key-words · 1segundo beatriz bragoni e eduardo míguez, esta era uma expressão usada durante o...
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“ Llevar la fuerza de la periferia al centro”: as milícias e o Exército na consolidação da
unidade política argentina.1
Aline Goldoni2
Resumo: Durante grande parte do século XIX, as duas formas de organização militar
predominantes na Argentina foram o exército regular e as milícias. Essas instituições, no
entanto, não operaram de forma continua, nem foram estabelecidas com base em regimentos
legais que garantissem uma atuação constante e organizada em escala nacional. Esse sistema
era gerenciado diretamente pelos governos provinciais, que exerciam sobre essa atividade um o
importante papel político, mobilizando e comandando essas forças com base em redes de poder
firmadas a partir de pactos de lealdade, interesses e finalidades subjetivos. Essa conjuntura foi
um dos principais entraves à consolidação do Estado central na Argentina, ao longo do século
XIX. O objetivo deste trabalho é entender a participação dessas forças militares no processo de
consolidação da unidade política na Argentina.
Palavras-chave: Argentina. Províncias. Milícias. Exército. Estado Central.
Abstract: During most XIX century, the two predominant forms of military organization in
Argentina were the regular army and the militia. Those institutions, however, did not operate in
a continuous way, neither were they established based on legal regiments that kept a constant
operation and organized at a national level. This system was managed directly by the
provincial governments, which exert on this activity an important political role, mobilizing and
commanding those forces based on networks of power consolidated through pacts of subjective
loyalty, interests and ends. This conjuncture was one of the main barriers against que
consolidation of the central State in Argentina, throughout the XIX century. The purpose of
this work is to understand the participation of those military forces in the process of
consolidation of the political unity in Argentina.
1Segundo Beatriz Bragoni e Eduardo Míguez, esta era uma expressão usada durante o século XIX na Argentina, que evidencia as formas políticas que regeram as diversas e complexas direções tomadas entre Nação e província, desde 1852. De la periferia al centro: laformación de un sistema político nacional, 1852-1880. In: BRAGONI, Beatriz; MÍGUEZ, Miguel (orgs.). UnNuevoOrden Político – Provincias e Estado Nacional (1852-1880). Buenos Aires: Editorial Biblos, 2010, p. 9. 2 Doutoranda do Programa de Pós- Graduação em História Social da UFRJ [email protected]. Este artigo é parte integrante da minha pesquisa de doutorado, que busca entender até que ponto a política de recrutamento de tropas, engendrada pelo governo central argentino durante a Guerra do Paraguai, foi determinante e funcional para o projeto de consolidação do Estado, que se encontrava em curso naquele momento. A pesquisa conta com apoio financeiro da FAPERJ.
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Key-words: Argentina. Provinces. Militia. Army. Central State.
1. Forças militares e política.
As invasões inglesas – tentativa de ocupação de Buenos Aires por tropas britânicas no
contexto das Guerras Napoleônicas – são reconhecidas como o evento determinante para a
constituição das milícias na Argentina. De acordo com Hilda Sabato, este foi um momento
crucial na história das milícias argentinas, pois marcou o início da participação popular na
política da região, imprimindo função de ferramenta política a essas forças.3 Entre outros
elementos, o caráter heterogêneo do grande número de arrolados, a realização de atividades
relacionadas à defesa da cidade e de suas instituições e a existência de facções no interior das
tropas podem explicar a função política adquirida pelos corpos milicianos. Essa conjuntura,
formada a partir das invasões inglesas, constituíram um cenário ideal para sedimentar naquela
sociedade um caráter militarista, que pouco tempo depois seria reforçado pelas guerras de
independência.
Durante toda a primeira metade do século XIX, as milícias funcionaram como um
modelo de organização militar descentralizado, que fortaleceu os governos provinciais em
detrimento da organização nacional centralizada. Os governos locais tinham o controle tanto
protocolar quanto informal sobre essas forças. Por possuírem diversas formas de organização,
nomenclatura, funcionamento e recrutamento a ordenação das instituições funcionou de
maneira bastante complexa e muito confusa. Esse perfil só começou a ser alterado a partirda
promulgação da Constituição de 1853, que tentou organizar de forma mais centralizada as
forças militares atuantes na região.
Após a formação do primeiro governo livre da interferência metropolitana– as
Províncias Unidas do Rio da Prata (1810)– a ausência de um centro de poder fortalecido,
atuando como um governo único e centralizado, impediu o estabelecimento de um exército
nacional.4O sistema de milícias utilizado durante o período colonial foi conservado e continuou
3 SABATO, Hilda. Povo e Política. A Construção de uma República. Tradução: Daniel da Silva Becker. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2011, p. 47. 4 No contexto das invasões francesas à Espanha, os colonos do Vice Reinado do Rio da Prata deram início a primeira experiência de governo autônomo na região, sob a liderança de Buenos Aires, a antiga capital do Vice Reinado. A Revolução de Maio, como o evento ficou conhecido, deu início ao processo de surgimento do Estado argentino, mas na ocasião não foi proclamada a independência oficialmente. A Primeira Junta de Governo não reconhecia a autoridade da Junta Suprema Central (órgão ligado ao rei espanhol responsável pelo governo da Espanha e de suas colônias durante as invasões francesas), mas passou a governar em nome da coroa espanhola. A declaração de independência só viria mais tarde, durante o Congresso de Tucuman em 1816, onde foi proclamada
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operando como a principal força militar da região.Organizadas pelas lideranças locais, essas
forças acabaram por acumular um grande peso político, constituindo-se em um importante
canal pelo qual a população tinha a possibilidade de participar de forma ativa da vida política.
Na regiãodo Prata, no século XIX, pegar em armas para a defesa do território era um direito e
uma obrigação de todo cidadão. As milícias, não funcionavam somente como uma força
militar, elas representavam, acima de tudo, a cidadania.
A relação entre cidadania e milícia, entre o direito de voto e o dever da defesa, constituía um tema central na tradição republicana. Foi assim desde a antiguidade grega e romana ou dos Estados italianos dos séculos XV e XVI até a França da Revolução e os Estados Unidos. No Rio da Prata e em outras regiões da América Latina, esta relação esteve presente desde o primeiro momento revolucionário e levou à formação de milícias com base nas novas províncias.5 Uma das ações iniciais da Primeira Junta de Governo, que foi estabelecidaapós a
deposição do vice-rei Baltasar Hidalgo de Cisneros (1810), foi a tentativa de transformar as
milícias em exércitos, com o objetivo de garantir a fidelidade dos territórios. As Guerras de
Independência,que imprimiram um caráter militar à sociedade argentina, impuseram a
constante necessidade do recrutamento de homens e da mobilização de recursos para a
manutenção dos conflitos, um panorama ideal para a formação das milícias.6
Um proclame emitido, por ocasião da regulamentação da milícia de Buenos Aires em
29 de maio de 1810, expõe a intenção dos membros da Junta Governativa de estabelecer a
militarização da sociedade: “esta recíproca union de sentimentos ha fijado lãs primeras
atenciones de la Junta, sobre la mejora y fomento de la fuerza militar de estas Provincias; y
aunque para justa gloria del país es necesario reconocerun soldado en cada habitante”7.
De acordo com Marcela Ternavasio, nesse contexto inicial do processo de
independência foram “lãs milicias urbanas las que volcaron el equilibrio a favor de la
autonomia”.8A mobilização de homens para a formação dos contingentes e a militarização
originada pela conjuntura política iniciada com a Revolução criaram novos espaços de
comunicação e integração entre os diferentes grupos sociais. Tal condição possibilitou o
a independência das Províncias Unidas da América do Sul. Não se tratava ainda da formação do Estado argentino como uma nação unificada. 5SABATO, Hilda. Op. cit., p. 46. 6 TERNAVASIO, Marcela. Historia de la Argentina (1806-1852). Buenos Aires: SigloVeintiuno, 2009, p.73. 7Registro Official de la Republica Argentina. Buenos Aires: Imprenta Especial de Obras, 1879, tomo 1, p. 28. 8Ibidem, p.71.
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conhecimento mútuo, a convivência entre oficiais e tropa, e em algumas ocasiões, gerou laços
de solidariedade entre indivíduos que estavam submetidos às mesmas situações.
Aliada a isso, a criação de Juntas de Governo Provinciais a partir de 1811 gerou o
perfeito cenário para que as lideranças locais assumissem o controle sobre as tropas que seriam
reunidas. O documento expedido em 10 de Fevereiro de 1811, que criou as Juntas, ordenava
que as essas instituições “podrán particular esmero em la disciplina einstruccion de las milícias,
para que sirviendo a conservar el orden interior, estén tambien prontas y espeditas para
culquier auxilio exterior [...]”9. Tal princípio deixou sob a responsabilidade das lideranças
provinciais a organização das forças militares que atuariam na região, abrindo o precedente
para a formação de verdadeiros exércitos provinciais identificados com a estrutura de poder
local em detrimento de um comando central.
Passado o período inicial da Revolução de 1810, a guerra permaneceu como parte do
cotidiano da população, pois vários focos de resistência à liderança exercida pela Junta de
Governo de Buenos Aires tiveram que ser combatidos. Esse quadro de permanente embate
entre as lideranças portenhas e as demais regiões, mais tarde províncias argentinas, gerou uma
constante demanda por forças militares. O clima de acirrada disputa entre os partidários de um
regime político centralizado e aqueles que defendiam a formação de uma confederação
desgastou a autoridade estabelecida, que foi derrubada em 1820.10
Uma vez extinto aquele que seria o germe de um governo central para a região, as
províncias começaram a se constituir como novas unidades territoriais autônomas, que
simultaneamente se organizaram com base em um modelo republicano e aderiram à
perspectiva de um pacto constitucional.Às milícias foi atribuído um papel como elemento
constituinte das forças militares provinciais e a partir de então, a região passaria a contar com
dois sistemas de defesa combinados: o Exército de Linha e as milícias. Essa organização
militar predominaria na Argentina durante a maior parte do século XIX e, só começaria a ser
modificada com a Guerra do Paraguai, que lançou as bases necessárias para a formação de um
exército, único, centralizado e de caráter nacional.
2. Estrutura e composição social das milícias provinciais – a militarização da sociedade.
As milícias funcionavam como corpos auxiliares do Exército de Linha eeram reunidas
ou desmobilizadas de acordo com conjunturas circunstanciais. Desde os tempos coloniais, as
9Registro Official de la Republica Argentina. Buenos Aires: Imprenta Especial de Obras, 1879, tomo 1,p. 103. 10 Entre 1810 e 1820 a região da Argentina foi governada por duas juntas de governos.
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milícias estavam ligadas a “vecindad”, isto é, somente os habitantes (“vecinos”) de
determinada comunidade, com idade entre 16 e 45 anos, estavam aptos a integrarem os copos
milicianos compostos exclusivamente por cidadãos, que assumiam o compromisso de defesa
territorial, entre outras atividades. A dinâmica de disposição dos corpos, salvo algumas
especificidades, não variava muito de uma localidade para outra.
No geral, essas forças tiveram como base para sua organização o “Reglamento para
lãs milicias disciplinadas de infantería y caballería del Virreynato de Buenos Ayres”11.
Aprovado pela Coroa espanhola em 1801, o objetivo desse Regulamento era ordenar a
formação das milícias na região do vice-reinado de Buenos Aires. Os diversos artigos que
compunham o documento elencavam uma série de normas para a composição e disposição dos
contingentes nas diversas localidades. A existência de diferentes armas na composição das
forças milicianas e o número de indivíduos que seriam arrolados variava dependendo da região,
em alguns casos – Corrientes, por exemplo – houve a reunião de corpos de cavalaria, em
outros, as forças ficaram restritas a batalhões de infantaria.
A organização e disposição dos contingentes das milícias foram marcadas por
períodos distintos: o primeiro vai da promulgação do Regulamento de 1801 até a primeira
invasão inglesa (1806), quando foram estabelecidos dois regimes milicianos – as Milicias
Regladas e as Milicias Urbanas. O que diferenciava esses dois grupos era a presença de
profissionais de guerra entre os oficiais das Milicias Regladas, que eram responsáveis por
realizar o treinamento dos seus subordinados, com exercícios adequados e para isso recebiam
soldos. Os corpos das Milícias Urbanas, por sua vez, tinham sua atuação restrita ao cenário
urbano, operando em situações relacionadas à manutenção da ordem social. Aqueles que
estivessem alistados nesse grupo eram isentos do serviço no outro. Os indivíduos que
participavam de ambos os grupos passavam a ter acesso a uma série de direitos específicos que
os distinguiam dos demais cidadãos.
Organizadas tanto na esfera urbana quanto na rural, as milícias eram compostas por
homens a partir de 16 anos com residência na cidade onde o corpo fosse formado. Em fevereiro
de 1814, as disposições para a formação das milícias deixavam determinado que, “todo
ciudadano habitante en esta ciudad deberá alistarse precisa e indispensablemente en alguno de
los cuerpos de ella. Todo individuo que pueda mantener caballo y que no pase de 40 años y
11Reglamento para lasMilicias disciplinadas de Infantería y CaballeríadelVirreynato de Buenos Ayres. Buenos Aires: Real Imprenta de NiñosExpósitos, 1802.
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pueda uniformarse á su costa, se alistará em la caballería ligera”12.As disposições traziam ainda
em seu texto, a formulação de um prazo de 15 dias para que todos os cidadãos passíveis de
alistamento se apresentassem, caso contrário, estariam sujeitos à punição. Esta consistia no
pagamento de 200 pesos de multa ou a obrigação de servir nas armas por dois anos, não
importando a classe ou condição social do indivíduo. As demais disposições contidas nesse
regulamento seguem uma clara tentativa de estender a militarização a toda população pobre
ativa, inclusive oferecendo o valor de 200 pesos, que seriam pagos como multa, àqueles que
denunciassem cidadãos não alistados.13
Nas áreas rurais a responsabilidade pela disposição dos contingentes ficou a cargo de
importantes estancieiros, que constituíam a oficialidade dos corpos. Já no âmbito urbano, a
organização se deu por ação das elites políticas. A preocupação em controlar os milicianos foi
constante e funcionou como um importante espaço de negociação e estabelecimento de poder
para os chefes e líderes provinciais. Uma vez por mês os milicianos deviam apresentar-se para
revista, estavam obrigados a realizar rondas noturnas, praticar exercícios de treinamento e estar
prontos para agirem na defesa do território ou dos interesses de seus comandantes.
Os contingentes das milícias eram formados em sua grande maioria por camponeses e
assalariados, frequentemente com família e cumpriam o serviço militar de forma eventual. Na
instrução aos comissários de guerra, publicada em 23 de março de 1811, era indicado que em
tempos de paz:
en que no se necesitatener sobre las armas tanto numero de tropas, hallase por conveniente, asi este Superior Gobierno, como el de cada una de lasProvincias Unidas a el dar a sus respectivos labradores y artesanos auxilio de brazosútiles para facilitarleslostrabajos, lassiembras y larecolección de lascosechas por el grande interés que de ello resulta al Estado y aun a lamisma milícia [...].14
Com este fim, um terço dos membros das milícias devia ser licenciado por não mais
de quatro meses, de maneira rotativa. Os milicianos também eram responsáveis por
desempenhar serviços de polícia e atividades burocráticas atuando como escrivães ou
secretários. Em suma, esses indivíduos possuíam uma ampla gama de tarefas. Exercendo toda a
sorte de atividades, as milícias possuíam elementos que eram indispensáveis àqueles que
desejavam controlar o cenário político nas diversas localidades. Atuavam como uma força
militar concreta, mas na prática as milícias também representavam uma força eleitoral, que
12Registro official de la Republica Argentina. Buenos Aires: Imprenta Especial de Obras, 1879, tomo 1, p. 261. 13Registro official de la Republica Argentina. Buenos Aires: Imprenta Especial de Obras, 1879, tomo 1, p. 261. 14Ibidem, p.149.
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promovia a formação de redes de poder estruturadas de forma hierárquica, tanto nas cidades
quanto no campo, com capacidade de ações coletivas.
Na prática, a maior parte dos contingentes reunidos nas diversas localidades eram
organizados de acordo com as regras estabelecidas pelos chefes dos corpos.Os grupos sociais
abarcados pelo regulamento de organização das milícias variavam de acordo com as
circunstancias e as necessidades do momento.A partir de conjunturas de guerra, por exemplo,
ao recrutamento exclusivo de cidadãos, foi adicionado o alistamento de indivíduos não
livres.As situações de conflitos foram responsáveis por promover as mudanças mais
significativas na composição social dos regimentos, inclusive com a admissão de indivíduos
sem nenhum status social. Dessa maneira, o serviço das armas acabou sendo estendido a todos
os habitantes e as distinções passaram a se configurar no interior das forças militares.
Em 19 de dezembro de 1816, o diretor supremo das Províncias Unidas da América do
Sul afirmou: “por cuanto la seguridad y defensa del pátrio suelo es una obligación que
compreende a todas lãs clases del Estado, sin escepción de persona”. E ainda, ordenou a
organização e a disciplina “[...] em cuerpos reglados los esclavos de esta capital [...] em su
consecuencia se procederá al estabelecimiento de esta clase de milicia [...]”.15 Tempos depois,
em 6 de fevereiro de 1820, o Diretor do Estado ordenou aos donos de escravos o dever de
garantir que esses estivessem presentes regularmente nos treinamentos militares,aos quais os
batalhões estavam submetidos.
Siendo escandalosa la falta de losesclavos que componenlosbatallones argentinos á losejercicios diários en circunstancias de que por lasalida por lamayor parte de los cívicos, se haceindispensables que contribuvan por su parte á aliviar á estos es elservicio de laguarnición [...].16
Ao longo dos anos, não foi só a composição dos contingentes de soldados que sofreu
alterações. Os corpos de oficiais também passaram por algumas mudanças durante o período de
existência das milícias. Essas modificações, diferentemente do que ocorreu com os indivíduos
dos escalões inferiores, não eram direcionadas a composição social, mas a organização
burocrática. Inicialmente, os oficiais eram nomeados a partir de uma eleição feita pela tropa,
entretanto, com o tempo essa prática foi sofrendo variações, que visavam a uma limitação do
poder dado aos soldados. Segundo Hilda Sabato, o regime eleitoral, mesmo antes de passar por
15Registro Official de la Republica Argentina. Buenos Aires: Imprenta Especial de Obras, 1879, tomo 1, p. 393. 16Ibidem, p. 193.
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alterações, na prática, não garantia o estabelecimento de um preceito democrático na
organização dos batalhões de milicianos.
A maioria das votações de oficiais estava fortemente condicionada por práticas de clientelismo que reduziam o espaço de autonomia dos soldados. Os eleitos eram geralmente aqueles que já vinham com influências políticas e com certo capital social, o que significava que a maioria dos oficiais pertencia a setores sociais mais privilegiados da tropa.17
Neste sentido, a política era um elemento presente – e muitas vezes determinante –
nas relações estabelecidas entre os oficiais e os seus subordinados. Sabato defende, todavia,
que mesmo sendo comum a situação descrita acima, isso não significava que os oficiais fossem
alheios à tropa. Na verdade, muitas vezes, os eleitos chegavam ao posto utilizando seus
próprios recursos para garantir o apoio dos seus subordinados.18
Os vínculos estabelecidos entre oficiais e soldados, que constituíam uma importante
forma de integração, não eram interessantes apenas aos indivíduos dos altos escalões das
milícias, mas também para os soldados. Esses passavam a contar com a proteção de seus
comandantes, criando um sentimento de pertencimento firmado por meio do compromisso de
lealdade, que acabava se estendendo a política, através, por exemplo, da identificação
partidária da tropa com as causas a favor das quais os contingentes lutavam.
3. As milícias como instrumentos de centralização da política.
A partir de 1835, com a superação de uma série de conflitos interprovinciais, as
províncias se reuniram sob o regime de uma confederação formada por estados independentes,
que eram responsáveis, entre outras coisas, pela regulamentação das forças militares. Durante
esse período mantiveram experiências políticas diversas, algumas mais voltadas à
institucionalização, outras profundamente influenciadas pela ação de poderosos caudilhos. O
sistema de milícias foi mantido e, na maioria dos casos, essas organizações representaram a
base para a manutenção de algumas lideranças locais.
Apesar do importante papel que exerciam, as milícias não eram a única força militar
em atuação nas províncias durante o processo de consolidação do Estado, o Exército de linha
também operou durante o período. No entanto, após a Revolução de 1810, inexistiu uma
separação clara entre os milicianos e os militares do Exército, situação que se perpetuou
17 SABATO, Hilda. Op. cit., p.64. 18SABATO, Hilda. Op. cit., p.65.
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durante toda a primeira metade do século XIX.19 Nesse sentido, o sistema de recrutamento de
tropas tornou-se bastante confuso e permaneceu assim até a Batalha de Caseros (1852), quando
da derrubada de Juan Manuel de Rosas, um dos principais caudilhos da região, que liderou a
província de Buenos Aires durante o período da Confederação.20
O fim do regime rosista em 1852 levou a formação de uma nova ordem política, não
menos conflituosa que a anterior, que buscava se fundamentar na legitimação e centralização
do Estado nacional. Sob a liderança de Justo Jose de Urquiza um Estado federal começou a ser
institucionalizado. Essa nova fase da história política da Argentina foi marcada pela
promulgação da Constituição de 1853, que criou instituições nacionais, dando início uma
importante etapa do longo processo de consolidação da ordem política. A partir desse
documento, operou-se uma profunda transformação na estrutura e disposição das milícias. As
formas de organização militar estabelecidas foram determinantes para o processo de formação
do Estado nacional, que se buscou a partir da segunda metade do século XIX.
Esse novo Estado que estava sendo organizado manteve uma relação extremamente
conflituosa com a província de Buenos Aires, que se retirou da Confederação e passou a atuar
como um Estado independente, este era formado pela província e pela cidade de Buenos Aires.
Os portenhos assumiram uma postura de unidade político-econômica diferenciada do restante
do território. Segundo Oscar Oszlak, “Caseros y, más precisamente el Acuerdo de San Nicolás,
inauguraban un nuevo capítulo de la lucha por la organización nacional, signado por la unión
de los diversos sectores porteños para enfrentar a la Confederación Argentina liderada por
Urquiza”21
O governo estabelecido durante esse importante período determinou algumas
mudanças significativas em relação ao modelo de organização da estrutura militar da região,
existente até aquele momento. Houve uma tentativa mais contundente no sentido de instituir
19 Em 1825, na iminência da Guerra da Cisplatina, houve um longo debate no Congresso Nacional, em que foi discutida a formação de um Exército Nacional. Nessa ocasião, ficou resolvido que a formação de um exército nacional não seria possível, uma vez que, não havia uma nação consolidada. Ver: WASSERMAN, Fabio. Revolución y Nación enelRío de la Plata 1810-1860. In: MORENO, Oscar (coord.). La Construcción de la Nación Argentina – El Rol de lasFuerzas Armadas. Buenos Aires: Ministerio de Defensa, 2010, pp. 38-39. 20 Batalha ocorrida em 1852, na qual Juan Manuel de Rosas foi derrotado por forças aliadas das Províncias de Entre Ríos e Corrientes e, ainda, forças brasileiras e uruguaias. Contrário à união nacional e a promulgação de uma constituição, Rosas foi derrubado pelas tropas lideradas pelo governador da província de Entre Ríos Justo José de Urquiza. 21 Por esse acordo, assinado em 31 de maio de 1852, treze províncias menos Buenos Aires, firmaram as bases da organização nacional argentina, servindo como precedente para a promulgação da Constituição de 1853. Além disso, o Acordo nomeou Urquiza como diretor provisório da Confederação Argentina, que passou a exercer o comando da região a partir da cidade de Paraná, capital da província de Entre Rios. (Ver: OSZALAK, Oscar. La Formacióndel Estado Argentino – Orden, Progreso y Organizacón. Buenos Aires: Emecé, 2009, p. 73.)
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um caráter nacional e não mais provincial às forças militares. À frente do governo, o líder
entrerriense Justo Jose de Urquiza iniciou a formação de um Exército Nacional regular e
profissional, formado a partir da integração do Exército de linha com as milícias provinciais,
que ficariam responsáveis por garantir a ordem local. Além disso, uma nova força criada: a
Guarda Nacional.
4- O governo de Urquiza (1852): uma tentativa de nacionalização das forças militares.
Com o objetivo de ordenar a Confederação e fortalecer o poder central, Urquiza
tomou algumas medidas no sentido de submeter às forças de origem provincial ao seu
comando. No entanto, sem meios para monopolizar o poder coercitivo, o governo nacional
dependia da capacidade de convocação militar dos governos provinciais. Esta conjuntura
funcionava como uma espécie de entrave à instauração de um poder centralizado forte e
atuante, uma vez que, não livrava tal poder da ingerência das lideranças locais, que possuíam a
capacidade de movimentar sistemas de laços sociais e lealdade política a seu favor. Sendo
assim, essa nova ordem impetrada a partir de 1852 teria que dispor de práticas e instituições
criadas e atuantes, primeiramente no âmbito local, para então promover a elevação dessas ao
nível nacional.
Em junho de 1854, o presidente da Confederação argentina, criou a Inspección
General delEjército Nacional para tentar otimizar a constituição da força militar,
supervisionando o processo de reunião dos contingentes nas diversas províncias da
Confederação. Urquiza considerava “que es de suma urgencia para el buen servicio del Ejército
Nacional, la imediata instalación de la oficina de la Inspección General [...].”22 Apesar das
medidas adotadas por ele, o envio de tropas, no entanto, não foi muito eficiente. Entre outros
motivos, os governadores não podiam lançar mão de seus contingentes e deixar as províncias
desguarnecidas em caso de rebeliões. Naquele momento o contingente organizado contou,
basicamente, com os soldados da força que o próprio Urquiza havia formado em Entre Ríos.
Apesar desse esforço empreendido por Urquiza, a fragmentação política, que marcara
todo o processo de unificação do Estado argentino desde 1810, mais uma vez acabou
dificultando a formação de um Exército Nacional. A estruturação de um conjunto de
instituições necessárias à organização de um governo nacional precisou ser feita com recursos
provinciais. Ponto bastante delicado, pois tocava em uma questão cara a organização social, 22 DOMINGUEZ, Ercilio. Colección de Leyes y Decretos Militares ConcernientesalEjército y Armada de la República Argentina 1810-1896. Buenos Aires: CampañiaSud-Americana de Billetes de Banco, 1898, tomo 2, p. 47.
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política e econômica das províncias – a autonomia militar. Ao abordar essa situação, em um
longo trabalho que analisa a formação do Estado argentino, Oscar Oszlak afirma que:
La construcción de lasinstitucionesnacionales no pudo superar loslazos que ligabanlaexistenciadelgobierno nacional a los recursos de entre Ríos y se atrofióenelestrecho marco del Litoral. Las bases materiales para llevar a cabo laefectivaunificacióndelterritorio nacional se hallabanenlaprovincia de Buenos Aires, donde, mientras tanto, se consolidabaungobiernoindependiente.23
A falta de recursos para a reunião de tropas e a necessidade de deslocar os batalhões
provinciais, para proteger as fronteiras contra invasões indígenas, também prejudicavam a
organização de um exército de caráter nacional. Mesmo após a Constituição de 1853 atribuir o
cargo de Comandante em Chefe de todas as forças da nação ao presidente da Confederação,
essa atribuição só saiu do papel, em algumas ocasiões, através da formação de alianças entre o
governo federal e as lideranças provinciais.24
Afora todas essas medidas tomadas por Urquiza no sentido de unificar as forças
militares sob um comando nacional, a criação da Guarda Nacional em 1853 foi o ponto central,
pois, em tese, transferia para o governo central a gerência sobre as milícias provinciais. Essa
força, que funcionava como auxiliar do Exército, participaria de forma ativa de todos os
confrontos militares em que a Argentina esteve envolvida a partir de sua criação. A Guarda
Nacional possuía caráter miliciano e respondia diretamente à administração provincial,
responsável por sua organização, mas a mobilização ficava a cargo do governo central.
Controlada pelos governadores, a milícia acabou atuando como uma instituição diretamente
ligada às questões provinciais.
O alistamento na instituição implicava o compromisso por parte dos soldados de
participarem de treinamentos militares periódicos. Apesar da obrigatoriedade do serviço se
estender a todos os homens entre 17 e 60 anos, diversos indivíduos tinham direito a isenção.
Esse era o caso dos ministros, membros do congresso, governadores, membros das legislaturas
provinciais, juízes, diretores e reitores de universidades, médicos entre outros. Todo indivíduo
apto a alistar-se na Guarda que não o fizesse, estaria obrigado a prestar serviço durante dois
anos no Exército de linha e, para piorar a situação, esse tempo poderia ser dedicado ao serviço
nas regiões de fronteira.
23 OSZALAK, Oscar. Op. Cit., p. 64. 24 Constituição da Nação Argentina, sancionada em 1º de maio de 1853 por treze das quatorze províncias (exceto Buenos Aires). Cap. III, Art. 86, § 15. Ministerio de Justicia, Seguridad y Derechos Humanos de la Nación, Departamento de Biblioteca, Centro de Documentación y Traducción. Disponível em: www.biblioteca.jus.gov.ar/constituciones-argentina.html - (acessado em 09/11/2014).
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Havia uma diferença de status social entre o soldado da Guarda e o militar do
Exército de linha. O primeiro possuía um status mais elevado, por se tratar de um cidadão
soldado, com seus direitos políticos assegurados. O segundo era membro de uma instituição
que, em muitos casos, era utilizada para promover a correção de indivíduos socialmente
excluídos, portadores de uma conduta moral indesejada “vagos” e “mal entretenidos”.25Desta
maneira, o Exército de linha e a Guarda Nacional possuíam uma composição social bastante
diferenciada.No entanto, a Guarda era uma força auxiliar do Exército, por isso além do
cumprimento das funções que lhe eram inerentes, a milícia ainda era responsável por atuar em
atividades destinadas aos militares. Os contingentes da Guarda eram constantemente
requisitados para dar volume aos diminutos efetivos do Exército profissional.
Com relação a sua organização, o ritmo de estruturação da milícia cívica foi bastante
diferente nas diversas províncias. Sem os meios necessários para monopolizar o poder
coercitivo, o governo nacional dependia da competência convocatória dos governos provinciais
e da mediação dos próprios governadores. Em Tucumán, por exemplo, a organização dos
corpos da Guarda só foi completada no início da década de 1870, a milícia de La Rioja, por sua
vez, teve seu arranjo concluído no início da década de 1860.26
Em Buenos Aires, politicamente separada da Confederação à época da Constituição
de 1853, a organização da Guarda Nacional ocorreu um ano antes, em março de 1852. Esta
medida fazia parte de uma política de reorganização dos serviços públicos implementada, após
Caseros, pelo governador Vicente López. A especificidade do caso bonaerense se deve ao fato
de ter sido a primeira província a dissolver as milícias e reuni-las sob a forma de uma Guarda
Nacional.27 Os portenhos foram convocados a se alistarem de maneira voluntária. A posição de
fronteira e de liderança no desenvolvimento de uma nova ordem política proporcionava a
Buenos Aires uma destacada militarização da sociedade, motivada pelas constantes
circunstâncias de guerra civil e de luta contra as invasões indígenas.
Segundo Julio Nuñes, que foi membro dos corpos formados em 1852, assim que os
contingentes da Guarda Nacional portenha começaram a ser reunidos, o principal objetivo de
25 MACÍAS, Flávia; SABATO, Hilda. La Guardia Nacional: Estado, política y uso de lafuerzaenla Argentina de la segunda mitaddelsiglo XIX. In: Dossier – Historia de la Republica. Variaciones sobre elorden político enla Argentina delsiglo XIX. Buenos Aires: PolHis. Ano 6, no 11, p. 75. 26Ibidem, p. 76. 27 LITERAS, Luciano. Milicias y fronterasenlaformacióndel Estado argentino. La regulación de laGuardia Nacional de Buenos Aires (1852-1880). In: Avances delCesor. Ano 2012, noIX, p. 12.
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seus organizadores era apresentar os batalhões completos, uniformizados e treinados para os
festejos de 25 de maio.28 Nessa ocasião, segundo o autor,
Los jóvenesguardiasnacionalesconcurrianconasiduidad á esosejercicios, y tanto empeñoponíanensuinstrucción, que alpocotiempoestaban suficientemente adiestradosenlos movimentos y manejo de las armas. Ochodías antes delgran aniversario pátrio, los dos batallonesestabanlujosamente uniformados, y suficientemente disciplinados para ocupar supuestoenla línea.29
Apenas cinco meses após a sua criação, a Guarda Nacional portenha precisou entrar
em ação. Em 11 de setembro, teve início uma revolta que levou à separação de Buenos Aires
da Confederação e que tinha como objetivo restaurar o predomínio desta província sobre as
demais. Na ocasião, Bartolomé Mitre futuro presidente da Argentina, foi designado chefe das
tropas de infantaria da Guarda Nacional e ficou responsável por sua organização. Em um
proclame dirigido à milícia, ele convocou os “cidadãos de todas as classes” para que lutassem
pela “glória da pátria”, numa clara tentativa de fomentar a união entre o povo e o governo de
Buenos Aires, em oposição a uma Confederação sob o comando de um governo que não fosse
sediado nessa província.
Habéis visto que se ha pretendido presentar nuestraprovincia ante elcongreso, como una cautiva ante latolderíadel pampa: atada de pies y manos y con una mordazaenla boca. [...] ¡Ciudadanos de todas lasclases! ¡A las armas! Ennombre de laley, por ordendelgolnerno y enelinterés y la gloria de lapatria, os llamo [...].30
Nos meses de novembro e dezembro do mesmo ano de criação da Guarda
(1852),foram sancionados uma série de decretos com a intenção de ampliar seus efetivos e
também suas funções. Os corpos de milícias existentes até então foram dissolvidos, e seus
membros viram-se obrigados ao alistamento naquela nova instituição que se formava. A partir
daí, ficou estabelecido que aqueles cidadãos que não se arregimentassem nos corpos da
Guarda, ou que uma vez alistados deixassem de cumprir suas responsabilidades, seriam
28 A data 25 de maio de 1810 marca a deposição oficial do vice-rei Baltasar Hidalgo de Cisneros em Buenos Aires e a consequente formação da Primera Junta de Gobierno. Os acontecimentos da Semana de Mayoocorreram entre os dias 18 e 25. A Revolução de Maio deu inicio ao processo de surgimento do Estado argentino, sem, no entanto, haver uma proclamação formal da independência, que só aconteceria em 1817. 29 NUÑES, Julio. La Guardia Nacional de Buenos Aires – Datos para su Historia . Buenos Aires: C. Casavalle Ed., 1892, pp.12-13. 30Arengas de Bartolomé Mitre – Colección de Discursos Parlamentarios, Políticos, Económicos y Literarios, Oraciones fúnebres, AlocucionesConmemorativas, Proclamas y Alegatos in voce Pronunciados desde 1848 hasta 1902. Buenos Aires: Bliblioteca de La Nación, tomo 1, p. 26 e 27.
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penalizados com o serviço nos corpos do Exército de linha por dois anos consecutivos,
correndo o risco de serem alocados para a guarnição de fronteira.
O serviço da Guarda Nacional de Buenos Aires foi muito utilizado durante a década
de 1850, devido às tentativas de rebeliões promovidas por grupos insurgentes e a ação contra
os índios nas fronteiras, que frequentemente invadiam o território da província. Os conflitos
com a Confederação, no entanto, ocuparam um lugar central na rotina de ação da instituição,
demandando recorrentemente a intervenção dos milicianos. Neste sentido, o recrutamento em
larga escala para os corpos da milícia funcionava como um recurso legal utilizado para suprir a
escassez de soldados nos quadros do Exército de Linha. Assim como a Guarda Nacional
organizada nas províncias da Confederação, a milícia bonaerense também se caracterizava por
ser uma força auxiliar do Exército de Linha.
Para garantir um amplo alistamento de milicianos, em 1856 o governo ordenou um
“severo enrolamiento” 31 para os corpos de infantaria. Essa medida foi implementada para
tentar resolver os problemas relacionados à mudança de domicílio e ausências que vinham
prejudicando o serviço da Guarda. No início do ano de 1855, o governo lançou outras medidas
com o intuído de promover uma conveniente organização a Guarda Nacional das áreas rurais,
que tinha uma atuação bastante importante e estratégica. “Estas fuerzas prestaron importantes
servicios en la defensa de la línea de fronteras, especialmente lasdel centro sur, librando
contínuos combates con los índios que invadían con mucha frecuencia [...]”.32 Em 1857, uma
nova lei foi sancionada com o objetivo de fortalecer a ordem e a disciplina nos corpos da
milícia.
É possível perceber, através da leitura das fontes e da bibliografia relacionada à
Guarda Nacional argentina (incluindo aqui a portenha e as das demais províncias) que as
instruções normativas da instituição variaram muito de acordo com os conflitos e as demandas
conjunturais que envolveram Buenos Aires e a Confederação. O recrutamento também fora
influenciado por situações de conflito, que geravam a necessidade de um maior número de
homens. No entanto, ao mesmo tempo em que se tentou promover o recrutamento em larga
escala, o governo de Buenos Aires criou meios para que alguns setores da população pudessem
ficar de fora. Para os mais abastados, existia a possibilidade de se pagar para enviar um
“personero”, ou seja, uma espécie de substituto. Tal medida também foi adotada pela
Confederação.
31 NUÑES, Julio. Op. cit., p. 91. 32Ibidem, p. 90.
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Além disso, ainda havia a questão das isenções. Alguns indivíduos que ocupavam
certas funções estavam isentos do serviço na Guarda, principalmente no campo, onde o
recrutamento em larga escala poderia comprometer a produção agrícola. Segundo Luciano
Literas, “la consideración del papel del individuo en la estructura económica de la campaña
para su enrolamiento, fue recurrenteen el caso porteño [...]”33, o autor afirma ainda que:
El trabajofue una cuestión relevante desde losprimerosaños de la Guarda Nacional bonaerense, reflejandolapreocupación por minorar su impacto enla economia de lacampaña al considerar tanto el papel ocupacional de la persona como los ciclos productivos de laactividad agrícola y ganadera.34
Afora os trabalhadores do campo, também estavam isentos indivíduos que
possuíssem “enfermidades”, “defeitos físicos” que os incapacitassem de realizar as atividades
relativas ao serviço na instituição e alguns grupos como: advogados, médicos, universitários,
escritores, professores entre outros figuravam na lista de isentos.35 Essa dinâmica se manteve
até 1858, ano anterior a Batalha de Cepeda, quando o governo de Buenos Aires através do
Decreto 932 de 13 de agosto, extinguiu o direito a isenção de alguns grupos específicos,
principalmente os indivíduos que exerciam atividades no campo.36 Alegando que eram
repetidas as denuncias
[...] que se hacenalGobiernocon motivo de los abusos introducidos relativamente a excepciones delservicio militar a que sonllamadoslosGuardiasNacionales de Caballeria de Campaña; siendofrecuente pretextar para obtenerlas, elhallarsedesempeñandoenlosestablecimientos de campo, las funciones de mayordomos ó capataces, cuyos títulos se apropianindebidamentehombres que sin dirigir trabajos, nitenerpeones á sus órdenes, á excepción de uno ó dos, se hallan al cargo aun de pequeñospuestos [...].37
Na ocasião em que o decreto mencionado acima foi lançado, o governo portenho
precisava alargar o conjunto de cidadãos recrutáveis, para reunir o maior número de homens
em vista ao iminente enfrentamento contra o Exército da Confederação. Essa alteração nas
regras de concessão de isenções colocava a disposição do governo um grande número de
indivíduos que viviam nas estâncias. Alguns grupos, entretanto, continuaram tendo direito a
33LITERAS, Luciano. Op. cit., p. 18. 34Ibidem, p. 18. 35 DOMINGUEZ, Ercilio. Op. cit., p. 95-96. 36 Na Batalha de Cepeda enfrentaram-se os exércitos de Buenos Aires e da Confederação, o primeiro foi derrotado e como consequência do conflito, Buenos Aires foi novamente integrada a Confederação (1859). 37DOMINGUEZ, Ercilio. Op. cit., p. 95-96.
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ficar de fora das listas de recrutamento – diretores de escolas, professores, juízes, chefes de
repartições públicas entre outros.
No ano seguinte à modificação no regulamento, a Guarda Nacional foi mobilizada em
grande número para atuar na Batalha de Cepeda. A organização dos contingentes foi feita
através do sorteio de batalhões inteiros, para evitar que o espírito de corpo, a organização e o
companheirismo já existentes entre os soldados dos diversos batalhões fosse quebrado.
Segundo Nuñes, “desde luego estos batallones, perfectamente armados y equipados se pusieron
á las ordenes del General en Jefe, y un mes después emprendían su marcha á campaña.”38 Os
unitários de Buenos Aires saíram derrotados desse conflito, que teve como principal
consequência a reincorporação da província à Confederação.
Durante quase uma década em que Buenos Aires esteve separada das demais
províncias, a Guarda Nacional foi constantemente mobilizada pelos governos de ambos os
lados, a ação dessas milícias foi fundamental em todos os episódios de enfrentamento. Após a
Batalha de Cepeda, a instituição seguiu operando de forma ativa em outros episódios, que
seriam determinantes para o processo de consolidação da unidade política argentina. Como
veremos a seguir, a Batalha de Pavón e a Guerra do Paraguai são os dois exemplos mais
significativos da ação das milícias nesse sentido.
5- De Pavón à Guerra do Paraguai: a formação de um Exército Nacional.
A Batalha de Pavón marcou o princípio da definitiva hegemonia de Buenos Aires no
cenário político argentino, apesar de não ter garantido o fim dos conflitos internos relacionados
à ordem política. A partir desse conflito, teve início, na prática, o projeto de consolidação de
uma autoridade central estável entre as províncias, sob a liderança portenha. Na ocasião, a
Confederação passava por um momento muito complicado, marcado por confrontos internos e
dificuldades econômicas, essa conjuntura facilitou a vitória de Buenos Aires e a ascensão de
Bartolomé Mitre à presidência da nação unificada. No entanto, apesar desse ter sido o
momento de concretização da unidade territorial da Argentina, foram necessários ainda vários
anos para que se pudesse construir e solidificar um sistema de instituições nacionais que fosse
incontestável em todo o território.
A partir dessa batalha, o esforço de unificação política, que chegaria após cinco
décadas de conflitos e guerras internas, refletiu-se, sobretudo, na tarefa de organizar as forças
militares de forma a compor uma instituição nacional. O governo, com sede em Buenos Aires 38NUÑES, Julio. Op. cit., p.95.
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tratou de promover a centralização das forças, mas a estrutura pensada para aquele momento
foi a mesma utilizada nas tentativas anteriores. O Exército seria formado pelas tropas regulares,
pela Guarda Nacional e pelas milícias provinciais, que tiveram seus contingentes reduzidos,
dada a sua transferência para os batalhões da Guarda.
Sob essa perspectiva, a concepção de ordem política defendida pelos unitários, grupo
vitorioso em Pavón, estava diretamente relacionada à subordinação das instituições e poderes
públicos ao controle do novo governo nacional que se estabelecera. Uma das primeiras
medidas tomadas por Mitre, que à época assumiu a chefia do executivo nacional, foi submeter
a Guarda Nacional bonaerense e as forças militares das demais províncias a um comando
unificado. Desde o início do governo da Confederação, Urquiza já havia entendido que a
organização militar era o ponto chave para se chegar ao estabelecimento da ordem interna. No
entanto, sem o apoio de Buenos Aires, esse projeto liderado pelos federalistas não se
concretizou.
Ao longo do ano de 1862, o governo de Mitre tomou diversas medidas legais que
buscavam criar meios para se chegar a esse objetivo, alguns decretos foram lançados para
reestruturar o comando das forças militares, visando de uma vez por todas acabar com o
conceito de Exército provincial39.A primeira medida tomada, no entanto, não versava sobre a
organização, funcionamento ou qualquer outro ponto estrutural das forças armadas. Em 14 de
janeiro de 1862, Bartolomé Mitre “deseando el Gobierno manifestar el alto aprecio que tanto á
él como al pueblo que preside le merece la valiente Guardia Nacional”40 promulgou o Decreto
no 1049, apontando como seria realizada a recepção e as honras prestadas a Guarda Nacional
vitoriosa em seu retorno a Buenos Aires. A partir da leitura deste documento, fica clara a
intenção de Mitre em reforçar a vinculação da Guarda Nacional ao sucesso bonaerense sobre as
forças da Confederação em Pavón e, a partir daí, intensificar a ideia de uma força militar
nacional identificada com a milícia portenha.
Como afirmou Alberto Lettieri, a Guarda Nacional foi um dos principais pontos de
formação de identidade portenha a partir da década de 185041. Para esse autor, a instituição
começou a desempenhar um papel ativo na política nacional na ocasião em que Buenos Aires
separou-se da Confederação, quando a milícia foi responsável por combater as forças que
39 Formado pelo estabelecimento do sistema de milícias desde 1820 – e instituir a ideia de Exército Nacional 40DOMINGUEZ, Ercilio. Op. cit., p.196. 41LETTIERI, Alberto. La guerra de las representaciones: la revolución de 1852 y el imaginário social porteño. In: SABATO, Hilda; LETTIERI Alberto (orgs). La Vida Política enla Argentina delSiglo XIX – Armas, Votos y Voces. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica de Argentina, 2003, p.111.
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tentaram invadir a província. No entanto, de acordo com Lettieri, essa posição foi bastante
inflada pela postura adotada por Mitre. A partir de seus discursos, ele foi responsável por
definir a matriz de representação da Guarda como uma instituição que:
No había sido creada por hombres, sino que se trataba de un principio orgániconacido de laRevolución de Mayo, que fundíaensu doble condición cívica y militar lavitalidaddel temperamento patriotico, su amor a laliberdad y el repudio a cualquierclase de tiranía. Esos valores, según Mitre, resultabanproprios de laindiosincrasia de losporteños y atravesabaneltejido social y clivajes facciosos.42
O autor acrescenta, que toda essa representação de valores constituída em torno da
milícia cívica “[...] se acompanho de la creación de una mística guerrera, que anteponía el
compromiso de los porteños con su ciudad a cualquier facción o división de intereses que
pudiesse existir.”43Neste sentido, organizar um Exército nacional a partir de uma instituição
identificada com a liderança portenha seria mais conveniente para o governo de Mitre. A
existência de tropas nacionais seria fundamental para a atuação do governo central em diversas
províncias, que muitas vezes eram contrárias ao domínio por parte de Buenos Aires.
Diante desse panorama, nos primeiros anos de centralização do Estado, o governo de
Mitre procurou demonstrar que a gerência das forças militares não ficaria a cargo das
províncias, tal política foi corroborada pela nacionalização do Ministério da Guerrae pela
criação da Inspección General de MiliciasProvinciales.44 As milícias continuariam sendo
estabelecidas pela administração provincial, mas o governo central procurou tornar seu
regulamento mais homogêneo, no que se refere a sua disposição nas diversas províncias.
Essasituaçãoé um caso exemplar, que nos permite entender que o processo de centralização do
poder na Argentina, como observado por Leonardo Canciani, foi resultado das dinâmicas
provincial e nacional que convergiram. Desta maneira, “la presencia de la Nación en las
provincias, entonces no aparece como la penetración de un actor ajeno [...], más bien, como la
construcción de un conjunto de acuerdos y de instituciones que las propias elites provinciales
estabelecieron [...]”.45
O programa de unificação do comando das forças militares também promoveu o
licenciamento dos exércitos provinciais. No início de 1862, as tropas da província de Entre
Ríos, que lutaram pela Confederação durante Pavón, foram licenciadas com o aval de Urquiza.
42LETTIERI, Alberto. Op. cit., p.112. 43Ibidem, p. 112. 44Registro official de la Republica Argentina. Buenos Aires: Imprenta Especial de Obras, 1879, Tomo I, p.532. 45CANCIANI, Leonardo Daniel. Hombres de Frontera. Lasguardiasnacionalesenla pampa argentina. In: Revista Latino Americana de Historia. Vol. 1, no1. Janeiro de 2012, p. 77.
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Em correspondência enviada por este a Mitre, o general assegurou a desmobilização de suas
tropas, mas pediu garantias de que o mesmo seria feito com o exército de Corrientes,
defendendo tal atitude como uma condição para o estabelecimento da paz entre as províncias.
“Con esta misma fecha expido las órdenes convenientes, licenciando el ejército de la provincia.
He contado con la seguridad que V. E. me oferece de que Corrientes lo efectuará en seguida,
como conviene en bien de la confianza y la paz general.”46
Um mês após o pedido de Urquiza, Mitre respondeu-o afirmando que “[...] incitaba á
aquelgobierno [o de Corrientes] a desarmarse y ponerseen pie de paz.”47 Posteriormente, em
mais uma correspondência enviada ao líder entrerriense, ele diz que “en carta que recebí del
governador Pampin me asegura el completo licenciamento del ejército correntino, dejando sólo
algunas pequenas guarniciones en pie.”48Essa deliberação por parte do governo central era uma
tentativa de desmobilizar qualquer força provincial que pudesse ser usada em uma investida
contra Buenos Aires e, consequentemente, atrapalhasse ou impedisse a afirmação da unidade
política que se buscava estabelecer.
6- Concluindo:a Guerra do Paraguai e a formação de um Exército Nacional.
O advento da Guerra do Paraguai colocou o governo de Mitre em uma posição que
anularia a possibilidade de estabelecimento de uma liderança política por parte de qualquer
outra província. Pela primeira vez, o país esteve envolvido em um conflito que ultrapassava as
esferas locaise lançava todas as províncias, agora unidas sob a forma de uma única Nação, em
uma guerra internacional. Essa visão, no entanto, não foi compartilhada pela população de
todas as províncias, que em algumas regiões mostrou-se bastante contrária à causa da Guerra,
principalmente no que diz respeito à reunião e ao envio de contingentes para o Exército em
operação. Durante o conflito com o Paraguai o processo de recrutamento de tropas esbarrou na
formação miliciana da população das províncias e, em muitos casos, essa circunstância
constituiu-se em um entrave a ação do governo federal.
Em Buenos Aires o alistamento de voluntários foi grande. Núcleo do projeto de
centralização política que vinha sendo desenvolvido pelos unitários, a identificação com a
causa bélica foi mais forte naquela província. Segundo Julio Nuñes, “En menos de las 24 horas
46Archivo del General Mitre. Documentos y Correspondencia. Pacificación y Reorganización Nacional. Buenos Aires: Biblioteca de la Nación, 1911, tomo 10, p. 76. 47Ibidem, p. 78. 48Archivo del General Mitre. Documentos y Correspondencia. Pacificación y Reorganización Nacional. Buenos Aires: Biblioteca de la Nación, 1911, tomo 10, p. 80.
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los cuarteles de la Guadia Nacional se vieron inundados de ciudadanos que acudieron á tomar
sus puestos, y en muy poco tempo más los regimentos estaban totalmente formados con su
respectiva organización.”49Embora a capital federal tenha reagido de maneira entusiasmada, na
maioria das províncias, apesar da tentativa, por parte dos governadores, de estimular o
alistamento de guardas, o entusiasmo pelo serviço de guerra não foi muito grande. Mais do que
a falta de adesão, em muitos casos, o governo federal foi obrigado a lidar com a aversão, que se
deu de várias maneiras – desde a resistência e a deserção até a formação de motins, que em
alguns casos assumiram a forma de montoneras.50
No entanto, a efetivação do recrutamento de tropas nas províncias, para um conflito
de tamanha envergadura, possibilitou o reforço de alianças que já vinham se formando a partir
de Pavón e, ainda a formação de novas lideranças locais. Tal situação fortificou as relações de
mando firmadas a partir do centro político estabelecido em Buenos Aires. Não existia mais
espaço para um modelo de organização militar descentralizado, como havia sido, durante a
primeira metade do século XIX, o sistema de milícias. Ou mesmo para um modelo bipartido,
formado por Exército de Linha e Guarda Nacional.
“La Guerra del Paraguay y sus resultados instlarón en el marco de la opinión pública
debates em relación al tipo de ejército que debía fojarse.”51 O sucesso do projeto dos grupos
que buscavam a centralização política e estatal dependia da afirmação de um exército único e
profissional, capaz de fornecer ao governo central o monopólio sobre os meios de coerção. A
Guerra do Paraguai deu um importante passo nesse sentido, mas a solução para essa questão foi
adiada para a década de 1880, quando seria concluído o processo de consolidação do Estado e
fortalecimento de suas instituições, uma longa tarefa levada a cabo durante anos pelos grupos
dirigentes que buscavam “llevar la fuerza de la periferia al centro”.
Bibliografia - Fontes: Constituição da Nação Argentina, sancionada em 1º de maio de 1853. Ministerio de Justicia, Seguridad y Derechos Humanos de la Nación, Departamento de Biblioteca, Centro de Documentación y Traducción. Disponível em: www.biblioteca.jus.gov.ar/constituciones-argentina.html- (acessado em 09/11/2014).
49 NUÑES, Op. cit., p. 124-125. 50 Essas eram uma espécie de milícia de caráter militar organizada hierarquicamente, mobilizadas por caudilhos para atuarem em rebeliões contra o governo central e não se tratavam de uma força permanente. 51MACÍAS, Flávia. Op. cit., p.30.
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Arengas de Bartolomé Mitre – Colección de Discursos Parlamentarios, Políticos, Económicos y Literarios, Oraciones fúnebres, AlocucionesConmemorativas, Proclamas y Alegatos in voce Pronunciados desde 1848 hasta 1902. Buenos Aires: Bliblioteca de La Nación, tomo 1. Archivodel General Mitre. Documentos y Correspondencia. Pacificación y Reorganización Nacional. Tomo 10. Buenos Aires: Biblioteca de la Nación, 1911 DOMINGUEZ, Ercilio. Colección de Leyes y Decretos Militares ConcernientesalEjército y Armada de la República Argentina 1810-1896. Buenos Aires: CampañiaSud-Americana de Billetes de Banco, 1898, tomo 2. NUÑES, Julio. La Guardia Nacional de Buenos Aires – Datos para su Historia. Buenos Aires: C. Casavalle Ed., 1892. Registro official de la Republica Argentina. Buenos Aires: Imprenta Especial de Obras, 1879, tomos1-3. Reglamento para lasmilicias disciplinadas de infantería y caballeríadelVirreynato de Buenos Ayres. Buenos Aires: Real Imprenta de NiñosExpósitos, 1802. - Referência Bibliográfica: BRAGONI, Beatriz; MÍGUEZ, Miguel (orgs.). UnNuevoOrden Político – Provincias e Estado Nacional (1852-1880). Buenos Aires: Editorial Biblos, 2010. CANCIANI, Leonardo Daniel. Hombres de Frontera. Lasguardiasnacionalesenla pampa argentina. In: Revista Latino Americana de Historia. Vol. 1, no1. Janeiro de 2012, pp. 76-98. FUENTE, Ariel de la. Los Hijos de Facundo – Caudillos y Montoneras em laProvincia de la Rioja durante el Processo de Formacióndel Estado Nacional Argentino (1853-1870). Buenos Aires: PrometeoLibros, 2007. GOLDMAN, Noemi; SALVATORE, Ricardo. CaudillismosRioplatenses – Nuevas Miradas a um Viejo Problema. Buenos Aires: Eudeba, 1998. HARARI, Emilio Fabián. La organización Miliciana en Buenos Aires (1810-1820): Creación, Reclutamiento y Elección de Oficiales (1810-1820). In: Temas Americanistas. 2013, no 3, pp. 98-123. LITERAS, Luciano. Milicias y fronterasenlaformacióndel Estado argentino. La regulación de laGuardia Nacional de Buenos Aires (1852-1880). In: Avances del Cesor. Ano IX, no 2012, pp. 9-32. LETTIERI, Alberto. La guerra de lasrepresentaciones: larevolución de 1852 y el imaginário social porteño. In: SABATO, Hilda; LETTIERI Alberto (orgs). La Vida Política en la Argentina del Siglo XIX – Armas, Votos y Voces. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica de Argentina, 2003, 469-493. MACÍAS, Flávia; SABATO, Hilda. La Guardia Nacional: Estado, política y uso de lafuerzaenla Argentina de la segunda mitaddelsiglo XIX. In: Dossier – Historia de la Republica. Variaciones sobre elorden político enla Argentina delsiglo XIX. Buenos Aires: PolHis. Ano 6, no 11, pp. 70-81. OSZALAK, Oscar. La Formacióndel Estado Argentino – Orden, Progreso y Organizacón. Buenos Aires: Emecé, 2009. SABATO, Hilda. Povo e Política. A Construção de uma República. Tradução: Daniel da Silva Becker. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2011. TERNAVASIO, Marcela. Historia de la Argentina (1806-1852). Buenos Aires: SigloVeintiuno, 2009.