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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A possibilidade de mediação em uma unidade de internação de adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa no Estado do Rio de Janeiro Por: Dayse Araujo Santos Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A possibilidade de mediação em uma unidade de internação de

adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa no Estado do

Rio de Janeiro

Por: Dayse Araujo Santos

Orientador

Prof. Willian Rocha

Rio de Janeiro

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A possibilidade de mediação em uma unidade de internação de

adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa no Estado do

Rio de Janeiro

2015

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Mediação de Conflitos com

Ênfase na Família

Por: Dayse Araujo Santos

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AGRADECIMENTOS A Deus, por me dar força, saúde e condições de enfrentar os desafios na

concretização dos meus ideais.

À Profa. Naura Americano, por seus ensinamentos, incentivos, alertas em sala

de aula que me fizeram acreditar na possibilidade da mediação de conflitos

como resposta às demandas por mim encontradas no ambiente de trabalho.

Ao Prof. Antonio Carlos de Oliveira, pela sua extensa experiência, atenção,

dedicação ao trabalho, contribuindo para meu aperfeiçoamento profissional e

na infinita busca pelo saber.

A todos os professores e colegas de turma, pela troca de informações,

conhecimentos e experiências, colaborando para o crescimento profissional.

As minhas amigas, Elis Regina, Maria de Fátima e Sirley, pela atenção,

carinho, orientação e estímulo que nos momentos mais difíceis me ajudaram a

seguir em frente e superar as dificuldades e aumentar a minha autoestima.

À equipe técnica, demais colegas do Educandário Santo Expedito (ESE) e seus

diretores, Marcos, Marco Aurélio, Joaquim, em especial Cesar Sucupira e

Verônica Valença pelo apoio e incentivo em momentos delicados.

Aos amigos e companheiros de trabalho do CREAS Nilópolis, que em muito me

ajudaram e colaboraram para alcançar meus objetivos.

A minha família, minhas filhas, Rachel Prates e Deborah Prates, esta pela

correção e revisão dos meus textos.

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DEDICATÓRIA

Ao meu pai Alcides Santos Filho (in memoriam), que sempre lutou para nos

oferecer uma vida melhor pelo estudo. Onde quer que esteja com certeza está

se orgulhando de mim.

Aos adolescentes do DEGASE, em especial do ESE e suas famílias, que por

meio dos atendimentos me fizeram acreditar que é possível mudar a história

através do conhecimento.

Aos mestres do curso de Pós Graduação da disciplina Mediação de Conflitos

com Ênfase em Família, da Faculdade Integrada Cândido Mendes.

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RESUMO

O presente trabalho investiga as possibilidades e desafios para aplicação da

mediação de conflito em uma unidade de internação para adolescentes em

cumprimento de medida socioeducativa, no município do Rio de Janeiro. A

hipótese que norteia este trabalho é que o uso da mediação de conflitos no

cotidiano da instituição humaniza as relações entre os sujeitos ativos no

processo socioeducativo. Ela se torna relevante tendo em vista a necessidade

de promover ações que tornem o dia a dia da instituição mais ameno, que as

relações entre os adolescentes e os socioeducadores sejam mais

harmoniosas. Com a implantação da mediação de conflitos, os adolescentes

poderão se sentir mais acolhidos, possam expressar suas angústias,

sentimentos, terão possibilidade de buscar o entendimento, respeitando uns

aos outros, participando das atividades e entendendo seu papel, seus direitos e

deveres enquanto cumprem a medida. A oportunidade de falar e de ser ouvido,

transmite mais autonomia, melhora a autoestima, e a medida será um meio de

mudança para uma melhor qualidade de vida, além de evitar as situações de

conflitos e violência.

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METODOLOGIA

Para a realização do estudo sobre mediação de conflitos, realizamos

uma pesquisa qualitativa do tipo exploratória. A revisão bibliográfica possibilita

a comparação entre os autores, na medida em que nos deparamos com

diversas alternativas em busca de soluções de problemas.

Nesse lastro estabelecemos um diálogo com Lopes (2015), que discorre

sobre a transição paradigmática na política socioeducativa, além de Fisher;

Ury, Patton e Rosemberg; Muszkat; Netto e Sampaio, cujas obras evidenciam a

importância do conceito de mediação de conflitos na reprodução das relações

sociais, especialmente aquelas voltadas às relações familiares, organizacionais

e de trabalho.

Devido às dificuldades de acesso à literatura que vinculasse

experiências na área socioeducativa com base no conceito de mediação de

conflitos, utilizamos, como materiais complementares, artigos e experiências

divulgados na internet, com o objetivo de identificar as discussões e análises

sobre a aplicação da mediação de conflitos no cotidiano do trabalho com

adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de internação.

O primeiro plano de pesquisa sofreu alterações devido ao período de

licença médica da profissional na unidade de internação Santo Expedido,

localizada em Bangu, na cidade do Rio de Janeiro, impedindo que a pesquisa

de campo fosse realizada.

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Lista de siglas

CRIAAD – Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao Adolescente

DEGASE – Departamento Geral de Ações Socioeducativas

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

ESE – Educandário Santo Expedito

MSE – Medida Socioeducativa

PIA – Plano Individual de Atendimento

SINASE – Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................09

CAPÍTULO 1 - Mediação.................................................................................11

1.1 Mediação de conflitos ...............................................................................11.

1.2 Breve histórico da mediação no Brasil ....................................................14...

1.3 - O papel do mediador...............................................................................15

CAPÍTULO 2 - Medida Socioeducativa...........................................................18

2.1 DEGASE....................................................................................................21

2.2 O perfil dos adolescentes..........................................................................22

CAPÍTULO 3 - Discussão................................................................................20

3.1 Práticas que adotaram a mediação de conflitos........................................27

CONCLUSÃO..................................................................................................31

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.....................................................................33

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INTRODUÇÃO

O presente estudo vem atender a necessidade de apresentação de um

trabalho de conclusão do curso de Mediação de Conflitos com Ênfase na

Família. O interesse surgiu da experiência como assistente social no

Educandário Santo Expedito, unidade do Departamento Geral de Ações

Socioeducativas (DEGASE), entre 2011 e 2015, onde adolescentes do sexo

masculino, com idade entre 16 e 18 anos, que praticaram algum tipo de ato

infracional, cumprem medida socioeducativa de internação.

A partir das situações conflituosas que ocorrem constantemente entre os

adolescentes na unidade, foi despertado o interesse em conhecer os reais

motivos desses conflitos, como estes eram solucionados e principalmente e de

que modo cada um de nós funcionários da instituição poderíamos fazer para

mudar a situação.

Nós sabemos, portanto, que os conflitos quando não solucionados de

forma pacífica, tendem a se tornar algo com caráter mais grave, ou melhor,

podem de alguma forma gerar brigas, confusão, tumulto, comprometendo a

segurança de todos. E, nesse momento, é necessária a intervenção de agentes

socioeducadores para evitar o agravamento da situação.

Deste modo, buscando alguma maneira de evitar atos de violência entre

os adolescentes, pensei na possibilidade da utilização da mediação de conflitos

em situações dessa natureza.

Por questões inerentes à minha vontade, me afastei por um longo

período, justamente quando já havia planejado realizar uma pesquisa de

campo na unidade para aprofundar meu estudo a respeito do assunto. Em

razão da não continuidade no equipamento, concluí que seria viável dedicar-

me a um estudo por meio de pesquisa bibliográfica.

Assim, esse trabalho vem apresentar a ideia da mediação como forma

mais adequada para solucionar os conflitos entre os adolescentes em

cumprimento de medida de internação e não apenas nesse espaço, mas em

todos os lugares possíveis.

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Com a utilização desse recurso visamos uma convivência democrática,

em um ambiente mais humanizado, uma vez que a mediação facilita a

comunicação, ameniza os ânimos e minimiza a violência institucional.

Como proposta inicial, descrevo, no capítulo I, um pouco sobre a

utilização dessa experiência no Brasil. No segundo capítulo falo como se dá a

medida socioeducativa, faço um breve relato sobre a instituição DEGASE, o

Educandário Santo Expedito, unidade em que atuei. Destaco também o perfil

dos adolescentes que estão em cumprimento de medida socioeducativa de

internação. Em seguida, apresento algumas experiências de mediação de

conflitos na área da educação, e encerro o trabalho sugerindo a implantação de

dessa técnica no DEGASE como forma de melhorar a comunicação e prevenir

situações conflituosas e de violência, além da necessidade de haver uma

capacitação dos servidores que lidam diretamente com os adolescentes na

unidade.

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CAPÍTULO 1

MEDIAÇÃO

2.2- Mediação de Conflitos

Para entender um pouco sobre a prática da mediação, é necessário

conhecer o significado dessa palavra. Ela é procedente do latim: mediare, quer

dizer mediar, dividir ao meio ou intervir. Como ponto de partida, fomos

pesquisar o que dizem alguns autores dos dicionários de referência da língua

portuguesa:

Aurélio: Ato ou efeito de mediar, Intervenção. Houaiss: Ato ou efeito de mediar, ato ou efeito de servir entre intermediário entre pessoas ou grupos. Sacconi: Ato ou efeito de mediar entre partes contrárias, para buscar uma solução do conflito.

Segundo Moore (1996) define como a interferência em uma negociação

ou em um conflito, de uma terceira pessoa que seja aceitável, tendo o poder de

decisão limitado ou não autoritário, e que ajuda as partes envolvidas a

chegarem, voluntariamente, a um acordo, mutuamente, aceitável em relação às

questões em disputa”.1

Na concepção de Adolfo Braga Neto, temos o seguinte:

Mediação é uma técnica não-adversarial de resolução de conflitos, por intermédio da qual duas ou mais pessoas (físicas, jurídicas, públicas, etc) recorrem a um especialista neutro, capacitado, que realiza reuniões conjuntas e/ou separadas, com o intuito de estimulá-las a obter uma solução consensual e satisfatória, salvaguardando o bom relacionamento entre elas (BRAGA NETO, 1999, p.93):

Para Jean-François Six, a “mediação consiste em estabelecer ligações

onde elas ainda não foram feitas, suscitar o agir comunicacional onde não

existe”.

1 MOORE, Christopher W. - The Mediation Process: Practical Strategies for Resolving Conflict - 2° edição, San Francisco: Jossey-Bass Publishers, 1996 - p.15.

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Como iremos tratar do tema mediação de conflitos, é importante

destacar também seu significado. Conflito quer dizer oposição de interesses,

sentimentos, ideias, luta, disputa, desentendimento, briga confusão, tumulto,

desordem.

No dicionário Houaiss, encontramos a seguinte concepção de conflito:

1. profunda falta de entendimento entre duas ou mais partes;

2. choque, enfrentamento, discussão”.

No entanto, sabemos através da história, que os conflitos surgiram entre

os povos antigos, pela luta de terras, questões religiosas, dentre outros

motivos. Contudo, não podemos considerar que sua existência é algo negativo.

Vários autores afirmam que os conflitos são positivos, pois é a partir das

contradições, opiniões diferentes, que podemos criar outras soluções, e assim

somos estimulados a pensar e apresentar novas ideias que nos ajudarão a

enfrentar os problemas.

Os conflitos fazem parte do cotidiano nas relações interpessoais e

acontecem em vários espaços, como: dentro de nossas casas, no trabalho, na

escola, na comunidade, na rua. Porém, nem sempre são solucionados de

forma pacífica e dependendo de sua dimensão estes tendem a gerar a

violência.

A grande dificuldade que percebemos diante tal situação é que as

pessoas nem sempre sabem administrar seus problemas, e por não encontrar

a solução, agem de maneira equivocada, criam mais problemas, perdem o

controle da situação, reagindo de forma agressiva com o outro.

Ainda sobre a definição de conflito, Muszkat, destaca o seguinte:

O conflito geralmente se inicia por um pequeno desentendimento, que dependendo da habilidade e flexibilidade na comunicação entre as partes que se desentenderam, pode vir ou não a se transformar em uma controvérsia, que por sua vez desaguará o conflito, agora como franca disputa (Muszkat, 2008, p 29).

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Voltando ao termo mediação de conflitos, vimos que para a autora, ela é

um meio de reduzir a desigualdade e a violência, e acredita que talvez seja

essa a razão de estar cada vez mais implementada nos mais diversos grupos,

por ser um modelo eficaz para a transformação social.

Schnitman (1999, p 19) afirma que “As mediações podem ser definidas

como práticas emergentes que operam entre o existente e o possível”

A autora Sales,(2003), especialista em mediação de conflitos, aponta

como objetivos da mediação: solução de conflitos, prevenção de conflitos,

inclusão social (conscientização de direitos, acesso à justiça) e paz social. A

autora finaliza, esclarecendo que a prevenção de conflitos por meio de um

acordo justo, fruto da boa administração do impasse e não apenas para evitar a

demanda judicial, constitui o objetivo primordial da mediação.

O segundo objetivo da mediação é a prevenção de conflitos, pois há um

aprofundamento no problema exposto à mediação, possibilitando o encontro e

a solução real do conflito. Com isso quer dizer que a mediação visa levar a

resolução de conflitos futuros.

O terceiro objetivo é a inclusão social, uma vez que oferece aos

cidadãos uma participação ativa na resolução de conflitos, resultando no

crescimento do sentimento de responsabilidade civil e de controle sobre os

problemas vivenciados.

A prevenção de conflitos e a inclusão social proporcionam a

concretização do quarto objetivo que a paz social.

Com essas definições, podemos entender como a utilização da

mediação de conflitos pode auxiliar nos momentos de tensão ocorridos entre os

adolescentes em privação de liberdade, tendo em vista a principal finalidade

que é a prevenção dos conflitos, proporcionando a participação de todos,

tornando-os mais responsáveis na busca pela harmonia e nas relações

interpessoais.

Em vista do momento atual em que vivemos, não só no Brasil, mas em

todo o mundo, os conflitos tendem a crescer e estão tomando proporções de

modo que torna as pessoas mais individualistas, assustadas, doentes. Os

hábitos estão mudando, mas ao mesmo tempo percebe-se que há uma

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organização para geral em busca da paz. São movimentos que exigem dos

governantes mudança nas leis, porém precisamos de muito mais. Precisamos

ter nossos direitos constitucionais garantidos.

2.2- Breve histórico da mediação no Brasil

A mediação teve início nos anos 70, nos E.U.A, em seguida foi se

difundindo para outros lugares como: o Canadá, a China e alguns países da

Europa, que aos poucos se adaptaram na busca de solução de seus próprios

problemas.

No Brasil, a Constituição Imperial de 1824, já previa nos artigos 160 e

161 as relações extrajudiciais, assim como a Carta Magna, de1891, também

citava a conciliação. Contudo, foi a partir da Constituição Federal de 1988, a

chamada Constituição Cidadã, que previa no artigo 98, inciso I e II que a justiça

de paz é:

“composta de cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos e competência para, na forma da lei, celebrar casamentos, verificar, de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras previstas na legislação. ”

Outro marco importante foi o Projeto de Lei nº 4.827, de 1998, criado por

Zulaiê Cobra Ribeiro, Deputada Federal por São Paulo, que institucionaliza a

disciplina de mediação, como método de prevenção e solução consensual de

conflitos. Vejamos a seguir esse artigo:

Art. L° Para os fins desta Lei, mediação é a atividade técnica exercida por terceira pessoa, que, escolhida ou aceita pelas partes interessadas, as escuta e orienta com o propósito de lhes permitir que, de modo consensual, previnam ou solucionem conflitos. Parágrafo único. É lícita a mediação em toda matéria que admita’ conciliação, reconciliação, transação, ou acordo de outra ordem, para os fins que consinta a lei civil ou penal.

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Assim sendo, visando a solução dos conflitos de forma eficaz, com mais

agilidade, buscando a participação comunitária e contribuindo para a cultura de

paz, foram criados os Núcleos de Mediação Comunitária. Estes espaços têm

trazido bons resultados, tanto para a comunidade, quanto para o governo, se

levarmos em conta a redução de processos. Eles possibilitam a prática da

cidadania e da inclusão social em suas conquistas individuais e coletivas.

Contudo, podemos dizer que essa experiência no Brasil ainda é

irrelevante, ou seja, pouco utilizada se analisarmos o grande contingente de

processos que poderiam ser solucionados através dessa experiência.

A utilização dessa prática vem atender principalmente os indivíduos que

com suas questões de menor impacto sócio econômico estão aguardando uma

solução na esfera jurídica. Em razão do acúmulo de serviço e a morosidade

para sanar os problemas, a mediação de conflitos tem sido uma grande aliada

de ambas as partes, pois é através dessa alternativa que muitos podem

encontrar de forma mais rápida a solução de forma pacífica através do diálogo

entre as partes com ajuda de um mediador.

É importante destacar quais conflitos podem ser mediados: aqueles

relativos aos direitos transigíveis. Já os vedados são os que dizem respeito à

adoção, filiação, familiar, nulidade de casamento, recuperação judicial e

falência.

2.2- – O papel do mediador

O mediador pode ser qualquer pessoa indicada pelas partes ou por

órgãos estatais. Deve ser alguém preparado para exercer tais funções e que

possua bom senso para o desenvolvimento do processo. No segundo artigo do

Projeto de Lei nº 4.827, de 1998, temos uma maior clareza.

Art. 2° Pode ser mediador qualquer pessoa capaz e que, tenha formação técnica ou experiência prática adequada à natureza do conflito. § Pode sê-lo também a pessoa jurídica que, nos termos do objeto social, se dedique ao exercício da mediação por intermédio de pessoas físicas que atendam às exigências deste artigo. §’2°’ No desempenho de sua função, o mediador deverá

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proceder, com imparcialidade, independência, competência, diligência e sigilo.

Sampaio e Neto (2007, p 79), citam que para Moore, parte-se do

princípio de que “uma terceira parte será capaz de alterar o poder e a dinâmica

social do relacionamento conflitado, influenciando as crenças ou os

comportamentos das partes individuais”.

O mediador deve estar capacitado a prestar esclarecimentos, assegurar

o equilíbrio entre os mediadores. É necessário que ele tenha habilidade de

compreender os vários pontos de vista, sendo, portanto, imparcial e

principalmente seja sigiloso. Diante os mediados ele será um líder, um agente

transformador para cada uma das partes que terão capacidade de adquirir seus

conhecimentos em outras situações de conflitos. Outro papel importante do

mediador é o de facilitador do processo, quando se refere à utilização da

comunicação, deixando as partes à livres para que elas mesmas possam

perceber seus reais conflitos.

O mediador precisa ter conhecimento de técnicas específicas e ser

qualificado, procurando sempre o aperfeiçoamento profissional. Esse

profissional requer de conhecimentos e habilidades específicos.

Este autor ainda ressalta que apesar do mediador não ser um terapeuta,

ele deve estar familiarizado com as técnicas psicológicas para auxiliar as

partes a lidarem com as suas emoções. Eles ainda devem observar os sinais

como o tom de voz, o ritmo das palavras, as expressões faciais, as mudanças

na postura e os movimentos corporais.

A partir dessas definições, fica claro que o socioeducador precisa ser

capacitado para assumir a posição de mediador. Contudo entendemos que é

preciso romper as barreiras da relação entre eles, mas a mudança tem que

partir do tratamento que é dado ao adolescente, não deixando, portanto, de

ficar estabelecido que existem regras a serem cumpridas.

Não propomos aqui que todos tenham o papel de mediador, pois isso

seria uma utopia, mas acreditamos que de acordo com o perfil desse

socioeducador, pode-se realizar uma seleção uma vez que há agentes que se

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identificam com determinadas tarefas, são mais comunicativos, têm mais

sensibilidade e um olhar diferenciado.

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CAPÍTULO 2

As Medidas socioeducativas e os adolescentes

Constituição Federal Brasileira quando adotou a Doutrina de Proteção

Integral. A Declaração Universal dos Direitos das Crianças da ONU de 1959, já

dava os primeiros passos ao reconhecer crianças e adolescentes como seres

em desenvolvimento, deixando de ser objeto de direitos para sujeitos de

direitos. Estabelecendo que a proteção não seja obrigação apenas da família,

mas também do estado e da sociedade. Mesmo assim, no Brasil, o Código de

Menores de 1979, ainda reconhecia a família como a única responsável pelos

menores de idade. Conhecido como o Código Penal, tinha função meramente

punitiva àqueles que eram considerados em situação irregular

Os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis. Isso quer dizer

que não devem cumprir penas como o adulto, que está submetido ao Código

Penal. No que diz respeito aos adolescentes que comentem um ato

considerado violento, estes devem receber um tratamento diferenciado e não

podem sofrer qualquer tipo de punição. Nesses casos, são aplicadas medidas

protetivas e socioeducativas amparados pelo ECA, levando-se- em conta a

gravidade do ato infracional praticado.

As Medidas socioeducativas são medidas aplicadas pelo juiz da infância

e juventude aos adolescentes autores de atos infracionais, previstas no art. 112

do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Elas têm o caráter pedagógico

e sancionatório, devendo atentar para a obrigação da escolarização,

profissionalização, além da oferta da assistência integral. Contudo, ainda hoje,

uma parcela da população não conhece seus objetivos.

As medidas previstas são:

Advertência: trata-se de uma repreensão branda; uma admoestação ao

adolescente sobre o ato infracional praticado e do aconselhamento para que

não volte a fazê-lo. Se aplica esta medida ao adolescente autor de ato

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infracional leve, adolescente primário, de modo a presumir-se que seja a

advertência suficiente.

Obrigação de Reparar o Dano: consiste na restituição da coisa, ou no

ressarcimento do dano causado ou na compensação do prejuízo da vítima,

seja através de pagamento pecuniário ou outra forma prevista em lei.

Pela sua natureza esta medida estende-se também aos responsáveis pelo

adolescente.

Vale ressaltar que qualquer dessas alternativas tem caráter eminentemente

pedagógico, quer pelo efeito compensatório imediato, quer pela carga

psicológica positiva no enfrentamento do ato por parte do adolescente.

Prestação de Serviços à Comunidade: Consiste na prestação de serviços

gratuitos e de interesse geral da comunidade, realizados dentro do prazo

determinado pelo juiz, por oito horas semanais. É uma maneira do adolescente

ser útil à sociedade, servindo-a, melhorar a sua socialização e poder refletir

sobre o ato infracional praticado. Este trabalho deverá levar em consideração

as aptidões do adolescente e ser realizado de modo a não prejudicar sua

frequência à escola ou atividade laborativa.

Liberdade Assistida: Esta medida visa acompanhar o adolescente na sua

vida social (escola, trabalho e família), através de um acompanhamento

personalizado ajudando-o a redimensionar a sua convivência familiar e

comunitária. Esta medida pressupõe a indicação de pessoa para

assessoramento da sua execução – é a figura do orientador, que tem a

responsabilidade também de auxiliar e orientar o adolescente (ECA, - Art 118).

A proteção integral deve ser alcançada através de atividades que visem a

inserção comunitária, manutenção dos vínculos familiares, frequência à escola

e inserção no mercado de trabalho através da oferta de cursos de orientação

profissional ou profissionalizantes e formativos.

Inserção em Regime de Semiliberdade: A medida é cumprida em uma

unidade (em regime semiaberto, com direito a frequentar a escola, cursos

profissionalizantes e outras atividades formativas durante o dia, dentro ou fora

da unidade, porém, obedecendo às normas da unidade, quanto ao horário de

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saída e retorno destas atividades. Pressupõe muita responsabilidade e

comprometimento no cumprir a medida sob pena de regressão para a medida

de internação.

Internação: Esta medida é aplicada ao autor de ato infracional grave ou que

tenha conduta de prática reiterativa de atos infracionais graves. Somente é

aplicada se não houver outra medida mais adequada ao caso. Embora sujeita

aos princípios da brevidade, da excepcionalidade e do respeito à condição

peculiar do adolescente como de pessoa em desenvolvimento não pode

ultrapassar o prazo de 03 anos. Esta medida deve ser avaliada no máximo a

cada seis meses pelo juiz, após apresentação do relatório da equipe técnica da

unidade de internação.

Como o trabalho se limita a falar sobre a possibilidade de aplicação de

mediação de conflitos com adolescente em restrição de liberdade, daremos

ênfase a essa medida. O cumprimento da medida terá como foco o

atendimento personalizado através da equipe interdisciplinar.

O ECA prevê:

Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente. Artigo 121: A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. § 1º. Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário. § 4º. Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser liberado, colocado fim regime de semiliberdade ou de liberdade assistida. § 5º. A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade. § 6º. Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público.

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Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração.

Em consonância ao ECA, vemos que é obrigatório o oferecimento da

escolarização, cursos profissionalizantes, incluindo também atividades

culturais, esportivas e de lazer, além do fortalecimento dos vínculos familiares e

comunitários.

Nesse sentido, o DEGASE, para cumprir com tais determinações,

realizou há pouco tempo um concurso público para diversas áreas, no entanto

ainda assim, há falta de profissionais para cobrir o quadro necessário. Há falta

de técnicos e agentes socioeducativos, uma vez que de acordo com o SINASE,

cada técnico deveria atender no máximo 20 adolescentes e no momento

atendemos mais que o dobro.

A equipe técnica é formada por assistentes sociais, psicólogos e

pedagogos. Há também profissionais como os agentes socioeducativos, os da

área da saúde, educação entre outras.

A reavaliação de medida é realizada pela equipe técnica, que através de

atendimento psicossocial com o adolescente e seu familiar, estudo de caso,

observação, elabora os relatórios técnicos contendo seus pareceres

individuais. De acordo com o desenvolvimento do adolescente e a capacidade

de cumprir a medida, indica ou não a progressão ou a manutenção de medida,

além de enviar em anexo para o Juizado da Infância e da Juventude o

formulário do Plano Individual e Atendimento (PIA).

O PIA – Plano Individual de Atendimento está inserido na Lei do SINASE

(Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012), em seu capítulo IV.

“A ação socioeducativa deve respeitar as fases de desenvolvimento

integral do adolescente levando em consideração suas potencialidades, sua

subjetividade, suas capacidades e suas limitações, garantindo a articularização

no seu acompanhamento. Portanto, o Plano Individual de Atendimento (PIA) é

um instrumento pedagógico fundamental para garantir a equidade no processo

socioeducativo”. (SINASE)

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O plano é atualizado constantemente, junto ao adolescente. Ele deve

ser preenchido em conjunto com a família. Nele são traçadas metas para o

futuro e os passos que precisam ser tomados. Quando o adolescente é

estimulado a participar, refletir sobre sua vida, falar de seus sonhos e

perspectivas, é porque ele está se tornando mais autônomo, exercendo sua

cidadania.

2.1 – DEGASE

O DEGASE – Departamento Geral de Ações Socioeducativas é um

órgão vinculado a Secretaria de Estado de Educação, que tem a

responsabilidade de promover socioeducação no Estado do Rio de Janeiro.

Criado pelo Decreto nº 18.493, de 26/01/93, o Departamento Geral de Ações

Socioeducativas é um órgão do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro,

responsável pela execução das medidas socioeducativas, preconizado pelo

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), aplicadas pelo Poder Judiciário

aos jovens em conflito com a lei.

A instituição é composta por unidades de privação de liberdade e

restrição de liberdade. Nosso trabalho se limita a falar da unidade de privação

de liberdade, conhecida como Educandário Santo Expedito, (ESE), localizado

na Estrada Guandu do Sena, 1092, Bangu- Rio de Janeiro, onde trabalhei por

quatro anos como assistente social.

O Educandário tem uma característica diferenciada das demais

unidades previstas para acolher os adolescentes, principalmente por estar

localizado dentro do Complexo Penitenciário de Bangu. O Ministério Público há

anos vem tentando interditar a unidade por considerar inapropriada para

execução de medida socioeducativa. Este equipamento mesmo sem estrutura

deveria atender no máximo 90 adolescentes do sexo masculino, mas por

inúmeras razões, que não nos cabe aqui apontar, vem sofrendo com a

superlotação, que recentemente contava com mais de 300.

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No entanto, percebe-se que em razão da superlotação, o acúmulo de

atividades, e o número de profissionais reduzido, o trabalho fica comprometido,

dificultando o a realização de grupos de discussão permanente.

O ESE já foi palco de muitos conflitos, rebeliões, fugas, e na maioria das

vezes por questões justas, ou seja, adolescentes reivindicavam melhores

condições de acomodação, de alimentação, queixas de maus tratos, entre

outros.

O que temos presenciado nesses últimos anos, foi o esforço e empenho

de cada diretor de unidade em proporcionar melhores condições não só para

os adolescentes, como também para os servidores. Algumas reformas foram

realizadas, tais como ampliação de espaço para atendimento individualizado,

que, reforma do refeitório, sala de espera para os familiares, mas ainda assim,

há muito que se fazer.

Existe a possibilidade de transferência da unidade para outro local

também na zona oeste, mas ao que nos parece ainda levará algum tempo.

2.2- O perfil dos adolescentes

Com a promulgação da CF de 1988, crianças e adolescentes passaram

a ter prioridade absoluta. Em 1990, mais outro marco histórico surge no Brasil o

Estatuto da Criança e do Adolescente. Conhecido como ECA em seu primeiro

artigo já se define bem que criança é a pessoa com idade de 0 a 12

incompletos e adolescente, de 12 a 18 incompletos.

Adolescência é uma etapa intermediária do desenvolvimento humano,

entre a infância e a fase adulta. Este período é marcado por diversas

transformações corporais, hormonais e até mesmo comportamentais. Não se

pode definir com exatidão o início e fim da adolescência (ela varia de pessoa

para pessoa), porém, na maioria dos indivíduos, ela ocorre entre os 10 e 19

anos de idade (período definido pela OMS – Organização Mundial da Saúde).

Chamamos a atenção para o termo muito utilizado, “menor”. Este ainda

hoje tem seu significado pejorativo, pois o chamado “menor” em certos casos é

aquele considerado o infrator, que está em conflito com a lei. Por outro lado, os

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que têm idade entre 12 e 18 anos que não estejam envolvidos em nenhuma

prática ilícita, são chamados de adolescentes. Tais exemplos são vistos todos

os dias na mídia.

Consideramos necessário destacar como se deram as mudanças

relativas às crianças e adolescentes a partir de 1988 com a implementação da

Constituição Federal Brasileira quando adotou a Doutrina de Proteção Integral.

A Declaração Universal dos Direitos das Crianças da ONU de 1959, já

dava os primeiros passos ao reconhecer crianças e adolescentes como seres

em desenvolvimento, deixando de ser objeto de direitos para sujeitos de

direitos. Estabelecendo que a proteção não seja obrigação apenas da família,

mas também do estado e da sociedade. Mesmo assim, no Brasil, o Código de

Menores de 1979, ainda reconhecia a família como a única responsável pelos

menores de idade. Conhecido como o Código Penal, tinha função meramente

punitiva àqueles que eram considerados em situação irregular.

É importante ressaltar que os dados aqui contidos são baseados nos

atendimentos realizados pela assistente social que trabalhou na unidade por

quatro anos elaborando parecer técnico, a ser enviado juntamente com o

parecer psicológico e pedagógico.

Iniciamos destacando que no Educandário Santo Expedito, todos os

adolescentes são do sexo masculino, com idade entre 16 e 18, chegando em

alguns casos até os 21, a grande maioria se declara negros ou pardos,

evadiram da escola, possuem baixa escolaridade, são moradores de

comunidades do Rio de Janeiro e outros municípios, estão fora do mercado de

trabalho, não possuem curso profissionalizante, vindos de famílias

monoparentais, família numerosa, beneficiárias do Programa Bolsa Família.

Em muitos os casos o genitor não participa da educação dos filhos, alguns já

vivenciaram situações de violência doméstica, há casos de uso de álcool e ou

drogas na família.

Constatamos também um grande número de adolescentes reincidentes,

que descumpriram medidas anteriores, estão em situação de vulnerabilidade

social, perderam os vínculos com seus familiares.

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Esses adolescentes estão em situação de vulnerabilidade social, com

dificuldade de acessar os direitos básicos. Eles alegam que se envolveram em

ato infracional porque queriam se sentir importantes, iguais aos outros, que

precisavam adquirir bens para frequentar bailes, ter muitas mulheres, usar

arma de fogo.

Como vimos anteriormente no ECA, as unidades de internação têm que

oferecer diversas atividades, tais como escolarização, profissionalização,

atendimento psicossocial, médico, esporte, cultura, entre outras. Contudo,

diante ao número elevado de adolescentes ser superior ao que a unidade

comporta, e também a falta de estrutura, a necessidade de dividi-los por

facções rivais, não é possível atender a todos, e assim, alguns ficam um

período ociosos.

Essa ociosidade provoca mudanças no comportamento, uma vez que

devemos lembrar que o adolescente está em fase de desenvolvimento. Ficar

sem atividades causa angústia, revolta, ansiedade, principalmente se fizer uso

abusivo de drogas e outras substâncias ilícitas. Daí é provável que esse estado

de inércia seja um dos motivos para os conflitos gerados entre eles dentro do

alojamento. É preciso compreender porque razões os adolescentes se

desentendem, brigam uns com os outros, se agridem de forma violenta. Há

registros de homicídios provocados por eles mesmos, causado por terem

ficado juntos no mesmo alojamento e pertencerem a facção rival. Parece que

isso é um lema entre eles, que respondem: “se eu não matasse, eu seria

morto”.

Tem sido comum assistirmos vídeos de brigas nas escolas, nos bailes,

nas ruas, e em tantos outros lugares, tornando as cenas um espetáculo

principalmente nas redes sociais. A violência está cada vez mais banalizada.

As pessoas influenciadas pela mídia, aspira por vingança, julgam a todos

mesmo sem conhecer os fatos.

Por esta razão nós profissionais de todas as áreas, temos que estar

atentos ao prejulgamento ao preconceito. Não estamos na unidade para julgar,

mas sim para buscar alternativas em conjunto para melhoria de vida.

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Muitas vezes não encontramos uma resposta para tantos conflitos. Eles

discutem sem motivo e são capazes de agredir quem os contraria. Essa atitude

impensada é uma resposta à sua visão de mundo, a falta de respeito com o

outro, a falta de amor ao próximo, à negligência sofrida, aos maus tratos dentro

da unidade.

A violência é definida como toda e qualquer forma de constrangimento,

coerção ou subordinação exercida sobre outra pessoa por uso abusivo do

poder. Ela é uma resposta a algo que não nos agrada, que nos incomoda.

Essas reações nem sempre são esperadas e as vezes são praticadas por

quem nem imaginamos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a violência como o uso

de força física ou poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra

pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou possa resultar em

sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação.

Analisando todos esses aspectos, percebemos que a violência é uma

herança trazida desde a infância. Alguns estudos afirmam que as crianças

vítimas de negligência, abuso, violência doméstica, conflitos familiares, tendem

a reproduzir tais atos na fase adulta.

Esses sinais também são identificados quando fazemos o estudo social

dos adolescentes, e atendemos suas famílias para elaboração dos relatórios de

reavaliação de medida. Vemos que grande parte dos adolescentes em

cumprimento de medida, como destacamos no perfil, vieram de famílias com

histórico de violência doméstica e grandes conflitos dentro de casa.

Além dos relatórios com parecer social, psicológico e pedagógico,

utilizamos de outro instrumento que é o Plano Individual de Atendimento (PIA).

É o momento em que o adolescente tem a possibilidade refletir sobre o

que deseja alcançar, de traçar metas para o futuro, o que ele deve fazer e o

que fazer para atingir seus objetivos através do apoio da família, da sociedade

e do Estado.

Com esse exercício, entendemos que o adolescente seja capaz de

avaliar sua postura num momento de tensão e não agir precipitadamente.

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CAPÍTULO 3

Práticas que adotaram a mediação de conflitos

Como já dissemos antes, fomos buscar experiências que utilizaram a

mediação de conflitos entre adolescentes.

No texto de Lima e Botarelli2 (2012), encontramos a experiência do

professor que utilizou a mediação escolar entre estudantes da rede estadual de

ensino de São Paulo que apresentavam dificuldade de se relacionar, criando

vários conflitos. O estudo fala da intervenção feita com adolescentes em

conflito com a lei e os educadores. Sua iniciativa foi dialogar com os

profissionais da educação para sensibilizá-los e fazê-los acolher esses alunos

de modo a não os deixar constrangidos, tomando como norte as “Normas

Gerais de Conduta Escolar”, “Manual de Proteção Escolar e Promoção da

Cidadania”, da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo; “Estatuto da

Criança e do Adolescente, ECA”, “Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo, SINASE”.

O professor destaca que o que mais lhe incomodava era a falta de

diálogo entre educador e aluno, e que até os dias atuais isso acontece.

Na escola pública as mesmas cenas se repetem, os gritos nos corredores com os alunos, a falta de comunicação da entidade escola com os estudantes e com a comunidade, representada pelos profissionais da educação; muitos professores continuam fazendo uso do “eu sei, você é apenas um aluno, está aqui para aprender e eu para ensinar.

Destaca ainda a necessidade de reconhecer o adolescente como um

ser, com suas particularidades, diferente de cada um.

2 Lima, Adenildo de; Botarelli, Adalberto. “Um olhar socioeducativo: relato de experiências em mediação de conflitos no ambiente escolar”. IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5. Disponível em: <http://www.histedbr.fe.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario9/PDFs/2.67.pdf> Acesso em: 03/08/15.

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Como professor mediador, tive a oportunidade de acompanhar os conflitos no ambiente escolar. Os alunos considerados “problemas”, agressões por parte dos estudantes, fazendo uso da violência física e psicológica e receber os familiares para conversar. Essas e outras atividades foram passadas para mim. E todos os casos considerados problemáticos, foram resolvidos. E não fiz nada que qualquer educador não possa fazer, fiz uso do diálogo e de um olhar diferenciado que chamo de um olhar socioeducativo. O olhar de um profissional da educação que antes de falar, prefere ouvir, que não toma nenhuma decisão sem ter ouvido as duas partes, que escuta o estudante.

Como pudemos perceber, o professor afirma que através da escuta, de

um olhar diferenciado, de atenção aos familiares, pode resolver os problemas,

e ainda, destaca, que esse tipo de atitude poderia ser feito por qualquer

pessoa. E é exatamente isso que devemos fazer em qualquer situação de

conflito. Não podemos tomar atitudes precipitadas sem antes ouvir as partes

envolvidas.

Outro exemplo que tem sido adotado desde 2012 é do “O projeto Jovens

e seu potencial criativo na resolução de conflitos” — promovido pelo CECIP em

parceria com a Secretaria Municipal de Educação e financiado pela Petrobras.

Esse projeto tem como objetivo contribuir para a ampliação da Cultura de Paz,

buscando respostas efetivas a situações de conflito. Os valores adotados são:

o empoderamento; a responsabilização; o respeito e o diálogo.

O diálogo é uma forma de resolução pacífica de conflitos e o

cumprimento estrito dos direitos fundamentais de todos os sujeitos envolvidos.

Ao lidarem com os conflitos, descartam a punição e buscam conhecer as

causas que levaram cometimento do ato violento.

O Programa Ética e Cidadania do Ministério da Educação, indica a

importância da existência de Fóruns e Assembleias Escolares formados por

estudantes, profissionais da educação, dirigentes, pais e responsáveis,

lideranças comunitárias, associações e conselhos tutelares, etc, como espaço

para resolução de conflitos. Esses Programas educativos, podem de acordo

com Sastre e Moreno:

Formar os(as) alunos(as), desenvolver sua personalidade, fazê-los(as) conscientes de suas ações e das consequências que acarretam,

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conseguir que aprendam a conhecer melhor a si mesmos(as) e às demais pessoas, fomentar a cooperação, a autoconfiança e a confiança em suas companheiras e seus companheiros, com base no conhecimento da forma de agir de cada pessoa, e a beneficiar-se das consequências que estes conhecimentos lhes proporcionam. A realização destes objetivos leva a formas de convivência mais satisfatórias e à melhoria da qualidade de vida das pessoas, qualidade de vida que não se baseia no consumo, e sim em gerir adequadamente os recursos mentais ... intelectuais e emocionais – para alcançar uma convivência humana muito mais satisfatória (2002, p. 58).

No nosso caso, que lidamos com adolescentes em cumprimento de

MSE, o trabalho ainda é mais desafiador, mas vemos pessoas empenhadas

em desenvolver tais ações.

Os profissionais estão sempre buscando aprimoramento e acreditam

que é possível mudar com ações que envolvam tanto os adolescentes quanto

seus familiares.

Os adolescentes estão na unidade para cumprir uma determinação

judicial, ou seja, não estão espontaneamente e então podem até assumir uma

postura de rejeição, de rebeldia, pois não estão habituados a discutir em grupo,

refletir, expor suas ideias.

O que se pretende com a aplicação da medida socioeducativa é que o

adolescente seja capaz de atingir sua autonomia, tornando-se um cidadão

capacitado para o ingresso no mercado de trabalho, que ele se reconheça

como protagonista de sua própria história, que seja visto como uma pessoa em

desenvolvimento que necessita ter seus direitos básicos garantidos.

O professor Antonio Carlos Gomes da Costa aponta que “educar é criar

espaços para que o educando, situado organicamente no mundo, empreenda,

ele próprio, a construção de seu ser em termos individuais e sociais”.

O trabalho socioeducativo tem início no momento da chegada do

adolescente na unidade. Os adolescentes recebem seus novos pertences:

colchão, roupa de cama, de banho, uniforme, produtos de higiene pessoal,

além de um numero, pelo qual será chamado em vários momentos, deixando

sua “identidade” de lado. Essa prática já foi muito criticada e atualmente tem-se

trabalhado para que todos sejam chamados pelo seu nome.

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Em seguida, ele é atendido por um técnico que irá ouvi-lo para o

preenchimento da ficha social. Esse é um dos momentos mais importantes

para o adolescente e para o profissional que com seu olhar diferenciado, é

capaz de identificar várias demandas, conhecer um pouco da dinâmica familiar

e as quem sabe, as razões que o levaram a praticar o ato infracional. Essa

relação deve ser horizontal. O adolescente tem que se sentir bem acolhido,

respeitado, ter confiança em quem está lhe dando atenção.

O trabalho com os adolescentes tende a ser mais eficiente quando se

tem a presença da família no processo socioeducativo. Geralmente a presença

marcante é da mãe, seguida da avó, dos filhos e da companheira. O genitor

nem sempre comparece. As visitas são feitas aos finais de semana, no sábado

para os que têm matrícula impar e no domingo para numeração par.

Há também um encontro com as famílias que acontece mensalmente.

Nesse momento os responsáveis têm a oportunidade de questionar, trocar

experiências, se informar. Ressaltamos que cada família também é atendida

individualmente nos primeiros dias em que o adolescente chega à unidade.

Os atendimentos são realizados semanalmente e preferencialmente com

a presença do adolescente. Elas são informadas sobre a medida, processo,

regras da unidade, relatório e PIA.

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CONCLUSÃO

Como dissemos no início desse trabalho, a implantação da mediação de

conflitos entre os adolescentes em cumprimento de medida de internação, e

demais profissionais na unidade pode se tornar uma ferramenta para

prevenção da violência dentro da unidade. Isto porque os conflitos quando não

resolvidos tendem a tomar uma proporção cada vez maior. Pois geralmente

eles são pouco ouvidos.

Nossos objetivos estão voltados para uma grande mudança a contar dos

profissionais que precisam estar estimulados.

No que diz respeito aos adolescentes em cumprimento de medida,

pensamos que a prática do diálogo horizontal e a forma de tratamento pode

melhorar a relação.

Quando recebemos o adolescente que praticou um ato infracional,

temos que tratá-lo naturalmente, mostrando que está 31li para se ressocializar.

É uma determinação judicial. Terá que ficar em restrição de liberdade por um

tempo indeterminado e nesse período em que estiver na unidade terá a chance

de repensar sobre seus atos.

Sabemos que não é em alguns meses que eles irão mudar

completamente, e nem garantimos que não irão praticar novamente uma

infração, mas vamos trabalhar para que ele tenha acesso a outros

conhecimentos, que aprenda uma profissão, que volte a se interessar pelos

estudos.

Queremos prepará-los para vida em sociedade, para aprender a

respeitar a opinião do outro, saber perder, saber opinar, estimular a

criatividade, saber enfrentar os problemas e pensar nas possibilidades para

solucioná-los.

A utilização da mediação de conflitos deve ser tida como uma prática

que vai melhorar a comunicação, a participação, ajudar na elevação da

autoestima, levar a responsabilização de seus atos.

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Com isso, esperamos melhorar a qualidade de vida dos profissionais,

minimizar os conflitos, reduzir situações de tensão que geram a violência.

Acreditamos que é possível implantar a mediação de conflitos não só

nas unidades de internação, mas em todo o DEGASE, oferecendo capacitação,

cursos, palestras, mostrando experiências concretas que deram resultados

eficazes.

Espero que com esse trabalho possa ter dado uma contribuição ao

processo socioeducativo.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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de conflitos no direito de família. REVISTA JURÍDICA da UniFil, Ano V – nº

5.Curitiba. Juriá. 2006.

BOTARELLI. Um olhar socioeducativo: relato de experiências em mediação e conflitos no ambiente escolar. IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL” Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-51703. BRAGA NETO, Adolfo e SAMPAIO, Lia Regina Castaldi. O que é mediação de conflitos. São Paulo: Editora Brasiliense. 2007.

CECIP – Centro de Criação de Imagem Popular. Paz em movimento – trajetória do projeto “jovens e seu potencial criativo na resolução de conflitos em escolas municipais do Rio de Janeiro”. Disponível em: www.cecip.org.br.

FISHER, Roger; URY, Willian e PATTON, Bruce. Como Chegar ao Sim. 2 Ed.

Rio de Janeiro: Imago. 2005 .

LOPES, Elis Regina de Castro. A política socioeducativa e o DEGASE no

Rio de Janeiro: transição de paradigma. Jundiaí, São Paulo. Paco Editorial.

2015.

MOORE, Christopher W. O processo de mediação: estratégias práticas

para resolução de conflitos. Porto Alegre: ArtMed, 1998.

MUSZKAT, Malvina Ester. Guia prático de mediação de conflitos em

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http://books.google.com.br. Acessado em 08/08/2015.

RIBEIRO, Zulaiê Cobra. PROJETO DE LEI N 4827/98. Disponível em: http://www.justica.sp.gov.br/downmed/pl4827.pdf. Acessado em 20/07/2015

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ROSENBERG, Marshall B. Comunicação não-violenta. 2 Ed. São Paulo:

Editora Ágora, 2003.

SALES, Lília Maia de Morais. Justiça e mediação de conflitos. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO.........................................................................................02

AGRADECIMENTO.........................................................................................03

DEDICATÓRIA................................................................................................04

RESUMO ........................................................................................................05

METODOLOGIA .............................................................................................06

INTRODUÇÃO ......................................................................................09

CAPÍTULO 1 - Mediação.................................................................................11

1.2 Mediação de conflitos ...............................................................................11.

1.2 Breve histórico da mediação no Brasil ....................................................14...

1.3 - O papel do mediador...............................................................................15

CAPÍTULO 2 - Medida Socioeducativa...........................................................18

2.3 DEGASE....................................................................................................21

2.4 O perfil dos adolescentes..........................................................................22

CAPÍTULO 3 - Discussão................................................................................20

3.1 Práticas que adotaram a mediação de conflitos........................................27

CONCLUSÃO..................................................................................................31

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.....................................................................33