomic Bulletin & Review, v. 18, p. 625–658, 2011. HOSHIRO, N., KROLL, J.F. Cognate effects in picture naming: Does cross-language activation survive a change of script? Cognition, v. 106, p. 501-511, 2008. IVANOVA, I; COSTA, A. Does bilingualism hamper lexical access in speech production? Acta Psychologica, v. 127, n. 2, p. 277-288, 2008. IZQUIERDO, I. Memória. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. IZQUIERDO, I. Questões sobre memória. São Leopoldo: Unisinos, 2004. IZQUIERDO, I.; MEDINA, J.H; VIANA, M.R.M; IZQUIERDO, L.A.; BARROS, D.M. Separate mechanisms for short- and long-term memory. Behavioral Brain Reseach, v. 103, n. 1, p. 1-11, 1999. JAVIER, R. A. The bilingual mind: Thinking, feeling and speaking in two languages. New York: Springer Science + Business Media, 2007. JAY, T. B. The Psychology of Language. Upper Saddle River: Prentice Hall, 2003. JUST, Marcel A.; CARPENTER, Patricia A. A capacity theory of comprehension: individual differences in working memory. Psychological Review, v. 99, 1992, p. 122-149. KALAT, J.W. Introduction to Psychology. Cengage Learning, 2013.

95

KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H; JESSEL, T.M; SIEGELBAUM, S.A.; HUDSPETH, A.J. Princípios de Neurociências.5 ed. São Paulo: AMGH, 2014. KANE, M. J.; CONWAY, A. R. A.; HAMBRICK, D. Z.; ENGLE, R. W. Variation in working memory capacity as variation in executive attention and control. In CONWAY, A. R. A.; JARROLD, C.; KANE, M.J.; MIYAKE, A; TOWSE, J. N. (Eds.), Variation in working memory (p. 21–48). New York: Oxford University Press, 2007. KESSLER, C., & QUINN, M. E. Language minority children’s linguistic and cognitive creativity. Journal of Multilingual and Multicultural Development, v. 8, p. 173-186, 1987 KING, K.; MACKEY, A. The bilingual edge. New York: Collins, 2007. KING, L. A. The science of psychology: An appreciative view. New York: McGraw-Hill, 2011. KLUWE-SCHIAVON, B; VIOLA, TW; GRASSI-OLIVEIRA, R. modelos teóricos sobre construto único ou múltiplos processos das funções executivas. Revista Neuropsicología Latinoamericana, v. 4, n. 2, 2012. KROLL, J. F.; BIALYSTOK, E. Understanding the consequences of bilingualism for language processing and cognition. Journal of Cognitive Psychology, v. 25, n. 5, 2013, p. 497-514. KROLL, J. F., DE GROOT, A.M.B. Handbook of Bilingualism: Psycholinguistic Approaches. Oxford University Press, USA, 2009. KROLL, J. F., BOBB, S. C., MISRA, M., & GUO, T. Language selection in bilingual speech: evidence for inhibitory processes. Acta Psychologica, v. 128, 2008, p. 416–430. LAMBERT, W. Language, Psychology and Culture. Stanford: Stanford University Press, 1972. LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência. São Paulo: Editora Atheneu, 2005. LIMBERGER, B.K; BUCHWEITZ, A. Estudos sobre a relação entre bilinguismo e cognição: o controle inibitório e a memória de trabalho. Letrônica, v. 5, n. 3, p. 67-87, dez. 2012. LUK, G., BIALYSTOK, E., CRAIK, F.I.M., GRADY, C. Lifelong bilingualism maintains white matter integrity in older adults. Journal of Neuroscience, v. 31, p. 16808–16813, 2011. LUO, L; BIALYSTOK, E; CRAIK, F.I.M; MORENO, S., Bilingualism Interacts With Domain in a Working Memory Task: Evidence from aging. Psychology and Aging, V. 28, n. 1, p. 28–34, 2013.

96

MACKEY, W.F. The description of Bilingualism. In: WEI, L. The bilingualism reader. New York: Routledge, 2000. MACLEOD, C.M.; KAMPE, K.E. Word frequency effects on recall, recognition, and word fragment completion tests. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, and Cognition, v.22, p. 132-142, 1996. MACNAMARA, B.N, CONWAY, A.RA. Novel evidence in support of the bilingual advantage: Influences of task demands and experience on cognitive control and working memory. Psychonomic Bulletin and Review, v. 21, p. 520-525, 2014. MAHER, J. Linguistic minorities and education in Japan. Educational Review, v. 49, n. 2, p. 115-127, 1997 MAHER, T.M. Do Casulo ao movimento: a suspensão das certezas na educação bilíngue e intercultural. In: CAVALCANTI, M. C.; BORTONI-RICARDO, S. M. (Org.) Transculturalidade, Linguagem e educação. Campinas, Mercado de Letras, 2007, p. 67-96. MARTIN-RHEE, M. M.; BIALYSTOK, E. The development of two types of inhibitory control in monolingual and bilingual children. Bilingualism: Language and Cognition, v. 11, p. 1-13, 2008. MARTIN, K. I.; ELLIS, N. C. The roles of phonological short-term memory and working memory in L2 grammar and vocabulary learning. Studies in Second Language Acquisition, v. 34, n. 3, p. 379-413, set. 2012. Disponível em: <http://canlloparot.files.wordpress.com/2013/05/martinellisssla2012-working-memory.pdf>. Acesso em: 13 Set. 2013. MICHAEL, E.B.; GOLLAN, T.H. Being and becoming bilingual: Individual differences and consequences for languages production. In: Kroll, J.F; Groot, A.M.B (Eds.). Handbook of bilingualism: Psycholinguistic aproaches. New York: Oxford University Press, p. 389-407, 2005 MONIRI, S.F. Bilingual Memory: a lifespan approach. 60f. Tese (Doutorado em Psicologia). Department of Psychology, Stockholm University, 2006. MORALES, J.; CALVO, A; BIALYSTOK, E. Working memory development in monolingual and bilingual children. Journal of Experimental Child Psychology, v. 114, n. 2, p. 187-202, Feb. 2013. MOURÃO JUNIOR, C. A; MELO, L.B.R. Integração de três conceitos: função executiva, memória de trabalho e aprendizado. Psicologia: teoria e pesquisa, v. 27, n. 7, p. 309-314, Jul-Set. 2011. NAMAZI, M; Thordardottir, E. A working memory, not bilingual advantage, in controlled attention. International Journal of Bilingual Education and Bilingualism, v. 13, n. 5, p. 597- 616, 2010.

97

OLIVEIRA, G. M. Plurilinguismo no Brasil. Brasília: Representação da UNESCO no Brasil / IPOL, 2008. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0016/001611/161167por.pdf>. OLIVEIRA, G. M. Brasileiro fala portugués: monolingüismo e preconceito lingüístico. Revista Linguasagem, n. 11, s. p., 2009. OSHER, L., BIALYSTOK, E., CRAIK, F.M., MURPHY, K.J., TROYER, A.K. The effect of bilingualism on amnestic mild cognitive impairment. The Journals of Gerontology, Series B: Psychological Sciences and Social Sciences, v. 68, n. 1, p. 8–12, 2013

PAAP, K.R; Johnson, H. A; Sawi, O. Are bilingual advantages dependent upon specific tasks or specific bilingual experiences? Journal of Cognitive Psychology, v. 26, n. 6, p. 615-639, 2014. PAAP; K.RGREENBERG, Z.I. There is no coherent evidence for a bilingual advantage in executive processing. Cognitive Psychology, v. 66, p. 232-258, 2013. PARK, D.C.; PAYER, D. Working memory across the adult lifespan. In: BIALYSTOK, E.; CRAIK; F.I.M. (eds.) Lifespan cognition: mechanisms of change. Oxford: Nova Iorque, 2006. PEAL, E.; LAMBERT, W. E. The relation of bilingualism to intelligence. Psychological Monographs: General and Applied, v 76, n. 27, p. 1-23,1962. PEREIRA, L. N. A relação do bilinguismo com capacidades cognitivas: memória de trabalho, atenção, controle inibitório e processamento do discurso, 2012. 132 f. Dissertação (Mestrado em Letras) -- Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-graduação em Letras, Porto Alegre, RS, 2012.

PEREIRA, M. C. (Org.) Bilinguismo: discurso & política lingüística.Cuiabá: Editora De Liz, Universidade Federal da Grande Dourados, 2012. PINTO, L.M.C. O papel do bilinguismo na preservação dos processos executivos da memória de trabalho no envelhecimento. 124 f. Dissertação (Mestrado) Programa de Pós-graduação em Letras, Centro Universitário UniRitter, Porto Alegre, 2009. PREUSS, E. O. Acesso lexical e produção de fala bilíngue: o processo de seleção linguística. Organon, Porto Alegre (UFRGS), série 51, v. 26, p. 81-101, 2011. PREUSS, E. O.; FONTES, A.B.A.L; FINGER, I. Efeito cognato no processo de lexicalização bilíngue. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 59, n. 1, p. 73-83, jan.-mar. 2015. RIESGO, Rudimar S. Anatomia da Aprendizagem; In: ROTTA, Newra T.; Transtornos da Aprendizagem, Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2006,p.21–42.

98

RODRIGUES, L.R; SILVA, L.F; ZIMMER, M.C. Revisitando a vantagem bilíngue nas redes de atenção em dois grupos etários. Veredas on-line atemática, v. 19, n.2, p. 112-135, 2015. RODRIGUES, L.R; Cognitive differences between monolinguals and bi/multilinguals: Executive functions boosted by code-switching? 94 f. Dissertação (Mestrado) Centro Universitário Ritter dos Reis, Faculdade de Letras, Porto Alegre, 2009 ROMAINE, S. Bilingualism. 2. Ed. Oxford: Blackwell Publishers, 1995. ROSENTHAL, R. The file drawer problem and tolerance for null results. Psychological Bulletin, v. 86, 1979, p. 638-641. SAER, D. J. The effect of bilingualism on intelligence. British Journal of Psychology, v. 14, p. 25-38, 1922. SÁNCHEZ-CASAS, R.; SUÁREZ-BURATTI, B.; IGOA, José M. Are bilingual lexical representations interconnected. In: Fifth Conference of the European Society for Cognitive Psychology, Paris, France. 1992 SHERKINA-LIEBEN, M. The cognate facilitation effect in bilingual speech processing: the case of Russian-English bilingualism. Cahiers Linguistiques d’Ottawa, v. 32, p. 108-121, 2004. VAN HELL, J. G.; DIJKSTRA, T. Foreign language knowledge can influence native language performance in exclusively native contexts. Psychonomic Bulletin & Review, v. 9, n. 4, 2002, p. 780-789. VAN HELL, J; TANNER, D. Second Language Proficiency and Cross-Language Lexical Activation. Language Learning, v. 62, n. 2, 2012, p. 148–171. Language Learning Research Club, University of Michigan. WEINREICH, U. Languages in Contact. New York: Linguistic Circle of New York Publication, 1953. WEN, Z. Working memory and second language learning. International Journal of Applied Linguistics, v. 22, n. 1, p. 1-22, March 2012. YAN, X. Cognate words picture naming in non-alphabetic languages: Evidence from Cantonese-Mandarin bilinguals. Dissertação de mestrado. Programa de Pós Graduação em Educação. The University of Hong Kong, 2014. YUDES, C., MACIZO, P., & BAJO, T. The influence of expertise in simultaneous interpreting on non-verbal executive processes. Frontiers in Psychology, v. 2, n. 309, 2011 YUDES, C., MACIZO, P., & BAJO, T. Coordinating comprehension and production in simultaneous interpreters: Evidence from the articulatory suppression effect. Bilingualism, v. 15, 2012, p. 329–339.

99

ZELAZO, P.D. The Dimensional Change Card Sort (DCCS): A method of assessing executive function in children. Nature Protocols, v. 1, p. 297-301, 2006.

ZIMMER, M.; FINGER, I,; SCHERER, L. Do bilingüismo ao multilingüismo: intersecções entre a psicolingüística e a neurolingüística. ReVEL. v. 6, n. 11, agosto de 2008.

100

ANEXOS

ANEXO 1 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

PROJETO: OS EFEITOS DO BILINGUISMO NA MEMÓRIA DE TRABALHO DE JOVENS ADULTOS BRASILEIROS

VOCÊ está sendo CONVIDADO a participar de uma pesquisa desenvolvida por ANA CLAUDIA BENNETT, aluna do Curso de Mestrado em Letras, sob orientação da PROFA. DRA. MARCIA ZIMMER, do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter).

I. O objetivo geral da pesquisa é investigar a influência que o bilinguismo possa exercer sobre a memória de trabalho, por meio da comparação entre um grupo de falantes monolíngues de português brasileiro e um grupo de falantes bilíngues de português brasileiro e inglês.

II. Os objetivos específicos da pesquisa são: comparar os escores de monolíngues e bilíngues na execução da tarefa NBD (Naming By Definition),na qual são apresentadas definições (escritas e através de uma gravação) que devem ser respondidas oralmente com um substantivo ou adjetivo correspondente; verificar se existe diferença entre o desempenho dos dois grupos na nomeação das palavras cognatas usadas no teste NBD (Naming By Definition); analisar se os bilíngues possuem vantagens comparados a monolíngues com a mesma idade e nível escolar na execução da tarefa WFC (Word-Fragment Completion, que avalia a memória de trabalho através da utilização de palavras abstratas, ou seja, os participantes precisam lembrar as palavras imediatamente após elas serem apresentadas e também dias depois; verificar a diferença de desempenho dos bilíngues na sua L1 e na sua L2, na tarefa PNT (Picture Naming Task), na qual os bilíngues serão instados a nomear 120 figuras em português (L1) e em inglês (L2).

III. Os testes serão aplicados em duas sessões, sendo que a segunda sessão ocorrerá cinco dias após a primeira. Na primeira sessão, tanto os participantes bilíngues quanto os monolíngues executarão dois testes: o NBD (8 minutos) e o WFC (06 minutos) e também responderão a um questionário (aproximadamente 5 minutos), isto é, serão 3 atividades em aproximadamente 19 minutos. Na segunda sessão, os participantes monolíngues e bilíngues executarão o teste WFC em 6 (seis) minutos e os participantes bilíngues também executarão o teste PNT em até 35 minutos. Portanto, a segunda sessão durará aproximadamente 06 minutos para os participantes monolíngues e 41 minutos para os participantes bilíngues.

IV.A execução das tarefas pode oferecer um pequeno constrangimento em alguns participantes que não consigam responder ao que lhes é solicitado.

V.Espera-se, com esta pesquisa, comprovar que a experiência bilíngue contribua com a melhora da memória de trabalho, além das diversas vantagens cognitivas, sociais e culturais que já foram comprovadas por outros estudos científicos. De acordo com King (2007) e Maher (2007), há uma relação positiva entre o bilinguismo, o funcionamento cognitivo e a competência comunicativa. Kroll e Bialystok (2013) acrescentam que o bilinguismo apresenta benefícios para o funcionamento do cérebro, como a plasticidade e a flexibilidade cerebrais e habilidades linguísticas, como a consciência metalinguística.

VI.Os dados aqui coletados serão utilizados nessa pesquisa, podendo também ser utilizados para publicação em artigos ou anais de eventos;

101

VII. Os custos do projeto serão pagos pela mestranda ANA CLAUDIA BENNETT.

Pelo presente Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, declaro que autorizo a minha participação neste projeto de pesquisa, pois fui informado, de forma clara e detalhada e livre de qualquer forma de constrangimento ou coerção, dos objetivos, da justificativa, dos procedimentos que serei submetido, dos riscos, desconfortos e benefícios, assim como das alternativas às quais poderia ser submetido, todos acima listados.

Manifesto, igualmente, que fui adequadamente informado:

1. Da garantia de receber resposta à pergunta ou esclarecimento de dúvida acerca dos procedimentos, riscos, benefícios e outros assuntos relacionados com a pesquisa;

2. Da liberdade de retirar meu consentimento, a qualquer momento, e deixar de participar do estudo;

3. Da garantia de que não serei identificado quando da divulgação dos resultados e que as informações obtidas serão utilizadas apenas para fins científicos vinculados ao presente projeto de pesquisa;

4. De que os dados que estão sendo coletados serão acessados apenas pelos pesquisadores ANA CLAUDIA BENNETT e MARCIA ZIMMER e utilizadas por este grupo de pesquisa;

5. Do compromisso de proporcionar informação atualizada obtida durante o estudo, ainda que esta possa afetar a minha vontade em continuar participando;

A Pesquisadora Responsável por este Projeto de Pesquisa é MARCIA ZIMMER e a pesquisadora assistente é ANA CLAUDIA BENNETT. Você pode entrar em contato, caso tenha eventuais dúvidas, pelos telefones 8449-1484 ou 3737-4498 ou pelo e-mail [email protected].

O presente documento deve ser assinado em duas vias de igual teor, ficando uma com o Participante da Pesquisa ou seu representante legal e outra com o Pesquisador Responsável.

O Comitê de Ética em Pesquisa da UniRitter (CEP/UniRitter), responsável pela

apreciação do referido Projeto de Pesquisa, pode ser consultado a qualquer momento, para fins de esclarecimento, por meio do número de telefone: (51) 3092.5699 - Ramal 9024 ou do endereço eletrônico (e-mail): [email protected].

Data __ / __ / 2015

_______________________ _________________ ANA CLAUDIA BENNETT Participante:

Pesquisadora

102

ANEXO 2 - QUESTIONÁRIO DE SONDAGEM

CENTRO UNIVERSITÁRIO RITTER DOS REIS PESQUISA: OS EFEITOS DO BILINGUÍSMO NA MEMÓRIA DE TRABALHO DE JOVENS ADULTOS BRASILEIROS PESQUISADORA RESPONSÁVEL: PROFA. DRA. MARCIA ZIMMER PESQUISADORA ASSISTENTE: ANA CLAUDIA BENNETT

1) Nome: ____________________________________________________________

2) Telefone: _________________________________________________________

3) E-mail:____________________________________________________________

4) Idade:_____________ 5)Local de nascimento:__________________________

6) Sexo: ( )masculino ( )feminino

7) Endereço:_________________________________________________________

8) Ativo profissionalmente? ( ) não ( ) sim – profissão/cargo: __________________

9) Você é: ( )destro ( )canhoto ( )ambidestro

10) ESCOLARIDADE:

a. Ensino Fundamental ( ) escola pública ( ) escola particular

b. Ensino Médio ( ) escola pública ( ) escola particular

c. Superior( ) cursando ( ) completo curso: __________________________ e

instituição: ______________________________________

d. Especialização ( ) cursando ( ) completo

curso:_____________________________ instituição:___________________________

e. Mestrado ( ) cursando ( ) completo curso:__________________________

instituição:_____________________

10.1 Quantos anos você estudou após concluir o ensino médio até agora?__________________________

11Qual é a sua língua materna? ___________________________________________

12) Você fala inglês? ( ) sim ( ) não- Obs.: Se você não fala inglês vá para a questão

12.12

12.1 Quantos anos você tinha quando começou a estudar inglês? _________________________

12.2 Durante quanto tempo você estudou inglês? _______________________________________

103

12.3 Em que país você aprendeu a falar inglês? _______________________________________

12.4 Você aprendeu inglês ( ) em um curso ( ) em casa ( ) na escola ( )em outro lugar:________________________________

12.5 Onde você fala inglês? ( ) em casa ( ) na rua ( ) na escola ( ) no trabalho

( ) em viagens ao exterior ( ) outro(s) lugar(es):________________________________

12.6 Quantas horas por dia você fala inglês?( ) eventualmente/não todos os dias ( ) uma hora ( ) duas horas ( ) quatro horas ( ) mais de seis horas

12.7 Com quem você fala inglês? ( ) pais ( )namorado(a)/cônjuge ( )amigos ( ) colaboradores

( ) alunos ( ) ____________________________

12.8 Você escreve em inglês?( ) sim ( ) raramente( ) não

12.9 O que você escreve em inglês? ( ) e-mails ( ) artigos ( )

outros:____________________

12.10 O que você lê em inglês? ( )nada ( ) jornais ( ) revistas ( ) livros

( ) artigos e sites na internet ( ) outros:______________________________________

12.11 Marque a opção que melhor se aplica às questões abaixo:

A sua compreensão oral do inglês é ruim regular boa muito boa

Como é o inglês que você fala? ruim regular bom muito bom

Como é o seu nível de leitura em inglês?

ruim regular bom muito bom

Como é o inglês que você escreve? ruim regular bom muito bom

Na sua opinião, como é o seu sotaque (de português brasileiro) quando fala em inglês?

carregado regular discreto exatamente como um falante nativo

12.12 Qual é a porcentagem de cada língua que você fala em casa?

Inglês: _______% Português:________% outra língua:_________________ - ________%

104

12.13 Qual a porcentagem de cada língua usada para conversar com seus amigos?

Inglês: _______% Português:________% outra língua:_________________ - ________%

12.14 Qual é a porcentagem diária de tempo que você pensa em inglês? ________ %

E em português: _______%

12.15 Que outra(s) língua(s) você fala? (além do português e do inglês) Avalie o seu domínio nessa(s) língua(s): (0 = nenhum, 1 = regular, 2 = om ou 3 = muito bom) para cada língua na tabela abaixo:

Língua: Autoavaliação do domínio

13 Você já viajou para o exterior? ( ) sim ( )não

Para onde? Quando e por quanto tempo? Que língua(s) você

falou?

14 Marque com um x no quadro abaixo o seu nível de bilinguismo português-inglês. Ignore outras línguas que você fala.

*1 2 3 4 5 *6 7 8 9 10 *11

*Eu falo só português *eu sou bilíngue e fluente igualmente *eu falo só inglês

nas duas línguas

105

ANEXO 3 - PALAVRAS USADAS NOS TESTES NBD E NA PRIMEIRA E SEGUNDA ETAPA DO TESTE WFC

(cognatas em azule em negrito):

Obs.: As perguntas/definições só foram utilizadas no teste NBD.

1. Comum - Como você descreve algo que é simples ou não é

extraordinário?

2. Cuidadoso – Como você descreve alguém que se esforça bastante para

evitar erros ou enganos?

3. Fantasia– Como você chamaria uma criação, principalmente irreal,

improvável, fruto da imaginação de alguém?

4. Difícil (do latim) – Como você descreveria algo que não é fácil de

administrar, lidar ou superar?

5. Liberdade – como que você chamaria a qualidade de estar livre da

escravidão ou detenção?

6. Saudável – Como você descreveria a condição de ter corpo ou mente

sãos?

7. Interesse (do latim) –Como você chamaria o sentimento que origina um foco

de atenção especial para um objeto ou assunto em particular?

8. Conhecimento – como você chamaria o que se ganha com o aprendizado?

9. Número (do latim numerus) – Como você chamaria uma unidade abstrata,

matemática usada para contar/para fazer cálculos?

10. Original(do latim originalis) – Como você chamaria a primeira versão de

algo que pode gerar uma cópia, reprodução ou tradução?

11. Agradável - Como você descreveria alguma coisa que traz satisfação ou

prazer?

12. Reservado – Como você descreveria alguém que prefere não falar sobre

assuntos pessoais?

13. Questão (do latim quaestio) – como você chamaria uma frase/expressão

interrogativa, geralmente usada para testar conhecimento?

106

14. Regular - Como você descreveria algo que ocorre em intervalos

uniformes, fixos ou normais?

15. Sério – (do latim serius) - Como você descreveria alguém que não é

brincalhão ou bobo, mas ao contrário está agindo/age de uma maneira

firme e

16. Especial - como você descreveria algo que é altamente estimado ou tido

em alta consideração ou considerado superior?

17. Força – como você chamaria a capacidade de esforço, perseverança ou

resistência de alguém?

18. Problema – como você chamaria uma condição difícil ou estressante, que

provavelmente levará a um resultado negativo?

19. Heterogêneo - Como você descreveria a qualidade do grupo que tem um

número de aspectos e características diferentes?

20. Inteligência – Como você descreveria a habilidade de aprender ou

entender coisas ou lidar com situações novas ou difíceis?

107

ANEXO 4 - PALAVRAS USADAS NO TESTE WFC

Comum

Cuidadoso

Fantasia

Difícil

Liberdade

Saudável

Interesse

Conhecimento

Número

Original

Agradável

Reservado

Questão

Regular

Sério

Especial

Força

Problema

Heterogêneo

inteligência

108

ANEXO 5 – FIGURAS UTILIZADAS NO PNT