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Universidade Candido Mendes Pró-reitoria de Planejamento e Desenvolvimento Instituto A Vez do Mestre O papel da família e sua importância junto ao tratamento do Transtorno Obsessivo-Compulsivo Mirelle Resende Pinto Orientadora Adriana Spinelli Brasília - DF 2009 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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Universidade Candido Mendes

Pró-reitoria de Planejamento e Desenvolvimento

Instituto A Vez do Mestre

O papel da família e sua importância junto ao tratamento do

Transtorno Obsessivo-Compulsivo

Mirelle Resende Pinto

Orientadora

Adriana Spinelli

Brasília - DF 2009

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Universidade Candido Mendes

Pró-reitoria de Planejamento e Desenvolvimento

Instituto A Vez do Mestre

O papel da família e sua importância junto ao tratamento do

Transtorno Obsessivo-Compulsivo

Monografia apresentada ao Instituto A Vez do

Mestre da Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Saúde da Família.

Por: Mirelle Resende Pinto

Orientadora:

Brasília - DF 2009

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AGRADECIMENTOS

Aos familiares que estiveram ao meu lado,

incentivando-me e dando-me o apoio

necessário

Aos amigos que souberam compreender

minhas ausências.

Aos professores do curso, especialmente à

minha orientadora, por terem compartilhado

seus conhecimentos.

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DEDICATÓRIA

Aos meus familiares pelo apoio e

incentivo.

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METODOLOGIA

A metodologia do trabalho resiste em uma pesquisa bibliográfica, para

fundamentação conceitual desta. De acordo com Marconi e Lakatos (2005, p. 185),

“a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre

certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem,

chegando a conclusões inovadoras”.

Com a intenção de realizar uma pesquisa inovadora sobre o tema, a

busca na literatura foi realizada por meio de leitura exploratória e seletiva, em livros,

artigos e sites especializados no assunto.

Entre os autores escolhidos para a realização deste trabalho estão,

principalmente, Nathan Ackerman, Ceneide M. O. Cerveny, Aristides Volpato

Cordioli, Terezinha Féres-Carneiro, Dácio Silva, entre outros.

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RESUMO

O Transtorno Obsessivo-Compulsivo é uma doença crônica que tem seu

aparecimento ainda na infância, na adolescência ou no início da ávida adulta e

atinge muitas pessoas sem distinção de sexo. Esse transtorno é marcado por

obsessões e compulsões que podem tornar-se em rituais e fazer parte do cotidiano

do paciente. Como a família é a estrutura social mais próxima do paciente, ela

também é afetada pelos rituais do paciente e pode tanto ajudar na melhoria deles

como acentuá-los. Sendo assim, para que a família possa encontrara a sua saúde e

harmonia, é necessário que seus membros participem das terapias, pois assim

poderá ajudar o paciente a controlar seus impulsos e também saber como conviver

com ele.

Palavras chave: Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Comportamento, Terapia,

Família.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................

CAPÍTULO I – TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO (TOC) ...................

CAPÍTULO II – COMPORTAMENTO DO PORTADOR DE TOC .........................

CAPÍTULO III – CONCEITO DE FAMÍLIA ............................................................

CAPÍTULO IV – IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO FAMILIAR ..............

CONCLUSÃO ........................................................................................................

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............................................................................

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INTRODUÇÃO

Explicar o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e suas causas é

uma tarefa demasiadamente difícil. Descobrir como um portador de TOC convive

socialmente, enfrentando medos e julgamento por parte de quem ignora a existência

(ou os detalhes) da doença, faz com que esta tarefa seja ainda mais árdua. Por este

motivo, desenvolver este trabalho torna-se um imenso desafio.

Sem se dar conta, no início, de que há um problema, a pessoa se

engaja numa série de comportamentos repetitivos, sendo aos poucos “julgada” para

uma rotina desgastante, estereotipada. O medo de qualquer “catástrofe” iminente

(especialmente no caso do portador de Transtorno Obsessivo-Compulsivo o impede

de arriscar uma saída. O resultado é uma vida empobrecida, que muitas vezes o

leva à perda de relações sociais, dificultando no trabalho, estudo e dificuldades até

para as atividades mais simples do dia a dia.

Para a produção deste trabalho, escolheu-se o TOC devido à falta de

informação até mesmo da própria família que oscila entre culpar o membro desta e

entrar na sua rotina repetitiva. Dessa forma leva à manutenção do problema ao

invés de sua solução. No caso do Transtorno Obsessivo compulsivo, sem

informação sobre o que está acontecendo, ou sem saber como ajudar, a família

acaba agindo de forma inconsciente, ora compartilhando os rituais com a pessoa,

era antecipando a realização do ritual. Outras vezes, ainda, pode ignorar ou punir a

sua realização.

Assim, considerando a falta de informação existente na imprensa – em

especial na televisiva e radiofônica, que possuem um maior poder de alcance – o

principal objetivo é enfrentar este desafio, a fim de mostrar as dificuldades

encontradas por um portador de TOC ao se relacionar com outras pessoas, seus

medos e receios em se posicionar diante de uma sociedade que não consegue

compreendê-lo.

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A escolha do tema deve-se à oportunidade de levar ao maior número

de pessoas, informações suficientes acerca do TOC, tornando-a mais compreensiva

e receptiva para com o portador, para que este perca o receio de se expor e tenha a

oportunidade de ter uma vida normal.

Mesmo porque, sabe-se que as inúmeras alterações ocorridas no

conceito e na estruturação da família, ocorridas no século XXI tendo de encontrar

novas formas de lidar com os problemas gerados no seio dessas novas famílias. Em

primeiro lugar, cabe lembrar que a partir das enormes mudanças oriundas do

capitalismo avançado, entre elas o consumismo e comunicação de massa;

questionamento da autoridade paterna e do estado; individualismo e narcisismo;

psicologismo; avanço técnico-científico com as fertilizações in vitro, barrigas de

aluguel, células tronco, globalização; entre outros fatores, o sujeito se viu envolvido

em fortes transformações que atingem sua forma de estar no mundo.

Vivemos numa era em que o tempo é escasso, os níveis de afetividade

no seio da família sofrem diversos constrangimentos (divórcios, famílias ampliadas,

redução do número de filhos, entre outros), a tríplice jornada da mulher e do homem

reduz enormemente sua disponibilidade para cuidar da prole, redundando em uma

família em que as relações de parentesco se tornam bastante complexas. Buscar

com esse trabalho, mostrar o que vem surgindo em consultórios, nas escolas, e no

dia a dia de cada ser humano. Pensar que a partir de diálogo com outros ramos do

saber é que poderemos encontrar novas formulações teóricas, novas propostas

terapêuticas, e assim ajudar o homem pós-moderno em suas crises no viver.

Nova patologia como o TOC (transtorno obsessivo-compulsivo é um

transtorno de ansiedade, onde envolve obsessões ou compulsões recorrentes ou

ambas. Uma obsessão é uma idéia, pensamento, imagem ou impulso persistente

que o indivíduo não consegue tirar da sua mente. Uma compulsão é um

comportamento que é realizado de novo e de novo de modo estereotipado. O que

agrava ainda mais o quadro é que tal comprometimento é sempre acompanhado de

muita angústia, aflição, sentimentos de impotência, diminuição da autoestima e

eventualmente depressão. Uma vez estabelecido o diagnóstico e instituídos os

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tratamentos adequados, a família e o paciente devem se tornar “especialistas” em

TOC.

Quanto mais informações o paciente tiver, mais estará preparado para

lidar com sua doença. Quanto mais informada a família, maior preparo terá para

ajudar o paciente. A associação dos portadores de TOC, é uma excelente fonte de

informações não só para a família,como também para a escola. Da mesma forma

que a família, a escola deve ser informada a respeito do TOC. Muitos dos

comportamentos reprovados pela escola, que invariavelmente prejudicam as

avaliações do aluno(a), podem ser manifestações de sintomas do TOC (ex: pedir a

toda hora para ir ao banheiro e não simplesmente birras, malcriações ou rebeldia da

criança o adolescente. O portador de TOC pode e deve, na maioria das vezes,

freqüentar normalmente as aulas.

Sendo assim, a questão central deste trabalho é: Quais seriam as

alternativas oferecidas pela família, escola e os amigos quando a inserção social do

portador de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e o tratamento adequado?

Para alcançar uma resposta adequada a esse questionamento, o

objetivo geral do trabalho foi analisar qual o papel da família e sua importância junto

ao tratamento do Transtorno Obsessivo-Compulsivo. A fim de realizar essa análise,

propôs-se os seguintes objetivos específicos: descrever o que é Transtorno

Obsessivo-Compulsivo (TOC); identificar fatores que diferenciam o comportamento

do portador de TOC, antes do diagnóstico da doença e durante o tratamento; e,

verificar a importância do acompanhamento familiar para a melhoria da qualidade de

vida da pessoa portadora de TOC.

Por isso, este trabalho é um importante passo para que informações

sobre a doença sejam divulgadas de maneira positiva, melhorando a qualidade de

vida de quem a possui e ressaltar a importância da família na evolução do

tratamento.

Para uma melhor compreensão da relação entre a família e o portador

de TOC, este trabalho foi dividido em quatro capítulos. O primeiro contém a

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descrição do que é Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), assim como as

características das pessoas com esse tipo de transtorno e quais os problemas que

enfrenta em sua inserção na família e na sociedade. O segundo capítulo contém

uma análise do comportamento do portador de TOC, mostrando quais são as

obsessões mais comuns. O terceiro capítulo contém um estudo sobre o que é

família, como ela é constituída e qual sua importância para o indivíduo. O capítulo

final contém uma discussão sobre a importância do acompanhamento familiar para

que o portador de TOC possa ter seu quadro melhorado.

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CAPÍTULO I

TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO (TOC)

O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) possui ligação estreita com

o emocional da pessoa. De acordo com Freud (1976), em muitos casos o estado

emocional é o elemento principal, já que este estado persiste inalterado enquanto a

idéia a ele é associada. A conexão errônea entre o estado emocional e a idéia

associada é a responsável pelo caráter absurdo tão característico das obsessões.

Ainda para Freud (1976), as pessoas que praticam atos obsessivos ou

cerimoniais pertencem à mesma classe das que sofrem de pensamentos

obsessivos, idéias obsessivas, impulsos obsessivos e outros comportamentos

obsessivos semelhantes. Os cerimoniais obsessivos consistem em fazer pequenos

ajustamentos a determinados atos cotidianos, pequenos acréscimos, restrições ou

arranjos que são executados da mesma maneira ou com variação regular,

cotidianamente.

Continuando sua análise, Freud (1976) esclarece que as idéias

obsessivas parecem ser sem motivo ou sem significação. As idéias obsessivas mais

excêntricas e estranhas não acontecem sem motivo, mas faz parte da experiência

vivida pela pessoa. Quando essas idéias tornam-se rotineiras, elas se transformam

em um transtorno obsessivo do qual a pessoa não consegue se desligar, tornando-

se uma obsessão ou uma compulsão.

No que se refere ao Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Torres (2002,

p. 29), faz o seguinte esclarecimento sobre seu início e intensidade:

O TOC é em geral, um problema crônico de início precoce, começando na adolescência ou início da vida adulta. Acomete praticamente na mesma proporção homens e mulheres adultos. Estima-se que 20% dos casos o início se dê já na infância, o que ocorre mais entre os homens. Em regra, os homens tendem a ter início mais cedo e os quadros de início mais tardio costumam ser do sexo feminino. Mais raramente, esse transtorno pode ter curso episódico, ou seja, ocorrer em algumas fases e desaparecer totalmente, mesmo sem tratamento. De modo habitual, os sintomas flutuam

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de intensidade conforme a fase de vida, tendendo a piorar em momentos difíceis

A gravidade desse transtorno pode variar de formas leves até casos

em que torna a pessoa incapacitada devido ao tempo que dedica aos rituais.

Segundo Dalgalarrond (2006), as síndromes obsessivas-compulsivas dividem-se em

dois subtipos básicos: aqueles nas quais predominam as idéias obsessivas e

aqueles nas quais predominam os comportamentos compulsivos; embora, muito

frequentemente, observa-se formas mistas.

Para Rangé (1998) esclarece que, em termo amplo, o Transtorno

Obsessivo-Compulsivo é um transtorno de esquiva fóbica no qual identifica-se uma

reação intensa de ansiedade (mais precisamente, disforia), com manifestações

autônomas ao se defrontar ou permanecer na situação ambiental eliciadora de

obsessões-ações, cujo objetivo primário seja evitar, a qualquer custo, a disforia do

contato com a obsessão, o reconhecimento de que o medo e a esquiva são

irracionais, ao menos, excessivos e o comprometimento das atividades sociais ou

ocupacionais.

Diante do fato de ser um transtorno profundamente intrigante, Torres

(2002, p. 25) faz o seguinte questionamento: “por que pessoas adultas e inteligentes

gastariam tanto tempo e energia com comportamentos que elas mesmas costumam

considerar irracionais e até ridículos?”

O que ocorre é que, mesmo que as pessoas considerem seus

comportamentos absurdos, esse transtorno é devido ao fato de que a emoção torna-

se mais forte do que a razão, fazendo com que elas ajam de forma irracional e sem

controle sobre suas próprias ações. Ao descrever o que é um transtorno obsessivo-

compulsivo, Torres (2002, p. 25) relata:

Fundamentalmente, trata-se da ocorrência primária de dois fenômenos muito – mas nem sempre – associados: as obsessões e as compulsões. Dizemos primária, porque a simples presença das obsessões e compulsões não caracteriza o TOC, já que estes sintomas podem fazer parte de vários outros transtornos mentais, como as depressões, as demências e mesmo esquizofrenias.

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Mesmo porque, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é

considerado como sendo um transtorno de ansiedade que envolve obsessões e

compulsões e, segundo Silva et al (2010, p. 1), “está entre os transtornos mentais

mais freqüentes da atualidade, atingindo cerca de 2,5% da população”. O autor

também esclarece que nesse tipo de transtorno, “a pessoa fica presa a um padrão

de pensamentos e de comportamentos repetitivos, sem sentido, desagradáveis e

extremamente difíceis de evitar”.

Entre os comportamentos repetitivos, Cordioli, Heldt e Raffin (2010, p.

1), colocam que os portadores de TOC, preocupam-se:

[...] excessivamente com limpeza, lavar as mãos a todo o momento, revisar diversas vezes portas, janelas ou o gás antes de deitar, não usar roupas vermelhas ou pretas, não passar em certos lugares com receio de que algo ruim possa acontecer depois, não sair de casa em determinadas datas, ficar aflito caso os objetos sobre a escrivaninha não estejam dispostos de uma determinada maneira.

Estes são alguns exemplos de ações popularmente consideradas

manias e que, na verdade, são sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo. De

acordo com Silva et al (2010), os pensamentos e comportamentos repetitivos podem

produzir uma certa ansiedade, fazendo com que seus portadores apresentem as

compulsões citadas acima; as quais, quando são realizados, produzem alívio

temporário. Geralmente, o TOC é uma doença crônica, que quando se agrava toma

proporções altas, comprometendo as atividades dos portadores em todos os

ambientes sociais (família, escola, trabalho etc.).

Por isso, para Banaco e Zamignani (apud Silva et al, 2010), o TOC se

manifesta sob a forma de alterações do comportamento (rituais ou compulsões,

repetições, evitações), dos pensamentos (obsessões como dúvidas, preocupações

excessivas) e das emoções (medo, desconforto, aflição, culpa, depressão). Sua

característica principal é a presença de obsessões: pensamentos, imagens ou

impulsos que invadem a mente e que são acompanhados de ansiedade ou

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desconforto, e das compulsões ou rituais: comportamentos ou atos mentais

voluntários e repetitivos, realizados para reduzir a aflição que acompanha as

obsessões.

O mesmo pensamento possuem Abreu e Prada (2004) ao afirmarem

que o TOC se caracteriza por ser um estado crônico e homogêneo em que ocorrem

pensamentos encobertos súbitos e recorrentes (obsessões) seguidos por

comportamentos estereotipados que o indivíduo se sente compelido a emitir

(compulsões).

As obsessões, ainda segundo os autores, são compreendidas como

pensamentos, idéias, imagens (visuais ou auditivas), recorrentes e persistentes, que

são experimentadas como intrusivas, inadequadas, e por isso causam acentuada

ansiedade ou sofrimento. A pessoa tenta ignorar ou suprimir as obsessões, ou

neutralizá-las com algum outro pensamento ou ação e, quando obtêm sucesso, este

é apenas transitório. Compulsões são comportamentos ou pensamentos repetitivos,

que a pessoa se sente compelida a executar em resposta a uma obsessão. Após o

ato compulsivo, o paciente experimenta, em geral, alívio temporário da ansiedade.

Segundo Torres (2002, p. 26), as obsessões são pensamentos,

imagens e impulsos repetitivos, intrusivos e desagradáveis que “invadem a

consciência do indivíduo contra sua vontade, causando muito mal-estar: ansiedade,

desconforto, medo, dúvida, preocupação”. A pessoa reconhece os pensamentos

como sendo seus, entretanto, não consegue controlar sua ocorrência; assim,

“quanto mais tenta não pensar naquilo, mais a idéia/imagem/impulso de modo

insistente tende a voltar à sua mente”.

Exemplos comuns de obsessão, citados por Segundo Torres (2002, p.

26), são as idéias de que algo ruim (doença, acidente, morte) pode estar para

acontecer com a própria pessoa ou com alguém de quem goste. “Imagens mentais

relacionadas podem também ocorrer como ver mentalmente uma cena temida, como

um acidente ou velório envolvendo alguma pessoa significativa”. Mesmo que

algumas imagens mentais, palavras, sons ou músicas tenham conteúdo “neutro”,

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pela sua repetitividade podem tornar-se aversivas, pois “incomodam pela insistência

intrusiva”.

Assim, quando um fator externo torna-se inconveniente ou incomoda

muito a pessoa com TOC, ela tende a pensar em outra coisa ou realizara

determinada ação a fim de impedir que o incômodo possa se agravar. No entanto,

de acordo com Torres (2002, p. 26), os impulsos obsessivos podem ser os mais

perturbadores:

Os impulsos obsessivos costumam ser ainda mais perturbadores: são impulsos de fazer algo que de fato a pessoa não quer fazer (usa-se o tremo egodistônico: contrário ao ego, aos desejos e valores da pessoa). Assim, o paciente pode sentir o impulso de empurrar, agredir, esfaquear e mesmo matar pessoas contra quem não tem nada, muito pelo contrário, pode até gostar demais. Não que a pessoa venha a cometer tais atos, mas a idéia, o medo destes impulsos é extremamente assustador.

Os impulsos agressivos podem ser tanto contra outrem como contra si

mesmo, evidenciando um contraste entre o querer fazer e o medo de fazê-lo; por

isso, sente medo de ferir-se ou de matar-se, mas pode pensar nisso repetidamente.

Esses pensamentos trazem insegurança e medo e pode fazer com que a pessoa

tenha medo de ficar sozinha, perto de crianças ou próxima de objetos considerados

perigosos, como faca, tesoura, fósforo, entre outros.

Para Torres (2002, p. 26), as pessoas portadoras de TOC também

podem envolver-se em outros atos considerados proibidos e/ou embaraçosos, tais

como, por exemplo: “gritar obscenidades durante a missa ou roubar alguma coisa

em lojas”; tais atitudes podem ser concretizadas ou ficar somente no pensamento da

pessoa, o que não diminui sua vergonha ou embaraço, pois pode imaginar que

alguém percebeu. Devido ao teor desses comportamentos, “não é difícil imaginar a

angústia, o medo e a vergonha dessas pessoas diante de conteúdos tão alheios ao

seu modo de ser, aos seus valores pessoais mais sagrados”.

As pessoas com TOC, devido a isso, podem ter vergonha de seus

pensamentos e/ou atitudes, fazendo com que esconda os sintomas da doença e não

os comente. Por isso, muitas vezes, a pessoa com TOC não é diagnosticada devido

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ao fato de que tem relutância em informar seus sintomas, falta de conhecimento dos

profissionais, familiares e da própria pessoa sobre a diversidade de sintomas do

Transtorno Obsessivo-Compulsivo, assim como o fato de os profissionais

rotineiramente não fazerem perguntas sobre os sintomas.

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CAPÍTULO II

COMPORTAMENTO DO PORTADOR DE TOC

O comportamento do portador de Transtorno Obsessivo Compulsivo

(TOC) é marcado, especialmente, pelas obsessões e pelas compulsões; não

existem limites para a variedade possível das obsessões e das compulsões. Esse

tipo de comportamento influencia nas relações interpessoais em todos os ambientes

que a pessoa com TOC freqüenta.

De acordo com Tavares et al (1998), é bastante comum que os

sintomas surjam após algum estresse psicológico; pois, os conflitos psíquicos

agravam os sintomas e tem cada vez ficado mais claro a certas alterações no modo

de pensar, de perceber e avaliar a realidade por parte destes pacientes.

É nesse sentido que Torres (2002, p. 27), esclarece que os portadores

de TOC podem sentir medo de se contaminar com alguma doença infecciosa ou

contagiosa, tanto ao cumprimentar uma pessoa e por isso deixa de pegar na mão

das pessoas, como ao abrir uma porta pegando na maçaneta.

Do mesmo modo, por exemplo, quando tiver medo ou dúvida de que algo ruim aconteceu com o filho, pode ir ao quarto da criança para se certificar de que ela está respirando, ou telefonar para a escola para saber se ela chegou bem, se não foi atropelada ou sequestrada no caminho. Verificar várias vezes se o ferro, o fogão ou o botijão de gás estão desligados alivia a idéia de poder ser responsável pela tragédia. As compulsões podem ser também atos mentais não observáveis por outras pessoas, como rezar, contar, pensar algo bom para rebater algo ruim e assim por diante (TORRES, 2002, p. 27).

É devido a esse tipo de comportamento que, para Tavares et al (1998)

os pacientes com TOC tendem a supervalorizar o risco e as possibilidades de

ocorrerem eventos desastrosos (contrair doenças, perder familiares, contaminar-se,

etc.); tendem também a superestimar a própria responsabilidade quanto a provocar

ou prevenir eventos futuros; essas pessoas são perfeccionistas, perdendo muito

tempo com a preocupação de fazer coisas bem feitas e evitar possíveis falhas ou

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imperfeições e imaginam modificar o curso futuro dos acontecimentos com a

execução dos rituais (pensamentos mágicos).

Cada paciente, de acordo com Hounie (2000), pode apresentar uma ou

mais destas distorções, que são mantidas mesmo as evidências sendo contrárias a

elas, ou apesar de não terem comprovação na realidade. Estes pacientes aprendem

a usar rituais ou outras manobras psicológicas como atos mentais e a evitação como

forma de aliviar a aflição que normalmente acompanha as obsessões, e por este

motivo, passam a repeti-los, mesmo que isto signifique estar mantendo a doença.

Os portadores de TOC também evitam enfrentar seus temores, até mesmo para

confirmar que são infundados, o que permitiria livrar-se deles.

Segundo Abreu e Prada (2004), os pacientes com Transtorno

Obsessivo Compulsivo possuem uma preocupação com a organização,

perfeccionismo e controle mental e interpessoal, às custas da flexibilidade e

eficiência. Esses indivíduos tentam manter um sentimento de controle através de

uma atenção extenuante a regras, detalhes triviais, procedimentos, listas, horários

ou formalidades, chegando a perder o ponto mais importante da atividade. Eles são

excessivamente cuidadosos e propensos à repetição, dando extraordinária atenção

a detalhes e verificando repetidamente, em busca de possíveis erros. Estas pessoas

não percebem que os outros tendem a ficar muito aborrecidos com os atrasos e

inconvenientes que resultam de seu comportamento

De acordo com Rosário-Campos e Mercadante (2000, p. 2), “as

obsessões podem ser definidas como eventos mentais, tais como pensamentos,

idéias, impulsos e imagens, vivenciados como intrusivos e incômodos”. Por serem

considerados como produtos mentais, “as obsessões podem ser criadas a partir de

qualquer substrato da mente, tais como palavras, medos, preocupações, memórias,

imagens, músicas ou cenas”. Geralmente, as obsessões causam medo, angústia,

culpa ou desprazer.

Entre as obsessões mais comuns aos portadores de TOC, estão a

dúvida; a preocupação excessiva com sujeira, germes ou contaminação; a

preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento; os

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pensamentos, imagens ou impulsos de ferir, insultar ou agredir outras pessoas; a

preocupação em armazenar, poupar, guardar coisas inúteis ou economizar; como

também as preocupações com doenças, com a religião (pecado, culpa, blasfêmia,

superstições etc.) e impulsos relacionados a sexo.

Já as compulsões (ou rituais) são definidas por Rosário-Campos e

Mercadante (2000, p. 2), “como comportamentos ou atos mentais repetitivos,

realizados para diminuir o incômodo ou a ansiedade causados pelas obsessões ou

para evitar que uma situação temida venha a ocorrer”.

Entre as compulsões mais comuns relacionadas aos portadores de

TOC, de acordo com vários autores, estão: lavar as mãos, rezar, fazer verificações,

contar, repetir frases ou números, fazer listas, alinhar, guardar ou armazenar objetos

sem utilidade, repetir perguntas, relembrar cenas ou imagens, marcar datas, entre

outras. Essas compulsões aliviam momentaneamente as aflições que são geradas

pelas obsessões, fazendo com que os portadores de TOC as repitam todas as vezes

que uma obsessão de manifesta, tornando-as uma espécie de ritual.

O portador de TOC tende a consumir muito tempo na execução dos

rituais, ou ocupar sua mente com obsessões por muitas horas durante o dia,

diminuindo seu envolvimento com atividades produtivas. O que agrava ainda mais

seu quadro é que tal comprometimento é sempre acompanhado de muita angústia,

aflição, sentimentos de impotência, diminuição da autoestima e, eventualmente,

depressão. Segundo esclarecimentos de Cordioli, Heldt e Raffin (2010, p. 1):

O TOC é considerado uma doença mental grave por vários motivos: está entre as dez maiores causas de incapacitação, de acordo com a Organização Mundial de Saúde; acomete preferentemente indivíduos jovens ao final da adolescência e muitas vezes começa ainda na infância sendo raro seu início depois dos 40 anos; geralmente é crônica e, se não tratada, na maioria das vezes se mantêm por toda a vida.

O que se observa nesse esclarecimento acima é que o TOC é uma

doença que pode ser abrandada, mas não tem cura; nesse sentido, conforme

Cordioli, Heldt e Raffin (2010, p. 1), os sintomas do TOC raramente desaparecem

por completo:

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O mais comum, quando não é realizado nenhum tratamento, é que apresentem flutuações ao longo da vida, aumentando e diminuindo de intensidade, mas estando sempre presentes em algum grau. Em aproximadamente 10% dos casos, tendem a um agravamento progressivo, podendo incapacitar os portadores para o trabalho e acarretar sérias limitações à convivência com a família e com as outras pessoas, além de submetê-los a um grande e permanente sofrimento.

Devido ao fato de que os sintomas da doença não desaparecem e ao

longo da vida eles flutuem (aumentando ou diminuindo), isso causa grande

sofrimento para a pessoa portadora; trazendo também dificuldades no

relacionamento familiar e social.

No entanto, os portadores de TOC não somente estão sempre

andando para verificar se as coisas estão em seu devido lugar ou verificando se algo

está acontecendo com as pessoas, eles também podem manter um comportamento

com ausência de atividade, pois segundo comentários de Torres (2002, p. 27):

Alguns portadores têm ruminações mentais infindáveis, como por exemplo ter que recordar em detalhes o que aconteceu em determinado dia, ou as palavras usadas por uma pessoa em certa ocasião. Podem ficar um bom tempo alheios ao ambiente e incapazes para qualquer outra atividade até considerarem resolvido este problema, por vezes irritando-se muito quando interrompidos, uma vez que se sentem mal até finalizarem tais tarefas racionalmente desnecessárias, mas auto-impostas.

Mesmo que esse tipo de ritual compulsivo não seja prazeroso, ele é

muito importante para o portador de TOC, pois tem a importante função de aliviar ou

minimizar, por algum tempo, um medo, um sofrimento, uma angústia ou um mal-

estar que lhe é muito significativo, porém, desgastante. Dessa forma, como explica

Torres (2002, p. 27), “a pessoa é vítima e carrasco ao mesmo tempo:

paradoxalmente escraviza-se na tentativa de aliviar um sofrimento, faz sacrifícios

absurdos para tentar evitar um incômodo ou mal maior”.

Por isso, algumas pessoas portadoras de Transtorno Obsessivo-

Compulsivo, podem ficar horas e horas paradas, pensando e sem interagir com o

ambiente, com os colegas de trabalho ou com a família. Como uma maneira de

expurgar algo ruim de dentro dela.

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Em outras ocasiões, o portador de TOC amplifica e/ou antecipa um

evento futuro, sofrendo por antecipação, tanto por medo como por culpa. Assim,

para Torres (2002, p. 29):

O paciente obsessivo-compulsivo teme assumir certas responsabilidades e poder causar um grande mal a alguém, teme não tolerar a culpa por algum acontecimento trágico. Na verdade, amplifica as possíveis consequencias ruins de uma omissão ou descuido seu: antecipa incêndios, assaltos, mortes e assim por diante. O sacrifício do ritual é preferível à essa dúvida ou expectativa tão catastrófica e assustadora.

A autora também ressalta que há pacientes com TOC que apresentam

apenas obsessões (como agressividade, por exemplo) e nenhuma compulsão

associada. Por outro lado, alguns portadores têm compulsões (contagem, ordenação

e simetria, por exemplo) que não se relacionam com nenhum temor ou preocupação

específica, pois referem-se somente a um desconforto emocional insuportável, tais

como ansiedade, sensação de imperfeição, impotência, incompletude ou pelo medo

de alguma coisa não dar certo até realizarem o ritual.

Por isso, para muitas pessoas com Transtorno Obsessivo-Compulsivo,

segundo Torres (2002, p. 30), é um grande alívio “encontrar pessoas (terapeutas e

outros pacientes) capazes de entender seu sofrimento sem recriminá-lo: ele não age

assim porque quer, mas porque não consegue evitar o(s) comportamento(s)”. Por

isso, é muito importante que participe de terapias, tanto individual quanto em grupo

ou familiar para ter mais segurança e compreender que pode acentuar os sintomas

da doença.

Assim, os grupos terapêuticos são um espaço único e valioso no qual, num ambiente não julgador e pautado no compartilhamento de vivências e sentimentos comuns, os portadores acolhem as dificuldades comuns e vibram com as conquistas. Além disso, nos grupos psicoterápicos e psicodinâmicos podem integrar significativamente seus sintomas no conjunto de seu contexto existencial.

Portanto, para que o portador de TOC tenha alívio de seus sintomas é

fundamental que busque ajuda e freqüente os grupos terapêuticos, a fim de aliviar a

tensão e o desgaste que os rituais lhe causam.

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Nesse caso, o apoio da família é de grande importância para o

paciente conseguir superar suas compulsões e/ou obsessões. Entretanto, os

familiares, geralmente, não compreendem e não toleram as manifestações do

transtorno obsessivo, ainda mais que, em muitas situações interferem de forma

acentuada nas rotinas da própria família e no desempenho escolar e/ou profissional

do paciente.

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CAPÍTULO III

CONCEITO DE FAMÍLIA

Para entender o comportamento humano é necessário observar seu

comportamento individual e social a fim de identificar a ligação existente entre suas

necessidades individuais e as exigências sociais. A família, nesse contexto é um

sistema relacional aberto que vai além do indivíduo, pois entre seus membros

existem vários componentes individuais, que estão em constante transformação e,

ao mesmo tempo, em que há necessidades de diferenciação, há a necessidade de

coesão.

Nas famílias de sistema relacional estrutural a função que cada

membro adquire dentro da família é fator de expectativa dos demais membros e

pode adquirir conotações positivas ou negativas. Assim, dentro de famílias

saudáveis a diferenciação individual e a coesão grupal são garantidas pelo equilíbrio

dinâmico entre os mecanismos de diversificação e os de estabilização.

Já nas famílias rígidas, em que a mudança nas relações é sentida

como uma ameaça, pode ser observado uma progressiva rigidez do esquema

interacional e da função de cada membro, impedindo a vivência de experiências

novas. Nessas famílias podem ser identificados pacientes que necessitam de

terapia, pois a passagem de um estágio para outro pode ser percebida como algo

catastrófico.

Ackerman (1995) designou a família como uma unidade em si mesma,

possuindo vida psicológica e social; segundo o autor a família é a unidade básica de

desenvolvimento e experiência, realização e fracasso, saúde e enfermidade. A

posição de Ackerman é de que existe um diálogo contínuo a processar-se entre

hereditariedade e o meio ambiente, sendo que nenhum deles pode ser considerado

separado do outro.

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O conceito-chave de Ackerman (1995) é o de papel social, que é, para

ele, a unidade adaptacional da personalidade em ação, e o encara como sinônimo

de conceito de “eu social”. Para o autor, pensar na família em termos de papéis

sociais, traz diversas vantagens, pois permite descrever um sistema de mais de

duas pessoas, como também identificar que os papéis são sempre complementares

ou recíprocos.

Nesse sentido, Ackerman (1995) afirma que a terapia deve ser voltada

para a liberdade a fim de haver clareza na comunicação e compreensão do outro em

busca do equilíbrio por meio da homeostase, que é a capacidade de restaurar

estados estáveis após perturbações do equilíbrio. Para o autor a homeostase é um

princípio que permite a mudança dentro do sistema.

Ainda segundo Ackerman (1995), há dois conceitos essenciais: o de

identidade psicológica, que inclui esforços, expectativas e valores, e o da

estabilidade de comportamento, especificamente na continuidade da identidade no

tempo, no controle de conflitos e na estabilização e complementaridade em novos

relacionamentos de papéis.

Já para Minuchin e Nichols (1995), a família é uma unidade social que

enfrenta uma série de tarefas de desenvolvimento. Estas diferem junto com

parâmetros de diferenças culturais, mas possuem raízes universais. Sendo que, no

início da formação da família há um processo de acomodação mútua do casal, que

enfrenta também a separação de sua família de origem e a mudança de foco da

lealdade, pois os compromissos fundamentais são agora com o matrimônio. O

nascimento de filhos, seu crescimento, sua fase adulta, a chegada de netos, tudo

isso exige uma re-negociação na organização familiar.

Nesse contexto, para Cerveny (1997), a família é considerada como

um sistema relacional aberto que vai além do indivíduo, pois entre seus membros

existem vários componentes individuais, que estão em constante transformação e,

ao mesmo tempo, em que há necessidades de diferenciação, há a necessidade de

coesão. Para se considerar a ligação estrutural da família é necessário entender que

ela é caracterizada por uma relação triangular entre os pais, que são partes de uma

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rede de relações que envolvem suas famílias de origem, e a criança, que faz parte

da nova família.

Nas relações familiares, segundo Ferés-Carneiro (1998), devido as

redes de relação, sempre estão se formando triângulos, por isso as dificuldades

enfrentadas por cada família diz respeito à formação e destruição desses triângulos

que influenciam na evolução de sua estrutura. Assim, para que haja um processo de

separação-individuação é preciso que a família passe por fases de desorganização

onde o equilíbrio de uma fase é quebrado para a preparação da mudança para um

estágio mais adequado. Isso ocorre sempre que há uma mudança na função ou no

interior nas relações entre os membros da família.

A função que cada membro adquire dentro da família, de acordo com

Ferés-Carneiro (1998), é fator de expectativa dos demais membros e pode adquirir

conotações positivas ou negativas. Assim, dentro de famílias saudáveis a

diferenciação individual e a coesão grupal são garantidas pelo equilíbrio dinâmica

entre os mecanismos de diversificação e os de estabilização.

A autora ainda esclarece que já nas famílias rígidas, em que a

mudança nas relações é sentida como uma ameaça, pode ser observado uma

progressiva rigidez do esquema interacional e da função de cada membro,

impedindo a vivência de experiências novas. Nessas famílias podem ser

identificados pacientes que necessitam de terapia, pois a passagem de um estágio

para outro pode ser percebida como algo catastrófico.

O que se observa é que as teorias de terapia familiar operam

enfocando a família como um todo coeso, em vez de focalizar um único indivíduo

(no caso o indivíduo com TOC); pois, segundo Ferés-Carneiro (1998), é preciso

entender que é necessário trabalhar a pessoa como membro de um sistema e que, o

problema de um dos membros pode desorganizar todo o sistema familiar, por isso,

quando um membro apresenta um problema, faz-se necessário que toda a família

participe do processo de reorganização. Mesmo porque, o objetivo principal da

terapia familiar é alterar e melhorar as interações entre os membros da família. E,

baseia-se no pressuposto de que a família é um sistema, uma unidade

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interdependente, e não um conjunto de indivíduos separados. A família é vista como

uma estrutura dinâmica, na qual cada um dos membros tem um papel exclusivo que,

em um determinado momento do ciclo vital da família, pode mudar de posição,

trazendo com isso, uma desarmonia.

A terapia familiar é freqüentemente utilizada para aprimorar a eficácia

da psicoterapia individual. Pois, muito comumente, o terapeuta percebe que os

problemas individuais do cliente refletem conflitos e perturbações no sistema

familiar. A fim de que o cliente possa apresentar melhoras significativas, a família

como um todo deve tornar-se psicologicamente saudável. Sendo assim, não basta

que apenas um membro se cure, é necessário que toda a família passe por esse

processo de encarar o problema e buscar a cura em conjunto.

No que se refere aos portadores de Transtorno Obsessivo-Compulsivo,

isso é ainda mais importante, pois suas atitudes (rituais, desestabiliza toda a

estrutura familiar e faz com que os membros possam ter conflitos constantes.

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CAPÍTULO IV

IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO FAMILIAR

A família pode ser de grande importância no auxílio ao paciente com

TOC para identificar seus sintomas e no apoio na realização de tarefas prescritas

que envolve não somente o tratamento psicológico como o meio social do mesmo.

Focando todos juntos, família e sociedade, num único objetivo, a inclusão social.

Compartilhando assim toda informação que se fizer necessária, colaborando então

para um desenvolvimento biopsicossocial.

Entretanto, de acordo com Hounie et al (2000), os sintomas dos

pacientes com Transtorno Obsessivo-Compulsivo podem criar desarmonia, raiva ou

angústia nos familiares em função do envolvimento involuntário nos rituais,

dependência, restrição ao acesso a objetos e até mesmo a cômodos da casa,

dificuldade de ter momentos de férias e interferência com obrigações de condições

médicas associadas com sintomas obsessivos-compulsivos.

Isso é confirmado por Guedes e Banaco (2002, p. 111), pois afirmam

que “a presença de uma pessoa com comportamentos obsessivo-compulsivos

produz mudanças na vida daqueles que com ele convivem”. Por isso, há a

necessidade de uma mudança a fim de conseguir a harmonia familiar; ,as somente

se poderá conseguir tal harmonia por meio do acompanhamento do paciente em sua

terapia. Pois:

A família vai percebendo que, apesar de todo seu desgaste, esforço e envolvimento, o familiar está cada vez mais desorientado, incapacitado, dependente da famíli8a e persistente nos comportamentos obsessivo-compulsivos. Para todos, a situação só se agrava. [...] A única saída para esta vida de sofrimento e aprisionamento de todos depende de mudanças profundas nas relações familiares. Isto quer dizer uma reversão total na forma de as pessoas interagirem. Será preciso um acompanhamento profissional criterioso e especializado (GUEDES e BANACO, 2002, p. 112).

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Por isso, é de suma importância que a família também participe de

sessões de terapia familiar a fim de poder acompanhar e auxiliar o paciente com

TOC, minimizando o sofrimento nesse processo. Mesmo porque, para Torres (2002,

p. 31), “a família também sofre com o problema e pode ter um papel crucial na

evolução do quadro e no tratamento”. Dessa maneira, tanto o paciente como a

família necessitam de apoio e ajuda.

Mesmo porque, Ferés-Carneiro (1998) afirma que uma família

facilitadora do crescimento emocional e promotora de saúde, não é aquela com

ausência de conflitos. O potencial de saúde centra-se na possibilidade que o sistema

familiar tem de encontrar alternativas para a solução dos seus problemas e

conseguir conter os efeitos destrutivos destes. Bons níveis de saúde familiar, muitas

vezes, encontram-se associados a núcleos que favorecem tanto a expressão de

agressividade, de raiva e hostilidade, quanto de carinho, ternura e afeto

A maioria das formas de psicoterapia, segundo Piszezman (2007),

incluindo a maioria das terapias de grupo tende a ver os problemas de uma pessoa

– e a solução para eles – como originando-se principalmente dentro do próprio

indivíduo. A terapia familiar opera com uma premissa diferente, enfocando a família

toda, em vez de um único indivíduo. O objetivo principal da terapia familiar é alterar

e melhorar as interações entre os membros da família. Tipicamente, a terapia

familiar inclui cada um dos membros da família, mesmo as crianças pequenas, e

também pode abranger parentes importantes, como avós ou tios e que estão em

conato mais próximo com o paciente.

A terapia familiar, ainda segundo a autora acima, baseia-se no

pressuposto de que a família é um sistema, uma unidade interdependente, e não um

conjunto de indivíduos separados. A família é vista como uma estrutura dinâmica, na

qual cada um dos membros tem um papel exclusivo. De acordo com essa visão,

todas as famílias têm regras não escritas de interação e comunicação. Algumas

dessas regras tácitas revolvem ao redor de questões como, quais membros da

família exercem poder, quem toma as decisões, quem mantém a paz e os tipos de

alianças que os membros formam entre si.

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Nesse caso, à medida que essas questões são exploradas, padrões

inadequados de interação familiar podem ser identificados e substituídos por “novas

regras” que promovem a saúde psicológica da família como uma unidade. Assim,

mesmo que todos os sintomas do paciente com TOC não desapareçam e ainda

reste algum ritual, a família aprendeu como um todo a lidar com eles.

A terapia familiar, conforme explica Piszezman (2007), é

freqüentemente utilizada para aprimorar a eficácia da psicoterapia individual. Muito

comumente, o terapeuta percebe que os problemas individuais do cliente refletem

conflitos e perturbações no sistema familiar. A fim de que o cliente possa apresentar

melhoras significativas, a família como um todo deve tornar-se psicologicamente

saudável. A terapia familiar também é indicada quando existem conflitos entre os

membros da família, como entre os pais e adolescentes, ou quando crianças

pequenas são tratadas por problemas comportamentais, como faltar às aulas e

apresentar comportamento agressivo.

Com a terapia familiar, os membros da família podem auxiliar o

paciente em sua capacitação para identificar as idéias obsessivas, separando-as do

pensamento “normal”, como também na compreensão da natureza irracional desses

pensamentos e sua relação com os rituais. Para Ackerman (1995), a família é uma

unidade-chave da sociedade; por isso, o resultado da terapia familiar não é

simplesmente afastar sintomas e ajustar a personalidade ao meio ambiente, mas

sim criar uma nova maneira de viver.

Sendo assim, a família muda quando a sua concepção de si mesma e

sua maneira de pensar também muda, deslocando o equilíbrio dentro dela,

aprendendo a relacionar-se mutuamente por novas maneiras, examinando o seu

sistema de valores e decidindo efetuar mudanças, se estar parecerem adequadas.

Por isso, Ackerman (1995) afirma que o resultado da terapia familiar é o de dissolver

o conflito atual e promover aspectos positivos da personalidade.

Além disso, segundo Hounie et al (2000), a família pode assegurar que

o paciente com TOC compareça às sessões; pois são nelas que ele recebe uma

série de informações e realiza exercícios que pode praticar em casa ou no próprio

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trabalho. Por isso, é importante a participação familiar nas sessões, como também

do próprio paciente, pois é ele que faz a escolha dos sintomas-alvos a partir da lista

e das tarefas semanais que realizará; como também poderá perceber a importância

do tempo envolvido nas tarefas e a importância de sua repetição para minimizar os

sintomas do TOC; além disso, poderá informar sobre os progressos conseguidos ou

sobre a dificuldade na realização das tarefas.

A terapia familiar, segundo Ackerman (1995), baseia-se no

pressuposto de que o homem não é um ser isolado, mas um membro ativo e reativo

de grupos sociais, com experiências reais que depende de componentes internos e

externos. Nesse sentido, a experiência do homem é determinada por sua interação

com seu ambiente e, por isso, o terapeuta de família explora as interações dentro de

contextos vitais significativos: família, trabalho, escola, entre outros. Com isso, pode

auxiliar o portador de TOC a minimizar seu sofrimento e também o sofrimento da

família.

Mesmo porque, segundo o autor, durante todo o processo de terapia

familiar, mudanças estão ocorrendo e escolhas estão sendo efetuadas a partir do

momento em que os sentimentos são expressos, valores são verbalizados e apelos

são realizados. A forma como os terapeutas conduzem esse processo pode ter

semelhanças e diferenças, porém o importante são que eles alcancem resultados

satisfatórios para que a família encontre um equilíbrio que foi tirado devido às

obsessões e compulsões do membro com TOC.

O primeiro passo desse processo, segundo Ackerman (1995), é

realizar um diagnóstico claro que possa indicar o caminho mais acertado ao

terapeuta diante dos problemas que estão sendo enfrentados pela família que

buscou seu auxílio. É importante lembrar que o afeto possui um papel importante

em se tratando de terapia familiar, principalmente porque o terapeuta pode usar as

emoções para tocar a família.

Da mesma forma, esclarece o autor, a aprendizagem assume uma

dimensão central na terapia familiar. Pois na maioria dos casos, os membros da

família devem aprender novas formas de se relacionar, novos comportamentos,

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assim como novas formas de intercomunicarem-se. Outro fator que influencia é a

questão dos valores, visto que em alguns casos, esses valores estão diretamente

ligados à questão da cura.

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CONCLUSÃO

O Transtorno Obsessivo-Compulsivo é a manifestação de obsessões e

compulsões. A obsessão é o sintoma neurótico que consiste em um pensamento,

frequentemente de elevado teor emocional, que se impõe ao conhecimento

consciente do indivíduo contra o seu desejo de pensar nele e apresar do fato de

reconhecer o absurdo lógico da idéia imposta, a pessoa não tem controle sobre ele.

Já a compulsão é um impulso coesivo e repetitivo para agir de

determinadas maneiras. Os atos compulsivos são automatismos sobre os quais o

indivíduo exercer escasso controle. A pessoa está consciente do que faz ou do que

é compelida a fazer e, mesmo que reconheça ser um ato absurdo é incapaz de

Pará-lo ou de se livrar do impulso para executá-lo; pois, ao realizar tal ato, o

indivíduo sente um certo alívio para a sua ansiedade.

Para se livrar desses comportamentos a pessoa necessita de apoio da

família e de tratamento psiquiátrico, psicológico e, em alguns casos, farmacológico.

Mesmo porque, o paciente com Transtorno Obsessivo-Compulsivo fica aprisionado a

um padrão de pensamentos e comportamentos repetitivos que não tem sentido, são

desagradáveis e difíceis de evitar.

Sem um acompanhamento terapêutico esses comportamentos tendem

a se perpetuar. Entretanto, alguns quadros do TOC são desencadeados ou

agrupados por situações e estresse, conflitos interpessoais e ameaças de perda que

faz com que haja o aumento dos sintomas, tendo relação direta com ansiedades

provocadas por tais conflitos. Nessas situações pode ser de grande utilidade sua

exploração através de técnicas psicodinâmicas associadas às terapias

comportamentais e psicofarmacoterapia.

Porém, para que o tratamento posa ter eficácia, não basta que

somente o paciente faça a terapia. É preciso que a família também se empenhe em

fazer terapia familiar, pois a família é de suma importância para que o paciente

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possa fazer as atividades e tarefas em casa. Na terapia familiar o paciente pode

aprender a como agir para acentuar seus sintomas e a família a como ajudá-lo na

superação de obsessões e de compulsões.

A importância da família também fazer parte da terapia é devido ao fato

de que, quando um membro tem essa doença, ele pode desestruturar toda a família,

assim como a família pode se cansar de seus rituais, perder a paciência e tornar

ainda mais complexos os transtornos do portador da doença

No entanto, com o apoio da família, em todas as instâncias, o paciente

com TOC pode ter seus sintomas amenizados e ter uma vida com menos

sofrimento. Sendo assim, é importante a conscientização a família para restabelecer

a saúde da família, por meio da restauração da família do portador de TOC.

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