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Centro Universitário Ritter dos Reis
A INFLUÊNCIA DO DESIGN NA RELAÇÃO ENTRE ARTESÃOS E
Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter
Programa de Mestrado em Design
Nicole Saretta Tomazi
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A INFLUÊNCIA DO DESIGN NA RELAÇÃO ENTRE ARTESÃOS E
UM ESTUDO DE CASO
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Porto Alegre
2016
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UniRitter
A INFLUÊNCIA DO DESIGN NA RELAÇÃO ENTRE ARTESÃOS E TERRITÓRIOS:
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Centro Universitário
A INFLUÊNCIA DO DESIGN NA RELAÇÃO ENTRE ARTESÃOS E
Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter
Programa de Mestrado em Design
Nicole Saretta Tomazi
A INFLUÊNCIA DO DESIGN NA RELAÇÃO ENTRE ARTESÃOS E
UM ESTUDO DE CASO
Dissertação submetida, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Design pelo Programa de Pós-Graduação Mestrado Acadêmico em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis International Universities.
Orientadora: Profª. Drª. Carla Pantoja Giuliano
Porto Alegre 2016
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UniRitter
A INFLUÊNCIA DO DESIGN NA RELAÇÃO ENTRE ARTESÃOS E TERRITÓRIOS:
Dissertação submetida, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Design pelo
Graduação Stricto Sensu – Mestrado Acadêmico em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis – Uniritter Laureate
Drª. Carla Pantoja Giuliano
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) T655i Tomazi, Nicole Saretta.
A influência do design na relação entre artesãos e territórios: um estudo de caso. / Nicole Saretta Tomazi. – 2016.
147 f.: il ; 30 cm. Dissertação (mestrado) – Centro Universitário Ritter dos Reis,
Faculdade de Design, Porto Alegre, 2016. Orientador: Profa. Dra. Carla Pantoja Giuliano.
1. Design. 2. Artesanato. 3. Cultura. I. Título. II. Giuliano, Carla Pantoja.
CDU 7.05
Ficha catalográfica elaborada no Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Dr. Romeu Ritter dos Reis
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NICOLE SARETTA TOMAZI
A INFLUÊNCIA DO DESIGN NA RELAÇÃO ENTRE ARTESÃOS E TERRITÓRIOS:
UM ESTUDO DE CASO
Dissertação de Mestrado defendida e aprovada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Design, pela banca examinadora constituída por:
Profª. Dra. Carla Pantoja Giuliano (Orientadora)
Profª. Drª Anne Anicet Rüthschilling
Profª. Drª Chiara Del Gaudio
Porto Alegre
2016
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Ao Zé, por alongar as minhas asas e
preencher meu coração.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço à Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul –
FAPERGS, pela bolsa de estudos concedida.
Ao Centro Universitário Ritter dos Reis e aos professores do programa de
Mestrado em Design.
À minha orientadora, pela atenção e carinho.
Às professoras Chiara Del Gaudio e Anne Anicet Rüthschilling, pelas valiosas
contribuições.
À querida Bia, pelo total apoio e por acreditar e lutar sempre por uma região e
um povo que amo tanto.
À ATUASERRA, pela abertura, disponibilidade e seriedade.
Aos artesãos e técnicos, pela colaboração, confiança e comprometimento.
À minha avó Vera, por ter me ensinado a amar o trabalho manual.
Aos meus pais e meu irmão, pelo amor incondicional.
Aos meus irmãos de criação, Sabrina e César, pela leveza e amor.
À dinda Dandi pela casa sempre aberta.
Às minhas colegas-amigas, Renata e Liana, pela cumplicidade.
À família e aos amigos que compreenderam e esperaram.
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Tutti dovrebbero progettare per evitare di essere progettati. La creazione è un atto di guerra, non un armistizio con la realtà. (Enzo Mari).
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RESUMO
A complexidade dos dias atuais aponta para uma nova abordagem do design, voltado à inovação social por meio de atuações que valorizem o capital humano e cultural. O artesanato tem sido considerado um mantenedor da cultura, conectando os indivíduos às suas particularidades histórico-culturais e valorizando o local dentro da esfera global. A união entre design e artesanato revela uma possibilidade de transformação social, baseada na valorização da identidade territorial e na salvaguarda do patrimônio cultural. O objetivo dessa pesquisa trata de estudar se a intervenção de designers influencia a relação entre artesãos e seu território. O embasamento teórico apresenta aspectos do design, artesanato e território sob a ótica de autores especialistas, perpassando por abordagens sobre cultura, globalização, patrimônio e turismo. Sendo esta pesquisa descritiva e exploratória, de caráter qualitativo, optou-se pelo estudo de caso único, tendo como objeto o Projeto de Capacitação do Artesanato da Serra Nordeste do RS – PCA. A coleta de dados concentrou-se nos documentos oriundos do projeto e em entrevistas com os partícipes de três grupos de diferentes municípios abrangidos pelo PCA, tendo como foco o ponto de vista dos artesãos. A análise de conteúdo, nesta pesquisa, com base na ferramenta ELITO, ofereceu evidências suficientes para afirmar que a intervenção de designers nestes grupos de artesãos influenciou a relação entre eles e seu território, principalmente no que tange ao despertar criativo. A pesquisa, ainda, apontou parâmetros que podem constituir nova base para análise em estudos futuros da relação de design, artesanato e território.
Palavras-chave: Design Territorial. Artesanato. Cultura. Patrimônio. Turismo.
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ABSTRACT
The complexity of the current days point out to a new approach to design, focused on social innovation through actions that value the human and cultural capital. Handcraft has been considered a maintainer of culture, connecting the individuals to their historical and cultural particularities and bringing local value into a globalized world. The link between design and handcraft reveals a possibility of social transformation, based on the value of territorial identity and the safeguard of cultural heritage. The objective of this research is to study if the designers intervention will influence the relationship between artisans and their territory. The theoretical foundation presents aspects of design, handcraft, and territory from the perspective of expert authors, passing by approaches to culture, globalization, heritage, and tourism. Since this is a descriptive and exploratory research, of qualitative character, it was chosen a single case study, having as object the Rio Grande do Sul Northeast Sierra Handcraft Capacitation Project – PCA (acronym in Portuguese). The data collection was centered in documents from the project and interviews with participants in three groups of different municipalities covered by the PCA, focusing on the perspective of the artisans. The content analysis in this research, based on the ELITO tool, provided enough evidence to affirm that the intervention of designers in these groups of artisans has influenced the relationship between them and their territory, specially in regard to the creative awakening. The research also showed parameters that can provide a new basis for analysis in future studies of the relationship between design, handcraft, and territory.
Keywords: Territorial Design. Handcraft. Culture. Heritage. Tourism. �
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Desenho da Metodologia ......................................................................... 23
Figura 2 – Desenho da Pesquisa .............................................................................. 25
Figura 3 – Assinatura visual da Coleção de Veranópolis .......................................... 77
Figura 4 – Exemplo de registro de artesão e do andamento do trabalho em Veranópolis......................................................................................... 78
Figura 5 – Exemplo de registro por imagens do andamento do trabalho em Veranópolis......................................................................................... 79
Figura 6 – Produtos finais de artesão de Veranópolis ............................................... 79
Figura 7 – Grafismos de Maçãs ................................................................................ 80
Figura 8 – Grafismo de Casal de Idosos ................................................................... 80
Figura 9 – Grafismos de Nossa Senhora de Lourdes ............................................... 81
Figura 10 – Etiquetas Coleção Veranópolis .............................................................. 81
Figura 11 – Assinatura visual da Coleção de Santo Antônio do Palma ..................... 83
Figura 12 – Exemplo de registro de artesão e do andamento do trabalho em Santo Antônio do Palma ................................................................... 84
Figura 13 – Exemplo de registro por imagens do andamento do trabalho em Santo Antônio do Palma ................................................................... 84
Figura 14 – Produtos finais de artesão de Santo Antônio do Palma ......................... 85
Figura 15 – Etiquetas coleção Santo Antônio do Palma ........................................... 86
Figura 16 – Assinatura visual da Coleção de Farroupilha ......................................... 87
Figura 17 – Exemplo de registro de artesão e do andamento do trabalho em Farroupilha ...................................................................................... 88
Figura 18 – Exemplo de registro por imagens do andamento do trabalho em Farroupilha ....................................................................................... 88
Figura 19 – Produtos finais de artesão de Farroupilha .............................................. 89
Figura 20 – Grafismo de Nossa Senhora de Caravaggio e Sr. e Sra. Kiwi ............... 90
Figura 21 – Grafismos de kiwi ................................................................................... 90
Figura 22 – Etiquetas coleção Farroupilha ................................................................ 91
Figura 23 – Análise de Dossiês: grafismos ............................................................. 114
Figura 24 – Categorias de Processos Produtivos ................................................... 117
Figura 25 – Categorias de Organização de Trabalho .............................................. 118
Figura 26 – Palavras-chave: artesãos e artesanato ................................................ 119
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Figura 27 – Artesãos e inspiração no território ........................................................ 120
Figura 28 – Palavras-chave que emergiram das respostas sobre turismo .............. 122
Figura 29 – Palavras-chave relacionadas ao PCA .................................................. 125
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Busca de produções científicas .............................................................. 20
Quadro 2 – Organização da coleta de dados ............................................................ 30
Quadro 3 – Categorias de Processos Produtivos ...................................................... 59
Quadro 4 – Categorias de Organização de Trabalho ................................................ 61
Quadro 5 – Enfoques da união do design com o artesanato .................................... 71
Quadro 6 – Síntese das entrevistas ........................................................................ 107
Quadro 7 – Análise do Dossiê de Veranópolis ........................................................ 111
Quadro 8 – Análise do Dossiê de Santo Antônio do Palma .................................... 112
Quadro 9 – Análise do Dossiê de Farroupilha ......................................................... 113
Quadro 10 – Análise de ações essenciais territoriais .............................................. 129
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LISTA DE SIGLAS
AF Artesão do grupo de Farroupilha
ATUASERRA Associação de Turismo da Serra Nordeste
AS Artesão do grupo de Santo Antônio do Palma
ARTEVE Associação de Artesãos de Veranópolis
AV Artesão do grupo de Veranópolis
CEP Comitê de Ética em Pesquisa
DE Diretora Executiva ATUASERRA
EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
ESDI Escola Superior de Desenho Industrial
EVA Espuma vinílica acetinada
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
MTUR Ministério do Turismo
ONG Organização Não-Governamental
PAB Programa do Artesanato Brasileiro
PCA Projeto para Capacitação do Artesanato Regional da Serra
Nordeste
PNPI Programa Nacional do Patrimônio Imaterial
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
TF Técnico do Município de Farroupilha
TS Técnico do Município de Santo Antônio do Palma
TV Técnico do Município de Veranópolis
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
UNWTO World Tourism Organization
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14
1.1 PROBLEMA DA PESQUISA ............................................................................... 16
1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA ............................................................................... 16
1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 16
1.2.2 Objetivos Específicos .................................................................................... 17
1.3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 17
1.4 OBJETO DE ESTUDO ........................................................................................ 20
2 METODOLOGIA .................................................................................................... 23
2.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA ....................................................................... 24
2.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................ 26
2.2.1 Pesquisa Bibliográfica ................................................................................... 26
2.2.2 Pesquisa Documental .................................................................................... 27
2.2.3 Estudo de Caso .............................................................................................. 27
2.3 MÉTODO DE COLETA DE DADOS .................................................................... 29
2.4 SELEÇÃO DA AMOSTRA ................................................................................... 31
2.5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS ....................................................... 32
2.6 COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ................................................................... 33
3 CULTURA E TERRITORIALIDADE ...................................................................... 35
3.1 CULTURA MATERIAL E IMATERIAL ................................................................. 36
3.2 INICIATIVAS CULTURAIS NO BRASIL .............................................................. 38
3.3 GLOBALIZAÇÃO E CONSUMO .......................................................................... 41
4 ASPECTOS DO TURISMO .................................................................................... 47
4.1 TURISMO ASSOCIADO À CULTURA ................................................................ 49
4.2 PRODUTOS DO TURISMO ................................................................................ 52
5 DESIGN E ARTESANATO .................................................................................... 55
5.1 ASPECTOS DO ARTESANATO ......................................................................... 57
5.2 ASPECTOS DO DESIGN .................................................................................... 63
5.3 DESIGN TERRITORIAL ...................................................................................... 66
5.4 INTERSECÇÕES ENTRE DESIGN E ARTESANATO ........................................ 70
6 ESTUDO DE CASO ............................................................................................... 74
6.1 APRESENTAÇÃO DOS DOSSIÊS ..................................................................... 75
6.1.1 Dossiê do Grupo de Veranópolis .................................................................. 76
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6.1.2 Dossiê do Grupo de Santo Antônio do Palma ............................................. 82
6.1.3 Dossiê do Grupo de Farroupilha ................................................................... 86
6.2 APRESENTAÇÃO DAS ENTREVISTAS ............................................................. 91
6.2.1 Entrevista com representante da ATUASERRA .......................................... 92
6.2.2 Entrevistas com técnicos .............................................................................. 95
6.2.3 Entrevistas com artesãos .............................................................................. 98
6.2.3.1 Entrevistas com artesãos de Veranópolis ..................................................... 99
6.2.3.2 Entrevistas com artesãos de Santo Antônio do Palma ................................ 101
6.2.3.3 Entrevistas com artesãos de Farroupilha .................................................... 103
6.2.4 Síntese das entrevistas ................................................................................ 106
7 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS .................................................... 109
7.1 ANÁLISE DOCUMENTAL ................................................................................. 109
7.2 ANÁLISE DE CONTEÚDO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................... 115
7.2.1 Perfil dos entrevistados ............................................................................... 115
7.2.2 Relação dos entrevistados com o território e o turismo .......................... 120
7.2.3 Quanto ao Projeto de Capacitação do Artesanato .................................... 124
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 134
8.1 RESULTADOS ALCANÇADOS ........................................................................ 134
8.2 DIFICULDADES E LIMITAÇÕES DA PESQUISA ............................................. 136
8.3 CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA ................................................................... 137
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 139
APÊNDICE A - Roteiro de Entrevista ATUASERRA (Diretora) .............................. 145
APÊNDICE B - Roteiro de Entrevista Técnicos ..................................................... 146
APÊNDICE C - Roteiro de Entrevista Artesãos ....................................................... 147
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1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa pretende contribuir para uma maior compreensão das
influências sociais do design em relação aos artesãos, por meio da análise de um
projeto de capacitação do artesanato realizado por designers numa região específica
do Rio Grande do Sul, estado localizado ao Sul do Brasil. Para isto, são abordados
aspectos relativos ao turismo, cultura e artesanato sob a ótica da qualificação
territorial, em contraponto ao modelo de desenvolvimento industrial globalizante.
De acordo com Bürdek (2006), a industrialização trouxe consequências
sociais que foram além do simples emprego de máquinas, suplantando a produção
manual. As condições de vida e de trabalho das pessoas foram alteradas de forma
decisiva e perduram de muitas maneiras até os dias de hoje. Segundo Cardoso
(2008), durante o século XVIII, ocorreram transformações na forma de organização
produtiva, como o aumento da escala de produção, a ampliação dos espaços de
trabalho e o emprego de maior número de trabalhadores. Além disso, nesse
momento a produção tornou-se mais seriada com a mecanização de processos. Do
ponto de vista do trabalho manual, com a divisão de tarefas e a maior especialização
de funções, houve o declínio das guildas de artesãos, com a perda de “habilitações
e privilégios que protegiam o artesão livre” (CARDOSO, 2008, p.32).
Sendo assim, no decorrer dos séculos seguintes à Revolução Industrial,
abandonou-se o que era considerado antigo e defasado e adotou-se novos materiais
e técnicas produtivas (BÜRDEK, 2006). O conceito de industrialização era definido
como o caminho para o progresso, “de forma a atender os anseios e necessidades
do indivíduo, dentro dos princípios sociais calcados no conceito de cidadania”
(SOUZA, 1998, p.23).
No início do século XX, em um período de euforia industrial, econômica e
social, começa na Alemanha uma busca pela racionalização da produção de objetos
que influenciou decisivamente o design. Os designers, então, projetavam para as
indústrias visando democratizar o acesso da população aos objetos cotidianos como
móveis, utensílios domésticos, ferramentas, entre outros, por meio da produção em
série. A racionalidade técnica e a padronização eram algumas das diretrizes da
época (CARDOSO, 2008; BONSIEPE, 2012).
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Sob a égide do movimento denominado modernismo, havia o intuito de atingir
a maior parte da população através de produtos mais acessíveis e adequados às
condições econômicas e sociais da época. Ao modernismo, embalado pela
Revolução Industrial, mudaram-se as condições de vida e trabalho, ampliando-se a
pobreza e delineando-se, de forma decisiva, a sociedade da época (BÜRDEK,
2006).
Alguns autores (CARDOSO, 2008; KRIPPENDORF, 2006; SUDJIC, 2009)
citam uma desconexão dos designers com as questões sociais, que perdurou por
décadas, representada principalmente pelo movimento estético modernista.
Embora a sociedade estivesse passando por transformações, o designer
perdeu sua característica questionadora. A demanda por projetos era intensa e a
racionalidade projetual era a característica mais importante que o profissional de
design poderia apresentar para as empresas da época (KRIPPENDORF, 2006;
SUDJIC, 2009).
Na visão crítica de Krippendorff (2006), o designer não pode se comportar
apenas como um projetista de artefatos, mas um propulsor de mudanças a partir de
revisões de sistemas sociais e econômicos ultrapassados que estão em vigência até
hoje. Segundo o autor, a complexidade dos dias atuais, em que o cenário é mais
imaterial e público, traz desafios sem precedentes aos designers para suplantar o
ditado “a forma segue a função” e encontrar soluções que vão além de formalismos
e esteticismos (KRIPPENDORFF, 2006, p.6).
Os dias atuais, caracterizados pela inovação tecnológica, científica e
industrial, pedem soluções projetuais que vão além da forma e buscam abordar
questões complexas de um mundo fluído e pós-moderno, tornando
cada vez mais evidente a necessidade de gerar conhecimentos a partir da perspectiva do projetar, sobretudo tratando-se de problemas complexos que excedem o know-how de uma disciplina particular. (BONSIEPE, 2012, p.19).
Para Moraes (2010), as soluções trazidas pelo design deveriam ser voltadas
para esta complexidade, em uma abordagem social. Assim, surge na atualidade a
concepção do designer como propulsor de transformações sociais, em contraponto à
visão do designer como um mero projetista de artefatos industriais. Borges (2011),
Bonsiepe (2012) e Romeiro Filho (2013) apontam a possibilidade de iniciativas de
intervenção por meio de ações projetuais, frente às quais o designer se posiciona
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como influenciador de grupos sociais, na busca por descobertas e transformações
que permitam o empoderamento e a autonomia de seus indivíduos.
As constatações teóricas desta seção deram origem à formulação do
problema de pesquisa, apresentado a seguir.
1.1 PROBLEMA DA PESQUISA
Diversas pesquisas de caráter científico relacionam os temas design,
artesanato e território, apresentando artesanato como elemento capaz de
potencializar o turismo (MARTINS, 2013) e o design como uma atividade capaz de
qualificar o artesanato (SOUZA, 2010).
Nesse contexto, a pesquisa que se apresenta pretende contribuir para uma
reflexão sobre os temas território, design e artesanato, a partir do seguinte
questionamento: A intervenção de designers influencia na relação entre
artesãos e seu território?
A partir dessas considerações, a seguir estão apresentados os objetivos que
se pretende alcançar com a pesquisa.
1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA
Os objetivos, geral e específicos que direcionam e delimitam este estudo,
foram definidos na intenção de facilitar o alcance dos propósitos traçados no
decorrer e ao término desta tarefa e que a seguir se encontram expressos.
1.2.1 Objetivo Geral
O objetivo geral da pesquisa em questão trata de comprovar se a intervenção
de designers em grupos de artesãos influencia na relação entre estes indivíduos e
seu território.
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1.2.2 Objetivos Específicos
Na construção da presente pesquisa pretende-se alcançar os objetivos
específicos abaixo listados:
a) Identificar na literatura elementos que relacionem território, design e
artesanato;
b) Constatar as formas em que se verifica a relação entre território e
artesanato;
c) Demonstrar como o design pode influenciar na relação entre artesãos e
seu território.
A seguir, justifica-se a escolha do tema de pesquisa.
1.3 JUSTIFICATIVA
Conforme Kubrusly e Imbroisi (2011), o artesanato foi, durante séculos, a
única maneira de o homem produzir aquilo de que necessitava. Somente em
meados do século XVIII, com o surgimento das máquinas e da chamada Revolução
Industrial, esta conexão se rompeu.
No Brasil, os reflexos da Revolução Industrial provocaram um afastamento
dos fazeres manuais, inclusive no contexto do design, sendo visto por muitas
décadas como opositor do denominado “desenho industrial”. (BORGES, 2011;
KUBRUSLY; IMBROISI, 2011). Para Santana (2013), a origem do design no Brasil
seguiu uma trajetória de distanciamento e de negação do artesanato. A afirmação
vai ao encontro do que pensam Kubrusly e Imbroisi (2011), que apresentam um
cenário no qual o design estava em lado oposto ao do artesanato. Isso porque,
enquanto os artesãos produziam o que criavam, os operários das novas fábricas não
eram estimulados a criar, limitando-se a operar as máquinas “que fabricavam em
série produtos desenvolvidos pelo designer”. (KUBRUSLY; IMBROISI, 2011, p.11).
Somente a partir da década de 1980, pelas palavras de Santana (2013), é
que se inicia a aproximação dos designers com a produção artesanal. Na década de
1990, recebe suporte de instituições de apoio ao artesanato e à cultura. A busca
pelo desenvolvimento local e pela valorização da cultura apresenta, conforme
Krucken (2009), diversas possibilidades, seja a partir da descoberta de um sistema
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produtivo único, de uma matéria-prima exclusiva, seja pela produção artesanal de
um lugar.
A presente pesquisa justifica-se primeiramente no valor da individualidade
cultural e sua representatividade perante o mundo global industrializado. De acordo
com Borges (2011) e Canclini (2008), a relação do indivíduo com a sua cultura local
é fator determinante para a seleção de elementos importantes aplicados aos
produtos e serviços. Ícones, técnicas e matérias-primas são elementos utilizados
para identificação e apropriação de um produto por um determinado grupo social.
Wilde (2010) corrobora com o raciocínio de Borges (2011) e Canclini (2008),
reconhecendo a possibilidade de o artesanato e o trabalho manual constituírem
formas de preservar a cultura local, em oposição à industrialização e à mecanicidade
da sociedade. Passados dois séculos desde que Wilde levantou essa concepção,
Borges (2011), no âmbito da cultura brasileira, apresenta ideais semelhantes para a
mesma temática. A autora discorre sobre o tema, direcionando a valorização da
cultura local para produção artesanal:
Levar em conta outros atributos além da adequação de forma e função na hora de adquirir um produto, e que assim possamos nos deixar contagiar pelo afeto, pela memória e pela cultura, impregnados pelos objetos feitos à mão. (BORGES, 2011, p.17).
Segundo Mello e Ceretta (2015), uma das possibilidades de manutenção da
cultura por meio do artesanato é torná-lo importante no cenário turístico. As autoras
apontam que a relação entre artesãos, turismólogos e agentes locais pode dinamizar
a atividade artesanal ligando-a à promoção do destino turístico. Para Ceretta et al.
(2014), a pluralidade do turismo oportuniza as atividades sociais, culturais e
econômicas. Nesse contexto, o artesanato ativa os valores culturais territoriais,
favorecendo o consumo do que é identitário em uma comunidade. O viés que
relaciona o artesanato com o turismo é uma das justificativas da presente pesquisa.
Trazendo essa realidade para as intervenções do design em relação ao
artesanato, a atividade do designer perante um grupo de artesãos deve levar em
consideração suas características intrínsecas, o local onde estão assentados e sua
relação com o mesmo, isto é, seu território (BORGES, 2011; KUBRUSLY;
IMBROISI, 2011).
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De acordo com Krucken (2009) cabe ao designer a tarefa de identificar e
valorizar as características locais e, munido das mesmas, tornar reconhecíveis estes
valores, para que os consumidores possam se conectar a elas.
Sobre a relação dos produtos com as pessoas, Moraes (2010) e Baudrillard
(2003) pontuam que não mais importa a forma ou os vínculos tecnológicos
apresentados nos produtos, mas sim as conexões geradas a partir das relações dos
mesmos com as pessoas. “A forma, hoje, não é mais uma questão objetiva
funcional, mas, sim, está ligada aos fatores semânticos, psicológicos e subjetivos”.
(MORAES, 2010, p. 18).
Sendo assim, na visão de Borges (2011) e Kubrusly e Imbroisi (2011), a
interferência do designer em um determinado grupo de artesãos sugere um
processo de inovação, e desenvolvimento territorial, mesmo que não haja um
procedimento padrão para que tal ocorra. Nessa mesma linha, Krucken (2009)
afirma que “como facilitador do processo de inovação, o design representa um
importante coadjuvante no desenvolvimento econômico e sociocultural” (KRUCKEN,
2009, p. 51). A linha de pensamento converge para a segunda justificativa do
presente estudo, a de que o design tornou-se uma ferramenta de transformação
social, não se limitando ao projeto de artefatos.
O papel do design sempre foi atender às necessidades das pessoas,
conforme afirma Redig (2011), contrapondo a visão de que apenas agrega valor ao
produto. Trata-se de uma ação que abrange mais que a projetação de um artefato
ou produto, pois há interferência de escala local com influência no social, uma
transformação que o designer pode alcançar com seu conhecimento, atrelado ao
conhecimento dos artesãos e da comunidade (BORGES, 2011).
Devido à relevância do design no desenvolvimento social através de sua
interação com o artesanato, foi necessário verificar como transparece o cenário
acadêmico sobre o tema. Buscou-se produções científicas, desenvolvidas a partir do
ano de 2010, que contemplassem as palavras-chave relativas à design territorial,
artesanato, patrimônio cultural e turismo. As bases de dados utilizadas foram o
Portal Capes de Teses e a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. Não
foi encontrada nenhuma dissertação que apresentasse estas palavras-chaves em
conjunto. O próximo passo foi buscar palavras combinadas. O Quadro 1, abaixo,
apresenta o número de dissertações encontradas e analisadas que, de alguma
maneira, perpassam pelo interesse do presente estudo.
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Quadro 1 - Busca de produções científicas
����������������� �������
����������������������
������������������������� ���� ��
������������������ ��
���������������������� ��
�������������������������������� ��Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
De posse dessas informações, após sua análise, pôde-se perceber uma
lacuna no âmbito científico, o que pode justificar o presente estudo. Embora de
maneiras distintas os estudos encontrados de relacionem com as temáticas de
interesse, não há registros de dissertações que abranjam, na totalidade, a temática
proposta neste estudo.
Conforme apresentado no decorrer desta seção, as justificativas concentram-
se na importância do artesanato como representação cultural perante um sistema
industrial vigente, na relação intrínseca entre artesanato e turismo e também sobre a
abordagem social do design. Além disso, o fato de esta temática ser a abordagem
profissional da pesquisadora faz com que a escolha se justifique pelos motivos de
conveniência e interesse.
Por fim, a verificação de uma lacuna do ponto de vista científico, abre
caminho para a possibilidade deste estudo acadêmico.
Como objeto de estudo para esta pesquisa a opção recaiu na análise de um
projeto coordenado por designers, junto a dez grupos de artesãos habitantes de
municípios da Serra Gaúcha, região turística do sul do Brasil, no período
compreendido entre agosto de 2014 e maio de 2015, conforme descrito a seguir.
1.4 OBJETO DE ESTUDO
Visando à regionalização e à gestão descentralizada de políticas públicas, foi
criado, em 2007, o Programa Nacional de Regionalização do Turismo, coordenado
pelo Ministério do Turismo, com o apoio do Conselho Nacional de Turismo, por meio
da Câmara Temática de Regionalização (MTUR, 2007).
A implementação do programa depende, assim, da organização dos atores
locais, sejam eles públicos ou privados, em torno de objetivos comuns ligados à
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promoção turística. A Região Uva e Vinho têm, como Instância de Governança
Regional, a Associação de Turismo da Serra Nordeste – ATUASERRA, pessoa
jurídica de direito privado, com sede na Rua Hugo Dreher, 227, sala 09, em Bento
Gonçalves, Rio Grande do Sul. Fundada em 1985, a entidade tem como missão
promover o desenvolvimento do turismo sustentável na Região Uva e Vinho através da articulação dos municípios, integração dos atores sociais e aporte de conhecimentos, buscando a melhoria da qualidade de vida nas comunidades envolvidas. (ATUASERRA, 2015).1
A Microrregião Uva e Vinho, tendo o município de Bento Gonçalves como
polo, está entre os 65 destinos indutores de desenvolvimento turístico regional,
eleitos pelo Programa de Regionalização do Turismo, que assim os define:
[...] aqueles que possuem infraestrutura básica e turística e atrativos qualificados, que se caracterizam como núcleo receptor e/ou distribuidor de fluxos turísticos, isto é, aqueles capazes de atrair e/ou distribuir significativo número de turistas para seu entorno e dinamizar a economia do território em que está inserido. (MTUR, 2007, p. 3).
Esse contexto, a ATUASERRA – através do Edital Convite Nº 02/2014, firmou
contrato com a empresa Oferenda Objetos e Design Ltda., visando à prestação de
serviços em design, voltados à capacitação do artesanato regional. A empresa, com
sede em Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, confiou a execução
do trabalho a uma equipe formada por duas designers e uma estudante de design.
O Edital Convite estabeleceu que fossem realizadas pesquisas iconográficas,
oficinas de capacitação dos artesãos e assessoria em desenvolvimento de produtos
voltadas a grupos de artesãos selecionados pelos municípios de Bento Gonçalves,
Carlos Barbosa, Casca, Farroupilha, Nova Bassano, Nova Prata, Santo Antônio do
Palma, Serafina Corrêa e Veranópolis, todos localizados no Rio Grande do Sul e
integrantes da Região Uva e Vinho.
As oficinas e o atendimento aos artesãos para assessoramento ocorreram
nas cidades sede dos artesãos em cinco encontros quinzenais de quatro horas,
totalizando vinte horas para cada grupo de artesãos, no período compreendido entre
agosto de 2014 e maio de 2015.
Pela abrangência do projeto, relevância da região turística nos âmbitos
regional e nacional e a participação da pesquisadora na equipe de design, elegeu-se
���������������������������������������� �������������������1 Disponível em: <www.serragaucha.com>.
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o projeto acima descrito, denominado Projeto para Capacitação do Artesanato
Regional da Serra Nordeste - PCA, como objeto de estudo da presente pesquisa e
pela relação com as questões trabalhadas.
Na linha sequencial destes objetivos, o capítulo a seguir contém aspectos
relativos à metodologia, coleta e análise dos dados.
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2 METODOLOGIA
Para estruturar a metodologia escolhida para ser aplicada nesta pesquisa, foi
necessário o delineamento do Desenho Metodológico (Figura 1), onde constam as
características, elencadas pela pesquisadora, do caminho a ser seguido.
Figura 1 – Desenho de Metodologia
Fonte: Elaborada pela autora, 2015.
24
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A Figura 1 apresenta como se pretende responder ao problema de pesquisa
através do método, objeto de estudo e instrumentos científicos definidos, levando
em conta a natureza da pesquisa, na busca do objetivo proposto.
Segundo Flick (2009), conforme determina a natureza da pesquisa, a
abordagem de dados de forma qualitativa descritiva permite uma visão abrangente
sobre o cenário a ser estudado, fomentando a busca pelo conhecimento. O enfoque
qualitativo permite a busca do modo de vida dos indivíduos estudados, a maneira
como constroem suas vidas e o que fazem para isso. (FLICK, 2009, p. 8).
Uma vez definida a estratégia metodológica, é necessário descrever o
caminho que será percorrido pela pesquisadora, a fim de atingir os objetivos
pretendidos.
2.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA
Tendo sido escolhida a metodologia de pesquisa qualitativa descritiva
exploratória, através da aplicação do estudo de caso, cumpre descrever
devidamente cada uma das etapas, descritas para que se entenda como será o
andamento do trabalho.
Na pretensão de esclarecer a forma de desenvolvimento, traçou-se o
Desenho da Pesquisa (Figura 2), onde estão apresentados procedimentos e
características do estudo em questão.
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Figura 2 – Desenho da Pesquisa
Fonte: Elaborada pela autora, 2015.
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Conforme apresentado na Figura 2, as etapas da presente pesquisa científica
compõem o fluxo do desenvolvimento do trabalho, iniciando pela determinação do
problema, passando por sua justificativa, definição de objetivos, organização de
metodologia, fundamentação teórica, coleta e análise de dados, discussão da
pesquisa e considerações finais.
2.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A seguir estão descritos os procedimentos utilizados na pesquisa para
determinar as características de coleta de dados e da análise para a pesquisa
científica em questão.
2.2.1 Pesquisa bibliográfica
Na primeira etapa que compõe os procedimentos metodológicos foi realizada
uma pesquisa bibliográfica, a fim de construir parâmetros teóricos e direcionamento
de abordagem científica. Para tanto, cabe ressaltar a importância da pesquisa
bibliográfica:
A pesquisa bibliográfica constitui parte da pesquisa descritiva ou experimental, quando é feita com o intuito de recolher informações e conhecimento prévios acerca de um problema para o qual se procura resposta ou acerca de uma hipótese que se quer experimentar. (CERVO e BERVIAN, 2002, p.8).
A partir do referencial teórico analisado pela pesquisadora foram identificadas
intersecções entre autores e os temas de interesse da pesquisa. Ao abordar os
temas território, design territorial e artesanato, ficou clara a necessidade de um
suporte teórico para aprofundamento dos mesmos. Assim, as noções que este
trabalho apresenta fundamentam-se teoricamente na visão de diferentes autores,
cujos questionamentos dão suporte ao problema de pesquisa. Creswell (2010, p.51)
afirma que um suporte teórico tem a finalidade de “estabelecer a importância do
estudo e também uma referência para comparar os resultados com outros
resultados”.
Além de livros e artigos das áreas de interesse deste estudo, foram
identificadas pesquisas relacionadas ao tema da territorialidade no design e, mais
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especificamente, estudos na área do design aplicado ao artesanato, que estão,
oportunamente, referidas neste texto.
Em se tratando do objeto de estudo em questão, o PCA, cabe um
aprofundamento sobre a pesquisa na base de documentos oriundos do mesmo, que
constam da próxima seção.
2.2.2 Pesquisa Documental
Ao ser desenvolvido um estudo de caso, admite-se que não apenas os
indivíduos envolvidos farão parte da pesquisa, mas também os documentos gerados
pelo objeto do estudo. Conforme Gil (2007), a pesquisa documental se assemelha à
pesquisa bibliográfica, o que as difere é o objeto pesquisado. No caso da pesquisa
documental, são averiguados itens gerados pelo grupo social analisado.
Sendo assim, será feita a pesquisa documental, em que os documentos
oriundos do PCA servirão de base de análise. No final de cada grupo atendido, foi
gerado um Dossiê contendo o registro do trabalho desenvolvido pela equipe de
designers e entregue para a ATUASERRA. Os Dossiês contêm dados organizados
pelos designers, sendo o enfoque principal o registro do andamento de participação
desses artesãos no projeto.
Para Markoni e Lakatos (2011), “os documentos oficiais constituem
geralmente a fonte mais fidedigna de dados”. (MARKONI; LAKATOS, 2011, p. 57).
Espera-se que a análise documental sirva para organizar os dados coletados pelas
entrevistas e para ampliar a compreensão do objeto de estudo.
Como abordado acima, sendo a pesquisa científica em questão de caráter
qualitativo descritivo, optou-se pelo estudo de caso como metodologia a ser
aplicada. A seguir serão abordados aspectos relativos a este método.
2.2.3 Estudo de Caso
A presente pesquisa emprega a técnica exploratória de natureza qualitativa e
de caráter descritivo (GIL, 2007). Os procedimentos adotados nesse tipo de
abordagem usam dados ou fatos colhidos da própria realidade, tendo a coleta de
dados como uma de suas principais tarefas.
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O recolhimento de fatos da vida real são, geralmente, direcionados para
pesquisas de vocação qualitativa (GIL, 2007). Assim sendo, a pesquisa qualitativa
descritiva mostra-se como a mais apropriada para o tema em questão. Ainda sobre
a pesquisa qualitativa descritiva, Cervo e Bervian (2002) citam sua pertinência em
relação ao enfoque de acontecimentos da vida social:
Busca conhecer as diversas situações e relações que ocorrem na vida social, política, econômica e demais aspectos do comportamento humano, tanto do indivíduo tomado isoladamente como de grupos e comunidades mais complexas. (CERVO; BERVIAN, 2002, p. 66).
Sobre a relevância do estudo de caso como metodologia de pesquisa
científica, Yin (2004) comenta que podem ser encontrados estudos de caso em
diversas áreas:
Pode-se encontrar estudos de caso até mesmo na economia, em que a estrutura de uma determinada indústria, ou economia de uma cidade ou região, pode ser investigada através do uso de um projeto de estudo de caso. (YIN, 2004, p.21).
O estudo de caso preenche os requisitos para uma melhor análise do tema e
constitui ferramenta para atingir uma evolução do assunto tratado. Como cita Yin
(2004), essa é uma das metodologias mais qualificadas para investigar os dados da
vida real.
Buscando estabelecer pontos que justifiquem a escolha por desenvolver
estudo de caso único nesta dissertação, o apoio teórico de Yin (2004, p. 42) auxilia,
no sentido de classificar esta pesquisa. Primeiramente, a situação proposta não se
encaminha para o descobrimento de eventos que responderiam questionamentos do
tipo “como”, “por que” e “onde” inseridos no objetivo – típicos de estudos de casos
múltiplos. O objetivo expresso no início desta pesquisa se mostra simples e direto:
“comprovar se a intervenção de designers em grupos de artesãos influencia na
relação entre estes indivíduos e seu território” – primeiro motivo da categorização
em estudo de caso único.
Em segundo lugar, sempre tendo Yin (2004) como referência, a unidade de
pesquisa é única e as entrevistas com os indivíduos participantes tem como
finalidade a comprovação de um único objetivo: “comprovar se a intervenção de
designers em grupos de artesãos influencia na relação entre estes indivíduos e seu
território”, sem vieses alternantes paralelos ou divergentes. Seria o contrário,
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conforme Yin (2004, p. 43), ou seja, classificado como caso múltiplo, se cada um
dos indivíduos questionados tivesse a finalidade de comprovar objetivos diversos
(como?, onde?, por quê?), por exemplo.
Enquanto o objeto de estudo, apresentado na seção 1.4 do presente estudo,
é único e a pretensão seja que os indivíduos questionados forneçam respostas a um
objetivo único e não disperso, portanto, esta pesquisa há que ser classificada como
estudo de caso único, atrelado aos fundamentos lógicos de Yin (2004, p. 61-64), que
assim determinam: primeiro, na tentativa de atestar uma proposta única que se
supõe verdadeira, como o objetivo expressa; segundo, se trata de uma situação
social para a qual não existe o estabelecimento de “padrões comuns” (p. 63), sendo
apropriado que se efetivem novos estudos, sempre que nela se detectem novas
nuances, na tentativa de averiguar fatos recentes a ela relacionados; terceiro, as
condições do estudo “justificam a utilização de um estudo de caso único, tendo
como base a natureza reveladora” (YIN, 2004, p. 63), no sentido desvendar
fenômenos sociais predominantes.
Projetos de caso único, portanto, exigem uma investigação cuidadosa do caso em potencial para minimizar as chances de uma representação equivocada e para maximizar o espaço necessário para se coletar as evidências do estudo de caso. (YIN, 2004, p. 64).
Embora os casos únicos de pesquisa sejam os mais comuns, há que se ter
cuidado em sua classificação, uma vez que, pela teoria de Yin (2004), vários casos
únicos originam estudo de caso múltiplo – o que não se aplica à presente pesquisa,
refletindo em complexidade variada a projetos unificados.
Sendo assim e partindo da determinação do estudo de caso único como
método de pesquisa que envolve documentos e indivíduos, a seção seguinte foi
reservada para a apresentação da metodologia para a coleta de dados.
2.3 MÉTODO DE COLETA DE DADOS
A coleta baseou-se em análise documental e entrevistas. Os instrumentos de
coleta foram organizados de maneira a contemplar os envolvidos no projeto, fonte
do estudo de caso, a fim de ampliar o volume de dados recolhidos, conforme
demonstrado no Quadro 2.
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Quadro 2 - Organização da coleta de dados
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Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
Com a intenção de coletar dados, foram aplicadas entrevistas com questões
semiestruturadas. Primeiramente, a representante da ATUASERRA, órgão
contratante do PCA, forneceu informações que refletem a visão do contratante,
desde seus objetivos até a sua análise do resultado do projeto de artesanato que a
entidade desenvolve.
Os artesãos e um especialista de cada município, que concordaram em
participar da pesquisa, também se submeteram ao fornecimento de dados através
da entrevista com a finalidade de imprimir aprofundamento às questões dos grupos.
As entrevistas assumiram o formato semiestruturado, atendendo às
orientações de Gil (2007) e Yin (2004). As perguntas são conduzidas pelo
entrevistador, que segue um roteiro organizado a partir dos elementos que pretende
investigar, deixando o entrevistado à vontade para falar livremente.
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Os técnicos entrevistados foram escolhidos a partir do critério de familiaridade
com o objeto de análise, ou seja, que tenham acompanhado o grupo de artesãos no
decorrer do desenvolvimento do projeto. Para os artesãos, o critério definido é de
que tenham participado de, no mínimo, 4 encontros. Sobre a importância das
entrevistas, Cervo e Bervian (2002) enfatizam que se pode utilizar esse
procedimento quando outros instrumentos não surtiriam o mesmo efeito.
Recorrem [...] à entrevista sempre que têm necessidade de obter dados que não podem ser encontrados em registros e fontes documentais e que podem ser fornecidos por certas pessoas. Esses dados serão utilizados tanto para o estudo de fatos como de casos ou de opiniões. (CERVO; BERVIAN, 2002, p. 46).
Com a aplicação desses instrumentos de coleta de dados elementos
significativos para uma análise consistente foram recolhidos e captados. Os roteiros
de entrevistas encontram-se na seção Apêndices ao final desta dissertação.
A próxima seção esclarece a determinação da amostra que compreende o
objeto de estudo desta pesquisa.
2.4 SELEÇÃO DA AMOSTRA
A pesquisa tem como objetivo comprovar se a intervenção de designers em
grupos de artesãos influencia na relação entre esses indivíduos e seu território.
O PCA, com a participação de grupos de artesãos de 9 municípios da Serra
Nordeste do Rio Grande do Sul, teve a intenção de aprimoramento do artesanato,
conforme descrito no item 1.2 desta dissertação, visando uma maior conexão dos
artesãos com o território onde vivem.
A partir de uma convocação por parte da ATUASERRA, os municípios que
manifestaram interesse na participação no PCA promoveram chamadas públicas
para a inscrição de artesãos nas suas cidades. Foi delimitado pela ATUASERRA um
número máximo de 15 artesãos e um técnico por município, totalizando 139 pessoas
envolvidas. A escolha da amostra foi definida nos limites desse universo.
Como participante ativa do projeto em análise, conforme apresentado no item
1.2, a pesquisadora pretende isentar-se do direcionamento na escolha da
amostragem. Porém, para um maior aprofundamento, foram definidos três grupos
que servem de base para a presente pesquisa. Escolheu-se dentre os 9 grupos:
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a) O maior grupo em que os artesãos trabalham juntos há mais tempo;
b) O grupo em que os artesãos nunca haviam trabalhado juntos;
c) O grupo composto por participantes de diversos grupos e associações de
artesãos e também por artesãos individuais.
Esta escolha baseia-se na busca pela diversidade de perfis, o que, do ponto
de vista da pesquisadora, pode enriquecer a pesquisa e seus resultados.
Desta forma, os 03 municípios envolvidos no projeto, por meio dos técnicos e
artesãos, foram convidados a colaborar com a pesquisa. Cabe ressaltar que, pelo
caráter voluntário, não se conseguiu a totalidade dos partícipes de cada município,
resultando nos seguintes números de indivíduos captados:
Município de Farroupilha: 01 turismólogo e 06 artesãos;
Município de Santo Antônio do Palma: 01 técnico e 02 artesãos;
Município de Veranópolis: 01 turismólogo e 05 artesãos;
A ATUASERRA também foi convidada a participar da coleta de dados, por
meio de um membro da sua diretoria, totalizando uma amostragem de 17 indivíduos
envolvidos na pesquisa em questão.
Com os dados captados, procede-se ao planejamento da análise de dados.
2.5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS
Após o encerramento das coletas, a análise iniciou-se pela apresentação dos
dados coletados nos diários denominados Dossiês. Estes dados, oriundos da
pesquisa documental do presente estudo, apresentada na seção 2.2.2, servem para
categorizar os municípios e demonstrar de que maneira o PCA ocorreu, do ponto de
vista dos designers. Em seguida foi desenvolvida a análise do contrato firmado entre
a ATUASERRA e a empresa contratada. De acordo com Markoni e Lakatos (2002),
as fontes documentais são recursos primários que devem ser analisados, servindo
de suporte à investigação.
Em um segundo momento, iniciou-se a análise de conteúdo, definida para a
presente pesquisa por ser, segundo Bardin (2009), um conjunto de técnicas de
análise das comunicações, sendo uma análise que serve para explicitar e
sistematizar um conteúdo, suas mensagens e expressões, para que possam ser
inferidos conhecimentos deste processo. O autor apresenta domínios possíveis para
a aplicação da análise de conteúdo e, dentre eles estão a “comunicação icônica num
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�
pequeno grupo” e “entrevistas e conversações de qualquer espécie”. (BARDIN,
2009, p.35).
Para a organização dos dados das entrevistas a ferramenta escolhida foi a
denominada ELITO, pois serve para analisar grandes quantidades de dados
qualitativos.
Segundo Hanington e Martin (2012) é um desafio organizar ideias a partir de
um volume grande de dados qualitativos. O método ELITO auxilia no processo de
organização de dados a partir da delimitação de cinco categorias diferentes que são:
observação (o que você ouviu), julgamento (qual a sua opinião sobre o que você
ouviu), fala literal (parte mais importante do que foi dito), conceito (palavras-chave
que representam o que foi dito) e oportunidade (o que pode ser feito a partir do que
foi dito).
De acordo com os autores, da organização de dados nestas cinco categorias,
surge uma linha lógica que auxilia a análise de dados com base na formação de
aglomerados de ideias. De posse desta linha lógica que emerge do ELITO, é
possível partir para a fase de discussões e conclusões.
Cabe ressaltar que a coleta de dados ocorreu após a aprovação da presente
pesquisa no Comitê de Ética em Pesquisa, conforme apresentado na seção
seguinte.
2.6 COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
De acordo com o CEP – Comitê de Ética em Pesquisa-, o envolvimento de
seres humanos em pesquisas científicas deve ser previamente aprovado para que
os indivíduos envolvidos não sejam sujeitos a quaisquer desconfortos gerados.
Sendo assim, todas as entrevistas citadas foram previamente autorizadas
mediante consentimento por assinatura de Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido por todos os convidados que decidiram participar voluntariamente da
pesquisa em questão. A coleta das assinaturas e a aplicação de entrevistas só
ocorreram após a autorização do CEP através da aprovação do projeto de pesquisa
em questão. Cabe ressaltar que o projeto foi aprovado e liberado pelo CEP no dia
22/10/2015.
Nos capítulos a seguir serão abordados os temas Cultura e Territorialidade,
Aspectos do Turismo e Design, que se constitui na fundamentação teórica desta
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dissertação. O capítulo seguinte trata de questões que envolvem Cultura e
Territorialidade.
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3 CULTURA E TERRITORIALIDADE
A definição de cultura foi expressa por Geertz (1989) como um padrão de
significados incorporados a símbolos que são transmitidos no decorrer da história. O
autor se recusa a buscar leis universais de significado, o que vai ao encontro do
pensamento de Baudrillard (2008), que apresenta os designers como obstinados por
democratizar a cultura, a ponto de “[...] considerar a Cultura como universal,
querendo ao mesmo tempo difundi-la sob a forma de objetos finitos (quer eles sejam
únicos quer multiplicados por mil)”. (BAUDRILLARD, 2008, p. 134).
Ao estudar a cultura, é preciso considerar o dinamismo e a simbiose do
desenvolvimento dos grupos sociais e dos indivíduos. A partir da construção de
grupos é que esses indivíduos “exprimem a sua linguagem, os seus valores, gestos
e comportamento e a sua identidade”. (GIULIANO, 2014, p.3). O aprofundamento no
estudo da cultura dos bens materiais, reforça Freitas et al. (2007), torna-se
importante principalmente porque reflete uma época, reproduzindo a estrutura
cultural de uma sociedade e sendo, pela sua própria existência, uma herança social.
A identidade cultural é mutável, aberta, e composta por valores,
comportamentos e referências expressas no desenvolvimento de grupos sociais e
dos indivíduos: “a cultura se encontra essencialmente vinculada ao processo de
formação das sociedades humanas”. (ONO, 2004, p. 54).
Para Woodward (2009), são diversos os resultados produzidos em relação à
identidade devido aos processos de globalização:
A homogeneidade cultural promovida pelo mercado global pode levar ao distanciamento da identidade relativamente à comunidade e à cultura local. De forma alternativa, pode levar a uma resistência que pode fortalecer e reafirmar algumas identidades nacionais e locais ou levar ao surgimento de novas posições de identidade. (WOODWARD, 2009, p. 21).
Atualmente o mercado está repleto de produtos miscigenados, sendo cada
vez mais difícil compreender a qual cultura pertencem e qual identidade carregam.
(KRUCKEN, 2009). Por consequência, elevada é a responsabilidade do designer no
desenvolvimento de produtos, já que a tendência é que agreguem símbolos de um
determinado espaço e tempo. A valorização da diversidade cultural no contexto
mundial faz com que os produtos carreguem consigo expressões culturais que
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podem ser benéficas, tanto para seu entendimento e usabilidade quanto para sua
inserção no mercado. (MAZZA et al., 2007; GIULIANO, 2014).
Por observar a necessidade de ampla discussão que envolva elementos da
cultura, a abordagem abaixo se refere aos variados aspectos materiais e imateriais
desta temática.
3.1 CULTURA MATERIAL E IMATERIAL
O patrimônio cultural valoriza e consagra o que é comum a um determinado
grupo social tanto no espaço quanto no tempo. Este patrimônio engloba o meio
ambiente, o saber fazer e os artefatos resultantes da interação do homem com a
natureza. (TOMAZ, 2010).
Segundo a United Nations – UNESCO (2003), em definição proferida pela
Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, o Patrimônio
Imaterial compreende:
[...] as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana. (UNESCO, 2003, p. 4).
Assim, de acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
– IPHAN-, o patrimônio imaterial está em constante transformação, e muda de
acordo com a interação dos grupos com o ambiente onde vivem e de sua história. O
patrimônio cultural imaterial se manifesta nos campos das tradições e expressões
orais, nas expressões artísticas, cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas, nas práticas
sociais, nos rituais e atos festivos, conhecimentos e práticas relacionadas à natureza
e ao universo, nos lugares que abrigam práticas culturais coletivas, nas práticas
artesanais tradicionais e nos ofícios ou modos de fazer. (UNESCO, 2003; IPHAN,
2006).
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O objetivo primário da identificação do Patrimônio Imaterial é o de assegurar a
responsabilidade em relação à preservação desse valor no seu território. Souza
(2010, p. 11) ressalta que se trata de “um património vivo, realizado por pessoas,
através das suas experiências e que elas valorizem, de forma a promover a
criatividade, a diversidade e o bem-estar das comunidades”.
O patrimônio cultural, portanto, é de extrema importância para a manutenção
da diversidade e para o desenvolvimento social sustentável, sendo sua salvaguarda
interesse universal. (UNESCO, 2003). Não existem instrumentos concisos
destinados à salvaguarda do patrimônio cultural imaterial, mas a necessidade de
conscientização de sua importância geraram medidas que visam garantir sua
manutenção, sendo elas: identificação, documentação, investigação, preservação,
proteção, promoção, valorização, revitalização e transmissão por meio da educação.
A participação das comunidades nas atividades de salvaguarda deve ser ativa, de
modo a fazer com que os criadores sejam também transmissores dessa cultura.
(UNESCO, 2003).
O cuidado com os bens patrimoniais visa resguardar a memória, dando importância ao contexto e às relações sociais existentes em qualquer ambiente. Não é possível preservar a memória de um povo sem, ao mesmo tempo, preservar os espaços por ele utilizados e as manifestações quotidianas de seu viver. (TOMAZ, 2010, p. 4).
A interpretação do patrimônio natural e cultural apresenta a unicidade de um
lugar, atestam Murta e Albano (2002), fazendo com que o visitante apreenda o que
lhe é estranho ao estabelecer uma conexão com o mesmo, para que se sinta
instigado a ampliar seu conhecimento. Sendo assim, “como a experiência turística é
fortemente visual, o olhar do visitante procura encontrar a singularidade do lugar,
seus símbolos e significados mais marcantes”. (MURTA; ALBANO, 2002, p. 9).
As manifestações culturais podem ser traduzidas em produtos locais, já que
estão relacionados diretamente com seu território e com a comunidade produtora;
“envolvem, portanto, bens materiais e imateriais, tangíveis e intangíveis que
compreendem o patrimônio cultural”. (KRUCKEN, 2012, p. 3). Dentro do contexto
artesanal importa distinguir as iniciativas e estudos para a preservação do
artesanato das iniciativas de valorização da atividade artesanal a partir de ações
comerciais, já que as técnicas artesanais são consideradas expressões tangíveis do
Patrimônio Imaterial. (SOUZA, 2010).
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Para a UNESCO (2003), há uma profunda interdependência entre o
patrimônio cultural imaterial e o patrimônio material cultural, este definido pelo
IPHAN como:
[...] arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas. Eles estão divididos em bens imóveis como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais; e móveis como coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticas, videográficos, fotográficos e cinematográficos. (IPHAN, 2015).2
Da união de natureza e cultura, como uma trama que compõe um tecido,
surge a concepção de território. (FRANZATO, 2009). Quando se opta por uma
abordagem territorial, se elege valorizar o patrimônio material e imaterial, priorizando
os recursos da biodiversidade. Esses elementos fazem parte de um lugar específico
e são construídos ao longo do tempo pelos indivíduos que ali habitam. (KRUCKEN,
2009).
Em decorrência, a seguir estão apresentadas algumas iniciativas para o
desenvolvimento da cultura no Brasil, como instituições de fomento e organização e
ações de promoção e salvaguarda.
3.2 INICIATIVAS CULTURAIS NO BRASIL
As políticas culturais foram institucionalizadas no Brasil com a chegada da
família real portuguesa (CARVALHO et al., 2013). De lá aos dias de hoje, os
governos deram ênfases diversas ao desenvolvimento cultural, adequadas a cada
época da história brasileira. Inicialmente a intenção era limitar o acesso à cultura
para um pequeno grupo social. Desta forma, com o passar dos anos, a abrangência
de público atingido pelos incentivos culturais mudou, de modo que
[...] a participação social compõe programas de governo e programas públicos dirigem-se ao suporte das culturas populares secularmente marginalizadas e oprimidas. (CARVALHO et al., 2013, p. 14).
No decorrer dos anos, o Estado moderno utilizou a cultura para disseminar
uma unidade identitária de nação, afirma Oliveira (2011), a fim de manter a
integralidade nacional. A unificação de identidade nacional foi, em muitos casos,
���������������������������������������� �������������������2 Disponível em: <www.iphan.gov.br>.
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ferramenta para a manutenção do Estado. (OLIVEIRA, 2011). Ortiz (1994, p. 138)
complementa, reforçando que “a memória nacional opera uma transformação
simbólica da realidade social, por isso não pode coincidir com a memória particular
dos grupos populares”.
Mesmo com as tentativas de imposição de uma identidade nacional,
instituições de fomento surgiram da intenção de manter viva a prática artesanal, com
ações de planejamento para que o fazer artesanal perdure não só pelo seu valor
cultural, mas pela sua capacidade de geração de renda. Nesse sentido, pode-se
citar o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, órgão que
iniciou a formação de agentes públicos e organizou programas voltados para o
desenvolvimento da produção artesanal focada na cultura local. (GUIMARÃES,
2014).
A partir da década de 1970, reinicia a discussão sobre o resgate da
identidade nacional. Buscou-se a ampliação do entendimento e da preservação do
patrimônio por meio de pesquisas, registros e políticas públicas. (FREIRE;
PEREIRA, 2002).
Os bens culturais que representam grupos formadores da sociedade brasileira
foram inseridos como bens a serem preservados no ano de 1988, com o
reconhecimento das naturezas materiais e imateriais da cultura. Sendo o Patrimônio
Cultural Imaterial um elemento vivo, que muda de acordo com os fluxos dos grupos
sociais e da passagem de gerações, sua preservação contribui para o respeito à
diversidade das culturas. (BRASIL, 2013).
Uma possibilidade de preservação surge com o Programa Nacional do
Patrimônio Imaterial (PNPI), que visa projetos para identificar, reconhecer,
salvaguardar e promover o patrimônio imaterial cultural, a partir da sua viabilização.
O PNPI foi criado “visando à implementação de política específica de inventário,
referenciamento e valorização desse patrimônio”. (IPHAN, 2000, p.3).
É um programa de apoio e fomento que busca estabelecer parcerias com instituições dos governos federal, estaduais e municipais, universidades, organizações não governamentais, agências de desenvolvimento e organizações privadas ligadas à cultura e à pesquisa. (IPHAN 2015).
A promoção da inclusão social e a melhoria de vida dos detentores e
produtores da cultura imaterial são algumas das diretrizes do PNPI, sendo o objetivo
das mesmas a transmissão e a manutenção das manifestações culturais. A intenção
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é que os participantes de programas de salvaguarda da cultura ampliem seu acesso
aos benefícios gerados, favorecendo sua proteção e valorização. (IPHAN, 2015).
Inovar e valorizar a tradição são questões desafiadoras, sendo muitas vezes
antagônicas e complementares ao mesmo tempo: “[...] parecem emergir
sucessivamente na sociedade ao decorrer do tempo” (KRUCKEN, 2012, p. 6). A
disseminação do conhecimento sobre as culturas locais e suas potencialidades
emerge como possibilidade de valorização cultural, ressaltam Moraes e Cavalcante
(2012), o que amplia o desenvolvimento e a sustentabilidade nos âmbitos social e
cultural.
Com esse propósito surgem iniciativas públicas de fomento à cultura:
Diversos são os programas de apoio ao artesanato brasileiro, sobretudo nos âmbitos federal e estadual que, com maior ou menor grau de sucesso, têm oferecido suporte aos artesãos nos diferentes momentos do processo produtivo, incluindo também apoio à comercialização e, em menor grau, à divulgação. (KELLER et al., 2011, p. 13).
Pinho (2002) considera que muito se tem feito para o desenvolvimento do
setor, seja por meio de instituições públicas ou privadas, organizações não-
governamentais (ONGs) ou governos, cabendo ressaltar que importantes somas têm
sido investidas como fomento ao artesanato. Um exemplo é o Programa de
Artesanato do SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas, que surgiu em 1988 para atuar de forma sistêmica na atividade artesanal,
atingindo toda a cadeia produtiva.
Na década de 1990, outras instituições de fomento incorporaram a seus
planos de ação iniciativas voltadas ao setor artesanal. O Programa do Artesanato
Brasileiro (PAB) foi lançado no ano de 1991, na expectativa de ampliar o nível
cultural, social e econômico dos artesãos, aprimorando seus talentos do ponto de
vista pessoal e também dos produtos que geram. A intenção é promover o
artesanato no mercado, com enfoque no fortalecimento e no estímulo do
desenvolvimento da identidade local, afirmam Dornas e Moura (2011) e Aguiar e
Parente (2012).
O SEBRAE é um dos órgãos de abrangência nacional que fomenta o
desenvolvimento artesanal a partir de cursos e oficinas (BORGES, 2011). É do
SEBRAE o Termo de Referência do Artesanato, documento do ano de 2004 que
organiza e classifica as manifestações artesanais brasileiras. O termo foi elaborado
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a partir dos resultados do Programa de Artesanato do SEBRAE de 1999 a 2003,
seus cinco primeiros anos de atuação. (SEBRAE, 2010).
Segundo Johann (2010), as classificações determinadas no Termo de
Referência do Artesanato servem de base para outras instituições brasileiras de
fomento ao artesanato. A carência na unificação de conceitos, aplicações e
abordagens fez com que o programa não apresentasse continuidade. A falta de
integração das ações no âmbito dos 27 estados brasileiros mostrou-se como seu
maior ponto fraco. Porém, mesmo com essas peculiaridades, o Programa do
Artesanato desenvolvido pelo SEBRAE, somente nos seus cinco primeiros anos,
capacitou noventa mil artesãos nas oficinas e cursos que ofereceu. (BORGES, 2011;
JOHANN, 2010).
As ações voltadas ao artesanato visam à autonomia econômica dos grupos.
O propósito é que, após passarem por intervenções apoiadas pelas instituições de
fomento, esses grupos possam desenvolver a autossuficiência para lidar com o
mercado e aprimorar a gestão de processos e produtos. Esse tipo de iniciativa traz
aos grupos a melhoria da competitividade e a ampliação da inserção do artesanato
no mercado. (GUIMARÃES, 2014).
Para Murta (2002), somente uma comunidade voltada para a preservação de
seu patrimônio, fazendo do mesmo a base de seu desenvolvimento econômico,
pode enfrentar o turismo e suas demandas com autonomia. “Assim, a saída para a
preservação é capacitar a comunidade para assimilar e explorar, em seu favor, as
pressões do progresso e desenvolvimento”. (MURTA, 2002, p. 140).
Conforme a UNESCO (2003), os diálogos entre as comunidades podem ser
renovados pelos processos de globalização. Por outro lado, a intolerância, os riscos
de deterioração e desaparecimento do patrimônio cultural imaterial são gerados
pelos processos de globalização e transformação social, o que justifica o
desenvolvimento de meios para sua salvaguarda.
Em vista dessas considerações, cabe um aprofundamento nas questões de
globalização e consumo, conforme seção a seguir.
3.3 GLOBALIZAÇÃO E CONSUMO
Nas últimas décadas, o tema globalização tem sido abordado principalmente
relacionado à economia e ao desenvolvimento industrial. A globalização não é
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necessariamente um tema novo, mas vem se enquadrando cada vez mais na
atualidade, visto que suas características vêm ao encontro com o rumo do
desenvolvimento mundial. Em diversos momentos, o mundo se viu no caminho do
processo de globalização. (DOWBOR et al., 2002). A aceleração de processos e a
disseminação da comunicação são características da sociedade atual, que sofre
mudanças constantes e rápidas tanto nos padrões de consumo como no
comportamento, geradas pela globalização. (FREITAS et al., 2008).
A ideia do consumo pré-globalização determinava que um produto gerado em
determinado local era mais acessível do que outro produzido longe dali e
impulsionava para a concepção de que “o valor simbólico de consumir ‘o nosso’ era
sustentado por uma racionalidade econômica. Procurar bens e marcas estrangeiras
era um recurso de prestígio e às vezes uma opção por qualidade”. (CANCLINI,
2008, p. 31).
No início de seu processo histórico, o homem organizava o espaço, a vida social e a produção, segundo suas necessidades e anseios, utilizando técnicas que inventava para facilitar a manutenção de sua sobrevivência junto à natureza. (ONO, 2004, p. 57).
O surgimento da mecanização da produção em larga escala suplantou os
processos artesanais de produção e inseriu novas possibilidades produtivas e
matérias-primas. A perícia dos artífices foi substituída pelas máquinas, a Revolução
Industrial desencadeou um processo de transformação social, cultural e política,
anunciando uma nova era denominada modernidade. (FREITAS et al., 2008; MAZZA
et al., 2007).
As sociedades modernas são mutantes, em constantes transformações que
ocorrem de maneira rápida, contrastando com as sociedades tradicionais que se
baseavam nas atividades dos indivíduos como conjugação entre tempos, na
continuidade do passado no presente e futuro. (ONO, 2004). A individualidade foi o
fio condutor das sociedades modernas, quando a vivência comunitária foi substituída
pela fragmentação dos espaços urbanos. Além disso, a globalização impetrou a
cultura de massas, em que a homogeneização dos produtos promoveu uma
alienação cultural e produziu uma sociedade de consumo de bens padronizados.
(BUENO, 2006).
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Na época da modernidade ocorre um declínio das relações sociais que se
universalizam e se tecnificam de tal maneira que os valores construídos no âmbito
do mercado acabam por reger todas as relações sociais e que “[...] tendem a
predominar os fins e os valores constituídos no âmbito do mercado, da sociedade
vista como um vasto e complexo espaço de trocas”. (IANNI, 1999, p. 21).
A facilidade de abertura de mercado advinda da globalização fez com que o
consumo passasse do local ao global, não apenas pela disseminação de padrões,
mas pela economia gerada com a quebra de barreiras físicas. (CANCLINI, 2008).
A globalização supõe uma interação funcional de atividades econômicas e culturais dispersas, bens e serviços gerados por um sistema com muitos centros, no qual é mais importante a velocidade com que se percorre o mundo do que as posições geográficas a partir das quais está se agindo. (CANCLINI, 2008, p. 32).
Surge assim a massificação de produtos como objetos, roupas, móveis e, por
fim, do estilo de vida. O modo de viver torna-se um produto de desejo, um modelo
de sucesso a ser seguido, fomentando a homogeneização da sociedade (DOWBOR
et al., 2002). Porém, conforme Baudrillard (2008), nenhum produto consegue atingir
a totalidade de uma população, a não ser por fazer parte de um modelo superior, o
que corrobora com a concepção da massificação.
Uma das implicações da globalização é o surgimento de um mercado
mundial.
[...] onde a economia e a política neoliberalista generalizam as forças do mercado capitalista na esfera global, estabelecendo diretrizes a partir de polos dominantes de decisão, localizados nos Estados nacionais mais fortes e, em escala crescente, em empresas, corporações e conglomerados transnacionais. A estes passam a se subordinar os projetos e políticas nacionais, traçando no mundo uma nova configuração e alterando significativamente o próprio significado de Estado-nação, que se enfraquece, em termos de autonomia e poder de coerção, subordinando-se a uma dimensão “supranacional”, que comanda, à distância, as ações políticas e econômicas. (ONO, 2004, p. 56).
O impacto direto desta massificação proveniente da homogeneização é a
exacerbação da desigualdade. Motivada pelo consumo – em que alguns podem
consumir certos insumos a que a massa populacional não tem acesso – e também
motivada pelo desemprego, a desigualdade social provoca a falta de recursos para
consumir o básico necessário. Os países onde a produção é encerrada para migrar
para outros polos produtivos apresentam elevadas taxas de desemprego e,
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obviamente, de desigualdade (CANCLINI, 2008). Desta maneira, de acordo com
Kubrusly e Imbroisi (2011), produções paralelas às industriais surgem como
alternativas de subsistência (KUBRUSLY; IMBROISI, 2011).
A desterritorialização torna-se um fenômeno das sociedades modernas, em
que circulam mercadorias, objetos e pessoas em uma rede global de interconexões,
potencializando a globalização e as empresas capitalistas que se beneficiam desta
rede (ONO, 2004). “Um sapato ou tênis fabricado em longínquo país asiático fecha
empresas em Franca, SP, ou qualquer outro município do mundo”. (DOWBOR et al.,
2002, p. 10).
A internacionalização do capital é formada pela chamada “fábrica global”, que
intensifica a dispersão geográfica da produção, concretizando a globalização do
capitalismo. (IANNI, 1999).
A perda de território, decorrente da globalização, retira as características
reconhecíveis do lugar, desconstruindo a relação do produto com o seu local. A
massificação não se responsabiliza pelo lugar que constrói, sendo os lugares
simples bases de produção e que, de acordo com o que podem oferecer de
facilidades, podem ser deixados para trás em decorrência de outros mais atrativos.
“A mundialização da cultura traz em seu bojo uma territorialidade que já não mais se
vincula ao seu entorno físico”. (DOWBOR et al., 2002, p. 272).
Mesmo sendo desigual em diversas regiões do mundo, a expansão da
globalização cria uma ilusão de valores e padrões globais, sob a influência da
cultura ocidental, com foco principal nos Estados Unidos e na Europa. (ONO, 2004;
IANNI, 1999). O modelo global anulou a percepção de distância entre regiões, além
de modificar os conceitos de tempo e espaço e diluir as fronteiras territoriais.
(ZAVADIL et al., 2010). A partir das transformações ocorridas em decorrência do
processo de globalização, surgem conflitos e crises que alteram as referências e as
configurações nos âmbitos social, econômico e político. (CANCLINI, 2008).
Podem-se vislumbrar, basicamente, três possíveis consequências da globalização: 1) a desintegração de identidades particulares, em virtude de processos de padronização e homogeneização cultural; 2) o fortalecimento de identidades particulares, resistentes à padronização e à homogeneização; 3) o declínio de identidades particulares, com a emergência de identidades híbridas. Estes três movimentos são essencialmente dinâmicos, mutáveis, e poderão ocorrer paralelamente, variando em forma e intensidade, no tempo e no espaço, e de acordo com as características e contextos de cada indivíduo e sociedade. (ONO, 2004, p. 58).
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Pinho (2002) alerta que o processo de globalização trouxe consequências
danosas à prática artesanal. Souza (2010, p. 102) vai além, indicando formas na
tentativa de atenuar essas consequências: “as culturas locais têm que se tornar
resistentes o suficiente para poderem se alimentar dessas influências exteriores, e
não sucumbirem à sua força”, uma vez que, em um mundo globalizado, as
particularidades vêm se tornando pontos positivos em detrimento às fraquezas do
design global. Fato que pode ser observado principalmente na falta de
reconhecimento daqueles que buscam a identidade do lugar, por meio da aquisição
de objetos.
A globalização orquestrou um processo acelerado de transformações,
fazendo com que o sentimento de perda do passado se originasse, assim como o
desenraizamento. Portanto, surge a necessidade de os indivíduos retomarem seu
passado e sua identidade, buscando elementos que permitam uma reconstrução da
sua estrutura cultural. (FREIRE; PEREIRA, 2002).
[...] representações sociais são conjuntos de crenças e atitudes tomadas por um grupo e podem ser traduzidas em frases ou imagens; elas ajudam a organizar e definir a realidade e são importantes conectoras entre os indivíduos e seus mundos. (PEARCE; BUTLER, 2002, p. 64).
O artesanato é uma ferramenta de mapeamento territorial, de levantamento e
apresentação de manifestações locais e específicas. Manifesta a capacidade de
representar seu lugar de origem e de renovar suas tradições e seu território. “É uma
forma direta de expressão do particular, da necessidade do indivíduo, conforme a
sua percepção do mundo, a partir da sua origem”. (FREITAS; NICACIO, 2014;
KRUCKEN, 2012).
Importa se adaptar às características do artesanato para cultivá-lo, respeitar
seu ritmo, valorizar sua produção por meio do consumo e promoção, fazendo com
que suas particularidades humanas se tornem suas qualidades. (AGUIAR;
PARENTE, 2012).
Dada a importância do artesanato para a manutenção da cultura e
especificidade local, Krucken (2012, p. 4) evidencia “a necessidade de desenvolver
estratégias para proteger e valorizar os conhecimentos plurais e os recursos
naturais”. Na mesma linha de raciocínio, Borges (2011, p. 203) acrescenta que
“durante certo tempo se acreditou que a industrialização iria matar o artesanato, da
mesma forma que a globalização iria matar as expressões culturais locais”. Medo
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não se confirmou e o artesanato, mesmo em um cenário industrial, vem crescendo e
se tornando cada vez mais uma fonte de renda e transformação social.
A demanda por produtos artesanais que se diferem e se particularizam pela referência cultural é um fato recente perante a uniformização decorrente da industrialização e do processo de globalização. O produto artesanal passa a ocupar um espaço revelador de culturas materiais e imateriais. Não tem a pretensão de substituir o produto industrial, mas imprimir na sua produção aspectos particulares do humano, reveladores da sua origem, da diversidade cultural e do movimento do homem nos processos de transformação da cultura. (FREITAS et al., 2008, p. 3998).
Os produtos que carregam características culturais e locais estão sendo mais
valorizados pelos consumidores atuais, que buscam consumir objetos que se
individualizem dentro de uma massificação de artefatos, considerados universais e
globais. As características identitárias valorizam os produtos perante os
consumidores pela cultura que carregam, tornando-os competitivos e diferenciados
perante o mercado (ZAVADIL et al., 2010).
Bueno (2006) aponta para o surgimento de uma tendência que objetiva a
preservação da cultura e do ambiente, mesmo com as ameaças à cultura popular
advindas da globalização. O turismo tem um papel importante nessa revalorização,
servindo como apoio ao desenvolvimento econômico e social do patrimônio cultural.
Um dos veículos de desenvolvimento cultural são as festas populares, que carregam
em si uma carga identitária de códigos e simbolismos e que, devido ao turismo,
passam por um processo de recuperação e inovação.
O turismo atua como vetor de enriquecimento cultural e social dos povos, pois
age na conservação e valorização do patrimônio e do ambiente, influenciando não
só no âmbito dos visitantes, mas também dos residentes “[...] através da criação de
formas de lazer susceptíveis de responderem aos anseios individuais e coletivos”.
(ALEXANDRE; CORIOLANO, 2011, p. 324). Reconhecendo a conexão existente
entre a cultura, o turismo e os produtos oriundos desta atividade, o próximo capítulo
está destinado à abordagem de considerações sobre esses elementos.
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4 ASPECTOS DO TURISMO
A proposta deste capítulo é embasar aspectos do tema turismo, através da
apresentação de conceitos em sua associação com a cultura e dos produtos por ela
gerados.
A United Nations - UNESCO (2010) conceitua turismo como
um fenômeno social, cultural e econômico que implica o deslocamento de pessoas para países ou lugares fora do seu ambiente habitual para fins pessoais ou profissionais. Estas pessoas são chamadas visitantes (que podem ser turistas ou excursionistas; residentes ou não residentes) e o turismo tem a ver com as suas atividades, algumas das quais envolvem despesas turísticas3. (UNESCO, 2010, p. 1).
Nos tempos atuais, o turismo é um dos segmentos que assumiu o papel de
“dinamizador da economia em âmbito global”, tornando-se foco de estudos e
pesquisas de diversas áreas. (MARTINS, 2013, p. 43). Para a World Tourism
Organization - UNWTO (2014), o turismo é uma atividade em expansão e, nas
últimas seis décadas, vem se tornando um dos maiores setores econômicos em
crescimento no mundo.
O turismo atua como vetor de enriquecimento cultural e social dos povos, pois
procura a conservação e valorização do patrimônio e do ambiente, influenciando não
só no âmbito dos visitantes, mas também dos residentes “[...] através da criação de
formas de lazer susceptíveis de responderem aos anseios individuais e coletivos”.
(ALEXANDRE; CORIOLANO, 2011, p. 324). �
Segundo o Ministério do Turismo - MTUR (2013), o crescimento e a
consolidação do turismo, no Brasil, refletem na geração de empregos, no âmbito
econômico e no desenvolvimento social, além de ampliar a demanda de
investimentos em infraestrutura e valorizar a sustentabilidade através da
competitividade. Cabe ressaltar que o desempenho do turismo é valorado não só
pelo nível de atividade turística, mas também pelo tipo de turismo e a área
econômica onde reflete. (ALEXANDRE; CORIOLANO, 2011; MTUR, 2013).
Em um país como o Brasil, o turismo significa uma possibilidade de
desenvolvimento socioeconômico, oferecendo oportunidades e desafios para a
execução de ações em um território tão vasto e complexo, onde o respeito aos
���������������������������������������� �������������������3 Tradução livre da autora.
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costumes regionais, a inclusão social e a distribuição da riqueza são objetivos há
muito almejados (MTUR, 2013).�
Reconhecer o espaço regional e a segmentação do turismo, construído e implementado pelos próprios atores públicos e privados nas diversas regiões do país, constitui uma estratégia facilitadora do desenvolvimento territorial integrado. (MTUR, 2006, p. 10).�
De acordo com o MTUR (2013), importa que o planejamento para
investimento em turismo leve em conta toda a sociedade envolvida, para que a
obtenção de resultados seja efetiva. Cabe ressaltar a necessidade de ações
administrativas efetivas na ocupação turística, com avaliação de impactos, já que, ao
se tratar de características locais, socioculturais e econômicas particulares, no intuito
de prever os riscos que a atividade turística pode ocasionar aos ambientes onde se
desenvolve. (ALEXANDRE; CORIOLANO, 2011).
A associação do turismo com o patrimônio cultural, a hospitalidade do povo e
as belezas cênicas fez com que o turismo ganhasse destaque no cenário
socioeconômico brasileiro. Por esses parâmetros, o Estado procura investir em
Políticas de Turismo constituídas de programas e estratégias que possam
desenvolver o setor e preparar seus espaços para receber os turistas.
(ALEXANDRE; CORIOLANO, 2011).
Conforme a UNWTO (2015), uma das maiores motivações dos viajantes é a
riqueza das tradições. Os turistas que têm esse interesse buscam o envolvimento
com novas culturas por meio das artes cênicas, do artesanato, da culinária e dos
rituais locais. A interação cultural estimula o diálogo, promovendo a tolerância e a
paz.
O turismo cultural é um componente importante do turismo internacional no nosso mundo de hoje. Ele representa os movimentos de pessoas motivadas por propósitos culturais, como visitas de estudo, artes performáticas, festivais, eventos culturais, visitas a sítios e monumentos, bem como viagens de peregrinações. O turismo cultural é também sobre a imersão e fruição do estilo de vida do povo local, a área local e o que constitui a sua identidade e caráter4. (UNWTO, 2004, p.1).
O aprofundamento no turismo cultural, suas características e seus conceitos
serão apresentados na próxima seção.
���������������������������������������� �������������������4 Tradução livre da autora.
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4.1 TURISMO ASSOCIADO À CULTURA
O turismo e a cultura estão no centro das discussões atuais. O Turismo
Cultural aparece como possibilidade de articulação com o desenvolvimento
socioeconômico. Os aspectos da cultura, portanto, se estabelecem como
norteadores para o crescimento dos destinos turísticos. (BRANDÃO et al., 2012).
O Turismo Cultural compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura. (MTUR, 2006, p. 13).
Porém, para a atividade turística não bastam as belezas naturais de um
determinado local ou suas riquezas histórico-culturais. O que se faz necessário é a
garantia de que esses aspectos contribuam para melhor qualidade de vida dos
cidadãos que nela residem. Sendo assim, uma cidade só será boa para o turista se
for boa para os que nela residem. (LAGE; MILONE, 2000).
De modo geral, as iniciativas identificadas com o segmento de Turismo Cultural se caracterizam por fortalecer identidades culturais de um território, como um espaço físico, social e econômico, a singularidade histórica, em particular relacionada com a ocupação e formação étnica brasileira. Observamos que na prática o trabalho produz bens culturais, aprendizado sobre arte e história e promove a circulação desses bens singulares e com significados próprios do local. (MTUR, 2010a, p. 61).
Sendo considerado por Freire e Pereira (2002, p. 127) como “compatível e
comprometido com o fortalecimento da identidade, a preservação da memória e do
patrimônio cultural em lugares de destinação turística”, o Turismo Cultural reafirma
identidades culturais e tenta conciliar a tradição com a inovação, o erudito com o
popular, fomentando a criatividade do grupo social onde se desenvolve. (MTUR,
2010a).
Uma região turística é definida, por Alexandre e Coriolano (2011), como
espaço geográfico que, através de características que se assemelham e se
potencializam, podem ser articuladas, definindo um território a ser planejado e
gerido. Nesse planejamento e gestão, surge o apoio à valorização de identidades
culturais e o desenvolvimento sustentável, com a formulação e implementação de
projetos de salvaguarda de patrimônio. O turismo é uma ferramenta para a
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contribuição da revalorização do entorno local, nacional e natural de uma região.
(MTUR, 2010a).
De acordo com os resultados da pesquisa “Hábitos de Consumo do Turismo
do Brasileiro”, desenvolvida pelo Ministério do Turismo no ano de 2009, 13,2% dos
entrevistados têm como principal motivo da escolha do destino turístico a cultura
local. Já 33,9% preferem as belezas naturais como mote para suas viagens dentro
do Brasil. A principal atividade realizada em viagens no território brasileiro é a de
passeios para conhecer pontos turísticos, com 29,4%, contra 10,1% que preferem
fazer atividades culturais durante suas viagens. (MTUR, 2009).
Por conseguinte, uma viagem é definida a priori pela possibilidade oferecida
ao turista de desfrutar experiências nos âmbitos culturais, sociais e também naturais.
Sendo assim, o Estado é responsável pela gestão, pela preservação e valorização
do lugar como um todo, já que ao turista importa menos a estrutura privada, como
hospedagem, alimentação ou diversão, e mais a estrutura pública do lugar para
onde viaja. (ALEXANDRE; CORIOLANO, 2011).
Segundo o SEBRAE (2011), o interesse do turista, isto é, sua motivação e
estímulo para realização de uma viagem, as características intrínsecas do produto
turístico em questão e as formas de planejamento e estruturação do segmento são
algumas das perspectivas do turismo cultural. (SEBRAE, 2011). Segundo Alexandre
e Coriolano (2011, p. 326), o “pressuposto fundamental para o desenvolvimento do
turismo é o respeito à capacidade de suporte de seus recursos, considerando que
esses recursos são base para a conquista de visitantes”. Sendo assim, conforme o
MTUR (2010a, p. 11), há no desenvolvimento local a possibilidade de inserção de
atores sociais e econômicos como organizadores da oferta de produtos e destinos
visando o turismo local. Os indivíduos das comunidades tornam-se, assim, ativos na
construção e manutenção de destinos turísticos a partir da valorização do modo de
vida local, da cultura, da proteção do meio ambiente, possibilitando a sobrevivência
econômica na atividade turística.
A cultura está naquilo que é produzido pelo homem, seja por suas
necessidades materiais, utilitárias ou simbólicas seja na relação homem-natureza.
Os bens patrimoniais, materiais e imateriais são recursos usados no turismo cultural
para a geração e formatação de produtos. Sendo o patrimônio material composto de
bens pertencentes às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e
popular, monumentos naturais, sítios e paisagens, bens de interesse histórico e
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obras de arte, o patrimônio imaterial é feito de expressões, manifestações, rituais e
festas, representações, conhecimentos e técnicas, tradições que comunidades,
grupos e indivíduos recebem de seus ancestrais e passam a seus descendentes.
(SEBRAE, 2011).
As características culturais e históricas ligadas à memória local são atrativos
de um destino turístico e auxiliam na estruturação do produto turístico com foco no
território, em que o ideal de desenvolvimento fundamenta-se na sustentabilidade da
comunidade. O modelo turístico, em que a cultura e o modo de vida local são o mote
das visitações, promove o intercâmbio entre o turista e a comunidade, tornando a
atividade do turismo complementar àquelas desenvolvidas localmente. (MTUR,
2010a).
As expressões culturais acabam por aprofundar a participação da
comunidade, conforme palavras de Freire e Pereira (2002), de maneira a construir o
“sentido de lugar”, onde se perpetuam os valores e a história para as novas
gerações, preparando-a para as interações com o turismo.
[...] o turismo cultural deve ser visto pelos órgãos de preservação como um meio de arrecadar recursos para a manutenção de lugares e manifestações, bem como um instrumento de informação do público visitante. (GOODEY, 2002, p. 135).
Os impactos da interação entre o turista e os indivíduos das localidades
visitadas são manifestados no comportamento dos grupos sociais, nas artes e no
artesanato. Impactos que podem ser nocivos, degenerando a cultura local com
reflexo nas artes, no artesanato e na comercialização de cerimoniais e rituais locais,
mas também podem ser positivos, a partir da preservação advinda do próprio turista,
onde o mesmo fomenta o ressurgimento de atividades artesanais da população.
(ALEXANDRE; CORIOLANO, 2011).
O turista dos tempos atuais se preocupa com os impactos negativos trazidos
aos locais pela atividade turística, problemas socioambientais que atingem de
maneira direta as comunidades locais, diminuindo sua qualidade de vida e bem-
estar social. O turista passa a ser um ator ativo, exigindo do setor uma postura
sustentável, oposta aos modelos economicistas e mercadológicos de
desenvolvimento. (BRANDÃO et al., 2012).
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A oferta de produtos e serviços locais vem ao encontro da definição de
Turismo Cultural, em que as atividades turísticas são voltadas à cultura e à vivência
de elementos do patrimônio histórico e cultural, com foco na valorização e promoção
dos bens materiais e imateriais da cultura. (MTUR, 2010a).
Dentro do contexto de interesse da pesquisa, a seguir serão abordadas
visões sobre os produtos do turismo.
4.2 PRODUTOS DO TURISMO
Segundo Pearce e Butler (2002), o produto final do turismo é, acima de tudo,
a experiência vivida pelos indivíduos visitantes e depende de fatores diversos para
que aconteça. Deste modo, é importante que os produtos turísticos, diferentes de
produtos oriundos de sistemas industriais, tenham um vínculo com recursos culturais
e históricos locais. Os produtos que carregam atributos naturais ou culturais de um
local se tornam capazes de valorizar o produto turístico. Tornam-se alavancas do
produto turístico ao ressaltar seu diferencial, ampliando a sua competitividade.
(MTUR, 2011; PEARCE; BUTLER, 2002).
Desenvolvido pelo Ministério do Turismo, o Guia de Produtos Associados ao
Turismo - Caminhos do Fazer (2010) organiza os produtos associados ao turismo
em três categorias: �
Unidades Produtivas: engloba a produção de artesanato, agropecuária e agroindustrial típica de um destino turístico. �Manifestações e Grupos Culturais: envolve as mais importantes manifestações de música, dança, teatro, artes plásticas, literatura e folclore típicas dos destinos turísticos. �Culinária Típica Local: agrega os empreendimentos de alimentação que utilizam ingredientes tipicamente locais e apresentam pratos da culinária tradicional da região. (MTUR, 2010b). �
A associação do artesanato ao turismo pode ocorrer de diversas formas. Seja
na ambientação de hotéis ou na comercialização em pontos turísticos, os produtos
artesanais regionais podem evidenciar a identidade e a cultura local, de modo a
propiciar sua promoção pelo viés da sustentabilidade dos grupos produtivos, o que,
a longo prazo, viabiliza o artesanato como um novo setor econômico. (SEBRAE,
2010).
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A produção artesanal revela uma relação intrínseca com a tradição, a
identidade e o lugar onde é feito. Desta maneira, há um grande potencial na relação
do artesanato com o turismo, “por seu valor simbólico e cultural, gerando ganhos
para a comunidade que o produz e para o turista que além do produto artesanal
tangível tem a possibilidade de vivenciar uma experiência de aprendizagem”.
(BRANDÃO et al., 2012, p. 201).
O artesanato, como um produto cultural, está cada vez mais alcançando
posições significativas no mercado, pela conexão com os contextos culturais e
contemporâneos e também pela tradição intrínseca que carrega, impulsionando o
relançamento do local onde está inserido. Ao desenvolver um produto cultural
turístico, desenvolve-se também a economia da região em que se encontra.
(SOUZA, 2010; ALEXANDRE; CORIOLANO, 2011).
Ao se desenvolver o setor, o fomento à profissionalização acaba sendo
necessária, devido à possibilidade de geração de oportunidades. Promovendo a
cultura, fica ampliada a atratividade do destino turístico e aparece a necessidade de
projetos e programas, tanto públicos como privados, com foco na diversidade da
oferta turística. O aumento de “atrativos e possibilidades de compras, experiências e
entretenimento possibilita que o turista desfrute de maneira mais completa daquilo
que a cultura local tem a oferecer em todo o seu potencial”. (MARTINS, 2013, p. 46).
Goodey (2002) argumenta em contraponto, o aumento do fluxo turístico pode
“matar” os lugares; o patrimônio cultural local pode sofrer degradação e influências
nocivas às tradições locais. A importância da valorização desse patrimônio, através
de matérias-primas e mão-de-obra, serve para promover a sustentabilidade dos
grupos sociais locais, já que a utilização de produtos e a inserção de pessoas
advindas de outras regiões na economia local podem causar perda econômica para
a região. (ALEXANDRE; CORIOLANO, 2011).
Sendo assim, um produto cultural precisa informar seus atributos para que,
além de apresentar alta qualidade de produção, seja percebido como um produto
identitário para aqueles que buscam essas características na produção artesanal. O
design serve como alternativa para a contribuição no contexto cultural e artesanal,
para descortinar a história que existe por trás dos produtos. (KRUCKEN, 2009).
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Pinho (2002) entende a união do mercado de turismo e do produto artesanal
como oportuna. Ressalta, porém, que é preciso uma abordagem inovadora, que não
coloque o artesão na posição de refém das produções massificadas e
descaracterizadas culturalmente.
Ao planejar a intervenção do designer no âmbito artesanal, alerta Souza
(2010), importa equacionar o público alvo, mercado de atuação e satisfação do
artesão. Uma possibilidade é a inserção inicial dos produtos no mercado local, mais
seguro em relação a outros mercados para o produtor, por estar o mesmo distante
desses mercados e inserido na própria cultura.
Considera-se que o aprofundamento no entendimento da união entre design e
artesanato é necessário para a construção do conhecimento no tema da pesquisa
em questão. Dessa forma, a seguir serão apresentadas definições e intersecções
sobre a temática.
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5 DESIGN E ARTESANATO
Embora o “ensino do design tenha surgido de uma tradição artesanal”,
(BONSIEPE, 2012, p. 35), no Brasil a institucionalização do design foi feita a partir
da ruptura com o fazer manual e a ancestralidade cultural nele contida. (BORGES,
2011).
Somente nos dias atuais a diluição de barreiras entre as áreas de
conhecimento afins por natureza, como o design e o artesanato, pode permitir
intervenções na realidade, sem que os atores se distanciem dela (BORGES, 2011;
BONSIEPE, 2012). Para Johann (2010), o design aparece no cenário como uma
possibilidade de atuação no desenvolvimento social, incrementando projetos e
criando produtos que possibilitem a inserção dos grupos sociais e matérias primas
locais no sistema produtivo local.
Pinho (2002, p. 169) alerta para a possibilidade de que “[...] o produto
artesanal deveria ser o legítimo representante e a memória material de uma
comunidade, revelada através de traços, formas, funções e cores”. A relação direta
do artesanato com a cultura gera a necessidade de ampliar a inserção do produto
artesanal no âmbito do mercado atual que se mostra voltado à valorização cultural.
(FREITAS et al., 2008).
O estudo do artesanato como elemento da cultura une o processo produtivo
dominado pelo artesão e os conhecimentos técnicos sobre as matérias-primas à
utilização de ícones e símbolos representativos para determinada comunidade.
(FELGUEIRAS, 2006). Conforme informações de Souza (2010), a visão do
artesanato, como ícone de retrocesso perante os produtos industrializados, vem
sendo suplantada pelas campanhas de desenvolvimento e pelas intervenções bem
sucedidas de designers em grupos de artesãos.
A originalidade, a qualidade, o valor estético e cultural dos objetos elaborados peça a peça pela mão do homem são marcas e registros que mantêm vivas as tradições e despertam, cada vez mais, o interesse e a admiração nos tempos atuais. (AGUIAR; PARENTE, 2012, p. 55).
Uma gama considerável de informações culturais pode ser encontrada no
artesanato. O maior desafio de uma confluência entre designers e artesãos é tornar
a seleção de signos e elementos a serem reconstruídos através dessa união
reconhecíveis, tanto para o produtor quanto para o consumidor. O resultado, quando
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obtido, enfatiza a importância do patrimônio cultural e agrega valor à produção
artesanal local. (MAZZA et al., 2007; KRUCKEN, 2009).
Dentro desta intervenção, menciona Krucken (2012), o designer tem como
desafio a inovação da tradição, em que o objetivo é traduzir o saber fazer artesanal
para uma linguagem contemporânea, valorizando e promovendo o artesanato. A
partir de uma visão antropológica, Freitas et al. (2008) confirma que acontece a
redefinição das identidades e dos padrões característicos de cada território,
valorizando a memória e a técnica dos ofícios, conectados à história e à cultura
locais. O design aparece, então, como uma disciplina agregadora, unindo valor
cultural aos produtos artesanais e ampliando a sustentabilidade dos indivíduos
produtores. (JOHANN, 2010).
Ono (2004) considera o design, através de uma abordagem cultural, um
catalisador de interrelações tanto de grupos sociais com contextos nos quais se
inserem quanto no significado dos artefatos para os indivíduos que os desenvolvem,
sendo de importância fundamental o estreitamento e a sintonia entre o design e a
cultura para a sociedade.
O designer assume uma postura mais ampla e antropológica, condizente com
o cenário social pós-moderno, pois se responsabiliza não apenas pelo projeto de
produtos, mas também pela otimização e construção de processos do fazer
artesanal, em que o humano é parte da criação e execução de tarefas. Importa que
esse humano – artesão - se aproprie do processo produtivo, de maneira que a
produção gerada por ele faça sentido, gerando bem estar e comprometimento.
(FREITAS et al., 2008).
De acordo com Felgueiras (2006), se trata de uma forma de manter vivas as
técnicas antigas e os ofícios tradicionais, não apenas na intenção de promover e
divulgar, mas de manter a cultura e de respeitar as tradições. Ao designer cabe
desenvolver sua sensibilidade para captar a expressão cultural do artesão,
investigando os processos de produção, os valores técnicos e culturais do ambiente
e as experiências e os conhecimentos individuais. Por conseguinte, torna-se um
agente de renovação de cultura a partir do desenvolvimento de produtos artesanais
que carregam diferenciais competitivos, sendo o testemunho cultural um dos mais
importantes no cenário atual. (JOHANN, 2010).
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O designer atua como um facilitador, a fim de contribuir por meio das
intervenções de tradução das culturas, potencializando o artesanato e suas técnicas,
no sentido de salvaguardar a cultura. (FREITAS et al., 2008).
Para que esta intervenção aconteça de modo a favorecer os envolvidos, é
necessária a apresentação de aspectos do artesanato, que são abordados a seguir.
5.1 ASPECTOS DO ARTESANATO
Para Aguiar e Parente (2012, p. 27), “a história do artesanato é a própria
história da civilização”, dada a importância da produção manual para a sobrevivência
do homem.
A fabricação de objetos artesanais é citada, em diversas épocas e culturas,
revelando sua antiguidade, sendo até mesmo entendida como precursora das
atividades industriais estandardizadas atuais, já que o processo de fabricação
artesanal pode ser comparado a uma pequena indústria especializada. O diferencial
primordial está na individualização e humanização do processo artesanal, feito com
as mãos, quando o artesão imprime seu cunho pessoal, utilizando meios tradicionais
de produção aliados à sua habilidade técnica, qualidade e originalidade.
(FELGUEIRAS, 2006).
“O artesanato, na verdade, é o resultado do convívio do homem com a sua
cultura autóctone, suas tradições, crendices e religiosidades, transformadas, por sua
vez, em cultura material espontânea e popular”. (MORAES, 2010, p. 70).
O artesanato, seja através de seu processo de produção seja por meio dos
produtos gerados, não pode ser considerado uma simples atividade manual,
pontuam Freitas e Nicacio (2014). Ele traduz a essência do artesão, um artífice que,
com sua habilidade, encontra soluções para seus problemas e necessidades com
destreza e criatividade fora dos padrões convencionais de produção. Assim, o
produto artesanal vem encontrando espaço no cenário globalizado atual, pois
carrega em si aspectos particulares do artesão, sua cultura e identidade
Talvez, por este motivo, o artesanato seja um produto tão interessante. Pode-se perceber nitidamente a mão do homem, presente no processo que resultou em sua forma e em suas características. Por trás do artesanato existe “tempo humano”, coisa rara no século XXI. O tempo humano está presente “no pensar” e “no fazer”, que provoca também uma apreciação mais profunda “do usar”. Ou seja, o artesanato rememora um ritual do fazer, e estimula um ritual de fruição. (KRUCKEN, 2012, p. 1).
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De acordo com Keller et al. (2011), no Brasil as raízes do artesanato
remontam aos tempos das corporações de ofícios, órgãos reguladores dos modos
de produzir da época das colônias. Atualmente a atividade artesanal representa uma
parcela significativa da economia que, além de absorver mão-de-obra, é
mantenedora da cultura, utilizando técnicas passadas de geração para geração,
expressando, assim, o saber popular. Cabe ressaltar, conforme Johann (2010), que
a existência do artesanato nos dias atuais não se refere somente a essa conexão
com a história, mas também à sustentabilidade de comunidades, sendo responsável
pela geração de renda de muitas famílias.
O artesanato tem uma representatividade significativa na economia brasileira,
caracterizado pela capacidade de atratividade cultural, pela possibilidade de geração
de renda, pela redução de desigualdades e também pelo desenvolvimento dos
territórios. Por ser uma ocupação importante no desenvolvimento social, uma
estratégia de ampliação das atividades artesanais é a integração com outras cadeias
produtivas como o turismo. (BRANDÃO et al., 2012).
Sendo assim, surge a necessidade de organização da produção artesanal, de
modo a colaborar com o desenvolvimento do setor. Visando a facilitação de ações
como planejamento, execução e monitoramento de projetos, voltadas para cada
categoria artesanal, foi elaborado o Termo de Referência do Artesanato, dentro do
Programa SEBRAE de Artesanato. O documento classifica o artesanato em relação
aos processos produtivos, usos, organização de trabalho e matérias-primas
utilizadas. Essa organização apresenta a diversidade da área e as possibilidades de
percepção do setor. (SEBRAE, 2010).
O Quadro 3 apresenta as diversas tipologias de processos encontrados na
produção manual.
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Quadro 3 – Categorias de Processos Produtivos
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Fonte: SEBRAE (2010).
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No Quadro 3 é possível perceber as diferenças nos processos a partir dos
produtos gerados, de acordo com intenção de produção, escala, habilidade e
conexão com aspectos socioculturais. Conforme Pinho (2002, p. 180), “o
desenvolvimento do produto artesanal se dá num processo contínuo de adaptação e
construção e, principalmente, por meio da troca e da participação ativa dos artesãos
envolvidos”.
Outra possibilidade de categorização parte da organização e estruturação dos
indivíduos produtores, conforme apresentado no Quadro 4.
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Quadro 4 – Categorias de Organização de Trabalho
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Fonte: SEBRAE (2010).
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Percebe-se no Quadro 4 a gama de arranjos produtivos que vão desde as
formas de trabalho individual até a organização em grupos de artesãos constituídos
de diferentes maneiras. Essa classificação contribui, por exemplo, para uma maior
assertividade das ações de fomento e apoio ao artesanato, uma vez que propicia a
captação de recursos de acordo com a organização dos artesãos.
Considerando as classificações apresentadas com base no Termo de
Referência do Artesanato (SEBRAE, 2010), é possível organizar as manifestações
artesanais e perceber sua importância social no direcionamento das formas de
atuação ideais para cada caso.
A decisão sobre quais variáveis serão levadas em conta no momento de se estabelecer uma política de apoio e desenvolvimento é uma questão a ser discutida amplamente, tanto no âmbito do poder público como entre os próprios interessados: associações, cooperativas, núcleos, entidades e artesãos. (AGUIAR; PARENTE, 2012, p. 37).
Sendo assim, é possível oferecer melhores condições de vida para
comunidades diversas, onde o artesanato serve “como estímulo econômico gerador
de capacitação de mão-de-obra e agente de resgate dos traços identitários das
culturas dessas comunidades”. (DORNAS MOURA, 2011, p. 34).
A atividade artesanal é baseada na riqueza cultural, sendo uma produção
mutante que varia de acordo com o território onde está inserida, adaptando-se às
alterações e modificações do tempo. Tem a função de perpetuar os saberes e o
modo de vida dos indivíduos, além de atuar no âmbito social e ser considerada uma
atividade econômica. (DORNAS MOURA, 2011; BRANDÃO et al., 2012).
Segundo Martins (2013), o artesanato está entre os produtos e serviços da
cadeia produtiva do turismo, sendo uma atividade importante pelo seu valor
sociocultural e econômico no âmbito da comunidade. Os produtos identificam a
cultura local, atuando como elos entre o território onde são produzidos e o resto do
mundo, sendo adquiridos pelos turistas devido a seu significado, por lembrarem um
lugar e uma experiência vivida. São os produtos artesanais que, em grande parte
das comunidades com vocação e potencial turístico, sustentam grupos sociais e
estimulam o desenvolvimento local. (JOHANN, 2010).
Portanto, é o conhecimento e o reconhecimento da identidade cultural, dos ícones e dos patrimônios histórico-culturais contidos no município que resultarão na preservação e na representação dos mesmos, por meio do artesanato e dos pequenos produtores. (MORAES; CAVALCANTE, 2012, p. 198).
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Os produtos artesanais que se relacionam com o lugar onde são produzidos
baseiam-se nos valores construídos e comunicados, em um trânsito intercultural,
ampliando a percepção da territorialidade, característica fundamental para sua a
construção. No Brasil, o artesanato é uma das mais expressivas manifestações da
cultura. Importa estimular a atividade artesanal, suas características e significados,
sem desrespeitar nem descaracterizar o artesão e o artesanato. (KELLER et al.,
2011; BRANDÃO et al., 2012).
Através de uma visão antropológica expressa por Martins (2013), um grupo
social se sente pertencente a um lugar ou território ao se relacionar diretamente com
a sua identidade cultural. Essa identidade é composta de objetos, adornos,
vestimentas, culinária, música, modos de vida, rituais e quaisquer outros elementos
capazes de distinguir um grupo de indivíduos dos demais.
No entendimento de Pinho (2002),
Uma das importantes estratégias de resgate da identidade do produto artesanal visa a integrar o cidadão artesão ao seu objeto de criação, revitalizando o produto artesanal através de costumes, hábitos e usos, permitindo que ele imprima na forma, no uso e na intenção, traços identificáveis de sua cultura original. (PINHO, 2002, p. 172).
Sendo assim, conforme Franzato (2009, p. 1), ao atuar sobre um território
onde está inserida, uma comunidade desenvolve ações territoriais que podem ser
passivas ou ativas, de acordo com a atividade dos grupos sociais, em relação ao
cenário em que estão inseridos. Essa ação territorial pode ser fomentada pela
inserção do design nesses mesmos grupos sociais. Ao desenvolver o artesanato
identitário em prol de uma produção voltada para a sustentabilidade dos grupos, o
papel do designer pode passar a ser de mantenedor do patrimônio e do território e
estimulador do turismo (SOUZA, 2010; KRUCKEN, 2009).
A partir dos conceitos apresentados anteriormente, cabe um maior
aprofundamento nos aspectos do design, que está apresentado na próxima seção.
5.2 ASPECTOS DO DESIGN
Este capítulo aborda questões históricas do design e a sua relevância como
interlocutor social diante de problemas do mundo complexo.
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Na época da Revolução Industrial, a busca por um estilo internacional,
evidencia Cardoso (2008), fez com que as soluções de design convergissem para
resultados semelhantes, a fim de unificar o gosto e ampliar a racionalização de
processos. A tentativa de ampliação de acesso foi bem vinda, já que o fim da
Segunda Guerra Mundial trouxe a pobreza para parcela considerável da população.
Antes mesmo do início da Primeira Guerra Mundial surgem relatos de movimentos
para reforma do gosto alheio, tentativas de imposição de estilos arquitetônicos que
refletiam para objetos utilitários da época.
Aqui se constitui o marco histórico para o conceito atual de design associado,
primordialmente, ao projeto e à indústria. O advento da divisão do trabalho separou
a atividade do designer em criação e confecção, antes integradas na atuação do
artesão. Fata ocorrido a partir do momento em que a produção tradicional,
denominada manufatura, passou à produção industrial baseada nas máquinas, a
maquinofatura. (FELGUEIRAS, 2006).
A criação da Bauhaus e posteriormente da Escola de Ulm deu origem à
padronização de estilos, que se difundiu e se estabeleceu no âmbito do design
(SOUZA, 1998). Um dos maiores exemplos seguidos na época foi o da empresa
alemã Braun, em que o designer Dieter Rams aplicava o funcionalismo em seus
projetos. A Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) foi criada no Rio de
Janeiro calcada nos preceitos de Ulm e exemplos de Rams. (CARDOSO, 2008).
Borges (2011) enfatiza que, a aceitação no Brasil do estilo internacional, fez
com que a cultura nacional fosse deixada de lado, representando um retrocesso em
detrimento do novo que vinha de fora. A sobreposição da máquina sobre o fazer
manual foi favorecida pela aceitação do conceito de que as tradições manuais eram
ícones de retrocesso em um cenário em que as máquinas levariam o país a um
patamar de desenvolvimento e pujança. Diferente dos países escandinavos e da
Itália, em que os empreendimentos industriais descenderam das tradições manuais,
no Brasil a cultura e a tradição foram deixadas de lado em prol de um
desenvolvimento social espelhado no exemplo alemão. Assim, vários países da
América Latina passaram pelo mesmo processo de negação do fazer manual,
principalmente quando ligado à tradição cultural. (BORGES, 2011).
Bordieu (1994), ao exemplificar a dominação de uma classe perante a outra,
perpassa o que ocorreu durante séculos no território latino americano: a classe
operária permaneceu submissa à classe dominante, principalmente no que diz
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respeito à cultura e à língua, deixando-se dominar pela imposição de autoridades
nos âmbitos políticos e sociais.
É possível compreender que instâncias tais como a ciência, a cultura e em certa medida também o Design, foram organizadas para executar tal projeto de disseminação da ideia de unidade identitária da nação, com consequências diretas para o ensino e prática do Design no Brasil. (OLIVEIRA, 2011, p. 3)
No decorrer dos anos a atividade do designer adquiriu novas possibilidades
de atuação, passando de projetista de produtos - a serviço do modelo industrial -
para construtor de discursos, envolvido com o grupo social onde está inserido e
articulador de transformações sociais. (KRIPPENDORFF, 2006). Sobre o
engajamento social por parte dos designers, Del Gaudio et al. (2014) discorrem que
[...] as suas origens encontram-se na década de 1970, quando a disseminação da conscientização sobre os problemas ambientais e sociais de amplo alcance e do seu agravamento em diversas áreas do planeta provocaram em alguns designers questionamentos sobre sua responsabilidade e papel social. (DEL GAUDIO et al, 2014, p. 3).
Para Felgueiras (2006) e Krucken (2012), o design surge como fenômeno
social fazendo parte de um conjunto de fatores sociais e culturais e não mais apenas
como uma atividade isolada ou industrial. Sendo assim, torna-se uma atividade de
mediação “entre dimensões imateriais (imagens e ideias) e materiais (artefatos
físicos)”. (KRUCKEN, 2012, p. 4).
Essa abordagem do design vai ao encontro das palavras de Cardoso (2012),
quando apresenta a importância do design como uma disciplina capaz de “construir
pontes e forjar relações num mundo cada vez mais esfacelado pela especialização e
fragmentação de saberes”. (CARDOSO, 2012, p. 234). O designer, ao atuar na área
social, encontra contextos e culturas diferentes das suas, tratando-se de hábitos
da formação dos colaboradores e dos participantes – e das consequentes possibilidades de entendimento dos conceitos apresentados – das dinâmicas de vidas locais e das que regulam os relacionamentos, as colaborações, as atividades etc. (DEL GAUDIO et al., 2014, p. 2).
Para Martins (2013) e Ono (2004), as contribuições do design visam atingir o
ser humano ético, social, cultural e ambiental, a partir da estruturação de redes que
possibilitem o desenvolvimento social. Com o fomento à criatividade e ao
desenvolvimento de processos que priorizam a sustentabilidade, a partir do resgate
66
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da identidade e da cidadania, o design surge como fator para a inovação social,
sendo a prática profissional do design importante para as relações simbólicas e as
práticas dos indivíduos na sociedade.
5.3 DESIGN TERRITORIAL
Para Raffestin (1993), o território é composto pelo espaço. Ao se apropriar do
espaço, o indivíduo o territorializa. Ao mesmo tempo, essa territorialidade constitui a
parte mais cultural do território, por ser um reflexo da ação de atores em um
determinado espaço geográfico.
A territorialidade se inscreve no Quadro da produção, da troca e do consumo das coisas. Conceber a territorialidade como uma simples ligação com o espaço seria fazer renascer um determinismo sem interesse. É sempre uma relação, mesmo que diferenciada, com os outros atores. Toda produção do sistema territorial determina ou condiciona uma consumação deste. (RAFFESTIN, 1993, p. 161).
Em contrapartida, Sack (1986; apud DEMATTEIS, 2003, p. 3) define
territorialidade "como a tentativa de um indivíduo ou grupo de influenciar ou controlar
pessoas, fenômenos e relações delimitando e exercer controle sobre uma área
geográfica. Esta área será chamada de território".
Porém, as culturas locais são um reflexo do cotidiano dos grupos sociais e
refletem a sua identidade. Sendo assim, surge uma presença maciça de objetos
artesanais, como relato da particularidade de grupos e locais. (KELLER et al., 2011).
As comunidades locais, na intenção de formar sua individualidade, forçam o
desenvolvimento territorial como um contraponto à cultura global institucionalizada
pela globalização. (FRANZATO, 2009). De acordo com Farrel (2001; apud
FRANZATO, 2009), a globalização obriga as comunidades e indivíduos a mostrarem
seu valor perante as outras, posicionamento que Dematteis (2003) reforça:
[...] para melhorar o ambiente, e a sociedade, para produzir cultura e desenvolvimento econômico, deve-se atuar na territorialidade, compreendida como uma relação dinâmica entre componentes sociais (economia, cultura, instituições, poderes) e componentes materiais e imateriais, vivos e inertes, próprios do território onde se habita, se vive e se produz. (DEMATTEIS, 2003, p. 2).
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Do ponto de vista das potencialidades locais de um determinado território, o
design pode contribuir no favorecimento de recursos, na promoção da integração
das comunidades e das diversidades, na ativação dos diálogos, redes locais e
globais, infere Krucken (2012). Ono (2004) também corrobora, acentuando que pode
atuar como agente emancipador, tornando-se a voz das comunidades, traduzindo
seus anseios, necessidades e características no desenvolvimento de processos e
produtos.
Por ser uma atividade profissional que desenvolve produtos diante de necessidades humanas, constatamos que o Design tem uma grande responsabilidade em construir conhecimentos junto a esses micro-empreendimentos sociais, solidários e sustentáveis, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, preservação dos recursos naturais e preservação e valorização do patrimônio material e imaterial. (MORAES; CAVALCANTE, 2012, p. 201).
Segundo Oliveira (2011) e Franzato (2009), é papel do design buscar a
maturidade, equacionando fatores estéticos, funcionais e simbólicos, produzindo
cultura e identidade, visando desenvolver projetos territoriais, podendo já conceber
uma área denominada design territorial. O design territorial tem como escopo a
valorização dos recursos capitais territoriais, que carregam a sua identidade e as
especificidades locais.
Franzato (2009) explica que design territorial é disciplina que articula uma
série de competências técnicas, como o design industrial, o design gráfico, o design
de serviços e o design de bens culturais, beneficiando-se da experiência das
mesmas para atingir resultados. O Design Territorial contribui para a valorização e a
promoção dos produtos locais, atuando para desenvolver processos e produtos
ligados ao local onde foram desenvolvidos. Constituem ações em prol da autonomia
e da sustentabilidade local, onde a ocupação de mão-de-obra e a utilização dos
recursos locais auxiliam na manutenção do território. (GUIMARÃES, 2014).
Franzato (2009) salienta, ainda, que projeto territorial pode ser definido como:
O processo criativo concebido para determinar uma série de ações territoriais intencionalmente orientadas para um objetivo, com base em recursos limitados e, consequentemente ordenadas, onde os recursos limitados são parte do capital territorial e o objetivo é genericamente o desenvolvimento local. (FRANZATO, 2009b, p. 3).
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Sublinha-se que o ponto de partida para a abordagem projetual com vistas na
competição entre territórios é o capital territorial, que se configura como base de
desenvolvimento dos projetos territoriais. (FRANZATO, 2009, p. 21). Franzato (2009)
caracteriza três peculiaridades que fazem parte do projeto territorial:
a) Multiautoral - o projeto territorial resulta de um envolvimento de diversos
autores (administração e instituições locais, organizações públicas e privadas,
imprensa, pesquisadores, profissionais, cidadãos, etc.). Os processos
contemporâneos de criação e inovação são cada vez mais o resultado de uma
inteligência coletiva. (LÉVY, 1995 apud FRANZATO, 2009).
b) Interativo - o projeto territorial é um processo de interação real com o
território. Dada à complexidade, à sistematização e à organização do material
territorial, o momento do projeto é dificilmente separável do momento da sua
implementação e os projetistas são forçados a um intenso diálogo com o objeto
projetual, que torna o território uma espécie de coautor.
c) Multidimensional e multidisciplinar - o projeto territorial considera uma
multiplicidade de dimensões (ambiental, econômica, social e cultural), cada uma de
importância fundamental, que não podem afrontar-se com as ferramentas
disponíveis para uma única disciplina. Segundo Celaschi (2007; apud FRANZATO,
2009), no projeto territorial, portanto, contribuem diferentes disciplinas, as quais
podem concentrar-se sobre uma das dimensões ou podem ocupar-se da sua
integração. Voltando para a definição de projeto territorial, essa variedade de
composição de autores tem um objetivo bem definido: o desenvolvimento do
território. Um desenvolvimento que, para ser efetivo e manter-se vantajoso em um
longo período, necessariamente será sustentável (do ponto de vista ambiental, mas
também econômico, social e cultural). (FRANZATO, 2009, p. 22).
Sendo assim, o projeto territorial tem como objetivo a valorização do millieu
local5 e como resultado produtos territoriais de diversas naturezas, como ações de
revitalização das atividades produtivas e comerciais tradicionais do território; a
organização de eventos temporários para a valorização dos bens culturais (materiais
e imateriais) do território; produtos e serviços para a fruição do território por parte ���������������������������������������� �������������������5 Millieu local: “refere-se a um conjunto de condições para o desenvolvimento do contexto específico territorial na qual opera uma determinada rede local de indivíduos, bem como entre estes percebida”. (DEMATTEIS, 2003, p. 4). Ou, ainda: “aquela parte do capital territorial, seja de natureza ambiental, econômica ou social, que representa uma idiossincrasia e identidade cultural do território”. (FRANZATO, 2009, p. 26).
69
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dos cidadãos e turistas e produtos para a comunicação do território. (FRANZATO,
2009, p. 27).
Para Krucken (2009, p. 98), não há apenas uma receita para o
desenvolvimento de projetos com foco na valorização de produtos locais voltados ao
território, porém é possível enumerar oito ações essenciais, sob a perspectiva do
design:
1) Reconhecer as qualidades do produto e do território - compreender a
associação do produto com o território, sua história e a comunidade de
origem.
2) Ativar as competências situadas no território - integrar atores, investindo
no desenvolvimento de uma visão compartilhada entre empresários,
instituições e governos.
3) Comunicar o produto e o território - informar as características particulares
de forma clara aos consumidores, considerar o mercado e o usuário
mantendo a autenticidade do produto.
4) Proteger a identidade local e o patrimônio material e imaterial - fortalecer a
identidade do território por meio do resguardo da sua herança cultural seja
por meio de processos tradicionais de produção ou pela sua própria
história.
5) Apoiar a produção local - valorizar o saber-fazer tradicional em projetos
que visem à inovação sem descaracterizar a identidade do produto e a sua
relação com o território.
6) Promover sistemas de produção e de consumo sustentáveis - sensibilizar
produtores e governantes a respeito do uso sustentável dos recursos a fim
de garantir a qualidade de vida da comunidade e fortalecer a diferenciação
de produtos com base em identidade cultural.
7) Desenvolver novos produtos e serviços que respeitem a vocação e
valorizem o território - identificar a vocação do território, diversificando e
integrando produtos e serviços baseados nas competências locais.
8) Consolidar redes no território - desenvolver relações mutualmente
benéficas entre agentes políticos e comunidade produtora, integrando
competitivamente o território.
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Segundo a autora, ao questionar projetos desenvolvidos em territórios,
observando estas oito características, é possível mapear oportunidades e
dificuldades, orientando “ações e estratégias de inovação que potencializem o
desenvolvimento econômico e social, respeitando a cultura e as tradições locais”.
(KRUCKEN, 2009, p.107).
Conforme palavras de Zavadil et al. (2010), importa que ocorra o despertar
para a individualização das culturas, momento em que o design não mais atuaria
para uma unicidade estilística, mas sim valorizaria as características e símbolos que
representam os produtos da cultura nacional. O design atuaria então como mediador
entre o global e o local, entre a tradição e a tecnologia, capacitando os indivíduos
para o desenvolvimento de artefatos com valor identitário local.
De acordo com a abordagem desta seção, a seguir serão apresentadas
intersecções entre design e artesanato e as possibilidades desta união.
5.4 INTERSECÇÕES ENTRE DESIGN E ARTESANATO
Vários autores, entre eles Souza (2010), Giuliano (2014) e Freitas e Nicacio
(2014) corroboram na direção de que a interação entre design e artesanato surge da
necessidade de concepção de produtos com valores identitários que reflitam uma
determinada cultura e um modo de vida, mas que também criem condições de
sustentabilidade aos artesãos produtores. Essa união contribui para o
desenvolvimento de novos significados, baseados nas referências culturais, visando
a revitalização dos produtos locais.
Conhecer a história e reconhecer a identidade de um lugar são ações
importantes para a construção da iconografia de um território, tendo como referência
o patrimônio histórico-cultural e as manifestações artísticas. A união de cultura
imaterial, cultura material e território conduziria o resgate de características
específicas de determinados grupos. (KRUCKEN, 2009; MORAES; CAVALCANTE,
2012).
Nesse âmbito, o design atuaria como impulsionador da inovação, contribuindo
para a seleção de potencialidades do território e fomentando a valorização da
comunidade local a partir de projetos de desenvolvimento de redes. Com base nas
tradições e referências locais, é possível fortalecê-las através da atualização da
linguagem, aproximando-a da contemporaneidade. (KRUCKEN, 2012). Para Souza
71
�
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(2010), não se trata apenas de uma atividade projetual de desenvolvimento de uma
linha de produtos coordenada pelo designer, mas de uma comunhão da tradição
com o mercado contemporâneo, do patrimônio com a inovação, fazendo com que o
artesanato possibilite a sustentabilidade da comunidade local. (SOUZA, 2010).
Bonsiepe (2012) apresenta os diversos enfoques da união do design e
artesanato, conforme, abaixo.
Quadro 5 – Enfoques da união do design com o artesanato
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Fonte: BONSIEPE (2012, p.63)
Os enfoques apresentados por Bonsiepe (2012) e evidenciados no Quadro 5,
apontam para a união do design com o artesanato e podem aparecer de forma
simples ou agrupados, dependendo da intenção do designer e dos objetivos a serem
alcançados.
Os projetos que favorecem a intervenção do designer junto ao artesão podem
priorizar sua autonomia e sua satisfação com os produtos criados, envolvendo-o na
concepção e desenvolvimento dos produtos. Ao tornar-se pertencente do projeto, o
artesão sente-se valorizado e participante do processo de resignificação cultural do
qual faz parte. (FREITAS; NICACIO, 2014).
72
�
�
Para Romeiro Filho (2013), a interação entre o design e o artesanato é, sem
dúvida, uma realidade; cabe esclarecer, porém, que não existe dentro dessa relação
uma hierarquia em que o designer está acima do artesão. Nessa colaboração, o
designer interage seu conhecimento metodológico com o do artesão, com o
propósito de resolver problemas de desenvolvimento e produto. A intenção é a de
que gerar autonomia para que os artesãos deixem
[...] de ser "objetos" de intervenção (seja de designers, distribuidores, ou outros) e podem começar a agir diretamente sobre o seu próprio trabalho, não só operando em recursos materiais, mas também a produção de desenhos de suas próprias soluções. Ou seja, eles aprendem a projetar6. (ROMEIRO FILHO, 2013, p. 69)
O profissional de design poderia ser considerado um facilitador, no sentido de
auxiliar no desenvolvimento de produtos, deixando o papel de ator principal do
processo ao artesão, atuando no auxílio do desenvolvimento da sua criatividade
através do estabelecimento de critérios para individualizar e diferenciar o seu
artesanato. (FREITAS et al., 2008). Sob esta ótica, poderia ocorrer uma mudança
desencadeada pelo designer, cultural, ideológica e pedagógica, fomentando a
autonomia e a autoridade do artesão sobre o projeto. (ROMEIRO FILHO, 2013).
Conforme Souza (2010), “o designer tem a responsabilidade de não alterar a visão
criativa do artesanato, ao não optar por uma posição simplista de criação de
produtos apenas desenvolvidos segundo o seu ponto de vista”. (SOUZA, 2010).
Os artesãos não são "clientes" do designer ou os "usuários" de seus produtos; eles são "atores sociais" envolvidos em um processo que, em última análise, liberta-os dos comerciantes e designers e dá autonomia para desenvolver seus próprios produtos para o mercado.7 (ROMEIRO FILHO, 2013, p.73).
O processo de intervenção do designer junto aos grupos de artesãos, destaca
Mazza et al. (2007), emerge do mapeamento de potencialidades para a valorização
de produtos artesanais e seus territórios onde participam o profissional de design e o
artesão. Nesse momento são levantadas características culturais, econômicas,
políticas, geográficas, sociais da região mapeada, para que possa ser compreendida
em sua plenitude pelo artesão e para que ele possa se apropriar dos elementos e
aplicá-los em seus produtos. Munido das características locais e compreendendo
���������������������������������������� �������������������6 Tradução livre da autora. 7 Tradução livre da autora.
73
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questões formais, simbólicas e funcionais, é possível para o artesão construir
produtos que valorizem seu território e patrimônio cultural. (MAZZA et al., 2007). A
relação do designer com os indivíduos das comunidades agrega valor aos produtos
oriundos desse tipo de projeto. (JOHANN, 2010).
A tarefa do designer é desenvolver produtos identitários que se relacionem
com os indivíduos, fazendo despertar emoções e relações simbólicas. Sendo assim,
o desenvolvimento de produtos que proporcionem bem estar é tarefa dispendiosa e
desafiadora. (ZAVADIL et al., 2010).
Borges (2011, p. 59) elenca alguns caminhos já experimentados na
intervenção do designer em grupos de artesãos:
a) Melhoria das condições técnicas;
b) Potencialidades dos materiais locais;
c) Identidade e diversidade;
d) Construção de marcas;
e) Artesãos como fornecedores;
f) Ações combinadas.
Um dos grandes desafios da atividade do design nos dias atuais, considerado
complexo, é a interpretação, decodificação e promoção dos elementos culturais
particulares, tornando-os atributos tangíveis a serem aplicados em artefatos
(MORAES, 2010). Souza (2010) pondera que uma estratégia para suplantar esse
desafio é a capacidade do designer de melhorar as técnicas, os motivos tradicionais,
implantar sistemas de qualidade e introduzir estratégias comerciais. Importa que o
profissional aja de modo a valorizar a cultura e o artesão, sem apagar as suas
particularidades, respeitando tanto o artesanato quanto o seu produtor. (SOUZA,
2010).
A atuação do designer como colaborador junto a grupos de artesãos pode
contribuir para uma mudança social e para o desenvolvimento sustentável de
pequenas comunidades no Brasil e em outros países em desenvolvimento.
(ROMEIRO FILHO, 2013).
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74
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6 ESTUDO DE CASO
O primeiro item dos procedimentos metodológicos deste estudo, a pesquisa
bibliográfica, encerrou-se na seção anterior. Por consequência, e pela estrutura
proposta na Figura 2 - Desenho da Pesquisa, apresentado na seção 2.1, a etapa a
seguir é destinada ao desenvolvimento do Estudo de Caso.
O objetivo geral da pesquisa em questão trata de comprovar se a intervenção
de designers em grupos de artesãos influencia na relação entre estes indivíduos e
seu território. Sendo uma pesquisa exploratória, de caráter qualitativo descritivo
escolheu-se como método a ser empregado o Estudo de Caso Único.
Como unidade de pesquisa selecionou-se o “Projeto para Capacitação do
Artesanato Regional da Serra Nordeste - RS” - PCA, projeto criado pela
ATUASERRA, visando à prestação de serviços em design, voltados à capacitação
do artesanato regional.
A ATUASERRA - Associação de Turismo da Serra Nordeste, conforme
descrito no item 1.4 da presente pesquisa, é a Instância de Governança Regional,
da Região Uva e Vinho, instaurada com o propósito de implementar o Programa
Nacional de Regionalização do Turismo por meio da organização dos atores locais,
sejam eles públicos ou privados, em torno de objetivos comuns ligados à promoção
turística. O projeto selecionado como estudo de caso dessa pesquisa é uma das
ações que fazem parte do escopo da ATUASERRA.
Segundo o Edital Convite Nº 02/2014, documento que rege o PCA, foram
realizadas pesquisas iconográficas, oficinas de capacitação dos artesãos e
assessoria em desenvolvimento de produtos voltados a grupos de artesãos. Para
tanto, foram convidados a participar do projeto os municípios de Bento Gonçalves,
Carlos Barbosa, Casca, Farroupilha, Nova Bassano, Nova Prata, Santo Antônio do
Palma, Serafina Corrêa e Veranópolis, todos localizados no Rio Grande do Sul e
integrantes da Região Uva e Vinho.
A equipe de design foi composta por uma designer de produto, uma designer
de moda e uma estudante de design de produto. As oficinas e o atendimento aos
artesãos para assessoramento ocorreram nas cidades sede dos artesãos, em cinco
encontros quinzenais de quatro horas, totalizando vinte horas para cada grupo de
artesãos, no período compreendido entre agosto de 2014 e maio de 2015.
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O desenvolvimento das coleções ocorreu durante cinco (5) encontros
espaçados em quinze (15) dias cada e foi registrado pelas designers em
documentos entregues à ATUASERRA no final do trabalho em cada município. Em
posse dessa entidade, os diários desenvolvidos pela equipe de designers foram
classificados como Dossiês.
Desta forma, para que a presente pesquisa contemplasse tanto os partícipes
do projeto, como seus resultados, foram definidos dois instrumentos de coleta. O
primeiro trata da análise documental dos Dossiês mencionados acima. O Quadro 1 -
Organização da coleta de dados, apresentado na seção 2.3, ilustra as etapas de
coleta, assim como os instrumentos utilizados.
O segundo instrumento de coleta aplicado na pesquisa foi a série de
entrevistas, divididas entre participantes dos grupos de artesãos, técnicos que
acompanharam o desenvolvimento em cada município e representante do órgão
contratante do projeto.
Em atendimento ao critério de perfis extremos, conforme descrito
anteriormente, foram selecionados 3 grupos em um universo de 10, conforme
apresentado abaixo. O critério foi definido apenas para que a escolha não fosse
aleatória, com o propósito de gerar maior riqueza de detalhes no decorrer das
comparações e análises:
a) O grupo em que os artesãos trabalham juntos há mais tempo – Município
de Veranópolis;
b) O grupo em que os artesãos nunca haviam trabalhado juntos – Município
de Santo Antônio do Palma;
c) O grupo composto por participantes de diversos grupos e associações de
artesãos e também por artesãos individuais – Município de Farroupilha.
Os dados oriundos da coleta de dados estão apresentados na próxima seção
iniciando-se pela apresentação dos Dossiês, em um primeiro momento e, logo após,
a exposição dos dados coletados das entrevistas.
6.1 APRESENTAÇÃO DOS DOSSIÊS
Conforme descrito anteriormente, os dossiês foram desenvolvidos pelos
designers contratados para o desenvolvimento do “Projeto para Capacitação do
Artesanato Regional da Serra Nordeste - RS”. Como o objetivo desta pesquisa é
76
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comprovar se a intervenção de designers em grupos de artesãos influencia na
relação entre estes indivíduos e seu território, optou-se por envolver os designers na
pesquisa apenas por meio dos documentos gerados por eles, eximindo-os de uma
participação ativa. Acredita-se que, desta maneira, foi possível manter maior isenção
e fidelidade quanto ao alcance dos resultados da pesquisa, mesmo que a
pesquisadora seja uma das integrantes da equipe de projeto.
A apresentação dos dados coletados divididos por município tem por
finalidade conferir maior clareza e organização às informações. Cabe ressaltar que
todos os Dossiês fazem parte da biblioteca da ATUASERRA e também das
Prefeituras dos referidos municípios, sendo documentos de domínio público, que
podem ser consultados a qualquer momento, por qualquer indivíduo.
6.1.1 Dossiê do Grupo de Veranópolis
O Dossiê do grupo de artesãos do município de Veranópolis contém 42
páginas e divide-se em:
- Capa que apresenta a assinatura visual da coleção Brotar e Viver;
- Resultados da reunião inicial com o grupo de artesãos e o turismólogo, de
onde emergem elementos significativos da identidade do território;
- Elementos definidos na reunião para servirem de base no desenvolvimento
da coleção;
- Artesãos que participaram e finalizaram seus produtos, no total de oito (8)
pessoas;
- Grafismos desenvolvidos como apoio para aplicação nos produtos;
- Etiquetas para aplicação nos produtos finalizados; e
- Artesãos que iniciaram o projeto, porém desistiram, no total de 3 pessoas.
A Figura 3 apresenta o nome e assinatura visual desenvolvida pelos
designers para a coleção de produtos artesanais do grupo de Veranópolis.
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Figura 3 –
Fonte: Dossiê Veranópolis, ATUASERRA
Os elementos particulares da identidade local, cita
designers com o grupo e o turismólogo, são:
- origem italiana;
- reconhecimento de dois títulos (Berço Nacional da M
Longevidade);
- cidade reconhecida pelo
- município pioneiro no plantio da maçã;
- local da romaria de Nossa Senhora de L
Além disso, emergiram da conversa características d
- limpeza, existência de calçamento, moradores recept
aprazível, comida diferenciada;
- outro mundo, cidade progressiva, bem financeirament
quando precisa.
- vida pacata, calma, boa, tranquila, ruas e canteiro
- união, cumplicidade, convívio familiar, horta em tod
alimentação saudável, vinho e frutas em abundância, religios
presente.
A maçã, a longevidade
de Lourdes foram os três elementos
Veranópolis, constante do registr
Na parte do Dossiê
do participante e seu nome. Os
textuais dos quatro encontros. O primeiro
– Assinatura visual da Coleção de Veranópolis
Fonte: Dossiê Veranópolis, ATUASERRA, 2015.
Os elementos particulares da identidade local, citados na reunião dos
designers com o grupo e o turismólogo, são:
origem italiana;
reconhecimento de dois títulos (Berço Nacional da M
Longevidade);
cidade reconhecida pelo restaurante giratório;
município pioneiro no plantio da maçã;
local da romaria de Nossa Senhora de Lourdes.
Além disso, emergiram da conversa características da vida na cidade:
limpeza, existência de calçamento, moradores recept
comida diferenciada;
outro mundo, cidade progressiva, bem financeirament
quando precisa.
vida pacata, calma, boa, tranquila, ruas e canteiros verdes.
nião, cumplicidade, convívio familiar, horta em todos os quintais,
ão saudável, vinho e frutas em abundância, religios
A maçã, a longevidade - na Figura de um casal de idosos
urdes foram os três elementos escolhidos pelo grupo para marcar a coleção de
Veranópolis, constante do registro da página 3 do Dossiê.
parte do Dossiê que trata dos artesãos, o documento apresenta uma foto
do participante e seu nome. Os Quadros apresentados referem
textuais dos quatro encontros. O primeiro Quadro foi denominado “Técnicas e
77
Coleção de Veranópolis
dos na reunião dos
reconhecimento de dois títulos (Berço Nacional da Maçã e Terra da
a vida na cidade:
limpeza, existência de calçamento, moradores receptivos, clima
outro mundo, cidade progressiva, bem financeiramente, perto o suficiente
s verdes.
os os quintais,
ão saudável, vinho e frutas em abundância, religiosidade
s - e Nossa Senhora
para marcar a coleção de
o documento apresenta uma foto
s apresentados referem-se aos registros
foi denominado “Técnicas e
78
�
�
Produtos”. Os demais foram separados por “Tarefas” solicitadas aos artesãos,
conforme Figura 4 abaixo.
Figura 4 – Exemplo de registro de artesão e do andamento do trabalho em
Veranópolis
Fonte: Dossiê Veranópolis, ATUASERRA, 2015.
Na segunda página de apresentação de cada artesão, estão fotos
correspondentes aos Quadros da página anterior. Em um primeiro bloco são
apresentados produtos que o artesão já produzia antes do projeto e nos dois outros
blocos, imagens correspondentes aos testes solicitados nas tarefas. A Figura 5
explicita a organização por imagens do desenvolvimento de cada artesão.
79
�
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Figura 5 – Exemplo de registro por imagens do andamento do trabalho em Veranópolis
Fonte: Dossiê Veranópolis, ATUASERRA, 2015.
Na terceira página de apresentação de cada artesão contida no Dossiê estão
registrados os “Produtos Finais”, por meio de imagens das peças do artesão que
compõem a coleção, conforme Figura 6.
Figura 6 – Produtos finais de artesão de Veranópolis
Fonte: Dossiê Veranópolis, ATUASERRA, 2015.
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Após o registro dos artesãos participantes, o
desenvolvidos pelos designers para servir de apoio
projeto dos símbolos baseou
grupo e o turismólogo no município.
maçã, que compreendem duas páginas do Dossiê, total
Fonte: Dossiê Veranópolis, ATUASERRA, 2015.
A Figura 8, abaixo, apresenta a página seguinte à de grafism
contém o grafismo de um casal de idosos.
Fonte: Dossiê Veranópolis, ATUASERRA, 2015.
pós o registro dos artesãos participantes, o Dossiê apresenta os símbolos
desenvolvidos pelos designers para servir de apoio na criação dos produtos. O
projeto dos símbolos baseou-se na lista de elementos identitários definida com o
grupo e o turismólogo no município. A Figura 7 apresenta alguns dos grafismos de
maçã, que compreendem duas páginas do Dossiê, totalizando 14 maçãs.
Figura 7 – Grafismos de Maçãs
Fonte: Dossiê Veranópolis, ATUASERRA, 2015.
8, abaixo, apresenta a página seguinte à de grafism
contém o grafismo de um casal de idosos.
Figura 8 – Grafismo de Casal de Idosos
Fonte: Dossiê Veranópolis, ATUASERRA, 2015.
80
Dossiê apresenta os símbolos
na criação dos produtos. O
itários definida com o
7 apresenta alguns dos grafismos de
izando 14 maçãs.
8, abaixo, apresenta a página seguinte à de grafismos de maçã, que
Grafismo de Casal de Idosos
Fonte: Dossiê Veranópolis, ATUASERRA, 2015.
81
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A Figura 9, com dois (2) grafismos de Nossa Senhora de Lourdes, completa
os símbolos projetados para o município de Veranópolis.
Figura 9 – Grafismos de Nossa Senhora de Lourdes
Fonte: Dossiê Veranópolis, ATUASERRA, 2015.
Seguido dos grafismos, o Dossiê apresenta as etiquetas oriundas da
assinatura visual desenvolvida.
Figura 10 – Etiquetas Coleção Veranópolis
Fonte: Dossiê Veranópolis, ATUASERRA, 2015.
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A última parte do Dossiê consiste na apresentação dos artesãos desistentes
do projeto, no total de 3 pessoas. De acordo com os registros, os 3 artesãos
estiveram somente no primeiro encontro e não prosseguiram no projeto, porém não
existem justificativas descritas para sua desistência.
Esses são os dados de registro da apresentação do Dossiê do grupo de
artesãos do Município de Veranópolis. A seguir está apresentado o documento
correspondente à cidade de Santo Antônio do Palma.
6.1.2 Dossiê do Grupo de Santo Antônio do Palma
O Dossiê do grupo de artesãos do município de Santo Antônio do Palma
contém 29 páginas e divide-se em:
- Capa que apresenta a assinatura visual da coleção Santo Antônio do Palma
– Artesanato e Agroecologia;
- Resultados da reunião inicial com o grupo e o técnico da Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER, de onde emergem elementos
significativos da identidade do território;
- Elemento definido na reunião para servir de base no desenvolvimento da
coleção;
- Artesãos que participaram e finalizaram seus produtos, no total de 6
pessoas; e
- Etiquetas para aplicação nos produtos finalizados.
A Figura 11 apresenta o nome e assinatura visual desenvolvida pelos
designers para a coleção de produtos artesanais do grupo de Santo Antônio do
Palma.
�
83
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�
Figura 11 – Assinatura visual da Coleção de Santo Antônio do Palma
Fonte: Dossiê Santo Antônio do Palma, ATUASERRA, 2015.
Os elementos particulares da identidade local, citados na reunião dos
designers com o grupo e o técnico da EMATER, são:
- origem italiana e polonesa;
- grupo organizado de poloneses;
- artesanato polonês reconhecido;
- município polo agrícola;
- ¾ do território constitui zona rural;
- agroecologia.
De todos os elementos levantados, a Agroecologia foi escolhida pelo grupo
para direcionar o enfoque criativo dos artesãos.
Na parte do Dossiê que trata dos artesãos, o documento apresenta uma foto
do participante e seu nome. Os Quadros apresentados referem-se aos registros
textuais dos quatro encontros. O primeiro Quadro foi denominado “Técnicas e
Produtos”. Os demais foram separados por “Tarefas” solicitadas aos artesãos,
conforme Figura 12 abaixo.
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84
�
�
Figura 12 – Exemplo de registro de artesão e do andamento do trabalho em Santo Antônio do Palma
Fonte: Dossiê Santo Antônio do Palma, ATUASERRA, 2015.
Na segunda página de apresentação de cada artesão, encontram-se fotos
correspondentes aos Quadros da página anterior. Em um primeiro bloco, estão
apresentados produtos que o artesão já produzia antes do projeto e, nos dois outros
blocos, imagens correspondentes aos testes solicitados nas tarefas. A Figura 13
explicita a organização por imagens do desenvolvimento de cada artesão.
Figura 13 – Exemplo de registro por imagens do andamento do trabalho em Santo Antônio do Palma
Fonte: Dossiê Santo Antônio do Palma, ATUASERRA, 2015.
85
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�
Na terceira página de apresentação de cada artesão estão registrados os
“Produtos Finais” por meio de imagens das peças do artesão que compõem a
coleção, conforme Figura 14.
Figura 14 – Produtos finais de artesão de Santo Antônio do Palma
Fonte: Dossiê Santo Antônio do Palma, ATUASERRA, 2015.
A última parte do Dossiê apresenta as etiquetas desenvolvidas com base na
assinatura visual da coleção, conforme Figura 15. São três tamanhos de etiquetas
dispostas nas páginas 27, 28 e 29 do Dossiê.
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86
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Figura 15 – Etiquetas coleção Santo Antônio do Palma
Fonte: Dossiê Santo Antônio do Palma, ATUASERRA, 2015.
Esses são os dados de registro da apresentação do Dossiê do grupo de
artesãos do Município de Santo Antônio do Palma. A seguir está apresentado o
documento correspondente à cidade de Farroupilha.
6.1.3 Dossiê do Grupo de Farroupilha
O Dossiê do grupo de artesãos do município de Farroupilha contém 50
páginas e divide-se em:
- Capa que apresenta a assinatura visual da coleção Farroupilha - Crenças da
Terra;
- Resultados da reunião inicial com o grupo e o turismólogo, de onde
emergem elementos significativos da identidade do território;
- Elementos definidos na reunião para servirem de base no desenvolvimento
da coleção;
- Artesãos que participaram e finalizaram seus produtos, no total de 8
pessoas;
- Grafismos desenvolvidos como apoio para aplicação nos produtos;
- Etiquetas para aplicação nos produtos finalizados; e
- Artesãos que iniciaram o projeto, porém desistiram, no total de 7 pessoas.
�
�
A Figura 16 apresenta
designers, cujo nome remete aos símbolos utilizados pelos artesãos para
de seus produtos.
Figura 16
Font
Os elementos particulares da identidade local, cita
designers com o grupo e o turismólogo, são:
- origem italiana;
- Fenakiwi;
- município polo de malharias;
- Nossa Senhora de Caravaggio
acolhe seu santuário.
Dos elementos
apresentados na página 3 do Dossiê
Na parte do Dossiê
do participante e seu nome. Os
textuais dos quatro encontros. O primeiro
Produtos”. Os demais foram separados por “Tarefas”
conforme Figura 17 abaixo.
�
apresenta a assinatura visual da coleção desenvolvida pelos
remete aos símbolos utilizados pelos artesãos para
16 – Assinatura visual da Coleção de Farroupilha
Fonte: Dossiê Farroupilha, ATUASERRA, 2015.
Os elementos particulares da identidade local, citados na reunião dos
designers com o grupo e o turismólogo, são:
origem italiana;
município polo de malharias;
Nossa Senhora de Caravaggio: padroeira do município e
antuário.
Dos elementos levantados foram escolhidos pelo grupo
apresentados na página 3 do Dossiê - o kiwi e Nossa Senhora de Caravaggio.
parte do Dossiê que trata dos artesãos, o documento apr
do participante e seu nome. Os Quadros apresentados referem
textuais dos quatro encontros. O primeiro Quadro foi denominado “Técnicas e
Produtos”. Os demais foram separados por “Tarefas” solicitadas aos artesãos,
17 abaixo.
87
da coleção desenvolvida pelos
remete aos símbolos utilizados pelos artesãos para o projeto
de Farroupilha
e: Dossiê Farroupilha, ATUASERRA, 2015.
dos na reunião dos
: padroeira do município e cidade que
pelo grupo dois (2),
o kiwi e Nossa Senhora de Caravaggio.
que trata dos artesãos, o documento apresenta uma foto
s apresentados referem-se aos registros
foi denominado “Técnicas e
solicitadas aos artesãos,
88
�
�
Figura 17 – Exemplo de registro de artesão e do andamento do trabalho em Farroupilha
Fonte: Dossiê Farroupilha, ATUASERRA, 2015.
Na segunda página de apresentação de cada artesão estão fotos
correspondentes aos Quadros da página anterior. Em um primeiro bloco estão
apresentados produtos que o artesão já produzia antes do projeto e, nos dois outros
blocos, imagens correspondentes aos testes solicitados nas tarefas. A Figura 18
explicita a organização por imagens do desenvolvimento de cada artesão.
Figura 18 – Exemplo de registro por imagens do andamento do trabalho em Farroupilha
Fonte: Dossiê Farroupilha, ATUASERRA, 2015.
89
�
�
Na terceira página de apresentação de cada artesão, estão registrados os
“Produtos Finais” por meio de imagens das peças do artesão que compõem a
coleção, conforme Figura 19.
Figura 19 – Produtos finais de artesão de Farroupilha
Fonte: Dossiê Farroupilha, ATUASERRA, 2015.
Após o registro dos artesãos participantes, o Dossiê apresenta os grafismos
desenvolvidos pelos designers para servir de apoio na criação dos produtos. Os
grafismos remetem aos elementos identitários definidos pelo grupo de artesãos e o
turismólogo do município, sendo compostos por personagens inspirados em kiwis e
Nossa Senhora de Caravaggio, conforme Figura 20 abaixo.
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Figura 20 – Grafismo de Nossa Senhora de Caravaggio e Sr. e Sra
Fonte: Doss
A Figura 21, abaixo
inteira, a fruta cortada ao meio e um mix de folhas
página seguinte do Dossiê de Farroupilha
Fonte: Doss
Grafismo de Nossa Senhora de Caravaggio e Sr. e Sra
Fonte: Dossiê Farroupilha, ATUASERRA, 2015.
abaixo, apresenta grafismos de kiwi, incluindo a flor, a fr
inteira, a fruta cortada ao meio e um mix de folhas, flores e frutos
seguinte do Dossiê de Farroupilha.
Figura 21 – Grafismos de kiwi
Fonte: Dossiê Farroupilha, ATUASERRA, 20
90
Grafismo de Nossa Senhora de Caravaggio e Sr. e Sra. Kiwi
iê Farroupilha, ATUASERRA, 2015.
apresenta grafismos de kiwi, incluindo a flor, a fruta
, flores e frutos constantes na
iê Farroupilha, ATUASERRA, 2015.
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Seguido dos grafismos, o
assinatura visual desenvolvida
Figura
Fonte: Dossiê Farroupilha, ATUASERRA, 2015.
A última parte do Dossiê consiste na apresentação d
do projeto, no total de
artesãos estiveram presentes no primeiro encontro e
porém não existem justificativas descritas para suas desistência
Esses são os dados de registro da apresentação do D
artesãos do Município de Farroupilha. A seguir apre
através das entrevistas.
6.2 APRESENTAÇÃO DAS ENTREVISTAS
De acordo com o
na seção 2.3, além da análise documental constituíd
anteriormente, foram feitas entrevistas com os part
Capacitação do Artesanato Reg
As próximas seções apresentam dados colhidos nas en
categoria de participante.
mantidas integralmente quando citadas de maneira di
Seguido dos grafismos, o Dossiê apresenta as etiquetas oriundas da
desenvolvida, conforme Figura 22.
Figura 22 – Etiquetas coleção Farroupilha
Fonte: Dossiê Farroupilha, ATUASERRA, 2015.
A última parte do Dossiê consiste na apresentação dos artesãos desistentes
do projeto, no total de seis (6) pessoas. De acordo com os registros, os
artesãos estiveram presentes no primeiro encontro e não prosseguiram no projeto,
ificativas descritas para suas desistências
Esses são os dados de registro da apresentação do D
artesãos do Município de Farroupilha. A seguir apresentam-se os dados coletados
6.2 APRESENTAÇÃO DAS ENTREVISTAS
De acordo com o Quadro 1 - Organização da coleta de dados, apresentado
na seção 2.3, além da análise documental constituída pelos Dossiês, apresentados
anteriormente, foram feitas entrevistas com os partícipes do “Projeto para
do Artesanato Regional da Serra Nordeste - RS” - PCA
As próximas seções apresentam dados colhidos nas entrevistas, divididas por
categoria de participante. Cabe ressaltar que as falas dos entrevistados foram
mantidas integralmente quando citadas de maneira direta.
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Dossiê apresenta as etiquetas oriundas da
os artesãos desistentes
pessoas. De acordo com os registros, os seis
não prosseguiram no projeto,
s.
Esses são os dados de registro da apresentação do Dossiê do grupo de
se os dados coletados
Organização da coleta de dados, apresentado
a pelos Dossiês, apresentados
ícipes do “Projeto para
PCA.
trevistas, divididas por
Cabe ressaltar que as falas dos entrevistados foram
reta. Primeiramente é
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apresentada a entrevista com a representante da ATUASERRA, seguida pelas
entrevistas com os técnicos que acompanharam os grupos, finalizando com a
apresentação das entrevistas com os artesãos.
6.2.1 Entrevista com representante da ATUASERRA
A entrevista com representante da ATUASERRA ocorreu no mês de
novembro, na intenção de colher informações com sua Diretora Executiva, sendo
identificada nesta pesquisa com o código DE. A entrevista seguiu roteiro que aborda
questões divididas nas seguintes áreas:
- Informações pessoais, que trata dos dados sobre a formação e atuação
profissional;
- Turismo e território, que abrange questões sobre o turismo da região e
ações de valorização do território;
- Projeto, que aborda questões relacionadas com a ATUASERRA, o PCA e os
critérios de seleção dos municípios;
- Atuação no projeto, que apresenta dados sobre participação do entrevistado
no PCA e,
- Visão do projeto, que compreende uma avaliação, por parte do entrevistado,
da atuação do design no grupo e do PCA como um todo.
Em relação às informações pessoais, DE é mestre em Ciências Sociais e atua
como diretora executiva da ATUASERRA há 15 anos. A sua função no cargo é a de
coordenar o desenvolvimento do turismo regional, atuando como interlocutora entre
diversos níveis sociais, públicos e privados.
Eu faço toda a interlocução entre as secretarias de turismo, locais das associadas, com as estâncias de governança superior, ou seja, com a Secretaria de Turismo do Estado com o Ministério do Turismo e também entre as secretarias municipais os conselhos municipais de turismo e os empreendedores do turismo, ou seja, o trade turístico local. (ENTREVISTADA DE, 2015).
A entrevistada DE apresenta o turismo na região como consolidado a partir de
um destino indutor que é Bento Gonçalves, que tem a capacidade de atrair turistas,
tanto para seu território como para o seu entorno: “Eu acho que depois de dez anos
de trabalho consecutivo, assim, olhando pro desenvolvimento, a gente hoje já colhe
alguns frutos”. Com a consolidação do turismo, as ações turísticas no território são
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muitas, segundo DE. Elas podem acontecer por meio de parcerias com entidades
como a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER e sindicatos,
reconhecendo os empreendedores locais e focando ações direcionadas de acordo
com as suas necessidades, que podem ser a criação de atrações isoladas ou
roteiros.
Quando questionada sobre o que levou a ATUASERRA a propor um projeto
de capacitação do artesanato, DE aponta que ao se falar de territorialidade e
atratividade não se pode deixar de fora do turismo a sua cadeia produtiva, “[...] e o
artesanato é uma das mais importantes cadeias produtivas do turismo”. Segundo
DE, desde 1998 são feitos esforços para qualificar o artesanato regional, com vários
programas e projetos visando o desenvolvimento dos produtos e do próprio artesão,
trabalhando para restaurar sua autoestima. Hoje um dos resultados é perceber que
o artesão se vê como profissional, e que “[...] praticamente todos os municípios hoje
a gente tem uma a associação de artesãos”. Além disso, DE diz que o artesanato
tem um significado ímpar para o visitante que leva algo produzido por alguém
daquele lugar: “A lembrança deste lugar, o souvenir deste lugar, a
representatividade minúscula deste lugar que eu levo em forma de presente, de
mimo ou de recordação, né”. (ENTREVISTADA DE, 2015).
A entrevistada DE aponta que o artesanato da região tem uma vocação para
produtos como colchas, cortinas, toalhas de mesa e que é necessário transformar
estes produtos que já tem qualidade em peças menores “[...] num mimo, num
souvenir, por exemplo, a linha de souvenirs né, que representam a identidade”. Ao
abordar a identidade, DE frisa que esse é um aspecto extremamente importante do
artesanato, sendo uma das atividades que mantém a expressão cultural de um
lugar.
Sobre os critérios para seleção dos municípios participantes, DE responde
que decorreu do nível de desenvolvimento da comunidade em relação ao turismo.
Então o artesanato se torna uma coisa necessária... então você olha para a necessidade... então, se é uma região, um grande roteiro, um macro roteiro que a gente chama, que hoje já tem bastante atratividade e não tem resolvida a questão do artesanato, ele tem que ser contemplado com projetos especiais. (ENTREVISTADA DE, 2015).
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DE aponta que ao desenvolver uma atratividade, é necessário o
desenvolvimento concomitante do artesanato, mas que o artesanato acaba por se
desenvolver em um ritmo mais lento. Outra questão que DE sublinha é que, ao
trabalhar o artesanato, em muitos momentos é feito o “[...] resguardo de
determinados saberes e fazeres locais. Quando a gente tem que salvaguardar”,
mencionando como exemplo o artesanato polonês que existe na região e algumas
técnicas artesanais, como a dressa e o vime. “A gente tem este olhar pra que eu não
perca essa cultura, essa identidade cultural, esse município precisa ser
contemplado, porque ali ainda residem talentos que possam desenvolver”.
(ENTREVISTADA DE, 2015).
Quando se trata de participação no projeto, DE diz que atuou desde o início,
elaborando o projeto, selecionando e destinando verba. DE conta que inicialmente a
intenção era um projeto de capacitação por meio de cursos em sala de aula, mas
que, discutindo com a equipe, percebeu a importância de transformá-lo em oficinas
criativas, na intenção de obter melhores resultados. Para DE, o projeto dependeu na
sua totalidade de seus esforços para acontecer, mas gostaria de ter dividido tanto as
responsabilidades como as tarefas com outros atores. Ao ser questionada sobre
sentir-se coautora dos produtos desenvolvidos no projeto, DE responde que se
sente facilitadora do processo e não assume para si a coautoria das peças: “[...] eu
me sinto uma facilitadora de um processo que deveria ser mais local, mais
autóctone”. Para DE os autores são os artesãos e as comunidades e o projeto
pertence tanto a esses indivíduos como aos turistas e à equipe de designers. DE
acredita que a assinatura da ATUASERRA foi indiferente no projeto.
Ao ser questionada sobre o que levou a ATUASERRA a buscar auxílio por
meio de designers para a capacitação do artesanato, DE responde: “Porque não se
faz artesanato sem o olhar do design. Simples. Muito simples”. Para DE, o designer
leva à cadeia turística aquilo que considera primordial, que é o olhar externo e, por
meio de seu conhecimento possibilita um posicionamento dos produtos diante do
turista. “Fazendo um estudo até um pouco sobre a ocupação de designer e o
significado dele dentro da área do turismo, ele está em quase tudo”. DE aponta que
o turismo exige inovação e o designer é fundamental para o desenvolvimento de
qualquer produto, pela multiplicidade de saberes que carrega.
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Ao abordar seu ponto de vista sobre contribuições que os designers
agregaram ao projeto, DE diz que, primeiramente, o olhar de fora sobre as
comunidades, “[...] a possibilidade de enxergar e de mostrar aquilo que é óbvio no
lugar, mas que o do local não vê”. A segunda contribuição aventada por DE é a
capacidade de revitalizar, recriar e reaplicar técnicas artesanais. Além disso, os
designers conseguiram, segundo DE, trabalhar com uma pluralidade de
comunidades e, mesmo assim, criar harmonia em cada uma delas, “[...] mostrar que
o nosso artesanato também é harmônico, que há possibilidade de você tornar ele
harmônico, romântico, atrativo, que ele pode ser sim transformado num grande
presente”. DE afirma que foram muitas as contribuições e que os designers, a partir
de sua interferência, imprimiram dinamismo no artesanato local.
Por fim, ao ser questionada sobre como avalia o projeto, DE diz que foi ótimo,
mas que precisa de continuidade, pois acredita que não se conseguem mudanças
de comportamento em um projeto de dez meses, mas sim em dez anos. Afirma que,
pelo curto espaço de tempo, a evolução dos produtos alcançou resultado excelente.
Na seção seguinte estão apresentados os dados captados nas entrevistas
com os técnicos que acompanharam os grupos de artesãos durante o projeto.
6.2.2 Entrevistas com técnicos
As entrevistas foram realizadas com técnicos das Prefeituras que
acompanharam os grupos de artesãos durante o desenvolvimento do PCA. Cada
técnico foi entrevistado separadamente, no mês de novembro de 2015. A escolha
destes profissionais obedeceu ao critério de proximidade com os grupos e também
pela assiduidade no acompanhamento do projeto.
Os três técnicos receberam códigos de identificação, sendo denominado TV,
para a técnica do município de Veranópolis, TS, para a técnica do município de
Santo Antônio do Palma e TF para a técnica do município de Farroupilha.
Todas as entrevistas com os técnicos seguiram o mesmo roteiro, que pode
ser dividido em:
- Informações pessoais, que trata dos dados sobre a formação e atuação
profissional;
- Turismo e território, que abrange questões sobre o turismo da região e
ações de valorização do território;
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�
- Projeto, que aborda questões da participação do município no PCA e
critérios de seleção de artesãos;
- Atuação no projeto, que apresenta dados sobre participação do técnico no
PCA e,
- Visão do projeto, que compreende uma avaliação por parte do técnico, da
atuação do design no grupo e do PCA como um todo.
Iniciando sobre as informações pessoais, TV e TF são Bacharéis em Turismo
e atuam no desenvolvimento do turismo, a partir de projetos que planejam e
organizam ações turísticas nos municípios. TV está no cargo há um (1) ano e dois
meses e TF há um (1) ano e oito meses. TS é Bacharel em Ciências Jurídicas e
Sociais e atua na prefeitura como agente administrativo desde 2004. Foi cedida há 3
anos para EMATER, órgão voltado ao desenvolvimento do artesanato na região.
Com relação às questões que abordaram o turismo e o território, TV responde
que o turismo no município é de negócios, pelo número significativo de empresas
situadas no distrito industrial, religioso, devido à festa de Nossa Senhora de Lourdes
que ocorre no mês de fevereiro na cidade, e também de lazer, que ocorre nos finais
de semana. Segundo TV, o interesse do turista de lazer está voltado para a cultura
italiana e a longevidade. “[...] a visitação deles geralmente é a cultura, a
gastronomia, a questão do vinho e a questão religiosa também”. (ENTREVISTADA
TV, 2015).
Para TF o turismo no município de Farroupilha ocorre de maneira natural e o
maior atrativo turístico, de âmbito nacional, é o Santuário de Nossa Senhora de
Caravaggio. Além do turismo religioso, comenta que a cachoeira do Salto Ventoso e
a cultura italiana são atrativos turísticos do território.
Ao contrário das profissionais técnicas anteriores, TS aponta que o turismo no
município de Santo Antônio do Palma não está consolidado e que a maior procura
por parte de visitantes está voltada à cultura polonesa. Além disso, segundo TS, o
Jantar Ecológico, evento gastronômico que ocorre no aniversário do município, é
responsável por captar visitantes de fora do território.
Sobre as iniciativas de valorização do território por parte da prefeitura, TV
aponta que há um direcionamento para o desenvolvimento da área rural voltado ao
turismo agroecológico, mas que também existem ações para melhorias urbanas. Já
TF diz que o enfoque está no mapeamento dos atrativos para valorizar, organizar e
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melhorar a atividade turística na cidade. TS desconhece que ações específicas de
desenvolvimento do território façam parte do escopo da prefeitura.
As respostas coincidem à questão que diz respeito ao motivo da prefeitura
participar desta ação, no sentido de ser uma possibilidade de valorização das
artesãs e de possibilitar a produção de peças ligadas à identidade local. TS destaca,
também, a boa relação do município com a ATUASERRA como um facilitador para o
PCA.
Sobre a seleção de artesãos para o projeto, segundo TV o convite ficou a
critério da presidência da ARTEVE, Associação dos Artesãos de Veranópolis. TS foi
quem ficou responsável pelos convites e os efetivou partindo da sua relação com a
comunidade, por ter conhecimento sobre os artesãos residentes e de sua
disponibilidade. TF, com a intenção de dividir proporcionalmente o número de vagas,
reuniu artesãos que não faziam parte de grupos e também representantes dos
diversos grupos de artesãos da cidade e explicou como seria o projeto. Assim os
representantes indicaram nomes e os artesãos interessados se candidataram para
as vagas.
Nas questões sobre atuação no projeto, TV responde que participou
disponibilizando e organizando o espaço, captando e cedendo materiais relevantes,
e acompanhando o trabalho do grupo. Para TS, a participação foi convidando os
artesãos e incentivando a sua assiduidade nos encontros, focando na importância
do projeto para o grupo. TF aponta que acompanhou o grupo e pôde atuar, após o
final do projeto, na captação de empreendedores que pudessem comercializar os
produtos nos atrativos turísticos.
Ainda sobre a atuação no projeto, há uma convergência nas respostas sobre
coautoria. Todas as entrevistadas se sentem coautoras das peças desenvolvidas.
TV e TF se sentem coautoras por terem participado da definição dos temas a serem
trabalhados nos produtos e TS por ter convidado os artesãos e por incentivá-los no
projeto.
TV ressalta que os designers tiveram o cuidado de incentivar cada artesão a
desenvolver seus produtos dentro das temáticas, que não conflitassem com os dos
outros participantes, mas que existisse “[...] união entre o que ia ser produzido, pra
que eles se conversassem entre si”. (ENTREVISTADA TV, 2015). Pela visão das
entrevistadas, os designers possibilitaram aos grupos o desenvolvimento de
produtos exclusivos ao instigarem a criatividade. As falas expressam a concordância
98
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no sentido de que houve uma valorização da identidade local aplicada ao
artesanato.
[...] elas já tem um domínio de como fazer, sentar e colocar a imaginação delas pra pensarem e desenvolverem projetos, projetos no caso, assim, peças, exclusivas daqui, exclusivas de cada município como foi o trabalho de vocês, eu acho que é um diferencial. (ENTREVISTADA TS, 2015).
Ao avaliarem o projeto, as entrevistadas afirmam que o resultado foi positivo.
Para TV, além de avaliar positivamente, menciona que os produtos gerados
representam o município e podem ser diretamente relacionados com a identidade
local. TS afirma que o projeto foi interessante para a valorização do trabalho
artesanal e o consequente aumento de renda das artesãs. Por fim, TF aponta que o
resultado foi “fantástico”, pois gerou um reconhecimento por parte dos
empreendedores do artesanato local. Além disso, causou uma transformação nos
artesãos, que valorizaram o projeto e difundiram a ideia, gerando procura por esse
tipo de ação de mais artesãos na cidade. “Eu acho que foi muito bacana, foi um
trabalho bem diferenciado, e as próprias artesãs também sentiram isso, que
realmente foi totalmente diferente da realidade que elas vinham trabalhando”.
(ENTREVISTADA TF, 2015).
A fim de trazer mais clareza a presente pesquisa, a seção a seguir apresenta
os dados coletados nas entrevistas com os artesãos, divididas por grupos.
6.2.3 Entrevistas com artesãos
As entrevistas com artesãos ocorreram no mês de novembro de 2015, a partir
de convite feito pelas técnicas e também pelas representantes de cada grupo. Os
grupos se reuniram no dia e hora de sua conveniência e foram entrevistados
individualmente. As entrevistas com os artesãos seguiram o roteiro programado
podendo ser dividido em:
- História com o artesanato, que trata da relação do artesão com o fazer
artesanal, desde como e com quem aprendeu a fazer artesanato, se faz parte de um
grupo de artesãos, o perfil de sua produção artesanal e dos seus compradores;
- Relação com o turismo, que abrange questões sobre como percebe o
turismo da região e sua participação em ações turísticas;
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- Relação com o território, que apresenta a relação do artesão com o lugar
onde vive e se este lugar inspira seu artesanato;
- Sobre o projeto, que aborda questões de participação no PCA, autoria,
criatividade e influência do design no seu trabalho artesanal.
Visando a melhor organização dos dados, optou-se por subdividir as
apresentações das entrevistas dos artesãos por grupo. Primeiramente, estão
apresentados os dados coletados no grupo de artesãos de Veranópolis, seguido de
Santo Antônio do Palma, finalizando com o grupo de artesãos de Farroupilha.
6.2.3.1 Entrevistas com artesãos de Veranópolis
Do grupo de artesãos inicialmente composto por 11 participantes, foram
eleitos apenas os que apresentaram assiduidade de no mínimo 04 encontros,
conforme dados extraídos dos Dossiês. Formaram um grupo de oito (8) partícipes,
dos quais cinco (5) compareceram para serem entrevistados. Cada artesão
convidado recebeu um código correspondente aos símbolos AV2, AV3, AV4, AV6 e
AV7.
Os artesãos entrevistados, na sua totalidade, participam da ARTEVE
(Associação de Artesãos de Veranópolis). AV7 participa desde a criação da
ARTEVE, seguido por AV2, que tem 20 anos de participação. AV4 soma 15 anos,
AV3, 6 anos e AV6, apresenta menor tempo de participação, 4 anos.
A relação dos entrevistados com o artesanato iniciou na infância, exceto para
AV3, que aprendeu o ofício na idade adulta. Destes que travaram contato com o
fazer artesanal quando jovens, AV4 e AV6 aprenderam com suas mães e AV7 com
a irmã. “Já é próprio de mim, aliás, a minha família quase que toda é meia criativa”.
(ENTREVISTADA AV6, 2015).
A produção artesanal de AV2 baseia-se em peças de madeira entalhada, que
vão de pequenos objetos a móveis. Já AV4 especializou-se em velas decorativas e
produtos em meia de seda, que podem ser bonecos, frutas ou flores. AV3 produz
diversos tipos de produtos, tanto de uso pessoal como decorativos, pela técnica do
patchwork. AV6 e AV7 utilizam técnicas variadas como costura, bordado, tricô e
crochê nas suas produções.
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Quanto à maneira de criar os produtos, AV2 e AV6 dizem que inventam a
maioria das peças, porém AV2 após desenvolver seus produtos faz buscas na
internet para ver se encontra algo parecido. Quando encontra, trata de modificar sua
peça, pois prefere que seus produtos sejam diferenciados dos de outros artesãos.
AV3, AV4 e AV7 aproveitam detalhes dos modelos que encontram em revistas, na
internet e em programas de televisão que são modificados de acordo com seu gosto
pessoal.
Os artesãos AV6 e AV7 têm públicos divergentes. Enquanto AV7 vende
principalmente para o público externo e tem dificuldades para vender seu produto
internamente, o consumidor de AV6 está na comunidade. O consumo dos produtos
de AV2 é 80% externo, dividido igualmente entre feiras e lojas e apenas 20% é
consumido por habitantes do município. Enquanto AV3 vende metade de sua
produção em feiras e lojas fora da cidade e metade para pessoas da comunidade,
AV4 atinge de maneira ampla o público local por meio das igrejas, mas consegue
poucas vendas nacionais e internacionais.
Quando questionados sobre o turismo, tanto AV2 como AV6 apontam que no
passado o turismo era bem maior do que nos dias atuais, mas que, após uma baixa,
vem sendo retomado nos últimos anos. Todos percebem que há turismo na cidade,
mas AV3 acredita que a comunidade não está preparada para receber turistas, tanto
em termos de receptividade quanto na infraestrutura. Sobre a participação em ações
turísticas, AV6 não participa de nenhuma atividade, AV7 responde que não sabe se
existem ações desse tipo na cidade e AV3 diz que participa apenas de feiras de
artesanato e que, desse modo, divulga o município. Já AV4 participa do Conselho de
Turismo como membro da diretoria da ARTEVE e AV2 participa de várias ações de
turismo, como empreendedor, como membro do sindicato dos hoteleiros, como
participante da ATUASERRA e do grupo do artesanato.
A relação com o território diverge no olhar dos respondentes. AV2 e AV6
nasceram na cidade, AV3 vive desde os 10 anos de idade no município e se
considera nativo. AV4 e AV7 não são nativos. Fixaram residência na cidade, pela
primeira vez, quando jovens, e ambos saíram da cidade anos depois. Retornaram já
adultos, por motivos também diversos. AV7 porque o cônjuge foi transferido para a
cidade e AV4 se aposentou e buscava tranquilidade. De todos os artesãos, quando
questionados sobre a relação do território com a criação de suas peças, apenas AV6
101
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admitiu que não se inspira na identidade local. AV2 considera que sua inspiração
advém dos pontos turísticos, AV3 e AV7 das belezas naturais e AV4 da maçã.
Em se tratando da participação no projeto, apenas AV4 diz que não
conseguiu se dedicar profundamente a ele, pois estava com um volume de trabalho
elevado, o que dificultou o desenvolvimento de testes em casa. Os outros artesãos
concordam que se dedicaram e todos corroboram no sentido de que gostaram de
participar e na importância desse tipo de atividade.
Todos os respondentes consideram-se como autores das peças
desenvolvidas no projeto. Quando questionados sobre os momentos de criação dos
produtos, apenas AV7 diz que criou somente em casa, os demais entendem que a
criação se deu nos encontros, por meio da troca de ideias com os designers e em
casa, desenvolvendo testes, experimentando possibilidades e aperfeiçoando as
peças. “Apesar da designer poder te orientar, ó tu pode fazer assim, na hora que tu
vai fazer, vai confeccionar, a peça muda”. (ENTREVISTADA AV4, 2015).
Por fim, na pergunta sobre a influência dos designers sobre o trabalho
artesanal, a resposta de AV7, que diz “[...] eu não vou dizer que melhorou, mas
sempre tem alguma coisa diferente que fica melhor né”, diverge dos outros
participantes. Para os outros respondentes, o despertar criativo foi a principal
influência dos designers no seu trabalho. AV3 diz que houve liberdade de criar sobre
uma ideia, de tentar e chegar sozinho a um resultado a partir de um direcionamento
e não de uma imposição. AV4 e AV6 apontam que não imaginavam ser possível
gerar novas ideias sobre técnicas que já utilizam há tempo. AV2 entende que
projetos como o PCA são importantes para a criatividade e geração de novas ideias.
Não seção seguinte estão apresentados os dados captados nas entrevistas
com artesãos do grupo de Santo Antônio do Palma.
6.2.3.2 Entrevistas com artesãos de Santo Antônio do Palma
Do grupo de artesãos, inicialmente composto por seis (6) participantes, foram
eleitos apenas os que apresentaram assiduidade de, no mínimo, quatro encontros,
conforme dados extraídos dos Dossiês. Por este critério, os partícipes foram
convidados para as entrevistas, dos quais dois (2) compareceram para serem
entrevistados e, assim, receberam os códigos de AS1 e AS2.
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Questionados como se sentem fazendo parte de um grupo de artesãos, as
duas entrevistadas afirmam que se encontram com outros artesãos para trabalhar,
porém não enxergam esse como um grupo formal de trabalho. Ambas aprenderam a
lidar com o artesanato quando jovens, através do ensinamento de suas mães, AS1
com 12 anos e AS2 com 10. AS2 menciona que sua mãe era artesã e que
completava a renda da família vendendo os produtos que confeccionava.
Sobre o tipo de produto que confeccionam, AS1 enfatiza a técnica do crochê,
na produção de produtos para cama, mesa e banho. AS2 produz prioritariamente
panos de prato com pintura e barra de crochê. Concordam nas respostas quando
são questionadas a respeito de como criam seus produtos. Ambas buscam modelos
em revistas especializadas, sendo que AS2 complementa suas buscas na internet e
também em programas de televisão, porém as duas fazem alterações nas peças de
acordo com seu gosto pessoal.
O perfil de clientes das respondentes é local, formado por vizinhos e
conhecidos, sendo que AS1 atinge também público de fora da comunidade por
participar de feiras de artesanato.
Ao abordar o assunto turismo durante a entrevista, tanto AS1 como AS2
percebem que os poucos visitantes são atraídos pela cultura polonesa. AS2 não tem
conhecimento de ações turísticas na cidade e explica que não conhece o território o
suficiente, mas que não acredita que existam muitos atrativos no local onde vive.
AS1 responde que participa de ações turísticas, principalmente de feiras fora da
cidade, com transporte oferecido pela prefeitura. Porém, acredita que as iniciativas
nunca partem dos órgãos públicos e se queixa da falta de uma Casa do Artesão,
onde pudessem comercializar suas peças no centro da cidade.
A relação do artesanato com o território, na visão das respondentes, é
divergente entre as artesãs. AS1 nasceu e vive no município, sendo que por um bom
tempo morou na zona rural e há 15 anos retornou ao centro da cidade. Refere que
gosta de viver na cidade, mas quanto a relacionar o território à criação de seus
produtos, diz que vende bem as peças que produz com base nos modelos de
revistas e não acha que exista algo a inspirar na cidade. AS2 mora há um ano no
município e responde que gosta da rede que criou com a comunidade. Quanto à
inspiração, responde que se inspira no território: “Olha, a gente pensa sempre na
cidade, né, então como a gente já mora aqui já quer né... até os panos de prato, eu
vendi um pano de prato com um trator”. (ENTREVISTADA AS2, 2015).
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Do ponto de vista do projeto, ambas respondem que participaram ativamente
de todos os encontros e também das tarefas solicitadas. AS1 diz que gostou de ter
participado, mas teve poucas vendas, que atribui a pouca divulgação e à falta de um
espaço de venda das peças. AS2 responde que gosta de aprender coisas novas e
que aproveitou o projeto. Embora não tenha vendido como gostaria, uma das peças
que desenvolveu teve muita procura. As duas artesãs se sentem autoras das peças
desenvolvidas no projeto: “Sim. Com certeza, fui eu que procurei tudo”.
(ENTREVISTADA AS2, 2015).
Ao serem questionadas sobre em que momento acreditam terem criado as
peças, ambas corroboram no sentido de que criaram principalmente quando
estavam desenvolvendo as tarefas solicitadas, sozinhas em casa, mas que houve
momentos de criação junto aos designers, quando foram incentivadas à reconhecer
o território que serviria de base para o desenvolvimento das peças.
Ambas concordam que os designers estimularam a criatividade, fazendo-as
pensar em algo novo. “É bom ter uma pessoa que, né, te estimula a pensar mais,
né. Porque, às vezes, tu vai querer só olhar uma coisa. As vezes a gente não
raciocina, sei lá, não tem a ideia [...]”. (ENTREVISTADA AS2, 2015). As duas
respondentes dizem que foi uma construção conjunta e que gostaram de participar
do PCA.
A seguir estão apresentados os dados captados nas entrevistas com artesãos
do grupo de Farroupilha.
6.2.3.3 Entrevistas com artesãos de Farroupilha
Do grupo de artesãos de Farroupilha, inicialmente composto por 15
participantes, foram eleitos apenas os que apresentaram assiduidade de, no mínimo,
04 encontros, conforme dados extraídos dos Dossiês. Por este critério, foram
convidados oito (8) partícipes, dos quais seis (6) compareceram para serem
entrevistados, recebendo simultaneamente os códigos AF1, AF2, AF3, AF5, AF7 e
AF8.
Sobre a primeira questão da entrevista, a de fazerem parte de grupos de
artesanato, as artesãs emitiram respostas heterogêneas. AF8 participa da
Associação de Artesãos de Farroupilha há 20 anos, AF1 há 5 anos e AF3 há 4
meses. AF2 participa de um grupo há 4 anos, mas diz que não está formalizado.
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AF7 está tentando montar um grupo que ainda não tem nome e AF5 não participa de
nenhum grupo de artesãos.
Em relação a como aprenderam a fazer artesanato, apenas AF1 aprendeu a
fazer crochê com a mãe, quando era criança. As outras entrevistadas aprenderam
na idade adulta, mas em momentos de vida diversos. AF7 aprendeu fazendo cursos
e AF8 assistindo a apresentações de como fazer artesanato na televisão. Três
artesãs buscaram cursos para sair da depressão: AF5 há 10 anos, AF3 há 3 anos e
AF2 não informou há quanto tempo faz artesanato.
As artesãs AF2, AF3 e AF8 afirmam produzir prioritariamente peças através
das técnicas de costura e patchwork, confeccionando produtos relacionados à casa
como panos de prato e pesos de porta, entre outros. AF3 relata que prefere ministrar
cursos, pois “tem que tá sempre inovando e fazendo coisas diferentes ou
aprendendo novas técnicas, por isso que eu achei que a minha área teria que ser
pra ensinar”. (ENTREVISTADA AF3, 2015). AF1 diz que produz colchas, cortinas e
guardanapos, focando na técnica do crochê e AF7 produz chaveiros de miçanga
com pedraria, peças de biscuit e Espuma vinílica acetinada - E.V.A. AF5 responde
que produz peças com matéria-prima que encontra em sua propriedade, na maioria
bonecos, flores de palha de milho e esponja vegetal.
Quando questionadas sobre de que maneira criam seus produtos, AF5 é a
única respondente que afirma criar livremente suas peças, seja por observação ou
mesmo usando as flores de seu jardim como moldes. As outras respostas
convergem no sentido de que buscam modelos em revistas, programas de televisão
e principalmente na internet.
As participantes têm como clientes tanto a comunidade como público externo,
mas a representatividade desses dois perfis varia de acordo com cada respondente.
AF1 e AF5 vendem tanto para a comunidade, na loja do artesão ou em casa (no
caso de AF5), quanto em feiras realizadas em outros municípios. AF3 e AF8
atendem basicamente à comunidade, pois fazem feiras no centro da cidade e
vendem na loja do artesão, em contraponto com AF2, que vende somente para o
público externo em feiras que faz em outros municípios.
Sobre a percepção do turismo no território, AF1 diz que percebe o turismo
religioso, assim como AF3, que, apesar de perceber o turismo religioso, responde
que não considera este o turismo legítimo:
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Bom, turismo propriamente dito como a gente conhece nas cidades turísticas mesmo não existe, né. Única coisa que eu vejo assim que existe é aquele turismo religioso que não é bem turismo, que eles vem ali não pra passear, eles vem ali pra rezar. (ENTREVISTADA AF3, 2015)
AF2 percebe o turista religioso e também o turista de compras, atraído pelas
malharias da cidade e AF7 não percebe quantidade de turistas, apenas ônibus de
excursões que vão para as malharias, e reclama não serem turistas interessados na
cidade. AF8 não percebe turismo na cidade, enquanto AF5, por morar em uma
localidade abrangida por uma rota turística percebe o turismo, principalmente por
meio de visitantes que passam em frente à sua propriedade e pedem informações.
Converge a maioria das respostas sobre participação em ações de turismo.
AF5 cita que participa de feiras quando surge oportunidade e AF8 não participa
diretamente de ações turísticas, mas as representantes do grupo de artesãos do
qual faz parte participam e passam as informações captadas para as associadas. As
outras não participam de atividades turísticas no município, sendo que AF7 diz que
não sabe do que se trata esse tipo de ação.
As artesãs AF1, AF2 e AF7 são nativas, enquanto AF3, AF4 e AF8 não o são,
porém vivem há mais de 30 anos na cidade. A totalidade das respostas convergem
no sentido de que as participantes gostam de viver na cidade e que a adotaram para
si, no caso das que não são nativas. “Não, não nasci em Farroupilha. Eu adotei
Farroupilha né. Vim pra cá ainda pequena, cresci e casei, veio filhos, veio os netos e
aqui fiquei e vou ficar”. (ENTREVISTADA AF8, 2015). Quando questionadas sobre
utilizar o território como inspiração para criar as peças, AF7 diz que se inspira nos
pontos turísticos, AF1 nas belezas naturais e AF8 já se inspirou no kiwi para fazer
produtos, mas agora não se inspira mais. AF5 diz que se inspira no que encontra na
sua propriedade para criar suas peças, enquanto que AF2 não se inspira no
território, apenas em modelos que encontra na internet. AF3 diz que não se inspira
no território para criar seus produtos, pois não acha que tenha alguma coisa que
possa inspirar.
Em se tratando da participação no PCA, as artesãs unanimemente
respondem que gostaram de participar e apenas AF1 acentua que não pôde se
dedicar como gostaria por questões pessoais. AF3 classifica o projeto como
desafiador, principalmente por ter que se inspirar na cidade e AF7 pensou que era
um curso de artesanato, se surpreendendo positivamente com a maneira como os
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encontros ocorreram. “Então, assim, eu me senti muito bem, me senti desafiada
porque eu gosto de ser desafiada. E fiz aquilo com amor, carinho, dedicação, como
eu gosto de dizer, não tive dificuldade, não”. (ENTREVISTADA AF3, 2015).
As participantes, na maioria, respondem que se sentem autoras dos produtos
que desenvolveram. Apenas AF2 atribui uma parte do resultado que obteve aos
designers e AF8 diz que se sente coautora, pois acha que as designers, por
desenharem os símbolos que serviram de base para suas peças, também são
autoras.
As respostas são divergentes quanto aos momentos de criação das peças.
Enquanto AF1, AF3, AF5 e AF8 dizem ter criado suas peças em casa fazendo
testes, AF2 e AF7 acreditam que a maior parte dos momentos criativos ocorreu na
troca com os designers, durante os encontros.
Ao serem questionadas sobre como os designers influenciaram no seu
trabalho artesanal, AF1 e AF2 dizem que influenciou na maneira de desenvolver as
peças e na criatividade, enquanto AF5 responde que achou que foi bom para a sua
criatividade, por ser um projeto diferente dos cursos de artesanato onde a professora
diz o que tem que ser feito e não se pode ir atrás de suas próprias ideias. “Então por
ali eu tive essa que ninguém me disse como que eu tinha que fazer. Eu tinha que
fazer. Criar”. (ENTREVISTADA AF5, 2015). AF7 ressalta que achou importante o
trabalho e a maneira como aconteceu e AF8 destaca a influência na criação de
peças diferentes do que existe no mercado. AF3 evidencia que as designers foram
decisivas para dar o norte do trabalho. A unanimidade nas respostas das artesãs
acentua a satisfação por participar do projeto e de como ele se desenvolveu.
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6.2.4 Síntese das entrevistas
As entrevistas tiveram como objetivo aprofundar o sentido da coleta de dados
na unidade de pesquisa, assim como buscar evidências da influência do design na
relação entre artesãos e seus territórios, do ponto de vista dos participantes do
projeto citado. O Quadro 6 apresenta uma síntese das respostas colhidas, divididas
por perfil de participante e de modo a acompanhar os blocos de perguntas divididos
de acordo com áreas afins.
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Quadro 6 – Síntese das entrevistas
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Fonte: Elaborado pela autora, 2016.
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O Quadro anterior evidencia a semelhanças e diferenças das falas em relação
às questões abordadas. A intenção, na apresentação deste Quadro, foi permitir a
visualização adequada, favorecendo comparação analítica das informações
prestadas pelos partícipes, de maneira a estabelecer sua organização, facilitando e
concretizando a constatação dos dados, para atingir os resultados esperados, a
serem discutidos na próxima seção.
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7 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Conforme explicitado no item 2.5, a análise de dados da presente pesquisa
está fundamentada na análise de conteúdo. Segundo Bardin (2009), consiste na
sistematização de um conteúdo, podendo se referir à produção icônica de um grupo
como também a entrevistas de qualquer espécie.
Em um primeiro momento apresenta-se a análise documental do contrato que
regeu o PCA e, em seguida, os Dossiês que os compõem. Alicerçada na teoria de
Bardin (2009), a produção artesanal registrada nos Dossiês foi analisada através da
comparação com as temáticas definidas para desenvolvimento das coleções de
cada município. Para tanto, foram comparados os registros fotográficos dos produtos
finais de cada participante com a lista de elementos identitários definidos pelo grupo
e também com os grafismos desenvolvidos pelos designers.
Para a análise dos dados das entrevistas, apresentada em um segundo
momento da análise, selecionou-se a ferramenta ELITO, indicada quando se trata de
grandes quantidades de dados qualitativos. As análises foram desenvolvidas com
base em critérios extraídos da fundamentação teórica dessa pesquisa.
A seguir a análise documental é apresentada.
7.1 ANÁLISE DOCUMENTAL
Dos documentos que compõem o PCA, selecionou-se o Contrato de
Prestação de Serviço, firmado em 08 de agosto de 2014 entre a contratante
ATUASERRA e a contratada Oferenda Objetos e Design LTDA. para a análise
documental da presente pesquisa.
O documento que integra o Edital Convite Nº 02/2014 apresenta como
objetivo a realização de “oficinas/assessorias/design”, a serem executadas para
artesãos nos municípios que compreendem a Região Uva e Vinho, Associados da
ATUASERRA, por meio das Secretarias de Turismo, Educação, Cultura,
Associações de Artesãos. Consta no Contrato a realização de oficinas, denominadas
como Oficinas de Qualificação, em nove (9) municípios: Bento Gonçalves, Carlos
Barbosa, Casca, Farroupilha, Nova Bassano, Nova Prata, Santo Antônio do Palma,
Serafina Corrêa e Veranópolis, todos localizados no Rio Grande do Sul e integrantes
da Região Uva e Vinho.
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O contrato estabelece, ainda, a carga horária de vinte horas para cada grupo
de artesãos, distribuídas em cinco encontros quinzenais de quatro horas, no período
compreendido entre agosto de 2014 e maio de 2015.
Sobre o número de participantes, o documento apresenta, no item
denominado Observação 2 que, em caso de um dos municípios previstos não
demonstrar interesse ou não tiver no mínimo 15 inscritos, haverá nova seleção para
que ocorra em outro município.
Por fim, o Parágrafo 3 do contrato analisado aborda o registro das atividades
e cita que ao término de cada uma das programações a contratada devolve para a
ATUASERRA os documentos de comprovação da realização das oficinas. Os
documentos comprobatórios podem ser no formato de Fichas de Inscrição e Dossiês
contendo a frequência por encontro e o desenvolvimento particular de cada
participante.
Os Dossiês compõem a segunda parte da análise documental. Para tanto,
foram coletados Dossiês correspondentes aos grupos de Veranópolis, Farroupilha e
Santo Antônio do Palma.
Os dados que relacionam a produção final de cada artesão com os elementos
pré-definidos como diretrizes para o desenvolvimento criativo dos grupos foram
comparados e analisados. Os registros fotográficos dos produtos resultantes do
PCA, registrados nos Dossiês, conforme apresentado na seção 6.1, foram
comparados com os elementos identitários definidos em reunião com artesãos e
turismólogos e com a produção dos grafismos desenvolvidos pelos designers, que
serviram de base para a criação das peças artesanais.
Os artesãos de Veranópolis definiram, em conjunto com o turismólogo e os
designers, que os elementos inspiracionais seriam a maçã, a longevidade
representada pela Figura do idoso e a padroeira da cidade, Nossa Senhora de
Lourdes, conforme apresentado no item 6.1 da presente pesquisa.
O Quadro 7, relaciona a produção de cada artesão analisado nesse município
com os elementos identitários definidos pelo grupo no desenvolvimento do PCA. A
coluna “Adesão” indica, na visão da pesquisadora, se houve apropriação desses
elementos por parte do artesão.
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Quadro 7 – Análise do Dossiê de Veranópolis
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Fonte: Elaborado pela autora, 2016.
No município de Veranópolis, dois (2) artesãos dos cinco (5) analisados
seguiram parcialmente os elementos definidos. AV2 desenvolveu um número
considerável de produtos inspirados na maçã, porém optou por se inspirar nos
elementos decorativos das casas dos imigrantes italianos, representados em peças
de madeira como cabideiro, pingente para colar e porta-chaves. O Dossiê apresenta
a origem italiana nos resultados da reunião inicial para determinação dos elementos
significativos do município, porém esta característica não está definida como
elemento base para o desenvolvimento da coleção. O participante AV6, além de
criar peças inspiradas nos idosos e na maçã, desenvolveu um livro de tecido que
apresenta os principais pontos turísticos da cidade. Alguns dos símbolos não
estavam listados na seção do Dossiê, que apresenta os resultados da reunião inicial
com o grupo de artesãos e o turismólogo, como a Igreja Matriz, mas outros, como a
Torre Giratória, constam na lista de elementos significativos da identidade do
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território. Nenhum desses símbolos foi definido como elemento base para o
desenvolvimento da coleção. Por isso, o artesão seguiu parcialmente os elementos
definidos. Os outros três (3) artesãos seguiram, na totalidade, os símbolos definidos,
seja se apropriando dos grafismos desenvolvidos pelos designers seja pela livre
inspiração nos elementos significativos do território.
A agroecologia serviu de base para os artesãos criarem as suas peças em
Santo Antônio do Palma, porém não foram projetados elementos gráficos
específicos. O Quadro 8 mostra a análise do resultado do trabalho desenvolvido
pelos artesãos participantes do PCA.
Quadro 8 – Análise do Dossiê de Santo Antônio do Palma
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Fonte: Elaborado pela autora, 2016.
Os dois (2) artesãos partícipes pertencentes ao grupo de Santo Antônio do
Palma seguiram os elementos definidos. Os designers não criaram elementos
gráficos para o grupo e os artesãos se inspiraram livremente no território, seguindo
as diretrizes definidas para a coleção.
Para o grupo de artesãos de Farroupilha, o eixo inspiracional foi
fundamentado em Nossa Senhora do Caravaggio, padroeira da cidade e no kiwi. O
Quadro 9, apresenta o resultado da análise do Dossiê do município de Farroupilha.
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Quadro 9 – Análise do Dossiê de Farroupilha
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Fonte: Elaborado pela autora, 2016.
Conforme o Quadro 9, dos seis (6) artesãos do município de Farroupilha, dois
(2) seguiram parcialmente os elementos definidos, pois optaram por trabalhar a
figura do imigrante italiano, representado em bonecos. Constata-se que o Dossiê
apresenta elementos relacionados à origem italiana nos resultados da reunião inicial
para determinação das características que significam o município, porém sem se
definir como elementos base para o desenvolvimento da coleção. Os outros quatro
(4) artesãos seguiram na totalidade os símbolos definidos, seja se apropriando dos
grafismos desenvolvidos pelos designers seja pela livre inspiração nos elementos
significativos do território.
Compilando os dados de todos os participantes, dos treze (13) artesãos
analisados, quatro (4) seguiram parcialmente os elementos definidos pelos grupos
como diretrizes para a criação dos produtos. Cabe ressaltar, que dos quatro (4)
artesãos que seguiram parcialmente os elementos definidos, três (3) se inspiraram
em elementos que emergiram das reuniões desenvolvidas com os designers e os
turismólogos, sendo os mesmos a se inspirarem em elementos da imigração italiana
na região.
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Após a comparação dos resultados dos artesãos com os elementos
inspiracionais pré-definidos, a análise é feita comparando os produtos desenvolvidos
pelos artesãos com os grafismos desenvolvidos pelos designers. Partindo do
princípio de que todos os partícipes analisados seguiram, parcialmente ou na
totalidade, os elementos pré-definidos junto aos designers e turismólogos, importa
verificar como se deu essa apropriação. A Figura 23 demonstra o volume de
artesãos que utilizaram os grafismos e os que optaram pela livre inspiração como
base para a criação de seus produtos. A inspiração livre, neste caso, trata-se de
artesãos que se inspiraram nos elementos pré-definidos junto aos designers e
turismólogos, porém sem utilizar os grafismos desenvolvidos como base para suas
criações.
Figura 23 – Análise de Dossiês: grafismos
Fonte: Elaborado pela autora, 2016.
Mesmo que o grupo de artesãos de Santo Antônio do Palma não tenha
apresentado peças gráficas projetadas para serem utilizadas no seu processo
criativo, sendo a livre inspiração sua única opção criativa, do total da amostra a
maioria dos artesãos optou por fazer uso dos grafismos no desenvolvimento de seus
produtos.
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Consideram-se analisadas as informações documentais selecionadas para
análise nesta seção do estudo. A seguir estão apresentadas as análises de
conteúdo e a discussão dos resultados da pesquisa.
7.2 ANÁLISE DE CONTEÚDO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Seguindo a teoria de análise de conteúdo de Bardin (2009), a ferramenta
ELITO proporcionou a organização das análises em três (3) blocos, que
correspondem ao agrupamento de áreas afins das perguntas feitas nas entrevistas,
conforme citado no item 6.2 da presente pesquisa. Primeiramente é analisado o
perfil dos entrevistados, após, a relação dos participantes com o território e o turismo
e, por fim, quanto ao Projeto de Capacitação do Artesanato.
7.2.1 Perfil dos entrevistados
Para analisar elementos relativos ao perfil dos artesãos, dados foram obtidos
nos Dossiês, especificamente no Quadro denominado “Técnicas e Produtos” e na
foto correspondente. Esses dados foram cruzados com os captados no bloco de
perguntas referentes à história do participante com o artesanato, conforme descrito
no item 6.2.3 dessa pesquisa. São perguntas que tratam da relação do artesão com
o fazer artesanal, como aprendeu e com quem aprendeu a fazer artesanato, se faz
parte de um grupo de artesãos, qual o perfil de sua produção artesanal e de seu
consumidor. Acredita-se que o cruzamento de dados oriundos de diferentes fontes
enriquece a pesquisa, ampliando a complexidade dos resultados obtidos.
A maioria dos artesãos aprendeu a fazer artesanato quando criança,
ensinados pelas mães ou por algum familiar próximo, demonstrando uma relação
afetiva com o fazer artesanal.
Para analisar os processos produtivos dos artesãos partícipes do PCA que
fazem parte da presente pesquisa, utilizou-se do Quadro 3, que consta na seção 5.1
e aborda as categorias de processos produtivos, de acordo com o Termo de
Referência do Artesanato (SEBRAE, 2010). Dentre as nove (9) categorias
apresentadas no Quadro, três (3) aparecem no perfil dos artesãos: artesanato,
trabalhos manuais e artesanato tradicional.
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A categoria Artesanato trata do conceito proposto pelo Conselho Mundial do
Artesanato e define, como atividade artesanal, toda produção que resulte em objetos
acabados. Em suma, refere-se a todo e qualquer objeto ou artefato que exija
manufatura manual e demonstre que foi executado com habilidade, qualidade e
criatividade, de maneira tradicional ou rudimentar. Já a categoria Artesanato
Tradicional resulta em artefatos mais expressivos da cultura de um determinado
grupo, representando sua identidade. Desenvolvido geralmente em núcleos
familiares, constitui fator determinante para a transferência de conhecimentos entre
aquele grupo étnico ou territorial, e para a perpetuação do fazer original.
Em oposição às categorias anteriores, os Trabalhos Manuais são
classificados como atividades que utilizam moldes definidos e, mesmo exigindo
destreza e habilidade, resultam em produtos de estética pouco elaborada.
Geralmente são desenvolvidos como ocupação secundária. (SEBRAE, 2010).
Os resultados apresentados na Figura 24 mostram a predominância de
processos produtivos denominados Trabalhos Manuais, principalmente nos grupos
com maior número de participantes analisados. Isso se dá prioritariamente devido
aos artesãos que desenvolvem produtos com base em modelos retirados de revistas
especializadas, programas de televisão voltados ao fazer manual e da internet, pois
essa categoria engloba produções que utilizam moldes e padrões. A categoria
Artesanato apareceu nos grupos de Farroupilha e Santo Antônio do Palma e
abrange produções criativas, de qualidade e que utilizem técnicas tradicionais para a
execução de produtos. Já a categoria Artesanato Tradicional foi encontrada nos
grupos de Veranópolis e Farroupilha, tendo como diretriz a produção de artefatos
relacionados à cultura e tradição de um grupo, incorporadas no seu cotidiano.
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Figura 24 – Categorias de Processos Produtivos
Fonte: Elaborado pela autora, 2015.
A análise dos dados demonstra e os resultados atestam o perfil homogêneo
de artesãos.
Quanto ao perfil dos artesãos, em se tratando das categorias de organização
do trabalho, aproveita-se aqui da análise do Quadro 4, que consta na seção 5.1 e
também faz parte do Termo de Referência do Artesanato (SEBRAE, 2010). Das
nove (9) categorias listadas no Quadro 4, três aparecem nos perfis analisados dos
partícipes do PCA. Uma delas é a categoria denominada Artesão, aquele que detêm
o conhecimento sobre materiais, ferramentas e processos da técnica que
desenvolve. Também o Grupo de produção artesanal, correspondente ao conjunto
de artesãos de diversos segmentos que se agrupam informalmente para obter
vantagens na aquisição de matérias-primas e em estratégias promocionais. Por
último, aparece a Associação, instituição de direito privado sem fins lucrativos que
se constitui sob a égide de zelar pelos interesses daqueles que dela fazem parte.
(SEBRAE, 2010).
A Figura 25 demonstra a sistematização dos dados analisados oriundos dos
Dossiês e das entrevistas com os partícipes e mostra uma predominância de
artesãos organizados em associações. Informação essa que tem o poder de reforçar
o que foi mencionado na seção 6.2.1, referente à entrevista com a diretora executiva
da ATUASERRA, quando afirma que, em praticamente todos os municípios, existe
uma associação de artesãos. (ENTREVISTADA DE, 2015).
118
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Figura 25 – Categorias de Organização de Trabalho
Fonte: elaborado pela autora, 2015.
A Figura mostra que a totalidade dos participantes do grupo de Veranópolis
está organizado em uma Associação, enquanto os artesãos de Santo Antônio de
Palma se organizam informalmente em um grupo de produção artesanal. O
município de Farroupilha apresenta um perfil heterogêneo, com três tipos de
organização de trabalho: Associação, Grupo de Produção Artesanal e Artesão.
Ao comparar os entrevistados do ponto de vista da sua relação com o PCA,
percebe-se a divergência de perfis dos partícipes. A entrevistada DE é mestre em
Ciências Sociais, professora universitária e as emissões de suas falas explicitam o
conhecimento na área de turismo. Além disso, pelo tempo de permanência no cargo
de diretora executiva, apropriou-se do domínio da região e de seus atores.
As duas entrevistadas que são bacharéis em turismo, TV e TF, não só
demonstraram habilidade e conhecimento na área, como também atuam no
desenvolvimento do setor. Cabe ressaltar que ambas trabalham em municípios que
têm o turismo estruturado, diferente do profissional técnico, que tem formação em
Ciências Jurídicas e Sociais e atua em uma região onde há pouco fluxo turístico.
A maioria dos entrevistados foi composta por artesãos. A Figura 26
sistematiza as palavras-chave que emergiram do bloco de respostas sobre
informações dos artesãos e sua relação com o artesanato.
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Figura 26 – Palavras-chave: artesãos e artesanato
Fonte: Elaborado pela autora, 2016.
As perguntas direcionadas aos artesãos focaram na sua relação com o
artesanato. Pode-se perceber que a maioria aprendeu o ofício na infância e que a
minoria apontou cursos como fonte de aprendizado. Em relação ao público
consumidor, o consumo local é predominante em detrimento a outros canais de
venda. Além disso, é evidente a convergência de respostas dos artesãos em relação
a basear-se em modelos da internet e de revistas para desenvolver seus produtos.
A seguir, apresenta-se a relação entre os entrevistados, o território e o
turismo.
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7.2.2 Relação dos entrevistados com o território e o turismo
Em relação ao território, há uma divisão quase igualitária entre artesãos
nativos e não nativos nos municípios analisados, porém não há uma relação direta
entre os nativos e a inspiração no território para criar produtos. Conforme demonstra
a Figura 27, quando questionados sobre a inspiração no território antes do início do
PCA, houve uma divergência nas respostas dos artesãos.
Figura 27 – Artesãos e inspiração no território
Fonte: Elaborado pela autora, 2016.
Esse cenário vai ao encontro da temática da globalização e territorialidade,
presente na seção 3 dessa pesquisa, onde UNESCO (2003), Canclini (2008), Ono
(2004) e Ianni (1999) apontam a possibilidade de desaparecimento do patrimônio
cultural motivada pela desterritorialização e padronização cultural decorrentes dos
processos de globalização. Para Souza (2010), Freitas e Nicacio (2014) e Krucken
(2009), o artesanato pode servir como mapeamento territorial, impulsionando o
reconhecimento da identidade em um grupo social. Os teóricos apontam que uma
maneira de fomentar esse desenvolvimento é por meio de ações territoriais, pelas
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quais a inserção do design volte-se para a criação de um artesanato identitário, que
sirva para manter o patrimônio e estimular o turismo.
Quando responde sobre o turismo, DE mostra que atua ativamente em prol do
desenvolvimento da área na região, demonstrando orgulho dos resultados
alcançados nos anos de trabalho. Há segurança na expressão de sua fala, ao
evidenciar dados sobre o setor. Quando se refere a ações voltadas ao
desenvolvimento do território atreladas ao turismo, pode-se associar ao que foi
levantado no item 4.1. Alexandre e Coriolano (2011) e MTUR (2010a) contribuem ao
reforçarem sobre a importância da definição de região turística, para que se possa
planejar e gerir projetos turísticos, visando à valorização das identidades culturais, a
revalorização do entorno local e a salvaguarda do patrimônio.
A entrevistada DE diz que o reconhecimento das comunidades, a relação
entre os atores e principalmente a articulação entre instâncias públicas e privadas
faz com que se obtenham resultados positivos, o que corrobora com as informações
levantadas com o MTUR (2006; 2013) no item 4 da presente pesquisa. Estas
informações pontuam o turismo como uma possibilidade de desenvolvimento
socioeconômico brasileiro, respeitando as características identitárias de cada lugar e
integrando de atores de diversas esferas, visando a facilitação de ações estratégicas
de desenvolvimento territorial.
Assim como DE, por terem acesso aos dados relacionados ao turismo, as
técnicas Turismólogas manifestaram-se com segurança em suas falas sobre o
assunto, além de se posicionarem como partícipes das decisões voltadas ao turismo
relacionado com o território. Emerge das falas das técnicas a importância da cultura
difundida pelos colonizadores italianos e poloneses como atrativo turístico da região,
acentuando o que foi levantado no item 4.1, apontado pela UNWTO (2004; 2015) e o
MTUR (2006; 2010a), quando tratam do Turismo Cultural. Nesse tipo de atividade, a
motivação dos visitantes é a vivência do estilo de vida local e a imersão no que
constitui a sua identidade, por meio do artesanato, da culinária e dos rituais e
festividades locais.
A Figura 28 apresenta as palavras-chave que emergiram das respostas de
todos os perfis entrevistados.
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Figura 28 – Palavras-chave que emergiram das respostas sobre turismo
Fonte: Elaborado pela autora, 2016.
Analisando a figura acima é possível detectar uma heterogeneidade das
respostas nos diferentes perfis de entrevistados. Enquanto a maioria de artesãos
considera o turismo fraco, os técnicos apontam diversos tipos de atividade turística
em seus territórios. Já DE tem uma posição contrária à da maioria de artesãos,
considerando o turismo consolidado na região. Essa disparidade de respostas
apresenta um nível de compreensão e de envolvimento com o turismo diferente
entre os entrevistados. Constata-se que a percepção sobre o tema fica mais clara
entre os entrevistados técnicos e também entre os artesãos que fazem parte de
ações voltadas ao desenvolvimento turístico.
No intuito de analisar a produção final dos artesãos partícipes da pesquisa,
decidiu-se realizar o cruzamento de dados dos Dossiês e das entrevistas. Para
tanto, nos Dossiês foram utilizados os registros fotográficos dos Produtos Finais,
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parte do documento apresentada na seção 6.1 desse estudo. Já os dados utilizados
nas entrevistas referem-se às questões relacionadas ao projeto.
O Guia de Produtos Associados ao Turismo - Caminhos do Fazer (MTUR,
2010b), desenvolvido pelo Ministério do Turismo e apresentado na seção 4.2 da
presente dissertação, organiza os produtos associados ao turismo em três (3)
categorias. Entre elas, aquela que engloba o artesanato, agropecuária e
agroindústria típica de uma localidade turística se chama Unidades Produtivas. �
Há convergência das falas emitidas pelos artesãos que levam à categoria
Unidades Produtivas, por apontarem um despertar criativo dos artesãos para a
identidade local, gerando inovação. Tanto os artesãos, quanto os técnicos e a
diretora executiva da ATUASERRA abordam que o diferencial do projeto foi
relacionar o território, o artesanato e o turismo. Os técnicos enfatizam que, para
eles, é importante ter produtos artesanais relacionados ao território, para
desenvolverem o setor turístico.
[...] acho que foi bem positivo, tá, acho que chegou nuns produtos realmente bem interessantes que mostra bem Veranópolis [...] os atrativos turísticos, os principais atrativos turísticos, que é o que o turista quer levar pra casa, né. (ENTREVISTADA TV, 2015).
A diretora executiva da ATUASERRA diz que é primordial que o artesanato
seja identitário, pois assim ele pode fazer parte da cadeia produtiva do turismo. Para
DE, é preferível que o artesanato e o turismo de uma região sejam desenvolvidos
concomitantemente, pois o artesanato voltado ao território é o vínculo do turista com
o lugar. DE diz que os produtos gerados no projeto têm essa característica. O ponto
de vista dos artesãos enfatiza a categoria de Unidades Produtivas, pois a maioria
aponta que descobriu que pode criar coisas diferentes ao se inspirar no território.
Os registros fotográficos dos produtos finais e a compilação de dados
apresentada na seção 7.1 desta pesquisa confirmam o que dizem os participantes
entrevistados.
A próxima seção está destinada à apresentação da análise de conteúdo
quanto ao Projeto de Capacitação do Artesanato.
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7.2.3 Quanto ao Projeto de Capacitação do Artesanato
As análises apresentadas quanto ao Projeto de Capacitação do Artesanato –
PCA se voltam para as questões dos roteiros das entrevistas que abrangem esse
tema. As palavras-chave captadas a partir da ferramenta ELITO emergiram das
respostas dos entrevistados e são apresentadas na Figura 29. Separadas por cores
relativas ao perfil de respondente, foram registradas levando em consideração o
número de vezes que foram encontradas. Optou-se por distribuir as palavras-chave
na Figura 29 aglomerando-as por semelhança.
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Figura 29 – Palavras-chave relacionadas ao PCA
Fonte: Elaborado pela autora, 2016.
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Em relação à participação no projeto, os comentários revelam que a maioria
dos artesãos sente que se dedicou e valorizou o trabalho, seja pela assiduidade nos
encontros seja pela execução das tarefas solicitadas. No que diz respeito à autoria
dos produtos, a maioria se sente autora das peças e revela orgulho e valorização do
que foi produzido. Poucos atribuem a coautoria aos designers e apenas um não se
sente autor. Esse mesmo participante aparenta não ter interagido com os designers
e não compreender o motivo dos encontros, revelando que apenas seguiu os
elementos gráficos indicados para a criação das peças.
Há neste ponto uma divergência. Mais da metade dos artesãos considera que
criou a partir dos momentos em que esteve com os designers, frisando que foi por
meio das trocas criativas. O restante sente que os momentos criativos foram em
casa, experimentando possibilidades e desenvolvendo testes, pois puderam se
concentrar melhor. Essa divergência indica uma diferença no perfil dos participantes,
porém não existem dados suficientes sobre particularidades dos indivíduos que
revelem esses perfis.
Borges (2011, p.59) aponta caminhos já experimentados na intervenção do
designer em grupos de artesãos, conforme apresentado na seção 5.4 da presente
pesquisa. Dentre os seis (6) caminhos listados estão a melhoria das condições
técnicas e o desenvolvimento de identidade e diversidade nos grupos e ações que
podem ser combinadas na busca pelo desenvolvimento dos artesãos.
Ao interpretar as falas contidas nas entrevistas, pôde-se perceber que do
ponto de vista de DE, a influência do design nos grupos foi no sentido de melhoria
das condições técnicas, no desenvolvimento da identidade baseada na
territorialidade e na diversidade. Essa diversidade apresenta-se para DE na maneira
como ocorreu a troca entre designers e artesãos, respeitando as individualidades
dentro dos grupos, porém gerando um resultado harmônico e satisfatório.
[...] o bacana é a gente olhar, assim, pro resultado que Veranópolis construiu, do que Nova Prata construiu, do que Santo Antônio do Palma fez, do que os outros municípios também fizeram, né. Então eu vejo, né, resultado realmente, assim, muito satisfatório. (ENTREVISTADA DE, 2015).
As falas dos profissionais técnicos coincidem com DE, principalmente em se
tratando da construção de uma identidade e diversidade. A concordância é unânime
ao afirmar que houve uma conexão do artesanato com as características
particulares dos territórios, gerando produtos inovadores e identitários. TS aponta
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que a inovação e a autenticidade das peças pode aumentar a renda das artesãs,
valorizando seu trabalho. TF afirma que o estreitamento da relação entre artesãos e
seu território por meio do desenvolvimento de produtos, facilita a promoção do
turismo no município.
Do ponto de vista dos artesãos, a influência do design divide-se em melhoria
das condições técnicas e identidade e diversidade, sendo essa apontada pela
maioria dos participantes. Para Eles a troca com designers gerou produtos inéditos e
relacionados com os lugares onde vivem. A maioria entende que, dessa maneira, há
maior valorização de seus produtos e uma possibilidade de atuação no setor
turístico.
Na totalidade dos entrevistados um se destaca pela visão crítica em relação
ao projeto. Considera seu trabalho de qualidade e não acredita que os designers
influenciaram seu artesanato. Parece não ter compreendido o objetivo de criar peças
voltadas ao território e demonstra não querer continuar com a produção.
Embora tenham sido desenvolvidas pelos designers e entregues aos grupos,
nenhum entrevistado citou as identidades visuais projetadas para as coleções, o que
exclui o que Borges (2011) denomina como construção de marcas. Do mesmo
modo, também, não foram citados os itens denominados potencialidades dos
materiais locais e artesãos como fornecedores, que fazem parte dos caminhos
listados pela autora na intervenção de designers em grupos de artesãos.
De certa maneira, a união dos dois caminhos citados, melhoria das condições
técnicas e identidade e diversidade, pode ser considerada uma ação combinada, já
que a maioria dos respondentes, principalmente artesãos, converge para a união de
ações em suas respostas.
Bonsiepe (2012) sistematiza enfoques da união do design e artesanato,
organizando-os em seis categorias, conforme apresentado no Quadro 4 da seção
5.3 deste estudo O autor trata das intersecções entre design e artesanato sob seis
(6) enfoques, sendo o enfoque Promotor da Inovação aquele que, por meio da
participação ativa dos artesãos, gera autonomia, para que possam melhorar suas
condições de vida.��
Ao falar sobre os artesãos, DE mostra-se preocupada em desenvolver o
artesanato, não somente no âmbito de produção de produtos, mas também na
valorização dos indivíduos como representantes da identidade local. Discorre sobre
ações que vêm sendo desenvolvidas desde 1998, para que hoje se perceba que há
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valor na produção artesanal local. Em se tratando da escolha dos municípios, DE
justifica que é definida sob o critério do nível de desenvolvimento turístico de cada
território. Percebe-se que há uma determinação que parte de DE e não fica claro se
outros técnicos participam da decisão. Para a entrevistada “[...] quando a gente fala
de territorialidade e a gente fala em atratividade das questões que a gente nunca
pode deixar fora do turismo, é a cadeia produtiva do turismo” (DE, 2015). DE diz que
o artesanato faz parte desta cadeia produtiva e que deve ser desenvolvido
concomitantemente com o turismo nos territórios.
Analisando as afirmações dos entrevistados, a totalidade converge para esse
enfoque. Tanto os artesãos, como os técnicos e também a diretora executiva da
ATUASERRA acentuam o caráter inovador do projeto em questão. TF acha que
essa inovação foi muito boa para o grupo, o que vai ao encontro do que diz TS sobre
a autenticidade das peças, no sentido de possibilitar o aumento da renda das
artesãs. Não há nenhum indicador para os outros enfoques, uma vez que nenhum
dos artesãos, nem mesmo os técnicos e a diretora da ATUASERRA, consideram
que os produtos desenvolvidos pelos participantes anteriormente apresentem traços
culturais. Isso exclui o enfoque culturalista, que parte de projetos que tenham
significado no âmbito cultural como base para o desenvolvimento do verdadeiro
design latino-americano.
Nenhum dos entrevistados, seja do bloco de artesãos, seja do bloco de
técnicos, considera que o projeto tenha enfoque paternalista, por não se referirem
em momento algum aos órgãos públicos como fomentadores do que foi
desenvolvido por eles. Apenas os técnicos indicam que os municípios participaram
do projeto por uma afinidade com a ATUASERRA, mas não como clientes de um
projeto assistencialista. O enfoque conservador é descartado pelo simples fato de o
projeto ser composto por uma equipe de designers que atuou diretamente junto aos
artesãos. Tanto o enfoque estetizante, que eleva os artesãos ao status de artistas,
como o produtivista, que aborda a produção artesanal como mão de obra qualificada
e barata, considerados enfoques opostos, não apresentam nenhuma relação com os
dados coletados nas entrevistas.
Para corroborar com o enfoque promotor da inovação, cabe o registro de uma
fala emitida por TS, que diz:
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Foi bastante válido, assim. A gente nota que tão sendo criadas novas peças, peças novas, peças que não estavam sendo produzidas aqui e com isso, no meu ponto de vista, acaba gerando um... assim, mais vendas, né, pra elas. (ENTREVISTADA TS, 2015).
Para uma análise relacionada ao PCA no sentido do desenvolvimento de
produtos locais voltados ao território, optou-se por utilizar as oito ações essenciais
de Krucken (2009), apresentadas anteriormente na seção 5.3 da presente pesquisa.
Embora, segundo a autora, não haja uma receita única, essas ações, desenvolvidas
sob a perspectiva do design, podem servir de base para projetos voltados ao
território, sendo elas: reconhecer as qualidades do produto e do território; ativar as
competências situadas no território; comunicar o produto e o território; proteger a
identidade local e o patrimônio material e imaterial; apoiar a produção local;
promover sistemas de produção e de consumo sustentáveis; desenvolver novos
produtos e serviços que respeitem a vocação e valorizem o território e consolidar
redes no território.
O Quadro 10 apresenta uma análise do PCA a partir de parâmetros de
Krucken (2009).
Quadro 10 – Análise de ações essenciais territoriais
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(continuação)
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Fonte: Elaborado pela autora, 2016.
O Quadro acima demonstra que o PCA atende, em diversos aspectos, as
ações essenciais proposta por Krucken (2009), com exceção da promoção de
sistemas de produção e de consumo sustentáveis.
Sobre buscar profissionais de design para executar o projeto, DE enfatiza a
noção de que não se faz artesanato sem a influência do design. Para a entrevistada,
o design leva ao artesão o olhar de fora que, na sua concepção, assemelha-se ao
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olhar do turista, sendo essa a maior contribuição do design nos grupos de artesãos
participantes do projeto “[...] dando uma autoria, nesse sentido, pros produtos
regionais e que vejam nele a possibilidade de posicionamento desse produto diante
do turista”. (ENTREVISTADA DE, 2015)
Tanto DE como os técnicos e a maioria dos artesãos valorizaram a interação
com os designers, por terem incentivado um despertar criativo e impulsionado a
criação de produtos inéditos. AV4 menciona: "Eu acho que influenciou assim, que
além daquilo que eu fazia, eu posso fazer mais. Eu tenho opções pra criar mais".
AV2 se posiciona no mesmo sentido: "Abriu meu horizonte pra criar outros produtos,
né".
A entrevistada DE demonstra trabalhar constantemente com designers
gráficos e de produto em várias áreas do turismo, afirmando que não consegue
atuar por muito tempo nos territórios sem a presença de designers nas equipes que
forma. Quase a totalidade dos partícipes avalia o projeto como ótimo. Porém, as
falas acentuam que é obrigatória a continuidade, para os artesãos por representar
investimento e renda futura e para os técnicos para que ocorra uma mudança de
comportamento dos artesãos em relação aos territórios.
Tanto as afirmações dos artesãos, como de DE, apontam para o
desenvolvimento e valorização do millieu local, definido na seção 5.3 da presente
pesquisa, com base em Franzato (2009), como a parte do capital territorial, de
natureza social, que representa a identidade cultural do território.
DE avalia que uma das contribuições do design nos grupos foi o rompimento
de conceitos antigos gerando inovação e transformação. Enfatiza sua percepção nas
mudanças, avaliando os resultados dos grupos, principalmente no sentido da
relação dos artesãos com a identidade local. A maioria das falas dos artesãos
reforça este mesmo sentido, como afirma AF3:
No trabalho elas foram bem decisivas até pra dar o norte pra todas, se não, chegava no fim e não ia ter nada. Então elas foram muito importantes nisso, no início a gente achou que elas viriam aqui pra praticamente dar o trabalho pra nós. Então, assim, o baque foi grande no início, sabe, daí tu tem que te virar sozinha. (ENTREVISTADA AF3, 2015).
Para as técnicas, o projeto desenvolvido com os artesãos é uma das ações
que valoriza os indivíduos, o território e o próprio turismo. As profissionais técnicas
entrevistadas, na totalidade, avaliaram o projeto como positivo, pois perceberam que
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foram criados produtos que podem ser diretamente relacionados com o turismo, com
a possibilidade de entrar em sua cadeia produtiva.
As falas das técnicas também indicam a valorização do millieu local, porém na
definição de Dematteis (2003) referindo-se à operação de uma rede local por meio
de um conjunto de condições para o desenvolvimento do contexto territorial.
Franzato (2009) aponta três peculiaridades que fazem parte do projeto
territorial, conforme apresentado anteriormente na seção 5.3 desse estudo. Para o
autor, o projeto territorial deve ser multiautoral, interativo e multidimensional.
Multiautoral por envolver diversos autores; interativo por ser um processo de
interação com o território, sendo o momento projetual e o de implementação quase
indissociáveis, elevando o território ao patamar de coautor; multidimensional e
multidisciplinar por considerar múltiplas dimensões, tal como ambiental, econômica,
social e cultural. (FRANZATO, 2009).
Partindo da peculiaridade que se refere à multiautoria do projeto, quase a
totalidade de artesãos se sente autor, sendo que uma pequena parcela prefere
dividir a autoria com os designers, por creditarem a eles a criação dos elementos
gráficos que serviram de base para o desenvolvimento de seus produtos. De outro
ângulo, os profissionais técnicos entendem que são coautores, por terem participado
junto aos artesãos da definição dos temas a serem trabalhados no artesanato e
também por incentivá-los durante o projeto. A diretora executiva da ATUASERRA
não se sente coautora do projeto, mas sim facilitadora do processo. Embora não
esteja claro nas peculiaridades definidas por Franzato (2009) se a multiautoria no
projeto territorial deve ser reconhecida pelos atores para ser considerada, é
importante ressaltar o não reconhecimento autoral por parte da idealizadora do
projeto.
Do ponto de vista da peculiaridade referente à interação, supõe-se, a partir da
análise dos Dossiês, que os designers travaram contato com o território ao
participarem da reunião que definiu os temas a serem abordados e, após, ao criarem
os elementos gráficos. Também travaram contato com o território pelo fato de os
encontros terem ocorrido nos municípios, os quais serviram de inspiração para o
desenvolvimento das coleções.
Relevante considerar que, ao serem estimulados a criar seus produtos, os
próprios artesãos tornam-se projetistas, como cita AF5 (2015): “Então por ali eu tive
essa que ninguém me disse como que eu tinha que fazer. Eu tinha que fazer. Criar”.
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A convergência de falas relacionadas à liberdade criativa corrobora com o fato de os
artesãos terem sido projetistas de seus produtos. Sendo projetistas e tendo sido
instigados a se voltarem à identidade local para criar, os artesãos travaram contato
com o território, como diz AV2: “Esse projeto tu ajuda a abrir a mente, a abrir o
horizonte”. O grande número de falas que comprovam esse despertar criativo
enfatiza o intenso diálogo dos artesãos com o território durante o projeto.
A pesquisa tangencia, porém não comprova, a peculiaridade relacionada à
multidimensionalidade e multidisciplinaridade. Embora tenham emergido falas a
respeito da venda de produtos, como no caso de TS que aponta que a inovação nas
peças gerou aumento nas vendas e no caso de alguns artesãos que abordaram o
tema, a dimensão econômica não foi o enfoque da pesquisa. O mesmo ocorre com a
dimensão ambiental, que não foi sequer citada por nenhum dos participantes. Pode-
se sim comprovar que a dimensão social foi contemplada, haja vista que os artesãos
foram convidados a participar do projeto, valorizando sua produção dentro do
contexto social. No âmbito cultural, por meio das falas de todos os entrevistados
pode-se comprovar que a identidade cultural foi um dos elementos principais do
projeto. Mesmo contemplando algumas das dimensões, não foram coletadas
evidências suficientes que comprovem que o projeto em questão considerou uma
multiplicidade de dimensões.
Sendo assim, não se pode afirmar que o projeto analisado atende por
completo às peculiaridades que fazem parte de um projeto territorial, segundo
Franzato (2009).
A seguir são pontuadas as considerações finais da presente pesquisa.
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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na presente seção desta dissertação encontram-se os resultados recolhidos
na totalidade do estudo e registrados na forma de considerações finais. A opção
recaiu por dividir o capítulo das considerações finais em três partes. A primeira trata
dos resultados alcançados relacionados ao problema de pesquisa, enquanto que a
segunda diz respeito às dificuldades e limitações encontradas pela pesquisadora no
estudo em questão. A terceira discorre sobre as contribuições da pesquisa para a
comunidade acadêmica e para a sociedade, além de apontar possibilidades de
pesquisas futuras.
8.1 RESULTADOS ALCANÇADOS
Conforme apresentado na seção 2, a presente pesquisa é qualitativa, de
caráter descritivo e técnica exploratória. Sendo o objeto de estudo definido como
“Projeto para Capacitação do Artesanato Regional da Serra Nordeste-RS” – PCA, o
objetivo geral da pesquisa em questão tratou de comprovar se a intervenção de
designers em grupos de artesãos influencia na relação entre esses indivíduos e seu
território.
Pode-se afirmar que os objetivos específicos definidos na seção 1.2.2 foram
alcançados. Por meio do exame da literatura selecionada e pelos elementos que
dela emergiram, explanados nas seções 3, 4 e 5, a possibilidade de relacionar
território, design e artesanato, bem como as formas pelas quais essas relações
podem ser verificadas. O desenvolvimento do estudo de caso permitiu que se
demonstrasse como o design pode influenciar na relação entre artesãos e seu
território.
Em relação ao objetivo geral da pesquisa em questão, a análise de conteúdo
ofereceu evidências suficientes para afirmar que a intervenção de designers em
grupos de artesãos influencia a relação entre estes indivíduos e seu território. Ficou
demonstrado, a partir dos dados levantados pelo estudo de caso, tanto pelas falas
dos partícipes do PCA como por meio da análise documental, que os designers
influenciaram a relação entre os artesãos e seus territórios, principalmente no que
tange ao despertar criativo incentivado durante o PCA. Importa pontuar que
independente do nível instrucional dos entrevistados e do correspondente nível de
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complexidade de suas falas, houve uma influência no reconhecimento identitário por
parte dos artesãos, impulsionado pelos designers, o que responde ao
questionamento do problema de pesquisa deste estudo.
Foi possível, com base no estudo de caso desenvolvido, traçar o perfil dos
artesãos entrevistados, sendo eles indivíduos que desenvolvem trabalhos manuais,
que utilizam como base criativa modelos existentes em revistas e na internet, mas
que, independente de terem ou não nascido nos municípios, inspiram-se no território
para criar suas peças. Essa contradição em relação a copiar modelos existentes e,
ao mesmo tempo, inspirar-se no território aparece como uma possibilidade de
aprofundamento em estudos futuros.
Em relação aos técnicos entrevistados, constata-se que aqueles que têm
maior conhecimento na área do turismo conseguiram atuar nos territórios de
maneira mais efetiva, valorizando o artesanato como ferramenta de desenvolvimento
do turismo e território.
A associação entre artesanato e turismo observou-se, em maior intensidade,
entre os técnicos participantes da pesquisa, em detrimento do que se esperava por
parte dos artesãos. A constatação se fundamenta no fato de que alguns deles
disseram não saber o que significa uma ação turística e a maioria percebe um fraco
fluxo turístico no território. Apesar disso, comprovou-se pelas falas dos partícipes
que o diferencial do PCA foi relacionar o artesanato com o território e o turismo.
A atuação dos designers nos grupos como uma combinação de ações que
visam a melhoria das condições técnicas nos produtos e o desenvolvimento de
identidade e diversidade ficou evidenciada, podendo associar paralelamente estes
aspectos aos fundamentos de Borges (2011). Considerando a linha de
categorização teórica de Bonsiepe (2011) sublinha-se o encontro de um enfoque
promotor de inovação, provocado pela união do design e artesanato no PCA,
gerando autonomia e consequente melhoria da condição de vida dos artesãos.
Pôde-se avaliar o objeto de estudo do ponto de vista do design territorial, sob
a ótica de Franzato (2009) e Krucken (2009). Considerando-se que os autores não
explicitam a obrigatoriedade do alcance de todas as características e, embora as
análises apresentem lacunas não preenchidas em ambas as bases teóricas, é
possível afirmar que o PCA trata-se de um projeto de design territorial.
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Mesmo que o objetivo geral não tenha sido o de averiguar se o PCA poderia
ser considerado um projeto de design territorial, atingir esse resultado foi importante
não apenas para a comunidade acadêmica, como para direcionar ações nesse
sentido em comunidades locais. A associação do design com o artesanato tem
gerado benefícios sociais, promovendo o fortalecimento das identidades culturais e
da conexão dos indivíduos com seu território.
Ao apresentar os resultados, cabe apontar as dificuldades encontradas e as
limitações enfrentadas no percurso desta pesquisa.
8.2 DIFICULDADES E LIMITAÇÕES DA PESQUISA
Conforme apresentado na seção 1.4, o objeto de estudo foi composto por
grupos de artesãos de três municípios da serra nordeste do Rio Grande do Sul:
Veranópolis, Santo Antônio do Palma e Farroupilha. Embora os grupos sejam
formados por artesãos locais, uma das principais dificuldades encontradas foi a
adesão dos artesãos partícipes do PCA à pesquisa. As entrevistas foram marcadas
de acordo com a disponibilidade da maioria dos partícipes, porém, houve um
quórum menor do que o esperado, considerando o número de artesãos registrados
nos Dossiês.
Outra dificuldade encontrada foi a distância física dos participantes, em
relação ao ambiente cotidiano da pesquisadora, o que impossibilitou o agendamento
de outras visitas aos grupos, a fim de entrevistar um número maior de artesãos.
A título de esclarecimento, sublinha-se que não fez parte do escopo desta
pesquisa analisar os elementos identitários escolhidos pelos grupos de artesãos
junto aos designers e técnicos, sob o ponto de vista histórico e cultural nem analisar
semanticamente os grafismos desenvolvidos pelos designers, motivo pelo qual
deixam de ser referidos ou alvos de comentários conclusivos.
Uma das lacunas que a pesquisadora reconhece, foi nos termos de seu
planejamento inicial, ao não evidenciar questões relacionadas à sustentabilidade
ambiental, o que limitou as análises voltadas ao design territorial.
Pode ser considerado limitante deste estudo, ainda, o fato de se tentar
encontrar respostas ao questionamento da pesquisa sob o olhar do artesão no papel
de protagonista. Esta opção deve-se a existência de outros tantos trabalhos que
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privilegiaram a visão do designer e em virtude do envolvimento da pesquisadora
com o objeto de estudo.
Não há como afirmar, no entanto, que a exclusão dos designers como
indivíduos ativos da pesquisa, inviabilize a observação da influência destes
profissionais na relação dos artesãos com seus territórios. Neste sentido, a análise
documental dos registros de trabalho dos designers no PCA proporcionou, mesmo
que de forma indireta, uma abrangência multilateral.
Embora a pesquisa tenha apresentado limitações e dificuldades, reforços e
contribuições podem ser evidenciadas, não apenas para a comunidade acadêmica,
como para a sociedade em geral, conforme apontado a seguir.
8.3 CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA
A exigência, no desenvolvimento de uma pesquisa, é que resulte em
contribuições que beneficiem várias áreas do conhecimento, entre elas, a academia,
instituições da sociedade, tanto quanto o aprimoramento pessoal. Por desenvolver
projetos profissionais na área do design, artesanato e território e por ter participado
do PCA, a pesquisadora se sentiu imbuída a desenvolver esta pesquisa. Por ter na
sua origem, imigrantes que participaram da construção de uma parte da cultura da
Serra Nordeste, vislumbra no desenvolvimento das identidades locais, seja por meio
do artesanato ou de outras formas de expressão cultural, a preservação dos
patrimônios e o fortalecimento do sentido de pertencimento.
No campo da pesquisa, a relação de design, artesanato e território apontou
parâmetros que podem se constituir de base para análise em estudos futuros, como
os apresentados na seção 5 da presente pesquisa, que se alicerçou nos
ensinamentos de Bonsiepe (2011), Borges (2011) e Franzato (2009). Além disso, a
pesquisa qualitativa possibilitou, por meio da análise de conteúdo, a captação de
informações importantes, tanto para entender o artesão na sua relação com o
território quanto para verificar o PCA diante de critérios teóricos como, por exemplo,
as ações essenciais territoriais de Krucken (2009).
Embora o cruzamento dos temas design, artesanato, turismo e território não
seja inédito em produções científicas, a abordagem pelo design territorial apontou
uma nova possibilidade para futuras pesquisas, residindo neste ponto o seu valor
primordial.
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A dinâmica de trabalho do PCA, dividida em encontros entre artesãos e
designers e momentos de desenvolvimento individual dos artesãos, surge como uma
possibilidade para estudos futuros. Analisar a maneira como se desenvolveu o PCA
não foi o objetivo da presente pesquisa, porém, por meio das falas constatou-se que
há uma aprovação por parte dos artesãos em relação à organização do PCA, o que
aponta para um caminho de pesquisa voltado à análise dos diferentes métodos de
trabalho com grupos de artesãos.
Pode-se afirmar que a principal contribuição da presente pesquisa foi dar voz
aos partícipes artesãos. A intenção foi apresentar o ponto de vista dos que, muitas
vezes, recebem auxílio de programas formatados sem que seja solicitada a sua
colaboração. A pertinência do tema no contexto socioeconômico e cultural da
atualidade é não apenas válida como necessária. Na atuação responsável é que o
designer pode transformar o artesão, fazendo com que sua evolução se concentre
na ativação de processos criativos, na concepção de produtos próprios e
significativos, plenos de emoção e valor cultural. Empoderar esses indivíduos é
projetar um futuro com menos desigualdades, mais tolerância e proporcionar ao
Design uma atuação humana e contemporânea no âmbito social.
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APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA ATUASERRA �
Diretora Executiva ATUASERRA
Prezada senhora,
A entrevista proposta (roteiro abaixo) é um dos instrumentos de
coleta de dados da pesquisa intitulada A influência do Design na
relação entre artesãos e territórios: um Estudo de Caso. A realização
da pesquisa é parte do projeto de Mestrado em Design do Centro
Universitário Ritter dos Reis (UNIRITTER). Sua contribuição será
significativa para o alcance do objetivo desta pesquisa, que é identificar
de que maneira o design contribuiu na relação entre artesanato e
território.
Sua participação é voluntária, caso aceita e mediante a assinatura
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, seu nome será
preservado em sigilo, sendo identificado por um código no trabalho final.
Nome:
Formação Acadêmica:
Função do cargo que ocupa:
Há quanto tempo ocupa o cargo:
1. O que levou a ATUASERRA propor um projeto de Capacitação do
Artesanato Regional?
2. Qual sua participação no projeto de Capacitação do Artesanato
Regional?
3. Como é feita a seleção de municípios participantes deste tipo de
projeto?
4. O que levou a ATUASERRA a buscar ajuda externa (através de
um edital de licitação) para Capacitação do Artesanato Regional?
5. Na sua opinião, que contribuições os profissionais de design
trouxeram ao projeto?
6. Como você avalia o resultado do projeto?
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APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA TÉCNICOS
Turismólogo ou Representante Técnico
Prezado(a) senhor(a),
A entrevista proposta (roteiro abaixo) é um dos instrumentos de
coleta de dados da pesquisa intitulada A influência do Design na
relação entre artesãos e territórios: um Estudo de Caso.
A realização da pesquisa é parte do projeto de mestrado em
Design do Centro Universitário Ritter dos Reis (UNIRITTER). Sua
contribuição será significativa para o alcance do objetivo desta pesquisa,
que é identificar de que maneira o design contribuiu na relação entre
artesanato e território.
Sua participação é voluntária, caso aceita e mediante a assinatura
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, seu nome será
preservado em sigilo, sendo identificado por um código no trabalho final.
Nome:
Formação Acadêmica:
Cargo que ocupa na Prefeitura:
Qual a sua função ao exercer este cargo?
Há quanto tempo ocupa o cargo?
1. Qual sua participação no projeto de Capacitação do Artesanato
Regional?
2. O que levou a Prefeitura de sua cidade a aceitar participar do projeto
de Capacitação do Artesanato Regional?
3. Como é feita a seleção de artesãos participantes deste tipo de
projeto?
4. Na sua opinião, que contribuições os profissionais de design
trouxeram ao projeto?
5. Como você avalia o resultado do projeto?
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APÊNDICE C – ROTEIRO DE ENTREVISTA ARTESÃOS
Artesãos Participantes do Projeto de Capacitação do Artesanato Regional
Prezado(a) senhor(a),
A entrevista proposta (roteiro abaixo) é um dos instrumentos de
coleta de dados da pesquisa intitulada A influência do Design na
relação entre artesãos e territórios: um Estudo de Caso.
A realização da pesquisa é parte do projeto de mestrado em
Design do Centro Universitário Ritter dos Reis (UNIRITTER). Sua
contribuição será significativa para o alcance do objetivo desta pesquisa,
que é identificar de que maneira o design contribuiu na relação entre
artesanato e território. Sua participação é voluntária, caso aceita e
mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
seu nome será preservado em sigilo, sendo identificado por um código
no trabalho final.
Nome:
Cidade:
Grupo de artesãos que participa:
Tempo que faz parte deste grupo:
1. Como você aprendeu a fazer artesanato?
2. Que tipo de produtos você confecciona?
3. Como é sua maneira de criar seus produtos?
4. Quem compra seus produtos?
5. Você percebe o turismo na sua cidade? De que maneira?
6. Você participa de ações turísticas na cidade?
7. Qual a sua relação com o território?
8. Você se inspira no seu território para criar seus produtos?
9. Como foi sua participação no projeto?
10. Você se sente autor dos produtos desenvolvidos no projeto?
11. Descreva em quais momentos você criou ou participou da criação
dos produtos desenvolvidos no projeto.
12. De que maneira o trabalho dos designers influenciou no seu trabalho artesanal?