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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU AVM FACULDADE INTEGRADA GESTÃO DE DOCUMENTOS PÚBLICOS: O ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO E A SUA CONTRIBUIÇÃO TÉCNICA PARA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL. Por: Amanda Barbosa Vilela Orientador Prof. Luiz Eduardo Chauvet Niterói 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

AVM FACULDADE INTEGRADA

GESTÃO DE DOCUMENTOS PÚBLICOS: O ARQUIVO PÚBLICO DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO E A SUA CONTRIBUIÇÃO TÉCNICA PARA A

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL.

Por: Amanda Barbosa Vilela

Orientador

Prof. Luiz Eduardo Chauvet

Niterói

2014

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

GESTÃO DE DOCUMENTOS PÚBLICOS: O ARQUIVO PÚBLICO DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO E A SUA CONTRIBUIÇÃO TÉCNICA PARA A

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL.

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Gestão Pública

Por: . Amanda Barbosa Vilela

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RESUMO

Este trabalho procura apresentar a gestão de documentos públicos no

âmbito do Estado do Rio de Janeiro, bem como a Instituição responsável por

esta atividade, o Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ) assim

como seus objetivos, atividades e projetos realizados em outros órgãos. Para

tal, são apresentadas definições de arquivo, visões históricas, legislações

arquivísticas pertinentes e informações gerais sobre o APERJ. Conclui-se que

para que os documentos públicos sejam acessados plenamente pela

comunidade há muito que se fazer, tanto do ponto de vista técnico quanto do

ponto de vista político-administrativo.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada para apresentação do tema proposto baseou-se

na leitura de livros específicos da área de Arquivologia, a fim de se obter

conceitos que seriam fundamentais no desenvolvimento do trabalho, artigos

científicos que apresentassem situações semelhantes para a discussão,

legislações específicas da área de arquivo e pesquisas em sítios da Internet

especializados, principalmente o do Arquivo Público do Estado do Rio de

Janeiro (APERJ), o qual foi substancial em disponibilizar informações que

evidenciaram na prática o que estava sendo pesquisado.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO I - CONCEITUANDO ARQUIVOS 08

1.1- Definições 09

1.2- Visão histórica e princípios 13

1.3- Características e qualidades dos arquivos 16

1.4- Gestão de documentos arquivísticos 19

1.4.1- O ciclo vital dos documentos 21

1.4.2- Antecedentes e modelos internacionais 22

1.4.3- O caso brasileiro 23

CAPÍTULO II - LEGISLAÇÃO ARQUIVÍSTICA 26

2.1- A formação da documentação pública brasileira 26

2.1.1- Acesso à informação: uma mudança nos objetivos

arquivísticos 29

2.2- Lei nº 8.159 de 08 de janeiro de 1991 30

2.3- Lei nº 12.527 de 18 de novembro de 2011 32

2.4- Lei nº 5.562 de 20 de outubro de 2009 34

CAPÍTULO III – O ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO

DO RIO DE JANEIRO- APERJ 37

3.1- Objetivos e características 38

3.2- Gestão de Documentos no APERJ 39

3.2.1- Avaliação, eliminação e recolhimento dos

documentos 39

3.2.2- Atividades de gestão realizadas em 2013 40

CONCLUSÃO 44

ANEXOS 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Esquema de definição de arquivo 12 Figura 2 – Fases da Gestão de Documentos 20

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INTRODUÇÃO

Afinal, por que se acumulam documentos? Diz Smit (2003), que “a

informação é estocada por arquivos e bibliotecas em função de uma utilidade

que lhe foi conferida”, fazendo da mesma não apenas um conjunto documental

e sem definição, mas prova ou testemunho de uma ação ou acontecimento.

Pode-se dizer também que, essas mesmas informações são consideradas

produtos de decisões administrativas e que ao longo do tempo são passíveis

de mudanças, assim como as instituições que as geraram.

Os documentos existem e, portanto são necessários de diversas

maneiras para diversos tipos de pessoas, sejam elas físicas ou jurídicas. Logo,

a informação contida nesses documentos precisa ser tratada e organizada,

assim como afirma Silva (1999) “documento recolhido, guardado e não

organizado significa inexistência de informação.”

Além do tratamento, o acesso é um ponto que merece atenção, pois o

objetivo maior e o desafio atual são “disponibilizar a informação certa, no prazo

certo, numa forma considerada adequada para o uso e a um custo justificado

pelo uso.” (MASON, 1990 apud SMIT, 2003).

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CAPÍTULO I

CONCEITUANDO ARQUIVOS

“Nosso tesouro está onde se assentam as colmeias

do nosso conhecimento”. Nietzsche

Para que se possa conceituar arquivo, é preciso compreender

que, para que ele existisse tal qual se conhece, foi preciso haver uma

acumulação de documentos. Esse acúmulo surgiu, a partir da necessidade do

registro de atividades e até mesmo da existência do ser humano, assim como

afirma Le Goff (1984) “O documento não é qualquer coisa que fica por conta

do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações

de forças que ai detinham o poder.”

Rodrigues (2006) reforça a ideia mostrando que o documento

corporifica as ações que ocorrem em um fluxo de tempo e que, somente a

ordem dos documentos combinada com essas ações são indispensáveis para

a compreensão de seu significado.

De acordo com Vieira (2005), pode-se dizer que o advento da ciência

também colaborou para o surgimento de vários outros tipos de documentos,

pois precisava-se provar o que tinha sido descoberto.

[...] antes do surgimento do papel, as palavras tinham peso, serviam como documentos, mas foram surgindo os meios de registro de informação mais difundidos de forma que a confissão, que era a “rainha das provas” foi cedendo lugar a tijolos, tábuas, pergaminhos, folhas, papiros, marfim, cortiça e papel. (VIEIRA, 2005, p. 2).

O que se pode afirmar a respeito dos documentos, é que, o progresso

das relações humanas trouxe as normas, as legislações, as instituições e

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apesar disso, com uma maior difusão das informações em seus diversos

suportes, o principal aspecto do documento ainda permanece, que é o

comprobatório.

Esse movimento de progresso e desenvolvimento da humanidade, o

qual gerou o acúmulo de documentos, mais adiante, provocou no Estado a

preocupação de documentar a sua história, tão logo também, a necessidade

de organizar todas essas informações, assim como afirma Vieira (2005, p. 4)

“Os homens sentiram a necessidade de organizar seus papéis, de se

assegurar de seus direitos, e também de se precaver com provas.”

Neste contexto, surgem os arquivos, que ao longo de sua história, foram

os lugares escolhidos para se guardarem todos esses papéis, e que apesar de

ainda serem desprezados ou desconhecidos, “sempre serão os guardiões do

elemento mais importante que sempre moveu, move e moverá o mundo: a

informação”. (VIEIRA, 2005).

1.1- Definições

Miranda (2011) pontua que, ao longo dos anos, os arquivos passaram

de “setores protegidos e conservados [...] propriedades do monarca e

estratégicos à segurança do Estado e ao exercício do poder” para “patrimônio

nacional, depositários de fontes do conhecimento científico sobre o passado e

como guardiões da memória institucional e coletiva.”

Este fato se deu ao longo do século XX, quando a valorização da

memória e os novos estudos historiográficos, incentivou o aparecimento de

novas instituições de guarda documental.

A partir da década de 80 [...] o reconhecimento da UNESCO de que os arquivos são elemento do patrimônio cultural das nações estimulam a reflexão sobre o papel do historiador e do arquivista nas instituições de custódia e sobre os arquivos como espaço para o exercício da interdisciplinaridade. (MIRANDA, 2011, p. 1).

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De acordo com a Associação dos Arquivistas Holandeses (1975 apud

Fonseca, 2005), o arquivo possui caráter indivisível, logo pode ser considerado

como um todo orgânico

É o conjunto de documentos, escritos, desenhos e material impresso recebidos ou produzidos oficialmente por determinado órgão administrativo [...] e que se destinavam a permanecer sob a custódia deste órgão [...] o sistema de arranjo deve ser baseado na organização original do arquivo, a qual, [...] corresponde à organização do órgão administrativo que o produziu. (ASSOCIAÇÃO DOS ARQUIVISTAS HOLANDESES, 1975 apud FONSECA, 2005, p. 43).

Vieira (2005) acompanha esta ideia, afirmando que “o arquivo nasce a

partir do momento que se inicia uma tarefa, um trabalho ou registro”, e que o

material que decorre de uma atividade, pode ou não formar um arquivo sendo

o seu conteúdo, o aspecto decisivo para a sua destinação.

Ao arquivo se destinam materiais resultantes dos serviços específicos ou não de cada organização [...] com características como de infungibilidade, de unicidade, de prova, de prazo. (VIEIRA, 2005, p. 24).

A Associação de Arquivistas Brasileiros (1997 apud Martins, 1998)

amplia o conceito de arquivo, enxergando-o como um conjunto documental

que é reunido e acumulado a partir de atividades de pessoas físicas ou

jurídicas, públicas ou privadas. Para a Associação, o arquivo também pode ser

“a entidade ou órgão administrativo responsável pela custódia, pelo tratamento

documental e pela utilização dos arquivos sob sua jurisdição.”

Martins (1998) sintetiza os tipos de arquivos classificando- os em:

públicos, institucionais, comerciais e pessoais. Além dos arquivos especiais,

que se diferenciam pelo suporte no qual são registradas as informações

(discos, filmes, fitas) e o especializados, os quais precisam ser organizados

com técnicas e materiais específicos (médicos, de engenharia, literários).

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Cook (1998) mostra a diferença entre alguns tipos de arquivo. Segundo

o autor, arquivos públicos, institucionais ou oficiais são acumulações naturais,

derivadas da atividade administrativa e os pessoais podem ser definidos como

uma perpetuação do indivíduo.

Rodrigues (2006) afirma que, ao longo da história, o conceito de arquivo

tem se transformado devido às mudanças políticas e culturais da sociedade

ocidental. Para a autora, alguns fatores, como finalidade e suporte, que antes

eram primordiais para a definição de um arquivo, atualmente já não têm sido

mais tão significantes.

Menne-Haritz (1994 apud Rodrigues, 2006 p. 104) exemplifica esta ideia

a partir dos documentos eletrônicos, os quais possibilitaram aos arquivistas

entender que o que realmente importa em uma avaliação de documentos não

é o espaço que irão ocupar, mas a “redundância das informações”.

De modo a contrapor o conceito de que o arquivo é um conjunto de

documentos, Rousseau e Couture (1994 apud Rodrigues, 2006) o definem

como um conjunto de informações. Apesar da concepção desses autores

parecer clara, quando se fala em informação arquivística, não se pode deixar

de considerar o suporte e a autenticidade da informação.

Entende-se que a informação arquivística não prescinde de seu suporte, mesmo que ele não seja passível de leitura a olho nu. Dentre outras justificativas para isso, tem-se que a autenticidade da informação arquivística depende de um conjunto de referências dentre as quais estaria o suporte que contém a informação. (RODRIGUES, 2006, p. 104).

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Figura 1- Esquema de definição de arquivo (Fonte: Rodrigues, 2006).

A figura de Rodrigues (2006) acima define o arquivo como “um conjunto

de documentos produzidos e recebidos no decurso das ações necessárias

para o cumprimento da missão predefinida de uma determinada entidade

coletiva, pessoa ou família”. Para a autora, o arquivo pode ser definido como o

resultado de dois processos: a produção e recepção de documentos e a

realização da missão.

Para complementar esta ideia tem-se outra definição de documentos de

arquivo que, de certo modo resume bem todas as definições anteriores.

[...] são produzidos por uma entidade pública ou privada ou por uma família ou pessoa no transcurso das funções que justificam sua existência como tal, guardando esses documentos relações orgânicas entre si. Surgem, pois, por motivos funcionais administrativos e legais. Tratam sobretudo de provar, de testemunhar alguma coisa. Sua apresentação pode ser manuscrita, impressa ou audiovisual; são em geral exemplares únicos e sua gama é variadíssima, assim como sua forma e suporte. (BELLOTTO, 2005, p.37).

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1.2 - Visão histórica e princípios

De acordo com Fonseca (2005), as instituições arquivísticas atuais

foram construídas a partir da criação do Arquivo Nacional da França em 1789.

Esse arquivo era o estabelecimento que serviria para recolher documentos da

administração pública daquele país.

Assim como afirma Franco e Bastos (1986) citado por Fonseca (2005),

a formação dos arquivos acompanha a formação dos estados nacionais e

quando se compreende isso é possível perceber que a legislação arquivística

nada mais é do que um “ensaio microadministrativo da realidade político-

constitucional de cada nação.”

Ainda de acordo com Fonseca (2005) esse modelo de arquivo

apresentava alguns aspectos:

- uma administração orgânica que representava uma rede de

repartições públicas geradoras de documentos, formando então, uma rede de

arquivos do estado;

- um reconhecimento do Estado, perante ao cuidado com o patrimônio

documental do passado e aos documentos produzidos por ele;

- torna-se direito público, a partir da lei Messidor, o acesso aos

documentos de arquivo pelos cidadãos.

O princípio do acesso, porém não representou o controle da

administração pública por parte dos cidadãos. De acordo com Duchein (1983

apud Fonseca, 2005), a intenção não era fazer com que o cidadão comum

tivesse conhecimento sobre os procedimentos governamentais e

administrativos da época, pois esse direito de acesso aos arquivos não estava

explicitamente associado aos direitos democráticos.

A Revolução Francesa, apesar de estabelecer a patrimonialização e a nacionalização dos acervos documentais públicos e privados, não reconheceu os arquivos como patrimônio cultural. Por outro lado, ainda que o acesso aos documentos sob a guarda do poder público tivesse sido legalmente franqueado aos cidadãos, os arquivos franceses continuavam a ser frequentados prioritariamente por historiadores e por aqueles vinculados à administração. (KETELLAR, 2007; TOGNOLI, 2010 apud MIRANDA, 2011, p. 2).

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O objetivo portanto, era facilitar apenas a “investigação de índole

histórica e erudita que se baseia nos documentos do passado”. Criou-se um

pensamento positivista da história e os arquivos eram locais de “base de

pesquisa” e por este motivo, o Estado precisava mantê-los acessíveis.

(FONSECA, 2005).

Ou seja, o caso francês, demostra que a monumentalização dos arquivos e o reconhecimento da necessidade da sua preservação enquanto elemento para desenvolvimento da cultura e identidade nacionais foram resultados de um longo processo, no qual interagiram não apenas o Estado e a sociedade civil, mas também os profissionais de História e dos arquivos. (MIRANDA, 2011, p. 2).

A partir desta perspectiva, de que o arquivo era o “laboratório científico”

dos historiadores, os documentos passaram a ser organizados por critérios

temáticos e/ou cronológicos, de modo a atender a pesquisa histórica.

(JIMMERSON, 2008 apud MIRANDA, 2011).

[...] o Arquivo Nacional da França considerava como um conjunto único a grande massa documental ali reunida. Os documentos eram divididos em cinco seções metódico-cronológicas: legislativa [...], administrativa [...], dominial [...], judiciária [...], e histórica, constituída de documentos arbitrariamente selecionados como de particular interesse histórico. (FONSECA, 2005, p. 41).

Quando o Arquivo Nacional da França mesclava documentos de órgãos

diferentes em um mesmo conjunto, chamando-os de seção, a noção de

respect des fonds (respeito aos fundos), não estava sendo efetuada, pois este

fundamento só foi publicado na literatura arquivística pela primeira vez em

1841, quase meio século após a criação deste mesmo arquivo.

O documento que continha esse fundamento e outras instruções,

auxiliava os profissionais que trabalhavam na ordenação e classificação de

arquivos municipais e tinha como objetivo recuperar a informação vinda de um

mesmo produtor, de modo a contextualizá-la no universo de sua criação.

(RODRIGUES, 2006).

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Duchein (1982 apud Fonseca, 2005), explicita o conceito dos respeito

aos fundos de uma forma mais didática, utilizando o exemplo dos sítios

arqueológicos. Em outros tempos, quando encontrava-se um sítio, todas as

suas peças eram retiradas e levadas para os museus. Atualmente, essa

prática não faz mais sentido, e o sítio é mantido da mesma forma que foi

encontrado, para que assim seja possível compreender como aqueles objetos

foram parar ali.

A visualização da noção de sítio arqueológico ajuda a perceber que, ao de retirar as peças documentais do seu lugar original, pode-se destruir a informação do significado das peças no seu contexto e, portanto, destruir a possibilidade de plena compreensão dos documentos. (RODRIGUES, 2006, p. 106).

Este princípio é o que define o conjunto de documentos como arquivo.

Diferentemente de outros tipos de acervos e coleções, os documentos que

formam um arquivo, nascem de um “processo natural de acumulação, a partir

do fluxo da sua produção/recepção por um único sujeito, seja uma entidade

coletiva ou uma pessoa.” (Rodrigues, 2006, p. 106).

Para a construção das bases teóricas do trabalho de arquivo, além dos

respeito aos fundos, pode-se citar outros dois princípios: o da proveniência e o

da manutenção da ordem original. Ambos surgiram na Alemanha, e de, alguma

forma, exprimem o sentido do anterior.

A proveniência, de acordo com Rodrigues (2006), busca a recuperação

da informação originadas de um mesmo produtor, ou seja, “se propunha

contextualizar as informações no universo de sua criação”.

[...] os documentos foram gerados para que essas atividades fossem realizadas e são organizados em função dessas atividades, dos responsáveis pelas mesmas e de quem acumulou: é o conceito da proveniência. (SMIT, 2003).

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Já a manutenção da ordem original, os documentos que surgiram de um

mesmo produtor, seriam reunidos de acordo com as ações que os geraram ou

receberam.

Alguns autores trabalham a relação entre o respeito aos fundos, a

manutenção da ordem original e a proveniência. O que se pode concluir é que

todos são essenciais para a divisão, classificação e tratamento de documentos

de arquivo e que também contribuem para a não dispersão dos mesmos, de

forma a dar inteligibilidade e identidade ao conjunto. (SOUSA, 2003 apud

RODRIGUES, 2006).

Portanto, consideraremos o respeito da ordem natural dos documentos como uma extensão do respeito aos fundos, e, ambos, os postulados fundamentais do princípio arquivístico da proveniência (MARTIN-PONZUELO, 1998 apud FONSECA, 2005, p. 43).

1.3 – Características e qualidades dos arquivos

Arquivos em geral, possuem algumas características as quais derivam

dos princípios que foram citados no item anterior. São elas: singularidade do

produtor, a filiação e a dependência dos documentos.

A singularidade está ligada ao princípio da proveniência. Ela é definida a

partir da ideia de que um arquivo só pode ser considerado como tal, se o

conjunto de seus documentos forem produzidos ou recebidos de um mesmo

sujeito. Segundo Rodrigues (2006) “a relação entre o produtor-entidade,

pessoas ou família e o arquivo fornece a identidade do conjunto de

documentos e sua singularidade é indispensável”. Ainda sobre singularidade é

importante destacar que cada arquivo é único, portanto é relevante que, antes

de qualquer planejamento, ordenação e tratamento haja uma familiarização

com o mesmo. (ASSOCIAÇÃO DOS ARQUIVISTAS HOLANDESES, 1960;

ISAD(G), 2000 apud RODRIGUES, 2006).

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A filiação está associada à manutenção da ordem original, ou seja o

documento é filiado à ação que o gerou e é isso que define a sua identidade. O

documento então precisa estar vinculado à funções, atividades e tarefas do

sujeito que o produziu, caso contrário, não se define como um documento de

arquivo.

A característica da dependência é correlata ao princípio da integridade

ou indivisibilidade. A partir dela, pode-se compreender que não apenas a

multiplicidade de documentos que são originados de uma entidade, família ou

pessoa, definem um arquivo e sim o fato de se manterem todos os

documentos produzidos, pois se foram gerados de um mesmo produtor,

possuem relações entre si. Excluir algum documento poderia descaracterizar o

arquivo e o que ficou isolado seria apenas uma parte dele e não um todo.

Assim, o que permite que um documento isolado seja considerado um arquivo é o fato de não terem sido eliminadas informações relacionadas a ele contidas em outros documentos, é o fato do arquivo não ter sido mutilado, é o fato de o documento não ter sido separado dos demais originados da realização e uma mesma missão. (RODRIGUES, 2006, p. 108).

Além das características, as qualidades de um arquivo servem para

orientar o trabalho de tratamento dos mesmos e definir um conjunto de

documentos como arquivo São elas: unicidade, cumulatividade, organicidade,

imparcialidade e autenticidade.

Pode-se definir a unicidade como a singularidade. “Cada documento é

único, em função do contexto em que foram produzidos.” (BELLOTTO, 2002,

apud RODRIGUES, 2006). De acordo com a autora, esta qualidade aplica-se

para documentos duplicados que pertencem a diferentes arquivos, pois foram

concebidos por ações distintas. Para esta qualidade o que é relevante é o

contexto da criação do documento.

A cumulatividade é outra qualidade que deriva da acumulação natural,

ou seja, se acumulam conforme vão sendo produzidos. Para se obter uma

perfeita organicidade em um arquivo o ideal é que o fluxo dessa acumulação

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acompanhe o da ação que criou o documento. Em arquivologia, o que orienta

a ação é chamado de Plano de Classificação.

Pode-se perceber que uma qualidade tem a capacidade de interferir e

complementar a outra e a organicidade emana da acumulação. Como foi dito

anteriormente, o arquivo é um todo orgânico e o conjunto que o forma origina-

se de ações que têm por objetivo cumprir uma missão de uma entidade

(RODRIGUES, 2006).

A organicidade do arquivo realiza-se através da acumulação dos documentos. Um arquivo sempre tem alguma organicidade, as próprias atividades acabam por impor alguma ordem aos documentos gerados. (RODRIGUES, 2006, p.109).

A perspectiva que define a imparcialidade foi formulada por Hilary

Jenkinson. Para o autor o documento não nasce a partir de uma escolha e sim

a partir das atividades de uma instituição, seja ela privada ou pública. Em

outras palavras, tem-se a finalidade e logo depois o documento. Quando se diz

eu um documento é imparcial, sugere-se que o mesmo reflete fielmente a ação

de seu produtor. Rodrigues (2006) comenta que “o motivo da criação de um

documento, independentemente do seu conteúdo ser ou não, suponhamos,

uma fraude, seria legítimo no que se refere à sua relação com as atividades

que o criou.” A última característica, a autenticidade, também formulada por

Jenkinson, poderia ser relacionada com a veracidade do conteúdo de um

documento. Porém o conceito vai mais além. Trata-se de “uma questão

arquivística e da manutenção da integridade do fundo de arquivo” (Rodrigues,

2006).

Desde que se entenda que a imparcialidade diz respeito à verdade administrativa dos documentos, ou seja, aos fato de os documentos constituírem-se num reflexo fiel das atividades desenvolvidas, vê-se que a autenticidade depende da manutenção dessa imparcialidade. [...] Importa entender que os arquivos estão sujeitos a perder sua organicidade, imparcialidade e autenticidade se tratados e preservados de maneira pouco rigorosa [...] cada documento encontrará seu

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significado dentro do conjunto o qual pertence desde que mantida a organicidade do arquivo. (RODRIGUES, 2006, p. 110).

1.4. Gestão de Documentos Arquivísticos

A gestão de documentos pode ser definida por diferentes aspectos. Do

ponto de vista arquivístico, tem-se a definição do historiador norte americano

Lawrence Burnet citado por Jardim em 1987, que a considera como um:

[...] processo de reduzir seletivamente a proporções manipuláveis a massa de documentos, que é característica da civilização moderna, de forma a conservar permanentemente os que têm valor cultural futuro sem menosprezar a integridade substantiva da massa documental para efeitos de pesquisa. (BURNET apud JARDIM, 1987, p. 35).

Pela administração científica, concebe-se a ideia de que gestão de

documentos estaria relacionada com eficiência e economia. A definição norte-

americana mescla as duas visões, a arquivística e a administrativa, da seguinte

forma:

O planejamento, o controle, a direção, a organização, a capacitação, a promoção e outras atividades gerenciais relacionadas com a criação de documentos, sua manutenção, uso e eliminação, incluindo o manejo de correspondência, formulários, diretrizes, informes, documentos informáticos, microformas, recuperação de informação, fichários, correios, documentos vitais, equipamentos e materiais, máquinas reprográficas, técnicas de automação e elaboração de dados, preservação e centros de arquivamento intermediários ou outras instalações para armazenagem. (LEGISLAÇÃO NORTE-AMERICANA apud JARDIM, 1987, p.35).

Rodrigues (2006) comenta a definição do Dicionário de Terminologia

Arquivística (1996), que define a gestão de documentos como “um conjunto de

medidas e rotinas visando à racionalização e eficiência na criação, tramitação,

classificação, uso primário e avaliação dos arquivos”.

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Analisando essas definições, pode-se compreender que a gestão

envolve todo o ciclo documental, o qual começa na produção até o seu

recolhimento permanente.

Essas informações podem ser resumidas na figura abaixo, a partir da

perspectiva de James Rhoads (1983 apud Jardim, 1987). Para alcançar a

economia e a eficácia pretendida pelos arquivos, os programas de gestão

precisam das fases a seguir:

Figura 2 – Fases da Gestão de Documentos

Todas essas fases apresentam diferentes atividades e seus respectivos

objetos. Na produção tem-se a concepção, preparação, fomento e aplicação.

Os objetos que surgem são: formulários, informes, diretrizes, sistemas de

informação e tecnologias modernas. Para a utilização e conservação as

atividades envolvem a criação, gestão, seleção, análise, produção,

manutenção, automação e reprografia, as quais englobam sistemas de arquivo

e recuperação de dados, correios, telecomunicações e programas de

documentos vitais. Finalmente na destinação, há a identificação, descrição,

avaliação, arquivamento, eliminação, recolhimento que abrangem séries

documentais de valor intermediário e permanente.

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1.4.1- O ciclo vital dos documentos

A passagem do documento administrativo para o histórico é uma das

características mais dinâmicas dos arquivos públicos. Este fato se dá a partir

do momento que o documento administrativo cumpre todas as suas funções

como tal e então passa a ter, ou não, valor histórico. O arquivo torna-se o

responsável que irá definir essa passagem, que na linguagem arquivística é

chamada de teoria das três idades. (BELLOTTO, 2005).

[...] os arquivos administrativos guardam os documentos produzidos ou recebidos por cada uma das unidades governamentais durante o exercício de suas funções, [...] Esses documentos são, na realidade, os mesmos de que se valerão os historiadores, posteriormente, para colherem dados referentes ao passado, já no recinto dos arquivos permanentes. (BELLOTTO, 2005, p. 23).

A primeira idade do ciclo vital é aquela que diz respeito aos arquivos

correntes. Estes são os documentos que ainda cumprem prazo jurídico,

administrativo e funcional. Portanto, ainda estão sendo utilizados. Seu prazo

de permanência em arquivo é em torno de 5 a 10 anos, até que seja

considerado de outra idade.

Na segunda idade, o documento já não mais possui prazo de validade

jurídico-administrativa, não impedindo que o produtor o solicite quando desejar.

O tempo de permanência no arquivo pode chegar até 20 anos. A partir deste

momento o documento deve passar por comissão de avaliação de modo a ser

eliminado ou tornar-se permanente, de valor histórico.

Por fim, na terceira idade, quando o documento possui 25 anos ou mais,

é executado o recolhimento dos papéis de modo a preservá-los definitivamente

nos arquivos permanentes. Assim, esse tipo de arquivo passa a ter outra

funcionalidade, finda-se o uso primário e principia-se o uso científico, social e

cultural e histórico.

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1.4.2- Antecedentes e Modelos Internacionais

Desde o final do século 19 que a gestão de documentos já podia ser

enxergada em países como EUA e Canadá. Porém, somente após a Segunda

Guerra Mundial, que o estudo teórico foi desenvolvido.

Na primeira metade deste século, criaram-se comissões governamentais [...] visando encontrar soluções para a melhoria dos padrões de eficácia no uso dos documentos, por parte da administração pública. [...] durante esse período, as instituições arquivísticas públicas caracterizavam-se pela sua função de órgão estritamente de apoio à pesquisa, comprometidos com a conservação e acesso aos documentos considerados de valor histórico. A tal concepção opunha-se, de forma dicotômica, a de documento administrativo, cujos problemas eram considerados da alçada exclusiva dos órgãos da administração pública que o produziam e utilizavam. (JARDIM, 1987, p. 35).

Com a administração científica de Taylor e Gilbreth, a racionalização do

processo administrativo foi intensificada, tornando a eficiência, palavra de

ordem daqueles países. Os princípios desse modelo de administração

colaboraram para a criação de princípios de gestão de documentos. Alguns

exemplos dessa contribuição são citados por Jardim (1987):

- garantia de políticas e atividades do governo documentadas de forma

adequada;

- menor número de documentos sem utilidade agregados àqueles de valor

permanente;

- melhor organização de documentos de valor permanente;

- inibir a eliminação de documentos permanentes;

- definir qual seria a parcela de documentos que não poderiam ser eliminados.

Dessa forma, a gestão de documentos contribuiu também para a

consciência do governo americano em relação ao significado dos documentos.

De acordo com Jardim (1987), nesse momento, as instituições arquivísticas

americanas assumiram um papel de apoio administrativo e tornaram-se

responsáveis por orientar a gestão de documentos nos órgãos

governamentais.

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Além disso, hoje elas dispõem de considerável prestígio e de maiores orçamentos, pois foi reconhecido que, como, instituições, economizam mais dinheiro do que gastam, em resultado de suas atividades de gestão de documentos [...] É possível imaginar como o custo público da informação governamental tende a alcançar níveis reduzidos, aplicando-se o princípio básico de gestão de documentos, segundo o qual a informação deve estar disponível no lugar certo, na hora certa, para as pessoas certas e com o menor custo possível. (JARDIM, 1987, p. 36).

O mesmo não aconteceu no modelo europeu, onde a gestão de

documentos administrativos não é gerida pelo arquivo, cabendo a ele apenas a

função de fonte de pesquisa retrospectiva. Roper (1985 apud Jardim, 1987)

comenta que muitos países europeus aplicam a gestão de documentos

somente nas áreas de avaliação e recolhimento e não se conscientizaram da

competência dos arquivos nacionais para gerir documentos de cunho público.

1.4.3- O caso brasileiro

As instituições brasileiras sejam elas municipais estaduais ou federais,

possuem de um modo geral, maneiras de gerenciamento de documentos bem

similares. Segundo Jardim (1987) a tradição arquivística do país se assemelha

à europeia, pois há uma valorização de documentos considerados históricos,

mas que muitas vezes não respeitam a certos critérios.

Outra característica dos arquivos públicos brasileiros é que não há

relação dos mesmos com a administração pública. A função de apoio à

pesquisas científicas retrospectivas anula o que seria a sua função principal,

que é o apoio administrativo ao governo. Por estarem a parte da

administração pública e por outros fatores essenciais tais como pessoal,

legislação e estrutura física, representam um papel passivo em relação à

questões de recepção de documentos derivados da produção e acumulação

da administração, “ou seja, o modelo de instituição arquivística pública em

vigor no Brasil está mais próximo do século XIX do que do século XXI.”

(JARDIM, 1987, p. 38).

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No final da década de 80, Jardim mencionou problemas de gravidade

dos arquivos públicos brasileiros o que já havia também, sido diagnosticados

por profissionais. Para o autor, a problemática envolve a própria administração

pública, a qual guarda o que não deve e elimina o que não pode.

[...] as características da administração pública brasileira propiciam, por motivos histórico-culturais, que a informação governamental - espinha dorsal do seu desempenho - seja mal produzida, mal utilizada, mal disseminada e, em geral, eliminada ou conservada sem critério pela própria administração pública. (JARDIM, 1987, p. 38).

Algumas informações colhidas pelo Arquivo Nacional naquela época e

citadas por Jardim (1987) apresentavam o seguinte quadro:

- documentos que tratavam de quatrocentos anos de história do país em

estado precário;

- acesso físico e intelectual aos documentos muito restrito;

- 70% dos arquivos federais guardavam apenas documentos administrativos;

- não havia diretrizes de avaliação de documentos os quais já não mais

interessavam à administração pública, gerando acúmulo desnecessário de

documentos;

- muitos estados não tinham a prática da eliminação de documentos e, quando

possuíam a tabela de temporalidade, esta era mal elaborada e não executada

por profissionais capacitados.

Ohira (2004) resume o cenário dos diagnósticos que tem sido feitos nas

duas últimas décadas. Para a autora os principais problemas encontrados nos

arquivos públicos brasileiros dizem respeito à: impossibilidade do exercício de

direito à informação pelo cidadão, documentos sem identificação e descrição,

recursos humanos, materiais e financeiros precários e, portanto uma gestão

documental ineficiente.

[...] trata-se de instituições deficitárias para os cofres públicos, pois sua condição não permite atender de forma razoável às demandas de pesquisa científica ou outros usos sociais [...] nem atuar como órgão de apoio à administração pública,

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mediante atividades mínimas de gestão de documentos [...] (JARDIM, 1987, p.38).

Tendo em vista esse quadro caótico brasileiro e comparando o custo

público da informação com países dos EUA e Canadá, observa-se que no

Brasil, ele é bem mais caro. A implementação de gestão de documentos em

instituições públicas possibilitaria tanto a modernização das mesmas e a

atuação em novas atribuições, tornando- as menos onerosas à administração

e ao cidadão.

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CAPÍTULO II

LEGISLAÇÃO ARQUIVÍSTICA

“Um país sem arquivistas é um país sem arquivos, e um país sem arquivos é

um país sem memória, sem cultura, sem direitos”. Jardim

O Estado do Rio de Janeiro possui um vasto conjunto de leis, decretos,

resoluções, portarias e deliberações referentes aos arquivos e seus assuntos

correlatos como planos de classificação e tabelas de temporalidade. No sítio

eletrônico do Arquivo Público do Estado de Rio de Janeiro é possível visualizar

e consultar facilmente todo esse material.

Este capítulo irá se constituir de breves comentários de três leis, sendo

duas federais e uma estadual, as quais colaboram para um maior

entendimento sobre arquivos públicos, acesso e o papel dos arquivos na

esfera da administração pública. Porém, antes disso, é importante entender

como se deu a formação do patrimônio documental público brasileiro, o que

engloba também a documentação dos estados e municípios.

2.1- A formação da documentação pública brasileira

Desde o seu descobrimento, o Brasil sofreu diversas influências

administrativas e formas de controle político, econômico e social. A partir do

momento que o território começou a tornar-se lucrativo, as intervenções foram

cada vez maiores. De acordo com a Fundação Histórica Tavera (1999), a

primeira delas foi o Tratado de Tordesilhas em 1494, que dividia os limites de

colônias portuguesas e espanholas. Após este evento, estão as Capitanias

Hereditárias, que inicialmente eram sete, mas que progressivamente foram

sendo reduzidas para que pudessem ser controladas de forma mais eficiente.

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O grande volume documental sobre o Brasil em arquivos espanhóis se explica

devido ao período de 1580 e 1640, no qual a Espanha passou a controlar

colônias portuguesas.

Outra forma de administração citada pela Fundação foram os Governos

Gerais, que tinham como objetivo instaurar na colônia uma política

centralizadora. Mais tarde, em meados do século 18, as Reformas Pombalinas

estabeleceram uma nova divisão administrativa do país. A mudança da capital

Bahia para o Rio de Janeiro, as jazidas minerais das Minas Gerais e a

exploração agrícola e de gado nas regiões próximas a São Paulo, trouxeram o

centro comercial do país do norte para o sul. Outras transformações são

citadas pela Fundação e foram essenciais para a divisão administrativa

brasileira atual

En 1772, con la supresión del Estado de Maranhão, se consiguió la unificación política y administrativa,estableciéndose 9 Capitanías Generales y 9 Subalternas. Las Capitanías Generales eran: Gran Para (de la que dependía Amazonas); Maranhão (Piaui); Pernambuco (Ceará, Rio Grande do Norte y Paraiba); Bahia (Sergipe y Espirito Santo); Rio de Janeiro (Santa Catarina y Rio Grande do Sul); São Paulo, Minas Gerais, Goias y Mato Grosso, que, com la excepción de los estados de Alagoas y Paraná, creados a mediados del siglo XIX, se mantendrá hasta principios del siglo XX. Con la creación de los Estados de Acre,Amapa, Mato Grosso do Sul, Rondonia, Roraima, Tocatins y el Distrito Federal de Brasilia, adonde se trasladará la capital en 1960, quedó configurado el actual mapa administrativo de la República Federativa do Brasil. (FUNDACIÓN HISTÓRICA TAVERA, 1999, p. 4).

Outros períodos históricos também são lembrados como a

Independência em 1822, a transformação da monarquia em República no ano

de 1889 e o século XX, que foi marcado pela grande imigração europeia, a

qual buscava melhores condições econômicas. A presença da Igreja na

formação documental também não pode ser desprezada. As ordens religiosas

eram muito presentes e dentre elas as de mais destaque eram: as carmelitas,

os franciscanos, os beneditinos, e os jesuítas. Estes últimos, que em 1760

foram expulsos pelo Marques de Pombal, levaram embora um grande volume

de documentos, o que gerou uma perda enorme de informação histórica do

período para o Brasil. Por esses momentos históricos e devido a grande

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movimentação de povos e culturas, o Brasil é visto com destaque pelo volume

e riqueza de seu patrimônio documental.

Logo, esse grande volume documental gerado pelos exercícios de

funções executivas, legislativas e judiciárias de níveis federais, estaduais e

municipais, foram resultado do processo de colonização do território até os

dias atuais. Para Silva (1999) a perspectiva histórica da formação dos estados

brasileiros é fundamental para que se compreenda a formação dos arquivos

brasileiros em diferentes esferas administrativas, sempre levando em

consideração “os desafios dos modelos centralizadores e descentralizadores

do federalismo em um país de dimensões continentais”.

Já que se pode dizer que a formação dos arquivos acompanhou a

formação dos estados brasileiros, é importante entender que a centralização

política e o esquecimento por parte do governo de que os arquivos são

instrumento de apoio administrativo, fizeram com que os acervos fossem

“misturados”:

A esmagadora maioria das instituições arquivísticas do país possui sob sua guarda, além de documentos produzidos e acumulados por órgãos e entidades do seu âmbito de atuação, acervos provenientes de outras esferas do poder público. Dessa forma, arquivos públicos estaduais mantêm, também, entre seus fundos específicos, documentos produzidos e acumulados por órgãos e entidades de âmbitos federal e/ou municipal. Em arquivos públicos municipais esta mesma situação também se apresenta. O Arquivo Nacional guarda, igualmente, documentos provenientes das esferas estadual e municipal de várias regiões da federação. (SILVA, 1999, p.2).

Esta atitude gerou uma consequência equivocada mas realista para os

arquivos públicos brasileiros que, de acordo com Silva (1999) são o fruto de

momentos históricos, da busca pela afirmação de uma identidade

regional/nacional e do estabelecimento dos arquivos como instituições de

guarda da memória documental brasileira.

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2.1.1- Acesso à informação: uma mudança nos objetivos arquivísticos

Desde a formação dos arquivos brasileiros, o foco inicial sempre foi a

guarda dos documentos. As novas tecnologias trouxeram possibilidades de

recuperação e controle das informações e com isso o objetivo das instituições

arquivísticas se modificou, passando da guarda para o acesso às informações.

Dentro desta visão, é mais valorizado o intercâmbio de informações entre instituições, recuperando-se os documentos de interesse do usuário a partir de referências fornecidas pela instituição membro do sistema, que partilha com as demais o controle da informação existente. (SILVA, 1999, p.2).

Silva (1999) cita alguns exemplos que demonstram que benefícios as

tecnologias trouxeram aos usuários: acesso on-line, escaneamento e

digitalização de imagens, troca de instrumentos de pesquisa por listagens,

acesso à referência do documento facilitando o desenvolvimento de pesquisas.

Todos eles evidenciam o dever do poder público de garantir o acesso e o

direito ao cidadão de obter as informações que necessitam. Mas para isso, é

preciso que se construam condições de disponibilização dessas informações.

Além da importância do acesso, o autor busca salientar que é preciso

também “preservar o documento enquanto fonte de informação que precisa ser

disponibilizada”. Não basta apenas recolher e guardar um documento, é

preciso trata-lo, pois sem estas etapas a informação estará perdida, sem

função social, cultural e de prova.

No Brasil, o direito e acesso à informação e a proteção aos documentos

é confirmado em diversas partes da Constituição mas ainda existem muitos

desafios relativos à organização, preservação e acesso aos documentos que

representam valor permanente e corrente.

Há, entretanto, uma distância muito grande entre o preceito da lei e a prática dos arquivos, tanto os de gestão quanto os históricos. Uma grande percentagem de fundos documentais não organizados ou sem um adequado tratamento técnico dentro dos arquivos públicos e arquivos correntes sem códigos

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de classificação e tabelas de temporalidade são constantes na realidade da administração pública. Tal deficiência representa o principal fator de dificuldade para o pleno exercício do direito do cidadão de acesso à informação. (SILVA, 1999, p. 8).

Ainda assim de acordo com o autor, há instituições arquivísticas que

vêm facilitando o acesso às informações de fundos e séries documentais

através da Internet, o que possibilita aos usuários saberem em qual Instituição

se encontra o material necessário. Esta atitude põe em prática o princípio da

transparência administrativa, a comunicabilidade entre os arquivos e além de

proteger a Administração, aumenta a eficiência e o controle.

2.2- Lei nº 8.159 de 08 de janeiro de 1991

A partir dessa Lei, foi instituída a política nacional de arquivos públicos e

privados. Por este motivo também é conhecida como a Lei de Arquivos. Ela

define o poder público como responsável pela gestão documental e pela

proteção aos documentos, pois como foi citado por muitos autores ao longo

desta monografia, os documentos de arquivo são “[...] como instrumento de

apoio à administração, à cultura, ao desenvolvimento científico e como

elementos de prova e informação.” (BRASIL, 1991).

Em seu segundo capítulo, é apresentada a definição de arquivos

públicos: “conjuntos de documentos produzidos e recebidos [...] de âmbito

federal, estadual, Distrito Federal e municipal”, além daqueles conjuntos

produzidos e recebidos por “[...] instituições de caráter público, por entidades

privadas encarregadas da gestão de serviços públicos [...]” e também a

classificação desses tipos de documentos, que podem ser: correntes,

intermediários ou permanentes.

Um ponto a ser destacado é a eliminação, que segundo o Art.9º é

realizado pela Instituição Arquivística competente. Este artigo representa um

ponto positivo, visto que, segundo Silva (1999) antes da Lei de Arquivos e da

Constituição de 1988, grandes parcelas do patrimônio documental brasileiro se

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perderam, pois não haviam critérios adequados de eliminação como as tabelas

de temporalidade, por exemplo:

[...] os documentos públicos eram avaliados sob critérios os mais díspares, levando-se em conta a cessação dos prazos de prescrição previstos em lei, que atinge apenas um segmento da produção documental e a necessidade apontada pelo administrador, decorrente da grande produção documental, de abertura de espaço. Hoje isso não mais acontece. [...] Não mais se descartam documentos sem que o Arquivo Nacional aprove a competente tabela de temporalidade ou plano de destinação. (SILVA, 1999, p. 8).

O capítulo IV trata da organização e da administração das instituições

arquivísticas públicas. Segundo o texto, elas são responsáveis pela

administração da documentação pública do país, estados e municípios, sendo

organizados de acordo com a estrutura política-jurídica dos territórios que

ocupam. São identificados também os tipos de arquivos:

• Federais: Arquivo Nacional, Poderes Legislativos e Judiciário;

• Poder Executivo: arquivos dos Ministérios da Marinha, Relações

Exteriores, Exército e Aeronáutica;

• Estaduais: arquivos do Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário;

• Municipais: arquivos do Poderes Executivo e Legislativo.

Outro ponto considerável é a competência dada ao Arquivo Nacional. No

Art. 18, fica clara a responsabilidade desse órgão.

[...] a gestão e o recolhimento dos documentos produzidos e recebidos pelo Poder Executivo Federal, bem como preservar e facultar o acesso aos documentos sob sua guarda, e acompanhar e implementar a política nacional de arquivos. (BRASIL, 1999).

É importante lembrar que, os arquivos dos outros poderes também

possuem as mesmas competências do Arquivo Nacional, porém relacionadas

com os arquivos aos quais são responsáveis no exercício de suas funções.

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O capítulo V, o qual possui três artigos e trata do acesso e do sigilo dos

documentos públicos foi totalmente revogado pela Lei 12.527/2011, a qual será

comentada a seguir.

Por fim, essa lei cria o CONARQ (Conselho Nacional de Arquivos), que

é responsável por definir a política nacional de arquivos e que tem como órgão

central o Sistema Nacional de Arquivos (SINAR).

Segundo Indolfo (2013), a Lei de Arquivos pode ser considerada uma

legislação arquivística de conteúdo amplo e com normas específicas relativas à

gestão de documentos. Ainda segundo a autora, essa lei passou a orientar a

prática da gestão de documentos na administração pública e as resoluções do

CONARQ passaram a ser norteadoras para órgãos e entidades do Poder

Executivo Federal.

2.3- Lei nº 12.527 de 18 de novembro de 2011

A fim de regular o acesso a informações previstas em incisos da

Constituição Federal, alterar a Lei 8112/1990, revogar a Lei 11.111/2005 e

alguns dispositivos da Lei de Arquivos, esta lei tem por objetivo garantir o

acesso a informações e por isso também é conhecida como Lei de Acesso à

Informações (LAI). Está dividida em seis capítulos e quarenta e sete artigos.

Neste breve comentário serão apenas citados alguns deles.

No capítulo 1, que trata das disposições gerais, o art. 3º busca assegurar

o direito fundamental à informação, em conformidade com os princípios da

administração pública e de acordo com algumas diretrizes que acompanham

essa ideia:

• publicidade como característica principal e o sigilo como exceção;

• divulgação das informações de interesse público;

• utilização da tecnologia da informação para viabilizar a comunicação da

melhor maneira;

• transparência da administração pública;

• controle da administração pública pela sociedade.

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No art. 4º ficam evidentes nove conceitos fundamentais para o

entendimento da Lei:

• informação são dados que podem ser utilizados para produção e

transmissão de conhecimento independentemente do suporte;

• documento é a unidade onde se registram informações,

independentemente do formato;

• informação sigilosa é aquela que fica por um período restrita ao acesso

público por motivos de segurança da sociedade ou do Estado;

• informação pessoal é aquela relacionada a pessoa natural identificada;

• tratamento da Informação é o conjunto de ações que vão desde a

produção à destinação da mesma;

• disponibilidade é quando uma informação pode ser conhecida e utilizada

por pessoas e/ou sistemas, mediante autorização;

• autenticidade é a qualidade da informação que foi produzida, expedida,

pedida ou modificada por um indivíduo, equipamento ou sistema;

• integridade é a informação não modificada, uma qualidade que diz

respeito à origem, trânsito e destino;

• primariedade é a informação da fonte, detalhada, sem modificações.

No art. 5º é claro o dever do Estado como provedor de acesso à

informação, do direito do cidadão a esse acesso e que o mesmo deverá ser

feito através de “[...] procedimentos objetivos e ágeis, de forma transparente,

clara e em linguagem de fácil compreensão” (BRASIL, 2011).

O capítulo II, arts. 6º, 7º, 8º e 9º tratam do acesso e divulgação de

informações.

O art. 6º trata do papel dos órgãos e entidades públicas pela

responsabilidade em gerir de forma transparente a informação, bem como a

sua proteção, seja ela sigilosa ou não.

No art.7º, são especificados os direitos da obtenção de informação e entre

elas estão: orientação do local onde poderá ser encontrada, informações ou

registros produzidos por órgãos e entidades recolhidos ou não pelos arquivos

públicos, informações sobre patrimônio público, recursos públicos, licitações,

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contratos, excluindo apenas as informações de cunho sigiloso, como por

exemplo, as pesquisas de desenvolvimento científico ou tecnológico as quais

são vitais para a segurança da sociedade e do Estado.

Já o art. 8º, aborda sobre o dever dos órgãos e entidades públicas de

divulgar informações por eles produzidas que possam ser de interesse coletivo

ou geral. Nesse artigo, fica definido que, para tal, deverão ser utilizados todos

os meios e instrumentos, sendo obrigatória a divulgação em sítios da Internet,

os quais deverão apresentar alguns requisitos como: ferramenta de pesquisa,

linguagem de fácil compreensão, possibilidade de gravação de relatórios nos

mais variados formatos, divulgação de detalhes, garantia de atualização,

integridade e autenticidade das informações disponibilizadas, acessibilidade de

conteúdo para pessoas com deficiência e etc.

Indolfo (2013) comenta que após a LAI ter entrado em vigor, em 2012,

muito já se foi discutido sobre os desafios de se implementá-la, inclusive sobre

os serviços arquivísticos públicos. Segundo a autora, somente com uma devida

estrutura, com equipamentos e recursos humanos capacitados seria possível

enfrentar os desafios existentes e assim tornar a informação pública acessível.

2.4- Lei nº 5.562 de 20 de outubro de 2009

Esta lei aborda aspectos da política de arquivos públicos e privados no

âmbito do Estado do Rio de Janeiro e é composta de vinte e quatro artigos

divididos em cinco capítulos.

No primeiro capítulo, das disposições gerais, os órgãos e entidades da

Administração Pública são identificados como responsáveis pela gestão e

proteção dos documentos de arquivo, pois de acordo com o art.1º eles são

considerados “[..] como instrumento de apoio à administração, à cultura, ao

desenvolvimento social, educacional e científico e como elementos de prova e

informação do Estado e do cidadão [...]” (RIO DE JANEIRO, 2009).

No segundo artigo desse mesmo capítulo, encontra-se a definição de

arquivos, do ponto de vista estadual, e no terceiro capítulo a definição de

gestão de documentos:

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Art. 2º Consideram-se arquivos [...] os conjuntos de

documentos produzidos e recebidos por órgãos públicos,

instituições de carácter público e entidades privadas, em

decorrência do exercício de atividades específicas, bem como

por pessoa física, qualquer que seja o suporte da informação

ou a natureza dos documentos. Art.3º Considera-se gestão de

documentos o conjunto de procedimentos e operações

técnicas referentes à sua produção, classificação, avaliação,

tramitação, uso e arquivamento em fase corrente e

intermediária, visando a sua eliminação ou recolhimento para

guarda permanente. (RIO DE JANEIRO, 2009).

Ainda no artigo terceiro e em seus três incisos são mencionados

algumas informações relevantes sobre o plano de classificação e a tabela de

temporalidade, considerados instrumentos de gestão e aos documentos de

valor histórico-cultural, que serão recolhidos pelo Arquivo Público Estadual e

são considerados inalienáveis e imprescritíveis.

O capítulo dois, sobre arquivos públicos, o artigo 9º enumera os

documentos públicos em diferentes tipos de conjuntos de documentos,

incluindo os pertencentes aos acervos de empresas públicas parcialmente ou

totalmente desestatizadas. Esses, se assim forem classificados, também serão

recolhidos pelo APERJ, por se tratarem de documentos públicos.

Na esfera estadual, os documentos públicos também são classificados

como correntes, intermediários e permanentes, explicitado no artigo 10º e seus

três incisos. Os correntes devem permanecer nas unidades produtores, a fim

de melhor consulta, os intermediários nas Secretarias de Estado ou no Arquivo

Público, para que possa ser decidida posteriormente a sua guarda permanente

ou eliminação.

O capítulo três trata de arquivos privados, sua definição e que se

julgados pelo Conselho Estadual de Arquivos como sendo de interesse público

ou social, podem ser considerados conjuntos de relevância para a história e o

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desenvolvimento científico do Estado. Se assim forem classificados, não

podem ser, portanto alienados e nem transferidos para fora do país.

O capítulo quatro organiza a administração das instituições arquivísticas

públicas de duas formas:

• Arquivos Estaduais: Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro,

arquivos do poder Executivo, Legislativo e Judiciário;

• Arquivos Municipais: arquivos do Poder Executivo e Legislativo.

O artigo 17º especifica as competências do APERJ, e dentre elas

encontram-se: implementar a política estadual de arquivos, as atividades

inerentes à gestão de documentos do Poder Executivo Estadual além de

garantir o acesso à informação de modo a apoiar as decisões governamentais,

proporcionar ao cidadão a defesa de seus direitos e incentivar a produção do

conhecimento científico e cultural. Um último ponto a destacar nesta lei é o

artigo 20º sobre a eliminação de documentos, função que compete as

instituições públicas e é decorrente do trabalho de Comissões de Avaliação de

Documentos de Arquivos. Para ser cumprida da forma correta deverá ser

executada de acordo com as tabelas de temporalidade de documentos de

atividades-fim e atividades-meio dos órgãos da Administração Pública do

Estado.

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CAPÍTULO III

O ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE

JANEIRO- APERJ

“Os arquivos são práticas de identidade, memória viva,

processo cultural indispensável ao

funcionamento do presente e do futuro”. Mathieu e Cardin

O APERJ atualmente é uma instituição vinculada à Secretaria da Casa

Civil e ao Governo do Estado do Rio de Janeiro. Sua criação data de 25 de

agosto de 1931, através do Decreto nº 2.638.

Primeiramente foi denominado Arquivo Geral do Estado e era

subordinado a Diretoria do Interior e Justiça do Governo, tendo como sede a

cidade de Niterói. Alguns anos depois, seu nome foi modificado e passou a

chamar-se Arquivo Público e Biblioteca Universitária, porém logo ocorreu o

desmembramento da Biblioteca, passando a pertencer a Secretaria de

Administração em 1958. Três anos depois, a documentação da Presidência da

Província e a do Estado do Rio de Janeiro foi transferida para o Arquivo e logo

depois para a Biblioteca Pública do Estado.

Após a fusão dos Estados (Guanabara e Rio de Janeiro) na década de

70, o Arquivo retornou a ser subordinado a Secretaria de Justiça e no final

desta mesma década, os documentos do fundo da Presidência voltaram a ser

parte integrante da instituição.

Em 1985, o Arquivo passou a incorporar as funções e o patrimônio do

Departamento Geral de Documentos, o qual era vinculado à Secretaria de

Justiça. No final dos anos 80, as instalações do APERJ passaram para o

Edifício que pertence ao Tribunal de Contas na cidade de Niterói. Neste local,

permaneceu por seis anos e a partir daí passou a intensificar o recolhimento

dos documentos da administração pública estadual. Alguns exemplos de

acervo pertencentes ao APERJ são: os da polícia política do Rio de Janeiro,

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Instituto Penal Cândido Mendes- Ilha Grande e do Programa Estadual de

Orientação ao Consumidor do Estado do Rio de Janeiro- PROCON/RJ.

A entidade já teve sede no edifício da CEDAE no centro do Rio de

Janeiro, mas desde 1998, está localizada na Praia de Botafogo 480, nesta

mesma cidade. Futuramente, como apresentou o site da Instituição, terá novo

endereço, que será próximo ao Centro da cidade e a Rodoviária Novo Rio.

3.1. Objetivos e características

O Arquivo Público do Estado têm como objetivo principal pôr em prática

a política estadual de arquivos. As atividades desenvolvidas por esta instituição

são: gestão, recolhimento, tratamento técnico, preservação e a divulgação do

patrimônio documental do Estado. O resultado dessas ações geram benefícios

no que tange ao acesso pleno à informação, ao apoio às decisões

governamentais e político-administrativas, proporcionando também ao cidadão

a defesa de seus direitos.

Além disso, o arquivo incentiva a produção de conhecimento científico e

cultural, pois possui em seu acervo documentos do século XVIII até os dias

atuais, o que representa, aproximadamente, 4 mil metros lineares de

documentos em forma de texto, mapas, plantas, fotografias, filmes, fitas de

áudio e vídeo e microfilmes.

Apesar de ser um arquivo, existe no local uma biblioteca com material

especializado nas áreas de legislação, história e arquivologia. O mais

interessante é que todo esse acervo encontra-se a disposição de toda a

comunidade: cidadãos, órgãos governamentais, pesquisadores. Portanto, além

de registros de valor legal, o arquivo também conta com documentos de

valores históricos ou científicos.

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3.2- Gestão de Documentos no APERJ

Apesar do Arquivo Público desenvolver diversas atividades, o foco deste

trabalho dar-se-á aquelas relacionadas à gestão de documentos. Na estrutura

do Arquivo, esta atividade está subordinada a Divisão de Gestão de

Documentos, que elabora ações que apoiam a administração estadual nas

áreas de organização, controle e acesso aos arquivos correntes e

intermediários. (Ver Anexo 1).

A atividade de gestão de documentos nesta Instituição constituiu-se de

procedimentos de cunho técnico: produção, tramitação, usos, avaliação e

arquivamento das fases corrente e intermediária e a eliminação ou

recolhimento na fase permanente. Esta atividade também tem a função de

otimizar a recuperação da informação, solucionar problemas de falta de

espaço e a preservação do patrimônio documental do Estado. Todos esses

procedimentos têm fundamentação na produção diária de milhares de

documentos e na falta de metodologias e técnicas que prejudicam o acervo

nas questões de perda de documentos e informações e na dispersão do

mesmo.

3.2.1- Avaliação, eliminação e recolhimento dos documentos

Todas as atividades são realizadas pela Comissão de Avaliação e

Seleção de Documentos da Instituição que averigua o valor primário ou

secundário dos documentos. A avaliação julga o conteúdo e decide se os

mesmos serão eliminados, arquivados de modo intermediário ou recolhidos ao

APERJ. Documentos que são classificados como de atividades-meio do

Estado como: pessoal, finanças e orçamento, material e patrimônio, têm a

Tabela de Temporalidade elaborada pela Secretaria de Estado de

Administração e Reestruturação- SARE, instituído pelo Decreto nº 29.010 de

14 de agosto de 2001. Para as atividades-fim, a comissão deve ser solicitada

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para que elabore uma tabela de temporalidade a qual possa definir prazos de

guarda, eliminação e recolhimento ao Arquivo.

A eliminação deverá respeitar a Tabela de Temporalidade e a análise da

Comissão. Somente depois disso é que os documentos poderão ser

eliminados pelo órgão responsável pela sua custódia.

O recolhimento representa, atualmente, a grande dificuldade para o

Arquivo Público em relação ao acesso, avaliação e controle, pois existem ainda

muitos acervos dispersos em diversas unidades administrativas. Esta

atividade é muito importante, pois o recolhimento de documentos públicos e de

valor permanente é a certeza da preservação e da disponibilização da

informação.

3.2.2- Atividades de Gestão realizadas em 2013

O APERJ possui em seu sítio eletrônico, informações sobre as

atividades realizadas pela Instituição. Os chamados Relatórios Anuais de

Atividades estão sendo publicados desde o ano de 2002 e trazem informações

gerais sobre: assessorias técnicas, projetos realizados, gráficos e estatísticas

sobre diversos tipos de assuntos e serviços relacionados ao arquivo, ao

atendimento de pesquisas e sem deixar de evidenciar também os problemas,

desafios e conquistas.

No ano de 2013, este relatório dividiu-se em: realizações do arquivo,

projetos desenvolvidos e em desenvolvimento, projetos aprovados,

participações do APERJ em eventos, convênios estabelecidos, relatórios

setoriais e planejamento de atividades.

No relatório setorial da Divisão de Gestão de Documentos, foram feitas

diversas atividades, nas quais é possível observar claramente a contribuição

técnica à administração pública estadual. Afirma-se, portanto que a gestão de

documentos é uma importante atividade da Instituição e que de modo

contemporâneo e atualizado vem cumprindo com as expectativas relacionadas

com a missão dos arquivos públicos. A seguir, apresentam-se os dados que

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foram retirados do Relatório da Divisão de Gestão de Documentos, o qual faz

parte do Relatório Anual de Atividade no ano de 2013.1

• Assessoria Técnica: estabelecimento de normas de organização e

controle do funcionamento dos arquivos correntes e intermediários e

orientação sobre técnicas de gestão aos servidores estaduais além de

considerar o interesse legal, histórico e social dos acervos. Órgãos que

solicitaram assessoria: Proteção e Defesa do Consumidor do Estado do Rio de

Janeiro -PROCON/RJ, Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de

Janeiro- ITERJ, Centro Universitário Estadual da Zona Oeste- UEZO, Hospital

Estadual Carlos Chagas- HECC e a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro-

Acervo do DOPS.

• Recolhimento e Doações: realização de identificação, listas de

descritivas e apoio para a elaboração de procedimentos desta atividade e o

registro da entrada dos documentos recolhidos. Coleções recebidas:

documentos sobre a vida de Leôncio Basbaum; conjunto documental composto

de cartões postais de Alice Guimarães Chermont Miranda; mapas do Rio de

Janeiro doados pelo Instituto Histórico e Geográfico da cidade – IHGB-RJ;

registros e publicações de 1994 a 1998 da Associação de Empregados da

Embratel; conjunto composto de documentos iconográficos, sonoros,

filmográficos e textuais produzidos pela Instituição DAVIDA, nos anos de 1987

a 2013; acervo documental sobre a organização da Conferência das Nações

Unidas sobre o Desenvolvimentos Sustentável Rio+20; conjuntos documental

do Jornal da Baixada e acervo documental produzido pelo Museu do Cárcere,

complementando o fundo já existente sobre a Ilha Grande.

• Apoio à pesquisa administrativa: a fim de atender a demanda de

pesquisas da assessoria jurídica e à administração pública estadual foram

realizadas no ano de 2013, 394 pesquisas de objetivos comprobatórios com a

disponibilização de cerca de 190 documentos que estão sob a guarda deste

arquivo. Dentre os diversos órgãos, os que mais solicitaram esse tipo de

atendimento foram: Secretaria de Estado de Casa Civil (CASA CIVIL),

1 ARQUIVO Público do Estado do Rio de Janeiro. Relatório Anual de Atividades 2013. Disponível em: http://www.aperj.rj.gov.br/relatorios/relatorio_anual_atividades_2013.pdf. Acesso em: 16 maio 2014.

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Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP), Rio Previdência

(RIO PREVI) e a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do

Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ).

• Gestão de Protocolo: No ano de 2013, o APERJ passou a gerenciar o

protocolo estadual, o que ficou estabelecido pela criação do SIARQ-RJ

(Decreto nº 43.871 de 08 de outubro de 2012). Com isso a Divisão de Gestão

de Documentos torna-se responsável por: gerenciar o uso do Sistema de

Protocolo Eletrônico Integrado (UPO), controlar o Cadastro Único de Unidades

Protocoladoras (CADUP), capacitar usuários e sanar dúvidas a respeito da

utilização do UPO, e elaborar e revisar os instrumentos de apoio. A atividade

de gerenciamento de usuários (criação e manutenção de contas) é realizada

junto ao Processamento de Dados do Estado do Rio de Janeiro (PRODERJ).

De agosto até o final de 2013, foram criadas quase 7 mil contas de acesso, 65

oficinas de capacitação dos servidores de protocolo de diversos órgãos, além

da elaboração e publicação do Manual de Gestão de Protocolo e do Guia de

Utilização do Sistema de Protocolo Integrado Eletrônico. Estes últimos são

considerados instrumentos de normatização e orientação técnica para o

gerenciamento do Sistema de Protocolo. O manual foi revisado pela Equipe da

Divisão e pela Casa Civil tendo por objetivo atualizar os procedimentos

relativos à produção, trâmite e uso de documentos e processos

administrativos, já o guia foi elaborado pela Divisão para poder ajudar aos

usuários do sistema e solucionar dúvidas mais comuns. Foram atendidos

aproximadamente 10 mil telefonemas e cerca de 8.800 e-mails.

• Programa de Gestão de Documentos do Estado do Rio de Janeiro

(PDG/RJ)- É uma parceria entre a Divisão de Gestão de Documentos do

APERJ, a Secretaria de Estado da Casa Civil e a Universidade Federal

Fluminense. O objetivo deste programa é a racionalização e o tratamento

correto da massa documental acumulada e produzida pelas instituições de

maior interesse estratégico para a administração pública. Esse controle

possibilita não somente o planejamento e a apoio a tomada de decisões como

também uma maior visibilidade das atividades do governo para a sociedade.

Outros benefícios que podem ser citados são: melhor organização, utilização,

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manutenção, destinação, administração dos documentos proporcionando

acesso à informação contida nos mesmos, além da eliminação dos

documentos que não são mais necessários e a preservação de documentos de

valor permanente. A Divisão orientou tecnicamente em 2013, diversas

comissões de Gestão de Documentos para a elaboração de Planos de

Classificação e Tabelas de Temporalidade, as quais ainda estão em processo

de levantamento de dados relativos à identificação de tipologias documentais,

funções e atividades desenvolvidas pelos respectivos órgãos. Além disso, a

Divisão também especificou junto ao PRODERJ, melhorias para o Sistema de

Identificação de Tipologias Documentais. Órgãos que finalizaram suas tabelas

de atividades-fim foram os seguintes: Loteria do Estado do Rio de Janeiro

(LOTERJ), Secretaria de Estado de Proteção e Defesa do Consumidor

(PROCON), Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado

do Rio de Janeiro (FAPERJ), Companhia de Desenvolvimento Rodoviário de

Terminais do Estado do Rio de Janeiro (CODERTE), Fundação para a Infância

e Adolescência (FIA), Fundo Único de Previdência Social do Estado do Rio de

Janeiro (RIOPREVIDENCIA) e Secretaria de Estado de Educação (SEEDUC).

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CONCLUSÃO

Belloto (2005) menciona que arquivos e as demais instituições

responsáveis pela guarda de informações e documentos como as bibliotecas,

centros de documentação e museus, têm compromissos semelhantes, tais

como a recuperação de informações, atividades relacionadas com o meio

científico, cultural e social, além do valor de prova dessas informações, valor

esse já mencionado por muitos autores no decorrer deste trabalho. Hoje em

dia, a relação do arquivo com a sociedade ampliou-se no sentido de tornar o

arquivo funcional tanto para a administração, quando se fala em documentos

correntes, como para o cidadão, no aspecto cultural, histórico e científico, que

é o que esse espaço também pode oferecer. No fim das contas, um benefício

para a comunidade.

Comunidade lembra cidadania, e Miranda (2011) também vê no

estreitamento da relação arquivo e cidadão, a mudança na função dos

arquivos, a qual passou somente da guarda para a preservação e o acesso.

Através dessa mudança, podem-se ter outras perspectivas advindas do acesso

às informações arquivísticas: exercício da cidadania, preservação da

democracia e o mais importante do ponto de vista da administração pública,

que é a transparência administrativa.

Teoricamente, tudo se encaminha à perfeição, mas Jardim (1987) há

quase três décadas atrás, lembra que existem diferenças entre a teoria e a

prática na gestão dos documentos. Para ele, o desafio está na administração

pública, a qual precisa perceber que o caminho é trabalhar em prol da

comunidade, com comprometimento e atitudes reais, através do respeito aos

padrões.

Indolfo (2013), também observa que, para que uma teoria e prática

sejam eficazes, são necessárias diversas atividades como o processamento

técnico adequado, identificação, classificação e avaliação dos documentos.

Somente com essas etapas bem definidas e feitas será possível tornar

acessíveis as informações arquivísticas relevantes. Ainda para a autora é

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preciso superar diversos problemas de cunho técnico e político-administrativos

para que o acesso seja realizado de modo adequado. Silva (1999) citou alguns

desses problemas que dificultam o acesso às informações: fundos

documentais não organizados e sem tratamento técnico, arquivos públicos sem

tabelas de temporalidade e códigos de classificação.

Como uma luz no fim do túnel, do ponto de vista estadual, o Arquivo

Público do Estado do Rio de Janeiro- APERJ, vem procurando por em prática

a teoria, auxiliando os arquivos públicos dos órgãos do Estado a organizar,

tratar, classificar, elaborar as tabelas de temporalidade e as demais atividades

inerentes aos arquivos, através de projetos e assessorias. Sabe-se que é um

trabalho longo e com muitas dificuldades, porém não impossível de se

executar. Dessa forma, o objetivo se cumpre e todo o potencial do arquivo

pode ser usado, não somente como instrumento de apoio à administração,

mas também à pesquisa histórica e ao desenvolvimento cultural e científico da

comunidade.

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ANEXOS

Índice de Anexos

Anexo 1- Estrutura do APERJ

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ANEXO 1

Estrutura do APERJ

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