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SIMP.TCC/Sem.IC. 2018(13); 465-486 FACULDADE ICESP / ISSN: 2595-4210 465 CURSO DE DIREITO (IN) APLICABILIDADE DA RESPONSABILIDADE CIVIL NO ABANDONO AFETIVO PARENTAL (IN) APPLICABILITY OF CIVIL LIABILITY IN PARENTAL AFFECTIVE ABANDONMENT Ana Paula Brandão Resumo: A responsabilidade civil dos pais em relação aos seus filhos quando os abandonam afetivamente é um assunto de extrema importância para a família, para a sociedade e para o Estado. É inegável que a ausência do afeto causa diversos danos aos filhos, variando de acordo com a complexidade e características individuais sofridas por cada indivíduo, bem como o sofrimento vivido constantemente pelo abandono. No momento atual, sob o fundamento do princípio da dignidade da pessoa humana diversos filhos afetivamente abandonados buscam o Poder Judiciário no intento de serem indenizados civilmente, diante do dano psíquico ocasionado pela abstenção da afetividade bem como na ausência de convívio familiar no desenvolvimento e formação da criança. Palavras-chave: Abandono Afetivo. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Afetividade. Responsabilidade Civil. Danos Morais. Abstract: Parents' civil responsibility for their children when they are leaving them affectively is a matter of utmost importance to the family, to society and to the state. It is undeniable that the absence of affection causes several damages to the children, varying according to the complexity and individual characteristics suffered by each individual, as well as the suffering lived constantly by the abandonment. At the present time, under the principle of the dignity of the human person, several affectionately abandoned children seek the Judiciary in the attempt to be civilly compensated, in the face of the psychic damage caused by the abstention of affection as well as the absence of family life in the development and formation of the child. Keywords: Affective Abandonment. Principle of the Dignity of the Human Person. Affectivity. Civil responsability. Moral damages. Sumário: Introdução. 1. Família no Ordenamento Jurídico Brasileiro. 2. A Família sendo uma unidade formada pelos pais 2.1. Poder Familiar. 2.2. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. 2.3. Princípio da Afetividade. 3. Responsabilidade Civil. 3.1. Abandono Material. 3.2. Dano Moral. 4. Posicionamento dos Tribunais 408-550-5 - Julgamento. Conclusão. Bibliografia. EMAIL: [email protected] Introdução O abandono afetivo nada mais é a “omissão dos pais ou de um deles, pelo menos relativamente ao dever de sustento e educação, entendido este na sua acepção mais ampla, permeada de afeto, carinho, atenção, desvelo”. Em suma, é o desamparo afetivo, moral, e psíquico- sentimental do pai ou da mãe para com seu filho. O judiciário brasileiro tem se deparado com questões polêmicas sobre a responsabilidade civil por abandono afetivo, entendimentos diversos tem criado uma jurisprudência conflitante. De um lado os que são contrários à reparação por abandono afetivo dizem que o amor não tem preço e ninguém é obrigado a amar ninguém, do outro lado os que são favoráveis a reparação garantem que a ausência de afeto e cuidado dos pais pode gerar danos emocionais a criança ou adolescente passiveis de reparação. Na ordem infraconstitucional, o art. 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente (lei 8069/90) evidencia a existência de um direito-dever, incumbido aos pais, de cuidar de sua prole e de protegê-la, não apenas sob as demandas materiais, mas, especialmente, sob as demandas emocionais, psíquicas, além das de ordem mental, moral, espiritual e social. Como citar esse artigo: Brandão AP, (IN) Aplicabilidade da responsabilidade civil no abandono afetivo parental. Anais do 13 Simpósio de TCC e 6 Seminário de IC da Faculdade ICESP. 2018(13); 465-486

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SIMP.TCC/Sem.IC. 2018(13); 465-486 FACULDADE ICESP / ISSN: 2595-4210 465

CURSO DE DIREITO (IN) APLICABILIDADE DA RESPONSABILIDADE CIVIL NO ABANDONO AFETIVO PARENTAL (IN) APPLICABILITY OF CIVIL LIABILITY IN PARENTAL AFFECTIVE ABANDONMENT

Ana Paula Brandão

Resumo: A responsabilidade civil dos pais em relação aos seus filhos quando os abandonam afetivamente é um assunto de extrema importância para a família, para a sociedade e para o Estado. É inegável que a ausência do afeto causa diversos danos aos filhos, variando de acordo com a complexidade e características individuais sofridas por cada indivíduo, bem como o sofrimento vivido constantemente pelo abandono. No momento atual, sob o fundamento do princípio da dignidade da pessoa humana diversos filhos afetivamente abandonados buscam o Poder Judiciário no intento de serem indenizados civilmente, diante do dano psíquico ocasionado pela abstenção da afetividade bem como na ausência de convívio familiar no desenvolvimento e formação da criança. Palavras-chave: Abandono Afetivo. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Afetividade. Responsabilidade Civil. Danos Morais. Abstract: Parents' civil responsibility for their children when they are leaving them affectively is a matter of utmost importance to the family, to society and to the state. It is undeniable that the absence of affection causes several damages to the children, varying according to the complexity and individual characteristics suffered by each individual, as well as the suffering lived constantly by the abandonment. At the present time, under the principle of the dignity of the human person, several affectionately abandoned children seek the Judiciary in the attempt to be civilly compensated, in the face of the psychic damage caused by the abstention of affection as well as the absence of family life in the development and formation of the child. Keywords: Affective Abandonment. Principle of the Dignity of the Human Person. Affectivity. Civil responsability. Moral damages. Sumário: Introdução. 1. Família no Ordenamento Jurídico Brasileiro. 2. A Família sendo uma unidade formada pelos pais 2.1. Poder Familiar. 2.2. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. 2.3. Princípio da Afetividade. 3. Responsabilidade Civil. 3.1. Abandono Material. 3.2. Dano Moral. 4. Posicionamento dos Tribunais 408-550-5 - Julgamento. Conclusão. Bibliografia.

EMAIL: [email protected]

Introdução

O abandono afetivo nada mais é a “omissão dos pais ou de um deles, pelo menos relativamente ao dever de sustento e educação, entendido este na sua acepção mais ampla, permeada de afeto, carinho, atenção, desvelo”. Em suma, é o desamparo afetivo, moral, e psíquico-sentimental do pai ou da mãe para com seu filho.

O judiciário brasileiro tem se deparado com questões polêmicas sobre a responsabilidade civil por abandono afetivo, entendimentos diversos tem criado uma jurisprudência conflitante. De um lado os que são contrários à reparação por

abandono afetivo dizem que o amor não tem preço e ninguém é obrigado a amar ninguém, do outro lado os que são favoráveis a reparação garantem que a ausência de afeto e cuidado dos pais pode gerar danos emocionais a criança ou adolescente passiveis de reparação.

Na ordem infraconstitucional, o art. 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente (lei 8069/90) evidencia a existência de um direito-dever, incumbido aos pais, de cuidar de sua prole e de protegê-la, não apenas sob as demandas materiais, mas, especialmente, sob as demandas emocionais, psíquicas, além das de ordem mental, moral, espiritual e social.

Como citar esse artigo:

Brandão AP, (IN) Aplicabilidade da responsabilidade civil no abandono

afetivo parental. Anais do 13 Simpósio de TCC e 6 Seminário de IC da

Faculdade ICESP. 2018(13); 465-486

SIMP.TCC/Sem.IC. 2018(13); 465-486 FACULDADE ICESP / ISSN: 2595-4210 466

Com base nisso pretende-se responder algumas inquietações que serão as norteadoras para a pesquisa, quais sejam:

Assevera-se que, é feita uma analise dos entendimentos jurisprudenciais acerca do tema, trazendo decisões favoráveis e desfavoráveis, mostrando os fundamentos que levaram os julgadores a tal entendimento. Assim este trabalho pretende discutir quais os danos que o abandono afetivo pode causar nas crianças e no adolescente que não tiveram o apoio moral e emocional dos pais?

O presente trabalho propõe estudar o entendimento do Poder Judiciário e da doutrina, bem como seus fundamentos, a respeito do dano moral causado pelo abandono afetivo, cujo objetivo principal é analisar os efeitos jurídicos e sociais da responsabilidade civil no que diz respeito aos pais por abandono afetivo dos filhos.

No que diz respeito ao método de abordagem utilizei o dialético, pois a abordagem é mais ampla, em nível de abstração mais elevado dos fenômenos da sociedade.

Dessa forma, a metodologia utilizada será o de pesquisa bibliográfica sobre a responsabilidade civil por abandono afetivo, buscando em publicações de julgados recentes sobre o assunto, como também em livros e em outras fontes secundárias, tais como, artigos e internet, que possam abordar e esclarecer a problemática do projeto de pesquisa.

Segundo Eva Maria Lakatos (2010, p. 110), método dialético, [...] é aquele que penetra o mundo dos fenômenos através de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.”

Pretende-se que, exista uma possibilidade de questionar e verificar a responsabilidade civil dos pais em relação aos seus filhos quando os abandonam afetivamente.

Família no Ordenamento Jurídico Brasileiro

A família vem evoluindo gradativamente, desde os tempos mais antigos até a atualidade. A família surgiu com o próprio homem, em relação à organização social, é a primeira e única expressão humana.

O Código Civil de 1916 (Lei nº 3.071 de 1916) manteve o patriarcalismo oriundo do catolicismo. Ou seja, a figura masculina continuou sendo o chefe da família e a mulher casada constando no rol dos indivíduos relativamente incapazes. O casamento foi consagrado pelo referido diploma civil como o único instituto jurídico capaz de formar a família. (WALD, 2002. p. 22).

A legislação civil de 1916 não previa possibilidade de dissolução do vínculo conjugal, enaltecendo assim cada vez mais o instituto do casamento como essencial para a formação da família. Podendo apenas existir o chamado “desquite”. Somente em 1977 com a Lei nº 6.515 foi criada a separação judicial e o divorcio. A finalidade da família era a continuidade. (FUGIE, 2002, p. 133).

Diante deste panorama apresentado, é possível constatar que por muito tempo a legislação pátria protegeu o instituto da família considerando os vínculos de consanguinidade existente entre os parentes.

Segundo Lôbo (2008), a primeira constituição brasileira a dedicar um capítulo à família foi a Constituição Democrática de 1934. […] as Constituições do Estado social brasileiro (de 1934 a 1988) democrático ou autoritário, destinaram a família normas explícitas. A Constituição democrática de 1934 dedica todo um capítulo à família, aparecendo pela primeira vez a referência expressa à proteção especial do Estado, que será repetida nas constituições subsequentes. Na Constituição autoritária de 1937 a educação surge como dever dos pais, os filhos naturais são equiparados aos legítimos e o Estado assume a tutela das crianças em caso de

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abandono pelos pais. A Constituição democrática de 1946 estimula a prole numerosa e assegura assistência à maternidade, à infância e à adolescência.

Porém, os novos diplomas constitucionais não alteraram substancialmente o Código Civil de 1916, onde permaneceu a estrutura patriarcal, o casamento como forma exclusiva de formação da família, o expresso tratamento discriminatório dado aos filhos nascidos fora do casamento e aos havidos por adoção e a ausência de referências ao companheirismo, seja ela na forma de união estável, seja na forma do concubinato.

Portanto, até o advento da Constituição Federal de 1988, a única forma de se instituir relações familiares era por meio do casamento, tendo em vista que tanto a união estável como o concubinato não tinham proteção do legislador brasileiro. A adoção tinha tratamento que diferenciava os direitos e o tratamento entre os filhos sanguíneos e os adotados. Ou seja, a consanguinidade tendo mais relevância jurídica que a afetividade. Nessa esteira, observa-se que a entidade familiar ultrapassa os limites da previsão jurídica (casamento, união estável e família monoparental) para abarcar todo e qualquer agrupamento de pessoas onde permeie o elemento afeto (affectio familiae). Em outras palavras, o ordenamento jurídico deverá sempre reconhecer como família todo e qualquer grupo no qual os seus membros enxergam uns aos outros como seu familiar. (ALVES, 2006, p. 2)

Nos dias atuais, a família é identificada pela presença de um vínculo afetivo, afastando cada vez mais a noção de necessidade de casamento para que se forme vínculos familiares. Consubstanciando o princípio vetor da dignidade da pessoa humana no seu art. 1º, III, a Carta Magna provocou uma autêntica revolução no Direito Civil como um todo, dando ensejo a um fenômeno conhecido como despatrimonialização ou personalização deste ramo do Direito. No campo específico do Direito de Família, verifica-se que a entidade familiar passa a ser encarada como

uma verdadeira comunidade de afeto e entreajuda e não mais como uma fonte de produção de riqueza como outrora. É o âmbito familiar o local mais propício para que o indivíduo venha a obter a plena realização da sua dignidade enquanto ser humano, porque o elo entre os integrantes da família deixa de ter conotação patrimonial para envolver, sobretudo, o afeto, o carinho, amor e a ajuda mútua. (ALVES, 2006, p. 131).

Tanto a evolução da sociedade como a conjuntura legislativa pátria caminharam para a criação de novas formas de se instituir uma família: união estável, monoparentais e homoafetivas. Assim, a Carta Magna, como consequência da dignidade humana e no intuito de promovê-la, não só retirou do casamento o monopólio na criação ou legitimação da família, como também permitiu outras formas de entidades familiares, quais sejam, a união estável e a família monoparental. Com isso, pessoas que antes não queriam ou não podiam convolar núpcias e, por isso mesmo, recebiam tratamento discriminatório, passaram a ter a oportunidade de constituir uma entidade familiar, pelo menos aos olhos da lei, já que na realidade fática tudo isso já existia. (Idem)

A legislação infraconstitucional somente regulamentou as normas constitucionais com o advento do atual Código Civil de 2002 (Lei nº 10.406). “O Código Civil de 2002 apresenta-se na parte destinada ao direito de família como aglutinador das significativas inovações legislativas e conceituais a respeito desse ramo do direito que, a partir da Constituição Federal, como visto, tem-se mostrado dinâmico” (RODRIGUES, 2004, p. 15)

Com a finalidade de ilustrar que os Tribunais brasileiros estão fornecendo a instituição da família pela afetividade, destaca-se o dois enunciados na I Jornada de Direito Civil, promovida pelo Conselho da Justiça Federal, sob a chancela do Superior Tribunal de Justiça: Enunciado nº 103 – O Código Civil reconhece, no art. 1.593, outras espécies de parentesco civil além daquele decorrente da adoção, acolhendo, assim, a noção de que há também parentesco civil no vínculo parental

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proveniente quer das técnicas de reprodução assistida heteróloga relativamente ao pai (ou mãe) que não contribuiu com seu material fecundante, quer da paternidade socioafetiva, fundada na posse do estado de filho. Enunciado nº 108 – No fato jurídico do nascimento, mencionado no art. 1.603, compreende-se à luz do disposto no art. 1.593, a filiação consangüínea e também a socioafetiva. (ENCONTRO DOS JUÍZES DE FAMÍLIA DO INTERIOR DE SÃO PAULO, 2006, p. 505)

Importa considerar a família em conceito amplo, como parentesco, ou seja, o conjunto de pessoas unidas por vinculo jurídico de natureza familiar.

O jurista Ulpiano, do terceiro século de nossa era, definiu família como o grupo plural de pessoas que, pela natureza ou pelo direito, vive sob o poder de outra. (VENOSA, 2017, p.2)

O ordenamento jurídico brasileiro, os estudos acadêmicos e os tribunais pátrios contribuíram para atualizar o conceito de família, bem como atribuir a afetividade como elemento importante e inerente às relações familiares. A Família é uma unidade formada pelos pais

Para um desenvolvimento emocional seguro e construtivo dos filhos, é necessário crescer em um lar no qual pai e mãe estejam presentes e ofereçam apoio moral, social, afetivo, ético e etc.

A família não se restringe enquanto instituição jurídica, mas deve ser considerada também o seu caráter social, que permite se apresentar de diversas óticas. Partindo desta idéia, afirma Cornu (apud Lôbo, 2008, p.02): Sob o ponto de vista do direito, a família é feita de duas estruturas associadas: os vínculos e os grupos. Hã três sortes de vínculos, que podem coexistir e existir separadamente: vínculos de sangue, vínculos de direito e vínculos de afetividade. A partir dos vínculos de família, é que se compõem os diversos grupos que a integram: grupo conjugal, grupo parental (pais e filhos), grupos secundários (outros parentes e afins).

A família, portanto, é um dos institutos mais antigos formado pelos seres humanos. Por ser constituída socialmente, sofre alterações a depender do tempo e do espaço. Para fins jurídicos, a família é um instituto de organização social que se forma a partir de laços afetivos, sanguíneos e jurídicos.

A compreensão do conceito de família sofreu diversas alterações de função, natureza e composição, principalmente ao longo do século XX. Atualmente, a afetividade é um importante elemento para a conceituação de família. Nesse contexto, destacam-se as sábias palavras de Lôbo (2008, p. 01): […] a família atual está matrizada em paradigma que explica sua função atual: a afetividade. Assim, enquanto houver affectio haverá família, unida por laços de liberdade e responsabilidade, e desde que consolidada na simetria, na colaboração, na comunhão de vida.

Maria Helena Diniz (2008, p. 09 -10) apresenta três importantes acepções com finalidades didáticas do conceito de família: sentido amplíssimo, sentido lato e acepção restrita. No sentido amplíssimo, família significa a união dos indivíduos pelo vínculo da consanguinidade e afinidade. No sentido lato, a família é considerada quando ultrapassa a existência dos cônjuges ou companheiros, e de seus filhos, pois envolve parentes da linha reta ou colateral, e também os afins, ou seja, os parentes do outro cônjuge ou companheiro. Já o sentido restrito refere-se a família como sendo uma unidade formada pelos pais (matrimônio ou união estável) e seus filhos.

Logo, os pais são a primeira referência comportamental da criança, portanto é comum que copiem deles não só o falar e andar, como também atitudes e hábitos de vida. É de suma importância, a relação entre pais e filhos, ou seja, a filiação socioafetiva a manifestação do vinculo familiar calcado nos sentimentos. Extrapola o conceito estático do que é biológico.

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O reconhecimento da união estável como entidade familiar (art. 226 § 7º) representou um grande passo jurídico e sociológico em nosso meio. (VENOSA, 2017, p. 7)

A partir da Constituição de 1988, com o reconhecimento da união estável, ampliou o conceito de família, a comunidade formada por quaisquer pais e seus dependentes, e união estável entre homem e mulher, devendo esta ser transformada pelo casamento.

Poder Familiar

O Poder familiar é um importante instituto jurídico, que dá aos pais direitos e deveres sobre os filhos e aos bens dos filhos menores.

A guarda da criança ou do adolescente por muito tempo foi considerada como um instituto proveniente dos efeitos do poder familiar, ou seja, o direito de guarda tinha uma interpretação vinculada ao detentor do poder familiar.

O art. 1630 e seguintes do Código Civil abordam sobre o Poder Familiar.

O artigo 1.634 dá início ao capítulo intitulado "Do exercício do Poder Familiar". A guarda é um efeito do poder familiar, consoante disposto no artigo 1.634, inciso II do Código Civil: Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos: II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584.

No Código civil de 1916, era utilizada a expressão pátrio poder, a qual cedeu lugar, no Código Civil de 2002, ao denominado poder familiar, que tem por significado o poder parental e poder de proteção.

O poder familiar engloba um complexo de normas concernentes aos direitos e deveres dos pais relativamente à pessoa e aos bens dos filhos menores não emancipados. (DINIZ, 2015, p. 629).

Mas este poder deve ser exercido, única e exclusivamente, no superior

interesse do menor e, por isso, deixa de ser um poder para se tornar um dever, uma responsabilidade, conforme verificado na explanação dos princípios do direito de família.

O direito de filiação abrange também o pátrio poder, atualmente denominado poder familiar, que os pais exercem em relação aos filhos menores, bem como os direitos protetivos e assistenciais em geral. (VENOSA, 2017, p. 359).

Assim, o poder familiar (ou poder parental) é um conjunto de poderes-deveres, que deve ser exercido à vista do integral desenvolvimento dos filhos, até que esses se bastem em si mesmos.

Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

O princípio da Dignidade da Pessoa Humana é um valor moral inerente à pessoa, ou seja, toda pessoa é dotada desse preceito.

Este princípio está previsto no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal trazendo que Estado Democrático de Direito tem como fundamento a dignidade da pessoa humana. Esse princípio tem a capacidade de demonstrar a nova conjuntura constitucional acerca do Direito de Família.

“A milenar proteção da família como instituição, unidade de produção e reprodução dos valores culturais, éticos, religiosos e econômicos, dá lugar à tutela essencialmente funcionalizada à dignidade de seus membros, em particular no que concerne ao desenvolvimento da personalidade dos filhos” (Tepedino apud Gonçalves, 2005, p.09).

É possível perceber que o princípio de proteção da dignidade da pessoa humana é de extrema importância para o atual do Direito de Família, pois tem a capacidade de solucionar quesitos práticos que envolvem as relações familiares.

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Princípio da Afetividade

Outro princípio norteador é o da afetividade, diante das relações familiares, compreende, sobretudo, a evolução do direito, tendo como premissa uma nova cultura jurídica que permita a relação estatal de todas as entidades familiares.

A palavra afetividade se deriva dos termos afeto e afetivo. A psicologia se refere a esses fenômenos como qualquer sentimento de paixões, emoções, preocupações, carinho, entre outros.

Segundo lição de Teixeira (2009, p. 38): O principio da afetividade funciona como um vetor que reestrutura a tutela jurídica do Direito de Família, que passa a se ocupar mais da qualidade dos laços travados nos núcleos familiares do que com a forma através da qual as entidades familiares se apresentam em sociedade, superando o formalismo das codificações liberais e o patrimonialismo que delas herdamos.

A afetividade é tida, portanto, como um parâmetro e não como um comando obrigatório, cuja adoção seja necessário para atingir determinada finalidade ou comportamento idealizado. Serve apenas como parâmetro para a realização de outras normas.

De forma geral, a construção de laços afetivos é extremamente importante para a vida da pessoa. Crescer sem isso pode transformar o indivíduo em um ser possuidor de lembranças e recordações ruins, numa pessoa apática e exclusa de uma vida social saudável.

Responsabilidade Civil

A Responsabilidade Civil é instituto que pode ser aplicado perfeitamente no Direito de Família, para tanto, faz-se necessário que se verifique os pressupostos para a incidência ou não do instituto da Responsabilidade Civil em cada tipo de relação afetiva, tendo em vista as particularidades que envolvem cada uma delas: noivado, casamento, união estável e relação paterno-filial.

O comportamento do agente poderá ser uma comissão, ou seja, a prática de um ato que não deva se efetivar, ou uma omissão, qualificada juridicamente, que consiste na não observância do dever de agir ou da prática de certo ato que deveria realizar-se (DINIZ, 2005, p. 32).

Na responsabilidade civil subjetiva, segundo Braga Netto (2008, p. 79), “alguém, agindo ou se omitindo culposamente, causa danos à terceiro, que serão indenizáveis se houver um nexo causal entre o dano e a conduta culposa”.

Ante o exposto, ficam estabelecidas duas premissas básicas que irão nortear toda a análise da Responsabilidade Civil nas relações familiares e mais precisamente na questão do abandono afetivo. Primeira: para que se configure a responsabilidade, imprescinde a violação de um dever jurídico preexistente. Segunda: para que haja a devida responsabilização, faz-se necessário precisar a obrigação violada e quem a violou.

Dúvida não há quanto à aplicação das regras da Responsabilidade Civil nas relações familiares. A questão “cinge-se em saber se a violação de algum dever específico de Direito das Famílias, por si só, seria suficiente para ensejar o dever de indenizar que caracteriza a responsabilidade civil”.

Destarte, a melhor forma de compreender a questão é perceber que a violação pura e simples de algum dever familiar não é bastante para configurar o dever de indenizar, devendo-se observar a efetiva prática de um ato ilícito para caracterizar a Responsabilidade Civil nos moldes dos artigos 186 e 187 do Código Civil. Esclarecem, ainda, os referidos autores, que a relação familiar não admite a aplicação pura e simples das regras da Responsabilidade Civil, “exigindo uma filtragem, sob pena de desvirtuar a natureza peculiar (e existencial) da relação de Direito das Famílias”.

O artigo 186 do Código Civil trata de ato ilícito puro, já o artigo 187 trata-se de

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ato ilícito equiparado, ou chamado de Abuso de Direito. Abandono Material

Com relação a abandono material, não há a mesma divergência doutrinaria que no caso de abandono afetivo. A legislação é clara ao tratar do assunto nos artigos 1694 a 1699 do CC de 2002.

Considerado um crime de desamor, o abandono material caracteriza-se pela omissão injustificada na assistência familiar, ou seja, quando o responsável pelo sustento de uma determinada pessoa deixa de contribuir com a subsistência material de outra, não lhe proporcionando recursos necessários ou faltando com o pagamento de alimentos fixados judicialmente.

Assim, abandono material é crime, conforme o artigo 244 do Código Penal: Art. 244 Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo Pena: detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País.

É de se notar que o legislador, ao redigir o artigo 244 do Código Penal visou preservar a subsistência da família, onde se deve entender por “recursos necessários”, tudo o que for vital para a sobrevivência de uma pessoa, como por exemplo, alimentação, habitação, vestuário, remédios, guarda e educação dos filhos menores, etc.

Importante registrar que o Abandono Material pode ocorrer ainda que o cônjuge e filhos estejam sob o mesmo teto, desde que reste comprovado.

Além disso, de acordo com o artigo 22 do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA – Lei 8.069/1990, “aos pais incumbe

o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais”.

Por isso, pais que gozam de recursos financeiros, mas deixam de contribuir com o pagamento de pensão alimentícia, inclusive abandonando o emprego de forma arbitrária e injustificada para não cumprir com suas responsabilidades, respondem pelo crime de abandono material, cuja pena é de detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País.

Desta forma, tanto o abandono material é considerado crime, devendo ser punido, tanto civil, como penalmente.

Dano Moral

A ausência infundada do genitor acarreta em situações corriqueiras, haja vista na qual, evidente dor psíquica, moral e consequente prejuízo à formação da criança.

Aproximar o modelo jurídico do dano moral com o princípio da dignidade da pessoa humana é um exercício indispensável para todos que verdadeiramente queiram construir um direito civil constitucional. (FARIAS, 2017, p. 298).

O genitor tem uma fundamental importância na função psicopedagógica como um referencial de paternidade, não só do afeto, zelo e proteção, mas na criação, construção e desenvolvimento da criança.

O dano é um fato jurídico stricto sensu. Todo fato jurídico em que, na composição de seu suporte fático, entram apenas fatos da natureza, independentes de ato humano, recebe esta denominação. (VENOSA, 2017, p. 319)

É de extrema importância, cautela e prudência à análise do julgador a respeito dos pressupostos do dever de indenizar, pois deve ser feita com muito critério

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porque envolve complexidades em relações familiares e o Poder Judiciário não pode ser transformado numa indústria indenizatória. Posicionamento dos Tribunais

Os Tribunais têm se deparado com questões sobre a responsabilidade civil por abandono afetivo, entendimentos diversos tem criado uma jurisprudência conflitante. Sob essa perspectiva, as opiniões divergem em duas posições contrapostas, ou seja, um é cabível a indenização por violação aos danos morais em relação ao abandono afetivo e no outro não é cabível a indenização por danos morais. 408.550-5 - Julgamento

JULGAMENTO “APELAÇÃO CÍVEL 408.550-5 ORIGEM : TRINUNAL DE ALÇADA DO ESTADO DE MINAS GERAIS –MG PROCED: MINAS GERAIS RELATOR: D. VIÇOSO RODRIGUES APELANTE (s): ALEXANDRE BATISTA FORTES MENOR PÚBERE ASSIST. P/ SUA MÃE APELADO (a) (os) (as): VICENTE DE PAULO FERRO DE OLIVEIRA ADV.(A/S): THAIS CÂMARA MAIA ADV.(A/S): JOÃO BOSCO KUMAIRA.

A primeira ação judicial em que se

reconheceu a indenização extrapatrimonial por abandono filial.

Assevera-se que, na ocasião, o então Tribunal de Alçada de Minas Gerais condenou um pai a pagar indenização de duzentos salários mínimos a título de danos morais ao filho, por não ter ele convivido (Apelação Cível n. 408.550-5 da Comarca de Belo Horizonte. Sétima Câmara Cível. Presidiu o julgamento o Juiz José Affonso da Costa Côrtes e dele participaram os Juízes Unias Silva, relator, D. Viçoso Rodrigues, revisor, e José Flávio Almeida, vogal).

Na verdade, o caso em comento, retrata a dor sofrida pelo filho em virtude do abando paterno que o privou do direito à convivência, ao amparo afetivo, moral, social e psíquico. Nesse contexto este é o primeiro caso concreto onde se reconheceu a indenização extrapatrimonial por abandono filial. JULGAMENTO QUE AFASTA A INDENIZAÇÃO: 0011845-83.2016.8.07.0006 – Julgamento “APELAÇÃO CÍVEL ”: 0011845-83.2016.8.07.0006 ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS PROCED: DISTRITO FEDERAL RELATOR (a): GISLENE PINHEIRO APELANTE (s): MAURICIO MARTINS DE FARIA e MATHEUS GOMES DE FARIA APELADO (a) (os) (as): MATHEUS GOMES DE FARIA e MAURICIO MARTINS DE FARIA 1 º VOGAL: GETÚLIO DE MORAES OLIVEIRA 2 º VOGAL: ROMEU GONZAGA NEIVA

Certo é que o pouco convívio, ou o convívio esporádico entre o autor e seu genitor, aliada ao fato de seu pai ter constituído outra família, não é suficiente para caracterizar o desamparo emocional e convalidar a pretensão indenizatória.

O mero distanciamento afetivo entre pais e filhos não constitui, por si só, situação capaz de gerar dano moral, restando, assim, ausente à demonstração dos requisitos ensejadores do dever de indenizar, dispostos nos artigos 186, 187 e 927 do Código Civil, não havendo que se falar em indenização.

No que concerne à tese de abandono afetivo, argumento utilizado pelos apelantes com o intuito de condenação do apelado ao pagamento de compensação por danos morais, há que se ressaltar a

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especial importância de cautela e prudência do julgador a respeito do tema.

Dada à complexidade das relações familiares, o reconhecimento do dano moral por abandono afetivo, emerge como uma situação excepcionalíssima, razão pela qual a análise dos pressupostos do dever de indenizar deve ser feita com muito critério. É dizer, as circunstâncias do caso concreto devem indicar, de maneira inequívoca, a quebra do dever jurídico de convivência familiar, e, como consequência inafastável, a prova de reais prejuízos à formação do indivíduo. Considerações Finais

No que se refere ao abandono afetivo entende que, por se tratar de um tema de grande relevância social e por estar contido no dia-dia de muitas pessoas, senti-lhe interessada em saber qual o entendimento do Poder Judiciário e da doutrina, bem como seus fundamentos, a respeito do dano moral causado pelo abandono afetivo.

Destarte, o interesse de se discutir esse tema se deu devido às ultimas decisões judiciais à concessão de indenização por abando afetivo, não obstante, a jurisprudência dos Tribunais Superiores, majoritariamente entendem que não é cabível a imputação de sanção pecuniária por fatos provenientes das relações familiares. Embora não sejam muitos os precedentes jurisprudenciais consagrando a tese da indenização no Direito de Família, os tribunais brasileiros começaram a entender que mesmo as relações parentais devem ser passiveis de reparação, o que mostra mudanças de valores e de posturas que progressivamente vêm ganhando projeção no Superior Tribunal de Justiça.

Diante do exposto, fica claro que a partir de argumentos da doutrina e jurisprudência, quanto ao descumprimento do dever de convivência dos pais com seus filhos, com base no art. 227 da Constituição Federal e nos demais diplomas legislativos que regulam os deveres da família, com base no poder

familiar, pois regular as relações de família nunca foi uma tarefa fácil para o legislador, ainda mais quando envolvem a delicada relação entre pais e filhos com histórico de abandono e desprezo.

Vale ressaltar que todos nós vivemos inseridos num contexto familiar, mesmo fazendo parte de uma família que tem a presença formada apenas pelo filho e somente um dos pais. Falar em família, logo se tem a ideia de afeto, amor entre pessoas parentas por consanguinidade, ou melhor, por vínculo sanguíneo ou por afinidade.

Surgem diversos conflitos das mais diferentes ordens, sejam elas vinculadas ao abandono afetivo, a traição, ou a falta de assistência material decorrente do descumprimento de deveres referentes ao poder familiar tão consagrado no Código Civil Brasileiro, na parte do Direito de Família, na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente.

O objetivo geral do presente trabalho era demonstrar os efeitos jurídicos e sociais da responsabilidade civil no que diz respeito aos pais por abandono afetivo dos filhos, o objetivo foi alcançado, esclarece que a responsabilidade civil dos pais em relação aos seus filhos quando os abandonam afetivamente, é cabível a indenização por violação do dever de cuidado. Os pais não têm obrigação de amar os seus filhos, entretanto, eles têm a obrigação e o dever de cuidar deles muito bem. O Cuidado é objetivo, material, mas não é cabível a indenização por violação do dever de afeto.

O objetivo especifico era examinar o princípio constitucional da responsabilidade humana e sua fundamental influência no Direito de Família, foi constatado que esse princípio é de extrema importância, pois é um valor moral inerente à pessoa.

E por fim, o presente trabalho tinha também como objetivo compreender acerca do abandono material e do dano moral e sua respectiva mensuração, e a

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importância de sua aplicação como medida de inibição do abandono afetivo. Referências ALVES, Leonardo Barreto Moreira. O reconhecimento legal do conceito moderno de família: o art. 5º, II e parágrafo único, da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1225, 8 nov. 2006 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/9138>. Acessado em: 12 oct. 2017. BRAGA NETTO, Felipe Peixoto. Responsabilidade Civil. São Paulo – Saraiva, 2008. Código Civil. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2002. CÓDIGO CIVIL. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 14 abr. 2018. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. 19ª ed. rev. Atual. São Paulo: Saraiva. 2005. v.7. DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil brasileiro: Direito de Família. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. v. 5. p. 9. DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 30. Ed. São Paulo, 2015. v.5 . p. 629. ENCONTRO DOS JUÍZES DE FAMÍLIA DO INTERIOR DE SÃO PAULO, 1., 10 nov. 2006, Piracicaba. Enunciados... Belo Horizonte: Instituto Brasileiro de Direito de Família, 2006. Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=243>. Acesso em: 14 mar. 2018. FARIAS, Cristiano Chaves de. Curso de Direito Civil/Cristiano Chaves de Farias,

Nelson Rosenvald, Felipe Peixoto Braga Netto – 4. Ed. ver.e atual. Salvador: Ed. JusPodovim, 2017. V.3. p. 298. FUGIE, E. H. A união homossexual e a Constituição Federal. Revista Brasileira de Direito de Família, Porto Alegre: Síntese, IBDFAM, out./dez. 2002. n. 15., p. 133. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro . V. VI, Direito de Família. São Paulo: Saraiva, 2005. LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho cientifico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. 7ed. São Paulo: Atlas, 2010. LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito Civil: Famílias. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 02 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: direito de família. Atual. Francisco José Cahali v. 6. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. SIQUEIRA, Alessandro Marques de. O conceito de família ao longo da história e a obrigação alimentar. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2664, 17 out. 2010 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/17628>. Acesso em: 10 mar. 2018. TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; RODRIGUES, Renata de Lima. Multiparentalidade como efeito da socioafetivdade nas famílias recompostas. In: Revista Brasileira de Direito das Famílias e Sucessões/Edições/10 – Jun/Jul 2009 – Porto Alegre: Magister. TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. 2.ed. rev. atual., Rio de Janeiro: Renovar, 2001. TRIBUNAL DA JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS.

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https://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos-web/sistj. Acesso em: 21 abr. 2018. VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: direito de família. 17ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2017. VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: direito de família. 5ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2005. WALD, A. O novo Direito de Família. 14ª. Ed. São Paulo: Saraiva, 2002. 712 p. 9.

ANEXO

Posicionamento dos Tribunais ACÓRDÃOS “APELAÇÃO CÍVEL 408.550-5 ORIGEM : TRINUNAL DE ALÇADA DO ESTADO DE MINAS GERAIS –MG PROCED: MINAS GERAIS RELATOR: D. VIÇOSO RODRIGUES APELANTE (s): ALEXANDRE BATISTA FORTES MENOR PÚBERE ASSIST. P/ SUA MÃE APELADO (a) (os) (as): VICENTE DE PAULO FERRO DE OLIVEIRA ADV.(A/S): THAIS CÂMARA MAIA ADV.(A/S): JOÃO BOSCO KUMAIRA. EMENTA – INDENIZAÇÃO DANOS MORAIS – RELAÇÃO PATERNO-FILIAL – PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA – PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE A dor sofr ida pelo f i lho, em vir tude do abandono paterno, que o pr ivou do direi to à convivência, ao amparo afet ivo, moral e psíquico, deve ser indenizável , com fulcro no pr incípio da dignidade da pessoa humana. A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível Nº 408.550-5 da Comarca de BELO HORIZONTE , sendo Apelante (s): ALEXANDRE BATISTA FORTES MENOR PÚBERE ASSIST. P/ SUA MÃE e Apelado (a) (os) (as): VICENTE DE PAULO FERRO DE OLIVEIRA ,

ACORDA, em Turma, a Sétima

Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais DAR PROVIMENTO .

Presidiu o julgamento o Juiz JOSÉ AFFONSO DA COSTA CÔRTES e dele participaram os Juízes UNIAS SILVA (Relator), D. VIÇOSO RODRIGUES (Revisor) e JOSÉ FLÁVIO ALMEIDA (Vogal).

O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado, na íntegra, pelos demais componentes da Turma Julgadora.

Assistiu ao julgamento pelo apelante, a Drª. Thais Câmara Maia e Produziu sustentação oral pelo apelado, o Dr. João Bosco Kumaira. V O T O O SR. JUIZ UNIAS SILVA:

Trata-se de recurso de apelação interposto por Alexandre Bat ista Fortes – menor púbere representado por sua mãe – contra a r . sentença que, nos autos da ação de indenização por danos morais ajuizada contra seu pai , Vicente de Paulo Ferro de Ol iveira, ju lgou improcedente o pedido in ic ial , ao fundamento de que inex istente o nexo causal entre o afastamento paterno e o desenvolv imento de s intomas psicopatológicos pelo autor.

Sustenta o apelante, em síntese, que o conjunto probatór io presente nos autos é uníssimo ao af i rmar a ex istência do dano resul tante da ofensa causada pelo apelado. Af i rma que a dor sofr ida pelo abandono é profundamente

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maior que a i rresignação quanto ao pedido revis ional de al imentos requerido pelo pai . Aduz que o t ratamento psicológico ao qual se submete há mais de dez anos advém da desestruturação causada pelo abandono paterno. Pugna, ao f inal , pelo provimento do recurso.

Contra-razões às f ls . 105-

407.

É o relatór io necessário. Conheço do recurso, pois

que presentes os pressupostos de sua admissão.

A relação paterno- f i l ia l em conjugação com a responsabi l idade possui fundamento naturalmente juríd ico, mas essencialmente justo, de se buscar compensação indenizatór ia em face de danos que pais possam causar a seus f i lhos, por força de uma conduta imprópria, especialmente quando a eles é negada a convivência, o amparo afet ivo, moral e psíquico, bem como a referência paterna ou materna concretas, acarretando a v io lação de direi tos própr ios da personal idade humana, magoando seus mais subl imes valores e garant ias, como a honra, o nome, a dignidade, a moral , a reputação social , o que, por s i só, é profundamente grave.

Esclareço, desde já, que a responsabi l idade em comento deve cingir -se à civ i l e, sob este aspecto, deve decorrer dos laços fami l iares que mat izam a relação paterno-f i l ia l , levando-se em consideração os concei tos da urgência da reparação do dano, da re-harmonização patr imonial da ví t ima, do interesse juríd ico desta, sempre prevalente, mesmo à face de ci rcunstâncias danosas or iundas

de atos dos jur id icamente in imputáveis.

No seio da famí l ia da contemporaneidade desenvolveu-se uma relação que se encontra deslocada para a afet ividade . Nas concepções mais recentes de famí l ia, os pais de famí l ia têm certos deveres que independem do seu arbí t r io, porque agora quem os determina é o Estado.

Assim, a famí l ia não deve mais ser entendida como uma relação de poder, ou de dominação, mas como uma relação afet iva, o que s igni f ica dar a devida atenção às necessidades mani festas pelos f i lhos em termos, justamente, de afeto e proteção.

Os laços de afeto e de sol idar iedade derivam da convivência e não somente do sangue.

No estágio em que se encontram as relações fami l iares e o desenvolv imento cient í f ico, tende-se a encontrar a harmonização entre o di rei to de personal idade ao conhecimento da or igem genét ica, até como necessidade de concret ização do direi to à saúde e prevenção de doenças, e o di rei to à relação de parentesco, fundado no pr incípio juríd ico da afet iv idade.

O pr incípio da efet iv idade especial iza, no campo das relações fami l iares, o macroprincípio da dignidade da pessoa humana (art igo 1º, I I I , da Const i tu ição Federal) , que preside todas as relações juríd icas e submete o ordenamento juríd ico nacional .

No estágio atual , o equi l íbr io do pr ivado e do públ ico pauta-se exatamente na garant ia do pleno desenvolv imento da dignidade das pessoas humanas que integram a comunidade fami l iar.

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No que respei ta à dignidade da pessoa da cr iança, o art igo 227 da Const i tu ição expressa essa concepção, ao estabelecer que é dever da famí l ia assegurar- lhe "com absoluta pr ior idade, o di rei to à v ida, à saúde, à al imentação, à educação, ao lazer, à prof iss ional ização, à cul tura, à dignidade, ao respei to, à l iberdade e à convivência fami l iar e comuni tár ia", além de colocá- la "à salvo de toda forma de negl igência, d iscr iminação, exploração, v io lência, crueldade e opressão". Não é um direi to oponível apenas ao Estado, à sociedade ou a estranhos, mas a cada membro da própr ia famí l ia.

Assim, depreende-se que a responsabi l idade não se pauta tão-somente no dever al imentar, mas se insere no dever de possibi l i tar o desenvolv imento humano dos f i lhos, baseado no pr incípio da dignidade da pessoa humana.

No caso em comento, vê-se claramente, da cuidadosa anál ise dos autos, que o apelante fo i , de fato, pr ivado do convívio fami l iar com seu pai , ora apelado.

Até os seis anos de idade, Alexandre Bat ista Fortes, ora apelante, manteve contato com seu pai de maneira razoavelmente regular. Após o nascimento de sua i rmã, a qual ainda não conhece, f ruto de novo relacionamento conjugal de seu pai , este afastou-se def in i t ivamente. Em torno de quinze anos de afastamento, todas as tentat ivas de aprox imação efet ivadas pelo apelante restaram-se infrut í feras, não podendo desfrutar da companhia e dedicação de seu pai , já que este não compareceu até mesmo em datas importantes, como aniversár ios e formatura.

De acordo com o estudo psicológico real izado nos autos, constata-se que o afastamento entre pai e f i lho t ransformou-se em uma questão psíquica de di f íc i l e laboração para Alexandre, interfer indo nos fatores psicológicos que compõem sua própr ia ident idade.

“É como se ele tentasse t ransformar o geni tor em pai e, nesta ár ida batalha, procurasse persistentemente compreender porque o Sr. Vicente não se posiciona como um pai , mantendo a expectat iva de que ele venha a fazê- lo.” ( f ls . 72). “Neste contexto, ainda que pese o sent imento de desamparo do autor em relação ao lado paterno, e o sofr imento decorrente, resta a Alexandre, para além da indenização mater ial p lei teada, a esperança de que o geni tor se sensibi l ize e venha a atender suas carências e necessidades afet ivas. ” ( f ls .74).

Assim, ao meu

entendimento, encontra-se conf igurado nos autos o dano sofr ido pelo autor, em relação à sua dignidade, a conduta i l íc i ta prat icada pelo réu, ao deixar de cumpri r seu dever fami l iar de convívio e educação, a f im de, através da afet iv idade, formar laço paternal com seu f i lho, e o nexo causal entre ambos.

Desta forma, f ixo a indenização por danos morais no valor equivalente a duzentos salár ios mínimos, ou seja, R$ 44.000,00, devendo ser atual izado monetar iamente de acordo com a Tabela da Corregedoria Geral de Just iça e com juros de mora em 1% ao mês, a contar da publ icação

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do presente acórdão. Pelo que, condeno o apelado a pagar ao procurador do apelante, a t í tu lo de honorár ios sucumbenciais, o valor relat ivo a 10% do valor da condenação em danos morais.

Com base em tais

considerações, DOU PROVIMENTO AO RECURSO , para ju lgar procedente o pedido in ic ial , modi f icando a r . decisão ora objurgada.

JULGAMENTO QUE AFASTA A INDENIZAÇÃO: 0011845-83.2016.8.07.0006 – Julgamento “APELAÇÃO CÍVEL ”: 0011845-83.2016.8.07.0006 ORIGEM : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS PROCED: DISTRITO FEDERAL RELATOR (a): GISLENE PINHEIRO APELANTE (s): MAURICIO MARTINS DE FARIA e MATHEUS GOMES DE FARIA APELADO (a) (os) (as): MATHEUS GOMES DE FARIA e MAURICIO MARTINS DE FARIA 1 º VOGAL: GETÚLIO DE MORAES OLIVEIRA 2 º VOGAL: ROMEU GONZAGA NEIVA JULGAMENTO

Órgão 7ª Turma Cível

Processo N. APELAÇÃO 0011845-83.2016.8.07.0006 APELANTE(S) MAURICIO MARTINS DE FARIA e MATHEUS GOMES DE FARIA APELADO(S) MATHEUS GOMES DE FARIA e MAURICIO MARTINS DE FARIA Relatora Desembargadora GISLENE PINHEIRO Acórdão Nº 1061522 EMENTA DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. APELAÇÃO CÍVEL.

LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO DO JUIZ. POSSIBILIDADE. ABANDONO AFETIVO. DANO MORAL. NÃO CARACTERIZADO. MERO DISTANCIAMENTO ENTRE PAI E FILHO. SITUAÇÃO EXCEPCIONAL. NÃO CONFIGURADA. MAJORAÇÃO. PREJUDICADA. SENTENÇA REFORMADA. 1. Cabe destacar que o juízo sentenciante deve expor suas razões de decidi r , nos estr i tos termos do art igo 93, inciso IX, da Const i tu ição Federal de 1988, mot ivos esses que não serão necessariamente estruturados nos argumentos apresentados pelas partes. 1.1 como dest inatár io da prova, compete ao magistrado a anál ise e valoração dos elementos dos autos que possam formar a sua convicção a respei to das questões levadas pelas partes para apreciação, conforme a disposição do art . 371 do Código de Processo Civ i l . 1.2 Nesse contexto, o fato de o juízo a quo ter fundamentado o ju lgado preponderante na prova testemunhal , em detr imento dos demais elementos dos autos, ou o embasamento da decisão divergi r dos interesses defendidos pelas partes envolv idas, não acarreta nenhum vício. 2. No que concerne à tese de abandono afet ivo, argumento ut i l izado pelos apelantes com o intui to de condenação do apelado ao pagamento de compensação por danos morais, há que se ressal tar a especial importância de cautela e prudência do ju lgador a respei to do tema. 3. Dada a complex idade das relações fami l iares, o reconhecimento do dano moral por abandono afet ivo emerge como uma si tuação excepcional íssima, razão pela qual a anál ise dos

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pressupostos do dever de indenizar deve ser fei ta com muito cr i tér io. É dizer, as ci rcunstâncias do caso concreto devem indicar, de maneira inequívoca, a quebra do dever juríd ico de convivência fami l iar, e, como consequência inafastável , a prova de reais prejuízos à formação do indivíduo. 4. Da moldura fát ica apresentada pelos apelantes não se infere qualquer s i tuação excepcional e, assim, dist inta daquelas que comumente se ver i f ica quando rompidos os laços de afet iv idade entre os geni tores. Não raras vezes, até mesmo de modo involuntár io, o término conf l i tuoso de uma relação conjugal acaba servindo de obstáculo para o natural , legal e indispensável relacionamento entre geni tor e f i lhos. 5. O mero distanciamento afet ivo entre pais e f i lhos não const i tu i , por s i só, s i tuação capaz de gerar dano moral , restando, assim, ausente a demonstração dos requis i tos ensejadores do dever de indenizar, d ispostos nos art igos 186, 187 e 927 do Código Civ i l , não havendo que se falar em indenização. 6. Recurso do autor conhecido e desprovido. Recurso do réu conhecido e prov ido. Sentença reformada. ACÓRDÃO Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 7ª Turma Cível do Tr ibunal de Just iça do Distr i to Federal e dos Terr i tór ios, GISLENE PINHEIRO - Relatora, GETÚLIO DE MORAES OLIVEIRA - 1º Vogal e ROMEU GONZAGA NEIVA - 2º Vogal , sob a Presidência da Senhora Desembargadora GISLENE PINHEIRO, em profer i r a seguinte decisão: RECURSO DO AUTOR IMPROVIDO. RECURSO DO RÉU PROVIDO. UNÂNIME., Af i rma

nunca ter promet ido custear os estudos do autor/apelado e que os depoimentos das testemunhas arroladas são todos “ inverdadeiros, caluniosos e di famatór ios”. Por esses mot ivos, pugna pela reforma da sentença com a improcedência integral dos pedidos deduzidos na or igem. Sem preparo, tendo em vista que o réu/apelante é benef ic iár io da just iça gratui ta ( id . 2625190, p. 10). Contrarrazões no id. 2625213, p. 1/4. A parte autora/apelante, por sua vez, em suas razões recursais ( id. 2625207, p. 1/) assevera a necess idade de ver provido, em sua total idade, o pedido indenizatór io cont ido na exordial . Sem preparo, tendo em vista que o autor/apelante é benef ic iár io da just iça gratui ta ( id. 26250584, p. 01). Sem contrarrazões id. 2625216, p. 1. É o relatór io. VOTOS A Senhora Desembargadora GISLENE PINHEIRO - Relatora Presentes os pressupostos de admissibi l idade, conheço dos recursos. Cuida-se, na or igem, de ação de indenização por abandono afet ivo em que o autor, f i lho do réu, com 19 (dezenove) anos de idade na data da proposi tura da ação, plei teia reparação de danos morais por abandono afet ivo no importe de R$50.000,00 (cinquenta mi l reais) ao argumento de que seu geni tor nunca lhe dedicou tempo, car inho e atenção, pr ivando-o do convívio paterno, inclusive com seus outros i rmãos. Acrescenta que a paternidade foi reconhecida após exame de DNA em ação judicial e que a pensão al imentícia era adimpl ida com muita di f iculdade. Relata que, certa vez, quando possuía 14 (quatorze) anos de idade, sent iu-se ainda mais rejei tado e preter ido ao frustrar-se

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com uma promessa, fei ta pelo réu, de custeio dos estudos em uma escola part icular. Af i rma que sua formação social , educacional e psicológica sempre fo i promovida por sua geni tora, não deixando fal tar nada ao requerente. Após os atos procedimentais legais, sobreveio a r . sentença ora recorr ida ( id. 2625190, p. 01/10). Ir resignados com o decis ium, apelam autor e réu, pelas razões já expostas. As i rresignações recursais l imi tam-se à indenização por suposto abandono afet ivo (réu) e majoração do valor f ixado para indenização (autor) . Deste modo, em razão do objeto recursal , indenização por abandono afet ivo, ser o mesmo para os recorrentes, onde de um lado o réu plei teia sua inocorrência e o do outro o autor requer a majoração do valor f ixado a t í tu lo de indenização, ressal to que os recursos serão ju lgados conjuntamente. Prel iminarmente o réu/apelante sustenta ter a Magistrada a quo atuado com erro ao externar seu sent imento acerca do dano moral alegado pelo autor /apelado, sem consul tar prof iss ionais da área de psicologia ou psiquiatr ia, agindo de forma i legal ao pronunciar-se em favor do autor, por acumular função de magistrada e psiquiatra no mesmo processo. Cabe destacar que o juízo sentenciante deve expor suas razões de decidi r , nos estr i tos termos do art igo 93, inciso IX, da Const i tu ição Federal de 1988, mot ivos esses que não serão necessariamente estruturados nos argumentos apresentados pelas partes. A pr imeira i lação que se faz quanto à at iv idade probatór ia no processo é a que as provas se dest inam ao convencimento do ju iz pelo

s istema da persuasão racional . Assim, como dest inatár io da prova, compete ao magistrado a anál ise e valoração dos elementos dos autos que possam formar a sua convicção a respei to das questões levadas pelas partes para apreciação, conforme a disposição do art . 371 do Código de Processo Civ i l . Nesse contexto, o fato de o juízo a quo ter fundamentado o ju lgado preponderante na prova testemunhal , em detr imento dos demais elementos dos autos, ou o embasamento da decisão divergi r dos interesses defendidos pelas partes envolv idas, não acarreta nenhum vício. Assim, tenho que o juízo de or igem concedeu ao l i t ígio a solução reclamada, expondo suas razões de decidi r , não se obr igando, pois, a ju lgar com base nos fundamentos expostos pelo réu/apelante, mesmo porque o réu, não obstante tenha sido int imado para prestar depoimento, por meio de seu advogado, devidamente const i tuído nos autos ( id. 2625115, p. 1), após a ci tação edi tal íc ia ( id. 2625109, p. 1), nos termos da decisão profer ida na audiência de instrução e ju lgamento ( id. 2625166, p.1), não compareceu à audiência ( id. 2625179, p.1), sendo-lhe apl icada a pena de confesso. Ademais, o ju iz está autor izado a ut i l izar todos os elementos que possibi l i tem a formação de sua convicção, indicando na decisão suas razões pela adoção de determinado entendimento. A par do exposto, ao contrár io do af i rmado pelo réu/apelante, o fato de a Magistrada a quo externar sua convicção acerca do l i t ígio que lhe fora atr ibuído ju lgamento, não conduz à conclusão de atuação i legal de duas prof issões (Juiz de

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Direi to e Psiquiatra ou Psicóloga), mas s im, e tão somente, ao cumprimento do dever que lhe fo i confer ido pelo Estado, nos termos do art . do art igo 93, inciso IX, da Const i tu ição Federal e do art . 371 do Código de Processo Civ i l . Deste modo, não vis lumbro nenhuma i l ic i tude ou vício capaz de macular a sentença guerreada, mantendo-a, neste ponto, inal terada. No que tange à indenização pelo alegado abandono afet ivo, assevera o réu/apelante que desde que soube da gravidez da mãe do autor, com a qual não manteve relacionamento amoroso, apenas relações sexuais, forneceu apoio f inanceiro, inclusive impedindo-a de cometer aborto . Af i rma ter honrado com o pagamento da pensão al imentícia, assim como ter concedido ao autor/apelado car inho e atenção, quando possível , eis que possui responsabi l idade com seu t rabalho, além de exercer sua condição de pai com seus outros 4 (quatro) f i lhos. Defende que o autor/apelado, desde cr iança, sempre frequentou o endereço em que o réu/apelante residia, afastando-se, mais tarde, do convívio com seu geni tor, por seu l ivre arbí t r io. Af i rma nunca ter promet ido custear os estudos do autor/apelado e que os depoimentos das testemunhas arroladas são todos “ inverdadeiros, caluniosos e di famatór ios”. No que concerne à tese de abandono afet ivo, argumento ut i l izado pelo autor com o intui to de condenação do réu ao pagamento de compensação por danos morais, há que se ressal tar a especial importância de cautela e prudência do ju lgador a respei to do tema. Dada a

complex idade das relações fami l iares, o reconhecimento do dano moral por abandono afet ivo emerge como uma si tuação excepcional íssima, razão pela qual , a anál ise dos pressupostos do dever de indenizar deve ser fei ta com muito cr i tér io. É dizer, as ci rcunstâncias do caso concreto devem indicar, de maneira inequívoca, a quebra do dever juríd ico de convivência fami l iar e, como consequência inafastável , a prova de reais prejuízos à formação do indivíduo. Da moldura fát ica apresentada pelos apelantes (autor e réu) não se infere qualquer s i tuação excepcional e, assim, dist inta daquelas que comumente se ver i f ica quando rompidos os laços de afet iv idade entre os geni tores. Não raras vezes, até mesmo de modo involuntár io, o término conf l i tuoso de uma relação conjugal acaba servindo de obstáculo para o natural , legal e indispensável relacionamento entre geni tor e f i lhos. Os fatos narrados pelo autor sobre esse ponto, embora t idos como verossímeis, em razão da pena de confesso imputada ao réu ( id . 2625179, p.1), não se mostram suf ic ientemente lesivos à personal idade do autor ao ponto de ensejar compensação por danos morais. E isso porque, ao que se depreende do acervo probatór io cont ido nos autos, o plei to indenizatór io está fundado na fal ta de afeto do geni tor, na ausência de convívio entre pai e f i lho, nos pagamentos compulsór ios da pensão al imentícia e na frustração do autor em frequentar, durante um mês, uma escola part icular , após promessa de pagamento da mensal idade por seu pai . Com efei to, a alegada fal ta de afeto

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entre as partes está adstr i ta ao relacionamento efêmero mant ido pelos geni tores do autor. Nota-se, dos relatos cont idos na in ic ial , assim como do depoimento prestado pela mãe do autor ( id. 2625179, p.2) que os geni tores do requerente namoraram por quase um mês ( id. 2625041, p. 1) e que a gravidez surgiu na pr imeira vez em que saíram juntos, não sendo mant ido, poster iormente, o relacionamento conjugal . Contudo, apesar da ruptura amorosa ocorr ida no sét imo mês de gestação, pelo que depreende da anál ise probatór ia, o réu apoiou a mãe do autor durante todo período gestacional , inclusive impedindo-a de real izar um aborto, concedendo a ela apoio f inancei ro. Do mesmo modo, após o nascimento do autor e da conf i rmação da paternidade, ut i l izando-se da via judicial , o autor/apelante obr igou seu geni tor a cumpri r com o dever al imentar e, desse modo, exercer a sua responsabi l idade em conjunto com a geni tora na sua cr iação, ainda que com atrasos. Diante desse panorama, depreende-se que desde o nascimento do autor a convivência paterna não era cont ínua, de modo que a s imples ausência de convív io entre pai e f i lho, não é suf ic iente para comprovar o pedido de indenização. Para tanto, faz-se necessário a demonstração de abalo psíquico do dano suportado pelo f i lho. E quanto a isso, pelo que se constata do caderno processual , o autor, com 19 (dezenove) anos de idade, estudante, bem instruído, inclusive frequentou curso de id iomas ( id. 2625050, p. 1), não demonstrou possuir qualquer t rauma expressivo ou sofr imento intenso, or iundos do poder

fami l iar, capaz de vio lar sua integr idade e comprometer sobremaneira o desenvolv imento e formação psíquica, afet iva e moral , a caracter izar dano afet ivo suscet ível de ser indenizado. Outrossim, o episódio v ivenciado pelo autor na escola part icular, o qual aduz ter sent ido ainda mais rejeição por ter permanecido menos de um mês na inst i tu ição, ainda que considerado como ex istente, é pontual e não viabi l iza a ofensa moral e a indenização por fal ta de afeto. Deste modo, com o devido respei to ao posicionamento da Magistrada a quo, sobretudo diante da oi t iva da parte autora real izada nas audiências, certo é que o pouco convívio, ou o convívio esporádico entre o autor e seu geni tor, al iada ao fato de seu pai ter const i tuído outra famí l ia, não é suf ic iente para caracter izar o desamparo emocional e conval idar a pretensão indenizatór ia. Conclui -se portanto, que não houve qualquer i l íc i to perpetrado pelo réu, porquanto inex ist iu omissão do geni tor a ponto de ensejar dano moral ao seu f i lho, v isto que o mero distanciamento afet ivo entre pais e f i lhos não const i tu i , por s i só, s i tuação capaz de gerar dano moral , restando, assim, ausente a demonstração dos requis i tos ensejadores do dever de indenizar, d ispostos nos art igos 186, 187 e 927 do Código Civ i l , não havendo que se falar em indenização. Nesse sent ido são os precedentes deste e. Tr ibunal de Just iça: APELAÇÃO CÍVEL. UNIÃO ESTÁVEL. PARTILHA. ALIMENTOS. INDENIZAÇÃO POR ABANDONO MATERIAL E AFETIVO. PRELIMINAR DE CERCEAMENTO DE DEFESA.

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ANÁLISE COM O MÉRITO DO RECURSO. PARTILHA. BENS RELACIONADOS POSTERIORMENTE. INTIMAÇÃO EXPRESSA DO RÉU. AUSENTE. ANÁLISE DA PARTILHA. INVIABILIZADA. BENS INDICADOS NA INICIAL. PROVA IDÔNEA DA TITULARIDADE. AUSENTE. PROVAS REQUERIDAS. IMPERTINENTES. CERCEAMENTO NÃO CONFIGURADO. VEÍCULO. ALEGADA SIMULAÇÃO NA TRANSFERÊNCIA PARA TERCEIRO. AÇÃO PRÓPRIA. ABANDONO MATERIAL E AFETIVO. NÃO OCORRÊNCIA. SITUAÇÃO EXCEPCIONAL. NÃO CONFIGURADA. ( . . . ) 13. Os apelantes argumentam terem sofr ido com a indi ferença perpetrada pelo apelado, além de ameaças ao buscarem o recebimento de pensão al imentícia. 14. A respei to da indenização por alegado abandono mater ial , os apelantes det inham à sua disposição a ut i l ização da via judicial para, se fosse o caso, obr igar o geni tor a cumpri r com o dever al imentar, e, desse modo, exercer a sua responsabi l idade em conjunto com a geni tora na cr iação dos f i lhos. Ocorre que não há not íc ia nos autos de que tenha sido ajuizado pelos f i lhos do apelado, ora recorrentes, qualquer ação de al imentos. Também não se colhe do acervo probatór io not íc ia de que o réu/apelado, sem just i f icat iva plausível , tenha se mant ido inerte quando int imado a pagar al imentos em eventual ação de execução. 15. Se a 1ª autora/apelante optou por não demandar o réu no momento oportuno, deduz-se que, ainda que de modo l imi tado e árduo, det inha

condições mater iais de fornecer o essencial para a cr iação dos f i lhos havidos com o réu/apelado, não podendo este, agora, ser condenado por abandono mater ial ante a conduta omissiva da recorrente. 16. Mais uma vez as provas requeridas pelos apelantes na or igem não ter iam o condão de modi f icar esse entendimento, mot ivo pelo qual , reforça-se, inex istente o cerceamento ao direi to de defesa em razão do indefer imento da produção de prova requerida em audiência ou mesmo da não apreciação das provas cont idas na pet ição in ic ial . 17. No que concerne à tese de abandono afet ivo, argumento ut i l izado pelos apelantes com o intui to de condenação do apelado ao pagamento de compensação por danos morais, há que se ressal tar a especial importância de cautela e prudência do ju lgador a respei to do tema. 18. Dada a complex idade das relações fami l iares, o reconhecimento do dano moral por abandono afet ivo emerge como uma si tuação excepcional íssima, razão pela qual a anál ise dos pressupostos do dever de indenizar deve ser fei ta com muito cr i tér io. É dizer, as ci rcunstâncias do caso concreto devem indicar, de maneira inequívoca, a quebra do dever juríd ico de convivência fami l iar, e, como consequência inafastável , a prova de reais prejuízos à formação do indivíduo. 19. Da moldura fát ica apresentada pelos apelantes não se infere qualquer s i tuação excepcional e, assim, dist inta daquelas que comumente se ver i f ica quando rompidos os laços de afet iv idade entre os geni tores. Não raras vezes, até mesmo de modo involuntár io, o término conf l i tuoso de uma relação

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conjugal acaba servindo de obstáculo para o natural , legal e indispensável relacionamento entre geni tor e f i lhos. 20. Os fatos narrados pelos autores sobre esse ponto, acerca dos quais dispensável a produção de qualquer prova, já que não impugnado especi f icamente pelo réu, não se mostram suf ic ientemente lesivos à personal idade dos autores ao ponto de ensejarem compensação por danos morais. 21. Recurso conhecido e desprovido. (Acórdão n.1028217, 20151310020274APC, Relator: GISLENE PINHEIRO 7ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 28/06/2017, Publ icado no DJE: 03/07/2017. Pág.: 572-581) Gri fo nosso APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. DANO MORAL ABANDONO AFETIVO. NÃO CARACTERIZADO. SENTENÇA MANTIDA. 1. A indenização por danos morais em decorrência de abandono afet ivo somente é v iável quando há descaso, rejeição, desprezo por parte do ascendente, al iado à ocorrência de danos psicológicos, não restando evidenciada, no caso em comento, tal s i tuação. 2. Para que se conf igure a responsabi l idade civ i l e o dever de indenizar, deve f icar devidamente comprovada a conduta omissiva ou comissiva do pai em relação ao dever juríd ico de convivência com o f i lho, bem como demonstrado o t rauma psicológico sofr ido e, sobretudo, o nexo causal entre o ato i l íc i to e o dano. Precedentes do STJ. 3. O fato de ex ist i r pouco convívio entre pai e f i lho não é suf ic iente, por s i só, para caracter izar abano moral a legi t imar a pretensão indenizatór ia. Ao contrár io, deve f icar demonstrada a rejeição

del iberada do pai em relação ao autor e o abalo psicológico supostamente sofr ido pelo menor. 4. Recurso conhecido e desprovido. (Acórdão n.998199, 20140111348258APC, Relator: SANDOVAL OLIVEIRA 2ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 22/02/2017, Publ icado no DJE: 02/03/2017. Pág.: 572/609) Gri fo nosso REVISÃO DE ALIMENTOS. MAIOR CAPACIDADE DO OFERTANTE E NECESSIDADE DO ALIMENTADO. MAJORAÇÃO. ABANDONO AFETIVO. DANO MORAL NÃO CARACTERIZADO. 1. Não obstante o tempo exíguo entre a data da homologação do acordo dos al imentos e o ajuizamento da revis ional , há nos autos, dentre os diversos documentos acostados, demonstração de que o apelado possui capacidade em arcar com percentual de verba al imentar mais expressivo que o proposto por ele quando do pedido de divórcio e oferta de al imentos. 2. A indenização por danos morais em decorrência de abandono afet ivo somente é v iável quando há descaso, rejeição, desprezo pela pessoa por parte do ascendente, al iado ao fato de acarretar danos psicológicos em razão dessa conduta. No caso, não restou evidenciada tal s i tuação. 3. Recurso parcialmente provido. Unânime. (Acórdão n.954401, 20121310024756APC, Relator: ROMEU GONZAGA NEIVA 4ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 06/07/2016, Publ icado no DJE: 18/07/2016. Pág.: 590/598) Gri fo nosso RESPONSABILIDADE CIVIL. FAMÍLIA. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. ABANDONOAFETIVO.

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POSSIBILIDADE. SITUAÇÃO EXCEPCIONAL. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DE ELEMENTOS ATENTATÓRIOS AO DIREITO DA PERSONALIDADE. OMISSÃO DO DEVER DE CUIDADO. NÃO COMPROVAÇÃO. SENTENÇA REFORMADA. 1.A compensação por danos morais em razão deabandonoafet ivoé possível , mas em si tuação excepcional . A exemplo da arqui tetura juríd ica construída para que o reconhecimento dodanomoralnão representasse a monetar ização dos direi tos da personal idade, igual entendimento serve à pretensão de compensação porabandonoafet ivo. Não se t rata, de modo algum, de quant i f icar o amor ou o afeto dispensado pelos pais aos f i lhos, mas de afer i r a presença ou não de vio lação ao dever de educar ( inerente à paternidade/maternidade), reconhecido em nosso ordenamento juríd ico. 2. A conf iguração de conduta i l íc i ta para f ins de abandono afet ivo imprescinde da presença de alguns elementos no caso concreto a caracter izar sua excepcional idade. Assim, a conduta do geni tor apta a dar azo à "reparação" de di rei to da personal idade deve conter negat iva insistente e del iberada de acei tar o f i lho, além do mani festo desprezo com re lação a sua pessoa. 3.Não se v is lumbra a omissão do dever de cuidado do geni tor para com sua f i lha quando ausente qualquer espécie de negação del iberada de seus deveres como pai , tanto por desconhecimento dessa condição, no período que antecedeu ao exame de DNA, quanto poster iormente, e aqui por cont ingências prof iss ionais. Ainda

que reprovável o pouco contato ex istente entre pai e f i lha, resta cr istal ino o fato de não ter agido o mesmo com má-fé no intui to de humi lhá- la ou rejei tá- la perante a sociedade. 4. Recurso do réu conhecido e provido. Prejudicado o recurso da autora. (Acórdão n.810247, 20120110447605APC, Relator: J .J . COSTA CARVALHO, Revisor: SÉRGIO ROCHA, 2ª Turma Cível , Data de Julgamento: 14/05/2014, Publ icado no DJE: 13/08/2014. Pág.: 121) Gri fo nosso Destarte, o alegado desamor de um pai , apesar de ser uma si tuação infel iz , não caracter iza i l íc i to e não gera, por s i só, obr igação de indenizar, devendo estar al iada à demonstração do dano moral efet ivamente causado ao f i lho, o que não ocorreu na hipótese dos autos, não cabendo ao Poder Judiciár io valorar sent imentos inerentes às relações fami l iares, mot ivo pelo qual entendo ser descabida a pretensão indenizatór ia requer ida pelo autor. A par do exposto, d iante do provimento do recurso do réu/apelante e, por conseguinte, do reconhecimento pela inex istência de danos morais por abandono afet ivo, resta prejudicado a anál ise do recurso do autor para majoração do valor indenizatór io, vez que este passou a inex ist i r . Com estes fundamentos, CONHEÇO DOS RECURSOS de apelação interpostos. NEGO PROVIMENTO AO RECURSO DO AUTOR. DOU PROVIMENTO AO RECURSO DO RÉU para reformar a sentença e ju lgar improcedente o pedido indenizatór io por abandono afet ivo. Em razão do provimento recursal , inverto o ônus sucumbencial em desfavor do autor, devendo arcar, em sua

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in tegral idade, com as custas processuais e os honorár ios advocatícios, os quais majoro para 12% (doze por cento) nos termos do art . 85, § 11, do CPC, restando suspensa a ex igibi l idade em razão da gratuidade de just iça que lhe fo i confer ida. É como voto. O Senhor Desembargador GETÚLIO DE MORAES OLIVEIRA - 1º Vogal Com o relator O Senhor Desembargador ROMEU GONZAGA NEIVA - 2º Vogal Com o relator DECISÃO RECURSO DO AUTOR IMPROVIDO. RECURSO DO RÉU PROVIDO. UNÂNIME